marcio david bocelli estudo da atividade de chalconas no
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Marcio David Bocelli
ESTUDO DA ATIVIDADE DE CHALCONAS NO
CONTROLE DE BIOFILMES BACTERIANOS
Dissertação apresentada ao Instituto de Química de São Carlos da
Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para
obtenção do título de mestre em Ciências.
Área de concentração: Química Orgânica e Biológica
Orientadora: Profa. Dra. Marcia Nitschke
São Carlos
2016
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL
OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER
MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA
A FONTE.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, que sempre esteve no controle de tudo.
À minha família que sempre me ensinou que trabalhar
honestamente é a melhor maneira de mudar as coisas, além de ser uma
dádiva divina; incluindo meus irmãos Júnior, Rebeca e Érica.
Ao meu irmão Júnior Bocelli que, desde que iniciei meus estudos
foi minha inspiração pra fazer Ciência.
À minha eterna namorada e esposa Lorena, que sempre me
apoiou; independente da direção que eu quis seguir.
À Professora Dra Marcia Nitschke que aceitou me orientar e
compartilhar comigo do seu conhecimento.
Aos alunos de Iniciação Científica Vinícius Lima e Gabriela
Carrega por aceitarem o desafio de trabalhar no projeto.
Aos técnicos Marília Peret e João Pedro por toda ajuda, esforço e
compreensão durante minha jornada no laboratório.
A todos os amigos do Laboratório de Biotecnologia Microbiana
pelos anos de companheirismo, amizade, diversão, desabafos e
cumplicidade.
Ao Professor Dr. André Porto e a todo o pessoal do seu
laboratório, os quais estiveram envolvidos direta e indiretamente neste
trabalho.
À CAPES e FAPESP pelo apoio financeiro.
Ao Instituto de Química de São Carlos pela minha vida acadêmica.
Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele
que crê.
Romanos 10:4
Resumo
Os biofilmes constituem uma forma de crescimento que permite a maior
sobrevivência e resistência de microrganismos a agentes de controle como
antibióticos e desinfetantes. Apesar da grande disponibilidade de agentes
antimicrobianos no mercado, há escassez de produtos específicos e efetivos na
erradicação/inibição de biofilmes. Existe atualmente grande interesse na seleção de
moléculas capazes de inibir o crescimento dos biofilmes ou removê-los quando já
estabelecidos. Doenças como fibrose cística (P. aeruginosa) e cárie dentária (S.
mutans), são patologias intrinsecamente ligadas à formação de biofilmes. O principal
objetivo deste trabalho foi avaliar o potencial de chalconas sintéticas e derivados no
controle e erradicação de biofilmes. As chalconas foram testadas quanto à
capacidade de inibir a formação de biofilme e de remover biofilmes pré-
estabelecidos. Inicialmente foi realizada uma triagem com 21 moléculas, utilizando a
técnica de cristal violeta para quantificação de biomassa e resazurina para
quantificação da viabilidade celular. Os biofilmes de P. aeruginosa foram inibidos
pela presença da molécula (E)-1-(3-hidroxinaftalen-2-il)-3-fenilprop-2-em-1-ona (11),
mostrando redução de 48,8% na biomassa e 60,2% na viabilidade. A redução
máxima na biomassa atingiu 70,9%. Já para o tratamento de biofilmes pré-
estabelecidos, a molécula (1E,4E)-1,5-difenilpenta-1,4-dien-3-ona (10) mostrou
redução de 53,5% na biomassa do biofilme de P. aeruginosa. Na formação do
biofilme de S. mutans, a presença da molécula (1E, 4E)-1,5-bis(4-bromofenil)penta-
1,4-dien-3-ona (15) reduziu a biomassa em 67,4%. Em concentrações elevadas
essa redução chegou a 95,1%. Em biofilmes pré-estabelecidos de S. mutans, o
tratamento com a molécula (2E,4E)-1,5-difenilpenta-2,4-dien-1-ona (12) reduziu a
biomassa celular em 62,7%, e a viabilidade celular em 58,4%. Já a molécula (E)-3-
(2-hidroxifenil)-1-fenilprop-2-en-1-ona (21), quando utilizada no tratamento de
biofilmes pré-estabelecidos, mostrou redução de 26,4% na biomassa e 91,6% na
viabilidade de S. mutans; além de evidenciar danos à estrutura celular do
microrganismo. Todas as moléculas supracitadas promoveram redução na
espessura dos biofilmes. Os antibióticos ampicilina e polimixina foram menos
eficientes na remoção de biofilmes comparativamente às moléculas testadas. As
moléculas não apresentaram CIM nas concentrações testadas para nenhuma das
bactérias, porém pôde-se verificar que estas afetaram a viabilidade celular. O
tratamento da superfície de poliestireno com as chalconas não impediu a adesão
das bactérias, e resultou na redução da hidrofobicidade do material. A superfície
celular de S. mutans apresentou predomínio de cargas negativas e forte caráter
hidrofóbico enquanto que P. aeruginosa apresentou baixa hidrofobicidade além de
caráter básico. Os resultados evidenciam a potencialidade do uso das chalconas e
seus derivados para o controle e erradicação de biofilmes Streptococcus mutans e
Pseudomonas aeruginosa.
Palavras-chave: biofilmes, P. aeruginosa, S. mutans, chalconas
Abstract
Biofilms constitute a growth mode which allows greatest survival and resistance of
microorganisms to antibiotics and disinfectants. Despite the wide availability of
antimicrobial agents in the market, there are few specific and effective products to
the eradication / inhibition of biofilms. Thus, there is a great interest in the search of
molecules able to inhibit biofilms or remove them once established. Diseases such
as cystic fibrosis (P. aeruginosa) and dental caries (S. mutans), are intrinsically linked
to the formation of biofilms. The aim of this study was to evaluate the potential of
chalcones and their synthetic derivatives to the control and eradication of biofilms.
The chalcones were tested for the ability to inhibit biofilm formation and also to
remove pre-established biofilms. Initially, a screening of 21 molecules was performed
using the crystal violet technique for quantification of biomass and resazurin for
quantification of cell viability. Biofilms of P. aeruginosa was inhibited by the presence
of the molecule (E) -1- (3-hydroxynaphthalen-2-yl) -3-phenylprop-2-en-1-one (11)
showing reduction of 48.8% biomass and 60.2% viability. The maximum reduction in
biomass reached 70.9%. For the treatment of pre-established biofilms, the molecule
(1E, 4E) -1,5-difenilpenta-1,4-dien-3-one (10) showed a 53.5% reduction in biomass
of P. aeruginosa biofilm. Biofilms of S. mutans, growing in the the presence of the
molecule (1E, 4E) -1,5-bis (4-bromophenyl) penta-1,4-dien-3-one (15) showed a
biomass reduction of 67.4 %. At higher concentrations this reduction reached 95.1%.
In pre-established biofilms of S. mutans, treatment with the molecule (2E, 4E) -1,5-
difenilpenta-2,4-dien-1-one (12) reduced cell biomass in 62.7%, and cell viability by
58.4%. The molecule (E) -3- (2-hydroxyphenyl) -1-phenylprop-2-en-1-one (21), when
used in the treatment of pre-established biofilms, showed 26.4% reduction in
biomass and 91.6% in the viability of S. mutans; furthermore, the chalcone 21
caused damage to the cellular structure of the microorganism. All the
aforementioned molecules promoted a reduction in the thickness of biofilms. The
antibiotics polymyxin and ampicillin were less efficient on removing biofilms
comparatively to the chalcones. The molecules did not present MIC at the
concentrations tested for any of the bacteria, but it was verified that these affected
the cellular viability.The molecules affected cell viability however, no MIC was
observed under the range of concentrations evaluated. The treatment of the
polystyrene surface with chalcones did not prevent bacterial adhesion moreover,
hydrophobicity of the material was reduced. S. mutans cell surface showed a
predominance of negative charges and strong hydrophobic character while P.
aeruginosa showed low hydrophobicity and basic character. The results demonstrate
that synthetic chalcones and derivatives are potential candidates to the control and
eradication of Streptococcus mutans and Pseudomonas aeruginosa biofilms.
Key-words: biofilms, P. aeruginosa, S. mutans, chalcones
Sumário
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 15
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 17
2.1 Características dos Biofilmes ........................................................................... 17
2.2 Biofilmes – Formação ...................................................................................... 19
2.3 Mecanismos de resistência em biofilmes ......................................................... 21
2.4 Chalconas ........................................................................................................ 22
2.5 Mecanismos de ação anti-biofilme ................................................................... 24
2.6 Métodos de avaliação da ação anti-biofilme .................................................... 25
2.7 Microrganismos ................................................................................................ 27
2.7.1 Streptococcus mutans ............................................................................... 27
2.7.2 Pseudomonas aeruginosa ......................................................................... 28
3 OBJETIVOS ........................................................................................................ 30
3.1 Geral ................................................................................................................ 30
3.2 Específicos ....................................................................................................... 30
4 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 31
4.1 Microrganismos ................................................................................................ 31
4.2 Meios de cultivo ............................................................................................... 31
4.3 Chalconas e derivados ..................................................................................... 31
4.4 Formação biofilme ............................................................................................ 35
4.4.1 Preparo das culturas e condições de cultivo .............................................. 35
4.4.2 Ação sobre a formação de biofilmes .......................................................... 36
4.4.3 Ação sobre biofilmes pré-formados ........................................................... 36
4.5 Quantificação dos biofilmes ............................................................................. 36
4.5.1 Biomassa celular........................................................................................ 36
4.5.2 Viabilidade das células .............................................................................. 37
4.6 Efeito da concentração das moléculas na atividade anti-biofilme .................... 37
4.6.1 Curvas de crescimento .............................................................................. 38
4.7 Atividade anti-adesiva ...................................................................................... 38
4.8 Determinação da hidrofobicidade do biofilme e do poliestireno tratado ........... 38
4.9 Determinação da hidrofobicidade celular (células planctônicas) ...................... 39
4.10 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) .................................................. 39
4.11 Microscopia confocal ...................................................................................... 40
4.12 Análise estatística .......................................................................................... 41
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................ 41
5.1 Efeito das moléculas na formação de biofilmes e em biofilmes pré-formados . 41
5.1.1 Triagem inicial na formação e remoção de biofilme de Pseudomonas
aeruginosa .......................................................................................................... 42
5.1.2 Triagem inicial na formação e remoção de biofilme de Streptococcus
mutans 47
5.1.3 Considerações sobre a triagem inicial ....................................................... 50
5.2 Efeito da concentração das moléculas sobre os biofilmes ............................... 51
5.2.1 Efeito da variação de concentração das moléculas na atividade antibiofilme
frente à Pseudomonas aeruginosa .................................................................... 52
5.2.2 Efeito da variação de concentração das chalconas na atividade antibiofilme
frente à S. mutans .............................................................................................. 57
5.2.3 Considerações sobre o efeito da concentração das moléculas no biofilme
............................................................................................................................ 62
5.3 Atividade anti-adesiva do poliestireno tratado com as chalconas e seus
derivados ............................................................................................................... 63
5.4 Determinação da hidrofobicidade do biofilme e do poliestireno tratado com as
chalconas e seus derivados ................................................................................... 65
5.5 Determinação da hidrofobicidade celular ......................................................... 68
5.6 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) .................................................... 69
5.6.1 Microscopia de P. aeruginosa .................................................................... 70
5.6.2 Microscopia de S. mutans .......................................................................... 71
5.7 Microscopia Confocal ....................................................................................... 76
5.7.1 Microscopia Confocal para P. aeruginosa ................................................. 76
5.7.2 Microscopia Confocal para S. mutans ....................................................... 78
5.8 Principais resultados ........................................................................................ 80
6 CONCLUSÕES ................................................................................................... 81
7 PERSPECTIVAS FUTURAS .............................................................................. 82
8 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 83
Índice de Tabelas
Tabela 1 - Moléculas utilizadas no projeto ................................................................ 32
Tabela 2 - Percentual de redução da biomassa total e viabilidade celular de P.
aeruginosa................................................................................................................. 46
Tabela 3 - Percentual de redução da biomassa total e viabilidade celular de S.
mutans. ..................................................................................................................... 50
Tabela 4 - Efeito da concentração da molécula 11 na inibição da formação de
biofilme de P. aeruginosa. ......................................................................................... 53
Tabela 5 - Efeito da concentração da molécula 10 na remoção de biofilme de P.
aeruginosa................................................................................................................. 55
Tabela 6 - Efeito da concentração da molécula 15 na formação de biofilme de S.
mutans. ..................................................................................................................... 58
Tabela 7 - Efeito da concentração das moléculas 12 e 21 na remoção de biofilme de
S. mutans. ................................................................................................................. 62
Tabela 8 - Ângulo de contato das diversas superfícies tratadas com as moléculas.. 66
Tabela 9 - Teste de adesão microbiana à solventes. ................................................ 68
Tabela 10 - Espessura dos biofilmes de P. aeruginosa. ........................................... 78
Tabela 11 - Espessura dos biofilmes de S. mutans. ................................................. 79
Lista de Figuras
Figura 1 - Representação das etapas de formação de biofilme em uma superfície.
