mariana p. carvalho - os largos na paisagem paulistana: uma abordagem histórica e morfológica

Upload: carmo-d-mikoszewski

Post on 10-Jan-2016

6 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Artigo sobre o surgimento dos largos de São Paulo e o desenvolvimento da cidade frente a estes vazios urbanos.

TRANSCRIPT

  • OS LARGOS NA PAISAGEM PAULISTANA: uma abordagem histrica e morfolgica

    CARVALHO, MARIANA P. (1)

    1. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo.

    Rua Joo Pereira de Andrade, 196 So Paulo/ SP [email protected]

    RESUMO O caminhar mais ou menos atento pela cidade de So Paulo traz a percepo de alguns largos como espaos com vivncias muito ricas, lugares representativos e importantes na vida pblica do seu entorno imediato e, em alguns casos, para reas mais amplas da cidade. Se outros espaos livres pblicos, tais como praas, parques, ruas e caladas, so amplamente abordados pelos mais diferentes enfoques, os largos raramente so estudados como objeto principal. Assim, esse artigo se prope a focar esses elementos e analis-los como histricos na ocupao do territrio paulistano, seja nos locais de ocupao colonial seja em loteamentos posteriores; assim como, pela atualidade de sua presena na cidade, pretendemos evidenci-los como espaos do cotidiano dos vivenciadores. A partir de pesquisa bibliogrfica estabelecemos um panorama histrico dos largos com base em duas fontes principais: autores brasileiros e autores portugueses. Em ambos os casos, buscamos tanto informaes sobre a formao dos largos nas cidades (sua origem, o momento em que surgiram etc) para a partir dos dados histricos de sua formao compreender aspectos especficos desses espaos; como, definies e conceituaes sobre os largos a partir de autores que na sua produo os estudaram. Alm disso, foram analisadas nove cartas histricas da cidade de So Paulo que abarcam o perodo de 1810 a 1905. Num segundo momento, tratando dos largos atualmente na cidade de So Paulo a partir de levantamentos gerais, estabelecemos algumas caractersticas morfolgicas e de apropriao como sendo fundamentais para se pensar esses espaos no cotidiano da vida urbana.

    .

    Palavras-chave: Largos; Espao livre pblico; Paisagem.

  • 3 COLQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

    1. Motivaes: o olhar do vivenciador da cidade

    Esse artigo fruto da pesquisa realizada no Trabalho Final de Graduao da Faculdade de

    Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo sob orientao do Professor Doutor

    Eugenio Fernandes Queiroga. A motivao inicial surgiu da percepo de alguns largos de

    So Paulo como espaos com vivncias muito ricas: a escadaria do Largo da Memria com

    pessoas sentadas e deitadas; a passagem pelo Largo do Paissand na hora do almoo

    cruzando com pessoas que vem de todos os cantos da cidade; os artistas que acumulam

    plateias no Largo de So Bento; e o almoo de domingo no Largo da Matriz. Ou mesmo em

    outras cidades: a multido do bloco de carnaval no Largo da Carioca (Rio de Janeiro) e a

    atrao turstica do acaraj da Dinha no Largo de Santana (Salvador).

    Se outros espaos livres pblicos, tais como praas, parques, ruas e caladas, so

    amplamente abordados pelos mais diferentes enfoques, os largos raramente so estudados

    como objeto principal. O que encontramos uma diversidade de informaes incompletas e,

    geralmente, opostas. Assim, entendemos que uma abordagem histrica e morfolgica para

    comear a pensar sobre esses espaos dentro da paisagem paulistana era imprescindvel.

    A partir da contraposio entre autores portugueses e brasileiros, traamos um panorama

    sobre como esse objeto de estudo vem sendo conceituado. Alm disso, j adentrando o

    territrio paulistano, analisamos a presena dos largos em algumas cartas histricas da

    cidade de So Paulo (das quais duas estaro ilustradas nesse artigo), contrapondo a jardins,

    praas e campos. Estabelecemos, ainda, algumas caractersticas morfolgicas e de

    apropriao dos largos na cidade de So Paulo atualmente, a partir da observao

    participante.

    2. Aspectos histricos

    A partir de pesquisa bibliogrfica tentamos estabelecer um panorama histrico dos largos com

    base em duas fontes principais: autores brasileiros e autores portugueses. Em ambos os

    casos, buscamos tanto informaes sobre a formao dos largos nas cidades, sua origem, o

    momento em que surgiram, para a partir dos dados histricos de sua formao compreender

    aspectos especficos desses espaos; como, definies e conceituaes sobre os largos a

    partir de autores que na sua produo os estudaram.

  • 3 COLQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

    Se os estudos sobre a praa so inmeros, abarcando todos os perodos da Histria da

    Humanidade e dizem respeito aos seus usos, morfologia, relao com os espaos adjacentes

    etc; de fato, a produo acerca dos largos bem mais escassa e descontnua. No entanto,

    nos itens seguintes conseguimos traar uma viso geral sobre como a problemtica dos

    largos tem sido abordada.

