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MÁRCIO GONÇALVES DE SOUSA Determinantes das propriedades funcionais e estruturais das grandes artérias e as relações com lesões de órgãos-alvo em hipertensos estágio 3 Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Doutor em Ciências Programa de: Cardiologia Orientador: Prof. Dr. Luiz Aparecido Bortolotto São Paulo 2012

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  • MRCIO GONALVES DE SOUSA

    Determinantes das propriedades funcionais e estruturais das

    grandes artrias e as relaes com leses de rgos-alvo em

    hipertensos estgio 3

    Tese apresentada Faculdade de Medicina

    da Universidade de So Paulo para obteno

    do Ttulo de Doutor em Cincias

    Programa de: Cardiologia

    Orientador: Prof. Dr. Luiz Aparecido Bortolotto

    So Paulo

    2012

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Preparada pela Biblioteca da

    Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    reproduo autorizada pelo autor

    Dedicatria

    Sousa, Mrcio Gonalves de

    Determinantes das propriedades funcionais e estruturais das grandes artrias e as relaes com leses de rgos-alvo em hipertensos estgio 3 / Mrcio Gonalves de Sousa. -- So Paulo, 2012.

    Tese(doutorado)--Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo.

    Programa de Cardiologia.

    Orientador: Luiz Aparecido Bortolotto.

    Descritores: 1.Rigidez vascular 2.Hipertenso 3.Monitorizao ambulatorial da presso arterial 4.Artrias cartidas 5.Diabetes mellitus

    USP/FM/DBD-242/12

  • Dedicatria

    minha famlia, razo maior de toda a minha dedicao e existncia!

  • Dedicatria Especial

    minha esposa Raquel, minha alma-gmea, por toda compreenso e

    amor incondicional e ao nosso filho Pedro. Ambos cederam grande parte do

    nosso convvio na elaborao desta tese.

  • Agradecimentos

    Ao Prof. Dr. Luiz Bortolotto, pelo exemplo de atuao clnica e

    cientfica e por me proporcionar a oportunidade de conviver e aprender com

    ele nesta ps-graduao entendendo a grandeza do Instituto do Corao.

    Ao Prof. Dr. Jos Jayme de Lima, pelas lies de cincia e de vida, a

    possibilidade de conhecer e aprender com o senhor realmente foi um

    diferencial que carregarei na minha jornada cientfica.

    Ao Prof. Dr. Heno Ferreira Lopes pelos bons momentos trocados

    dentro da Unidade tanto na parte cientfica quanto pelo suporte emocional.

    Aos Doutores Fernanda Marciano Consolim-Colombo, Dante Marcelo

    Artiga Giorgi e Luciano Ferreira Drager pela formao ambulatorial e

    cientfica.

    Ao Dr. Celso Amodeo pela amizade, confiana e ajuda de pai na

    minha formao acadmica e profissional.

    Aos colegas do Instituto Dante Pazzanese (Passarelli, Flvio, Antonio,

    Carol, Leda, Antonio Macedo), pelo apoio ao longo destes anos na minha

    ausncia no ambulatrio.

    A Dra. Valria Costa Hong, amiga, orientadora, professora, estatstica,

    por todo o suporte cientfico e pelo carinho inerente a sua pessoa.

    Ao amigo Antonio Cordeiro pelo suporte cientfico e estatstico

    fundamental na fase final desta jornada.

  • Aos colegas de Unidade: Rebeca, Edueslei, Thiago, Fabiana,

    Henrique e Rodolfo pelas sugestes e suporte ao longo destes anos.

    Aos colegas Juliana Gil e Luiz Faria pela ajuda e qualidade

    profissional no seguimento aos pacientes ambulatoriais.

    Ao Sr. Renato Chiavegato e Enf. Sandra Teixeira pelo suporte tcnico

    na Unidade de Hipertenso do Instituto do Corao.

    s funcionrias Djanira Pereira e Mrcia Santos pela ateno e

    presteza que sempre demonstraram.

    s funcionrias da Ps-Graduao: Eva, Juliana e Neusa por todo

    profissionalismo e ateno no decorrer desta jornada.

    Aos colegas e funcionrios do Incor que colaboraram no atendimento

    e funcionamento ambulatorial.

    Aos voluntrios participantes deste estudo.

    Agradecimento especial minha esposa Raquel pela ajuda no

    desenvolvimento e diagramao desta tese.

  • Eu prefiro ser essa metamorfose

    ambulante, do que ter aquela velha opinio formada sobre tudo!

    Raul Seixas

  • Sumrio

    Lista de abreviaturas, siglas e smbolos.............................................

    Lista de tabelas...................................................................................

    Lista de figuras....................................................................................

    Resumo...............................................................................................

    Summary.............................................................................................

    1. INTRODUO...................................................................................... 1

    2. OBJETIVOS.......................................................................................... 7

    3. POPULAO E MTODOS.................................................................. 9

    3.1. Populao........................................................................................ 10

    3.1.1. Seleo de voluntrios......................................................... 10

    3.1.2. Critrios de incluso............................................................. 11

    3.1.3. Critrios de excluso............................................................ 12

    3.2. Mtodos........................................................................................... 13

    3.2.1. Parmetros clnicos e antropomtricos................................ 13

    3.2.2. Medidas das propriedades funcionais e estruturais das

    grandes artrias.............................................................................. 16

    3.3. Anlise estatstica........................................................................... 23

    4. RESULTADOS...................................................................................... 25

    4.1. Distribuio dos valores dos parmetros funcionais e estruturais

    das grandes artrias........................................................................ 27

    4.2. Determinantes clnicos e antropomtricos...................................... 29

    4.3. Determinantes hemodinmicos....................................................... 31

    4.3.1. Valores dos parmetros hemodinmicos............................. 31

    4.3.2. Correlao dos parmetros vasculares com variveis

    hemodinmicas............................................................................... 32

  • 4.4. Determinantes laboratoriais............................................................. 36

    4.4.1. Valores dos parmetros laboratoriais................................... 36

    4.4.2. Correlao dos parmetros vasculares com variveis

    laboratoriais.........................................................................

    37

    4.5. Determinantes em leses em rgos-alvo....................................... 41

    4.5.1. Valores dos parmetros das leses em rgos alvo.......... 41

    4.5.2. Correlao dos parmetros vasculares com leses em

    rgos alvo........................................................................

    44

    4.6. Determinantes dos parmetros vasculares..................................... 47

    4.6.1. Fatores determinantes dos parmetros vasculares............... 47

    4.6.2. Correlao entre os parmetros vasculares pelas diferentes

    metodologias..........................................................................

    49

    5. DISCUSSO........................................................................................ 50

    6. LIMITAES........................................................................................ 63

    7. CONCLUSES..................................................................................... 65

    8. ANEXOS................................................................................................ 67

    9. REFERNCIAS..................................................................................... 73

  • Lista de abreviaturas, siglas e smbolos

    % por cento

    D variao da distncia

    t variao do tempo

    m micrmetro

    AASI ambulatory arterial stiffness index

    AE trio esquerdo

    Ao dimetro da aorta

    AT/CODAS sistema de aquisio de sinais biolgicos do Finometer

    CAPEPesq Comisso de tica para Anlise de Projetos de Pesquisa

    cm centmetro

    DIST distensibilidade

    DDVE dimetro diastlico final do ventrculo esquerdo

    DSVE dimetro sistlico final do ventrculo esquerdo

    EIM espessura ntima-mdia

    EDP espessura diastlica final da parede posterior do ventrculo esquerdo

    EDS espessura diastlica final do septo interventricular

    et al. e outros

    Finometer monitor de presso digital batimento a batimento

    FC frequncia cardaca

    FE frao de ejeo do ventrculo esquerdo

    g grama

  • g/% grama por cento

    g/dL grama por decilitro

    g/m2 grama por metro quadrado

    GENE-HY GENotype end Events in Hypertension

    HA hipertenso arterial

    Hb hemoglobina

    HDL lipoprotena de alta densidade

    Ht hematcrito

    IARA ndice ambulatorial de rigidez arterial

    IDACO International Database of Ambulatory blood pressure in relation to

    Cardiovascular Outcome

    IMC ndice de massa corprea

    iMVE ndice de massa do ventrculo esquerdo

    InCor Instituto do Corao

    ITB ndice tornozelo-braquial

    Kg quilograma

    Kg/m2 quilograma por metro quadrado

    LDL lipoprotena de baixa densidade

    LOA leses em rgos-alvo

    MAPA monitorizao ambulatorial de presso arterial

    m/s metro por segundo

    mg/dL miligrama por decilitro

    mm milmetro

    mmHg milmetro de mercrio

  • MODO M modo de exibio de movimento (ecocardiograma)

    MVE massa do ventrculo esquerdo

    p nvel descritivo de probabilidade

    PAD presso arterial diastlica

    PAS presso arterial sistlica

    PCR protena C reativa

    PP presso de pulso

    r coeficiente de correlao

    TCLE termo de consentimento livre e esclarecido

    VE ventrculo esquerdo

    VOP velocidade da onda de pulso

    VR valores de referncia

  • Lista de tabelas

    Tabela 1 Caractersticas clnicas e antropomtricas dos

    pacientes.........................................................................

    26

    Tabela 2 Mdia dos valores dos parmetros funcionais e

    estruturais de grandes artrias.......................................

    28

    Tabela 3 Correlao (r) e valor-p (p) das variveis clnicas e

    antropomtricas com os parmetros vasculares.............

    29

    Tabela 4 Valores das medidas de presso arterial sistlica (PAS),

    diastlica (PAD) e de pulso (PP) obtidas pela MAPA,

    batimento a batimento pelo Finometer e no

    consultrio.........................................................................

    32

    Tabela 5 Correlao (r) e valor-p (p) das varireis hemodinmicas

    com os parmetros vasculares........................................

    33

    Tabela 6 Mdia e mediana dos valores das variveis

    laboratoriais......................................................................

    37

    Tabela 7 Correlao (r) e valor-p (p) entre as varireis

    laboratoriais e os parmetros vasculares........................

    38

    Tabela 8 Parmetros ecocardiogrficos estruturais e funcionais... 42

    Tabela 9 Correlao (r) e valor-p (p) entre as variveis de leso

    em rgos-alvo com os parmetros vasculares..............

    45

    Tabela 10 Parmetros estimados por regresso linear multivariada

    entre parmetros vasculares e variveis clnicas,

    laboratoriais e hemodinmicas nos pacientes

    estudados.........................................................................

    48

  • Lista de figuras

    Figura 1 Aferio da velocidade de onda de pulso com colocao

    dos captores mecanogrficos nas artrias cartida e

    femural..............................................................................

    17

    Figura 2 Ilustrao dos registros para clculo da velocidade de

    onda de pulso a partir de curvas de presso obtidas na

    artria cartida e femural. VOP: D = distncia entre

    dois pontos de medida de onda de pulso. t = tempo

    entre o incio da onda de pulso nas artrias cartida e

    femoral. DIST = distensibilidade.....................................

