a redescoberta da filosofia no brasil ii – mário ferreira dos santos _ dicta & contradicta (1)

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    Filed under: Filosofia includo por dictaData do post: 31 de agosto de 2010Tags: filosofia brasileira, Mario Ferreira dos Santos

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    Por Felipe Cherubin

    Mrio Ferreira dos Santos nasceu em Tiet, So Paulo. Formado em Direito e Cincias

    Sociais pela Universidade de Porto Alegre, muda-se para So Paulo e funda asEditoras Logos e a Matese com o objetivo de publicar e divulgar sua obra. Foi umpensador incrivelmente fecundo que legou uma obra monumental com mais de 90ttulos publicados, alguns inditos e outros inacabados.

    Em menos de 15 anos publica a Enciclopdia de Cincias Filosficas e Sociais, queabrange cerca de 50 volumes, parte de carter teortico e parte histrico-crtico. Suaobra vai alm das exposies de temas filosficos e se encontram romances,dicionrios, cursos de oratria e tradues comentadas. Seguindo tradio pitagrico-

    platnica, a obra de Mrio explora com originalidade os caminhos da Metafsica.

    Em 1957, publicou Filosofia Concreta, que estabelece o seu modo de filosofar.Mrio Ferreira dos Santos considera a Filosofia como cincia rigorosa, aceitando o que demonstrado e no o problemtico e provvel. Para ele, a Filosofia possui o genunovalor de cincia, seja na investigao e na sistematizao, seja na anlise e na sntesede temas expositivos e polmicos. Em 1959, a edio de Mtodos Lgicos eDialticos expe uma nova metodologia para guiar com segurana o estudioso nocampo do saber.

    A dcada de 1960 foi o perodo em que suas obras tiveram maior difuso em todo o

    territrio nacional.

    ***

    Lus Mauro S Martino, professor da Fundao Csper Lbero e estudioso da obra

    de Mrio Ferreira dos Santos, fala a seguir em entrevista exclusiva concedida

    Dicta.com, sobre o filsofo.

    Quem foi Mrio Ferreira dos Santos?

    Mrio Ferreira dos Santos foi um filsofo brasileiro que desenvolveu um pensamentobastante original na segunda metade do sculo 20, dialogando com filosofiasaparentemente dispares como, por exemplo, a escolstica medieval, Nietzsche e Sartre,trabalhando tambm com descobertas e pesquisas recentes para sua poca .Foi um dos

    primeiros leitores de Piaget no Brasil, por exemplo. Dedicou a vida filosofia, daquelepreceito de Schopenhauer que se deve viver para a filosofia e no da filosofia. Mrioconseguiu uma sntese original: vivia para filosofia e ao mesmo tempo vivia dafilosofia sem nenhuma incongruncia entre as duas.

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    Como foi seu primeiro contato com a obra do Mrio Ferreira dos Santos e apartir de que ponto voc comeou a se dedicar a um estudo sistemtico de suaobra?

    Meu contato foi acidental, por meio dos sebos. De tanto ver os livros dele um diaacabei me interessando e medida que eu ia lendo percebi que tinha alguma coisamuito boa embora na poca eu no soubesse exatamente o que me faltava ainda como

    sempre vai faltar, mas faltava mais ainda naquela poca bagagem para entender o queele estava querendo dizer, com quem estava dialogando e a partir da que eu comecei aestudar sistematicamente a obra dele, fora do circuito acadmico como um desafio

    pessoal.

    A obra do Mrio imensa, mais de uma centena de livros publicados, inditos ealguns inacabados. A sua produo tambm variada: romances, enciclopdias,dicionrios, dilogos, cursos e tradues. possvel identificar uma unidade oumesmo uma diviso didtica dentro dessa avalanche de escritos?

