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MANUAL DO PROFESSOR PNLD LITERÁRIO

Agosto

Rubem Fonseca (texto)

Luciana Possagnolo (manual)

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CARO EDUCADOR,

É com prazer que a Ediouro Publicações de Lazer e Cultura apresenta aqui este Manual do Professor Digital para a obra Agosto. Trata-se de uma proposta que visa con-tribuir para a formação de leitores autônomos, críticos e apaixonados pela leitura, contando com a sua mediação e a da escola.

Acreditamos que ler é uma prática que se aprende e se ensina, dado que não é um ato natural como a fala, por exemplo. Um leitor não nasce pronto, precisa ser forma-do. A aprendizagem da leitura envolve a aquisição de uma série de competências e habilidades que devem ser traba-lhadas na escola por meio de estratégias e projetos que pos-sibilitem a compreensão da leitura pelas crianças e pelos jovens como uma prática social, uma ferramenta que lhes possibilitará não só a comunicação com aqueles com quem se relacionam, mas a compreensão de si próprios e do mun-do em que vivem.

Este Manual é um convite à EDUCAÇÃO LITERÁ-RIA, aquela que, como define o educador espanhol Carlos Lomas, “se orienta não só para o conhecimento das obras e dos autores e autoras mais significativos do cânone lite-rário, mas, também e sobretudo, para a aquisição de hábi-tos de leitura e de capacidades de análise dos textos, para o fomento da experiência literária em torno de diferentes tipos de texto e, inclusivamente, para o estímulo da escrita criativa de intenção literária”.

Entendemos que a educação literária é algo que começa na mais tenra idade, em casa e em família, se estende por

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toda a vida do indivíduo, inclusive a vida escolar, pois acre-ditamos que aprender a ler é muito mais que aprender a de-cifrar palavras. Nessa perspectiva, este Manual será sempre uma dentre as inúmeras possibilidades de trabalho para a construção de um leitor autônomo.

Sendo assim, convidamos você, caro educador, a tomar o livro Agosto como um ponto de partida para sua progra-mação do ensino da leitura em sua escola. Disponibiliza-mos sugestões de atividades para poder oferecer aos seus alunos razões e opções para ler, multiplicando e diversi-ficando situações de leitura que, sabemos, são infinitas. Quanto mais ricas e variadas elas forem, mais chances as crianças e os jovens terão de aprender por meio dos textos que leem.

Apostamos no papel fundamental do professor e da es-cola como mediadores de leitura e entendemos que tam-bém é nossa função, como editores, fortalecer e estimular as relações estabelecidas entre o livro e o leitor, porque cremos na condição formativa da literatura, não só no contexto didático-pedagógico, mas como possibilidade de desenvol-vimento da imaginação e da criatividade do ser humano.

Esperamos que este Manual se constitua numa ferra-menta de acesso à língua escrita e compreensão leitora, elementos essenciais tanto para a apropriação de todas as matérias do currículo escolar como para a construção de cidadãos atuantes na sociedade em que vivemos.

Ediouro Publicações de Lazer e Cultura

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CONHECENDO O AUTOR E SUA OBRA

• Rubem Fonseca nasceu em Juiz de Fora — MG, em 1925, mas cresceu no Rio de Janeiro, cidade onde vive até hoje (2018). Antes de ser um dos mais conhecidos e premiados escritores brasileiros, formou-se em Direito e foi comissário da Polícia Militar, experiências que lhe rende-ram proximidade com os meandros da violência carioca, os quais passaram a ser retratados em seus contos e romances.

Agosto é um de seus romances mais reconhecidos, no qual o autor remonta o drama psicológico, político e social que resultou no suicídio do Presidente Getúlio Vargas, no Palácio do Catete, Rio de Janeiro, em 1954.

• Ao abrir um romance, todo leitor busca, de alguma maneira, conectar-se a outras experiências de vida; encon-trar ali alguém como ele, em situações que experimentará algum dia ou que jamais espera viver. Entender o que é ser um outro, morar em terras distantes, falar uma outra língua, ter outro sexo, experimentar um modo diferente de estar no mundo.

O romance, enquanto gênero, promete tudo isso a seus leitores e leitoras — que têm diferentes idades, cren-ças, valores, níveis de instrução e perspectivas pessoais e sociais muito diferentes entre si. Portanto, a pluralidade no romance como um sistema de “representações de lingua-gens”, nos termos de Bakhtin, envolve não só personagens e narradores(as), mas também seus(suas) diversos(as) leito-res(as) e autores(as). Na Teoria do romance — obra-prima ensaística fundamental para entendermos o que ocorreu à vida e à narrativa da vida nos últimos dois séculos —,

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Lukács evidencia como o romance configura-se, justamen-te, em um mundo no qual, à diferença do universo da épi-ca, o sentido não é mais dado, imanente às coisas, mas deve ser construído.

