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Mariana Bezerra Moraes de Araújo IMAGEM POLÍTICA DO BRASIL NA MÍDIA INTERNACIONAL - A PROPOSITURA AO CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU Mariana Bezerra Moraes de Araújo outubro de 2011 UMinho | 2011 IMAGEM POLÍTICA DO BRASIL NA MÍDIA INTERNACIONAL - A PROPOSITURA AO CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU Universidade do Minho Escola de Economia e Gestão

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Mariana Bezerra Moraes de Araújo

IMAGEM POLÍTICA DO BRASIL NA MÍDIAINTERNACIONAL - A PROPOSITURA AOCONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU

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Universidade do MinhoEscola de Economia e Gestão

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outubro de 2011

Tese de MestradoMestrado em Relações Internacionais

Trabalho efetuado sob a orientação daDoutora Anabela Carvalho

Co-Orientador:Doutor José Palmeira

Mariana Bezerra Moraes de Araújo

IMAGEM POLÍTICA DO BRASIL NA MÍDIAINTERNACIONAL - A PROPOSITURA AOCONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU

Universidade do MinhoEscola de Economia e Gestão

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iii

AGRADECIMENTOS

A realização deste projeto não seria possível sem a colaboração de diversas

pessoas às quais gostaria de prestar meus agradecimentos. Primeiramente, a família que

apesar da distância e da saudade não deixou de apoiar-me, contribuindo a manter firme

o propósito de concluir o Mestrado. Um agradecimento especial aos meus pais, os quais

sem o apoio emocional e financeiro o sonho de fazer o mestrado não seria possível.

Também foram parte essencial deste processo a Professora Anabela Carvalho e o

Professor José António Palmeira, os quais me orientaram durante toda a trajetória da

investigação. Para além, também deixo o meu agradecimento aos demais professores do

mestrado, que ministrando as disciplinas do primeiro ano letivo do curso contribuíram

para a minha formação de Mestre.

Agradeço ainda aos colegas de mestrado pela ajuda, conversas e dicas que me

deram ao longo desse período. Para além, um obrigado especial aos amigos, que apesar

da distância sempre se mantiveram presentes e com os quais pude compartilhar mais

uma etapa da minha vida.

A Pedro, namorado, o qual sempre me incentivou durante o mestrado. Agradeço

a ajuda, a motivação e a força, mas principalmente, o companheirismo.

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iv

Imagem Política do Brasil na mídia internacional – A propositura ao Conselho de

Segurança da ONU

RESUMO

A presente dissertação teve como objetivo investigar a imagem política do Brasil

na mídia internacional. Para isso escolhemos o estudo de caso a propositura brasileira a

membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Procurou-se analisar a

imagem do Brasil em diversos jornais de países relevantes, tendo em consideração a

relação que têm com o Brasil e o peso na comunidade internacional, para além do

interesse na questão da reforma do Conselho de Segurança.

Os países escolhidos para fazermos a análise foram Argentina, México, Portugal,

Estado Unidos e Reino Unido. Neles selecionamos um total de 11 jornais e revistas.

Clarín e La Nación na Argentina, El Universal e La Jornada no México, Público e

Diário de Notícias em Portugal, New York Times, Newsweek e Time nos EUA, e The

Guardian e Daily Telegraph no Reino Unido. Para a escolha desses meios de

comunicação usamos os seguintes critérios: importância atribuída a assuntos sobre

política internacional e circulação.

A investigação centrou-se no período de 2004 a 2008. Escolhemos esse período

porque foi quando o Brasil, juntamente com os outros membros do G4, pediram a

revisão do atual formato do Conselho de Segurança da ONU e lançaram uma proposta

conjunta para se tornarem membros permanentes do CS. Para além, também foi o

período no qual o então Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, nomeou uma

comissão para analisar uma possível reforma do órgão.

Para a realização da pesquisa optamos pela utilização de dois métodos de

análise. Primeiro realizamos uma análise quantitativa utilizando a Análise de Conteúdo;

aqui foi possível verificar o tratamento dado ao tema, observando o posicionamento dos

jornais em relação à propositura do Brasil a membro permanente do Conselho de

Segurança. Depois, fizemos uma análise qualitativa, utilizando a Análise Crítica do

Discurso proposta por van Dijk para verificar qual a imagem do Brasil construída pela

mídia internacional.

Palavras-chave: Brasil, Conselho de Segurança da ONU, Comunicação Internacional,

imagem política

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v

Brazil’s political image in the international media – the bid to the UN Security

Council

ABSTRACT

The main goal of this dissertation is to investigate the political image of Brazil in

the international media. As a case study focus on Brazil’s bid to becamoe a permanent

member of the United Nations Security Council. I aim to analyse the image of Brazil's i

several newspapers of relevant countries, taking into account the relationship they have

with Brazil and their weight in the international community, in addition to their interest

in the reform of the Security Council.

The countries selected for the analysis were Argentina, Mexico, Portugal, United

States and United Kingdom. A total of 11 newspapers and magazines from these

countries were selected. Clarín and La Nación from Argentina, El Universal and La

Jornada from Mexico, Público and Diário de Notícias from Portugal, NY Times,

Newsweek and Time from the USA, and The Guardian and Daily Telegraph from the

UK. The following criteria were taken into account: emphasis on matters of

international politic and circulation.

The dissertation focuses on the period 2004-2008. I chose this period because it

was in 2004 that Brazil, along with the other members of the G4, requested a review of

the current format of the UN Security Council and launched a joint bid to become

permanent members of the Security Council. In addition, it was also the period in which

the former Secretary General of the United Nations, Kofi Annan, appointed a committee

to consider possible reforms.

I employed two research methods. Firstly, I carried out a quantitative analysis,

with Content Analysis techiniques in order to examine the media treatment of the theme

and the position of newspapers in relation to Brazil’s bid to become a permanent

member of the UN Security Council. Secondly, I underttok a qualitative analysis, using

Critical Discourse Analysis as proposed by van Dijk to look at the image of Brazil that

has been constructed by the international media.

Key-words: Brazil, UN Security Council, International Communication, political image

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ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS .................................................................................................... iii

RESUMO ........................................................................................................................ iv

ABSTRACT ..................................................................................................................... v

ÍNDICE DE TABELAS ................................................................................................. vii

LISTA DE SIGLAS ...................................................................................................... viii

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1

CAPÍTULO 1: ENQUADRAMENTO E PROBLEMÁTICA ......................................... 5

1.1 Brasil: uma potência emergente .................................................................. 5

1.1.1 Regionalismo ...................................................................................... 11

1.1.2 Multilateralismo ................................................................................. 14

1.2 Conselho de Segurança da ONU ............................................................... 19

CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ....................................................... 25

2.1 Comunicação Internacional como um campo de estudo ........................... 25

2.2 Comunicação global: a relação entre os meios de comunicação e a Política

Externa ........................................................................................................................ 30

2.3 Impacto na Política Externa ...................................................................... 38

CAPÍTULO 3: METODOLOGIA .................................................................................. 50

3.1 Descrição da metodologia ......................................................................... 50

3.2 Corpus de análise ...................................................................................... 54

CAPÍTULO 4: ANÁLISE DOS RESULTADOS .......................................................... 57

4.1 Análise quantitativa dos dados .................................................................. 57

4.1.1 A importância da reforma nos jornais ................................................ 57

4.2 Análise Qualitativa .................................................................................... 68

4.2.1 Imagem do Brasil ............................................................................... 68

4.2.2 Artigos de Opinião ............................................................................. 72

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 79

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 83

ANEXOS ........................................................................................................................ 88

ANEXO I – MATÉRIAS ANALISADAS ..................................................... 88

ANEXO II – ARTIGOS DE OPINIÃO ANALISADOS ............................ 106

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vii

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 Número de matérias por jornal e país .............................................................. 59

Tabela 2 Número de matérias por ano ............................................................................ 60

Tabela 3 Gênero de matérias por jornal .......................................................................... 62

Tabela 4 Posições identificadas nos jornais ................................................................... 65

Tabela 5 Posições identificadas de acordo com o total de artigos de opinião ................ 66

Tabela 6 Posições identificadas nas notícias, reportagens, notas, entrevistas e outros .. 67

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viii

LISTA DE SIGLAS

BRIC - Brasil, Rússia, Índia e China

CPLP - Comunidade dos Países da Língua Portuguesa

FMI - Fundo Monetário Internacional

FOCALAL - Forúm de Cooperação América Latina-Ásia do Leste

G-20 - Grupo formado por países em desenvolvimento

IBAS - Forúm de diálogo Índia-Brasil-África do Sul

MERCOSUL - Mercado Comum do Sul

MINUSTAH - Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti

OEA - Organização dos Estados Americanos

OMC - Organização Mundial do Comércio

ONU - Organização das Nações Unidas

PIB - Produto Interno Bruto

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INTRODUÇÃO1

“Whatever its faults or problems, no outsider today sees

Brazil as a Joke. The biggest country in its region is now treated – and acts – as such a country deserves to be and, in the long term, has to be”. (The Economist cit. in Corrêa,1999).

Este trecho retirado do artigo Brazil’s steady nerve, mostra a relevância que o

país vem conseguindo alcançar como ator no sistema internacional, onde ele tem

elevado sua importância e participação nos foros internacionais, como a Organização

das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial do Comércio (OMC), ao longo dos

últimos anos. O Brasil procura participar de forma activa em debates sobre questões que

afligem o mundo na atualidade. Podemos citar como exemplo, questões relacionadas

com o meio ambiente, desenvolvimento sustentável, segurança e economia.

Outras características do Brasil também têm colocado o país em maior evidência

nos últimos anos. Entre elas podemos ressaltar o fato do Brasil ser uma potência

emergente, juntamente com outros países que fazem parte dos BRICs2. Para além de ser

uma potência regional, destacando sua participação no MERCOSUL. Também devemos

destacar a participação ativa do ator sul-americano em organizações internacionais,

cimeiras e diversos grupos de importância política e econômica no cenário

internacional, entre eles o G-20, para além, das diversas alianças feitas com países como

China, Portugal, Rússia, França, África do Sul, Índia, entre tantos outros. Esta atuação

vai de encontro as pretensões do país em se tornar um ator de relevância no contexto

internacional.

A defesa do multilateralismo é outra característica do ator, que defende a

democratização de organizações internacionais como a Organização Mundial do

Comércio e a Organização das Nações Unidas. Todas essas são características que

fazem do Brasil um ator importante no cenário internacional e têm feito com que o país

ganhe destaque no mesmo. Dessa forma, é constante sua presença na mídia, pois ele

vem atuando sobre assuntos de grande interesse global. Por causa dessa relevância do

1 Esta redação foi redigida de acordo com as normas da Língua Portuguesa praticada no Brasil. 2 O termo foi criado pelo economista Jim O´Neil em 2001 para designar as principais potências emergentes. Segundo a projeção feita por ele, esses países, com a liderança Chinesa, tem potencial para se transformarem nas futuras maiores economias mundiais e que juntas, ultrapassarão os, até então, países mais ricos: Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália. Atualmente, a África do Sul também está incluída nos BRICs

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Brasil decidimos focar a dissertação na imagem política do mesmo na mídia

internacional, sendo este o tema desta dissertação.

Decidimos centrar-nos sobre a vontade do Brasil em se tornar membro

permanente do Conselho de Segurança (CS) da ONU como estudo de caso. A escolha

da propositura brasileira ao CS deve-se ao fato de ser uma questão de grande interesse

político e público, uma vez que o Conselho de Segurança é o órgão mais importante da

organização e é responsável pela paz e segurança mundial. Tornar-se membro

permanente é uma aspiração do Brasil que vem desde os tempos da fundação da

organização. A entrada do ator sul-americano no Conselho de Segurança elevaria a

importância do país e significaria que o Brasil passaria a ser um ator central no sistema

internacional, o que vai de encontro aos interesses da sua política externa.

A crescente atuação do Brasil no sistema internacional e a repercussão da

ambição brasileira em se torna um membro permanente do Conselho de Segurança da

ONU, nos despertou interesse em realizar uma análise da cobertura jornalística dessa

questão. Decidimos então verificar como a questão foi retratada em determinados

jornais e revistas. Para isso, selecionamos primeiro os países que tinham interesse na

questão e um relacionamento estratégico com o ator, nomeadamente selecionamos os

seguintes países: Estados Unidos, Reino Unido, México, Argentina e Portugal. Nos

Estados Unidos optamos por fazer a investigação no New York Times e nas revistas

Newsweek e Time. No Reino Unido, escolhemos os jornais Daily Telegraph e The

Guardian. Na Argentina, selecionamos os jornais La Nación e Clarín. No México, os

jornais El Universal e La Jornada. Em Portugal, optamos pelos jornais Público e Diário

de Notícias.

Para além, optamos pelo campo da investigação ser a partir do ano 2004 e

terminando no ano de 2008. A escolha deste período deveu-se ao fato de 2004 ter sido o

ano em que o Brasil, juntamente com os outros membros do G4, pediu a revisão do

atual formato do CS da ONU.

Durante a investigação tentamos responder a algumas questões que nortearam a

pesquisa. Como questão de partida a pesquisa teve a seguinte pergunta: Qual é a

imagem do Brasil, enquanto ator político, construída pela mídia internacional? A partir

desta questão principal, surgem outras a que também pretendemos responder na

investigação realizada:

- Qual a opinião da mídia internacional em relação à propositura do Brasil ao

Conselho de Segurança da ONU?

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- Qual a imagem divulgada pela mídia sobre a capacidade do Brasil se tornar

uma potência capaz de influenciar o sistema internacional?

A estrutura da dissertação foi dividida em quatro capítulos. No primeiro capítulo

desta dissertação nos dedicamos a fazer o enquadramento do tema. Aqui foram expostas

as características do Brasil como ator no sistema internacional, onde realçamos o papel

do mesmo no contexto internacional ao apresentar suas características de potência

emergente. Também foram expostas as questões relevantes sobre o Conselho de

Segurança da ONU. Para isso dividimos o primeiro capítulo em duas partes.

Na primeira parte foram ressaltadas as características que fazem do Brasil uma

potência emergente. Também fizemos dois tópicos para falar de forma mais profunda

sobre o regionalismo e o multilateralismo, questões de importância nas características

do ator. Já a segunda parte do capítulo foi dedicada ao Conselho de Segurança da ONU,

onde falamos sobre o órgão e a importância do mesmo no sistema internacional. Para

além, fazermos uma retrospectiva histórica da ambição brasileira de fazer parte do CS.

Outro ponto abordado aqui é o debate em torno da reforma do órgão, que já existe há

vários anos.

O segundo capítulo foi dedicado a fundamentação teórica da investigação. Aqui

verificamos a importância da mídia na reprodução e propagação da imagem política do

Brasil e o seu papel crescente nas Relações Internacionais. Esse capítulo foi dividido em

três partes. Na primeira, falamos sobre a comunicação internacional como campo de

estudo, onde mostramos o desenvolvimento dessa área de estudo. A segunda parte foi

dedicada a comunicação global, onde abordamos características da relação entre os

meios de comunicação e a política externa. Por último, abordamos o impacto que os

meios de comunicação estão tendo na política externa.

No capítulo seguinte, abordamos a descrição metodológica da investigação,

descrevendo como foi feita a pesquisa empírica e que metodologia de investigação se

utilizou. Esse capítulo foi dividido em duas partes, a primeira dedicada a descrição da

metodologia utilizada, onde explicamos que tipos de análises usamos e o porquê da

escolha delas. Nesse caso, optamos por mesclar duas metodologias de estudo: uma

análise quantitativa e outra análise qualitativa. Já a segunda parte é dedicada a

determinação do corpus de análise, onde explicamos porque escolhemos os cinco países

a serem analisados e como selecionamos os jornais.

Apresentamos os resultados da nossa pesquisa empírica no último capítulo desse

trabalho. Primeiro, fizemos a análise quantitativa, onde procuramos determinar a

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importância do tema e o posicionamento dos jornais e revistas em relação à propositura

brasileira a membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Também neste

capítulo foi feita a análise qualitativa sobre a imagem do Brasil nas matérias publicadas

nos jornais selecionados; na segunda parte, mantivemos o foco da análise em artigos de

opinião. Os textos analisados encontram-se na parte dos anexos para visualização. Por

fim, faremos algumas considerações sobre os resultados da investigação.

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CAPÍTULO 1: ENQUADRAMENTO E PROBLEMÁTICA

1.1 Brasil: uma potência emergente

A participação do Brasil como ator de peso no sistema internacional vem

ganhando força ao longo dos últimos anos, uma vez que o país tem elevado sua

influência e atuação nos foros multilaterais, como a Organização das Nações Unidas

(ONU) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). O ator tem participado

ativamente em debates sobre questões importantes relacionadas ao meio ambiente,

desenvolvimento sustentável, segurança e economia, procurando assim aumentar seu

desempenho e definir sua identidade nacional como potência emergente no sistema

internacional.3

A vontade brasileira de aumentar sua influência no cenário internacional pode

ser observada ao analisarmos o progresso que o Estado tem feito nesse sentido, ou seja,

ao examinarmos as mudanças pelas quais ele passou nas últimas décadas, pois o país

deixou de ser apenas um coadjuvante e colocou-se lado a lado com os grandes atores

internacionais.

“Com uma democracia jovem, uma pobreza dilacerante e uma

economia dada a acidentes, os líderes brasileiros eram mais vistos na fila para pedir ajuda à economia do País que lado-a-lado com os grandes líderes no cenário internacional. Após décadas de passos em falso, o Brasil tornou-se uma democracia sólida adepta do livre-mercado, uma ilha rara de estabilidade em uma região em desordem, um país governado pelo respeito às leis e não pelo humor de autocratas.” ( Margolis cit in Ministério das Relações Exteriores, 2009)

Podemos constatar essas mudanças observando a própria política externa deste

ator que está voltada para elevar o seu status de potência e aumentar a presença do

Brasil no sistema internacional. As mudanças na política externa do Brasil tiveram

início no governo de Fernando Collor de Mello (1989-1992) e foram continuadas nas

administrações seguintes. A partir deste momento o Brasil mostra um desejo de

3 Para entendermos o conceito de identidade nacional, primeiramente, devemos definir o de identidade coletiva, a qual tem relação com “a ideia de um interesse comum que leva as pessoas a afirmarem uma identidade por semelhança, lastreada numa visão compartilhada deste bem ou interesse comum.” (Bovero cit in Lafer, 2007, p.15). Podemos citar como exemplos de identidades coletivas, a identidade religiosa ou a participação em algum grupo político. Para além, aqui também podemos falar na identidade nacional, a qual é formada a partir da relação do Estado com o outro, surgindo no campo internacional através da interação, do contato com outros estados. Dessa forma, a diplomacia e a política externa dos países devem trabalhar identificando e defendendo os interesses da nação no campo internacional. (Lafer, 2007, p. 16).

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transformação de uma diplomacia passiva, onde ela se caracterizava por ser reativa e

defensiva em relação aos acontecimentos internacionais, para uma atitude mais ativa,

procurando intervir mais nos foros multilaterais e mudar a imagem do Brasil de país

“terceiro-mundista”. (Meza, 2002, p. 38)

Apesar de a modificação ter começado com Collor, os principais responsáveis

pela transformação da atuação da política externa brasileira são os governos de

Fernando Henrique Cardoso e de Luíz Inácio Lula da Silva, marcados pelo investimento

feito nessa área, onde remodelar a imagem do Estado afastando-o da representação de

um país terceiro-mundista para enquadrá-lo na de um ator de peso no sistema

internacional é um dos principais objetivos. Este processo teve impulso com o governo

Cardoso, o qual fez melhoras significativas ao controlar a inflação, estabilizar a moeda,

abrir a economia do país ao exterior e melhorar a relação do Brasil com outros atores

internacionais.

Já na era Lula, apesar da continuidade das políticas iniciadas por Cardoso, temos

um aprimoramento e uma determinação da política externa brasileira em aumentar a

influência do Brasil no campo internacional, o que pode ser constatado nas inúmeras

viagens feitas pelo chefe de Estado a outros países e pela quantidade de embaixadas e

departamentos no Ministério das Relações Exteriores que foram abertos. (Margolis,

2009).

As alianças estratégicas firmadas com os mais diversos atores do cenário

internacional também servem como exemplo dos instrumentos utilizados pela política

externa do Brasil para aumentar sua influência. Aqui podemos citar os acordos feitos

com a Índia, África do Sul, Rússia, França, China, Japão e tantos outros, sem mencionar

os países da América do Sul. São alianças económicas e políticas com atores

imprescindíveis para o alcance dos objetivos do país e que fazem parte da estratégia da

política externa brasileira de obter o status de potência emergente, afastando-se assim da

imagem de país em desenvolvimento, ou seja, através dessas parcerias o Brasil

consegue elevar seu campo de influência.

“ A eleição de parcerias estratégias, contanto que com sócios

preferenciais, foi resultado da nova formulação e implementação da política exterior, cuja síntese era o universalismo seletivo, no qual se percebe a necessidade de se levar adiante aproximações específicas (eleitas como opção) que permitem alcançar objetivos comuns…” (Meza, 2002, p. 40)

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Para além disso, vários são os grupos e as cimeiras nas quais o país participa

ativamente, como são os casos do Forúm de diálogo Índia-Brasil-África do Sul (IBAS),

Forúm de Cooperação América Latina-Ásia do Leste (FOCALAL), América Latina e

Caribe + União Europeia, Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP),

Cúpula das Américas, Organização dos Estados Americanos (OEA), Conferência Ibero-

Americana, G-20 (Grupo formado por países em desenvolvimento), ONU, etc. Sem

mencionar outras alianças feitas pelo Brasil, como é o caso do G-4 (grupo formado por

Brasil, Índia, Alemanha e Japão, que luta por uma reforma do Conselho de Segurança

da ONU, tema que será abordado mais profundamente nos próximos tópicos). Como já

foi referido, essas alianças mostram como o Brasil tem ampliado seus parceiros no

sistema internacional a fim de aumentar sua relevância e influência.

A importância no papel desempenhado pelo Brasil está relacionada com as

próprias mudanças ocorridas no sistema internacional. Com o final da Guerra Fria, nos

deparamos com uma reorganização dos pólos de poder. Entende-se aqui como pólos os

países capazes de influenciar o sistema internacional. (Fonseca Jr., 1998, p.1). Até o

momento o sistema estava caracterizado pela disputa ideológica entre as duas grandes

potências da época: Estados Unidos e União Soviética. A bipolaridade marcante do

período vai ceder lugar ao surgimento de uma multipolaridade de atores. “O fim da

Guerra Fria permitiu que forças até então “abafadas” pelo conflito ideológico

emergissem e passassem a ser decisivas para a compreensão da ordem internacional.”

(Fonseca Jr., 1998, p.4). Dessa forma, vários atores que até então não tinham muita

visibilidade e importância no cenário, passam a atuar mais fortemente.

Entre os diversos pólos, podemos falar que os EUA continuam a ser a principal

potência no sistema internacional por ser o mais completo nas diversas áreas de

influência (econômica, financeira, cultural, militar e política). O poderio americano

pode nos levar a pensar que ao contrário de uma multipolaridade, a queda do muro de

Berlim deu lugar a uma unipolaridade, mas pensar assim seria uma forma simplista de

analisar a complexidade do novo sistema internacional, onde também vale salientar a

existência de potências secundárias (Alemanha, Rússia, França, entre outras), as quais

não são potências tão “completas” como a americana, mas não deixam de ser

importantes e exercer influência. Para além, também temos as potências regionais

(Índia, Brasil, etc.), estas são consideradas atores com bastante importância nas suas

regiões, na maioria das vezes os que detém maior poder. (Fonseca Jr., 1998, p.5). Dessa

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forma, para fins de análise desta tese, vamos usar o conceito de multipolaridade, onde

os EUA se encontram como potência diferente das outras.

Para além destas, o pós-Guerra Fria também traz o conceito das chamadas

Potências Emergentes, países em desenvolvimento com grande potencial de crescimento

económico e que, além de aspirarem a ganhos econômicos, também lutam para obter

uma maior projeção externa. (Souto Maior, 2006, p.43). Como potências emergentes,

temos o exemplo do chamado BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul ),

países com grande contingente populacional, um vasto território, e com potencial para

se transformarem nas principais potências mundiais nos próximos 40 anos.

Segundo dados recolhidos pela revista The Economist, em 2005, as economias

emergentes “responderam por mais da metade do aumento do PIB4 global em termos de

dólares correntes”. (The Economist cit in Souto Maior, 2006). Já no ano de 2007, dados

do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam que a participação do BRICs no PIB

mundial equivale ao dos EUA e ultrapassa a dos países da União Européia. “Enquanto o

conjunto das economias avançadas participou com 56,4% do PIB mundial, as

economias emergentes, lideradas pelos Brics, participaram com 43,6%”. (Paulino, 2008,

p.1).

É nesse contexto que o Brasil está a ganhar bastante destaque no cenário

internacional, pois apesar de ainda não ter o poderio econômico da China, ele se

enquadra entre os países com previsão de serem as futuras potências mundiais e a

credibilidade alcançada por ele junto aos investidores estrangeiros apenas confirma isso.

Segundo Corrêa, “o elevado valor do estoque de investimentos estrangeiros (IED) no

Brasil representa sinal inequívoco de alto grau de confiança nas potencialidades de

longo prazo do país.” (Corrêa, 1999, p. 11).

Além do grande crescimento económico pelo qual vem passando ao longo dos

últimos anos (a economia brasileira está entre as 10 maiores), outras são as

características que fazem do Brasil uma potência emergente. Entre elas podemos falar

da vasta extensão territorial do país, o qual é o quinto maior do mundo; da sua numerosa

população, também é a quinta com cerca de 190 milhões de habitantes, sua estabilidade

democrática, o grau de liberdade sindical e de imprensa, a existência de um regime

jurídico estável, a diversidade dos recursos naturais e a capacidade energética (podemos

ressaltar o fato do Brasil estar entre os maiores produtores de petróleo e de etanol).

4 Produto Interno Bruto (PIB)

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Todas estas características contribuem para colocar o Brasil ao lado da Rússia, China e

Índia como as futuras “hegemonias” mundiais. Mas apesar de todas essas qualidades, o

Brasil ainda tem sérias dificuldades de âmbito interno para ultrapassar, uma vez que a

desigualdade social e a violência são sérios problemas que ainda afligem o país.

O papel desempenhado pelo Brasil na defesa dos interesses dos países em

desenvolvimento é uma outra característica de sua identidade internacional, uma vez

que ele luta pela democratização das instituições multilaterais, ou seja, procura tornar o

processo de tomada de decisão mais democrático, onde além das grandes potências, os

chamados países em desenvolvimento também sejam capazes de influenciar na decisão.

Através da diplomacia, ele busca dar voz aos países em desenvolvimento agindo como

mediador entre o diálogo destes e dos países desenvolvidos.

Segundo Souto Maior, para o Brasil “caberia manter fortes vínculos bilaterais

tanto com os grandes países desenvolvidos quanto com outros países em

desenvolvimento de maior expressão geopolítica e econômina.” (Souto Maior, 2006,

p.43). Dessa forma, o Brasil procura incorporar na sua identidade a defesa dos interesses

dos países em desenvolvimento, fazendo disso uma ferramenta importante de sua

política externa. “A intenção do Brasil de desempenhar um papel decisivo no cenário

internacional e de se apresentar como defensor dos interesses do mundo em desenvolvimento frente às grandes potências, …, é praticamente visível desde o governo FHC, como parte de uma estratégia continuada ativamente por Lula.” (Sousa, 2008, p. 128)

Além da candidatura do Brasil ao Conselho de Segurança da ONU, onde através

da reforma ele busca transformar-se em um membro permanente do conselho e,

consequentemente, conseguir assim uma maior representatividade regional da

instituição pois seria o representante da América Latina, também podemos afirmar que a

participação do Brasil na criação do G-20 em 20035 é um dos maiores exemplos da sua

atuação como “protetor” dos países em desenvolvimento. Conforme já foi referido

anteriormente, O G-20 é o grupo formado pelos países em desenvolvimento que tem

operado no âmbito da OMC em busca de aumentar a participação no processo de

tomada de decisão, procurando assim incorporar também seus interesses na

5 A criação do G-20 aconteceu no ano de 2003, em Cancún, no México, no âmbito da V Conferência Ministerial da OMC. Ele surgiu com o objetivo de minar as negociações da organização a favor dos grandes atores globais e propunha o cumprimento total da Agenda de Doha para o Desenvolvimento, incluindo-se assim o tema da agricultura e do desenvolvimento social e económico dos países menos desenvolvidos nas negociações. Desde então, o grupo idealizado pelo Brasil conseguiu colocar o tema da agricultura em destaque e tem atuado no âmbito da OMC em busca do cumprimento da Agenda de Doha.

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Organização, a qual durante muito tempo privilegiou apenas os países desenvolvidos,

como por exemplo, os EUA e a União Europeia.

O G-20, idealizado pelo Brasil, pode ser considerado um dos maiores sucessos

da diplomacia deste ator, uma vez que do ponto de vista dos países em desenvolvimento

ele tem conseguido atingir o objetivo de dar voz a estes atores, situação a qual na OMC

era difícil de se imaginar até então.

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1.1.1 Regionalismo

Outro ponto de destaque entre as características mais marcantes na consolidação

da identidade brasileira como potência emergente é o regionalismo, uma vez que o

contexto da vizinhança tem uma função fundamental na sua definição, pois

normalmente as potências emergentes são os grandes atores das regiões em que se

situam e transportam essa condição do âmbito regional para o internacional, usando-a

como ferramenta para aumentar seu poder. Aqui devemos entender que é importante

para as potências emergentes, também serem consideradas potências regionais, ou seja,

serem detentoras de uma base forte de alianças em suas regiões e ter a capacidade de a

usar como uma forma de aumentar sua influência em todo o cenário internacional. Tal

qual o Brasil, também a Rússia, China e Índia são importantes atores em suas regiões.

Dessa forma, a política externa brasileira trabalha para construir alianças

regionais e criar um clima de cooperação no continente formando uma base regional

forte e ampla e que, consequentemente, contribuirá no seu desempenho de potência

emergente. Em outras palavras, essa atuação do Brasil como potência regional está

colaborando para elevar sua influência no cenário internacional, ajudando a inserí-lo no

sistema e a lhe dar maior visibilidade. Segundo Souto Maior, “…um país em

desenvolvimento que aspira a uma maior projeção externa – seja em âmbito regional,

seja internacional – não tem os meios de conseguir tal objetivo sem o concurso de

outros.” (Souto Maior, 2006, p.51).

