maria sampaio dissertação

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MARIA DE FATIMA SOUZA SAMPAIO O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DOS ALUNOS DO 1º ANO DO ENSINO MÉDIO DO CENTRO DE ENSINO MANOEL BECKMAN (SÃO LUÍS-MA) Orientadora: Profa. Doutora Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Instituto de Educação Lisboa 2013

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  • MARIA DE FATIMA SOUZA SAMPAIO

    O PROCESSO DE AVALIAO DOS ALUNOS DO 1

    ANO DO ENSINO MDIO DO CENTRO DE ENSINO

    MANOEL BECKMAN (SO LUS-MA)

    Orientadora: Profa. Doutora Telma Bonifcio dos Santos Reinaldo

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias Instituto de Educao

    Lisboa

    2013

  • MARIA DE FATIMA SOUZA SAMPAIO

    O PROCESSO DE AVALIAO DOS ALUNOS DO 1

    ANO DO ENSINO MDIO DO CENTRO DE ENSINO

    MANOEL BECKMAN (SO LUS-MA)

    Dissertao apresentada para obteno do grau de Mestre

    em Cincias da Educao no Curso de Mestrado em

    Cincias da Educao conferido pela Universidade

    Lusfona de Humanidades e Tecnologias.

    Orientadora: Profa. Doutora Telma Bonifcio dos Santos

    Reinaldo

    Co-orientador: Prof. Doutor Antnio Neves Duarte

    Teodoro

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias Instituto de Educao

    Lisboa

    2013

  • Maria de Ftima Souza Sampaio/O processo de avaliao dos alunos do 1 ano do ensino mdio do Centro de

    Ensino Manoel Beckman (So Lus-MA)

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias/Instituto de Educao

    1

    A avaliao da aprendizagem escolar auxilia o

    educador e o educando na sua viagem comum de

    crescimento, e a escola na sua responsabilidade

    social. Educador e educando, aliados, constroem a

    aprendizagem testemunhando-a escola, e esta

    sociedade.

    Cipriano C. Luckesi

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    2

    DEDICATRIA

    Dedico esta dissertao:

    A Deus, por me amparar nos momentos difceis, dando-me fora interior para

    superar as dificuldades, mostrando-me os caminhos nas horas de incertezas e por suprir as

    minhas necessidades.

    Aos meus pais, Robson (in memoriam) e Deolinda, por suas histrias de grande

    sucesso na criao e educao de seus filhos, diante de todas as adversidades da vida.

    Ao meu marido, Onildo Sampaio, por me ensinar as primcias da vida, o que foi

    fundamental para a realizao deste trabalho.

    Ao meu filho Onildo Jnior, que tanto me motivou, apoiando-me e dando-me fora,

    incentivo, demonstrando companheirismo e entusiasmo. Filho, sem voc nada disso seria

    possvel.

    minha nora-filha, Luciana Sampaio, pela fora, pelo incentivo, apoio e por

    acreditar no meu potencial. Obrigada!

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    3

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente a Deus, por conceder-me terminar este curso.

    Agradeo, tambm, as pessoas que estiveram presentes nesta caminhada, em

    especial.

    minha orientadora, Profa. Dra. Telma Bonifcio dos Santos Reinaldo, por sua

    amizade, pela confiana depositada, pelo apoio e incentivo nos momentos de insegurana e

    fragilidade que permearam o desenvolvimento desta pesquisa.

    Ao Coordenador e Professores do mestrado, pelo apoio, incentivo, por sua ateno e

    pacincia para comigo.

    Ao meu esposo, Onildo Sampaio, que respeitando os necessrios momentos de

    concentrao deste trabalho, orgulha-se do meu sucesso.

    Ao meu filho, Onildo Jnior, pelo apoio incondicional e porque seguramente, foi o

    que mais compartilhou da minha alegria.

    minha nora, Luciana Sampaio, por tudo que fez por mim, dando-me fora,

    coragem, dizendo sempre: No desista, v em frente, est terminando.

    Aos meus colegas de curso, pelo apoio, carinho e pela ateno.

    Aos funcionrios da Secretaria do ISEC, pela pacincia e colaborao.

    Aos meus amigos Mrcia e Herbert, pelo incentivo, apoio, pela motivao e por

    participarem das minhas tristezas e alegrias.

    profa. Llia e a seu esposo Daniel, por me escutarem, emprestando-me os livros

    para a pesquisa e acreditando no meu potencial.

    As minhas amigas (os) Graa Cardoso, Professor Luzia, Ana Luzia, Zilair, Jesus,

    Ktia, Rose, Ribamar Mendona, por acreditarem em mim, dando-me apoio, fora, suprindo

    as minhas necessidades de pesquisa. Obrigada!

    famlia Manoel Beckman Diretor, Coordenador, Supervisor, Professores,

    Secretria, Funcionrios e alunos, que abriram as portas da escola e seus coraes para as

    minhas indagaes e inquietaes. Obrigada!

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    4

    RESUMO

    Analisar o processo de avaliao dos alunos do 1 ano do Ensino Mdio do Centro de

    Ensino Manoel Beckman o objetivo desta dissertao caracterizada como um estudo de

    caso. Para tanto se utilizou metodologia de abordagem qualitativa, por meio de aplicao de

    entrevistas e questionrios alm da observao direta aos sujeitos envolvidos, professores (as)

    e alunos (as) do 1 ano do Ensino Mdio. Percebeu-se no desenvolvimento da investigao

    que a avaliao direcionada, e, embora usando diversos instrumentos considerados

    modernos, esta classifica os alunos fazendo uma seleo dos que podem ser aprovados e dos

    que no podem ser aprovados. Concluiu-se que o trabalho foi significativo, medida que nos

    possibilitou conhecer os sujeitos investigados e como a avaliao desempenha uma funo

    classificatria e autoritria na escola, visto que a maioria dos (as) alunos (as) e professores

    (as) esto preocupados mais com a nota da prova para passar de ano do que com a

    aprendizagem, apesar desta ser significativa para eles, assim sugere-se que a escola trabalhe a

    avaliao da aprendizagem, no somente no sentido de aprovar ou reprovar, mas de contribuir

    com o educando para que ele possa conquistar sua autonomia para o exerccio da cidadania.

    Palavras-chave: Avaliao. Aprendizagem. Ensino. Autonomia. Cidadania.

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    5

    ABSTRACT

    Analyze "The process of assessment of students in 1st year of High School of

    Teaching Center Manoel Beckman is the goal of this dissertation characterized as a case

    study. For that we used a qualitative methodology, through the application of questionnaires

    and interviews in addition to the direct observation of subjects involved, teachers and students

    (as) the 1st year of high school. It was felt that the assessment is directed, and although using

    different instruments considered modern, this occurs slowly from the perspective of a

    participatory assessment because classifies students making a selection of which can be

    approved and can not move. It was concluded that the work was significant, as it allowed us

    to know the subjects investigated and how assessment plays a classificatory function and

    authoritarian school, since most of (the) students (as) and teachers are more concerned with

    test score to pass the year than with learning, although this is more meaningful to them. It is

    necessary that the school work the assessment of learning, not only to approve or disapprove,

    but to contribute to the student so that he can conquer their autonomy in the exercise of

    citizenship.

    Keywords: Assessment. Learning. Teaching. Autonomy. Citizenship.

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    LISTA DE SIGLAS

    ADF Alunos com Deficincia Fsica

    ANEB Avaliao Nacional da Educao Bsica

    ANRESC Avaliao Nacional do Rendimento Escolar

    CEMA Centro Educacional do Maranho

    ENADE Exame Nacional de Desempenho de Estudantes

    ENEM Exame Nacional do Ensino Mdio

    FUNTEVE Fundao Maranhense de Televiso Educativa

    IDEB ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica

    INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira

    LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao

    MEC Ministrio da Educao e Cultura

    PCN Parmetros Curriculares Nacionais

    PPP Projeto Poltico-Pedaggico

    SAEB Sistema de Avaliao de Educao Bsica

    SEDUC-MA Secretaria de Estado de Educao do Maranho

    SINAES Sistema Nacional de Avaliao do Ensino Superior

    UNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura

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    7

    NDICE GERAL

    NDICE DE QUADROS .......................................................................................................... 08

    NDICE DE FOTOGRAFIAS .................................................................................................. 09

    INTRODUO ........................................................................................................................ 10

    CAPTULO I: A AVALIAO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR NO ENSINO MDIO

    BRASILEIRO .................................................................................................. 15

    1.1 A RELAO ENSINO E APRENDIZAGEM NO BRASIL FRENTE AO

    NEOLIBERALISMO ............................................................................................... 18

    1.2. A AVALIAO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NA LEGISLAO

    BRASILEIRA........................................................................................................... 23

    1.3 ENTENDENDO A AVALIAO ATRAVS DOS PCN ...................................... 27

    1.4 CRITRIOS DE AVALIAO DEFINIDOS NOS PCN ....................................... 29

    CAPTULO II: APRESENTANDO O CENTRO DE ENSINO MANOEL BECKMAN ....... 34

    2.1 A FUNO DO PLANEJAMENTO ....................................................................... 41

    2.2 A AVALIAO NA ESCOLA ................................................................................ 42

    2.3 OS SUJEITOS DA INVESTIGAO - OS ALUNOS ........................................... 44

    2.4 OS SUJEITOS DA INVESTIGAO - OS PROFESSORES ................................ 50

    CAPTULO III: OS INSTRUMENTOS DE ANLISE DE DADOS ..................................... 56

    CONSIDERAES FINAIS ................................................................................................... 68

    BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 72

    APNDICES ............................................................................................................................... i

    ANEXOS ............................................................................................................................. xxviii

