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MACROTENDÊNCIAS MUNDIAIS ________________________________ Equipe Técnica Setembro de 2018

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MACROTENDÊNCIAS MUNDIAIS

________________________________

Equipe Técnica

Setembro de 2018

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FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO

Presidente em exercício

José Ricardo Roriz Coelho

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA, COMPETITIVIDADE E TECNOLOGIA

Diretor titular

José Ricardo Roriz Coelho

Diretores Titulares Adjuntos

Antonio Carlos Teixeira Álvares

Nilton Torres de Bastos

Pierangelo Rossetti

Diretores

Alfried Karl Plöger

Andrea Park

Carlos Eduardo Marchesi Trombini

Cássio Jordão Motta Vecchiatti

Cláudio Grineberg

Cleiton de Castro Marques

Dan Ioschpe

Daniela Gil Rios

Daniele Pestelli

David Taff

Denis Perez Martins

Domingos Moreira Cordeiro

Eduardo Berkovitz Ferreira

Eduardo May Zaidan

Fernando Bueno

Henrique Petersen Paiva

Irineu Govêa

Jorge Eduardo Suplicy Funaro

José Gianesi Sobrinho

José Ricardo Sukadolnik

José Romeu Ferraz Neto

Jovelino Antonio Vanzin

Julio Diaz

Levi Ceregato

Luiz Arthur Pacheco de Castro

Luiz Carlos Tripodo

Manoel Canosa Miguez

Marco Aurélio Militelli

Milton Sobrosa Cordeiro

Narciso Moreira Preto

Nelson Antunes

Nelson Marconi

Nivio Machado Rigos

Paulo de Tarso Petroni

Paulo Henrique Rangel Teixeira

Paulo Vieira

Rafael Cervone Netto

Renato Endres

Ricardo Alexandre Caruso Pazzianotto Pinto

Ricardo de Oliveira Selmi

Roberto Aluisio Paranhos do Rio Branco

Roberto Musto

Rogério Payrebrune St. Séve Marins

Ronald Martin Dauscha

Ronald Moris Masijah

Shotoku Yamamoto

Walter Bartels

Representante do CJE:

Robert Willian Velásquez Salvador

EQUIPE TÉCNICA

Gerente

Renato Corona Fernandes

Equipe técnica

Adriano Giacomini Morais

Albino Fernando Colantuono

André Kalup Vasconcelos

Anelise Pianna

Débora Bellucci Modolo

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Denilson Torcate Lopes

Érica Marques Mendonça

Fernando Momesso Pelai

Gabriela Uieda

Juliana de Souza

Leonardo Kiyoshi Kinoshita Assahide

Paulo Sergio Pereira da Rocha

Ricardo Vieira Santana

Tamy Carolina Tanikawa

Estagiário

Gustavo Crecidio de Azevedo Gonzaga

Lucas Amici Della Rocca

Aprendiz

Lucas Pinheiro

Apoio

Maria Cristina Bhering Monteiro Flores

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Caro leitor,

O Brasil vive um momento muito difícil por conta da crise, das incertezas políticas e do elevado

desemprego, mas isso não pode paralisar nossa indústria porque o resto mundo segue avançando em

tendência contrária, retomando com força suas políticas industriais para garantir solidez às suas

economias e se preparando para os desafios da inexorável quarta revolução industrial.

Assistindo a vultosidade dos investimentos em reindustrialização e em novas tecnologias que têm ocorrido

pelo mundo, assumimos na FIESP que o Brasil não pode ser mero espectador desse fenômeno, o que

nos trouxe um senso de urgência e preocupação com a necessidade de identificar nosso potencial e

definir caminhos para a indústria. Isto significou deixar de lado, por um momento, as turbulências do curto

prazo para olhar o longo prazo, algo raro em nosso país.

Tendo em vista essa preocupação, este trabalho buscou essencialmente responder as seguintes

perguntas: por quais transformações o mundo irá passar até 2030? Quais serão os setores e os produtos

mais demandados? Quais as oportunidades para o Brasil?

Respondê-las com um olhar mais atento sobre a dinâmica produtiva nos permitiu abrir uma agenda de

possibilidades para o setor, e quiçá para o país, além de contribuir para a estruturação de ações de longo

prazo, que é parte fundamental da busca por mais competitividade internacional.

É indiscutível que, chegando ao fim deste ciclo econômico de crise, as empresas brasileiras retomarão

seus investimentos. Por isso, em linhas gerais, nosso objetivo é dar subsídios para essa tomada de

decisão e estimular o aprofundamento de mais pesquisa nas suas respectivas tendências.

Nossa pretensão não é esgotar o tema, ao contrário, devido a sua complexidade, esperamos tê-lo em

constante aperfeiçoamento por meio de feedbacks e atualizações.

Boa leitura a todos.

José Ricardo Roriz Coelho

Presidente em exercício da FIESP e do CIESP

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Sumário Executivo

A demanda por este trabalho surgiu no contexto de uma das maiores, e mais recente, crise

econômica do nosso país. Isto pode soar estranho à primeira vista, mas o objetivo era um só:

definir quais são os caminhos que a indústria brasileira tem que percorrer quando a crise acabar

e em qual velocidade. Em termos práticos, buscamos responder as seguintes perguntas com um

olhar rumo a 2030: por quais transformações o mundo vai passar? Quais serão os setores e os

produtos mais demandados? Quais os setores de produtos de maior destaque internacionais?

Como tem sido o desempenho do Brasil nesses segmentos?

Foi um exercício de extrema relevância porque, por um momento, deixamos de lado nossos

problemas de curto prazo e passamos a olhar o longo prazo, algo raro nas instituições brasileiras,

mas já consolidado nos países que competem conosco. Prova disto é que tão logo a crise acabe,

as empresas e o setores que resistirem irão perceber que o contexto internacional está muito

diferente daquele que se encontravam anteriormente à crise. Enquanto discutimos os problemas

do elevado custo de capital, da tributação (complexa e excessiva), instabilidade do câmbio e uma

série de et ceteras, o resto do mundo está implementando políticas de reindustrialização focadas

em Indústria 4.0, com destaque para robótica, inteligência artificial, e internet das coisas, por

exemplo.

Portanto, para sair da inércia em que a crise nos colocou, a finalidade deste trabalho foi,

primeiro, identificar quais são as principais transformações que acontecerão espontaneamente

pelo mundo e sob as quais não é possível exercer qualquer controle (doravante denominados

drivers) para, em seguida, chegar ao cerne do trabalho, que é discernir quais serão as principais

tendências e, por consequência, os setores e produtos demandados.

O que os drivers mostram? O panorama internacional deixa claro que o impacto das

transformações se dará de forma heterogênea pelo mundo, e que a mudança na estrutura e na

intensidade da demanda serão mais importantes do que a velocidade das transformações.

No mundo, a renda e a população vão crescer num ritmo mais lento, com taxas

semelhantes as do século passado, mas com uma distribuição geográfica diferente. A América e

a Europa, por exemplo, devem ter baixas taxas de crescimento, mas, exceto a América Latina,

demandarão mais produtos sofisticados e complexos pelo fato de já apresentarem elevada renda

per capita. Em contraposição, a África subsaariana e o Sul da Ásia irão demandar principalmente

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bens de consumo e insumos básicos (destacadamente alimentos, energia e minerais para

construção civil) devido ao seu elevado crescimento populacional e aumento de renda partindo

de um nível mais baixo.