O assunto está presente na política externa do país já há muitos anos, pois para o

Brasil desenvolver a união dos países sul-americanos é imprescindível para o próprio

desenvolvimento nacional. Por isso, ele tem trabalhado para criar um clima de

“amizade” na região, transformando as fronteiras separação em fronteiras cooperação, o

que além de contribuir economicamente (gera oportunidades de desenvolver a economia

do país), também contribui politicamente. (Lafer, 2007, p.54). O melhor exemplo desta

política de integração adotada pelo Brasil é o MERCOSUL6, o qual é “resultado de uma

efetiva reestruturação, de natureza estratégica, do relacionamento Brasil- Argentina.”

(Lafer, 2007, p.58), até então marcado pela rivalidade e que vai servir como exemplo da

democracia dos seus integrantes, os quais trabalham pela integração e cooperação na

6 O MERCOSUL é uma União Aduaneira formada no ano de 1991 através da assinatura do Tratado de Assunção entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Entrou em vigor em 1995 e atualmente, além dos membros originais, tem como membros associados Bolívia, Chile, Peru, Equador e Colômbia. Além destes, desde 2006 a Venezuela passou a integrar o MERCOSUL, mas ainda espera a aprovação do Senado Brasileiro e do Parlamento Paraguaio para efetivar sua adesão.

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região. Desde sua criação, o MERCOSUL tem sido imprescindível nas negociações

econômicas em todo o continente americano e mesmo com outros atores internacionais,

como é o caso da União Européia.

O Brasil se utiliza da sua participação no bloco sul-americano para ganhar maior

poder de influência no sistema internacional. Por ser um dos principais componentes do

bloco regional, ele aproveita-se do poder político e econômico que o MERCOSUL

representa para aumentar o poder de negociação com outros atores internacionais, pois a

aliança regional contribui para o aumento do peso internacional de seus componentes,

consequentemente, contribuindo para aumentar o seu peso individual. “...a nível político, o bloco permitiria dotar o Brasil de uma base

maior de apoio para sua estratégia de alcançar reconhecimento como “potência média mundial” em virtude da liderança que exercia no interior do bloco e, através deste, no Cone Sul.”(Meza, 2002, p.44).

Apesar de o MERCOSUL ser o melhor exemplo da política de integração

regional adotada pelo Brasil, ela tem sido idealizada já há muito tempo antes da criação

do bloco. Ao fazermos uma retrospectiva do assunto, vamos nos deparar com o exemplo

do pan-americanismo de Monroe7, onde temos o surgimento de um regionalismo

paternalista em defesa dos países da América contra a “invasão” européia. O pan-

americanismo aparece de forma unilateral por parte dos Estados Unidos, que vêem toda

a América como sua zona de influência.

Em contraponto a Doutrina Monroe, temos a bolivariana8, aqui a integração

pretendida referia-se aos países de colonização espanhola e, ao contrário da americana,

não era de forma unilateral, uma vez que acreditava na solidariedade destes para

defenderem-se. Ela vai servir como base da futura idealização da união latino-

americana, ou seja, Bolívar pretendia uma união dos países de colonização espanhola,

mas essa idealização vai terminar por incorporar a união de toda a América Latina, com

a inclusão do Brasil. (Souto Maior, 2006, p. 51 e 52).

Podemos citar como exemplo do regionalismo brasileiro a Área de Livre

Comércio Sul-Americana, I Cúpula Sul-Americana, Associação Latino-Americana de

Livre Comércio e a Associação Latino-Americana de Desenvolvimento, que podem ser

7 Presidente americano, James Monroe, lança a Doutrina Monroe em 1823 assumindo unilateralmente para os EUA a função de patrono das Américas. Ela tinha como lema A América para os americanos e consistia em proteger os países americanos da intervenção européia. 8A percepção bolivariana leva esse nome por causa de Simon Bolívar, venezuelano que lutou pela independência de vários países da América do Sul. Ele acreditava na união dos países de colonização espanhola, excluindo o Brasil e os EUA. Divergia da Doutrina Monroe um vez que não era um ato unilateral.

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incluídas como parte do trabalho brasileiro para conseguir a integração regional,

procurando dessa forma aumentar sua influência na região.

Vale ressaltar que a integração sul-americana proposta pelo Brasil contempla um

projeto integracional maior, o da América Latina. A partir do MERCOSUL, o Brasil

busca conseguir a união dos países latino-americanos, aumentando dessa forma

consideravelmente sua zona de influência, tanto na região, como internacionalmente,

pois através desta união ele conseguiria aumentar seu peso de potência emergente, uma

vez que iria possuir “uma base regional de tais amplitude e solidez que muito facilitaria

a consecução do objetivo de levar avante uma política externa de potência emergente.”

(Souto Maior, 2006, p.53)

Como maior potência da América do Sul e uma das maiores potências da

América Latina, ele tem chamando para si a responsabilidade de representar a região,

situação a qual pode ser comprovada pela sua importância econômica e política no

cenário internacional. Mas esse papel de liderança brasileiro tem sido questionado por

outros atores regionais, que não aceitam o Brasil como seu representante; este é o caso

da Argentina e México, os quais vem questionando a liderança brasileira e não aceitam

sua candidatura ao CS da ONU.

De qualquer forma, a questão regional é de imprescindível importância para a

consecução dos objetivos brasileiros no que remete ao seu status de potência emergente,

pois contribui para aumentar o peso do país no cenário internacional ao lhe outorgar

uma ampla base de apoio e influência.

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1.1.2 Multilateralismo

Para entendermos a atuação brasileira no sistema internacional, primeiramente é

melhor compreendermos as mudanças do próprio sistema. Com o fim da Guerra Fria,

começa o processo de nova ordem internacional e, paralelamente, também nos

deparamos com o processo da globalização, onde as fronteiras são abolidas e os atores

internacionais passam a ser cada vez mais interdependentes. Assim, as ameaças até

então conhecidas (guerras entre os Estados) tornam-se difusas, como o terrorismo, o

narcotráfico, crime organizado, as questões ambientais, entre outros.

Outra mudança ocorrida foi a “reavaliação do próprio conceito de poder, diante

da perda de utilidade relativa do poder militar (hard power), e da importância acrescida

do poder econômico, cultural e simbólico (soft power)…”9(Lampreia, 1998, p. 8) Dessa

forma, o uso da força deixa de ser o meio mais eficaz na persuasão de outros atores e na

resolução de conflitos; e o chamado Soft Power passa a ganhar mais espaço, onde usa-se

a diplomacia e a negociação para encontrar soluções para as crises. Para além, também

podemos ressaltar o surgimento de diversos atores, como as ONGs, empresas

transnacionais, meios de comunicação e as organizações internacionais, os quais passam

a interferir no processo de governança mundial, antes focado nos Estados.

Juntamente com todas essas transformações passadas pelo sistema internacional,

devemos compreender a necessidade da cooperação entre os diversos atores para a

resolução dos problemas que afligem o mundo, como já foi referido, eles são difusos e

difíceis de resolver sem a cooperação. Até então, os Estados agiam de forma unilateral e

tomavam decisões que, normalmente, apenas os beneficiavam. Dessa forma, o uso de

organizações internacionais, como a ONU e a OMC, são mecanismos importantes para

a gestão da ordem mundial, tornando-se um local onde os Estados podem debater os

problemas que afligem o mundo atualmente e tentar encontrar soluções para eles

legitimadas por essas instituições.

Entretanto, apesar de serem mecanismos “reguladores” do sistema internacional,

essas organizações são muitas vezes usadas como palco para exercer a vontade das

grandes potências, as quais em alguns casos chegam a não respeitar as decisões destes

organismos quando esta atinge seus interesses e agem de forma unilateral, aqui

9 Consideram-se intrumentos de Soft Power, aqueles que não utilizam da força para persuadir, cooptar e atrair outros atores. Já o Hard Power usa a força para atingir seus objetivos.

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podemos citar o exemplo da ofensiva americana sob o Iraque, onde não foi obtida a

concordância da ONU.

Neste contexto, o Brasil defende o uso do multilateralismo, ou seja, da

cooperação entre os diversos atores, os quais devem tomar decisões conjuntas e não

unilaterais, como forma de “organização” do sistema internacional e busca aumentar sua

participação em instituições multilaterais, além de procurar tornar estas instituições

mais democráticas. Essa posição brasileira passa a estar fortemente presente na política

externa do país durante o século XX, uma vez que no século XIX a principal

preocupação da política externa era relacionada ao desenvolvimento nacional.

“Esta visão não surge com nitidez no século XIX, quando o vetor

principal da política externa foi o da consolidação do espaço nacional. Com efeito, situado na periferia geográfica, política e económica do Concerto Europeu, o Brasil não tinha como se contrapor a um sistema de funcionamento da política internacional em que o poder de gestão internacional era atribuído, com exclusividade, ao equilíbrio entre as grandes potências.” (Lafer, 2007, p. 67).

A modificação no posicionamento do Brasil em relação ao seu papel secundário

como ator internacional tem seu marco na II Conferência de Paz em Haia, em 1907,

onde é reivindicada uma função mais ativa na gerência internacional.

“Com efeito, na II Conferência de Paz, que assinala o momento

inaugural da presença brasileira em foros internacionais, o Brasil republicano,…, reivindicou, fundamentado na igualdade jurídica dos estados, um papel na elaboração e aplicação das normas que deveriam reger os grandes problemas internacionais da época, questionando, assim, a lógica das grandes potências.” (Lafer, 2007, p. 68).

Dessa forma, podemos evidenciar que durante a II Conferência da Paz, em Haia,

o Brasil sustentou a democratização do sistema internacional e das organizações

“responsáveis” pela sua gestão, procurando assim desde então incluir atores “fracos” na

elaboração das regras que iriam gerir o sistema. Para além, este também foi o momento

onde o país defendeu o uso da diplomacia e negociação, e não o uso da força, para a

resolução de crises.

Um outro momento marcante para a política externa brasileira foi na

Conferência de Paz em Paris, em 1919, após a Primeira Guerra Mundial. Durante a

Conferência em Paris, deparamo-nos com a continuação da linha de idéias lançada em

1907. Devido a sua participação na Primeira Guerra, o Brasil pôde comparecer a

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conferência, mas juntamente com outros atores menores, ele apenas deveria participar

nas sessões ligadas aos chamados “interesses limitados”, ou seja, assuntos diretamente

relacionados com os interesses destas potências, como por exemplo a regulamentação

do café. Já as grandes potências seriam as únicas a participarem das comissões onde

deveriam ser debatidos os chamados “interesses gerais”, estes estavam relacionados

com a própria ordem internacional. Durante a Conferência de Paz, vamos nos deparar

com a vontade brasileira de não submeter o seu papel a um plano secundário na

gerência do sistema internacional. Dessa forma, ele organizar as pequenas potências e

termina por fazer as grandes potências aceitarem a participação delas também nas

sessões de “interesses gerais”. (Lafer, 2007, p. 72 e 73).

A partir do momento inicial em Haia, a política externa do Brasil continuou

seguindo aquela linha de atuação, onde busca participar de forma ativa na organização

do sistema internacional e não quer ser posto de lado nos debates sobre o assunto. Dessa

forma, ele procura aumentar sua importância como ator internacional e sua posição vem

ganhando destaque no sistema, principalmente, nos últimos anos.

O uso da diplomacia e da negociação pelo Brasil como forma de persuadir

outros atores internacionais é uma ferramenta importante da política externa do país,

pois ele acredita na utilização do diálogo como a melhor forma para a resolução de

conflitos. Como já foi mencionado, a postura adotada pelo ator sul-americano no

sistema internacional é a da defesa do multilateralismo, ou seja, através da cooperação

entre os diversos atores podem-se encontrar soluções para os problemas que afligem o

sistema internacional nos dias actuais. O Brasil procura agir como um “pacificador” e

muitas vezes como mediador entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento

na resolução de atritos, buscando promover consensos entre eles no plano multilateral.

A atitude brasileira, que através do diálogo procura encontrar soluções para os conflitos,

consegue somar à imagem do país a característica e a credibilidade internacional de Soft

Power.

O fato do país estar localizado em uma região sem conflitos armados entre seus

vizinhos também contribui para a credibilidade brasileira de Soft Power, pois isso o

diferencia das outras potências emergentes, como China e Rússia, ambas envolvidas em

questões separatistas e conflitos com outros atores de suas regiões. A última vez que o

Brasil se envolveu em uma guerra na América do Sul foi durante a Guerra do Paraguai10

10 A Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado na região e envolveu Uruguai, Argentina, Paraguai e Brasil.

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em 1870. A falta de envolvimento em tensões internacionais, tanto na América do Sul

como em outras regiões, é uma de suas características como ator internacional, uma vez

que o Brasil tem uma tradição pacifista, onde ele prefere a utilização de instrumentos de

Soft Power como a negociação e a diplomacia para a resolução de crises. (Sousa, 2008,

p. 124).

Apesar da tradição pacífica, o Brasil é a maior potência militar da América

Latina, estando entre os 20 países com mais gastos na área militar do mundo, mesmo

que isso seja equivalente a apenas 1%. Em 2007, o investimento brasileiro no setor foi

de 15 milhões de dólares (Sousa, 2008, p. 126), sendo que nos últimos 10 anos o valor

investido foi de cerca de US$ 127 bilhões11. Mesmo assim, ao contrário das outras

potências emergentes, o Brasil não possui armas nucleares, tendo ratificado o Tratado

de Não-Proliferação de Armas Nucleares em 1998. A falta desse tipo de equipamento é

uma característica que não o coloca entre as potências militares. (Jardim e Carmo,

2008).

Para elevar seu status ao de uma potência militar, o país firmou um acordo em

2008 com a França, na qual este se compromete a transferir tecnologia militar para o

Brasil, dessa forma, ele passaria a fabricar submarinos nucleares, helicópteros e aviões

de combate, visando transformar o Brasil realmente em uma potência militar mundial e,

dessa forma, contribuiria para contrabalançar o aumento do poderio bélico acumulado

pela Venezuela desde que o Hugo Chávez subiu ao poder em 199812. O melhoramento

da capacidade militar brasileira é essencial para a sua ambição de um dia fazer parte,

como membro permanente, do Conselho de Segurança da ONU, uma vez que todos os

membros do CS são considerados potências militares.

De qualquer forma, além de melhorar suas capacidades militares, um ator que

tem como ambição ser um membro permanente do CS, também deve procurar estar

envolvido em questões de segurança internacional e, particularmente, nas atividades da

ONU, contribuindo para as missões da organização pelo mundo. Para isso o país tem

trabalhado ativamente em Missões de Paz, estando presente, nos últimos 60 anos, em

cerca de 30 missões de paz da ONU e da Organização dos Estados Americanos (OEA).

11 Dados do Stockholm International Peace Research Institute (Sipri) retirados da matéria Sul-americanos buscam reforçar seu poderio militar publicada no site BBCBrasil.com em 11/03/2008. 12 Vale ressaltar que o presidente militar Hugo Chávez já foi reeleito duas vezes, uma em 2000 e outra em 2006. Depois que subiu ao poder, a Venezuela tem aumentado os gastos militares e desde o ano de 2004 foram gastos 4 bilhões de dólares em equipamentos. Além disso, o país também fechou contrato com a Rússia para a construção de duas fábricas.

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“ Essa contribuição, embora tenha sido, na maioria das vezes, apenas simbólica em termos de recursos e de pessoal, serviu para demonstrar o interesse do Brasil na promoção da paz e da segurança, encaminhando seus esforços através de canais multilaterais existentes.” (Sousa, 2008, p. 130)

Entre todas as missões nas quais o país esteve presente ao longo dos anos,

podemos destacar o seu papel em alguma delas, como por exemplo, a missão da ONU

na Angola, entre os anos de 1988 e 1977, onde foram enviados cerca de 1200 pessoas

para ajudar na situação, entre eles militares, agentes de saúde e policiais. Outros dois

exemplos são as participações do Brasil na Operação das Nações Unidas para

Moçambique (ONUMOZ), aqui o país assumiu a liderança militar da missão; e no

Timor Leste, onde contribui na organização de uma consulta popular para a

independência do país. O momento ápice da participação brasileira na promoção da paz

e da segurança internacional é com a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do

Haiti (MINUSTAH), que em 2004 teve sua liderança transferida ao Brasil, o qual até

então não havia tido uma atuação com tanto destaque e importância. (Sousa, 2008, p.

131 e 132).

O desempenho brasileiro na promoção da paz e segurança internacional vem ao

encontro da sua ambição de possuir um papel mais importante no sistema internacional.

Dessa forma, apesar de o Brasil possuir a credibilidade de Soft Power, pois acredita na

negociação e diplomacia para a resolução de conflitos, além de defender o uso do

multilateralismo tanto em questões de segurança, como para assuntos políticos e

econômicos, ele também precisa melhorar suas capacidades militares se quer ser

considerado um ator de peso. Essas características juntamente com todas as outras

explicitadas na primeira parte deste trabalho são de fundamental relevância para a

estratégia brasileira de desempenhar um papel cada vez mais importante na gerência

internacional e o tem colocado em uma posição de visibilidade no sistema internacional,

assim como é importante para caracterizá-lo como uma potência emergente, o qual

poderá vir a se tornar um dos atores com uma maior capacidade de influência no futuro.

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1.2 Conselho de Segurança da ONU

Até o momento, a primeira parte da dissertação manteve seu foco voltado para o

enquadramento do Brasil no sistema internacional, evidenciando as características do

país como actor internacional e, principalmente, o que fazem dele uma potência

emergente. Já a questão desenvolvida nesta parte da dissertação irá abordar o Conselho

de Segurança da ONU e a ambição brasileira em se tornar um membro permanente,

caso de estudo deste trabalho, e por isso, a importância de enquadrar o tema.

O Conselho pode ser considerado o órgão mais importante das Nações Unidas,

uma vez que ele é responsável pela manutenção da paz mundial e, através do CS, são

tomadas decisões acerca das intervenções militares ou missões de paz. Ele é formado

por 15 membros, sendo destes apenas cinco permanentes (EUA, França, Rússia, China e

Reino Unido) com direito ao veto. Os outros dez membros são eleitos pela Assembléia

Geral e tem o mandato de dois anos, a distribuição das vagas é através de critérios

geopolíticos, assim, cinco vagas vão para a África e Ásia, três para a Europa, duas para

a América Latina e Caribe. “O Conselho de Segurança é de fato o órgão restrito das Nações

Unidas, que, tecnicamente, deve zelar, de forma coletiva, pela manutenção da paz. Assim, respeitando a unanimidade dos votos de seus membros permanentes, este pode chegar mesmo a aprovar o recurso à força, por meio de uma resolução de natureza normativa, ou seja, obrigatória para todos os 191 países integrantes da ONU.” (Brant, 2008)

Quando a ONU foi fundada em 1945, o sistema internacional estava

vivendo o pós-segunda Guerra Mundial, e o surgimento deste organismo refletia a

disposição de poder do período. Desde então, o sistema passou por uma série de

mudanças, deparando-se com uma nova configuração político-econômica, onde a

bipolaride deixa de estar presente e as ameaças são mais difusas, como já foi referido

nos tópicos anteriores. Junto com essas transformações, esperava-se uma reestruturação

das Nações Unidas, principalmente, do Conselho de Segurança, com a incorporação de

novos membros permanentes de forma que passasse a refletir a nova configuração

internacional e tornasse a organização mais democrática, fato que até os dias de hoje

não aconteceu. Espera-se que o CS seja capaz de agir de forma democrática como um

regulador da ordem mundial, mas ao contrário disto, é difícil conseguir consenso entre

os membros permanentes, os quais muitas vezes atuam em função de interesses

próprios.

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“Ao contrário do que é difundido amplamente, o Conselho de

Segurança das Nações Unidas (CSNU), composto por 15 países-membros desde a reforma de 1965, não opera, no contexto pós-bipolar ou "unimultipolar", pela lógica da transparência democrática e da simetria decisória com votações competitivas sobre a paz e a segurança internacionais como consta nos Capítulos V, VI e VII da Carta da ONU.” (Castro, 2005)

Assim, uma reformulação deste órgão é necessária para atender a demanda

mundial. Neste contexto, o Brasil procura obter um dos assentos permanentes, caso a

reforma se concretize, e para isso busca o apoio de outros atores internacionais. O G4

pode ser citado como o melhor exemplo das alianças que o ator sul-americano tem feito

em busca de um lugar permanente. Ele é o grupo formado por Brasil, Índia, Alemanha e

Japão que ambicionam uma cadeira permanente e, em 2004, apresentaram uma proposta

conjunta de reformulação do CS para a entrada de novos membros, entre eles os

próprios atores, mas até hoje, ela não teve grandes avanços.

Dessa forma, a proposta de ampliação do CS, tanto de membros permanentes

como de rotativos, feita pelo G4 procura atender essa necessidade e vem ao encontro da

posição brasileira de tornar as organizações internacionais mais democráticas ao dar

abertura para uma maior participação de países em desenvolvimento. Outra aliança

paralela a esta foi feita pelo Brasil, em 2003, com a Índia e a África do Sul, ambas

potências emergentes, as quais visam fazer um contrapeso as potências do Hemisfério

Norte e que ambicionam um lugar permanente no conselho.

Juntamente com as mudanças no sistema internacional, a própria organização

também sofreu algumas modificações em relação ao número de membros, uma vez que

desde sua criação em 1945, o número de países participantes praticamente

quadruplicou, “com a presença de Estados a ombrear com quatro dos cinco fundadores,

se comparados e conjugados os potenciais militar, económico ou cultural.” (Arraes,

2005, p.3). Além da inclusão de Japão e Alemanha, levando em conta aspectos

económicos, a reformulação do conselho também deveria considerar a questão de

aumentar a representatividade mundial e incluiria países em desenvolvimento, nesse

caso, atores como Brasil, África do Sul, México, Egito, entre outros começaram sua

busca por um assento. (Arraes, 2005, p.2)

O Brasil desponta como um dos principais candidatos, pois procura chamar para

si a representação da América Latina. Apesar de ter conseguido o apoio de atores

importantes, como por exemplo, da Rússia, China e França, o país esbarra com a

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oposição regional da Argentina e do México, os quais não apoiam a propositura

brasileira e chegaram a fazer alianças com outros atores internacionais, lançando uma

proposta paralela a do G-4, associando-se ao grupo chamado Unidos pelo Consenso, os

quais são contra a introdução de novos membros permanentes.

A vontade brasileira de ser um dos membros permanentes é anterior a criação

da ONU e teve seu início na Liga das Nações, órgão predecessor às Nações Unidas.

Sendo um dos participantes da assinatura do Tratado de Versalhes13, o Brasil assumiu o

Conselho Executivo da Liga, como membro rotativo, e aproveitou o debate sobre sua

reformulação para tentar se tornar membro permanente. Já nessa época notamos a

vontade brasileira de desempenhar um papel mais importante na gerência do sistema

internacional e, nesse caso de ampliar o prestígio brasileiro regionalmente. (Arraes,

2005, p.3).

Entre os argumentos utilizados pelo país estavam a tradição diplomática, onde

defendia-se a defesa da soberania das nações, o pacifismo e o respeito ao direito

internacional; o prestígio internacional conseguido através das suas características como

nação, aqui pode-se ressaltar as dimensões do país; e por último, o fato do Brasil ter

sido o único ator sul-americano a participar da Primeira Guerra. (Silva, 1998, p. 149).

Apesar da intensa campanha feita pelo Brasil, sua candidatura não conseguiu o apoio

tanto da Inglaterra como da França e EUA, inclusive esbarrou com a oposição dos

próprios países latino-americanos, quando tentou ser o representante das Américas. A

situação terminou com o Brasil deixando seu cargo de membro rotativo do Conselho e

retirando-se da Liga das Nações em 1926.

Em relação a ONU, sua ambição de ser um membro permanente do Conselho de

Segurança vem desde a criação da organização. Em 1944, durante as discussões para a

configuração das Nações Unidas, o país tentou conseguir um lugar entre os membros

permanentes, usando justificativa parecida com a utilizada na Liga das Nações, ou seja,

a de ser um ator com vasto território continental, uma grande população e potencial para

desenvolver-se. Na época, o ator sul-americano obteve o apoio dos Estados Unidos, o

qual concordavam em ter o Brasil como membro permanente, mas mais uma vez ele

esbarrou com a oposição da Inglaterra e dos países latino-americanos e, também, da

13 O Tratado foi um acordo de paz e instituiu o pacto da fundação da Liga das Nações, foi assinado em 1919 após o final da Primeira Guerra Mundial, e tem como principais consequências sanções aplicadas à Alemanha, a qual assumiu a responsabilidade da guerra. O Tratado de Versalhes foi ratificado pela Liga das Nações em 1920.

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União Soviética. (Arraes, 2005, p.4). Por fim, o país contentou-se em tentar um assento

rotativo.

Apesar disso, o sonho brasileiro de se tornar membro permanente não foi

esquecido. Em 1989, na abertura da 44ª Assembléia Geral, o país propôs uma

reformulação do CS tendo como objetivo a inclusão de países periféricos. A vontade

brasileira pode ser constatada ao longo dos anos, durante o governo de Itamar Franco, a

diplomacia brasileira mostrando as características do país como ator democrático,

pacífico e multilateral, pediu pela inclusão tanto do Brasil como de outros membros,

entre eles Alemanha, Índia e Egito. Dessa vez, o Brasil irá encontrar oposição regional,

principalmente, da Argentina, que desde então não aceitava a presença do Brasil como

membro permanente do CS e defendia a rotatividade para a vaga destinada aos países

latino-americanos.

Como já foi referido, a defesa brasileira da ampliação do Conselho de Segurança

vai ser ratificada ao longo dos anos, fato constatados nos discursos feitos pela sua

política externa. Mesmo assim, nos governos de Fernando Henrique Cardoso e de Luís

Inácio Lula da Silva esse discurso aparece de forma mais ativa. Entre o final de 1998 e

início de 1999, o presidente Fernando Henrique Cardoso enfatizou novamente a

necessidade de uma reforma no organismo e ressaltou a demora da ONU em responder

a questões de segurança mundial, como a crise em Timor Leste. Com os atentados

terroristas em 11 de Setembro de 2001, o tema da reforma ganharia nova ênfase.

“Para responder a problemas cada vez mais complexos, o mundo

precisa de uma ONU forte e ágil. A força da ONU passa por uma Assembléia Geral mais atuante, mais prestigiada, e por um Conselho de Segurança mais representativo, cuja composição não pode continuar a refletir o arranjo entre os vencedores de um conflito ocorrido há mais de 50 anos, e para cuja vitória soldados brasileiros deram seu sangue nas gloriosas campanhas da Itália.” (Cardoso, 2001.)

Em 2004, já com o governo Lula e passada a Guerra do Iraque, as Nações

Unidas vêem o tema da reforma ganhar novamente visibilidade com a proximidade do

seu sexagenário. O então Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, nomeou

uma comissão para estudar uma reforma na estrutura da organização, onde ficou clara a

necessidade de se reestruturar o CS. Mesmo assim, a comissão não chegou a um acordo

de como ela deveria ser feita e apresentou duas propostas, deixando para os países

filiados às Nações Unidas decidirem. Ambas defendem a ampliação dos atuais 15

membros para 24, aumentando assim a sua representatividade, pois a última revisão

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feita na estrutura do Conselho foi em 1965, quando aumentou-se de seis para dez o

número de membros rotativos. O primeiro modelo propõe a inclusão de seis novos

membros permanentes, mas sem direito a veto, e mais três não-permanentes. Essa é

defendida pelo Brasil, juntamente, com os outros membros do G4, assim das seis vagas,

quatro seriam preenchidas pelos componentes do grupo e as outras duas por nações

africanas.

A segunda proposta defendida por Argentina, México e os outros membros do

Unidos pelo Consenso, fala sobre a criação de uma categoria composta por oito

membros semi-permanentes, também sem direito ao veto, os quais fariam parte do CS

por quatro anos com a possibilidade de reeleição. Para além dessas duas propostas, o

debate em torno da reforma no Conselho, ganhou outro impulso com uma proposta

defendida pela União Africana, parecida com a do G4, eles defendem a inclusão de seis

novos membros, sendo que estes deveriam ter o direito a veto. Após reunião entre a

União Africana e o G4, eles decidiram abandonar momentaneamente a idéia.

De qualquer forma, como podemos perceber, é amplo o debate em torno do

assunto e os países filiados a esta instituição estão longe de entrar em um consenso de

como a reforma deve ser feita, situação que tem impedido a concretização da

reestruturação do CS até os dias de hoje, pois qualquer reforma para ser aprovada deve

ter pelo menos dois terços dos 191 votos da Assembléia Geral, assim como nenhum

veto dos membros permanentes. Apesar da falta de consenso na maneira de se fazer a

reforma, concorda-se que ela é necessária e o tema permanece em destaque nos últimos

anos. Mesmo alguns dos membros Permanentes do CS reconhecem a necessidade de

mudança.

“Isso representa o consentimento obrigatório dos Estados Unidos,

Rússia, China, França e Reino Unido. Reconhecendo que na assembléia as negociações são descentralizadas e, portanto, mais flexíveis, os EUA se tornam, no contexto atual, o único dos cinco membros permanentes a não se posicionar oficialmente a favor.” (Brant, 2008)

Por conseguinte, o Brasil continua sua campanha em busca de um

assento permanente caso a reforma se concretize e, para isso, tem feito um enorme

esforço diplomático pelo mundo em busca de apoio a essa pretensão. França, Rússia,

China, Índia, Alemanha, Japão, Irã, Portugal, Uruguai, África do Sul, entre outros, são

exemplos de atores que apoiam a entrada do Brasil como membro permanente.

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A vontade brasileira em se tornar membro permanente do CS enquadra-se na

estratégia diplomática brasileira de ser um dos atores mais importantes no sistema

internacional, pois fazer parte deste selecto grupo significa participar na tomada de

decisões relevantes, já que o conselho é o órgão responsável pela paz e segurança

mundial e suas decisões tem caráter obrigatório. Caso a proposta brasileira de se tornar

membro permanente do conselho seja aprovada, ele elevaria seu ‘status’ no sistema

internacional e passaria a ser um ator central deste, o que também contribuiria para

ressaltar seu papel de Potência Emergente.

