mãos do mundo
DESCRIPTION
my second published book and first totally digital oneTRANSCRIPT
MÃOS DO MUNDO
(poemas inéditos)
Julia Larré (2011)
O livro “Mãos do mundo” com
poemas de Julia Larré, é dividido
em três partes que se integram,
formando uma visão bem
particular do mundo. A primeira
parte, chamada “mãos do
mundo” possui cinco poemas que
se referem às mãos que tangem o
trabalho como arte. São as mãos
que movem o mundo e que
fazem mover os seres. A segunda
parte, “mundolhares”, é um
reflexo do olhar da poeta sobre
acontecimentos aparentemente
pequenos, mas que fazem notar
uma presença que alimenta os
homens. A terceira e última parte
se chama “o mundo e sua rota” e
possui 23 poemas, numerados de
0 (zero) a 22 (vinte e dois) e cada
um deles corresponde a uma
carta do tarô. Na realidade, as
cartas do tarô são 21, mas a
autora cria mais uma para o início
e outra para o fim, representando
o ciclo intermitente da rota do
mundo e da vida. É a mão que
move e cria, o olhar que enxerga
o mundo e o caminho inevitável.
Palavras-chave: Julia Larré, Mãos
do mundo, Mundo, Mãos,
Poemas, Tarô, Rota,
Mundolhares, presença, trabalho
O musicista
que mulher
esperaria
os teus dedos
a tocar-lhe
o corpo?
entregar
a alma
ao
conhecer o
universo
nas tuas mãos
o sexo
frágil
tempo –
que não passa –
neste encontro.
O ator
a boca
bem sabe
do sorriso
que guarda
o olho feroz
invade
a sala
a cama
invade
a roupa
o rosto
invade
o nada.
Drag-Queen
teu nome soa
ecoa
em meu ventre.
meu corpo sabe
teu reino
é esse.
dorme
que o dia
começa
e teus sonhos
enchem
a noite.
O atleta
o forte
que sabe
do tempo
das horas
certas
de espera
prenúncio
de um
tempo
infinito
as horas
passam
e o
forte
se apega
ao que já
tem.
O poeta
o poema
é um
leito
que
abarca
noites insones
e
desejos.
a árvore
dos frutos
escuros
ilumina
o círculo
do
tempo.
o poeta
traz para
si
a noite
os frutos
a árvore.
e toma
o leito
que corre
sem rumo.
MUNDOLHARES
Imperfeito
o homem
se mata.
planta –
e colhe
frutos.
os frutos
nunca espelham
a alegria
do homem –
estúpido –
ao colhê-los.
é que as horas
não me são
suficientes.
elas vêm
pintam meus dedos
fecham meus olhos
e o sono
não chega.
é que as horas
trazem
de volta
o tempo
que nem houve.
Noite esquecida
à noite
dormem
os pássaros
em minha
janela acesa.
os sonhos
alcançam
suas asas
alçam
o vento
em voos
esquecidos.
à noite
os pássaros
dormem
em mim.
Rio que corre no asfalto
um segundo -
instante
das águas -
destroem
os séculos
as portas
as casas.
Confidência
cão
e seu
dono -
unidade
e
compaixão
do homem
o osso
na boca -
carinho -
olhos
de bicho
cão
e dono
uivam -
noite branca
juntos
ladram
em torno
da morte.
Lotus
ergue-se
em esplendor -
o sol
sabe
de seus segredos
noturnos
de manhã
o lago
em flor
acorda.
Equilíbrio
traços de terra
cheiro de chão –
impossível
não pensar
na hora
alheia.
o equilíbrio –
impossível –
relampejo
amortece os ventos
por segundos.
o equilíbrio –
inalcançável
talvez –
se perpetua
no desejo –
ponderado
de uma
hora
que
passa.
os peixes
das águas
comem a
própria cauda.
Deus
observa.
