manual de tratamento da dor - fauzia f. naime 2ª ed 279 pág

279
Dor aguda e dor de origem oncológica. Tratamento - . . na o 1nvas1vo. 2a edição Fauzia F. Naime Manole

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Page 1: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Dor aguda e dor de origem

oncológica. Tratamento - . . na o 1nvas1vo.

2a edição

Fauzia F. Naime

Manole

Page 2: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

AINHs

AINHs com ou sem adjuvantes, terapias

físicas e terapias comporta mentais

-1

Opioides fracos

Opioides fracos com ou sem adjuvantes,

terapias físicas e terapias

comporta mentais

Opioides fortes

ou sem adjuvantes, terapias físicas

e terapias comporta mentais

Escada analgésica da OMS modificada

Procedimentos . , . neuroc1rurg1cos

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a nu . , .

o r a u a e o r e or1 em onco o 1ca.

' SOCIEDADE BRASILEIRA DE ONCOLOGIA CLINICA

ratamento não invasivo

INSTITUTO PAULISTA

DE CANCEROLOGIA

Fauzia F. Naime

Manole

Page 6: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág
Page 7: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Agradecimentos

Agradeço aos professores doutores Riad Naim Younes,

João Amilcar Salgado e João Vinícius Salgado;

à psicóloga V era Anita Bifulco; à farmacêutica Daniel/e

Alessandra Barbosa; ao doutor Ricardo Caponero;

aos colegas do Instituto Paulista de Cancerologia;

e a todas as pessoas que direta ou indiretamente

colaboraram para a realização deste manual.

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Page 9: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Formada pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais

(FCMMG), em 1992.

Residência Médica em Medicina Interna pelo Hospital Alberto

Cavalcanti - Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais

(FHEMIG), em 1993.

Residência Médica em Oncologia pelo Hospital do Servidor Pú­

blico Estadual - Fundação Morato de Oliveira (HSPE FMO),

São Paulo, SP, de 1994 a 1997.

Mestre em Oncologia pela Fundação Antônio Prudente- Hospi­

tal do Câncer A.C. Camargo, São Paulo, SP, em 2005.

Membro da Sociedade Brasileira de Cancerologia e da Sociedade

Brasileira de Oncologia Clínica desde 1997.

• • VIl

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Manual de tratamento da dor

Preceptora de Residência Médica do Conjunto Hospitalar do

Mandaqui e do Instituto do Câncer Dr. Arnaldo Vieira de Car­

valho, ambos em São Paulo, SP.

Membro do Corpo Clínico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz,

do Hospital Nove de Julho e do Hospital Igesp.

Diretora Clínica do Setor de Quimioterapia do Instituto Paulista

de Cancerologia (IPC) de São Paulo, SP .

••• VIII

Page 11: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

/ .

P t, . ..

re aCIO ... .. .. .. ... .. .. ... .. .. .. ... .. .. .. ... .. . XVII

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . xxi

Aspectos importantes deste man ua I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... xxv

Introdução à história da dor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .... 1

Aspectos conceituais sobre a dor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 9

Definições de dor ..................................... 9

Classificação da dor ................................... 1 O

Classificação da dor quanto ao tempo de duração .............. 10

Classificação da dor quanto à origem ...................... 1 O

Dor nociceptiva .................................. 1 O

o

IX

Page 12: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Dor neuropática .................................. 11

Dormista ..................................... 12

Dor psicogênica .................................. 12

Classificação da dor quanto ao padrão ..................... 12

Classificação da dor quanto à intensidade ................... 13

Receptores da dor .................................... 13

Sensação dolorosa .................................... 14

Dor oncológica ...................................... 15

Regras básicas para o controle da dor ........................ 18

Conceito de dor total .................................. 18

Avaliação do paciente com dor ............................ 20

História clínica ................................... 20

Exame físico .................................... 20

Exames complementares ............................ 24

Princípios gerais para o trata menta da dor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

Primeiro passo: escalas de dor ............................. 27

Questionário de McGill para qualificar a dor .................. 32

Segundo passo: tratamento da causa da dor .................... 32

Terceiro passo: escada analgésica da Organização Mundial da Saúde (OMS) .. 32

Medidas não medicamentosas para o controle da dor ............ 35

X

Page 13: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Sumário

Recomendações da OMS para prescrição de analgésicos .............. 36

Regras clínico-terapêuticas para o tratamento da dor ............... 36

Barreiras para o tratamento da dor .......................... 39

Analgésicos anti-inflamatórios não hormonais (AINHs) ....... . .... 43

Mecanismo de ação ................................... 43

Indicações e efeitos colaterais ............................. 47

Considerações sobre AI N Hs ............................... 54

Analgésicos opioides/opiáceos .... . ........ . ........ . .... 57

Histórico ......................................... 57

Conceito de opiáceos e opioides ............................ 58

Mecanismo de ação ................................... 58

Receptores opioides ~ ligantes endógenos (neurotransmissores) ....... 59

Neurotransmissor .................................... 61

Anatomia das vias somatossensitivas ........................ 62

Processamento da sensação dolorosa ........................ 62

Classificação dos opioides quanto à natureza .................... 64

Classificação dos opioides quanto à potência .................... 64

Analgésicos opioides fracos ........................... 64

Cloridrato de tramado! .............................. 64

Codeína ...................................... 66

• XI

Page 14: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Pro poxifen o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

Considerações finais sobre os o pio ides fracos ................. 69

Definição de dose teto .............................. 69

Analgésicos opioides fortes ........................... 69

Tolerância ..................................... 73

Pseudotolerância ................................. 73

Dependência física ................................ 7 4

Dependência psicológica ou adição (vício) ................... 7 4

Pseudoadição ................................... 75

Morfina ...................................... 75

Metadona . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .... 84

Meperidina .................................... 90

Oxicodona ..................................... 91

Fentanil transdérmico .............................. 93

Cloridrato de hidromorfona ........................... 98

Agonista parcial: buprenorfina ........................ 101

Agonista-antagonista: na bufina ....................... 102

Rotação de opioides . ................................. 103

Efeitos colaterais dos opioides . ........................... 104

Náuseas e vômitos ............................... 104

•• XII

Page 15: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Sumário

Constipação intestinal ............................. 104

Tratamento da constipação intestinal ..................... 106

Recomendações gerais para o uso de opioides .................. 11 O

Sedação e sonolência .............................. 112

P ru rido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112

Depressão respiratória ............................. 113

Delirium ..................................... 114

Mioclonia ..................................... 114

Alergia ...................................... 114

Reversão dos efeitos colaterais dos opioides .................... 115

Analgésicos adj uva ntes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .117

Antidepressivos .................................... 117

Antidepressivos tricíclicos ........................... 117

I nibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) .......... 120

lnibidores da recaptação da serotonina e da noradrenalina ......... 120

Benzodiazepínicos ................................... 121

Neurolépticos ..................................... 124

Anticonvulsivantes .................................. 124

Corticosteroides .................................... 132

Relaxantes musculares ................................ 133

••• XIII

Page 16: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Baclofeno ..................................... 133

Orfenadrina ................................... 136

Ciclobenzaprina ................................. 136

Carisoprodol ................................... 136

Ti za n i di na . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 7

Analgésicos adjuvantes para dores ósseas: bifosfonatos ............. 137

Bifosfonatos ................................... 138

Anticorpo monoclonal anti-RAN KL ......................... 144

Anti-histamínicos ................................... 148

Antieméticos ...................................... 149

Psicoestimulantes .................................. 149

Outros .......................................... 149

Antagonista dos receptores NMDA ...................... 150

Agonistas e antagonistas adrenérgicos ................... 150

Agonistas e antagonistas da serotonina ................... 151

Bloqueadores dos canais de cálcio ...................... 151

C a p sai ci na . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151

Toxinas botulínicas ............................... 151

Tratamentos complementares ........ . ........ . ......... 153

Tratamento invasivo ... . ...... . . . ...... . ........ . .... 155

• XIV

Page 17: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Sumário

Analgesia regional .................................. 155

Bloqueios simpáticos e neurólises .......................... 156

Tratamento neurocirúrgico funcional da dor. ................... 156

Dor pós-operatória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .157

Plano para o tratamento da dor pós-operatória .................. 158

Procedimentos cirúrgicos pouco agressivos ou dores leves ou moderadas .. 162

Medidas gerais do pós-operatório ......................... 165

Procedimentos cirúrgicos agressivos ou dores intensas ............. 166

Recomendações de analgesia sistêmica para procedimentos específicos

baseados em evidências ............................. 170

Recomendações de procedimentos específicos baseados no PRoSPECT ..... 174

Dor neuropática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .179

Considerações a respeito dos analgésicos ..................... 183

Aspectos psicológicos no enfrentamento da dor. ................ 195

Significados e sentidos atribuídos à dor ...................... 200

Procedimentos psicossociais ............................. 205

Bibliografia consultada ............................... 213

Referências bibliográficas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... 215

XV

Page 18: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág
Page 19: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

-, , .

Câncer/dor, dor/câncer. Esse binômio bastante enraizado

na mente de leigos e profissionais da saúde tem-se modifi­

cado drasticamente nos últimos anos. Pesquisas e avanços

científicos solidificaram a convicção de que a dor não é

parte necessária nem automática da evolução dos pacien­

tes com tumores malignos. A maioria dos portadores de

neoplasias pode se beneficiar de cuidados orientados e

fundamentados para viver livre de dores incapacitantes,

com preservação de uma qualidade de vida adequada e

digna.

• o

XVII

Page 20: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

O manejo de pacientes com dor exige uma parceria

multidisciplinar integrada e atualizada. Essa equipe tem

de considerar a importância das diferentes opções e mo­

dalidades envolvidas no controle e na prevenção das ma­

nifestações álgicas, incluindo medicamentos, procedi­

mentos cirúrgicos ou de radiologia intervencionista, além

de terapias de apoio. Não se pode, por outro lado, ignorar

o sentimento dos pacientes, com as manifestações e as

percepções da dor e o medo da tolerância e da dependên­

cia das drogas. Os médicos e os outros profissionais da

saúde podem e devem ajudar na melhora da qualidade de

vida de indivíduos com sintomas dolorosos decorrentes

do câncer ou de seu tratamento.

Esta edição oferece aos leitores informações detalhadas,

atualizadas e apresentadas de forma clara e didática, per­

mitindo acesso aos melhores métodos disponíveis para o

controle da dor. O conhecimento sobre a fisiopatologia

dos fenômenos álgicos, a sua prevenção e o seu tratamen­

to, assim como a vasta gama de novas opções do arma­

mentário médico, medicamentosas ou não, incluindo as

••• XVIII

Page 21: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Prefácio

terapias complementares, mudou para sempre a evolução

dos doentes com câncer.

Contudo, mesmo com esses avanços, mais da metade

dos pacientes ainda experimenta episódios de dores mo­

deradas ou de forte intensidade durante o tratamento,

ocorrências que atestam falhas no sistema de atendimento

e no cuidado. Atualmente, os oncologistas entendem que

o alívio da dor é um direito inalienável, e é dever das equi­

pes de saúde garantir sua aplicação, permitindo que os

pacientes retomem suas rotinas sociais e profissionais com

maior eficiência. Infelizmente, ainda hoje, mais de 75%

dos médicos em atividade não receberam orientação for­

mal para lidar com a dor.

Mais atualizado e abrangente que sua primeira edição,

este livro tem como um de seus principais objetivos cha­

mar a atenção dos profissionais da saúde para as nuances

associadas ao tratamento da dor em pacientes com câncer.

O esforço da dra. Fauzia F. Naime é reconhecido, e a sua

obra reflete a luta contra um sintoma debilitante e temido

por todo paciente que recebe o diagnóstico de câncer: dor .

• XIX

Page 22: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

E, de acordo com as palavras sábias de Carlos Drummond

de Andrade: (~ dor é inevitável. O sofrimento é opcional':

XX

Riad N. Younes Cirurgião Torácico.

Professor Livre-docente do Departamento de Cirurgia da

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Coordenador do Setor de Oncologia Cirúrgica do

Hospital São José - Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Page 23: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

-

A dor é um problema de saúde pública mundial, sendo

frequentes os tratamentos ineficazes ou mesmo a ausência

de tratamento na prática clínica. Ainda há relutância na

utilização de certos analgésicos, como os opioides, princi­

palmente nos casos de dores associadas a doenças não on­

cológicas. Existem diversos mitos e temores relacionados

à tolerância, ao vício e aos efeitos colaterais, sobretudo no

uso de opioides, que continuam a causar subprescrições.

Tais barreiras ao tratamento adequado da dor não estão

relacionadas apenas aos médicos, mas também à equipe

de enfermagem e aos próprios pacientes. A literatura mos-

• XXI

Page 24: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

tra que a subutilização de medicações analgésicas não é

um problema exclusivo do Brasil, mas mundial.

A dor está presente em todas as especialidades médicas;

logo, todos os médicos devem estar capacitados para tra­

tá-la. O conhecimento sobre analgesia deve ser ampliado,

deixando aos serviços específicos as situações mais com­

plexas e de difícil manejo, e as dores refratárias, que repre­

sentam uma minoria. No Brasil, estão disponíveis muitas

drogas fundamentais para o tratamento da dor aguda e 1\ •

cron1ca.

Um dos propósitos deste manual é facilitar o entendi­

mento sobre o tratamento da dor. O texto descreve pontos

essenciais da neuroanatomia, da fisiopatologia, do meca­

nismo de ação e do manejo dos analgésicos, cujo conheci­

mento é requisito essencial para combater o sofrimento e

oferecer melhor qualidade de vida aos pacientes.

Como oncologista, precisei aprender a lidar com a dor

diariamente, já que 50% dos indivíduos com neoplasia

apresentam dor durante os vários estágios da doença.

Apesar disso, não tenho a pretensão de esgotar um assunto

•• XXII

Page 25: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Apresentação

tão complexo como esse, mas espero que esta publicação

auxilie como uma direção prática a ser seguida.

Convido à leitura deste manual, acreditando na possibi­

lidade de novas reflexões e buscas de alternativas para a

prática da analgesia em indivíduos portadores de neopla­

sias ou outras enfermidades.

Fauzia F. Naime

••• XXIII

Page 26: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág
Page 27: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Fazer descrições detalhadas sobre a neuroanatomia, a fi­

siopatologia e a genética da dor foge aos objetivos deste ma­

nual. Entretanto, serão descritos os aspectos essenciais

para a compreensão dos mecanismos da dor e as formas

pelas quais agem os analgésicos.

Em razão dos constantes avanços da medicina e das

possíveis alterações regulamentares quanto ao emprego

dos fármacos, recomenda-se aos médicos consultar outras

fontes, a fim de se certificarem de que as informações con­

tidas neste manual estão corretas, o que é fundamental no

uso dos fármacos.

XXV

Page 28: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Obs.: as marcas dos medicamentos mencionadas neste

manual não são recomendações de compra, mas têm a fi­

nalidade de facilitar a consulta. Não é objetivo deste livro

listar todas as apresentações comerciais disponíveis, e sim

as mais usuais e de conhecimento da autora. Fica a critério

de cada profissional a escolha dos medicamentos a serem

utilizados, mesmo os não listados aqui, levando-se em

conta, sobretudo, a experiência de cada um. Sendo assim,

será única e exclusivamente de responsabilidade do médi­

co a determinação da dosagem para cada caso específico.

Revisão técnica deste livro:

Dr. Ricardo Caponero - Oncologista clínico da Clínica de Onco­

logia Médica ( Clinonco ); Diretor Científico da Associação Bra­

sileira de Cuidados Paliativos (ABCP); Sócio-diretor do Instituto

Simbidor.

Revisão técnica dos medicamentos:

Danielle Alessandra Barbosa - Farmacêutica do Instituto Paulista

de Cancerologia (IPC) de São Paulo .

• XXVI

Page 29: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

. / . --·

João Vinícius Salgado

João Amílcar Salgado

A dor é um recurso primordial de proteção dos animais

contra o dano físico iminente, bem como para a recupera­

ção do dano já existente. Daí ser natural considerar que o

equivalente à dor exista entre os vegetais e os seres vivos

mais simples. Os dispositivos orgânicos da dor contra o da­

no iminente exteriorizam -se na pele e nas partes osteomio­

articulares. Os dispositivos da dor do dano já existente estão

situados, além das partes já citadas, também nas cavidades

abdominal, torácica e cefálica. Essa modalidade de dor tem

a função de levar o organismo ao repouso ou, mais especifi­

camente, à postura propícia para reparo do dano.

1

Page 30: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

No caso do homem, esse papel tão fundamental na vi­

da das pessoas permitiu que a dor se desdobrasse em um

verdadeiro universo de significados que abrange desde a

área propriamente científica e médica até os limites antro­

pológicos, culturais e históricos. Tal amplitude é resulta­

do do sonho de completo domínio sobre a dor, vislum­

brado muito cedo na história humana. De fato, o homem,

os hominídeos e os demais animais sempre aproveitaram

recursos físicos e biológicos, entre estes, produtos vege­

tais e animais, capazes de atenuar ou eliminar a dor. No

lado oposto, grupos humanos logo desenvolveram meios

de manipular a dor alheia para alcançar determinados

fins.

Sobre o estudo cultural da dor, vale salientar suas três

manipulações mais conhecidas, que são os ritos de passa­

gem, o cilício e a tortura. Tais comportamentos guardam

relação com a antinomia psicogenética descrita pela mé­

dica russa Sabrina Spielrein, denominada Eros versus Ta­

natos, capaz de expressar-se psicopatologicamente na díade

sadomasoquista, já presente nas práticas de sacrifício hu­

mano em um passado não muito distante. Analogamente,

2

Page 31: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Introdução à história da dor

os opostos antinômicos do choro e da dor, que são o riso e

o prazer, estudados hoje com grande objetividade pela

neurociência, são de fato conhecidos há milhares de anos,

sob a forma do uso terapêutico do riso pela medicina vê­

dica e pelo médico grego Demócrito. E foi do mesmo uni­

verso védico que derivaram os exercícios fisiológicos da

tolerância à dor, como no faquirismo, e da manipulação

das funções autonômicas, chegando ao apagamento do

ruído funcional do corpo, inclusive da dor. Henri Laborit,

cirurgião francovietnamita, buscou algo análogo pela via

farmacológica.

Diante disso, não causa admiração que a tortura de Je­

sus com a coroa de espinhos e o dia comemorativo da dor

(a Sexta-feira da Paixão) sejam elementos importantes da

religião cristã, fundamento da cultura ocidental, cuja me­

dicina tem o controle completo da dor entre seus mais

persistentes objetivos - aspiração cujo triunfo já é visível

no horizonte das próximas décadas. Tal expectativa era

considerada arrogância contra a providência divina pelos

teocratas medievais. O cuidado aceitável, conforme o ve­

lho aforismo, era aliviar e consolar, sendo raro sanar.

3

Page 32: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Ao mesmo tempo, a história da dor confunde-se com a

história dos medicamentos ministrados para atenuar ou

eliminar o sofrimento físico (analgésicos) ou destinados a

eliminá-la por meio da supressão de qualquer sensação

(anestésicos). Os analgésicos foram por largo tempo clas­

sificados como moderados ou menores (semelhantes à

Aspirina®) e fortes ou maiores (semelhantes à morfina,

oriunda do ópio e este da papoula, consumida desde a an­

tiguidade egípcia). Já os anestésicos foram classificados

como gerais (semelhantes ao éter) ou locorregionais (se­

melhantes à cocaína). Nota-se que, entre analgésicos e

anestésicos, encontram-se dois produtos xamânicos (um

do velho e outro do novo mundo), envolvidos na epidemia

de narcodependência que assola o planeta ao longo dos

séculos XIX, XX e XXI.

Os historiadores da medicina garantem que analgésicos

e anestésicos já existiam na medicina antiga. O século XIX

demarca apenas o preparo purificado dos mesmos, em de­

corrência do estabelecimento da indústria química.

O desenvolvimento industrial da Aspirina® é notável

porque o uso milenar do salgueiro (gênero Salix) como

4

Page 33: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Introdução à história da dor

antifebril estava em desuso na Europa. Em meados do sé­

culo XVIII, o inglês Edmund Stone, um reverendo protes­

tante, enciumado pelo êxito dos jesuítas com o quinina,

rezou pela descoberta de um antifebril melhor que o me­

dicamento monopolizado pelos católicos. Foi atendido

quando redescobriu o referido efeito do salgueiro, existen­

te no brejo vizinho. O pastor foi ao pântano pelo princípio

da similitude: se é fonte de febres, no mesmo local estaria

o remédio correspondente. A Aspirina® originária do sal­

gueiro passou a ser consumida em toneladas, não sem

causar efeitos indesejáveis e milhares de mortes.

No caso da morfina, é admirável a descoberta de um sis­

tema químico de opioides no interior do organismo ani­

mal: as endorfinas. Trata-se de outro exemplo observado

por semelhança, ponte entre a medicina popular mais re­

mota e a mais avançada química fisiológica. A distribuição

anatômica das células produtoras de endorfinas ocorre em

determinadas áreas encefálicas (e talvez medulares), cujos

neurônios são projetados amplamente ao sistema límbico,

ao tronco cerebral e à medula espinal. Nessas áreas, a esti­

mulação elétrica elimina a dor.

5

Page 34: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

A terapêutica dos contrários também está presente na

história da dor. Um exemplo é a conotoxina, veneno ani­

mal doloroso e mortal, do qual se isolou a família zicono­

tide de medicamentos, para dor intratável, sem os efeitos

colaterais dos opiáceos. Os pacientes esperam o fim da

guerra de patentes e, como consequência, a possibilidade

de aumentar o uso prático de inovações como essa, cuja

descoberta é atribuída à equipe do bioquímica filipino

Baldomero Oliveira.

No Brasil, é oportuno lembrar que, no caso da anestesia

regional, há curiosa participação de um brasileiro adotivo,

o francês Afonso Pavie. Ex-estudante de medicina, migrou

para Minas Gerais, passando a clinicar na cidade de Ita­

marandiba. Ainda adolescente, auxiliou o cirurgião Paul

Reclus na primeira injeção subcutânea (SC) de cocaína

como anestésico. Como no sertão não havia condições pa­

ra a aplicação de anestesia geral, passou a usar a anestesia

local, inclusive para operações abdominais, torácicas e

plásticas. Tornou-se, ao lado de seu ex-colega de turma

Victor Pauchet, pioneiro internacional nessa modalidade

6

Page 35: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Introdução à história da dor

anestésica. Foi o primeiro a usar a cocaína injetável (e sua

substituta, a novocaína) no Brasil.

João Vinícius Salgado Professor adjunto de Neuroanatomia e pesquisador em Neurociências

da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

João Amílcar Salgado Professor titular de Clínica Médica e pesquisador em História da

Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

7

Page 36: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág
Page 37: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

• •

Definições de dor

A dor foi definida pela Associação Internacional para Es­

tudo da Dor (IASP) como ((uma experiência sensorial ( sensi­

tiva) e emocional desagradável associada ou descrita em

termos de lesão teci dual': 1

Segundo Melzack e Wall (1982), dor é uma categoria de

experiências complexas, não uma única sensação produ­

zida por um único estímulo.2

9

Page 38: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Classificação da dor

Classificação da dor quanto ao tempo de duração3

• Dor aguda: funciona como alerta. É o resultado da esti­

mulação nociceptiva (inflamação) ou de lesões diretas

(lesões mecânicas). Na maioria das vezes, é causada por

ferimento ou estado patológico agudo, e dura somente

enquanto persistir a lesão do tecido. A dor aguda é uma

dor fisiológica.

• Dor crônica: não tem a função biológica de alerta. O

termo crônico refere-se à dor que se mantém além do

tempo normal de cura. A dor crônica é patológica, cau­

sada por lesão do tecido nervoso (periférico, medular

ou central).

Classificação da dor quanto à origem

Dor nociceptiva

Ocorre por estímulo e sensibilização persistente dos noci­

ceptores (receptores sensíveis a um estímulo nocivo) ou

aferências. Pode ser somática ou visceral:

• somática: quando afeta tecidos cutâneos e profundos;

10

Page 39: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Aspectos conceituais sobre a dor

• visceral: quando afeta vísceras torácicas, abdominais e

pélvicas, podendo se manifestar distante do local onde

há lesão anatômica.

Dor neuropática

Decorre de lesões das vias sensitivas dos sistemas nervo­

sos central (SNC) e periférico (SNP), que podem ser oca­

sionadas por irritação das fibras C ou deaferentação (dor

fantasma- injúria do plexo braquial ou lombossacral).

Algumas sensações são consideradas anormais na dor , .

neuropat1ca, como:

• disestesia: sensação anormal espontânea;

• hiperestesia: sensibilidade exagerada à estimulação;

• hiperalgesia: resposta exagerada a um estímulo normal­

mente pouco doloroso (p.ex., sentir muita dor ao beliscar

a pele);

• alodínea: dor causada por estímulo que normalmente

não é doloroso;

• hiperpatia: resposta explosiva e frequentemente prolon­

gada a um estímulo;

• dor episódica (breakthrough): incidental e transitória.

11

Page 40: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Dor m ista

Entre todas, é o tipo de dor mais comum. É ocasionada • • I • por componentes noc1cept1vos e neuropat1cos.

Dor psicogênica

Tipo de dor sem causa aparente, cuja ocorrência é rara.

Classificação da dor quanto ao padrão4,5

1. Contínua.

2. Episódica (breakthrough): episódios intermitentes de

dor moderada a intensa, de início súbito e de curta

duração em doentes com dor crônica já controlada.

É muito frequente em pacientes com câncer, e pode

ser somática, visceral, neuropática ou mista. Há três

tipos de dor episódica:

12

• dor incidental: está relacionada com atividades es­

pecíficas, como tossir, levantar ou caminhar. É a

mais comum e pode ser previsível ou imprevisível

(p.ex., doentes com metástases ósseas em que o

ato de se movimentar precipita a dor);

Page 41: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Aspectos conceituais sobre a dor

• dor espontânea: ocorre de maneira imprevisível e

não está temporalmente associada com qualquer

atividade ou evento (p.ex., espasmos ou contra tu­

ras musculares);

• dor episódica associada ao horário de intervalo da

medicação (end-ofdose failure): surge quase no final

do intervalo da dose usual de um esquema analgé­

sico regular, pouco antes da tomada da medicação.

Pode ser indicativo de que a dosagem do analgési­

co ou o intervalo entre as doses é insuficiente.

Classificação da dor quanto à intensidade

Em relação à intensidade, a dor pode ser classificada como

leve, moderada ou intensa.

Receptores da dor

São as terminações nervosas livres e os receptores espe­

cíficos. As fibras nervosas relacionadas à dor são as fi­

bras A-delta (mielínicas) e fibras C (amielínicas). As fibras

A-delta transmitem a dor rapidamente (20 a 30 m/s), com

localização mais precisa, sendo responsáveis pela primeira

13

Page 42: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

dor (aguda). A maioria dessas fibras forma terminações

nervosas livres. As fibras C transmitem a dor mais lenta­

mente (0,5 a 2 m/s), com localização difusa, e são respon­

sáveis pela segunda dor (surda, desagradável).

Sensação dolorosa

A sensação dolorosa ocorre da seguinte forma:

• transdução: ativação de nociceptores ~ transformação

do estímulo nóxico em potencial de ação;

• transmissão: nervo periférico ~ gânglio da raiz dorsal

da medula~ via neoespinotalâmica ~via núcleo ventral

posterolateral ~ córtex cerebral;

• modulação: medular e suprassegmentar ( cortical, sub­

cortical e tronco cerebral).

As manifestações e a percepção individual da dor são

determinadas pelos seguintes fatores:

• componente cognitivo: percepção (localização, duração

e intensidade da dor);

14

Page 43: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Aspectos conceituais sobre a dor

• componente motor: movimentos dos músculos faciais

(expressão de dor), movimentos de fuga (função prote­

tora) e tônus muscular aumentado;

• componente emocional: efeito sobre a emoção e mal-estar;

• componente autônomo: aumento da frequência cardía­

ca e da pressão arterial, dilatação pu pilar, aprofundamen­

to da respiração e sudorese;

• influências psicogênicas: a percepção da dor surge da in­

terligação de vários circuitos cerebrais funcionais; por

isso, a sensibilidade varia entre os indivíduos.

