marco conceitual para o ensino e a pesquisa de

11
ARTIGO DE ATUAL IZAÇÃO M A RC O CON CEITUAL PAR A O ENSI NO E A P ESQUI SA DE ENF ERMAG EM FUNDAMENTAL - um ponto de vista Vilma de Carvalho e Ieda Ba rrei ra e Castrol CARV AUla, V. & CASTRO, I.B . Marco conce i t ual par a o ensino c a pesqui sa de e n fermagem fundamental; um ponto de vista. Rev. ras. Enf, Brasília, 38(1): 76-8 6, jan./mar. 1985. RESUMO. Conceitua-se Enfermagem Fundamental co m base nos sig nif icados e implica- ções relativo s ao termo e aos conhecimento s mai s gerai s e mais simple s da enfermagem. Conhecimentos esses que convêm às categoriz ações que a enfermagem como totalidade pos sa assumir (Enfermagem Médico-C irúrg ica, Enfermagem M aterno-I nfantil, E nferma- gem de Saúde Pública, etc.), e que se referem à acepção dad a. São apontados os assunto s do domíni o da área, analisados crit icamente alguns tópicos, di scutido s os enfoques de uma proposta de de marcação teórica, e conce ituado um marco para o ensino e a pe squisa de enfermagem funda mental. São apr esentadas também algumas conclu sõe s e tecidas recomendações à s E scolas e Cursos de Enfermagem, pertinente s ao assunto e aos est udos específicos. ABSTRACT. The Fundamental Nursing wi th basi s in the concepts and impl icat ions to· ward this term and to the more ge neral and more simple s knowledge of nursing i s defined. These knowledge are rel ated to the ca tegories a ssumed by the entere ty nursing (med ica -surgical nu rsing, mate rnal-chi ld nursing, public-health nursing, and ot hers) in relation to the concept gived. T he subject of area rule are point ed. Some topics are cr it ical ly ana- lized. The frame for t he Fundamental Nursing t eaching and research are d efined. The authors present some conclusions and ma de recom mendations ab out t o the subject and specific s studies to the Nursing Sch ool. ALGUNS E SCLARECIMENTOS À GUISA DE INTRODUÇÃO A tarefa de conc eituar e discutir um Marco Conceitual par a o Ensi no de Enfermagem Funda- mentaI no Curso de Graduação consti tui mna séria responsabil ida de e um desafio. Uma séria responsa- bilidade porque certamen te eξstem outras pes soas c om mais preparo e titul ação par a dizer acerca das coisas e signi cados possiveente implicados. Um desafio porque quando se prete nde uma aborda- 1 Professoras da E sc ol a de Enfermagem Ana Néri, UFRJ. 76 - Rev. Bras. Enf , Brasíli a, 38(1), jun./mur . 1985 gem desi gnada como "pont o de vista", cor re-se todos os risc os. Corre-se princ ipalmente o risco de contrariar a mentalid ade prosaic a, que aprecia a literalidade ra dicalizad a no stric sensu e na ten- dência de alinhar tudo aos esquemas e às aborda- gens marcadamente científicos. Na opinião de MORGAN I2 , a ment alidade prosaica do nosso tempo reduz tudo à objetividade fac t ual , à previsão mat emática, à det erminação de [ron iras bem det erminadas entr e todos os a ssun-

Upload: lynhi

Post on 08-Jan-2017

216 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: MARCO CONCEITUAL PARA O ENSINO E A PESQUISA DE

A R T I G O D E AT U A L I ZAÇÃO

M ARCO CONCE I TUAL PARA O ENS INO E A P ESQU ISA DE E N F E RMAGEM FUNDAM ENTAL - um ponto d e v i sta

V i l ma de Ca rva lho e I eda Barre i ra e Castro l

C ARV AUl a , V . & CASTRO, I . B . M arco conce i tual para o ensino c a pe sq ui sa de en fe rm agem fundamen tal ; um pon to d e vista. Rev. liras. Enf , Brasí l ia , 38( 1 ) : 76-86 , jan ./mar. 1 9 85 .

R ESUMO. Conceitua-se E n fermagem F u ndamental com base nos s ign i f icados e imp l ica­ções re lat ivos ao termo e aos conhec i mentos ma i s gera i s e mais s imples da enfermagem. Conhec i mentos esses que convêm às categor izações que a enfermagem como tota l idade possa assu m i r ( E nfermagem M éd ico-C i rúrg ica, E n fermagem Materno- I n fant i l , E nferma­gem de Saúde Púb l ica, etc . ) , e que se referem à acepção dada. São apontados os assuntos do dom ín io da área, ana l i sados cr i t icamente alguns tópicos, d i scut idos os e nfoques de uma proposta de demarcação teór ica, e conce ituado u m marco para o ens ino e a pesq u i sa de enfermagem fundamenta l . São apresentadas também a lgumas conc lusões e tec idas recomendações às E sco la s e Cu rsos de E nfermagem, pert i nentes ao assunto e aos estudos específ icos.

ABSTRACT. The F u ndamental N u rs ing w ith basis in the concepts a nd imp l icat ions to· ward th is term a nd to the more general and more s imples k now ledge of nurs ing i s def ined . These k nowledge a r e re lated t o t h e categor ies assumed by t h e enterety nurs ing ( med ica i · -surg ical nurs ing , materna l-ch i l d nursing, pub l i c-hea l th nurs i ng, and others ) in re lat i on to the concept g ived . The subj ect of area ru le are poi nted . Some topics are cr i t ica l l y a na­l i zed . The f rame for the F u ndamental N u rs ing teach i ng a nd research are def i ned . The authors p resent some concl u s ions and made recommendat ions about to the subj ect a nd spec i f ics stud ies to the N u rs ing Schoo l .

A LG UNS ESC LAR EC I ME N TOS À G U I SA DE I NT R ODU ÇÃO

A tarefa de concei tuar e discutir um Marco Conce i t ual para o Ensino de Enfe rmagem Funda­mentaI no Curso de Gradu ação consti tui mna séria responsabilidade e um desafio. Uma séria responsa­bilidade porque certamen te e xistem outras pessoas com mais preparo e t itulação para dize r acerca das coisas e significad os possivelmen te implicados. Um de safio porque quando se pre te n de uma aborda-

1 Professoras da Escola de Enfermagem Ana N é ri , U F RJ .

7 6 - Rev. Bras. Enf , Brasí l ia , 38( 1 ) , jun . /mur. 1 985

gem designada como "ponto de vist a " , corre-se todos os riscos. Corre-se principal me n te o risco de contrariar a men talidade prosaica, que aprecia a l ite ralidade radical izada no strictu sensu e na ten­dência de alinhar tudo aos e squemas e às aborda­gens marcadame n te cie n t íficos .

Na opinião de MORGAN I 2 , a men talidade prosaica do n osso tempo reduz t udo à obje tividade fact ual , à previsão matemática , à determinação de [ron tciras bem determinadas entre todos os assun-

Page 2: MARCO CONCEITUAL PARA O ENSINO E A PESQUISA DE

tos, campos pragmáticos e até entre os can teuos que in teressam às ati tudes e ações .

O inconveniente da mentalidade prosaica é que , de certa forma , ela é responsável pela displu­ção dos sign ificados que atendem ao fun damental das coisas e ao sentido que garan te a compreensão da totalidade . E, .no entanto, a totalidade é tão necessária à nossa visão dos significados que podem nos unir , na in terpretação dos valores que nos in te ressam, ou na escolha dos caminhos com­pat íveis com as coisas do nosso que fazer . Sem a to talidade , a realidade em torno de nós carece de sen tido -- nos confundimos, nos atrapalhamos e nos

desconhecemos . E , no entanto, talvez em nenhuma ou tra época a totalidade tenha sido tão difícil , tão deslocada do i n teresse geral e , ao mesmo tempo ,

. tão crucial à necessidade de comunicação , de nos ende reçarmos ao mundo e aos ou tros .

