margutti - sobre filosofia brasileira

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soBre a nossa tradição exegética e a necessidade de uma reavaliação do ensino de FilosoFia no País 1 3DXOR 0DUJXWWL )$-( O desenvolvimento do presente tema envolve a resposta a duas questões IXQGDPHQWDLV $ SULPHLUD GHODV p D VHJXLQWH D SHVTXLVD ¿ORVy¿FD QR %UDVLO YDL bem? A resposta seria: de um modo geral, ela vai bem, se levarmos em conta os objetivos a que se propõe. A segunda questão é a seguinte: a situação da SHVTXLVD ¿ORVy¿FD QR %UDVLO SRGHULD PHOKRUDU" $ UHVSRVWD DJRUD VHULD VLP VH mudarmos esses objetivos. O restante do presente texto será direcionado no VHQWLGR GH MXVWL¿FDU HVVD WHVH $ SHVTXLVD ¿ORVy¿FD LQVWLWXFLRQDOL]DGD VXUJLX QR %UDVLO DSHQDV SRU YROWD GH QR 'HSDUWDPHQWR GH )LORVR¿D GD 863 GHSRLV GH XPD IDVH SUHSDUDWyULD HP TXH R PHVPR IRL RFXSDGR SHODV 0LVV}HV )UDQFHVDV GH D 1HVVD fase inicial, cujos objetivos eram estabelecer as diretrizes básicas para o curso GH )LORVR¿D H IRUPDU RV IXWXURV GRFHQWHV R 'HSDUWDPHQWR GH )LORVR¿D GD 863 HVWHYH VRE D LQÀXrQFLD GLUHWD GH SURIHVVRUHV IUDQFHVHV FRPR 0DXJp *UDQJHU Guéroult e Goldschmidt, todos voltados para a análise das ideias com base QD OHLWXUD ULJRURVD GH WH[WRV ¿ORVy¿FRV FOiVVLFRV $ SDUWLU GH D SROtWLFD SHGDJyJLFD GR 'HSDUWDPHQWR IRL GHVHQYROYLGD QmR SHORV FDWHGUiWLFRV &UX] Costa e Lívio teixeira, que abriram mão de suas prerrogativas, mas sim por GRFHQWHV FRPR 2VZDOGR 3RUFKDW -RVp $UWKXU *LDQQRWWL %HQWR 3UDGR -~QLRU 1 O presente texto corresponde a uma tentativa de reproduzir, com a maior fidelidade possível, as ideias apresentadas oralmente pelo Prof. Paulo Margutti por ocasião da mesa sobre Filosofia no Brasil, coordenada pelo Prof. Ivan Domingues, no XVII Congresso da Sociedade Interamericana de Filosofia, em Salvador, no dia 11/10/2013. Durante a escrita, porém, que exige um rigor maior de exposição, o autor infelizmente sucumbiu à tentação de fazer alguns acréscimos à sua fala original. Tais acréscimos, contudo, vão na mesma direção da tese original e apenas a complementam com mais detalhes. kriteriON %HOR +RUL]RQWH Q -XQ S

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  • soBre a nossa tradio exegtica e a necessidade de uma reavaliao do

    ensino de FilosoFia no Pas1

    O desenvolvimento do presente tema envolve a resposta a duas questes

    bem? A resposta seria: de um modo geral, ela vai bem, se levarmos em conta os objetivos a que se prope. A segunda questo a seguinte: a situao da

    mudarmos esses objetivos. O restante do presente texto ser direcionado no

    fase inicial, cujos objetivos eram estabelecer as diretrizes bsicas para o curso

    Guroult e Goldschmidt, todos voltados para a anlise das ideias com base

    Costa e Lvio teixeira, que abriram mo de suas prerrogativas, mas sim por

    1 O presente texto corresponde a uma tentativa de reproduzir, com a maior fidelidade possvel, as ideias apresentadas oralmente pelo Prof. Paulo Margutti por ocasio da mesa sobre Filosofia no Brasil, coordenada pelo Prof. Ivan Domingues, no XVII Congresso da Sociedade Interamericana de Filosofia, em Salvador, no dia 11/10/2013. Durante a escrita, porm, que exige um rigor maior de exposio, o autor infelizmente sucumbiu tentao de fazer alguns acrscimos sua fala original. Tais acrscimos, contudo, vo na mesma direo da tese original e apenas a complementam com mais detalhes.

