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MARIA REGINA NICOLAU

ARTIGO CIENTÍFICO

A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA PARA A

EDUCAÇÃO BÁSICA

LONDRINA 2012

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A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA

Autora: Maria Regina Nicolau1

Orientador: Profª Drª Eliane Cleide da Silva Czernisz2

RESUMO

O desenvolvimento desse artigo teve origem na realização do PDE e é resultado da intervenção pedagógica que objetivou despertar nos profissionais da educação a importância da Formação Continuada como meio de acompanhar o processo social, político e econômico que influencia diretamente na educação. Procuramos com a intervenção realizada, por meio de grupo de estudos, levar o professor a se comprometer com sua formação, refletir sobre o aperfeiçoamento do seu trabalho em sala de aula, bem como repensar sua prática pedagógica. Entendemos que é no estudo, na reflexão conjunta e na troca de opiniões e experiências que um professor se faz educador. Como resultado verificamos que os professores e demais participantes da intervenção apresentaram preocupação com o tema e demonstraram entendimento sobre a importância e necessidade da formação continuada na educação básica. Palavras-chave: Formação continuada; professor; políticas educacionais.

INTRODUÇÃO

Esse texto é resultado de reflexões decorrentes da implementação

do Projeto de Intervenção vinculado ao Programa de Desenvolvimento Educacional

– PDE – 2010, realizado no Colégio Estadual Olavo Bilac, Fundado em 1957 e

localizado na área central da cidade de Ibiporã, Paraná, Brasil.

O Colégio funciona no período matutino com os cursos de Ensino

Médio, Técnico em Meio Ambiente Integrado e Técnico em Administração Integrado,

no período vespertino com a oferta de Ensino Fundamental séries finais e o curso de

Formação de Docentes, no período noturno oferta além do Ensino Médio, os cursos

Técnicos em Administração Subsequente, Técnico Logística Subsequente e Técnico

em Química Subsequente, totalizando 1803 alunos, 120 professores, 6 pedagogas,

1 Professora da Rede Estadual. Produção didática-pedagógica apresentada ao Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE da Secretaria de Educação do Paraná – SEED.

2 Professora do Curso de Pedagogia – Departamento de Educação – Universidade Estadual de Londrina/PR

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7 Agentes Educacionais II e 11 Agentes Educacionais I.

O público alvo da implementação foi constituído de: professores,

pedagogos, funcionários administrativos e professores PDE 2010, totalizando 46

participantes. A motivação dos participantes se deu com a divulgação da temática de

intervenção – Formação Continuada de Professores – realizado a partir de textos

que tratam o assunto os quais despertaram o interesse por estar discutindo a

formação continuada e a prática pedagógica. Outro fator que contribuiu para o

desenvolvimento do trabalho foi o fato de que o mesmo foi considerado uma

estratégia que busca proporcionar um melhor entendimento da realidade cotidiana

da escola, bem como os processos históricos, políticos e sociais que influenciam

diretamente na ação pedagógica de professores na escola pública.

Buscou-se com o tema trabalhado possibilitar um melhor

entendimento da importância do processo de Formação Continuada do professor

como meio de apropriar-se de conhecimentos que são transmitidos aos alunos.

Objetivou-se também salientar a importância dessa prática para todos os

profissionais da educação, pois para o professor ensinar é preciso estar sempre

aprendendo, estudando para ter condições de fundamentar seu trabalho docente.

Paulo Freire (2000) destaca em uma carta destinada aos

professores a importância do ato de ensinar para quem ensina, bem como o

compromisso que esse processo exige da pessoa que ensina e da pessoa que

aprende. O professor deve estar disposto a repensar sua prática, com o objetivo de

assumir suas fragilidades.

Paulo Freire (2000) salienta ainda que não se pode ensinar o que

não se aprendeu, parte importante no processo de ensinar. O autor destaca que ser

professor,

[...] Exige que sua preparação, sua capacitação, sua formação se tornem processos permanentes. Sua experiência docente, se bem percebida e bem vivida, vai deixando claro que ela requer uma formação permanente do ensinante. Formação que se funda na análise crítica de sua prática (FREIRE, 2000, p. 259-260).

Nas discussões desenvolvidas na escola pelos participantes da

intervenção, evidenciou-se o trabalho do professor como papel fundamental no

processo ensino aprendizagem, motivo pelo qual o professor deve estar sempre

preocupado com sua Formação Continuada.

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Pereira (2006) destaca que a formação do professor não deve ser

reduzida a reciclagem ou treinamento, mas sim em formação continuada, pois a

medida que ele se educa numa formação constante, torna-se educador.

Desse modo os cursos de formação continuada devem ir ao

encontro das necessidades do professor, objetivando um caminho de busca para

melhorar o entendimento de suas fragilidades.

Pereira (2006, p. 48), cita Nóvoa (1992) no que concerne a

formação, esta deve estar ligada a três eixos: “o professor e a sua experiência, a

profissão e os seus saberes e a escola e seus projetos.”