Por sua vez, as regiões que mais vão contribuir para o aumento da demanda e da produção

mundial são o leste e o sul da Ásia. Juntas, responderão por mais de dois terços do crescimento

do PIB mundial até 2030. São regiões onde parte da população tem baixa renda e parte tem

renda similar a dos desenvolvidos, o que levará a um mix de produtos que vai desde os mais

sofisticados até os mais básicos.

E quais são as tendências? Posterior a esse panorama internacional dos drivers, o

trabalho considerou a avaliação de estudos internacionais e realizou entrevistas com

especialistas para verificar quais tendências estão em curso pelo mundo e que devem se

destacar até 2030. A despeito da complexidade da análise, chegou-se a delimitação de nove

tendências mundiais que estão listadas a seguir.

Intensificação da demanda por alimentos

Demanda por novas fontes de energia

Expansão do entretenimento e turismo

Mudança do padrão de produção

Novas tecnologias

Urbanização e emergência de megacidades

Infraestrutura moderna e competitiva

Envelhecimento da população

Aumento das tensões geopolíticas

Além das tendências acima, há duas outras horizontais que merecem menção: uma é a

crescente preocupação com o uso racional de recursos naturais e a outra é a emergência cada

vez mais rápida de tecnologias disruptivas que impactam a produção, o consumo e o cotidiano

das pessoas.

Também não se pode ignorar que muitos setores podem ser impulsionados por mais de

uma tendência. Para solucionar essa problemática, o trabalho considerou apenas os setores

onde o impacto será maior, ainda que no anexo tenha sido disponibilizada uma tabela que

resume as possibilidades de cruzamento entre eles.

A seguir há um breve resumo das nove tendências e de seus respectivos impactos

setoriais, lembrando que as perspectivas tiveram como referência o ano de 2030.

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Intensificação da demanda por alimentos: impulsionada diretamente pelo acréscimo de

1,35 bilhão de pessoas no mundo e pelo aumento de 75% na renda per capita (de US$ 14

mil para US$ 21 mil). As regiões mais vulneráveis serão os maiores demandantes de

alimentos básicos e os países riscos de alimentos processados e proteínas.

Setores:

Oportunidades para o Brasil: segmento onde o país encontra-se melhor posicionado e

em condições de absorver o aumento da demanda mundial porque há muito investimento

e empresas líderes, ainda que seja mais em agronegócio do que em alimentos. A

tecnologia precisa ser prioridade dos investimentos nos próximos anos para que o país

consiga desenvolver competências na área.

Demanda por novas fontes de energia: impulsionada principalmente pelo crescimento

econômico dos países não-membros da OCDE (destaque para China e Índia), que desde

2007 já demandam mais energia do que os países-membros, que são economias mais

maduras e com uma demanda por energia relativamente estabelecida.

A despeito da enorme expectativa sobre as energias renováveis, os combustíveis fósseis

manterão a liderança respondendo por 2/3 do fornecimento mundial de energia nas

próximas décadas. No entanto, as energias renováveis continuarão crescendo a taxas

elevadas, exceto as hidroeletricas. Atualmente, a energia eólica é uma das que mais

cresce, mas no longo prazo espera-se que a fotovoltaica seja a líder. O setor de

armazenamento de energia é de onde se espera as maiores inovações disruptivas.

Setores:

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Oportunidades para o Brasil: o país já é um dos expoentes em geração de energia

renovável, principalmente, em hidroelétrica (terceiro maior do mundo) e biomassa.

Também está entre os dez maiores produtores de energia eólica. Para todos esses

segmentos, há expertise no desenvolvimento de tecnologias, máquinas e equipamentos.

Uma oportunidade que não está sendo bem aproveitada no país é a geração de energia

fotovoltaica, que é a mais promissora no longo prazo.

Expansão do entretenimento e turismo: o número de turistas no mundo deve sair de

1,2 bilhão em 2016 para 2 bilhões em 2030, como resultado da combinação de duas

variáveis: a) o relativamente pequeno crescimento da renda nos países desenvolvidos que

tem um impacto mais do que proporcional na demanda por esses serviços e, b) a

disseminação de tecnologias “poupadoras” de trabalho que permitirão mais tempo de lazer

aos trabalhadores.

Setores:

Oportunidades para o Brasil: aproveitar nosso enorme potencial turístico e rever os

investimentos em museus e galerias haja vista o triste aprendizado com o ocorrido no

Museu Nacional. No âmbito da economia criativa, o Brasil já emprega cerca de 1 milhão

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de pessoas e demonstra bom desempenho internacional em publicidade, arquitetura,

novas mídias, design e moda.

Mudança do padrão de produção: é obrigatória uma vez que o crescimento econômico,

principalmente dos países em desenvolvimento, pode levar ao colapso do meio ambiente.

Também ganhará força pela pressão de países e sociedade.

Setores: é uma tendência horizontal pois afeta todos os setores e se resume à busca por

maior eficiência energética e diminuição da emissão de poluentes (deve-se “fazer mais

com menos”). O mundo tem avançado positivamente nessa área: em 1990, para produzir

um dólar eram necessários 181 gramas de óleo, hoje são necessários 131 gramas, e a

expectativa é chegar a 115 gramas em 2030.

Oportunidades para o Brasil: há muito o que avançar pois está na contramão da

tendência mundial de redução de gramas de óleo para produção de um dólar (aumentou

de 91 para 94 gramas) e pode ser prejudicado pelas restrições comerciais a serem

impostas pelos países desenvolvidos. Também deve aproveitar a crescente demanda por

tecnologias nessa área.

Novas Tecnologias: tendência horizontal que ganhará força com a chegada da quarta

revolução industrial (Indústria 4.0), que terá o maior nível de complexidade tecnológica da

história. Ela terá como principal característica o desenvolvimento de novos produtos e

serviços a partir da integração das seguintes tecnologias: internet das coisas (IoT),

robótica, realidade aumentada, manufatura aditiva, materiais avançados, design digital,

simulação, computação de alto desempenho, Big Data, cloud computing, cibersegurança.

Setores: afeta mais intensamente os setores de Tecnologia da Informação e

Comunicação (TIC) e bens de capital, mas há uma forte característica horizontal em suas

aplicações, que perpassam todos os setores e há um forte componente de customização

em todas elas.

Oportunidades para o Brasil: aproveitar o momento de reindustrialização do mundo para

renovar sua indústria. Conta a nosso favor a diversificação e internacionalização do parque

fabril com a presença dos principais players mundiais da Indústria 4.0. Já temos ótimos

exemplos de empresas funcionando no modelo 4.0, mas comparado a outros países é

preciso avançar ainda mais, e um dos primeiros trabalhos envolve difundir conhecimento

e mobilizar governo e empresas.

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Urbanização e emergência de megacidades: do 1,35 bilhão de pessoas que existirá a

mais no mundo em 2030, 96% estarão nas cidades. Nos anos 2000, foi a primeira vez no

mundo que a população urbana foi maior que a rural. Entre 2015 e 2030, a taxa de

urbanização deve aumentar de 54% para 60% e o número de megacidades (acima de 10

milhões de habitantes) deve sair de 12 para 41. Por consequência, haverá mais pressão

por melhores serviços públicos, smart transportation, infraestrutura, entretenimento,

segurança, habitações de baixo custo e uma estrutura adequada para o tratamento do

lixo.

Setores:

Oportunidades para o Brasil: deve-se se preocupar com a elaboração de um

planejamento pois o número de pessoas vivendo nas cidades irá aumentar em 20 milhões,

saindo de um grau de urbanização já elevado (86%) para 89% em 2030. Comparada ao

resto do mundo, a urbanização brasileira tem uma especificidade que é o predomínio das

cidades médias (até 500 mil habitantes) e, por isso, pode ser uma referência no

desenvolvimento tecnologias para esse segmento. É preciso garantir a mobilidade das

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pessoas ao mesmo tempo em que se aproveita as oportunidades trazidas pelas novas

tecnologias, a exemplo de big datas e veículos elétricos.