Bactéria na forma planctônica (livre) em contato inicial (1), adesão inicial (2),
crescimento e divisão das microcolônias (3), biofilme maduro (4), desprendimento de
célula. ........................................................................................................................ 20
Figura 2 - Estrutura básica de uma chalcona ............................................................ 22
Figura 3 - Micrografia eletrônica de Streptococcus mutans ...................................... 28
Figura 4 - Micrografia eletrônica de Pseudomonas aeruginosa ................................ 29
Figura 5 - Quantificação da massa total dos biofilmes formados por P. aeruginosa
em superfícies de poliestireno na presença das chalconas. As barras de erro
representam o desvio padrão. * redução estatisticamente significativa (p<0,05) em
relação ao controle (sem chalcona). ......................................................................... 42
Figura 6 - Viabilidade celular nos biofilmes formados por P. aeruginosa em
superfícies de poliestireno na presença das chalconas. As barras de erro
representam o desvio padrão. * redução estatisticamente significativa (p<0,05) em
relação ao controle (sem chalcona). ......................................................................... 43
Figura 7 - Quantificação da massa de biofilme de P. aeruginosa pré-estabelecido em
superfície de poliestireno, após tratamento com chalconas. As barras de erro
representam o desvio padrão. * redução estatisticamente significativa (p<0,05) em
relação ao controle (sem chalcona). ......................................................................... 44
Figura 8 - Viabilidade celular de biofilme de P. aeruginosa pré-estabelecido em
superfície de poliestireno após tratamento com chalconas. As barras de erro
representam o desvio padrão. * redução estatisticamente significativa (p<0,05) em
relação ao controle (sem chalcona). ......................................................................... 45
Figura 9 - Quantificação da massa total dos biofilmes formados por S. mutans em
superfícies de poliestireno na presença das chalconas. As barras de erro
representam o desvio padrão. * redução estatisticamente significativa (p<0,05) em
relação ao controle (sem chalcona). ......................................................................... 47
Figura 10 - Viabilidade celular nos biofilmes formados por S. mutans em superfícies
de poliestireno na presença das chalconas. As barras de erro representam o desvio
padrão. * redução estatisticamente significativa (p<0,05) em relação ao controle
(sem chalcona). ......................................................................................................... 48
Figura 11 - Quantificação da massa de biofilme de S. mutans pré-estabelecido em
superfície de poliestireno após tratamento com chalconas. As barras de erro
representam o desvio padrão. * redução estatisticamente significativa (p<0,05) em
relação ao controle (sem chalcona). ......................................................................... 48
Figura 12 - Viabilidade celular de biofilme de S. mutans pré-estabelecido em
superfície de poliestireno após tratamento com chalconas. As barras de erro
representam o desvio padrão. * redução estatisticamente significativa (p<0,05) em
relação ao controle (sem chalcona). ......................................................................... 49
Figura 13 - Percentual de redução da formação do biofilme de P. aeruginosa na
presença de diferentes concentrações da molécula 11. ........................................... 52
Figura 14 - Cinética de crescimento celular de P. aeruginosa na presença da
molécula 11. .............................................................................................................. 53
Figura 15 - Percentual de remoção do biofilme de P. aeruginosa na presença de
diferentes concentrações da molécula 10. ................................................................ 54
Figura 16 - Cinética de crescimento celular de P. aeruginosa na presença da
molécula 10. .............................................................................................................. 55
Figura 17 - Percentual de redução da formação do biofilme de S. mutans na
presença de diferentes concentrações da molécula 15. ........................................... 57
Figura 18 - Cinética de crescimento celular de S. mutans na presença da molécula
15. ............................................................................................................................. 58
Figura 19 - Efeito da concentração da molécula 12 na remoção de biofilme de S.
mutans. ..................................................................................................................... 59
Figura 20 - Cinética de crescimento celular de S. mutans na presença da molécula
12. ............................................................................................................................. 59
Figura 21 - Efeito da concentração da molécula 21 na remoção de biofilme de S.
mutans. ..................................................................................................................... 60
Figura 22 - Cinética de crescimento celular de S. mutans na presença da molécula
21. ............................................................................................................................. 61
Figura 23 - Cinética de adesão para P. aeruginosa e S. mutans em poliestireno . ... 64
Figura 24 - Placa de poliestireno utilizada nos ensaios do ângulo de contato. ......... 65
Figura 25 - Placa de poliestireno utilizada na MEV. .................................................. 70
Figura 26 - MEV do biofilme de P. aeruginosa formado na ausência (a) e na
presença da molécula 11 na concentração de 500 µM (b). ....................................... 70
Figura 27 - MEV do biofilme pré-formado de P. aeruginosa sem tratamento (a) e
após tratamento com a molécula 10 na concentração de 500 µM (b). ...................... 71
Figura 28 - MEV do biofilme de S. mutans formado na ausência (a) e na presença da
molécula 15 na concentração de 500 µM (b). ........................................................... 72
Figura 29 - MEV do biofilme pré-formado de S. mutans sem tratamento (a) e após
tratamento com a molécula 12 na concentração de 500 µM (b). Aumento de
2000X(acima) e aumento de 10000X(abaixo). .......................................................... 73
Figura 30 - Imagens de MEV de células do biofilme de S. mutans estabelecido em
superfície de poliestireno. a) Controle e b) biofilme após tratamento com molécula
21 na concentração de 500 µM (aumento 40.000X) c) células de S. mutans
apresentando alterações morfológicas indicadas pelas setas em vermelho (aumento
80.000X). ................................................................................................................... 74
Figura 31 - Molécula utilizada por WALLOCK-RICHARDS et al. (2015) para inibição
da formação de biofilme de S. mutans. ..................................................................... 75
Figura 32 - Estrutura da molécula 21. ....................................................................... 76
Figura 33 - Microscopia confocal do biofilme de P. aeruginosa formado na ausência
(a) e na presença da molécula 11 na concentração de 500 µM (b). ......................... 77
Figura 34 - Microscopia confocal do biofilme de S. mutans estabelecido em
superfície de poliestireno. a) Controle e b) biofilme após tratamento com molécula
12 na concentração de 500 µM. ................................................................................ 77
Figura 35 - Microscopia confocal do biofilme de S. mutans formado na ausência (a) e
na presença da molécula 15 na concentração de 500 µM (b). .................................. 78
Figura 36 - Microscopia confocal do biofilme de S. mutans estabelecido em
superfície de poliestireno. a) Controle e b) biofilme após tratamento com molécula
12 na concentração de 500 µM e c) biofilme após tratamento com a molécula 21 na
concentração de 500 µM ........................................................................................... 79
15
1 INTRODUÇÃO
Sabe-se hoje que a maioria dos microrganismos, em especial as bactérias,
são encontrados fixados à superfícies, em comunidades complexas denominadas
biofilmes. Quando associados à biofilmes, os microrganismos apresentam maior
resistência à agentes antimicrobianos, desinfetantes e sistemas de defesa do
hospedeiro se comparados à células livres (planctônicas), devido principalmente à
presença da matriz polimérica que confere maior proteção as células microbianas
(BRIDIER et al., 2011).
Na medicina, estima-se que os biofilmes estejam envolvidos em 65% dos
casos de infecções humanas de origem bacteriana. Além disso, doenças como a
fibrose cística (Pseudomonas aeruginosa) e a cárie dentária (Streptococcus mutans)
estão diretamente relacionadas à formação de biofilmes (HALL-STOODLEY et al.,
2004).
Desta forma, é fácil imaginar que muitos dos problemas de contaminação na
indústria; bem como dos problemas de infecções bacterianas, são causadas por
biofilmes que podem estar aderidos à superfícies bióticas e abióticas (VAN HOUDT;
MICHIELS, 2010).
Sendo assim, fazem-se necessários métodos de controle de infecções que
levem em consideração o fato de que as bactérias vivem nessas comunidades.
Esses métodos podem incluir tratamento de superfícies para dificultar o contato
inicial das bactérias, assim como também o tratamento de biofilmes já instalados;
suprimindo ou mitigando o poder de infecção das espécies em questão.
Apesar da diversidade de agentes antimicrobianos disponíveis no mercado,
há uma grande escassez de agentes considerados efetivos na erradicação de
biofilmes. Além disso, a maioria dos antibióticos interfere no crescimento microbiano,
o que leva ao surgimento de linhagens multirresistentes e de difícil tratamento.
Neste contexto, as chalconas naturais e seus derivados sintéticos se
mostraram promissores como compostos protótipos visando o controle de biofilmes.
Em estudo recente, chalconas e flavonas foram apontadas como moléculas com
16
potencial atividade anti-biofilme, através de estudos de modelagem in silico
(MANNER et al., 2013). À partir destas considerações este projeto propõe avaliar o
potencial de chalconas sintéticas e derivados no controle de biofilmes das bactérias
Streptococcus mutans e Pseudomonas aeruginosa.
17
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Características dos Biofilmes
Há muito tempo sabe-se que microrganismos como as bactérias podem aderir
à superfícies sólidas formando complexo sistema microbiológico. Os biofilmes
bacterianos são predominantes na maioria das superfícies úmidas na natureza. Em
1674, Anton van Leeuwenhoek observou sua própria placa dentária e descreveu
uma comunidade de “animáculos” (COSTERTON et al., 1999). Entretanto, mais de
60 anos após o primeiro artigo descrevendo um biofilme propriamente dito; estes
representam uma preocupação constante, mais especificamente nas áreas de
alimentos, ambiental e médica (MAUKONEN et al., 2003).
A maior parte do conhecimento sobre biofilmes foi obtida somente nos últimos
30 anos. O desenvolvimento de técnicas espectroscópicas mais modernas e com
maior poder de resolução, custos mais baixos dessas técnicas e a enorme
capacidade de geração e tratamento de dados por computadores mais eficientes,
revolucionaram o estudo da microbiologia (MEDINI et al., 2008).
As bactérias possuem praticamente dois modos de vida: a forma planctônica
ou livre e a forma séssil, na qual estão aderidas umas às outras e também à uma
superfície sólida (MEHOTRA, 2007). Biofilme é um termo utilizado para descrever a
forma séssil dos microrganismos, ou seja; quando estes estão fixos a uma superfície
na forma de agregados multicelulares e envoltos por uma matriz polimérica
(DONLAN, 2002).
Essa vida em comunidade é muito vantajosa, já que os microrganismos estão
menos suscetíveis a fatores externos como desidratação, radiação UV, variação de
temperatura, variação de pH, variação osmótica, fagocitose, antibióticos e agentes
antimicrobianos (HALL-STOODLEY et al., 2004).
A matriz do biofilme é composta de aproximadamente 97% de água
(SUTHERLAND, 2001). Essa característica permite a difusão de diversos outros
componentes do biofilme como polissacarídeos, nutrientes, células, metabólitos,
produtos de lise celular e detritos circundantes do ambiente. Assim, podem ser
observadas dentro de um biofilme todas as classes de macromoléculas:
18
carboidratos, proteínas, ácidos nucléicos e lipídeos (FLEMMING; WINGENDER,
2010).
Os biofilmes são estruturas de características espaciais e metabólicas
peculiares. Dentre os principais fatores envolvidos na formação de um biofilme
podem-se considerar: as características físico-químicas da superfície e do
microrganismo, a expressão de certas proteínas (adesinas), a sinalização celular,
fatores de virulência como produção de cápsulas e fímbrias e a produção de
polissacarídeos pelos microrganismos (SIMÕES et al., 2010).
Essas comunidades microbianas podem ser constituídas por múltiplas
espécies ou por apenas uma espécie de microrganismo. Nos casos de infecções
patológicas ao homem, por vezes um biofilme multi-espécie apresenta um
sinergismo que reflete tanto na distribuição bacteriana aderida no biofilme quanto na
quantidade de biomassa produzida. Essas interações entre diferentes bactérias na
comunidade podem afetar tanto a fisiologia como o próprio ambiente físico da
bactéria, levando a um aumento da resistência e virulência bacteriana e mudança na
degradação e geração de substratos. Assim, não são quaisquer espécies
bacterianas que podem conviver num mesmo biofilme, ou seja; tanto a competição
por nutrientes quanto o acúmulo de produtos tóxicos excretados por uma
determinada espécie podem limitar a diversidade de microrganismos em um biofilme
(RENDUELES; GHIGO, 2012). É muito comum ainda que nos biofilmes sejam
encontrados também outros tipos de microrganismos, como fungos e algas;
principalmente em ambientes mais úmidos (PALMER, 1997).
De fato, a grande capacidade de adaptação, a alta taxa de reprodução e a
capacidade de produção de substâncias extracelulares fazem das bactérias os
organismos com grande capacidade de produção de biofilmes (SUTHERLAND,
2001).
O principal componente dos biofilmes são exopolissacarídeos (EPS)
produzidos pelas bactérias. Essas substâncias variam muito na sua composição e,
portanto; nas suas características físico-químicas. Algumas dessas macromoléculas
são neutras, mas a maioria são polianiônicas devido à presença de ácidos urônicos,
sendo o ácido D-glucourônico o mais comum; embora também sejam encontrados
os ácidos D-galactourônico e D-manourônico. Resíduos inorgânicos como fosfato ou
19
raramente sulfato, podem também conferir ao EPS caráter aniônico (SUTHERLAND,
1990). Ainda, de acordo com (DONLAN, 2008), bactérias Gram-negativas
apresentam exopolissacarídeos neutros ou aniônicos. Essa característica permite
que se associem cátions divalentes de cálcio e magnésio, permitindo a formação de
ligações cruzadas com o polímero e consequente aumento da força de ligação;
conferindo ao biofilme maior rigidez. Já no caso de bactérias Gram-positivas, esses
exopolissacarídeos podem ter caráter catiônico.
2.2 Biofilmes – Formação
Os biofilmes são sistemas heterogêneos, tanto química como
fisiologicamente, pois o modo de difusão do oxigênio, água e nutrientes gera um
gradiente de concentração desses componentes. Assim, as bactérias se adaptam às
condições físico-químicas e nutricionais impostas pelo biofilme (STEWART, 2008).
Bactérias se comunicam através de um mecanismo chamado quorum
sensing. Esta habilidade se dá através da produção, secreção e detecção de
moléculas sinalizadoras chamadas de autoindutores. A concentração dessas
moléculas torna-se então dependente da quantidade de células e, quando atingem
uma concentração limite; a população como um todo responde coordenadamente,
podendo modular uma série de comportamentos fenotípicos que dependem da
população como um todo. Isso pode significar a produção de exopolissacarídeos, a
produção de biossurfatantes, esporulação, produção de antibióticos, expressão de
genes de virulência entre outros. Assim, o quorum sensing é um mecanismo
fortemente ligado à colonização bacteriana e consequente formação de biofilme
(NADELL, 2008).
Outra característica importante quando se trata de biofilmes, é que eles
podem ser considerados sistemas auto-regulatórios. Á medida em que vão
crescendo, partes vão se desprendendo para colonizar novas superfícies e novas
células podem se fixar ao biofilme original (HOOD, 1995).
Muitas teorias têm sido propostas com relação à dinâmica de formação de um
biofilme, porém algumas etapas fundamentais são concordantes em todas elas
(Figura1): contato, adesão, formação de micro-colônias, maturação e
desprendimento; sendo que estas etapas são dependentes da influência do meio
20
ambiente e das características genéticas das bactérias envolvidas (STOODLEY et
al,. 2002).
A primeira etapa é chamada fase de contato ou adesão reversível. Nesta
etapa, os microrganismos denominados colonizadores primários utilizam uma
variedade de organelas extracelulares e proteínas para detecção e fixação de
superfícies; incluindo pili, flagelos, fímbrias e proteínas de membrana chamadas
adesinas. Na segunda etapa, também chamada de adesão irreversível; essas
bactérias iniciam a adesão entre si e à superfície, que geralmente está imersa ou em
contato com fluidos contendo eletrólitos e macromoléculas (ácidos nucléicos,
proteínas, carboidratos, ácidos húmicos, entre outros). Na terceira etapa, as células
passam a se desenvolver e originar microcolônias, as quais sintetizam os
exopolissacarídeos que formam a matriz polimérica extracelular (MPE); que passa a
atuar como substrato para a adesão de microrganismos secundários (RENNER,
2011). Os colonizadores secundários podem aderir diretamente aos primários ou
promover a formação de co-agregados com outros microrganismos (SUTHERLAND,
2001). Na quarta etapa o biofilme cresce tridimensionalmente, replicando as células
e produzindo mais EPS; o que confere maior resistência física ao biofilme. É
chamado de biofilme “maduro”. Na quinta etapa, o biofilme pode desprender e
algumas células planctônicas colonizam outras superfícies (STOODLEY, 2004).