Houve WTI tempo, na história d o pensamen to ocidental , em que a tarefa de concei tuar ou descre­ve r as coisas resumia-se em uma operação intelec­t ual sem maiores rodeios . A contemplação teórica , a predicação de categorias e quando muito um esforço de análise dedutiva permitiam ou a deter­minação da natureza das coisas do mundo circun­dante ou a negação dos traços que não convinham à sua necessidade de ser . Mais tarde , quando o esti­lo do pensamento colocava-se já corno modernida­de , conseguia-se submeter à prova as afirmações anteriores e descreve r a realidade à luz dos instru­mentos e estratégias do método cient ifico . Conse­guia-se , com isso , sem muita di ficuldade , fazer recuar os limi tes do mundo à nossa volta . Mas as interpretações e verificações se conformavam ain­da, de certa forma , a uma ordem que se mantinha na dependência dos poderes e das leis do esp íri. tCl . Como nos afiança PICÓN IS , "se o mundo - conser­vado a cada instan te pelo poder Que o criou e diri­gido por ele até o fim d os tempos - deixasse de ser , uma ordem se mantinha . Quando se t ratava de descobrir e de criar , tal ordem não duvidava de si mesma . Si mplesmen te a unidade do projeto h uma­no substi tuíra-se à finalidade divina ; a ordem natu­ral das causas e e fe i tos , à ordem da criação . Diante do deswnhecid o .- o da Natureza ou o da Histór ia ­o esp írito mantinha a exigência e a segurança da mesma ordem - a da inteligib il idade ."

Hoje , a ordem é bem diversa . As fronteiras do mundo se abrem para o infinito . Mutações cons­tantes implimem d ian te do esp írito con temporâ­neo uma visão caleidoscópica. Os mais sofisticados recursos da ciência e da tecnologia arrancaram-se

das páginas da ficção cient ífica para colocar a

razão lllaiS perplexa ainda diante do mundo das máquinas que pensam . Os princ ípios da lógica ali­men tam agora cri té rios cibernéticos , que apoiam os avanços da ação pelos caminhos da especializa­ção . Não obstante , só o ponto de vista pode aju­dar-nos em favor de uma vi são de conjunto - à qual in teressam o fundamental e a totalidade . Mesmo porque ignoramos, de certa forma , as leis da navegação espiritual que nos apoiarão nas próxi­mas viagens , em demanda de novas margens dos muitos mundos que , possivelmente , nos rodeiam . Mas o risco ainda mai or que se corre é poder dizer tudo o que se deseja , argumentar com a maior lógica poss ível , e saber que talvez não se consiga acres­centar nada ao que já se tem como acertado. Em que pese o significado do tema , não nos sendo pos­s ível contribui r , aqui , para a revisão mesma dos conce i tos que orientam o ensino e a prá tica da enfe rmage m , que o nosso esforço valha pelo menos como exerc ício de reflexão em favor do que en ten­demos como "enfermagem fun danlental" . ,

E N F E RMAG EM F UN DAM E N TAL - Sign ificante e significado: or igem da

denomi nação e seu interesse para o ensino e a pesquisa de enfermagem

o S IGN I F ICANTE

O termo Enfermagem Fundamental foi cunha­do há três qüinqüênios, na oportunidade da im­plantação da Reforma Universitária . Naquela ocasião, quando se discutia a reestruturação da Escola Ana Néri em Departamentos de Ensino , sentiu-se a necessidade de designar uma primeira área , apropriada aos conhecimentos fundamentais à formação profissional do enfermeiro . Assim, foi criado o Departamento de Enfermagem Funda­mental , com o propósito de efetivar o ensino das disciplinas curriculares consideradas como básica� ou fundamentais e de se ocupar de estudos que pudesse m garantir consistência teórica e aplicabili­dade prá tica a essa área de conhecimentos. E qual seria a área da Enfe rmagem Fundamental ?

As d isciplinas do curr ículo da ESCOLA D E ENFERMAGEM AN A NÉRi (EEAN) que , naquela ocasião , integraram o Departamento de Enferma­gem Fundamental foram introdução à Ciência da Enfe rmagem, Fundame ntos da Enfermagem, His­tória da Enfermagem e Ética Profissional . As duas primeiras disciplinas configuram o contexto da descoberta , ao yual interessam os assuntos que se colocam no encon tro do enfe rmeiro com a enfe r-

Rev. Bras. Enf . Brasí l i a . 38( 1 ) , jan. /mar. 1 985 - 7 7

Page 3: MARCO CONCEITUAL PARA O ENSINO E A PESQUISA DE

magem ou que servem à determinação da natureza mesma da Enfermagem.

A História da Enfermagem e Ética Profissional

foram entendidas comó integrantes desse Departa-" mento, porque configuram vertentes que ampliam

a própria conceituação da enfermagem e configu­ram, além do mais , os contextos de explicação e de

justificação dos fatos que interessam à enferma­

gem. A História da Enfermagem tanto garante a compreensão dos fatos em sua origem e prospec­ção, como permite a análise das tendências e a discussão dos saltos qualitativos, oriundos das con­tribuições científicas ou dos avanços sociais da profissão. A Ética Profissional , por sua vez, além de possibilitar a explicação dos atos profissionais à luz dos propósitos e valore s da enfermagem, permite a justa apreciação das atitudes e condutas dos enfermeiros, em termos de prerrogativas frente às exigências e padrões sociais .

O Departamento de Enfermagem Eundamen­tal funcionou de modo a atender os objetivos de ensino daquelas quatro disciplinas até 1 97 8 , quan­do se iniciou o processo de implantação de um novo modelo curricular em n ível de graduação. Tal reforma teve , e vem tendo, importantes repercus­sões na vida dos Departamentos . Estes procuraram se adaptar às novas exigências pedagógicas e admi­nistrativas , sem que tivessem podido contribuir mais efetivamente na definição do marco concei­tual do curso de graduação, por não disporem de marcos teóricos explicitados .

Entrementes, o Curso de Mestrado da EEAN fora implantado em 1 972 e credenciado no ano seguinte . Como seu objetivo maior era (e ainda é) a qualificação de docentes de enfermagem, a pro­posta programática inicial culminava em uma única área de concentração que , no caso , foi a de Enfer­magem Fundamental . Tal prioridade deveu-se ao entendimento de que se poderia aglutinar um grupo de docentes , da própria Escola e da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, em tomo de um núcleo de conhecimentos básicos. Esta primei­ra experiência poderia irradiar-se para outras áreas de concentração do Curso, a serem implantadas posteriormente , e forneceria dados sobre o resul­tado dessa primeira área, para o ajustamento das demais. No entanto , como já citamos em trabalho pertinente à avaliação dos dez anos do Curso de Mestrado da EEAN (CARVALHO & CASTRO)4 , este curso foi implantado fora dos Departamentos, sendo apontada como justifica tiva para tal opção a necessidade de garantir a excelência na pós-gradua­ção. É importante notar que o marco conceitual

7 8 - Rev. Bras. Enl , Brasília , 38( l ) , jan. /mar. 1985

do Curso de Mestrado também ainda não foi escri­

to.

o S IG N I F ICADO

Fundamental é aquilo que corresponde à es­

sência de uma coisa, é o que é imprescindível à existência dessa coisa, sua garantia ou razão de ser . Logo , Enfermagem Fundamental é a ordem ou o conjunto de proposições e de idéias mais gerais ou mais simples , de onde se deriva a totalidade dos conhecimentos da Enfermagem; representa as bases sobre as quais se assenta toda a prática da enfermagem, e inclui o aparato é tico-filosófico e a dimensão histórica da profissão.

A compreensão do concei to de Enfermagem Fundamental está ligada à noção do que sejam os conhecimentos mais gerais de enfermagem e do que sejam os conhecimentos mais simples de enfer­magem.