Dor oncológica

As dores associadas às neoplasias malignas, a exemplo dos

outros tipos de dores, decorrem da ativação de nocicepto­

res periféricos (dores somática e visceral), por dano direto

ao SNC ou SNP (dor neuropática ou de deaferentação) ou

podem ser mistas. Essa dor pode ser aguda ou crônica, e,

quanto ao padrão temporal, pode ser contínua ou epsódi­

ca (breakthrough).

A maioria das dores em pacientes oncológicos pode ser

diretamente relacionada ao tumor (92,5%), indiretamente

15

Page 44: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

relacionada ao tumor (2,3%) e relacionada ao tratamento

(20,8%). As dores relacionadas à infiltração neoplásica

podem ser por invasão óssea; infiltração de vísceras; inva­

são e oclusão de vasos sanguíneos; infiltração de mucosas;

infiltração do neuroeixo e do canal raquidiano; infiltração

e compressão dos troncos nervosos periféricos; e carcino­

matose meníngea. Além disso, a dor decorrente do câncer

é mais frequente de acordo com o diagnóstico: câncer de

pulmão (18,1 %), mama (13,4%), cabeça e pescoço (10,2%),

estômago, esôfago e pâncreas (9,6%), colorretal (9,5%),

útero (6,6%), próstata (6%), leucemias e linfomas (3,9%) e

outros (22,7%).6

Trinta por cento dos doentes com câncer sentem dor ao

diagnóstico, e 65 a 85% sentem dor quando a doença é

avançada.7'8 Associados à dor, os doentes sofrem outros

sintomas (média de 3,3), como:9

• insônia (59%);

• anorexia (48%);

• constipação (33%);

• sudorese (28%);

16

Page 45: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Aspectos conceituais sobre a dor

• náuseas (27%);

• dispneia (24%);

• disfagia (20%);

• sintomas neuropsiquiátricos (20%);

• vômitos (20%);

• sintomas urinários (14%);

• dispepsia (11 %);

• paresias (10%);

• diarreia (6%);

• sintomas dermatológicos (3%).

A dor também pode estar relacionada ao tratamento,

sobretudo pelo uso de quimioterápicos ou pela radiotera­

pia. Os quimioterápicos geralmente envolvidos na neuro­

patia em razão do tratamento são a oxaliplatina, carbopla­

tina, cisplatina, paclitaxel, docetaxel, alcaloides da vinca,

talidomida, lenalidomida e bortezomibe; seus efeitos cola­

terais dependem da dose e dos esquemas terapêuticos. 10

No Brasil, não existem dados precisos a respeito da

epidemiologia da dor crônica incidente nos doentes com

câncer. Contudo, a dor decorrente do câncer pode ser

17

Page 46: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

efetivamente tratada em 85 a 95% dos doentes, por meio

de um programa integrado de tratamento sistêmico, me­

dicamentoso e com drogas antineoplásicas.11,12

Este manual tem como objetivo esmiuçar as estratégias

medicamentosas, ou seja, o uso de analgésicos para o con­

trole da dor, ressaltando que técnicas invasivas não fazem

parte do escopo da obra.

Regras básicas para o controle da dor

Há três regras básicas para o controle da dor:13

• modificar a fonte da dor;

• alterar a percepção central da dor;

• bloquear a transmissão da dor para o SNC.

Conceito de dor total

A dor é mais que um fenômeno físico e nem sempre os as­

pectos psicológicos, sociais e espirituais são considerados. É

fundamental o conhecimento do conceito de dor total sob

quatro aspectos: somático, psicológico, social e espiritual.

Tal conceito foi introduzido em 1967 por Cecily Saunders, 14

18

Page 47: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Aspectos conceituais sobre a dor

médica e uma das fundadoras do St. Christopher's Hospice,

na Inglaterra (Figura 1).15

Dor total: nocicepção ~ dor ~ sofrimento (esfera física,

psicológica, social e espiritual).

Aspectos somáticos

Neoplasias (relacionadas à

doença e ao tratamento)

Lesões iatrogênicas

Patologia preexistente

Dor total

Figura 1 Conceito de dor total

Fonte: Saunders.14

Aspectos psicológicos

Ansiedade

Medo

Depressão

Sentimentos de culpa

Aspectos sociais

Relacionamentos familiares

(cuidados e sexualidade)

Medo de dependências

Relacionamentos com amigos

Problemas financeiros

19

Page 48: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Avaliação do paciente com dor16

História clínica

Para avaliar um paciente com dor, é necessário realizar

uma análise do histórico da dor, verificando fatores como

localização, frequência, intensidade (ver escalas da Figura 2),

tempo, tipos (somática, visceral, neuropática ou mista,

apresentados na Tabela 1), condições de melhora e piora e

elementos que acompanham a dor e sua irradiação.

É importante também considerar doenças pregressas,

injúria por trauma, infecções, relação com câncer, distúr­

bios metabólicos, doença vascular, predisposição genéti­

ca, entre outras situações.17 Tratamentos anteriores e dis­

túrbios psicológicos (como depressão e ansiedade) devem

ser incluídos no estudo.

Exame físico

O exame físico geral do paciente deve avaliar pele, cavida­

de oral, sistemas cardiovascular, pulmonar, abdominal,

circulatório, osteomuscular e nervoso central. Por meio da

avaliação nutricional, são mensurados peso, altura e índi­

cede massa corpórea (IMC).

20

Page 49: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Aspectos conceituais sobre a dor

1. Escala de expressões faciais

~ r: a, ,r:& di;, ~~ ·

á>~ '(!)® (!X!) C!>® e§) <i} 'V

.., , ~ ~ .,f r' =

~ 'ª r ~ = ....

o 1 2 3 4 5 Wong-Baker FACES Pain Rating Sca/e

2. Escala de avaliação verbal

a) Sem dor b) Dor leve c) Dor moderada d) Intensa e) Insuportável

3. Escala visual analógica

111 1 ri 11 ll lljl ll r 1111 11 11 11 n 11 11 1111 11 11 11 1 r r 11 1 1111 111 1 1111 r 1111 111 1 11 11 111 1 11 11 1111

o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Sem dor Dor insuporável

Escala visual analógica (VAS):

VAS < 30 mm =dor leve, VAS 2::30 mm e< 50 mm =dor moderada, VAS 2::50 mm =dor forte

4. Escala visual numérica

------3------4------5------6------7------8------9------1 o

5. Escala de cores

Figura 2 Escalas de dor

Fonte: Serlin et al.18; Wong e Baker19; NCCN20•

21

Page 50: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 1 Avaliação do tipo de dor

Tipo de dor Subtipos Características

Nociceptiva

Neuropática

Somática

Visceral

D isestési cal

deaferentação

Constante

Intermitente

Bem localizada

Constante, em aperto

Pouco localizada e difusa

Pode ser referida como cólica, geralmente associada a outros sintomas (p.ex., vômitos)

Queimação constante, alodínea ou hiperalgesias

Raramente causa irradiação

Pontadas intermitentes

Disestesia superficial

Exemplos

Metástases ósseas

Infiltração de tecidos moles

Osteoartrose

Metástases hepática, peritoneal, pleuropulmonar, de rim e de bexiga

Obstrução intestinal

Cólica renal

Neuralgia pós-herpética

Neuropatia pós­-quimioterapia (cisplatina/ oxaliplatina, taxanos, alcaloides da vinca, entre outros) ou pós-radioterapia

Radiculopatia por compressão discai

Neuropatia diabética

Lancinante Dor lancinante episódica Compressão/invasão do . " Paroxismos tipo choque nervo tngemeo

Invasão do plexo braquial

Fonte: arquivos da autora.

22

Page 51: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Aspectos conceituais sobre a dor

Além do exame físico geral, é necessário investigar, sobre­

tudo, o sistema neurológico de cada paciente por meio de:

• avaliação do sistema motor: inspeção da força muscular,

do tônus e dos movimentos;

• avaliação do sistema somatossensitivo: dor, temperatura

e toque (comprometimento de fibras finas); pressão, po­

sição e vibração (componentes de fibras grossas);

• exame do sistema nervoso autônomo: pode indicar lesão

de fibras finas amielínicas. São averiguadas as mudanças

de temperatura na pele, a sudorese, as reações pilomoto­

ras, as alterações tróficas (cabelos, unhas e pele) e os ní-• , o

ve1s pressor1cos.

Por exemplo, quando os nervos cranianos são avaliados e

são detectadas metástases na base do crânio ou envolvi­

mento de leptomeninges (mais comuns no câncer de mama

e de pulmão e linfoma não Hodgkin), podem ocorrer dor

ocular, cefaleia, perda da audição, dor no pescoço e outras

alterações de acordo com o local da lesão. Essas síndromes

23

Page 52: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

estão relacionadas com pior prognóstico, e o tratamento da

dor é crucial para manter a qualidade de vida.

Na Figura 3, verifica-se o confronto dos dermátomos

com as áreas de distribuição dos nervos cutâneos.21

Exames complementares

A radiografia (RX) de tórax deve ser utilizada em processos

infecciosos, alargamento do mediastino, tumores, nódu­

los, envolvimentos de pleura, entre outros casos.

A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância

magnética (RM) são exames indicados em pacientes que

apresentam, entre outros problemas, tumores, compres­

são de raízes por hérnias ou tumores, compressão de tron­

cos nervosos, reações inflamatórias nos músculos, proces­

sos degenerativos, processos distróficos e lesões no SNC.

O exame de cintilografia óssea permite a detecção de o ,

acometimento osseo.

Outros exames, como tomografia por emissão de pós i­

trons (PET scan), além de exames laboratoriais (p.ex., an­

ticorpos antineuronal nuclear [anti-HU] nas neuropatias

paraneoplásicas), também podem ser utilizados.

24

Page 53: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

(2 (3 (4 (5

n-----. T2 .,_.~----.... T3 ----T 4 '""f-11 .....::=----~

TS ---lU. ~::::----':1 T6-- "'f-+

T7 T8 -~~ --fooo.::.

T9 - -H-.I-T1 o ~~:---::.~~ T11~~~

T12

L4

(8

(6 cs T1 (8

(6

(7

Figura 3 Segmentação dermal

Fonte: Jones Jr. 21

Aspectos conceituais sobre a dor

(2 (3 (4 cs ---(6 ------(7 .~~

(8

(8

L1 -L2-L3

L4--

53 54 55

25

Page 54: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág
Page 55: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

• / . • --

---·

Os princípios gerais para o tratamento da dor não dependem de sua

origem (oncológica ou não). As estratégias apresentadas a seguir são

válidas para qualquer tipo de dor.

Primeiro passo: escalas de dor

Na história clínica e no exame físico, são fundamentais a

definição do tipo de dor (somática, visceral, neuropática

ou mista) e a sua quantificação.

Existem várias escalas de avaliação da intensidade da

dor, como:

27

Page 56: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

1. Escalas unidimensionais: servem para medir somen­

te a intensidade da dor (ver Figura 2):18,19

• escala visual numérica de O a 10 (sem dor até a dor

máxima imaginável);

• escala visual analógica: avalia-se o componente

sensitivo-discriminativo da dor em uma linha de

10 em (sem dor em uma extremidade, até a dor

máxima imaginável na outra extremidade); por

meio de uma régua, o indivíduo indica a intensi­

dade de sua dor;

• escala de avaliação verbal: sem dor até a dor insu­

portável;

• escala de expressões faciais;

• escala de cores.

2. Escalas multidimensionais: aferem e avaliam o efeito

da dor no humor, durante as atividades diárias e na

qualidade de vida. Existem várias escalas validadas e

traduzidas para o português. Para uma avaliação

mais complexa, podem ser utilizados o Memorial

Pain Assessment Card, o Wisconsin Brief Pain Inventory

ou o McGill Questionnaire, entre outros.22-25 O ques-

28

Page 57: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Princípios gerais para o tratamento da dor

tionário de McGill foi desenvolvido por Melzack, em

1975, com quatro partes que avaliam a qualidade da

dor por meio de descritores simbólicos. Esse ques­

tionário foi adaptado para a língua portuguesa, e está

exposto na Figura 4.26

Há também escalas específicas para cada tipo de dor,

como o questionário de dor neuropática 4 (DN4)27, o qual

permite o diagnóstico da dor neuropática, e é o único ins­

trumento validado para a população brasileira, além de

ser de rápida execução e fácil aplicação.28

Nesse primeiro passo, é importante definir o tipo de dor

entre leve, moderada e intensa. Caso seja utilizada uma

escala numérica, consideram-se dor leve (1 a 4); dor mo­

derada (5 a 7) e dor intensa (8 a 10).

A escala visual analógica é, sem dúvida, um dos instru­

mentos mais utilizados, pois é considerada simples, sensí­

vel e reproduzível.

Na prática clínica, a escala analógica não visual (notas

de O a 10, sendo O dor nenhuma e 10 dor máxima) é mais

bem compreendida pelos pacientes.

29

Page 58: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

r " 1 2 3 1 -vibração 1- pontada 1 -agulhada 2- tremor 2- choque 2 - perfurante 3- pulsante 3- tiro 3- facada 4 -latejante 4- punhalada 5 -como batida 5- em lança 6- como pancada

4 5 6 1 -fina 1 -beliscão 1 -fisgada 2- cortante 2- aperto 2- puxão 3- estraçalha 3- mordida 3- em torção

4- cólica 5- esmagamento

7 8 9 1 - calor 1 -formigamento 1 - mal localizada 2- queimação 2- coceira 2- dolorida 3- fervente 3- ardor 3- machucada 4- em brasa 4- ferroada 4- doída

5- pesada

10 11 12 1 -sensível 1 -cansativa 1 -enjoada 2- esticada 2 - exaustiva 2- sufocante 3 - esfolante 4- rachando

\.. ...J

(continua)

Figura 4 Questionário de McGill adaptado à língua portuguesa

30

Page 59: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Princípios gerais para o tratamento da dor

(continuação)

r "" 13 14 15

1 - castigante 1 -amedrontadora 1 -miserável 2 - atormenta 2- apavorante 2- enlouquecedora 3- cruel 3- aterrorizante 4 -atravessa 4- maldita

5- mortal

16 17 18 1- chata 1 -espalha 1 -aperta 2- que incomoda 2- irradia 2- adormece 3- desgastante 3- penetra 3- repuxa 4- forte 4- espreme 5- insuportável 5- rasga

19 20 1 -fria 1 -aborrecida 2- gelada 2- dá náusea 3 -congelante 3- agonizante

4- pavorosa 5- torturante

Número de descritores escolhidos Índice de dor

Sensitivos Sensitivo Afetivos Afetivo Avaliativos Avaliativo Miscelânea Miscelânea

Total Total

"' .J

Figura 4 Questionário de McGill adaptado à língua portuguesa

Fonte: Teixeira.26

31

Page 60: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Questionário de McGill para qualificar a dor (ver Figura 4)26

O paciente deve escolher somente uma palavra de cada

grupo que melhor descreve a sua dor. Cada grupo ( 1 a 20)

representa uma das quatro dimensões da dor:

• dimensão sensitiva: 1 a 1 O;

• dimensão afetiva: 11 a 15;

• dimensão avaliativa: 16;

• miscelânia: 17 a 20.

Segundo passo: tratamento da causa da dor

• Tratamento clínico e/ ou cirúrgico.

• Tratamento quimioterápico e/ ou radioterápico.

Terceiro passo: escada analgésica da

Organização Mundial da Saúde {OMS)29

A escada analgésica da Organização Mundial da Saúde

( OMS) (Figura 5) é o principal guia para o manejo da dor

oncológica, é a base para o tratamento clínico da dor, e

também é utilizada para qualificar outros tipos de dores.

O método é baseado na intensidade da dor referida pelo

paciente e na resposta ao analgésico empregado de forma

32

Page 61: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Princípios gerais para o tratamento da dor

sequencial, de acordo com o grau da dor. Possui duas vias,

ou seja, pode subir ou descer, dependendo da situação.

AINHs

AIN Hs com ou sem adjuvantes, terapias

físicas e terapias com porta mentais

Opioides fracos

Opioides fracos com ou sem adjuvantes,

terapias físicas e terapias

comporta mentais

Opioides fortes

Opioides fortes com ou sem adjuvantes,

terapias físicas e terapias

comportamentais

Procedimentos . , . neuroc1rurg1cos

Procedimento . , . neuroCJrurgiCo,

combinação dos anteriores

Figura 5 Escada analgésica da OMS modificada

Arte gráfica: Fauzia F. Naime e Angelo Afonso Leme de Lima.

Fonte: modificada e adaptada de WH030, MigueP1 e Krames32•

Esse método pode, efetivamente, aliviar a dor em 80 a

90% dos pacientes.11 Contudo, a escada não deve ser utili­

zada isoladamente, e sim combinada com outras modalida­

des de tratamento.

Nas dores leves, inicia-se o tratamento com analgésicos

não opioides (degrau 1). Maximiza -se a dose dos analgésicos

33

Page 62: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

anti-inflamatórios não hormonais (AINHs) até o limite

superior da dose clínica e/ou até a toxicidade máxima. Em

qualquer dos três degraus, se não houver melhora significati­

va da dor (não atingir O), deve-se tentar a associação de dro­

gas adjuvantes (ou coanalgésicos). Avalia-se a resposta tera­

pêutica de forma contínua, e mantém-se a associação até o

fracasso terapêutico. Pode-se administrar o coanalgésico,

caso este tenha sido eficaz, e, em seguida, muda -se de degrau.

No degrau 2, para dores moderadas, recomenda-se a tera­

pia inicial com opioides fracos, que recebem essa classifica­

ção, pois doses aparentemente muito altas conseguem anal­

gesia pouco eficaz para dores intensas. Para os medicamentos

classificados como fortes, as doses aparentemente baixas

causam analgesia eficaz para dores intensas. Ajusta-se gra­

dualmente a dose do opioide fraco e, após não ser mais fac­

tível, muda-se para o degrau 3. Não é correto associar dro­

gas da mesma classe terapêutica (p.ex., codeína e tramado!).

Para dores intensas (degrau 3), os opioides fortes são usa­

dos com ou sem AINHs e/ou drogas adjuvantes, como

demonstrado anteriormente. Após atingir esse degrau, é

inaceitável manter associado um opioide fraco.

34

Page 63: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Princípios gerais para o tratamento da dor

Procedimentos neurocirúrgicos (degrau 4) são indica­

dos nos casos em que os tratamentos nos degraus inferio­

res não proprorcionaram melhora satisfatória ou causaram

efeitos adversos não controláveis.

As dores somática e visceral respondem bem aos opioi­

des, ao passo que as neuropáticas apresentam pouca ou

nenhuma resposta. Os medicamentos primariamente in­

dicados para dor neuropática crônica são os antidepressi­

vos e anticonvulsivantes.

Medidas não medicamentosas também auxiliam no con­

trole da dor, pois diminuem a formação do impulso noci­

ceptivo, alterando a transmissão e a modulação do fenô­

meno doloroso.

Medidas não medicamentosas para o controle da dor

São modalidades físicas para o controle da dor:

• TENS (corrente elétrica);

• acupuntura;

• termo terapia (calor);

• crio terapia (frio);

35

Page 64: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

• massagem;

• cinesioterapia.

Recomendações da OMS para prescrição

de analgésicos

• Pela boca: utilizar preferencialmente a via oral (VO).

• Pelo relógio: prescrever de acordo com o tempo de ação

analgésica do medicamento, ou seja, antes da dor voltar (e

não se o paciente tiver dor).

• Pela escada analgésica: descrita anteriormente.

• Individualização: personalizar a dose dos pacientes.

• Atenção ao detalhe: prescrições legíveis em formulários

adequados, e horários e doses regulares; orientação em

relação aos efeitos colaterais e às urgências.

Regras clínico-terapêuticas para o tratamento

da dor8,33

1. Individualizar as doses e as rotinas de administração,

que podem ser:

36

• oral (VO): é a via preferida por ser simples, fácil de

usar e com custo menor que o tratamento parenteral,

Page 65: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Princípios gerais para o tratamento da dor

além de aumentar a sensação de independência e

de autonomia do paciente;

• sublingual (SL): usada apenas para a buprenorfina;

• retal (VR);

• transdérmica (VTD): usada para a administração

de fentanil;

• subcutânea (SC): reservada para serviços com • • A • maior exper1enc1a;

• intravenosa (IV);

• epidural: reservada para serviços com experiência

em terapia invasiva;

• intramuscular (IM): não é recomendada por ser

dolorosa e de difícil administração quando há dor 1\ •

cron1ca;

• intratecal (IT): utilizada por meio de bomba para

infusão de fármacos, considerando que dosagem

menores causam menos efeitos colaterais. A libera­

ção programada não permite que o doente tenha

acesso ao fármaco.

2. Administrar os analgésicos regularmente, respeitan­

do a meia-vida das drogas, e prescrevê-los de forma

37

Page 66: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

contínua. Drogas analgésicas devem ser prescritas

em intervalos que impedem a recorrência da dor e

minimizem o número de doses diárias. Não existe

tratamento de dor ((se necessário"; no entanto, doses

de ((resgate" podem ser prescritas para os momen­

tos de intensificação de dor.

3. Os retornos ao médico devem ser próximos e regula­

res, sobretudo quando o paciente iniciar ou alterar os

regimes analgésicos.

4. O médico deve acreditar em seu paciente, entender

o conceito de dor total (resultado da soma dos as­

pectos somáticos, psicológicos, sociais e espirituais)

e não permitir que o paciente sinta dor.

5. Não utilizar placebos para avaliar a natureza da dor,

pois nem toda dor é responsiva a opioides.

6. Reconhecer e tratar os efeitos colaterais.

7. Seguir a escada analgésica da OMS e iniciar o trata­

mento no degrau apropriado para a intensidade da

dor.

38

Page 67: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Princípios gerais para o tratamento da dor

8. Combinar os medicamentos racionalmente, não

prescrever analgésicos da mesma potência, e não se

esquecer das drogas adjuvantes.

9. Estar alerta para o estado psicológico do paciente.

Deve-se reconhecer a tolerância, as dependências

físicas e psicológicas e o vício, e tratá-los adequada­

mente.

10. Lembrar-se de que os analgésicos são apenas parte

do tratamento.

Barreiras para o tratamento da dor

Existem várias barreiras, de causas multifatoriais, que con­

tribuem para o inadequado tratamento da dor.

Para a avaliação e a abordagem adequadas da dor, os

profissionais de saúde precisam estar conscientes sobre as

barreiras e a complexidade desse tratamento.34-37

1. Avaliação inadequada da dor.

2. Natureza subjetiva e multidimensional da dor.

3. Falta de linguagem clara para definir o conceito de

dor.

39

Page 68: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

4. Ansiedade ou depressão.

5. Comunicação defasada entre pacientes e profissio­

nais de saúde:

• relato pouco preciso do paciente;

• subavaliações elaboradas pelos profissionais de

saúde;

• linguagem;

• baixa acuidade auditiva;

• atividade cognitiva reduzida;

• rebaixamento do nível de consciência.

6. Atitudes incorretas e pouco conhecimento por parte

dos profissionais de saúde, como:

40

• dificuldades para avaliar o tipo de dor;

• conhecimento inadequado da farmacologia dos

opioides, da equianalgesia, da rotação e da con--versao;

• uso inadequado das drogas adjuvantes;

• medo dos efeitos adversos, da tolerância e da depen­

dência;

• tratamento inadequado dos eventos adversos;

Page 69: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Princípios gerais para o tratamento da dor

• dificuldade no seguimento dos indivíduos e in­

tervalos para reavaliação da dor e dos tratamentos

propostos.

Um estudo francês, aplicado aos oncologistas, mos­

trou que, embora exista uma ampla variedade de analgési­

cos, 50% dos profissionais relutaram em prescrever a

morfina. A principal razão para a resistência foi relacio­

nada aos efeitos colaterais do medicamento. Outras ra­

zões relatadas foram a crença de que os opioides causam

dependência física e psíquica, que a opinião pública tem

uma imagem ruim da morfina e que há dificuldade para a

obtenção da medicação opioide.38

Existem muitos mitos e temores relacionados à tolerân­

cia, ao vício, aos efeitos colaterais e à regulamentação da

prescrição. Uma das maneiras para quebrar essas barreiras

é treinar os profissionais de saúde para avaliação da dor,

assim como propagar os princípios para seu controle.

41

Page 70: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág
Page 71: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

, .

-• • - , .

Mecanismo de ação

O mecanismo de ação primário dos AINHs é a inibição da

enzima ciclo-oxigenase, impedindo a formação de prosta­

glandinas e substâncias semelhantes que sensibilizam ner­

vos periféricos e neurônios centrais para o estímulo dolo­

roso (Figura 6). 39A0

As prostaglandinas são produzidas pela COX-2, a qual é

induzida em resposta aos estímulos inflamatórios nos sí­

tios de lesão tecidual.

Os AINHs têm efeitos analgésico, antipirético e anti-in­

flamatório, e também podem exercer efeito no SNC e na

43

Page 72: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Agressão Lesão celular (membrana celular destruída)

Fosfolípides

Fosfolipase A

Ácido araquidônico

Lipo-oxigenase

Leucotrienos

Inflamação

Ciclo-oxigenase

Prostaglandinas, prostaciclinas, tromboxanos e radicais livres

t Dor, alterações vasculares

e inflamação

COX-1 -constitutiva ou fisiológica. Encontrada em tecidos sadios

COX-2- induzida ou patológica. Encontrada nos processos inflamatórios

Figura 6 Mecanismos de ação dos AINHs

Fonte: Vane et ai. 39

COX-1

COX-2

medula espinal.41 E ainda, AINHs como a Aspirina® e aná­

logos podem prevenir fenômenos tromboembólicos.

O papel das COXs tornou-se importante em doenças

nas quais há um componente inflamatório na patogênese,

como o câncer.42

44

Page 73: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos anti-inflamatórios não hormonais (AINHs)

A COX -1 pode ser constitutiva ou fisiológica, e é encon­

trada em tecidos sadios. A COX-2 pode ser patológica ou

induzida durante os processos inflamatórios.

A eficácia analgésica dos AINHs é resultado da inibição

da COX-2; porém, a inibição plaquetária e os efeitos ad­

versos no trato gastrointestinal superior (como ulceração

e sangramento) são causados pela inibição não específica

da COX -1.43 Já os inibi dores específicos da COX-2, como,

por exemplo, o parecoxibe, não afetam a função plaquetá­

ria44A5, nem os parâmetros de coagulação. Em razão disso,

o parecoxibe, por exemplo, pode ser usado associado ao

tratamento da tromboprofilaxia, ao contrário dos AINHs

não específicos.46

Muitos efeitos adversos dos AINHs, como ulceração do

trato gastrointestinal, sangramento e disfunção plaquetá­

ria, têm sido associados à supressão dos derivados (pros­

tanoides) da COX-1, enquanto a inibição dos derivados

prostanoides da COX-2 funciona como um mediador

dos efeitos anti-inflamatórios, analgésicos e antipiréticos

desses compostos.

45

Page 74: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Três grandes estudos randomizados mostraram melho­

ra no perfil de risco em relação à segurança gastrointesti­

nal dos inibidores de COX-2 em relação aos AINHs não

específicos. Esse benefício somente foi evidenciado em

um dos estudos, quando incluídas úlceras sintomáticas de

trato gastrointestinal superior.47-49

Na prevenção de úlceras pépticas em pacientes de alto

risco, uma alternativa aos inibidores de COX-2 é utilizar

AINHs inespecíficos concomitantemente com inibidores

da bomba de próton. Essa associação, entretanto, não for­

nece proteção contra danos causados por AINHs não es­

pecíficos no trato gastrointestinal inferior. 50,51

Ressalta-se que os anti-inflamatórios não produzem de­

pendência física ou psíquica, são metabolizados no fígado

e excretados pelos rins e pelas fezes. Podem ser usados iso­

lada ou concomitantemente com os opioides nos três de­

graus da escada analgésica.

A Tabela 2 apresenta informações sobre classificação dos

AINHs, doses usuais, dose teto e apresentações comerciais.

Para mais informações, consulte as páginas 162 a 164

deste livro.

46

Page 75: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos anti-inflamatórios não hormona is (AI N Hs)

Indicações e efeitos colaterais

Os AINHs são indicados nas dores de etiologia inflamatória:

• dores musculoesqueléticas;

• dores por lesões ósseas, como fraturas e metástases ós­

seas, e osteoartrite;

• dores decorrentes do câncer, como tumores que envol­

vem a parede torácica, metástases hepáticas, câncer de A pancreas, entre outras;

• dor de cólica renal aguda;

• dor pós-operatória.