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    NDICE DE QUADROS

    Quadro 01: Organizao da 1 srie do Ensino Mdio do Centro de Ensino Manoel

    Beckman, turno matutino....................................................................................... 39

    Quadro 02: Formas de avaliao .............................................................................................. 43

    Quadro 03: Proporo de alunos do ensino mdio, por sexo, segundo capitais do

    Norte e Nordeste Brasileiro 2002 ....................................................................... 46

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    NDICE DE FOTOGRAFIA

    Fotografia 01: Pesquisadora em sala de aula com os alunos .................................................... 12

    Fotografia 02: Frente do Centro de Ensino Manoel Beckman ................................................. 36

    Fotografia 03: Ptio interno da escola ...................................................................................... 37

    Fotografia 04: Professora utilizando data show ...................................................................... 39

    Fotografia 05: Biblioteca da escola .......................................................................................... 41

    Fotografia 06: Sala de informtica ........................................................................................... 41

    Fotografia 07: Refeitrio da escola .......................................................................................... 41

    Fotografia 08: Secretaria da escola ........................................................................................... 41

    Fotografia 09: Alunos em sala de aula ..................................................................................... 45

    Fotografia 10: Professora e alunos em sala de aula .................................................................. 46

    Fotografia 11: Alunos na sala de informtica ........................................................................... 48

    Fotografia 12: Professores na sala de professores .................................................................... 51

    Fotografia 13: Pesquisadora em conversa com os alunos durante a investigao .................... 57

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    INTRODUO

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    A avaliao, como instrumento integrado ao processo de ensino e aprendizagem,

    passa a ter maior visibilidade a partir dos documentos institucionais produzidos nos ltimos

    anos do sculo XX e incio do sculo XXI pelo Ministrio da Educao e Cultura MEC,

    sejam eles pareceres, resolues, parmetros, diretrizes curriculares, alm dos instrumentos

    criados por este rgo para avaliar a educao brasileira tais como o Exame Nacional do

    Ensino Mdio ENEM e o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes ENADE.

    Atravs destes documentos e instrumentos, os currculos de ensino e aprendizagem

    tm evoludo no sentido de valorizar os objetivos do ensino e da aprendizagem, que incluem

    no s conhecimentos que os alunos adquirem, mas tambm se propem desenvolver as

    capacidades que contriburam para a formao cidad do aluno e sua insero no mundo do

    trabalho. Torna-se clara a valorizao da avaliao formativa, salientada quando se pretende

    incluir no processo de aprendizagem aspectos como o saber ser, fazer e o aprender a aprender,

    conforme nos aponta Delors (2000, p.76).

    Conforme os Parmetros Curriculares Nacionais PCN (BRASIL, 2002, p. 93), a

    avaliao consiste no processo regulador das aprendizagens e caracteriza-se por ser um elo do

    percurso escolar e seu resultado a certificao das diversas aprendizagens adquiridas pelos

    alunos.

    Pretendemos nesta dissertao de mestrado, defendida na Universidade Lusfona de

    Humanidades e Tecnologias, investigar O PROCESSO DE AVALIAO DE

    APRENDIZAGEM DOS ALUNOS DO 1 ANO DO ENSINO MDIO DO CENTRO

    DE ENSINO MANOEL BECKMAN (SO LUS-MA) entre os anos de 2010 e 2011,

    trabalho que no se restringe a avaliar o produto final do ensino e da aprendizagem, mas

    fundamentalmente o processo de ensino e aprendizagem que permite ao aluno tornar-se um

    elemento ativo, reflexivo, cidado e responsvel pela sua aprendizagem.

    Assim, temos como Objetivo Geral Analisar o processo de avaliao do ensino e

    da aprendizagem desenvolvida na 1 srie do Ensino Mdio no Centro de Ensino Manoel

    Beckman (So Lus Maranho), tendo como foco a construo da cidadania, a formao

    profissional e a convivncia social conforme nos orienta a Lei de Diretrizes e Bases da

    Educao (LDB n. 9.394/96).

    Quanto aos Objetivos Especficos, pretendemos:

    Conhecer, atravs da legislao sobre a educao brasileira, as orientaes para o

    desenvolvimento da avaliao do processo ensino e aprendizagem no Ensino Mdio;

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    Identificar no processo ensino e aprendizagem as diversas formas de avaliao na 1

    srie do Ensino Mdio no Centro de Ensino Manoel Beckman;

    Destacar as caractersticas positivas e negativas do processo de ensino e aprendizagem

    a partir das diversas modalidades de avaliao utilizadas na 1 srie do Ensino Mdio

    do Centro de Ensino Manoel Beckman.

    Nosso recorte temporal considerou duas razes determinantes para a escolha do tema

    de investigao. A primeira se deve a nossa presena na escola e na sala de aula como

    observadora do processo educativo que atravs dos anos tem nos inquietado no que diz

    respeito s avaliaes feitas a partir do ensino ministrado, principalmente no ano de 2010,

    quando cerca de 20% dos alunos tiveram percentual considervel de reprovaes em diversas

    disciplinas, no entanto este dado no ser aprofundado neste trabalho. A segunda refere-se ao

    ano em que pretendemos focar nossa investigao, 2011, pois este o ano escolar dos alunos

    que cursaram a 1 srie e que aleatoriamente foram escolhidos para serem os sujeitos da nossa

    investigao.

    Fotografia 1 Pesquisadora em sala de aula com os alunos

    Quanto ao nosso aporte terico, temos a legislao oficial oriunda das mudanas

    recentes na educao brasileira, manuais de autores clssicos nessa temtica, artigos

    publicados em revistas acadmicas, documentao especfica da prpria escola, com o

    objetivo de identificar, indagar, ordenar, e, ao mesmo tempo, estabelecer pontos de relevncia

    para nossa investigao, conforme nos orienta Moretto (2007, p.73):

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    Como diferenciar ou aproximar os trabalhos? possvel imaginar tendncias? nfases? legtimo

    imaginar que ao longo dos tempos as nfases, as

    escolhas tericas e metodolgicas ou mesmo os recortes

    feitos pelos pesquisadores foram se alterando de

    diferentes maneiras.

    Tudo isto bastante complexo, principalmente quando se pensa a avaliao de

    aprendizagem que alm de complexa, polissmica, com mltiplas referncias (DIAS

    SOBRINHO, 2002), como nos apontam os trabalhos encontrados sobre a temtica que est

    entrecruzada por aspectos filosficos e questes sociolgicas, ticas, psicolgicas e didticas.

    Por isso, a tarefa de investigar esse objeto de estudo no foi fcil.

    No entanto, os esforos desprendidos na nsia de encontrar respostas aos nossos

    questionamentos, a anlise de situaes, as mais diversas, e por fim a produo cientfica

    decorrente dessa investigao, sero, certamente, mais uma contribuio para a escola bsica.

    Utilizamos tambm peridicos on line da biblioteca do Centro de Cincias Humanas

    e Sociais Aplicadas da PUC-Campinas e da SCIELO-Scientific Eletronic Library, que divulga

    a Revista Ensaio desde 2004 tratando de diversos aspectos da avaliao seja institucional,

    sistmica, seja de aprendizagem, com um quantitativo de mais de 300 trabalhos de referncia

    entre artigos, peridicos, comunicaes, dentre outros.

    A investigao est organizada em captulos. O primeiro captulo trata da avaliao

    da aprendizagem escolar no Ensino Mdio brasileiro frente ao liberalismo que politicamente

    permeia a educao em nosso pas. Fazemos uma reviso de literatura em que a problemtica

    da avaliao da aprendizagem no Brasil discutida, bem como o estado da arte dos trabalhos

    acadmicos desenvolvidos nos ltimos cinco anos e a documentao da base legal que d

    suporte educao brasileira no que tange ao processo avaliativo interno e externo. Para

    tanto, lanamos mo das obras de Hoffmann (1993; 1998; 2004), Hadji (2001), Luckesi

    (2000), Perrenoud (1994; 1999), Vasconcelos (1998), Despresbiteris (1989) e Saul (1999)

    para a compreenso crtica da avaliao mensurvel, tecnicista ou processual com finalidade

    de controle na escola. Tambm nos apoiamos em Noronha (2006), Freitas (2007) e Saviani

    (2003), para discutirmos o processo avaliativo a partir da viso histrico-crtica da educao

    brasileira e a legislao oriunda do MEC, com base nos PCN, para situarmos historicamente o

    processo avaliativo no Pas a partir das mudanas educacionais com a LDB n. 9.394/96.

    No segundo captulo, analisamos a escola campo da investigao atravs da

    aplicao dos instrumentos que nos possibilitaram conhecer o planejamento escolar e quem

    o nosso aluno, sujeito da investigao, quem so seus professores e o que pensam sobre

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    avaliao, alm dos aspectos que favorecem ou dificultam o desenvolvimento da avaliao

    reguladora e ou formativa. Discorremos sobre como repensar as avaliaes atuais,

    considerando o perfil dos(as) alunos(as) e a relao deles(as) com o mundo atual, enfatizando

    a percepo das polticas pblicas para esse nvel de ensino, com base nos escritos de Kuenzer

    (2001), Cury (2002) e Saviani (2003). Tambm lanamos mo das fontes documentais

    escolares tais como fichas individuais dos alunos, relatrios de avaliaes, questionrios

    aplicados quando das visitas de ingresso ao campo de investigao, as quais serviram para a

    montagem do perfil desses alunos.

