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Maio/2011 Vida Judiciária Nº 156 - Maio 2011 - 7,50€ EM FOCO Regulamento das Custas Processuais Litigantes em massa – novas regras MARCAS Transmissão de direitos de propriedade industrial ENTREVISTA Júlio Gomes, Indemnizações por despedimento podem ser excessivas PROCESSO EXECUTIVO Encargos devidos pelos “grandes litigantes”

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Nº 156 - Maio 2011 - 7,50€

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MarcasTransmissão de direitos de propriedade industrial

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Processo execuTIVoencargos devidos pelos “grandes litigantes”

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editorial VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 1

indemnizações e empregoPor: João luís Peixoto de Sousa

Portugal é um dos países do Mundo onde se praticam as indem-nizações mais elevadas por despedimento e é também um dos raros países onde o despedimento sem justa causa pode

ser sempre anulado, na medida em que o trabalhador tem direito à reintegração.Na actual conjuntura de dificuldades, com perda acelerada dos postos de trabalhos, as normas portuguesas são confrontadas com a realidade dos outros países, evidenciando as discrepâncias.O primeiro-ministro cessante dizia até há bem pouco tempo que Portugal deveria ter as normas laborais mais exigentes, ou seja, mais favoráveis aos trabalhadores, entre todos os países do mundo desenvol-vido. Mas, o acordo com a Troika prevê que o alinhamento das normas portuguesas com os padrões médios da União Europeia, implicando uma redução significativa das indemnizações por despedimento.Na entrevista que acaba de conceder à “Vida Judiciária”, o prof. Júlio Gomes admite que actualmente as indemnizações por despedimento podem atingir valores excessivos. Nos litígios que envolvem quadros médios e superiores as indemnizações fixadas pelos tribunais portu-gueses chegam a atingir 300 ou 400 mil euros.Mas, o prof. Júlio Gomes considera que não existem provas que de-monstrem que a diminuição dos custos de despedimento promova o aumento do emprego.De facto, é sempre possível questionar a relação directa entre os custos do despedimento, ou outros factores, como a tributação do trabalho, sobre o nível de emprego.Mas, não parecem existir dúvidas quanto aos reflexos positivos da flexibilidade e da liberdade contratual mesmo numa área sensível como é a área laboral. Os países com normas mais flexíveis e com menores custos de despedimento são quase sempre aqueles onde as taxas de desemprego são mais baixas, mesmo em períodos de crise, e são também aqueles onde se praticam salários mais elevados. É o caso da Áustria e também da Suiça, onde reside e trabalha uma vasta comunidade portuguesa que se dá bem com a liberdade de despe-dimento, tem uma actividade profissional estável e um nível de vida muito superior ao dos compatriotas nacionais protegidos pelas normas laborais existentes.

ProprietárioVida Económica - Editorial, S.A.

Rua Gonçalo Cristóvão, 14 r/c

4000-267 Porto

NIF 507 258 487

directorJoão Carlos Peixoto de Sousa

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assinaturasMaria José Teixeira

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redacção, administração Rua Gonçalo Cristóvão, 111

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impressãoUniarte Gráfica / PortoPublicação inscrita no Instituto

da Comunicação Social nº 120738

Empresa Jornalística nº 208709

Periodicidade: mensal

Nº 156 Maio 2011REVISTA MENSAL

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sumárioVIDA JUDICIÁRIA - Maio 20112

11 Em Foco Regulamento das Custas Processuais Litigantes em massa – novas regras

14 Actualidades Informações jurídicas

18 Registos & Notariado Cedência ocasional de trabalhador

19 Análise Processo executivo – encargos devidos pelos “grandes litigantes”

21 Marcas & Patentes Transmissão de direitos de propriedade industrial

35 Jurisprudência

Resumos de Jurisprudência Jurisprudência do STJ e das Relações Sumários do STJ

61 Legislação Principal legislação publicada 1ª e 2ª séries do Diário da República

Júlio Gomes, professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade do Porto,

indemnizações por despedimento podem ser excessivas

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entrevistaVIDA JUDICIÁRIA - Maio 20114

Júlio Gomes, professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, em entrevista

indemnizações por despedimento podem ser excessivas

TERESA SILVEIRA

[email protected]

Os critérios indemnizatórios actualmente em vigor em Portugal em caso de despedimento ilícito ou por extinção do posto de trabalho ou despedimento colectivo “podem levar a indemnizações excessivas”, considera Júlio Gomes, especialista em Direito do Trabalho e professor da Faculdade de Direito da Universidade Católica do Porto (UCP). Porém, e tomando a Irlanda como exemplo, onde “sempre foi fácil despedir e nunca houve indemnizações avultadas”, Portugal não vai tornar-se mais competitivo nem criar mais postos de trabalho apenas pela redução desses custos para as empresas. “Muito cínico e céptico em relação à Concertação Social” e à necessidade “urgente de introduzir critérios de representatividade” dos parceiros sindicais e patronais naquele órgão, Júlio Gomes concorda com a redução da Taxa Social Única que a ‘troika’ nos impõe. “Do ponto de vista competitivo, é capaz de ser

vantajosa”, diz o professor em entrevista à “Vida Judiciária”.Antecipa, porém, uma medida inevitável, em nome da evolução demográfica do país e da sustentabilidade da Segurança Social: “a idade da reforma vai ter de ser subida”. Para este especialista não há dúvidas: “De certeza que vamos ter de trabalhar até aos 70 anos, pelo menos”.

vida Judiciária – O acordo tripartido para a competitividade e o emprego, assinado a 22 de Março entre o Gover-no e os parceiros sociais (com excep-ção da CGtP e da CaP), acabou por ser ultrapassado pelo chamado PeC iv, ele próprio também chumbado pela Oposição, o que veio a derivar na queda do Governo e na convocação de eleições antecipadas. O acordo firmado agora com a ‘troika’ (FMi, BCe e Ce) vai exigir, no entanto, que os parceiros sociais voltem a discutir novas medidas. Perante isto, qual é, afinal, o papel da Concertação social em Portugal?Júlio Gomes – Eu sou muito cínico e céptico em relação à Concertação So-cial, que se está a transformar num sis-tema neocorporativo. Uma coisa é dar aos parceiros sociais a possibilidade de intervirem na elaboração da legislação laboral, de uma forma, digamos, consul-

tiva; outra coisa é o sistema para o qual estamos tendenciosamente a evoluir, em que os parceiros são chamados para esses acordos, cuja natureza jurídica nem sequer é pacífica, para dizer quais vão ser os traços fundamentais ou, mes-mo, o conteúdo material da letra dos preceitos. E, depois, isto é tudo apresen-tado à Assembleia da República, como se a reserva material para a lei laboral não significasse nada e como se fosse uma mera caixa de ressonância, graças à disciplina partidária e ao facto de que os deputados se limitam a seguir as in-dicações que o partido lhes dá. Eu julgo que este sistema já muito pouco tem de democrático, até porque ninguém elege os parceiros sociais.

vJ - não considera que a concertação social carece de representatividade, quer ao nível dos parceiros do lado patronal, quer dos parceiros sindi-cais?JG - Um dos graves problemas do nosso sistema está, precisamente, na falta de critérios de representatividade. A nossa lei opera uma verdadeira “quadratura do círculo” ao permitir a extensão por via administrativa de convenções colectivas, por exemplo, desinteressando-se por completo da representatividade real das associações sindicais outorgantes. Aliás, a lei atribui ao Ministério do Trabalho um poder discricionário de escolher qual a convenção colectiva que vai estender,

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“Eu sou muito cínico e céptico em relação à Concertação Social, que se está a transformar num sistema neocorporativo. Um dos graves problemas do nosso sistema está, precisamente, na falta de critérios de representatividade”, afi rma Júlio Gomes.

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permitindo-lhe até estendê-la, mas só em parte… Quanto à concertação social, o problema surge quando ela se arroga o poder de decidir, pelo menos nos seus vectores essenciais, a legislação laboral, ultrapassando em muito o papel de participação na elaboração da legislação laboral que a Constituição reserva para os representantes dos trabalhadores. E importa recordar que existem sindicatos independentes que não pertencem nem à UGT nem à CGTP, além de que tudo indica que a filiação do lado patronal é também muito baixa.

vJ - o acordo celebrado com a ‘troika’ prevê medidas tendentes a melhorar essa representatividade. Como deve-riam ser implementadas, em termos práticos, essas medidas?JG – É urgente introduzir critérios de

representatividade, embora, a este nível, existam muitos modelos, como demonstra o direito comparado. A solu-ção mais simples em termos de gestão é a norte-americana, em que se procede a uma eleição em cada ‘bargaining unit’ (normalmente a empresa) do sindicato mais representativo que depois repre-sentará todos os trabalhadores. A van-tagem do sistema é a sua simplicidade em termos de gestão, embora também tenha desvantagens, tendendo a con-centrar excessivamente o poder nas mãos de um sindicato.

vJ - essa votação parece-lhe exe-quível, tendo em conta que o tecido empresarial português é constituído, na esmagadora parte, por micro e pequenas empresas, onde isso, à partida, é inviável?

JG – Teoricamente, neste momento também podem existir votações secre-tas para constituição de comissões de trabalhadores nessas empresas, embora deva reconhecer que praticamente não ocorrem, talvez porque o processo é excessivamente complexo. É claro que se os empregadores tiverem também vantagem em saber quem é o seu in-terlocutor, tais eleições poderão mais facilmente ocorrer. Tudo indica, aliás, de acordo com o próprio Memorando, que as comissões de trabalhadores vão ter um papel crescente neste domínio, mesmo que delegado pelas associações sindicais. Será curioso ver como é que tais competências lhes serão atribuídas quando neste momento não estão pre-vistas na lei formas de financiamento das comissões. Quem pagará os custos de formação dos negociadores, as cus-

“Nestes momentos de crise, certos ‘lobbies’, industriais, comerciais, conseguem o que não conseguem nos outros momentos. É uma oportunidade politicamente conveniente para reduzir as indemnizações por despedimento. Aproveitam-se disso”, revela Júlio Gomes.

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tas de acções judiciais, os honorários de advogados e peritos? Na Alemanha a lei prevê que é o empregador. E entre nós?

vJ - Do lado sindical há duas centrais sindicais representadas (CGtP e uGt) no Conselho Permanente de Concer-tação social. Qual das duas centrais lhe parece que tem tido ao longo dos anos uma postura mais coerente?JG - Falando agora como cidadão e como trabalhador subordinado, que também sou, e não tanto como jurista, não faço qualquer segredo que a esse nível me parece que a atitude da CGTP me parece mais coerente. Transigir sempre não é necessariamente a me-lhor política.

vJ - apesar dessa diferença entre as duas centrais, não tem vindo a públi-co que os trabalhadores associados dos sindicatos da uGt reclamem ou se desvinculem em oposição à sua postura em sede de Concertação social. Como analisa esse comporta-mento dos trabalhadores?JG – Já fui acusado injustamente de “abrir uma caça às bruxas” aos sindica-tos da UGT. O facto de eu nem sempre concordar com a atitude conciliadora da UGT na concertação social não me cega para o facto de haver mais, muito mais, na vida sindical que essa participação na concertação social. E os sindicatos, tanto da UGT como da CGTP e, até, outros independentes, esforçam-se corajosamente por defender os direi-tos dos trabalhadores, num clima em que essa defesa é cada vez mais difícil e, até, arriscada. Penso, contudo, que poucos governos portugueses terão prejudicado tanto os interesses dos tra-balhadores como o Governo Sócrates, agora cessante, e que a UGT deveria ter denunciado mais activamente essa situação, sem deixar, todavia, de lhe reconhecer o mérito de, por exemplo, ter participado, conjuntamente com a CGTP, em uma greve geral.

vJ – mudemos de assunto. o acordo firmado entre o Governo e a ‘troika’

prevê que as compensações por ces-sação de contrato para os novos con-tratos sem termo serão reduzidas de 30 para 10 dias por ano de antiguida-de (e 10 dias adicionais a serem pagos por um fundo financiado pelos em-pregadores) com um limite máximo de 12 meses e a eliminação do limite mínimo de três meses de retribuição que não dependem da antiguidade. Que opinião tem sobre isto?JG – Por um lado, os critérios indem-nizatórios que actualmente estão em vigor podem levar a indemnizações excessivas. Vejamos, por exemplo, o des-pedimento de um treinador de futebol.

Aplicar-se-iam os critérios previstos na lei e, se o despedimento for ilícito, terá direito a todas as retribuições vincendas. Ou seja, se é uma pessoa que tem um contrato a termo de 24 meses e que é despedido ao quarto mês, em princípio vai receber 20 meses de retribuição, independentemente do montante dela. Um treinador de futebol aufere uns mi-lhares de euros de retribuição mensal. Portanto, indemnizações de 200 ou 300 mil euros sinceramente acho que não têm nada a ver com a realidade social. Penso que talvez fosse preferível permitir ao juiz reduzir equitativamente as in-demnizações. Era um sistema que criava mais incerteza, mas que era mais justo.

vJ – De certa forma o Código do trabalho já prevê que assim seja, ao deixar ao tribunal que possa fixar as

indemnizações entre 15 e 45 dias por cada ano de antiguidade.JG – Certo. Mas o juiz não pode fixar menos do que os 15 dias. E o que o nosso Código Civil permite ao juiz, em termos de cláusula penal, reduzir sem qualquer limite. Eu preferia esse sistema. A evolução que vamos ter da redução das indemnizações já se an-tecipava. Não é o fim do mundo, mas não sei como vão conseguir articular a questão dos direitos adquiridos. Penso que o sistema vai começar por só criar esta indemnização mais reduzida. Claro que isso cria uma desigualdade e até se poderia discutir se, indirectamente,

não é uma desigualdade em função da idade. A maior parte dos contratados novos serão jovens e serão eles que começarão por ter muito menor pro-tecção. Mas também se fala de estender isso aos outros trabalhadores.

vJ – o acordo com a ‘troika’ já prevê que “o Governo irá apresentar uma proposta no sentido de alinhar as compensações por cessação de contrato de trabalho para os actuais contratos com a alteração para os novos contratos”.JG – Penso que será gradual, vão come-çar por introduzir isso em relação aos mais novos e depois estender a todos.

vJ – e pensa que essa medida levará, de facto, a uma maior competitivida-de das empresas?

“Muita gente está convencida de que os desempregados são um bando de malandros preguiçosos e que, portanto, há que pô-los a trabalhar nas pedreiras ou, até, nalgum campo de trabalhos forçados, porque, assim, ao menos, trabalham para bem da comunidade”, alerta o professor universitário.

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JG – Não, de todo. Acho que se poderia aprender olhando-se, mas esta é uma imposição que nos é feita do exterior. Há sistemas onde é fácil despedir e não é por isso… na Irlanda sempre foi fácil despedir e nunca houve indemnizações avultadas e não é por aí. A Irlanda, talvez não pelas mesmas causas, mas esteve no mesmo barco que nós. O que se passa é que nestes momentos de crise, certos ‘lobbies’, industriais, comerciais, conseguem o que não conseguem nos outros momentos. É uma oportunidade politicamente conveniente para reduzir as indemnizações por despedimento. Aproveitam-se disso. De resto, nem sequer está provado, não há mais pe-quena prova científi ca de que reduzir os

custos do despedimento leve a contra-tar mais trabalhadores. Há muitos eco-nomistas que dizem que o volume de emprego depende das necessidades da economia e que não são propriamente alteráveis se se facilitar o despedimento.

vJ – mas esta medida ao menos levará a que Portugal seja um país mais atractivo ao investimento es-trangeiro?JG – Só por isso ficaremos melhor nos critérios da OCDE, que são muito estranhos para decidir quando é que o Direito do Trabalho é fl exível ou não. Eu diria que isso será secundário para dizer se tornamos o país mais atractivo ao ca-pital estrangeiro. O país não é atractivo

ao capital estrangeiro por razões que já estão diagnosticadas e que passam pela corrupção de boa parte dos quadros políticos, pela lentidão dos tribunais, embora a meu ver não por culpa dos juízes, mas por culpa do próprio sistema político que procura tolher a indepen-dência dos magistrados, isto para não falar de muitos outros problemas estru-turais da nossa economia e que não têm nada a ver com o Direito do Trabalho.

vJ – Que opinião tem sobre a intenção de ser criado um fundo de base em-presarial para ajudar a compensar as indemnizações por despedimento?JG – É uma ideia que se baseia na legis-lação austríaca, que tem vantagens e

“Julgo que tudo isto implicará novas mexidas no Código Contributivo. Não vejo como não possa ser, mas não sei ainda em que estas medidas se traduzem. Nada parece ainda muito claro”, considera Júlio Gomes.

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desvantagens. De certa forma reparte por todos os industriais os custos e quase que permite a dispersão do risco, porque todos podem ter um aperto, uma neces-sidade de extinguir postos de trabalho e de proceder a despedimentos colectivos e essa consciência repartida por todos é um amortecedor. Nesse aspecto é positivo. Eu penso que não deveria estender-se – e na proposta parece que estende – aos despedimentos sem justa causa, ilícitos, porque estamos a fazer com que os empregadores inocentes paguem pelos factos ilícitos dos outros. Nestes casos, a indemnização está ligada à culpa do empregador e não considero boa política deitá-la para as costas dos empregadores inocentes ou, até, sabe-se lá?, de todos, se esse fundo for depois alimentado pelo dinheiro de todos os contribuintes, que é uma possibilidade que ainda não vi descartada.

vJ – não crê que isto possa ser pa-radoxal, ou seja, se, por um lado, se estão a tomar medidas para tornar mais competitivas as empresas, o facto de criar este fundo de base empresarial (fala-se em 1% da massa salarial) não será um novo imposto sobre as empresas?JG – Vai ser um custo. A questão está em pensar que talvez isso ajude as empresas em situação económica mais difícil. A ideia é mesmo o difusor social, uma es-pécie de seguro colectivo. Claro que se pode dizer que os mais competentes, as empresas com maior sucesso, vão pagar o insucesso das outras. Não há bela sem senão. Numa perspectiva pessimista, eu diria que vamos ter tantas empresas em situação económica difícil, tantas em-presas a fazer despedimentos colectivos e a extinguir postos de trabalho, que o Estado, em vez de suportar o pouco que suporta através do Fundo de Garantia Salarial, vai criar um fundo para que as empresas que sobrevivam paguem aquilo que as outras já não conseguem. Agora, a medida tem, de facto, esse im-pacto que referiu: é um custo acrescido e que vai ser suportado pela economia saudável, pelas empresas competitivas.

vJ – Que entidade é que deveria gerir este fundo? Chegou a falar-se na possibilidade de ser gerido por entidades privadas?JG – Honestamente, não lhe sei dizer. É uma questão sobre a qual nunca tinha pensado. A avaliar pelo que tem aconte-cido com muitos planos de pensões que são muitas vezes confiados a entidades gestoras de fundos com o insucesso que se conhece e com a especulação financeira de alguns anos atrás, não sei se será a melhor solução. Não sei não seria de entregar a gestão desse fundo

a uma entidade que fizesse uma gestão mais cautelosa, dadas as tentações que isto comporta, pois estamos a falar de muito dinheiro.

vJ – Uma das alterações previstas no acordo com a ‘troika’, e que foi, aliás, objecto de promessas eleitorais nestas eleições, é a redução da taxa social Única (tsU) para as empresas. Fala-se em 4%, sendo essa verba compensada mais à frente com um ajustamento das taxas do iva. Que opinião tem sobre isto?JG – Do ponto de vista competitivo, é capaz de ser vantajosa. Uma redução da TSU pode ser, julgo eu, bastante vanta-josa para as empresas. Agora, não sei até que ponto é que isso não põe mais em causa o nosso sistema de segurança social. Mas, enfim, penso que será uma medida de curto prazo e que, mais uma vez também, nos é imposta. Não temos

grande ou nenhuma margem de mano-bra para a recusar.

vJ – e o que pensa sobre a compen-sação desta quebra de receita por via do ajustamento [leia-se aumento] das taxas do iva?JG – Vai melhorar a competitividade das empresas à custa de todos nós, que pagamos IVA, como consumidores. Mais uma vez, vão-se transferir custos suportados pelas empresas para a população. O que se está a pedir é que os portugueses paguem um imposto

dissimulado para tornar as empresas mais competitivas.

vJ – no meio de todas estas medidas, onde entra e como fica o Código Contributivo, que foi aprovado para entrar parcialmente em vigor em 1 de Janeiro de 2011?JG – Julgo que isto implicará novas me-xidas no Código Contributivo. Não vejo como não possa ser, mas não sei ainda em que estas medidas se traduzem. Nada parece ainda muito claro. Como dizia há pouco que a Concertação Social tinha sido ultrapassada pelos factos, julgo que até as alterações legais, inclu-sive laborais, terão sido ultrapassadas pelos factos.

vJ – O regime do subsídio de desem-prego também vai ser alterado, redu-zindo a duração máxima do subsídio de desemprego para não mais do que

“Falando como cidadão e como trabalhador subordinado, que também sou, e não tanto como jurista, não faço qualquer segredo que a esse nível me parece que a atitude da CGTP me parece mais coerente. Transigir sempre não é necessariamente a melhor política”

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18 meses, limitando os subsídios de a 2,5 vezes o indexante de apoios so-ciais. o que pensa dessas alterações?JG – Não, parece-me que é uma má solução. Pior ainda, parece-me que não estamos ainda a tomar uma série de medidas que devíamos tomar para a criação de emprego e pensar seriamen-te nelas. Devíamos perguntar-nos se faz sentido permitir e facilitar cada vez mais o trabalho suplementar quando há falta de trabalho, se devemos ou não ser mais restritivos em relação ao pluriemprego, se faz sentido facilitar tanto a entrada das crianças no mercado de trabalho como em Portugal se faz quando esta-mos com problemas de desemprego crónico noutras gerações. No fundo, se nós realmente quiséssemos emprego, devíamos repensar muitas das nossas normas laborais. Claro que a redução do desemprego para alguns sectores da sociedade por-tuguesa, sobretudo os mais à direita, é politicamente aceitável. É uma bandei-

ra. Muita gente está convencida de que os desempregados são um bando de malandros preguiçosos e que, portanto, há que pô-los a trabalhar nas pedreiras ou, até, nalgum campo de trabalhos for-çados porque, assim, ao menos, traba-lham para bem da comunidade. E claro que estamos a destruir a pouco e pouco o nosso Estado de direito social, sendo até irónico que seja o Partido Socialista, ou que se chama assim, a fazê-lo. Há, contudo, uma coisa positiva. Se bem li, vão ser reduzidos também os prazos de garantia para se ter acesso ao subsídio de desemprego. Agora a redução do [período de concessão] do subsídio de desemprego não vai resolver nada, sobretudo não vai resolver o problema dos desempregados crónicos. Espero enganar-me, mas vamos assistir a vários fenómenos muito preocupan-tes: primeiro, a partida em massa de jovens qualificados. Vamos assistir a uma emigração muito diferente da dos anos 60, que foi uma tragédia para Por-tugal. Nós não pensamos nisso, porque as elites que ficaram e a Administração Pública que ficou viveu anos e anos a fio à custa das remessas dos emigrantes, mas esta emigração vai ser muito dife-rente. São jovens que provavelmente nunca voltarão, que vão partir jovens mas muito qualificados e que nos vai criar um problema tão simples como este: que sentido faz investirmos tantos recursos na Educação para que alguns dos nossos melhores jovens e os mais dinâmicos se sintam obrigados a partir? Além de que nunca regressarão e nunca haverá as tais remessas a que nos habi-tuámos durante tantos anos a parasitar e a depender.

vJ – e que outros fenómenos preo-cupantes é que vamos assistir mais?JG – Vamos assistir à expansão da po-breza e a persistência da pobreza em certas gerações, sobretudo nos mais velhos. Velhos que serão, como nos Es-tados Unidos já, de 45 anos em diante. Haverá pessoas dessa idade em diante que não terão qualquer possibilidade real de encontrar outro emprego. Não

sei de que vão viver. Esse é o mistério. Quanto ao Rendimento Social de Inser-ção, já sabemos os inimigos que ele tem no sistema, o subsídio de desemprego vai ser cada vez mais escasso, enfim… não sei.

vJ – Crê que terá de haver mexidas na lei das reformas?JG – Que devia haver, devia. Nós deví-amos ponderar uma melhor repartição do trabalho disponível. Devíamos limitar a possibilidade de cumular tra-balhos, que as pessoas neste momento têm, mas se calhar vamos adiar, por imposição externa, a idade da reforma e pela própria solvabilidade da Segurança Social. Penso que dentro em breve a idade da reforma vai ter de ser subida, também em função do aumento da esperança média de vida e da pirâmide demográfica. De certeza que vamos ter de trabalhar até aos 70 anos, pelo menos.

vJ – está a traçar um cenário dramá-tico. Fala, por um lado, de uma certa geração que não conseguirá arranjar novo trabalho e, por outro, do au-mento da idade da reforma para os 70 anos. Como é que estas pessoas vão viver, dadas as limitações dos apoios sociais?JG - O que vamos assistir cada vez mais é que as pessoas que têm emprego e que conseguem conservá-lo vão ter de trabalhar cada vez até mais tarde e àqueles que perdem o emprego a meio do caminho e que dificilmente podem voltar a ter emprego. O que se vai as-sistir – e já se está a assistir – é a uma destruição gradual da classe média, a uma depauperização cada vez maior da maior parte da população portuguesa e a uma cada vez maior concentração da riqueza nas mãos de uma pequena minoria. E, quando tivermos expulsado dezenas de milhares de jovens, nem sequer quero pensar dos velhos que forem velhos daqui a 10/15 anos e se reformarem nessa altura. Aí é que a pirâmide de idades estará totalmente invertida.

“Vamos ter tantas empresas em situação

económica difícil, tantas empresas a

fazer despedimentos colectivos e a extinguir

postos de trabalho, que o Estado, em vez de suportar o

pouco que suporta através do Fundo de

Garantia Salarial vai criar um fundo para

que as empresas que sobrevivam paguem

aquilo que as outras já não conseguem”

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em FoCo VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 11

Assim, para efeitos de aplicação da taxa de justiça agravada, prevista nas tabelas I-C e II-B do Regulamento das Custas Processuais (RCP), que trans-crevemos a final, foi estabelecido o seguinte:

i – Determinação das entidades litigantes em massa:- Até ao dia 15 de Janeiro de cada

ano civil, é elaborada pela Direcção- -Geral da Administração da Justiça uma lista de sociedades comerciais que durante o ano civil anterior te-nham intentado mais de 200 acções, procedimentos ou execuções;

- Até ao dia 25 de Janeiro de cada ano civil são notificadas todas as socie-dades constantes da referida lista, para a morada da sede constante no registo comercial, por carta re-gistada com aviso de recepção, com indicação de terem intentado entre 200 e 500 ou mais de 500 acções, procedimentos ou execuções.

- As aludidas sociedades comerciais, que tenham intentado entre 200 e 300 acções, procedimentos ou exe-cuções, podem, no prazo de 10 dias a contar da respectiva notificação, reclamar, fundadamente, junto da Direcção-Geral da Administração da Justiça, apresentando uma relação dos processos intentados no ano civil anterior, ordenada por comarca e número de processo.

- Essa reclamação impede a aplica-

ção da taxa de justiça agravada (resultante das tabelas I-C e II-B do RCP) até à notificação da decisão da Direcção-Geral da Administração da Justiça, aplicando-se, durante esse prazo, o regime a que o reclamante estava sujeito no ano imediata-mente anterior, nos casos em que a decisão não seja a de deferimento do recurso.

- Importa salientar que os pedidos civis deduzidos em processo penal não são contabilizados nem agra-vados para efeitos da aplicação da taxa de justiça agravada.

- Ao dia 15 de Fevereiro de cada ano civil é publicado no sítio da Internet http://www.citius.mj.pt, a lista de sociedades comerciais que durante o ano civil anterior tenham inten-tado mais de 200 acções, procedi-mentos ou execuções, ordenada de forma decrescente por número de acções, procedimentos ou execu-ções intentadas, sem identificação do número, e que não tenham re-clamado ou às quais tenha já sido notificada a decisão da Direcção-Geral da Administração da Justiça.

- Esta lista será actualizada sempre que, após o dia 15 de Fevereiro, seja notificada uma decisão da Direcção-Geral da Administração da Justiça sobre uma reclamação apresentada por uma qualquer sociedade comercial.

ii - autoliquidação da taxa de justiçaAs sociedades comerciais que tenham intentado mais de 200 acções num acção civil ficam obrigadas, até 15 de Fevereiro do ano seguinte, a efectua-rem a autoliquidação da taxa de justi-ça nos termos das tabelas I-C e II-B do Regulamento das Custas Processuais, em todas as acções, procedimentos ou execuções.

iii - verificação automática da autoliquidação correcta da taxa de justiçaDe acordo com o diploma ora apro-vado, sempre que for intentada uma acção, procedimento ou execução através do sistema informático CITIUS, é efectuada uma verificação automá-tica da necessidade de autoliquidar a taxa de justiça nos termos das tabelas I-C e II-B do RCP, através do preenchi-mento do número fiscal do autor ou requerente, sendo disponibilizado um aviso sempre que a sociedade comercial autora ou requerente se encontre mencionada na lista de sociedades comerciais que durante o ano civil tenham intentado mais de 200 acções procedimentos ou execu-ções em tribunal.IV - Verificação da autoliquidação correcta da taxa de justiça no tribunal- O sistema informático de suporte

à actividade dos oficiais de justiça disponibiliza às secretarias dos tri-

reGulamento das Custas Processuaislitigantes em massa – novas regras

No passado dia 20 de Maio foi publicada a Port. n.º 200/2011, que estabelece diversas medidas para a implementação do regime da taxa de justiça agravada com maior eficácia e celeridade à “litigância em massa” (ou seja, às pessoas colectivas comerciais que tenham um volume anual de entradas, em tribunal, no ano anterior, superior a 200 acções, procedimentos ou execuções).

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em FoCoVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201112

bunais um aviso automático sempre que seja registada no sistema, como autora ou requerente, uma socieda-de comercial que se encontre men-cionada na lista supra mencionada.

- Se a secretaria verificar que a autoli-quidação da taxa de justiça não foi efectuada nos termos das tabelas I-C e II-B do RCP notifica o sujeito passivo para, em 10 dias, proceder ao pagamento do remanescente, sob pena de não se considerar paga a taxa de justiça. O pagamento des-se remanescente não impede o juiz, no primeiro momento em que ana-lisar o processo, apreciar a omissão em questão nos termos do artigo 456.º do Código de Processo Civil (responsabilidade no caso de má fé)

v- regime transitório para processos intentados em 2011 e até Fevereiro de 2012As medidas supra elencadas aplicam-se a processos intentados após 20 de Junho de 2011 até 16 de Fevereiro de

2012, com as seguintes adaptações:- Até ao dia 25 de Maio de 2011 é ela-

borada pela Direcção-Geral da Ad-ministração da Justiça, em colabora-ção com o Instituto das Tecnologias de Informação na Justiça, I. P., e com o Instituto de Gestão Financeira e de Infra-Estruturas da Justiça, I. P., uma lista de sociedades comerciais que durante 2010 tenham intentado mais de 200 acções, procedimentos ou execuções;

- Até ao 4 de Junho de 2011 são no-tificadas todas as sociedades cons-tantes da referida lista, para a mo-rada da sede constante no registo comercial, por carta registada com aviso de recepção, com indicação de terem intentado entre 200 e 500 ou mais de 500 acções, procedimentos ou execuções;

- As sociedades comerciais que te-nham sido notificadas como tendo intentado entre 200 e 500 acções, procedimentos ou execuções po-dem, no prazo de 10 dias a contar

dessa notificação, reclamar junto da Direcção-Geral da Administração da Justiça, apresentando uma relação dos processos intentados em 2010, ordenada por número de processo;

- No dia 14 de Junho de 2011 a lista de sociedades comerciais que durante o ano civil anterior tenham intenta-do mais de 200 acções, procedimen-tos ou execuções, e que não tenham reclamado ou às quais tenha já sido notificada a decisão da Direcção-Geral da Administração da Justiça, é publicada no sítio da Internet http://www.citius.mj.pt.

- Estas sociedade são obrigadas, até 16 de Fevereiro de 2012, a efectu-arem a autoliquidação da taxa de justiça nos termos das tabelas I-C e II-B do Regulamento das Custas Processuais, em todas as acções, procedimentos ou execuções.

vi - Produção de efeitosO diploma em apreço produz efeitos desde 13 de Maio de 2011.

taBela i(a que se referem os artigos 6º, 7º, 11º, 12º e 13º do Regulamento das Custas Processuais)

valor da acção

taxa de Justiça (uC)(1)

aartigo 6º, nº1

do rCP

Bartigos 6º, nº2, 7º, nº2, 12º, nº1 e 13º, nº6, do

rCP

Cartigos 6º, nº4, e 13º,

nº3 do rCP

1 Até - 2 000.00 € 1 0,5 1,5

2 De 2 000.01 € a 8 000.00 € 2 1 3

3 De 8 000.01 € a 16 000.00 € 3 1,5 4,5

4 De 16 000.01 € a 24 000.00 € 4 2 6

5 De 24 000.01 € a 30 000.00 € 5 2,5 7,5

6 De 30 000.01 € a 40 000.00 € 6 3 9

7 De 40 000.01 € a 60 000.00 € 7 3,5 10,5

8 De 60 000.01 € a 80 000.00 € 8 4 12

9 De 80 000.01 € a 100 000.00 € 9 4,5 13,5

10 De 100 000.01 € a 150 000.00 € 10 5 15

11 De 150 000.01 € a 200 000.00 € 12 6 18

12 De 200 000.01 € a 250 000.00 € 14 7 21

13 De 250 000.01 € a 300 000.00 € 15 7,5 22,5

14 De 300 000.01 € a 350 000.00 € 16 8 24

15 De 350 000.01 € a 400 000.00 € 18 9 27

16 De 400 000.01 € a 600 000.00 € 20 10 30

17 Apartir de 600 000.01 € 20 a 60 10 a 20 30 a 90

(1) Aplicável a cada parte ou conjunto de sujeitos processuais

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em FoCo VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 13

taBela ii(a que se referem os nos 1, 3 e 5 do artigo 7º do Regulamento)

incidente/procedimento/execução aTaxa de Justiça (UC)

BTaxa de justiça agravada (UC)

(artigo 13º, nº3)

Procedimentos cautelares:

Até 300 000 € 3 3

Procedimentos de valor igual ou superior a 300 000,01 € 8 8

Procedimentos de especial complexidade 9 a 20 9 a 20Restituição provisória de posse/alimentos provisórios/arbitramento de repara-ção provisória/regulação provisória do pagamento de quantias 1 1

Processos adiminstrativos urgentes (artigos 97º e 100º do CPTA): 1 1

Impugnação de procedimentos cautelares, adoptados pela administração tributária/impugnação de actos de autoliquidação, substituição tributária e pagamentos por conta

2 2

Incidente de intervenção provocada principal ou acessória de terceiros e oposição provocada:

Até 30 000 € 2 2

Acções de valor igual ou superior a 30 000, 01 € 4 4

Incidentes/procedimentos anómalos 1 a 3 1 a 3

Incidente de verificação do valor da causa/produção antecipada de prova 1 1

Execução/reclamação de créditos:

Até 30 000 € 2 3

Igual ou superior a 30 000, 01 € 4 6

Quando as diligências de execução não forem realizadaspor oficial de justiça:

Até 30 000 € 0,25 0,375

Igual ou superior a 30 000 € 0,5 0,75

Oposição à execução ou à penhora/embargos de terceiro:

Até 30 000 € 3 4,5

Execuções de valor igual ou superior a 30 000, 01 € 6 9

Incidentes de especial complexidade 7 a 14 7 a 14

Valores de injunção:

Valores até 5 000 € 0,5 0,75

De 5 000, 01 € a 15 000 € 1 1,50apartir de 15 000,01 € 1,5 2,25

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actualidadesVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201114

intervenção da “troika” na área da Justiça

O acordo de austeridade nego-ciado entre a “troika” e o Go-verno prevê a antecipação da

aplicação do novo Mapa Judiciário na sua totalidade para 2012. Actualmente estão a funcionar três comarcas-piloto (Alentejo Litoral, Baixo Vouga e Gran-de Lisboa Noroeste), tendo o Gover-no adiado para 2014 a entrada em vi-gor das restantes comarcas. Segundo a “troika”, as 39 comarcas do Mapa Ju-diciário deverão estar todas implemen-tadas até ao final de 2012.Para além da aplicação do Mapa Judi-ciário na tua totalidade, o Governo terá que aplicar um novo sistema de gestão nos tribunais, começando até final de 2011 em dois tribunais, sendo que um deles será de Lisboa. E terá ainda que avançar com um novo plano de gestão de pessoal para apoiar a especialização judicial e a mobilidade dos funcioná-rios judiciais. Este plano terá que estar definido até finais de 2011. O Governo terá que reduzir o número

de casos parados em tribunal no prazo de 24 meses e avançar até final de 2011 com uma auditoria às pendências, quer no que toca aos processos de execução, quer aos que respeitam a dívidas fiscais, insolvências e processos laborais. stá prevista a criação, nos processos fiscais, de uma ‘task-force’ de juízes, até ao final do ano, para resolverem rapi-damente todos os casos que entram e estão parados nos tribunais de valor superior a um milhão de euros. Deste pacote de austeridade sai, ainda, a entrada em funcionamento até final de Janeiro de 2012 dos novos tribunais em matéria de concorrência e direitos de propriedade intelectual. Sobre a reforma do Código de Proces-so Civil, a ‘troika’ impõe que o regime experimental – que funciona actual-mente em sete tribunais – seja alarga-do a mais quatro até ao final de 2011, estando previsto estender-se o regime experimental a todos os tribunais.

A Portaria n.º 203/2011, de 20 de Maio, veio definir os sistemas de mediação cuja utilização

suspende os prazos de caducidade e prescrição dos direitos, procedendo à regulamentação do seu regime.De acordo com esta Portaria, são sistemas de mediação os sistemas públicos de mediação já existentes ou a criar e os serviços de mediação de outro Estado membro, desde que a respectiva actividade seja legalmente reconhecida no ordenamento jurídico onde se encontram inseridos.Quanto aos prazos, suspendem-se os prazos de caducidade e de prescri-ção a partir do momento em que for efectuado um pedido de mediação, retomando-se o seu decurso com a

conclusão do processo de mediação nos termos legalmente previstos. A Portaria prevê, também, que, quan-do houver solicitação nesse sentido, pode haver lugar à emissão de um comprovativo da suspensão dos pra-zos, do qual constam: identificação do requerente e da contraparte; identifi-cação do objecto da mediação; data de registo do pedido de mediação; modo de conclusão do processo; e data da conclusão do processo de mediação.De referir que os sistemas de media-ção são já uma realidade na nossa cultura jurídica, consubstanciando uma verdadeira alternativa, rápida e fiável, para os cidadãos resolverem os seus litígios.