Os efeitos colaterais mais comuns dos AINHs não especí­

ficos são: náuseas, vômitos, estomatite, gastrite, sangramen­

to gastrointestinal, úlcera péptica, perfuração intestinal,

diarreia, tontura, prurido, erupções cutâneas, leucopenia,

agranulocitose, vasculite, alterações de enzimas hepáticas,

inibição da agregação plaquetária, alteração da função re­

nal, hipertensão arterial e retenção de sódio. 52)53

No entanto, inibição da agregação plaquetária, sangra­

menta gastrointestinal e úlcera não são efeitos colaterais

dos inibidores seletivos da COX-2.

47

Page 76: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 2 Classificação dos AINHs

Classes dos AINHs

Derivados salici latos

Derivados do p-aminofenol

Derivados pirazolônicos

Derivados do ácido propiônico

Derivados indolacéticos

48

Nomes Doses usuais/dia farmacológicos

Aspirina® 300 a 1.000 mg a cada 4 a 6 h

Acetaminofeno 500 mg a cada 4 a 6 h

Dipirona 500 a 1.000 mg a cada 4 a 6 h

Fenilbutazona cálcica 100 a 200 mg a cada 8 h

lbuprofeno

Cetoprofeno

Naproxeno

Fenoprofeno

lndometacina

Benzida mina

200 a 600 a cada 8 h

50 a 100 a cada 8 h, por,

no máximo, 48 h

250 a 500 mg a cada 8 a 12 h

200 a 600 mg a cada 6 a 8 h

25 a 50 mg a cada 8 a 12 h

50 mg a cada 6 a 8 h

Page 77: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos anti-inflamatórios não hormona is (AI N Hs)

Doses teto Apresentações comerciais (mais usadas) (mg/dia)

4.000 Aspirina® e AAS®: comp. de 100 e 500 mg

Bufferin® (ácido acetilsalicílico tamponado): comp. de 500 mg

Somalgim Cardio®: comp. de 100 e 325 mg

2.000 a 4.000 Tylenol®, Paracetamol® e Dôrico®: comp. de 500 e 750 mg; gts de 200 e

100 mg/ml

6.000 Dipirona® e Novalgina®: comp. de 1 g; gts de 500 mg/ml; amp. de 500

mg/ml; supos. infantil de 300 mg

600

3.200

300

Butazona cálcica®: comp. de 100 e 200 mg

Advil®: comp. de 200 e 400 mg

Artril® e lbuprofeno®: comp. de 300 e 600 mg

Profenid®: cáps. de 50 mg; comp. retard de 200 mg

Profenid entérico®: comp. de 100 mg

Bi-Profenid®: comp. de 150 mg (lib.lenta); gts de 20 mg/ml; supos. de

100 mg; amp. de 100 mg/2 ml (IM) e 100 mg (IV); gel (uso tópico)

Cetoprofeno®: cáps. de 50 mg

1.500 Naprosyn®: comp. de 250 e 500 mg

Flanax®: comp. de 275 e 550 mg

3.200 Trandor®: cáps. de 200 mg

200 lndocid® e lndometacina®: cáps. de 25 e 50 mg; supos. de 100 mg

200 Benzitrat®: colutório sprayfr. 150 ml (1,5 mg/ml)

Benflogin®: drágea de 50 mg; gts de 30 mg/ml

(continua)

49

Page 78: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 2 Classificação dos AINHs (continuação)

Classes dos AINHs Nomes Doses usuais/dia farmacológicos

Derivados do ácido a cético Diclofenaco 50 a 75 mg a cada 8 h

Aceclofenaco 100 mg a cada 12 h

Femanatos Ácido mefenâmico 250 a 500 mg a cada 8h

Ácido tolfenâmico 200 mg a cada 8 h

Derivados do ácido enólico/ Piroxicam 20 mg a cada 12 ou 24 h • oxtcans

Meloxicam 7,5a15mg

Tenoxicam 20 mg a cada 12 ou 24 h

Derivados sulfonanilídicos Nimesulida 50 a 1 00 mg a cada 12 h

50

Page 79: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Doses teto (mg/dia)

200

Analgésicos anti-inflamatórios não hormona is (AI N Hs)

Apresentações comerciais (mais usadas)

Cataflam®: drágea de 50 mg; suspensão fr. de 120 ml (2 mg/ml); supos. de

12,5 e 75 mg; gts de 1,5 mg/ml (fr. de 20 ml); solução injetável de 75 mg

Voltaren®: comp. de 50 mg

Voltaren Retard®: comp. de 100 mg

Voltaren SR 75® (lib. gradativa): comp. de 75 mg; supos. de 50 mg; amp.

de 3 ml com 75 mg (IM)

400 Proflam®: comp. de 100 mg

1.500 Ponstan®: comp. de 500 mg

600 Fenamic®: comp. de 200 mg

40 Feldene®: cáps. de 1 O e 20 mg; comp. de 20 mg; comp. de dissolução instantânea de 20 mg; supos. de 20 mg; amp. de 40 mg/2 ml (IM) Piroxicam®: cáps. de 1 O e 20 mg

15

40

400

Movatec®: comp. de 7,5 e 15 mg; amp. de 15 mg/1,5 ml (IM) Melotec®: comp. de 7,5 e 15 mg

Tilatil®: comp. de 20 mg Tenoxicam®: comp. de 20 mg; fr.-amp. de 20 e 40 mg (IV ou IM)

Nisulid®: comp. e comp. dispersível de 100 mg; gts de 50 mg/ml; granulado de 100 mg; suspensão oral de 10 mg/ml; supos. de 50 e 100 mg Scaflam®: comp. de 100 mg; granulado de 100 mg; supos. de 100 mg; suspensão de 50 mg/5 ml

(continua)

51

Page 80: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 2 Classificação dos AINHs (continuação)

Classes dos AINHs

Coxibes

Outros

Nomes Doses usuais/dia farmacológicos

Celecoxibe 100 a 200 mg a cada 12 h

Etoricoxibe

Parecoxibe

Etodolaco

Clonixilato de lisina

60a 120 mg a cada 24 h

20 a 40 mg a cada 12 a 24h,

por, no máximo, 5 dias

300 a 400 mg a cada 6 a 8 h

125 mg a cada 6 a 8 h

comp.: comprimido(s); gt(s): gota(s); amp.: ampola; supos.: supositório; cáps.: cápsula(s); fr.: frasco; lib.: liberação.

NOTA: a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu no dia 03 de outubro de 2008 parecer sobre o uso de anti-inflamatórios da classe dos inibi dores da COX-2. A Anvisa optou pela reclassificação de toda a classe de inibi dores da COX-2 de venda sob prescrição médica para venda sob retenção de receita médica (receituário C1).

Fonte: arquivos da autora.

52

Page 81: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos anti-inflamatórios não hormonais (AINHs)

Doses teto Apresentações comerciais (mais usadas) (mg/dia)

800 Celebra®: cáps. de 100 e 200 mg

120 Arcoxia®: comp. de 60 e 90 mg

80 Bextra®: fr-amp. de 40 mg (IV /IM)

1.200 Flancox®: comp. de 300 e 400 mg

750 Dolamim®: comp. de 125 mg; amp. de 200 mg/4 ml (IV/IM)

53

Page 82: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Considerações sobre AINHs

1. Dipirona e acetaminofeno apresentam atividade anal­

gésica, mas não anti-inflamatória. Não interferem na

função plaquetária nem danificam a mucosa gástrica.

Doses elevadas de acetaminofeno podem causar ne­

crose hepática. Os pacientes alcoólatras e com doença

hepática podem desenvolver hepatotoxicidade mes­

mo com doses usuais. Desencorajar o uso de bebidas

alcoólicas com acetaminofeno; caso não seja possí­

vel, a dose diária total não deve exceder 2 g. 54 O me­

canismo de ação do acetaminofeno é desconhecido;

acredita-se que seja um inibidor da COX-3 (ciclo­

-oxigenase descoberta no SNC).

2. Anticoagulação, coagulopatia e trombocitopenia são

contraindicações para o uso dos AINHs não seleti­

vos. Diferente dos AINHs não específicos, que ini­

bem a COX-1, os inibi dores específicos da COX-2,

em concentrações terapêuticas, poupam a COX -1 e,

por isso, têm um melhor perfil de tolerabilidade,

maior segurança para uso no trato gastrointestinal e,

clinicamente, não afetam a função plaquetária.47A8

54

Page 83: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos anti-inflamatórios não hormonais (AINHs)

Além do efeito sobre as plaquetas, pode haver intera­

ção com anticoagulantes, causando sangramento. 55

Devem ser evitados também em casos de broncoes­

pasmo, insuficiência renal, doença diverticular (por­

que há risco de sangramento) e úlcera gástrica.

3. Doses diárias de celecoxibe 100 a 200 mg, valdecoxi­

be 1 O mg e etoricoxibe 60 mg são doses mínimas efe­

tivas a serem utilizadas. Além disso, inibidores da

COX-2 têm potencial trombótico com altas doses e

uso prolongado. 56 O parecoxibe é um profármaco

(inativo) que sofre rápida biotransformação in vivo

para valdecoxibe (ativo), e é o primeiro anti-inflama­

tório não esteroide injetável seletivo da COX-2. Es­

pecificamente para o parecoxibe, as orientações e

precauções de Bextra® (retiradas da bula) são:

• uso em idosos: geralmente não é necessário ajus­

tar a dose. No entanto, para pacientes idosos com

menos de 50 kg, é aconselhável reduzir a dose ini­

cial de Bextra® em 50%. A dose máxima diária de­

ve ser reduzida para 40 mg.

55

Page 84: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

4. Omeprazol em doses diárias de 20 mg pode ser efe­

tivo para prevenir e tratar consequências da terapia

com AINHs. 57'58

5. A regra do mecanismo de ação dos AINHs não ser­

ve para a nimesulida, pois ela inibe a prostaglandina

sintetase.

56

Page 85: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

, . --

• • . , - -

Histórico

A primeira referência feita aos analgésicos opioides e opiá­

ceos consta do século III a.C. No século XV (1600), Syde­

nham descreveu o alívio dos sofrimentos com o uso do

ópio. No século XVII, a substância tornou-se popular no

Oriente e na Europa.

• 1806: Sertürner isolou a morfina;

• 1832: Robiquet isolou a codeína;

• 1842: Merck isolou a papaverina;

• 1939: Schaumann sintetizou a meperidina;

• 1951: Eckenhoff isolou a nalorfina.

57

Page 86: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Conceito de opiáceos e opioides

Os opiáceos são substâncias químicas naturais presentes na

papoula, com ação analgésica e depressora do SNC (p.ex.,

morfina e codeína). Por sua vez, os opioides são produtos

sintéticos, com estrutura química diferente, mas que atuam

de forma similar aos opiáceos (p.ex., meperidina e fentanil).

Mecanismo de ação

Tais medicamentos interagem com receptores específicos

no SNC (corno posterior da substância cinzenta da medu­

la espinal, formação reticular do tronco encefálico, núcleo

caudado e amídala), no SNP e na musculatura lisa cau­

sando reações moleculares que resultam em um efeito. Os

receptores específicos de opiáceos e opioides mais impor­

tantes são o mu (~), o kappa (K) e o delta (ô), que estão

relacionados com analgesia, sedação e depressão respirató­

ria. Os receptores localizados no corno dorsal da medula,

no gânglio da raiz dorsal e nas terminações periféricas estão

demonstrados na Figura 7. Para cada receptor, existe um

ligante endógeno (neurotransmissor).

58

Page 87: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/opiáceos

Gânglio da raiz dorsal

Medula espinal

Aferente . , . pnmano

Receptores opioides

- Corno dorsal

Célula inflamatória

Figura 7 Receptores opioides

Fonte: adaptada de Stoelting59 e arquivos da autora.

Receptores opioides ~ ligantes endógenos

(neurotransmissores)59

1. Mu (~) (neuroeixo): esses receptores estão localizados

no encéfalo, em áreas como a substância cinzenta e,

na medula espinal, no corno dorsal, onde ocorrem as

59

Page 88: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

sinapses das fibras aferentes finas da dor. Os recepto­

res mu são proteínas com localização transmembra­

nas, acopladas à proteína G:

• mu 1 ~ ligante agonista endógeno de mu 1: beta­

endorfinas e encefalinas. Causam analgesia supra­

espinhal, euforia, miose, hipotermia, retenção uri­

nária e diminuição da frequência cardíaca;

• mu 2 ~ morfinosseletivo. Causam analgesia es­

pinhal, depressão respiratória, miose, espasmo da

musculatura lisa, dependência física e diminuição

da motilidade gastrointestinal.

2. Delta (ô) (região límbica): modula a atividade do re­

ceptor mu ~ ligante agonista endógeno de delta: leu­

coencefalinas. Causam analgesia espinhal e supraes­

pinhal, depressão respiratória, dependência física,

retenção urinária e mínima constipação. Modulam a

atividade dos receptores opioides.

3. Kappa (K) (córtex cerebral)~ ligante agonista endó­

geno de kappa: dinorfinas. Causam analgesia espi­

nhal e supraespinhal, disforia, miose, diurese e de-~ . , .

pressao resp1rator1a.

60

Page 89: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/opiáceos

4. Sigma (a) (hipocampo). Causam excitação e euforia,

hipertonia e midríase, e estimulam a respiração.

Neurotransmissor

É uma substância química liberada seletivamente em uma

terminação nervosa por um potencial de ação que costu­

ma interagir com um receptor específico, produzindo uma

resposta fisiológica.

Os principais neurotransmissores conhecidos são: ace­

tilcolina, dopamina, noradrenalina, serotonina, ácido ga­

ma-aminobutírico (GABA), betaendorfinas, encefalinas

(metionina e leucina), dinorfinas, substância P, nocicepti­

nas, glicina, glutamato e aspartato, adrenalina, histamina,

vasopressina, bradicinina, entre outros. Exemplos:

• neurotransmissores excitatórios: glutamato, aspartato e

substância P. Causam efeito excitatório na medula espi­

nal e no tálamo;

• neurotransmissores inibitórios liberados pelos interneu­

rônios: GABA e glicina;

• neurotransmissores monoaminérgicos: noradrenalina,

serotonina e dopamina. Promovem atividade reflexa.

61

Page 90: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Anatomia das vias somatossensitivas

• Receptores da dor: terminações nervosas livres e recep­

tores especializados.

• Fibras nervosas relacionadas à dor: fibras A-delta (mie­

línicas) e fibras C (amielínicas).

• Fibras nervosas relacionadas ao tato: fibras A-beta.

Processamento da sensação dolorosa

A sensação dolorosa processa-se por meio da transdu­

ção, ocorrendo ativação de nociceptores (calor químico

ou mecânico) e transformação do estímulo nóxico em po­

tencial de ação. Posteriormente, verifica-se a transmissão

do estímulo pelo nervo periférico que chega ao gânglio da

raiz dorsal da medula. O estímulo interage pela via neoes­

pinotalâmica, segue o núcleo ventral posterolateral e vai

até o córtex cerebral, onde acontece o reconhecimento da

dor. Finalmente, ocorre a modulação da dor, tanto em

nível medular como suprassegmentar ( cortical, subcorti­

cal e ao nível do tronco cerebral, como apresentado na Fi­

gura 8).

62

Page 91: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/opiáceos

Sistema límbico Córtex cerebral

Tálamo

Núcleo intratalâmico

Hipotálamo

Núcleo ventral posterolateral Núcleo hipotalâmico

Raiz dorsal ___ __ Cordão espinhal

Fibras A-delta

::::=~---1/- Fibras C ;;......__ _____ Nervo espinhal

Nociceptores

Figura 8 Trato neoespinotalâmico

Fonte: http:/ /www.aliviador.org. 60

63

Page 92: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Classificação dos opioides quanto à natureza

• Naturais: morfina, codeína e papaverina.

• Semissintéticos: oximorfona, hidromorfona, heroína, bu­

prenorfina e oxicodona.

• Sintéticos: nalbufina, fentanil, metadona, petidina, pro­

poxifeno, naloxona e naltrexona.

Classificação dos opioides quanto à potência

Analgésicos opioides fracos

São indicados para dores fracas ou moderadas de caráter

agudo e crônico. Podem ser citados como exemplos:

• dor crônica: dor decorrente do câncer, dor neuropática,

lombalgias, dores osteoarticulares etc.;

• dor aguda: pós-operatórios, traumatismos (entorses, lu­

xações, contusões, fraturas) etc.

Cloridrato de tramado I

É indicado para dores nociceptiva leve a moderada e neu-, .

ropat1ca.

64

Page 93: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/opiáceos

Os pacientes mais beneficiados com o uso dessa droga

são aqueles com dor de pequena a média intensidade, não

aliviada pelo acetaminofeno e que não toleram AINHs.

O cloridrato de tramado! é um analgésico de ação cen­

tral com mecanismo de ação duplo.61 As características des­

se medicamento são:

• afinidade fraca para receptores opioides: implica menor

incidência de depressão respiratória e de taquifilaxia. 62 É

um agonista mu seletivo;

• aumento da liberação de serotonina pelos neurônios e,

concomitantemente, inibição da recaptação de norepi­

nefrina e de serotonina em nível espinhal.

A farmacocinética possui as seguintes características:30,63

• dose teto: 400 mg/dia;

• metabolismo hepático (85%) e ligação às proteínas plas­

máticas (20%);

• excreção renal (90%) e fecal (lO%);

65

Page 94: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

• biodisponibilidade por via oral de 75% e meia-vida de

eliminação de 5 a 6 horas;

• a administração via IT e peridural não é recomendada;

• pouco efeito obstipante.

O cloridrato de tramado! é antagonizado parcialmente

pela naloxona e, em doses tóxicas, pode causar crises con-

vulsivas.64 Os efeitos colaterais mais comuns são tontura,

náuseas, vômitos, constipação, boca seca, sudorese, seda­

ção, hipotensão ortostática, taquicardia e cefaleia.

Codeína65-67

É indicada para dor nociceptiva leve a moderada. É deri­

vada do fenantreno, e a sua ação central é de agonista mu.

A farmacocinética da codeína no organismo possui as . ' . seguintes caracter1st1cas:

• metabolização no fígado (glucuronidação) pela enzima

CyP2D6 do sistema do citocromo P450 e desmetilação

em norcodeína e morfina. É um profármaco da morfina;

66

Page 95: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/opiáceos

• pacientes com deficiência da enzima CyP2D6 ou em

uso de inibi dores desta ( cimetidina, fluoxetina, paroxe­

tina) não são capazes de desmetilar a codeína em morfi­

na, que é a responsável pela ação analgésica;

• excreção renal;

• biodisponibilidade por via oral de 40%;

• meia-vida de aproximadamente 3 horas;

• efeito antitussígeno;

• intenso efeito obstipante;

• efeito emetizante moderado.

Os efeitos colaterais mais comuns são náuseas, vômi­

tos, euforia, disforia, prurido e constipação. A ocorrên­

cia de dependência é rara.

Dica: a codeína, associada aos AINHs, além do efeito

central, apresenta também efeito periférico. É preciso cui­

dado no caso de pacientes com insuficiência renal e ido­

sos, já que estes últimos apresentam uma redução da

função renal em decorrência da própria idade.

67

Page 96: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Propoxifeno

É um opioide sintético derivado das fenileptilaminas.

A farmacocinética do propoxifeno no organismo possui

as seguintes características:59

• metabolização no fígado;

• excreção pelos rins;

• meia-vida de 8 a 24 horas. Não é dialisável, nem reco­

mendável para pacientes idosos, pois, além do acúmulo

ocasionado pela meia-vida longa, a dose é limitada pela . "" assoc1açao

analgésica;

com AINHs.68 Apresenta baixa potência

• contraindicado para dor crônica de pacientes com

câncer por causa do metabólito ativo norpropoxifeno

(tóxico) com duração de ação prolongada e risco de

acúmulo.69

Os efeitos colaterais mais comuns do propoxifeno são

tontura, náuseas, vômitos, constipação, boca seca, sudore­

se e sedação.

68

Page 97: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/opiáceos

Considerações finais sobre os opioides fracos

Os opioides considerados fracos podem causar depen­

dência física e psíquica ao paciente. São drogas de ação

agonista.

Definição de dose teto

A dose teto de um fármaco é definida quando a elevação

da quantidade administrada acima de um determinado li­

mite não implica aumento de resposta, mas só aumento

de toxicidade. Os dados da Tabela 3 apresentam os opioi­

des fracos com as doses usuais, dose teto e apresentações • • comerc1a1s.

Analgésicos opioides fortes

Podem ser classificados, de acordo com a afinidade por re­

ceptores mu, delta e kappa, como agonistas, antagonistas,

agonistas parciais e agonistas-antagonistas:

• os agonistas ocupam os receptores opioides específicos;

69

Page 98: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 3 Opioides fracos

Nome farmacológico Dose usual/dia Dose teto/dia

Codeína* 30 a 60 mg a cada 4 a 6 h 360 a 720 mg

Propoxifeno** 50 a 100 mg a cada 24 h 260 a 780 mg

Tramado! 50 a 100 mg a cada 4 a 6 h 400mg

comp.: comprimido(s); gt(s): gota(s); amp.: ampola; supos.: supositório; cáps.: cápsula(s); fr.: frasco; AAS: ácido acetilsalicílico.

* Podem-se atingir doses maiores gradualmente com a codeína; entretanto, na prática clínica diária, doses maiores que 360 mg implicam efeitos colaterais pouco toleráveis. ** Não recomendado para uso rotineiro, como no caso de dores crônicas.

Fonte: arquivos da autora.

70

Page 99: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/opiáceos

Apresentações comerciais (mais usadas)

Codaten®: comp. com 50 mg de diclofenaco e 50 mg de codeína (dose teto: 150 mg)

Tylex®: comp. de 7,5 mg (7,5 mg de codeína e 500 mg de paracetamol) e 30 mg (30 mg de

codeína e 500 mg de paracetamol) (dose teto: 360 mg)

Codein®:* comp. de 30 e 60 mg; solução oral de 3 mg/ml e 30 mg/2 ml (IV) (dose teto: 720 mg)

Doloxene-A®: (napsilato de propoxifeno) 77 mg (50 mg de cloridrato de propoxifeno e 325

mg de AAS)- solicitado cancelamento do registro em 11/2010 e publicado em 01/2012

Tramal®: cáps. de 50 mg; comp. retard de 100 mg; solução de 100 mg/ml (40 gts), supos. de

100 mg; amp. de 100 mg/2 ml

Timasen® SR: cáps. de 50 e 100 mg de liberação prolongada

Tramadon®: cáps. de 50 mg; comp. de 100 mg; solução de 100 mg/ml; amp. de 1 e 2 ml com

50 mg/ml

Ultracet®: comp. com 325 mg de paracetamol e 37,5 mg de cloridrato de tramado I (dose

teto: 300 mg)

Sensitran®: comp. de 50 e 100 mg

Sylador®: comp. de 50 mg; solução de 50 mg/ml; amp. de 50 mg/ml e 100 mg/2 ml

71

Page 100: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

• os antagonistas bloqueiam os efeitos dos agonistas nos

receptores e, dependendo do receptor bloqueado, cau­

sam analgesia e impedem os efeitos tóxicos causados pe­

los opioides agonistas.

Atenção: nunca se deve administrar um agonista-an­

tagonista para pacientes em uso crônico de agonista puro,

pelo risco de ocasionar síndrome de abstinência. Agonis­

tas-antagonistas apresentam efeitos mistos.

Alguns exemplos de fármacos inseridos na classificação

dos opioides fortes são:

• agonistas puros: morfina, metadona, fentanil, petidina,

oxicodona, alfentanil, diamorfina, hidromorfona, sufen­

tanil, remifentanil;

• agonistas parciais: buprenorfina, nalorfina;

• agonista-antagonista: nalbufina;

• antagonista: naloxona.

72

Page 101: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/opiáceos

Existem muitos mitos sobre a utilização de opioides,

p.ex., o medo da adição, que geram receio em grande parte

dos médicos em sua aplicação. É importante, especialmen­

te antes da administração de um opioide forte, entender os

conceitos de tolerância, dependência física e adição.70

Tolerância

É a adaptação fisiológica que leva ao aumento gradual na

dosagem de uma droga para manter o efeito analgésico

tão efetivo como no princípio. Tolerância não é vício e não

deve ser considerado fator limitante para o uso de uma

substância.

Pseudotolerância

Ocorre quando é necessário aumentar a dose, não por

tolerância, mas por fatores que possam contribuir para a

evolução da doença, como interações com drogas, uso

inadequado do medicamento proposto (p.ex., subdoses e

uso das drogas em intervalos irregulares), alterações psí­

quicas, vício, entre outras circunstâncias. 61

73

Page 102: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Dependência física

A dependência física instala-se em função da tolerância.

Se ocorrer a suspensão abrupta de um opioide ou dimi­

nuição muito rápida sem titulação, o paciente pode sofrer

síndrome de abstinência. Os sintomas mais frequentes são

náuseas, vômitos, dores abdominais, diarreia, lacrimeja­

mento, ansiedade, agitação, hipertermia, ereção dos pelos,

entre outros.

Dependência psicológica ou ad ição (vício)

A dependência é caracterizada pela compulsão irresistível

de usar uma droga, de assegurar sua provisão constante e

pelo alto índice de recidiva após o tratamento. Conside­

ra-se vício se o paciente não apresenta controle sobre o uso

de uma substância, apesar de seus efeitos indesejáveis.71 Já

o receio sobre vício em pacientes terminais não tem senti­

do e interfere nos cuidados paliativos. Vício no tratamento

opioide em pacientes com câncer é raro e parece ser baixo

quando esses medicamentos são dosados adequadamente

para dores crônicas não oncológicas.72

74

Page 103: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/opiáceos

Pseudoadição

Padrão comportamental caracterizado pela busca da dro­

ga, que ocorre em razão do não alívio da dor. Há um en­

volvimento dramático para obtenção da droga, que desa­

parece quando há sensação de conforto, geralmente com o

aumento de dose.73

Morfi na74-76

Droga agonista, a morfina é o opiáceo padrão-ouro para

ser comparada com os outros narcóticos. É considerada

a base da analgesia em oncologia e um opioide hidrofíli­

co de baixa ligação plasmática com a albumina.

É especialmente metabolizada no fígado (glucuronida­

ção hepática), sendo a morfina 3-glucuronídeo (lO%) e

a morfina 6-glucuronídeo (60%) seus metabólitos mais

importantes. A morfina 6-glucuronídeo acumula-se no

organismo de pacientes nefropatas, podendo ocasionar

analgesia prolongada, sedação e depressão respiratória.

Outros metabólitos são a normorfina e a codeína, as quais

são metabolizadas no intestino.

75

Page 104: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

A excreção principal da morfina é feita pelos rins, e so­

mente 7 a 10% é excretado por via biliar. A sua duração de

ação de liberação rápida é de 4 horas em média. Sua

meia-vida gira em torno de 135 minutos.

A morfina é indicada tratar as dores moderadas a inten­

sas, de origem oncológica ou não, agudas e crônicas. Apre­

senta pouco ou nenhum benefício para dor neuropática.

O efeito analgésico depende da dose utilizada, não apre­

senta efeito teto e a dose pode ser aumentada gradualmen­

te, até que se atinja um equilíbrio entre a eficácia analgési­

ca e os efeitos colaterais toleráveis.

Os principais efeitos colaterais são náuseas, vômitos,

constipação intestinal, sedação, convulsão, alucinações,

mioclonia, distúrbios do sono e confusão mental.

Como usar a morfina

Titulação da dose oral (VO)

Se o paciente nunca recebeu tratamento com uso de opioi­

de, iniciar com morfina de liberação rápida nas doses de

5 a 1 O mg, VO, a cada 4 horas.

76

Page 105: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/opiáceos

Caso o paciente já esteja habituado a analgésicos opioi­

des fracos (p.ex., 400 mg de cloridrato de tramadol) e se

houver necessidade de subir a escada analgésica, conside­

ra-se a dose equianalgésica do opioide previamente utili­

zado, conforme os dados da Tabela 4.

Tabela 4 Coeficiente para calcular doses equianalgésicas

Droga Morfina oral Morfina pa rentera I

Morfina oral x1 %2

Morfina parenteral x2 X 1

Meperidina parenteral %3 %7,5

Codeína oral %8 %20

Oxicodona oral x2 %1,25

Tramado! oral %5 %10

Fonte: adaptada de Watson et al?7 e arquivos da autora.