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CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Comunicação Internacional como um campo de estudo

O primeiro capítulo desta dissertação foi dedicado ao enquadramento do tema,

onde expôs-se o papel do Brasil no contexto internacional ao apresentar suas

características de potência emergente. Também falamos na importância do Conselho de

Segurança da ONU e da vontade brasileira de tornar-se um membro permanente deste,

elevando assim sua relevância no cenário internacional, o que faz parte dos objetivos da

política externa do país. Já este segundo capítulo será dedicado a fundamentação teórica

da investigação, no qual será abordada outra questão fundamental para a pesquisa: a

importância da mídia na reprodução e propagação da imagem brasileira e o seu papel

cada vez maior nas Relações Internacionais.

A comunicação internacional como campo de estudos adquiriu grande ênfase,

principalmente, com as atividades humanas e o alto desenvolvimento tecnológico

ocorridos na metade do século passado. Pode ser considerada um campo de estudos

dentro das Relações Internacionais, mas também pode ser estudada na área de Ciências

da Comunicação, uma vez que aborda os dois setores. Alguns são os exemplos dos

pesquisadores que usaram paradigmas da comunicação nos estudos das relações

internacionais e vice-versa. Podemos citar o exemplo de estudiosos como Karl Deutsch,

Richard Merritt e Carl Clark, Charles McClelland, entre outros. (Mowlana, 1997, p. 11).

A interferência dos meios de comunicação nas relações internacionais estimula a

introdução de conceitos que originalmente são estudados na área de Ciências da

Comunicação, como por exemplo, meios de comunicação de massa (mass media),

agenda-setting, opinião pública, entre outros, nos estudos das relações internacionais.

As duas áreas são bastante interligadas, principalmente, se estamos nos referindo ao

fluxo de informação internacional impulsionado através da globalização.

Segundo Fadul, durante a década de 70, com o aceleramento do processo da

globalização, o setor económico não foi o único a ser afetado, paralelamente vamos nos

deparar com a influência da globalização na área da comunicação, com o

desenvolvimento tecnológico e o surgimento de novas tecnologias de comunicação,

informática e telecomunicação, as quais contribuem para minimizar a noção de tempo e

espaço. (Fadul e Moreira, 2007, p. 02).

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Atualmente, o número de estudos sobre comunicação internacional é

significativo, principalmente, após os avanços tecnológicos no setor, que acarretaram

em numerosos artigos e livros sobre o assunto. Entre as abordagens mais conhecidas

podemos citar “ a era da informação”, “ sociedade da informação”, “ sociedade

informática”, entre outros, os quais deslocaram paradigmas até então predominantes na

área de estudos, como por exemplo, “sociedade agrária”, “sociedade industrial” e

“sociedade pós-industrial”.

O problema, salientado por Mowlana, nesses novos campos de estudo é que eles

não refletem a realidade de muitas sociedades, onde o desenvolvimento tecnológico

ainda não é tão alto. Além de não transmitirem a devida atenção para fatores culturais e

psicológicos, os quais mudam de forma rápida e constante durante o processo de estudo.

Ele também salienta a distinção que deve ser feita na definição do processo de

comunicação intercultural e internacional e na descrição e análise deste processo,

ressaltando que a comunicação intercultural e internacional como campo de estudos é

mais facilmente definida do que o processo em si.

De qualquer forma, Mowlana também fala sobre a dificuldade em separar a área

de comunicação intercultural da comunicação internacional. A primeira cresceu na

década de 90 como zona de estudo e pesquisa, ressaltando que ela também deve levar

em consideração questões políticas e económicas, da mesma forma que a comunicação

internacional não deve menosprezar questões culturais e linguísticas no seu estudo.

Dessa forma, as duas áreas estão interligadas e não devem ser estudadas de forma

separada. (Mowlana, 1997, p. 05).

Segundo Gilboa, outra abordagem de estudos na comunicação internacional está

sendo trabalhada recentemente. A chamada Teoria do Efeito CNN estuda a interferência

das coberturas jornalísticas em tempo real feitas pela televisão na política externa, tendo

seu foco, principalmente, nas coberturas de guerras étnicas e civis, além de questões

humanitárias. Muitos estudiosos estão desenvolvendo essa nova teoria para tentar

explicar os efeitos da cobertura televisiva na política externa. (Gilboa, 2005, p. 28). A

Teoria do Efeito CNN será abordada de forma mais profunda nessa dissertação, quando

analisarmos o impacto da mídia na política externa.

Quatro são as abordagens utilizadas por pesquisadores, governos, profissionais

da mídia e indivíduos ao estudarem a comunicação internacional. Entre elas: idealística-

humanística, proselitismo político, poder económico e poder político. (Mowlana, 1997,

p.06). A abordagem idealística-humanística caracteriza a comunicação internacional

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como um meio de unir as pessoas e as nações, além do poder de contribuir com

organizações internacionais a fim de servir a comunidade mundial, tendo como exemplo

garantir a paz mundial. Ela vem sendo criticada por ser uma abordagem idealista, a qual

possui certos problemas. Entre eles devemos destacar a impossibilidade de atingir seu

objetivo, quando falamos da transferência de informação e valores para os indivíduos.

Devidas as diferenças culturais, cada pessoa é única e possui uma “bagagem” de valores

e conhecimento construídos a partir de informações recebidas ao longo de sua vida.

Dessa forma, só uma pequena parte dos seus valores é que são susceptíveis a influência

de informação. “Every person´s knowledge and value system is unique and reflects

the accumulated image of all the messages he or she has received. There are no facts, only a changeable value system and images that are malleable and open to socializing influences.” (Mowlana, 1997, p. 07).

Outra crítica a abordagem humanística é sobre a variação de idéias, neste caso,

em relação a paz mundial. Em sociedades diferentes, com pessoas diferentes, o

significado de paz mundial para um, pode não ser o mesmo para outro. Principalmente,

se temos sociedades ideologicamente diferentes, como o imperialismo. Em outras

palavras, apesar da existência de um pensamento predominante de mundo ideal e de

paz, é praticamente impossível não existir oposição, mesmo que seja pequena. Para

além, podemos falar na diferença de pensamento existente nas sociedades. Quando

partimos do pressuposto de que todos pensam da mesma forma, não existirá mudança,

pois é a partir do pensamento diferente que surge o progresso, ou seja, o progresso

humano surge de indivíduos que discordam com as normas e linhas de pensamento

existentes.

Já a abordagem do proselitismo político vê a comunicação internacional como

forma de propaganda e publicidade, principalmente, governamental, além de servir para

o confronto de idéias e a criação de clichés e mitos. O proselitismo necessita de algum

tipo de autoridade política para possibilitar a manipulação das pessoas, por isso é usada

constantemente na relação entre Estados nas últimas décadas.

As críticas em torno desta abordagem são referentes ao fato dela ocasionar uma

falta de confiança em torno da mídia internacional, pois leva as pessoas a acreditarem

na utilização dos meios de comunicação com o propósito de manipular os indivíduos.

Dessa forma, como é chamada por Mowlana, a “Guerra de idéias” tem sido acusada de

patrocinar a rivalidade ideológica, a qual alimenta a intolerância entre as nações e

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pessoas, aqui, podemos ressaltar que a comunicação internacional é acusada de

patrocinar tensões internacionais, se não intencionalmente, pela falta de promoção de

soluções pacíficas.

A terceira abordagem vê a informação no contexto internacional como forma de

poder económico mais subtil. Ela é usada principalmente para negócios, comércio,

marketing, transferência de tecnologia, entre outros. Podemos afirmar que ela é utilizada

sobretudo na dominação de países periféricos por países desenvolvidos, pois os

primeiros, através da “modernização”, vão adotar formas de comportamento dos

segundos, também tornando-se mais fáceis de controlar. Já a última abordagem; vê a

informação como poder político, sendo que essa assume a forma de notícias e dados, e é

considerada neutra e livre de valores. Podemos citar como instrumentos de informação

políticas: agências de notícias, programas televisivos, produção literária e de cinema,

que saem de um país para outro levando conteúdo cultural, podendo dessa forma

influenciar o país receptor.

Como as orientações idealística e do proselitismo político, essas duas últimas

também são bastante criticadas. Para as orientações política e económica, a informação

é uma fonte de poder, estando no mesmo patamar que o petróleo e urânio, por exemplo.

Em uma sociedade baseada na informação, esta virou uma forma de recurso

internacional, podendo ser usada para manipulação das pessoas, utilizando o exemplo

da transmissão televisiva parte-se do pressuposto que teremos a habilidade de manipular

os telespectadores. Em outras palavras, informação significa poder e através da sua

utilização pode-se conseguir atingir efeitos no desenvolvimento político, social e

económico.

Apesar da capacidade de comunicar-se com outras pessoas pelo mundo ter

crescido nos últimos anos através do desenvolvimento tecnológico, ainda são muitos os

países sem o progresso tecnológico necessário. Muitas são as sociedades que não

dispõem de uma estrutura de comunicações para possibilitar essa troca de informações.

Dessa forma, podemos destacar que a tendência em monopolizar a comunicação está

crescendo. Com o final da União Soviética, a luta por uma chamada igualdade ao acesso

de informação cedeu lugar a economia de mercado e ao capitalismo, liderada pelos

EUA e pela União Européia. Consequentemente, podemos dizer que a comunicação

global não é universal, com o monopólio da informação restrito a alguns. (Mowlana,

1997, p. 08).

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Essas são as quatro abordagens da comunicação internacional utilizadas por

estudiosos, governos e os profissionais da mídia para descrever a comunicação

internacional. Como pode ser constatado, as abordagens estão interligadas entre si e

podem ser utilizadas em um mesmo estudo. Para fins de estudo desta dissertação,

utilizaremos conceitos das áreas de Ciências da Comunicação e relações internacionais,

uma vez que como foi descrito no começo deste tópico, elas estão interligadas.

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2.2 Comunicação global: a relação entre os meios de comunicação e a

Política Externa

Um dos pontos importantes a ser debatido é o impacto da comunicação global na

política externa dos países. Esta questão está relacionada com as mudanças no sistema

internacional e com o desenvolvimento tecnológico. Em um mundo globalizado, onde

as fronteiras são abolidas e a informação chega às nossas casas de forma constante e

rápida, os meios de comunicação têm desempenhado uma função cada vez mais

importante na formação da opinião pública, pois eles conseguem levar informação

rápida para pessoas em praticamente todos os lugares do mundo, contribuindo na

criação da imagem que elas têm do assunto, no caso desta dissertação, a imagem

política do Brasil. Em outras palavras a comunicação trabalha na reprodução da imagem

junto a sociedade, assim, a mídia ajuda na formação da idéia que as pessoas têm sobre

determinados aspectos, nessa investigação, sobre o Brasil como ator internacional.

Por influenciarem a opinião pública, podemos ressaltar que os mass media têm

desempenhado um papel crescente nas relações externas entre estados e, exatamente por

isso são objeto constante de investigação, pois em um mundo sem fronteiras, a

comunicação global pode ser considerada um ator no próprio processo da política

externa, uma vez que passa a condicionar a tomada de decisão política, seja

contribuindo na formação da opinião pública, como por exemplo, durante a segunda

Guerra mundial onde as rádios serviram para fazer propaganda do Estado; ou como em

alguns casos, usada como fonte de informações sobre acontecimentos internacionais,

situação muito comum na atualidade.

Taylor afirma que, “if a statesman wants to make a public statement or send a

message across the world, he has the option of doing so on CNN rather than through

traditional diplomatic channels.”(Taylor, 1997, p. 58). Gilboa também fala na utilização

dos meios de comunicação para enviar mensagens. “… policy makers now bypass

established diplomatic channels, using the new technologies of global communication to

transmit nonsecret messages directly to leaders of state and nonstate actors as well as to

their respective public.” (Gilboa, 2002, p. 737).

Para O´Heffernan, o desenvolvimento da relação entre a mídia e a política

externa modificou-se, principalmente, devido ao aperfeiçoamento dos meios de

comunicação de massa. Satélites, sistema de cabos, estações de rádio difusões, são

alguns exemplos de “ferramentas” que possibilitam a transmissão de informação rápida

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por todo o mundo. O surgimento dessas tecnologias facilitou que programas de

televisão de qualquer parte do mundo fossem transmitidos em vários países.

(O´Heffernan, 1991, p.04). Atualmente, outros são os instrumentos que possibilitam a

propagação rápida da informação, podendo ser dado destaque a desenvolvimentos

tecnológicos baseados em computadores e à ampliação do uso da internet. Entre as

novas ferramentas pode-se destacar a televisão em alta definição, computadores

multimídias, jornais eletrônicos, transmissões radiofónicas digitais, satélites de

transmissão direta, bancos de dados portáteis, entre tantas outras ferramentas

desenvolvidas e aprimoradas com o passar dos anos. (Dizard Jr, 2000, p.22).

Para além, a revolução tecnológica não afeta apenas as transmissões televisivas,

mas também coberturas feitas através de jornais e revistas, as quais passam a receber

imagens fotográficas tiradas por satélites de qualquer lugar do mundo. Podemos

ressaltar também que o surgimento de revistas especializadas, contribuiu para a criação

de um mercado interessado em informação internacional, para além de notícias sobre

celebridades ou esportes. (O´Heffernan, 1991, p.04).

As transformações tecnológicas não afectaram apenas os meios de comunicação,

mas também a relação destes com a política externa dos Estados, pois contribuem na

propagação de informação sobre acontecimentos internacionais, como por exemplo,

guerras, conflitos, lugares onde se constroem armas nucleares e químicas, e desastres

ambientais; possibilitando assim que as pessoas recebam notícias de lugares afastados,

as quais na maioria das vezes os governos preferem manter em sigilo e longe do

conhecimento público.

Na era tecnológica e da comunicação de massa em que vivemos, é praticamente

impossível conseguir manter o sigilo das informações. Entre os acontecimentos

divulgados pelos meios de comunicação de massa podemos citar; o desastre nuclear de

Chernobyl, as preparações secretas para o lançamento de um ônibus espacial Soviético,

os testes nucleares Soviéticos, as bases de mísseis chineses na Arábia Saudita e as

plantações de cocaína na América do Sul; todos estes acontecimentos foram

fotografados e vendidos através do sistema de satélites Space Media Network (SMN).

Criado em 1985, o SMN vende fotografias de satélites para empresas de televisões e

organizações de notícias. (O´Heffernan, 1991, p.01).

Atualmente, outras empresas além do SMN também oferecem esse tipo de

serviço. A comercialização e divulgação de imagens tiradas através de satélites são

características da expansão da comunicação de massa pelo mundo, marcado,

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especialmente pela televisão e, posteriormente, pela internet. Entre as ferramentas que

mudaram a transmissão televisiva e a rapidez com que a informação chega em nossas

casas, podemos citar a invenção da minicam, a comunicação de satélites e o sistema de

cabos. Eles têm possibilitado a difusão de notícias, programas de entretenimento e

informação de qualquer parte do mundo.

A minicam, por exemplo, é pequena e leve, podendo ser utilizada por uma

pessoa facilmente. Esse instrumento é bastante comum entre freenlancers e produtores

independentes, os quais fazem imagens e programas para serem vendidos ao mercado

de notícias internacionais. Com a ajuda de um equipamento de transmissão portátil, eles

são capazes de enviar informação para qualquer lugar em questão de segundos.

Esses desenvolvimentos tecnológicos possibilitaram uma explosão da

comunicação global, onde desde nações desenvolvidas como subdesenvolvidas são

bombardeadas por notícias e programas oriundos de fora de suas fronteiras. Entretanto,

podemos ressaltar que apesar da explosão da comunicação global, a produção de

informação continua a ser dominada pelos Estados Unidos. Já na década de 70, o país

exportava mais programas do que qualquer outro país, cerca de 170 mil horas de

programação.

“During the 1970s, the U.S. exported approximately 150,000 hours

of programming per year - more than three times the combined exports of the next three countries combined. Today, the U.S. exports almost that much programming each week. U.S. TV exports are projected to reach $1.4 billion in 1990, four times the exports from Europe, its closest competitor.” (O´Heffernan, 1991, p. 04).

Desde então, o número já aumentou bastante e, apesar de atualmente a

quantidade de países com grande capacidade de produção televisa estar crescendo, os

EUA ainda possuem dominância na área, para além de serem detentores de uma enorme

quantidade de emissoras de televisão, rádio e impressos. “A indústria americana de mídia é muito grande e diversificada

para ser traduzida em generalizações simplistas. Ela inclui mais de 1.500 estações de televisão, 12.000 estações de rádio, 11.000 sistemas a cabo e 15.000 jornais e periódicos, entre outros recursos.” (Dizard Jr., 2000, p. 20).

Paralelamente a revolução tecnológica, as próprias transformações ocorridas no

sistema internacional também irão contribuir na participação dos mass media na política

externa dos países. Com o fim da guerra fria, observa-se o surgimento de novos

conflitos e preocupações. A agenda bilateral que até então predominava nos meios de

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comunicação vai abrir lugar para outras matérias importantes. Atualmente, a cobertura

midiática internacional não se limita apenas a conflitos internacionais, mas também a

outras notícias que ganharam interesse público, como por exemplo, desastres

ambientais, drogas, terrorismo, aquecimento global, crise económica, conflitos entre

Estados ou crises internas, e crises humanitárias.

Uma outra mudança importante foi o surgimento de atores não-Estatais, como

empresas multinacionais, Organizações Multilaterais e Organizações Não-

Governamentais, as quais fazem campanha para objetos de seu interesse, chamando a

atenção dos meios de comunicação para as questões em causa, mobilizando, dessa

forma, a opinião pública e, consequentemente, fazem pressão nos governos.

Todas as mudanças atravessadas pelos meios de comunicação e pelo próprio

sistema internacional vão contribuir para modificar a relação deles com a política

externa, uma vez que a comunicação global passou a interferir no processo diplomático

entre os Estados, tornando de interesse público assuntos antes considerados longínquos

e elitizados; e promovendo, dessa forma, o fim da posição privilegiada na qual

encontravam-se os diplomatas, alheios as pressões da opinião pública. Até final do

século XIX, os assuntos externos dos países não afetavam a opinião pública. “…in Britain, while democratisation and public accountability

advanced only very slowly in the late nineteenth century, `the foreign secretary and His officials prided themselves on their detachment from the changing moods of public opinion…” (Taylor, 1997, p. 59)

Este distanciamento entre os acontecimentos internacionais e a interferência no

quotidiano nacional terá fim com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, pois ela irá

trazer uma nova realidade até então distante e, a partir daí, os assuntos externos passam

a interferir no dia-a-dia das pessoas com a guerra chegando em suas portas. Dessa

forma, os assuntos externos deixam de ser uma matéria apenas de âmbito político,

praticamente tratados de forma sigilosa, e passam a despertar interesse na opinião

pública. Durante essa época, a relação entra a imprensa e os responsáveis pela política

externa caracterizava-se pela cooperação, onde os jornalistas agiam como “aliados” dos

diplomatas a fim de convencer a opinião pública da necessidade da guerra. (Taylor,

1997, p.59).

Com o passar dos anos, irá reforçar-se a importância da mídia para a política

externa. Antes e durante a eclosão da Segunda Guerra Mundial, os governos já haviam

percebido a influência da imprensa na formação da opinião pública. Entre os Chefes de

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Estado que sensibilizaram-se com o poder dos meios de comunicação de massa,

podemos citar Roosevelt (EUA), Churchill (Reino Unido) e Hitler (Alemanha), os quais

usavam a mídia, principalmente, a rádio para conseguir apoio popular para suas causas.

Nessa época, os mass media já podiam ser considerados a principal fonte de informação

internacional o que levou os governos a preocuparem-se com o papel desempenhado por

eles na diplomacia, pois, apesar da contribuição trazida para a política externa, os meios

de comunicação são instituições comercias, as quais vivem de publicidade e venda.

Naturalmente, segundo Taylor, surgiu uma preocupação entre os responsáveis

pela política externa em não deixar os interesses nacionais nas “mãos” de empresas que

privilegiavam, principalmente, o lucro. Entretanto, juntamente a essa preocupação da

natureza comercial dos meios de comunicação, notou-se por parte dos políticos a

necessidade de investir na relação com a mídia, a fim de garantir versões oficiais dos

acontecimentos. (Taylor, 1997,p.61)

Podemos ressaltar o surgimento de Departamentos de Comunicação e Relações

Públicas para lidar com a imprensa; os governos vão passar a liberar press releases,

fazer conferências de impressa, marcar entrevistas, entre outros, objetivando a inserção

de versões oficiais na cobertura jornalística. (Taylor, 1997,p.61). Gilboa fala que,

atualmente, os líderes políticos também usam os meios de comunicação como

instrumento de negociação e mobilização de apoio para suas causas. (Gilboa, 2002,

p.741). “Almost all govermments around the world set up “information”

and “propaganda” agencies, hired public relations firms, and organized regular and systematic “briefing” meetings…” (Mowlana, 1997, p.08)

Outra questão sublinhada por Taylor é a mudança na relação entre os meios de

comunicação de massa e os responsáveis pela política externa, que a princípio era

caracterizada pela cooperação e depois vai sofrer uma modificação com a mídia mais

preocupada em noticiar fatos do que em manter uma boa relação com suas fontes.

Podemos citar como exemplo disso o caso Watergate nos EUA durante a década de

7014. (Taylor, 1997, p.64).

Além da questão comercial, a própria natureza do trabalho dos jornalistas está

entre as principais causas para essa transformação. Devemos destacar os problemas dos

14 O caso Watergate, como ficou conhecido, foi um escândalo de corrupção durante o Governo Nixon na década de 70 e que depois de noticiado pelo jornal “The Whashington Post” tornou-se um escândalo nacional e culminou com a renúncia do presidente.

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tipos de profissionais contratados, os quais podem ser “staffers” ou “short-term-

contract”15.

Os primeiros visam um bom relacionamento com suas fontes, que no caso de

notícias internacionais são os próprios membros dos governos. Ao longo do tempo, eles

são capazes de construir uma relação de confiança com as fontes e as vezes sofrerem

influência delas para atrasar a divulgação de uma notícia ou não, com a convicção de ser

melhor para os interesses nacionais ou mesmo para suas carreiras, pois caso contrário

podem colocar em risco a relação de confiança construída. Já os “short-term-contract”,

por ficarem pouco tempo no cargo, não têm o mesmo relacionamento de confiança e é

mais difícil preocuparem-se se a informação é prejudicial ou não para os interesses

nacionais.

Outro ponto que devemos ressaltar é a forma como é feita a cobertura

jornalística. Uma das reclamações dos diplomatas em relação aos meios de

comunicação é sobre o chamado efeito “parachute journalism” ou “firefighting

tendency”, fenômeno que consiste em vermos alguma questão ser noticiada de forma

constante pelos meios de comunicação os quais chamam a atenção das pessoas e dos

políticos para o assunto, que fica em evidência durante alguns dias, e de repente,

desaparece da primeira página dos jornais deixando a entender que a situação já está

resolvida, o que muitas vezes não é verdade, apenas a mídia perdeu interesse no

assunto. (Taylor, 1997, p. 61).

Também devemos destacar o problema da fraca apuração. Apesar de

contribuírem para a divulgação dos fatos, uma preocupação constante na cobertura

midiática dos acontecimentos internacionais é a questão da apuração, pois muitas vezes

a rapidez com a qual se noticia um acontecimento internacional não deixa tempo

suficiente para os jornalistas aprofundarem o assunto, o que acarreta a publicação de

histórias pouco apuradas e sem muita profundidade dos fatos. A falta de profissionais

especializados em temáticas internacionais contribui para a fraca qualidade na apuração

e aprofundamento nos assuntos retratados, causando preocupação entre os diplomatas

sobre a carência de entendimento do assunto pelos jornalistas ao fazerem a cobertura de

um conflito, os quais não sabem as reais causas do que está acontecendo e podem passar

informação incoerente para a população.

15 Os staffers seriam os profissionais com contrato a longo termo que já estão há vários anos no cargo, já os short-term-contract são jornalistas com o contrato a curto prazo, como os freelancers.

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A falta de profissionais especializados em temáticas internacionais é

consequência das mudanças ocorridas nas empresas de comunicação. Com o final da

Segunda Guerra mundial, podemos observar o fechamento de diversos jornais, tendo

como principal causa a imigração de boa parte dos consumidores de jornais e revistas

para a televisão e, posteriormente, para a internet. Mesmo os jornais e revistas que

sobreviveram ao fenômeno televisivo tiveram um corte nos gastos, inclusive no número

de correspondentes. Durante o ano de 1945, os jornais americanos empregavam cerca de

2500 correspondentes internacionais. Esse número será reduzido para menos de 500

durante a década de 70. O custo para manter correspondentes é muito alto, pois além da

deslocação de pessoal e material, podem ser incluídas nas despesas a hospedagem e

alimentação, muitas vezes por tempo indeterminado. (Taylor, 1997, p.66).

O surgimento de agências de notícias também contribui para isso, pois é mais

econômico comprar informação dessas agências do que enviar profissionais para os

locais. Para além, a própria crise econômica vivenciada pelos meios impressos nos

últimos anos associada a fatores como a concorrência digital, a diminuição da

publicidade, entre outros, levou a grandes despedimentos e, consequentemente, também

a diminuição de correspondentes.

A ascensão da televisão, a crise econômica no meio e o alto custo para enviar

profissionais especializados; estão entre as principais causas da preferência dos

impressos em optarem por freelancers locais para a cobertura de algum acontecimento

internacional. Como já foi referido, isso pode acarretar uma cobertura pouco

aprofundada do fato. Também podemos destacar que esse tipo de profissional está mais

susceptível de influência tanto das organizações midiáticas como dos políticos. De

qualquer forma, a diminuição no número de correspondentes enviados não quer dizer

que teremos poucos jornalistas a cobrir um evento internacional, mas ao contrário disso,

observamos que em grandes acontecimentos temos a presença de muitos jornalistas no

local, em sua grande maioria freelancers, fazendo o conhecido “circo da mídia”.

Atualmente, outra questão está modificando o funcionamento dos meios de

comunicação e, consequentemente, a sua relação com a política externa. A chamada

“nova mídia” baseada, sobretudo, nas novas tecnologias e na propagação do uso da

internet vai interferir no processo de política externa, uma vez que é marcada pela

velocidade da transmissão de informação e por uma maior interacção junto ao público, o

qual também passa a participar no processo comunicativo seja como fonte de

informação ou mesmo comunicadores. A principal causa dessas mudanças é o

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desenvolvimento de novas tecnologias como câmeras digitais, celulares com câmeras,

computadores portáteis, discos rígidos, entre outras ferramentas que alteram a

capacidade de coletar, armazenar e transmitir informação, instrumentos esses que

habilitam qualquer pessoa a enviar informações para qualquer lugar do mundo e a

qualquer momento. Dessa forma, essa nova mídia também contribui na propagação de

informação internacional e tem um impacto determinante na política externa

actualmente, uma vez que boa parte das pessoas procura informação digitalizada.

Todas as questões mencionadas neste tópico são características dos meios de

comunicação e estão presentes na relação deles com a política externa, fazendo parte do

que chamamos actualmente de comunicação global. Como foi referido até agora, o

advento dos meios de comunicação interferem no processo diplomático, situação que

abordaremos a seguir.

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2.3 Impacto na Política Externa

“It has become obvious, in conducting foreign policy, that the press

plays a critically important role. The press can either make or break a foreign policy initiative.” (Cyrus Vance cit in. O´Heffernan, 1991, p.37).

O fluxo de informação de política externa sempre foi uma das formas

tradicionais de comunicação internacional. Desde o surgimento dos modernos Estados-

Nação e do sistema político internacional, constatamos a existência desse canal de

informação. Durante essa época a política externa era caracterizada, como afirma

Mowlana, “by a small group of national elites, using interpersonal forms of

communication”. (Mowlana, 1997, p.08). Desde então, a tradicional forma de fazer

política externa irá passar por uma série de mudanças, principalmente, por causa do

advento tecnológico das últimas décadas, que passam a interferir no processo. Aqui

podemos ressaltar o papel dos meios de comunicação nessa transformação.

Os meios de comunicação de massa estão intrometendo-se no processo de

política externa, seja na forma como as notícias são enfatizadas, no tom ou estilo em

que são divulgadas, os mass media estão tendo impacto no trabalho da política externa e

em seus resultados. (O´Heffernan, 1991, p.61).

Segundo Taylor, a participação da mídia na política externa pode ser constatada

desde a Primeira Guerra Mundial, naquela época eles já eram considerados a principal

fonte de notícias internacionais. Jornais, rádios e o cinema encarregavam-se de

transmitir informação para as pessoas, papel hoje também desempenhado pela televisão

e internet, os quais actualmente são os principais responsáveis pela divulgação da

informação internacional, nos contando sobre guerras, desastres ambientais, eleições,

ataques terroristas, entre outros acontecimentos pelo mundo. (Taylor, 1997, p. 60).

Aqui devemos destacar o papel da televisão, seguida pelo da rádio, no impacto

que os meios de comunicação estão tendo na política externa, uma vez que a TV

substituiu os meios impressos como o maior difusor de notícias e, dessa forma,

modificou o impacto político da informação pelo mundo, destacando, principalmente, a

importância da imagem nesse processo, pois através dela é possível obter um grande

impacto nas pessoas.

“When it comes to distant but important events, even all the Foreign

Office cables do not have the same impact as a couple of minutes of news video. Before the days of video cameras people might have heard about

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atrocities, but accounts were often old and disputed. The cameras are not everywhere. But where the cameras operate, the facts are brutally clear.” (Douglas Hurd cit in Taylor, 1997, p.75.) 16

Várias são as formas na qual a televisão interfere no processo de política

externa, podemos citar como exemplos, a utilização deste meio para influenciar outros

governos, já que muitos políticos usam-na para enviar mensagens tanto para governos,

os quais não podem ser contactados de outra maneira, como para as pessoas de outras

nações; além de fazer “lobbies” das suas causa. Aqui devemos destacar o uso dos meios

de comunicação por parte dos políticos para atingirem determinados objetivos.

O´Heffernan destacou o uso dos mass media por descisores políticos como ferramenta

para suas causas. Exemplo disso foi o uso dos meios de comunicação por Carter, Begin

e Sadat no processo de paz entre Israel e Egito. Nesse caso, Sadat soube usar bem a

mídia a seu favor e terminou por acelerar o processo político.

“The announcement was a masterful use of mass media by Sadat. In

one stroke, the televised broadcast made Sadat a hero at home, moved American and Israeli policy makers to take quick action, affected other Arab governments, and strengthened domestic support for his policy.” (O´Heffernan, 1991, p.12).

