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Documento temático n.º 4 [junho de 2010] 1 MADEIRA E GESTÃO DA MADEIRA INTRODUÇÃO A madeira constitui, numa perspetiva funcional, ambiental e estética, um excelente material. É renovável, podendo ser reutilizada e reciclada para determinadas aplicações, é biodegradável e é utilizada sob diferentes formas na produção de uma vasta gama de produtos. Além disso, constitui uma fonte de energia. A madeira representa uma parte importante do volume de negócios das empresas retalhistas. A madeira e as fibras lenhosas são utilizadas nos produtos por elas vendidos (por ex., mobiliário, materiais de montagem e construção, artigos de papelaria, livros, acessórios de cozinha, papel higiénico, lenços de papel, etc.), nas embalagens dos produtos (embalagem primária, por ex., embalagens de bebidas; embalagem secundária e de transporte, por ex., cartão), nos materiais de comunicação (por ex., brochuras e catálogos) e na documentação. Não obstante as vantagens ambientais acima referidas, para avaliar se um produto de madeira é sustentável, é importante considerar o seu ciclo de vida (origem extraído ou reciclado; transformação; fases de transporte e pós-consumo (reutilização/reciclagem/prevenção de resíduos). A vida útil de um produto é também importante, sobretudo no caso dos produtos de longa duração, como o mobiliário e os edifícios. Na sua conceção pode prever-se um impacto reduzido, ambiental ou outro. No entanto, o presente documento centra-se apenas na origem e nas fases de transformação e transporte, dado que são esses os aspetos que podem ser mais diretamente influenciados pelos retalhistas e pelos seus fornecedores. Exploração florestal: os desafios da sustentabilidade e da legalidade O abate/extração, origem primeira de toda a madeira, tem, potencialmente, uma grande pegada ecológica. A silvicultura sustentável (por exemplo, utilização limitada de biocidas, respeito da biodiversidade, capacidade de regeneração, etc.) é essencial para a disponibilidade, a longo prazo, de madeira e produtos de madeira sustentáveis e a preços acessíveis. Os regimes de certificação independentes podem atestar a gestão sustentável das florestas e, quando os respetivos critérios de avaliação incluam a conformidade jurídica e sejam rastreados ao longo da cadeia de abastecimento, podem ser utilizados como indicador da legalidade dos produtos de madeira. Na Europa, os dois regimes mais amplamente utilizados (FSC 1 e PEFC 2 ) obrigam, como exigência de base, a que todas as operações florestais obedeçam aos requisitos legais. O respeito da legalidade, embora diferente da sustentabilidade, tem uma forte ligação com o impacto da exploração florestal sobre o ambiente. A exploração madeireira ilegal é uma infração grave, que pode ter consequências graves a nível ambiental, social e económico, ameaçando a biodiversidade e contribuindo para a desflorestação, exacerbando as alterações climáticas através do aumento das emissões de gases com efeito de estufa e reduzindo o efeito de sumidouro de carbono das florestas, ameaçando os direitos das populações que delas dependem, privando os governos e, consequentemente, as sociedades de rendimentos e criando uma concorrência desleal nos mercados mundiais e europeus. 1 Forest Stewardship Council (Conselho de Gestão Florestal). 2 Programme for the Endorsement of Forest Certification (Programa para o Reconhecimento de Sistemas de Certificação Florestal).

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Documento temático n.º 4

[junho de 2010]

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MADEIRA E GESTÃO DA MADEIRA

INTRODUÇÃO A madeira constitui, numa perspetiva funcional, ambiental e estética, um excelente material. É renovável, podendo ser reutilizada e reciclada para determinadas aplicações, é biodegradável e é utilizada sob diferentes formas na produção de uma vasta gama de produtos. Além disso, constitui uma fonte de energia. A madeira representa uma parte importante do volume de negócios das empresas retalhistas. A madeira e as fibras lenhosas são utilizadas nos produtos por elas vendidos (por ex., mobiliário, materiais de montagem e construção, artigos de papelaria, livros, acessórios de cozinha, papel higiénico, lenços de papel, etc.), nas embalagens dos produtos (embalagem primária, por ex., embalagens de bebidas; embalagem secundária e de transporte, por ex., cartão), nos materiais de comunicação (por ex., brochuras e catálogos) e na documentação. Não obstante as vantagens ambientais acima referidas, para avaliar se um produto de madeira é sustentável, é importante considerar o seu ciclo de vida (origem – extraído ou reciclado; transformação; fases de transporte e pós-consumo (reutilização/reciclagem/prevenção de resíduos). A vida útil de um produto é também importante, sobretudo no caso dos produtos de longa duração, como o mobiliário e os edifícios. Na sua conceção pode prever-se um impacto reduzido, ambiental ou outro. No entanto, o presente documento centra-se apenas na origem e nas fases de transformação e transporte, dado que são esses os aspetos que podem ser mais diretamente influenciados pelos retalhistas e pelos seus fornecedores.