    Um dado bastante relevante para a pesquisa foi a quantidade de nomenclaturas diferentes

    para definir alguns espaos livres pblicos tanto na histria portuguesa como na histria

    brasileira. Os autores, no entanto, apenas citam esses nomes sem explicitar possveis

    diferenas. o caso dos adros, terreiros, rossios e campos.

    2.1 Autores portugueses

    Uma ideia muito difundida, mas tambm amplamente contestada a que assimila o

    urbanismo portugus ausncia de planejamento e normas, diferenciando-o do urbanismo

    espanhol. Assim, associa-se inicialmente a forma irregular dos largos em geral

    irregularidade do prprio urbanismo portugus. O autor portugus Jos Lamas (2011)

    apresenta justamente essa ideia ao tratar da morfologia das praas, diferencia os largos pela

    absoluta ausncia de planejamento:

    (...) Outros espaos como o largo, o terreiro, no podem ser assimilados ao conceito de

    praa. So de certa maneira espaos acidentais: vazios ou alargamentos da estrutura

    urbana e que, com o tempo, foram apropriados e usados. Mas nunca adquirem

    significao igual ao da praa porque no nasceram como tal. (LAMAS, 2011, p.100)

    importante notar, primeiramente, que Lamas define o largo no por si mesmo, mas em

    oposio praa. Em segundo lugar, para o autor a importncia que o espao adquire para a

    vida urbana das cidades est estreitamente relacionada ao fato de ter sido projetado ou no. A

    conceituao dos largos como acidentais , portanto, para esse autor, a definio deles

    como lugares com apropriaes casuais e sem grande relevncia.

    No contraponto desta definio, outros dois autores portugueses vo salientar as inmeras

    tipologias de praas que existiram ao longo da histria de Portugal, sendo inclusive

    importantes para a caracterizao dos traados urbanos portugueses (TEIXEIRA, 2001,

    p.9). Manuel C. Teixeira ainda coloca duas ideias fundamentais para o entendimento dos

  • 3 COLQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

    largos dentro da estrutura urbana portuguesa e, consequentemente, colonial. A primeira, de

    que

    A praa estruturada de uma forma regular um tipo de espao urbano que s lentamente

    se implanta na cidade portuguesa. As praas adquirem a sua estruturao formal

    simultaneamente com a assuno do seu papel como sedes do poder, a partir do sculo

    XVI. (TEIXEIRA, 2001, p.12)

    Essa informao importante porque aponta para a ideia depois apresentada pelo mesmo

    autor de que os largos eram os espaos livres pblicos fundamentais das cidades

    portuguesas at o incio desse processo lento de construo de espaos mais regulares como

    as praas. Ao descrever as cidades medievais portuguesas o autor diz:

    existe, em geral, uma rua rectilnea que liga duas portas localizadas em posies extremas

    da muralha, ou a porta principal e o castelo instalado no extremo oposto, mais facilmente

    defensvel. Perto do meio desta via principal abre-se um largo onde se localizam os

    edifcios institucionais mais importantes. Em Monsaraz, que constitui um exemplo deste

    tipo de cidades, neste largo que se situa a Igreja e outros edifcios pblicos. Neste caso,

    como noutros, este espao corresponde apenas a um alargamento da rua, obtido atravs

    de um recuo da Igreja; a rua no atravessa o largo, sendo antes tangente a um de seus

    lados. (TEIXEIRA, 2001, p.70)

    Neste trecho est apontada a segunda questo fundamental para os largos que so os usos e

    funes dos edifcios do seu entorno, destacando a Igreja e edifcios pblicos. O mesmo autor

    ressalta a importncia das funes nas praas portuguesas: funo de mercado, funo

    militar, funo poltica e administrativa e funo religiosa; segundo o autor constante a

    presena de praas diferentes para cumprir cada funo. Um segundo aspecto que para

    Teixeira distingue as praas portuguesas entre si o traado vernacular e o traado erudito.

    Os largos, segundo a descrio que ele mesmo faz, estariam no primeiro grupo:

    estes espaos resultam habitualmente do cruzamento ou do entroncamento de caminhos

    e so bastante ricos do ponto de vista morfolgico, apresentando uma grande variedade

    de formas resultantes das situaes topogrficas em que se situam e dos tipos de conflu-

    ncias de caminhos a partir dos quais se geraram. Estas praas so normalmente

    pontuadas por edifcios de natureza religiosa e so muitas vezes geradoras dos tecidos

    urbanos que em torno delas se desenvolvem. (TEIXEIRA, 2001, p.11)

  • 3 COLQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

    Embora Teixeira se oponha Lamas com relao importncia dos largos para as cidades

    portuguesas, esse autor estabelece esses espaos dentro do discurso e pesquisa que faz

    sobre as praas, caracterizando-os muito mais como uma tipologia de praa em funo do

    perodo histrico de construo. A terceira autora portuguesa que ressaltamos reforar o

    argumento de Teixeira que distancia o traado retilneo da importncia que os espaos

    adquirem para a vida urbana:

