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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ ESCOLA POLITÉCNICA DE SAÚDE JOAQUIM VENÂNCIO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE Maria Helena Colombo Pecin UMA ANÁLISE SOBRE AS POLÍTICAS PARA O ENVELHECIMENTO NO BRASIL Rio de Janeiro 2019

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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

ESCOLA POLITÉCNICA DE SAÚDE JOAQUIM VENÂNCIO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE

MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE

Maria Helena Colombo Pecin

UMA ANÁLISE SOBRE AS POLÍTICAS PARA O ENVELHECIMENTO NO BRASIL

Rio de Janeiro

2019

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Maria Helena Colombo Pecin

UMA ANÁLISE SOBRE AS POLÍTICAS PARA O ENVELHECIMENTO NO BRASIL

Dissertação apresentada á Escola Politécnica

de Saúde Joaquim Venâncio como requisito

parcial para obtenção do grau de Mestre em

Educação Profissional em Saúde.

Orientador: Prof. Dr. Raphael Mendonça

Guimarães

Rio de Janeiro

2019

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Catalogação na Fonte

Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio

Biblioteca Emília Bustamante

Marluce Antelo CRB-7 5234

Renata Azeredo CRB-7 5207

P365a Pecin, Maria Helena Colombo

Uma análise sobre as políticas para o

envelhecimento no Brasil / Maria Helena Colombo

Pecin. – Rio de Janeiro, 2019.

45 f.

Orientador: Raphael Mendonça Guimarães

Dissertação (Mestrado Profissional em Educação

Profissional em Saúde) – Escola Politécnica de

Saúde Joaquim Venâncio, Fundação Oswaldo Cruz,

Rio de Janeiro, 2019.

1. Saúde do Idoso. 2. Envelhecimento. 3. Idoso.

4. Políticas Públicas. I. Guimarães, Raphael

Mendonça. II. Título.

CDD 613.0438

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Maria Helena Colombo Pecin

UMA ANÁLISE SOBRE AS POLÍTICAS PARA O ENVELHECIMENTO NO BRASIL

Dissertação apresentada á Escola Politécnica

de Saúde Joaquim Venâncio como requisito

parcial para obtenção do grau de Mestre em

Educação Profissional em Saúde.

Aprovada 28/01/2019

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________________

Raphael Mendonça Guimarães – FIOCRUZ / EPSJV

___________________________________________________________________________

Sergio Ricardo de Oliveira – FIOCRUZ / EPSJV

___________________________________________________________________________

Lívia Maria Santiago – UFRJ

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Aos professores do mestrado.

Eu tinha um sonho... fazer mestrado no

Rio de Janeiro na Fundação Oswaldo Cruz -

FIOCRUZ experimentar e vivenciar esse

mundo de conhecimentos científicos tão

presente em minha vida profissional, através

de livros, artigos científicos, curso de

especializações, aperfeiçoamento, pelo site e

em reuniões nacionais sobre educação

profissional com seus representantes. Sou

enfermeira em saúde coletiva e envolvida com

a educação de ensino superior, nível médio e

para os profissionais de saúde. O sonho ou

objetivo se concretizou na Escola Politécnica

de Saúde Joaquim Venâncio, no Programa de

Pós-Graduação em Educação Profissional em

Saúde, no curso de Mestrado Profissional em

Educação Profissional em Saúde.

Minha admiração e respeito por

trabalharem em meio a tiroteios, mantendo

nestes momentos equilíbrio para acolher, ouvir

e adequar as situações da melhor forma

possível.

No cotidiano estão os riscos de se viver na

cidade maravilhosa, muito linda e violenta.

Em fim... novos ares, novos mares, novos

saberes... nunca dantes vivenciado.

Aos meus filhos Lucas Colombo Pecin e

Leonam Colombo Pecin por me amarem

incondicionalmente e motoristas das viagens

para o aeroporto de Ribeirão Preto, muitas idas

e vindas. A Larissa Cristiane Silva Pecin

minha amiga e nora, sempre presente em meus

trabalhos.

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AGRADECIMENTOS

A Espiritualidade maior que é amorosa, presente e onipotente e se manifesta através de

muitas pessoas especiais em minha vida, permitindo amar e acreditar na humanidade.

Ao Governo Federal, ao Ministério da Saúde, a Secretaria de Gestão do Trabalho e da

Educação na Saúde, a Fundação Oswaldo Cruz através da Escola Politécnica de Saúde

Joaquim Venâncio e seu corpo administrativo, técnico e docente que oportunizaram minha

participação no Mestrado em Educação Profissional.

Ao Governo do Estado de São Paulo, a Coordenadoria de Recursos Humanos e ao

CEFORSUS/SP de Araraquara - Profª Maria Helena de Oliveira e Silva De Nardi,

representada pela Diretora Isabel Cristina Gorla com seu apoio, conhecimento e experiências

nas áreas sociais, pedagógicas, técnica e administrativa.

Aos parceiros de trabalho do CEFORSUS/SP de Araraquara, principalmente pela

compreensão Isabel, Eliza, Lucas e Vanessa. Somos poucos, mas somos intensos. Ao Eduardo

e a Milena, por deixarem o ambiente limpo e leve. As nossas corujas buraqueiras que

ouviam, junto com a Isabel, meus queixumes e lamúrias, mas também minhas alegrias e

conquistas.

Ao meu parceiro incondicional Ricardo Chaves Carvalho, sempre atento a todos os

movimentos, principalmente nos períodos de “escolinha” no Rio de Janeiro. Nos momentos

delicados durante a escrita da dissertação, sempre houve respeito e amor, mesmo à distância.

À minha família e amigos que me entenderam e apoiaram, em minhas ansiedades e

minhas ausências em muitos momentos de lazer.

As orações e estímulos recebido do meu irmão/cunhado Luiz Rossi Neto, que

inesperadamente faleceu em 2018. “ Olá, onde você estiver ... te amo muito.”

A Mestre Cirurgiã Dentista Profª Fernanda Duvra Salomão, minha amiga de todas as

horas e tempo, minha guardiã e colaboradora neste trabalho.

Ao meu orientador Prof. Dr. Raphael Mendonça Guimarães, por toda dedicação,

afetividade, respeito e sabedoria. Sem você eu não teria finalizado. Minha gratidão imensa.

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Caminhos do Coração

Gonzaguinha

Há muito tempo que eu saí de casa

Há muito tempo que eu caí na estrada

Há muito tempo que eu estou na vida

Foi assim que eu quis, e assim eu sou feliz

Principalmente por poder voltar

A todos os lugares onde já cheguei

Pois lá deixei um prato de comida

Um abraço amigo, um canto prá dormir e

sonhar

E aprendi que se depende sempre

De tanta, muita, diferente gente

Toda pessoa sempre é as marcas

Das lições diárias de outras tantas pessoas

E é tão bonito quando a gente entende

Que a gente é tanta gente onde quer que a

gente vá

E é tão bonito quando a gente sente

Que nunca está sozinho por mais que pense

estar

É tão bonito quando a gente pisa firme

Nessas linhas que estão nas palmas de nossas

mãos

É tão bonito quando a gente vai à vida

Nos caminhos onde bate, bem mais forte o

coração

E aprendi ...

O coração, o coração.

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RESUMO

A presente pesquisa trata-se de um estudo sobre as políticas para o envelhecimento no Brasil.

Tem por objetivo apresentar o estado da arte sobre a construção de uma agenda pública para a

saúde do idoso, sendo os objetivos específicos, historicizar e descrever as principais políticas

relativas à proteção, direitos e cidadania do idoso constantes nos documentos normativos. O

estudo proposto foi o exploratório documental e a técnica utilizada, a da documentação

indireta. A pesquisa fundamentou-se em periódicos, acessados os conteúdos das bases de

dados: MEDLINE, LILACS, BIREME, SCIELO, respeitando o período de produção entre os

anos de 2005 e 2018. Utilizou-se para a busca nessas bases de dados as seguintes palavras-

chave combinadas: Envelhecimento, Idoso, Políticas Públicas. De acordo com o estudo

bibliográfico desenvolvido, é possível mostrar que o envelhecimento é um fenômeno de

abrangência internacional, nacional e com interfaces em diversos setores da sociedade.

Observa-se a morosidade entre a instituição das políticas e suas regulamentações que

permanecem em consolidação no Brasil. O aprofundamento do estudo sobre o

envelhecimento, visando a construção de uma agenda focada na saúde do idoso, utilizando

levantamento históricos e dos aspectos de proteção possibilitam, enquanto escola técnica do

SUS, implementar, incentivar, estimular, divulgar dispositivos de participação e controle

social, por meio dos atores envolvidos. Observa-se que as políticas são baseadas em estudos

epidemiológicos e demográficos, mas a fragmentação do cuidado ainda se aporta na cura da

doença e no distanciamento das políticas intersetoriais. Faz-se necessário refletir sobre o

cotidiano da intersetorialidade, principalmente entre os serviços de saúde, educação, justiça,

assistência social, cultura, esporte, transporte, fato que se mostra na deficiência de

comunicação entre as unidades de assistência à saúde, na maioria dos ciclos de vida e

situações de saúde. Os acidentes e as violências ao idoso são prevalentes que impulsiona a

construção da política nacional de redução de acidentes e violências. A Educação é

fundamental na consolidação, implantação e implementação das políticas da pessoa idosa nas

práxis, em todos os níveis de escolaridade, envolvendo também cuidadores e familiares de

idosos usuários do SUS.

Palavras-Chave: Envelhecimento. Idoso. Políticas Públicas.

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ABSTRACT

The present research is about a study about policies for aging in Brazil. It aims to present the

state of the art on the construction of a public agenda for the health of the elderly, the specific

objectives being to historicize and describe the main policies related to the protection, rights

and citizenship of the elderly contained in the normative documents. The proposed study was

the exploratory documentary and the technique used, that of indirect documentation. The

research was based on journals, accessed the contents of the databases: MEDLINE, LILACS,

BIREME, SCIELO, respecting the production period between the years 2005 and 2018. The

following words were searched for in these databases Key Concepts: Aging, Elderly, Public

Policy. According to the bibliographic study developed, it is possible to show that aging is a

phenomenon of international scope, national and with interfaces in diverse sectors of society.