No primeiro eixo o autor destaca que,

A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexibilidade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir na pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência (NÓVOA, 1992 apud PEREIRA, 2006).

No segundo eixo o autor salienta que a formação continuada deve

motivar o professor a adquirir saberes dos quais ele ainda não se apropriou,

possibilitando assim uma reconstrução de suas ações na sua vida profissional.

O terceiro eixo enfatiza a importância do professor para que ocorram

mudanças dentro do espaço escolar, porém essas mudanças devem estar

articuladas com os projetos existentes na escola.

Se o professor tiver conhecimento dos conteúdos a serem

trabalhados, do projeto da escola, aliado a sua experiência, ele terá condições de

exercer sua função com competência o que trará benefícios próprios e a escola,

para tanto é necessário que sua formação prossiga por toda sua vida profissional.

Em discussão que Azanha (2004) trata de “Uma reflexão sobre a

formação do professor da escola básica” fica evidente a necessidade da formação

sólida dos professores, bem como a necessidade de uma política nacional de

formação de professores.

O autor salienta que não se pode pensar na Formação do professor

baseando-se apenas em um saber teórico, este não será suficiente para embasar

um entendimento da situação escolar bem como dar ao professor condições

necessárias para sua formação.

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Segundo Azanha (2004), “não há fórmulas para orientar essa

formação, mas o próprio conceito de vida escolar é básico para que se alcance esse

discernimento.” (AZANHA, 2004, p. 370).

O autor destaca ainda a ruptura existente entre a escola de hoje e

escola do passado. Faz também uma comparação com as famílias de décadas atrás

e a família contemporânea, sendo esta entendida como uma novidade social e

cultural, fatos que incidem diretamente na atuação do professor.

Os participantes da intervenção salientaram esta ruptura e

demonstraram uma grande preocupação com as temáticas tratadas na Formação

Continuada, pois estas precisam contemplar a realidade social e política da escola,

proporcionando ao professor a oportunidade de acompanhar o processo no qual

estão inseridos os alunos, proporcionando conhecimentos ao professor que irão

nortear sua prática pedagógica.

É evidente a necessidade da capacidade do professor de

desenvolver com qualidade seu fazer, mas também é preciso destacar que não

existe um caminho predeterminado ou natural para se chegar a esse profissional

esperado. Este deve ser fruto da discussão coletiva, da análise apurada do contexto

em que escola está inserida e do papel da educação no âmbito das políticas

educacionais.

A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA

Pensar em Formação Continuada requer uma política pública que

garanta essa formação ao professor. As discussões sobre o amparo legal dessa

formação foi um ponto muito importante e que mereceu destaque uma vez que 26%

dos participantes desconheciam a legislação que garante o direito a participar de

cursos de formação continuada.

Na intervenção realizada foram destacados e discutidos os

documentos que garantem o direito dos profissionais da educação a participarem

dessa formação como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN

N. 9394/96, o Estatuto do servidor Funcionários civis do Paraná Lei N. 6174/70, Lei

Complementar N. 103/2004.

A LDBEN traz no artigo 61, inciso I: A formação de profissionais da

educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de

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ensino e às características de cada fase do desenvolvimento do educando, terá

como fundamentos: I – a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a

capacitação em serviço (PARANÁ, 2010).

A Lei Complementar N. 103/2004 tráz em seu Capítulo VI, artigo 17

o seguinte destaque:

A qualificação profissional, visando à valorização do professor e a melhoria da qualidade do serviço público, ocorrerá com base no levantamento prévio das necessidades, de acordo com o processo de qualificação profissional da Secretaria de estado da Educação ou por solicitação dos professores, atendendo com prioridade a sua integração, atualização e aperfeiçoamento (PARANÁ, 2010).

Discutiu-se também a Lei Complementar 130/2010 com o objetivo de

se ter clareza no que diz respeito aos direitos dos profissionais da educação em

participar de cursos de formação continuada como um caminho seguro para

melhorar sua prática pedagógica. Os participantes tiveram uma reação bastante

positiva com relação a esse amparo Legal, que foi visto por todos os participantes

como ponto positivo e motivador para a prática da Formação Continuada.

Os participantes destacaram as dificuldades em comparecer em

cursos de Formação Continuada que não são ofertados pela Secretaria Estadual de

Educação do Paraná, uma vez que o estado não disponibiliza um substituto para

atender os alunos na ausência desse professor, causando problemas pedagógicos

para a escola e o aluno.

As discussões apontam para uma necessidade de Formação

Continuada para o professor não só para sua área específica mas também para o

entendimento das diversidades existentes no ambiente escolar, bem como

acompanhamento da evolução tecnológica que em muitos casos coloca o professor

em desvantagem com sua clientela.

Para a maioria dos profissionais da educação envolvidos na

intervenção em questão a Formação Continuada é a única forma de adquirir os

conhecimentos necessários para adequar a sua prática pedagógica a realidade da

escola e de seus usuários.