    No terceiro captulo so apresentadas as opes metodolgicas que levaram

    concretizao deste trabalho. Alm do mtodo de investigao, dos participantes e dos

    instrumentos de recolha de dados, inclumos a discusso sobre o desenvolvimento deste

    trabalho num contexto de reflexo sobre nossa prtica profissional no processo avaliativo

    interno da escola, aplicadas aos alunos, destacando que a estrutura de uma organizao

    escolar, como nos fala Candido (1970, p.56), reflete que cada instituio, mesmo

    subordinada a rgos governamentais, possui grupos internos responsveis por uma srie de

    acontecimentos especficos, consequncia das relaes sociais que as tornam peculiares.

    Tudo isso somado s repercusses imediatas para as prticas cotidianas escolares se

    traduzem em justificativas ideologizantes para seus educadores que, na sua prtica docente,

    justificam a necessidade de produo e reproduo de tais prticas.

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    CAPTULO I

    A AVALIAO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR NO ENSINO MDIO

    BRASILEIRO

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    As mudanas ocorridas no final do sculo XX e incio do sculo XXI no mundo do

    trabalho tm trazido novos desafios educao e, principalmente, ao Ensino Mdio. Assim,

    qualquer anlise mais profunda mostrar que esses so desafios que estiveram sempre no

    transcurso da constituio histrica desse nvel de ensino por ns aqui analisados, seja porque

    um nvel de transio do Ensino Fundamental para o Ensino Mdio, seja porque nesse

    momento so agravadas em face da crise que marca o cenrio nacional e internacional. Seno

    vejamos.

    Atravs das alteraes institucionais advindas das reformas educativas que se

    iniciaram no final do sculo XX, a educao brasileira vem promovendo a melhoria do

    processo de ensino e aprendizagem, criando meios para que o aluno possa ser

    responsabilizado pela sua aprendizagem escolar, melhore a sua motivao e autoestima, tome

    conscincia do que sabe, procure respostas para o que no sabe e partilhe o que compreende

    com seus pares, em busca de sua funo social historicamente construda. Esta avaliao

    denominada por Perrenoud (1999, p.87) de reguladora das aprendizagens.

    Esse tipo de avaliao tem por finalidade dar ao professor e aos alunos o nvel de

    concretizao das aprendizagens que indispensvel construo de uma sociedade

    democrtica e pluralista. Permite conhecer os saberes, as capacidades e as atitudes necessrias

    ao cidado trabalhador tornando latente a diferena entre o desempenho dos alunos e as

    exigncias do sistema educativo (PERRENOUD, 1999, p. 91).

    Portanto, levar prtica a concretizao da avaliao reguladora passa por ajustar de

    forma mais sistemtica e individualizada as intervenes do professor e as situaes didticas,

    de forma a rentabilizar as aprendizagens (HOFFMANN, 1998; LUCKESI, 1990;

    PERRENOUD, 1999).

    Assim, a avaliao utilizada no processo de ensino e aprendizagem nas escolas

    brasileiras orientada para a regulao, na perspectiva de que todos os alunos, ao final do ano

    letivo, tenham aprendido, embora de uma forma diferenciada (PERRENOUD, 1986; HADJI,

    1994; RAPHAEL, 1998). Isto nos pressupe um atendimento a uma sociedade de classe, sob

    a gide do capitalismo, que destaca a pedagogia do domnio de uns sobre outros, sendo uma

    amarra que impede ou atrasa qualquer mudana ou inovao que venha pr em risco as

    prticas conservadoras de avaliar.

    A anlise da avaliao do processo de ensino e aprendizagem no Ensino Mdio, de

    alguma forma traz uma srie de problemas pedaggicos para os professores e os alunos, e

    estes so desafiados a vivenciar o fenmeno da avaliao da aprendizagem escolar, tanto em

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    suas implicaes sociolgicas, polticas, educacionais e pedaggicas quanto vislumbrar

    alguma possibilidade de ao inovadora, numa tentativa de compreender os caminhos da

    educao escolar.

    Todavia, durante o exerccio escolar, quer na sala de aula, quer na gesto escolar, os

    avanos da educao no decorrer do sculo XX no conseguiram ir muito alm de uma

    perspectiva reducionista do processo educativo. Desse modo, os esforos centralizaram-se na

    escolarizao do indivduo, visando dot-lo de conhecimentos e habilidades, tornando-o apto

    a competir com a informao de outrem. A meta prepar-lo para superar o seu semelhante,

    dando nfase individualidade.

    Para servir a esse contexto, o processo educativo tem sido definido por alguns

    especialistas como adestramento ou classificao, conotaes que precisam ser vencidas no

    ambiente escolar, como nos afirma Bastos (1990, p. 28):

    (...) a existncia de uma sociedade moderna marcada pelo individualismo e pela competio, pela

    instrumentalizao de tudo que diz respeito no mundo,

    de tal forma que nada permanea como valor, como

    limite de uma ao que transforma tudo em meios fins

    para seus objetivos, vem na contramo de como

    entendemos o processo de avaliao (...).

    Contrariamente a esta viso, a concepo que se pretende de educao atualmente

    torn-la parmetro para a construo social do sujeito, conforme preceitua a Constituio

    Brasileira de 1988 e a LDB 9394/96 negando, portanto, toda uma prtica que tinha como

    fundamentos bsicos a competio, o adestramento e, sobretudo, a individualidade, que no

    seria o foco de ateno de tais pressupostos.

    A questo que se coloca, ento, como lidar com o aluno que ainda no chegou a

    aprender o que os seus colegas j conseguiram, isto , no dominou a aprendizagem de

    determinado assunto, priorizando o que ele j sabe e complementando o que ele no sabe.

    Partindo dessa anlise, sentimos a necessidade de compreender a prtica pedaggica

    evidenciada na escola lcus desta investigao, a partir da avaliao que permeia o ambiente

    escolar e que se constituiu no ano de 2010, em um momento de fracasso para a turma do 1

    ano do Ensino Mdio que no logrou um bom aproveitamento escolar, o que resultou numa

    reprovao bastante acentuada, com cerca de 20% de reprovao, conforme j citado

    anteriormente. De fato, foi essa a grande preocupao que nos fez pensar o tema desta

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    Ensino Manoel Beckman (So Lus-MA)

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    18

    dissertao de mestrado: O Processo de Avaliao dos alunos do 1 ano do Ensino Mdio

    no Centro de Ensino Manoel Beckman.

    1.1 A RELAO ENSINO E APRENDIZAGEM NO BRASIL FRENTE AO

    NEOLIBERALISMO

    A aprendizagem um processo pessoal e intrnseco que as pessoas aprendem no apenas pelas explicaes

    que recebem, mas pelas oportunidades que lhes so

    oferecidas para praticar o que est sendo ensinado.

    Ajudar algum crescer e a modificar-se para ter melhor

    desempenho escolar, pessoal, a parte do processo

    ensino-aprendizagem (HOFFMANN, 2010, p. 47).

    A citao acima destaca que o crescimento e o desenvolvimento cultural do aluno

    podem ser drasticamente afetados por fatores internos e externos e que compete ao processo

    de ensino e aprendizagem colaborar para o crescimento pessoal do aluno, bem como vencer

    barreiras geradas pela base familiar, pelo medo e pela falta de vontade do aluno para estudar e

    aprender.

    Os especialistas da educao no Brasil, a partir dos textos oficiais sobre avaliao,

    tm apontado a ambiguidade deste nvel de ensino sobre o qual nos debruamos, pois

    considerando que este tem, ao mesmo tempo, a incumbncia de preparar o aluno para o

    mundo do trabalho, para o exerccio da cidadania e para a convivncia social, alm da

    presumvel continuidade dos estudos superiores conforme preceitua a LDB n. 9.394 de 1996.

    Desse modo, o grande desafio a enfrentar a formulao de uma concepo de

    ensino e de avaliao que articule de forma competente as dimenses acima identificadas. A

    princpio, esta problemtica nos parece de fcil enfrentamento, uma vez que localizada no

    mbito da filosofia da educao, para definir as suas finalidades, e no mbito da pedagogia,

    para melhor definir seus contedos e procedimentos metodolgicos, a avaliao da

    aprendizagem escolar na educao bsica em nvel de Ensino Mdio tem acompanhado as

    significativas transformaes cientfico-tecnolgicas, sociais, culturais e polticas advindas do

    mundo globalizado.

    Assim, a relevncia da avaliao da aprendizagem consubstancia-se no fato de que

    no se constitui apenas uma forma de verificar o que o aluno aprendeu e sua capacidade de

    usar tais conhecimentos supostamente aprendidos em situaes concretas de sua vida, mas v-

    la tambm como parmetro para avaliar a atuao do docente, o currculo adotado e a prpria

    escola, uma vez que, conforme a legislao educacional brasileira, esta uma instituio

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    19

    social com a responsabilidade de democratizar o saber produzido historicamente (ROMO,

    2008, p.19). Para este autor,

    (...) os fatores negativos referentes ao rendimento escolar apresentados pelos alunos podem ser

    encontrados no interior da escola, como, por exemplo,

    procedimentos que conduzem a uma avaliao

    excludente que levam ao fracasso escolar, elevando

    consecutivamente os ndices de evaso escolar e

    repetncia.

    Dessa maneira que j se tem demonstrado ser a dualidade estrutural a categoria

    explicativa da constituio do ensino mdio em nosso pas, j que desde o incio da

    colonizao sempre esteve estruturado para formar uma mo de obra a servio da sociedade

    dominante.

    Nesse sentido, a avaliao um apndice desse processo que se diz educativo, por

    ser calcada mais no treinamento do que considerado importante para a preparao de

    ingresso no mercado de trabalho ou por se direcionar ao ingresso a uma universidade,

    atualmente atravs do ENEM, que avalia qual aluno est apto a ingressar na universidade.

