maquinaria e trabalho vivo - karl marx

Upload: andre-vidal-viola

Post on 10-Apr-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/8/2019 Maquinaria e Trabalho Vivo - Karl Marx

    1/8

    MAQUINARIA E TRABALHO VIVO

    (Os Efeitos da Mecanizao Sobre o Trabalhador)(1)

    KARL MARX

    Duas so as questes que temos a examinar. Primeira, em quemedida se distinguem os efeitos da maquinaria daqueles dadiviso do trabalho e da cooperao simples. Segunda, osefeitos da maquinaria sobre os trabalhadores que ela mesma

    elimina e substitui. aforma social de toda combinao do trabalho o fator caracterstico

    geral do desenvolvimento da produo capitalista; caracterstica queabrevia o tempo necessrio para a produo de mercadorias, ao mesmotempo em que diminui a massa de trabalhadores (assim como da mais-valia) para um quantum determinado de mercadorias produzidas. Mas apenas na maquinaria, e no emprego do novo sistema de mquinas sobre o

    qual se funda a mecanizao das oficinas, que a substituio do trabalhadorpor uma parte do capital constante (aquela parte do produto do trabalho quese toma novamente meio de trabalho) se coloca, produzindo genericamenteum excedente de trabalhadores como tendncia expressa e apreensvel, queatua e se estabelece em larga escala. O trabalho passado surge aqui comomeio para substituir o trabalho vivo ou como aquele meio de fazer diminuiro nmero de trabalhadores. Esta diminuio do trabalho humano aparececomo especulao capitalista, como meio para aumentar a mais-valia.

    1. Extrado de "Zur Kritik der Politischen Okonomie (Manuskript 1861-1863)",MEGA, 11, 3.6, Berlim,

    1982, pp. 2053-59. Traduzido do original alemo por Jesus 1. Ranieri.

    Os Manuscritos de 1861-63 (compostos por 23 cadernos) representam o momento de passagem entre os

    Grulldrisse e O Capital, sendo parte importante do material preparatrio deste ltimo. O presentefragmento encontra-se no interior da seqncia denominada "A mais-valia relativa - acumulao",

    referente ao caderno XX, redigido entre maro e maio de 1863.

    103

  • 8/8/2019 Maquinaria e Trabalho Vivo - Karl Marx

    2/8

    De fato, isso s tem lugar na medida em que na maquinaria as mercadoriasproduzidas existem tanto como meio de subsistncia para o consumo doprprio trabalhador, quanto como aqueles elementos para a formao e

    reproduo de sua capacidade de trabalho (Arbeitsvermogens)(2). Assim, ovalor individual das mercadorias produzidas pela introduo geral damaquinaria //1258/ pe-se diferentemente de seu valor social, e os capitalistastomados isoladamente apropriam-se da parte referente a esta diferena. Aquiaparece a tendncia geral da produo capitalista tomada em todos os seusramos produtivos: o trabalho humano substitudo pela mquina.

    primeiramente junto maquinaria que o trabalhador luta de imediatocontra a fora produtiva desenvolvida pelo capital como sendo aquele princpioantagnico fundado no trabalhador mesmo - o trabalho vivo. A destruio dasmquinas e a oposio geral, por parte dos trabalhadores, introduo damaquinaria a primeira expresso esclarecida de luta contra a produocapitalista desenvolvida, tanto como modo, quanto como meio de produo.Nada h que se assemelhe a isto na cooperao simples e na diviso dotrabalho. Ao contrrio, a diviso do trabalho no interior da manufaturareproduzia de forma mais ou menos geral a diviso de trabalho entre osdiferentes ofcios. A nica oposio que aqui encontramos, no que diz respeitos corporaes e s organizaes medievais do trabalho, a proibio doemprego, por parte de um nico mestre arteso, de um nmero excedente detrabalhadores quele estabelecido; e, em geral, ao simples comerciante, queno era mestre, a proibio em utilizar-se de trabalhadores. Esta oposioestava instintivamente voltada contra o fundamento geral sobre o qual tevelugar a transio da forma artesanal para o modo de produo capitalista, damesma forma que voltada contra a cooperao de muitos trabalhadores sob umnico mestre e contra a produo em massa, sem que as foras sociais dotrabalho (incluindo sua depreciao) que essa produo em massa desenvolve,

    ou ainda a substituio do trabalho vivo pelo produto do trabalho passado(vergangner Arbeit), pudessem j ser aqui conscientemente apreendidas.