Assim, os biofilmes compreendem um processo de transição de uma forma livre
planctônica, onde os microrganismos comportam-se de forma independente; para
uma forma de vida séssil, onde vivem em uma comunidade multicelular
(MOLOBELA; LLUNGA, 2011).
Em relação à topografia, as bactérias formam microcolônias dispostas em
pilares, compostas por uma camada com cerca de 10 µm de espessura, podendo se
estender em até 200 µm acima da superfície. A forma de crescimento em pilares
favorece a fisiologia do biofilme como um todo, pois os pilares de biofilmes
apresentam canais por onde a água transporta os nutrientes para as células e
também os resíduos que delas saem, constituindo um tipo de sistema circulatório
simples (FLEMMING; WINGENDER, 2010).
Figura 1 - Representação das etapas de formação de biofilme em uma superfície. Bactéria na forma planctônica (livre) em contato inicial (1), adesão inicial (2),
21
crescimento e divisão das microcolônias (3), biofilme maduro (4), desprendimento de célula.
Fonte – Hall-Stoodley L, Costerton JW, Stoodley P. Nat Rev Microbiol. 2004; 2(2):95. [PubMed:15040259]
2.3 Mecanismos de resistência em biofilmes
Bactérias são seres hábeis em se adaptar às condições ambientais. Esse fato
tornou possível a elas se estabelecerem em quase todos os habitats na biosfera,
incluindo os seres humanos. Para sobreviver às condições diversas e variações do
ambiente externo, as células desenvolveram mecanismos de fixação às superfícies
e a convivência em comunidade; incluindo os biofilmes (RENNER, 2011). Desta
forma, as comunidades microbianas ficam protegidas de predadores e do sistema
imunológico, dividem certas funções específicas entre as espécies, possuem uma
barreira estrutural contra estímulos físicos e mecânicos e promovem a conservação
do genótipo. De fato, essas comunidades são persistentes e de difícil remoção uma
vez formados, o que torna o biofilme um mecanismo de resistência que atrai
esforços para sua compreensão nos campos da medicina, odontologia, ecologia,
agricultura e processamento industrial (DUNNE, 2002).
É importante salientar que alguns biofilmes são benéficos para os humanos,
pois têm impacto direto na fisiologia do corpo humano. Entretanto, são conhecidas
hoje muitas patologias às quais o biofilme bacteriano está diretamente ligado. Ainda,
a fixação de bactérias em dispositivos médicos, como por exemplo, implantes
cirúrgicos, cateteres ou lentes de contato; resultam em um foco para infecções
clínicas e o desenvolvimento de diversas enfermidades (BRYERS, 2008).
22
A capacidade de formar biofilmes é considerada um fator de virulência que
está diretamente relacionado à resistência das bactérias; pois se tornam menos
suscetíveis a tratamentos com antibióticos e outros agentes antimicrobianos, em
relação às células planctônicas (NIKOLAEV; PLAKUNOV, 2007). Além disso, as
células aderidas dispõem de um sistema de defesa coletivo (originada da
comunidade microbiana) contra fatores antagônicos.
O mecanismo de resistência aos biofilmes não é ainda totalmente
compreendido, entretanto; estudos mais recentes têm utilizado vários sistemas
modelo para elucidar como e por que os biofilmes são resistentes à agentes
antimicrobianos. Vale enfatizar que existem vários mecanismos, os quais variam
com a espécie de bactéria presente no biofilme e o agente antimicrobiano aplicado.
Estes mecanismos incluem barreiras físicas e químicas de difusão do antimicrobiano
no biofilme, crescimento lento do biofilme devido à limitação de nutrientes e
adaptação genética (O’TOOLE; THIEN-FAH; 2001).
2.4 Chalconas
As chalconas (Figura 2) são um grupo de substâncias naturais chamadas de
cetonas α, β-insaturadas, precursoras da biossíntese dos flavonóides e
isoflavonóides. São largamente encontradas em frutos, folhas, raízes de vegetais e
pétalas de flores. Possuem dois grupamentos aromáticos, um ligado à carbonila
outro ligado à porção olefínica, comumente designados como anel A e anel B,
provenientes da reação de condensação aldólica (NOWAKOWSKA, 2007).
Figura 2 - Estrutura básica de uma chalcona
O
(E)-chalcona
A B
Fonte: NOWAKOWSKA, 2007
23
A existência de um grupo cetona α,β-insaturada é uma característica
estrutural encontrada em um número muito grande de compostos biologicamente
ativos. Assim, derivados de chalconas tanto de origem natural como sintética;
podem exibir diversas propriedades farmacológicas como: antitumoral,
anticancerígena, anti-inflamatória, antifúngica, antibacteriana, antioxidante e inibidor
da topoisomerase (SUWITO et al., 2014). Sendo assim, reações de substituição no
anel A e/ou B podem resultar em compostos com propriedades totalmente distintas.
Portanto, as propriedades e possíveis efeitos desses substituintes têm despertado
grande interesse em estudos de atividade biológica (CHIRADIA et al., 2008).
Existem inúmeros relatos na literatura acerca da atividade antimicrobiana das
chalconas (NOWAKOWSKA, 2007; TRAN et al., 2012; SAHU et al., 2012), muitos
envolvendo microrganismos capazes de formar biofilme (SIVAKUMAR et al., 2010).
Entretanto, poucos trabalhos exploram de fato sua ação anti-biofilme. Como
exemplo, YANTI & HWANG (2010) relataram que a chalcona panduratina A foi
eficaz como agente antibiofilme eliminando a colonização inicial das bactérias
formadoras de placa dentária Streptococcus mutans, Streptococcus sanguis e
Actinomyces viscosus. A di-hidro chalcona denominada floretina, encontrada em
maçãs e morangos, foi capaz de inibir a formação de biofilmes do patógeno
alimentar Escherichia coli O157:H7 sem entretanto, afetar o crescimento da bactéria
(LEE et al., 2011).
BOŽIĆ et al. (2014) testaram a ação de 3 chalconas sintéticas sobre 19 cepas
isoladas de Staphylococcus aureus resistente à meticilina e uma cepa de controle
ATCC 43300. Foi investigado o sinergismo dessas chalconas com antibióticos β-
lactâmicos: cefotaxima, ceftriaxona; e com os antibióticos não β-lactâmicos:
ciprofloxacino, gentamicina e trimetropina/sulfametoxazol. Como resultado, todas as
chalconas testadas exibiram significante ação antimicrobiana. Além disso, foi
evidenciado sinergismo com todos os antibióticos não β-lactâmicos testados.
Em outro trabalho relacionado à atividade de chalconas no controle do
crescimento microbiano, estudos demonstraram que a inclusão de grupos carboxila
na posição 4 do anel A em lugar da hidroxila aumentou a solubilidade em água
(NIELSEN et al., 2004) e a inclusão do grupamentos mais ácidos como 3,5-dibromo
e 3,5-di (trifluorometil) aumentaram a atividade da chalcona frente a bactéria Gram
24
positiva Staphylococcus aureus ATCC 29213. AVILA et al. (2008) avaliaram a ação
antimicrobiana de 31 chalconas substituídas frente a Bacillus cereus, Escherichia
coli, Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus e concluíram que a
presença de hidroxilação do anel A na posição 2 assim como presença substituinte
oxigenado na posição 4 além de grupo isoprenóide na posição 3 favorecia a ação.
No anel B a presença de hidroxila na posição 4 também promoveu maior atividade.
Vale ressaltar que os autores observaram ação antimicrobiana significativa apenas
frente às bactérias Gram positivas. A ação antibacteriana de flavonoides em geral é
alvo de muitos trabalhos na literatura e os possíveis mecanismos de ação foram
revisados por CUSHNIE; LAMB (2011).
Em relação à ação anti-biofilme das chalconas, MANNER et al. (2013a)
relataram que chalconas que apresentaram hidroxila na posição 2 e 4 do anel A
reduziram a formação de biofilmes de Staphylococcus aureus quando adicionadas
ao meio de cultura; os autores atribuíram estes afeitos à ação antimicrobiana já
previamente relatada. Na posição 4 do anel B a hidroxilação e metoxilação também
parecem estar relacionadas à ação anti-biofilme, mas sempre em conjunto com as
alterações descritas para o anel A. Além de chalconas, outros produtos relacionados
têm sido alvo de estudos visando o controle de biofilmes tais como flavonas e
flavonóis; que demonstraram resultados promissores frente a biofilmes de
Staphylococcus aureus (MANNER et al., 2013 a).
Recentemente 498 plantas asiáticas foram avaliadas quanto à capacidade de
inibir biofilmes de Staphylococcus aureus. O estudo selecionou o extrato de Alnus
japonica como o mais ativo sendo atribuída sua atividade anti-biofilme à presença de
quercetina e ácido tânico (LEE et al., 2013).
2.5 Mecanismos de ação anti-biofilme
Os mecanismos envolvidos na inibição ou erradicação de biofilmes por
moléculas ativas que não atuam sobre o crescimento microbiano propriamente dito,
envolvem em geral um dos seguintes mecanismos (RENDUELES & GHIGO, 2012):
a) degradação de componentes da matriz polimérica: devido à ação de
enzimas como proteases, carbohidrases e nucleases específicas aos componentes
da MPE,
25
b) moléculas anti-adesivas: biossurfatantes, polissacarídeos e outras
moléculas capazes de alterar a interação das células com a superfície,
c) inibição de moléculas regulatórias de quorum sensing envolvidas no
estabelecimento de biofilmes,
d) inibição da síntese de fatores de virulência/adesão como pili, flagelos,
adesinas e componentes do MPE.
A Apigenina (4,5,7-trihidroxiflavona) encontrada em frutas e vegetais e o tt-
farnesol (3,7,11-trimethil-2,6,10-dodecatrien-1-ol), sesquiterpeno encontrado em
óleos essenciais de frutas cítricas; foram capazes de inibir a formação de biofilme de
Streptococcus mutans (KOO & JEON, 2009). O mecanismo de ação antibiofilme da
apigenina envolve a inibição da enzima glicosiltransferase (responsável pela síntese
de glucanas) presentes no EPS da bactéria e diretamente envolvidos na aderência e
colonização da superfície dentária (KOO et al., 2002). A ação do farnesol está
relacionada à alterações na permeabilidade da membrana devido à suas
propriedades lipofílicas e, além disto; pode aumentar a permeabilidade a prótons
gerando maior acidificação do citoplasma (KOO et al., 2005) e reduzindo a secreção
de glucanas (KOO & JEON, 2009).
As catequinas presentes no extrato de Combretum albiflorum inibiram
moléculas de quorum sensing em Pseudomonas aeruginosa PAO1 responsáveis
por fatores de virulência associados à formação de biofilmes, resultando na redução
da adesão bacteriana e formação de biofilmes (VANDEPUTTE et al., 2010). A di-
hidro chalcona floretina reprimiu a expressão de diferentes genes envolvidos na
virulência de E. coli 0157:H7 além de reduzir a produção de fímbrias, resultando na
inibição da formação do biofilme ( LEE et al., 2011).
2.6 Métodos de avaliação da ação anti-biofilme
Existem várias metodologias para análise de ação antimicrobiana de
compostos frente às células planctônicas tais como difusão em ágar, difusão em
disco, micro e macrodiluição. Entretanto, existem poucas tentativas de padronização
de ensaios anti-biofilmes. Muitas metodologias são descritas na literatura e podem
ser divididas em três grandes grupos (PEETERS et al., 2008):
26
1) quantificação da biomassa: quantificação da matriz, células totais ( vivas e
mortas),
2) quantificação da viabilidade: apenas células viáveis presentes,
3) quantificação da matriz: medida específica dos componentes do MPE.
Em relação à medida total de biomassa o ensaio mais utilizado é o cristal
violeta (STEPANOVIC et al., 2000), um corante básico que se liga às moléculas
negativamente carregadas na superfície da célula e nos polissacarídeos da matriz.
Devido à facilidade de execução e custos reduzidos, este é um método muito
utilizado. Porém como não diferencia células viáveis de células mortas, é em geral
associado à outras metodologias.
Para quantificação da viabilidade celular são utilizados métodos como os sais
de tetrazólio, tais como o XTT (2,3-bis(2- methoxi-4-nitro-5-sulfofenil)-2H-tetrazolium-
5-carboxanilida) que é reduzido ao composto corado formazan quando na presença
de atividade enzimática no meio reacional (PEETERS et al., 2008). Outro ensaio de
viabilidade envolve o corante redox resazurina (azul), também reduzido através de
enzimas microbianas à sua forma resofurina (rosa) que é fluorescente (O´BRIEN ET
AL., 2000). A transformação de (FDA) fluoresceína diacetato (não fluorescente) até
fluoresceína (fluorescente), por esterases intracelulares; também é utilizado como
método para determinar viabilidade em biofilmes (PRIETO et al., 2004).
Medidas para a quantificação da matriz envolvem o uso do corante DMMB
(1,9 dimetil metilene blue), cujo princípio se baseia na formação de complexos
insolúveis com polissacarídeos sulfatados da matriz polimérica do biofilme. Este
teste foi adaptado para medida de biofilmes de Staphylococcus aureus (TOTÉ et al.,
2007). Outro método utilizado é o WGA (Wheat germ agglutinin – Alexa flúor 488
conjugado), que se baseia na ligação específica da lectina conjugada e marcada
com a N-acetilglicosamina presente nos biofilmes de algumas bactérias. O método
proposto apresentou alta correlação com o método do cristal violeta para biofilmes
de Escherichia coli e Staphylococcus epidermidis (BURTON et al., 2007). Devido à
diversidade de metodologias disponíveis, a busca por moléculas com potencial
atividade anti-biofilme deve envolver o uso combinado destas técnicas de
27
quantificação, permitindo assim maior abrangência na varredura (SKOGMAN et al.,
2012) .
Paralelo aos testes de quantificação, técnicas de microscopia tais como
microscopia eletrônica de varredura (MEV), microscopia de força atômica (MFA),
microscopia à laser confocal (MLC), microscopia confocal raman (MCR) e
microscopia de (epi)fluorescência entre outras, são exemplos de técnicas utilizadas
para avaliação dos biofilmes (PANTANELLA et al., 2013).
