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E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, MAIO/2014 - ANO XVII - N o 208 O ESTAFETA Em seu processo de crescimento, Pique- te foi invadindo os mananciais que outrora eram isolados e estavam distantes da ocu- pação urbana. A derrubada das matas levou à diminuição do volume de água. Basta olhar os ribeirões e córregos que cortam a cidade para constatarmos o óbvio: o volume dos ribeirões Benfica, Sertão, Araçá, Santo An- tônio e outros diminui a cada ano. Esse fe- nômeno não é exclusividade de Piquete. O que ocorre em São Paulo hoje, com uma cri- se de abastecimento de água sem preceden- tes, pode ocorrer em qualquer outro lugar. É importante que a população esteja consci- ente de que é preciso disciplinar o uso e ocupação do solo das bacias hidrográficas, principalmente daquelas cujos cursos d’água formam os mananciais. Segundo a legislação, considera-se ma- nancial de abastecimento público todo cor- po de água doce superficial ou subterrânea utilizada para consumo humano ou desen- volvimento de atividades econômicas. Não há possibilidade de haver desenvolvimen- to harmônico sem recuperação e manuten- ção da qualidade da água de abastecimento público, pois a disponibilidade desse recur- so é um dos principais fatores limitantes do desenvolvimento. Portanto, quando se de- fine que determinada bacia hidrográfica é um manancial de abastecimento, enfatiza- se que os demais usos devem ser definidos de forma a garantir a qualidade e a disponi- bilidade para esse uso prioritário. Atualmen- te, os mananciais paulistas se encontram bastante deteriorados. O desenvolvimento urbano é uma das maiores causas de sua degradação. Os loteamentos clandestinos, não sendo atendidos pela infraestrutura básica de saneamento, despejam seu esgo- to nos mananciais. Além disso, os recursos hídricos estão sendo comprometidos pelo desequilíbrio ambiental resultante do desmatamento e do uso indevido do solo. O crescimento populacional em área de mananciais gera impermeabilização do solo, remoção florestal e aumento de lançamento direto de lixo e esgoto em cursos d’água. Eram previsíveis os conflitos entre go- vernos em função da relação entre necessi- dades de consumo e disponibilidade de re- cursos hídricos. O futuro chegou. Hoje, os conceitos de utilização da água têm aspec- tos econômicos, sociais e ambientais que não podem ser resolvidos unicamente por técnicos das ciências exatas. Profissionais das ciências humanas precisam participar da busca por soluções nessas negociações entre poder público e sociedade. Assim, engenheiros, geólogos, agrônomos, tecnó- logos e economistas precisam interagir em sinergia com sociólogos, cientistas sociais e comunicadores, em equipes multidisci- plinares. Essas equipes deverão ir a campo para atuar juntamente com os usuários das águas nas comunidades urbanas e rurais, com as indústrias, agricultores e ambi- entalistas, a fim de se estabelecer soluções consensuais para os conflitos na utilização dos recursos hídricos. Importante destacar, porém, que os agentes mais importantes nesse processo de preservação e conservação são os mo- radores. É preciso que adotemos nossas nascentes e rios. Água doce é um recurso finito e vulnerável, essencial para conser- vação da vida, manutenção do desenvol- vimento e do meio ambiente. Esses são os grandes desafios que o estado de São Pau- lo e o Brasil têm que enfrentar. É preciso que adotemos nossas nascentes e rios. Água doce é um recurso finito e vulnerável, essencial para conservação da vida, manutenção do desenvolvimento e do meio ambiente. Em defesa de nossos mananciais É inquestionável o papel da Igreja Católica na vida das cidades brasileiras, pois ela sempre ocupou um bem dimen- sionado espaço na sociedade. Sua im- portância histórica fez-se presente não apenas no processo de evangelização, mas participando do cotidiano das co- munidades. Suas lideranças religiosas à frente dessa respeitada instituição, além das orientações espirituais, acolhia, ou- via, dirimia dúvidas e estimulava a parti- cipação fraterna da comunidade. Até re- centemente era assim que se vivia nas paróquias. Com o fenômeno da globalização e as mudanças da sociedade, esta tornou- se marcadamente voltada para o indivi- dualismo e o subjetivismo, o que con- tagiou a vida cristã. Muitos abandona- ram seus vínculos comunitários e eclesiais. Recentemente, a Igreja Cató- lica, muito sabiamente propôs a reno- vação das paróquias do Brasil. É ne- cessário que mudanças ocorram no exercício do catolicismo, no perfil de um dos pilares mais sólidos da religião – as paróquias, as quais devem rever sua maneira de atuar. Devem voltar a ser, como no passado, lugar de acolhida, orientação e ajuda espiritual. Para mui- tos, no entanto, são vistas apenas como prestadoras de serviços religiosos ou um lugar para cumprir preceitos. No último dia nove de maio, termi- nou em Aparecida, SP, mais uma reu- nião da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), em que o tema principal foi, justamente, a paróquia, dada sua importância para a Igreja. Fi- cou constatado que as paróquias pre- cisam passar por transformações e ser reinventadas. É preciso renová-las tor- nando-as mais próximas das pessoas, confirmando o recorrente pedido do papa Francisco para que os padres es- tejam junto ao povo, a serviço das suas comunidades. Este foi o tema central da Assembléia, da qual participaram cerca de quatrocentos bispos. Tem-se, nos últimos tempos, discu- tido a ação missionária da Igreja, apon- tando ações que ajudarão as paróqui- as a se tornar comunidade de comuni- dades e a implantar um projeto de evangelização permanente. Há muitas críticas às paróquias. A Igreja, no entanto, não as abandonou, e continua vendo nessa forma de origem da vida cristã e da missão eclesial uma escolha válida. Elas precisam, é certo, de ajustes e melhorias. É isso que a CNBB está buscando.

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Edição 208 d'O ESTAFETA, de maio de 2014, informativo da Fundação Christiano Rosa, de Piquete/SP.

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Page 1: MAIO 2014

E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, MAIO/2014 - ANO XVII - No 208

O ESTAFETA

Em seu processo de crescimento, Pique-te foi invadindo os mananciais que outroraeram isolados e estavam distantes da ocu-pação urbana. A derrubada das matas levouà diminuição do volume de água. Basta olharos ribeirões e córregos que cortam a cidadepara constatarmos o óbvio: o volume dosribeirões Benfica, Sertão, Araçá, Santo An-tônio e outros diminui a cada ano. Esse fe-nômeno não é exclusividade de Piquete. Oque ocorre em São Paulo hoje, com uma cri-se de abastecimento de água sem preceden-tes, pode ocorrer em qualquer outro lugar. Éimportante que a população esteja consci-ente de que é preciso disciplinar o uso eocupação do solo das bacias hidrográficas,principalmente daquelas cujos cursosd’água formam os mananciais.

