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2017 Rogério Sanches Cunha Manual de DIREITO PENAL Parte Especial (Arts. 121 ao 361) VOLUME ÚNICO 9 ª edição | revista, atualizada e ampliada Cunha -Manual de Dir Penal-Parte Especial-9ed.indb 3 05/01/2017 17:34:30

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2017

Rogério Sanches Cunha

Manual deDIREITO PENAL

Parte Especial (Arts. 121 ao 361)

VOLUME ÚNICO

9ª edição | revista, atualizada e ampliada

Cunha -Manual de Dir Penal-Parte Especial-9ed.indb 3 05/01/2017 17:34:30

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TÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA A PESSOA Art. 152

compreenderia que o sócio cometesse crime por praticar qualquer dos atos referidos no texto legal, se dele nenhum dano pudesse re-sultar à sociedade ou a outrem. Quanto ao empregado, se, do mes-mo modo, não houvesse sequer perigo de dano, além do infligido à intangibilidade da correspondência, não haveria necessidade de incriminação fora do art.  151. Se o conteúdo da correspondência é fútil ou inócuo, não pode ser objeto do crime em questão.”354.

Do exposto, está claro que, se o conteúdo da correspondência não disser respeito a questões do estabelecimento comercial ou industrial, o crime poderá ser outro (ex.: art. 151 do CP).

5.4. VoluntariedadePune-se apenas a conduta dolosa, consistente na vontade de violar correspondência

comercial ou industrial através da prática de uma das ações nucleares do tipo, sabendo o agente que abusa de sua condição para a prática criminosa.

5.5. Consumação e tentativaEfetiva-se o delito no momento em que o agente pratica, ainda que parcialmente,

uma das condutas descritas no tipo, criando para a vítima (sociedade comercial ou outrem) concreta possibilidade de dano (moral ou material).

Sendo possível o fracionamento da execução (delito plurissubsistente), a tentativa é possível.

5.6. Ação penalTrata-se de crime de ação penal pública, porém condicionada à representação da víti-

ma (parágrafo único).

SEÇÃO IV – DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS SEGREDOS

1. INTRODUÇÃOExplica Bitencourt:

“Após tutelar a liberdade, sob o aspecto da inviolabilidade da cor-respondência, nesta seção, o Código Penal de 1940 continua prote-gendo a liberdade, agora sob o aspecto dos segredos e confidências. A proteção da liberdade não seria completa se não fosse assegurado ao indivíduo o direito de manter em sigilo determinados atos, fatos ou aspectos de sua vida particular e profissional, cuja divulgação possa produzir dano pessoal ou a terceiros.”355.

354. Ob. cit., v. 6, p. 246.355. Ob. cit., v. 2, p. 481.

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Art. 153 MANUAL DE DIREITO PENAL – Parte Especial – Rogério Sanches Cunha

2. DIVULGAÇÃO DE SEGREDO

Art. 153 -

Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.

Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.§ 1º Somente se procede mediante representação.

2.1. Considerações iniciaisTutela-se aqui a liberdade individual, com especial atenção voltada à conservação dos

segredos, é dizer, detalhes íntimos da vida do indivíduo que, divulgados, podem causar dano.A pena para a conduta tipificada no caput admite transação penal e suspensão condi-

cional do processo, benefícios da Lei 9.099/95, ao passo que a do § 1º permite apenas a suspensão do feito.

2.2. Sujeitos do delitoSomente o destinatário ou o detentor do documento particular ou de correspondência

confidencial pode figurar como agente do delito em tela (crime próprio). Cumpre ressaltar que, nos casos em que a divulgação é feita pelo detentor, não importa se a posse é legítima ou ilegítima (o tipo não diferencia as situações). Neste último caso, ainda que o agente tenha violado a correspondência para, posteriormente, divulgar seu conteúdo, o delito praticado será somente o do art. 153 (divulgação criminosa), vez que, tratando-se de delito--meio, a violação (art. 151) fica absorvida pela publicidade indevida do conteúdo epistolar.

Possível se mostra a participação de terceiros (art. 30 do CP), inclusive do próprio remetente.