    Sim, mas essa afirmao tem que ser levada com todo cuidado.Toda diviso da obra do Mrio vai esbarrar com problemas e ela s funciona vista noplano geral. Ento, essa diviso alm de arbitrria tambm bastante fluida e eupreciso deixar claro que isso no uma classificao fechada, mas apenas para efeitodidtico: Em termos de gnero, Mrio cultivou alguns gneros dentro de sua obra. O

    primeiro desses gneros foi a literatura: escreveu contos , livros e prosa filosfica.Hum livro dele, por exemplo, que rene alguns desses contos e crnicas chamadoPginas Vrias um livro literrio com teor filosfico que bem que poderia serincludo na rea da literatura. Outro gnero que desenvolvidofoi o livro filosfico nosentido mais estrito: exposio de um problema, argumentos, contra-argumentos,

    concluso e sntese. Um terceiro gnero foi o ensaio: alguns livros deles so claramenteensasticos, lidando at mesmo com problemas cotidianos. Fora isso, os inditos edispersos :so artigos, palestras, exposies, aulas (ele tambm era professor em boa

    parte do dia), cursos livres, o curso de oratria e retrica e apostilas de aula. Em termosde fases mais complicado porque ao longo de sua obra Mrio reelabora o que haviaescrito anteriormente. Daria para separar da seguinte forma: as primeiras obras que eleescreve ainda sem saber que estava escrevendo a enciclopdia( s depois da FilosofiaConcreta ele ir perceber a extenso de sua obra, embora h indcios, por exemplo,uma carta onde ele prope uma coleo de filosofia para o povo nela, ele prope ao

    Ministro da Cultura, pede um subsidio que lhe negado mas ali j expe o projeto deuma obra ampla, mas ainda no caracterizada como a enciclopdia). Dentro dessaproduo aparentemente desorganizada h um senso de unidade do prprio Mrio queeu poderia dizer que a Lgica Dialtica num primeiro momento. Essa lgicadialtica desemboca no pice da filosofia dele que a filosofia concreta e em seguida

    para outra fase que a aplicao da lgica dialtica e da filosofia concreta a vriosproblemas: metafsicos, histricos, sociais. Finalmente, numa ltima fase : comea atratar diretamente de Metafsica, ele vai para os campos da metafsica pura que fase

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    da Sabedoria das leis Eternas, Esquematologia, Tratado Geral das Tensesaonde ele se volta para a mente humana em relao com o objeto, reestruturando arelao sujeito/objeto com base numa tenso de conscincia intersubjetiva.

    O Mrio muitas vezes considerado um dos maiores filsofos do sculo 20 aomesmo tempo em que foi a figura mais solitria da histria intelectual brasileira.No obstante foi muito lido e muito ativo em seus cursos particulares e palestras

    (alguns de seus livros foram o que hoje chamaramos de um best-seller). Qual arazo desse isolamento e por que seus escritos caram em esquecimento logo apssua morte?

    Bom, as duas coisas esto interrelacionadas. Mario prezava muito a prpriaindependncia e ele acreditava que se fosse lecionar na universidade, em qualqueruniversidade teria que cumprir prazos, programas e se submeter a constrangimentosacadmicos de seguir este ou aquele ento, radicalmente opta por no ficar nauniversidade, foi um outsider por vontade prpria. Com isso teve uma vantagemgrande que foi poder escrever o que ele quisesse, na hora que quisesse do jeito que

    bem entendesse, mas teve uma desvantagem: ele no forma discpulos, alunosorganizados que vo reconhecendo a obra dele por meio de ttulos de ps-graduao,etc. Portanto, ao se afastar do campo acadmico ele tambm fecha o campo acadmico

    para si, por isso que aps sua morte em poucos anos sua obra completamenteesquecida. Ele no formou uma escola de pensadores gente que vai discutir sua obra

    da esse isolamento resultando numa solido muito grande como pensador e noesquecimento da obra aps sua morte.

    Alm de tudo, Mario tinha um grande tino comercial, tendo sido proprietrio daseditoras que publicaram suas obras, como era esse outro lado do filsofo?

    As experincias institucionais do Mrio foram todas ruins. Seja como profissional, sejacomo estudante. Ele era um anarquista e a anarquia dele no era militncia poltica eexterna, era princpio. Ento, ele simplesmente fugia dos ambientes institucionais.Situao essa que o levou a caminhos prprios. O que ele tinha era um tino comercialfenomenal: quando percebeu que ningum editaria seus livros comeou a editar,

    partindo de um principio: se os livros estiverem venda, as pessoas compraro,principio simples e que deu resultado. Ento, ele vendia livro de porta em porta, depoisteve uma equipe de vendedores que ia vender livro de porta em porta e funcionava as

    pessoas achavam a encadernao bonita, compravam outras achavam o contedotimo, compravam o fato que a julgar pelas notas de faturamento das empresas delee hoje pela quantidade dos livros dele em sebos,vendeu que nem gua.