Segundo a legislação, considera-se ma-nancial de abastecimento público todo cor-po de água doce superficial ou subterrâneautilizada para consumo humano ou desen-volvimento de atividades econômicas. Nãohá possibilidade de haver desenvolvimen-to harmônico sem recuperação e manuten-ção da qualidade da água de abastecimentopúblico, pois a disponibilidade desse recur-so é um dos principais fatores limitantes dodesenvolvimento. Portanto, quando se de-fine que determinada bacia hidrográfica éum manancial de abastecimento, enfatiza-se que os demais usos devem ser definidosde forma a garantir a qualidade e a disponi-bilidade para esse uso prioritário. Atualmen-te, os mananciais paulistas se encontrambastante deteriorados. O desenvolvimentourbano é uma das maiores causas de suadegradação. Os loteamentos clandestinos,não sendo atendidos pela infraestruturabásica de saneamento, despejam seu esgo-

to nos mananciais. Além disso, os recursoshídricos estão sendo comprometidos pelodesequilíbrio ambiental resultante dodesmatamento e do uso indevido do solo.

O crescimento populacional em área demananciais gera impermeabilização do solo,remoção florestal e aumento de lançamentodireto de lixo e esgoto em cursos d’água.

Eram previsíveis os conflitos entre go-vernos em função da relação entre necessi-dades de consumo e disponibilidade de re-cursos hídricos. O futuro chegou. Hoje, osconceitos de utilização da água têm aspec-tos econômicos, sociais e ambientais quenão podem ser resolvidos unicamente portécnicos das ciências exatas. Profissionaisdas ciências humanas precisam participarda busca por soluções nessas negociaçõesentre poder público e sociedade. Assim,engenheiros, geólogos, agrônomos, tecnó-logos e economistas precisam interagir emsinergia com sociólogos, cientistas sociaise comunicadores, em equipes multidisci-plinares. Essas equipes deverão ir a campopara atuar juntamente com os usuários daságuas nas comunidades urbanas e rurais,com as indústrias, agricultores e ambi-entalistas, a fim de se estabelecer soluçõesconsensuais para os conflitos na utilizaçãodos recursos hídricos.

Importante destacar, porém, que osagentes mais importantes nesse processode preservação e conservação são os mo-radores. É preciso que adotemos nossasnascentes e rios. Água doce é um recursofinito e vulnerável, essencial para conser-vação da vida, manutenção do desenvol-vimento e do meio ambiente. Esses são osgrandes desafios que o estado de São Pau-lo e o Brasil têm que enfrentar.

É preciso que adotemos nossas nascentes e rios. Água doce é um recurso finito e vulnerável, essencialpara conservação da vida, manutenção do desenvolvimento e do meio ambiente.

Em defesa de nossos mananciais

É inquestionável o papel da IgrejaCatólica na vida das cidades brasileiras,pois ela sempre ocupou um bem dimen-sionado espaço na sociedade. Sua im-portância histórica fez-se presente nãoapenas no processo de evangelização,mas participando do cotidiano das co-munidades. Suas lideranças religiosas àfrente dessa respeitada instituição, alémdas orientações espirituais, acolhia, ou-via, dirimia dúvidas e estimulava a parti-cipação fraterna da comunidade. Até re-centemente era assim que se vivia nasparóquias.

Com o fenômeno da globalização eas mudanças da sociedade, esta tornou-se marcadamente voltada para o indivi-dualismo e o subjetivismo, o que con-tagiou a vida cristã. Muitos abandona-ram seus vínculos comunitários eeclesiais. Recentemente, a Igreja Cató-lica, muito sabiamente propôs a reno-vação das paróquias do Brasil. É ne-cessário que mudanças ocorram noexercício do catolicismo, no perfil de umdos pilares mais sólidos da religião –as paróquias, as quais devem rever suamaneira de atuar. Devem voltar a ser,como no passado, lugar de acolhida,orientação e ajuda espiritual. Para mui-tos, no entanto, são vistas apenas comoprestadoras de serviços religiosos ouum lugar para cumprir preceitos.

No último dia nove de maio, termi-nou em Aparecida, SP, mais uma reu-nião da CNBB (Conferência Nacionaldos Bispos do Brasil), em que o temaprincipal foi, justamente, a paróquia,dada sua importância para a Igreja. Fi-cou constatado que as paróquias pre-cisam passar por transformações e serreinventadas. É preciso renová-las tor-nando-as mais próximas das pessoas,confirmando o recorrente pedido dopapa Francisco para que os padres es-tejam junto ao povo, a serviço das suascomunidades. Este foi o tema centralda Assembléia, da qual participaramcerca de quatrocentos bispos.

Tem-se, nos últimos tempos, discu-tido a ação missionária da Igreja, apon-tando ações que ajudarão as paróqui-as a se tornar comunidade de comuni-dades e a implantar um projeto deevangelização permanente.

Há muitas críticas às paróquias. AIgreja, no entanto, não as abandonou, econtinua vendo nessa forma de origemda vida cristã e da missão eclesial umaescolha válida. Elas precisam, é certo,de ajustes e melhorias. É isso que aCNBB está buscando.

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Página 2 Piquete, maio de 2014

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204

Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues Ramos

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETA

Fundado em fevereiro / 1997

Fotos Arquivo Pró-MemóriaImagem - Memória

Instituição religiosa de grande presen-ça social, política e cultural no Brasil, a Igre-ja Católica sempre se fez presente no pro-cesso de colonização do país, lançando pro-fundas raízes na sociedade. A exemplo doque ocorreu na origem da grande maioriadas cidades brasileiras, foi de fundamentalimportância para o crescimento e desenvol-vimento de Piquete, servindo de estímulopara os pioneiros que se fixaram nestas ter-ras.

Não foram poucas as agruras e dificulda-des das primeiras famílias que se fixaram emterras piquetenses. A natureza hostil dessessertões pôs à prova a coragem e abnegaçãodesses pioneiros, que, domando a terra, fin-caram raízes no sopé da Serra da Mantiqueira.

A instalação de um posto aduaneiro pelogoverno português para fiscalizar a entradae a saída de produtos na capitania das Mi-nas Gerais, em 1764, levou à construção deranchos e pousos tropeiros. A fixação dosprimeiros moradores às margens do cami-nho que se dirigia para Minas levou à cons-trução das primeiras casas, ao plantio deroças e à negociação do excedente da pro-dução para viajantes, que se tornavam cadavez mais numerosos, no final do século 18.

Adentrando cada vez mais o sertão, no-vos moradores, derrubando a floresta, er-gueram fazendas e, a partir das primeirasdécadas dos oitocentos, passaram a plan-tar café. Essa cultura, à medida que se ex-pandia, necessitava, cada vez mais, de mãode obra. O lucro certo e rápido atraiu novasfamílias. O acúmulo de riquezas e oadensamento populacional deram origem, demaneira espontânea, ao bairro do Piquete.

