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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X MÃES PELA DIVERSIDADE: AS POLÍTICAS DA PARENTALIDADE EM UM GRUPO ATIVISTA DE MÃES E PAIS DE PESSOAS LGBT Arthur Leonardo Costa Novo 1 Resumo: Explicitar o caráter político das concepções científicas, religiosas e morais sobre família e parentesco tem sido um empreendimento fundamental dos movimentos feministas e LGBT desde o século XX. A luta pela legitimidade das “famílias que escolhemos” diant e da naturalização dos laços das “famílias de origem”, as novas tecnologias reprodutivas, as homoconjugalidades e as homoparentalidades são alguns fenômenos que caracterizam esse cenário de disputa. Formas de viver o parentesco tornam-se espaços de transformação política, desestabilizando a concepção de que a família é natural e seus problemas são particulares. Neste contexto, um grupo de ativismo tem ganhado visibilidade no cenário dos movimentos sociais brasileiros: as “Mães pela Diversidade”, reunindo mães e pais de pessoas LGBT no combate à discriminação dessa população. Este trabalho é uma análise de como essas pessoas significam suas vivências de militância e parentalidade, observando como acionam e atualizam sistemas simbólicos de gênero e parentesco para a manutenção de relações familiares pelo ativismo. Para tanto, utiliza-se do método de análise de narrativas, estas produzidas em entrevistas semiestruturadas com integrantes do grupo. Na medida em que a figura da “mãe” emerge como protagonista deste movimento, busca-se questionar as continuidades e transformações desta vivência de parentesco politizada. Palavras-chave: Parentesco. Família. Parentalidade. Ativismo. LGBT. Notas introdutórias As reflexões que proponho aqui têm caráter exploratório, objetivando tecer algumas questões a respeito do que identifico como uma forma de experienciar o parentesco em práticas de ativismo e de trocas coletivas entre mães e pais de filhos gays, lésbicas, bissexuais e transexuais. Para tanto, tomo como objeto de escrutínio as práticas e discursos de integrantes do coletivo Mães pela Diversidade (MPD), entendendo que este tem despontado no cenário nacional como uma referência para o ativismo de “famílias de LGBT”, para usar uma expressão do vocabulário nativo. O que desenvolvo a seguir resulta de uma primeira incursão a campo 2 realizada em maio recente, em Natal (RN), e entre os dias 14 e 21 de junho, na cidade de São Paulo, por ocasião da programação relacionada à Parada do Orgulho LGBT. Em Natal, dialoguei com duas participantes do MPD e realizei uma primeira entrevista semiestruturada com uma delas. Em São Paulo, participei de atividades realizadas durante o período mencionado e conversei com diversas pessoas que participam do MPD em São Paulo e outros estados, chegando a entrevistar uma mãe paulistana. 1 Doutorando em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGAS/UFRN), Natal/RN, Brasil. 2 Aproximei-me do MPD como estratégia para entrada em campo para minha pesquisa de doutorado sobre as transformações na rede de relações de parentesco quando um parente reivindica o gênero oposto ao designado no nascimento e investe no complexo de práticas e discursos que constituem o fenômeno da transexualidade.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

“MÃES PELA DIVERSIDADE”: AS POLÍTICAS DA PARENTALIDADE EM UM GRUPO

ATIVISTA DE MÃES E PAIS DE PESSOAS LGBT

Arthur Leonardo Costa Novo1

Resumo: Explicitar o caráter político das concepções científicas, religiosas e morais sobre família e

parentesco tem sido um empreendimento fundamental dos movimentos feministas e LGBT desde o

século XX. A luta pela legitimidade das “famílias que escolhemos” diante da naturalização dos

laços das “famílias de origem”, as novas tecnologias reprodutivas, as homoconjugalidades e as

homoparentalidades são alguns fenômenos que caracterizam esse cenário de disputa. Formas de

viver o parentesco tornam-se espaços de transformação política, desestabilizando a concepção de

que a família é natural e seus problemas são particulares. Neste contexto, um grupo de ativismo tem

ganhado visibilidade no cenário dos movimentos sociais brasileiros: as “Mães pela Diversidade”,

reunindo mães e pais de pessoas LGBT no combate à discriminação dessa população. Este trabalho

é uma análise de como essas pessoas significam suas vivências de militância e parentalidade,

observando como acionam e atualizam sistemas simbólicos de gênero e parentesco para a

manutenção de relações familiares pelo ativismo. Para tanto, utiliza-se do método de análise de

narrativas, estas produzidas em entrevistas semiestruturadas com integrantes do grupo. Na medida

em que a figura da “mãe” emerge como protagonista deste movimento, busca-se questionar as

continuidades e transformações desta vivência de parentesco politizada.