    A diviso do trabalho e a cooperao simples nunca se baseiamimediatamente na substituio do trabalho ou na criao de um excedente detrabalhadores; por um lado, sua base a concentrao destes e, por outro, aformao de uma maquinaria viva ou um sistema de mquinas vivasintermediado por este mesmo conglomerado. Em todo caso, porm, umexcedente relativo de trabalho produzido.Por exemplo, numa manufatura fundada na diviso do trabalho, na qual trintamecnicos trabalham "x" vezes produzindo mais fechaduras do que trintaserralheiros independentes poderiam produzir, estes ltimos deixariam de serindependentes justamente ali onde nasce a concorrncia com a manufatura -desalojados que seriam por ela -, da mesma forma que o crescimento da pro-

    2. Vertemos o tenno Arbeitsvermogens por "capacidade de trabalho" em vez de fora de trabalho(Arbeitskraft) dada a especificidade de seu uso no texto: designa a capacidade incipiente de realizao detrabalho por meio do trabalho vivo, ou seja, salienta a fonna originria de apropriao e transfonnao dacapacidade viva de trabalho pela maquinaria..

    104

  • 8/8/2019 Maquinaria e Trabalho Vivo - Karl Marx

    3/8

    duo de fechaduras no se poria mais como antes, proporcionalmente aocrescimento do nmero de serralheiros independentes. Isto aparece antes comoa transformao dos mestres de ofcio e seus aprendizes em capitalistas e

    trabalhadores assalariados do que como a supresso do trabalhador assalariadopelo emprego do capital e da cincia.

    Esta ltima forma aparece ainda em menor proporo do que a prpria ma-nufatura, de presena apenas espordica, pois se coloca como anterior inven-o da maquinaria, de modo algum capaz de compreender a totalidade dos ra-mos, mas aparecendo simultaneamente ao primeiro desenvolvimento dotrabalho industrial em larga escala, e coincidindo com as necessidades fundadasneste ltimo. As manufaturas posteriores, que se desenvolvem tendo por base aprpria mquina, tomam-na por pressuposto, ainda que o emprego damaquinaria tenha uma dimenso apenas parcial. O pressuposto desta forma oexcedente de populao formado e continuamente renovado sob a maquinaria.

    Por isso pde Adam Smith notar como sendo expresses de carteridntico: a diviso do trabalho no interior da manufatura e o aumento donmero de trabalhadores.

    Portanto, a forma fundamental segue sendo: o nmero relativo de trabalha-dores que a produo de um determinado quantum de mercadorias exigediminui em funo do trabalho em larga escala, e este mesmo nmero detrabalhadores capaz de elevar ainda mais sua produtividade - o que faz decairrelativamente, por conseguinte, a demanda de trabalho para uma expanso daproduo. Porm, ao mesmo tempo, mais trabalhadores tero de ser empregadosa fim de que se realize este aumento relativo da fora produtiva. Como formapalpvel e evidente aparece aqui a diminuio relativa do tempo de trabalhonecessrio, mas no a diminuio do trabalho empregado na sua forma

    absoluta, que continua tendo como base o trabalhador vivo e o nmero detrabalhadores ocupados sob o mesmo espao. Alm disso, a consolidao damanufatura acontece num momento no qual tanto as necessidades, quanto amassa crescente de mercadorias inseridas no intercmbio, assim como ocomrcio internacional (em realidade um relativo mercado mundial) expandem-se subitamente de maneira prodigiosa. por isso que encontramos a manufaturaem confronto to somente com o artesanato, mas de modo algum em conflitodireto com o trabalho assalariado mesmo que, (no meio urbano) primei~amenteno interior deste modo de produo, passe a adquirir uma existnciadisseminada.