Visto que a adesão bacteriana é o primeiro estágio da formação de biofilmes,
as moléculas capazes de impedir ou reduzir essa adesão podem,
consequentemente; reduzir a formação de biofilmes e são comumente chamadas de
moléculas anti-adesivas. O tratamento de superfícies com moléculas anti-adesivas
antes da exposição do material aos microrganismos é a principal estratégia utilizada
para avaliar esta atividade. O condicionamento de superfícies sólidas com
moléculas tensoativas (GOMES & NITSCHKE, 2012), polissacarídeos (SAYEN et al.,
2011), a incorporação de moléculas anti-adesivas na formulação de materiais
(NOWATZKI et al., 2012), em tintas (SIVAKUMAR et al., 2010a) e filmes poliméricos
(SIVAKUMAR et al., 2010b) são exemplos citados na literatura. Nestes casos, são
utilizados para análise de superfícies métodos tais como ângulo de contato,
hidrofobicidade celular, microscopia eletrônica de varredura e difração de raios-x;
visando caracterizar a superfície do material antes e após o tratamento com as
moléculas anti-adesivas de modo a elucidar os prováveis mecanismos envolvidos na
redução da adesão.
2.7 Microrganismos
2.7.1 Streptococcus mutans
Streptococcus mutans é uma bactéria Gram-positiva com formato
normalmente esférico ou oval, com diâmetro um pouco menor que 2 μm.
Apresentam arranjo característico em cadeias, não formam endósporos e seu
metabolismo é anaeróbio facultativo, com bom crescimento em ambiente com
presença em torno de 5% de CO2 na atmosfera de crescimento. São
quimiorganotróficas fermentativas, onde carboidratos presentes no meio são
fermentados produzindo principalmente ácido lático. Sua temperatura comum de
28
crescimento é de 37°C e convivem como parasitas em homens e animais, sendo
uma bactéria patogênica formadora de biofilme (RYAN; KLEINBERG, 1995).
A microbiota oral presente nos humanos representa um biofilme muito
diversificado, visto que 25 espécies do gênero Streptococcus habitam esse biofilme.
Nessa perspectiva, a bactéria Streptococcus mutans é a espécie mais fortemente
associada à cárie dentária, e essa patologia está diretamente ligada ao fato de sua
capacidade de adesão e formação de biofilme (NICOLAS; LAVOIE, 2011).
Figura 3 - Micrografia eletrônica de Streptococcus mutans.
FONTE: adptado de KORMENDY; WAYMAN (1971)
2.7.2 Pseudomonas aeruginosa
Pseudomonas aeruginosa é uma bactéria Gram-negativa com formato de
bacilo reto ou levemente curvado, que se locomove por meio de flagelos. Seu
comprimento varia entre 1,5 e 5 μm e não são formadoras de endósporos . São
comumente encontradas em uma diversidade muito grande de ambientes como
solo, água, plantas e animais. Crescem muito bem nos meios NA (Nutrient Agar)
e TSYEA (Triptic Soy Yeast Extract Agar) e seu metabolismo é estritamente
aeróbio, exceto na presença de nitrato no meio e não são fermentativas. Sua
temperatura ótima de crescimento varia de 30 à 37°C, mas pode crescer em
temperaturas de até 44°C (POLLACK, 1995).
Biofilmes formados por Pseudomonas aeruginosa também têm sido
extensivamente estudados devido à sua importância etiológica e o fato de facilmente
29
aderir às superfícies nas condições mais variadas. É o terceiro patógeno mais
comum associado às infecções hospitalares, principalmente como patógeno
oportunista. A fibrose cística é uma patologia que está intrinsicamente ligada à sua
capacidade de colonizar superfícies e consequentemente se estabelecer formando
biofilmes (KAYSER et al, 2005).
Figura 4 - Micrografia eletrônica de Pseudomonas aeruginosa.
FONTE: adaptado de MU et al, (2016)
30
3 OBJETIVOS
3.1 Geral
Estudar a ação de chalconas e derivados sintéticos no controle de biofilmes
de Streptococcus mutans e Pseudomonas aeruginosa
3.2 Específicos
Avaliar a atividade de chalconas e derivados sobre a formação e
dispersão de biofilmes de S. mutans formados em superfícies de
poliestireno
Avaliar a atividade de chalconas e derivados sobre a formação e
dispersão de biofilmes de P. aeruginosa formados em superfícies de
poliestireno
Determinar o efeito da concentração das moléculas na ação anti-
biofilme
Determinar a ação anti-adesiva e propriedades superficiais do
poliestireno e biofilmes tratados com chalconas e derivados
Relacionar a estrutura das moléculas testadas com a atividade anti-
biofilme
31
4 MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 Microrganismos
Como modelo de estudo foram selecionadas duas bactérias envolvidas na
formação de biofilmes cujo controle é de grande importância. A bactéria Gram
positiva Streptococcus mutans ATCC 25175 e a bactéria Gram negativa
Pseudomonas aeruginosa ATCC 27853.
4.2 Meios de cultivo
Para a bactéria P. aeruginosa, o meio sólido utilizado foi o AN (Ágar
Nutriente) e o meio líquido foi o CN (Caldo Nutriente); ambos da Accumedia
(VICKERY et al., 2009).
Para a bactéria S. mutans, o meio sólido utilizado foi o TSYEA (Triptic Soy
Yeast Extract Agar) e o meio líquido foi o TSYEBS (Triptic Soy Yeast Extract Broth –
0,5% sucrose); ambos da HiMedia (NASSAR; LI; GREGORY, 2012).
4.3 Chalconas e derivados
As chalconas e derivados listadas na Tabela 2 foram fornecidas pelo grupo de
Química Orgânica e Biocatálise – IQSC, dirigido pelo Prof. Dr. André Luiz Meleiro
Porto; que tem como foco a triagem de enzimas de microrganismos marinhos
visando reações de síntese orgânica. As chalconas sintéticas são utilizadas como
ferramenta para identificação de enoato redutases através de reduções
quimiosseletivas da ligação dupla C-C das chalconas. As moléculas foram obtidas
pela reação mais simples e comum: a condensação de Claisen-Schmidt, em que um
derivado escolhido da acetofenona reage com os aldeídos aromáticos apropriados,
usando metanol ou etanol como solvente e hidróxido de sódio ou de potássio como
catalisador (VOGEL, 2004). Essa metodologia é considerada muito simples e
versátil, embora em alguns casos resulte em baixos rendimentos (GO; WU; LIU,
2005). Importante frisar que a massa molar de cada molécula foi corrigida segundo a
pureza determinada através da técnica de cromatografia líquida.
32
Tabela 1 - Moléculas utilizadas no projeto
Código Estrutura/Nome Massa
molar/pureza
1
3-(3-fluorofenil)-1-(2-hidroxifenil)prop-2-en-1-ona
242,07/91%
2
3-(4-fluorofenil)-1-(2-hidroxifenil)prop-2-en-1-ona
242,07/88%
3
3-(3-bromofenil)-1-(2-hidroxifenil)prop-2-en-1-ona
301,99/80%
4
3-(4-bromofenil)-1-(2-hidroxifenil)prop-2-en-1-ona
301,99/91%
5
(E)-3-(4-bromofenil)-1-fenilprop-2-en-1-ona
286,90/98%
6
1-(2-hidroxifenil)-3-(4-metoxifenil)prop-2-en-1-ona
254,09/96%
7
(E)-3-(4-fluorofenil)-1-fenilprop-2-en-1-ona
226,09/95%
33
8
(E)-3-(3-nitrofenil)-1-fenilprop-2-en-1-ona
253,07/99%
9
(E)-3-(4-metoxifenil)-1-fenilprop-2-en-1-ona
238,10/93%
10
(1E,4E)-1,5-difenilpenta-1,4-dien-3-ona
234,10/91%
11
(E)-1-(3-hidroxinaftalen-2-il)-3-fenilprop-2-em-1-ona
274,10/93%
12
(2E,4E)-1,5-difenilpenta-2,4-dien-1-ona
234,10/99%
13
(2E,4E)-5-fenil-1-(tiofen-2-il)penta-2,4-dien-1-ona
240,06/88%
14
(2E, 4E)-5-fenil-1-(p-toluil)penta-2,4-dien-1-ona
248,12/93%
34
15
(1E, 4E)-1,5-bis(4-bromofenil)penta-1,4-dien-3-ona
389,93/99,5%
16
2-fenilcroman-4-ona
224,25/99%
17
2-(4-metoxifenil)croman-4-ona
254,28/99%
18
(E)-3-fenil-1-(tiofen-3il)prop-2-en-1-ona
214,28/100%
19
2-fenilcroman-4-ona
226,27/98%
20
(E)-3-(2-(trifluor-metilfenil)-1-(2,4,5-trifluor-fenil)prop-2-en-1-ona
330,22/90%
21
(E)-3-(2-hidroxifenil)-1-fenilprop-2-en-1-ona
224,25/85%
35
4.4 Formação biofilme
4.4.1 Preparo das culturas e condições de cultivo
As culturas de S. mutans e P. aeruginosa foram mantidas em estoques à -
20°C e transferidas para placas contendo o respectivo meio sólido. Em seguida
foram incubadas em estufa a 37°C por 24 h repetindo-se a incubação novamente
por mais 24h. Posteriormente, nas placas foram adicionados 5 mL de solução salina
(NaCl 0,86%) esterilizada e as colônias removidas com auxílio de alça de
inoculação. A suspensão bacteriana obtida foi submetida a diluições sucessivas e o
número de células viáveis foi determinado pelo método da gota. O número de
células viáveis foi relacionado com a medida de densidade óptica (DO) em
espectrofotômetro UV-Vis (modelo Genesys 10UV da Thermo Scientific ) à 610 nm
visando padronizar o inóculo. A concentração celular foi ajustada para 108 UFC/mL
estabelecendo-se a DO correspondente a este valor para proceder os testes de
formação de biofilmes. Este procedimento foi realizado com cada uma das bactérias
a serem testadas. A DO correspondente para P. aeruginosa foi de 0,25 e para S.
mutans foi de 0,85.
Foi realizado um teste prévio com os microrganismos para saber qual seria
concentração de DMSO utilizada para solubiulizar as moléculas, visando usar uma
concentração segura a ponto de não afetar o crescimento bacteriano. Assim, depois
de padronizado os inóculos; estes foram crescidos em meio de cultura líquido com
várias concentrações de DMSO e posteriormente realizada contagem para
comparação com crescimento sem DMSO. Assim, a concentração que não afetou o
crescimento das duas bactérias foi a de 1%. Portanto essa foi a concentração de
DMSO final utilizada nos testes, sendo esse o controle de crescimento para
comparação com o teste utilizando as moléculas.
A estratégia do estudo avaliou as moléculas em duas situações distintas:
1) efeito das moléculas na formação de biofilmes;
2) efeito das moléculas na destruição de biofilmes pré-formados.
36
As metodologias para formação de biofilme foram adaptadas segundo
GOMES; NITSCHKE (2012).
4.4.2 Ação sobre a formação de biofilmes
As moléculas obtidas foram dissolvidas em DMSO (1%) e posteriormente no
meio de cultura correspondente à cada bactéria, na concentração inicial de 500 μM.
Preencheu-se então os orifícios da microplaca com 180 μL do respectivo caldo de
cultivo contendo chalcona e 20 μL de inóculo bacteriano, procedendo-se então a
formação do biofilme em presença das moléculas no meio de cultura. Assim, após
as 24h de incubação o meio foi removido e o biofilme lavado duas vezes com
solução salina para posteriormente ser quantificado.
4.4.3 Ação sobre biofilmes pré-formados
O biofilme foi formado conforme descrito no item 4.4.2. Após as 24 horas de
crescimento o meio de cultura foi removido e o biofilme lavado duas vezes com
solução salina para remover as células não aderidas. Posteriormente, foi adicionado
à microplaca 200μL de caldo de cultivo contendo 500μM de cada molécula a ser
testada e a placa foi incubada novamente por 24h à 37°C. Após o período de
incubação o meio foi removido e lavado duas vezes com solução salina para
posterior quantificação.
4.5 Quantificação dos biofilmes
4.5.1 Biomassa celular
Foi avaliada segundo metodologia descrita por MIRELES et al. (2001). O
biofilme aderido foi fixado com 200 μL de metanol por 15 minutos. Após esse tempo,
o metanol foi retirado e os poços da microplaca preenchidos com 200 μL de solução
aquosa de cristal violeta 0,5%. Após duas lavagens com água destilada para
remover o excesso de cristal violeta, o corante foi extraído com 200 μL com ácido
acético glacial (33%). Procedeu-se então a leitura da densidade ótica da solução a
630nm em leitora automática de microplacas (Enspire 2300 – Perkin Elmer). A
quantidade de biofilme foi comparada com ensaio controle sem adição das
moléculas, controle contendo DMSO 1% além de controle positivo com antibiótico:
Polimixina B (INLAB) para P. aeruginosa e Ampicilina (Sigma-Aldrich) para S.
mutans. A concentração de cada antibiótico utilizada também foi de 500 μM. Foram
então obtidos gráficos de barras expressos em DO (Densidade Óptica).
37
4.5.2 Viabilidade das células
Para a quantificação das células viáveis no biofilme foi utilizado o ensaio do
corante redox resazurina (Sigma-Aldrich) como indicador da atividade metabólica
segundo metodologia descrita por SANDBERG et al. (2009). Após crescimento do
biofilme (ou tratamento para remoção) os orifícios da microplaca foram lavados com
água destilada para remoção de células não aderentes e adicionados de 190 μL de
água destilada e 10 μL de solução de resazurina (0,1 g.L-1). A placa foi incubada no
escuro por 30 minutos à 37°C. A leitura da fluorescência (λexcitação: 570 nm e λemissão:
590 nm) foi realizada em leitora automática de microplacas comparando-se com
controle sem adição de moléculas, controle contendo DMSO 1% e controle positivo
(antibiótico). Assim, pode-se obter gráficos de barras expressos em RFU (Reference
Fluorescence Unit).
4.6 Efeito da concentração das moléculas na atividade anti-biofilme
O ensaio do efeito da concentração foi realizado apenas para as chalconas e
derivados que apresentaram redução de biomassa e/ou viabilidade celular nos
ensaios de formação e/ou remoção de biofilmes (adaptado de BALOUIRI; SADIKI;
IBNSOUDA, 2012). A partir do ensaio inicial de triagem, as moléculas que
apresentaram maior atividade foram avaliadas em diferentes concentrações. A
solução inicial de 2000 μM foi diluída sucessivamente em microplaca de poliestireno
variando-se a concentração de 2000 μM até 15,6 μM. Após 24h de incubação à
37°C foi realizada a leitura e determinada a concentração mínima necessária para
inibir/remover os biofilmes através da técnica do cristal violeta. Este dado foi também
comparado com a CIM necessária para inibir as células planctônicas.
