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FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA – TRABALHO FINAL INÊS GARRIDO COSTA MARCADORES DE RESERVA OVÁRICA: UTILIDADE CLÍNICA NAS TÉCNICAS DE PROCRIAÇÃO MEDICAMENTE ASSISTIDA ARTIGO DE REVISÃO ÁREA CIENTÍFICA DE GINECOLOGIA Trabalho realizado sob a orientação de: PROFESSORA DOUTORA MARIA MARGARIDA DE OLIVEIRA FIGUEIREDO DIAS DOUTORA VERA LÚCIA NOBRE BARROSO RAMOS ABRIL, 2018

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FACULDADE  DE  MEDICINA  DA  UNIVERSIDADE  DE  COIMBRA  

MESTRADO  INTEGRADO  EM  MEDICINA  –  TRABALHO  FINAL  

 

 

INÊS  GARRIDO  COSTA  

 

 

 

MARCADORES  DE  RESERVA  OVÁRICA:  UTILIDADE  CLÍNICA  NAS  

TÉCNICAS  DE  PROCRIAÇÃO  MEDICAMENTE  ASSISTIDA    

 

ARTIGO  DE  REVISÃO  

 

ÁREA  CIENTÍFICA  DE  GINECOLOGIA  

 

 

 

 

 

Trabalho  realizado  sob  a  orientação  de:  

PROFESSORA  DOUTORA  MARIA  MARGARIDA  DE  OLIVEIRA  FIGUEIREDO  DIAS  

DOUTORA  VERA  LÚCIA  NOBRE  BARROSO  RAMOS  

 

 

ABRIL,  2018  

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TRABALHO FINAL DO 6º ANO MÉDICO

MARCADORES DE RESERVA OVÁRICA: UTILIDADE CLÍNICA NAS TÉCNICAS DE

PROCRIAÇÃO MEDICAMENTE ASSISTIDA

Aluna: Inês Garrido Costa

Afiliação: Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra, Portugal

Endereço de Correio Eletrónico: [email protected]

Abril, 2018

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Índice

1. Lista de Abreviaturas………………………………………….………………………..4

2. Resumo…………………………………………………………………………………5

3. Abstract…………………………………………………………………………………7

4. Introdução………………………………………………………………………………9

5. Materiais e Métodos…………………………………………………………………...10

6. Resultados……………………………………………………………………………..11

6.1. Marcadores de Reserva Ovárica……………………………………………......11

6.2. Individualização das Técnicas de PMA………………………………………...25

7. Discussão e Conclusão………………………………………………………………...29

8. Agradecimentos…………………………………………………………………….…33

9. Referências Bibliográficas…………………………………………………………….34

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1. Lista de Abreviaturas

AFC Antral Follicle Count

AMH Anti-Müllerian Hormone

ART Assisted Reproductive Techniques

CFA Contagem de Folículos Antrais

FIV Fertilização in vitro

FSH Hormona de Estimulação Folicular

GnRH Gonadotrophin-Releasing Hormone

HAM Hormona Anti-Mülleriana

ICSI Microinjeção intracitoplasmática de espermatozoide

LH Hormona Luteinizante

PMA Procriação Medicamente Assistida

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2. Resumo

Objetivos: Estabelecer qual a utilidade clínica dos marcadores de reserva ovárica nas

técnicas de PMA, quer como meios de aconselhamento pré-tratamento, quer como preditores

da resposta ovárica à estimulação, meios de individualização das diferentes estratégias

terapêuticas e preditores do sucesso das técnicas.

Materiais e Métodos: Realizou-se uma pesquisa na base de dados PubMed de artigos

publicados em inglês entre 1 de janeiro de 2014 e 31 de dezembro de 2017. Nesta revisão

foram consultados documentos de consenso nacional e internacional de sociedades científicas.

Foram ainda incluídos outros artigos considerados de relevância.

Resultados: Existem diversos marcadores associados à determinação da reserva ovárica

como a idade, CFA, FSH, HAM e Inibina B, entre outros. A idade, como fator individual,

representa o marcador com a maior influência sobre a probabilidade de gestação e deve ser o

primeiro parâmetro a ser considerado nas técnicas de PMA. A avaliação da CFA é

recomendada, mas não deve ser utilizada isoladamente nas técnicas de PMA. A HAM é

atualmente reconhecida como um importante marcador da reserva ovárica nas técnicas de

PMA, sendo um ótimo preditor do número de ovócitos retirados e do resultado da

estimulação, não conseguindo, contudo, prever os resultados de implantação e gravidez após

PMA. A determinação da Inibina B não está recomendada e não oferece nenhuma mais-valia

quando comparada com outros marcadores. O valor plasmático da FSH na fase folicular

precoce está associado a uma alta sensibilidade na previsão de má resposta à estimulação

ovárica, porém não está associada à previsão de probabilidade de gestação ou à previsão de

complicações das técnicas de PMA.

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A combinação de vários marcadores como a idade, HAM, CFA e FSH permite uma avaliação

mais precisa da reserva ovárica e da probabilidade da resposta à estimulação e restantes

parâmetros de sucesso destas técnicas, ao invés da utilização isolada de cada marcador,

podendo inclusive possibilitar a elaboração e aplicação de nomogramas individualizados na

prática clínica que otimizem as técnicas de PMA.

Conclusão: Atualmente os marcadores preferenciais na determinação da reserva ovárica são a

CFA e os valores plasmáticos de HAM.

Estes marcadores, especialmente os valores plasmáticos de HAM e CFA podem, num futuro

próximo, permitir a elaboração de protocolos individualizados que possibilitem maximizar o

sucesso e minimizar os efeitos indesejados das técnicas de PMA. Existe, contudo, necessidade

de investigação adicional, elaboração e validação de protocolos individualizados com base na

determinação da reserva ovárica para futura aplicação na prática clínica.

Palavras-Chave: Marcadores; Reserva Ovárica; Técnicas de Procriação Medicamente

Assistida; Fertilização In Vitro.

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3. Abstract

Objectives: To establish the clinical utility of ovarian reserve markers in Assisted

Reproductive Techniques (ART), for instance as means of counselling before ART, predictors

of ovarian response to controlled ovarian stimulation, individualization of different therapies

and predictors of success of ART.

Materials and Methods: A literature review between January 2014 and December 2017 was

carried out on the PubMed database. National and international scientific societies guidelines

were analysed for this review. Other relevant articles were also included.

Results: There are several markers associated with the determination of the ovarian reserve

such as age, Antral Follicles Count (AFC), FSH, Anti-Müllerian Hormone (AMH) and

Inhibin B, among others. Age, as an individual factor, represents the marker with the greatest

influence on the gestation rates, therefore, it should be the first parameter to be considered in

ART techniques. The evaluation of the AFC is recommended although it should not be used

by itself. AMH is currently recognized as a significant ovarian reserve marker in ART, being

considered an important predictor of the number of oocytes retrieved and of stimulation

response. On the other hand, it can not predict results such as embryo yield and pregnancy

rates after PMA. The determination of Inhibin B is not recommended and offers no additional

value when compared with other markers. The plasma value of FSH in the early follicular

phase is associated with a high sensitivity in predicting poor response to ovarian stimulation

even though it is not associated with the prediction of pregnancy rates or complications from

ART techniques.