    Alm disso e sem dvida, simultaneamente maquinaria desenvolve-setambm a agricultura em larga escala, que funciona de fato como produo

    mecanizada, dado que tanto a transformao da terra arvel em pastagens, comoo uso de melhores instrumentos e cavalos, aqui, tanto quanto na maquinaria, fazcom que o trabalho passado surja como meio para substituio ou diminuiodo trabalho vivo.

    /1259/Na maquinaria, ao contrrio, em que novos ramos de produo sofundados, no se pode, naturalmente, falar em substituio dos trabalhadores

    105

  • 8/8/2019 Maquinaria e Trabalho Vivo - Karl Marx

    4/8

    por mquinas. Esta situao de difuso aparece de forma geral assim que a ma-

    quinaria se desenvolve, numa poca avanada em que repousa o modo deproduo, mas no interior do qual aquela produo segue sendo aindaextremamente incipiente, seja em comparao com aquelas mercadorias nasquais o trabalho humano mediante a maquinaria suplantado, seja do ponto devista das mercadorias substitudas, que anteriormente eram produzidas sob osimples trabalho manual.

    O primeiro caso diz respeito ao emprego da maquinaria naqueles ramoscuja forma anterior de produo era artesanal ou manufatureira. Com isso, a m-quina aparece aqui como elemento intrnseco ao modo de produo capitalista,como uma revoluo no interior do modo de produo em geral. Assim que amecanizao se institui no interior das oficinas (Ateliers), a finalidade passa aser o constante aperfeioamento da maquinaria, que at este momento no haviaainda subordinado a si setores daquelas, fazendo-o agora por completo, aomesmo tempo em que faz diminuir o nmero de trabalhadores ocupados. Damesma forma, os trabalhos feminino e infantil tomam o lugar do trabalhomasculino e, finalmente, numa extenso superior quela da manufatura (e istoos trabalhadores tm sentido diretamente), a fora produtiva de uma mesmaquantidade de trabalhadores aumenta e, justamente por isso, requerida umadiminuio relativa do nmero de trabalhadores para a produo de umadeterminada massa de mercadorias.

    Portanto, a frmula da maquinaria : no a diminuio relativa dajornadaindividual de trabalho - jornada esta que parte necessria da jornada detrabalho mas a reduo da quantidade de trabalhadores, isto , das muitas

    ornadas paralelas, formadoras de uma jornada coletiva de trabalho,fundamental constituio da maquinaria. Em outros termos, uma quantidadedeterminada de trabalhadores posta para fora do processo de produo e seuspostos de trabalho extintos como sendo, ambos, inteis produo de mais-trabalho. Tudo isso abstraindo da eliminao daquelas especializaes surgidasmediante a diviso do trabalho de onde resulta, por conseqncia, umadepreciao da prpria capacidade de trabalho.

    O trabalho passado juntamente com a circulao social do trabalho soapreendidos como meios de tomar suprfluo o trabalho vivo. Ou seja, a basesobre a qual se desenvolve o mais-trabalho o tempo de trabalho necessrio,apesar de, aqui, buscar-se consolidar justamente o contrrio: calcula-se qual oquantum determinado de mais-trabalho possvel obter perante a um quantum

    determinado de trabalho necessrio.A oposio entre capital e trabalho assalariado desenvolve-se, assim, atsua plena contradio. no interior desta que o capital aparece como meio nosomente de depreciao da capacidade viva de trabalho, mas tambm comomeio de tom-la suprflua. Em determinados processos isso ocorre porcompleto; em outros, esta reduo se efetua at que se alcance o menor nmeropossvel no interior do conjunto da produo. O trabalho necessrio coloca-se,ento, imediatamente como populao suprflua, como excedente populacional- aquela massa incapaz de gerar mais-trabalho.

