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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA Manoel Vieira da Silva DO SÍTIO CABOCLO AO ASSENTAMENTO NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS: TERRITÓRIO DE EXPLORAÇÃO VERSUS TERRITÓRIO DE ESPERANÇA JOÃO PESSOA-PB 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

Manoel Vieira da Silva

DO SÍTIO CABOCLO AO ASSENTAMENTO NOSSA SENHORA DAS

GRAÇAS: TERRITÓRIO DE EXPLORAÇÃO VERSUS TERRITÓRIO

DE ESPERANÇA

JOÃO PESSOA-PB

2011

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MANOEL VIEIRA DA SILVA

DO SÍTIO CABOCLO AO ASSENTAMENTO NOSSA SENHORA DAS

GRAÇAS: TERRITÓRIO DE EXPLORAÇÃO VERSUS TERRITÓRIO

DE ESPERANÇA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Geografia (PPGG) da Universidade Federal da

Paraíba, Campus I – João Pessoa, para obtenção do título

de Mestre em Geografia.

Orientadora: Profª. Dra. Emília de Rodat Fernandes Moreira

JOÃO PESSOA-PB

2011

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S586d Silva, Manoel Vieira da. Do Sítio Caboclo ao assentamento Nossa Senhora das

Graças: território de exploração versus território de esperança / Manoel Vieira da Silva.- João Pessoa, 2011.

144f. Orientadora: Emília de Rodat Fernandes Moreira

Dissertação (Mestrado) – UFPB/PPGG 1. Reforma Agrária. 2. Assentamentos rurais. 3. Espaço

agrário – município de Bananeiras(PB). 4. Produção e trabalho – organização – assentamentos.

UFPB/BC CDU: 332.021.8(043)

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AGRADECIMENTOS

Foram muitas as contribuições prestadas a esse trabalho, as quais certamente foram de grande

significado para que ele se concretizasse. Nesse sentido, expresso todo o meu

reconhecimento:

A todos(as) os(as) professores(as) do Programa de Pós Graduação em Geografia

especialmente os(as) Professores(as): Emília Moreira (que não mediu esforços para que

pudéssemos concluir esse trabalho, muitas vezes abrindo mão das horas de descanso, por

noites a fio, para ver um orientando concretizar o seu objetivo) e Ivan Targino, por terem me

estimulado a pensar com mais clareza e segurança no tema desenvolvido nesse trabalho e pelo

acompanhamento durante o desenvolvimento do mesmo; Bartolomeu, pela contribuição

prestada quando ainda não era professor do PPGG e nem do departamento, ao convidar, para

a sua própria casa, um grupo de alunos que pleiteávamos entrar para o PPGG e discutiu

conosco todos os pontos da seleção, faltando menos de uma semana para a prova; Maria

Franco, pela contribuição para o amadurecimento da ideia sobre o tema; Roberto Sassi, pelo

apoio e sempre ter se colocado à disposição; Eduardo Viana, pelas dicas na parte cartográfica;

Dadá Martins, pelas oportunidades para as colocações nos debates sobre a Geografia Escolar;

Fátima Rodrigues, pelas dicas e as oportunidades para participar de alguns debates

importantes inerentes à agricultura familiar, durante o curso e; Christianne, pelo apoio de

sempre, colocando-se à disposição para conversar e tirar dúvidas referente a parte cartográfica

do trabalho.

Ao professor Eduardo Pazera, pela contribuição na tradução do resumo do português para o

inglês.

Aos professores Fábio Dantas e Ivan Targino, por aceitarem fazer parte da banca

examinadora.

A todos(as) os(as) colegas de turma pelos debates coordenados pelos professores, mas sempre

com a participação calorosa e enriquecedora do grupo, especialmente: Gloria, Gustavo, Mara

e Rejane, por terem dividido comigo alguns seminários, interagindo muito bem nas

discussões; Josias Matias, que além dos seminários, dividimos todas as tensões resultantes

das pressões impostas pelos gestores de plantão da Prefeitura Municipal de Santa Rita, que

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não aceitavam, por hipótese alguma, a nossa qualificação enquanto profissionais de Educação

do Município.

Às Excelentíssimas Juízas: Dra. Ângela Sales, da 4ª Vara Civil e Dra. Maria Emília, da 5ª Vara

Civil da Comarca de Santa Rita pela concessão de um direito a princípio negado pela Gestão

Municipal.

À Dra. Gracilene, pelo profissionalismo e a coragem com que atuou junto à justiça para fazer

valer o nosso direito ao afastamento para participar do Mestrado.

À funcionária Sônia, do PPGG pelo apoio e dedicação com o Mestrado e com os que passam

por lá em busca de ajuda.

A todos(as) os(as) funcionários do INCRA, do INTERPA, do IBGE, da UFPB, Campus de

João Pessoa e Bananeiras, que contribuíram com as informações necessárias para a realização

da pesquisa.

A todos(as) os membros da CPT seção Guarabira, especialmente a Zilma, pelo apoio a este

trabalho e aos moradores assentados e acampados da região do Agreste Paraibano.

À direção do MST/PB na pessoa de Alexandre pelas informações sobre a luta do MST em

Bananeiras.

Aos membros da FETAG, especialmente a Ivanildo Dantas, pelas informações prestadas.

À Ivonete, presidente, e demais diretores(as) do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Bananeiras, ao Sr. Daniel, presidente da Associação dos moradores do Assentamento São

Francisco III e ao Sr. João Grande, da Associação dos Moradores do Assentamento Santa

Vitória, pelas informações prestadas.

Ao escritor Manoel Luiz da Silva, então Diretor do Centro Cultural de Bananeiras, pelas dicas

sobre a História do município.

A Davi e Janete, pela contribuição na parte cartográfica do trabalho.

Ao ex-proprietário da Fazenda Caboclo Sr. Augusto Bezerra por nos receber em sua casa e

conceder entrevista, contribuindo assim para a concretização desse trabalho.

A Xisto, Priscila e Penha, pelas horas de conversa em torno da Geografia e da socialização do

saber geográfico.

Ao Dr. Coriolano Filho pelas conversas a respeito da História da Paraíba e pelas indicações

bibliográficas sugeridas.

A todos(as) os(as) moradores(as) do Assentamento Nossa Senhora das Graças, pela

colaboração dada com tanta espontaneidade que nos fez perceber a paixão pelo lugar e

credibilidade na pesquisa, especialmente: Renato, presidente da Associação, Neves e o Sr.

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Antônio Augusto, Zefinha Araújo, o Sr. João Andrade, Maria de Paulo, o Sr. Francisco

Januário, Elvira, o Sr. José Januário e Dona Dorinha Januário.

Aos(as) colegas do GETEC pelas leituras e discussões que fizemos e que me ajudaram muito

na preparação da base teórica para o desenvolvimento do trabalho, especialmente Lidiane,

pela colaboração nas transcrições das entrevistas.

À minha família, de todos os graus parentescos que torceram e/ou colaboraram com o

trabalho, especialmente: tia Mariana e Louro, pelo acolhimento em sua casa nas idas ao

trabalho de campo; minha mãe Regina, pela disponibilidade de sempre e ter me acompanhado

em algumas viagens, como se o trabalho fosse uma missão sua, para me apresentar aos

moradores do sítio Caboclo, já que são velhos conhecidos seus.

À Edinilza, pela companhia de todas as horas, por tudo, inclusive por Mariana que veio pôr

uma pitada de coragem e prazer pelo trabalho, pela luta e pela vida.

De forma toda especial, ao meu pai, Severino Pedro (in memóriam) que, de camponês sem

terra, morador de condição do sítio Caboclo, na visão “lógica” de que a cidade oferece

melhores condições de sobrevivência do que o campo fugiu da exploração pelo capitalista do

campo e veio para as pontas de rua com o objetivo de terminar de criar os filhos, se

submetendo à exploração pelos capitalistas urbanos.

A essas e outras pessoas que de forma direta ou indireta contribuíram para que se chegasse até

aqui, meu muito obrigado.

.

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Preparar o chão, semear o grão, produzir o pão; gerar na terra as condições de

sobrevivência e permanecer na terra a cada estação.

Manoel Vieira da Silva

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RESUMO

O trabalho estuda as mudanças que tiveram lugar no município de Bananeiras,

especificamente na propriedade denominada Fazenda Caboclo, com a sua transformação em

projetos de assentamentos de reforma agrária. Ele procura entender se esse novo território

rompe com a lógica da dominação capitalista e representa a transformação de um território de

exploração em um território de esperança. O estudo utilizou como procedimentos

metodológicos: a pesquisa bibliográfica e documental, o levantamento de dados secundários e

a pesquisa de campo. A dissertação está estruturada em quatro capítulos além da introdução e

das considerações finais. O primeiro resgata a formação territorial e a organização do espaço

agrário do município de Bananeiras onde se localiza a antiga propriedade Fazenda Caboclo. O

segundo aborda a questão da terra no município; enfatiza a luta pela terra e a formação de

assentamentos rurais. O terceiro descreve as formas de organização da produção e do trabalho

e as relações de poder na antiga Fazenda Caboclo. O quarto capítulo apresenta o processo de

constituição do Projeto de Assentamento Nossa Senhora das Graças e sua forma de

organização territorial. Nas considerações finais faz-se uma reflexão sobre as contradições

presentes no processo de construção de um território de esperança com base no estudo

realizado.

Palavras-chave: Território. Fazenda Caboclo. Assentamento Nossa Senhora das Graças.

Bananeiras/PB.

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ABSTRACT

This thesis studies the changes that took place in the municipality of Bananeiras, specifically

in the property known as “Farm Caboclo” with its transformation into a Settlement Project of

agrarian reform. It seeks to understand if this new territory breaks with the logic of capitalist

domination and represents the transformation of an area of exploitation in a territory of hope.

The study used as instruments: bibliographic and documentary research and a survey of

secondary data and field research. The thesis is divided into four chapters besides the

introduction and final consideration. The first chapter studies the territorial formation and

organization of the agrarian space of the municipality of Bananeiras where is located the

former property of “Farm Caboclo“. The second chapter describes the issue of land in the

municipality; emphasizes the struggle for land and formations of rural settlements. The third

chapter describes the forms of production and work organization and power relations in the

former “Farm Caboclo”. The fourth chapter presents the process of formation of the

Settlement Project “Nossa Senhora das Graças” and its form of territorial organization. In the

final consideration there is a reflection on the contradictions in the process of building a

territory of hope based on this study.

Keywords: Territory. Farm “Caboclo”. Settlement Nossa Senhora das Graças. Bananeiras-PB.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01 – Localização do município de Bananeiras no Brejo Paraibano.........................38

FIGURA 02 – Evolução histórica da divisão territorial de Bananeiras...................................42

FIGURA 03 – Centro da cidade de Bananeiras.......................................................................46

FIGURA 04 – Casarões construídos no período áureo do café...............................................46

FIGURA 05 – Sr. Daniel Quirino na antiga Casa Grande da Fazenda Poderosa....................61

FIGURA 06 – Assentamentos constituídos pelo INCRA em Bananeira – PB........................67

FIGURA 07 – Delimitação territorial da Fazenda Caboclo.....................................................74

FIGURA 08 – Reservatório natural de água para uso dos camponeses...................................79

FIGURA 09 – Desfibradeira manual utilizada no desfibramento do agave............................82

FIGURA 10 – Desfibradera mecânica de agave, a “máquina paraibana”...............................83

FIGURA 11 – Processo de corte do sisal ................................................................................83

FIGURA 12 – Secagem do sisal. ............................................................................................83

FIGURA 13 – Transporte dos molhos de sisal........................................................................84

FIGURA 14 – Processo de pesagem do sisal...........................................................................84

FIGURA 15 – Exemplo de área cultivada com fumo..............................................................85

FIGURA 16 – Exemplo da forma de secagem do agave ........................................................85

FIGURA 17 – Configuração territorial do PA Nossa Senhora das Graças..............................96

FIGURA 18 – Relevo forte ondulado da Fazenda Caboclo.....................................................98

FIGURA 19 – Fazenda Caboclo: mapa de declividade...........................................................99

FIGURA 20 – Fazenda Caboclo: mapa de topografia...........................................................100

FIGURA 21 – Formas de uso do solo no PA Nossa Senhora das Graças.............................102

FIGURA 22 – PA Nossa Sra. das Graças: cultivo de alimentos, pastagens e cajueiros........103

FIGURA 23 – Reserva florestal e vale do rio Curimataú......................................................103

FIGURA 24 – Reserva florestal do PA N. Sra. das Graças e vale do rio Curimataú............104

FIGURA 25 – PA. Nossa Sra. das Graças: detalhes da área de reserva florestal..................104

FIGURA 26 – PA. Nossa Sra. das Graças: detalhes da área de reserva florestal..................104

FIGURA 27 – PA. Nossa Sra. das Graças: detalhes da área de reserva florestal..................104

FIGURA 28 – PA N. Sra. das Graças: detalhes dos tanques no lajedo cristalino.................105

FIGURA 29 – PA Nossa Sra. das Graças: detalhes dos tanques no lajedo cristalino............105

FIGURA 30 – PA Nossa Sra. das Graças: detalhes dos tanques no lajedo cristalino............105

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FIGURA 31 – PA Nossa Sra. das Graças: consórcio de produtos alimentares.....................106

FIGURA 32 – PA Nossa Sra. das Graças: moradia, produção de alimentos e pastagens.....106

FIGURA 33 – PA Nossa Sra. das Graças: lote com moradia e produção de feijão...............107

FIGURA 34 – PA Nossa Sra. das Graças: lote com produção alimentar diversificada.........107

FIGURA 35 – PA Nossa Sra. das Graças: no detalhe as casas, a agricultura e o pasto.......108

FIGURA 36 – Afloramento cristalino num dos lotes do PA Nossa Senhora das Graças......108

FIGURA 37 – PA Nossa Senhora das Graças: pinha coletada por assentada.......................110

FIGURA 38 – O uso da enxada para a capinação no PA Nossa Sra. das Graças..................111

FIGURA 39 – PA Nossa Sra. das Graças: casa de Farinha...................................................111

FIGURA 40 – Assembleia na Associação dos Trabalhadores do PA N. Sra. das Graças.....112

FIGURA 41 – Assembleia na Associação dos Trabalhadores...............................................112

FIGURA 42 – Forno com sistema elétrico para a secagem da massa para fazer farinha......113

FIGURA 43 – Roldana manual até a década de 80...............................................................113

FIGURA 44 – Triturador de mandioca..................................................................................113

FIGURA 45 – Prensa utilizada na casa de farinha para enxugar a massa.............................114

FIGURA 46 – Trabalho das mulheres no interior da casa de farinha....................................115

FIGURA 47 – Crianças descascando mandioca no interior da casa de farinha.....................115

FIGURA 48 – PA Nossa Sra. das Graças: processo de debulha do feijão pela família.........116

FIGURA 49 – Casa antiga da época da fazenda....................................................................118

FIGURA 50 – Casa nova construída com recursos do crédito habitação..............................118

FIGURA 51 – Cisterna de placa construída pelo programa 1 Milhão de Cisternas..............118

FIGURA 52 – Casa com duas cisternas de placa...................................................................119

FIGURA 53 – Venda de doce caseiro de uma assentada na feira livre de Bananeiras..........121

FIGURA 54 – Igreja construída na comunidade onde ocorrem celebrações.........................125

FIGURA 55 – Grupo Escolar Major Augusto Bezerra..........................................................126

FIGURA 56 – Lugar de incineração de lixo no quintal da Escola.........................................127

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LISTA DE GRÁFICO

GRÁFICO 1 – Bananeiras: distribuição da população – 1991................................................40

LISTA DE QUADROS

QUADRO 01 – Principais produtos agrícolas do município de Bananeiras em 1922.............49

QUADRO 02 – Áreas de Conflito do município de Bananeiras..............................................58

QUADRO 03 – Bananeiras – relação dos Projetos de Assentamentos criados pelo Incra......68

QUADRO 04 – Bananeiras – relação dos assentamentos criados pelo Interpa.......................71

QUADRO 05 – Percentual da população entrevistada que possui eletrodomésticos............123

QUADRO 06 – Alunos do 4º e 5º ano do Grupo Escolar Major Augusto Bezerra...............129

QUADRO 07 – Grupo Escolar Major Augusto Bezerra: pesquisa com os estudantes..........128

LISTA DE TABELAS

TABELA 01 – Bananeiras: evolução da população residente.................................................39

TABELA 02 – Bananeiras: principais lavouras segundo a área plantada e o valor da

produção..........................................................................................................51

TABELA 03 – Bananeiras: distribuição dos imóveis rurais segundo o grupo de área -

1992..................................................................................................................52

TABELA 04 – Bananeiras: Estrutura Fundiária –

2006...........................................................53

TABELA 05 – Bananeiras: Produtores rurais segundo a condição –

2006..............................55

LISTA DE CROQUIS

CROQUI 01 – Formas de utilização das terras da Fazenda Caboclo – década de 1960.........81

CROQUI 02 – Formas de utilização das terras da Fazenda Caboclo – década de 1980.........88

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BIRD – Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento

CAMSOL – Cooperativa Agrícola Mista de Solânea

CPT – Comissão Pastoral da Terra

DVD – Digital Video Disc

EMATER – Empresa Brasileira de Extensão Rural

FHC – Fernando Henrique Cardoso

FETAG – Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado da Paraíba

GETEC – Grupo de Estudo sobre Trabalho, Espaço e Campesinato

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IHGP – Instituto Histórico e Geográfico do Estado da Paraíba

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

INTERPA – Instituto de Terras e Planejamento Agrícola

HA – Hectare

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra

PA – Projeto de Assentamento

PPGG – Programa de Pós-Graduação em Geografia

RAM – Reforma Agrária de Mercado

SPC – Serviço de Proteção ao Crédito

STR – Sindicato dos Trabalhadores Rurais

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TV – Televisão

UFPB – Universidade Federal da Paraíba

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................17

Aspectos teórico-metodológicos.............................................................................................22

CAPÍTULO I - FORMAÇÃO TERRITORIAL E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO

AGRÁRIO DE BANANEIRAS.............................................................................................37

1.1 A formação do território..................................................................................................40

1.2 A organização do espaço agrário.....................................................................................45

CAPÍTULO II - DA LUTA PELA TERRA À CRIAÇÃO DE ASSENTAMENTOS

RURAIS EM BANANEIRAS................................................................................................56

2.1 A luta pela terra................................................................................................................57

2.1.1 O Conflito da Fazenda Carvalho..................................................................................59

2.1.2 O Conflito da Fazenda Sapucaia..................................................................................62

2.2 Reforma agrária e criação de assentamentos rurais.....................................................64

CAPÍTULO III - DE TERRITÓRIO DE EXPLORAÇÃO A TERRITÓRIO DE

ESPERANÇA: O CASO DA FAZENDA CABOCLO........................................................74

3.1 Origem histórica da Fazenda Caboclo............................................................................75

3.2 Características naturais e formas de utilização do solo................................................77

3.2.1 Diversidade do uso do solo e das relações de trabalho na fazenda Caboclo............79

3.2.2 O processo de desapropriação......................................................................................90

CAPÍTULO IV - A CONSTRUÇÃO DE UM TERRITÓRIO DE ESPERANÇA: O

ASSENTAMENTO NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS...................................................95

4.1 Aspectos naturais e uso do solo do Projeto de Assentamento Nossa Senhora das

Graças......................................................................................................................................97

4.2 Perfil das famílias assentadas........................................................................................109

4.3 A organização da produção e do trabalho no PA Nossa Senhora das Graças..........109

4.4 Da submissão ao latifúndio à submissão ao Estado e ao capital financeiro..............117

4.5 Atuação de outros agentes externos..............................................................................122

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4.6 Condições de vida, renda e sociabilidade...................................................................122

4.7 A questão da Educação................................................................................................125

4.8 Como definir os assentados do antigo Sítio Caboclo?...............................................132

AS CONTRADIÇÕES NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UM TERRITÓRIO

DE ESPERANÇA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PARA FINALIZAR.................135

REFERÊNCIAS..................................................................................................................140

APÊNDICES.......................................................................................................................145

ANEXOS..............................................................................................................................182

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INTRODUÇÃO

A história da luta pela reforma agrária no Brasil tem sido marcada por muitos conflitos

que, em sua maioria, resultaram em assassinatos, prisões, perseguições e expulsão da

população do campo. Por outro lado, a estrutura fundiária teve como base, a princípio, a

distribuição das terras através da solicitação e concessão de sesmarias. Esse modelo de

formação e “organização” do território legitimava a posse da terra por pequenos grupos de

pessoas em detrimento da população indígena que, ou era exterminada ou expulsa. Na

Paraíba, as concessões de terra através do sistema de sesmaria se davam em atendimento a

solicitações, muitas vezes justificadas pela participação em guerras contra os índios,

chamados de tapuios ou gentios brabos.

Lyra Tavares transcreveu dos livros de registros das sesmarias a seguinte solicitação

de sesmarias e sua devida justificativa e concessão:

N.º 17 EM 21 DE ABRIL DE 1624

Antonio de Valcacer Moraes, diz que a muitos annos reside nesta capitania com sua casa e mais familia, acudindo a todos os rebates e guerras que se

fiseram aos Tapuias, e até agora não lhe foram dadas terras algumas em que

possa lavrar e trazer seu gado; e porque no rio Manguape está uma sorte de

terras devolutas, das quaes está elle de posse com um curral há mais de dois annos sem contradicção de pessôa alguma, a qual terra havia uma legoa de

comprido e outra de largo, que partia e se começaria á medir de um rio que

se mette no Manguape a que o gentio chama Patura Pesurema e que nossa língua chama Tapecerica.

Foi feita a concessão, começando-se a medir a legoa de terra do rio

Tapacerica, pelo rio Manguape, pelo capitão-mór Affonso da Franca (TAVARES, 1909, p.40).

Isso mostra o quanto o extermínio dos povos indígenas era respaldado pelo Estado que

se institucionalizava no Brasil à base da ocupação do território, da dominação e da tentativa

de escravização dos povos nativos.

Mais recentemente, o processo de apropriação e controle das terras no interior do

Brasil tem se configurado através da grilagem, fato que tem resultado na extensão da fronteira

agrícola, e também na intensificação dos conflitos agrários, resultando quase sempre em

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assassinatos e prisões de trabalhadores e de suas lideranças envolvidos nesses conflitos. À

medida que aumentam os conflitos por terra e a expulsão do homem do campo, ampliam-se as

fileiras de trabalhadores sem terra para trabalhar e, consequentemente, a pressão dos

movimentos de luta pela reforma agrária sobre o Estado, com a intensificação do processo de

ocupação de latifúndios improdutivos.

A partir da segunda metade da década de 1990, o governo de Fernando Henrique

Cardoso (FHC), com o objetivo de conter a pressão política dos movimentos sociais

(sindicatos, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra [MST] e Comissão Pastoral da

Terra [CPT]), implantou, em consonância com os latifundiários e com subsídios do Banco

Mundial, a sua política de desenvolvimento rural para o campo. Essa política que, segundo

Oliveira (2005), ficou caracterizada pela compra de terra dos grandes proprietários que

desejavam vender suas terras e a revenda para os trabalhadores que desejam “comprar” terra

para trabalhar, originou-se “no próprio processo de desenvolvimento do capitalismo moderno

no campo brasileiro.”

Esse modelo de desenvolvimento rural, que ficou conhecido como “reforma agrária de

mercado”, foi e continua sendo muito criticado pelos movimentos sociais. Para estes, trata-se

de uma forma do governo tentar descaracterizar a proposta original de reforma agrária

defendida pelos trabalhadores e de uma tentativa de desarticular o avanço dos trabalhadores

na luta pela conquista da terra para trabalhar. A outra face dessa política é a execução de uma

“reforma agrária” com base na lógica do mercado, onde a terra é negociada como uma

mercadoria, possibilitando aos antigos proprietários a garantia da renda capitalizada da terra.

Dessa forma, o Estado busca promover a capitalização dos espaços agrários de modo a

garantir a renda da terra para os proprietários rentistas, ao mesmo tempo em que deixa

endividados os trabalhadores rurais que se submetem a esse modelo de desenvolvimento

agrário.

O trabalho, “Do Sítio Caboclo ao assentamento Nossa Senhora das Graças:

território de exploração versos território de esperança” propõe-se estudar as mudanças

que tiveram lugar no território de Bananeiras, especificamente na propriedade denominada de

Fazenda Caboclo, com a sua transformação em projetos de assentamento de reforma agrária,

com destaque para o Projeto de Assentamento(doravante PA) Nossa Senhora das Graças,

visando entender até que ponto esse novo território construído rompe com a lógica da

dominação capitalista e representa um território de esperança.

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O PA Nossa Senhora das Graças, recorte territorial do presente trabalho, será

analisado a partir do processo que lhe deu origem até a sua forma de organização atual. Essa

análise possibilitará entender a constituição desse novo território no contexto das

transformações do espaço agrário municipal à luz do desenvolvimento do capital sobre a

agricultura.

As principais razões para a escolha do tema foram: o interesse em aprofundar os

conhecimentos sobre o campesinato, em particular, sobre o campesinato paraibano; contribuir

com a luta de resistência camponesa contra a dominação do capital no campo, à medida que

aprofundamos o conhecimento sobre aspectos fundamentais relacionados à vida, às formas de

produção e de trabalho camponês, descortinando os limites e as possibilidades de

fortalecimento dessa classe; e aproveitar os conhecimentos das disciplinas cursadas para dar

suporte teórico ao estudo.

Podemos considerar o PA Nossa Senhora das Graças como um lugar que precisa ter

suas especificidades analisadas para tentarmos entender a problemática que surge com a

indagação: território de exploração ou território de esperança? E para encontrar uma resposta

satisfatória, fez-se necessário levantar outras indagações que possibilitem, após uma

investigação junto à população local, principalmente às pessoas que residem há mais tempo

no lugar, respondê-las. O esclarecimento das questões que serão levantadas pode contribuir

para uma nova compreensão do espaço ocupado e responder a questão de fundo, aqui

formulada. Estabelece-se, portanto, uma possibilidade para entender as várias faces de

dominação do capitalismo sobre o campesinato e até que ponto existe formas de resistência a

essa dominação, ou se há apenas um processo de adaptação ao capitalismo ou mesmo de

decomposição do campesinato.

É sabido que as formas de vida, produção e trabalho do camponês, seja do PA Nossa

Senhora das Graças seja de outras partes do Brasil e do mundo apresentam situações ora

diversas ora semelhantes. Com essa compreensão, buscar-se-á fazer uma ponte entre as

teorias e estudos que pesquisaram a questão camponesa no interior das formações sociais

capitalistas para entender o camponês assentado pertencente ao assentamento objeto da

investigação e, quiçá, em outros assentamentos no município de Bananeiras. Nesse contexto,

será possível identificar as formas de organização da produção e do trabalho desse camponês,

as relações internas e externas desse campesinato e a sua articulação com o mercado.

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No Brasil, a forma de apropriação da propriedade da terra, desde a colonização até os

dias atuais, levou a uma concentração da propriedade da terra em poder de uma minoria, em

detrimento dos povos indígenas, desde o primórdio da ocupação, e da grande maioria da

classe trabalhadora, ao longo do processo de produção do espaço brasileiro.

Na região do Brejo Paraibano, tal fato vai se reproduzir desde os primórdios da

ocupação, porque a lógica da sua ocupação se deu também com base na concessão de

sesmarias e a organização do seu espaço agrário teve como base a grande propriedade voltada

para o cultivo de lavouras comerciais em combinação com a policultura alimentar e com a

pecuária. A policultura era produzida por trabalhadores escravos, em menor quantidade que

na Zona da Mata, por posseiros, moradores, foreiros e parceiros (MOREIRA E TARGINO,

1997).

Bananeiras, como parte do Brejo, inseriu-se nesse processo e teve sua estrutura agrária

pautada na lógica da convivência entre latifúndio e minifúndio. O latifúndio convivendo ora

com o trabalho escravo ora com as relações de trabalho não capitalistas (representadas pelos

posseiros, parceiros, arrendatários e moradores de condição) ora com o trabalho assalariado,

até basicamente a primeira metade do século XX. O poder sobre a terra no município

supracitado, desde os primórdios, esteve interligado ao poder político e econômico, haja vista

que os grandes proprietários de terra se transformaram nos líderes políticos municipais.

A partir do início dos anos de 1970, a queda nos preços do açúcar no mercado

internacional levou as usinas da região a uma forte crise financeira, com pelo menos uma

dessas usinas perdendo propriedades através de hipotecas cobradas pelo Banco do Brasil. Em

1975, surgiu o Proálcool e sua efetivação no Brejo, a partir de 1977, foi vista como a salvação

para a crise. Mas, o apogeu vivido durante o Proálcool e a concomitante expansão da

atividade pecuária verificada na região em decorrência dos incentivos da SUDENE no mesmo

período culminaram com profundas modificações na organização do espaço agrário regional.

A dominação canavieiro-pecuária sobre o espaço agrário do Brejo foi responsável pela

expulsão maciça de moradores e parceiros do campo para as cidades e pela transformação de

parcela destes trabalhadores em assalariados temporários da cana. Esse crescimento do

trabalho assalariado coincide com o fortalecimento do movimento sindical na região (com

destaque para os Sindicatos de Trabalhadores Rurais de Bananeiras, Pilões e Alagoa Grande).

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Concomitantemente, intensifica-se a ação da Igreja através das paróquias locais e da diocese

de Guarabira, apoiando a luta de resistência camponesa contra a expulsão-expropriação.

Essa resistência vai resultar na interferência do Estado, inicialmente como aliado dos

latifundiários e posteriormente como atenuador desses conflitos através da desapropriação de

terras nos municípios. A crise do Proálcool, a partir de 1986, vai resultar no enfraquecimento

do latifúndio, por um lado, e no fortalecimento da ação organizada da classe trabalhadora, por

outro.

Nem todos os latifúndios, porém, vão passar por esse processo e continuam, até a

década de 1990, reproduzindo as relações de trabalho tradicionais. Nessa situação, o

latifundiário é o senhor da terra e ele tem uma relação de “reciprocidade” com uma grande

quantidade de trabalhadores que permaneceram na terra e não entraram em conflito, porque

não houve nenhuma mudança nas formas de uso do solo nem na organização tradicional de

trabalho. Nesses casos, não houve nenhum tipo de pressão sobre os latifundiários. Em boa

parte dessas propriedades, os trabalhadores eram moradores, ora trabalhando no sistema de

meação ora como prestadores de serviço recebendo salário.

Com a derrocada das culturas comercias, a relação entre o proprietário e os moradores

mudou significativamente. O trabalho assalariado praticamente desapareceu em algumas

dessas propriedades. Assim, mudaram-se as relações de produção, mas a renda da terra,

mesmo com a ausência das culturas comerciais, estava garantida para o seu proprietário

através da meia1 que era subtraída da produção agrícola alimentar produzida pelo morador,

quase sempre sem nenhum custo adicional para o dono da terra. Com a garantia da renda e

sem uma pressão consistente por parte dos moradores, pela desapropriação da terra,

estabeleceu-se um certo comodismo em ambas as partes.

A Fazenda Caboclo é um dos antigos latifúndios do município de Bananeiras a se

enquadrar nessas características; talvez por esse motivo não se constatou nenhum indício de

existência de conflito agrário naquela fazenda. Lá só percebeu-se o desinteresse em continuar

controlando a terra, pela falta de opção do que produzir nela a partir do colapso da agricultura

do fumo, talvez pelas condições naturais do solo serem desfavoráveis à produção de outras

culturas comerciais, como por exemplo, a cana-de-açúcar; pela morte do proprietário titular

1 Forma de renda fundiária paga pelo trabalhador ao proprietário da terra em forma de produto (metade da sua

produção ou a meia).

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ou por uma vantagem financeira grande em um possível processo de negociação, prováveis

motivos pelos quais se abriu mão da terra.

A desapropriação da Fazenda Caboclo e sua transformação em assentamentos rurais

geraram uma mudança na estrutura tradicional de sua organização territorial; aí inserida a

organização da produção e do trabalho, com repercussões sobre a vida da população. Esse é o

problema que buscaremos estudar.

O interesse pelo tema surgiu ao ingressarmos na disciplina Espaço e Campesinato,

oferecida pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPB, como aluno especial. As

discussões sobre os textos lidos, orientadas pelo Professor Ivan Targino e pela Professora

Emilia Moreira aumentaram o interesse pelo tema da questão agrária e do campesinato, em

especial pelo que trata da luta camponesa por terra e pela sobrevivência na terra. Ao elaborar

o artigo exigido pela disciplina, escolhemos estudar a Fazenda Caboclo e as mudanças

territoriais por ela vivenciadas e seus reflexos sobre a vida dos camponeses que nela residem

até hoje, tomando como exemplo a porção da fazenda que deu origem ao PA Nossa Senhora

das Graças. Essa escolha teve a ver com nossas raízes, uma vez que a nossa família é de

moradores da região, que, durante muitos anos, vivenciou algumas das modalidades da

relação de trabalho ali encontrada, principalmente a parceria e a moradia de condição. Os

desdobramentos desse processo originaram esta dissertação.

Aspectos teórico-metodológicos

Para a realização deste estudo, identificamos o território como sendo categoria

geográfica de análise pertinente. Em seguida, enveredamos em uma revisão da bibliografia

selecionada, buscando entender as abordagens de território em alguns autores tais como:

Morgan (1967), Léfèbvre (1986), Ratzel (1990), Raffestin (1993), Moraes (2002), Santos (2006) e

Haesbaert (2006; 2007).

Constatamos que o debate acerca do território não é novo, ele remonta ao século XIX

quando surgiram as primeiras definições na direção da construção do seu conceito. Nas

últimas décadas, a discussão em torno dessa categoria tem-se ampliado no sentido de se obter

uma clareza mais acurada para sua definição enquanto categoria de análise da Geografia.

A falta de clareza conceitual tem dificultado a distinção entre o território e outras

categorias da geografia. Isso pode ser detectado no próprio debate sobre o tema,

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principalmente entre os autores mais modernos, dada a complexidade que esse conceito

adquiriu em razão da amplitude que tomou, em consequência de tantos elementos novos que

foram a ele incorporados. Essa afirmativa pode ser conferida na referência que Haesbaert

(2005) faz, citando a discussão sobre dominação e apropriação feita por Lefebvre (1986;

[1974] ).

Embora Lefebvre se refira sempre a espaço, e não a território, é fácil

perceber que não se trata de um espaço no sentido genérico, muito menos de

um espaço natural. Trata-se, isto sim, de um espaço-processo, um espaço socialmente construído, um pouco como na distinção entre espaço e

território feita por autores como Raffestin (1993[1980]). De certa maneira

podemos afirmar que o espaço trabalhado por Lefebvre é “um espaço feito

território” através dos processos por ele denominados de apropriação (que começa pela apropriação da própria natureza) e dominação (mais

característica da sociedade moderna, capitalista) (2005, p. 6.775).

O próprio Haesbaert (2006, p. 35-36), ao se referir às várias concepções de território,

afirma: “Assim, podemos perceber a enorme polissemia que acompanha a sua utilização entre

os diversos autores que a discutem. Como já enfatizamos, muitos sequer deixam explícita a

noção de território com que estão lidando, cabendo a nós deduzi-la.”

Já Raffestin, acusa o mesmo problema, envolvendo, também, os conceitos de território

e espaço. “Espaço e território não são termos equivalentes. Por tê-los usado sem critério, os

geógrafos criaram grandes confusões em suas análises, ao mesmo tempo que, justamente por

isso, se privavam de distinções úteis e necessárias” (1993, p. 143).

Para se entender melhor a origem do território enquanto categoria geopolítica,

utilizamos a definição elaborada por Morgan, em 1877, que naquela época definiu o território

da seguinte forma:

Todas as formas de governo são redutíveis a dois planos gerais, usando-se a

palavra plano em seu sentido científico. Em suas bases os dois são

fundamentalmente distintos. O primeiro, na ordem do tempo, se fundamenta

nas pessoas e nas relações puramente pessoais e pode ser distinguido como

uma sociedade (societas). O gens é a unidade dessa organização; gerando

com os sucessivos estádios de integração o período arcaico, o gens, a fratria,

a tribo e a confederação de tribos que constituíram um povo ou nação

(populus). Mais tarde, a fusão de tribos da mesma área formando uma nação

substituiu uma confederação de tribos que ocupavam áreas independentes.

Tal foi, durante longos períodos, depois que o gens apareceu, a organização

substancialmente universal da sociedade antiga; e ela subsistiu entre os

gregos e os romanos depois que a civilização sobreveio. O segundo se

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fundamenta no território e na propriedade e pode ser distinguido como um

estado (civitas). O município ou distrito, circunscrito por limites e fronteiras,

com a propriedade que ele contém, é a base ou unidade desta última,

resultando daí a sociedade política. A sociedade política é organizada a partir

de áreas territoriais, e trata a propriedade assim como as pessoas através de

relações territoriais. Os sucessivos estádios de integração são o município ou

distrito, que é a unidade de organização; o estado ou província, que é uma

agregação dos municípios ou distritos; e o domínio nacional ou território,

que é uma agregação dos estados ou província: o povo de cada unidade é

organizado num corpo político (págs. 6-7) (MORGAN, 1967, apud

HINDESS E HIRST, 1976, p. 36).

Essa concepção de Morgan mostra a presença do Estado em si (o Governo), não o

Estado-nação, desde o início da fixação das sociedades na terra, ou seja, o aparecimento da

figura do Estado juntamente com a concepção de território enquanto unidade geopolítica. O

Estado age sobre o território. Partindo-se dessa premissa, podemos afirmar que o Estado em si

surgiu depois das delimitações territoriais. Estas, ao surgirem, tornaram necessário o

“controle” estatal no sentido de se definir critérios para gerir a produção excedente que

aumentava em consequência da intensificação do uso das técnicas e do manejo do solo.

Do ponto de vista geopolítico, a base do controle territorial do espaço deve ter se

iniciado com a transição do nomadismo para o sedentarismo em termos concretos, com a

fixação das sociedades e com o controle do espaço através do uso do solo para a produção de

alimento. A definição de áreas para o plantio, os critérios dessa escolha, a introdução de

técnicas, que com o passar do tempo foram se aprimorando, o aumento da potencialidade do

homem em planejar, cada vez mais, a sua forma de atuação no espaço e sobre os recursos

naturais, de forma “suprema”, só fizeram aumentar o controle territorial. A divisão social do

trabalho foi (e continua sendo) um elemento significante para o processo de territorialização e

de produção do espaço. Nesse sentido, os limites territoriais ganham complexidade, porque

complexa é a divisão sócio-territorial do trabalho. Isso gera também uma complexidade à

condição dos limites do território, tirando a estabilidade de seus contornos. O território passa

a se configurar e se reconfigurar de acordo com o termômetro da divisão sócio-territorial do

trabalho.