    (...) importa aqui sublinhar, que os espaos urbanos ditos orgnicos no so irregulares e

    muito menos informais, ao contrrio do que habitualmente so designados em

    bibliografia especfica. Mesmo no sendo ortogonais, eles tm uma geometria prpria, que

    resulta das condies do stio e tm uma estrutura organizada, tal como a prpria palavra

    orgnico indica. (GUERREIRO, 2001, p.24)

    Mas mais do que isso, a autora estabelecer caractersticas dos largos a partir do estudo

    desses espaos, no da definio do espao das praas. Assim, a autora descreve a

    morfologia desses espaos livres pblicos a partir de sua estreita relao com o stio em que

    esto inseridos. Para isso, explica o traado das ruas nas colinas das cidades portuguesas

    (local onde quase sempre as cidades comeavam a ser instaladas), composto por dois

    sistemas: o virio principal que acompanhava as curvas de nvel e o virio secundrio que

    ligava duas ruas principais em ngulo oblquo, no perpendicularmente. Da a autora

    desenvolve, usando como exemplo a cidade de Alfama:

    A geometria mais simples que estes largos podem assumir, a forma triangular (trs

    entradas), que resulta da ligao do percurso principal, paralelo s curvas de nvel com o

    seu oblquo. O espao intersticial dado pelo ngulo mais pequeno fica normalmente livre

    de edificado gerando um pequeno alargamento. Depois, temos a forma retangular, que

    resulta da orientao do espao livre no sentido paralelo e perpendicular s curvas de

    nvel. As restantes situaes, mais complexas, derivam do aumento respectivo do nmero

    de percursos e aumento respectivo do nmero de entradas. As formas assim geradas

    tendem a que um ou vrios lados destes largos se tornem curvos. (GUERREIRO, 2001,

    p.23)

  • 3 COLQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

    Assim, se Teixeira coloca a rua como tangente ao largo, Guerreiro estabelece uma relao

    de dependncia do largo ao traado das ruas, atentando para os ngulos oblquos e agudos

    ocasionados por um relevo menos plano.

    2.2 Autores brasileiros

    Segundo a pesquisadora brasileira Lilian Vaz, que estudou as praas coloniais no Rio de

    Janeiro: Observa-se que, nos sculos XVIII e XIX, o termo largo predominava e o termo

    praa se reservava aos espaos aos quais atribua um papel central de carter cvico. (VAZ,

    2001, p.142). Essa constatao da autora parece tornar inevitvel a todos os autores

    brasileiros que pelo menos citem os largos ao falar das cidades brasileiras. Mas, assim como

    com os autores portugueses, so poucos que tratam do largo especificamente e cada um

    ressalta aspectos diferentes.

    Murillo Marx (1980) constri uma viso bastante potica para ressaltar a importncia desses

    espaos na malha urbana brasileira, equiparando-os e, em alguma medida, sobrepondo-os s

    ruas, que com eles tem uma relao de dependncia mtua:

    As ruas se destacam na cidade brasileira tradicional, entre os inmeros vazios. Na trama

    urbana, amoldada ao stio irregular, a linearidade usual delas provm. Perfilam o casario

    na direo dos pontos de interesse e de concentrao realando espiges, descendo

    encostas, beijando vrzeas (...). A vida urbana tem nas ruas o caminho dos largos, dos

    edifcios importantes, do campo e das outras cidades. Confia-lhes, por isso, a feira, a

    procisso, o pretexto de encontro. Os prprios largos so uma continuao das ruas, um

    determinado trecho e momento seu diante das construes mais significativas, o seu

    clmax. Qualquer segmento de caminho pblico, que ligue dois desses alargamentos

    especiais e atrativos, passa frequentemente a ser o principal da aglomerao. o caso

    tpico das ruas Direitas. (MARX, 1980, p.43)

    O largo como momento mais importante da rua, como elemento que traz movimento vida

    urbana, que institui fluxos na cidade. E aqui o autor cita a presena de edifcios significativos.

    Mais pra frente, ao falar da presena e influncia dos estabelecimentos religiosos, o autor

    comenta o entorno das capelas, capelas curadas, parquias, ss, irmandades e conventos e

    evidencia a qualidade de centralidade que esses espaos tinham A morada, o negcio e,

    quando no a sede administrativa, gravitaram sua sombra, da o autor conclui sobre os

    variados ncleos que existiam na cidade de So Paulo nesse perodo, constituindo largos,

  • 3 COLQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

    ptios e terreiros (MARX, 1980, p.28). Portanto, aqui est colocada a faceta dos largos como

    espaos livres diretamente relacionados funo religiosa (como Lilian Vaz havia dito,

    espaos com carter cvico menos evidentes).

    Essa funo religiosa est bastante presente para o autor Benedito Lima de Toledo (2004),

    que ressalta esses espaos como nica herana colonial e diz:

    Quase todas as praas do centro de So Paulo originaram-se de largos, isto , espaos

    deixados na trama urbana para criar perspectiva para os vultuosos edifcios religiosos.