Na discussão sobre “As políticas de formação: a constituição da

identidade do professor sobrante”, Acácia Kuenzer (1999), destaca que hoje a

formação de professores é realizado sob um novo modelo, e isso se deve a

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mudanças ocorridas no mundo do trabalho, nas políticas públicas e nas políticas

educacionais.

A partir do estudo da autora é possível reforçar que faz-se

necessário articular as mudanças que vem ocorrendo no mundo do trabalho e que

exigem um profissional que atue em várias frentes, que seja flexível, mas que

também tenha autonomia frente às condições concretas existentes, a educação

seria então meio de se desenvolver relações democráticas.

Com base na compreensão de Kuenzer (1999) entende-se que

essas mudanças indicaram um novo caminho para a educação que a partir da

construção de uma nova pedagogia exige um professor com perfil diferente dos

tradicionais.

A autora comenta em crítica a necessidade de superação dessa

formação tradicional que hoje precisa ser alterada dizendo que antigamente o

professor,

De posse de um bom livro didático, e com alguma prática, tudo estaria resolvido. A sua formação, portanto, até podia ser em outras áreas profissionais correlatas à disciplina a ser ministrada, ou complementar ao bacharelado, contemplando umas poucas disciplinas, pois era suficiente compreender e bem transmitir o conteúdo escolar que compunha o currículo, e manter o respeito e a boa disciplina, requisitos básicos para a atenção, que garantiria a eficácia da transmissão. A falta de especificidade contribuía para a falta de identidade do professor (KUENZER, 1999, p. 168).

Com relação ao novo perfil do professor a autora assevera que esse

deve ser capaz de acompanhar as mudanças ocorridas em todos os âmbitos que

influenciam na educação, tendo uma visão clara através dessa compreensão sobre

as novas tendências da educação e os interesses a que estão vinculadas.

Percebemos a partir das análises de Kuenzer (1999) que ao

professor é conferida algumas tarefas como por exemplo a de adquirir competências

para relacionar conteúdos e criar meios de aprendizagem proporcionando ao aluno

condições de apropriar-se de todos os saberes passando do senso comum para o

aprendizado científico. Essa aquisição pode ser exequível através de leituras da

realidade e reconhecendo os saberes implícitos e experiências dos alunos.

Deste modo a autora indica que o professor deverá ser habilitado e

deter “um profundo conhecimento da sociedade do seu tempo, das relações entre

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educação, economia e sociedade, dos conteúdos específicos, das formas de

ensinar, e daquele que é a razão do seu trabalho: o aluno.” (KUENZER, 1999, p.

172).

Kuenzer (1999) destaca a contradição existente na educação, pois

os investimentos são cada vez menores nesse setor e do profissional professor é

exigido uma formação mais pontual. Salienta a necessidade de uma rigorosa

formação para os professores, em face das mudanças que vem ocorrendo a fim de

que atendam todos os profissionais do Ensino Médio e Profissional. Nesta formação

a autora enfatiza que os seguintes eixos devem ser contemplados: contextual,

institucional, teórico prático, ético, investigativo. O objetivo é proporcionar um

conhecimento histórico, organizacional, científico, acompanhando o processo

humano, social e o compromisso na formação do profissional da educação.

Kuenzer (1999) ainda problematiza a oferta da formação de

professores que vem sendo realizada de forma aligeirada e de baixo custo ficando

muitas vezes à mercê de recursos disponíveis, destaca ainda que quando o governo

retira da universidade a formação do professor lhe é negada sua identidade como

pesquisador e cientista reduzindo o professor a “tarefeiro”, o que podemos

considerar um profissional que apenas executa tarefas.

Segundo a autora, partindo desse pressuposto a profissão professor

pode ser exercida por qualquer um,

[...]desde que domine meia dúzia de técnicas pedagógicas; como resultado, destrói-se a possibilidade de construção da identidade de um professor qualificado para atender às novas demandas, o que justifica baixos salários, condições precárias de trabalho e ausência de políticas de formação continuada, articuladas a planos de carreira que valorizem o esforço e a competência. Ou seja, as atuais políticas de formação apontam para a construção da identidade de um professor sobrante (KUENZER, 1999, p. 182).

É por este motivo que se faz necessária a formação continuada de

professores, que além de direito é condição para a realização de um trabalho com

reflexão, com conhecimento dos limites e das possibilidades para sua concretização.

É preciso que o professor perceba que além de conhecer seu fazer precisa também

conhecer os caminhos pelos quais está percorrendo sua profissão. Apenas com

esse conhecimento é que entendemos poder redirecionar nosso papel, e significar

nossa importância de professores.

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A IMPORTÂNCIA DO SABER DO PROFESSOR

Na intervenção pedagógica realizada também foi problematizada a

“Gestão democrática da escola pública” (PARO, 2005), onde o autor destaca que a

luta para melhoria na qualidade do ensino deve ser reivindicado por pais alunos e

professores. Para Vitor Paro a população deve ter consciência dos seus direitos por

uma educação de qualidade que engloba melhores condições de trabalho dos

professores e melhores salários, e que estes aspectos estão vinculados à melhoria

nas escolas como um todo, objetivando o atendimento dos seus usuários conforme

lhes é de direito.