Também devemos ressaltar a utilização da televisão como ferramenta por

ONGs e terroristas, os quais buscam chamar atenção para suas causas e fazer pressão

aos governos através dela. O caso do avião da TWA 847 sequestrado em 1985, onde o

governo de Israel cedeu a parte das exigências terroristas17 exemplifica como os

terroristas usam a mídia para pressionar os governos e provocar respostas deles.

Para além da utilização dos mass media, nesse caso a televisão, por terroristas e

ONGs podem ser observadas várias maneiras de interferência dos meios de

comunicação em geral, entenda-se rádio, televisão, impressos e os meios digitais, na

política externa. Entre elas estão o fato de serem uma rápida fonte de informação, a

interferência na elaboração de políticas, a influência que tem na agenda política

(agenda-setting) e na formação da opinião pública.

O´Heffernan afirma que utilizados como rápida fonte de informação, os meios

de comunicação podem interferir no trabalho da política externa de várias formas. Entre

16 Douglas Hurd foi Secretário de Assuntos Externos do Reino Unido ndo final da década de 80 e início da década de 90. 17 O avião da TWA foi sequestrado quando fazia o trajeto da Grécia para a Itália. Os terroristas desviaram o avião para Beirute, no Líbano, onde exigiram a libertação de prisioneiro libaneses, em sua maioria de origem muçulmana xiita, os quais estavam detidos em Israel. Caso as exigências não fossem cumpridas, eles ameaçavam matar os passageiros, na sua maioria, de origem americana. Apesar do governo Reagan afirmar não negociar com terroristas, Israel acabou aceitando a libertação de 34 prisioneiros.

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elas, os políticos podem usá-los para obter informação útil imediata, ou seja, eles vêem

os meios de comunicação como a mais rápida fonte de informação sobre eventos

importantes que estão ocorrendo pelo mundo. Em outras palavras, os policy makers

concordam em afirmar que a mídia é a mais rápida fonte de informação sobre política

internacional, mas divergem em pontos como a utilidade dessa informação na tomada

de decisão. Alguns acreditam que a sua interferência é limitada, para outros ela

atrapalha na tomada de decisão. (O´Heffernan, 1991, p. 37).

Outro ponto ressaltado sobre o uso dos meios de comunicação como rápida

fonte de informação é a questão do aproveitamento da mídia pela política externa para

tomarem decisões durante o estágio inicial de uma questão e o fato deles serem

frequentemente as únicas fontes de informação durante crises internacionais. Essas

também são questões nas quais os políticos divergem, mas de qualquer forma a maioria

concorda que os meios de comunicação têm impacto na tomada de decisão durante o

período inicial de uma crise, pois terminam por pressionar os governos a pronunciarem-

se sobre a questão. Apesar disso alguns afirmam não constatar essa interferência ou

falam que ela é pequena. Já em relação a serem a única fonte de informação durante

crises internacionais, a posição dos políticos também não é unânime, mas a maioria vê a

utilidade deles durante as crises e afirmam que são em muitos casos a maneira mais

rápida de obter informação. (O´Heffernan, 1991, p. 40).

Para além, a informação midiática é enquadrada, frequentemente, como

importante na elaboração de políticas. Apesar de ser vista como um acontecimento não

muito frequente por alguns políticos, a interferência da mídia na política externa

acontece. Dois são os aspectos que devem ser destacados no papel dos meios de

comunicação na política externa: a intervenção diplomática da mídia durante

negociações, uma vez que eles frequentemente obtêm acesso a “fontes” que o governo

não consegue alcançar, como por exemplo sequestradores e terroristas; e a “diplomacia

televisiva”, a qual se refere ao encontro de representantes nacionais na televisão. No

primeiro caso, muitos políticos concordam na existência dessa intervenção, mas não a

vêem como positiva afirmando que o diálogo e a negociação devem ser feitos por

diplomatas e não por jornalistas. Já a “diplomacia televisiva”, não consegue acordo

entre os diplomatas, uns a consideram positiva e outros negativa. (O´Heffernan, 1991, p.

53).

Para Gilboa o problema aqui é que muitos jornalistas terminam por assumir o

papel de diplomatas, ultrapassando a linha que separa o trabalho de um repórter do

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diplomata. Mas ele ressalta que em alguns casos os jornalistas contribuem para o

diálogo entre as partes, como quando promovem debates televisivos entre chefes de

Estado, os quais até então não concordavam em dialogar. Nessa situação, o trabalho do

jornalista deve restringir-se apenas ao de entrevistador ou mediador, fazendo perguntas

e controlando o debate. (Gilboa, 2002, p. 738)

A interferência dos meios de comunicação também pode ser constatada na

agenda política, ou seja, a mída está tendo influência em ditar que questões devem ter

atenção dos políticos e do público. Essa participação dos mass media na agenda política

é conhecida por agenda-setting, entenda-se aqui o processo pelo qual os meios de

comunicação conseguem colocar em evidência determinada questão.

“em consequência da acção dos jornais, da televisão e dos outros

meios de informação, o público sabe ou ignora, presta atenção ou descura, realça ou negligencia elementos específicos dos cenários públicos. As pessoas têm tendência para incluir ou excluir dos seus próprios conhecimentos aquilo que os mass media incluem ou excluem do seu próprio conteúdo. Além disso, o público tende a atribuir àquilo que esse conteúdo inclui uma importância que reflecte de perto a ênfase atribuída pelos mass media aos acontecimentos, aos problemas, às pessoas.” (Shaw cit in Wolf, 2006, p. 144).

Como podemos verificar, a definição acima mostra o que é defendido pela

hipótese do agenda-setting, aqui não se fala na persuasão dos meios de comunicação,

mas na atuação deles em evidenciar temas sobre os quais as pessoas podem desenvolver

um interesse e ter uma opinião. O papel dos meios de comunicação em atribuir questões

sobre as quais as pessoas podem desenvolver algum interesse e opinião também é

observada quando falamos nos assuntos externos, ou seja, os meios de comunicação

colocam em evidência questões de âmbito internacional sobre os quais as pessoas

devem ter conhecimento ou mesmo contribuem para determinar a agenda política de um

Estado.

Em outras palavras, os mass media também atuam salientando questões

internacionais as quais não seriam de importância para a política externa de um país,

mas por causa da visibilidade conseguida através da mídia passam a ganhar destaque e

uma maior importância por parte dos governos, conseguindo assim prioridade em frente

a outros temas. McCombs afirma que além de colocarem temas em evidência a mídia

também consegue conduzir as pessoas a saberem definir a importância de um tópico

através da ênfase dada ou pela organização em que aparecem no jornal ou noticiário

televisivo. Dessa forma, podemos destacar a contribuição da mídia em definir as

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prioridades para o público, ou seja, tópicos proeminentes na cobertura midiática

terminam por ser proeminentes na mente do público. (McCombs, S./D, p.01).

Outros pontos importantes sobre o agenda-setting são abordados por

McCombs. Um é relacionado com o fato da influência da mídia não limitar-se apenas a

parte inicial de chamar a atenção pública, mas ela vai mais além influenciando o

processo comunicativo, pois contribui no entendimento e na perspectiva que temos dos

assuntos. Devemos salientar o facto de como é feita a abordagem das questões pela

mídia, a qual enfatiza alguns aspectos de determinado tópico deixando outros pontos

fora do enfoque, isso termina por influenciar a visão do público sobre a questão,

situação visível também na abordagem de temas internacionais.

Para além, os meios de comunicação não determinam sozinhos a agenda pública,

outros fatores contribuem para o efeito, entre eles a nossa necessidade de orientação, ou

seja, a necessidade de entender o ambiente ao nosso redor, caso um assunto seja

novidade ou distante do nosso dia-a-dia, iremos procurar informações sobre ele e a

maior parte dessa informação conseguimos através dos mass media. (McCombs, S./D,

p.09).

Outro ponto que deve ser ressaltado é sobre a interferência dos meios de

comunicação no processo político. Diferenciando a conduta da política externa em dois

estágios, sendo o primeiro o processo de “policy making”, no qual consideram-se

opções e posições para posteriormente tomar decisões dentro do ambiente em que se

encontram as partes envolvidas; e o segundo refere-se a interação e diplomacia, onde

apresentam-se as decisões tomadas e procura-se a sua implementação através do diálogo

ou confrontação. De qualquer forma, Gilboa afirma que os meios de comunicação

globais estão tendo impacto nos dois estágios e, para uma melhor análise de como eles

atuam na política externa, ele os diferenciou em quatro tipos de atores: controlador,

constrangedor, interveniente e instrumental.18 (Gilboa, 2002, p. 733).

A atuação da mídia como controladores, também conhecida como a Teoria do

Efeito CNN, afirma que os meios de comunicação, nesse caso, a televisão global, agem

como um ator direto e dominante na formulação de políticas de defesa e assuntos

externos, principalmente, no contexto de intervenções humanitárias e militares. Esse

fenómeno vem sendo sublinhado por diplomatas e políticos, especialmente, após o final

da Guerra Fria, onde a política externa percebe a interferência dos mass media, os quais

18 Traduzido dos termos em inglês utilizados por Gilboa: controlling, constraining, intervening and instrumental.

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fazem uma intensa cobertura midiática de conflitos e intervenções. A Guerra do Golfo

(1990-1991), as guerras civis na Ruanda, Somália, Bósnia e Kosovo, e o protesto de

estudantes na Praça da Paz Celestial, na China, em 1989, são exemplos de

acontecimentos que tiveram uma abundante cobertura midiática e mostram a

interferência da televisão na diplomacia, uma vez que nesses casos pode ser constatado

a enorme presença da mídia e a constante divulgação de imagens, chamando a atenção

do público para os acontecimentos. (Gilboa, 2002, p. 733).

Muitos estudiosos falam sobre a interferência da televisão global nos assuntos

externos e ressaltam o seu crescente papel na política externa. Através da divulgação de

imagens de conflitos muitas vezes chocantes, os mass media chamam a atenção da

opinião pública e, consequentemente, dos políticos para a questão ao pressionarem os

governos a agir.

O crescimento e diversificação da CNN influenciou tanto áreas da comunicação

global como das relações internacionais. Entre as temáticas abordadas podemos citar:

tecnologia, cultura, economia, saúde, terrorismo, direitos humanos, ambiente, opinião

pública, entre outras. Durante a Guerra do Golfo, entre 1990 e 1991, a cobertura feita

pela rede televisiva CNN destacou-se e o sucesso das transmissões trouxe para a rede

americana o status de ator global, o que levou a muitos estudos sobre o fenómeno e

inspirou outras empresas a investirem na cobertura de crises internacionais. (Gilboa,

2005, p. 28).

“In the 1980s, these effects attracted limited attention from both

academic and professional communities, but CNN´s coverage of the Gulf War encouraged greater investigations. The war marked a turning point in the history of communications and of CNN in particular, which brought about a similar change in scholarship on the networks.” (Gilboa, 2005, p. 28).

A cobertura em tempo real de conflitos que estão ocorrendo pelo mundo

contribui na obtenção de reações poderosas e imediatas por parte dos governos, que são

“obrigados” a agir por causa das pressões da opinião pública, situação que antes não

acontecia. Atualmente, o fato da cobertura televisiva influenciar a tomada de decisão

política e acelerar o ritmo da comunicação internacional, principalmente, quando nos

referimos a transmissões em tempo real, está sendo associada ao novo papel

desempenhado pela mídia o que ocasionou em vários estudos na área e o

desenvolvimento de uma nova teoria sobre o Efeito CNN.

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A Teoria do Efeito CNN fala, principalmente, sobre a influência da cobertura

televisiva em conflitos e questões humanitárias, o que muitas vezes ocasiona uma rápida

resposta por parte dos políticos, os quais não têm tempo para analisar a situação

corretamente, podendo direcioná-los a tomar decisões precipitadas que, se não fosse

pela televisão, seria avaliada de forma mais calma ou até mesmo não receberia nenhum

tipo de intervenção por não fazer parte dos planos da política externa. Em outras

palavras, ela investiga como a televisão atrai a atenção da opinião pública para

determinadas crises, pedindo a intervenção dos políticos; intervenção esta a qual poderia

não acontecer se não fosse pela presença da mídia no local.

Aqui devemos entender que nem todos os estudiosos estão de acordo nos efeitos

que a cobertura televisiva tem na política externa. Essa “nova” teoria da comunicação

internacional ganhou ênfase através da grande quantidade de conflitos televisionados

nos dias de hoje e do impacto que elas estão tendo na tomada de decisão. Através das

imagens, como por exemplo as de crises humanitárias, a televisão consegue sensibilizar

a opinião pública para diversas questões, e consequentemente, fazer pressão nas

autoridades. Para a Teoria do Efeito CNN os governos estão perdendo o controle

político para a mídia.

Por ser um campo de estudos recentes, muito ainda tem de ser trabalhado sobre a

Teoria do Efeito CNN, uma vez que qualquer pesquisa sistemática sobre o fenômeno da

comunicação exige uma definição bem trabalhada, situação que ainda não acontece com

o Efeito CNN. Pesquisadores dessa teoria ainda não entraram em acordo sobre uma

definição e a variedade delas pode causar certa confusão. Para Feits o Efeito CNN

refere-se a imagens televisivas que fazem os políticos intervirem em determinada

situação, mesmo que isso não estivesse nos planos originais deles. (Feits cit in Gilboa

2005, p.29). Já Schorr a define como a forma em que as notícias afetam as decisões da

política externa. (Schorr cit in Gilboa, 2005, p.29).

De qualquer forma, alguns estudiosos afirmam ser impossível a mídia por si só

forçarem os governos a intervir em alguma situação, mas dependendo das condições,

eles podem contribuir para tal e ter um efeito poderoso no processo político. Podemos

citar os exemplos de Ruanda e da Somália. No primeiro caso, apesar das pressões da

mídia, a intervenção não aconteceu. Já em relação a Somália, os mass media

contribuíram para a intervenção na região ao estarem constantemente divulgando cenas

da crise. Esses dois exemplos servem para refutar o poder atribuído aos meios de

comunicação atualmente, que nem sempre conseguem pressionar os governos a

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intervirem em determinada crise. Mesmo assim, apesar de muitos estudiosos levantarem

várias dúvidas em relação aos meios de comunicação estarem tomando o controle da

política externa, em diversos casos, como a Somália, podemos constatar a influência

deles no processo de tomada de decisão política e em seus resultados.

Já no papel de ator constrangedor, os meios de comunicação não são vistos por

assumirem o controle na formulação da política externa, como acontece na Teoria do

Efeito CNN, aqui admite-se que a interferência dos meios de comunicação na politica

externa acontece e que eles a estão influenciando em várias dimensões, mas que ainda

não existem evidências suficientes dos mass media terem um papel controlador. Para

além, o contexto também é diferente, enquanto actor controlador os meios de

comunicação são analisados em intervenções militares, no constrangedor a análise é em

relação a tomada de decisão e o conceito relevante é o de política em tempo real, onde

os meios de comunicação são apenas um dos diversos fatores que influenciam a política

externa.

Gilboa afirma que atuando como constrangedor, apesar dos meios de

comunicação atrapalharem o processo de política externa e reorganizarem prioridades,

os diplomatas e chefes de Estado não sentem-se obrigados a tomar determinada decisão

por causa da pressão feita por eles, aqui destacam-se a interferência na rapidez das

transmissões midiáticas e na transmissão de informação. É através delas que os meios

de comunicação vão interferir na política externa, uma vez que eles pressionam os

Chefes de Estado a darem uma resposta rápida, que como já foi explicado, pode não

deixar tempo suficiente para uma análise profunda da questão, acarretando em erros de

julgamento. (Gilboa, 2002, p.736).

“The faster speed of diplomatic exchanges on global television

presents major dilemmas to all the main participating actors in the foreign policy process: political leader, experts, diplomats, and journalists. Bescholoss (1993) argued that this speed may force hurried responses based on intuition rather than on careful, extensive policy deliberation, and this may lead to dangerous policy mistakes.” (Gilboa, 2002, p.737).

Como vimos na citação acima, atualmente, a rapidez nas transmissões midiáticas

e na transmissão de informação está afetando os principais atores envolvidos na política

externa inclusive, os jornalistas, que têm desempenhado um papel relevante na área,

uma vez que devido a importância adquirida pelas notícias globais, eles terminam por

possuir uma grande responsabilidade, pois são encarregados de transmiti-la para a

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opinião pública, contribuindo assim na imagem que eles vão ter de determinado

assunto.

Dessa forma, os jornalistas devem ter cuidado com o tipo de informação

veiculado e estarem atentos para a veracidade dos fatos. Por sofrerem pressão das redes

de notícias globais para transmitirem informação da forma mais rápida possível, eles

estão susceptíveis de veicularem notícias incompletas ou mesmo incorretas, ou seja,

apesar de estarem capacitados para transmitir imagens, a falta de tempo muitas vezes é

um impedimento para os repórteres descobrirem o contexto e significado dos eventos,

assim não deixando tempo suficiente para a reflexão e explicação dos fatos.

Consequentemente, além de passar informação incorreta para a população, eles também

vão guiar os Chefes de Estado e diplomatas, os quais os usam como principal fonte de

informação, a tomarem decisões erradas baseadas nessas notícias. (Gilboa, 2002, p.

738).

Para além, ainda como ator constrangedor, Gilboa fala sobre o papel dos

embaixadores e chefes de Estado na diplomacia tradicional, onde eles rettinham o

monopólio em várias áreas da política externa, podemos citar como exemplos disso, a

representação de seus países, a comunicação da posição de seus governos sobre

determinado assunto, a condução da negociação, adquirindo informação sobre os países

onde se encontram e sugerindo que ações devem ser tomadas. Monopólio esse que

mudou devido a interferência dos meios de comunicação.

Como já foi referido, com a interferência da mídia na política externa, o papel

que antes era restrito aos policy makers agora depara-se com a intromissão dos meios de

comunicação, os quais contribuem na transmissão de informação, uma vez que

anteriormente a interferência midiática na política externa, essa era feita de forma direta

entre os Chefes de Estado, os quais agora aproveitam-se dos meios de comunicação para

enviar recados para outros. (Gilboa, 2002, p. 737).

Outro papel desempenhado pela mídia é o de ator interveniente, onde, no

contexto de uma mediação internacional, os jornalistas passam a assumir a função de

mediadores. Com a revolução da comunicação, principalmente, devido ao

desenvolvimento tecnológico é possível constatar um número cada vez maior de

jornalistas desempenhando o papel de “mediadores” em crises internacionais, essa

situação pode ser constatada particularmente em condições onde não há comunicação

entre as partes e também não existe uma terceira parte para ajudar no diálogo. O

conceito aqui é o de intermediação política internacional. Já adiantamos nesse capítulo

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sobre a ténue linha desse tipo de trabalho jornalístico, onde deve-se ter o cuidado de não

ultrapassar o papel de jornalista e começar a assumir a tarefa dos policy makers.

A linha que separa o trabalho de um jornalista do diplomata é muito ténue nessas

situações e não há um acordo entre os estudiosos sobre isso. Para alguns pesquisadores,

como é o caso de Geyer e Newson, apenas por entrevistar líderes não disponíveis aos

Chefes de Estado, os repórteres já estão ultrapassando essa linha. Mesmo assim, eles

não dão nenhum critério para determinar se são apenas entrevistas ou mediações. Gilboa

sugere que os jornalistas fazem mediação apenas quando eles debatem com líderes do

outro lado representando a posição dos seus governos ou sugerem proposta para pôr fim

a um conflito. (Gilboa, 2002, p. 738).

De qualquer forma, muitas são as situações em que os jornalistas estão

assumindo o papel dos diplomatas, exemplo disso foi a performance do âncora Ted

Koppel para ABC NEWS no programa Nightline, onde ele promovia o debate entre as

partes buscando a resolução para os conflitos, e Walter Conkrite da CBS que

entrevistou Saddam Hussein em Bagdá durante a Guerra do Golfo (1990- 1991) e

contribuiu na organização da viagem de Sadat a Jerusalém (1977).

O primeiro contribuiu para que as partes observassem os objetivos de uma

negociação, ajudando a remover barreiras e a cultivar suporte doméstico para um

acordo. Já o segundo, tinha um estilo espontâneo de entrevistar e caracterizava-se por

descobrir brechas para o diálogo e mesmo a tentativa de negociar em nome do seu país.

Esses dois repórteres tinham a seu favor a credibilidade da sua imagem junto a opinião

pública e mesmo de Chefes de Estado, o que lhes outorgava uma certa autoridade.

Mesmo assim, os policy makers normalmente não vêem essa intervenção dos meios de

comunicação como algo bom e preferem que a política externa seja feita por eles.

(Gilboa, 2002, p. 739).

A mediação internacional feita por jornalistas também recebe críticas,

levantando problemas éticos e profissionais, uma vez que a profissão exige objetividade

e imparcialidade por parte dos seus profissionais. Assim, a partir do momento que eles

tomam partido em questões internacionais, ao desenvolverem interesse por elas, eles

comprometem o padrão profissional que estamos acostumados a ver por parte desta

categoria.

A última hipótese levantada por Gilboa sobre a maneira da mídia atuar na

política externa é a instrumental, onde o contexto relevante é o de resolução de conflitos

e o conceito é o de diplomacia midiática. Aqui vamos nos deparar com a utilização da

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mídia pelos líderes políticos na expressão de interesses e construção de suporte público

para suas causas. Atualmente, podemos constatar o uso dos meios de comunicação

pelos líderes para contribuir em negociações e mobilizar apoio para isso. Esse

fenômemo é conhecido como diplomacia midiática, entretanto os estudiosos não entram

em concordância na definição dela. De qualquer forma, Gilboa define a diplomacia

midiática com o uso da mídia por líderes para expressar interesse em uma negociação,

construir confiança e mobilizar suporte público para acordos; essa definição também

será utilizada nesta dissertação. (Gilboa, 2002, p. 741).

A propagação dos meios de comunicação como instrumentos de política externa

é algo muito comum nos dias de hoje. Na atualidade, muitos líderes estão optando por

utilizar a comunicação global em vez da diplomacia tradicional para mandar mensagens

ou mesmo melhorar sua imagem. Podemos constatar a diplomacia midiática através de

atividades como: conferências de imprensa, entrevistas, visitas de Chefes de Estados e

mediadores a países com os quais têm conflitos. Por exemplo, quando Mohammed

Khatami foi eleito presidente do Irã em 1998, ele usou a CNN para mandar uma

mensagem conciliadora para os EUA. Mais recentemente, em 2009, podemos falar da

entrevista concedida por Raúl Castro, onde ele se mostrava disposto a dialogar com o

presidente americano Barak Obama.

Dois componentes caracterizaram a diplomacia midiática durante o século XX: a

grande exposição das negociações pela mídia e conversas diretas entre líderes políticos.

Estes dois aspectos têm marcado a forma como a política externa vem sendo feita,

principalmente, quando falamos de cimeiras ou reuniões entre líderes de todo o mundo,

buscando pôr fim a conflitos ou apoio para suas ações. Essa “invasão” dos meios de

comunicação na política externa traz alguns efeitos para a diplomacia: banalizam o

trabalho dos embaixadores, quebram o impasse diplomático ao criar um clima propício

para negociações e, por último, constroem um clima favorável para acordos. Esses são

exemplos de como os meios de comunicação estão interferindo na política externa.

Apesar de alguns efeitos da presença da mídia serem vistos como positivo, não

devemos esquecer que esse não é sempre o caso, uma vez que a participação dos meios

de comunicação podem não ser bem sucedidas. Para além, esses tipos de eventos são

sempre controlados pelos políticos que determinam as condições em que ele acontecerá,

assumindo o papel de diretores e usando os jornalistas apenas como instrumentos, onde

eles estão reduzidos a um papel secundário com o objetivo de angariar apoio público.

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Dessa forma, o trabalho do jornalista fica comprometido, uma vez que nesses

casos o controle da situação está a cargo dos políticos, os quais tentam administrar a

informação, deixando, consequentemente, os repórteres incapacitados de fazer um

balanço real dos fatos. Para além, a questão dos meios de comunicação estarem

concentrados no momento em que os fatos ocorrem também pode ser um problema,

pois é importante olhar para os acontecimentos com uma perspectiva histórica,

analisando o porquê dele estar acontecendo e as consequências futuras, e não apenas

mostrar aspectos momentâneos em busca da comoção pública, o que normalmente

acontece.

Como vimos até o momento, as transformações ocorridas na comunicação e nos

assuntos externos atribuíram um novo papel para a comunicação global na formulação e

implementação da política externa. Nesse contexto, percebemos que os meios de

comunicação estão interferindo no processo de política externa com algumas

consequências positivas e negativas. Seja agindo como um actor controlador ou mesmo

instrumental, várias são as evidências do impacto da mídia na política externa. Sendo

uma rápida fonte de informação, a interferência na elaboração de políticas, na agenda

política e na formação da opinião pública são exemplos de como eles estão agindo na

política externa. Mesmo assim, apesar de concordarmos que existe um impacto dos

meios de comunicação na política externa, os estudos na área ainda são insuficientes

para analisar a participação da mídia nos assuntos externos e precisam ser melhor

trabalhadas e desenvolvidas, utilizando principalmente áreas diferentes.

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CAPÍTULO 3: METODOLOGIA

3.1 Descrição da metodologia

Para realizarmos este trabalho, partimos da idéia de efetuarmos um estudo sobre

a imagem do Brasil como ator político internacional, buscando analisar a importância

que o Brasil adquiriu como potência emergente no sistema internacional. Usamos para

isso o estudo de caso da sua propositura a membro permanente do Conselho de

Segurança (CS) da ONU. Como foi evidenciado no primeiro capítulo desta tese, a

temática é importante pois o Brasil tem ganho cada vez mais destaque

internacionalmente.

A escolha da aspiração brasileira em se tornar membro permanente do CS como

estudo de caso; surgiu devido à importância do assunto internacionalmente e do

interesse do Brasil na questão, uma vez que são antigas as aspirações brasileiras de se

tornar um ator com maior influência no sistema internacional, para além de ser uma

questão de grande visibilidade.

Em busca de descobrirmos qual a imagem política do Brasil, decidimos basear o

estudo na análise dos meios de comunicação, nesse caso, de jornais, uma vez que, como

constatamos no segundo capítulo deste trabalho, além da mídia interferir no processo de

política externa, ela contribui na construção e divulgação da imagem junto a opinião

pública e aos políticos.

A pesquisa tem como questão de partida a seguinte pergunta: Qual é a imagem

do Brasil, enquanto ator político, construída pela mídia internacional? A partir desta

questão principal, surgem outras a que também se pretende responder na investigação

realizada:

- Qual a opinião da mídia internacional em relação à propositura do Brasil ao

Conselho de Segurança da ONU?

- Qual a imagem divulgada pela mídia sobre a capacidade do Brasil se tornar

uma potência capaz de influenciar o sistema internacional?

Para realizar a pesquisa empírica adotamos uma metodologia de pesquisa que

mescla duas estratégias complementares de investigação, as quais correspondem a

análise qualitativa, onde usaremos a Análise Crítica do Discurso, e análise quantitativa

de jornais, onde será usada a Análise de Conteúdo.

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Segundo Bardin, a Análise de Conteúdo é um

“conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter,

por procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.”(Bardin, 2008, p.44).

Bardin divide a Análise de Conteúdo nas seguintes etapas: Pré-análise,

codificação, categorização e inferência. A pré-análise “é a fase da organização

propriamente dita”. (Bardin, 2008, p. 121). Normalmente, os objetivos dessa fase são “a

escolha dos documentos a serem submetidos à análise, a formulação das hipóteses e dos

objectivos e a elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação final”.

(Bardin, 2008, p. 121). Em outras palavras, durante a pré-análise é feita a delimitação

do objeto de análise, a seleção do tipo de documento a ser analisado, uma leitura

flutuante do mesmo, a formulação de objetivos e até mesmo hipóteses, sendo está

opcional, e por último, a constituição do corpus.

Na fase da codificação trata-se do material selecionado, onde os dados em bruto

são transformados e permitem uma descrição das características pertinentes do conteúdo

analisado.

“A codificação corresponde a uma transformação dos dados em

bruto do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo, ou da sua expressão…”. (Bardin, 2008, p. 129).

Já a categorização corresponde a fase onde dividimos as partes das mensagens

analisadas em categorias, classificam-se os elementos que constituem um conjunto por

diferenciação e depois reagrupamos de acordo com critérios definidos. Cada categoria é

composta por características comuns dos elementos. Mesmo assim, a categorização não

é uma etapa obrigatória da Análise de Conteúdo. (Bardin, 2008, p.145). Depois de todas

essas etapas, chegamos a inferência, ou seja, deduzir de maneira lógica conhecimentos

sobre o emissor da mensagem, sobre o seu meio ou sobre o impacto ao nível da

recepção.

Usando a Análise de Conteúdo desenvolvemos a primeira fase da pesquisa

empírica, analisando quantitativamente os dados. Aqui verificamos a importância e o

tratamento dado ao tema, como é possível observar na primeira etapa do capítulo

seguinte. Dessa forma, foi possível analisarmos a opinião que a mídia tem sobre a

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propositura brasileira ao Conselho de Segurança da ONU, e consequentemente,

responder a um dos objetivos desse trabalho.

Para responder as outras questões dessa dissertação, resolvemos empregar a

análise qualitativa, e nesse caso, optamos por utilizar os princípios da Análise Crítica do

Discurso que fala sobre como a linguagem é usada na produção e reprodução do poder.

Enquanto na Análise do Conteúdo é possível trabalharmos com um corpus mais

abrangente, a aplicação da ACD é mais viável quando utilizada para um corpus menor.

Segundo van Dijk, a análise de uma pequena passagem pode demorar muito

tempo e ocupar um grande espaço. Dessa forma é preciso fazer opções e escolher as

estruturas relevantes para o estudo. (van Dijk, 2005, p.38).

Para van Dijk, a Análise Crítica do Discurso trata principalmente de assuntos

políticos e problemas sociais. Tem como foco de estudo os “modos como as estruturas

do discurso põem em prática, confirmam, legitimam, reproduzem ou desafiam relações

de poder e dominância na sociedade”. (Van Dijk, 2005, p.20). Segundo Coelho, o texto

é apenas uma parte visível do processo comunicativo e a ACD “analisa o texto como

parte integrante de uma (inter)acção específica, dinâmica e em tempo real, interação

essa que pode fazer parte de uma determinada prática, estrutura ou processo social mais

complexo.” (Coelho, S/N, p.7). Em outras palavras, a Análise Crítica do Discurso irá

analisar o texto em determinado contexto. Tal é diferente da análise de conteúdo que

estuda o texto; aqui estuda-se o discurso.

