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Maçonaria e imprensa nos anos 1930 em Pernambuco Analisando o espaço da revista enquanto elemento fundamental na composição de um campo intelectual para determinado segmento social, François Sirinelli (2003. pp.231-262), observa com tal espaço se constitui num importante ambiente na formulação de sociabilidade, além de lugar imprescindível na fermentação de ideias, que seriam importantes para nortear o horizonte de determinado grupo social e de intelectuais. A partir desta observação que pode ser transposta para a realidade dos maçons pernambucanos, pensados aqui, como ao mesmo tempo atores políticos e intelectuais, através da difusão das suas perspectivas de mundo e que tinham na imprensa por eles patrocinada, possibilidades de irradiação das suas vozes. Tomaremos como exemplo para pensar as visões e posições tomadas pela maçonaria pernambucana, dois periódicos, que de alguma maneira acabavam expressando as visões deste segmento durante a década de 1930, o primeiro deles o Archote, publicação levada a cabo pela Loja Cavaleiro da Luz, que se encontrava localizada na cidade do Recife, e tinha sido fundado no ano anterior, a partir da polêmica que havia se instaurado no estado, devido à questão do caráter facultativo do ensino religioso nas escolas publicas, aprovado pelo governo provisório de Pernambuco, após a Revolução de 1930. Tal questão como já analisamos em outra ocasião, provocou uma ruptura no interior da maçonaria pernambucana, pois o grupo maçônico que atuava junto a este periódico, realizou criticas contundentes, as posições de inatividade tomada pelo Grande Oriente de Pernambuco, acerca desta questão. Mesmo contando com um único número completo, localizado na hemeroteca do Arquivo Publico do Estado de Pernambuco, além de uma página do mesmo periódico, datada de 20 de agosto de 1934, que encontramos em meio ao material recolhido pela Delegacia de Ordem Política e Social possivelmente no ano de 1937. Pode de alguma maneira fornecer as

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Page 1: Maçonaria e imprensa nos anos 1930 em Pernambuco...Maçonaria e imprensa nos anos 1930 em Pernambuco Analisando o espaço da revista enquanto elemento fundamental na composição

Maçonaria e imprensa nos anos 1930 em Pernambuco

Analisando o espaço da revista enquanto elemento fundamental na

composição de um campo intelectual para determinado segmento social,

François Sirinelli (2003. pp.231-262), observa com tal espaço se constitui num

importante ambiente na formulação de sociabilidade, além de lugar

imprescindível na fermentação de ideias, que seriam importantes para nortear

o horizonte de determinado grupo social e de intelectuais. A partir desta

observação que pode ser transposta para a realidade dos maçons

pernambucanos, pensados aqui, como ao mesmo tempo atores políticos e

intelectuais, através da difusão das suas perspectivas de mundo e que tinham

na imprensa por eles patrocinada, possibilidades de irradiação das suas vozes.

Tomaremos como exemplo para pensar as visões e posições tomadas

pela maçonaria pernambucana, dois periódicos, que de alguma maneira

acabavam expressando as visões deste segmento durante a década de 1930,

o primeiro deles o Archote, publicação levada a cabo pela Loja Cavaleiro da

Luz, que se encontrava localizada na cidade do Recife, e tinha sido fundado no

ano anterior, a partir da polêmica que havia se instaurado no estado, devido à

questão do caráter facultativo do ensino religioso nas escolas publicas,

aprovado pelo governo provisório de Pernambuco, após a Revolução de 1930.

Tal questão como já analisamos em outra ocasião, provocou uma

ruptura no interior da maçonaria pernambucana, pois o grupo maçônico que

atuava junto a este periódico, realizou criticas contundentes, as posições de

inatividade tomada pelo Grande Oriente de Pernambuco, acerca desta

questão. Mesmo contando com um único número completo, localizado na

hemeroteca do Arquivo Publico do Estado de Pernambuco, além de uma

página do mesmo periódico, datada de 20 de agosto de 1934, que

encontramos em meio ao material recolhido pela Delegacia de Ordem Política

e Social possivelmente no ano de 1937. Pode de alguma maneira fornecer as

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posições e visões desta sociedade, mesmo que incompletas durante a década

de 19301.

O outro espaço que analisaremos de divulgação de posturas e ideias

maçônicas de Pernambuco será o jornal Mensageiro, órgão patrocinado pela

Loja Maçônica Mensageiros do Bem, da cidade de Garanhuns, que circulou

quinzenalmente, entre os meses de maio a outubro de 1937. Esta folha

maçônica também traz de maneira intensa os debates que norteavam as

reflexões da maçonaria do Estado, mesmo sendo produzido numa cidade do

interior podemos rastrear a partir destas publicações, quais as principais

preocupações deste segmento social, principalmente, porque 1937 foi decisivo

do ponto de vista político, por ser ano pré-eleitoral e também porque tiveram as

suas atividades suspensas.