A CIM de células planctônicas foi realizada do mesmo modo, ou seja;
variando-se a concentração de cada chalcona de 2000 μM até 15,6 μM. Porém,
após as 24h de incubação a 37°C, foi feita leitura visual para determinar se houve
crescimento celular. O controle positivo dos ensaios foi realizado com cada
respectivo antibiótico à partir da concentração de 500 μM.
Os ensaios para determinação da concentração inibitória mínima (CIM) das
chalconas e derivados foram adaptados segundo metodologia estabelecida pelo
Clinical and Laboratory Standards Institute, CLSI M7-A6 2005.
38
4.6.1 Curvas de crescimento
Para avaliar o efeito da concentração das chalconas no crescimento celular,
foi realizada cinética de viabilidade variando-se a concentração de cada molécula
que, na triagem inicial; apresentou redução da viabilidade. Assim, em uma
microplaca diluiu-se a chalcona variando sua concentração de 2000 μM até 15,6 μM.
Após inoculação da microplaca, essa foi coberta com um filme de poliéster
esterilizado (Platemax), o qual permitiu incubar a microplaca na própria leitora e
fazer leituras sucessivas variando-se o tempo de 0 à 24h, com intervalo de 1 hora
entre cada leitura. Assim, pôde-se construir um gráfico de crescimento x tempo; o
qual permitiu avaliar mais profundamente a influência das chalconas na morte
celular observada nos ensaios com resazurina. (Adaptado de VERMA, 2007)
4.7 Atividade anti-adesiva
A presença de atividade anti-adesiva foi avaliada a partir do tratamento
(condicionamento) prévio da superfície de poliestireno com as moléculas e posterior
contato com suspensão das bactérias seguindo-se a metodologia descrita por
SAITO et al. (2012). As moléculas selecionadas após a triagem inicial foram diluídas
em etanol na concentração de 500 μL. Foram então adicionados 200 μL à
microplaca e mantidas por aproximadamente 4h em câmara de fluxo laminar para
evaporação do solvente. Suspensões de P. aeruginosa e S. mutans foram
preparadas conforme padronização já descrita e adicionadas (200 μL) nos orifícios
da microplaca previamente tratados com as chalconas, deixando-se em contato por
2 horas à 37 °C para ocorrer a adesão celular. O material foi então removido dos
orifícios e estes lavados duas vezes com solução salina. As células aderidas foram
quantificadas pela metodologia do cristal violeta. Como controle foram utilizados
orifícios tratados previamente apenas com etanol puro (efeito residual do solvente) e
também orifícios sem tratamento.
4.8 Determinação da hidrofobicidade do biofilme e do poliestireno tratado
Para evidenciar se as moléculas modificaram a hidrofobicidade do material
(ensaio anti-adesivo) e dos biofilmes (ensaio de formação e remoção) foram
realizadas medidas de ângulo de contato da água, no poliestireno condicionado com
chalconas e nos biofilmes pré-estabelecidos (antes e após o tratamento).
(Adaptação da técnica descrita por RODRIGUES et al. 2006). Neste caso, tanto o
tratamento prévio do poliestireno com as moléculas quanto os ensaios com biofilmes
39
foram realizados em placas retangulares (40 mm X 20 mm) de poliestireno. O
tratamento das placas de poliestireno com as chalconas foi realizado da mesma
maneira como descrito no item 4.6, ou seja; utilizando-se as chalconas em solução
de etanol na concentração de 500 μM. Já os ensaios de formação e remoção de
biofilmes, foram realizados como descrito nos itens 4.3.3 e 4.3.4; porém nas placas
de poliestireno retangulares. Após remoção do meio de cultura as placas foram
lavadas duas vezes com solução salina (0,86%) para remover as células não
aderidas e então foram levadas à estufa para secagem por 40 minutos (40ºC).
Assim, tanto para os biofilmes quanto para as placas tratadas com as chalconas,
foram realizadas medidas do ângulo de contato da água em goniômetro (modelo
CAM 200 - KSV- Finlândia) pela técnica da gota séssil utilizando gotas de 4,0 μL a
25°C. Os resultados foram expressos como a média de pelo menos nove gotas em
três amostras de poliestireno.
4.9 Determinação da hidrofobicidade celular (células planctônicas)
Com o objetivo de caracterizar a natureza hidrofílica/ hidrofóbica da superfície
celular das bactérias foi realizado teste de adesão a solventes (MATS), que consiste
na avaliação da afinidade das células bacterianas a solventes polares e apolares
(MEYLHEUC et al., 2001). Foram utilizados quatro solventes: clorofórmio (polar e
aceptor de elétrons), hexadecano (apolar), acetato de etila (polar e doador de
elétrons) e decano (apolar). Alíquotas de 2,4 mL de suspensão bacteriana (109
UFC/mL em NaCl 0,86%) foram adicionadas de 0,4 mL de cada solvente. A mistura
então foi submetida a agitador tipo vortex (modelo Vortex 1 – IKA) por 2 minutos e
deixada em repouso por 15 minutos para separação de fases. A leitura de
absorbância da fase aquosa foi realizada a 400 nm e a percentagem de células
aderidas, calculada conforme a equação abaixo: % Adh = 1- (A/A0) x 100 , onde
A0 = absorbância da suspensão bacteriana antes da mistura e A= absorbância da
fase aquosa depois da mistura.
4.10 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
Para avaliar qualitativamente a arquitetura e a presença de MPE (SIMÕES et
al., 2006) antes e após o tratamento com as chalconas, os biofilmes foram
observados em microscópio eletrônico de varredura. Placas retangulares (5 mm X 5
mm) de poliestireno foram utilizadas para a formação e tratamento dos biofilmes pré-
formados conforme metodologia descrita anteriormente no item 4.3.3 e 4.3.4. As
40
placas contendo os biofilmes foram removidas do meio de cultivo, lavadas duas
vezes com solução salina para remoção de células não aderidas e submetidas à
desidratação com concentrações crescentes de etanol, 10%, 25%, 40%, 50%, 70%,
80%, 90% e 95%; deixando os biofilmes por 15 minutos em cada solução. Em
seguida as amostras foram mantidas em dessecador. As amostras foram então
visualizadas após metalização com ouro em microscópio eletrônico modelo 440 LEO
(Zeiss).
4.11 Microscopia confocal
Com o intuito de observar a arquitetura dos biofilmes e verificar possíveis
diferenças entre os controles e os biofilmes tratados com chalconas, foi realizada
análise por CLSM (Confocal Laser Scanning Microscopy). Os controles e
tratamentos de biofilmes, tanto na formação quanto remoção; foram feitos em placas
retangulares de poliestireno do mesmo modo descrito no item 4.7. As medidas foram
realizadas em duplicata.
Após as 24h horas de incubação, o biofilme foi retirado do meio de cultivo em
câmara de fluxo laminar e lavado com 200 μM de solução salina para remover as
células não aderidas. Em seguida, em cada placa com biofilme foi adicionada 200
μM de solução do corante preparado através do kit LIVE/DEAD Biofilm Viability
(Thermofisher) . Nessa solução preparada através do kit há uma mistura com dois
marcadores: o marcador verde fluorescente SYTO 9 (λexcitação480 nm e λemissão: 500
nm) e o marcador vermelho fluorescente iodeto de propídeo (λexcitação: 490 nm e
λemissão: 635 nm). O corante SYTO 9 marca todas as células bacterianas presentes
no biofilme, tanto as viáveis como as não viáveis. Já o corante iodeto de propídeo,
penetra apenas as bactérias cuja membrana celular está danificada (inviáveis),
causando a redução do corante SYTO 9 quando ambos os corantes estão
presentes. Assim, quando há uma mistura adequada dos dois marcadores, as
bactérias que apresentam membrana celular intacta (viáveis) são marcadas em
verde fluorescente, enquanto que as células que apresentam danos na membrana
celular (não viáveis) são marcadas em vermelho fluorescente.
Após a adição do corante, o biofilme foi colocado em repouso na estufa à
37°C por 30 minutos no escuro. Em seguida, foram obtidas as imagens das
amostras em microscópio invertido modelo LSM 780 (Zeiss), do Instituto de Física de
41
São Carlos da Universidade de São Paulo; microscópio obtido através do projeto
FAPESP 2009/54035-4. A região espectral utilizada para o canal 1 (verde) foi de
499 nm à 602 nm e para o canal 2 (vermelho) foi de 605nm à 735 nm (metodologia
adaptada de DRAGO et al. 2016).
4.12 Análise estatística
Os ensaios de formação e remoção de biofilmes em microplaca foram
realizados em quintuplicata e expressos como a média de no mínimo três repetições
independentes. Os dados obtidos foram comparados através de análise de variância
(ANOVA) com nível de confiança de 95% utilizando o software Origin 9.0 (Origin Lab
Corporation).
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1 Efeito das moléculas na formação de biofilmes e em biofilmes pré-
formados
A triagem inicial foi realizada com 21 moléculas de chalconas e seus
derivados, as quais estão listadas na Tabela 2. A partir desta triagem preliminar,
pretendeu-se escolher somente as moléculas que mostraram melhores resultados
frente aos ensaios de formação e/ou remoção de biofilme, exibindo atividade na
redução de biomassa e/ou na viabilidade celular; tornando possível que outros
testes posteriores permitissem investigar mais com maior profundidade a ação das
moléculas frente às bactérias selecionadas. Cada molécula recebeu um número
para sua identificação, objetivando maior facilidade na sua identificação.
A seguir, são mostrados os resultados da triagem inicial com as 21 moléculas
na concentração de 500 μM, onde C representa o controle de crescimento na
presença de DMSO, P representa o crescimento na presença do antibiótico
polimixina B e A o crescimento na presença do antibiótico ampicilina. Os dados
marcados com * foram os que mostraram diferença significativa em relação ao
controle (ANOVA confiabilidade de 95%). Seja na formação ou remoção de biofilmes
pré-formados, é importante lembrar que nesta fase inicial de triagem foram
42
consideradas aptas para a próxima fase somente moléculas que apresentaram
resultado significativo em relação ao controle.
5.1.1 Triagem inicial na formação e remoção de biofilme de Pseudomonas
aeruginosa
Como se pode observar na Figura 5, para a formação de biofilme de P.
aeruginosa na presença das moléculas, os ensaios de quantificação da biomassa
através da coloração do cristal violeta indicaram que os melhores resultados foram
obtidos com as moléculas 10 e 11 e 12, onde a redução da biomassa total em
relação ao controle foi de 54,4%, 48% e 71,1% respectivamente.
Figura 5 - Quantificação da massa total dos biofilmes formados por P. aeruginosa em superfícies de poliestireno na presença das moléculas. As barras de erro representam o desvio padrão. * redução estatisticamente significativa (p<0,05) em relação ao controle (sem chalcona).
C 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 P
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
1.2
1.4
DO
(63
9n
m)
Chalconas
*
*
*
*
*
* *
* *
* * * * *
* *
*
43
Figura 6 - Viabilidade celular nos biofilmes formados por P. aeruginosa em superfícies de poliestireno na presença das moléculas. As barras de erro representam o desvio padrão. * redução estatisticamente significativa (p<0,05) em relação ao controle (sem chalcona).
Na Figura 6, o ensaio de formação de biofilmes para quantificação de células
viáveis com a resazurina mostrou que o melhor resultado foi obtido com a molécula
11, indicando uma redução de células viáveis em relação ao controle de 60,2%.
C 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 P
0
50000
100000
150000
200000
250000
300000
RF
U
Chalconas
*
* * *
*
44
Figura 7 - Quantificação da massa de biofilme de P. aeruginosa pré-estabelecido em superfície de poliestireno, após tratamento com as moléculas. As barras de erro representam o desvio padrão. * redução estatisticamente significativa (p<0,05) em relação ao controle (sem chalcona).
Para os ensaios de remoção de biofilmes pré-formados de P. aeruginosa,
observa-se na Figura 7 que os melhores resultados obtidos foram com as moléculas
2, 10 e 21, sendo que a redução de biomassa em relação ao controle foi de 34,4%,
53,5% e 35% respectivamente.
C 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 P
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
1.2
DO
(63
0n
m)
Chalconas
*
*
*
* *
* * * *
*
* * *
*
45
Figura 8 - Viabilidade celular de biofilme de P. aeruginosa pré-estabelecido em superfície de poliestireno após tratamento com as moléculas. As barras de erro representam o desvio padrão. * redução estatisticamente significativa (p<0,05) em relação ao controle (sem chalcona).
Para os ensaios de remoção onde se avaliou a redução do número de células
viáveis após tratamento do biofilme pré-formado com as moléculas; observou-se que
o melhor resultado obtido foi com a molécula 4, indicando uma redução em relação
ao controle de 39,3% (Figura 8).
Para melhor visualização dos resultados obtidos nos ensaios de triagem para
P. aeruginosa, os dados obtidos foram expressos em termos de porcentagem e são
mostrados na Tabela 2.
C 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 P
0
50000
100000
150000
200000
250000
300000
350000
RF
U
Chalconas
*
*
*
* *
* *
* * * *
46
Tabela 2 - Percentual de redução da biomassa total e viabilidade celular de P. aeruginosa.
Formação Remoção
Moléculas Biomassa (%) Viabilidade (%) Biomassa (%) Viabilidade (%) 1 10,6 - 12,8 15,4 2 24,8 - 34.4 0,3 3 4,3 - - 5,9 4 28,5 - 7,1 39,3 5 4,7 - 4,5 12,9 6 9,8 - - 0 7 - - 10,9 5,1 8 34,2 - 11,4 - 9 26,3 - - -
10 54,4 3,1 53,5 9,7 11 48,9 60,2 - 9,7 12 71,1 3,6 12,2 - 13 45,5 3,0 15,5 12,3 14 51,3 1,1 11,8 12,6 15 1,0 5,0 9,0 - 16 - 1,3 27,7 - 17 18,6 7,5 7,1 - 18 26,6 - 13,5 - 19 16,6 5,7 - 12,5 20 17,2 0,2 3,0 14,3 21 16,0 9,6 35,0 4,4
Antibiótico 94,9 97,9 0,0 15,4
Assim, para os próximos ensaios foram selecionadas para o tratamento na
formação de biofilmes as moléculas 11 e 12. A molécula 11 apresentou redução
tanto na biomassa quanto na viabilidade do biofilme de P. aeruginosa. Já a molécula
12 apresentou boa redução somente na biomassa do biofilme.
Já para a remoção de biofilme, a quantificação de biomassa mostrou que a
melhor atividade ocorreu com a molécula 10; e nos ensaios de viabilidade celular a
molécula 4. Assim, estas foram selecionadas para as próximas etapas.