A ACD não interessa-se apenas pelo texto em si, mas pela forma como foi

produzido e recebido o mesmo. Os praticantes da Análise Crítica do Discurso têm de se

preocupar com as formas dos textos, seus processos de produção e de leitura dos

mesmos, além da estrutura de poder em que estão inseridos. Dessa forma, o contexto de

produção e recepção são partes fundamentais da análise. Ainda segundo Coelho, é

importante fazer uma análise da prática social em que o discurso está inserido, para

depois interpretá-lo, ou seja, a análise do texto depende da situação comunicativa e

social da qual o texto faz parte. (Coelho, S/N, p.13)

Desta maneira, levando em conta os princípios da ACD, utilizamos alguns textos

ilustrativos que fossem importantes na determinação da imagem política do Brasil. Os

textos submetidos a uma análise mais aprofundada foram selecionados a partir das

informações coletadas sobre a imagem política do Brasil e, particularmente, sobre a

propositura do mesmo ao Conselho de Segurança da ONU. Na última fase do estudo

optamos por escolher apenas textos de opinião publicados na impresa selecionada. A

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escolha por textos de opinião deve-se a importância atribuída aos mesmos, uma vez que

eles expressam opiniões dos jornais e, de algum modo, a opinião do país em que se

encontram. Segundo Van Dijk, “as ideologias e as opiniões dos jornais usualmente não

são pessoais, mas sociais, institucionais ou políticas”. (Van Dijk, 2005, p.187). Aqui

vale novamente ressaltar a importância dada aos textos de opinião, pois consideramos

ser um reflexo da opinião dos diferentes impressos analisados.

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3.2 Corpus de análise

Para a investigação deste projeto decidimos que o tempo de pesquisa seria de

cinco anos, começando em 2004 e terminando em 2008. A escolha deste período deveu-

se ao fato de 2004 ter sido o ano em que o Brasil, juntamente com os outros membros

do G4, pediram a revisão do atual formato do Conselho de Segurança e lançaram uma

candidatura conjunta para se tornarem membros permanentes do CS. Para além,

também foi o período no qual o então Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan,

nomeou uma comissão para analisar uma possível reforma do órgão, aumentando o

debate em torno do assunto. Esses podem ser considerados fatores que contribuíram

para dar uma maior visibilidade ao tema a partir do ano de 2004.

Devido ao foco da pesquisa ser sobre a imagem política do Brasil e ao estudo de

caso está voltado para a propositura brasileira em ser membro permanente do Conselho

de Segurança, selecionamos para a investigação um conjunto de países relevantes, tendo

em consideração a relação que têm com o Brasil e o peso na comunidade internacional,

para além do interesse na questão da reforma do Conselho de Segurança. Assim,

chegamos aos seguintes atores: Reino Unido, Estados Unidos, Argentina, México e

Portugal. Esses atores, como já foi referido, foram escolhidos por causa da importância

que possuem no sistema internacional, da relação que têm com o Brasil e do interesse na

reforma da ONU.

Após a escolha dos países, deu-se a seleção dos jornais e revistas que seriam

analisados. Procurou-se escolher meios que contribuíssem para análise da imagem do

Brasil como ator político internacional. Levando isso em consideração, decidimos por

escolher os meios a serem investigados usando, primeiramente, o critério da

importância atribuída pelos mesmos a assuntos sobre política internacional. Também

levamos em consideração se eram meios de grande circulação. Ao usar estes critérios

tínhamos como objetivo fazer a investigação em jornais que nos ajudariam a interpretar

a imagem política do Brasil num determinado país, o que além de refletir a imagem que

jornais têm do Brasil, contribui na construção da opinião pública sobre o mesmo.

Depois de decidirmos a forma de seleção dos jornais, determinou-se que seriam

dois jornais por país, critério este que foi alterado nos EUA, pela inviabilidade da

análise. Foi feita uma primeira escolha dos jornais New York Times (NY Times) e

Washignton Post. Fundado em 1851, O NY Times tem circulação diária e possui um

perfil liberal. Também podemos ressaltar o fato de ser um dos jornais mais lidos e

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influentes dos EUA, influência esta que não se restringe ao país, tendo alcance global. O

website do NY Times também merece destaque, uma vez que desde a sua criação

recebe um grande número de acessos. Para além, deve-se ressaltar a importância dada

pelo mesmo a temas políticos.

No segundo jornal escolhido, houve dificuldade em fazer a investigação, uma

vez que apenas se conseguia aceder aos últimos três meses de publicação e, caso se

quisesse acessar um tempo maior do arquivo, tal teria que ser pago. Essa situação

repetiu-se em relação a outros jornais do mesmo país. Dessa forma, optamos por

escolher duas revistas de grande circulação e visibilidade: Newsweek e Time, que

apesar de estarem sediadas nos EUA, têm difusão global. São duas revistas de

publicação semanal e que estão entre as mais lidas do mundo, aqui dando destaque a

edição online, o qual não limita-se a reproduzir o conteúdo das matérias impressas e é

atualizado contantemente.

No Reino Unido, os jornais selecionados para fazermos a pesquisa foram o Daily

Telegraph e o The Guardian. O primeiro surgiu em 1855, é considerado um jornal de

direita, com grande conotação política, além de ter uma das maiores circulações no

Reino Unido. O The Guardian, fundado em 1821, também é um dos maiores jornais

britânicos e possui um perfil centro-esquerda. Como o Daily Telegraph, também dá

bastante importância a assuntos sobre política.

La Nación e Clarín foram os escolhidos na Argentina. O primeiro é o mais

antigo do país, foi fundado em 1870, e tem um perfil mais conservador voltado para a

direita. Sua circulação diária é a segunda maior na Argentina, além de seu website

também ser o segundo em número de acessos. Já o Clarín nasceu em 1945 e atualmente

é o jornal argentino com a maior circulação, ficando a frente do La Nación. Tem um

perfil mais voltado para o centro-esquerda. Para além, o website do jornal é o mais

visitado na Argentina.

No México optamos por fazer a pesquisa nos jornais El Universal e La Jornada,

ambos jornais de grande circulação no país. O La Jornada nasceu em 1984 e tem como

principal característica seu perfil esquerdista, que faz duras críticas ao Governo

Mexicano, para além do apoio aberto a partidos de esquerda e as chamadas causas

sociais. Sua circulação é diária e ocupa o quarto lugar em números de tiragem. Durante

a pesquisa no site do La Jornada encontrou-se alguma dificuldade uma vez que ele não

possuía a ferramenta de busca avançada, o que impediu uma melhor restrição de

resultados. Apesar do obstáculo, foi possível fazer a investigação, a qual, em

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comparação com os outros jornais selecionados, demorou mais tempo para ser

concluída devido a falta da ferramenta de busca avançada.

O El Universal, ao contrário do La Jornada, tem um perfil de direita, mas

também é um impresso com bastante conotação política, possuindo um editorial crítico.

Para além, sobressai-se o fato de ser um dos jornais com maior circulação no país, além

de possuir um website com grande número de acessos.

Em Portugal, a dificuldade na escolha dos jornais foi maior, uma vez que como a

pesquisa seria feita pela internet, constatamos que as ferramentas de busca nos sites dos

jornais portugueses ainda não estão tão avançadas como nos outros jornais

selecionados. Dessa forma, tivemos que mudar os jornais escolhidos por causa da

inviabilidade da pesquisa. Primeiramente, optamos por fazer a pesquisa no Público e no

Expresso.

No Público, para a investigação poder ser concluída, foi necessário fazer a

assinatura online do jornal, pois era a única forma de obter acesso ao arquivo digital.

Por causa da dificuldade em fazer a busca no site todo, tivemos que restringir a pesquisa

à edição impressa disponível online, o que não aconteceu com os outros jornais, onde a

pesquisa incluía além da edição impressa, artigos publicados exclusivamente online. O

Público, fundado em 1989, é um dos jornais com mais prestígio em Portugal, sendo dos

jornais com maior circulação no país. Para além, devemos ressaltar a importância dada a

assuntos sobre política internacional.

Já em relação ao Expresso, a busca no website do mesmo mostrou-se impossível

de ser concretizada e, como o tempo de pesquisa era de cinco anos, tornou-se inviável

fazer a mesma na edição impressa. Dessa forma, tivemos que optar por mudar o objeto

de investigação para o Diário de Notícias. Fundado em 1864, é um dos jornais

portugueses de maior prestígio e referência, além de ter uma das maiores circulações no

país. Pode-se destacar a importância dada a temas políticos.

Após a escolha do tempo de pesquisa, dos países relevantes para o tema e dos

meios de comunicação, partimos para a parte prática. Assim, começamos a recolha do

material a ser analisado nos websites dos jornais. Para isso usamos na ferramenta de

busca as palavras-chave: “Brasil e o Conselho de Segurança da ONU”, o que

possibilitou uma melhor restrição dos resultados e a recolha dos textos que serão

analisados no próximo capítulo. Foram pesquisados artigos publicados num período de

5 anos, em 11 jornais ou revistas, de 5 países, resultando em uma recolha de 160 textos,

entre os quais artigos de opinião, editorias, notas, notícias, reportagem, entre outros.

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CAPÍTULO 4: ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 Análise quantitativa dos dados

4.1.1 A importância da reforma nos jornais

Nesta fase do trabalho tomamos por base a análise quantitativa dos dados

recolhidos, que são um total de 160 textos. Dessa forma, conseguimos obter respostas as

questões colocadas neste projeto, em outras palavras, aqui foram analisadas as variáveis

que permitem averiguar a opinião que a mídia tem sobre a propositura brasileira ao

Conselho de Segurança da ONU. Para isso, em um primeiro momento, procuramos

observar a importância atribuída ao tema nos textos recolhidos. As variáveis

consideradas foram as seguintes: quantidade de matérias publicadas e o género

jornalístico. Em um segundo momento, iremos analisar como a propositura do Brasil a

membro permanente é vista pela mídia, aqui será utilizada a Análise de Conteúdo

propriamente dita, onde verificamos posições dos jornais em relação ao tema.

Em termos quantitativos podemos observar na tabela 1 que os jornais argentinos

Clárin e La Nación tiveram um número total de matérias publicadas superior aos demais

meios analisados, tendo o primeiro um total de 39 textos e o segundo 42 ao longo do

período da pesquisa. Dessa forma, somam uma percentagem equivalente a 50,625% do

total de matérias recolhidas.

Esses dados mostram como os jornais argentinos deram uma maior visibilidade

ao tema em relação aos demais impressos, ressaltando a importância da ampliação do

CS para o país, aqui tendo destaque a ambição brasileira de ser membro permanente do

Conselho, fato que não tem o apoio argentino. Em outras palavras, fica evidente na

quantidade de textos recolhidos nos jornais argentinos a importância que o tema da

reforma do CS tem para o país, o qual apesar de ter uma relação estratégica com o

Brasil, tanto no campo político como econômico (sobretudo se levarmos em

consideração o Mercosul) tem uma certa rivalidade com o mesmo. Rivalidade essa que

reflete-se nas reações às aspirações políticas do Brasil em ser membro permanente do

CS.

De fato, a Argentina não apoia a entrada brasileira como membro permanente

do conselho, uma vez que se o objetivo do Brasil se concretizar, o mesmo conseguirá

ampliar sua influência política e se tornará o ator mais importante na América do Sul,

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sendo que essa importância não irá restringir-se ao continente americano, mas terá um

alcance global, já que o CS é o órgão de maior importância da ONU.

Já os jornais mexicanos, possuem o segundo número de matérias publicadas

sobre o tema durante o período da investigação. Mesmo assim, a quantidade de matérias

selecionadas no El Universal e La Jornada soma um total de 18,125%, o que é uma

porcentagem bem menor que a registrada na Argentina, ou seja, não chega nem perto da

metade de matérias publicadas no país sul-americano.

Apesar da grande diferença no número de textos recolhidos entre o México e a

Argentina, os dados recolhidos no México ajudam a compreender como o país vê a

reforma do Conselho de Segurança, refletindo a importância do assunto para o país, o

qual, tem o mesmo posicionamento que a Argentina em relação ao tema, em outras

palavras, não apoia a propositura brasileira a membro permanente do conselho. Ao

analisar os meios de comunicação desses atores, também podemos considerar que os

dois países acompanham com bastante interesse a propositura brasileira ao CS,

observando com proximidade os acontecimentos referentes a reforma. Vale ressaltar

que México e Argentina são favoráveis a uma possível reforma da ONU19, mas

discordam da proposta do Brasil, juntamente com o G4, a qual acham ser incompleta e

excludente.

Outro país que mostrou resultados significativos foi Portugal com 16, 875% do

total de textos recolhidos. Ao contrário dos países latino-americanos, Portugal apoia a

entrada do Brasil como membro permanente do CS e também possui um certo interesse

nessa questão, uma vez que os dois países têm uma relação de amizade e aliança. O

apoio de Portugal a propositura brasileira a membro permanente do CS reflete-se na

cobertura midiática que os jornais portugueses fizeram sobre a questão da reforma da

ONU, onde foi possível perceber o destaque dado ao assunto. Fica claro que o país vê o

tema com especial interesse, pois possui uma relação estratégica com o Brasil.

Para Portugal, o fato do Brasil tornar-se membro permanente do CS, significa ter

um aliado a fazer parte do órgão com maior poder nas Nações Unidas.

19 Lembre-se que México e Argentina fazem parte do grupo Unidos pelo Consenso, o qual não aceita a inclusão de membro permanentes, usando o critério da representatividade, o qual é defendido pelo Brasil. Mas defendem a entrada de membros “semi-permanentes”, que ficariam no cargo por quatro anos com a possibilidade de reeleição.

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Tabela 1 Número de matérias por jornal e país

País Jornal N Total por país % Por país

Argentina La Nación 42

81 50,625% Clarín 39

México El Universal 20

29 18,125 % La Jornada 09

Portugal Público 11

27 16,875% Diário de Notícias 16

Reino Unido Guardian 09

16 10 % Daily Telegraph 07

EUA

NY Times 04

07

4,375% Time 02

Newsweek 01

Total de matéria recolhidas 160 N - Número de matérias por jornal

Já a cobertura feita nos jornais do Reino Unido não foi tão expressiva como nos

outros países. Apesar da aceitação por parte deste ator tanto da reforma da ONU, como

da entrada brasileira no Conselho de Segurança, foram recolhidas apenas 16 matérias

sobre o assunto, ou seja, 10% do total de matérias. Podemos concluir que a pouca

cobertura do assunto mostra que o país não vê a questão com o mesmo interesse dos

outros países investigados e também não tem muita preocupação com a entrada do

Brasil no CS.

Nos Estados Unidos, a recolha do material foi a menos significativa de todos,

com um total de apenas 4,375% das matérias recolhidas. Os dados refletem a posição do

país em relação ao tema, o qual podemos considerar uma posição “conservadora”, onde

esse ator não mostra muito interesse na reforma e até 2008 não havia se posicionado

oficialmente a favor sobre o assunto, e nem sobre apoiar a entrada do Brasil como

membro permanente da ONU20. Dessa forma, podemos concluir que os dados

recolhidos nos meios americanos, são consoantes com a posição adotada pelo país em

relação a reforma da ONU.

20 O atual Presidente os EUA, Barack Obama, eleito no final de 2008, já mostrou-se favorável a reforma do Conselho de Segurança da ONU, defendendo publicamente a entrada da Índia como membro permanente do Conselho. Em relação ao Brasil, o Presidente não assumiu uma posição oficial sobre o assunto, apenas “manifestou seu apreço à aspiração do Brasil de tornar-se membro permanente do Conselho de Segurança e reconheceu as responsabilidades globais assumidas pelo Brasil.” (Comunicado Conjunto da Presidenta Dilma Roussef e do Presidente Barack Obama, 2011).

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Também é preciso destacar que os EUA, juntamente com o Reino Unido, são os

únicos atores analisados que possuem assentos permanentes no CS, e mesmo assim, são

os que deram menor visibilidade ao tema da reforma, conduzindo a conclusão de que

para os mesmos a questão não é vista com tanta relevância como para os outros atores

analisados. Para o México e a Argentina, o tema é observado com interesse,

principalmente, por causa de questões políticas e regionais, uma vez que a elevação do

Brasil a membro permanente do Conselho de Segurança da ONU consolidaria o mesmo

como maior potência da América Latina, ou seja, colocaria esses dois atores em uma

posição secundária de poder regional e internacional. Já Portugal possui uma relação

estreita de amizade com o Brasil e tem uma posição favorável a entrada dele no CS.

Dessa forma, esses três atores procuram estar atentos ao assunto, situação refletida no

número de textos recolhidos.

Tabela 2 Número de matérias por ano

País Jornal 2004 2005 2006 2007 2008 Total por

país

Argentina La Nación 12 21 2 3 4

81 Clarín 23 11 1 3 1

México El Universal 9 8 1 2 -

29 La Jornada 4 2 3 - -

Portugal

Público 2 5 - 1 3

27 Diário de

Notícias 2 7 2 2 3

Reino Unido Guardian 3 2 2 - 2

16 Daily Telegraph 3 2 2 - -

EUA

NY Times 2 2 - - -

07 Time 1 - - - 1

Newsweek - - - - 1

Total de matéria recolhidas

por ano 61 60 13 11 15 160

Na tabela 2 dividimos a recolha do material pelo período de 5 anos no qual a

investigação foi feita. Ao analisarmos os dados recolhidos anualmente, também foi

possível verificar que o ano de 2004 obteve o número mais significativo de matérias

publicadas, tendo assim um total de 61 textos recolhidos. Essa amostra só vem constatar

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o fato da reforma da ONU ter tido mais visibilidade no ano de 2004, uma vez que, como

já foi referido nesta dissertação, foi neste período que o Brasil lançou a candidatura

conjunta com os outros membros do G4 e o então Secretário-Geral das Nações Unidas,

Kofi Annan, nomeou uma comissão para analisar uma possível reforma do órgão.

Em 2005, o número é similar ao do primeiro ano da pesquisa, com uma

diferença de apenas 1 texto, sendo um total de 60 dados recolhidos. Esse número nos

leva a conclusão de que, durante 2005, o tema manteve-se em evidência e conseguiu

destaque da mídia. Situação não repetida nos dois anos seguintes (2006-2007), onde

constatou-se que o número de matérias recolhidas foi bastante inferior ao dos dois

primeiros anos, com um total de 13 e 11 textos respectivamente, ou seja, juntos não

somam nem a metade dos dados recolhidos tanto em 2004 como em 2005.

Dessa forma, podemos concluir que durante 2006-2207 a reforma do Conselho

de Segurança da ONU não teve muito destaque na imprensa como nos anos anteriores.

Deve-se ressaltar que nos meios americanos o tema não foi retratado, pois não foi

recolhido nenhum texto durante a pesquisa, situação que serve para salientar a posição

americana sobre a questão.

Assim, ao observarmos a tabela 2, podemos chegar a conclusão de que nos anos

seguintes a propositura do G4, entenda-se aqui a partir de 2006, o tema perdeu

visibilidade e não obteve muito espaço na mídia. Em 2008, vamos notar que também

não houve um número significativo de matérias publicadas sobre a reforma do CS e a

propositura brasileira, o que nos leva a concluir que o tema não ganhou novo destaque

neste período.

De acordo com os dados apresentados na tabela 3, que retrata as informações

relativas ao gênero jornalístico em função do periódico, pode-se confirmar mais uma

vez a relevância dada ao caso por cada um dos jornais. Após analisarmos os dados

recolhidos, foi possível constatar que o género jornalístico predominante foi o de

notícias com o total de 46,875%. Entenda-se como notícias, textos noticiosos que

relatam um acontecimento. Dessa forma, por serem textos factuais não aprofundam

muito o assunto, mesmo assim mostram como o tema apareceu nos impressos ao longo

dos anos e servem para apontar quais os jornais que deram maior cobertura factual ao

tema.

Ao observarmos individualmente cada uma dos jornais e revistas, conseguimos

perceber novamente qual deles deu maior ou menor atenção ao tema. Neste caso,

podemos afirmar que o Clarín foi o jornal que deu mais visibilidade a reforma da ONU

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e a candidatura brasileira a um assento permanente, com a publicação de 19 notícias.

Ele vem seguido pelo jornal La Nación, com 15 notícias. São ambos argentinos, o que

acentua o fato da Argentina está mais interessada na questão (como já havia sido

verificado nas tabelas anteriores), uma vez que acompanhou de forma mais regular a

questão.

Essa situação não é repetida nos outros meios analisados, principalmente, os

americanos que possuem um número insignificante de notícias comparados com os

demais. Nos EUA, as duas revistas e o jornal investigado só obtiveram um total de 3

notícias, o que mostra a pouca visibilidade que eles deram ao assunto, ou seja, mesmo

em períodos onde a reforma estava em evidência, o tema não obteve muita cobertura

jornalística nos EUA. Os jornais britânicos também não tiveram um número muito

significativo de notícias, com um total de apenas 9 publicadas. Já os jornais mexicanos

e portugueses tiveram uma quantidade similar de notícias, 13 e16 respectivamente, o

que vem de encontro aos interesses destes dois atores com a questão.

Tabela 3 Gênero de matérias por jornal

Gênero

Jornais

Nota Notícias Reportagem Entrevista Artigos de

opinião Editorial Outros

La Nación - 15 14 - 9 2 2

Clarín - 19 5 2 9 4 -

El Universal - 8 4 1 7 - -

La Jornada 1 5 1 - 2 - -

Público 1 7 1 - 2 - -

Diário de

Notícias - 9 4 - 3 - -

Guardian - 4 - - 4 - 1

Daily Telegraph - 5 - - 2 - -

NY Times - 3 1 - - - -

Time - - - - 2 - -

Newsweek - - - - 1 - -

Total 2 75 30 3 41 6 3

Total % 1,25% 46.875% 18,75% 1,875% 25,625% 3,75% 1,875%

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A avaliação da importância dada ao assunto pela impressa também pode ser

confirmada através do aprofundamento do tema, ou seja, pelas reportagens. Entenda-se

aqui textos noticiosos que abrangem várias vertentes de um determinado evento. Neste

caso, foram recolhidas 18,75% de reportagens nos impressos investigados. Mais uma

vez, os jornais argentinos obtiveram o maior número de reportagens publicadas.

Vale ressaltar a falta de reportagens nos jornais britânicos, que não publicaram

nenhum texto desse estilo. Já os jornais portugueses e mexicanos publicaram o mesmo

número de reportagens, ressaltando novamente o interesse na reforma do CS.

Outro ponto de interesse na análise feita aos gêneros jornalísticos é o de textos

de opinião, nesse caso são os artigos, colunas e editoriais. São textos de carácter

opinativo que podem mostrar a opinião do jornal quanto ao tema (editorial) ou mostrar a

opinião de colunistas ou pessoas convidadas (normalmente conhecidas do público geral)

que possuem entendimento do assunto. Também deve-se destacar que esse tipo de texto

é considerado como o que maior influência exerce na formação de opinião.

Aqui podemos destacar a porcentagem recolhida de artigos e colunas com um

total de 25,625%, obtendo o segundo maior número de textos, atrás apenas das notícias.

Os editorais obtiveram 3,75% do total. Aqui, apesar de o número ser inferior ao das

notícias e reportagens, com uma porcentagem de 3,75%, não deixa de ser relevante,

uma vez que os únicos editoriais recolhidos são de jornais argentinos. Dessa forma,

podemos reafirma a preocupação do país com a reforma e com a propositura brasileira a

um assento permanente no CS.

Entre os artigos de opinião, novamente, fica clara a importância dada pela

Argentina a reforma, uma vez que, os jornais argentinos obtiveram o maior número de

textos, com um total de 18. Já os restantes possuem um número similar de artigos de

opinião, com excepção novamente dos EUA, que de uma forma geral não obteve muitos

textos recolhidos.

Na análise feita sobre a importância da reforma nos jornais, fica claro que de

todos os atores investigados, a Argentina publicou o maior número de textos,

ressaltando a importância atribuída ao país em relação a reforma e à propositura

brasileira. Para além, também é evidente na cobertura jornalística feita pelo México e

Portugal que os mesmo deram atenção a questão, se não tão exaustivamente como os

Argentinos, com mais evidência do que Reino Unido e Estudos Unidos. Nesse caso, os

EUA também merecem destaque pela pouca cobertura do assunto, o que apenas reflete

o posicionamento do mesmo em relação a ele.

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4.1.2 Tratamento do tema

Além das variáveis que nos permitiram analisar a importância da reforma do CS

nos jornais, também analisamos outras que esclarecem o tipo de tratamento que os

periódicos em questão deram ao tema. Para isso usamos a Análise de Conteúdo. Aqui

tomamos por base a seguinte variável: o posicionamento da imprensa face à propositura

brasileira a membro permanente do CS.

Optamos por analisar todos os artigos em questão e não apenas os textos de

opinião, para poder assim constatar de forma ampla se a mídia tratava o assunto de

forma tendenciosa ou não e o posicionamento da mesma em relação à propositura

brasileira. Dessa forma, procuramos identificar o posicionamento dos jornais em termos

de favoritismo, desfavoritismo ou neutralidade.

Fica claro na tabela 4 que os meios analisados em sua maioria mantiveram uma

postura de neutralidade em relação à propositura brasileira ao Conselho de Segurança,

tendo um total de 86,875% dos textos analisados optado por não falarem de forma

tendenciosa em relação a questão. Outro ponto interessante na análise é que dos 160

textos analisados, apenas um texto recolhido demonstra opinião favorável à propositura

brasileira, dando um total de 0,625%. Foi publicado no jornal inglês The Guardian. A

parte interessante é o fato do Reino Unido não ter demonstrado tanto interesse no tema

da reforma do CS, mas mesmo assim ter sido o único dos atores com uma matéria

favorável a pretensão brasileira.

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Tabela 4 Posições identificadas nos jornais21 Posicionamento

Jornais FAVORÁVEL DESFAVORÁVEL NEUTRA

La Nación - 9 33

Clarín - 6 33

El Universal - 5 15

La Jornada - - 9

Público - - 11

Diário de Notícias - - 16

Guardian 1 - 8

Daily Telegraph - - 7

NY Times - - 4

Time - - 2

Newsweek - - 1

Total 1 20 139

Total % 0,625% 12.5% 86,875%

Já os textos desfavoráveis obtiveram um total de 12,5%. Aqui vale destacar o

fato desses dados pertencerem a impressos argentinos e mexicanos, evidenciando a

posição contrária dos dois países a entrada do Brasil como membro permanente do

Conselho de Segurança da ONU. Também fica evidente que a maior parte dos textos

desfavoráveis pertence aos jornais da Argentina, uma vez que foram recolhidos 15

textos desfavoráveis, enquanto nos jornais mexicanos obtivemos apenas 5 textos. Dessa

forma, chegamos novamente a conclusão da importância da reforma para a Argentina,

uma vez que a maior parte dos textos desfavoráveis concentrou-se em dados recolhidos

de jornais desse ator mostrando a importância do tema para o mesmo e a posição

contrária a entrada do Brasil no Conselho de Segurança.

Outra parte importante na análise do tratamento dado ao tema é observarmos de

acordo com os géneros jornalísticos. Como podem constatar na tabela 5, a maior parte

dos textos desfavoráveis em relação à propositura brasileira são referentes a textos de

opinião, entenda-se aqui, artigos de opinião e editoriais. Comparando com o total de 47

textos de opinião recolhidos, tivemos a porcentagem de 25,659% desfavoráveis. Já os

textos neutros otiveram a maior porcentagem com 70, 212%. Esses dados ganham

21 A porcentagem calculada na Tabela 4 é referente ao total de dados recolhidos, ou seja, aos 160 textos selecionados.

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relevância quando levamos em consideração a importância dos artigos de opinião na

formação da opinião pública. Apesar de serem textos opinativos, a maior parte deles

manteve a neutralidade em relação à questão, o que não deixa de ser significante,

quando levamos em consideração de que na maioria desses textos os autores preferem

mostrar de forma explícita sua opinião sobre determinado tema. Mesmo assim,

preferiram optar por manter a neutralidade dos textos em relação a entrada brasileira

como membro permanente. Apesar da maior parte da recolha ser de textos neutros, não

devemos desconsiderar os textos desfavoráveis, que tiveram uma porcentagem

significativa.

Tabela 5 Posições identificadas de acordo com o total de artigos de opinião Artigos

Posições

Artigos de

opinião Editorial Total Total %

Desfavorável 11 2 13 27,659%

Favorável 1 - 1 2,127%

Neutra 29 4 33 70,212%

Para além, nos textos de opinião foi encontrado o único artigo favorável a

entrada brasileira no CS e, como já foi mencionado nessa dissertação, é um artigo

publicado pelo jornal inglês The Guardian.

Já nos restantes dos textos recolhidos, que podem ser observados na tabela 6, as

matérias desfavoráveis conseguiram um total de 6,194%. Esses dados são relevantes,

pois os textos analisados aqui deveriam ter como um dos princípios orientadores a

imparcialidade na hora de escrever sobre determinado tema. Mesmo assim, em alguns

dados recolhidos ficou claro o posicionamento contrário à propositura brasileira. Não

foi recolhido nenhum texto que mostrasse posicionamento favorável ao tema. Outro

ponto que deve ser ressaltado é a porcentagem de matérias neutras, as quais obtiveram

um total de 93,805%. Aqui devemos novamente ressaltar que esse tipo de género

jornalístico tem como uma de suas características a imparcialidade, dessa forma, esse

resultado vai de acordo com essa premissa do jornalismo.

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Tabela 6 Posições identificadas nas notícias, reportagens, notas, entrevistas e outros22 Artigos

Posições Notas Notícias Reportagens Entrevistas Outros Total Total%

Desfavorável - 5 2 - - 7 6,194%

Favorável - - - - - - -

Neutra 2 70 28 3 3 106 93,805%

Podemos concluir que o tratamento dado ao tema pelos jornais selecionados foi

maioritariamente neutro, ou seja, a maioria dos textos não evidenciou opiniões

tendenciosas sobre o assunto. Mesmo assim, devemos ressaltar que foram obtidos textos

desfavoráveis à propositura brasileira, que nesse caso, foram encontrados em jornais

argentinos e mexicanos, o que só reafirma as posições contrárias desses atores a entrada

do Brasil no Conselho de Segurança da ONU como membro permanente. Aqui temos

de ressaltar que os jornais argentinos foram os que mais demonstraram posicionamento

contrário a ambição brasileira, o que vai de encontro ao posicionamento do país.