Conhecimentos gerais de enfermagem são aqueles que convêm a todas as categorizações que a enfermagem possa assumir (Enfermagem Médico­-Cirúrgica , Enfermagem Materno-Infantil , Enfer­magem de Saúde Pública , etc.). Aliás , um equiva­lente do termo Enfermagem Fundamental seria Enfermagem Geral , a exemplo da nomenclatura adotada por outras ciências (Biologia Geral , Botâ­nica Geral , Agronomia Geral , Cl ínica Geral , etc.).

Conhecimentos simples são aqueles que guar­dam sua singeleza original , à qual não foram acres­centados novos elementos , referindo-se exclusiva­mente à acepção dada, sem encerrar conotações outras .

Nesse sentido , se pode compreender a Enfer­magem Fundamental como uma abstração teórica, isto é , o resultado da operação mental de separar um ou mais elementos de uma totalidade comple­xa, no caso a Enfermagem. Assim , a Enfermagem Fundamental só subsiste na prática enquanto com­ponente essencial desta totalidade , o que inclusive lhe garante a unicidade . Isto porque a Enfermagem Fundamental não tem um campo de atuação espe­c ífico. Ao contrário, a prestação de cuidados bási­cos de enfermagem se faz a qualquer clientela e em qualquer cenário, e nada mais é do que a aplicação dos conhecimentos gerais e simples de enfermagem a situações particulares , que lhe emprestam, por adição e nunca por substituição, características específicas.

Por isto, também se poderia falar de uma En­fermagem Fundamental Teórica e de uma Enfer­magem Fundamental Prática , desenvolvida esta nos

Page 4: MARCO CONCEITUAL PARA O ENSINO E A PESQUISA DE

vanos campos da enfermagem. Esta consiste na prestação de cuidados básicos , em situações que variam de menor para maior complexidade , em cuja medida se lança mão de cuidados espec íficos de um dado campo especial da enfermagem. Esta transição não tem limites claramente definidos , não se perceben do com exatidão o momento em que se passa do geral e simples para o especial e complexo. En tretanto, é óbvio que todo e qual­quer cuidado de enfermagem guarda seu compo­nente original de Enfermagem Fundamental , sem o que , é claro, deixaria de ser enfermagem .

Vale lembrar ainda que , como declara RO­GERS 1 7 , a enfermagem é concernente com pes­soas , todas as pessoas , saudáveis e doentes, ricas e pobres, jovens e velhas . As áreas de serviços de enfermagem estende m-se para aqueles lugares onde há pessoas : o lar , a escola, os locais de trabalho e de lazer, e os serviços de saúde .

São do dom ínio desta áre a : a explicação do que é e do que não é enfermagem ; a definição do objeto de trabalho da enfermagem, isto é , de seu "que fazer " ; o papel e as funções primárias de seus exercen tes ; a proposição, classificação, aplicação e avaliação da aplicação de princípios ; as concepções teóricas ; os modelos assistenciai s ; as tipologias de situações-problema ; os procedimentos técnicos , cl ínicos e interativos ; e os riscos da assistência de enfermagem.

MARCO CONCE ITUAL - explicação do termo e sua aplicação no

ensino da enfermagem

Marco é uma fron teira , limite daquilo que se pretende desenvolver ou realizar no âmbito do conhecimento e da ação . No caso da enfermagem, o marco serve de. referência à busca de respostas para a construção' do conhecimento, ao alcance de metas para a prática , e ao desenvolvimento de ex­periências da formação da pessoa . No que tange à enfermagem , é necessário que , através do marco , se possa identificar os significados favoráveis às bus­cas da enfe rmagem e ao processo de formar enfer­meiros para o presente e o futuro . Tais significados envolvem conceitos fundamentais ; habilidades, capacidades ou competências desejadas, valores essenciais às me tas e aos propósitos da enferma­gem . Quan to à formação profissional, o marco conceitual deve servir de referência para a elabora­Ção de objetivos e para a seleção , organização e avaliação das experiências , no contexto das ações ou das condutas realizadas. De certa forma , o

marco deve funcionar como "estrutura-guia" para apoiar e dar sentido às coisas que fazemos e aos fatos que se passam no empreendimento curri­cular . Em última instância, o marco deve, opera­cionalmente , servir à unidade de pensamento e ao sentido das ações de todos os envolvidos com as situações cwriculares , principalmente os e studan­tes , os professores e os clientes.

Por isso , o marco conceitual deve ser concebi­do como abstração daquilo que entendemos como necessário à consecução de metas e propósitos tan­gíveis ao profissional , no âmbito da prática da enfermagem_ Prática substantiva, fundamental na busca do conhecimento, no exerc ício da arte , na utilidade vivencial da missão. Missão de ajudar às pessoas a aprender a ajudar-se .

Na circunstância que ora analisamos, o marco conceitual do curso de graduação antece deu (pelo menos em forma de documento discutido e apro­vado em algumas instâncias docentes) à elaboração dos marcos departamentais. Estes começaram a ter sua descrição cogitada a partir do ano passado, devido a necessidades imperiosas de redefmição do papel dos departamentos, principalmente no que se refere ao ensino de graduação, pois, como foi visto, eles não têm ingerência no Curso de Mestra­do. Portanto parece-nos clara, nesta tentativa de delineamento de um marco para a Enfermagem Fundamental , a conveniência de não perdermos de vista o marco conceitual do Curso de Graduação que será, então , tomado como ponto de partida. O enunciado deste marco é o seguinte :

"A enfermeira como fulcro de um processo, do qual emerge a prática total da enfermagem, en tendida como a ciência e a arte de ajudar a indivíduos, grupos e comunidades , em situa­ções nas quais não estejam capacitados a pra­ver o autocuidado para alcançar seu n íVel "Óti­mo de saúde ."

o significado do marco conceitual do Curso de Graduação da EEAN deve ser compreendido pela análise de algumas de suas palavras ou termos constituintes , a saber3 :

o enfermeiro como fulcro de um processo, isto é , como suporte e sustentáculo que equilibra e dá apoio ao movimento, no caso o processQ de enfermagem, entendido tan­to como a sucessão de eventos que ocorre no âmbito da relação de ajuda que se esta­belece entre o enfermeiro e a pessoa assis· tida, como em suas dimensões sociais ;

R ev. Bras. En[ , Brasília, 38( 1 ) , jan. /mar. 1985 - 79

Page 5: MARCO CONCEITUAL PARA O ENSINO E A PESQUISA DE

a prática total da enfermagem com preen de os serviços prestados à população por todos os exercentes da enfermagem , quer do sis­tema formal , quer do sistema informal'l

enfermagem como a ciência e a arte de aju­dar - aqui são contemplados o saber teóri­

co da enfermagem , com seus princ ípios e concei tos organizadores e o saber prático da enfermagem , oriundo da experiência vivida; o primeiro configura a construção cient ífica , e o segundo expressa a arte da enfermagem ;

situações de enfermagem - conjunto de

circunstâncias da realidade espacial e tem­

poral que afe tam a saúde de in div íduos, grupos ou comunidades e em cuja esfera

ocorre o encon tro do enfe rmeiro com se u clien te ;

autocuidad o conjun to de medidas mais simples , apropriadas à saúde e realizadas pelo próprio cliente , com independência , de terminação e responsabilidade , de modo a atende r suas necessidades básicas ou de buscar ajuda adequada, quan do for o caso ;

n ível ó timo de saúde - o resul tante do desenvolvimento l11axImo das próprias capacidades nas circunstâncias de vida e de trabalho, no exerc ício da utilidade e da partici pação social , configurando-se como um es tilo de vida e não podendo ser en ten ­dido fora de um contexto pol ít ico-econô­mico , enquanto bem social .