47
5.1.2 Triagem inicial na formação e remoção de biofilme de
Streptococcus mutans
Os ensaios de formação de biofilmes de S. mutans na presença das moléculas
(Figura 9), indicam que os melhores resultados foram obtidos com as moléculas 2 e
15; as quais apresentaram uma redução na biomassa total de 60% e 67,4%
respectivamente.
Figura 9 - Quantificação da massa total dos biofilmes formados por S. mutans em superfícies de poliestireno na presença das moléculas. As barras de erro representam o desvio padrão. * redução estatisticamente significativa (p<0,05) em relação ao controle (sem chalcona).
Para a quantificação de células viáveis no biofilme de S. mutans, o melhor
resultado obtido foi com a molécula 2, como mostra o gráfico da Figura 10. A
redução em relação ao controle foi de 77,2%.
C 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 A
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
1.2
DO
(630nm
)
Chalconas
*
*
*
*
*
* * *
* *
48
Figura 10 - Viabilidade celular nos biofilmes formados por S. mutans em superfícies de poliestireno na presença das moléculas. As barras de erro representam o desvio padrão. * redução estatisticamente significativa (p<0,05) em relação ao controle (sem chalcona).
Figura 11 - Quantificação da massa de biofilme de S. mutans pré-estabelecido em superfície de poliestireno após tratamento com as moléculas. As barras de erro representam o desvio padrão. * redução estatisticamente significativa (p<0,05) em relação ao controle (sem chalcona).
C 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 A
0
2000
4000
6000
8000
10000
RF
U
Chalconas
C 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 A
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
1.2
1.4
1.6
DO
(63
0n
m)
Chalconas
*
* *
*
*
*
* * *
* *
* *
*
* *
* *
*
* *
*
*
49
Já para a remoção de biofilme, a Figura 11 mostra que os melhores
resultados obtidos foram com as moléculas 11, 12 e 15; onde a redução da
biomassa total em relação ao controle foi de 47%, 42,5% e 49%, respectivamente.
Figura 12 - Viabilidade celular de biofilme de S. mutans pré-estabelecido em superfície de poliestireno após tratamento com as moléculas. As barras de erro representam o desvio padrão. * redução estatisticamente significativa (p<0,05) em relação ao controle (sem chalcona).
Para os ensaios de viabilidade celular dos biofilmes após tratamento com as
moléculas (Figura 12) observa-se que os melhores resultados foram obtidos com as
moléculas 11, 12 e 21. A redução em relação ao controle foi de 66,8%, 58,4 e 91,6%
respectivamente.
Para melhor visualização dos resultados obtidos nos ensaios de triagem para
S. mutans, os dados obtidos foram expressos em termos de porcentagem e são
mostrados na Tabela 3.
C 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 A
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
RF
U
Chalconas
*
* *
*
* *
* * *
*
*
*
50
Tabela 3 - Percentual de redução da biomassa total e viabilidade celular de S. mutans.
Formação Remoção
Moléculas Biomassa (%) Viabilidade (%) Biomassa (%) Viabilidade (%) 1 - 4,8 - 6,1 2 60,0 77,2 - 3,7 3 - 10,4 7,1 - 4 22,1 13,2 4,4 3,5 5 26,3 46,7 - 30,4 6 11,3 57,4 - 7,9 7 26,1 - - 58,8 8 0,0 - - 66,3 9 - 6,2 - 62,3
10 - 12,9 - 25,9 11 6,0 58,5 47,0 66,8 12 - 52,4 42,5 58,4 13 - 0,8 - - 14 5,9 - 43,3 - 15 67,4 - 49,0 - 16 5,1 9,7 16,2 - 17 - - 20,5 9,1 18 13,7 13,3 36,7 - 19 18,1 8,1 31,2 6,3 20 38,4 - 37,2 18,9 21 - 26,4 26,4 91,6
Antibiótico 92,5 95,3 8,3 84,1
Para a próxima etapa, no tratamento da formação do biofilme de S. mutans
foram escolhidas as moléculas 2 e 15. A molécula 2 apresentou, nos ensaios de
formação, boa redução tanto na formação de biomassa quanto na viabilidade
celular. Em relação ao controle de crescimento, essa redução foi de 60% e 77,2%,
respectivamente. A molécula 15 apresentou redução somente na biomassa, a qual
foi de 67,4%.
Já para os ensaios de remoção de biofilme, as moléculas 11, 12 e 21
apresentaram redução na biomassa celular cerca de 47%, 42,5% e 26,4%,
respectivamente. Nos ensaios de viabilidade celular, essas mesmas moléculas
apresentaram uma redução de 66,8%, 58,4% e 91,6%, respectivamente.
5.1.3 Considerações sobre a triagem inicial
Importante frisar que quanto à viabilidade celular nos ensaios de remoção de
biofilme, quando comparadas aos antibióticos polimixina B e ampicilina; as
51
moléculas testadas mostraram menor efeito bactericida sobre as células no biofilme;
exceto pela molécula 21 no ensaio de remoção de S. mutans. As moléculas
escolhidas para a próxima etapa mostraram-se efetivas tanto reduzindo a formação
do biofilme quanto na destruição do biofilme pré-formado. Mais especificamente nos
ensaios sobre biofilmes pré-formados, observa-se que o antibiótico não mostrou o
efeito de remoção comparativamente às moléculas testadas. É importante utilizar
moléculas capazes de interferir na estabilidade do biofilme sem promover a morte
celular do microrganismo, pois esta característica reduz a possibilidade do
surgimento de resistência bacteriana (ROGERS et al., 2009).
5.2 Efeito da concentração das moléculas sobre os biofilmes
Primeiramente, as moléculas selecionadas para esta fase foram diluídas
sucessivamente em microplaca a partir da concentração de 2000 μM até a
concentração de 3,9 μM e posteriormente adicionado o inóculo. Após 24h de
incubação a 37°C foi realizada leitura visual para determinação da CIM de cada
molécula para cada respectiva bactéria testada e também seus respectivos
antibióticos. A CIM de polimixina B encontrada para P. aeruginosa foi de 0,39 μM.
Este valor está em concordância com o descrito na literatura, pois; segundo GALES
et al (2001) a CIM para a cepa ATCC 27853 de P. aeruginosa é < 2 μg.mL-1. Já para
a S. mutans, o valor de CIM para ampicilina foi de 0,49 μM em conformidade com
CHA et al (2013) que descreveram que a CIM para a cepa 25175 de S. mutans é de
0,125 μg/mL. Tanto para S. mutans quanto para P. aeruginosa, não foi observada
CIM para as 21 moléculas testadas. Embora não se tenha observado CIM, notou-se
que algumas moléculas reduziram o crescimento das células planctônicas quando
em presença dessas moléculas. Este dado sugere que provavelmente o mecanismo
de ação antibiofilme das moléculas não esteja somente relacionado à ação
antimicrobiana.
Para verificar o efeito da concentração das moléculas na formação e remoção
do biofilme foram realizados os mesmos testes à partir da concentração de 2000 μM
das moléculas que foram diluídas sucessivamente, porém visando a verificação da
biomassa celular através da técnica do cristal violeta.
52
5.2.1 Efeito da variação de concentração das moléculas na atividade
antibiofilme frente à Pseudomonas aeruginosa
Para P. aeruginosa, foram testadas as moléculas 11 e 12 na formação de
biofilme e 4 e 10 na remoção de biofilme.
Figura 13 - Percentual de redução da formação do biofilme de P. aeruginosa na presença de diferentes concentrações da molécula 11.
A Figura 13 mostra que a molécula promoveu redução na formação de
biomassa celular e seu efeito em geralmaumentou de acordo com o aumento da
concentração. À partir da concentração de 1000 μM houve redução do efeito
possivelmente devido a saturação e insolubilidade da molécula no meio.
REJINIEMON et al (2014), também testaram a ação antibiofilme e antimicrobiana de
uma quinona, um metabólito extraído de uma planta medicinal chamada Aegle
marmelos. As atividades foram testadas para as bactérias E. coli, S. typhii e P.
aeruginosa. Além de mostrar efeito antibiofilme e antimicrobiano, os autores também
verificaram que a ação antibiofilme é dependente da concentração, ou seja;
aumentando-se a concentração da quinona de 2 à 10 μg.mL-1, o efeito antibiofilme
também aumentou. VELOZ et al (2015) obtiveram um resultado semelhante,
testando a ação antibiofilme de uma amostra de própolis. Sabe-se que a própolis é
um composto com muitas moléculas bioativas como terpenos, flavonoides e
polifenóis. Os autores evidenciaram inibição da formação do biofilme de S. mutans.
2000 1000 500 250 125 62,5 31,2 15,6 7,8 3,9
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Re
duçã
o (
%)
Concentração (uM)
53
Tabela 4 - Efeito da concentração da molécula 11 na inibição da formação de biofilme de P. aeruginosa.
Concentração (μM) Molécula 11
Redução (%)
2000 51,2
1000 70,9
500 52,8
250 21,6
125 33,4
62,5 21,0
31,2 12,5
15,6 8,4
7,8 4,8
3,9 6,9
A Figura 14 mostra o crescimento celular de células planctônicas de P.
aeruginosa na presença de diferentes concentrações da molécula 11.
Figura 14 - Cinética de crescimento celular de P. aeruginosa na presença da molécula 11.
0 5 10 15 20 25
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
DO
(61
0n
m)
t(h)
2000
1000
500
250
125
CTRLDMSO
54
Pode-se observar na Figura 14, que a viabilidade celular foi reduzida
principalmente nas concentrações de entre 500 μM e 2000 μM. Assim, a redução da
biomassa mostrada pela molécula 11 pode estar relacionada com a morte celular do
microrganismo, o qual diminui a taxa de reprodução celular resultando em um
biofilme menos denso tanto em número de células quanto em MPE. Porém, para a
molécula 12, não foi observado efeito de redução da biomassa e da viabilidade
dependente da concentração.
Figura 15 - Percentual de remoção do biofilme de P. aeruginosa na presença de diferentes concentrações da molécula 10.
A Figura 15 mostra que dentro de certo intervalo de concentrações, o efeito
antibiofilme da molécula 10 mostrou ser dependente da concentração. Novamente,
observa-se uma diminuição do efeito antibiofilme da molécula em maiores
concentrações. Provavelmente, acima de 500 μM pode ocorrer redução da
solubilidade da molécula, o que diminui o seu efeito na remoção do biofilme.
2000 1000 500 250 125 62,5 31,2 15,6 7,8 3,9
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Re
duçã
o (
%)
Concentração (uM)
55
Tabela 5 - Efeito da concentração da molécula 10 na remoção de biofilme de P. aeruginosa.
Concentração (μM) Molécula 10
Redução (%)
2000 -
1000 40,1
500 51,2
250 24,5
125 25,0
62,5 7,1
31,2 -
15,6 -
7,8 -
3,9 -
Figura 16 - Cinética de crescimento celular de P. aeruginosa na presença da molécula 10.
Como mostrado na Figura 16, o crescimento celular também é afetado pela
molécula 10. Porém no gráfico, é mostrada como concentração máxima a de 500
0 5 10 15 20 25
-0.1
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
DO
(61
0n
m)
t(h)
500
250
125
CTRLDMSO
56
μM, já que as curvas para 1000 μM e 2000 μM foram omitidas porque apresentaram
sinal de leitura mais alto que o controle provavelmente devido à insolubilidade da
molécula 10 nessas concentrações. Inclusive por esse mesmo motivo é provável
que em concentrações maiores que 500 μM, a molécula 10 não tenha apresentado
maior efeito de remoção sobre o biofilme. Pela estrutura da molécula 10 não é
surpreendente que esta apresente insolubilidade; já que não há nenhum substituinte
presente nos anéis da molécula. Alguns autores, como JORNADA et al (2015);
relataram que certos substituintes aumentam a solubilidade de chalconas. Contudo,
nota-se pelo perfil das curvas que apesar de a DO final do controle ser praticamente
a mesma do tratamento com a molécula 10; a curva do tratamento exibe um pico
máximo mais baixo. Neste caso, é possível que a molécula 10 cause certo atraso na
multiplicação celular das bactérias. Assim, uma hipótese é a de que com menos
células presentes se forma menos MPE; justificando a remoção da biomassa
verificada na triagem inicial. A molécula 10 pode também ter penetrado e agido
diretamente na desestruturação da arquitetura do biofilme, causando rompimento de
ligações e desprendimento celular; ocasionando assim a redução de biomassa.
Para a molécula 4, não foi observado efeito de redução da biomassa nem da
viabilidade dependente da concentração.
Na Tabela 4 temos o resumo para os ensaios de formação de biofilmes de P.
aeruginosa variando a concentração da molécula 11. Como o resultado obtido
mostrou que o efeito de redução da biomassa é dependente da concentração,
apenas a molécula 11 será utilizada para os próximos testes na formação do
biofilme.
Para os ensaios de remoção de biofilme de P. aeruginosa, o resumo dos
resultados obtidos com a molécula 10 foi mostrado na Tabela 5. Como se pode ver,
a molécula 10 demonstrou boa correlação da concentração com a remoção de
biofilme.
Assim, as moléculas 11(formação) e 10(remoção) foram escolhidas para a
continuidade dos testes; na tentativa de elucidar quais os mecanismos presentes
que justifiquem os resultados observados até aqui.
57
5.2.2 Efeito da variação de concentração das chalconas na atividade
antibiofilme frente à S. mutans
Para S. mutans, foram testadas as moléculas 2 e 15 na formação e 11, 12 e
21 na remoção dos biofilmes.
Figura 17 - Percentual de redução da formação do biofilme de S. mutans na presença de diferentes concentrações da molécula 15.
Na Figura 17 observa-se a dependência direta entre concentração e efeito na
redução da biomassa celular do biofilme de S. mutans. Nota-se que nas
concentrações mais altas o percentual de redução após lavagem e coloração com
cristal violeta aproximou-se de 100%. Para a viabilidade, o crescimento celular não
foi afetado variando-se a concentração da molécula 15, como pode ser visto na
Figura 18.
2000 1000 500 250 125 62,5 31,2 15,6 7,8 3,9
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Re
duçã
o (
%)
Concentração (uM)
58
Figura 18 - Cinética de crescimento celular de S. mutans na presença da molécula 15.
Como se observa, nenhuma concentração utilizada da molécula 15 afetou
significativamente o crescimento celular de S. mutans, apesar da presença de um
átomo de bromo em cada anel em sua estrutura.
Tabela 6 - Efeito da concentração da molécula 15 na formação de biofilme de S. mutans.