Ratzel, criticado por sua postura de defesa do Estado alemão, propõe um conceito de

território atrelando-o ao de Estado-nação, o que de início pode passar a ideia de um território

fechado, inerte, sem mobilidade. Para este autor:

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Que o território seja necessário à existência do Estado é coisa óbvia.

Exatamente porque não é possível conceber um Estado sem território e sem

fronteiras é que vem se desenvolvendo rapidamente a geografia política; e

embora mesmo a ciência política tenha freqüentemente ignorado as relações

de espaço e a posição geográfica, uma teoria de Estado que fizesse abstração

do território não poderia jamais, contudo, ter qualquer fundamento seguro

(RATZEL, 1990 p. 73).

Em sua afirmação, Ratzel deixa patente a inter-relação entre território e Estado e vice-

versa. Ele também deixa claro que o território é a base para o estabelecimento do Estado e não

o contrário. Com segundas intenções ou não, este autor pode ter se baseado no conceito de

Morgan (1877) para definir sua concepção de território. Ratzel identifica a forte relação do

Estado com o território e a interdependência entre os mesmos quando afirma: "A sociedade

que consideramos, seja grande ou pequena, desejará sempre manter sobretudo a posse do

território sobre o qual e graças ao que ela vive” (RATZEL, 1990, p. 76). Se sua abordagem

parasse aí, seria mais fácil o entendimento. Mas, ele continua: “Quando esta sociedade se

organiza com esse objetivo, ela se transforma em Estado” (op. cit., p.76).

Não necessariamente toda organização social tem que se transformar em Estado; já a

existência de um território é imprescindível em qualquer organização social. Nesse caso,

Ratzel tem razão quando critica algumas ciências sociais por não considerarem o ambiente

físico. No caso da Sociologia, ele afirma que “(...) em toda sociologia moderna o território

merece tão pouca consideração que as obras que tratam dele a fundo nos aparece como

exceções” (op. cit., p. 76). Maiores que a defesa do Estado alemão e do território enquanto um

Estado-nação absoluto são as contradições intrínsecas na discussão sobre o território e o

Estado, apresentadas pelo autor. Para ele, não é o território que é estatal e sim o Estado-nação

que é territorial. Portanto, o território não se limita ao Estado-nação, ele pode ser maior,

menor ou igual a ele.

O Estado-nação não aparece como território e sim como uma base estatal estruturada a

partir de uma construção cultural e política da época, as chamadas identidades nacionais.

Portanto, ele não determina o conceito de território. Este é bem mais móvel que aquele. É

como diz o próprio Ratzel (1990), o território/pátrio, o Estado-nação configura-se como a

totalidade abrangente de um complexo territorial, onde se situa uma multiterritorialidade, ou

seja, a porção do espaço onde os territórios acontecem com maior dinamismo. Não se pode

negar o próprio Estado-nação como território, mas, ele não ser ser entendido como um

território inflexível, ou seja, hermético.

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Depois de Morgan e Ratzel, aconteceram e, continuam acontecendo, muitas discussões

em torno do conceito de território. Mais recentemente, as mudanças na forma de ver e de

tentar compreender o mundo, diante de um processo de globalização, que a cada dia coloca

mais desafios para a humanidade, têm despertado nos estudiosos a necessidade de repensar,

re-elaborar e até criar novos conceitos. No caso das categorias básicas da Geografia, não é

diferente. Na evolução do conceito de território, muitos elementos têm sido inseridos, no

sentido de dar mais mobilidade ao próprio discurso. No entanto, a base principal apontada

pelos autores, nas últimas décadas do século XIX, se mantém; ou seja, o topônimo ou o

território em si. É sobre esse território em si, no dizer de Santos (2007), que as coisas

acontecem e, quando as coisas acontecem o território, enquanto categoria geográfica, se

realiza.

Para este autor, “O território é o lugar em que desembocam todas as ações, todas as

paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, onde a história do

homem plenamente se realiza a partir das manifestações da sua existência” (SANTOS, 2007,

p. 11).

Depois dessa caracterização mais genérica do conceito de território, o autor enfatiza

com mais detalhes a sua concepção. Nesse caso, reafirma a condição básica adotada por

Morgan e Ratzel e esclarece:

O território não é apenas o conjunto dos sistemas naturais e de sistemas de

coisas superpostas; o território tem que ser entendido como o território

usado, não o território em si. O território usado é o chão mais a identidade.

A identidade é o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O

território é o fundamento do trabalho; o lugar da residência, das trocas

materiais e espirituais e do exercício da vida. O território em si não é uma

categoria de análise em disciplinas históricas, como a geografia. É o

território usado que é uma categoria de análise. Aliás, a própria idéia de

nação, e depois a idéia de Estado nacional, decorrem dessa relação tornada

profunda, porque um faz o outro, à maneira daquela célebre frase de

Winston Churchill: "Primeiro fazemos nossas casas, depois nossas casas nos

fazem". Assim é o território que ajuda a fabricar a nação, para que a nação

depois o afeiçoe (op.cit., p. 14).

Percebe-se aí uma atualização dos conceitos elaborados no século XIX. A ideia de

Estado nacional como território é reafirmada e, ao mesmo tempo, esclarecida e

complementada com os novos elementos como: a identidade cultural, os sentimentos, as

relações de poder etc.

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Nessa discussão, torna-se importante referenciar outros autores da modernidade que

apresentam diferenças conceituais em relação aos já abordados. Moraes (2002) faz uma

relação entre o Estado e o território e afirma:

(....) o Estado é de imediato definido como um Estado dotado de um

território. Isto é, entre os qualificativos do Estado moderno – uma forma de

Estado específica e historicamente localizada – está o fato de ele possuir um

espaço demarcado de exercício de poder, o qual pode estar integralmente sob

seu efetivo controle ou conter partes que constituem objeto de seu apetite

territorial. De todo modo a modernidade fornece uma referência espacial

clara para o exercício do poder estatal: uma jurisdição. Trata-se pois de um

Estado territorial (MORAES, 2002, p. 61).

Este autor também fortalece a ligação entre o Estado e o território, buscando eliminar

a ideia de que o Estado é um território estático ou, como afirma Ratzel, Estado pátrio. O

Estado como sinônimo de modernidade, mesmo contendo o seu espaço demarcado, não nega

a existência das relações de poder. Essa relação de poder, de certa forma, torna os limites

vulneráveis a novas configurações territoriais, através de novas identidades e da formação de

novos territórios. Temos, assim, um processo de fragmentação territorial ou, como afirma

Haesbaert, uma multiterritorialidade, em sentido mais básico. E, ao passo que se fragmentam,

os territórios se interligam através do processo de globalização e formação de redes.

Lefebvre (1978, p. 259, apud RAFFESTIN, 1993 p. 143), aponta como se dá o

estabelecimento de um território no espaço: "A produção de um espaço, o território nacional,

espaço físico, balizado, modificado, transformado pelas redes, circuitos e fluxos que aí se

instalam: rodovias, canais, estradas de ferro, circuitos comerciais e bancários, auto-estrada e

rotas aéreas.” Pode-se afirmar que o espaço se apresenta como o topônimo onde se

desenvolve a territorialização e reterritorialização através dos vários elementos que se

desenvolvem com base nas relações de poder. Nessa perspectiva Raffestin (1993, p.144)

afirma, de forma metafórica, que “O espaço é a „prisão original‟, o território é a prisão que os

homens constroem para si”.

Partidário da concepção de Lefebvre, Raffestin adota basicamente o mesmo conceito

de território, com a preocupação de não cair na mesma confusão denunciada por aquele, já

citada neste trabalho. Para este autor: “O território se forma a partir do espaço, é o resultado de

uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao

se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator

„territorializa‟ o espaço” (RAFFESTIN, 1993, p. 143).

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Aparece, muito nitidamente, na abordagem de Lefebvre (1978), reafirmada por

Raffestin (1993), uma série de elementos que foram inseridos nos conceitos ditos modernos

que, ao aumentar a complexidade do debate, possibilita a elaboração de novas vertentes de

discussão como territorialização, desterritorialização, territórios em rede, reterritorialização,

multerritorialidade etc.

Essas novas vertentes que surgem na (des)construção do conceito de território são

objetos de estudo de autores que se autodefinem como “pós-modernos”. É o caso de

Haesbaert que se autodefine “pós-moderno” enquanto faz a defesa do conceito de

mutiterritoriaridade em oposição ao de desterritorialização.

Haesbaert (2006), depois de discutir vários conceitos de território, nas mais diversas

áreas das ciências que pesquisam sobre esse tema, não precisamente enquanto categoria

geográfica e de fazer críticas à falta de clareza em grande parte deles, apresenta dois conceitos

da sua autoria:

No primeiro:

O território envolve sempre, ao mesmo tempo (...), uma dimensão simbólica,

cultural, através de uma identidade territorial atribuída pelos grupos sociais,

como forma de "controle simbólico" sobre o espaço onde vivem (sendo

também, portanto, uma forma de apropriação), e uma dimensão mais

concreta, de caráter político-disciplinar [e político-econômico, deveríamos

acrescentar]: a apropriação e ordenação do espaço como forma de domínio e

disciplinarização dos indivíduos. (HAESBAERT, 1997, p. 42 apud

HAESBAERT, 2006, p. 94)

No segundo:

(...) podemos afirmar que o território, relacionalmente falando, ou seja,

enquanto mediação espacial do poder, resulta da interação diferenciada

entre as múltiplas dimensões desse poder, desde sua natureza mais

estritamente política até seu caráter mais propriamente simbólico, passando

pelas relações dentro do chamado poder econômico, indissociáveis da esfera

jurídico-política. Em certos casos, como o de grandes conflitos territoriais de

fundo étnico e religioso, a dimensão simbólico-cultural do poder se impõe,

com muita força, enquanto em outras, provavelmente as dominantes, trata-se

mais de uma forma de territorialização, a fim de regular conflitos dentro da

própria esfera política ou desta com determinados agentes econômicos. (op.

cit., p. 93)

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No primeiro caso, apesar de não enfatizar a presença do Estado, o autor deixa bem

claro o caráter político, disciplinar e econômico necessário à gestão do território. Não se trata

necessariamente do Estado-nação, mas o Estado de direito mostra-se implicitamente presente

nessa definição.

No segundo caso, insere um novo ângulo – mediação espacial do poder – para

justificar as relações de poder no interior do território. No mesmo instante, enfatiza a presença

indissociável do poder econômico à esfera jurídico-política, comum a todos os outros

conceitos apresentados e criticados por ele. Mas uma vez, o Estado de direito aparece, de

certa forma até mais incisivo do que no primeiro caso.

A pretensão de Haesbaert de abolir o Estado das relações de poder na definição da

territorialidade aparece de forma nítida em 2005, no calor do debate, quando ele sai na defesa

da teoria da multiterritorialidade em oposição a da desterritorialização. Nesse momento, ele

afirma:

Pensar, como inúmeros autores nas Ciências Sociais, que estamos imersos

em processos de desterritorialização6, é demasiado simples e, de certa forma,

politicamente “imobilizante”, pois imagina-se que, num mundo globalmente

móvel, sem estabilidade, marcado pela imprevisibilidade e fluidez das redes e pela virtualidade do ciberespaço, estamos quase todos à mercê dos poucos

que efetivamente controlam estes fluxos, redes e imagens – ou, numa

posição extrema, nem mesmo eles podem mais exercer algum tipo de controle.

Se o discurso da desterritorialização serve, antes de mais nada, àqueles que

pregam a destruição de todo tipo de barreira espacial, ele claramente

legitima a fluidez global dos circuitos do capital, especialmente do capital financeiro, num mundo em que o ideal a ser alcançado seria o

desaparecimento do Estado, delegando todo poder às forças do mercado

(HAESBAERT, 2005, p. 6.790).

Esta abordagem, da forma como está posta pelo autor, principalmente na defesa de

facultar ao mercado total autonomia para atuar na questão da territorialidade, parece muito

familiar ao liberalismo econômico defendido pelos economistas do século XVIII, quando o

mercantilismo já não atendia às necessidades do capitalismo.

Todos os conceitos até aqui discutidos apresentam pelos menos duas coisas em

comum: a presença do Estado e as relações de poder inseridas no interior da territorialidade.

Outra abordagem do território é realizada por Emilia Moreira (2006). Para ela o

conceito de território é polissêmico e multidimensional.

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Sem negar a polissemia presente no termo território, consideramos, porém a

sua apreensão múltipla como a mais adequada. Isto na medida em que

entendemos a multiplicidade não como resultado da soma de idéias desagregadas, mas como a articulação de idéias que se fundem na busca da

unidade, da totalidade (MOREIRA, 2006, pp. 8-9).

Moreira (2006) entende o território como:

a) um espaço concreto, definido por fronteiras e delimitado por e a partir de

relações de poder que se estabelecem e se transformam ao longo do tempo histórico; b) uma porção do espaço socialmente produzido, que exprime as

características do espaço a que pertence, porém se destaca pela dimensão

que assume enquanto objeto de disputa e de enfrentamentos; (...) c) como um

produto da luta de classes e do confronto entre capital e trabalho. (op. cit., p. 9).

Com base nessa percepção, a autora citada concorda com Raffestin de que o território

“é um produto de uma ação social de apropriação do espaço que se dá tanto de forma concreta

como abstrata” e também acorda com a noção de apropriação de Lefèbvre “enquanto processo

efetivo de territorialização que assume também uma dimensão tanto concreta como

simbólica” (MOREIRA, 2006, p. 9).

Essa forma de apreensão do território, quando aplicada ao estudo da questão agrária,

permite, entre outros, segundo Moreira (2006):

a) identificar os espaços de disputa e/ou de controle econômico, político e

social dos grupos de confronto na questão da terra: de um lado, os latifundiários e do outro os camponeses sejam eles pequenos produtores ou

trabalhadores sem terra;

b) identificar os espaços de disputa e/ou de controle econômico, político e social dentro do próprio grupo oligárquico regional;

c) identificar formas simbólicas-subjetivas de apropriação do território;

d) dar visibilidade aos processos responsáveis pelos enfrentamentos e

disputas por frações do território; e) identificar os processos de territorialização, des-territorialização e/ou re-

territorialização resultantes da luta entre capital e trabalho no campo

(MOREIRA, 2006, p. 9).

A partir dessas reflexões, Moreira (2006) definiu o conceito de “território de

esperança” como:

Aquele conquistado e construído: pela luta de resistência camponesa para permanecer na terra; pela luta de ocupação de terra, promovida pelos

trabalhadores sem terra; pela luta de consolidação das diferentes formas de

agricultura camponesa. Essas diferentes estratégias simbolizam formas de “ruptura” com o sistema hegemônico, isto é, com a organização social,

econômica e política pré-existente no agro brasileiro. Na verdade, trata-se de

um território novo, construído com base na utopia e na esperança, “Território

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de Esperança”, “Território de Solidariedade” e também, parafraseando Félix

Guattari, “Território de Desejo”, carregado de contradições, mas também de

sinalizações de uma forma experienciada de organização social diferente daquela marcada pela subordinação, pela dominação, pela bestialidade da

exploração (op. cit., p. 4).

No caso da Fgazenda Caboclo, hoje transformada em três Projetos de Assentamento,

dentro os quais o de Nossa Senhora das Graças, considerando as mudanças ocorridas nas

últimas décadas, tanto no que concerne à organização da produção e do trabalho, quanto às

relações de poder e à presença do Estado, consideramos pertinente uma abordagem a partir do

conceito de território de esperança cunhado por Moreira em contraposição ao território de

exploração também construído pela mesma autora, como sendo aquele marcado pela

exploração do trabalho, pela dominação e pela subordinação.

Do ponto de vista metodológico, a dialética dá suporte ao trabalho por três razões: a

primeira, pela orientação obtida; a segunda, por ser o método que, no nosso entender, permite

uma análise mais consequente da realidade social; e a terceira, a identidade, construída ao

longo da vida, com a experiência de ser filho de camponeses e depois de vir morar na cidade,

ainda adolescente, ter ingressado nos movimentos estudantil e sindical como militante e,

permanecendo até hoje, sempre atuando pelo viés de uma concepção de esquerda.

Definido o método, partimos para a concretização da pesquisa. Inicialmente

realizamos um levantamento bibliográfico para a formação de um banco de dados que

garantisse o embasamento teórico do trabalho. Para o levantamento bibliográfico foram feitas

visitas às bibliotecas central e setoriais (de Geografia e História) da UFPB; ao Instituto

Histórico e Geográfico do Estado da Paraíba; ao Centro Cultural de Bananeiras; aos sebos

culturais da cidade de João Pessoa; às várias livrarias existentes na cidade de João Pessoa.

Consultamos ainda acervos particulares dos colegas que pesquisam nessa área, principalmente

dos professores da UFPB, a partir dos próprios orientadores, a Professora Emilia Moreira e o

Professor Ivan Targino. A internet serviu de porta de acesso aos vários sites de busca, dentre

os principais: livraria virtual, estante virtual, Universidade de São Paulo, Universidade de

Presidente Prudente e as revistas: Raízes, Okara e Tempo Social, dentre outras, que

certamente aparecerão nas referências.

Foi também efetuado um amplo levantamento de dados secundários. Para levantar

esses dados, foram visitados os órgãos que atuam no levantamento e controle de dados sobre a

questão agrária e econômica do estado da Paraíba, tais como: o IBGE-PB, a Superintendência

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do Incra na Paraíba (INCRA-PB), o Instituto de Terras da Paraíba (INTERPA) nas unidades

regionais de Alagoinha e João Pessoa, a Prefeitura Municipal de Bananeiras e a Emater de

Bananeiras. As informações levantadas dizem respeito à estrutura fundiária, às relações de

trabalho existentes no município de Bananeiras e sua evolução, aos dados relativos à evolução

da produção agrícola no município e às informações sobre o número de assentamentos

criados. Consultamos também as entidades representativas dos trabalhadores rurais como a

CPT/Guarabira, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bananeiras, além do MST/PB.

Um trabalho de campo foi realizado como estratégia de busca de elementos para

fundamentar empiricamente o estudo. Entendemos que numa pesquisa geográfica o trabalho

de campo é um instrumento de fundamental importância para o levantamento da base

empírica que subsidiará o pesquisador. Os dados levantados, as entrevistas com os sujeitos, as

fotografias, a visualização dos elementos da paisagem, o levantamento topográfico, o

levantamento do uso do solo, a relação entre o visível e o vivido, tudo isso compõe um

conjunto de possibilidades para as informações necessárias à concretização do trabalho.

Notadamente, o campo por si só não garante ao pesquisador a concretização de um trabalho

científico. No entanto, ele representa um instrumento de pesquisa muito importante para o

enriquecimento de uma investigação.

Lourenço (2005) entende o trabalho de campo como “laboratório geográfico por

excelência” (p. 38). Lacoste, sem dar menos importância ao trabalho de campo, chama a

atenção para o envolvimento dos sujeitos, tanto no período da pesquisa em si como na

participação dos resultados por serem pessoas diretamente interessadas na pesquisa. Para ele,

“O trabalho de campo, para não ser somente um empirismo, deve articular-se à formação

teórica que é, ela também, indispensável”. (LACOSTE 1985 p. 20). Para Kayser (1985, p.

31), “A pesquisa de campo é um meio e não um objetivo em si mesmo. É a pesquisa

indispensável à análise da situação social. Trata-se, repetimos, de situação social e não de

situação espacial”.

No caso do recorte estudado, o trabalho de campo consistiu: a) na realização de

entrevistas estruturadas e não estruturadas junto aos(as) chefe(s) de 20 famílias (31% das 64

famílias assentadas no Assentamento Nossa Senhora das Graças)2. A escolha das famílias

entrevistadas dependeu da disponibilidade de cada uma e do aceite formal em participar da

2 Embora o Incra tenha assentado 62 famílias, lá se encontram hoje 64.

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pesquisa. Algumas dessas entrevistas foram tão informais que se transformaram em conversas

durante a caminhada pelos lotes, ou antes do início das assembleias ou no terraço da casa de

alguns dos assentados que já conhecíamos; b) na elaboração de um perfil do Assentamento

com base em entrevistas com representantes da Associação de Moradores do Assentamento,

diretor e professores da escola e assentados; c) em visitas aos lotes, à casa de farinha, à escola

e a outros setores do Assentamento; d) na aplicação de questionários a 19 estudantes do 4º. e

do 5º. ano do ensino fundamental da escola existente na comunidade (10 alunos do 4º. ano e 9

alunos do 5º. ano). Os roteiros de entrevista, o formulário para elaboração do perfil do

assentamento e o questionário aplicado aos estudantes encontram-se nos apêndices do

trabalho.

Das famílias entrevistadas, a menor é composta de duas pessoas e as maiores de seis

pessoas, considerando apenas os membros da família que residem na casa. A média de

pessoas por família é de 4 membros.

Tudo começou em março de 2006, em visita ao Sítio Caboclo, como era chamada a

área da Fazenda Caboclo que deu origem ao Assentamento Nossa Senhora das Graças, para

rever familiares que há anos não visitávamos. O pesquisador, acompanhado de sua mãe, que o

estimulou a fazer a visita ao lugar, percebeu que haviam ocorrido significativas alterações na

sua paisagem. As mudanças se deram tanto em relação aos produtos cultivados

(desaparecimento de culturas importantes para a manutenção do antigo latifúndio) como em

relação à infraestrutura (novas casas, cisternas de placas, energia, etc.). Os elementos

inseridos ou modificados no lugar em apenas uma década foram de tamanha significância que

chamou a atenção do então visitante, no sentido de buscar explicações

teórico/metodológico/conceituais para o desenvolvimento de uma investigação científica.

Quase um ano mais tarde, em fevereiro de 2007, ao ingressar no PPGG/UFPB como

aluno especial da disciplina Espaço e Campesinato, ministrada pelo Professor Ivan Targino e

pela Professora Emília Moreira, ainda não tinhamos um projeto definido para desenvolver no

curso de mestrado, no qual pretendia ingressar como aluno regular. Durante as discussões

sobre as transformações ocorridas no espaço agrário em decorrência do desenvolvimento do

capitalismo no campo, veio-nos à mente a situação presenciada no antigo sítio Caboclo. Daí,

surgiu a ideia do projeto. Fomos instigados a buscar respostas que pudessem esclarecer as

reconfigurações espaciais e as possíveis (re)delimitações (re)definições territoriais que teriam

ocorrido na antiga propriedade onde se situava o Sítio Caboclo, e no interior do mesmo.

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A primeira visita ao assentamento, como parte do trabalho de campo ocorreu no final

do mês de junho de 2007, quando foram realizadas as primeiras observações, os primeiros

registros fotográficos e os primeiros contatos com os assentados. Essas conversas foram

importantes para a identificação do pesquisador com a comunidade. Essa identificação foi

facilitada pelo fato de o pesquisador ter sua origem no lugar e ter ramificação familiar entre os

assentados.

A partir dessas observações e contatos preliminares, passamos a construir um elenco

de questionamentos voltados para a definição da problemática a ser investigada, momento em

que se iniciou o levantamento bibliográfico que deu a base teórica para a elaboração do

projeto. Paralelamente à elaboração do projeto, continuamos conversando com a orientadora

que aprovou a ideia de se trabalhar o projeto no mestrado. Com a aprovação do projeto e o

ingresso no Mestrado como aluno regular, surgiu a necessidade de voltar ao campo, com a

certeza de que ali seria o lugar da pesquisa, tendo em vista que o projeto havia sido aprovado.

Assim sendo, definimos a área geográfica para investigação como sendo o município

de Bananeiras, situado no Brejo Paraibano, e o objeto de estudo, a Fazenda Caboclo, e, dentro

desta, o antigo sítio Caboclo, hoje Projeto de Assentamento Nossa Senhora das Graças.

A definição do objeto de estudo colocou o pesquisador em sintonia com o lugar,

tornando as visitas bem mais frequentes e demoradas; fez aumentar o interesse por tudo que

se referia à antiga Fazenda Caboclo e, por extensão, aos demais assentamentos do município

de Bananeiras e do Brejo Paraibano.

Foram muitas as visitas para levantamento de dados, registro fotográfico, entrevista

com assentados, participação em reuniões na Associação dos Moradores do Assentamento,

levantamento dos afloramentos cristalinos e mapeamento do uso do solo; visitas e aplicação

de questionários junto a professores e alunos nas duas escolas onde os filhos dos moradores

do PA Nossa Senhora das Graças estudam. As viagens destinadas a trabalhos de campo

tiveram tempo de duração variado: umas tiveram duração de um dia, outras de dois e outras

de três dias, dependendo do que se planejava para cada visita.

O fato de ter raízes naquela comunidade facilitou a relação do pesquisador com os

assentados. No início, surgiram algumas dúvidas que davam origem a diversos

questionamentos por parte dos assentados, do tipo: “Você trabalha no Incra?” “Você é da

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Universidade?” “Isso é coisa do Banco?” “Pra que é esse trabalho?” “Vai trazer o que de bom

pra gente?” Estas eram as perguntas mais frequentes que se ouviam durante as entrevistas e

nas reuniões da Associação, principalmente nos momentos que antecediam o início da

reunião. Após algumas visitas, as pessoas foram adquirindo confiança, os moradores se

identificaram com a pesquisa e passaram a trazer algumas informações de forma espontânea

para enriquecer o trabalho. O pesquisador passou a ser convidado para participar das reuniões

e algumas vezes solicitado a tecer opinião nas discussões, principalmente quando se tratava de

assuntos relacionados ao Banco ou ao INCRA.

As viagens para trabalhos de campo não se limitaram apenas ao PA Nossa Senhora da

Graças. Além dele, visitamos: a casa do ex-proprietário da fazenda, onde realizamos

entrevista com o mesmo; o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bananeiras, para

levantamento de dados e entrevista com a direção; os assentamentos Santa Vitória em

Bananeiras e São Francisco III em Solânea, onde foram realizadas entrevistas com

trabalhadores que participaram da luta pela reforma agrária na região e que estão residindo

nesses assentamentos; o Campus III da UFPB, localizado em Bananeiras e a

EMATER/Bananeiras, para tentar identificar possíveis projetos desenvolvidos nos

assentamentos rurais, especialmente no PA Nossa Senhora das Graças; e o Centro Cultural

Isabel Burity (Acervo Histórico Municipal e Biblioteca), onde pudemos conversar com o

então Diretor, o historiador Manoel Luiz Silva que fez algumas sugestões bibliográficas para

este trabalho. Nos capítulos que compõem a dissertação, encontram-se alguns trechos das

entrevistas realizadas.

Além do trabalho de campo e do levantamento de dados secundários, um trabalho

cartográfico foi realizado, a partir da utilização de fotografias aéreas e mapas do Estado da

Paraíba e do município de Bananeiras, além das plantas dos assentamentos rurais localizados

no município. Essas plantas possibilitaram a elaboração de um croqui dos lotes, desenhando-

os para melhor identificar e analisar as formas de uso da terra.

O trabalho está estruturado em quatro capítulos, além desta introdução. O primeiro

resgata a formação territorial e a organização do espaço agrário do município onde se localiza

a antiga Fazenda Caboclo, o município de Bananeiras. O segundo aborda a questão da terra no

município de Bananeiras, dando ênfase à luta pela terra e à formação de assentamentos rurais

no lugar. O terceiro descreve as formas de organização da produção e do trabalho e as

relações de poder estabelecidas na Fazenda Caboclo, antes da desapropriação até o momento

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em que esta é transformada em áreas de Assentamento. O quarto e último capítulo apresenta o

processo de constituição do Projeto de Assentamento Nossa Senhora das Graças e sua forma

de organização territorial atual, buscando entender até que ponto ele pode ser entendido como

um território de esperança. Nas considerações finais, fazemos uma reflexão sobre as

contradições presentes no processo de construção de um território de esperança com base no

estudo realizado.

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CAPÍTULO I

FORMAÇÃO TERRITORIAL E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO

AGRÁRIO DE BANANEIRAS

Situado na microrregião do Brejo Paraibano (Fig.1), limitando-se com os municípios

de Dona Inês ao Norte, Pirpirituba e Borborema ao Sul, Campo de Santana e Belém a Leste e

Solânea a Oeste, o município de Bananeiras, com uma superfície de 258 km2, apresenta

características de duas regiões naturais fortemente diferenciadas: o Brejo e o Curimataú3, o

que contribui para a diversidade das paisagens naturais e socioeconômicas nele encontradas.

O município possui uma população de 21.854 habitantes, com forte concentração na

zona rural (60,3% do total) (Tab. 1). Da década de 1970 até 2000, observa-se uma importante

redução do seu contingente populacional (Tab.1). Entre 2000 e 2010 verifica-se uma tímida

tendência de inversão nesse processo com um ligeiro aumento da população (Tab. 1). Chama

a atenção o processo contínuo de esvaziamento do campo e o crescimento significativo da

população urbana (Tab. 1).

Os primeiros resultados do censo de 2010 dão conta de que a população é composta de

10.786 pessoas do sexo masculino e 11.068 pessoas do sexo feminino. No que se refere à

distribuição da população segundo a idade, os dados do censo de 2010 ainda não estão

disponíveis. Com base no censo de 2000, dois aspectos chamam a atenção: a) a forte presença

de uma população jovem: do total da população residente no município em 2000, 54,3% tinha

idade entre 0 e 24 anos, sendo que 34% inseriam-se na faixa etária de 0 a 14 anos; b) o

número significativo de idosos: a população com 65 anos e mais representava 8,7% do total

da população residente (Gráfico 1).

3 Enquanto o Brejo Paraibano é um “brejo serrano” isto é um brejo de altitude, de encostas voltadas para os

ventos, com um microclima local marcado por médias térmicas em torno de 25ºC, umidade relativa do ar situada

em torno de 80% e uma estação seca curta, durando de 1 a 3 meses, o Curimataú compreende tanto uma área de

brejos serranos de clima subúmido seco, como uma depressão tectônica de clima semiárido acentuado

(MOREIRA, inédito).

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Fig. 01 – Localização do município de Bananeiras na microrregião do Brejo Paraibano FONTE: Adaptado do IBGE.

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39

Outro aspecto que se destaca em 2000 é a forte presença dos jovens e idosos no

campo. De fato, do total de jovens de até 24 anos residentes no município no ano 2000, 66,4%

residiam na zona rural, sendo que o percentual das crianças de até 14 anos vivendo no campo

era de 67,1%. No caso dos idosos, 65,0% do total também habitava na zona rural. Por

conseguinte, qualquer planejamento de desenvolvimento local não pode deixar de lado esta

realidade.

Tabela 1- Bananeiras - Evolução da população residente total e por local de domicílio

Ano Situação do domicílio Habitantes

1970 Total 27.469

Urbana 4.016

Rural 23.453

1980 Total 25.009

Urbana 4.160

Rural 20.849

Variação Total -9,0

% Urbana 3,6

1970-1980 Rural -11,1

1991 Total 23.157

Urbana 5.760

Rural 17.397

Variação Total -7,4

% Urbana 38,5

1980-1991 Rural -16,6

2000 Total 21.810

Urbana 7.590

Rural 14.220

Variação Total -5,8

% Urbana 7,9

1991-2000 Rural -18,3

2010 Total 21.854

Urbana 8.667

Rural 13.187

Variação Total 0,2

% Urbana 14,2

2000-2010 Rural -7,3

FONTE: IBGE – Censos demográficos de: 1970, 1980, 1991 e 2010

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Gráfico 1 – Bananeiras: distribuição da população segundo a faixa etária - 2000

Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000

1.1 A formação do território

O território do atual município de Bananeiras já não possui as configurações originais

do início de sua colonização. Ao longo do seu povoamento, o município, cujas terras

começaram a ser desbravadas pelo homem branco nas três primeiras décadas do século XVII

(MEDEIROS, 1960), já passou por várias configurações. Desde o seu desligamento da

jurisdição da vila de São Miguel da Bahia de Traição4 em 1822, quando ficou vinculado à

jurisdição de Areia, até o momento atual, ele já perdeu mais de 50% de suas terras em prol do

surgimento de outros municípios. De fato, como pode ser observado na Figura 2, do

desmembramento do território de Bananeiras surgiram 4 municípios, quais sejam: Araruna

(1876), Solânea (1953), Borborema (1959) e Dona Inês (1959), alguns dos quais também

foram posteriormente desmembrados dando origem a novos municípios (Fig. 2).

Para Medeiros (1960), passados dez anos sob a jurisdição de Areia, Bananeiras foi

elevada a condição de vila, assim permanecendo até o dia 16 de outubro de 1879, quando

recebeu foros de cidade.

Mesmo identificando o início do século XVII como marco do processo de ocupação

inicial das terras bananeirenses, Medeiros (1960) afirma que seus primeiros desbravadores,

conhecidos pelos nomes de Domingos Vieira e Zacarias de Melo, ali obtiveram sesmarias, em

4 “Povoação do município de Mamanguape, no distrito de Baía da Traição, situada num outeiro à margem

ocidental da lagoa de Acajutibiró” (MEDEIROS, 1960, p. 237).

2.276

2.413

2.724

2.542

1.888

1.443

1.344

1.236

934

817

840

713

744

1896

0 a 4 anos

5 a 9 anos

10 a 14 anos

15 a 19 anos

20 a 24 anos

25 a 29 anos

30 a 34 anos

35 a 39 anos

40 a 44 anos

45 a 49 anos

50 a 54 anos

55 a 59 anos

60 a 64 anos

65 e mais

Série1

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41

1716. Contudo, Tavares (1909), ao verificar os livros de registros existentes no Arquivo

Público de sesmarias cedidas no território paraibano no período de 1696 a 1797, afirma que a

concessão da sesmaria que estabeleceu Domingos Vieira e Zacarias de Melo nas terras

bananeirenses se deu em 28 de fevereiro de 1719, isto é, três anos após a data mencionada por

Medeiros.

As informações contidas na obra clássica de Tavares (1909) são bastante

esclarecedoras no que se refere à data da concessão da sesmaria que estaria vinculada ao

território do que viria a ser posteriormente o município de Bananeiras. Ele esclarece que

Domingos Vieira e Zacarias de Melo eram moradores de Mamanguape e criadores de gado.

Convém aqui ressaltar que o limite territorial do município de Mamanguape originalmente

estendia-se do litoral até a altura do Brejo Paraibano, abrangendo uma área de 5.071,0 km²

(MOREIRA et al, 2003).

Nº 162 em 28 de Fevereiro de 1719

Domingos Vieira Machado e Zacarias de Melo moradores em

Mamanguape, tendo suas creações de gados não tinhão terras sufficientes para as crearem, e de presente havião descoberto umas terras e as tinham

situado por estarem devolutas, as quaes pedião por datas, cujas terras são

nas testadas dos indios Sucuru`s na serra da Cupaóba pelo riacho da

Canafistula, duas legoas de comprido e uma de largo, buscando para o nascente e outras duas de outra testada da mesma aldeia dos Sucuru`s

buscando a Muricituba e outras duas de largo, buscando tambem o

nascente e vem a contestarem e fazerem quatro na largura sempre pelas testadas da dita aldeia da parte do nascente, cujas terras supposto fossem

dadas em algum tempo, estão devolutas e por taes e estarem já povoadas

haveria quatro ou cinco mezes requerião duas legoas de comprido e duas de largo para cada um, para apanharem um olho d`agua nesta forma que

de outra sorte a não tinha na forma confrontada em sua petição pela dita

testada da aldeia e indo contestar um com „o outro para o nascente. Fez-

se a concessão na forma requerida, no governo de Antonio Velho Coêlho (TAVARES, 1909, p.110).

No período que vai das três primeiras décadas do século XVII até 1719, ou seja,

aproximadamente um século, não foram encontrados registros de fixação dos colonizadores

no território bananeirense. Mas, para Luis da Silva (2007), em 1624: “Bananeiras estava

sendo ocupada para a fundação dos engenhos. Os primeiros povoadores adquiriram terras nos

Contrafortes da Serra da Cupaóba, ... ” (SILVA, 2007, p. 97). Segundo esse autor, em 1636

“Elias Herckmans como Diretor Holandês da Capitania em excursão de reconhecimento

chega à Serra da Cupaóba e era sua intenção alcançar a cachoeira do roncador, que já se

falava sobre a existência de ouro no local.” (p. 97).

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Fig. 02 – Evolução histórica da divisão territorial de Bananeiras para dar origem a outros municípios.

FONTE: Adaptado do IBGE. 2010.

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O que se tem registros é que a ocupação da região do Brejo através da concessão de

sesmarias estende-se da terceira década do século XVII até a segunda década do século

XVIII. O rio Curimataú, que tem sua nascente no município de Barra da Santa Rosa e cortava

o território de Bananeiras, teve o seu vale todo dividido com a concessão de sesmarias, e

serviu como referência para a localização e a delimitação de grande parte das terras no

momento da definição de sua ocupação.

Com base em Tavares (1909), no período que vai de 1619 a 1719, várias sesmarias

foram concedidas no vale do rio Curimataú, o que nos permite deduzir que algumas dessas se

localizavam no território bananeirense. Talvez pelo fato da bacia desse rio banhar vários

municípios, nenhum estudioso tenha identificado quais sesmarias localizavam-se na área

específica de Bananeiras. Já no caso específico dos sesmeiros Domingos Vieira Machado e

Zacarias de Melo, apontados como os pioneiros no processo de ocupação do lugar, não foi

difícil concluir que eles se estabeleceram realmente no território municipal, tendo em vista a

referência utilizada para a identificação da referida sesmaria, o riacho Canafístula, ter sua

nascente no município de Solânea (que na época pertencia ao município de Bananeiras) e ser

um riacho de dimensão pequena, comparado com o rio Curimataú.

A serra da Cupaóba foi outro ponto de referência bastante utilizado para a localização

e identificação das sesmarias, no momento da solicitação e registro de sua concessão. Essa

serra, assim como o rio Curimataú, abrange vários municípios da mesorregião agrestina, o que

dificulta um maior detalhamento das informações sobre o processo de ocupação da região,

através do histórico de concessão das sesmarias. Só um estudo mais acurado sobre o tema

poderá identificar com maior precisão o processo de ocupação do território bananeirense nos

primórdios de sua ocupação.

Na formação inicial do território bananeirense, o rio Curimataú dividia suas terras em

duas porções situadas nas margens direita e esquerda. Com o passar do tempo, o município

perdeu toda a área territorial situada à margem esquerda do rio, para dar origem a outros

municípios, como já foi mencionado5. Atualmente, o rio constitui o marco de limite entre

Bananeiras e os municípios de Solânea, Dona Inês e Campo de Santana.