Exploração florestal: os desafios da sustentabilidade e da legalidade O abate/extração, origem primeira de toda a madeira, tem, potencialmente, uma grande pegada ecológica. A silvicultura sustentável (por exemplo, utilização limitada de biocidas, respeito da biodiversidade, capacidade de regeneração, etc.) é essencial para a disponibilidade, a longo prazo, de madeira e produtos de madeira sustentáveis e a preços acessíveis. Os regimes de certificação independentes podem atestar a gestão sustentável das florestas e, quando os respetivos critérios de avaliação incluam a conformidade jurídica e sejam rastreados ao longo da cadeia de abastecimento, podem ser utilizados como indicador da legalidade dos produtos de madeira. Na Europa, os dois regimes mais amplamente utilizados (FSC

1 e PEFC

2) obrigam, como

exigência de base, a que todas as operações florestais obedeçam aos requisitos legais. O respeito da legalidade, embora diferente da sustentabilidade, tem uma forte ligação com o impacto da exploração florestal sobre o ambiente. A exploração madeireira ilegal é uma infração grave, que pode ter consequências graves a nível ambiental, social e económico, ameaçando a biodiversidade e contribuindo para a desflorestação, exacerbando as alterações climáticas através do aumento das emissões de gases com efeito de estufa e reduzindo o efeito de sumidouro de carbono das florestas, ameaçando os direitos das populações que delas dependem, privando os governos e, consequentemente, as sociedades de rendimentos e criando uma concorrência desleal nos mercados mundiais e europeus.

1 Forest Stewardship Council (Conselho de Gestão Florestal).

2 Programme for the Endorsement of Forest Certification (Programa para o Reconhecimento de

Sistemas de Certificação Florestal).

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Muitos comerciantes praticam, já há algum tempo, estratégias de aquisição responsáveis para assegurar a legalidade da madeira que entra nas suas cadeias de abastecimento. Esta prática continua, no entanto, a constituir um desafio. Cerca de 90 % da madeira utilizada nos produtos de madeira vendidos no mercado europeu provém de florestas europeias. Na sua grande maioria, essas florestas são geridas de forma sustentável

3 e

na maior parte das regiões a sua superfície está em expansão4. Além disso, a extração abrange

apenas 60 % do acréscimo anual líquido5.

Os principais problemas para os comerciantes e os operadores surgem quando a madeira é originária de regiões em que a legislação e os controlos não são devidamente aplicados. Nesses casos, pode ser difícil assegurar que a origem da madeira é legal6.

Reciclagem: o dilema da sustentabilidade vs. qualidade A reciclagem da madeira e das fibras lenhosas suplementa de forma válida a exploração. Cada vez mais, são utilizados para a produção de papel e produtos de madeira materiais reciclados. A madeira e as fibras recuperadas proveem de materiais de construção, paletes, papel e cartão. No entanto, no caso do papel, há limitações às suas possibilidades de reciclagem pois, de cada vez, as fibras perdem algumas das suas importantes características

7. Assim, as fibras virgens continuam a ser a

matéria-prima principal para os produtos de madeira. Além disso, a reutilização da madeira empregue em embalagens de alimentos ou bebidas está sujeita a critérios de saúde e segurança.