Concentração (μM) Molécula 15
Redução (%)
2000 95,1
1000 94
500 77,8
250 71,9
125 65,8
62,5 24
31,2 12,8
15,6 29,8
7,8 16,7
3,9 6,8
4 9 14 19
-0.1
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1.0
1.1
DO
(61
0n
m)
t(h)
2000
1000
500
250
125
ControleDMSO
59
Para a molécula 2, não foi observado efeito de redução da biomassa ou da
viabilidade dependente da concentração.
Figura 19 - Efeito da concentração da molécula 12 na remoção de biofilme de S. mutans.
Figura 20 - Cinética de crescimento celular de S. mutans na presença da molécula 12.
2000 1000 500 250 125 62,5 31,2 15,6 7,8 3,9
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Re
duçã
o (
%)
Concentração (uM)
4 9 14 19 24
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
1.2
DO
(61
0n
m)
t (h)
2000
1000
500
250
Controle
60
Na Figura 19 pode-se ver a boa correlação que a molécula 12 mostrou entre
variação da concentração e redução de biomassa celular. Entretanto, não foi
observada alteração no crescimento celular com o aumento da concentração da
molécula 12, como evidencia a Figura 20.
Como evidencia a Figura 20, o crescimento celular não é afetado pela
presença da molécula 12. Assim, a hipótese mais clara é a de que a molécula 12
penetra no biofilme e causa desprendimento de biomassa; o que explicaria a
redução observada tanto na viabilidade quanto na biomassa.
Figura 21 - Efeito da concentração da molécula 21 na remoção de biofilme de S. mutans.
A molécula 21 mostrou que sua ação sobre biofilmes pré-formados é
dependente da concentração. Entretanto, observou-se na triagem inicial que ela
apresentou bom efeito na viabilidade celular. Esta interferência na viabilidade foi
também observada na curva de crescimento mostrada na Figura 22.
2000 1000 500 250 125 62,5 31,2 15,6 7,8 3,9
0
20
40
60
80
100
Re
duçã
o (
%)
Concentração (uM)
61
Figura 22 - Cinética de crescimento celular de S. mutans na presença da molécula 21.
A Figura 22 evidencia que as concentrações que mostraram maior efeito
sobre o crescimento celular foram de 1000 μM e 500 μM. JIANG et al (2011)
relataram alguns problemas com limite de detecção utilizando resazurina para
biofilmes de duas espécies formados por S. mutans e E. faecalis. Segundo os
autores, o limite de detecção foi observado entre 105 UFC/mL e 107 UFC/mL.
Assim, especificamente para a molécula 21, optou-se por realizar uma
contagem no biofilme tratado e seu controle; a fim de realizar uma comparação para
melhor quantificar a redução da viabilidade celular. Os resultados mostraram
redução de 1 log, ou seja; o controle apresentou 3,2 x 107 UFC/mL e o biofilme
tratado com a molécula 21 apresentou 2,6 x 106 UFC/mL.
0 5 10 15 20 25
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
DO
(61
0n
m)
t(h)
2000uM
1000uM
500uM
250uM
125uM
ControleDMSO
62
Tabela 7 - Efeito da concentração das moléculas 12 e 21 na remoção de biofilme de S. mutans.
Concentração (μM) Molécula 12
Redução (%)
Molécula 21
Redução (%)
2000 62,7 47,5
1000 49,4 41,6
500 48,0 22,7
250 41,5 25,6
125 16,8 23,7
62,5 4,7 17,0
31,2 5,1 4,0
15,6 5,7 -
7,8 2,9 -
3,9 0,7 -
Na Tabela 6 é mostrado o resumo do desempenho da molécula 15 na
formação do biofilme de S. mutans. Como evidenciado, a molécula 15 mostrou bom
resultado e dependência da concentração assim, ela foi selecionada para a
continuidade do trabalho.
Para a remoção do biofilme de S. mutans, os resultados obtidos variando a
concentração das moléculas 12 e 21 estão resumidos na Tabela 7. Obteve-se bom
resultado variando a concentração, confirmando os dados obtidos na triagem inicial.
Assim, foram também selecionadas para dar continuidade aos próximos testes.
5.2.3 Considerações sobre o efeito da concentração das moléculas no biofilme
Até o momento, com as moléculas 11 para P. aeruginosa e 21 para S.
mutans; a redução da biomassa parece estar acompanhada de interferência na
viabilidade celular, como observado na Figura 14 e Figura 23 respectivamente.
Semelhantemente, CHOI & LEE (2012) evidenciaram o efeito antibiofilme de um
peptídeo chamado Pleurocidina, extraído da pele de peixes do gênero Pleuronectes
com conhecida atividade antimicrobiana. Os autores verificaram também a
existência de sinergismo entre o antibiótico ampicilina e a Pleurocidina frente a
várias bactérias como E. coli, S. aureus, P. acnes, P. aeruginosa e E. coli O157: H7.
63
Através da técnica de citometria de fluxo, os autores mostraram que quando os
compostos são usados em conjunto, aumentam a quantidade de radical hidroxila
formado; o qual é conhecido por ser danoso à membrana celular dos
microrganismos causando stress oxidativo. Assim, os danos aos microrganismos
prejudicam a produção de MPE e consequentemente resultam em prejuízo à
formação do biofilme.
A molécula 15 parece inibir a produção de MPE por S. mutans.
KUNTHALERT et al (2014) também obtiveram um resultado semelhante, porém
utilizando uma chalcona sintética chamada 3-hydroxichalcona (Figura 19) para inibir
a formação de biofilme de Haemophilus influenzae. Através da uma curva de
crescimento, os autores verificaram que a chalcona não causava efeito sobre a
viabilidade celular, mas reduzia a formação de biofilme, evidenciada através da
técnica de cristal violeta e por MEV. Assim, os autores sugeriram que a 3-
hidroxichalcona afetava a expressão de algum fator de virulência do microrganismo.
Através da comparação de vários análogos com diferentes substituintes, os autores
concluíram que uma hidroxila na posição 3 do anel B da chalcona foi crucial para a
atividade antibiofilme demonstrada.
A molécula 12 também parece não influenciar a viabilidade celular de S.
mutans como mostra a Figura 21; sugerindo a hipótese de que a molécula penetra
no biofilme pré-formado e desestabiliza sua arquitetura. Além disso, o efeito das
moléculas selecionadas para a próxima fase demonstra ser concentração-
dependente. Assim, seria uma boa estratégia a utilização das moléculas em
conjunto com um antibiótico; já que o combate ao biofilme atuaria em duas frentes
distintas: o antibiótico agindo na morte celular e as moléculas na sua capacidade de
prejudicar o estabelecimento de biofilmes e também a remoção de biofilmes já
estabelecidos.
5.3 Atividade anti-adesiva do poliestireno tratado com as chalconas e seus
derivados
Inicialmente foi feita uma cinética para se chegar ao tempo adequado de
contato entre a célula e o poliestireno, mostrada na Figura 23. Como já nas
primeiras 2 horas houve células aderidas, esse foi o tempo de contato escolhido
para os testes. Ainda, para garantir que haveria células viáveis, após 2 horas de
64
contato foi realizada uma contagem para se certificar da presença de células viáveis
aderidas ao poliestireno. A contagem mostrou uma concentração de 4,9 x 107
UFC/mL para P. aeruginosa e 1,2 x 10 107 UFC/mL para S. mutans.
Figura 23 - Cinética de adesão para P. aeruginosa e S. mutans em poliestireno.
A curva obtida evidencia a diferença de adesão variando-se o tempo de
contato. O tempo de 2 h foi também utilizado por outros autores visando estudo de
atividade anti-adesiva para P. aeruginosa (ZERAIK & NITSCHKE, 2012).
A atividade anti-adesiva das moléculas foi avaliada, sendo que nenhuma das
21 moléculas testadas mostrou atividade. Sabe-se que bactérias como P.
aeruginosa exibem preferencia em aderir à superfícies hidrofóbicas como
poliestireno em comparação à superfícies mais hidrofílicas como o vidro (ZAMEER
et al, 2012).
A adesão inicial é muito importante no processo de formação do
biofilme e está dividida em dois processos: adesão reversível e adesão irreversível.
Na adesão reversível o microrganismo pode ser facilmente removido (KUMAR;
ANAND, 1998). A aproximação nessa fase ocorre a distâncias um pouco maiores
que 50 nm e nela atuam apenas forças fracas de interação entre a célula e a
superfície, como forças de Van der Waals e interações eletrostáticas, ou seja; são
interações de longo alcance. Já na adesão irreversível, a aproximação ocorre à
distâncias de 20 nm, onde ocorrem também interações de curto alcance como
2 3 4 5 6
0.30
0.35
0.40
0.45
0.50
0.55
DO
(63
0n
m)
tempo (h)
Paeruginosa
Smutans
65
ligações de hidrogênio, interações hidrofóbicas, forças dipolo-dipolo, ligações iônicas
e covalentes (PALMER; FLINT; BROOKS, 2007; DE ARAUJO; FREIRE; NITSCHKE,
2013). Assim, as propriedades físico-químicas da superfície celular do
microrganismo e da superfície do material são muito importantes nesta etapa; como
também a disponibilidade de nutrientes (HOOD; ZOTTOLA, 1995).
Para explicar a ausência de ação anti-adesiva procedeu-se o ensaios de
hidrofobicidade da superfície do poliestireno e dos biofilmes; além do estudo das
características físico-químicas da superfície celular.
5.4 Determinação da hidrofobicidade do biofilme e do poliestireno tratado com
as chalconas e seus derivados
Placas de poliestireno como as mostradas abaixo na Figura 24 foram
utilizadas para as medidas de ângulo de contato.
Figura 24 - Placa de poliestireno utilizada nos ensaios do ângulo de contato.
Para P. aeruginosa as moléculas escolhidas para continuidade dos estudos
foram a 10 e a 11. Já para S. mutans, foram as moléculas 12, 15 e 21. Assim
medidas do ângulo de contato foram realizadas em placas de poliestireno sem
tratamento e placas também tratadas com as moléculas selecionadas. Também
foram feitas medidas em placas contendo biofilmes sem tratamento; de placas
contendo biofilme formado na presença das moléculas (formação) e placas contendo
biofilme tratado (remoção). Os dados do ângulo de contato estão dispostos na
Tabela 8.
66
Tabela 8 - Ângulo de contato das diversas superfícies tratadas com as moléculas
Superfície Ângulo de contato em graus
Poliestireno 84,98 ± 0,08
Biofilme de S. mutans em poliestireno < 10
Biofilme de P. aeruginosa em poliestireno < 10
Poliestireno tratado com molécula 10 38,73 ± 0,13
Poliestireno tratado com molécula 11 57,52 ± 0,05
Poliestireno tratado com molécula 15 61,49 ± 0,13
Poliestireno tratado com molécula 12 64,2 ± 0,11
Poliestireno tratado com molécula 21 66,75 ± 0,10
Biofilme de P. aeruginosa formado com molécula 11 < 10
Biofilme de P. aeruginosa tratado com molécula 10 < 10
Biofilme de S. mutans tratado com molécula 21 < 10
Biofilme de S. mutans tratado com molécula 12 <10
Biofilme de S. mutans formado com molécula 15 < 10
Segundo VOGLER (1998), medidas de ângulo de contato entre água e
superfície são consideradas hidrofílicas se esse ângulo for menor que 65° e
hidrofóbicas se for maior que 65°. Como se pode observar nos dados obtidos, todos
os biofilmes; tanto o controle como os biofilmes formados e tratados com as
respectivas moléculas; são muito hidrofílicos. Isso é evidenciado pelo ângulo de
contato menor que 10° em todos eles. Sendo assim, evidencia-se que a presença
das moléculas utilizadas não alterou a característica dos biofilmes em relação à sua
hidrofobicidade.
Já para a superfície do poliestireno, inicialmente pode-se notar que sua
característica é hidrofóbica, com ângulo de contato superior a 65°. Entretanto, todas
as placas tratadas com as moléculas mostraram redução de sua hidrofobicidade,
algumas inclusive mostrando ângulo de contato abaixo dos 65°; permitindo serem
67
caracterizados como superfície hidrofílica, ou seja, a presença das moléculas
modificou a característica do material.
Mesmo que a hidrofobicidade tenha sido reduzida com o tratamento prévio;
uma hipótese é que o condicionamento com as moléculas atrasou a adesão
reversível das moléculas, mas não impediu que ela ocorresse. Assim é possível que,
mesmo que com dificuldade; os microrganismos testados conseguiram chegar à
fase de adesão irreversível.
Sabe-se também que as chalconas e seus derivados são em sua maioria
hidrofóbicas, apesar da possibilidade de inserção de grupos hidrofílicos nas
moléculas. Assim, o revestimento do poliestireno com esses compostos pode não ter
modificado suficientemente o caráter hidrofóbico da superfície para que impedisse a
adesão.
O tratamento da superfície com as moléculas não impediu a adesão inicial
das células. Porém, sabe-se que após a adesão irreversível, a capacidade de
formação do biofilme depende do microrganismo produzir EPS. O EPS possui
polímeros adesivos; e provavelmente a interação entre esses polímeros adesivos e
a superfície tenha sido prejudicada pelo tratamento com as moléculas; mas não
impediu por completo o estabelecimento do biofilme.
Segundo, MAYER et al (1999), algumas das principais forças físico-químicas
de coesão que podem conectar as cadeias poliméricas da matriz do biofilme são:
interações eletrostáticas de cadeias poliméricas de cargas opostas, interações
eletrostáticas entre contra-íons ligados às cadeias poliméricas, entrelaçamento físico
dos polímeros, ligações covalentes e ligações de hidrogênio. Ainda, segundo CHEN
& SSTEWART (2002) essas forças são muito importantes para o desenvolvimento
de estratégias de ação antibiofilme, principalmente quando o objetivo é destruir o
biofilme sem interferir na viabilidade celular.
Nesse sentido, ALVES et al (2012) investigaram 4 substâncias naturais:
farnesol, xilitol, lactoferrina e ácido salicílico. No estudo, evidenciaram que uma
combinação específica das substâncias foi eficaz em remover biofilmes de E.
faecalis e S. epidermidis.
68
Então uma hipótese é que o tratamento do poliestireno com as moléculas não
impede a adesão celular inicial, mas os ensaios que utilizam chalconas na formação
do biofilme podem dificultar a formação da MPE. Na remoção de biofilmes a
hipótese é a mesma: as chalconas penetram no biofilme já estabelecido e perturbam
sua estrutura; tornando-os mais “frouxos” e consequentemente fazendo com que se
desintegrem parcialmente.