    Depreendemos da que o sistema de ensino e a sociedade brasileira esto focados na

    ideia de promoo e no na formao cidad do indivduo, visto que os alunos so sempre

    preocupados com aprovao e ou reprovao. Assim, Luckesi (1999) nos fala de uma

    pedagogia do exame, voltada para a promoo, a ateno nas provas, no resultado dos

    exames, alm do que as provas so feitas para reprovar, usando-se a avaliao como

    parmetro de disciplinamento social dos alunos. Ainda Luckesi (1999, p. 23) nos diz:

    (...) a avaliao nos dias atuais saber recorrer a diversas estratgias e instrumentos para que os alunos

    compreendam os contedos previstos. Em continuao, o referido autor nos informa que a explicao dessa cultura do exame est nas prticas inscritas nas

    pedagogias do sculo XVI e XVII, no processo de

    emergncia e organizao da sociedade burguesa,

    lamentavelmente perdurando at nossos dias.

    Sabemos que sua prtica est calcada na pedagogia jesutica, a qual cultuava a

    solenidade dos exames e das bancas examinadoras, quer pela exaltao dos resultados

    positivos, quer pela emulao dos negativos, como tambm na pedagogia comeniana, dos

    exames para valer, em que o medo um excelente fator para manter a ateno dos alunos,

    tendo o professor o dever de mant-los atentos s atividades escolares.

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    20

    Por outro lado, a sociedade burguesa sob a hegemonia da pedagogia tradicional

    emergiu traduzindo o esprito dos seus colonizadores, no entanto aperfeioou os mecanismos

    de controle, em que o medo e o fetiche tornaram a avaliao um processo independente da

    aprendizagem, pois provas e exames so feitos conforme o interesse dos professores e do

    sistema de ensino, no se levando em considerao o interesse do aluno para o que deveria

    aprender. Desse modo, os resultados so expressos em nmeros e no em expresses de

    aprendizagem ou comportamentos bem ou malsucedidos.

    essa pedagogia do exame que pretendemos analisar em nossa escola, onde temos

    vislumbrado resqucios dessa forma de ensinar e avaliar que trazem consequncias diversas,

    entre elas a aprendizagem num plano da supervalorizao do exame. Isso se traduz na

    construo de personalidades submissas, alm de excluso muito mais articulada com a

    reprovao do que com a aprovao, da contribuindo para aumentar a desigualdade social e,

    consequentemente, o quantitativo de indivduos margem da sociedade (SAVIANI, 1983,

    p.98).

    Bourdieu; Passeron (1975) destacam que a prtica escolar se realiza dentro de um

    modelo terico que pressupe a educao como um mecanismo de conservao e reproduo

    da sociedade (BOURDIEU; PASSERON, 1975, p.43). Segundo eles, esse autoritarismo

    necessrio para a garantia desse modelo de sociedade em que vivemos, o que justifica a

    avaliao manifestar-se de forma autoritria.

    Desse delineamento emerge o objetivo principal desta investigao que ser

    desvendar as teias de fatos e aspectos patentes e latentes que delineiam o fenmeno da

    avaliao em nossa escola e, concomitantemente, vislumbrar um caminho que possibilite a

    transformao de tal situao.

    No entanto, a avaliao realizada pelo aluno envolve um conjunto de operaes

    metacognitivas, de modo que este dever tomar conscincia dos diferentes momentos da sua

    vida em sociedade, possibilitando-lhe o seu desenvolvimento como sujeito autnomo e

    crtico.

    Neste caso, os contedos avaliativos o instigam ao conhecimento dos diversos

    processos mentais e procedimentais no desenvolvimento de sua aprendizagem, com vistas a

    facilitar-lhe a adoo de uma atitude questionadora, uma vez que pode ser melhorada a

    compreenso das suas atitudes, sua interao e, consequentemente, a atuao do professor

    (PERRENOUD, 1999, p. 96).

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    Na dcada de 1920, o modelo elitista (tradio do Brasil Colnia) foi colocado em

    cheque, tendo sido proposta a estruturao de um sistema nacional de educao, inspirado no

    princpio de que esta um direito de todos e um dever do Estado. Entretanto, a proposta no

    foi efetivada.

    No primeiro perodo da Repblica (1889-1930), predominou a Pedagogia

    Tradicional Brasileira consubstanciada pelas ideias da pedagogia jesutica, pelas teorias

    cientificistas do Positivismo e pelas ideias pedaggicas americana e alem, esta ltima

    chegada ao Brasil no perodo de transio do Imprio para a Repblica.

    Esta pedagogia tradicional pretendeu transmitir uma cultura geral, portanto

    privilegiou um contedo universal, dogmtico e enciclopdico, tendo o professor como centro

    do processo; utilizou largamente o mtodo expositivo ou demonstrativo e da avaliao

    cognitiva atravs de exerccios, repeties da matria, provas orais e escritas, trabalhos de

    casa; tambm valorizou o uso de reforos tais como a punio, o apelo aos pais para estimular

    a competio e a classificao.

    A regulamentao da avaliao em nvel do Ensino Mdio, hoje em vigor,

    encontrada na Lei n. 9.394/96, conforme abaixo identificado:

    Art. 14 O rendimento de verificao escolar ficar na forma regimental a cargo do estabelecimento,

    compreendendo a avaliao do aproveitamento e a

    apurao da assiduidade.

    1 - Na avaliao do aproveitamento a ser expresso em

    notas ou menes, preponderam os aspectos qualitativos

    sobre os quantitativos e o proveito obtido durante o

    perodo letivo sobre os da prova final, caso seja exigida.

    2 - O aluno de aproveitamento insuficiente poder ter

    promoo mediante estudos de recuperao

    proporcionados obrigatoriamente pelo estabelecimento.

    A necessidade do cumprimento desta Lei, no seu todo, como parmetro educacional

    socioeconmico do pas, concorreu para a influncia de uma abordagem tecnolgica nos

    programas de Didtica e de Metodologias de Ensino e Aprendizagem a partir da dcada de 70.

    A respeito desta influncia, Zboli (2002, p. 86) comenta que vem contribuir para a

    concepo de neutralidade e de eficincia do modelo tecnicista, colocando a avaliao

    atrelada ao padro de competncia expresso nos objetivos operacionais, dando nfase nota.

    Observamos na bibliografia especfica que grande parte dos autores se limita a

    fornecer subsdios instrumentais para compreender a avaliao, aliando-se dimenso

    tcnica, sem enfatizar as caractersticas histricas, sociais e econmicas que envolvem o

    processo de ensino e de avaliao da aprendizagem. Portanto, Lobato (2002) ressalta que A

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    aprendizagem significativa envolve a aquisio de novos significados e os novos significados

    por sua vez so produtos da aprendizagem significativa, ou seja, a emergncia de novos

    significados reflete o complemento de um processo de aprendizagem significativa

    (LOBATO, 2002, p.3).

    Como destacamos acima, a educao no Brasil, desde a colonizao at os dias

    atuais, est a servio de uma pedagogia dominante que, por sua vez, serve a um modelo social

    dominante, o qual, genericamente, pode ser identificado como um modelo social liberal

    conservador, nascido da estratificao dos empreendimentos polticos e sociais que

    culminaram com a Revoluo Francesa. Pois,

    A Pedagogia, sendo o referencial terico-prtico a partir do qual a escola realiza a educao, preconiza a

    concepo de homem e sociedade, refletindo a realidade

    scio-poltica e econmica na qual est inserida. Em

    uma sociedade capitalista, a pedagogia no s reproduz

    as relaes sociais e as contradies desta sociedade

    como pode colocar-se em oposio ideologia

    dominante em determinados momentos, procurando

    reduzir os efeitos de dominao (LIBNEO, 1999, p. 133).

    Mediante esta sntese, ressaltamos que a educao brasileira procura atender s

    finalidades dos dominadores e representa relevante papel no sistema educativo brasileiro.

    Libneo (1987, p.149) ressalta que a educao brasileira, pelo menos nos ltimos cinquenta

    anos, tem sido marcada pela tendncia neoliberal, nas suas formas ora conservadora, ora

    renovadora.

    Portanto, este estudo procura encontrar nas polticas pblicas atuais, denominadas

    neoliberais analisadas por Hfling (2001), Chrispino (2005) e Noronha (2006), a razo da

    avaliao presente na escola e em toda a sociedade submetida s regras de mercado.

    Nessa tica neoliberal, o indivduo responsvel pelos seus atos e consequentemente

    pelo seu destino, pois ao Estado cabe oferecer a oportunidade de estudo com o slogan Todo

    aluno na escola, donde se pode pensar numa possvel igualdade de condies para todos.

    Marx, atravs de seu materialismo dialtico, nos explica o que engendrou este processo de

    acumulao de capital por poucos, e a converso da maioria em mercadoria, acentuando a

    excluso dessa maioria dos bens materiais e, dentre eles, o conhecimento (LUCKESI, 1999).

    Infelizmente, aos olhos dos cidados tais concepes polticas so aceitas e no

    Ensino Mdio os gestores, professores e alunos esto submetidos a essa lgica, que

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    perpassada nos contedos trabalhados em sala de aula e por consequncia nas avaliaes. Para

    Garcia (2002, p.342),

    Neste tempo de incertezas, nenhuma classe social fica preservada de seus efeitos que marcam os jovens com

    maior profundidade, quanto mais precrias so suas

    condies de vida, impondo aos que se preocupam com

    o futuro refletem sobre como impedir que o futuro

    incerto no se transforme num futuro ameaador e

    sombrio.

    Assim, corroborando Althusser (2001), a escola mais um instrumento ideolgico do

    Estado neoliberal, que nesse espao engendra a reproduo social discutida por Bourdieu;

    Passeron (1975).