À época em que esse marco foi proposto, a expectativa era a de que seus termos constituintes . seriam incorporados , gradativamente , e de sorte a favorecer o domínio de compe tencias previstas no perfIl do graduado. Como verdadeira pedra angu­lar, o marco do Curso de Graduação garantiria a forma fundamental dos caminhos da ação de enfer­magem e, portan to, a visão da totali dade . Indepen­dentemente da especificidade da ação , nos diferen­tes cenários da prática , como descrição primária das coisas que in te ressam à prática to tai , tal marco ensejaria a wlidade de pensamento em tomo da abordagem consisten te com as situações dos clien­tes . OutroSsim, a u tilização adequada do mesmo , em nível de cada programa curricular , favoreceria os enfoques necessários à conscien tização do papel e dos interesses da enfermagem ente n dida como prática social .

80 - R ev. Bras. Enf , B rasília , 38( l ) , jan. /mar. 1 985

UMA DEMARCAÇÃO TEÓR ICA PARA O ENS I NO E A PESQU ISA EM E N F E RMAGEM

FUNDAMENTAL

E m vista do exposto, um marco teórico para o

ensino e a pesquisa na área de Enfermagem Funda­

mental poderia atender aos seguintes enfoques :

os cuidados básicos de en fermagem são

prestados por todos os e xercentes de enfer­

magem, quer do sistema formal , quer do

sistema informal , a pessoas e a grupos , em

qual quer es tágio de seu ciclo vi tal e em

qualquer momento do continuum saúde­-enfermidade , e são VIab iliza dos pelos instrumentos básicos de en fermagem .

O conjun to d e tópicos proposto por HORTA et alüll como "instrume n tos básicos de enferma­gem " , em que pese terem sido adotados por um Comi tê de Peri tos da OPAS/OMS (v. Publ . Cient í­ficas n9 303/ 1 97 5 ), con tinua a me recer ainda estu­dos mais de fini tivos . Em nossa mane ira de ver , se é in dispensável ao trabalho de enfermagem a utili­zação de instrumentos básicos, então é necessário que os mesmos possam ser a dequadamente concei­tuados e especificamente catcgorizados . As dificul­dades parecem sé rias , haja vista que , ao tempo em que se deve atender à defin ição de instrumento, estes devem ainda apresentar especificidade em relação à enfe r mage m . Servem como exemplos mais t ípicos dessa dificuldade a "destn:za manual " e a "cria tividade " , que mais parecem com "qualida­des" do agen te do que com a condirio sine qua non de meios favoráveis à ação de transformar a experiência em que se opera . E embora nao se pos­sa obje tar , em sã consciência , a capacidade de todos quanto à destreza manual (salvo nos casos de condições nocivas) e à possibili dade de anlpliar a habil i dade pelo exerc ício continuado, o mesmo não se pode dize r da criatividade . Neste sentid o , afirma KNELLERl I que "todos deve m ter a mes­ma oportunida de de exprimir seus d ons criativos, mas nem todos ' são igualmente criativos . Alé m disso, mesmo entre os que demonstram possuir criatividade são bem poucos os que possuem a idéia criadora ." Donde se conclui que , se a criativi­dade não é apanágio de todos , não pode ser toma­da como "instrumen to básico " e muito menos como caráter de exclusividade n os termos de "en­fermagem". De outro modo, vale citar ORTEGA Y GASSETI4 , para quem "as coisas do mundo que se colocam como meios para ou estorvos para a ação são denominadas instrumentos. São coisas que , no campo pragmático, favorecem os serviços próprios

Page 6: MARCO CONCEITUAL PARA O ENSINO E A PESQUISA DE

da at iv idade teórica ou prática . Al gumas se ar t i ­

c ulam com ou t r as em ve rdadei ras est r u t u ras que

e n tende mos por · 'usos. " Assim se n d o , convé m

a ten tar para os "p roce d ime n tos d e en fe rmagj! m " que , de certa forma , funcionam como "ferramen·

tas" e ssenciais ao trabalho de enfermagem e, con ­

tudo, não constam daque le conjunto de "instru·

me n tos básicos de e n fermage m " .

Quanto aos d (� J l lais tóp icos relacionados p or HORTA e Cols.8 , não obstante serem wnsiderados

no ensino e na prática de enfermage m , não resis­

tem à análise en quan to meios para a ação de enfe r­

magem. Como as autoras me smas re fe re m , eles são

inclu ídos , também , no instru me ntal de o u t ras profi ssões , não apresen t and o , poi s , a especific idade

que deve i l l t.e ressar à e n fe rmage m .

Ainda que não tenhamos u m a idéia formada sobre a questão dos " in strume n tos", j ulgamos ser preciso encon trar ou tras ca tegorias e denomina­çõe s , mais de acordo com a e fe t uação ou exe­cução do cuidado de enfermagem mesmo . Pensa ­

mos que alguns se riam de natureza eminentemente

teórica - se rviriam à compree nsão , à demon st ra ­ção , e à just i ficação das coisas fe itas , à l uz do sabe r

da enfe rmagem . Poderiam se r instrumen tos oriun ­

dos do conhecime n t o das ciências , incluindo-se os

da saúde e , prinCIpalmente , os da enferm agem . Se riam , na verdade , mei os ou recursos cien t íficos u t iliza dos n o cuidado de en ferm agem como, por exe mp lo , os pr inc íp ios cien t .íficos e as t.eorias de e n fermage m . Ainda assi m , mesmo esses mstrumen­tos precisam de estudos e reflexões ma is a profun ­dadas . Ou por que "a prol lssào de entermagem e stá muito vol tada para os aspectos b iológicos e técni­cos , ge rando urna de ficiência de conhecimen tos de

outras áreas corno filosofia , educação , soci ologia ,

psicologi a , economi a , que muito têm con tri bu ído

ao desen volvi men to de marcos conceituais para a pesquisa ." Ou porque "a té o momen to n ão há evi­dência de que as teorias estejam responden do à cri ­se da enfermage m . Isto porque n iio nos parece que tenha sido na prática que elas e me rgi ram , A pro ­posta é de uma eli te da e n fermage m n orte -ame rica­

na, talvez d istanc iada da p rática assis tencial e de nossa real i dade sóci o-cul tural . Além d isso , podem não ser exatamente teor i as de entemlage m , pois sua fun dame ntação tem um forte componente das ciências sociais . Caminham mais no sen tido da abordagem relações humanas enfermeiro-paciente . É u ma produção que , pelo menos n o Brasi l , e s tá mais cen trada na pós-graduação cujos al unos são docen te s , em sua maior ia , e como tal vol ta d os pri-

mordialmen te para o en s ino" (CASTRO & A L­

M E lDA )b . Outros instrume n tos , de n a t u reza eminente ­

mente prática, serv irianl à produção de meios ou

de condições favo ráve is aos cuidados de enferma­

gem e , principal me n te , à e fe tivação de condu tas espec íficas do en fe rme iro . En tre esse s é que situa­

mos os " p roce di men tos de enfe rmagem " , que po­deriam subdividir-se ainda em "técnicos" , "cl íni­

cos" e " i n te rati vos" , ou em tan tos quan tos fore m

os "u sos" do campo pragmá tico, como propõe

O KTEGA Y GASSET I4 • Tais procedimentos servi­riam às abordage ns d ire t as e indire tas adequadas à

esfe ra do c uidad o de en fe rmagem. E como o cuida­do de en fe r mage m , alé m de se r o objeto de traba­lho d a enfe rmage m , é a esfera mais própria da a t uação profissiqn al - esfera , portan to , sobre a qual se pode e xerce r com libe rdade o con trole de funções e de at ividades de enfe rmagem -, pensa­mos que os proce dimen tos de en fermagem servi­

riam talvez de ocasião para e le ge r cr i té rios que pos­sam justificar a au tonomia da enfermagem . Essa

idéia, no entan t o , não é concl usiva . Con tudo, a t ít ulo de exempl o , sugerimos a "vigilância de en­

fer mage m " , que comporta a obse rvação do clien te e o acompanhament o da evolução c l ín ica , como

sen d o um "proce dimento clínico de abordagem d ire ta . " A "organ iza<,�ao de recursos humanos" e a "confecção de ma te rial para cuidar" parecem elas­

si tlcar -se bem como "procedime n tos técnicos de ab ordage m indire ta ." A "p rovisão de re pouso e de medidas de l i mpeza corporal e con forto " é , sem dúvi da um "procedimen to técnico de abordage m direta . "