Nessa obra ficcional, a reconstituição histórica ocorre entrelaçada a outros crimes e personagens criados pelo au-tor, fazendo jus, inclusive, ao sentido grego do verbo istoreo — historiar: perguntar, investigar. O romancista reconta/investiga/questiona a história ao reaproximar-se das cenas, pessoas e intrigas daquele período, buscando desfraldar, com os leitores, novas dimensões no fato histórico: o que mais pode nos revelar o suicídio de Getúlio? O que é vio-lência? Quem é culpado? Quem é inocente?

• O período histórico do Brasil e da cidade do Rio de Janeiro nos anos 1950, conhecidos do autor, estão re-tratados no livro em ruas, instituições, personagens e am-bientes. Mas a capital da República não se restringe aos atributos que lhe conferem o título de “cidade maravilho-sa”; é vivida como um ponto de tensão. Por ali circulam e convivem autoridades políticas, militares, jornalistas, policiais, criminosos, prostitutas e os mais diversos tipos sociais. A corrupção, o luxo e a miséria também ocupam o centro de decisão política do “cartão-postal” do Brasil, ma-nifestos em personagens e tramas reais e imaginados pelo brilhante escritor.

Agosto foi publicado em 1990 e, em 1998, já havia sido publicado em diversos países, como: México, Colômbia, Portugal, Itália, Espanha, Holanda, França e Alemanha.

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Também deu origem a uma minissérie de TV, exibida no Brasil em 1993.

• Rubem Fonseca inscreve-se na tradição da narrativa urbana carioca, da qual fazem parte, dentre outros, Macha-do de Assis, Lima Barreto e João do Rio. É também autor de Bufo & Spallanzani (1986), Vastas emoções e pensamentos imperfeitos (1988), entre muitos outros romances e contos.

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POR QUE VOCÊ VAI GOSTAR DESSE LIVRO

“O livro que não deixará mais você em paz!”, prome-tiam os anúncios nas portas das livrarias quando Agosto foi lançado, em 1990. Milhares de leitores abriram mão de sua tranquilidade e mergulharam em um dos mais polêmicos períodos da história política do Brasil, tal como Rubem Fonseca o recriou: com rigor documental e notável dose de imaginação.

O mês era agosto, o ano, 1954, e os escândalos políticos brotavam diariamente nas páginas dos jornais. O povo parecia dividido entre defender o Presidente Getúlio Vargas e fortalecer Carlos Lacerda, jornalista implacável em sua missão: desmascarar a corrupção no governo. Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de Vargas, vendo des-pencar a popularidade do Presidente, planeja o assassinato do adversário. Um atentado ocorre na madrugada do dia 5 de agosto, em frente à residência de Lacerda, mas os tiros não acertam o jornalista, e, sim, seu acompanhante, o Ma-jor Vaz. O Presidente da República é o principal suspeito.

No mesmo período, um milionário é assassinado na própria residência, também em um bairro nobre da zona sul, na cidade do Rio de Janeiro. São dois crimes que cer-cam a vida do Comissário Mattos, cidadão honesto, vítima das múltiplas violências que assolam a cidade e que passa a investigar a ligação entre as duas mortes a partir de uma única pista deixada na cena do crime do milionário: um anel dourado e alguns pelos no sabonete do banheiro.

Esse é o contexto do livro Agosto, de Rubem Fonseca, um romance de cunho histórico e policial, com um gran-

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de número de personagens reais e fictícios que possuem ligações surpreendentes entre si e um clima de mistério e investigação que permeia a obra do início ao fim.

A narrativa é divida em vinte e seis capítulos. Cada um deles corresponde a um dia do mês de agosto, finalizando dois dias após o suicídio do Presidente Getúlio Vargas. O autor, que iniciou a carreira literária como contista e se di-zia um “cineasta frustrado”, consegue prender o leitor em um livro de capítulos breves, linguagem coloquial, muitos diálogos e um narrador onisciente que participa de todas as cenas com cortes e deslocamentos abruptos, recursos que acabam conferindo ao livro um ar cinematográfico.

A leitura de Agosto nos permite, mais do que acompa-nhar um período emblemático da história do Brasil, recriá--lo na pele de um de seus personagens principais.

Um romance que problematiza a sociedade brasileira: ao entrelaçar fatos históricos e ficção, Fonseca revela como

é possível debater a realidade de ontem e de hoje através da literatura.