O início desta discussão na intervenção realizada na escola teve

como ponto de partida uma reflexão e análise da seguinte citação do autor: “O

professor, entretanto, pela natureza do trabalho que exerce e pelos fins a que serve

a educação, precisa avançar mais, atingindo um nível de consciência e de prática

que contemplem sua articulação com os interesses dos usuários de seus serviços.”

(PARO, 2005, p. 37).

Os participantes da intervenção destacaram a dificuldade da

população em cobrar seus direitos por uma educação pública de qualidade.

Enfatizaram que muitos alunos freqüentam a escola o ano inteiro sem a presença

dos pais para acompanhar o desempenho de seus filhos. Estes entendem que o

estado deve oferecer um ensino gratuito, mas por desconhecimento, não sabem de

quem cobrar e o que podem e devem cobrar se a escola não atender suas

expectativas.

Concordam que se os usuários das escolas públicas se unissem aos

profissionais da educação para reivindicar melhorias na educação e a garantia de

um ensino público de qualidade os resultados poderiam ser mais satisfatórios.

Quanto ao encaminhamento pedagógico, no relato de todos os

participantes destacou-se a importância dos saberes a serem trabalhados com os

alunos. Foi considerado pelo grupo a importância em valorizar o fazer pedagógico

na escola pública a partir do discurso: “se ficarmos só no senso comum para que

serve a escola pública?”

A reflexão sobre o fazer pedagógico é uma aspecto fundamental na

ação docente e conforme destacou Pereira (2006), os educadores de uma forma

geral são transmissores de conhecimento produzido historicamente pela

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humanidade, mas também são capazes de refletir sobre sua prática, e desta forma

também são produtores de saber. Os educadores devem partir do senso comum

para posteriormente introduzir o conhecimento científico de forma que possa

proporcionar aos alunos os saberes escolares.

Outro ponto bastante discutido foi a necessidade do professor estar

em constante aprendizado, o grupo argumentou que “o professor precisa avançar,

acompanhar as mudanças que ocorrem na sociedade educacional”.

Pereira (2006) salienta a importância do educador pensar a sua

prática pedagógica como uma pesquisa, levando-o a refletir sobre os vários

aspectos que envolvem o processo de sua formação bem como entendimento dos

saberes a serem adquiridos e posteriormente transmitidos. Ressalta a importância

do professor assumir perante os alunos uma postura clara sobre o que é importante

na educação.

Com relação à preocupação dos profissionais da educação em

atender as necessidades dos alunos, e estes com o seu aprendizado, o grupo

evidencia que,

“O professor precisa buscar melhorias na sua prática em sala de aula, mas os “usuários” estão desinteressados em adquirir mais conhecimento. O professor precisa convencer o aluno a estudar sendo que isto é o mínimo para que ele se torne cidadão consciente de suas tarefas.”

Foi bastante questionado e discutido pelos participantes da

intervenção os momentos destinados a formação continuada do professor. Dentre os

aspectos levantados destacou-se o que faz referência à responsabilidade da escola

para com a formação continuada, os participantes comentaram que “a escola tem

que atender as necessidades do profissional da educação com cursos e outros

objetivos da área pedagógica.”

Nos resultados das discussões do texto observou-se uma clareza

dos profissionais da educação no que diz respeito a importância do professor na

construção dos saberes dos alunos garantindo um ensino público de qualidade, bem

como a necessidade de acompanhar a educação nos âmbitos científico, político,

social e as leis que garantem os direitos e deveres dos profissionais da educação e

dos educandos.

Outro resultado observado foi a importância da comunidade como

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um todo, pais, alunos, professores se unirem na busca por uma melhoria no ensino

público. Pais conscientes de seus direitos e deveres acompanhando a formação dos

seus filhos e buscando juntamente com os profissionais da educação os resultados

esperados para a sua formação, professores em sintonia com a comunidade,

informando e orientando-as na busca pelos seus direitos dentro da escola pública.

Após termos discutido as mudanças ocorridas com a

democratização do acesso a escola pública, ao se fazer um resgate histórico e

social da mesma ficou visível as dificuldades que a escola passou no processo de

implementação da democratização, no encaminhamento de práticas pedagógicas

consistentes e refletidas a partir de estudos coletivos. No entanto também foi

reforçada a importância de todo esse processo como forma imprescindível para

construir a escola de qualidade para todos.

Como observamos no projeto3 que deu início a esta proposta de

intervenção há décadas atrás frequentar a escola pública era privilégio da população

de classe média e alta, onde os alunos eram preparados para ocupar cargos

representativos na sociedade ou para prestarem vestibular e dar continuidade aos

seus estudos. Uma população consciente que conhecia seus direitos e lutavam por

eles, exigindo assim, uma escola pública de qualidade. Como a escola contava com

a cobrança da população, ela deveria funcionar, tendo profissionais capacitados e

que correspondessem as expectativas da comunidade.

