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Maiby
IMPORTÂNCIA DA QUÍMICA MEDICINAL PARA
AVALIAÇÃO CIENTÍFICA DE FITOMEDICAMENTOS
Para abordar o tema
fitomedicamentos, é interessante
falar das plantas medicinais e o
potencial farmacêutico vinculado à
elas, visto que, muitos fármacos da
atualidade são derivados, direta ou
indiretamente, de substâncias
produzidas por plantas superiores.
Deve-se ainda mencionar, que o
conhecimento das plantas fez parte
dos primeiros estudos do homem
(GOTTLIEB & KAPLAN, 1993 in
PEREIRA, 2004), o qual,
convivendo com elas desde os
primórdios das civilizações, ao longo
da sua evolução, aprendeu a fazer
uso deste produto natural como um
recurso terapêutico disponível e
acessível (LOZOYA, 1994).
O primeiro estudo sistemático
de plantas medicinais foi realizado
cerca de 2.700 a.C., durante o
Império de Shennung. No Inventário
de Shennung, onde são mencionadas
365 drogas, pode-se encontrar
espécies como Ephedra, Ricinus
communis e Papaver somniferum.
Estas espécies fornecem
respectivamente a efedrina, óleo de
rícino e morfina, princípios ativos
que são conhecidos e utilizados até
hoje com os mesmos propósitos
(BALICK, 1997; DAVID &DAVID,
2002).
A natureza, de forma geral,
tem produzido a maioria das
substâncias orgânicas conhecidas
(PINTO, 2002). O reino vegetal,
dentre os diversos reinos da
natureza, é o que tem contribuído
mais significativamente para a
indústria farmacêutica, não só pelo
seu potencial na aplicação como
fármaco, mas, também pelo seu
papel como protótipo molecular para
o desenvolvimento de novas drogas
(GRABLEY and THIERICKE, 1999
in OLIVEIRA, 2003). Além disso,
nos últimos anos, há um interesse
crescente e renovado no uso de
1
terapias complementares e produtos
naturais como recurso terapêutico. A
indústria de fitocosméticos,
atualmente, é um segmento cada vez
mais produtivo e ascendente,
utilizando as plantas como matérias
primas para a produção de óleos
essenciais, extratos vegetais na
produção de xampus, loções, cremes
e toda linha cosmética
(PHILLIPSON & ANDDERSON,
1998).
O termo planta medicinal foi
oficialmente reconhecido, durante a
31ª Assembléia da OMS, sendo
definido como “aquela que
administrada ao homem ou animais,
por qualquer via ou sob qualquer
forma, exerce alguma espécie de
ação farmacológica”. Baseando-se
nesta afirmação e, considerando a
finalidade e forma de uso das plantas
medicinais, estas podem ser
classificadas como aquelas
destinadas: 1. à obtenção de
substâncias puras; 2. à produção de
fitoterápicos; 3. à utilização na
medicina caseira (DAVID &
DAVID, 2002 in PEREIRA, 2004).
Há aproximadamente 100
anos, Emil Fisher (1852 – 1919)
usou a analogia da chave e fechadura
para demonstrar a ação de uma
enzima que posteriormente foi
estendida para a ação de um
fármaco. Paul Ehrlich (1854 – 1915),
na mesma época, sugeriu o modelo
da bala mágica que levaria o
medicamento aos tecidos doentes
sem afetar os sadios. O
reconhecimento do receptor por
parte do fármaco e o planejamento
racional deste fármaco são dois
importantes aspectos que formam as
bases da atual Química Medicinal
(KING, 1992 in PEDROSA et al.,
2001).
Em 1838, o ácido salicílico,
precursor químico da aspirina, foi
isolado da Salix alba, e foi
sintetizado em laboratório pela
primeira vez em 1860
(CHEVALLIER, 1996). Seguindo
este modelo da aspirina, isto é, a
síntese química e ensaios
farmacológicos para avaliar os
resultados, pode-se dizer que o
desenvolvimento efetivo da Química
Medicinal inicia-se nas décadas de
40 e 50. Na década de 60,
desenvolveu-se efetivamente a
bioquímica, área que contribuiu
2
muito para o avanço da Química
Medicinal (LITWACK, 1992 in
PEDROSA et al., 2001). Na década
de 80, com o advento de novos e
poderosos computadores, inicia-se a
Química Computacional, que passa a
também auxiliar a Química
Medicinal (PERUN, 1989 in
PEDROSA et al., 2001), mediante o
uso de logaritmos matemáticos,
permitindo predizer efeitos causados
por estruturas reais ou imaginárias
(SILVERMAN, 1992 in PEDROSA
et al., 2001).