Era forte a presença da fé católica emtodos os segmentos sociais. Os moradoresdiscutiam a necessidade de um local para aprática dessa religião. Isso os levou a sereunirem e apresentarem uma petição, repre-sentada por Joaquim Vieira, cafeicultor noItabaquara, ao bispo diocesano de São Pau-lo pedindo autorização para a construçãode uma capela sob invocação de São Miguel.Atendido esse pedido, os moradores deraminício ao trabalho. Graças ao café e ao trân-sito cada vez maior pela estrada de Minas, obairro crescia a olhos vistos, de maneira queseus moradores passaram a reivindicarmelhorias junto aos governos. Assim, con-sultando os anais da Assembleia Legislativada Província e o Arquivo Público de SãoPaulo, encontramos representantes políti-cos trabalhando para a criação de uma bar-reira no bairro do Piquete, além de escola,cemitério, cadeia e diversos ofícios cobran-do melhorias para a estrada de Minas, quecortava o bairro. À medida que os morado-res se politizavam, a capela de São Miguelpassou a ser o centro irradiador das aspira-ções da população e marco relevante noprocesso de desenvolvimento do povoado.Conforme ia sendo edificada, impunha-secomo prédio mais importante e imponentedo lugarejo. Tornou-se o espaço referencialque, com as casas construídas em sua pro-ximidade, se estabeleceu como norteadorada urbanização do povoado. A partir da Ca-pela, delineou-se o traçado das primeirasruas e praças, constituindo-se o templo comoeixo simbólico do bairro.

O aglomerado urbano surgido esponta-neamente ao longo do tempo foi galgando

diferentes estágios hierárquicos. Esse pro-cesso se deu norteado pela Igreja – umaconcentração inicial de moradores passoua contar com uma capela, elevada, em 1875,à condição de Freguesia. Essa capela pas-sou a ser visitada esporadicamente por umpadre. Em 1888, criou-se a Paróquia de SãoMiguel do Piquete. Seus fregueses traba-lharam e conquistaram a autonomia munici-pal em 1891. A capela tornou-se, então,Matriz.

Plantada no alto de uma colina, a antigamatriz de São Miguel é guardiã de memóriase assistiu a todos os momentos históricosde Piquete. Ao fazermos um simples exercí-cio de observação do retrato urbano da ci-dade, é possível, por meio dele, questionara forma, a organização e as manifestaçõesde poder: próximo à Matriz estavam o cemi-tério, o Paço Municipal e Câmara, a cadeia,a escola e a barreira – tudo isso represen-tantes da memória e expressão cultural dePiquete.

A Igreja Católica e a origem de Piquete

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O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Página 3Piquete, maio de 2014

Zé Augusto Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Eu e a Copa 2014

Antes de tudo, que fique claro: fui econtinuo sendo a favor da realização daCopa do Mundo de Futebol no Brasil.

Posicionei-me a favor neste informativoquando da definição do Brasil como sededa Copa deste ano, há cerca de sete anos.Acreditava que um evento como essepoderia ser muito bom para a imagem denosso país. Acreditava, também, que olegado de uma Copa do Mundo poderiaser muito bom para os brasileiros. Estavacerto de que os amantes do futebol – quesão dezenas de milhões neste país –mereceriam o prazer de assistir à “seleçãocanarinho” jogar em solo nacional. Bem...A Copa está aí. Em menos de um mês, oBrasil entrará em campo para iniciar abatalha pelo seu hexacampeonato. Eu voutorcer por vitórias do Brasil, como venhofazendo nas últimas edições destecampeonato mundial. Apesar de nãoentender de futebol, a cada quatro anosdeixo a emoção tomar conta de mimdurante a torcida pelo time brasileiro.

Vejam que usei o verbo no “futuro dopretérito” para citar o que acreditava queos brasileiros poderíamos receber juntocom a Copa... Em meu artigo sobre aeleição do Brasil para sede da Copa, citei,também, os riscos que corríamos pelohistórico de malfeitos e corrupção denosso país. Infelizmente, foi o que seconcretizou: o projeto megalômano, a serbancado em grande parte pela iniciativaprivada, que transformaria o país,praticamente não saiu do papel – e o quesaiu foi à custa de corrupção e bilhõespatrocinados pelo poder público. O paísperdeu a chance de mostrar-se eficiente,organizado e honesto e deu uma goleadade incompetência administrativa. Mos-trou, uma vez mais, que os que nosgovernam não estão nem aí com a po-pulação; pensam apenas em interessespróprios e escusos. Como resultado, ofracasso na efetivação do projeto da Copasomado às reivindicações populares só fezaumentar o sentimento de insatisfação quevem tomando as ruas do país. Manifes-tações várias vêm surgindo e, parece, vãose intensificar no período da Copa. Mas aCopa vai acontecer, queiram ou não. Nãofoi a FIFA que nos pediu para sediar esteevento mundial. Também não foram osturistas. Portanto, penso que, como pregao ditado, devemos “lavar a roupa suja emcasa”. Façamos o papel de cidadãodescontente boicotando jogos e todos osprodutos relacionados à Copa, mas deixe-mos os que estão dispostos a participardela exercer seus direitos. O respeito é abase de qualquer democracia.

Infelizmente, perdemos mais do queganhamos com esta Copa... Perdemos comevidências de que a corrupção grassa emnosso país e com a intolerância tomandoconta das ruas. Que esta derrota nosdesperte... Que não seja um campeonato amais de futebol a nos fazer esquecer asmazelas deste que já foi chamado o paísdas chuteiras.

A Copa do Mundo da FIFA 2014 podeaté garantir o hexacampeonato ao Brasil,mas os principais perdedores fomos,infelizmente, os brasileiros.

Não há como se falar no comércio dePiquete sem que seja lembrado o Bazar TendTudo. A loja já é referência na cidade pelavariedade dos produtos e pelo carinho eatenção dispensados pelos donos, o casalJosé Augusto e Dadinha.

José Augusto Costa é neto de Zé Costae Antonieta Marcondes Costa, uns dos pri-meiros moradores da Rua do Piquete. Nas-ceu em 22 de dezembro de 1960, filho deBenedicto Marcondes Costa e IzaydeAugusto Costa. “Tive uma infância comum...Brincava e jogava futebol com os amigos,como todas as crianças”, diz ele. Citou asquadrilhas do mês junino no Monte Casteloe na Vila Célia, onde morou – “Eram muitoanimadas!”. Cursou o Jardim da Infância e oprimário na Escola de 1º e 2º graus da FPV,sob a direção do professor LeopoldoMarcondes de Moura Netto. “Lembro-mebem da época, mas especialmente da pro-fessora Jandira, do terceiro ano – eu faziaaulas particulares com ela pela manhã. Per-cebo hoje que recebia atenção especialdela...”. Desde adolescente gostou de es-portes, especialmente o futebol. “Tínhamos,eu e os amigos, o ‘Penharol Futebol Clu-be’”. Ficavam sob sua responsabilidade ri-fas e o recolhimento de dinheiro do time,evidenciando sua veia administrativa.

Zé Augusto, como é mais conhecido,cursou Eletricidade no Ginásio Industrial daFPV e Patologia Clínica no Leonor Guima-rães. Em 1979, ingressou na Aeronáutica.“Fiz vários cursos, porém não segui carrei-ra. Eles me deram, no entanto, embasamentopara outras atividades...”, afirma.

Quando entrou para a SERASA, iniciouCiências Contábeis, vislumbrando seu cres-cimento profissional. Nessa empresa veiopara Lorena, em seguida São Paulo e, final-mente, foi transferido para Salvador, já comogerente. “Era uma grande oportunidade e oreconhecimento de meu trabalho...”. As di-ficuldades de adaptação, porém, fizeram comque solicitasse o desligamento, após trêsanos e meio na capital baiana. “À época,todos me questionaram, afirmando que euera louco por deixar um bom emprego paravoltar para Piquete”, afirma. Foi quandoabriu o Bazar Tend Tudo – “Graças a Deus eao nosso trabalho, estamos bem e comple-tando vinte anos de comércio e sucesso”.