5 Segundo o IBGE: “Em divisões territoriais datadas de 31-XII-1936 e 31-XII-1937, o município aparece

constituído de 4 distritos: Bananeiras, Borborema, Moreno e Pilões do Maia. Pelo decreto-lei estadual nº 1164,

de 15-11-1938, o distrito de Pilões do Maia passou a denominar-se simplesmente Maia. No quadro fixado para

vigorar no período de 1939-1943, o município é constituído de 4 distritos: Bananeiras, Borborema, Moreno e

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Com exceção da capital que se originou com foros de cidade, os demais municípios da

Paraíba, que se tornaram vila e depois cidades, segundo Almeida (1978), “nasceram quase

todas ao redor de uma capela, que o fervor religioso erigia em homenagem a uma das muitas

entidades celestiais. O santo ou a santa de sua invocação passava a poderoso padroeiro do

lugar com a criação da vila” (ALMEIDA, 1978, p. 153).

No caso de Bananeiras, a padroeira é Nossa Senhora do Livramento, em homenagem a

santa que, segundo Nóbrega (1968), teria salvo, através das mãos de uma índia tapuia, o

caçador Gregório da Costa Soares. Oriundo da aldeia dos Sucurus, localizada na serra de

Cuité, esse caçador teria sido capturado pelos nativos da região, após se perder dos

companheiros que o acompanhavam para a prática da caça. Percebendo que seria

transformado em alimento para os nativos, amarrado de cipó no meio da noite, submetido aos

ataques dos mosquitos e outros insetos, apelou para a Virgem do Livramento que o salvasse

daquela situação, com a promessa de que edificaria uma capela naquele lugar, em sua

homenagem. Vendo-se livre das amarras dos índios, o caçador, numa forma de gratidão,

casou-se com a índia que o salvou e mais tarde construiu uma capela em homenagem a nossa

Senhora do Livramento, a qual ficou como padroeira da cidade até os dias atuais. Com o

desenvolvimento da cidade, a capela foi sendo restaurada e hoje representa um dos principais

cartões postais do município e principal símbolo da religiosidade do lugar.

Segundo Medeiros (1960, p. 28), o povoamento do território bananeirense evoluiu a

partir do fundo de um vale, onde se situou o distrito sede e depois tomou a direção do

planalto. É sobre o planalto que se desenvolveram os aglomerados que deram origem ao

antigo distrito de Moreno, hoje município de Solânea, e ao município de Dona Inês. O nome

Maia ex-Pilões de Maia. Pelo decreto-lei estadual nº 520, de 31-12-1943, é criado o distrito de Dona Inês, com

áreas desmembrada do distrito sede de Bananeiras. Sob a mesma lei o distrito de Borborema passou a

denominar-se Camuçá e o distrito de Moreno a denominar-se Solânea. No quadro fixado para vigorar no período

de 1944-1948, o município é constituído de 5 distritos: Bananeiras, Camuçá ex-Borborema, Dona Inês, Maia e

Solânea ex-Moreno. Pela lei estadual nº 120, de 17-09-1948, o distrito de Camuçá voltou a denominar-se

Borborema. Em divisão territorial datada de 1-VII-1950, o município é constituído de 5 distritos: Bananeiras,

Borborema ex-Camuçá, Dona Inês, Maia e Solânea. Pela lei estadual nº 967, de 26-11-1953, desmembra do

município de Bananeiras o distrito de Solânea. Elevado à categoria de município. Em divisão territorial datada de 1-VII-1955, o município é constituído de 4 distritos: Bananeiras, Borborema, Dona Inês e Maia. Pela lei

estadual nº 2133, de 18-05-1959, desmembra do município de Bananeiras o distrito de Borborema. Elevado à

categoria de município. Pela lei estadual nº 241 de 19-06-1959, desmembra do município de Bananeiras o

distrito de Dona Inês. Elevado à categoria de município. Em divisão territorial datada de 1-VII-1960, o

município é constituído de 2 distritos: Bananeiras e Maia. Assim permanecendo em divisão territorial datada de

1-VII-1983. Pela lei estadual nº 4520, de 10-11-1983, é criado o distrito de Taboleiro e anexado ao município de

Bananeiras. Em divisão territorial datada de 18-VIII-1988, o município é constituído de 3 distritos: Bananeiras,

Maia e Tabuleiro. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007” . Disponível em:

http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acesso em: 12 ago. 2010.

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do município tem origem a partir de um bananal situado às margens de uma lagoa, e se

mantém até os dias atuais, resistindo a toda sua evolução econômica, histórica e cultural.

1.2. A organização do espaço agrário

Como nos demais municípios do Brejo Paraibano a produção agrícola de Bananeiras

sempre foi diversificada, com produtos destinados ao autoconsumo e produtos voltados para o

mercado interno e externo. Esses produtos destinados ao mercado marcaram época em todo

Agreste paraibano, sua ascensão e declínio dependeram sempre da conjuntura do mercado.

Segundo Moreira e Targino (1997), as culturas comerciais que contribuíram para a afirmação

do Agreste como região policultora por excelência são: o algodão, o café, o sisal, a cana, o

fumo, dentre outras. “Enquanto a exploração do café e da cana restringiu-se ao Brejo, a dos

demais produtos expandiu-se por toda a região” (MOREIRA E TARGINO, 1997, p. 82).

Do ponto de vista da produção agrícola, o município reproduziu a dinâmica regional.

Além da produção de cana em engenhos e da policultura alimentar, foi também importante

produtor de algodão. Mas, foi o café que se notabilizou na economia municipal. Segundo

Mariz (1985), Bananeiras foi um dos grandes centros produtores de café do Brasil,

principalmente nas últimas décadas do século XIX e primeiras décadas do século XX.

O café não se desenvolveu com a violência moderna que impulsionou o

algodão noutros centros do país e aqui mesmo no Estado. Os tempos, os transportes, os braços desarmados da mecânica, eram outros. Só no ultimo

quartel do século XIX e primeiro do presente, ele tomou em Bananeiras o

vulto de lavoura capaz de criar um episódio original de civilização

econômica. Até 1925 este município foi, na Paraíba, o centro, a terra da floração esplêndida da mesma lavoura que fazia o fulgor de S. Paulo. E fez,

dentro da relatividade das condições regionais, um instante de fulgor de

vossa evolução (MARIZ 1985 p. 42).

As condições naturais conferiam a Bananeiras características assemelhadas às áreas

produtoras de café do Sudeste e do Sul do Brasil. Essas condições (solos arroxeados e clima

suave de serra), segundo Almeida (1978), eram comparadas, pelos visitantes, às de lugares

como Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, e até mesmo a de países como a

Bélgica, guardadas as especificidades inerentes a cada tipo climático.

Trazido de Mamanguape, a princípio como experiência, segundo Mariz (1945), por

um aventureiro chamado Tomé Barbosa, o café se adaptou ao solo do brejo como se esse

fosse seu verdadeiro habitat, chegando a transformar a região, principalmente o município de

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Bananeiras, em um centro produtor dessa cultura. Isso motivou a formação do que Nóbrega

define como: “A aristocracia rubiácea dos Neves, dos Rochas, dos Guedes Pereiras, dos

Coutinhos, dos Mirandas, dos Carneiros da Cunha e Bezerra Cavalcante, dos Guimarães, dos

Barbosas de Melo, dos Cordeiros, dos Monteiros, dos Silvas Pintos, dos Freires e tantas outras

famílias” (1968, p. 22).

Essa aristocracia, ao mesmo tempo em que contribuía através da introdução da cultura

do café com a modificação da paisagem no campo, se enriquecia dando origem aos chamados

“barões do café” (MOREIRA E TARGINO, 1997) que investiram na edificação, nas

principais ruas da cidade, de verdadeiros casarões (Figs. 03 e 04), que denunciavam a

opulência vivida no lugar por essa aristocracia que detinha não apenas o poder econômico,

mas também o poder político e até religioso.

Figs. 03 e 04 – Centro da cidade de Bananeiras. Casarões construídos no período áureo do café.

Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

Esses casarões são o principal testemunho do domínio da cultura cafeeira na região do

Brejo Paraibano. Alguns deles são conservados até hoje, outros foram transformados em

estabelecimentos comerciais e há os que estão em estado de deterioração devido a falta de

manutenção por parte dos atuais proprietários e do poder público municipal.

Mensagem enviada à Assembléia Legislativa pelo presidente Sá e Albuquerque, no dia

3 de maio de 1852, permite deduzir que a introdução do café em Bananeiras se deu em

meados do século XIX.

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A cultura do café acceita com tanto agrado pelo território de algumas villas

da provincia é digna de muita animação de vossa parte e da parte do

governo. A especie cultivada na Villa de Bananeiras e em algumas outras é de excelente qualidade. Acredito que daqui a alguns annos a cultura de cana

nessas villas será substituída pela do café. As despezas de transporte

avultando nos gastos de producção do assucar, que por tão baixo preço é

sempre vendido no mercado desta cidade, a plantação da canna e fabrico do assucar exigindo mais despezas, maior numero de braços e mais rigorosos do

que a plantação e colheita do café, a extincção do tráfico que tem de tornar

ainda mais raros os braços do campo e sobretudo a aptidão e propriedade dos terrenos para cultura do café aconselhão e talvez accelerão a substituição da

canna pelo café. (SÁ ANDRADE, 1852, apud ALMEIDA, 1980, p. 587.

O município de Bananeiras chegou a ser o maior produtor de café do Estado,

chegando a produzir um terço de todo o café paraibano. O café se expandiu por áreas antes

consagradas à cultura da cana, como afirma Almeida (1980): “Acentuou-se, ultimamente, a

tendência de substituir a cultura da cana preta pela do café. Em Bananeiras a Coffea arábica

já é a principal cultura, com uma produção média de 50.000 sacos de 50 quilos.” (ALMEIDA,

1980, p. 586).

Celso Mariz, na conferência proferida na sede do Bananeiras Club, no dia 26 de março

de 1944, fez menção ao café com a afirmação:

O café criou aqui uma aristocracia territorial, social e dinheiruda, encabeçada pelos nomes de Targino Neves, Virgínio Barbosa de Melo,

Felinto Rocha, os Gudes Pereira, os Bezerra Cavalcante e Carneiro da Cunha

e os Maia. A estes seguiam os Freire Bacupari, os Cordeiro de Mijona e numerosas outras famílias, com igual ou menor representação.

Representação em número de pés nos campos cortados da rubiácea, e

representação da maioria deles no domínio da sociedade e da política local e do Estado (MARIZ, 1985, p. 42).

É também Celso Mariz quem afirma que municípios como Bananeiras, Alagoa Nova,

Serraria e Areia chegaram a possuir cerca de 6 milhões de cafezais e que Bananeiras sozinho

atingiu a produção de 150 mil arrobas (MARIZ, 1978).

Nas regiões onde o café historicamente foi importante para a economia sua produção

superou todas as crises e permanece até hoje dividindo espaço com outras culturas. No Brejo,

porém, o período áureo do café teve curta duração. “Em 1920, uma praga denominada

"Cerococus Parahybensis" se alastrou pelos cafezais, dizimando-os em menos de cinco anos”

(MOREIRA E TARGINO, 1997, p. 93).

As previsões e a empolgação de Sá Andrade foram frustradas com o fim da cultura do

café em Bananeiras e no Brejo Paraibano. Já a cana, com a derrocada do café, voltou a ocupar

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lugar de destaque na economia brejeira, resistindo às crises e atravessando séculos sem

encerrar, de forma definitiva, o seu ciclo.

Essencialmente agrária e dependente do mercado ora interno, ora externo, a região do Brejo volta-se, com a crise de acumulação provocada pela

desarticulação da produção cafeeira, para as suas combinações agrícolas

tradicionais: agricultura de subsistência, cana e gado. Concomitantemente, alguns proprietários rurais tentaram desenvolver outras culturas de mercado

como o fumo em estufa e a amoreira para a produção do bicho da seda. Estas

experiências, por motivos vários, acabaram frustradas. Diante de tal insucesso, eles voltaram a investir na atividade canavieira dando origem a

um novo período de hegemonia desta cultura (MOREIRA e TARGINO,

1997, p.94).

O fumo foi cultivado em Bananeiras e em outros municípios do Brejo, sendo durante

algum tempo exportado para os estados do Amazonas e Pará, chegando a dar origem a uma

fábrica de fumo no distrito de Moreno, conforme afirma Sá Andrade (1852):

O fumo é muito cultivado, principalmente nas chapadas de Bananeiras e em Alagoa do Remígio, do município de Areia. Foi ainda mais florescente,

quando se exportava o produto, em grande escala e a alto preço, para o

Amazonas e o Pará.

O plantio é feito em leirões, para evitar o excesso de umidade. Três meses após a transplantação chega o tabaco à maturidade. O curtimento das plantas

é feito, à sombra, em estaleiros, dependurados em varas.

É uma indústria tentadora: o dr. Celso Cirne, sempre dominado por iniciativas avançadas acaba de fundar em Moreno uma pequena fábrica de

charutos muito apreciados.

Toda a zona brejosa se presta inigualavelmente, à cultura de cereais. Mas a falta de transporte tem embaraçado o desenvolvimento dessa fonte de

riqueza que nos Estados Unidos corresponde a mais da metade do valor do

conjunto das colheitas e tende a expandir-se, cada vez mais, com o aumento

da população (ALMEIDA 1980, p. 587-588)

Segundo Almeida (1980), a estimativa da produção agrícola de Bananeiras para o ano

de 1922 incluía os seguintes produtos agrícolas: a batata doce, o alho, a banana, o tabaco, a

mamona, a manga, o algodão do campo, o milho, o feijão macaçar, o feijão mulatinho, o arroz

em casca, a farinha de mandioca e o café (Quadro 1). Embora ele não faça menção à cana-de-

açúcar, ao relacionar a aguardente e o açúcar em rapadura ele está confirmando a presença da

mesma nas combinações agrícolas municipais naquela data (Quadro 1). Chama a atenção, na

análise dos dados, a importância assumida no cenário estadual pela produção da banana, do

café e do fumo de Bananeiras (Quadro 1).

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Nº Unidades territoriais

Produto Bananeiras Paraíba %

1 Batata doce (mil quilos) 1.000,00 8.371,90 11,94

2 Alho (quilos) 200,00 37.100,00 0,54

3 Banana (cachos) 5.000,00 6.364,90 78,55

4 Aguardente (mil litros) 60,00 2.894,50 2,07

5 Tabaco em corda (mil quilos) 1.200,00 5.320,85 22,55

6 Mamona (quilos) 5.000,00 495.700,00 1,00

7 Manga (centos) 500,00 386.102,00 0,13

8 Algodão do campo (mil quilos) 160,00 38.234,00 0,42

9 Açúcar em rapadura (mil quilos) 110,00 24.922,00 0,44

10 Milho (mil quilos) 100,00 522.040,10 0,02

11 Feijão macáçar (mil quilos) 30,00 18.399,15 0,16

12 Feijão mulatinho (mil quilos) 10,00 2.321,60 0,43

13 Arroz em casca (mil quilos) 30,00 7.042,35 0,43

14 Farinha de mandioca (mil quilos) 2.385,00 118.099,36 2,02

15 Café beneficiado (mil quilos) 3.600,00 10.666,40 33,75

Fonte: Almeida (1980).

Quadro 01 – Principais produtos agrícolas do município de Bananeiras e sua relação em

porcentagem com a produção estadual numa estimativa para o ano de 1922

Com o fracasso da cultura fumageira e da experiência com a produção de amoreira e

do bicho da seda, a cana voltou a ocupar espaço no município. Só que, com a instalação em

1928 da Usina de açúcar Tanques no município de Alagoa Grande e, em 1930, da Usina Santa

Maria em Areia, os antigos produtores de algodão, café, fumo e cana não aceitaram submeter-

se à condição de fornecedores de matéria-prima para as usinas da região. Como forma de

resistência à dominação das Usinas, eles passaram a plantar sisal que, no momento,

apresentava bom preço no mercado internacional. Cana e sisal vão marcar a paisagem do

Brejo até o final dos anos 60 do século XX ao lado da policultura alimentar (MOREIRA E

TARGINO, 1997).

As culturas comerciais que marcaram época na história da ocupação do espaço agrário

de Bananeiras foram dominantemente cultivadas nos latifúndios. A exceção foi o algodão cuja

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expansão, não apenas no Brejo da Paraíba, mas em todo território estadual e nordestino onde

foi cultivado se deu em todos os tamanhos de propriedade (grande, média e pequena)

(ANDRADE, 1986; MOREIRA E TARGINO, 1997). O algodão podia ser plantado em

associação com outras culturas alimentares, principalmente com o feijão, o milho e a fava,

que são produtos tradicionais na região do Agreste-Brejo. Essa possibilidade de produção de

alimentos associada ao algodão não eliminava a extração da renda da terra que era paga com a

metade da produção que os parceiros colhiam. Por outro lado, possibilitava ao médio e

pequeno produtor buscar uma opção de renda com o algodão sem comprometer, pelo menos a

princípio, a soberania alimentar de sua família. “Desse modo, ao contrário do que aconteceu

com o sisal, o algodão fortaleceu a produção de alimentos no Brejo”. (MOREIRA E

TARGINO, 1997, p. 85)

A crise do sisal decorrente da queda dos preços no mercado internacional e da

competição com as fibras sintéticas trouxe para a paisagem bananeirense a diversidade de

culturas comerciais associadas à policultura alimentar que sempre esteve presente na pauta da

produção agrícola municipal, juntamente com a atividade pecuária.

A partir da década de 1970, dois fatos impactaram na organização da produção agrária

do município: a implantação do Proálcool e a consequente retomada da expansão da atividade

canavieira; e o estímulo à atividade pecuária dado pela SUDENE. Cana e pasto passam a

dominar o espaço agrário municipal. A fruticultura, em especial a produção de banana,

tradicional no município, embora tenha sofrido com o avanço daquelas outras atividades,

continuou compondo a pauta da produção agrícola.

A partir de 1985 e 1986, com a crise do algodão provocada pela praga do bicudo e,

sobretudo, com a retração do Proálcool que culminou com o fechamento das usinas da região,

ocorre uma reorganização da pauta dos produtos agrícolas municipais. Em 2009, os principais

produtos da agricultura comercial municipal se reduzem apenas à banana (principal produto

tanto em termos de área plantada como em valor produzido) e à cana, com uma área plantada

muito reduzida e um baixo valor da produção, voltada principalmente para a produção de

cachaça (Tab. 2). Dos produtos tradicionais da agricultura alimentar (mandioca, feijão e fava),

destacam-se a mandioca, em termos de valor da produção e o feijão, em termos de área

plantada, como pode ser visto na tabela 2.

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Tabela 2 – Bananeiras: principais lavouras segundo a área plantada e o valor

da produção

Fonte: IBGE. Produção Agrícola Municipal, 2009.

Com relação à atividade pecuária, esta sempre esteve presente no município, sendo

desenvolvida em paralelo às culturas agrícolas. À exceção das aves, o rebanho mais numeroso

é o bovino. Analisando a série da produção pecuária municipal do IBGE de 1974 a 2009,

constata-se que, embora dominante, o rebanho bovino sofreu importante redução a partir de

1994, caindo de 23.200 cabeças nesse ano para 13.200 cabeças em 2009. O rebanho suíno,

caprino e ovino já foi maior, tendo alcançado em 1994, respectivamente, 2.980, 6.900 e 3.200

cabeças. Em 2009, o IBGE identificou 988 cabeças de suínos, 915 cabeças de caprinos e

1.200 cabeças de ovinos.

A estrutura fundiária do município já foi mais concentrada do que atualmente. De

acordo com o cadastro de imóveis do INCRA de 1992, a malha fundiária de Bananeiras

destacava-se pela forte presença de minifúndios e latifúndios (Tab. 3). As propriedades com

menos de 5 hectares representavam 49,18% do total das propriedades e ocupavam apenas

5,14% da área dos imóveis rurais do município e tinham um tamanho médio de 2,42 hectares.

Já as propriedades de 500 hectares ou mais, que representavam menos de 1% do total dos

imóveis, ocupavam 36,07% das terras agrícolas do município. Em outras palavras, apenas 10

propriedades apenas concentravam quase ¼ das terras ocupadas por todos os imóveis rurais

de Bananeiras (Tab. 3), o que equivale dizer que um grupo de 10 proprietários concentrava

9.795,2 hectares de terra.

Outra constatação importante, feita a partir da análise da tabela 3, é a grande diferença

entre o tamanho médio das maiores e das menores propriedades. Enquanto o tamanho médio

das propriedades de 0 a 5 hectares é de 2,42 hectares, o tamanho médio das propriedades

maiores de mil hectares é de 1.165,10 hectares.

Culturas

Área plantada

(Hectares)

Valor da produção

(Em Mil Reais)

Banana 2.100 7.258

Feijão (em grão) 1.300 438

Mandioca 1.200 1.296

Milho (em grão) 500 56

Fava (em grão) 200 56

Cana-de-açúcar 130 164

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Tabela 3 – Bananeiras: Distribuição dos imóveis rurais segundo o grupo de área -1992

Grupos de área

(ha)

Nº de imóveis % Área (ha) % Tamanho

médio dos

imóveis

0 a menos de 5 576 49,18 1.396,50 5,14 2,42

5 a menos de 10 247 21,10 1.690,30 6,22 6,84

10 a menos de 50 267 22,80 5.417,40 19,95 20,29

50 a menos de 100 41 3,50 2.921,50 10,76 71,26

100 a menos de 500 30 2,56 5.935,30 21,86 197,84

500 a menos de 1.000 5 0,43 3.969,70 14,62 793,94

1.000 e Mais 5 0,43 5.825,50 21,45 1.165,10

Total 1.171 100,00 27.156,2 100,00 322.5271ha

Fonte: INCRA/PB. Relação de Certificados de Cadastro Rural, 1992.

Em 2006, de acordo com o censo agropecuário publicado pelo IBGE, observam-se

algumas alterações no quadro fundiário do município. Embora não seja possível comparar os

dados de imóveis rurais do Incra com os dos estabelecimentos rurais do IBGE6, a distribuição

dos estabelecimentos rurais apresentada apresenta algumas modificações (Tab. 4).

Os estabelecimentos com menos de 5 hectares correspondiam em 2006 a 67,7% do

total e apropriavam-se de 17,3% da área dos estabelecimentos existentes no município,

apresentando uma área média de 1,6 hectares, o que vale dizer que o processo de

fragmentação da pequena unidade produtiva persiste, como persiste a presença do minifúndio.

De outro lado, os estabelecimentos a partir de 500 hectares eram apenas 2 com tamanho

médio de 756 hectares cada e se apropriando de 9,0% da área agrícola. Assim, é possível

deduzir que houve também fragmentação das grandes unidades produtivas. No que se refere

ao grau de concentração da propriedade da terra, verificou-se em 2006 uma concentração

média com Índice de Gini7 da ordem de 0,613, o que permite deduzir que houve uma redução

da concentração. Isto pode em parte ser explicado pela criação de 14 Assentamentos rurais de

reforma agrária no município. Para entender esse processo, é importante não apenas analisar a

6 A impossibilidade de comparação dos dados relativos à estrutura fundiária das duas fontes deve-se ao fato do

IBGE utilizar o estabelecimento agropecuário como base para o levantamento dos dados e o INCRA utilizar o

imóvel rural. Enquanto o Imóvel rural é uma unidade de posse da propriedade da terra, o estabelecimento é

uma unidade de produção. Assim, as áreas cultivadas pelos parceiros, ocupantes e arrendatários são contadas

como estabelecimentos independentes pelo Censo (IBGE), mas não são incorporadas na declaração do

proprietário no Incra (MOREIRA., 2007).. 7 Índice que varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1 maior a concentração.

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estrutura fundiária municipal como também as relações de trabalho estabelecidas ao longo do

tempo, no município.

Tabela 4 – Bananeiras: Estrutura Fundiária, 2006

Classes de área No. de Est. %

Área

(ha) %

Mais de 0 a menos de 0,1 ha 20 0,7 0 0,0

De 0,1 a menos de 0,2 há 30 1,1 4 0,0

De 0,2 a menos de 0,5 há 236 8,7 64 0,4

De 0,5 a menos de 1 há 320 11,8 172 1,0

De 1 a menos de 2 há 490 18,0 553 3,3

De 2 a menos de 3 há 383 14,1 814 4,9

De 3 a menos de 4 há 197 7,3 625 3,7

De 4 a menos de 5 há 163 6,0 676 4,0

De 5 a menos de 10 há 512 18,9 3.412 20,4

De 10 a menos de 20 há 242 8,9 3.021 18,0

De 20 a menos de 50 há 87 3,2 2.438 14,5

De 50 a menos de 100 há 20 0,7 1.311 7,8

De 100 a menos de 200 há 10 0,4 1.186 7,1

De 200 a menos de 500 há 3 0,1 948 5,7

De 500 a menos de 1000 ha 2 0,1 1.512 9,0

Produtor sem área 143

- 0,0

Total 2.715

16.736 99,8 Fonte: IBGE. Censo Agropecuário, 2006.

No que se refere às relações de trabalho, elas variaram ao longo do tempo histórico do

trabalho escravo, ao sistema de morada, à parceria e ao trabalho assalariado.

Segundo Almeida (1980, p.522), através de um relatório elaborado pelo Dr. Antônio

Alfredo da Gama e Melo, em 03 de setembro de 1880, o número de escravos registrados no

município de Bananeiras, naquele ano, era de 1.135 escravos, enquanto o total da Paraíba era

de 25.596. A população de escravos de Bananeiras representava 4,4% dos escravos da

Paraíba.

Conforme Moreira e Targino (1997, p. 90),

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54

É bem verdade que a escravidão no Brejo não teve a mesma importância que

no Litoral. Porém ela não pode ser negligenciada. Em 1851, a população escrava de Areia, Alagoa Nova e Bananeiras representava 10% da população

total destas áreas. Com o declínio da escravidão, firma-se o sistema de

morada que irá dominar as relações de trabalho.

Os moradores eram encontrados nos engenhos desde o período anterior à abolição da

escravatura. Durante a fase áurea do algodão, a estes se somaram os parceiros. O trabalho

assalariado expandiu-se durante os ciclos do café e do sisal.

Os agricultores sem terra própria ou com terra de tamanho insuficiente para garantir a

reprodução da unidade familiar dependiam da grande propriedade para garantir a produção de

alimentos para o sustento da família. Esse atrelamento à grande propriedade acontecia de

várias formas, dependendo do tipo de cultura produzida, da quantidade de terras disponível e

da aptidão do solo. Era o proprietário do latifúndio quem estabelecia o tipo de relação social

(arrendamento, meação, assalariamento ou foro) mais interessante para lhe garantir a extração

da renda da terra. Todas essas formas de relação de produção só favorecem ao latifundiário

que subtrai para si uma grande parte do que é produzido pelo camponês, em forma de

excedente, sem dar nada em troca, a não ser a “liberação” da terra para a produção.

Propriedade fundiária, capital e trabalho assalariado são fontes de renda

neste sentido: o capital adjudica ao capitalista, na forma de lucro, parte da

mais-valia que ele extrai do trabalho; o monopólio da terra, ao dono do solo, outra parte, na forma de renda, e o trabalho, ao trabalhador, a parte restante

do valor ainda disponível, na forma de salário. Assim, parte do valor toma a

forma de lucro, outra parte, a de renda (fundiária), e, terceira, a forma de salário (MARX, 2008, p. 1090)

A manutenção do latifúndio pelo proprietário, mesmo após o colapso de culturas

importantes, era fundamental para possibilitar o acesso a créditos rurais e garantir o poder e o

status social aos proprietários. Muitas vezes, mudava-se a forma de relação com os pequenos

agricultores, de acordo com a opção do proprietário.

As várias formas de relação de trabalho, além de garantir a renda da terra, dão ao

proprietário a possibilidade de garantir a posse e o controle da terra em momentos de crise. É

sempre o proprietário quem determina como deve ser essa relação. Assim, ele decide por

aquela que melhor lhe convier no momento, ou seja, a que lhe garanta maior renda. O

trabalhador fica “preso” à terra que não lhe pertence para ter o direito de continuar

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55

sobrevivendo. Nesse modelo de exploração a luta era pela sobrevivência na terra, mesmo que

em condições precárias.

De acordo com o censo agropecuário do IBGE, em 2006 existiam em Bananeiras

7.960 produtores rurais sendo 5.843 proprietários, 378 assentados sem titulação definitiva, 84

arrendatários, 138 parceiros, 1.235 ocupantes (produtores posseiros) e 282 produtores sem

área (Tab. 5). Dos 7.960 produtores, 7.000 (segundo as informações sobre a agricultura

familiar fornecida pelo censo agropecuário de 2006) ou 87,9% eram agricultores familiares.

Tabela 5 – Bananeiras: Produtores rurais segundo a condição - 2006

Produtores Rurais Total %

Proprietário 5.843 73,4

Assentado sem titulação definitiva 378 4,7

Arrendatário 84 1,1

Parceiro 138 1,7

Ocupante 1.235 15,5

Produtor sem área 282 3,5

Total 7.960 100,0 Fonte: IBGE. Censo agropecuário, 2006.

A estrutura fundiária concentrada que caracterizou historicamente o município e as

relações de trabalho de caráter não-capitalistas não foram suficientes para mobilizar a classe

camponesa em prol da luta por terra em Bananeiras até os anos de 1980. Só a partir de então é

que surgem os primeiros conflitos agrários no município que darão origem à criação de 14

assentamentos, como será visto a seguir.

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CAPÍTULO II

DA LUTA PELA TERRA À CRIAÇÃO DE ASSENTAMENTOS RURAIS

EM BANANEIRAS

A luta pela transformação da estrutura fundiária arcaica e excludente que caracteriza o

território brasileiro não tem sido acompanhada da luta pela mudança na estrutura social e

econômica do país, mas da luta por reforma agrária, contra a elevada concentração da

propriedade da terra. Representa também a resistência da classe trabalhadora ao processo de

territorialização do capital no campo e à ação legitimadora do Estado a esse processo.

Em outras palavras, conflito de terra é o fruto do choque de interesses entre

capital e trabalho representado, de um lado, pela necessidade de subordinação da produção à lei do lucro e, do outro, pelo direito de

permanecer na terra, de viver na terra e garantir a sobrevivência da unidade

familiar de produção (MOREIRA E TARGINO, 1997, p.296).

Sem levar em consideração os primórdios do processo de ocupação das terras

bananeirenses, não se tem, na história da questão agrária de Bananeiras, notícia da ocorrência

de grandes conflitos agrários até a segunda metade do século XX. As ligas camponesas8 que

representaram um movimento de grande proporção na história da luta pela terra no Nordeste,

e que teve grande repercussão na história dos movimentos campesinos no Brasil,

aparentemente não tiveram muita expressão em Bananeiras.

Assis Lemos, ex-presidente das Ligas Camponesas na Paraíba, ao se referir à expansão

das Ligas no estado, chama a atenção apenas para os municípios de Areia e Alagoa Grande,

no Brejo, como se pode constatar na afirmação a seguir:

8 Movimento de trabalhadores rurais, organizado a partir de 1946, com o fim do Estado Novo, sob a forma de

associações civis, com o objetivo de mobilizar e organizar os caponeses e trabalhadores rurais para buscarem os

seus direitos, minimamente amparados no Código Civil e desrespeitados pelos proprietários de terra. Esse

movimento foi desarticulado em 1947, com a decretação da ilegalidade do PCB, partido que o organizou. As

ligas camponesas ressurgem, de forma bem mais organizada, a partir de 1953 e 1954 na Zona da Mata

Nordestina e foram disseminadas para por vários estados do Brasil, principalmente Pernambuco e Paraíba. Esse

movimento foi novamente desarticulado, juntamente com outros movimentos sociais presentes no campo, com o

golpe militar de 1964. (Ver TARGINO, 2002, p. 152)

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57

Após a fundação da Liga Camponesa de Sapé, outras se organizaram tais

como: Alhandra, Areia, Mamanguape, Rio Tinto, Guarabira, Mari, Itabaiana,

Alagoa Grande, Oitizeiro, Espírito Santo, Mulungu, Alagoinha, Belém, Caiçara, Pedras de Fogo, Campina Grande e Santa Rita.” (LEMOS, 2008, p.

61)

Apesar disso, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bananeiras está entre os

sindicatos fundados antes de 1964 no estado da Paraíba (MOREIRA, 1997b). As notícias de

conflitos agrários no município remontam aos anos de 1970, portanto, após as Ligas.

2.1. A luta pela terra

A partir da década de setenta do século XX, como foi anteriormente exposto, muitas

mudanças tiveram lugar no campo na região do Brejo, alcançando o município de Bananeiras.

É justamente a partir de 1970 e mais fortemente na década de 1980 que eclodem os conflitos

de terra em Bananeiras.

De acordo com Moreira (1997a), foram 09 os conflitos de terra eclodidos no

município entre 1972 e 1986, envolvendo aproximadamente 300 famílias (Quadro 2). À

exceção de um imóvel onde à luta de resistência somou-se uma ação de ocupação9, os

conflitos não surgiram mediante ocupações de terra. Eles tiveram origem a partir: a) do

aumento do valor da renda da terra paga por arrendatários ou foreiros, visando obrigá-los a

não renovar os contratos e desocuparem a propriedade; b) de tentativas de expulsão dos

camponeses para mudar a forma de exploração da terra; c) da venda da terra e do interesse do

novo proprietário em retirar os camponeses da mesma para introduzir nova forma de

exploração, utilizando mão-de-obra assalariada; d) de conflito trabalhista que redundou em

conflito de terra no momento da negociação entre trabalhadores e arrendatária do imóvel

(MOREIRA, 1997a) (Quadro 2).

Abordaremos neste trabalho dois dos conflitos que se destacaram em Bananeiras: o

conflito da Fazenda Carvalho, por ter sido o primeiro registrado no município e o conflito da

Fazenda Sapucaia, por se tratar da primeira fazenda ocupada pelos trabalhadores sem terra,

organizados pelo MST no Estado da Paraíba.

9 A Fazenda Sapucaia que já vivenciava um conflito entre moradores, posseiros e arrendatários foi ocupada por

trabalhadores sem-terra na primeira ação do MST na Paraíba.

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58 No. de

ordem

Nome do

Imóvel

Área (ha) No. de famílias

envolvidas

Categoria de

trabalhadores

Ano do

início

Causa Situação

01 Faz.

Carvalho

(Caulim I e

II)

550,0 140 no início, 126

em 1994

Arrendatários e

posseiros

1972,

reativado em

1981

Aumento do preço do foro;

tentativa de expulsão para

mudança na forma de

exploração da propriedade

Conflito solucionado. Os camponeses foram

assentados em outra área, a Fazenda Poderosa,

no município vizinho, de Solânea, que se

transformou no PA São Francisco III..

02 Fazenda

Jatobá

140,0 15 Sem inf. s/inf. s/inf. Sem solução até início de 1997.

03 Faz. Boa

Vista

s/inf. s/inf. Arrendatários s/inf. Tentativa de expulsão dos

trabalhadores para plantar

bambu

s/inf.

04 Faz. Lagoa

do Matias

107,0 24 Assalariados 1981 Dívidas trabalhistas não pagas s/inf.

05 Faz. Sapucaia

1.654,0 43 Moradores, posseiros,

arrendatários e

sem-terras

1985 Venda da terra seguida de tentativa de expulsão dos

trabalhadores para expansão

da pecuária. Agravado com a

ocupação por trabalhadores do

MST.

Conflito solucionado Deu origem a dois Assentamentos: Dona Vitória e Santa Vitória

06 Faz.

Riacho São

Domingos

430,0 09 Posseiros 1985 Tentativa de expulsão dos

trabalhadores para expansão

da atividade pecuária

Conflito solucionado em 1988 com a

aquisição pela antiga Fundap da propriedade

Cana Brava no mesmo município, onde os

trabalhadores foram assentados.

07 Engenho

Manitu

175,3 21 no início, 12

em 1993

Posseiros 1986 Dificuldade de escrituração da

terra pelos posseiros que a

haviam adquirido

Processo arquivado no Incra desde 1993.

08 Faz. Baixa

Verde

194,5 31 Moradores de

condição, parceiros e

arrendatários

1988 Falta de acordo entre

proprietário e trabalhadores para a venda da terra

Conflito solucionado com a aquisição do

imóvel pela Fundap, atual Interpa. Deu origem ao PA Baixa Verde

09 Faz. São

José

200,0 11 inicialmente,

15 ao final

Moradores e

arrendatários

s/inf. s/inf. Conflito solucionado. Foi criado o PA São

José que posteriormente foi anexado ao PA

Nossa Senhora das Graças dando origem a um

só Assentamento.

Fonte: MOREIRA (1997a). Pesquisa de campo. Quadro 2 – Áreas de Conflito do município de Bananeiras

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59

2.1.1 O Conflito da Fazenda Carvalho

O primeiro conflito de terra registrado na segunda metade do século XX em

Bananeiras foi o da fazenda Carvalho que teve início em 1972 e foi reativado em 1981. Pelo

levantamento feito, os moradores dessa fazenda foram os pioneiros na luta efetiva pela

desapropriação de terras no município (MOREIRA, 1997a).

Até o ano de 1970, na gestão do antigo proprietário, a fazenda era ocupada por

trabalhadores diaristas. Nesse mesmo ano, as relações de trabalho foram alteradas e eles

passaram a pagar um foro anual, por pequenos lotes, onde cultivavam alimentos,

transformando-se em arrendatários.

Em 1983, de acordo com a documentação consultada, existiam 140 famílias

de arrendatários trabalhando no imóvel, mas residindo na periferia da sede municipal. Além dos arrendatários, tralhavam e viviam na terra há

aproximadamente 60 anos, 43 famílias de posseiros. Cada família ocupava

sítios, cuja superfície variava de 3,0 a 14,0 hectares. Produziam, para a sua subsistência e para o mercado regional, culturas, como: milho, arroz, feijão,

batata-doce, macaxeira, inhame, agave, entre outras. Plantavam também

fruteiras e hortaliças e ainda criavam animais. (MOREIRA 1997, p. 558-559)

A propriedade pertencia à família Rocha. Subitamente, outra apareceu na terra outra

pessoa que primeiro se colocou como arrendatário da propriedade e depois como proprietário

da terra. O novo responsável pela propriedade teria, segundo relatam alguns entrevistados,

iniciado um processo de introdução de novos rendeiros na propriedade, o que gerou a revolta

dos posseiros e rendeiros que já viviam ou trabalhavam no imóvel. Os posseiros e

arrendatários antigos acusaram o Sindicato de Trabalhadores Rurais do município de ter

conduzido mal o processo, pois eles tinham o direito de compra da terra e, por falta de

orientação, perderam a oportunidade de adquirir seus lotes.