Palavras-chave: Parentesco. Família. Parentalidade. Ativismo. LGBT.

Notas introdutórias

As reflexões que proponho aqui têm caráter exploratório, objetivando tecer algumas

questões a respeito do que identifico como uma forma de experienciar o parentesco em práticas de

ativismo e de trocas coletivas entre mães e pais de filhos gays, lésbicas, bissexuais e transexuais.

Para tanto, tomo como objeto de escrutínio as práticas e discursos de integrantes do coletivo Mães

pela Diversidade (MPD), entendendo que este tem despontado no cenário nacional como uma

referência para o ativismo de “famílias de LGBT”, para usar uma expressão do vocabulário nativo.

O que desenvolvo a seguir resulta de uma primeira incursão a campo2 realizada em maio recente,

em Natal (RN), e entre os dias 14 e 21 de junho, na cidade de São Paulo, por ocasião da

programação relacionada à Parada do Orgulho LGBT. Em Natal, dialoguei com duas participantes

do MPD e realizei uma primeira entrevista semiestruturada com uma delas. Em São Paulo,

participei de atividades realizadas durante o período mencionado e conversei com diversas pessoas

que participam do MPD em São Paulo e outros estados, chegando a entrevistar uma mãe paulistana.

1Doutorando em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGAS/UFRN), Natal/RN,

Brasil. 2Aproximei-me do MPD como estratégia para entrada em campo para minha pesquisa de doutorado sobre as

transformações na rede de relações de parentesco quando um parente reivindica o gênero oposto ao designado no

nascimento e investe no complexo de práticas e discursos que constituem o fenômeno da transexualidade.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

O Mães pela Diversidade é um coletivo3 nacional de mães e alguns poucos pais de gays,

lésbicas e transexuais fundado em São Paulo a partir da fragmentação de um grupo vinculado ao

Partido dos Trabalhadores (PT), que também se propunha a fomentar um ativismo de familiares

contra a discriminação dessa população. O afastamento desta atuação partidária visava autonomizar

“a causa” específica que os unia: o combate às diversas formas de violência que pessoas como seus

filhos poderiam sofrer e a demanda para que o Estado reconhecesse os direitos dessa população. Ao

mesmo tempo, objetivavam direcionar a atuação do grupo para o “acolhimento” de mães e pais e

que necessitassem de apoio diante das dificuldades de viver o “se assumir” de um filho, visando

alcançar famílias de diferentes contextos socioculturais, políticos e religiosos.

O MPD ramifica sua atuação em coordenações estaduais pelo Brasil, que se organizam

principalmente a partir de “salas”, grupos fechados no Facebook e no WhatsApp que reúnem

apenas as mães e pais de uma região específica para organizar encontros e atividades presenciais.

Esses espaços de interação virtual coexistem com o Grupo Nacional Mães pela Diversidade no

Facebook. Diferente das “salas”, este é aberto a pessoas de qualquer localidade e é movimentado

por muitas postagens diárias, boa parte delas de autoria de pessoas que não participam das MPD.

Parte das postagens são compartilhamentos de conteúdos de outras páginas contra a discriminação

de gays, lésbicas e transexuais e de valorização e celebração identitária. Outras são pedidos de

ajuda, que variam de busca de conselhos a chamados de socorro para “filhos” que foram expulsos

de casa e precisam de um lugar para ficar por uma noite, para os quais rapidamente são mobilizadas

redes de “marcações” de integrantes do MPD responsáveis pelo “acolhimento” ou apoiadores na

região.

Desde dezembro de 2016, venho acompanhando as atividades de ativismo virtual realizado

por alguns participantes do MPD e as postagens diárias no Grupo Nacional Mães pela Diversidade

no Facebook. Aproximei-me, inicialmente, como alguém simpático à ideia de famílias que lutam

pelos direitos de seus filhos homossexuais e transexuais. A partir do momento em que as Mães se

tornaram um interesse de pesquisa, compreendi que precisaria “estranhar” essas mães, nos termos

de Gilberto Velho (1978), produzindo a necessária relação de alteridade que cria o espaço de

imbricação entre as “teorias nativas” e aquelas da disciplina, este ponto de tensão no qual está

situado o conhecimento antropológico (Fonseca, 1999).

Tal movimento seria o primeiro passo para avançar na questão inicial que me orientava

nesta entrada em campo: quem são as Mães pela Diversidade em termos socioantropológicos, ou

3No período de escrita deste trabalho, o coletivo estava finalizando a documentação para se institucionalizar como uma

associação.