Visando ao desenvolvimento
de novos fármacos e/ou fitoterápicos,
as atividades da prospecção
farmacêutica, a qual é uma atividade
multidisciplinar, pode se dar por
duas vias distintas, esquematizadas
abaixo (WERMUTH et al., 1998 in
OLIVEIRA, 2003).
Seleção e coleta de espécies vegetais
Extratos vegetais
Fracionamento biomonitorado dos
extratos ativos
Ensaios biológicos in vivo
Farmacologia e Toxicologia
Substâncias naturais bioativas
FITOFÁRMACO
Ensaios biológicos in vitro
Banco de extratos
Planta validada
FITOTERÁPICO
PROTÓTIPO
FÁRMACOS SEMI-
SINTÉTICOS
FÁRMACOS SINTÉTICOS
MATÉRIA-PRIMA
3
Esquema 1 – Vias de obtenção para o
desenvolvimento de novos fármacos e/ou
fitoterápicos.
Uma das vias resulta na identificação
de substâncias bioativas, as quais
podem vir a constituir novos
fitofármacos ou, alternativamente,
fornecer protótipos moleculares para
o desenho de moléculas inéditas a
serem obtidas por síntese total ou
modificação estrutural de substância
natural abundante. Já, na outra via,
as atividades de prospecção
farmacêutica têm como objetivo a
avaliação da eficácia terapêutica e
segurança de plantas medicinais e,
como produto, plantas medicinais
validadas que possam vir a constituir
fitomedicamentos (WERMUTH et
al., 1998 in OLIVEIRA, 2003).
No primeiro caso, insere-se a
química medicinal, a qual é
considerada uma disciplina de base
química, porém, envolvendo
aspectos das ciências biológicas,
médicas e farmacêuticas.
Compreende a invenção, a
descoberta, a identificação e
obtenção de substâncias
biologicamente ativas, os estudos do
seu metabolismo, do modo de ação
ao nível molecular, a investigação de
relações entre estrutura química e
atividades biológicas e busca
correlacionar o comportamento
biodinâmico com a reatividade
química e propriedades físico-
químicas dessas entidades químicas
(WERMUTH et al., 1998 in
OLIVEIRA, 2003).
Um ponto importante na
investigação farmacológica de
extratos vegetais é sua adequada
caracterização e padronização
(HOSTETTMANN et al, 1997 in
OLIVEIRA, 2003), de modo a
assegurar uma quantidade uniforme
da atividade farmacológica em cada
dose (CALIXTO, 2000 in
PEREIRA, 2004). Entretanto, a
padronização de fitoterápicos
mostra-se um ponto complexo, visto
que, na maioria destes, atividade é
devida a uma mistura de
constituintes e alguns deles ainda
não identificados (SCHULZ &
TYLER, 1998 in PEREIRA, 2004).
Sabendo-se que, a
composição qualitativa e quantitativa
4
do metabolismo secundário de
plantas está sujeita a variações
sazonais e/ou induzidas por fatores
climáticos, torna-se imprescindível
caracterizar a composição do
material em estudo, usualmente
realizada por procedimentos
cromatográficos.
squema 2 - HPLC
perfil cromatográfico de um
extrato vegetal obtido por HPLC
(croma da de alta
eficiência), em condições
padron
uma
nti
viabilizar o
E
O
tografia líqui
izadas, é denominado
“impressão digital” da espécie. Esse
perfil permite comparações
qualitativas entre a composição
química de materiais vegetais
obtidos em coletas distintas, sendo
particularmente útil no caso de
extratos bioativos, servindo como
referência para coletas futuras e,
também, para a elaboração do
controle de qualidade dos extratos
utilizados no processo de fabricação
de fitoterápicos. A obtenção da
impressão digital de um extrato tem
como objetivo, ainda, identificar
metabólitos secundários nos
primeiros estágios do trabalho
fitoquímico (HOSTETTMANN et al,
1997 in OLIVEIRA, 2003)
objetivando, no caso de fitoterápicos,
estabelecer marcadores de
transformação tecnológica e estudos
de estabilidade dos produtos
intermediário e final (SONAGLIO et
al, 1999 in OLIVEIRA, 2003).