22 Porcentagem referente ao total de 113 textos recolhidos das notas, entrevistas, reportagens, notícias géneros e outros.

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4.2 Análise Qualitativa

4.2.1 Imagem do Brasil

Na segunda parte desta seção, faremos uma análise detalhada de artigos de

opinião. Antes de analisarmos tais artigos, vamos caracterizar de uma forma geral o

modo como o Brasil é retratado pelos meios de comunicação. Várias características

foram sendo identificadas ao longo da pesquisa feita e aprofundadas enquanto fazíamos

as análises quantitativas. Para isso escolhemos uma matéria de cada jornal para servirem

de exemplo, onde procuramos observar como a imagem do Brasil é construída por eles.

Deixamos de fora dessa análise as revistas Time e Newsweek, uma vez que só

recolhemos artigos de opinião nelas. Na escolha das matérias, procuramos selecionar

nos jornais de cada país textos que falassem sobre o mesmo assunto e também tentamos

dividir os atores por anos, assim a análise abrangia a imagem do país de uma forma

geral. O ano de 2007 ficou de fora, pois não encontramos matérias relevantes no

mesmo.

Nos jornais argentinos e americano, escolhemos um texto que fala sobre a visita

do então Secretário de Estado americano, Collin Powell. O texto escolhido no jornal

Clarín, foi uma reportagem publicada no dia 06 de Outubro de 2004 com o título

“EE.UU respaldó a Brasil para que tengá más poder en la ONU”. No texto

encontramos diversas palavras que caracterizam o Brasil. A reportagem mostra o país

como um candidato "muy serio" na busca por um assento permanente no CS da ONU.

Ao utilizar essas palavras, o texto afirma que o Brasil tem que ser levado em

consideração. Para além, outras expressões retiradas do texto também são relevantes na

reprodução da imagem brasileira onde o país é visto como um “importante interlocutor

regional de EE.UU”, “un líder natural de la región” e uma “gran democracia”. Todas

essas expressões servem para caracterizar o Brasil como ator internacional

Outra parte interessante dessa reportagem é que ela traz um comentário

opinativo, além da matéria. No quadro, fala-se que o Brasil por causa do seu tamanho

geográfico, população e peso político está em busca de uma participação mais ativa no

cenário internacional. Também fala da busca do Brasil por “liderazgo internacional”.

No jornal La Nación, vamos analisar uma matéria com o título “Powell llegó a

Brasil con elogios y con una advertencia”. Publicado no dia 06 de Outubro de 2004.

Aqui já fica claro que o país é bem visto pelos EUA. A parte interessante é que o

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antetítulo da matéria vem com a seguinte expressão, “destacó el liderazgo regional de

Lula” e destaca a importância brasileira na região. Não deixando dúvidas que o ator

americano vê o Brasil como líder regional, ou melhor, como uma potência regional.

Ao seguirmos a leitura do texto, vemos novamente o Brasil ser retratado como

potência regional, mas também fala da importância do mesmo no cenário mundial, o

que podemos confirmar nesse trecho da matéria, quando se fala no “creciente liderazgo

de Brasil en las Américas y en el escenario mundial”. O Brasil também é retratado

como “candidato serio, bueno e importante” para uma possível candidatura ao

Conselho de Segurança da ONU. Essas declarações demonstram o respeito que o país

vem conquistando internacionalmente.

Devemos ressaltar que por causa das matérias serem sobre a visita de Collin

Powell, praticamente todos os elogios são colocados como citação do mesmo e não dos

jornais, que parece tenta evitar elogios ao Brasil.

Também sobre a visita de Collin Powell ao Brasil, escolhemos uma matéria do

NY Times. Com o título “Warming to Brazil, Powell says its nuclear program isn’t a

concern” publicado no dia 06 de Dezembro de 2004. Expressões como “strong

candidate” e “was emerging as a dominant power in the region” foram usadas

novamente para descrever o país.

Nos meios de comunicação mexicanos, tentamos manter o critério da utilização

de matérias sobre o mesmo tema. Aqui esse critério mostrou-se inviável, não

conseguimos nenhum texto que falasse sobre o mesmo assunto, então tivemos que optar

por outros. No jornal El Universal, escolhemos uma reportagem publicado no dia 05 de

Dezembro de 2004. O título da reportagem é “La estretegia brasileña”. Logo no

subtítulo, o texto usa a palavra “política exterior solidária”, quando se refere a atuação

do Brasil no sistema internacional, nos levando a pensar que o mesmo procura ajudar

outros atores no sistema internacional, nesse caso os países fronteiriços. Isso fica claro

quando o autor termina por usar a expressão “vecino solidário”, fazendo clara

referência ao papel diplomático do Brasil nas crises que acontecem na região, onde o

mesmo procura agir como mediador.

Outras palavras usadas no texto que chamam a nossa atenção são “líder”,

“pretensión hegemônica” e “protagonismo”, utilizadas para descrever a atuação do

Brasil na região e no mundo. Como já foi referido em outras partes dessa dissertação, o

Brasil busca aumentar sua relevância internacional e essas palavras são constantemente

usadas para descrever a atuação dele no cenário internacional nos últimos anos. A

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expressão pretensão hegemônica tem uma conotação negativa. É assim que muitas

vezes a Argentina e o México retratam a atuação brasileira, no sentido de que o Brasil

quer ser um ator dominante na América Latina.

No jornal La Jornada, escolhemos o texto “Instan a países ricos a ceder en

negociaciones comerciales” publicado no dia 14 de setembro de 2006. O texto refere-se

a aliança dos países do Sul: Brasil, Índia e África do Sul. Aqui ele os enquadra como

“voces del mundo en desarrollo”, nos relembrando do papel do Brasil junto aos países

em desenvolvimento. Também caracteriza esses países como “fuerza en las tecnologías

energéticas", onde usa a palavra “líder mundial” para descrever o Brasil e a produção

de etanol. Outra parte de destaque é quando o texto considera o participação do Brasil

no G-20 um “papel protagónico”, fazendo referência ao protagonismo do mesmo e a

atuação do país junto aos países em desenvolvimento.

Nos jornais portugueses, escolhemos textos que falam sobre o apoio da França a

entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Ambas as notícias foram

publicadas no dia 23 de Dezembro de 2008. No jornal Diário de Notícias, o título da

matéria é o seguinte: “Sarkozy quer proposta conjunta da UE e Brasil na cimeira do

G20”. Aqui fica clara a importância do Brasil, quando o título diz que o presidente

francês quer um acordo com o ator sul-americano. Na matéria do jornal Público, o título

é “Sarkozy defende que o Brasil deve estar representado no Conselho de Segurança dos

EUA”. O Público resolve fazer a chamada para matéria utilizando um assunto mais

“polémico” e dá bastante atenção ao apoio da França a entrada do Brasil, destacando o

nome do presidente francês e dando importância a declaração.

A matéria do Diário de Notícias refere-se à “importância do Brasil como

potência emergente”, onde fica claro que o Brasil é uma potência emergente e não se

pode deixar de lado. Ao contrário, é necessário fazer alianças com o mesmo. A

expressão, “um país como ‘o Brasil tem direito a opinar’” mostra o peso do ator no

cenário internacional, ressaltando a relevância do mesmo. Também vale ressaltar o

subtítulo que destaca a compra de submarinos a França, onde ele usa o nome do

presidente Lula para dar mais ênfase a questão.

No jornal Público, uma declaração interessante é quando o presidente francês diz

que “O ‘mundo’ precisa do Brasil”, uma clara referência à importância do país como

ator internacional que nos leva a concluir que é imprescindível a participação do Brasil

em questões internacionais. Ele também continua ao dizer que o país “Não é uma

potência de amanhã, mas de hoje". Assim, concluímos que o país já é uma potência e

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que precisar ter mais espaço. Também aparece no texto a expressão “terá um

importante papel”, referindo-se as questões climáticas, ou seja, o Brasil poderá vir a ser

uma potência capaz de influenciar questões de importância internacional, ou melhor,

será um ator chave nessa luta.

No Reino Unido, escolhemos dois textos que falam sobre o erro do então

primeiro-ministro Tony Blair em não citar o nome do Brasil quando fez um discurso

sobre a reforma da ONU. A matéria do The Guardian foi publicada no dia 01 de Junho

de 2006 com o título “Blair´s UN gaffe sinks relations with Brazil to new low”. Aqui o

destaque vai para as palavras “sink” e “new low”, ficando claro que a falta do nome do

Brasil no discurso, terminou por resultar numa crise entre os dois atores. Para além, ele

coloca em destaque o nome do primeiro-ministro e o culpa pelo erro. No subtítulo a

frase “Mistake puts important trade talks in jeopardy”, nos leva a acreditar que a

relação com o Brasil é importante para o país. O restante do texto só nos leva a confirma

que a falta do nome do Brasil no discurso gerou atritos entre os dois países e que para o

Reino Unido, a relação com o Brasil é de extrema importância. Isso novamente

confirma a relevância do ator sul-americano no cenário internacional

O texto publicado no Daily Telegraph no dia 04 de Junho de 2006 tem o

seguinte título: “Brazil angered by Blair snub in US speech”. Quem ganha destaque na

frase é o Brasil, que vem primeiro no título, dando ênfase e importância ao mesmo.

Outra parte interessante do texto é o seguinte trecho: “Brazil is anxious to win a

permanent place on the United Nations Security Council but Washington favours the

rival claims of Mexico, British sources say.”, onde ele culpa os EUA pela retirada da

citação ao Brasil no discurso.

A análise das matérias nos permitiram observa a construção da imagem do

Brasil feita pelos meios de comunicação. Aqui fica claro que eles vêem o Brasil como

uma ator importante no sistema internacional e que o mesmo deve ser levado em

consideração. Nas descrições observadas, o Brasil é retratado como uma potência

emergente e uma potência regional, muitas vezes tido como o mais importante ator da

América Latina. Também destaca-se sua defesa ao multilateralismo. Dessa forma, é

sugerido que ele pode vir a se tornar uma grande potência no futuro com capacidade de

influenciar o sistema internacional.

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4.2.2 Artigos de Opinião

Optamos por analisar separadamente os textos de opinião, entre eles artigos de

opinião e editoriais, devido a importância dos mesmo na formação da opinião pública.

Os textos escolhidos além de falarem sobre a propositura brasileira ao Conselho de

Segurança da ONU, também falam sobre o Brasil como ator político internacional, estes

foram os critérios usados na escolha dos textos. Ao selecionarmos os artigos, tentamos

escolher pelo menos um de cada ano em que se deu a pesquisa, uma vez que assim a

análise ficaria mais completa e dá para ter uma idéia da evolução do Brasil ao longo dos

anos. Dessa forma, nem todos o países selecionados pela pesquisa tinham artigos

considerados relevantes para essa parte da análise, por isso, optamos por deixá-los de

fora.

No jornal Clarín, escolhemos um artigo de opinião publicado no dia 14 de julho

de 2005, com o título “Brasil: complejo de superioridad”. Já aqui podemos constatar

que o texto fala sobre o Brasil e a política externa do mesmo, mostrando a opinião do

autor sobre o país, o qual ele descreve como um ator que se acha superior aos outros.

No subtítulo, ele fala do “exasperado deseo de liderazgo regional y mundial” de Lula e

seu “afán desbordado le trae problemas con vecinos importantes como la Argentina”,

esclarecendo a posição do autor em relação as pretensões brasileiras de liderança

regional. Ao usar a palavra “exasperado”, o autor quer dizer que o Brasil tem uma

vontade impaciente e desesperada de liderança. O fato de logo no título e subtítulo do

texto aparecerem palavras como essas mostra a posição crítica do texto ao protagonismo

brasileiro. Também vale destacar que já aqui ele elogia a Argentina, quando a coloca

como um vizinho importante do Brasil, e sendo assim, o Brasil deveria se preocupar em

manter uma boa relação com o mesmo.

O restante do texto só vem a confirmar a opinião contrária a vontade do Brasil

em ser líder regional e membro permanente da ONU. Nos três primeiros parágrafos, ele

fala que o Brasil passou de um “complejo de vira-lata” para um “complejo de

superioridad” o que ele chama de “pecado mortal”, mas não faz nenhum comentário

negativo a antiga posição da política externa que tinha um “complejo de vira-lata”.

Fica claro que o autor do artigo não concorda com o fato do Brasil ser considerado um

líder regional. Para além, ele usa palavras como “un país grande e importante” para

descrever a Argentina, mas em nenhum momento faz esse tipo de elogio ao Brasil,

sugerindo que é culpa do Brasil a rivalidade entre os dois, pois é o país que procura

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aumentar sua liderança na região. Outras palavras como “erro”, “prejudica”, “crea

desconfianzas” aparecem ao longo do texto a reforçar a culpa do Brasil na rivalidade e

atritos crescentes na região, sempre ressaltando que é um erro o país querer ser um

protagonista na América do Sul.

Já sobre a propositura brasileira a membro permanete do CS da ONU, o artigo

usa palavras como “obsésion” e ser “el punto más alto de su complejo de

superioridad”, mostrando claramente a posição contrária a essa aspiração, o que é um

reflexo da posição da Argentina sobre a questão. Em outro trecho do artigo, vemos as

expressões "no consigue proyectar su poder”, “no consigue defender sus costas” e “no

consigue combatir el tráfico de armas" para esclarecer porque o Brasil não deve ser

membro permanente de CS. Para isso, o autor usa a citação de um analista de ciência

política, que ele mesmo diz ser “uno de los más inteligentes analistas de política

externa brasileña” para que não haja dúvidas na veracidade das afirmações do mesmo e

para justificar a falta de preparação do Brasil para o cargo de membro permanente do

CS, que ele praticamente retrata como incompetente quando a questão é segurança.

No jornal La Nácion, optamos por fazer a análise qualitativa em um artigo

publicado no dia 29 de março de 2004, o título do texto é “La Argentina debería

acceder a un lugar en el Consejo de Seguridad de la ONU”. Fica claro que o artigo vai

defender a entrada Argentina no CS da ONU pois logo no primeiro parágrafo, o autor

faz um elogio a posição defendida pelo jornal no editorial do dia 18 de Março de 2004

sobre a entrada da Argentina como membro permanente da ONU e defende que o país

não deve manter um posicionamento passivo nessa questão, deixando o Brasil passar a

sua frente. Par além, no segundo parágrafo do texto, o autor fala que “muchos países

significativos” ambicionam entrar no CS, mas aqui ele não coloca o nome do Brasil

como país importante, mesmo sabendo que ele foi um dos primeiros a demonstrar a

vontade de ser membro permanente.

Nessa parte do texto “Nadie puede discutir el derecho que le asiste”, o autor

ressalta que o Brasil tem todo o direito a aspirar um assento permanente no CS da ONU,

mas depois termina por enfatizar que o Brasil não pensa na relação com a Argentina e

que sua pretensão exclui completamente o país, “dado el estado actual de las relaciones

bilaterales, es que su pretensión excluya, ab initio, la posición argentina”.Em outras

palavras, ele termina por mostrar o Brasil a atuar apenas de acordo com seus interesses,

uma vez que ele não pensa na relação de aliança entre os dois países quando defende a

sua entrada no CS.

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Outro ponto interessante no texto é “estuvieran solamente representadas por la

única nación del continente donde se habla el portugués”, quando o autor faz questão

de ressaltar que o Brasil é o único ator latino-americano do continente que não tem

como língua oficial o espanhol, mas sim o português, e que este não é reconhecido

como idioma oficial na ONU. Dessa forma, ele não deveria ser escolhido para

representá-los.

O texto continua ressaltando motivos para a não aceitação do Brasil como

candidato da América Latina, até mesmo enfatiza o medo de disputas por fronteiras na

região e que caso o país seja membro permanente com direito a veto ele poderá usá-lo

para se proteger (mesmo sabendo que a região está livre de conflitos desde 1870). O

autor também aproveita para exigir que o governo argentino tome uma posição clara em

relação à propositura brasileira a membro permanente do CS. E para finalizar ele

termina novamente por concordar com a opinião do jornal, ao citar outro editorial do

mesmo, onde ele termina por explicar porque a Argentina não deve aceitar a entrada do

Brasil no CS da ONU e afirma que “nuestro país perdería no sólo presencia sino

también trascendencia y significación en el escenario mundial". Ressaltando o uso das

palavras “trascendencia” e “significacíon” que terminam por enfatizar que a entrada

do Brasil no CS da ONU deixaria a Argentina em segundo plano no sistema

internacional.

Outra questão importante deste artigo é o fato dele ter sido escrito por Carlos

Ortiz de Roza, que já foi embaixador da Argentina na Áustria, Reino Unido, França,

EUA e na ONU, o que dá bastante credibilidade ao texto. Também vale ressaltar que

isso é um claro exemplo da relação entre os meios de comunicação e a política externa,

uma vez que o autor usa o jornal para tentar convencer a opinião pública de que a

entrada do Brasil no CS da ONU não é benéfica para a Argentina. Para além, tenta

pressionar as autoridades do país a tomar uma posição mais ativa em relação a questão.

Fica claro que os jornais argentinos são contrários a entrada do Brasil no CS da

ONU e usam diversos argumentos para apoiar essa posição. Ao analisar os textos

percebeu-se que eles evitam usar adjetivos positivos para caracterizar o Brasil, mas

quando se referem a Argentina já enfatizam que o mesmo é um país grande e

importante. Também ficou claro que eles usam a rivalidade entre os atores como

argumento, mostrando que se os dois países voltarem a ter atritos a culpa é do Brasil,

uma vez que é ele que está buscando um protagonismo na América do Sul. Também é

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importante afirmar que os textos retratam bem a posição da Argentina em relação a

ambição do Brasil em ser membro permanente da ONU.

No jornal mexicano El Universal, escolhemos o artigo de opinião publicado no

dia 03 de Fevereiro de 2007 com o título “Los polos de América Latina”. O título deixa

claro que o artigo é sobre as diferenças existentes entre os países latino-americanos.

aqui entende-se que o texto irá abordar a disputa política entre os países da América

Latina. Logo no primeiro parágrafo do artigo ele fala de “una acrecentada disputa

ideológica, de intereses y de liderazgo” e terminar por citar uma frase do então

presidente brasileiro, Luiz Inacio Lula da Silva: "Latinoamérica no cabe (hoy) en un

solo molde". Já aqui o autor coloca logo em evidência o Brasil, ao usar uma citação do

Lula para descrever as diferenças políticas na América Latina.

Para além, ele divide os pólos em dois: o dos governos que nasceram de partidos

de esquerda, aqui ele coloca o Brasil; e os governos de direita, onde ele enquadra o

México. O interessante é que o autor faz questão de dizer que os governos de direita

“mantienen su defensa a la globalización, los mercados y las poderosas fuerzas del

capital”, o que parece fazer uma crítica aos governos de direita.

O autor também termina por enquadar México e Brasil como “los países más

grandes e influyentes de la zona”, e dizer ambos são potências emergentes, deixando

bem claro que os dois têm capacidade de serem líderes regionais. Ele ressalta que cada

um tem sua visão e que ambos vêem com bons olhos a integração da América Latina,

sendo que com objetivos diferentes. Outro ponto interessante do texto é quando ele fala

do relacionamento entre os dois países que é descrito como de “desconfianza recíproca

y la mal entendida sensación de rivalidad”, aqui deixa claro que o relacionamento entre

os dois países poderia ser melhor, se não houvesse tanta desconfiança. Ele ressalta que o

Brasil vê o México como um aliado dos EUA e que é culpa dos dois países a rivalidade

existente.

Quando o assunto é o CS da ONU, o autor diz que o Brasil é um “especial

promotor”, ou seja, o ator sul-americano tem colocado mais ênfase na ambição de ser

membro permanente e que essa questão só faz aumentar a rivalidade entre os dois

países, mas que o México também tem direito a essa pretensão, aqui ele deixa claro que

o México é um país tão importante como o Brasil.

No jornal La Jornada, escolhemos o artigo “Mercosur Nuclear y soberanía

nacional”, publicado no dia 08 de Setembro de 2006, que faz uma clara referência ao

programa de energia nuclear dos países sul-americanos. A volta ao programa nuclear

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também é uma demonstração da soberania dos países, uma vez que antigos governos

optaram por submeter-se a vontade americana e cancelaram os programas. Uma parte

interessante desse artigo é quando o autor fala que o Brasil faz parte do “selecto grupo”

de países com capacidade de enriquecimento de urânio, ou seja, são poucos os países

com esse tipo de tecnologia, e o país agora faz parte desse pequeno e importante grupo,

elevando assim sua relevância no sistema internacional.

Ele também ressalta que graças ao desenvolvimento de uma tecnologia própria o

país se consolida como potência emergente e é importante para sua ambição de membro

permanente do Conselho de Segurança: "si Brasil logra enriquecer su propio uranio y

deja de importarlo estaría en posición estratégica de independizarse de los países

grandes en ese ramo. Y eso afectaría la posición estratégica de Brasil como potencia

emergente, que busca un asiento permanente en el Consejo de Seguridad de la ONU".

O uso das palavras “posición estratégica” mostra que a atuação do Brasil como

potência emergente está crescendo no sistema internacional, onde ele procura elevar a

sua importância. Dessa forma, o país está buscando independência em questões como

essa para consolidar a posição como ator influente no sistema internacional. Neste texto,

parece que o autor também gostaria que o México se desligasse um pouco dos EUA e

buscasse mais soberania para o país.

Diferente dos jornais argentinos, no México notou-se que os jornais possuem

uma posição mais crítica em relação ao próprio país. Apesar de admitirem que o México

é uma potência emergente como o Brasil, não minimizaram as características do país

sul-americano. Ao contrário, chegaram a elogiar o mesmo, mas sempre fazendo questão

de colocar o México no mesmo nível que o Brasil. Como os artigos publicados nos

jornais argentinos, esses também foram escritos por pessoas de credibilidade para o

México, entre eles um deputado, o que dá mais importância para o texto. Novamente,

aqui notamos a interferência da mídia na política externa e vice e versa.

Outro texto relevante para essa análise foi publicado pela revista Time no dia 25

de Setembro de 2008 com o título “Lula´s way”, que fala sobre o governo de Lula. A

ênfase dada ao nome do presidente brasileiro mostra a importância do mesmo na

política internacional. O artigo faz um elogio a beleza do Brasil, mas afirma que não é

só isso que faz o país tão importante. Ao longo do texto vão sendo categorizadas as

qualidades brasileiras e do presidente, usando frases como “Brazil's most popular

President in a half-century”. Fica claro que nenhum presidente do Brasil teve uma

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popularidade tão grande quanto Lula, popularidade essa que ele usa para melhorar as

relações do país com outros atores.

Outras características são afirmadas ao longo do artigo para mostrar a

potencialidade do país. Neste trecho “Economic strength has also allowed the country

to flex its diplomatic clout as the hemisphere's first real counterweight to the U.S”. Fica

claro que o Brasil já é considerado uma força econômica, mas o destaque vai mesmo

para a palavra “counterweight” a qual nos leva a conclusão de que o Brasil cresceu

tanto, que já é um contrapeso ao poderio americano no hemisfério, ou seja, quando

falamos no hemisfério sul, tem tanta ou mais influência que os EUA.

O artigo também aborda a criação do G-20 para opor-se a hegemonia americana

e européia na Organização Mundial do Comércio. Para além, o artigo fala da ambição

brasileira a membro permanente do Conselho de Segurança como parte do seu esforço

em "change the world's political and commercial geography." Aqui fica claro que o

Brasil defende uma democratização das instituições multilaterais mais importantes no

mundo atual. Quando vemos a caracterização do Brasil como “the world's fifth most

populous country” parece que o texto usa esse fato para mostrar a grandiosidade do

país.

Outra parte interessante é da personalidade do então presidente. “Lula, in fact, is

one of the few leaders both Bush and Chávez will listen to.” Fica clara a personalidade

mediadora e diplomática do presidente, que consegue ter aliados de vários tipos. Apesar

dos inúmeros elogios, o artigo não deixa de ressaltar os problemas do país como a

desigualdade social, a corrupção, os altos impostos, entre vários outros. E termina por

dizer que em pouco tempo vai ser difícil resolver todos esses problemas.

Por último, selecionamos o artigo publicado no jornal inglês The Guardian.

Publicado no dia 14 de Março de 2008 com o título “Introduction”. Pelo título não dá

para ter idéia sobre o que o texto vai falar, só que é a introdução de alguma coisa. Já no

primeiro parágrafo descobrimos que o texto é sobre o Brasil, onde o autor descreve dois

eventos que estão acontecendo no país: a comemoração da chegada da família real

portuguesa e a abertura dos portos. Ele descreve a relação do Reino Unido com o Brasil

como muito próxima durante essa época e que atualmente essa relação volta a estar em

evidência:“Now, at the advent of the 21st Century and the emergence of Brazil as a key

global player, the relationship between Britain and Brazil is again making dramatic

advances.”. Ao usar palavras como “key global player”, o texto atribui importância ao

Brasil, que já despontava como um ator relevante no sistema internacional. Esse papel

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do Brasil no contexto internacional tem feito com que vários atores, nesse caso o Reino

Unido, busquem formar alianças com o mesmo.

O artigo continua a falar sobre os interesses comuns entre os dois atores: “We

now have broader co-operation on a wider range of issues than ever before, including

climate change, sustainable development, the promotion of human rights, technology,

science, health and education.” Esse trecho só mostra como a relação dos dois têm

crescido e atuado nas mais diversas áreas de interesse. O autor usa a expressão “plays a

vital role” para descrever a atuação brasileira no sistema internacional atual e é por

causa da importância do Brasil que eles também têm trabalhado juntos na

democratização de organizações multilaterais, terminando por afirmar a posição

favorável do Reino Unido a entrada do Brasil no CS da ONU. Outra expressão que ele

usa para descrever o Brasil é “key regional player”, onde novamente ele atribui

importância ao país. O autor também mostra que o Brasil tem uma grande atuação

regional, sendo dos mais relevantes atores na região.

Outra parte interessante do artigo é que ele foi escrito por Kim Howells,

Ministro do Estado no Ministério dos Negócios Estrangeiros, o que nos traz novamente

para a questão da credibilidade e relação entre os meios de comunicação e a política

externa. Nos textos da revista americana e jornal inglês, notamos que eles não têm

preocupação em elogiar o Brasil, ao contrário mostram o ator como um país capaz de

influenciar o sistema internacional, onde eles apresentam suas principais características

de potência emergente.

Ao analisarmos os artigos de opinião, conseguimos ter idéia das características

que criam a imagem do Brasil como uma potência emergente (apesar dos textos

recolhidos nos jornais Argentinos de uma forma geral não admitirem a importância do

vizinho, o que faz parte da rivalidade existente entre os dois). De uma forma geral, o

Brasil aparece como um país com grande importância com atores como EUA e Reino

Unido, a descreverem de forma positiva a atuação brasileira no sistema internacional e

retratam o país como “key global player”. Mesmo o México, apesar da rivalidade, já

fala do protagonismo do Brasil no cenário internacional. Dessa forma, fica claro que o

Brasil tem capacidade de se tornar um país capaz de influenciar o sistema internacional.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fazer uma análise da imagem do Brasil na mídia internacional, usando como

estudo de caso a propositura brasileira a membro permanente do Conselho de Segurança

da ONU foi o desafio que assumimos neste trabalho. A crescente atuação do país no

cenário internacional nos últimos anos foi o motivo que nos levou a escolha do tema da

pesquisa.

Entre fatos interessantes e desafios que descobrimos durante a investigação

podemos citar a recolha de bibliografia relevante para o estudo. Apesar de o Brasil estar

desempenhando um papel cada vez mais importante no sistema internacional, a imagem

do mesmo como ator político pouco tem sido objeto de estudo. Dessa forma,

encontramos dificuldade em encontrar bibliografia sobre a atuação da política externa

brasileira. Mesmo assim, conseguimos agregar alguns textos interessantes que nos

possibilitaram fazer o enquadramento do Brasil e da política externa do país. Para além,

também recolhemos textos que possibilitaram o enquadramento teórico da pesquisa,

onde mostramos o impacto dos meios de comunicação na política externa e como os

mass media tanto a influenciam como são utilizados por atores políticos.

Durante a análise empírica, foi possível responder aos objetivos propostos no

estudo, com a análise da imagem do Brasil construída pela mídia internacional, a

opinião em relação à propositura do Brasil ao Conselho de Segurança da ONU e a

capacidade do país em se tornar uma potência capaz de influenciar o sistema

internacional.

Em primeiro lugar, durante a análise quantitativa foi possível observamos que os

jornais deram importância e tratamentos diferentes ao tema. Descobrimos que a

Argentina está mais preocupada com a entrada do Brasil no CS da ONU, ficando claro

pela quantidade de matérias publicadas pelos jornais argentinos, que o mesmo dá mais

atenção e visibilidade ao caso. Como já referimos anteriormente, essa preocupação da

Argentina está relacionada com o posicionamento do país em relação à propositura

brasileira, uma vez que é contrário a entrada do Brasil no CS, pois isso só contribuiria

para dar mais importância e influência para o mesmo tanto regionalmente como

globalmente.

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O posicionamento argentino foi confirmado ao longo da análise, principalmente,

quando observamos o tratamento dado ao tema pelos jornais, onde foi possível verificar

o posicionamento dos meios de comunicação sobre a propositura do Brasil ao CS.

Descobrimos que a maior parte dos textos desfavoráveis pertencia a jornais da

Argentina.

Apesar de também ter uma posição contrária a entrada do Brasil no CS da ONU,

observamos que o México não deu tanta visibilidade a questão como a Argentina. Esse

foi o segundo país com maior recolha de textos sobre o assunto. Para além também

encontramos textos desfavoráveis a entrada do Brasil no CS da ONU em jornais

mexicanos, o que faz do México e da Argentina os únicos atores analisados a

publicarem textos com esse posicionamento.

Portugal também mostrou resultados significativos, ocupando a terceira

colocação no número de matérias publicadas. Esse resultado vai de encontro a posição

do país em relação a questão, uma vez que ele apoia a entrada do Brasil e tem um

relacionamento estratégico com o mesmo. Apesar do Reino Unido ser favorável à

propositura brasileira, não recolhemos uma quantidade de textos sobre a questão tão

significativa quanto a recolha obtida na Argentina, México e Portugal. Aqui não

recolhemos muitas matérias sobre o assunto, mas em compensação foi em um jornal

inglês que recolhemos o único texto com uma posição favorável a entrada do Brasil no

CS.