    18

    Figura 3 Registros das ondas de pulsos cartida (superior) e

    femural (inferior) obtidas pelo mtodo Complior para

    determinao da VOP....................................................

    19

    Figura 4 A. Foto mostrando a captao de imagem da artria

    cartida direita pelo ultrassom modo M. B. Registro de

    rdio frequncia da artria cartida, onde se visualiza a

    parede anterior (ANT) e posterior (POST), e os picos

    correspondentes a ntima e a adventcia. C. Registro

    das ondas de variao sisto-diastlica do dimetro da

    artria cartida.................................................................

    20

    Figura 5 Mtodo de aferio da presso arterial batimento a

    batimento - Finometer....................................................... 22

    Figura 6 Distribuio dos parmetros vasculares (VOP,

    Dimetro, distenso e EIM carotdeos e IARA)............... 27

    Figura 7 Grfico de disperso com a reta ajustada (apresentada

    logo abaixo) entre a varivel idade (anos) e as variveis

    dos parmetros vasculares.............................................. 30

    Figura 8 Grfico de disperso com a reta ajustada (apresentada

    logo abaixo) entre peso e o dimetro da cartida............ 31

    Figura 9 Grficos de disperso com as retas ajustadas

    (apresentadas logo abaixo) entre variveis

    hemodinmicas e velocidade de onda de pulso (VOP)... 34

  • Figura 10 Grficos de disperso com as retas ajustadas

    (apresentadas logo abaixo) entre variveis

    hemodinmicas e o dimetro da cartida........................ 35

    Figura 11 Grfico de disperso com a reta ajustada (apresentada

    logo abaixo) entre glicemia e IARA ................................. 39

    Figura 12 Grfico de disperso com a reta ajustada (apresentada

    logo abaixo) entre glicemia e distenso relativa da

    cartida............................................................................. 39

    Figura 13 Valores mdios da distenso relativa da cartida em

    diabticos e no diabticos.............................................. 40

    Figura 14 Grfico de disperso com a reta ajustada (apresentada

    logo abaixo) entre hemoglobina e dimetro da cartida... 41

    Figura 15 Distribuio dos valores de microalbuminria.................. 43

    Figura 16 Distribuio dos valores de clearance de creatinina........ 44

    Figura 17 Grfico de disperso com a reta ajustada (apresentada

    logo abaixo) entre o dimetro da cartida e o dimetro

    do trio esquerdo............................................................. 46

    Figura 18 Grfico de disperso com a reta ajustada (apresentada

    logo abaixo) entre o ndice de Massa Ventricular

    Esquerda (iMVE) e distenso relativa da cartida........... 46

    Figura 19 Grfico de disperso com a reta ajustada (apresentada

    logo abaixo) entre IARA e velocidade de onda de pulso.. 49

  • Resumo

    Sousa, MG. Determinantes das propriedades funcionais e estruturais

    das grandes artrias e leses de rgos-alvo em hipertensos estgio 3

    [tese]. So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de So Paulo; 2012.

    As propriedades funcionais e estruturais das grandes artrias tem sido

    foco de ateno nos ltimos anos para o melhor entendimento das

    alteraes fisiopatolgicas associadas hipertenso arterial e ao

    envelhecimento. Muitas destas alteraes como a rigidez arterial, tem sido

    consideradas marcadores independentes de risco cardiovascular. A

    avaliao destas propriedades no foi estudada em hipertensos mais

    graves, onde o risco de complicaes maior. O objetivo do estudo foi

    avaliar, em pacientes com hipertenso estgio 3, as alteraes vasculares

    estruturais e funcionais em grandes artrias, seus principais determinantes e

    suas correlaes com leses de rgos-alvo. Foram avaliados 48 pacientes

    (idade mdia 53,6 8 anos; 75% brancos; 71% mulheres), com hipertenso

    arterial estgio 3, recebendo o mesmo tratamento anti-hipertensivo por um

    ms. A avaliao dos parmetros carotdeos (dimetro, espessura e

    distenso) foi realizada pelo ultrassom de radiofrequncia e a rigidez arterial

    pela medida da velocidade de onda de pulso (VOP) e pelo ndice

    Ambulatorial de Rigidez Arterial (IARA). Realizamos ecocardiograma e perfil

    bioqumico para anlise das variveis e avaliao de leso de rgos-alvo.

    Foram realizadas correlaes das variveis bioqumicas, antropomtricas e

  • de leses em rgos-alvo com os mtodos de avaliao vascular, alm da

    correlao entre os mtodos. Observamos uma elevada rigidez arterial tanto

    pela medida da VOP (12,4 m/s) quanto pelo IARA (0,39), e metade dos

    pacientes apresentou valores de VOP considerados de pior prognstico (>

    12 m/s). Houve correlao significativa do IARA com a medida da VOP. A

    distenso da cartida foi menor nos pacientes com diabetes. O principal

    determinante independente da VOP foi a idade e do IARA os nveis de

    glicemia. Observou-se correlao significativa e positiva entre a distenso de

    cartida e o ndice de massa de ventrculo esquerdo. Em concluso,

    pacientes com hipertenso estgio 3 apresentam alteraes importantes das

    propriedades funcionais de grandes artrias, que so agravadas pelo

    envelhecimento e pela associao de diabetes, e uma delas est associada

    hipertrofia ventricular esquerda presente nestes pacientes.

  • Summary

    Sousa, MG. Determinants of functional and structural properties of large

    arteries and the correlations with end-organ damage in stage 3

    hypertensive patients. [thesis]. So Paulo: Faculdade de Medicina,

    Universidade de So Paulo; 2012.

    Functional and structural properties of large arteries have been matter

    of attention for the better understanding of physiopathological modifications

    associated to arterial hypertension and aging. Most of these alterations, as

    arterial stiffness, have been considered independent markers of

    cardiovascular risk. The evaluation of these properties has not yet been

    studied in severe hypertensives where the risk for complications is high. The

    aim of our study was to evaluate, in patients with stage 3 arterial

    hypertension, vascular changes of large arteries, its major determinants and

    the correlations with end-organ damage. We evaluated 48 patients (mean

    age 53,6 8 years; 75% white; 71% women), with stage 3 arterial

    hypertension, under the same antihypertensive treatment for one month.

    Carotid parameters (diameter, wall thickness, distension) were evaluated by

    radiofrequency ultrasound and arterial stiffness by measurement of pulse

    wave velocity (PWV) and ambulatory arterial stiffness index (AASI). It was

    performed echocardiogram and biochemical profile to evaluation of other

    variables and end-organ damage. We did correlations among biochemical,

    anthropometrical variables and end-organ damage with vascular parameters.

  • We observed increased arterial stiffness measured either by PWV values

    (12,4 m/s) or AASI (0,39), and half of patients had PWV values considered

    as a poor prognostic marker (> 12 m/s). It was observed a significant

    correlation between PWV and AASI. Carotid distension was lower in diabetic

    patients. The main independent determinant of PWV was age while

    glycemia was the main determinant of AASI. It was noticed a positive and

    significative correlation between carotid distension and left ventricle mass

    index. In conclusion, patients with stage 3 hypertension had important

    modifications of functional properties of large arteries that are impaired by

    aging and association of diabetes, and one of them is associated to left

    ventricle hypertrophy present in these patients.

  • 1. INTRODUO

  • Hipertenso arterial (HA) um dos mais importantes fatores de risco

    para doena cardiovascular e pode ser entendida como uma sndrome

    multifatorial, de patognese pouco elucidada, na qual interaes complexas

    entre fatores genticos e ambientais causam elevao sustentada da

    presso arterial. Em aproximadamente 90-95 % dos casos no existe

    etiologia conhecida ou cura, sendo o controle da presso arterial obtido por

    meio de mudanas de estilo de vida, associadas ou no a tratamento

    medicamentoso1,2.

    Inmeros estudos j correlacionaram aumento de morbi-mortalidade

    com aumento dos nveis pressricos de forma linear colocando, assim, os

    pacientes com hipertenso arterial estgio 3 (presso arterial > 180/110)

    como o grupo de pior prognstico cardiovascular3. Da mesma forma, este

    grupo de hipertensos possui maior prevalncia de leses em rgos-alvo

    (LOA) (sobrecarga ventricular esquerda, insuficincia renal, proteinria, entre

    outros)4-8 merecendo especial ateno na abordagem teraputica.

    Est bem estabelecido que as presses centrais (artica e cartida)

    sistlica e de pulso so diferentes da perifrica (braquial) como

    consequncia de mudanas progressivas do enrijecimento arterial e da

    reflexo da onda de pulso ao longo da rvore arterial9-12. H evidncias

    indicando que intervenes nas presses centrais com agentes

    farmacolgicos e no farmacolgicos podem promover maiores mudanas

    que nas presses perifricas e elas so mais intimamente relacionadas

    fisiopatologia das leses em rgos-alvo e risco cardiovascular13-18.

    Portanto, a presso sangunea central pode ter maior importncia clnica que

  • as presses perifricas. Estudos clnicos por meio de mtodos no invasivos

    tm indicado que a presso sangunea central pode ter valor preditivo

    independente da presso sangunea perifrica correspondente (braquial) e

    que a hemodinmica central pode promover um alcance de tratamento mais

    completo19-22.

    As alteraes vasculares responsveis pelas modificaes da

    hemodinmica central ocorrem principalmente na estrutura e funo

    arteriais23, caracterizadas por diminuio da distensibilidade de grandes

    artrias, maior espessamento da parede do vaso e disfuno endotelial24.

    Estas alteraes so atualmente consideradas como leses

    cardiovasculares subclnicas25. A via final comum destas modificaes um

    gradual enrijecimento arterial, que contribui sobremaneira para a ocorrncia

    dos principais eventos cardiovasculares26.

    A rigidez arterial uma manifestao biofsica do envelhecimento

    vascular, que modifica as caractersticas funcionais e estruturais da rvore

    arterial levando principalmente ao aumento da presso sistlica e

    diminuio da presso diastlica, com consequente elevao da presso de

    pulso27 e o mais rpido retorno da onda refletida pela aorta28. Estas

    alteraes tm importantes implicaes prognsticas, pois aumentam o risco

    cardiovascular tanto em sujeitos jovens quanto em idosos29-31.

    Embora o enrijecimento arterial seja considerado intrnseco do

    processo de envelhecimento vascular32-34, muito influenciado pela

    associao de outras doenas cardiovasculares e fatores de risco

  • concomitantes, como sexo, dislipidemia, diabetes, aumento do ritmo

    cardaco, fumo, hipertenso arterial, doena renal em estgio final e

    obesidade35-40.

    O aumento da rigidez arterial decorrente principalmente de

    progressiva proliferao de clulas musculares lisas vasculares e do

    acmulo de colgeno nas paredes das grandes artrias, associado

    degenerao da elastina e subsequente deposio de clcio26,41. Exame

    histolgico da camada ntima de vasos enrijecidos revela clulas endoteliais

    desordenadas e anormais, colgeno aumentado, ruptura e desgaste da

    elastina e infiltrao de clulas musculares lisas e macrfagos42.