    1.2 AVALIAO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NA LEGISLAO

    BRASILEIRA

    O mundo moderno est influenciado por mudanas rpidas que exigem dos

    educadores e dos alunos determinadas atitudes, como, por exemplo, reproduzir informaes

    conforme prvias orientaes. No entanto, esta postura j no mais produz efeito no processo

    de ensino e aprendizagem ou, pelo menos, da maneira exigida pelo mundo atual onde as

    diversidades e desigualdades existentes em nossa sociedade exigem uma posio mais

    atuante.

    Esta nova sociedade apresenta uma necessidade jamais vista em toda a histria, que,

    para alm do saber acerca da rea de conhecimento especfico de cada um, tanto alunos como

    professores necessitam tambm perceber que a informao deve ser trabalhada no sentido de

    dar respostas a vida cotidiana. Para tanto, indispensvel que o processo de atualizao das

    informaes seja constante. Segundo os PCN (BRASIL, 2002, p. 9):

    (...) estar formado para a vida significa mais do que reproduzir dados, denominar classificaes ou

    identificar smbolos. Significa: saber se informar,

    comunicar-se, argumentar, compreender e agir;

    enfrentar problemas de diferentes naturezas; participar

    socialmente, de forma prtica e solidria; ser capaz de

    elaborar crticas ou propostas; e, especialmente, adquirir

    uma atitude de permanente aprendizado.

    Porm, pretendendo transmitir uma cultura geral, a pedagogia tradicional privilegia

    um contedo universal, dogmtico e enciclopdico, tendo o professor como centro do

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    24

    processo, a utilizao do mtodo expositivo finalizado pela avaliao atravs de exerccios,

    repeties da matria, provas orais e escritas, trabalhos de casa, o que traz como resultado as

    notas baixas, o apelo aos pais para darem mais ateno aos filhos, a competio desigual e a

    classificao meritria.

    Face ao exposto, diferentes autores, preocupados com o carter conservador da

    educao reproduzida pelo vis tecnicista, propem a superao da sua dimenso tcnica

    atravs da avaliao da aprendizagem como uma prtica social, sem perder de vista o sistema

    poltico e econmico vigente no pas.

    Encontram-se nessa linha de abordagem Libneo (1987), que concebe a avaliao

    como uma ponderao sobre o nvel de qualidade do trabalho escolar, tanto do professor

    quanto dos alunos, afirmando que a funo pedaggico-didtica da avaliao deve

    proporcionar a comprovao dos resultados do ensino e contribuir para o desenvolvimento

    das capacidades cognitivas do aluno atravs do trabalho educativo sobre as falhas detectadas,

    alm de favorecer-lhe uma atitude mais responsvel, assumindo-se como ser social, uma vez

    que avaliado em nvel de preparao para atuar na sociedade.

    Em outras palavras,

    Em vez de consolidar a ideia de que muitos alunos tm bice de aprendizagem, mais rendoso cogitar recursos

    ou mtodos para ajud-los a reconhecer suas

    potencialidades. Quanto aos meios e processos das

    avaliaes dos resultados escolares que possibilitam o

    diagnstico das situaes didticas, esta funo deve

    ocorrer durante as aulas, atravs de atividades

    especficas, sem, no entanto, qualificar os resultados,

    mas apenas acompanh-los (LIBNEO, 1987, p.67).

    Desse modo, no podemos falar em avaliao sem fazermos uma anlise do sistema

    educacional, tendo em vista que a avaliao uma pea de engrenagem desse sistema. E

    dentro dessa perspectiva de reproduo da sociedade, surgem as diversas tendncias da atual

    prtica da avaliao escolar, a qual, muitas vezes ainda, est a servio de um entendimento

    terico-conservador da sociedade e da educao.

    Considerando que algumas escolas ainda formam um tipo de aluno segundo este

    padro avaliativo, elas retratam no sistema de ensino a desigualdade de oportunidade que,

    segundo o Azevedo (2010, p. 46),

    O que pretendeu era a ideia da escola democrtica baseada na filosofia progressista de J. Dewey, visando

    ajustar a educao ao modelo de desenvolvimento

    urbano, industrial que se implantava no Pas.

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    Denunciavam a velha estrutura educacional,

    conservadora e elitista, propondo uma escola que viesse

    contribuir para a preparao dos alunos realidade

    social em mudana de fato a consolidao da economia

    capitalista.

    Sabemos que a escola tem a funo de ajudar os alunos para que estes sejam

    cidados, capazes de conviver em sociedade, enfim, coloc-los nas melhores condies para

    se integrarem a este mundo cheio de contradies e desafios. Tambm entendemos que

    avaliar para reproduzir o esprito competitivo existente na sociedade atual pode significar

    perdas de valores importantssimos para a convivncia humana e para a formao do conceito

    de cidadania. A escola sistematiza seu envolvimento com a sociedade atravs dos

    planejamentos curriculares e de ensino (plano de curso, de unidades e de aula). Nesse

    contexto, a avaliao um elemento fundamental e, como tal, reflete seu carter pedaggico,

    poltico e social.

    Os estudiosos da linha crtica argumentam que nem a educao nem a avaliao so

    neutras. Rays (1987, p. 16) enfatiza tal argumento: educar revela sempre uma inteno

    (consciente e/ou inconsciente) (...), e a avaliao tambm no neutra e sim, uma ao

    pedaggica e uma ao poltica. O tipo de avaliao que tem sido praticado pela grande

    maioria dos professores neste pas, com uma postura aparentemente neutra, sem compromisso

    tcito, valoriza somente a dimenso tcnica, visto que pouco ou quase nada se discute a

    respeito do significado sociopoltico da ao que se est avaliando (HOFFMANN, 2010, p.

    66).

    Esta postura tcnica observada quando o docente, nas semanas pedaggicas, limita-

    se a fazer quadros operacionais com os itens do plano, sem qualquer indagao ou

    conhecimento real da clientela (sua maneira de viver, seus contedos vivenciados, interesses e

    necessidades); evidencia-se a preocupao com eficincia numa perspectiva conservadora da

    sociedade.

    Entretanto, configuradas as contradies, a luta pela transformao da sociedade

    perpassa pela escola, devendo esta luta ser efetivada a partir da reflexo consciente de qual

    sociedade temos e qual sociedade queremos. Segundo Depresbiteris; Tavares (2009, p.30), a

    avaliao como exame surge no sculo XIX nos Estados Unidos, criada em associaes para o

    desenvolvimento de testes padronizados, objetivando medir com rigor e iseno as

    aprendizagens escolares dos alunos, sendo seguidos pelos franceses quando a partir de Alfred

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    Binet e Theodore Simon, em 1905, desenvolvem testes psicolgicos e de aptides em busca

    de um coeficiente de inteligncia.

    Queiramos ou no, as concepes desse perodo ainda esto marcadas no cenrio

    escolar brasileiro, que desde os jesutas com o Ratio Sudiorium (conjunto de normas criado

    para regular o ensino na Colnia), alguns procedimentos como a prova e o silncio na sala de

    aula retratam essa permanncia.

    Em 1934, Tyler, considerado pai da avaliao educacional, cria a expresso

    avaliao educacional. Saul (1999, p.79), em sua tese de doutoramento, contribuiu para a

    construo de um novo paradigma de avaliao, a chamada avaliao emancipatria, tese que

    prope uma perspectiva crtico-transformadora da realidade educacional enquanto

    fundamento e uma prtica democrtica enquanto processo.

    Pedro Demo (1986) ir propor a avaliao qualitativa, pretendendo superar a

    avaliao quantitativa, porm sem dispensar esta, destacando que os processos so mais

    importantes que os produtos, e a avaliao um processo permanente e dirio e no uma

    inveno ocasional, intempestiva e ameaadora.

    Posteriormente, Luckesi (2005) nos apresenta uma proposta do ato de avaliar

    levando em conta a coleta, a anlise e a sntese dos dados que configuram o objeto de

    avaliao com um determinado padro de qualidade previamente estabelecido para aquele

    tipo de objeto. Hoffmann (1994, p.51) classifica a avaliao como mediadora em que o

    paradigma principal ser a ao, o movimento, a provocao na tentativa de reciprocidade

    intelectual entre os elementos do processo educativo.

    Freitas (2007) entende avaliao no como um ato pedaggico destinado a

    diagnosticar o desempenho dos alunos e corrigir erros em busca de alguns objetivos

    previamente construdos, mas como um ato contnuo e educativo. J Dias Sobrinho nos dir

    que a avaliao plurirreferencial, complexa, polissmica, com mltiplas e heterogneas

    referncias, campo de embate das diversas disciplinas e prticas sociais dos distintos lugares

    escolares, polticos e sociais.

    Para alm dos autores citados no campo das prticas avaliativas institucionais da

    dcada de 1980, 1990, 2000 e 2001, no Brasil temos novos mecanismos avaliativos como:

    Avaliao Nacional da Educao Bsica (ANEB), Avaliao Nacional do Rendimento

    Escolar (ANRESC), ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica (IDEB), Sistema

    Nacional de Avaliao do Ensino Superior (SINAES), Exame Nacional de Desempenho de

    Estudantes (ENADE), Exame Nacional do Ensino Mdio (ENEM), Sistema de Avaliao de

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    Educao Bsica (SAEB). Tudo isso faz do tema Avaliao, um campo epistemolgico de

    contradies e mltiplas referncias, no processo cumulativo do saber cientificamente

    construdo, resultando discusses e interpretaes as mais diversas, sem perder de vista o

    lugar de onde queremos partir para essas anlises.