    Mrio sempre se preocupou com a questo da acessibilidade da filosofia e aeducao da juventude, a funo da filosofia no sentido de humanizar acivilizao sempre esteve presente no seu filosofar. Como o Mrio via a questoda barbrie, da modernidade e da civilizao?

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    Mrio foi um critico radical da modernidade. Ele entendia que o excesso deracionalizao, o controle de pontos e entradas e sadas e fluxos, esses controles todosembruteciam o homem porque tiravam a dimenso simblica, a dimenso afetiva, adimenso espiritual, a dimenso religiosa, a dimenso ldica e transformavam ohomem numa mquina racional , uma mquina programada para trabalhar e essa

    programao inclua o ensino universitrio da uma das crticas dele, de que auniversidade estava programada para trabalhar e que at na hora de se divertir seria

    levado a se divertir pelas mesmas instituies que o obrigavam a trabalhar. Mario fazessa critica radical chegando a concluso do por que do esvaziamento do homemmoderno, o por que da crise, o por que dos problemas psquicos da solido e daangustia: porque ns perdemos a relao humana a modernidade destruiu no serhumano o que havia de bonito, o que havia de simblico e o que havia detranscendente e no estou falando de transcendncia religiosa, mas sim datranscendncia da relao com o outro. Tudo organizado, tudo matematicamentecerto, portanto ,no h espao para a subjetividade e nem para a intersubjetividade.

    O Mrio foi um pensador cristo, ele tem um interessante livro sobre o

    Cristianismo, mas na parte filosfica ele sempre usa a noo de transcendnciacomo parte da ontologia, no entra a questo religiosa dentro deste contexto, isso?

    .

    Mrio era cristo, mas se dizia avesso a qualquer denominao religiosa, em uma desuasele fala com todas as letras No professo nenhuma religio. Ou seja, ele no eracatlico, no era protestante, mas era cristo e a abordagem dele do cristianismo erauma abordagem em primeiro lugar filosfica, ele entendia que o cristianismo era a

    melhor doutrina tica que algum poderia ter e chegou a essa concluso, por ironia,lendo Nietzsche.

    O pensamento do Mrio um pensamento marcado pela positividade (no sentidode uma filosofia da afirmao), conseguindo abarcar em seu sistema os maisdiferentes matizes intelectuais:pitagorismo, a filosofia de Nietzsche, Cristianismo,Anarquismo e a Escolstica. Como isso foi possvel?

    tentador responder: porque ele era um gnio.

    Mas h uma razo filosfica para isso. Mrio entendia que a filosofia era algo para servivida e ele no fazia filosofia, vivia filosofia. Isso significava extrair das outrasfilosofias e de qualquer sistema de pensamento, de qualquer ideia boa o que havia de

    bom para contribuir com a compreenso de qualquer problema so poucos os espaosna obra dele onde identificamos a crtica, ou seja, o pensamento negativo. Eletrabalhava dentro de um pensamento de afirmao aonde ele ir procurar em cadafilosofia o que h de melhor. Se Nietzsche tem alguma coisa a dizer sobre um

    problema e sobre o problema seguinte quem tem algo a dizer Kant e no outro Suarez,

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    no tem problema porque ele no est confrontando, est aplicando, estdesenvolvendo.

    Quais foram os pensadores que mais contriburam para a formao da atitudefilosfica do Mrio? E qual sua relao com a Filosofia Portuguesa?

    Para fazer uma lista minscula: Pitgoras, Santo Tmas de Aquino e Nietzsche.

    Curiosamente, um pago, um cristo e um anticristo. Ele tem tambm algumasressonncias kantianas e alguma coisa de Hegel, mas bem residual. Em relao filosofia portuguesa ele ir trabalhar um pouco com a escolstica, sobretudo comSuarez. No vai desenvolver um trabalho sistemtico com a filosofia portuguesa, masir resgatar a filosofia de Suarez.

    O Mrio apresenta a decadialtica e a filosofia concreta como suas contribuiespessoais Filosofia, ele est sempre buscado o ideal pitagrico da MathesisMagiste , que marcar a tnica dos seus ltimos escritos. Qual o significado detudo isso?