Sempre animado, Zé Augusto passou acoordenar diversas atividades nos espor-tes. Em 1999 criou o Torneio Integração, quecomeçou com o futebol e, nos anos seguin-tes, encampou judô, futsal e corrida. Com oaumento das equipes, criou o Torneio de

Futebol Dente de Leite, sob o lema “Lápisna mão e bola no chão”. Os campeões doDente de Leite se classificavam para oIntegração. Alguns obstáculos fizeram comque a última edição fosse a de 2003. Nesteano, tendo trazido o campeão olímpico dejudô Aurélio Miguel, conseguiu a doaçãode um terreno para a construção de umanova sede para a Associação de Judô dePiquete. “Foi uma conquista para o Judô,esporte que sempre trouxe significativosresultados para Piquete”.

Zé Augusto organizou, ainda, diversoschás beneficentes, como para a Liga Femi-nina de Combate ao Câncer e a Pastoral daCriança. Há poucos anos, observando opotencial da região e a ausência de peregri-nações, vislumbrou um circuito turístico re-ligioso. Surgia, assim, o “Caminho Jornadada Esperança”, que relacionava o turismoreligioso à Estrada Real e ao CircuitoMantiqueira, atrativos para turistas. Em ju-nho de 2014, o segundo grupo percorreráde bicicleta cerca de 83km. Também já é tra-dicional na cidade a caminhada ao Pico dosMarins, que surgiu para levar parentes eamigos e está tomando grandes proporções.“Não podemos nem mais divulgar, pois onúmero de pessoas está crescendo muito enão há como coordenar tantas pessoas”.

Zé Augusto casou-se em 20 de janeirode 1989 com Piedade Guimarães Costa, a ani-mada Dadinha, que define como “Um acha-

do especial, uma companheiraperfeita. Eu e ela nos completa-mos e somos muito felizes”. Comela teve um casal de filhos, LuizAugusto e Fernanda, orgulhodos pais.

Quando Zé Augusto voltoupara Piquete, vindo de Salva-dor, quem ganhou foi nossa ci-dade, que pôde contar, assim,com o trabalho de um cidadãosério, que busca constante-mente seu progresso. Obstina-do, Zé Augusto não deixa depensar no bem-estar da comu-nidade, trabalhando – e muito– para isso. Salve os empre-endedores!

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O ESTAFETA Piquete, maio de 2014Página 4

Observar a natureza nos torna consci-entes. A vida animal tem lições extraordiná-rias relativas ao equilíbrio com o meio ambi-ente. Os animais, parece, melhor do que oshumanos, sabem tirar proveito do meio emque vivem sem esgotá-lo em suas possibili-dades.

Admirável como as garças, seletivas ounão, sabem escolher o que as favorece nosresíduos encontrados a céu aberto. Os bi-cos alongados são usados como seletoresorgânicos, numa varredura nos baixios dasbeiradas das águas dos rios e riachos.

Voando alto, têm a visão vertical e oblí-qua para indicar a fonte de pesquisa e comoflechas mergulham sabiamente para tirar pro-veito. Assim levam os dias e procuram, in-cansáveis, mas aparentando tranquilidade,para descansar apoiadas numa só perna –elas que são pernaltas –, elegantemente. Nofim da tarde, organizam-se na volta aosninhais abrigados nas árvores altas. Voamem formação de esquadrilha – belo voo co-mandado pela ave de frente no ápice doângulo de um V. Consta ter a liderança subs-tituída por outra ave, que sai de um dos la-dos do final da abertura, como os corredo-res que se alternam no porte de bastões.Símbolos disciplinares a construir narrati-vas de roteiros de instrução.

Observei que em Piquete o número degarças aumentou bastante. A revoada do fimda tarde organiza-se em bandos, alguns maisalinhados do que outros.

O céu fica coalhado. Voam na mesma di-reção.

Pergunto-me como as aves se associamaos bandos, como escolhem o agrupamen-to, como decidem sobre a liderança no des-locamento? Como se organizam nos ninhais?

Com nossas teorizações não sabemos oque sabem os animais. A menos que noscoloquemos como observadores atentospara registrar comportamentos.

Mudemos o foco. Intrigam-me as bor-boletas. Uma lagarta na folha da amoreira.Dia seguinte, uma linda borboleta, cujasasas de intrincada forma linear de curvasconcêntricas repete o desenho em ambasas asas, em ambivalência.

Mas, essas belas formas e cores não serepetem em outra borboleta. Cada ser é úni-co. Vi outro dia uma de cor marromaveludada, em tons contrastantes – um pri-mor da natureza. Descansava as asas bemabertas no chão. Parecia morta, mas voouquando tocada em sua extrema sensibilida-de. Adejou e pousou num galho trêmulo daplanta florida da cerca viva. Deixei-a em paz.Onde dormem as borboletas? Uma pergun-ta intrigante de espíritos sagazes. Não co-nheço bem as borboletas para emitir opi-nião. Pretendo estudá-las. As azuis, que se-gundo li são machos, são atrativos de caça-dores que as aprisionam em objetos artísti-cos, apreciados por japoneses, por exem-plo.

As espécies de borboleta são várias,

cada uma com sua especificidade de cor, de-senho nas asas, beleza.

Outro aspecto interessante é o capítulodos predadores. Cada espécie de animais,seja de que natureza for, possui um preda-dor para si, enquanto também é predadorade outra. O equilíbrio é mantido nessas rela-ções e com o meio natural. Se provocarmoso desequilíbrio, desorganiza-se o arranjo eo prejuízo é para todos.

Alterações têm ocorrido afetando o cli-ma, e, por decorrência, os solos, a vegeta-ção e o escoamento das águas de superfícieou de profundidade. Se somarmos todosesses itens e verificarmos suas ocorrênciaspela conjugação de dados registrados, po-deremos concluir sobre as alterações, inter-venções e os modos de controlarmos essasmanifestações. É trabalhoso, e vários fato-res intervêm, sejam eles de natureza econô-mica ou política. O respeito às fronteiras dasespécies em sua adaptação e luta pela so-brevivência torna-se cada vez mais dramáti-co pelo grau de intervenção no meio físicoprovocada pelo progresso material huma-no. Não menos importantes que as frontei-ras geopolíticas das guerras derivadas doembate entre os interesses comerciais e cul-turais.

Mas, no fundo das questões é o ser hu-mano o provocador e o que acaba vitimizado.Como estabelecer normas globais e fazê-lasoperantes?

Dóli de Castro Ferreira

No meu campo de observaçãoA esquadrilha das garças

Discute-se muito hoje a necessidade depreservação do Patrimônio Cultural, valori-zação do passado e memória coletiva dascidades, isso não só na arquitetura, mas emdiversas áreas do conhecimento humano.