O romance retoma um violento fato histórico da Repú-

blica brasileira: o suicídio do então Presidente Getúlio Var-gas. Na obra é possível reencontrar personagens conhecidos dos livros de história: o próprio Presidente, seu fiel guarda pessoal Gregório Fortunato, sua filha Alzira, seu adversário Carlos Lacerda, Tancredo Neves (Ministro da Justiça), o vi-ce-presidente Café Filho, entre outros. Mas também somos apresentados a personagens e enredos fictícios e envolven-

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tes: Alberto Mattos, um comissário de polícia honesto, e o surpreendente assassinato de um milionário em seu aparta-mento na zona sul carioca. As tramas misturam-se e conta-minam-se umas às outras, levando o leitor a participar do período na pele de um de seus personagens principais.

A cidade do Rio de Janeiro, na ficção do autor, é apre-sentada em suas divisões geográficas, sociais e econômicas mais evidentes: zona sul, predominantemente habitada pela população mais rica, e zona norte, onde vive a maio-ria da população, mais pobre. Ambas são descritas em suas características e especificidades. Mas, no romance, é pos-sível observar como essas fronteiras são diluídas pelo que pode ser identificado como uma “outra geografia”, uma reconfiguração espacial dada pelo crime, que reagrupa os indivíduos a partir de uma dinâmica própria, aproximando marginalizados e poderosos em novos territórios da cidade.

Essa reconfiguração, que compõe um novo mapa so-cial, aproxima e distancia os personagens (física e também moral, política, ideológica, psicologicamente) e pode ser reconhecida de várias maneiras: o desempregado da zona norte que, servindo ao bom empresário, se torna um assa-lariado do crime na zona sul; os núcleos de pobreza infil-trados nos bairros ricos; os poderosos instalados nos bairros pobres; os excluídos que perambulam por todos os espaços, justamente por não terem, de fato, espaço algum. A geo-grafia da violência que se instaura dissolve e recria os mapas da cidade.

No livro de Fonseca, é também possível observar como não só os atos de violência fundam a narrativa e desenham

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seu cenário, mas também a linguagem da violência. Assim é que, na narrativa, são frequentes gírias e palavrões, mas não só isso, também a linguagem técnica dos laudos policiais, a erudita e retórica linguagem dos discursos políticos. Todas elas ganham valor estético e literário ao integrarem-se em um trabalho artesanal bem cuidado e elaborado, dando à trama ficcional um efeito de discurso verdadeiro, real.

Por esse motivo, apesar de a narrativa ser ficcional e si-tuar-se nos anos 1950, ela possui linguagem e temática ex-tremamente atuais, reencenando a crise da contemporanei-dade: a violência presente nos assassinatos, nas injustiças, na sexualidade exacerbada, na corrupção, na desigualdade social. E se os anos que separam o lançamento do roman-ce e os jovens leitores poderiam incitar um distanciamen-to, Agosto, ao contrário, convida os estudantes a desfruta-rem de um gênero literário em que o sentido não é dado, imanente aos fatos, mas deve ser construído em um sistema de “representações de linguagens”, ou seja, envolve não só a voz dos personagens e narradores(as), mas também de seus(suas) diversos(as) leitores(as) e autores(as).

Além disso, Agosto possibilita uma leitura atenta e minuciosa do fim da Era Vargas e também da sociedade atual, chamando para o palco da história os próprios estu-dantes, protagonistas de hoje.

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A LINGUAGEM BRUTALISTA: SUGESTÕES DE ATIVI-DADES DE LÍNGUA PORTUGUESA ANTES DE PRO-POR A LEITURA DE RUBEM FONSECA AOS ESTU-DANTES

Uma face relevante do contato com a literatura é a sua forma, ou seja, para além do conteúdo, o modo como o autor constrói a narrativa. O ensino da língua portugue-sa, portanto, deve se pautar por atividades que incluam o aluno na experiência de fruição do texto, que permitam ao aluno o contato direto com a produção do autor, permean-do esse contato, sempre que necessário, com atividades que os ajudem a usufruir dessa forma específica de linguagem e possibilitem que participem da comunicação literária.

Segundo a BNCC (2018, p.491):

Mediante arranjos especiais das palavras, ela cria um universo que nos permite aumentar nossa capacidade de ver e sentir. Nesse sentido, a literatura possibilita uma ampliação da nossa visão do mundo, ajuda-nos não só a ver mais, mas a colocar em questão muito do que esta-mos vendo/vivenciando.