    Na hipertenso arterial sistmica, o fator mecnico, demonstrado pelo

    aumento da tenso na parede da artria, contribui muito para o aumento da

    rigidez arterial. Alm das alteraes estruturais, a elevao da presso

    arterial pode levar a alteraes funcionais associadas presso de

    distenso aumentada43.

    Alteraes da funo endotelial tambm contribuem para um aumento

    da rigidez das grandes artrias e recentes estudos tm sugerido que o

    oposto tambm pode ocorrer, ou seja, o enrijecimento vascular pode alterar

    a funo do endotlio e assim piorar a rigidez44.

    A rigidez arterial acompanhada do espessamento do complexo

    ntima-mdia atribudo ao stress cclico34, podendo ser reao ao aumento

    da presso arterial, e a alteraes no padro da fora de cisalhamento.

    Aumento da espessura ntima-mdia (EIM) e sua progresso esto

  • associados com fatores de risco cardiovasculares bem conhecidos tal como

    idade, sexo, ndice de massa corprea, fumo, presso arterial e colesterol45.

    Para o espessamento da camada ntima-mdia contribuem alteraes

    celulares, inflamatrias, metablicas, enzimticas e bioqumicas, que esto

    implicadas na fisiopatognese da doena arterial, tais como aterosclerose e

    hipertenso arterial sistmica34.

    A avaliao das alteraes funcionais e estruturais das grandes

    artrias que esto relacionadas aos eventos cardiovasculares, pode ajudar a

    refinar a estratificao de risco dos pacientes hipertensos e identificar

    candidatos terapia mais agressiva.

    A Diretriz Brasileira de Hipertenso46 e a Diretriz da Sociedade

    Europeia de Cardiologia e Hipertenso47 j sugeriam a realizao de

    exames para avaliao da rigidez arterial e da funo endotelial como

    marcadores precoces de estratificao de risco. Assim, a investigao

    funcional mais efetiva dos vasos centrais e perifricos surge como mtodo

    no invasivo de estratificao de risco para doenas cardiovasculares e foco

    de investigao fisiopatolgica na hipertenso arterial48,49. Os principais

    mtodos utilizados e recomendados para avaliao das propriedades

    funcionais arteriais so baseados em ultrassonografia vascular, tonometria

    de aplanao e aparelhos no invasivos que medem a velocidade de onda

    de pulso arterial. Os estudos populacionais, baseados nestes mtodos,

    mostram que a rigidez arterial est associada a maior ocorrncia de eventos

    cardiovasculares, incluindo mortalidade. Mais recentemente tem sido

  • demostrada a aplicao prtica de um ndice ambulatorial de rigidez arterial

    (IARA) obtido pela monitorizao ambulatorial de presso arterial (MAPA) de

    24 horas. Este ndice tem apresentado correlao com outros parmetros de

    rigidez arterial, como os descritos acima, em pacientes hipertensos e outras

    co-morbidades. No entanto, as evidncias apresentam dados conflitantes, e

    por isso, o mtodo no tem unanimidade entre os especialistas.

    Pacientes com hipertenso estgio 3 so de maior risco para

    complicaes cardiovasculares e apresentam com maior frequncia leses

    em rgos-alvo, como corao e rins. As modificaes de funo e estrutura

    de grandes artrias podem estar mais acentuadas em pacientes com

    hipertenso mais grave.

    No existem, at o momento, estudos que demonstrem as alteraes

    das propriedades funcionais e estruturais das grandes artrias em pacientes

    hipertensos estgio 3 e os possveis determinantes destas modificaes e as

    suas correlaes com leses de rgos-alvo. Alm disso, ainda no existem

    dados correlacionando o IARA com outros ndices de rigidez como a

    velocidade de onda de pulso (VOP) e a distenso de cartida em pacientes

    estgio 3, e quais os fatores determinantes deste ndice ambulatorial nesta

    populao especfica de hipertensos.

  • 2. OBJETIVOS

  • 1. Avaliar as alteraes das propriedades funcionais e estruturais das

    grandes artrias por mtodos no invasivos em pacientes com

    hipertenso estgio 3 e estabelecer os principais determinantes.

    2. Correlacionar as alteraes das propriedades arteriais com leses

    em rgos-alvo (rim e corao) em pacientes com hipertenso

    estgio 3.

    3. Avaliar o ndice ambulatorial de rigidez arterial obtido pela MAPA e

    suas correlaes com as medidas de funo e estrutura arterial

    obtidas por mtodos no invasivos em pacientes com hipertenso

    estgio 3.

  • 3. POPULAO E MTODOS

  • 3.1 Populao

    Foram avaliados 48 (quarenta e oito) pacientes com hipertenso

    arterial estgio 3, de ambos os sexos, de diferentes etnias, recebendo

    tratamento anti-hipertensivo padronizado durante um ms.

    3.1.1 Seleo de voluntrios (Projeto Gene-Hy)

    Os pacientes foram selecionados a partir da casustica de um projeto

    institucional da Unidade de Hipertenso do Instituto do Corao (InCor),

    denominado projeto GENE-HY (GENotype and Events in Hypertension). No

    projeto so estudados pacientes portadores de hipertenso arterial estgio

    3, os diferentes fentipos de leses de rgos alvo, gentipos e a resposta

    teraputica frente s alteraes dos diferentes fentipos e gentipos. Uma

    vez preenchidos os critrios de incluso, os pacientes aceitaram participar

    do estudo, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

    aprovado pela comisso cientfica do Instituto do Corao e CAPEPesq

    (Hospital das Clnicas). Do total de 110 pacientes includos at o momento

    no projeto Gene-Hy, selecionamos 48 que possuam as variveis disponveis

    para a anlise, pois a ultrassonografia da artria cartida foi includa

    posteriormente no projeto como parte da avaliao vascular, quando do

    incio da participao do aluno no projeto. Considerando-se que 30

  • pacientes o nmero mnimo para validao das alteraes vasculares

    conforme avaliado em outros estudos da nossa unidade50-56, a anlise dos

    dados em 48 pacientes foi considerada apropriada para os objetivos da tese.

    Os quarenta e oito pacientes que fizeram parte da casustica desse estudo

    receberam tratamento padronizado (hidroclorotiazida 25mg/dia e enalapril

    20mg duas vezes ao dia) durante um ms, como forma de uniformizar a

    teraputica para todos os pacientes neste perodo.

    3.1.2 Critrios de incluso

    Pacientes com diagnstico de hipertenso arterial estgio 3 (V Diretriz

    Brasileira de Hipertenso Arterial46), ou seja presso arterial sistlica (PAS)

    180 mmHg e/ou presso arterial diastlica (PAD) 110 mmHg, obtidas por

    meio de trs medidas de consultrio com intervalo de um minuto entre elas,

    na posio sentada, considerando a mdia das duas ltimas. Caso as

    presses sistlicas e/ou diastlicas obtidas apresentassem diferena maior

    que quatro mmHg, novas medidas eram realizadas at que obtidas medidas

    com diferena inferior.

  • 3.1.3 Critrios de Excluso

    Os critrios de excluso se referem aos critrios do projeto Gene-Hy, e

    levaram em conta a possibilidade de acompanhamento de longo prazo, alm

    de avaliar pacientes que apresentassem leses de rgos-alvo

    possivelmente atribuveis apenas hipertenso arterial.

    (a) Creatinina > 2,0 mg/dL;

    (b) Quadro clnico compatvel com insuficincia cardaca, insuficincia

    coronria obstrutiva, acidente vascular cerebral, insuficincia vascular

    perifrica sintomtica nos seis meses que antecederam o incio do

    estudo;

    (c) Presena de patologias incapacitantes ou que limitassem a sobrevida do

    paciente;

    (d) Indivduos que apresentassem qualquer uma das condies clnicas

    abaixo:

    - Hipertenso arterial secundria, Insuficincia Heptica; Doenas

    Inflamatrias; Neoplasias; Hipotireoidismo; Hipertireoidismo; Doenas

    Hematolgicas; Doenas Vasculares Perifricas; Miocardiopatias;

    Valvopatias; Doenas Congnitas.

  • 3.2 Mtodos

    3.2.1 Parmetros Clnicos e Antropomtricos

    Foi realizada anamnese para obteno de dados como idade, sexo,

    etnia, e presena ou no dos critrios de excluso. Os pacientes foram

    seguidos ambulatorialmente com exames de rastreamento e identificao de

    hipertenso secundria ou outras patologias antes de serem selecionados. A

    etnia foi registrada conforme referida pelos prprios indivduos e

    classificados em brancos ou no brancos. O peso e altura foram

    determinados com roupas leves e sem sapatos utilizando aparelho Filizola

    modelo Personal. O ndice de massa corprea (IMC) foi determinado

    utilizando-se a frmula: peso corpreo (kg) / estatura (m). Determinao da

    presso arterial sistlica e diastlica braquial, bem como da frequncia

    cardaca, foi realizada por meio de aparelho automtico Omron, modelo

    HEM 705 CP, com o indivduo sentado, aps 5 minutos de repouso,

    seguindo as orientaes da V Diretriz Brasileira de Hipertenso46. A Presso

    de Pulso foi determinada pela frmula: PAS menos a PAD.

    Todos os indivduos foram submetidos avaliao laboratorial,

    realizada no Laboratrio do InCor/ FMUSP, aps 12h em jejum.

    Os exames laboratoriais realizados foram colesterol total (mtodo

    cintico automatizado), HDL (mtodo enzimtico), LDL (Frmula de

    Friedewald: LDL = colesterol total-HDL-triglicrides/5), triglicrides (mtodo

  • enzimtico), hematcrito (mtodo contador eletrnico, automtico +

    avaliao morfolgica em esfregaos corados), glicemia (mtodo enzimtico

    colorimtrico automatizado), creatinina (mtodo Jaffe, colorimtrico),

    Protena C Reativa de alta sensibilidade (mtodo nefelometria) e urina

    (microalbuminria).

    Para avaliao das leses em rgos-alvo utilizamos o clearance de

    creatinina calculado pela equao de Cockcroft-Gault57 (Clearance de

    creatinina em ml/min = [140 idade (anos)] x Peso (Kg) / Creatinina

    plasmtica (mg/dL) x 72) corrigido pelo sexo: masculino multiplicado por 1,0

    e feminino multiplicado por 0,85; a microalbuminria e os parmetros

    ecocardiogrficos descritos a seguir.

    Ecocardiograma bidimensional: Foi utilizado aparelho Sequia 512 (Acuson

    Computed Sonography, Mountain View, California) com transdutor

    multifrequencial (3V2C) e recursos para obteno das modalidades de

    ecocardiograma modo M, bidimensional, Doppler convencional pulstil e

    contnuo, e Doppler colorido. As imagens obtidas foram armazenadas em

    disco ptico e posteriormente analisadas.