    A concepo de avaliao contida nos PCN (2002) prope para alm da viso

    tradicional o controle interno e externo do aluno atravs das notas ou dos conceitos, no

    entanto sabemos que o sentido da avaliao no est ligado a fracassos ou sucessos do aluno e

    sim a um conjunto de elementos voltados para orientar e sustentar a interveno pedaggica

    do professor, de forma sistemtica e contnua por meio de uma aproximao qualitativa da

    aprendizagem. Assim, situaes de avaliao s devem ocorrer relacionadas com as vivncias

    e situaes didticas que possibilitem ao aluno aprender a enfrentar os desafios do cotidiano.

    1.3 ENTENDENDO A AVALIAO ATRAVS DOS PCN

    Conforme os PCN (1997), a avaliao um dos elementos que subsidia o professor

    para uma reflexo contnua de sua prtica, possibilitando-lhe a construo de novos recursos

    metodolgicos adequados aos alunos, para que o auxiliem no processo ensino e

    aprendizagem. Desta feita, a avaliao deve ser o instrumento de tomada de conscincia de

    seus avanos, dificuldades e possibilidades para melhorar a tarefa de levar o aluno a aprender.

    Para a escola, a avaliao deve possibilitar a definio de possibilidades para estabelecer

    prioridades e localizar aspectos das aes educacionais que exigem maior ateno no processo

    avaliativo.

    Corroborando os PCN (1997, p.57), os quais orientam que a avaliao se define a

    partir da concepo de ensino e aprendizagem, da funo da avaliao no processo educativo

    e das orientaes didticas postas em prtica, sabemos que necessria a utilizao de

    diferentes cdigos, como o oral, o verbal, o numrico, o escrito, o pictrico, o grfico, de

    forma a se considerarem as diferentes aptides dos alunos. Por exemplo, geralmente o aluno

    no tem domnio da escrita o suficientemente para expor um raciocnio mais complexo sobre

    um assunto trabalhado, mas pode faz-lo perfeitamente bem em uma situao de intercmbio

    oral, como em dilogos, entrevistas ou debates. Considerando essas preocupaes, o professor

    pode realizar a avaliao segundo os PCN (1977) por meio de:

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    28

    Observao sistemtica: consiste no acompanhamento do processo de aprendizagem

    dos alunos, atravs de alguns instrumentos, como listas de controle, dirio de classe,

    registro em tabelas e outros;

    Anlise das produes dos alunos: considera a variedade de produes feitas pelos

    prprios alunos, sendo possvel ter um quadro real das aprendizagens conquistadas.

    Por exemplo: se a avaliao se d sobre a competncia dos alunos na produo de

    textos, deve-se considerar a totalidade dessa produo, que envolve desde os primeiros

    registros escritos, no caderno de lio, at os registros das atividades de outras reas e

    das atividades realizadas especificamente para esse aprendizado, alm do texto

    produzido pelo aluno para os fins especficos desta avaliao (ROCHA, 2003);

    Atividades especficas para a avaliao: nestas, os alunos devem ter objetividade ao

    expor sobre um tema, ao responder um questionrio.

    Para isso importante, primeiramente, garantir que sejam semelhantes s situaes

    de aprendizagem comumente estruturadas em sala de aula, isto , que no se diferenciem, em

    sua estrutura, das atividades que j foram realizadas, ou seja, numa perspectiva processual;

    em segundo lugar, esclarecer para os alunos o que se pretende avaliar, pois, inevitavelmente,

    eles estaro mais atentos a esses aspectos.

    Quanto mais os alunos tiverem clareza dos contedos e do grau de expectativa da

    aprendizagem que se espera, mais tero condies de desenvolver, com a ajuda do professor,

    estratgias pessoais e recursos para vencer dificuldades. A avaliao, apesar de ser

    responsabilidade do professor, no deve ser considerada funo exclusiva dele. Deleg-la aos

    alunos, em determinados momentos, uma condio didtica necessria para que construam

    instrumentos de autorregulao para as diferentes aprendizagens (ROCHA, 2003).

    A autoavaliao uma situao de aprendizagem contida nos PCN, em que o aluno

    deve desenvolver estratgias de anlise e interpretao de suas produes e dos diversos

    procedimentos de avaliao e, alm desse aprendizado, importante, tambm, a construo da

    autonomia dos alunos, pois esta cumpre o papel de contribuir com o objetivo esperado na

    avaliao, uma vez que esta s poder ser construda com a contribuio dos diferentes pontos

    de vista tanto do aluno quanto do professor.

    Entendemos que se bem analisados, os PCN contribuem para uma mudana na

    prtica da avaliao da aprendizagem e consequentemente com o alcance dos objetivos da

    avaliao, que a construo de uma mentalidade formativa em vez de somativa por parte do

    aluno.

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    29

    1.4 CRITRIOS DE AVALIAO DEFINIDOS NOS PCN

    Os Critrios de Avaliao por rea de Conhecimento, definidos nos PCN, mesmo

    que indiquem o tipo e o grau de aprendizagem que se espera que os alunos tenham alcanado

    durante o ano letivo a respeito dos diferentes contedos, apresentam formulao

    suficientemente ampla como referncia para as adaptaes curriculares necessrias em cada

    escola, de modo a poderem se constituir critrios reais para a avaliao e, portanto,

    contriburem para efetivar a concretizao das intenes educativas no decorrer do trabalho

    educativo.

    A discusso terica levantada at este momento nos permite entender que avaliar

    significa emitir um juzo de valor sobre a realidade a qual se questiona, seja a propsito das

    exigncias de uma ao que se planejou realizar sobre ela, seja a propsito das suas

    consequncias1.

    Sendo assim, avaliar exige critrios claros que orientem a leitura dos aspectos a

    serem avaliados. No tocante avaliao escolar, preciso que se estabeleam metas de

    aprendizagem dos alunos em consequncia do ensino, que devem indicar nos objetivos da

    avaliao propostos a definio do que ser considerado como testemunho das aprendizagens.

    Do contraste entre os critrios de avaliao e os indicadores expressos na produo

    dos alunos surgir o juzo de valor, que se constitui a essncia da avaliao. Os critrios de

    avaliao tm um papel importante, j que expressam as metas de aprendizagem,

    considerando objetivos e contedos propostos para a rea de ensino e aprendizagem, a

    organizao lgica e interna dos contedos, as particularidades de cada momento da

    escolaridade e as possibilidades de aprendizagem decorrentes de cada etapa do

    desenvolvimento cognitivo, afetivo e social em uma determinada situao, na qual os alunos

    tenham boas condies de desenvolvimento do ponto de vista pessoal e social.

    Os critrios de avaliao apontam as experincias educativas a que os alunos devem

    ter acesso e que so consideradas essenciais para o seu desenvolvimento e socializao. Nesse

    sentido, os critrios de avaliao devem refletir de forma equilibrada os diferentes tipos de

    capacidades e as dimenses dos contedos, alm de servir para encaminhar a programao e

    as atividades de ensino e aprendizagem.

    1 Disponvel em: http://www.stellamaris.com.br/fund_proposta_metodologica.asp

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    importante assinalarmos que os critrios de avaliao representam as

    aprendizagens imprescindveis ao final do curso e possveis maioria dos alunos submetidos

    s condies de aprendizagem propostas; no podem, no entanto, ser tomados como objetivos

    nicos, pois isso significaria um injustificvel rebaixamento da oferta de ensino e,

    consequentemente, o impedimento a priori da possibilidade de realizao de aprendizagens

    consideradas essenciais.

    Os critrios no expressam todos os contedos que foram trabalhados no curso, mas

    apenas aqueles que, segundo critrios do professor, so fundamentais para que se possa

    considerar que um aluno adquiriu as capacidades previstas de modo a poder continuar

    aprendendo na etapa seguinte, sem que seu aproveitamento seja comprometido. Assim, estes

    devem permitir concretizaes diversas por meio de diferentes indicadores alm do enunciado

    que os define, devendo haver um breve comentrio explicativo que contribua para a

    identificao de indicadores nas produes a serem avaliadas, facilitando a interpretao e a

    flexibilizao desses critrios, em funo das caractersticas do aluno e dos objetivos e

    contedos definidos.

    Ao ter acesso a algumas provas de diversas reas de conhecimento, elaboradas por

    seus professores, e que esto em Anexo, percebemos que as avaliaes aplicadas na escola

    continuam sendo objetivas organizadas em alternativas de mltipla escolha onde, certamente,

    alguma delas ser a correta, eventualmente aparecendo alternativas que supem autonomia do

    aluno na escolha da resposta correta; outras com enunciados longos no esforo de

    contextualizao, mas que ao final de contas se traduzem em situaes do tipo: certo ou

    errado, relacione, assinale a alternativa incorreta ou correta, enfim no deixando ao aluno a

    possibilidade de refletir e demonstrar sua aprendizagem. Diante dessa realidade procuramos

    em Hoffmann (2003, p.47) uma explicao,

    O processo avaliativo no deve estar centrado no entendimento imediato pelo aluno das noes em

    estudo, ou no entendimento de todos em tempos

    equivalentes. Essencialmente, por que no h paradas

    ou retrocessos nos caminhos da aprendizagem. Todos os

    aprendizes esto sempre evoluindo, mas em diferentes

    ritmos e por caminhos singulares e nicos. O olhar do

    professor precisar abranger a diversidade de traados,

    provocando-os a progredir sempre.

    Outra situao observada nas avaliaes aplicadas nesta escola, que no se percebe

    o esforo do(a) professor(a) em elaborar questes avaliativas contextualizadas que

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    representem situaes reais do cotidiano dos alunos; o que se percebe, na verdade, so

    questes copiadas dos exames aplicados pelas grandes universidades brasileiras, o que denota

    um distanciamento entre situaes de aprendizagens e avaliao de aprendizagem, nesse

    contexto, e ao serem questionados por essa pratica os professores dizem estar preparando o

    aluno para o exame nacional de ingresso ao curso superior (ENEM), mas a reside uma

    interrogao: onde fica a formao cidad exigida por lei?