As famílias, que éramos 44, que nasceram e se criaram lá. Depois de 1975,

colocaram a mata dos Carvalhos abaixo e com a morte da dona da fazenda,

Dona Ana Rocha os herdeiros quiseram vender e deram a preferência para

nós que morávamos lá. O próprio Sindicato não soube nos orientar e terminou jogando fora. Chegou um fazendeiro chamado Loester Imperiano,

dizendo que a terra era arrendada, só que era arrendada com a gente. Aí ele

começou a botar rendeiro, ... rendeiro,... Jurandir botou rendeiros, e acabou nos atrapalhando. Depois chegou esse cara, aparece dizendo que havia

arrendado a terra e depois disse que tinha comprado a terra e aí entramos em

conflito. (depoimento do Sr. Daniel, assentado do PA São Francisco III,

em 28 de novembro de 2009).

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A revolta dos antigos posseiros redundou em um conflito de grande repercussão.

A fazenda Carvalho pertencia a Jurandy Rocha. E daí quando os agricultores

já trabalhavam: os bisavôs, os avôs, as pessoas mais antigas daquela família,

então aquelas famílias foram surpreendidas uma época quando apareceu repentinamente, o Senhor Loester Imperiano por dono daquela terra. Os

agricultores não tinham esse conhecimento, porque a terra era de Bernardino

Rocha juntamente com Jurandy Rocha e daí começou uma grande luta. Os

agricultores contra Loester porque queriam de toda forma o seu pedacinho de terra porque lá já moravam, não é? Isso vinha dos nossos antepassados e

infelizmente a luta foi grande, né? Houve troca de tiros, agricultores feridos

muitas lutas na verdade. (depoimento de Ivonete Leandro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bananeiras em 27 de novembro de

2009)

À resistência dos trabalhadores, o novo proprietário reagiu, primeiramente, com

violência:

Houve conflito e houve morte, .... cadeia. Morreu um rendeiro, morava na chã de tabuleiro e trabalhava lá. Foi feito uma casa de farinha comunitária,

ele era o pedreiro e o proprietário gostava dele, mas ele se uniu com a gente

e Loester pediu que ele saísse da terra e ele disse que não saía e não deixava a gente mais. Isso foi numa segunda-feira começou essa questão quando foi

no sábado às quatro horas da tarde ele largou do serviço e foi prá casa,

quando foi de nove horas da noite mataram ele. ... Tinha um camarada que

viu, mas não quis testemunhar (depoimento do Sr. Daniel Quirino da Silva, presidente da Associação dos Moradores do Assentamento São Francisco III

em 28 de novembro de 2009).

Além do uso da violência, o proprietário da fazenda promoveu várias manobras para

que esta não fosse desapropriada. De acordo com o Sr. Daniel Quirino da Silva (Fig. 5),

presidente da Associação dos Moradores do Assentamento São Francisco III, uma das

manobras para evitar a desapropriação da Fazenda Carvalho foi o seu desmembramento em

três propriedades: Ccipa, Caulin I e Caulin II.

Essa prática do desmembramento dos latifúndios para descaracterizá-los, tornando-os

impróprios para a desapropriação com base nos parâmetros constitucionais, é uma das

manobras mais utilizadas no Brasil agrário para reverter os processos de desapropriação dos

latifúndios improdutivos. Com a demora do processo de desapropriação pelo INCRA, os

latifundiários se antecipam ao resultado da vistoria e desmembram a terra. É uma forma de

burlar a lei e frustrar as esperanças dos camponeses envolvidos no processo. Quanto mais

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61

demorar o trâmite do processo de desapropriação mais aumentará a possibilidade de que essa

prática se repita

Fig. 05 – Sr. Daniel Quirino na antiga Casa Grande da Fazenda Poderosa no dia da entrevista Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2009.

A luta dos posseiros e foreiros da Fazenda Carvalho não foi vitoriosa do ponto de vista

da conquista do território pleiteado. Porém, graças à luta e à resistência dos trabalhadores foi

adquirida a Fazenda Poderosa no município de Solânia, vizinho a Bananeiras, que deu origem

ao assentamento de reforma agrária São Francisco III, onde foram assentadas as famílias em

conflito da Fazenda Carvalho.

Mas quando foi, acredito que aos dez anos, os agricultores desocuparam a área de Carvalho porque ficaram sabendo pelo INCRA que não podia mais

haver a desapropriação daquela área porque o proprietário daquela terra o

Senhor Loester Imperiano dividiu a propriedade Carvalho em três áreas: Ccipa, Caulin I e Caulin II e infelizmente foi constatado pelo INCRA que

não havia mais a possibilidade de ser desapropriada, né? Porque a área ficou

produtiva e daí houve uma negociação com o INCRA e os agricultores e foi

comprado uma parte de terra no município de Solânea conhecida por São Francisco III, hoje Assentamento aonde mora a maioria dos agricultores que

trabalhavam no sitio Carvalho. (depoimento de Zilma Maciel de Sousa –

membro da CPT/Guarabira em entrevista no dia 28 de outubro de 2010).

Ficou para trás o território, objeto de anos de conflito, e com ele "uma dimensão

simbólico-cultural” que, como afirma Haesbaert (2006), envolve o território vivido onde, um

dia, desembocaram “todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, todas as forças, todas

as fraquezas”, manifestações que, segundo Santos, caracterizam o território vivido. Segundo

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os conceitos modernos de território, pode-se afirmar que, no caso dos antigos moradores da

fazenda Carvalho, houve a desterritorialização e posteriormente a reterritorialização.

Da fazenda Carvalho, 52 famílias foram transferidas para serem assentadas no

Assentamento São Francisco III. A estas, três famílias de outra comunidade se juntaram,

totalizando 55 famílias.

Na mediação desse conflito, papel importante é atribuído a CPT pelos trabalhadores.

Nós temos a área de Carvalho que marcou muito a história da CPT na luta da

terra, especialmente em Bananeiras. Dessa área de Carvalho nós não conseguimos o resultado, infelizmente não foi possível, houve muitas ações,

derrubada de casas, expulsões de trabalhadores, foi uma luta muito difícil,

infelizmente foi o único assentamento que não conseguimos. (depoimento de Zilma Maciel de Sousa – membro da CPT/Guarabira em entrevista no dia 28

de outubro de 2010).

Em abril de 1989, eclodiu outro conflito de terras em Bananeiras que teve forte

repercussão na imprensa por se tratar da primeira ação do MST no estado da Paraíba: Foi o

conflito da Fazenda Sapucaia.

2.1.2 O Conflito da Fazenda Sapucaia

O conflito da Fazenda Sapucaia eclodiu antes da ocupação pelo MST. De acordo com

Moreira (1997a), a propriedade de aproximadamente 1.654,0 hectares foi vendida sem que

tivesse sido dado o direito de compra, nem tivesse havido notificação do processo às 60

famílias de moradores e arrendatários que nela viviam e trabalhavam.

Diante disso, a Fetag entrou com um processo no Incra solicitando a desapropriação

do imóvel. Contudo, o que se verificou foi o desmembramento da propriedade e a

transferência de titularidade a partir de um novo processo de venda. As novas propriedades

originadas do desmembramento da Fazenda Carvalho transformaram-se em áreas de

exploração da pecuária (dois imóveis) e de exploração mineral (um imóvel). Os camponeses,

com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bananeiras, da FETAG e da CPT se

organizaram e resistiram ao processo de expulsão, dando origem a um conflito de grande

proporção que teve início ainda em 1985. A tensão existente vai se intensificar quando, no dia

07 de abril de 1989, ocorreu na propriedade a primeira intervenção concreta do MST no

estado, com a sua ocupação por cerca de 200 famílias de trabalhadores sem-terra.

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Esta ocupação, porém, foi muito curta, uma vez que os camponeses que ocuparam a

fazenda e as lideranças do MST foram violentamente despejados. Conforme depoimento de

Alexsandro José da Silva, militante e dirigente responsável pelo setor de formação do

MST/PB,

(...) a passagem do MST em Bananeiras foi curta, nossa atuação se resumiu à

fazenda Sapucaia. Depois a CPT passou a dar assistência aos posseiros e o MST deixou a fazenda. Foi um período muito difícil, havia muita

perseguição aos militantes e aos posseiros que aderiam à luta pela

desapropriação, havia muitas ameaças contra os trabalhadores que aderiam à

luta. (entrevista realizada no dia 11 de março de 2009)

Segundo Silva (2007),

Afirma-se que o despejo foi efetuado pelo chamado "Grupo da Várzea", um

grupo formado por fazendeiros que atuou durante um longo período na

repressão contra integrantes de sindicatos e de movimentos rurais. A reação violenta a essa primeira ocupação, provavelmente possuía como objetivo

inibir outras ocupações, atuando de forma exemplar10

.

A participação do MST na luta pela terra em Bananeiras se resumiu à fazenda

Sapucaia. Com a saída do MST, a CPT passou a dar assistência aos antigos moradores da

fazenda até sua desapropriação. Na verdade, a atuação da CPT em Bananeiras remonta ao

início dos anos de 1980, ainda no auge do Proálcool, como confirma o depoimento abaixo

transcrito:

A partir de 1982/83 a CPT começou um trabalho em Bananeiras. Na hora da

luta, que precisa estar acampando a CPT está presente. A partir do momento em que a terra é encaminhada para o período de vistoria, com o apoio da

CPT e das famílias que estão fazendo parte da luta, então se espera os

trâmites legais da justiça que vai averiguar se aquela propriedade é viável ou não à desapropriação. Quando a propriedade está cumprindo a sua função

social o INCRA não desapropria. Isso é muito importante. Todas essas que

foram desapropriadas foi porque não estavam cumprindo a sua função social.

A partir do momento que sai a desapropriação a CPT começa a fazer um trabalho de organização dessas famílias, de preparar a organização delas na

associação e tirar a comissão de pessoas que vão encaminhar os trabalhos.

(Zilma Maciel de Sousa –membro da CPT/Guarabira em entrevista no dia 28 de outubro de 2010).

Das 09 áreas de conflito identificadas por Moreira (1997a), algumas deram origem a

Projetos de assentamento, tais como a fazenda Carvalho, a fazenda Baixa Verde, a fazenda

Sapucaia, a fazenda Riacho São Domingos e a fazenda São José. Mas, no município, outras

10 Disponível em: http://historiadaparaiba.blogspot.com/2007/12/histria-contada-surgimento-do-mst-na.html Acesso em: 15 fev. 2011.

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Áreas de Assentamento foram criadas sem que tivesse havido conflito, por interesse de

negociação da terra por parte do proprietário com o Incra ou com o Instituto de Terras da

Paraíba.

2.2 Reforma agrária e criação de assentamentos rurais

A discussão sobre a reforma agrária no Brasil e sua importância para o

desenvolvimento nacional é muito antiga e polêmica.

É bem conhecido o debate entre os intelectuais do velho PCB sobre a

questão agrária na nossa formação socioeconômica, assim como as abordagens e alterações ditas por eles como necessárias no espaço rural para

as mudanças que contribuíssem com a construção nacional. A grosso modo,

nessa leitura, a reforma agrária se justificava pela necessidade de superar resquícios feudais e contribuir, através de reformas, para a penetração do

capitalismo no campo na medida em que acabaria com o latifúndio

improdutivo e constituiria uma massa de consumidores de bens industriais e produtores de matéria-prima, fundamental para o desenvolvimento nacional.

Essa rica e controvérsia discussão foi alimentada, entre tantos outros, por

Caio Prado Júnior, Alberto Passos Guimarães, Jacob Gorender, Nelson

Werneck Sodré e Andre Gunder Frank (ARAUJO, 200711

, p.1).

Com o golpe militar e a implantação de um regime autoritário no país a partir de 1964,

assiste-se à penetração do capital no campo via modernização da agricultura sem que se desse

a democratização da terra e a valorização do campesinato. Ao contrário, o modelo de

modernização do campo implantado pelos militares pautou-se na expansão de monoculturas

de exportação e da pecuária intensiva e semi-intensiva em grandes propriedades, no uso

intensivo de tecnologias mecânicas e químicas que resultou na intensificação do processo de

proletarização e do êxodo rural. Assistiu-se a um aumento da produção agrícola,

particularmente da produção das culturas estimuladas pelas políticas e programas

governamentais, a expansão dos complexos agroindustriais e um forte processo de

urbanização. À agricultura camponesa sobrou um papel marginal nesse processo.

Argumentava-se que a questão agrária brasileira estava resolvida, “que a sociedade

brasileira já tinha se consolidado como urbana e que a modernização da agricultura teria

resolvido a produção alimentar” (ARAUJO, 2007).

11

Disponível em: http://alainet.org/active/21271&lang=esALAI, América Latina en Movimiento Acesso em: 15

fev. 2011.

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No entanto, a eclosão de conflitos no campo, o empobrecimento da população rural e

os efeitos perversos do ponto de vista social e ambiental da modernização agrícola ganham

visibilidade e colocam mais uma vez na ordem do dia a premência da discussão da reforma

agrária como fator de desenvolvimento nacional.

O surgimento do MST e de outros movimentos sociais no campo reativando a

organização e luta camponesa por terra, por sua vez, cobra do Estado uma ação mais eficiente

na resolução da questão agrária. O Estado, porém age de forma contraditória, uma vez que, de

uma lado, estimula e apoia com suas políticas agrícolas o avanço da modernização do campo,

e de outro atua para “apagar os incêndios”, desapropriando ou adquirindo terras nas áreas

onde a repressão, a violência e outras ações não foram capazes de eliminar os conflitos

(MOREIRA E TARGINO, 1997). Nessas áreas, surgem novos territórios reorganizados em

torno da agricultura camponesa como que traindo as leis do capital. Esses novos territórios

são conhecidos como Assentamentos Rurais.

O significado do termo Assentamento, segundo Mançano (1999), surgiu pela primeira

vez no Chile durante a reforma que ali se deu entre 1964 e 1970. No Brasil, a expressão

Assentamento Rural apareceu durante a Nova República, a partir da promulgação do I Plano

Nacional de Reforma Agrária (I PNRA). Até então a ação do Estado havia se dado em torno

de projetos de colonização, “em detrimento de qualquer programa que pudesse expressar uma

política clara de reforma agrária no país” (MIRAD/INCRA, 1987, p.5).

Carvalho (1998) entende o assentamento como sendo um lugar onde um conjunto de

trabalhadores rurais e suas respectivas famílias habitam e produzem, uma junção heterogênea

de variados grupos sociais, constituídos por trabalhadores rurais e suas famílias. O

assentamento se estabelece num imóvel adquirido ou desapropriado pelo governo com a

finalidade de cumprir as exigências constitucionais e legais relativas à reforma agrária.

Para os movimentos sociais, assentamento é “a terra conquistada e, portanto, o lugar

da luta e da resistência” (FERNANDES, 1999, p.21). Entendido dessa forma, o assentado é

visto como um ator social e um sujeito coletivo envolvido na luta pelo direito a uma vida

digna na terra.

Para o Incra, o assentamento rural está intrinsecamente relacionado à etapa

posterior à desapropriação de terras, que é a de fixação do trabalhador nos

lotes. Ele surge a partir da criação do “Projeto de Assentamento”. O Projeto de Assentamento „é criado a partir da desapropriação, aquisição ou

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66

transferência de um imóvel improdutivo, acima dos 15 módulos fiscais12

,

destinado ao assentamento de famílias, no objetivo de torná-lo produtivo,

adequando-se ao programa de reforma agrária, através do Governo Federal. Desta forma, o Assentamento é o local onde as famílias, aderindo ao

processo de reforma agrária, irão encontrar condições de moradia, trabalho e

constituição de renda para sua manutenção, cabendo ao Incra, oferecer a

infra-estrutura básica13.

” (depoimento concedido pelo técnico do Incra-PB, Jorge Luís de Sousa Lima) (FREITAS, 2001, p.15).

Para Moreira (2006), o Assentamento representa muito mais do que o resultado de um

ato administrativo formal. Ele é fruto da quebra do monopólio da terra e representa na maioria

dos casos o fim de um conflito social e o início de um novo tempo: o de recriação da fração

do território conquistado pelos camponeses. Trata-se, para a autora, de um Território de

Esperança, na medida em que

Simboliza uma “ruptura” com a forma de organização social, econômica e política pré-existente. Trata-se de um território novo, construído com base na

utopia e na esperança. “Território de Esperança”, “Território de

Solidariedade” e também, parafraseando Félix Guattari, “Território de Desejo”, carregado de contradições, mas também de sinalizações de uma

forma experienciada de organização social diferente daquela marcada pela

subordinação, pela dominação, pela bestialidade da exploração. (MOREIRA,

2006, p. 4).

No município de Bananeiras existem hoje quatorze assentamentos rurais, sendo nove

constituídos pelo INCRA (Fig. 06) e cinco pelo INTERPA.

Como pode ser visto na figura 6, dos 9 Projetos de Assentamento constituídos pelo

Incra, em Bananeiras, 6 situam-se ao norte do município, no limite com os municípios de

Dona Inês e Solânea, 1 ao leste, no limite com o município de Belém e 2 ao sul do município.

Esses assentamentos resultaram da desapropriação de 6 propriedades que se enquadravam,

segundo o Estatuto da Terra, na condição de latifúndios por exploração ou por dimensão

(Quadro 3). Elas totalizavam 6.698,2727 hectares, o que equivalia em 2006 a 40% da área

agrícola municipal. Essa área que era concentrada nas mãos de apenas 6 proprietários de terra foi

redistribuída entre 409 produtores rurais, promovendo importante impacto na estrutura fundiária

municipal. Das 6 propriedades, 5 foram desapropriadas na década de 1990, mais precisamente

entre 1993 e 1998 e 1 em 2005 (Quadro 3).

12 Segundo o INCRA, o módulo fiscal diz respeito a um número de hectares que serve de base para o cálculo da

quantidade de terra a ser desapropriada, que varia para cada região; 13 Para o INCRA, infra-estrutura básica, significa: abertura de estradas para acesso ao projeto de assentamento,

eletrificação rural, água para consumo humano, financiamento da produção, créditos de instalação e

investimentos através Programa Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF);

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67 Fig. 6

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68

Além dos assentamentos criados pelo INCRA, existem outros 5 criados pelo

INTERPA (Quadro 4). Desses, 4 foram adquiridos pelo Estado em parceria com o Banco

Internacional para o Desenvolvimento (BIRD) em 1993, e 1 foi criado dentro do Programa do

Banco da Terra em 2001 (Quadro 4). Apenas em um deles foi identificada a ocorrência de

conflito: Assentamento Baixa Verde. Tratava-se de imóveis de pequena dimensão, variando

de 68 a 198 hectares. Cada um deu origem a um assentamento que permaneceu com o mesmo

nome do antigo imóvel: Baixa Verde, Goiamunduba, Cana Brava, Mata Fresca e Baixa do

Mel (Quadro 4). No total, esses assentamentos abrangem 914,8144 onde foram assentadas

100 famílias (Quadro 4).

Assentamento Imóvel Área (em ha)

desapropriada

Programa

financiador

Data de

implantaçã

o

Número

de

famílias

Cumati Cumati 108,4300 TDA + Benfeitorias

desapropriação

22/12/1993 23

Nova Vista Nova Vista 104,0000 TDA + Benfeitorias

desapropriação

07/01/1994 29

Boa Vitória Fazenda

Sapucaia

201,7000 TDA + Benfeitorias

desapropriação

15/12/1995 15

Santa Vitória Fazenda

Reunidas

Sapucaia

1.768,4000 TDA + Benfeitorias

desapropriação

10/12/1996 84

São Domingos Fazenda São Domingos

676,0806 TDA + Benfeitorias desapropriação

07/01/1998 36

Nossa Senhora

das Graças

Fazenda

Caboclo (parte) e fazenda São

José

820,3572

+ 200,0000 = 1.020,3572

TDA + Benfeitorias

desapropriação

17/11/1998 47 + 15

= 62

Nossa Senhora

do Perpétuo Socorro

Fazenda

Caboclo (parte) Bananeiras e

Solânea

1.642,0320 TDA + Benfeitorias

desapropriação

17/11/1998 55

Nossa Senhora

do Livramento

Fazenda

Caboclo (parte)

794,0639 TDA + Benfeitorias

desapropriação

17/11/1998 63

Nossa Senhora

de Fátima

Fazenda Lagoa

dos Dantas

(parte) Bananeiras e

Belém da

Caiçara

381,2400 TDA + Benfeitorias

desapropriação

23/12/2005 42

Total 6.698,2727 409

Fonte: INCRA/PB, 2010. Quadro 3 – Bananeiras - Relação dos Projetos de Assentamentos criados pelo Incra entre 1993 e

2005.

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Se acrescentarmos à área reformada sob a responsabilidade do Interpa a do Incra,

teremos 7.613,09 hectares, o que representa 45,5% do total da área agrícola municipal.

Entendemos, portanto, que a diferença identificada entre o padrão de concentração da terra em

Bananeiras, em 1992 e 2006, deve-se essencialmente ao impacto da criação de Assentamentos

de reforma agrária no município.

Assentamento Imóvel Área em

ha.

Programa

financiador

Data de

implantação

Número de

famílias

Baixa Verde Baixa Verde 198,7701 Estado da

Paraíba/BIRD

04/03/1993 31

Goiamunduba Goiamunduba 374,5245 Estado da

Paraíba/BIRD

04/03/1993 41

Cana Brava Cana Brava 68,8275 Estado da

Paraíba/BIRD

04/03/1993 07

Mata Fresca Mata Fresca 89,9510 Estado da

Paraíba/BIRD

04/03/1993 08

Baixa do Mel Baixa do Mel .182,7413 Banco da

Terra

28/12/2001 13

5 Assentamentos 5 imóveis 914,8144 100

Fonte: INTERPA/PB, 2010. Quadro 4 – Bananeiras. relação dos assentamentos criados pelo Interpa

A reforma agrária levada a efeito no município de Bananeiras foi efetivada por três

vieses: um que segue as normas estabelecidas pelo Estatuto da Terra, ratificadas pela

Constituição de 1988 e pela Lei 8.629/9314

, no caso dos assentamentos constituídos pelo

INCRA; outro que segue a política do Banco da Terra, criada no Governo FHC; e um terceiro

que se resume à pura e simples compra de terras com recursos do BIRD pelo Governo do

Estado.

O Banco da Terra foi criado em 1998, no governo de Fernando Henrique Cardoso,

pela Lei nº 93 de 04 de fevereiro de 1998, juntamente com o Fundo de Terras e da Reforma

Agrária, cuja finalidade é “financiar programas de reordenação fundiária e de assentamento

rural.” (ARTIGO 1º). Esse fundo, além de receber recursos do TDA, indicado como fonte

pagadora das terras “desapropriadas”, é sustentado através de várias outras fontes, que variam

14 A Constituição Federal de 1988, no caput do artigo 184 estabelece que: Compete à União desapropriar por

interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social,

mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real,

resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em

lei. Já a Lei 8.629/93, caput do artigo 5º, que regulamenta o artigo 184 da carta magna reafirma o pagamento das

terras com (TDA) com o seguinte texto: “Artigo 5º - A desapropriação por interesse social, aplicável ao imóvel

rural que não cumpra sua função social, importa prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária.

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de doações de convênios e entidades públicas e privadas até bancos nacionais e

internacionais.

A criação de novos mecanismos de financiamento de terras, o novo modelo de

relacionamento com os adquirentes da terra no sistema de compra e venda, ao invés da

desapropriação propriamente dita, trouxe à tona uma série de questionamentos por parte dos

movimentos sociais de luta pela terra, como o MST e a CPT. Além dos movimentos sociais, a

nova política de reforma agrária de FHC gerou um forte e polêmico debate entre os estudiosos

da questão. Dentre os que se posicionam a seu favor, os principais argumentos, colocados

como vantagens para o trabalhador são: a desburocratização da reforma agrária; a redução do

longo tempo de espera por demorados trâmites processuais, que levam os processos a

passarem anos na justiça; e a liberdade no momento de escolha da terra. Para Martins (1999),

esse modelo de reforma agrária abriu várias possibilidades de aquisição da terra pelos

trabalhadores. Ao se referir à política de compra e venda de terras para efeito de reforma

agrária do governo FHC, esse autor afirma:

Portanto a política fundiária do governo atual não tem se limitado à

redistribuição e à regularização da posse da terra, como pedem os opositores, mas tem se orientado, pela primeira vez na história republicana, no sentido

de fazer da reforma agrária um procedimento institucional que reconhece e

assegura o lugar social e institucional da agricultura familiar na sociedade e na economia. Tudo indica que estamos em face de um esforço político para

pôr um garrote nos mecanismos de expulsão e de exclusão das populações

rurais. E, também para assegurar que a eficácia econômica comparativa da agricultura familiar em relação às degradadas alternativas de inserção na

vida urbana constitua um eixo de proteção e até de reaglutinação das

famílias atingidas ao longo das últimas décadas, desde o governo Goulart,

por mecanismos econômicos de dispersão e de degradação. (MARTINS, 1999, p. 125)

Martins ainda critica os opositores dessa política, intitulada de “reforma agrária de

mercado”15

, acusando-os de fazerem oposição à política agrária do governo FHC por duas

razões principais: a desestabilização do governo com o fortalecimento de um governo mais de

esquerda nas eleições seguintes e a manutenção da reforma agrária com desapropriação do

latifúndio como medida punitiva aos proprietários de terra.

15 Expressão usada para denominar a política proposta pelo Banco Mundial para o governo brasileiro como

alternativa à reforma agrária clássica realizada mediante a desapropriação dos latifúndios improdutivos. No caso

dessa política, o Banco Mundial tem emprestado dinheiro para o governo brasileiro adquirir fazendas a vista,

independente da condição ou da viabilidade. As famílias assentadas passam a dever o valor das desapropriações

diretamente ao banco. Trata-se, portanto, de uma verdadeira imobiliária rural, que beneficia apenas os

fazendeiros. (STEDILE E FERNANDES, 1999, p. 140)

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Os que se posicionam contra a reforma agrária de mercado o fazem apoiados em

análises conjunturais da política econômica nacional e internacional pela qual o mundo está

passando.

Para Stedile e Fernandes, o governo FHC, ao adotar a reforma agrária de mercado,

buscou trabalhar com três variantes:

a) estimular o chamado mercado de terras, em que as próprias forças capitalistas atuam no assentamento. (...) A forma como o governo obtém as

terras teria que ser da forma mais capitalista possível; b) a propaganda. Ele

parte de uma falsa interpretação de que o apoio social que o MST e a reforma agrária têm na sociedade não é porque temos uma causa justa,

porque somos lutadores ou porque somos um movimento social, mas sim

porque teríamos habilidade em fazer propaganda, como se a ocupação da

terra fosse um ato de marketing político. Partindo dessa visão, o governo interpreta que, se também fizer propaganda, rebate a nossa.; e c) a política

específica de FHC com relação ao MST. (...) Ele desmereceu a reforma

agrária ao fazer uma análise equivocada de que não havia mais problema agrário e, portanto, de que não havia necessidade da reforma agrária.

Bastaria, no máximo, fazer assentamentos. Para ele, o movimento social não

existia ou não tinha importância.(STEDILE E FERNANDES. 1999, pp. 141-142).

Percebe-se aí uma repulsa à política agrária adotada pelo governo de Fernando

Henrique Cardoso, na conjuntura neoliberal e na lógica do desenvolvimento do capitalismo no

campo brasileiro. Ou seja, para os opositores da política agrária do governo FHC, este, ao

adotar a política de reforma agrária de mercado, reforçava e ampliava as possibilidades e, por

tabela, a garantia de extração da renda da terra, além de aprofundar o processo de especulação

fundiária, tendo em vista que a reforma agrária viraria um verdadeiro balcão de negócios.

É visível nesse projeto que o governo federal pretendia substituir a

realização da reforma agrária pelo mecanismo do mercado de terras. A desapropriação de terras como medida punitiva ao latifúndio e às

propriedades improdutivas acabaria sendo abandonada.

Outro ponto a ser destacado é que, ao retirar os créditos, esses recém-

proprietários endividados acabam por abandonar as terras devido à falta de apoio e infraestrutura, uma vez que os juros desse financiamento estavam em

média a 11,68% ano. (FELICIANO, 2006, p. 70)

Supunha-se, assim, que se criava uma situação de inviabilização do acesso a terra, de

forma segura, pelo trabalhador sem terra, impondo-lhe uma dívida que ainda nem planejara

como pagar. Isso se constituiria em uma situação nova para o camponês, pelo fato de que o

trabalhador que antes era obrigado a pagar a renda da terra agora, além da renda da terra, teria

que pagar os juros dessa renda.

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Em estudo realizado sobre a reforma agrária de mercado no Estado de Ceará,

Alexandra Maria de Oliveira concluiu que

O que se realizou em termos de política agrária, a partir de 1996 (Projeto “reforma agrária solidária”, Projeto Cédula da Terra, Banco da Terra,

Crédito Fundiário e Combate à Pobreza rural, e Programa Nacional de

Crédito Fundiário), teve como resultado uma ampla e intensa apropriação da renda capitalizada da terra por proprietários rentistas mediante o

entendimento dos camponeses assentados.

No Nordeste, as terras devolutas, indígenas e comunais têm sido alvo de interesse e da apropriação por parte de grileiros, empresários e proprietários

rentistas e apenas uma pequena porção dessas terras estão sendo, a duras

penas, apropriadas pelos camponeses. Nos anos recentes, o apoio da elite

agrária à nova política de contra-reforma agrária implementada pelos governos (estadual e federal) em parceria com o Banco Mundial, ocorre

porque com a política de crédito fundiário ou “reforma agrária de mercado”

foram adotadas medidas legais de proteção absoluta do direito de propriedade, sobretudo dos latifundiários. (OLIVEIRA, 2006, p. 363-364)

Para a autora, há tantas adversidades para os camponeses nesse modelo de política

agrária que ela a denominou de contra-reforma agrária.

Ao discutir o caráter neoliberal do conjunto dos mecanismos criados pelo governo

FHC para a implementação da RAM, Ramos Filho sugere que

Não será a lei da oferta e da procura, que rege o mercado, que criará as

condições necessárias para que os mais pobres acessem a terra em

quantidade e qualidade suficiente para a subsistência familiar e o abastecimento alimentar. O mercado é um território do capital, cujos

fundamentos são o dinheiro e o lucro. Sugeri-lo como possibilidade para

recriação do campesinato expressa a intencionalidade de promover a sua subordinação, ou manter sua exclusão em detrimento da promoção da vida

com dignidade essencial para a classe. (RAMOS FILHO, 2009 p. 251)

O debate em torno da reforma agrária ou, como prefere Oliveira (2006), a contra-

reforma agrária do governo FHC, em comum acordo com governos estaduais, a partir da

compra e venda de terras, com subsídios do Banco Mundial, para os seus opositores nada

mais é do que a extensão das políticas neoliberais ao campo.

Vale a pena destacar que os assentamentos criados a partir da compra da terra pelo

Estado com recursos do BIRD em Bananeiras se deram em março de 1993, antes de Fernando

Henrique Cardoso chegar ao poder. Só um Assentamento foi criado durante o segundo

mandato de FHC, dentro do Projeto Banco da Terra.

Não obstante, Interessa a este estudo analisar as mudanças territoriais decorrentes da

criação de um assentamento rural no município de Bananeiras, o PA Nossa Senhora das

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Graças, como resultante da desapropriação da Fazenda Caboclo, buscando entender até que

ponto esse processo pode ser entendido como de transformação de um território de exploração

em um território de esperança.

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CAPÍTULO III

DE TERRITÓRIO DE EXPLORAÇÃO A TERRITÓRIO DE

ESPERANÇA: O CASO DA FAZENDA CABOCLO

A Fazenda Caboclo, com quase quatro mil hectares, era o maior latifúndio do

município de Bananeiras. A sua configuração (Fig. 7) se confundia com a de uma sesmaria.

Eram quase duas léguas de terra ocupando uma parte do vale do rio Curimataú (Fig. 7).

Fig. 7 – Delimitação territorial da Fazenda Caboclo

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3.1 Origem histórica da Fazenda Caboclo

Na relação de certificado de cadastro rural do município de Bananeiras, emitido pelo

INCRA em 1992, consta a Fazenda Caboclo antes da desapropriação, como propriedade da

família Bezerra Cavalcanti, representada pelos irmãos Clóvis Bezerra Cavalcanti e Mozart

Bezerra Cavalcanti, e a empresa Campina Caboclo Agropecuária LTDA, também pertencente

à família.

Em uma das etapas da pesquisa, solicitamos ao INCRA, através de documento, os

nomes dos proprietários das fazendas desapropriadas e transformadas em assentamentos

rurais. Neste documento, a Fazenda Caboclo aparece como “Espólio de Maria das Mercês

Rocha”. (ANEXO 01)

Dona Maria das Mercês Rocha Bezerra Cavalcanti, conhecida na região como Dona

Donzinha, era a esposa do Major Augusto Bezerra Cavalcanti e mãe do Dr. Clóvis Bezerra

Cavalcanti e do Sr. Mozart Bezerra Cavalcanti, que negociaram a fazenda com o INCRA.

Observa-se que a antiga proprietária da fazenda era membro da família Rocha, uma

das principais famílias da aristocracia rural do município e da região do Brejo Paraibano,

desde os primórdios do processo de colonização. Sua união matrimonial com o Major

Augusto Bezerra Cavalcanti, de outra família tradicional no município, uniu as duas famílias

conferindo-lhes hegemonia, tanto com relação ao poder econômico, a partir do controle das

terras, como em relação ao poder político, não apenas no município de Bananeiras, mas

também em outros municípios da região. As famílias Rocha e Bezerra Cavalcanti são duas das

mais tradicionais famílias da época áurea do café do município de Bananeiras.

Ao fazer alusão à genealogia do político e médico Clóvis Bezerra Cavalcanti, em sua

coluna no Jornal A União, o jornalista Gonzaga Rodrigues faz um resgate da ligação entre as

duas famílias:

Oriundo de uma família de agricultores e senhores de engenho radicada em

Bananeiras, onde nasceu aos 9 de julho de 1911, Clóvis Bezerra Cavalcanti,

ou Clóvis Bezerra, como é popularmente conhecido, é filho do senhor Augusto Bezerra Cavalcanti e de D. Maria das Mercês (Donzinha) da Rocha

Bezerra Cavalcanti. Tem as raízes de sua árvore genealógica fincada na

aristocracia rural desse tradicional município paraibano, de cuja linhagem

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ressalta a figura do Barão de Araruna (Estevão F. da Rocha), seu parente

próximo e nome de grande projeção política e social na última fase da

Monarquia. (RODRIGUES, 16 de maio de 2010).

Estevão F. da Rocha, como cita Rodrigues, ou Estevão José da Rocha, como afirmam

outros historiadores, o Barão de Araruna16

, aglutinou em seus domínios grandes porções de

terras nas microrregiões do Brejo e do Curimataú paraibanos. Estaria aí relacionada a origem

de tantas terras sob o domínio das famílias Rocha e Bezerra Cavalcanti no município antes da

criação dos assentamentos.

Em entrevista realizada com o senhor Augusto Bezerra Cavalcanti Neto, filho do

senhor Mozart Bezerra Cavalcanti, um dos antigos proprietários da fazenda, obtivemos

maiores detalhes sobre as origens do imóvel Caboclo.

Veja bem o seguinte, tudo partiu com o meu bisavô Diocleciano Bezerra

Cavalcanti, o pai do meu avô Augusto Bezerra Cavalcanti. Chamavam

Major Augusto apelidava de Major Augusto. Ele não era Major, ele não tinha patente, ele não comprou patente, mais foi apelidado de Major, Major

Augusto (...). Então tudo se originou do Engenho Goiamunduba que fabrica

desde 1877 a cachaça Rainha, aguardente de cana Rainha que ainda hoje fabrica. Então do meu bisavô foi sucedendo para o meu avô Augusto

Bezerra. Então com os lucros obtidos na época com a cachaça Rainha do

Engenho, ele comprou Caboclo do Dr. Machado. E aí agregou várias

propriedades: agregou Olho D‟Água, agregou a Raposa, agregou o Miguel, agregou Panelas, agregou Bernardino e ele transformou tudo numa só

propriedade que se chamava e tornou-se a conhecer como Caboclo. Ela

media mais ou menos em torno de 3 mil hectares de terra e abrigava 300

famílias aproximadamente. (depoimento do Sr Augusto Bezerra em

entrevista realizada dia 27 de novembro de 2009).

Além do poder sobre a terra, as famílias Rocha e Bezerra Cavalcanti detiveram a

hegemonia política do município de Bananeiras, alternando-se no comando da gestão

municipal em 15 dos 36 mandatos de prefeito que governaram o município de 1890 até 2008.

(SILVA, 2007) 17

Sobre a participação política da família Bezerra na região, assim se refere o Sr.

Augusto Bezerra:

16 “O seu nome de batismo era Estevão José da Rocha, nascido na casa grande da fazenda Serra Branca, há uns

200 anos, filho de Antonio Ferreira de Macedo e Ana de Arruda Câmara Ferreira de Macedo (nesse tempo havia

o costume de homenagear um contraparente ou amigo querido dando-lhe o seu nome aos filhos – daí porque o

sobrenome do barão ter sido tão diferente dos seus pais).” (ARAÚJO, J. A. P. de. O barão de Araruna, um

lavradense ilustre. Disponível em: http://www.pedralavrada.com Acesso em: 10 out. 2010). 17 Cf. Quadro de prefeitos nomeados e eleitos em SILVA, Manoel Luiz. 2007, p.25.

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Quero só acrescentar aqui pra você enriquecer o seu trabalho que (...) meu

pai Mozart Bezerra foi o primeiro prefeito de Dona Inês, Dona Inês quando

se emancipou de Bananeiras e foi prefeito de Bananeiras duas vezes. Eu fui prefeito daqui três vezes e meu avô Major Augusto foi prefeito uma vez

então nós temos juntos eu fui catorze anos meu pai foi nove porque pegou

um mandato de cinco são dezenove e meu avô quatro são vinte e três anos de

serviço diretamente prestado, direto, direto prestados ao município de

Bananeiras e a sua gente (entrevista realizada dia 27 de novembro de 2009).

Além da Fazenda Caboclo, existem outras propriedades, tanto no município de

Bananeiras como nos municípios adjacentes, pertencentes à família Bezerra Cavalcanti. São

fazendas ocupadas com engenhos de cultivo de cana-de-açúcar, com pecuária e outras com

produtos agrícolas. Dessas fazendas, a família não abriu mão para a desapropriação. Uma

dessas propriedades é o engenho Goiamunduba famoso pela produção da cachaça Rainha.