    Os exames foram realizados com os pacientes em repouso na

    posio de decbito lateral esquerdo e sendo monitorizados com uma

    derivao eletrocardiogrfica contnua com registro simultneo em monitor.

    Exame ecocardiogrfico convencional completo foi realizado em todos os

    pacientes. Corretas orientaes de planos para imagem no modo M,

    bidimensional e Doppler espectral pulstil e contnuo foram verificadas

  • seguindo procedimentos recomendados pela Sociedade Americana de

    Ecocardiografia58-60.

    Os dados da estrutura cardaca foram obtidos a partir do

    ecocardiograma modo M guiado pela imagem bidimensional. A partir da

    imagem do VE obtida pelo modo M, guiada pela imagem bidimensional, as

    seguintes variveis foram obtidas e avaliadas:

    * massa do ventrculo esquerdo (MVE) a partir de frmula validada61

    que incorpora o dimetro diastlico de VE (DDVE), espessura

    diastlica do septo (EDS) e espessura diastlica da parede (EDP),

    medidos conforme a conveno Penn que no considera o

    endocrdio como fazendo parte da EDS e da EDP.

    MVE = 0,8 x 1.04 [(DDVE + EDS + EDP)3 (DDVE)3 ] + 0,6 g

    * ndice de massa do ventrculo esquerdo (IMVE) indexao pela

    rea de superfcie corprea, que por sua vez foi obtida de acordo

    com Du Bois, 191662.

    A avaliao estrutural compreendeu, ainda, medidas da raiz da aorta

    (Ao) e do trio esquerdo (AE). Para avaliao da funo sistlica do

    ventrculo esquerdo foi calculada a frao de ejeo (FE) a partir da relao

    entre os volumes finais do ventrculo esquerdo utilizando-se o mtodo de

    Cubo63 e conforme padronizado pela Sociedade Americana de

    Ecocardiografia61, e que representa o percentual de volume ejetado na

    sstole em relao distole: (volume diastlico final do VE volume

  • sistlico final do VE) / volume diastlico final do VE. As medidas foram

    realizadas pelo mesmo ecocardiografista do laboratrio de Fisiologia da

    Unidade de Hipertenso de forma padronizada.

    3.2.2 Medidas das propriedades funcionais e estruturais das

    grandes artrias

    1) Determinao da distensibilidade da aorta pela medida da velocidade de

    onda de pulso (VOP): A medida da VOP o ndice reconhecido como

    padro ouro para avaliao da rigidez ou distensibilidade artica. A VOP

    obtida automaticamente pelo registro de ondas de pulsos simultneas

    captadas por sensores externos sobre dois pontos conhecidos da rvore

    arterial e calculada como a distncia entre os dois pontos de medida dividida

    pelo tempo percorrido entre os mesmos, fornecido pelo software do

    aparelho. O aparelho Complior (Colson, Gonesse, France), j validado, e

    utilizado em diversos estudos50-56 em nosso laboratrio, foi utilizado para a

    obteno das medidas. A VOP foi avaliada no segmento arterial carotdeo-

    femural, representando a medida do trnsito da onda de pulso pela aorta. A

    medida feita por meio de posicionamento simultneo de dois captores

    mecanogrficos nas artrias cartida e femural situadas a uma distncia

    conhecida (Figura 1). Estes captores contm membranas que so

    deformadas sucessivamente pelo choque da onda de pulso, e esta

    deformao transformada inicialmente em sinal eltrico e posteriormente

  • transmitida a um programa de clculo informatizado. Cada onda pulstil

    aparece em tempo real na tela do computador, e o aparelho determina o

    incio da onda nos dois locais pela tangente fase ascendente inicial da

    onda de presso, e deduz, em funo da distncia medida, a velocidade de

    onda de pulso (Figura 2)64. Para obter o valor da velocidade de onda de

    pulso de cada paciente, foram selecionadas dez curvas, com boa qualidade

    (Figura 3), e ento calculada a mdia. As curvas foram adquiridas com o

    indivduo em decbito dorsal horizontal. As medidas foram realizadas pelo

    autor do presente estudo.

    Figura 1 Aferio da velocidade de onda de pulso com colocao dos

    captores mecanogrficos nas artrias cartida e femural

  • Figura 2 Ilustrao dos registros para clculo da velocidade de onda de

    pulso a partir de curvas de presso obtidas na artria cartida e femural.

    VOP: D = distncia entre dois pontos de medida de onda de pulso. t =

    tempo entre o incio da onda de pulso nas artrias cartida e femoral. DIST =

    distensibilidade

    D

    t D

  • Figura 3. Registros das ondas de pulsos cartida (superior) e femural

    (inferior) obtidas pelo mtodo Complior para determinao da VOP

    2. Avaliao funcional e anatmica da artria cartida pelo mtodo echo-

    tracking: As propriedades funcionais e anatmicas da artria cartida direita

    foram avaliadas por um sistema ultrassonogrfico pulstil tipo

    echotracking (Wall-Track System2, PIE MEDICAL, Maastricht, Holanda)

    que utiliza anlise de sinais de radiofrequncia, e foi desenvolvido para

    medir os movimentos das paredes de grandes artrias superficiais a partir da

    localizao pelo modo B da ecografia vascular convencional (Figura 4). O

    mtodo foi validado e utilizado para estudos clnicos na literatura43,44,65. A

    preciso deste sistema de 30 m para medida do dimetro diastlico e

  • diastlica da cartida batimento a batimento e o percentual dessa variao

    sisto-diastlica (distenso) 25,43. As medidas foram realizadas pelo autor do

    presente estudo e por biomdica do laboratrio de Fisiologia da Unidade de

    Hipertenso. Apenas as medidas obtidas na cartida direita foram

    realizadas, visto que em diferentes estudos, incluindo estudo de nosso

    laboratrio53, mostrou-se uma excelente correlao entre as medidas

    realizadas em ambas as cartidas.

    A B

    C

    Figura 4. A. Foto mostrando a captao de imagem da artria cartida

    direita pelo ultrassom modo M. B. Registro de rdio frequncia da artria

    cartida, onde se visualiza a parede anterior (ANT) e posterior (POST), e os

    picos correspondentes a intima e a adventcia. C. Registro das ondas de

    variao sisto-diastlica do dimetro da artria cartida

    1-ANT, 2-POST, 3-intima, 4-media.

    1 2

    3 4

  • 3) Determinao da presso arterial sistlica, diastlica e de pulso perifrica

    medida por esfigmomanmetro automtico (SpaceLabs 90202) com

    avaliao da rigidez arterial pelo mtodo de Ambulatory Arterial Stiffness

    Index (AASI) que denominaremos de ndice Ambulatorial de Rigidez Arterial

    (IARA): Em nosso protocolo foram realizadas medidas de presso arterial

    durante 24 horas em intervalos de 10 minutos durante a viglia e a cada 20

    minutos no sono no intuito de conseguirmos uma quantidade mnima de 35

    medidas para o clculo do IARA conforme definido na literatura66. Assim o

    IARA foi calculado a partir da curva de regresso da relao das medidas

    das presses arteriais diastlicas e sistlicas nas 24 horas e definido como o

    valor de um (1) menos o valor da inclinao da curva de regresso,

    conforme Dolan et al67.

    IARA = 1 (alfa regresso de correlao de todos os valores PAS/PAD nas 24 horas).

    4) Aferio da PA e Frequncia Cardaca em repouso batimento a

    batimento: A presso arterial tambm foi aferida por meio de monitorizao

    contnua e no invasiva com o monitor de presso FINOMETER (FMS

    Company, Amsterdam, Holanda), por tcnica de fotopletismografia digital,

    descrito por Penaz e desenvolvido por Wesseling68.

    Foi colocado um manguito de presso circundando a falange mdia do

    terceiro dedo da mo esquerda, a mo foi mantida no nvel da linha mdia

    axilar, durante todo o exame (Figura 5). O sinal das curvas de presso

    arterial foram arquivadas no prprio equipamento e simultaneamente em

  • outro computador que possui um sistema de aquisio de sinais biolgicos

    denominado AT/CODAS numa frequncia de amostragem de 1000Hz.

    A anlise das curvas de PA adquiridas pelo FINOMETER foi realizada

    posteriormente com o programa BeatScope, do prprio equipamento que

    forneceu os valores de presso sistlica, diastlica e mdia. Para registro

    da frequncia cardaca foram colocados trs eletrodos no trax do paciente,

    nas posies bipolares, para captao de sinal eletrocardiogrfico, na

    derivao CM5. Aps este sinal ser pr-amplificado (General Purpose

    Amplifier/Stemtech, Inc., GPA-4, modelo 2), ele foi convertido de analgico

    para digital e, em seguida, armazenado em um computador atravs de um

    programa computadorizado AT/CODAS, numa frequncia de 1000Hz. As

    medidas foram realizadas pelo mesmo tcnico do laboratrio de Fisiologia

    da Unidade de Hipertenso de forma padronizada.

    Figura 5. Mtodo de aferio da presso arterial batimento a batimento -

    Finometer

  • Sequncia experimental:

    1) Os pacientes que fizeram parte do estudo foram triados a partir de uma

    amostra de pacientes com hipertenso arterial estgio 3 que participam

    de um estudo da Unidade de Hipertenso (Projeto GENE-HY).

    2) De acordo com o projeto, os pacientes so triados a partir do

    ambulatrio de hipertenso e uma vez que eles preencham os critrios

    de incluso recebem receita padronizada (hidroclorotiazida 25 mg e

    enalapril 40 mg/dia).

    3) Os pacientes realizaram exames laboratoriais, avaliao de parmetros

    hemodinmicos batimento a batimento pelo Finometer,

    EcoDopplercardiograma, medida da VOP, ultrassom de cartida e MAPA

    de 24 horas aps um ms recebendo medicao teraputica anti-

    hipertensiva padronizada.

    3.3 Anlise estatstica

    O teste de Kolmogorov-Smirnov foi utilizado para avaliar a distribuio

    das variveis. As variveis foram descritas utilizando mdia desvio-padro

    (quando no rejeitado a hiptese de normalidade), mediana com o primeiro e

    terceiro quartis [percentis 25 75] (quando rejeitado a hiptese de

    normalidade), ou porcentagem, conforme apropriado. Comparaes entre

  • dois grupos distintos foram realizados atravs do teste t-Student (variveis

    contnuas) ou teste de qui-quadrado de Pearson (variveis categricas).

    O coeficiente de correlao (r) entre dados clnicos, laboratoriais,

    VOP, IARA e parmetros da cartida foram obtidos por dois mtodos, o de

    Pearson e o de Spearman, para as variveis com distribuio normal ou no,

    respectivamente.