Infraestrutura moderna e competitiva: resulta da necessidade de se modernizar

portos e ferrovias que estão obsoletos nos países desenvolvidos, e da necessidade de

expansão nos países em desenvolvimento. Metade do investimento de US$ 15 trilhões

previstos para 2030 virá da Ásia e terá como alvo principal as rodovias (US$ 9 trilhões).

Outros destaques: investir em infraestrutura de comunicação é fundamental para a

viabilização da Indústria 4.0 e igualmente importante é investir no tratamento da água e

esgoto enquanto a demanda por insumos minerais tem ênfase em águas profundas e

florestais.

Setores

Oportunidades para o Brasil: o investimento em infraestrutura pode ser a principal

alavanca para o crescimento do país no curto e no médio prazo, pois é imprescindível para

o desenvolvimento das tecnologias da Indústria 4.0 (infraestrutura de energia elétrica e de

comunicações) e também para maior eficácia e redução do custo de logística das

exportações de produtos manufaturados e também do agronegócio e minerais. Água e

esgoto também merecem destaque em termos de expansão da capacidade e tecnologia:

hoje metade dos brasileiros não tem acesso à coleta de esgoto e 38% da água potável é

desperdiçada. A retomada das parcerias público-privadas pode ajudar nessa tarefa.

Envelhecimento da população: até 2030, a população mundial de idosos (acima

de 65 anos) deve aumentar 37% (enquanto a população mundial 18%). Serão 254 milhões

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a mais, como resultado do aumento da qualidade de vida e queda da natalidade. A

expectativa de vida média do mundo deve chegar aos 70 anos até 2030 e não será raro

pessoas com mais de 100 anos.

Setores:

Oportunidades para o Brasil: sua taxa de envelhecimento (3,6% ao ano) é maior do que

o resto do mundo (1,1% ao ano), saindo de 16 milhões para 30 milhões em 2030, o que

vai exigir um robusto planejamento, e políticas públicas de saúde e infraestrutura

adequadas para essa mudança demográfica. O setor de equipamentos médico

hospitalares do país demostra elevado potencial para atender a demanda e as compras

públicas do SUS também podem incentivar a indústria nacional. Empresas também devem

estar atentas ao elevado potencial de consumo dessa faixa etária que, em geral, tem maior

acúmulo de riqueza.

Aumento das tensões geopolíticas: é uma consequência da escassez de recursos

naturais (petróleo e água), guerras civis e crises econômicas que aumentam o fluxo

migratório entre os países. Em 2017, os gastos militares já atingiram US$ 1,7 trilhão no

mundo, equivalente a US$ 230 por habitante.

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Setores

Oportunidades para o Brasil: o país deve criar sua própria indústria de defesa uma vez

que os países desenvolvidos não comercializam as tecnologias de ponta do setor. O Brasil

tem se destacado em uniformes para o exército, mas é preciso avançar para outras áreas

de maior robustez tecnológica. Investimentos em big datas para gerenciamento do fluxo

migratório na fronteira do país também se mostram essenciais frente à crise na Venezuela.

Finda a etapa de análise das tendências, pode-se dizer que as transformações que

acontecerão no mundo também serão uma grande oportunidade de diversificação da indústria

brasileira, que tem capacidade de se integrar tanto às cadeias fornecedoras de alimentos e

insumos básicos, quanto as de bens e serviços sofisticados. A despeito de haver segmentos com

diferentes níveis de intensidade tecnológica, há no país uma ampla gama de setores modernos

e com capacidade real de competir internacionalmente que não decorre apenas da abundância

de recursos naturais, mas do fato das empresas serem produtoras de tecnologia e estarem

adequadas ao padrão de concorrência e práticas internacionais.

Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é dar subsídios para a tomada de decisão das

indústrias sobre o caminho que vão seguir tendo em vista a urgência dessa preparação e o

aumento da concorrência internacional. Ainda que o cenário do país não seja o mais favorável,

tendo em vista a lenta retomada da atividade econômica e a incerteza no quadro político-eleitoral,

é preciso correr.

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Sumário

Sumário Executivo .................................................................................................................................... 5

Sumário .................................................................................................................................................. 14

Apresentação ......................................................................................................................................... 15

Estrutura do Estudo ................................................................................................................................ 16

1. Panorama internacional: população e renda em 2030. .................................................................... 16

1.1. Crescimento econômico ........................................................................................................... 17

1.2. Crescimento da população mundial .......................................................................................... 19

1.3. Crescimento da renda per capita .............................................................................................. 22

1.4. Síntese e conclusões ................................................................................................................ 24

2. Tendências, demandas e setores impulsionados ............................................................................ 25

2.1. Maior demanda por alimentos .................................................................................................. 29

2.2. Aumento da demanda por energia............................................................................................ 35

2.3 Entretenimento e Turismo ........................................................................................................ 40

2.4 Mudança no padrão de produção ............................................................................................. 49

2.5 Novas tecnologias .................................................................................................................... 51

2.6 Urbanização e megacidades .................................................................................................... 58

2.7 Infraestrutura moderna e competitiva ....................................................................................... 66

2.8 Envelhecimento da população .................................................................................................. 71

2.9 Aumento das tensões geopolíticas ........................................................................................... 76

Anexos ................................................................................................................................................... 79

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Apresentação

A indústria brasileira vem perdendo competitividade e relevância internacional desde a

década de 1980. No entanto, a partir de meados da década passada, esse processo se

intensificou caracterizando um claro fenômeno de desindustrialização. Se em 2004 a indústria de

transformação representava 17,8% do PIB, em 2016, esse setor passou a representar apenas

11,7%, o que deixa evidente a perda de relevância da manufatura no país. Em termos

internacionais, o processo é semelhante: enquanto as exportações de produtos primários

brasileiros saltaram de 1,93% das exportações mundiais em 2004 para 3,13% em 2016, as

exportações de produtos manufaturados, que representavam 0,95% das exportações mundiais

em 2004, ficaram estagnadas, passando a representar 0,90% em 2016.1

Correntemente, esse processo de desindustrialização é associado à falta de capacidade da

indústria brasileira de modernizar e se adequar às novas tendências e demandas mundiais.

Argumenta-se que os processos produtivos da indústria brasileira são ainda defasados

tecnologicamente e estão em situação oposta ao que acontece nos países de ponta, como

Estados Unidos, Japão e Alemanha. É necessário ponderar, no entanto, que a indústria brasileira

é bastante diversificada e, a despeito de haver segmentos com diferentes níveis de intensidade

tecnológica, há uma ampla gama de setores modernos e com capacidade real de competir

internacionalmente. Em alguns setores, a importância internacional da indústria brasileira não

decorre apenas da abundância de recursos naturais, mas do fato das empresas serem

produtoras de tecnologia e estarem adequadas ao padrão de concorrência e às práticas

internacionais.

A crise atual da economia brasileira tem prejudicado especialmente o setor manufatureiro,

que se encontrava em posição vulnerável diante, entre outros fatores, da elevada taxa de juros

praticada domesticamente e o câmbio apreciado e volátil – fatores que retiram a competitividade

dos produtos comercializáveis internacionalmente. É importante considerar, porém, que, uma vez

que essa crise passar, as empresas e os setores que resistirem terão que estar preparados para

um contexto internacional muito diferente daquele que se encontravam anteriormente à crise.