Quando questionado sobre o engenho Goiamanduba que pertencia à sua família, assim

respondeu o senhor Augusto Bezerra:

Ela continua com a família (...). O engenho Guaiamanduba com toda

sua extensão territorial é uma propriedade com cento e cinco hectares,

tem uma área de reserva florestal registrada em cartório (...) Veja bem: Guaiamanduba de Baixo é a que fabrica aguardente Rainha, o

Guaimanduba de Cima é que fabricava antigamente aguardente

Cascavel, era outro engenho. Então o assentamento que teve foi

Guaiamanduba de Cima. O de baixo não, nós temos o nosso engenho

nós temos setenta funcionários oitenta de carteira assinada, quarenta

pessoas que residem no próprio engenho. (entrevista realizada dia 27 de

novembro de 2009).

3.2. Características naturais e formas de utilização do solo

A antiga Fazenda Caboclo localizava-se, como já visto na figura 7, na porção noroeste

do município de Bananeiras. O relevo local caracteriza-se por ser muito ondulado e os solos

são relativamente rasos.

Internamente, a propriedade apresenta condições naturais diferenciadas, como explica

o senhor Augusto Bezerra:

Uma propriedade de uma grande extensão territorial ela tinha dois climas, um da serra, que é o Caboclo onde você nasceu onde minha comadre Regina

sua mãe morou, onde meu compadre Severino morou, e tinha completando

Caboclo e Olho D‟Água e tinha a parte da Raposa que era a parte seca do

Curimataú, após o rio, a divisão era o Rio Curimataú (entrevista realizada

dia 27 de novembro de 2009).

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Essa diversidade interna do relevo e do clima refletia-se nas formas de uso do solo. De

fato, segundo os entrevistados, buscava-se plantar as culturas comerciais nos trechos cujas

condições naturais eram mais propícias ao desenvolvimento específico de cada uma. Isto

possibilitou a produção de várias lavouras comerciais na propriedade.

Na verdade, três culturas comerciais tiveram importante papel nas formas de utilização

do solo e nas relações de trabalho desenvolvidas na fazenda: Trata-se de culturas que

marcaram época no processo de formação do território de Bananeiras e da região agrestina,

quais sejam: o algodão, o fumo e o sisal.

O cultivo dos três produtos comerciais supracitados determinou, por várias décadas, os

tipos de relação de trabalho na fazenda. A depender do tipo de produto cultivado e do sistema

de produção adotado para cada cultura, os agricultores ora assumiam o papel de moradores de

condição, pagando com trabalho pelo direito de morar na terra; ora lhes era cobrada uma

renda em produto. Em outros momentos, os moradores também se assalariavam na própria

propriedade.

Os ex-moradores afirmam que toda produção era realizada sob os olhares do dono da

fazenda. Era uma forma de garantir a renda da terra e o controle total dos moradores que só

plantavam o que o proprietário permitia. Quando algum morador insistia e plantava algum

tipo de lavoura sem a autorização do proprietário, era obrigado a arrancar; quando fazia

alguma reforma na casa ou construía alguma palhoça sem a devida autorização, era obrigado a

desmanchar. Essa era uma forma de garantir o controle sobre a terra e sobre os camponeses.

Assim a gente não tinha direito de plantar roça, não tinha o direito de construir uma casa, tudo que eles faziam tinha de ser com ordem do patrão.

Na época que a gente chegou aqui em 7818

, eu ainda me lembro que eles não

deixavam nem o pessoal de fora tirar água dos tanques, no caso, as canoas19

, eles não deixavam o pessoal de fora ir buscar. O proprietário na época era o

Sr. Mozart. A casa, eu me lembro muito bem, eu já estava aqui, já tava bem

crescidinha, que tem um empregado ali que fez uma cozinha e o patrão

mandou derrubar. A lenha, ninguém tirava um pau de lenha se não fosse por ordem dele, que no caso não era errado, hoje em dia ninguém pode tá

desmatando. Isso daí ele tava certo, mais ele proibia do pessoal de fora tirar

18 Refere-se a 1978. 19 Os camponeses da antiga Fazenda Caboclo chamam de “canoas” as formas abaciadas presentes nos

afloramentos de rocha também conhecidas como “tanques” muito comuns na região do Curimataú. Essas áreas

acumulam água de chuva, “água doce” como dizem os camponeses, que era utilizada para suprir as necessidades

dos moradores da fazenda nos períodos de seca.

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água dos tanques dele. (depoimento de Josefa Silva de Araújo, entrevista

realizada dia 23 de abril de 2010).

O senhor Augusto Bezerra fez menção à presença dos tanques ou canoas (Fig. 08)

existentes no interior da propriedade afirmando que

Essa propriedade ainda tinha vários tanques e reservatórios de água. (...) naquela época não tinha água tratada, nem água encanada, então o Major

Augusto juntamente com Dr. Clóvis e Mozart Bezerra que era meu pai,

eles dois fizeram vários depósitos de água naquelas pedras (Fig.8), onde podia pular e fazer uma barragem para que o povo dali pudesse viver e

usar aquela água para beber e para outro tipo de uso (entrevista realizada

dia 27 de novembro de 2009).

Fig. 8 – Um dos reservatórios naturais de água para uso dos camponeses da Fazenda Caboclo,

chamado de tanque ou canoa. Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

3.2.1 Diversidade do uso do solo e das relações de trabalho na Fazenda Caboclo

O algodão foi cultivado durante muito tempo na propriedade. Não se tem notícia do

período da introdução dessa lavoura, mas, segundo os entrevistados, ela era cultivada nas

áreas mais secas, situadas na porção oeste da propriedade, em consórcio com o feijão e o

milho, como será demonstrado no croqui 120

.

A relação de trabalho dominante na atividade algodoeira era a parceria. Os parceiros

pagavam a renda da terra ao proprietário em forma de produto, no caso, com a metade do

20 O croqui 1 foi elaborado com base na descrição feita por antigos moradores da propriedade sobre as formas de

uso do solo e sua distribuição na Fazenda Caboclo na década de 1960.

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algodão produzido. A outra metade era vendida ao proprietário da terra pelo preço que este

determinasse.

O cultivo do algodão foi se reduzindo e desapareceu completamente na segunda

metade dos anos de 1980, em virtude da praga do bicudo que se expandiu por todo o estado,

destruindo os algodoais e desarticulando a economia algodoeira.

Uma segunda cultura comercial que foi cultivada na Fazenda Caboclo foi o sisal.

Segundo Almeida (2006),

O desenvolvimento do sisal fora dos centros tradicionais de produção,

enquanto cultura de exportação se deu com a Segunda Guerra, nos anos

1940, em virtude da desorganização dos principais países produtores e do

aumento da demanda dos mercados interno e externo. Na década de 1950, no que tange à produção mundial, o Brasil assumia a segunda posição dos

países exportadores, com destaque para os estados da Paraíba e Bahia

(p.137).

O sisal começou a ser plantado na propriedade na década de 1950 e continuou a ser

cultivado até o início dos anos de 1970, seguindo a trajetória dessa cultura no Agreste-Brejo

paraibano.

Trata-se de uma cultura de ciclo vegetativo longo, que é utilizada na fabricação de

cordas e estopas pelo setor industrial do estado. A fibra do sisal é também exportada para o

exterior para ser utilizada nas indústrias de papel e celulose. De acordo com Almeida (2006),

O produto, a fibra, pode ser utilizado na fabricação da cordoaria em geral e fios, em destaque o baler twine, fio agrícola para atar fardos de feno e

palha de cereais, e o binder twine, fio mais fino e menos resistente que o

baler, destinado ao feixe de cereais. Utiliza-se, também, o produto na

fabricação de cabos marítimos, tapetes, artigos de vestuário, calçados, artesanatos etc. Há, ainda, os seus subprodutos: polpa, bagaço, bucha,

caldo ou mosto, os quais são utilizados na estoparia, na fabricação de

papéis e papelão e, no caso do caldo ou mosto, transformado em produtos para serem usados como forragem animal (p. 137-138).

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Croqui 1 – Esboço elaborado com base em depoimentos colhidos na pesquisa de campo.

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Referindo-se ao processo de trabalho na cultura do sisal no Agreste paraibano,

Moreira e Targino afirmam o seguinte:

Os trabalhadores responsáveis pela retirada da folha são chamados de cortadores. O corte do sisal é feito com uma pequena foice. Uma vez

cortadas, as folhas do sisal são levadas em burros pelos “cambiteiros” até o

lugar onde se encontra a desfibradeira. Esta ocupa dois “puxadores de sisal” que introduzem a folha na máquina e um “bagaceiro” que se encarrega de

retirar o bagaço. Após o processo de desfibramento o sisal é colocado ao sol

para secar e em seguida amarrado em “molhos” para ser comercializado (MOREIRA e TARGINO, 1997, p. 83)

O processo de beneficiamento do sisal ou agave (processo que consiste em extrair a

fibra da folha do sisal), na Fazenda Caboclo, foi por muito tempo manual. Utilizava-se a

desfibradeira manual (Fig. 09), onde a folha do agave era presa e depois puxada pela ponta,

separando a fibra do bagaço.

Fig.09 – Desfibradeira manual utilizada para fazer o desfibramento do agave.

Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

Este último procedimento exigia um esforço maior do trabalhador, que não contava

com a força do motor para desfibrar o agave. Havia dezenas dessas desfibradeiras espalhadas

pela Fazenda Caboclo entre os ano de 1950 e 1970; no município de Bananeiras eram

centenas, e no Agreste eram milhares. Geralmente era fixada embaixo de uma árvore ou,

quando muito, sob uma palhoça feita no campo de agave.

A desfibradeira mecânica, máquina movida por um motor à base de óleo diesel, só

chegou à propriedade no final do período de produção do sisal. Tratava-se de um motor de

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pequeno porte que foi desenvolvido na Paraíba e, por isso, passou a ser conhecida como

“máquina paraibana” (Fig. 10).

Fig. 10. – Desfibradeira mecânica de agave, a “máquina paraibana”.

Arquivo: Galeria pfragoso. Disponível em:

http://www.flickr.com/photos/pfragoso/3498657809/in/photostream/ Acesso em: 18 fev. 2011.

De acordo com Moura, tratava-se de uma verdadeira engolidora de dedos, mãos e

braços dos trabalhadores:

A cultura do sisal é um dos processos mais desumanos da agricultura

brasileira. No sistema tradicional de produção, a base é a chamada usina, que

funciona com um pequeno motor desfibrando as palmas do sisal (...). São estas máquinas [chamadas paraibanas] que engolem os dedos, as mãos e os

braços dos trabalhadores que as manipulam (MOURA, 1985, p.17).

Excetuando-se a etapa do desfibramento, quando a máquina era utilizada, nas demais

etapas do processo de produção, quais sejam o corte (Fig. 11), a secagem do agave (Fig. 12),

o transporte (Fig. 13), o empilhamento e a pesagem (fig.14), utilizava-se técnicas bem

simples.

Fig. 11. – Processo de corte do sisal Fig. 12 – Secagem do sisal.

Arquivo: Galeria pfragoso. Disponível em: http://www.flickr.com/photos/pfragoso/3498657809/in/photostream Acesso em: 18 fev 2011.

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Fig. 13 – Transporte dos molhos de sisal Fig. 14- Processo de pesagem do sisal.

Arquivo: Galeria pfragoso. Disponível em:

http://www.flickr.com/photos/pfragoso/3498657809/in/photostream Acesso em: 18 fev. 2011.

Trabalhar com a colheita do agave não era tarefa fácil, era uma das atividades mais

estressantes do lugar. Nas assembleias realizadas pela Associação dos Produtores do

Assentamento Nossa Senhora das Graças, as quais presenciamos, foi possível ouvir algumas

histórias contadas pelos assentados nos momentos que antecediam o início da reunião,

comparando a época do agave com os dias atuais: “Não era para qualquer um passar um dia

todo puxando agave naquela máquina.” “À noite, o cabra ficava de espinha torta.”

O sisal ocupava duas áreas no interior da fazenda: uma mais a oeste da área de cultivo

do algodão, num trecho bem seco da propriedade e outra na porção central da fazenda (Ver

croqui 1).

De acordo com ex-moradores entrevistados, durante o período em que o sisal foi

cultivado na propriedade, as terras destinadas às culturas alimentares para o consumo das

famílias camponesas retraíram-se. Ao mesmo tempo, foi implantado o trabalho assalariado

como forma de resolver o problema de mão-de-obra para o cultivo, a colheita e o

desfibramento do sisal. Geralmente os salários eram pagos por produção, como confirma o

senhor Augusto Bezerra: “o sisal não era meia, o sisal era só do proprietário, ele pagava pelo

serviço prestado” (entrevista realizada dia 27 de novembro de 2009). Com isso, pode-se

atribuir à cultura sisaleira a redução da parceria, tradicional na produção do algodão, e a

expansão do trabalho assalariado na Fazenda Caboclo.

Houve, portanto uma conquista de terras às outras culturas por parte do sisal.

Na medida em que este passou a ocupar terras antes dedicadas às culturas de

subsistência, contribuiu de um lado, para o declínio do sistema de

aforamento e parceria e de outro lado, para a expansão das formas

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assalariadas de trabalho. (MOREIRA, 1990, p.16, apud MOREIRA E

TARGINO, 1997, p. 83-84).

A desvalorização da fibra do sisal no mercado externo e sua substituição pela fibra

sintética fizeram despencar o preço do produto e desestimular a sua produção. No final da

década de 1960 e início dos anos de 1970 o plantio de sisal foi se reduzindo até se extinguir

na propriedade.

Outra cultura também cultivada na Fazenda Caboclo foi o fumo de rolo (Figs. 15 e

16). Ele substituiu o sisal e foi cultivado até 1973, segundo os entrevistados. Enquanto o sisal

era produzido com uso de mão-de-obra assalariada, a cultura do fumo fez retornar com força

o sistema de “parceria”. O camponês recebia a terra do proprietário e a muda de fumo para

plantar. Todas as despesas com o plantio, a limpa, a colheita e o processamento do fumo

ficavam ao encargo do camponês. Ao final da colheita, a produção era dividida ao meio,

ficando o parceiro com 50% e o proprietário com 50% (sistema de meia). A comercialização

da metade que cabia ao parceiro era regra geral feita na própria propriedade, uma vez que,

segundo ex-moradores entrevistados, a exemplo de D. Tereza Lucas, os moradores eram

obrigados a dar preferência de compra ao proprietário, repassando-lhe geralmente o produto

por um preço por ele estabelecido, o qual fazia o papel de atravessador entre o “parceiro” e o

mercado.

Fig. 15 – Exemplo de área cultivada com fumo. Fig. 16 – Exemplo da forma de secagem do fumo.

Fonte Fig. 15: Arquivo Davy Sales. Disponível em: http://ipt.olhares.com/data/big/266/2661555.jpg

Acesso em: 18 fev. 2011. Fonte Fig. 16: Disponível em:

http://lh6.ggpht.com/_QqFXsELs4D8/Sq8F77EfbKI/AAAAAAAADHo/8sGPcjUR9Tg/arap_fumo1%5B28%5D.jpg?imgmax=800 Acesso em: 18 fev. 2011.

Segundo um dos entrevistados, na época do plantio do fumo, os moradores que, por

alguma coincidência, tivessem qualquer cultura de alimento plantada na área destinada pelo

proprietário, aquele cultivo tinham de ser arrancado, independentemente da sua fase de

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desenvolvimento. Assim, como o sisal, o fumo também contribuiu para a redução da

produção alimentar dos camponeses na fazenda.

O empregado só trabalhava com o que o patrão queria, como no caso do

fumo, né? O pessoal só plantava fumo porque era a cultura dele, só era o fumo. Ele arrancava o feijão para plantar o fumo. Eles plantavam assim,

chovesse em janeiro plantava o feijão, ai ele semeava a semente no mês de

maio, né? Prá arrancar em julho. Em julho tinha que arrancar o feijão, podia tá cheio de bagem, cheio de canivete, de flor, prá dar lugar ao fumo. Não

tinha o direito de plantar roça, né? (depoimento do Sr. Renato Pedro –

presidente da Associação dos Moradores do PA Nossa Senhora das Graças. Entrevista em 30 de out. de 2009).

De acordo com o Senhor Augusto Bezerra, durante a época em que se plantava fumo e

algodão utilizando o sistema de parceria, “os moradores, os meeiros tinham uma área

reservada para plantio de mandioca, feijão e milho. Essas três culturas de subsistência não

entravam nem na parceria nem na meia, eram deles” (depoimento do senhor Augusto Bezerra

em entrevista realizada dia 27 de novembro de 2009).

Sobre o beneficiamento do fumo produzido na Fazenda Caboclo, assim se refere o senhor

Augusto Bezerra:

O fumo era transportado de lá prá ser feito aqui em Bananeiras, aqui no

armazém daqui de casa. O fumo era todo transportado em carro de boi, era

dez a doze carro de boi, os carreiros vinham de manhã e traziam o fumo e a tarde voltavam pro Caboclo isso todos os dias. O fumo era trazido de lá in

natura, é na folha, para fazer aqui a corda, e depois de feita a corda do fumo

se colocava naquele sarilho chamado, colocado naquelas madeiras e voltava para o Caboclo para fazer o período de quaração, depurar dois a três meses

até ficar no ponto, até ficar no ponto. (depoimento do senhor Augusto

Bezerra em entrevista realizada dia 27 de novembro de 2009).

No que diz respeito à obrigatoriedade de comercialização da metade da produção do

meeiro com o proprietário, alegação feita pelos ex-moradores entrevistados, o senhor Augusto

Bezerra não confirma e informa que havia liberdade para a comercialização, como pode ser

visto no depoimento abaixo:

Você tinha meeiro de fumo vou dar aqui um exemplo bem prático compadre

Severino seu pai, então ele produzia dez rolos de fumo, cinco era meu, cinco

era dele. Ele não era obrigado a vender a mim, eu ofertava o meu preço se

você quiser vender a sua parte eu lhe vendo por tal preço vamos dizer a dez reais o quilo se ele não quisesse vender ele poderia vender a quem ele

quisesse, ele não era obrigado a vender a mim, entendeu como é? Ele não era

obrigado a vender. (depoimento do senhor Augusto Bezerra em entrevista realizada dia 27 de novembro de 2009)

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Além do agave e do fumo de rolo cultivados no sítio Caboclo, a pecuária também

representava uma importante fonte de riqueza para o proprietário do latifúndio. Essa atividade

era desenvolvida nas áreas adjacentes às cultivadas com lavouras. O morador do Sítio

Caboclo tinha a opção de participar da atividade pecuária nos mesmos moldes da produção do

fumo, ou seja, no sistema de parceria. Ele recebia do proprietário da fazenda um ou dois

bezerros para criar; não podendo, porém, deixá-los soltos. O gado tinha que ficar

permanentemente preso à corda; quando o bezerro estava no ponto de abate, era vendido e o

dinheiro apurado era dividido meio a meio, sendo que, assim como no caso do fumo, o gado

era avaliado pelo proprietário que também tinha a preferência de compra.

O senhor Augusto Bezerra fez várias menções às relações de trabalho existentes na

fazenda e às formas de uso do solo. Referindo-se ao tamanho da propriedade e às condições

de trabalho, ele afirma: “Ela media mais ou menos em torno de 3 mil hectares de terra e

abrigava 300 famílias aproximadamente. Essas famílias se dividiam entre meeiros de algodão

na parte do Curimataú, e meeiros de fumo na parte da serra” (entrevista realizada dia 27 de

novembro de 2009).

Ainda com relação às formas de trabalho e de uso da terra, ele assim descreve a

realidade vista do seu ângulo:

Então naquela época eram trezentas famílias meeiras de fumo e meeiros

de algodão. Então tinha nessa propriedade, se plantava fumo e algodão

em sociedade, em regime de parceria, em regime de meia, onde a parte, metade era do proprietário e metade do meeiro. O proprietário fornecia na

época, ele fornecia o dinheiro sem juros para o custeio da produção e

fornecia os equipamentos, naquele tempo não tinha trator era boi, o boi e a enxada. Então essa propriedade produzia aproximadamente

quatrocentas toneladas de algodão e produzia aproximadamente quarenta

mil hectares de fumo ano ou safra. (depoimento do senhor Augusto

Bezerra Neto em entrevista realizada dia 27 de novembro de 2009).

Com o declínio das lavouras comerciais, ocorreu uma expansão da atividade pecuária

na fazenda. A pastagem plantada, o capim e a algaroba substituíram as antigas áreas de

cultivo do algodão e de sisal na porção oeste da fazenda. Foi também introduzido o plantio de

cajueiro na porção mais úmida, antes cultivada com sisal e fumo (Ver croqui 2)

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Croqui 2 – Esboço elaborado com base em depoimentos colhidos na pesquisa de campo.

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Referindo-se à crise do sisal e à tentativa de ampliar a atividade pecuária na

propriedade, afirma o senhor Augusto Bezerra:

O sisal por sua vez foi sendo substituído pelas cordas sintéticas e conseqüentemente essa propriedade parou o seu rendimento. Então tinha uma

opção que era o gado, e meu pai que sucedeu o Major Augusto, o herdeiro, e

com a morte do Major Augusto essa propriedade foi herdada por Clóvis e meu

pai Mozart. Então eles tiveram a opção, não deixaram os moradores, uns foram embora por conta própria porque não tinha mais o que fazer e ficaram ainda

cento e sessenta moradores, e desses cento e sessenta meu pai fez o seguinte:

reservou uma área onde eles moravam, ou onde eles tavam: Caboclo, Raposa e Miguel para que eles trabalhassem para eles, onde iam plantar milho, feijão e

mandioca prá eles e reservar uma área de para criação de gado para os

proprietários. (depoimento do senhor Augusto Bezerra Neto em entrevista

realizada dia 27 de novembro de 2009). Pensamos na algaroba, na algaroba e chegou-se a plantar seiscentos hectares

de algaroba, mais a algaroba nessa região não é produtiva, e assim nós ficamos

sem opção nessa propriedade. A Paraíba até hoje está sem opção, até hoje o

governador falava na abertura de animais de João Pessoa, domingo próximo passado que a Paraíba depois perdeu o sisal, perdeu o algodão, perdeu o fumo,

perdeu outras culturas não recuperou (...) não teve substitutos ficou com

aquela cultura de subsistência, cultura de subsistência, mais cultura assim para industrialização nós não tivemos. Aqui por exemplo na grande Bananeiras

antigamente eram vinte e três engenhos de fabricação de rapadura e cachaça,

hoje só tem um funcionando que é o da Rainha. (depoimento do senhor

Augusto Bezerra Neto em entrevista realizada dia 27 de novembro de 2009).

A atividade canavieira nunca foi desenvolvida na propriedade, apesar dos proprietários

também serem donos de engenho. Isto porque as condições de clima e solo da fazenda não eram

propícias ao desenvolvimento de uma lavoura exigente em água e umidade como a cana.

A terra geralmente liberada para a produção de alimentos pelos moradores era, segundo

eles, geralmente exígua. Os solos pouco espessos com aptidão agrícola limitada e as condições

técnicas de produção rudimentares contribuíam para que a produção dos camponeses fosse

insuficiente para a reprodução/manutenção da família. Isto garantia ao proprietário uma mão de

obra que se submetia às relações de trabalho por ele estabelecidas. Por outro lado, a renda

oriunda da parceria na produção do algodão, do fumo e da pecuária e o salário obtido na

atividade sisaleira constituíam um complemento necessário à sobrevivência da família

camponesa.

Das lavouras de subsistência, as mais cultivadas pela comunidade eram o feijão

macáçar, o feijão mulatinho, a mandioca, o milho, a bata-doce e a fava. A mandioca era o único

produto beneficiado no local, seus subprodutos eram: a farinha, o beiju e a tapioca. Para o seu

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processamento, disponibilizava-se de uma casa de farinha, pertencente ao proprietário da

fazenda, que cobrava uma “conga”21

equivalente a 23% da farinha produzida.

Antes de ser assentamento quando seu Mozart Bezerra era o dono da casa de farinha ela tinha a capacidade de reter 23% de cada 100 kg de farinha que cada

morador fazia. (...) na época que seu Mozart era proprietário daqui, não saía

uma mandioca vendida no caminhão, nem em pensamento. Eu cansei de ver

essa casa de farinha aqui às vezes quando eu ia lá pro capão fazer cerca, quando eles chamavam para trabalhar, teve vez, não era toda vida, deu prá ver

mandioca do lado de fora da parede, as pessoas atrás de uma vaga e não tinha

para fazer a farinha e pagava 23%. (Renato Pedro – presidente da Associação dos Moradores do PA Nossa Senhora das Graças. Entrevista em 30 de out. de

2009)

A casa de farinha funcionava completamente com sistema manual, desde a moagem da

mandioca até a secagem da farinha no forno. A energia elétrica só chegou ao sítio Caboclo na

década de 1990, pouco antes do processo de desapropriação da propriedade.

Com o colapso das culturas do agave e do fumo, na década de 1970, e as sucessivas

secas que atingiram a região (secas de 1979-1983; 1993) prejudicando não só a atividade

agrícola como também a atividade pecuária, a propriedade sítio Caboclo ficou praticamente

reduzida à atividade de produção de alimentos para subsistência, desenvolvida pelos

camponeses que lá viviam há várias gerações. A terra perdeu o valor econômico para os

proprietários que, não encontrando outras alternativas para sua exploração, a colocaram à

disposição do Incra para efeito de desapropriação.

(...) com o advento dessas estiagens prolongadas, isso há dez anos atrás, o rendimento do gado não é um rendimento bom, principalmente numa terra

como a nossa. (...) Então se viu por bem, já que tinham cento e sessenta

famílias, que viveram em paz todo tempo, e se ofereceu, com um entendimento com o INCRA, para que o INCRA comprasse essa propriedade e

desapropriasse. Foi amigável, razão pela qual não houve conflito, porque não

tinha como meu pai, não ia expulsar cento e sessenta famílias e cercar; e aquelas famílias também ajudaram a construir essa propriedade. Então o

INCRA foi de uma forma amigável, fez a desapropriação amigável e deixou

cada família no seu lote lá, dividiu a propriedade em vários lotes e cada família

ocupou o seu lote. (depoimento do Sr Augusto Bezerra em entrevista realizada dia 27 de novembro de 2009)

3.2.2 O processo de desapropriação

O processo de desapropriação da Fazenda Caboclo teve início com uma solicitação

encaminhada ao Incra por uma comissão de agricultores com a interveniência da Comissão

21 Expressão utilizada para expressar a quantidade de farinha que cada camponês tinha que pagar ao proprietário de

casas de farinha pelo direito de usá-las e fabricar sua farinha. O sistema de “conga” ainda é muito utilizado nas

regiões da Mata e do Agreste paraibanos (MOREIRA e TARGINO, 1997).

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Pastoral da Terra (CPT). Como era interesse dos proprietários repassarem o imóvel ao Incra, o

processo se deu sem conflito.

Os 3.049,2790 hectares desapropriados distribuem-se por três municípios do Agreste

Paraibano, quais sejam Bananeiras, Solânea e Dona Inês. A fazenda deu origem a três

assentamentos rurais: o PA Nossa Senhora do Livramento, correspondendo à área da Fazenda

Caboclo localmente conhecida como sítio Olho D‟Água; o PA Nossa Senhora do Perpétuo

Socorro, correspondendo às áreas da propriedade conhecidas como sítios Raposa e Miguel; e o

PA Nossa Senhora das Graças, correspondendo às áreas denominadas localmente de sítios

Caboclo e Ovelha, recorte territorial objeto desta pesquisa (Ver Fig.6).

Ao PA Nossa Senhora das Graças foi anexada a área da antiga fazenda São José

(também conhecida como sítio Macacos) (Fig. 6), que também foi desapropriada pela INCRA e

repassada para 15 famílias de antigos moradores. Esse processo é narrado pelo senhor Augusto

Bezerra:

Temos ali um companheiro Zé, um vizinho. Com a desapropriação do Caboclo

então a propriedade de Zé Epitácio e Djalma Epitácio conhecida como Djalma

Nanó (...), então eles aproveitaram também a oportunidade e venderam também a parte dos Macacos

22 que é próximo, vizinho ao Caboclo ao INCRA.

Então hoje é uma área de assentamento com poucas opções, certo, e mais

pessoas aposentadas que residem lá, e mais foi uma coisa boa que ficou na mão daquelas pessoas que ajudaram a construir também aquela propriedade, os

próprios moradores. (depoimento do Sr Augusto Bezerra em entrevista

realizada dia 27 de novembro de 2009)

No que se refere à incorporação da Fazenda São José ao Assentamento Nossa Senhora

das Graças, esta se deu após a desapropriação daquele imóvel e a criação do Assentamento.

Segundo o depoimento da Sra. Josefa Araújo, antiga presidente da Associação do Assentamento

São José, a anexação se deu em virtude dos recursos que deveriam ser dirigidos pelo Incra ao

novo assentamento não chegarem à Associação e ficarem no PA Nossa Senhora das Graças, o

que complicava a vida dos assentados e do próprio assentamento. Por orientação da CPT, a

Associação do PA São José foi extinta e o assentamento se integrou ao PA Nossa Sra. Das

Graças.

Agente fundou uma associação quando foi desapropriada com as quinze

famílias, mas o INCRA, em termo de projeto, não mandava prá nossa associação, repassava prá associação Nossa Senhora das Graças. Aí eu fui até

a CPT, falei com a menina lá e ela disse que o melhor que eu poderia fazer era

dar baixa na associação, porque eu ia ficar pagando um dinheiro todos os anos sem utilidade nenhuma, porque todo projeto que o INCRA manda é prá

Associação Nossa Senhora das Graças, no Caboclo. Aí virou um assentamento

22 Refere-se à fazenda São José, também conhecida como sítio Macacos.

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só porque a associação, quando a gente fundou aqui era São José, mas o INCRA não quis aceitar por má vontade de trabalhar com a gente. (Sra. Josefa

Silva de Araújo, fundadora da Associação do ex-assentamento São José,

depois incorporado ao PA Nossa Senhora das Graças).

Segundo a entrevistada, eram 15 famílias de moradores que antes da desapropriação da

fazenda moravam e trabalhavam como meeiros, e no final da safra o patrão era sempre o grande

beneficiado, enquanto os trabalhadores ficavam com quase nada depois de pagar as despesas

efetuadas com a produção.

De acordo com o Sr. Augusto Bezerra, o INCRA pagou as benfeitorias da Fazenda

Caboclo à vista, e a terra nua pagou em Títulos da Dívida Agrária (TDA), resgatáveis em 20

anos. Assim, a Fazenda Caboclo foi desapropriada com base nos critérios estabelecidos pelo

Estatuto da Terra e ratificado pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei 8.629/93.

(...) o INCRA pagou uma parte em TDA, Título da Dívida Agrária que você

entende e esses títulos são resgatados em vinte anos, você passa vinte anos

para receber todo ano você recebe sem reajuste, o que é injusto sem reajuste, e

pagou uma parte das benfeitorias a vista fica retido vinte por cento pra qualquer eventual questão e depois nós damos continuidade ao andamento (...).

(depoimento do Sr Augusto Bezerra em entrevista realizada dia 27 de

novembro de 2009)

Documento consultado no INCRA dá conta de que foi paga uma indenização ao

proprietário pelas benfeitorias, em moeda corrente, no valor de R$ 259.393,79. Já a terra nua foi

paga com títulos da dívida agrária (TDA), como estabelecido no Estatuto da Terra e na

constituição de 1988, no valor correspondente a R$ 487.728,00. O valor total da propriedade foi

equivalente a R$ 747.121,79.

A forma de desapropriação adotada pelo INCRA não agradou aos proprietários,

particularmente no que se refere ao valor atribuído à terra nua, de apenas “duzentos e pouco

reais por hectare”, segundo o Sr. Augusto Bezerra Cavalcanti Neto. Ele afirma ainda que

(...) o INCRA fez uma avaliação irrisória e nós contestamos judicialmente, é

um direito que a lei nos dar de contestar, em não satisfeito contestar. Mas, essa

contestação não impede o andamento da desapropriação ela não tem efeito suspensivo. A desapropriação acontece e você vai contestar na justiça. E faz

doze anos que a gente luta e já ganhamos em todas as instâncias. O valor, a

gente queria um valor justo, para se ter uma idéia eles avaliaram o Caboclo,

propriedade onde você nasceu e conhece, em duzentos e pouco reais um hectare quantia irrisória, então nós contestamos e ganhamos na justiça. Agora,

como o INCRA tem direito a apelar, você sabe que a nossa justiça brasileira é

muito lenta; então: ganhamos aqui na Justiça Federal aqui em Campina Grande, ganhamos no Tribunal da 5ª região em Recife, ganhamos no Supremo

em Brasília, ganhamos em todas as instâncias o valor que se aproximasse do

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justo, tá certo? Eu não posso revelar esse valor por que é de família e não transitou em julgado, ainda, e pode prejudicar o andamento do processo (...)

(depoimento do Sr Augusto Bezerra em entrevista no dia 27 de novembro de

2009).

Se do lado dos ex-proprietários há queixas em relação ao preço da terra, do lado dos

antigos moradores há reclamação em relação ao fato das benfeitorias terem sido pagas à vista

pelo INCRA aos proprietários, sem levar em conta que muitas delas foram construídas pelos

moradores. São famílias de moradores antigos, alguns moram no lugar há 60 ou 70 anos, muitos

construíram suas próprias casas, plantaram as lavouras permanentes (cajueiro, mangueira, etc...)

e não tiveram nenhum direito à indenização.

Começaram medir as casas, contar os pés de pau e ninguém sabia de nada o

que estava acontecendo, ninguém sabia que a terra ia ser vendida. Aí quando

estabeleceu-se que a terra foi vendida pronto, já estava vendida e ninguém podia fazer nada. Aí foi tempo que Zilma

23 apareceu junto com o Padre Luis

24,

se eu não estou enganada, de Guarabira, gente boa. Zilma é gente boa, boas

propostas, mas não quiseram ela aqui dentro. (...) Ninguém sabia que iam

vender essa terra, quando a gente soube seu Mozart já tinha vendido a terra, nós estávamos vendidos, porque nós fomos vendidos. Não teve um que tivesse

direito a uma tampa de garrafa. (depoimento de Dona Maria Targino Muniz

em entrevista no dia 15 de outubro de 2009)

Os moradores da antiga Fazenda Caboclo passaram de moradores de condição: em uns

momentos, de meeiros, em outros, de moradores assalariados ou foreiros em outros,

dependendo sempre da necessidade do proprietário do latifúndio, para a situação de moradores

assentados.

A partir da desapropriação do latifúndio, toda a relação dos trabalhadores com a terra e

com o proprietário da fazenda foi esquecida, como se eles não tivessem vivido durante décadas

naquele lugar. Ao final do processo de desapropriação, eles foram tratados como se fossem

acampados, que não tinham nenhuma relação com aquela terra e, só passaram a ter, depois da

distribuição dos lotes. Toda a vida na antiga fazenda ficou para traz, inclusive o próprio nome

“Caboclo”, que deu lugar ao PA Nossa Senhora das Graças. Foram décadas trabalhando e

ajudando a construir a fazenda, como reconhece o proprietário em sua fala, por ocasião da

entrevista.

O entendimento por parte ex-proprietário da participação dos moradores na construção

da fazenda torna pertinentes as queixas de alguns assentados sobre a falta de indenização pelos

serviços prestados à fazenda, isto é, que foram desconsiderados tanto pelo proprietário como

pelo INCRA como sujeitos de um processo.

23 Membro da CPT que deu assistência aos trabalhadores. 24 Padre Luis Pescarmona da Diocese de Guarabira.

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Eu moro aqui há trinta e três anos, morei vinte e três anos dentro do capim,

trabalhava longe daqui. Aí foi tempo que disseram que a terra entrou prá

reforma agrária e a gente começou a trabalhar aqui, arrancamos o capim e começamos trabalhar. (...) A primeira reunião aqui foi com o sindicato, nós

não sabíamos de nada, o sindicato chegou e explicou que a terra tava em

reforma agrária e ia desapropriar prá nós. (...) Aqui era tudo de meia: o fumo

era de meia e o algodão era de meia. Metade era dele e a outra metade a gente vendia pra ele, não podia vender fora, tinha que vender pra ele do preço que

ele queria. (...) Às vezes sobrava alguma coisinha e às vezes não sobrava nada,

porque: se a gente plantava o fumo e botava estrume tinha que pagar; se botasse um trabalhador tinha que pagar; se tivesse uma galinha no terreiro

tinha que matar prá dar o povo prá fazer o fumo. (...) Não recebemos nada de

indenização. (D. Tereza Lucas, assentada do PA Nossa Senhora das Graças. Entrevista em 21 de agosto de 2010)

Os sujeitos cuja utopia se centrava na posse da terra foram tratados, no momento da

negociação da terra entre o proprietário e o Incra, como “objetos” e não estavam organizados o

suficiente para reivindicar os direitos que tinham enquanto sujeitos da história da construção da

fazenda.

Em entrevista, Dona Maria do Rosário Santos Miguel, assentada do PA Nossa Senhora

das Graças, se queixa de que a família trabalhou muito na fazenda e não conseguiu construir

nada para si antes da terra ser desapropriada. A casa onde mora foi um filho que vive fora que

mandou o dinheiro; e foi construída antes da desapropriação.

Antes de a propriedade ser vendida, passada para o INCRA, a gente já

trabalhava. Aí, quando chegou a vez de dividir a gente já tinha construído essa casa. Essa casa, foram meus filhos que construíram, foi um filho que me deu

que a gente morava lá no cajueiro numa casa muito fraca. Disseram que o

IBAMA não ia aceitar a gente ficar morando lá então meu filho mandou o dinheiro a agente construiu essa. (Dona Maria do Rosário Santos Miguel,

assentada. Entrevista em: 15 de agosto de 2010)

A transformação da Fazenda Caboclo em assentamentos de reforma agrária representa

uma mudança não só na forma de exploração da terra como nas formas de trabalho e de vida

dos antigos moradores da fazenda. Um território de exploração deu lugar a um território de

Esperança? Que novas relações de poder e/ou de autonomia se estabeleceram após a criação do

assentamento? Que novos atores sociais participaram e participam até hoje desse novo

processo? Como se dá o empoderamento dos novos protagonistas construtores desse novo

território? Estas e outras questões serão abordadas no capítulo seguinte, com base no estudo de

caso do Assentamento Nossa Senhora das Graças.