    Para avaliar os fatores independentemente associados s alteraes

    vasculares funcionais e estruturais, foram utilizados diferentes modelos de

    regresso linear (uni e multivariados), considerando-se como variveis

    dependentes os parmetros da VOP, do IARA ou da anlise carotdea

    (dimetro, distenso ou EIM). Para as anlises multivariadas, as seguintes

    variveis foram consideradas independentes: idade, sexo, etnia, diabetes,

    tabagismo, peso, altura, IMC, presso arterial sistlica, diastlica e de pulso

    (MAPA, consultrio e Finometer), glicose, colesterol total, LDL-colesterol,

    HDL-colesterol, triglicrides e PCR. Para cada modelo, apresentaram-se os

    parmetros estimados e seus respectivos desvios-padro, nvel descritivo (p-

    valor) e coeficiente de correlao69.

    O programa SPSS (Verso 19; SPSS Inc., Chicago, Illinois, USA) foi

    usado para a anlise estatstica e o nvel de significncia adotado foi de 5%,

    ou seja, valor-p < 0,05 foi considerado estatisticamente significativo.

  • 4. RESULTADOS

  • Foram avaliados 48 (quarenta e oito) pacientes com hipertenso

    arterial estgio 3 com idade mdia de 53,6 8,4 anos; 75% brancos; 71% do

    sexo feminino; 31% de diabticos e 10% de tabagistas ativos.

    As principais caractersticas clnicas dos indivduos encontram-se na

    Tabela 1.

    Tabela 1 - Caractersticas clnicas e antropomtricas dos pacientes

    Varivel Mdia desvio-padro

    Idade (anos) 53,6 8,4

    Peso (Kg) 76,9 12,7

    Altura (m) 1,59 0,08

    ndice de massa corprea (Kg/m2) 30,3 5,0

    Presso arterial sistlica de consultrio (mmHg) 164 28

    Presso arterial diastlica de consultrio (mmHg) 101 16

  • 4.1 Distribuio dos valores dos parmetros funcionais e estruturais

    das grandes artrias

    A distribuio dos parmetros vasculares analisados na amostra

    estudada est demonstrada nos grficos da figura 6.

    6

    8

    10

    12

    14

    16

    18

    20

    5000

    6000

    7000

    8000

    9000

    10000

    11000

    VOP Dimetro

    2

    3

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    10

    11

    12

    0,4

    0,5

    0,6

    0,7

    0,8

    0,9

    1

    1,1

    1,2

    1,3

    0,1

    0,2

    0,3

    0,4

    0,5

    0,6

    0,7

    0,8

    0,9

    Distenso EIM IARA

    Figura 6 Distribuio dos parmetros vasculares (VOP, Dimetro,

    distenso e EIM carotdeos e IARA)

    m/s

    m

    %

    m

    un

    ida

    des

  • Na Tabela 2 esto descritos os valores mdios dos parmetros

    vasculares de nosso estudo e os valores de referncia para medidas da

    VOP e ultrassom de cartida considerando dados obtidos em 210 indivduos

    saudveis sem doena cardiovascular avaliados em nosso servio; para

    valores do IARA, consideramos dados de estudos populacionais.

    Observamos que a VOP e o IARA tm valores mdios acima dos valores de

    referncia.

    Tabela 2 Mdia dos valores dos parmetros funcionais e estruturais de

    grandes artrias

    Varivel n Valores VR

    VOP (m/s) 46 12,4 2,3 9,3 1,7

    Dimetro cartida (m) 48 7318 1222 6649 1057

    Distenso cartida (%) 48 5,4 1,8 4,7 1,7

    EIM (m) 45 772 158 614 133

    IARA (unidades) 48 0,39 0,17 < 0,36*

    VR Valores de referncia obtidos em uma populao de indivduos saudveis em nosso

    servio pareados para sexo e idade (dados ainda no publicados).

    * O valor limite de sensibilidade que melhora a estratificao de risco cardiovascular

    segundo o Estudo IDACO70

    .

  • 4.2 Determinantes clnicos e antropomtricos

    Na tabela 3 verificamos as correlaes entre as variveis clnicas e

    antropomtricas com os parmetros vasculares. Observamos que a idade

    mostrou correlao positiva com a VOP (r = 0,53; p < 0,001), IARA (r = 0,35;

    p = 0,016) e com o dimetro carotdeo (r = 0,40; p = 0,005) (Figura 7). No

    houve associao entre os parmetros vasculares analisados quanto ao

    sexo, etnia, peso, altura e IMC. Houve correlao positiva entre o peso

    corpreo e o dimetro da cartida (r = 0,30; p =0,038) (Figura 8).

    Tabela 3 Correlao (r) e valor-p (p) das variveis clnicas e

    antropomtricas com os parmetros vasculares

    Variveis VOP Dimetro cartida

    Distenso relativa cartida

    Espessura ntima-Mdia

    IARA

    r p r p r p r p r p

    Idade 0,53

  • 6

    8

    10

    12

    14

    16

    18

    20

    VO

    P

    30 35 40 45 50 55 60 65 70 75

    idade

    5000

    6000

    7000

    8000

    9000

    10000

    11000

    Dia

    m

    30 35 40 45 50 55 60 65 70 75

    idade

    VOP = 4,7173353 + 0,1426191 idade Dimetro = 4237,7105 + 57,452468 idade

    0,1

    0,2

    0,3

    0,4

    0,5

    0,6

    0,7

    0,8

    0,9

    AA

    SI f

    ina

    l

    30 35 40 45 50 55 60 65 70 75

    idade

    IARA = 0,0241231 + 0,0069353 idade

    Figura 7 Grfico de disperso com a reta ajustada (apresentada logo

    abaixo) entre a varivel idade (anos) e as variveis dos parmetros

    vasculares

    r = 0,53

    p < 0,001 r = 0,40

    p = 0,005

    r = 0,35

    p = 0,016

    IAR

    A (

    un

    idad

    es)

    Di

    met

    ro

    Di

    me

    tro (

    m

    )

    (m/s

    )

    )

    (anos) (anos)

    (anos)

  • 5000

    6000

    7000

    8000

    9000

    10000

    11000

    Dia

    m

    40 50 60 70 80 90 100 110

    peso

    Dimetro = 5101,4659 + 28,75233 peso

    Figura 8 Grfico de disperso com a reta ajustada (apresentada logo

    abaixo) entre peso e o dimetro da cartida

    4.3 Determinantes hemodinmicos

    4.3.1 Valores dos parmetros hemodinmicos

    Como observado na Tabela 4, houve diferena entre os valores das

    medidas de presso arterial obtidas pelos trs mtodos. A PAS tanto na

    medida de consultrio quanto pelo mtodo batimento a batimento

    (Finometer) foram significativamente superiores as obtidas durante o perodo

    de viglia na MAPA. A PAD, por sua vez, foi semelhante na viglia da MAPA

    e pelo Finometer e, ambas inferiores a do consultrio. A PP foi maior no

    r = 0,30

    p = 0,038

    Di

    metr

    o (

    m

    )

    (Kg)

  • consultrio e menor na MAPA e ambas significativamente inferiores a PP

    pelo Finometer.

    Tabela 4. Valores das medidas de presso arterial sistlica (PAS), diastlica

    (PAD) e de pulso (PP) obtidas pela MAPA, batimento a batimento pelo

    Finometer e no consultrio

    Varivel (mmHg) PAS PAD PP

    MAPA viglia 134 15 83 11 51 7

    MAPA sono 120 18 70 13 50 9

    FINOMETER 163 25* 87 14 74 22*

    Consultrio 164 28* 101 16*# 63 19*#

    * p

  • Tabela 5 Correlao (r) e valor-p (p) das varireis hemodinmicas com os

    parmetros vasculares

    Variveis VOP Dimetro cartida

    Distenso relativa cartida

    Espessura ntima-mdia

    IARA

    r p r p r p r p r p

    FC 0,05 0,752 0,11 0,450 -0,21 0,154 0,04 0,819 -0,27 0,065

    PAS consult 0,04 0,792 0,23 0,116 -0,24 0,103 -0,05 0,753 0,12 0,398

    PAD consult -0,08 0,600 0,04 0,785 -0,12 0,427 -0,03 0,826 -0,05 0,715

    PP consult 0,13 0,394 0,31 0,034 -0,25 0,082 -0,04 0,782 0,23 0,113

    PAS MAPA vig 0,22 0,143 0,07 0,658 0,20 0,169 0,02 0,910 NA

    PAD MAPA vig 0,07 0,662 -0,05 0,725 0,21 0,156 -0,05 0,737 NA

    PP MAPA vig 0,35 0,018 0,21 0,148 0,09 0,541 0,12 0,451 NA

    PAS sono 0,30 0,041 0,016 0,271 0,09 0,550 -0,05 0,755 NA

    PAD sono 0,14 0,344 0,09 0,524 0,12 0,429 -0,08 0,613 NA

    PAS Finometer 0,25 0,092 0,35 0,015 0,17 0,253 -0,04 0,785 0,12 0,428

    PAD Finometer -0,01 0,937 0,16 0,292 0,16 0,274 0,03 0,856 -0,16 0,268

    PP Finometer 0,34 0,023 0,34 0,019 0,10 0,508 -0,07 0,627 0,28 0,058

    NA = No aplicvel

    Houve correlao positiva da presso arterial sistlica do sono (r =

    0,30; p = 0,041), da PP na MAPA viglia (r = 0,35; p = 0,018) e da PP no

    Finometer (r = 0,34; p = 0,023) com a medida da VOP, como observado na

    figura 9.

  • 6

    8

    10

    12

    14

    16

    18

    20

    VO

    P

    80 90 100 110 120 130 140 150 160

    PAS sono

    6

    8

    10

    12

    14

    16

    18

    20

    VO

    P

    35 40 45 50 55 60 65 70

    PP MAPA

    VOP = 7,6449974 + 0,0390036 PAS sono VOP = 6,9720313 + 0,1052879 PP MAPA

    6

    8

    10

    12

    14

    16

    18

    20

    VO

    P

    -20 0 20 40 60 80 100 120

    PP Fino

    VOP = 9,8752105 + 0,0337733

    Figura 9 Grficos de disperso com as retas ajustadas (apresentadas logo

    abaixo) entre variveis hemodinmicas e velocidade de onda de pulso (VOP)

    Houve correlao positiva da presso de pulso do Finometer (r = 0,34;

    p = 0,019) e a PP do consultrio (r = 0,31; p = 0,034), alm da PAS do

    Finometer (r = 0,35; p = 0,015) com o dimetro carotdeo como observado

    na figura 10.

    r = 0,30

    p = 0,041

    r = 0,35

    p = 0,018

    r = 0,34

    p = 0,023

    PP Finometer

    (mmHg) (mmHg)

    (mmHg)

    (m/s

    ) (m

    /s)

    (m/s

    )

  • 5000

    6000

    7000

    8000

    9000

    10000

    11000

    Dia

    m

    100 120 140 160 180 200 220 240

    PAS fino

    5000

    6000

    7000

    8000

    9000

    10000

    11000

    Dia

    m

    30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130

    PP

    Dimetro = 4722,1233 + 15,498589 PAS fino Dimetro= 6052,0796 + 20,025915 PP cons

    6

    8

    10

    12

    14

    16

    18

    20

    VO

    P

    -20 0 20 40 60 80 100 120

    PP Fino

    Diam = 7072,9182 + 3,3339245 PP Fino

    Figura 10 Grficos de disperso com as retas ajustadas (apresentadas

    logo abaixo) entre variveis hemodinmicas e o dimetro da cartida

    r = 0,35

    p = 0,015

    r = 0,31

    p = 0,034

    PAS Finometer (mmHg)

    Di

    me

    tro (

    m

    )

    Di

    me

    tro (

    m

    )

    PP Consultrio (mmHg)

    Di

    me

    tro (

    m

    )

    PP Finometer (mmHg)

    r = 0,34

    p = 0,019

  • 4.4 Determinantes laboratoriais

    4.4.1 Valores dos parmetros laboratoriais

    A tabela 6 mostra os valores mdios dos parmetros laboratoriais

    obtidos em nossos pacientes. Observamos valores dentro da faixa de

    normalidade dos nveis sricos de creatinina, colesterol, triglicrides, LDL,

    HDL, hemoglobina e hematcrito. Os valores de glicemia de jejum (103,5

    mg/dL [94,5 116,7]) estavam acima da faixa de normalidade,

    considerando-se que 31% dos pacientes eram diabticos. Alm disso, os

    valores de PCR tambm foram elevados (2.35 mg/dL [0.86-5.28]),

    caracterizando uma populao de alto risco cardiovascular.