It is observed the slowness between the institution of the policies and their regulations that

remain in consolidation in Brazil. The deepening of the study on aging, aiming at the

construction of an agenda focused on the health of the elderly, using historical surveys and

aspects of protection make it possible, as a technical school of the SUS, to implement,

encourage, stimulate, disseminate mechanisms of participation and social control, through the

actors involved. It is observed that the policies are based on epidemiological and demographic

studies, but the fragmentation of care still contributes to the cure of the disease and the

distancing of intersectoral policies. It is necessary to reflect on the day-to-day of

intersectoriality, especially among health services, education, justice, social assistance,

culture, sports, transportation, a fact that is shown in the deficiency of communication among

health care units, in most life cycles and health situations. Accidents and violence to the

elderly are prevalent that drives the construction of the national policy to reduce accidents and

violence. Education is fundamental in the consolidation, implementation and implementation

of policies of the elderly in praxis, at all levels of schooling, also involving caregivers and

relatives of elderly SUS users.

Keywords: Aging. Elderly. Public Policies.

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LISTA DE ABREVIATURAS UTILIZADAS

AB Atenção Básica

APS Atenção Primária a Saúde

BPC Benefício de Prestação Continuada

CBO Classificação Brasileira das Ocupações

CEFOR Centro de Formação de Recursos Humanos

CIB Comissão Intergestores Bipartite

CIT Comissão Intergestores Tripartite

CMS Conselhos Municipais de Saúde

CNS Conselho Nacional de Saúde

COAP Contrato Organizativo da Ação Pública de Saúde

CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social

CRAS Centro de Referência de Assistência Social

DCNT Doenças Crônicas Não Transmissíveis

ESF Estratégia de Saúde da Família

GM Gabinete Ministerial

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ILP Instituição de Longa Permanência

LOAS Lei Orgânica da Assistência Social

MS

NASF

Ministério da Saúde

Núcleo de Apoio à Saúde da Família

OMS Organização Mundial de Saúde

PAEF Proteção e Atendimento Especializado a Famílias

PIB Produto Interno Bruto

PINAG Plano Integrado de Ação Governamental

PNI Política Nacional do Idoso

PNSPI Política Nacional de Saúde para a Pessoa Idosa

RAS Rede de Atenção à Saúde

SUS

WEF

WHO

Sistema Único de Saúde

World Economic Forum

Word Health Organization

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 10

2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................................. 15

2.1 Transição demográfica e transição epidemiológica............................................................ 15

2.1.1 Componentes demográficas ............................................................................................. 15

2.1.2 Transição demográfica .................................................................................................... 15

2.1.3 Transição epidemiológica ................................................................................................ 17

2.2 Envelhecimento .................................................................................................................. 18

2.2.1 Conceito ........................................................................................................................... 18

2.2.2 Envelhecimento absoluto e relativo ................................................................................. 18

2.2.3 Economia e o envelhecimento ......................................................................................... 19

2.2.4 Envelhecimento saudável ................................................................................................ 21

2.2.5 O envelhecimento e as políticas públicas no Brasil ........................................................ 22

3 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 23

3.1 Objetivo geral ..................................................................................................................... 23

3.1.1 Objetivos específicos ....................................................................................................... 23

4 METODOLOGIA .................................................................................................................. 24

5 RESULTADO ....................................................................................................................... 25

6 DISCUSSÃO ......................................................................................................................... 29

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 39

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 41

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10

1 INTRODUÇÃO

Diante da acelerada produção de documentos científicos, agregar mais conhecimento

ao tema de envelhecimento no Brasil pode auxiliar na implementação de uma agenda política

dinâmica e eficiente que resulte em ações efetivas de proteção aos idosos, asseguradas nos

documentos normativos?

Ao fazer um estudo, um levantamento e uma análise das políticas para o

envelhecimento no Brasil, a partir de estudos documentais, pesquisa denominada estado da

arte, busca-se mapear e sistematizar sua temporalidade e o aprofundamento do conhecimento

sobre as possíveis derivações decorrentes das orientações internacionais instituídas pela

Organização Mundial da Saúde (OMS); World Economic Forum (WEF) e Organização das

Nações Unidas (ONU), bem como dos artigos científicos e legislações pertinentes ao tema.

É difícil estabelecer uma idade cronológica que represente a velhice (OMS, 2015). Para

os países em desenvolvimento, o patamar estabelecido pela ONU, em 1982, na I Assembléia

Mundial sobre Envelhecimento em Viena, que posteriormente foi seguido pelo Estatuto do

Idoso Brasileiro, considera idoso o indivíduo com idade igual ou superior a 60 anos

(CAMARANO, 2013).

Além de estabelecer o marco etário para a definição de idoso, a referida Assembleia

estabeleceu um plano de ação internacional contendo 62 recomendações para as pessoas

envelhecidas, tais como, saúde e nutrição, proteção de consumidores idosos, habitação e meio

ambiente, família, bem-estar social, segurança de renda e emprego, educação e pesquisas. Em

1991, a Assembleia Geral da ONU sintetizou os sessenta e dois pontos em dezoito direitos

básicos, conhecidos como Princípios das Nações Unidas em Favor das Pessoas Idosas, a fim

de assegurar a independência, participação, autorrealização, cuidado e dignidade desses

indivíduos. (BRASIL, 2010; CAMARANO, 2013; KANSO et al., 2013; OMS, 2015).

O aumento da expectativa de vida populacional é um dos principais desafios da

sociedade contemporânea, impulsionado por duas tendências demográficas: o declínio da

natalidade e a redução da mortalidade. Historicamente, nos países desenvolvidos, a ampliação

da expectativa de vida está relacionada à variabilidade da idade à morte, principalmente com a

redução dos óbitos infanto-juvenis, que são um reflexo da menor incidência das doenças

infecciosas e parasitárias e causas maternas evitáveis (GONZAGA et al., 2009; MARI et al.,

2016; PRINCE et al., 2016).

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Além da redução da mortalidade prematura, as taxas da fecundidade1 vêm apresentando

um declínio significativo desde a metade do século XX. A taxa de fecundidade total, que no

período de 1950-1955 era de cinco filhos por mulher, reduziu para aproximadamente a

metade no período de 2010-2015 (WHO, 2014; OMS, 2015).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, em 2020, pela primeira vez na

história, o número de indivíduos com mais de 60 anos irá superar o de crianças menores de 05

anos. Além disso, uma criança nascida no Brasil em 2015, possui uma maior expectativa de

vida, podendo viver 20 anos mais que uma criança nascida há 50 anos. Este fenômeno é

denominado de transição demográfica e é vivenciado por praticamente todos os países no

mundo, com tempos e velocidades distintas (KULIK et al., 2014; WHO, 2014; OMS, 2015).

Nos estudos realizados em países nos estágios iniciais da transição demográfica, é

possível observar uma baixa mortalidade prematura e uma maior concentração de óbitos em

torno de idades mais elevadas. No entanto, a ampliação da expectativa de vida no nascimento

e o mecanismo subjacente ao declínio da mortalidade entre os idosos continua a possuir

causas ditas obscuras, o que traz novos desafios à prática da gestão dos serviços e sistemas de

saúde (GONZAGA et al, 2009; ROSSI et al, 2013).

Em 2017, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na publicação de suas

Tábuas Completas de mortalidade, demonstrou que a expectativa de vida ao nascer do

brasileiro teve considerável ampliação desde o início da transição demográfica no país, com a

expressiva variação de 30 anos de 1940 a 2016, saindo da expectativa de 45,5 para 75,8 anos

de vida. O Rio de Janeiro está entre os oito estados que possuem esperanças de vida, ao

nascer, superiores à média nacional para homens e mulheres. A expectativa de vida ao nascer

do Estado do Rio de Janeiro é, respectivamente, 72,7 e 79,5 anos para os sexos, masculino e

feminino, pouco acima da média nacional que é de 72,2 e 79,4 anos (BRASIL, 2017).

Cabe ressaltar que a principal razão da diferença de mortalidade por gênero, é o

diferencial no nível de mortalidade de jovens e adultos jovens, do sexo masculino, por causas

externas. Além disso, mulheres possuem uma maior prevalência de doenças não fatais durante

o envelhecimento (KANSO et al., 2013). Dessa forma, percebe-se que mortalidade é

diferenciada de acordo com o sexo e localidade, sendo a mortalidade no sexo masculino

sistematicamente superior à feminina, independente do estado de nascimento (BRASIL,

2017).

Nota

1 Fecundidade representa o número médio de filhos por mulher em idade fértil, enquanto a natalidade

representa a quantidade de nascidos vivos.

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12

Há ainda, uma polarização no padrão de morbimortalidade no país, caracterizado pelas

inequidades regionais, sociais, econômicas e de gênero, que impacta diretamente na esperança

de vida (VASCONCELOS e GOMES, 2012). Por exemplo, ao considerar as tábuas extremas

de expectativa de vida entre homens e mulheres no Brasil, uma recém-nascida no estado de

Santa Catarina esperaria viver em média 15,6 anos a mais que um recém-nascido do sexo

masculino de Alagoas (BRASIL, 2017).

Para melhor compreensão deste fenômeno é imprescindível considerar as teorias

demográficas, seus componentes, composição etária, distribuição geográfica e demais

características comportamentais da população. Assim, o comportamento demográfico

experimentado no passado, através de eventos vitais, como o nascimento, a mortalidade e a

migração, podem ser capazes de demonstrar as tendências populacionais no futuro (LIVI-

BACCI, 2015).

A demografia clássica se formou em torno do conceito de transição demográfica e

determinou, principalmente, a natureza empírica dos seus estudos. Kreager (2015) discutiu os

conceitos teóricos do desenvolvimento populacional, em um espaço científico mais amplo e

ativamente integrado à biologia, o que possibilitou o surgimento de uma nova teoria

demográfica própria, que pudesse nortear os diversos estudos populacionais futuros.

Considerando que a longevidade é o aumento da idade média na morte, e reflete

diretamente na redução da mortalidade em idades avançadas, mensurada principalmente, por

duas formas: longevidade central, onde o tempo médio de vida é calculado através da relação

tempo médio de vida desde nascimento; e, a longevidade máxima, que mede o maior

comprimento dos ciclos de vida em uma determinada coorte de nascimentos (GONZAGA et

al., 2008; ROUSSON e PACCAUD, 2010).

A complexidade presente nas mudanças demográficas impulsiona a interação com

outras áreas de pesquisa. Segundo Michael Teitelbaum (2015), é preciso reduzir o fosso entre

os demógrafos e as pessoas à frente das políticas demográficas. A demografia e a ciência

política trazem uma valiosa contribuição para a tomada de decisões em relação ao

desenvolvimento demográfico, porém, constantemente são deixadas fora da política real

(KREAGER, 2015; TEITELBAUM, 2015). Tais mudanças são imprescindíveis para o

planejamento e monitoramento das políticas públicas relacionadas ao envelhecimento

saudável em todas as esferas de governo, além de oportunizar o apoio à tomada de decisões.