O texto de Rubem Fonseca, especificamente, possui

uma linguagem direta, bruta e, muitas vezes, agressiva, re-metendo para o drama da vida e dos acontecimentos urba-nos de personagens excluídos na sociedade. Essas caracte-rísticas fazem do autor o precursor da literatura conhecida

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como brutalista, assim batizada por Alfredo Bosi, no livro O conto brasileiro contemporâneo (Cultrix, 1978).

O pesquisador e crítico da literatura brasileira identifica que Fonseca, apesar de beber na fonte da literatura policial, reúne outros atributos que o diferem. No gênero policial tradicional, há sempre um crime brutal e um investigador genial, como Sherlock Holmes, por exemplo, que chega à cena do crime e dá início à busca ao assassino. Mas enquan-to no romance policial os investigadores são normalmente geniais, com inteligência e intuição acima da média, nos contos e romances brutalistas vemos um investigador sim-ples, tão humano quanto os assassinos, dividindo com eles vícios, defeitos, características sombrias — muito diferente do herói que esse tipo de personagem costumava até então representar.

Isso se dá porque, nas obras desse gênero literário, os investigadores estão também inseridos nas tramas urbanas que dão origem à violência investigada, violência vivida pela exclusão social presente nos grandes centros urbanos.

Essa violência é evidenciada também na própria lin-guagem utilizada na literatura brutalista: frases curtas, di-retas e simples, para que o leitor rapidamente sinta o clima tenso que permeia o cotidiano dos personagens e a trama. A linguagem de Rubem Fonseca, apesar de extremamen-te sofisticada e bem cuidada, é também repleta de gírias e palavrões. A violência e o sexo fazem parte do espetáculo.

Vale destacar que, ao entrar em contato com os textos desse gênero, os estudantes podem, ao mesmo tempo, estra-nhar e se identificar com eles. Nesse sentido, é importante

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que tanto o professor quanto os alunos preparem-se para adentrar o (sub)mundo das narrativas de Rubem Fonseca.

PROPOSTA DE ATIVIDADES:

1. Ao estabelecer um prazo para que o livro seja lido pe-los estudantes, é importante que o professor, durante esse período para a leitura, promova alguns momentos de con-versa sobre a narrativa: quem já iniciou o livro? O que está achando? Quem não iniciou, por quê? Quem está e quem não está gostando do texto, por quê? Qual a parte mais (ou menos) interessante até agora? Por quê? Nesse momento, é importante deixar livre a expressão dos alunos, para que os reais obstáculos e opiniões apareçam. A troca de impres-sões entre os estudantes e com o professor pode dirimir as dificuldades para a leitura, ampliar o interesse pelo livro e a compreensão da obra.

2. Exemplo de trecho do livro Agosto (p. 64):

O português Adelino, pai de Cosme, um ho-mem baixo e troncudo, de cabelos grisalhos, chegou ao distrito por volta das três da tarde. Foi levado à presença de Mattos.

Ficaram apenas os dois na sala do comissário. “Sente-se.” Adelino sentou-se na ponta da cadeira. Evitou

olhar para o comissário, em pé ao seu lado. “De onde o senhor é?” “De Sabrosa.”

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“Sabrosa... Fica perto de onde?” “Vila Real.” “Trás-os-Montes?” Adelino respondeu que sim, com a cabeça. “Terra de Camilo Castelo Branco.” Adelino não reagiu ao nome. “Seu filho vai ficar uns vinte anos na cadeia.”Novamente Adelino enxugou os olhos. “Eu sei por que o senhor está chorando.”O corpo de Adelino tremeu. “Porque sente vergonha de acusar o próprio filho

de um crime que o senhor mesmo cometeu.”Adelino balançou a cabeça pendida para a frente,

como se fosse dizer alguma coisa. Seu corpo voltou a tremer. O comissário esperou.

“Conta como foi. A verdade.” Mattos colocou de leve a mão no ombro de Ade-

lino. “Não, não fui eu. Eu devia ter defendido o meu

filho, mas não fui eu.”“Conta a verdade. Nós sabemos que foi o senhor.

O senhor terá uma pena menor do que a do seu fi-lho... É um velho...”

Adelino limpou os olhos. Pensativo, demorou a falar.

Como é possível observar, a tensão da trama expressa-se também na agilidade do texto, com frases curtas e objetivas, uma seguida da outra, pouco intercaladas com comentários

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do narrador. Nota-se, também, que o autor não faz uso de travessão para marcar os diálogos, optando por fazê-lo com as frases entre aspas, buscando maior expressividade.