  • Tabela 6 Mdia e mediana dos valores das variveis laboratoriais

    Varivel Valores*

    Creatinina (mg/dL) 0,9 0,2

    Colesterol total (mg/dL) 203,5 36,7

    Triglicerdeos (mg/dL) 136,3 61,6

    LDL (mg/dL) 127,1 33,6

    HDL (mg/dL) 48,4 14,7

    Glicose (mg/dL) 103,5 [94,5 116,7]

    Hemoglobina (g/dL) 14,2 1,3

    Hematcrito (g/dL) 42,4 3,6

    PCR ( mg/dL) 2,35 [0,86 5,28]

    * Valores apresentados em mdia desvio padro ou mediana [percentis 25 75]

    4.4.2 Correlao dos parmetros vasculares com variveis

    laboratoriais

    Como observado na Tabela 7, houve correlao negativa entre os

    valores de glicemia e a distenso relativa de cartida (r = -0,32; p = 0,026) e

    positiva da hemoglobina com o dimetro carotdeo (r = 0,28; p = 0,049). No

    observamos nenhuma correlao significativa entre as variveis laboratoriais

    e as medidas de VOP e EIM. O IARA foi significativamente relacionado aos

  • nveis de glicemia (r = 0,29; p = 0,045). Nas figuras 11 e 12, observamos as

    correlaes significativas entre glicemia e IARA e, entre glicemia e distenso

    relativa de cartida, respectivamente.

    Tabela 7 Correlao (r) e valor-p (p) entre as varireis laboratoriais e os

    parmetros vasculares

    Variveis VOP Dimetro cartida

    Distenso relativa cartida

    Espessura ntima-mdia

    IARA

    r p r p r p r p r p

    Colesterol 0,04 0,775 -0,15 0,293 0,12 0,423 0,17 0,262 0,05 0,717

    HDL 0,02 0,875 0,52 0,723 0,29 0,845 0,16 0,307 0,10 0,514

    LDL -0,17 0,249 -0,25 0,091 -0,01 0,954 -0,16 0,286 0,02 0,877

    Triglicrides 0,25 0,096 0,01 0,967 0,04 0,766 0,29 0,053 -0,38 0,796

    Glicemia -0,29 0,848 0,08 0,587 -0,32 0,026 0,06 0,699 0,29 0,045

    Ht -0,09 0,558 0,12 0,426 -0,14 0,329 -0,23 0,136 0,15 0,300

    Hb -0,07 0,625 0,28 0,049 0,13 0,371 0,01 0,977 -0,02 0,876

    Creatinina -0,07 0,638 0,14 0,350 0,18 0,226 -0,01 0,954 -,02 0,877

  • 0,1

    0,2

    0,3

    0,4

    0,5

    0,6

    0,7

    0,8

    0,9

    AA

    SI f

    ina

    l

    100 150 200 250

    Glic

    IARA = 0,2483089 + 0,001267 Glicemia

    Figura 11 Grfico de disperso com a reta ajustada (apresentada logo

    abaixo) entre glicemia e IARA

    2

    3

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    10

    11

    12

    Dis

    t

    100 150 200 250

    Glic

    Distensibilidade = 7,1235638 - 0,0149868 Glicemia

    Figura 12 Grfico de disperso com a reta ajustada (apresentada logo

    abaixo) entre glicemia e distenso relativa da cartida

    r = 0,29

    p = 0,045

    r = -0,32

    p = 0,026

    IAR

    A (

    unid

    ades)

    Glicemia (mg/dL)

    Dis

    tenso (

    %)

    Glicemia (mg/dL)

  • Corroborando com o dado acima, na figura 13 observamos que a

    distenso relativa carotdea foi significativamente menor em pacientes

    diabticos (4,52 1,86%) comparado a no diabticos (5,76 1,38%)

    (p = 0,014).

    Dis

    t

    2

    3

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    10

    11

    12

    0 1

    DM

    Figura 13 Valores mdios da distenso relativa da cartida em diabticos

    e no diabticos

    p = 0,014

    Dis

    tenso (

    %)

    No Diabticos Diabticos

  • Na figura 14, observamos que a hemoglobina mostrou correlao

    positiva com o dimetro carotdeo (r = 0,28; p = 0,049).

    5000

    6000

    7000

    8000

    9000

    10000

    11000

    Dia

    m

    10 11 12 13 14 15 16 17

    HB

    Diam = 3485,6657 + 270,05217 HB

    Figura 14 Grfico de disperso com a reta ajustada (apresentada logo

    abaixo) entre hemoglobina e dimetro da cartida

    4.5 Determinantes em leses em rgos-alvo

    4.5.1 Valores dos parmetros das leses em rgos-alvo

    As leses em rgos-alvo foram avaliadas em corao e rins. As

    alteraes cardacas foram observadas pelo ecocardiograma enquanto que

    r = 0,28

    p = 0,049

    Di

    metr

    o (

    %)

    Hemoglobina (g%)

  • a presena de disfuno renal foi baseada na diminuio do clearance de

    creatinina ou pela presena de microalbuminria.

    Os valores obtidos da anlise ecocardiogrfica esto demonstrados

    na tabela 8. O ndice de massa ventricular esquerda pela superfcie corprea

    (iMVE) mostrou-se elevado tanto em homens como em mulheres,

    considerando-se os valores de referncia adotados pela literatura61. O

    dimetro artico (Ao) e a frao de ejeo (FE) estavam dentro da faixa de

    normalidade. Em relao ao dimetro de trio esquerdo (AE), os homens

    tiveram media mais elevada (41,4 4,0) enquanto as mulheres tiveram valor

    mdio no limite superior da normalidade (37,9 4,9).

    Tabela 8. Parmetros ecocardiogrficos estruturais e funcionais

    Varivel Mdia Desvio-Padro VR

    Masc Fem

    iMVE (g/m2) 124,2 38,0 110,1 32,0 < 115,0* < 95,0**

    AO (mm) 32,9 3,0 22,0 - 36,0

    AE (mm) 41,4 4,0 37,9 4,9 < 40,0* < 38,0**

    FE (%) 77,0 6,6 > 59,0 0,1

    Os dados esto expressos em mdia desvio padro. VR = valores referncias (* para sexo

    masculino e ** para sexo feminino).

  • No houve alterao da microalbuminria no grupo estudado, com

    mediana de 10,8 mg/24h [4,75 22,0] (Figura 15), bem como nos nveis de

    creatinina com mdia de 0,9 0,2 mg/dL e no clearance de creatinina com

    mdia de 95,7 28,2 ml/min/1,73m2 (Figura 16).

    0

    50

    100

    150

    200

    Figura 15 Distribuio dos valores de microalbuminria

    Mediana = 10,8

    Mic

    roal

    bu

    min

    ri

    a (m

    g/24

    h)

  • 50

    100

    150

    200

    Figura 16 - Distribuio dos valores de clearance de creatinina

    4.5.2 Correlao dos parmetros vasculares com leses em

    rgos-alvo

    No houve correlao das variveis de leses em rgos-alvo

    analisadas com a VOP, EIM e IARA (Tabela 9). O dimetro do trio

    esquerdo mostrou correlao positiva com o dimetro carotdeo (r = 0,28,

    p < 0,001) e o ndice de Massa Ventricular Esquerdo (iMVE) mostrou

    correlao positiva com a distenso relativa da cartida (r = 0,14, p = 0,009).

    (Figuras 17 e 18)

    Mdia = 95,7

    ml/m

    in/1

    ,73

    m2

  • Tabela 9 Correlao (r) e valor-p (p) entre as variveis de leso em

    rgos-alvo com os parmetros vasculares

    Variveis VOP Dimetro cartida

    Distenso relativa

    carotdea

    Espessura ntima-mdia

    IARA

    r p r p r p r p r p

    iMVE -0,08 0,577 0,15 0,319 0,38 0,009 -0,07 0,630 0,18 0,220

    AO 0,01 0,984 0,23 0,116 0,17 0,249 -0,11 0,467 0,08 0,601

    AE -0,18 0,905 0,49

  • 5000

    6000

    7000

    8000

    9000

    10000

    11000

    Dia

    m

    25 30 35 40 45

    AE

    Dimetro = 2183,7849 + 133,04374 AE

    Figura 17 Grfico de disperso com a reta ajustada (apresentada logo

    abaixo) entre o dimetro da cartida e o dimetro do trio esquerdo

    2

    3

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    10

    11

    12

    Dis

    t

    50 75 100 125 150 175 200

    MVESC

    Distensibilidade = 2,7938815 + 0,0226132 iMVE

    Figura 18 Grfico de disperso com a reta ajustada (apresentada logo

    abaixo) entre o ndice de Massa Ventricular Esquerda (iMVE) e distenso

    relativa da cartida

    r = 0,49

    p < 0,001

    r = 0,38

    p = 0,009

    Dis

    tenso (

    %)

    Di

    metr

    o (

    m

    )

    Dimetro de trio Esquerdo (mm)

    iMVE (g/m2)

  • 4.6 Determinantes dos parmetros vasculares

    4.6.1 - Fatores determinantes dos parmetros vasculares

    O nico fator independente relacionado VOP dentre os parmetros

    clnicos, laboratoriais e hemodinmicos em pacientes hipertensos estgio 3

    foi a idade (B = 0,134; p = 0,001).

    Em relao ao IARA, o fator independentemente relacionado foi a

    glicemia de jejum (B = 0,001; p = 0,033).