    106

  • 8/8/2019 Maquinaria e Trabalho Vivo - Karl Marx

    5/8

    J postos anteriormente como sendo momentos diferenciados, possvel ve-rificar como o capital de fato - contra sua vontade - faz diminuir a massa demais-trabalho que um capital determinado capaz de produzir. Atuando comotendncia que se movimenta contraditoriamente, ele procura manter baixo o n-mero relativo de trabalhadores efetivamente ocupados e, ao mesmo tempo, ele-var o quanto for possvel o mais-trabalho absoluto, ou seja, aumentar a jornadade trabalho absoluta.

    Por isso os economistas contemporneos ao perodo referente grande in-dstria posicionam-se contra aquele preconceito predominante j presente noperodo manufatureiro, segundo o qual de interesse do Estado - portanto, daclasse capitalista - ocupar o maior nmero de trabalhadores possvel. Pelocontrrio, aparece como tarefa obrigatria para a produo de mais-trabalhodiminuir (ao invs de aumentar) o quanto for possvel a quantidade detrabalhadores e criar, ao mesmo tempo, excedente populacional.

    Trata-se para o trabalhador no somente da eliminao da especializao e

    da depreciao de sua capacidade de trabalho, mas da eliminao mesma destaparte cuja flutuao constante e pertencente a ele como sendo sua nicamercadoria - a eliminao de sua capacidade de trabalho. Capacidade que secoloca como suprflua ante a maquinaria, seja porque cabe a esta ltima arealizao completa de parte do trabalho, seja porque diminui o nmero detrabalhadores que assistem diretamente maquinaria. Da mesma forma que issoocorre, tambm aqueles trabalhadores vinculados ao modo de produoprecedente, na concorrncia com a maquinaria, acabam por arruinar-se.

    Para os prprios trabalhadores o tempo de trabalho necessrio no mais osocialmente necessrio no interior da produo de mercadorias. Seu trabalho de16-18 horas tem maior 1/1260/valor do que aquele de 6-8 horas levado a efeitocom a mquina. Em face do prolongamento do tempo de trabalho, por toda a

    parte disseminado para alm de suas fronteiras normais, e mediante a pssimaremunerao que dada em contrapartida - posto que o valor ali regulado apartir do valor das mercadorias produzidas sob a maquinaria -, os trabalhadoresempreendem uma luta frontal com esta ltima, at o ponto em que so definiti-vamente derrotados.

    Esta a tendncia da maquinaria: por um lado, a constante expulso de traba-lhadores, seja do interior daquela oficina j mecanizada, seja do interior dos of-cios; por outro, sua constante reintegrao, posto que a partir de um grau deter-minado de desenvolvimento da fora produtiva, o aumento da mais-valia s secoloca com a elevao simultnea do nmero de trabalhadores ocupados. Essemovimento de atrao e expulso caracterstico e representa o constanteoscilar da existncia do trabalhador.

    Nas strikes mostra-se tambm que as mquinas so empregadas einventadas em oposio direta s exigncias do trabalho vivo, assim como soelas o meio de enfraquec-lo e dividi-lo (vide Ricardo sobre a oposiopermanente entre maquinaria e trabalho vivo).

    107

  • 8/8/2019 Maquinaria e Trabalho Vivo - Karl Marx

    6/8

    Aqui, portanto, com maior evidncia aparece o estranhamento(3) das condi-es objetivas do trabalho - do trabalho passado - em oposio ao trabalho vivocomo sendo aquela contradio imediata na qual o trabalho passado - e, por

    conseguinte, as foras sociais gerais do trabalho que compreendem tanto asforas da natureza quanto as da cincia - se apresenta diretamente como umaarma que atira rua o trabalhador, transformando-o num sujeito suprfluo; querompe e dilui com sua especializao, sufocando aquelas necessidades nelafundadas, e que submete o trabalhador ao despotismo acabado e organizado daforma de ser da fbrica (Fabrikwesen) e disciplina militarizada do capital.