Pode-se exemplificar a utilização do opioide da seguinte

forma: no caso do paciente que já utilizava os 400 mg de

cloridrato de tramadol (dose teto) e essa dose passou a ser

insuficiente, muda-se a escada analgésica com o inicío do

uso da morfina de liberação rápida. A dose de 400 mg de

77

Page 106: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

cloridrato de tramadol corresponde a aproximadamente

70 a 80 mg de morfina oral, mas, como já era ineficaz,

deve ser utilizada uma dosagem um pouco maior, ou seja,

15 mg a mais, VO, a cada 4 horas.

É importante não modificar a dose antes de 2 a 3 dias de

observação da resposta analgésica. Havendo necessidade

de doses maiores, recomenda-se aumentar 5 a 10 mg a cada

4 horas, de forma escalonada (p.ex., 5, 10, 15, 20, 30, 45, 60,

90, 120, 180, 240 mg e assim por diante, a cada 4 horas).

Depois de encontrada a dose analgésica ideal do paciente,

para facilitar o tratamento, é utilizada a morfina de libera­

ção lenta. Por exemplo, se o paciente estiver recebendo

120 mg/dia de morfina de liberação rápida (equivalente a

20 mg, a cada 4 horas), podem ser administrados 60 mg de

morfina de liberação lenta a cada 12 horas, totalizando

120 mg/dia.

Em determinadas situações, quando o paciente sente dor

dentro das 12 horas de administração da morfina de libe­

ração lenta, a administração da dose deve ser igual àquela

de liberação rápida (a cada 4 horas). Por exemplo:

78

Page 107: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/ opiáceos

• se um paciente estiver recebendo 60 mg de morfina de

liberação lenta a cada 12 horas e, às 14 horas começou a

apresentar dor, administram -se mais 20 mg de morfina

de liberação rápida. Nesse caso, são 20 mg porque cor­

responde à dose de morfina de liberação rápida: 20 mg,

a cada 4 horas= 120 mg/dia;

• se o paciente estiver tomando 200 mg de morfina por

dia, devem ser administrados 50 mg às 14 horas. Uma

vez acrescentada, essa dose de reforço ou resgate (geral­

mente, 10% da dose total diária) deve ser mantida nos

dias seguintes e administrada sempre 1 hora antes do

pico de dor (se o paciente sentiu dor às 14 horas, no dia

seguinte, deverá ser medicado às 13 horas). A dose de

resgate pode ser administrada a cada 1 hora, se houver

necessidade. O opioide de resgate deve ser sempre o de

ação rápida e nunca o de ação lenta. Assim, podem ser

acrescentadas doses de morfina, até que se possa con­

verter a dose total diária em morfina de liberação lenta.

79

Page 108: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Titulação da dose intravenosa (IV)

A dosagem máxima de morfina para a primeira dose é de

0,1 a 0,15 mg/kg (dose-teste parenteral). Na prática clí­

nica, em geral, para um paciente de 60 kg, adminis­

tram-se 5 mg, IV, a cada 4 horas.

A dose de morfina VO é o dobro da dose IV. Se o pa­

ciente tomar 60 mg/dia de morfina IV, o correspondente

VO deve ser de 120 mg/dia.

Associação de drogas adjuvantes

Quando houver remissão da maior parte da intensidade da

dor, mas sem atingir grau O, associa-se uma droga adjuvante.

Se o paciente já vinha seguindo a escada analgésica, a sequên­

cia é associar ao tratamento uma droga coanalgésica (ou ad­

juvante). Quando houver mudança na escada analgésica, de­

ve-se manter a droga adjuvante, ou deve ser modificada a

dose da droga adjuvante, ou ainda associar um AINH.

Dicas:

• É imprescindível a utilização de drogas com mecanis­

mos de ação diferentes.

80

Page 109: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/ opiáceos

• Deve-se respeitar a meia-vida das drogas.

• Nem toda dor é responsiva a opioides (p.ex., a dor neu­

ropática não responde bem à morfina).

• A associação de um opioide fraco e um opioide forte é

inaceitável (p.ex., associar codeína ou tramado! com

morfina).

• Não existe dosagem diária máxima ou efeito teto analgé­

sico para a morfina, já que esta pode ser titulada em doses

tão elevadas quanto a necessidade clínica de analgesia. A

dosagem máxima é limitada pelos efeitos colaterais, e a

dose de resgate é um recurso extra para aliviar a dor.

• As apresentações comerciais da morfina são: Dimorf®,

DimorfLC® e Dolo Moff® (Tabela 5).

• A dose equianalgésica de uma droga corresponde àque­

la que consegue o mesmo efeito analgésico que 1 O mg de

morfina (parâmetro mais utilizado).

• As tabelas de conversão, em sua maioria, não são basea­

das em estudos randomizados, portanto, não são total­

mente confiáveis. A conversão no sentido inverso não

corresponde às doses adaptadas. Tais tabelas servem

para orientação (doses aproximadas), mas não devem

81

Page 110: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 5 Opioides fortes

Nome farmacológico

Morfina

Metadona

Meperidina

Oxicodona

Fentanil

Cloridrato de hidromorfona

Dose usual/dia

Iniciar com 5 a 1 O mg a cada 4 h

Iniciar com 2,5 a 10 mg a cada 8 a 12 h

Iniciar com 50 mg a cada 2 a 4 h

Não é indicada para dor crônica

Iniciar com 10 mg a cada 12 h

Iniciar com patch de 25 mcg

Iniciar com 8 mg a cada 24 h

comp.: comprimido(s); gt(s): gota(s); amp.: ampola; supos.: supositório; cáps.: cápsula(s); fr.: frasco.

* Fentanil75 mcg tem registro no Brasil, mas não é comercializado no país.

NOTA: as dosagens mencionadas nos dados da tabela são apenas sugestões para o início do tratamento; portanto, é essencial que o regime de dosagem seja iniciado individualmente para cada paciente, considerando-se o tratamento prévio com analgésicos opioides ou não opioides. Opioides não apresentam dose teto, suas doses devem ser aumentadas gradualmente. Os comp. de liberação controlada devem ser deglutidos inteiros, ou seja, não devem ser fraciona­dos, nem mastigados, nem triturados, para não provocar uma liberação rápida do medicamen­to, com a absorção da dose potencialmente fatal.

Fonte: arquivos da autora.

82

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Analgésicos opioides/opiáceos

Apresentações comerciais (mais usadas)

Dimorf®: comp. de 10 e 30 mg; solução oral de 10 mg/ml (26 gts)

Dimorf LC®: cáps. de 30, 60 e 100 mg; amp. de 1 O e 0,2 mg/ml

Dolo Moff®: comp. de 10 e 30 mg; amp. de 1 O mg/ml

Mytedom®: comp. de 5 e 10 mg; amp. de 10 mg/ml

Dolantina®: amp. de 100 mg/2 ml

Dolosal®: amp. de 100 mg/2 ml

Oxycontin®: comp. de 1 O, 20 e 40 mg

Durogesic D-Trans®: adesivos transdérmicos de 12 mcg/h (5,25 cm2 com 2,1 mg de fentanil), 25 mcg/h (10,5 cm2 com 4,2 mg de fentanil}, 50 mcg/h (21 cm2 com 8,4 mg de fentanil}, 75 mcg/h (31,5 cm2 com 12,6 mg de fentanil)* e 100 mcg/h (42 cm2 com 16,8 mg de fentanil)

Jurnista®: comp. de 8, 16 e 32 mg

83

Page 112: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

ser seguidas rigorosamente, pois alguns opioides, como

a metadona, além das interações medicamentosas, têm

grande variabilidade farmacocinética interindividual.

• Os dados da Tabela 4 podem ser usados na prática clí­

nica, porém é recomendável (especialmente aos profis­

sionais com pouca experiência no tratamento) uma

redução de 30% na dose equianalgésica prevista, pois é

mais seguro errar por dosagens inferiores, asseguran­

do-se que serão disponibilizadas doses de resgate.

Prevenção da síndrome de abstinência

Após o uso de morfina por mais de 15 dias, o procedimento

para evitar a síndrome de abstinência em pacientes com dor

aguda depois de controlada inclui: diminuir a cada 2 ou 3

dias a dose total diária em 25% e dividir a dose em quatro, a

cada 6 horas. Quando a dose total diária chegar a 30 mg/ dia

(5 mg, VO, a cada 4 horas), a morfina pode ser suspensa.

Metadona

A metadona é um analgésico agonista sintético dos recepto­

res opioides (delta), antagonista dos receptores N-metil-

84

Page 113: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/ opiáceos

-D-aspartato (NMDA) e também pode bloquear a recepta­

ção pré-sináptica da serotonina. É lipofílica, da classe das

difenilpropilaminas, e acumula-se nos tecidos. As concen­

trações tissulares da metadona são maiores que as plasmáti­

cas; funcionam como agonista interagindo com os sítios de

receptores específicos no cérebro, na medula espinal e em

outros tecidos. Não apresentam metabólitos ativos, e têm

boa biodisponibilidade oral (absorção em 15 minutos) e rá­

pido início de ação com pico plasmático em 30 minutos. 78

Em razão de suas características lipofílicas, a metadona é

levada para sítios de ligação extravasculares, seguida de len­

ta liberação pelo plasma, contribuindo para a prolongada

duração da meia-vida, tanto no plasma como na urina.

Indicações

• Dores fortes.

• Dor neuropática: efeito antagonista nos receptores NMDA

localizados no corno posterior da substância cinzenta da

medula espinal. É mais potente que a morfina no alívio

da dor neuropática.

• Síndrome de retirada de opioides.

85

Page 114: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

• Dependência de drogas: em pacientes com dependência

química de heroína e de outras drogas similares à mor­

fina. Atua bloqueando os receptores ocupados pela he­

roína, possibilitando a recuperação dos pacientes pela

estabilização das condições farmacológicas. 79,80

• Opção: quando ocorrer reação anafilactoide com morfi­

na, por apresentar estruturas químicas diferentes e efei­

to analgésico similar, e substituindo outros opioides, no

caso de efeitos colaterais incontroláveis.81 ,82

A metadona apresenta variabilidade farmacocinética in­

terindividual importante, meia-vida plasmática (meia-vi­

da alfa) curta de 3 horas e uma fase de eliminação (meia­

-vida beta) longa, podendo variar de 9 a 90 horas para sua

eliminação total. Em geral, sua ação após dose única varia

de 12 a 18 horas. É metabolizada no fígado e excretada es­

pecialmente pelo rim, e uma pequena parte pelas fezes (via

bile). Não tem metabólitos ativos, apenas inativos, os quais

são eliminados pelos rins, tornando a droga indicada para

indivíduos com insuficiência renal e em processo de diálise.83

86

Page 115: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/opiáceos

Por causa da longa ação, podem ocorrer sedação, náuseas,

vômitos e depressão respiratória. Náuseas, bradipneia e

cianose indicam que a dose está alta e, portanto, deve-se

aumentar o intervalo ou diminuir a dose. No caso especí­

fico da metadona, não se deve usar antiemético, levando em

conta que náusea geralmente representa toxicidade.

A dose de início varia entre 2,5 e 10 mg a cada 8 a 12

horas. A metadona deve ser administrada com controle

do paciente, já que a titulação da dose é difícil. É preciso

uma avaliação cuidadosa dos pacientes a fim de prescre­

ver uma dosagem individualizada, em razão do risco de

acúmulo de doses repetidas, sobretudo em idosos e debili­

tados.84 À medida que ocorre acúmulo da droga, aumen­

ta-se o tempo de analgesia, e uma nova dose deve ser in­

troduzida somente quando a dor voltar (ainda que de

forma leve), atingindo o período de meia-vida.85 Após 4 a

5 dias, verifica -se a média de doses das últimas 24 e 48

horas, e a dose diária é estabelecida.

O intervalo entre as doses de resgate é a cada 4 horas (50

a 100% da dose de referência).

87

Page 116: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Quanto às interações medicamentosas, a metadona é me­

tabolizada sobretudo pela enzima CyP3A4, mas também

por CyP2D6 e CyPlA2. Medicamentos que induzem as en­

zimas CyP aceleram o metabolismo da metadona e dimi­

nuem seus níveis séricos. São exemplos: carbamazepina, fe­

nitoína, etanol em uso prolongado, espirinolactona,

rifampicina, verapamil, estrogênios, antirretrovirais, dexa­

metasona, erva de São João, altas doses de vitamina C, entre

outros. Medicamentos que inibem as enzimas do CyP retar­

dam o metabolismo da metadona e aumentam os seus níveis

séricos, podendo ocasionar sedação e depressão respiratória.

São exemplos desses fármacos: amitriptilina, cetoconazol,

fluconazol, cimetidina, omeprazol, inibidores seletivos da

recaptação da serotonina (ISRSs, como fluoxetina, sertralina

e paroxetina), venlafaxina, ciprofloxacino, norfloxacino, eri­

tromicina, claritromicina, diazepam, verapamil, diltiazem,

bicarbonato de sódio, toranja (grapefruit), entre outros.74

Obs.: a potência equianalgésica em relação à morfina é

variável, e a dose equianalgésica da metadona tem definição

complicada. Para doses baixas, a dose equianalgésica da

88

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Analgésicos opioides/opiáceos

metadona/morfina se faz pela dose regular (de referência) e

não pela dose total diária, ou seja, calcula-se a dose de refe­

rência da metadona que corresponde a 1/2 ou 1/3 da dose

regular de morfina e administra-se a cada 12 horas. Essas

conversões são aproximações, conforme a Tabela 6.

Tabela 6 Conversão de morfina para metadona

Doses equivalentes de morfina oral diária

< 100 mg

101 a 300 mg

301 a 600 mg

601 a 800 mg

801 a 1.000 mg

> 1.000 mg

Taxa de conversão da morfina oral para metadona oral

3:1 (i.e., 3 mg de morfina: 1 mg de metadona)

5:1

10:1

12:1

15:1

20:1

Em razão da tolerância cruzada incompleta, recomenda-se que a dose inicial seja 50 a 75% da

dose equianalgésica.

Fonte: Gaze li e e Fine. 86

O medicamento Mytedom® (ver Tabela 5), apresentação

comercial da metadona, tem baixo custo.

89

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Manual de tratamento da dor

Meperid ina67,87,88

A meperidina é um opioide 90% metabolizado, na primei­

ra passagem, no fígado. Ocorre desmetilação em norme­

peridina (metabólito psicomimético) ou é hidrolisado

em ácido meperidínico. Sessenta por cento desse opioide

está ligado a proteinas plasmáticas.

É mais utilizada para o tratamento da dor aguda.

É um medicamento pouco absorvido por VO; e por via

IM, a absorção é irregular, comprometendo a analgesia.

Administrada de forma IV, é rapidamente absorvida e dis­

tribuída aos tecidos. A excreção ocorre por via renal.

Apresenta meia-vida curta, de 3 a 4 horas, e é menos po­

tente do que a morfina.

Os efeitos colaterais decorrem, sobretudo, do metabóli­

to tóxico (normeperidina), que pode produzir agitação,

alucinação, tremores, mioclonia, taquicardia, prurido e mi­

dríase. Causa mais hipotensão do que a morfina. Pacien­

tes com função renal comprometida sofrem particular­

mente maior risco. É uma droga que causa dependência

psíquica por provocar euforia e disforia; logo, não deve ser

aplicada no tratamento da dor crônica.

90

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Analgésicos opioides/ opiáceos

Dica: a naloxona não reverte os efeitos da meperidina,

e pode até exacerbar a hiperexcitabilidade; por essa razão,

a meperidina não deve ser usada por mais de 48 horas pa­

ra dor aguda em pacientes com doença renal ou no SNC.

Não deve ser excedida a dose de 600 mg/ dia nem deve

ser prescrita para dor crônica. Como apresentação co­

mercial estão disponíveis a Dolantina® e o Dolosal® (ver

Tabela 5).

Oxicodona89-94

É um agonista opioide puro derivado da tebaína. Apresenta

biodisponibilidade oral de 60 a 87%, e os níveis de estado de

equilíbrio são alcançados em 24 a 36 horas. Mostra baixo

efeito na primeira passagem (no fígado); é metabolizado

em noroxicodona, oximorfona e seus glucuronídeos; e sua

forma de excreção é renal.

O principal efeito terapêutico da oxicodona é a analge­

sia, embora possa causar euforia, sensação de relaxamento

e ter efeito ansiolítico.

Com potente efeito analgésico e sem efeito teto, é mais

potente do que a morfina (relação 1:2). Possui rápido início

91

Page 120: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

de ação e duração prolongada por causa da tecnologia

AcroContin, um sistema exclusivo bifásico de liberação

controlada. Na primeira fase (dissolução rápida), o contato

com o suco gástrico promove a liberação de oxicodona da

superfície do comprimido rapidamente, iniciando a anal­

gesia em até 1 hora. Na segunda fase (difusão e dissolução

lenta), a oxicodona continua sendo liberada da matriz, en­

tra em contato com os líquidos gastrointestinais, assegu­

rando uma ação analgésica prolongada por 12 horas com

apenas uma dose. A oxicodona tem meia-vida de 0,6 hora na

primeira passagem e em torno de 7 horas na segunda fase.

A oxicodona é indicada em casos de dores oncológicas,

em ortopedia e traumatologia, cirurgias (pós-operatório)

e reumatologia (artrites e doenças reumáticas), permitin­

do a redução de AINHs. Tem potência analgésica dez ve­

zes superior à da meperedina e à do tramado!, e sete vezes

à da codeína.

Os efeitos colaterais, por ordem de frequência, são cons­

tipação intestinal, náuseas, sonolência, vertigem, prurido,

vômito, cefaleia, secura da boca, astenia, sudorese, hipoten­

são e depressão respiratória.

92

Page 121: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/opiáceos

A dosagem indicada varia de 10 a 50 mg, a cada 12 ho­

ras. A apresentação comercial é Oxycontin ® (comprimidos

de liberação prolongada) (ver Tabela 5).

Dica: não se deve partir, mastigar ou moer os compri­

midos de liberação prolongada, pois ocorre liberação rápi­

da do produto e absorção de dose potencialmente tóxica.

Esse princípio é válido para outras medicações de libera­

ção prolongada.

Quando à dose de resgate, como no Brasil não se dispõe

de oxicodona de liberação rápida, as doses de resgate,

quando necessárias, devem ser feitas com morfina de ação

rápida a cada 1 hora (1/6 da dose total diária convertida

para a dose de morfina oral).

Fentanil transdérmico

É um analgésico opioide agonista puro absorvido pela pele,

cujos patchs oferecem oportunidade de infusão contínua

de opioides sem bombas ou agulhas.95 Permite adminis­

tração contínua e prolongada sem flutuação da concentra­

ção plasmática.

93

Page 122: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

É indicado em caso de dor crônica em pacientes que re­

querem analgesia contínua com opioide. Não deve ser

usado na dor aguda pós-operatória, pois, após a diminui­

ção do estímulo da dor, a droga tenderá a se acumular,

podendo causar depressão respiratória.

A dosagem inicial é de 25 mcg/h para pacientes sem uso

prévio de opioides; considera-se que 25 mcg/h de fentanil

substitui, aproximadamente, 45 mg/dia de morfina oral.96

Inicialmente, ocorre um atraso na absorção de fentanil

pela pele, sendo necessárias de 12 a 16 horas para se obter

o efeito terapêutico e 48 horas para estabilização da con-,., , . , . ,..,

centraçao sangu1nea, po1s e prec1so ocorrer a saturaçao

dos depósitos subcutâneos antes da absorção pelo sangue.97

A concentração sanguínea diminui 50% após 17 horas da

retirada do adesivo.91 Apresenta meia-vida de 3 horas e

eliminação longa.

Os efeitos colaterais são constipação intestinal (menos

que a proporcionada pelo uso da morfina), náuseas, seda­

ção e depressão respiratória.

O fentanil transdérmico tem as seguintes apresentações

comerciais: Durogesic® adesivos de 12, 25, 50, 75 e 100 mcg/h

94

Page 123: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/opiáceos

(ver Tabela 5); e Durogesic® D-Trans, que usa uma tecnologia

de fármacos incorporados na matriz adesiva (Figura 9).

Durogesic® (reservatório)

Fentanil embebido em gel

Camada de apoio ~

Adesivo

Durogesic D-Trans®

Camada de apoio

Reservatório com membrana permeável

Contém etano I para aumentar a permeabilidade

Película destacável com corte em forma de "S"

Fentanil incorporado à matriz adesiva • Contém e libera fentanil em estado dissolvido

• Funciona simultaneamente como adesivo

Figura 9 Fentanil transdérmico

Fonte: Janssen-Cilag.98

95

Page 124: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Os adesivos devem ser trocados a cada 3 dias. Durante a

aplicação inicial, o paciente deve ser orientado a tomar

opioides de ação curta nas primeiras 24 horas, a fim de

permitir o início gradual da eficácia analgésica do fentanil

transdérmico. Após 24 horas, pode-se tomar opioides de

ação curta para dores intercorrentes. O mais prudente é

aumentar a dose a cada 6 dias, se necessário. O acréscimo

é baseado na quantidade total de opioides suplementares

tomada no 3° dia, ou seja, 25 mcg/dia de fentanil substi­

tuem 45 a 90 mg de morfina.

As quantidades analgésicas de resgate para os quais um

acréscimo de dose de 25 mcg/h é recomendado são:

• morfina oral: 45 a 90 mg em 24 horas;

• oxicodona oral: 45 mg em 24 horas;

• codeína oral: 300 mg em 24 horas.

Os adesivos de 12 mcg/h são mais utilizados para ajuste de

dose. A dose máxima recomendada no caso do fentanil é de

300 mcg/h. Quando há necessidade de doses maiores, deve­

-se fazer o rodízio para outro opioide em dose equipotente.99

96

Page 125: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/opiáceos

O fentanil deve ser administrado com cautela em pa­

cientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC),

tumores cerebrais, doenças renal ou hepática e dependen­

tes de drogas e de álcool. É contraindicado para pacientes

com traumatismo craniano e hipertensão intracraniana.

Dica: caso o paciente apresente febre, é necessário o au­

mento de doses (aumenta-se 1/3 em pacientes com tem­

peratura de 40°C ou mais).

O fentanil transdérmico é uma excelente alternativa para

pacientes que não podem ser tratados com medicação oral.

No Brasil, não se dispõe de fentanil oral; as doses de res­

gate, se necessárias, devem ser feitas com morfina de libera­

ção rápida a cada 1 hora (1/6 da dose total diária convertida

para a dose de morfina oral, como descrito na Tabela 7).

Para o tratamento da dor episódica, o procedimento mais

indicado é a utilização de drogas de ação imediata, como

fentanil intranasal (Instanyl®) e oral transmucosa (Actiq® e

Fentora®). Nenhuma dessas apresentações comerciais cita­

das estão disponíveis no Brasil.

97

Page 126: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 7 Conversão inicial de doses diárias de morfina para

doses equivalentes de Durogesic®

Dose diária de morfina oral (mg/24 h) Durogesic® (mcg/h)

< 135 25

135 a 224 50

225 a 314 75

315 a 404 100

405 a 494 125

495 a 584 150

585 a 674 175

675 a 764 200

765 a 854 225

855 a 944 250

945 a 1.034 275

1.035 a 1.124 300

Fonte: Janssen-Cilag.98

Cloridrato de hidromorfona93 ~ 100~ 1 o 1

É um opioide forte, derivado semissintético da morfina,

agonista de receptores mu e com fraca afinidade em re-

98

Page 127: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/opiáceos

ceptores kappa. Está indicado para o tratamento de dor

moderada a intensa.

Metabolizada por glucuronidação, a hidromorfona apre­

senta baixo potencial de interação medicamentosa. A maio­

ria dos opioides é metabolizada via citocromo P450.102

Deve-se iniciar com doses de 8 mg e não titular a dose

com frequência maior que 2 dias.

A potência relativa da hidromorfona intramuscular oral

é 5:1 na dosagem para dor aguda e 3,7:1 para dor crônica.

A dose equianalgésica de hidromorfona equivalente a

10 mg de morfina IM é 1,5 (IM) e 7,5 (VO).

É contraindicada nos seguintes casos:

• pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos e/ou

doenças subjacentes que poderiam resultar em estenose

do trato gastrointestinal, em portadores de alça cega do

trato gastrointestinal ou obstrução intestinal;

• no tratamento da dor aguda ou pós-operatória;

• pacientes em estado asmático;

• indivíduos com suspeita de íleo paralítico.

99

Page 128: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

O medicamento deve ser interrompido 24 horas antes

de procedimento cirúrgico.

Insuficiência respiratória pode ocorrer com doses ex­

cessivas, em pacientes debilitados ou que sofrem condi­

ções acompanhadas de alterações dos gases sanguíneos

(hipóxia ou hipercapnia).

O intervalo entre as doses deve ser aumentado em pa­

cientes com insuficiência renal. Não é recomendável con­

sumir álcool durante o tratamento.

Interação medicamentosa do fármaco ocorre com inibi­

dores de monoaminoxidase (IMAOs), agonistas/antago­

nistas de morfina (buprenorfina, nalbufina e pentazoci­

na), depressores do SNC (hipnóticos, sedativos, anestésicos

gerais, antipsicóticos e álcool) e relaxantes musculares.

Dica: os comprimidos de hidromorfona não sofrem de­

formações ou alterações significativas no formato no trato

gastrointestinal, por isso são notados nas fezes; contêm

lactose.

100

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Analgésicos opioides/ opiáceos

Agon ista parcial: bu prenorfi na85 ~ 1 03,1 o4

É um opioide semissintético derivado da tebaína, agonista

parcial de altíssima afinidade para o receptor mu, e que

não se dissocia facilmente.

Apresenta meia-vida de 3 a 5 horas. A dose de 0,3 mg de

buprenorfina equivale a 1 O mg de morfina.

Pode causar síndrome de abstinência quando adminis­

trado a pacientes usando agonistas semelhantes à morfina.

Seu uso como primeira escolha não é recomendado.

Possui um benefício limitado em razão da baixa eficácia

em doses altas.

A dose usual é de 0,4 a 0,8 mg, SL, e 0,6 mg, IV, a cada 6

horas.

O medicamento tem a seguinte apresentação comercial:

Temgesic® comprimidos sublinguais de 0,2 mg e ampolas

de 1 mL contendo 0,3 mg.

Dica: a naloxona não reverte a depressão respiratória

causada pela buprenorfina.

101

Page 130: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Agonista-antagonista: na I bufi na82~85 ~99

É um opioide semissintético agonista dos receptores kappa

e antagonista dos receptores mu. A metabolização ocorre

no fígado, e a excreção, pelas fezes. Tem meia-vida de 3 a

6 horas. Não deve ser usado com agonistas mu, pois anta­

goniza a analgesia do receptor opioide.

A dose recomendada é de 10 a 20 mg a cada 6 horas.

Possui efeito teto e baixa eficácia em dose máxima. Tem

potencial para reverter a analgesia e pode causar síndro­

me de abstinência quando usado por pacientes que já es­

tão utilizando drogas agonistas, como a morfina.

Os principais efeitos colaterais são sedação, disforia e

depressão respiratória (com difícil reversão).

O medicamento possui a seguinte apresentação comer­

cial: Nubain® solução injetável com ampolas de 1 mL, con­

tendo 10 mg/mL para uso SC, IM e IV.

Importante: os opioides não recomendados para con­

trole da dor moderada a intensa decorrente do câncer são

meperidina, buprenorfina e nalbufina.

102

Page 131: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/ opiáceos

Rotação de opioides

A mudança de um opioide para outro quando a toxicidade

limita o tratamento e estabelece respostas pobres é chamada

de rotação de opioides (anteriormente era usado o termo

substituição ). 101 Substitui-se um opioide por outro de

mesma potência, utilizando uma tabela de equivalência

analgésica (Tabela 8) para obter melhores respostas anal­

gésicas e menos efeitos colaterais.

Tabela 8 Diretriz para conversão de dose

Calcular a dose equianalgésica de um novo opioide baseada na tabela equianalgésica*

Em caso de mudança para qualquer outro opioide que não seja a meta dona ou o fentanil, diminuir a dose equianalgésica em 25 a 50%

Em caso de mudança para a metadona, reduzir a dose para 75 a 90%

Em caso de mudança para o fentanil transdérmico, não reduzir a dose equianalgésica

Considerar mais alterações na dose equianalgésica ajustada com base na condição clínica e na dor. Se o paciente for idoso ou tiver doenças cardiopulmonar, hepática ou renal significativa, considerar uma redução maior na dose. Se o paciente tiver dor severa, considerar uma redução menor na dose

Calcular a dose de resgate, com 5 a 15% da dose total diária de opioides, e administrar em intervalos apropriados

Reavaliar e titular o novo opioide

Fonte: I ndelicato et al.101

*Doses equianalgésicas podem ser vistas neste Manual, nas Tabelas 5, 6 e 7.