Sujeito passivo do delito será todo aquele que, direta ou indiretamente, tenha interesse na conservação do segredo. Poderá ser o remetente, o destinatário ou outra pessoa (que não o autor do documento ou seu receptor), desde que figure no conteúdo da correspondência, podendo ser prejudicado com a divulgação indevida.

2.3. CondutaA ação física trazida pelo tipo em comento consiste em divulgar (transmitir, tornar

público), sem justa causa, segredo.Explica Noronha:

“Qualquer meio pode produzi-la: imprensa, rádio, televisão, expo-sição ao público, transmissão oral a uma plateia ou assistência etc.;

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TÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA A PESSOA Art. 153

enfim, sempre que houver comunicação a numerosas e indetermi-nadas pessoas.”356.

Na lição de Hungria:“segredo é aquilo que não deve ser revelado ou que se tem motivo ou interesse para ocultar. O vínculo de segredo pode resultar de manifestação expressa ou tácita da vontade do interessado, ou de facta concludentia. Não deve ser, porém, puramente arbitrário. Não basta que o remetente de uma carta, por exemplo, a declare expres-samente ‘confidencial’: é preciso que a reserva em torno do conteú-do da carta corresponda a razoável motivo ou interesse, econômico ou moral, do remetente ou de terceiro”357.

Conclui-se, então, que o segredo revelado deve estar revestido de importância, de forma que possa acarretar prejuízo à vítima. Se o conteúdo do documento não revelar fatos relevantes, não pode ser considerado segredo somente porque assim o quis seu remetente.

Como elemento normativo do tipo, tem-se a condição de que a divulgação se dê sem justa causa (contrária ao direito):

“Havendo justa causa para a divulgação de segredo, o fato é atípico, constituindo constrangimento ilegal o indiciamento do agente em inquérito policial” (TACrim [extinto], RHC, rel. Juiz Lauro Ma-lheiros, RT 515/354).

São objetos materiais do crime somente os documentos escritos, de natureza particular ou confidencial, estando excluída a divulgação de mistério verbal.

Em resumo, como diz Pierangeli:“Podemos fixar os elementos do delito na seguinte ordem, com o reparo que faremos ao final: a) documento particular ou correspon-dência confidencial; b) divulgação do seu conteúdo pelo destinatá-rio ou detentor; c) ausência de justa causa; d) possibilidade de dano a outrem; e) dolo.”358.

2.4. VoluntariedadeConsiste na vontade consciente de divulgar segredo de correspondência sem que, para

tanto, haja justa causa (prescinde-se de qualquer finalidade especial).

Não há previsão legal de modalidade culposa.

2.5. Consumação e tentativaO tipo não exige que a divulgação produza danos efetivos a outrem, bastando a sua

potencialidade lesiva (perigo). Para tanto, ensina a maioria da doutrina ser imprescindível

356. Direito Penal cit., v. 2, p. 188.357. Ob. cit., v. 6, p. 251.358. Manual de direito penal brasileiro, p. 304.

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Art. 153 MANUAL DE DIREITO PENAL – Parte Especial – Rogério Sanches Cunha

a divulgação do segredo a número indeterminado de pessoas, pois somente desta forma poderá advir perigo de dano real e efetivo ao titular do segredo.

Magalhães Noronha359 afirma ser possível a tentativa, vez que a execução do crime pode ser fracionada em vários atos (delito plurissubsistente).

Pensamos, no entanto, ser o conatus de difícil configuração, pois, sendo a ação penal pública condicionada à representação da vítima, havendo representação à autoridade, será ela própria (vítima) responsável pela divulgação do segredo da correspondência, expondo a si mesma a perigo de dano ou à sua efetivação.

2.6. Divulgação de informações sigilosas da Administração Pública (§ 1º-A)

O art. 153, em seu § 1º-A, contém nova figura delituosa, relacionada à divulgação de informações sigilosas ou reservadas, definidas em lei, constantes ou não nos bancos de dados da Administração Pública.

Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa (inclusive servi-dor público), figurando como vítima o Estado.

A ação incriminada continua sendo a indevida revelação, agora de informações sigi-losas ou reservadas, definidas em lei, constantes ou não nos bancos de dados da Adminis-tração Pública.