A uma criança
a verdade
absoluta –
calor
os abraços
entornam
a pele
o amor
transborda
no aperto
o presente
está
em mim
o futuro
revive.
Sorriso
um sorriso
lágrima
disfarçada
por entre
lagos
castanhos.
o sorriso
nos bordados
de uma
mãe
que nas mãos
segura
um pássaro.
Oroboro
a fome
de ser
um só.
engulo
sonhos
desejos
e como –
num só
beijo –
minha própria
mão.
dentro do
ovo
o escuro.
nascer
para a
morte
é
a espera
de cada
um.
viajante
do tempo
cronos
a foice
castra
a
profundidade
de meu
seio.
O MUNDO E SUA ROTA
Poema 0 (zero)
o homem caminha
por entre
nuvens
e
círculo
sabe de sua rota
olha o éter –
o eterno retorno –
corre o risco
de seguir
o caminho
desconhecido.
Poema 1
o mestre
ensina
o lugar
do espírito
sonho
aprendiz
pés descalços.
a lama
é ouro.
instrumentos
são divinos.
o mestre
trilha junto
seu
caminho.
Poema 2
Beth –
a mãe.
o livro
e sua
coroa
sonham
luas.
o pai
bem sabe
do disfarce.
as luas
virão
ao certo
e o ventre
não mais
gestará.
Poema 3
a beleza
tem
seu cetro
e escudo.
a gestação –
suas jóias
e serpentes.
Poema 4
o pai
e sua
figura –
poder
razão
controle.
os chifres
do touro
e a espada –
encontro
perverso
com a certeza
do sangue
derramado.
Poema 5
o material
não
é nada.
o homem
bate
seu cajado
une
céu e
terra
e sabe
que o
tremor
nos leva
a Deus.
Poema 6
completude
e
tentação –
brotos
na árvore
dos amantes.
Poema 7
dois caminhos.
a escolha –
essa
jornada
mental –
traz de volta
a incompletude
de ser.
Poema 8
a boca
do animal
consome
as mãos
da mulher.
realidade
encara
de frente.
Poema 9
qual o
segredo
da chama
que
nasce?
quais os
desejos
do homem
que
me guia?
Poema 10
fim.
bem
sei que
a vida
é uma
roda.
fim –
Poema 11
olhos
cegos
e a visão
do não
e do sim.
causa e
efeito
a espada
se lança
no espaço
do infinito
e corta
o coração
de quem
olha.
Poema 12
a necessidade
do sacrifício
é apenas
um reajuste.
o mundo
gira
ao contrário
ou eu
lutei contra
o cosmos?
Poema 13
esta sou
eu.
a morte.
cavalo branco
porte
de guerra.
guerreio
com o sol
com o homem
minha bandeira –
negra –
fim
anuncia
um ciclo
de mim.
Poema 14
pés descalços –
água.
círculos
concêntricos
almejam
bater na
pedra.
o olho
que vê
flutua
e se perde
na água
que
rebate.
Poema 15
anjo maligno
besta infiel
convence-me
de que não existe
e tenta
limitar a
percepção.
existe –
está aqui
em qualquer
lugar
e
é
meu.
.
Poema 16
esta
é a casa de
Deus
que
o homem
queima
e
revela.
as horas
de
Saturno.
Poema 17
a verdade
se revela
sou herdeiro
de minha
terra
os pais
nos
deixam
verter
na água
e
mergulhar
no
brilho
das
estrelas
do oceano.
Poema 18
a ilusão
de se
achar
humano.
o cão
cava
a terra
e bebe
a água
do lago.
Poema 19
o brilho
que ilumina
as plantas
reside
em mim.
Poema 20
ressuscitar
os mortos –
o toque
da trombeta
revela
o que
o passado
enterra.
Poema 21
o mundo
quase
fecha
sua rota.
a liberdade
da
certeza.
recomeço.
Poema 22
seguir
adiante
o homem
olha
ao redor –
precipício.