The combination of several markers such as age, AMH, AFC and FSH allows a more accurate

evaluation of ovarian reserve, prediction of stimulation response and other success parameters

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of these techniques, rather than the isolated use of each marker. It may even enable the

elaboration and application of individualized nomograms in the clinical practice that could

optimize ART techniques.

Conclusions: Nowadays AFC and AMH are the preferred markers used to access ovarian

reserve.

Ovarian reserve markers, in particular the determination of AFC and AMH, are able to allow

the elaboration of individualized protocols in the future that can maximise the success and

minimise iatrogenic risks associated to ART techniques. Nevertheless, additional

investigation is required to the elaboration and validation of individualized protocols based on

assessment of ovarian reserve that, possible, could be applied in clinical practice.

Key-Words: Ovarian reserve; Biomarkers; Assisted Reproductive Techniques; In Vitro

Fertilization.

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4. Introdução

Atualmente assistimos a uma tendência de gravidez em idades cada vez mais tardias,

existindo um aumento do número de casos de subfertilidade, assim como, do recurso às

técnicas de procriação medicamente assistida (PMA).1

A reserva ovárica diz respeito à qualidade e quantidade de ovócitos, apenas

demonstrável histologicamente, traduzindo o pool de folículos primordiais suscetível de

recrutamento.1

Assim, e uma vez que a resposta ovárica às técnicas de PMA depende da reserva

ovárica, diversos investigadores procuraram uma possível correlação entre diferentes

marcadores usados na sua avaliação e no prognóstico de pacientes que recorreram a estas

técnicas.2

A utilidade clínica destes marcadores nas técnicas de PMA consiste em meios de

aconselhamento pré-tratamento; preditores da resposta ovárica à estimulação; meios de

individualização das diferentes estratégias terapêuticas, nomeadamente, na escolha da dose

máxima ideal de gonadotrofinas para cada mulher baseada na predição da sua resposta

ovárica; preditores do sucesso das técnicas e da redução de cancelamentos devido a uma má

resposta ovárica à estimulação.2–4

Tendo em conta os custos dispendiosos das técnicas de PMA e o facto de recorrerem a

métodos invasivos, a identificação de mulheres cuja previsão de resposta ovárica à

estimulação é insuficiente, particularmente através dos marcadores de reserva ovárica, é uma

mais-valia na medida em que pode implicar a não realização da técnica caso não exista

probabilidade de gestação, evitando a realização de múltiplos ciclos de estimulação com os

efeitos iatrogénicos e carga emocional que os acompanha.4

Uma vez que a individualização das técnicas de PMA é de extrema importância,

especialmente na fertilização in vitro (FIV), a predição da resposta ovárica deve basear-se nos

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marcadores mais sensíveis desta resposta de forma a oferecer a cada mulher o melhor

tratamento para as suas caraterísticas, maximizando o sucesso, diminuindo os riscos

iatrogénicos (como síndrome de hiperestimulação ovárica) e minimizando o risco de

cancelamento.3

Este trabalho tem como principal objetivo fazer uma revisão da informação contida na

literatura mais recente, procurando estabelecer qual a utilidade clínica dos marcadores de

reserva ovárica nas técnicas de PMA, quer como meios de aconselhamento pré-tratamento,

quer como preditores da resposta ovárica à estimulação, meios de individualização de

diferentes estratégias terapêuticas e preditores do sucesso das técnicas.

5. Materiais e Métodos

O presente trabalho foi realizado com base na revisão da literatura existente respeitante

aos marcadores de reserva ovárica e a sua utilização nas técnicas de PMA. A pesquisa foi

realizada no Pubmed utilizando os termos MeSH: ovarian reserve; biomarkers; assisted

reprodutive techniques e fertilization in vitro.

Foram selecionados os artigos de revisão, meta-análises e artigos originais publicados

em inglês entre 1 de janeiro de 2014 e 31 de dezembro de 2017. Foi realizada a leitura dos

títulos e resumos dos artigos e selecionados os artigos com maior relevância. Foram ainda

analisadas as referências dos artigos de revisão selecionados nesta pesquisa, tendo sido

incluídos outros artigos considerados relevantes para a presente revisão, sendo que alguns não

se enquadram no período previamente selecionado. Nesta revisão foram ainda consultados

documentos de consenso nacional e internacional de sociedades científicas.

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6. Resultados

6.1 Marcadores de Reserva Ovárica

Idade

As mulheres nascem com um pool de folículos limitado e finito cuja depleção se inicia

ainda na vida intrauterina passando de um pico de 7 milhões de folículos para 1 milhão de

folículos ao nascimento. Esta depleção continua de forma mais lenta durante a menarca até à

menopausa quando apenas algumas centenas de folículos restam em ambos os ovários.5

O declínio da função reprodutiva na mulher, com o avançar da idade e devido à

diminuição da reserva ovárica e da qualidade ovocitária, está bem estabelecido e reflete a

depleção do pool de folículos primordiais nos ovários através da atresia ou recrutamento

prévio à ovulação.6 Alguns autores descrevem o declínio da fertilidade em mulheres com

idade superior a 30 anos que se torna mais evidente quando esta supera os 35 anos.7 Em

mulheres com a mesma reserva ovárica, especialmente no caso de esta estar diminuída, a

idade é um fator protetor, uma vez que estas continuam a ter um bom prognóstico

relativamente às técnicas de PMA.6

Este declínio da função reprodutiva relacionado com a idade é caracterizado por uma

diminuição quer em número de ovócitos quer na diminuição da sua qualidade que se traduz

numa alteração da expressão de marcadores da atividade ovárica levando ao aumento gradual

da FSH e diminuição dos valores plasmáticos da Hormona Anti-Mülleriana (HAM) e da

Inibina B.8

O principal objetivo da avaliação da reserva ovárica é a identificação de mulheres com

uma função reprodutiva diminuída para a sua idade. A idade, como fator individual,

representa o marcador com a maior influência sobre a probabilidade de gestação. Desta forma,

a idade deve ser o primeiro marcador a ser considerado nesta avaliação.1,9,10

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Por outro lado, mulheres da mesma idade podem ter um declínio diferente, estando em

diferentes fases do processo de depleção folicular, levando a um valor limitado do uso deste

parâmetro, pelo menos de forma isolada, na determinação da reposta ovárica à estimulação

nas técnicas de PMA.1

Contagem de Folículos Antrais (CFA)

Quando os folículos antrais do ovário são maiores que 2 mm são extremamente

sensíveis a FSH e por isso são definidos como recrutáveis. Estes podem ser vistos e medidos

com recurso a uma ecografia transvaginal e o número total de folículos entre 2 a 10 mm

representa o valor de CFA.11

Após esta contagem, os folículos são classificados em pequenos

folículos antrais (2,0-6,0 mm), que são independentes das gonadotrofinas apesar de

responderem às gonadotrofinas exógenas, e em grandes folículos antrais (>6 mm) que são

dependentes da ação das gonadotrofinas.1

A grande vantagem de CFA sobre outros parâmetros é a possibilidade de ser

determinada ao mesmo tempo que o médico observa a paciente e desta forma, a sua utilização

como marcador de reserva ovárica vai continuar a ser generalizada na prática clínica.11