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CAPÍTULO IV

A CONSTRUÇÃO DE UM TERRITÓRIO DE ESPERANÇA: O

ASSENTAMENTO NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS

Dos 3.049,2790 hectares da Fazenda Caboclo desapropriados pelo INCRA, 619,5942

hectares (20,3% do total) deu origem ao Projeto de Assentamento Nossa Senhora das Graças. O

decreto de desapropriação do imóvel data do dia 13 de novembro de 1997. A data da imissão de

posse dessa parte desapropriada para constituir o PA Nossa Senhora das Graças foi 05 de

novembro de 1998, ou seja, um ano depois da desapropriação. O mandado de imissão de posse

de nº 4668 foi assinado pelo Juiz Rogério de Meneses Fialho Moreira, da 4ª Vara da Justiça

Federal de Primeira Instância na Paraíba (ANEXO 01). O Projeto de Assentamento foi criado

em 09 de novembro de 1998 e a publicação no Diário Oficial da União se deu em 17 de

novembro do mesmo ano.

A assembleia de formação da primeira direção e a aprovação do Estatuto aconteceu dia

22 do mesmo mês e ano (ANEXO 02). Dela participaram a CPT, seção de Guarabira, com a

presença importante do Padre Luiz Pescarmona e técnicos do INCRA que contribuíram com a

discussão e definição do processo de distribuição dos lotes, da delimitação das áreas de reserva,

etc.

No caso da Fazenda São José, a desapropriação foi efetuada em 1º. de junho de 1999, e

a imissão de posse se deu em 27 de outubro do mesmo ano. Este Assentamento possuía 200,763

hectares que, somados aos 619,5942 hectares originais do PA Nossa Senhora das Graças,

resultou na ampliação da área do assentamento para 820,3572 hectares25

. Sua configuração

atual pode ser visualizada através da figura 17.

Para os assentados, a constituição propriamente dita do Assentamento se deu com a

fundação da Associação dos Trabalhadores Rurais do Projeto de Assentamento Nossa Senhora

das Graças, em dezembro de 1997.

25

É importante destacar que existem controvérsias quanto a área ocupada pelo Assentamento. Nos mapas

elaborados pelo INPE com base em imagens de radar consta como área do PA 833,1621 hectares.

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Fig. 17 – Configuração territorial do PA Nossa Senhora das Graças

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Aí, depois que houve a posse de terra, que eles venderam para o INCRA, a gente teve várias reuniões. O INCRA veio aí, a CPT veio aí, o pessoal da

igreja, que o padre Luiz de Guarabira que era o presidente da CPT na época foi

quem abriu a porta, foi quem veio aqui, disse como era prá fazer tudo direito, como era a divisão, se ia ter uma associação se a população ia ser associada

(depoimento do Sr. Renato Pedro – presidente da Associação dos Moradores

do PA Nossa Senhora das Graças. Entrevista em 30 de out. de 2009).

Foram assentadas 47 famílias oriundas da Fazenda Caboclo26

e mais 15 da Fazenda São

José, totalizando 62 famílias27

. Coube a cada família um lote de 6,5 hectares, totalizando 403

hectares. Os 417,3572 hectares restantes corresponde a áreas de uso comunitário e a uma

reserva florestal.

Como havia uma concentração maior de moradores no trecho centro-sul do

assentamento, que corresponde ao antigo sítio Caboclo, o INCRA, segundo os moradores,

tentou descentralizar as famílias para facilitar a distribuição dos lotes. A existência de uma rede

elétrica já instalada e o desejo dos trabalhadores de continuar nos locais onde já viviam levaram

o INCRA a modificar a proposta inicial. O processo de distribuição das terras levou em conta

esse desejo dos moradores. Assim, cada família ficou com três hectares nos arredores da casa e

3,5 hectares na área desabitada, que correspondia à antiga gleba Ovelha da Fazenda Caboclo

(Ver Fig.17). Segundo os assentados entrevistados, o tamanho da família não influenciou no

processo de distribuição dos lotes.

4.1 Aspectos naturais e uso do solo do Projeto de Assentamento Nossa Senhora das Graças

Com relação aos aspectos naturais, o assentamento apresenta as mesmas características

da Fazenda Caboclo. Mapas digitais obtidos junto ao Incra-PB, elaborados pelo INPE com base

em imagens de radar de resolução espacial de 30 metros apresentam um relevo movimentado

com áreas de forte declividade e altitudes que variam de 230 a um pouco mais de 530 metros

(Ver Fig. 18, 19 e 20).

26

As demais famílias de moradores do antigo imóvel foram assentadas nos dois outros PAs criados a partir da

desaproprieção da propriedade. 27

Durante a pesquisa de campo constatamos a existência, em 2010, de 64 famílias no assentamento, duas a mais do

que as que foram assentadas.

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Fig. 18 – Relevo forte ondulado da Fazenda Caboclo.

Fonte: Incra-PB

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Fig. 19 – Fazenda Caboclo – Mapa de declividade

Fonte: Incra–PB

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Fig. 20 – Fazenda Caboclo – Mapa de topografia.

Fonte: Incra-PB

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Essa característica da topografia do Assentamento deve-se à sua localização

sobre o planalto da Borborema. O mapa de declividade em 3D realça a presença de

áreas serranas com vertentes a sotavento e a barlavento (Ver Fig. 18).

No que se refere ao uso do solo, uma imagem detalhada obtida junto ao INCRA

(Fig. 21) permite identificar:

a) uma área comunitária. A área comunitária localiza-se no extremo sul do

assentamento, abrange 212,7826 hectares a, onde são encontrados os cajueiros e o pasto

nativo (Ver Figs. 21 e 22). O espaço ocupado pelos cajueiros corresponde a 49 hectares

(23% do total da área comunitária). Trata-se justamente da área plantada pelos

moradores da fazenda, com cajueiros ainda da época do ex-proprietário, numa tentativa

de encontrar uma cultura para substituir o fumo e o agave que haviam cessado a sua

produção. Com a transformação da propriedade em assentamentos rurais, essa área

ficou no PA Nossa Senhora das Graças. Desde a criação do PA, os assentados discutem

em assembleia o que fazer com ela. Houve várias tentativas para envolver toda a

comunidade na manutenção e uso coletivo da mesma, tanto no que se refere ao caju

quanto à pastagem, mas nunca deu certo. Na hora de juntar o coletivo para limpar o

terreno e cuidar do cajueiro, poucas pessoas se interessavam; as demais diziam que não

tinham interesse e, até as interessadas, acabavam desistindo. O fato é que a área que

deveria ser comunitária onde se encontram os cajueiros, ficou praticamente abandonada

pelos assentados e passou a ser ameaçada de ocupação por outras comunidades

vizinhas. Recentemente, já em 2010, surgiu a ideia de se dividir o espaço entre os

assentados de forma que cada família assumisse para si a responsabilidade de cuidar da

área que lhe coubesse. Esta proposta foi discutida em várias assembleias até que se

chegou ao consenso e ela foi aprovada.

b) uma área de reserva florestal. Uma área de reserva florestal é encontrada na

porção extremo oeste do assentamento, abrangendo 71,1 hectares (Ver Figs. 21, 23, 24,

25, 26 e 27).

c) uma área de reserva sob o controle do IBAMA. Uma pequena área de reserva

florestal de controle do IBAMA situa-se na porção noroeste do assentamento (Fig. 21) e

abrange 4,1817 hectares.

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Fig. 21 – Formas de uso do solo no PA Nossa Senhora das Graças.

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Fig. 22 – PA Nossa Senhora das Graças. No primeiro plano, área cultivada com alimentos. No segundo

plano, trecho da área comunitária com pastagens e cajueiros. Arquivo Manoel Vieira da Silva, 2010.

Fig. 23 – Área de Reserva Florestal no 3º. Plano e Vale do Rio Curimataú no 2º. E no 3º. Plano. PA

Na. Sra. Das Graças. Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

Rio Curimataú

Rio Curimataú

Rio Curimataú

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Fig. 24 – No primeiro plano Reserva Florestal do PA N. Sra. das Graças; no segundo plano à esquerda

o PA Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e no terceiro plano o vale do rio Curimataú. Arquivo:

Manoel Vieira da Silva, 2010.

Figs. 25, 26 e 27 – PA. N. Sra. das Graças. Detalhes da área de reserva florestal.

Arquivo Manoel Vieira da Silva, 2010.

Área de Reserva Florestal

PA N. Sa. Do

Perpétuo Socorro

Socorro

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d) cinco tanques. Os tanques (Ver Fig. 21), foram construídos antes da desapropriação

da propriedade, utilizando as áreas abaciadas dos afloramentos de rocha cristalina. No PA

Nossa Senhora das Graças, localizam-se 5 desses tanques, sendo um ao norte do PA, a leste

da reserva do Ibama, com 0,6005 hectares e quatro na porção mais central do assentamento,

com três ocupando uma área de 2,4754 hectares (Ver Figs. 28 29 e 30) e um ocupando uma

área de 1,5098 hectares.

Figs. 28, 29 e 30 – PA N. Sra. das Graças. Detalhes dos tanques nos lajedos que servem como

reservatórios de água doce. Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

e) um açude. Um pequeno açude na porção sudeste com 0,7979 hectares. Este açude

fica localizado na porção leste do assentamento, nas proximidades do cajueiro;

f) uma ampla área na porção nordeste do assentamento, que ainda não foi loteada (Ver

Fig. 21). Trata-se do antigo PA São José onde até hoje o INCRA não fez a delimitação dos

lotes. Os assentados permanecem nas antigas áreas de moradia em torno da qual praticam a

atividade agropecuária;

g) as áreas loteadas ocupadas com moradias e agricultura alimentar e com moradias,

agricultura e pastagens (Ver Figs. 21, 31,, 32, 33, 34 e 35);

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Fig. 31 – PA N. Sra. das Graças. Produção consorciada de feijão milho e mandioca nos lotes.

Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

Fig. 32 – PA N. Sra. das Graças. Lote com moradia, produção de alimentos e pastagens.

Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

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Fig. 33 – PA N. Sra. das Graças. Lote com moradia, produção de feijão .

Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010

Fig. 34 – PA N. Sra. das Graças. Lote com produção alimentar diversificada.

Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

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Fig. 35 – Vista panorâmica do PA Nossa Senhora das Graças com a distribuição das casas nos lotes e

no seu entorno as áreas de cultivo agrícola alimentar e de pastagens.

Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

h) afloramentos de cristalino dispersos por quase todos os lotes (Ver Figs. 21 e 36).

Além de um relevo movimentado, o assentamento apresenta outras limitações à atividade

agrícola: a baixa qualidade dos solos e a presença de áreas sem solo, ou seja, de manchas de

afloramento cristalino. A presença dessas áreas na maioria dos lotes (Ver Fig. 36) acaba por

reduzir o espaço propício à atividade agrícola no interior dos mesmos

Fig. 36 – Afloramento cristalino num dos lotes do PA Nossa Senhora das Graças.

Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

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4.2 Perfil das famílias assentadas

As famílias assentadas são em grande parte compostas por chefes de família idosos.

Há também um número significativo de casais em idade produtiva que estão mais

concentrados na faixa etária dos 30 a 55 anos. É grande o número de crianças e adolescentes.

Constatou-se um forte processo migratório entre os jovens. Grande parte dos filhos só

espera completar os 18 anos para tirar os documentos e partir em busca de emprego nos

maiores centros urbanos. Já existe inclusive uma rede de amigos e familiares que partiram há

mais tempo e que permanecem em contato com o assentamento, garantindo emprego no local

de destino para os filhos dos assentados. As atividades que desenvolvem no local de destino

são principalmente a de operários da construção civil e vigilantes (no caso dos jovens do sexo

masculino) e o emprego doméstico para as jovens.

O destino dos jovens varia desde os grandes centros urbanos do país, como Rio de

Janeiro e São Paulo, até a sede dos municípios vizinhos e a capital do estado da Paraíba.

A migração dos jovens é atribuída à força de atração exercida pela cidade no que se

refere às oportunidades de emprego, ao incentivo dos parentes e amigos distantes e à falta de

valorização, pelos jovens, do trabalho no campo. Isto sem falar que, dada a pequena dimensão

dos lotes, torna-se muito difícil para os filhos dividir o espaço de vida e de trabalho com os

pais e garantir a sobrevivência das novas famílias que se constituem.

4.3 A organização da produção e do trabalho no PA Nossa Senhora das Graças

Ao contrário do tempo da Fazenda Caboclo, quando a produção de alimentos era

relegada a um segundo plano e limitada a exíguas áreas de roçado e a maior parte da

propriedade era ocupada com culturas comerciais (voltadas para o mercado interno e externo)

e com a atividade pecuária, hoje é ela a base da organização produtiva do assentamento.

Conforme depoimento dos moradores, a produção agrícola do PA está organizada com

base em quatro produtos principais: a mandioca, o feijão-macáçar, o feijão mulatinho do tipo

carioquinha e o milho.

A mandioca é a principal cultura e sua importância relaciona-se ao fato dela se

constituir na principal fonte de renda monetária das famílias assentadas. Além disso, os seus

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subprodutos, a farinha e a goma, estão na base da alimentação de todas as famílias e o

excedente também é comercializado.

Além desses produtos, cultiva-se também fava, macaxeira, inhame, jerimum, batata

doce e frutas, tais como a banana, o mamão e a pinha (Ver Fig. 37), esta última presente em

muitos lotes.

Fig. 37 – PA. Nossa Senhora das Graças. Pinha coletada por assentada.

Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

O caju que já se encontrava plantado na propriedade antes de sua transformação em

assentamento permanece na área de uso coletivo e também é encontrado em todos os lotes. O

fruto é pouco valorizado pelos assentados e o seu valor econômico está na castanha que é

comercializada.

Os instrumentos de trabalho utilizados na atividade agrícola são todos manuais:

(enxada, foice e facão etc.) (Ver Fig. 38). Das 20 famílias entrevistadas, apenas uma aluga

eventualmente um trator para preparar a terra, pagando R$40,00 reais pela hora. Ainda se usa

métodos arcaicos no manejo da terra, como as queimadas e coivaras.

Não utilizam herbicida para limpar o mato; trabalho é feito manualmente. Das famílias

entrevistadas, oito, ou seja, 40% usam algum tipo de veneno, geralmente para matar formiga.

Dos assentados entrevistados, poucos criam algum tipo de animal como boi, porco,

cabrito e/ou outros como galinhas, por exemplo, e são raros aqueles que possuem um pequeno

curral e/ou cocheira.

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Fig. 38 – O uso da enxada, um dos instrumentos mais utilizado para a capinação no

assentamento Nossa Senhora das Graças. Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

No que se refere aos equipamentos ligados ao beneficiamento da produção agrícola, só

existe no assentamento uma casa de farinha muito antiga, com mais de 50 anos, que

corresponde a uma das três que já existiam desde a época da fazenda e se mantém com sua

estrutura inicial à qual foi acrescentada apenas um terraço lateral (Ver Fig. 39).

Fig. 39 – PA N. Sra. das Graças. Casa de Farinha.

Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

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Depois de criado o assentamento, foi adquirido mais um forno, o que tornou seu

espaço interno mais apertado. Nas assembleias da associação (Ver Figs. 40 e 41), os

assentados vêm insistindo na necessidade de se ampliar o espaço da casa de farinha, para

melhorar suas condições de funcionamento e acomodar melhor os usuários.

Figs. 40 e 41 – Assembléia na sede da Associação Dos Trabalhadores Rurais do PA N. Sra. das

Graças. Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

A energia elétrica foi introduzida na área antes da criação do Assentamento, através do

Projeto COOPERAR. Segundo o senhor Augusto Bezerra:

(...) eu era prefeito aqui de Bananeiras e consegui junto ao governador

Maranhão através do Projeto COOPERAR recursos, na época, de dois

milhões de reais. Isso há seis anos atrás era significativo, e eletrificamos todo município de Bananeiras. Foi 100% do município de Bananeiras

eletrificado não foi só a Fazenda Caboclo não, foi todo município de

Bananeiras nem uma casa sequer ficou sem eletrificação. (...) quando a fazenda foi desapropriada a eletrificação não entrou no orçamento por que

foi feito com o dinheiro do COOPERAR vinculado ao governo do Estado.

(...) foi uma conquista nossa na época que ele tinha um compromisso com o povo aqui se nos vencêssemos a eleição de eletrificar todo município de

Bananeiras nós vencemos as eleições e cumprimos a promessa eu cumpri a

minha parte e Zé Maranhão governador cumpriu a dele. É Zé Maranhão

tinha aquela história de apagar o ultimo candeeiro da Paraíba... E apagamos o último candeeiro, inclusive eletrificamos toda região e toda casa. Veja bem

toda casa porque na época, na época o COOPERAR só dava até na porta da

casa a instalação interna a de dentro de casa as pessoas teve que comprar então eu fiz um acordo com Maranhão, Maranhão dava a de fora e eu dava a

parte de dentro da casa: três bicos de luz e uma tomada. (entrevista realizada

dia 27 de novembro de 2009).

Com a chegada da energia elétrica, a casa de farinha foi eletrificada e os fornos e

demais equipamentos passaram a funcionar com energia elétrica (Ver Fig. 42).

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Fig. 42 – PA N. Sra. das Graças. Forno e sistema elétrico para a secagem da massa e sua

transformação em farinha. Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

O processo de trituração da mandioca também era feito manualmente, usava-se uma

roldana (Fig. 43) que era movimentada por uma ou duas pessoas para fazer girar o rodete que

se localiza dentro do triturador (Ver Fig. 44). Hoje essa roldana é apenas uma peça decorativa

(Fig. 43) e em seu lugar se utiliza um motor movido a eletricidade. Depois de triturada a

mandioca, a massa é colocada na prensa (Ver Fig. 45) para enxugar. Essa prensa funciona

manualmente, ou seja, movida pela força humana.

Fig. 43 – Roldana manual até a década de 80 Fig. 44 – Triturador de mandioca.

Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

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Fig. 45 – Prensa Utilizada Na Casa De Farinha Para Enxugar A Massa.

Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

A produção de farinha é realizada pela mão de obra familiar, dividindo-se as tarefas de

acordo com a necessidade de mão-de-obra de cada etapa da produção e a capacidade física

dos membros da família. Geralmente os homens se encarregam das etapas mais pesadas,

como a coleta da mandioca no campo e o transporte para a casa de farinha. Já o descasque é

feito particularmente pela mão de obra feminina. É um momento de encontro solidário e do

fazer coletivo (Ver Fig. 46). Soares (2007) afirma que:

A produção das Casas de Farinha começa muito cedo, ao nascer do sol e

se estende até o entardecer. Tem início celebrado com o cantarolar e as falácias da mão-de-obra feminina, que munidas de uma boa faca amolada

se preparam para a função da raspa, etapa que influencia todo o

andamento da farinhada. Se houver qualquer atraso neste estágio, todos

os outros procedimentos seguintes estão comprometidos (SOARES, 2007, p.138).

Constatamos na pesquisa de campo que até as crianças pequenas participam do

processo produtivo, inclusive desenvolvendo atividades perigosas como o descasque da

mandioca usando a faca peixeira (Ver Fig. 47). Embora a produção da farinha e de outros

derivados da mandioca seja uma tradição da família camponesa, a participação de crianças

numa etapa de trabalho que apresenta sérios riscos de acidente deve ser objeto de discussão da

comunidade para promover a sua erradicação.

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Fig. 46 – Trabalho das mulheres no interior da casa de farinha.

Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

Fig. 47 – Trabalho das crianças descascando mandioca no interior da casa de farinha.

Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

Na época da Fazenda Caboclo, os moradores eram obrigados a produzir a farinha e

outros derivados da mandioca nas casas de farinha da propriedade e pagavam uma renda

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“conga” ao proprietário equivalente a 25% da sua produção. Quando o assentamento foi

constituído, os assentados em assembleia decidiram que o valor da conga seria de 15% e que

este recurso se destinaria a cobrir os custos de energia, de manutenção dos equipamentos e de

melhorias da casa de farinha. Ficou decidido ainda que ninguém era obrigado a transformar

sua produção na casa de farinha. Inclusive, alguns assentados preferem vender a mandioca in

natura.

Aí a gente, através de uma assembleia, a população reunida, aí a CPT perguntou: como é que vocês vão fazer agora com a casa de farinha sobre a

compra da produção da mandioca? Aí foi colocado em ata, a comunidade fez

um acordo de ficar 15% e esses 15% permanecem. A pessoa que faz a sua farinha lá paga 15% e até aqui a comunidade junta. Não empataram e nem

impede das pessoas venderem sua mandioca fora, por que aqui sai mandioca

mais para fora do que farinha feita na casa de farinha. (...) A farinha que é recebida como conga é vendida e o dinheiro é usado para pagar a energia e

fazer a manutenção da casa de farinha, mas não dá para se fazer a reforma

que está necessitando (depoimento do Sr. João Paulino, administrador da

casa de farinha).

Já o beneficiamento do feijão é manual e realizado pela família. A prática da debulha

do feijão-macáçar, de certa forma, funciona como uma terapia ocupacional, também chamada

laborterapia, pois possibilita a reunião da família, proporcionando uma boa conversa enquanto

trabalham (Ver Fig. 48). Por isso, essa atividade é realizada principalmente à noite ou aos

domingos, ou seja, nos momentos de folga.

Fig. 48 – PA N. Sra. das Graças. Processo de debulha do feijão pela família.

Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

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A comercialização da produção se dá de duas formas: diretamente nas feiras de

Solânea e Bananeiras e através do sistema de atravessador. Nas feiras livres, os assentados

vendem a farinha e o excedente da produção de alimentos. A mandioca que não é processada

na casa de farinha é comercializada diretamente com o atravessador no próprio lote. Segundo

os entrevistados, a falta de transporte dificulta a venda de sua produção diretamente na feira

de Solânea, onde eles vendem seus produtos. Por isso, muitos se veem obrigados a repassar a

produção para atravessadores no próprio lugar, mesmo tendo prejuízo.

O trabalho na atividade agrícola é essencialmente familiar. Das 20 famílias

entrevistadas, apenas uma contrata mão-de-obra assalariada durante o ano todo. Quatro

famílias contratam mão-de-obra assalariada apenas por um ou dois dias, para fazer plantação

ou limpa, quando necessário. No período da realização da pesquisa, uma diária variava entre

R$ 10,00 e R$ 15,00.

Quando perguntamos se existe ajuda mútua entre os assentados, apenas um

entrevistado afirmou que sim, “há troca de dias de serviços”; os demais afirmaram que não,

que ali “é cada um por si e Deus por todos”.

4.4 Da submissão ao latifúndio à submissão ao Estado e ao capital financeiro

Após a desapropriação da Fazenda Caboclo e a criação da Associação, exigência do

INCRA, os novos assentados passaram a viver um novo momento, no qual as relações vão se

dar não mais com o proprietário, mas com o Estado, através do INCRA, do Banco do

Nordeste do Brasil (BNB) e de outras instituições governamentais.

Essa relação foi marcada inicialmente pela exigência do INCRA de se criar a

Associação dos Trabalhadores do PA para, através desta, se consolidarem as ações

subsequentes à desapropriação.

Criada a associação, a primeira ação do INCRA foi o repasse dos recursos do crédito

habitação, que foi utilizado pelos assentados para promover melhoria nas residências ou para

construir novas habitações. À exceção de uma ou outra, todas as casas antigas foram

substituídas por casas novas (Ver Figs. 49 e 50).

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Figs 49 e 50 – Casa antiga da época da fazenda e casa nova construída com recursos do crédito

habitação. Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

Outras ações foram desenvolvidas através de políticas públicas que beneficiaram a

comunidade. Destaca-se a construção das cisternas de placa (Ver Figs. 50, 51 e 52) em todas

as residências, através do Programa 1 Milhão de Cisternas. As cisternas foram construídas

utilizando a mão-de-obra das famílias. Muitas construíram com recursos próprios uma

segunda cisterna para garantir o abastecimento da família o ano inteiro.

Fig. 51 – Cisterna de placa construída pelo programa 1 Milhão de Cisternas.

Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

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Fig. 52 – Casa com duas cisternas de placa, uma construída pelo programa 1 Milhão de Cisterna e

outra construída com recursos do próprio assentado. Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

Além do crédito habitação, os assentados também têm acesso ao crédito de custeio e

ao crédito investimento obtidos através de financiamentos junto ao Banco do Nordeste do

Brasil, através do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF).

Todos os entrevistados já tiveram acesso aos créditos do PRONAF e conseguiram

empréstimos bancários sem muita dificuldade. Segundo eles, o grande problema é que o

dinheiro destinado ao plantio é liberado pelo banco fora do prazo. O atraso na liberação dos

recursos prejudica os trabalhadores, pois sempre chega após o período de plantio. Daí a

dificuldade que alguns têm tido para pagar o empréstimo quando chega o tempo de quitar a

dívida.

Hoje o que nós temos aqui é dívida em banco, sem ter direito de pegar num

centavo. Eu mesmo, minha conta é nove mil e oitocentos, fora a terra, todos

os anos tem que pagar ao banco, tire de onde tirar. Todo mundo aqui tem que pagar ao banco. Faz três meses que eu, para não ver tão prejudicada, chegou

uma carta pra mim do banco, eu paguei trezentos e dezoito. Eu fui ao banco

do Brasil, tirei dinheiro da minha aposentadoria, deixei de pagar outras

contas e paguei. Mandaram me chamar, eu fui lá, minha conta tava em trezentos e oitenta oito reais. E o nome no SPC, que o próprio banco botou,

porque eu não paguei uma parcela, porque o papel não chegou em minha

mão. Mas não é só o meu não, tem muita gente daqui com o nome no SPC. Tem gente aqui que, quando chega o final do ano, não compra um quilo de

carne para poder pagar ao Banco do Nordeste. (Dona Maria Targino Muniz:

entrevista em 15 de outubro de 2009).

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Além de crédito de custeio para o plantio e para compra de gado, os assentados

também têm acesso ao crédito investimento que utilizam na aquisição de estacas, arame e tela

para estruturar os lotes para a criação de animais. O acesso ao crédito se dá por intermédio

dos técnicos que dão assistência ao assentamento. Os moradores não pegam com dinheiro,

apenas assinam o contrato (quando sabem assinar o nome e, quando não sabem, usam a

digital).

Atualmente os assentados vivem sob pressão e medo de perder a terra. Os mesmos

técnicos encarregados de intermediar os empréstimos fazem pressão para que os assentados

paguem as dívidas.

É uma dívida em cima da outra, quando você pensa que paga uma tem outra

(...) e o presidente (da Associação) disse que se nós não pagarmos quem vai

ficar com o título da terra é o banco. Como é que nós podemos dizer que temos alguma coisa aqui dentro? (Dona Maria Targino Muniz: entrevista em

15 de outubro de 2009).

As assembleias para discutir esse assunto são as mais agitadas, pois são vários os

recados passados pelos técnicos, em nome do Banco do Nordeste: “se não pagar vai pra

justiça”; “o banco vai tomar a terra”; “tem um assentamento que os assentados não pagaram e

estão respondendo na justiça”.

Outro fato preocupante é que os assentados só sabem quanto foi o valor do

empréstimo, mas não sabem quanto vão pagar e nem quando vão terminar de pagar. Só no

final do ano, quando recebem um boleto do Banco, é que tomam conhecimento do valor a ser

pago naquele momento.

Ao “receber” a terra, o crédito habitação, o crédito para custeio e o crédito para

investimento, o assentado deixa de ser um morador de condição numa relação de submissão

ao ex-proprietário da terra e passa a ser um “assentado de condição”, uma vez que assume

uma relação de submissão ao Estado. Este, por sua vez, além repassar a terra e os

empréstimos, o que gerou o endividamento dos assentados, procura dar acompanhamento

técnico aos trabalhadores com o objetivo de qualificá-los no sentido de possibilitar o aumento

da produção e, consequentemente, a renda para garantir a sua sobrevivência e o pagamento

dos juros referentes aos empréstimos.

No que se refere à assistência técnica para a agricultura, no início, logo após a

implantação do PA, a comunidade foi assistida pelos técnicos do próprio INCRA e do projeto

Lumiar. O projeto Lumiar foi criado durante o primeiro Governo de Fernando Henrique

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Cardoso, com o objetivo de “orientar as famílias assentadas na implantação e

desenvolvimento de culturas e pastagens, criação de animais e introdução de novas

tecnologias, por meio da contratação de técnicos escolhidos pelos próprios assentados”28

.

Com o fim do projeto Lumiar, os técnicos do Incra continuaram dando apoio técnico ao

assentamento. Essa assistência é fornecida quando a comunidade solicita através da sua

Associação.

As políticas adotadas para incentivar a produção no assentamento vão desde a oferta

de cursos de capacitação como: vacinação de animais, produção de doce caseiro e pintura de

tecido, até o incentivo para o cultivo de lavouras que possam servir de matéria-prima para a

indústria, tais como: mamona, girassol e caju.

Com base nas informações dos assentados, apenas uma moradora tem colocado em

prática o que aprendeu no curso de doces caseiros. Ela produz doce das frutas existentes no

lote e vende tanto para a comunidade como na feira de Bananeiras, onde mantém um banco

com alguns produtos trazidos do assentamento, sendo que o principal é o doce (Ver Fig.53),

A feira de Bananeiras acontece às sextas-feiras e é abastecida com muitos produtos

vindos dos assentamentos, trazidos pelos produtores, que os expõem seus produtos e vendem

sem a presença de atravessadores.

Fig. 53 – Ponto de venda de doce caseiro de uma assentada do PA N. Sra. das Graças na feira livre de

Bananeiras. Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

28

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/publi_04/COLECAO/99MENS3F.HTM Acesso em: 18 fev. 2011.

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4.5 Atuação de outros agentes externos

Um outro agente externo que atuou no Assentamento foi uma cooperativa denominada

de Cooperativa dos Profissionais Técnicos da Agricultura Familiar (CAPTAR). A CAPTAR

durante algum tempo, prestou assessoria técnica aos assentados, desenvolvendo projetos e

intermediando a relação entre aqueles e o Banco do Nordeste para terem acesso ao Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). O afastamento da CAPTAR

se deu em parte pelo descontentamento dos assentados no que se refere à gestão dos recursos

obtidos por um projeto para aquisição de animais. Segundo os entrevistados, a cooperativa

não repassou os recursos do projeto e se encarregou da aquisição dos animais. Só que os

animais adquiridos foram comprados a preço muito alto em relação à qualidade dos mesmos.

Em outras palavras, os animais comprados valiam muito menos e eram de qualidade muito

inferior ao valor que foi pago. A CAPTAR deixou de dar apoio técnico ao assentamento em

2006.

De 2009 a 2010, os assentados foram assistidos na elaboração e execução de projetos

por técnicos da Assessoria de Grupo Especializado em Assistência Técnica (AGENTE).

No que tange à presença de movimentos sociais no assentamento, destacam-se o

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bananeiras e a CPT-Guarabira. O STR só teve atuação

junto aos trabalhadores durante o processo de intermediação entre o proprietário e o Incra

para a desapropriação da fazenda sítio Caboclo. A CPT acompanha os trabalhadores desde o

processo inicial que desencadeou na desapropriação do imóvel até os dias atuais, ajudando na

organização e mobilização, na criação da associação e nas discussões sobre as decisões de

ordem coletiva que precisam ser tomadas. Sempre que os assentados precisam de uma

orientação, seja para participar de algum projeto, seja para tomar alguma decisão de interesse

do conjunto da comunidade, costumam solicitar a presença e o apoio da CPT, que participa

das assembleias e colabora em tudo que é possível.

4.6 Condições de vida, renda e sociabilidade

Com a desapropriação e o repasse das terras para os moradores, a condição de vida dos

mesmos, segundo os entrevistados, melhorou muito. Eles deixaram de ser “sujeitos” de um

patrão e perderam o medo de ter que ser obrigados a sair da terra segundo a vontade do

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proprietário. “Hoje, o pouco que conseguimos colher é da família, não somos obrigados a

repartir com ninguém e ainda podemos vender quando e a quem bem quiser”, afirma um dos

assentados. Embora o que se vende não seja muito, pois o excedente é relativamente pequeno

e dá apenas para manter as necessidades básicas das famílias e comprar algumas sementes

para plantar no início das chuvas, eles consideram que vivem melhor do que no tempo da

fazenda.

Nas conversas com os assentados, é visível a satisfação no semblante deles devido as

mudanças ocorridas após a desapropriação da terra. “Aqui está todo mundo rico” afirma o Sr.

Antonio Augusto, numa conversa durante o momento que debulhava feijão-macáçar no

terraço da casa, juntamente com a família. Nesse momento da conversa, indagado pelo

pesquisador sobre o que iria fazer com aquele feijão, ele respondeu: “Vou guardar todinho

para comer com a família.” Essa afirmação com tanta segurança detectada no seu semblante

revela a satisfação de não ter a obrigação de dividir com o ex-patrão (como ele denomina), a

safra que produziu com o esforço da família.

Quanto aos bens adquiridos após a criação do PA, quatro dos entrevistados possuem

um automóvel de passeio que, segundo eles, não serve como transporte de carga. As outras

famílias possuem moto ou bicicleta.

Das famílias entrevistadas, todas possuem aparelho de TV e antena parabólica. Outros

bens mais comuns são: o fogão a gás, a geladeira, o rádio e o DVD. Mas registrou-se até

máquina de lavar e computador. O quadro a seguir mostra os percentuais da população

entrevistada que possui eletrodomésticos.

Eletrodoméstico (%)

Fogão a gás 85,7

TV 85,0

Antena parabólica 85,0

Geladeira 71,4

Rádio 71,4

DVD 71,4

Ferro elétrico 57,1

Liquidificador 42,8

Som 42,8

Batedeira de bolo 14,3

Máquina de lavar 14,3

Computador 5,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Quadro 5- Percentual da população entrevistada que possui eletrodomésticos

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Existe na comunidade uma bodega de propriedade do senhor José Ferreira dos Santos,

onde os moradores do assentamento realizam pequenas compras, já que a feira que costumam

frequentar fica situada a aproximadamente 18 quilômetros do local, na cidade de Solânea, e só

acontece aos sábados.

O Assentamento é servido por uma rodovia estadual: a PB- 103 que interliga os

municípios de Dona Inês e Bananeiras e passa por dentro do PA no sentido Norte-Sul; e uma

estrada variante que passa por dentro do Assentamento no sentido Leste-Oeste e liga o PA ao

município de Araruna.

Além da renda proveniente do trabalho na atividade agropecuária e que resulta da

comercialização da produção, pode-se considerar também o que produzem para o consumo

como componente da renda familiar. Os entrevistados, porém, não sabem calcular o valor

mensal da renda proveniente do trabalho. Eles têm informações mais precisas apenas da renda

oriunda dos programas e benefícios governamentais, como a proveniente da bolsa família e

das aposentadorias.

A aposentadoria é umas das principais fontes de renda complementares das famílias

que possuem idosos ou formadas por idosos. Em alguns casos, existem até duas

aposentadorias na mesma família. É um dinheiro certo que se recebe mensalmente e com o

qual adquirem aquilo que não produzem.

Outra fonte de renda também de grande importância para as famílias de assentados do

PA Nossa Senhora das Graças é a bolsa família. Para aquelas que não têm nenhum

aposentado e que têm filhos estudando, é um complemento fundamental para a aquisição de

alimentos não produzidos pelos assentados.

No que se refere à sociabilidade e aos costumes e tradições, constatamos que uma das

tradições dos camponeses da Fazenda Caboclo era a realização de novenas, das quais todos

participavam. Este costume desapareceu. Hoje o assentamento conta com uma igreja católica

(Ver Fig. 54) onde os assentados se reúnem para assistir à missa (quinzenalmente ou

mensalmente), para a realização de batizados, celebração de casamentos e 1ª. Comunhão das

crianças.

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Fig.54 – Igreja construída na comunidade onde ocorrem celebrações.

Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

Em termos de lazer, o assentamento não conta com nenhuma oferta dessa ordem. É

comum participarem das festas populares, como as festas juninas e outros eventos nas cidades

de Solânea e Bananeiras.

Não foi identificado nenhum grupo de jovens ou de mulheres, nem qualquer coletivo

de produtores. O único elemento aglutinador dos assentados, particularmente, dos homens, é a

Associação por ocasião das assembleias para decidir alguma ação, para discutir os projetos ou

para discutir os processos eleitorais para a direção da própria associação.

4.7 A questão da Educação

Com a desapropriação e a divisão da terra, ocorreu um processo de re estruturação

fundiária na Fazenda Caboclo. As famílias continuaram morando no lugar, mas, agora, em

condições sócio-territoriais bem diferentes. No caso da porção da fazenda que deu origem ao

PA Nossa Senhora das Graças, essas mudanças, muito importantes para a comunidade,

resultaram na necessidade de novos hábitos e novas formas de concepção do território. As

relações socioeconômicas já não são mais as mesmas dos anos em que havia o controle do

latifundiário sobre os moradores; quando a monocultura do agave e depois do fumo era

dominante no lugar.

A transformação do antigo sítio Caboclo em projeto de assentamento trouxe mudanças

significativas para sua população. Mas, o sistema educacional do lugar continua o mesmo da

época do agave e do fumo, quando a estrutura fundiária era baseada no latifúndio.

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Existe uma escola pública no lugar, composta por duas salas de aula, uma sala para a

direção, uma cantina e dois banheiros, sendo um masculino e outro feminino. Com uma

estrutura bem precária e uma conotação de abandono, a Escola Municipal de Ensino

Fundamental Major Augusto Bezerra ou Grupo Escolar Major Augusto Bezerra (Ver Fig. 55)

encontra-se totalmente fora dos padrões que se almeja para atender às necessidades básicas

dos alunos que lá estudam. Não existe espaço reservado à pratica da Educação Física, não há

biblioteca, não há recursos audiovisuais e nem material didático. Não há sequer um corredor

ou um pátio, ou até mesmo um átrio para facilitar o acesso à escola e a circulação das pessoas

em suas dependências. A passagem da parte externa para os banheiros ou para a cantina se dá

por dentro das salas de aula. “Muitas vezes eu tenho que parar a aula para que as pessoas

passem para ir ao banheiro ou à cantina da escola, quando necessitam fazer alguma coisa lá

pra dentro” se queixa uma das professoras.

Fig. 55 – Grupo Escolar Major Augusto Bezerra.

Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

Das professoras que trabalham na escola, três têm escolaridade de nível médio e

apenas uma está terminando o curso superior em Pedagogia, com aulas semi-presenciais. As

primeiras não estão estudando e não têm acesso a nenhum curso de capacitação. Não há

perspectivas de voltar a estudar “pois as dificuldades são muitas e a Secretaria de Educação

não dá nenhum apoio, também não tem programa de capacitação.” (Relato da professora). O

reflexo disso é percebido no interior da própria unidade escolar. Na observação feita no

quintal da escola, percebem-se várias situações de desconforto, como por exemplo, o lixo

amontoado com marcas de incineração de resíduos sólidos (Ver Fig. 56). Das quatro

professoras, uma mora na cidade da Arara, distante cerca de 35 quilômetros da escola; e as

outras moram no próprio Assentamento, ou em comunidades próximas.