    No que se refere aos parmetros carotdeos, nenhuma varivel

    analisada teve associao significativa com a EIM, enquanto a distenso de

    cartida foi relacionada de forma independente com o iMVE (B = 0,190; p =

    0,024) e o dimetro carotdeo com o dimetro de trio esquerdo (B = 84,704;

    p = 0,018). (Tabela 10)

  • Tabela 10 Parmetros estimados por regresso linear multivariada entre

    parmetros vasculares e variveis clnicas, laboratoriais e hemodinmicas

    nos pacientes estudados

    Varivel Parmetro vascular

    IARA

    B p

    Idade 0,004 0,222 0,172

    VOP 0,015 0,208 0,200

    Glicemia 0,001 0,298 0,033

    VOP

    Idade 0,134 0,495 0,001

    PP (Finometer) 0,006 0,047 0,762

    PAS (sono) 0,029 0,229 0,120

    Distenso relativa de cartida

    Glicemia -0,011 -0,247 0,081

    iMVE 0,190 0,323 0,024

    Dimetro carotdeo

    Idade 24,048 0,175 0,221

    PAS (Finometer) 8,360 0,192 0,163

    AE 84,704 0,358 0,018

  • 4.6.2 - Correlao entre os parmetros vasculares pelas

    diferentes metodologias

    Conforme demonstrado na figura 19, houve correlao positiva entre

    VOP e IARA (r = 0,10; p = 0,032).

    6

    8

    10

    12

    14

    16

    18

    20

    VO

    P

    0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9

    AASI final

    VOP = 10,670391 + 4,2945573 IARA

    Figura 19 Grfico de disperso com a reta ajustada (apresentada logo

    abaixo) entre IARA e velocidade de onda de pulso

    r = 0,10

    p = 0,032

    IARA (unidades)

    (m/s

    )

  • 5. DISCUSSO

  • Nosso estudo apresenta vrios dados novos e originais relacionados

    s propriedades arteriais em pacientes com hipertenso estgio 3, isto ,

    naqueles com hipertenso mais grave e com maior risco cardiovascular.

    Dentre estes vrios achados, destacamos os mais relevantes para uma mais

    ampla discusso, quais sejam (1) rigidez de aorta aumentada pela medida

    da VOP em pacientes hipertensos estgio 3, com valores mdios

    semelhantes aos considerados marcadores de pior prognstico

    cardiovascular de acordo com diferentes estudos populacionais, (2)

    correlao de um novo ndice de rigidez arterial, o IARA, com a medida

    padro ouro de rigidez artica (VOP), (3) correlao do ndice de rigidez

    ambulatorial com nveis de glicemia em hipertensos estgio 3, (4) diminuio

    da distensibilidade carotdea em diabticos, (5) correlao da alterao da

    distensibilidade arterial com a massa de ventrculo esquerdo e do tamanho

    do trio esquerdo com o dimetro da cartida, sugerindo um possvel

    mecanismo fisiopatolgico entre as alteraes cardacas e vasculares

    presente nestes pacientes.

    Alteraes da rigidez artica medida pela velocidade de onda de pulso

    A rigidez artica tem sido associada com morbidade e mortalidade

    cardiovasculares em hipertensos71, em doentes renais crnicos em estgio

    final72, diabticos73, e na populao em geral74,75. Consequentemente, a

    medida da rigidez artica, avaliada pela VOP, tem sido proposta como um

  • fator de risco adicional na predio de doena cardiovascular, como no

    estudo de Boutouyrie e cols71 que identificaram um aumento na rea sob a

    curva para a determinao de doena cardiovascular quando a VOP foi

    adicionada ao Escore de Risco de Framingham.

    A ltima diretriz europia para o diagnstico e tratamento da

    hipertenso47 sugere que a presena de valores de VOP > 12 m/s deve ser

    considerada como marcadora de leso subclnica de rgos-alvo e de maior

    risco cardiovascular. Recente publicao envolvendo 13 centros europeus e

    que incluiu dados de 11092 indivduos normais e hipertensos mostrou

    valores de VOP de referncia e, classificou-os de acordo com a faixa etria e

    os nveis de presso arterial76. Em nosso estudo com pacientes portadores

    de hipertenso arterial estgio 3, encontramos uma mdia de valores de

    12,4 m/s sendo que metade dos pacientes apresentavam valores acima de

    12 m/s, isto , acima dos valores marcadores de pior prognstico

    cardiovascular. No estudo de referncia europeu, a mdia dos valores de

    VOP em pacientes de faixa etria semelhante e com hipertenso estgio 2 e

    3 em conjunto foi de 10,5 m/s, e 50% tinham valores acima de 12 m/s.

    Provavelmente, por nosso grupo ser constitudo apenas por pacientes com

    hipertenso estgio 3, a repercusso da hipertenso deve ser mais grave do

    que a observada no estudo europeu, o que justificaria a diferena dos

    valores mdios da VOP entre os dois estudos. Cabe ressaltar que, em nosso

    estudo, aplicamos a mesma metodologia para avaliao da VOP usada na

    maioria dos estudos que se demonstrou ser a VOP um importante marcador

  • de risco cardiovascular em diferentes populaes, assim como no estudo

    europeu de valores de referncia.

    Assim, a presena de uma elevada rigidez artica em hipertensos

    estgio 3, como evidenciado em nosso estudo, a demonstrao do grande

    impacto de nveis mais elevados de presso arterial sobre os componentes

    estruturais e funcionais das grandes artrias. Alm disso, demonstramos

    uma forte correlao entre VOP e idade nestes hipertensos, j bem

    caracterizada em outras populaes77,78, reforando a associao prejudicial

    da hipertenso ao envelhecimento sobre as propriedades funcionais e

    estruturais das grandes artrias. No mesmo estudo europeu, mencionado

    acima, h evidncias importantes de que o envelhecimento piora as

    alteraes da hipertenso sobre a rigidez arterial, de tal forma que os

    maiores valores de VOP so aqueles apresentados por pacientes com

    hipertenso estgio 2 e 3 acima dos 70 anos de idade76.

    Embora o nico fator independentemente associado rigidez artica

    medida pela VOP tenha sido a idade, outras correlaes significativas foram

    observadas, e merecem comentrio. As medidas de presso no consultrio

    no foram relacionadas a VOP, provavelmente porque a condio da doena

    hipertensiva no estgio mais grave mais importante que os valores da

    presso, mesmo porque estes pacientes estavam sob tratamento. No

    entanto, observamos correlaes da VOP com PAS no sono, PP na MAPA e

    PP medida batimento a batimento pelo Finometer. O papel da PP na

    determinao das medidas da VOP tem sido relatado por outros autores,

    reforando o impacto do componente pulstil da presso na fisiopatogenia

  • da agresso vascular pela hipertenso. Nossos dados esto de acordo com

    estudo envolvendo 600 pacientes com hipertenso resistente, onde os

    autores evidenciaram significativa correlao entre as medidas de PP, PAS

    na viglia e no sono com as medidas da VOP79.

    Avaliao das propriedades estruturais e funcionais da artria cartida

    Alm da avaliao da rigidez arterial pela anlise da velocidade de

    onda de pulso artica, outros parmetros funcionais e estruturais de grandes

    artrias podem ser avaliados utilizando-se de medidas mais precisas por

    meio de mtodos de imagem como ultrassom de alta resoluo. Um destes

    mtodos, que utiliza a converso dos sinais de ultrassom para

    radiofrequncia, na Amrica Latina disponvel apenas em nosso servio,

    permite avaliar com maior preciso os parmetros funcionais e tambm

    estruturais da artria cartida, e consequentemente identificar alteraes

    mais precoces relacionadas a hipertenso arterial. Devido caracterstica

    peculiar de nossa populao, nossos dados faro parte de um registro

    internacional de valores de referncia para medidas de EIM de cartida, a

    ser publicado ainda este ano.

    Diversos estudos utilizando esta metodologia, denominada Wall Track

    System, incluindo alguns realizados em nossa Unidade, tm apresentado

    dados importantes sobre o impacto da hipertenso e outras doenas sobre

    as propriedades funcionais e estruturais das grandes artrias. Em um destes

  • estudos, Bortolotto et al demonstraram que o envelhecimento aumenta a

    espessura ntima-mdia e o dimetro da artria cartida, que

    predominantemente elstica, assim como da artria radial, que

    predominantemente muscular, mas apenas a cartida tem efeitos deletrios

    em sua funo pelo envelhecimento, com reduo da distensibilidade80. A

    hipertenso arterial por sua vez diminui a distensibilidade de artrias

    elsticas como a cartida, mas no modifica a funo de artrias

    musculares, como a radial, embora estas apresentem hipertrofia81. A

    distensibilidade da cartida diminui com a idade em populaes de

    hipertensos independentemente da presso. Em nosso estudo no

    observamos relao da distenso de cartida com valores de presso ou

    mesmo com a idade, provavelmente por constiturem uma populao de

    hipertensos mais graves. Observamos que a distensibilidade de cartida se

    correlacionou inversamente com os nveis de glicemia, e que foi menor entre

    os diabticos. Este achado est de acordo com o encontrado em pacientes

    normotensos com diabetes, onde a distensibilidade de cartida estava

    significativamente reduzida, sem aumento da espessura ntima-mdia da

    cartida82. Mais ainda, em estudo envolvendo um maior nmero de

    indivduos, comparando-se normotensos, hipertensos sem diabetes e

    hipertensos com diabetes tipo 2, a distensibilidade de cartida foi

    significativamente menor no grupo com diabetes83, o que refora os nossos

    achados, mesmo considerando um nmero menor de pacientes em nosso

    estudo. A principal alterao da funo das grandes artrias nos diabticos

    o aumento da rigidez, enquanto que a principal alterao estrutural o maior

  • espessamento da camada ntima-mdia da artria cartida, encontradas em

    ambos os tipos 1 e 2 de diabetes.

    Os mecanismos destas alteraes estruturais e funcionais arteriais no

    diabetes incluem a resistncia insulina, o acmulo de colgeno devido

    glicao enzimtica inadequada, disfuno endotelial e do sistema nervoso

    autnomo. Tm sido demonstrado que a hiperglicemia causa importantes

    alteraes quantitativas e qualitativas na elastina e no colgeno de paredes

    de artrias centrais84. Outro possvel mecanismo que pode permitir elevao

    da rigidez arterial nos pacientes diabticos a glicao de protenas e o

    aumento de produtos finais de glicao avanada. Esses produtos podem

    formar ligaes de molculas de colgeno na parede arterial, desta forma

    diminuindo a distensibilidade84. Condies hiperglicmicas podem promover

    acmulo de colgeno devido a uma glicao no enzimtica e

    consequentemente aumentar a rigidez de artrias centrais e perifricas85. O

    aumento de rigidez arterial marcador de risco cardiovascular em pacientes

    diabticos73 e a EIM de cartida aumentada est associada com doena

    arterial coronria e preditora de eventos futuros de infarto do miocrdio

    silencioso e doena coronariana em diabticos tipo 286. Enfim, ambas as

    alteraes funcionais e estruturais parecem estar inter-relacionadas em

    pacientes diabticos, como foi observado em um estudo87 realizado em 225

    indivduos com diabetes tipo 2, onde a rigidez arterial avaliada pela anlise

    da onda de pulso por tonometria de aplanao foi significativamente e

    independentemente relacionada EIM da artria cartida.