Regime de suspensão de prazos por recurso à mediação

liquidação da taxa de justiça em duas

prestações até dezembro de 2011

Na sequência das últimas altera-ções introduzidas ao Regulamento das Custas Processuais (pelo DL n.º

52/2011, de 13.4) as quais entraram em vigor a 13 de Maio, foi aprovada a

Port. n.º 179/2011, de 2.5, que intro-duz alterações ao art. 44.º da Port. n.º

419-A/2009, de 17.4, (estabelece a regulamentação do modo de ela-

boração, contabilização, liquidação, pagamento, processamento e destino

das custas processuais, multas e ou-tras penalidades), determinando que

até 31 de Dezembro de 2011 a taxa de justiça poderá ser liquidada em

duas prestações iguais e sucessivas, a primeira no momento da entrega

da peça em juízo e a segunda nos 90 dias subsequentes.

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actualidades VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 15

RNcai – arbitragem institucionalizada Nacional

A Rede Nacional de Centros de Arbi-tragem Institucionalizada (RNCAI), criada no passado dia 6 de Maio,

pelo DL n.º 60/2011, já entrou em vigor.Trata-se de mais uma medida que contri-buirá para a eficiência operacional da Jus-tiça, tornando-a mais acessível aos cida-dãos, através da promoção da arbitragem. Um dos seus principais objectivos é o de assegurar o funcionamento integrado dos centros de arbitragem institucionalizada enquanto mecanismos de resolução alter-nativa de litígios, agregar os centros de ar-bitragem institucionalizada na mesma ló-gica de funcionamento e promover a utili-zação de sistemas comuns, a adopção de uma mesma imagem e a implementação de procedimentos uniformes.A RNCAI integra todos os centros de arbitragem institucionalizada que sejam financiados pelo Estado em mais de 50% do seu orçamento anual ou em montante inferior, mas com carácter regular, nos termos a definir através de protocolo.

Em matéria de procedimentos, a RNCAI assegura a uniformização da instrução dos processos de reclamação no âmbito de cada um dos centros, de prestação de serviços de mediação e conciliação, nos centros que os disponibilizem e de apoio aos tribunais arbitrais que a integram. No que diz respeito à partilha de infor-mação, a RNCAI dinamizará a consulta e a partilha de dados estatísticos entre os centros de arbitragem e o Estado, para efeitos de monitorização do desempenho e controlo do financiamento público, mediante a utilização de ferramentas informáticas adequadas. De referir que Arbitragem é uma forma de resolver um conflito sem recorrer aos tribunais. Um ou mais árbitros imparciais ouvem ambas as partes e decidem quem tem razão, sendo que a decisão tem o mesmo valor do que uma decisão de um tribunal. Os centros de arbitragem institucionalizada são autorizados pelo Estado e alguns são financiados por ele.

liquidação de valores mobiliáriosNo Conselho de Ministros do passado dia 12 de Maio foi aprovado um diplo-ma que simplifica o regime relativo ao carácter definitivo da liquidação nos sistemas de pagamentos e de liqui-dação de valores mobiliários e inclui nos activos que podem ser objecto de acordos de garantia financeira os créditos sobre terceiros, transpondo uma Directiva Comunitária.Em matéria de regime relativo ao ca-rácter definitivo das ordens de trans-ferência nos sistemas de pagamentos e liquidação de valores mobiliários, este diploma vem acolher juridica-mente a interligação entre sistemas, clarificando o conceito de sistemas interoperáveis. Assiste-se ao alargamento do leque de activos susceptíveis de serem dados em garantia, passando a incluir nesses activos os créditos sobre terceiros e adaptando o regime vigente a essa alteração.Por último, sai reforçada a harmo-nização dos regimes dos sistemas de pagamentos e da liquidação de valores mobiliários, aumentando-se o conjunto de garantias financeiras disponíveis e estimulando-se uma maior concorrência entre instituições de crédito na União Europeia.

loja do cidadão de 2ª geração inaugurada em Vila Nova de Gaia

No passado dia 18 de Maio foi inau-gurada a Loja do Cidadão de 2ª Geração de Vila Nova de Gaia, que

se situa no Arrábida Shopping, na Rua Manuel Moreira de Barros, naquela cida-de. Esta Loja vai funcionar nos dias úteis das 09:00h às 19:00h, e aos Sábados en-tre as 9:00h e as 13:00h. Aí estarão dispo-níveis balcões especializados de serviços públicos, como o Instituto dos Registos e do Notariado, IP, da Segurança Social, do Município de Vila Nova de Gaia e o Balcão Multi-serviços (BMS), bem como balcões de serviços privados como a EDP e a ZON. O BMS permite a realização de diversos serviços simples de diferentes entidades da Administração central. Com uma só senha, os cidadãos podem, por exemplo, substituir a sua carta de condução, pedir o seu subsídio de doença ou fazer uma

reclamação junto da Direcção-Geral do Consumidor. Com a abertura desta Loja do Cidadão, passam a estar disponíveis 30 Lojas do Cidadão nos concelhos de Águe-da, Aveiro, Borba, Braga, Campo Maior, Cantanhede, Castelo Branco, Coimbra, Faro, Freixo de Espada à Cinta, Gondomar, Guarda, Lisboa (Laranjeiras e Restaurado-res), Murça, Odivelas, Ovar, Penafiel, Ponte da Barca, Porto, Resende, S. João da Ma-deira, Santo Tirso, Setúbal, Tarouca, Tavira, Vila Nova da Barquinha, Vila Nova de Gaia, Vimioso e Viseu. O plano de expansão da rede de Lojas do Cidadão prevê, ainda, a abertura de mais 18 Lojas nos seguintes concelhos: Alenquer, Amares, Cascais, Chaves, Espinho, Guimarães, Leiria, Lisboa (Marvila), Matosinhos, Óbidos, Palmela, Portimão, Rio Maior, Santarém, Seixal, Serpa, Torres Novas e Vila do Conde.

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actualidadesVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201116

Regulamento de estágios dos agentes de execução

A Câmara dos Solicitadores aprovou recentemente o Regulamento do Estágio de Agentes de Execução

que corresponde, no essencial, ao aprova-do para o estágio que decorreu em 2009. Nos termos do preâmbulo do Regula-mento de Estágio, foram introduzidas pequenas correcções resultantes da experiência decorrente da aplicação do anterior regulamento. Aproveitou-se ainda para expurgar do regulamento um conjunto de normas que copiavam disposições do Estatuto da Câmara dos Solicitadores. O Regulamento de Estágio ora publicado (Regulamento nº 275/2011, de 4.5 - II série do DR) aplica-se ao curso de estágio iniciado em 2011.Importa referir que o primeiro período

de estágio é constituído por um curso de formação, a ser ministrado nos centros de estágio, e que visa munir os agentes de execução estagiários dos conhecimentos necessários ao desempenho das suas funções. O tempo lectivo do curso de formação tem a duração de 210 horas, das quais pelo menos 147 horas devem ser des-tinadas à formação sobre as seguintes matérias: direitos fundamentais; novas tecnologias de informação e de comuni-cação a utilizar no desempenho das fun-ções de agente de execução; técnicas de resolução de conflitos, designadamente em situações de sobreendividamento; fis-calidade e contabilidade do processo apli-cada às funções de agente de execução.

Medidas de apoio à criação do próprio emprego

A Portaria nº 985/2009, de 4.9, que aprovou a criação do Programa de Apoio ao Empreendedorismo e à

Criação do Próprio Emprego (PAECPE) por beneficiários de prestações de desempre-go, prevê que o apoio à criação do próprio emprego pode concretizar-se através de uma das seguintes formas: • pagamento, por uma só vez, do montante global das prestações de desemprego; ou • pagamento, por uma só vez, do montante global das prestações de desemprego, em acumulação com a atribuição de crédito com garantia e bonificação da taxa de juro.Nos termos da Portaria nº 985/2009, o

montante das prestações de desem-prego pode ser aplicado na aquisição de estabelecimento por cessão ou na aquisição de capital social de empresa preexistente, que decorra de aumento do capital social e que origine, pelo menos, a criação de emprego, a tempo inteiro, do promotor destinatário. O montante das prestações de desempre-go deve ser aplicado, na sua totalidade, no financiamento do projecto, podendo ser aplicado em operações associadas ao projecto, designadamente na rea-lização de capital social da empresa a constituir.

loja Móvel do cidadão

Palmela conta com a primeira Loja Móvel do Cidadão existen-te no país.

Este serviço permite às populações rurais mais afastadas dos principais núcleos urbanos aceder de forma có-moda e prática aos serviços prestados nas Lojas do Cidadão, como o Cartão de

Cidadão ou o Passaporte, e a serviços municipais, assim como, facilita o acesso de cidadãos com mobilidade reduzida aos serviços públicos.De referir que também foi inaugurada a Loja do Cidadão de 2.ª Geração de Pi-nhal Novo, passando a estar disponíveis 31 Lojas do Cidadão.

Novas instalações do tribunal de comarca

de Vila Franca do campo

O novo edifício do Tribunal de Comar-ca de Vila Franca do Campo, Açores,

inclui sala de audiências, salas de advogados e testemunhas, gabinetes

de magistrados, biblioteca, sala de reuniões e zona prisional, entre outras

valências. Este complexo inclui ainda a nova Conservatória do Registo Civil

e Predial. O edifício está integrado no empreendimento da Rotunda dos

Frades, localizado na Rua do Relvão. Este Tribunal de Comarca pertence

ao Círculo Judicial de Ponta Delgada e tem competência para o município de Vila Franca do Campo, Trata-se de um

Tribunal que tem um Juízo de com-petência genérica que tramita todas

as matérias, com excepção da área laboral e de família e menores, cuja

competência está atribuída, respec-tivamente, ao Tribunal do Trabalho e ao Tribunal de Família e Menores de

Ponta Delgada.

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actualidades VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 17

Pagamento único das prestações de desemprego

Pelo Despacho nº 7131/2011, de 11.5 (2ª série do DR), foi aprova-do o procedimento administrati-

vo aplicável ao pagamento, por uma só vez, do montante global das prestações de desemprego a que o beneficiário tem direito, conforme previsto no art. 34º do Decreto-Lei nº 220/2006, de 3.11, que aprovou o regime jurídico de protecção no desemprego.Nos termos do referido despacho, o requerimento para o pagamento do montante global das prestações de desemprego é dirigido ao director do Centro Distrital do Instituto da Seguran-ça Social (ISS) da área de residência do requerente e apresentado no Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).O referido requerimento deve ser instruí-do com o projecto de criação do próprio emprego. Nas situações de pagamento, por uma só vez, do montante global das prestações de desemprego, cumulado com a atribuição de crédito com garantia e bonificação da taxa de juro, o projecto de criação do próprio emprego deve ser apresentado na instituição bancária, para efeito de análise e concessão de crédito.Nestas situações e após a aprovação do respectivo crédito, o IEFP remete ao centro distrital competente do ISS, juntamente com o requerimento para o pagamento do montante global das prestações de desemprego, a correspon-dente informação sobre a aprovação do crédito para efeitos de decisão.No caso de simples pagamento, por uma só vez, do montante global das presta-

ções de desemprego, refira-se que o IEFP deve proceder à análise da viabilidade do projecto e emitir o correspondente parecer, remetendo-o posteriormente, juntamente com o requerimento para o pagamento do montante global das prestações de desemprego, ao centro distrital do ISS para efeitos de decisão.O Instituto do Emprego acompanha a execução dos projectos de criação do próprio emprego durante os três primeiros anos, comunicando ao centro distrital do ISS eventuais situações de incumprimento. Este acompanhamento não prejudica a competência dos serviços da segurança social no âmbito da fiscalização do cum-primento das condições de atribuição do pagamento, por uma só vez, do montan-te global das prestações de desemprego.Será aplicado o regime jurídico da res-tituição das prestações de segurança social indevidamente pagas, previsto no Código Contributivo (sem prejuízo da responsabilidade contra-ordenacional ou penal), sempre que na execução do projecto de criação do próprio emprego se verificar incumprimento injustificado das condições que determinaram a sua aprovação ou se verificar a aplicação, ainda que parcial, das prestações para fim diferente daquele a que se destinam.O novo despacho, que contém o proce-dimento administrativo aplicável ao pa-gamento, por uma só vez, do montante global das prestações de desemprego, aplica-se aos projectos apresentados desde o dia 29 de Janeiro de 2011.

centros de saúde. Medicina geral e familiar

No Conselho de Ministros do pas-sado dia 12 de Maio foi aprovado um diploma que permiti o exercí-

cio alargado de funções dos médicos es-pecialistas em medicina geral e familiar em 42 horas semanais, nos centros de saúde.

O exercício alargado de funções por médicos nos centros de saúde contribui para o aumento dos cuidados presta-dos aos utentes do Serviço Nacional de Saúde, sobretudo dos cuidados de saúde primários.

Novo centro de arbitragem para conflitos no comércio electrónicoOs conflitos entre consumidores e empresas de comércio electrónico vão passar a ser resolvidos através do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem do Comércio Electrónico (CIMACE). O CIMACE tem como finalidade a resolu-ção de litígios emergentes das relações de comércio por via electrónica que ocorram entre fornecedores e consu-midores.Este centro de arbitragem vai permitir tratar de litígios relacionados com a interpretação, validade e execução de contratos electrónicos e conflitos emer-gentes da protecção dos direitos dos consumidores, sendo o primeiro centro de arbitragem completamente virtual e o único preparado para ser utilizado por pessoas com incapacidade visual. O CIMACE destina-se, sobretudo, a casos em que estejam em causa pe-quenos montantes e em que as pessoas raramente recorrem aos tribunais. Aqui os processos serão mais céleres e terão custos mais reduzidos do que os pro-cessos tratados nos tribunais.

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reGistos e notariaDoVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201118

A cedência ocasional de trabalhador consiste na disponibilização tempo-rária de trabalhador, pelo empregador, para prestar trabalho a outra entidade, a cujo poder de direc-ção aquele fica sujeito, mantendo-se o vínculo contratual inicial.A cedência ocasional de trabalhador é lícita quan-do se verifi quem cumu-lativamente as seguintes condições:- O trabalhador esteja vinculado ao empregador cedente por contrato de trabalho sem termo;- A cedência ocorra entre sociedades coligadas, em relação societária de par-ticipações recíprocas, de domínio ou de grupo, ou entre empregadores que tenham estruturas orga-nizativas comuns;- O trabalhador concorde com a cedência;- A duração da cedência não exceda um ano, reno-vável por iguais períodos até ao máximo de cinco anos.O regime relativo à cedên-cia ocasional de trabalha-dor está previsto nos arts. 288.º e segs. do Código do Trabalho (versão de 2009).A minuta que seguir publicamos traduz um exemplo de contrato ce-dência ocasional de tra-balhador.

CeDênCia oCasional de trabalhador

Contrato Para CeDênCia oCasional De traBalHaDor

Entre,Empresa ______________________________________, com sede na Av. ______, n.º__, __, em ___, capital social

no montante de ____ Euros, pessoa colectiva n.º______, matriculada na C.R.C. de _____, sob o n.º ______, neste acto representada pelo seu (s) administrador (es) ________, como Primeira Outorgante,

E Empresa ______________________, com sede na Av. ______, n.º__, __, em ___, capital social no montante de

____ Euros, pessoa colectiva n.º______, matriculada na C.R.C. de _____, sob o n.º ______, neste acto representada pelo seu (s) administrador (es) ________, como Segunda Outorgante,

E___________________________(nome completo do trabalhador), _____________________(estado civil),

residente ______________________(morada), titular do B.I. n.º ______________, de __________________(Data), emitido pelos S.I.C. de _____, e do cartão de contribuinte n.º______, como Terceiro Outorgante,

é livremente e de boa fé fi rmado e reduzido a escrito o presente contrato de cedência ocasional de trabalhador, que se regerá segundo as cláusulas seguintes:

Cláusula primeira: A Primeira e Segunda Outorgantes detem, cada uma delas, no capital social da outra, partici-pações recíprocas, existindo entre ambas um protocolo de colaboração que inclui a cedência de pessoal, segundo o qual a Primeira cederá trabalhadores seus à Segunda, nos termos dos artigos 288.º e seguintes do Código do Trabalho.

Cláusula segunda: No âmbito do referido protocolo, a Primeira Outorgante cede à Segunda, temporariamente, o seu trabalhador ___________________(nome), de ora em diante designado como Terceiro Outorgante, e como tal acima identifi cado, que nesta data exerce na Primeira Outorgante a actividade/funções correspondentes à categoria de ___________, mediante contrato sem termo, para executar a actividade de _____.

Cláusula terceira: A cedência ajustada entre a Primeira e a Segunda Outorgantes, é feita pelo período de um ano, com início em __________, e termo em ______, sendo renovável por iguais períodos até ao limite de 5 anos.

Cláusula quarta: Um - O Terceiro Outorgante auferirá, durante o período da cedência, a remuneração mensal de ______________________ Euros (indicar por extenso) ilíquida, acrescida de um subsídio de almoço no valor de ______euros (indicar por extenso), por cada dia útil de trabalho, e ainda os subsídios de férias e Natal, sendo todos eles pagos pela Primeira Outorgante.

Dois – A Segunda Outorgante reembolsará a Primeira de todos os encargos suportados com o trabalhador durante o período da cedência.

Três – Ressalvam-se quaisquer despesas com deslocações, estadias, ou outras semelhantes, realizadas ao serviço da Segunda Outorgante, as quais serão directamente reembolsadas por esta ao Terceiro Outorgante.

Cláusula quinta: Durante o período da cedência o Terceiro Outorgante manterá todos os seus direitos e obriga-ções para com a Primeira Outorgante, a qual continuará também a exercer sobre ele o poder disciplinar, e não será incluído no efectivo do pessoal da entidade cessionária – Segunda Outorgante – para determinação das obrigações relativas ao número de trabalhadores empregados, excepto no que respeita à organização dos serviços de saúde, higiene e segurança no trabalho.

Cláusula sexta: Durante o período da cedência, o Terceiro Outorgante fi ca sujeito ao regime de trabalho aplicável à Segunda Outorgante no que respeita ao modo , lugar, duração do trabalho e suspensão da prestação de trabalho, segurança, higiene e saúde no trabalho e acesso aos seus equipamentos sociais, devendo a Segunda Outorgante informá-lo sobre os riscos para a sua segurança e saúde inerentes ao posto de trabalho a que é afecto.

Cláusula sétima: O presente contrato de cedência cessará automaticamente e sem necessidade de aviso prévio pelo decurso do respectivo prazo, acordo das partes ou perda, por qualquer causa, do vínculo laboral entre a Primeira e a Terceira Outorgantes.

Cláusula oitava: O Terceiro Outorgante aceita a cedência, nos termos convencionados.Cláusula nona: Quanto aos aspectos omissos, em virtude de a mesma não se encontrar regulada na legislação

colectiva aplicável, aplicar-se-à o regime decorrente dos artigos 288.º e seguintes do Código do Trabalho .Cláusula décima: Em caso de litígio emergente do presente contrato, fi ca desde já designado pelas partes como

competente o foro da Comarca de _____, com expressa renúncia a qualquer outro.Cláusula décima primeira: Este contrato é feito em três vias, destinando-se uma a cada um dos Outorgantes.

(Data de celebração)Primeira Outorgante

(assinatura)

Segunda Outorgante (assinatura)

Terceiro Outorgante(assinatura)

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análise VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 19

De acordo com últimas alterações in-troduzidas às citadas disposições legais do C. P. Civil, pelo DL n.º n.º 52/2011, de 13.4 (diploma que aperfeiçou a aplicação prática do Regulamento das Custas Processuais e alterou o C.P. Civil), passou a prever-se que nos casos em que o exequente seja uma sociedade comercial que tenha dado entrada num tribunal, secretaria judicial ou balcão, no ano anterior, a 200 ou mais providências cautelares, acções, procedimentos ou execuções, ou seja, em que o exequente se trate de um dos chamados litigantes em massa, é devida uma remuneração pelos serviços prestados na averiguação da existência das contas bancárias e na efectivação da penhora dos saldos existentes às instituições que prestem colaboração no processo executivo (bancos e outras instituições de crédito), assim como é devida uma remuneração pelos serviços prestados na identifica-ção do executado e na identificação e localização dos seus bens, às institui-ções públicas e privadas que prestem colaboração nesse sentido na execução (nomeadamente à administração tribu-tária, segurança social, conservatórias do registo predial, comercial e auto-móvel e de outros registos ou arquivos semelhantes).

Conforme dispõe o n.º 11 do art.º 17.º, do RCP só há lugar à cobrança e ao pa-gamento destas despesas nos casos em que o exequente seja uma sociedade comercial litigante em massa, sendo estas despesas da responsabilidade exclusiva do exequente. De referir que tais despesas não integram nem os ho-norários do agente de execução, nem as custas da execução, nem podem ser reclamadas a título de custas de parte.A Portaria ora aprovada vem determi-nar que a Câmara dos Solicitadores centraliza a cobrança e a distribuição dos valores acima indicados.

Pagamento de despesas referentes à pesquisa de dados sobre o exequente e os seus bens

O pagamento da despesa respeitante aos serviços prestados na identificação do executado e na identificação e locali-zação dos seus bens deve ser efectuado no mesmo prazo do pagamento da taxa de justiça e deve ser entregue preferen-cialmente por via electrónica.Assim, se o pagamento é efectuado por via electrónica através da referência multibanco que é entregue ao man-datário no momento da submissão do requerimento executivo electrónico

através da plataforma CITIUS, o valor das despesas é entregue automaticamente, por via electrónica, à Câmara dos Soli-citadores, a qual remete, também por via electrónica, o comprovativo legal do valor pago.Se o pagamento não for efectuado por via electrónica, o agente de execução envia ao mandatário do exequente, preferencialmente por via electrónica, as instruções de pagamento, sendo o valor das despesas entregue auto-maticamente, por via electrónica, à Câmara dos Solicitadores, que remete o comprovativo legal do valor pago para a morada do exequente ou, quando constituído, do seu mandatário. Este comprovativo legal é sempre emi-tido em nome do exequente.

restrições à pesquisa de dados sobre o exequente e os seus bens

Nos processos executivos iniciados após 23 de Maio de 2011, as pesquisas de dados relativas à identificação do exe-cutado e na identificação e localização dos seus bens, às instituições públicas e privadas que prestem colaboração à execução só poderão ser feitas após prévia confirmação do pagamento do valor que é devido.

ProCesso exeCutivo encargos devidos pelos “grandes litigantes”

No passado dia 20 de Maio foi publicada a Port. n.º 202/2011, que vem regulamentar os momentos e os modos de pagamento das remunerações dos serviços prestados por instituições de acordo com o disposto nos artigos 833.º-A e 861.º-A do Código de Processo Civil (C. P. Civil).

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análiseVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201120

Pagamento de despesas referentes à averiguação da existência das contas bancárias

O pagamento da despesa respeitante à remuneração pelos serviços prestados na averiguação da existência das contas bancárias e na efectivação da penhora dos saldos existentes deve ser efectua-do no prazo estabelecido pelo agente de execução que não pode ser inferior a 10 dias. Para tanto, o agente de execu-ção, sempre que necessite de efectuar a comunicação a uma instituição de crédito deve, previamente, enviar ao mandatário do exequente as instruções para efectuar o pagamento de um valor, a título de adiantamento para despesas, que seja suficiente para pagar as des-pesas médias, por processo, devendo emitir o respectivo comprovativo legal.Depois de obter uma resposta, quer ela seja negativa, quer ela seja de apre-ensão de saldos, o valor das despesas efectivas é entregue pelo agente de execução, automaticamente, por via electrónica, à Câmara dos Solicitadores, especificando a instituição e o funda-mento legal da despesa, sendo por esta emitido o comprovativo legal de pagamento em nome do exequente.

restrições à averiguação da existência das contas bancárias e à efectivação da penhora

Nos processos executivos iniciados após 23 de Maio de 2011, as pesquisas de da-dos relativas à averiguação da existência

das contas bancárias e a efectivação da penhora dos saldos existentes às instituições que prestem colaboração à execução só poderão ser feitas após prévia confirmação do pagamento do valor devido.

verificação e conferência dos valores entregues

Para os efeitos de verificação e confe-rência dos valores entregues, a Câmara dos Solicitadores assegura um acesso específico ao sistema informático de suporte à actividade dos agentes de execução – SISAAE – a cada uma das entidades gestoras de bases de dados a fim de poderem verificar semanalmente os dados estatísticos das consultas, apreensões ou informações.Entrada em vigorEste diploma entrou em vigor no pas-sado dia 23 de Maio.

agentes de execução - regime de pagamento de despesas na fase 1

Na sequência das recentes alterações introduzidas ao Regulamento das Cus-tas Processuais, foi também publicada, no passado dia 20 de Maio, a Port. n.º 201/2011, que altera a Port. n.º 331-B/2009, de 30.3 (que regulamenta vários aspectos das acções executivas cíveis), no sentido de clarificar que as despesas referente às consultas das bases de dados em acções executivas e as refe-rentes à penhora de saldos bancários são da responsabilidade exclusiva do

exequente que seja tido como grande litigante, não sendo devidas por outros litigantes, e de clarificar que tais despe-sas não integram nem os honorários do agente de execução nem as custas da execução, nem podem ser reclamadas a título de custas de parte.Este diploma vem, ainda, introduzir um acto de consulta às bases de da-dos após a inclusão do processo na lista pública de execuções, com vista a suportar a decisão de renovação da instância, facilitando, assim, a decisão do exequente de promover a citação do executado com vista à sua inclu-são na lista pública de execuções, quando não são encontrados bens suficientes. Por último, permite-se a utilização do mecanismo do n.º 2 do artigo 811.º-A do Código do Processo Civil, ou seja, a designação electrónica do agente de execução, no momento da entrega do requerimento executivo, de modo a que não falte a designação na secretaria, num número significativo de casos, como foi verificado pelo grupo dinamizador da detecção e liquidação de execuções.Esta portaria produz efeitos retroactivos a 13 de Maio último. Contudo, a regra relativa ao pagamento das despesas referentes às consultas das bases de dados em acções executivas e as refe-rentes à penhora de saldos bancários só se aplica aos processos iniciados após 12 de Maio de 2011. A alteração relativa à designação electrónica do agente de execução só é aplicável aos processos iniciados após 12 de Julho de 2011.

Pedidos para: Vida Económica - R. Gonçalo Cristóvão, 111 – 6º esq. • 4049-037 PORTO • [email protected] • http://livraria.vidaeconomica.pt

CÓDIGO DO IVA 176 págs. / P.V.P: 6,40 A

CÓDIGO CONTRIBUTIVO 224 págs. / P.V.P: 6,40 A

LEI GERAL TRIBUTÁRIA152 págs. / P.V.P: 4,90 A

FUNÇÃO PÚBLICA 528 págs. / P.V.P: 10 A

EDIÇÕES DE BOLSO VIDA ECONÓMICA

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marCas VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 21

transmissÃo de direitos de propriedade industrial(Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 05/05/2011)

sumário:1º: O Requerente, como comproprietário da marca “... Consulting”, tem plena legi-timidade de, por si só, fazer valer os seus direitos;2º- O escrito exigido pela lei para o contrato de licença (arts. 32/4 do CPI) tem a natureza de forma “ad substantiam”, diferentemente do que acontece em sede de transmissão de direitos de propriedade industrial em que a exigência do escrito assume a natureza de formalidade ad probationem, ou seja, a necessidade de obter prova segura acerca da realização do acto jurídico;3.º -Sendo nulo o contrato, não havendo elementos probatórios suficientes que permitam concluir ser ilegítimo o exercício do direito por abusivo, deve cessar o uso da marca pela “B”, estando o seu co-titular legitimado a exercer os direitos inerentes, nomeadamente o arresto nos termos do art. 338-J do CPI.4,º- Se a marca foi sempre utilizada pela “B” com o consentimento verbal do Re-querente, consentimento esse que se manteria enquanto o Requerente estivesse ligado à “B”, cessando essa vinculação, não obstante inexistir revogação expressa do consentimento, deve aquela utilização cessar;

acordam no tribunal da relação de lisboa

i – relatório

“A” intentou contra “B” Consultadoria Uni-pessoal, Lda. “ e “C” procedimento cautelar de arresto nos termos do artigo 338º-J do Código da Propriedade Industrial e artigos 406º e seguintes do Código de Processo Civil, pedindo a sua procedên-cia e, em consequência, ser decretado o arresto sobre os seguintes bens. 1- Todos os equipamentos ou docu-mentos físicos ou informáticos nos quais se encontre a referência à marca “... Consulting” que vem sendo utilizada pela Requerida e que se encontrem na sede desta;2- Todos os meios de comunicação, nos quais seja utilizada a marca “... Consul-ting”, bem assim como quaisquer su-portes, incluindo os que sejam digitais, que permitam efectuar a impressão ou estampagem dessa imagem;3- Os contratos feitos pela Requerida e todos os documentos, serviços e pro-dutos técnicos e comerciais onde se faz

referências à marca “... Consulting”; 4- Os “PC” portáteis e servidor, o web site, o domínio do web site e o servidor de e-mail, bem assim como os logótipos e sinaléticas que referem a marca em causa;- tudo se encontrando na sede da Requerida e na filial desta situada no Centro de Negócios ..., Caixa ... em B...;5- O estabelecimento comercial explo-rado pela Requerida e todos os bens de equipamento que sejam da titularidade da Requerida e que façam parte desse estabelecimento comercial e que se encontrem na sede desta e na filial nas moradas antes indicadas;6- Contas bancárias de que a Requerida seja titular, nomeadamente aquelas que se encontram domiciliadas na Caixa Económica Montepio Geral, Banco Mil-lenium BCP e Caixa Geral de Depósitos;7- Todas as receitas, na sua forma bruta, que sejam geradas pelo estabelecimen-to, bem como todos os restantes créditos que constituam o seu activo, que deve-rão ser depositados à ordem dos autos;8- Todos os restantes bens ou direitos que se verifique integrarem o estabele-cimento comercial da Requerida e que

venham a ser descritos no auto a efec-tuar, requerendo que seja nomeado um gestor judicial para a gestão ordinária do estabelecimento. Alegou para tanto, e em resumo, que é titular da marca de carácter misto “... Consulting”, que tem o n.º ..., tendo Requerido o seu registo em 23.05.2005 e tendo-lhe esse registo sido concedido em 30.12.2005. Tal marca corresponde à classe 42 da classificação de Nice correspondente a “serviços científicos e tecnológicos, bem como serviços de pesquisa e concepção a eles referentes, serviços de análises e pesquisas indus-triais, concepção e desenvolvimento de computadores e de programas de computadores e serviços jurídicos”.O Requerido é contitular da marca antes referida e a Requerida é uma empresa que se dedica à prestação de serviços de consultadoria e formação, tendo como clientes outras empresas que desses serviços necessitem; o Requerente e o Requerido trabalharam em conjunto numa empresa e, após aí terem cessado funções, o Requerido constituiu a socie-dade Requerida, não assumindo qualquer

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marCasVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201122

participação no seu capital social, sendo a sua mulher a única sócia e directora financeira e o Requerido as funções de director geral. Por seu lado, o Requerente foi convidado a integrar os quadros da Requerida mediante a promessa de, num período posterior, assumir as funções de gerente na sociedade. Trabalhou na Re-querida até Outubro de 2008 por conta e sob a fiscalização da sociedade Requerida. A sociedade Requerida explora a marca de que é co-titular, sem a sua oposição, mas enquanto esteve ligado à Requerida, nunca tendo autorizado verbalmente ou por escrito essa utilização, tolerância que cessou quando cessou a ligação que mantinham. A utilização do sinal pela sociedade impede-o de explorar a marca e prejudica a sua imagem pessoal e profissional. A Requerida não tem pos-sibilidades de vir a suportar os prejuízos causados pela sua actuação, já que o seu único activo de relevo é a sua facturação.Foi dispensada a prévia audição dos Requeridos. Procedeu-se à audiência de discussão de julgamento com inquirição da testemu-nha apresentada pelo Requerente.Foi proferida decisão decretando parcial-mente o arresto e, consequentemente, determinada a apreensão dos seguintes bens e direitos: - Todos os equipamentos ou documentos físicos ou informáticos nos quais se encontre a referência à marca “... Consulting”; suportes físicos e digitais nos quais seja utilizada a marca ... Consulting ou que permitam efectuar a impressão ou estampagem dessa ima-gem; todos os bens móveis e direitos que integrem o estabelecimento comercial da Requerida sito na sua sede e na sua filial sita no Centro de Negócios ..., Caixa ..., B... e as contas bancárias de que a 1ª Requerida seja titular na Caixa Económi-ca Montepio Geral, Banco Millenium BCP e Caixa Geral de Depósitos, notificando – se as mesmas para o efeito.Determinou-se, igualmente, que os Requeridos apenas deveriam ser notifi-cadas após a apreensão ordenada.A Requerida, após ser notificada do arresto das contas bancárias, veio, a 08.07.2009, pedir a sustação de qual-quer outra diligência pois se tornaram

supervenientemente inúteis uma vez que ocorreu já a sua citação.Também “D”, Administrador judicial do estabelecimento da Requerida, nomea-do no âmbito do arresto ordenado pelo Tribunal do Trabalho de Lisboa, veio a 13.07.2009 informar que o estabele-cimento comercial já está arrestado à ordem daqueles autos e, apesar de já ter sido revogado o arresto, foi interposto re-curso ainda sem decisão tal informando visando evitar/suspender a prática de actos processuais que possam contender com outros.O Requerente, devidamente notificado, veio, a 22.07.2009, dizer que nada impe-de que sobre um bem arrestado venha a incidir novo arresto por isso nada obsta a existência de novo arresto do estabe-lecimento comercial.Citados os requeridos, nos termos do disposto nos artigos 385º nº5 e 388º, am-bos do Código de Processo Civil, vieram deduzir oposição:Em 1º lugar, a “B” – Consultadoria Uni-pessoal, Lda.”, pedindo seja ordenado o levantamento do arresto decretado e a condenação do requerente como litigante de má-fé (fls. 334 e seguintes), alegando, em síntese, que o Requerente nunca foi trabalhador da Requerida, mas sim seu sócio e gerente de facto, existindo um projecto comum com o 2º Requerido, o qual não se veio a concre-tizar por o Requerido ter abandonado as negociações. A Requerida usa a marca ... Consulting com o consentimento ex-presso do Requerente, consentimento que nunca revogou. Nega igualmente a existência de perigo de dissipação patrimonial.Em segundo lugar, “C” deduziu igualmen-te oposição – fls. 569 e seguintes –, desde logo alegando a excepção de ineptidão da petição inicial, por inexistência de pedido contra si, ou por ininteligibili-dade do mesmo, defendendo-se, no mais, por impugnação e pedindo a sua absolvição da instância ou, caso assim se não entenda, a absolvição do Requerido e a condenação do Requerente como litigante de má-fé.Realizou-se a audiência de julgamento para produção de prova apresentada

pelas Requeridos tendo-se julgado as oposições deduzidas por “B” – consulta-doria Unipessoal, Lda.“ e “C” procedentes por provadas, determinando, assim, o levantamento do arresto decretado por decisão de fls. 260/261 dos autos. Inconformado, recorreu o Requerente, apresentando as seguintes conclusões:“i) Na douta decisão entendeu-se que o Recorrente não revogou expressamen-te a licença dada à Recorrida “B” para utilizar a marca até ao exacto momento em que esta teve conhecimento do procedimento arresto e que “isto implica a inexistência de qualquer violação de exclusivo conferido pela titularidade do direito de marca que só virá a existir se, após ter tido conhecimento do presente procedimento cautelar”, aquela “tiver continuado a utilizar a marca (…) (o que a, obviamente), já terá, a ter sucedido, que ser objecto de outro procedimento que não este”;ii) Não obstante, o Meritísimo Tribunal “a quo” não poderia ter referido tal fac-tualidade como dubitativa, pois, como resulta do auto de arresto de Junho de 2009 elaborado na carta precatória diri-gida ao Tribunal de B..., o arresto foi nessa data concretizado, na presença da legal representante da Recorrida “B”, tendo a esta sido feita a notificação no Art. 385º, n.º 6 do C.P.C.;iii) E, mais tarde, já em Agosto de 2009, como resulta dos autos, o arresto foi concretizado nas instalações da Recor-rida “B” em O..., tendo sido apreendidos diversos materiais, bens e equipamentos suficientes para demonstrar que esta continuava nessa data a utilizar a marca “... Consulting”; iv) Deste modo, a Recorrida “B” tomou conhecimento da existência do arresto em Junho de 2009 e, consequentemente da oposição do Recorrente à utilização da marca, sendo para esses efeitos irre-levante que a diligência realizada em B... tenha sido posteriormente anulada, pois, dela, na parte que agora releva, poderá retirar-se o referido conhecimento por parte da Recorrida “B” e em Agosto de 2009, continuava, pese embora esse co-nhecimento, a explorar comercialmente a marca “... Consulting”;