O Patrimônio Arquitetônico representauma produção simbólica e material carrega-da de diferentes valores e capaz de expres-sar as experiências sociais de uma comuni-dade.

O rápido e desordenado crescimento dascidades brasileiras, com uma progressivaperda e descaracterização do PatrimônioHistórico, nos faz refletir acerca da cons-tante necessidade de transformação dos es-paços urbanos, paralelamente às implica-ções referentes à qualidade ambiental e àpreservação do patrimônio construído.

Nossas cidades não são locais ondeapenas se ganha dinheiro, não se resumem

Porque Preservar o Patrimônio Histórico e Culturalem ser apenas dormitório para seus habi-tantes. Nela vivem seres humanos que têmmemória própria e são parte integrante danossa história. Por esse motivo, não passadesapercebida pelos habitantes das cida-des a destruição da casa de seus antepas-sados, de antigos cinemas, praças, bares,coretos e outros prédios públicos. Todaessa “destruição do patrimônio” para darlugar ao automóvel ou aos edifícios moder-nos e de concreto deixa nossas cidadespoluídas, sem emoção. Com isso, seus ha-bitantes perdem um pouco da identidade eda identificação com o local onde vivem.Passada a euforia do modernismo, o homemse volta para a busca de seu passado, desuas memórias. Essa busca vem do anseiode uma civilização dominada pela técnica,que deseja voltar seus olhos para o passa-do. Uma espécie de saudade da época em

que nossas cidades eram mais humanas, emque o homem tinha mais tempo para refletirsobre seu destino.

Assim, a memória coletiva das cidadesestá em seus velhos edifícios. Eles são otestemunho mudo, porém valioso de um pas-sado distante. Servem para transmitir às ge-rações posteriores os episódios históricosque nele tiveram lugar e também como refe-rência urbana e arquitetônica para o nossomomento atual. Preservá-los não só para osturistas tirarem fotos ou para mostrar aosnossos filhos e netos, mas para que as ge-rações futuras possam sentir “in loco” a vi-são de uma cidade humana e como se vivenela.

Parafraseando o importante historiador,“Uma cidade sem seus velhos edifícios écomo um homem sem memória”.

Vamos preservar nossa memória!

Fotos Arquivo Pró-Memória

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O ESTAFETA Página 5Piquete, maio de 2014

Temos em nossas mães emblemáticasrepresentações a marcar nossas vidas comoferro em brasa, isto é, para sempre. É delasque recebemos as primeiras impressões. Ossentimentos, as emoções, o carinho e ocompartilhamento de tudo o que é humano.

Simbolicamente, a mulher em Eva, quetambém foi mãe, é dada como a que levouAdão à traição e à perda do Eden paradi-síaco. Outra mulher, Maria, invocada napureza em nome de Deus para gestar o Filhod’Ele, posto no mundo como humano, alémde divino, é dada como corredentora pararedimir os males advindos do pecado e daculpa. Para, através da violência, fazer tra-mitar o sagrado e alcançar o perdão. Violên-cia que a Mãe sofre vendo o Filho nas mãosdos algozes, para cumprir, com a crucifica-ção, o desígnio. E o Filho, sofrendo, com acomplacência divina no limite do humano, apedir que o cálice da amargura fosse afasta-do. Entretanto, submisso à vontade do Pai,o sorve até a última gota. Pois sua missãoera essa. E, assim, redimir os irmãos em car-ne e sangue.

E ainda, entre pares – os apóstolos – tê-los no cenáculo na glória da Ressurreição,

para dirimir o ceticismo de Tomé, convida-do a tocar as chagas ainda vivas no corposofrido. Atravessada a morte, seus rituais, apedra tumular e a compaixão da Mãe e dosamigos.

As mães detêm suas missões e tornam-se paradigmáticas como Eva, renovada emMaria para superar a culpa, atravessar so-frimentos e simbolizar momentos supremosno drama humano.

À mulher, atribuídas essas relevâncias,cabe cumprir, cada uma, o seu destino, ou ocaminho que traçam por escolhas, pressões,pressupostos e costumes da ordem social.E então são classificadas pelo modelo vi-gente. A de ontem, fragilizada na ordem fa-miliar, no casamento e na própria maternida-de. Ou seja, recebendo a culpa quando nãosatisfeito o esperado.

As antigas “rainhas do lar” nasciam para,após o crescimento e a moldagem do mode-lo doméstico, ser mães – cuidarem da casa,da família, tendo a seu encargo o labor diá-rio do fogão, do tanque, da higiene da casae da obediência ao marido.

Hoje, elas saíram da rede de proteção dolar para a luta pela vida. Para repartir com o

Mãescompanheiro a manutenção da casa e dafamília. Processos mecanizados as liberampara disputar o mercado de trabalho, os es-tudos, a preparação de mão de obra. Desen-volvem pensamento crítico. Tornam-se atu-antes em todos os campos.

Monteiro Lobato, já no início do séculopassado, antecipava essa mulher na Emília,a boneca de pano que falava e tinha pensa-mento próprio. Outras referências literáriaspodem ser dadas, como em Guimarães Rosa,a mãe que, ameaçada do abandono com osfilhos pelo pai, que sairia numa canoa resis-tente rios afora, lhe dizia, – ao lado do rioque de tão fundo e largo, não permitia “vera forma da outra beira” – “Cê vai, ocê fique,você nunca volte”. No depoimento do fi-lho, a mãe, impositiva, “jurou muito contra aideia”. Mas manteve-se firme, persistiu. Asmães são fortes. São compassivas. Dão opeito para o sustento, como as pelicanasarrancam a carne do peito para alimentar osfilhotes na falta de qualquer outro tipo desobrevivência. Sabem perdoar.

Dóli de Castro Ferreira

A polêmica criada pela proposta de Es-tudos de Tombamento da Serra da Manti-queira feita ao Condephaat, órgão da Se-cretaria da cultura do Estado de São Paulo,está longe de terminar. A proposta continuarepercutindo negativamente entre os mo-radores dos municípios atingidos por essainiciativa.

Moradores e produtores rurais, proprie-tários e ambientalistas se manifestaram con-tra essa iniciativa por meio de um abaixoassinado dirigido ao governador do estadode São Paulo, Geraldo Alckmin Filho.

Entre as considerações apresentadas,apontam que a área proposta para o tomba-mento já é uma APA, ou seja, uma unidadede conservação de uso sustentável criadapelo governo federal em 1985. Desde então,deveriam ter sido feitos estudos para umPlano de Manejo. No entanto, isso não ocor-reu. Só recentemente, após 25 anos da cria-ção da APA da Mantiqueira, após ajuiza-mento de uma Ação Civil Pública pelo Mi-nistério Público de Guaratinguetá contrao ICMBio, entidade responsável pela APA,é que se deu inicio aos trabalhos de estu-

dos para a elaboração do Plano de Manejodessa unidade. Ressalte-se que, de acordocom a lei do Sistema Nacional de Unidadesde Conservação, o prazo para o término dotrabalho é de cinco anos.