O Archote, órgão que representava os interesses da Loja Cavaleiro da

Luz, teve uma publicação irregular, surgido como já frisamos a partir das

discussões que tiveram ensejo, devido aos conflitos que se estabeleceram

entre as criticas promovidas por um conjunto de lojas dentre elas, a Cavaleiro

da Luz, este periódico surgiu com a finalidade expressa de tornar-se uma voz

critica com relação aos desmandos promovidos pela influencia da Igreja

Católica junto aos poderes laicos do Estado. A própria denominação escolhida

pelos irmãos maçons da Loja Cavaleiro da Luz remetia para qual seria o

objetivo principal do jornal, o de constituir-se numa tocha luminosa a espantar e

combater as “trevas” propiciadas pelo obscurantismo religioso promovido pela

intelectualidade católica de Pernambuco, através dos seus espaços de

proposição de ideias.

Lançando uma análise sobre o material que encontramos na edição de

maio de 1932, além do extrato do Archote de 20 de agosto de 1934,

encontrado em meio ao dossiê da Loja Fraternidade e Progresso, da cidade de

1 NASCIMENTO, Luís do. História da Imprensa de Pernambuco. Recife: Imprensa Universitária, 1967, p.39 (Vol. 9).

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Goiana, podemos observar que esta publicação tinha como tônica e alvos

principais as práticas desenvolvidas pelos segmentos do catolicismo em

Pernambuco.

Podemos encontrar nas folhas deste órgão, artigos que se voltavam

para os religiosos católicos, sempre representados como sujeitos que tinham

como finalidade ludibriar a boa fé das pessoas apresentando formulas que

muitas vezes não correspondiam a realidade. Um desses exemplos, podemos

constatar, no artigo encontrado na página 3, e que tinha por titulo A Confissão,

assinado sob a forma de um pseudônimo, pratica muito comum neste

periódico, principalmente, nos artigos que realizavam críticas contundentes às

práticas religiosas do catolicismo. O foco principal do artigo era realizar uma

reflexão sobre um dos mais importantes sacramentos do catolicismo, a

confissão, porque simbolizava a remissão aos pecados praticados pelo fiel, e

que poderiam desencadear na possível absolvição do fiel. Porém, tal visão foi

por parte do Archote alvo de questionamento, vejamos:

Analysae as religiões, uma por uma, compare-as e verificaeis

que, de todas as religiões das civilizadas, a que da mais ampla

liberdade para o mal é a religião romana. E é fácil de aprehender

isso immediatamente, seu largo raciocínio e sem buscarmos as

bases da maldade, em que ella se fundou. Sabeis que pela

“confissão” a criatura deposita no confessionário todo o enredo

de suas misérias Moraes, Espirituaes e phisicas, e ahi obtem as

penitencias e as indulgências, digamos, o perdão de todo o seu

mal proceder. O saco que havia levado para o templo, cheio de

suas ignominias ou de suas simples contravenção a moral

christã, esvasiou-se vindo para fora, assim vasto, a encher-se

novamente. Indulgências são comparadas directa ou

indirectamente. O direito de peccar é livre só há para os

pecadores o dever de contar aos padres as suas faltas publicas

ou privadas. Santa ingenuidade! Até quando reinaes entre as

mulheres de minha terra? Século XX! Até quando guardaes esse

atrazo inconcebível? E ainda há criaturas humanas, intelligentes

por supposto, que se confessam e a quem: admitamos que não

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façam a padres devassos, mas sim a virtuosos prelados e de

uma moral irreprehensivel2.

Como podemos observar ao descortinar os elementos principais da

pratica da confissão, o articulista do Archote pretendia desvelar o caráter

nocivo que tal ato propiciava para o católico, pelo fato de que a confissão abria

espaço para o individuo ao expor os seus erros e conseguir a absolvição, o que

na visão de A. T, colaborava para que ele incorresse no erro novamente, pois

trocava os seus supostos pecados por indulgencias. O mais irracional de tal

pratica, segundo o articulista, residia no fato de revelar os seus erros e receber

a absolvição de uma pessoa que, na visão do autor do texto, encontrava-se

exposto ao pecado. Ao lançar esta questão, o artigo do Archote não concebia

que a figura do padre/sacerdote tivesse qualquer tipo de atributo que o

colocasse numa posição superior ao dos seus seguidores católicos.