A presente figura incriminadora, diferentemente do caput, não exige, para a consuma-ção do crime, que a indevida divulgação do segredo possa causar dano a outrem, bastando a sua mera revelação. Aliás, havendo dano efetivo, repercutirá no campo da persecução penal, como veremos em seguida.

Esta figura criminosa não se confunde com a prevista no art. 325 do CP (violação de sigilo funcional). Aqui, o agente (necessariamente servidor público) revela fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou lhe facilita a revelação.

2.7. Ação penal

Os §§ 1º e 2º dispõem sobre a ação penal a ser proposta.

Em regra, procede-se somente mediante representação do ofendido. Excepcionalmen-te, no caso tipificado no § 1º-A, a ação será pública incondicionada quando da revelação resultar dano para a Administração Pública.

2.8. Princípio da especialidadea) Código Penal x Código Penal Militar: o art. 228 do Decreto-lei 1.001/69 pune

a divulgação de segredo quando praticada nos termos do art. 9º, II, a, daquele diploma.

359. Direito Penal, v. 2, p. 188.

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TÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA A PESSOA Art. 154

3. VIOLAÇÃO DE SEGREDO PROFISSIONAL

Art. 154

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

3.1. Considerações iniciais

Segue-se tutelando o direito à liberdade individual voltada à inviolabilidade dos segre-dos agora profissionais.

Como bem explica Pierangeli:

“A vida mantida em meio a uma comunidade apresenta fatos e pro-blemas para cuja solução temos de recorrer a terceiros, pessoas qua-lificadas técnica e profissionalmente para removê-los e a pessoas que exercem certos ministérios, aos quais se confiam segredos da intimi-dade pessoal ou doméstica, que devem ser mantidos em sigilo não só em benefício do cidadão confidente, mas da própria convivência social, interesses de ordem natural, moral, social ou econômica. É nesse contexto que se inserem como confidentes o médico, o ad-vogado, o enfermeiro, o psicólogo, o terapeuta, o sacerdote, entre outros, como confidentes necessários e depositários de segredos que têm o dever de resguardar, honrando a confiança que neles se de-positou. Trata-se de corolário da garantia constitucional de intimi-dade, verbis: ‘São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação’ (Constituição, art. 5º, X).”360.

Em razão da pena cominada, permite-se a transação penal e a suspensão condicional do processo (Lei 9.099/95).

3.2. Sujeitos do delito

Trata-se de crime próprio, exigindo do agente a condição especial relacionada ao exer-cício das atividades descritas no tipo (fiel depositário do segredo). Então, sujeito ativo será toda pessoa que, em razão de função, ministério, ofício, ou profissão, divulgar, de qualquer maneira, segredo de que tenha conhecimento.

Sobre as atividades profissionais apresentadas pelo tipo, explica Paulo José da Costa Jr.: função

360. Manual de direito penal brasileiro, p. 308.

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Art. 154 MANUAL DE DIREITO PENAL – Parte Especial – Rogério Sanches Cunha

“(…) é o encargo recebido por lei, decisão judicial ou contrato (tu-tor, curador, inventariante, síndico, diretores de escolas, hospitais ou empresas)”; ministério “é o mister que tem origem em determi-nada condição social, de fato ou de direito (padre, freira, missioná-rio, assistente social)”; ofício “é a atividade remunerada, mecânica ou manual (sapateiro, ourives, cabeleireiro, costureiro etc.)”; profis-são “é a atividade remunerada, exercida com habitualidade, via de regra de cunho intelectual.”361.

É possível o concurso de agentes (coautoria e participação), nos exatos termos do que disposto no art. 30 do CP.

Sujeito passivo será o titular (pessoa física ou jurídica) do segredo, passível de ser pre-judicado com a indevida divulgação.

3.3. CondutaFragoso assim define a conduta incriminada:

“A ação típica consiste em revelar, sem justa causa, segredo de que o agente teve conhecimento em razão de função, ministério, ofí-cio ou profissão, não sendo necessário que o segredo preexista às relações entre o agente e o interessado em sua conservação, ou que este tenha consciência de sua existência. O fato sigiloso pode, por exemplo, surgir no curso de uma consulta médica, de que o sujeito passivo não seja inteirado.”362.