Para desenvolver a habilidade da expressão escrita, re-conhecer os diferentes modos de narrar e promover uma aproximação com o estilo de Rubem Fonseca, o professor pode propor uma atividade de recriação de uma situação a partir do uso de diálogos e frases curtas. Para isso, pode solicitar que os alunos formem grupos de 5 ou 6 pessoas e:

• Pedir que um dos alunos do grupo inicie relatando um episódio oralmente. O episódio pode ser de sua vivência pessoal ou não, mas é importan-te que tenha algum conflito ou desfecho inespera-do, cômico etc.

• Os outros alunos podem fazer perguntas para tentar compreender melhor a situação: Onde estavam? Quem mais estava presente? Alguém mais viu? Isso já havia acontecido anteriormente? Etc.

• Após uma rodada de perguntas e respostas, cada aluno deve recontar ao seu modo o episódio narrado pelo colega, escrevendo um diálogo como se também estivesse na cena e participasse da si-tuação. Os estudantes podem criar um novo perso-nagem para interagir com a cena ou se colocar no lugar de alguém real. Deve-se enfatizar a importân-cia de que seja um texto curto, com diálogos, e que deixe o mais claro possível a situação.

• Ao final, cada um lê o que escreveu no gru-po ou para a classe completa.

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3. A leitura do poema “Poema de Jornal”, de Carlos Drummond de Andrade, pode dar início à conversa.

(Disponível em: http://www.projetomemoria.art.br/drummond/vida/jornais_os-jornais-na-literatura_poema--do-jornal.jsp)

4. Depois, os alunos podem ser convidados a pesquisar diferentes versões de um mesmo fato (cotidiano ou histó-rico) em diferentes fontes informacionais: entrevistas com pessoas que participaram do acontecimento, registros em jornais, livros ou sites.

- Jornais e blogs constituem atualmente importantes ferramentas pedagógicas e, sendo veículos de informação, sua leitura e discussão possibilitam ampliar o olhar sobre a dinâmica dos acontecimentos, da história e de suas inter-pretações.

- Como a opinião e/ou a interpretação dos fatos apa-rece implícita e/ou explicitamente nos textos pesquisados? O que diferencia um texto que se pretende neutro de um texto de opinião?

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REFERÊNCIAS:

BAKHTIN, M. Questões de literatura e de estética: a teo-ria do romance. São Paulo: Unesp, 1993.

BARTHES, R. Aula. São Paulo: Cultrix, 1980. BOILEAU, P.; NARCEJAC, T. O romance policial. Tra-

duzido por V. Kehdi. São Paulo: Ática, 1991. BOSI, A. (Org.). O conto brasileiro contemporâneo. São

Paulo: Cultrix, 1978.BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília:

MEC, 2018.LUKÁCS, G. Teoria do romance: Um ensaio filosófico

sobre as formas da grande épica. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2000.

REIS, C.; LOPES, A.C. Dicionario de teoria da narrati-va. São Paulo: Ática, 1988.

VIDAL, J. “Rubem Fonseca, o romancista (do desespe-ro feroz à ironia mordaz)”. In: O Estado de São Paulo. São Paulo, p.6, 9 de março de 1991.

FILME:

Narradores de Javé (Eliana Café, 2003) é muito bem--humorado e retrata, justamente, a tentativa de se chegar a uma versão única dos fatos históricos ocorridos em um pequeno vilarejo na passagem de uma sociedade oral para escrita.

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SUGESTÕES DE ATIVIDADES AO PROFESSOR DE-POIS DE PROPOR A LEITURA AOS ESTUDANTES

A leitura, a palavra é extremamente polissêmica. Cada leitor lê de uma maneira diferente.

Então cada um de nós recria o que esta lendo, esta é a vantagem da leitura.

Rubem Fonseca1

Ao lerem o mesmo texto, professores e alunos poderão ter impressões e experiências completamente diversas: uns poderão amá-lo, enquanto outros vão odiá-lo. Uns enten-derão sua narrativa, enquanto outros ficarão perdidos entre as linhas e entrelinhas. O professor pode usar a literatura como um meio de os alunos interpretarem a si próprios, considerando a interação entre textos e leitores. A leitura literária é, portanto, afirmam diferentes especialistas, uma experiência relacional, fruto do confronto entre texto, con-texto e leitor.

É importante que, ainda que não tenham gostado do livro (seja do estilo, do gênero literário, do tema, dos perso-nagens, do final da trama, da capa etc.), os alunos tenham a oportunidade de conhecer as características das narrativas de ficção de Rubem Fonseca e contextualizar sua obra no cenário literário nacional e internacional.