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marCas VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 23

v) Estão em causa factos de que o Me-ritíssimo Tribunal da 1.ª instância teve conhecimento no exercício das suas funções e que estão suportados em documentos que os comprovam, razão pela qual, de acordo com o Art. 514º, n.º 2, do C.P.C., não carecem de alegação ou prova em excepção ao disposto no Art. 264º do mesmo diploma;vi) E tais factos enquanto constitutivos do direito do Recorrente, de acordo mesmo com a douta posição patente na sentença, supervenientes, deveriam, nos termos do Art. 663º do C.P.C., ter sido considerados, determinando a manuten-ção do arresto;vii) Ao contrário daquilo que havia sido entendido na douta decisão proferida antes da oposição, o Meritíssmo Tribunal “a quo” considerou que, pese embora se exija forma escrita para o contrato de li-cença de marca e estar demonstrado que não existia qualquer contrato escrito, tal exigência é apenas uma formalidade “ad probationem” e por isso nada impedia que existisse licença verbal;viii) A exigência de forma escrita para o contrato de licença, prevista pelo Art. 32º do C.P.I., não corresponde apenas a uma exigência de prova, pois nenhuma dispo-sição desse diploma afasta a aplicação do Art. 220º do C.C., que determina que “a declaração negocial que careça de forma legalmente prevista é nula” e apenas o não será “quando outra não seja a sanção especialmente prevista na lei”; ix) Para que a exigência de forma escrita em questão pudesse considerar-se “ad probationem” teria que haver norma aplicável que determinasse que a san-ção para a sua inobservância seria a impossibilidade de prova do acordo, nos termos do Art. 364º do C.C. e, nada tendo existindo, terá que recorrer-se à norma geral que é o antes citado Artigo 220º desse diploma;x) De qualquer modo, ainda que pudesse considerar-se uma forma “ad probatio-nem” só através de confissão expressa, tal prova poderia ser efectuada e essa confissão não resulta, nem matéria pro-vada (ponto 6. da decisão de facto), nem do depoimento de parte onde se fundou tal ponto, pois, a esse respeito e como

consta da acta, foi referido pelo Recor-rente que “confirmou o consentimento de uso da marca pela” Recorrida “B”; xi) E tal depoimento não resulta exacta-mente transposto no ponto 6. da matéria de facto, que apenas nesse meio de prova, se fundou, mas que acrescenta ao consentimento a palavra “expresso”, devendo, pois, desde já ser alterado tal ponto da matéria de facto dele se reti-rando a expressão “expresso”; xii) Mas, independentemente dessa alteração da matéria de facto, o certo é que o consentimento confessado, que corresponde àquilo que poderá denominar-se “tolerância” na utilização da marca, não pode entender-se como confissão de contrato de licença; xiii) Contrato esse onde nem ficariam estipuladas quaisquer condições a ele essenciais, de maneira a poder dizer-se que não se demonstrou o mínimo de base suficiente para se poder considerar existir um contrato de licença ou algo mais do que uma simples não oposição à utilização da marca; xiv) Aliás, sendo desde logo essencial de-terminar o tempo de vigência do acordo e não estando este fixado, sempre seria, dentro das condições do contrato, de presumir que este apenas se manteria até o Recorrente deixar a sua ligação à Recorrida “B”, o que ocorreu em Outubro de 2008 (ponto 44. do relatório de facto constante da douta decisão); xv) Assim, e em qualquer caso, não es-tando a Recorrida “B” autorizada a utilizar a marca, deveria o arresto ter-se mantido; xvi) A matéria de facto constante do ponto 7. da decisão de facto teve por base o depoimento de parte do Re-corrente, no qual este afirmou que se opôs ao uso da marca pela carta de 25 de Setembro de 2008 (fls. 171 e 172 dos autos) e esse documento;xvii) Ora, nessa carta, o Recorrente apresenta as condições que entendiam adequadas para solucionar o litígio que o opõe aos Recorridos, referindo, como sendo uma dessas condições, a cedência da co-titularidade da marca “... Consulting” e termina dizendo que, não havendo acordo e na parte que releva, se reservará o direito de desenvolver todas

as diligências judiciais e extrajudiciais que repute necessárias à salvaguarda dos seus direitos de propriedade in-dustrial;xviii) A oposição, como qualquer decla-ração negocial, poderá ser expressa ou tácita, sendo tácita quando resulte de todos os elementos de onde se possa depreender;xix) Ora, resulta da matéria de facto que o Recorrente se encontrava em litígio com os Recorridos, na data de tal declaração, e nela oferece-se para negociar a venda da sua quota na marca de que é titular, afirmando em caso de desacordo exercer os direitos face a ela de que é titular.;xx) Não se vê que outros direitos pudes-sem ser esses do que aqueles pelos quais impediria a utilização da marca pelos Re-corridos, pois, a atentar na própria versão do Meritísimo Tribunal “a quo” até então dera o seu consentimento para que a usassem, pelo que, se não existisse a revogação desse consentimento, não se vê que direitos poderia ter face à marca;xxi) E os declaratários não poderiam tam-bém ter interpretado tal declaração de outra forma, que não como revogando o consentimento;xxii) Assim, deverá alterar-se também a matéria do ponto 7. da decisão de facto, ficando assente que o Recorrente opôs--se desde a data da comunicação em causa à utilização da marca por parte dos Recorridos; xxiii) Existindo oposição à utilização da marca por parte do recorrente, o arresto deveria, também, por essa razão, manter--se, de forma a assegurar o direito de propriedade industrial deste, pelo que, decidindo em contrário a douta decisão violou, entre outras, as disposições legais antes citadas. Termos em que deve ser concedido pro-vimento a este recurso, revogando-se a douta decisão recorrida e mantendo-se o arresto, com o que, seguramente, se fará JUSTIÇA !”Os ora Requeridos “B” - Consultadoria Unipessoal, Ld.ª e “C”, contra alegaram apresentando as seguintes conclusões : “I) A questão prévia do efeito a atribuir ao recurso interposto1) Pretende o recorrente que o recurso

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por si interposto seja qualificado como de apelação, a subir imediatamente, nos próprios autos e com efeito suspensivo.2) Porém, não podem os recorridos concordar com o pretendido efeito a atribuir ao recurso face ao quadro legal actualmente em vigor.3) Assim, sabe-se que o propósito único da recorrente é impedir o levantamen-to imediato do arresto anteriormente decretado sem prévia audição dos recorridos, e que permanece (ainda hoje) a condicionar a sua actividade co-mercial, não tendo, em nosso modesto entender, fundamento a alegação que apresenta.4) Aliás, não fora essa matéria da ex-clusiva competência do EXmoº Senhor Relator na qual não nos pretendemos imiscuir, e atrever-nos-íamos até a sugerir que, face à manifesta falta de fundamen-to do recurso ora interposto, poderia o mesmo ser objecto de decisão sumária, nos termos dos artigos 700.º, n.º 1,alínea c) 705.º CPC, atenta a natureza urgente do processo cautelar, com enormes ga-nhos de celeridade e dando cumprimen-to ao princípio consagrado nos artigos 20.º, n.º 4, da Constituição da República e 2.º, n.º 1, do CPC (direito a uma decisão em prazo razoável).5) Sem prejuízo, porém, das motivações dos recorridos, sempre deverão aplicar-se rigorosamente as disposições legais que regulam a qualificação e efeito do presente recurso.6) E, nesse sentido, estamos em crer que o mesmo terá, ao invés do pretendido pela recorrente, um efeito meramente devolutivo.7) Conforme nos diz o Sr. Juiz Desembar-gador Abrantes Geraldes, in “Recursos em processo civil”, 2.ª edição revista e actualizada, Almedina, 2008, p. 215, o efeito a atribuir ao presente recurso é o meramente devolutivo.8) Assim, e por um lado, não existe deci-são que indefira liminarmente o pedido de arresto – que, essa sim, impunha o efeito suspensivo.9) E, por outro lado, não existe uma de-cisão que ponha termo ao processo, não ordenando o decretamento do arresto – com o que, igualmente, teria todo o ca-

bimento determinar o efeito suspensivo à luz de um conceito de justiça.10) Em vez disso, a sentença que é agora atacada pelo recorrente é uma decisão que repõe a ordem jurídica que existia antes de o procedimento cautelar ter sido instaurado, e que se limita a revogar o acto de ofensa ao “status quo” preexis-tente, isto é, o acto material de arresto anteriormente decretado, sem prévio contraditório.11) Pelo exposto, e caso venha a ser admitido o presente recurso, deverá o mesmo ser qualificado como de apela-ção, a subir nos próprios autos e com efeito meramente devolutivo.II) - Das demais razões:12) Sem prejuízo do vindo de expor, os recorridos vêm ocupar o tempo de V.ªas Ex.as porque consideram que na sentença posta em crise pelo recorrente foram devidamente apreciados os factos relevantes para a boa decisão da causa – ainda que indiciariamente –, foi exercida a sempre difícil função de julgar e, enfim, foi feita justiça!13) Alega o recorrente que «na douta decisão entendeu-se que o recorrente não revogou expressamente a licença dada à recorrida “B” para utilizar a marca até ao exacto momento em que esta teve conhecimento do procedimento arresto e que “isto implica a inexistên-cia de qualquer violação de exclusivo conferido pela titularidade do direito de marca que só virá a existir se após ter tido conhecimento do presente procedimen-to cautelar” aquela “tiver continuado a utilizar a marca (…)».14) Adiante, enuncia que «a recorrida “B” tomou conhecimento da existência do arresto em Junho de 2009 e consequen-temente da oposição do recorrente à utilização da marca»…15) Mas agora, para o fim agora preten-dido, já acrescenta, «sendo para esses efeitos irrelevante que a diligência reali-zada em B... tenha sido posteriormente anulada…».16) A esta ideia acrescenta que «em Agosto de 2009, continuava, pese em-bora esse conhecimento, a explorar comercialmente a marca “... consulting”».17) Depois, junta a estes ingredientes o

postulado no artigo 514.º, n.º 2, do CPC que, cotejado com o artigo 264.º deste mesmo código levaria à desnecessidade de alegação ou prova.18) Prosseguindo, vem o recorrente afirmar que «tais factos constitutivos do direito do recorrente, de acordo mesmo com a douta posição patente na sentença, supervenientes, deveriam, nos termos do art. 663º do C.P.C., ter sido considerados.».19) Contudo, o recorrente não relaciona quais os factos que levariam o tribunal a quo a considerar que a recorrida continu-aria a explorar comercialmente a marca “... consulting”…20) Adiante, vem o recorrente afirmar que mal andou o tribunal a quo ao deci-dir que «a exigência de forma escrita para o contrato de licença, prevista pelo art. 32º do C.P.I., não corresponde apenas a uma exigência de prova, pois nenhuma disposição desse diploma, afasta a apli-cação do art. 22º do C.C..».21) Contudo, estão os recorridos em crer que melhor opinião será a plasmada por J.P. Remédio Marques, in Licenças (voluntárias e obrigatórias) de Direitos de Propriedade Industrial, Almedina, 2008, pp. 81 e s., para a qual se remete.22) Ora, como resulta do petitório do Requerente, este nunca manifestou por qualquer forma aos recorridos que suspendia a autorização que antes lhe dera à Requerida para usar a marca, que, embora tente negar e agora detur-par em sede de alegações, sempre foi confessando nos artigos 43.º e 44.º do requerimento inicial.23) Pelo que nem sequer se alcança o pretendido pelo recorrente quando diz que o consentimento não foi «expresso», como se tal vocábulo importasse qual-quer alteração no sentido da decisão sobre a matéria de facto…24) Mais, nem sequer a lei impede a transmissão de um (com) proprietário, nos termos da qual renuncia em exercer perante o utilizador da marca o jus pro-hibendi inerente ao seu direito – neste sentido, veja-se Gonçalves, Luís M. Couto, in Manual de Direito Industrial, 2.ª edição, Almedina, 2008, pp. 352 e s..25) Daí que, por maioria de razão, ne-

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nhum obstáculo se alcance para que o (com) proprietário de uma marca renun-cie ao exercício do seu “jus prohibendi” perante aquele a quem sempre permitiu o uso da marca.26) Acresce que o recorrente nem sustenta legalmente a necessidade de estipulação adicional de condições de um contrato de licenciamento para além das conhecidas nos autos, pelo que se fica sem saber o que pretende com tal afirmação.27) Depois, vem o recorrente dizer que se opôs tacitamente ao uso da marca por parte da recorrida, sendo que a recorrida deixou de fazer uso da marca a partir do momento em que tomou conhecimento da frontal oposição do recorrente.28) Face a tal, e tendo em conta que a recorrida continua a não usar a marca desde então, nenhum direito de pro-priedade industrial de que o recorrente se poderá afigurar titular se encontra violado por aquela,29) Pelo que se deverão manter as res-postas à matéria de facto impugnadas pelo recorrente e, em todo o caso, a decisão recorrenda.Nestes termos e com o sempre mui douto suprimento de Vossas Excelên-cias, deverá ser negado provimento ao presente recurso, confirmando-se, em consequência, a douta sentença recor-rida, com o que se fará inteira JUSTIÇA!”O recurso foi recebido, foram os autos aos vistos das Meritíssimas Juízas-adjuntas, que nada sugeriram, tendo sido ordenada a inscrição em tabela para julgamento, logo após, o que não acon-teceu por motivos de saúde da Ex.ma Juíza Relatora, razão pela qual os autos me foram redistribuídos e conclusos em 24/03/2011.Questões a resolver:a) Questão prévia do efeito do recurso.b) Saber se ocorre erro de julgamento da decisão de facto quanto ao ponto 6 da decisão de facto que deve ser alterado dele retirando a expressão “expresso” e quanto ao ponto 7 da mesa decisão onde deve constar que o Recorrente se opôs desde a data da comunicação em causa à utilização da marca pelos recorridos; saber se o Tribunal recorrido deveria,

nos termos dos arts. 514 e 663 ter con-siderado os factos documentados nos autos, ou seja, que o legal representante da recorrida “B” tomou conhecimento do arresto em Junho de 2009 como resulta do auto de arresto do Tribunal de B..., e depois em Agosto de 2009 aquando do arresto nas instalações da “B” em O..., e, por conseguinte, da oposição à utiliza-ção da marca pela Recorrida “B”, assim como da continuação da exploração pela “B”, em Agosto de 2009 da marca ... Consultingc) Ocorrendo alteração da decisão de facto, saber se havendo mera tolerância na utilização da marca e não um con-trato de licença, é de presumir que essa tolerância apenas se manteria até à saída do Recorrente da “B”, o que ocorreu em Outubro de 2008; Saber se ocorre erro de julgamento na decisão de direito recorri-da quando entende que a exigência de forma escrita para o contrato de licença prevista no art. 32 do C.P.I. é apenas formalidade “ad probationem”, nada impedindo que ocorra licença verbal e a sua prova por confissão, erro esse na medida em que a exigência dessa forma é “ad substantiam”, cuja falta acarreta a nulidade da declaração negocial de autorização, não sendo possível a prova por outro meio de prova, havendo assim violação do disposto nos arts. 32 citado, 220, 364 do CCiv;

ii – FunDamentaÇÃo De FaCtoA 1ª instância considerou provados os seguintes factos:1 - O Requerente e o Requerido são titulares da marca de carácter misto “... Consulting”, que tem o n.º ..., tendo Re-querido o seu registo em 23.05.2003 e tendo-lhe o mesmo sido concedido em 30.12.2005.2 - A marca de que o Requerente é contitular assinala, na classe 42 da clas-sificação de Nice, «serviços científicos e tecnológicos bem como serviços de pesquisa e concepção a eles referentes, serviços de análises e pesquisas indus-triais, concepção e desenvolvimento de computadores e de programas de computadores e serviços jurídicos.3 – O registo da marca nacional nº ...

(... Consulting) mista foi Requerido em 23/05/03 por “F” – ... – Consultoria e Formação em Gestão de Projectos, Lda.4 – Em 28/01/05 foi registada a alteração da titularidade da referida marca para o Requerente “A” e Requerido “C”.5 - A Requerida “B” é uma sociedade por quotas que tem por objecto a consulta-doria e formação em gestão de projec-tos, soluções informáticas de gestão de projectos.6 - A Requerida tem como única sócia a mulher do Requerido, que é também a sua única gerente e que assumiu as funções de directora financeira.7 - O Requerente era trabalhador e exer-cia funções de gerente em conjunto com Requerido numa empresa que desempe-nhava no mercado actividade idêntica à da Requerida, denominada “G”, e que estava integrada num grupo societário internacional.8 - Em Fevereiro de 2007, o Requerente e o Requerido cessaram as suas funções como gerentes da referida “G” e toda a actividade que desempenhavam nessa empresa.9 - Após tal cessação de funções o Re-querido “C” e o Requerente “A” decidiram constituir a Requerida, mas para evitar quaisquer complicações que pudessem advir do conflito com a “G”, não assumi-ram qualquer participação no capital desta nem as funções de gerentes.10 - Nos termos dessa decisão, iriam repetir na “B”, então a constituir as po-sições societárias que ambos detinham na “F”, de que ambos haviam sido sócios fundadores.11 - O Requerido assumiu na Requerida as funções de director geral, com pode-res de gestão efectiva desta a todos os níveis e ao qual a própria gerente reporta, decidindo e controlando, pois, toda a actividade da empresa.12 – O Requerente trabalhou desde essa data e até 15 de Outubro de 2008, por conta e sob direcção e fiscalização da Requerida.13 - As suas funções compreendiam a coordenação dos gestores de alguns projectos da área da grande Lisboa, execução de consultadoria, execução de formação laboral e pós laboral.

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14 - O Requerente elaborava o plano de trabalho semanal de consultadoria para que este fosse aprovado pelo director geral da Requerida, que, muitas das vezes, pedia que a esse plano fossem feitas alterações.15 - O Requerente prestava a sua activi-dade com dependência face ao Reque-rido director geral da Requerida ou da gerente desta, a quem reportava tudo aquilo que fazia, de quem recebia ordens e instruções, nomeadamente, acerca da forma como deveria desempenhar as suas tarefas.16 - Era a Requerida, através do seu di-rector geral, o Requerido, quem definia as regras que deveriam por ele ser adop-tadas no desempenho das suas funções e os processos que a cumprir que deveriam ser adoptados pela empresa.17 - Por diversas vezes foram-lhe pedidos pontos de situação acerca do trabalho desenvolvido e a resposta a qualquer problema colocado pelo cliente ou aju-da por este solicitada tinha que ser pela Requerida, através do director desta, o Requerido validada.18 - O Requerente auferia a remuneração fixa mensal de € 7000,00, sendo-lhe soli-citado pela Requerida que apresentasse contra a recepção desses valores um denominado “recibo verde”.19 - O Requerente desempenhava a sua actividade profissional nas instalações da Requerida, situadas no “...”, com os equipamentos e instrumentos que por ela lhe eram disponibilizados.20 - O Requerente tinha à sua disposição, para uso profissional e para além dos consumíveis necessários ao desempe-nho de funções, uma secretária, uma cadeira, um computador portátil e um telefone móvel cujos custos de utilização eram pela Requerida suportados.21 - O Requerente estava obrigado, nos termos daquilo que acordou com a Re-querida, a desempenhar a sua actividade profissional todos os dias úteis entre as nove e as dezoito horas, período em que tinha que estar nas instalações da empresa em exercício de funções.22 - Qualquer ausência das instalações da Requerida durante o período descrito deveria ser expressamente autorizada

pelo director-geral desta, o Requerido, devendo também a justificação ser-lhe apresentada para que ele a apreciasse e validasse, podendo em alguns casos considerar a falta injustificada.23 - Os períodos de férias do Requerente tinham que ser devidamente aprovados pelo director-geral da Requerida, o Re-querido, que os apreciava e após essa apreciação os autorizava ou não.24 - Na sequência dos factos referidos em “9” e “10”, o Requerido propôs ao Requerente a evolução da empresa para um modelo de grupo, e entre ambos foi firmado um “memorando de entendi-mento” datado de 11 de Maio de 2008.25 - O Requerido iniciou unilateralmen-te um processo de reestruturação da empresa sem que antes o modelo de grupo tivesse sido fechado, começando a contratar pessoas para gestão de linhas de negócio e abrindo filiais no Norte do país e no estrangeiro e anunciando ins-titucionalmente a evolução do modelo de negócio.26 - O Requerente, ao ver-se afastado de todo esse processo, comunicou por escrito ao Requerido e à gerente da Requerida a insatisfação, por estar a ser levada a cabo uma reestruturação sem os princípios e modelo de grupo estarem acordados.27 - Em reunião havida em Agosto de 2008 foram encontrados os princípios de acordo para o modelo de grupo, não se tendo formalizado o acordo por escrito.28 - Numa reunião em Setembro de 2008 foi proposto ao Requerente que assinasse um acordo parassocial e restan-tes documentos – e que não reflectiam o acordo já havido sobre diversos dos pontos a nele integrar.29 - O Requerente enviou ao Requerido, a comunicação que se junta como do-cumento n.º 22 e se dá por reproduzida, bem como uma outra à gerente que se junta como documento n.º 23 e que se dá por reproduzida através da qual renunciou à gerência da “F”.30 - O Requerente faltou à reunião agen-dada para o dia 28 de Setembro de 2008 para análise do acordo parassocial.31 - A “F”− - ... - Consultadoria e Forma-ção em Gestão de Projectos, Lda é uma

sociedade comercial actualmente detida na sua totalidade pela Requerida, e que havia sido antes detida pela “G”.32 - “F” – ... – Consultoria e Formação em Gestão de Projectos, Lda pessoa colectiva nº 506 460 290, encontra-se matriculada na Conservatória do Registo Comercial de Cascais sob o mesmo número desde 05/03/03.33 – Por escritura pública de 04/11/04 a “F” aumentou o seu capital social, tendo entrado dois novos sócios e alterou a sua denominação social para “G” – Consulto-ria e Formação em Gestão de Projectos, Lda, conforme documento de fls. 394 a 399 dos autos.34 – O Requerente “A” e o Requerido “C” renunciaram à gerência da “G” – Consul-toria e Formação em Gestão de Projectos, Lda. por escritos datados de 10/02/07 conforme teor de fls. 408 e ss. dos autos (processo em papel).35 – Por escrito datado de 19/02/07 o Requerente “A” e o Requerido “C” comu-nicaram à “G” – Consultoria e Formação em Gestão de Projectos, Lda que a partir daquela data, e com efeitos imediatos, revogavam a permissão anteriormente vigente para uso da marca pela empresa “G”, conforme teor de fls. 422 e 423 dos autos (processo em papel), cujo teor aqui se dá por integramente referido.36 - A “F”, não tem qualquer actividade, instalações, equipamentos nem quais-quer empregados, sendo controlada e gerida pelo Requerido.37 - A comunicação referida em “29” assentou no facto de a Requerida haver decidido, sem a aprovação do Requeren-te, iniciar um processo de reestruturação do negócio tendo para o efeito:a. aberto filiais no Norte do país e no estrangeiro, conforme anunciado na pá-gina institucional da empresa na Internetb. recrutado recursos para a sua gestão e representação nas novas filiais;c. reestruturado internamente processos para suportar o novo modelo de negócio;38 - A Requerida operava com recurso a um empréstimo de “cash-flow” para necessidades pontuais de tesouraria, sendo o Requerente fiador e os fundos provenientes desse crédito estavam a ser usados como suporte a toda esta reestru-

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turação da empresa, sem o acordo deste.39 - Em Agosto de 2008 estavam em dívida para com o Requerente cerca de 35.000,00 € de salários.40 - Na comunicação referida em “29” o Requerente instou, sob pena de resolu-ção do “memorando de entendimento” referido em “24”, para que, dentro dos oitos dias seguintes à sua recepção, se negociasse o modelo de grupo da Requerida e a sua posição como sócio.41 - O Requerido não apresentou ao Requerente qualquer proposta negocial.42 - O Requerente, na comunicação referida em “29”, colocou-se à disposição da Requerida para, caso esta o quisesse, continuar a colaborar com ela, nos mol-des em que já o vinha fazendo, desde que lhe fossem pagas as remunerações que estavam em dívida.43 – A Requerida respondeu à carta enviada pelo Requerido em 25/09/08 mediante o escrito de fls. 460 a 464 dos autos (processo em papel), cujo teor se dá aqui por reproduzido.44 - Em 14 de Outubro de 2008 o Reque-rente procedeu à resolução do contrato de trabalho que tinha com a Requerida, com invocação de justa causa fundada nas remunerações em dívida, na qual se descrevem os diversos créditos, com a respectiva natureza, que lhe eram devidos.45 – A Requerida sempre usou a marca ... Consulting com o consentimento ex-presso do Requerente e do Requerido “C”.46 – O Requerente “A” e o Requerido “C”, após os factos referidos em “8” a “10” passaram a prestar serviços através da sociedade Requerida permitindo a esta o uso da marca ... Consulting.47 – O Requerente “A” e o Requerido “C” desenvolveram a sua actividade na “F” desde a sua constituição e até ao dia 22/02/07, período durante o qual a mar-ca ... Consulting foi usada pela referida sociedade, sendo o seu uso autorizado por aqueles.48 - Não existe qualquer contrato for-mal que conceda à Requerida o direito de explorar comercialmente a marca ...-Consulting.49 - O Requerente “A” nunca manifestou à sociedade Requerida, até à interposição

do presente procedimento cautelar, que suspendia a autorização que antes lhe dera para utilizar a marca ... Consulting.50 - A Requerida vem sendo conhecida no mercado pela marca antes referida, sendo através dessa marca e por referên-cia a ela que é apresentada e não pela sua firma, sendo que todos os seus logótipos e sinaléticas a ela se referem.51 - A publicidade que efectua, o papel timbrado que utiliza, e todos os ele-mentos de identificação dos serviços da Requerida referem a marca ... Consulting a qual é também utilizada verbalmente por todos aqueles que nela prestam serviço nos contactos que mantêm no mercado, contendo os endereços elec-trónicos desses colaboradores depois do nome a expressão “... consulting.pt”.52 - O “site” da Internet da Requerida está construído em função da égide da marca ... - Consulting, tendo como endereço www....-consulting.pt e a apresentação gráfica que consta no Documento n.º 25.53 - A Requerida vem-se apresentando como sendo a “... Consulting”.54 - Nos contratos que celebra com colaboradores, fornecedores e clientes a Requerida identifica-se através da marca em causa, sendo também essa marca o timbre das facturas que emite.55 - Todos os documentos, serviços e produtos técnicos e comerciais que uti-liza fazem referência a essa marca, sendo também essa a referência do domínio do web site, do web site e do servidor de e-mail.56 – Desde 20/10/08 e até ao presente o Requerente desenvolve a sua actividade na “H”, uma empresa concorrente da Requerida. 57 – “I” deixou de trabalhar/presta ser-viços para a Requerida sociedade em Agosto de 2008.58 - Com a concessão de uma licença re-lativa à marca ... Consulting, o Requerente poderia, pelo menos, obter, mensalmen-te, metade do valor dessa licença.59 - Com utilização da marca em questão os Requeridos vêm, pelo menos junto de uma empresa no mercado que recorre aos serviços na área em causa a efectuar diversas imputações ao Requerente, nomeadamente que este tem vindo a

desenvolver a sua actividade depois de ter abandonado a Requerida com utilização de “materiais, técnicas, cursos, conhecimento e know-how que perten-cem em exclusivo à ... Consulting”, de vir “assediando consultores e formadores da “... Consulting” e “instigando clientes da ... Consulting”com vista a levá-los a romper acordos com a ... Consulting”, e de vir “diminuindo a imagem da ... Consulting junto de colaboradores e clientes” e “di-vulgando e publicitando no mercado a sua ligação a uma empresa concorrente da ... Consulting e através desta empresa, procurando (...) abordar clientes da ... Consulting”.60 - Esta situação tem causado pertur-bação da actividade profissional do Requerente.61 - Nas contas que apresentou e que são relativas ao ano de 2007, Requerida teve um resultado líquido positivo de € 21.443,33, um resultado financeiro negativo de € 4.251,04.62 - Nas contas que apresentou a Reque-rida tem registadas dívidas, a curto prazo, a instituições de crédito no montante de € 46.151,10 e dívidas no valor de € 75.323,52 ao Estado.63 - Nas contas que a Requerida apresen-tou constam, ainda, dívidas também de curto prazo, a outros credores no valor de € 99.706,78, ascendendo o passivo total da Requerida a € 223.687,34.64 - Das contas apresentadas pela Requerida não consta a existência de quaisquer imóveis, sendo as imobiliza-ções corpóreas constituídas apenas por equipamento básico, registado com o valor de € 14.031,43 e equipamento administrativo, registado com o valor de € 36.588,23.65 - Esses registos correspondem ao mobiliário dos escritórios que ocupa e onde desenvolve a sua actividade e ao equipamento informático que também lhe pertence e que integra 15 compu-tadores, 15 laptops, 3 impressoras, 15 telefones móveis, 15 placas de internet e 2 projectores vídeos multimédia.66 - O activo de relevo detido pela Reque-rida são as receitas geradas pelos serviços que presta, que nas contas apresentadas montam a € 671.340,95, mas que, consi-

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derados os custos e perdas, tiveram saldo apenas € 34.922,72.67 – A Requerida tem dívidas a curto prazo a instituições de crédito que tem cumprido pontualmente.68 – Em 10/07/09 a Requerida “B” tinha a sua situação contributiva regularizada perante a Segurança Social.69 – A Requerida não tem dívidas venci-das à Administração Tributária.70 – A Requerida num período de 10 meses suportou os custos da resolução de litígio com a “G” e os custos com os serviços jurídicos correspondentes.71 – A Requerida “B” tem actualmente 15 colaboradores.72 – No final do ano de 2007 a Requerida pediu a alguns dos seus colaboradores, entre os quais o Requerente, que passas-sem recibos comprovativos da recepção de valores remuneratórios que vieram a ser pagos em 2008, liquidando o IVA respectivo.73 - A remuneração da sócia de empresa é recebida por esta através de um “recibo verde” que em nome do seu compa-nheiro, o director-geral da empresa, é passado.74 - Numa reunião da ... Consulting ocor-rida em 31 de Agosto de 2008 consta que «Relativamente a outras quantias em atraso ou a vencer-se, AGR enunciou a renda ao ... (€1.510,00) a prestação de acordo com a L... (€705,00) e a já referida prestação à N... ... » e ainda que « Face ao solicitado a CTA informou os presentes que a “B” tem cerca de €39.300,00 em fac-turas que já devia ter pago e não pagou, sendo certo que nesse montante não foram incluídos os pagamentos à equipa de gestão, mas tão só a fornecedores, e isto com a utilização do cash-flow (de 50.000,00€) a 100%. Ao momento, a “B” tem em caixa 20.000,00€, uma ex-pectativa de recebimento para Agosto/Setembro de 46.000,00€ e uma previsão de custos de operação para Setembro, sem contabilizar com os valores de dí-vida acumulada, de aproximadamente €60.000,00. CTA concluiu, por fim, que haverá dificuldade em pagar salários, prevendo um cash flow negativo de, aproximadamente, € 20.000,00.».75 – O Requerente tinha conhecimento, à

data da propositura do presente procedi-mento cautelar, que havia sido decretado o arresto do estabelecimento comercial da Requerida e entretanto levantado o mesmo, bem como dos fundamentos deste levantamento.*O Recorrente impugna a decisão de facto relativa aos pontos 6 e 7 de fls. 740 e que correspondem aos pontos de facto 45 e 49 supra, respectivamente.

FunDamentaÇÃo De DireitoConforme resulta do disposto nos arts. 660, n.º 2, 664, 684, n.º 3, 685-A, n.º 3, do CPC[1] são as conclusões do recurso que delimitam o seu objecto, salvas as questões cuja decisão esteja prejudica-da pela solução dada a outras e as que sejam de conhecimento oficioso. É esse também o entendimento uniforme do nosso mais alto Tribunal (cfr. por todos o Acórdão do S.T.J. de 07/01/1993 in BMJ n.º 423, pág. 539).II- Questão prévia: Efeito do recurso:Os requeridos vieram discordar do efei-to a atribuir ao recurso face ao quadro legal em vigor, dizendo que ao mesmo – apelação – deverá ser atribuído efeito devolutivo desde logo porque se trata de uma decisão que repõe a ordem jurídica que existia antes do procedimento cau-telar ter sido instaurado e que se limita a revogar o acto de ofensa ao status quo pré existente, isto é, o acto material do arresto anteriormente decretado sem prévio contraditório.O Recorrente foi devidamente notificado para os efeitos do disposto no artigo 703º n.º2 do Código de Processo Civil, mas nada disse.Apreciando:Recordemos que o Requerente – a fls. 879 – veio interpor recurso da decisão que julgou procedente a oposição di-zendo apenas:“E porque está em tempo e tem legitimi-dade requer a V.Exª se digne admitir-lhe o presente recurso, o qual é de apelação e deverá subir imediatamente nos ter-mos da alínea l) do n.º 2 do artigo 691º do Código de Processo Civil nos próprio autos e com efeito suspensivo [alínea d) do n.º1 do artigo 691º A e alínea d) do

n.º3 do artigo 692º ambos do Código de Processo Civil].” Como se pode ver de fls. 918, o recurso do ora Requerente foi admitido pela Mmª Juiz a quo como apelação, com efeito suspensivo subida imediata, nos próprios autos – artigo 676º, 680º, 691º A, n.º 1, alínea d), e 692º, n.º 3, alínea d); do Código de Processo Civil. Como é sabido, o artigo 691º do Código de Processo Civil, actual redacção, refere no seu n.º 2 que cabe ainda apelação (alínea l)) do “Despacho que se pronun-cie quanto à concessão da providência cautelar, determine o seu levantamento ou indefira liminarmente o respectivo requerimento”.Por seu lado, o artigo 692º, n.º2 e n.º 3, alínea d), refere que tem efeito sus-pensivo a apelação do “despacho que indefira liminarmente ou não ordene a providência cautelar”. Porém, este normativo não é aplicável “in casu”.Com efeito, não estamos diante de decisão de indeferimento liminar da providência cautelar que a não ordene, mas de um despacho que determina o seu levantamento.Como bem refere Abrantes Geraldes, in “Recursos em Processo Civil, Novo Regime”, 3ª edição revista e actualizada, 2010, a p. 209:“No despacho que determine o levan-tamento da providência engloba-se inequivocamente a situação referida no n.º 4 do artigo 389º, para os casos em que a providência caduca ou o procedimento cautelar se extingue.Mas abarcam-se ainda outras situações.Por um lado, a decisão que, ao abrigo do artigo 387º, n.º 3, admita a substi-tuição da providência por caução. Na prática, sobrepondo-se à decisão que anteriormente decretou a providência e que porventura até já foi executada, a substituição envolve necessariamente o seu levantamento.O mesmo efeito se verifica quando o juiz, na sequência da oposição prevista no artigo 388º, n.º 2, revoga a providência ou determina a redução dos seus limites. Apesar de esta decisão se integrar na que inicialmente decretou a providência cau-

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telar, não deixa de implicar também, no todo ou em parte, o seu levantamento, sendo, por isso, passível de recurso nos termos gerais.O recurso sobre em separado (artigo 691ºA- n.º2) e, em regra, com efeito me-ramente devolutivo (artigo 692º, n.º1), o que significa que o levantamento total ou parcial da providência se produz de imediato, a não ser que seja paralisado pela eventual atribuição de efeito sus-pensivo solicitada pelo requerente da providência, ao abrigo do disposto no n.º 4 do artigo 692º.Assim, se, por exemplo, for determinado o levantamento do arresto por efeito da oposição deduzida pelo requerido (devedor) ou por via da caducidade da providência, tal decisão será executada, com levantamento da apreensão dos bens arrestados, a não ser que o recor-rente (credor) solicite, e seja deferida, a atribuição do efeito suspensivo ao recurso de apelação.”Ora é este o caso dos autos: por um lado, foi proferida decisão julgando proceden-tes as oposições deduzidas ao arresto e determinado o seu consequente levan-tamento; por outro, aquando da interpo-sição do recurso o Requerente pedindo apenas secamente a atribuição do efeito suspensivo apresentou como sustento legal o artigo 692º, n.º 2 e n.º 3, alínea d), “despacho que indefira liminarmente ou não ordene a providência cautelar”. Ora, como vimos, não estamos nem dian-te de um verdadeiro pedido de atribuição do efeito suspensivo – que sempre impli-caria a audição da parte contrária – nem a decisão recorrida é um despacho de indeferimento liminar ou que não ordene a providência: antes se trata de um des-pacho de levantamento da providência que não obstante se integrar na decisão que inicialmente decretou a providência cautelar implica tal levantamento. Deste modo, e pelos fundamentos expostos, procede o alegado pelos re-corridos e, em consequência, fixa-se ao recurso de apelação o efeito meramente devolutivo.Não havendo questões de conhecimento oficioso, o objecto de recurso é delimi-tado pelas conclusões das alegações,

como acima se disse, seja pelas questões enunciadas em I supra.b) Saber se ocorre erro de julgamento da decisão de facto quanto ao ponto 6 da decisão de facto que deve ser alterado dele retirando a expressão “expresso” e quanto ao ponto 7 da mesma decisão onde deve constar que o Recorrente se opôs desde a data da comunicação em causa à utilização da marca pelos recorri-dos; saber se o Tribunal recorrido deveria, nos termos dos arts. 514 e 663 ter con-siderado os factos documentados nos autos ou seja que o legal representante da recorrida “B” tomou conhecimento do arresto em Junho de 2009 como resulta do auto de arresto do Tribunal de B..., e depois em Agosto de 2009 aquando do arresto nas instalações da “B” em O..., e, por conseguinte, da oposição à utiliza-ção da marca pela Recorrida “B”, assim como da continuação da exploração pela “B”, em Agosto de 2009 da marca ... Consulting;São os seguintes os pontos de facto em crise:“6 - A Requerida sempre usou a marca ... Consulting com o consentimento ex-presso do requerente e do requerido “C”;7 – O Requerente “A” nunca manifestou à sociedade requerida, até à interposição do presente procedimento cautelar, que suspendia a autorização que antes lhe dera para utilizar a marca ... Consulting.”Na motivação da decisão de facto em causa referiu o Tribunal recorrido:“A convicção do Tribunal relativamente à matéria de facto dada como provada assente fundou-se no acordo das partes e na análise crítica dos documentos juntos aos autos, nos depoimentos de parte prestados pelo Requerente e pelo Requerido “C” e no depoimento das testemunhas inquiridas…o facto refe-rido em 6 foi objecto de confissão pelo requerente em depoimento de parte. O facto referido em 7 foi dado como provado conjugando a declaração do requerente “A” em depoimento de parte de que a única forma pela qual (no seu entender), se opôs ao uso de marca pela requerida foi através da carta datada de 25/08/08 (fls. 171/172 dos autos, reproduzido no ponto 29 da matéria de

facto dada como provada na decisão de 15/06/09). Deste documento consta expressamente a renúncia à gerência da “F” e a qualquer apoio à gerência da “B”, as razões elencadas para tal atitude e ainda “Queria no entanto notar que: 1. Estou totalmente disponível para continuar a colaborar com a empresa, caso a mesma o pretenda num modelo contratual de prestação de serviços de consultoria e formação nas condições exactamente idênticas às actuais (vencimento de 7.000 €/mês em regime de recibo verde), por um período de 6 meses, caso se verifique: a. Remoção até ao dia 31 de Outubro de 2008 da minha situação de avalista da empresa junto da Caixa Económica Mon-tepio Geral e, b. Pagamento dos valores em dívida por um período contínuo de 6 meses a iniciar-se na data de início da prestação de serviços e c. Cedência da (co)titularidade da marca ... Consulting para a”B” logo que todos os valores devi-dos estejam pagos. 2. Caso não me infor-me formalmente no prazo de 8 dias antes referidos, da opção de continuação dos meus serviços de consultoria e formação, considero não haver interesse na minha continuidade na empresa e, nesse caso, reservo-me o direito de desenvolver to-das as diligências judiciais e extrajudiciais que repute necessárias à salvaguarda dos meus interesses relacionados com os créditos pecuniários e os direitos de propriedade industrial de que sou titular.” Do documento não consta expressa-mente que em caso de não resposta ou resposta negativa a “B” ficará impedida de usar a marca, ou que não autoriza o uso da marca. Não é possível retirar desta comunicação sequer subentendida tal proibição – ou revogação do consen-timento expresso – do uso da marca pela requerida mas apenas o que dela consta – que em caso de não resposta ou resposta negativa se reserva o direito de desenvolver as diligências necessárias à salvaguarda dos direitos de propriedade industrial de que é titular. Lido à luz do senso comum, o que se pode retirar da-qui? Que, no caso de não aceitação ou não resposta à proposta formulada, fará, então valer os seus direitos. E fazer valer os seus direitos nem sequer é apenas