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Fig. 56 – Lugar de incineração de lixo no quintal da Escola.

Arquivo: Manoel Vieira da Silva, 2010.

A escola conta com 80 alunos matriculados, distribuídos do 1º ao 5º ano. Aplicou-se

um questionário com os alunos do 4º e 5º ano, com o objetivo de construir a resposta para a

problemática levantada. Essas séries são oferecidas no turno da tarde e os alunos dividem a

mesma sala. A outra sala restante comporta ao mesmo tempo os alunos do 2º e 3º ano. Dos

alunos pesquisados, 63,3% são do sexo masculino e 33,7% são do sexo feminino.

O resultado do questionário aponta para uma heterogeneidade bem considerável entre

os alunos, principalmente no caso do 5º ano, onde a idade varia de 9 a 15 anos; enquanto no

4º ano varia de 10 a 14 anos. Devemos considerar que os dois grupos de alunos dividem a

mesma sala.

Idade 4º ano % 5º ano %

09 anos ----------- -------- 01 aluno 10,11

10 anos 03 alunos 30 01 aluno 10,11

11 anos 02 alunos 20 01 aluno 10,11

12 anos 02 alunos 20 01 aluno 10,11

13 anos 01 aluno 10 02 alunos 20,22

14 anos 02 alunos 20 02 alunos 20,22

15 anos ----------- ----------- 01 aluno 10,11

Total 10 alunos 100 09 alunos 100

Fonte: Pesquisa de campo. PA. Nossa Sra. das Graças, 12 de agosto de 2008.

Quadro 06 – PA N. Sra. das Graças. Grupo Escolar Major Augusto Bezerra

Distribuição dos alunos do 4º e 5º ano, por idade e série.

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A falta de livro didático, segundo a professora, cria uma série de dificuldades para

trabalhar o conteúdo necessário para o bom desenvolvimento dos alunos. E queixa-se: “A

falta de material para eles me obriga a priorizar apenas as disciplinas de português e

matemática, sacrificando as outras matérias. O único material didático disponível aqui é um

livro da minha filha, que trago para trabalhar com eles”. A bibliografia a qual a professora se

refere é o livro Aquarela do saber – livro integrado – 1ª a 4ª série, de Celme Farias Medeiros,

da Editora do Brasil, publicado no ano 2000. Todos os problemas elencados colocam a escola

bem abaixo dos padrões mínimos exigidos para um bom desenvolvimento educacional.

Quando questionada sobre o que a escola necessita para melhorar as condições de ensino

aprendizagem do aluno, a resposta obtida de uma das professoras foi: “Falta incentivo dos

pais aos alunos e mais compreensão das professoras com os alunos.”

Além do quadro mostrado acima e da caracterização geral da estrutura da escola, o

questionário nos possibilitou levantar informações sobre a identificação dos alunos com a

disciplina Geografia e com o lugar onde moram e a relação entre ambos. Consideramos, para

fins de informações, aquelas repostas dadas pela maioria dos alunos, as quais serão transcritas

abaixo.

Perguntado se gostam de estudar na Escola: todos responderam que sim, a maioria

justificou que a escola fica perto de casa ou porque fazem amizade.

O que desejam ser quando crescer? A resposta a essa questão revelou uma variedade

significativa de sonhos. Dos alunos pesquisados, menos de 11% sonham com uma atividade

que está diretamente ligada ao lugar onde moram. Os outros (quase 90%) sonham com

atividades que não têm ligação direta com o lugar. Talvez alguns dos que pretendem trabalhar

com educação possam, no futuro, desempenhar suas atividades no próprio lugar. São sonhos

que dificilmente conseguirão realizar se permanecerem no assentamento. Nesse sentido, a

educação pode assumir um papel importante na construção de novas possibilidades para a

formação desses futuros cidadãos.

Profissão

almejada

cantor Jogador

de

futebol

Dançarina Motorista Professora Sanfoneiro Vaqueiro

% 5,26% 10,52% 15,78% 21,04% 31,66% 5,26% 10,52%

Fonte: Pesquisa de campo. PA N. Sra. das Graças, 12 de agosto de 2008. Quadro 07 - PA N. Sra. das Graças. Grupo Escolar Major Augusto Bezerra. O que os

estudantes da 4ª. e 5ª. Série almejam ser no futuro.

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Os alunos dividem o tempo entre a sala de aula e o trabalho caseiro ou na roça com os

pais. Disseram que gostam e, por isso, não se sentem fatigados em consequência do trabalho

complementar.

Sobre a melhoria das condições de ensino/aprendizagem da escola, gostariam de ter

acesso a livros didáticos, quadra de esportes, biblioteca, computador, piscina e mapas,

recursos que todas as escolas deveriam adquirir.

Ao término da primeira fase do ensino fundamental, na Escola Major Augusto

Bezerra, os alunos passam a estudar fora do assentamento, no distrito do Tabuleiro, na Escola

Municipal de Ensino Fundamental Miguel Filgueira Filho. Esta escola oferece as séries do 3º

e 4º ciclos do ensino fundamental, que correspondem do 6º ao 9º ano, atendendo a uma

clientela oriunda de várias comunidades rurais, além dos alunos do próprio povoado. Nessa

fase aparecem várias novidades na vida dos alunos do PA Nossa Senhora das Graças, desde o

deslocamento (agora tendo que usar um transporte, geralmente um ônibus colocado à

disposição pela prefeitura, para chegarem à escola) até a relação com pessoas de outras

comunidades.

Trata-se de uma escola composta por 10 salas de aula, que conta com um público de

700 alunos matriculados; tem uma estrutura que se assemelha às outras escolas públicas

situadas em zonas urbanas, com as mesmas carências. O seu quadro de professores é formado

por profissionais com o curso superior completo, segundo a direção da unidade. Os alunos

recebem livros didáticos, mas há carência de outros materiais de apoio como: livros

paradidáticos, material para confecção de trabalhos etc. Os alunos reclamam a falta de

carteiras, biblioteca, sala de informática, quadra de esportes, praça, piscina e, em vários casos

(30% dos entrevistados), o cultivo de árvores e hortaliças, no interior da escola. Neste caso,

expressam a identificação com o rural.

Quando perguntados se gostam do lugar onde moram, 91% responderam que sim. E se

pretendem sair para morar em outro lugar, a maioria, 55% responderam que não, porque

gostam muito do lugar onde moram; 18% dos estudantes afirmaram que os conteúdos

ensinados na disciplina Geografia têm alguma relação com o lugar onde moram, e

justificaram dizendo que “tem assuntos voltados para a questão dos trabalhadores rurais”; dos

82% restantes, alguns não responderam e outros disseram que não há relação do ensino de

Geografia com o lugar onde moram.

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Apesar de ser um assentamento rural constituído há quase dez anos, com o

acompanhamento da CPT e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Município de

Bananeiras, pelo menos no início, como contam os próprios moradores, e com a implantação

de alguns projetos para melhoria das condições de subsistência do assentamento, não foi

desenvolvido nenhum projeto voltado para a adequação da educação às novas condições de

vida e formas de organização do território. As mudanças ocorridas a partir da desapropriação

da terra geraram novas carências e a necessidade de formação de novas identidades culturais e

ambientais, aumentando também a carência por novas formas de construção de saberes.

Mas, a ausência de uma educação (e, como parte dessa, a Geografia escolar) que

possibilite a concepção de saberes voltados para o conhecimento, sobretudo, do lugar, não é

comum a todos os assentamentos rurais do Brasil. Em vários estados brasileiros,

principalmente nos assentamentos organizados pelo MST, já existem projetos desenvolvidos

com o objetivo de mudar a educação nas áreas de assentamentos. Esse modelo de educação no

campo, da forma como é desenvolvido pelo Estado, vem sendo questionado há algumas

décadas pelos movimentos sociais, especialmente pelo MST que tem se posicionado por uma

educação independente do Estado, do ponto de vista metodológico.

Segundo Menezes Neto (2003):

O Movimento atua na área educacional desde fins dos anos 80. Conforme

dados colhidos em suas publicações, existem nos assentamentos cerca de

2.800 professores, quase todos da rede pública, trabalhando com 75 mil

alunos, aproximadamente (MST, 1999). São mantidas escolas de educação

infantil para crianças de zero a seis anos, escolas de ensino fundamental e

médio, cursos profissionalizantes de magistério e de técnico em

cooperativismo, cursos supletivos e faculdade de Pedagogia. O Movimento

também realiza campanhas de alfabetização nos assentamentos e promove

cursos de capacitação profissional (MENEZES NETO, 2003, p. 98).

Essa nova frente de atuação vem se desenvolvendo a partir dos debates no interior do

MST, que surgiram por ocasião do refluxo do movimento, por causa das políticas neoliberais,

diante da necessidade de se formar os trabalhadores do campo, através da construção de

saberes que atendam às necessidades dos camponeses, tanto nas atividades práticas, na

construção de novas possibilidades de autosustentação nos assentamentos, como do ponto de

vista político na possibilidade da formação de uma consciência crítica em relação ao Estado.

Essa concepção não se restringe apenas aos movimentos sociais, pois já existe um

significativo debate permeiando a academia, com o objetivo de apontar uma política

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educacional para o campo, que leve em consideração suas especificidades, e na perspectiva de

subsidiar os assentamentos com projetos pedagógicos que possibilitem a inserção de novas

práticas educacionais no meio rural. "(...) o campo é espaço de vida digna e que é legítima a

luta por políticas especificas e por um projeto educativo próprio para seus sujeitos"

(CALDART, 2005, p. 01, apud SILVA, 2008, p. 292).

Um modelo de escola que garanta uma educação voltada para a formação da

população do campo já existe. É o modelo de escola itinerante proposto para o MST do Rio

Grande do Sul, cujos princípios filosóficos e pedagógicos são apresentados por Heidrich e

outros (2000, p. 14-15):

Tem-se- na Escola itinerante por princípios gerais e filosóficos: - educar para a transformação social, de forma massiva, orgânica ao MST,

aberta para o mundo, voltada para a ação e aberta para o novo;

- educar para o trabalho e para a cooperação; - educação voltada para as várias dimensões da pessoa humana;

- educação com e para valores humanistas e socialistas;

- educação como um processo permanente de formação / transformação

humana. De modo complementar e integrado a estes, seguem-se os seguintes

princípios pedagógicos:

- relação entre teoria e prática; - combinação metodológica entre processos de ensino e de capacitação;

- a realidade como base de produção do conhecimento;

- conteúdos formativos socialmente úteis; - educação para o trabalho e pelo trabalho;

-vínculo orgânico entre processos educativos, econômicos e políticos;

- vínculo orgânico entre educação e cultura;

- gestão democrática; - auto-organização dos estudantes;

- criação de coletivos pedagógicos e formação permanente de educadores e

educadoras; - desenvolver atitudes e habilidades de pesquisa;

- combinação entre processos pedagógicos coletivos e individuais.

Uma política voltada para o conhecimento e valorização do lugar; que garanta aos seus

moradores a verdadeira condição de sujeito; que assegure não só o direito de sonhar, mas a

possibilidade de garantir a realização dos sonhos sem precisar sair do seu lugar, pode

significar, também, a emancipação econômica e cultural e, quiçá, por conseguinte, o

fortalecimento de uma base de sustentação para a efetivação do processo de reforma agrária.

A escola deve ser entendida como um espaço de busca dessas possibilidades.

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Percebe-se, assim, uma diferença muito grande entre a realidade da educação e, em

particular, da Geografia escolar vivida no Assentamento, e a proposta de modelo educacional

construída nos foros do MST e posta em prática com o apoio de setores da academia.

Uma nova proposta de educação para o campo, e é óbvio que a Geografia deve estar

inserida nesse projeto, é tão necessária quanto a própria reforma agrária. Só uma política

articulada que atenda à carência por terra em consonância com uma educação

verdadeiramente cidadã pode, de forma sólida, gerar condições para a emancipação do

camponês e sua estabilidade na terra.

4.8 Como definir os assentados do antigo sítio Caboclo?

Marx quando referenciou à expropriação dos camponeses para proporcionar a

formação do mercado interno para o capital industrial europeu, fez a seguinte reflexão:

Imaginemos uma parte dos camponeses da Westfalia que, no tempo de

Frederico II, fiavam todo o linho que produziam, fosse violentamente

expropriada e expulsa de suas terras, sendo os restantes que lá ficassem

transformados em jornaleiros de grandes arrendatários. Suponhamos ainda

que se construam grandes fiações e tecelagens, onde esses expropriados

passem a trabalhar como assalariados. O linho não mudou materialmente em

nada. Não se modificou nenhuma de suas fibras, mas uma nova alma social

entrou no seu corpo. Constitui agora parte do capital constante do patrão

manufatureiro. Antes, repartia-se entre os inumeráveis pequenos produtores

que o cultivavam e fiavam em pequenas porções com suas famílias; agora,

concentra-se nas mãos de um capitalista para quem outras pessoas fiam e

tecem. Antes, o trabalho extra despendido na fiação do linho se concretizava

em rendimento extra de inúmeras famílias camponesas e, no tempo de

Frederico II, também em impostos para o rei da Prússia. Agora se concretiza

em lucro de alguns capitalistas (MARX, 1885, p. 863).

Ainda sobre a expropriação dos camponeses para proporcionar a formação do mercado

interno, Lênin observa “que o processo de decomposição dos pequenos agricultores em

patrões e operários agrícolas constitui a base sobre a qual se forma o mercado interno” (1982,

p. 35). Esta assertiva não se observa no caso dos camponeses oriundos do Sítio Caboclo. Não

se constatou no estudo a decomposição dos camponeses que vivem naquele lugar.

Wolf considera que os camponeses:

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(...) são cultivadores rurais cujos excedentes são transferidos para as mãos de

um grupo dominante, constituído pelos que governam, que os utilizam para

assegurar seu próprio nível de vida, e para distribuir o restante entre grupos

da sociedade que não cultivaram a terra, mas devem ser alimentados, dando

em troca bens específicos e serviços (1970, p.16).

O pensamento de Wolf nos permite afirmar que, de acordo com as características

apontadas, os moradores do sítio Caboclo são camponeses. A relação com o mercado e a

vulnerabilidade às influências do capitalismo nos parecem inevitáveis, até por não serem

autosuficientes, ou seja, não produzem as calorias necessárias para toda a família e têm que

adquiri-las através das alternativas que estejam mais acessíveis à sua capacidade de alcançá-

las. Além disso, precisam fazer aquisição de instrumentos de trabalho para minimizar os

esforços físicos dos membros da família que trabalham na terra.

Wolf considera que

(...) é importante recordar que os esforços na vida de um camponês

não são regulados exclusivamente por exigências relacionadas ao seu

modo de vida. O campesinato sempre existe dentro de um sistema

maior (...) há vários tipos de campesinato e não somente uma forma

de vida camponesa (...) o termo “camponês” denota nada mais nada

menos que uma relação estrutural assimétrica entre produtores de

excedentes e o grupo dominante; (...) (WOLF, 1982, p.22).

Os moradores do sítio Caboclo foram transformados de “parceiros” ou meeiros e

assalariados em assentados, através de uma ação do Estado articulada com o proprietário da

terra. Portanto, não houve luta pela conquista da terra. Alguns camponeses que foram

assentados nos outros PAs criados a partir da desapropriação da fazenda participaram do

processo inicial que deu origem à negociação entre o Incra e o proprietário, como interessados

na conquista da terra, mas não através de um embate conflituoso, uma disputa pela terra. Os

assentados do PA Nossa Senhora das Graças nem mesmo tiveram conhecimento desse

processo, foram sujeitos do mesmo. Hoje eles produzem mandioca, feijão, milho, caju, pinha,

banana, fava, inhame e batata-doce. A mão-de-obra é totalmente familiar e só eventualmente

contratam trabalhadores para ajudá-los na produção. A castanha de caju, a pinha e a banana

são culturas voltadas para o mercado. As demais se destinam ao consumo. As benfeitorias são

de uso coletivo.

Com essas características, como definir os assentados do antigo do sítio Caboclo?

Como poderíamos defini-los antes da desapropriação das terras, quando trabalhavam no

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sistema de “parceria” no período do fumo e da pecuária extensiva, e como assalariados do

agave?

No sítio Caboclo, salvaguardando os aspectos conjunturais já apontados, aconteceu o

inverso do que Marx (1885) imaginou sobre à expropriação dos camponeses da Westfalia,

uma vez que, se antes os camponeses eram submetidos aos interesses econômicos do

proprietário da terra, com a criação do assentamento ficaram desobrigados de produzir para

um latifundiário e hoje produzem para garantir sua própria sobrevivência e a de suas famílias.

O jeito calmo de “caboclo”, termo usado para se fazer referência aos camponeses do

Nordeste brasileiro, antes de se importar o termo camponês, talvez tenha dificultado a

participação dos camponeses do sítio Caboclo no caminho da disputa territorial. Esse caminho

de luta pela conquista do território pela classe camponesa é antigo e já envolveu populações

camponesas nos mais diversos momentos da história da humanidade. A passividade dos

moradores, parceiros, foreiros e assalariados do sítio Caboclo talvez se deva à relação de

compadrio presente entre estes e o antigo proprietário e à ausência de uma direção política,

que possibilitasse o desenvolvimento de uma consciência de classe e assegurasse a sua

integração aos movimentos sociais, o que teria permitido que gerações vivessem conformadas

com a exploração a que estavam submetidas.

O que resta a questionar, como veremos nas considerações finais, é se a construção do

PA Nossa Senhora das Graças originou uma ruptura com o território de exploração e fez

surgir de um território de Esperança.

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AS CONTRADIÇÕES NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UM

TERRITÓRIO DE ESPERANÇA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PARA

FINALIZAR

Com a transformação da Fazenda Caboclo em assentamentos de reforma agrária,

constata-se uma mudança não só na forma de exploração da terra, mas também nas formas de

trabalho e de vida dos antigos moradores da fazenda.

Presencia-se, nesse caso, um processo de (re)territorialização, onde um território de

exploração deu lugar ao embrião de um território de esperança. Um latifúndio com

3.049,2790 hectares de terra que antes era controlado por uma única família foi distribuído

para 165 famílias. Embora tenham permanecido na terra famílias que na sua maior parte ali já

viviam, a forma destas permanecerem não é mais a mesma. Houve uma (re)territorialização

resultante da transformação das famílias camponesas – antes submetidas às vontades do

patrão, que extraía do trabalho alheio a mais valia em forma de renda da terra para garantir a

posse e o poder sobre a terra e sobre os homens e o controle político sobre parcela importante

do território regional – em famílias camponesas livres da sujeição e detentoras do controle

dessa fração do território.

A desapropriação da Fazenda Caboclo também provocou o fim da alternância das

monoculturas, que durante décadas comandaram a dinâmica da organização da produção e do

trabalho no seu interior. Após o repasse da terra para os moradores, a agricultura alimentar

passou a ser (quem diria) hegemônica na produção agrícola do antigo latifúndio.

Vale ressaltar que, no caso da Fazenda Caboclo, ficou evidente que a razão principal

da sua disponibilização para fins de reforma agrária junto ao INCRA foi a derrocada das

culturas comerciais e, consequentemente, a falta de opções de valorização da terra, através da

implementação de outras atividades e/ou de outras culturas comerciais que garantissem um

retorno financeiro aos proprietários.

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Outras mudanças na organização territorial foram identificadas após a conquista do

território pelos camponeses, tais como as elencadas abaixo:

a) Mudanças na configuração territorial. Com a divisão da propriedade em três

assentamentos, a configuração territorial, aqui entendida não apenas como um espaço definido

e delimitado por fronteiras, mas também como um território de vida e trabalho foi totalmente

reconfigurada. Trata-se agora de um território camponês com novas delimitações fronteiriças

e com novas formas de vida e trabalho. Neste estudo, essa nova configuração territorial é

representada pelo Assentamento Nossa Senhora das Graças, onde se verifica uma nova

conformação espacial, no seu caso particular, com mais um elemento de diferenciação pela

inclusão do território do PA São José; pela transformação de equipamentos privados, que

antes eram controlados pelo proprietário da fazenda, em equipamentos comunitários (casa de

farinha, tanques que servem como reservatórios de água e açude); transformação de antigas

áreas de pastagem e área de cajueiro, antes sob controle do proprietário, em áreas

comunitárias; a criação de uma reserva florestal e de uma área de reserva sob controle do

IBAMA.

b) Mudanças nas relações de poder. Novas relações de poder se estabeleceram

após a desapropriação da terra e constituição dos assentamentos. De um lado, observa-se: o

fim das imposições patronais aos ex-moradores de condição do latifúndio e a liberdade de

reger seu tempo de vida e de trabalho; a “liberdade” de trabalhar na terra sem ter que dar

satisfação ao patrão; plantar o que quiser no momento que achar mais propício; vender a

quem quiser e quando achar que deve vender, como foi visto no caso do PA Nossa Senhora

das Graças. De outro, constata-se uma nova forma de submissão, agora ao Estado e a

entidades que se formaram, como por exemplo; as cooperativas de apoio aos assentados e,

através destas, ao capital financeiro, como foi observado no caso estudado. Não se quer aqui

negar a importância do Estado no processo de acompanhamento e de assistência às áreas de

reforma agrária. Todavia, a forma como este processo tem sido conduzido no PA Nossa

Senhora das Graças levou ao endividamento dos beneficiários da reforma. Isto sem falar que,

após a emancipação do PA, os assentados têm que amortizar os custos das benfeitorias pagas

pelo Estado aos antigos proprietários das terras. Benfeitorias estas que foram construídas com

o trabalho dos próprios camponeses.

c) Mudanças na condução das decisões sobre a gestão do território. Com a criação

do assentamento e a fundação de uma associação dos assentados, como foi visto no PA Nossa

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Senhora das Graças, as questões de interesse comum sobre a gestão do território são

discutidas e deliberadas pelo coletivo dos associados representados no PA por todos os

representantes das famílias assentadas, agora longe dos olhares do ex-patrão, muito embora

sob os olhares do Estado, através dos técnicos que, via de regra, se fazem presentes nas

assembleias. Mas, além da presença do Estado, há a presença da CPT que, na Paraíba, atua

como um movimento social que contribui na reflexão das questões e na busca de alternativas

que sejam de interesse maior para o coletivo. A presença massiva dos assentados (em média

mais de 60% no PA estudado) nas assembleias, muitos acompanhados do cônjuge e filhos,

gera uma grande perspectiva de evolução da consciência desses moradores, o que poderá

garantir a possibilidade de continuarem de forma mobilizada e consciente, buscando a (ainda

utópica) autonomia de fato, agora em relação ao Estado;

d) Mudanças nas condições de vida. A construção de novas e maiores casas,

dotadas das condições mínimas de segurança e higiene; das cisternas de placas, que podem

garantir o abastecimento de água por todo o período da estiagem; a melhoria da renda, seja

esta advinda do trabalho, seja através da complementação com fontes provenientes das

políticas públicas ou dos benefícios da aposentadoria, têm contribuído, como foi verificado no

PA Nossa Senhora das Graças, para conferir dignidade e cidadania ao camponês;

e) Mudanças nas relações de trabalho. O fim do trabalho assalariado e da meação

obrigatória, que determinava horário para acordar, horário para almoçar (quando tinha

almoço), horário para sair e para voltar para casa e, sobretudo, submetia o trabalhador a um

sistema de exploração que não permitia seu desenvolvimento e o amarrava ao patrão; é mais

uma das mudanças que foi observada no caso estudado.

No caso do PA Nossa Senhora das Graças, todas essas transformações ocorreram em

apenas 12 anos da efetivação do assentamento. Se analisarmos as mudanças em seu conjunto,

não é difícil perceber que houve um salto de qualidade na vida das famílias assentadas. Essas

mudanças se refletem na própria configuração atual da paisagem do lugar; onde havia um

plantio de agave até o final dos anos sessenta, atualmente encontra-se uma diversidade de

culturas alimentares, como pode ser visto nas imagens inseridas no interior do trabalho; onde

havia uma casa velha sem a mínima condição de habitar dignamente, hoje existe uma casa

com um mínimo padrão de qualidade. Porém, temos que reconhecer que falta muita coisa

acontecer para que essa comunidade possa se emancipar efetivamente.

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Nesses doze anos de assentamento, muitas dívidas se acumularam, não por culpa dos

trabalhadores, mas por conta da política de reforma agrária implementada pelo Estado que, no

Brasil, na Paraíba e em Bananeiras está longe de ser uma política a qual os movimentos

sociais de luta pela reforma agrária, ao lado dos trabalhadores rurais, almejam.

No caso dos assentamentos constituídos a partir da desapropriação da Fazenda

Caboclo, os moradores eram parte daquela fazenda. Eles teriam o direito de participar do

processo de forma que fossem contemplados com a posse da terra sem ter que assumir uma

dívida para cobrir os custos das benfeitorias pagas pelo Estado aos antigos proprietários. Por

outro lado, a esta dívida se soma as contraídas com o financiamento de projetos que, por culpa

da própria instituição credora, ao repassar os recursos fora do prazo, inviabiliza a sua

execução pelos assentados, como foi visto, os quais estão o tempo todo sob a ameaça de

perderem a terra que conquistaram.

Analisando a estrutura educacional do assentamento Nossa Senhora das Graças, vimos

que nada mudou, continua como estava há doze anos atrás. A antiga escola Major Augusto

Bezerra vive um aspecto de abandono; não há um projeto educacional voltado para a

realidade de sua população. Uma educação que realmente possa ajudar aos assentados do PA

Nossa Senhora das Graças a construírem novas formas de se relacionar com as mudanças

ocorridas no lugar. Uma convivência harmoniosa com a terra e com o ambiente que os cerca,

buscando valorizar o lugar e, daí, ter assegurada a condição de sujeito em busca de uma

emancipação efetiva.

Essa busca da emancipação efetiva é que caracteriza o Assentamento Nossa Senhora

das Graças e os demais assentamentos originados da Fazenda Caboclo como um território de

esperança, tal como pensa Moreira (2010, p. 12): “O território de esperança incorpora todos

esses elementos, mas se propõe a algo maior que é a luta pela consolidação de uma “classe

para si” capaz de lutar por um outro tipo de sociedade calcada na igualdade, na solidariedade

e na justiça social.”

Ao relacionar os assentados do antigo sítio Caboclo, hoje PA Nossa Senhora das

Graças, com os camponeses da Westifália, concluímos que, se falta-lhes o hábito do trabalho

coletivo, sobra-lhes a submissão, agora ao Estado. Saem da condição de trabalhadores rurais

sem-terra e entram na condição de trabalhadores rurais com terra e endividados. Resta-lhes a

base territorial, a fração do território onde eles podem atuar e continuar evoluindo de uma

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“classe em si” para uma “classe para si”, lutando para transformar a utopia em conquistas de

fato, um território de esperança.

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APÊNDICES

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Apêndice A

Formulário para elaboração de perfil do assentamento

Nome do assentamento:

Estado: Paraíba.

Município:

Nome do informante:

Cargo do informante:

Entrevistador:

1 - DADOS GERAIS

1.1 - Número de glebas (ou comunidades, vilas):

1.2 - Ano do decreto de criação do assentamento:

1.3 - Ano em que se iniciou o assentamento:

1.4 - Número de famílias atualmente assentadas:

1.5 - Números de famílias originalmente assentadas (se necessário e/ou possível, por

glebas):

1.6 - Área total do Assentamento:

Área aproveitada:

Área de Reserva:

Condições do Solo:

2 - LOCALIZAÇÃO

2.1 - Distância (em quilômetros) da sede do município onde está situado:

2.2 - Cidade com a qual o assentamento tem mais relação:

2.3 - Distância (km) em relação a ela:

2.4 - Tempo médio de deslocamento até a cidade (utilizado carro, ônibus ou outro

transporte motorizado):

2.5 - Condições do acesso:

( ) estrada asfaltada até a entrada do assentamento

PROJETO DE ASSENTAMENTO NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS

PERFIL DO ASSENTAMENTO

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( ) estrada de terra

( ) estrada parte asfaltada parte de terra

2.6 - Em caso de estrada de terra, caracterizar as condições do acesso (existência de

buracos, lama, trafegabilidade em épocas de chuvas, etc.):

2.7 - Condições das estradas internas ao assentamento, em relação a trafegabilidade,

acesso a todos os lotes, etc. (se muito grande, especificar por regionais ou glebas):

2.8 - Existências de transporte coletivo (tipo, frequência, que partes do assentamento

serve):

2.9 - Local onde os assentados fazem compras.

3 - PRESENÇA E ACESSO A SERVIÇOS

3.1 - Educação

3.1.1 – Existem escolas no interior do assentamento? ( ) Sim ( ) Não

Obs: Em caso negativo, ir para questão 3.1.10.

3.1.2 - Em caso positivo:

quantas escolas:

desde quando existem:

3.1.3 - Houve necessidade de reivindicação ou pressão para obtê-la?

3.1.4 – A escola atende alunos de fora do assentamento?.

3.1.6 - Condições de acesso à escola (a pé, bicicleta, transporte escolar, etc):

3.1.7 - Nível

( ) 1a a 4

a. É multiseriada? ( ) Sim ( ) Não

( ) 5a. a 8

a.

( ) segundo grau

( ) escola técnica

( ) pré – escolar

3.1.8 - Número de alunos matriculados:

3.1.9 – Mantenedor:

( ) Governo Estadual

( ) Prefeitura

( ) Outros

3.1.10. – Em caso de não haver escolas no interior do assentamento, onde estudam as

crianças e jovens do assentamento (qual escola, distância em relação à sede do

assentamento)? Como são as condições de acesso (existência de transporte, etc.)?

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3.1.11 - Qual a série em que a maior parte das crianças/adolescentes deixa de estudar?

3.1.12 - Qual a idade em que a maior parte das crianças/adolescentes deixa de estudar?

3.1.12 - Existem projetos de educação de jovens e adultos? (qual e patrocinado por

quem):

3.2 - Saúde

3.2.1 – Existem postos de saúde no assentamento? ( ) Sim ( ) Não.

Obs: Em caso negativo, ir para questão 3.2.9.

3.2.3 - Desde quando funcionam?

3.2.4 - Houve necessidade de pressão para obtê-lo?

3.2.5 - Atende pessoas de fora do assentamento?

3.2.6 - Frequência da presença de médicos no posto:

3.2.7 - Especialidade dos médicos do posto

( ) clínica geral

( ) ginecologia

( ) pediatria

( ) dentista

( ) outros NSA

3.2.8 - Recursos oferecidos

( ) consultas ( ) exames* ( ) outros

3.2.9 - Há agentes de saúde no assentamento?

( ) Sim número:

( ) Não

3.2.10 - Em caso positivo, quem os paga?

3.2.11 - Serviços de saúde fora do assentamento: onde as pessoas recorrem quando ficam

doentes? (município, distância, condições de acesso, serviços disponíveis):

3.3 - Rede de esgoto: Caracterizar os tipos de escoamento de esgoto mais comuns no

assentamento:

3.4 - Acesso à água:

3.5 - Acesso à energia elétrica:

3.5.1 - O assentamento tem acesso à energia elétrica? ( ) Sim ( ) Não

3.5.2 - Em caso positivo, ela se estende a todo assentamento? (se não, especificar

aproximadamente quantas famílias tem acesso):

3.5.3 - Desde quando existe?

3.5.4 - Foi necessário algum tipo de reivindicação para obtê-la? Descrever:

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3.5.5 - Em caso de não existir, que tipo de energia é utilizada?

3.6 – Acesso a telefone:

3.6.1. Existe telefone no assentamento? Caracterizar (sede da associação, orelhão

comunitário):

3.6.2. Existem assentados que têm telefone? (celular ou fixo):

3.7 - Existência de igrejas no interior do assentamento Em caso positivo, identificar

confissão religiosa e verificar se há espaços de sociabilidade que passam pela igreja (reuniões;

festas; quermesses; grupos de jovens, mulheres, casais, etc.)

( ) Sim ( ) Não

3.8 - Existência de sedes de órgãos públicos (INCRA, Emater, etc) no interior do

assentamento ( ) Sim ( ) Não

Em caso positivo, quais:

3.9 - Existência de sedes de organismos de representação (associação, sindicato, etc)

( ) Sim ( ) Não

Em caso positivo, quais:

4 - PRODUÇÃO E CONSUMO

4.1 - Tipos de produtos

4.1.1 - Mais frequentemente cultivados:

4.1.2 - Plantados em maior quantidade: mandioca, milho, feijão e inhame.

4.2 - Tipos de animais criados e finalidades

4.3 - Práticas agrícolas

4.3.1 - Que tipos de práticas agrícolas os assentados utilizam?

( ) conservação do solo

( ) correção do solo

( ) adubação orgânica

( ) adubação química

( ) irrigação

( ) outras __________________________________________________________________

4.3.2 - Existe alguma preocupação com a preservação do ambiente? (agroecologia,

práticas orgânicas, cuidados com mananciais, etc.):

4.4 - Formas de organização da produção no assentamento

4.4.1 - Existem formas coletivas de organização da produção, tais como grupos de

famílias, coletivos, associação, existência de área coletiva, etc.?

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( ) Sim ( ) Não

4.4.2 - Em caso positivo, descrever a forma como se dão e quantas famílias participam.

4.4.3 - Existem formas coletivas de:

Uso de máquinas e equipamentos agrícolas? ( ) Sim ( ) Não

Instalações (armazéns, silos, açudes, etc.)? ( ) Sim ( ) Não

Beneficiamento da produção? ( ) Sim ( ) Não

4.4.4 - Em caso positivo, descrever o tipo, forma de aquisição de instalações e máquinas

e número de famílias que participam, etc:

4.5 - Assistência Técnica

4.5.1 - Os assentados recebem assistência técnica? ( ) Sim ( ) Não

4.5.2 - Em caso positivo, de quem?

( ) Emater

( ) Lumiar

( ) ONGs,

( ) Cooperativa ou Associação

( ) Agroindústria

( ) Sindicato

( ) outro

4.5.3 - Quantas famílias recebem assistência?.

4.5.4 - Com qual periodicidade?

4.5.5 - Qual a qualidade dessa assistência técnica? (registrar a opinião do entrevistado):

5 - COMERCIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO

5.1 - Produtos destinados principalmente à comercialização:

5.2 - Parcela aproximada da produção vendida de cada um desses produtos:

5.3 - Produtos destinados principalmente ao consumo:

5.4 - Dos produtos destinados ao consumo, vende-se uma parte? Aproximadamente

quanto (de cada produto)?

5.5 - Mecanismos de acesso ao mercado

5.5.1 - Para quem os assentados vendem a produção? Descrever, se possível

discriminando por produto e citando localização e nomes (no caso de cooperativas,

agroindústrias, supermercados, etc.).

5.5.2 - Como fazem para vender? (descrever os principais mecanismos utilizados):

5.5.3- Destino da produção: (discriminar quais cidades/ localidades)

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( ) mercado local – Sapé

( ) mercado regional: João Pessoa e Santa Rita

( ) capitais, grandes cidades: João Pessoa

( ) mercado externo: _________________________________________________________

6 - ACESSO A CRÉDITO

6.1 - Famílias receberam algum tipo de crédito? ( ) Sim ( ) Não

Caso positivo, indicar qual crédito e aproximadamente o número de famílias e o(s) ano(s) em

que receberam cada um:

Número de famílias Ano(s)

( ) Crédito implantação

( ) Crédito habitação

( ) Crédito alimentação

( ) Procera

( ) Pronaf custeio -

( ) Pronaf infraestrutura

( ) outros - investimento

6.7 - Em caso de formas de crédito que exigem elaboração de projeto, quem elaborou e

para que finalidade?

6.8 - Houve participação dos assentados? Como?

6.9 - Qual a agência bancária utilizada para repasse do crédito (Banco e Município)?

7 - PERFIL DAS FAMÍLIAS ASSENTADAS

7.1 - Local de onde veio a maior parte das famílias (do município, da região, de outros

estados, área urbana ou rural):

7.2 - Tradição agrícola da maior parte das famílias (descrever):

7.3 - Existência de diferenciações internas no que se refere a produção, padrão de vida,

etc.

8 - ORIGEM DO ASSENTAMENTO

Narrar como surgiu, se houve algum tipo de ocupação – paulatina ou ruidosa -,

acampamento, pressão sobre o INCRA, ação sindical, do MST, da Igreja, das prefeituras

locais, etc.

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9 - AÇÃO DO ESTADO NO ASSENTAMENTO

9.1 Incra: (quando vem, em que questões intervém, quando é procurado pelos assentados,

para que):

9.2 - Emater/Lumiar:

(fornece assistência técnica, quando, em que condições, raio de ação): Sim, o Lumiar.

Estavam sempre presentes.

9.3 - Governo estadual (tipo de presença, tal como instituto de terras, companhias de

eletricidade, etc. e caracterização)

9.4 - Prefeitura municipal

(tipo de presença e caracterização: estradas, escola, auxílio ou repressão à comercialização,

transporte coletivo, etc.)

10 - VISIBILIDADE DO ASSENTAMENTO

Verificar quem costuma procurar os assentados - políticos locais, ONGs, CPT, sindicato,

movimentos, etc. - com que finalidade e frequência.

11 - PRESENÇA / PARTICIPAÇÃO EM ORGANIZAÇÕES DE REPRESENTAÇÃO

POLÍTICA E/ OU ECONÔMICA

11.1 – Existência de organizações internas ao Assentamento (associações, grupos de

mulheres, associação de produtores, etc.). Caracterizar quais e sua atuação

11.2 – Presença no assentamento / participação dos assentados em organizações de

trabalhadores de âmbito maior que o assentamento (Sindicato, MST, outros movimentos

de luta por terra, etc.). Caracterizar tipo de presença / participação e atuação.

11.3 – Presença no assentamento de outras organizações (ONGs, CPT, Igrejas, etc.).

Caracterizar a atuação.

11.4. Participação dos assentados em conselhos (Conselho Municipal de Desenvolvimento

Rural, Conselho de Emprego e Renda, Conselho de Saúde, etc.) Caracterizar.

12 - PERCEPÇÃO DAS MUDANÇAS

12. 1 - Depois do assentamento, melhorou a vida dos assentados? Em caso positivo, sob

que aspectos? Em caso negativo, por quê?

12.2 - Qual a opinião da população do município / região sobre o assentamento e os

assentados?

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12.3 - Em sua opinião o assentamento trouxe alguma mudança para a produção agrícola

da região? Em caso positivo, qual?