Nos parágrafos mais a frente do artigo, A. T, desnudava os malefícios a

que se prestou a confissão ao longo da histórica do catolicismo, na sua

avaliação, o confessionário foi o lugar de todo o tipo de crueldades,

profanações e estratégias para que os representantes do catolicismo tivessem

vantagens. Ele lista uma extensa quantidade de benefícios, que passavam pela

atuação dos jesuítas que utilizavam a influência de serem os confessores junto

a nobreza e grupos privilegiados, para ter posse sobre segredos de estado o

que colaborava por influenciar os jogos políticos ao seu favor. Além de ser o

confessionário um espaço privilegiado para praticar assedio contra as

mulheres.

Ainda no mesmo número outro artigo intitulado Comentário oportunos,

expõe as estratégias usadas pelo catolicismo, para ganhar espaço junto à

sociedade, através da atuação de organizações com supostas finalidades de

desenvolvimento de atividades sociais missionárias em muitos países do

mundo, tendo nas diversas ações um forte trabalho junto ao operariado. Esta

2 A. T. A Confissão. Archote. Recife: maio de 1932, p.3.

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atuação era compreendida pelo autor do artigo, como uma pratica do

clericalismo, que segundo ele, dia a dia conquistava cada vez mais influência,

em muitas cidades ou regiões de outros estados, mas que no próprio estado,

nos seus vários municípios, e na cidade do Recife colaborava no sentido de

ampliar o poder e influência da Igreja Católica.

Podemos observar na avaliação do articulista um tom de preocupação

com a expansão de tal ideário, pelo fato dele ser compreendido, pela ótica da

imposição de uma posição intolerante, por parte dos representantes do

catolicismo que segundo observa o autor do texto “A irradiação maléfica do

clericalismo já atingiu os meios operários e não há quem lhe escape [...] Assim

é que ai daquele que, operário, não fizer a sua profissão de fé catholica! ” 3. A

partir destas palavras, a publicação maçônica evidenciava o caráter pernicioso

e, ao mesmo tempo, perigoso do catolicismo, enquanto, instituição, enfatizando

a posição da maquinação como recurso por trás das suas “bem intencionadas”

ações.

O tom de critica e anticlericalismo não sofreram mudanças na linha

editorial do Archote, pelo que pudemos observar a partir do seu número de

agosto de 1934. Neste número a denúncia aos procedimentos educacionais

executados por uma educadora de orientação católica, no espaço de uma

escola publica no município de Recife era denunciado. Sob o título de

“Castigos inquisitoriais”, o autor do artigo que assinava sob o pseudônimo de

Vigilante, associava as praticas de uma jovem professora de uma escola

municipal recifense, que baseava sua pratica pedagógica na humilhação e no

castigo excessivo, como estratégias educacionais efetivas para um melhor

processo ensino-aprendizagem, ao analisar a concepção educacional desta

professora, o vigilante comparava, o pouco avanço das estratégias

educacionais cultivadas pelos educadores de orientação católica, pois as

3 COMENTÁRIOS oportunos. Archote. Recife, maio de 1932, p.4.

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relacionavam com as executadas pela Inquisição4, denunciando o atraso

representado pelas concepções educacionais defendida na pedagogia católica.

Ao destacar e promover tal associação, o Vigilante não o fazia de

maneira aleatória, utilizava como traços estilísticos no seu discurso uma fina

ironia. Ao associar o fato da jovem professora pertencer à associação das

filhas de Maria, através desta comparação, o autor do artigo apontava e

relacionava a vinculação pedagógica da professora à visão de mundo católica

e clericalista.

Ao chamar a atenção para este fato, o Vigilante, reforçava o seu

discurso anticlerical, com o objetivo de estabelecer, que tais praticas não

estariam distantes do que a Igreja Católico ao longo dos séculos pregava,

sobre este tocante, o autor finalizava o seu texto com a seguinte reflexão “A

doutrina da Egreja Romana em todos os tempos é o cré ou morre,[...] portanto

os castigos corporaes sejam o único meio que ela emprega e recomenda aos

seus adeptos”5.

A ironia e a critica aos religiosos ligados a Igreja, não cessava com as

denuncias realizadas pelo vigilante e expostas no paragrafo acima,

reproduzindo uma quadrinha popular, o Artilheiro outro dos articulistas do

Archote, reproduzia uma pequena poesia de domínio popular que reforçava

alguns estereótipos sob os quais, eram representados os religiosos católicos:

“Menino só fala em bôlo, Só em pão fala o padeiro; Padre só fala em dinheiro6.