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passível de ser interpretado no sentido de proibição de uso _ existe uma outra alternativa, aliás, a situação normal de quem é titular de um direito de proprie-dade industrial e autoriza o sue uso por terceiro – a exigência de pagamento por esse uso (fees ou royalties). Resumindo e concluindo apenas de retira desta comu-nicação – a única referência efectuada pelo requerente à requerida antes da interposição da presente providência a direitos de propriedade industrial – uma ameaça a concretizar em caso de não resposta, ou seja, em 8 dias, que tanto poderia ser de revogação da autorização de uso como de exigência de pagamento por essa utilização (ou outra alternativa negocial no quadro fáctico gerado pela saída do requerente).Dispõe o n.º 1 do art. 685-B: “Quando se impugne a decisão proferida sobre a matéria de facto, deve o recorrente obrigatoriamente especificar, sob pena de rejeição, os concretos pontos de facto que considera incorrectamente julgados [alínea a)],e os concretos meios proba-tórios, constantes do processo ou de registo ou gravação nele realizada, que impunham decisão sobre os pontos da matéria de facto impugnados diversa da recorrida (alínea b)]”E o n.º 2: “No caso previsto na alínea b) do número anterior, quando os meios pro-batórios invocados como fundamento do erro na apreciação das provas tenham sido gravados e seja possível a identifica-ção precisa e separada dos depoimentos, nos termo do disposto no n.º 2 do art. 522-C, incumbe ao recorrente, sob pena de imediata rejeição do recurso no que se refere à impugnação da matéria de facto, indicar com exactidão as passagens da gravação em que se funda, sem prejuízo da possibilidade de, por sua iniciativa, proceder à sua transcrição.”A este propósito refere António Santos Abrantes Geraldes que o recorrente deve especificar sempre nas conclusões os concretos pontos de facto que con-sidera incorrectamente julgados; para além disso, deve especificar os concretos meios probatórios constantes do pro-cesso ou nele registados (documentos, relatórios periciais, registo escrito), deve

indicar as passagens da gravação em que se funda quando tenha sido cor-rectamente executada pela secretaria a identificação precisa e separada dos depoimentos, deve igualmente apre-sentar a transcrição dos depoimentos oralmente produzidos e constantes de gravação quando esta tenha sido feita através de mecanismo que não permita a identificação precisa e separada dos mesmos, deve especificar os concretos meios probatórios oralmente produzidos e constantes da gravação, quando esta foi feita por equipamento que permitia a indicação precisa e separada e não tenha sido cumprida essa exigência pela secretaria e, por último, a apresentação de conclusões deficientes obscuras ou complexas a tal ponto que a sua análise não permita concluir que se encontram preenchidos os requisitos mínimos para que possa afirmar-se a exigência da especificação na conclusão dos con-cretos pontos de facto impugnados ou da localização imediata dos concretos meios probatórios. Tudo isto sob pena de rejeição imediata sem convite ao aperfeiçoamento[2].Ora, o recorrente, nas suas conclusões, mais concretamente nas conclusões n.º x), xi), xii), xiii), xiv), xv), xvi), xvii), xviii), xix), xx), xxi) e xxii), indica os pontos de facto incorrectamente julgados e que são os factos contidos nos arts. 27 e 28 da oposição correspondentes aos pontos 45 e 49 supra mencionados sob II. Entende o recorrente que tal factualidade deve ser alterada. Os meios probatórios que implicam de-cisão diversa, indicam-nos os recorrentes nas conclusões mencionadas, ou seja, o depoimento de parte do próprio recor-rente e o documento de fls. 171/172, seja a carta de 25/09/08, pelo que considera-se cumprido o ónus processual a cargo do Réu recorrente.Saber se, em conformidade com o disposto no art. 712, a decisão de facto deve ser alterada é algo que pressupõe a reapreciação dos meios de prova, designadamente dos indicados pelo recorrente; salvas as hipótese de violação de prova vinculada (art. 655/2) ou erro relativo ao valor pleno do meio de prova

(art. 712/1/c), os depoimentos das teste-munhas e os documentos particulares são livremente apreciados pelo Tribunal em conformidade com o disposto no art. 655/1, preceito julgado constitucional (cfr. Ac T.C. n.º 248/09 publicado no DR II série, n.º 113 de 15/06/09) e segundo as regras de distribuição do ónus da prova (arts. 342 e ss do CCiv). Nessa medida, a menos que o Tribunal de recurso deter-mine a renovação dos meios de prova (art. 712/3), a reapreciação dos meios de prova não busca uma nova convicção agora junto do Tribunal Superior, antes aferir se na apreciação dos meios de prova e na fixação dos correspondentes factos ocorre manifesto e patente erro, como de resto tem vindo a ser entendido por este colectivo.A alteração da decisão de facto na sequência da oposição não pode ser desligada da decisão de facto inicial e provisoriamente tomada aquando do decretamento do arresto.Deu o Tribunal recorrido como proviso-riamente assente que o requerente (“A”), enquanto se manteve ligado à Requerida permitiu a esta que explorasse comer-cialmente a marca descrita e de que é co-titular (ponto 40 da decisão inicial de 19/06/2009 conforme fls.251 dos autos).Tal factualidade correspondia à alegação do Requerente “A” constante do art. 43 da petição inicial do arresto (cfr. fls.13 dos autos). Na sua oposição, a “B” diz expres-samente nos seus arts. 30: “Autorização que embora tente negar, sempre vai confessando nos arts. 43 e 44 do reque-rimento inicial: “O Requerente enquanto se manteve ligado à requerida permitiu a esta que explorasse comercialmente a marca antes descrita” e “O Requerente nunca se opôs a que essa marca fosse utilizada para identificar e distinguir no mercado os serviços prestados pela Requerida” e 31: “Confissões essas que expressamente se aceitam, para não mais serem retiradas.”A matéria do art. 43 da p.i. do arresto não foi expressamente impugnada pelo requerido “C”, conforme se pode ver de fls. 574 e 575 do requerimento da opo-sição. E, não tendo havido por parte dos Requeridos oponentes impugnação da

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factualidade constante do art. 43 da p.i. que integra o ponto 40 da decisão inicial, deve entender-se não só pela posição de confissão aceite pela Requerida “B” como pela não impugnação expressa do Requerido “C” que tal factualidade não poderia nunca ter sido excluída pelo Tribunal recorrido na decisão ora recor-rida, antes deveria integrar os factos definitivamente provados (cfr. arts. 352 e 360 do CCiv quanto à indivisibilidade da confissão e 490/2, aqui subsidiariamente aplicável dada a função de contestação que à oposição cabe). Assim sendo, deve considerar-se assente a factualidade constante do ponto 40 da primitiva decisão e que é a seguinte:O requerente (“A”), enquanto se mante-ve ligado à Requerida, permitiu a esta que explorasse comercialmente a marca descrita e de que é co-titular.No tocante aos pontos 45 e 49 da de-cisão recorrida (correspondentes aos pontos 6 e 7 e 26 e 27 da oposição), vejamos cada um per si:“6 - A Requerida sempre usou a marca ... Consulting com o consentimento ex-presso do requerente e do requerido “C”;Ora, para além da harmonização entre a resposta à alegação do Requerido e aquele ponto 40 da primitiva decisão, há que ver o que o Tribunal recorrido dei-xou lavrado como sendo o depoimento de parte de “A”, prestado aos 19/11/09 e constante de fls. 654: “O depoente con-firmou o consentimento e uso de marca pela “F”, “G” e depois pela “B” e referiu que no seu entender se opôs ao uso da marca pela requerida com carta datada de 25 de Setembro de 2008 (constante de fls. 171 e 172 dos autos), sendo essa a única referência que foi feita por si e a direitos de propriedade industrial”.Sendo a única prova do referido facto o depoimento de parte do Requerente “A”, destinando-se o depoimento de parte à confissão, ou seja ao reconhe-cimento da realidade de um facto que é desfavorável ao depoente e favorece a parte contrária (art. 352 do CCiv), podendo se feita judicialmente como o foi (art. 355/1 do CCiv), devendo ser inequívoca (art. 357/1 do CCiv) e indi-visível (art. 360 do CCiv), assim tendo

força probatória plena contra o confi-tente (art. 358 do CCiv), não podendo o depoente “A” confessar factos que desfavoreçam outros que não ele pró-prio, não é possível dar como provado com base nesse depoimento extractado que a Requerida tenha sempre usado a marca ... Consulting com consentimento expresso do…Requerido “C”. Há que ter em conta que a oposição é o meio ajus-tado para impugnar a matéria de facto que o Tribunal tenha considerado como provada.[3] Por outro lado, o incidente de oposição está limitado nos termos do art. 388/1/b à alegação de novos factos não integrados na versão unilateralizada do requerente ou à apresentação de novos meios de prova ou de contraprova relativamente aos factos já alegados.[4] É sobre o requerido que recai o ónus da prova dos factos que possam levar ao afastamento da providência ou da sua redução pelo que sem embargo do poder de investigação do tribunal em relação aos factos impeditivos, mo-dificativos ou extintivos que tenham sido alegados pelo requerido, será este a sofrer as consequências da falta de prova o que se reflectirá na manuten-ção da providência oportunamente decretada[5]. Sem prejuízo de o tribunal, se o julgar conveniente, recorrer aos depoimentos registados aquando da realização da primeira diligência, a fim de melhor ponderar a decisão e valorar os meios de prova produzidos, a segun-da fase da produção de prova deve ficar limitada à audição das testemunhas ou à apreciação de outros meios de prova exclusivamente apresentados pelo oponente.[6] No tocante à qualificação do consen-timento como sendo “expresso”, há que ver. Expresso é um adjectivo que qualificando a vontade é sinónimo de vontade manifesta, consignada; não tendo sido formalmente manifestada essa vontade, ou seja, por escrito, como manifestamente o não foi, tão só verbal, não vindo confessado em que termos é que o consentimento foi prestado, não é possível qualificar como o fez o Tribunal recorrido, a vontade de autorização do uso de marca.

Assim sendo, altera-se a decisão de facto quanto ao ponto 45 da decisão de facto por forma a não só harmonizá-la com o ponto 40 da primitiva decisão de facto, matéria não só admitida por acordo como objecto de aceitação expressa de confissão, como a expurgá-la de factos que estão fora do inequivocamente confessado.Em consonância, a decisão relativamen-te ao ponto 45 da decisão de facto passa a ser: “A Requerida sempre usou a marca ... Consulting com o consentimento do Requerente e enquanto este se manteve ligado à Requerida.”.Quanto ao ponto 49 da fundamentação da decisão recorrida que corresponde ao ponto 7 do despacho sobre a matéria de facto da oposição que por sua vez corresponde ao art. 28 da oposição e que é o seguinte:– O Requerente “A” nunca manifestou à sociedade requerida, até à interposição do presente procedimento cautelar, que suspendia a autorização que antes lhe dera para utilizar a marca ... Consulting.”Trata-se de facto novo em relação aos factos constantes do requerimento ini-cial do arresto, facto esse cujo ónus de prova, como acima se disse, incide sobre o Requerido, na medida em que se pode traduzir em facto modificativo, ou mes-mo até extintivo, do direito invocado pelo Requerente. Para sua prova tinha a Requerida “B” o ónus de apresentação de novos meios de prova. E que novos meios de prova trouxe? Na motivação da decisão, os meios de prova foram o depoimento de parte do Requerente “A”, que se pode, de algum modo, considerar um meio de prova novo já que aquando da primitiva audiência apenas foi ouvida a testemunha “I”, conjugado com uma carta datada de 25/09/08, já constante dos autos aquando do decretamento do arresto, ou seja a carta de fls. 171 e 172, meio esse que não é, ostensivamente, novo, manifestamente, sim, velho.

(Face à extensão do texto do presente acor-dão, optamos por não o publicar na íntegra, podendo o mesmo ser consultado no nosso site, em www.vidajudiciaria.pt na presente edição; ou em www.dgsi.pt (acordãos do Tribunal da Relação de Lisboa))

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Comentário:

Das várias questões a apreciar no âmbito do presente recurso passa-mos a comentar aquelas que dizem respeito a de saber se: - havendo mera tolerância na utili-zação da marca e não um contrato de licença, é de presumir que essa tolerância apenas se manteria até à saída do Recorrente da “B”, o que ocorreu em Outubro de 2008; - saber se ocorre erro de julgamento na decisão de direito recorrida quan-do entende que a exigência de forma escrita para o contrato de licença prevista no art. 32 do C.P.I. é apenas formalidade “ad probationem”, nada impedindo que ocorra licença verbal e a sua prova por confissão, erro esse na medida em que a exigência dessa forma é “ad substantiam”, cuja falta acarreta a nulidade da declaração negocial de autorização, não sendo possível a prova por outro meio de prova, havendo assim violação do disposto nos arts. 32.º do C.P.I. e arts. 220.º, 364.º do C. civ.O Código de Propriedade Industrial (redacção dada pela Lei n.º 16/2008 de 01.04), prevê um procedimento cautelar de arresto particular para garantir o respeito pelos direitos de propriedade industrial, nos quais se inclui a marca.Com efeito, o artigo 338º-J do Código da Propriedade Industrial estipula:«1 - Em caso de infracção à escala comercial, actual ou iminente, e sempre que o interessado prove a

existência de circunstâncias suscep-tíveis de comprometer a cobrança da indemnização por perdas e danos, pode o tribunal ordenar a apreensão preventiva dos bens móveis e imó-veis do alegado infractor, incluindo os saldos das suas contas bancárias, podendo o juiz ordenar a comuni-cação ou o acesso aos dados e in-formações bancárias, financeiras ou comerciais respeitantes ao infractor.2 - Sempre que haja violação de direitos de propriedade industrial, pode o tribunal, a pedido do inte-ressado, ordenar a apreensão dos bens que se suspeite violarem esses direitos ou dos instrumentos que apenas possam servir para a prática do ilícito.3 - Para efeitos do disposto nos nú-meros anteriores, o tribunal exige que o requerente forneça todos os elementos de prova razoavelmente disponíveis para demonstrar que é titular do direito de propriedade industrial, ou que está autorizado a utilizá-lo, e que se verifica ou está iminente uma violação.4 - Ao presente artigo é aplicável o disposto nos artigos 338.º-E a 338.º- G.”Este preceito contempla o arresto preventivo quando a infracção de um direito de propriedade industrial seja praticada à escala comercial e sempre que o interessado prove a existência de circunstâncias suscep-tíveis de comprometer a cobrança da indemnização por perdas e danos,

e o arresto repressivo, quando haja violação de um direito de proprieda-de industrial.A marca é um sinal distintivo dos produtos ou serviços comercializa-dos por um empresário ou empresa e propostos ao consumidor, desti-nada a identificar a proveniência de um produto ou serviço – artigo 222º, nº 1º, do Código da Propriedade Industrial aprovado pelo Decreto Lei nº 36/03 de 5 de Março na sua versão actual.Aos titulares do registo de uma mar-ca são conferidos diversos direitos, designadamente a sua propriedade e uso exclusivo (art. 224º Código da Propriedade Industrial). O Requerente e recorrente co-titular de uma marca registada, é aplicável o regime da compropriedade, tendo os direitos previstos no artigo 1405.º, n.º 1, do Código Civil e seguintes, pode usar e defender a proprieda-de, sem que a Requerida lhe possa opor que a marca lhe não pertence por inteiro.Na origem da marca a lei não releva tanto o facto de se encontrar uma empresa (uma realidade objectiva), mas uma pessoa (uma realidade sub-jectiva) onerada pelo uso não enga-noso da marca. Em grande parte dos casos ainda terá lugar a coincidência dos papéis de titular da marca e de titular da empresa. Mas já não tem que haver essa coincidência. Podem ser distintos o titular da marca e o titular da empresa. O titular da marca

notas:[1] Na redacção que foi dada ao Código do Processo Civil pelo DL 303/2007 de 24/08, entrado em vigor a 1/1/08, atenta a circunstância de acção ter entrado em juízo em 30/04/2009 no 1º Juízo do Tribunal do Comércio de Lisboa, como resulta dos autos e o disposto no art. 11 e 12 do mencionado diploma; ao Código referido pertencerão as disposições legais que vierem a ser mencionadas sem indicação de origem.[2] Recursos em Processo Civil, Novo Regime, Almedina, 2008, págs.[3] Abrantes Geraldes, Temas da Reforma do Processo Civil, IV vo9l. pág. 196.[4] Autor e obra citados, pág. 256.[5] Autor e obra citados, págs. 263/264[6] Autor e obra citados, pág.. 261.

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marCas VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 33

pode não ser um sujeito empresarial ou, ainda que o seja, não ser o titular da empresa ligada directamente à actividade de produção de bens ou prestação de serviços marcados. A marca tem hoje uma função essen-cial de distinguir e garantir que os produtos ou serviços se reportam a uma pessoa que assume em relação aos mesmos o ónus pelo seu uso não enganoso (função distintiva), uma função derivada de garantia indirecta de qualidade dos produtos ou serviços marcados por referência a uma origem não enganosa, e uma função complementar da função distintiva que é a de contribuir, por si mesma, para a promoção dos produtos ou serviços que assinala (função publicitária)O ónus do uso não enganoso con-substancia-se no facto de o titular da marca, sob a cominação da perda do seu direito, ter necessidade de garantir o seu uso não enganoso. Isto significa que qualquer uso da marca, praticado pelo titular ou por terceiro, com o seu consentimento, susceptí-vel de provocar um engano negativo relativo junto do público, em relação às características essenciais dos pro-dutos ou serviços marcados, sem que os consumidores tenham sido disso, prévia ou imediatamente informa-dos, pode implicar a caducidade do registo da marca.O titular da marca deve promover todas as medidas necessárias a evitar o uso enganoso da marca sob pena de em última instância ocorrer a ca-ducidade do sinal. O titular da marca não é, assim, um mero espectador do uso da marca., o que nos transporta para os negócios em torno da marca designadamente a sua transmissão e o seu licenciamento.Dispõem os arts. 32 e 33 do Código de Propriedade Industrial na redac-ção do DL 143/08, de 25/0708, aqui aplicável por força do disposto no art. 16 desse diploma:“Artigo 31.º

Transmissão1 — Os direitos emergentes de pa-tentes, de modelos de utilidade, de registos de topografias de produtos semicondutores, de desenhos ou modelos e de marcas podem ser transmitidos, total ou parcialmente, a título gratuito ou oneroso.2 — O disposto no número anterior é aplicável aos direitos emergentes dos respectivos pedidos.3 — (Revogado.)4 — (Revogado.)5 — Se no logótipo ou na marca figurar o nome individual, a firma ou a denominação social do titular ourequerente do respectivo registo, ou de quem ele represente, é necessária cláusula para a sua transmissão.6 — A transmissão por acto inter vi-vos deve ser provada por documento escrito, mas se o averbamento da transmissão for requerido pelo ce-dente, o cessionário deve, também, assinar o documento que a compro-va ou fazer declaração de que aceita a transmissão.

Artigo 32.ºLicenças contratuais1 — Os direitos referidos no n.º 1 do artigo anterior podem ser objecto de licença de exploração, total ou parcial, a título gratuito ou oneroso, em certa zona ou em todo o território nacional, por todo o tempo da sua duração ou por prazo inferior.2 — O disposto no número anterior é aplicável aos direitos emergentes dos respectivos pedidos, mas a recu-sa implica a caducidade da licença.3 — O contrato de licença está sujei-to a forma escrita. 4 — Salvo estipulação expressa em contrário, o licenciado goza, para to-dos os efeitos legais, das faculdadesconferidas ao titular do direito ob-jecto da licença, com ressalva do disposto nos números seguintes.5 — A licença presume-se não ex-clusiva.6 — Entende -se por licença exclusi-

va aquela em que o titular do direito renuncia à faculdade de conceder outras licenças para os direitos ob-jecto de licença, enquanto esta se mantiver em vigor.7 — A concessão de licença de ex-ploração exclusiva não obsta a que o titular possa, também, explorar directamente o direito objecto de licença, salvo estipulação em con-trário.8 — Salvo estipulação em contrário, o direito obtido por meio de licença de exploração não pode ser alienado sem consentimento escrito do titular do direito.9 — Se a concessão de sublicenças não estiver prevista no contrato de licença, só pode ser feita com auto-rização escrita do titular do direito.”Distingue a lei a transmissão da licença de marca, aquela, podendo ser provada por documento escrito (art. 31/6), esta sujeita à forma escrita (art. 32/4).O titular da marca pode rentabilizá-la pelo contrato de merchandising, que é o meio pelo qual o titular de uma marca de prestígio, normalmente mediante uma contrapartida, autori-za uma outra pessoa a utilizar aquele sinal para distinguir os produtos ou serviços, sendo estes de género diferente daquele em relação aos quais a marca adquiriu prestígio; o contrato de merchandising é, não obstante algumas especificidades, um contrato de licença, e, por isso, um contrato formal, sujeito por isso à forma escrita e ao averbamento no INPI. Segundo Remédio Marques, o con-trato de licença, o seu escrito, tem natureza de forma “ad substantiam”, diferentemente do que acontece em sede de transmissão de direitos de propriedade industrial em que a exi-gência do escrito assume a natureza de formalidade “ad probationem”, ou seja a necessidade de obter prova segura acerca da realização do acto jurídico.

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marCasVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201134

A transmissão da marca, em sentido amplo, designa o efeito comum a um conjunto de actos jurídicos de tipo contratual ou não contratual a título oneroso ou gratuito, pelos quais se transfere a propriedade da marca (arts. 31/1 do CPI), enquanto a licen-ça é o contrato pelo qual o titular da marca (licenciante), proporciona a um terceiro (licenciado) o uso tem-porário da marca registada, que não se esgota num conteúdo negativo de renúncia ao “jus prohibendi”, abran-gendo, também, os conteúdos po-sitivos de controlo que impõem ao licenciante obrigações positivas não só de controlo de qualidade como de manutenção do direito de marca (arts. 268, 269, 255 do CPI), sua de-fesa contra eventuais contrafactores (art. 258 do CPI), ou seja obrigação de manutenção pacífica da marca e assunção de consequências pelo modo como a marca é usada por si e pelos licenciados.Por outro lado o titular do registo da marca pode invocar os direitos con-feridos pelo registo contra o licen-ciado que infrinja qualquer cláusula ou disposição do contrato de licença “em especial no que respeita ao seu prazo de validade, à identidade da marca, à natureza dos produtos ou serviços para os quais foi concedida a licença, à delimitação da zona ou do território ou à qualidade dos produtos fabricados ou dos serviços prestados pelo licenciado.”-art. 264 do CPI.As partes gozam, assim, no contrato de licença de marca de um grande poder de conformação do mesmo, o que só se compreende se existir um contrato escrito; por outro lado, o exercício dos poderes e deveres que o Código de Propriedade Industrial impõe ao licenciante só é possível se existir um contrato escrito, pois, se ele não existir, não é possível, nomeadamente, o exercício pelo licenciante de marca a seu favor registada, dos direitos que o art.

264 referido estabelece. O conteúdo dos poderes do licenciado resulta do contrato, sendo que a relação de licença é uma relação intersubjectiva de base contratual e não uma relação dominial.Tendo havido autorização, consen-timento, permissão verbalmente prestados pelo Requerente de uso da marca de que é co-titular, sem mais, desconhecendo-se os contornos de tal autorização, apenas se sabendo que ela só se deveria manter enquan-to o Requerente estivesse ligado à “B”, a primeira conclusão a tirar é a de que, sendo o contrato de licença um contrato legalmente sujeito à forma escrita, formalidade essa “ad subs-tantiam”, inexistindo como inexiste o contrato em questão é nulo, nos termos das disposições conjugadas do mencionado art. 32 do CPI, 219, 220 do Cciv, nulidade essa invocável a todo o tempo por qualquer interes-sado como o foi pelo Requerente e deve ser oficiosamente declarada com obrigação de restituição do que tiver sido prestado, nos termos das disposições conjugadas dos arts. 286 e 289 do CCiv, ou seja, deve cessar o uso da marca de que o Requerente é co-titular pela “B”; de resto, mesmo não tendo sido revogada a licença verbalmente prestada, estando a licença de uso da marca relacionada com a ligação do Requerente à “B”, ocorrendo resolução do contrato que ligava a Requerente à “B” em 14/10/08, não obstante não ter havido revogação ou suspensão da autorização, seria sempre legítimo o exercício dos direitos de propriedade industrial por parte do Requerente, pois não existem elementos de prova que permitam sustentar a conclusão de que os Requeridos confiaram legitimamente que o Requerente não exercesse os seus direitos de propriedade industrial. Não há elementos de facto que permitam concluir ser ilegítimo o exercício dos direitos por parte do

Requerente (art. 334 do CCiv).É duvidoso que o n.º 2 do art. 338-J do CPI exija para o decretamento do arresto os mesmos ou idênticos pressupostos do n.º 1, algo equiva-lente aos pressupostos do art. 406, na medida em que o n.º 2 apenas refere “a violação de direitos de pro-priedade industrial,” e “a apreensão dos bens que se suspeite violarem esses direitos ou dos instrumentos que apenas possam servir para a prática do ilícito”.Mas, ainda que se entenda que o art. 338 J do CPI prevê um verda-deiro e próprio arresto para cujo decretamento se exige a verificação dos respectivos pressupostos, ou seja a probabilidade da existência do direito – art. 338-J, n.º 3, do CPI e o justificado receio da perda da garantia patrimonial (art. 338-J, n.º 2, do CPI e 406, 407), temos de verificar o seguinte:O crédito está indiciado. O justo receio de perda da garantia patri-monial, é elemento estrutural e distintivo da providência do arresto previsto no Código de Processo Civil. Ao invés do que o nomen possa su-gerir o critério de avaliação, não deve assentar em juízos puramente sub-jectivos do juiz ou do credor, simples conjecturas, antes deve basear-se em factos ou circunstâncias que, de acordo com as regras da experiência, aconselhem uma decisão cautelar imediata como factor potenciador da acção declarativa ou executivaAssim e não obstante a “B” ter a situ-ação contributiva perante a Seguran-ça Social e perante a Administração Tributária regularizadas e estar a cumprir as dívidas de curto prazo perante as instituições de crédito, o certo é que as receitas geradas pelos serviços que presta traduz um lucro irrisório.

Face ao exposto, foi decidido man-ter-se o arresto já anteriormente decretado pelo Tribunal recorrido.

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Resumos - JurisPruDênCia VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 35

A decisão do acórdão proferido pelo Supremo Tribunal de Justiça, em 12 de Maio de 2011, foi sumariada do seguinte modo: “I - Considerando o acórdão re-corrido que, no contrato celebrado pela autora e pela ré, ficou expressamente estipulada a exclusão de atribuição de compensações como a indemnização de clientela e que a cláusula sub judicio era válida, julgou implicitamente que as partes haviam legítima e validamente renunciado àquela indemnização.II - O dever de pronúncia do Tribunal prescrito no art. 660.º, n.º 2 do CPC, cessa quando o seu conhecimento esteja pre-judicado pelo anterior conhecimento de outra questão que lhe seja prejudicial.III - Por tal razão, o Tribunal a quo não se pronunciou, nem tinha que pronunciar, quanto à verificação, no caso concreto, dos requisitos previstos no art. 33.º do DL n.º 178/86, e de cuja verificação cumulativa depende a aplicação de clientela, dado que essa questão con-creta estaria já então prejudicada, em face da validade, por si reconhecida, de uma cláusula contratual.IV - Não foi, assim, violado qualquer dever de pronúncia, tal como previsto nos arts. 660.º, n.º 2, 1.ª parte e 668.º,

n.º 1, al. d), 1.ª parte, aplicáveis ex vi do art. 716.º, todos do CPC, improcedendo a alegada nulidade do acórdão.V - O concessionário goza do direito à indemnização de clientela, desde que preenchidos cumulativamente os requi-sitos estabelecidos no art. 33.º do DL n.º 178/86, de 3-07.VI - Tendo-se provado que a recorrente continuou, durante mais de quatro anos e meio já após cessar o contrato dos autos, a prestar serviços e a proceder a vendas relacionadas com a marca LR, actividades que lhe proporcionaram receitas, infere-se que a recorrente continuou, por isso, a retirar proventos por conta de “contratos negociados ou concluídos, após a cessação do contrato, com os clientes da marca referida, o que, no caso vertente, é suficiente para que faleça o requisito previsto na al. c) do art. 33.º e, por conseguinte, para que se tenha por afastada a peticionada indemnização de clientela.VII - A cláusula de um contrato de con-cessão celebrado entre concedente e concessionário, que estabelece que “nenhuma delas (partes) será respon-sável pelo pagamento de qualquer compensação à outra pelo facto de se

verificar tal concessão” equivale à re-núncia antecipada do concessionário ao seu direito de indemnização de clientela, sendo nula, por violar o art. 33.º, n.º 1, do DL n.º 178/86, de 03-07, que reveste natureza imperativa”.

Neste recurso interposto junto do Tri-bunal do Supremo Tribunal de Justiça discute-se a seguinte matéria:

1ª – Se, não se tendo o acórdão recorrido pronunciado sobre questão suscitada à sua apreciação, pela autora/recorrente, qual seja a aplicação ou não do requisito constante da alínea c) do nº 1 do artigo 33° do DL. n.º 178/86, ao contrato de concessão em causa nos autos, questão suscitada pela apelante nas suas alega-ções e conclusões (nos 3 e 4), se verifica a violação do artigo 668°, n.º 1, alínea d), 1ª parte, aplicável por força do artigo 716°, nº 1, ambos do CPC, (omissão de pronúncia), do que resulta a nulidade do acórdão recorrido.2ª – Se o concessionário goza do direito à indemnização de clientela, desde que preenchidos os requisitos estabelecidos no artigo 33° do DL. n.º 178/86, de 3 de Julho.3ª - Se a Cláusula 8, I, do contrato de concessão celebrado entre concedente e concessionário, que estabelece que “nenhuma delas será responsável pelo pagamento de qualquer compensação

Contrato de concessão comercial- Indemnização de clientela

referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 12.5.2011Fonte: site do STJ – www.dgsi.pt

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JurisPruDênCia - ResumosVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201136

à outra pelo facto de se verificar tal ces-sação” equivale à renúncia antecipada do concessionário ao seu direito de indemnização, sendo nula por violar o artigo 33°, nº 1, do DL. n.º 178/86, de 3 de Julho, que reveste natureza imperativa.4ª – Se, tendo resultado provado que o concessionário angariou centenas de clientes para a marca, ao longo de quase 20 anos, clientela de que o con-cedente passou a dispor após a cessação do contrato de concessão, deverá ser concedida ao concessionário a indem-nização máxima permitida por lei, e que corresponde à retribuição anual calculada pela média dos últimos 5 anos, atendendo ainda a que a mesma já se encontra moderada pela entrada nesse cálculo do último ano de vigência do contrato, no qual já se verificou quebras de vendas, tudo conforme o disposto no artigo 34° do referido DL. n.º 178/86, de 3 de Julho.I - Nulidade do acórdão recorrido:A 1ª questão suscitada pela recorrente consiste em saber se o acórdão recorrido padece de nulidade, por violação da pri-meira parte da alínea d) do artigo 668º, aplicável por força do disposto no n.º 1 do artigo 716º do Código de Processo Civil, por não se haver pronunciado quanto aos requisitos cumulativos de que depende a indemnização de clien-tela, conforme previsto no artigo 33º do DL n.º 178/86, de 3 de Julho.Nos termos da alínea d) do n.º 1 do artigo 668º do Código de Processo, é nula a sentença, quando o juiz deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar.Esta nulidade está directamente relacio-nada com o comando que se contém no n.º 2 do artigo 660º, segundo o qual “o juiz deve resolver todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação, exceptuadas aquelas cuja decisão esteja prejudicada pela solução dada a outra”, servindo de cominação ao seu desrespeito.Assim, a obrigação imposta ao juiz de conhecer todas as questões que as partes tenham submetido à sua apre-ciação, cessa relativamente àquelas cuja decisão esteja prejudicada pela solução

dada a outras. Ora, no caso sub judicio, o acórdão recorrido considerou que “(…) no contrato celebrado pela autora e pela ré ficou expressamente estipulada a exclusão de atribuição de compensa-ções com a indemnização de clientela”, cláusula que, em seu entender, era perfeitamente válida, improcedendo, consequentemente, a acção.Deste modo, o Tribunal a quo não se pronunciou quanto à verificação con-creta, no caso em apreço, dos requisitos previstos no citado artigo 33º do DL n.º 178/86, de 3 de Julho, e de que depen-de a indemnização de clientela, mas não tinha que o fazer, pois que, tendo julgado que as partes haviam legítima e validamente renunciado àquela indemnização, essa questão estava implicitamente prejudicada.O Tribunal a quo não violou qualquer dever de pronúncia, tal como previsto nos artigos 660º, n.º 2, 1ª parte, e 668º, n.º 1, alínea d), 1ª parte, aplicáveis ex vi do artigo 716º do Código de Processo Civil, pelo que improcede a alegada nulidade do acórdão recorrido.

QualiFiCaÇÃo Do Contrato CeleBraDo entre as Partes:

O contrato que as partes celebraram in-sere-se na categoria ampla do contrato de distribuição comercial, que engloba espécies diversificadas como a agência, o mandato comercial, a comissão, a mediação, nas suas múltiplas vertentes e a concessão comercial.As instâncias consideraram tratar-se de um contrato de concessão comercial. Com efeito, segundo a doutrina, “a concessão comercial é um contrato atí-pico, que faz surgir entre as partes uma relação obrigacional complexa por força da qual o concedente se obriga a vender ao concessionário, e este a comprar-lhe para revenda, numa zona determinada, bens produzidos ou distribuídos pelo concedente, aceitando certas obriga-ções, mormente no que concerne à sua organização, à política comercial e à assistência a prestar aos clientes, e sujeitando-se a um certo controlo e fiscalização do concedente”

“O contrato de concessão comercial exprime-se, então, por uma relação con-tratual duradoura entre o concedente e o concessionário, em que o conces-sionário actua em nome e por conta próprios, obrigando-se a promover a revenda dos produtos que constituem objecto mediato do contrato na zona a que o mesmo se refere, enquanto, por seu turno, o concedente se obriga, no futuro, a celebrar com o concessioná-rio sucessivos contratos de venda e a fornecer-lhe os meios necessários ao exercício da sua actividade comercial” Como refere Pinto Monteiro, há três notas essenciais, as quais fornecem o recorte da figura:“Em primeiro lugar, a concessão é um contrato em que alguém assume a obrigação de compra para revenda, nele se estabelecendo desde logo os termos (ou os principais termos ou regras) em que esses futuros negócios serão feitos. Daí que, ao celebrarem, periodicamente, os contratos de compra e venda pelos quais o concessionário adquire do con-cedente os bens para revenda, estarão ambas as partes a cumprir a obrigação anteriormente assumida. A estes últimos podemos chamar contratos de execu-ção, os quais se inserem no quadro defi-nido pelo primeiro e o complementam”.“Em segundo lugar, o concessionário age em seu nome e por conta própria, assumindo os riscos da comercialização”.“Finalmente, no contrato de concessão vinculam-se as partes a outro tipo de obrigações, (além de compra para revenda), sendo através delas que ver-dadeiramente se efectua a integração do concessionário na rede ou cadeia de distribuição do concedente. São obrigações de índole e intensidade diversa, com as quais se visa, no fundo, definir e executar determinada política comercial. Isso pode implicar, designa-damente, o estabelecimento de regras sobre a organização e as instalações do concessionário, os métodos de venda, a publicidade, a assistência a prestar aos clientes, etc. Consagra-se, além disso, um certo controlo do primeiro sobre a actividade do segundo. Trata-se de definir regras de comportamento

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Resumos - JurisPruDênCia VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 37

através das quais se estabelecem laços de colaboração entre as partes e se articula e coordena a actividade de todos no seio da rede de distribuição, regras essas que implicam obrigações várias e se fundam, juntamente com a obrigação de compra para revenda, no contrato de concessão como contrato – quadro que é”.

reGime JurÍDiCo aPliCável ao Contrato De ConCessÃo:

O contrato de concessão comercial não beneficia de um regime jurídico próprio. É um contrato legalmente atípico, pese embora a tipicidade social de que goza.Celebrado ao abrigo do princípio nu-clear do direito dos contratos que é a liberdade contratual, expressão mais relevante do princípio da autonomia privada, é ainda à luz do mesmo prin-cípio que será de atender à disciplina fixada pelos próprios contraentes, nas cláusulas que houverem estipulado, desde que lícitas (artigo 405º CC).Serão também de ter em conta, desig-nadamente, os princípios e as regras gerais do direito dos contratos e do ne-gócio jurídico, assim como haverá que considerar as regras dos contratos mais próximos, as regras daqueles contratos que tenham a sua disciplina fixada na lei e possam aplicar-se ao contrato de concessão por analogia.A este respeito, há que invocar o esta-tuído no n.º 4, in fine, do preâmbulo do DL 178/86, de 3 de Julho, onde se diz expressamente que, “relativamente a este último (contrato de concessão) detecta-se no direito comparado uma certa tendência para o manter como contrato atípico, ao mesmo tempo que se vem pondo em relevo a necessidade de se lhe aplicar, por analogia – quando e na medida em que ela se verifique -, o regime da agência, sobretudo em matéria de cessação do contrato.Estando, pois, o regime do contrato de agência, sobretudo na parte relativa à cessação do contrato, vocacionado para ser aplicado, analogicamente, ao contrato de concessão comercial, como o próprio legislador destacou,

não obstante as diferenças entre eles existentes, é necessário, contudo, apu-rar, relativamente a cada questão e em caso concreto, se pode afirmar-se uma analogia de situações que justifique a aplicação ao contrato de concessão dos autos as normas estabelecidas para a indemnização de clientela.Ora, atendendo às circunstâncias do caso concreto, constata-se que o con-cessionário desempenhou funções, cumpriu tarefas e prestou serviços idên-ticos aos que recaem sobre o agente.Ponderados todos estes factores, con-clui-se, no caso concreto, pela equipara-ção da actividade exercida pela autora a um agente, pelo que a indemnização de clientela, se verificados os respectivos pressupostos, será de atribuir, dada a aplicação do regime do contrato de agência, por analogia.

