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EB20-MF-03.106 MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO Manual de Fundamentos ESTRATÉGIA 5ª Edição 2020

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EB20-MF-03.106

MINISTÉRIO DA DEFESA

EXÉRCITO BRASILEIRO

ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

Manual de Fundamentos

ESTRATÉGIA

5ª Edição 2020

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MINISTÉRIO DA DEFESA

EXÉRCITO BRASILEIRO

ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

Manual de Fundamentos

ESTRATÉGIA

5ª Edição 2020

EB20-MF-03.106

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MINISTÉRIO DA DEFESA

EXÉRCITO BRASILEIRO

ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

PORTARIA Nº 187-EME, DE 11 DE AGOSTO DE 2020 EB: 64535032933/2020-62

Aprova o Manual de Fundamentos ESTRATÉGIA (EB20-MF-03.106), 5ª Edição, 2020.

O CHEFE DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO, no uso das atribuições que lhe conferem o inciso I do art. 3º do Regimento Interno e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções de Confiança do Comando do Exército (EB10-RI-09.001), aprovado pela Portaria do Comandante do Exército nº 127, de 21 de fevereiro de 2017, o inciso XI do art. 4º do Regulamento do Estado-Maior do Exército, aprovado pela Portaria do Comandante do Exército nº 1.053, de 11 de julho de 2018, e o art. 44 das Instruções Gerais para as Publicações Padronizadas do Exército (EB10-IG-01.002), 1a Edição, 2011, aprovadas pela Portaria do Comandante do Exército nº 770, de 7 de dezembro de 2011, resolve:

Art. 1º Fica aprovado o Manual de Fundamentos ESTRATÉGIA (EB20-MF-03.106), 5ª Edição, 2020, que com esta baixa.

Art. 2º Fica revogada a Portaria nº 141-EME, de 23 de dezembro de 2004.

Art. 3º Esta Portaria entra em vigor em 1º de setembro de 2020.

Gen Ex MARCOS ANTONIO AMARO DOS SANTOS

Chefe do Estado-Maior do Exército

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FOLHA REGISTRO DE MODIFICAÇÕES (FRM)

NÚMERO DE ORDEM

ATO DE APROVAÇÃO

PÁGINAS AFETADAS DATA

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ÍNDICE DOS ASSUNTOS

PREFÁCIO

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

1.1 Finalidade................................................................................................................

1.2 Considerações Iniciais............................................................................................

1.3 Histórico..................................................................................................................

1.4 Relações entre Poder, Política, Estratégia e Tática................................................

CAPÍTULO II – CONCEITUAÇÃO DE ESTRATÉGIA

2.1 Considerações Gerais.............................................................................................

2.2 Conceitos Básicos...................................................................................................

2.3 Estratégia................................................................................................................

2.4 Estratégia Nacional.................................................................................................

CAPÍTULO III - O CONFLITO E SUA RESOLUÇÃO

3.1 Considerações Gerais.............................................................................................

3.2 O Conflito................................................................................................................

3.3 Solução dos Conflitos.............................................................................................

3.4 A Crise e sua Manobra...........................................................................................

3.5 A Guerra / Conflito Armado.....................................................................................

CAPÍTULO IV – ESTRATÉGIA MILITAR

4.1 Considerações Gerais.............................................................................................

4.2 Conceitos Básicos...................................................................................................

4.3 Estratégia Militar......................................................................................................

4.4 Princípios de Guerra...............................................................................................

4.5 Concepção da Ação Militar.....................................................................................

4.6 Concepção da Ação Não Militar..............................................................................

CAPÍTULO V – A ESTRATÉGIA NO NÍVEL OPERACIONAL

5.1 Operações Conjuntas, Combinadas, de Cooperação e Coordenação com Agências e

Interaliadas...................................................................................................................

5.2 O Nível Operacional de Planejamento....................................................................

5.3 As Batalhas.............................................................................................................

CAPÍTULO VI – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR

6.1 Considerações Gerais.............................................................................................

6.2 Planejamento Estratégico Militar.............................................................................

6.3 Planejamento da Defesa Nacional..........................................................................

6.4 Sistemática de Planejamento Estratégico Militar (SPEM).......................................

6.5 Planejamento Estratégico do Exército....................................................................

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ANEXO A – Modelo para Elaboração de Estudo Estratégico de Área

- Apêndice 1 ao Anexo A – Levantamento Estratégico de Área - Memento

- Apêndice 2 ao Anexo A – Avaliação Estratégica de Área Operacional - Memento

- Apêndice 3 ao Anexo A – Avaliação Estratégica de Área Operacional para Defesa Territorial (Def

Ter) e Garantia da Lei e da Ordem (GLO) - Memento

ANEXO B – Modelo para a Condução de Manobra de Crise (Nível Político-Estratégico)

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PREFÁCIO

O presente manual não tem por escopo ser um tratado de Estratégia. Seu propósito é, antes, servir de orientação para o estudo e a aplicação dessa arte-ciência no âmbito do Exército Brasileiro.

Assim, para cumprir sua finalidade, encontra-se desenvolvido em capítulos que abordam os tópicos de interesse mais imediato para o trato da Estratégia no âmbito mencionado, partindo de considerações mais amplas para enfoques mais específicos.

Cumpre ressaltar a existência dos Anexos "A" e "B", que abordam, respectivamente, Estudo Estratégico de Área e Modelo para Condução da Manobra de Crise.

ESTE M@NU@L FOI REVIS@DO COM B@SE

EM @NTEPROJETO @PRESENT@DO PEL@ ECEME

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CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

1.1 FINALIDADE 1.1.1 O presente manual tem por finalidade servir de orientação para o estudo e a aplicação da Estratégia no âmbito do Exército Brasileiro, consideradas as prescrições estabelecidas pelo Ministério da Defesa. 1.2 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 1.2.1 Todo fato ou fenômeno deve ser analisado à luz da conjuntura em que ocorreu ou ocorre, sendo este aspecto de fundamental importância no estudo da Estratégia.

1.2.2 Tendo em vista facilitar o entendimento das considerações e dos conceitos que serão abordados neste manual, é também oportuno que se ressalte a necessidade de atentar para o cenário conjuntural que estiver em pauta. A avaliação da conjuntura em cada época deverá ser consultada em documento específico expedido pelo Estado-Maior do Exército ou em outras fontes oficiais.

1.2.3 Outro aspecto significativo para quem trabalha com Estratégia é a imposição de se analisar todas as faces e todas as versões disponíveis sobre determinado fato ou uma conjuntura. Não se deve tomar como "verdade absoluta" ou como "a versão correta" apenas uma das considerações sobre um evento. É preciso ponderar, ouvir ou conhecer outras opiniões, ainda que contrárias aos próprios valores do analista, para se chegar a uma versão a mais exata e imparcial possível. Nessa tarefa, é imprescindível observar tendências, identificar variáveis relevantes, verificar os protagonistas do problema e os interesses em jogo. 1.2.4 Atualmente, uma das técnicas mais utilizadas, senão a mais utilizada, por analistas e planejadores estratégicos é a técnica dos cenários prospectivos, que adota diversas metodologias. Mas, o importante a se considerar é que cenários não devem ser entendidos como projeções de futuro e, sim, como possibilidades no futuro, com base em tendências no presente. 1.3 HISTÓRICO 1.3.1 Etimologicamente, o termo "estratégia" originou-se, na Grécia Antiga, a partir do que se convencionou denominar de “arte do estratego” (strátegos), militar responsável por conduzir e desdobrar os exércitos (stratou) em campanhas. Por extensão, o termo passou a ser considerado como a “arte do general”, conceito eminentemente militar que perdurou por longo tempo.

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1.3.2 Na Idade Antiga, mais especificamente em seu período Clássico, a Grécia é reconhecida como primeiro referencial para o estudo da História Militar e, por conseguinte, da arte da guerra. Nesse mister, os gregos legaram lições de uma espécie de "estratégia indireta", posto que não demonstravam maior preocupação em destruir os povos vencidos e, sim, em assimilá-los culturalmente ou torná-los associados comerciais. Já os romanos, buscavam a conquista de territórios (ampliação do Império) e a destruição dos adversários, valendo-se da estratégia direta, caracterizada pelo emprego efetivo das legiões militares.

Do Extremo Oriente, herdaram-se os princípios da estratégia indireta de Sun Tzu (Sun Zi), general chinês autor da conhecida obra "A Arte da Guerra", elaborada cerca de quatro séculos antes da Era Cristã. Em seu pensamento, já se vislumbra o relacionamento estreito que deve existir entre o poder civil (o Estado) e o poder militar, ressaltando a "disciplina do general em relação ao soberano", embora as coisas da guerra devessem permanecer com os chefes militares. Ao salientar que o Estado deve ser forte, acena com a ideia de que ele disponha de capacidade dissuasória para sua sobrevivência.

1.3.2.1 Durante a Idade Média (476 a 1453), seu primeiro período — denominado Barbarismo — não apresentou contribuição significativa para a arte da guerra, a não ser a "estratégia direta" de Carlos Magno, ao empregar maciçamente seu aparato militar nas conquistas de expansão do seu império. Já no segundo período — o Feudalismo —, que vigorou na Europa desde o século X até o final dessa época histórica, prevaleciam nesse Continente os "exércitos" compostos por hostes que, sob nomes distintos, os senhores feudais eram obrigados a manter disponíveis para atender a solicitações dos soberanos. Por outro lado, na Ásia e no Oriente Próximo, Gengis Khan realizou intensiva campanha militar numa arrancada destruidora jamais vista até então e prosseguida por seu filho e sucessor —Ogatai—- e por seu neto, Kublai Khan. As ações eram caracterizadas pelo ímpeto na impulsão e pela violência nos combates. 1.3.2.2 A Idade Moderna (1453 a 1789) caracterizou-se como a época das grandes invenções, dos descobrimentos marítimos, da Renascença, da Reforma Religiosa, das guerras "santas", da Independência dos Estados Unidos e da Revolução Francesa. A estratégia que predominou, ainda restrita à área militar, foi a indireta. Isso, porque os monarcas evitavam lançar-se em combates francos, preferindo os longos movimentos e os cercos, posto que os exércitos (de mercenários) eram pequenos e caros. Nesse período histórico, é interessante destacar a contribuição de Nicolau Maquiavel (1469-1527), que escreveu inúmeros trabalhos de natureza política, com destaque para "O Príncipe". O pensamento político-estratégico de Maquiavel pode ser sintetizado em quatro premissas básicas:

- fortalecimento do Estado; - definição clara de objetivos; - aplicação violenta e inescrupulosa dos meios; e - aplicação dos meios subordinada à vontade do Estado(Soberano). É na forma de aplicar os meios que Maquiavel se caracteriza como estrategista

implacável ao afirmar que "um príncipe deve ser raposa para conhecer os laços e armadilhas e leão para aterrorizar os lobos" ou "em política, se devem ter mais em conta os resultados em si do que a maneira pela qual eles foram obtidos" ou, ainda, "é a vitória e não o método de lográ-la que confere glória ao vencedor". Sem colocar ética e moral em primeiro plano, Maquiavel preconizava o ajustamento permanente

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entre a ação desenvolvida e os desígnios do Estado, fazendo da estratégia o instrumento da política para se atingir o fim por esta proposto.

1.3.2.3 Na Idade Contemporânea, começaram a surgir os exércitos nacionais. O povo passou a ter alguma participação na guerra e a defesa despontou como motivo de preocupação nacional. Não era mais a retirada em relação ao inimigo que faria sentido, mas, ao contrário, o avanço para sua destruição, enfatizando-se a estratégia direta. As guerras passaram a ter objetivos políticos do Estado. As campanhas de Napoleão Bonaparte ilustram bem essa conjuntura.

Nesse período, tiveram repercussão as ideias do militar-filósofo prussiano Carl Von Clausewitz (1780-1831), estudioso da natureza da guerra, consolidadas em sua obra (inacabada) "Da Guerra". Para Clausewitz, a guerra é um instrumento da política e, como tal, deve a esta estar subordinada e, portanto, ser conduzida ("a guerra é a continuação da política por outros meios"). O pensamento político-estratégico de Clausewitz serviu de referência para a formulação de estratégias de estado e de governo. Com base em sua "tríade estratégica" — governo, forças armadas e povo — o governo estabelece o objetivo político da guerra, as forças armadas propiciam os meios para se alcançar tal objetivo, e o povo proporciona a vontade nacional — motor da guerra. Outro enfoque estratégico legado por Clausewitz é a ideia de centro de gravidade: — "o propósito da guerra deveria ser aquele que o seu próprio conceito encerra: derrotar o inimigo". Entretanto, para derrotá-lo pode não ser necessário destruí-lo. O que é preciso é quebrar sua vontade de lutar. Para tanto, deve-se ter em mente as características dominantes de ambos os beligerantes. A partir dessas características, desenvolve-se um certo centro de gravidade, eixo de poder que, se combalido, retira ao inimigo a capacidade de permanecer lutando. "Esse é o ponto contra o qual as nossas energias deveriam ser dirigidas”. Além de Clausewitz, também se notabilizou no século XIX, pelos estudos estratégicos da guerra, Antoine Henri Jomini (1779-1869), que desenvolveu uma sistematização dos conflitos armados em três níveis: estratégico, operacional e logístico.

Enquanto Clausewitz preocupou-se mais com os aspectos político-filosóficos da guerra e suas relações de causa e efeito ("pensar a guerra"), Jomini, prático e objetivo, dedicou-se mais ao "fazer a guerra". No que se refere à política em relação à guerra, ele afirma que cabe ao estadista estabelecer o objetivo da guerra. Do estudo das campanhas de Napoleão, Jomini concluiu que a concentração de forças no ponto decisivo, visando à batalha principal, constitui o foco da estratégia e das manobras táticas. Jomini estuda também a logística, entendida à época como a "arte prática de movimentar os exércitos". Para ele, "a estratégia decide onde agir, a logística leva a tropa a este ponto e a grande tática decide o modo de execução e o emprego das tropas".

No contexto sul-americano, destaca-se a figura do Duque de Caxias, que, possuidor de invulgar visão estratégica, se sagrou como o “Pacificador” de várias querelas internas ocorridas no Império brasileiro e como arquiteto da vitória das forças aliadas na Guerra da Tríplice Aliança, conduzida contra as tropas paraguaias de Solano López.

A Revolução Industrial, no século XIX, constituiu fator básico da evolução da arte da guerra, provocando aprofundados estudos a respeito do envolvimento dos Estados em conflitos armados.

A Guerra de Secessão nos Estados Unidos (1861-1865) demonstrou a necessidade de se evitar os ataques frontais diante do armamento moderno que passava a imperar nos campos de batalha. Passou-se, assim, a se valorizar os

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ataques de flanco e de surpresa, dando nova conotação à estratégia militar. Os combates no interior de florestas, exigindo táticas e técnicas especiais, começaram a se desenvolver em larga escala. Nas operações ao longo do Rio Mississipi e de seus afluentes, destacaram-se as operações ribeirinhas, em que forças navais apoiaram forças terrestres, aflorando um primeiro exemplo de operações conjuntas.

A Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) evidenciou a necessidade de um planejamento meticuloso no campo estratégico, particularmente em decorrência dos novos meios de transporte (ferrovias) à disposição. As armas, ainda mais modernas, estabeleceram a supremacia do fogo no campo de batalha, impondo a dispersão das tropas em detrimento da concentração antes adotada. Dessas condições, surgiram ensinamentos estratégicos como:

- forças militares permanentes e organizadas são indispensáveis a uma nação; - tais forças devem responder às exigências da política que a nação adotar; e - o emprego das forças deve ser regulado desde o tempo de paz.

Um dos estudiosos da guerra que despontaram no século XX foi Basil Henry Liddell Hart (1895-1970), que preconizava a "ação indireta" como a melhor forma de concepção estratégica, seja no âmbito da estratégia nacional seja no da estratégia militar. Dentre outros motivos, argumentava com a inviabilidade do emprego dos engenhos atômicos, que teria resultados catastróficos, advindo daí a impossibilidade de usá-los e a necessidade da estratégia indireta. Ainda compondo sua visão estratégica, a Estratégia seria um conceito voltado para o preparo e o emprego do poder nacional, com ênfase na expressão militar. Enfatizava que a condução da guerra deveria considerar a situação da paz que se deseja. Em termos de estratégia militar, ele ressaltava as seguintes máximas:

- ajuste seus fins aos seus meios; - escolha a linha de ação menos provável (do ponto de vista inimigo); - explore a frente de menor resistência, enquanto ela conduzir a qualquer objetivo

que possa contribuir para a obtenção do fim colimado; - adote uma linha de ação que possa conduzir a objetivos diferentes; - assegure-se de que seu plano e seus dispositivos sejam flexíveis e adaptáveis à

situação; - não empenhe o grosso de suas forças quando o inimigo estiver em boa situação

para contê-lo; - não repita, na mesma direção ou da mesma forma, um ataque que tenha

fracassado anteriormente. André Beaufre (1902-1975), militar fundador do Instituto Francês de Estudos

Estratégicos, apresentou também relevante contribuição para a evolução da arte estratégica, consolidada na trilogia: "Introdução à Estratégia", "Dissuasão e Estratégia" e "Estratégia e Ação". Beaufre argumenta que a estratégia engloba, invariavelmente, as expressões política, econômica, psicossocial, militar e diplomática, qualificando-a como "estratégia total". Ressalta a importância da liberdade de ação, que resulta da conjuntura internacional e constitui elemento de capital importância da estratégia, particularmente após o advento da ameaça nuclear. Segundo este estudioso, todas as possíveis ações estratégicas, resultantes da elaboração de planejamentos estratégicos, podem ser enquadradas em um dos modelos apresentados no seguinte quadro:

MODELO MEIOS OBJETIVOS LIBERDADE DE

AÇÃO ESTRATÉGIAS

Ameaça Direta (Dissuasão) Muito Modestos Adequada, apoiada Direta

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potentes na ameaça nuclear

Pressão Indireta (Ações políticas, econômicas ou

diplomáticas) Insuficientes Modestos Reduzida Indireta

Ações Sucessivas Reduzidos Importantes Reduzida Direta ou Indireta

Conflito Prolongado (baixa intensidade) Escassos Importantes Grande Indireta

Conflito Violento Potentes Importantes Adequada Direta

Tabela 1-1 - Modelos de ações estratégicas

Em síntese, para Beaufre, a estratégia direta é a preconizada por Clausewitz e a indireta é a que busca a capitulação moral ou psicológica do adversário, sempre com a permanente busca da liberdade de ação.

Quanto aos modelos acima apresentados, a ameaça direta vem a ser a dissuasão nuclear; a pressão indireta baseia-se nas estratégias de Hitler e nas soviéticas; as ações sucessivas são baseadas em Liddell Hart (aproximação indireta); o conflito prolongado é o que melhor responde às guerras de libertação, com base no pensamento de Mao Tsé-Tung; e o conflito violento corresponde à estratégia clássica napoleônica, teorizada por Clausewitz.

Outra expansão verificada no desenvolvimento da estratégia ao longo dos tempos assenta-se na concepção do líder chinês Mao Tsé-Tung (1893-1977) ao enfatizar a importância da expressão psicossocial.

"O fator psicológico é o que provavelmente distingue a guerra revolucionária da convencional. Nesta, tem grande importância a conquista do território. Na guerra subversiva, não se trata do domínio físico do terreno; o objetivo é outro e consiste, essencialmente, na conquista da população; o fim perseguido é a sua conquista psicológica, a apropriação de sua mente".

Sobre a guerra, ele enfatiza em sua doutrina:

"A guerra de guerrilhas tem aspectos e objetivos peculiares. É uma arma que uma nação, inferior em armamento e equipamentos militares, pode empregar contra outra mais poderosa. À medida que as hostilidades avançam, as forças de guerrilha se convertem, gradualmente, em forças regulares, que operam coordenadamente com outras unidades do exército regular".

1.3.2.4 A par da conotação eminentemente militar ressaltada na presente síntese histórica, pode-se notar que o campo de ação da Estratégia estendeu-se também aos períodos de paz, ou seja, as nações passaram a adotar o enfoque estratégico nas relações internacionais e no planejamento governamental, ultrapassando o campo eminentemente da defesa e passando a ser empregado também nas atividades relacionadas com o desenvolvimento nacional. Particularmente nos anos subsequentes à II

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Guerra Mundial, o vocábulo adquiriu amplo e diversificado uso, quando atingiu a totalidade das atividades sociais, principalmente na área administrativa, e popularizou-se com significado totalmente diferente do original (condução de forças no campo de batalha). 1.3.2.5 Em decorrência, o campo semântico da Estratégia ampliou-se de tal forma que a palavra passou a necessitar de adjetivação. Surgiram, então, a “grande estratégia” na Inglaterra, a “estratégia total” na França, e a “estratégia nacional” nos EUA e no Brasil, como expressões que passaram a caracterizar uma estratégia mais ampla, que coordena todo o esforço da nação e subordina a “arte do general” à política, para vencer a guerra. A estratégia foi igualmente acrescida do adjetivo “militar” quando referente às Forças Armadas e do “operacional” quando limitada ao teatro de operações, particularizando níveis de decisão na condução das ações de defesa. 1.3.2.6 Em síntese, a estratégia saiu, ao longo da História, dos limites dos campos de batalha e interpôs-se em todas as atividades de governo e econômico-sociais de um país, mesmo em tempo de paz. Foi-se modificando mediante etapas sucessivas, cada qual com abrangência crescente, incorporando características de cada época, o que ficará evidente na gama de conceitos que serão apresentados adiante. 1.4 RELAÇÕES ENTRE PODER, POLÍTICA, ESTRATÉGIA E TÁTICA 1.4.1 PODER NACIONAL 1.4.1.1 O poder, em sua acepção mais simples, é a capacidade de impor a vontade. É por meio da aplicação do poder que se atingem os objetivos fixados pela política. O poder apresenta-se como uma síntese de vontade e de meios de toda ordem, destinado a cumprir o papel fundamental de assegurar o patrimônio e os interesses nacionais (sentido amplo). A aplicação do poder compreende dois elementos básicos: a vontade de agir (expressa pela política) e a capacidade dos meios (humanos e materiais) para atingir os objetivos propostos. Na essência dessa concepção, destacam-se os elementos constitutivos do poder: o homem (como agente do seu emprego e como beneficiário dos resultados obtidos); a vontade nacional (interpretada pelas elites dirigentes); e os meios (de toda ordem, de que dispõe a nação). 1.4.1.2 A vontade (traduzida em "vontade política") não deve ser entendida como mero desejo subjetivo, mas como decisão, vontade concreta de fazer, determinação na consecução dos objetivos. Dessa forma, a vontade nacional tem que ser concretizada pelos representantes da sociedade que dela receberam a delegação do poder. 1.4.1.3 O poder deve ser visualizado segundo suas características básicas, a saber: sentido instrumental; caráter de integralidade; e relatividade.

1.4.1.4 O poder nacional, como instrumento nas mãos do Estado, destina-se a alcançar os objetivos colimados pela sociedade. Seu caráter de integralidade reside na relação sistêmica dos seus elementos; ou seja, não se trata de um mero somatório dos componentes, mas da resultante de um efeito sinérgico. Ele deve ser considerado como um todo, uno e indivisível. Sua relatividade verifica-se em relação

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aos óbices que se lhe antepõem diante da consecução dos objetivos e diante do valor que lhe atribuem atores externos; em outras palavras, é preciso avaliar a capacidade do poder de superar os obstáculos de qualquer natureza que se antepõem entre a vontade e a conquista de objetivos. Nessa mensuração do poder nacional, é fundamental avaliar o que se julga possuir e como outros países o consideram. Três erros são mais comumente cometidos na avaliação do poder nacional: a) considerá-lo de modo absoluto, sem relacioná-lo com as necessidades e os óbices, bem como, a sua apreciação pelo oponente; b) desprezar a dinâmica dos fatores que o conformam ou condicionam; e c) atribuir importância exclusiva a um só de seus componentes, desprezando a relação sistêmica entre eles. 1.4.1.5 Estruturalmente, entende-se o poder erigido em fundamentos, fatores, organizações e funções, que vão se alinhar segundo expressões. 1.4.1.6 Os fundamentos assentam-se nos elementos básicos da nacionalidade: homem, terra e instituições. Os fatores são os elementos dinâmicos do poder, com influência sobre os fundamentos, valorizando-os ou depreciando-os. As organizações são os agentes que promovem os fatores. As funções são aquelas desempenhadas pelas organizações. As expressões constituem as áreas em que o poder se manifesta: política, econômica, psicossocial, militar e científico-tecnológica. 1.4.1.7 A tabela a seguir, preconizada pela Escola Superior de Guerra (ESG), procura apresentar uma visão sintética do inter-relacionamento dos componentes do poder nacional.

PODER NACIONAL

FUNDAMENTOS EXPRESSÕES

Política Econômica Psicossocial Militar Científico-

tecnológica

Homem Povo Recursos humanos Pessoa Recursos

humanos Recursos humanos

Terra Território (*) Recursos naturais Ambiente Território (*)

Recursos naturais e materiais

Instituições Instituições políticas

Instituições econômicas

Instituições sociais

Instituições militares Instituições C & T

Tabela 1-2 - Inter-relacionamento dos componentes do Poder Nacional

(*) Base física terrestre; mar territorial; espaço aéreo sobrejacente. 1.4.1.8 De acordo com a Doutrina Militar de Defesa (2007), "Poder Nacional” é a capacidade que tem o conjunto dos homens e dos meios que constituem a Nação, atuando em conformidade com a vontade nacional, de alcançar e manter os objetivos nacionais". 1.4.1.9 Os poderes marítimo, terrestre e aeroespacial constituem parcelas do poder nacional eminentemente voltadas para a defesa nacional.

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1.4.1.10 A expressão militar do poder nacional é integrada pelos poderes naval, militar terrestre e militar aeroespacial. 1.4.1.11 Projeção do Poder é o processo segundo o qual a nação procura aumentar sua influência/participação no cenário internacional mediante a atuação de qualquer de suas expressões. Assim, a posição e a importância da nação no contexto das nações também irão contribuir para caracterizar sua estatura político-estratégica, além de seu potencial. 1.4.2 POLÍTICA 1.4.2.1 A essência da Política reside na interpretação dos anseios sociais e das necessidades do país e na sua conformação em objetivos a atingir ou manter, bem como na organização do poder e na sua aplicação em benefício da comunidade. Nesse sentido, a política elabora diretrizes que vão orientar os rumos da condução das ações estratégicas destinadas a superar ou contornar óbices. Essa concepção de política pode ser sintetizada na arte de congregar vontades, de buscar consenso em torno de objetivos, de designar meios para os diferentes setores do Estado e de estabelecer orientações para queo emprego desses meios atenda aos projetos nacionais. É por isso que se diz que "a política define o que fazer". 1.4.2.2 Portanto, verifica-se que cabe à expressão política a maior parcela de responsabilidade quanto à aplicação do poder nacional. 1.4.3 ESTRATÉGIA 1.4.3.1 O conceito de estratégia é complexo e abrangente, conforme se verá em capítulos mais adiante. 1.4.3.2 Em uma primeira abordagem, embora simplista, pode-se dizer que à Estratégia, como instrumento da Política e, portanto, a ela subjacente, compete definir que meios e que ações serão adotados na consecução dos objetivos estabelecidos pela Política. Em outras palavras, a Estratégia, com base nas diretrizes políticas, indica os caminhos a seguir para se superar ou evitar os óbices que possam se antepor à concretização de objetivos, ou seja, estabelece a forma de traduzir e impor a vontade política, que, por sua vez, deve ser a expressão da vontade nacional, elemento constitutivo do poder. 1.4.3.3 Como se pode observar, muitas vezes não fica clara a delimitação entre Política e Estratégia, podendo-se mesmo associá-las à imagem das faces de uma mesma moeda. O fundamental é o entendimento de que a Estratégia assenta-se em uma metodologia complexa e abrangente de planejamento, preparo e aplicação do poder, dando forma à concepção política e cumprindo suas diretrizes. Por isso, diz-se que "a estratégia estabelece o como fazer". 1.4.3.4 Em termos de operações militares (essência da defesa nacional), é a Política que vai decidir pelo uso ou não da força e pela intensidade de sua aplicação. É ela que vai definir o objetivo político da guerra. A Política, além da concepção geral da guerra e do estabelecimento do(s) seu(s) objetivo(s), deverá conduzi-la de modo a definir rumos e a direcioná-la para os interesses do Estado. Essa responsabilidade

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não deve ser confundida com a condução específica das operações militares no teatro de operações ou nos campos de batalha, função precípua da expressão militar do poder nacional, atribuída às Forças Armadas. 1.4.3.5 Poder, Política e Estratégia formam a trilogia fundamental da denominada "teoria do poder", que, em síntese, concebe a Política como o farol que ilumina a aplicação do Poder e que orienta a Estratégia na alocação dos meios e na formulação das ações que irão permitir a superação de óbices na busca de objetivos. Política (objetivos) sem Poder (meios) a nada conduz; ambos, Política e Poder, sem Estratégia (modos) caem no vazio, ou seja, não há resultados. 1.4.4 TÁTICA 1.4.4.1 A tática trata do emprego da tropa (peças de manobra) em combate de acordo com os planos de campanha elaborados, ou seja, conforme o quadro prescrito pela estratégia formulada no nível operacional. 1.4.4.2 Em linhas gerais, pode-se afirmar que a estratégia operacional e a tática se diferenciam por perspectivas distintas, pois, enquanto aquela preocupa-se com objetivos cuja posse terá maiores consequências favoráveis, esta cuida de conquistar objetivos mais imediatos nos pontos mais vulneráveis do dispositivo inimigo.

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CAPÍTULO II

CONCEITUAÇÃO DE ESTRATÉGIA

2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS 2.1.1 Aos conceitos anteriormente apresentados, devem-se somar outros de importância para o entendimento completo da essência do fenômeno estratégico.

2.1.2 Não se pode perder de vista que todos esses conceitos se encontram inter-relacionados, formando uma malha coerente de variáveis e de atores que precisa ser conhecida em todos os seus meandros. 2.2 CONCEITOS BÁSICOS 2.2.1 OBJETIVOS NACIONAIS 2.2.1.1 Conforme apresentado no Capítulo I deste manual, a essência da Política, além de organizar e de aplicar o poder, consiste na interpretação dos anseios sociais e em sua transformação em objetivos.

2.2.1.2 De acordo com a esfera governamental considerada, esses objetivos recebem denominações peculiares que permitem associá-los a interesses ou necessidades específicas.