    A procura do conhecimento final : da Mathesis Magiste. O conhecimento ltimo que a chave de todos os outros conhecimentos e que ele procurar a vida toda. Eu no seise ele encontrou porque deve estar em algum manuscrito, minha frustrao pessoal no ter tempo para mergulhar nos manuscritos finais dos ltimos anos dele, so cercade 5.000 pginas. Nesse caminho enorme que ele faz ele vai procurar sempre subir, afilosofia dele vai alando em planos diferentes at chegar nesse conhecimentosupremo. O que esse conhecimento supremo? A rigor, seria a definio inicial a

    partir da qual os outros conhecimentos podem ser derivados. Por que no d pra dizero que ? Porque est na obra dele depois da Metafsica. Ento, isso comea na

    Filosofia e Cosmoviso onde tem uma preocupao didtica muito forte de explicaro que filosofia. Vai progredindo num segundo livro Lgica e Dialtica, no qual ele

    j especifica a lgica, a dialtica e a decadialtica em dez princpios que permitem aincluso. A dialtica dele uma dialtica da inclusividade no uma dialtica doou uma dialtica do e-Eu no vou escolher entre A ou B, eu vou dialeticamente,num processo concreto- afirmativo- sintetizar A e B no para chegar numa sntese

    hegeliana, mas para continuar o meu percurso dentro da Filosofia. O primeiro grandeponto a decadialtica, porque a partir da ele elimina a contradio, vai contornar oprincpio da contradio que est l no Organon de Aristteles.Esse o primeiro

    grande salto dado. Continua nos livros seguintes: Noologia Geral, Filosofia da Criseat chegar ao primeiro grande planalto metafsico da obra dele que a FilosofiaConcreta Por que um grande planalto metafsico? Porque aonde ele vai voltar

    para a estaca zero, reconstruindo o conhecimento humano. Vai voltar e falar olha, issoaqui no est legal vamos voltar certeza, mas a uma certeza completamenteapodtica, que no possa ser refutada e chega a seguinte afirmao: tese nmero 1 daFilosofia Concreta Alguma coisa h e a partir desse ponto deriva todos os outrosconhecimentos. Pode-se imaginar que o conhecimento final ou Mathesis Magiste seja

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    algo mais ou menos assim: a uma afirmao simples, talvez uma proposio, talvez atmesmo um smbolo(porque ele trabalha com a simblica o tempo todo) que permitadecifrar os outros elementos do conhecimento.

    Uma marca das tradues realizadas pelo Mrio so os comentrios e asinterpretaes simblicas. Voc poderia comentar essa caracterstica do Mriotradutor?

    Mrio falava vrias lnguas ingls, francs, espanhol, latim, rudimentos de grego ealemo. Comeou sua carreira como tradutor ainda em Porto Alegre nasceu em SoPaulo e foi pequeno para Porto Alegre retornando para So Paulo depois de adulto jcasado comeando ento a traduzir Nietzsche e outras tantas obras. O Mrio tradutorrespeita muito o estilo do autor e vai decifrando comentrios. Vai lendo o livro que eleest traduzindo e os resultados dessa leitura so anexados, publicadoscom os livros.Ele faz isso no Vontade de Potncia alis por qual ele escreve um prefcio imensoe muito bom O Homem que foi um Campo de Batalha, analisando Nietzsche j sobessa perspectiva da modernidade no caso do Zarathustra ele faz uma anlise simblica

    da simbologia de Nietzsche e do uso que Nietzsche faz de vrias simbologia dentro doZarathustra . Com Pitgoras, traduz os Versos ureos e um comentrio aos Versosureos e faz um comentrio aos comentrios. Traduziu tambm o Isagoge de Porfriocomentando sentena por sentena do primeiro livro, no tendo conseguido terminartodos. Traduziu e comentou o Parmnides de Plato e Da Gerao e Corrupo dasCoisas Visveis de Aristteles. Qual o mtodo de leitura dele? um mtodo deexplicao escolstico, a leitura e a explicao do texto no faz analise estrutural, novai procurar outras referncias na filosofia, diz o que o texto quer dizer a partir deoutros referenciais da prpria filosofia do autor neste ponto, Mrio um comentaristacomo Averroes, Santo Toms e So Alberto Magno foram.

    Por que ler Mrio Ferreira dos Santos hoje? Qual a originalidade e acontribuio deste filsofo para a histria da filosofia?