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seja, enquanto um fenômeno cultural, social e político na contemporaneidade brasileira?Esboçarei

de forma ensaística algumas linhas de reflexão para essa indagação descrevendo e analisando as

características das lideranças e integrantes do MPD com quem dialoguei e que entrevistei.

Avançarei, em seguida, para o segundo ponto que orienta este trabalho: aproximar-me dos sistemas

de significados de parentesco e gênero que são acionados pelo MPD nas suas práticas e discursos,

observando como estes são articulados e atualizados para legitimar as escolhas queos tornaram

mães ou pais que valorizam, respeitam e acolhem a “diversidade” de seus filhos.

Famílias fora do armário...?

Alguma iluminação para estes questionamentos foi possível quando estive em São Paulo

acompanhando parte das atividades em que se engajou o Mães pela Diversidade por ocasião da

Parada do Orgulho LGBT de São Paulo de 2017, conforme mencionei anteriormente. Realizei

observação participante na 17ª Feira Cultural da Diversidade, onde o MPD estava com um estande

de venda de artesanato e produtos temáticos com a logo do grupo, e na confraternização que

ocorreu na tarde anterior à Parada. Nesta ocasião reuniram-se lideranças de outros estados, como

Rio de Janeiro, Santa Catarina, Goiás e Pernambuco. Na sequência, descreverei, a partir de minhas

notas e diários de campo, o que pude apreender sobre as pessoas que participam do coletivo a partir

das interações em que me engajei nessas duas ocasiões.

O estande do MPD na Feira Cultural da Diversidade era possivelmente um dos que contava

com o maior número de pessoas para auxiliar, primeiramente, na montagem do espaço, finalizada

pontualmente no horário de abertura da feira pela manhã, e depois no atendimento ao público.

Havia muitos jovens e várias mulheres com a camiseta do grupo organizando a exposição dos

diferentes itens que estavam à venda. Por volta das 11h, houve um burburinho geral com a chegada

do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, acompanhado por uma comitiva de assessores,

repórteres de televisão e fotógrafos. Foi tudo muito rápido: o governador cumprimentou as

coordenadoras nacionais, pronunciou algumas palavras, posou para fotos segurando a camiseta do

grupo e então partiu, não sem que alguém entoasse “fascista!”, o que passou despercebido. Antes,

em uma roda de conversa na qual fui introduzido, contaram-me que em 2016 ocorrera uma situação

muito constrangedora porque uma mãe gritou “ladrão de merenda!”. Explicaram-me que o protesto

era bastante compreensível, mas problemático naquele contexto, já que ele “estava apoiando a

causa”.

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Uma das coordenadoras nacionais, Tatiana4, estava exultante. “Amanhã a gente vai estar em

tudo que é jornal”, comemorava. Aquela foi a minha primeira oportunidade de interagir

pessoalmente com essa que é uma das principais lideranças do MPD. Antes de chegar a São Paulo e

durante minha estada na cidade, tentei por diversas vezes entrevistá-la, mas ela estava sempre muito

ocupada. Vi uma mulher agitada e extrovertida que, entre um cigarro e outro, interagia habilmente

com diferentes pessoas e dialogava com muitos integrantes de outros movimentos LGBT que

estavam presentes no evento, tecendo estratégias sobre como trazer mais pessoas para o MPD. A

um integrante de uma organização LGBT da região do ABCD paulista, Tatiana cobrava estar

esperando as indicações de mães que ele ficara de lhe enviar, orientando-o que queria mães que

“lideram” e são “aglutinadoras”.

Com uma longa trajetória no ativismo das então “famílias de homossexuais”, já articulada

nos tempos de vinculação ao grupo que atuava sob a égide do PT, Tatiana não apenas conhece

como se faz política, mas possui uma extensa rede de contatos em São Paulo, a qual maneja para

articular a inserção do MPD em diferentes espaços. Essa rede, que é também resultado de toda uma

trajetória de “paulistana nascida na Paulista” e que cresceu na Paulista, como ressaltou com

satisfação, é igualmente central para formar os grupos de especialistas que oferecerem

aconselhamento ou atendimento às famílias que buscam o MPD: psicólogos, médicos e advogados

que, em muitos casos, Tatiana já conhecia e foi agregando ao grupo. A qualidade “aglutinadora”,

que Tatiana identificava anteriormente como fundamental para o MPD, deve ser compreendida

como resultado de uma rede de relações e influências de que a própria atuação de Tatiana é

referência.