1 Retirado de seu discruso durante o lançamento de uma biblioteca no Rio de Janeiro. Extraído de: www.homoliteratus.com/rubem-fon-seca-surpreende-seu-publico (Acesso em abril de 2018).

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PROPOSTA DE ATIVIDADES:

1. Preparar uma aula explicando aos alunos por que o livro tornou-se uma referência, no que “inovou” — quais as características específicas da obra, por exemplo. Isso é fun-damental para que os estudantes tenham a possibilidade de estabelecer relações intertextuais entre textos literários da contemporaneidade e produções literárias e culturais de diferentes épocas.

2. Além de filmes, sites e blogs, a música também se transforma em uma ferramenta eficaz de aproximação en-tre o texto literário de Fonseca e os estudantes. Selecionar com os alunos uma letra de RAP, por exemplo, pode partir do pressuposto de que esse ritmo traz, em sua origem e pro-posta, também um espelho da sociedade atual, revelando e problematizando a realidade.

A sigla RAP, do inglês Rhythm And Poetry, revela a preocupação desse gênero musical com a forma com que se constrói o texto-denúncia, apresentando uma linguagem poética, objetiva e direta, dura e de fácil compreensão, que reflete o cotidiano dos que vivem nas periferias. A partir dessa definição, é possível traçar um paralelo com a obra de Rubem Fonseca. Desse modo, os alunos serão levados a perceber criticamente as várias formas pelas quais a violên-cia se apresenta e se estabelece na sociedade.

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REFERÊNCIAS:

ARTIGO:

ALVES, J.C. A aprendizagem da leitura do jornal. Dis-ponível em: http://alb.org.br/arquivo-morto/anais-jornal/jornal1/MesasRedondas/Januaria.htm. Acesso em 10 de abril de 2018.

REPORTAGEM DE JORNAL:

“Com quase 90, Rubem Fonseca escreve diariamente e puxa ferro na academia”. In: Folha de S.Paulo (2015). Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustra-da/2015/05/1625506-com-quase-90-rubem-fonseca-es-creve-diariamente-e-puxa-ferro-na-academia.shtml. Acesso em 10 de abril de 2018.

ADAPTAÇÕES DE OBRAS DE RUBEM FONSECA PARA A LINGUAGEM AUDIOVISUAL:

Agosto (1993). Minissérie da TV Globo. Direção: Paulo José.

Bufo & Spallanzani (2001). Adaptação para o cinema de mais um sucesso editorial de Rubem Fonseca. Direção: Flávio Tambellini.

Mandrake (2005). Série para a televisão brasileira pro-duzida pela HBO, dirigida por José Henrique Fonseca, filho do escritor. É baseada nos livros A grande arte e Mandrake, a Bíblia e a bengala, de Rubem Fonseca.

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FILMES SOBRE O PERÍODO HISTÓRICO:

Getúlio (2004). Direção: João Jardim.O velho: A história de Luiz Carlos Prestes (1997). Dire-

ção: Toni Venturi.

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SUGESTÕES DE TRABALHO PARA UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR

HISTÓRIA:

O inglês Peter Burke chama a atenção para o trabalho de pesquisa do historiador, que “necessita ler nas entreli-nhas, observando os detalhes pequenos mas significativos – incluindo ausências significativas” (BURKE, 2004, p.238).

A BNCC, ao evidenciar a importância do estudo de história e desenvolvimento de habilidades, competências e atitudes nos estudantes, chama a atenção para:

No Ensino Médio, os jovens intensificam os questionamentos sobre si próprios e sobre o mundo em que vivem, o que lhes possibilita não apenas compreender as temáticas e con-ceitos utilizados, mas também problematizar categorias, objetos e processos. Desse modo, podem propor e questionar hipóteses sobre as ações dos sujeitos e, também, identificar am-biguidades e contradições presentes tanto nas condutas individuais como nos processos e es-truturas sociais (BNCC, 2018, p. 491).

E reconhece:

Além de promover essas aprendizagens no Ensino Médio, a área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas tem ainda o grande desafio

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de desenvolver a capacidade dos estudantes de estabelecer diálogos entre indivíduos, grupos sociais e cidadãos de diversas nacionalidades, saberes e culturas distintas. Para tanto, propõe habilidades para que os estudantes possam ter o domínio de conceitos e metodologias próprios dessa área. As operações de identificação, sele-ção, organização, comparação, análise, inter-pretação e compreensão de um dado objeto de conhecimento são procedimentos responsáveis pela construção e desconstrução dos significa-dos do que foi selecionado, organizado e con-ceituado por um determinado sujeito ou gru-po social, inserido em um tempo, um lugar e uma circunstância específicos. De posse desses instrumentos, os jovens constroem hipóteses e elaboram argumentos com base na seleção e na sistematização de dados, obtidos em fontes confiáveis e sólidas. A elaboração de uma hi-pótese é o primeiro passo para o diálogo, que pressupõe sempre o direito ao contraditório. É por meio do diálogo que os estudantes am-pliam sua percepção crítica tanto em relação à produção científica quanto às informações que circulam nas mídias, colocando em prática a dúvida sistemática, elemento essencial para o aprimoramento da conduta humana (BNCC, 2018, p. 588).