Não pre tendemos propor wn novo inven tário

para os "ins trumen tos básicos de enfermage m " . A idéi a , aliás, é apen as a de encaminhar a questão

para estudos posteriores ; os resul tados da pesquisa certamen te falara'o mais alto , Val e , en tre tan to, p a r a apoiar ai nda mais essa idé ia , ale rtar aqui para a necessi dade de se o b ter o reconhecimen to p úbli­co quan to às con d u tas práticas da enfermagem, condutas essas que precisam evidenciar um com­portame n to simbólico de e fe ito social i ndiscut ível .

o obje tivo da assis tência de enfe rmagem é o au tocui dado , tan to em sua dimensão uni­

ve rsal , como nas especiali dades de. cada si tuação , sendo o papel da enfermagem o

de compensar as limitações do cliente e aj udá -lo para o desenvolvimento de seu

po tencial para a saúde , no presente e no fu turo .

O autocuidad o , segundo ORE M ! 3 , é a prática

Rev. Bras. Eni . B ras í l ia . 38( l ) , j an. jmar. 1 9 85 - 8 1

Page 7: MARCO CONCEITUAL PARA O ENSINO E A PESQUISA DE

de atividades indispensáve is à resposta constan te às próprias necessidades , a fim de manter a vida, a saúde e o be m-estar , recuperar-se de doenças ou de acidentes e de fazer face aos se us efeitos . Além das ações relacionadas ao autocuidado quotidian� , há aquelas pertinen tes aos desvios do es tado de saúde . Ela entende a enfe rme ira como uma substitu ta que compensa as insu ficiências de uma pessoa para autocuidar-se ou para cuidar de alguém que de la depende , por exemplo , crianças , velhos , doen tes ou deficien tes . O a u t ocuidado denota ain da a capa­cidade de autosuficiência das pessoas fre n te às suas próprias necessi dades .

O autocuidado é a tualmente uma tendênci a emergen te , em todas as pol íticas de saúde . Apesar diSSO , seu conceito vem send o altamen te con trover­tido , devido a i mplicações pol íticas e ideológicas . Tais implicações parece m envolve r posturas dife ­rentes e interesses contrapostos quan to ao au tocui­dado mesmo . WESTON I 9 alinha as seguin tes :

desmi lit1cação d a medicina , pela apropria­ção pelas pessoas do saber relacionado à sa úde , devi do a mel h or compreensão das causas dos adoecimentos e das susce p ti bili­dades pecul iares de cada pesso a ; as m ul he­res podem de tec tar in terfe rências ' se xis­tas" na prá tica mé dica ; redução da demanda de se rviços médicos , devido à re sol ução de prob le mas mais s im­ples - que consti tuem a maior parte desses problemas - permanece ao n ível familiar ou donúciliar ;

redução do consumo de medicamen t os

industrializados, conse qüen te a uma me ­lhor in formação sobre os efei tos colaterais das drogas e o i ncremento de prá ticas al ter­n ativas de saúde ;

aumento das reivindicações sociais, devido à compreensão pe lo povo da importância das condições de vida e de trabalho para a

saúde das pessoas ; mudança no p ape l do "pacien te ", que pas­sa a exigir maiores explicações sobre sua doença e seu tratamen t o e a organizar-se colet ivamen te em prol da adoção de mode­los participativos de assis tência à saúde e de movimentos con tra o chamado complexo médico-industrial .

É claro que essas conseqüências são contrárias aos interesses da prát ica médica libe.ral , da indús­

tria farmacêutica , de in sumos hospi talares e dos empresários dos laboratórios de análises , bancos de sangue , dos hospi tais privados e até mesmo das

82 - R e v. Bras. Enl , B rasí l ia , 38( l ) . jan. /mar. 1 9 85

autoridades gove rnamentais . O que é até certo pon to surpreenden te é que há também uma outra ordem de objeções ao autocui dad o , estas relativas a poss íveis preju ízos causados ao próprio povo . É o caso de Giovanni Be rl inguer, Professor de Fisio­logia e Higiene do Trabalho na Universidade de Roma , que vê os seguintes inconvenientes que poderiam estar associados à estratégia de autoc ui­dado (BERLINGUEHV :

re traimento do govern o na provisão de c uidados à saúde , transferindo esta respon · sab ilidade , que é do gove rn o , aos cidadãos e suas fam ílias , que passam a se r cu lpados de suas própri as doenças, por não adotarem um e s tilo de vida adequado, n uma estraté­gia de "cu l par a v í t i ma " ; afastamento do de bate sobre saúde das reais ca usas dos problemas , despol i tizando a popula.,:ão e ressaltando respostas in divi­duai s , em detrimento daquelas coletivas e pol ít icas , aos prob le mas do povo .

Assim , ve mos que o autocu idado não é um conce i t o neu tro , pois cOllota també m significados que tan to interfe re m com a econonúa empresarial ,

quan to com a expropria.,:ão do direito à assistência dos serviços de saúde . No en tan to , Weston julga que não dev íamos reje i t a r esta tendê ncia para o autocuidado e sim d irecioná-la para objeti vos pol í­t icos ace i táveis . De ou tro lado, o próprio Berlin­

guer reconhece que a valorização da "subje tividade consciente " in tegrada , e não con traposta , à vonta­de coletiva é também um dos modos de en riquecer e não de anular a ação pol ítica , incl usive no terre­

no da saúde . 110na Kickbush , socióloga e poli ticól oga da

Rep ública Federal da Ale man ha e núlitante do movi mento feminista , por sua vez, apesar de fazer uma advertência , reconhece o autocuidado como uma tendência positiva . A adver tência se refere a que , ao t ransfe ri r à população a responsabilidade

dos serviços , se pode aumen tar , ainda mai s , o tra­balho de mulheres já sobrecarregadas . Feita esta ressalva , esta autora lembra que mesmo no q ue se refere aos problemas ambien tais, que não estão entre aqueles fatores de risco que depen dem do comportamen to human o , o movimento e m prol do autocuidado pode contribuir mediante uma ação pol ít ica organizada (KICKB USH) l o .

a fruição de condições de vida e de traba­lho é necessária à saúde da população e, no caso do pessoal de enfe rmagem, à prestação de b ons serviços - e m ambos os casos , é um dire ito de cidadania que , para seu c um-

Page 8: MARCO CONCEITUAL PARA O ENSINO E A PESQUISA DE

primento, exige a adoção de modelos parti­cipativos .

A interação entre saúde e desenvolvimento , principalmente a partir da década de 70, passou a ser um dos temas pol íticos fun damentais da atuali­dade . Não obstan tt( , é gritante o contraste , cada vez mais acentuado entre os discursos oficiais de saúde como direito fun damen tal do ser humano, consubstanciado na me ta "Saúde para Todos no Ano 2000" e os crescentes desequil íbrios econômi­cos e sociais , e n tre as n ações e entre os membros das diversas nações . Decisões de pol ítica econômi­ca têm graves repercussões sociais , que afe tam dire ­tamente o modo de vida da população e , principal­me nte , das classes mais pobre s , com a dete ri oração do n ível de saúde .