A dinâmica produtiva e as demandas da população mundial estão se transformando em

uma velocidade cada vez maior. Portanto, é fundamental que a indústria esteja em condições de

1 Dados do Banco Mundial para a participação da indústria no PIB e da base de dados da U.N. COMTRADE para informações

sobre as exportações (foram considerados primários os produtos classificados nas seções 01 a 15 (agrícolas) e 25 a 27

(minerais) do Sistema Harmonizado; o restante foi classificado como manufaturado.

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enfrentar essa concorrência com empresas do mundo inteiro. Neste contexto, é essencial que

sejam discutidas essas transformações a fim de que se projetem quais serão os setores e

produtos com maior demanda no futuro e como Brasil tem se posicionado nesses segmentos.

Portanto, compreender essas novas tendências e o novo contexto mundial será essencial

no processo de reindustrialização do país porque ajuda a direcionar iniciativas do setor privado

e públicas de fomento à competitividade internacional.

Estrutura do Estudo

Com a finalidade de contribuir para essa análise, este trabalho busca identificar quais são

as principais transformações que acontecerão espontaneamente pelo mundo, e sob as quais não

é possível exercer qualquer controle (doravante denominados drivers) para, em seguida,

discernir quais serão os setores e produtos estimulados por essas transformações.

O trabalho será, então, dividido em duas seções além desta apresentação. Na primeira,

serão discutidos os drivers das transformações, com destaque especial para a sua distribuição

geográfica. Busca-se, com isso, mostrar que o impacto das tendências setoriais, que virão mais

a frente, não se dará de forma homogênea pelo mundo.

A seção seguinte tem o objetivo de identificar essas tendências principais e os setores mais

promissores.

1. Panorama internacional: população e renda em 2030.

A fim de compreender as transformações pelas quais a demanda mundial irá passar nos

próximos anos, é importante dimensionar o contexto em que isso ocorrerá. Nesse sentido, esta

seção apresenta os drivers desse processo para que seja possível avaliar, na seção seguinte,

quais serão as principais tendências até 2030.

Foram identificados três drivers principais: a) o crescimento econômico, com especial

destaque para o crescimento das economias de renda média; b) o crescimento da população

mundial, que se dará principalmente nas regiões mais pobres; e c) o crescimento da renda per

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capita, que deve alterar o padrão de consumo e criar oportunidades e desafios para mudanças

substanciais nos padrões de produção.

Buscar-se-á, adicionalmente, compreender em quais regiões do globo esses drivers se

apresentarão de forma mais intensa. Isso é relevante porque as principais tendências afetarão

de forma distinta cada região e, portanto, configuram um processo de transformação heterogêneo

pelo mundo.

1.1. Crescimento econômico

Atualmente se produz no mundo mais de 100 trilhões de dólares por ano. Essa produção

se distingue entre produtos manufaturados, serviços, produtos agrícolas, entre outros. Apesar de

tamanha escala, a produção mundial deve continuar se expandindo de forma bastante intensa

nos próximos anos. No total, o PIB mundial (em PPC, preços de 2011) deverá aumentar US$

80 trilhões, saltando de US$ 107 trilhões em 2015 para US$ 187 trilhões em 2030.

A tabela a seguir mostra os principais resultados desse desempenho por região. Vale

observar que esta primeira parte do trabalho utilizou a classificação regional do Banco

Mundial2 e a lista dos países que contemplam cada uma está disponível no anexo.

Tabela 1.1.1 – Projeções para o crescimento do PIB 2015-2030, por região

Participação

em 2030

Variação anual 2015-

2030

Total em 2030 (US$ tri, PPC)

Contribuição para o

acréscimo

Leste Asiático e Pacífico 38,1% 5,1% 71,4 46,9%

Europa e Ásia Central 17,8% 1,8% 33,3 9,7%

América do Norte 12,7% 1,7% 23,8 6,7%

Sul da Ásia 13,5% 6,9% 25,3 20,1%

América Latina e Caribe 7,4% 2,7% 13,9 5,8%

Oriente Médio e Norte da África 6,8% 3,6%

12,6

6,5%

África subsaariana 3,7% 4,8% 7,0 4,4%

Brasil 2,1% 1,8% 3,9 1,1% Fonte: Banco Mundial e FMI (projeções); Elaboração: FIESP

2 Fonte: http://projects.worldbank.org/country?lang=en&page=

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Nota-se que, embora a taxa de crescimento mundial (3,6% ao ano) deva se manter próxima

às taxas verificadas nas últimas décadas do século XX, a distribuição desse crescimento ao redor

do globo apresentou significativas modificações.

Dos US$ 187 trilhões que serão produzidos em 2030, 38,1% serão no Leste-asiático e

Pacífico, e 13,5% no Sul da Ásia. Europa, América Latina e América do Norte, que representavam

67,7% do PIB mundial em 1990 e hoje representam 49,6%, deverão reduzir sua participação para

37,9% em 2030. Europa e Ásia Central representarão 17,8%, América do Norte, 12,7% e América

Latina e Caribe, 7,4%. África e o Oriente Médio representarão apenas os restantes 10,5%.

Desses US$ 80 trilhões adicionais que serão produzidos no mundo até 2030, US$ 37,5

trilhões estarão concentrados no Leste da Ásia e Pacífico (46,9% do aumento total) e US$ 16,1

trilhões no Sul da Ásia (20,1% do aumento total). Essas duas regiões terão as maiores taxas de

crescimento do mundo, com destaque para o Sul da Ásia, que deve crescer em média 6,9% ao

ano até 2030. Isso significa que haverá um generalizado aumento da demanda nessas regiões,

que envolverá tanto bens de consumo e insumos básicos, como produtos mais sofisticados.

O gráfico a seguir ajuda a ilustrar esse reposicionamento das regiões.

Gráfico 1.1.1 – Crescimento do PIB de 2015 a 2030, por região.

Fonte: Banco Mundial e FIESP; Elaboração: FIESP

-1,0%

4,0%

9,0%

14,0%

19,0%

24,0%

29,0%

34,0%

39,0%

44,0%

0,0% 1,0% 2,0% 3,0% 4,0% 5,0% 6,0% 7,0% 8,0% 9,0%

Part

icip

ação

no

PIB

mu

nd

ial

em

2030 (

%)

Taxa de crescimento anual do PIB (2015 a 2030)

América do Norte

Europa e Ásia Central

Oriente Médio e Norte da África

América Latina e Caribe

África SubssarianaBrasil

Leste Asiático e Pacífico

Sul da Ásia

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Pelo gráfico, chama atenção o excelente posicionamento da Ásia (Leste e Sul) e o

desempenho moderado de regiões que historicamente impulsionaram a economia mundial, como

a América do Norte e Europa.

A América Latina deve contribuir com 5,8% desse crescimento de US$ 80 trilhões. Além de

ter uma participação pequena no PIB mundial, a região deve apresentar taxas de crescimento

semelhantes às taxas das regiões desenvolvidas, que serão bastante inferiores às asiáticas. Se

analisado separadamente, o Brasil será responsável por 18,6% da contribuição da América

Latina e, sozinho, deve contribuir com 1,1% do crescimento do PIB mundial.

Finalmente, é importante destacar que a África subsaariana, embora deva crescer a taxas

anuais próximas às taxas do sul e leste asiático, contribuirá apenas com US$ 3,5 trilhões para o

aumento da renda, o que significa 4,4% do aumento total. Isso porque a região apresenta uma

participação muito restrita no PIB mundial, o que não deve se alterar significativamente até 2030,

quando se espera que essa região represente 3,7% da produção total.