Por

outro lado, imagens de pior qualidade, a sua variabilidade inter-operador e baixa

reprodutividade podem afetar a determinação correta do valor de CFA, sendo que este tende a

sobrestimar o verdadeiro número de folículos uma vez que inclui folículos atrésicos não

viáveis.8

A CFA revelou-se um bom marcador da previsão de alguns dos resultados pretendidos

das técnicas de PMA, mostrando uma correlação linear com o número de ovócitos obtidos e

uma correlação com a resposta ovárica à estimulação nomeadamente a nível do n.º de ciclos

cancelados devido a uma má resposta. Quando examinados parâmetros, como a taxa de

gestação, probabilidade de nascimentos ou a qualidade embrionária, a CFA não mostrou

correlação.8

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13

No entanto e surpreendentemente, existe uma ausência de estudos na literatura que

analisem o valor de CFA como uma variável independente na previsão de resultados das

técnicas de PMA.12

Desta forma, de acordo com a American Society for Reproductive Medicine, o uso de

CFA é recomendado na determinação de probabilidade de má resposta à estimulação, mas não

deve ser utilizado isoladamente nas técnicas de PMA.8

Hormona Anti-Mülleriana

A HAM é atualmente reconhecida como um importante marcador da reserva ovárica

nas técnicas de PMA. Sendo mesmo reconhecida como o melhor preditor de reserva folicular,

da resposta ovárica à estimulação e sucesso da técnica de FIV.13

HAM é uma glicoproteína dimérica que pertence à família do tranforming growth

factor (TGF)- β, estando o seu gene localizado no braço curto do cromossoma 9. A sua

produção ocorre exclusivamente nas células da camada granulosa de folículos pré-antrais.

Estas células secretam HAM para o fluído folicular e para a circulação sistémica.7

Assim que os folículos são recrutados para desenvolvimento, existe expressão de HAM

que se mantém enquanto os folículos medem 2 a 8 mm. Após 8 mm, os folículos entram na

fase de seleção para dominância e a sua expressão declina. Assim sendo, HAM tem um

importante papel como regulador do recrutamento folicular dos folículos FSH dependentes.14

A correlação do valor de HAM com o número de folículos em crescimento é suportada

pelos seus níveis elevados em tumores ováricos e em ovários poliquísticos e, por oposição,

pelos seus níveis indetetáveis em mulheres pós-menopáusicas ou com síndrome de Turner

sem tecido gonadal.14

Apesar de existirem estudos que demonstraram diferenças significativas em termos de

função ovárica em diferentes etnias, Olcha et al. em 2016, com uma amostra de 2508

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14

pacientes num estudo retrospetivo, concluiu que os valores de HAM não apresentaram

variações em termos de etnia ou origem continental quando esta é determinada

genotipicamente.15

Em 2014, Lehmann et al. demonstrou que mulheres com idade superior a 35 anos com

valores plasmáticos de HAM <1 ng/ml apresentavam uma taxa de implantação baixa. Desta

forma concluiu que, mulheres com valores plasmáticos de HAM inferiores ao percentil 25

(≤0,46 ng/ml) apresentavam menores taxas de transferência de embriões, de gravidez após

ciclos de FIV e de taxas de criopreservação de embriões.16

Também Lukaszuk et al. em 2014, num estudo envolvendo 603 mulheres sujeitas a

protocolos de estimulação ovárica controlada no âmbito de FIV, reconheceu a HAM como um

parâmetro forte e independente de previsão da probabilidade de nascimento, sendo neste

contexto superior à idade, FSH, concentrações de Inibina B ou de CFA. A taxa de sucesso

revelou-se superior quando os valores plasmáticos de HAM (que foram colhidos nos 3

primeiros dias do ciclo menstrual prévios à estimulação) foram superiores a 2 ng/ml;

significativamente menor quando os valores foram aproximadamente de 1 ng/ml e nulos

quando os valores foram de aproximadamente 0,1 ng/ml.10

Da mesma forma, Reijnders et al. em 2016 tentou determinar a correlação entre o valor

plasmático de HAM e a probabilidade de nascimento após FIV e microinjeção

intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI) em mulheres com reserva ovárica diminuída e

extremamente diminuída através de um estudo retrospetivo. Os valores plasmáticos de HAM

foram determinados previamente aos tratamentos, em mulheres com idade superior a 36 anos

ou com sinais clínicos de reserva ovárica reduzida. A taxa de nascimentos foi

substancialmente superior em mulheres com valores de AMH>0,4 ng/ml em comparação com

mulheres com valores inferiores. Os valores de HAM correlacionaram-se de forma

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15

independente com a taxa de nascimentos em mulheres com reserva ovárica diminuída e assim,

podem ser úteis no aconselhamento prévio às técnicas de PMA.17

Por outro lado, Gomez et al. em 2016 concluiu que em mulheres jovens, com idade

inferior a 36 anos, os valores plasmáticos de HAM não estão correlacionados com a

probabilidade de gravidez e que valores diminuídos de HAM relacionam-se com uma reserva

ovárica diminuída, mas não com a diminuição da qualidade ovocitária necessária para o

sucesso das técnicas reprodutivas.13

Também Xu et al. em 2017 defende com um estudo

retrospetivo que, muito embora o valor plasmático de HAM seja um importante preditor do

número de ovócitos retirados durante o ciclo de estimulação (superior à idade, CFA ou outros

marcadores) e por isso deve ser utilizado na prática clínica; a idade é o único preditor

importante da taxa de gravidez.9

Muito embora os valores de HAM sejam geralmente aceites como bons preditores de

reserva ovárica e muitos estudos correlacionem os seus valores e cut-off com a probabilidade

de sucesso das técnicas de PMA, uma meta-análise e revisão sistemática realizada em 2015

por Tal et al., concluiu que os valores de HAM são fracos preditores dos resultados de

implantação e gravidez após PMA.18

Também em 2017, Zebitay et al., através de um estudo

prospetivo em mulheres com baixa resposta às técnicas de FIV, defendeu que não existe

nenhum marcador específico da infertilidade feminina que consiga prever a probabilidade de

gravidez após técnicas de PMA, especialmente em mulheres com uma normal ou exagerada

resposta à estimulação ovárica. Isto acontece porque estas mulheres não têm valores

plasmáticos de HAM suficientemente baixos que possam afetar a gravidez. No entanto, foi

possível determinar que o uso do valor plasmático de HAM, quando utilizado um cut-off 0,33

ng/mL, conseguiu prever com uma sensibilidade de 96% e uma especificidade de 35% a

probabilidade de transferência de embriões em mulheres com uma fraca resposta (preditor de