É imposs ível negar a si tuação calamitosa do empobreci men to cre sce n te da maioria populacio­nal , marcadamen te nos pa íses do Terce iro Mundo . Em nosso país , talvez mais de dois te rços da popu­lação vivem em condições tão precárias , que aten­tam contra a dignidade human a . Em sua maioria , são pessoas que não dispõe m de trabalho e se tra­balham são exploradas e mal re muneradas ; não têm moradia própria , a justa 4uota alimentar diá­ria , a roupa m ínima ade quada, a vaga na escola para os filhos ; são pobre s mesmo e padecem de fome crônica, com certe za . Ainda mais , com a quotidiana desvalorização de nossa moeda , a pre ­tendida "classe mé dia" está perden do o poder aquisitivo e , por isso mesmo , tendendo a desapare ­ce r , para aume n tar o continge n te da população menos favorecida. E com isso , alé m da elevação das taxas de mortalidade infantil e das doenças de massa , cresce assustadoramente a onda de violência na dependência direta das injustiças sociais , que se refletem, ainda, no aumento do índice de margina­lizados de toda sorte .

O profissional deve assurrúr o compromisso de se tomar um instrume n to de libertação do homem e da sociedade . Mas para isto , toma-se essencial a participação direta das mais amplas camadas da população no equacionamento e sol ução dos pro­blemas que as aJetanl , como os que dizem respeito às suas condições de vida e' de trabalho. No que concerne à enfermagem, uma das piore s conse­qüências da identificação de um tipo de trabalho como "trabalho de mulheres" é que esse trabalho se desvaloriza. Se as enfe rmeiras estão in te re ssadas em melhorar o exerc ício da enfermagem, e o da saúde em geral , devem perseguir seus objetivos , sem temer o risco de receber a desaprovação de alguma colega ou de um grupo de colegas . Se por

um lado , algumas enfermeiras têm o direito de niÚ> estar interessadas em receber melhores salários, obter con dições de trabalho mais favoráveis , ou exe rcer um maior controle de sua profissão , por ou tro lado, é importante considerar as conse qüên­cias que a longo prazo essa atitude poderia ter para a enfermage m : a i magem de uma ocupação em que se encontrará trabalho árduo, mui tas frustrações devido à impossibilidade e condições de vida inade­quadas . É i mportante que as enfermeiras reconhe­çam clarame n te a relação en tre condições de em­prego e a qual idade do serviço. Somente quando uma maioria de enfermeiras compreender isto e atuar coletiva e posi tivamen te para mudar de maneira drástica as condições existentes , será poss ível tornar re alidade e pôr em prática os ideais que a profissão vem man tendo há tan to tempo" (JACOX)9 .

Assi m , é dever do enferme iro participar do deba te sobre as "mudanças sociais que a classe julga necessárias ao cumpri mento de seu compro­misso profissional , participação essa que se efetua na prática plena da cidadania, na qual não se dis­socia o profissional do cidadão , pois a saúde é também um fenômeno social de n atureza essencial­men te pol ítica" (C ASTRO)s . E "is to sign ifica reconhecer que , além das categorias profissionais distintas , existe uma classe trabalhadora , impondo­-se pois encaminhar as lutas conjuntamente . O enfermeiro deve ir se li bertan do de uma concepção privativa da vida social , passando a adquirir uma consciência social que o faça sen tir-se comprome­tido, juntamente com todos os trabalhadores , com a necessi dade de lutar por mudanças na situação sócio-pol ítico-econômica vigente , ou seja , lutar pela solução dos proble mas do trabalhador brasilei­ro e da populaçãO em geral por melhores condições de vida e de trabalho e de saúde " (DI LASCIO)7 .

a enfe rmagem em se us aspec tos histórico­-ético-pragmáticos configura-se como práti­ca social ; assim os processos da educação e de investigação e m Enfermagem Funda­mental são inseparáveis entre si e da estru­tura social .

Para que o e nsino e a pesquisa em En ferma­gem . Fundamen tal possam participar da transfor­mação da realidade social é preciso que a Escola e a Universidade estejam , elas próprias , engajadas na dinâmica dos processos sociais . Além de que é necessári o que a e d ucação de enfermagem seja en­tendida como instrume n to capaz de legitimar sujei­tos para o trabalho de enfe rmagem, através do apa­rato ético-filosófico e do saber da enfe rmagem.

R ev. Bras. t:nf , Brasíl ia , 38( l ) , jan. /mar, 1 985 � 83

Page 9: MARCO CONCEITUAL PARA O ENSINO E A PESQUISA DE

Mas para isso , é nece ssári o que o ensino seja con ­d uzido de acordo com uma abordagem teórico­-me todológica , que permi ta formar. um p rofissional capaz de encarar a realidade social dentro de ,.uma visão crít ica , levan do-o a assumir e a evidencia r condutas compat íve is c o m os direi tos de se us clien tes e com os valores da enfermagem como prá­tica social .

Nas duas ú l t i mas décadas , a fo rmação d" p ro ­fissi onais de saúde te m si do obje t o de dis�uss;ju e m

quase toda par te , princ ipal me n te em decorrê ncia da crise da saúde n o m un d o . Parte i mport an te d a d iscussão gira e m t o rn o d o papel da inst i t u ição

unive rsi tári a . A Un i ve rs idade é u m a in st i tu ição acadêmi�a

� l l 1 l1prome tida com o e n si no , a pesqu isa e a p res­tação de serviços . Os t rês aspectos com portam o b ­je t ivos que , no c a s o d os p rofi ssionais de sa úde , são

consi derados corno capazes de contri b uir para a melhoria do n ível de saúde da população . É tam­

bém de aceitaç ão co rren te q ue a Un ivers i dad e , por

reunir doce n te s e pesquisadore s , é capaz de favo­

recer a coope ração e a pe rmu ta e m n íve l nacional e in te rn ac ional , n o campo da ciência e da tecnologia .

En tre tanto, como aJlrma RODR I G U E Z I 6 , "na América Latina , esse s o bje tivos da Un ivers ida ­de se dese n volvem , habitualmen te , como processos i n dcpendu l l e s , sem U lll e sfoque gl oba l izador , que ana l i se e i n tcgre os d i fe re n tes processos - ensi n o , pesqu isa e se rv iç o - como par te s de U lll todo : o

papel da Un iversidade na produção do conheci­men to cien t ífico, que permi ta a con tr ibuiçüo ao processo de transformar a reali dade soc ial . " Na an álise da questão , a au tora apon t a a impossi b i l ida­

de de se produzir o desenvolvime nto cien t ífi co e

tecnológico "sem aprofun dar a questão do dese n ­volvimen to mesmo com as causas de ordem pol í t i ­

ca , econômi ca e soci al ." Si tu ação que deixa a des­

coberto não só as dificuldades da c rise econômica mun d ial , mas o inj usto desnivelame n t o en tre as nações ricas e as subdesenvol vid as , a depen dên c ia exte rn a , a t ransfe rência de tecn ol ogi a de fasada , e o crescen te endividamento dos países do Tercei ro M un d o .

O pon to cr ít ico que se co loca de Imediato é exa tamen te o que põe em ca usa o papel da U n i ­

versidade de con tr i bu in te à transfomlação da real i dade social . Em nosso pa ís , a Un ive rsidade encontra-se quase que imobiliza d a , devi d o ao imo bilismo me smo do poder pol ít ico , tal como

represen tado pelas al tas hie rarquias da áre a gove r ­name n tal . Pr i ncipal men te , n o s últimos cinco anos , os movimen tos de docen tes , de funci onários e de

84 -- Rei>. B,.a �. 1:;11/ , H r,, , í l i a . 38\ I I , j an. j rna r . 1 9 H 5

est udan tes univer,i tários vêm ten tando t u d o e m favor de re ivindicações q u e possam j ust i ficar o

real papel da Un ivers id ade . Quase n ada se consegue para mudar as sit uações desvan taj o sa s , até mesmo

para o alcan ce dos o bjetivos de e nsino e de serviço . Não se d ispõe m d e condiçOes m ín imas a dequadas ao trabalho unive rsi i ;irio e nem de meios e recursos

suficie n tes para garan t i r a qualidade dos se rviços prestados. Este imobil i smo te m r a ízes n o e sp ír i to d ogmát ico-i dealis t a , ave sso à m ud ança e que se nega a a dm i t i r as im p licaçõe s pol ít icas de sua própria ide ol ogia , c ujos cri té rios visam a man­ter o status quo . Com isso , su bord ina a ciência mesma à autorid ade do pode r pelo pode r . A con seqüência mai s grave é o iso lame n to c ie n t ífi co

e a defasage m c ul t ural .