5.5 Determinação da hidrofobicidade celular
O teste MATS é baseado na comparação entre a afinidade da célula
microbiana por um solvente polar e a afinidade por um solvente apolar. Nesse teste,
a afinidade celular do microrganismo é considerada a somatória entre interações
eletrostáticas, interações ácido-base de Lewis e interações de Van der Waals
(PALMER; FLINT; BROOKS, 2007). Assim, podem-se obter as propriedades
hidrofóbicas e ácido-base da superfície celular dos microrganismos utilizados.
Se a afinidade pelo solvente aceptor de elétrons for maior que pelo solvente
apolar, a superfície apresenta características básicas. Caso a afinidade seja maior
pelo solvente doador de elétrons que pelo solvente apolar, então a superfície
apresenta características ácidas. Além disso, quanto maior for a afinidade da célula
pelo solvente apolar, maior será a hidrofobicidade de sua superfície
(PROKOPOVICH; PERNI, 2009). No caso do presente trabalho, a comparação foi
realizada entre os pares acetato de etila e decano; e clorofórmio e hexadecano. Os
dados obtidos são mostrados na Tabela 9.
Tabela 9 - Teste de adesão microbiana à solventes.
Acetato de etila
(%)
Clorofórmio
(%)
Hexadecano
(%)
Decano
(%)
P. aeruginosa 11,4 ± 0,03 69,7 ± 0,01 16,1 ± 0,02 30,1 ± 0,06
S. mutans 13,6 ± 0,03 85,7 ± 0,002 96,8 ± 0,005 93,3 ± 0,005
A bactéria P. aeruginosa apresentou maior afinidade pelo clorofórmio do que
pelo hexadecano, sugerindo que sua superfície celular tem predominância de
caráter básico, ou seja; o predomínio de cargas negativas. Também demonstrou
baixa afinidade pelo acetato de etila ou seja, fraco caráter ácido. Além disso, é
69
possível observar baixa interação com os solventes apolares; exibindo fraca
hidrofobicidade.
Já a bactéria S. mutans, apresentou alta afinidade pelo clorofórmio, sugerindo
que sua superfície celular tem predominância de cargas negativas. Também
demonstrou alta afinidade pelos solventes apolares, permitindo serem
caracterizadas como fortemente hidrofóbicas.
Considerando que o tratamento com as moléculas reduziu a hidrofobicidade
do material (Tabela 8) mas não impediu a adesão das bactérias, pode-se inferir que
as características superficiais das células (carga negativa e caráter hidrofóbico)
foram suficientes para permitir a aproximação e a adesão ao material tratado.
Entretanto a redução da hidrofobicidade pode interferir nas interações hidrofóbicas,
que são importantes na interação célula-superfície e assim retardar o
estabelecimento do biofilme. KWIECINSKI et al (2016) mostraram que o tratamento
da superfície de poliestireno com plasminogênio tecidual resultou no atraso do
estabelecimento de biofilme de S. aureus por até 32 horas.
A atividade anti-biofilme observada neste trabalho não foi associada
diretamente à ação anti-adesiva, mas pode estar também relacionada ao
retardardamento da adesão celular e consequente redução da biomassa.
5.6 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
Com o intuito de observar como as moléculas utilizadas interferiram na
estrutura física do biofilme de S. mutans e P. aeruginosa, foi utilizada a técnica de
MEV dos biofilmes formados e tratados com as moléculas selecionadas assim como
também dos seus respectivos controles. Para esta técnica, os biofilmes foram
formados em placas de poliestireno (10 mm x 10 mm) como mostrado na Figura 25.
70
Figura 25 - Placa de poliestireno utilizada na MEV.
5.6.1 Microscopia de P. aeruginosa
Abaixo na Figura 26, é mostrada a microscopia do biofilme de P. aeruginosa
formado na presença da molécula 11.
Figura 26 - MEV do biofilme de P. aeruginosa formado na ausência (a) e na presença da molécula 11 na concentração de 500 µM (b). Aumento de 10.000X.
Nota-se que o biofilme formado em presença da molécula 11 (b) possui
menor quantidade de MPE que o biofilme controle (a); consequentemente há
também menor número de células aderidas. Estes fatos justificam os resultados
obtidos na triagem inicial, onde foi evidenciada uma redução na biomassa de 48,9%
e uma redução na viabilidade de 60,2%. Assim, o observado na microscopia sugere
(a) (b)
71
que a molécula 11 interfere nos mecanismos de estabelecimento do biofilme de P.
aeruginosa, provavelmente interferindo na viabilidade celular e consequente
produção de MPE.
Figura 27 - MEV do biofilme pré-formado de P. aeruginosa sem tratamento (a) e após tratamento com a molécula 10 na concentração de 500 µM (b). Aumento de 10.000X.
Na Figura 27 também se evidencia uma redução significativa do MPE,
tornando o biofilme mais fino e também com cavidades, ou seja; a molécula 10 de
fato promoveu a remoção física de parte do biofilme. A microscopia também
confirma os resultados da triagem inicial, onde a molécula 10 removeu 53,5% da
biomassa em relação ao controle.
5.6.2 Microscopia de S. mutans
Abaixo na Figura 28 é mostrada a microscopia eletrônica do biofilme de S.
mutans formado na presença da molécula 15.
(a) (b)
72
Figura 28 - MEV do biofilme de S. mutans formado na ausência (a) e na presença da molécula 15 na concentração de 500 µM (b). Aumento de 10.000X.
Observa-se no controle (a) um biofilme espesso que foi inibido
significativamente na presença da molécula 15 (b). Neste caso não é clara a
presença de MPE se comparado ao ensaio de P. aeruginosa (Figura 26 e 27). A
molécula 15 reduziu a biomassa total em 67,4% nos ensaios de triagem o que pode
ser evidenciado na Figura 28.
A atividade da molécula 15 pode estar relacionada à inibição tanto do
crescimento como na expressão de proteínas relacionadas à formação de biofilmes
(BOŽIĆ et al., 2014). Como não foi evidenciada ação anti-adesiva para nenhuma
molécula testada, é possível que ocorra também um retardamento na maturação do
biofilme resultando em menor quantidade de MPE.
(a) (b)
73
Figura 29 - MEV do biofilme pré-formado de S. mutans sem tratamento (a) e após tratamento com a molécula 12 na concentração de 500 µM (b). Aumento de 2000X(acima) e aumento de 10000X(abaixo).
O perfil mostrado na Figura 29 corrobora com o evidenciado na triagem inicial,
onde a molécula 12 reduziu a biomassa total em 42,5% no protocolo de remoção. É
clara a redução de MPE e consequentemente das células viáveis. A redução de
viabilidade na triagem inicial foi de 58,4%.
Abaixo na Figura 30 é mostrada a MEV do controle de remoção e seu
tratamento utilizando a molécula 21. Para a molécula 21, vale lembrar que a triagem
inicial mostrou um perfil curioso: uma redução da biomassa total de apenas 26,4%,
mas uma redução de viabilidade celular de 91,6%.
(a) (b)
74
Figura 30 - Imagens de MEV de células do biofilme de S. mutans estabelecido em superfície de poliestireno. a) Controle com aumento de 2000X (acima) e 10000X (abaixo). b) biofilme após tratamento com molécula 21 na concentração de 500 µM com aumento de 2000X (acima) e 10000X (abaixo). c) células de S. mutans apresentando alterações morfológicas indicadas pelas setas em vermelho (aumento 80.000X).
(a) (b)
(c)
75
Na Figura 30 observa-se também redução de biomassa total, entretanto a
molécula 21 mostrou na triagem inicial grande redução na viabilidade celular. Assim,
decidiu-se investigar as células de S. mutans para verificar possíveis danos que a
molécula 21 possa ter causado à estrutura celular do microrganismo. Para isso,
observaram-se as células em maior aumento.
Como se pode ver, a membrana celular do microrganismo parece não estar
totalmente íntegra. Esse fato pode ser mais bem constatado na Figura 30 (c).
Em um estudo recente, WALLOCK-RICHARDS et al. (2015) mostraram que a
formação de biofilme de S. mutans foi inibida utilizando uma chalcona natural. A
molécula utilizada no estudo é mostrada abaixo na Figura 31.
Figura 31 - Molécula utilizada por WALLOCK-RICHARDS et al. (2015) para inibição da formação de biofilme de S. mutans.
FONTE: WALLOCK-RICHARDS et al. (2015)
Neste estudo, os autores obtiveram bons dados referentes à redução da
biomassa celular do biofilme de S. mutans utilizando a chalcona em questão.
Posteriormente, dados de espectrometria de massa evidenciaram uma interação da
chalcona com a enzima Sortase A, a qual era inibida por um aduto de Michael
formado entre uma região da chalcona e uma região da enzima.
No caso da molécula 21, há grande semelhança estrutural com a trans-
chalcona (Figura 32). As imagens obtidas na MEV sugerem fortemente que a
diminuição da biomassa se deve à danos na parede celular do microrganismo, ou
seja, é possível que ocorra mecanismo semelhante ao descrito por WALLOCK-
RICHARDS et al. (2015).
76
Figura 32 - Estrutura da molécula 21.
5.7 Microscopia Confocal
A microscopia confocal foi realizada com o intuito de ilustrar a ação das
moléculas em termos de arquitetura do biofilme e viabilidade celular. Assim, foi
possível principalmente observar como o tratamento com as moléculas na
concentração de 500 µM afetou a viabilidade celular presente no biofilme. Também
foi possível evidenciar as diferenças entre a espessura do biofilme.
5.7.1 Microscopia Confocal para P. aeruginosa
A Figura 33 evidencia e confirma o que foi observado na triagem inicial e na
MEV. Além do fato de haver mais células mortas no biofilme formado na presença
da molécula 11, esse biofilme também apresentou menor espessura em relação ao
controle; o que pode ser visto na Tabela 10.
77
Figura 33 - Microscopia confocal do biofilme de P. aeruginosa formado na
ausência (a) e na presença da molécula 11 na concentração de 500 µM (b).
Na Figura 34 também se pode observar a presença de mais células mortas
em relação ao controle. Como a principal ação da molécula 10 foi a de remover o
biofilme, também se evidencia aqui um perfil menos espesso que o controle. A
espessura pode ser comparada abaixo na Tabela 10.
Figura 34 - Microscopia confocal do biofilme de P. aeruginosa estabelecido em superfície de poliestireno. a) Controle e b) biofilme após tratamento com molécula 10 na concentração de 500 µM.
(a) (b)
(a) (b)
78
Tabela 10 - Espessura dos biofilmes de P. aeruginosa.
Biofilme de P. aeruginosa Espessura média (µm)
Controle de formação 45,7 Formação na presença da molécula 11 33,7
Controle de remoção 54 Tratamento com a molécula 10 42
5.7.2 Microscopia Confocal para S. mutans
A microscopia confocal observada na Figura 35 também confirma o que foi
obtido com a molécula 15 para a formação do biofilme de S. mutans. Há menor
quantidade de MPE no biofilme formado com a molécula 15 (b) do que seu controle
sem tratamento (a). Os dados de espessura estão na Tabela 11.
Figura 35 - Microscopia confocal do biofilme de S. mutans formado na ausência (a) e na presença da molécula 15 na concentração de 500 µM (b).
Na Figura 36 é mostrado o controle sem tratamento (a), o biofilme tratado
com a molécula 12(b) e o biofilme tratado com a molécula 21 (c). O biofilme tratado
com a molécula 12 mostra cavidades presentes, o que resulta num biofilme menos
denso e com menor número de células viáveis; o que mais uma vez justifica os
resultados obtidos na triagem inicial e na MEV. Já o biofilme tratado com a molécula
21 mostra um perfil onde há um número grande células mortas, o que também foi
observado na triagem inicial e posteriormente na MEV; que mostrou danos à
integridade celular do microrganismo.
(a) (b)
79
Figura 36 - Microscopia confocal do biofilme de S. mutans estabelecido em superfície de poliestireno. a) Controle e b) biofilme após tratamento com molécula 12 na concentração de 500 µM e c) biofilme após tratamento com a molécula 21 na concentração de 500 µM
Tabela 11 - Espessura dos biofilmes de S. mutans.
Biofilme de S. mutans Espessura média (µm)
Controle de formação 60,4 Formação na presença da molécula 15 39,5
Controle de remoção 57 Tratamento com a molécula 12 45,2 Tratamento com a molécula 21 44,1
(a) (b)
(c)
80
5.8 Principais resultados
Os biofilmes formados por P. aeruginosa foram inibidos pela presença
da molécula 11, resultando na redução de 48,8% de biomassa e 60,2%
de viabilidade. Em concentrações superiores, a redução da biomassa
chegou a 70,9%.
No tratamento de biofilmes pré-estabelecidos, a molécula 10 mostrou
redução de 53,5% de biomassa do biofilme de P. aeruginosa.
Na formação do biofilme de S. mutans, a presença da molécula 15
reduziu a biomassa em 67,4%. Em concentrações superiores essa
redução chegou a 95,1%.
Em biofilmes pré-estabelecidos de S. mutans, o tratamento com a
molécula 12 reduziu a biomassa celular em 42,5%, e a viabilidade
celular em 58,4%. Em maiores concentrações a redução da biomassa
foi de 62,7%.
A molécula 21, no tratamento de biofilmes pré-estabelecidos, mostrou
redução de 26,4% da biomassa e 91,6% da viabilidade de S. mutans.
Os antibióticos removeram menor quantidade de biofilmes
comparativamente às moléculas testadas.
As moléculas não apresentaram CIM frente às linhagens de bactérias
até a concentração máxima de 2000 μM
As chalconas não apresentaram atividade anti-adesiva.
O tratamento de poliestireno com as chalconas resultou na redução da
hidrofobicidade do material.
A superfície celular de S. mutans mostrou a presença de cargas
negativas e forte caráter hidrofóbico. Já P. aeruginosa mostrou também
a presença de cargas negativas, porém baixa hidrofobicidade.
81
6 CONCLUSÕES
O trabalho realizado permitiu selecionar chalconas sintéticas com potencial
para o controle e erradicação de biofilmes de P. aeruginosa e S. mutans. A partir
dos resultados obtidos, será possível desenvolver novas estratégias de tratamento
visando futuro controle de biofilmes.
82
7 PERSPECTIVAS FUTURAS
As moléculas selecionadas podem ser testadas em conjunto para
verificar a presença de sinergismo.
É necessário testar a citotoxicidade das moléculas selecionadas para
assegurar sua futura aplicação.
Avaliar a combinação das moléculas com antibióticos já conhecidos
como estratégia de controle dos biofilmes, atuando assim em duas
frentes distintas.
Combinar as moléculas com tensoativos, como os biossurfatantes.
A partir das moléculas selecionadas, podem-se variar os grupos
funcionais presentes em diferentes posições dos anéis; permitindo
estudo mais profundo da relação estrutura-atividade.
Os mesmo testes podem ser realizados em biofilmes mais maduros.
83
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