A ciência de tais segredos deve decorrer do exercício de função, ministério, ofício ou profissão, circunstâncias que se prestam a agravar a conduta praticada pelo agente. Saliente-se que, para a configuração do delito, o exercício de tais funções deverá se dar na esfera privada. Se a função é pública, outra norma regulará a conduta do agente (arts. 325 e 326 do CP).

Procura-se proteger o interesse do indivíduo que busca assistência profissional com o intuito de solucionar problemas particulares que, revelados a terceiros, possam causar danos.

Exige-se que o segredo seja revelado sem justa causa. Havendo licitude na revelação (ou consentimento do ofendido), o fato será atípico. Estará configurada justa causa sempre que o interesse público se sobrepuser ao profissional.

Magalhães Noronha ensina que, em regra:

“A justa causa funda-se na existência de estado de necessidade, é a colisão de dois interesses, devendo um ser sacrificado em bene-fício do outro; no caso, a inviolabilidade dos segredos deve ceder a outro bem-interesse. Há, pois, objetividades jurídicas que a ela preferem, donde não ser absoluto o dever do silêncio ou sigilo pro-fissional.”363.

361. Comentários ao Código Penal, p. 458.362. Ob. cit., v. 1, p. 273-274.363. Direito Penal, v. 2, p. 195.

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TÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA A PESSOA Art. 154

O art. 269 do CP bem espelha um exemplo de justa causa, obrigando o médico, sob pena de punição, comunicar à autoridade a ocorrência de moléstia contagiosa confidencia-da no exercício da profissão.

Hoje, princípios como o da proporcionalidade (ou razoabilidade), bastante ventilado no campo “das provas obtidas por meios ilegais”, acaba, de alguma forma, por admitir, em casos excepcionais, a revelação de segredo profissional, em especial na salvaguarda e manutenção de valores conflitantes, desde que aplicada única e exclusivamente em situações extraordinárias.

Por fim, é importante frisar:

“Que a lei considera de tão grande importância o sigilo profissional que protege a sua inviolabilidade, excluindo o profissional da obri-gação de depor, o que é dever de todo cidadão (art. 206, 1ª parte, do CPP). Aliás, os profissionais relacionados, aos quais compete o dever de sigilo, estão proibidos de depor, salvo se, desobrigados pelo interessado, quiserem dar seu testemunho (art. 207, CPP). O advogado, todavia, pode e deve recusar-se a comparecer e depor sobre fatos de que tomou conhecimento no exercício profissional e cuja revelação pode produzir dano a outrem (RT 523/438, 531/401, 625/292).”364.

3.4. VoluntariedadeConsiste no dolo (consciência e vontade) de revelar o segredo.

Não se pune a conduta culposa.

O erro sobre o elemento normativo do tipo (justa causa) afasta o dolo e, portanto, impede a consumação do delito.

3.5. Consumação e tentativaTrata-se de crime formal (ou de consumação antecipada), perfazendo-se com a reve-

lação do segredo, dispensado a efetiva ocorrência do dano (material ou moral). Aliás, em ocorrendo prejuízo a terceiros, configurar-se-á o exaurimento do crime, circunstância a ser considerada pelo magistrado sentenciante na fixação da pena.

Quanto à possibilidade da tentativa, temos de distinguir: se o crime for praticado de forma oral, não se admite o conatus, vez que inadmissível o fracionamento da execução; no entanto, se o agente executar o crime de forma escrita, torna-se plurissubsistente, admitin-do-se a forma tentada.

3.6. Ação penalComo expresso no parágrafo único, a pena somente será perseguida mediante prévia

representação da vítima (ação penal pública condicionada).

364. Pierangeli, Manual de direito penal brasileiro: parte especial, p. 313.

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Art. 154-A MANUAL DE DIREITO PENAL – Parte Especial – Rogério Sanches Cunha

3.7. Princípio da especialidadea) Código Penal x Código Penal Militar: o art. 230 do Decreto-lei 1.001/69 pune a

violação de se segredo profissional quando praticada nos termos do art. 9º daquele diploma.

b) Código Penal x Lei de Segurança Nacional: revelar segredo obtido em razão de cargo, emprego ou função pública, relativamente a planos, ações ou operações militares ou policiais contra rebeldes, insurretos ou revolucionários é crime punido no art. 21 da Lei 7.170/83.