    Nesta forma aparecem como decisivas - portanto como resultado das foras produtivas sociais do trabalho e do trabalho mesmo tomado enquantocondies sociais de trabalho - estas foras no apenas enquanto estranhas aotrabalhador e pertencentes ao capital, mas como supressoras de cada trabalhadorsingular, foras hostis que oprimem e julgam em favor do interesse docapitalista. Vimos ao mesmo tempo que o modo de produo capitalista no semodifica formalmente apenas, mas revoluciona a totalidade das condies

    sociais e tecnolgicas do processo de trabalho, e tambm como o capital noaparece agora somente como aquelas condies materiais do trabalho nopertencentes ao trabalhador - matria-prima e meios de trabalho -, mas como elese apresenta como a essncia dasormas e potncias sociais do trabalho em geral, contraposta a cada trabalhador

    tomado isoladamente.Aqui o trabalho passado tambm se apresenta - tanto na maquinaria auto-

    matizada quanto naquela posta em movimento por ele - visivelmente como in-dependente do trabalho enquanto auto-atividade (selbsttiitig): ao invs de sersubordinado por este ltimo, o trabalho passado que o subordina a si. Trata-sedo homem de ferro contra o homem de carne e osso. A subsuno de seutrabalho ao capital- a absoro de seu trabalho pelo capital-, que est no cerneda produo capitalista, surge aqui como um fator tecnolgico. A pedrafundamental est posta: o trabalho morto no movimento dotado de inteligncia eo vivo existindo apenas como um de seus rgos conscientes. A conexo vivado corpo da oficina no se funda mais na cooperao, mas sim no sistema demquinas que forma agora, a partir do movimento de um motor primrio e doabarcamento da totalidade das oficinas, a unidade ampla qual estas ltimas, aocontinuarem sendo compostas por trabalhadores, mantm-se subordinadas. Aunidade da maquinaria alcana assim, evidentemente, forma independente e ple-

    3. A traduo de Entfremdung para estranhamento e no para alienao (Entiiusserung) deve-se diferenaconceitual entre ambos: enquanto a segunda forma remete exteriorizao como fenmeno ineliminvel do

    ser humano, fenmeno que particulariza o ser no ato e na ao de sua sociabilidade atravs das objetivaespresentes no trabalho, o primeiro designao especfica para as insuficincias de realizao do gnero,aqueles obstculos sociais que fogem ao controle do homem porque esto em confronto direto com o alcancede sua realizao, especialmente porque a histria do desenvolvimento do ser social no logrou conquistar osmeios para sua autodeterminao. Neste sentido, historicamente as alienaes tm aparecido, por assim dizer,de forma estranhada. (A respeito ver Manuscritos Econmico-Filosficos, especialmente a parte final doprimeiro manuscrito, e as trs primeiras partes do terceiro.)

    108

  • 8/8/2019 Maquinaria e Trabalho Vivo - Karl Marx

    7/8

    na autonomia com relao aos trabalhadores, ao mesmo tempo que se colocaem oposio a eles(4).

    A oficina que se apia na maquinaria expulsa continuamente o trabalhadorenquanto elemento necessrio, ao mesmo tempo que real oca estestrabalhadores repelidos em funes da prpria maquinaria. Se, por exemplo, deum total de cinqenta trabalhadores, quarenta so postos para fora, nada seope inteiramente a que, neste momento, sobre a base de uma nova fase daproduo, estes quarenta trabalhadores sejam novamente integrados. Esta umadiscusso que no pode ser levada adiante neste espao, mas se constitui numtpico que precisa ser examinado mais de perto: as relaes entre os capitaisconstante e varivel.