103

Page 132: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Efeitos colaterais dos opioides

Os efeitos adversos dos opioides, como sedação, náuseas,

vômitos, constipação, prurido, vertigens e depressão res­

piratória, são previsíveis e controláveis.

Náuseas e vômitos

São comuns no início do tratamento e podem ser corrigi­

dos em alguns casos com a diminuição da dose do opioide

(sem prejudicar a analgesia). Podem ser usados, também,

antieméticos como metoclopramida, alizaprida, ondanse­

tron e granisetron. O haloperidol também é eficaz em do­

se única de 1 a 2 mg/ dia. Se após 4 ou 5 dias não houver

melhora do quadro, substitui-se a medicação. Alguns in­

divíduos toleram doses de analgésicos melhores que ou­

tros, por isso, um novo opioide deve ser testado caso o

primeiro tenha sido pouco tolerado. As náuseas e os vômi­

tos tendem a desaparecer quando o estado de tolerância

for atingido (aproximadamente de 7 a 10 dias).

Constipação intestinal1°0-1o9

A constipação intestinal ocorre em 40 a 95% dos indivíduos

que usam opioides. A constipação induzida por opioides é

104

Page 133: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/opiáceos

mediada predominantemente por receptores mu-opioides

gastrointestinais presentes nos plexos mioentérico (mo­

tilidade) e submucoso (secreção, absorção e sensibilidade

visceral).

Os efeitos neuroquímicos dos opioides no intestino são:

• inibição da liberação de acetilcolina e de serotonina. A

acetilcolina e a serotonina têm a função de sincronizar

a mobilidade intestinal (ou seja, a evacuação) e regulam

o fluxo de entrada e saída de líquidos no intestino (a

absorção e a secreção de líquidos);

• inibição da liberação de substância P, um dos principais

neurotransmissores para várias células neurais. Atuam

estimulando a secreção e a contração da musculatura

lisa (bowel sensation).

As consequências fisiológicas são:

• redução da secreção intestinal e aumento da absorção;

• supressão do peristaltismo e contração persistente;

• aumento do tônus do esfíncter retal.

105

Page 134: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Em resumo, o intestino faz o movimento de contração,

mas de forma anormal.

Tratamento da constipação intestina l

Modificações no comportamento

1. Mudanças na dieta:

106

• aumento da ingestão de fibras. Fibras insolúveis

estão presentes no farelo de trigo, nos grãos inte­

grais e nas verduras, são pouco fermentáveis e au­

mentam a absorção de água, acelerando o trânsito

intestinal. Já as fibras solúveis podem ser encon­

tradas nas frutas, verduras e leguminosas, e, assim

como o farelo de aveia, retardam o esvaziamento

gástrico e o trânsito intestinal. São altamente fer­

mentáveis, alteram o metabolismo do cólon e au­

mentam o bolo fecal, estimulando a evacuação;

• inclusão de alimentos prebióticos e probióticos na

dieta;

• aumento da hidratação com ingestão líquida de

1,5 a 2 litros de líquidos/dia.

Page 135: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/ opiáceos

2. Aumento da atividade física.

3. Massagem abdominal (pode ser útil).

Tratamento medicamentoso

1. Incrementadores do bolo fecal: causam retenção de

água e aumentam o volume fecal, estimulando o pe­

ristaltismo. São fibras alimentares que podem ser

solúveis ou insolúveis e a ingestão recomendada, em

média, para um adulto é de 25 a 30 g/ dia. Sempre

que ingerir fibras, é preciso aumentar o consumo de

líquidos (1,5 a 2 L/dia), para evitar a impactação fe­

cal. Fibermais®, Metamucil® e Benefiber®, entre ou­

tros, são exemplos de incrementadores mais conhe­

cidos comercialmente. São contraindicados em caso

de suspeita de oclusão intestinal, impactação fecal,

constipação súbita de causa desconhecida, dificulda­

de de deglutição e abdome agudo.

2. Procinéticos: geram maior esvaziamento gástrico e

aumentam o peristaltismo, bem como a pressão no

esfíncter esofágico, evitando, assim, o refluxo. Co­

mo exemplos de procinéticos têm-se: metoclopramida

107

Page 136: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

(Plasil®), lubiprostone e prucaloprida. Outros do gê­

nero, como misoprostol ( Cytotec®) e tegaserode, não

devem ser utilizados em razão da maior toxicidade do

que benefício (estes não estão disponíveis no Brasil).

3. Osmóticos: retêm líquido no intestino estimulando

o peristaltismo. São exemplos: hidróxido de magné­

sio (leite de magnésia da Phillips®), açúcares inabsor­

víveis (como a lactulose) (Farlac® e Lactulona®), sor­

bitol (Minilax®), polietilenoglicol (PEG) (Muvinlax®)

ou a forma manipulada de PEG em 15 mg/ sachês, e

o óleo de rícino. O Manitol® é usado para preparo de

exame de colonoscopia. Os osmóticos podem causar

distensão abdominal e flatulência, decorrentes da

ação das bactérias do cólon na fermentação desses

açúcares. O uso de hidróxido de magnésio a longo

prazo também pode induzir distúrbios de magnese­

mia, calcemia e fosfatemia.

4. Estimulantes: aumentam a retenção de água no lúmen

intestinal, atuando como detergentes e aumentando o

peristaltismo; podem estimular os nervos entéricos.

Há os tipos derivados do difenilmetano (fenolftaleí­

na, bisacodil) e os derivados antraquinônicos (sene,

108

Page 137: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/ opiáceos

cáscara sagrada, ruibarbo e aloe). Os mais utilizados

são os que contêm sene (Tamarine®, Agiolax® etc.),

picossulfato de sódio (Dulcolax®, Guttalax® etc.) e

bisacodil (Dulcolax®, Humectol D®).

5. Emolientes/lubrificantes: são substâncias oleosas que

facilitam o deslizamento das fezes. Não são recomen­

dados para uso a longo prazo, pois prejudicam a ab­

sorção de vitaminas A, K e D, e podem aumentar o

tempo de protrombina. Há risco de aspiração em usuá­

rios idosos. São exemplos de emolientes o óleo mine­

ral (mais usado), o docusato de sódio (Humectol D®,

que contém docusato e bisacodil) e a parafina líquida.

6. Lubrificantes retais: lubrificam a mucosa do reto e

facilitam a evacuação com o amolecimento local das

fezes. O mais utilizado é o supositório de glicerina.

Tratamento mecânico

Pode ser feito de duas formas:

• por meio de enemas e supositórios;

• tratamento da impactação de forma manual.

109

Page 138: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Antagonistas opioides

Há duas categorias gerais de antagonistas dos opioides:

• de efeito central e periférico: naltrexona e naloxona;

• restrito ao efeito periférico: metilnaltrexona e alvimo­

pan (este ainda não disponível no Brasil).

Para o tratamento da constipação induzida por opioi­

des, os medicamentos indicados são os restritos ao efeito

periférico, que não bloqueiam a analgesia.

Recomendações gerais para o uso de opioides

A administração de medicamentos opioides é contraindi­

cada no caso de obstrução mecânica intestinal conhecida

ou suspeita.

Faz parte da prescrição de um opioide uma dieta laxati­

va e o uso de laxantes VO ou VR.

A dose e o tipo de laxante devem ser ajustados de acordo

com o quadro clínico dos pacientes, e naqueles que fazem

uso crônico de opioides, a rotação de laxantes deve ser

sempre praticada.

110

Page 139: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/opiáceos

Após 3 a 5 dias sem evacuar, já é necessária a aplicação

de enemas. A constipação intestinal não deve ser subesti­

mada, pois fecalomas são comuns e a distensão intestinal

desencadeia mais dor. Profilaticamente, associa-se uma

medida de laxante à noite para cada dia que o paciente não

evacuar. Opioides também podem induzir o íleo paralíti­

co, o que é revertido com infusão contínua de metoclopra­

mida.110

Os laxantes hiperosmóticos (lactulose, sorbitol e citrato

de magnésio) apresentam o mesmo mecanismo de ação

dos emolientes, mas têm como efeito colateral a absorção

de sódio e de magnésio, podendo piorar as insuficiências

cardíaca e renal.

Na constipação induzida por opioides, em que o peris­

taltismo fica reduzido e ocorre a acomodação do bolo fe­

cal, os medicamentos formadores de bolo não são apro­

priados, pois podem gerar obstrução e dor. Deve-se ter

cautela em pacientes acamados, com prejuízo da mobili­

dade e naqueles que não conseguem ingerir maiores quan­

tidades de líquido.

111

Page 140: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Sedação e sonolência

Ocorrem no início do tratamento. É importante verificar

se não está ocorrendo sobredose, e, em alguns casos, podem

ser usados cafeína ou metilfenidato (Ritalina® comprimido

de 10 mg). Confusão mental, delirium e alucinações são

mais frequentes em idosos, mas tendem a desaparecer em

até 5 dias.

Prurido 111 -113

É o efeito colateral mais comum dos opioides quando se

utilizam as vias IV e intraespinhal. O mecanismo de ação

ainda não está bem estabelecido; parece ocorrer via efeito

central direto por migração cefálica do medicamento,

através do líquido cefalorraquidiano, o qual interage com

o núcleo trigeminal na medula superficial, e este com a

substância gelatinosa no corno dorsal, desencadeando o

reflexo do prurido.

A naloxona reverte esse efeito. Outras substâncias cau­

sam prurido por liberação de histamina pelos mastócitos,

mas esse não parece ser o mecanismo dos opioides. On­

dansetron (antagonista de receptores 5HT3) na dose de

112

Page 141: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/ opiáceos

4 mg também pode reduzir o prurido. Outros medica­

mentos promissores, que aparentemente reduzem a inci­

dência do prurido, são a mirtazapina (bloqueia seletiva­

mente os receptores 5HT2 e 5HT3) e a gabapentina.

Anti-histamínicos não são fármacos tão efetivos no trata­

mento do prurido, sendo mais bem substituídos pelo uso de

ondansetron ou naloxona (lembrar que a naloxona reverte o

efeito analgésico dos opioides). A mudança do tipo de opioi­

de, se necessário, ou da via de administração também pode

gerar resultados satisfatórios na diminuição do prurido.

Depressão respiratória

É um evento raro, de instalação lenta e de difícil ocorrên­

cia com opioides administrados por vo ou via se. É arris­

cado em pacientes sem histórico de tratamentos, idosos

ou debilitados com dores intensas e que requerem opioides

em altas doses. Pode ocorrer, também, quando os opioi­

des são administrados por via IV em ambiente hospitalar

ou quando são associados a drogas depressoras da respira­

ção. Devem ser associadas medidas de suporte ventilató­

rio se a frequência respiratória for menor que 10 rpm.

113

Page 142: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

A dor é um potente analéptico. A depressão respiratória

raramente ocorre com doses apropriadas de opioides ad­

ministradas e tituladas adequadamente. 100

Delirium

Pacientes com delirium podem responder ao tratamento

com administração de 0,5 a 1 mg de haloperidol, 2 ou 3

vezes/ dia. 100

Mioclonia

Induzida por opioides, pode ser tratada com clonazepam

0,25 a 0,5 mg, 3 vezes/dia. 114

Alergia

Reações alérgicas à morfina são raras, mas em caso de

ocorrências desse tipo, pode haver a substituição do medi­

camento por outros, como metadona ou fentanil. 100

Dicas:

• opioides não causam hipotensão;

• hipotensão não é contraindicação para o uso de opioides;

114

Page 143: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos opioides/ opiáceos

• opioides devem ser administrados nos horários previs­

tos, haja ou não dor, a fim de manter concentrações ade­

quadas da medicação. Não existe tratamento da dor ((se , . " necessar1o .

Reversão dos efeitos colaterais dos opioides

A naloxona é o antagonista de escolha para o tratamento

de overdose de narcóticos. Ela reverte a analgesia, o pruri­

do, a depressão respiratória, a sedação, a hipotensão arte­

rial, o efeito espasmogênico sobre as vias biliares e o choque

cardiogênico (provocado por encefalinas endógenas que

causam vaso dilatação). Tem ação de duração curta, ao

contrário da ação de duração longa dos opioides, o que re­

quer a administração de múltiplas doses. 115 Não causa de­

pressão respiratória ou constrição pupilar.

A dose recomendada é de 0,4 mg em 1 O mL de solução

salina e administração de 0,5 mL da solução em bolus, IV,

a cada 2 minutos (a dose deve ser adequadamente ajustada

e individualizada para evitar síndrome de abstinência gra­

ve, convulsão e dor intensa). Sua duração de ação é de 45

a 90 minutos.

115

Page 144: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

A apresentação comercial da naloxona é o fármaco Nar­

can® solução injetável de 1 mL com 0,4 mg.

Obs.: a naloxona não apresenta atividade farmacológica

na ausência de medicação morfínica.

116

Page 145: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

, . •

-

Os analgésicos adjuvantes aumentam a eficácia dos opioi­

des, tratam os sintomas concomitantes que exacerbam a

dor e produzem analgesia independente para dores espe­

cíficas.116'117

Antidepressivos {Tabela 9)

Antidepressivos tricíclicos

Os antidepressivos tricíclicos (AT) bloqueiam a recapta­

ção da serotonina e da norepinefrina nas sinapses do SNC

(em modelos animais), bem como os receptores NMDA,

H 1 da histamina e canais de sódio. O efeito analgésico ten­

de a ser independente do efeito antidepressivo, e a dose

117

Page 146: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 9 Antidepressivos

Classe do antidepressivo Nomes farmacológicos

Antidepressivos tricíclicos (AT) lmipramina

Clomipramina

Amitriptilina

Nortriptilina

lnibidores seletivos da recaptação Fluoxetina da serotonina (ISRS) Paroxetina

lnibidores da recaptação da serotonina e da noradrenalina

Citalopram

Escitalopram

Sertralina

Venlafaxina

Duloxetina

Mirtazapina

comp.: comprimido(s); gt(s): cáps.: cápsula(s); fr.: frasco.

Doses usuais

Iniciar com doses menores (20 a 25 mg) e aumentar até o efeito desejado. A posologia diária tem grande variação de paciente para paciente, estabelecida gera I mente entre 25 e 150 mg

Iniciar com 20 mg (usual40 mg). Exceção: sertralina na dose de 100mg

Doses variam de 15 a 150 mg. Segue o mesmo princípio dos ATs

Obs.: os ATe os inibidores de recaptação duais apresentam efeitos analgésicos. Os estudos são insuficientes para estabelecer eficácia dos ISRS para o alívio da dor.

118

Page 147: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos adjuvantes

Efeitos colaterais Apresentações comerciais (mais usadas) • ma1s comuns

Sintomas anticolinérgicos: boca seca, retenção urinária, constipação e delirium. Sedação e hipotensão ortostática

Náuseas, boca seca, sonolência, sudorese, tremor, distúrbios de ejaculação, constipação, cefaleia e astenia

Boca seca, insônia, nervosismo, tremores, sonolência, náuseas, vômitos, distúrbios ejaculatórios, sudorese, astenia e visão turva

lmipramina: Tofranil®: drágeas de 10 e 25 mg; Tofranil pamoato®: cáps. de 75 e 150 mg; lmipra®: comp. de 25 mg

Clomipramina: Anafranil®: drágeas de 1 O e 25 mg; Anafranil SR®: comp. de 75 mg de liberação lenta

Amitriptilina: Amytril®: comp. de 25 mg; Tryptanol®: comp. de 25 e 75 mg

Nortriptilina: Pamelor®: cáps. de 1 O, 25, 50 e 75 mg; solução oral fr. de 2 mg/ml

Fluoxetina: Prozac®: cáps. de 20 mg, fr. de 20 mg/5 ml, comp. de 20 mg, cáps. de 90 mg de liberação retardada; Daforin®: cáps. de 1 O e 20 mg, gts de 20 mg/ml

Paroxetina: Aropax®: comp. de 20 mg; Roxetin®: comp. de 20 e 30 mg

Citalopram: Cipramil® e Procimax®: comp. de 20 e 40 mg.; Denyl®: comp. de 20 mg

Escitalopram: Lexapro®: comp. de 1 O mg

Sertralina: Zoloft®: comp. de 50 e 100 mg; Tolrest®: comp. de 25, 50, 75 e 100 mg

Venlafaxina: Efexor XR®: comp. de 37,5 mg, cáps. de 75 e 150 mg; Venlift OD®: cáps. de 75 e 150 mg (doses usuais de 75 a 225 mg/dia, no máximo)

Duloxetina: Cymbalta®: cáps. de 60 mg (doses usuais de 60 a 120 mg/dia)

Mirtazapina: Mirtazapina®: comp. de 30 e 45 mg; Remeron Soltab®: comp. de 15, 30 e 45 mg (doses usuais de 15 a 45 mg/dia)

Fonte: arquivos da autora.

119

Page 148: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

usada para analgesia é menor do que a necessária para

conseguir o efeito antidepressivo. 118 Seu uso é importante

no tratamento da dor neuropática. 119

Apresentam atividade sedativa, ansiolítica e miorrela­

xante; aumentam o apetite; e estabilizam o humor.

Obs.: a administração dos AT à noite promove sono e

minimiza os efeitos colaterais durante o dia, mas é preciso

cautela com a hipotensão. A nortriptilina apresenta menos

efeitos colaterais, o que facilita o ajuste da dose. 120

lnibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS)

A fluoxetina e a paroxetina bloqueiam o metabolismo dos

antidepressivos tricíclicos e podem aumentar os níveis sé­

ricos destes em até sete vezes. Contudo, não têm efeito

comprovado. 121

lnibidores da recaptação da serotonina e da

noradrenalina

Algumas vezes chamados de inibidores de recaptação duais,

bloqueiam a recaptação da serotonina e da noradrenalina.

120

Page 149: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos adjuvantes

Apresentam menos efeitos colaterais que as outras classes

anteriormente descritas.

Os antidepressivos não estão indicados no tratamento

da dor aguda, mas podem ser utilizados no tratamento de

dor decorrente do câncer, lombalgias, fibromialgias, enxa­

quecas e dores neuropáticas.

Dica: a venlafaxina reduz a neuropatia associada à cis­

platina e à oxaliplatina, e tem mostrado vantagens no tra­

tamento das ondas de calor. A dose utilizada é de 3 7,5 mg,

a cada 12 horas.122,123

Benzodiazepínicos {Tabela 1 O)

Atuam no córtex cerebral e no sistema límbico. São efeti­

vos no tratamento da ansiedade e de espasmos musculares

relacionados com a dor, além de ter efeito anticonvulsi­

vante. Não são analgésicos efetivos, a não ser para o alívio

da dor relacionada ao espasmo.

A meia-vida dos benzodiazepínicos é muito variável, por

isso, dá-se preferência aos benzodiazepínicos de meia-vida

intermediária a curta, a fim de evitar doses cumulativas que

121

Page 150: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 1 O Benzodiazepínicos

Efeitos colaterais mais comuns (para todos)

Sedação, sonolência, tontura, agitação, confusão mental, cefaleia, ataxia, visão dupla e depressão respiratória

Benzodiazepínicos Doses usuais diárias

Diazepam 5 a 10 mg

Lorazepam 1 a4mg

Bromazepam 3 a6mg

Clonazepam 2a4mg

Alprazolam 1 a4mg

Midazolam 7,5a15mg

Clordiazepóxido 10a 25 mg

Cloxazolam 1 a6mg

Flunitrazepam 0,5 a 2 mg

comp.: comprimido(s); gt(s): gota(s); cáps.: cápsula(s); amp.: ampola(s); SL: sub lingual.

Fonte: arquivos da autora

122

Page 151: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos adjuvantes

Apresentações comerciais (mais usadas)

Diazepan® e Dienpax®: comp. de 5 e 10 mg; amp. de 10 mg/2 ml Vali um®: comp. de 5 e 10 mg

Lorax® e Lorazepam®: comp. de 1 e 2 mg

Lexotan®: comp. de 3 e 6 mg; solução oral de 2,5 mg/ml (1 gt = 0,1 mg) Lexotan CR®: cáps. de 3 e 6 mg de ação prolongada Somalium®: comp. de 3 e 6 mg

Rivotril®: comp. de 0,5 e 2 mg; comp. SL de 0,25 mg; gts de 2,5 mg/ml (1 gt = 0,1 mg)

Frontal®: comp. de 0,25, 0,5, 1 e 2 mg Frontal XR®: comp. de 0,5, 1 e 2 mg de liberação lenta Alprazolam®: comp. de 0,5, 1 e 2 mg

Dormonid®: comp. de 7,5 e 15 mg; amp. de 15 mg/3 ml, 5 mg/5 ml e 50 mg/10 ml Dormire®: comp. de 15 mg; amp. de 5, 15 e 50 mg

Psicosedin®: comp. de 10 e 25 mg

Olcadil®: comp. de 1, 2 e 4 mg Elum®: comp. de 1 e 2 mg

Rohypnol®: comp. de 1 mg

123

Page 152: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

causem sedação prolongada. Na insuficiência hepática, são

contraindicados o diazepam, o bromazepam, o midazolam

e o clonazepam. O ansiolítico mais usado é o clonazepam.

Neurolépticos {Tabela 11)

Ligam-se aos receptores opioides sigma no SNC. São indi­

cados, sobretudo, na dor neuropática. Têm efeito ansiolíti­

co e sedativo, além de efeito antiemético.

Os neurolépticos são contraindicados em pacientes com

glaucoma, doença de Parkinson, cardiopatias graves, hi­

pertireoidismo, insuficiência hepática, feocromocitoma,

entre outras. Manifestações extrapiramidais podem ser

tratadas com difenidramina.

Anticonvulsivantes {Tabelas 12 e 13)

Atuam de diferentes formas: bloqueiam os canais de sódio

e de cálcio, potencializam a ação inibitória do GABA e exer­

cem efeito antagônico ao glutamato. Acredita-se que a ga­

bapentina possui diferentes mecanismos de ação, incluindo

124

Page 153: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos adjuvantes

bloqueio dos receptores NMDA. São indicados nas dores I • I • parox1st1ca e neuropat1ca.

Os anticonvulsivantes também são indicados no trata­

mento de dores intensas advindas das síndromes de ner­

vos periféricos, como neuralgias do trigêmeo, pós-herpé­

tica, do glossofaríngeo e pós-traumática; e nas neuropatias

causadas pelo câncer, neuropatia diabética, neurite actí­

nica (pós-tratamento radioterápico), dor fantasma e pro­

filaxia da migrânea, entre outras. 124-126

É recomendável iniciar o tratamento com doses meno­

res até alcançar o efeito analgésico desejado ou o limite

máximo da toxicidade.

Para a carbamazepina, iniciar com 300 mg/ dia (em do­

ses divididas). É um dos medicamentos mais utilizados e

eficazes para tratamento da dor neuropática.

Oxcarbamazepina, fenitoína e ácido valproico devem

ser administrados com cuidado em pacientes com altera­

ção das funções renal e hepática. O ácido valproico causa

diminuição da protrombina.

125

Page 154: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 11 Neurolépticos

Efeitos colaterais mais comuns (para todos)

Retenção urinária, constipação intestinal, hipotensão, aumento da pressão intraocular, sintomas extrapiramidais, confusão mental, fotossensi bi I idade, icterícia,

broncoespasmo e arritmia

Neurolépticos

C I orpromazi na

Levomepromazina

Periciazina

Tioridazina

Flufenazina

Haloperidol

Droperidol

Risperidona

Sulpirida

Olanzapina

Doses usuais diárias

25 a 100 mg

10 a 100 mg

10 a 50 mg

25 a 100 mg

1 a 4mg

0,5 a 5 mg

2,5 a 10 mg

2a6mg

50mg

5 a 10 mg

comp.: comprimido(s); gt(s): gota(s); cáps.: cápsula(s); amp.: ampola(s); fr.: frasco.

Fonte: arquivos da autora.

126

Page 155: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos adjuvantes

Apresentações comerciais (mais usadas)

Amplictil®: comp. de 25 e 100 mg; solucão oral a 4% (1 gt = 1 mg); amp. de 25 mg/5 ml

Clorpromazina®: comp. de 25 e 100 mg

Neozine®: comp. de 25 e 100 mg; solucão oral a 4% (1 gt = 1 mg); amp. de 5 mg/5 ml

Neuleptil®: comp. de 10 mg; solução oral a 4% (fr. de 20 ml) (1 gt = 1 mg); solução pediátrica a 1% (1 gt = 0,25 mg)

Melleril®: drágeas de 10, 25,50 e 100 mg; comp. retard de 200 mg; solução de 30 mg/ml

Flufenan®: comp. de 5 mg

Flufenan Depot®: amp. de 25 mg/ml

Haldol®: comp. de 1 e 5 mg; gts de 2 mg/ml; amp. de 5 mg/ml

Haldol Decanoato®: amp. de 50 mg

Halo®: comp. de 1,5 e 10 mg; amp. de 5 mg/ml; gts de 2 mg/ml (fr. de 20 ml)

Halo Decanoato®: amp. de 50 mg/ml

Haloperidol®: comp. de 1 e 5 mg; amp. de 5 mg/ml

Droperdal®: amp. de 2,5 mg/ml; fr.-amp. de 10 ml (2,5 mg/ml)

Risperdal®: comp. de 0,25, 0,5, 1, 2, 3 e 4 mg; solução oral de 1 mg/ml

Risperidon® e Risperidona®: comp. de 1, 2 e 3 mg

Equilid®: cáps. de 50 mg; comp. de 200 mg

Dogmatil®: cáps. de 50 mg; comp. de 200 mg; gts de 20 mg/ml (fr. de 30 ml) (1 gt = 1 mg)

Zyprexa®: comp. de 2,5, 5 e 10 mg; fr.-amp. de 10 mg (IM)

127

Page 156: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 12 Anticonvulsivantes

Anticonvulsi­vantes (mais usados)

Carbamazepina

Oxcarbamazepina

Fenitoína

Ácido valproico

Clonazepam

Gabapentina

Pregabalina

Lamotrigina

Vigabatrina

Doses usuais diárias

300 a 1.200 mg

600 a 1.200 mg Iniciar com 300 mg

200 a 500 mg

900 a 1.200 mg Iniciar com 500 mg

3 a 8 mg. Iniciar com 0,25 mg

900 a 1.800 mg Iniciar com 300 mg

75 a 600 mg Iniciar com 75 mg, 2 x/dia

200 a 500 mg Iniciar com 25 mg

1.000 a 2.000 mg

Apresentações comerciais (mais usadas)

Tegretol®: comp. de 200 e 400 mg; susp. a 2% (fr. de 100 ml) Tegretol CR Divitabs®: comp. de 200 e 400 mg Tegretard®: comp. de 200 e 400 mg

Trileptal®: comp. de 300 e 600 mg; susp. oral a 6% (fr. de 1 00 ml)

Hidantal®: comp. de 100 mg; amp. de 50 mg/ml Fenital®: comp. de 100 mg; amp. de 250 mg/5 ml

Depakene®: cáps. de 250 mg; comp. de 300 e 500 mg; fr. de 250 mg/5 ml Valpakine®: comp. de 200 e 500 mg; fr. de 200 mg/ml

Rivotril®: comp. de 0,5 e 2 mg; comp. SL de 0,25 mg; gts de 2,5 mg/ml (1 gt = 0,1 mg) Clopan®: comp. de 0,5 e 2 mg

Neurontin® e Progresse®: cáps. de 300 e 400 mg

Lyrica®: cáps. de 75 e 150 mg

Lamictal® e Neural®: comp. de 25,50 e 100 mg

Sabril®: comp. de 500 mg

Topiramato 200 a 800 mg Topamax®: comp. de 25,50 e 100 mg; cáps. de 15 e 25 mg

comp.: comprimido(s); gt(s): gota(s); cáps.: cápsula(s); susp.: suspensão; amp.: ampola(s);

fr.: frasco; SL: sublingual.

Fonte: arquivos da autora.

128

Page 157: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos adjuvantes

Efeitos colaterais mais comuns

Tontura, náuseas, vômitos, sonolência e ataxia, rash cutâneo, alteração da função hepática, etc.