Da inDemniZaÇÃo De Clientela:

A indemnização de clientela constitui, no fundo, uma compensação a favor do agente, após a cessação do contrato, pe-los benefícios que o principal continue a auferir com a clientela angariada ou desenvolvida pelo agente. Ela é devida seja qual for a forma por que se põe ter-mo ao contrato ou o tempo por que este foi celebrado (por tempo determinado ou por tempo indeterminado) e acresce a qualquer outra indemnização a que haja lugar (por exemplo, por falta ou in-suficiência de pré - aviso ou por violação do contrato pelo principal). É como que uma compensação pela «mais-valia» que o agente proporciona ao principal, graças à actividade desenvolvida pelo primeiro, na medida em que o principal continue a aproveitar-se dos frutos des-sa actividade, após o termo do contrato de agência.Pese embora o seu nome, não se trata, em rigor, de uma verdadeira indem-nização, até porque não depende da prova, pelo agente, de danos sofridos . O que conta são os benefícios propor-cionados pelo agente à outra parte, benefícios esses que, na vigência do contrato, eram de proveito comum, e

que, após o seu termo, irão aproveitar apenas, unilateralmente, ao principal. Não se pretende, pois, em rigor, ressar-cir o agente de quaisquer danos, antes compensá-lo pelos benefícios que a outra parte continue a auferir e que se devam, no essencial, à actividade do seu ex - agente. Mesmo que este não sofra danos, haverá um enriquecimento do principal que legitima e justifica uma compensação. Trata-se, em suma, de uma medida mais próxima do instituto do enriquecimento sem causa do que da responsabilidade civil.Porque à autora, enquanto concessio-nária, se aplica, no caso sub judicio, por analogia o disposto no artigo 33º do DL 178/86, com a redacção que lhe foi dada pelo DL nº 118/93, de 03/07, é essencial a verificação dos requisitos de que de-pende a atribuição dessa indemnização.

se a autora tem Direito À inDemniZaÇÃo De Clientela

Os requisitos de que depende a atribui-ção da indemnização de clientela ao agente estão consagrados nas alíneas a), b) e c) do n.º 1 do artigo 33º. São re-quisitos positivos, a provar pelo agente e devem verificar-se cumulativamente, pressuposta a cessação do contrato.Não é, porém, devida indemnização de clientela, nos termos do n.º 3 do mesmo artigo, se o contrato tiver cessado por razões imputáveis ao agente ou se este, por acordo com a outra parte, tiver ce-dido a terceiro a sua posição contratual.No caso “sub judicio”, o contrato de concessão celebrado cessou, pelo que se verifica o pressuposto inicial.Quanto aos requisitos apontados, é necessário, em primeiro lugar, que o agente tenha angariado novos clientes para a outra parte ou aumentado subs-tancialmente o volume de negócios com a clientela já existente Este requisito verifica-se, atendendo a que a autora angariou clientes para a ré. Os objectivos de vendas da ré foram ultrapassados, tendo a autora contri-buído para que, no distrito de Faro, centenas de clientes, incluindo pessoas singulares, empresas e instituições pú-

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JurisPruDênCia - ResumosVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201138

blicas, se tornassem clientes da marca BB, vendendo-lhes a autora veículos BB e prestando-lhes assistência após venda.Quanto aos benefícios alcançados pelo concedente, não se mostra necessário que eles tenham já ocorrido, bastando que, de acordo com um juízo de prog-nose, seja bastante provável que eles se venham a verificar, isto é, que a clientela angariada pelo agente constitua, em si mesma, uma chance para o concedente.Resultando provado que a concedente passou a dispor e poder usar em seu proveito da informação acerca da iden-tidade dos clientes adquirentes de veí-culos novos da marca BB, já que a autora sempre lhe deu acesso à identificação destes (quesito 52º), infere-se que, tendo tido acesso a essa informação, “a concedente a possa ter transmitido ao novo concessionário da zona, o que constituirá uma mais valia nesse novo contrato de concessão, na suposição de que os adquirentes de veículos da marca BB se terão dirigido a esse novo concessionário para reparações, pelo menos, no período de garantia e que, pelo menos, uma parte dos mesmos, como é comum, possa ter adquirido um outro veículo da marca, aquando da venda do antigo”, como se refere na sentença.Quanto ao último dos requisitos, a exigência de que o “agente deixe de receber qualquer retribuição por con-tratos negociados ou concluídos, após a cessação do contrato, com os clientes” que angariou, destina-se a evitar uma “duplicação de rendimentos”.Ou seja, pretende-se obstar que o agen-te possa vir a receber, simultaneamente, uma indemnização de clientela calcula-da nos termos do artigo 34º do Contrato de Agência e as retribuições devidas por contratos que tenha negociado ou concluído, após o termo do contrato de agência.Quanto a isto, como realça a conceden-te, “a mera leitura do Relatório Pericial constante dos autos é esclarecedora quanto à não verificação do último daqueles três requisitos de que a lei faz depender o direito do «agente» re-clamar ao «principal» o pagamento de

uma indemnização de clientela, após a cessação do contrato”.Com efeito, e como se infere do alu-dido Relatório, ficou provado que a recorrente continuou, depois do dia 11/04/2002, data em que o contrato dos autos cessou definitivamente os seus efeitos, e até ao final do ano 2006, isto é, durante mais de quatro anos e meio já após cessar o contrato dos autos, a prestar serviços e a proceder a vendas relacionadas com a marca BB, activida-des que lhe proporcionaram as receitas já atrás mencionadas.Como a indemnização de clientela visa compensar os proventos ou remune-rações que o “agente” deixa de receber em virtude da cessação do contrato, não poderá essa indemnização ser atri-buída quando o “agente”, neste caso, a concessionária, continuou a beneficiar da clientela que “angariou” durante a vigência do contrato. Caso contrário, tornar-se-ia evidente a duplicação de rendimentosÉ assim evidente que, em face da factu-alidade considerada provada, falece, no caso presente, o requisito previsto na alínea c) do artigo 33º do DL n.º 178/86, o que afasta a peticionada indemniza-ção de clientela.

Da valiDaDe Da Cláusula 8ª, i, Do Contrato:

Considerou-se, no acórdão recorri-do que, com a aludida cláusula as outorgantes não quiseram excluir a responsabilidade das partes por danos emergentes da cessação do contrato decorrente de culpa de qualquer das partes. Quiseram, conforme decorre do seu texto, excluir um tipo de compen-sação que emerge da simples cessação do contrato, independentemente da sua causa ou forma.Sendo a indemnização de clientela, nos contratos de distribuição, maxime no contrato de agência, precisamente essa forma de compensação, conclui que, no contrato celebrado pela autora e pela ré ficou expressamente estipulada a exclusão da indemnização de clientela como atribuição de compensação pela

cessação do contrato. E com este funda-mento o acórdão recorrido considerou não ser devida a pretensa indemnização de clientela, antes de se ter pronunciado sobre a eventual verificação dos requi-sitos enumerados no artigo 33º do DL n.º 178/86.Defendeu, por isso, a autora que tal cláusula era nula, porquanto foi im-posta à recorrente pela recorrida e não celebrada livremente; é contrária ao disposto no artigo 809º do Código Civil; e é contrária à imperatividade do regime de indemnização de clientela.Embora se entenda que esta cláusula, enquanto renúncia antecipada à in-demnização de clientela, é contrária à imperatividade do regime de indem-nização de clientela e, por isso, nula, (neste sentido o artigo 809º do Código Civil, tal como o artigo 19º da Directiva 86/653/CEE, de 18/12/1986) o conheci-mento desta questão está prejudicado, porquanto se considerou que não havia lugar à indemnização de clientela, por se não verificarem todos os requisitos de que depende a sua aplicação.Considera, por fim, a recorrente que, tendo resultado provado que o conces-sionário angariou centenas de clientes para a marca, ao longo de quase 20 anos, clientela de que o concedente passou a dispor após a cessação do contrato de concessão, deverá ser concedida ao concessionário a indem-nização máxima permitida por lei e que corresponde à retribuição mensal calculada pela média dos últimos cinco anos, atendendo ainda a que a mesma já se encontra moderada pela entrada nesse cálculo do último ano de vigência do contrato, no qual já se verificou que-bras de vendas, tudo conforme disposto no artigo 34º do referido DL n.º 178/86, de 3 de Julho.Também esta questão se encontra prejudicada. Não se verificando um dos requisitos enunciados no artigo 33º do citado DL 178/86, de que depende a aplicação da indemnização de clientela, resulta não haver fundamento para a sua fixação.Face ao exposto dediciu-se, no STJ, em negar a revista.

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A decisão do acórdão proferido pelo Supremo Tribunal de Justiça, em 17 de Maio de 2011, foi sumariada do seguinte modo: I - Os contratos de locação celebrados entre uma entidade de direito público e um particular tendo como fim a pro-visão de habitação a pessoas carecidas de habitação condigna regem-se por regras específicas não coincidentes com um contrato de locação típico.II - Tendo sido, por regulamento, deter-minante na escolha e atribuição de um alojamento, a composição de um agre-gado familiar, está vedado ao titular do contrato o uso dos meios possessórios ao alcance do locador para provocar a saída dos elementos que foram deter-minantes para a concreta atribuição de uma fracção.III - Neste tipo de contrato releva e prevalece o fim social que determinou a escolha, selecção e atribuição de um imóvel estando vedado ao particular desfazer o nexo causal estabelecido na formação do contrato, ou seja satisfação de habitação para um agregado familiar com um número específico de pessoas que constituíam a família no momento de formação.Neste recurso interposto junto do Tri-bunal do Supremo Tribunal de Justiça discute-se a seguinte questão:- Saber se o arrendatário de uma habita-

ção social pode pedir a saída do locado dos membros da família de que depen-deu a respectiva atribuição, usando para o efeito os meios possessórios contidos no artigo 1307.º do Código Civil.Antes de mais, importa caracterizar o tipo de contrato celebrado entre a A. e Câmara Municipal da Maia. O contrato ajuizado é um contrato misto de arrendamento e promessa de compra e venda. Nos termos do ponto 1. do contrato celebrado entre a A. e a Câmara da Maia o contrato tem como objectivo “[…] promover o realoja-mento de populações carenciadas no Concelho da Maia e a eliminação das barracas, casas abarracadas e situações similares ali existentes”, tendo como fim “[…] a satisfação das necessidades habitacionais do segundo outorgante e do seu agregado familiar”. A duração do contrato foi estipulado pelo período de vinte e cinco (25) anos.Pelo contrato de arrendamento e promessa de compra e venda o preço da renda a pagar não é estipulado livremente, mas antes constitui-se o resultado da fórmula indicada no ponto 4.1. a que se convencionou chamar de “renda técnica”. O programa de reabi-litação e realojamento das populações carenciadas e a progressiva eliminação das barracas, casas abarracadas, ilhas e situações similares está inserta num

regulamento municipal de habitação social.Nos termos deste preceito (artigo 4.º) “o contrato de arrendamento é aquele em que a Câmara Municipal da Maia, na qualidade de locadora, confere direitos de uso e fruição de um determinado fogo a um cidadão para o efeito eleito através de concurso, o locatário, me-diante o pagamento de uma renda técnica, calculada nos termos previstos no Cap. IV do presente Regulamento”. Nos termos do artigo 7.º do referido Regulamento os contratos celebrados contém, obrigatoriamente, um cláusula de reversão, que funcionará sempre, entre outras razões a explicitar nos respectivos contratos, e à custa da qual o locatário se obriga a restituir imediata-mente o imóvel à Câmara “[…] sempre que se verifique uma situação que legitime o funcionamento da cláusula de reversão.Para atribuição dos “fogos” o Regula-mento estipula e define o modo de abertura do concurso, as condições e requisitos exigíveis para apresen-tação da candidatura, o rendimento máximo mensal do agregado familiar, constituindo rendimento do agregado familiar “todos os vencimentos, salários e subvenções ilíquidas recebidas pelos concorrentes e pelas pessoas que fa-zem parte do agregado familiar […]” devendo ser considerado agregado familiar para efeitos de afectação do mencionado rendimento do agregado familiar “o conjunto de pessoas que

Contrato de arrendamento- Habitação social - requisitos

referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 17.5.2011Fonte: site do STJ – www.dgsi.pt

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JurisPruDênCia - ResumosVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201140

com ele vivam em comunhão de mesa e habitação, ligadas por laços de paren-tesco, casamento, afinidade e adopção ou outras situações que a lei considere assimiláveis”. Ainda nos termos do Regulamento que temos vindo citar o tipo de habitação a atribuir deve ser atribuído em função das necessidades do agregado familiar sendo, nos termos do n.º 3 do artigo acabado de citar, adequado para um agregado familiar constituído por três pessoas um T2/3, como fogo mínimo e T3/6, como fogo máximo. Trata-se de um contrato misto, forma-do na sua estrutura, combinada ou unida, por um contrato de locação e um contrato promessa de compra e venda. Na sua execução continuada ou duradoura o contrato que surge como prevalente é o contrato de locação na justa medida em que todo o feixe de obrigações típicas se reconduz ou tipi-fica na configuração de um contrato de locação. Todo o clausulado e obrigações assumidas pelas partes na execução do contrato, particularmente por parte do locatário/promitente comprador induzem deveres que são típicas do locatário, pelo que o contrato ajuizado há-de ser caracterizado como contrato de locação tendencialmente projectado como promessa de compra e venda, se o locatário não vilar nenhum dos deveres que lhe são cometidos pelo regulamento e pelo contrato celebrado. Trata-se, no entanto, de um contrato de locação atípico dado que contém cláu-sulas que não são típicas de um contrato de locação privado ou de características vinculísticas. Desde logo o estabelecido quanto à reversão da propriedade á en-tidade de proprietária do imóvel e que surge como entidade munida de um im-perium na sucumbência de deveres do locatário. Vale por dizer que neste tipo de contratos em que uma entidade de direito público surge como promotora de uma das suas atribuições sociais e/ou de utilidade publica, como é o caso de procurar prover ou promover o bem estar social das pessoas carenciadas de habitação, os contratos celebrados as-sumem uma feição administrativa que

permitem a entidade que promove o investimento reaver ou ver-se restituída do imóvel se o locatário desrespeitar com as obrigações que contratualmen-te se obrigou e a que o regulamento geral o vinculou. O contrato estabelecido entre a autar-quia e os particulares assume, destarte características, peculiares e contém regras e cláusulas que revelam uma configuração típica de um contrato de locação administrativa, dado não se conformar com os contratos de locação regulados nos instrumentos legislativos adrede. A atribuição por concurso e a vinculação a regras ou deveres que não são típicos dos contratos de locação civil privada conferem a este tipo de con-tratos uma feição distinta e a dever ser interpretado não segundo as estatui-ções típicas do contrato de locação civil mas sim através de uma hermenêutica especial e especifica. No caso sub judice, a A. e a família foram seleccionados por concurso público, pela composição do agregado familiar, pelas especificas condições económicas e pelo estado da habitação que ocu-pavam a celebrar o contrato de que a A. é titular. Na atribuição do imóvel, para além da verificação das condições de naturalidade e outras que o regu-lamento especifica, a A. e o agregado familiar que consigo habitava numa habitação degrada foi determinante para a escolha e atribuição do tipo de imóvel ou fracção. Daí que na formação da vontade da entidade que atribuiu o imóvel tivessem que ter estado pre-sentes e tivessem sido determinantes um requisitório especifico que atinava com a o número de pessoas a alojar e, decorrentemente, com o tipo de aloja-mento que a uma família com aquele concreto número de pessoas devesse ser atribuído. Não foi, pois, alheio e aleatória a atri-buição de um determinado tipo de alojamento ao agregado familiar cons-tituído pela A. e pela filha genro e neta. A Câmara teria atribuído outro tipo de alojamento se ao concurso tivesse con-corrido a A. individualmente. Neste caso não lhe seria atribuído um alojamento

com a tipologia de um T4 mas, com toda a probabilidade um T1 ou outro que permitisse um alojamento condigno a um agregado familiar constituído por uma pessoa só. Na formação da vontade contratual da entidade de direito público, enquanto promotora de condições de habitabili-dade condigna para os habitantes da circunscrição administrativa que gere, foi determinante a composição do agre-gado familiar a alojar para a atribuição do tipo de fracção. A A., embora figuran-do como titular do contrato, não pode eximir-se à responsabilidade (social) de que é portadora a intenção negocial da entidade (pública) contraente. Vale por dizer que a A. figura no contrato enquanto membro de um agregado familiar que a entidade contraente escolheu e seleccionou para conferir melhores condições de habitabilida-de. A dimensão social que atravessa a composição e a estrutura do contrato não pode estar dissociada da formação, manutenção e execução do contrato de locação. Ficou provado que na formação e vin-culação contratual da Câmara com a A. não foi determinante a A., em si, mas, prevalentemente e de forma determi-nante, o agregado familiar que no mo-mento do concurso foi assumido pela entidade promotora do contrato como o servia os fins (sociais) projectados para aquele complexo de habitações sociais. A habitação referida em 1 de tipologia T4 só foi atribuída pela Câmara Munici-pal à Autora porque o agregado familiar era composto por 4 pessoas; Tendo sido a própria Autora quem comunicou à Câmara Municipal pela própria, a filha, o genro e um neto.Esta confirmação do fim social a que está votado o contrato de locação celebrado entre a A. (e seu agregado familiar) e a Câmara não pode deixar de conduzir à conclusão de que os RR. são, com a A., os legítimos possuidores da fracção, pela atribuição vinculada e especifica que determinou a realização do contrato de locação.Não pode a A. desvincular-se da obri-gação, social e especifica, decorrente

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Resumos - JurisPruDênCia VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 41

do concurso que lhe atribui a si e ao agregado familiar que fez constar desse mesmo concurso para que lhe fosse atribuída uma habitação social e com a tipologia que lhe foi atribuída. A di-mensão e os contornos de sociabilidade conferido ao contrato induz específicos deveres aos “escolhidos/seleccionados” contraentes particulares não sendo legitimo desobrigarem-se do dever que assumiram perante a entidade pública que lhe atribuiu a habitação e o fez em atenção ao agregado familiar que pretendia subtrair a uma condição de habitabilidade partilhar a habitação de precária e indigna de manter o agrega-do familiar no locado. A ser provida a intenção da A. então deveria ser comu-nicado á entidade administrativa para rever o contrato porquanto para uma só pessoa não seria certamente atribuído este tipo de habitação. Confere-se, neste tipo de contratos de feição social e com projecto de sana-ção de deficitárias condições pessoais e familiares, em áreas de intervenção

das autoridades administrativas ou do Estado, uma limitação dos direitos dos contraentes particulares, que providos de uma condição social desprotegida e socialmente precária se obrigam ao cumprimento de deveres que num con-trato dotado de autonomia de vontade não o seriam. Há neste tipo de contratos de feição social uma mitigação da vontade do contraente particular que se dilui na necessidade socialmente prevalente da entidade administrativa. A vontade do particular tem de se sujeitar ao fim do contrato, que no caso concreto emerge como promotor de melhoria das condi-ções de habitabilidade dos habitantes de uma determinada circunscrição autárquica. No fim social projectado no contrato radica a limitação dos direitos de uma das partes, precisamente da-quela que vê provida a insuficiência que concita a obrigação social da autoridade pública. Acresce que ao prevalecer-se a A. neste caso, em que, com já foi asseverado,

da sua posição de arrendatária estaria possibilitada à autarquia a reversão da fracção, pois deixavam de estar verifi-cadas as condições e os pressupostos em que se formou a vontade de contra-tar por parte da autarquia promotora da habitação para aquele concreto agregado familiar. Ao modificarem-se as condições que determinaram a vontade “administrativa” de contratar geram-se as condições para uma alte-ração do contrato e a um ajustamento das condições de alojamento. Seria, como já se deixou entrever supra, alojar uma única pessoa ou prover de alojamento quatro pessoas. A A. colocar-se-ia na posição de promotora de alteração das condições em que o contrato tinha sido celebrado e com isso ver-se-ia, certamente, na contin-gência de ter que abandonar o locado para, devendo ser-lhe atribuída uma fracção compatível com as necessida-des de habitação de uma pessoa. Face ao exposto dediciu-se, no STJ, em negar a revista.

A decisão do acórdão proferido pelo Supremo Tribunal de Justiça, em 18 de Maio de 2011, foi sumariada do seguinte modo: I - À reparação de danos emergentes de acidente de trabalho estão subjacentes interesses de ordem pública, sendo nula

qualquer convenção contrária aos direi-tos ou às garantias conferidas pela Lei dos Acidentes de Trabalho, sendo uns e outras inalienáveis, impenhoráveis e irrenunciáveis.II - Como garantia desses direitos, esta-beleceu a lei processual um processo

especial para a sua efectivação, de cujas características se destaca o seu curso oficioso, isto é, o processo corre sem necessidade do impulso das partes, sendo que a negligência destas não tem a virtualidade de exercer qualquer influência sobre o processo, nome-adamente o efeito de interromper a instância à luz do art. 285.º, do Código de Processo Civil.III - No âmbito dos processos emergen-tes de acidente de trabalho somente

aCiDente de trabalho- Caducidade do direito à acção

referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 18.5.2011Fonte: Site do STJ – “www.stj.pt”

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releva, para efeitos de caducidade do direito de acção, o prazo decorrido entre a cura clínica ou morte do sinistrado e a data da participação, no tribunal, do acidente, a qual marca o exacto início da instância. A partir dessa data, os processos emergentes de acidente de trabalho correm oficiosamente, jamais podendo reiniciar-se o decurso do pra-zo de caducidade do direito de acção.IV - O regime constante do n.º 2 do art. 332.º do Código Civil, que prevê uma forma de sancionamento da inércia processual, é inaplicável às acções cujo curso é oficioso, como sucede com as acções emergentes de acidente de trabalho.

V - Uma das funções da Segurança Social, dentro dos objectivos que prossegue, é a de substituir-se à entidade pagadora de rendimentos do trabalho quando os seus beneficiários se vejam privados deles por ocorrência de uma eventualidade que integre o direito ao esquema de prestações correspondentes à protecção do regime geral.

VI - Ocorrendo um evento gerador de perda de remunerações pelas quais haja terceiros responsáveis, cabe à Segurança Social assegurar, proviso-riamente, a protecção do beneficiário; todavia, assiste-lhe o direito de exigir ao responsável, no quadro do regime da sub-rogação, o pagamento dos sub-sídios ou pensões que haja satisfeito.VII - Dado este regime especial de sub-rogação legal, o prazo de prescrição aplicável à entidade responsável para o exercício do seu direito será o mesmo do credor originário: 5 (cinco) anos, con-forme resulta do disposto no art. 32.º, n.º 2, da Lei dos Acidentes de Trabalho.Neste recurso interposto junto do Tri-bunal do Supremo Tribunal de Justiça discutem-se fundamentalmente as seguintes questões:1. Caducidade dos direitos da autora 2. Prescrição do direito do ISS em rela-ção ao pedido de reembolso.

I- No caso concreto, sendo aplicável ao acidente dos autos o regime da Lei 100/97 de 13/9, é indiscutível que o di-reito de acção respeitante às prestações resultantes do acidente caduca no pra-zo de um ano, contado a partir da morte do sinistrado, conforme determina o nº 1 do artigo 32º daquela lei, a seguir designada por LAT. Donde resulta que a A tinha o prazo de uma ano contado da data do decesso do falecido marido para dar início à acção com vista à reclamação dos seus direitos. Tratando-se da propositura duma ac-ção, o acto interruptivo da caducidade é constituído pelo recebimento da pe-tição inicial pela secretaria do tribunal a que é dirigida, consoante resulta do artigo 267º, nº 1, do CPC, sendo esse momento que releva para impedir a caducidade. Assim será suficiente para obstar à cadu-cidade que a petição inicial dê entrada em juízo dentro do prazo estabelecido na lei, sendo irrelevante a data da cita-ção do Réu, que só interessa para efeitos de interrupção da prescrição. Por isso, a acção considera-se tempes-tivamente instaurada desde que a peti-ção inicial dê entrada na secretaria antes de se completar o prazo de caducidade legalmente fixado. No entanto, em sede de processo de acidente de trabalho, que constitui um processo especial conforme se colhe dos artigos 99º e seguintes do CPT aprovado pelo DL nº 480/99, de 9/11, a questão põe-se em moldes diferentes, pois a instância inicia-se com a partici-pação do acidente, conforme prescreve o seu artigo 26º nº 3. Na verdade, este tipo de processo inicia-se por uma fase conciliatória, dirigida pelo Ministério Público e que terá por base a participação do acidente de trabalho (99º nº 1 do CPT). Apenas se as partes não chegarem a acordo, ou se este não for homologado é que se seguirá a fase contenciosa, que se iniciará com a apresentação duma petição inicial ou de requerimento para realização de junta médica, conforme estabelece o artigo 117º do mesmo CPT.

Todavia, o que marca o início da ins-tância não é a apresentação da petição inicial ou do requerimento de junta médica, mas a apresentação da partici-pação do acidente. Por isso, o momento a atender para efeito da caducidade do direito de acção, quer da vítima, quer dos seus beneficiários legais no caso de acidente mortal, não é o data do início da fase contenciosa mediante a apresentação da petição inicial, mas o da data da participação do acidente com a qual se deu início à instância[2]. No caso presente, tendo a morte do sinistrado ocorrido em 16 de Outubro de 2005, e tendo a participação do aci-dente entrado no dia 26 de Outubro do mesmo ano no Tribunal do Trabalho de Santarém, concluímos que a instância se iniciou muito antes de se ter completa-do o prazo de um ano estabelecido no artigo 32º da LAT. Acontece porém, que a tentativa de conciliação foi realizada em 3/4/2006. E como a A não apresentou a petição inicial no prazo de 20 dias, conforme consta do nº 1 do artigo 119º do CPT, foi proferido, em 9 de Maio de 2006, despa-cho a considerar suspensa a instância.Além disso, em 18/5/2007, foi ainda pro-ferido despacho a declarar interrompida a instância e que, notificado às partes não gerou qualquer reacção.Perante este quadro, sustenta a recor-rente que a negligência da parte em promover o andamento do processo conduziu à efectiva e incondicional interrupção da instância, pelo que tendo a A apresentado a petição inicial em 11.11.2008, isto é, mais de 2 anos e meio após a tentativa de conciliação, consumou-se o prazo de caducidade.Argumenta para tanto que esta inter-rupção foi uma realidade no processo, pelo que apenas restará aplicar o regime previsto na regra do art. 332º, nº 2, CC, na sua articulação, v.g, com o disposto no art. 286º, in fine, CPC, argumentação que não convenceu o Tribunal recorrido. Na reparação dos danos emergentes de acidentes de trabalho estão subjacentes interesses de ordem pública, bem ex-pressos no artigo 34º da LAT, que consi-

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Resumos - JurisPruDênCia VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 43

dera nula qualquer convenção contrária aos direitos ou às garantias conferidos por esta lei, cujos créditos são inaliená-veis, impenhoráveis e irrenunciáveis, conforme estatui o artigo 35º. Por estas razões estabeleceu a lei processual um processo especial para a efectivação destes direitos, de cujas características se destaca o seu curso oficioso, ou seja, o processo corre sem necessidade do impulso das partes, conforme resulta do artigo 26º, nº 2, do CPT. Daqui que se tenha formado uma corrente jurisprudencial, firme, no sentido de que não estando o impulso processual das acções emergentes de acidentes de trabalho condicionado pela vontade das partes, a negligência destas não pode exercer qualquer influ-ência sobre o processo, nomeadamente no efeito de interromper a instância à luz do artigo 285º do CPC.

Assim, no âmbito dos processos emergentes de acidentes de trabalho, somente releva, para efeitos da caducidade do direito de acção, o prazo decorrido entre a cura clínica ou morte do sinistrado e a data do recebimento no tribunal competente da participação do acidente, a qual marca o momento exacto do início da instância. A partir dessa data, os processos emergentes de acidente de trabalho correm oficiosamente, jamais podendo reiniciar-se o decurso do prazo de caducidade do direito de acção.

É certo que foi proferido despacho a declarar interrompida a instância, despacho que, tendo transitado em julgado, conduziu à formação de caso julgado formal sobre esta decisão. Mas nem assim é de aplicar ao caso o regime do nº 2 do artigo 332º do Código Civil.Efectivamente, resulta deste preceito que, interrompida a instância, o prazo fixado para a propositura da acção

volta a correr, não se contando para este efeito o prazo decorrido entre a data da propositura da acção e a data da interrupção da instância. Mas contar-se-á o tempo decorrido antes da instauração da acção e o pos-terior à interrupção, somando-se um com o outro, conforme sustentam Pires de Lima e Antunes Varela, Código Civil anotado, I, 4ª edição, pgª 297; e Mário Brito, Código Civil Anotado, I, 1967, pgªs 434 e 435. No entanto, esta solução é inaplicável nas acções emergentes de acidentes de trabalho, pois tendo um curso oficioso pelos interesses de ordem pública que prossegue, não pode a sua tramitação ser afectada pela negligência das partes. Efectivamente, não se aplicando neste tipo de acções o princípio do impulso processual, também não se pode aplicar-lhes o regime do nº 2 do artigo 332º do CC, que constitui uma forma de sancionamento da inércia processual. Na verdade, a pretensão da recorren-te iria pôr em causa os princípios de interesse e ordem pública que estão subjacentes à reparação dos danos emergentes dum acidente de trabalho e que estão na base do curso oficioso do processo que os vise efectivar. Daí que, no âmbito desta espécie de processos, somente releve para efeitos da caducidade do direito de acção, o prazo decorrido entre a morte da vítima e a data do recebimento no tribunal da participação do acidente, pois é esta que marca o início da instância.A partir daí, e dado o seu curso ser ofi-cioso, jamais se pode reiniciar o decurso do prazo de caducidade do direito de acção. Por isso e como a morte da vítima ocorreu em 16 de Outubro de 2005 e constatando-se que o acidente foi participado ao Tribunal do Trabalho de Santarém por “fax” datado de 25 de Outubro de 2005, não se consumou o prazo de caducidade previsto no artigo 32º, nº 1, da LAT. Por tudo o exposto, improcede esta questão.

ii - Quanto à prescrição Alega a recorrente que o prazo que o ISS dispõe para pedir o reembolso das prestações pagas não é o prazo que a beneficiária tem para as requerer pe-rante aquele, mas sim o prazo de 1 ano (artº 32º da Lei 100/97 de 13/09); e se for entendido dar prevalência à situação da sub-rogação o prazo é de três anos (artº 498º do Cód.Civil), pois conforme ensina Pedro Romano Martinez, “in” Direito do Trabalho, 3ª edição, págª 809 e 810, “a responsabilidade civil por acidentes de trabalho, não obstante constituir um ius singulare, continua a assentar nos pres-supostos básicos da responsabilidade civil aquiliana (ius comune), cujas re-gras, quando não sejam especialmente afastadas, encontram aplicação. Dispõem os nºs 1 e 2 do artigo 1º do DL 59/89, de 22/02, que em todas as acções em que seja formulado pedido de indemnização de perdas e danos por acidente de trabalho ou acto de terceiro, que tenha determinado inca-pacidade temporária ou definitiva para o exercício da actividade profissional, ou a morte da vítima, serão as instituições de segurança social competentes para concessão das prestações, citadas para, no prazo da contestação, deduzirem pedido de reembolso de montantes que tenham pago em consequência dos referidos eventos. Efectivamente, uma das funções da Segurança Social, dentro dos objectivos que prossegue, é a de substituir-se à entidade pagadora de rendimentos do trabalho quando os seus beneficiários se vejam privados deles por ocorrência duma eventualidade que integre o di-reito ao esquema de prestações corres-pondentes à protecção do regime geral. Por isso, quando ocorre um evento gerador de perda de remunerações pelas quais haja terceiros responsáveis e cabendo-lhe assegurar, provisoriamen-te, a protecção do beneficiário, ficará a Segurança Social com o direito de exigir o pagamento dos subsídios ou pensões que tenha pago. Daí a razão de ser da sua citação ao abrigo daquele diploma legal.Assim, tendo-se citado o ISS em

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JurisPruDênCia - ResumosVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201144

14/11/08, veio este, em 27/11/08, dedu-zir contra as rés, pedido de reembolso das quantias que pagou à beneficiária, a título de subsídio por morte e a título de pensões de sobrevivência, que esta havia requerido em 3 de Novembro de 2005 e com proposta de reconhecimen-to do direito às mesmas em 21/11/05. Ora, quanto ao prazo de um ano (artigo 32º nº 1 da LAT) e atendendo a tudo o que já se disse no ponto anterior, obvia-mente que a questão improcede, pois tratando-se dum prazo de caducidade, o ISS beneficia da regra que considera que o início da instância ocorre com a participação do acidente ao Tribunal. E quanto à prescrição também não podemos sufragar o entendimento da recorrente.

Na verdade, cabendo à Segurança Social assegurar, provisoriamente, a protecção do beneficiário, ficará esta com o direito de exigir o pagamento dos subsídios ou pensões que tenha pago, pois estas prestações de natureza social não são cumuláveis com a indemnização a cargo de terceiro responsável pelo acidente.

Efectivamente, nos termos artigo 16º da Lei n.º 28/84 de 14 de Agosto (anterior-mente em vigor) e a que corresponde o regime do actual artigo 71º da Lei n.º 32/2002, de 30 de Dezembro, designada Lei de Base da Segurança Social, no caso de concorrência, pelo mesmo facto, do direito a prestações pecuniárias dos regimes de segurança social com o de indemnização a suportar por terceiros, as instituições de segurança social ficam sub-rogadas nos direitos do lesado até ao limite do valor das prestações que lhes cabe conceder. Por isso, o DL nº 59/89 obriga a que a Segurança Social seja citada em to-das as acções em que seja formulado pedido de indemnização por perdas e danos por acidente de trabalho que tenha determinado morte, para deduzir pedido de reembolso dos montantes

que tenham pago em consequência de tal evento. Assim, o contemplado direito de sub-rogação do ISS e com ele a não defini-tividade do encargo com o pagamento das pensões de sobrevivência e do subsídio por morte[4], que só existe no caso de concorrência do direito a prestações pecuniárias dos regimes se segurança social com o de indemniza-ção a suportar por terceiro, apesar do pagamento daquelas prestações sociais poder implicar um encargo definitivo para o ISS, como, por exemplo, no caso da morte do beneficiário resultar de uma morte natural. No fundo as instituições de segurança social assumem um papel subsidiário e provisório, face à obrigação de in-demnização de que é sujeito passivo o responsável civil. Daí que não seja de cumular o subsídio por morte e a pensão que venham a ser devidos pela seguradora/entidade patronal, com as pensões de sobre-vivência e com o subsídio por morte pagos pelo ISS, pelo que devem os valores que forem reembolsados ao ISS ser deduzidos ao montante indemniza-tório a pagar pela entidade responsável à beneficiária no quadro da indemniza-ção devida pelo acidente de trabalho, conforme é jurisprudência deste Supre-mo Tribunal, vendo-se neste sentido os acórdão de 23 de Outubro de 2003, publicado na CJ Tomo III, pág. 111, Salvador da Costa); 15/11/06, recurso nº 3408/06-4ª secção (Mário Pereira) e de 17/5/2007, processo nº 07S051 (Laura Leonardo), ambos disponíveis em www.dgsi.pt. Por isso e dado este regime especial de sub-rogação legal, entendemos que o prazo de prescrição da entidade subrogada será o mesmo do credor originário (5 anos conforme resulta do artigo 32º, nº 2, da LAT), pois doutra forma estaríamos a permitir uma du-plicação de rendimentos à custa do mesmo facto (a morte da vítima), o que a lei manifestamente não quis. Na verdade, se a acção fosse proceden-te, receberia a beneficiária em duplica-do uma compensação pelos mesmos

danos, pois já recebeu da Segurança Social e irá receber da entidade respon-sável pelo acidente de trabalho. Ora, para o devedor é indiferente que tenha de pagar a A ou a B, pois a sua responsabilidade, em caso algum, irá ser agravada. Assim, o que vier a pagar ao ISS será deduzido ao que tiver de pagar à beneficiária legal, dada a incomuni-cabilidade na esfera patrimonial da beneficiária, da indemnização por perda de rendimento do trabalho re-alizado pelo falecido e do dispêndio com o seu funeral, a ser devida pela recorrente e ou pela seguradora à luz da Lei n.º100/97, com as prestações de segurança social consubstanciadas na pensão de sobrevivência e no subsídio por morte pagos pelo ISSPor outro lado e como a recorrente alega, a sub-rogação coloca o ISS na posição da Autora beneficiária, pois a sub-rogação atribui ao solvens os direi-tos do credor (RLJ, 110º-339, nota 19). Por isso o ISS tem também que bene-ficiar do prazo de prescrição da A, que são os 5 anos previstos no artigo 32º, nº 2, da LAT. Por isso, como perante a viúva só poderá invocar o prazo de 5 anos do artigo 32º, nº 2, da LAT, também o ISS aproveita do mesmo, conforme resulta daquelas normas do CC. Face ao exposto, resultando da maté-ria de facto assente que, com data de 27.11.2008, o Instituto de Segurança Social, veio deduzir contra as Rés o pedido de reembolso das prestações que pagou à beneficiária, temos de concluir que se não consumou o prazo de prescrição. Na verdade, a Autora, requerera a atribuição do subsídio por morte e da pensão de sobrevivência em 03 de Novembro de 2005, tendo havido pro-posta de reconhecimento do direito às mesmas em 21.11.2005. De qualquer maneira, está-se ainda longe de se completar o referido prazo de cinco anos. Face a todo o exposto, o Supremo Tribunal de Justiça acordou em negar provimento ao recurso.