4. INVASÃO DE DISPOSITIVO INFORMÁTICO

Art. 154-A

-rabilidades para obter vantagem ilícita:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

§ 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico. -

grave.§ 4º Na hipótese do § 3º, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercia-

-

IV – dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual, municipal ou do Dis-trito Federal.

4.1. Considerações iniciaisA Lei 12.737, de 30 de novembro de 2012, tipificou como crime a invasão de dispo-

sitivo informático, criminalização fomentada pelo episódio que vitimou a atriz Carolina Dieckmann, que teve seu computador invadido e seus arquivos pessoais subtraídos, vendo expostas suas fotos íntimas na rede mundial de computadores.

Apesar de a sociedade estar cada vez mais inserida no mundo da informática, percebe--se que o Direito (em especial, o Direito Penal) não acompanha, como deveria, a evolução que movimenta o setor cibernético.

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TÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA A PESSOA Art. 154-A

No espírito de modernização da legislação criminal, o art.  154-A do CP tipifica o comportamento daquele que invade dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita.

Como bem observa Nucci:“Sabe-se, por certo, constituir a comunicação telemática o atual meio mais difundido de transmissão de mensagens de toda a ordem entre pessoas físicas e jurídicas. O e-mail tornou-se uma forma padrão de enviar informes e mensagens profissionais e particulares, seja para fins comerciais, seja para outras finalidades das mais diversas possíveis. As redes sociais criaram, também, mecanismos de comunicação, com dispositivos próprios de transmissão de mensagens. Torna-se cada vez mais rara a utilização de cartas e outras bases físicas, suportando escri-tos, para a comunicação de dados e informes. Diante disso, criou-se novel figura típica incriminadora, buscando punir quem viole não apenas a comunicação telemática, mas também os dispositivos infor-máticos, que mantém dados relevantes do seu proprietário.”365.

O objeto jurídico do crime, como se percebe, é privacidade individual e/ou profis-sional, resguardada (armazenada) em dispositivo informático, desdobramento lógico do direito fundamental assegurado no art. 5º, X, CF/88: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.

Em regra, o crime é de menor potencial ofensivo, salvo na sua forma qualificada (§ 3º), quando majorado pela divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos (§ 4º).

4.2. Sujeitos do delitoQualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime, não se exigindo qualidade ou condi-

ção especial do seu agente366.

365. Código Penal Comentado, p. 774-5.366. -

vade tais dispositivos com finalidade ilegal, de obtenção de vantagem indevida ou de prejuízo alheio, é denominado cracker. Cracker é, portanto, o sujeito que ‘invade sistema de computado-res de outra pessoa, frequentemente em uma rede, supera senhas ou licenças em programas de computadores ou de outras formas intencionalmente quebra a segurança de computadores. Um cracker pode fazer isso visando lucro, maliciosamente ou para alguma finalidade ou causa altruís-tica, ou porque o desafio está lá. Algumas invasões têm sido realizadas para demonstrar pontos fracos no sistema de segurança de um site’. Não se pode confundir cracker com hacker. Termo utilizado para designar o sujeito que é um ‘aficionado por informática, profundo conhecedor de linguagem de programação, que se dedica à compreensão mais íntima do funcionamento de sis-temas operacionais e a desvendar códigos de acesso a outros computadores’” (Tratado de Direito Penal Brasileiro, v. 4, p. 394-395).

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Art. 154-A MANUAL DE DIREITO PENAL – Parte Especial – Rogério Sanches Cunha

Também qualquer pessoa pode figurar como vítima da indevida invasão.Márcio André Lopes Cavalcante faz interessante observação:

“Em regra, a vítima é o proprietário do dispositivo informático, seja ele pessoa física ou jurídica. No entanto, é possível também identi-ficar, em algumas situações, como sujeito passivo, o indivíduo que, mesmo sem ser o dono do computador, é a pessoa que efetivamen-te utiliza o dispositivo para armazenar seus dados ou informações que foram acessados indevidamente. É o caso, por exemplo, de um computador utilizado por vários membros de uma casa ou no tra-balho, onde cada um tem perfil e senha próprios. Outro exemplo é o da pessoa que mantém um contrato com uma empresa para armazenagem de dados de seus interesses em servidores para aces-so por meio da internet (‘computação em nuvem’, mais conhecida pelo nome em inglês, qual seja, cloudcomputing).”367.