Ao dar publicidade a estes versos, a folha maçônica reafirmava a visão que

nutria a respeito dos representantes do catolicismo, pintados como indivíduos

havidos por vantagens financeiras, imaginário que fazia parte de uma tônica

anticlerical, que tinha nos segmentos maçônicos e liberais espaços de

propagação e que não deixava de formular imagens negativas com relação a

este segmento social, colaborando de alguma forma para reafirmar concepções

4 VIGILANTE. Castigos inquisitoriais. Archote. Recife, agosto de 1934, p.4. 5 VIGILANTE. Castigos inquisitoriais. Archote. Recife, agosto de 1934, p.4. 6 ARTILHEIRO. Estilhaços (anedotas populares). Archote: Recife, agosto de 1934, p.4.

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estigmatizadoras dos religiosos católicos, demonstrando o poder que os órgãos

de imprensa possuíam na construção de visões a respeito de determinados

segmentos, ao mesmo tempo que não podemos deixar de pontuar que mesmo

sofrendo construções discursivas negativas a estratégia de reestruturá-las e

emiti-las aos seus opositores, não colocava os maçons numa posição diferente

dos seus supostos algozes na disseminação de visões negativas e intolerantes.

(SILVA, 2013; SILVA, 2012).

O viés anticlerical assumido pelo Archote constituía-se numa dimensão

política, pois ao levantar-se contra o clericalismo numa defesa cerrada aos

valores liberais que deveria nortear a sociedade, principalmente, princípios que

seriam feridos frente às investidas do clero católico, sobre questões como os

referentes ao ensino nas escolas publicas, ou privilégios concedidos pelo poder

público a este segmento religioso, os maçons demarcavam quais as suas

concepções políticas a respeito de temas como educação e sociedade.

Atuando um pouco de forma diferente do Archote, O Mensageiro órgão

jornalístico patrocinado pela Loja Maçônica Mensageiros do Bem da cidade de

Garanhuns, não centrou apenas a sua munição nos representantes da

hierarquia ou da militância católica, o seu alvo também foi outro, os

integralistas. O conteúdo que este órgão pretendia divulgar, além das noticias

da politica e da realidade cotidiana da cidade de Garanhuns e região,

passavam pela veiculação da propaganda institucional e o combate, muito

propicio ao longo da década de 1930 com expansão de Culturas Políticas de

viés autoritários e fascistas orientados pelos pressupostos do integralismo.

No seu número de abertura, O Mensageiro, apresentava e defendia os

quais princípios norteavam o ideário político defendido pela maçonaria,

utilizando como pano de fundo das reflexões, o cenário difícil enfrentado pela

Maçonaria, principalmente, na Europa, quando em várias nações como:

Rússia, Alemanha, Itália e Portugal, sofria uma perseguição velada. Tal

realidade apresentada pelo Vigilante, alcunha utilizada pelo autor do texto,

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demonstrava o fruto dos regimes ditatoriais europeus e ao mesmo tempo,

servia como espécie de alerta para a nossa conjuntura.

Analisando tal aspecto, o articulista não concebia nenhuma diferença

entre estes sistemas de governo, não realizando nenhuma clivagem entre as

posições ideológicas fossem elas de direita ou de extrema-direita, como os

analistas na maioria das vezes os enquadravam. Na visão do Vigilante, todos

eles eram iguais, pois limitavam a liberdade dos indivíduos e os pressupostos

liberais e democráticos. Ao lançar esta visão o autor do artigo deixava expresso

qual era o lugar ocupado pela maçonaria, no interior destas relações de forças:

Estamos daqui a ouvir a gargalhada dos inimigos da maçonaria, rodando satisfeitos, do <<alto>> dos seus tamancos... É que a maçonaria é um fator de desordem, dirão eles. Será mesmo por isso, leitor benévolo? Não a verdade infelizmente para eles e felizmente para nós, é bem outra [...] A Maçonaria proclama a <<absoluta liberdade de crença>>, de pensamento, de acção, quando essa acção não venha ferir os interesses coletivos. A Maçonaria combate toda e qualquer manifestação de violência, de opressão, de garroteamento das liberdades sociais. A maçonaria combate os tiranos, aniquila os soberbos abomina os que tem prazer no crime e na guerra7.