Dois dias depois, no sábado que antecedeu a Parada do Orgulho LGBT, participei da

confraternização do grupo em uma hamburgueria voltada ao público LGBT na Vila Mariana, zona

sul de São Paulo, região habitada pela classe média paulistana. O encontro estava marcado para as

16h e quando cheguei, às 16h30, já havia um grupo significativo de pessoas ocupando as mesas da

área externa: muitos jovens, algumas mulheres com a camiseta do MPD, um casal de pai e mãe com

o filho, Tatiana, coordenando tudo para que não faltassem mesas, e João, que mais adiante

apresentarei como “o pai” no grupo. Pouco tempo depois, as lideranças mais ativas do MPD de São

Paulo e de outros estados começaram a chegar, recebidas sempre com abraços entusiasmados.

Conheci e conversei com muitas pessoas ao longo do encontro, procurando identificar suas

profissões. Percebi que os jovens eram estudantes universitários. Os adultos, a maioria mulheres

4 Optei por utilizar pseudônimos ao longo do texto visando preservar o anonimato dos interlocutores.

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casadas ou divorciadas, eram pessoas com curso superior em áreas como direito, psicologia e

pedagogia. Enquanto conversava com João, comi um hambúrguer, bebi um suco e mais adiante na

noite comprei uma água, gastando em torno de R$40. A partir dessas observações, um perfil geral

do grupo foi se delineando para mim. Eu estava dialogando com muitas mulheres brancas,

heterossexuais, de classe média, a maioria delas com curso superior e trabalhando na área.

Entretanto, identificar as características majoritárias de gênero, classe social, raça e

escolaridade é insuficiente para compreender por que essas pessoas estão engajadas no MPD, pois

se é verdade que o grupo agrega muitas mães, também é fato que diversas outrascom o mesmo

perfil ou outro diferente sequer o conhecem, ou se conhecem, não o percebem como uma alternativa

possível. Os diferentes contextos socioculturais que circunscrevem as famílias, assim como de

engajamento em práticas de ativismo,impõem desafios para o modelo de atuação que na capital

paulista concedeu ao MPD uma posição de protagonismo junto a outros movimentos sociais LGBT.

Essas diferenças se impõem de tal maneira que mesmo as mães paulistanas encontram dificuldades

para aglutinar mães e pais de municípios da própria região metropolitana de São Paulo.

Antes de ir a São Paulo, conheci e entrevistei uma liderança no Rio Grande do Norte, Marta,

professora universitária que vive e trabalha em Natal há muitos anos, mas nasceu em uma cidade no

interior do estado. Ela me descreveu as dificuldades de articular atividades do MPD na capital

potiguar, onde não consegue mobilizar pessoas a participar do grupo fora do espaço restrito da

“sala” do Rio Grande do Norte. Por outro lado, descreveu-me como conseguiu em Caicó, sua cidade

natal, organizar um encontro com um grupo pequeno de mães, entre mulheres que conhecia de sua

trajetória de ativismo feminista e uma “mãe da periferia” que ouviu a sua entrevista para divulgação

do encontro em um programa de rádio local. Entre as mães de Natal, Marta me indicou que

conversasse também com Josi, uma dona de salão de beleza que é mãe de um filho gay,

considerando-a a mais receptiva para uma possível entrevista. De fato, conversei bastante com Josi

pelo WhatsApp, mas não consegui encontrá-la pessoalmente ou entrevistá-la, pois desmarcou várias

vezes os nossos encontros até que não respondeu minha última mensagem confirmando uma visita

ao seu salão.

Entre Tatiana e Marta há uma similaridade no manejo de redes de influência locais para a

atuação do MPD, assim como um engajamento anterior em atividades de ativismo. Entretanto, se

em São Paulo Tatiana consegue amplificar essa rede, Marta encontra dificuldades que paralisam seu

trabalho em Natal e que o limitam a seus círculos mais próximos em Caicó. Marta identifica dois

problemas que dificultam o engajamento das mães em Natal: a diferença de classe social e de

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escolarização entre ela e grande parte das mães potiguares e a ausência de engajamento de outros

grupos de ativismo LGBT com o MPD. Em São Paulo, uma advogada lésbica que participa do

grupo me ofereceu outra interpretação: para ela, o problema é que “existe mais preconceito no

Nordeste”.