    O estranho receio dos economistas em demonstrar que sobre o emprego damaquinaria repousa, ao longo do tempo, a grande indstria e que esta absorvede forma sempre renovada excedentes de populao, ridculo. Em primeirolugar, deve ficar claro que a maquinaria boa porque poupa trabalho, e entonovamente boa porque no o poupa seno tomando necessrio num ponto o

    trabalho manual que ela substitui em outro. //1261/ No atravs damaquinaria, particularmente, mas na prpria seqncia do processomecanizado, que os trabalhos auxiliares se fazem necessrios. Para consolo dostrabalhadores, a economia burguesa reporta-se ao trabalho auxiliar como umaforma disfarada de supresso do trabalho estafante, enquanto, de fato, ao ladodos trabalhos antigos, a maquinaria apenas cria novas formas deste trabalhorduo. Ou como continua a se tratar de trabalhadores ocupados no interior daoficina j mecanizada - apesar da maquinaria e apesar de mediante a mesmaaumentar o esgotamento de cada trabalhador isolado -, o nmero de condenadosa este trabalho estafante se eleva. De resto, no este o lugar para aprofundar aquesto, dado que ela toma como pressuposto a reflexo sobre o movimentoreal do capital, reflexo esta que aqui no possvel desenvolver. Todavia, os

    exemplos mencionados h pouco ilustram muito bem como a maquinaria capaz de operar em ambos os sentidos. No cabe tambm estender-se sobre ofato de que junto agricultura deve predominar a tendncia em formar-se umexcedente populacional, no apenas temporrio, mas em termos absolutos.

    Com a maquinaria - e com a oficina mecanizada nela fundada consolida--se a predominncia do trabalho passado sobre o trabalho vivo, no apenas doponto de vista social, expresso na relao entre capitalista e trabalhador, mastambm como sendo uma verdade tecnolgica.

    4. Neste ponto, Marx abre um pargrafo sobre reflexes futuras que devero ser levadas a efeitoainda no interior do prprio manuscrito: uma introduo acerca da contribuio de Andrew Ure(provavelmente o livro The Philosophy of Mal!ufactures) e das cincias sob a perspectiva atagora discutida. O contedo da nota no passa de um lembrete que d curso disciplina do autor:"Es sind jezt noch anzufhren theils die betreffenden Stellen aus Ure etc, theils einiges ber dieWissenschaft und die Naturkrafte".

    109

  • 8/8/2019 Maquinaria e Trabalho Vivo - Karl Marx

    8/8

    Poder-se-ia perguntar como possvel que de forma geral o emprego damaquinaria - abstrado da liberao do capital e do trabalho - possa criar deimediato um novo e mais difundido trabalho (tomado do incio ao fim no seu

    processo como um todo, seja ele diretamente realizado a partir da mquina, sejaaquele que a tenha por pressuposto), que tem de ser menor do que a massa detrabalho contida nas mercadorias anteriormente produzidas sem a maquinaria.Ainda que, por exemplo, o quantum de trabalho contido numa vara de linhofeita sob a maquinaria seja menor do que o quantum dispendido fora dela, nosegue da que, se agora a maquinaria produz mil varas de linho onde antes eraproduzida uma nica, o trabalho no tenha aumentado - no que tange ao cultivodo linho, ao transporte e totalidade dos trabalhos intermedirios. Seu aumentono diz respeito quantidade de trabalho contida numa s vara de linho, mas (eindependentemente do tecido mesmo) maior quantidade de trabalhopreliminar requerido pelas mil varas de linho, seja junto ao prprio trabalhopreliminar, seja junto circulao (transporte) na diferena que uma s vara delinho requer. Cada vara de linho toma-se mais barata sob o trabalho mquina,

    ainda que mil delas ponham em movimento mil vezes mais trabalho auxiliar doque antes poria uma nica.

    110