Ao reproduzir este sentimento o periódico maçônico deixava evidenciar

qual seria o lugar institucional maçônico, dentro do ethos político da década de

1930, podemos assim observar expressa nesta postura política da Maçonaria:

a defesa aos princípios liberais, ideário que também desde as décadas iniciais

do século, foi alvo de preocupação e fazia parte da sua Cultura Política, a partir

do que pudemos rastrear nas suas publicações. (ABREU. (org).,2007;

AZEVEDO. (org)., 2009)

A defesa a estes princípios que podemos identificar como relacionados a

liberal democracia, colocava a maçonaria num campo oposto, como já

sinalizamos, ao representado pelo integralismo, doutrina política que construía

7 VIGILANTE. Para Pensar. O Mensageiro, 15 de maio de 1937, p.1.

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no seu campo discursivo, uma critica contundente a tudo que representava a

liberal democracia, e os seus defensores. E nesta dimensão a perseguição a

maçonaria se justificava, pois, ela era uma das instituições que tinham no

ideário liberal sua base de formação, além claro, das suas características de

sociedade iniciática, o que no interior de regimes, onde a vigilância constante e

supressão das liberdades, fazia com que a maçonaria aparecesse como uma

instituição perigosa.

Reproduzindo um pouco desta lógica de construção negativa, que tinha

espaço na imprensa e entre os segmentos contrários a Maçonaria, no mesmo

número de abertura do quinzenário o Mensageiro, encontramos na última

página da publicação uma resposta às incursões feitas pelo Jornal Integralista,

A Razão, da cidade de Garanhuns. No artigo da Razão, assinado por Manuel

Virginio sob o pseudônimo de Lídia Cansanção8, as denuncias feitas contra a

Maçonaria era de serem um conluio de ateus e contrários a religião, como

resposta a tais acusações o articulista desferia um conjunto de posições

contrárias a estas afirmações, mostrando que defender tal posição era

desconsiderar os muitos católicos, protestantes e deístas que participavam

desta sociedade9.

Observando que a estratégia principal da jornalista integralista era

denegrir a imagem da maçonaria enquanto instituição, o vigilante, não deixou

de soltar as suas alfinetadas a respeito dos reais motivos dos camisas verdes,

voltarem o seu arsenal contra os maçons:

A soma de serviços prestados pela maçonaria ao mundo – e particularmente ao brasil – é tão grande, tão valiosa, que todas as forças verdes, pretas, azues, vermelhas ou cinzentas do mundo, reunidas. Não conseguiriam apagar da memoria dos povos, dos anaes das nações, os benefícios de uma associação

8 Sob a verdadeira identidade da articulista do Jornal A Razão, Lídia Cansanção ver: NASCIMENTO, Luís do. História da Imprensa em Pernambuco (1851-1954). Recife: Editora Universitária da UFPE, 1986-1994, p.174. 9 _______. Teimosia. O Mensageiro, 15 de maio de 1937, p.4.

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que tem como fim principal <<cavar ruinas ao vicio e erguer templos à virtude>>10.

Ao apontar estes aspectos os filhos da viúva, pretendiam construir sobre

as suas ações uma visão que ressaltasse a importância institucional desta

entidade frente às criticas muitas vezes maliciosas, das quais eram alvos. Ao

ponderarem sobre tais aspectos, os maçons pernambucanos não perdiam de

vista, os principais responsáveis por esta ação, e sob eles destacavam a mais

negativa visão, apontando as suas relações com o ideário totalitário e vendo os

integralistas como arremedo ridículo dos partidos totalitários da carcomida

Europa, partidos que representam os últimos arrancos do absolutismo, prestes

a ser devorado pelos seus próprios adeptos11. Diante destes argumentos,

podemos considerar qual o lugar ocupado pela maçonaria dentro do cenário

político e ideológico, o da defesa das forças e princípios liberais, frente à ação

conservadora, antiliberal e antidemocrática, proposta pelos camisas verdes.

O embate entre as forças do sigma e os pedreiros livres seria uma

constante, nas folhas do quinzenário maçônico de Garanhuns, em quase todos

os números, encontramos artigos produzidos pelos intelectuais maçons ligados

a este órgão de imprensa, tendo como fio condutor os verdadeiros objetivos

dos partidários do integralismo, e qual a sua finalidade política. Seria explorado

por este periódico, noticias que estabeleciam as relações entre o integralismo e

as suas simpatias ao nazismo12.

Pretendendo ainda dar destaque as ações do integralismo no Brasil,

constituindo numa maneira de questionar a validade desta proposta política, e

com o objetivo expresso de combater a propaganda do sigma na cidade de

Garanhuns e na região, o número do Mensageiro de 25 de julho de 1937,

trouxe na capa principal, sob o titulo de Documentário dos jornais, um

apanhado de noticias colhidas junto a imprensa nacional, com relatos de vários

10 VIGILANTE. Teimosia. O Mensageiro. Garanhuns/PE, 15 de maio de 1937, p.4. 11 Idem, p.4 12 VIGILANTE. Gato escondido. O Mensageiro. Garanhuns/PE, 27 de junho de 1937, p.4.