Conforme entendimento do autor (PARO, 2005), em algumas

décadas, ser professor era uma profissão reconhecida e de grande prestígio, pois o

estado garantia boas condições de trabalho aos professores. Havia respeito ao

profissional como aquele que representava um saber e como aquele que pertencia à

uma categoria de trabalhadores que havia se preparado a partir de muitos anos de

estudo.

Hoje comenta-se sobre a construção da escola pública de qualidade

mas é preciso observar que os tempos são outros. Em tempos passados era

necessário que o aluno se apropriasse dos conteúdos, não se importando o quão

rigorosa fosse a escola, pois ao frequentá-la já dispunham de uma situação

confortável na sociedade o que era garantido pela posição social que ocupavam. As

3 Este texto foi apresentado como uma indicação (n. 07/2000) ao conselho Estadual de Educação do

Estado de São Paulo em 21/06/2000 e serviu de fundamento para a elaboração da deliberação CEE 08/2000.

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instituições privadas deram continuidade ao ensino tradicional, para atender essa

clientela mais abastada, visando a obtenção dos conteúdos e garantindo seu lugar

na sociedade.

Conforme entendimento dos participantes a partir da obra de Paro

(2005) quando ocorreu a democratização da escola pública, aqueles alunos

provenientes das classes sociais mais altas passaram a frequentar as escolas

particulares. Com isso os alunos que vieram frequentar a escola pública, passam a

ter uma escola diferenciada, centrada mais no desenvolvimento de valores e

atitudes que no reforço aos conteúdos, em grande parte, por deixar de haver uma

cobrança pela população. Com isso as escolas estaduais vão se tornando precárias

e as famílias dos alunos que a freqüentam não tem a mesma força perante o estado.

Apesar de já se passarem décadas, a escola segundo Paro (2005, p.

86) ainda é movida pela “ideologia liberal burguesa.” Observa o autor que ainda

acredita-se na ascensão profissional e social através do estudo, o que leva muitos a

freqüentar a escola para tentar conseguir uma posição mais confortável na

sociedade. Visão contrária dos profissionais da educação que, desacreditados que

esse realmente seja o papel da escola, percebe que não prepara seu aluno para que

alcance o objetivo desejado, o que causa um desconforto ao professor.

É preciso traçar novos objetivos para a escola pública, que vão ao

encontro dos interesses dessa população. Faz-se uma ideia de que essa clientela é

menos capaz, que precisa de um tempo maior para aprender, mas o que há são

currículos, metodologias, conteúdos e programas ultrapassados, os mesmos que

foram usados décadas anteriores.

Precisa-se partir do princípio de que a “[...] educação pública deve

ser a aceitação de que a apropriação do saber como um valor universal coloca-se

como um direito inquestionável de toda população.” (PARO, 2005, p. 87).

Independente de qualquer questão seja ela financeira ou ideológica, é necessário ter

a garantia de uma escola pública que vise a qualidade do ensino não só para

garantir aos educandos acesso às universidades e concorrência ao mercado de

trabalho, mas para contribuir para o desenvolvimento econômico, além de ser um

direito de todo cidadão.

A maioria dos participantes relatam que o estudo contribuiu para o

entendimento das dificuldades encontradas hoje na escola pública, como espaços

físicos inadequados, falta de professores habilitados, poucos recursos para atender

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as escolas, frutos do atual encaminhamento das políticas educacionais que deste

modo não garantem um processo de ensino aprendizagem de qualidade.

Os participantes destacam que se fala muito sobre a melhoria da

educação no nosso país, mas sem investimentos fica difícil avançar. Enfatiza-se a

importância de melhores salários para atrair profissionais qualificados para exercer a

profissão de professor, pois com todas as dificuldades evidenciadas nos espaços

físicos, condições muitas vezes precárias de trabalho, os profissionais habilitados

buscam outras opções que são mais atraentes em termos financeiros. Observou-se

a importância de haver um acompanhamento maior da parte pedagógica dentro das

escolas e para isso é imprescindível que aumente os recursos destinados à

educação.

PROFESSOR: BICO, VOCAÇÃO OU PROFISSÃO4

A profissão professor deve ser vista como uma das atividades mais

importantes no que diz respeito a formação científica, cultural e social dos

indivíduos, porém é muito comum ver quem a exerce como “bico”. Os fatores são

vários: baixos salários, falta de perfil, dificuldade em se realizar profissionalmente ou

ainda a dificuldade de se aperfeiçoar pois lhe falta tempo e estímulo.

Existem porém, os que a exercem como vocação, entendendo que

independente de se fazer ou não uma análise das dificuldades e condições precárias

de trabalho ao qual é submetido ele continuará sendo professor.

No final da década de 70 e início da década de 80 iniciam-se as

greves por parte dos professores reivindicando melhores salários e condições de

trabalho. No entanto, Ribeiro (1982 apud PEREIRA, 2006) relata a dificuldade de

mobilização dos docentes e considera a concepção do magistério como aspectos

reforçadores da fragmentação da categoria.