    Segundo os PCN, a definio dos critrios de avaliao deve considerar aspectos

    estruturais de cada realidade, levando em conta que, muitas vezes, ocorrem repetncias em

    funo de um ingresso tardio na escola, ou porque a faixa etria dos alunos no corresponde

    sua idade escolar.

    Sabemos, tambm, que as condies de escolaridade em uma escola rural e

    multisseriada so bastante singulares, o que determinar expectativas de aprendizagem e,

    portanto, de critrios de avaliao bastante diferenciados. Dessa forma, a adequao dos

    critrios estabelecidos nos parmetros e dos indicadores especificados no trabalho que cada

    escola se prope realizar no deve perder de vista a busca de uma meta de qualidade de ensino

    e aprendizagem explicitada na presente proposta.

    To importante quanto o que e como avaliar so as decises pedaggicas decorrentes

    dos resultados da avaliao, que no devem se restringir reorganizao da prtica educativa

    encaminhada pelo professor no dia a dia. Estas devem referir-se, igualmente, uma srie de

    medidas didticas complementares que necessitem de apoio institucional, como, por exemplo,

    o acompanhamento individualizado feito pelo professor fora da classe, o grupo de apoio, as

    lies extras e outras que cada escola pode criar, ou at mesmo a solicitao de profissionais

    externos escola para debate sobre questes emergentes ao trabalho.

    Segundo Spagnolo (1993, p. 477),

    (...) se o objetivo ltimo da escola, tanto na Educao Infantil como na Ps-Graduao, promover e facilitar

    a aprendizagem do aluno, so absolutamente cruciais os

    meios que permitem averiguar se a meta, afinal, est ou

    no sendo atingida. E mais ainda. Quais so as

    circunstncias e quais os mecanismos que favorecem a

    ocorrncia da aprendizagem de acordo com o esperado.

    aqui que entra em cena a avaliao. Esta uma

    atividade polmica e complexa.

    Entretanto, a dificuldade de contar com o apoio institucional para esses

    encaminhamentos uma realidade que precisa ser alterada gradativamente, para que se

    possam oferecer condies de desenvolvimento para os alunos com necessidades diversas de

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    aprendizagem. A aprovao ou a reprovao uma deciso pedaggica a qual tem por

    objetivo garantir as melhores condies de aprendizagem para os alunos. Para tal, requer-se

    uma anlise dos professores a respeito das diferentes capacidades do aluno, que permitiro o

    aproveitamento do ensino na prxima srie (PPP da Escola Municipal Irene Szukala:

    http://projetopoliticopedagogicoireneszukala.blogspot.com.br/).

    Por isso, de acordo com os PCN (1997), se a avaliao est a servio do processo de

    ensino e aprendizagem, a deciso de aprovar ou reprovar no deve ser a expressa como um

    castigo nem ser pautada, unicamente, no quanto se aprendeu ou se deixou de aprender dos

    contedos propostos. Para tanto, importante considerar, simultaneamente, os critrios de

    avaliao, os aspectos de sociabilidade e de ordem emocional, para que a deciso seja a

    melhor possvel, tendo em vista a continuidade da escolaridade sem fracassos.

    Em relao a reprovao, a discusso nos conselhos de classe, assim como a

    considerao das questes trazidas pelos pais nesse processo decisrio, pode subsidiar o

    professor para a tomada de deciso amadurecida e compartilhada pela comunidade escolar.

    Os altos ndices de repetncia em nosso pas tm sido objeto de muita discusso, uma

    vez que explicitam o fracasso do sistema pblico de ensino, incomodando tanto os educadores

    como os segmentos polticos. No entanto, muitas vezes se cria uma falsa questo, em que a

    repetncia vista como um problema em si e no como um sintoma da m qualidade do

    ensino e, consequentemente, da aprendizagem, que, de forma geral, o sistema educacional no

    tem conseguido resolver.

    A importncia da avaliao, bem como de seus procedimentos, tem sido motivo de

    muitas discusses, sofrendo inclusive influncia das tendncias de valorizao de alguns

    saberes que se acentuam em cada poca, principalmente nos dias atuais em decorrncia do

    desenvolvimento das cincias e das tecnologias.

    Nos PCN a concepo de avaliao compreendida como parte integrante e

    intrnseca do processo de ensino e aprendizagem e como um conjunto de aes que tem a

    funo de alimentar, sustentar e orientar a ao pedaggica, contemplando as trs dimenses

    do contedo: conceitos, procedimentos e atitudes. Portanto, o processo de avaliao

    caracteriza-se pela continuidade, temporalidade, totalidade, organicidade e orientao, ou

    seja, deve ser contnua, integrada, progressiva, abrangente, cooperativa e verstil, voltada para

    o aluno e no para os contedos.

    Entendemos que a tarefa de avaliar exige do professor repensar sua prxis, bem

    como precisa ser visto em relao a si prprio e aos seus interesses, no devendo haver nunca

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    um s parmetro avaliativo, mas sim diversas possibilidades de avaliar. Corroborando esse

    pensamento Demo (2002, p.19),

    (...) enftico quando nos diz que no fundo pretender afastar o contexto educacional da avaliao vai coincidir

    com o fazer avaliao que no avalia farsa. como

    fazer caminhada sem usar as pernas ou fazer exerccio

    fsico sem se cansar. Precisamos administrar

    pedagogicamente a classificao, no escamotear.

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    CAPTULO II

    APRESENTANDO O CENTRO DE ENSINO MANOEL BECKMAN

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    Antnio Candido (1956), em sua obra A estrutura da escola, destaca que a escola

    apresenta uma estrutura administrativa estvel, uma organizao e um padro de

    funcionamento controlado pelo poder pblico, mais particularmente pelo rgo ao qual est

    subordinada. Neste caso, a Secretaria de Estado de Educao SEDUC-MA, encontrando-se

    por isso presa a leis, decretos, resolues e pareceres necessrios ao seu funcionamento, dado

    que conflituoso com os grupos sociais que nela transitam por serem sujeitos diferentes, com

    histrias diferentes; cada escola tem suas particularidades, dependendo de sua localidade, seu

    entorno e seus habitantes.

    Ao desenvolver esta investigao, partimos de algumas premissas relacionadas ao

    desenvolvimento das prticas avaliativas no Centro de Ensino Manoel Beckman (So Lus-

    MA), tais como: esta escola est bem localizada no centro do bairro Bequimo, atendendo aos

    moradores do mesmo bairro e a outros dos bairros adjacentes; no que diz respeito a sua

    clientela discente, so jovens na faixa etria de 14 a 17 anos que moram no bairro ou em suas

    imediaes, cheios de sonhos e esperana de serem cidados conscientes de seu papel na

    sociedade da qual fazem parte; quanto ao quadro de professores temos uma equipe de

    profissionais competentes, qualificados em licenciatura, bacharelado e especializao, alm

    de 02 que recentemente chegaram escola com mestrado; quanto estrutura interna, a escola

    pode ser considerada de mdio porte e tem organizao condizente com o que exige a

    SEDUC-MA; seu quadro administrativo tem requisitos compatveis com as necessidades

    escolares, seu projeto pedaggico est em conformidade com as exigncias do MEC, e, salvo

    engano, a comunidade local v com muito respeito o desenvolvimento escolar dessa unidade

    de ensino; seu ambiente bem estruturado, amplo, claro, bem distribudo e conectado com as

    tecnologias da informao e da comunicao.

    Portanto, refletir sobre avaliao e seus processos no mbito das relaes acerca da

    escola de Ensino Mdio reveste-se de grande importncia devido s implicaes que esta pode

    ter na formao dos alunos. Sendo o termo avaliao bastante amplo, sabemos que para

    decidirmos sobre a prtica escolar da avaliao fazem-se necessrios alguns critrios e

    princpios, considerando a complexidade da tarefa de avaliar.

    Diante disso, avaliar na escola no o mesmo que avaliar a roupa que iremos usar

    por conta do clima ou de outra qualquer atividade pessoal. Se compararmos com a avaliao

    que fazemos sobre os rumos de nossas vidas ou de nosso futuro, as implicaes destas

    situaes so bem diferentes. At porque as decises tomadas no espao escolar nem sempre

    esto nas mos dos mesmos sujeitos: sejam eles estudantes, professores, diretores,

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    coordenadores, pais ou responsveis, na medida em que estas decises de avaliar ficam

    sempre sob a responsabilidade dos professores e/ou do Conselho de Classe, colocando estes

    sujeitos no lugar daquele que deve realizar tal tarefa a partir de vrios critrios oriundos de

    experincias coletiva ou individualmente adquiridas.

    A avaliao uma atividade que envolve legitimidade tcnica e legitimidade poltica

    na sua realizao (PERRENOUD, 1999), isto , quem avalia, seja ele o professor, seja o

    coordenador, deve utilizar a legitimidade tcnica que sua formao profissional lhe confere.

    Entretanto, o professor mais do que legitimidade tcnica deve estabelecer e respeitar

    princpios e critrios refletidos coletivamente, referenciados no Projeto Poltico-Pedaggico

    da escola, na proposta curricular do ensino e aprendizagem e em suas convices acerca do

    papel social que desempenha na educao escolarizada.

    Nesse sentido, a proposta desta dissertao analisar o processo da avaliao

    desenvolvido no 1 ano do Ensino Mdio do turno matutino do Centro de Mdio Manoel

    Beckman, localizado no Conjunto Bequimo em So Lus-Maranho. Esta instituio

    funciona nos turnos matutino, vespertino e noturno, oferece o Ensino Mdio da 1 a 3 srie e

    possui 1 (uma) turma sala de educao especial, contemplando um total de 1.300 (Um mil e

    trezentos) alunos oriundos do prprio bairro e adjacncias.