2.2.1.3 Dentre essas denominações, destacam-se aqui as que se referem especificamente aos objetivos nacionais:

2.2.1.3.1 Objetivos Nacionais (ON) – são aqueles que a Nação busca alcançar, em decorrência da identificação de necessidades, interesses e aspirações, ao longo das fases de sua evolução histórico-cultural. Os Objetivos Nacionais, em função de sua natureza, podem ser agrupados em: Objetivos Fundamentais; Objetivos de Estado; e Objetivos de Governo. a) Objetivos Fundamentais (OF) – são os Objetivos Nacionais voltados para a conquista e preservação dos mais elevados interesses da Nação e de sua identidade, subsistindo por longo tempo. Segundo a ESG, os OF não são estabelecidos nem fixados. Derivam do processo histórico cultural e emergem, naturalmente, à medida que as necessidades e os interesses da comunidade se cristalizam na consciência nacional, representando aspirações que, independentemente de classes, região, credo religioso, ideologias políticas, origens étnicas ou outros atributos, a todos irmanam. (ESG, 2006). Normalmente, esses objetivos encontram-se acolhidos em dispositivos constitucionais. b) Objetivos de Estado (OE) – são ON intermediários voltados para o atendimento de necessidades, interesses e aspirações, considerados de alta relevância para atingir, consolidar e manter os Objetivos Fundamentais. Embora os OE sejam estabelecidos por um Governo, devem refletir um consenso nacional sobre aspirações relevantes e assim deverão ser buscados por seus sucessores por intermédio de outros objetivos intermediários (ESG, 2006).

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c) Objetivos de Governo (OG) – são ON intermediários, voltados para o atendimento imediato de necessidades, interesses e aspirações, decorrentes de situações conjunturais em um ou mais períodos de Governo. 2.2.2 ÁREA ESTRATÉGICA 2.2.2.1 Espaço, de qualquer natureza, caracterizado pela presença ou pela possibilidade de existência de relevantes interesses ou de óbices de maior vulto, para a consecução da política. 2.2.2.2 Área de natureza geográfica (região) ou que envolva atividade humana (setor), na qual se aplica ação estratégica. 2.2.2.3 Espaço geográfico de interesse nacional com dimensão limitada, que, pelas próprias características, pode oferecer vantagens militares importantes, mediante seu controle ou domínio, em situações de conflito, crises ou guerra de caráter limitado ou total. 2.2.2.4 Em termos militares, área estratégica compreende área do território nacional ou partes de território estrangeiro que venham a ter envolvimento em possíveis operações. 2.2.3 ÓBICES 2.2.3.1 São obstáculos de toda ordem que dificultem ou impeçam a conquista ou a manutenção de objetivos.

2.2.3.2 Os óbices, existentes ou presumíveis, podem dificultar ou impedir ações nas áreas estratégicas. Em termos nacionais, podem ser de ordem material ou intangíveis. Resultam da natureza (secas, inundações), de fatos sociais (pobreza, analfabetismo) ou da própria vontade humana. Podem decorrer de condições estruturais ou conjunturais e variar na essência, na intensidade e na forma como se manifestam. Enquadram-se nesse contexto as vulnerabilidades de um país, quais sejam, aqueles pontos fracos que podem ser aproveitados pelo poder adverso em caso de confronto. Para as vulnerabilidades, deve haver ações estratégicas que impeçam sua utilização pelo oponente. 2.2.3.3 Uma classificação tradicionalmente aceita para os óbices reside na existência ou não de intencionalidade: a) Fatores Adversos – óbices que se interpõem aos esforços da sociedade e do governo para alcançar e preservar os objetivos nacionais, independentemente de intencionalidade. b) Antagonismos – óbices de toda ordem, internos ou externos, que se contrapõem ao alcance e à preservação dos objetivos fundamentais de um país, por ação de forças adversas. 2.2.3.4 A superação de óbices pode-se traduzir no seu enfrentamento ou no seu desbordamento, mediante a implementação de ações estratégicas condizentes.

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ÓB

ICE

S

FATORES ADVERSOS (sem sentido contestatório)

ANTAGONISMOS (deliberadamente contestatórios)

PRESSÃO (dificulta)

PRESSÃO DOMINANTE (impede)

Tabela 2-1. Classificação dos óbices

2.2.4 AÇÃO ESTRATÉGICA 2.2.4.1 Ação que compreende um conjunto de medidas de natureza e intensidade variáveis, orientadas para o preparo e o emprego do Poder, na consecução da Estratégia, podendo ser de duas ordens: Ação Corrente e Ação de Emergência. 2.2.4.2 AÇÃO CORRENTE – ação estratégica que se traduz no preparo e na aplicação do Poder Nacional para atender a situação normal. 2.2.4.3 AÇÃO DE EMERGÊNCIA – ação estratégica que se traduz no preparo e na aplicação do Poder Nacional para atender a situações de emergência.

2.2.4.4 A sequência de ações estratégicas que conformam determinada estratégia denomina-se trajetória estratégica. 2.2.4.5 Embora pareça paradoxal, por vezes, diante de determinado óbice, a inação intencional configura uma ação estratégica. É o caso típico de quando não se deseja que determinado fato tenha repercussão, procurando fazer com que ele se dissipe na origem. Via de regra, essa atitude é mais comum no nível político de decisão.

2.3 ESTRATÉGIA 2.3.1 CONCEITUAÇÃO AO LONGO DO TEMPO 2.3.1.1 Desde sua concepção original, surgida em Atenas no século V a.C., como a "arte do general" (estratego), o conceito de Estratégia sofreu sensível evolução até chegar às variações conceituais hoje encontradas.

2.3.1.2 Na Antiguidade, além do conceito grego já citado de "conduzir exércitos na frente do campo de batalha", encontra-se um similar na China, de Sun Tzu (Sun Zi), para o qual a estratégia era "a arte do general na condução das operações por meio de ações indiretas".

2.3.1.3 Durante muitos séculos, permaneceu essa conotação estritamente militar para a estratégia, enquanto os conflitos se restringiam ao campo de batalha. Com o surgimento dos estados-nação e a consequente ampliação de conflitos entre eles, a estratégia passou a tomar vulto e a se propagar por outras expressões do poder, além da militar, para, finalmente, ser tratada em todos os segmentos decisórios desde o tempo de paz. Assim, conceitos cada vez mais completos e até mesmo

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diversos foram sendo incorporados pela polemologia, estudo científico das guerras e seus efeitos, formas, causas e funções enquanto fenômeno social, conforme apresentado na Seção 1.3 – HISTÓRICO, do Capítulo I, e nos extratos a seguir: a) "Emprego das operações de guerrilha no desgaste do inimigo, mediante fluidez na execução, permanente mobilidade, finta, surpresa e ofensiva". (Mao Tse-tung; 1893-1977). b) "Arte de empregar forças militares para atingir resultados fixados pela política". (Liddell Hart; 1895-1970). c) "Creio que a essência da estratégia repousa no jogo abstrato resultante da oposição de duas vontades; arte da dialética das forças" ou, ainda mais exatamente, "a arte da dialética das vontades, empregando a força para resolver seu conflito". (André Beaufre; 1902-1975). Aqui cabe uma observação: quando se deseja atingir um objetivo, no contexto do entrechoque de vontades, constitui visão estratégica deixar uma "saída honrosa" ao oponente, que lhe faculte aquiescer ao nosso interesse sem se mostrar derrotado ou humilhado, além de facilitar o atendimento mais rápido ao nosso propósito. d) "Arte de solução de conflito pelo emprego do poder militar". (Raymond Aron; 1905-1983). e) "Arte de preparar e aplicar o poder para conquistar e preservar objetivos, superando óbices de toda ordem". (ESG; Elementos Doutrinários - 2006). f) "Estratégia Militar – arte e ciência de prever o emprego, preparar, orientar e aplicar o poder militar durante os conflitos, considerados os óbices existentes ou potenciais, visando à consecução ou manutenção dos objetivos fixados pelo nível político". (MD; Doutrina Militar de Defesa - 2007). g) "Arte de preparar e aplicar o poder para conquistar e preservar objetivos, superando óbices de toda ordem. (EB20-MF-03.109). h) "A estratégia é, fundamentalmente, um fenômeno de ação/reação. Todo movimento de um dos protagonistas deve suscitar uma resposta de seu adversário. Quando não há dialética, não há estratégia". (Coutau – Bégarie; Prof do Instituto de Estratégia Comparada da França). i) "Capacidade de visualizar caminhos para se atingir as metas de uma empresa". (Conceito empresarial civil). j) "Meio de que se vale a Política para obtenção de resultados concretos". (Conceito governamental). k) "Arte de aplicar os meios disponíveis com vista à consecução de objetivos específicos"; "arte de explorar condições favoráveis com o fim de alcançar objetivos específicos". (Conceito genérico). l) "Ardil, estratagema, artimanha, astúcia". (Conceito de sentido figurado). m) De uma outra forma, a estratégia pode ser entendida como o relacionamento entre fins, caminhos e meios. Os fins são os objetivos ou metas pretendidas. Os meios são os recursos postos à disposição para se atingir os fins. Os caminhos ou métodos constituem a maneira (ações) como os recursos serão organizados e aplicados para se atingir os fins. Transportando-se essa concepção para a área militar (estratégia militar), ter-se-á a seguinte configuração:

1) Os fins como os objetivos militares. 2) Os caminhos como a doutrina de emprego das forças combatentes. 3) Os meios como os recursos (humanos e materiais) necessários ao

cumprimento da missão.

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2.3.1.4 Para este manual, o conceito geral de Estratégia adotado é: “Estratégia é a arte e ciência de preparar e aplicar o poder para, superando óbices de toda ordem, alcançar os objetivos fixados pela política”. Arte, por envolver característica pessoais do seu formulador, como experiência, conhecimento, visão e criatividade. Ciência, por se valer de conhecimentos científicos de diferentes áreas. Este conceito pode ser ilustrado graficamente de acordo com a figura a seguir.

Figura 3-1 - Conceito de Estratégia

2.3.1.5 É importante ressaltar que o fato de ser "arte" não traduz individualismo. Normalmente, a formulação de estratégias se processa por meio de trabalho de equipe; daí a constituição dos "centros de estudos estratégicos", dos "gabinetes de gerenciamento de crises", dos tradicionais "estados-maiores" etc, onde várias pessoas realizam o trabalho de elaboração mental das estratégias e das correspondentes ações que irão implementá-las. Como disse o Marechal Castello Branco:

"Qualquer Estratégia não é obra de um homem personalista e iluminado, e sim trabalho de equipes e de estados-maiores, com chefes, porém, dotados superiormente de autoridade, responsabilidade e conhecimentos apropriados".

2.3.1.6 As variações conceituais verificadas desde os primórdios até os dias atuais têm toda sua validade por encerrarem sentido lógico e coerente com o que se pretende com a estratégia. O cuidado que deve ser observado pelos estrategistas é resguardar a coerência conceitual nos diversos documentos oficiais que tratam deste tema.

2.3.1.7 Os conceitos ora apresentados admitem adaptações a diversos níveis de decisão. Assim, podem-se encontrar definições como: a) ESTRATÉGIA NACIONAL - arte de preparar e de aplicar o Poder Nacional para alcançar e preservar os Objetivos Nacionais, de acordo com a orientação estabelecida pela Política Nacional (EB20-MF-03.109). b) ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA – conjunto de opções e diretrizes governamentais que orientam a nação quanto ao emprego dos meios de que dispõe para superar as ameaças aos seus objetivos, conforme o estabelecido na Política Nacional de Defesa (EB20-MF-03.109). c) ESTRATÉGIA DE GOVERNO - forma como o Governo prepara e aplica o Poder Nacional para, superando óbices, alcançar e preservar seus objetivos, de acordo com a orientação estabelecida pela Política de Governo" (ESG; 2006).

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2.3.2 CONSIDERAÇÕES FUNDAMENTAIS DA ESTRATÉGIA 2.3.2.1 Da multiplicidade de conceitos apresentada, pode-se inferir uma série de considerações sobre a essência do fenômeno estratégico, aqui tratadas por aspectos fundamentais. 2.3.2.2 Sob o enfoque militar, o aspecto de arte da estratégia, além dos já mencionados, pode ser verificado também no estabelecimento de relações entre o poder militar e as demais expressões do poder nacional, em que se destaca a capacidade de convencimento com vistas a atender aos interesses e às necessidades da defesa nacional. 2.3.2.3 Deve ser ressaltado que esse aspecto toma vulto quando se trata de liderança estratégica. É o líder estratégico quem mais deve exercitar a arte de implementar estratégias que congreguem o esforço nacional ou institucional para a consecução dos objetivos pretendidos pela nação ou pela organização. 2.3.2.4 Quanto à visão estratégica, ela reside no exame detalhado de todas as versões disponíveis, de todas as faces sobre determinado fato ou de uma conjuntura, bem como das circunstâncias em que o fato ocorreu e de suas possíveis repercussões futuras. Não se deve tomar como "verdade absoluta" ou como "a versão correta" apenas uma ou a primeira das considerações sobre o fato. Em outras palavras, não se pode adotar como base para decisão a primeira leitura, a primeira opinião, a primeira versão que se colhe sobre um fato, uma crise, um fenômeno social. 2.3.2.5 Outro aspecto a se considerar na estratégia é sua subordinação à política. Ela é decorrente de decisão política. É por isso que o nível político (nível de decisão) emite diretrizes estratégicas ou indica as estratégias que deverão ser implementadas diante dos óbices levantados. Daí o estreito ajustamento que deve existir entre as estratégias a serem adotadas e os fins políticos colimados. 2.3.2.6 A estratégia tem um nítido caráter de finalidade, pois se destina a sobrepujar obstáculos e a atingir objetivos. Essa é a sua face finalística, que, muitas vezes, leva a adjetivá-la. 2.3.2.7 Conforme já apontado, a estratégia vigora como instrumento da política. Ela se presta a esclarecer os fins da política e a orientar o estabelecimento de prioridades quando diante da escassez de meios. À estratégia cabe também determinar a natureza e o emprego dos meios disponíveis, fato que torna ainda mais tênue a delimitação entre política e estratégia. Além disso, a implementação de determinada estratégia ocorrerá certamente em função dos meios disponíveis. 2.3.2.8 Uma característica bastante evidente da estratégia é sua extrema diversidade. Além de não se prender apenas aos fins e aos meios, ela depende de parâmetros os mais variados, ou seja, ela deve considerar também os atores envolvidos, as circunstâncias em que as coisas acontecem, as consequências das decisões, o peso da opinião pública, o reflexo em alianças firmadas, dentre muitos outros fatores.

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2.3.2.9 Já se abordou em tópicos anteriores que a estratégia visa a superar os obstáculos de toda ordem que possam se antepor à conquista de objetivos. Esta é sua característica de superação. Relembrando o pensamento do Prof Coutau-Bégarie, "a Estratégia é, fundamentalmente, um fenômeno de ação e reação. O propósito de toda ação estratégica é de superar o inimigo [óbices] a fim de impor-lhe a nossa vontade". 2.3.2.10 Ao tratar do preparo e do emprego dos meios, a estratégia ressalta sua característica de ambivalência quanto a este aspecto. Cumpre destacar que, na concepção estratégica, os recursos disponíveis não são considerados meios até que a estratégia estabeleça sua natureza e a forma segundo a qual serão organizados e utilizados. Exemplo: os orçamentos de defesa e o pessoal militar são recursos; a partir do momento em que a estratégia os organiza e define o seu emprego, seja para dissuadir a agressão seja para buscar a vitória no conflito, eles passam a constituir meios da estratégia. Muitas vezes, diante da escassez, caberá à estratégia estabelecer prioridades para o emprego dos meios disponíveis. 2.3.2.11 A amplitude é um aspecto importante da estratégia, pois ela engloba os meios de toda ordem (humanos e materiais) em cada nível de decisão e analisa todas as variáveis que conformam a conjuntura em que ela será implementada. Além disso, a estratégia envolve simultaneamente diversos domínios: político, econômico, militar, diplomático, científico-tecnológico e psicossocial. Ressalte-se, também, que ela é nitidamente interdisciplinar, pois se vale de várias áreas do conhecimento humano. 2.3.2.12 O caráter de integração da estratégia reside no fato de, normalmente, ocorrer o concurso de duas ou mais estratégias (ou ações estratégicas) que se complementam na conquista de um objetivo. E isso é tanto mais verdade quanto mais elevado o nível de atuação. Tal característica é inerente também ao fato de, muitas vezes, surgirem óbices de naturezas diferentes na busca de um mesmo objetivo. 2.3.2.13 Outro aspecto fundamental da estratégia é a ação. Toda estratégia deve ser implementada mediante a execução de ações concretas, que produzam resultados. Napoleão Bonaparte costumava afirmar que "a estratégia é uma arte simples, mas toda de execução". Por isso é que se diz que "política é concepção; estratégia é ação" ou "estratégia é a política em ação". Relembra-se aqui a "inação" com o sentido de ação estratégica, conforme já comentado em tópico anterior. 2.3.2.14 Ao se abordar estratégia como caminho para se chegar a um fim, enfoca-se sua característica de método. A estratégia estabelece o relacionamento entre as metas da política e os meios designados para atingi-las, mediante a adoção de uma metodologia de planejamento estratégico. 2.3.2.15 Sistema é mais um aspecto destacável da estratégia, posto que, no contexto de um planejamento estratégico, ela toma a feição de um "conjunto ordenado de meios, de ação ou de ideias, tendente a um resultado", caracterizando, assim, um sistema. Em outras palavras, uma estratégia é implementada por ações e meios correlacionados entre si, compondo um todo harmônico em busca de um mesmo objetivo.

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2.3.2.16 Dentre os aspectos fundamentais até agora abordados, não poderia deixar de ser mencionado o de atualização ou atualidade. Nesse mister, a estratégia não pode prescindir de um acompanhamento continuado da atualidade conjuntural. Constitui "erro estratégico" proceder a avaliações esporádicas, apenas quando aflora alguma "efervescência" social. É imprescindível, nessa tarefa de atualização, observar, identificar variáveis relevantes, os protagonistas do problema e os interesses em jogo. Para se ajustar às constantes mutações conjunturais, a estratégia precisa ser amplamente flexível. O professor Thomas Owen, do Colégio de Guerra Naval dos EUA, costuma afirmar que "ter uma estratégia inflexível pode ser pior que não ter nenhuma estratégia". Para atender plenamente a essa necessidade, a estratégia deve contar com os conhecimentos e a experiência de pessoas ligadas ao fato, à área ou ao tema em pauta. 2.3.3 DESDOBRAMENTOS DA ESTRATÉGIA 2.3.3.1 Conforme já apresentado, a estratégia pode receber qualificações que irão identificá-la com o nível de decisão, com a área em que se implementa, com os resultados pretendidos etc. 2.3.3.2 Assim, é comum encontrar denominações como Estratégia Nacional, Estratégia de Governo, Estratégia de Desenvolvimento, Estratégia Militar de Defesa, dentre muitas outras, mas que não fogem ao conceito fundamental de relacionar meios para superar óbices e, mediante ações, atingir objetivos. 2.3.3.3 O importante desses desdobramentos é permitir a identificação de níveis de decisão, áreas de atuação (expressões), atores responsáveis, públicos-alvo, óbices presentes e previstos, fins colimados etc. 2.3.3.4 Outro desdobramento que se verifica para a estratégia nacional refere-se à predominância da expressão do poder nacional que a formula e implementa. É também conhecido por MÉTODOS DA ESTRATÉGIA NACIONAL: a) Estratégia Direta - é a estratégia em que, embora contando com a participação de outras expressões, predomina a expressão militar do poder nacional. Ou seja, a maioria das ações estratégicas é nitidamente de natureza militar, mas conta com o concurso de ações desencadeadas por outros setores da nação, tudo com a finalidade de se atingir o(s) mesmo(s) objetivo(s). Pode ser caracterizada pelo emprego ou pela simples ameaça de emprego do poder militar coadjuvado por ações de outros campos do poder nacional. Portanto, trata-se de uma estratégia que prepondera em casos de graves conflitos ou guerra. b) Estratégia Indireta – é aquela em que predomina o emprego de qualquer das expressões do poder que não a militar. Nesse caso, esta última expressão exerce papel coadjuvante da expressão protagonista. Normalmente, os meios empregados encerram natureza política, diplomática, jurídica ou econômica. É de se ressaltar que, principalmente em caso de conflito armado, essas duas estratégias são implementadas simultaneamente, caracterizando o emprego do poder nacional como um todo.

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2.4 ESTRATÉGIA NACIONAL 2.4.1 CAMPOS DE ATUAÇÃO DA ESTRATÉGIA NACIONAL 2.4.1.1 A estratégia formulada para se obter solução adequada do conflito, tendo como referencial a zona de sua ocorrência, abarca dois campos de atuação distintos, mas interdependentes: o exterior e o interior à zona de conflito. Assim, pode-se afirmar que há uma manobra exterior e uma manobra interior. 2.4.1.1.1. Manobra exterior a) A ideia central da manobra exterior reside em assegurar o máximo de liberdade de ação, como o apoio de organismos internacionais (ONU, OEA, OTAN, etc), países amigos e/ou simpatizantes, organizações não governamentais, opinião pública internacional, e da própria frente interna do inimigo, principalmente de sua opinião pública e de organizações que se oponham ao conflito. Tem a finalidade de paralisar o adversário por meio da combinação de ações de natureza política (diplomática), econômica, psicológica e, em algumas situações, de natureza militar, com toda variação possível de atuação. b) A manobra exterior deve assentar-se em um convincente tema político, concebido em função das grandes motivações do momento e bem-adaptado ao fim visado, como por exemplo: desejo de salvaguarda da paz, contraterrorismo, autodeterminação dos povos, não ingerência em assuntos internos, racismo, genocídio, preservação ecológica e direito a um espaço vital. c) De acordo com o tema político, a manobra exterior pode incluir, dentre outras, as seguintes ações:

1) Atuar em respeito às normas do Direito Internacional e apelar para os valores morais e humanitários, de forma a criar, no adversário e na sua frente interna, dúvidas quanto à justiça da causa que defende, provocando cisões na sua coesão moral e, acima de tudo, de modo a despertar simpatias no campo internacional, justificando a causa que se advoga.

2) Explorar, nos organismos internacionais e nas organizações não governamentais simpatizantes, o clima político resultante, de forma a isolar política e economicamente o adversário e, se possível, paralisá-lo, impedindo-o de levar a cabo determinadas ações ou de lançar mão de todas as possibilidades de seu poder nacional na zona de conflito.

3) Obter ajuda sob a forma de fornecimento de equipamentos e armamentos, de pessoal técnico, de voluntários e mesmo de tropas.

4) Empregar o poderio militar. 5) Tranquilizar outros adversários potenciais, quanto ao alcance dos objetivos

visados.

2.4.1.1.2. Manobra interior a) A manobra interior será desencadeada na zona onde se desenvolve o conflito e tem como finalidade primordial desenvolver e manter as forças morais da população e das forças regulares e/ou irregulares amigas, por meio da exploração de ideias-força como patriotismo, independência nacional, liberdade religiosa, descolonização e elevação do nível de vida. Simultaneamente, buscar-se-á minar o moral das forças combatentes do oponente e de seus aliados na zona de conflito.

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b) A manobra interior, aproveitando a liberdade de ação obtida com a manobra exterior, deve explorar, na zona de conflito e nas suas áreas de influência:

1) as vulnerabilidades estruturais do adversário, obrigando-o a protegê-las, mediante a dispersão de seus meios;

2) as atividades que visam a assegurar a lealdade da população, conduzindo-a a não colaborar com o oponente;

3) as fraquezas morais do oponente, para minar o seu poder de combate; e 4) outros aspectos conjunturais.

2.4.1.1.3. As manobras exterior e interior são aplicáveis sob qualquer método da estratégia nacional, mas suas concepções são mais adequadas à estratégia indireta, na qual atuam de forma preponderante as expressões política e psicossocial. 2.4.2 FASES DA ESTRATÉGIA NACIONAL Em um quadro de crise, a estratégia, normalmente, desenvolve-se em três fases. 2.4.2.1 Fase da preparação – Nesta fase, realizam-se diversas ações, tais como: a) preparação da opinião pública, por meio de ações psicológicas, para suportar os encargos psicossociais, políticos, econômicos e militares decorrentes da execução da estratégia proposta; b) legitimação das operações militares que possam ocorrer na fase da execução diante da opinião pública mundial e nacional, perante governos aliados e neutros, por meio de uma campanha que deve estar apoiada em um tema político com profundas implicações morais, mas sempre coerente com o objetivo perseguido; c) consideração quanto à reação de países neutros ou aliados ao desenvolvimento da estratégia escolhida, de forma a eliminar ou, no mínimo, a reduzir a ocorrência de circunstâncias aleatórias que, normalmente, provocam profundas alterações na liberdade de ação obtida por ocasião do início das ações; d) isolamento do inimigo com a aplicação de medidas como: realização de tratados e/ou alianças; promessa de partilha de território ou de privilégios; tranquilização de adversários potenciais quanto ao valor ou alcance dos objetivos visados; concessão de garantias a países neutros e exploração de temas ideológicos; e) previsão da resposta do Estado adversário e, por conseguinte, adoção de medidas para neutralizá-la; e f) considerações quanto à possibilidade de fracasso militar, aos apoios que se podem obter se a vitória demorar, às consequências de uma derrota, às possibilidades de se minorar os riscos por meio de uma saída honrosa e quanto às interrupções previsíveis no desenvolvimento da estratégia estabelecida. 2.4.2.2 Fase da execução- De acordo com a estratégia adotada (direta ou indireta), avolumam-se as ações da expressão do poder que será decisiva para a solução do conflito ou para atingir o objetivo.

2.4.2.2.1 No caso da estratégia direta a) É a fase da realização das operações militares, quando se deve procurar criar o fato consumado, por meio de uma vitória rápida e definitiva. Para isso, tem significativa importância o momento do início das hostilidades. Deve-se procurar uma situação em que o adversário esteja envolvido por circunstâncias capazes de afetar sua capacidade de reação.

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b) As ações diplomáticas e de operações psicológicas, realizadas previamente, devem ter propiciado um ambiente internacional favorável, bem como condições para que o adversário seja surpreendido e facilmente desorganizado. c) As atividades não militares, especialmente as políticas, continuam tendo grande importância para a paralisação de elementos potencialmente hostis e para a galvanização de simpatias. 2.4.2.2.2 No caso da estratégia indireta a) É a fase da realização das ações nos campos político, econômico e psicossocial, que devem permitir completar o isolamento do inimigo, no âmbito externo, e separar a sociedade do governo, no âmbito interno, colocando-o em xeque perante a própria nação. Com isso, busca-se o enfraquecimento do Estado adversário. Essas ações também são fundamentais para a manutenção da liberdade de ação. b) As ações militares, ou a simples ameaça de seu emprego, são desencadeadas com o propósito de desgastar o inimigo e/ou conquistar objetivos secundários, visando a auxiliar as demais expressões do poder nacional. Estas, por sua vez, estarão desenvolvendo ações com vistas a provocar a submissão definitiva do inimigo. c) As operações militares devem ser dosadas, normalmente com pouca intensidade e com longa duração. d) Podem, por outro lado, constituir um conjunto de operações sucessivas, cada uma isoladamente de grande intensidade, curta duração, limitada no espaço e dirigida contra objetivo ou objetivos secundários (ações sucessivas). 2.4.2.3 Fase da exploração – Nesta fase, torna-se imprescindível a consolidação da vitória alcançada. Nesse sentido, faz-se necessária a análise das possibilidades do oponente no que concerne às manobras interior e exterior, bem como a avaliação do novo equilíbrio de poder resultante dessa vitória. Essa avaliação poderá ser orientada por meio das respostas às seguintes questões: a) Quais devem ser as consequências da vitória? b) Quais as condições para o restabelecimento da paz? c) Que atitude deve-se adotar no futuro? d) Quais devem ser os novos objetivos?

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CAPÍTULO III

O CONFLITO E SUA RESOLUÇÃO

3.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS 3.1.1 Em sociedade e acima dos indivíduos há, via de regra, uma autoridade superior, onde uma ordem estabelecida garante direitos e deveres dos cidadãos. No caso das nações, não existe um órgão supremo que as subordine ou que as faça cumprir normas ou, ainda, que tenha autoridade incontestável para resolver seus conflitos mediante determinada sentença. Embora tentativas nesse sentido tenham sido feitas, tais empreendimentos não conseguiram ainda aprimorar o relacionamento entre os Estados a ponto de evitar o surgimento de conflitos entre eles, nem obter, com frequência, a resolução amistosa de litígios. Nesse contexto, verifica-se que impedir a agressão entre as partes é uma tarefa complexa, sendo comum que elas, muitas vezes e independentemente de respaldo externo, agridam-se mutuamente, apoiadas nos próprios meios. 3.1.2 Os Estados, muitas vezes, envolvem-se em conflitos com outros Estados em decorrência de grave ameaça aos interesses nacionais. Outras vezes, ocorre esse envolvimento contra grupos nacionais ou estrangeiros, dos mais variados matizes, em virtude de contestações ou tentativas de bloqueio à ação governamental.

3.1.3 A solução desses conflitos pode ocorrer por meio da forma não violenta, utilizando-se processos e técnicas inerentes aos meios diplomáticos, jurídicos e políticos, ou por meio da forma violenta, valendo-se da capacidade de coagir do poder nacional, desde ameaças ou pressões até a guerra declarada. 3.2 O CONFLITO

3.2.1 Em termos estratégicos, têm relevância as situações que envolvem o conflito, variando da paz até o conflito armado, que, nos campos interno e externo do Estado, definem o espectro dos conflitos quanto ao grau de violência (Fig 3-1).

3.2.2 Conflito é o fenômeno social caracterizado pelo choque de vontades decorrente do confronto de interesses, constituindo uma forma de se buscar uma solução ou compromisso. Os meios a empregar e as ações a desenvolver dependerão do poder relativo dos oponentes, da liberdade de ação concedida por outros atores e pela importância atribuída ao objetivo a conquistar ou manter.

3.2.3 Paz é a ausência de lutas, violências ou graves perturbações no âmbito do Estado. Nesta situação, as questões conflitivas porventura existentes são as normais entre Estados e não comprometem os interesses nacionais.

3.2.4 Crise é um estado de tensão, provocado por fatores externos ou internos, sob o qual um choque de interesses, se não administrados adequadamente, corre o risco de sofrer um agravamento, até a situação de enfrentamento entre as partes envolvidas. É um fenômeno complexo, de diversas origens, caracterizado por um

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estado de grande tensão, não permitindo que se anteveja com clareza o curso de sua evolução. Uma crise interna pode assumir caráter político, econômico, social, militar, científico-tecnológico ou múltiplo.

