mara dantas depoimento asas de socorro

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ara Dantas _ Muitas pessoas me per- guntam se aqueles que moram nas comunidades ribeirinhas, à beira dos rios, são muito pobres. Não, elas não são muito pobres. São apenas pobres. Têm sua casa, panelas dependuradas na parede, o rio, e uma canoa. São felizes com o que tem. O maior problemas deles não é a pobreza, mas a carência de afeto e de infor- mação por causa da distância do local onde vivem. Têm carência de serviços médicos e de todas as outras formas de serviços. Morrem por causa de doenças bobas, porque estão em locais isola- dos. Às ve- zes, as cri- anças das comunidades não têm registro, e isso torna difícil o fato delas irem à escola. Muitas vezes o homem é picado de cobra, e, por não ser registrado, não consegue se aposentar. Uma vez, estávamos na comunidade com dentistas e médicos durante o dia todo. Mas no final da tarde, quando já havíamos desmontado todo o equipamento dos den- tistas e tudo mais, chegou uma família inteira de barco para ser atendida. Um pouco irritada, fui à beira do rio para conversar, pois o atendimento já havia acabado e perguntei a eles: “Mas por que vocês chegaram só agora? Estamos aqui o dia todo e agora quando estamos indo embora, vocês chegam?” Para minha surpresa, o homem de dentro do barco então me disse: - ‘Eu saí de casa às 5h da manhã. E só agora consegui chegar.’ Decidimos montar tudo de novo para atendê-los. Não era por falta de relógio que eles estavam atrasados. Há cerca de 33 mil comunidades ribeirinhas na Região Norte do Brasil. Nelas tem pessoas que vivem de forma singular. As comunidades têm tamanhos diversos. Algumas, com dez famí- lias, outras, 50, outras 100 familias. Na primeira vez que chegamos na comunidade com dentistas, eles fazem basi- camente extração de dentes. Depois, o den- Depoimento de missionária impressiona por desvendar uma realidade distante. Mara Dantas é missionária em Santarém. Ela vê o que muitos que têm acesso à tecnologia não vêem. Há quase 9 anos, Mara viaja men- salmente às comunidades ribeirinhas do norte do Brasil levando profissionais da área de saúde para atender as pessoas que moram em locais de difícil acesso. Por causa de seu tra- balho em Asas de Socorro, Mara conhece um Brasil diferente e conversar com ela faz com que uma realidade distante e quase inacessível seja em parte desvendada. Redação: Rita Santos Sede: Av. JK, Q 08, Lt 13, Setor Aeroporto Industrial CEP: 75.024-970, CP 184, Anápolis - Goiás - Brasil CADASTRE-SE E RECEBA MAIS INFORMAÇÕES Confirmar depósito / Solicitar boletos: [email protected] DEP. IDENTIFICADO OU TRANSFERÊNCIA BRADESCO - Ag: 0240-2 c/c: 55508 - 8 CNPJ: 01.052.752/0001- 69 Base Boa Vista - RR (95) 3224-2412 Base Manaus - AM (92) 3618-5491 Base Santarém/Belém - PA (93) 3523-8292 Base Porto Velho - RO (69) 3223-9011 Escola de Aviação (62) 4014-0319 / 3314-6102 Oficina Aeronáutica (62) 4014-0310 www.asasdesocorro.org.br (62) 4014 - 0333 O abrir da janela tista ensina a escovar, distribui escovas. E nas vezes seguintes que voltamos à comunidade, o trabalho do dentista passa a ser mais de restauração, já que as pessoas vão apren- dendo a escovar os dentes e a saúde bucal melhora. As vezes, ficamos indo com frequência a uma comunidade por cinco, dez anos seguidos. A mudança da realidade não acontece na primeira viagem e atendimento médico, dentário ou social. Mas vai acontecendo aos poucos. Os problemas de saúde mais comuns são vermes, hipertensão, anemia, e problemas de estômago. O verme é causado pela água suja que esta população consome. A hipertensão, porque não têm ener- gia e, para conservar o peixe, usam muito sal. Os problemas de estômago vêm pelo grande consumo de farinha. E a anemia porque não consomem verduras, nem legumes. A gente tem chegado nestas comuni- dades tantas vezes no momento certo, no momento de emergência e de mais necessi- dade. Temos chegado com o médico certo, para a pessoa certa. Às vezes, para uma pessoa, às vezes, para tantas. Muitas vezes os profissionais de saúde me perguntam: “Mas, Mara, estamos dando remédio contra verme, mas do que vai adiantar? As pessoas daqui vão continuar consu- mindo água con- taminada e os ver- mes vão voltar.” Então, digo que, por mais que, às vezes, nosso trabalho seja paliativo, vale muito à pena. Estamos prevenindo que o pior aconteça. Ao mesmo tempo, é bom ver que em comunidades que instalamos filtros e ensinamos a usá-lo, o médico não precisa receitar tanto vermífugo. Nosso sonho é ter mais gente envolvida para que consigamos fazer um trabalho preventivo, que ensine as pessoas destas comunidades a gerarem a própria saúde. Relata Mara Dantas. Envolva-se! Contribua com esse trabalho. Essa obra precisa de sua ajuda. M

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Mara Dantas Depoimento Asas de Socorro - a realidade e os problemas dos ribeirinhos no Brasil

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Page 1: Mara Dantas Depoimento Asas de Socorro

ara Dantas _ Muitas pessoas me per-guntam se aqueles que moram nas

comunidades ribeirinhas, à beira dos rios, são muito pobres. Não, elas não são muito pobres. São apenas pobres. Têm sua casa, panelas dependuradas na parede, o rio, e uma canoa. São felizes com o que tem. O maior problemas deles não é a pobreza, mas a carência de afeto e de infor-mação por causa da distância do local onde vivem. Têm carência de serviços médicos e de todas as outras formas de serviços.