    (TOLEDO, 2004, p.52)

    Sobre a formao da cidade de So Paulo o autor destaca os sete largos que constituam o

    centro histrico que hoje conhecemos, alguns sendo chamados de largos at hoje:

    [nos primrdios do setecentismo] Havia, ento, sete largos, dos quais Colgio, S,

    Misericrdia e So Gonalo em zona de maior densidade de casas; os outros entre os

    quais os do Mosteiro (So Bento) e So Francisco, j ficavam na periferia da vila. No

    alvorecer do sculo XIX surgiram os largos da Legio (Arouche) e do Zunega (Alagas em

    1813) atual Paissandu. (TOLEDO, 1963)

    tambm esse autor que cita a funo dos largos como pontos de encontro de tropas de

    mula, como o Largo da Memria e o Largo do Bexiga. Ana Rita de S Carneiro e Liana

    Mesquita, tambm colocando em pauta outras funes atreladas aos largos, apresentam um

    conceito fechado sobre esses espaos no que diz respeito aos espaos livres do Recife:

    Largos: so espaos livres pblicos definidos a partir de um equipamento geralmente

    comercial, com o fim de valorizar ou complementar alguma edificao como mercado

    pblico, podendo tambm ser destinados a atividades ldicas temporrias. (S

    CARNEIRO; MESQUITA, 2000, p.29)

    Ainda sobre as funes especficas dos largos, Solange Souza Arajo as define em oposio

    ao que caracterizaria o espao das praas, ressaltando os fluxos como aspecto importante

    mais do que instituies ou equipamentos diversos:

    As praas, por essncia, trazem o carter do encontro e da permanncia, do lugar da

    socializao, das comemoraes e do comrcio, enquanto os largos constituem-se, de

  • 3 COLQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

    acordo com a sua denominao, por alargamentos e/ou confluncia de vias, como

    espaos que estimulam fluxos e passagens e, por vezes, a concentrao de pessoas.

    (ARAJO, 2006, p.25)

    2.3 Cartas histricas

    Foram analisadas nove cartas histricas da cidade de So Paulo que abarcam o perodo de

    1810 a 1905. Demarcamos em cada uma delas os espaos nomeados na prpria carta como

    largos, praas, campos e jardins, outras nomenclaturas no apareceram nesse recorte

    temporal escolhido. Abaixo ilustramos apenas duas dessas cartas, a carta de 1810, a primeira

    existente da cidade de So Paulo; e a de 1905, a ltima estudada por duas razes: as

    dimenses que a cidade tem a partir da prxima carta e a verificao de que com essas cartas

    j era possvel analisar a existncia dos largos na cidade e sua relao com os espaos

    nomeados como praas.

    importante assinalar que a anlise de cartas j tem como dado recortes subjetivos impostos

    pela prpria cartografia: a delimitao da rea a ser desenhada; o destaque a locais mais

    importantes para o momento; o objetivo da carta (ressaltar sistema virio, ressaltar edifcios

    institucionais, por exemplo); o nvel de detalhamento escolhido etc. Nesse sentido,

    estabelecemos um critrio nico para analisar os nove mapas, que foi o de marcar os largos,

    praas, campos e jardins que apareciam nomeados dessa maneira. Assim, evitamos um

    ndice ainda maior de especulao, que poderamos empregar caso quisssemos analisar a

    cartografia independente do que est representado.

    Por fim, antes de passarmos para as duas cartas selecionadas, importante ressaltar um

    ltimo aspecto, a existncia de mais de uma nomenclatura para o mesmo espao na mesma

    poca, ou a mudana constante de nomes, o que pode gerar diferenas de uma carta para a

    outra, que tentaremos diminuir com base em outras pesquisas histricas. Sobre essa

    problemtica Lilian Vaz afirma:

    difcil listar e precisar o nmero de praas e semelhantes em diferentes momentos

    histricos, mesmo quando estes momentos precisos foram registrados em diversos

    documentos. As denominaes que recebiam alteravam-se continuamente com o passar

    do tempo; terreiros e ruas recebiam vrios nomes diferentes em seus diversos trechos;

    seus limites deslocavam-se muitas vezes e o reconhecimento formal no correspondia ao

    informal. (...) O que hoje denominamos comumente como praa era geralmente chamado

    de largo. (VAZ, 2001, p.141)

  • 3 COLQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

    Para expormos essa problemtica da mudana constante de nomes, montamos uma tabela a

    partir das cartas e dos textos de Toledo (2004) e Pont (2003):

    Largo de So

    Gonalo

    Largo da

    Cadeira

    Largo do

    Teatro

    Largo da

    Assembleia

    Largo

    Municipal

    Praa Joo

    Mendes

    Campo dos

    curros

    Largo dos

    Curros

    Praa da

    Legio

    Praa dos

    milicianos

    Largo 7 de

    Abril

    Praa da

    Repblica

    Campo Redondo Largo dos Guayanazes Praa Princesa Isabel

    Largo do Zunega Largo Alagas (1813) Largo do Paissand

    Largo da Legio Largo do Arouche

    Largo do Piques Largo da memria

    Largo do Palcio Ptio do Colgio

    Largo da Chcara dos Ingleses Largo da Glria

    Largo da S

    Praa da S

    Largo do Rosrio Praa Antonio Prado

    Largo do Bixiga Praa das Bandeiras

    Tabela 1. Mudana de nomenclatura para um mesmo espao livre pblico.