No caso da padronização,
através de uma substância
marcadora, assume-se que se a
mesma está presente em
qua dade apropriada, os demais
componentes necessários estão
igualmente representados,
assegurando-se assim, uma atividade
uniforme (TYLER, 1999 in
PEREIRA, 2004).
Segundo Calixto (2001),
algumas características são
desejáveis para que um protótipo
molecular possa
desenvolvimento de uma nova classe
de medicamentos:
5
1. a substância deverá apresentar
características da nova droga
desejada;
2. deverá apresentar seletividade,
além de mecanismo de ação
definido;
3. estar disponível em quantidades
suficientes para permitir os estágios
iniciais de desenvolvimento do
03).
e que avanços
medicamento, incluindo os estudos
farmacológicos, bioquímicos e
toxicológicos;
4. possibilitar a síntese e a produção
de análogos a custos razoáveis
(OLIVEIRA, 20
Assim, ao se considerar todas
as etapas envolvidas na produção de
fitoterápicos, espera-s
nos processos biotecnológicos
aliados à modelagem molecular de
substâncias, desempenham um papel
cada vez mais significativo nos
processos de produção de
fitoterápicos. A tabela abaixo mostra
as etapas envolvidas na produção de
fitoterápicos (PEREIRA, 2004).
1 Seleção do material vegetal 2 Limpeza e avaliação física
material do
3 Controle qualitativo e quantitativo
4 Extração e identificação do
p.a. 5 Extração do material com
do extrato p.a., esterilização e concentração
6 Preparação do extrato seco 7 role físico, químico e Cont
microbiológico 8 itativa Determinação quant
dos p.a. 9 Aferição do extrato por meio
de ajustes quantitativos do p.a.
10 Preparação das formulaçõesfarmacêu
ticas
11 Controle físico, químico e microbiológico do produto final O registro de medicamento
fitoterápico foi estabelecido pela
resolu de
2005,
destas com extratos vegetais”.
ção – RDC no 48 no ano
sendo este definido como:
“Medicamento farmacêutico obtido
por processos tecnologicamente
adequados, empregando-se
exclusivamente matérias-primas
vegetais, com finalidade profilática,
curativa, paliativa ou para fins de
diagnóstico. É caracterizado pelo
conhecimento da eficácia e dos
riscos de seu uso, assim como pela
reprodutibilidade e constância de sua
qualidade. Não se considera
medicamento fitoterápico aquele
que, na sua composição, inclua
substâncias ativas isoladas, de
qualquer origem, nem as associações
6
A tendência observada para a
fitoterapia, é que, assim como no
passado, esta desempenhará um
papel cada vez mais importante na
ganismos, no
lastina –
650
assistência à saúde da população. Por
isso é tão importante a avaliação dos
efeitos terapêuticos de cada
fitoterápico, através do estudo
randomizado, duplo-cego e
controlado por placebos, envolvendo
um número significante de pessoas
(CALIXTO, 2000 in PEREIRA,
2004).
Se considerarmos o impacto
da descoberta da penicilina,
produzida a partir de
microor
desenvolvimento da terapia
antiinfecciosa, verificamos que a
importância dos produtos naturais
para a terapêutica é inestimável.
Existe uma parcela significativa de
medicamentos sintéticos obtidos a
partir de precursores naturais,
utilizando-se compostos de plantas
como protótipos naturais
(PHILLIPSON & ANDERSON,
1998). É importante destacar alguns
fármacos obtidos de plantas como a
aspirina, a codeína, a digitoxina, o
eugenol, e, também o psolarem, que
é uma cumarina que tem emprego no
vitiligo, doença que até pouco tempo
não tinha cura (KINGHORN &
BALADRIN, 1993; KINGHORN,
1996 in PEREIRA, 2004)).