    kriteriON

  • e ruy Fausto. A pedagogia por eles utilizada prescrevia para a graduao objetivos de formao tcnica e crtica, num estilo de trabalho centrado

    instrumentos tericos para a compreenso das lgicas internas dos sistemas A preocupao fundamental do projeto pedaggico uspiano foi

    dominava o pas na primeira metade do sculo XX, ambiente esse que os

    europeias. No h espao para discutir aqui essa avaliao do nosso ambiente intelectual na poca, que poderia decorrer do pouco conhecimento que

    pensa que isso assim em virtude de nossa herana lusitana, marcada pelo carter pragmtico e antiespeculativo. em seu clssico livro

    Cruz Costa estuda fundamentalmente as

    em que pese o ttulo, ele no faz

    irnica de tipo socrtico na anlise de nossa evoluo cultural, atitude essa

    que pese o interesse constante de Cruz Costa pela nossa realidade e pelo nosso pensamento, suas concluses pessimistas a respeito da nossa capacidade

    brasileira. A partir da autoimagem negativa que ele nos oferece, podemos ser,

    disso, a pedagogia proposta pelos colegas uspianos de Cruz Costa enfatizava

    2 Ver Histrico do Departamento, na pgina do Depto. de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da USP. Disponvel em: http://filosofia.fflch.usp.br/departamento/historico (Acessado em outubro de 2013).

    3 Ver o Projeto Pedaggico do Departamento de Filosofia da FFLCH da USP. Disponvel em: http://filosofia.fflch.usp.br/ departamento/projetoacademico (Acessado em outubro de 2013).

    4 Ver CRUZ COSTA, J. Contribuio histria das ideias no Brasil: o desenvolvimento da Filosofia no Brasil e a evoluo histrica nacional. 2 ed. Rio: Civilizao Brasileira, 1967. Introduo, pp. 3-12.

  • pessoais e criativas para um momento posterior de nossa formao.

    para uma grande parte das instituies universitrias brasileiras, marcando

    apresenta no momento uma srie de problemas que demandam uma pronta

    bastante disciplinada no perodo, a correspondente parte criativa da nossa

    em virtude disso, continuamos a fazer pesquisas concentradas em um

    originalidade. em geral, essas teses tm trs ou quatro captulos, dos quais os dois ou trs primeiros so eminentemente introdutrios, apresentando seja o contexto histrico do problema analisado, seja a moldura conceitual ligada ao problema. essa parte prepara o palco para o que vem a seguir e por isso costuma ser uma mera repetio daquilo que um leitor bem informado sobre o assunto j deveria conhecer de antemo. Apenas um captulo dessas teses,

    deva incluir originalidade sob a forma de uma transgresso pessoal. claro que h excees a esse quadro, mas elas so poucas e o que predomina a situao descrita, em que o mximo de abertura para a criatividade est na possibilidade de elaborar uma interpretao original de um autor clssico. e esse objetivo foi atingido por diversos pesquisadores brasileiros. Outros porm, talvez por serem mais rebeldes, simplesmente abandonaram os estudos

    maneira. Por esse motivo, a questo que se coloca a de saber se o que tem

    Consideremos o problema dos critrios estabelecidos pela CAPeS para

    se inspiram na pedagogia acima mencionada e por isso so muito rgidos,

    pas. Na verdade, pensadores como Scrates, Plato, Nietzsche e Wittgenstein no teriam seus trabalhos aprovados, caso fossem avaliados com os critrios

    teria seus livros rejeitados, por abusar dos aforismos e dos argumentos ad

  • hominemno caso do , por desdizer a si prprio, recomendando um silncio iluminado, e, no das , por adotar a forma de anotaes esparsas, sem conexo aparente entre elas. todos eles seriam tambm criticados por