3.2.5 As expressões guerra e conflito armado diferenciam-se apenas quanto à perspectiva jurídica, posto que a guerra entre Estados, de acordo com leis internacionais, condiciona-se a certos requisitos acolhidos como válidos pelos beligerantes. Entre esses requisitos, podem-se citar o estabelecimento de neutralidade de países e a necessidade de declaração formal de guerra.

CONFLITO

CONTROLÁVEL INCONTROLÁVEL

PAZ CRISE CONFLITO ARMADO (GUERRA)

NEGOCIAÇÃO

FORÇA

Fig 3-1.Espectro dos conflitos 3.3 SOLUÇÃO DOS CONFLITOS 3.3.1 A responsabilidade pela administração de conflitos é da alçada da expressão política. O Estado, na solução de conflitos, pode valer-se de parte ou de todas as expressões do poder. Basicamente, são adotadas três formas interativas para a solução de conflitos internacionais: a negociação, a compulsão e a violência declarada. 3.3.2 Negociação é a forma não violenta de solução, em que as partes litigantes procuram solucionar o conflito pela busca de rumos convergentes para convivência futura, fundamentada em bases de racionalidade, que emprega processos e técnicas inerentes aos meios diplomáticos, jurídicos e políticos. A negociação pode ser direta ou por intermediação de terceiros. Um dos instrumentos muito empregados atualmente é a mediação, em que as partes litigantes aceitam a figura de um Estado neutro, para facilitar o estabelecimento de bases para a formulação de um novo status após o conflito, com compromissos de aceitação.

3.3.3 Compulsão é a forma de solução de conflito em que uma das partes litigantes é compelida, por intimidação ou atrição, a aceitar a decisão tomada pela outra parte, a quem a primeira deve se submeter. Poderá, também, ser utilizada por

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terceiros para, solucionando o conflito, imporem condições a uma ou a ambas as partes litigantes.

3.3.4 Violência declarada é a forma de solução do conflito em que uma das partes litigantes é submetida pela outra, por sujeição ou destruição, mediante o emprego violento de meios de toda ordem. 3.4 A CRISE E SUA MANOBRA 3.4.1 CRISES INTERNACIONAIS 3.4.1.1 A crise internacional de natureza político-estratégica vem a ser um estágio do conflito entre dois ou mais Estados, em que o desencadeamento proposital de uma situação de tensão visa a alcançar objetivos políticos ou político-estratégicos, por meio da manipulação do risco de uma guerra, com atitudes e comportamentos que indicam ser a situação extrema compatível com razões maiores, quase sempre ocultas ou não explicitamente declaradas.

3.4.1.2 As características básicas das crises internacionais político-estratégicas são as seguintes: a) existência de tensão gerada por antagonismo definido; b) cada agente envolvido visa a alcançar objetivos políticos ou político-estratégicos e explorar vulnerabilidades do oponente; c) desencadeamento proposital, pelo menos por uma das partes; d) possibilidade do uso limitado da força militar e existência do risco de escalar para o conflito armado; e) evolução por decisões tomadas sob tensão; e f) desenvolvimento com a presença da influência das opiniões públicas nacional e internacional.

3.4.1.3 À medida que o desenvolvimento e o progresso dos países passam a depender da qualidade de sua inserção internacional, especialmente nos campos político e econômico, a exposição internacional aumenta e, com ela, elevam-se os riscos para o surgimento de crises.

3.4.1.4 Como a situação conflituosa entre Estados é situação comum, decorre daí a necessidade do acompanhamento contínuo da conjuntura, das tendências e ameaças, da existência de pressões e pressões dominantes e dos fatores de riscos presentes, com o fim de verificar a aproximação de agravamento do conflito.

3.4.1.5 A responsabilidade pelo gerenciamento de crises no âmbito do Estado cabe à expressão política do Poder Nacional, coordenada pelo Presidente da República, considerando a consultoria do Conselho de Defesa Nacional (CDN) e de outros órgãos. Todo o processo é conduzido no denominado Gabinete de Crise, cuja constituição é variável para cada caso.

3.4.1.6 A amplitude e a repercussão mundial que as crises passaram a ter, a agilização e o alcance dos meios de comunicações, a crescente participação e a importância da opinião pública, o maior inter-relacionamento de interesses e,

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fundamentalmente, a possibilidade do holocausto nuclear são fatores que determinaram estudos de metodologias para lidar com esse tipo de fenômeno social. 3.4.1.7 A institucionalização do conceito de crise visa a permitir um maior espaço de manobra, para que a pressão e a força possam ser empregadas de forma controlada e gradativa, contribuindo para convencer o oponente a chegar a um acordo, ao invés da imposição da vontade do Estado mais forte pela sujeição ou destruição do adversário por meio do conflito armado. 3.4.2 ELEMENTOS DA MANOBRA DE CRISE E O SEU DESENVOLVIMENTO

3.4.2.1 Manobra de crise consiste no processo de condução da crise e tem por finalidade básica conseguir uma paz vantajosa, evitando que ela evolua para o conflito armado.

3.4.2.2 O processo de condução da crise, refletido nas decisões políticas, deve transcorrer em conformidade com os interesses nacionais e desenvolver-se segundo uma sequência natural de ações e reações, que pode ser dividida em: desafio, desenvolvimento e resultados finais (Fig 3-2). a) Desafio: é a ação desencadeada propositadamente pelo agente que dá origem à crise, atuando sobre uma vulnerabilidade do oponente. O agente provocador, ao dar início à manobra de crise, assume a iniciativa e explora a liberdade de ação e a surpresa, visando à consecução de seus objetivos político-estratégicos. b) Desenvolvimento

1) Reação: consiste na primeira atividade do provocado com vistas à anulação da ação adversária, de modo a neutralizar o desafio e obter a iniciativa das ações. Busca, inicialmente, controlar a crise e, depois, conduzi-la de forma vantajosa.

2) Confrontação: são as ações e reações, quando as partes oponentes buscam manter a iniciativa mediante uma situação que inflija, no máximo, dano igual ou ligeiramente superior ao causado pela ação adversária. c) Resultados Finais

1) Acordo: é a parte mais importante, delicada e decisiva da manobra de crise, pois significa a solução pacífica para o conflito.

2) Conflito Armado: resultado final indesejável, significando que a manobra de crise não obteve sucesso.

3.4.2.3 Normas de Comportamento Político 3.4.2.3.1 As opções para o comportamento político-estratégico dos oponentes são escalar, estabilizar e distender. a) Escalar - Ações para testar a firmeza do oponente ou aproveitar o momento propício para exercer pressão mais decisiva em busca de um acordo. Esta opção embute riscos mais elevados. Nesta etapa, aquele que conduz a manobra tem a intenção de ser mais contundente em suas ações, provocando o agravamento da crise mediante o aumento de atores envolvidos (escalada horizontal), do nível de hostilidade (escalada vertical), ou de ambos. A escalada vertical pode ser realizada de maneira ofensiva ou defensiva. A ofensiva consiste na realização de ações hostis provocadoras em ordem crescente de intensidade. A defensiva constitui-se em reação ante uma provocação com intensidade superior à ação. b) Estabilizar - Reações que, a cada passo da evolução, correspondam exatamente às ações do oponente, em natureza e intensidade. Visam a estabilizar a crise,

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mantendo o status quo, a fim de ganhar tempo para arregimentação de novas forças ou aguardar conjunturas mais favoráveis. c) Distender - Trata-se da evolução de natureza defensiva, que busca evitar o uso da força, procurando aliviar tensões, diminuir riscos de escalada indesejável e criar condições de negociação em níveis mais baixos de hostilidades.

CRISES INTERNACIONAIS

SEQUÊNCIA DE AÇÕES/REAÇÕES COMPORTAMENTO POLÍTICO

* Desafio * Desenvolvimento - Reação - Confrontação * Resultados Finais - Acordo - Conflito Armado

* Escalar - Horizontal - Vertical (Ofs/Def) * Estabilizar * Distender

Fig 3-2 – Manobra de Crise

3.4.2.4 Planejamento 3.4.2.4.1 O planejamento das ações concorrentes caracteriza-se pela escolha da opção para o comportamento político-estratégico a adotar: escalar, estabilizar ou distender. Nesse planejamento devem ser considerados, entre outros, os seguintes aspectos: a) manter inegociáveis os objetivos nacionais, uma vez que as crises são conflitos de interesses e não de princípios; b) manter o autocontrole sobre o próprio comportamento e procurar exercer controle sobre o do oponente; c) evitar o excesso deliberado de violência e prevenir o inadvertido, pelo efetivo controle político das ações de toda a natureza; d) evitar a diversificação desnecessária dos objetivos e propósitos; e) evitar opções irreversíveis, mantendo a liberdade de ação para escalar ou distender; f) deixar aberturas para o entendimento e saídas honrosas para o oponente; g) procurar o apoio da opinião pública nacional e internacional, influindo permanentemente sobre as mesmas; h) manter abertos canais diretos de comunicação com o partido oposto; i) refrear o curso dos acontecimentos, empregando as forças com flexibilidade e controle, para que sejam repensadas e diminuídas as tensões emocionais; j) não atribuir importância a eventos e fatos aparentemente pequenos, que possam gerar aumento no grau de complexidade; k) reconhecer os dilemas do oponente, que estará também em busca de um resultado final que atenda aos seus interesses; l) servir-se de constante e íntimo relacionamento entre os domínios das considerações políticas, econômicas, psicossociais e militares; m) controlar as informações dirigidas ao público e exercer atividades de operações psicológicas;

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n) empregar as Forças Armadas (FA) em ações não facilmente classificáveis como atos de guerra, mas como ameaça para dissuadir ou persuadir, ou para demonstrar a disposição de escalar, sendo a violência armada compatível com os interesses em jogo; o) manter prontidão permanente dos segmentos do Poder Nacional que estão sendo ou poderão ser empregados no desenvolvimento do conflito; p) exercer pressões políticas e diplomáticas; q) explorar indiretamente personalidades, dissidentes e grupos de opinião; r) obter e usar o apoio de aliados ou alinhados; e s) exercer pressões econômicas. 3.4.2.5 Estrutura de Manobra de Crise 3.4.2.5.1 Para a aplicação da metodologia de manobra de crise, há a necessidade de existência de uma estrutura própria, adequadamente configurada. O componente principal dessa estrutura é o Gabinete de Crise. Composto por autoridades do mais alto nível do Estado, o Gabinete de Crise é o responsável pelas análises e decisões requeridas em função das evoluções dos quadros político e estratégico. Cabe a tal estrutura o exame da situação, o planejamento e a condução necessários à manobra da crise. Para tal, deve: a) reconhecer a existência de uma crise político-estratégica, em vista da ameaça a interesses vitais da nação; b) identificar os atores envolvidos; c) identificar ou inferir os objetivos político-estratégicos de cada ator; d) traçar o plano de condução da crise; e e) estabelecer normas de comportamento político-estratégico. 3.4.2.5.2 A elaboração de um Diagrama de Relações resume o arco de influência dos atores presentes na crise, indicando as questões de Competição, Cooperação, Influenciação e Alianças para melhor analisar as possibilidades comparativas que a situação requer.

Fig 3.3 Diagrama de Relações

3.4.2.5.3 Devem-se observar dois importantes aspectos ao identificar-se os interesses nacionais relacionados com a crise. Primeiro, ao atuar como provocador, evitar a diversificação de objetivos que possa vir a dificultar a condução da manobra.

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O segundo aspecto é atentar para a possibilidade, normalmente indesejável, de envolver interesses nacionais de outros países na crise, cujas eventuais inclusões podem influir significativamente em seu desenvolvimento. 3.4.2.5.4 A fim de assessorar permanentemente as autoridades que compõem o Gabinete de Crise, deve ser estabelecido um grupo executivo, com a responsabilidade de prover os elementos necessários às análises e decisões. É importante que esse grupo faça parte da estrutura permanente do Governo e tenha a capacidade de abrigar especialistas externos, possibilitando a composição de uma equipe multidisciplinar. Deve, portanto, estar apto a garantir interlocuções com os demais setores do Governo envolvidos com a crise e com o exterior.

3.4.2.5.5 O Gabinete de Crise deve valer-se de um conselho de alto nível para legitimar as análises e decisões, considerando-se a permanente iminência do irrompimento de um conflito armado. No Brasil, o Conselho de Defesa Nacional atende a essa necessidade.

3.4.2.5.6 A ativação da estrutura de manobra de crise é de responsabilidade do Comandante Supremo.

3.4.2.5.7 A metodologia para a manobra de crise deve prever, além da organização funcional da estrutura apresentada, o estabelecimento de atribuições, normas e procedimentos. É de extrema importância que a passagem da situação de crise para a situação de conflito armado se processe sem a necessidade de grandes transformações.

3.4.2.5.8 Cabe ao Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas guarnecer permanentemente o Centro de Comando e Controle do Comandante Supremo (CC2CS), a fim de prover a interligação funcional com os centros de comando e controle das Forças, com outros órgãos envolvidos, bem como realizar o acompanhamento da situação e da evolução da crise, de modo que a transição para uma situação de guerra aconteça sem solução de continuidade.

3.4.2.5.9 A compilação do quadro político-estratégico da situação da crise requer, em face de sua complexidade, rigoroso acompanhamento pretérito, que deve ser realizado por um grupo executivo permanente, acrescido de especialistas de áreas afins com a natureza da crise. Nesse particular, tem relevância o papel do negociador, que deve ser alguém com ampla experiência no tema em questão e portador da delegação de poder outorgada pela autoridade que gerencia a crise.

3.4.2.5.10 O acompanhamento das vulnerabilidades e dos fatores de força dos Estados envolvidos são medidas prudentes. Essa conduta é fundamental para que se identifique o objetivo de um possível provocador, assim como os potenciais alvos de sua reação. Isso reforça a importância das informações estratégicas e operacionais. 3.4.2.6 Aplicação do Poder Nacional 3.4.2.6.1 Estabelecida a estrutura para a manobra de crise e efetuado o seu planejamento, a condução da crise passa à execução.

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3.4.2.6.2 Não há regras gerais ou mesmo recomendações que garantam a eficácia da aplicação do Poder Nacional em manobra de crise. Além de cada situação envolver um grande número de fatores e variáveis diferentes, os Estados possuem peculiaridades, fruto das características de cada povo. Assim, as soluções que são adequadas para um país podem ser inaceitáveis para outros.

3.4.2.6.3 A condução de uma crise político-estratégica é atribuição do mais alto nível do poder político do país. As ações derivadas das expressões política, econômica, científico-tecnológica, psicossocial e militar do Poder Nacional, executadas harmonicamente, por meio do emprego controlado da pressão e da força, visam a influenciar o opositor a aceitar um acordo pela via da negociação.

3.4.2.6.4 Na evolução da crise, deve existir proporcionalidade entre a causa do conflito e os meios empregados para resolvê-la. As respostas dos envolvidos devem ser adequadas aos desafios e às reações. Para estabelecer com clareza a conduta a ser adotada pelas diferentes expressões do Poder Nacional, em particular a militar, os mais altos níveis de condução da crise formalizam suas opções de comportamento por meio de Normas de Comportamento Político-Estratégico. 3.4.2.7 Aplicação do Poder Militar 3.4.2.7.1 Durante a manobra de crise, o poder militar é aplicado com o fim de pressionar o oponente e induzi-lo a alterar sua posição favoravelmente aos nossos interesses, possibilitando a consecução do objetivo político motivador da crise.

3.4.2.7.2 O poder militar busca dar continuidade às relações políticas entre Estados, agora com o emprego de meios que contribuam para o acordo desejado, por compulsão (intimidação ou atrição). Assim, o emprego do poder militar tem como propósito inicial dissuadir o oponente e indicar-lhe a firme disposição do Estado de defender seus interesses até as últimas consequências.

3.4.2.7.3 As limitações às ações militares estabelecidas pelo nível político decorrem, na prática, de fatores que condicionam as doutrinas do governo ao buscar seus objetivos. Tais fatores são geralmente de natureza política e jurídica. Eles devem ser corretamente identificados no nível político e transmitidos ao nível estratégico, para que este gere as suas normas de comportamento.

3.4.2.7.4 Dentre os fatores de natureza política citam-se as alianças, os acordos e os interesses de países não envolvidos na crise. Há que se considerar que os fatores de natureza política internos podem condicionar as ações militares voltadas para o ambiente externo. Assim, diversas questões de política externa poderão ser tratadas por meio de comportamentos mais agressivos, com o propósito maior de amortecer os problemas internos de natureza política ou socioeconômica.

3.4.2.7.5 Os fatores condicionantes de natureza jurídica são entendidos como limitações impostas pelo Direito Internacional Público (DIP).

3.4.2.7.6 A manobra de crise exige unidade de ação e responsabilidade em todos os níveis, a fim de garantir a correta atuação, não apenas da direção da política, mas também da sua execução. Para tal, impõe-se o emprego de meios que proporcionem uma fácil ligação do poder político com o poder militar. Evidencia-se,

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portanto, a necessidade de um eficiente sistema de C2 que garanta respostas tempestivas e adequadas à situação.

3.4.2.7.7 Quando do emprego das forças, os comandos de nível operacional traduzem as instruções dos níveis superiores em regras de comportamento operativo, as quais orientam os comandos de nível tático sobre as diferentes ações que suas unidades devem ou ficam autorizadas a executar em resposta às ações do oponente.

3.4.2.7.8 Considerando-se esses aspectos, o poder naval, o poder militar terrestre e o poder militar aeroespacial, com suas características próprias, colocam-se como eficazes instrumentos para a implementação de ações na manobra de crise, permitindo o uso gradual e controlado da força, no momento e local que se fizer necessário, em atendimento às decisões político-estratégicas de escalar, estabilizar ou distender.

3.4.2.7.9 Em casos de crise interna, a atuação das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem, por iniciativa de quaisquer dos poderes constitucionais, possui caráter excepcional, episódico e temporário. Ocorrerá de acordo com as diretrizes baixadas em ato do Presidente da República, após esgotados os instrumentos destinados à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

3.4.2.7.10 A decisão presidencial para o emprego das Forças Armadas nessa situação poderá ocorrer diretamente por sua própria iniciativa ou por solicitação dos chefes dos outros poderes constitucionais, representados pelos Presidentes do Supremo Tribunal Federal, do Senado Federal ou da Câmara dos Deputados. A diretriz presidencial que autoriza e formaliza esse emprego será transmitida diretamente ao Ministro de Estado da Defesa e estabelecerá a missão, as condicionantes do emprego, os órgãos envolvidos e outras informações necessárias. 3.5 A GUERRA / CONFLITO ARMADO 3.5.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 3.5.1.1 A guerra é o conflito no seu grau máximo de violência. Muito tem-se adotado substituir o vocábulo “guerra” por “conflito armado”. Em função da magnitude do conflito, pode-se implicar a mobilização de todo o Poder Nacional, com predominância da expressão militar, para impor a vontade de um ator ao outro. 3.5.1.2 O conflito armado é amplamente entendido como recurso utilizado por grupos politicamente organizados que empregam a violência armada para solucionar controvérsias ou impor sua vontade a outrem.

3.5.1.3 As expressões guerra e conflito armado diferenciam-se apenas na perspectiva jurídica, segundo a qual a guerra entre Estados, de acordo com leis internacionais, condiciona-se a certos requisitos. Entre eles figuram o estabelecimento da neutralidade de países e a necessidade de declaração formal de guerra. Uma vez que as guerras atuais têm ocorrido sem atender a esses requisitos, a expressão guerra vê-se limitada em sua adoção.

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3.5.1.4 A crescente dificuldade de aceitação internacional da guerra como recurso lícito do Estado e seu indevido entendimento, pelo público em geral, como crime contra a humanidade, são outras razões que explicam a tendência da limitação do emprego do termo guerra. No entanto, a bibliografia especializada e os recentes compêndios de História continuam a utilizar sistematicamente a expressão guerra, exceto quando esse fenômeno social é tratado no campo jurídico. Por outro lado, o termo “conflito armado” pode traduzir uma ideia de limitação de engajamento do Poder Nacional e de objetivos em jogo. Escaramuças armadas na faixa de fronteira de uma área em litígio e convulsões sociais em um Estado, que superem a capacidade de controle dos órgãos policiais, exemplificam a assertiva.

3.5.1.5 O preparo do país para a guerra exige transformações estruturais e envolve todos os setores da nação. O planejamento para atender a essa situação deve ser previamente elaborado, a fim de que a passagem da situação de paz para a situação de guerra transcorra da forma mais rápida e harmônica possível.

3.5.1.6 A condução da guerra requer também a participação plena de todos os setores da nação num esforço sinérgico contra o poder inimigo em todas as suas expressões, em função dos riscos envolvidos – perda de soberania, comprometimento da integridade territorial e patrimonial. 3.5.2 FORMAS DE GUERRA 3.5.2.1. Não há unanimidade no tocante à classificação das guerras. De um modo geral, ela obedece a diferentes enfoques e propósitos. Dependendo do prisma sob o qual se observe, o fenômeno da guerra pode ser classificado de diversas maneiras. Normalmente, a realidade dos conflitos armados exige flexibilidade na combinação dos conceitos. 3.5.2.2. Quanto ao tipo de forças empregadas a) Guerra Regular - Conflito armado entre Estados ou coligação de Estados no qual as operações militares são executadas, predominantemente, por forças regulares, podendo ser:

1) Guerra Convencional - Conflito armado realizado dentro dos padrões clássicos e com o emprego de armas convencionais, podendo ser total ou limitada, quer pela extensão da área conflagrada, quer pela amplitude dos efeitos a obter. É o principal propósito da preparação e do adestramento das FA da maioria dos países;e

2) Guerra Nuclear - Conflito armado caracterizado pelo emprego de armas nucleares. Pode ser total ou limitada, tanto pela extensão da área conflagrada, quanto pelos efeitos desejados. b) Guerra Irregular - Conflito armado executado por forças não regulares ou por forças regulares empregadas fora dos padrões normais da guerra regular, contra um governo estabelecido ou um poder de ocupação, com o emprego de ações típicas da guerra de guerrilhas. Divide-se em:

1) Guerra Insurrecional - Conflito armado interno, sem apoio de uma ideologia, auxiliado ou não do exterior, em que parte da população empenha-se contra o governo para depô-lo ou obrigá-lo a aceitar as condições que lhe forem impostas;

2) Guerra Revolucionária - Conflito armado interno, geralmente inspirado em uma ideologia e auxiliado ou não do exterior, que visa à conquista do poder pelo controle progressivo da nação; e

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3) Guerra de Resistência - Conflito armado em que nacionais de um país ocupado por outro país ou coligação de países, total ou parcialmente, lutam contra o poder de ocupação para restabelecer a soberania e a independência preexistentes. 3.5.2.3. Quanto à amplitude geográfica a) Guerra Mundial - Conflito armado que envolve a totalidade dos países cujo Poder Nacional seja significativo em escala internacional. b) Guerra Regional - Conflito armado que envolve um conjunto de nações geopoliticamente agrupadas, sem generalizar-se por outras áreas. 3.5.2.4. Quanto ao grau de engajamento do poder nacional a) Guerra Total - Conflito armado no qual os beligerantes empregam todo o seu poder nacional, sem restrições quanto aos métodos e engenhos e mesmo quanto às leis convencionais de guerra. b) Guerra Limitada - Conflito armado entre Estados ou coligação de Estados, sem a amplitude da guerra total, caracterizado pela restrição implícita ou consentida dos beligerantes, tais como espaço geográfico restrito ou limitação do poder nacional empregado, pelo menos por um dos beligerantes. 3.5.2.5. Quanto ao poder relativo dos contendores a) Guerra Simétrica - Conflito armado que contrapõe dois poderes militares que guardam entre si semelhanças de capacidades e possibilidades. Normalmente, os contendores adotam majoritariamente técnicas, táticas e procedimentos típicos da guerra regular. b) Guerra Assimétrica - Conflito armado que contrapõe dois poderes militares que guardam entre si marcantes diferenças de capacidades e possibilidades. Trata-se de enfrentamento entre um determinado partido e outro com esmagadora superioridade de poder militar sobre o primeiro. Neste caso, normalmente o partido mais fraco adota majoritariamente técnicas, táticas e procedimentos típicos da guerra irregular. 3.5.2.6. Quanto à nacionalidade dos contendores a) Guerra Externa - Conflito armado, total ou limitado, entre Estados / coligações de Estados. b) Guerra Interna - Conflito armado no interior de um país, regular ou não, visando atender tanto a interesses de um grupo ou do povo quanto a objetivos políticos de um Estado ou coligação de Estados. A Guerra Civil exemplifica esse conceito. 3.5.3 NÍVEIS DE CONDUÇÃO DA GUERRA 3.5.3.1 Em termos de organização, preparação e condução da guerra, as responsabilidades são escalonadas nos níveis de decisão político, estratégico, operacional e tático. 3.5.3.2 No Brasil, o nível político é representado pelo Presidente da República (Comandante Supremo das FA), que tem como órgão consultivo o CDN. A ele cabe, dentre outras atribuições, o estabelecimento dos objetivos políticos de guerra, a celebração de alianças, a formulação de diretrizes para as ações estratégicas de cada campo do Poder Nacional, a definição das limitações ao emprego dos meios militares, ao uso do espaço geográfico, ao direito internacional e aos acordos a serem respeitados.

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3.5.3.3 O nível estratégico transforma os condicionamentos e as diretrizes políticas em ações estratégicas, voltadas para os ambientes externo e interno, a serem desenvolvidas setorialmente pelos diversos ministérios, de maneira coordenada com as ações da expressão militar (expressão prevalecente). Este nível se desdobra em todos os setores da vida nacional. Eventualmente neste nível, as diretrizes políticas e os recursos setoriais de toda ordem podem ser reavaliados e ajustados, mediante a adequação, a flexibilização ou o cancelamento dos objetivos anteriormente fixados, acordados com o nível político. O nível estratégico, no Brasil, é composto pelo MD, Conselho Militar de Defesa (CMiD) e pelos Comandos das Forças Armadas.

3.5.3.4 No nível operacional, são elaborados os planejamentos das campanhas e realizada a condução das operações requeridas pela guerra, em conformidade com a estratégia estabelecida. Os comandos operacionais compõem esse nível de condução da guerra.

3.5.3.5 No nível tático, empregam-se forças militares, organizadas segundo características e capacidades próprias, para conquistar objetivos operacionais ou para cumprir missões. Nesse nível, ocorrem enfrentamentos entre forças oponentes e são utilizados procedimentos padronizados e técnicas associadas ao adestramento e à liderança dos chefes militares.

3.5.3.6 A estruturação dos níveis acima referidos também se apresenta, guardadas as devidas proporções, em caso de outros empregos do Poder Nacional e das FA que não a guerra. 3.5.4 SOLUÇÃO DA GUERRA 3.5.4.1 Seja qual for a sua causa, a solução da guerra será conseguida quando alcançar uma ou mais das seguintes condições: a) a estrutura de apoio ao esforço de guerra do inimigo tiver sido afetada a tal ponto que ele não consiga mais manter poder militar suficiente para o prosseguimento das operações; b) quebra da vontade de lutar do inimigo; c) perda de condições do governo inimigo em congregar o povo para o esforço de guerra; d) redução da capacidade das FA inimigas a um ponto tal que impeça uma oposição efetiva. 3.5.4.2 A situação pós-conflito deve merecer especial atenção dos responsáveis pela guerra, a fim de que sejam propiciadas ao vencido condições para a sua recuperação, fator essencial para o restabelecimento da paz.

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CAPÍTULO IV

ESTRATÉGIA MILITAR

4.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS 4.1.1 Para o cumprimento da sua destinação constitucional e das atribuições subsidiárias, as FA utilizam Estratégias Militares e Princípios de Guerra como fundamentos para o seu emprego. 4.1.2 Estratégia Militar é a arte e ciência de prever o emprego, preparar, orientar e aplicar o Poder Militar durante os conflitos, considerados os óbices existentes ou potenciais, visando à consecução ou à manutenção dos objetivos fixados pelo nível político. Conclui-se, portanto, que a Estratégia Militar se constitui em um dos componentes da Estratégia Nacional. 4.1.3 Um aspecto de suma importância para a Estratégia Militar é "compreender as transformações da guerra mais depressa que o adversário e, em consequência, estar em condições de prever a influência de fatores novos". (André Beaufre). 4.1.4 Princípios de Guerra são preceitos filosóficos decorrentes de estudos de campanhas militares ao longo da História e apresentam variações no espaço e no tempo. São pontos de referência que orientam e subsidiam os chefes militares no planejamento e na condução da guerra sem, no entanto, condicionar suas decisões. 4.1.5 O comandante, ao planejar e executar uma campanha ou operação, levará em consideração o que preconizam os princípios, interpretando-os e aplicando-os criteriosamente em face da situação, decidindo quais irá privilegiar, em detrimento ou não de outros. 4.1.6 As peculiaridades das Estratégias Militares e dos Princípios de Guerra, quando adotados pelo Exército Brasileiro para o cumprimento de suas missões constitucionais, encontram-se amplamente explanadas em documentos específicos da Força. 4.2 CONCEITOS BÁSICOS 4.2.1 OBJETIVOS POLÍTICOS DE GUERRA 4.2.1.1 A concepção da ação estratégica militar deve estar calcada no(s) objetivo(s) que o Estado pretende atingir e no estado final desejado ao término do conflito. Este objetivo é denominado objetivo político de guerra ou, simplesmente, objetivo de guerra. 4.2.1.2 Exemplos de objetivos de guerra: a) conquista da independência; b) substituição de governo;

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c) implantação de novo regime político-econômico; d) difusão de ideologias ou dogmas religiosos; e) manutenção do equilíbrio de poder; f) ampliação territorial; g) conquista de faixa de segurança; h) manutenção de "status quo"; i) rendição incondicional; j) conquista de posições de alto valor estratégico; e k) extinção de um Estado; etc. 4.2.1.3 A seleção de um objetivo de guerra deve estar de acordo com a capacidade do poder nacional de conquistá-lo. 4.2.2 OBJETIVOS ESTRATÉGICOS 4.2.2.1 Os objetivos políticos do conflito deverão ser traduzidos para o nível estratégico, estabelecendo os objetivos das operações militares (objetivos estratégicos). 4.2.2.2 Objetivo estratégico é aquele cuja conquista, destruição ou neutralização contribui para abater a estrutura política, militar, científico-tecnológica, psicossocial ou econômica do oponente, privando-o dos recursos necessários ao prosseguimento da guerra. Pode ser definido, também, como um efeito desejado, em nível estratégico, que deve ser alcançado ou visado e que contribui para a consecução de um objetivo político ou de um outro objetivo estratégico. 4.2.2.3 Os objetivos estratégicos, para efeito de avaliação, podem ser relacionados em dois grandes grupos: a) decorrentes da concepção política (explícitos ou implícitos), dentre os quais podem ser encontrados os próprios objetivos de guerra e os centros vitais de uma área estratégica; e b) decorrentes dos tipos e formas das operações que podem ser realizadas em determinada área, representando interesse imediato para a execução das ações estratégicas previstas (centros demográficos e industriais, instalações de importância, acidentes geográficos notáveis, instalações militares e civis relacionadas com os transportes terrestres, marítimos ou aéreos, nós rodoferroviários, pontos críticos, usinas elétricas, represas, obras-de-arte, etc.). 4.2.2.4 Exemplos de objetivos estratégicos voltados para a expressão militar do Poder Nacional: a) destruição ou neutralização das forças militares inimigas; b) destruição ou ocupação de centros do Poder Nacional adverso (particularmente nas expressões política e econômica), de territórios, áreas ou cidades; c) obtenção do controle ou dissociação da população; d) corte do fluxo de suprimento; e) conquista e/ou manutenção de determinado espaço geográfico, visando ganhar tempo para outras ações; f) neutralização dos meios de sustentação do esforço de guerra adversário; etc.