    Nessa primeira carta aparecem representados nove largos (em vermelho), todos dentro dos

    limites do tringulo histrico. Alm deles fora desse limite est representado o Jardim

    Botnico. Dentre esses nove largos, todos com exceo de dois tem algum edifcio religioso

    nos lotes lindeiros, as excees so o Largo Piques (que Benedito Lima de Toledo associa ao

    chafariz e ao obelisco, alm das tropas de mulas); e o Largo da Forca, associado ao cemitrio.

    Alm disso, existem os largos associados a outros edifcios alm dos religiosos: Largo do

    Collegio (Collegio dos Jesutas e Palcio do Governo); Largo So Gonalo (Igreja de So

    Gonalo, Igreja dos Remdios e Cadeia); Largo So Francisco (Convento de So Francisco e

    Academia).

  • 3 COLQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

    Imagem 1. Planta da Imperial cidade de So Paulo, levantada em 1810 pelo Capito de Engenheiros

    Rufino J. Felizardo e Costa e copiada em 1841 com todas as alteraes. Os largos representados so:

    Largo do Carmo, Largo do Collegio, Largo da S, Largo do Pelourinho, Largo de S. Gonalo, Largo da

    Forca, Largo So Bento, Largo So Francisco, Largo Piques.

    Esta a ltima carta que analisamos. So dezenove largos, sete praas e um jardim. Os

    largos ainda so preponderantes, mas a tendncia de aumento do uso do termo praa se

    confirma na leitura da sequncia das cartas. No entanto, importante notar que embora um

    permetro maior da cidade seja representado (incluindo bairros como SantAnna, Nossa

    Senhora do e Pinheiros todos bairros com largos at os dias de hoje), a nomeao e

    detalhamento dos espaos ainda se faz predominantemente nas reas centrais.

  • 3 COLQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

    Imagem 2. Planta geral da cidade de So Paulo, 1905. Os largos representados so: Largo do Jardim,

    Largo do Quartel, Largo das Perdizes, Largo Brigadeiro Galvo, Largo dos Guaianases, Largo General

    Osrio, Largo do Arouche, Largo do Paissand, Largo Santa Efignia, Largo So Bento, Largo da

    Memria, Largo So Francisco, Largo da S, Largo 7 de Setembro, Largo da Liberdade, Largo Rio

    Branco, Largo Guanabara, Largo da Concrdia, Largo So Jos.

    3. Largos paulistanos

    Diante da escassez de pesquisas especficas sobre os largos, uma questo muito importante

    foi a de quais seriam os elementos definidores desses espaos. Para enfrentar a tarefa de

    definir os largos conceitualmente foram estabelecidas trs etapas bsicas que se somam ao

    arcabouo histrico retratado anteriormente:

    Levantamento de quais so os largos paulistanos atualmente;

    Estudo morfolgico de todos os largos;

    Levantamento de campo geral de largos selecionados.

    Evidentemente a definio conceitual de um tipo-ideal de largo dentro da complexidade da

    cidade, pretende auxiliar na compreenso e estudo desses espaos como relevantes para

    uma anlise sistmica da paisagem urbana. Um conceito de largo entendido isoladamente

  • 3 COLQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

    no ajuda nem na compreenso do prprio largo uma vez que esse no existe sem as

    relaes que o cercam nem na compreenso da paisagem da cidade.

    Nesse sentido, nos referimos discusso proposta por Milton Santos, que coloca o estudo da

    parte como relevante para a compreenso do todo:

    O movimento que estamos tentando explicitar nos leva a admitir que o espao

    total, que escapa nossa apreenso emprica e vem ao nosso esprito sobretudo

    como conceito, que constitui o real, enquanto as fraes do espao, que nos

    parecem tanto mais concretas quanto menores, que constituem o abstrato, na

    medida em que o seu valor sistmico no est na coisa como tal a vemos, mas no

    seu valor relativo dentro de um sistema mais amplo. (SANTOS, 2008, p.31)

    Portanto, a conceituao que propomos no pretende afirmar ou restringir isto um largo ou

    isto no um largo, importante ressaltar aqui a possibilidade de sobreposio de campos

    conceituais, principalmente com o conceito de praa. Desde j, podemos afirmar que todos os

    largos visitados apresentam algumas das caractersticas que definiremos abaixo e no

    apresentam outras.