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16

má resposta). Assim, é sugerido que outros fatores possam estar envolvidos no desfecho

destas técnicas e o valor de HAM não deva ser utilizado de forma isolada.4

Por outro lado, Styer et al., num estudo prospetivo em 2015, demostrou uma correlação

entre os valores plasmáticos dinâmicos de HAM durante o ciclo de estimulação ovárica

controlada, isto é, a sua variação plasmática em ng/mL por dia durante o protocolo de

estimulação ovárica, e os valores plasmáticos pré-tratamento, com a resposta ovárica, o

desenvolvimento embrionário e gravidez em técnicas de PMA. As pacientes foram divididas

em tercis, no tercil 1 (variação de -1,45 a – 0,25 ng/mL por dia) houve um declínio de grande

amplitude, no tercil 2 (variação de -0,24 – 0,10 ng/mL por dia) um declínio intermédio e no

tercil 3 (-0,09 a + 0,20 ng/mL por dia) verificou-se pouco ou nenhum declínio de variação das

medições plasmáticas de HAM. Mulheres no tercil 1, cujo declínio de variação foi de grande

amplitude, apresentaram resultados mais favoráveis relativamente ao sucesso da técnica

quando comparadas com as restantes, nomeadamente, em termos de gravidez clínica e

bioquímica e taxas de implantação. Sugere-se assim que, devido ao facto dos valores

plasmáticos de HAM considerados como cut-off para prever a resposta ovárica terem uma

sensibilidade e especificidade subótimas, uma investigação dos valores dinâmicos de HAM

seja uma abordagem com maior significado clínico de forma a otimizar os tratamentos.19

A Tabela 1 apresenta um resumo dos principais estudos publicados sobre aplicação do

valor plasmático de HAM nas técnicas de PMA.

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17

Tabela 1. Resumo dos principais estudos publicados sobre aplicação do valor

plasmático de HAM nas técnicas de PMA Estudo Desenho do

estudo

Amostra

(n)

Objetivos Principais conclusões

Lehman

n et al.;

2014 16

Retrospetivo

637

Avaliar o impacto dos

valores de HAM na FIV a

nível das taxas de

implantação e de gestação.

Mulheres com valores plasmáticos de

HAM <0,47 ng/ml devem ser

aconselhadas antes de iniciarem

estimulação ovárica no âmbito de IFV

devido ao seu mau prognóstico.

Lukaszu

k et al.;

2014 10

Artigo

original 603

Avaliar o valor clínico dos

parâmetros: HAM, FSH,

Inibina B e CFA na

previsão de nascimentos.

HAM apresentou uma correção

superior à idade, FSH, concentrações

de Inibina B ou CFA com a

probabilidade de nascimentos.

Reijnde

rs et al.;

2016 17

Retrospetivo

156

Determinar a relação entre

os valores HAM e a taxa

de nascimentos após

FIV/ICSI em mulheres

com reserva ovárica

diminuída.

O valor de HAM está correlacionado

com a taxa de nascimento após

FIV/ICSI em mulheres com reserva

ovárica diminuída.

A taxa de nascimento em mulheres

com HAM > 0,4 ng/ml foi superior à

de mulheres com HAM < 0,4 ng/ml.

Gomez

et al.;

2016 13

Retrospetivo

1287

Determinar o papel dos

valores de HAM no

sucesso das técnicas de

FIV/ICSI.

HAM não prevê probabilidade de

gestação em mulheres jovens.

Mulheres >36 anos, o valor de HAM

pode ser usado como fator prognóstico.

Xu et

al.;

2017 9

Retrospetivo

3100

Determinar qual o

marcador de reserva

ovárica preferencial na

previsão da resposta

ovárica e probabilidade de

gestação na FIV.

HAM revelou-se preferencial na

previsão de número de ovócitos

obtidos durante a estimulação. Superior

à idade CFA e outras hormonas usadas

atualmente.

A idade é o único fator preditor de

gestação clínica.

Tal et

al.;

2015 18

Meta-análise

e revisão

sistemática

5383

Determinar se a HAM é

um fator preditor de

implantação ou gestação

clínica em mulheres

submetidas a PMA.

HAM tem uma associação fraca com as

taxas de implantação e gestação clínica

nas técnicas de PMA, contudo pode ter

alguma utilidade clínica no

aconselhamento de mulheres

submetidas a PMA em particular nas

que apresentem diminuição da reserva

ovárica.

Zebitay

et al.;

2017 4

Prospetivo

304

Avaliar a relação entre os

parâmetros HAM, FSH e

CFA e as taxas de gestação

clínica e transferência de

embriões em mulheres

com uma má resposta à

técnica de FIV.

Valores de HAM ao 3º dia podem

prever transferência de embriões com

uma taxa de sensibilidade de 96% e de

especificidade de 35%. Quartis de

HAM <25% (<0,21 ng/mL) podem

prever os resultados de FIV

particularmente nas más respondedoras

a esta técnica.

Styer et

al.;

2015 19

Prospetivo

113

Avaliar os padrões de

variação dos valores de

HAM durante estimulação

ovárica controlada e se

estes padrões conseguem

prever simultaneamente a

resposta à estimulação e a

probabilidade de gestação

na população submetida a

PMA.

A magnitude do declínio dos valores de

HAM durante estimulação ovárica foi

associado com a reserva ovárica,

número de ovócitos retirados,

progressão embrionária e taxas de

gestação clínica particularmente em

mulheres > 35 anos.

Valores dinâmicos de HAM podem

permitir uma nova abordagem intra-

ciclo para prever resposta à

estimulação e resultados da FIV.

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HAM e CFA

Estudos recentes indicam os valores de HAM e CFA como preferenciais na

determinação da reserva ovárica.8 Comparações diretas entre HAM e CFA demonstraram

resultados semelhantes na previsão de resposta ovárica à estimulação e de sucesso das

técnicas de PMA.8 Atualmente, considera-se que a combinação da determinação plasmática

do valor de HAM com a determinação ecográfica do valor de CFA fornece aos clínicos um

método suficiente na previsão da resposta ovárica à estimulação exógena, obtenção de

ovócitos e probabilidade de gestação como finalidade das técnicas de PMA.20

Fleming et al.

em 2015 publicou uma revisão de um debate ocorrido em 2013 num encontro anual da

American Society For Reproductive Medicine, onde compara os valores de HAM e CFA

como preditores da reserva ovárica em termos de vantagens e desvantagens. Como conclusão

foi possível compreender que nenhum dos marcadores utilizados para avaliar a reserva

ovárica é perfeito, muito embora, ambos CFA e HAM sejam bons preditores de resposta

ovárica. Avaliações que combinem estes dois parâmetros podem, possivelmente, fornecer

uma determinação mais precisa. No entanto, o valor plasmático de HAM revela-se superior

em prever o número de ovócitos obtidos após estimulação quando existe discordância entre os

valores de HAM e CFA. Desta forma, os autores defendem que devido à sua reprodutibilidade

entre ciclos, o facto de não ser dependente do operador e de poder ser determinado em

qualquer altura, o valor de HAM é a forma preferencial de avaliar a reserva ovárica.8

Também Keane et al. em 2017, através de um estudo retrospetivo que incluiu 1425

ciclos de tratamento, tentou estabelecer uma correlação entre os valores de HAM e CFA,

assim como determinar o potencial de predição de sucesso de cada marcador nas técnicas de