    notas de p de pgina. Pior ainda, eles cometeram o grave erro de no revelar preocupao em repetir com rigor o que pensadores precedentes disseram, embora todos tenham se apropriado mais ou menos sem pudor das ideias

    tericos. Na verdade, todos estavam preocupados em ir alm das ideias que os precederam, ainda que isso fosse feito com o custo de alterar radicalmente alguma tradio em vigor. As ideias eram mais importantes do que o formato

    acadmicos rigorosos, como se as transgresses por eles cometidas pudessem ser convenientemente domadas e categorizadas por meio de investigaes exegticas capazes de desvendar seu sentido oculto. Com a pedagogia atual,

    tendncia ibrica ao comentrio, emblematicamente caracterizada pelo surgimento da Segunda escolstica Portuguesa em plena idade Moderna. Naquela poca, adotando uma direo diferente daquela dos pases do norte europeu, os lusitanos mantiveram a tradio medieval do comentrio, por meio

    Fonseca seja um aristotlico original, a tendncia exegtica por ele inaugurada

    por vrios sculos, pode ser denominada . e o que a pedagogia

    tendncia, embora sob uma nova forma. Com efeito, agora os pensadores interpretados no se reduzem aos grandes tericos medievais, como toms de

    pode ser objeto de estudo nessa nova escolstica. Mas o fonsequismo, ou seja, a nossa tendncia ibrica ao comentrio escolstico, continua ativo. esse nosso pendor exagerado em direo exegtica j foi criticado mais de uma vez por pensadores estrangeiros que tiveram a oportunidade de participar de

    e vale a pena observar

    5 O caso mais emblemtico parece ter sido o das crticas feitas por Ernst Tugendhadt falta de contribuies pessoais originais nos trabalhos apresentados por pesquisadores brasileiros num congresso em Goinia, h alguns anos atrs.

  • que as interpretaes resultantes dessas investigaes exegticas, alm de no fazerem qualquer referncia realidade brasileira, constituem em geral

    publicados no exterior. Mas o risco que eles correm, quando oferecem alguma

    de tipo proftico.Os inconvenientes da situao em que nos encontramos foram

    , que faz parte de seu livro .

    mero comentrio de texto. Com o tempo, boa parte dos docentes estruturalistas

    O resultado foi a

    cuja autonomia se devia preservar. certo que o mtodo evitava o achismo, o dogmatismo e a paixo pelas novidades, alm de propiciar um senso das ideias gerais e uma desenvoltura na abstrao. Mas havia um preo a pagar

    do que ele j tinha dito. Como consequncias pedaggicas, foram institudos

    6 Ver WEST, C. The American Evasioin of Philosophy: a Genealogy of Pragmatism. Madison, Wisconsin: The Un. of Wisconsin Press, 1989. pp. 114-222.

    7 ARANTES, P. E. Um Departamento Francs de Ultramar. So Paulo: Paz e Terra, 1994. pp. 13-60.8 Ibidem, p. 18.9 Ibidem, p. 19.

  • para prevenir os nossos vcios dogmticos, convinha represar as nossas

    adequada. Mas esse excesso de prudncia trouxe como resultado o fato de que o mtodo promovia um sistema de inibies, funcionando ao mesmo

    a besta num pas de letras amenas.

    que no havia nada em seus trabalhos que pudesse despertar as suspeitas dos

    esquerda, mas inibindo qualquer promiscuidade entre rigor e interesse.

    copas e estudar foi sempre nossa maior especialidade.

    que se manifestaram a respeito do livro de Arantes em uma mesa redonda, realizada poca do lanamento do livro. Vale a pena relembrar aqui o teor das discusses. Os textos correspondentes foram publicados na revista Novos

    livro de Paulo Arantes se encontra na obra , de Antonio Candido, que descreve o desejo dos brasileiros por uma literatura prpria.Arantes era bem adequada circunstncia brasileira, embora boa parte dos

    no mundo contemporneo. Nesse empreendimento de inspirao hegeliana,

    Para Giannotti, Paulo

    10 Ibidem, p. 22.11 Ibidem, p. 25.12 Ibidem, p. 56.13 SCHWARZ, R. Filosofia em formao. Novos Estudos CEBRAP, Nr. 39, pp. 238-42, jul. 1994.14 PRADO JNIOR, B. Uma obra essencialmente filosfica. Novos Estudos CEBRAP, Nr. 39, pp. 255-57, jul.