    Porque Mrio tem um pensamento que permite a voc abstrair de outros sistemas depensamento e de outras filosofias e outras ideias aquilo que h de melhor numa snteseoriginal e que no catica, ento, por que ler Mrio hoje? Porque ensina voc a

    pensar.

    Como era Mrio Ferreira no cotidiano da vida privada?

    Olha, arriscando uma imagem: um dia normal do Mrio comearia muito cedo, eleacordava muito cedo, coisa de 6:30, 6:00 horas da manh em seguida tomava caf coma famlia, sempre com a famlia a mulher Yolanda e as duas filhas Nadiejda eYolanda e em seguida ia trabalhar na editora Logos aonde cuidava das edies de suasobras , cuidava das tradues, cuidava de tudo e se vinha alguma boa ideia escrevia. Ofilsofo conseguia transitar muito rapidamente do mundo intelectual para o mundocotidiano. Dava aulas, algumas tardes ou noites os alunos iam sua casa e tinham aulas

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    de temas filosficos variados. Vrias dessas aulas foram gravadas e hoje ns temos umacervo enorme. Almoava com a famlia sempre que possvel, s vezes no dava,

    porque trabalhava com a editora, mas jantava com a famlia e s vezes durante o jantarou durante o almoo, pedia pra que alguma das filhas lesse algum trecho de filosofia,s vezes em latim e pedia para filha traduzir logo em seguida. Suas filhas achavam issomuito divertido, ao contrrio do que a gente pode imaginar. Mrio no era aquelefilsofo srio, compenetrado 24hrs por dia. No: ele gostava de carnaval, tinha um

    bloco que se chama fica a pra ir dizendo, torcia pro So Paulo, assistia jogos defutebol e torcia mesmo, no era assim, s nominal, gostava de assistir televiso emespecial programas de pergunta e resposta. Ele tinha uma vida que, exceto pelo fato deele ter escrito mais ou menos 10.000 pginas no total, seria uma vida normal.

    Outro filsofo contemporneo de grande fora e originalidade foi VicenteFerreira da Silva, contemporneo de Mrio, que chegou a visit-lo e nutria forteadmirao por seu trabalho no entanto, os dois no chegaram a estabelecer umvinculo de amizade e esse dilogo acabou ficando para a imaginao daposterioridade. O pensamento dos dois, em geral, muito diferente, contudo h

    tambm semelhanas. Como voc entende a comparao entre os pensamentosde Mrio e Vicente?

    Os sistemas de ambos so muitos diferentes. Se levarmos em conta que a validade deuma proposio filosfica tanto maior quanto mais ela esteja integrada dentro dosistema onde ela formulada, seria um ato temerrio comparar essas duas filosofiasuma vez que elas no tm muita coisa em comum. Ento, o mximo que eu possotraar so alguns paralelos, vamos dizer assim, mais numa afinidade do que

    propriamente numa comparao. Quanto aos temas em comum :primeiro, existe umatranscendncia que percorre a obra de ambos, um desejo do sair do real, sair do realno para o plano da ideia, mas sair do real para algo que possa transcender o real e sevoltar sobre esse prprio real. Segundo, existe nos dois uma vertente simblica que nocaso do Vicente me parece um pouco mais desenvolvida pelos seus estudos de lgicamatemtica e que em Mrio est representado pelo Tratado de Simblica um dia talvez algum possa fazer esse trabalho de comparao entre o simbolismo deVicente e a simblica de Mrio. Terceiro, os dois chegam num momento tambm doindizvel, por caminhos bem diferentes, mas chega uma hora que Vicente precisa seexpressar nesse simbolismo que onde o Mrio vai encontrar sua transcendncia naFilosofia Concreta e no Tratado de Simblica. Os dois eram homens, vamos dizer

    assim, de famlia que prezavam muito algo que na poca era estranha: a capacidade damulher de filosofar, porque a poetiza Dora Ferreira da Silva fez um timo trabalho narea de Filosofia e Mrio tambm estimulava as filhas a filosofar falando isso hoje obvio, mas pense em 1960, antes da liberao da mulher, do feminismo e de tudo isso,era um pensamento bastante avanado que me parece ambos tambm compartilhavam.

    Luis Mauro S Martino professor de comunicao na Faculdade Casper Lberto e

    autor do livro Mdia e Poder Simblico.