PMA. Foi encontrada, de facto, uma correlação positiva entre os marcadores referidos,

nomeadamente, com uma correlação linear de 87,0% quando a média do valor de HAM foi

comparada com os grupos de intervalo de CFA escolhidos. Ambos os marcadores foram

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inversamente correlacionados com a idade e estabeleceu-se que estes influenciavam as taxas

de gestação e de nascimentos. Por outro lado, as taxas de abortamento revelaram-se mais

dependentes da determinação do CFA. Os autores referem ainda que os valores de HAM e

CFA diminuem com o avançar da idade materna. Uma vez que ainda não está claramente

estabelecido qual o melhor parâmetro para determinar a reserva ovárica, uma abordagem em

conjunto parece poder implicar uma melhor determinação desta e por sua vez uma melhor

previsão dos resultados após as técnicas de PMA.20

Hormona de Estimulação Folicular (FSH)

A FSH é uma hormona produzida pela hipófise que desempenha um papel importante

na maturação e recrutamento dos folículos primordiais, assim como, na indução da produção

ovárica de estrogénios. Desta forma, no início do ciclo menstrual as hormonas ováricas como

o Estradiol e a Inibina B atingem o seu valor mais baixo deixando de exercer um feedback

negativo sobre a hipófise e o hipotálamo, culminando numa elevação dos valores circulantes

de FSH.1,21

Numa mulher com função reprodutiva normal existe produção de hormonas ováricas o

que implica que numa fase inicial do ciclo menstrual os valores de FSH encontrem-se dentro

de valores normais. Por outro lado, caso a reserva ovárica esteja diminuída, estando o pool de

folículos primordiais diminuído, existe uma menor produção de hormonas ováricas e por

consequência um aumento da FSH. Esta elevação do valor de FSH leva à estimulação do

crescimento folicular de forma rápida resultando numa maior produção de estradiol e

encurtamento da fase folicular e ciclo menstrual.21,22

Da mesma forma, a elevação do

Estradiol por feedback negativo pode levar a valores normais de FSH, ocultando uma

diminuição da reserva ovárica.21

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20

A determinação da FSH na fase folicular precoce é o teste endócrino mais estudado e

usado na avaliação da reserva ovárica.1 Esta determinação é relativamente rápida, barata e

reprodutível. No entanto, existem algumas limitações, particularmente variações inter-ciclo e

intra-ciclo que condicionam a realização da determinação ao 3.º dia do ciclo de forma a

refletir um nível basal de FSH e o uso de mais de uma determinação de ciclos diferentes ao

invés de uma determinação isolada. Similarmente, o facto de ser necessário a determinação do

Estradiol basal em conjunto para a interpretação do seu valor e aumento da sua sensibilidade

uma vez que, um valor normal de FSH com elevação basal de estradiol pode implicar

diminuição da reserva ovárica em fases iniciais.14,21,22

Muito embora seja um teste realizado com muita frequência para avaliar a reserva

ovárica nas técnicas de PMA e valores constantemente elevados (>10-20 IU/L) sejam

associados a uma alta sensibilidade na previsão de má resposta à estimulação ovárica, a sua

determinação não está associado à previsão de probabilidade de gestação ou à previsão de

complicações como o síndrome de hiperestimulação ovárica.21,22

Inibina B

A hormona Inibina B é uma glicoproteína heterodimérica secretada maioritariamente

pelas células da granulosa de pequenos folículos pré-antrais e antrais, considerando-se por

isso um marcador plausível de reserva ovárica. Exerce um feedback negativo sobre a secreção

de FSH pela hipófise, inibindo-a. Assim, uma diminuição dos valores plasmáticos de Inibina

B levam a um aumento da secreção de FSH pela hipófise garantindo valores plasmáticos

elevados de FSH na fase folicular inicial.1,22

Os seus valores plasmáticos diminuem com a

idade reprodutiva, levando a um aumento da concentração de FSH.23

Desta forma, uma

diminuição dos níveis de Inibina B pode indicar uma baixa reserva ovárica ainda antes do

esperado aumento de FSH basal.1

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21

De forma a garantir uma correta interpretação do seu valor, os valores plasmáticos de

Inibina B são normalmente determinados entre o 2.º e o 5.º dia do ciclo visto que, o seu pico

ocorre na fase folicular inicial, tornando-se indetetável durante a fase lútea. No entanto, as

suas concentrações apresentam uma grande variabilidade inter-ciclo e existe falta de precisão

na sua determinação, o que limita a sua utilização na prática clínica.14,22

Atualmente, muito embora os métodos de determinação tenham melhorado, o seu uso

permanece limitado por falta de interesse clínico decorrente do facto desta hormona ser

secretada numa fase da foliculogenese dependente de FSH ao invés de numa fase mais

precoce, independente de FSH, traduzindo com mais precisão o pool de folículos primordiais

suscetível de recrutamento.23

Apesar da Inibina B ter sido estudada como possível marcador dos resultados das

técnicas de PMA, não foi obtida nenhuma vantagem relativamente aos outros marcadores

utilizados nomeadamente, HAM e FSH, na previsão de uma má resposta à estimulação

ovárica, capacidade de prever síndrome de hiperestimulação ovárica, número de ovócitos

obtidos ou probabilidade de gestação.14

Desta forma, não é um teste recomendado para

avaliação da reserva ovárica nestes casos.22

Outros possíveis marcadores

O stress oxidativo resulta de um desequilíbrio entre a sua produção sistémica e

capacidade de rapidamente eliminar esses produtos através de defesas antioxidantes ou da

reparação dos danos inerentes à peroxidação lipídica, dano a nível do DNA e derivado da

apoptose.24

Estudos recentes demonstraram que o stress oxidativo pode ser uma causa de

infertilidade feminina e inclusive, alguns autores sugerem que este pode estar implicado no

fracasso das técnicas de PMA como a FIV.25,26

Pensa-se que isto acontece porque o stress

oxidativo tem um papel fisiológico na modulação de diversas funções reprodutivas

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22

designadamente, a foliculogénese, a maturação ovocitária, formação do corpo lúteo, luteólise,

fertilização, desenvolvimento embrionário e gestação.25,26

O sucesso das técnicas de ICSI está

associado, de forma negativa, com elevados níveis de stress oxidativo no líquido folicular e

de forma positiva com a sua capacidade antioxidante total.24

Todavia, os dados existentes

sobre o seu papel na patogénese da infertilidade e na PMA são ainda discordantes, sendo

desconhecido o seu papel no sucesso destas técnicas.25

Alguns autores defendem que a

suplementação oral com antioxidantes protege o microambiente folicular do stress oxidativo e

pode melhorar a qualidade ovocitária e o número de ovócitos retirados após estimulação

ovárica, assim como fortalecer o desenvolvimento embrionário.24,26

Enquanto outros referem

que a suplementação oral com antioxidantes não potencia a qualidade ovocitária ou taxa de

gestação e por isso, a sua administração não se justifica.27

Apesar da discordância entre

autores, estudos adicionais que permitam optar por um antioxidante em particular e

determinar a dose a administrar são necessários.24

Nuñez-Calonge et al. em 2016 publicou um estudo prospetivo que decorreu entre

novembro de 2013 e junho de 2015, onde incluiu 30 mulheres jovens, saudáveis e férteis que

seriam doadoras de ovócitos; 8 mulheres com uma alta resposta à estimulação ovárica (>10

ovócitos retirados) e 22 mulheres com uma má resposta à estimulação ovárica (<5 ovócitos

retirados) em pelo menos um ciclo anterior. 25

Os autores tiveram como objetivo determinar a

concentração de marcadores de stress oxidativo como concentração de MDA produto da

peroxidação lipídica, determinação de metabolitos da oxidação nítrica (NOx), enzimas

antioxidantes como a atividade de GPx, GR e GST e citoquinas como marcadores de

inflamação nomeadamente interleucinas IL-2, IL-6, IL-8, IL-10, TNF- α (Fator de Necrose