Ao considerar a elevada velocidade na transição demográfica em algumas regiões do

Brasil e, que pouco se tem avançado na elaboração de indicadores que tratem especificamente

da mensuração do processo de compressão da mortalidade, faz-se necessário, analisar a

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variabilidade da distribuição dos óbitos ao redor do tempo médio de vida, relacionada à

ampliação da expectativa de vida diferenciada de cada região, estado e município, respeitando

as singularidades estruturais das localidades (GONZAGA et al., 2008; VASCONCELOS e

GOMES, 2012).

No início do século XX, predominava no Brasil a prática de internações em asilos, ou

seja, de segregação de pessoas idosas, tempo em que estas instituições proliferaram. As

primeiras mudanças radicais da visão do envelhecer, impactando na legislação, ocorreram na

Constituição Federal de 1988. A mesma reverteu à política assistencialista presente na década

de 1980, com a Lei 8842, Política Nacional do Idoso em 1994, que constitui os direitos

sociais a pessoa envelhecida. Embora não tenha conseguido ser aplicada em sua totalidade,

priorizou o convívio em família, com um movimento contrário à institucionalização e definiu

como pessoa idosa, indivíduos com idade igual ou maior de 60 anos.

Através da portaria 1395/1999, o MS criou a Política Nacional de Saúde do Idoso, na

qual estão definidas as diretrizes e responsabilidades do plano nacional de saúde do idoso,

além de orientar um processo contínuo de avaliação, considerando ajustes necessários

determinados pela prática. Importante ressaltar que esta política de saúde foi realizada em

articulação com o Ministério da Educação e Instituições de Ensino Superior, viabilizando a

instalação de centros colaboradores de geriatria e gerontologia bem como capacitação de

profissionais em saúde do idoso. (VERAS e OLIVEIRA, 2018).

Ao mesmo tempo, os movimentos de pensionistas e aposentados e o fórum nacional do

idoso mobilizaram-se desde 1997, para aprovação do Estatuto do idoso, na Lei nº 10741 de 1º.

de outubro de 2003, que amplia a resposta do estado e da sociedade às necessidades da

população idosa. A Portaria 2528/GM de 19 de outubro de 2006 institui a Política Nacional da

Pessoa Idosa, tendo como finalidade primordial a recuperação, promoção e manutenção da

autonomia e independência da pessoa idosa, em decorrência do pacto pela saúde, que institui

como uma das prioridades a saúde do idoso. Ainda em 2006, é publicado o “Caderno de

Atenção Básica: Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa”, como subsídio para apoiar a

prática dos profissionais na atenção básica (VERAS e OLIVEIRA, 2018).

Atualmente, há uma fragmentação da atenção com multiplicação de consultas de

especialistas e não compartilhamento das informações e consequente, uso excessivo de

medicamentos. Com isso, há uma sobrecarga do sistema, promovendo importante impacto

financeiro. Estudos evidenciam que a atenção deve ser de maneira integrada e intersetorial,

onde o foco deve ser monitorar a saúde e não a doença. (VERAS e OLIVEIRA, 2018)

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14

Veras e Oliveira (2018) propõem um modelo de atenção ao idoso estruturado em cinco

níveis de cuidado. Nos níveis de 1 a 3 se encontram as instâncias leves, de custos bem

menores, e nas instancias 4 e 5 situam-se o hospital e as instituições de longa permanência. O

objetivo é concentrar o cuidado nas instâncias de 1 a 3 e procurar trazer as pessoas que estão

nos níveis 4 e 5 de volta para instâncias leves, na medida do possível. É importante a

capacitação dos profissionais com qualidade, a utilização de um prontuário único,

acompanhado pelo médico generalista em conjunto com os profissionais de saúde de outras

formações especificas, sendo o médico que fará a gestão do cuidado. (VERAS e OLIVEIRA,

2018)

No Brasil, as diretrizes para Saúde do Idoso contemplam o referido modelo de atenção

integrada em níveis de cuidado: Atenção Básica como acolhimento, acompanhamento e

promoção da saúde, visando o envelhecimento saudável, assim como prover encaminhamento

intersetoriais atendendo às necessidades da pessoa idosa. O objetivo do modelo é prevenir

fragilidades e estimular, manter a autonomia e independência. Em outros serviços de saúde,

tais como hospitais e unidade de pronto atendimento, o idoso é prioritário visando o cuidado

multiprofissional para estabilização, tratamento de doenças crônicas, desequilíbrio orgânico e

outras necessidades urgentes e, após o atendimento, os serviços de Atenção Básica manteriam

a atenção necessária. O envolvimento da gestão, dos profissionais, da família, dos diferentes

setores sociais na atenção ao idoso apresenta-se distante do esperado. As políticas públicas

instituem várias modalidades de atendimento ao idoso, entre elas: Centro de Convivência;

Centro de Cuidados Diurno: Hospital-Dia e Centro-Dia; Casa Lar; Oficina Abrigada de

Trabalho; atendimento domiciliar (BRASIL, 2010).

A complexidade do tema, portanto, evidencia o desafio de organizar uma prática do

cuidado fundamentada em necessidades específicas, razão pela qual a saúde do idoso, ao

longo dos anos, vem sendo tema de elaboração de documentos técnicos que auxiliam nesta

direção, instrumentalizando todas as esferas de gestão, justificando a importância do resgate

desta construção normativa.

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15

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA E TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA.

2.1.1 Componentes demográficas

O estudo das populações no tempo e no espaço é denominado de Demografia, tendo

como eventos vitais a fecundidade, a mortalidade e a migração para a compreensão da

dinâmica, composição etária, distribuição geográfica e demais características

comportamentais (BRASIL, 2013). A análise demográfica pode ser realizada pelo Censo

Demográfico e pela Contagem da População, que são as principais fontes de dados no

acompanhamento das populações (BRASIL, 2013; BERNAL et al., 2016) .

Uma das principais maneiras de representar uma determinada população se dá através

das pirâmides etárias, que se tratam da distribuição gráfica do valor absoluto ou relativo da

população em grupos etários, estratificado pelo gênero. No eixo vertical, onde há distribuição

das faixas etárias, as idades mais jovens ficam na base, e em seu eixo horizontal o quantitativo

de pessoas no dado grupo. Assim, o perfil populacional é representado de acordo com a

distribuição de pessoas nas faixas etárias, por exemplo, se na base da pirâmide tivermos uma

maior concentração de pessoas, podemos dizer que esta é uma população predominantemente

jovem. À medida que esse padrão é mudado, com ampliação relativa em idades mais

elevadas, temos o envelhecimento populacional (CERQUEIRA e GIVISIEZ, 2015; REIS et

al., 2016).

2.1.2 Transição demográfica

O envelhecimento populacional é um fenômeno natural irreversível e de tendência

mundial, havendo, entretanto, particularidades quanto à velocidade e forma de ocorrer,

relacionadas ao grau de desenvolvimento socioeconômico do país (OMS, 2015). A melhoria,

de uma série de fatores culturais, tecnológicos, econômicos e estruturais amplia a expectativa

de vida em uma nação, podendo também, impulsionar uma menor taxa de natalidade por

família e, assim, a composição etária da população (OMS, 2015; REIS et al., 2016).

À medida que uma sociedade se torna mais rica, urbanizada e globalmente integrada,

há uma tendência de redução da taxa total de fecundidade, ou seja, redução do número de

filhos por mulher (SOUZA, 2014). A alteração do perfil populacional é denominada transição

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demográfica e se dá por meio da relação entre componentes demográficos, principalmente, a

fecundidade, migração e mortalidade (OMS, 2015; REIS et al., 2016; BRASIL, 2017)

Para realização de estudos mais específicos e precisos, podem ser utilizados outros

métodos mais complexos, como por exemplo, taxas específicas de idade, tabelas de

sobrevivência e contagem de população, tendo como principais referências os demógrafos

Schofield e Coleman, Lee, Preston, entre outros (BILLARI, 2015).

A transição demográfica é uma das principais teorias da Demografia e foi dividida em

quatro estágios. Inicia-se com a redução das taxas de mortalidade e a manutenção dos

elevados níveis de natalidade. Durante a segunda fase, ocorre uma queda da taxa de

natalidade e há persistência na queda dos níveis de mortalidade. Na terceira etapa, inicia-se o

processo de envelhecimento e o crescimento da população diminui, ocasionando alterações na

estrutura etária da população. Finalmente, com a manutenção dos baixos níveis de natalidade

e mortalidade, observa-se nesta última fase, um envelhecimento significativo da estrutura

etária, em consequência da estagnação das taxas de crescimento (VASCONCELOS e

GOMES, 2012; MIRANDA et al., 2016).

Tal fenômeno foi observado primariamente em países desenvolvidos, sendo um

processo mais gradativo e homogêneo. Já em países em desenvolvimento, como o Brasil, é

caracterizado por uma velocidade acentuada, com taxa de crescimento anual cerca de três

vezes superior, e por grandes disparidades de renda e acesso aos serviços assistenciais, o que

se justifica pelas características dessas populações, marcadas pela desigualdade social

(CAMARANO, 2013; KULIK et al., 2014; SOUZA, 2014; CHATTERJI et al., 2015; OMS,

2015). É reconhecida a correlação positiva entre renda e expectativa de vida, ou seja, pessoas

com maiores rendimentos apresentam melhor índice de sobrevivência, o que corrobora a

necessidade de investimento em políticas de distribuição de recursos e de saúde, tendo em

vista que o acesso aos serviços de saúde amplia a curva de sobrevivência (PRESTON, 2007;

ROSSI et al., 2013).

Em nações desenvolvidas, é possível uma melhor observação do quarto estágio da

transição demográfica, evidenciado pela compressão da morbidade, redução da incapacidade

e da carga de doenças em pessoas acima dos 60 anos, ao longo dos anos, e pela compressão

da mortalidade, com a distribuição de óbitos ocorrendo em idades mais avançadas (ROSSI et

al. 2013; CHATTERJI et al., 2015). No entanto, em países em desenvolvimento não há

evidências confiáveis da compressão, ao contrário, acredita-se que a morbidade ainda esteja

em expansão, impulsionada pela baixa qualidade de vida e pelo aumento da prevalência de

doenças crônicas (CHATTERJI et al., 2015; PRINCE et al., 2016).

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2.1.3 Transição epidemiológica

A transição epidemiológica está relacionada aos padrões de incidência de

morbimortalidade na população, com redução de óbitos por doenças infecciosas e ampliação

das doenças cônicas não transmissíveis (BRASIL, 2010; BRASIL, 2011; OMS, 2015). Desde

1960, o processo de transição demográfica e epidemiológica é observado no Brasil,

entretanto, foram nas duas últimas décadas que se acentuaram as mudanças (BRASIL, 2010;

Brasil, 2011; GUIMARÃES et al., 2015).