Há, no entanto, uma crítica sobre a forma como o legislador tratou essa situação, pois o tipo penal estabelece a conduta criminosa no ato de invasão sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo, não das informações. O ideal seria, diante da possibilidade de que mais de um indivíduo utilize o dispositivo informático, que a tutela recaísse expres-samente no titular das informações armazenadas.

Por fim, nos termos do § 5º, do art. 154-A, do Código Penal, a pena é aumentada de um terço à metade se o crime for praticado contra: (1) Presidente da República, governado-res e prefeitos; (2) Presidente do Supremo Tribunal Federal; (3) Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; (4) Dirigente máximo da administração di-reta e indireta, federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal.

4.3. CondutaPune-se a invasão de dispositivo informático alheio, mediante violação indevida368 de

mecanismo de segurança ou instalação de vulnerabilidades.Por dispositivo informático entende-se qualquer aparelho(instrumento eletrônico)

com capacidade de armazenar e processar automaticamente informações/programas (no-tebook, netbook, tablet, Ipad, Iphone, Smartphone, pendrive etc.). Importante observar ser indiferente o fato de o dispositivo estar ou não conectado à rede interna ou externa de computadores (intranet ou internet).

Duas são as formas (e finalidades) de agir:a) na primeira, o agente vence os obstáculos de proteção do dispositivo (senha, chave

se segurança, mecanismos de criptografia, assinatura digital, mecanismos de controle e

367. Primeiros comentários à Lei 12.737/12, que tipifica a invasão de dispositivo informático, disponível em www.dizerodireito.cm.br, acesso em 21/12/2012.

368. A expressão “violação indevida” não nos parece apropriada, pois não há possibilidade de existir uma “violação devida”. Tratando-se de violação, é necessariamente sem autorização do titular, e, portanto, indevida. Se o acesso é devido (se decorre de uma ordem judicial, por exemplo), não pode ser tratado como violação.

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TÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA A PESSOA Art. 154-A

acesso, mecanismos de certificação etc.) para obter, adulterar ou destruir dados ou infor-mações sem autorização do titular do dispositivo.

Alertamos para o fato de que a ausência de dispositivo de segurança, ou o seu não acionamento, impede a configuração típica. Nesse sentido, explica Bitencourt:

“Assim, o tipo penal é aberto e exige um juízo de valor para com-plementar a análise da tipicidade. Aliás, é um tipo semi-aberto, ou seja, nem aberto nem fechado, pois ao mesmo tempo que abre com a locução “mediante violação indevida”, fecha com a complemen-tação. “de mecanismo de segurança”, limitando, portanto, o âm-bito da violação. Em outros termos, qualquer outra violação que não se refira a “mecanismo de segurança”, não tipificará a conduta descrita no caput que ora examinamos. Ou, dito de outra forma, ainda que haja a violação ou invasão “de dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores”, se não houver “mecanismo de segurança” (ou caso haja, não estando acionado) que seja violado, a conduta não se adequará a esta descrição típica. Poderá, eventualmente, adequar-se a outro dispositivo penal, mas não a este, sob pena de violar-se a tipicidade estrita.”369.

É interessante notar, a respeito da autorização para acesso, que, uma vez concedida, não se perfaz o crime, ainda que o titular do dispositivo a tenha revogado posteriormente e que o agente tenha obtido dados depois da revogação. Isto ocorre porque o tipo pune a conduta de invadir o dispositivo sem autorização do titular, mas não abrange o ato de per-manecer acessando indevidamente os dados do dispositivo após a revogação da autorização. Noutras palavras, não ocorre aqui o que se verifica na violação de domicílio, que se carac-teriza tanto pelo ingresso sem autorização em casa alheia quanto pela permanência após o morador ter retirado a autorização para ingresso370.

Outro aspecto interessante a respeito desta figura criminosa é a situação em que o titular do dispositivo concede autorização parcial para acesso a dados.