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JurisPruDênCia do STJ e das Relações VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 45

assunto: Assunção cumulativa de dívida

referências: Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 30.5.2011

Fonte: site do TRP – www.dgsi.pt

Sumário: I - A “assunção cumulativa” de dívida configura a prestação de garantia próxima da fiança.II - As consequências dos actos das sociedades praticados para além da sua capacidade de gozo são: a) por força da natureza das coisas – nulidade, por impossibilidade jurídica – artigo 280º, nº 1, CC; b) Por força da lei- nulidade por violação da lei- artigos 280º, nº1 e 294º do CC, se outra consequência não estiver fixada; Por força do contrato de sociedade ou deliberação - validade, mas responsabilidade civil de quem a represente no acto, sendo possível anulação face a terceiros de má-fé.III - No artigo 6°, 2 e 3, do CSC, estão previstos regimes especiais para as liberalidades e para as garantias.IV - 4-Quanto às garantias, incumbe à sociedade garante, que se queira prevalecer da declaração de nulidade do acto de prestação da garantia, alegar e provar que esta foi prestada sem interesse próprio justificado.

acórdão do tribunal da relação do Porto

i – relatÓrio

1 - B…, LDA., com sede na Rua …, …, …, intentou a presente acção decla-rativa, sob a forma de processo sumário, contra C…, SA, com sede na Rua …, Maia, pedindo a condenação da Ré a pagar à A. o montante de € 11.463,73 e juros moratórios, ascendendo os já vencidos a € 2.005,42.

Alegou que celebrou com a Ré um contrato de prestação de serviço na área da sua actividade (contabilidade e serviços administrativos), na sequência do que a A. prestou à Ré serviços pelo preço de € 16.362,17, de que a Ré não lhe pagou € 11.463,73.

2 – A Ré contestou, concluindo pela procedência da acção exclusivamente quanto ao montante de € 1.089,00.

Alegou que a quantia de € 10.374,73 não corresponde a serviços que lhe fo-ram prestados, mas a outras empresas; foi pressionada pela A., através da amea-ça de lhe não prestar mais serviços, que a Ré assumiu pagar aquele montante.

3 - A A. respondeu, mantendo o pedido formulado.

4 - O processo foi saneado e não houve fixação da Base Instrutória.

5 - Teve lugar a Audiência Final, que culminou com a Decisão de Facto de fls. 220-225.

6 - Foi proferida a Sentença, em cuja parte decisória se lê o seguinte:

7 - “Nos termos e com os funda-mentos supra referidos, julgo a acção parcialmente procedente e, em con-sequência:

a) condeno a R. a pagar à A. a quan-tia de € 1.089,00,

b) condeno a R. a pagar à A. os ju-ros de mora relativos às quantias de € 363,00, € 363,00 e € 363,00, calculados às taxas resultantes da consideração da Portaria nº 597/2005, de 19/7, e contados, respectivamente, desde 14.07.2007, 27.08.2007 e 25.09.2007 até efectivo e integral pagamento,

c) condeno a R. a pagar à A. a quan-tia de € 10.374,73 e d) condeno a R. a pagar à A. os juros de mora relativos à quantia de € 10.374,73, calculados às taxas resultantes da consideração da Portaria nº 597/2005, de 19/7, e con-tados desde a data da citação da R. até efectivo e integral pagamento.”

8 - Desta Sentença apelou a Ré, que, nas suas Alegações, formulou, em resu-mo, as seguintes CONCLUSÕES:

A A. prestou serviços de contabilida-de a outras empresas, mas facturou-os à Ré, que não tem obrigação legal de proceder ao seu pagamento.

A A. e o Administrador da Ré, em conluio, celebraram um acordo que pre-tendia responsabilizar a Ré pelo paga-mento de € 10.374,73, correspondente a serviços que não foram prestados à Ré.

Mas este acordo não pode vincular a Ré, pois que é nulo – artigos 6º do CSC, 280º e 294º do CC.

Por outro lado, o facturar serviços

CaPaCiDaDe de gozo das sociedades- Consequência dos actos das sociedades

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JurisPruDênCia do STJ e das RelaçõesVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201146

não prestados é contrário aos bons costumes.

A decisão recorrida viola os artigos 6º, 1 e 4, e 409º, 1m do CSC, 160º, 1 e 2, 280º, 1 e 2, 281º e 294º do CC.

Termina pedindo a revogação da Sentença na parte em que condenou a Ré a pagar à A. a quantia de € 10.374,73 e respectivos juros de mora.

9 - A Recorrida contra-alegou, ten-do-se pronunciado pela confirmação da Sentença, formulando as seguintes CONCLUSÕES:

«1) A. e R. celebraram um contrato de transmissão de dívidas.

2) Contrato este, validamente ce-lebrado.

3) O nº 3 do artigo 6º do Código das Sociedades Comerciais, ao vedar à sociedade a prestação de garantias a favor de terceiros, não tem aplicação à “assunção de dívida”.

4) Por outro lado, ainda que se en-tendesse que no caso vertente havia sido prestada uma garantia, o disposto no referido normativo legal não pode ser oposto a terceiros de boa-fé, contra os quais é ineficaz.

5) O conhecimento da aludida ine-ficácia não é oficioso.»

ii – FunDamentaÇÃo De FaCto

Na Sentença foram considerados como adquiridos para os autos os se-guintes FACTOS:

1º- A A. é uma sociedade que se dedica à prestação de serviços na área de contabilidade e de serviços adminis-trativos (Artº 1º da petição inicial).

2º- Em 1 de Agosto de 2005, a A. celebrou com a Ré um contrato verbal de prestação de serviços (Artº 2º, da petição inicial).

3º- A A. prestou à Ré os serviços referidos nas facturas cujas cópias cons-tam de fls. 17 a 19 e, aqui, se dão por reproduzidas (Artº 3º da petição inicial).

4º- Os serviços referidos nas facturas cujas cópias constam de fls. 17 a 19 foram efectuados a inteiro contento da Ré, que relativamente a eles não apresentou qualquer reclamação (Artº 4º da petição inicial).

5º- A Ré não procedeu ao pagamen-to das facturas cujas cópias constam de fls. 17 a 19 (Artº 7º da petição inicial).

6º- A A. tinha prestado também serviços de contabilidade a outras empresas concretamente às seguintes: “D…, Ld.ª”, “E…, Ldª” e “F…, Ldª”, todas sedeadas em Santa Maria da Feira e das quais foi sócio-gerente o administrador da aqui Ré Senhor G… (Artº 4º da con-testação).

7º- A A. enviou à Ré, via fax, o do-cumento cuja cópia consta de fls. 49 e, aqui, se dá por reproduzido (Artº 7º da contestação).

8º- O administrador da Ré G… assu-miu, em nome da Ré e para a mesma, as dívidas que as empresas “D…, Ldª”, “E…, Ldª” e “F…, Ldª” tinham para com a A. por força de serviços de contabilidade que esta lhes tinha prestado (Artº 8º da contestação).

9º- Foi enviada à Ré a carta cuja cópia consta de fls. 50 a 52 e, aqui, se dá por reproduzida (Artº 12º da con-testação).

10º- Ascendem pelo menos ao valor de € 10.374,73 as dívidas à A. relativas a serviços de contabilidade que a mesma prestou às empresas “D…, Ldª”, “E…, Ldª” e “F…, Ldª” (Artº8º da resposta).

11º- Na sequência da factualidade referida no artº 8º, da contestação, a A. emitiu facturas em nome da Ré res-peitantes às dívidas que as empresas “D…, Ldª”, “E…, Ldª” e “F…, Ldª” tinham para consigo por força de serviços de contabilidade que lhes tinha prestado, com base num plano de pagamentos acordado entre si e o administrador da Ré G… (Artº 10º da resposta).

12º- Tais facturas nunca foram de-volvidas pela Ré, sendo que estão todas vencidas (Artº 11º da resposta).

13º- A A. não procedeu ao encerra-mento fiscal do ano de 2006 da Ré, em virtude de esta não lhe ter fornecido os elementos que pediu para o efeito (Artº 17º da resposta).

14º- Foi enviada à Ré a carta cuja cópia consta de fls. 50 a 52 e, aqui, se dá por reproduzida (Artº 18º da resposta).

Não houve impugnação da Decisão de Facto

De Direito

Face aos factos apurados, verifica-mos que estamos perante dois contratos:

um de prestação de serviço, celebra-do entre a A. e a Ré, em cumprimento do qual a A. prestou à Ré os serviços referidos nas facturas cujas cópias cons-tam de fls. 17 a 19, cujo preço está em dívida – ver a respectiva noção no artigo 1154º do CC;

outro de assunção de dívida, celebra-do também entre A. e Ré, pelo qual esta se compromete a pagar àquela o mon-tante de € 10.374,73, que está em dívida à A. relativo a serviços de contabilidade que a mesma prestou às empresas “D…, Ldª”, “E…, Ldª” e “F…, Ldª, e que estas sociedades não pagaram – ver artigo 595º, 1, b), do CC.

Relativamente ao primeiro nenhu-ma questão é levantada em sede deste Recurso, mas em relação ao segundo a Recorrente invoca a sua nulidade, com fundamento no disposto nos artigos 160º, 1, 280º, 1 e 2, 281º e 294º do CC, 6º, 1, 3 e 4, e 409º do CSC.

Teremos que, face à matéria de facto adquirida, averiguar se é ou não nulo o contrato pelo qual a Ré se comprometeu a pagar a dívida que aquelas sociedades tinham para com a A..

A assunção de dívida é considerada como o contrato pelo qual ocorre uma transmissão da posição jurídica das devedoras para a ora Recorrente[1]. Esta é a considerada a perfeita, tendo como principal efeito a liberação da dívida para o primitivo devedor[2].

Antes de mais, há que considerar os requisitos da assunção da dívida são: a existência de uma dívida efectiva; o acordo do credor; e a idoneidade do contrato de transmissão[3].

Face à actuação da A., que é a credo-ra, entendemos que da mesma resulta, por forma concludente, a sua aceitação quanto à substituição das devedoras pela Ré. Porém, não houve declaração expressa no sentido de exonerar as antigas devedoras, pelo que estaremos perante uma assunção cumulativa – ver artigo 595º, 2, do CC[4].

Estamos, assim, perante uma situa-

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ção que actua como fonte de uma nova obrigação e não de substituição[5].

Mas será nulo este negócio jurídico de assunção cumulativa?

A Recorrente, que não suscitara esta questão, veio invocá-la em sede de recurso.

Só por estar invocada nulidade do contrato, que é do conhecimento oficio-so, pois que não necessita de ser alega-da[6], é possível em sede de impugnação da Sentença discutir esta questão, que é, afinal, nova.

A Recorrente invoca em abono da sua teoria, essencialmente, o disposto no artigo 6º do CSC.

Neste dispositivo legal lê-se: “1. A capacidade da sociedade

compreende os direitos e obrigações necessários ou convenientes à prosse-cução do seu fim, exceptuados aqueles que lhe sejam vedados por lei ou sejam inseparáveis da personalidade singular.

2. As liberalidades que possam ser consideradas usuais, segundo as cir-cunstâncias da época e as condições da própria sociedade, não são havidas como contrárias ao fim desta.

3. Considera-se contrária ao fim da sociedade a prestação de garantias reais ou pessoais a dívidas de outras sociedades, salvo se existir justificado interesse próprio da sociedade garante ou se se tratar de sociedade em relação de domínio ou de grupo.

4. As cláusulas contratuais e as deli-berações sociais que fixem à sociedade determinado objecto ou proíbam a prática de certos actos não limitam a capacidade da sociedade, mas consti-tuem os órgãos da sociedade no dever de não excederem esse objecto ou de não praticarem esses actos.

5. A sociedade responde civilmente pelos actos ou omissões de quem legal-mente a represente, nos termos em que os comitentes respondem pelos actos ou omissões dos comissários.”

A norma do n.º 1, que é uma reprodu-ção, quase textual, do artigo 160º do CC, corresponde à ideia de que as pessoas colectivas não têm capacidade plena, a qual está limitada pelo seu objecto – princípio da especialidade[7].

Porém, este princípio está superado, na Doutrina e Jurisprudência, tendo sido suprimido na legislação europeia, não admitindo o Direito Comunitário a inva-lidação de actos, por causa de restrições internas à capacidade das sociedades, além de que, a protecção de terceiros que contratam com sociedades não pode ficar na contingência e necessidade de análise prévia dos fins estatutários para saber e daí extrair a validade dos actos[8].

As consequências dos actos das sociedades praticados para além da sua capacidade de gozo são as seguintes:

1 – por força da natureza das coisas – nulidade, por impossibilidade jurídica – artigo 280º, 1, do CC;

2 – por força da lei – nulidade, por violação da lei – artigos 280º, 1, e 294º do CC, se outra consequência não estiver fixada;

3 – por força do contrato de socie-dade ou deliberação – validade, mas responsabilidade civil de quem a repre-sente no acto, sendo possível a anulação face a terceiros de má-fé[9].

Nos nos 2 e 3 do artigo em apreço (6º do CSC) estão previstos regimes especiais para as liberalidades e para as garantias[10].

Um contrato é oneroso existe quan-do ambas as partes suportam esforços económicos em simultâneo com vanta-gens correlativas; quando a atribuição patrimonial efectuada por cada um dos contraentes tem por correspectivo, com-pensação ou equivalente a atribuição da mesma natureza proveniente do outro. É gratuito quando cada parte dele apenas retire vantagens ou sacrifícios; aquele em que, segundo a comum intenção dos contraentes, um deles proporciona uma vantagem patrimonial ao outro, sem qualquer correspectivo ou contra-prestação[11].

Quanto aos actos comerciais, vigora o princípio da onerosidade, de que são manifestações o disposto nos artigos 102º, 232º e 395º do C. Comercial[12]. Assim, o disposto relativo a liberalidades, como actos gratuitos, não se aplica ao caso presente face àquela presunção de onerosidade dos actos comerciais,

nomeadamente das sociedades, que não foi elidida – ver artigos 2º do C. Comercial, 236º, 1 e 2, 344º, 1, e 350º, 1 e 2, do CC[13].

Como acima se escreveu, há na situa-ção em apreço uma assunção cumulativa da dívida.

Esta é uma figura próxima da fiança, não deixando de ser a prestação de uma garantia, pois que ao património das pri-mitivas devedores acresceu o património da Recorrente como garante do paga-mento do crédito da Recorrida (reforço quantitativo)[14] - ver artigo 601º do CC.

As restrições do artigo 6º, 3, em referência só se aplicam às garantias gratuitas[15].

Pelo que se dá por reproduzido, quanto a este ponto, o já escrito quanto à onerosidade e respectiva presunção.

A solução do caso em apreço, não sendo uma questão de poderes de vinculação, é de aplicação das regras do ónus de prova[16]. Há que indagar a quem incumbe o ónus de provar o justificado interesse próprio ou, pelo contrário, a falta dele[17].

Teremos, naturalmente, que recorrer ao disposto no artigo 342º, 1 e 2, do CC.

Daqui resulta que ao beneficiário da garantia incumbirá fazer a prova dos fac-tos que a constituem e, sendo a nulidade um facto impeditivo do nascimento daquele direito, incumbe ao garante a prova de que foi prestada sem justificado interesse próprio, por um lado[18]; por outro, a regra, material é a da validade dos actos formalmente correctos, pelo que o facto gerador da nulidade deve ser provado por quem dela se queira prevalecer[19].

Sendo esta a orientação do STJ[20]. Aliás, ninguém melhor do que a so-

ciedade garante se encontra habilitada a provar se a garantia foi ou não prestada no seu interesse[21].

Atente-se que a actuação da garante, nas Alegações, configura, no caso verten-te, um verdadeiro “venire contra factum” proprium[22].

No caso em apreço a Recorrente, que assumiu o pagamento de outras socie-dades, veio invocar a nulidade desse seu acto, mas não alegou e provou, como lhe

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JurisPruDênCia do STJ e das RelaçõesVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201148

competia, os factos de que tal nulidade resultasse.

Nas suas Conclusões, a Recorrente invoca, ainda, que a posição da Recorrida é contrária aos “bons costumes”, pois que facturou à Recorrida serviços que lhe não prestara.

A Recorrente assumiu a posição de devedora do preço daqueles serviços pelo que a actuação da Recorrente não pode ser considerada como violadora dos “bons costumes”.

iii – DeCisÃoPelo exposto acordamos em julgar

improcedente a Apelação e em confir-mar a Sentença recorrida, embora com base em diferente motivação.

Custas pela Recorrente.

Face ao acima escrito é possível ela-borar o seguinte SUMÁRIO:

«1 – Na “assunção cumulativa” de dívida não ocorre uma substituição, com exoneração do primitivo devedor, mas o nascimento de uma nova obrigação.

2 – A “assunção cumulativa” de dívida configura a prestação de uma garantia próxima da fiança.

3 – As consequências dos actos das sociedades praticados para além da sua capacidade de gozo são: a) por força da natureza das coisas – nulidade, por impossibilidade jurídica – artigo 280º, 1, do CC; b) – por força da lei – nulidade, por violação da lei – artigos 280º, 1, e 294º do CC, se outra consequência não estiver fixada; c) – por força do contrato de sociedade ou deliberação – validade,

mas responsabilidade civil de quem a represente no acto, sendo possível a anulação face a terceiros de má-fé.

4 – No artigo 6º, 2 e 3, do CSC estão previstos regimes especiais para as libe-ralidades e para as garantias.

5 – Quanto às garantias, incumbe à sociedade garante, que se queira preva-lecer da declaração de nulidade do acto de prestação da garantia, alegar e provar que esta foi prestada sem interesse pró-prio justificado.»

Porto, 2011-05-30Os Desembargadores,José Alfredo de Vasconcelos Soares

de OliveiraAntónio Manuel Mendes CoelhoAna Paula Vasques de Carvalho

NOTAS:

[1] ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil Português, II, T. IV,

Almedina, Coimbra, 2010, p. 235. ANTUNES VARELA, Das Obrigações em geral,

II, 7ª ed. (reimpressão) Almedina, Coimbra, 2001, p. 361, define a assunção de

dívida como a operação pela qual um terceiro se obriga perante o credor a

efectuar a prestação devida por outrem.

[2] ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, ob. e t. cits., p. 240. Ver, ainda, PIRES DE LIMA e

ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, 4ª ed., Coimbra Editora, 1987, p. 612.

[3] ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, ob. e t. referidos, p. 238; ANTUNES VARELA,

ob. e vol. cits., pp. 372-378.

[4] ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, ob. e t. cits., pp. 241 e 242. Ver, ainda, os ACS.

DO STJ, DE 29-6-95, CJSTJ, 3º, 2, p. 144, DE 11-1-2011 e 17-2-2011, estes em

www.dgsi.pt.

[5] ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, ob. e t. cits., p. 242; ver, ainda, MÁRIO JÚLIO

DE ALMEIDA COSTA, Direito das Obrigações, 8ª ed., Almedina, Coimbra, 2000,

p. 763, que fala em verdadeira transmissão de dívida ou apenas co-assunção

ou assunção cumulativa. PEDRO ROMANO MARTINEZ e PEDRO FUZETA DA

PONTE, em Garantias de Cumprimento, 4ª ed., Almedina, Coimbra, 2003, p.

233, consideram que a assunção de dívida tem duas modalidades: assunção

com exoneração do primitivo devedor e assunção cumulativa. Ver, ainda,

neste último sentido, RIBEIRO DE FARIA, Direito das Obrigações, II, Almedina,

Coimbra, 2001, pp. 578 e 579. JOSÉ CARLOS NEY FERREIRA, Da Assunção de

Dívidas, Minerva Central, Lourenço Marques, 1973, pp. 68-69, refere a existência

de uma assunção de dívidas, lato sensu, que integra a assunção cumulativa e a

assunção em sentido próprio, que é a liberatória; naquela não existe qualquer

transmissão; a natureza jurídica da assunção de dívida consiste, para este

Autor: é o negócio jurídico bilateral (contrato) modificativo da relação jurídica

obrigacional na titularidade do débito, constituído pela unidade de um acto

negocial de aceitação de vinculação, com a desvinculação correlativa, e um

acto dispositivo de crédito, originado no credor ou ratificado por ele. AC. DO

STJ, DE 17-2-2011 cit.

[6] Ver JORGE MANUEL COUTINHO DE ABREU, Curso de Direito Comercial, II,

Almedina, Coimbra, 2003, p. 185.

[7] ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Código das Sociedades Comerciais Anotado,

Almedina, Coimbra, 2009, p. 90, e Manual de Direito das Sociedades, I, Coimbra

Editora, 2004, pp. 322-324; ABÍLIO NETO, Código Comercial …, 9ª ed., Livraria

Petrony, Lisboa, 1988, p. 433.

[8] ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Código … cit., pp. 90 e 91. Ver VAZ SERRA, RLJ,

103º, p. 271, quanto à validade do acto estranho ao objecto social em função

da necessária protecção de terceiros.

[9] ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Código … cit., p. 91; e VAZ SERRA, loc. cit., no

que se refere a terceiros.

[10] ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Código … cit., p. 91.

[11] ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Direito das Obrigações, vol. 1º, AAFDL, 1994,

p. 423 e 424; ANTUNES VARELA, ob. e vol. cits., p. 404; MÁRIO JÚLIO DE ALMEIDA

COSTA, Direito das Obrigações, 8ª ed., Almedina, Coimbra, 2000, p. 327.

[12] Ver LUÍS DE BRITO CORREIA, Direito Comercial, vol. III, AAFDL, Lisboa, 1983/84,

p. 137; JOSÉ ENGRÁCIA ANTUNES, Contratos Comerciais, Almedina, Coimbra,

2009, pp. 230 e 231; e ANTÓNIO DE MENEZES CORDEIRO, Manual de Direito

Comercial, I, Almedina, Coimbra, 2001, pp. 172-174.

[13] AC. DO STJ, DE 22-4-1997, CJSTJ, V, II, p. 63.

[14] L. MIGUEL PESTANA DE VASCONCELOS, Direito das Garantias, Almedina, Coim-

bra, 2010, pp. 59 e 183; PINTO FURTADO, Comentário ao Código das Sociedades

Comerciais, artigos 1º a 19º, Almedina, Coimbra, 2009, p. 251; PEDRO ROMANO

MARTINEZ e PEDRO FUZETA DA PONTE, loc. cit.

[15] ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Código cit., p. 92.

[16] Ver PINTO FURTADO, ob. cit., p. 254

[17] PINTO FURTADO, ob. cit., p. 254.

[18] PINTO FURTADO, ob. cit., p. 256.

[19] ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Código cit., p. 92, nota (24).

[20] ACS. DO STJ, DE 7-10-2010, DE 30-9-2004 e 13-5-2003, em www.dgsi.pt,

entre outros.

[21] AC. DO STJ, DE 7-10-2010, cit.

[22] PINTO FURTADO, ob. cit., p. 252.

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JurisPruDênCia do STJ e das Relações VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 49

anotaÇÃo

Questão decidenda:O Tribunal da Relação do Porto,

no passado dia 30 de Maio de 2011, procurou dar solução definitiva a uma questão que consistia em saber se é ou não nulo o contrato pelo qual a Ré se comprometeu a pagar a dívi-da que as sociedades em causa nos autos tinham para com a A..

solução jurídica:A assunção de dívida é considera-

da como o contrato pelo qual ocorre uma transmissão da posição jurídica das devedoras para a ora Recorrente.

Os requisitos da assunção da dí-vida são: a existência de uma dívida efectiva; o acordo do credor; e a ido-neidade do contrato de transmissão.

Face à actuação da A., que é a cre-dora, resulta a sua aceitação quanto à substituição das devedoras pela Ré. Porém, não houve declaração expressa no sentido de exonerar as antigas devedoras, pelo que estare-mos perante uma assunção cumula-tiva (– ver artigo 595º, 2, do C .Civil).

Estamos, assim, perante uma situação que actua como fonte de uma nova obrigação e não de subs-tituição.

Passamos a analisar se é nulo este negócio jurídico de assunção cumulativa.

De acordo com o disposto no artigo 6º do CSC:

“1. A capacidade da sociedade compreende os direitos e obrigações necessários ou convenientes à pros-secução do seu fim, exceptuados aqueles que lhe sejam vedados por lei ou sejam inseparáveis da perso-nalidade singular.

2. As liberalidades que possam ser consideradas usuais, segundo as circunstâncias da época e as condições da própria sociedade, não são havidas como contrárias ao fim desta.

3. Considera-se contrário ao fim da sociedade a prestação de garan-tias reais ou pessoais a dívidas de

outras sociedades, salvo se existir justificado interesse próprio da so-ciedade garante ou se se tratar de sociedade em relação de domínio ou de grupo.

4. As cláusulas contratuais e as deliberações sociais que fixem à sociedade determinado objecto ou proíbam a prática de certos actos não limitam a capacidade da sociedade, mas constituem os ór-gãos da sociedade no dever de não excederem esse objecto ou de não praticarem esses actos.

5. A sociedade responde civil-mente pelos actos ou omissões de quem legalmente a represente, nos termos em que os comitentes respondem pelos actos ou omissões dos comissários.”

A norma do n.º 1, que é uma reprodução, quase textual, do artigo 160º do CC, corresponde à ideia de que as pessoas colectivas não têm capacidade plena, a qual está limi-tada pelo seu objecto – princípio da especialidade

Porém, este princípio foi supri-mido na legislação europeia, não admitindo o Direito Comunitário a invalidação de actos, por causa de restrições internas à capacidade das sociedades, além de que a protecção de terceiros que contratam com sociedades não pode ficar na con-tingência e necessidade de análise prévia dos fins estatutários para sa-ber e daí extrair a validade dos actos

As consequências dos actos das sociedades praticados para além da sua capacidade de gozo são as seguintes:

1 – por força da natureza das coi-sas – nulidade, por impossibilidade jurídica – artigo 280º, 1, do CC;

2 – por força da lei – nulidade, por violação da lei – artigos 280º, 1, e 294º do CC, se outra consequência não estiver fixada;

3 – por força do contrato de so-ciedade ou deliberação – validade, mas responsabilidade civil de quem a represente no acto, sendo possível a anulação face a terceiros de má-fé.

Nos nos 2 e 3 do artigo em apreço (6º do CSC) estão previstos regimes especiais para as liberalidades e para as garantias.

Um contrato oneroso existe quando ambas as partes suportam esforços económicos em simultâneo com vantagens correlativas; quando a atribuição patrimonial efectuada por cada um dos contraentes tem por correspectivo, compensação ou equivalente a atribuição da mesma natureza proveniente do outro. É gratuito quando cada parte dele apenas retire vantagens ou sacrifí-cios; aquele em que, segundo a co-mum intenção dos contraentes, um deles proporciona uma vantagem patrimonial ao outro, sem qualquer correspectivo ou contraprestação.

Quanto aos actos comerciais, vigora o princípio da onerosidade, de que são manifestações o disposto nos artigos 102º, 232º e 395º do C. Comercial. Assim, o disposto relativo a liberalidades, como actos gratuitos, não se aplica ao caso presente face àquela presunção de onerosidade dos actos comerciais, nomeadamen-te das sociedades, que não foi elidida – ver artigos 2º do C. Comercial, 236º, 1 e 2, 344º, 1, e 350º, 1 e 2, do CC.

Na situação em apreço uma as-sunção cumulativa da dívida.

Esta é uma figura próxima da fiança, não deixando de ser a pres-tação de uma garantia, pois que ao património das primitivas devedores acresceu o património da Recorrente como garante do pagamento do crédito da Recorrida (reforço quan-titativo) - ver artigo 601º do CC.

As restrições do artigo 6º, 3, em referência só se aplicam às garantias gratuitas.

A solução do caso em apreço, não sendo uma questão de poderes de vinculação, é de aplicação das regras do ónus de prova. Há que indagar a quem incumbe o ónus de provar o justificado interesse próprio ou, pelo contrário, a falta dele.

Do artigo 342º, 1 e 2, do CC. re-sulta que ao beneficiário da garantia

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JurisPruDênCia do STJ e das RelaçõesVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201150

incumbirá fazer a prova dos factos que a constituem e, sendo a nulidade um facto impeditivo do nascimento daquele direito, incumbe ao garan-te a prova de que foi prestada sem justificado interesse próprio, por um lado, por outro, a regra, material é a da validade dos actos formalmente correctos, pelo que o facto gerador da nulidade deve ser provado por quem dela se queira prevalecer.

No caso em apreço, a Recorrente, que assumiu o pagamento de outras sociedades, veio invocar a nulidade desse seu acto, mas não alegou e provou, como lhe competia, os factos de que tal nulidade resultasse.

Nas suas Conclusões, a Recor-rente invoca, ainda, que a posição da Recorrida é contrária aos “bons

costumes”, pois que facturou à Re-corrida serviços que lhe não prestara.

A Recorrente assumiu a posição de devedora do preço daqueles serviços pelo que a actuação da Re-corrente não pode ser considerada como violadora dos “bons costumes”.

Decisão do acórdão:A decisão tomada pelos Juizes

Desembargadores acabou por ser sumariada, no Acórdão, do seguinte modo:

“I - A “assunção cumulativa” de dívida configura a prestação de ga-rantia próxima da fiança.

II - As consequências dos actos das sociedades praticados para além da sua capacidade de gozo são: a) por força da natureza das coi-

sas – nulidade, por impossibilidade jurídica – artigo 280º, nº 1, CC; b) Por força da lei- nulidade por violação da lei- artigos 280º, nº1 e 294º do CC, se outra consequência não estiver fixada; Por força do contrato de so-ciedade ou deliberação - validade, mas responsabilidade civil de quem a represente no acto, sendo possível anulação face a terceiros de má-fé.

III - No artigo 6°, 2 e 3, do CSC, es-tão previstos regimes especiais para as liberalidades e para as garantias.

IV - 4-Quanto às garantias, in-cumbe à sociedade garante, que se queira prevalecer da declaração de nulidade do acto de prestação da garantia, alegar e provar que esta foi prestada sem interesse próprio justificado.”.

o Que DiZ a lei

Código das sociedades Comerciais

artigo 6.ºCapacidade

1 - A capacidade da sociedade compreende os direitos e as obriga-ções necessários ou convenientes à prossecução do seu fim, exceptua-dos aqueles que lhe sejam vedados por lei ou sejam inseparáveis da personalidade singular.

2 - As liberalidades que possam ser consideradas usuais, segundo as circunstâncias da época e as condições da própria sociedade, não são havidas como contrárias ao fim desta.

3 - Considera-se contrária ao fim da sociedade a prestação de garantias reais ou pessoais a dívidas de outras entidades, salvo se existir justificado interesse próprio da so-ciedade garante ou se se tratar de sociedade em relação de domínio ou de grupo.

4 - As cláusulas contratuais e as deliberações sociais que fixem

à sociedade determinado objecto ou proíbam a prática de certos actos não limitam a capacidade da sociedade, mas constituem os ór-gãos da sociedade no dever de não excederem esse objecto ou de não praticarem esses actos.

5 - A sociedade responde ci-vilmente pelos actos ou omissões de quem legalmente a represente, nos termos em que os comitentes respondem pelos actos ou omissões dos comissários.

Código Civil

artigo 280.ºrequisitos do objecto negocial

1- É nulo o negócio jurídico cujo objecto seja física ou legalmente impossível, contrário à lei ou inde-terminavel.

2- É nulo o negócio contrário à ordem pública ou ofensivo dos bons costumes.

artigo 294.ºnegócios celebrados contra a lei

Os negócios celebrados con-tra disposição legal de carácter

imperativo são nulos, salvo nos casos em que outra solução resulte da lei.

artigo 342.º

Ónus da prova 1- Aquele que invocar um direito

cabe fazer a prova dos factos consti-tutivos do direito alegado.

2- A prova dos factos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito invocado compete àquele contra quem a invocação é feita.

3- Em caso de dúvida, os factos devem ser considerados como cons-titutivos do direito

Código Comercial

artigo 2.º(noção de actos de comércio)

Serão considerados actos de comércio todos aqueles que se acharem especialmente regulados neste Código, e, alêm deles, todos os contratos os contratos e obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio acto não resultar.

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Sumários - JurisPruDênCia VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 51

arrenDamento

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 2/12/2010Revista n.º 3330/07.7TBALM.L1.S1 - 7.ª SecçãoAssunto: Arrendamento – direito de preferência

I - O locatário habitacional de imóvel urbano tem o direito de preferência na compra ou dação em cumprimento do mesmo, sendo que a este direito de preferência se aplica o disposto nos arts. 416.º a 418.º e 1410.º do CC. II - Esse direito de preferência, ao nas-cer, tem o destino marcado: se não for exercitado pelo seu titular nos prazos assinalados na lei, morre. III - Independentemente da qualifica-ção jurídica feita pelas partes (que no caso em apreço foi de prescrição), o que está em causa é a invocação do tempo e os seus efeitos extintivos do direito de preferência, razão pela qual pode, e deve, o tribunal conhecer da sua morte por caducidade, por força do disposto nos arts. 333.º, n.º 2, e 303.º, ambos do CC. IV - Aos autores, arrendatários do pré-dio, titulares de um direito de preferên-cia de que se arrogam, confrontados com um novo proprietário do prédio, impunha-se que fizessem as diligências necessárias para a eventual propositu-ra da acção. V - Numa altura em que os autores já não se confrontavam com o projecto de venda, mas sim com a compra e venda efectivamente realizada, essenciais seriam apenas o preço e a identidade do adquirente, elementos esses que necessariamente constavam das escrituras.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 9/12/2010Revista n.º 3028/06.3TBMAI.P1.S1 - 2.ª SecçãoAssunto: Contrato de arrendamento – denúncia – necessidade de imóvel para habitar

I - O senhorio pode denunciar o con-trato de arrendamento para o termo do prazo ou da sua renovação quando necessite do prédio para sua habitação (art. 69.º, n.º 1, al. a), do RAU). II - O direito de denúncia para habita-ção do senhorio depende, em relação a ele, da verificação dos seguintes requisitos: a) ser proprietário, compro-prietário ou usufrutuário do prédio há mais de cinco anos, ou, independente-mente deste prazo, se o tiver adquirido por sucessão; b) não ter, há mais de um ano, na área das comarcas de Lisboa ou do Porto e suas limítrofes ou na respectiva localidade quanto ao resto do país, casa própria ou arrendada que satisfaça as necessidades de habitação própria (art. 71.º, n.º 1, do RAU). III - A necessidade de habitação acima referida é um requisito autónomo do direito de denúncia e a mesma tem de ser séria, real e actual, muito embora também possa ser futura, mas desde que iminente, concreta e real. IV - Do facto de a idade do autor – senhorio – não lhe permitir que continue a explorar os prédios rús-ticos de que é arrendatário não se pode extrair a conclusão de que ele tem de deixar de residir no assento de lavoura que integra o respectivo arrendamento rural nem tal factuali-dade consente a asserção de que o senhorio deste contrato irá impor ao autor o seu termo.

Civil

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 16/12/2010,Revista n.º 1212//06.9TBCHV.P1.S1 - 6.ª SecçãoAssunto: Responsabilidade pré-contratual

I - A culpa “in contrahendo” consagrada normativamente no Código Civil de 1966, coenvolve deveres de protecção, de informação e de lealdade. II - O dever de lealdade implica a proi-bição de interrupção de negociações em curso, sobretudo, se a conduta do infractor tiver antes contribuído para que o seu interlocutor contratual tenha uma real e fundada expectativa na consumação do contrato, ou seja, o agente que rompe as negociações trai o investimento de confiança que, com a sua conduta, incutiu na outra parte. III - Na origem deste dever de indemni-zar, com fundamento na culpa in con-trahendo, não tem, necessariamente, que estar o incumprimento de uma promessa, de um compromisso, basta que as meras declarações proferidas no iter contratual sejam de molde, se não coerentemente continuadas, a condu-zir à ruptura negocial, quando a outra parte, legitimamente, não estivesse a contar com a frustração do processo negocial, mas com a sua conclusão – investimento na confiança. IV - Apresentando-se a negociar com o interessado comprador, um dos vá-rios comproprietários de um imóvel, assumindo pelo seu comportamento a liderança do negócio de venda de uma Estalagem, tendo todos os vende-dores contratado uma sociedade que se dedica à mediação mobiliária e não

suPremo triBunal De JustiÇa

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JurisPruDênCia - SumáriosVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201152

tendo aquele comproprietário, durante as negociações, informado o seu inter-locutor negocial da possibilidade dos demais interessados não anuírem aos termos que vinham sendo negociados, tendo as negociações avançando sem tal informação e estando acordados os elementos essenciais do contrato, constitui ilicitude o facto daquele com-proprietário se retirar das negociações, frustrando a sua conclusão, mediante a singela afirmação de que não represen-tava os demais interessados na venda. V - Essa omissão do dever de informar as circunstâncias em que intervinha o comproprietário, e a inopinada ruptura negocial, sendo contrária à actuação de boa-fé e do respeito pelos deve-res de lealdade e informação na fase pré-negocial, provocando ruptura negocial, numa fase já avançada das negociações, constitui facto ilícito ge-rador da obrigação de indemnizar, por defraudar o investimento na confiança. VI - O contrato de mediação mobiliária implica a prática, pelo mediador, de actos materiais e, por isso, se distingue do contrato de mandato. VII - Se a mediadora praticou mais que actos materiais, exorbitando as funções de que foi incumbida, agindo e praticando actos compreendidos num verdadeiro contrato de mandato, só por aqueles em nome de quem agiu poderá ser responsabilizada no con-texto da responsabilidade contratual. VIII - A jurisprudência, maioritariamen-te, sustenta que o dano indemnizável por violação de deveres específicos de comportamento baseados na boa fé, no contexto da culpa in contrahendo é, em regra, o do interesse contratual negativo, ou dano de confiança, devendo o lesado ser colocado na posição em que estaria se não tivesse encetado as negociações, ten-do direito a ser ressarcido do que despen-deu na expectativa da sua consumação.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 16/12/2010,Revista n.º 819/06.9TBFLG.P1.S1 - 1.ª SecçãoAssunto: Interdição por anomalia psíquica

I - O novo exame médico realizado ao requerido, na fase contenciosa da acção de interdição por anomalia psíquica, segue os termos do processo ordinário, posteriores aos articulados, ao qual se aplicam as disposições rela-tivas ao primeiro exame, que não ad-mite recurso autónomo do despacho judicial que não atenda as reclamações formuladas pelas partes, a propósito do relatório pericial. II - No domínio da prova pericial civil, vigora o princípio da prova livre, e não da prova positiva ou legal, cujo juízo se presumiria subtraído à livre apreciação do julgador, e em que a sua convicção só poderia divergir do juízo pericial, desde que fundamentada. III - O juízo técnico, científico e artístico não tem um valor probatório pleno, e, nem sequer, talvez, um valor de prova legal bastante, um valor, presuntiva-mente, pleno, ligado a uma presun-ção natural, que pode ceder perante contraprova.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 16/12/2010,Revista n.º 4046/06.7TVLSB.L1.S1 - 1.ª SecçãoAssunto: Erro

I- Existe erro quando ocorre uma falsa representação da realidade ou a igno-rância de circunstâncias de facto ou de direito que intervieram nos motivos da declaração negocial, de modo que, se o declarante tivesse perfeito conhe-cimento das circunstâncias falsas ou inexactamente representadas, não teria realizado o negócio ou tê-lo-ia realizado em termos diferentes. II - O erro-vício ou erro-motivo traduz-se num erro na formação da vontade e do processo de decisão, distinguindo-se do erro na declaração ou erro-obs-táculo, que é um erro na formulação da vontade ou na sua expressão. III - Mostra-se relevante saber se o erro foi factor determinante da declaração negocial emitida – essencialidade do elemento sobre que incidiu o erro – e se o destinatário da declaração co-nhecia ou devia conhecer essa essen-

cialidade, pois são esses os requisitos comuns de anulabilidade exigidos para o erro-vício e para o erro na declaração, por expressa remissão do art. 251.º para o art. 247.º, ambos do CC. IV - A demonstração dos factos integra-dores da essencialidade e respectiva cognoscibilidade constitui ónus de quem invoca o erro, como igualmente o constitui a prova do conhecimento da vontade real do errante (art. 342.º, n.º 1, do CC e 264.º do CPC). V - Provado que, na data da celebra-ção do contrato-promessa de cessão de quotas, o promitentecomprador foi informado da pendência de um processo com vista à concessão da licença de utilização do estabeleci-mento explorado pela sociedade em causa e da necessidade de junção de documentos solicitados pela Câmara Municipal respectiva, facto de onde resulta forçosamente que a licença não havia ainda sido concedida, não se vislumbra como a vontade de contratar pode ter sido viciada por erro, designa-damente na convicção de que a licença de utilização havia já sido emitida ou que a respectiva concessão havia sido definitivamente indeferida.