Entre uma e outra teoria nativa para a dificuldade de engajar mais pessoas no ativismo,

penso logo em dois casos para problematizá-las ambas. A teoria sobre um “nordeste

preconceituoso” expressa tanto uma homogeneização estereotipada da região quanto uma

hierarquização Sudeste-Nordeste que é fácil refutar. No próprio MPD há grande admiração pelo

trabalho considerando exemplar realizado pela coordenação de Pernambuco, que tem repercutido na

mídia local de modo semelhante ao MPD de São Paulo. Conheço também movimentos de ativismo

de travestis e transexuais no Ceará e em Sergipe que têm conseguido importantes avanços no

diálogo com o poder público local e despontado lideranças no cenário nacional. Por outro lado, no

Sul, Tereza, uma liderança de Santa Catarina, relatou-me dificuldades muito semelhantes às

descritas por Marta sobre Natal, explicando que em Florianópolis, onde reside, é tão complicado

trazer pessoas para os encontros do grupo que a opção é fazê-lo em Balneário Camboriú, cidade

litorânea há aproximadamente 85 km da capital catarinense. Sou natural de Florianópolis e sei que

não é inexpressiva a atuação do movimento LGBT local. Se a interpretação de Marta estivesse

correta, Tereza não teria dificuldades em Florianópolis e, em São Paulo, Tatiana conseguiria reunir

muitas mães do ABCD paulista.

Numa perspectiva antropológica, a questão que se coloca é esta da relação entre campo de

possibilidades e projetos, ou seja, entre “[...] as alternativas construídas do processo sócio-histórico

[...]”, organizadas pelo sistema cultural, e o investimento em certas opções como “[...] resultado de

complexos processos de negociação e construção que se desenvolvem com e constituem toda a vida

social [...]” (Velho, 2013, p. 123). Se existe Mães pela Diversidade e outros grupos de ativismo para

“famílias de LGBT” em diversas regiões do Brasil, por que este ativismo parece funcionar melhor

em certos contextos? Por que algumas pessoas investem neste projeto e outras não? Não tenho

respostas para essas questões neste momento, mas uma hipótese inicial, ainda a friccionar com mais

dados de campo, que é esta da adesão de mulheres de classe média ao projeto individualista

moderno, processo para o qual há 20 anos apontou Luiz Fernando Dias Duarte (1995).

Duarte (1995) observa que,desde a Segunda Guerra Mundial, o modelo hierárquico que

submetia a esposa ao marido na família e que visava à reprodução de indivíduos masculinos passou

a ser desestabilizado em função de transformações políticas, econômicas e culturais, incluindo a

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entrada de mulheres das camadas médias ao mercado de trabalho e a expansão do feminismo. Um

dado que me trouxe Tereza é a recorrência de divórcios em função do “se assumir” do filho, o que

talvez revele uma “[...] afirmação da consanguinidade uterina” e a “[...] relativa ‘expulsão do

homem’ das novas unidades de reprodução social [...]” (Duarte, 1995, p. 37) entre essas mulheres.

Autossuficientes para sustentar a unidade doméstica se necessário e orientadas a projetos

individuais, encontram em seu campo de possibilidades de relações de parentesco a opção de

privilegiar o vínculo filial ao conjugal. Experienciá-lo a partir de atividades de ativismo pode ser

mais uma forma de se posicionar no espaço público enquanto indivíduos que aderem a um campo

de valores que se opõe ao tradicionalismo: este do apreço às diversidades sexual e de gênero.

As participantes do MPD reiteram recorrentemente a importância de as famílias “saírem do

armário”, evocando com perspicácia uma reflexão de Giancarlo Cornejo (2012) quando este avalia

que, ao contar ser gay para sua mãe, não foi ele que “saiu do armário”, mas ela que “entrou no

armário” com ele. Entretanto, não apenas não são todas as famílias que podem “sair do armário”,

como não são todas as pessoas da família que podem ou que são compelidas a fazer isso. Após esse

período de campo inicial acredito já ser possível traçar em linhas gerais porque não é ao acaso que o

MPD aciona a identidade de “mãe” para nomear e legitimar sua atuação. Na sequência, procurarei

esboçar alguns significados possíveis de maternidade, paternidade, parentesco e gênero que são

acionados e instrumentalizados pelas participantes deste grupo.

“Tire o seu preconceito do caminho, queremos passar com o nosso amor”

O “amor” é o signo mais evocado pelas Mães pela Diversidade. Está em postagens no

Facebook, em palavras de ordem, como as que dão título a este tópico, e no grande coração,

colorido com tons próximos àqueles da bandeira do orgulho LGBT, quesimboliza o grupo. Olhando

com mais atenção, este coração se revela um abraço em que uma figura maiorenvolve

protetoramente uma figura menor. É um abraço entre mãe, caracterizada pela cor rosa, e filho,

caracterizado pela cor azul, evocando, portanto, não qualquer tipo de amor, mas o “amor materno”.

Essa representação explicita que este é o valor central que aproxima as pessoas que participam do

grupo e que legitima a sua atuação.