A transição epidemiológica foi inicialmente dividida em três estágios, tendo como

principal fundamentação a teoria de Omram (1971), que propõe uma mudança nos padrões

das doenças no decorrer da história da humanidade. A primeira fase foi denominada de Era da

fome e das pestilências, iniciada nos primórdios da humanidade, durando até o final do

período Medieval. Com a Renascença e as mudanças da civilização inicia-se a Era do declínio

das pandemias, estágio que perdura até o começo da Revolução Industrial. A partir deste

momento histórico, ocorre intensa migração e êxodo rural, havendo nova reorganização da

sociedade, com polarização de suas estruturas para as proximidades das indústrias, surgindo,

assim, a Era das doenças degenerativas e das causadas pelo homem, o que se estende até os

tempos modernos (GOTTLIEB et al., 2011; GUIMARÃES et al., 2015).

Com a ampliação da expectativa de vida, caracterizada principalmente pela redução da

mortalidade nas idades mais avançadas, tem sido introduzido um novo conceito de estágio

epidemiológico, a Era do retardamento das doenças crônicas. Considerando que essa quarta

etapa seja uma tendência mundial, sua rápida evolução torna-se um dos maiores desafios

contemporâneos dos sistemas de saúde, visando reduzir as mortalidades prematura e

promover uma maior compressão da mortalidade a idades próximas ao limite biológico da

vida (GOTTLIEB et al., 2011; SILVA, 2012; GUIMARÃES et al., 2015; MIRANDA et al.,

2016).

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2.2 ENVELHECIMENTO

2.2.1 Conceito

O envelhecimento populacional é um fenômeno demográfico, vivenciado pela maioria

dos países do mundo. Envelhecer é um processo de mudanças orgânicas complexas e

multifatoriais, elaboradas ao longo da vida, porém, as características deste processo se tornam

mais evidentes quando as pessoas estão próximas aos 60 anos, devido ao grande acúmulo de

danos moleculares e celulares e da perda gradual de suas reservas fisiológicas (OMS, 2015;

MARI et al., 2016). Com o tempo, esses danos ampliam o risco de desenvolver diversas

doenças e há um declínio geral nas capacidades básicas e fundamentais ao indivíduo, que por

fim resultarão em morte. Entretanto, as mudanças não são lineares e, tão pouco, ocorrem na

mesma idade e da mesma forma em todas as pessoas (KANSO et al., 2013; OMS, 2015;

BERNAL et al., 2016).

2.2.2 Envelhecimento absoluto e relativo

Envelhecimento absoluto é o total de habitantes com idade igual ou superior a 60 anos

de um determinado lugar. Tal número é obtido por meio de levantamentos gerais da

população e pela contagem de todos os habitantes de uma cidade, país ou região. No Brasil, os

Censos Demográficos são realizados pelo IBGE, sendo que o primeiro, em 1872, contabilizou

um total de 9,9 milhões de pessoas. Em 1950 já éramos 51,9 milhões habitantes e em 2010 foi

observado um expressivo crescimento, alcançando a marca de 190,7 milhões de brasileiros.

Embora, em valores absolutos seja identificado um significativo aumento, observa-se uma

considerável inércia demográfica, por meio da diminuição nas taxas geométricas anuais de

crescimento da populacional, em que cerca de 7% possuem mais de 65 anos (BRASIL, 2013;

CARMO et al., 2014). Segundo as projeções do IBGE, acredita-se que, em 2015,

aproximadamente 14% da população já tinha mais de 65 anos (IBGE, 2016).

Para a OMS, em 2050, a população brasileira será a quinta maior população do planeta,

com cerca de 253 milhões de habitantes, sendo 19% maiores de 60 anos (NASRI, 2008;

OMS, 2015; PRINCE et al., 2016).

Impulsionado pela transição demográfica, o Brasil vem passando por uma mudança em

suas estruturas etárias, caracterizada pela ampliação relativa de idosos em relação à proporção

de crianças e jovens. O envelhecimento populacional é caracterizada pelo aumento relativo de

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indivíduos acima de uma determinada idade, definidora da velhice e sua representação é

calculada pela razão entre a população absoluta de idosos e a população geral em um

determinado território (CARVALHO e GARCIA, 2003; BRASIL, 2013). Assim, ao

considerar o constante crescimento de taxas do envelhecimento relativo, observa-se a

necessidade de impreteríveis reformulações das políticas públicas, principalmente nas áreas

de saúde e de previdência social (CARMO et al., 2014).

2.2.3 Economia e o envelhecimento

Com a ampliação da expectativa de vida da população, atingindo idades cada vez mais

avançadas, temos uma ampliação dos gastos previdenciários, ou seja, uma ampliação do

tempo de recebimento dos benefícios sociais e do quantitativo de beneficiários, o que

despende grandes recursos aos sistemas de seguridade e previdência social (SOUZA, 2014;

OMS, 2015). O envelhecimento da população muda a forma de entrada, permanência e saída

do mercado de

trabalho, motivando o gerenciamento de pessoas a elaborar estratégias e políticas que

assegurem e mantenham a força de trabalho por mais tempo, assim como superar desafios da

redução da população jovem e economicamente ativa (CHATTERJI et al., 2015; BEARD et

al., 2016).

A tendência mundial de mudança no perfil demográfico deve ser considerada uma

prioridade global, pois, certamente, aumentará as demandas socioeconômicas dos países, visto

que há redução da população com capacidade produtiva, devido à inversão da pirâmide etária,

além da ampliação dos gastos no setor saúde, sobretudo com internações por doenças crônicas

não transmissíveis (DCNT) (OMS, 2015; PRINCE et al., 2016). Diante desta realidade, a

maioria dos países buscam alternativas que assegurem a autonomia social e econômica de

seus cidadãos envelhecidos (OMS, 2015; MIRANDA et al., 2016; PRINCE et al., 2016).

O aumento da prevalência de DCNT representa um crescente ônus à cobertura do

Sistema Único de Saúde (SUS), por relacionar-se às comorbidades, incapacidades e maior

utilização de serviços de saúde. O Fórum Econômico Mundial estima que, entre 2011 e 2030,

a carga global das perdas econômicas por causas diretas das DCNT equivalerá a 47 trilhões de

dólares, valor equivalente a cerca de 5% do produto bruto global, neste mesmo período de

análise (MARENGONI et al., 2011).

O envelhecimento amplia os riscos do desenvolvimento de doenças crônicas e, em

indivíduos com níveis socioeconômicos mais baixos, de comorbidade, que é a presença

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concomitante de duas ou mais patologias de etiologia crônica (BEARD et al., 2016; PRINCE

et al., 2016). A comorbidade afeta diretamente a qualidade de vida e eleva os riscos de

mortalidade, aumenta a utilização de cuidados à saúde e, consequentemente, os custos do

tratamento. Estimasse que cerca de 50% da população maior que 60 anos apresentem esse

risco, principalmente nos indivíduos de baixo nível socioeconômico (BEARD et al., 2016).

Além disso, em países em desenvolvimento como o Brasil, os agravos crônicos não

transmissíveis estão entre as principais causas de internações hospitalares e representam a

principal causa de mortalidade no envelhecimento, responsáveis por, aproximadamente, 63%

das causas de óbito. (MALTA et al., 2013; WHO, 2014). A OMS estima que cerca de 36

milhões de mortes anuais se deem em razão das doenças crônicas (MALTA et al., 2013).

Acredita-se que este grupo de causas é composto por agravos multifatoriais, que se

desenvolvem no decorrer da vida, com evolução longa e progressiva, representando uma

importante ameaça para a saúde em todas as nações (WHO, 2014).

As responsabilidades em melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas em todo o

mundo vão além da acessibilidade aos serviços de saúde e do gerenciamento do cuidado. Para

assegurar um envelhecimento saudável, se faz necessário melhores estratégias para prevenção

das doenças crônicas que levem em conta o ambiente físico e social no qual esses indivíduos

estão inseridos, com o objetivo de manter a capacidade funcional e produtiva de seus cidadãos

envelhecidos, principalmente aos que estão em maior risco, seja por suas comorbidades ou

pelas baixas condições socioeconômicas (OMS, 2015; BEARD et al., 2016).

Segundo o Departamento de Estatísticas de Saúde e Sistemas de Informação da OMS,

em seu relatório de 2014, é preciso mudar o entendimento coletivo sobre o envelhecimento,

olhar para além dos custos normalmente associados ao envelhecer, para pensar sobre os

benefícios que uma população idosa mais saudável, feliz e produtiva proporciona à sociedade

em geral (WHO, 2014; CHATTERJI et al., 2015; OMS, 2015). Outra consideração

importante se dá no âmbito da reorganização da capacidade produtiva dos países, com a força

de trabalho formada por pessoas mais velhas e predominantemente do sexo feminino. As

mulheres tendem a viver mais que os homens e à medida que a fertilidade diminui, sua

participação no mercado de trabalho tende a aumentar (KULIK et al., 2014; BEARD et al.,

2016; PRINCE et al., 2016). As recentes estimativas sugerem que aumentando a paridade

entre os gêneros o Produto Interno Bruto (PIB) global poderia aumentar, até 2025, em 5,3

trilhões (WEF, 2017).

Assim, temos a necessidade de mudar as políticas e legislações dos países, para

incorporar as populações de forma justa e equânime (KULIK et al., 2014). Espera-se superar

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os desafios da transição demográfica e, fundamentalmente, compreender o envelhecimento

populacional como processo intersetorial e, deste modo, investir em políticas públicas

estruturais, integradas aos serviços de saúde, que visem minimamente assegurar a

possibilidade de um envelhecer livre de doenças e mais salutar (CAMARANO, 2013;

BERNAL et al., 2016; MIRANDA; et al., 2016). Deve ser uma prioridade global a

incorporação de políticas que assegurem a prevenção de doenças e detecção precoce de

agravos, para propiciar uma melhor qualidade de vida, garantindo um menor custo com

tratamentos a idosos e, por esse meio, estabelecer aos cofres públicos uma maior economia de

seus recursos econômicos (WHO, 2014; PRINCE et al., 2016).

2.2.4 Envelhecimento saudável

O envelhecimento repercute de diferentes formas na sociedade, principalmente no

contexto da saúde. A ampliação da longevidade, que vem ocorrendo na maioria dos países,

acarreta mudanças das características demográficas da população (MARI et al., 2016). A

possibilidade de uma vida mais longa é um dos maiores triunfos da humanidade e celebra o

desenvolvimento sociodemográfico de uma nação (ARREAZA e MORAES, 2010;

MIRANDA et al., 2016). Envelhecer não é sinônimo de adoecer, ao contrário, geralmente está

associado a um bom nível de saúde, tal que, alguns idosos com mais de 80 anos apresentam

níveis de capacidade física e mental comparáveis aos de adultos jovens de 20 anos (OMS,

2015; MIRANDA et al.; SILVA, 2016).