Tal como descr i ta e transposta para a rea l lda· de par t icular d a ed ucaç,lo de enfermagem, c onvé m

a ten tar , em primeiro l ugar , para a s palavras de

SILVA, B ARROS e VI E I R A 1 8 , q uan do a finnam . . . "as e scolas d e e n fe rmage m , n o Brasi l , de ve riam te r

u m pape l inovador den tro do s is tema de sa úde e , assi m , den tro da estru LUra social , . . . e n tre tan to , . . .

e las t ê m sido mais u m re tl e xo d a socie d ade , na med ida em que , condicionadas por esta , não têm

assu mi do uma posição re llexiva sobre a prática pro fissional , vol tada para as re ais necessidades da população ." Em segundo l uga r , é importan te re te r o signi ficado e ssencial das pal a vras de A LME IDA I , quando e la a ti rma que o "ensino é carac terizado

como paradigma do sabe r , mas é no c uidado de en fe rmagem , onde se opera d ire tamen te com o obje to de trabalho e on de se dão as re lações

técnico e soc ia is , que e s t á a e ssência do sabe r . " As

duas colocações e x põe m, a n osso ver , as si t uaç ões

mai s cr íticas que estão a e xigir aj us t ame n tos .- o

complexo inst i tuc ional unive rsi tár io e a ação e ducac ional mesma. E por que é tão importan te in troduzir -se essas mudan.,:as'!

A razão principa l , e m ve rdade , é que a con ti­

n uar como es tamos não chegaremos a l ugar ne­

nhum. Mas se o ensin o , a pesquisa e a prestação de serviços são componen te s do processo da formação de rec u rsos h umanos para a saúde , en tão há muito o que fazer quan to às implicações e nvol vidas com a e n fe rmage m. O p roce sso de e d ucar e n fermciros está atravessando uma fase de transição de u ma "era técn ico-cie n t íti ca " para uma "e ra de prá tica

social " . Nes ta , as ex igên c ias cre scen te s da popula­ção apelam à con sc iência profissional por condi­ções de vida e de trabal h o para as pessoas , que sejam compa t íve is com a saúde . In ovações meto­dol ógicas sJo i m p resc i n d íveis não apenas nas

Page 10: MARCO CONCEITUAL PARA O ENSINO E A PESQUISA DE

formas de pens ar , mas pr inci palme n te n as formas de faze r as coisas para le var a te rmo a proposta de c ui dar e de aj udar da e n fe r magem. No que tange à En fe rmage m F u ndamen tal , não b asta saber q>mo aplicar princ ípios c ient íficos aos c u idados de en ­fe rmage m ou como desenvolve r técnicas com segurança e economi a . É p re ci so saber aval i a r o que se faz como aj uda prestada, no âmbito mesmo do trabalho de saúde , e ainda t e r a corage m de redetlnir a ação de part ic ipar desse trabalh o . Mas é preciso , principal me n te , buscar o equi l Jbrio e n t re a t rad ição e a ren ovação , o q ue re quer tan to a visão n ít i ca da real idade social , como a cr ítica mesma do papel da Un ive rsidade na construção do saber e na fo rmação de recursos h u man os , para o prese n te e par a o fu t u ro . A n osso ver , não se consegue i s to se lll a re visão con t ínua d as propostas de trabalho acadê mico fre n te às e xigências sociais .

Na e scola de enfermagem, como na Unive rsi­dade em ge ral , é a pre fe rência que ainda se dá à postura dogmática-ideal ista e como tal normativa, que d i tlc u i l a I l lu i t o o e n te ndimen to do real . Tudo n a e n fe nnab' . • : o q ue deve se r e não o que é", o que ge ra a a ti t u de i mo bil ista que , em úl t i m a i n s­tância , não p ro move a formação do homern i n te ­grai tão de sejada , e menos ain da a compe tência que i n te re ssa li con st r ução d o saber da en fe rma­ge m . Alé m do ma i s , é preciso refle t ir sobre I) dire i t o fun d a me n tal à saúde , que ill lplic:a n o d ire i t o li assi s t ência de e n fe rmagem, como pri lll: í­pio orien tador do e nsin o e do serviço . É na com­preensão de �se dire i to que se apoia a fonnação da consciél lc ia cr it ica , e dian te desse direi to convém exami nar todos os conceitos que in teressam à s a ú d e , como o conce i to mesmo de sa úde e o conce i t o de autocuidad o . Pe las impli cações que acarre tam , esses conce i tos susci t a m , ainda , u ma questão que se c oloca COl1l0 n e u t ralidade c ie n t ít1 -ca , a t ual me n te desmi t i ficada pelas demonst rações

das ín t i mas relaçõe s e n tre os fa tores soci ai s e os • fatores técnico-cien tíficos. Assim , que UI1l concei­

t o inc l u íd o n o i nstrume n tal cie n t ífico não seja

razão bastan te para que possa se r simplesmen te usado e aplicado , se m mais e s t a o u aquela d iscus­s,10 .

Cabe uma re fe rê ncia ainda a e sse aspec to n a

ques tão da post ura dogmá t ico -idealis ta . Tra t a -se de fa to do não envolvime n to pol ítico que é, precisa­men t e , a grande v ulne rabil i dade desta p os t ura . Não há es t a con d iç ão de não e nvol v imen to pol ít ico , a n ão se r n o âmbito da pura abstração. Pois , n o ter­reno da prática e d ucac ional , t oda pos t u ra filosó­fica e xige uma a t i t u de de comp rome time n t o .

Assim, as aproximações en tre a e n fe rmagem e seus clientes em quaisque r e spaços , institucionalizados o u não , e xige envolvime n to , prin cipalmen te pol ít ico. Mesmo porque todo e qualquer trabalho tem uma dime nsão 1'01 ítica , e o trabal h o de sa ú de não foge à regra, de vez q ue ate n d e aos in te re sses de de te rmi nadas classes ou grupos existentes na socie dade .

CONC L USÕES

En fe rmagem Fun damen tal é a ordem ou o c on j u n t o de proposições e de i d éias mais gerais ou mai s si mple s , de on de se deri v a a total i d a de dos con heci mentos de Enfermagem.

A Enfe r mage m Fun dame n tal não tem um campo de aplica ção e spec ífi c o , mas , ao con trári o , aplica -se a todos os campos da enfe nnage m , represen tan do a s base s sobre a s quais s e asse n ta toda a prát ica da e n fe r magem.

A En fe rmage m F u n damen tal ab range também o aparato é llco-filosót1co . e a dimensão histórica

da prollssão . A Enfe rmage m Fundame n tal se u ti liza de

p rin c i pios de rivad os das ciências , que são a p licados n a e fe t ivação dos c uidados básicos de enfe nnagem , e de c O l l ce i tos que são e mpre gados n a fundamen ­tação d o ensi n o e d a pesquisa d e inte resse da e n fe rmage m .

A Enfermagem F undame n tal deve contemplar

a con t rução do arcabouço teóri c o , a de finição dos meios para a e fe tivação di) cuidado de enfe rma­

gem , a explicação do s igni fi cado da e n fermagem, b e m como a jus t ifica�'ão das ações de

A E n fe rmagem Fun damen tal , em sua dime n ­são prát ica , é ce n t rada n a pre stação d e cuidados básicos de e n fe rmage m a todos os t ipos de pessoas e de grupos , onde que r que se encontre m , por tod os os exercen te s da enfeml agem , os quais u ti l izam para tan t.o os in stru me ntos básicos da enfermage m.