Consideram, também, que a APA da Ser-ra da Mantiqueira foi criada para “garantir aconservação do conjunto paisagístico e acultura regional, parte de uma das maiorescadeias montanhosas do sudeste brasilei-ro, bem como os remanescentes florestaisda região, a continuidade da cobertura ve-getal do espigão central, a flora endêmica, avida selvagem, principalmente as espéciesameaçadas de extinção, e proteger os ma-nanciais e as nascentes de cursos d´águaexistentes na região”.

Devido à Ação Civil Pública e em razãodo processo judicial foi dado início à fasede estudos para elaboração do plano demanejo da APA da Mantiqueira. Em 2011foram realizados estudos secundários quederam inicio à elaboração desse plano, sen-do que em 2013 foi realizado um diagnósti-co socioeconômico, histórico  cultural des-sa unidade de conservação. Foram realiza-

das 50 reuniões junto às comunidades ru-rais abrigadas pela APA e também 8 ofici-nas, estreitando a relação entre as comuni-dades. Esse trabalho resultou em umsubstancioso relatório da área. Atualmentebusca-se captar recursos para a conclusãodo Plano de Manejo, a fim de se estabelecero zoneamento e as normas que devem pre-sidir o uso da área e o manejo dos recursosnaturais.

Os signatários do abaixo assinado con-cluem expondo que milhares de cidadãostrabalham, produzem bens e serviços naMantiqueira, gerando empregos, riquezas e impostos, sem que tais atividades impli-quem em degradação do meio ambiente.Destacam, ainda, que o mecanismo de res-trição do uso e ocupação do solo atravésdo tombamento não se justifica uma vez queexistem na legislação ambiental brasileiramecanismos legais suficientes que servemcomo instrumentos de gestão para garantiro manejo sustentável da APA de Serra deMantiqueira através de um sistema de mo-saicos.

Moradores contra o tombamento da Mantiqueira

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Page 6: MAIO 2014

O ESTAFETA

Edival da Silva Castro

Página 6 Piquete, maio de 2014

Crônicas Pitorescas

Palmyro Masiero

Insondáveis cuidados

Sonho genial

Acesse na internet, leia edivulgue o informativo

“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”

www.issuu.com/oestafeta

Mãe é realmente um caso muito sério.Seu desvelo para com os filhos vai além daimaginação, além do inatingível. Já passouo dia que o comércio consagrou como for-ma de homenageá-la – como se todos osinstantes de todos os dias não fossem mo-mentos para isso. Mas, sob outro prisma,ele, o comércio, nos força a pôr em prática oque pensamos e protelamos e nos obriga auma ação direta, embora o caráter dele sejade lucros e o nosso uma espécie de remis-são dos outros dias procrastinados. Consi-derações tardias, pois há muito não tenho aminha a meu lado...

Iniciei, porém, dizendo ser a rainha dolar um caso sério e desviei-me do assunto.Entendam e definam por si próprios tal pro-cedimento...

Um subgerente de um determinado ban-co havia tempos esperava sua promoção.Seu sonho: ser gerente de “seu” própriobanco. Os meses correndo, ele trabalhandoduro, com esmero e afinco, e a promoçãonão pintava. Nada reclamava, nada sugeriaà agência ou à matriz, esperando paciente-mente que a coisa um dia chegasse natural-mente, em reconhecimento aos seus própri-os méritos.

Duas vezes por mês ia a São Paulo, deonde fora transferido havia três anos, visi-tar sua mãe, que estava beirando os oitenta.Durante uma dessas visitas, tocou no as-sunto da promoção. Barbaridade! A velhotaficou uma fera e mandou palavrão em cimadaqueles incompetentes da agência matrizque não reconheciam o valor do filho. Nin-guém o suplantava à frente de um banco.Resolveu que iria dizer certas verdades àque-les cegos lá no escritório dos chefões. Ofilho, conhecendo-a, quase teve um enfarto.Tinha que brecar a macróbia, pois ela eramulher para isso.

Custou dissuadi-la da intentona. Expli-

cou a ela as causas da demora, que promo-ção não acontecia assim sem mais nem me-nos; teria que haver vaga disponível, aindaa probabilidade de existirem outros aguar-dando essa vaga e possíveis melhores can-didatos do que ele. Amontoava motivos paraimpedir a mãe de ir lá brigar com a diretoriado banco. A velhinha discutiu, chiou muito,mas terminou por acatar o pedido do filho,embora inteiramente inconformada.

– Rezar eu posso? – perguntou ao filho,que, logicamente, concordou – Todos osdias rezarei um terço pra São Judas Tadeu etenho certeza de que logo você será promo-vido.

Essas cenas tornaram-se comuns a cadanova visita do subgerente à progenitora.Meses desfilando pelo calendário, o viceainda vice mesmo e as contas do rosário daquase octogenária estavam gastas de tantoserem desfiadas em seus dedos.

Vamos fazer uma observação: um ano temtrezentos e sessenta e cinco dias e cada ter-ço tem cinquenta Ave-marias a serem reza-das. Um ano e quatro meses depois de elater iniciado suas orações a São Judas, te-mos cerca de vinte e quatro mil, duzentos ecinquenta Ave-marias oradas... Por menosmerecimento que o cara tivesse, não have-ria santo que permanecesse mouco por tan-to tempo e pedido, certo?

Assim, certa tarde, o telefone da velhi-nha tocou. Era o filho, ex-vice, que, eufóri-co, comunicava-lhe sua promoção e que suanova agência seria num dos bairros da capi-tal.

– Eu sabia! Eu sabia! São Judas nuncame falhou!

Ficou silenciosa por uns momentos com ofone ao ouvido e, por fim, com a voz carregadade preocupação, angustiada, perguntou:

– Mas, filhinho, você tem certeza de quenão era feliz como subgerente?

A noite passada sonhei que caminhavapela orla de uma praia quando me depareicom uma garrafa de champanhe jogada naareia. Peguei-a para colocá-la numa lixeiraqualquer e algo estranho dentro da mesmame chamou a atenção.

Ao desarrolhá-la, fui surpreendido poruma fumaça densa e esbranquiçada saindode seu interior, que logo se transformou numgênio. O mesmo, grandalhão e de braçoscruzados, postou-se à minha frente e faloucom voz fanhosa:

– Amo, seu desejo será uma ordem.Na fração de segundo antes da respos-

ta, fiz verdadeira viagem ao passado... Lem-brei-me de momentos de alegria, quandomeninote, junto de meus familiares. Fiz, en-tão, o pedido:

– Gênio, quero voltar ao século passa-do. Mais precisamente ao início da décadade 1950 e morar numa casa grande rodeadapor um varandão com cadeiras de balanço eredes, de onde poderei acompanhar, quan-do quiser, o nascer do sol. Na entrada prin-cipal um imenso jardim colorido para atrairbeija-flores e borboletas. Quero, também,uma sala de jantar grande com mesa condi-zente com o tamanho da mesma para reuniros familiares durante as refeições e poder,assim, ouvir causos e histórias dos meuspais e avós, sendo que, alguns ficaraminacabados.

E continuei:– Gênio, na parte posterior da casa de-

verá haver um grande pomar, onde as avesfrutíferas frequentarão com gulodice as di-versas fruteiras existentes. Quando chegara época do acasalamento, poderei acompa-nhar, ao pôr do sol, o canto flauteado dossabiás.