Da floresta até à venda: produção e transporte A cadeia de abastecimento dos produtos de madeira transformados pode ser complexa, consoante as fases envolvidas e a sua extensão geográfica. No entanto, as fases de produção e transporte da madeira no setor florestal não têm características especialmente distintas que não tenham sido já descritas no documento temático do fórum do comércio retalhista sobre otimização dos sistemas de distribuição

8. Em qualquer caso, o transporte dos produtos de madeira a longa distância até às

instalações dos retalhistas pode contribuir para aumentar o impacto negativo sobre o ambiente. (Porém, nalguns casos esse transporte não pode ser evitado, por exemplo, quando a madeira das espécies, qualidades ou dimensões necessárias não se encontre disponível nas proximidades.) Além disso, a complexidade da cadeia de abastecimento implica também desafios em termos de rastreabilidade, que podem ser potenciados pela corrupção ao longo da cadeia nos países em que os controlos são fracos. Além da certificação por terceiros, existem soluções técnicas que podem ajudar a resolver parcialmente a questão da rastreabilidade, mas os investimentos necessários (e, portanto, a execução) diferem consoante a região e o valor da madeira.

3 Na Europa (UE-27), 42 % das florestas e outras áreas arborizadas são certificadas FSC e/ou PEFC; a proporção é de 58 %

no caso das florestas disponíveis para o abastecimento de madeira. Origem: sítios Web FSC e PEFC, abril de 2010. 4 A superfície florestal na Europa continua a aumentar 553 000 hectares por ano, em média. Origem: Eurostat (UE-27,

florestas e outras áreas arborizadas, base: 2000-2005). 5 Taxa de abate na UE: 60,41 % em 2005. Origem: Eurostat.

6 Estima-se que uma proporção significativa – cerca de 19 % – das importações de madeira para a UE proveem de origens

ilegais. Origem: http://europa.eu/rapid/pressReleasesAction.do?reference=IP/08/1543

7 O papel só pode ser reciclado 5 vezes, no máximo. Origem: Friends of the Earth.

http://www.foe.co.uk/resource/briefings/paper_recycling.html 8http://ec.europa.eu/environment/industry/retail/pdf/Issue%20Paper%20Optimisation%20of%20Distribution%

20Systems%20w%20annex.pdf

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QUADRO JURÍDICO

Europa O mercado da madeira na UE está sujeito a direitos de importação baixos ou nulos, não obedece a restrições quantitativas e, com exceção dos controlos fitossanitários, não é coberto por legislação específica. Em resultado do Plano de ação da UE relativo à aplicação da legislação, à governação e ao comércio no setor florestal (FLEGT) de 2003, a UE está a negociar acordos voluntários de parceria com diversos países produtores e exportadores de madeira. A celebração desses acordos implica a aplicação de compromissos e ações juridicamente vinculativos, por ambas as partes no acordo, para travar o comércio de madeira ilegal. No âmbito dos acordos, existe um sistema de garantia da legalidade destinado a assegurar que os países signatários só exportem para a UE ao abrigo de uma licença a madeira legalmente extraída. Um regulamento adotado em dezembro de 2005 controla a entrada dessa madeira na UE. Em outubro de 2008, a Comissão Europeia propôs um regulamento

9 com o objetivo de reforçar as

medidas de caráter voluntário do plano de ação FLEGT minimizando o risco de venda na UE de madeira extraída ilegalmente. A proposta «Obrigações dos operadores que colocam no mercado madeira e produtos de madeira» requer que os operadores apliquem medidas diretas, tais como a utilização de sistemas de diligência, que lhes permitam determinar a legalidade dos produtos. Estão ainda em discussão diversos aspetos. Prevê-se que o regulamento seja formalmente adotado no final de 2010. No que respeita à reciclagem, a Diretiva Resíduos da UE estabelece uma hierarquia de opções de gestão de resíduos, em cinco etapas, que deve ser aplicada pelos Estados-Membros aquando da elaboração das suas políticas nacionais sobre resíduos. A prevenção, a reutilização e a reciclagem dos resíduos são etapas essenciais. Embora a madeira maciça não esteja ainda incluída no âmbito de aplicação da diretiva (que, porém, há muito abrange o papel), a sua inclusão está a ser considerada. Embora a diretiva preveja que, até 2020, os Estados-Membros tomem as medidas necessárias para aumentar a reutilização e a reciclagem até alcançar um mínimo global de 50 %, em peso, esta meta foi já largamente ultrapassada graças a um regime voluntário de recuperação do papel pela indústria. A reciclagem das embalagens é regida separadamente pela Diretiva Embalagens e Resíduos de

Embalagens, que prevê a reutilização, reciclagem e outras opções de recuperação e fixa objetivos de reciclagem específicos para a madeira em 15 % e para o papel em 60 %.