1.2. Crescimento da população mundial

Em 2015, a população mundial atingiu 7,35 bilhões de pessoas. Apesar de haver uma

desaceleração da taxa de crescimento, a população ainda está crescendo significativamente e,

espera-se que, em 2030, sejam 8,7 bilhões de pessoas, ou 1,35 bilhão a mais com relação a

2015.

De acordo com dados do Banco Mundial, a população do mundo cresceu a uma taxa de

2,07% ao ano no final da década de 1960, decaiu para 1,19% ao ano no início da década de

2010, e para 2030 espera-se que não ultrapasse 1,09%. Isso significa que a população

continuará crescendo, mas de forma lenta.

Embora o crescimento da população mundial seja relevante para se começar a

compreender como isso afetará a demanda mundial, é importante destacar que esse crescimento

não é homogêneo, basta analisar a próxima tabela.

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20

Tabela 1.2.1 – Projeções para população 2015-2030, por região

Participação

em 2030

Variação anual 2015-

2030

Total em 2030

(bilhões)

Contribuição para o total

Leste Asiático e Pacífico 28,5% 0,6% 2,5 15,1%

Sul da Ásia 24,2% 1,3% 2,1 26,6%

África subsaariana 16,9% 2,6% 1,5 34,7%

Europa e Ásia Central 11,1% 0,4% 1,0 4,5%

América Latina e Caribe 8,4% 0,9% 0,7 6,9%

Oriente Médio e Norte da África 6,4% 1,8% 0,6 9,7%

América do Norte 4,5% 0,6% 0,4 2,5%

Brasil 2,6% 0,6% 0,2 1,4% Fonte: Banco Mundial e FIESP; Elaboração: FIESP

A tabela reforça que a taxa de crescimento da população mundial entre 2015 e 2030 será

baixa como um todo, mas principalmente na América do Norte e Europa, enquanto as maiores

variações se concentrarão na África Subsaariana, Oriente Médio e Sul da Ásia.

Sobre este tema, é importante destacar a África Subsaariana pois é a região que mais vai

crescer em termos populacionais entre 2015 e 2030, sendo responsável por 34,7% do 1,35 bilhão

de pessoas a mais no mundo. Por consequência, isto levará a uma expansão significativa da

demanda regional por bens de consumo e insumos básicos.

O próximo gráfico mostra como ficaria o posicionamento dos países correlacionando a taxa

de crescimento e a participação no total.

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Gráfico 1.2.1 – Crescimento da população de 2015 a 2030, por região.

Fonte: Banco Mundial e FIESP; Elaboração: FIESP

Percebe-se pelo gráfico que, além da África subsaariana, o Leste Asiático e Pacífico e o Sul

da Ásia serão os principias responsáveis pelo crescimento absoluto da população mundial.

Atualmente, estas duas regiões somadas representam mais da metade da população global. Ou

seja, apesar de se esperar que a taxa de crescimento do Leste Asiático e Pacífico seja bastante

próxima à da Europa e da América do Norte, e que a taxa de crescimento do Sul da Ásia seja

inferior à do Oriente Médio, por terem populações muito grandes em termos absolutos essas

duas regiões manterão uma participação extremamente relevante no total.

A América Latina apresenta baixas taxas de crescimento se comparada às regiões

compostas predominantemente por países em desenvolvimento. A população latino-americana

cresceu 1,12% ao ano entre 2010 e 2015 e deve crescer a menos de 0,9% ao ano entre 2015 e

2030, e a sua contribuição para o crescimento da população global será bastante reduzida (94

milhões de pessoas, o que significa 6,9% do aumento total).

O Brasil apresenta taxa de crescimento populacional ainda inferior à taxa da sua região.

Entre 2010 e 2015 o país cresceu 0,91% ao ano e, espera-se que sua população cresça 0,6%

ao ano entre 2015 e 2030. Neste período, o país deve aumentar em 15 milhões sua população.

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% 2,5% 3,0% 3,5%

Part

icip

ação

no

to

tal d

o m

un

do

em

2030

Taxa de crescimento anual da população (2015 a 2030)

Leste Asiático e Pacífico

Sul da Ásia

África Subssariana

Oriente Médio e Norte da África

Europa e Ásia Central

América Latina e Caribe

América do Norte

Brasil

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1.3. Crescimento da renda per capita

Apesar de ter ocorrido uma desaceleração da taxa de crescimento da renda mundial desde

que a crise internacional de 2008 eclodiu, espera-se que, entre 2015 e 2030, a renda per capita

total volte a crescer a taxas semelhantes ao período pré-crise puxada principalmente pelos

países em desenvolvimento da Ásia, superando 2,5% ao ano.

De acordo com o Banco Mundial, em 2015, a renda per capita mundial era de US$ 14,6 mil

(em PPC, a preços de 2011). Com base em projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI),

espera-se que a renda per capita média no mundo atinja US$ 21,5 mil (em PPC, a preços de

2011) até 2030. Isso significa que a renda per capita será 47,5% superior e, considerando o

crescimento da população, o PIB mundial será 74,5% maior.

Assim como se verificou para os outros drivers, o crescimento da renda per capita não é

homogêneo entre as regiões do globo. A próxima tabela mostra essa distribuição.

Tabela 1.3.1 – Projeções para o PIB per capita 2015-2030, por região

PIB per capita em 2015 (US$,

PPC, 2011)

PIB per capita em 2030 (US$,

PPC, 2011)

Variação anual 2015-2030

América do Norte 51.580 60.820 1,1%

Europa e Ásia Central 28.098 34.323 1,3%

Leste Asiático e Pacífico 14.857 28.753 4,5%

Oriente Médio e Norte da África

17.634 22.769 1,7%

América Latina e Caribe 14.651 19.098 1,8%

Sul da Ásia 5.321 12.050 5,6%

África subssariana 3.477 4.781 2,1%

Brasil 14.455 17.307 1,2% Fonte: Banco Mundial e FIESP; Elaboração: FIESP

O Leste da Ásia e Pacífico e o Sul da Ásia, terão as maiores taxas de crescimento médio

da renda per capita entre as regiões. Em seguida, está a África subsaariana, que, a despeito do

crescimento ser relevante, apresenta valores relativamente baixos. Ela deve sair de uma renda

per capita de US$ 3,5 mil em 2015 para US$ 4,8 mil em 2030.

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A despeito das regiões mais desenvolvidas do mundo (Europa e América do Norte) estarem

apresentando baixo crescimento da renda – o que deve se manter nos próximos anos – sua

demanda deve ficar ainda mais sofisticada, o que levará a uma transformação muito relevante

na oferta de produtos. Ademais, essas regiões devem contribuir significativamente para

transformações nas formas de produção. Em outras palavras, ainda que não haja um aumento

quantitativo da demanda relevante nessas regiões, como acontecerá na Ásia e África, tem havido

uma modificação qualitativa muito importante.

O próximo gráfico busca ilustra como fica o posicionamento das regiões nesse novo cenário.

Gráfico 1.3.1 – Crescimento da renda per capita de 2015 a 2030, por região.

Fonte: Banco Mundial e FMI (projeções); Elaboração: FIESP

(*) Tamanho da bola: PIB total em 2030 (US$ PPC)

O gráfico reforça que as regiões de maior crescimento serão o Leste da Ásia e Pacífico e o

Sul da Ásia, onde o crescimento do PIB per capita deve ser superior a 5,0% ao ano, mas a

América do Norte e Europa manterão os maiores níveis de renda per capita do mundo.