Em países de alta renda, há evidências que os jovens e idosos estão repensando como

gastar esses anos extras de formas inovadoras, tais como uma nova carreira, educação

continuada, ou perseguir uma paixão negligenciada (ARREAZA; MORAES, 2010). Por isso,

o aumento da longevidade não deve ser tratado como um problema, pois as oportunidades que

surgem a partir desses anos extras de vida são diretamente proporcionais a uma saúde integral

de qualidade, pautada na longitudinalidade (ARREAZA e MORAES, 2010; OMS, 2015;

MIRANDA et al., 2016).

Portanto, cumpre ao Estado identificar os condicionantes sociais, econômicos e

ambientais, com a finalidade de subsidiar o planejamento, a execução e a avaliação das novas

políticas públicas de envelhecimento, que atreladas às evoluções tecnológicas, poderão

proporcionar a população uma maior acessibilidade aos serviços de saúde, e assim promover

uma melhor qualidade de vida (ARREAZA e MORAES, 2010; BRASIL, 2011; OMS, 2015;

BERNAL et al., 2016; MARI et al., 2016; MIRANDA; et al., 2016).

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2.2.5 O envelhecimento e as políticas públicas no Brasil

No Brasil, a mudança no perfil de morbimortalidade2 foi iniciada há pouco mais de meio

século, podendo ser considerada como o ponto de partida para a redução progressiva na

variabilidade da idade à morte, semelhante à verificada nos países desenvolvidos

(GONZAGA et al., 2009). A partir da década de 60, o perfil demográfico brasileiro teve sua

principal transformação, passando de uma sociedade predominantemente rural, com as

famílias tradicionalmente numerosas, para uma nova estrutura majoritariamente urbana e com

menor número de filhos por mulher (BRASIL, 2011; MIRANDA et al., 2016).

Entretanto, o envelhecimento no Brasil vem polarizado e acompanhado das diferenças

regionais, culturais, socioeconômicas, bem como, com a sobreposição de causa de

mortalidade ocasionada pela redução da incidência de doenças parasitárias e infecciosas e

pela elevação das complicações relacionadas às DCNT (ALVES et al., 2016).

Essa tendência está presente, diferenciadamente, na maioria das regiões do país, assim

como, nas microrregiões de grandes municípios, como o Rio de Janeiro. Em 2010, o IBGE

identificou que os bairros com melhores indicadores socioeconômicos do município do Rio de

Janeiro apresentavam um maior envelhecimento populacional e uma menor incidência de

mortes por doenças infecciosas e parasitárias (BERNAL et al., 2016; PRINCE et al., 2016). É

reconhecido que as mudanças estruturais na assistência à saúde e o progresso no combate às

doenças não-transmissíveis contribuem para a redução na dispersão da distribuição dos óbitos

nas idades mais elevadas (BRASIL, 2011; PRINCE et al., 2016).

Nota 2: Morbimortalidade é um conceito da medicina que se refere ao índice de pessoas mortas em decorrência

de uma doença específica dentro de determinado grupo populacional.

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3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Apresentar o estado da arte sobre a construção de uma agenda política para a saúde do

idoso.

3.1.1 Objetivos específicos

1. Historicizar as principais políticas relativas à proteção do idoso.

2. Descrever os aspectos relativos à proteção aos idosos nos documentos normativos.

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4 METODOLOGIA

O estudo proposto foi o exploratório documental e a técnica utilizada, a da

documentação indireta, que consiste no levantamento de todos os dados possíveis sobre o

assunto a ser pesquisado, independentemente das técnicas utilizadas. É o estágio da pesquisa

que objetiva recolher informações preliminares sobre o campo pelo qual se manifesta

interesse. Este levantamento de dados é feito de dois modos: pesquisa documental e pesquisa

bibliográfica. A pesquisa fundamentou-se em periódicos, acessados os conteúdos das bases de

dados: MEDLINE, LILACS, BIREME, SCIELO, respeitando o período de produção entre os

anos de 2005 e 2018. Utilizou-se para a busca nessas bases de dados as seguintes palavras-

chave combinadas: Envelhecimento, Idoso, Políticas Públicas. As buscas foram feitas de julho

a dezembro de 2018, respeitando-se os critérios de seleção, acima definidos, o que resultou

em 49 artigos e 12 publicações diversas, como a legislação sobre o tema no Brasil, na ONU e

OMS entre os anos de 1982 e 2016, e cadernos do ministério da saúde. Em seguida, foi

empreendida a análise dos dados, construindo uma reflexão crítica a partir da leitura dos

textos (MINAYO, 1994).

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5 RESULTADO

Embora o Brasil acompanhe a tendência demográfica mundial, o estabelecimento de

políticas públicas não segue a mesma velocidade, o que implica na não garantia de assistência

integral e de qualidade de vida da população idosa pelo SUS (MARI et al., 2016).

No Brasil, a assistência universal à saúde foi estabelecida com a Constituição Federal de

1988, e regulamentada em 1990 com a Lei 8080, que assegura a atenção à saúde a toda pessoa

no território nacional por meio do SUS (BRASIL, 2010; FERNANDES e SOARES, 2012).

Este sistema apresenta como princípios norteadores a integralidade, a equidade e a

universalidade, compreendendo a saúde em todos os ciclos de vida (BRASIL, 2010; BRASIL

2011). No que tange ao estabelecimento de programas de assistência e a políticas públicas

destinadas, particularmente aos idosos, trata-se de um movimento mais recente e ainda em

consolidação no país.

O primeiro grande marco legislativo da população envelhecida brasileira foi a Lei 8.842

sancionada em 1994, denominada de Política Nacional do Idoso. Esta política assevera os

direitos sociais dos indivíduos que atinjam 60 anos de idade e busca elaborar meios para

garantir sua autonomia, integração e controle social, além disso, ratifica o direito à saúde nos

diversos níveis de atenção do SUS (BRASIL, 2010; FERNANDES e SOARES, 2012).

Porém, mantinha a atenção prestada aos idosos de forma fragmentada, em um conjunto de leis

setoriais dispostas em estruturas organizacionais da gestão política.

Somente em 2003, após sete anos de tramitação no planalto e grande tensionamento do

controle social, por meio de mobilização da sociedade civil organizada, foi aprovado o

Estatuto do Idoso (Lei 10741, 2003), conferindo um reconhecimento, por parte do Estado, da

vulnerabilidade desta população e afirma a necessidade de políticas públicas específicas a ela

destinadas, além de ampliar e integrar a legislação para o exercício da seguridade dos direitos

desta faixa etária (BRASIL, 2010; FERNANDES e SOARES, 2012).

No quadro 01, é possível observar os principais marcos históricos do desenvolvimento

das políticas para a pessoa idosa.

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Quadro 1 - Marcos da atenção ao idoso e suas políticas públicas (BRASIL, 2015)

Marcos da atenção ao

idoso Legislações e Políticas Resumo

Plano de ação

internacional de Viena

sobre o envelhecimento.

Assembleia geral em

Viena 1982

Com 62 pontos dentre eles, saúde e nutrição,

proteção de consumidores idosos, habitação e meio

ambiente, família, bem-estar social, segurança de

renda e emprego, educação e a coleta e análise de

dados de pesquisa.

Constituição de 1988 Constituição de 1988 O direito universal, gratuito e integral à saúde foi

conquistado pela sociedade. Foi denominada de

Constituição “Cidadã”.

Leis orgânicas da saúde

(8080/90 e 8142/90) Leis 8080/90 e 8142/90

As políticas públicas de saúde têm o objetivo de

assegurar atenção a toda população

Política Nacional do

Idoso, lei 8.842/94, Lei 8.842/94,

A política constitui os direitos sociais à pessoa

envelhecida, visando meios de assegurar sua

cidadania.

Regulamentação da

Política Nacional do

Idoso,

Decreto 1.948/96

Regulamenta a Lei n° 8.842, de 4 de janeiro de

1994, que dispõe sobre a Política Nacional do

Idoso, e dá outras providências.

Política Nacional de

Saúde do Idoso

Portaria Ministerial nº

1.395/99

Ministério da saúde promova a elaboração ou a

adequação de planos, projetos e ações em

conformidade com as diretrizes e responsabilidades

do plano nacional de saúde do idoso.

Redes estaduais de

assistência à saúde do

idoso

Portaria GM/MS nº

702/2002

São estabelecidos os critérios para cadastramento

dos centros de referência em atenção à saúde do

idoso.

Plano de Madri

Assembleia mundial para o

envelhecimento- Madri,

2002

Tem como fundamentos: (a) participação ativa dos

idosos na sociedade, no desenvolvimento e na luta

contra a pobreza; (b) fomento à saúde e bem-estar

na velhice: promoção do envelhecimento saudável;

(c) criação de um ambiente propício e favorável ao

envelhecimento; além de (d) fomento a recursos

socioeducativos e de saúde direcionados ao

atendimento ao idoso.

Estatuto do idoso

Lei nº 10.741, de 1º de

outubro de 2003.

Lei nº 13.466, de 12 de

julho de 2017.

Lei nº 13.535, de 15 de

dezembro de 2017

Amplia a resposta do estado e da sociedade às

necessidades da população idosa

Estabelecera prioridade especial das pessoas

maiores de oitenta anos.

Garante aos idosos a oferta de cursos e programas

de extensão pelas instituições de educação superior.

Envelhecimento ativo:

uma política de saúde

2002 World Health

Organization (1ª ed.

traduzida para português,

2005)

Plano operacional da OMS para o cumprimento do

plano de Madri.

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Quadro 1 - Marcos da atenção ao idoso e suas políticas públicas (BRASIL, 2015)

(continuação) Marcos da atenção ao

idoso Legislações e Políticas Resumo

Pacto pela saúde 2006 Portaria nº 399, de 22 de

fevereiro de 2006

Pacto pela vida institui como umas de suas

prioridades a saúde do idoso.

Caderno de atenção

básica: “envelhecimento

e saúde da pessoa idosa”

Ministério da Saúde, 2006.

(Cadernos de Atenção

Básica, n. 19)

Elaborado com a finalidade de oferecer subsídios

técnicos específicos em relação à saúde da pessoa

idosa de forma a facilitar a prática diária dos

profissionais que atuam na atenção básica

Política nacional de

saúde da pessoa idosa

(PNSPI)

Portaria nº 2.528, de 19 de

outubro de 2006

Tendo como finalidade primordial a recuperação,

manutenção e promoção da autonomia e da

independência da pessoa idosa.