Quadro mundial A Conferência de Bali, em 2007, introduziu, na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, o conceito de redução das emissões provenientes da desflorestação e da degradação das florestas (REDD). O objetivo é proporcionar financiamento para que os países em desenvolvimento apoiem políticas orientadas para a redução das emissões provenientes da desflorestação e da degradação das florestas. Na Conferência das Partes na ONU realizada em Copenhaga em 2009, o papel do mecanismo REDD foi reconhecido e o seu âmbito alargado para incluir a gestão florestal sustentável (REDD+).

Foram criados diversos programas para financiar este mecanismo, incluindo:

9 A proposta «Obrigações dos operadores que colocam no mercado madeira e produtos de madeira» está atualmente a ser

discutida em segunda leitura no Parlamento Europeu.

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o Programa de Cooperação das Nações Unidas para a Redução das Emissões Resultantes da Desflorestação e da Degradação Florestal nos Países em Desenvolvimento (Programa UN-REDD),

a Iniciativa Internacional Clima e Florestas do Governo da Noruega,

o Mecanismo de Parceria para o Carbono Florestal do Banco Mundial («Forest Carbon Partnership Facility», FCPF).

OPORTUNIDADES E OBSTÁCULOS O comércio da madeira de origem legal constitui um desafio para os retalhistas e outros operadores que colocam produtos de madeira no mercado. O controlo da totalidade das suas cadeias de abastecimento é difícil, sobretudo no caso da madeira proveniente de regiões de alto risco, nas quais a madeira pode ser extraída por muitos pequenos operadores, e no caso da madeira que transita por um ou mais países intermediários.

Minimizar o risco de entrada, no mercado da UE, de madeira ilegal ou não extraída de forma responsável é um processo moroso e que exige esforço e recursos. No entanto, o forte empenhamento atual dos retalhistas, a cooperação com os parceiros comerciais, os sistemas de certificação e as ONG podem contribuir para acelerar este processo.

Oportunidades A integração da gestão sustentável nos produtos de madeira significa, para os retalhistas:

Serem reconhecidos pelos clientes como fornecedores de produtos e serviços sustentáveis: os clientes valorizam o empenhamento das empresas na sustentabilidade, o que se traduz por um reforço da reputação dessas empresas e uma maior lealdade por parte dos clientes.

Aumentar a sensibilização geral dos consumidores: devido aos diferentes aspetos da sustentabilidade ligados à madeira, a atual estratégia de sustentabilidade na cadeia de fornecimento de madeira pode contribuir para reforçar a sensibilização dos consumidores para o consumo sustentável.

Um incentivo às empresas para que, à semelhança da gestão sustentável da cadeia de fornecimento da madeira, integrem a sustentabilidade na sua gestão empresarial sensu lato.

Proteger e reforçar os recursos madeireiros: a disponibilidade a longo prazo da madeira como recurso pode ser reforçada assegurando uma prática florestal sustentável e não recorrendo a material proveniente de zonas sensíveis ou de alto risco.

Reforçar a cooperação com os parceiros: a gestão sustentável das florestas e a extração e comércio legais de madeira são iniciativas transsetoriais que podem reforçar, ou criar, a cooperação com ONG, outros parceiros (por exemplo, regimes de certificação) e outros setores (por exemplo, indústrias da embalagem e papel). Isto poderá beneficiar o ambiente, os consumidores e as próprias empresas.

Obstáculos Governação e aplicação nos países em desenvolvimento:

A má governação em nações grandes produtoras e a aplicação deficiente de legislação florestal por vezes complexa e/ou incoerente constituem grandes entraves à verificação da legalidade e às práticas sustentáveis; em certas regiões, a corrupção e o crime organizado tornam muito difícil assegurar a 100 % a legalidade na cadeia de abastecimento.

Os grandes retalhistas podem agir como promotores da gestão florestal sustentável perante os mercados e os governos. No entanto, esta tarefa é delicada nalgumas zonas em que o mercado não está aberto à influência positiva de empresas estrangeiras.