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atos de violência encetados pelos partidários do sigma contra adeptos desta

doutrina política que pretendiam se desligar da agremiação, um dos casos

citados foi o jornalista Paulo Zing, outros exemplos transcritos pelo quinzenário

maçom, davam conta de posições defendidas por lideranças do integralismo,

como o seu representante máximo Plinio Salgado, que teria defendido o uso da

violência contra os partidários da Democracia Liberal13.

A utilização de uma coletânea de noticias que destacavam as ações

violentas dos adeptos do integralismo constituía-se numa maneira de combater

tais forças utilizando-se do mesmo expediente de que os maçons sempre

foram alvos, o de fornecer um conjunto de noticias que se destacavam por

enfatizar atitudes suspeitas e negativas. Ao dar publicidade a tal conteúdo, os

maçons pretendiam estabelecer a visão de que a mensagem do sigma era

extremamente perigosa, uma vez que, embasava seu campo de ação no

extremismo e no uso da violência.

Não eram somente as contendas que preenchiam as folhas do

Mensageiro, como já sinalizamos, estes periódicos tinham também como

preocupação, veicular uma imagem das ações institucionais dos maçons.

Orientado por esta perspectiva, encontramos a preocupação da folha maçônica

em estruturar uma publicidade, para a sua atuação na cidade de Garanhuns e

região. Através de projetos que do ponto de vista mais imediato, extrapolavam

o campo do discurso e da denúncia e assumiam uma proposta concreta de

ação, a este respeito, temos a manutenção da Biblioteca Manoel Arão e da

escola sete de setembro.

No caso da biblioteca encontramos na página principal do dia 27 de julho

de 1937, no cabeçalho deste periódico, uma mensagem que conclamava os

intelectuais da cidade a juntarem esforços aos maçons na contribuição de

obras para melhorar o acervo deste gabinete de leitura, frisando ainda que se

tratava do único espaço dedicado a leitura e empréstimo de livros existente na

13 DOCUMENTÁRIO (dos jornaes). O Mensageiro. Garanhuns/PE, 25 de julho de 1937, p.1.

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cidade14. Ao frisar tal aspecto, os maçons procuravam extrapolar as portas dos

seus templos e os muros das suas lojas, e numa campanha que promovesse a

mobilização social entre os cidadãos de Garanhuns, procurando envolver

assim, independente da filiação maçônica indivíduos que colaborassem com o

desenvolvimento de práticas de leituras na cidade.

Por trás desta conclamação, estava em alguma medida a estratégia por

parte dos filiados da Loja Maçônica Mensageiros do Bem, de estabelecer elos

entre a instituição e a sociedade, com a clara postura de desenvolver uma

aproximação e abertura das ações maçônicas à comunidade ao mesmo tempo

em que, se pretendia colaborar a partir deste processo de visibilidade que

ocorresse um processo de desmistificação com relação a maçonaria, enquanto,

instituição, pois construía a imagem de uma sociedade que deslocava-se da

sua áurea de mistério e apresentava-se a sociedade.

A manutenção tanto da biblioteca quanto da escola sete de setembro,

era compreendia pelos maçons como obras concretas no sentido de, afastar a

ignorância e obscurantismo da sociedade. Sendo a preocupação com a

instrução, um ponto central no interior de suas concepções à base que tornaria

possível o progresso e desenvolvimento de uma nação.

A preocupação com a alfabetização, principalmente, voltada aos setores

menos favorecidos, despontava como uma das preocupações maçônicas, por

isto a escola por eles patrocinada tornava-se num espaço, por parte dos

obreiros da Mensageiro do Bem, possuindo uma missão fundamental e

“dedicada ao ensino da creanças desprotegidas da sorte”15, ao apontar o seu

publico alvo como sendo prioritariamente, os menos favorecidos os maçons da

cidade de Garanhuns colocavam em prática, uma ação que animava toda a

maçonaria pernambucana e brasileira, que se desdobrava também numa ação

política, a da defesa do acesso a educação aos setores menos favorecidos da

14 PROPAGANDA da Biblioteca Manoel Arão. O Mensageiro, 27 de junho de 1937, p.1. 15 ESCOLA sete de Setembro. O Mensageiro. Garanhuns/PE, setembro de 1937, p.6.

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sociedade, uma antiga bandeira maçônica, e que a partir das décadas iniciais

do século XX, foi tomando corpo e se concretizando com o patrocínio de alguns

estabelecimentos de ensino franqueados ao público em geral.