Atenção à saúde da

pessoa idosa e

envelhecimento

Série pactos pela saúde

2006, v. 12 lançado em

2010

Fundamentação teórica do pacto pela vida.

A Assembleia - geral da

Organização das Nações

Unidas (ONU)

Resolução nº 265 de 13 de

maio de 2010

Inserção do tema das DCNT como fundamental

para o alcance das metas dos objetivos de

desenvolvimento do milênio

Plano de ações

estratégicas para o

enfrentamento das

doenças crônicas não

transmissíveis (DCNT)

no Brasil 2011-2022

Regulamentada pela

portaria nº 2.993, de 26 de

dezembro de 2012

Promover o desenvolvimento e a implementação de

políticas públicas efetivas, integradas, sustentáveis

e baseadas em evidências para a prevenção e o

controle das DCNT e seus fatores de risco e

fortalecer os serviços de saúde voltados para a

atenção aos portadores de doenças crônicas.

Relatório mundial de

envelhecimento e saúde

Organização mundial da

saúde 2015

O relatório aborda as mudanças associadas ao

envelhecimento no contexto de todo o curso da

vida.

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O Brasil constituiu, ao longo dos anos, legislações que amparam e garantem a cobertura

da população idosa, tal como a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (2006), que

especificou a seguridade e a equidade de direitos a esta população. Ampliar a expectativa de

vida populacional, oportunizar e garantir os direitos individuais e coletivos, assim como, o

envelhecer com saúde são deveres constitucionais a serem assegurados e regulamentados pelo

Estado. No entanto, no Brasil, mesmo com aporte jurídico e regulamentação legislativa,

idosos são negligenciados no exercício de seus direitos e, ainda possuímos uma grande

carência de políticas públicas que visem suas necessidades sociais e assistenciais (BRASIL,

2010; MENDONÇA, 2015; MARI et al., 2016; MIRANDA; et al., 2016).

As políticas devem ser controladas e defendidas democraticamente pelo controle social,

o que, infelizmente, ainda não ocorre, visto que os idosos ainda são estigmatizados com

estereótipos ultrapassados e preconceituosos por parte da população. Um importante desafio

social é desmistificar as percepções e suposições comuns relacionadas ao envelhecimento

(MENDONÇA, 2015; OMS, 2015).

Muitas vezes, o envelhecimento expõe às desigualdades de renda e principalmente do

acesso aos serviços de saúde. No Brasil, a maior parte dos prestadores de cuidados integrais

específicos a esta faixa etária, como centros de residência e ou recreação, pertence ao serviço

privado, que os torna restrito aos cidadãos com alto nível socioeconômico (MIRANDA et al.,

2016). A ausência do acesso ao sistema de saúde compromete o envelhecimento saudável da

população (MIRANDA et al., 2016; PRINCE et al., 2016).

Os sistemas de saúde precisam assegurar a atenção integral da população envelhecida,

de maneira equânime, levando em consideração as particularidades multidimensionais deste

público, especialmente as físicas, mental, social e cultural. Deve-se visar a desfragmentação

do cuidado e a reorientação de sua abordagem, que é ainda centrada na cura da doença.

Quando se fala de saúde no envelhecimento, é necessário que se garanta o acesso aos

cuidados sob o princípio da integralidade e a ótica da qualidade de vida, manutenção da

funcionalidade e continuidade da inserção social, sendo o envelhecer saudável e um dos

principais direitos da pessoa idosa (OMS, 2015).

Deve-se desfragmentar o cuidado e reorientar sua abordagem, e garantir o

gerenciamento do cuidado integral sob a ótica da qualidade de vida, envelhecimento saudável

e principalmente dos direitos das pessoas idosas, para desta forma, ampliar a expectativa de

vida da população, ou seja, alcançar a retangularização da curva de sobrevivência no Brasil.

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6 DISCUSSÃO

No Brasil, assim como na maioria dos países, o envelhecimento da população é um

fato e as formas de focar as necessidades emergentes são prementes, embora a busca pelo

Estado em enfrentar este desafio apresenta-se distante de ações efetivas e do ideal. Os

preconceitos culturais, as divergências socioeconômicas, educacionais e a efetivação de

políticas assistenciais geram fragilidades para a construção de outra realidade (ANDRADE,

2013).

A sociedade e a família têm um papel imprescindível neste ciclo de vida da

humanidade. As situações econômicas, as dificuldades sociais, os direitos humanos, as

recomendações da OMS, ONU estão aquém do cotidiano de quem envelhece. O

reconhecimento e a valorização do idoso são demonstrados, através da cultura, da educação,

da saúde, por meio de ações que influenciam sua qualidade de vida. O viver, o existir para a

pessoa idosa contextualizado historicamente, não é apenas um problema de saúde, mas, da

integração em redes compondo vários setores de serviços da sociedade (BRASIL, 2006;

BRASIL, 2003).

É necessário incentivar nesta população a consolidação de um movimento novo,

capaz de colocar questões afetas à vida de todos os idosos, apontar diferenças

impostas pelas aposentadorias, os serviços de saúde, a dificuldade ao acesso à

cultura e à educação, a falta de respeito nos transportes, construir, efetivamente,

outra identidade para os velhos, mostrando ao Estado e à sociedade que podem

desempenhar papéis sociais até o fim de suas vidas, sendo produtivos e mais felizes.

Participando da política, das universidades abertas, dos grupos de convivência, dos

fóruns, dos conselhos e associações de aposentados, dançando, namorando,

viajando, fazendo teatro, canto, artes plásticas, enfim, vivendo a vida plenamente,

trazendo a política para um novo patamar (ANDRADE, 2013).

As instâncias leves de serviço e o acompanhamento contínuo, envolvendo todas as

instâncias de cuidado, que consistem em custos menores, que abranjam não apenas o

acompanhamento do médico responsável, mas, todos os profissionais da saúde, visando um

cuidado integral, ações educativas, promoção da saúde, prevenção de doenças evitáveis,

retardação de enfermidades, atenção precoce e reabilitação de agravos, sendo momento de

mudanças e inovações. As instâncias leves citadas pelo estudo compreendem acolhimento,

núcleo integrado de trabalho e ambulatório de geriatria, enquanto que as instâncias pesadas

compreendem internações de curta duração e longa duração (VERAS, 2016).

A humanidade desfruta hoje de uma das maiores conquistas sociais da segunda metade

do século XX: o aumento da expectativa de vida. No Brasil, 7,4% da população tem mais de

65 anos de idade Carvalho e Wong (2008) afirmam que em meados de 2050, para cada 100

idosos haverá 76 mulheres idosas. O desafio é fazer do fenômeno do envelhecimento uma

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conquista e não um problema social. As iniciativas até o momento não são capazes de garantir

uma proteção social adequada às pessoas idosas, bem como aquelas do futuro. Trata-se de

compromissos a serem respondidos por todos os níveis de gestão e áreas (intersetorialidade), a

fim de produzir segurança social aos seus usuários conforme sua situação de vulnerabilidade e

risco, entendendo-se que o envelhecer humano é singular (POLTRONIERI et al., 2015).

“...a sociedade adulta seja a grande responsável pelo imaginário sobre a velhice,

também os próprios velhos estão imbricados na produção da ideologia que sobre

eles é produzida. Muitos não se conformam com a perda de poder, outros que só

viveram para o trabalho, sentem-se perdendo a identidade quando se retiram das

atividades profissionais, outros, ainda, se isolam do mundo da vida, enclausurando-

se numa solidão desnecessária” (MINAYO, 2009).

O envelhecimento é uma conquista para a humanidade, como efeito da urbanização,

das inovações tecnológicas, tais como tratamentos cirúrgicos, medicamentosos, vacinações,

acesso a alimentação e melhoria nas condições de trabalho. Para o modelo econômico vigente,

o capitalismo, com os avanços científicos, é significativo o incremento na produção de

insumos, mercadorias, indústrias e serviços para essa faixa etária populacional, porém com o

envelhecimento a economia passa a ter, através da aposentadoria, um maior número de

beneficiários (VERAS e FELIX, 2016).

Há uma carência de saberes dos gestores municipais de saúde relativos às políticas

públicas de atenção aos idosos e a atenção prestada aos mesmos centra-se em medidas de

controle dos agravos a saúde. Embora tenham preocupação com a promoção de saúde, a

maioria dos gestores aponta para a supremacia do modelo biomédico de atenção à saúde, visto

que as ações coletivas são reduzidas e tem foco nas doenças crônicas, bem como nas ações

individuais. A maioria dos municípios não possui políticas especificas de atenção da

população idosa. Há necessidade de reflexão acerca da atenção a idosos nos serviços de saúde

(ZEN et al., 2018).

Para evitar a sobrecarga do SUS é fundamental investir em políticas de promoção de

saúde, proteção, prevenção de doenças, controle das doenças crônicas, recuperação e

manutenção da capacidade funcional, ou seja, uma linha de cuidado que seja através de uma

rede de atenção articulada e referenciada. É importante investir na Atenção Primária a Saúde

(APS) com estruturas criativas e inovadoras para fortalecer a transição do modelo assistencial

clínico para o modelo com ênfase na prevenção como uma proposta interessante para todos:

ampliação da qualidade de vida para o idoso, a família ter uma pessoa amada ativa e

participativa por mais tempo e o sistema de saúde, diminuindo suas ações de alto custo como

internações e medicamentos (VERAS et al., 2013)

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Nos anos 70, as ações para esse grupo populacional apresentavam-se de forma

caritativa e protetiva, a aposentadoria como benefício foi estendido pelo Governo Federal para

os trabalhadores rurais, e proventos vitalícios aos carentes com mais de 70 anos, que não

haviam contribuído. O Plano Integrado de Ação Governamental (PIAG) para o

desenvolvimento da Política Nacional do Idoso (BRASIL, 1974) envolvia a participação de

vários órgãos: Ministério da Previdência e Assistência Social; Educação e Desporto; Justiça;

Cultura; Trabalho e Emprego; Saúde; Esporte e Turismo; Planejamento, Orçamento e Gestão;

e Secretaria de Desenvolvimento Urbano, objetivando viabilizar através de ações integradas a

PNI.

A história das Políticas Públicas do Idoso no Brasil se apresenta de forma tardia e

morosa, levando um tempo demasiado longo, entre a sua legislação e a regulamentação,

muitas vezes influenciadas pelo contexto político nacional e internacional. Há também um

hiato entre os planos de ação mundiais e implementação no Brasil (WILLIG et al, 2012).

“As demandas são muitas e os desafios também, porém o caminho é um só: cabe ao

Estado e a sociedade reagir, planejar e, sobretudo, desenvolver políticas públicas

consistentes, visando proporcionar a melhor qualidade de vida possível aos seus

cidadãos, incluindo aí as pessoas que atinjam a terceira idade.”(BRAGA et al, 2008).