Pereira (2006) comenta que Kreutz (1986), em artigo que questiona

se o magistério é vocação ou profissão, procura desmistificar essa concepção de

magistério como sacerdócio, como “vocação nobre e santa”, apresentado suas

raízes histórico-culturais e realçando as implicações conservadoras e autoritárias da

mesma.

4 Esse subtítulo foi inspirado na discussão de Pereira (2006) que trata do magistério questionando se

essa ação é “bico”, vocação ou profissão.

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De acordo com Kreutz (1986),

[...] essa concepção de magistério [como vocação] dificulta a participação efetiva dos professores na organização da categoria profissional e na luta pelas reivindicações salariais. Além de dificultar a ação mais efetiva entre os professores, cria a resistência da própria sociedade em relação ao movimento dos mesmos, pois lhe cobra uma postura vocacional, de doação (apud PEREIRA, 2006, p. 23).

Tais questionamentos sobre o trabalho do professor favorece o

descaso com sua profissão. Em Pereira (2006, p. 24) pode-se confirmar a partir de

Haguette (1991), onde este comprova ao comentar que: Hoje, o trabalho na

educação fundamental e de 2º graus, é, “de fato”, um bico; “no discurso”, uma

vocação; e, “como veleidade”, uma profissão.

Analisa-se as inúmeras perdas para a qualidade da educação

quando essa profissão é vista como um “bico”, dentre elas a dificuldade do professor

se aperfeiçoar pois há falta de estímulo e tempo.

Pereira (2006, p. 24) destaca que:

Em primeiro lugar, do professor que exerce seu trabalho como “bico” não pode ser exigida competência, assiduidade e dedicação, já que essa atividade, não exercida em tempo integral, é mal remunerada e muitas vezes acumulada com outros empregos. Além do mais, o trabalho como “bico” não é permanente, mas assumido “até que amanhã se encontre algo melhor”. Em segundo lugar, essa situação funcional e esse regime de trabalho, somados aos baixíssimos salários, geram insegurança e desmotivação.

Com todas essas deficiências do profissional que exerce a profissão

como “bico”, o trabalho pedagógico vai sofrendo perdas irreparáveis à formação do

aluno, comprometendo sua vida escolar.

O professor não se sente parte do processo pedagógico da escola.

Seu não envolvimento com os objetivos dos trabalhos propostos para formação do

aluno é evidenciado por ter outras atividades paralelas. Estas atividades acabam

exigindo muito desse profissional, que por acreditar que para ensinar um conteúdo

que ele já domina e cobrar do aluno somente através de provas ou trabalhos, não

necessita de muito tempo e dedicação, o que possibilita que um número

considerável de profissionais se encaixem nesse perfil.

Quanto a vocação, é vista como uma maneira de se defender das

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péssimas condições de trabalho a que é exposto o professor, mas apesar de todos

esses fatores desfavoráveis ele vê sua profissão como algo sagrado, como se de

seu exercício originasse ações benéficas para a humanidade, trazendo-lhe um certo

conforto.

Para ser considerado um trabalho, o profissional da educação

deverá ter domínio do conteúdo, do método bem como das técnicas de ensino para

que o exercício de sua função seja reconhecido como profissão. A fragmentação do

trabalho pedagógico levou a descaracterização e a consequente proletarização do

profissional de ensino.

A partir da década de 80 vários trabalhos enfocavam a grande

participação feminina no magistério. “A composição feminina da força de trabalho na

educação, pelas condições históricas de submissão da mulher, teriam contribuído

para a proletarização da categoria e dificultado a profissionalização.” (PEREIRA,

2006, p. 26).

Com base na discussão do texto de Pereira (2006) “Debates e

Pesquisas no Brasil sobre a Formação Docente”, foi questionado a escolha da

profissão professor. Em relato um dos professores participantes da intervenção

ressaltou que:

“Sempre achei e acho uma profissão muito importante. Admirava meus bons professores. Me espelhei neles. É uma profissão desafiadora. Portanto não basta conhecer a disciplina (conteúdo) da sua formação. È uma profissão de troca entre o ensinar e o aprender.”

Em outro relato uma participante da intervenção destaca a

importância de ser professor:

“Por ser uma maneira de você participar ativamente na formação de um ser humano. É claro que muitas vezes fico decepcionada quando enfrento situações de desrespeito entre docentes e discentes. E também decepciono com os descasos que muitos ‘professores’ tem com a educação. Eles agem como se não tivessem importância suas atitudes negativas e irresponsáveis perante uma sala de aula. Isto tem um peso muito grande em nossos alunos, acarretando, falta de respeito cada vez mais.”

Outro ponto discutido que converge com a análise da atuação do

professor como profissão foi a participação em cursos de formação continuada. Os

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participantes, em sua maioria procuram fazer cursos que vão ao encontro das suas

necessidades pedagógicas, vendo estes cursos como aliados na melhoria do

processo de ensino e aprendizagem, além de proporcionar avanços na carreira que

proporcionam melhores salários.