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4.2.3 CENTRO DE GRAVIDADE 4.2.3.1 Centro de gravidade é a fonte de força, poder e resistência física ou moral que confere ao contendor, em última análise, a liberdade de ação para utilizar integralmente seu poder de combate. O CG, uma vez conquistado ou atingido, poderá resultar no desmoronamento da estrutura de poder, uma vez que se trata de um ponto de equilíbrio que dá coesão às forças, à estrutura de poder e à resistência do adversário, sustendo o seu esforço de combate. Existe em todos os níveis de condução da guerra. 4.2.3.2 O conhecimento do centro de gravidade condiciona a seleção do(s) objetivo(s) de guerra. A ideia de centro de gravidade também subsiste em relação às forças militares oponentes, ou seja, é válido considerar esse ponto vital no aparato militar do inimigo que se defronta. 4.2.3.3 Outro aspecto a se observar é que, ao longo da evolução da situação, o centro de gravidade pode sofrer variação. 4.2.4 LIBERDADE DE AÇÃO 4.2.4.1 Ao se conceber uma ação militar, um dos fatores primordiais a se considerar é o grau de liberdade de ação de que dispõe ou pode dispor o país, para orientar suas formulações estratégicas. 4.2.4.2 O nível político, responsável por estabelecer os objetivos de guerra, pode sofrer limitações decorrentes de diversas circunstâncias, que influenciarão ou não a liberdade de ação. Caso o Estado leve em consideração essas limitações, sua liberdade de ação estará reduzida. Caso contrário, o Estado manterá sua liberdade de ação à custa de sensíveis riscos políticos, econômicos, psicossociais ou militares. Aceitando limitações, o Estado poderá impor condicionantes à formulação da estratégia militar tais como: a) ritmo a imprimir às operações; b) intensidade e extensão da violência; c) emprego de força aérea e/ou de mísseis estratégicos; d) bloqueio naval; e e) áreas restritas. 4.2.4.3 Segundo André Beaufre, cumpre ressaltar que, “em nossos dias, todo conflito somente se pode travar dentro de uma margem bem-definida de liberdade de ação, por causa das repercussões que seu desenvolvimento poderia ter sobre a situação internacional”. 4.3 ESTRATÉGIA MILITAR 4.3.1 MÉTODOS DA ESTRATÉGIA MILITAR 4.3.1.1 O nível estratégico de planejamento, com base nos Objetivos Políticos e na concepção estratégica de emprego da expressão militar do Poder Nacional, pode

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adotar um dos seguintes métodos da Estratégia Militar: ação direta, aproximação indireta, ação indireta e nuclear. 4.3.1.2 A Estratégia Militar da Ação Direta busca a solução do conflito pela vitória militar, mediante o emprego de forças militares com a finalidade de destruir as forças armadas inimigas e/ou conquistar seu território. Esse método exige flagrante superioridade de meios militares e boa liberdade de ação para empregá-los. Nos dias atuais, há que se considerar as normas do Direito Internacional dos Conflitos Armados (DICA) em relação à destruição das forças inimigas. 4.3.1.3 A Estratégia Militar da Aproximação Indireta também busca a solução do conflito pela vitória militar, porém preconiza a adoção de linha de ação que desequilibre o adversário, atingindo seu centro de gravidade e anulando sua capacidade de reação. Desta forma, evita-se o confronto direto com forças inimigas principais e, consequentemente, a destruição total de suas forças, por intermédio de ações em profundidade contra a sua retaguarda (centros de comando e controle, instalações logísticas, centros econômicos e industriais, moral da população, etc.), paralisando-as e forçando-as à rendição. 4.3.1.4 A Estratégia Militar da Ação Indireta não busca a solução do conflito pela vitória militar. Está baseada em ações militares limitadas (bloqueios, bombardeios, incursões, etc.) em complemento às ações políticas/diplomáticas, econômicas e psicossociais, que buscam a submissão do oponente no contexto de uma Estratégia Nacional. Esse método é adotado, normalmente, em decorrência da inferioridade de meios militares e/ou da falta de liberdade de ação e, ainda, da convicção de que a solução para o conflito pode e deve ser obtida sem o emprego da violência máxima. 4.3.1.5 A Estratégia Militar Nuclear busca a solução do conflito pela vitória militar, empregando armas nucleares contra os centros do poder do inimigo e/ou contra as suas forças estratégicas de ataque. Cabe ressaltar que, não sendo o Brasil uma potência nuclear, esse método não constitui uma opção de planejamento estratégico. 4.3.2 MODELOS DA ESTRATÉGIA MILITAR 4.3.2.1 O Exército Brasileiro poderá empregar, de forma singular ou conjunta, os seguintes modelos da Estratégia Militar: Ação Independente, Aliança, Ofensiva, Defensiva, Dissuasão, Presença, Projeção de Poder e Resistência. Esses modelos estratégicos poderão ter caráter nacional (Estratégia Nacional) ou peculiar da Força, de acordo com as circunstâncias em que forem implementadas. Em qualquer caso, poderá se verificar a participação coadjuvante de outras expressões do poder que não a militar. 4.3.2.2 As estratégias da Força Terrestre devem ser desenvolvidas segundo a premissa de que as estratégias de defesa devem ser pensadas em termos de forças armadas integradas (emprego conjunto). 4.3.2.3 Ação Independente: caracteriza-se pelo emprego do Poder Nacional, com preponderância da expressão militar, de forma independente e sem alianças constituídas, por iniciativa e decisão do governo, quando estiverem ameaçadas a

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observância e a consecução de seus fundamentos e objetivos nacionais estipulados na legislação em vigor, com base no princípio da legítima defesa e dos interesses vitais nacionais, e mesmo à revelia dos organismos internacionais. 4.3.2.4 Aliança: caracteriza-se pelo emprego do Poder Nacional, com preponderância da expressão militar, em conjugação com a expressão militar de um ou mais países, constituindo uma aliança ou coalizão de Estados, cujos objetivos e interesses sejam convergentes. 4.3.2.5 Ofensiva: caracteriza-se pela iniciativa das operações em relação ao inimigo, quer concentrando as ações em áreas de interesse, quer desencadeando-as em território inimigo, sem qualquer propósito de anexação deste, mas obtendo vantagens políticas e militares iniciais, visando às futuras negociações de paz. 4.3.2.6 Defensiva: caracteriza-se por uma atitude temporária, adotada deliberadamente ou imposta ante uma ameaça ou agressão, até que se possa retomar a ofensiva. 4.3.2.6.1 Tem por finalidade: a) garantir a ocupação/manutenção de espaço geográfico de interesse; b) economizar meios para aplicá-los em outra região; c) diminuir as vantagens momentâneas do agressor; e d) criar condições favoráveis ao desenvolvimento da ofensiva. 4.3.2.6.2 Preparar a defesa é a melhor opção quando a própria dissuasão é custosa demais ou improvável de ser atingida. Tem caráter eventual e transitório no âmbito da manobra estratégica, mas pode assumir um caráter permanente quando se torna decisiva para a manutenção do potencial nacional. 4.3.2.7 Dissuasão: caracteriza-se pela manutenção de forças militares suficientemente poderosas e prontas para emprego imediato, capazes de desencorajar qualquer agressão militar. 4.3.2.7.1 A capacidade da expressão militar do Poder Nacional e a disposição política de empregá-lo plenamente na Defesa Nacional, desde que sejam internacionalmente críveis, contribuem diretamente para esta estratégia. 4.3.2.7.2 O Brasil adota uma postura estratégica baseada na existência de uma estrutura militar com credibilidade, capaz de gerar efeito dissuasório. No contexto de um plano mais amplo de defesa e a fim de reprimir uma possível agressão armada, o País empregará todo o poder militar necessário e suas reservas mobilizáveis, com vistas à decisão do conflito no prazo mais curto possível e com o mínimo de danos à integridade territorial e aos interesses nacionais, buscando condições favoráveis para o restabelecimento da paz. 4.3.2.8 Presença: caracteriza-se pela presença militar, no território nacional e suas extensões, com a finalidade de cumprir a destinação constitucional e as atribuições subsidiárias. É efetivada não só pela criteriosa articulação das organizações militares no território, como também preponderantemente pela capacidade de rápido deslocamento para qualquer região do País, quando necessário.

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4.3.2.9 Projeção de Poder: caracteriza-se pela participação militar além fronteiras, em situações que possibilitem o respeito internacional ao País, por iniciativa própria ou atendendo a solicitações provenientes de acordos externos e/ou organismos internacionais, visando a apoiar os interesses nacionais relacionados com a manutenção da paz internacional. 4.3.2.10 Resistência: caracteriza-se pelo desenvolvimento de ações militares em um conflito prolongado, de caráter restrito, na maioria das vezes de baixa intensidade, normalmente contra um oponente possuidor de poder militar incontestavelmente superior, e onde normalmente empregam-se ações não convencionais, como táticas e técnicas de guerrilha. Visa a obter a decisão pelo enfraquecimento moral, físico e material do inimigo, por sua desarticulação estratégica e tática, além da obtenção do apoio político e da opinião pública, nacional e internacional. 4.4 PRINCÍPIOS DE GUERRA 4.4.1 Os princípios adotados por um país não se aplicam necessariamente a outros. Eles variam até mesmo entre as FA de um mesmo país, devido às diferentes naturezas dos cenários. 4.4.2 Não existe uma ordem de prioridade na enumeração dos princípios, pois a importância de cada um em relação aos demais varia de acordo com a situação considerada. 4.4.3 O Exército Brasileiro poderá empregar os seguintes Princípios de Guerra: Objetivo, Ofensiva, Simplicidade, Surpresa, Segurança, Economia de Forças ou de Meios, Massa, Manobra, Moral, Exploração, Prontidão e Unidade de Comando. 4.4.4 OBJETIVO 4.4.4.1 Princípio que diz respeito ao estabelecimento de objetivos claramente definidos e atingíveis, a fim de obter-se os efeitos desejados. Por essa razão, a seleção e a clara definição desses efeitos são essenciais para a condução da guerra e para a realização das operações, garantindo que todas as ações militares decorrentes concorram para um único fim, somando esforços e evitando desperdícios de forças em ações que não contribuam para o cumprimento da missão. 4.4.4.2 Uma vez fixado o objetivo, deve-se perseverar na sua busca, sem permitir que as circunstâncias da guerra façam perdê-lo de vista. 4.4.5 OFENSIVA 4.4.5.1 Princípio que se caracteriza por levar a ação bélica ao inimigo, de forma a se obter e manter a iniciativa das ações, estabelecer o ritmo das operações, determinar o curso do combate e, assim, impor sua vontade.

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4.4.5.2 A ação ofensiva é necessária para obterem-se resultados decisivos, bem como para manter a liberdade de ação. É inspirada na audácia, fortalecendo o espírito de corpo e motivando o combatente. Quando obrigado a uma postura defensiva, o comandante deve procurar, por todos os meios, reverter a situação, retomando a ofensiva o mais rápido possível. 4.4.6 SIMPLICIDADE 4.4.6.1 Princípio que preconiza a preparação e a execução de ordens e planos com concepções claras e facilmente inteligíveis, a fim de reduzir a possibilidade eventual de equívocos na sua compreensão, sem prejuízo da precisão e da flexibilidade necessárias. Caracteriza-se, também, pelo estabelecimento de uma relação de comando clara, direta e ininterrupta. 4.4.6.2 A simplicidade, em todos os níveis de planejamento, reduz a possibilidade eventual de equívocos na compreensão das ordens e dos planos, além de facilitar correções que o controle da ação planejada determinar, sem prejuízo da precisão, da flexibilidade e do integral atendimento do propósito. Quando diversos planos atenderem aos demais princípios de forma equivalente, o plano mais simples deverá ser escolhido. 4.4.7 SURPRESA 4.4.7.1 Princípio que consiste em golpear o inimigo onde, quando ou de forma tal que ele não esteja preparado. O comandante que obtém o efeito da surpresa poderá alterar a seu favor, de forma decisiva, a correlação das forças em combate. Esse princípio sugere que os esforços devam ser empreendidos de forma a surpreender o inimigo e não ser surpreendido por ele. Com o emprego da surpresa, poderão ser obtidos resultados superiores ao esforço despendido, compensando fatores desfavoráveis. 4.4.7.2 A surpresa deverá ser buscada nos níveis estratégico, operacional e tático. Manifesta-se pela originalidade, audácia nas ações, sigilo, despistamento, inovação tecnológica e, sobretudo, pela velocidade de execução das ações e dissimulação. 4.4.8 SEGURANÇA 4.4.8.1 Princípio que consiste nas medidas essenciais à liberdade de ação e à preservação do poder de combate necessário ao emprego eficiente das FA, tendo por finalidades: negar ao inimigo o uso da surpresa e do monitoramento; impedir que ele interfira, de modo decisivo, em nossas operações; e restringir-lhe a liberdade de ação nos ataques a pontos sensíveis de nosso território ou de nossas forças. 4.4.8.2 Esse princípio realça três aspectos que devem ser considerados para sua efetiva aplicação: a) A obtenção de informações oportunas e precisas sobre o inimigo é indispensável, não somente para o planejamento das operações como também para evitar-se a surpresa; b) Os planos e a localização das forças e dos pontos sensíveis no território, assim como todas as atividades relacionadas com as ações militares, devem ser cercados

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do maior grau de sigilo possível, o que dificultará a intervenção inimiga nas operações e no esforço de guerra; e c) a existência de doutrina e de mentalidade de contrainteligência, estabelecidas desde o tempo de paz. 4.4.8.3 A segurança não implica atitude defensiva, evitando-se todos os riscos. Uma certa dose de audácia é essencial ao êxito das operações. Demasiado cuidado ou indevida cautela podem comprometer seriamente o uso da ofensiva ou a exploração de vantagens. A aplicação desse princípio requer adequada análise das possibilidades do inimigo, visando em especial à defesa das bases, das fontes de suprimentos, das comunicações e das instalações vitais, com o propósito de reduzir vulnerabilidades e de preservar a liberdade de ação. Esse princípio não busca a eliminação de todos os riscos, mas admite o conceito de risco calculado. 4.4.9 ECONOMIA DE FORÇAS OU DE MEIOS 4.4.9.1 Princípio que se caracteriza pelo uso econômico das forças e pela distribuição e emprego judiciosos dos meios disponíveis para a obtenção do esforço máximo nos locais e ocasiões decisivos. 4.4.9.2 A aplicação adequada desse princípio baseia-se dentre outros, nos seguintes aspectos: a) deslocamento do maior poder combatente disponível para pontos selecionados, dentro do esforço principal, com vistas a buscar ações decisivas; b) apropriada economia de meios ou forças nos locais ou áreas consideradas secundárias; c) emprego adequado de forças nas ações secundárias, liberando forças para a realização do esforço principal; e d) dosagens adequadas dos meios, visando a obter o máximo rendimento com o mínimo de esforços. 4.4.10 MASSA 4.4.10.1 Princípio que compreende a aplicação de forças superiores às do inimigo, em termos de quantidade, qualidade e eficiência, em um ponto decisivo, no tempo devido, com capacidade para sustentar esse esforço, enquanto necessário. 4.4.10.2 Os meios devem ser concentrados para que se possa obter superioridade decisiva sobre o inimigo, no momento mais favorável às ações que se tenham em vista. Essa concentração permite: a) alcançar decisiva superioridade nos locais ou áreas onde o inimigo se apresenta fraco e sem possibilidade de ser reforçado em tempo útil; e b) aplicar o máximo de força para a produção do efeito desejado à campanha ou à operação e para a consecução de seu propósito. 4.4.10.3 A aplicação desse princípio permite que forças numericamente inferiores obtenham superioridade decisiva no momento e local desejado. Não implica obrigatoriamente o emprego maciço de forças, mas a aplicação de golpes decisivos, em superioridade, quando e onde forem requeridos.

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4.4.11 MANOBRA 4.4.11.1 Princípio que se caracteriza pela capacidade de movimentar forças de forma eficaz e rápida de uma posição para outra, contribuindo para obter superioridade, aproveitar o êxito alcançado e preservar a liberdade de ação, bem como para reduzir as próprias vulnerabilidades. A finalidade da manobra é criar, pela utilização da mobilidade de um conjunto de forças, uma situação favorável para alcançar objetivo estratégico ou tático. Dessa maneira, os meios serão dispostos de forma tal que as forças inimigas sejam colocadas em desvantagem, contribuindo para que os propósitos pretendidos sejam alcançados com menores perdas de pessoal e material. 4.4.11.2 O sucesso desse princípio está diretamente ligado à flexibilidade na organização de forças e no apoio logístico, ao adequado C2, à mobilidade, ao grau de adestramento, à qualidade do planejamento, à disciplina, à iniciativa e ao aproveitamento de oportunidades no tempo e no espaço. 4.4.11.3 Enfatiza a exploração da aproximação indireta, não meramente em termos de mobilidade ou movimento espacial, mas também em termos de oportunidade, iniciativa, liberdade de ação e definição do ponto decisivo de aplicação da força. Na guerra moderna, a manobra procura destruir a coesão inimiga, por meio de variadas ações rápidas, localizadas e inesperadas. O inimigo é submetido a uma situação de turbulência, que provoca deterioração de sua capacidade de combate. 4.4.12 MORAL 4.4.12.1 Princípio que define o estado de ânimo ou atitude mental de um indivíduo, ou de um grupo de indivíduos, que se reflete na conduta da tropa. A estabilidade e o moral de cada indivíduo são fundamentados na qualidade da formação, na natureza do indivíduo e determinados por suas reações à disciplina, ao risco, ao adestramento e à liderança. Em um grupo, os estados de espírito individuais são intensificados e o moral torna-se um fator cumulativo que pode variar positiva ou negativamente. A estabilidade do grupo depende da qualidade dos indivíduos que dele participam e de suas reações à ação do comandante. 4.4.12.2 O contínuo aprimoramento e a manutenção de um moral elevado são essenciais ao sucesso na guerra. Nem sempre força numérica, bom armamento e adequados recursos logísticos compensam a carência de moral e a descrença nos objetivos da guerra. 4.4.13 EXPLORAÇÃO 4.4.13.1 Princípio caracterizado pela intensificação das ações ofensivas para ampliar o êxito inicial, sempre que for obtido um sucesso estratégico ou tático, ou houver evolução favorável na situação. A aplicação desse princípio dependerá de julgamento com base em informações confiáveis, de consistente experiência e de apreciável grau de controle sobre a situação, a fim de evitar o desvio do objetivo perseguido pelo escalão mais alto.

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4.4.13.2 A exploração permite tirar vantagem de oportunidades e, consequentemente, empregar as forças em toda extensão de sua capacidade, obtendo efeitos desejados que poderão facilitar a consecução do propósito final. 4.4.14 PRONTIDÃO 4.4.14.1 Princípio que se define como a capacidade de pronto atendimento das FA para fazer face às situações que podem ocorrer em ambiente de combate. A prontidão fundamenta-se na organização, no adestramento, na doutrina, nos meios e no profissionalismo das forças, consubstanciando-se nas seguintes funções militares: comando, inteligência, planejamento, operações, logística e mobilização. Com a prontidão, subentende-se que as forças estão providas dos meios essenciais e organizadas para operações de combate. Isso envolve o preparo antes das hostilidades e, continuamente, no decorrer da guerra. 4.4.14.2 A prontidão do comando está diretamente ligada à adequada estruturação do processo decisório, à eficaz organização do sistema de C2 e ao alto grau de moral, disciplina, instrução, adestramento e do conhecimento doutrinário de assessores e de chefes militares. 4.4.14.3 A prontidão de inteligência refere-se à existência de um órgão de inteligência, já em funcionamento antes do surgimento das hostilidades, capaz de produzir os conhecimentos necessários em todos os níveis de comando. 4.4.14.4 A prontidão de planejamento diz respeito à disponibilidade de planos antecipados e atualizados e da aptidão para se produzirem planos complementares em consonância com as alterações da situação. 4.4.14.5 A prontidão de operações envolve a realização de programas de adestramento que possibilitem a disponibilidade de forças combatentes, caracterizadas por sua resistência física e moral, disciplina, rusticidade e competência profissional, bem como pela existência de reservas devidamente adestradas e equipadas, em condições de emprego operacional. 4.4.14.6 A prontidão logística caracteriza-se pela plena capacidade de transportar, instalar, manter, equipar e abastecer, apropriadamente e com oportunidade, as FA. 4.4.14.7 A prontidão de mobilização caracteriza-se pela permanente capacidade de utilizar ou beneficiar-se dos recursos humanos e materiais disponibilizados pela nação. Refere-se à existência, desde o tempo de paz, de um sistema de normas jurídicas, levantamento de dados, procedimentos e adestramento que permitam uma melhor utilização do potencial nacional. 4.4.15 UNIDADE DE COMANDO 4.4.15.1 Princípio que é caracterizado pela atribuição da autoridade a uma só pessoa, ou seja, à pessoa do comandante. A guerra contemporânea não admite o emprego de FA em campanhas isoladas. Assim sendo, a combinação dos meios e a convergência de esforços tornam-se indispensáveis para que seja obtido o máximo rendimento das forças disponíveis.

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4.4.15.2 Atuando em íntima cooperação, o que somente se consegue com planejamento integrado e emprego coordenado, os esforços serão maximizados para a obtenção das metas comuns. Isso só é possível quando há unidade de comando no mais alto escalão e mentalidade militar unificada em todos os níveis. 4.4.15.3 O princípio compreende as seguintes ideias básicas: a) cadeia de comando bem definida, com precisa e nítida divisão de responsabilidades; b) delegação de autoridade adequada às tarefas determinadas; c) sistema de C2 que permita o exercício pleno do comando e de comunicações seguras e confiáveis entre as forças em operação; c) doutrina operacional bem compreendida, aceita e praticada pelos comandantes em todos os níveis; d) programas de instrução e de adestramento que visem à produção de padrões de eficiência, a um moral elevado e a uma espontânea unidade de esforços; e) acompanhamento das ações planejadas, para identificação dos desvios ocorridos e aplicação das correções pertinentes; e f) exercício do comando baseado em liderança competente, capaz de infundir total confiança e entusiasmo aos subordinados. 4.5 CONCEPÇÃO DA AÇÃO MILITAR 4.5.1 Os fundamentos do Planejamento Estratégico-Militar (PEM) são encontrados na legislação e nos documentos de mais alto nível do país. Assim, o método utilizado no planejamento transforma as condicionantes e as diretrizes políticas em ações estratégicas, voltadas para os ambientes externo e interno, a serem desenvolvidas, de maneira coordenada, por todas as expressões do Poder Nacional. 4.5.2 O Planejamento Estratégico-Militar tem por finalidade construir uma capacidade de defesa, com preponderância de meios militares, para a garantia da manutenção da condição de segurança definida para o país, frente às ameaças externas, possíveis crises ou perturbações na ordem interna. O foco é a orientação do preparo e do emprego conjunto das Forças Armadas, visualizando as eventuais necessidades de articulação com as demais expressões do Poder Nacional. 4.5.3 O PEM é dividido em três etapas características: a) Avaliação da Conjuntura e Elaboração de Cenários; b) Exame de Situação e Planejamento; e c) Controle das Operações Militares. 4.5.4 Mais detalhes sobre o PEM podem ser encontrados nos documentos do Ministério da Defesa que tratam sobre o assunto, como o Manual de Operações Conjuntas (MD30-M-01).

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4.6 CONCEPÇÃO DA AÇÃO NÃO MILITAR 4.6.1 No contexto do planejamento da guerra, o Estado deverá, também, determinar a concepção da ação não militar, para orientar a atuação das demais expressões do poder nacional, de forma a melhor favorecer a ação militar. 4.6.2 No caso de preponderar a estratégia nacional indireta, a ação militar será definida em função das ações a serem desenvolvidas pelas demais expressões do poder nacional, em particular aquela que exercer papel principal. 4.6.3 Nos tempos atuais, proliferam ações correspondentes a estratégias indiretas, tais como provocações, pressões de origens diversas e motivações variadas, aspectos psicológicos, pregação persuasiva (que não se deixa identificar como tal), influência cultural e ideológica e ações que se valem da comunicação social (geralmente explorando causas nobres como a ambiental, a do desarmamento mundial e regional e a dos direitos humanos). 4.6.4 É com base na compreensão desse cenário que se devem considerar as atitudes, medidas e ações estratégicas a adotar, sempre com vistas a preservar os interesses e os objetivos nacionais. 4.6.5 Por não serem objeto específico do presente manual, as ações não militares não serão aqui estudadas em sua essência. Cumpre, entretanto, ressaltar que tais ações, sempre presentes, mesmo na estratégia direta, deverão orientar-se para o esforço nacional de guerra ou de evitar a guerra, desde o tempo de paz. 4.6.6 Dentre as ações estratégicas não militares, cumpre destacar uma de fundamental importância para a defesa nacional – o fortalecimento da base industrial de defesa. Sem isso, o poder nacional estará seriamente comprometido diante da inquestionável possibilidade do surgimento de ameaças aos interesses nacionais, bem como tornará utópica a capacidade dissuasória que se preconiza para o país.

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CAPÍTULO V

A ESTRATÉGIA NO NÍVEL OPERACIONAL

5.1 OPERAÇÕES CONJUNTAS, COMBINADAS, DE COOPERAÇÃO E COORDENAÇÃO COM AGÊNCIAS E INTERALIADAS 5.1.1 CONCEITUAÇÃO 5.1.1.1 Operações conjuntas – As Operações Conjuntas (OpCj) são caracterizadas pelo emprego de meios ponderáveis de mais de uma Força Singular, sob um comando único; constituem a evolução natural na forma de utilização da Expressão Militar do Poder Nacional. A integração das forças navais, terrestres e aéreas na Era do Conhecimento é condição capital para o êxito, desde a fase de geração de capacidades conjuntas até o emprego em operações. 5.1.1.2 Operações combinadas – São operações empreendidas por elementos ponderáveis de forças armadas multinacionais, sob a responsabilidade de um comando único. Adquirem a qualificação de conjunto-combinadas, quando requerem a participação de diferentes forças singulares e nações. (EB70-MC-10.223) 5.1.1.3 Operações de cooperação e coordenação com agências– São as interações das Forças Armadas com outras agências com a finalidade de conciliar interesses e coordenar esforços para a consecução de objetivos ou propósitos convergentes que atendam ao bem comum, evitando a duplicidade de ações, a dispersão de recursos e a divergência de soluções com eficiência, eficácia, efetividade e menores custos. 5.1.1.4 Operações combinadas interaliadas – São aquelas relacionadas com o emprego de forças ou elementos ponderáveis de dois ou mais Estados aliados, sob um comando único, para o cumprimento de uma missão comum. 5.1.1.5 Operações interaliadas – São aquelas relacionadas com o emprego de forças ou elementos ponderáveis de dois ou mais Estados aliados, sem que haja um comando único. 5.1.2 COMANDO 5.1.2.1 As forças conjuntas, combinadas, de cooperação e coordenação com agências e interaliadas caracterizam-se por certas diferenças que existem nos tipos das organizações militares componentes. 5.1.2.2 Entre as forças interagências e as interaliadas, diferenças como doutrina, técnicas e costumes são, normalmente, mais acentuadas. As operações tornam-se mais complexas quando existem diferenças nos sistemas políticos, nas religiões, nos idiomas e nos padrões culturais e filosóficos.

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5.1.2.3 O comandante de uma força combinada, interagência ou interaliada deve conhecer e saber avaliar diferenças, variações e reflexos para as operações. Deve combinar o tato com a determinação, a paciência com o entusiasmo, para assegurar o máximo de eficiência da força. Deve insistir no exercício do comando por meio dos canais estabelecidos, a despeito das dificuldades impostas pelas diferenças de procedimentos e pela barreira dos idiomas. 5.1.3 ESTADO-MAIOR 5.1.3.1 As forças conjuntas possuem seus próprios estados-maiores, que atuam dentro de uma definição precisa de suas responsabilidades. 5.1.3.2 As forças combinadas recebem um estado-maior combinado, de acordo com as prescrições estabelecidas. 5.1.3.3 Nas forças interagências e nas interaliadas pode ser estabelecido um estado-maior misto ou interaliado, ou o estado-maior do comandante da força de maior efetivo, que pode ser ampliado para permitir uma representação equilibrada das outras forças participantes.

5.2 O NÍVEL OPERACIONAL DE PLANEJAMENTO 5.2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

5.2.1.1 O nível operacional de planejamento, representado pelo Teatro de Operações (TO), é o elo vital entre a estratégia militar e o emprego tático das forças na batalha. 5.2.1.2 Neste nível, o planejamento visa ao estabelecimento e à realização de operações de caráter naval, terrestre e aéreo, coordenadas no tempo e no espaço, que permitam alcançar os objetivos militares impostos no planejamento estratégico. 5.2.1.3 O planejamento e a condução das operações neste nível dizem respeito à preparação, ao deslocamento, ao desdobramento e ao emprego das forças do TO, visando a alcançar, em melhores condições, os objetivos fixados pela estratégia militar. 5.2.1.4 O detalhamento dos conceitos a seguir abordados encontra-se disponível em manuais operacionais específicos. 5.2.2 ESTRATÉGIA MILITAR 5.2.2.1 A Estratégia concretiza-se por intermédio das ações que empreende. A Estratégia Militar constitui-se em um dos componentes da Estratégia Nacional. O nível estratégico de planejamento pode adotar um dos seguintes métodos da estratégia militar: ação direta, ação indireta, aproximação indireta ou nuclear. 5.2.2.2 O estudo de outras estratégias é fundamental para haver flexibilidade nos planejamentos, bem como, para a identificação de contramedidas, no caso de identificação que as nossas forças estão sofrendo ações estratégicas.