O obje to de t rabalho da enfe rmage m é o c ui­dado de e n fe r magem . - - esfem própria da a t uação

profissional -- e representa , ainda , o can teiro do campo pragmá tico , onde se pode exercer com i n de pendência as fu nções e as a tividades da en fer­mage m . M as é também uma propos t a de cuidar e de aj u dar que con figura , e m o u tra d ime nsão , a contrapar t ida d o autocuid a d o .

O a u tocul ctad o , p a r a q u e p ossa ser u m a i d é i a norteadora p a r a o c uidado de e n fe rmage m , o ensi­no e a pesquisa , n ão pode comportar u ma abor da-

R e I' . Bras. t:n/ , U ra , i l ia , 38l l ) , jan . /mar. 1 9 85 - 85

e n fe rmage m

Page 11: MARCO CONCEITUAL PARA O ENSINO E A PESQUISA DE

gem ingênua ou acr ítica , devido a sua forte carga pol ítico-ideológica.

A prática de enfe rmagem se insere no mundo do trabalho e, como tal , deve ser entendida como prática social , a uma vez contexto e objett'J de transformações históricas .

B dever ético do enfermeiro participar das lutas por melhores condições de vida e de trabalho para todos, como forma de viabilizar seu compro­misso social em prol da saúde do povo brasileiro.

R ECOMENDAÇÕES

Às Escolas e Cursos de Enfermagem

que procurem elaborar seus marcos conceituais, para o ensino e a pesquisa em En fe rmagem Fundamental , em consonância com a demarca­ção teórica dos seus cursos de graduação e de pós-graduação ; que ao estudarem tal demarcação , considerem a necessidade de ampliar os campos de aplica­ção de Enfermagem Fundamental , em termos de clientela e de cenários ; que encareçam , junto aos cursos de pós-gradua­ção , a necessidade de reconsiderar os instrumen­tos básicos de enfermagem , de modo a melhor denominá-los e categorizá-los; que o conceito de autocuidado e suas implica­ções práticas seja objeto de debate com o corpo docente e discente ; que o ensino de história da enfermagem e de ética profissional contemplem a enfermagem enquanto prática social e suas implicações para o exerCÍcio consciente da prot1ssão ; que promovam estudos e pesquisas sobre assun­tos de interesse da Enfermagem Fundamental , no sen tido de favorecer sua melhor explicação teórica e prática .

CARVALHO , V. & CASTRÕ, I . B� Th·eore

ticaI Framework for Fundamental Nursing teach ing and research. Rev. Bras. Enf , Brasília, 38( 1 ) : 7ó -8 6 , jan. /mar. 1 9 8 5 .

R E F E R E NCIAS B I B L I O G R A F ICAS

1 . ALMEIDA, M .C.P. Estudo do saber de enfermagem e sua dimensaõ prática. Rio de J aneiro , 1 984 . Tese ( Doutor) Fund . Osvaldo Cruz , Escola Nacional de Saúde Públ ica.

2. BERLINGUER, G. La salud en la crisis dei estado de bienestar. Cuadernos Méd. Soc. , 2 5 : - 2 9 , se t. 1 9 8 3 .

3 . CARVALHO, V . Discurso d e paraninfo. R io de la-

86 - Rev. Bras. Enf , Bra5í 1ia , 38( 1 ) , jan. /mar. 1 9 8 5

neiro, Univt:rsllIalle Fedcral do /{io de Janeiro , Escola dc Enfennagem Ana Néri , j u lh o 1 9 8 2 .

4 . . & CASTRO, I . B . D a s pontes neces-sárias à ar ti cula.;ão da graduação com a pós-gra­duação na Escola dc Enfermagem Ana Néri -

uma crít ica da si tuação vigt:nte : conj e turas e pro­posições . In : SEMINÁ R I O DE AVALIAÇÃO DOS 1 0 ANOS DO CU RSO DE M ESTRADO. Rio de J aneiro , Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola do: Enfermagcm Ana Néri , 1 9 8 3 .

( mimeografado) . 5. CASTRO, I . B . O papel social do enfermeiro : realida­

de e perspec tivas de m udança. I n : CONG R ESSO

BRASILEIRO DE E N I ; E R M AG E M , 34 . , Porto Alegre , 24 a 29 de ou! . de 1 9 8 2 . Anais . . . Porto Alegre , ABEn , 1 98 2 . p . 3 3 -5 2 .

6 . . & A L M E I D A , M .C .P . A inves t igação como instrum.:nto de câmb io na prática e forma­

ção do: recursos humanos. Te rn a ofi cial apresenta­do em Qui to ( l 9 H 3 ) c em Brasllia ( 1 984 ) nos Sem inários Sub-regionai s sobre a "Contr ibu ição da Enfermagem para o Cumprimento da Meta .S PT/ 2 000" na sub OPAS/OM S .

7 . D I L A SC' I O , C . M .D . S . ° papel social do enferm�iro : reaJi\ÍdJe e perspectiva cte mudança. I n : CON ­

G R ESSO B R AS I l. E I RO DE E N FE R M AG E M , 34 . , Porto Alegre , 24-29 de ou tubro de 1 9 8 2 .

Aliais . . . Porto A legre , A BEn, 1 9 8 2 . p. 5 3 .{i0. 8 . H ORTA, W . A. ; HARA, Y ; e PAU LA, N.S . O ensino

dos instrurnt!ntos básicos de en fermagem . Rev. Bras. Enf , BrasI1ia, 24 (3/4 ) : 1 5 9-6 9 , abr ,/j un . 1 9 7 1 .

9 . J ACOX, A . Un problema subestimado en enferme­ria : la influellcia que ejerce sobre la atención ai paciente el bienestar económico y social de la enfermeria. Gincbra , Consej o In ternacional de Enfermeras, 1 9 7 7 .

1 0 . KICKBUSH , I . Debate sobre au toasistencia - un punt o de vista feminista : 2 2 9-3 2 , 1 98 1 .

l I . KNELLER, G . Arte e ciência da criatividade. São Paulo , ! B RASA, 1 97 1 .

1 2 . M ORGAN , G . W . The human predicamell t. New York , A Delta Book Brown University , 1 9 7 0.

1 3 . O REM , D . E . Nursing; concepts of practice. Ncw York , Mc Grow H i l l , 1 9 7 1 . p . 1 3 - 39 .

1 4 . ORTEGA Y GASSET, 1 . O homem e a gente. R i o de Jane iro , Ihero-Arncr icana , 1 9 7 3 .

1 5 . PICON , G . "Acen:a d e u m es til o d o espíri to contem­porânt! o " . In trodu\(ão . I n : , Panorama das idêias contemporâneas. Lisboa , Studios,

1 96 1 .

1 6 . RODRIG UEZ , M .J . E I trabaj o cient ífico e n la forma­c ión de profesionales de salud . Educ. Méd. Salud, 13 ( 3 ) : 2 1 2 -3 1 .

1 7 . ROG E R S , M .E . A n introductioll 10 the theoretical basis of nursing. Philadelphia, F .A. Davis , 1 9 7 0 .

1 8 . S I L VA , A.L.C . ; BARROS, S .M . P . F . ; e VIEI RA, T.T. M arco concei tual e estrutural dos currículos dos cursos de graduação em enfe rmage m . I n : CONG RESSO BRASILEI RO D E EN FERM A­G EM , 3 1 . , For taleza , 5 a 1 1 de agosto de 1 9 7 9 .

A nais. . . Fortaleza, ABEn , 1 9 7 9 . p . 1 07 - 1 4 . 1 9 . WESTON , A . Autocuidado ; medicina para o povo .

Science for the People, 2 4 -26 , Jan ./Feb . 1 9 � 2 .