O “amor materno” pode ser intensamente experienciado como um sentimento, mas o caráter

destede fenômeno social deve ser o ponto de partida para qualquer análise antropológica (Mauss,

1979). Assim, é preciso desnaturalizá-lo, buscando uma contextualização histórica e social que

elucide a construção deste sentimento e sua incorporação na experiência subjetiva de diferentes

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gerações de mulheres. Recorro então a Elisabeth Badinter (1985), que situa a transformação da

indiferença maternal predominante na França no início do século XVIII em um novo modelo de

maternidade centrado na dedicação integral e no “amor materno” como resultado de transformações

políticas, socioeconômicas e culturais oriundas do processo de desenvolvimento do capitalismo na

Europa. Este modelo de maternidade se torna constitutivo da identidade de mulheres enquanto

importante valor que constitui a feminilidade e, nesse sentido, farei o exercício de pensar parentesco

e gênero como um só campo, aderindo à provocação de Sylvia Yanagisako e Jane Collier (1987).

As transformações na maternidade que contextualiza Badinter (1985) ocorreram

concomitantemente à ascensão da família nuclear, concebida como a unidade mínima necessária à

reprodução humana e o lugar privilegiado da intimidade e dos sentimentos nas sociedades

capitalistas. No Brasil, Luiz Fernando Dias Duarte (1995) observa que este modelo defamília

ocidental da Europa moderna, organizado pela tripartiçãopai, mãe e filhos – estes, os novos

indivíduos da modernidade, cuja produção é o centro de todo o investimento familiar – foi melhor

absorvido pelas classes médias, considerando que este é o segmento populacional brasileiro mais

aderente ao individualismo. Nesse sentido, acredito que o modelo de “amor materno” descrito por

Badinter (1985) como constitutivo desta família moderna também está presente entre as mães da

classe média brasileira, entre as quais considero possível situar grande parte daquelas que

participamdo Mães pela Diversidade.

Marta e Cristiane, uma mãe paulistana que integra o grupo de advogadas do

MPD,apresentaram-meinterpretações do que entendem caracterizar o “amor materno”.Quando

entrevistei Cristiane em seu escritório próximo à Avenida Paulista, ela me explicou o motivo de

haver poucos pais participando do grupo, o que considera ser consequência da dificuldade de

homens aceitarem a homossexualidade ou transexualidade de um filho. “Mãe tem um coração

diferente de pai, então isso é bem nítido no grupo”, avaliou. “[É] Cultural, vem de berço. É uma

coisa de educação mesmo, machista” continuou, e mais adiante, esclareceu essas afirmações.

Porque mãe tem um relacionamento com o filho muito diferente de pai, né, ainda. É uma

coisa de, de gerar, e tudo. Por isso que... apesar de que eu vou te dizer que não é unânime.

A gente tem lá os famosos “pães”, que são pais que se comportam como mães. Mas a mãe

realmente tem essa coisa com o filho de gerar, de amamentar. Dá uma proximidade maior e

tem muito mais facilidade em driblar situações, conflitos, doenças, adversidades e tudo.

Mudanças... Então eu vejo que é feminino isso. (Cristiane)

Cristiane trouxe duas linhas argumentativas distintas para me esclarecer as diferentes

relações de pais e mães com os filhos: uma fundamentada na cultura e outra na natureza. A

dificuldade de pais “aceitarem” filhos gays, lésbicas ou transexuais tem uma explicação “cultural”

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na “educação” que é “machista”. Por outro lado, a relação de uma mãe com um filho é diferente

porque os atos de “gerar” e “amamentar” estabelecem uma aproximação maior. Na relação da mãe

com o filho, parece haver a articulação entre um fator sociocultural, que promove a convivência

originadora de uma relação de resiliência materna às adversidades futuras, e outro natural, que

advém da gestação e da amamentação e que é, por sua vez, o ponto primeiro que origina a relação

de proximidade posterior ao nascimento.

Marta trouxe uma interpretação que se aproxima desta oferecida por Cristiane no que se

refere à importância da convivência para solidificar de forma especial a relação entre mãe e

filho.Entretanto, diferencia-se em um ponto fundamental: Marta questiona que este sentimento seja

resultado da gestação, atribuindo-o à construção social de uma relação pela prática do cuidado. Esta

sim origina o “amor materno”.