Após a descoberta de alguns
alcalóides importantes como a
vincristina – usada no tratamento de
câncer de pele – e vimb
usada nos casos de câncer de mama,
testículo, pele e linfoma – (TYLER,
1999 in PEREIRA, 2004), a busca
por novos fármacos a partir de fonte
natural foi intensificada. Não apenas
pela ânsia de encontrar novos
fármacos para a cura de doenças,
mas pelo valor destes fármacos.
Na tabela a seguir, pode-se
observar alguns valores comerciais
de fármacos de origem natural.
Enquanto a codeína custa
dólares por quilo, espantosamente,
os alcalóides da vinca chegam a 20
mil dólares o grama
(MENDELSOHN & BALICK, 1995
in PEREIRA, 2004).
7
Vimblatina – R = CH3Vincristina – R = CHO
FÁRMACO U$
Codeín 50/kg a 6
Morfin 0/kg a 125
Ésteres fórbico 2000/kg
Alcalóides da 5000/g
vinca
20000/g
Taxol 12 a 50/ampol
Pode-se entender porquê os
desenvolvidos is
abalham com substâncias bioativas.
m levantamento realizado para
nhec
e
pode esque ncial
ue apresentam as plantas nativas do
Brasil (PEREIRA, 2004),
países são os que ma
tr
U
co er os países que mais
submetem amostras ao National
Center Institute, mostrou que os
EUA vêm em primeiro lugar,
seguido pelo Japão e países
europeus. Surpreendentemente, a
porcentagem da distribuição
geográfica das florestas tropicais é
inversamente proporcional à
apresentada sobre os países que mais
isolam e testam substâncias ativas.
Considera-se que poucas
espécies foram exploradas do ponto
de vista econômico, já que o custo d
desenvolvimento de um novo
fármaco é de aproximadamente 550
milhões de dólares (MENDELSOHN
& BALICK, 1995 in PEREIRA,
2004).
De qualquer modo, não se
cer do imenso pote
q
considerando sua extensa e
diversificada flora, detendo
aproximadamente um terço da flora
mundial (PEDROSA et al., 2001).
8
Além disso, nas duas últimas
décadas, intensificaram-se as
pesquisas sobre plantas medicinais
no Brasil, com o objetivo de avaliar
sua eficácia terapêutica e segurança
do seu uso (OLIVEIRA, 2003).
No entanto, apesar das
pesquisas, é evidente a falta de uma
política “definida, permanente e
s
comprometida” com o
desenvolvimento da indústria
farmacêutica e “continuidade” de
apoio governamental devido à
mudança das cabeças responsáveis,
dificultando a possibilidade de
competição a nível nacional e
internacional de fitoterápicos. Outro
fator que contribui para isso, é a
ausência de integração entre as áreas
de conhecimento necessária para
obter resultados efetivos, pois muitos
pesquisadores se dedicam
isoladamente à determinação de
novas estruturas ou novos efeitos
biofarmacológicos, não ocorrendo a
ligação necessária para a obtenção de
extratos ativos, como possíveis
fitoterápicos. Também pode-se
destacar o desinteresse da indústria
nacional de fitoterápicos em
desenvolver empresas competitivas a
nível internacional, pois visam
somente o lucro imediato. No
entanto, atualmente parece haver um
maior interesse da indústria no
desenvolvimento de fitoterápicos ou
fitofármacos, talvez estimulada pela
lei de regulamentação de
medicamentos ou pela lei de patentes
no Brasil (PEDROSA et al., 2001).
Frente a essas observações, é
importante alertar os pesquisadores
para que possam corrigir erro
passados, a fim de possibilitar que o
Brasil ocupe um lugar merecido no
panorama de desenvolvimento de
fitoterápicos ou fitofármacos no
âmbito mundial (PEDROSA et al.,
2001)
9
REFERÊNCIAS
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GOMES, R. P. Fruticultura
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SOUSA, M. P. Consituintes
Químicos Ativos de
M
Laboratório de Produtos Naturais,
1991.
10