A edição do quinzenário maçônico do dia 07 de setembro de 1937

destacou-se em relação aos outros números, devido ao número de páginas do

jornal que ultrapassava as vinte. Podemos observar uma dupla finalidade com

relação a tiragem do mensageiro do dia da Independência do Brasil, a primeira

delas a de constituir-se numa edição comemorativa, a data magna da pátria,

com este objetivo encontramos vários artigos que discutiam a importância do

sete de setembro para a sociedade brasileira, inclusive trazendo uma

programação de festividades organizadas pela loja Maçônica Mensageiros do

Bem.

Ao lado do caráter festivo, podemos considerar que o conjunto de artigos

e ações elencadas pelo periódico maçônico, serviram na formulação de uma

imagem e uma memória positiva com relação a esta instituição e sua

importância no desencadeamento deste processo, procurando através dos

textos construir sua versão histórica a respeito deste processo.

Um exemplo desta afirmação, pode ser observada na imagem da

primeira página do Mensageiro do dia 07 de setembro de 1937, como é

possível observar abaixo:

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Fonte: O Mensageiro. Garanhuns/PE, 07 de setembro de 1937, p.1.

Como analisa o historiador Eduardo França Paiva, a iconografia,

enquanto, fonte histórica proporciona várias possibilidades de análise,

tornando-se desta forma, um rico material para a reflexão de um determinado

contexto e das mensagens que o material iconográfico pretende encerrar. Sob

tal aspecto, um conselho importante fornecido pelo autor, é o de tratar este

material, com os mesmos questionamentos que abordamos as demais fontes

históricas, lançando perguntas como: Quando? Onde? Quem? Para quê? Por

que.

Indagações que nos ajudam a interpelar e procurar construir sobre as

nossas fontes históricas explicações. Outro importante conselho seria o de que

não podemos tomar as imagens como retrato da realidade, mas perscrutar os

seus significados no processo de composição, encarando o material

iconográfico, questionando as motivações e objetivos que podem ser

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decifrados a partir do que foi estabelecido nas fontes iconográficas. (PAIVA,

2006, pp.17-35).

A partir das considerações levantadas acima e tendo a imagem em tela,

é possível observar a carga de sentimentos que os maçons da oficina

maçônica Mensageiros do Bem, pretendiam despertar com a publicação desta

imagem da capa principal do seu periódico. Tendo no primeiro plano a imagem

de uma liberdade tocando uma corneta que trazia os signos da maçonaria,

torna-se muito sugestivo, pensar a respeito da importância que a instituição

pretendia constituir da sua participação no interior do processo de

Independência nacional. O toque da liberdade maçônica animava e de certa

forma conduzia o futuro imperador Dom Pedro, que aparece no primeiro plano

da imagem empunhando uma espada e liderando os seus soldados, numa

clara menção ao desfecho do processo que resultaria na emancipação

nacional.

No segundo plano é possível identificar outro signo importante dentro do

cenário a imagem do sol despontando no horizonte, tendo como possibilidade

de leitura, o novo momento que surgia para o Brasil e a possível iluminação

para os embates futuros, realidade que não deixava de relacionar-se ao lugar

desfrutado pela instituição no desenrolar do processo. Ainda, no interior deste

cenário, onde encontramos a maçonaria surgindo como um ícone importante

no processo de libertação da nação é possível encontrar ainda no interior da

visão maçônica, uma dimensão tradicional no campo da compreensão da

História, elementos que podemos inferir ao construir a perspectiva de que o

processo histórico havia se desenrolado frente à liderança da figura de Dom

Pedro I que guiava todos com a espada em punho iluminando o caminhos dos

seus subordinados no processo de libertação. Mesmo tendo a imagem da

liberdade maçônica como referência maior, o que se pretendia destacar era à

importância assumida por esta instituição, formulando a compreensão histórica

do papel da maçonaria na dinâmica deste evento. Mesmo tendo a figura de D.

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Pedro num primeiro plano como possível herói, a própria instituição não

deixava de se colocar neste lugar dentro desta chave de leitura e interpretação.

Esta imagem como já apontamos é extremamente significativa da

perspectiva do que a maçonaria pretendia adotar, no interior da representação,

da memória e da consciência histórica desta instituição frente à sociedade.

Neste sentido, como representação de qual teria sido o seu papel nos

desdobramentos que teriam inaugurado o sete de setembro, a própria

publicação se prestava como uma espécie de documento-monumento no

sentido de ativar e construir uma determinada memória e consciência histórica

que fornecesse a Maçonaria no interior do processo histórico uma determinada

forma de como ela pretendia ser representada e até mesmo compreendida. (LE

GOFF, 2003; RÜSSEN, 2009, p.163-209).