M o r r e m por causa de doenças b o b a s , p o r q u e estão em locais isola-dos. Às ve- zes, as cri- anças das

comunidades não têm registro, e isso torna difícil o fato delas irem à escola. Muitas vezes o homem é picado de cobra, e, por não ser registrado, não consegue se aposentar. Uma vez, estávamos na comunidade com dentistas e médicos durante o dia todo. Mas no �nal da tarde, quando já havíamos desmontado todo o equipamento dos den-tistas e tudo mais, chegou uma família inteira de barco para ser atendida. Um pouco irritada, fui à beira do rio para conversar, pois o atendimento já havia acabado e perguntei a eles: “Mas por que vocês chegaram só agora? Estamos aqui o dia todo e agora quando estamos indo embora, vocês chegam?” Para minha surpresa, o homem de dentro do barco então me disse:

- ‘Eu saí de casa às 5h da manhã. E só agora consegui chegar.’

Decidimos montar tudo de novo para atendê-los. Não era por falta de relógio que eles estavam atrasados. Há cerca de 33 mil comunidades ribeirinhas na Região Norte do Brasil. Nelas tem pessoas que vivem de forma singular. As comunidades têm tamanhos diversos. Algumas, com dez famí-lias, outras, 50, outras 100 familias. Na primeira vez que chegamos na comunidade com dentistas, eles fazem basi-camente extração de dentes. Depois, o den-

Depoimento de missionária impressionapor desvendar uma realidade distante.Mara Dantas é missionária em Santarém. Ela vê o que muitos que têm acesso à tecnologia não vêem. Há quase 9 anos, Mara viaja men-

salmente às comunidades ribeirinhas do norte do Brasil levando pro�ssionais da área de saúde para atender as pessoas que moram em locais de difícil acesso. Por causa de seu tra- balho em Asas de Socorro, Mara conhece um Brasil diferente e conversar com ela faz com que uma realidade distante e quase inacessível seja em parte desvendada.

Redação: Rita Santos

Sede: Av. JK, Q 08, Lt 13, Setor Aeroporto Industrial CEP: 75.024-970, CP 184, Anápolis - Goiás - Brasil

CADASTRE-SE E RECEBA MAIS INFORMAÇÕESCon�rmar depósito / Solicitar boletos:[email protected]

DEP. IDENTIFICADO OU TRANSFERÊNCIABRADESCO - Ag: 0240-2 c/c: 55508 - 8CNPJ: 01.052.752/0001- 69

Base Boa Vista - RR(95) 3224-2412

Base Manaus - AM(92) 3618-5491

Base Santarém/Belém - PA(93) 3523-8292

Base Porto Velho - RO(69) 3223-9011

Escola de Aviação (62) 4014-0319 / 3314-6102O�cina Aeronáutica (62) 4014-0310

www.asasdesocorro.org.br (62) 4014 - 0333

O abrir da janela

tista ensina a escovar, distribui escovas. E nas vezes seguintes que voltamos à comunidade, o trabalho do dentista passa a ser mais de restauração, já que as pessoas vão apren-dendo a escovar os dentes e a saúde bucal melhora. As vezes, �camos indo com frequência a uma comunidade por cinco, dez anos seguidos. A mudança da realidade não acontece na primeira viagem e atendimento médico, dentário ou social. Mas vai acontecendo aos poucos. Os problemas de saúde mais comuns são vermes, hipertensão, anemia, e problemas de estômago. O verme é causado pela água suja que esta população consome. A hipertensão, porque não têm ener-gia e, para conservar o peixe, usam muito sal. Os problemas de estômago vêm pelo grande consumo de farinha. E a anemia porque não consomem verduras, nem legumes. A gente tem chegado nestas comuni-dades tantas vezes no momento certo, no momento de emergência e de mais necessi-dade. Temos chegado com o médico certo, para a pessoa certa. Às vezes, para uma pessoa, às vezes, para tantas. Muitas vezes os pro�ssionais de saúde me perguntam:

“Mas, Mara, estamos dando remédio contra verme, mas do que vai adiantar? As pessoas daqui vão continuar c o n s u - m i n d o água con-taminada e os ver- mes vão voltar.” Então, digo que, por mais que, às vezes, nosso trabalho seja paliativo, vale muito à pena. Estamos prevenindo que o pior aconteça. Ao mesmo tempo, é bom ver que em comunidades que instalamos �ltros e ensinamos a usá-lo, o médico não precisa receitar tanto vermífugo. Nosso sonho é ter mais gente envolvida para que consigamos fazer um trabalho preventivo, que ensine as pessoas destas comunidades a gerarem a própria saúde. Relata Mara Dantas.

Envolva-se! Contribua com esse trabalho. Essa obra precisa de sua ajuda.

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