    A partir de um levantamento que procurou compatibilizar e complementar as informaes do

    site da Prefeitura Municipal de So Paulo (PMSP), do Guia de Ruas, do Google Earth e das

    placas que esto fixadas em cada local, chegamos aos 72 largos. Pensando na diviso por

    zonas da cidade, so: 14 na zona norte, 15 na zona leste, 19 na zona sul, 6 na zona oeste e 18

    no centro. Essa constatao foi importante para contestar a percepo de que os largos so

    espaos existentes apenas nas regies de formao colonial dentro da cidade de So Paulo,

    mas tambm em outras cidades. Evidentemente, isso no exclui a origem colonial desses

    espaos, mas refora a permanncia deles no tecido urbano mesmo aps o perodo colonial.

    Isso indica para duas hipteses importantes: a primeira, de que a maneira de se pensar e

    fazer a cidade tem muitos resqucios coloniais; em segundo lugar, indica para uma relao

    funcional ou afetiva dos cidados com os largos, de maneira que eles permaneam no espao

    urbano.

  • 3 COLQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

    Imagem 3. Localizao dos 72 largos paulistanos atualmente.

    4. Estudo morfolgico

    Em um primeiro momento, para uma aproximao mais geral, ainda sem a proximidade

    possibilitada pelo trabalho em campo, foi realizado um estudo morfolgico a partir de imagens

    areas desses 72 largos. Esse estudo teve trs focos principais: perceber estritamente a

    forma desses espaos; a partir de uma mesma escala verificar as variaes de dimenses

    dos diferentes largos; e, selecionar que largos fariam parte de um levantamento geral, dessa

    vez, em campo.

  • 3 COLQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

    4.1 Forma

    A forma dos largos definida pela maneira como as ruas que os delimitam se encontram,

    geralmente em ngulos agudos. Isso que determina o nmero de lados de um largo. Embora

    alguns largos principalmente os de regies com formao mais recente tenham o formato

    de rotatria, isso no uma caracterstica predominante. Assim como no o mais frequente

    largos com formato retangular e inseridos em malhas quadriculadas e regulares.

    Em sua maioria, a forma dos largos est determinada pelo encontro de trs ou mais ruas de

    maneira no perpendicular. Grande parte desses espaos tem formato triangular ou

    quadrangular.

    Os largos em forma de um ou mais tringulos tem duas configuraes bsicas. No primeiro

    caso, o encontro de trs ruas no perpendiculares origina um espao de trs lados que tem

    seu centro com calada ocupada com vegetao, equipamentos pblicos e/ou edificaes,

    com a passagem de veculos somente nas bordas. O segundo caso configurado pelo

    encontro de quatro ou mais vias, sendo o formato triangular originrio da subdiviso do

    espao central geralmente para abertura de passagem para veculos.

    De alguma maneira justamente esse formato triangular que favorece a interpretao dos

    largos como espaos residuais, assemelhando-os aos canteiros triangulares que organizam o

    trnsito. Concordamos que especialmente o segundo tipo de largo triangular formalmente

    muito semelhante a esses canteiros, no entanto o que nos faz negar essa hiptese

    justamente a anlise da apropriao desses espaos, que so bem distintas dos tais canteiros

    ajardinados.

    No que diz respeito aos largos de formato quadrangular, como j foi dito acima, a grande

    maioria no apresenta ngulos retos, sendo justamente isso que caracteriza suas formas.

    Alm desses dois formatos mais comuns, h duas situaes menos presentes, mas que

    conformam largos igualmente: a primeira o simples alargamento de uma via, na qual no

    existe um espao central destinado aos pedestres, predominando o leito carrovel; e o

    segundo, o largo que resulta do encontro de vias, mas atrelado a uma das quadras que o

    conformam, no sendo o espao central propriamente.

    Essas quatro formas especificadas (triangular, quadrangular, alargamento de via e atrelado a

    uma quadra) encontram-se na cidade de So Paulo de maneira mais ou menos fiel a

    descrio, sendo que alguns largos tem a forma resultante de mais de um desses processos.

  • 3 COLQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

    Imagem 4. Diagramas esquematizando as formas dos largos definidas acima. Na sequncia: largo

    triangular pelo encontro de trs ruas; largo triangular pela subdiviso para passagem de veculos; largo

    quadrangular; largo atrelado quadra; largo formado pelo alargamento de via.

    4.2 Relaes de escala

    No estudo morfolgico, foi importante notar que h tambm uma questo de dimenso a ser

    pensada sobre os largos e que os diferenciam de outros espaos livres pblicos. Assim como

    a diferena de reas entre praas e parques um critrio para diferenci-los, os largos

    tambm tem um padro mais ou menos comum de dimenses. As relaes de dimenso dos

    diferentes espaos livres pblicos no dizem respeito somente ao tamanho de cada um, mas

    tambm influencia em outros fatores como a proximidade com o entorno imediato, a

    quantidade de equipamentos pblicos (quadras, bancos etc) que podem ser instalados, ou

    ainda o tipo de vegetao presente. Ao usar a mesma escala para representar os 72 largos,

    percebemos que h um tamanho padro aproximado na quase totalidade desses espaos.