Tontura, cefaleia, náuseas, vômitos, ataxia, aumento de enzimas hepáticas, hipotensão, hiponatremia, etc.

Náuseas, vômitos, vertigem, tremor, hipertrofia gengiva I, alterações do sono e do humor, ataxia, anemia megaloblástica, cefaleia, exantema, nistagmo, pancitopenia, osteomalácia, hipocalcemia, alteração de enzimas hepáticas, etc.

Tontura, sedação, aumento de peso, queda de cabelo, tremor, hipotensão, alterações gastrointestinais e inibição da agregação plaquetária

Náuseas, sonolência, alucinações, alterações de pele, fadiga e retenção urinária

Sedação, sonolência, fadiga, vômitos, ataxia, aumento de peso, nistagmo, boca seca, erupção cutânea, alteração da potência sexual, constipação, etc.

Tontura, sonolência, aumento do apetite, confusão, desorientação, irritabilidade, humor eufórico (euforia), diminuição da libido, disfunção erétil, insônia, transtornos de equilíbrio, distúrbios de atenção e de memória, tremores, disartria, sedação, letargia, diplopia, visão turva, vertigem, edema periférico, sensação de embriaguez e fadiga

Tontura, ataxia, náuseas, vômitos, diplopia e alterações de pele

Ataxia, fadiga, insônia, psicose e depressão

Alterações de memória, fadiga, perda de peso, sonolência, aumento da pressão intraocular e cálculo renal

129

Page 158: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 13 Mecanismo de ação dos anticonvulsivantes

Anticonvulsi­vantes

Carbamazepina

Oxcarbamazepina

Fenitoína

Valproato

Clonazepam

Gabapentina

Pregabalina

Lamotrigina

Vigabatrina

Fenobarbital

Felbamato

Topiramato

Potenciali­zação do GABA

X

X

X

X

X

GABA: ácido gama-aminobutírico.

Fonte: Meldrum 128, Upton 129, Porter130•

130

Inibição do glutamato

X

X

X

X

X

X

X

Bloqueio de canais de sódio

X

X

X

X

X

X

X

X

X

Bloqueio de canais de cálcio

X

X

X

Page 159: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos adjuvantes

O clonazepam pode ser associado à carbamazepina, es­

pecialmente quando os aumentos das doses desta propor­

cionam mais efeitos colaterais. 127 Essas duas drogas anti­

convulsivantes são as preferidas para o tratamento da dor f •

neuropat1ca.

A gabapentina, por não ser metabolizada, não interage

com outras drogas; por isso, é desnecessário fazer ajustes

para a função hepática, mas é importante ajustar para a

função renal.

A pregabalina é recomendada para o tratamento da dor

neuropática e o controle de fibromialgia, entre outras in­

dicações. Tem biodisponibilidade oral alta (em jejum) e é

excretada predominantemente como fármaco inalterado

na urina (metabolismo desprezível). A droga é removida

eficazmente do plasma por hemodiálise, e a insuficiência

hepática não deve alterar significativamente as concentra­

ções plasmáticas de pregabalina.

A lamotrigina é pouco absorvida pelo trato gastrointes­

tinal.

A vigabatrina deve ser ajustada para a insuficiência renal.

131

Page 160: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Em relação ao fenobarbital, não há estudos clínicos para

seu uso na dor neuropática.

Os anticonvulsivantes podem ser associados aos AT no

tratamento da dor neuropática.

Corticosteroides

Inibem a prostaglandina sintetase. São usados no tratamen­

to das dores aguda e crônica, têm ação anti-inflamatória e

podem causar diretamente alise de tumores, como linfomas.

Proporcionam melhora da dor neural e da compressão me­

dular, reduzindo o edema em tecidos nervosos e tumorais.

Os corticosteroides são indicados no tratamento da dor

causada pela compressão de raiz nervosa, dor por disten­

são visceral (p.ex., distensão da cápsula do fígado por me­

tástases), aumento da pressão intracraniana e dor por in­

filtração de tecidos moles.82,131 São efetivos no tratamento

de dores ósseas, em razão de seu efeito anti-inflamatório,

e também aliviam a dor na obstrução intestinal maligna.

Doses de 16 a 20 mg/dia são úteis no tratamento da dor

de lesões malignas dos plexos braquial e lombossacral. 132

132

Page 161: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos adjuvantes

Os efeitos colaterais mais comuns são euforia, ganho de

peso, síndrome de Cushing, hiperglicemia, hipertensão, úl­

cera péptica, insônia, delirium, osteoporose, necrose assép­

tica de cabeça de fêmur, entre outros.

Os corticosteroides mais utilizados são:

• ação curta: cortisona e hidrocortisona;

• ação intermediária: prednisona, prednisolona, trianci­

nolona, succinato sádico de metilprednisolona;

• ação prolongada: betametasona, dexametasona e defla­

zacort.

Relaxantes musculares {Tabela 14)

Baclofeno

É um agonista do receptor GABA-B. Hiperpolariza as ter­

minações das membranas de fibras aferentes, e inibe a li­

beração de neurotransmissores excitatórios (glutamato) e

os reflexos mono e polissinápticos na medula espinal.

É indicado no tratamento de dores neuropáticas, con­

tratura muscular, doença de Parkinson e lombalgias.

133

Page 162: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 14 Relaxantes musculares

Relaxantes musculares (mais usados)

Baclofeno

Orfenadrina

Ciclobenzaprina

C a ri sop rodo I

Dose usual/dia

5 a 10 mg, 3 x/dia Dose teto: 120 mg

35 a 100 mg, 3 x/dia Dose teto: 280 mg

5 a 1 O mg, 3 a 4 x/dia Dose teto: 60 mg

150 mg (1 comp.) até 4 x/dia Dose teto: 1.500 mg, se não for associado a paracetamol. Se for associado a paracetamol, considera-se a dose máxima do paracetamol em 24 h

Apresentação comercial

Lioresal®: comp. de 10 mg; amp. para uso intratecal

Dorflex®: 1 comp. ou 1 ml de solução contém 35 mg de orfenadrina, 300 mg de dipirona e 50 mg de cafeína. Usar 3 a 4 x/dia Mioflex® e Miorrelax®: associados com cafeína e dipirona

Miosan®: comp. de 5 e 1 O mg

Dorilax® (carisoprodol, paracetamol e cafeína) Beserol® ( carisoprodol125 mg, diclofenaco sádico 50 mg, paracetamol300 mg e cafeína 30 mg) Tandrilax® (carisoprodol, paracetamol e diclofenaco sádico) Mioflex® (carisoprodol, paracetamol e fenilbutazona) Mionevrix® (carisoprodol, dipirona e vitaminas B1, B6 e B12)

Tizanidina 2 a 4 mg, 3 a 4 x/dia Sirdalud®: comp. de 2 mg Dose teto: 36 mg

comp.: comprimido(s); caps.: cápsula(s); amp.: ampola(s).

Fonte: arquivos da autora.

134

Page 163: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos adjuvantes

Efeitos colaterais mais frequentes

Tontura, bradicardia, sedação, hipotensão, náuseas, vômitos, cefaleia, salivação, alucinação, convulsão, constipação e depressão respiratória

Bradicardia ou taquicardia, arritmia, constipação intestinal, sonolência, boca seca, retenção urinária, fadiga, confusão mental, hipotensão e aumento da pressão intraocular, dificuldade de acomodação visual (visão borrada)

Sonolência, boca seca, sedação, vertigem, astenia, constipação, dispepsia, alteração do paladar, visão borrada, cefaleia, nervosismo e confusão. É indutor do sono

Sonolência, tremor, cefaleia, euforia, distúrbios gastrointestinais, soluços, hipotensão, prurido e eritema multiforme

Náuseas, vômitos e aumento de enzimas hepáticas

135

Page 164: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Orfenadrina

É um relaxante muscular, anti-histamínico fraco, com

efeitos anticolinérgicos de ação central. Deve ser usado

com cautela em pacientes com glaucoma e prostatismo.

Ciclobenzaprina

É um relaxante muscular que atua também inibindo a re­

captação da serotonina no tronco encefálico e na medula

espinal. É eficaz no tratamento de lombalgia e de fibro­

mialgia. Deve-se evitar o uso em pacientes com cardiopa­

tias e hipertireoidismo.

Carisoprodol

É um relaxante muscular e sedativo com atuação no tronco

encefálico e medula espinal. É eficaz no tratamento de

lombalgia, fibromialgia, cervicalgias agudas e espasmos

musculares. É importante lembrar que, em razão de seu

metabólito meprobamato, pode causar dependência.

A duração do tratamento em casos agudos é de 24 a 48

horas, e nos subagudos é de 7 a 10 dias. A cafeína presente

136

Page 165: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos adjuvantes

nas associações tem efeito estimulante no SNC e é vaso­

constritora cerebral. A dose ótima ainda não está bem es­

tabelecida, mas doses entre 65 e 200 mg são bem toleradas

pelos pacientes. 133

Tizanidina

É um relaxante muscular agonista adrenérgico alfa-2, indi­

cado no tratamento da lombalgia aguda e da espasticidade.

Dica: o benzodiazepínico diazepam tem efeito relaxante

muscular.

Analgésicos adjuvantes para dores ósseas:

bifosfonatos

Metástases ósseas são complicações frequentes das doen­

ças malignas, sobretudo nos cânceres de pulmão, mama e

próstata. Causam importantes morbidades associadas à

elevação da reabsorção óssea mediada pelo osteoclasto.

Ocorre um desequilíbrio do metabolismo ósseo resultan­

do em dor importante, fraturas e limitação funcional. Esse

137

Page 166: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

aumento da reabsorção óssea é também um dos principais

fatores da hipercalcemia. O turn over ósseo é maior no os­

so trabecular do que no osso cortical (compacto). Nesse

processo de turn over ósseo, normalmente, a reabsorção

leva cerca de 3 a 4 semanas, e a formação de tecido ósseo,

2 a 3 meses.

Bifosfonatos

Os vários bifosfonatos disponíveis variam sua ação sobre o

equilíbrio entre mineralização e reabsorção óssea. O grau

de atividade também é variável entre os diferentes tipos de

bifosfonatos. Dois mecanismos principais de ação dos bi­

fosfonatos são:

• ligação sólida a estruturas ósseas pré-formadas, estabili­

zando os cristais de hidroxiapatita por meio de uma

ação físico-química;

• efeito citotóxico sobre os osteoclastos que fagocitaram

osso contendo bifosfonatos (p.ex., clodronato e etidro­

nato). I34,I3s

138

Page 167: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos adjuvantes

O pamidronato interfere no acesso dos precursores os­

teoclásticos à matriz óssea, com diferenciação para osteo­

clastos maduros. 129

O ácido zoledrônico pertence a uma nova classe de bi­

fosfonatos altamente potentes, que inibem a reabsorção

óssea sem afetar negativamente a formação, a mineraliza­

ção ou as propriedades mecânicas do osso.

Estudos pré-clínicos e clínicos têm demonstrado que o

ácido zoledrônico pode inibir a angiogênese, a invasão, a

aderência das células tumorais e a progressão tumoral (Fi­

gura 10). Há evidências que o uso desses agentes pode im­

pedir o desenvolvimento de metástases ósseas.136

O estudo Austrian Breast and Colorectal Cancer Study

Group trial-12 (ABCSG-12) mostrou que o benefício do

ácido zoledrônico, além de evitar e tratar a perda óssea

causada pelo tratamento hormonal em mulheres com

câncer de mama, prolongou de forma significativa a so­

brevida livre da doença, reduzindo a recorrência na mama

contralateral, locorregional e a distância. A dose recomen­

dada foi de 4 mg a cada 6 meses. 138,139

139

Page 168: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tumor primário

Inibe a . " ang10genese

Sinergismo com drogas anticâncer

Angiogênese

Induz a apoptose das células tu morais

D Efeito antitumoral direto D Efeito antitumoral indireto

Invasão

Diminuição da invasão de matriz

Estimula a vigilância do sistema imune

Diminui a aderência no osso

Metástases Micrometástases Aderência e Paradas em capilares extravazamento distantes

Figura 1 O Ácido zoledrônico pode inibir o crescimento

tu moral e as metástases

Fonte: adaptada de Mundy.137

140

Page 169: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos adjuvantes

A recomendação do ABCSG Steering Committee de

2008 é a de que, em mulheres na pré-menopausa com neo­

plasia de mama e que estejam usando terapia endócrina

adjuvante com agonistas/hormônio liberador do hormônio

luteinizante (LHRH), deve ser considerado o uso de ácido

zoledrônico na dose de 4 mg a cada 6 meses, por 3 anos.

Estratégias de tratamento ósseo para pacientes usando

inibidores da aromatase, conforme os dados da Tabela 15,

incluem que devem ser selecionados os fatores de risco

que podem determinar o momento de se iniciar o trata­

mento com bifosfonatos para perda óssea associada a ini­

bidores da aromatase.

As indicações dos bifosfonatos são: auxílio no controle

analgésico das metástases ósseas; prevenção e tratamento

da hipercalcemia; e prevenção dos eventos relacionados

com o esqueleto (diminuição do risco de fraturas patoló­

gicas e compressão medular). 141-143

O uso do ácido zoledrônico tem mostrado benefícios

em pacientes com mieloma múltiplo, hipercalcemia, me­

tástases ósseas, perda óssea causada pelo tratamento hor­

monal (combinado com terapia endócrina adjuvante ba-

141

Page 170: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 15 Estratégias de tratamento ósseo para pacientes

usando inibidores da aromatase

Condição

Todos os pacientes iniciando terapia com

inibidor da aromatase (IA)

Qualquer paciente iniciando ou recebendo IA

com Tscore ~-2.0 e sem fator de risco

Tscore entre -1.0 e -1.5

Tscore entre -1.5 e -2.0

Qualquer paciente iniciando ou recebendo IA

com Tscore < -2.0

Pacientes iniciando ou recebendo terapia com

IA com dois dos seguintes fatores de risco:

Tscore < -1.5, idade > 65 anos, baixo índice de

massa óssea ( < 20 kg/m2), história familiar de

fratura de costelas, história individual de

fragilidade óssea e fratura após 50 anos, uso oral

de corticosteroides por mais de 6 meses e

fumantes

Fonte: Hadji et al.140

142

Tratamento

Receber cálcio e vitamina D

suplementares

Monitorar a cada 1 a 2 anos para

alterações de fatores de risco e

densidade mineral óssea (BMD)

Screening anual

Checar níveis de vitamina D; considerar

terapia com bifosfonatos dependendo

dos fatores de risco

Receber terapia com bifosfonatos

Receber terapia com bifosfonatos. A

BMD deve ser monitorada a cada 2

anos, e o tratamento deve ser

continuado por pelo menos 2 anos e

possivelmente por um tempo maior,

caso haja continuidade da terapia com

IA

Page 171: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos adjuvantes

seada em agonistas LHRH para câncer de mama e de

próstata) e efeito antitumoral com benefício na sobrevida

do paciente. O tempo de tratamento não está completa­

mente definido. 124

Como a excreção é renal, podem ser utilizados na in­

suficiência renal com ajuste da dose conforme a depura­

ção de creatinina.

Os efeitos colaterais incluem: náuseas, vômitos, dores

abdominais, hipocalcemia transitória, hipofosfatemia, re­

dução do paratormônio sérico, proteinúria, insuficiência

renal, reação no local de infusão, diarreia (se o uso for

VO) e osteonecrose de mandíbula. A osteonecrose tem

sido associada exclusivamente ao uso de pamidronato e

de zoledronato, e está relacionada com o uso dos bifosfo-

natos IV por tempo superior a 35 infusões.144 A incidên­

cia em pacientes com câncer é de 6 a 7%.145

A Associação Americana de Odontologia (ADA) reco­

menda realização de radiografia panorâmica da mandíbu­

la e avaliação dentária antes da introdução de um bifosfo­

nato. No caso de surgimento de problemas odontológicos

143

Page 172: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

durante o uso de bifosfonatos, sua administração deve ser

interrompida 1 mês antes do início do tratamento odonto­

lógico e reintroduzida após a resolução do quadro.

O principal objetivo do tratamento ósseo é o alívio da

dor, porém, associado aos bifosfonatos, além do trata­

mento específico da causa da lesão, pode ser necessária

uma abordagem ortopédica ( curetagem ou ressecção de

lesão, seguida de estabilização com síntese e cimento ós­

seo ou reconstrução com endopróteses). Podem ser asso­

ciados também radioterapia e, por último, até samá­

rio-153.

Outras opções de tratamento paliativo da dor óssea são:

samário-153 EDTMP, estrôncio-89 e rênio-186 HEDP.

Os bifosfonatos mais usados, com as doses recomenda­

das e as apresentações comerciais, estão demonstrados na

Tabela 16.

Anticorpo monoclonal anti-RANKL

Uma nova classe terapêutica é a dos anticorpos monoclo­

nais dirigidos ao ligante do RANK, molécula-chave no

processo de ativação dos osteoclastos.

144

Page 173: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos adjuvantes

O denosumabe reduz o risco de fraturas vertebrais e

não vertebrais entre mulheres na pós-menopausa com

risco de osteoporose. No Brasil, o produto já está dispo­

nível para o tratamento da osteoporose (Prolia®) e tem

sua apresentação para metástases ósseas (Xgeva®) já sub­

metida à aprovação. 146,147

• Prolia® 60 mg solução injetável: posologia habitual: se­

ringa de 60 mg, se, a cada 6 meses. Os pacientes devem

receber suplemento com cálcio e vitamina D.

• Xgeva® 120 mg solução injetável: indicado para pre­

venção de ocorrências ósseas (fraturas patológicas, ra­

diação, compressão medular ou cirurgia) em adultos

com metástases ósseas de tumores sólidos. Posologia:

120 mg, se, a cada 4 semanas. É necessário administrar

a todos os doentes suplementos de pelo menos 500 mg

de cálcio e 400 ui de vitamina D (exceto em caso de hi­

percalcemia).

145

Page 174: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 16 Bifosfonatos

Bifosfonatos mais usados Dose

Ácido zoledrônico 4mg

Pamidronato dissódico 15 a 90 mg

Clodronato dissódico 1.600 mg VOe 1.500 mg IV

Calcitonina 100 a 400 ui/dia

Alendronato 1 O mg/dia ou 70 mg, 1 x/semana

lbandronato 150 mg, 1 x/mês

Risedronato e outros 35 mg, 1 x/semana ou 150 mg, 1 x/mês

comp.: comprimido(s); caps.: cápsula(s); fr.: frasco; amp.: ampola; SF: soro fisiológico; SG: soro

glicosado.

Fonte: arquivos da autora

146

Page 175: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos adjuvantes

Apresentações comerciais (mais usadas)

Zometa®: fr.-amp. de 4 mg. Diluir em SF 0,9% ou SG 5%200 ml, IV, em 15 min, a cada 3 ou 4 semanas

Pamidronato de sódio®: fr.-amp. de 15, 30, 60 e 90 mg. Dose indicada para metástases ósseas: 90 mg. Reconstituir com o diluente do produto e diluir em SF 0,9% ou SG 5% 250 a 1.000 ml em tempo de infusão superior a 3 h, a cada 3 ou 4 semanas. Obedecer rigorosamente o tempo de infusão para evitar toxicidade renal

Bonefós®: cáps. de 400 mg; amp. (5 ml) de 300 mg e (25 ml) de 1.500 mg. Para hipercalcemia maligna: 300 mg/dia diluídos em SF 0,9% ou SG 5% com infusão superior a 2 h em dias consecutivos até obter calcem ia normal. Não prolongar por mais de 7 dias ou 1.500 mg diluídos em SF 0,9% ou SG 5%, 400 a 1.000 ml em 4 h, a cada 3 a 4 semanas

Miacalcic®: spray nasal que libera doses de 200 ui; amp. (0,5 ml) com 50 ui; amp. (1 ml) com 100 ui. Posologia para dor óssea: 100 a 200 ui, IV (diluído em SF 0,9%) ou SC. Spray nasal 200 a 400 ui/dia (doses maiores que 200 ui devem ser divididas). O tratamento pode durar até que se desenvolva o efeito analgésico completo. Para terapia contínua, reduzir a posologia diária e/ou prolongar o intervalo entre as administrações. Para hipercalcemia: 5 a 10 ui/kg/dia, em 500 ml de SF em 6 a 8 h

Endronax® e Fosamax®: comp. de 1 O e 70 mg.lndicados, sobretudo, para tratamento da osteoporose em mulheres após a menopausa Osteonan®: comp. de 70 mg

Bonviva®: comp. de 150 mg

Actonel®: comp. de 35 e 150 mg.lndicados, sobretudo, para tratamento da osteopenia/ osteoporose

147

Page 176: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Anti-histamínicos

Além do efeito antialérgico, têm ação antiemética, antico­

linérgica, antiespasmódica, analgésica e sedativa leve. Hi­

droxizina oral é utilizada para controlar as náuseas e a

ansiedade em pacientes com dor crônica. Anti-histamíni­

cos, como a cipro-heptadina e o pizotifeno, são utilizados

na prevenção da enxaqueca.

Os dados da Tabela 17 relacionam os anti-histamínicos

usados como adjuvantes no tratamento da dor ou como

profiláticos.

Tabela 17 Anti-histamínicos

Anti-histamínicos Dose usual

Hidroxizina

Prometazina

Cipro-heptadina

Pizotifeno

Fonte: arquivos da autora.

148

25a100mg

3 a 4 x/dia

25 a 50 mg

2 a 3 x/dia

4mg3 a

4 x/dia

0,5 mg 1 a 3 x/dia

Apresentações comerciais mais usadas

Hixizine®: comp. de 25 e 50 mg;

solução oral de 1 mg/ml

Fenergan® e Prometazina®: comp. de

25 mg; amp. de 50 mg/2 ml

Cobavital®: comp. de 4 mg; xarope de

4mg/5 ml

Sandomigran®: drágea de 0,5 mg

Page 177: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos adjuvantes

Antieméticos

São importantes como adjuvantes na dor pós-operatória.

A êmese é um dos fatores que mais causam dor no pós-, .

-operator1o.

Psicoestimulantes148'149

Durante o tratamento analgésico crônico, a sedação pode

ser controlada com psicoestimulantes, como cafeína, me­

tilfenidato, mazindol e anfepramona. Eles podem causar,

sobretudo, insônia, agitação, irritabilidade, nervosismo,

falsa sensação de bem-estar e taquicardia. Alterações do

sono (depois dos efeitos estimulantes) podem ocorrer,

como sonolência, fadiga ou depressão. Raramente os psi­

coestimulantes são usados na prática clínica. Devem ser

utilizados por profissionais experientes no tratamento

da dor.

Outros

Outros fármacos adjuvantes podem ser utilizados em situa­

ções especiais, como os exemplos estudados a seguir.

149

Page 178: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Antagonista dos receptores NMDA

Bloqueiam o canal iônico do receptor NMDA, impedindo

a saída do magnésio e a entrada de cálcio no neurônio,

reduzindo, assim, a resposta dos neurotransmissores ex c i­

tatórios. 150 São exemplos:

• cetamina: anestésico utilizado em intervenções diagnósti-. , .

cas e c1rurg1cas;

• dextrometorfano: seu principal uso é a supressão da tosse;

• amantadina: é um antiparkinsoniano e parece ser eficaz

nas neuropatias.

Agonistas e antagonistas adrenérgicos

Indicados para a profilaxia da enxaqueca e a síndrome

complexa de dor regional.49,151 São exemplos:

• agonista alfal adrenérgicos: prazosina;

• agonistas alfa2 adrenérgicos: clonidina e tizanidina;

• bloqueadores: propanolol, metropolol e atenolol.

150

Page 179: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos adjuvantes

Agonistas e antagonistas da serotonina152,153

• Triptanos: indicados nas crises agudas de enxaqueca e

cefaleias em salvas.

• Metisergida: indicada para cefaleias em salvas e síndro­

me carcinoide, e na prevenção das enxaquecas.

• Ergotamina: indicada para profilaxia da enxaqueca e da

cefaleia em salvas. Também é utilizada para estímulo da

contração uterina.

Bloqueadores dos canais de cálcio

Indicados na profilaxia da enxaqueca, cefaleia em salvas,

dor isquêmica, entre outras. São exemplos: flunarizina,

verapamil e nifedipino/nimodipino.

Capsaicina

Para uso tópico, é indicada na dor neuropática do câncer,

nas neuropatias diabética e pós-herpética, nas neuralgias

do trigêmeo e nas artralgias. 154

Toxinas botulínicas

Assunto amplo que não será abordado neste Manual.

151

Page 180: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Analgésicos adjuvantes

Agonistas e antagonistas da serotonina152,153

• Triptanos: indicados nas crises agudas de enxaqueca e

cefaleias em salvas.

• Metisergida: indicada para cefaleias em salvas e síndro­

me carcinoide, e na prevenção das enxaquecas.

• Ergotamina: indicada para profilaxia da enxaqueca e da

cefaleia em salvas. Também é utilizada para estímulo da

contração uterina.

Bloqueadores dos canais de cálcio

Indicados na profilaxia da enxaqueca, cefaleia em salvas,

dor isquêmica, entre outras. São exemplos: flunarizina,

verapamil e nifedipino/nimodipino.

Capsaicina

Para uso tópico, é indicada na dor neuropática do câncer,

nas neuropatias diabética e pós-herpética, nas neuralgias

do trigêmeo e nas artralgias. 154

Toxinas botulínicas

Assunto amplo que não será abordado neste Manual.

151

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Page 182: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

É recomendável associar ao tratamento medicamentoso,

se necessário, ou a critério médico, outros tratamentos com­

plementares, p.ex.:

• Tratamento fisiátrico: alivia a dor, promove a reabilita­

ção física e melhora a qualidade de vida, além de propor­

cionar reintegração social.

• Acupuntura.

• Tratamentos alternativos: aromaterapia, reflexologia,

florais de Bach, mesoterapia, fitoterapia, musicoterapia,

entre outros.

153

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• •

O tratamento invasivo é indicado somente quando os mé­

todos não invasivos são ineficazes ou pouco eficazes, e

quando ocorre intolerância ou toxicidade inaceitáveis.

Os tipos de tratamento invasivo são descritos a seguir.

Analgesia regional

• Anestésicos locais por via IV ou injeções em pontos de

gatilho.

• Opioides espinhais.

155

Page 185: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Bloqueios simpáticos e neurólises

• Bloqueio de plexo celíaco.

• Bloqueio do gânglio estrelado.

• Bloqueio do plexo hipogástrico.

• Bloqueio simpático lombar.

Tratamento neurocirúrgico funcional da dor

• Procedimentos neuroablativos: simpatectomias, rizoto­

mias, cordotomias, mielotomias, talamotomias, hipofi­

sectomias, neurotomias, entre outros.

• Procedimentos de neuroestimulação: estimulação elé­

trica do SNC.

• Procedimentos de neurorreposição: dispositivos para

administração de analgésicos no SNC.

• Procedimentos de neurorrestauração: descompressões

nervosas.

• Considerações especiais: dor neuropática intratável.

156

Page 186: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

/ / .

A dor pós-operatória, diferentemente da dor intraopera­

tória que é totalmente controlada, não recebe a mesma

atenção, pois nem sempre é bem avaliada e tratada.

Dependendo do procedimento cirúrgico, as dores no

pós-operatório podem variar de leves a muito intensas e

de curta a longa duração, e seus principais sintomas são:

dor ao movimento (99%), inquietação ou medo (91 %),

dor em repouso na ferida operatória ( 91%), cefaleia ( 19%),

náusea e vômito (7%) e meteorismo (3%).155

O tratamento apropriado para a dor pós-operatória re­

duz a incidência de complicações, os dias de hospitaliza­

ção e os custos.

157

Page 187: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Plano para o tratamento da dor pós-operatória

O plano adequado de tratamento da dor requer:

• Organização e treinamento dos profissionais envolvidos

(anestesistas, cirurgiões, enfermeiros, fisioterapeutas e

outros especialistas).

• Avaliação pré-operatória, que inclui todas as informa­

ções necessárias para o tratamento da dor pós-operató­

ria.156 É preciso esclarecer ao doente a respeito da cirur­

gia a qual será submetido, sobre a dor pós-operatória e

o uso de analgésico para o tratar, de acordo com a inten­

sidade. Além dos procedimentos pré-operatórios, infor­

mar também o tempo previsto de internação e sobre os

curativos. As informações e o controle adequado da dor

reduzem a ansiedade dos pacientes, ajudam a melhorar

os resultados e propiciam o retorno mais rápido às a ti vi­

dades diárias.