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    O desenho acima foi criado por Cido Gonalves, caricaturista, ilustrador einfografista. Iniciou a carreira no jornal Folha de S. Paulo no inicio da dcadados anos 90, passando depois pelas redaes do jornal O Estado de S. Paulo erevista Veja. Blog do Cido: ciddogonn.blog.uol.com.br

    Felipe Cherubin jornalista, formado em Direito e estudou Filosofia na Harvard

    Extension School.

    Para mais informaes sobre Mario Ferreira dos Santos, leia o ensaio de Olavo de

    Carvalhopublicado na Dicta&Contradicta 3.

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    1. Parabns Felipe e Martim. tima entrevista com o Prof. S Martino. A Dicta &Contradicta faz juz ao nome ao trazer para o centro do debate a Filosofia, assim,mauscula.

    Comentrio by Valder Palombo 1 de setembro de 2010 @ 8:39 am

    2. Entrevista fantstica!

    Este anarquismo do Mrio faz falta hoje em dia

    Comentrio byLeonardo 1 de setembro de 2010 @ 3:28 pm

    3. tima entrevista!

    Comentrio by Jose Luis 1 de setembro de 2010 @ 5:39 pm

    4. Depois dessa entrevista catastrfica, com direito at a uma introduo subsidiadapor enxerto de orelha de livro, ficou-nos vedado o direito de reclamar daqueles

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    que se recusem a ler o Mrio pelos prximos 50 anos. At o coitado do Surez,hispnico da alta estirpe dos Toledo, saiu a capengar com sua natividadereportada a terras portuguesas o que no se estranha na falta de umatranscendncia da relao com o outro, percebo.

    Comentrio by Ronald Robson 1 de setembro de 2010 @ 9:00 pm

    5. Parabens pela entrevista gostaria de ressatar que criticas sendo elas positivas ounegativas so nos fazem melhorar como pessoa. Para finalizar como meu paisempre dizia ninguen chuta cachorro morto. Continue nos orgulhando.

    Comentrio by samuel 4 de setembro de 2010 @ 8:33 am

    6. Francisco Surez no era portugus, mas passou os ltimos vinte anos de suavida em Portugal, dos quais dezoito como professor em Coimbra. Nessa cidadese publicaram vrios de seus livros. Seus dois ltimos anos de vida passaram-seem Lisboa, cidade onde morreu e foi enterrado. Ser to absurdo assim

    reconhecer sua obra um lugar na histria da filosofia portuguesa?Comentrio by Zoroastro 8 de setembro de 2010 @ 4:41 pm

    7. Ainda sobre o lugar do espanhol Surez na filosofia portuguesa, vale anotar que o prprio Mrio Ferreira que se refere a ele como representante da filosofia

    praticada em Portugal nos sculos XVI e XVII. ( o que se ouve numa daquelasgravaes feitas por seus alunos que alcanou a internet.)

    Comentrio by Ric 8 de setembro de 2010 @ 8:27 pm

    8. Sensacional a caricatura do filsofo. Mandou muito bem o artista Cido.

    Comentrio by Thiago M. 9 de setembro de 2010 @ 5:19 pm

    9. [...] http://www.dicta.com.br/a-redescoberta-da-filosofia-no-brasil-ii-mario-ferreira-dos-santos/ Mrio Ferreira dos Santos nasceu em Tiet, So Paulo [...]

    Pingback by evanessenciaS Blog Archive sO paulO e a vidA inteligentE

    nacionaL 31 de dezembro de 2010 @ 12:18 pm

    10. tima iniciativa esta de se relembrar a memira de alguns de nossos melhoresfilsofos. Defendi monografia sobre Mario Santos com base em filosofiacontepornea (como Olavode de Carvalho e Pierre Levy) e creio que existe simmuita fonte a ser alimentada para restaurar a boa filosofia sem perder conexaocom o que h de mais atual, inclusive com os sistemas de informao:bastalembrar que o termo ontologia parte de um conceito frequente nos maisavanados mecanismos de buscas da Google. O que nos falta so homens

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    aplicados e sinceros como Mario Santos para sintetizar o que h de valorozo eseparar o joio (viso reducionista) do trigo (viso holistica, etc.), fonte dasverdadeiras ontologias que remetem a dignidade da Pessoa.

    Comentrio byMurilo Carlos Veras 27 de fevereiro de 2011 @ 1:04 pm

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