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Na mesma direção, o Guia de Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006, p. 23), ressalta que:

Na discussão sobre as atividades de produ-ção e recepção de textos, merecem destaque, ainda, tanto os estudos que investem no pro-cesso de aquisição e desenvolvimento da lin-guagem como aqueles que tratam das práticas sociais de produção e recepção de texto. Uma proposta a ser ressaltada é aquela proposta pelo interacionismo. A despeito das especificidades envolvidas na produção, na recepção e na cir-culação de diferentes textos, bem como dos eventuais conflitos e mal-entendidos entre os interlocutores, tais estudos defendem que todo e qualquer texto se constrói na interação.

Nesse sentido, revisitar o romance de Fonseca a partir de uma leitura histórica do Brasil torna-se fonte rica de (re)interpretações e construção de novos sentidos para o passa-do e, portanto, para o presente e o futuro.

PROPOSTA DE ATIVIDADES:

1. Em se tratando de um romance histórico ficcional, em um trecho do livro, é possível ler:

“Posso lhe fazer uma pergunta?”“Pode”, respondeu o comissário.

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“Afinal, o senhor é lacerdista ou getulista?”“Tenho que ser uma dessas duas merdas?” “Não senhor”, disse Rosalvo ao ver a careta do

comissário. “O corcunda é que sabe como se dei-ta.” (p.34)

Nessa passagem, observa-se que o autor apresenta o investigador como um cidadão comum, que têm dúvidas, fala palavrão e, também, expressa sua neutralidade nas questões políticas da época.

É possível notar, entretanto, em outros momentos do romance, como parece haver uma tentativa de reconstruir uma imagem positiva de Getúlio Vargas, personagem cen-tral da história brasileira e da trama narrativa de Fonseca, como nesta conversa entre o mesmo comissário Mattos e sua namorada, Alice:

“Em que você está pensando?”“No Getúlio Vargas.” Pausa. “E você?”“Tenho coisas mais importantes para pensar.

Tenho minha vida.”“Getúlio Vargas faz parte da minha vida”, disse

Mattos. “Getúlio prendeu você quando era estudante.”“Não foi ele. Foi um beleguim qualquer. Estou

sentindo pena do Getúlio. Sei que isto parece ab-surdo; eu mesmo estou surpreso.”

“Você me disse que quando foi preso eles pu-seram você numa coisa chamada corredor polonês,

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onde você recebia socos e pontapés enquanto era obrigado a caminhar. Você tinha só dezessete anos.”

“Tudo demorou no máximo dois minutos.” (p.318)

Essa passagem poderia ser entendida como uma mini-mização da postura ditadora de Getúlio e dos abusos come-tidos para manter o controle do Estado através da tortura e da censura?

2. Evidencia-se, na discussão acima, a importância de se conhecer previamente e analisar com os alunos as obras literárias baseadas em pesquisas históricas: Agosto, escrito por Fonseca, autor que viveu o período retratado no livro, impregna com sua visão o assunto nele abordado?

*O professor assume, portanto, um papel muito im-portante ao apresentar a literatura como fonte de fruição e pesquisa, conhecimento e interpretação, entendendo-a como mais uma representação da realidade e que, por este motivo, não pode ser lida como uma narrativa sem perso-nalidade.

3. Propor um debate com os alunos: haveria narrativa isenta de subjetividade? Há texto em que o autor não ma-nifeste, de alguma forma, sua opinião a respeito do que escreve? Um texto jornalístico, por exemplo, pode ser des-crição do fato e/ou interpretação?

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Aprofundando o conhecimento da história, o olhar para o passado passa a auxiliar na compreensão do presente assim como para ajudar a construir o futuro.

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REFERÊNCIAS:

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Edu-cação Básica. Base nacional comum curricular. Brasília, DF, 2018. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/04/BNCC_EnsinoMe-dio_embaixa_site.pdf>. Acesso em abril de 2018.