Imaginemos a situação em que o proprietário de um computador autorize um técnico a acessar uma pasta com fotografias, mas o técnico vai além e obtém outras informações armazenadas no dispositivo. Há o crime?

A resposta é negativa, pois esta conduta não está abrangida no tipo, que pressupõe a vio-lação do dispositivo. Se o titular concedeu autorização para que o dispositivo fosse acessado, não há invasão, e, ainda que o agente autorizado tenha se excedido, não se verifica o crime371.

b) na segunda conduta, o cibercriminoso instala no dispositivo vulnerabilidades, isto é, brechas no sistema computacional (conhecidas como “bugs” ou “worms”) para espalhar softwa-re malicioso que serve para atacar, degradar, impedir a utilização correta de um equipamento ou obter informações de forma encoberta, visando o agente conquistar vantagem ilícita.

369. Invasão de dispositivo informático, disponível em www.atualidadesdodireito.co.br/cezarbitencourt, acesso em 21/12/2012.

370. SYDOW, Spencer Toth. Crimes Informáticos e Suas Vítimas. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2015.371. SYDOW, Spencer Toth. Crimes Informáticos e Suas Vítimas. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

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Art. 154-A MANUAL DE DIREITO PENAL – Parte Especial – Rogério Sanches Cunha

Pune o tipo a invasão de dispositivo informático para instalar vulnerabilidades visando à obtenção de vantagem ilícita. Neste caso, como a lei pune a conduta de invadir com a finalidade de instalar vulnerabilidades, se o agente se vale de vulnerabilidade já existente, e sua pretensão é efetivamente a obtenção de vantagem, não a obtenção, adulteração ou destruição de dados ou informações, não há o crime – ainda que a vantagem seja obtida – porque o tipo não contempla a conduta de invadir o dispositivo se valendo de vulnera-bilidade preexistente.

As duas formas de execução recaem sobre os dados e as informações (relevantes) arma-zenadas no dispositivo informático ou sobre o próprio dispositivo.

É necessário, ainda, que o equipamento informático seja alheio (de outrem). Lembra Márcio André Lopes Cavalcante:

“É prática comum entre os hackers o desbloqueio de alguns dis-positivos informáticos para que eles possam realizar certas funcio-nalidades originalmente não previstas de fábrica. Como exemplo comum tem-se o desbloqueio do IPhone ou do IPad por meio de um software chamado “Jailbreak”. Caso o hacker faça o invada o sistema de seu próprio dispositivo informático para realizar esse desbloqueio, não haverá o crime do art. 154-A porque o dispositivo invadido é próprio (e não alheio)”372.

Nos termos do § 1º, na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput (obter, adulterar ou destruir dados ou informações, ou instalar vulnerabilidades). Com a equiparação, o legislador buscou incriminar as formas mais co-muns de participação criminosa373.

4.4. Voluntariedade

É o dolo, consistente na vontade consciente de invadir dispositivo informático alheio, mediante violação indevida de mecanismo de segurança ou de instalar no mesmo vulnera-bilidades, tornando-o desprotegido, facilmente sujeito a violações.

O tipo prevê elementos subjetivos específicos, representados pelas expressões “com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações” e “para obter vantagem ilícita”. Logo, ausentes essas finalidades especiais, o fato passa a ser um indiferente penal.

372. Primeiros comentários à Lei 12.737/12, que tipifica a invasão de dispositivo informático, disponível em www.dizerodireito.cm.br, acesso em 21/12/2012.

373. Nucci, não sem razão, alerta que esta modalidade de conduta não possui nenhum sujeito passivo determinado. Afinal, consiste na preparação do delito do caput. Diante disso o interesse punitivo estatal, nesta hipótese, volta-se à proteção da sociedade, em nítido crime vago. Ora, se o sujeito passivo, na realidade, é a sociedade, este delito poderá não ser autonomamente punido, pois o art. 154-B estabelece é cometido contra a administração direta ou indireta (Código Penal Comentado, p. 777).

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TÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA A PESSOA Art. 154-A

Se o agente invade o computador da vítima para descobrir sua senha e subtrai valores de sua conta bancária pratica qual crime?

Comete furto (mediante fraude), ficando a invasão absorvida (princípio da consunção).Na forma equiparada (§ 1º), deve o agente agir com o intuito de permitir a prática da

conduta definida no caput.