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5.2.2.3 A Estratégia Militar de Defesa (EMiD), decorrente da Política Militar de Defesa, é o documento de mais alto nível que define as Hipóteses de Emprego (HE) das Forças Armadas (FA) e as estratégias militares a serem empregadas em cada uma delas. 5.2.3 ESTRATÉGIA OPERACIONAL 5.2.3.1 É a arte de deslocar, desdobrar, preparar e empregar as forças armadas, visando a atender, nas melhores condições, aos objetivos que lhes forem designados. Tem por finalidade aplicar forças em uma operação para atingir os objetivos fixados pela estratégia militar, conciliando-as com as possibilidades táticas e técnicas dos meios, buscando superioridade no momento e local desejados, usufruindo a liberdade de ação. 5.2.3.2 O campo de emprego da estratégia operacional é o Teatro de Operações. No tocante à Força Terrestre, ela trata do emprego das forças do Exército na execução da estratégia militar, no âmbito do Teatro de Operações Terrestre. 5.2.4 ESTRATÉGIA OPERACIONAL TERRESTRE 5.2.4.1 É a arte de dispor Grandes Comandos, Grandes Unidades e Unidades terrestres e conduzi-los para a batalha. 5.2.4.2 Assim, a estratégia operacional terrestre define as operações, distribui e conduz as forças nas condições mais favoráveis para alcançar os objetivos, visando a: a) obter a superioridade de meios, pelo menos em região e momento selecionados; b) usufruir da liberdade de ação; e c) adquirir a iniciativa das operações. 5.2.4.3 AÇÃO ESTRATÉGICA MILITAR – Aquela que se realiza no deslocamento, na concentração ou na manobra estratégica, desencadeadas para alcançar um objetivo ou uma finalidade estratégica pela aplicação da expressão militar do Poder Nacional. 5.2.4.4 ÁREAS ESTRATÉGICAS – são as áreas de natureza geográfica (região) ou que envolvem atividades humanas (setor), nas quais se aplicam ações estratégicas. Na caracterização de tais áreas como estratégicas, será importante a constatação de óbices ou a possibilidade de seu surgimento. Desse modo, podem ser consideradas áreas estratégicas ou setores como os da educação, da saúde ou das comunicações, da mesma forma que grandes vazios demográficos em áreas de interesse nacional, regiões de fronteira, grandes centros urbanos e industriais, e certas áreas no exterior, de particular interesse para o país. 5.2.5 NÍVEL DE PLANEJAMENTO OPERACIONAL 5.2.5.1 No nível operacional, o planejamento militar da campanha é elaborado pelo Comandante Operacional, com base no Plano Estratégico de Emprego Conjunto das Forças Armadas (PEECFA) correspondente e demais diretrizes recebidas. Objetiva a condução das operações pelos Comandos Operacionais ativados.

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5.2.5.2 O nível estratégico-operacional, representado pelo TO, é o elo vital entre a estratégia militar e o emprego tático das forças componentes. 5.2.5.3 O planejamento é consolidado pelo Plano de Campanha, que prevê como se dará o emprego para atingir os objetivos estratégicos. 5.2.5.4 O Plano de Campanha deve conter, ao menos: a) o(s) objetivo(s) militar(es) estratégico(s) impostos ao TO; b) os objetivos intermediários, se for o caso (objetivos operacionais); c) a manobra operacional visualizada; d) as fases das operações; e) as relações de comando nos órgãos conjuntos e / ou combinados do TO; f) a organização por tarefas (composição dos meios); g) a combinação prevista de meios, atitudes e direções; e h) dosagem de esforços. 5.2.5.5 Nesse nível, a atividade de Inteligência é intensificada pela integração dos conhecimentos disponíveis no Sistema de Inteligência Operacional (SIOP), no Sistema de Inteligência de Defesa (SINDE) e nos demais órgãos que compõem o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), a fim de suprir as necessidades de conhecimento, cujo levantamento já deverá ter sido iniciado ainda na Etapa de Exame de Situação e Planejamento, assim como atualizar os dados sobre o Teatro de Operações (TO) / as Áreas de Operações (A Op) ou Zonas de Defesa (ZD). 5.2.5.6 Durante o Exame de Situação Operacional, o Comandante do TO verificará se os meios, inicialmente distribuídos no PEECFA, estão adequados às necessidades inerentes à missão que lhe foi atribuída. Solicitará reforços, se for o caso, assim como informará os meios para os quais não foram identificadas tarefas a serem atribuídas, cuja adjudicação tenha se mostrado desnecessária ou não recomendável, após a análise efetuada no nível operacional. 5.2.5.7 As ações estratégicas operacionais são aquelas que utilizam meios predominantemente militares e produzem seus efeitos no TO. Tais ações compreendem: a) o deslocamento estratégico; b) a concentração estratégica; e c) a manobra estratégico-operacional. 5.2.6 DESLOCAMENTO ESTRATÉGICO 5.2.6.1 O deslocamento estratégico tem por objetivo a condução das forças para a área de concentração. No âmbito do TO, o deslocamento das forças da área de concentração para a região onde deverão iniciar as operações militares, ou onde se faça necessária a sua presença, é denominado deslocamento estratégico-operacional. 5.2.6.2 O deslocamento traz em si a ideia de, pelo movimento, gerar a surpresa e dificultar a reação adversária.

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5.2.6.3 DIREÇÃO ESTRATÉGICA – Visualização de uma direção de aplicação de força militar no quadro de uma manobra estratégica. (MD35-G-01) 5.2.6.4 O deslocamento estratégico é de natureza física e seu planejamento deve considerar, normalmente, os seguintes fatores: a) previsão das condições climáticas e meteorológicas; b) condições do terreno; c) capacidade dos transportes, significando não só a natureza e tipos dos meios existentes, como também sua quantidade, possibilidades, manutenção e suprimento; d) possibilidades de interferência do inimigo, que buscará, em suas ações de interdição, impedir ou retardar a concentração estratégica; em consequência os planejamentos devem ser flexíveis e prever alternativas para o caso de interrupções temporárias nos eixos de deslocamento; e) possibilidade de obter-se a surpresa; e f) imposições logísticas.

Fig. 5-1- Deslocamento Estratégico

5.2.7 CONCENTRAÇÃO ESTRATÉGICA 5.2.7.1 Entende-se por concentração estratégica a ação de reunir os meios operacionais em determinadas áreas geográficas, de onde devem deslocar-se para a execução de operações ulteriores com um determinado propósito de emprego. 5.2.7.2 O deslocamento estratégico precede a concentração estratégica, podendo suceder um novo deslocamento, caso a área de concentração não coincida com o local de emprego da força. O essencial é dispor de tempo para que se possa obter a iniciativa das operações.

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5.2.7.3 A concentração estratégica é uma atividade complexa, que envolve o transporte e a instalação de grandes efetivos e ponderáveis quantidades de suprimentos em áreas muito vastas. A concentração estratégica deve atender a uma série de exigências, particularmente a de guardar flexibilidade para reunir a força para ser aplicada em uma manobra decisiva. Por essa razão, o dispositivo da concentração, normalmente, traz em si o embrião da manobra anteriormente concebida. 5.2.7.4 O Plano de Concentração Operacional é o conjunto de medidas e providências que põe à disposição dos comandantes das forças componentes do TO (navais, terrestres e aéreas) os elementos operacionais que lhes foram atribuídos e os meios necessários ao apoio logístico, nos prazos e locais mais apropriados, para que aquelas autoridades os empreguem na execução de suas manobras. 5.2.7.5 Os elementos básicos que servem de instrumento para a elaboração de um Plano de Concentração, no nível TO, são: a) as diretrizes e ordens do escalão superior; b) o Plano de Campanha do comandante do TO; c) os Planos de Mobilização; d) o Plano Geral de Transporte (inclui o Plano de Circulação); e) a concepção de emprego das Forças de Cobertura Estratégica; f) as áreas de concentração selecionadas; g) o dispositivo das forças para o combate e os meios para o Apoio Logístico (Ap Log); e h) a necessidade de proteção terrestre e aérea, inclusive os meios de defesa antiaérea e aérea. 5.2.8 MANOBRA ESTRATÉGICO-OPERACIONAL 5.2.8.1 A manobra estratégico-operacional é um conjunto de ações destinadas a colocar forças, equipamentos ou fogos em situação de vantagem em relação ao inimigo, criando condições favoráveis à realização da batalha (nível tático), a fim de conquistar o(s) objetivo(s) estratégico(s) fixado(s). 5.2.8.2 Na busca dessa vantagem estratégica, a ação se resume, basicamente, na preservação da estabilidade das próprias forças e na adoção de medidas que causem o desequilíbrio das forças inimigas, atuando sobre seu centro de gravidade. Entre outras, as medidas abaixo contribuem para esse fim: a) alteração do dispositivo das forças, explorando-se o princípio da surpresa; realização de ação que divida as forças inimigas; b) atuação sobre os eixos de suprimento; c) atuação contra as estruturas de comando e controle; e d) execução de medidas de guerra psicológica. 5.2.8.3 São elementos básicos da manobra estratégico-operacional: a) os objetivos estratégicos-operacionais; b) a combinação de atitudes (ofensiva e defensiva); c) a combinação de direções estratégicas ou direções táticas de atuação; d) a repartição dos meios; e e) a dosagem de esforços.

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5.2.8.4 Existem duas formas básicas de manobra estratégica: a manobra ofensiva e a manobra defensiva. Essas formas de manobra são válidas, também, para a manobra estratégico-operacional. Estas designações referem-se ao caráter predominante da manobra estratégica, visto que, neste nível, a combinação de atitudes é normal. 5.2.9 FORMAS DE MANOBRA ESTRATÉGICA 5.2.9.1 Manobra estratégica ofensiva

5.2.9.1.1 Ruptura - A manobra central de ruptura ou penetração consiste no rompimento do dispositivo adversário por meio de ações poderosas, visando a criar flancos e possibilitar o rebatimento dos grupamentos de forças sobre eles.

Fig. 5-2. Manobra de ruptura

- RUPTURA (PENETRAÇÃO)

- LINHAS INTERIORES (POSIÇÃO CENTRAL)

- LINHAS EXTERIORES (CONVERGENTE)

- FLANCO (ALA)

- AÇÃO FRONTAL

FORMAS DE MANOBRA ESTRATÉGICA OFENSIVA

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5.2.9.1.2 Linhas interiores - A manobra em linhas interiores ou em posição central consiste na adoção de um comportamento defensivo em todos os grupamentos de forças, à exceção de um que, atuando ofensivamente, visa à destruição de um dos elementos de manobra do inimigo. As ações são divergentes.

Fig. 5-3. Manobra em linhas interiores

5.2.9.1.3 Linhas exteriores - Nesta forma de manobra, dois ou mais grupamentos de forças atuam de forma convergente sobre o inimigo.

Fig. 5-4. Manobra em linhas exteriores

5.2.9.1.4 Flanco - A manobra de flanco ou ala consiste em uma pequena parte da força ser aplicada numa ação secundária frontal, com a finalidade de fixar o principal grupamento de forças inimigas, enquanto a força principal é empregada pelo flanco do dispositivo inimigo, ou por meio de movimento aeroterrestre ou aeromóvel, a fim

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de conquistar objetivo em profundidade que isole o campo de batalha e obrigue o inimigo a lutar em duas frentes, sujeitando-o à destruição.

Fig 5-5 - Manobra de Flanco

5.2.9.1.5 Ação frontal - A manobra de ação frontal é aquela que incide em toda a frente do dispositivo inimigo. Só deve ser empregada por uma força com poder relativo de combate muito superior ao do inimigo. Caso isso não se verifique, permitirá ao defensor executar a manobra operacional defensiva retrógrada (ver item seguinte), apresentando novas resistências em linhas favoráveis e cobrando alto preço em tempo e baixas pela conquista de cada nova posição.

Fig. 5-6. Manobra de ação frontal

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5.2.9.2 Manobra estratégica defensiva 5.2.9.2.1. Em posição - A manobra em posição é realizada numa região que não se pode ceder, em virtude de sua importância estratégica. Sua finalidade é impedir o acesso inimigo à área considerada, ao mesmo tempo em que se procura enfraquecer suas forças. No entanto, não deve ser confundida com uma defensiva inflexível. Todas as oportunidades devem ser aproveitadas para, por meio do contra-ataque, destruir parcelas do poder de combate inimigo. Para isso, é necessário que o dispositivo defensivo tenha uma sólida organização em profundidade. No nível tático, são válidas todas as combinações de formas de manobra defensiva e mesmo, em determinadas situações, ações ofensivas locais. 5.2.9.2.2. Retrógrada - A manobra retrógrada consiste em aproveitar as condições favoráveis do terreno, quanto à profundidade e à existência de obstáculos naturais, para evitar o combate numa situação inicial desvantajosa e, trocando espaço por tempo, decidir o combate em momento e local mais vantajosos. 5.2.10 FASES DA MANOBRA ESTRATÉGICO-OPERACIONAL 5.2.10.1 A manobra estratégico-operacional é normalmente subdividida em fases. Os aspectos a considerar para o faseamento da manobra são os seguintes: a) mudança de atitude estratégica; b) mudança de direção estratégica; c) necessidade de reorganização das forças; d) possibilidades logísticas; e) profundidade da operação; f) duração da operação; e g) características da região de operações.

5.3 AS BATALHAS 5.3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 5.3.1.1 No nível tático, o planejamento é realizado por forças militares, envolvendo a aplicação do poder de combate para alcançar objetivos mais imediatos e oportunos.

5.3.1.2 No interior do TO, ocorrem as campanhas (nível operacional) e as batalhas (nível tático). Normalmente, o Plano de Campanha do TO divide a manobra estratégico-operacional em fases que culminam com a conquista dos objetivos estratégicos impostos ao TO. Dentro de uma fase, podem ocorrer uma ou mais batalhas. 5.3.1.3 As batalhas consistem em uma série de combates relacionados e próximos no tempo e no espaço. O nível estratégico-operacional de planejamento concebe as batalhas e as prepara, procurando estabelecer as melhores condições de tempo e espaço para que elas ocorram. 5.3.1.4 A batalha é a parte mais importante de toda a manobra estratégico-operacional, é a sua culminância. Por meio dela, pode-se atuar diretamente sobre a

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força inimiga e conseguir sua destruição. Compreende uma ou mais operações táticas e consiste no choque violento de forças de valor considerável, mediante o qual os contendores buscam modificar sua situação estratégica, conquistando posições no terreno ou destruindo parcela do poder de combate inimigo. 5.3.1.5 A batalha pode ser breve e travada numa área relativamente pequena ou pode durar várias semanas, cobrindo grandes áreas. Sua decisão se produz com a quebra da capacidade de combate de um dos contendores. 5.3.2 ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS 5.3.2.1 Comandantes dos Comandos Operacionais ativados a) apresentar ao Ministro da Defesa os planejamentos operacionais e a proposta de adjudicação de meios para integrar os Comandos Operacionais; b) planejar, controlar, coordenar e executar o emprego das forças sob seu comando, de acordo com os planos existentes (Estratégico, Operacional e Tático), em consonância com as diretrizes emanadas do Presidente da República e do Ministro de Estado da Defesa; c) planejar, controlar, coordenar e executar operações de adestramento conjunto no terreno, em consonância com as diretrizes emanadas do Ministro da Defesa, baseados nas HE; d) emitir as Diretrizes de Planejamento Operacional para os Comandantes das Forças Componentes subordinadas; e) baseado na Lista de Necessidades, contendo demandas de toda ordem (de inteligência, logísticas, de Comando e Controle (C²), doutrinárias, de adestramento, etc.), elaborada durante as análises e levantamentos realizados desde o nível estratégico de planejamento (PEECFA) e concluída ao fim dos planejamentos operacional e táticos, buscar atualizar em todas as oportunidades os planos que serão utilizados em adestramentos ou em revisões decorrentes da evolução da conjuntura; e f) manter o Min Def atualizado acerca do andamento das operações. 5.3.2.2 Comandantes de Forças Componentes (FCte) - Planejar e executar as operações e ações decorrentes, em consonância com os Planos Táticos que já foram realizados e com as ordens e diretrizes dos Comandantes dos Comandos Operacionais ativados. 5.3.2.3 Comandantes das Organizações Militares não adjudicadas aos Comandos Operacionais ativados e que estejam localizadas na sua área de responsabilidade, quando for o caso: a) conduzir o preparo e a execução da mobilização militar e da respectiva desmobilização, em sua área de responsabilidade, segundo orientação de suas respectivas FA; b) gerenciar e executar o apoio logístico às unidades de suas respectivas FA localizadas no TO ou na área de operações, mas não adjudicadas aos Comandos Operacionais; c) executar, no âmbito de suas atribuições normais de tempo de paz, as atividades administrativas de competência de suas respectivas FA; e d) planejar e executar a defesa e o controle de danos de instalações sob sua

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responsabilidade, ficando em condições de assumir encargos relativos à segurança de área de retaguarda, no TO ou na área de operações, caso determinado pelo comandante operacional ativado. 5.3.3 DOCUMENTOS DE PLANEJAMENTO A tabela 1 apresenta os principais documentos em cada nível de planejamento:

PLANEJAMENTO

NÍVEL DOCUMENTOS

Estratégico (MD)

Diretrizes Estratégicas: – Diretrizes Ministeriais (DMED). – Diretrizes do Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (DPEM). Planos Estratégicos (PEECFA).

Operacional (Comandos

Operacionais ativados)

Diretrizes de Planejamento Operacional. Planos Operacionais.

Tático (F Cte)

Planos Táticos. Diretrizes de Planejamentos Táticos. Ordens de Operações.

Tabela 5-1 – Nível de planejamento e documentos

5.3.4 ÁREAS DE RESPONSABILIDADE DOS COMANDOS OPERACIONAIS 5.3.4.1 A cada Comando Operacional ativado será atribuída uma área de responsabilidade, correspondente ao espaço geográfico no qual o Comandante terá autoridade para condução das operações militares, inerentes à missão que lhe foi atribuída. Consistem em três tipos básicos: a) Teatro de Operações (TO); b) Área de Operações (A Op); e c) Zona de Defesa (ZD). 5.3.4.2 A delimitação das áreas de responsabilidade – TO, A Op e ZD ocorre na elaboração do PEECFA pelo EMCFA. Sua aprovação é atribuição do Comandante Supremo, assessorado pelo Ministro da Defesa. 5.3.4.3 Teatro de Operações (TO) 5.3.4.3.1 TO é o espaço geográfico necessário à condução das operações militares, para o cumprimento de determinada missão, englobando o necessário apoio logístico. Seus limites serão inicialmente estabelecidos por ocasião do planejamento estratégico para uma determinada HE, podendo ser alterados mediante solicitação do Comandante do TO (Cmt TO) e autorização do Comandante Supremo, caso necessário. 5.3.4.3.2 A parcela terrestre de um TO poderá possuir, no sentido da profundidade, duas zonas: a Zona de Combate (ZC) e a Zona de Administração (ZA), e estas deverão ter seus limites fixados ou propostos pelo Comandante do TO.

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5.3.4.4 Área de Operações (A Op) 5.3.4.4.1 A Op é o espaço geográfico necessário à condução de operações militares, cuja magnitude dos meios e complexidade das ações não justifiquem a criação de um TO 5.3.4.5 Zonas de Defesa (ZD) 5.3.4.5.1 As ZD são os espaços geográficos destinados à defesa territorial e constituídos peloparcelamento da Zona do Interior (ZI) –porçãodo território nacional não incluída no TO. 5.3.4.5.2 As ZD poderão conter uma faixa marítima, de dimensões a serem definidas na sua criação, indispensável à execução das tarefas de apoio às operações em terra, de acordo com as HE existentes. 5.3.5 ÁREAS DE INTERESSE 5.3.5.1 As Áreas de Interesse são espaços geográficos onde ocorrem eventos de interesse para o andamento das ações, que estão fora dos limites estabelecidos para uma área de responsabilidade: TO, A Op ou ZD. 5.3.6 COMANDOS QUE PARTICIPAM NA MANOBRA ESTRATÉGICA 5.3.6.1 Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber)

5.3.6.1.1 O Comando de Defesa Cibernética, em seu emprego operativo, atua nos níveis estratégico e operacional, com o objetivo de assegurar o uso efetivo do espaço cibernético pelas Forças Armadas brasileiras e pelos Comandos Operacionais ativados e impedir ou dificultar sua utilização contra interesses da Defesa Nacional. 5.3.6.1.2 A participação do ComDCiber deverá ocorrer em todas as operações, uma vez que é característica do espaço cibernético a ausência de fronteiras físicas, tornando possível, em qualquer situação, a necessidade de ação cibernética contra alvos localizados fora do TO/A Op. 5.3.6.1.3 O ComDCiber estabelecerá canal técnico com a estrutura de Guerra Cibernética dos demais Comandos Operacionais ativados, para coordenar o planejamento e a execução dessas demandas, e para o compartilhamento de informações técnicas. 5.3.6.2 Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE) 5.3.6.2.1 O Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE) tem por missão empregar o Poder Aeroespacial com vistas a garantir a soberania do Espaço Aéreo e a integração do Território Nacional. Para tanto, realiza a defesa do território nacional contra todas as formas de ameaça aeroespacial, a fim de assegurar o exercício da soberania no Espaço Aéreo Brasileiro.

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5.3.6.2.2 O COMAE é uma organização militar com duas funções: Órgão Central do Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDABRA) e Comando Operacional. 5.3.6.2.3 Como Comando Operacional, o COMAE é um Comando Conjunto permanentemente ativado, diretamente subordinado ao Comandante Supremo, e componente da Estrutura Militar de Defesa, o qual, no caso de emprego, designará vetores aéreos para apoio às tropas terrestres. 5.3.6.3 Comando da Zona de Defesa (COMZD) 5.3.6.3.1 A Defesa Territorial tem a finalidade de preservar o potencial material e humano da Nação. Cabe, portanto, ao Comando da Zona de Defesa, como principal responsável pela Defesa Territorial na sua área de jurisdição, a garantia da ordem e da segurança das instalações que têm influência no conflito armado. Contudo, deve-se ter em mente que a Defesa Territorial não terá condições de se opor a ações de vulto do adversário. 5.3.6.3.2 Força Terrestre da Zona de Defesa (FTZD) 5.3.6.3.2.1 Cabe à FTZD, entre outras, as seguintes missões: a) vigiar e guardar as fronteiras terrestres e o litoral, impedindo ou dificultando a infiltração e o desembarque de forças inimigas de pequeno valor ou informando ao escalão superior quanto à presença de forças de maior vulto; b) defender os pontos sensíveis no interior da ZD, bem como garantir a segurança e o perfeito funcionamento dos eixos de suprimentos que demandam para o TO; c) cooperar com as autoridades civis em atividades que visem a garantir o funcionamento dos serviços públicos essenciais e a normalidade da vida da população civil, em coordenação com o COMAE no que for pertinente à Defesa Aeroespacial Passiva; d) operar os meios aéreos e antiaéreos ao seu dispor em coordenação com a autoridade de defesa aeroespacial; e) planejar o apoio logístico, conforme a Doutrina de Logística Militar; e f) caberá ao Comandante da FTZD as atribuições logísticas e operacionais julgadas convenientes a um Comandante de FTC (Força Terrestre Componente) / TO conjunto. 5.3.7 A INTELIGÊNCIA NOS NÍVEIS DE PLANEJAMENTO 5.3.7.1 O Nível Estratégico tem como foco a produção e a salvaguarda de conhecimentos requeridos para a formulação das avaliações estratégicas que consubstanciarão as políticas e os planos militares no mais alto nível, sob o escopo da Defesa Nacional e orientados para os Objetivos Nacionais. O levantamento permanente das capacidades dos países de interesse, e a sua posterior análise, constituem atribuições prioritárias. 5.3.7.2 Neste nível de planejamento, ao se concluir a Etapa de Avaliação da Conjuntura e Elaboração de Cenários, tendo por base o Plano de Inteligência de Defesa (PINDE), prossegue-se a atividade de Inteligência, visando à produção do PEECFA. Essa etapa inicia-se com Reuniões Preliminares de Inteligência (RPI), sob coordenação da Subchefia de Inteligência Operacional (SC2) e com a participação de representantes de órgãos de Inteligência do MD e das Forças Singulares (FS), a

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fim de produzir a Análise de Inteligência Estratégica. Esta Análise deverá estar concluída antes do início do Exame de Situação Estratégico.

Figura 5-7. Sistema Brasileiro de Inteligência 5.3.7.3 Os representantes do EMCFA e das FA designados para compor a célula de Inteligência do Comando responsável pelo planejamento realizarão o estudo do Plano Estratégico de Inteligência (PEI), da Análise de respostas às NI (Necessidades de Inteligência) do PEECFA e dos respectivos bancos de dados, antecipadamente ao Exame de Situação Operacional, nas Reuniões Preliminares de Inteligência (RPI). Esse trabalho é formalizado no documento Análise de Inteligência Operacional. 5.3.7.4 Ao final do planejamento é formalizado o Anexo de Inteligência do Plano Operacional. As NI que não tenham sido esclarecidas irão subsidiar a elaboração do Plano de Obtenção do Conhecimento (POC). 5.3.7.5 A Análise de Inteligência Operacional e as respostas às NI do Comando Operacional realimentarão o “banco de dados”, e como tal servirão de subsídio para o Planejamento Tático, sendo responsabilidade da Subchefia de Inteligência de Defesa e do setor de Inteligência do Comando responsável pelo planejamento a inserção e a atualização deste acervo no Planejamento Operacional, que deverá ser disponibilizado para as consultas necessárias.

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CAPÍTULO VI

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR

6.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS 6.1.1 Não existe metodologia padrão ou universal de planejamento estratégico adotada mundialmente. O que se encontra é um amplo leque de métodos ou de sistemáticas que buscam atender a peculiaridades de cada país, governo ou instituição. Porém, em um aspecto verifica-se unanimidade – o planejamento nada mais é do que a racionalização do processo de tomada de decisão.

6.1.2 Uma visualização genérica das fases de planejamento estratégico é representada abaixo, onde se ressaltam as seguintes etapas: a) diagnóstico: conhecer, em profundidade, a realidade da organização, seu ambiente de atuação interno e externo, público alvo, etc ("quem sou?"); b) política: definição dos objetivos pretendidos pela organização ("o que fazer ou conseguir?"); c) estratégica: levantamento de obstáculos que se antepõem à consecução dos objetivos, de meios disponíveis e de caminhos a seguir para se chegar aos objetivos colimados (“o como fazer”); d) programação: elaboração de planos, definição de ações estratégicas para implementar as estratégias levantadas; e) execução: das ações planejadas; e f) controle: acompanhamento da execução e avaliação dos resultados.

Fig. 6-1 – Etapas do planejamento estratégico

6.1.3 Qualquer que seja a metodologia de planejamento adotada, é fundamental que ela permita ajustamentos oportunos em função das variações conjunturais, particularmente ao se considerar médios e longos prazos. Esses ajustamentos tornam-se ainda mais decisivos nos tempos atuais, em que as transformações de todos os matizes têm ocorrido com velocidade e intensidade impressionantes. 6.1.4 Essa característica da atualidade tem induzido os especialistas a proporem, a cada dia, novas técnicas, metodologias e ações de planejamento estratégico que não só assegurem a sobrevivência das organizações, mas que lhes proporcionem maior competitividade e consecução mais eficiente de suas metas. 6.1.5Um outro aspecto que tem caracterizado o planejamento estratégico na atualidade é a necessidade da adoção de atitude proativa (antecipação a obstáculos previsíveis) e o estudo prospectivo, construído segundo a técnica de elaboração de cenários. Esta técnica não deve ser entendida como "previsão do futuro a partir do

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presente", mas como "possibilidade de ocorrência no futuro", com base nas tendências do presente. 6.1.6 Em síntese, um método de planejamento estratégico de alto nível, como atividade continuada e permanente que deve ser, engloba um conjunto de procedimentos necessários à tomada de decisão e à sua consequente implementação, podendo ser assim resumido: a) conhecimento da realidade (em todas as expressões do poder nacional) nos âmbitos interno e externo; b) exame, interpretação e tendências dessa realidade; c) identificação das necessidades básicas (objetivos) e levantamento dos óbices que dificultam ou podem dificultar sua consecução (vale ressaltar que um dos óbices mais encontradiços em gestão administrativa é a falta de "mentalidade de excelência" dentre os integrantes da instituição); d) avaliação da capacidade (da organização ou do poder nacional); e) atendimento a pressupostos básicos e formulação de hipóteses, como condicionantes para o estabelecimento de objetivos; f) formulação das sequências de ações estratégicas (trajetória estratégica) e escolha das mais indicadas para alcançar os objetivos propostos; g) elaboração de planos em consonância com as diretrizes estratégicas formuladas; e h) execução das ações planejadas e os subsequentes acompanhamento, avaliação e controle. 6.1.7 Uma última consideração a se ressaltar é queo planejamento estratégico implica o envolvimento concomitante de todos os setores integrantes do governo ou da instituição. É fundamental que esses setores se conheçam a fundo para poderem interagir. 6.1.8 Muitos dos aspectos aqui arrolados somente podem ser levantados ou avaliados mediante atividades de inteligência estratégica, da qual o planejamento estratégico não pode prescindir.

6.2 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR 6.2.1 É o planejamento que tem o propósito de definir e organizar funcionalmente as ações relacionadas com o preparo e o emprego do Poder Militar, para atender às demandas de defesa do País. 6.2.2 Trata-se de processo gerencial que examina as principais questões de uma organização, considerando sua missão, sua visão de futuro, seus princípios e valores, e que realiza a análise dos ambientes interno e externo, a fim de definir um rumo amplo na busca de um futuro desejado para a organização. 6.2.3 O planejamento estratégico não deve ser entendido como uma fórmula mágica que assegura o sucesso na resolução de todos os problemas da organização. É preciso entender que, pela própria dinâmica do processo, poderão surgir diferenças entre as intenções, o planejamento e a execução. Por conseguinte, é preciso estar consciente de que existem dificuldades a serem identificadas e superadas no processo de elaboração do planejamento estratégico.