O último pedido é muito simples: queroque você, gênio, conserve em cada um dosmeus ancestrais a mesma alegria e sorrisodaqueles encontros inesquecíveis.

Acordei...

Convite

A Fundação Christiano Rosa convida para

o lançamento do livro

“A Casa Encantada”

da piquetense Valéria Rodrigues Alves

(antiga Capela do Hospital)

Espaço Cultural “Célia Ap. Rosa”

Dia 07/06/2014, a partir das 20h

Page 7: MAIO 2014

O ESTAFETAPiquete, maio de 2014 Página 7

Atribuir aos céus a escassez de água noSudeste brasileiro e responsabilizar SãoPedro por fenômenos climáticos extremos éfalta de bom-senso. Mostra a irresponsa-bilidade de nossas autoridades. O dramaprovocado pela estiagem histórica no esta-do de São Paulo aponta para erros de plane-jamento que concorreram para o agravamen-to da situação. É crônica a falta de planeja-mento no país: administra-se de formaamadora, sem visão de futuro, agindo sem-pre depois de imprevistos ou estragos. Issolevou a maior cidade brasileira a sofrer comuma das maiores estiagens de sua história,tendo seu abastecimento de água compro-metido.

Há exemplos na história mundial de civi-lizações que feneceram pela falta d’água.Várias guerras foram ocasionadas por essemotivo e, atualmente, no Oriente Médio,Ásia e África, conflitos são travadas devi-do à falta d´água. Agora essa situação che-gou ao Brasil. As duas maiores cidades bra-sileiras, São Paulo e Rio de Janeiro, vêm,

nos últimos meses se atritando em funçãodesse precioso líquido. O motivo é que gran-de parte da água consumida pelos cariocasé proveniente do Rio Paraíba do Sul. Com aestiagem deste ano e o desabastecimentode São Paulo, o governo paulista estudadesviar parte das águas do Paraíba do Sulpara o sistema Cantareira que abastece acapital. As cidades valeparaibanas seposicionaram contra. O governo do Rio deJaneiro também. É certo que a natureza temsido cruel castigando a região com a maiorestiagem dos últimos oitenta anos. No ve-rão passado, foram registrados os piores ín-dices pluviométricos no Sudeste e, para pi-orar, o calor também ficou acima do espera-do, o que aumentou a evaporação da águanos reservatórios.

Há muito os cientistas vêm apontandopara as mudanças climáticas e o aquecimen-to global com suas graves repercussões.Pensava-se, contudo, que esses agravosaconteceriam num futuro distante. Maiscedo do que o esperado, o futuro chegou e

os problemas estão aí para ser equa-cionados. O governo paulista, de calçascurtas, quer usar parte das águas do Paraíbapara socorrer São Paulo. A resistência é gran-de. Como há sério risco de racionamento,mesmo que volte a chover o problema nãoserá solucionado de imediato. De qualquermaneira, não se pode ficar à mercê dos ca-prichos da natureza.

Notícias recentes apontam que em 2015o Vale do Paraíba também poderá sofrer coma falta d’água. Piquete não precisa das águasdo Paraíba do Sul. Os olhos da população,no entanto, devem se voltar com atençãoredobrada para suas nascentes; preservá-las é mais do que necessário. Recuperarnossas encostas, matas ciliares e nascen-tes é ação urgente e prioritária, que requer oapoio de toda a sociedade, para que o dra-ma provocado pela estiagem e os erros deplanejamento da capital da paulista não ve-nha a acontecer conosco.

Após dez dias reunidos em Aparecida,os bispos do Brasil encerraram no dia 9 demaio a 52ª Assembleia Geral da CNBB. Fo-ram aprovados e se tornaram documentosoficiais dois textos – um sobre a renova-ção das paróquias e outro sobre a questãofundiária e a reforma agrária no Brasil. Foiaprovado também um estudo sobre os cris-tãos e as cristãs leigos.

O documento que se refere à renova-ção das paróquias foi intitulado “Comuni-dade de Comunidades: Uma Nova Paró-quia”. Ainda não tive oportunidade de lê-lo, mas, provavelmente, tenha sido manti-do o texto que conhecemos, que até entãoera um estudo. O desejo de nossos bisposé que nossas paróquias passem por umprocesso de conversão pastoral que en-volva a todos. Não podemos manter estru-turas caducas que não ajudam o mundo aconhecer o Evangelho. As paróquias pre-cisam se tornar experiências de comunhãoefetiva. Isso significa que as pessoas de-vem, à luz do Evangelho, se preocupar umascom as outras, se socorrer nas dificulda-des, se alegrar juntas, celebrar a vida, cres-cer em bem-querer, formar comunidades defato. A paróquia deve ser descentralizada,possuir diversos núcleos comunitários,todos eles convivendo e formando umgrande organismo, uma comunidade de

comunidades. Essas comunidades precisamser menos clericais e dar maior liberdade deação aos leigos e leigas. O importante e pou-co aplicado decreto do Vaticano II“Apostolicam Actuositatem” afirma que aIgreja é incapaz de cumprir sua missão deiluminar o mundo com o Evangelho de Cris-to sem uma decidida ação dos leigos. Nos-sas paróquias ainda são entendidas comopropriedade dos párocos e o leigos se en-xergam como súditos. Ainda não consegui-mos superar as relações de vassalagem en-tre clero e leigos na maioria de nossas paró-quias. Isso suprime a ação e a iniciativa dosleigos, que passam a ser apenas cumpridoresdas ordens dos padres e não ousam realizaras mínimas coisas sem a permissão do sa-cerdote. Essa submissão doentia aleija aIgreja e a torna manca. Isso deve ir, aos pou-cos, dando espaço à comunhão, os padresdevem exercer seu ministério sem suprimiros leigos e estes devem assumir responsa-bilidades na Igreja sem romper a fraternidadecom os demais. Essa nova maneira de com-preender as paróquias exige muita conver-são de todos, sobretudo de nós sacerdo-tes.

Outro grande desafio é termos genero-sidade para lidar com as rápidas transfor-mações do mundo que impactam nossascomunidades de diversos modos. É preciso

que nos atualizemos e, muitas vezes, te-mos que aprender com o mundo, acolheras novidades trazidas pelos jovens, deixarque eles tomem a dianteira de nossa cami-nhada em alguns momentos. Nem sempreisso é fácil para nós que nos acostumamosa ensinar, indicar direções. O diálogo hu-milde com o mundo em transformação é umcaminho inevitável na renovação de nos-sas estruturas. Na tradição monásticabeneditina, os monges têm o costume dedar atenção aos mais jovens em idade, bemcomo aos que ingressaram recentementenos mosteiros. Talvez esse costume possanos ajudar a renovar as paróquias, ouviros paroquianos jovens, acolher suas im-pressões.

A renovação de nossas comunidadesparoquiais é um caminho longo a ser per-corrido, não se dará de um dia para o ou-tro. O documento aprovado por nossosbispos na 52ª Assembleia Geral da CNBBserá um importante instrumento a ser utili-zado por todos nós nessa exigente tarefaque precisamos assumir. Cada paróquia denosso Brasil, à luz do “Comunidade de Co-munidades: A Nova Paróquia”, terá que des-cobrir a sua maneira de promover a reno-vação pedida por nossos bispos.