A trajetória aponta também a necessidade da capacitação e formação específica em

Geriatria e Gerontologia de profissionais que atuam no atendimento ao idoso, o que ainda é

deficitário no Brasil, especialmente aos que cuidam dessa população. Isso se faz necessário

para atender o preconizado pelo Estatuto do Idoso e a Política Nacional de Saúde da Pessoa

Idosa (PNSPI) e proporcionar efetivamente a atenção e promoção da saúde (WILLIG et al.,

2012; VERAS et al., 2013; RODRIGUES et al., 2007).

O processo educativo na PNSPI está vinculado à educação permanente, onde objetiva

proporcionar, aos atores sociais envolvidos, conscientização para justiça social e garantia

plena dos direitos aos idosos. A inserção da enfermagem neste contexto envolve o processo de

cuidar da pessoa idosa em todos os níveis de atenção à saúde, participação na implantação e

implementação da política, dentro do contexto familiar e social e efetivando intervenções no

ensino, na pesquisa e na assistência, respeitando suas potencialidades e diferenças individuais

(RODRIGUES et al, 2007).

“Os resultados apontam para o desenvolvimento de pesquisas voltadas para a

divulgação e resultados das políticas de saúde e o seu conhecimento pelos

profissionais de saúde que cuidam de idosos sendo necessário um direcionamento e

capacitação específica. As propostas destas portarias e lei fidedignas apontam para a

divulgação de suas fontes para a população, bem como aos profissionais da área da

saúde como um todo. Há a necessidade da realização de pesquisas contínuas

voltadas para a divulgação e o conhecimento dos profissionais de saúde que cuidam

de idosos. É fundamental esta recomendação, pois a cada ano há um elevado número

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de atendimentos de idosos sendo necessária um direcionamento e capacitação

específica para os profissionais de saúde” (CAMACHO E COELHO, 2010).

Nas últimas décadas emergiu um novo perfil epidemiológico, com um aumento da

escolaridade da população, da participação da mulher no mercado de trabalho, mudanças nos

arranjos familiares, diminuição da duração das uniões conjugais e redução no número de

cuidadores familiares (CAMARANO, 2013). O envelhecimento populacional em evolução

ocorre antes de o Estado direcionar as necessidades sociais, como educação e saúde. Contudo,

produziu alguns direitos sociais como a universalização da aposentadoria, filas especiais,

assentos reservados nos transportes públicos, gratuidade nos transportes urbanos, meia

entrada em atividades culturais e sociais. Muitas questões podem se agravar no futuro

(CAMARANO, 2013).

A Constituição Federal do Brasil de 1988 promulga nos artigos 229 e 230 uma nova

cidadania e o idoso como sujeito de direito, como direito fundamental. Os

direitos fundamentais são considerados indispensáveis a pessoa humana, necessários para

assegurar a todos uma existência livre, digna e igual, são baseados nos princípios dos direitos

humanos, garantindo a liberdade, a vida, a igualdade, a educação, a segurança

(CANOTILHO,1995).

O Estatuto do Idoso proclama direitos e regras para a efetivação dos direitos

fundamentais e a adoção dos meios necessários para todos os idosos, de acordo com a

condição de envelhecimento, assegurando as liberdades políticas, onde o idoso não é mais

sujeito de tutela e não pode sofrer discriminação, ação ou omissão, principalmente em relação

à saúde. Também, determina a fase de vulnerabilidade, limitações e não podem sofrer

julgamentos. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988; BRASIL, 2003).

No quadro 2 estão destacados os direitos dos idosos, segundo o Estatuto do Idoso.

Quadro 2. Direitos dos idosos – Direitos Fundamentais I Do Direito à vida - Direito de envelhecer

II Da Liberdade, respeito e da dignidade

III Dos Alimentos

IV Da Saúde

V Da Educação, Cultura, Esporte e Lazer

VI Da Profissionalização e Trabalho –

Exercício da atividade profissional e aposentar-se com dignidade

VII Da Previdência Social

VIII Da Assistência Social

IX Da Habitação - Moradia Digna

X Do Transporte

XI Do Acesso à justiça Fonte: Estatuto da Pessoa Idosa, 2003

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O Estatuto do Idoso apresenta-se como um dispositivo legal, protegendo e

reconhecendo a cidadania das pessoas acima de 60 anos de vida, sendo importante para que

um novo olhar e novas práticas sejam estimuladas nas famílias, sociedade e instituições. São

firmados aos idosos o respeito, a liberdade e a dignidade e a efetividade de todos os direitos.

Para atentados contra os direitos da pessoa idosa são previstos punições pelo Estatuto do

Idoso. Afirma que a responsabilidade pelos idosos é de todos: família, comunidade e Estado.

Há obrigação de garantia de prioridade, desde 2000, atendimento preferencial, imediato e

individualizado nas repartições públicas e privadas, garantia de atendimento social e de saúde

e preferência nas formulações das políticas públicas com recursos públicos de proteção.

Propõe a integração com novas gerações e não só grupos de idosos, prioridade em cuidado

domiciliar e em casos especiais as Instituições de Longa Permanência (ILP), a capacitação

dos profissionais da área para o atendimento ao idoso e conscientização e preparo da família

com caráter educativo nas escolas (BRASIL, 2003).

O Art. 25 do estatuto do idoso, que trata do acesso à educação, foi complementado

pela Lei nº 13.466, de 12 de julho de 2017, que estabelece prioridade especial das pessoas

maiores de oitenta anos e pela Lei 13.535/17, de 15 de dezembro de 2017, que garante aos

idosos a oferta de cursos e programas de extensão pelas instituições de educação superior

(BRASIL, 2017).

A importância da violência contra a pessoa idosa, constatada no mundo e no Brasil

reverberou em Redes Internacionais a Prevenção dos Maus-Tratos contra o Idoso e a criação

de um Plano de Ação de Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa teve por objetivo:

“Promover ações que levem ao cumprimento do Estatuto do Idoso (lei nº. 10.741, de

1o de outubro de 2003), que tratem do enfrentamento da exclusão social e de todas

as formas de violência contra esse grupo social... O mau-trato ao idoso é um ato

(único ou repetido) ou omissão que lhe cause dano ou aflição e que se produz em

qualquer relação na qual exista expectativa de confiança conforme a Rede

Internacional para a Prevenção dos Maus-Tratos contra o Idoso” (BRASIL, 2005).

As diretrizes para implementação do Plano de Ação de Enfrentamento da Violência

contra a Pessoa Idosa são: plena aplicação do Estatuto do Idoso; garantia do protagonismo do

idoso como proponente, participante, monitorador e avaliador das diversas instâncias; em um

processo de descentralização e pacto federativo e de intersetorialidade e o plano de ação deve

ser acompanhado e avaliado desde o início de sua implantação, para que o seu monitoramento

garanta a factibilidade das propostas, correção de rumos e sua continuidade. Santana; et al,

(2016) constata em seus estudos no Brasil os tipos de violência prevalentes: violência

psicológica, física e roubo, apontando ser necessário o desenvolvimento de mais pesquisas

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sobre a prevalência da violência contra pessoas idosas em âmbito tanto nacional como

regional.

No quadro 3 apresenta-se destacadas as categorias de violência e seus tipos.

Quadro 3. Classificação e conceituação, segundo a padronização da Política Nacional de

Redução de Acidentes e Violências, aprovado como portaria do Ministério da Saúde

CATEGORIA TIPOLOGIA

Abuso físico, maus-tratos

físicos ou violência física

Uso da força física para compelir os idosos a fazerem o que não

desejam, para feri-los, provocar-lhes dor, incapacidade ou

morte.

Abuso psicológico, violência

psicológica ou maus-tratos

psicológicos

Correspondem as agressões verbais ou gestuais com o objetivo

de aterrorizar os idosos, humilhá-los, restringir sua liberdade ou

isolá-los do convívio social.

Abuso sexual, violência sexual Referem-se ao ato ou ao jogo sexual de caráter homo ou

heterorrelacional, utilizando pessoas idosas. Esses agravos

visam a obter excitação, relação sexual ou práticas eróticas por

meio de aliciamento, violência física ou ameaças.

Abandono É uma forma de violência que se manifesta pela ausência ou

deserção dos responsáveis governamentais, institucionais ou

familiares de prestarem socorro a uma pessoa idosa que

necessite de proteção.

Negligência À recusa ou à omissão de cuidados devidos e necessários aos

idosos, por parte dos responsáveis familiares ou institucionais.

A negligência é uma das formas de violência contra os idosos

mais presente no país. Ela se manifesta frequentemente,

associada a outros abusos que geram lesões e traumas físicos,

emocionais e sociais, em particular, para as que se encontram

em situação de múltipla dependência ou incapacidade.

Abuso financeiro e econômico Consiste na exploração imprópria ou ilegal dos idosos ou ao uso

não consentido por eles de seus recursos financeiros e

patrimoniais. Esse tipo de violência ocorre, sobretudo, no

âmbito familiar.

Autonegligência Conduta da pessoa idosa que ameaça sua própria saúde ou

segurança, pela recusa de prover cuidados necessários a si

mesma. Fonte: MS, 2005 Plano de ação para o enfretamento da violência contra a pessoa idosa

As políticas públicas relacionadas à saúde, assistência social, educação e as demais

áreas relacionadas aos ciclos de vida, tem como fundamentação os Direitos Humanos, a

Constituição Federal do Brasil com ênfase nos Direitos Fundamentais e neste estudo o

enfoque da pessoa idosa, nota-se que o Estatuto do Idoso abrange os seus direitos, diretrizes e

aspectos punitivos para os infratores. O artigo 200 da Constituição Federal na atribuição “ao

Sistema Único de Saúde a responsabilidade de ordenar a formação profissional na área da

saúde” (BRASIL, 1988) direciona as políticas, planos de ações para a prioridade de

capacitação ou reciclagem de trabalhadores atuantes na saúde do idoso, desta forma a

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necessidade de uma nova ocupação se faz presente, O Cuidador de Idosos, citado por

Groisman (2013) “na Classificação Brasileira das Ocupações (CBO), editada pelo Ministério

do Trabalho (Brasil, 2002). Esta inclusão, que corresponde ao código 5162-10 do CBO, é até

hoje o fundamento legal para o exercício remunerado da atividade. ” (GROISMAN, 2013).

Nessa reflexão, Groisman (2013) refere motivações aquém da qualidade dos cuidados,

do acesso universal ao serviço, destacando disputas, em que fatores de ordem econômico-

financeira, tais quais a desoneração do Estado, a privatização da assistência e alternativas

lucrativas do mercado incidem em diversas classes profissionais.