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6.3 PLANEJAMENTO DA DEFESA NACIONAL 6.3.1 O Planejamento da Defesa Nacional segue as prescrições da Constituição Federal, da Política Nacional de Defesa (PND), da Estratégia Nacional de Defesa (END), da Política Militar de Defesa (PMD), da Estratégia Militar de Defesa (EMiD) e da Doutrina Militar de Defesa (DMiD), dentre outros documentos de alto nível. 6.3.2 O Presidente da República é assessorado pelo Conselho de Defesa Nacional (CDN) sobre os assuntos referentes àsoberania nacional e defesa do estado democrático e pelo Conselho Militar de Defesa (CMiD),sobre o emprego dos meios militares. 6.3.3 O detalhamento das etapas do Planejamento da Defesa Nacional encontra-se prescrito em documentação específica de caráter sigiloso.

6.4 SISTEMÁTICA DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR (SPEM) 6.4.1 FINALIDADE 6.4.1.1 A Sistemática de Planejamento Estratégico Militar (SPEM), elaborada pelo Ministério da Defesa, tem por finalidade estabelecer a sistematização do planejamento de alto nível para as Forças Armadas, visando a contribuir para a consecução dos objetivos da Defesa Nacional. 6.4.1.2 A Política Militar de Defesa (PMD) e a Estratégia Militar de Defesa (EMiD) têm por finalidade orientar os planejamentos estratégicos militares das Forças Armadas e do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA). 6.4.2 NÍVEIS DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR 6.4.2.1 O planejamento estratégico militar, como cerne que é do planejamento da defesa nacional, abrange três níveis: o nacional, formado pelas mais altas autoridades do País; o setorial, constituído pelo Ministério da Defesa e pelos demais órgãos com responsabilidades diretas em relação à defesa; e o subsetorial, composto eminentemente pelas Forças Armadas.

6.4.2.2 Os fundamentos do planejamento estratégico militar, no nível nacional, são encontrados na legislação e nos documentos de mais alto nível do País, a começar pela Constituição Federal. Eles têm por finalidade contribuir para a formulação e a condução da Política de Defesa Nacional (PDN) e de outras políticas nacionais que digam respeito ao preparo e ao emprego das Forças Armadas.

6.4.2.3 É fundamental que se entenda a temática da Defesa Nacional como questão de Estado e não como questão de Governo. Como tal, deve ser orientada por políticas de Estado e, assim, alheia a injunções político-partidárias. 6.4.2.4 O planejamento estratégico militar, no nível setorial, tem por finalidade construir uma capacidade de defesa, com preponderância de meios militares, para a

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garantia da condição de segurança definida para o País, frente a ameaças de ataques militares ou de conflitos armados. 6.4.2.5 O planejamento estratégico militar, no nível subsetorial, tem por finalidade construir uma capacidade militar para compor o esforço principal da Defesa Nacional. Ele é realizado pelas Forças Armadas em concordância com diretrizes estratégicas emanadas dos escalões superiores e formaliza-se em políticas, estratégias e planos estratégicos decorrentes, cujos cumprimentos resultam em configurações de forças militares aptas para o emprego.

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NÍVEIS DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR (Defesa Nacional)

NACIONAL (COMANDANTE SUPREMO)

SETORIAL (MINISTÉRIO DA DEFESA)

SUBSETORIAL (FORÇAS ARMADAS)

FATORES CONDICIONANTES FATORES CONDICIONANTES FATORES CONDICIONANTES

Constituição Federal Leis Complementares

Política Conceito Estratégico Nacional

Constituição Federal Leis Complementares

Política Nacional Conceito Estratégico Nacional

Política Nacional de Defesa Estratégia Nacional de Defesa

Cenários Prospectivos Política Militar de Defesa

Estratégia Militar de Defesa Doutrina Militar de Defesa

DOCUMENTO GERADO DOCUMENTO GERADO DOCUMENTO GERADO

Política Nacional de Defesa Estratégia Nacional de Defesa

Política Militar de Defesa Estratégia Militar de Defesa Doutrina Militar de Defesa

(*) Planos Estratégicos Militares de Emprego

Políticas/Estratégias Configuração de Forças

Planos Estratégicos Planos Específicos

PROPÓSITO PROPÓSITO PROPÓSITO

Contribuir para a formulação e a condução da PND e de outras

políticas nacionais relativas preparo e ao emprego das FA.

Construir uma capacidade de defesa, com preponderância de meios militares, para a garantia da segurança do País, frente a ameaças de ataques militares

ou de conflitos armados.

Construir uma capacidade militar para compor o esforço principal

da Defesa Nacional.

REALIMENTAÇÃO - Acompanhamento e avaliação de cenários.

- Alteração de recursos: financeiros, materiais etc.

(*)Estes planos são formulados pela EMiD e servirão de subsídios para a elaboração dos planos operacionais dos Comandos Operacionais ativados.

Tab 6-1. Níveis de planejamento estratégico militar.

6.4.3 CONCEPÇÃO BÁSICA DA SPEM 6.4.3.1 A SPEM subdivide-se em três fases: a) 1ª Fase – Concepção Estratégica e Configuração de Forças; b) 2ª Fase – Planejamento do Preparo; e c) 3ª Fase – Planejamento do Emprego Operacional 6.4.3.2 A 1ª fase trata da identificação das forças militares necessárias à defesa; a 2ª, da obtenção e do preparo das forças identificadas; e a 3ª, das formulações de estruturas operativas e de doutrinas que facultem o emprego das forças militares.

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Fig. 6-2. Representação da SPEM 6.4.3.3 Cumpre destacar a fase do Planejamento do Preparo, que compreende as atividades relacionadas com o processo de obtenção de meios e com a prontificação desses meios para o emprego operacional, ou seja, o aprestamento final dos meios. Ela se formaliza, portanto, pelas confecção e execução dos planos estratégicos específicos de cada Força, visando ao cumprimento das diretrizes e ações estabelecidas nos respectivos conceitos estratégicos. 6.4.3.4 A fase do Planejamento do Preparo é a mais diversificada e complexa de todo o planejamento estratégico militar e é, também, a que demanda os mais expressivos aportes financeiros. Esta fase trata de assuntos relacionados com pessoal, material, toda a cadeia de apoio logístico, ciência e tecnologia, doutrina e estruturas operativas e administrativas, enfim, com adestramentos táticos e outros misteres.

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6.4.3.5 Quanto ao planejamento do emprego operacional, compete ao Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas elaborar o planejamento de emprego conjunto das Forças Armadas para atender aos imperativos da defesa nacional. 6.5 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DO EXÉRCITO 6.5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS 6.5.1.1 Em face das considerações gerais apresentadas no início deste capítulo e, também, de outros aspectos correlatos, o Exército Brasileiro tem buscado aprimorar a sua metodologia de planejamentoestratégico. Para tal, adotou um modelo considerado mais ajustado à sua realidade. 6.5.2 SISTEMA DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DO EXÉRCITO(SIPLEX) 6.5.2.1 O planejamento estratégico no Exército processa-se segundo duas vertentes perfeitamente integradas: a) uma, organizacional, que trata do preparo e do emprego dos componentes da Instituição para o cumprimento de suas missões constitucionais e subsidiárias (planejamento e execução de ações em vários níveis e setores); e b) outra, de gestão, que se refere ao planejamento e descentralização de recursos orçamentários, para atender à execução das atividades previstas no Plano Estratégico do Exército (PEEx); medição, acompanhamento e avaliação da execução do PEEx; levantamento e gestão de riscos; ações de governança e integridade; e adequação das metas do PEEx, conforme a execução físico-financeira do Plano. 6.5.2.2 A metodologia adotada prevê o SIPLEX integrado pelos seguintes documentose respectivas fases: a) Fase 1 - Missão; b) Fase 2 - Análise Estratégica (Diagnóstico Estratégico, Cenários Prospectivos e Indicações); c) Fase 3 - Política Militar Terrestre (Objetivos Estratégicos, Mapa Estratégico); d) Fase 4 - Estratégias Militares Terrestres(Concepção Estratégica do Exército, Estratégias, Ações Estratégicas e Indicadores e Metas); e) Fase 5 - Planos (Plano Estratégico do Exército-PEEx e Planos Estratégicos Setoriais-PES); f) Fase 6 - Orçamentação e Contratação (Proposta Orçamentária do Exército, com base nas Necessidades Gerais do Exército, e Contrato de Objetivos); e g) Fase 7 - Medição do Desempenho Organizacional. – Gestão de Riscos (Plano de Gestão de Riscos). 6.5.2.3 O Sistema de Informações Gerenciais e de Acompanhamento (SIGA) mostrou-se útil para automatizar os processos correspondentes à vertente administrativa e para permitir sua integração ao SIPLEX.

6.5.2.4 O SIPLEX tem, em síntese, as seguintes finalidades: a) estabelecer um método de planejamento, no mais alto nível, do Exército Brasileiro;

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b) racionalizar as atividades de planejamento e a execução das ações em vários níveis e setores; c) acompanhar o planejamento e a execução das ações, realimentando e controlando o sistema; e d) propiciar as melhores condições para o cumprimento da missão do Exército Brasileiro com eficiência, eficácia e efetividade. 6.5.2.5 O objetivo do SIPLEX é a obtenção de unidade de pensamento e de ação doutrinária nas concepções político-estratégica, logística e operacional.

Fig 6-4 Visão esquemática do SIPLEX

6.5.3 PLANEJAMENTO DO PREPARO E DO EMPREGO DA FORÇA TERRESTRE 6.5.3.1 As ações a serem realizadas para o Preparo da Força Terrestre são medidas contínuas referentes aos campos do pessoal e do material, sobretudo na instrução e adestramento, na dotação de meios, na distribuição do pessoal e na mobilização, com o objetivo de permitir que as organizações militares (OM) estejam em condições de participar de operações em ambiente Conjunto, Combinado ou Singular em conformidade com a concepção estratégica de emprego. 6.5.3.1.1 O Preparo da Força Terrestre buscará a obtenção de capacidades operativas, seguindo os fatores determinantes: Doutrina – Organização (e/ou Processos) – Adestramento – Material – Educação – Pessoal – Infraestrutura (DOAMEPI). 6.5.3.2 O emprego da Força Terrestre, de acordo com sua destinação constitucional e em atendimento a compromissos internacionais, pode ocorrer pela aplicação do poder inserido nas estruturas do Comando da Força, isoladamente; ou por intermédio de comandos conjuntos estabelecidos pelo Presidente da República, aos quais será atribuída a missão.

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6.5.4 VERTENTE DE GESTÃO DO SIPLEX 6.5.4.1 O planejamento da gestão é consequência do planejamento estratégico do Exército. A ligação entre as duas faces fica materializada na elaboração do Plano Plurianual (PPA) do Governo Federal e na consolidação das informações oriundas do Plano Diretor do Exército nas "Necessidades Gerais do Exército". 6.5.4.2 O Plano Estratégico do Exército (PEEX), produzido na Fase 5 do SIPLEX, é atrelado ao PPA, tanto em duração quanto em previsão orçamentária. As Atividades das Ações Estratégicas têm de possuir viabilidade econômica, ou seja, têm de ter seu custeio previsto na parcela do PPA que corresponde ao Comando do Exército. 6.5.4.3 A Fase 6 do SIPLEX, Orçamentação e Contratação, coincide com a elaboração do Projeto da Lei Orçamentária Anual (PLOA) e a execução da Lei Orçamentária Anual (LOA). O processo que envolve a elaboração da Proposta Orçamentária do Exército, do PLOA e da execução orçamentária da LOA está representado esquematicamente pela figura a seguir.

Fig 6-5 –Processo de Elaboração da LOA e da execução orçamentária

6.5.4.4 As Necessidades Gerais do Exército (NGE) são compiladas pelo EME, captando as demandas do custeio e manutenção da instituição e as do processo de transformação da Força e são a base para o processo de Orçamentação do Exército. Anualmente ele é iniciado, quando o Governo Federal envia ao Ministério da Defesa a Pré-Proposta Orçamentária, consoante com os objetivos e metas previstos no PPA. Com a edição da Lei de Diretrizes Orçamentárias, são estabelecidos os parâmetros para a elaboração do PLOA com base na Proposta Orçamentária de cada Ministério. A conciliação das NGE às possibilidades oferecidas pelo PPA e pela Pré-Proposta Orçamentária resulta na Proposta Orçamentária do Comando do Exército, que é encaminhada ao MD. Esse por sua vez apresenta a Proposta conjunta das três Forças e do próprio Ministério. 6.5.4.5 Paralelo a esse processo, baseado na Proposta Orçamentária, efetua-se o processo de contratação que é materializado nos Planos de Descentralização de Recursos (PDR) entre o EME e os ODS/ODOp e, na esfera de atuação desses, os

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respectivos Planos Setoriais. Os PDR estabelecem metas físico-financeiras de A+1, para a execução das Atividades das Ações Estratégicas e demais ações correntes do Exército. Os PDR são expedidos concomitantemente com a aprovação do PLOA. 6.5.4.6 A LOA é promulgada em A e as divergências em relação ao PLOA resultam em ajustes nos PDR. As diferentes Ações Orçamentárias (AO) estabelecem o respectivo Programa de Trabalho para o Exercício Financeiro. 6.5.4.7 A execução orçamentária é efetuada pelos diversos órgãos da Instituição e controlada pelos Órgãos da Administração Federal, por meio dos diferentes sistemas informatizados disponíveis. 6.5.4.8 As prestações de contas são realizadas por meio dos diversos processos estipulados pela administração pública, culminando com a elaboração do Relatório de Gestão da Unidade Orçamentária. Cabe destacar que este relatório aborda principalmente a execução do Plano Estratégico da Instituição e suas entregas para a sociedade. Legenda:

DtzEstrt – Diretriz Estratégica Pl - Plano Interno

Exec – Execução PO - Programação Orçamentária

LDO - Lei de Diretrizes Orçamentárias PPA - Plano Plurianual

LOA - Lei Orçamentária Anual PS - Planos Setoriais

MdlAvl - Módulo de Avaliação RM – Região Militar

NGE - Necessidades Gerais do Exército SIGPlan - Sistema de Informações Gerenciais e de Planejamento

LvPrio - Livro de Prioridades

OM – Organização Militar SIAFI - Sistema de Administração Financeira

PDE - Plano Diretor do Exército SIDOR - Sistema Integrado de Dados Orçamentários

PlBas - Plano Básico SIGA - Sistema de Informações Gerenciais e de Acompanhamento

PlEstrt - Plano Estratégico SISPPO - Sistema de Pré-Proposta Orçamentária

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6.5.4.2 O esquema anteriormente apresentado pode ser detalhado conforme a seguinte figura:

Fig. 6-6. Detalhamento do Planejamento Administrativo Legenda:

PIO – Proposta Inicial do Orçamento

PFO – Proposta Final do Orçamento

POE – Proposta do Orçamento do Exército

6.5.4.3 O entendimento mais aprofundado do SIPLEX e de suas vertentes poderá ser obtido mediante consulta aos manuais específicos elaborados pelo Estado-Maior do Exército. 6.5.5 PLANEJAMENTO BASEADO EM CAPACIDADES 6.5.5.1 O Planejamento Baseado em Capacidades (PBC) é uma metodologia voltada a apoiar o planejamento da Força em um mundo no qual o futuro é caracterizado por variadas incertezas, onde as ameaças são difusas e imprevisíveis no tempo e no espaço. 6.5.5.2 Tem como escopo identificar, por meio de permanente análise da conjuntura e em cenários prospectivos, as capacidades exigidas para confrontar quaisquer

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desafios visualizados. A partir daí, interagir com as capacidades disponíveis, com o intuito de obter uma força apropriada para atuar em uma gama de possibilidades imprevisíveis de ocorrência no espaço e no tempo. 6.5.5.3 Permite a concepção, a criação e o emprego de forças de forma ágil e flexível, plenamente contextualizado com a realidade presente e alinhado com as perspectivas de futuro, reduzindo os riscos a que o planejamento de Defesa está submetido. 6.5.5.4 O PBC é contínuo e deve estar de acordo com as imposições governamentais decorrentes das legislações pertinentes (PND, END, dentre outras). Deve considerar, também, a alocação de recursos orçamentários correntes para a Defesa e as necessidades futuras estabelecidas nos cenários prospectivos, que visualizam situações prementes de atuação da Força. 6.5.5.4 Em resumo, o PBC visa a obtenção de Capacidades Militares Terrestres (CMT) e decorrentes Capacidades Operativas (CO) fundamentadas em objetivos estratégicos estabelecidos a partir do nível político da Nação. Nesse contexto, os fatores determinantes para a obtenção das requeridas capacidades são representados pelo acrônimo DOAMEPI (Doutrina, Organização e/ou Processos, Adestramento, Material, Educação, Pessoal e Infraestrutura). 6.5.5.5 O PBC está em processo de estudos e pesquisas para a definição de metodologia apropriada e consequente adoção e aplicação no âmbito das Forças Armadas. Quando admitida, implicará em inovações consideráveis nos métodos e amplitude de planejamentos em utilização pela Força.

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ANEXO A

MODELO PARA ELABORAÇÃO DE ESTUDO ESTRATÉGICO DE ÁREA

1. GENERALIDADES

a. O estudo estratégico de área consiste, basicamente, na compilação ordenada e atualizada de todos os elementos, mensuráveis e não mensuráveis, que possam ser de interesse para o planejamento geral de qualquer ação estratégica em determinada área ou para a exata compreensão de estratégias que nela estejam em curso. O estudo estratégico permite detectar não apenas as potencialidades da área, mas também suas vulnerabilidades, ou seja, suas deficiências ou pontos fracos passíveis de serem explorados por um oponente. Em toda estrutura, existem elementos fundamentais que, sendo eliminados, enfraquecidos, agravados ou desarticulados, provocam o seu desmoronamento.

b. Os modelos existentes para o estudo estratégico de uma área servem apenas como referência, devendo esse estudo ser adaptado a cada caso particular, em função das informações disponíveis, do grau de desenvolvimento da área em questão e, principalmente, da finalidade do estudo.

c. Os fatores que são considerados na caracterização de áreas estratégicas podem ser enquadrados nas seguintes categorias básicas:

(1) poder e potencial estratégico;

(2) posição estratégica;

(3) óbices; e

(4) vulnerabilidades.

d. Poder e potencial estratégico – são avaliados quanto a suas possibilidades em relação aos objetivos considerados, quanto a suas vulnerabilidades em relação aos óbices e quanto à formulação de um juízo de valor sobre sua capacidade, com vistas à ação política.

e. Posição estratégica – é a situação geográfica da área em relação aos centros do poder ou a áreas de interesse vital para o país. Determinadas áreas podem ser consideradas como estando em posição estratégica por servirem de pontos de apoio para a execução de ações estratégicas em outras áreas.

f. Óbices – os óbices existentes ou potenciais são fundamentais para a caracterização da área enfocada. Em última instância, as ações estratégicas nela desenvolvidas terão como finalidade precípua a superação de tais óbices, de modo a impedir o enfraquecimento do poder nacional.

g. Vulnerabilidades – são os óbices (deficiências) passíveis de serem explorados pelo oponente. Assim, a existência de condições peculiares ao subdesenvolvimento, a escassez de matérias-primas, as dificuldades e os estrangulamentos no sistema de transporte são exemplos de deficiências na expressão econômica do poder nacional que a ação de oponentes pode transformar em vulnerabilidades. Outros exemplos podem ser citados: instabilidade política, caracterizando deficiências na expressão política; equipamentos militares obsoletos ou tecnologia ultrapassada, como deficiências na expressão militar; etc.

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2. ZONA DE POTENCIAL ESTRATÉGICO

a. Este conceito refere-se a região caracterizada pela existência de: “território extenso e contínuo; posição continental (na acepção de massa terrestre continental banhada por oceanos ou mares abertos); riqueza natural diversificada; população numerosa, densa e coesa e com capacidade realizadora; estruturas políticas unitárias; progresso científico e poder econômico”.

b. É importante não se menosprezar a análise dos fatores de ordem histórica e estrutural, valorizando-os da mesma forma que os fatores de ordem geográfica e geoestratégica.

c. Em relação ao grau de desenvolvimento de uma área, há, normalmente, um rol muito grande de elementos que devem ser considerados. Entretanto, o fundamental é que o estudo seja norteado pelos conceitos de quantidade, qualidade e eficiência de funcionamento dos elementos abordados.

3. ÁREA ESTRATÉGICA

a. Caracterização – Áreas, regiões ou setores são caracterizados como estratégicos quando, no seu estudo, ficar constatada a presença ou a possibilidade de interesses nacionais significativos, bem como a existência de óbices importantes, fazendo-se necessária a aplicação de ações estratégicas.

b. Determinação de áreas estratégicas

Durante os estudos que culminam com a formulação da Concepção Estratégica Nacional (CEN), começam a se configurar as primeiras áreas estratégicas, considerando-se os interesses, os óbices existentes e as características de cada região.

Configuradas tais áreas, torna-se necessário definir os seus limites, definição essa que, no início, pode não ser precisa. A definição inicial dos limites de uma área estratégica é buscada por meio do processo das tentativas pela coincidência de unidades geográficas, econômicas, políticas, psicossociais e militares, sofrendo ao longo do processo os reajustamentos necessários.

As áreas estratégicas podem localizar-se no próprio território nacional (internas), fora dele (externas) ou em regiões que englobam espaços nacionais e estrangeiros (mistas).

Convém ressaltar que algumas áreas passam a ser consideradas estratégicas somente após determinada época. Outras, ao contrário, perdem seu caráter estratégico com o passar dos anos. O Oceano Ártico, por exemplo, inexpressivo por ocasião da II Guerra Mundial, é hoje uma importante área estratégica, por permitir que os países por ele banhados projetem seu poder em outros territórios.

4. ÁREA OPERACIONAL

a. Área operacional é a área estratégica, ou parte dela, relacionada com o planejamento de ações predominantemente da expressão militar do poder nacional e onde possíveis operações militares podem ocorrer.

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b. A principal diferença entre uma área estratégica e uma área operacional é que aquela se relaciona com ações de todo o poder nacional, enquanto que esta se volta, predominantemente, para as ações militares, sem excluir as ações das demais expressões do poder, ou seja, admite-se que as operações militares devem se desenrolar nas áreas operacionais. Da mesma forma, quando se estuda uma área com ênfase para o preparo e a aplicação militar, ela passa a ser considerada, para esse estudo, uma área operacional.

c. Quando do estabelecimento da CEN, ao serem formuladas as possíveis hipóteses de emprego, é feita uma primeira indicação das áreas onde, presumivelmente, serão realizadas operações militares. Os estudos subseqüentes à CEN irão possibilitar que se complementem as indicações iniciais, de forma a se configurar, com maior nitidez, as áreas operacionais a serem efetivamente consideradas. A delimitação mais precisa de tais áreas será obtida no prosseguimento do processo de planejamento da defesa nacional.

5. ESTUDO ESTRATÉGICO DE ÁREA

a. Fundamentos O estudo estratégico é composto, basicamente, de análise e de síntese,

constituindo valioso subsídio para a decisão ou para a atuação dos responsáveis pelo planejamento da ação política.

Por intermédio do estudo estratégico, coletam-se e selecionam-se os dados da área, avaliando-os judiciosamente, de modo que se possa chegar a uma decisão adequada, oportuna e coerente.

O Estudo Estratégico pode-se referir tanto a áreas imprescindíveis à defesa nacional quanto a áreas de interesse do Estado. Para este caso, devem-se considerar as adaptações necessárias, na metodologia a seguir apresentada.

Para que haja padronização em estudos desse nível, é necessário conhecer sua metodologia.

b. Metodologia – O estudo estratégico de área, seja puramente estratégico seja operacional, compreende três fases:

1ª fase: levantamento estratégico;

2ª fase: avaliação estratégica;

3ª fase: exame estratégico.

c. Levantamento estratégico (1ª fase) O levantamento estratégico de uma área tem por finalidade principal a

apuração de todos os dados e elementos que determinam ou condicionam o poder e o potencial da referida área. Consiste, basicamente, na coleta de dados e informações que facultam o conhecimento da área em seus aspectos positivos e negativos.

Trata-se de trabalho metódico e contínuo, realizado desde o tempo de paz, em que se faz sempre presente o cuidado na obtenção de dados e informações exatas, com a devida antecedência, sem a preocupação de estabelecer relações com os óbices existentes ou potenciais.

Existem, em certas áreas, dados que são permanentes ou de mutação muito lenta no tempo e no espaço. Outros há, contudo, que variam de acordo com diversos fatores. Daí a necessidade da constante atualização das informações e dos dados obtidos.

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Os trabalhos nesta 1ª fase revestem-se de características essencialmente dinâmicas, exigindo atividade constante e pertinaz dos órgãos ou elementos encarregados de realizar o levantamento estratégico.

Distingue-se de outros tipos de levantamento estatístico por suas finalidades estratégicas e pelo seu uso futuro na avaliação estratégica.

Ao se fazer o levantamento estratégico de uma área operacional, não se deve esquecer a motivação básica que preside o entendimento desse conceito, qual seja, o da predominância de ações da expressão militar. Este deve ser o enfoque por ocasião da coleta de dados e informações, mas sem a preocupação de estabelecer juízos a respeito do valor do oponente admitido.

d. Avaliação estratégica (2ª fase) 1) A avaliação estratégica consiste em se determinar se as possibilidades e

vulnerabilidades existentes na área podem interferir, favorável ou desfavoravelmente, em relação aos objetivos e políticas estabelecidas pelo Estado. Em resumo, a finalidade principal desta fase é confrontar o valor do poder e do potencial da área com os óbices existentes.

2) Na avaliação estratégica de uma área operacional, devem ser consideradas as seguintes características:

a) Condições de acesso – dizem respeito à facilidade de aproximação de meios, determinadas pela existência de vias de acesso e de direções estratégicas que possibilitem a chegada de forças militares à área, bem como ao levantamento de distâncias a percorrer, de obstáculos e de regiões para concentração. Os reflexos sobre as condições de acesso à área são verificados durante esta fase, quando do estudo da posição relativa, do relevo, da hidrografia, do solo, do clima e da vegetação;

b) Condições de mobilidade – apreciam a capacidade de movimentação na área. Ao ser feita a avaliação estratégica, deve ser considerado o efeito do relevo, do solo, da hidrografia, do litoral, da vegetação, do clima e da rede viária nas condições de mobilidade apresentadas pela área;

c) Condições de visibilidade – abrangem as considerações a respeito das condições favoráveis à visibilidade horizontal e vertical na área. Dependem, principalmente, das características do relevo, da vegetação e do clima;

d) Condições favoráveis às comunicações – referem-se à dependência do material existente na áreae das possibilidades técnicas de sua utilização. Essas condições estarão também influenciadas pelo relevo, pela vegetação e pelo clima;

e) Recursos disponíveis – apreciam as possibilidades da área em termos de recursos à disposição, sua quantidade, qualidade e localização, bem como seus reflexos no apoio às operações militares que aí se desenvolverem. Não se pode esquecer do atendimento também às necessidade civis locais. Ao serem analisados os fatores fisiográficos, devem ser verificados, por exemplo, os efeitos da geologia (fertilidade do solo, existência de mineração e de materiais de construção), da hidrografia (suprimento de água) e da vegetação na disponibilidade de recursos que a área apresenta; e

f) Vulnerabilidades – a ausência ou deficiência de qualquer uma das características acima citadas representa uma vulnerabilidade da área em estudo, desde que possa vir a ser explorada pelo oponente.

3) Considerações a) Na avaliação estratégica de uma área operacional, deve-se fazer a

confrontação das hipóteses de emprego com as apreciações decorrentes do levantamento estratégico dessa área. Esse confronto tem como finalidade principal

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determinar o valor da área e suas possibilidades no apoio às operações militares que aí poderão ocorrer. Esta é, pois, a essência da 2ª fase.

b) Ao término da avaliação estratégica de uma área operacional, deve-se estar em condições de determinar:

- os objetivos estratégicos da área; - a natureza e o valor das forças amigas e oponentes que podem ser

empregadas na área; - a adequação geral da área para a condução das operações militares

e para a execução das ações estratégicas previstas. (1) Objetivo Estratégico - Os objetivos estratégicos podem ser políticos ou militares,

ressaltando-se que estes deverão constituir passos intermediários para a conquista daqueles.

- Para efeito de estudo, os objetivos estratégicos podem ser relacionados em dois grandes grupos, a saber:

• objetivos explícitos e implícitos, decorrentes das hipóteses de emprego;

• objetivos decorrentes dos tipos e formas das operações que podem ser realizadas e das ações previstas para a área.

- Entre os objetivos do primeiro grupo, podem ser encontrados os próprios objetivos estratégicos políticos e os centros vitais que caracterizam a área como estratégica.

- Já os do segundo grupo são mais ligados aos objetivos de interesse imediato para a execução das ações estratégicas previstas, tais como: centros demográficos e industriais; instalações importantes; acidentes topográficos notáveis da área; instalações militares e civis relacionadas com os transportes terrestres, marítimos e aéreos; nós rodoferroviários; pontos críticos; usinas elétricas; instalações nucleares; represas; obras de arte ; etc.

(2) Natureza e valor das forças - A natureza das forças que podem atuar na área relaciona-se,

principalmente, com os fatores fisiográficos, com as ações estratégicas previstas e com os tipos e formas de operações previsíveis. No caso de forças terrestres, por exemplo, se existirem planícies bastante permeáveis ao movimento, há facilidade para operações com blindados, mecanizados e tropas paraquedistas.

- Para a avaliação dos efetivos (valor das forças) que a área pode comportar, consideram-se, particularmente, dentre outros, os seguintes fatores:

- os recursos existentes na área e os que podem proceder de outras regiões, dentro das reais possibilidades de transporte e levando-se em conta, também, as necessidades mínimas da população civil e respectivas atividades;

- a amplitude da área e os objetivos estratégicos nela existentes ou que podem, por meio dela, ser alcançados.

(3) Adequação geral da área - A adequação da área para a condução de operações militares resulta,

fundamentalmente, do confronto da sua base fisiográfica com as ações estratégicas que podem nela ser desencadeadas e com os tipos e formas de operações previsíveis, que podem ser executadas tanto pelas forças amigas como pelas oponentes.