    1994.

  • Arantes estaria generalizando indevidamente uma experincia dele prprio ou de sua gerao. em seu texto, Giannotti considera que o panorama brasileiro

    uma problemtica. Para superar essa falha, Paulo Arantes teria recorrido transposio do esquema estrutural francs nossa realidade, dando assim unidade produo uspiana e criando um novo patamar a partir do qual todo

    tese, Giannotti contrape uma descrio de outros aspectos institucionais

    nessa mesma instituio, buscando assim revelar o carter reducionista

    prpria maneira. Giannotti admite estar na poca interessado na articulao

    expressa. e no concorda com a ideia de que o mtodo estrutural provoca um vazio histrico ao redor do texto. Para ele, a articulao estrutural do texto constitui um ponto de partida indispensvel para que se possa compreender

    de seu mtodo, para conciliar alguns traos da cultura paulista com alguns Para Porchat,

    a avaliao de Arantes pode ser prematura, pois talvez ele esteja fazendo a histria de algo que ainda no aconteceu. embora esteja aumentando, a

    teria produzido uma idealizao, embora tenha corretamente destacado

    trata de um objeto inexistente, ele no fundamenta o discurso crtico utilizado

    seria resultado de um historicismo marxizante, que curiosa e paradoxalmente

    e na sua ideologia.

    15 GIANNOTTI, J. A. Um livro polmico. Novos Estudos CEBRAP, Nr. 39, pp. 243-50, jul. 1994.16 PORCHAT PEREIRA, O. Um ensaio brilhante de um intelectual maduro. Novos Estudos CEBRAP, Nr. 39,

    pp. 251-4, jul. 1994.

  • Como se pode ver pelas declaraes acima, Schwarz no toca na questo

    argumenta na mesma linha, ao admitir que Arantes destacou a importncia

    que pesem as diferenas nas avaliaes do livro, todos concordam implcita ou

    prprio texto de Paulo Arantes fornece alguma inspirao para essa atitude, pois, embora mostre com clareza os problemas gerados pela pedagogia

    a situao. Porchat revela ter percebido isso muito bem, quando comenta em

    que, temeroso do seu no reconhecimento externo, se volta narcisisticamente sobre si mesmo e complacente exclama: Ah, como somos bons!? Seria bom rirmos de ns mesmos talvez um pouco mais. Paulo Arantes generosamente ri, talvez, de ns mesmos um pouco menos.

    em sintonia com a inteno de rir um pouco mais, o prprio Porchat contribuiu com outro momento importante para o diagnstico de nossa situao. isso ocorreu no conhecido

    de suas preocupaes para com a pedagogia adotada no pas. Nesse texto, Porchat parte da oposio entre e

    deixando de lado as posies pessoais, num verdadeiro de si prprio. Mas Porchat questiona em seguida se a pesquisa

    , de modo a atender s expectativas daqueles que se dirigem ao

    estaria contribuindo para estimular e concretizar essas expectativas ou estaria contribuindo para acabar com elas? Porchat se pergunta se j no se teria

    17 Ibidem, p. 252.

  • mudar.Num esprito anlogo ao da reao ao livro de Paulo Arantes, os colegas

    como mais uma das excentricidades em que ele prdigo. Por algum tempo,

    promovidas pela ANPOF, assumiram a distino porchatiana entre e e debateram a questo. Mas

    o resultado foi a persistncia da metodologia exegtica estruturalista, seja por inrcia, seja por adeso convicta da maioria. Atualmente, a distino porchatiana parece ter perdido a fora original, sendo vista apenas com leve

    muito distante no nosso horizonte cultural.Algumas excees, porm, comearam a aparecer, abrindo uma pequena