Tumoral α) e VEGF (fator de crescimento vascular endotelial) no líquido folicular de jovens

mulheres com uma má resposta à estimulação ovárica, quando comparadas com os restantes

grupos incluídos, de forma a estabelecer o impacto do stress oxidativo na reserva ovárica. 25

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23

Foi encontrada uma correlação direta entre más respondedoras à estimulação ovárica e a

presença de concentrações superiores de marcadores de stress oxidativo e de inflamação,

assim como, atividades inferiores de enzimas antioxidantes, sugerindo por isso, uma

potenciação do envelhecimento dos folículos e diminuição da qualidade ovocitária.25

Por outro lado, existem estudos que recentemente relacionaram o grupo sanguíneo ABO

com a infertilidade e particularmente, com a diminuição da reserva ovárica, má resposta à

estimulação ovárica, síndrome de hiperestimulação ovárica, aborto espontâneo recorrente e

aumento do risco trombótico.28

O mecanismo subjacente a esta associação é desconhecido, contudo pensa-se que estará

relacionado com a ausência da transferase do grupo A (como acontece no grupo 0), que pode

ter um papel protetor pela sua ação sobre proteínas glicosiladas de cadeia pesada dos recetores

da Hormona Luteinizante (LH) e FSH importantes no desenvolvimento folicular e sua

maturação, ou por outro lado, com variações genéticas de haplótipos uma vez que, variações

genéticas perto do locus ABO, que está localizado no braço longo do cromossomo 9, parecem

estar associadas com a função ovárica.28,29

Muito embora seja um tema controverso, Nejal et al. em 2011, sugeriu que em

comparação com pacientes do grupo sanguíneo A, as pacientes do grupo sanguíneo 0 teriam

uma previsão de reserva ovárica diminuída, sendo o antigénio A protetor no que diz respeito à

reserva ovárica.28–31

Mais tarde, surgiram novos estudos nomeadamente em 2013, Timberlake et al., estudou

305 pacientes submetidas a técnicas de FIV entre 2006 e 2011 de forma a determinar a

associação entre o grupo sanguíneo e a diminuição da reserva ovárica, tendo em conta outros

parâmetros como a idade, tabagismo, índice de massa corporal, história pessoal de

endometriose ou cirurgia ovárica e gestações anteriores. Este estudo não encontrou nenhuma

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24

associação entre o grupo sanguíneo ABO e a reserva ovárica muito embora tenham usado o

valor de FSH ao 3.º dia >10 IU/L como cut-off para definir diminuição da reserva ovárica.29

Por outro lado, Li et al. em 2014, numa análise retrospetiva que envolveu 35479

mulheres que se submeteram a FIV entre 2006 e 2012, encontrou uma diferença com

significado estatístico entre uma elevada percentagem de mulheres do grupo sanguíneo 0 com

valores de FSH ao 3.º dia ≤10 IU/L e, por oposição, elevada percentagem de mulheres do

grupo sanguíneo B e AB com valores de FSH >10 IU/L considerada como reserva ovárica

diminuída. Não foi encontrada qualquer diferença com significado estatístico entre mulheres

do grupo A sanguíneo e reserva ovárica diminuída.31

Também em 2015 Pereira et al., num estudo retrospetivo envolvendo 2575 pacientes

com reserva ovárica diminuída (determinada pelo valor de HAM) submetidas a estimulação

ovárica controlada no âmbito de técnicas de FIV, avaliou a associação entre o grupo

sanguíneo e a resposta à estimulação ovárica (principal resultado avaliado foi o número de

ovócitos retirados). Os autores não encontraram qualquer associação entre o grupo sanguíneo

e a resposta à estimulação ovárica em pacientes com reserva ovárica diminuída. Assim sendo,

a utilização do grupo ABO na previsão de resposta à estimulação é limitada.32

Da mesma forma, em 2016 Awartani et al., num grupo de 424 pacientes submetidas a

FIV, utilizando um modelo retrospetivo não encontraram nenhuma diferença com significado

estatístico na dose de gonadotrofinas administradas, dias de estimulação, número de ovócitos

retirados, qualidade embrionária e taxas de gestação. De igual modo, não foi encontrada

nenhuma correlação entre a ocorrência de síndrome de hiperestimulação ovárica e grupo

sanguíneo, muito embora, a sua prevalência, no grupo de mulheres em questão, tenha sido

demasiado reduzida para retirar conclusões.30

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25

6.2. Individualização das técnicas de PMA

Um dos aspetos essenciais para obtermos uma individualização dos tratamentos de FIV

é oferecer às pacientes a melhor abordagem terapêutica com base nas suas caraterísticas

individuais, de forma a maximizar as probabilidades de sucesso, minimizar os riscos inerentes

da estimulação ovárica como a síndrome de hiperestimulação ovárica e reduzir o número de

cancelamentos. Desta forma, seria possível reduzir os custos das técnicas e diminuir o número

de casais que acaba por desistir. A escolha da dose de gonadotrofinas ideal para cada paciente

é considerada a decisão clínica mais importante da personalização da terapêutica.33,34

Esta escolha deve ter em consideração a previsão do número de ovócitos retirados após

a estimulação ovárica.35

Evidências clínicas mostram que a obtenção de um número ótimo de

ovócitos ao invés de um número de ovócitos mais elevado é preferível. Isto acontece porque a

probabilidade de nascimento aumenta quando o número de ovócitos retirados é de 8 a 14 mas,

uma resposta superior está associada a taxas de implantação diminuídas, aumento de riscos

obstétricos e de risco de síndrome de hiperestimulação ovárica. Assim, a escolha de uma dose

individualizada de gonadotrofinas, administrada com base na previsão da resposta ovárica, é

de extrema importância.34

A dose diária de gonadotrofinas administrada pode ser fixa mas, normalmente, há um

aumento consoante a resposta de cada paciente. Os valores de FSH necessários para uma

indução bem-sucedida da foliculogénese, a sua metabolização e a sensibilidade ovárica à FSH

exógena sofrem variações de indivíduo para indivíduo.36

Assim sendo, obter informação

detalhada sobre o potencial ovárico de cada paciente é de extrema importância antes de iniciar

qualquer tratamento, sobretudo pela determinação da reserva ovárica de forma correta,

especialmente quando esta determinação nos auxilia na previsão de respostas extremas à

estimulação como uma resposta exagerada ou uma má-resposta.33

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26

Na prática clínica é frequente a dose de gonadotrofina exógena inicial ser escolhida com

base nos critérios clínicos (idade, índice de massa corporal, caraterísticas do ciclo menstrual e

particularidades que sugiram síndrome dos ovários poliquísticos como hiperandroginismo

clínico ou laboratorial e irregularidades menstruais/anovulação) e na anamnese sendo o dado

mais importante o resultado decorrente de ciclos de estimulação prévios.11

Em 2013, La Marca et al. tentou elaborar um nomograma com base nas caraterísticas

clínicas e na CFA de cada paciente para identificar a dose apropriada de gonadotrofinas

exógenas a administrar nos tratamentos de FIV, de forma a obter melhores resultados.