A pesquisa nos jornais e revistas americanos mostrou-se a menos significativa,

aqui a recolha de textos foi a menor, o que é um reflexo da posição do país em relação

ao tema, o qual podemos considerar uma posição “conservadora”, onde esse ator não

mostra muito interesse na reforma.

Como podemos observar, de uma forma geral a quantidade de dados recolhidos

varia de acordo com o posicionamento e interesse do país na questão. Dessa forma,

vemos que a Argentina e o México estão mais preocupados com uma possível entrada

do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança e por isso estão a

observar a questão de forma mais atenta.

Durante a análise quantitativa decidimos observar o tratamento dado ao tema

pelos meios de comunicação através do critério de posicionamento da imprensa sobre a

questão. Dos textos publicados 86,875% eram neutros, 12,5% desfavoráveis e 0,625%

favoráveis. Concluímos que de uma forma geral os textos se mantiveram neutros, o que

vai de acordo com a premissa do jornalismo em manter a imparcialidade. Como já

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adiantei, os textos desfavoráveis pertenciam a Argentina e México, também sem muitas

surpresas por causa do posicionamento dos países em relação a questão. Já o único texto

favorável encontramos no Reino Unido, o que nos surpreendeu um pouco, já que o

mesmo não tem uma relação tão próxima ao Brasil, como é o caso de Portugal.

A análise qualitativa nos possibilitou responder as questões ainda em falta nesse

trabalho. Na primeira parte da análise, foi possível verificar qual a imagem que a mídia

constrói do Brasil. Muitas das características usadas para descrever o país já haviam

sido adiantadas no primeiro capítulo dessa dissertação. De uma forma geral, os textos

retrataram o país como uma potência regional, sendo um dos atores mais importantes da

região, usando palavras como “líder regional” para descrevê-lo.

Também confirmamos que o Brasil é considerado uma “potência emergente”.

Muitos textos usam essa expressão para descrever o país. Também encontramos

descrições de como o Brasil é um importante ator global e uma grande democracia. Os

artigos falam ainda da defesa do multilateralismo e da atuação do Brasil junto aos países

em desenvolvimento. A forma como o país é retratado nos textos analisados só ressalta

o fato do Brasil ser um país a ser levado em consideração e que o mesmo já exerce

influência no sistema internacional.

Na análise qualitativa centrámo-nos sobre os artigos de opinião, os quais são

muito importantes na construção da imagem brasileira, pois esse tipo de texto é muito

importante na formação da opinião pública. Descobrimos nos artigos analisados, que de

uma forma geral os artigos argentinos evitam fazer elogios ao Brasil e usar palavras que

o descrevam positivamente, pelos menos quando estão falando sobre o Conselho de

Segurança da ONU. Já os artigos dos jornais mexicanos, não se importam em usar

palavras e expressões que caracterizem de forma positiva o Brasil, mas não deixam de o

criticar sobre a propositura ao CS da ONU. Falam da importância do ator sul-

americano, mas afirmam que o México é tão importante quanto ele.

Nessa parte da análise qualitativa, também foi possível concluir que atores como

EUA e Reino Unido vêem o Brasil como um ator de importância no cenário

internacional. Eles terminam por retratar o Brasil como uma potência com capacidade

de influenciar o sistema internacional.

Outras partes que podemos ressaltar é que aqui ficou clara a relação entre meios

de comunicação e política externa, uma vez que muitos dos autores são políticos ou

embaixadores, o que trouxe credibilidade ao texto e contribui na formação da opinião

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pública. Em alguns exemplos, fica clara a exigência por parte dos autores para que o

governo tome providências em determinadas questões.

Esse trabalho procurou contribuir para compreender a imagem do Brasil como

ator político internacional. Apesar do crescimento do país e da sua participação em

várias áreas de interesse internacional, muitos ainda o vêem como um país de Terceiro

Mundo. Como referido acima, poucos são os trabalhos sobre o Brasil e sua política

externa, pelo que esperamos que este estudo realizado possa contribuir para a

compreensão do papel que o Brasil desempenha no cenário internacional.

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ANEXOS

ANEXO I – MATÉRIAS ANALISADAS

LA RELACION WASHINGTON-BRASILIA: LA AMPLIACION DE LAS

NACIONES UNIDAS (Clarín – 06 de Outubro de 2004)

EE.UU. respaldó a Brasil para que tenga más poder en la ONU

El secretario de Estado Colin Powell dijo en San Pablo que Brasil es un

candidato "muy serio" para ser miembro permanente del Consejo de Seguridad. Tendría

así poder de veto en las decisiones internacionales.

Eleonora Gosman.

En forma prácticamente oficial, Estados Unidos indicó que apoyará la campaña

brasileña por asumir un puesto permanente en el Consejo de Seguridad de las Naciones

Unidas. Según el secretario de Estado Colin Powell, quien llegó a San Pa blo el lunes

por la noche y ayer habló en un desayuno de trabajo ante más de un centenar de

empresarios, Brasil es un candidato "muy serio" a integrar como miembro permanente

el Consejo, en la medida en que éste "tenga un formato más amplio".

Fue una señal inconfundible del Departamento de Estado, que hasta ahora no se ha

pronunciado con relación a las pretensiones de otros países, como Alemania, Japón y la

India.

Powell reveló que analizará el tema de la reforma de la ONU la semana próxima,

en conjunto con el titular de una comisión especial designada por el secretario general

Kofi Annan para estudiar los cambios.

Desde el punto de vista de los intereses brasileños, Powell fue más claro que lo

esperado. "En la medida en que empezamos a pensar la expansión (del Consejo), Brasil

tendría que ser visto como candidato importante para integrarlo", repitió el secretario.

Los 15 minutos iniciales del discurso de Powell fueron para elogiar al gobierno

brasileño. Celebró la evolución de la economía ocurrida, dijo, "gracias al fuerte

compromiso del presidente Lula con políticas económicas contundentes, Brasil crece de

nuevo y expande sus exportaciones". Pero más que eso, se esmeró en demostrar hasta

dónde llega el reconocimiento norteamericano en cuanto a los resultados de la política

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exterior brasileña en la región: mencionó, específicamente, los esfuerzos realizados por

Itamaraty en los casos de Venezuela, Bolivia y Haití.

Por si había alguna sombra de duda de quién es el interlocutor regional de

EE.UU. en América del Sur, Powell se encargó de disiparlas: "El tamaño de Brasil, su

población, su poder económico y su nivel de democracia lo convierten en un líder

natural de la región", declaró. Es que para el gobierno de George Bush la posición

brasileña en asuntos internacionales, la "cooperación" no fue retórica. "Esta gran

democracia, no nuclear, juega un papel responsable en la escena mundial, mandando

tropas a otras partes del mundo y desempeñando un papel muy importante en los

esfuerzos en mantenimiento de la paz", abundó Powell.

Pero en política internacional, como en cualquier orden de la vida, ni los elogios

ni los apoyos son gratuitos. Ayer se especulaba que, durante sus reuniones de la tarde

con el presidente Lula da Silva y con el canciller Celso Amorim, Powell conversó sobre

la guerra de Irak. La semana pasada el Departamento de Estado planteó una nueva

ofensiva diplomática apuntando a realizar una conferencia mundial sobre el futuro

iraquí, que se haría después de las elecciones norteamericanas. Un par de días atrás, el

canciller brasileño había mencionado que en caso de recibir el convite de Powell para

esa iniciativa, el Palacio de Itamaraty recomendaría al presidente Lula la participación

brasileña.

Uno de los temas que estaban en el candelero, las divergencias de Brasil con la

Agencia Internacional de Energía Atómica (AIEA) fue minimizado por el secretario

Powell. "No creo que ésta sea una gran cuestión en las relaciones entre los dos países",

dijo. Subrayó con fuerza: "Sabemos con seguridad que Brasil no piensa en desarrollar

armas nucleares. No es un país que vaya a incursionar en la proliferación atómica". Esta

declaración fue a propósito de las diferencias que surgieron recientemente sobre las

inspecciones internacionales de una planta productora de uranio enriquecido.

Sobre la Asociación Latinoamericana de Libre Comercio (ALCA) dejó su

mensaje. El gobierno de Bush, dijo, está "ciento por ciento comprometido con esa

iniciativa". Admitió que existen dificultades, especialmente por la cuestión de los

subsidios agrícolas. Pero confió que podrá ser completada la integración "en los

primeros meses de 2005".

MÁSINFORMACIÓN:

Los riesgos

Paula Lugones

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[email protected]

Por tamaño geográfico, población y peso político, Brasil busca jugar en las

grandes ligas, pese a los escozores que pueda despertar en el Gobierno argentino. No

sólo apunta al asiento permanente en la ONU, sino que apuesta a temas de impacto

global, como la erradicación del hambre del mundo. Pero pertenecer al selecto club de

las potencias también tiene sus riesgos y costos. Para demostrar liderazgo internacional,

por ejemplo, el gobierno de Lula ha aportado fuerzas para la pacificación de Haití.

Quizás hoy EE.UU. espere de Brasilia gestos más audaces, como sumarse a operaciones

de envergadura en conflictos costosos y sangrientos, de dudoso rédito interno.

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Destacó el liderazgo regional de Lula

Powell llegó a Brasil con elogios y con una advertencia (La Nación – 06 de

Outubro de 2004)

Pidió que autorice inspecciones nucleares

Recordó que está pendiente un acuerdo con el OIEA

Pero aclaró que las preocupaciones de Washington "son Irán y Corea del Norte,

no Brasil"

Luis Esmal

SAN PABLO.- El secretario de Estado norteamericano, Colin Powell, inició una

visita oficial a Brasil cargado de elogios hacia el "liderazgo" en las Américas del

presidente Luiz Inacio Lula da Silva, pero deslizó una sutil recomendación en tono de

advertencia: el país tiene que permitir las inspecciones de su tecnología nuclear.

"Los Estados Unidos le dan la bienvenida al creciente liderazgo de Brasil en las

Américas y en el escenario mundial", expresó Powell durante una conferencia en la

Cámara Americana de Comercio, en San Pablo. "Brasil es una nación que los Estados

Unidos ven como un socio cercano en el desarrollo de la prosperidad, la democracia y la

seguridad, no sólo en el hemisferio, sino alrededor del mundo", afirmó el funcionario

norteamericano con contundencia.

Powell llegó a enumerar las acciones que consolidaron en apenas dos años el

liderazgo brasileño en la región: su papel en la creación del Grupo de Amigos de

Venezuela, que ayudó a reducir las tensiones en ese país; el respaldo a la democracia en

Bolivia, tras la renuncia de Gonzalo Sánchez de Lozada el año pasado, y,

fundamentalmente, el envío de tropas a Haití, donde Brasil comanda actualmente la

misión de paz.

Durante la visita, Powell incluso dio un claro apoyo a las pretensiones de Brasil

de ocupar un asiento permanente en el Consejo de Seguridad de la Organización de las

Naciones Unidas. Dijo que el país es un "candidato serio, bueno e importante", pero

aclaró que los Estados Unidos "no van a señalar por ahora a ningún país en particular".

Sus palabras dieron a entender que los Estados Unidos no vetan la pretensión brasileña.

Si Brasil obtiene un asiento permanente se generaría cierto resquemor con la

Argentina y con México. La propuesta argentina es que el cargo sea compartido entre

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los países de América latina; este tema es uno de los pocos puntos de divergencia entre

la diplomacia de la Argentina y la brasileña.

México, de tamaño económico similar a Brasil, no ve con buenos ojos la

pretensión de Lula. La ONU discute la alternativa de ampliar el actual Consejo de

Seguridad a cinco miembros y podría haber alguna decisión en 2005.

Powell no evitó mencionar la actual impasse entre Brasil y el Organismo

Internacional de Energía Atómica (OIEA), que viene pidiendo sin éxito una

autorización para realizar una inspección irrestricta en las centrífugas de

enriquecimiento de uranio.

Recientemente, Brasil reveló que este año pretende enriquecer su propio uranio

para el uso en los generadores nucleares de energía eléctrica.

"Parece que hay problemas no resueltos con el OIEA para demostrar que Brasil

está cumpliendo con sus compromisos" de preservar ese material a salvo del uso bélico,

expresó Powell.

Pese a que incluso la Constitución de Brasil especifica que el país debe hacer

uso pacífico de la energía, el OIEA quiere comprobar que no hay riesgos de "desvío"

del uranio enriquecido y verificar cuál es exactamente el grado de enriquecimiento -lo

que determinaría su potencial uso para construir una bomba atómica-.

"Es un asunto que debe ser resuelto entre los países y el OIEA, pero no estamos

preocupados por ese tema. Irán y Corea del Norte son nuestras preocupaciones, no

Brasil", dijo Powell.

Sin embargo, la semana pasada un ex funcionario del Departamento de Defensa

de los Estados Unidos le dijo a un corresponsal en Washington del diario O Estado de S.

Paulo que el temor del OIEA -y por ende de los Estados Unidos- "es que el origen de la

tecnología de esas centrífugas [brasileñas] sea la red del doctor Kahn".

Abdul Qadeer Kahn fue el jefe del programa nuclear de Paquistán. Brasil afirma

que todo el desarrollo es propio y quiere mantener el secreto de su tecnología para no

perder su ventaja comercial.

Una misión del OIEA llegará este mes a Brasil desde Viena para negociar el

alcance de futuras inspecciones en la planta de enriquecimiento de uranio, ubicada en

Río de Janeiro.

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La estrategia brasileña (El Universal – 05 de Dezembro de 2004)

En los últimos dos años, el país ha aumentado su participación en la escena

internacional, en lo que llama una política exterior solidaria.

Leticia Sander.

Cautelosos para que no sea visto como pretensión hegemónica lo que califican

de osadía, colaboradores próximos del presidente Luiz Inacio Lula da Silva y el alto

escalón de Itamaraty evitan usar la palabra líder para describir los movimientos de

Brasil en política externa.

En la práctica, sin embargo, Brasil viene anhelando ese papel cada vez con más

fuerza, principalmente en América Latina. Propagando la imagen de "vecino solidario",

el país parece dispuesto a borrar incendios políticos en la región.

En los últimos dos años, el gobierno Lula se hizo presente de forma directa en la

intermediación de la crisis en Venezuela, en Perú, Bolivia y Haití. Se ofreció para

mediar el conflicto entre el gobierno colombiano y las guerrillas de izquierda e intentó

hacer un puente para el diálogo entre el gobierno colombiano y los sindicatos del país.

Marco Aurelio Garcia, brazo derecho de Lula en el área internacional, repudia la

visión de que, por cuenta de su protagonismo, Brasil pueda ser visto como un

interventor en la política interna de países latinoamericanos. "No corremos este riesgo.

No somos un país ofrecido; hemos ayudado en ciertas crisis cuando nos lo han pedido",

dice.

El asesor de Lula, que se refiere a la diplomacia brasileña como "solidaria",

argumenta: "No podemos pensar en ser una isla de prosperidad en un continente

derrumbado desde el punto de vista social, económico, político".

Por su parte, el embajador chileno en Brasilia, Osvaldo Puccio Huidobro,

refuerza la tesis de los que ven la embestida brasileña como algo natural. "Hay una

intención en América Latina de tener un papel mayor en el escenario internacional. Y

Brasil, por tener este tamaño, esta población gigantesca y toda su historia, asume un

protagonismo importante en esa misión", reconoce.

La principal aspiración

Chile es uno de los países que apoya una de las aspiraciones más perseguidas

por Brasil en los últimos tiempos: la silla permanente como miembro del Consejo de

Seguridad de la Organización de las Naciones Unidas (ONU).

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Brasil ya conquistó apoyos importantes de Francia, Alemania, Rusia, India,

Japón, y del secretario de Estado norteamericano, Colin Powell. En América Latina, la

mayoría de los líderes están del lado brasileño, pero Brasil aún enfrenta dos resistencias

importantes: México y Argentina, países que también anhelan la silla en la ONU.

"Brasil no está buscando ser líder. Es la primera vez que escucho eso. Brasil es

un protagonista importante, pero como cualquier otro país finalmente el protagonismo

no es sólo de Brasil. Y protagonismo no significa hegemonía y sí cooperación. De ahí

que no veo ese liderazgo", reacciona Juan Pablo Lhole, embajador de Argentina en

Brasilia.

Es cierto que la idea de Brasil como líder no apareció sólo en el gobierno Lula.

Carlos Pio dice que el interés de Brasil en afirmarse como potencia existe desde la

década de los 60, pero perdió fuerza en los años 80. Y en la década de los 90, cuando el

país vuelve a ser más activo, pero ya en una perspectiva de no resistencia y sí de

adaptación al sistema internacional.

En el gobierno Lula, dice Pio, ha retornado una agenda de enfrentamiento y una

tentativa de construcción de coaliciones de países que, según la cadena diplomática en

vigor, tendrían intereses semejantes a los de Brasil.

El actual gobierno reivindica que, aunque la ampliación del papel de Brasil en el

escenario internacional no haya sido inventada por Lula, en los últimos dos años este

empeño ganó vigor y se tornó prioridad.

"Creo que nos hemos dejado de rodeos y decidimos pasar a la acción", exclama

Marco Aurelio.

"Brasil tenía todo para actuar como peso pesado y estaba actuando como peso

pluma", reconoce un diplomático.

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Instan a países ricos a ceder a ceder en negociaciones comerciales (La

Jornada – 14 de setembro de 2006).

Brasil, India y Sudáfrica potenciaron su alianza y reafirmaron su papel político

en las grandes cuestiones mundiales como voceros del mundo en desarrollo, en una

cumbre celebrada este miércoles en Brasilia.

Los dirigentes de los tres países anunciaron su apoyo a una reforma del Fondo

Monetario Internacional (FMI) para reducir lo que consideraron "un grave

desequilibrio" entre los países en desarrollo y las economías avanzadas; decidieron

avanzar hacia una cooperación nuclear con fines pacíficos; urgieron a aprobar este año

una reforma de las Naciones Unidas con una ampliación del Consejo de Seguridad para

que admita como miembros permanentes a países en desarrollo, y propusieron aumentar

sus relaciones comerciales.

Los presidentes Luiz Inacio Lula da Silva y Thabo Mbeki, de Brasil y Sudáfrica,

respectivamente, así como el primer ministro de India, Manmohan Singh, instaron a los

países ricos a ceder en las negociaciones comerciales y buscaron ampliar su cooperación

al área energética, tanto con combustibles renovables como en el campo nuclear.

En el encuentro, el primero del Foro India-Brasil-Africa (IBAS), se firmaron

cinco acuerdos de cooperación en las áreas agrícola, energética, de transporte marítimo,

ferroviario y de inclusión digital.

En paralelo, se realizó un encuentro de empresarios de los tres países, que

identificaron seis sectores con mayores posibilidades de intercambios: agronegocio,

energía, tecnología de la información, farmacia, biotecnología e investigación para el

desarrollo.

La cuestión energética surgió como asunto clave tanto de las reuniones políticas

como empresariales.

Brasil ofreció cooperar para integrar a Sudáfrica e India en la cadena del etanol

(alcohol de caña de azúcar), desde el cultivo de la caña a su transformación en

combustible y la fabricación de motores adaptados. La mayor parte de los autos que se

fabrican en Brasil funcionan ya, indistintamente, con etanol o gasolina, en cualquier

proporción.

"El foro India, Brasil, Sudáfrica puede mostrar nuestra fuerza en las tecnologías

energéticas", sostuvo Singh, y destacó que así como Brasil es líder mundial en la

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producción de etanol, Sudáfrica tiene tecnología de gasificación de carbón e India un

gran avance en energía eólica y solar.

En asuntos multilaterales, los tres dirigentes consideraron "urgente" aprobar este

mismo año una reforma de la ONU que admita a sus países como miembros

permanentes del Consejo de Seguridad.

"Es necesario que el Consejo refleje el peso creciente de los países en desarrollo

en el escenario internacional. Su actual composición representa un mundo que ya no

existe", dijo Lula, en vísperas de la Asamblea General de la ONU que se abrirá la

semana próxima en Nueva York.

Los mandatarios, con un papel protagónico en el G-20 de países emergentes,

"lamentaron profundamente" la suspensión de la Ronda de Doha de la Organización

Mundial de Comercio, e instaron "a los países (ricos) que aún no lo hicieron a reducir

sustancial y efectivamente sus gastos con subsidios agrícolas", para asegurar la

reactivación de las negociaciones.

Afirmaron igualmente que "la legitimidad del FMI depende de una reforma

fundamental" que amplíe la cuota de cada país, en favor del mundo en desarrollo.

La cooperación nuclear con fines pacíficos fue incluida en los planes del nuevo

eje Brasilia-Pretoria-Nueva Delhi.

Lula, Mbeki y Singh "concordaron en explorar enfoques de cooperación en usos

pacíficos de la energía nuclear bajo las salvaguardas apropiadas de la AIEA (Agencia

Internacional de Energía Atómica)", dice el comunicado conjunto.

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Warming to Brazil, Powell Says Its Nuclear Program Isn't a Concern (NY Times

– 06 de outubro de 2004).

Por Steven R. Weisman

Secretary of State Colin L. Powell, stepping up the American courtship of

President Luiz Inácio Lula da Silva, said Tuesday that the United States had no

concerns that Brazil was planning to develop nuclear weapons despite the country's

resistance to allowing international inspectors greater access to one of its nuclear

reactors.

After meeting with President da Silva and other Brazilian leaders, Mr. Powell

also offered another gesture to Brazilian aspirations, saying that Brazil's contributions to

peacekeeping in Haiti and other actions made it was worthy of consideration for

permanent membership on the United Nations Security Council.

The United Nations is studying the possibility of increasing the number of

permanent seats in response to demands for membership from several countries,

including India, Brazil, Germany and Japan. At present, only the United States, Britain,

France, China and Russia are permanent members, which carries the right to veto any

resolution.

Mr. Powell was noncommittal as to whether the United States would endorse

Brazil's addition, saying that Washington was awaiting results of a study by a panel

appointed by Secretary General Kofi Annan. But he did say that Brazil would be a

strong candidate.

On the nuclear issue, Mr. Powell addressed a question about concerns in many

countries that Brazil's opposition to unlimited inspections, as sought by the International

Atomic Energy Agency, might embolden other nations like Iran and North Korea to

reject inspections of their suspected nuclear arms programs.

"I don't have those concerns," Mr. Powell said at a news conference after

meeting with Foreign Minister Celso Amorim. "I don't think Brazil can be talked about

in the same vein or put in the same category as Iran or North Korea."

He said that Iran and North Korea, for example, had either expelled international

inspectors or refused to cooperate with them in disclosing nuclear facilities, and that

many experts agreed that those countries were making nuclear weapons. North Korea,

he noted, has announced its nuclear arms program as a matter of policy.

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"The United States understands that Brazil has no interest in a nuclear weapon,

no desire and no plans, no programs, no intention of moving toward a nuclear weapon,"

Mr. Powell said in an interview on TV Globo. "They have a nuclear power program.

We understand that."

In a speech to business leaders, talks with President da Silva and in interviews

with local news media, Mr. Powell used his day-and-a-half visit to push the idea that

Brazil was emerging as a dominant power in the region and one that the United States -

perhaps to its surprise - could do business with on a number of fronts.

Since his election in 2002 as the first president from the leftist Workers Party,

Mr. da Silva has been cultivated by the Bush administration in the hope that he would

soften his economic policies and serve as a moderating influence in Latin America,

despite his alliance with such leftist leaders as Fidel Castro of Cuba and Hugo Chávez

of Venezuela.

American officials say that strategy has worked, and that under Mr. da Silva

Brazil has hewed to a pro-capitalist, pro-investment and fiscally conservative line. This

year, Mr. da Silva sent Brazilian forces as peacekeepers to Haiti under the aegis of the

United Nations to keep order after the forced resignation of President Jean-Bertrand

Aristide.

Foreign Minister Amorim said that he expected the dispute with the International

Atomic Energy Agency over inspectors' access to Brazil's enriched-uranium facilities

would be resolved soon by technical experts.

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Internacional

Sarkozy quer proposta conjunta da UE e Brasil na cimeira do G20 (Diário

de Notícias - 23 de Dezembro de 2008.

Patrícia Viegas

Cimeira. O Rio de Janeiro recebeu a segunda reunião de alto nível UE-Brasil

Lula vai comprar helicópteros e submarinos à França

Na sua última cimeira como presidente da União Europeia, o chefe do Estado

francês, Nicolas Sarkozy, defendeu ontem a importância do Brasil como potência

emergente e sugeriu que europeus e brasileiros preparem uma proposta conjunta para a

próxima cimeira do G20. Esta vai decorrer em Londres, em Abril, com o objectivo de

encontrar soluções globais para a actual crise financeira.

"A Europa quer actuar ao lado do Brasil e, para o próximo G20, seria bom levar

propostas conjuntas", disse, citado pela AFP, Sarkozy, num encontro empresarial que

decorreu no âmbito da cimeira UE-Brasil, realizada na cidade do Rio de Janeiro.

Lembrando que os europeus lutaram para sentar os países emergentes à mesa da

governação mundial, como aconteceu há um mês na reunião do G20, em Washington, o

líder francês afirmou que um país como "o Brasil tem direito a opinar".

O chefe do Estado brasileiro disse, por seu lado, que não é "possível adiar a

liberalização do comércio [após o fracasso da ronda de Doha]" e que, nesse sentido, UE

e Brasil também "devem trabalhar juntos". O presidente da Comissão Europeia, José

Manuel Durão Barroso, admitiu que, a nível do comércio, há desacordos entre a União

Europeia e o Brasil que continuam a existir. Barroso, que compõe a troika de líderes que

participam nesta cimeira, alertou para os perigos do proteccionismo e lembrou que, em

2009, os EUA terão uma nova Administração.

Mas ainda no capítulo dos elogios a Lula, com quem assina hoje contratos

bilaterais na área da defesa, Sarkozy voltou, uma vez mais, a defender um assento

permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU- mesmo sabendo que

existem vários outros países europeus que não gostam nada desta ideia.

Entre os contratos a assinar hoje entre os líderes francês e brasileiro estão os da

compra de meia centena de helicópteros EC-725 e de quatro submarinos convencionais

franceses, os Scorpènes, bem como os que prevêem a construção de um estaleiro e de

uma base no Rio de Janeiro. No total os contratos poderão chegar aos 8,4 mil milhões

de euros.

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Sarkozy defende que o Brasil deve estar representado no Conselho de

Segurança das Nações Unidas (Público – 23 de Dezembro de 2008)

Nuno Amaral

Cimeira União Europeia-Brasil no Rio de Janeiro serve para afinar estratégias

para o próximo encontro do G20, em Abril de 2009

O Presidente francês, Nicolas Sarkozy, que está no Rio de Janeiro para a

segunda cimeira que se realiza entre a União Europeia e o Brasil, defendeu a integração

do Brasil no Conselho de Segurança da ONU - uma antiga reivindicação do Presidente

brasileiro, Lula da Silva.

"O mundo" precisa do Brasil para encontrar novas formas de gestão global, disse

o presidente em exercício da União Europeia (UE) ao Presidente brasileiro, Lula da

Silva. "Eu e Lula entendemo-nos. Ele diz coisas que fazem sentido. Muitos falam muito

e não dizem nada. Precisamos do Brasil para a regulamentação do fluxo financeiro

mundial."

A cimeira serviu para a UE e o Brasil acertarem estratégias para a próxima

reunião do G20 (as 20 economias mais importantes, se consideradas numa lógica de

potências regionais), em Abril do próximo ano. As propostas conjuntas incluem a

definição do novo papel do Fundo Monetário Internacional (FMI) no futuro e a

concentração de esforços para "lançar as bases de um sistema financeiro mais

equilibrado, com maior fiscalização das instituições financeiras".

Sarkozy frisou que esses projectos foram concertados com Lula da Silva, e o

presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso. "A Europa vai trabalhar de mãos

dadas com o Brasil. É fundamental haver uma proposta que mostre que não queremos

um mundo de especuladores, mas de empresários", frisou Sarkozy.

Afinidades

O Presidente francês demonstrou afinidades com Lula da Silva,

fundamentalmente no que toca às mudanças defendidas para a política financeira

mundial: "A Europa acredita no futuro do Brasil. Não é uma potência de amanhã, mas

de hoje".Depois, retomou as críticas do Presidente brasileiro às organizações financeiras

internacionais. "Os mesmos que diziam que o mundo seria óptimo em 2008 e que agora

dizem que será mau em 2009 vão dizer-me o que tenho de fazer?", questionou.

Sublinhou ainda que a crise financeira mundial faz com que o mundo entrasse de forma

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definitiva no século XXI. "O ano de 2008 vai ficar marcado na história como aquele em

que o mundo entrou no século XXI", frisou Sarkozy.

Na declaração conjunta no final do encontro, o Presidente brasileiro destacou o

aumento do intercâmbio comercial entre o Brasil e a Europa e os investimentos dos

países-membros da UE no país, com destaque para o projecto nacional de reduzir as

emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, através de uma "queda drástica" no

desmatamento.

Durão e Sarkozy elogiaram as iniciativas do Brasil na área ambiental e

sublinharam que o país terá um importante papel no esforço global de contenção das

alterações climáticas devido ao aquecimento global.

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Brazil angered by Blair snub in US speech (Daily Telegraph – 04 de Junho

de 2006)

Patrick Hennessy, Political Editor and Toby Harnden in Washington

The Brazilian government has reacted with dismay to a snub by Tony Blair, after

he removed a reference to the country from a Washington speech at the behest of the

Americans.

Brazil is anxious to win a permanent place on the United Nations Security

Council but Washington favours the rival claims of Mexico, British sources say.

Related Articles

Last week The Sunday Telegraph revealed that the Prime Minister made

significant changes to the speech he gave at Georgetown University, during his recent

visit to Washington for talks with President George W Bush.

Mr Blair altered key passages about Iran, climate change and the future of the

International Monetary Fund and the World Bank after members of Mr Bush's inner

circle indicated that they were not happy with what he proposed to say.

The latest amendment was in a section of the speech in which Mr Blair proposed

changes to the permanent membership of the Security Council.

He said: "A Security Council which has France as a permanent member but not

Germany, Britain but not Japan, China but not India, to say nothing of the absence of

proper representation from Latin America or Africa, cannot be legitimate in the modern

world."