BURKE, Peter. Uma história social da mídia. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Ministé-rio da Educação, Secretaria de Educação Básica. Lingua-gens, códigos e suas tecnologias. Brasília, 2006. (Orientações curriculares para o ensino médio; volume 1).

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SUGESTÃO DE ATIVIDADES PARA O ENSINO DE GEO-GRAFIA: UM ROMANCE QUE REDESENHA OS MAPAS

Segundo Harvey (1992), o espaço é um produto social. Esse espaço compreende as relações sociais e não pode ser resumido ao espaço físico; ele é o espaço da vida humana.

Milton Santos (2000) propõe que o espaço geográfi-co é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório de sistemas de objetos e sistemas de ações que não devem ser considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história acontece.

A cidade do Rio de Janeiro, descrita na ficção do autor, é retratada em suas múltiplas facetas: a partir de suas divi-sões geográficas e econômicas mais evidentes — zona sul e zona norte, predominantemente habitadas pela população mais rica e mais pobre, respectivamente —, mas, também, em suas fronteiras menos visíveis, ou seja, a partir de uma “outra geografia” construída pela criminalidade, que traça novos caminhos entre as pessoas e reconfigura espacial e socialmente o território.

No livro de Fonseca, essa reconfiguração, que compõe um novo mapa social, aproxima fisicamente marginaliza-dos e poderosos, e também os moral, política, ideológica, social e psicologicamente diferentes. A geografia da violên-cia instaurada dissolve e recria a cartografia da cidade.

Segundo a BNCC (2018, p. 547):

No Ensino Médio, o aprofundamento dessas questões [noções de temporalidade, espacialidade e diversidade, entre outros] são

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possíveis porque, na passagem do Ensino Fun-damental para o Ensino Médio, ocorre não somente uma ampliação significativa na capa-cidade cognitiva dos jovens, como também de seu repertório conceitual e de sua capacidade de articular informações e conhecimentos. O desenvolvimento das capacidades de observa-ção, memória e abstração permite percepções mais acuradas da realidade e raciocínios mais complexos — com base em um número maior de variáveis —, além de um domínio maior sobre diferentes linguagens, o que favorece os processos de simbolização e de abstração.

Ampliar o conhecimento sobre a ciência da geografia é indispensável para que os estudantes decifrem melhor o planeta e a realidade em que vivem. Se é necessário reco-nhecer os espaços naturais, aqueles que resultam das ações da natureza, é também urgente aos alunos e cidadãos des-vendar o espaço social, ou seja, aquele construído e em dis-puta nas relações sociais.

PROPOSTA DE ATIVIDADES:

1. Formar grupos de 4 ou 5 pessoas. Pedir que conver-sem sobre o que conhecem a respeito dos índices de vio-lência no Brasil e em outros países, assim como no estado, cidade e bairro em que vivem, e que cada grupo defina o que considera violência.

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2. Depois, pedir que pesquisem em casa ou na escola os índices do que consideram violência (homicídio, estupro, fome, analfabetismo etc.). Cada um pode ficar responsável por um país, 3 ou 4 estados e pelo bairro em que vive.

3. Em sala, propor uma discussão e a elaboração de mapas a partir das seguintes questões:

• Qual o índice da violência pesquisada por região?• Como ela está distribuída em seu bairro, cidade, país? • Por que consideram que seja assim?• Quais os equipamentos públicos e privados presentes

em sua região (escola, posto de saúde, centros cultu-rais etc.)?

• E nas outras regiões da cidade, estado, país?• Vocês poderiam refazer o mapa de seu bairro a partir

de outros critérios?

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REFERÊNCIAS:

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Edu-cação Básica. Base nacional comum curricular. Brasília, DF, 2018. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/04/BNCC_EnsinoMe-dio_embaixa_site.pdf>. Acesso em abril de 2018.

CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de Muros: cri-me, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: Edusp, 2000.

FIGUEIREDO, V. F. “A cidade e a geografia do crime na ficção de Rubem Fonseca”. In: Revistas USP. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/ls/article/view/684. Acesso em 10 de abril de 2018.

HARVEY, D. “O direito à cidade”. In: Lutas sociais. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/ls/article/view/18497. Acesso em 10 de abril de 2018.

SANTOS, M. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 2000.

CONTO:

FREIRE, M. “Esquece”. In: Germina. Disponível em: http://www.germinaliteratura.com.br/naberlinda_dez.htm. Acesso em 10 de abril de 2018.

FILME:

Cidade de Deus (2002). Direção: Fernando Meirelles e Katia Lund.

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ENTREVISTA:

“Explosiva Mestre Milton”. Milton Santos em Caros Amigos, nº17. São Paulo, agosto de 1998.

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