    Fotografia 2 Frente do Centro de Ensino Manoel Beckman

    A escola, objeto desta investigao, reconhecida desde 05 de fevereiro de 1980,

    atravs da Resoluo n 08/08, que reconheceu o curso de 1 grau (5 8 srie) e naquele

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    momento era denominado Centro Educacional do Maranho CEMA, unidade escolar

    mantida pela Fundao Maranhense de Televiso Educativa FUNTEVE.

    Fotografia 3 Ptio interno da escola

    Tal reconhecimento se deu atravs do Decreto n 16.302, de 06 de julho de 1998,

    assinado pelo ento Governador Dr. Jos Reinaldo Tavares. O art. 2 deste Decreto determina

    a transformao das Unidades Integradas e Escolares em Complexos Educacionais de Ensino

    Fundamental e Mdio, cujo funcionamento se deu atravs da Resoluo n 151/2001 CEE

    de 24 de maio de 2001.

    De acordo com o Decreto n 22.889, de 28 de dezembro de 2006, art. 2, o governo

    do estado do Maranho, na pessoa do Dr. Jackson Lago, transformou os Complexos

    Educacionais de Ensino Fundamental e Mdio em Centros de Ensino, passando de CEEFM

    Manoel Beckman para Centro de Ensino Manoel Beckman.

    Para o desenvolvimento desta investigao, utilizamos os seguintes instrumentos:

    questionrios para os alunos e entrevista para os professores da 1 srie do Ensino Mdio do

    Centro de Ensino Manoel Beckman.

    Com base nos fundamentos legais da educao, no convvio escolar que o aluno

    desenvolve sua cidadania, valorizando fatos, conceitos, princpios, procedimentos e atitudes

    necessrias sua participao individual e em grupo na sociedade. Por isso, importante

    verificar-se como se estabelecem as relaes sociais, por meio do dilogo com a famlia,

    escola e a sociedade, construindo de certa maneira a aprendizagem em sentido amplo,

    considerando que Uma escola voltada para o pleno desenvolvimento do educando valoriza a

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    transmisso de conhecimento, mas tambm enfatiza outros aspectos: as formas de

    convivncia entre as pessoas, o respeito s diferenas, a cultura escolar (PENIN;

    MACHADO; VIEIRA/PROGESTO 2001, p.45).

    Nessa perspectiva, a participao do homem como sujeito de sua prpria educao,

    implica em sua postura crtica diante do mundo como ser transformador e partcipe da

    sociedade. O Centro de Ensino Manoel Beckman se prope formar cidados crticos e que

    estejam em harmonia consigo e com a natureza. Por ser a instituio escolar um organismo

    vivo que tem como objetivo a formao humana e sua preparao para a vida, tem a obrigao

    de contribuir para a formao do educando como cidado participativo no mundo atual,

    desenvolvendo sua capacidade de pensar e agir de maneira contextualizada com a realidade.

    O art. 208, 1, da Constituio vigente no deixa a menor dvida a respeito do acesso ao ensino obrigatrio

    e gratuito que o educando, em qualquer grau, cumprindo

    os requisitos legais, tem o direito pblico subjetivo,

    oponvel ao Estado, no tendo este nenhuma

    possibilidade de negar a solicitao, protegida por

    expressa norma jurdica constitucional cogente (CRETELLA, 1993, p. 4418).

    Como arcabouo terico para compreender o desenvolvimento da escola como

    instituio educativa, buscamos na Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988,

    na LDB n. 9.394/96, nos Referenciais Curriculares do Ensino Mdio, nas Diretrizes

    Curriculares para a Educao das Relaes tnico-Raciais e para o Ensino de Histria e

    Cultura Afro-Brasileira e Africana e no Estatuto da Criana e do Adolescente informaes

    que viessem subsidiar esta dissertao.

    O artigo 205 da CF de 1988 claro: A educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser

    promovida e incentivada com a colaborao da

    sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,

    seu preparo para o exerccio da cidadania e sua

    qualificao para o trabalho. Dos princpios e fins da

    educao nacional - O artigo 2o, que coloca a educao

    como dever do Estado e da famlia, repete o

    mandamento da Constituio, inspirada nos princpios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, apenas repete o que a LDB de 1961 j dizia, repetio

    do artigo 166 da Constituio de 1946 (BRASIL, 1988)

    Na escola procuramos fundamentao no Regimento Interno, nas normas didticas,

    no Projeto Poltico-Pedaggico (PPP) e no Plano de Ao da Coordenao no decorrer do ano

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    letivo de 2011. O Centro de Ensino Manoel Beckman possui turmas no Ensino Mdio da 1

    3 srie do turno matutino a seguinte organizao:

    1 srie ---- 5 salas ---- da 101 105

    2 srie ---- 3 salas ---- da 201 203

    3 srie ---- 3 salas ---- da 301 303.

    Turma Masculino Feminino Total Total geral

    101 24 16 40 alunos

    202 alunos

    102 24 17 41 alunos

    103 16 25 41 alunos

    104 16 24 40 alunos

    105 18 22 40 alunos Quadro 1 Organizao da 1 srie do Ensino Mdio do Centro de Ensino Manoel Beckman, turno

    matutino

    A caracterizao do ambiente escolar nos permitiu fazer uma anlise pontual da

    instituio e dos sujeitos que nela transitam, ajudando-nos a perceber o grau de

    responsabilidade da escola como um todo e dos seus professores no tocante avaliao da

    aprendizagem e o fenmeno da avaliao tanto nos seus resultados positivos quanto nos

    negativos.

    Percebemos pelos dados analisados atravs da observao de campo que o quadro de

    professores relativamente experiente, tendo como parmetro o tempo de exerccio da

    docncia, havendo tambm por parte desses profissionais, conforme contato com os mesmos,

    um interesse em usar regularmente instrumentos didticos para dinamizar suas aulas.

    Esta atividade inovadora s possvel pela aquisio relativamente recente de

    materiais didticos que contriburam para a modernizao na escola e do processo de ensino e

    aprendizagem, o que fortalece a permanncia dos alunos na sala de aula atravs de aes que

    promovem neles apropriaes dos saberes, autonomia, atitudes e valores. Os materiais

    didticos utilizados so os seguintes:

    Data show;

    Quadro branco;

    Rdio;

    Televiso;

    Internet;

    CD/DVD;

    Texto;

    Livro Didtico; Fotografia 4 Professora utilizando data show

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    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias/Instituto de Educao

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    Sucatas;

    Jornal escolar;

    Mural;

    Mapa e Globo;

    Livros infanto-juvenis

    Flanelogrfo;

    Jogos.

    Os professores, ao usarem estes materiais didticos, asseguram o desenvolvimento

    das capacidades cognitivas operativas pela dinamizao dos processos do pensar, agir, formar,

    contribuir, ajustar, criar, estimulando a construo da cidadania participativa e a formao

    tica, criando uma situao de ensino e aprendizagem de qualidade, visto que

    (...) a educao bsica declarada, em nosso ordenamento jurdico maior, como direito do cidado dever do Estado. A prtica de declarar direitos significa,

    em primeiro lugar, que no um fato bvio para todos

    os homens que eles so portadores de direitos e, por

    outro lado, significa que no um fato bvio que tais

    direitos devam ser reconhecidos por todos. A declarao

    de direitos inscreve os direitos no social e no poltico,

    afirma sua origem social e poltica e se apresenta como

    objeto que pede o reconhecimento de todos, exigindo o

    consentimento social e poltico (CHAU, 1989, p.20).

    O Centro de Ensino Manoel Beckman possui atualmente um laboratrio de biologia;

    um laboratrio de informtica, com 24 computadores, salas com ar condicionado; uma sala de

    recursos audiovisuais; um auditrio; uma quadra esportiva; internet conectada 24 horas; sala

    de professor informatizada, com ar condicionado; sala de leitura; sala de artes; sala da

    superviso pedaggica; secretaria; refeitrio; sala de diretor e vice-diretor; um banheiro

    feminino e um masculino; vinte salas de aula, bem arejadas; cozinha equipada para fazer o

    lanche que oferecido todos os dias. Tambm possui rampas para os Alunos com Deficincia

    Fsica ADF. Hoje, h tambm o dirio eletrnico disponibilizado pela Secretaria de

    Educao, os alunos possuem uma senha para acompanhar os resultados do seu processo

    avaliativo. A escola possui, ainda, um blog para interagir com a comunidade educativa, cujo

    endereo : http://manoelbeckman.blogspot.com.br/

  • Maria de Ftima Souza Sampaio/O processo de avaliao dos alunos do 1 ano do ensino mdio do Centro de

    Ensino Manoel Beckman (So Lus-MA)

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias/Instituto de Educao

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    Para compreendermos o processo avaliativo da escola, campo de nossa investigao,

    foi necessrio conhecermos os seus integrantes, assim optamos por analisar e compreender a

    funo do planejamento escolar, pois, de que adianta ter instrumentos ou recursos didticos

    modernos se no sabemos planejar a utilizao destes em consonncia com os contedos e os

    objetivos a serem alcanados?

    2.1 A FUNO DO PLANEJAMENTO

    O planejamento do Centro de Ensino Manoel Beckman no turno matutino da 1 srie

    do Ensino Mdio feito mensalmente e de forma participativa. Ou seja, os supervisores e os

    Fotografia 5 Biblioteca da escola Fotografia 6 Sala de informtica

    Fotografia 7 Refeitrio da escola Fotografia 8 Secretaria da escola