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Origem:

Embora a oferta de madeira certificada ainda exceda a procura, essa madeira pode não chegar ao fabricante, pois nem todas as entidades ao longo da cadeia de abastecimento dispõem de uma cadeia de custódia certificada. Isto resulta na perda de informação sobre a certificação em certos elos da cadeia de abastecimento.

Muitos estudos argumentam que os preços da madeira deverão aumentar consideravelmente devido à disponibilidade insuficiente causada por um rápido aumento da procura por parte dos países em desenvolvimento e pela procura de madeira para energia (biomassa).

Cadeia de abastecimento:

Pode ser muito difícil rastrear a origem da madeira desde o abate até à montagem de um produto, pois no caso de certas categorias de produtos (por exemplo, pasta, papel, painéis de fibras, mobiliário, etc.) a matéria-prima provém frequentemente de diferentes fornecedores que utilizam madeira de diferentes espécies e origens.

Encargos administrativos: a língua (por exemplo, dos documentos da cadeia de custódia) e as barreiras políticas traduzem-se em encargos para a gestão da cadeia de abastecimento.

CONCLUSÕES Um dos principais desafios relacionados com a cadeia de abastecimento enfrentados pelo setor retalhista é o seguinte: como podem os retalhistas obter, e a que preço, madeira e produtos de madeira produzidos sustentavelmente e em quantidade suficiente para dar resposta às necessidades dos consumidores nos anos vindouros?

De um modo geral, o retalhista deve mostrar-se empenhado e ser o primeiro a dar o exemplo, em cooperação com os responsáveis pelas decisões e os parceiros comerciais, bem como com as ONG e a sociedade civil.

Nalguns mercados, os produtos de madeira sustentável são cada vez mais procurados pelos consumidores e os retalhistas tentam dar resposta a esta evolução positiva. Os regimes de certificação podem ajudar os produtores e os retalhistas a responder a esse aumento da procura e contribuir para controlar o desempenho ambiental ao longo da cadeia de abastecimento. No entanto, no caso das cadeias de abastecimento longas e complexas e nas quais estão envolvidas muitas empresas, o controlo de cada interveniente pode ser oneroso.

A combinação de uma gestão florestal responsável e efetiva com uma legislação eficaz pode assegurar a produção sustentável e duradoura de madeira e produtos de madeira.

Principais desafios Encorajar uma governação correta nas principais regiões fornecedoras, a fim de evitar a

perda de interesse da parte das empresas.

Assegurar que, a longo prazo, os consumidores possam dispor de produtos de madeira sustentável e de origem legal. Este é o desafio principal, pois requer esforços em diferentes domínios (por exemplo, a origem, a formação dos compradores, as relações com os fornecedores e os controlos até aos proprietários/gestores florestais).

Sensibilizar os consumidores para os benefícios a longo prazo, para o ambiente e a sociedade, da madeira sustentável e dos regimes de certificação (por exemplo, conservação das florestas e, consequentemente, da biodiversidade e das economias locais). Um aumento

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da procura de madeira certificada deverá influenciar a oferta e acabar por compensar a falta atual de madeira certificada.

Ajudar os consumidores a fazer a escolha certa: a escolha dos consumidores é influenciada pelo preço, design, qualidade e sustentabilidade dos produtos e, frequentemente, as vantagens de cada um destes aspetos não são claras.

Que podem fazer os retalhistas? Demarcar-se como líderes na gestão sustentável da madeira, através:

De uma posição clara do setor no sentido de evitar a desflorestação e a exploração ilegal.

Da participação em projetos de parceria orientados para a instituição de práticas sustentáveis a nível do fornecedor (Rede Mundial de Comércio e Florestas – GFTN, Timber Retail Consortium, Declaração Europeia sobre a Reciclagem de Papel, etc.)

Da ligação com os fornecedores, ONG e sociedade civil.

Da promoção da madeira sustentável enquanto material «desejável», a fim de evitar um desvio para outros materiais menos sustentáveis.

Estabelecer relações consolidadas a nível da cadeia de abastecimento: aplicar e executar políticas de abastecimento para definir e orientar as decisões sobre a origem da madeira e os limites da sua vida útil.

Apoiar regimes de certificação independentes como forma de garantir e comunicar a origem sustentável da madeira.

Reforçar a governação interna, a auditoria e os sistemas de diligência.