ComerCial

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 7/12/2010,Revista n.º 706/05.8TBMGR.C1.S1 - 6.ª SecçãoAssunto: Direito de voto

I - O art. 190.º do CSC, aplicável às so-ciedades em nome colectivo, proíbe a supressão do direito de voto. II - Por isso, não é admissível delibe-ração social que, mediante alteração estatutária, imponha ao membro do agrupamento um valor mínimo de ca-pital para exercício do direito de voto, sabendo-se que, nos termos do art. 20.º do DL n.º 430/73, de 25-08, ou seja, em caso de omissão da lei e deste diplo-ma, são aplicáveis aos agrupamentos complementares de empresas as disposições que regem as sociedades comerciais em nome colectivo.

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Sumários - JurisPruDênCia VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 53

III - Tal deliberação é nula nos termos do art. 56.º, n.º 1, al. d), do CSC, ainda que tomada por unanimidade dos de-mais membros do agrupamento, visto que desrespeita disposição imperativa. IV - De igual modo, por conexão, são nulas as deliberações renovatórias de outras em que determinado membro do ACE não foi convocado, pois, embo-ra presente, não foi admitido a votar, importando não apenas a sua presença mas a sua presença enquanto membro com direito a voto. V - A nulidade das deliberações da AG seria sempre de conhecimento oficioso (art. 286.º do CC), não apenas em resultado da anulação por decisão transitada em julgado da deliberação anterior que alterara os estatutos, as-sim suprimindo o direito de voto a um membro do ACE, como em razão do objectivo impedimento ao exercício do direito de voto na ulterior AG.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 16/12/2010,Revista n.º 1851/07.0TVVNF.P1.S1 - 1.ª SecçãoAssunto: Aumento do capital social

I - Se os cônjuges contraíram casamen-to sem convenção antenupcial, devem ter-se como casados sob o regime de comunhão de adquiridos, fazendo parte dessa comunhão o produto do trabalho dos cônjuges e os bens ad-quiridos na constância do matrimónio, que não sejam exceptuados por lei, constituindo bens próprios de cada cônjuge os bens adquiridos na cons-tância do matrimónio por virtude de direito próprio anterior – cf. arts. 1717.º, 1724.º e 1722.º, al. c), todos do CC. II - Os sócios têm direito aos lucros da sociedade, como resulta do disposto nos arts. 217.º e 294.º do CSC. Todavia, tal direito não resulta automatica-mente da geração de lucros, já que a lei não determina a sua distribuição imediata, podendo ser afastado por cláusula contratual e por deliberação de ¾ dos votos correspondentes ao capital social – cf. arts. 217.º, n.º 1, e 294.º, n.º 1, do CSC.

III - A constituição de reservas, resul-tantes da acumulação de dividendos/lucros ou de outros montantes para dividir pelos sócios que, em vez de serem divididos, foram convertidos em aumentos de capital social, numa sociedade comercial em que o réu já era proprietário, antes de se casar, de uma quota social, não constituem frutos civis – cf. art. 212.º, n.º 1, do CC. IV - Deste modo, as reservas incor-poradas na sociedade comercial, não podendo ser consideradas frutos civis – pois não têm existência autónoma com possibilidade de apropriação própria –, não se comunicaram à autora mulher, pese embora a respectiva constituição se tenha produzido na constância do matrimónio – cf. art. 1728.º, n.º 1, do CC. V - Tendo-se provado que os aumentos de capital da sociedade ocorridos em numerário (entre o casamento e o divórcio das partes), foram realizados através de dinheiro doado pelo pai do réu e não podendo este Supremo retirar que a doação foi feita (apenas) a favor do réu (não compete ao STJ fazer ilações factuais), mas tendo sido essa dedução feita pelas instâncias, designadamente pela sentença de 1ª instância, a situação cairá na previsão do disposto no art. 1722.º n.º 1, al. b), do CC, que considera bens próprios do cônjuge os bens que lhe advierem depois do casamento por sucessão ou doação. VI - De qualquer forma, vale aqui tam-bém a argumentação usada para as reservas sociais, uma vez o numerário incorporado na sociedade deixou de ter existência autónoma com possibi-lidade de apropriação própria.

Contratos

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 7/12/2010,Revista n.º 984/07.8TVLSB.P1.S1 - 6.ª SecçãoAssunto: Incumprimento do contrato

I - Os contratos incluem não só as obri-gações deles expressamente constan-tes, mas também deveres acessórios

inerentes à prossecução do resultado por eles visado. II - Estes deveres resultantes acessoria-mente do próprio contrato, em para-lelo com a obrigação principal e desti-nados a assegurar a perfeita execução desta, a ponto de a sua violação poder gerar uma situação de incumprimento, implicam a adopção de procedimentos indispensáveis ao cumprimento exacto da prestação, com destaque para o de-ver de cooperação, sem o qual muitas vezes a utilidade final do contrato não é alcançada. III - Tais deveres são indissociáveis da regra geral que impõe aos contraentes uma actuação de boafé – art. 762.°, n.° 2, do CC – entendido o conceito no sentido de que os sujeitos contratu-ais, no cumprimento da obrigação, assim como no exercício dos direitos correspondentes, devem agir com honestidade e consideração pelos interesses da outra parte – princípio da concretização. IV - Celebrado entre autora e ré de um contrato de prestação de serviços – de ensino, educação ou instrução –, por força do qual o filho da autora frequentava um curso de licenciatura numa Universidade pertencente à ré, contrato de que faziam parte, pelo menos como deveres acessórios ou laterais, os de vigilância e controle, pela ré, das práticas praxistas no interior das instalações, com o objectivo de garan-tir a segurança, nomeadamente psíqui-ca, e a integridade física, dos alunos, esses deveres foram incumpridos se a ré permitiu essas práticas, por omissão de vigilância e controlo, vindo o filho da autora a falecer em resultado de lesões causadas por práticas praxistas violentas sobre ele exercidas. V - A ré violou o princípio da concre-tização, ao não realizar “no terreno” os interesses que sabia serem os do credor – a autora ou o seu filho –, e infringiu o dever de actuar de boa-fé, ao não acautelar a confiança que estes depositaram na sua prestação, violan-do deveres acessórios de conduta que, se observados, lhe impunham uma vigilância e controle sobre as activi-

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JurisPruDênCia - SumáriosVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201154

dades praxistas dos seus estudantes, que obstariam a que delas pudessem resultar consequências gravosas para o seu aluno e permitiriam que este pudesse prosseguir em segurança os seus estudos. VI - Estes deveres de vigilância e con-trole, que acessoriamente derivavam para a ré do contrato celebrado, rela-tivos à segurança do filho da autora, como seu aluno, não consistem em deveres principais de prestação de-correntes do contrato de prestação de serviço (dever de ensinar ou dever de pagar as propinas), nem mesmo em algum dever instrumental em relação a esses deveres principais, mas num meio indispensável à prossecução do objectivo visado pela celebração do contrato, ou seja, o de o aluno alcançar o termo da licenciatura com a melhor classificação possível, o que, devido ao óbito, se tornou impossível. VII - A violação dos deveres de vigilân-cia e controle apontados, e da conse-quente garantia de segurança do filho da autora, deveres esses acessoriamen-te derivados do contrato celebrado, torna a ré responsável pelos prejuízos sofridos, nos termos da responsabili-dade contratual.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 9/12/2010,Revista n.º 3803/06.9TBAVR.C1.S1 - 2.ª SecçãoAssunto: Contrato de empreitada

I - As «dificuldades financeiras» (que não se encontram minimamente concretizadas, sendo portanto uma expressão vaga e conclusiva) não se traduzem numa justificação perante o incumprimento contratual das obri-gações assumidas pelo Recorrente, empreiteiro, para com os donos da obra, ora Recorridos. II - Na verdade, o Autor, aqui Recorren-te, segundo vem provado, remeteu-se ao silêncio durante dois anos (facto 22), não tendo, sequer, respondido à carta do Réu. Tal só pode configurar, como bem decidiram as Instâncias, um nítido abandono da obra, pois nem sequer

o Autor fez prova de ter comunicado aos donos a obra a razão da referida «suspensão». III - Uma coisa é ter parado a obra por se encontrar em dificuldades finan-ceiras, outra é não fazer prova de ter comunicado tal situação ao dono da obra, remetendo-se ao silêncio durante dois anos, mesmo após o recebimento da carta que lhe foi dirigida pelo Advo-gado dos ora Recorridos. IV - Em caso de paragem da obra, pelo empreiteiro, pelo período de dois anos, sem que se prove que o mesmo pres-tou ao dono da obra qualquer infor-mação explicativa para tal paragem, é lícito concluir-se que existe um incum-primento definitivo, pois tal traduz-se num comportamento inequívoco de quem não quer ou não pode cumprir. V - Assim sendo, tem aqui pleno ca-bimento a orientação perfilhada no Acórdão do STJ de 04-02- 2010 (Relator, o Exmº Juiz Conselheiro Oliveira Rocha) segundo o qual «a recusa (ou declara-ção) séria, certa, segura e antecipada de não cumprir (ou o comportamento inequívoco demonstrativo da vontade de não cumprir ou da impossibilidade antes do tempo de cumprir) equivale ao incumprimento (antes do termo), dispensando a interpelação admoni-tória» (Proc. n.º 4913/05.5TBNG.P1.S1).

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 9/12/2010,Revista n.º 1347/05.5TVPRT.P1.S1 - 2.ª SecçãoAssunto: Contrato-promessa de compra e venda

I - O STJ é um tribunal de revista, que só conhece e julga, em princípio, de direito, limitando-se a aplicar definiti-vamente, o regime jurídico que julgue mais adequado à matéria de facto que vem apurada das instâncias (arts. 26.º da LOFTJ e 722.º, n.ºs 1 e 2, e 729.º, n.º 2, do CPC) e a conhecer, oficiosamente, das questões que a lei determinar. II - Assim, o Supremo apenas residual-mente intervirá na decisão da matéria de facto, ou seja, só no caso de ter havido preterição de exigência legal

em sede de prova – a chamada prova vinculada –, podendo ainda reenviar o processo para que o tribunal recorrido complete o julgamento de facto caso se verifique uma das situações previs-tas no art. 729.º, n.º 3, do CPC. III - Por isso, os alegados erros come-tidos pela Relação no apuramento da matéria de facto com base em prova de livre de apreciação, como é o caso da prova pericial, excedem o âmbito de apreciação do recurso de revista. IV - O STJ pode censurar a Relação quanto esta age em desrespeito pelas normas adjectivas atinentes (nomea-damente, pelo art. 712.º, n.º 2, do CPC), desrespeito esse que se pode situar tanto ao nível do uso ou do não uso dos poderes sobre o julgamento da matéria de facto. V - A interpretação das declarações ou cláusulas contratuais constitui matéria de facto, da exclusiva competência das instâncias, apenas podendo o STJ, por ser matéria de direito, determinar se tal interpretação é respeitadora dos critérios legais fixados nos arts. 236.º e 238.º do CC. VI - Certo é que no apuramento do sentido da declaração negocial que há-de vincular as partes, o tribunal deve ter em conta os factos concretamente apurados pelas instâncias. VII - Se quem constituir o sinal deixar de cumprir a obrigação por causa que lhe seja imputável, tem o outro contraente o direito de fazer sua a coisa entregue; e se o incumprimento for de quem recebeu o sinal tem a outra parte a faculdade de lhe exigir o dobro do que prestou (art. 442.º, n.º 2, do CC). VIII - Ademais o contraente não falto-so tem, ainda, à mão a alternativa de requerer a execução específica, nos termos do art. 830.º do CC (art. 442.º, n.º 3, do mesmo compêndio legal). IX - Assim, o não cumprimento do con-trato não dará lugar a qualquer outra indemnização que não seja a perda do sinal ou do pagamento do dobro deste (art. 442.°, n.º 4, do CC), a menos que as partes tenham estipulado coisa diferente. X - A par deste regime legal específico,

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Sumários - JurisPruDênCia VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 55

o contrato-promessa ainda se encontra sujeito, na parte pertinente, à disciplina geral do cumprimento e ou do incum-primento das obrigações, constante dos arts. 762.º e segs. do CC. XI - De acordo com o referido regime geral, o incumprimento da obrigação é imputável ao devedor a título de culpa presumida (art. 799.º do CC), cabendo-lhe o encargo de a ilidir, o que passa pela demonstração de fac-tos que concludentemente apontem nesse sentido, aferindo-se essa con-cludência pela diligência, esforço, zelo e prudência para cumprir, próprios de um homem médio. XII - No esforço de ilisão da referida presunção de culpa, o devedor não pode socorrer-se de factos que não logrou provar em audiência, fazendo--os reviver através de uma interpreta-ção da vontade negocial hipotética que não cumpre os requisitos legais e doutrinários. XIII - Só com a mora do devedor é que é viável ao credor o recurso à execução específica do contrato- promessa.

FamÍlia

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 16/12/2010Revista n.º 942/04.4TBMGR.C1.S1 - 1.ª SecçãoAssunto: Partilha dos bens comuns do casal

I - A petição inicial constitui um acto processual da parte, dirigido ao tri-bunal, que encerra declarações de vontade do respectivo autor. II - Não estando, ao menos quanto à narração, sujeita a fórmulas especifica-mente fixadas, as declarações em causa estão, como quaisquer outras, sujeitas a interpretação, embora tendo sempre presente a sua natureza e fins em razão do processo. III - Na compensação ao património comum pelo património próprio de um dos cônjuges, no momento da dissolução e partilha da comunhão, o valor a repor pelo titular de bens adquiridos e incorporados em bens

do seu património próprio deverá corresponder ao montante pecuniário actualizado, com referência ao tempo da partilha, do custo e valor dos bens adquiridos e incorporados ao tempo da sua aquisição e incorporação, pois que se está perante uma dívida de valor actualizável em razão do valor do bem em que foi investido o dinheiro ou os bens a compensar.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 16/12/2010Revista n.º 6512/05.2TVLSB.L1.S1 - 1.ª SecçãoAssunto: Casa de morada de família

I - A ex-mulher que, por acordo, se man-teve na casa de morada de família após o divórcio, cessada essa atribuição e ad-quirida pelo ex-marido a propriedade exclusiva do imóvel, deve indemnizá- lo pela privação do uso após a data da cessação do seu direito de habitação, apesar de ter feito juntar aos processos as chaves da casa, deixando de ter po-der de facto sobre a mesma. II - Até ser proferida a decisão que de-clarou cessado o direito da recorrente a habitar em exclusivo a fracção, esta tinha título para ocupar a casa, título esse que era o acordo celebrado entre os então cônjuges, homologado por despacho judicial. III - O acordo, considerando que não contemplava qualquer contrapartida pela utilização da casa de morada de família, configurava uma situação de comodato, pelo que sobre a recorrente impendia a obrigação de restituir a coisa findo o contrato, sendo que, até à efectiva entrega, sobre ela recaia a obrigação de guarda e conservação [arts. 1129.º e 1135.º, als. a) e h), do CC]. IV - A partir do momento em que ces-sou o seu direito de habitação da frac-ção, deveria a recorrente ter cumprido a obrigação de restituição ou entrega, ficando sem título para a ocupação ou detenção. V - Estando a recorrente vinculada ao dever de prestar, traduzido no impera-tivo de proceder à entrega voluntária do imóvel, oferecendo a respectiva

posse ao recorrido, e encontrando-se definitivamente adquirido que não adoptou uma actuação liberatória, pois que como tal não foram consideradas, por decisões não impugnáveis, as sucessivas junções aos processos de chaves da habitação, irreleva o facto de a recorrente habitar ou não o imóvel, de o ocupar ou não, abandonando-o, mau grado a prática de um acto simbó-lico que a entrega das chaves pudesse significar. VI - Estando em causa o incumprimen-to da obrigação de entregar, com a correspectiva impossibilidade de gozo do recorrido, enquanto proprietário do bem, isto é, a privação do uso da coisa, o incumprimento, que se presume culposo, é, ele mesmo, um acto ilícito gerador da obrigação de indemnizar (arts. 798.º e 799.º, n.º 1, do CC).

ProCesso Civil

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 16/12/2010Revista n.º 2401/06.1TBLLE.E1.S1 - 1.ª SecçãoAssunto: Duplo grau de jurisdição

I - Em face dos estatuído nos arts. 668.º, n.º 1, al. d) e 660.º, n.º 2, do CPC, o juiz deve pronunciar-se sobre todas as questões que sejam submetidas à sua apreciação, mas não deve to-mar conhecimento de questões não submetidas ao seu conhecimento. No primeiro caso existirá omissão de pronúncia, no segundo ocorrerá um excesso de pronúncia. II - Os recorrentes, ao invocarem, em sede de recurso de revista, documen-tos juntos ao processo – que consti-tuem meios de prova –, demonstram o seu inconformismo face aos factos que as instâncias deram como assentes. Mas, quanto a isso, o STJ nada pode fazer, sabendo-se que, em regra, este tribunal apenas trata de saber da apli-cação correcta dos factos ao direito. III - O STJ só poderá proceder à análise/modificação da matéria de facto nas limitadas hipóteses contidas nos arts. 722.º, n.º 2, e 729.º, n.ºs 2 e 3, do CPC,

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JurisPruDênCia - SumáriosVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201156

i.e., quando a decisão das instâncias vá contra disposição expressa da lei que exija certa prova para a existência do facto ou fixa a força de determina-do meio de prova (prova vinculada), quando entenda que a decisão de facto pode e deve ser ampliada, ou quando ocorrem contradições da matéria de facto que inviabilizem a decisão jurí-dica do pleito. IV - O DL n.º 39/95, de 15-02, introduziu profundas alterações no ordenamento jurídico ao prever a possibilidade do registo das audiências finais e da prova produzida, conferindo aos interessados o exercício de um completo controlo sob a prova produzida, possibilitando o recurso a um verdadeiro duplo grau de jurisdição. Esta possibilidade foi reforçada com a publicação dos DLs n.ºs 329-A/95, de 12-12, 180/96, de 25-09, e 183/2000, de 10-08, tendo o legislador aditado ao CPC um con-junto de normas relativas ao registo dos depoimentos, designadamente o disposto nos arts. 512.º, n.º 1, 552.º-A, 552.º-B, 522.º-C e 690.º-A. V - Quando exista gravação dos de-poimentos prestados em audiência, a Relação reapreciará e reponderará a prova produzida sobre que assentou a decisão impugnada, atendendo aos elementos indicados, de modo a formar a sua própria convicção. Só assim se assegurará o duplo grau de jurisdição. VI - A reapreciação da prova que compete à Relação deve ultrapassar o mero controlo formal da motivação da decisão da 1.ª instância em matéria de facto, pelo que tendo o recorrente indi-cado os depoimentos em que funda a sua pretensão de alteração da matéria de facto, transcrevendo inclusivamente o teor desses testemunhos, cabe ao tri-bunal proceder a uma análise e obser-vação deles e de outros elementos de probatórios, para formar a sua própria convicção (art. 655.º do CPC). VII - Não tendo o tribunal a quo proce-dido a uma correcta reavaliação da ma-téria de facto, procurando a sua própria convicção, não cumpriu o que estipula sobre o tema o disposto no art. 712.º,

n.º 2, do CPC, não se tendo assegurado o duplo grau de jurisdição, pelo que é de anular o acórdão recorrido e deter-minar que os autos baixem à Relação para que proceda à reapreciação da matéria de facto impugnada.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 16/12/2010,Revista n.º 1873/06.9TBVCD.P1.S1 - 1.ª SecçãoAssunto: Depoimento de parte

I - A não redução a escrito do depoi-mento de parte produzido, oralmente, mesmo que tenha sido objecto de gravação, visando obter a confissão judicial provocada, não lhe assegura força probatória plena contra o confi-tente, encontrando-se, então, sujeito ao princípio da livre apreciação de prova, impondo-se concluir pela ine-xistência da confissão do depoente, ou seja, a confissão judicial não escrita tem o valor de prova livre. II - Não é objecto de apreciação, em sede de recurso de revista, o conteúdo do depoimento de parte não reduzido a escrito ou a confissão judicial não escrita, por se encontrarem sujeitos ao princípio da livre apreciação de prova.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 16/12/2010,Agravo n.º 5744/04.5TBGMR-B.G1.S1 - 6.ª SecçãoAssunto: Expropriação - Admissibilidade de recurso

I - Havendo extinção da instância num recurso de decisão arbitral proferida no âmbito de processo de expropriação, não pode o recorrente prevalecer-se da faculdade prevista no art. 289.º do CPC para interpor novo recurso da mesma arbitragem. II - O disposto no art. 289.º, n.º 1, do CPC não é aplicável em matéria de interposição de recurso, mas apenas em casos de propositura da acção, tal como consta do seu texto. III - A estrutura do recurso de arbitra-gem tem semelhanças com uma acção, podendo dizer-se que o requerimento

de interposição corresponde a uma pe-tição inicial, a que se segue a resposta da parte contrária com semelhanças com uma contestação e, em seguida, há a produção de prova e a sentença, o que tem semelhança com uma ac-ção declarativa. Mas há uma decisão anterior que, embora arbitral, tem força obrigatória equivalente a uma sentença judicial, na falta do respectivo recurso, o que torna a interposição do recurso diferente da mera propositura da acção, que não tem para trás ante-rior decisão em impugnação. IV - Mesmo que se admitisse que o recurso de arbitragem constituía uma verdadeira acção declarativa, ainda assim, o disposto no art. 289.º, n.º 1, do CPC, não seria aplicável para admitir o presente recurso de arbitragem, muito depois do decurso do prazo legal para a interposição do mesmo. V - O disposto no n.º 2 do art. 289.º do CPC não se aplica à admissão de recur-so de arbitragem para além do prazo fixado no art. 52.º do CExp, porque o efeito pretendido pelo recorrente, de alongar o prazo processual de interpo-sição do recurso da arbitragem, não se pode incluir nos efeitos civis previstos no n.º 2 do mencionado preceito.

resPonsaBiliDaDe Civil

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 16/12/2010,Revista n.º 44/07.1TBGDL.E1.S1 - 6.ª SecçãoAssunto: Responsabilidade pré-contratual I - As regras da boa fé, consagradas no art. 227.º do CC significam que, nas negociações preliminares e prepara-tórias do contrato, as partes se devem comportar como pessoas de bem, com correcção e lealdade. II - Se alguém inicia e prossegue negociações, criando na outra parte expectativas de negócio, mas com o propósito de as romper ou de não fechar o contrato, ou formando no decurso dessas negociações tal propó-sito de forma arbitrária, dessa maneira

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Sumários - JurisPruDênCia VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 57

defraudando a confiança que a outra parte tenha formado na celebração deste, viola aquelas regras, devendo indemnizar os prejuízos que cause. III - A ordem jurídica pretende conciliar, na fase pré-contratual, o interesse da liberdade negocial com o interesse criado pela confiança no projecto de contrato. IV - O dever de agir segundo os ditames da boa fé consagrado no citado art. 227.º é válido tanto para os contratos consensuais como para os contratos formais, proibindo toda a conduta con-sistente no rompimento das negocia-ções, que traduza uma apreciável falta de consideração pelos interesses da contraparte, e originando a sua violação arbitrária e culposa, isto é, merecedora de um juízo de censura ou reprovação, a obrigação de indemnizar os danos causados. V - Em princípio, apenas são objecto da obrigação de indemnizar os danos que constituam lesão do chamado inte-resse contratual negativo ou interesse da confiança, ou seja, os danos que o lesado não teria sofrido se não tivesse confiado na expectativa negocial criada pela parte contrária. VI - Podem também ser objecto de in-demnização por culpa in contrahendo os danos integrantes do interesse con-tratual positivo, quando, pelo encontro da proposta e da aceitação, já tenha sido obtido acordo, faltando apenas a forma-lização do contrato, pois, nesse caso, é de entender que existe um verdadeiro dever de conclusão, cuja violação im-plica a indemnização do interesse do cumprimento, isto é, considerando-se como indemnizável o ganho que de-rivaria da celebração (formalização) do contrato e que não se obteve. VII - O dever geral da boa fé na for-mação dos contratos desdobra-se em vários deveres de actuação, em que se destacam o dever de informação, os deveres de guarda e restituição, o dever de segredo, o dever de clareza, o dever de lealdade e os deveres de protecção e conservação. VIII - Os deveres de informação, clareza e lealdade, impõem a qualquer das

partes que não ocultem uma à outra as suas respectivas intenções negociais, nem os elementos no seu entender susceptíveis de conduzirem à decisão de contratar ou não. IX - A responsabilidade pré-contratual, por não determinar desde logo a apli-cação do regime próprio do contrato visado, mas já poder integrar obrigações resultantes das próprias negociações e portanto já de natureza negocial e não simplesmente derivadas de um dever de conduta genérico, constitui um ins-tituto de regime híbrido, situado a meio caminho entre aqueles e justificativo da aplicação das normas próprias de cada um daqueles outros dois regimes, ora de um, ora do outro, conforme a situação concreta que se verifique, no-meadamente no que respeita à norma constante do art. 799.º, n.º 1, do CC. X - Assim, se no decurso das negocia-ções forem desde logo alcançados acor-dos de natureza contratual, embora não formalizados, justifica-se a aplicação do regime da responsabilidade contratual, nomeadamente no que à presunção de culpa se refere. XI - A fixação da prescrição da responsa-bilidade pré-contratual nos termos do disposto no art. 498.º do CC, para além de se justificar perante a complexidade e carácter duvidoso da situação, que conduz a uma mais rápida definição da situação jurídica, encontra-se desacom-panhada de qualquer outra regulamen-tação do instituto, o que origina que se conclua que o legislador pretendeu a sua regulamentação de acordo com a interpretação feita com base nos prin-cípios gerais do Direito e os plasmados naquele art. 227.º. XII - Viola o dever de lealdade quem, tendo tomado a iniciativa de negocia-ções com outrem para celebração de um contrato de compra e venda de um imóvel, desde que a contraparte nele le-vasse a cabo alterações que lhe indicou, rompe as negociações, por desacordo quanto ao preço, após a realização de tais obras, se não tiver sujeitado a ce-lebração do contrato à fixação de um determinado preço máximo. XIII - Por força do disposto no art. 570.º,

n.º 1, do CC, se a contraparte executar as obras de alteração sem o prévio apu-ramento dos respectivos custos e sem a correspondente informação à outra parte, assim contribuindo, por violação desse dever de informação, para os danos que venha a sofrer, justifica-se a redução do montante indemnizatório à luz de um critério de equidade.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 16/12/2010,Revista n.º 67/05.5TBMUR.P1.S1 - 2.ª SecçãoAssunto: Acidente de viação

I - Vigora no ordenamento jurídico nacional, como critério jurídico para o estabelecimento da imputação objecti-va do resultado à conduta do agente, a teoria designada impropriamente como de causalidade adequada, que é uma teoria normativa (teoria da adequação), segundo a qual nem toda a condição de um evento é causa do mesmo, mas apenas aquela que, de harmonia com as máximas da experiência, é idónea a produzir o resultado segundo um juízo de prognose póstuma. II - Tal teoria não pressupõe a exclu-sividade da condição, no sentido de que tenha sido esta exclusivamente a determinar a produção do dano; podem ter colaborado na sua produção outros factores concomitantes ou posteriores; mas para que estes possam ser conside-rados concausas ou causas cumulativas do evento, necessário se torna que fique demonstrado terem elas directamente, embora não isolada ou exclusivamente, determinado a produção do resultado danoso. III - O caso julgado circunscreve-se à de-cisão e não aos fundamentos, mas estes não podem desligar-se substancialmen-te daquela, tal como as premissas são incindíveis logicamente da conclusão, assumindo a decisão judicial funda-mentada a estrutura de um silogismo (silogismo judiciário). IV - Tendo o primeiro acórdão da Re-lação acenado, como fundamentação da decisão anulatória do julgamento anterior, para a possibilidade de o

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JurisPruDênCia - SumáriosVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201158

condutor de uma determinada viatura ser responsável pelo acidente, não sobrevém a violação da caso julgado se, depois de repetido o julgamento e proferida nova sentença, o recurso que dela foi interposto reapreciou toda a factualidade apurada pela 1.ª instância, confirmou-a, fixou-se definitivamente e afastou a responsabilidade do agente em causa. V - As presunções judiciais, por consis-tirem em inferências, deduções lógicas, juízos extraídos em sede de matéria de facto pelas instâncias, não podem ser sindicadas pelo STJ.

traBalHo

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 02/12/2010Recurso n.º 637/08.0TTBRG.P1.S1- 4.ª SecçãoAssunto: Justa causa de despedimento

I - De acordo com o disposto no art. 224.º, n.º 2, do Código do Trabalho de 2003, as ausências parciais do tra-balhador serão adicionadas até que perfaçam um ou mais períodos normais de trabalho diário, sendo que por pe-ríodo normal há-de, necessariamente, entender-se aquele a que o trabalhador está obrigado. II - A justa causa de despedimento pressupõe a verificação cumulativa dos seguintes requisitos: um comporta-mento culposo do trabalhador, violador dos deveres de conduta ou de valores inerentes à disciplina laboral, que seja grave em si mesmo e nas suas conse-quências; um nexo de causalidade entre esse comportamento e a impossibilida-de de subsistência da relação laboral. III - A impossibilidade de subsistência do vínculo deve ser reconduzida à ideia de “inexigibilidade” da sua manutenção, mais se exigindo uma impossibilidade prática, com necessária referência ao vínculo laboral em concreto, e imedia-ta, no sentido de comprometer, desde logo e sem mais, o futuro do contrato de trabalho. IV - Para integrar este elemento, torna-se necessário fazer um prognóstico sobre

a viabilidade da relação contratual, no sentido de saber se ela contém, ou não, a aptidão e a idoneidade para prosseguir a função típica que lhe está cometida. V - No âmbito das relações de trabalho, tem vindo a ser enfatizado o papel da confiança, salientando-se, para o efeito, a sua forte componente fiduciária, para se concluir que a confiança contratual é particularmente afectada quando se belisca o dever de leal colaboração, cuja observância é fundamental para o cor-recto implemento dos fins práticoeco-nómicos a que o contrato se subordina. VI - Embora o Código do Trabalho de 2003 não contenha norma similar à que constava do art. 12.º, n.º 4, da LCT, dúvidas não restam de que cabe ao empregador, na acção de impugnação judicial de despedimento, a prova dos factos constantes da decisão san-cionatória: se lhe cumpre elencar os factos integradores da justa causa de despedimento, a descrever na nota de culpa e a dar como assentes na decisão final – arts. 411.º, n.º 1, 415.º, ns. 2 e 3 – e se ele apenas pode invocar, na acção de impugnação do despedimento, os factos e fundamentos da dita decisão – art. 435.º, n.º 3 – logo se percebe que os factos integrantes da justa causa são constitutivos do direito ao despedimen-to e, consequentemente, impeditivos daqueles que o trabalhador accionou na acção judicial, acobertados na suposta ilicitude da sanção. VII - O dever de assiduidade – consa-grado no art. 121.º, n.º 1, al. b) – está relacionado com a diligência que o trabalhador coloca na realização da sua actividade, sendo certo que o enuncia-do preceito proíbe as faltas e os atrasos injustificados. VIII - Visto que a relação laboral pressu-põe uma execução continuada, as faltas sucessivas integram um cumprimento defeituoso do vínculo, susceptível de gerar na entidade patronal a quebra de confiança no trabalhador e, em consequência, potenciar o seu legítimo despedimento. IX - Os atrasos injustificados, desde que superiores a 30 ou a 60 minutos,

também determinam a existência de uma falta não justificada, com atinência, respectivamente, a metade ou a todo o período normal de trabalho diário, posto que o empregador recuse a pres-tação pelo período remanescente (art. 231.º, n.º 3). X - Se o empregador não exercer esse seu direito potestativo de recusa, já o atraso não poderá corresponder a uma falta mas, ainda assim, nada impede que aquele vá adicionando os sucessivos atrasos até perfazerem o período diário de trabalho (art. 224.º, n.º 2). XI - As faltas, sendo injustificadas, integram um comportamento ilícito, presumindo-se a culpa do trabalhador (art. 799.º, n.º 1, Código Civil). XII - Tendo a trabalhadora incumprido, de forma reiterada, o seu horário de tra-balho no decurso de todo o ano de 2007 – o que redundou no cometimento de, pelo menos, 12 faltas injustificadas – está irremediavelmente comprometida a relação de confiança do empregador quanto ao seu futuro comportamento, tornando-se-lhe inexigível que mante-nha a relação laboral.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 02/12/2010Recurso n.º 4391/07.4TTLSB.L1.S1- 4.ª SecçãoAssunto: Categoria profissional

I - Uma vez que as tarefas executadas pelo trabalhador, face à matéria de facto dada como provada, não integram o núcleo essencial das funções previstas para a categoria profissional de Electro-técnico de Telecomunicações Principal, não lhe pode ser reconhecida essa categoria, com efeitos a partir de 28 de Janeiro de 1995. II - Concretamente, não se provou que o trabalhador tenha elaborado, no período em causa, estudos e pareceres técnicos tendentes a solucionar os pro-blemas mais complexos ou quaisquer outros, não se provou que apoiasse tecnicamente a hierarquia, que asse-gurasse funções de maior responsabili-dade ou desenvolvesse ou participasse em estudos no domínio da instalação,

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Sumários - JurisPruDênCia VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 59

manutenção, programação e operação de sistemas de telecomunicações. III - Acresce que o trabalhador não pos-suía as habilitações mínimas necessárias para exercer aquelas funções e que a sua integração na categoria profissio-nal de ETP, a partir de 1 de Janeiro de 1999, ocorreu no âmbito de um «Pro-cesso Extraordinário de Mudança de Categoria Profissional», emergente de acordo firmado entre a empregadora e os sindicatos representativos dos seus trabalhadores, nos termos do qual ficou estabelecido que trabalhadores de diversas categorias, podiam aceder a outras, entre as quais a de ETP, após a realização e aprovação de provas técni-cas adequadas.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 09/12/2010Recurso n.º 4107/07.5TTLSB.L1.S1- 4.ª SecçãoAssunto: Despedimento colectivo I - Na regulação do despedimento colectivo, a lei não esclarece o que se deve entender por motivos estruturais, tecnológicos ou conjunturais, mas, atendendo à similitude entre o des-pedimento colectivo e a cessação por extinção de postos de trabalho, em que a diferença fundamental reside no número de trabalhadores a abranger pelo despedimento, admite-se que a interpretação dos motivos constantes do art. 16.º da LCCT seja feita com base nos conceitos enunciados no art. 26.º do mesmo diploma legal, não sendo relevante a diferença terminológica existente entre os dois normativos, quando no primeiro se faz referência a motivos conjunturais e, no segundo, se alude a motivos económicos ou de mercado. II - Do ponto de vista qualitativo ou ati-nente ao substrato material que há-de presidir à decisão de promover o despe-dimento colectivo, devem considerar-se motivos conjunturais a comprovada redução da actividade da empresa provocada pela diminuição da procura de bens ou serviços ou a impossibili-dade, prática ou legal, de colocar esses

bens ou serviços no mercado; motivos tecnológicos, as alterações nas técnicas ou processos de fabrico ou automati-zação dos equipamentos de produção, de controle ou de movimentação de cargas, bem como a informatização de serviços ou automatização de meios de comunicação; e motivos estruturais o encerramento definitivo da empresa, bem como o encerramento de uma ou várias secções, ou estrutura equi-valente, provocado por desequilíbrio económicofinanceiro, por mudança de actividade ou por substituição de produtos dominantes. III - Quantitativamente, o despedimento colectivo consubstancia-se como uma redução do nível de emprego na em-presa nos termos do qual vários traba-lhadores acabam por ser atingidos por um motivo determinante da cessação dos seus contratos de trabalho, dentro dos enunciados na lei. IV - É admissível o recurso ao despedi-mento colectivo, não com fundamento em meros juízos ocasionais, mas quan-do se impõe a resolução de questões de natureza estrutural, nos termos da qual se pode justificar o sacrifício de alguns postos de trabalho, importando, assim, aquilatar dos fundamentos objectivos invocados para o despedimento co-lectivo, por um lado, e a existência de um nexo entre tais fundamentos e os despedimentos empreendidos. V - Na apreciação da procedência dos fundamentos invocados para o des-pedimento colectivo, o tribunal deve proceder, à luz dos factos provados e com respeito pelos critérios de gestão da empresa, não só ao controlo da ve-racidade dos fundamentos invocados, mas também à verificação da existência de um nexo entre aqueles fundamentos e o despedimento, por forma a que, segundo juízos de razoabilidade, tais fundamentos sejam aptos a justificar a decisão de redução de pessoal através do despedimento colectivo. VI - Estando provado que o despedi-mento colectivo levado a cabo pela R. teve por objectivo dar resposta ao de-sequilíbrio económico-financeiro com o qual se vinha debatendo uma das suas

publicações, à qual os AA. estavam afec-tos, está demonstrado o fundamento do despedimento e o nexo de causalidade entre esse fundamento e a cessação dos contratos de trabalho dos AA.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 09/12/2010Recurso n.º 254/06.9TBGDL.E1.S1- 4.ª SecçãoAssunto: Acidente de trabalho