- A avaliação estratégica fornece, assim, elementos que vão condicionar a 3ª fase, seja qual for o exame estratégico da área, dando-lhe objetividade e realismo e evitando a formulação de linhas de ação impraticáveis.

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e. Exame estratégico (3ª fase) 1) O exame estratégico de área tem por finalidade principal apreciar as ações

estratégicas que devem ser preparadas e conduzidas nessa área pelas diferentes expressões do poder nacional, de forma a atender, nas melhores condições, aos objetivos propostos pela política nacional.

2) Ao final desta fase, resultam as ações estratégicas, ou seja, as várias opções (linhas de ação estratégicas) para serem selecionadas pela autoridade competente, envolvendo as diversas expressões do poder.

3) De modo geral, o exame estratégico consiste em: a) apreciar, em face da CEN, as diversas alternativas das expressões do

poder nacional, compatíveis com a importância da área e necessárias à conquista ou à salvaguarda dos objetivos nacionais;

b) examinar o efeito dos óbices que podem se antepor às ações projetadas ou com elas interferir desfavoravelmente;

c) estabelecer uma ordem de prioridade entre as ações estratégicas que melhor atendam à conquista e à manutenção dos objetivos nacionais estabelecidos.

4) As ações no campo da estratégia nacional comportam, em grau variável, a combinação de ações políticas, econômicas, psicossociais, científico-tecnológicas e militares, caracterizando-se pela predominância do conteúdo ou dos efeitos diretos de uma ou mais expressões e complementando-se por ações de apoio das demais expressões. Em cada caso específico, devem ser apreciadas a ação predominante e as ações complementares, que serão desencadeadas simultaneamente.

5) Como resultado do exame estratégico, são sugeridas ações estratégicas à autoridade competente, de forma que ela tenha condições de selecionar aquelas que julgar mais adequadas, tomando, assim, uma decisão que irá servir como diretriz para os planejamentos subsequentes.

6) É evidente que, no exame de uma área operacional, predominam as ações estratégicas de interesse da expressão militar, relacionadas tanto ao preparo como ao emprego dessa expressão na referida área.

7) Por isso, o exame estratégico de uma área operacional consiste, ainda, em:

a) verificar todas as possibilidades do oponente que possam interferir nas ações estratégicas previstas para a área;

b) enumerar, na ordem de prioridade, as ações estratégicas de interesse da expressão militar, visando à tomada de uma decisão que irá servir de base para o planejamento militar subsequente, decisão essa que regulará o preparo indispensável da expressão militar e a própria realização de ações militares na área.

8) A decisão servirá de base para o planejamento estratégico militar, que objetiva o preparo e a aplicação das ações militares nessa área operacional.

f. Conclusão 1) Os estudos estratégicos de áreas estratégicas são basicamente regidos

pela mesma metodologia, apresentando, no entanto, diferenças na execução em face do âmbito mais restrito a ser focalizado no caso das áreas operacionais. O estudo estratégico de área operacional é realizado com a finalidade de identificar cada uma das deficiências da área (existentes ou potenciais), delimitando-as tão precisamente quanto possível, para verificar o que a ação do oponente pode transformar em vulnerabilidade. Deve-se, então, classificá-las por ordem de importância e de urgência, para determinar as ações estratégicas a planejar, preparar e executar.

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2) Percorridas as três fases do estudo estratégico, pode-se resumi-las da seguinte forma: o levantamento reúne dados objetivamente, quase em termos absolutos; a avaliação estabelece juízos de valor, compara, entra no domínio da relatividade dos fatores e eventos; o exame projeta as alternativas do comportamento para fazer frente a cada situação numa determinada área.

3) A seguir, ressalta-se a importância da inteligência estratégica, que está presente em todas as fases do estudo, com destaque para as estimativas, fruto de seu elevado valor estratégico.

6. INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA

a. Nos tempos atuais, a gama de conhecimentos inerentes às atividades humanas torna-se cada vez mais ampliada e complexa, com inequívoco reflexo para aqueles que desejam ou necessitam deter o poder. Nesse contexto, informar-se é fundamental, sobretudo quando se trata de obter um conhecimento antecipado que proporcione visão prévia do que pode acontecer, permitindo identificar comportamentos ou reações diante de fatos ou situações futuras, em qualquer nível de ação.

b. As informações podem abranger aspectos amplos e gerais ou restritos e específicos, e sua necessidade avulta quando se trata de obter conhecimentos que, por sua natureza, devam ser pesquisados e produzidos com o objetivo de serem utilizados para bem fundamentar decisões nos mais altos escalões governamentais. O estudo estratégico de área consiste nesse trabalho de produzir conhecimentos adequados e oportunos, que favoreçam os atos decisórios, enquadrando-se, pois, no campo da inteligência estratégica.

c. Informação estratégica é o conhecimento que tenha ou possa vir a ter reflexos em qualquer expressão do poder nacional, produzido com a finalidade de atender às necessidades de planejamento e à condução de ações de alcance estratégico.

d. Ela encerra conhecimentos necessários à conquista e/ou à manutenção dos objetivos nacionais.

e. As informações estratégicas não designam objetivos, não estabelecem políticas, não formulam planos e não executam operações (exceto as específicas de inteligência). Elas apenas servem de subsídio para os estudos e tomada de decisões.

f. Em relação ao estudo estratégico de área, cumpre considerar três tipos de informações estratégicas, classificadas de acordo com sua validade no tempo:

(1) Informação básica – Quando se refere a conhecimentos estáveis, já consolidados, levantados ou catalogados, abrangendo todos os setores de atividade e de caráter relativamente permanente. É utilizada com a finalidade de proporcionar os elementos necessários aos planejadores e executores da política e da estratégia nacional. Como o próprio nome indica, essa informação serve de base para produção de outros conhecimentos, particularmente para acompanhar o desdobramento de determinadas atividades ao longo de um período. O levantamento estratégico (1ª fase), por exemplo, constitui informação básica que fornece grande volume de dados sobre todas as expressões do poder nacional.

(2) Informação corrente – É o conhecimento dinâmico, sempre atualizado, da conjuntura interna e externa em todas as expressões do poder nacional, que

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propicia dados de valor imediato aos usuários. É utilizada para atualizar a informação básica, permitindo acompanhar a tendência ou a evolução dos acontecimentos que se desenrolam no país e no cenário internacional.

(3) Informação estimada ou estimativa (a) É a projeção, em futuro previsível, de um fato ou uma situação, feita

com base na análise objetiva de todos os dados envolvidos e no estudo das possibilidades e probabilidades de sua evolução. Exige do analista conhecimento, argúcia, isenção, experiência e, principalmente, absoluta correção e precisão ao expressar seu pensamento.

(b) O conhecimento estimado, proporcionando elementos que permitam levantar linhas de ação prováveis e possíveis intenções de outras nações, evita que os dirigentes do país sejam tomados de surpresa pelas modificações na política internacional. Da mesma forma, no âmbito interno também podem ser elaboradas estimativas sobre os elementos de todas as expressões do poder nacional. Pelo seu grande valor estratégico, as estimativas são consideradas o mais nobre produto da inteligência estratégica.

(c) As informações nitidamente militares também podem ser básicas, correntes e estimativas. Merecem destaque as estimativas militares pelo acentuado reflexo que terão na formulação da política de preparo e emprego da expressão militar. Essas estimativas devem abranger, dentre outros, os seguintes elementos:

1) capacidade de mobilização; 2) avaliação do potencial militar da nação-alvo e sua possibilidade de

transformação em poder; 3) capacidade produtiva de material de defesa; 4) prováveis TO; 5) objetivos estratégicos; 6) direções estratégicas; 7) evolução da doutrina militar; 8) acordos militares e alianças.

(4) Em termos de planejamento de guerra, buscam-se informações sobre o poder e o potencial do oponente e sobre a capacidade do nosso poder nacional de sobrepujá-lo, sobre as possibilidades de o oponente conseguir o apoio de outras nações e sobre a nossa capacidade de impedir essas alianças e de buscar apoio externo.

(5) Para atender ao Plano Militar de Guerra, as necessidades de informações incidem sobre as possibilidades de mobilização do oponente, o material de que ele dispõe e sobre sua capacidade econômica de apoiar as operações e de durar na ação. Em relação ao nosso País, tais necessidades voltam-se para definir as possibilidades de, com nossos meios e potencial, atingir os objetivos de guerra colimados.

Apêndices: 1 – Memento para o levantamento estratégico de área 2 – Memento para a avaliação estratégica de área operacional 3 – Memento para a avaliação estratégica de área operacional específico para

defesa territorial e garantia da lei e da ordem.

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APÊNDICE 1 ao Anexo A

(Memento)

LEVANTAMENTO ESTRATÉGICO DE ÁREA

000 – CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

010 – Aspectos Gerais 011 – superfície e forma

012 – faixa fronteiriça

013 – posição relativa

014 – regiões naturais

020 – Geologia 021 – rochas e tipos de solos

030 – Orografia 031 – configuração do solo em seu conjunto

032 – acidentes do relevo; direções e altitudes

040 – Hidrografia 041 – bacias e rede fluvial

042 – lagos, açudes e canais

043 – quedas de água e suas características

044 – regimes de águas

045 – navegabilidade

050 – Climatologia 051 – elementos e fatores do clima e sua influência sobre o solo

052 – zonas climáticas

053 – regime de chuvas

060 – Vegetação 061 – revestimento florístico, espécies e áreas cobertas (zonas de vegetação)

062 – camuflagem (possibilidades)

063 – permeabilidade

070 – Litoral 071 – faixa litorânea e seu aspecto

072 – águas adjacentes e seus movimentos

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073 – plataforma continental submarina

080 – Apreciação 081 – a extensão, a forma e a posição em relação a outros países ou áreas

082 – regiões naturais; características principais e valor relativo

083 – os fatores fisiográficos (geologia, relevo, clima, hidrografia e vegetação) como condicionantes do povoamento e da capacidade de produção

084 – os fatores fisiográficos e suas influências nos transportes (barreiras e caminhos naturais de penetração das regiões naturais)

085 – vegetação, quanto à permeabilidade e à possibilidade de camuflagem

086 – a faixa litorânea, as áreas adjacentes e seus movimentos e a plataforma continental; reflexos na economia e na acessibilidade

100 – FATORES PSICOSSOCIAIS

110 – Antecedentes Históricos e Sociais 111 – evolução histórica e social

112 – idioma oficial, idiomas e dialetos de grupos diversos

113 – raças (regiões étnicas, miscigenação, etc)

114 – classes sociais

120 – População 121 – Aspectos demográficos

121.1 – efetivos humanos

121.2 – distribuição pelo território (regiões demográficas) e Densidade

121.3 – composição da população (sexo e idade)

121.4 – taxas de natalidade, mortalidade e sobrevivência

122 – Movimentos da população

122.1 – imigração e emigração

122.2 – migrações internas

123 – Núcleos estrangeiros

123.1 – distribuição e densidade

123.2 – nacionalidade

123.3 – tendências políticas

123.4 – desenvolvimento e atividades

124 – Mão de obra

124.1 – distribuição por atividades econômicas

124.2 – agropecuária, caça e pesca

124.3 – produção industrial

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124.4 – transportes

124.5 – comunicações

124.6 – comércio

124.7 – outras

130 – Saúde Pública 131 – estado sanitário geral

132 – padrões sanitários

133 – regiões endêmicas

140 – Situação Cultural e Religiosa 141 – Educação

141.1 – ensino em geral

141.2 – ensino militar

141.3 – ensino profissional

141.4 – ensino técnico

141.5 – profissões liberais

141.6 – institutos de altos estudos

141.7 – institutos de ensino e pesquisa na área de ciência e tecnologia

142 – Cultura

142.1 – desenvolvimento

142.2 – centros culturais

142.3 – propaganda e difusão

143 – Cultos

143.1 – desenvolvimento

143.2 – hábitos nacionais

143.3 – influência religiosa e sua força

143.4 – atitude em relação ao governo

143.5 – propaganda e difusão

150 – Trabalho, Previdência e Assistência Social 151 – Trabalho

151.1 – organização

151.2 – legislação

151.3 – política trabalhista do governo

151.4 – padrão de vida e salários

152 – Previdência Social

152.1 – organização

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152.2 – legislação

152.3 – seguro social

153 – Assistência Social

153.1 – organização

153.2 – legislação

160 – Moral Social e Opinião Pública 161 – hábitos e costumes sociais 162 – prevenção e repressão à inobservância dos preceitos morais 163 – liberdade de pensamento e de opinião 164 – opinião pública e sua influência sobre o governo 165 – atitudes nacionalistas e internacionalistas 166 – grau de tolerância às minorias estrangeiras 167 – organizações sociais que influem na opinião e no moral do povo 168 – propaganda 168.1 – organização

168.2 – técnica da propaganda nacional e sua eficiência

168.3 – imprensa, rádio, televisão, publicações diversas, etc

169 – contrapropaganda

169.1 – organização

169.2 – funcionamento

169.3 – eficiência

169.4 – censura

170 – Apreciação 171 – tradições históricas

171.1 – tensões sociais existentes (natureza e valor)

172 – população

172.1 – influência da composição e da distribuição de população no poder nacional

172.2 – tendências de crescimento populacional

172.3 – repercussão econômica e social das migrações internas

172.4 – influência do imigrante na formação e nas atividades nacionais

172.5 – valores qualitativos e quantitativos da mão de obra

173 – estado sanitário geral e sua influência no poder nacional

174 – influência da educação e da cultura na formação do poder nacional

175 – nível cultural da população

176 – trabalho, previdência e assistência social

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176.1 – organização trabalhista e sua influência na vida do país

176.2 – sistemas de previdência social; valor e execução

176.3 – assistência social, sua aplicação e resultados

177 – moral social e opinião pública

177.1 – psicologia nacional e bases morais da nação

177.2 – psicologias regionais

177.3 – grau de patriotismo do povo e seu valor moral

177.4 – tendências políticas das elites e das massas

177.5 – opinião pública em face das ações governamentais

178 – sentido da propaganda e seus efeitos reais.

200 – FATORES POLÍTICOS

210 – Estrutura Política 211 – regime e forma de governo

212 – poderes 212.1 – Executivo

- organização - administração pública - características e técnicas administrativas

212.2 – Legislativo

- organização - aspectos políticos e funcional - tendências políticas e composição partidária

212.3 – Judiciário - organização - distribuição da justiça - situação em face dos demais poderes

220 – Sistema Jurídico 221 – doutrina e pensamento jurídico

222 – direitos e deveres do cidadão

222.1 – direitos e garantias individuais

222.2 – direitos políticos

222.3 – deveres

222.4 – limitações

230 – Política Interna 231 – Evolução do sistema

231.1 – processo eleitoral e tendências

231.2 – leis em elaboração

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231.3 – partidos políticos - seu valor representativo eleitoral - sua influência - programas e tendências ideológicas

231.4 – organizações que influem na política da área

231.5 – espírito renovador

231.6 – movimentos revolucionários

232 – respeito à tradição

233 – aceitação popular

240 – Segurança Pública 241 – organização

242 – funcionamento

250 – Política Externa (no caso de a área ser um país reconhecido pela comunidade internacional)

251 – princípios que regulam as relações internacionais

251.1 – tradição política

252 – participação e influência nos organismos e nos sistemas internacionais

253 – ação da comunidade internacional

254 – atitudes políticas, aparentes ou não

255 – Ministério do Exterior

255.1 – organização

255.2 – repartições diplomáticas e consulares

255.3 – missões especiais

255.4 – tradição diplomática

256 – relações externas

256.1 – países limítrofes

256.2 – países continentais

256.3 – países extracontinentais

256.4 – pactos e ajustes internacionais: alianças, tratados e acordos em vigor

256.5 – limites; zonas de fricção e de litígio

257 – aceitação popular.

260 – Defesa Nacional 261 – política tradicional

262 – política atual em execução

263 – preparação para a guerra

263.1 – influências externas

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263.2 – influências internas

270 – Inteligência e ContraInteligência 271 – organização

272 – funcionamento no país

273 – funcionamento no exterior

280 – Apreciação 281 – estrutura de estado

281.1 – relação entre os poderes

281.2 – valor da administração pública

282 – respeito às liberdades humanas e compreensão dos deveres

283 – linhas mestras da política nacional

284 – política interna

284.1 – estabilidade política; tensões políticas (natureza e valor)

284.2 – características da vontade e dos anseios

284.3 – o interesse do povo pelos atos do governo e o sincronismo de ação entre o povo e o governo

285 – valor e eficiência dos órgãos de segurança pública

286 – política externa

286.1 – relações internacionais; significação real

286.2 – realizações da política externa em face dos compromissos internacionais

286.3 – repercussão na vida do país

287 – defesa nacional

287.1 – a repercussão na opinião pública das medidas ligadas à defesa nacional

288 – valor e eficiência das organizações de inteligência

300 – FATORES ECONÔMICOS

310 – Estrutura Econômica 311 – organização econômica

312 – economia livre ou controlada; grau de influência e controle do governo

313 – renda “per capita”

320 – Produção Extrativa 321 – produção extrativa mineral

321.1 – combustíveis - sólidos • produção e circulação • espécies, fontes, volume, valor e reservas

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• transporte e destino do produto - líquidos: • distribuição • exportação, importação e estocagem - gasosos • consumo e importação - legislação.

321.2 – minérios e minerais: - metálicos ferrosos: • mineração-espécie, jazidas (ferro e seus componentesou similares, extração, beneficiamento, associados), volume, valor e reservas. - metálicos não ferrosos: • transformação (alumínio, antimônio, chumbo, cobre, estanho, magnésio e zinco); • distribuição-exportação, importação e estocagem; • circulação; • transporte e destino do produto. - metálicos preciosos: • consumo. - não metálicos fósseis: • legislação. - terras raras

322 – Produção extrativa vegetal

322.1 – madeira, produção - zonas, volumes e valor

322.2 – ...circulação – transporte e destino do produto

322.3 – ...distribuição – exportação, importação e estocagem

322.4 – oleaginosos, consumo e legislação

330 – Agropecuária, Caça e Pesca 331 – agricultura, produção – espécies, zonas, volumes e valor

332 – pecuária; circulação – transporte e destino do produto

333 – caça; distribuição – exportação, importação e estocagem

334 – pesca; consumo

334.1 –legislação

334.2 – cooperativas

340 – Produto Industrial 341 – Indústrias de base

341.1 – químicas

341.2 – metalúrgicas

341.3 – outras

342 – energia

342.1 – produção; espécie, instalações e potência instalada

342.2 – mananciais e represas

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342.3 – potência utilizável

342.4 – distribuição

342.5 – consumo

342.6 – legislação

343 – indústrias de transformação:

343.1 – têxtil

343.2 – alimentar

343.3 – química

343.4 – mecânica

343.5 – da borracha

343.6 – de material elétrico

343.7 – ferroviária

343.8 – de construção naval

343.9 – automobilística

343.10 – aeronáutica

343.11 – de material eletrônico

343.12 – óptica

343.13 – de material de precisão

343.14 – outras

350 – Comunicações 351 – rede postal; características e técnicas

352 – rede telefônica e radiotelefônica essenciais

353 – rede telegráfica e radiotelegráfica; traçado e conexões

354 – rederadiodifusora

355 – estações de televisão

356 – radioamadorismo

357 – rede mundial de computadores (Internet)

358 – uso de satélites

360 – Transporte 361 – terrestre:

361.1 – ferroviário - redes; características gerais • bitolas, extensão por bitola, pontos sensíveis • traçados, nós ferroviários e grandes terminais • eixos principais e secundários • capacidade de tráfego; pontos críticos • conexão de eixos nacionais e estrangeiros

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• conexão com outras vias de transporte - material rodante; tração e reboque • características gerais • quantidade por espécies • procedência • manutenção; instalações e possibilidades - combustível e energia elétrica • procedência, por espécie • consumos normais e máximos para tráfego e instalações • valor dos consumos • suprimento • estocagem • obras e melhoramentos em execução e em projeto

361.2 – rodoviário - redes • características gerais • classificação e pontos sensíveis • traçados, nós rodoviários e grandes terminais • eixos principais e secundários • capacidade de trânsito; pontos críticos • conexão de eixos nacionais e internacionais • conexão com outras vias de transporte - material automóvel • características gerais • quantidade por espécie • procedência • manutenção (instalações e possibilidades) - combustíveis e lubrificantes • procedência, por espécie • consumos normais • valor dos consumos • suprimentos • estocagens - obras e melhoramentos em execução e em projeto

361.3 – dutoviário - características gerais • traçados • pontos críticos • rendimento - obras e melhoramentos em execução e projetados

362 – aquaviário

362.1 – fluvial e lacustre - organização - trechos navegáveis ou rotas principais e secundárias, conexão com outras vias de transporte - portos, instalações, capacidade e melhoramentosportuários - ancoradouros - material flutuante

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• características gerais • quantidade por espécie • navios em serviço e em reserva • capacidade • procedência • manutenção; instalações e possibilidades - combustíveis e lubrificantes • procedência, por espécie • consumos normais • valor dos consumos • suprimentos • estocagens

362.2 – marítimo - portos - organização - conexão com outras vias de transporte - instalações portuárias • armazéns • pátios • silos • tanques de combustíveis - condições hidrográficas e de acostamento dos portos • amplitude da maré • profundidade da barra • canal de acesso • bacia de evolução • cais acostável (extensão e profundidade) - equipamentos portuários • guindastes e cábreas • pontes rolantes • empilhadeiras • carregadores mecânicos • linhas férreas • locomotivas e vagões • rebocadores • áreas de influência dos portos

363 – aéreo

363.1 – organização

363.2 – aeroportos, aeródromos, instalações e capacidades, ligações com outras vias de transporte

363.3 – aeronaves - características gerais - quantidade por espécie; aviões em serviço e em reserva - capacidade - procedência - manutenção; instalações e possibilidades - combustíveis e lubrificantes

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• procedência, por espécie • consumos normais • valor dos consumos • suprimentos • estocagens 370 – Comércio

371 – Exterior

371.1 – importação, espécies - procedências ou destino - países, portos - volume - valor - destino ou procedência dos artigos

371.2 – exportação, vias de acesso ou de saída

372 – Interno

380 – Finanças 381 – orçamento, receita e despesa

382 – investimentos

383 – dívida pública interna e externa

384 – situação financeira externa; balança de pagamentos

385 – moeda e câmbio

386 – circulação fiduciária

387 – mecanismo de crédito

388 – regime fiscal

390 – Apreciação 391 – Estrutura econômica

391.1 – valor da estrutura econômica

391.2 – potencial econômico (valor e deficiências)

391.3 – autossuficiência e dependência externa (materiais estratégicos e críticos)

391.4 – pressões econômicas (internas e externas)

392 – Produção

392.1 – possibilidades de aumento de produção

392.2 – distribuiçãorelativa das fontes de produção

393 – Transportes e Comunicações

393.1 – possibilidades gerais dos transportes e das comunicações para atender a um tráfego intenso

393.2 – traçado das vias de transporte para a circulação de riquezas

394 – Situação financeira interna e externa

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395 – Comércio

395.1 – trocas internacionais e possibilidades de novos mercados

395.2 – posição relativa às rotas internacionais

396 – Regiões geoeconômicas (ligações e grau de dependência)

397 – Valor quantitativo e qualitativo da mão de obra

400 – FATORES MILITARES

410 – Organização Administrativa 411 – Estrutura geral

411.1 – órgãos diversos

411.2 – Ministério da Defesa

412 – Controle administrativo

412.1 – organização

412.2 – funcionamento

420 – Organização das Forças 421 – composição de cada força

422 – comandos

423 – efetivos e equipamentos

423.1 – efetivos e equipamentos (globais)

423.2 – unidades de combate, de apoio ao combate e de apoio logístico

424 – distribuição e ordem de batalha

425 – serviço militar

426 – mobilização militar

427 – forças auxiliares

428 – guerrilheiros

429 – defesa civil

430 – Instrução e Adestramento 431 – forças terrestres

432 – forças navais

433 – forças aéreas

434 – forças conjuntas

435 – forças auxiliares

440 – Fortificações e Instalações Permanentes de Defesa 441 – zonas defendidas

442 – bases e obras permanentes no interior

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443 – bases e obras permanentes no litoral

444 – instalações subterrâneas

445 – defesa antiaérea

446 – instalações especiais

450 – Logística 451 – Logística Militar

451.1 – doutrina

451.2 – organização

451.3 – sistema de apoio

452 – Organização logística de cada força

452.1 – sistema de suprimento na paz e em campanha

452.2 – sistemas de manutenção e reparo

452.3 – sistemas de evacuação sanitária e hospitalização

452.4 – sistemas de transportes militares

452.5 – sistemas de comunicações militares

452.6 – sistemas industriais militares

452.7 – capacidade técnico-industrial

453 – Emprego militar dos transportes e das comunicações civis

454 – Sistemas de aquisições

455 – Suprimentos dependentes de fontes externas

460 – Moral e Disciplina 461 – normas gerais

462 – medidas em prática

463 – decorrência dos fatores políticos

464 – decorrência dos fatores sociológicos

465 – decorrência dos fatores econômicos

466 – decorrência de outros fatores

467 – comportamento em conflitos anteriores

470 – Potencial Humano 471 – contingente demográfico abrangido pelo serviço militar

471.1 – masculino

471.2 – feminino

471.3 – mão de obra militar

472 – período de serviço ativo

473 – índices físicos, psicológicos e de conhecimentos

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474 – incapacidades e isenções

475 – reservas

476 – outros fatores

480 – Potencial em Animais 481 – população de equinos, asininos e muares

482 – criação de animais de guerra

490 – Apreciação 491 – eficiência da organização administrativa

492 – organização das forças

492.1 – valor da organização militar e dos comandos

492.2 – valor do equipamento das forças

492.3 – possibilidades de mobilização e de concentrações militares

492.4 – resultados práticos da legislação do Serviço Militar

492.5 – valor e possibilidades das forças auxiliares

493 – instrução

493.1 – nível de instrução e adestramento das forças

493.2 – valor combativo das forças

494 – importância das organizações permanentes na defesa do território

495 – valor da organização logística do país para atender às necessidades militares

496 – estado de disciplina das Forças Armadas

497 – influência dos militares na política nacional

498 – valor do contingente humano para a mobilização

500 – FATORES CIENTÍFICO-TECNOLÓGICOS (C&T)

510 – Fatores psicossociais e C&T 511 – Recursos humanos existentes

511.1 – biologia

511.2 – química

511.3 – física

511.4 – eletrônica;

511.5 – informática

512 – Influência da C&T no comportamento da sociedade e na cultura (hábitos, valores, tradições)

513 – Alterações no meio ambiente provocadas pela utilização da C&T

514 – Grau de aceitação da sociedade às mudanças provocadas pela C&T

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515 – Apreciação

515.1 – grau de desenvolvimento técnico-científico da área

515.2 – resultados de pesquisas e novas realizações; experiências

515.3 – aplicações concretas e em larga escala dos conhecimentos técnicos e científicos

515.4 – intercâmbio com outras áreas

515.5 – impacto provocado pela C&T na sociedade e no ambiente

515.6 – política e intenções de aplicação na guerra

520 – Ciência e Tecnologia na Política 521 – atitude dos políticos quanto à C&T

522 – influências dos técnicos nas decisões políticas

523 – uso de tecnologias avançadas para planejamento, tomada de decisão e controle da execução das metas políticas

524 – apreciação

524.1 – uso e grau de valorização da C&T pelos dirigentes políticos

530 – Ciência e Tecnologia na Economia 531 – Biologia

531.1 – organizações, pesquisa e desenvolvimento

531.2 – novas realizações

531.3 – instalações e produção

531.4 – orçamento e verbas

532 – Química:

532.1 – organizações, pesquisa e desenvolvimento

532.2 – novas realizações

532.3 – instalações e produção

532.4 – orçamentos e verbas

533 – Física:

533.1 – Energia nuclear - organizações e pesquisas - instalações e produção - experiências - fontes - orçamentos e verbas

533.2 – Aeronaves especiais - ortodoxas, diferentes tipos de produção - não ortodoxas; tipos especiais - túneis aerodinâmicos - produção livre ou controlada

533.3 – Explosivos e propelentes

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- pesquisa e desenvolvimento - campos de prova - produção - características

533.4 – Combustíveis e comburentes - químicos - sólidos - nucleares - orçamento e verbas

533.5 – Engenhos dirigidos (com ou sem piloto) - pesquisa e desenvolvimento - instalações - campos de provas e experiências - famílias de engenhos - produção - características - propulsão e controle (se for o caso) - orçamentos e verbas

533.6 – Armas especiais

- pesquisa e desenvolvimento - instalações - campos de prova e experiências - tipos • para o Exército • para a Marinha • para a Força Aérea - produção - características - orçamentos e verbas

534 – Eletrônica

534.1 – pesquisa e desenvolvimento

534.2 – instalações

534.3 – radar e antirradar

534.4 – radiocomunicações

534.5 – aparelhos eletrônicos especiais

534.6 – válvulas, transistores e capacitores

534.7 – produção

534.8 – características

534.9 – orçamentos e verbas

535 – Informática

535.1 – organizações, pesquisa e desenvolvimento

535.2 – novas realizações

535.3 – instalações e produção

535.4 – orçamento e verbas

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535.5 – transporte - tecnologias aplicadas aos transportes

535.6 – finanças - tecnologias aplicadas às finanças

540 – Reflexos da Ciência e Tecnologia no Poder Militar 541 – Biologia

541.1 – possibilidades de aplicação na guerra, inclusive nas atividades de biossegurança.