• Avaliação e mensuração da dor (ver escalas da Figura 2).

• Analgesia sistêmica: os analgésicos devem ser adminis­

trados regularmente, e não só quando necessários. Tam­

bém deve ser incluída analgesia suplementar para recor-

158

Page 188: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Dor pós-operatória

rência da dor. À medida que a dor vai sendo controlada,

o regime de administração regular poderá ser substituí­

do pelo regime de utilização, quando necessário, redu­

zindo os riscos de efeitos colaterais.

• Mobilização precoce.

• Tratamento de náuseas e vômitos.

• Fisioterapia.

O controle efetivo da dor pós-operatória requer um

analgésico com ação de rápido início e de longa duração.

Os medicamentos mais utilizados no pós-operatório são:

AINHs, acetaminofeno, opioides fracos e fortes, espasmo­

líticos e sedativos.

O mecanismo de ação dos anti-inflamatórios pode ser

visto a partir da página 43 deste livro. A sensibilização pe­

riférica dos nociceptores ocorre pela elevação dos níveis

de prostaglandinas nos tecidos inflamados. As prostaglan­

dinas são produzidas pela COX-2, que é induzida em res­

posta aos estímulos inflamatórios nos sítios de lesão teci­

dual. Incisões cirúrgicas de tecidos moles, ossos e outros

eventos perioperatórios podem também induzir alterações

159

Page 189: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

prolongadas na função neural central, que contribuem pa­

ra a dor pós-operatória subsequente. 157 Cirurgia também

induz a expressão da COX-2 no SNC. Os AINHs que ini­

bem inespecificamente a ciclo-oxigenase (COX), como,

por exemplo, o naproxeno ou o ibuprofeno, são analgési­

cos comumente usados no tratamento da dor pós-opera­

tória. 158 No entanto, a administração oral não é apropriada

para pacientes com condições agudas dolorosas, que re­

querem um rápido início de analgesia, ou que não conse­

guem engolir a medicação, ou são intolerantes a formula­

ções orais, e também em razão da presença de íleo

paralítico e vômitos do pós-operatório imediato. Nesses

casos, é preferível um analgésico injetável.159

A via IV é a mais adequada para o período pós-operató­

rio. A via IM pode ser utilizada, embora haja o desconfor­

to das injeções e a variabilidade de latência, intensidade e

duração da analgesia; por isso, muitas vezes, a via IM é

inapropriada para o controle rápido da dor pós-operató­

ria. Existem outras opções, como cateteres implantáveis

via se e via espinhal (para dores intensas e refratárias ou

contraindicações para medicações sistêmicas).

160

Page 190: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Dor pós-operatória

Outra opção é a analgesia controlada pelo paciente (ACP).

Trata-se de um conceito de analgesia que usa um disparador

e uma bomba microprocessada para infusão de analgésicos

via SC, IV ou peridural. Isso permite que o próprio paciente

controle a administração do fármaco. As vantagens da ACP

são a antecipação da analgesia para tratar a dor episódica e a

sensação de controle da dor, além de evitar o longo tempo

de preparo de analgésicos pela enfermagem. 160

Em relação aos AINHs, a eficácia analgésica e anti-infla­

matória ocorre em consequência da inibição da COX-2;

porém, a inibição plaquetária e os efeitos adversos no trato

gastrointestinal superior (como ulceração e sangramento)

são causados pela inibição não específica da COX-1. 46 Di­

ferente dos AINHs não específicos que inibem a COX-1,

os inibidores específicos da COX-2, em concentrações te­

rapêuticas, poupam a COX -1 e, por isso, têm um melhor

perfil de tolerabilidade e segurança no trato gastrointesti­

nal superior, e clinicamente não afetam a função plaquetá­

ria.47A8 Ressalta-se que pode ocorrer também interação

entre os AINHs e anticoagulantes, aumentando o risco de

sangramento.

161

Page 191: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Procedimentos cirúrgicos pouco agressivos

ou dores leves ou moderadas {Figura 11)

Procedimentos . , . Opioides fortes

neuroc1 ru rg 1cos

AINHs

AINHs com ou sem adjuvantes, terapias

físicas e terapias com porta mentais

Opioides fracos

Qpjoides fracos com ou sem adjuvantes,

terapias físicas e terapias

comporta mentais

Opioides fortes com ou sem adjuvantes,

terapias físicas e terapias

comporta mentais

Figura 11 Escada analgésica da OMS modificada

Arte gráfica: Fauzia F. Na i me e Angelo Afonso Leme de Lima.

Fonte: modificada e adaptada de WH030, MigueP1 e Krames32•

Para dores leves, os AINHs (inespecíficos ou inibidores

da COX-2) produzem alívio satisfatório isoladamente ou

podem ser associados a opioides fracos para dores modera­

das. Ver recomendações de dosagens nos dados da Tabela 2.

O parecoxibe é o primeiro inibidor da COX-2 injetável

(IV/IM), com pico plasmático de 30 minutos após admi­

nistração IV e dentro de 1 hora após administração IM. 161

162

Page 192: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Dor pós-operatória

Essa medicação vem demonstrando eficácia analgésica em

pacientes após laparotomias, cirurgias ortopédicas (qua­

dril e joelho), cirurgias na cavidade oral, colecistectomias

laparoscópicas, entre outras.162-166 O parecoxibe não tem

efeito na agregação plaquetária e está associado a menor

incidência de úlceras gastroduodenais em doses-padrão,

quando comparado com diclofenaco, naproxeno e ibupro­

feno.167-169 A dosagem analgésica total de parecoxibe de 40

mg, 2 vezes/ dia, administrada com heparina não fraciona­

da, não afeta os parâmetros de coagulação e, diferente­

mente dos AINHs não específicos, ele pode ser adminis­

trado em pacientes que recebem tromboprofilaxia e

naqueles em recuperação de procedimentos cirúrgicos in­

vasivos com alto risco de sangramento.49

O parecoxibe foi aprovado para o tratamento a curto pra­

zo da dor pós-operatória na União Europeia com a dose

inicial de 40 mg IV ou IM.49 Recomenda-se utilizar por 2 a

5 dias, pois em tempo curto não ocorre aumento significa­

tivo de efeitos colaterais. No Brasil, o parecoxibe (Bextra®) é

indicado para dor pós-operatória, por 2 a 5 dias (de acordo

com a Anvisa), na dose máxima de 80 mg; e para cólica

163

Page 193: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

renal aguda, na dose de 40 mg, rv, dose única. Portanto, se

houver risco de doença péptica, recomendam-se os inibi­

dores específicos da COX-2, a dipirona ou o acetaminofe­

no. Na prevenção de úlceras pépticas em pacientes de alto

risco, uma alternativa aos inibidores de COX-2 é utilizar

AINHs inespecíficos concomitantemente com inibidores

da bomba de próton. Tal associação, entretanto, não forne­

ce proteção contra danos causados por AINHs não especí­

ficos no trato gastrointestinal inferior. 50-51

Inibidores da COX-2 têm sido também associados com

aumento da incidência de efeitos cardiovasculares, que po­

dem se manifestar como infarto agudo do miocárdio

(IAM), insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e acidente

vascular encefálico (AVE).170,171 Recomendações recentes

sugerem que seja avaliado o risco de eventos trombóti­

cos em pacientes nos quais se cogita usar inibidores da

COX-2 para o tratamento da dor pós-operatória. 172

Reações de hipersensibilidade e outras mais sérias, como

reação de Stevens-Jonhson e eritema multiforme, podem

ocorrer mais frequentemente com o uso de valdecoxibe

do que com outros inibidores da COX-2.173

164

Page 194: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Dor pós-operatória

Estudos clínicos que avaliaram o papel dos inibidores

seletivos da COX-2 em pacientes com asma induzida por

Aspirina® demonstraram que essas drogas não afetam a

função respiratória.174

AINHs convencionais e inibidores da COX-2 têm como

desvantagens o aumento do risco de hepatotoxicidade, o pre­

juízo da função renal e o aumento da pressão arterial.175,176

Medidas gerais do pós-operatório

1. Para evitar empachamento gástrico:

• metoclopramida 1 O mg, IV, a cada 6 horas inicial­

mente e depois VO;

• domperidona 10 mg (antiemético e gastrocinéti­

co), 10 a 15 minutos antes das refeições.

2. Para evitar epigastralgia, gastrite e úlcera: inibidores

H2: omeprazol (10 a 20 mg, 2 a 3 vezes/dia).

3. Para evitar obstipação intestinal e prurido: ver pági­

nas 104 a 115.

4. Para evitar retenção urinária:

• sonda vesical de alívio;

• cloreto de betanecol (Liberan®) -comprimidos de

5, 10 e 25 mg: indicado para retenção urinária não

165

Page 195: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

obstrutiva (funcional) aguda pós-operatória e

pós-parto, e retenção urinária causada pela atonia

neurogênica da bexiga. Administrar com estôma­

go vazio (2 horas após as refeições), para evitar a

ocorrência de náuseas e vômitos. Para adultos, a

dose usual é de 10 a 50 mg, 3 a 4 vezes/dia. A

solução estéril se tem dose usual de 1 mL (5 mg),

embora alguns pacientes respondam satisfatoria­

mente a doses menores, como 0,5 mL (2,5 mg). Os

efeitos colaterais são raros com administração VO

e mais comuns com administração se (dor abdo­

minal, náuseas e aerofagia, diarreia, barbarismos

e salivação, urgência urinária, cefaleia, hipotensão

com taquicardia reflexa, resposta vasomotora, ru­

bor, sensação de calor nas faces, sudorese, bronco­

constrição, ataque asmático, lacrimação e miose).

Procedimentos cirúrgicos agressivos

ou dores intensas

Para dores intensas, os opioides fortes de ação curta são a

primeira escolha, sendo a morfina o medicamento mais

166

Page 196: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Dor pós-operatória

utilizado. A administração deve ser feita de forma regular

e titulada de acordo com a intensidade da dor. Poucos estu­

dos têm avaliado um regime apropriado. Uma maneira de

administrar é iniciar com 2 a 3 mg diluídos em 5 mL de

soro fisiológico (SF) a 0,9%, a cada 15 minutos, e depois a

cada 1 hora, de forma a obter uma concentração analgésica

efetiva e manter os níveis séricos estáveis. Para se atingir

uma concentração analgésica efetiva mínima, são necessá­

rias aproximadamente 1 a 2 administrações de 3 mg de

morfina a cada 30 minutos, por 2 horas. Para infusão con­

tínua, iniciar com 0,1 mg/minuto (6 mg/hora) e reduzir

para a metade após 30 minutos para manutenção (aumen­

tar ou reduzir a velocidade de infusão, se necessário). Ou­

tra forma de administração da morfina pode ser vista na

Figura 12.177'178

Mais de 90% dos pacientes têm alívio da dor usando um

protocolo de titulação de morfina. A dose média necessá­

ria para obter alívio é de 12 mg, após uma média de qua­

tro bolus. 51 A morfina deve ser suspensa se o paciente

evoluir com sedação, frequência ventilatória 2:: 12 rpm,

saturação de oxigênio :::; 95% ou eventos adversos sérios,

167

Page 197: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

como alergia, hipotensão e vômitos severos. A adminis­

tração de pequenos bolus de morfina aumenta o tempo

de alívio da dor e diminui o risco de eventos adver­

sos.51,170,179 Deve-se ter cautela ao usar a morfina em pa-

cientes idosos e obesos.

I

I

I

I /

/ /

-

Avaliação inicial da dor

-...

' , ... , -- ----------

.... ' ' ' ' ' \

\

\

I

Morfina em bolus 2 ou 3 mg

Monitorar nível de consciência, frequências respiratória e cardíaca, pressão arterial e oximetria de pulso

Figura 12 Escala visual analógica: VAS < 30 mm =dor leve;

VAS <50 e~ 30 =dor moderada e VAS ~ 50 mm =dor forte

Fonte: Aubrum et al.177,178

168

Page 198: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Dor pós-operatória

Muitas vezes, o uso de opioides como a petidina (dolan­

tina) é satisfatório; mas, com frequência, é acompanhado

por efeitos adversos como depressão respiratória, náuseas,

vômitos, constipação, retenção urinária, se dação e dimi­

nuição da pressão arterial, conduzindo, assim, a uma re­

cuperação mais lenta dos pacientes. 180

Todavida, se forem utilizados, deve-se iniciar a adminis­

tração com 20 a 30 mg a cada 15 minutos e depois a cada

1 hora, de forma semelhante à administração da morfina.

Para se atingir uma concentração analgésica efetiva míni­

ma são necessários, aproximadamente, 30 mg de meperi­

dina a cada 30 minutos, por 2 horas. Para infusão contí­

nua, iniciar com 1 mg/minuto durante 30 minutos e

depois 0,5 mg/minuto para manutenção.

Há um interesse recente na oxicodona, baseado na sua

farmacocinética e sua farmacodinâmica favoráveis, espe­

cialmente no SNC. Apresenta biodisponibilidade oral de

60 a 87%, exerce potente efeito analgésico e, por não ter

efeito teto, é mais potente do que a morfina (relação 1:2)

e apresenta menos efeitos colaterais (p.ex., constipação e

depressão respiratória). 181

169

Page 199: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

A buprenorfina é um agonista parcial de altíssima afi­

nidade para o receptor mu, indicado para alívio da dor

moderada a intensa. A dose inicial recomendada é de um

comprimido de 0,2 mg, SL, a cada 8 horas. Por via IV,

iniciar com 0,3 a 0,6 mg, a cada 6 a 8 horas. Ocasiona mais

náuseas, vômitos e obstipação que a morfina.

A nalbufina pode ser usada para alívio da dor pós-ope­

ratória de moderada a intensa, porém existem outras op­

ções melhores. Apresenta efeito teto quanto à analgesia e

depressão respiratória.

Recomendações de analgesia sistêmica

para procedimentos específicos baseados

em evidências174

As recomendações a seguir são pautadas pelo Procedure

Specific Postoperative Pain Management (PROSPECT) .182

1. Ligantes das subunidades alfa-2-delta (gabapentinoi­

des): o papel da gabapentina no tratamento da dor

neuropática crônica é bem estabelecido, porém sua

função para a dor pós-operatória ainda não está bem

170

Page 200: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Dor pós-operatória

definida. Vários estudos mostram que a gabapentina

ajuda a reduzir a dor pós-operatória, diminuindo

também o uso de opioide e as náuseas.183,184 Entretan­

to, estudos adicionais são necessários antes de se re­

comendar doses específicas ou regimes para admi­

nistração (doses únicas ou doses repetidas); além

disso, a gabapentina tem sido associada à sedação. 185

2. Inibidores da COX-2 seletivos: parecoxibe 20 a 40 mg,

IV, a cada 12 horas, por 2 a 5 dias, reduz o consumo de

analgésico suplementar quando comparado a placebo,

mas não diminui isoladamente a dor pós-operatória

em grandes cirurgias.186 Inibidores da COX-2 devem

ser associados a opioides fortes para dores intensas e a

opioides fracos para dores leves a moderadas.

3. Anti-inflamatórios convencionais devem ser utiliza­

dos associados a opioides fortes para dores intensas e

a opioides fracos para dores moderadas. Não indicar

para pacientes com aumento do risco de sangramen­

to e úlceras gastroduodenais.

4. Opioides fortes são recomendados em função da efi­

cácia analgésica em reduzir dores intensas no período

171

Page 201: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

pós-operatório imediato. Para minimizar a dose de

opioides fortes e os efeitos colaterais associados, re­

comenda-se associar inibidores seletivos da COX-2

ou AINHs convencionais (com protetores gástricos).

Metanálise de ensaios clínicos randomizados que fo­

ram realizados para avaliar os efeitos colaterais da

morfina demonstraram que a associação de AINHs

diminui a incidência de náuseas, vômitos e sedação,

mas não de prurido, retenção urinária ou depressão

respiratória induzidos pela morfina. 187

5. Opioides fracos são recomendados com base em evi­

dências de sua eficácia analgésica em cirurgias gine­

cológicas e abdominais, entre outras. Devem ser as­

sociados a inibidores seletivos da COX-2 ou AINHs

convencionais, junto com paracetamol, para dores

moderadas e de baixa intensidade tardia do pós-ope-, .

rator1o.

6. O paracetamol pode ser usado para dores leves a

moderadas em combinação com AINHs convencio­

nais ou inibi dores da COX-2. Isoladamente não é

recomendado para dores fortes. Os limitados dados

172

Page 202: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Dor pós-operatória

disponíveis também sugerem que a adição de para­

cetamol (mínimo de 1.000 mg) aos AINHs pode

conferir eficácia analgésica adicional, comparada

com o uso de paracetamol isoladamente. É uma al­

ternativa viável, sobretudo pela baixa incidência de

efeitos adversos, e deve ser escolhida de preferência

para pacientes de alto risco. Pode ser apropriado

combinar paracetamol aos AINHs, mas estudos fu­

turos são necessários, principalmente após cirurgias

de grande porte, com foco específico em um poten­

cial aumento dos efeitos colaterais de seu uso combi­

nado.188 Em uma revisão sistêmica de vários procedi­

mentos cirúrgicos, o uso de paracetamol associado a

AINHs não mostrou benefício significativo quando

comparados com anti-inflamatório isoladamente

para redução dos escores de dor forte em cirurgias

ortopédicas e ginecológicas. Entretanto, um benefí­

cio significativo foi visto para dores de menor inten­

sidade associadas com operações dentárias. 189

7. Não são recomendados antagonistas dos receptores

NMDA.

173

Page 203: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

8. Ao utilizar anti-inflamatórios, avaliar individualmen­

te cada paciente quanto ao risco de complicações, co­

mo sangramento, história de úlcera gastroduodenal,

morbidade cardíaca e funções renal e hepática.

Recomendações de procedimentos específicos

baseados no PROSPECT182

1. Histerectomia abdominal:

• Dores fortes: opioides fortes + inibi dores da COX -2

seletivos ou não seletivos (associar inibidores da

bomba de próton aos AINHs não seletivos).

• Dores leves a moderadas: opioides fracos + para­

cetamol e inibi dores da COX-2 seletivos ou não

seletivos.

2. Ressecção colônica:

174

• Dores fortes: opioides fortes + inibidores da COX-

2 seletivos ou não seletivos são a primeira escolha

pela alta intensidade da dor pós-operatória.

• Dores leves a moderadas: opioides fracos + para­

cetamol e inibi dores da COX-2 seletivos ou não

seletivos.

Page 204: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Dor pós-operatória

3. Cirurgia hemorroidária:

• Dores fortes a moderadas (VAS ~ 30 mm): opioi­

des fortes + paracetamol e inibi dores da COX-2

seletivos ou AINHs convencionais.

• Dores leves a moderadas (VAS <50 mm): opioides

fracos + paracetamol e inibi dores da COX-2 seleti­

vos ou AINHs convencionais.

4. Herniorrafia:

• AINHs convencionais ou inibidores seletivos da

COX-2 + paracetamol.

• Opioides fracos são recomendados com base em

sua eficácia analgésica quando AINHs convencio­

nais e inibidores seletivos da COX-2 + paraceta­

mol não são suficientes ou são contraindicados.

• Opioides fortes não são recomendados para a anal­

gesia de primeira linha (embora haja evidências

de que sejam efetivos) pelos efeitos colaterais que

podem retardar a deambulação precoce. São reco­

mendados para a analgesia de resgate de dor se­

vera associados aos AINHs ou inibidores seletivos

da COX-2.

175

Page 205: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

5. Colecistectomia laparoscópica:

• AINHs convencionais ou inibidores seletivos da

COX-2 + paracetamol.

• Opioides fracos não são recomendados para anal­

gesia de rotina pelos efeitos colaterais ocasionados

durante a recuperação. São recomendados para

analgesia de resgate para dores de baixa a moderada

intensidade em adição ao uso de outros agentes.

• Opioide fortes não são recomendados para anal­

gesia de rotina pelos efeitos colaterais durante a

recuperação. São recomendados para analgesia de

resgate para dores intensas em adição ao uso de

outros agentes.

6. Cirurgias de mama (não estéticas):

176

• Dores fortes (VAS 2:: 50 mm): opioides fortes+ ini­

bidores da COX-2 seletivos ou não seletivos.

• Dores leves a moderadas: opioides fracos + parace­

tamol e inibidores da COX-2 seletivos ou não sele­

tivos ou para analgesia de resgate para dores de bai­

xa a moderada intensidade (VAS <50 mm) quando

AINHs convencionais junto com inibidores COX-2

seletivos são insuficientes ou contraindicados.

Page 206: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Dor pós-operatória

7. Toracotomias:

• Opioides fortes (VAS 2 50 mm) em razão de dor

intensa são administrados de forma convencional

ou pela ACP, se as técnicas analgésicas regionais

falharem ou não forem passíveis de aplicação. Ini­

bidores seletivos da COX-2 são recomendados

com base nas evidências de que fornecem analge­

sia pós-operatória similar aos AINHs convencio­

nais com menos efeitos colaterais.

• Opioides fracos são recomendados para controle

da dor pós-operatória moderada (VAS 2 30 e < 50

mm) ou leve (VAS < 30 mm) no período pós-ope­

ratório tardio somente se os inibidores seletivos da

COX-2 ou AINHs convencionais + paracetamol

forem insuficientes ou contraindicados.

8. Artroplastia total do quadril:

• Dores fortes (VAS 2 50 mm): opioides fortes+ ini­

bidores da COX-2 seletivos ou não seletivos + pa­

racetamol. O paracetamol é recomendado em

todas as intensidades de dor, pois reduz a necessi­

dade de analgésicos suplementares imediatamente

após artroplastia total do quadril.

177

Page 207: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

• Opioides fracos para dor pós-operatória modera­

da (VAS ~ 30 e< 50 mm) ou leve (VAS < 30 mm)

no período pós-operatório tardio são indicados

somente se os inibidores seletivos da COX-2 ou os

AINHs convencionais + paracetamol forem insu­

ficientes ou contraindicados.

• Corticosteroides não são recomendados em razão

das limitadas evidências mostrando ineficácia.

9. Artroplastia total do joelho:

• Dores fortes: opioides fortes+ inibidores da COX-2

seletivos ou não seletivos.

• Opioides fracos para dor pós-operatória modera­

da (VAS::; 30 e< 50 mm) ou leve (VAS < 30 mm)

no período pós-operatório tardio são indicados

somente se os inibidores seletivos da COX-2 ou os

AINHs convencionais + paracetamol forem insu­

ficientes ou contraindicados.

Existem inúmeros procedimentos anestésicos disponí­

veis para analgesia pós-operatória, desde a infiltração da

ferida cirúrgica até a instalação de cateteres peridurais ou

intratecais de demora, mas tais procedimentos invasivos

não fazem parte do escopo deste Manual.

178

Page 208: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

/ .

A International Association for the Study o f Pain (IAsP)

definia dor neuropática como aquela iniciada ou causada

por uma lesão primária ou disfunção no sistema nervo­

so.190 Mais recentemente, foi redefinida como "dor que

ocorre em consequência direta de uma lesão ou doença afe­

tando o sistema somatossensitivo': 191

A dor neuropática pode decorrer de várias etiologias. A

Tabela 18 descreve os tipos de dor neuropática.

A prevalência de dor neuropática em oncologia é de 9 a

31%, e geralmente é uma dor crônica. 194 Pode ser ocasio­

nada por compressão de nervos, invasão tumoral direta,

179

Page 209: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 18 Tipos de dor neuropática

Tipo Exemplo

Tóxica Quimioterapia, radioterapia

Doença metabólica Neuropatia diabética, doença de beribéri (deficiência de vitamina

B1), neuropatia induzida por álcool

Compressão Síndrome do túnel do carpo, tumor

Doenças autoimunes Vasculite neuropática, polineuropatia inflamatória crônica

desmielinizante, neuropatia motora multifocal

Trauma Síndrome do membro fantasma, pós-mastectomia, pós-toracotomia

Infecção Vírus (neuralgia pós-herpética, HIV, síndrome de Guillain-Barré),

doenças parasitárias (doença de Lyme, doença de Chagas,

hanseníase)

Doença hereditárias Esclerose múltipla, doença de Fabry, doença de Charcot-Marie-Tooth,

amiloidose

Fonte: Urch et al.192, Turk et al.193

metástases, síndrome paraneoplásica em consequência do

tratamento (cirurgia, quimioterapia ou radioterapia), in­

fecções (fungos, bactérias, vírus), traumas, toxicidade e

inflamação. Os dados da Tabela 19 mostram as principais

neuropatias associadas ao câncer.

Os sintomas da dor neuropática podem ser positivos, de­

correntes de sensibilização periférica ou central (parestesias,

180

Page 210: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Dor neuropática

Tabela 19 Neuropatias comuns associadas ao câncer

Neuropatias induzidas por quimioterapia

Dor neuropática resultante de invasão tu moral ou de infiltração/metástases

Pós-cirúrgica (mastectomia, dor do membro fantasma)

Síndrome miastênica de Eaton-Lambert

Linfoma e carcinomas relacionados à neuropatia sensorial

Neuropatia sensorial paraneoplásica

Síndrome de Horner

Neuropatia motora paraneoplásica (rara)

Neuropatia induzida por radioterapia

Fonte: Lema et al.10

disestesias, alodínea, hiperpatia ou hiperalgesia); ou nega­

tivos, decorrentes da perda neuronal ou axonal, ocasionan­

do déficits sensitivos táteis, térmicos, vibratórios e doloro­

sos (hipoestesia e anestesia). 195 Podem ser descritos como

ardor, queimação, formigamento, choques, pontadas, fer­

roadas, dormência, prurido, entre outros.

A dor neuropática é de difícil manuseio clínico pela

severidade, cronicidade e resistência aos analgésicos simples

e, muitas vezes, mesmo seguindo todas as recomendações

181

Page 211: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

de tratamento, não é possível abordar todas as suas

condições de dor, representando, assim, um grande de­

safio.

Para a dor neuropática, existem escalas específicas de

avaliação. A mais apropriada para a população brasileira é

o questionário de dor neuropática 4 (DN4), que diagnos­

tica a dor neuropática com base na identificação de uma

lesão no sistema somatossensitivo, relacionando a dor

com características neuropáticas em um região do corpo

onde a lesão ocorre.27

Em 2010, foi publicado o questionário DN4 adaptado

para a língua portuguesa (Tabela 20).28

Os dados da Tabela 2llistam as recomendações sequen­

ciais para o tratamento da dor neuropática conforme oCa­

nadian Pain Society e o IAsP.

Os dados da Tabela 22 apresentam os regimes de dose

dos agentes selecionados para a dor neuropática.

Para referência das apresentações comerciais mais utili­

zadas, ver as tabelas específicas de cada classe terapêutica

listadas anteriormente neste Manual.

182

Page 212: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Dor neuropática

Obs.: dor intratável pode requerer um tratamento com

combinações de antidepressivos, anticonvulsivantes e um

opioide analgésico.

Considerações a respeito dos analgésicos

Se um AT falhar, recomenda-se mudar a administração

para um anticonvulsivante ou vice-versa. Se um AT forne­

cer apenas alívio parcial, pode-se acrescentar um anticon­

vulsivante. 153

A eficácia dos AT, em geral, é semelhante, considerando

as condições de base, como diabete melito, herpes zóster,

injúria por traumatismo de nervos ou AVE. 198

Aminas secundárias, como nortriptilina e desipramina,

são mais bem toleradas que as aminas terciárias ( amitrip­

tilina e imipramina).

Os anticonvulsivantes como gabapentina e pregabalina

proporcionam, além de alívio da dor neuropática, melho­

ra da qualidade de vida. 199,200

A carbamazepina permanece como a droga de primeira

escolha para neuralgia do trigêmeo, mas não é recomenda­

da para o tratamento da dor neuropática. 201

183

Page 213: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 20 Questionário para diagnóstico da dor

neuropática (DN4)

Por favor, complete o questionário marcando uma resposta para cada número.

ENTREVISTA COM O PACIENTE

Questão 1. A sua dor tem uma ou mais das seguintes características?

1. Queimação

2. Sensação de frio dolorosa

3. Choque elétrico

Sim Não

D D

D D

D D

Questão 2. Há presença de um ou mais dos seguintes sintomas na

mesma área de sua dor?