Utilizar materiais reciclados e certificados para uso interno e externo (materiais de comunicação, papelaria, paletes, etc.).

Que podem fazer os decisores políticos? Ajudar a criar condições equitativas para os intervenientes responsáveis na cadeia de

abastecimento através da criação de legislação funcional e eficaz para combater a madeira extraída ilegalmente.

Centrar a ação legislativa em questões como a exploração florestal ilegal, a desflorestação, a degradação das florestas e a infração dos direitos de propriedade.

Colaborar com os intervenientes relevantes para desafiar a ausência de florestas certificadas em regiões fora da UE e da América do Norte, mas também na UE e na América do Norte.

Agir em coordenação com as autoridades locais, a fim de dotar as empresas dos instrumentos necessários para tomarem decisões fundamentadas (por exemplo, sistemas de monitorização, base de dados florestais).

Aplicar requisitos de sustentabilidade à madeira nos contratos públicos.

Que podem fazer os outros? Trabalhar com os retalhistas e os decisores políticos para encontrar uma base comum de

cooperação.

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Apoiar o desenvolvimento de instrumentos melhorados de monitorização florestal e de acompanhamento da madeira, incluindo regimes de certificação, com publicidade e patrocínio.

Suprimir os obstáculos à participação na certificação, sobretudo no caso dos mais pequenos proprietários/gestores florestais.

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DIVULGAÇÃO DE BOAS PRÁTICAS

COMÉRCIO RETALHISTA

Timber Retail Consortium Um grupo de quatro grandes retalhistas europeus criou a Timber Retail Coalition (TRC) para apoiar medidas tendentes a reduzir a madeira extraída ilegalmente. Os seus membros fundadores são os seguintes: Kingfisher, Marks & Spencer, IKEA e o Grupo Carrefour. O TRC está empenhado no combate à desflorestação mundial ligada às alterações climáticas. Ao criar uma plataforma única para colaborar com políticos e decisores políticos a nível nacional e a nível da UE, o TRC participará ativamente nesse combate.

http://www.errt.org/uploads/MediaRoom/documents/Timber%20Coalition%20launched%206%20Apr%202010.pdf

Grupo Carrefour España Manual para melhorar a gestão das embalagens de cartão usadas nos hipermercados.

http://www.tupapelesimportante.com/popup/popupdocumento.asp?documento=250

Colruyt lança os recibos de caixa certificados FSC O grupo belga Colruyt iniciou, em diversas das suas filiais, o lançamento da utilização de recibos de caixa de papel certificado FSC. No total, essas filiais utilizam anualmente entre 110 e 120 milhões de recibos de caixa em formato A5.

http://www.nepcon.net/2947/English/HOME/News_2009/September/Belgian_supermarket_launches_FSC_certified_till_receipts/

http://www.colruyt.be/colruyt/static/1024/assets/infocolruyt/info_Mar09_p3_f.pdf (French)

Produtos certificados FSC com grande sucesso no mercado retalhista suíço Dois dos principais retalhistas suíços – Migros e Coop – propõem, cada um, aos seus clientes mais de 2 000 produtos com o rótulo FSC, com um volume de vendas de cerca de 100 milhões de EUR cada. Os sítios Web desses grupos contêm informações claras sobre os produtos certificados FSC.

Migros (alemão): http://www.migros.ch/DE/Supermarkt/ENGAGEMENT/FSC/Seiten/FSC.aspx Migros (francês): http://www.migros.ch/FR/Supermarche/Engagement/FSC/Seiten/Apercu.aspx Coop (alemão): http://www.coop.ch/pb/site/common/node/9805/Lde/index.html Coop (francês): http://www.coop.ch/pb/site/common/node/9805/Lfr/index.html

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Sainsbury, do Reino Unido, empenhado na venda de produtos com rótulo FSC O retalhista Sainsbury trabalha com ONG parceiras para promover a exploração florestal sustentável através da venda de produtos certificados FSC. O número e a variedade dos produtos com o rótulo FSC nas prateleiras das lojas Sainsbury aumentaram grandemente nos últimos anos, incluindo agora não só produtos de madeira, mas também embalagens e produtos de papel tissue.