  • Ainda em relao s propriedades funcionais da cartida encontramos

    um dado controverso em nosso estudo que requer avaliao cuidadosa.

    Observamos uma correlao significativa e positiva da distenso relativa de

    cartida com a massa ventricular esquerda. Se considerssemos uma

    relao de causa-efeito poderamos correr um risco de concluir que a

    hipertrofia ventricular esquerda seria relacionada maior distenso da

    parede arterial, o que contradiz a maioria dos achados da literatura. bem

    reconhecido que o aumento da rigidez arterial promove aumento do estresse

    sistlico, sobretudo em pacientes idosos, o que promoveria a hipertrofia do

    ventrculo esquerdo. Em um estudo que avaliou esta relao88, os autores

    demonstraram, em pacientes hipertensos, que a massa de ventrculo

    esquerdo foi inversamente relacionada a distensibilidade da cartida medida

    por ultrassom, sugerindo que estas alteraes ocorrem em paralelo, e que a

    diminuio da distenso teria impacto na ocorrncia da hipertrofia e

    remodelamento ventricular. Em nossa opinio, a correlao positiva

    observada em nosso estudo no deve ser considerada uma correlao de

    causa-efeito, e pode ser interpretada como um possvel mecanismo de

    adaptao. Assim, a presena de hipertrofia ventricular esquerda significaria

    um mecanismo de adaptao ao maior estresse provocado por uma reduo

    da rigidez arterial, de tal forma que aqueles que desenvolvem maior massa

    ventricular compensam do estresse na parede do ventrculo. Outra

    possibilidade seria que uma maior distenso pulstil teria um efeito de maior

    estresse sobre o miocrdio, consequentemente estimulando maior hipertrofia

    em hipertensos estgio 3 onde o componente sistlico seria o responsvel

  • por esta resposta no concordante, pois o impacto do tratamento verificado

    foi que grande parte destes hipertensos controlou com duas classes de anti-

    hipertensivos e, talvez o uso prvio destas drogas possa explicar tal efeito89.

    A hipertrofia ventricular esquerda pode ocorrer em paralelo com a hipertrofia

    do vaso, que tambm teria um efeito compensatrio sobre a rigidez arterial,

    o que tornaria a distenso menor. No entanto, a no presena de maior

    espessura ntima-mdia de cartida em nossos pacientes no refora essa

    hiptese.

    Alm dos parmetros funcionais da cartida, analisamos os

    parmetros estruturais. Um destes parmetros, a medida da espessura

    ntima-medial, considerado um importante marcador de doena

    aterosclertica subclnica, alm de ser um marcador de prognstico

    cardiovascular. Pelo fato de ser um mtodo no invasivo e de relativa

    facilidade de execuo, tem sido bastante difundido na prtica clnica e

    recomendado por diferentes diretrizes. As Diretrizes Europeias de

    Hipertenso47, por exemplo, consideram valores acima de 0,900 mm como

    determinante de leso de rgos-alvo em hipertenso. Porm, a grande

    variabilidade intra e inter-observador gera limitao importante para

    definio de parmetros considerados anormais. Alguns centros, como a

    Unidade de Hipertenso do InCor, tm utilizado uma metodologia onde as

    imagens de ultrassom so convertidas em radiofrequncia, permitindo a

    medida dos movimentos das paredes de grandes artrias superficiais a partir

    da localizao pelo modo B da ecografia vascular convencional. Com isso, o

    mtodo tornou-se mais preciso possibilitando a identificao das mnimas

  • alteraes da espessura da parede vascular. Um exemplo desta maior

    preciso a identificao de alterao da espessura ntima-mdia da

    cartida em pacientes com apnia do sono, independente de outros fatores

    de risco, avaliada em nosso laboratrio, que s foi possvel pela utilizao

    desta metodologia por radiofrequncia90. Em nosso estudo, 12,5% dos

    pacientes apresentavam espessura ntima-mdia acima de 0,900 mm, e a

    mdia geral ficou dentro da variao observada em um estudo com

    indivduos sem doena cardiovascular realizado em nosso departamento e

    ainda no publicado.

    Outro parmetro analisado pela ultrassonografia de cartida foi o

    dimetro diastlico do vaso. Em um estudo realizado para avaliar os

    diferentes determinantes da rigidez artica e de cartida83, em uma

    populao europeia, os autores estudaram 94 indivduos normotensos com a

    mesma metodologia que utilizamos em nosso estudo, e obtiveram medidas

    do dimetro carotdeo. A mdia de valores do dimetro interno diastlico

    para indivduos com mdia de idade de 53 anos, foi 6700 m, enquanto a

    mdia de nossa populao foi de 7318 m com idade equivalente. Numa

    coorte de 3337 indivduos91, tambm com idade mdia maior que a do nosso

    estudo, incluindo 74% de hipertensos, a mdia de dimetro diastlico da

    artria cartida usando ultrassonografia sem a anlise de radiofrequncia foi

    6300 m, tambm abaixo dos valores observados em nosso estudo.

    Portanto, pode-se sugerir que pacientes com hipertenso arterial estgio 3

    apresentam um dimetro de cartida maior que outras populaes de

    pacientes hipertensos. Ainda em relao ao dimetro da cartida, em nosso

  • estudo observamos uma correlao positiva com o dimetro do trio

    esquerdo. Alguns estudos92,93 relacionaram a rigidez artica e a presso

    artica central com o aumento do trio esquerdo, porm nenhum deles ao

    dimetro carotdeo. Cuspidi C et al94 demonstraram em hipertensos no

    tratados que o espessamento mdia-ntima foi preditor independente da

    dimenso atrial esquerda, enquanto Lantelme et al95 encontraram em

    hipertensos tratados uma associao significativa entre o dimetro do trio

    esquerdo e rigidez arterial avaliada pela VOP, sugerindo uma possvel

    ligao fisiopatolgica entre rigidez arterial, fibrilao atrial e acidente

    vascular enceflico. Nossos dados demonstram uma resposta de alterao

    estrutural do vaso e cardaca acopladas. Por se tratar de um grupo de

    hipertensos mais graves, a explicao provvel que a presena deste

    componente pulstil mais exacerbado sobre os vasos e corao geraria o

    remodelamento vascular e cardaco, sugerindo uma possvel relao causa-

    efeito. O dado encontrado sugere mais um potencial marcador de risco

    cardiovascular.

    ndice ambulatorial de rigidez arterial (IARA)

    A relao linear entre os valores de presso sistlica e diastlica

    obtidos em 24 horas pela MAPA tm sido correlacionado com vrios

    parmetros clnicos, incluindo propriedades funcionais arteriais. A medida

    desta relao, mostrou estar associada com sndrome metabolica96, sinais

  • precoces de dano renal97 e outras leses em rgos-alvo98. Estudos tm

    demonstrado o valor desta associao como preditor de risco de AVE

    (Acidente Vascular Enceflico) e morte cardiovascular, mas no de morte

    cardaca99-101. A partir destas observaes, o clculo desta relao

    matemtica entre as medidas da PAD e PAS obtidas pela MAPA, tm sido

    proposto como uma medida ambulatorial da rigidez arterial preditora de

    eventos cardiovasculares, principalmente AVE, como recentemente

    demonstrado em duas metanlises102,103.

    Estudos tm demonstrado correlao do IARA com outros ndices de

    rigidez arterial104-106, principalmente com medidas da VOP, considerado o

    mtodo padro-ouro da avaliao da rigidez arterial, por suas fortes

    evidncias clnicas, como mencionado anteriormente. Em um destes estudos

    Gmez-Marcos et al107 avaliaram 258 hipertensos pelo IARA e VOP bem

    como suas correlaes com leses em rgos-alvo e demonstraram aps

    ajuste para idade, sexo e frequncia cardaca que as variveis que melhor

    se associaram com a variabilidade da EIM, VOP e ITB foram o IARA e o

    IARA-viglia. Porm, estudos em crianas e adolescentes no confirmaram

    esta correlao108. Em nosso estudo, o primeiro realizado exclusivamente

    em hipertensos estgio 3, observamos uma correlao positiva entre os

    valores deste ndice obtido pelo clculo matemtico de medidas obtidas com

    a MAPA, e as medidas de VOP cartido-femural. No entanto, em estudo

    realizado com hipertensos resistentes109, que incluiu pacientes com

    hipertenso estgio 3, os autores no encontraram correlao significativa

    entre o IARA e as medidas de VOP, sendo a PP da MAPA de 24 horas o

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=G%C3%B3mez-Marcos%20MA%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=22284388

  • principal determinante da VOP. Talvez o fato de nossos pacientes

    apresentarem um nvel de presso na MAPA mais controlado do que os

    pacientes do estudo citado, explique os resultados conflitantes, visto que

    nossos pacientes no preenchiam os critrios para definio de hipertenso

    resistente. Alm disso, os pacientes avaliados foram previamente tratados

    com anti-hipertensivos, isto tambm pode justificar tal fato, como avaliado no

    estudo de Matsui Y et al110, onde os autores concluem que o uso dessas

    drogas podem interferir nos resultados dessa metodologia.

    Nossos dados reforam a possvel relao entre o comportamento

    circadiano da presso arterial e as medidas funcionais das grandes artrias.

    Assim, o IARA poderia ser utilizado como um parmetro indireto de

    propriedade funcional das grandes artrias. Outro dado interessante de

    nosso estudo foi o achado de uma relao fortemente positiva entre o IARA

    e os nveis de glicemia, sugerindo um efeito do diabetes sobre as

    propriedades hemodinmicas arteriais que esto relacionadas a este ndice.

    Essa hiptese pode ser reforada pelos achados do estudo de Gomez-

    Marcos e cols111, que demonstraram um IARA mais elevado em pacientes

    portadores de diabetes tipo 2 quando comparados aos no diabticos.

  • 6. LIMITAES

  • Uma das limitaes de nosso estudo o nmero reduzido de

    pacientes se comparado com estudos maiores que envolviam a populao

    geral de hipertensos. No entanto, as caractersticas de uma condio clnica

    mais grave de hipertenso permitiu anlise adequada dos parmetros

    vasculares, considerando ser este o nico estudo feito exclusivamente com

    portadores de hipertenso estgio 3.

    Outra limitao est relacionada ao tratamento prvio dos pacientes e

    o possvel efeito deste tratamento sobre as propriedades analisadas. Para

    evitar a possvel influencia dos frmacos utilizados previamente,

    estabelecemos um perodo padronizado de tratamento por um ms antes de

    realizarmos os procedimentos. Esta estratgia no retira os possveis efeitos

    de tratamentos prvios, mas normatiza a avaliao com um ms aps o

    mesmo tipo de teraputica.

    Outro fator que poderia interferir nos resultados seria o tempo de

    hipertenso arterial diferen