Inicialmente as pacientes receberam uma dose de 225 IU de FSH recombinante por dia sendo

esta dose ajustada após 6 a 7 dias com base na resposta ovárica. Os resultados demonstraram

que o número de ovócitos retirados se correlacionava de forma significativa com a idade, FSH

colhida ao 3.º dia e CFA, sendo o valor de FSH e CFA os parâmetros que evidenciaram maior

significado preditivo na sensibilidade, na previsão da resposta ovárica à estimulação. Um

nomograma foi elaborado considerando o número de ovócitos obtidos após estimulação,

sendo o número desejado 9 ovócitos, e tendo em conta as variáveis: idade, FSH ao 3.º dia e

CFA. Ao ser aplicado à população em questão, este nomograma previu uma dose inicial de

FSH exógena inferior à de 225 IU/dia em 30% das pacientes e numa percentagem superior em

mulheres mais jovens (<35 anos). Isto sugere que, ao administrar FSH exógena, o resultado

da estimulação ovárica irá depender do número de folículos existentes e da sua sensibilidade à

FSH e assim o uso deste algoritmo consegue prever o número de ovócitos obtidos e adaptar a

dose inicial de estimulação a cada paciente. No entanto, os autores defendem que a

generalização deste nomograma para a prática clínica necessita de uma validação externa,

nomeadamente, através de um estudo prospetivo em larga escala.11

Foi estabelecido que o valor plasmático de HAM e a CFA se correlacionam de forma

significativa com o número de ovócitos obtidos em técnicas PMA, sendo por isso,

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27

comparáveis neste aspeto.36

Lan et al. em 2013, comparou a eficácia e segurança de dois

algoritmos distintos, um baseado no valor de HAM e outro baseado na CFA, para determinar

a dose inicial de FSH recombinante na estimulação ovárica através da previsão de uma má

resposta, resposta adequada ou de uma resposta exagerada. Os resultados indicaram que HAM

é superior à CFA na previsão de má resposta e que, por outro lado, a CFA aparentemente é

superior na previsão de uma resposta exagerada.36

Muito embora, ambos tenham alguma

utilidade neste sentido e as suas diferenças sejam subtis, os cut-offs apropriados para a sua

utilização na prática clínica não estão ainda determinados, sendo assim necessário estudos

adicionais de forma a elaborar recomendações específicas para a sua generalização.36

Mais recentemente, em 2016, Papaleo et al. tentou validar externamente um

nomograma, elaborado em 2012 por La Marca et al., baseado nos marcadores de reserva

ovárica (idade, valor plasmático de HAM e FSH) cujo objetivo seria determinar de forma

otimizada a dose inicial de FSH administrada às pacientes em ciclos de FIV/ICSI.34,35

Uma

vez que, para compreender a sua efetividade na prática clínica é necessário a sua aplicação em

populações independentes, Papaleo et al. realizou um estudo retrospetivo em 2 centros

distintos, um em Verona e outro em San Raffaele. Foram incluídos 398 ciclos realizados entre

2013 e 2014 e avaliados com a aplicação do nomograma de forma a compreender a

discrepância entre as doses prescritas e as calculadas pelo nomograma. Um laboratório

comum foi utilizado para as avaliações plasmáticas de HAM e FSH de ambos os centros.34

Do

total de pacientes 113 (28,4%) necessitaram de uma alteração da dose inicial devido a uma

resposta ovárica inadequada, quer excessiva quer insuficiente, destas 113 pacientes, 51

(45,1%) teriam recebido uma dose inicial mais apropriada de gonadotrofinas caso fosse

aplicado o nomograma em questão. De facto, os resultados obtidos permitiram concluir que

90% das pacientes com uma resposta ovárica inferior à esperada (8 ovócitos obtidos após

estimulação) teriam recebido uma dose superior caso o nomograma tivesse sido aplicado.34

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28

Paleo et al. conclui que este nomograma pode ser útil e fácil de utilizar na prática clínica

levando a melhores resultados das técnicas de PMA e a uma diminuição dos efeitos

indesejados. Contudo, defende que apesar deste estudo dar validação externa ao nomograma

elaborado por La Marca et al.; uma vez que não foram usados critérios de exclusão como no

estudo inicial e foi incluído um maior número de pacientes; é necessário a sua validação em

estudos prospetivos ou randomizados uma vez que, não é possível deduzir que a

administração de uma dose superior ou inferior de FSH com uma resposta ovárica inadequada

levaria a um resultado mais favorável.34,35

Para além da escolha de uma dose inicial apropriada de gonadotrofinas exógenas, a

escolha do tipo de análogo da Gonadotrophin-Releasing Hormone (GnRH) pode melhorar a

eficácia e segurança das técnicas de PMA.37

O uso do protocolo longo com análogos da

GnRH está associado a um número superior de ovócitos obtidos após a estimulação, mas

também a aumento do risco de síndrome de hiperestimulação ovárica. Por outro lado, o uso

do protocolo com antagonistas da GnRH está associado a uma maior segurança, assim como a

um número inferior de ovócitos obtidos após a estimulação e a uma taxa de nascimentos

menor.37

Fleming et al., em 2013 numa revisão, avaliou a utilização do valor plasmático de

HAM como marcador de reserva ovárica e de previsão do número de ovócitos obtidos após

estimulação, na escolha do tipo de análogo da GnRH a administrar. Para mulheres com

previsão de resposta excessiva à estimulação faria mais sentido a opção de um protocolo com

um antagonista da GnRH, uma vez que, existe uma diminuição do risco de síndrome de

hiperestimulação ovárica.37

Da mesma forma, para mulheres com previsão de resposta

insuficiente, cujo objetivo será o máximo de estimulação ovárica, o uso de um análogo da

GnRH que permita uma estimulação ovárica superior seria o indicado.37

Por outro lado, os

autores defendem que investigação adicional é necessária para estabelecer o uso de protocolos

individualizados, com base no valor de HAM, como adequados e importantes para o sucesso

das técnicas de PMA.37

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7. Discussão e Conclusão

O papel dos marcadores da reserva ovárica nas técnicas de PMA tem sido alvo de

extensa investigação por parte da comunidade científica. Cada vez mais casais recorrem às

técnicas de PMA, encontrando aqui uma oportunidade de realizar o sonho de ter um filho.