542 – Química

542.1 – possibilidades de aplicação na guerra

543 – Física

543.1 – energia nuclear - possibilidades de aplicação na guerra

543.2 – aeronaves militares - produzidas na área - procedentes de outras áreas do país - procedentes do exterior - capacidade de manutenção e de suprimento da área

543.3 – explosivos e propelentes - pesquisa e desenvolvimento - instalações - campos de prova - produção - características

543.4 – combustíveis e comburentes - químicos - sólidos - nucleares

543.5 – engenhos dirigidos (com ou sem piloto) - pesquisa e desenvolvimento - instalações - campos de provas e experiências - famílias de engenhos - produção - características - propulsão e controle (se for o caso)

543.6 – armas especiais - pesquisa e desenvolvimento - instalações - campos de prova e experiências - tipos • para o Exército • para a Marinha • para a Força Aérea - produção - características - orçamentos e verbas

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544 – Eletrônica

544.1 – pesquisa e desenvolvimento

544.2 – instalações

544.3 – radar e antirradar

544.4 – auxílio-rádio à navegação

544.5 – radiocomunicações

544.6 – aparelhos eletrônicos especiais

544.7 – válvulas, transistores, capacitores, etc

544.8 – produção

544.9 – características

544.10 – capacidade de uso de meios eletrônicos na guerra

544.11 – possibilidade dos recursos locais

545 – Informática

545.1 – possibilidade de aplicação na guerra

545.2 – grau de informatização das Forças Armadas

546 – Apreciação

546.1 – capacitação tecnológica para fins militares

546.2 – uso e grau de valorização da C&T pelos militares

600 – FATORES BIOGRÁFICOS

610 - Personalidades 611 – líderes políticos e religiosos

612 – representantes diplomáticos

613 – chefes militares

614 – pessoas que exercem influência no ambiente nacional

615 – dirigentes de organizações com influência nas atividades básicas do Estado

615.1 – estatais e paraestatais

615.2 – privadas

615.3 – de comunicação social (mídia)

615.4 – sindicais

615.5 – outras

616 – escritores, jornalistas, juristas de renome, etc

617 – líderes estudantis, pesquisadores científicos e técnicos, inventores e pioneiros

620 – Tendências políticas e sociais dessas personalidades

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630 – Influência de suas ideias sobre a sociedade

640 – Apreciação 641 – Tendências dos líderes de

641.1 – política

641.2 – economia

641.3 – educação, cultura, ciência e tecnologia

641.4 – órgãos de comunicação social

641.5 – entidades religiosas e assistenciais

641.6 – organizações militares

641.7 – sindicatos e entidades empresariais

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APÊNDICE 2 ao Anexo A

(Memento)

AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DE ÁREA OPERACIONAL

1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

a. Posição relativa

(1) Posição relativa aos centros vitais do nosso território e de outras áreas extraterritoriais.

(2) Articulação com as linhas de circulação terrestres, marítimas e aéreas.

b. Dimensões e forma

(1) Facilidades e dificuldades que as dimensões e a forma da área podem apresentar para a organização do teatro de operações.

(2) Sua influência na realização de ações ofensivas e defensivas e no desdobramento das forças.

(3) Influência nas operações de guerra irregular.

2. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS

a. Relevo

(1) Facilidades e dificuldades de circulação e de condições de acesso à área.

(2) Influência na observação aérea e terrestre.

(3) Necessidade de emprego de tropa especializada.

(4) Possibilidade de emprego de forças blindadas, mecanizadas, motorizadas, aeromóveis ou paraquedistas.

(5) Regiões favoráveis ao homizio de forças irregulares.

(6) Influência nas operações.

(7) Repercussões na escolha da manobra a realizar.

b. Hidrografia

(1) Os cursos de água como obstáculos à manobra.

(2) O significado das obras de arte e das regiões de passagem.

(3) Possível influência das chuvas no volume das águas.

(4) Existência de áreas passivas (pântanos, banhados, mangues, etc).

(5) Compartimentação da área, do ponto de vista hidrográfico.

(6) Reflexos para o emprego de forças blindadas, mecanizadas, motorizadas, aeromóveis ou paraquedistas.

(7) Utilização dos rios como vias de transporte.

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(8) Influência nas operações.

c. Solo

(1) Influência na transitabilidade, sobretudo em condições meteorológicas desfavoráveis: facilidades e dificuldades de circulação na área.

(2) Reflexos nos trabalhos de construção, fortificações de campanha e conservação de estradas.

(3) Influência no emprego de forças blindadas, mecanizadas, motorizadas, aeromóveis ou paraquedistas.

(4) Recursos minerais que efetivamente poderão ser aproveitados em trabalhos de construção, de conservação e de fortificação.

d. Clima e condições meteorológicas

(1) Efeitos sobre a observação aérea e terrestre.

(2) Influência na transitabilidade: reflexos nos trabalhos de construção e conservação, particularmente de estradas.

(3) Influência na atuação e na aclimatação do combatente.

(4) Influência na manutenção e no funcionamento do material e na conservação de suprimentos.

(5) Oportunidades favoráveis ao desencadeamento de operações previstas.

(6) Influência no emprego de forças paraquedistas e apoio aéreo.

(7) Possibilidades de ocorrência de calamidades públicas.

(8) Reflexos na navegação aérea, costeira, fluvial e lacustre.

e. Vegetação

(1) Possibilidade de cobertura, disfarces e observação.

(2) Permeabilidade.

(3) Obstáculos.

(4) Necessidade de emprego de tropas especializadas.

(5) Reflexos no emprego de forças blindadas, mecanizadas, motorizadas, aeromóveis ou paraquedistas.

(6) Necessidade de suprimentos especiais.

(7) Facilidades e dificuldades para a realização de operações aeromóveis ou de suprimento aéreo.

(8) Possibilidades de aproveitamento como fonte de suprimento de subsistência e de material de construção.

(9) Regiões favoráveis ao homizio de forças irregulares.

f. Litoral

(1) Faixas litorâneas adequadas às operações de desembarque.

(2) Facilidades e dificuldades na realização de operações anfíbias.

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3. ASPECTOS ECONÔMICOS

a. Recursos econômicos – Possibilidades e limitações econômicas da área para o apoio às operações militares e para o atendimento à população civil quanto a:

(1) recursos alimentícios;

(2) materiais de construção;

(3) combustíveis; e

(4) outros artigos.

b. Centros Industriais

(1) Importância interna e externa.

(2) Possibilidade de subdivisão da área, sob o ponto de vista econômico, caracterizando os centros industriais e as zonas mais importantes que serão prováveis objetivos para quem pretende dominar a área.

c. Energia

(1) Grau de dependência externa dos principais centros geradores de energia.

(2) Vulnerabilidades às ações inimigas.

(3) Reflexos na economia da área.

d. Transportes

(1) Facilidades e dificuldades de ligação dentro da área.

(2) Facilidades e dificuldades de ligação com outras áreas.

(3) Capacidade das vias de transporte, dos campos de pouso e dos portos, para fins militares. Valor máximo aproximado das forças que poderão ser apoiadas em cada eixo.

(4) Estrangulamentos nos sistemas de transporte.

(5) Locais de convergência e pontos críticos.

(6) Disponibilidade e adaptabilidade dos sistemas de transportes para o apoio às operações militares.

e. Sistemas de Comunicações

(1) Facilidades e dificuldades de apoio às operações militares.

(2) Possibilidades de aproveitamento de instalações e equipamentos civis.

4. ASPECTOS PSICOSSOCIAIS

a. População

(1) Existência de núcleos populacionais que possam interferir nas operações: possibilidades de surtos insurrecionais e revolucionários.

(2) Adensamentos populacionais e seus reflexos no planejamento da evacuação de civis.

(3) Reflexos das migrações.

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(4) Reflexos dos contrastes socioeconômicos.

(5) Tendências políticas e possibilidades de cooperação com as forças regulares.

b. Mão de obra

(1) Facilidade ou dificuldade para recrutamento de mão de obra, especializada ou não, e as consequências para as atividades civis.

(2) Problemas decorrentes de mão de obra ociosa.

(3) Reflexos na mobilização.

c. Saúde pública

(1) Possível influência do estado sanitário da área nas forças em campanha.

(2) Possibilidades e limitações da área no apoio de saúde às operações militares.

d. Situação cultural e religiosa – Perspectivas de uma atitude de cooperação ou de hostilidade.

e. Moral social e opinião pública

(1) Ação das organizações de comunicação de massa e de líderes que influem na formação da opinião pública e do moral social.

(2) Condições de reação da opinião pública aos esforços de guerra solicitados.

5. ASPECTOS POLÍTICOS

a. Administração da área

(1) Eficiência da administração política da área.

(2) Eficiência dos órgãos de segurança pública e seu entrosamento com as Forças Armadas: possibilidades, deficiências e capacidade de manter a ordem na área.

(3) Tensões políticas que poderão ter reflexos nas operações militares.

b.Centros políticos

(1) Centros políticos importantes, também, prováveis objetivos.

(2) Problemas de refugiados.

(3) Aproveitamento de localidades, particularmente nas atividades logísticas.

c. Defesa nacional

(1) Antagonismos internos e externos existentes na área, que possam comprometer a defesa nacional

(2) Movimentos existentes na área, influenciados, financiados ou auxiliados por forças externas.

6. ASPECTOS CIENTÍFICO-TECNOLÓGICOS

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a. Grau de desenvolvimento técnico-científico da área.

b. Resultados de pesquisas e de novas realizações e experiências.

c. Aplicações concretas e em larga escala dos conhecimentos técnico-científicos.

d. Impacto provocado pela C&T na sociedade e no ambiente.

e. Influências de técnicos nas decisões políticas.

f. Uso e grau de valorização da C&T por políticos, militares e outros.

g. Influências concretas da C&T na economia.

h. Políticas e intenções de aplicação de inovações tecnológicas na guerra.

i. Capacitação tecnológica para fins militares:

- eletrônica;

- informática;

- defesa química, biológica, radiológica e nuclear (QBRN);

- biossegurança; e

- cibernética.

7. ASPECTOS MILITARES

a. Organização das forças

(1) Eficiência da organização administrativa de cada força.

(2) Valor do equipamento disponível.

(3) Resultados práticos do serviço militar para atender às necessidades das organizações militares.

b. Capacidade operacional

(1) Resultados e padrões alcançados na instrução, nas condições de aprestamento e no adestramento das Grande Unidade (GU) e Unidade (U).

(2) Resultado obtido em operações recentes.

(3) Avaliação dos padrões de disciplina das Organizações Militares (OM), bem como do espírito de corpo.

(4) Reflexos da localização, natureza e composição das forças, tendo em vista as operações militares.

(5) Capacidade ofensiva e defensiva.

c. Capacidade logística

(1) Valor e possibilidades dos sistemas de apoio logístico existentes para o apoio às operações militares.

(2) Valor e possibilidades das instalações de serviços existentes, para fins militares, inclusive nas atividades de biossegurança.

d. Mobilização

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(1) Valor do contingente humano para a mobilização e seus reflexos para uma situação continuada de guerra.

(2) Avaliação das possibilidades da área quanto à mobilização de material, industrial e de transportes.

(3) Avaliação do sistema e dos órgãos de mobilização existentes.

8. CONCLUSÕES

a. Condicionantes que a área impõe para a conduta de operações militares.

b. Natureza das forças que poderão ser empregadas.

c. Valor aproximado das forças que poderão ser empregadas.

d. Regiões de importância estratégica.

e. Direções estratégicas existentes.

f. Áreas favoráveis à guerra irregular.

g. Possibilidades e vulnerabilidades existentes e suas implicações nas operações militares.

h. Adequabilidade das GU existentes às operações que possam desenvolver-se na área.

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APÊNDICE 3 ao Anexo A

(Memento)

AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DE ÁREA OPERACIONAL PARA DEFESA

TERRITORIAL (Def Ter) E GARANTIA DA LEI E DA ORDEM (GLO)

1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

a. Posição relativa

(1) Posição relativa aos centros vitais do nosso território e de outras áreas extraterritoriais.

(2) Articulação com as linhas de circulação terrestres, marítimas e aéreas.

b. Dimensões e forma

(1) Facilidades e dificuldades que as dimensões e a forma da área podem apresentar para a organização do teatro de operações.

(2) Sua influência na realização de ações ofensivas e defensivas e no desdobramento das forças.

(3) Influência nas operações de guerra irregular.

2. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS

a. Relevo

(1) Facilidades e dificuldades de circulação e de condições de acesso à área.

(2) Influência na observação aérea e terrestre.

(3) Necessidade de emprego de tropa especializada.

(4) Possibilidade de emprego de forças blindadas, mecanizadas, motorizadas, aeromóveis ou paraquedistas.

(5) Regiões favoráveis ao homizio de forças irregulares.

(6) Influência nas operações.

(7) Repercussões na escolha da manobra a realizar.

b. Hidrografia

(1) Os cursos de água como obstáculos à manobra.

(2) O significado das obras de arte e das regiões de passagem.

(3) Possível influência das chuvas no volume das águas.

(4) Existência de áreas passivas (pântanos, banhados, mangues, etc).

(5) Compartimentação da área, do ponto de vista hidrográfico.

(6) Reflexos para o emprego de forças blindadas, mecanizadas, motorizadas, aeromóveis ou paraquedistas.

(7) Utilização dos rios como vias de transporte.

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(8) Influência nas operações.

c. Solo

(1) Influência na transitabilidade, sobretudo em condições meteorológicas desfavoráveis: facilidades e dificuldades de circulação na área.

(2) Reflexos nos trabalhos de construção, fortificações de campanha e conservação de estradas.

(3) Influência no emprego de forças blindadas, mecanizadas, motorizadas,aeromóveis ou paraquedistas.

(4) Recursos minerais que efetivamente poderão ser aproveitados em trabalhos de construção, de conservação e de fortificação.

d. Clima e condições meteorológicas

(1) Efeitos sobre a observação aérea e terrestre.

(2) Influência na transitabilidade: reflexos nos trabalhos de construção e conservação, particularmente de estradas.

(3) Influência na atuação e na aclimatação do combatente.

(4) Influência na manutenção e no funcionamento do material e na conservação de suprimentos.

(5) Oportunidades favoráveis ao desencadeamento de operações previstas.

(6) Influência no emprego de forças paraquedistas e apoio aéreo.

(7) Possibilidades de ocorrência de calamidades públicas.

(8) Reflexos na navegação aérea, costeira, fluvial e lacustre.

e. Vegetação

(1) Possibilidade de cobertura, disfarces e observação.

(2) Permeabilidade.

(3) Obstáculos.

(4) Necessidade de emprego de tropas especializadas.

(5) Reflexos no emprego de forças blindadas, mecanizadas, motorizadas, aeromóveis ou paraquedistas.

(6) Necessidade de suprimentos especiais.

(7) Facilidades e dificuldades para a realização de operações aeromóveis ou de suprimento aéreo.

(8) Possibilidades de aproveitamento como fonte de suprimento de subsistência e de material de construção.

(9) Regiões favoráveis ao homizio de forças irregulares.

f. Litoral

(1) Faixas litorâneas adequadas às operações de desembarque.

(2) Facilidades e dificuldades na realização de operações anfíbias.

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3. ASPECTOS ECONÔMICOS

a. Recursos econômicos – Possibilidades e limitações econômicas da área para o apoio às operações militares e para o atendimento à população civil quanto a:

(1) recursos alimentícios;

(2) materiais de construção;

(3) combustíveis; e

(4) outros artigos.

b. Centros Industriais

(1) Importância interna e externa.

(2) Possibilidade de subdivisão da área, sob o ponto de vista econômico, caracterizando os centros industriais e as zonas mais importantes que serão prováveis objetivos para quem pretende dominar a área.

c. Energia

(1) Grau de dependência externa dos principais centros geradores de energia.

(2) Vulnerabilidades às ações inimigas.

(3) Reflexos na economia da área.

d. Transportes

(1) Facilidades e dificuldades de ligação dentro da área.

(2) Facilidades e dificuldades de ligação com outras áreas.

(3) Capacidade das vias de transporte, dos campos de pouso e dos portos, para fins militares. Valor máximo aproximado das forças que poderão ser apoiadas em cada eixo.

(4) Estrangulamentos nos sistemas de transporte.

(5) Locais de convergência e pontos críticos.

(6) Disponibilidade e adaptabilidade dos sistemas de transportes para o apoio às operações militares.

e. Sistemas de Comunicações

(1) Facilidades e dificuldades de apoio às operações militares.

(2) Possibilidades de aproveitamento de instalações e equipamentos civis.

4. ASPECTOS PSICOSSOCIAIS

a. População

(1) Existência de núcleos populacionais que possam interferir nas operações: possibilidades de surtos insurrecionais e revolucionários.

(2) Adensamentos populacionais e seus reflexos no planejamento da evacuação de civis.

(3) Reflexos das migrações.

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(4) Reflexos dos contrastes socioeconômicos.

(5) Tendências políticas e possibilidades de cooperação com as forças regulares.

b. Mão de obra

(1) Facilidade ou dificuldade para recrutamento de mão de obra, especializada ou não, e as consequências para as atividades civis.

(2) Problemas decorrentes de mão de obra ociosa.

(3) Reflexos na mobilização.

c. Saúde pública

(1) Possível influência do estado sanitário da área nas forças em campanha.

(2) Possibilidades e limitações da área no apoio de saúde às operações militares.

d. Situação cultural e religiosa – Perspectivas de uma atitude de cooperação ou de hostilidade.

e. Moral social e opinião pública

(1) Ação das organizações de comunicação de massa e de líderes que influem na formação da opinião pública e do moral social.

(2) Condições de reação da opinião pública aos esforços de guerra solicitados.

5. ASPECTOS POLÍTICOS

a. Administração da área

(1) Eficiência da administração política da área.

(2) Eficiência dos órgãos de segurança pública e seu entrosamento com as Forças Armadas: possibilidades, deficiências e capacidade de manter a ordem na área.

(3) Tensões políticas que poderão ter reflexos nas operações militares.

b.Centros políticos

(1) Centros políticos importantes, também prováveis objetivos.

(2) Problemas de refugiados.

(3) Aproveitamento de localidades, particularmente nas atividades logísticas.

c. Defesa nacional

(1) Antagonismos internos e externos existentes na área, que possam comprometer a defesa nacional.

(2) Movimentos existentes na área, influenciados, financiados ou auxiliados por forças externas.

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6. ASPECTOS CIENTÍFICO-TECNOLÓGICOS

a. Grau de desenvolvimento técnico-científico da área.

b. Resultados de pesquisas e de novas realizações e experiências.

c. Aplicações concretas e em larga escala dos conhecimentos técnico-científicos.

d. Impacto provocado pela C&T na sociedade e no ambiente.

e. Influências de técnicos nas decisões políticas.

f. Uso e grau de valorização da C&T por políticos, militares e outros.

g. Influências concretas da C&T na economia.

h. Políticas e intenções de aplicação de inovações tecnológicas na guerra.

i. Capacitação tecnológica para fins militares:

- eletrônica;

- informática;

- defesa química, biológica, radiológica e nuclear (QBRN);

- biossegurança; e

- cibernética.

7. ASPECTOS MILITARES E POLICIAIS

a. Organização das forças legais – Estrutura e funcionamento das forças legais (forças singulares, polícias estaduais, polícia federal, etc) existentes na área.

b. Capacidade operacional

(1) Capacidade operacional das GU e U das Forças Armadas para o desempenho das ações de Def Ter e GLO.

(2) Eficiência dos órgãos de segurança pública e seu entrosamento com as Forças Armadas, inclusive órgãos jurídicos.

(3) Possibilidades dos tiros-de-guerra para o desempenho de açõesde Def Ter e GLO.

(4) Possibilidades e limitações dos diversos segmentos das forças legais.

(5) Influência da localização, natureza e composição das OM e Organizações de Polícia Militar (OPM) em relação às operações de Def Ter e GLO.

(6) Influência de ONG nas operações.

c. Capacidade logística

(1) Apoio logístico às operações de GLO: peculiaridades e deficiências.

(2) Possibilidades de apoio das instalações de serviços existentes, no caso de grave perturbação da ordem.

d. Mobilização

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(1) Valor do contingente humano para a mobilização, no caso de insuficiência de meios para a manutenção ou restabelecimento da ordem.

(2) Avaliação das possibilidades da área quanto à mobilização de material, industrial e de transportes.

(3) Avaliação do sistema e dos órgãos de mobilização existentes.

8. CONCLUSÕES

a. Defesa territorial

(1) Pontos sensíveis relevantes.

(2) Adequabilidade dos meios disponíveis.

(3) Possibilidades de apoio logístico com os meios existentes.

(4) Viabilidade de mobilização dos recursos para atender às necessidades de Def Ter.

b. Garantia da Lei e da Ordem

(1) Condições políticas, econômicas e sociais passíveis de gerar insatisfações.

(2) Pontos e áreas sensíveis:

(a) identificação e localização geográfica dos pontos e áreas sensíveis; e

(b) pontos e áreas sensíveis de maior prioridade para a GLO.

(3) Áreas-problema:

(a) atuação de organizações/grupos oponentes: objetivos, principais ações, peculiaridades e deficiências; e

(b) consequências para a garantia da lei e da ordem.

(4) Aspectos relevantes que favorecem ou dificultam as ações de natureza policial e militar de GLO.

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ANEXO B

MODELO PARA A CONDUÇÃO DE MANOBRA DE CRISE

(Nível Político-Estratégico)

1. MONITORAMENTO DE CENÁRIOS (núcleo do Gabinete de Crise) Trata do acompanhamento que deve ser realizado, visando a conjuntura internacional, regional e nacional, identificando as ameaças e oportunidades, bem como levando em consideração a nossa situação, vulnerabilidades e possibilidades diante do poder nacional. O estudo e desenvolvimento de cenários prospectivos, com a análise de fatos portadores de futuro e identificação daqueles que têm potencial e que podem gerar crises, é de fundamental importância. 2. IDENTIFICAÇÃO DA SITUAÇÃO CONFLITIVA (Gabinete de Crise) Esse é o momento em que se reconhece uma situação de crise. Na verdade, não existe uma linha definidora para se estabelecer o início de uma crise. Ela emerge diante das circunstâncias. É necessário identificar na cena atual, com a percepção inicial dos fatos, as PRESSÕES e PRESSÕES DOMINANTES (aquelas que venham a ameaçar os Objetivos Fundamentais) que incidam no Estado. Visa caracterizar a situação de crise e o(s) DESAFIO(s). Deve-se visualizar as TENDÊNCIAS do conflito, os possíveis desdobramentos e os FATORES DE RISCO. Esta fase, em que se busca a caracterização do quadro de crise, com sua definição e a catalogação das ameaças presentes, deve ser conduzida por um GABINETE de CRISE, estabelecido com um efetivo mínimo permanente em função do tipo e da natureza do desafio a enfrentar. A presença de especialistas da área jurídica, de comunicação, de inteligência e da área central da crise é condicionante importante para o êxito do processo. 3. CARACTERIZAÇÃO DOS ATORES - DIAGRAMA DE RELAÇÕES É necessário evidenciar quem, com relevância, está envolvido na situação de crise. São os ATORES (principal e secundários) que devem ser identificados com seus respectivos INTERESSES (ostensivos e deduzidos) e VALOR, com base nos precedentes históricos e nos fatos da cena atual. Nesta análise, inclui-se as considerações a respeito da CULTURA ESTRATÉGICA, representada pelo(a)(s):

− FUNDAMENTOS do ator (ou seu pensamento político-estratégico); − Identificação do valor da VONTADE NACIONAL (adesão e união inconteste

do povo); − Perfil da PERSONALIDADE DO LÍDER (determinação; aversão ao risco;

comunicabilidade; ideologia; experiência; conhecimento; liderança efetiva; outras);

− LIBERDADE DE AÇÃO (liberdade para atuar, não obstante restrições existentes).

Nesta fase, procura-se concluir sobre a situação atual do PODER NACIONAL de cada ator, na sua expressão POLÍTICA (conjuntura política, poder do estado, forças políticas presentes, oposição, política externa, corpo diplomático, ligações e influências política, outros); expressão ECONÔMICA (base econômica capaz de

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sustentar demandas objetivas do interesse em jogo); e expressão MILITAR (capacidades no setor de DEFESA). Ainda nesta fase, é importante concluir sobre a percepção das ligações entre cada ator, definindo as questões da competição; cooperação; influenciação; e, possibilidade de alianças. Pode ser representada por um DIAGRAMA DE RELAÇÕES (já exemplificado no Capítulo III deste manual). Contribui, ainda para aprofundar o estudo da percepção sobre oponentes, suas possibilidades e a análise comparativa com a nossa situação. 4. CONCEPÇÃO POLÍTICA E ESTRATÉGICA PARA A MANOBRA DE CRISE Define, na concepção política, o(s) OBJETIVO(S) POLÍTICO(S) (principal e secundários) adequado(s), visualizado(s) com base na análise das capacidades e na nossa situação (poder nacional). Estabelece LIMITES mínimos e máximos para o caso da utilização do procedimento da NEGOCIAÇÃO. Para cada ator, estabelece qual a NORMA DE COMPORTAMENTO POLÍTICO (escalar, estabilizar ou distender) deve ser estabelecida. Na concepção estratégica, é estudado o chamado “jogo da guerra”, relacionando os OBJETIVOS visualizados com os FATORES DE RISCOS, CENTRO DE GRAVIDADE e a ANÁLISE DAS REAÇÕES PROVÁVEIS. Leva-se em consideração a questão do TEMPO DISPONÍVEL, do ESPAÇO e da LIBERDADE DE AÇÃO. Assim, ajustando o QUE? e o COMO?, são conformadas, num processo de utilização do pensamento estratégico, as AÇÕES ESTRATÉGICAS, levando em conta a disponibilidade e a possível mobilização do poder nacional, enquadrando-as segundo as formas de resolução de conflitos: NEGOCIAÇÃO, COMPULSÃO e VIOLÊNCIA DECLARADA, com suas respectivas OPÇÕES. 5. RESOLUÇÃO Finalmente, a RESOLUÇÃO define o ESTADO FINAL DESEJADO, as REGRAS DE COMPORTAMENTO no nível político-estratégico, para quando for o caso, a EXPEDIÇÃO DE DIRETRIZES e o que deve ser inicialmente declarado à MÍDIA.

MEMENTO PLANEJAMENTO POLÍTICO-ESTRATÉGICO PARA UMA SITUAÇÃO DE CRISE 1 - MONITORAMENTO DE CENÁRIOS (núcleo do Gab Crise) - Avaliação da conjuntura internacional (ambiente externo: ameaças – oportunidades - parcerias)

- Acompanhamento da conjuntura nacional(nossa situação: pontos fortes – pontos fracos) - Formulação de cenários (Acompanhamento de fatores potenciais que podem gerar crises ) 2 - IDENTIFICAÇÃO DA SITUAÇÃO CONFLITIVA (Gab Crise) Cena atual - Pressões: listar as pressões de toda ordem - Pressões Dominantes: ressaltar pressões que incidam sobre Obj Fundamental - Desafio (s): identificar o(s) Desafio(s) que caracterizem crise

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Tendências- Percepção inicial sobre o conflito e seus desdobramentos - Fatores de “risco avaliado” Conclusão - Caracterização do quadro de crise e ameaças presentes 3 - CARACTERIZAÇÃO DOS ATORES E DIAGRAMA DE RELAÇÕES Atores principais e Secundários Interesses: Ostensivos e Deduzidos – Fator Histórico e Valor Cultura Estratégica: Fundamentos – Vontade Nacional – Personalidade do Líder– Liberdade de Ação Poder Nacional- Fatores da Política - Fatores da Economia - Defesa Conclusão - Diagrama de Relação: Competição – Cooperação – Influenciação – Psb Alianças - Percepção sobre oponentes e suas possibilidades - Análise comparativa com e nossa situação 4 - CONCEPÇÃO POLÍTICA E ESTRATÉGICA PARA A MANOBRA DE CRISE Política - Objetivo Político visualizado – Principal e Secundários - Estabelecimento de limites para Negociação - Normas para cada ator: Escalar, Estabilizar ou Distender Estratégica- Relação entre Objetivos x Riscos - Análise do Centro de Gravidade e as Reações Prováveis - Análise do Tempo, do Espaço e da Liberdade de Ação - Ações Estratégicas - Definição dos Procedimentos para a Solução do Conflito - Caracterização das Opções 5 - RESOLUÇÃO Resolução - Estado Final Desejado - Regras de Comportamento no nível Político-Estratégico - Expedição de Diretrizes - Declaração à Mídia

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10. _______________. Exército. Doutrina Militar Terrestre: EB20-MF-10.102. Brasília, DF, [2014]

11. _______________. Exército. Metodologia do Sistema de Planejamento Estratégico do Exército. Brasília, DF, 2007.

12. _______________. Exército. Operações: EB70-MC-10.223. Brasília, DF, 2017.

13. _______________. Ministério da Defesa. Glossário das Forças Armadas: MD35-G-01. Brasília, DF, 2015.

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20. _______________. Câmara dos Deputados. Política de Defesa para o Século XXI. Brasília, 2003. (Organizado por Aldo Rebelo e Luis Fernandes).

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23. _______________. Ministério da Defesa. Política Militar de Defesa:(MD 51-P-02). Brasília, 2005.(Confidencial).

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25. _______________. Ministério da Defesa. Sistemática de Planejamento Estratégico Militar: (MD 51- M-01). Brasília, 2005.

26. _______________. Ministério da Defesa. Doutrina Militar de Defesa: (MD 51-M-04). Brasília, 2007.

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28. _______________. Decreto n. 4.801, de 06 Ago (Cria a CREDEN do Conselho de Governo). Brasília, 2003.

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30. _______________. Ministério da Defesa. Portaria Normativa n. 452/EMD, de 27 Out (Aprova e manda por em execução, em caráter experimental, a Estrutura Militar de Defesa- MD 35-D-01). Brasília, 2005.

31. _______________. Ministério da Defesa. Pensamento Brasileiro sobre Defesa e Segurança. Organizado por J. R. Almeida Pinto. A. J. Ramalho da Rocha, e R. Doring Pinho da Silva. Brasília, 4 v. , 2004.

32. CLAUSEWITZ, Carl Von. Da Guerra. São Paulo: Martins Fontes, 1979.

33. COUTAU-BÉGARIE, Hervé. Tratado de Estratégia. Tradução de Brigitte Bentolila de Assis Manso. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha, v. 1, 2006.

34. HOWARD, Michael, PARET, Peter. On War. Princeton University Press, 1986.

35. KEEGAN, John. A History of warfare. New York: Vintage Books, 1993.

36. KENNEDY, Paul M. Grand Strategy in war and peace: toward a Broaden Definition.1991

37. LIDDELL HART, B. H. Strategy. 2.nd ed. New York: Meridian, 1991.

38. MACHIAVELLI, Niccolo. O Príncipe. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.

39. MARTÍNEZ, Carlos J. M. Estrategia: su teoria, planeamiento y realidad en la Argentina. Buenos Aires: Centro FICCH, 2004.

40. ONU. Carta da Nações Unidas, de 26 Jun 1945.

41. PARET, Peter. Construtores da Estratégia Moderna. 2 v., Rio de Janeiro: Bibliex, 2001.

42. PROENÇA JR, Domício. DINIZ, Eugenio. RAZA, Salvador Ghelfi. Guia de Estudos de Estratégia. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 1999.

43. SCHWARTZ, Peter. A Arte da Previsão. São Paulo: Ed. Página Aberta Ltda, 1995.

44. TZU, Sun. A Arte da Guerra.15. ed. Rio de Janeiro: Record, 1994.