-10.000

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

80.000

0,4% 1,4% 2,4% 3,4% 4,4% 5,4%

PIB

pe

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m 2

030 (

US

$, P

PC

de

2011)

Taxa de crescimento anual da renda per capita (2015 a 2030)

América do Norte

Europa e Ásia Central

Oriente Médio e Norte da África

América Latina e Caribe

África Subssariana

Brasil

Leste Asiático e Pacífico

Sul da Ásia

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Com relação ao Brasil, nossa renda per capita já chegou a ser superior à média mundial.

Em 2014, enquanto a renda per capita brasileira era de US$ 15,2 mil (em PPC, a preços de

2011), a renda per capita mundial era de US$ 14,3 mil (em PPC, a preços de 2011). Porém, como

a taxa de crescimento da renda per capita dos demais países, entre 2000 e 2015, foi de

aproximadamente 2,5% ao ano, enquanto a brasileira foi de 1,65% ao ano, a renda per capita

mundial ultrapassou a brasileira. Se se considerar as projeções de crescimento do FMI, a renda

per capita do Brasil deverá crescer 20% até 2030 atingindo US$ 17,5 mil (em PPC, a preços de

2011), enquanto a renda per capita mundial deverá atingir US$ 21,5 mil no mesmo ano. Assim,

a renda brasileira deverá ser 19,7% inferior à renda mundial.

1.4. Síntese e conclusões

As transformações pelas quais o mundo vem passando dizem menos respeito a uma

mudança na velocidade do crescimento da renda e da população e mais a uma alteração na sua

estrutura. Ainda que tenha havido uma desaceleração, as taxas de crescimento mundiais da

renda e da população não divergem muito do que foi verificado nas últimas décadas do Século

XX. No entanto, a distribuição desse crescimento entre as diversas regiões se alterou

substancialmente. Tanto o crescimento da renda per capita, quanto o crescimento da população

e do PIB devem apresentar características muito específicas em cada região, o que implica em

especificidades relevantes com relação às transformações que a demanda e a produção mundial

irão passar nos próximos anos.

A América do Norte e a Europa devem apresentar baixas taxas de crescimento

populacionais e econômicas nos próximos anos. Porém, devido a sua alta renda per capita, um

pequeno crescimento tem um impacto muito relevante na demanda de produtos mais

sofisticados. Ademais, mesmo a demanda atual tem passado por importantes transformações

qualitativas. O mix de produtos demandados por essa população tem crescido e se diversificado,

o que tem gerado uma ampliação substantiva da oferta de produtos mais complexos e cujo

fornecimento envolve cadeias de desenvolvimento, produção e logística bastante integradas e

mais eficientes. Apresenta-se, nesse contexto, uma grande oportunidade de diversificação da

indústria brasileira, que tem capacidade de se integrar a essas cadeias como um importante

fornecedor de bens e serviços sofisticados.

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Em oposição ao grupo dos países desenvolvidos, encontra-se a África subsaariana e, em

alguma medida, o sul da Ásia. Ambas regiões devem apresentar elevado crescimento

populacional nos próximos anos, ainda que, principalmente na África subsaariana, isso não se

reverta em uma elevada renda per capita. Nesse sentido, essas duas regiões devem contribuir

principalmente para o aumento da demanda de bens de consumo e insumos básicos,

destacadamente para a demanda de alimentos, energia e minerais para construção civil. Para o

fornecimento desses bens básicos, uma alteração relevante nos métodos de produção deve

ocorrer, uma vez que, se mantida a mesma lógica de produção que sustentou o crescimento dos

países desenvolvidos, o meio ambiente pode entrar em colapso.

O leste da Ásia é a região do mundo que mais deve contribuir para o aumento da demanda

e da produção. Se considerado em conjunto com o sul da Ásia, que ainda apresenta nível de

renda mais baixo, mas que deve se aproximar da média mundial, essas regiões explicarão mais

de dois terços do crescimento do PIB mundial. Como essas regiões são compostas

principalmente de países de renda média, em que parte da população tem baixa renda como a

África subsaariana, e parte da população tem renda similar a dos desenvolvidos, espera-se que

tanto a demanda por produtos sofisticados, quanto a demanda por bens de consumo e insumos

básicos deva aumentar substancialmente.

A heterogeneidade da expansão da renda e da população mundial, portanto, é fator chave

para compreensão das transformações da estrutura de demanda mundial. Se por um lado o

crescimento populacional levará a um aumento muito relevante da demanda por produtos básicos

– principalmente por se dar em regiões menos desenvolvidas, o aumento da renda impulsionará

também a demanda de manufaturados, com especial destaque para produtos mais sofisticados.

2. Tendências, demandas e setores impulsionados

Conforme destacado na seção anterior, a economia mundial está passando por

transformações que tem impactos relevantes sobre a demanda e a produção ao redor do mundo.

Enquanto algumas regiões apresentarão elevado crescimento populacional com baixa renda, o

que elevará bastante a demanda por insumos e bens de consumos básicos, outras apresentarão

expansão econômica, levando ao aumento da demanda de produtos mais sofisticados. Somam-

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se a isso mudanças na forma de produção e nos padrões de consumo, impulsionadas

principalmente pela emergência de novas tecnologias e pela viabilização econômica da adoção

de tecnologias já desenvolvidas, mas cuja viabilidade econômica de sua adoção era baixa3, além

de mudanças relevantes nas relações entre os países que têm culminado em uma nova

geopolítica internacional.

Esse conjunto de transformações é extremamente relevante para se compreender quais

serão os setores e produtos com maior destaque e espaço internacionais, assim como, aqueles

em que o Brasil poderá se lançar como relevante produtor. Para chegar a essa etapa, o trabalho

se baseou no panorama internacional do capítulo anterior, em outros estudos internacionais e

em entrevistas com especialistas. Com isso, foi possível verificar que estão em curso pelo mundo

nove tendências principais. São elas:

1. Intensificação da demanda por alimentos

2. Demanda por novas fontes de energia

3. Expansão do entretenimento e turismo

4. Mudança do padrão de produção

5. Novas tecnologias

6. Urbanização e emergência de megacidades

7. Infraestrutura moderna e competitiva

8. Envelhecimento da população

9. Aumento das tensões geopolíticas

As quatro primeiras tendências, junto de urbanização, emergência de megacidades

e envelhecimento da população, refletem diretamente as transformações apontadas na seção

anterior. Como destacado, o crescimento populacional em regiões de baixa renda amplia a

demanda por insumos básicos e por alimentos, assim como a demanda por energia para se

produzir esses insumos. As regiões mais desenvolvidas, ainda que não apresentem um

crescimento econômico significativo, demandarão produtos e serviços mais sofisticados, o que é

destacado pelas tendências de entretenimento e turismo, novas tecnologias e o

envelhecimento da população. Já o leste e o sul da Ásia (regiões de renda média) assistirão

especialmente ao aumento da urbanização mais intensa, além das tendências já destacadas.

3 A exemplo de sensores e robôs.

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Diferentemente dessas tendências, que refletem os drivers apresentados no panorama

internacional da seção anterior, a demanda por infraestrutura competitiva não acontece

espontaneamente. Na medida em que as condições de produção se alteram, fica cada vez mais

latente a necessidade de modernizar a infraestrutura.

Finalmente, é importante destacar o aumento das tensões geopolíticas, que está ligado

à mudança na forma como os países se relacionam, com especial ênfase nos países centrais,

como os Estados Unidos, a China e as principais nações europeias.