CONTRIBUIÇÃO DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA A FORMAÇÃO DE

PROFESSORES

O estudo do texto “O Estado Brasileiro e as políticas educacionais a

partir dos anos 80” (NAGEL, 2001, p. 99, 122), em que a autora relata que na Nova

República os educadores adequam-se na perspectiva Neoliberal destacou-se que

com a perda dos investimentos financeiros destinados a educação as diretrizes

foram vistas como ponte de reflexão ou de não aceitação, por um número muito

pequeno de intelectuais.

Conforme estudos de Nagel (2001), percebe-se a divulgação de

documentos por parte dos organismos internacionais voltados a educação a patir de

1990. Paralelo a publicação desses documentos, citados na obra da autora surgem

trabalhos demonstrando preocupação social em virtude de medidas governamentais

que são tomadas com a globalização da economia.

Nagel (2001) comenta que os educadores da década de 90 são

seduzidos pelos discursos impostos e ficaram sem condições de fazer

questionamentos como asseverou a autora: “[...] (Re) constrói-se, com ênfase, o

altar para o endeusamento do prático e a negação do teórico, que garantirá aos

países pobres (como querem as potências de primeiro mundo) a necessidade

crescente da compra de tecnologia futura.” (NAGEL, 2001, p. 118).

Os documentos da década de 90 apresentados por Nagel (2001)

também destacam a reprovação escolar, responsabilizando o professor pelo

fracasso escolar dos alunos. Este por sua vez se defende secundarizando

[...] outras relações para explicar o fenômeno excludente dos sujeitos pobres. Nada melhor para examinar essa postura do que ler o documento da Secretaria de Educação do Paraná – Avaliação escolar; um compromisso ético (1993) – da época do Governo Requião de Mello e Silva, organizado e redigido sob a superintendência de Antonio João Mânfio, com técnicos das diferentes regiões do Estado. Organizado como um libelo em favor

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da ética, enquanto fator considerado por seus proponentes como determinantes para a superação daquilo que o capitalismo concretiza, o documento foi apoiado, na época, como a expressão da escola geradora de cidadania! (NAGEL, 2001, p. 120).

Conforme as discussões de Nagel é possível dizer que a escola por

si só não dará conta de proporcionar uma aprendizagem de qualidade. Destacou-se

a partir da autora que mesmo a escola apresentando uma proposta adequada à

realidade da sua clientela, os resultados não são satisfatórios e, as políticas

públicas, voltadas para educação não conseguem atrair os alunos e fazer que estes

se mantenham na escola até a conclusão de seus estudos.

Os participantes da intervenção apontam vários pontos passíveis de

discussões a partir dos estudos realizados e que consideramos relevantes:

1) Sobre a reprovação:

Os participantes da intervenção questionam a reprovação escolar

apresentada como resultado de atos pedagógicos do professor e sugerem uma

análise mais ampla das condições da escola e do processo de ensino

aprendizagem, pois o quadro atual da educação mostram muitas situações que

influenciam diretamente nesse processo. Salientam que o não comprometimento e

acompanhamento da família, a falta de profissionais habilitados, condições físicas e

estruturais, contribuem significativamente para a reprova do aluno.

Um dos participantes destaca que, “ a reprovação faz parte de um

contexto social, político, econômico e ideológico, reprovar não é algo positivo, mas,

como aprovar sem que se tenha adquirido o mínimo de conhecimento?” E salienta a

visão de educação em nosso contexto social, “Em uma sociedade em que a escola é

relegada a um plano secundário, não se pode esperar bons resultados.”

Quanto as políticas públicas os participantes tem clareza de que são

atrativas para o ingresso na escola mas não fazem com que o aluno se sinta

motivado para estudar e concluir com êxito seus estudos. Um dos participantes

destaca que,

“Hoje o governo federal ajuda as famílias carentes para que a criança e o adolescente frequente e permaneça na escola com o objetivo de que o mesmo tenha oportunidade para concluir seus estudos. Acho que o problema está na família desestruturada que não vê objetivo no futuro da criança, algumas vezes os tem somente para desfrutar da assistência oportunizada pelo governo”.

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Conclui-se que a situação social e econômica influi diretamente no

aproveitamento do aluno, dificultando a apropriação dos conhecimentos básicos e

necessários para que ele possa dar continuidade aos seus estudos.

2) Orientações de agências externas para a educação:

Como resultado da necessidade de desenvolvimento econômico, o

Brasil passa a adotar políticas na educação, visando alcançar os objetivos traçados

pelo Banco Mundial e FMI, que tinha como meta precisar conteúdos e métodos para

reduzir o crescimento da taxa de miséria dos países mais pobres.

Os participantes da intervenção enfatizam que o FMI e o Banco

Mundial priorizam o retorno econômico, visando diminuir os custos e ampliar a

abrangência no atendimento a população combatendo os problemas mais

eminentes.

3) Possibilidade de superação por parte dos educadores:

O conhecimento levou ao entendimento do que realmente é

necessário mudar dentro da escola pública para que se obtenha os resultados

esperados.