Pe. Fabrício Beckmann

Comunidade de comunidades: a nova paróquia

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Contra falta d’água: preservação ambiental, planejamento e uso racional

Fotos Arquivo Pró-Memória

Page 8: MAIO 2014

O ESTAFETA Piquete, maio de 2014Página 8

Haxixe entrou no meuestoque vocabular quan-do compulsei o Dicioná-rio Etmológico em buscada origem da palavra as-sassino.

O vocábulo chegou àlíngua portuguesa atra-vés do italiano assassi-no, que tentava reprodu-zir a forma árabe haxixi,que significava bebedo-res de haxixe.

Os ismaelitas orientais constituíam umaseita de fanáticos que se embebedavamcom haxixe e, sob o efeito da erva, cometi-am atos de extrema crueldade, que estãodescritos nos registros de Marco Polo.

O haxixe é extraído das folhas secas docânhamo-da-índia (cannabis sativa, varie-dade índica).

Seu uso, pelo fumo ou mastigação, pro-voca alucionações.

Há notícias do cultivo do cânhamo háquatro mil anos. Em estado nativo, a pre-sença da planta se registra do Mar Cáspioao norte da China, cruzando o Irã e a Índia.

No Ocidente, os usos tradicionais daplanta foram substituídos pelo linho e peloalgodão.

A cannabis chegou ao Brasil pela rotada África. Aqui ficou conhecida como ma-conha. Este significante vem doquimbundo ma’Koña, plural de di’Koña,cujo significado é tabaco, erva santa.

Conhecidos os seus efeitos alucinóge-nos, o plantio e o comércio da maconhaforam proibidos no Brasil.

Aqui e ali, se registram tentativas deinviabilizar a proibição.

Rendeu dividendos à mídia a atitudede um conhecido político que tentou en-

Haxixe

trar no país com sementes de cannabis.O argumento mais forte se situa na pes-

quisa.O óleo essencial da maconha contém a

substância tóxica conhecida comocanabidiol. Administradas em pequenasdoses, as substâncias químicas extraídas dacannabis têm efeito calmante,antiespasmódico e sedativo.

A pergunta é: se da papoula se chegouao ópio, mas também à morfina, por que des-prezar a pesquisa com os canabinoides?

Frequentemente os Governos se pergun-tam: quanto o mundo gasta para prender emanter nas prisões os traficantes de dro-gas? Não seria melhor controlar os usuári-os?

O fulcro da questão é: o tabaco e o álco-ol atingem órgãos importantes do corpo.

São drogas perigosas, mas oferecemoportunidade de tratamento e volta à vidasaudável.

As drogas que atingem diretamente océrebro barram o caminho do discernimento.

Quando o fígado de um alcoólatra e opulmão de um fumante apitam o “não dámais”, o cérebro ainda encontra forças pararesistir.

Usuários de maconha ou de cocaína

completamente debilita-dos dificilmente recebe-rão o penúltimo ou últi-mo aviso do cérebro –“ou para ou morre”.

A internação com-pulsória não é uma vio-lência. O bombeiro nãopergunta ao candidatoao suicídio se ele é mai-or ou se ele tem família.Agarra-o e depois vê oque acontece. Às vezes,

o próprio esforço do bombeiro convenceo quase suicida de que vale a pena viver.

Ninguém consegue convencer um cé-rebro avariado.

Quando comecei a estudar o problema,julguei que seria razoável criar-se uma Co-lônia Agrícola em que os cidadãos culti-vassem suas drogas prediletas e as usas-sem livremente até que fossem consumi-dos por elas.

Não seriam prisioneiros. Quando qui-sessem poderiam transferir-se para umaclínica.

Então, talvez impressionada com a cenado bombeiro e do quase suicida, minhamente projetou a falha do meu argumento– não é lícito deixar um cérebro doente le-var o cidadão à morte.

Um alerta. O Governo tem irresponsa-velmente exposto índios em vida tribal. Osíndios conhecem cipós, ervas e cascas deárvores que provocam transes. Se este co-nhecimento chegar às populações não ín-dias, estaremos criando novos problemas.

A pesquisa é necessária. Tanto da coca,como da maconha, como de qualquer ou-tra droga que esteja destruindo os nossosjovens.

Abigayl Lea da Silva

“Mataria que é tanta e tão grande, tãodensa e de tão variada folhagem que nin-guém pode imaginar”. Com essas palavras,Pero Vaz de Caminha, cronista e companhei-ro do descobridor Pedro Alvares Cabral, ten-tou descrever, em carta a El Rei D. João, seudeslumbramento ante o espetáculo da na-tureza – a então intocada Mata Atlântica –com que acabara de se defrontar.

Certamente, suas palavras foram poucaspara definir aquela que foi considerada, umdia, a mais rica floresta tropical das Améri-cas, que se estendia por dois milhões dequilômetros quadrados, desde o sul do RioGrande do Norte até as serras do Herval eTapes, ao norte do Rio Grande do Sul, onde,em alguns pontos, chegava a se misturarcom a floresta de araucária.

Em direção ao interior, a Mata Atlânticaexpandia-se até os limites determinados pe-las serras Geral, do Mar, da Mantiqueira e

parte da Serra do Espinhaço, ocupando pra-ticamente toda costa brasileira compreendi-da nesses limites. Traduzida em númerospercentuais, 85% do estado de SP eram ocu-pados por esta floresta. Hoje, resta muitopouco da Mata Atlântica. Contudo, nóspiquetenses, que moramos nos domíniosdesse bioma e temos a Mantiqueira cortan-do nosso município, ainda podemos nosdeslumbrar – como o ocorrido com o escri-vão da esquadra de Cabral, em 1500 – quan-do estendemos os olhos para a Serra e cons-tatamos que ainda restam significativos frag-mentos de Mata Atlântica. Entre esses des-taca-se a Mata da FPV. Nela encontramosespécies raras e endêmicas muito bem pre-servadas. São quase três mil hectares de purabeleza. Podemos nos deparar com importan-tes exemplos desse bioma: grande quanti-dade de árvores pioneiras – jacarandá,jequitibá, peroba, cedro, ipê, angico... Cons-

titui o habitat de rica fauna formada por ani-mais ameaçados de extinção – onça parda,jaguatirica, gato do mato, bugio, lobo-guará,lontra e aves raras de plumagem colorida ecanto especial – maria-leque, macuco, sabiá-cica, gralha-azul, tucano, araponga, entreoutras. 

Nesse momento em que a Serra daMantiqueira está tão em evidência, é preci-so o empenho de todos para cuidar desserico patrimônio. Para o desenvolvimento domunicípio é preciso associar a conservaçãodo seu patrimônio natural, paisagístico e cul-tural. É preciso o empenho de todos na ela-boração do plano de manejo e gestão daAPA da Serra da Mantiqueira. O uso e aocupação das áreas serão orientados deforma compatível com a conservação e oresgate do meio ambiente e a melhoria daqualidade de vida da população.

Tão densa e tão variada...

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Fotos Arquivo Pró-Memória