E é uma coisa muito esquisita de a gente falar isso, porque, a gente, “ah, é o maior amor do

mundo”. [Pausa.] Eu acho que é um grande amor. Não sei se é o maior do mundo. Tem

horas que eu acho que é. Mas também tem horas que eu acho que esse amor maior do

mundo é, é meio que construído, porque... Se você cuida de alguém desde criança, você vai

ter o maior amor do mundo, não é?(Marta)

Acredito ser elucidativo pensar no “amor materno” como uma unidade que compõe o

parentesco enquanto sistema cultural, ou seja, como sistema simbólico que serve à construção de

um mundo inteligível para pessoas que partilham deste repertório (Schneider, 2016). Nesse sentido,

o “amor materno” é um símbolo que se insere em certas relações em um sistema cultural, e não um

sentimento, embora contenha também este significado.Esta reflexão é pertinente para compreender

que “amor materno” suscita interpretações diferentes e é experienciado distintamente pelas mães

que fazem parte das MPD, mas sua inserção em um vocabulário comum de parentesco que o

naturaliza como sentimento inerente à maternidade permite estrategicamente legitimar a atuação do

grupo.

As diferenças entre Marta e Cristiane não estão apenas no que concerne às explicações para

a origem do “amor materno”, mas em como a participação no MPD é articulada a outros campos de

suas vidas e à relação com os filhos. Com uma trajetória de engajamento em coletivos e grupos de

ativismo que começa com a participação em grupos de jovens da igreja católica, estendendo-se

depois ao movimento feminista e estudantil, Marta foi convidada a integrar o MPD como

coordenadora estadual. O MPD é, portanto, mais uma atividade de articulação política a que ela se

dedica.O próprio convite que recebeu de Tatiana é fruto de um reconhecimento desse engajamento

anterior e de sua expertise no campo dos estudos de gênero, ao qual orienta sua carreira acadêmica.

Participar do MPD parece proporcionar mais um elemento para dialogar com a filha lésbica, que em

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si não participa das atividades das Mães, apesar de Marta chamá-la para a importância de colaborar

com o grupo.

[...] hoje eu tava conversando com a minha filha, né. Eu dizendo pra ela "olha, eu acho que

vocês poderiam ajudar mais as Mães, porque assim, o nosso trabalho é de acolhimento, né?

A gente tá fazendo isso pensando muito em vocês. Mas eu acho que vocês poderiam pensar

também, né, nessas famílias e indicar as mães pra vim pra gente, pra nos procurar”. [...]Ela

ajuda muito. Mas as pessoas mais do círculo. (Marta)

Cristiane, por outro lado, ingressou no MPD a convite da pediatra de seus filhos, uma

médica que integra o grupo de especialistas da medicina entre as Mães de São Paulo. A pediatra a

procurou para conversar depois que viu a então “filha” adolescente de Cristiane mudar o perfil no

Facebook para um nome masculino: Heitor. Algum tempo antes disso, Heitor havia postado um

pedido de ajuda no grupo aberto do MPD no Facebook, pois precisava contar para a família que

estava iniciando a transição de gênero. Assim, Cristiane entrou no grupo a partir da proposta de

acolhimento de mães e pais que precisam de auxílio, buscando aconselhamento e suporte. Aos

poucos, passou a participar dos encontros e se tornou também uma das participantes do grupo de

advogadas do MPD. Hoje, há um ano e meio no MPD, é indicada por Tatiana para ministrar

palestras sobre direito voltado à população LGBT e sobre sua experiência como “mãe de menino

trans”. Ela contou também que agora está utilizando o serviço de uma advogada do grupo que faz a

mudança de prenome e sexo no registro civil de pessoas transexuais para a retificação dos

documentos de Heitor.

Cristiane e Marta exemplificam dois perfis de mães que participam do MPD: as mães

“acolhidas” e as mães “ativistas”. Além destes, identifiquei mais um tipo: as mães “observadoras”.

Elas foram apresentadas ao MPD pelos filhos e acompanham o grupo virtualmente, podendo ou não

fazer algum ativismo online no próprio perfil do Facebook e participar ocasionalmente de algumas

atividades presenciais. No estande do MPD na Feira Cultural da Diversidade, aproximei-me de uma

mulher com a camiseta do gru poque de um canto da tenda observava a movimentação dos outros

integrantes. Magra e bem vestida, elegante para meus valores classe média, ela me explicou que

entrou no MPD por insistência do filho gay, que a presenteou com a camiseta que estava vestindo.

Quando contei que minha mãe acompanha o grupo virtualmente, mas se sente pouco confortável

para participar de atividades coletivas, ela abriu um sorriso, me abraçou e disse: “eu sou como a sua

mãe!”.