    . interessante notar que sua adeso a essa forma de ceticismo decorreu da prpria aplicao estrita do mtodo estruturalista, mediante a qual se faz abstrao da do sistema em benefcio de seu , numa autntica antecipao da pirrnica. em que pesem a mudana

    seus colegas ainda pensam que o Aristteles de Porchat melhor do que o neopirronismo de Porchat. No o caso de discutir esse ponto aqui, mas o futuro certamente mostrar o equvoco dessa avaliao, do ponto de vista da

    e o prprio Paulo Arantes, entre outros dignos de nota, tambm foram alm da

    Giannotti, e outras mais voltadas para a problemtica cultural brasileira, como

    18 Ver PORCHAT PEREIRA, O. Discurso aos estudantes sobre a pesquisa em Filosofia. Gnero: provocatio. Dissenso Revista de Estudantes de Filosofia, So Paulo, DF-FFLCH-USP, Nr. 2, pp. 131-140, 1o Sem. 1999.

  • em que os mestres se libertaram das restries metodolgicas estruturalistas, ao passo que os alunos continuaram a trabalhar nos limites estreitos dessas mesmas restries. Como no h qualquer estmulo nem treinamento na argumentao em defesa de posies prprias, somente um ou outro intelectual mais independente consegue superar a barreira das restries pedaggicas e

    exegticas. infelizmente, essa situao perdura at os dias de hoje.

    no devem ser compreendidas como envolvendo a rejeio radical do trabalho

    toda uma gama de alternativas possveis, como a exegese com pretenses

    problema por ele no considerado, a elaborao pessoal criativa e autnoma etc.

    como fazem Machado de Assis e Clarice Lispector, por exemplo, ou o apelo

    exemplo. Nessa perspectiva, a questo que se coloca a seguinte: at que ponto a rebelde mente brasileira deve continuar sendo disciplinada academicamente no sentido de explicar textos estrangeiros, sem qualquer preocupao com a nossa realidade e com a elaborao pessoal criativa e autnoma? Sessenta anos

    se a rebelde e inculta mente brasileira ainda no estiver disciplinada depois de tanto tempo, ela jamais o estar. certo que a mudana de postura sugerida aqui poder levar ao aparecimento de elaboraes que, embora pessoais, criativas e autnomas, possuam falhas facilmente reconhecveis. Mas esse o preo a ser

    de articulao bastante adequado para as nossas necessidades. Os exemplos dados pelos autores anteriormente mencionados, que conseguiram de algum modo se libertar dos grilhes exegticos, apontam nessa direo.

    O que teria de ser feito, para que uma mudana na nossa predominante pedagogia exegtica pudesse acontecer? Porchat, em seu

    , faz duas sugestes nesse sentido. em primeiro lugar, ele recomenda a introduo de cursos e seminrios, bem como a orientao

  • de pesquisas no sobre as doutrinas de um autor, mas preferencialmente

    deveriam ser levados em conta. em segundo lugar, ele recomenda que os alunos sejam estimulados o tempo todo a exprimirem livremente, nos seminrios, aulas e trabalhos escolares, suas prprias opinies sobre os temas tratados. eles deveriam ser encorajados a ousar criticar at mesmo as

    do abominvel

    antes nem depois de produzirem suas obras. ele lembra tambm que os gregos

    diziam respeito s preocupaes efetivas de sua poca. essa postura, porm,

    pontos de vista prprios e a rebater pontos de vistas opostos. claro que a opo por essa postura tornaria mais rdua a tarefa do professor, j que