Política de responsabilidade da empresa relativa à madeira: http://www.j-sainsbury.com/cr/index.asp?pageid=37

Primeiras embalagens de bebidas em cartão rotuladas FSC nas lojas Sainsbury: http://www.j-sainsbury.co.uk/index.asp?PageID=322&section=news_releases&Year=2007&NewsID=995

Sainsbury, o maior utilizador mundial de cortiça FSC: http://www.j-sainsbury.co.uk/index.asp?PageID=322&section=news_releases&Year=2010&NewsID=1218

96% dos produtos de madeira nas prateleiras do grupo Coop (Reino Unido) proveem de gestão florestal sustentável O grupo Co‑operative Food comunica ter vendido 33 237 m

3 de produtos de madeira em 2008 (2007:

35 260 m3). Durante 2008, o grupo comunicou, mais uma vez, que todos os produtos de madeira

comercializados eram de origem conhecida, com provas credíveis da sua extração legal. Destes produtos, 96% (2007: 67%) beneficiavam da certificação do Forest Stewardship Council (FSC) (i.e., uma cadeia de custódia completa de florestas com benefícios sociais, económicos e ambientais comprovados), 3% provinham de resíduos pós-consumo reciclados (2007: 16%) e 1% de materiais virgens de origem legal, tais como PEFC.

http://www.co-operative.coop/corporate/Sustainability/ecological-sustainability/biodiversity/forest-stewardship/

B&Q dispõe do maior volume mundial de contraplacados de origem tropical com certificação FSC Em simultâneo com o lançamento por um departamento governamental do Reino Unido - DEFRA - de uma consulta sobre importações de madeira ao abrigo de licenças, o grupo B&Q anunciou que passará a comprar apenas contraplacados de madeira de folhosas tropicais com certificação FSC. A certificação de toda a oferta de contraplacados de madeira tropical pelo B&Q constitui a primeira iniciativa deste tipo a nível mundial, pois historicamente tem sido difícil assegurar a certificação FSC para volumes desta ordem.

http://www.illegal-logging.info/item_single.php?it_id=3850&it=news&printer=1

Marca própria de produtos à base de celulose inteiramente certificados FSC em Itália Todos os produtos à base de celulose da marca própria de Coop Italia (lenços, guardanapos, papel higiénico, etc.) são certificados FSC. A percentagem de matérias-primas certificadas FSC tem vindo

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a aumentar progressivamente ao longo dos anos, tendo começado com 30% em 2005 e atingindo atualmente 50%. Quanto ao resto da sua pasta para papel, Coop Italia garante, ainda assim, que esta não tem origem GM nem provém de florestas de elevado valor de conservação.

http://www.e-coop.it/portalWeb/guidaprodcoop.portal?_nfpb=true&_pageLabel=viewDocumentiFaro&documentoFaro=%2FCoopRepository%2FCOOP%2FCoopItalia%2Fdocumento%2Fdoc00000026531.

Coop Danmark adotou uma estratégia 100% FSC para os utensílios e mobiliário de cozinha Em cooperação com uma ONG, a FDB apoia, nas Honduras, um projeto de desenvolvimento para proteger a floresta tropical húmida e proporcionar oportunidades de desenvolvimento às populações locais que vivem na floresta. Existem agora povoações certificadas FSC. A madeira extraída é transformada em tábuas de cozinha e outros bens de consumo nas Honduras e vendida em seguida nas lojas da Coop. Deste modo, os consumidores participam também no apoio ao FSC.

http://www.fdb.dk/fdb/ansvarlighed/miljoe/fscprojektihonduras/Sider/nyforside.aspx

OUTROS

ACE (Alliance of Beverage Cartons and the Environment) As empresas fabricantes de embalagens de cartão para bebidas aderentes à ACE pretendem alcançar, em 2015, uma certificação a 100% da cadeia de custódia da totalidade das fibras lenhosas utilizadas nas fábricas que produzem cartão. Comprometem-se também a assegurar, até 2008, a certificação da cadeia de custódia para todas as suas fábricas de cartão.

http://www.ace.be/NeoDownload?docId=177703

PEFC – Contratos públicos para a madeira no Reino Unido Há algumas indicações de que as políticas de contratos públicos conduziram a uma maior procura e conhecimento dos produtos certificados, como o mostra a política de contratação pública para a madeira no Reino Unido.