A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI) foi regulamentada, através da

Portaria MS nº 2528 de 19 de outubro de 2006, tendo como atribuição revisão e atualização

da Portaria n° 1.395/GM, de 10 de dezembro de 1999, relacionadas a saúde do idoso assim

como considerando a Portaria nº 399/GM, de 22 de fevereiro de 2006, que divulga o Pacto

pela Saúde visando a consolidação do SUS e a aprovação de Diretrizes Operacionais, foram

aprovadas pela Comissão Intergestores Tripartite (CIT) e pelo Conselho Nacional de Saúde

(CNS). Tem como finalidade principal recuperar, manter e promover a autonomia e a

independência das pessoas idosas, direcionando medidas consonantes para com os princípios

do SUS para esse fim. Destacamos o controle social que é um dos grandes desafios da

construção dessa política, onde há necessidade de implementar e estimular mecanismos que

garantam a participação dos usuários nos conselhos e fóruns como sujeitos e não mais como

sub-representados (BRASIL, 2006).

O Pacto foi firmado entre os gestores do SUS, em suas três dimensões: pela Vida, em

Defesa do SUS e de Gestão. Este modelo foi superado com a implantação do Decreto

7508/2011, que regulamenta o SUS e cria o Contrato Organizativo da Ação Pública de Saúde

(COAP), contribuindo para o estabelecimento de metas de saúde, sendo que a CIT emite

resoluções e dispõe sobre as regras do processo de pactuação de Diretrizes, Objetivos, Metas

e Indicadores para os anos, enfatizando a Rede de Atenção à Saúde (RAS).

No quadro 4, observa-se os diferentes setores que estão envolvidos com o

envelhecimento, destacados nas responsabilidades institucionais da PNSPI.

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QUADRO 4. ARTICULAÇÃO INTERSETORIAL

SETORES RESPONSABILIDADE

Educação A inclusão de disciplinas que abordem o processo de

envelhecimento e incentivo a criação de Centros de Geriatria e

Gerontologia em instituições de ensino superior;

Previdência social Realizar estudos e pesquisas relativo as doenças e agravos mais

prevalentes nessa faixa etária e Elaboração de trabalho conjunto;

Sistema Único de Assistência

Social – SUAS

A implantação de Centros de Convivência e Centros-Dia,

conforme previsto no Decreto nº1948/96; desenvolvimento de

ações contra a pobreza.

Trabalho e emprego Elaborar programas para a preparação para a aposentadoria e

implementar ações de eliminação de discriminações no mercado

de trabalho.

Desenvolvimento urbano A implantação no cumprimento da lei de acessibilidade (Decreto

Lei nº5292/2004).

Transportes A implantação de ações que permite/e ou facilitem o

deslocamento do cidadão idoso.

Justiça e direitos humanos A promoção e defesa dos direitos da pessoa idosa.

Esporte e lazer Estabelecimento de parceria para a implementação de programas

de atividades físicas e recreativas destinados às pessoas idosas.

Ciência e tecnologia Estímulo a pesquisa na área do envelhecimento, da geriatria e da

gerontologia. Fonte: MS, PNSPI (2006)

Destaca-se o Benefício de Prestação Continuada (BPC), o qual é um direito

constitucional, Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) no valor de um salário mínimo

para idosos com 65 anos ou mais e pessoas com deficiência. O mesmo é vitalício e se traduz

como principal programa de prestação social operado por meio de transferência de renda

(Gomes, 2009). O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) define os elementos

essenciais para desenvolver ações da política de assistência social, possibilitando a

normatização dos padrões dos serviços e os organiza com base em seus eixos estruturantes.

As ações de assistência social dividem-se em duas categorias de atenção que são

proteção social básica e proteção social especial. Estas se utilizam de equipamentos que

caracterizam o direito assistencial e espaços físicos públicos tais como: equipamento de

proteção social básica, Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e o da especial, o

Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) (BRASIL, 2019).

A Proteção social básica compreende as ações e os benefícios desse tipo de proteção

destinados às pessoas idosas e seus familiares, sendo elas Centro de Convivência para Idosos,

Benefício de Prestação Continuada (BPC), programa Bolsa Família, ações socioeducativas

promovidas pelo Programa de Atenção Integral à Família (PAIF) e apoio e orientação a

grupos de cuidadores de idosos. A Proteção social especial refere a um conjunto de serviços,

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programas e projetos que tem por objetivo prestar atendimento especializado a famílias e

indivíduos em situação de risco pessoal e social e violação de direitos, visando o

fortalecimento de suas potencialidades e a sua proteção. Os encaminhamentos são feitos pelo

CRAS, CREAS, Poder Judiciário e Ministério Público, entre outros órgãos. Dentre as ações

de atenção integral a pessoa idosa destaca-se a Caderneta da Pessoa Idosa, alimentação

saudável, saúde bucal, uso e armazenamento de medicamentos, vacinação e Ações de

prevenção de quedas e acidentes domésticos (BRASIL, 2019).

O Ministério da Saúde criou os Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF),

mediante a Portaria GM nº 154, de 24 de janeiro de 2008, republicada em 4 de março de

2008. O principal objetivo foi o de apoiar a inserção da Estratégia de Saúde da Família (ESF)

na rede de serviços, além de ampliar a abrangência e o escopo das ações da Atenção Básica, e

aumentar a resolutividade dela, reforçando os processos de territorialização e regionalização

em saúde. A referida Portaria traz como pressupostos políticas nacionais diversas, tais como:

de Atenção Básica; de Promoção da Saúde; de Integração da Pessoa com Deficiência; de

Alimentação e Nutrição; de Saúde da Criança e do Adolescente; de Atenção Integral à Saúde

da Mulher; de Práticas Integrativas e Complementares; de Assistência Farmacêutica; da

Pessoa Idosa; de Saúde Mental; de Humanização em Saúde, além da Política Nacional de

Assistência Social. Neste sentido, o NASF deve atuar dentro de algumas diretrizes relativas à

APS, a saber: ação interdisciplinar e intersetorial; educação permanente em saúde dos

profissionais e da população; desenvolvimento da noção de território; integralidade,

participação social, educação popular; promoção da saúde e humanização (BRASIL, 2008).

A Atenção Básica (AB) atua com as unidades de Estratégia de Saúde da Família

(ESF), considerando sua finalidade de organização e responsabilidade por áreas definidas e

delimitadas para adscrição das pessoas de sua área, assim como o acesso aos domicílios

potencializam o cuidado a pessoa idosa em vulnerabilidade; estimulam o envelhecimento

saudável objetivando manter a autonomia e independência do idoso (BRASIL, 2011).

As políticas de atenção à pessoa idosa são um produto das relações conflituosas entre

Estado e sociedade. São determinadas pelo antagonismo estrutural entre capital e trabalho. Há

uma contradição de seu desempenho perante esse desafio onde elas são movidas por pressões

de movimentos sociais, para enfrentar necessidades humanas postas pelo envelhecimento e ao

mesmo tempo devem acatar demandas de um capitalismo em crise, que luta pela sua

reprodução (MENDONÇA, 2015).

A qualidade de vida dos idosos depende, portanto, da alocação de recursos em setores

para além do setor saúde, destacando o idoso no mercado de trabalho e a feminização da

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velhice. Espera se da população e dos gestores a discussão das necessidades da população

idosa e a integração das redes de atenção para a pessoa idosa que ainda se encontra incipiente

para a heterogeneidade (FERNANDES e SOARES, 2012).

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelas observações dos aspectos analisados sobre as políticas para o envelhecimento no

Brasil, desde a década de 80 até o momento, pondera-se que as legislações que amparam e

garantem a cobertura da população idosa, consideram o aumento significativo de pessoas com

mais de 60 anos e oportunizam a garantia dos direitos individuais e coletivos, sendo que o

envelhecer com saúde, é dever constitucional a ser assegurado e regulamentado pelo Estado.

Assim, as legislações e políticas públicas nacionais de atenção ao idoso têm suas bases

em recomendações internacionais que apresentam fundamentos e indicações para esse ciclo

de vida tais quais: participação ativa dos idosos na sociedade, no desenvolvimento e na luta

contra a pobreza; incentivo à promoção do envelhecimento saudável; criação de ambiente

propício e favorável ao envelhecimento e recursos socioeducativos e de saúde direcionados ao

atendimento do idoso.

Porém, observa-se que as políticas existem, são baseadas em dados epidemiológicos,

demográficos, bem como nas taxas do envelhecimento relativo, mas, questiona-se sua

efetividade, pelo próprio movimento cronológico de instituição política e regulamentações,

tendo explícita a fragmentação do cuidado que ainda se aporta na cura da doença e no

distanciamento das políticas intersetoriais. Analisando as políticas para a pessoa idosa, faz se

necessário refletir sobre o cotidiano da intersetorialidade, principalmente entre os serviços de

saúde, educação, justiça, assistência social, cultura, esporte, transporte, meio ambiente, fato

que se mostra na deficiência de comunicação entre as unidades de assistência à saúde, na

maioria dos ciclos de vida e situações de saúde.

O Estatuto do Idoso instituído em 2003, assegura o atendimento preferencial em

estabelecimentos de toda natureza às pessoas acima dos 60 anos, com o aumento considerável

dessa faixa populacional a utilização desse direito aflora a necessidade de uma modificação

através da lei nº 13.466, de 12 de julho de 2017 promulgando à prioridade especial das

pessoas maiores de oitenta anos que não eram respeitados em suas necessidades. Em

dezembro de 2017 a lei nº 13.535 é instituída visando garantir a Educação a oferta de cursos e

programas de extensão pelas instituições de educação superior.

Os acidentes e as violências ao idoso são tão evidentes que se fez necessário a

construção da política nacional de redução de acidentes e violências, que são diferenciados

em categorias e tipos de agressão.

O cuidado integral torna-se uma utopia, pois nos diferentes níveis da rede de atenção à

saúde a integralidade é fragmentada, tanto nas ações de gestão, assim como no

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acompanhamento dos usuários no sistema. As desigualdades sociais estão presentes na

população idosa bem como de acesso aos serviços, como por exemplo os centros de

residência ou recreação que estão restritos aos cidadãos com alto nível socioeconômico.

É importante estimular nas Escolas Técnicas do Sistema Único de Saúde (ETSUS) a

implantação de cursos de nível médio de Técnico de Cuidador de Idosos, regulamentado

desde 2003 pelo Catalogo Nacional de Cursos Técnicos, assim como cursos de curta duração

para profissionais técnicos da área da saúde, segundo a demanda dos serviços de saúde e

viabilizar formações para Agentes Comunitários de Saúde e familiares de idosos usuários do

SUS.

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