    As sugestes de Porchat ainda so hoje bastante adequadas nossa situao e poderiam ser complementadas como segue. em primeiro lugar, se

    cultura e poca, ento necessrio que aprofundemos o conhecimento do

    hoje. essa espcie de autoconhecimento essencial para o desenvolvimento

    verdade, o que predomina no pas uma ignorncia quase total a respeito

    como Mrio Vieira de Mello, por exemplo, so completamente ignorados

    estrangeiros. isso agravado pela existncia de uma autoimagem negativa

    para a adoo da pedagogia estruturalista, mas tambm para a permanncia da mesma entre ns. Graas a ela, surgem tambm falsos problemas, como

    no do

    19 Porchat Pereira, 1999, pp. 131-140.

  • que insiste em avaliar a situao brasileira com critrios europeus claramente inadequados para a nossa autocompreenso. Alm disso, preciso voltar o

    e Susana Nuccetelli, entre outros, que pensam a nossa situao de maneira independente, utilizando categorias no europeias e preconizando uma atitude de respeito para com nossa alteridade. Nessa perspectiva, os trabalhos dos alunos deveriam incluir obrigatoriamente uma parte em que se posicionam

    acessveis gratuitamente pela internet, do mesmo modo que as revistas de

    mofando em alguma estante de biblioteca. Com essas providncias, os nossos alunos seriam estimulados a conhecer efetivamente a nossa realidade e a

    em segundo lugar, a questo da internacionalizao deveria ser repensada.

    diavelmente a nossa identidade cultural. Os trabalhos atuais, publicados

    a ver com a realidade brasileira. eles so a manifestao da mais completa submisso cultural a categorias e critrios externos. No ser por meio desses

    contudo, que a publicao de textos em ingls seja um empreendimento sempre

    cultural, como faz Walter Mignolo, e outra bem diferente escrever em ingls para expressar o conformismo de um pensamento colonizado. Mas o problema

    em dia, possvel observar certos textos, produzidos por alunos brasileiros brilhantes, que se revelam infestados de anglicismos: por

    , por etc. A pontuao e o estilo tambm fogem ao esprito da lngua portuguesa, revelando o quo

    em portugus, mediante tradues especializadas, baseadas no conhecimento

  • tese discutvel, uma vez que a nossa lngua j possua uma terminologia

    Mesmo que a tese fosse verdadeira, restaria saber at que ponto a nova

    o fortalecimento de um complexo de inferioridade dos falantes do portugus

    o francs e o alemo. isso aconteceria principalmente quando esto em jogo palavras estrangeiras de difcil traduo, que sugerem a ideia de que a inculta lngua portuguesa no teria um vocabulrio altura das sutilezas envolvidas.

    vantagens e desvantagens. O alemo, por exemplo, tem, para aqueles que praticam a metafsica, a vantagem de ser uma lngua bastante expressiva, j

    ou a um substantivo para se obter um termo profundamente abstrato. Mas isso se torna uma desvantagem para os

    entidades abstratas no existentes. O mesmo acontece com o portugus, que tem vantagens quando est em jogo a expresso de nossas prticas concretas e desvantagens quando est em jogo a expresso de teorias abstratas. isso no

    Na verdade, temos tambm palavras intraduzveis em outras lnguas, como saudade, alm de distines sutis que outras lnguas so incapazes de expressar, como aquela entre e .

    em terceiro lugar, o problema aqui levantado deveria ser discutido

    pedagogia estabelecida, mas tambm defensores de pedagogias alternativas possam ser ouvidos e alteraes possam ser feitas. temos de encerrar a fase

    e a liberdade de expresso do prprio pensamento. isso poderia levar a uma

    pedaggica e terica. O debate proposto poderia tambm contribuir para o trmino da ciso culturalmente esquizofrnica que tem marcado a comunidade

  • como vasos no comunicantes: os que fazem exegese de autores estrangeiros,

    contribuindo para fazer do pas uma autntica comunidade de desconversao.esse conjunto de providncias constitui o mnimo necessrio para

    longa etapa de estagnao exegtica e de ausncia de debate. A superao dessa situao deveria ser feita no esprito do provrbio latino mencionado

    cerca de quinze anos depois: .

    1 Ver Porchat Pereira, 1999, pp. 131-140.