http://www.pefc.org/index.php/resources/case-stories/item/495-public-timber-

procurement-in-the-united-kingdom

CEI - Bois (Confederação Europeia das Indústrias da Madeira) O objetivo do processo «Madeira no desenvolvimento sustentável» patrocinado pela CEI – Bois consiste no aumento da informação e sensibilização de todos os interessados a propósito da contribuição positiva da utilização correta de madeira para o desenvolvimento sustentável e o combate às alterações climáticas. A utilização de madeira constitui uma forma simples de reduzir as emissões de CO2 - principal causa das alterações climáticas - através do efeito de sumidouro de carbono das florestas, do efeito de armazenamento do carbono dos produtos de madeira e da

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substituição de materiais intensivos em carbono. Ao mesmo tempo, põe em contexto a contribuição económica da indústria. A indústria europeia da madeira reconhece a importância da tripla abordagem sustentável (Economia-Ambiente-Sociedade), segundo a qual o desenvolvimento económico a longo prazo deve ser cotejado com a necessidade de respeitar o ambiente e os interesses da sociedade no seu conjunto.

http://www.cei-bois.org/en/roadmap-2010/wood-in-sustainable-development

CEPI - Confederação Europeia da Indústria Papeleira Em 2005, a indústria europeia do papel lançou o seu código de conduta para a exploração legal de madeira, assinado por todos os seus membros. O código de conduta inclui seis princípios que descrevem e promovem a exploração legal de madeira e destina-se às indústrias europeias do papel. O relatório da CEPI sobre sustentabilidade inclui regularmente atualizações sobre a adoção dos princípios de exploração legal e as políticas de abastecimento das empresas.

http://www.cepi.org/content/default.asp?PageID=558&DocID=33

CEPI - Confederação Europeia da Indústria Papeleira Em 2010, a indústria europeia do papel tornou-se parceira do Ano Internacional da Biodiversidade, tendo publicado o guia «Sharing Experience – Promoting Biodiversity in the European pulp and paper industry» conjuntamente com o Eurosite Nature. O guia promove boas práticas concretas para reforçar a proteção da biodiversidade ao longo das cadeias de abastecimento de madeira.

http://www.cepi.org/docshare/docs/1/LGBCFBEDKGJIAIHDKAFCNMGF5LKG4NQHRT4LTAYD437E/CEPI/docs/DLS/CEPI_BioBrochure_FINAL-20091120-00014-01-E.pdf

ERPC – European Recovered Paper Council: declaração europeia sobre a reciclagem do papel A indústria europeia do papel, juntamente com a cadeia de abastecimento de papel recuperado, estabeleceu o objetivo de alcançar, em 2010, uma taxa de reciclagem de 66%, bem como objetivos qualitativos, contribuindo, assim, para a utilização eficiente dos recursos madeireiros.

http://www.paperrecovery.org/files/EuroDec_06_10_2Web-115335A.pdf

Estudo belga avalia a «legalidade» e a «sustentabilidade» dos rótulos FSC e PEFC Duas universidades belgas (Ghent e Gembloux) avaliaram recentemente os rótulos FSC e PEFC contra um conjunto de critérios de legalidade e sustentabilidade. Quanto à legalidade, o rótulo FSC foi avaliado em 100% e o rótulo PEFC em 86%. Também em termos de sustentabilidade, o rótulo FSC recebe uma avaliação mais elevada, de 98%, contra 80% para o programa PEFC.

O estudo ainda não foi publicado.

Documento temático n.º 4

[junho de 2010]

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http://www.nepcon.net/2947/English/HOME/News_2009/September/Belgian_supermarket_launches_FSC_certified_till_receipts/

Consumidores belgas podem comprar produtos com o rótulo FSC com o «cheque verde» Os consumidores belgas podem comprar produtos mais compatíveis com o ambiente – tais como candeeiros que poupam energia ou produtos de madeira e papel com o rótulo FSC – com os «cheques verdes» lançados recentemente. Esses cheques podem ser dados pelas entidades patronais aos empregados como um benefício adicional ao salário. Com este novo instrumento, o governo belga espera impulsionar a procura no mercado de produtos mais compatíveis com o ambiente.

http://www.fsc.be/default.aspx?ID=258&Taal=FR