Uma vez que este é um tema especialmente sensível, que envolve grande carga emocional e o

recurso a estas tecnológicas é dispendioso, existe risco de iatrogenia e está sujeito a insucesso,

existe necessidade de aconselhar os casais previamente à realização de terapêuticas, com base

nas caraterísticas individuais de cada mulher e da probabilidade de sucesso das técnicas.

Os marcadores da reserva ovárica surgem como auxílio às técnicas de PMA na medida

em que são meios de aconselhamento pré-tratamento, preditores da resposta ovárica à

estimulação, meios de individualização das diferentes estratégias terapêuticas, preditores de

sucesso das técnicas e da redução de cancelamentos devido a respostas ováricas anormais.2–4

Diversos marcadores foram associados à reserva ovárica como a idade, CFA, HAM,

FSH, Inibina B entre outros.

A idade, como fator individual, representa o marcador com maior influência sobre a

probabilidade de gestação e deve ser o primeiro marcador a ser considerado na avaliação da

reserva ovárica, apesar de ser necessário combinar o seu valor com outros parâmetros, de

forma a aumentar a sensibilidade da sua interpretação. Mulheres em idades mais jovens,

independentemente da sua reserva ovárica se encontrar diminuída, continuam a ter um bom

prognóstico relativamente ao sucesso das técnicas de PMA.

A CFA é um parâmetro muito usado na prática clínica devido à possibilidade da sua

determinação ser realizada simultaneamente à avaliação da doente pelo médico. Apesar de

existirem estudos que considerem a CFA um bom marcador da previsão de vários parâmetros

de sucesso das técnicas de PMA, a CFA não parece revelar uma boa correlação com a

probabilidade de nascimentos, o que limita a sua utilização na prática clínica. Não obstante,

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30

vários autores continuam a defender a sua utilização, mas não de forma isolada dos restantes

marcadores.

A HAM é considerada por muitos autores um importante marcador da reserva ovárica,

preditor da resposta ovárica à estimulação e sucesso das técnicas de PMA. Comparativamente

a outros marcadores demonstrou superioridade, especialmente dentro da população de más

respondedoras, em prever os resultados das técnicas de PMA e desta forma, a sua

determinação prévia ao início da PMA pode considerar-se uma mais-valia no aconselhamento

dos casais. Por outro lado, alguns autores defendem que os valores plasmáticos de HAM

conseguem prever a resposta ovárica à estimulação, porém não permitem avaliar a

probabilidade do resultado esperado das técnicas de PMA, nomeadamente probabilidade de

gestação e por conseguinte de nascimento. Sugerem, por isso, que outros fatores podem estar

envolvidos no desfecho das técnicas para além da reserva ovárica.

Face às limitações, vantagens e desvantagens de ambos os marcadores HAM e CFA,

muitos autores da literatura recomendam a sua utilização em combinação para oferecer um

aconselhamento mais preciso e que traduza de forma mais correta o prognóstico de cada

mulher.

Quanto ao uso da determinação da FSH na fase folicular precoce como marcador de

reserva ovárica nas técnicas de PMA, apesar de ser um marcador muito estudado e usado,

temos de ter em conta a sua variação inter-ciclo e intra-ciclo, assim como outras limitações

inerentes da sua determinação e aplicação na prática clínica. Da mesma forma, o facto da sua

determinação não ter sido correlacionada com a previsão de probabilidade de gestação ou de

complicações decorrentes da PMA. Todas estas condicionantes, limitam a sua utilização para

aconselhamento prévio nas técnicas de PMA ou a sua utilização como preditor de sucesso da

técnica.

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31

A determinação da Inibina B, em comparação com outros marcadores, não confere

nenhuma vantagem relativamente à previsão de má resposta à estimulação, capacidade de

prever complicações ou resultados decorrentes da PMA e não é um teste recomendado na

avaliação da reserva ovárica nestas técnicas.

O objetivo da utilização dos marcadores de reserva ovárica nas técnicas de PMA é a

individualização destas através da aplicação de protocolos adaptados a cada paciente,

considerando as suas caraterísticas únicas e previsão da sua resposta à estimulação ovárica

com gonadotrofinas exógenas. Desta forma, é possível adaptar a dose a cada paciente,

diminuindo a ocorrência de complicações inerentes da estimulação ou da utilização de doses

insuficientes, no caso de más respondedoras. Efetivamente, podemos maximizar o sucesso das

técnicas, reduzir os custos de cancelamento e a realização de vários ciclos de estimulação,

evitar iatrogenias e aconselhar o casal da melhor forma para reduzir o impacto psicológico do

insucesso em caso de más previsões.

A aplicação de um nomograma por La marca et al. com base nas caraterísticas clínicas

de cada paciente, nomeadamente marcadores de reserva ovárica, de forma a determinar a dose

de gonadotrofinas a administrar, conseguiu prever doses inferiores às que foram

administradas em 30% das pacientes, que seriam suficientes para o sucesso da técnica de

PMA. O que implica que a dose administrada em muitas pacientes não é adequada às suas

caraterísticas e pode acarretar maior risco de desenvolvimento de efeitos secundários não

expetáveis e sobretudo evitáveis.

Apesar de outros nomogramas terem sido elaborados e de Papaleo et al. ter validado

externamente um outro nomograma elaborado por La Marca et al., existe ainda uma clara

necessidade de investigação adicional para estabelecer protocolos individualizados que

permitam determinar com exatidão as doses a administrar em cada paciente consoante a sua

previsão de resposta à estimulação.

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Existem outros marcadores de reserva ovárica que parecem promissores como a

avaliação do stress oxidativo no líquido folicular ou a relação entre o tipo sanguíneo e a

diminuição da reserva ovárica.

Atualmente os marcadores de reserva ovárica preferenciais na determinação da reserva

ovárica são a CFA e os valores de HAM no plasma.

Esta é uma área de extrema importância nos dias de hoje e cada vez mais mulheres e

casais vão necessitar de recorrer a técnicas de PMA no futuro devido ao aumento dos casos de

subfertilidade, especialmente nos países desenvolvidos. O futuro da medicina passa por

oferecer a cada paciente uma terapêutica individualizada e adaptada às necessidades de cada

paciente em particular. Assim, os marcadores de reserva ovárica e, especialmente os valores

plasmáticos de HAM e a CFA, podem, num futuro próximo, permitir a elaboração de

protocolos individualizados que permitam maximizar o sucesso e minimizar os efeitos

indesejados das técnicas de PMA.

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8. Agradecimentos

Aos meus pais e aos meus avós maternos, agradeço todas as palavras de incentivo,

dedicação pela minha vida académica e pessoal, suporte e reconhecimento.

Ao João, agradeço todo o apoio prestado nos momentos mais difíceis, palavras de

incentivo e confiança.

À Professora Doutora Margarida Dias e à Doutora Vera Ramos, agradeço o auxílio e

orientação na elaboração deste trabalho assim como o rigor científico nas correções e

conselhos concedidos.

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