Os participantes da intervenção ressaltam a importância de se ter

conhecimento das políticas públicas com o objetivo de analisar e discutir o melhor

meio de se chegar a resultados satisfatórios para a escola pública visando o

conhecimento do aluno, condições satisfatórias de trabalho dos profissionais da

educação e alcançar os resultados esperados pelos os órgãos externos a que os

educadores são submetidos. Para chegarmos a esses resultados é imprescindível

que o professor acompanhe as mudanças, atualize-se e se sinta pertencente ao

processo de formação do aluno. Esse processo se dá através da formação

continuada.

4) Educação à distância:

Nesse encontro foi discutido também sobre a Educação a Distância

baseado num texto de Nagel “Os investimentos na área da educação à distância,

por rádio, ou por TV”, foram sendo discutidos como políticas governamentais com a

função de alargamento das possibilidades educativas, desmembradas do interesse

crescente das áreas de telecomunicação e informática, este novo filão econômico,

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em pleno processo de desenvolvimento. O desejo de viabilizar a educação à

distância foi sendo entendido muito mais como expressão do resgate da dívida

social do que discutido como a privatização da educação em curso (NAGEL, 2001,

p. 120).

O entendimento foi claro por todos os participantes que na sua

maioria destacam a EaD como uma modalidade de ensino porém faz-se algumas

observações que são fundamentais para que esse processo realmente de condições

aos alunos de atuarem nas áreas de ensino como,

“É uma forma de capacitação para os profissionais da educação, como também em outras áreas, mas acredito que quem deveria participar seriam as pessoas com pelo menos a graduação presencial. Principalmente licenciatura.”

Os participantes da intervenção destacam que com todas as

tecnologias disponíveis hoje é imprescindível a expansão da EaD, porém é

necessário que o aluno que escolha essa modalidade de ensino encare com muita

seriedade e responsabilidade o processo de ensino e aprendizagem, para que os

conteúdos aprendidos realmente possam fazer a diferença na sua vida profissional.

5) A discussão da formação continuada no GTR

Dentro do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, foi

disponibilizado um grupo de trabalho em rede (GTR) que oportunizou professores de

todo o estado a se socializarem dentro do tema desenvolvido pelo professor PDE,

com o objetivo de disseminar reflexões e discussões visando conhecimento do tema

proposto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse projeto de intervenção pedagógica teve como objetivo

apresentar aos profissionais da educação a importância da Formação Continuada

como meio de acompanhar as mudanças sociais, políticas e econômicas ocorridas

ao longo das últimas décadas e que influenciaram diretamente na escola pública e

consequentemente na atuação desses profissionais.

As leituras de textos e discussões entre os participantes da

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intervenção proporcionaram maior clareza no que diz respeito a essas mudanças.

Os professores enfatizaram a importância do entendimento do espaço escolar que

vai além da sua disciplina de formação.

A Formação Continuada foi vista por todos como meio único de se

fazer trocas de experiências entre os profissionais da mesma área, possibilitando

uma melhoria das metodologias e práticas aplicadas.

Nas discussões os participantes da intervenção enfatizam que a

formação continuada deve ser vista como uma forma de buscar novos caminhos

para o que parece ser óbvio, com o objetivo de aguçar o interesse do educando pelo

conhecimento, saindo do senso comum para o conhecimento cientifico,

proporcionando momento de discussões, questionamentos que serão fundamentais

para a relação professor e aluno.

A formação continuada deve proporcionar ao professor uma reflexão

dos seus objetivos no que diz respeito a formação dos seus alunos e suas

fragilidades no processo pedagógico.

A implementação do projeto de intervenção pedagógica realizada

por meio de estudos de textos, discussão de questões centrais dos mesmos, análise

do tema Formação Continuada, apontamentos de perspectivas da Formação

Continuada, resultou em um trabalho bastante satisfatório, pois observou-se ao final,

nos participantes, um melhor entendimento da necessidade da participação dos

profissionais da educação nos processos de formação continuada.

REFERÊNCIAS

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KUENZER, Acácia Zeneida. As políticas de formação: a constituição da identidade do professor sobrante. Revista Educação & Sociedade, Campinas, ano XX, n. 68, dez. 1999.

NAGEL, Lizia Helena. O estado brasileiro e as políticas educacionais a partir dos anos 80. In: NOGUEIRA, Francis Mary Guimarães et al. (Org.). Estado e políticas sociais no Brasil. Cascavel: EDUNIOESTE, 2001. p. 99-122.

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PARANÁ. Sistema Estadual de Legislação. Lei Complementar 130 - 14 de Julho de 2010. Regulamenta o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, instituído pela Lei Complementar nº 103/2004, que tem como objetivo oferecer Formação Continuada para o Professor da Rede Pública de Ensino do Paraná, conforme especifica. Diário Oficial nº. 8266, Curitiba, 20 de Julho de 2010.

PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática da escola pública. 3. ed. São Paulo: Ática, 2005.

PEREIRA, Júlio Emílio Diniz. Formação de professores pesquisa, representações e poder. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.