4. Formigamento

5. Alfinetada e agulhada

6. Adormecimento

7. Coceira

184

Sim Não

D D

D D

D D

D D

(continua)

Page 214: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Dor neuropática

Tabela 20 Questionário para diagnóstico da dor

neuropática (DN4) (continuação)

EXAME DO PACIENTE

Questão 3. A dor está localizada em uma área onde o exame físico

pode revelar uma ou mais das seguintes características?

Sim Não

8. Hipoestesia ao toque D D

9. Hipoestesia à picada de agulha D D

Questão 4. Na área dolorosa, a dor pode ser causada ou

aumentada por:

Sim Não

1 O. Escovação D D

ESCORE

O- Para cada item negativo 1 -Para cada item positivo

Dor neuropática: escore total a partir de 4 de 1 O.

{ ) Dor nociceptiva { ) Dor neuropática

Fonte: Santos et al.28

185

Page 215: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 21 Recomendações para o tratamento da dor , .

neuropat1ca

Primeira linha

Segunda linha

Terceira linha

Quarta linha

Fonte: Moulin et al.196, Dworkin 197•

186

Canadian Pain Society

Antidepressivos tricíclicos: amitriptilina, imipramina e nortriptilina

Anticonvulsivantes: gabapentina e pregabalina

Carbamazepina (neuralgia do nervo trigêmeo)

lnibidores seletivos da recaptação da serotonina e da noradrenalina: venlafaxina e duloxetina

Adesivos de lidocaína a 5%

Tramado! ou opioides: morfina e oxicodona (exceto metadona)

Canabinoides

Meta dona

lnibidores seletivos da recaptação da serotonina: citalopram e paroxetina (exceto fluoxetina)

Lamotrigina

Topiramato e ácido valproico

Mexiletina

Clonidina

Page 216: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Dor neuropática

IASP

Anti depressivos tricíclicos: amitriptilina, imipramina e nortriptilina

lnibidores seletivos da recaptação da serotonina e da noradrenalina: venlafaxina e duloxetina

Anticonvulsivantes: gabapentina e pregabalina

Adesivos de lidocaína a 5%

Opioides (situações específicas)

Opioides

Tramado!

lnibidores seletivos da recaptação da serotonina: citalopram e paroxetina (exceto ftuoxetina)

Antagonista NMDA

Mexiletina

Capsaicina

Canabinoides

187

Page 217: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 22 Regimes de doses de agentes selecionados para

dor neuropática

Agente

Antidepressivos tricíclicos

Amitriptilina, nortriptilina, imipramina e desipramina

Dose de início

10 a 25 mg/dia, aumento semanal de 10 mg/dia

lnibidores seletivos da recaptação da serotonina e da noradrenalina

Venlafaxina 37,5 mg/dia, aumento semanal de 37,5 mg/dia

Duloxetina 60 mg/dia

Anticonvu lsiva ntes

Gabapentina 300 mg/dia, aumento semanal de 300 mg

Pregabalina 75 a 150 mg/dia, aumento semanal de 50 a 150 mg/dia

Carbamazepina 100 mg, 1 x/dia, aumento semanal de 100 a 200 mg/dia

Opioides de liberação controlada

Morfina 15 mg a cada 12 h

Oxicodona 1 O mg a cada 12 h

Fentanil 25 mcg!patch

188

Page 218: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Dose usual de manutenção

50 a 150 mg/dia

150 a 225 mg/dia

60 a 120 mg/dia

300 a 1.200 mg, 3 x/dia

150 a 300 mg, 2 x/dia

200 a 400 mg, 3 x/dia

30 a 120 mg a cada 12 h

20 a 60 mg a cada 12 h

25 a 1 00 mcg/ patch

Dor neuropática

Efeitos colaterais mais frequentes

Sonolência, confusão mental, boca seca, constipação, retenção urinária, ganho de peso e arritmia

Náuseas, tonturas, sonolência, hiper-hidrose, hipertensão e constipação

Sedação, náuseas, constipação, ataxia e boca seca

Sonolência, tontura, edema periférico e borramento visual

Sonolência, tontura, edema periférico e borramento visual

Sonolência, tontura, borramento visual, ataxia, cefaleia, náuseas e rash cutâneo

Náuseas, vômitos e sedação

Tontura e retenção urinária

Constipação

(continua)

189

Page 219: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Tabela 22 Regimes de doses de agentes selecionados para

dor neuropática (continuação)

Agente Dose de início

Outros

Tramado! 50 mg/dia, aumento semanal de 50 mg/dia

Lidocaína

Dronabinol 25 mg, 2 x/dia

Tetra-hidrocanabinol 12 sprays a cada 4 h, máximo de 4 sprays/dia

Fonte: Moulin et al.191

190

Page 220: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Dose usual de manutenção

50 a 150 mg, 4 x/dia

Patches a 5% ou gel aplicados na área dolorosa por 12 h em um período de 24 h

2,5 a 10 mg, 2 x/dia

2 sprays, 4 x/dia

Dor neuropática

Efeitos colaterais mais frequentes

Ataxia, sedação, constipação, tontura e hipotensão ortostática

Tontura, sonolência e euforia

Tontura, fadiga, náuseas e euforia

191

Page 221: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

A lidocaína tópica é uma boa opção de analgésico de

segunda linha para pacientes idosos com dor neuropáti­

ca focal, como a neuralgia pós-herpética, pois seus efeitos

colaterais são insignificantes.191

A duloxetina mostra significativo alívio da dor na neu­

ropatia diabética, e a venlafaxina tem mostrado eficácia em

estudos envolvendo tanto a dor da neuropatia diabética

como a da polineuropatia dolorosa mista.202,203

O papel dos inibidores seletivos de recaptação da seroto­

nina no tratamento da dor neuropática não está definido.

Citalopram e paroxetina têm alguma eficácia no tratamen­

to da dor da neuropatia diabética, além de efeito antide­

pressivo, mas a fluoxetina não apresenta eficácia, somente

o efeito antidepressivo. 204-206

Não se deve associar inibidores seletivos da recaptação

da serotonina e de noradrenalina com antidepressivos

tricíclicos.

A gabapentina e a morfina combinadas conseguem me­

lhor analgesia e doses menores de cada droga do que co­

mo agentes únicos, porém geram mais efeitos colaterais,

como constipação, sedação e boca seca. 207

192

Page 222: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Dor neuropática

Na literatura, existem poucas evidências do uso dos ca­

nabinoides, lamotrigina, topiramato, ácido valproico, clo­

nidina, antagonistas dos receptores NMDA, bupropiona,

citalopram, paroxetina, mexiletina e capsaicina tópica para

o alívio da dor neuropática.

Intervenções não medicamentosas também podem ser de

grande ajuda no controle da dor neuropática, como acupun­

tura, fisioterapia, tratamento psicológico, entre outros.

Técnicas invasivas devem ser consideradas quando ocor­

rem falhas no tratamento medicamentoso. Conforme a Ca­

nadian Pain Society, a eficácia dessas técnicas é, geralmen­

te, inferior às intervenções medicamentosas.191

O objetivo do tratamento, além do controle da dor, é

preservar a atividade funcional e a qualidade de vida do

indivíduo.

193

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Page 224: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

. , .

-

(Vera Anita Bifulco)

"Todo mundo é capaz de suportar

urna dor, com exceção

d t ))

e quem a sen e.

William Shakespeare

A dor acompanha o ser humano desde suas origens, ao

longo dos séculos. Dor e sofrimento têm sido, praticamen­

te, sinônimos para a mente humana. As mais antigas re­

velações da existência do homem na Terra, conhecidas

por meio dos achados de fósseis, pinturas em cavernas e

utensílios de sobrevivência, já traziam informações sobre

a presença da dor. Mais tarde, os primeiros escritos encon­

trados também relataram a sua presença nas lesões, dis­

funções ou desequilíbrios orgânicos do homem.

Os primeiros tratamentos uniam rituais religiosos, en­

cantamentos, magia, amuletos, plantas medicinais, mani-

195

Page 225: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

pulações, massagens e aplicações de calor e frio, rituais

que nos dias atuais são considerados uma visão holística

do entendimento e tentativa de controle da dor. Assim co­

mo as evidências da dor são claras, são também reconhe­

cidos os esforços do homem e da ciência para compreen­

dê-la e controlá-la, sendo seu controle um dos maiores

desafios a serem superados.

No câncer, a prevalência e a intensidade da dor variam

de acordo com a localização do tumor, com a presença de

metástases e com o estágio de evolução da neoplasia. Além

disso, também há relação da prevalência de dor com a gra­

vidade da doença e sua extensão. Pela sua natureza subje­

tiva e individual, a dor precisa ser corretamente avaliada,

pois, caso contrário, seu controle se torna muito difícil.

A palavra dor é utilizada de acordo com o aprendizado

frente às experiências individuais prévias. Cada pessoa a

descreve personalizadamente e dela participam mecanis­

mos relacionados aos aspectos discriminativos, às emo­

ções e ao simbolismo das sensações em geral. Como sinto­

ma ou como doença, é frequentemente objeto da procura • 1\ •

por ass1stenc1a.

196

Page 226: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Aspectos psicológicos no enfrentamento da dor

Dor e depressão são achados comuns em pacientes com

câncer. E a interpelação entre os dois sintomas tem se tor­

nado objeto de interesse de estudos. A ansiedade e a de­

pressão podem afetar tanto a presença como a intensidade

de sintomas físicos que representam formas comuns de

estresse psicológico, podendo piorar a qualidade de vida

do paciente e de seus familiares, além de contribuir para

prolongar períodos de hospitalização.

É imperativa a avaliação de distúrbios afetivos maiores

com decorrentes mudanças de humor, pois, várias vezes, o

paciente se sente confrontado ao ver sua vida ameaçada

por um tratamento direcionado ao câncer. O paciente

encontra-se fadigado, ou vivencia algum tipo de dor, ou

se enxerga de forma fragmentada, mais como "um câncer"

do que como "uma pessoa com câncer':

A dor deve ser entendida como um sofrimento global,

envolvendo os aspectos físicos, emocionais, sociais, fami­

liares, econômicos etc. A partir da análise crítica de sua

expressão é que, muitas vezes, o diagnóstico é estabelecido

e as estratégias terapêuticas são implementadas, visando

ao seu controle ou à eliminação das condições causais.

197

Page 227: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Cada dor é única para aquela pessoa, com todas as suas

peculiaridades - sua história, sua criação, sua etnia, sua

personalidade, seu contexto e seu momento.

" [ ... ] Sou mentido pela linguagem. Mas em meu corpo, exilado

da linguagem, algo dói, algo sofre: falo, e as palavras

que digo são um som; sofro. E sou eu:'

Fernando Pessoa

Dor é uma experiência multidimensional e, como tal, tor­

na-se necessário receber também uma abordagem multidi­

mensional. Em consequência, seu controle também envol­

ve múltiplos aspectos e requer a atuação não só do clínico,

mas de uma equipe multiprofissional.

A dor pode suscitar, em muitos casos, expressões de an­

gústia, raiva, medo e revolta.

O conceito de dor esteve sempre relacionado puramente

à experiência sensorial, mas Melzack e Casey208 sugeriram,

em 1968, que havia três dimensões psicológicas da dor:

sensorial-discriminativa, afetiva-motivacional e cogniti­

va -avaliativa.

198

Page 228: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Aspectos psicológicos no enfrentamento da dor

Nessa definição, além do aspecto lesional, há espaço pa­

ra que o paciente possa interpretar sua dor como a dor que

realmente sente. Ao ressaltar o aspecto emocional da dor,

surge o indivíduo com sua singularidade. A dor é uma ex­

periência única e intransferível. "A dor é minha, não é de

mais ninguém. [ ... ] A dor é de quem tem:'

Aspectos de ordem psicológica interferem no limiar de

tolerância do organismo à dor. O psicólogo pode contri­

buir, em conjunto com a equipe, na avaliação e na escolha

de condutas terapêuticas minimizadoras do sofrimento de

paciente e familiares, auxiliando no processo de reabilita­

ção. A meta é ressignificar a experiência dolorosa e esti­

mular o desenvolvimento de novas condutas e de novos

hábitos, objetivando a menor interferência possível da dor

em seu sofrimento diário.

Estratégias de enfrentamento, conhecidas como coping,

são utilizadas para minimizar, combater ou tentar manter

sob controle o quadro álgico. Elas podem ser mais bem

compreendidas como pensamentos e ações que têm a in­

tenção de alterar a percepção da intensidade da dor, bem

como a habilidade para manejar ou tolerar a dor e conti-

199

Page 229: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

nuar as atividades diárias. A identificação das estratégias

de enfrentamento pode facilitar a ressonância entre as

condutas de intervenção e as necessidades do doente, o

que favorece a adesão ao tratamento e uma resposta mais

positiva perante o sofrimento doloso.

Significados e sentidos atribuídos à dor

Apesar de ser um fenômeno conhecido por todos desde a

mais tenra idade, ela é totalmente particular e própria,

com uma miríade de sensações, sentimentos e significa­

dos. Pode ser entendida como uma resposta afetiva à per­

cepção do estresse que envolve o sistema somático, motor

e cognitivo do paciente. A compreensão da psicologia da

dor ainda desafia os profissionais da área da saúde e exige

que se transcenda a dimensão objetiva do evento dor e se

considere as particularidades de cada doente, ou seja, o

impacto da dor em sua vida e o contexto sociocultural e

familiar no qual ele está inserido.

Considerando a ideia de dor total, um dos primeiros

pontos a serem revistos é o da dicotomia entre dor física

e dor psicogênica, muitas vezes atribuída como criação do

200

Page 230: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Aspectos psicológicos no enfrentamento da dor

paciente, irreal ou supervalorizada. Se o paciente relata

que sente dor, independentemente de julgamentos, algo o

está fazendo sentir e cabe ao médico investigar em que

âmbito ela acontece. Muitas vezes, a dor manifesta-se mes­

mo na ausência de agressões teciduais vigentes, a exemplo

do que se observa em doentes com dor neuropática peri­

férica ou central e em certas afecções psicopatológicas e

musculoesqueléticas. 209

Sua manifestação pode não estar vinculada a um só ór­

gão sensorial; ela pode abranger várias partes do corpo.

Não existem medidas objetivas para mensurar a dor e não

se pode inferir que uma dor deva doer mais do que a ou­

tra. Se sua definição já a torna subjetiva, não há relação

direta entre tamanho da lesão e intensidade da dor. Dife­

rentemente da dor aguda, que pode sinalizar a ocorrência

de uma lesão e apresenta valor biológico fundamental de

defesa, induzindo a pessoa a procurar seu agente causal, a

dor crônica despe-se desse valor biológico e corresponde a

mecanismos de adaptação, especialmente musculoesquelé­

ticos e psicocomportamentais, que induzem incapacidade

e repercussões desfavoráveis biopsicossociais.

201

Page 231: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Fatores emocionais, principalmente, aumentam ou dimi­

nuem a experiência da dor. Um exemplo clássico é o medo,

que causa uma contração, tanto física quanto psíquica, au­

mentando sensivelmente a sensação dolorosa. Outros senti­

mentos que devem ser considerados importantíssimos são

a falta de controle, o desamparo, o sentir-se abandonado,

isolado e não compreendido na sua dor. A dor desorganiza

o aparelho psíquico, ameaçando sua integridade, e afeta a

capacidade de desejar e a atividade do pensamento.

É frequente, ao se deparar com uma dor intolerável, o

paciente querer deixar de viver e desejar a morte como fim

para seu sofrimento. Segundo Anzieu210, a dor não se divi­

de, ela ocupa todo o espaço. Por outro lado, quando o pa­

ciente se sente acolhido física e emocionalmente, sob con­

trole, sua dor, mesmo de caráter incontrolável, apresenta -se

mais suportável, e ele manifesta melhor enfrentamento e

coragem, o que, indiscutivelmente, facilita no transcurso

de seu tratamento e na administração de seu tempo e seu

espaço de vida.

Sabe-se que, quando um paciente é acometido de dor,

invariavelmente seu pensamento trilha a seguinte lógica:

202

Page 232: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Aspectos psicológicos no enfrentamento da dor

"se continuo com dor ou minha dor não cede, mesmo com

analgésicos, isso significa que meu quadro é ruim e que

estou piorando". Se sua dor é minimizada ou extinta, opa­

ciente reage positivamente, acreditando que seu quadro

está melhorando e que ele está reagindo positivamente ao

tratamento, independentemente do quadro clínico real.

A dor deprime, afeta o sono e o apetite, resulta em fadi­

ga e redução de nutrientes disponíveis ao organismo, difi­

culta o processo de convalescença de pacientes já enfra­

quecidos ou idosos e pode fazer grande diferença entre o

desejo de viver e a morte como fim para seu sofrimento.

É também geradora de sofrimento e é influenciada pelo

medo, isolamento, ansiedade e depressão, causando im­

pacto emocional negativo. Suas óbvias repercussões desfa­

voráveis incluem a hostilidade, a adoção de posturas par­

ticulares e o aumento das preocupações somáticas e do

período de repouso.

A ansiedade é frequente na fase aguda, e, com o passar do

tempo, instala-se a depressão. A depressão, por consequên­

cia, agrava a dor crônica. O câncer associa-se à sensação

de que a expectativa de vida é curta, agrava o sofrimento

203

Page 233: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

causado pela dor e acentua o medo de mais mutilações e

perdas, além do medo de uma morte triste e dolorosa. Do

mesmo modo, é frequente o temor da perda de autono­

mia, da dependência e da morte sofrida com muita dor e

desconforto.

Questões etárias, culturais, sociais e familiares podem

igualmente modificar a expressão do sofrimento e, em

consequência, alterar o cenário doloroso. É importante sa­

lientar que a família com duplo papel - cuidadora e mere­

cedora de cuidados - também se sente impotente frente à

dor de seu integrante, o que pode tornar o quadro de dor

generalizado para todo o âmbito familiar. Desse modo, só

é possível avaliar o fenômeno da dor no paciente se forem

analisados todos os elementos relacionados à sua história

de vida e às suas experiências dolorosas.

A dor deve ser vista como um importante sinal de co­

municação de que algo de errado está acontecendo, não

somente física, mas também psicologicamente. A dor po­

de indicar que algo não está bem no mundo psíquico, na

sua relação com o mundo, mostrando qual é o teor dessa

204

Page 234: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Aspectos psicológicos no enfrentamento da dor

comunicação dolorosa e a quem ela está se dirigindo. Po­

de ser um pedido de cuidado, acolhida ou consolo.

A dor física pode - em ato inconsciente por parte da

pessoa - substituir uma dor emocional, pois ela é, em

geral, mais suportável que esta. Certas síndromes doloro­

sas podem se apresentar como forma de aliviar outro so­

frimento, que pode ser ainda mais intolerável, como a

separação de um ser amado ou a perda por morte; assim

uma dor aparentemente menor pode ocupar o lugar de

uma dor que é insuportável. Independentemente de o as­

pecto psicológico ter sido ou não a causa primária, não se

pode obter cura se não tratar também tais aspectos.

Procedimentos psicossociais

As intervenções psicossociais possíveis diante da dor on­

cológica e como cuidar do paciente devem levar em conta:

1. Conhecer o paciente: crenças, mitos, tratamento em

curso e realizados, expectativas.

2. Avaliar a dor: sua intensidade, utilizando-se de esca­

las de avaliação da dor; características; fatores de

piora e melhora; duração etc.

205

Page 235: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

3. Avaliar respostas terapêuticas.

4. Verificar efeitos colaterais.

5. Colaborar na reorganização do esquema analgésico.

6. Administrar e sugerir alterações no esquema anal-I • ges1co.

7. Implementar intervenções não farmacológicas.

8. Ajustar atitudes e expectativas do doente e da famí­

lia sobre o tratamento.

9. Orientar cuidadores/familiares no manejo de con­

dutas dentro da dinâmica familiar.

10. Desenvolver ações educativas: esclarecimento de si­

tuações de risco, incertezas quanto ao uso dos anal-I • ges1cos, etc.

11. Promover um fluxo de comunicação eficaz e seguro

dentro da equipe multiprofissional, familiar e com o

doente.

12. Auxiliar no autocuidado.

13. Otimizar a autonomia funcional.

14. Reforçar atitudes e comportamentos positivos.

É imprescindível que a equipe envolvida no tratamento

da dor tenha a mesma linguagem. A eficácia nos escla-

206

Page 236: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Aspectos psicológicos no enfrentamento da dor

recimentos de situações reduz as incertezas e promove

melhor adesão ao tratamento e maior confiança nas con­

dutas a serem seguidas. A informação é sempre altamente A • terapeut1ca.

Os métodos psicoterápicos hoje existentes e descritos a

seguir são eficazes diante de alterações afetivas de grande

magnitude e não passíveis de controle com fármacos adju­

vantes. No entanto, é necessário lembrar que doentes com

psicopatias devem ter acompanhamento psiquiátrico.

A seguir, apresentam-se esses métodos, os quais têm a

finalidade de promover a qualidade de vida dos doentes,

modificando e melhorando significativamente as incapa­

cidades perante comportamentos doentios por percep­

ções dolorosas.

1. Psicoterapia de apoio individual ou em grupo: basea­

da na comunicação e no relacionamento sistematiza­

do entre pessoas, objetiva o aprimoramento pessoal, o

autoconhecimento e a busca da compreensão das rea­

ções, e a decodificação da linguagem verbal, gestual e

comportamental do ser humano. À medida que o

207

Page 237: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

processo psicoterápico evolui, o paciente melhora a

percepção de suas emoções, angústias e mecanismos

de atuação diante de situações estressantes, modifi­

cando e melhorando suas técnicas de enfrentamento.

O trabalho psicoterápico é complexo e pode ser longo.

Não basta somente descobrir as angústias dos pacien­

tes e o modo de enfrentamento das situações, mas

também estabelecer sustentação para que o doente

consiga criar novos mecanismos de enfrentamento.

2. Técnicas de relaxamento: métodos de recondiciona­

mento psicofisiológico. Ajudam a reduzir a ansiedade

e geram sensação de descanso e de bem-estar mental

e físico. O paciente gradativamente adquire melhor

percepção e controle corporais.

3. Biofeedback: técnica semelhante à do relaxamento,

faz uso de parâmetros fisiológicos para detecção da

atividade muscular, a qual é, então, amplificada e re­

transmitida ao doente como sinais auditivos e visuais

por meio de aparelhos eletrônicos, possibilitando ao

doente perceber melhor a área de tensão muscular e

observar seu traçado eletroneuromiográfico.

208

Page 238: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Aspectos psicológicos no enfrentamento da dor

4. Hipnose: mormente usada como intervenção cogni­

tiva para promover analgesia nas mais variadas

condições. Pode ser descrita como fenômeno men­

tal complexo, com elevado estado de concentração

focal e receptividade às sugestões. Durante a hipno­

se, há estreitamento de consciência com alterações

eletroencefalográficas e fisiológicas distintas do es­

tado de sono.

5. Terapia cognitivo-comportamental: entende a dor a

partir do envolvimento de variáveis afetivas, com­

portamentais, cognitivas e fisicossensoriais. Focaliza

o estresse e a disfunção apresentados pelo paciente

com dor, reconhecendo seus aspectos psicológicos e

fisiológicos e, em especial, reúne de forma coerente e

consistente o impacto de variáveis cognitivas, o pro­

cesso de modelagem e de modificação do comporta­

mento, as terapias cognitivas específicas e os princí­

pios da aprendizagem social. A intervenção trabalha

a crença individual sobre a dor, leva o paciente à con­

tínua reinterpretação da experiência dolorosa, e ao

reconhecimento e ao manejo dessas experiências.

209

Page 239: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

6. Arteterapia e musicoterapia: trabalhar com música é

comum a muitas atividades profissionais, e é um re­

curso eficiente no controle da dor. Permite extrava­

sar vários conflitos e emoções, em um espaço apro­

priado e permissivo com apoio do terapeuta.

Estimula a alcançar diversos níveis de consciência,

agindo como catalisadora de emoções profundas,

podendo dar suporte à comunicação tanto verbal

quanto não verbal. Concentra a atenção para a parte

saudável do paciente. Na área física, pode estimular

o relaxamento muscular de partes tensionadas do

corpo, o que diminui a percepção da dor e capacita o

doente à colaboração física dentro de suas possibili­

dades. Friedman211 acredita que a música atua no

emocional do paciente e contribui para recuperar

sua auto estima, assim como para estimular a memó­

ria direcionada a lembranças importantes que sir­

vam como referencial para o progresso da situação

presente. Essa técnica utiliza recursos artísticos com

210

Page 240: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Aspectos psicológicos no enfrentamento da dor

finalidades terapêuticas ao oferecer oportunidade de

exploração dos problemas e potencialidades pessoais

via expressão verbal e não verbal, além de desenvol­

ver recursos físicos, cognitivos e emocionais. Promo­

ve a aprendizagem de habilidades, usando diferentes

linguagens artísticas para as experiências terapêuti­

cas. O uso da arte pode promover melhora da ansie­

dade e autoestima dos pacientes.

Na medida em que esforços forem feitos em prol da dimi­

nuição do sofrimento causado pela dor, haverá excelência

de procedimentos e conduta no atendimento aos pacientes.

Com o avanço de novas técnicas em analgesia e conco­

mitantemente técnicas não farmacológicas, mas de grande

utilidade no manejo da dor total, tem-se uma grande dife­

rença na condução dos casos dos pacientes, em que o so­

frimento impingido pela dor se mostra intolerável e de­

sumano e nos quais a medicina estará mais próxima de

atingir seu objetivo maior: sedare dolorem.

211

Page 241: Manual de Tratamento da Dor - Fauzia F. Naime 2ª ed 279 Pág

Manual de tratamento da dor

Vera Anita Bifulco Psicóloga Clínica. Psico-oncologista Coordenadora do Serviço de

Psico-oncologia do Instituto Paulista de Cancerologia (IPC) e da

Clínica Sainte Marie. Integrante da Equipe Multiprofissional de

Cuidados Paliativos do Setor de Cuidados Paliativos da Disciplina de

Clínica Médica da EPM-Unifesp, período de 2002 a 2007.

Aperfeiçoamento em Gerontologia Social e em Psico-oncologia pelo

Instituto Sedes Sapientiae. Mestre em Ciências pelo Centro de

Desenvolvimento do Ensino Superior em Saúde da EPM-Unifesp.

Diretora da Sociedade Brasileira de Psico-oncologia, gestão 2008/2010.

212

Co-organizadora do livro Câncer: uma visão multiprofissional,

Editora Manole, 201 O.

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Fauzia F. Naime

Formada pela Faculdade de Ciências Médicas de

Minas Gerais (FCMMG), em 1992.

Residência Médica em Medicina Interna pelo

Hospital Alberto Cavalcanti- Fundação Hospitalar

do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), em 1993.

Residência Médica em Oncologia pelo Hospital do

Servidor Público Estadual - Fundação Mo rato de

Oliveira (HSPE FMO), São Paulo, SP, de 1994 a 1997.

Mestre em Oncologia pela Fundação Antônio

Prudente- Hospital do Câncer A.C. Camargo, São

Paulo, SP, em 2005.

Membro da Sociedade Brasileira de Cancerologia

e da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica

desde 1997.

Preceptora de Residência Médica do Conjunto

Hospitalar do Mandaqui e do Instituto do Câncer

Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho, ambos em São

Paulo, SP.

Membro do Corpo Clínico do Hospital Alemão

Oswaldo Cruz, do Hospital Nove de Julho e do

Hospitallgesp.

Diretora Clínica do Setor de Quimioterapia do

Instituto Paulista de Cancerologia (I PC) de São

Paulo, SP.

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SBOC SOCIEDADE BRASILEI RA DE ONCOLOGI A CLIN I CA

A dor é um problema de saúde

pública mundial, sendo frequentes os

tratamentos ineficazes ou a ausência

de seu tratamento na prática clínica.

A literatura mostra que a subutilização

de medicações analgésicas não é

um problema exclusivo do Brasil,

mas mundial. Assim, um dos

propósitos deste manual é facilitar o

entendimento e o tratamento da dor.

Convido à leitura deste manual,

acreditando na possibilidade de novas

reflexões e busca de alternativas para

a prática da analgesia em indivíduos

portadores de neoplasias ou não.

INSTITUTO PAULISTA O E CANCEROLOGIA

Manole

ISBN 978-85-7868-106-7

9 788578 680718 Oncologia - Código 494802 T021 004 Manual de tratamento para Dor