12.4 - O assentamento tem alguma influência ou algum peso na vida política local? De

que tipo?

12.5 - Como os políticos locais se comportam frente ao assentamento?

Ao final da entrevista, registrar observações gerais

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Apêndice B

Questionário aplicado com os professores das escolas onde as crianças e jovens do

assentamento estudam.

Pesquisa: Professores.

Escola: ____________________________________________________________________

Data: ____/____/______

OBJETIVO: Levantar informações sobre a prática pedagógica dos professores e o cotidiano

escolar.

1. Componente Curricular: _____________________________________________________

2. Quantos anos leciona nesta escola? ____________________________________________

3. Todos os professores desta escola têm curso superior completo?

( ) Sim ( ) Não

4. Origem da maior parte dos alunos:

( ) Zona rural ( ) Zona urbana

5.Leciona em mais de uma escola?

( ) Sim ( ) Não

6. Se a resposta anterior foi sim. A alta carga horária atrapalha o seu desempenho?

( ) Sim ( ) Não

7. Como você avalia o ensino nesta escola?

( ) bom ( ) regular

( ) insuficiente ( ) ruim

( ) ótimo

8.O plano de curso que vem nos livros didáticos é utilizado sem modificações?

( ) Sim ( ) Não

9.De que forma os alunos contribuem na sua aula?

( ) Não contribuem

( ) Dão exemplos de algo vivido ou conhecido

( ) Dão sugestões para novas discussões

( ) Outros: _____________________________

10. A escola elabora e desenvolve algum projeto sócio-cultural/ambiental ao longo do ano?

( ) Não ( ) Sim

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Qual?:______________________________________________________________________

11. A relação professor/aluno é:

( ) Ruim ( ) Regular.

( ) Boa, mas precisa melhorar.

( ) Ótima.

1 2.Os pais estão presentes no cotidiano escolar dos filhos e da própria escola?

( ) Sim, bastante. ( ) Sim, muito pouco.

( ) Não.

13. Com relação à prática docente, qual a maior reclamação e satisfação dos professores?

RECLAMAÇÃO

( ) Falta de material didático ( ) Baixo salário.

( ) Desinteresse dos alunos.

SATISFAÇÃO

( ) Emprego seguro ( ) Amo a minha.

profissão ( ) Realização pessoal.

( ) Contribuo na formação da sociedade.

14. Os currículos escolares são organizados de acordo com o cotidiano dos alunos?

( ) Sim. ( ) Não.

( ) Às vezes sim, às vezes não.

15.Maiores reclamações dos alunos:

( ) Falta de merenda.

( ) A estrutura física da escola não é boa.

( ) Não gostam da diretoria.

( ) Falta de instrumentos didáticos.

( ) Outros: _________________________________________________________________

16.Trabalha os temas transversais (orientação sexual, educação no trânsito, etc.) na sala de

aula?

( ) sim, frequentemente ( ) sim, raramente ( ) não.

17. Como costuma avaliar o aprendizado dos alunos?

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( ) Predominam as provas ( ) Seminários.

( ) Trabalhos escritos/pesquisas.

( ) Avaliação contínua/qualitativa.

( ) Simulados ( ) Outro: _______________________________________________

18. Instrumentos/Equipamentos utilizados na sua aula:

( ) Retroprojetor ( ) TV/DVD.

( ) Computador ( ) Jornais.

( ) Micro-sistem (música) ( ) Revistas.

( ) Outros: _________________________________________________________________

19.Quais os maiores problemas encontrados na escola?

( ) repetência ( ) evasão escolar.

( ) distorção – idade/série.

( ) aprendizagem insuficiente.

( ) não apresenta problemas sérios.

( ) outros: _________________________________________________________________

20.Quais as oportunidades de aprendizagem a escola tem oferecido para aumentar o nível de

conhecimentos dos alunos?

( ) nenhuma ( ) quase nenhuma.

( ) muitas ( ) oportunidades boas, mas precisa melhorar.

21.Realiza atividades com os alunos fora da sala de aula (aula de campo)?

( ) Não ( ) Sim, raramente.

( ) Sim, frequentemente.

Agradecemos a sua colaboração!

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157

Apêndice C

Questionário aplicado com os alunos das escolas onde as crianças e jovens do

assentamento estudam.

Pesquisa: Alunos.

Escola:_____________________________________________________________________

OBJETIVO: Levantar informações sobre a prática pedagógica dos professores e o cotidiano

escolar.

1. Idade: ________________________________________________________________

2. Série: ________________________________________________________________

3. Sexo: F ( ) M ( ).

4. Origem:

( ) Zona rural ( ) Zona urbana.

5. Qual a faixa de renda mensal da sua família?

( ) não possui renda.

( ) menos de 1 salário mínimo.

( ) entre 1 e 2 salários mínimos.

( ) entre 2 e 3 salários mínimos.

( ) mais de 4 salários mínimos.

6 Como você avalia o ensino nesta escola?

( ) bom ( ) regular.

( ) insuficiente ( ) ruim.

( ) ótimo.

7 De que forma os alunos contribuem com a aula dos professores?

( ) Não contribuem.

( ) Dão exemplos de algo vivido ou conhecido.

( ) Dão sugestões para novas discussões.

( ) Outros: _________________________________________________________________

8 A escola elabora e desenvolve algum projeto sócio-cultural/ambiental ao longo do

ano?

( ) Não ( ) Sim.

9 A relação professor / aluno é:

( ) Ruim ( ) Regular.

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158

( ) Boa, mas precisa melhorar.

( ) Ótima.

10 Os pais e a comunidade estão presentes no cotidiano da escola?

( ) Sim, bastante ( ) Sim, muito pouco.

( ) Não ( ) Não são convidados.

11 Qual a maior reclamação dos professores?

( ) Falta de material didático ( ) Baixo salário.

( ) Desinteresse dos alunos.

( ) Falta de apóio da direção.

12 Maiores reclamações dos alunos:

( ) Falta de merenda.

( ) A estrutura física da escola não é boa.

( ) Não gostam da equipe diretora.

( ) Falta de instrumentos didáticos.

( ) Outros: _________________________________________________________________

13 Os professores trabalham os temas transversais (orientação sexual, DSTs, educação no

trânsito, ética, cidadania, etc.) na sala de aula?

( ) sim, frequentemente ( ) sim, raramente ( ) não.

14 Como são avaliados?

( ) Predominam as provas ( ) Seminários.

( ) Trabalhos escritos/pesquisas.

( ) Avaliação contínua/qualitativa.

( )Simulados ( ) Outro: ________________________________________________

15 Os professores realizam atividades com os alunos fora da sala de aula (aula de

campo)?

( ) Não ( ) Sim, raramente.

( ) Sim, frequentemente.

16 Instrumentos/Equipamentos utilizados na sala de aula:

( ) Retroprojetor ( ) TV / DVD.

( ) Computador ( ) Jornais.

( ) Micro-sistem (música) ( ) Revistas.

( ) Outros: _________________________________________________________________

17 A escola que você estuda oferece livros didáticos?

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159

( ) Sim ( ) Não.

18 Quais as oportunidades de aprendizagem a escola tem oferecido para aumentar o nível

de conhecimentos dos alunos?

( ) nenhuma ( ) quase nenhuma.

( ) muitas ( ) oportunidades boas mas precisa melhorar.

19 Sua escola prepara “verdadeiros cidadãos” para a vida?

( ) sim ( ) não ( ) mais ou menos

20 O que falta para sua escola ser uma das melhores? (Pode marcar mais de uma

alternativa).

( ) melhorar a estrutura física da escola.

( ) melhorar o ensino, qualificando os professores.

( ) melhorar a direção escolar.

( ) Adequar os livros didáticos para a realidade do aluno.

( ) outros:__________________________________________________________________

Agradecemos a sua colaboração!

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160

Apêndice D

TRABALHO DE CAMPO: Informações a serem levantadas no Sindicato

Dos Trabalhadores Rurais de Bananeiras

Questionário para o sindicato:

1 – O sindicato tem informação de quantos assentamentos existem no município de

Bananeiras?

________________________________________________________________

2 – O sindicato tem conhecimento de quantos conflitos de terra se desenvolveram no

município, nos últimos anos?

________________________________________________________________

3 – O sindicato acompanha os projetos desenvolvidos nos assentamentos rurais? Quais?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

4 – O sindicato participou do processo de desapropriação do sítio Caboclo? Como se deu o

procedimento de compra e venda da terra para os camponeses?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

5 – A Igreja participou do processo de compra e venda do sítio caboclo? Como?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

6 – Qual a relação do sindicato com a associação de moradores do P. A. Nossa senhora das

graças?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

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161

Apêndice E

TRABALHO DE CAMPO: Informações a serem levantadas no INCRA.

1 – Qual era o nome do antigo latifúndio?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

2 – A quem pertencia?

________________________________________________________________

3 – Qual era a área do latifúndio?

a) área total (ha):

________________________________________________________________

b) área dividida em lotes (ha):

________________________________________________________________

c) área de uso comum (ha)

________________________________________________________________

d) área de preservação ambiental (ha)

________________________________________________________________

e) área de terras impróprias ao uso do solo agrícola por causa do afloramento de rochas

cristalinas (ha)

________________________________________________________________

4 – Como se deu o processo que levou ao desmembramento do latifúndio?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

5 – Qual o programa gerador do assentamento?

________________________________________________________________

6 – Como surgiu a associação?

________________________________________________________________

7 – Quais os projetos desenvolvidos no assentamento desde a sua fundação?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

* Solicitar as cópia dos mapas do latifúndio transformado em assentamentos.

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Apêndice F

TRABALHO DE CAMPO: Informações a serem levantadas com o antigo

proprietário do sítio Caboclo.

1 – Qual era o nome do antigo latifúndio?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

2 – Como se deu o processo que levou ao desmembramento do latifúndio?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

3 – Existem outras propriedades pertencentes à família na região? Quantas?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

4 – Por que a família não colocou as outras fazendas para serem desapropriadas?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

5 – O que levou a família abrir mão da propriedade?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

6 – O que levou a família abrir da Fazenda Caboclo para a desapropriação?

________________________________________________________________

7 – Qual a relação do ex-proprietário com os antigos moradores e hoje assentados da Fazenda

Caboclo?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

* Fazer um levantamento junto ao antigo proprietário sobre possíveis registros fotográficos

e/ou documentais que mostrem formas antigas de produção econômica no latifúndio.

OBS: Tirar as fotografias dos casarões da cidade.

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163

Apêndice G

TERRA DE TRABALHO, TERRA DE PRODUÇÃO, TERRA DE VIDA

(a organização da produção e do trabalho na agricultura familiar

paraibana)

QUESTIONÁRIO No. ___________ MUNICÍPIO ____________________

OBS: O QUESTIONÁRIO DEVE SER APLICADO AO RESPONSÁVEL

PELA UNIDADE DE EXPLORAÇÃO OU A UM RESPONSÁVEL

(CÔNJUGE OU FILHO)

LOCALIDADE (sítio, propriedade, etc.) ______________________________________________

NOME DO ENTREVISTADO______________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA_________________________________________________________

ENDEREÇO DO ENTREVISTADO_________________________________________________

NOME DO ENTREVISTADOR____________________________________________________

OBS: sempre colocar se chama a unidade de exploração de Sitio, de Fazenda ou de outro nome

I - IDENTIFICAÇÃO E CONTEXTO FAMILIAR

1. Situação de domicílio do(a) agricultor(a) entrevistado(a) (trata-se do lugar onde mora

o agricultor entrevistado)

1.1.( ) rural isolado; 1.2. ( ) comunidade rural composta por vários sítios; 1.3. ( ) rural

concentrado – vilarejo; povoado; 1.4. ( )agrovila

1.5. lote ou parcela em assentamento rural 1.6. ( ) urbano; 1.7. ( ) Outro

(especificar)_________________________________________________________________

OBS: Rural isolado (se o domicílio fica num sítio ou numa localidade rural, porém isolada,

longe de outros domicílios); Agrovila (quando num assentamento ou agrovila de usina, etc)

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164 2 – Características da família do (a) agricultor (a) residente no domicílio

Nome Posição

familiar

Entrevistado Sexo Idade Estado civil Escolaridade Onde nasceu? Ocupação Renda

Estudou Estuda Município Área Principal Outras ocupações atuais Mensal

Série Atividade Município Área

1.

2.

3.

4.

5

6.

7.

8.

9.

10.

11.

12.

Entrevistado: 1 – sim; Sexo: 1 – masc.; 2 – fem; Estado civil: 1 - casado; 2- solteiro; 3:-viúvo; 4- separado; 5- junto. Posição familiar: 1 – pai; 2 – mãe; 3 filho; 4 – avô e avó; 5 –

parente; 6 – outros; Área: 1 – rural; 2 – urbana; Escolaridade: 1. Estudou; 2. Estuda; Série: 1- analfabeto; 2- 1ª.fase Ensino fundamental incompleto; 3- 1ª. fase do ensino fundamental

completo; 4 - 2ª.fase Ensino fundamental incompleto; 5 - Ensino fundamental Completo 6. Ensino médio incompleto; 7 - Ensino médio completo; 8 - Ensino superior incompleto; 9:

Ensino superior completo; Ocupação Principal: 1 – agricultura de base familiar; 2- assalariado rural ; 3- assalariado urbano; 4- comerciante; 5 – atravessador; 6. – func. público; 7 –

aposentado; 8- do lar; 9- desempregado; 10. outros (especificar). Obs.: Renda: quanto foi que ganhou este mês em dinheiro?

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165

3. Alguém que mora na sua casa recebe algum tipo de aposentadoria? ( ) Sim ( ) Não.

4. Se sim, de quanto é a aposentadoria?__________________________________________

4. Quantos filhos teve?_______________________________________________________

5. Dos filhos que teve quantos saíram de casa para trabalhar fora?___________________

6. Dos filhos que teve quantos vivem ainda com a família?____________________________

II- CARACTERIZAÇÃO DA UNIDADE PRODUTIVA

7. Qual a área total da terra?______________hectares

8. Como é o solo da terra (do sítio, do lote, da parcela)? (qualidade, se é ondulada,

fortemente ondulada, plana – topografia – recursos hídricos)?

9. Existe alguma parte da terra que não pode ser aproveitada? 9.1. ( ) Sim 9.2. ( )Não.

10. Se sim, qual o tamanho da área e porque não pode ser aproveitada?

10. 1 Tamanho: _____________ 10.2 Causa________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11. Tem alguma área que é de reserva e/ou de preservação? 11.1. ( ) Sim 11.2. ( )Não

12. Se sim, qual é a dimensão (em ha ou outra medida de área) ? 12.1. _______________

13. A que corresponde essa área? 13.1. ( ) nascente; 13.2. ( ) mata; 13.3. ( ) paul;

13.4 ( ) outra.

___________________________________________________________________________

14. Como é o clima da área onde fica a terra (sítio, parcela, lote)? 14.1. ( ) seco e com

pouca chuva; 14.2 ( ) úmido de serra; 14.3 ( ) úmido e com chuvas bem distribuídas o ano

todo; 14.4 outro.______________________________________________________________

15. Tem algum rio ou riacho cortando ou nascendo no estabelecimento?

15.1. ( ) Sim 15.2. ( )Não.

16. Se sim, como se chama e qual sua importância para a atividade agrícola?__________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

17. Qual a distância (em quilômetros) do estabelecimento rural para a sede do município

onde está situado? ___________________________________________________________

18. Qual a importância que tem essa terra para o (a) Sr(a)? ________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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19. O que significa a palavra sítio para o(a) senhor(a)?_____________________________

___________________________________________________________________________

(PROCURAR SABER TAMBÉM O SIGNIFICADO DO NOME DO

ESTABELECIMENTO)

III – A PRODUÇÃO

3.1. A produção agrícola

20. Qual o tamanho da área plantada com lavouras na safra de 2006? ________________

21. Qual o tamanho da área destinada para pastagens em 2006?_____________________

22. Tem área reflorestada? 22.1. ( ) Sim 22.2. ( )Não

23. Em caso positivo, qual o tamanho da área? ___________________________________

24. Das lavouras temporárias, quais as que o (a) Sr.(a) plantou no ano de 2006?

Produto mandioca milho Feijão macáçar

Feijão mulatinho

Feijão verde

23.1. área

plantada

23.2. Quanto colheu

Listagens de Lavouras temporárias segundo o IBGE: Abacaxi, algodão herbáceo, alho,

amendoim, arroz, aveia, batata-doce, batata-inglesa, cana, cebola, centeio, cevada, ervilha,

fava, feijão, fumo, girassol, juta, linho, malva, mamona, mandioca, melancia, melão, milho,

rami, soja, sorgo, tomate, trigo.

24. Desses produtos teve algum que foi plantado na mesma área (plantio consorciado ou

sequencial)? .24.1 ( ) Sim 24.2. ( )Não.

25. Em caso positivo quais os produtos foram plantados na mesma área?

___________________________________________________________________________

26. Das lavouras permanentes, quais as que o (a) Sr.(a) plantou e/ou colheu no ano de

2006?

Produto

26.1 área

plantada

26.2 Quanto

colheu

Listagens de Lavouras permanentes segundo o IBGE: Abacate, algodão arbóreo, banana,

cacau, café, caqui, castanha de caju, coco-da-baía, dendê (coco), figo, goiaba, guaraná,

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167

laranja, limão maçã, ,mamão, manga, maracujá, palmito, pimenta do reino, sisal, tangerina,

urucum, uva, pode acrescentar a pinha e todos os frutos de fruteiras permanentes.

27. Desses produtos teve algum que foi plantado na mesma área (plantio consorciado ou

seqüencial)? .27.1 ( ) Sim 27.2. ( )Não.

28. Em caso positivo quais os produtos foram plantados na mesma área?_____________

___________________________________________________________________________

29. De todos os produtos que planta qual o mais importante?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

30. Por que é mais importante?________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

31. Em qual o período do ano o(a) Sr.(a) prepara a terra para o plantio? (mês).

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

32. Tem diferença de lavoura para lavoura? 45.1. ( ) Sim 45.2. ( )Não.

33. Se positivo qual é a diferença?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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34. Como é feita esta preparação do solo para o plantio (em que consiste - etapas)? Produtos 34.1 Broca e derrubada 34.2

queimada

(coivara)

34.3

encoivaramento

34.4

destocamento

34.5

gradagem

34.6 marcação

do terreno e

piqueteamento

34.7

enterrio

das

estacões e

preparo de

covas

34.8 plantio das

mudas no campo

34.9 Outro

Instrumento(s) Próprio

ou

alugado

I

n

st

r

u

m

e

n

t

o

Próprio ou alugado I

n

st

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Próprio ou

alugado

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Próprio

ou

alugado

Instrumento Próprio

ou

alugado

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Próprio

ou

alugado

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ou

alugado

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t

o

Próprio

ou

alugado

I

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st

r

u

m

e

n

t

o

Próprio

ou

alugado

Instrumentos usados: 1. enxada; 2. grade; 3. semeadeira/plantadeira; 4. cultivador; 5. trator; 6. outros (especificar) . 1. Próprio; 2. Alugado

OBS: Procurar saber: a) o que é broca? b) como é feita a queimada? c) o que é encoivaramento e como é feito? d) o que é gradagem, como é feita e por que é feita; e) como é a

marcação do terreno e o piqueteamento caso faça; f) o que é enterrio e como prepara as covas. Gravar as respostas e transcrever.

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35. Qual é o tipo de sistema de produção utilizado?

35.1. ( ) tradicional 35.2. ( ) semi-orgânico 35.3. ( ) orgânico (procurar saber a

diferença com o técnico da Emater).

36. Se a produção é orgânica ou semi-orgânica:

36.1. Desde quando iniciou?___________________________________________________

36.2. Quem orienta? _________________________________________________________

36.3. Quais os produtos produzidos neste sistema? ________________________________

37. Como e quando são feitas as limpas?

37.1 Produtos 37.2 Quantidades de

limpas

37.3 Como

é feita

37.4 Instrumento

usado

37.5 Tipo de

produto usado

Como é feita: 1. Manual; 2. Mecanizada

38. Quando faz a colheita e como é feita?

38.1 Produtos 38.2 Época da colheita (mês) 38.3 Como é feita 38.4 Instrumento usado

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Como é feita: 1. Manual; 2. mecanizada

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170

39. Teve alguma perda em alguma lavoura na safra de 2006? 39.1 ( ) Sim 39.2 ( ) Não.

40. Se positivo, em que produto e qual a causa?___________________________________

41. Qual a expectativa da safra desse ano de 2007?________________________________

42. O senhor beneficiou algum produto em 2006? 42.1. ( ) Sim 42.2. ( ) Não.

43. Se positivo, qual (is) o (s) produto(s) beneficiado(s)?____________________________

44. O senhor planta algum tipo de pasto ou forragem? 44.1. ( ) Sim 44.2. ( ) Não.

45. Se sim qual a área plantada em 2006 com pasto ou forragem, segundo o tipo?

Tipo de pasto Área plantada em 2006

45.1. Capim elefante

45.2. Capim bracchiaria

45.3 Capim colonião

45.4 Palma forrageira

45.5. Cana forrageira

45.6 Outros(especificar)

3.2. Produção animal

46. O (a) Sr(a). cria algum animal? 46.1 ( ) Sim 46.2 ( )Não.

47. Em 2006 qual era sua produção animal?

Tipo No. de cabeças

47.1. boi No. ( )corte ( )reprodutor ( )consumo ( )venda

47.2. vaca No. ( )corte ( )leite ( )consumo ( )venda

47.3. bezerro No. ( )corte ( )reprodutor ( )consumo ( )venda

47.4 bezerra No. ( )corte ( )reprodutor ( )consumo ( )venda

47.5 cabra No. ( )corte ( )leite ( )consumo ( )venda

47.6. bode No. ( )corte ( )reprodutor ( )consumo ( )venda

47.7 ovelha No. ( )corte ( )reprodutor ( )consumo ( )venda

47.8 porco No. ( )corte ( )reprodutor ( )consumo ( )venda

47.9 frangos e

galinhas

No. ( )corte ( )reprodutor ( )consumo ( )venda

47.10 peru(a) No. ( )corte ( )reprodutor ( )consumo ( )venda

47.11 pato(a) No. ( )corte ( )reprodutor ( )consumo ( )venda

47.12 galos No. ( )corte ( )reprodutor ( )consumo ( )venda

47.13 cavalo No. ( )reprodutor ( ) trabalho ( )consumo ( )venda

47.14 burro No. ( )reprodutor ( ) trabalho ( )consumo ( )venda

47.15 jumento No. ( )reprodutor ( ) trabalho ( )consumo ( )venda

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48. Desses animais qual o mais importante e por quê?______________________________

___________________________________________________________________________

49. Houve perdas de algum desses animais no ano de 2006? 49.1. ( ) Sim 49.2. ( )Não.

50. Se positivo, o que causou a perda?

___________________________________________________________________________

51. Vendeu algum desses animais em 2006? 51.1. ( ) Sim 51.2. ( )Não.

52. Se sim, quais e por que vendeu?_____________________________________________

53. Que tipo de ração dá aos animais?

___________________________________________________________________________

54. Cria abelha? 54.1. ( ) Sim 54.2 ( ) Não.

55. Se positivo, como é feita a produção?

___________________________________________________________________________

3.3. Extração vegetal

56. O (a) senhor(a) usa lenha? 56.1. ( ) Sim 56.2. ( ) Não.

57. Se sim, de onde tira e qual é o tipo de vegetação de onde tira?___________________

58. Além da lenha, que outro produto o senhor retira da natureza sem precisar plantar?

___________________________________________________________________________

IV – A COMERCIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO

59. Como o(a) Sr (a) faz para vender?

Produto Onde vende? (se

vende na feira ver de

que cidade(s)).

A quem vende? (atravessador no

local, ou na feira, direto ao

consumidor, etc.)

Valor atual do produto

Quantidade Valor

59.1. feijão

59.2. milho

59.3 fava

59.4 farinha

59.5 macaxeira

59.6 amendoim

59.7 banana

59.8 laranja

59.10 frango

59.11. gado

59.12 leite

59.13 ovo

59.24 pinha

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172

60. Quais os principais problemas que enfrenta na comercialização?_________________

___________________________________________________________________________

V- FINANCIAMENTO

61. O (a) senhor(a) já tomou dinheiro emprestado ao banco para a sua agricultura?

61.1. ( ) Sim 61.2. ( ) Não.

62. Se sim, quando tomou emprestado?__________________________________________

63. Se sim, em que Banco, e para que finalidade?

___________________________________________________________________________

64.. Se tomou empréstimo, teve dificuldade para tomar? 64.1. ( ) Sim 64.2. ( ) Não.

65. Se sim, explique porque teve dificuldade.

___________________________________________________________________________

66. Se sim teve dificuldade para pagar? 66.1. ( ) Sim 66.2. ( ) Não.

67. Se sim, explique por que.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

68. Acha fácil conseguir empréstimo bancário para a agricultura? 68.1. ( ) Sim

68.2. ( ) Não.

VI – INFRA-ESTRUTRA, MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS E OUTROS INSUMOS

AGRÍCOLAS

69. Quais as instalações que o senhor tem na sua terra?

Instalação Forma de aquisição Forma de uso

No. Recurso

próprio

Financiado

(fonte)

Individual Coletivo

açude

depósito

curral

cocheira

galinheiro

silo

barreiro

Barragem subterrânea

Poço

cisterna

pocilga

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70. Que máquinas e equipamentos o Sr utilizou na safra passada?

Máquinas ou equipamentos próprio alugado Se é alugado, a

quem aluga

Se é alugado como paga e

quanto paga?

trator

colheitadeira

bomba para irrigação

aspersor para irrigação

caminhão

carroça

ensiladeira

debulhadeira de feijão

triturador

Outros:

71. Quais os implementos que o (a) Sr(a) utilizou no ano passado?

Implementos próprio alugado Se é alugado a

quem aluga

Se é alugado como paga e

quanto paga?

arado

grade

adubador

Semeadeira / plantadeira

cultivador

roçadeira

calcareador

sulcador

pulverizador

estrovenga

ancinho

foice

enxada

outro

72. Usa algum tipo de adubo? 72.1. ( )Sim 72.2. ( ) Não.

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73. Se sim, quais os tipos de adubo que o senhor usa? Em que usa? Onde compra?

Tipo de Adubo Em que usa Onde compra

74. Quem orienta como usar o adubo?_________________________________________

75. Compra semente? 92.1. ( )Sim 92.2. ( ) Não.

76. Se sim, que semente compra e onde compra?

Tipo de semente Onde compra

77. Se não compra a semente como as consegue?_________________________________

__________________________________________________________________________

78. Utiliza remédio para os animais? 78.1. ( )Sim 78.2. ( ) Não.

79. Se sim, que remédios, quem orienta como usar?

__________________________________________________________________________

80. Vacina os animais 80.1. ( )Sim 80.2. ( ) Não.

81. Se sim, quais os animais, que vacinas, quem vacina e quem orienta?

Animais Tipo de vacinas (para quê?) Quem orienta

82. Usa veneno para combater as formigas? 82.1. ( )Sim 82.2. ( ) Não.

83. Se sim, que veneno usa, onde compra e quem orienta como usar?

Tipo de veneno Onde compra Quem orienta

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84. Usa veneno para combater as pragas? 84.1. ( )Sim 84.2. ( ) Não.

85. Se sim, que veneno usa, onde compra para que tipos de pragas e quem orienta como

usar?

Tipo de praga Tipo de veneno Onde compra Quem orienta

86. Usa herbicida para limpar o mato? 86.1. ( )Sim 86.2. ( ) Não.

87. Se sim, que herbicida usa, onde compra e quem orienta como usar?

Tipo de veneno Onde compra Quem orienta

VII – ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

88. A terra é própria? 88.1. ( )Sim 88.2. ( ) Não.

89. Se a terra não é própria qual é a condição de acesso a terra?

89.1. ( ) arrendamento; 89.2 ( ) paga a meia 89.3 ( ) paga a terça 89.4 ( ) paga a

quinta 89.5 ( ) a terra é cedida e não paga nada; 89.6. ( ) a terra é cedida e não paga nada

mas tem obrigação de desmatar destocar e deixar o restolho e a terra pronta para o dono. 89.7

( ) a terra é dos pais e não paga nada; 89.8. ( ) é posseiro em terra de terceiros e não paga

nada.

90. Se o agricultor se enquadra numa das categorias acima, descreva como se dá o

processo de acesso e pagamento da terra (quanto paga por hectare arrendado, se paga a

meia, a terça, etc., paga com que produto etc.).

91. Trabalha na terra com a ajuda da família? 91.1 ( )Sim 91.2 ( ) Não

92. Quem são os membros da família que trabalham na terra?

92.1. ( ) filho 92.2 ( ) cônjuge 92.3. ( ) outro parente

93. Se trabalha com a ajuda da família, existe divisão de tarefas? 93.1. ( )Sim

93.2 ( ) Não.

94. Pode descrever qual é a tarefa de cada pessoa da família que trabalha na terra?

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__________________________________________________________________________

95. Se trabalha com a ajuda da família, cada um tem seu roçado? 95.1. ( )Sim

95.2 ( ) Não.

96. Conte como é o seu dia de trabalho (que horas levanta, que horas vai ao trabalho, que

horas vem almoçar, que horas volta ao trabalho, que horas retorna ao lar o qual faz em cada

etapa de trabalho)

97. Contrata trabalhadores? 97.1 ( ) Sim 97.2 ( ) Não

98. Se sim:

98. 1 quando contrata?

__________________________________________________________________________

98.2. Contrata para fazer o quê?

__________________________________________________________________________

98.3 De onde vêm os trabalhadores?

__________________________________________________________________________

98.4. Como é a forma de pagamento? ( ) por produção; ( ) por diária; ( ) por

empreitada; ( ) por tarefa; ( ) outro.

99. Quanto paga ao trabalhador contratado:

99.1 por produção _________________________ 99.2 por diária____________________

99.3 por empreitada________________________________________ 99.4 outra forma de

pagamento_________________________________________________________________

100. O senhor participa aqui na comunidade de algum trabalho em grupo (por exemplo,

criação de frango, comercialização etc)?

100.1. ( ) Sim 100.2. ( ) Não

101. Se sim, como se dá essa atividade?__________________________________________

102. É comum aqui na comunidade as pessoas ajudarem umas às outras no trabalho na

agricultura?

102.1. ( )Sim 102.2. ( ) Não (descrever a explicação).

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

103. O senhor produz ou cria noutra terra além desta? 103.1. ( ) Sim 103.2 ( ) Não.

104. Se sim, em que condição?

104.1 ( ) como parceiro 104.2 ( ) é proprietário 104.3 ( ) como arrendatário

104.4 ( ) é ocupante 104.5 ( ) a terra é cedida.

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104.6 ( ) como trabalhador assalariado (no alugado).

105. Se é trabalhador assalariado, explique:

105.1. em que atividade se assalaria______________________________________________

105.2. Porquê trabalha no alugado_______________________________________________

105.3. Qual a época do ano em que trabalha no alugado? _____________________________

105.4. Em que lugar trabalha no alugado (como assalariado)___________________________

(colocar o nome do município seja o mesmo ou outro)

106. Se é trabalhador assalariado, trabalha o ano todo? 106.1. ( )Sim 106.2. ( ) Não

107. Se não trabalha o ano todo, qual o período que trabalha?______________________

108. Alguma outra pessoa da família que mora no domicílio também trabalha noutra

terra? 108.1. ( )Sim 108.2. ( ) Não.

109. Se sim, em que condição? 109.1 ( ) como parceiro 109.2 ( ) é proprietário

109.3 ( ) como arrendatário 109.4 ( ) como ocupante 126.5 ( ) a terra é cedida.

110. Além da atividade agrícola o(a) Sr(a) tem outra atividade? 110.1. ( )Sim 110.2.

( ) Não.

111. Se sim, que outra atividade o(a) senhor(a) exerce?

___________________________________________________________________________

112. Por quê tem essa outra atividade?__________________________________________

VIII – CONDIÇÕES DE VIDA

113. De que é feita a sua casa?

113.1 ( ) tijolo; 113.2 ( ) barro ou taipa; 113.3( ) tijolo e taipa; 113.4( ) palha.

114. Quantos cômodos tem a casa (exceto o banheiro)?

114.1. ( ) 1 114.2. ( ) 2 114.3 ( ) 3 114.4 ( ) 4 114.5 ( ) 5 ou mais.

115. Sua casa tem banheiro? 115.1 ( )Sim 115.2 ( ) Não. Se sim verificar se dentro ou

fora de casa. _________________________________________________________________

116. Sua casa tem fossa? 116.1( )Sim 116.2 ( ) Não.

117. Sua casa tem energia elétrica? 117.1( )Sim 117.2 ( ) Não.

118. Sua casa tem água encanada? 118.1( )Sim 118.2 ( ) Não.

119. Se não, como faz para ter acesso à água?____________________________________

120. Possui algum meio de transporte? 120.1 ( )Sim 120.2 ( ) Não

121. Se sim, qual?

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Meio de transporte Quantidade

121.1. Bicicleta

121.2. Moto

121.3. Animal para transporte

121.4. Automóvel de passeio

121.5. caminhonete

121.6. caminhão

121.7. Outro (especificar)

122. Quais os eletrodomésticos que possui?

Eletrodoméstico Sim Não

122.1 Fogão a gás

122.2 geladeira

122.3 TV

122.4 Antena parabólica

122.5 rádio

122.6 som

122.7 liquidificador

122.8 Batedeira de bolo

122.9 Ferro elétrico

122.10 DVD

122.11Máquina de lavar

122.12 computador

IX- POLÍTICAS PÚBLICAS

123. É beneficiado com algum programa do estado?123.1. ( )Sim 123.2 ( ) Não.

124. Se sim, qual?

Política pública Sim Não Município Estado Gov. Federal

Bolsa escola

Bolsa gás

Bolsa família

Programa do leite

Programa do pão

PRONAF

outro

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125. Qual a importância desses programas para a vida da família?_______________________

126. Qual desses programas é o mais importante e porquê?____________________________

127. Tem cisterna de placa? 125.1. ( ) Sim 125.2 ( ) Não

128. Se tem cisterna de placa, como teve acesso, através de que instituição, qual a

contrapartida da família?_____________________________________________________

129. Quantos litros de água cabe numa cisterna? _________________________________

130. Para que é usada a água da cisterna?_______________________________________

131. A água da cisterna dá para abastecer a família por quanto tempo?_______________

132. Qual a importância da cisterna para a vida da família?________________________

X- INTEGRAÇÃO DA FAMILIA NA COMUNIDADE, NO MUNICÍPIO E

SOCIABILIDADE

126. Se reside no campo: A família costuma ir à cidade? 126.1( )Sim 126.2( ) Não.

127. Se sim, a qual cidade?____________________________________________________

128. O que costuma fazer na cidade:

128.1 ( ) feira 128.2 ( ) ir à igreja 128.3 ( ) compras da casa 128.4 ( ) festas

128.5 ( ) associação 128.6 ( ) visitar familiares e amigos 128.7 ( ) outros.

___________________________________________________________________________

129. O que o(a) Sr(a) faz nas horas de folga?_____________________________________

130. Participa de alguma associação? 130.1( )Sim 130.2 ( ) Não.

131. Se sim, qual?____________________________________________________________

132. Gosta de viver aqui e de ser agricultor(a)? 132.1 ( )Sim 132.2 ( ) Não.

133. Se sim ou se não, por quê?_________________________________________________

134. Quais as principais dificuldades que o pequeno agricultor enfrenta no município?

___________________________________________________________________________

XI – AGENTES EXTERNOS

135. Utiliza assistência técnica na atividade agropecuária? 135.1. ( ) Sim 135.2

( ) Não.

136. Se utiliza, quem presta assistência técnica ? 136.1. ( ) Técnico da Emater

136.2 ( ) Técnico do Incra 136.3. ( ) Técnico contratado pela CPT.

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136.4. ( ) Técnico contratado pelo MST; 136.5 ( ) Outro ___________________________

137. Se utiliza, como avalia a assistência técnica? 137.1 ( ) Muito

boa 137.2 ( ) Regular 137.3 ( ) Ruim 137.4 ( ) Péssima.

138. Se não utiliza, por que não utiliza?__________________________________________

139. Como avalia a atual política do governo federal para o pequeno agricultor?_______

___________________________________________________________________________

140. A prefeitura municipal tem alguma política voltada para o pequeno agricultor?

___________________________________________________________________________

141. Existe alguma Associação Municipal dos Pequenos Produtores Rurais?

141.1. ( ) Sim 141.2 ( ) Não.

142. Se existe, o (a) senhor(a) participa dela? 142.1. ( ) Sim 142.2 ( ) Não.

143. Se existe, qual sua importância?

___________________________________________________________________________

144. O STR do município tem atuado junto aos pequenos produtores rurais?

144.1. ( ) Sim 144.2 ( ) Não.

145. Qual a importância do STR para os pequenos produtores rurais do município?

___________________________________________________________________________

146. A igreja tem atuado junto aos pequenos agricultores do município?

146.1. ( ) Sim 146.2 ( ) Não.

147. Se sim, de que forma? ____________________________________________________

___________________________________________________________________________

148. Os políticos da região visitam ou fazem reunião com os pequenos agricultores ou

lhes dão assistência?

___________________________________________________________________________

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES:

SE UTILIZA TÉCNICAS ALTERNATIVAS OU SOCIAIS DE PRODUÇÃO (agroecologia,

curva de nível, barragem subterrânea, formas de plantio voltadas para a proteção do solo, etc.,

fazer uma entrevista individual buscando todas as informações sobre todas as práticas e

técnicas utilizadas).

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SOBRE O USO DE TRABALHO ASSALARIADO: complementar com entrevista

procurando entender porque usa, quando e quanto e em que atividades e de onde vem essa

mão-de-obra.

SOBRE POSSÍVEL ASSALARIAMENTO DOS MEMBROS DA FAMÍLIA: complementar

as questões procurando saber por que os membros da família se assalariam, onde e em que

atividades e quando se assalariam.

SOBRE A INCAPACIDADE DE A UNIDADE PRODUTIVA GARANTIR A

SOBREVIVÊNCIA DE TODA A FAMILIA: questionar se tem filhos morando dentro e fora

DA UNIDADE PRODUTIVA. Os que saíram, porque saíram? A terra não é suficiente para

manter todos solteiros ou casados?

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ANEXOS

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ANEXO 01 – O mandado de imissão de posse de nº 4668 da fazenda Caboclo.

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ANEXO 02 – Ata da assembléia de formação da primeira direção e a aprovação do

Estatuto aconteceu dia 22 do mesmo mês e ano da Associação do PA Nossa Senhora das

Graças.

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