The speech cast aside the approved Foreign Office line on the issue, which is

that whenever future membership of the council from Latin America is mentioned,

Brazil's claims should be spelt out directly.

This newspaper understands that Mr Blair was persuaded by his hosts that to do

so on this occasion would cause them problems with their neighbour, Mexico, which

also wants a seat.

Brazilian diplomats in Washington are understood to have complained privately

to their British counterparts about Mr Blair's choice of words.

A senior British source said: "Latin American sensitivities on this one are high.

"The Foreign Office rules on this one are set in stone. You have to mention

Brazil specifically because of our close links with them."

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Last week, a Downing Street spokesman disputed this newspaper's report,

denying that "objections by the White House played any part in the Prime Minister's

speech whatsoever".

But the comment appeared carefully phrased to avoid denying either that

objections were made or that the speech was altered.

In one of the key adjustments, Mr Blair's aides told journalists three hours before

the speech was delivered that he intended to say that "change should not be imposed" on

Iran in the dispute over its nuclear ambitions.

In the event, he used more subtle language, claiming: "I emphasise I am not

saying we should impose change."

Mr Blair also backed away from a plan that called for the United States and

Europe to consider giving up their traditional arrangement of having an American head

the World Bank and a European run the International Monetary Fund, and fudged the

issue on climate change with a vague promise of future "action".

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Blair's UN gaffe sinks relations with Brazil to new low

Diplomatic spat after speech in Washington

Mistake puts important trade talks in jeopardy

Relations between Britain and Brazil have struck a new low after a careless slip

by the prime minister, Tony Blair, during a major foreign policy speech in Washington

last week.

The timing of the diplomatic spat is unfortunate for Mr Blair, who has been

courting Brazil's president, Lula da Silva, in an effort to break the deadlock in

international trade talks.

The Brazilian foreign ministry confirmed to the Guardian yesterday that its

foreign minister, Celso Amorim, called the British ambassador in Rio, Peter Collecott,

into his office on Tuesday to seek an explanation for Mr Blair's apparent gaffe.

The row began after Mr Blair spoke in Washington about the need to reform the

United Nations by expanding permanent membership of the security council - which

represents the victorious allies after the second world war - from five to include leading

industrial powers and representatives from the developing world.

The British government has long championed the membership of Brazil, even

though Argentina has a strong claim as a representative from Latin America.

Mr Blair reiterated Britain's support for Brazil's candidature when Mr Da Silva

visited Downing Street earlier this year.

But when Mr Blair made his speech, he said: "A security council which has

France as a permanent member but not Germany, Britain but not Japan, China but not

India, to say nothing of the absence of proper representation from Latin America or

Africa, cannot be legitimate in the modern world."

The Brazilians immediately picked up on the sudden absence of their country.

Mr Blair scribbled down the speech, the third in a series of wide-ranging foreign

policy speeches, on the flight from London to Washington. According to a British

source, he did not seek to change British policy with regard to Brazil but was simply

setting out his overall argument about a need for UN reform.

A Foreign Office spokesman said yesterday: "We remain supportive of Brazil's

candidature, along with Germany, Japan and India, for permanent seats on an enlarged

security council. The speech was not intended to set out our policy in detail but was an

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attempt to inject momentum into the debate. We remain solidly supportive of Brazil's

bid for a permanent seat."

Mr Blair, along with the American president, George Bush, and the German

chancellor, Angela Merkel, has been trying to secure the support of five leading

developing countries, including Brazil, for a special trade conference to be held around

the time of next month's G8 summit in St Petersburg.

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ANEXO II – ARTIGOS DE OPINIÃO ANALISADOS

Brasil: complejo de superioridad (Clarín – 14 de Julho de 2005)

Desde el inicio de su gestión, el presidente Lula mostró un exasperado deseo de

liderazgo regional y mundial. Ese afán desbordado le trae problemas con vecinos

importantes como la Argentina.

Por Carlos Conde.

El dramaturgo Nelson Rodrigues solía afirmar que Brasil tenía "complejo de

vira-lata", es decir, que durante mucho tiempo el país actuó en diversos sectores

animado por un complejo de inferioridad.

La política externa del presidente Lula dio un giro de 180 grados en ese estado

de ánimo. Desde el inicio, basada en un equivocado complejo de superioridad, mostró

un exasperado deseo de liderazgo regional y mundial.

Ese fue y es, a lo largo de sus dos años y medios de gestión, su pecado mortal;

ese pecado perjudica uno de los principales aciertos de su política: la elección de la

Argentina, el Mercosur y América del Sur como tres de sus mayores prioridades.

El presidente Lula y su canciller, Celso Amorim, cometen en la diplomacia el

mismo error que el técnico de la Selección de fútbol, Carlos Alberto Parreira: proclamar

que Brasil siempre es favorito para el liderazgo. Esa postura es recibida, lógicamente,

como una ofensa gratuita por la Argentina, un país grande e importante. Además,

acrecienta rivalidades y crea un ambiente cargado, totalmente inútil.

Venezuela tampoco reacciona bien, en la medida que su presidente, Hugo

Chávez, que se imagina una especie de reencarnación de Simón Bolívar, alimenta

sueños de grandeza entusiasmado con la riqueza del petróleo.

El error de Brasil se torna aún más significativo porque se proyecta sobre un

panorama tenso en América del Sur, como indican las situaciones que se viven en

Bolivia, Ecuador y Perú.

Esa estrategia en busca del liderazgo también perjudica el entendimiento del

Brasil con la Argentina dentro del Mercorsur, porque crea desconfianzas. El propio

presidente Lula reconoció que nota "malestar y estancamiento" en el acuerdo regional.

El ex canciller brasileño, Celso Lafer, identifica al Mercosur como "un factor de

estabilidad en una región tensa", pero admite que "existe con relación al Mercosur y a

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nuestra relación con la Argentina un cierto cansancio de la opinión pública". En su

visión, "es lo que se siente en los diarios y en los medios empresariales". En

consecuencia, "la tentativa conjunta de Brasil y la Argentina de relanzar el Mercosur

aparece más como retórica que como sustancia".

La obsesión de la diplomacia Lula-Amorim de conquistar una silla permanente

en el Consejo de Seguridad de la ONU es el punto más alto de su complejo de

superioridad. Obvio que esa pretensión, que aleja automáticamente a la Argentina,

mereció su veto inmediato. También tocó de forma negativa al conocido orgullo azteca

de México.

En los sectores brasileños más racionales, la pregunta es qué significaría esa silla

sin poder de veto, algo que será inevitablemente negado por los Estados Unidos y las

otras potencias victoriosas en la Segunda Guerra. "¿Para qué sentarse en el Consejo de

Seguridad de la ONU?", cuestiona el profesor de Ciencia Política, Oliveiros S. Ferreira,

uno de los más inteligentes analistas de política externa brasileña en el ámbito

académico. "¿Sentarse en esa silla sólo para decir que es miembro permanente? ¿Podrá

influir o por el contrario será influenciado?"

Oliveiros golpea con firmeza cuando asegura que "la silla no tiene sentido para

Brasil porque Brasil no consigue proyectar su poder, no consigue defender sus costas,

no consigue defender su espacio aéreo, no consigue combatir el tráfico de armas, no

consigue combatir el tráfico de estupefacientes".

La presencia militar brasileña en Haití es otro punto polémico de la actual

política externa. Ese país caribeño parece ingobernable y nada indica que la misión de

paz de la ONU, liderada por tropas brasileñas, tenga reales posibilidades de éxito. Con

tantos factores adversos uno se pregunta por qué Brasil se lanzó a esa aventura. ¿Para

afirmar su liderazgo y justificar una silla en las Naciones Unidas?

La diplomacia de Lula también se perjudica con la falta de una única autoridad.

Varios actores pelean por ese lugar, entre ellos, Itamaraty (Ministerio de Relaciones

Exteriores) y Marco Aurelio García, docente universitario y asesor especial del

Presidente en temas internacionales. Esa duplicidad de mandos dificulta la ejecución de

políticas y priva a los profesionales del área de uno de sus mayores ejercicios de

vanidad: tener el monopolio en las definiciones diplomáticas. Son conocidos los celos

provocados en Itamaraty por la presencia de extraños en su nido.

Como si las complicaciones traídas por la existencia de estos dos actores no

alcanzaran, un tercer actor se insinuó para hacer diplomacia: el ex jefe del Gabinete

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Civil, José Dirceu, que actualmente cayó en desgracia política y vive su propio infierno

astral. Hasta hace poco tiempo, cuando en la práctica desempeñaba funciones de primer

ministro, se encontró con personalidades tan contradictorias como la secretaria de

Estado norteamericana y los jefes de Gobierno de Cuba y Venezuela.

Hay desentendimientos también entre Itamaraty y otros ministerios como los de

Hacienda, Desarrollo y Agricultura. Da la impresión de que el Ministerio del Exterior

pretende jugar su propio juego.

Todos estos contratiempos fueron retirando de la actual política externa una de

sus mayores ventajas: el apoyo de la opinión pública. Cada vez son más fuertes y

frecuentes las críticas a la acción diplomática y si todavía no son mayores es porque

hasta ahora el gobierno de Lula viene adoptando una actitud muy correcta en relación a

uno de los principales socios de Brasil: los Estados Unidos. El otro, como se sabe, es la

Argentina.

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Opinión

La Argentina debería acceder a un lugar en el Consejo de Seguridad de la

ONU (La Nación - 29 de Março de 2004)

Carlos Ortiz de Rozas

En su excelente editorial del 18 de marzo último ("La Argentina, Brasil y la

ONU"), LA NACION vuelve a plantear, con acierto y autoridad, los efectos negativos

que para la presencia internacional de nuestro país tendría el no acceder a una banca

permanente en el Consejo de Seguridad de las Naciones Unidas, en caso de que se

decidiera la ampliación del número de sus integrantes.

Sabido es que desde que empezó a debatirse informalmente esa posibilidad, hace

ya bastante tiempo, muchos países significativos adelantaron sus aspiraciones de formar

parte dicho órgano como miembros permanentes, es decir, en las mismas condiciones

que Estados Unidos, China, Francia, Gran Bretaña y Rusia.

Salvo esa reconocida excepción, debida al hecho de tratarse de las cinco

potencias vencedoras en la Segunda Guerra Mundial, cabe preguntarse qué factores

políticos, económicos, culturales, geográficos o demográficos determinan que un país

pueda sentirse con más derechos que otros para ocupar una codiciada banca

permanente.

En ausencia de criterios rectores para decidir al respecto, la Asamblea General,

en 1993, resolvió crear una comisión especial destinada a analizar la posible ampliación

del Consejo. Hasta ahora, luego de varias sesiones y de escuchar a numerosas

delegaciones, no ha llegado a ninguna conclusión.

En nuestra región, Brasil, con una política de Estado seguida tenazmente con

envidiable continuidad, ha presentado oficialmente su postulación y está empeñado en

una intensa campaña, buscando apoyos para convertirse en el único representante de

América latina con un puesto permanente en el órgano más importante de la ONU.

Nadie puede discutir el derecho que le asiste a nuestro vecino y socio de aspirar

a esa nominación. Lo que resulta difícil de comprender, dado el estado actual de las

relaciones bilaterales, es que su pretensión excluya, ab initio, la posición argentina que,

con notable coherencia, han sostenido diversos gobiernos argentinos, al propiciar una

banca permanente rotativa entre tres países de América latina, a ser designados por

consenso. En esa hipótesis, obviamente, sería considerado Brasil, pero también la

Argentina, México, Chile u otros.

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Si de títulos habilitantes se trata, por nuestra parte siempre hemos tenido una

activa participación en las tareas del Consejo, como en la primera crisis de Berlín, en el

período 1948-1949, o en la adopción de la resolución 242, que sigue constituyendo el

documento básico para la solución del conflicto en el Medio Oriente. En tren de

plantear interrogantes, ¿sería lógico que las repúblicas latinoamericanas de lengua

española, uno de los idiomas oficiales de la ONU, estuvieran solamente representadas

por la única nación del continente donde se habla el portugués, idioma que, en cambio,

no está reconocido?

Lo cierto es que en éste, como en otros aspectos, las Naciones Unidas están ante

un verdadero atolladero, y que puede ser todavía peor cuando se discuta si a los nuevos

miembros permanentes se les otorgaría también el poder de veto.

Esa posibilidad es realmente seria porque con esa concesión gozarían de una

total inmunidad, toda vez que con sus respectivos vetos podrían impedir la adopción de

cualquier resolución que no consultase sus intereses o fuese en contra de sus políticas.

Incluso los protegería de eventuales disputas de fronteras.

En este complejo contexto, la cuestión sigue debatiéndose en la ONU. Algunas

versiones reflejadas en la prensa brasileña han indicado que, en razón del gran

entendimiento existente entre los presidentes Kirchner y Lula, el mandatario argentino

estaría dispuesto a avalar la candidatura de Brasil.

La lectura de una carta de nuestro representante permanente ante las Naciones

Unidas, César Mayoral, (LA NACION, 20/3/2004), da pábulo a pensar que se está en

esa tesitura cuando afirma, contestando el editorial antes citado, "no nos parece

conveniente agitar los fantasmas que nos dividieron en el pasado". O sea, una obvia

alusión a la oposición argentina a la pretensión hegemónica de nuestro socio en el

Mercosur de ocupar, por si solo, un asiento permanente en el Consejo de Seguridad.

Es de suponer que no se trata de una opinión personal, puesto que declaraciones

de ese tipo deben ser previamente consultadas con las autoridades superiores. Sería

conveniente, entonces, que nuestra cancillería informara oficialmente cuál es nuestra

posición.

Sobre este tema, creo oportuno transcribir partes de otro gran editorial de LA

NACION (8/7/2003), en el que dijo: "Nuestro país no puede respaldar -ni

explícitamente, ni con silencios sugestivos o tácitos- esa aspiración, pues eso

significaría para la Argentina aceptar una postergación de sus justas y legítimas

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expectativas. Debe recordarse que desde 1945 nuestro país ha venido alternándose en el

Consejo de Seguridad con el Brasil.

"Si le otorgásemos nuestro consentimiento a la pretensión brasileña, la ausencia

de la Argentina en la agenda internacional más importante se tornaría ya irremediable.

Y nuestro país perdería no sólo presencia sino también trascendencia y significación en

el escenario mundial".

El autor fue embajador argentino en Austria, las Naciones Unidas, Gran Bretaña,

Francia y los Estados Unidos.

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Los polos de América Latina (El Universal – 03 de Fevereiro de 2007)

Mauricio Rossell

En América Latina se vislumbra hoy como nunca antes una acrecentada disputa ideológica, de

intereses y de liderazgo. Ya lo señalaba así recientemente y con acierto el presidente brasileño Luiz

Inacio Lula da Silva: "Latinoamérica no cabe (hoy) en un solo molde".

Por un lado tenemos a países como Venezuela, Nicaragua, Bolivia, Ecuador, Brasil, Argentina,

Uruguay y Chile, cuyos gobiernos han emanado de fuentes de izquierda diversas (partidos de centro-

izquierda o progresistas, coaliciones políticas, nuevos movimientos sociales, nuevas formas de protesta

social y de organización política surgidas como reacción a las progresivas muestras de agotamiento del

modelo neoliberal) que han desarrollado distintas fórmulas para asegurar cierta estabilidad económica y

desarrollo social entre las que destacan desde políticas económicas ortodoxas, pautas neoestatistas y

nuevos socialismos (el bolivariano del siglo XXI) hasta estatizaciones. Y por el otro, a aquellos que se

encuentran vinculados de manera fundamental con la derecha (al menos en términos de la alineación

internacional) como México, Colombia, El Salvador y Honduras, y que en congruencia mantienen su

defensa a la globalización, los mercados y las poderosas fuerzas del capital.

Esta disputa ideológica, que involucra no sólo dos formas distintas de conceptualizar el

desarrollo y las vías para lograrlo, tiene sin embargo, en el caso específico de la relación México-Brasil,

también un trasfondo pragmático que quedó evidenciado en Davos la semana pasada durante la

participación conjunta que tuvieron Calderón y Lula en la mesa relativa al desarrollo de América

Latina: la pugna existente entre ambos por la hegemonía del subcontinente.

México y Brasil son los países más grandes e influyentes de la zona (sus economías manejan

volúmenes similares equivalentes a 600 mil millones de dólares). Asimismo, ambos pertenecen a un

grupo privilegiado de potencias emergentes a nivel mundial que compiten por la atracción de capitales y

el control regional, aunque cada uno lo hace a través de agendas de políticas públicas e instrumentos

radicalmente distintos.

Los dos países se inclinan también por la integración de Latinoamérica, pero en sentidos y bajo

visiones muy distintas. Mientras el gobierno mexicano ve en aquella la mejor vía para equilibrar su

relación tan asimétrica con Estados Unidos (sobre todo por el respeto que éste le tiene a Brasil, a quien

ve como el representante de la otra parte del continente), el brasileño busca, a través de ésta, mantener y

maximizar sus objetivos económicos internos así como fortalecer su presencia comercial en la zona.

Las diferencias al respecto se manifiestan también en las posturas que ambos países sostienen en

relación con el ALCA. Mientras nuestro país se manifestó tradicionalmente a su favor, ya que veía en él

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la posibilidad de extender sus privilegios de mercado a países que percibía como potenciales

competidores (como es el caso de Brasil), el país carioca siempre vio con cierto escepticismo este

proyecto por su clara preferencia a favor del Mercosur y por el riesgo que implicaría para él abrir su

economía relativamente protegida.

Por otro lado, México siempre ha sido visto por los cariocas como un aliado incondicional de

Estados Unidos y como alguien poco interesado en mirar al sur. Y si a ello sumamos la desconfianza

recíproca y la mal entendida sensación de rivalidad que siempre ha existido entre los dos países y que ha

sido la causante de la escasa e irregular relación económica (y política) que ha existido entre ellos, pues

no creo que al menos en el mediano plazo este tema, el de la integración, pueda llegarse a constituir en

un punto de unión y equilibrio entre ambos.

Las discordancias también han sido evidentes en lo que respecta a la reforma al Consejo de

Seguridad de la Organización de las Naciones Unidas para aumentar el número de sus miembros

permanentes. Modificación de la que ha sido especial promotor Brasil y que, de aprobarse, constituiría

una nueva posible fuente de dificultades entre los dos países, considerando que esta reforma habría

forzosamente de considerar la inclusión de cualquiera de estos dos como representantes de América

Latina.

De ahí que piense que lo que vimos la semana pasada en Davos no fue más que una nueva

muestra de esta lucha de dos polos por el control geopolítico y el liderazgo económico y político

regional.

Diputado al Congreso de Hidalgo (PRI)

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Mercosur nuclear y soberanía nacional (La Jornada – 08 de Setembro de

2006)

Raúl Zibechi

Con diferentes énfasis, ritmos y alcances, los dos principales países del

Mercosur (Brasil y Argentina) decidieron relanzar sus programas nucleares,

prácticamente desmantelados durante el periodo neoliberal. Se trata de una doble

apuesta: a la diversificación de la matriz energética y a la recuperación de la soberanía

nacional, fuertemente afectada por los gobiernos anteriores que optaron por someterse a

los dictados del Consenso de Washington.

Dos semanas atrás el gobierno de Néstor Kirchner lanzó un ambicioso plan de

energía atómica que prevé terminar la construcción de la central de Atucha II,

interrumpida en 1994 durante el gobierno de Carlos Menem. En Argentina funcionan

dos centrales atómicas, Atucha I en Buenos Aires y Embalse en Córdoba, que proveen 4

por ciento de la energía que consume el país. El problema argentino es que el 90 por

ciento de las necesidades energéticas se satisfacen con gas y petróleo. Cuando comenzó

la era de las privatizaciones, el país contaba con reservas de petróleo para 14 años y de

gas para 34 años. Ahora las reservas de ambos hidrocarbuos se agotarán en sólo ocho

años. Las empresas privatizadas dejaron de invertir en prospección, la inversión menos

segura y rentable, y las reservas del país se despeñaron.

La situación energética de Argentina es sumamente delicada y en pocos años

puede pasar de exportador a importador. De ahí la urgencia de Kirchner por diversificar

la matriz energética y, sobre todo, por hacer que el plan nuclear elimine "la atrofia

tecnológica, científica e industrial" en que lo sumió el periodo neoliberal, según estima

el analista energético Federico Bernal (Página 12, 3 de septiembre de 2006). En

paralelo, Argentina inaugurará un reactor nuclear en Australia antes de que finalice

2006 y posteriormente podría poner en marcha otro en Venezuela, entre Ciudad Bolívar

y el delta del río Orinoco, según un acuerdo entre ambos gobiernos en el que participa la

petrolera Pdvsa.

Brasil, por su parte, inauguró a principios de mayo su primera planta de

enriquecimiento de uranio, en el municipio de Resende, en Río de Janeiro, con lo que

ingresa al selecto grupo de países que dominan esa tecnología: Estados Unidos, Francia,

Rusia, Reino Unido, Japón y Holanda. El país cuenta con dos plantas nucleares, Angra I

y Angra II, y tiene en construcción una tercera que comenzará a funcionar en 2013. De

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esta manera Brasil se consolida como potencia emergente. Cuenta con las sextas

reservas del mundo de uranio y ahora dejará de enviar el mineral al exterior para ser

enriquecido, lo que le permitirá ahorrar millones de dólares. Pero lo más importante es

que los brasileños desarrollaron una tecnología propia, asegurándose de ese modo la

independencia respecto de las grandes empresas que monopolizan el negocio del uranio

enriquecido.

En 2004 el gobierno de Luiz Inacio Lula da Silva se negó a permitir

inspecciones irrestrictas de la Agencia Internacional de Energía Atómica (AIEA), con el

argumento de que un acceso total a sus centrifugadoras de uranio lo pondría en riesgo

de espionaje industrial. Cuando comenzó a enriquecer uranio, en mayo pasado, la

agencia Associated Press difundió un artículo asegurando que Brasil "sigue

cautelosamente el camino de Teherán", ya que está siendo capaz de "producir

exactamente el mismo combustible". El 8 de mayo, el italiano Corriere della Sera

aseguraba que la tecnología nuclear brasileña es de las más modernas del mundo, ya que

sus centrifugadoras son "más eficaces que las utilizadas en Estados Unidos y en

Europa".

Tanto la iniciativa brasileña como la argentina no son bien vistas en la Casa

Blanca. El gobierno de Lula no oculta que su programa nuclear está vinculado, además

de la generación de energía eléctrica, a la construcción de un submarino nuclear. Pero el

aspecto clave lo señaló Peter Stania, del Insituto Internacional para la Paz, de Viena,

quien dijo a la BBC en octubre de 2004 que "si Brasil logra enriquecer su propio uranio

y deja de importarlo estaría en posición estratégica de independizarse de los países

grandes en ese ramo. Y eso afectaría la posición estratégica de Brasil como potencia

emergente, que busca un asiento permanente en el Consejo de Seguridad de la ONU".

Brasil y Argentina tienen un Acuerdo de Contabilidad y Control de Materiales

Nucleares (ABACC), y la colaboración en la materia puede profundizarse. Además,

Argentina y Venezuela proyectan inversiones nucleares comunes. Más allá de la

posición que defienden los ambientalistas, de rechazo a la energía nuclear, los planes de

los países líderes del Mercosur deben verse como parte de su lucha por la soberanía. El

primero de septiembre un encuentro de ministros de Economía del Mercosur, realizado

en Río de Janeiro, confirmó que hacia fin de año se presentará un proyecto piloto para

desdolarizar el intercambio comercial entre Argentina y Brasil, al que pueden sumarse

Paraguay y Venezuela. Y acordaron llevar una postura común del bloque a la asamblea

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anual que el FMI realizará el 19 y 20 de este mes en Singapur, donde exigirán mayor

participación en las decisiones del organismo.

Simultáneamente, se realizó en Caracas la tercera reunión de la Comisión

Estratégica de Reflexión sobre el proceso de integración sudamericana, donde

discutieron la institucionalidad de la región. En consonancia, el Senado argentino

aprobó a finales de agosto el protocolo que crea el Parlamento del Mercosur, que podría

comenzar a funcionar antes de fin de año. Cristina Fernández de Kirchner, primera

dama argentina, señaló en Caracas que este es un "excelente momento" para la

integración regional.

En momentos de debilidad de Estados Unidos, los principales países

sudamericanos están avanzando a pasos de gigante en el rediseño del mapa regional.

Los nuevos planes nucleares, la búsqueda de una moneda alternativa al dólar y la

institucionalización del Mercosur, parecen ser el emergente de un proceso destinado a

cortar amarras con el imperio. En pocos años, la región puede presentar un panorama

enteramente diferente al de décadas atrás.

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Lula's Way (Time – 25 de Setembro de 2008)

Tim Padgett e Andrew Downie

With their endless string of pearl beaches, heavenly climate and sensual bossa

nova culture, Brazilians consider themselves uniquely blessed. So when the first of two

gigantic oil fields was discovered off the coast near Rio de Janeiro last fall, President

Luiz Inácio Lula da Silva saw it simply as further proof of a celestial bond. "God," Lula

That kind of good fortune, divine or not, has helped Lula, 62, a former

steelworkers' union leader and high school dropout, become Brazil's most popular

President in a half-century. The oil find could make Brazil one of the world's largest

crude producers, but even without that bounty, the economy has been growing as

vigorously as a guava tree in the Amazon rain forest, allowing Brazil to start reducing

its epic social inequality. Economic strength has also allowed the country to flex its

diplomatic clout as the hemisphere's first real counterweight to the U.S. Lula led the

creation of a bloc of developing nations, the G-20, to thwart U.S. and European

hegemony in global trade talks. "I believe implicitly that Brazil has found its way," Lula

told Time at the Planalto presidential palace in Brasília.

Now Lula is aiming for membership in the world's most exclusive club, the

group of nations with permanent seats on the U.N. Security Council, part of his effort to

"change the world's political and commercial geography." Brazil, the world's fifth most

populous country, has begun lobbying more ardently for membership, and in his speech

to the General Assembly in New York City on Sept. 23, Lula argued that the council's

"distorted representation is an obstacle to the multilateral world we desire."

That may be a dream too far for the bearded, gravelly voiced President, but

Lula's self-confidence is understandable: he has pulled off other unlikely feats. When he

was first elected in 2002, many feared that Lula and his leftist Workers' Party would

trash Brazil's emerging economy by pursuing socialist policies. Instead, Lula shrewdly

embraced fiscal sobriety, strengthening Brazil's currency, the real, and reforming a

bloated civil service pension system. Those policies and a windfall in commodities

fueled a boom--the economy will grow 5% or more again this year, and inflation is

historically low. Even his rivals acknowledge that despite his firebrand image, Lula has

been a deft political operator. "The danger with Lula is that he can be rather messianic,"

says Rubens Ricúpero, a Finance Minister in the 1990s, when Lula opposed the market

reforms he now backs. "But he's one of the most intelligent politicians in the world."

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Just as important, Lula has steered Brazil between the Scylla and Charybdis of

the right-wing Bush Administration and left-wing Venezuelan President Hugo Chávez,

whose clashes have rocked Latin America. In Washington, Lula is seen as an important

ally. "Our relationship is solid--there are lots of points of convergence," says

Christopher McMullen, Deputy Assistant Secretary of State for Western Hemisphere

Affairs. But while Lula bonds with Bush over biofuels--Brazil is a global pioneer in that

area--he's also huddling with Chávez over plans to turn South America into an

integrated economic bloc along the lines of the European Union. Lula, in fact, is one of

the few leaders both Bush and Chávez will listen to. "I joke with them and tell them

their fight is very weird," Lula says, "because oil makes them so dependent on each

other."

Lula's biggest challenge, though, has been bridging the huge chasm between

Brazil's rich and poor--a gap that makes the country look more like the feudal monarchy

it was in the 19th century than the modern democracy it wants to be in the 21st. Lula,

who as an impoverished kid shined shoes on the streets of São Paulo, has pumped more

than $100 billion into social projects ranging from microfinance to grants for families

who keep their kids in school. As a result, 52% of Brazil's 190 million people are now

designated as middle class, up from 43% in 2002. At the same time, he hopes to make

Brazil more business friendly with a $280 billion Growth Acceleration Program to

boost infrastructure and cut taxes. "It's called doing things right," Lula says, "allowing

the rich to earn money with their investments and allowing the poor to participate in

economic growth."

For all his successes, though, some of Brazil's oldest maladies have proved

stubbornly resistant to Lula's ministrations. Official corruption remains rampant; Lula

blames a fetid political culture "that has been there for centuries," but that's an old

excuse. One of his election promises was to clean up Brazilian politics, and with two

years to go--rules forbid him to seek a third consecutive term--he'll have to start

wielding the broom vigorously. The education system, despite increased funding and

access, is still an embarrassment: Brazilian students continue to score at the bottom on

international math and reading tests. Taxes are exorbitant, Amazon deforestation is

rising again, and Brazil has one of the world's most wasteful public bureaucracies. To

fix all those problems in two years would require much more divine intervention.

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Introduction (Guardian - 14 de março de 2008)

Kim Howells

This month I made my second visit to Brazil as minister for South America, to

participate in the 200th anniversary celebrations for two of the most important events in

Brazil's history: the arrival of the Portuguese royal family and the decree opening

Brazilian ports to friendly trading nations.

For many, these events marked the beginnings of Brazilian nationhood. I like to

think so; there was a considerable British role in both events, and 1808 marked the start

of a century of very close British engagement with Brazil. Now, at the advent of the

21st Century and the emergence of Brazil as a key global player, the relationship

between Britain and Brazil is again making dramatic advances.

This relationship, based on common values and interests, and focused on

practical outcomes, was given a massive boost by the state visit in March 2006 of

President Lula to the UK. We now have broader co-operation on a wider range of issues

than ever before, including climate change, sustainable development, the promotion of

human rights, technology, science, health and education. Both our countries are

committed to an ambitious outcome from the WTO trade talks to help lift millions of

people out of poverty.

Since Brazil plays a vital role in a rapidly globalising world, we are working

together to improve global governance and make multilateral institutions more

representative and effective. The UK supports Brazil's bid for a permanent seat on a

reformed UN Security Council as part of wider reforms to make the UN fit to meet the

challenges ahead.

Brazil is also a key regional player, in Mercosul and the Community of South

American Nations, enhancing its role as a beacon of stability in South America. Brazil

promotes a vision for the region which stresses a progressive approach to social change

within the democratic system.

· Kim Howells is minister of state at the Foreign and Commonwealth Office