I - Resultando da matéria de facto dada por provada que o local de risco identi-ficado na proposta de seguro, que deu origem à apólice que titula o contrato de seguro e do qual faz parte integrante, era a Herdade de Vale Joanas em Grândola, e que o acidente ocorreu na Herdade da Bela Vista, não se configurando uma situação de acidente in itinere, impõe-se concluir que o acidente de trabalho ajuizado não está coberto pelo contrato de seguro firmado pela empregadora do sinistrado. II - Sendo assim, a entidade seguradora não pode ser responsabilizada pela repa-ração do acidente de trabalho em causa. III - Deste modo, é a empregadora do sinistrado que deverá suportar o obri-gação de indemnização respeitante aos danos emergentes do acidente de trabalho.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 09/12/2010Recurso n.º 1155/07.9TTBRG.P1.S1- 4.ª SecçãoAssunto: Indícios de subordinação jurídica

I - A subordinação jurídica (suscepti-bilidade de dar ordens e instruções ao trabalhador) decorre do poder de direcção em que se encontra investido o empregador e corresponde, do lado do trabalhador, ao dever de obediência; este elemento existe no contrato de trabalho e está ausente no contrato de prestação de serviço. II - A subordinação deduz-se de factos indiciários, todos a apreciar em concreto e na sua interdependência, sendo os mais significativos: a sujeição do traba-lhador a um horário de trabalho; o local

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JurisPruDênCia - SumáriosVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201160

de trabalho situar-se nas instalações do empregador ou onde ele determinar; existência de controlo do modo da prestação de trabalho; obediência às ordens e sujeição à disciplina imposta pelo empregador; propriedade dos instrumentos de trabalho por parte do empregador; retribuição certa, à hora, ao dia, à semana ou ao mês; exclusivi-dade de prestação do trabalho a uma única entidade. III - Os indícios de subordinação jurídica não podem ser valorados de forma ato-mística, antes devendo efectuar-se um juízo global em ordem a determinar se na relação estabelecida e efectivamen-te executada estão ou não presentes os elementos característicos de uma relação de trabalho subordinado – os poderes de direcção e autoridade do empregador e correspectiva sujeição do trabalhador ao exercício desses poderes. IV - Atendendo à natureza e conteúdo das funções compreendidas na profis-são de enfermeiro, não são suficientes para se concluir pela existência de subordinação jurídica, a obrigatorie-dade de cumprimento de protocolos; o pagamento mensal das retribuições calculadas com base nas horas de trabalho efectivamente prestadas; a vinculação a um horário pré-definido; o facto de o local de trabalho se situar nas instalações da Ré e o fornecimento de uniformes e instrumentos de trabalho por parte da Ré, tanto mais quando está, também, demonstrado que as Autoras não prestavam a sua activida-de em regime de exclusividade; que o horário de trabalho na Ré era fixado, por acordo, atendendo às conveniên-cias das Autoras; que, as mesmas, nas suas faltas, tinham a possibilidade de se fazerem substituir, na prestação, por outra pessoa, com a única consequência de não lhes ser pagas as horas em que não tivessem prestado serviço. V - Na apreciação global de todos estes indícios, não pode inferir-se a possibi-lidade de, no seu âmbito, a Ré exercer efectivos poderes de direcção e autori-dade e, menos ainda, o poder disciplinar sobre as Autoras, não estando, assim,

demonstrados factos bastantes para caracterizar, com segurança, a subordi-nação jurídica e, pois, para conferir às relações contratuais entre elas estabe-lecidas, natureza laboral.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 09/12/2010Recurso n.º 44/2002.P1.S1- 4.ª SecçãoAssunto: Acidente de trabalho – violação de regras de segurança

I - Para que a responsabilidade pela re-paração do acidente de trabalho recaia sobre a entidade empregadora, nos termos do art. 18.º, da Lei n.º 100/97, de 13 de Setembro, é necessário que, cumulativamente, se verifiquem os seguintes requisitos: que sobre a en-tidade empregadora recaia o dever de observar determinadas regras de comportamento cuja observância, segura ou muito provavelmente, teria impedido a consumação do evento danoso e que a entidade empregadora faltou à observância dessas regras, não tomando, por esse motivo, o cuidado exigível a um empregador normal; que entre essa conduta inadimplente e o acidente intercorra um nexo de causalidade adequada. II - Ao sinistrado/beneficiário e/ou à seguradora incumbe o ónus de ale-gação e prova dos factos integradores da violação das regras de segurança determinantes da responsabilidade do empregador, incluindo, os relativos ao nexo de causalidade (art. 342.º, n.º 1, do CC). III - Embora o trabalho em telhado envolva algum risco, não é possível afirmar que a entidade empregadora não adoptou as medidas de protecção – colectivas ou individuais – adequadas quando se não apuraram as caracterís-ticas do telhado, as condições atmosfé-ricas que se verificavam e, bem assim, as específicas características das telhas que o compunham, daí que se não possa imputar-lhe a responsabilidade na reparação do acidente de trabalho ocorrido com o sinistrado. IV - Ainda que apurada estivesse a vio-lação de regras de segurança, sempre

seria necessário que entre essa violação e o acidente intercorresse o necessário nexo causal: estando provado, apenas, que o sinistrado pisou uma telha de plástico, que esta se partiu e que, em consequência, aquele caiu, não é pos-sível afirmar a existência daquele nexo.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 16/12/2010Recurso n.º 56/07.5TTSNT.L1.S1- 4.ª SecçãoAssunto: Caducidade do contrato de trabalho

I - Tendo as partes acordado no escri-to que corporizou o último contrato, que este tinha o seu início em 1 de Setembro de 2005 e duraria até ao dia 31 de Julho de 2006, caducando automaticamente nesta última data, sem necessidade de qualquer comu-nicação, tendo, a partir desta última data, o Autor deixado de trabalhar para a Ré, por esta não mais lhe ter atribuído quaisquer funções ou pago qualquer retribuição, a relação emergente des-se contrato, independentemente da sua qualificação, deixou de existir de facto, por inequívoca manifestação de vontade nesse sentido, por parte da Ré, ao abrigo do estipulado na referida cláusula, como tal entendível por um declaratário normal. II - Nos termos do disposto nos artigos 660.º, n.º 2, parte final, e 661.º, n.º 1 do Código do Processo Civil, está vedado ao tribunal emitir pronuncia sobre a questão da ilicitude de cessação do contrato, quando tal questão não foi colocada à sua apreciação por não terem sido alegados os pertinentes factos, nem ter sido formulado pedido com ela eventualmente relacionado. III - A norma consubstanciada no artigo 74.º do Código de Processo do Traba-lho não permite ao tribunal alterar ou substituir a causa de pedir – ou seja, os factos jurídicos que o Autor invocou para fazer valer uma pretensão – de modo a resolver um litígio, apreciando um pedido com fundamento numa causa que o Autor não submeteu à sua consideração e decisão.

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leGislaÇÃo - Síntese VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 61

acções executivasPort. n.º 201/2011, de 20.5-Segunda alteração à PPortaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março, que regulamenta vários aspec-tos das acções executivas cíveis

agências de viagam de turismoDL n.º 61/2011, de 6.5- Regula o acesso e exercício da actividade das agências de viagens e turismo

ambienteDL n.º 58/2011, de 4.5- Estabelece deveres de divulgação de infor-mação relativa à avaliação ambiental, proce-dendo à primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 232/2007, de 15 de Junho, que estabelece o regime a que fica sujeita a avaliação dos efeitos de determinados planos e programas no ambiente

arbitragem - rnCaiDL n.º 60/2011, de 6.5- Cria a Rede Nacional de Centros de Arbitra-gem Institucionalizada (RNCAI) e estabelece as formas e critérios de financiamento e avaliação dos centros que a integram

automóveis e reboquesDL n.º 59/2011, de 5.5- Aprova o regulamento relativo aos sistemas antiprojecção de determinadas categorias de automóveis e seus reboques e transpõe a Direc-tiva n.º 2010/19/UE, da Comissão, de 9 de Março

Custas processuaisPort. n.º 200/2011, de 20.5- Segunda alteração à Portaria n.º 419-A/2009, de 17 de Abril, que regula o modo de elabo-ração, contabilização, liquidação, pagamento, processamento e destino das custas processu-ais, multas e outras penalidades

Port. n.º 202/2011, de 20.5- Regulamenta os momentos e os modos de pagamento de remunerações dos serviços prestados por instituições de acordo com o disposto nos artigos 833.º-A e 861.º-A do Có-digo de Processo Civil e a forma de cobrança de distribuição da receita e o modo e forma de pagamento anual da receita devida às institui-ções gestoras de bases de dados referidas no n.º 12 do artigo 17.º do Regulamento das Custas Processuais, bem como os demais aspectos de gestão do sistema.

DesempregoDespacho n.º 7131/2011, de 11.5 (II série)- Definição do procedimento administrativo aplicável ao pagamento, por uma só vez, do montante global das prestações de desempre-go a que o beneficiário tem direito.

estatuto de vítimaDespacho n.º 7108/2011, de 11.5 (II série)- Estabelece os critérios de atribuição do esta-tuto de vítima de violência doméstica

estabelecimentos de restauração ou bebidas - instalaçõesPort. n.º 215/2011, de 31.5- Estabelece os requisitos específicos relativos a instalações, funcionamento e regime de classificação aplicáveis aos estabelecimentos de restauração ou bebidas, incluindo aos in-tegrados em empreendimentos turísticos e às secções acessórias de restauração ou de bebi-das instaladas em estabelecimentos comerciais com outra actividade

impostosmodelo 1 do imi - artigo 13º, nº 1, alínea d), do CimiOfício-Circulado nº 40101/2011, de 26.4.2011, da DGCI- Esclarece as dúvidas suscitadas relativamente à obrigatoriedade de apresentação do modelo 1 do IMI e do momento relevante para a ava-liação nas situações de autorização para cons-trução de prédio urbano num prédio rústico, sem qualquer individualização jurídica entre si

JustiÇaDespacho n.º 7818/2011, de 30.5 (II série) - Cria um Grupo Trabalho para Proceder ao Le-vantamento e Análise de Processos Pendentes em Atraso, no âmbito das execuções cíveis, pro-cessos de insolvência e processos de natureza laboral, seja com recurso a dados de natureza estatística, seja por via da utilização de outras técnicas de investigação, designadamente a consulta de documentos já produzidos sobre estas matérias e de processos nos tribunais

Despacho n.º 7857/2011, de 31.5 (II série)- Determina que a DGAJ promova o mais rapidamente possível, dando prioridade aos tribunais que tramitem processos executivos e que tenham menores taxas de eficiência a rea-lização de acções de formação de formadores, ministradas em estreita colaboração e com a participação activa dos funcionários judiciais responsáveis pelo desenvolvimento e aplicação prática do Projecto X.

Despacho n.º 7819/2011, de 30.5 (II série)- Despacho ordenador do memos da Troika na área da justiça

mediação pré-judicialPort. n.º 203/2011, de 20.5- Define quais os sistemas de mediação pré-judicial cuja utilização suspende os prazos de caducidade e prescrição dos direitos e procede à regulamentação do seu regime e os

sistemas de mediação judicial que suspendem a instância

orçamentolei de enquadramento orçamentalLei n.º 22/2011, de 20.5- Quinta alteração à Lei n.º 91/2001, de 20 de Agosto (lei de enquadramento orçamental)

Prescrição electrónica de medicamentosPort. n.º 198/2011, de 18.5- Estabelece o regime jurídico a que obede-cem as regras de prescrição electrónica de medicamentos

ProDerPort. n.º 184/2011, de 5.5- Altera o Regulamento de Aplicação da Acção n.º 1.1.3, «Instalação de Jovens Agricultores», da medida n.º 1.1, «Inovação e desenvolvimento empresarial», integrada no subprograma n.º 1, «Promoção da competitividade», do Programa de Desenvolvimento Rural do Continente, PRO-DER, aprovado pela Portaria n.º 357-A/2008, de 9 de Maio

Port. n.º 192/2011, de 12.5- Altera o Regulamento de Aplicação da Acção n.º 1.1.1, «Modernização e Capacitação das Empresas», da Medida n.º 1.1, «Inovação e Desenvolvimento Empresarial», Integrada no Subprograma n.º 1, «Promoção da Competitivi-dade», do Programa de Desenvolvimento Rural do Continente, PRODER, aprovado pela Portaria n.º 289-A/2008, de 11 de Abril.

reGiÕes autÓnomasaçores – Crédito bonificadoRAL da RA dos Açores n.º 7/2011/A, de 5.5- Resolve recomendar ao Governo Regional da Madeira a criação de um programa destinado à bonificação dos juros do crédito à habitação para a residência permanente na Região Autó-noma dos Açores, destinado a desempregados

açores – Bolsas de estudoDLR n.º 14/2011/A, de 26.5- Fixa a atribuição de bolsas de estudo a traba-lhadores-estudantes matriculados no ensino superior português com residência na Região Autónoma dos Açores.

DLR n.º 15/2011/A, de 30.5- Define os princípios gerais para a atribuição de bolsas de estudo e formação pela Região Autónoma dos Açores e o regime de concessão de bolsas de estudo para formação profissional não disponível na Região Autónoma dos Açores

- Madeira

Polícia de segurança Pública

PrinCiPal leGislaÇÃo PuBliCaDa1ª e 2ª. Série do Diário da República de 4 a 31 de Maio de 2011

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leGislaÇÃo - SínteseVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201162

RAR n.º 102/2011, de 5.5- Recomenda ao Governo o reforço dos meios e instalações da Polícia de Segurança Pública na Região Autónoma da Madeira

madeira – sistema JudicialRAR n.º 103/2011, de 5.5- Propõe medidas de melhoria do funciona-mento do sistema judicial na Região Autónoma da Madeira

medidas no sector da justiça - madeiraRRA n.º 106/2011, de 10.5- Recomenda ao Governo medidas no sector da justiça na Região Autónoma da Madeira

RAR n.º 107/2011, de 10.5- Recomenda ao Governo a melhoria da qua-lidade dos serviços de justiça e de segurança na Região Autónoma da Madeira

orçamento – r.a. madeira 2011DRR n.º 3/2011/M, de 18.5- Executa o Orçamento da Região Autónoma da Madeira para 2011

madeira - subsídio social de mobilidade aos cidadãosLei n.º 21/2011, de 20.5- Segunda alteração ao Decreto-Lei n.º 66/2008, de 9 de Abril, que «regula a atribuição de um subsídio social de mobilidade aos cidadãos residentes e estudantes, no âmbito dos serviços aéreos entre o continente e a Região Autónoma da Madeira» de forma a estender o subsídio social de mobilidade aos serviços marítimos

registo nacional dos serviços do estadoLei n.º 20/2011, de 20.5- Cria o registo nacional dos serviços do Estado de todo o sector público administrativo

serviços mínimos bancáriosLei n.º 19/2011, de 20.5- Primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 27-C/2000, de 10 de Março, que cria o sistema de acesso aos serviços mínimos bancários

solicitadoresRegulamento n.º 275/2011, de 4.5 (II série)- Regulamento do estágio de agentes de execução

Regulamento n.º 292/2011, de 11.5 (II série)- Regulamento das Estruturas e Meios Infor-máticos do Escritório do Agente de Execução

tráfico ilícito de armas de FogoDec. do PR n.º 49/2011, de 6.5- Ratifica o Protocolo contra o Fabrico e o

Tráfico Ilícito de Armas de Fogo, Suas Partes, Componentes e Munições, Adicional à Conven-ção das Nações Unidas contra a Criminalidade Organizada Transnacional, adoptado em Nova Iorque em 31 de Maio de 2001

RAR n.º 104/2011, de 6.5- Aprova o Protocolo contra o Fabrico e o Tráfico Ilícito de Armas de Fogo, Suas Partes, Componentes e Munições, Adicional à Conven-ção das Nações Unidas contra a Criminalidade Organizada Transnacional, adoptado em Nova Iorque em 31 de Maio de 2001

transporte aéreo – taxasPort. n.º 213/2011, de 30.5- Segunda alteração à Portaria n.º 541/2004, de 21 de Maio, que fixa o valor das taxas de segu-rança dos serviços prestados aos passageiros no transporte aéreo

traBalHo e seGuranÇa soCialmobilidade especialPort. n.º 182/2011, de 5.5- Estabelece os termos da instrução e tramita-ção dos pedidos de colocação em situação de mobilidade especial, por opção voluntária, e de concessão de licença extraordinária

saúde mental – apoio domiciliárioPort. n.º 183/2011, de 5.5- Define os preços dos cuidados continuados integrados de saúde mental prestados pelas unidades residenciais, unidades sócio-ocupa-cionais e equipas de apoio domiciliário

CCt – Comércio, escritórios e serviçosPort. n.º 191/2011, de 11.5- Determina a extensão das alterações dos contratos colectivos entre a Associação Co-mercial de Aveiro e o CESP - Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Ser-viços de Portugal e entre a mesma associação de empregadores e o SINDCES - Sindicato do Comércio, Escritórios e Serviços

medicamentos – comparticipação do estadoPort. n.º 193/2011, de 13.5- Regula o procedimento de pagamento da comparticipação do Estado no preço de venda ao público dos medicamentos dispensados a beneficiários do Serviço Nacional de Saúde que não estejam abrangidos por nenhum subsiste-ma ou que beneficiem de comparticipação em regime de complementaridade.

CCt – restauração e similaresPort. n.º 196/2011, de 17.5- Determina a extensão do contrato colectivo

entre a AHRESP - Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal e a FETESE - Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores de Serviços

CCt- escritórios e serviços de PortugalPort. n.º 197/2011, de 17.5- Determina a extensão das alterações dos con-tratos colectivos entre a Associação Comercial de Aveiro e o CESP - Sindicato dos Trabalha-dores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal e entre a mesma associação de empre-gadores e o SINDCES - Sindicato do Comércio, Escritórios e Serviços (comércio de carnes)

CCt- Comércio, escritórios e serviçosPort. n.º 204/2011, de 23.5- Determina a extensão das alterações do contrato colectivo entre a AGEFE - Associação Empresarial dos Sectores Eléctrico, Electrodo-méstico, Fotográfico e Electrónico e a FEPCES - Federação Portuguesa dos Sindicatos do Comércio, Escritórios e Serviços e outros

Funcionários ParlamentaresLei n.º 23/2011, de 20.5- Aprova o Estatuto dos Funcionários Parla-mentares

siaDaP 3Port. n.º 209/2011, de 25.5- Procede à adaptação do subsistema de ava-liação do desempenho dos trabalhadores da Administração Pública (SIADAP 3) a trabalha-dores integrados na carreira especial médica

CCt - Produtos Químicos e FarmacêuticosPort. n.º 210/2011, de 25.5- Determina a extensão do contrato colectivo entre a GROQUIFAR - Associação de Grossistas de Produtos Químicos e Farmacêuticos e a FIEQUIMETAL - Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgica, Química, Farmacêutica, Eléctrica, Energia e Minas

suPremo triBunal De JustiÇaCrime de dano – legitimidade para apresentar queixaAcórdão do Supremo Tribunal de Justiça n.º 7/2011, de 31.5- No crime de dano, previsto e punido no ar-tigo 212.º, n.º 1, do Código Penal, é ofendido, tendo legitimidade para apresentar queixa nos termos do artigo 113.º, n.º 1, do mesmo diploma, o proprietário da coisa «destruída no todo ou em parte, danificada, desfigurada ou inutilizada», e quem, estando por título legítimo no gozo da coisa, for afectado no seu direito de uso e fruiço.

disponíveis em www.dgsi.ptaCÓrDÃos Do stJ

aCÇÃo iniBitÓriasumário: “I. A acção inibitória tem uma vertente cí-vico/social, um fim dissuasor, o seu regime acautela interesses difusos de consumido-res/aderentes que muitas vezes toleram

a lesão dos seus direitos por estarem em causa individualmente valores de pouca monta que não justificam o incómodo de acções judicias, mas que num somatório de contraentes indeterminados – contratos de adesão – a que a acção inibitória interessa,

é da maior relevância como meio de defesa dos consumidores, parte mais fraca em tal relação jurídico-contratual.II. O caso julgado que se formar na acção inibitória pode ser invocado por terceiros alheios à concreta acção inibitória para

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leGislaÇÃo - Síntese VIDA JUDICIÁRIA - Maio 2011 63

obstar ao uso da cláusula declarada inválida, ou outras que se lhe equiparem substancial-mente, nos termos do nº1 do art. 32º, do DL. 446/85, de 25.10, por isso, não ocorre inutilidade superveniente com a expurgação voluntária pelo proponente das cláusulas contratuais gerais proibidas, objecto da ac-ção inibitória, porque o interesse social deste tipo de acções transcende o mero interesse do caso litigado para poder ser invocado por terceiros; de outro modo, pouco seria o alcance de uma acção que visa a protecção indeterminada de consumidores/aderentes que possam ser afectados pela utilização das ccg que se pretendem eliminar.III. A autonomia da vontade e a liberdade contratual, no que respeita ao arredon-damento em alta da taxa de juros nos contratos de crédito à habitação, foi alvo de regulação pelo DL.240/2006, de 22.12, que, inquestionavelmente, situa essa cláusula no contexto das ccg que os Bancos inserem no seus contratos para disciplinar, de modo cogente, os critérios de arredondamento, pondo termo a práticas abusivas dos Bancos e regulando a concorrência, tudo em favor dos consumidores/aderentes.IV. Aquele diploma que, transpôs uma Direc-tiva comunitária, impôs o arredondamento da taxa de juros “à milésima”, considerando que, através da forma por que antes se fazia o arredondamento em alta, no caso em apreço “para o quarto percentual superior”, era abusivo alterando a taxa nominal do em-préstimo em prejuízo do mutuário aderente.V. A actuação de boa-fé, postulada sem mati-zes nos contratos em geral, quer na sua fase preliminar – art. 227º do Código Civil – quer durante a sua execução, art. 762º, nº1, do mesmo diploma, é um princípio normativo, uma regra de conduta que deve ser escru-pulosamente observada pelos contraentes.VI. As regras de conduta postuladas pela actuação leal, prudente e que contempla os interesses das partes, deve ser apanágio dos contratos em que as partes negoceiam em pé de igualdade e onde a liberdade con-tratual está por regra assegurada; com mais rigor deve ser exigida em contratos em que tal paridade não existe, ou seja, naqueles em que a liberdade negocial está cerceada pela patente superioridade económica e negocial de um dos contratantes como é o caso dos contratos de adesão sujeitos a cláusulas contratuais gerais. VII. Sendo inquestionável que as instituições bancárias visam legitimamente o lucro, não devem, nas suas relações com os consu-midores, desconsiderar que, em casos de mútuo de escopo – como é o financiamento para aquisição de habitação própria – os mutuários estão sujeitos às vicissitudes de um contrato longo, em que não controlam as várias componentes do preço do dinhei-ro, sendo que a consideração dos limites impostos pela boa-fé, pelos bons costumes ou pelo fim económico ou social do direito devem ser preservados na actuação do proponente das ccg. VIII. Nos contratos de financiamento do

crédito para habitação de consumidores, a cláusula pré-inserida pelas instituições de crédito que contemplam o arredondamento da taxa de juro para “o quarto percentual superior”, exprime uma situação de des-proporção e abuso do predisponente que afecta o equilíbrio das posições contratuais e a confiança do aderente, porque introduz um factor não negociado que contende com a taxa nominal de juros, agravando-a em desfavor do consumidor/mutuário aderente, não se justificando ante a patente superiori-dade contratual da instituição de crédito, e, por isso, sendo lesiva do princípio da boa-fé e da confiança do aderente, viola os arts. 15º e 16º das ccg, sendo nula por força do art. 12º do mesmo diploma”. (Proc. n.º 854/10.2TJPRT.S1, de 31/5/2011).

aCiDente De viaÇÃo – ConCorrên-Cia De CulPassumário: “I - Para determinar se houve concorrência de culpas – como pretende a 1.ª instância, que fixou em 70% para o demandado (tam-bém arguido) –, ou culpa exclusiva – como decidido pelo Tribunal da Relação –, importa ter presente os seguintes factos provados:“1. No dia 20 de Maio de 2000, cerca das 2 horas e 10 minutos, o arguido conduzia o seu motociclo de matrícula LP-...-..., na Rua ..., na Foz do Arelho, no sentido do Nadadouro/Foz do Arelho.2. Naquela viatura seguia ainda como pas-sageiro RP. 3. Na mesma ocasião, VS conduzia o seu veículo automóvel de marca Volkswagen, modelo Passat, de matrícula ...-...-LE, por essa mesma via e em sentido inverso, ou seja, Foz do Arelho/Nadadouro. 4. Ao chegar à zona do hotel “Foz Praia”, no momento em que os dois veículos se cru-zaram, o arguido, que circulava no centro da sua hemifaixa, deixou a mota ir para a esquerda, para o eixo da via, onde se encon-trava o veículo referido em 3. 5. O arguido tinha avistado o veículo au-tomóvel momentos antes dos veículos se cruzarem. 6. Em consequência desse acto, o arguido embateu com o seu motociclo no lado esquerdo da parte da frente da viatura automóvel, junto ao pneu dianteiro do mesmo lado. 7. Em resultado da colisão, o motociclo conduzido pelo arguido despistou-se, vindo o arguido e o ofendido RP, que com ele se fazia transportar naquele veículo, a serem projectados e a caírem ao solo. 8. O local traduzia-se numa curva ligeira para a direita, precedida de uma recta, atento o sentido de marcha Nadadouro/Foz do Are-lho, de uma via asfaltada, sem marcação no pavimento a delimitar as duas faixas de trân-sito, com pouca iluminação, dois sentidos de trânsito e cerca de 5,40 metros de largura. 9. O embate verificou-se em zona próxima do eixo da via. 10. Por força do embate, o pneu dianteiro do lado esquerdo do veículo automóvel

rebentou, pelo que o seu condutor só con-seguiu proceder à imobilização do veículo a cerca de 67 (sessenta e sete) metros do local do embate.11. Do local onde se deu o embate ao local onde o motociclo ficou imobilizado distam cerca de 32 (trinta e dois) metros. 12. Após a imobilização das viaturas, a dis-tância entre as mesmas era de 99,5 (noventa e nove e meio) metros. 13. No momento em que se deu o embate, não chovia e o piso encontrava-se seco. 14. O asfalto junto às bermas da estrada mencionada em 1 era irregular”. II - Não se tem como certo que o condutor da viatura automóvel tenha infringido o n.º 1 do art. 13.º do CEst; seja como for, se ambos os veículos se mantivessem a circular nas referidas posições – o motociclo “no centro da sua hemifaixa” e o com a matrícula ...-...-LE próximo do “eixo da via” –, ter-se-iam cru-zado um com o outro sem risco de colisão, havendo a separá-los a distância lateral de cerca de 1 m. III - Não foi, assim, por seguirem nessas posições que o acidente se deu: foi porque “no momento em que os dois veículos se cruzaram, o arguido deixou a mota ir para a esquerda, para o eixo da via, onde se en-contrava o veículo referido em 3”, apesar de o haver avistado “momentos antes” (facto n.º 5). Enquanto circulavam naquelas posições, ambos os condutores, reciprocamente avis-táveis, seguiam trajectórias que respeitavam entre si uma distância lateral suficiente para evitar colidirem. Porém, quando nada o fazia prever, pois foi mesmo no momento em que iam cruzar-se, o arguido “deixou ir” o motociclo para a sua esquerda, embatendo de frente na viatura e despistando-se, em consequência do que o lesado foi atirado ao chão, sofrendo diversas lesões.IV - Não pode, pois, atribuir-se à actuação do condutor do veículo automóvel qualquer contribuição para a produção do acidente, pois a sua conduta não criou risco de co-lisão. Esse risco foi criado exclusivamente pela atitude do condutor do motociclo de, inopinadamente, desviar a trajectória do seu veículo para a esquerda, interceptando a linha de marcha do automóvel no momento em que ia cruzar-se com ele, violando a regra do direito estradal prevista no n.º 2 do art. 18.º do CEst.V - O outro dos fundamentos do FGA para interpor recurso prende-se com os montan-tes indemnizatórios atribuídos, fundando-se na circunstância desses valores excederem o que resultaria da aplicação dos critérios previstos na Portaria 377/2008, de 26-05.VI - Com este mecanismo legal visou-se moralizar a relação dos lesados por acidente de viação com as companhias de seguros responsáveis pelos danos que sofreram, de modo a evitar que estas, valendo-se da sua suposta posição dominante, se aproveitassem da normal maior fragilidade daqueles, apresentando-lhes propostas de acordo com valores muito inferiores aos da indemnização justa, apostando em algum

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leGislaÇÃo - SínteseVIDA JUDICIÁRIA - Maio 201164

retraimento por parte daqueles em recorrem à via judicial, em função dos custos implica-dos, da demora da decisão e da incerteza do veredicto final.VII - Por isso, aqueles valores, fora do referido âmbito, constituirão apenas uma referência, nada impedindo que os tribunais, usando os critérios previstos no CC, fixem valores superiores, o que até constituirá a situação normal, tendo em vista que a aceitação da proposta de acordo da empresa seguradora por parte do lesado desonera este das des-vantagens e incómodos que a via judicial comporta, como contratar advogado, indicar testemunhas, lidar com a natural relutância destas em irem a tribunal, por razões eviden-tes, suportando custos antes de receber seja o que for, para além do risco de, por qualquer razão, não conseguirem fazer valer total ou parcialmente os seus direitos. Além do mais, o diploma nem contempla todos os danos susceptíveis de indemnização.VIII - Relativamente aos danos não patrimo-niais, apurou-se que:- logo após o acidente foi conduzido ao ser-viço de urgência do Hospital das Caldas da Rainha, onde esteve internado durante 12 h;- foi de seguida transferido para o Hospital Militar Principal, em Lisboa, onde perma-neceu internado durante cerca de 9 meses, sendo 4 dias de completa imobilização;- foi aí sujeito a 6 intervenções cirúrgicas;- dos inúmeros ferimentos resultantes do acidente, destacam-se a fractura exposta da tíbia e do perónio esquerdos e ainda a fractura do fémur esquerdo;- esses ferimentos provocaram-lhe fortes dores, sendo o quantum doloris de grau 5, numa escala até 7;- ficou com gonartrose na perna esquerda, com diminuição da mobilidade, encurta-mento dessa perna em 20 mm, desvio em varo e angulação ligeira, bipotrofia muscular e várias cicatrizes “deformantes” na mesma perna, algumas de extensão considerável;- o desenvolvimento da gonartrose implicará nova intervenção cirúrgica para aplicação de artroplastia no joelho esquerdo;- ficou a claudicar ao andar mais acelera-damente;- teve de sujeitar-se a sessões diárias de fisioterapia;- “o facto de ter ficado com uma incapacida-de funcional do membro esquerdo” afectou a sua saúde mental, situação que, embora melhorada, não está resolvida; foi submetido a tratamento psiquiátrico;- tem “marcadas dificuldades em confrontar-se com os seus antigos colegas de trabalho, ficando muito ansioso”, em virtude do seu menos bom desempenho motor;- sofre por terem ficado definitivamente comprometidas as suas aspirações profis-sionais no Exército.IX - Perante estes dados, não pode conside-rar-se excessiva a quantia de € 25 500, fixada pelas instâncias por danos não patrimoniais, sendo que essa quantia se não afasta do que vem sendo decidido pelos tribunais portu-gueses em casos similares – cf. Ac. deste

Supremo Tribunal de 26-11-2009, Proc. n.º 3533/03.3TBOAZ.X - Quanto ao dano decidido em função da incapacidade parcial permanente com que o lesado ficou (fixado pelas instâncias em € 150 000), o recorrente não põe em causa que este dano é indemnizável; discute apenas o seu valor limitando-se a apontar montantes que diz resultarem da aplicação dos critérios da Portaria.XI - A incapacidade parcial permanente, independentemente da sua valoração em certos aspectos como dano moral, deve ser vista como causa de um dano patrimonial futuro, mesmo que não se prove que dela resultou perda efectiva dos proventos do tra-balho, na consideração de que normalmente importará diminuição da capacidade de uti-lização do corpo e numa maior penosidade na execução das tarefas que o lesado terá de desempenhar – cf. Acs. deste Supremo Tribu-nal de 23-04-2009, Proc. n.º 292/04.6TBVNC, de 26-11-2009, Proc. n.º 3533/03.3TB0AZ, de 12-01-2010, Proc. n.º 107/04.5TBVZL, de 25-02-2010, Proc. n.º 11/06.2TBLSD, de 04-05-2010, Proc. n.º 1288/03.OTBLSD, de 06-05-2010, Proc. n.º 3140/04.3TVLSB, de 14-09-2010, Proc. n.º 797/05.1TBSTS, de 07-10-2010, Proc. n.º 2171/07.6TBCRB, e de 07-10-2010, Proc. n.º 370/04.1TBVGS, todos disponíveis em dgsi.pt.XII - Não pode deixar de considerar-se a incapacidade parcial permanente de que o lesado ficou afectado como fonte de danos patrimoniais futuros, que devem ser indem-nizados, com fundamento no art. 564.º, n.º 2, do CC, que prevê a indemnização por «danos futuros, desde que sejam previsíveis», como no caso se mostrou serem, em ordem a «reconstituir a situação que existiria, se não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação», nos termos do art. 562.º do mesmo código. Mas, tratando-se de danos futuros, apenas previsíveis, o seu valor, não podendo ser averiguado com exactidão, tem de ser fixado com recurso a critérios de equidade, nos termos do art. 566.º, n.º 3, ainda daquele diploma, ou seja, segundo critérios de verosimilhança e probabilidade.XIII - Como é geralmente aceite, a indemniza-ção por danos futuros deve representar um capital que se extinga ao fim da vida activa do lesado e seja susceptível de lhe garantir, durante ela, as prestações periódicas cor-respondentes à sua perda de ganho – cf. Ac. deste Supremo Tribunal de 23-04-2009, Proc. n.º 292/04.6TBVNC, disponível em dgsi.pt.XIV - No seu cálculo intervêm dados em rela-ção aos quais apenas se pode prognosticar, como o tempo provável de vida do lesado, a diferença, ao longo de todo esse tempo, entre o rendimento auferido e aquele que auferiria se não tivesse havido a lesão, o comportamento da taxa de inflação durante esse período, bem como da taxa de juro, pois o valor da indemnização é recebido de uma só vez e pode render juros, devendo aí, no respeito por aqueles critérios, ter-se em conta o que é normal acontecer.XV - O lesado tinha à data do acidente 22

anos de idade, tendo normalmente pela frente mais 48 anos de vida activa, até aos 70 anos, idade que vem sendo considerada na jurisprudência do STJ (cf., por exemplo, Ac. de 07-10-2010, Proc. n.º 370/04.1TBVGS, disponível em dgsi.pt) e é apontada, para efeito de apresentação de proposta razoável, no art. 7.º, n.º 1, al. b), da citada Portaria. Se não tivesse ocorrido a lesão, auferiria em 01-10-2002 o salário mensal de € 1257,55, como 2.º sargento do Exército Português, podendo, previsivelmente, progredir até ao posto de tenente-coronel, com as respec-tivas e sucessivas melhorias salariais. Em resultado da incapacidade física com que ficou frustrou-se essa expectativa, deixan-do de poder prosseguir a carreira militar, estando agora, com vários anos de atraso, a iniciar outra actividade profissional, onde não se antevê que possa, em qualquer épo-ca, igualar o nível de proventos que então auferiria, se continuasse nas Forças Armadas.XVI - E a incapacidade permanente de 25 %, para além de tornar mais penoso o exercício da nova actividade, tornar-lhe-á muito mais difícil encontrar uma alternativa, se a isso, por qualquer razão, for obrigado, visto estar-lhe fechada a porta de todas as actividades profissionais que exijam uma “forma física normal”.XVII - Neste circunstancialismo, deve consi-derar-se que a fixação do valor de € 150 000 por este dano respeita a equidade, estando na linha de outras decisões do STJ – cf. Ac. de 07-10-2010, Proc. n.º 370/04.1TBVGS.“(Proc. nº. 198/00.8GBCLD.L1.S1, de 1/6/2011).

manDaDo JuDiCialsumário: “1. O mandato conferido ao advogado pode também consistir numa obrigação de resul-tado, isto é, é susceptível de consubstanciar um particularizado dever de concretizar um identificado objectivo especificadamente descrito pelo mandante; neste caso a obri-gação do mandatário só fica cumprida com a materialização da tarefa que nos termos pactuados lhe foi acreditada;2. Se o mandatário judicial sabia ser essencial para os mandantes que a fracção comprada, objecto da escritura de compra e venda, estivesse livre de quaisquer ónus, hipote-cas ou encargos, condição sem a qual não celebrariam a escritura de compra e venda e, por maioria de razão, não pagariam o preço à sociedade vendedora, àquele compete indemnizar os compradores pelos prejuízos que a estes advieram em consequência deste seu desleixo.3. Não poderemos confundir a faculdade que o comprador tem de anular o contrato nos termos do art.º 905° Código Civil e, se por esta via optar, sujeitar-se ao que está proposto nos artigos seguintes - 907°, 908° e 909° do C. Civil, - um direito que lhe assiste - com a suposta imposição de ter de proceder à sua invalidação (anulabilidade), obrigação esta que a lei, impreterivelmente, não pode exigir ao comprador.”(Proc. n º 3440/07.0TBGDM.P1.S1, de 24/5/2011).

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