4.5. Consumação e tentativaTrata-se de crime formal (ou de consumação antecipada), perfazendo-se no momento

em que o agente invade o dispositivo informático da vítima, mediante violação indevida de mecanismo de segurança, ou nele instala vulnerabilidades, independentemente da produ-ção do resultado visado pelo invasor (adulteração ou destruição de dados ou informações da vítima ou obtenção de vantagem ilícita).

A tentativa é possível (delito plurissubsistente).

4.6. QualificadoraO § 3º, punido com reclusão, de seis meses a dois anos, e multa, qualifica o delito:a) se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas

(e-mail, por exemplo), segredos comerciais ou industriais (fórmulas, projetos etc.), infor-mações sigilosas, assim definidas em lei (norma penal em branco)374-375.

Não sem razão, alerta Bitencourt:“É irrelevante que se trate de segredo temporário ou condiciona-do ao advento de determinado fato: mesmo assim sua invasão ou violação de dispositivo informático caracteriza a qualificadora do presente dispositivo. Nesses termos, pode-se concluir, a temporarie-dade ou condicionalidade, por si só, não exclui a proteção legal do segredo industrial ou comercial.”376

b) se da invasão resultar o controle remoto não autorizado do dispositivo. Aqui, o dispositivo informático do agente passa a se denominar guest (hóspede), e o da vítima host (hospedeiro). Essa figura qualificada ocorre quando, após a invasão, o agente instala um programa para acesso e controle remoto do dispositivo, sem a autorização da vítima.

374. A Lei 12.527/11, que regula o acesso a informações, estabelece em seu art. 4º, inciso III, que infor-

sua imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado”. O art. 23, por sua vez, traz as oito situações em que o sigilo da informação é imprescindível para a segurança da sociedade ou do Estado. Dessa forma, o art. 154-A, § 3º, do CP revela, no que tange ao conceito de informações sigilosas, uma norma penal em branco ao quadrado.

375. A violação de sigilo bancário ou de instituição financeira caracteriza crime mais grave, previsto no art. 18 da Lei 7.492/86, punido com reclusão, de um a quatro anos, e multa.

376. Invasão de dispositivo informático, disponível em www.atualidadesdodireito.co.br/cezarbitencourt, acesso em 21/12/2012.

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Art. 154-B MANUAL DE DIREITO PENAL – Parte Especial – Rogério Sanches Cunha

A forma qualificada não afasta a aplicação do art. 10 da Lei nº 9.296/96, pois com esse delito não se confunde.

O dispositivo da lei especial pune a interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, e a quebra segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei. Nota-se que enquanto o delito em estudo pune a invasão de dispositivo de informática para obter dados já armazenados relativos a comunicações privadas, a lei especial se atém à interceptação de dados, ato que só pode ser praticado si-multaneamente à comunicação.

4.7. MajorantesNos termos do § 2º, aumenta-se a pena de 1/6 a 1/3 se da invasão resulta prejuízo

econômico para a vítima.Anuncia o § 4º que a pena é aumentada de um a dois terços se houver divulgação

(propagação, tornar público ou notório), comercialização (atividade relacionada à interme-diação ou venda) ou transmissão(transferência) a terceiros, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos.

Pela posição topográfica das majorantes percebe-se que § 2º incide nas figuras previstas no caput e § 1º; já o aumento do § 4º recai sobre a forma qualificada do delito.

4.8. Ação penalVer art. 154-B.

4.9 Princípio da especialidadea) Código Penal x Lei nº 13.260/16: o art. 2º, § 1º, inciso IV, da Lei nº 13.260/16

pune com reclusão de doze a trinta anos a conduta de sabotar o funcionamento ou apode-rar-se, com violência, grave ameaça a pessoa ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do controle total ou parcial, ainda que de modo temporário, de meio de comunicação se o fato é cometido por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública.

5. AÇÃO PENAL

Ação penal

Art. 154-B-

deres da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de ser-

A ação penal, em regra, é condicionada à representação da vítima, salvo se o crime é cometido contra a administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços públicos, hipóteses em que a ação será pública incondicionada.

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