Distinguir a intensidade com que essas tendências ocorrerão pelo mundo também é uma

etapa importante do presente trabalho, pois é notório que se difundem de forma heterogênea.

Baseada na mesma divisão regional utilizada na primeira seção, a Tabela a seguir sistematiza

como algumas dessas tendências se distribuem pelo mundo:

Tabela 2.1 – Tendências e demandas sociais por região: taxa de crescimento médio

anual*

Demanda por

alimentos Demanda por

energia

Urbanização e megacidades

Envelhecimento da população

África subsaariana 2,6% (1º) 2,6% (4º) 1,35% (1º) 0,2% (7º)

América Latina 0,9% (4º) 2,2% (5º) 0,28% (5º) 1,7% (2º)

América do Norte 0,6% (5º) 0,0% (7º) 0,21% (7º) 1,3% (3º)

Europa e Ásia Central 0,4% (7º) 0,8% (6º) 0,23% (6º) 0,9% (5º)

Leste da Ásia e Pacífico 0,6% (6º) 4,4% (2º) 1,31% (2º) 1,7% (1º)

Oriente Médio e Norte da África 1,8% (2º) 4,3% (3º) 0,35% (4º) 0,5% (6º)

Sul da Ásia 1,3% (3º) 4,9% (1º) 1,29% (3º) 1,3% (4º)

Brasil 0,6% 1,9% 0,24% 2,5% (*) Crescimento anual projetado entre 2015 e 2030. Para maior demanda por alimentos foi utilizado crescimento da

população como proxy.

A tabela apresenta as principais tendências e a intensidade com que elas ocorrerão em

cada região. Conforme será apresentado, o envelhecimento da população terá relativamente

mais efeitos sobre a demanda dos países desenvolvidos ou de renda média, podendo-se

destacar regionalmente a América do Norte e a Europa, a América Latina (com especial destaque

para o Brasil) e o Leste da Ásia.

O crescimento da população deve ampliar significativamente a demanda por alimentos

nas regiões menos desenvolvidas, como a África subsaariana e o Sul da Ásia. O Oriente Médio

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e Norte da África também é uma região que deve ampliar bastante a demanda por esses recursos

devido ao aumento populacional, embora não se espere um crescimento da renda tão elevado

quanto nos demais asiáticos.

A urbanização e a maior demanda por energia serão especialmente relevantes para os

países do Leste da Ásia e Pacífico e para o Sul da Ásia, pois essas regiões serão as que

apesentarão maior crescimento da produção e da população urbana. No caso da urbanização, a

África subsaariana também deve ser bastante afetada e, no caso da demanda energética, pode-

se destacar o Oriente Médio e Norte da África.

Para as demais tendências, uma avaliação quantitativa pode levar a conclusões

equivocadas, pois seus principais dinamizadores são mudanças qualitativas.

A demanda por infraestrutura competitiva tem certa peculiaridade porque envolve duas

problemáticas: uma relacionada à necessidade de se criar infraestrutura onde ela não existe, que

é o caso dos países mais pobres, e outra que é a necessidade de modernização de uma

infraestrutura que já pode ser considerada relativamente antiga, como acontece nos países

desenvolvidos. Essa será uma questão relevante especialmente para o Brasil e para a América

do Norte (com destaque para os EUA).

As maiores tensões geopolíticas, por seu turno, continuarão a ser uma questão central

para os países do Oriente Médio e Norte da África, e para a Europa e Ásia Central. Questões

como imigração tendem a ganhar espaço em meio a um mundo cujas barreiras territoriais têm

se tornado cada vez mais contraditórias frente à velocidade que conhecimento e informação são

transmitidos.

Além dessas tendências, é importante destacar ainda algumas tendências horizontais que

também são fatores autônomos de transformação das demandas sociais; exemplo disto é a

crescente preocupação com o uso racional de recursos naturais. Se por um lado, esta tendência

deriva da necessidade de atender o aumento da população e o crescimento da renda afinal os

recursos são escassos, por outro, não há garantia de que os mesmos sejam utilizados de forma

mais racional, sendo necessário, portanto, incluir essa temática na agenda política para que

ocorra essa transformação.

Outra transformação autônoma que também se relaciona horizontalmente com todas as

tendências destacadas acima é a emergência cada vez mais rápida de tecnologias disruptivas,

que têm alterado a forma como se produz e se consome e estão cada vez mais presentes no

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cotidiano das pessoas. Ademais, tecnologias desenvolvidas há algum tempo, mas utilizadas

antes apenas nas áreas militares, têm se tornado economicamente viáveis e seu uso comercial

tem se expandido.

Finalmente, é importante destacar que, principalmente nos países desenvolvidos, haverá

uma transformação relevante na estrutura de consumo. Entretenimento e turismo se tornarão

ainda mais relevantes na medida em que, com a substituição do trabalho humano por tecnologia,

haverá um aumento da ociosidade que, se bem administrada, levará ao maior consumo de bens

e serviços ligados à indústria da cultura e diversão.

Com a finalidade de discutir e compreender como essas tendências poderão determinar

quais setores se destacarão na próxima década, cada uma delas será analisada separadamente

a partir do próximo item tendo em vista as principais transformações horizontais e sem ignorar

que muitos setores podem ser impulsionados por mais de uma tendência. Nestes casos, a

despeito de serem analisados a partir de uma única tendência, eles podem ser considerados

como derivados de mais de uma tendência. A Tabela A.1, que está no anexo, resume as

possibilidades de cruzamento entre eles.

2.1. Maior demanda por alimentos

Conforme analisado na primeira seção, dois importantes fatores de transformação da

demanda mundial serão o crescimento da população e o aumento da renda. Embora a taxa de

crescimento esteja desacelerando, espera-se que entre 2015 e 2030 se somarão à população

mundial mais 1,35 bilhões de pessoas. No mesmo período, a renda per capita deve sair de US$

14,6 mil para US$ 21,5 mil, um aumento de 74,5%.

A população deverá crescer principalmente nos países mais vulneráveis (principalmente na

África subsaariana) e em países em desenvolvimento, o que ampliará substancialmente a

demanda por produtos básicos, como alimentos, exigindo um crescimento significativo da

produtividade agrícola e a expansão da fronteira agrícola para regiões desérticas.

Conforme pode-se verificar na Figura 2.1.1, os países com menor renda per capita tendem

a ser aqueles com maior demanda por alimentos. Enquanto os países mais ricos, como Estados

Unidos, Reino Unido e Suíça gastam menos de 10% da sua renda com alimentos em casa, em

países da África subsaariana, como Nigéria, Quênia e Camarões, a população gasta pelo menos

40% da sua renda com produtos alimentícios.

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Figura 2.1.1 – Parcela do consumo dispendida em alimentos em casa* (%), 2015.

Fonte: Fórum Econômico Mundial4

A partir dessas informações, é possível identificar que o impacto do crescimento da renda

e da população dos países mais pobres (principalmente da África subsaariana) terá um impacto

bastante relevante na demanda por alimentos. Como parte relevante da renda desses países é

gasto com insumos básicos, espera-se que seu crescimento acima da média mundial possa

elevar substancialmente sua demanda por produtos alimentícios.

O aumento da renda também impacta diretamente a estrutura de consumo de alimentos. A

parcela dos nutrientes extraídos de cereais tende a diminuir com o aumento da renda, dando

espaço principalmente para alimentos ricos em proteína, como carnes e peixes. Um estudo

realizado em 2009 para os países da Europa identificou que nas regiões da Europa que mais

cresceram entre os anos 1960 e os anos 2000, houve um substancial aumento da parcela de

calorias obtidas a partir do consumo de carnes e uma redução do consumo da parcela obtida a

partir dos cereais. Essa alteração, porém, percebida em menor escala no Norte da Europa, região

que já estava em um grau de desenvolvimento elevado nos anos 1960.