Após a publicação deste número o Mensageiro contou apenas com mais

duas tiragens a lançada no dia 19 de setembro, onde vários artigos noticiavam

como haviam ocorrido as comemorações ensejadas pelo sete de setembro

tendo como uma das principais organizadoras a Loja Maçônica Mensageiros do

Bem. E a que circulou por volta do dia 10 de outubro de 1937, dias antes da

ordenação de fechamento das lojas maçônicas pelo governo Vargas. Durante

estes oito meses de publicação ao longo de 1937, o Mensageiro tornou-se uma

das únicas vozes públicas da maçonaria pernambucana, através deste

periódico podemos compreender que do ponto de vista político os maçons

permaneciam aliados ao ideário liberal, e tentando constantemente, se

divorciar da visão de comporem um braço avançado da propaganda comunista

e do judaísmo, aspecto que foi sendo imposto à maçonaria e que soou como

uma das justificativas para o fechamento das suas atividades ainda no mês de

outubro de 1937.

A interdição às atividades desta sociedade ocorreu num período

extremamente empolgante e complexo do ponto de vista político, pelo fato de

que era um ano pré-eleitoral. Ao analisarmos os artigos que foram publicados

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neste órgão de imprensa, durante este ano encontramos nas suas páginas

vários espaços entre artigos e mensagens de efeito no cabeçalho da página do

jornal, que traziam uma clara simpatia à candidatura de José Américo,

compreendido como uma força política que propunha uma proposta alternativa

ao fascismo integralista, mesmo esta sendo uma posição nutrida pelos maçons

de Garanhuns, não podemos deixar de observar a possibilidade de que esta

fosse uma posição que tinha adeptos no interior de outros espaços no estado

de atuação maçônica.

Além, das simpatias no campo de vista político encontramos ainda nas

suas páginas uma forte tentativa, em desfazer muitos dos preconceitos a que

os maçons eram alvo, estabelecendo enfretamentos com os setores por eles

considerados como os principais promotores destas visões, que seriam os

intelectuais conservadores e antiliberais, dentre eles os integralistas sempre se

constituíram em alvos das suas criticas. É inegável o papel desempenhado por

estes setores, unidos aos intelectuais católicos muitos deles simpatizantes do

credo verde, na construção de uma visão negativa sobre a Maçonaria,

principalmente, numa fase onde crescia de forma assustadora a descrença

tanto no liberalismo quanto na Democracia Política.

Tendo como conjuntura a realidade intolerante dos anos 30 e a

aproximação dos setores intelectuais conservadores a espaços de decisão de

poder, podemos compreender a campanha velada que seria imposta a

maçonaria, tendo nos órgãos de imprensa ligados aos intelectuais

conservadores um espaço de promoção. Onde os maçons e a sua instituição

passavam a ser cada vez mais representadas com as cores do vermelho

comunista e do judaísmo, tendo a maçonaria como uma das patrocinadoras de

um plano político e diabólico que tinha objetivos muito precisos a

desorganização da sociedade ocidental, atacando os valores religiosos,

compreendido pelos setores contrários a maçonaria, como uma das bases

fundamentais desta sociedade.

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Assentados nesta lógica e nos conduzindo pelos artigos que por ora

exploramos ao longo deste artigo, é possível observamos alguns aspectos, que

contribuem para que possamos compreender os motivos que levaram a

proscrição de 1937. Neste tocante seriam eles: a posição no universo da

Cultura Política adotada pela Maçonaria, ao longo da década de 1930 e 1940,

em posicionar-se num espectro político de defesas de um ideário liberal; outro

aspecto mesmo, observando esta descontinuidade representada pelos seus

periódicos, seriam as posições de confronto com o ideário católico cristão que

passou a partir de 1937, a estabelecer espaços cada vez maiores dentro do

estado em questões como por exemplo, as educacionais, nos quais maçons e

católicos rivalizavam e, o último dos aspectos que foi o de que enquanto, em

outros estados a Maçonaria conseguiu ainda durante o estado novo reabrir os

seus templos em Pernambuco, o fechamento continuou até o fim do Estado

Novo. Sob tal questão como uma das possíveis respostas para tal perspectiva,

procuramos apresenta-la, através do poder que o laicato católico usufruiu nos

anos Agamenon em Pernambuco.

Os aspectos acima apresentados contribuem, no sentido de que

possamos, a partir deste confronto político cultural, que mobilizou posições e

forjou culturas políticas diferentes, entre intelectuais católicos e maçons, seja

possível que possamos compreender um pouco mais focalizando o nosso olhar

sobre estes personagens a dinâmica da Era Vargas, e os caminhos que a

imprensa, tolerância e Política desempenharam ao longo deste período.

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