    4.3 Levantamento de campo geral

    Foi importante a partir de uma pr-seleo uma primeira visita de reconhecimento e

    documentao de 30 largos. Essas visitas foram rpidas, percorrendo em mdia sete largos

    por dia. Esse levantamento mais geral e, podemos dizer, mais quantitativo, foi

    importantssimo para apontar para as variveis definidoras desses espaos dentro da cidade

    a partir do olhar do observador, somando-se s caractersticas que pudemos apontar na

    anlise morfolgica.

    As visitas principalmente aos largos inexplorados ressaltou o fator de surpresa que esses

    espaos configuram no tecido urbano. Essa uma caracterstica que se perde quando

    frequentamos muito um espao, mas absolutamente marcante quando estamos num

    caminho que desconhecemos e de repente defrontamos com um espao no edificado. Ainda

  • 3 COLQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

    que os edifcios vizinhos continuem bastante prximos, muito distinto da paisagem da rua

    (lote calada leito carrovel calada lote) que estamos mais acostumados. Esse

    momento no escapa percepo que o vivenciador tem da cidade, e essa percepo

    visual, mas no s, corprea tambm: difcil manter o mesmo caminho retilneo; difcil

    no esbarrar em algum no encontro dos diferentes fluxos; difcil no tentar abranger com o

    olhar aquele espao que se abre.

    Essa caracterstica ainda que possa estar presente em muitas praas e at mesmo parques,

    no aparece como um elemento definidor desses espaos. Ao contrrio, alm de estarem

    normalmente sinalizados na cidade, esses espaos costumam ter elementos que evidenciam

    sua presena, como vegetao, iluminao e canteiros diferenciados, vias largas que servem

    como foyer. O largo, pelo contrrio, no anunciado antecipadamente por nenhuma das

    vias que desembocam nele, o que refora a sensao de surpresa.

    Uma segunda questo que se evidenciou muito foi a dos fluxos. Estudos dos mais variados

    relacionados anlise da cidade apontam os fluxos como aspectos determinantes para

    entender as dinmicas urbanas. Portanto, afirmar a importncia dos fluxos para a

    compreenso dos largos de alguma maneira somente reafirmar essa temtica para o estudo

    do urbano. No entanto, o que se pretende ressaltar aqui o largo como espao livre pblico,

    que, assim como as ruas, tem a relao mais estreita com os fluxos.

    Essa importncia dos fluxos se faz perceber de duas maneiras distintas. A primeira, j

    enumerada nas definies formais que estabelecemos, isto , os largos no existem sem as

    ruas que se direcionam para eles e os conformam, embora eles no se confundam com o

    espao das ruas, sua relao com os fluxos trazidos e levados por ela inevitvel e desejvel.

    Esse aspecto formal, naturalmente, se verifica em outras caractersticas, como o carter de

    passagem dos largos.

    Isso no significa que o nico tipo de apropriao existente o do caminhar direcionado

    outro espao, mas as apropriaes se relacionam ao movimento de passagem em sua

    maioria: a parada na frente de uma vitrine, a parada para comprar algum alimento rpido e

    continuar caminhando, a parada para descansar um instante, a parada para ver uma

    apresentao de artista de rua, o espao de conversa antes de entrar na igreja ou no

    descanso do horrio de almoo, a passagem da farmcia ao banco e depois padaria.

    Novamente, usamos as diferenas com as praas e os parques para caracteriz-lo. A ida ao

    parque se define como um evento para a maioria dos habitantes da cidade, que se faz uma

    vez por semana aos domingos, por exemplo. As praas esto mais presentes no dia-a-dia,

  • 3 COLQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

    como a passagem pela Praa da Repblica na sada do metr ou a passagem pela Praa

    Dom Jos Gaspar na hora do almoo; no entanto, esses espaos tambm esto relacionados

    a outros momentos como o lazer no parquinho das crianas no final da tarde ao voltar da

    escola, ou o show de comemorao do aniversrio da cidade. nesse sentido que afirmamos

    o carter cotidiano dos largos. No entanto, evidentemente h largos que se caracterizam por

    outras atividades de carter mais permanente, mas, em geral, a relao com o fluxo

    estabelecida.

    Um terceiro fator que nos pareceu importante na observao foi a centralidade desses

    espaos no entorno prximo, mas, muitas vezes, para uma regio maior. Se, como

    mostramos na abordagem histrica, os largos estavam relacionados a inmeras atividades

    que garantiam sua relevncia e influncia no cotidiano das pessoas, tais como edifcios re-

    ligiosos, chafarizes, paradas de linhas de bonde, encontro de tropas de mula; hoje em dia, os

    largos, em geral, mantm sua configurao nodal por conta de outras atividades, ainda que

    muitas vezes permanea a presena das igrejas e monumentos, h uma diversidade imensa

    de comrcios e servios, pontos de nibus, sadas de metr, etc. Foi curioso notar como as

    bancas de jornal e os postos policiais esto presentes nesses espaos, o que s refora os

    largos como estratgicos para a movimentao da cidade.