Ainda que seja um grupo composto majoritariamente por mulheres, também existem

homens, pais, no Mães pela Diversidade. Quem são eles? Que lugar ocupam no MPD? Na minha

experiência de campo, tive contato com apenas dois pais, que são precisamente os mais presentes

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nas atividades e articulações do grupo.Bruno, meu primeiro contato com as Mães, rapidamente me

explicou que está no grupo como filho e como pai, pois é bissexual e tem uma filha também

bissexual. Talvez por sua dupla pertença enquanto filho e pai, não é a ele que as mães se referem

como “o pai” no grupo de mães. Essa posição é concedida a João, com quem tive a oportunidade de

dialogar brevemente na feira e um pouco mais durante a confraternização do grupo.

João é uma liderança no MPD em Goiás e a dramática história do assassinato de seu filho

motivado por homofobia parece ser conhecida por integrantes de todos os estados. Quando

conversávamos durante a confraternização na hamburgueria, observei uma menina chama-lo de

“pai”. Ele já havia me explicado que tinha uma filha adotiva, uma menina lésbica que, há 10 anos,

seu filho pedira para acolher porque fora expulsa de casa. Perguntei se aquela menina que o

cumprimentara era a sua filha, ao que ele riu e me explicou que não, esclarecendo-me que no grupo

todo mundo o chama de “pai” porque ele é o único que “bota a cara no sol”. Portanto, faz o papel de

“pai simbólico”.

Se fosse classificar Bruno e João em um dos perfis que atribuí às mães, o faria no de

“ativistas”, que chegaram ao MPD a partir de uma trajetória anterior em outros movimentos de

militância. Entretanto, Bruno se qualifica também como “filho” e coordena o grupo de “Filhos das

Mães”, que até recentemente existia apenas no WhatsApp. Bruno caracteriza outro perfil de pessoas

que participam do MPD: homossexuais, bissexuais e transexuais que têm filhos e por isso se

engajam no grupo. Como Bruno, conheci um casal lésbico e uma mulher transexual lésbica que me

disse sermãe dos filhos da companheira.

Observei João levantar-se prontamente para ajudar a carregar algumas caixas com camisetas

e outros itens que seriam comercializados durante a confraternização, o que poderia ser interpretado

como um papel tipicamente masculino ou paterno. Logo depois, ele trocou as calças por uma saia

florida, com a qual permaneceu até o fim do encontro. Enquanto um “pai simbólico”, João talvez

atualize alguns significados para a paternidade no sistema simbólico de parentesco, até mesmo

garantindo que em um grupo que legitima a sua atuação pela evocação da “mãe” não falte um “pai”

que complemente a relação parental. Por outro lado, João não se coloca como um “pai” tradicional

quando utiliza um vocabulário gay para se expressar e quando brinca com a sua masculinidade

utilizando uma peça do vestuário feminino.

Talvez seja este um dos mais importantes paradoxos que desafiam as pessoas que participam

do MPD. Ao mesmo tempo em que mulheres subvertem o tradicional lugar atribuído à maternidade

no espaço doméstico, ocupando a esfera pública para fazer ativismo, o fazem em nome do “amor

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materno”, atualizando este atributo de feminilidade que vem sendo refutado há décadas pelos

movimentos feministas. Por sua vez, os homens, para estar entre essas mulheres, também

necessitam se transformar e abdicar de valores estruturantes da masculinidade, mas uma vez que

estão nesse espaço, ocupar o “lugar simbólico” de pai significa atualizar a complementaridade entre

homens e mulheres e, talvez, a própria normatividade heterossexual, esta, possivelmente uma das

maiores barreiras à luta por valorização e respeito às diversidades de gênero e de sexualidade a que

se propõem.

Referências

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“Mothers for Diversity”: the politics of parenthood in a group of LGBT parents activism

Abstract: To expose the political issues concerning scientific, religious and moral conceptions of

parenthood and family has been a great concern for LGBT and feminist movements since the 20th

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century. The fight to legitimize the “families we choose” when there is a naturalization of biological

bonds, the new reproductive technologies, the homo-conjugality and the homo-parenthood are some

of the phenomena composing this disputing scenario. Different possibilities for living parenthood

became also possibilities for political change, disestablishing the understanding that family is

natural and its problems are private matters. In this context, a group of activism has been gaining

visibility among Brazilian’s social movements: the “Mothers for Diversity”, gathering mothers and

fathers of LGBT people in the fight against prejudice and discrimination. This research applies the

narrative analysis method over semi-structured interviews with some members of the referred

group. The following work reflects on how these people signify their livings as activists and

parents, observing how they mobilize values of gender and kinship in order to maintain their family

relations through their activism. As the figure of the “mother” emerges as a protagonist above other

families’ members, the question is how this politicized experience of parenthood is as much

maintaining as changing the organization of gender and kinship systems in their lives.

Keywords: Kinship. Family. Parenthood. Activism. LGBT.