    Aqui, destacou-se tambm outra caracterstica j apontada no levantamento histrico: a

    vivacidade dos caminhos que levam aos largos. Afinal, esse n repleto de inmeras atividades

    cotidianas reverbera para as ruas do entorno. notrio, por exemplo, como a relao das

    ruas direitas apresentada por Murillo Marx continue se mantendo nos dias de hoje. A

    vitalidade dessas ruas que ligam dois ou mais largos inquestionvel, e isso no aconteceria

    com ruas que ligam dois espaos residuais, mas sim em caminhos que relacionam dois

    pontos de intenso movimento.

    5. Consideraes finais

    Ao longo do percurso desse trabalho, o objeto escolhido revelou muitos aspectos: ainda

    pouco problematizado; possui presena predominante na formao colonial e imperial da

    cidade de So Paulo; ainda est presente na cidade tanto nos bairros mais antigos como nos

    bairros mais novos; exercem centralidade em cada lugar. Os largos se confirmaram,

    sobretudo, como espaos ricos em apropriaes.

  • 3 COLQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

    Sob a tica da paisagem urbana, no se trata somente de espaos importantes

    historicamente, pelo contrrio, o largo um espao do cotidiano nos dias de hoje. No se trata

    de encarar os largos como espaos especiais da cidade que fogem lgica perversa de

    excluso e mercantilizao, mas de identificar neles espaos de contato, proximidade,

    convvio, encontros e dilogos que nos possibilitam um olhar mais otimista e propositivo sobre

    a cidade. E que, principalmente, pelos inmeros espaos adjacentes que so mobilizados

    pelos largos, eles nos possibilitam uma viso menos fragmentada da paisagem cultural da

    cidade de So Paulo.

    Referncias

    ARAJO, Solange Souza. Tipomorfologia das Praas e Largos de Salvador

    Intervenes em espaos do centro antigo (1980-2005). Tese (Doutorado) Faculdade de

    Arquitetura, UFBA, Salvador, 2006.

    CARITA, Helder; ARAUJO, Renata (Coords.). Colectnea de Estudos. Universo urbanstico

    portugus 1415-1822. Lisboa: Comisso Nacional para as Comemoraes dos

    Descobrimentos Portugueses, 1998.

    FONT, Mauro. A praa em movimento: processos de transformaes morfolgicas e

    funcionais no Brasil do sculo XX. Dissertao (Mestrado). Faculdade de Arquitetura e

    Urbanismo, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2003.

    GOMES, Marcos A. S. De largo a jardim: praas pblicas no Brasil algumas aproximaes.

    Revista Estudos Geogrficos (online), Rio Claro, v.5, n. 1, p. 101-120, 2007. Disponvel em:

    GUERREIRO, Maria Roslia P. Espaos pblicos centrais, estrutura urbana e territrio.

    Os largos e as praas de Lisboa at o sculo XVII, gnese e formao. In: TEIXEIRA,

    Manuel C. (Coord.). A praa na cidade portuguesa. Colquio Portugal-Brasil. Lisboa: Livros

    Horizontes, 2001.

    GUIA 2014 CARTOPLAN. So Paulo, 2014.

    LAMAS, Jos M. Ressano Garcia. Morfologia urbana e desenho da cidade. 6.ed. Lisboa:

    Fundao Calouste Gulbenkian, 2011.

  • 3 COLQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

    MARX, Murillo. Cidade brasileira. So Paulo: Melhoramentos; Edusp, 1980.

    S CARNEIRO, Ana Rita; MESQUITA, Liana de Barros. Espaos livres do Recife. Recife:

    Prefeitura da Cidade de Recife/ UFPE, 2000.

    SANTOS, Milton. Espao e Mtodo [1985]. 5.ed. So Paulo: Edusp, 2008.

    SANTOS, Milton. A Natureza do Espao [1996]. 4.ed. So Paulo: Edusp, 2009.

    SANTOS, Paulo Ferreira. Formao de cidades no Brasil colonial. Rio de Janeiro: UFRJ,

    2001.

    TEIXEIRA, Manuel C. (Coord.). A praa na cidade portuguesa. Colquio Portugal-Brasil.

    Lisboa: Livros Horizontes, 2001.

    TEIXEIRA, Manuel C. As praas urbanas portuguesas quinhentistas. In: TEIXEIRA,

    Manuel C. (Coord.). A praa na cidade portuguesa. Colquio Portugal-Brasil. Lisboa: Livros

    Horizontes, 2001.

    TOLEDO, Benedito Lima de. So Paulo, trs cidades em um sculo. So Paulo: Cosac &

    Naify/ Livraria Duas Cidades, 2004.

    TOLEDO, Benedito Lima de. So Paulo em suas pocas largos centrais da cidade:

    Largo de So Bento. Revista do Instituto Geogrfico e Geolgico, So Paulo, v.XVI, 1963.

    VAZ, Lilian Fessles. Notas sobre as praas do Rio de Janeiro no perodo colonial. In: TEI-

    XEIRA, Manuel C. (Coord.). A praa na cidade portuguesa. Colquio Portugal-Brasil. Lisboa:

    Livros Horizontes, 2001.