4 https://www.weforum.org/agenda/2016/12/this-map-shows-how-much-each-country-spends-on-food/

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A tabela 2.1.1 apresenta essas informações. Conforme pode-se verificar, na Europa

Mediterrânea, enquanto a relevância dos cereais se reduziu de 52,7% para 38,4% entre os anos

1960 e os anos 2000, a relevância das carnes mais do que dobrou, saltando de 6,1% para 12,6%.

Situação semelhante pode-se verificar na Europa Central, onde a relevância dos cereais caiu de

51,0% para 39,3% e a das carnes de 10,3% para 13,5%. No caso da Europa do Norte, que já

tinha altos níveis de desenvolvimento nos anos 1960, os cereais mantiveram quase que estáveis

sua participação, pois já no início do período analisado encontravam-se na casa dos 30%. As

carnes aumentaram sua participação, saltando de 12,2% para 16,8%, porém, substituindo

principalmente açúcares e peixes como fontes de caloria.

Tabela 2.1.1 – Distribuição da disponibilidade de alimentos por grupo (kcal por pessoa)

Europa

Mediterrânea Norte da Europa Europa Central

1961/65 2000/04 1961/65 2000/04 1961/65 2000/04

Cereais 52.7% 38.4% 35.2% 34.9% 51.0% 39.3%

Carnes 6.1% 12.6% 12.2% 16.8% 10.3% 13.5%

Peixes e frutos do mar 1.0% 1.6% 1.8% 0.9% 0.5% 0.7%

Açúcares e adoçantes 9.3% 11.7% 20.2% 16.6% 13.2% 15.4%

Frutas 4.9% 4.8% 3.4% 4.2% 4.0% 3.8%

Vegetais 3.0% 3.9% 1.2% 2.4% 2.0% 2.8%

Azeite 4.8% 4.5% 0.1% 0.5% 0.1% 0.3%

Legumes 3.0% 1.7% 0.6% 0.8% 1.0% 0.7%

Oleaginosas 1.2% 1.2% 0.4% 0.7% 0.6% 0.8%

Óleos vegetais 10.0% 14.9% 7.5% 13.2% 6.8% 14.0%

Gordura animal 3.9% 4.7% 17.4% 9.0% 10.5% 8.7% Fonte: da Silva R., Bach-Faig A., Raidó Quintana B., Buckland G., Vaz de Almeida M. D., Serra-Majem L. (2009),

Worldwide variation of adherence to the Mediterranean diet, in 1961–1965 and 2000–2003. Public Health Nutr. 12,

1676–1684. Elaboração: FIESP

Essas informações são relevantes para compreender o impacto que o crescimento dos

países em desenvolvimento (principalmente do Sul e do Leste asiático) podem ter sobre a

demanda de alimentos. Esses países têm hoje renda similar a dos europeus dos anos 1960, o

que significa que, se seguirem a mesma tendência, deve haver um aumento do consumo de

carnes e peixes associado a uma redução do consumo de cereais.

A Figura 2.1.2 apresenta quais serão os setores mais impulsionados pelo aumento da

demanda por alimentos e insumos básicos, e os produtos e tecnologias associados.

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Figura 2.1.2 – Setores impulsionados e produtos associados ao aumento da demanda por

alimentos e insumos básicos

A figura mostra que o aumento da demanda por alimentos e insumos básicos impulsionará

principalmente setores associados à disponibilidade de recursos, tais como recursos hídricos e

minerais, setores ligados ao consumo de alimentos processados, além do agronegócio, que

fornece insumos principalmente para setor de alimentos, ainda que não exclusivamente. Podem

se destacar quatro atividades específicas que serão impulsionadas pela demanda mundial: (i)

insumos do agronegócio, (ii) insumos minerais, (iii) água, e (iv) alimentos processados.

2.1.1 Insumos do agronegócio

Os insumos do agronegócio devem ter sua demanda ampliada significativamente nos

próximos anos diante do crescimento da renda dos países em desenvolvimento. A agricultura do

futuro está associada aos extraordinários avanços científicos em diferentes campos do

Au

me

nto

da

de

ma

nd

a p

or

alim

en

tos

Insumos do agronegócio

Agricultura de precisãoUS$ 4,5 bi

(2020)

Biotecnologia US$ 604 bi

Plasticultura

Água

Dessalinização Equip.: US$ 15,3 bi

Saneamento para reutilização

Alimentos processados

Alimentos funcionais US$ 377,8 bi

Alimentos com maior validade

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conhecimento, como a genômica, a nanotecnologia, a automação e a robótica, além das

tecnologias da informação e da comunicação (TICs).

Os métodos de manejo da produção agrícola, o acesso ao mercado, a logística, e as

relações entre produtores e consumidores estão se transformando diante desses avanços

científicos. A agricultura de precisão, por exemplo, que se estima que atingirá um mercado de

US$ 4,5 bilhões em 2020 cumpre papel chave nesse processo, pois permitirá a redução do uso

de agrotóxicos e garantirá um melhor aproveitamento do solo. A chamada “digitalização do

campo”, em que dados sobre as áreas de produção agropecuária são gerados e processados

em larga escala, evitará perdas de safra e garantirá maior qualidade dos insumos produzidos.

A plasticultura, por seu turno, permite contornar problemas causados pelas intempéries,

como variações climáticas bruscas ou pelos inconvenientes que climas muito frios podem causar.

Esse segmento tem se expandido muito e hoje já cumpre papel fundamental na produção

agropecuária, levando ao aumento da produtividade da terra e garantindo estocagem adequada,

o que possibilita um aumento substancial da produtividade agrícola e melhoria da qualidade dos

produtos.

Finalmente, é importante destacar a relevância da biotecnologia, cujo mercado pode chegar

a mais de US$ 600 bilhões nos próximos anos. A modificação genética organismos para se

tornarem mais resistentes às pragas e aos intemperes climáticos e a sua adequação a diferentes

ambientes que antes eram improdutivos, tem permitido a expansão da fronteira agrícola para

regiões semiáridas e possibilitando a redução do uso de agrotóxicos prejudiciais ao meio

ambiente e à saúde do consumidor.

Nesse sentido, há uma ampla gama de avanços relevantes no agronegócio que visam

mitigar os efeitos negativos climáticos e associados a pragas, e que permitem utilizar os recursos

disponíveis de forma muito mais eficiente, aumentando de forma substancial a capacidade de

produção agropecuária de regiões antes improdutivas.

2.1.2 Água

Os recursos hídricos são outro foco de atenção diante do aumento da população mundial.

A água é o cerne do desenvolvimento sustentável. Os recursos hídricos e a gama de serviços

que eles prestam estão na base da redução da pobreza, do crescimento econômico e da

sustentabilidade ambiental. Da segurança alimentar e energética à saúde ambiental, a água

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contribui para a melhoria do bem-estar social e para o crescimento inclusivo, afetando os meios

de subsistência de praticamente toda a população mundial. No entanto, em regiões como a Ásia

Central, o Oriente Médio e o Norte da África, esse recurso é escasso e, em outras regiões, como

a África subsaariana e o Sul da Ásia, a escassez já causa graves restrições ao crescimento

econômico. Nesse sentido, o mercado de equipamentos para dessalinização da água está em

franca expansão e deve atingir US$ 15,3 bilhões em 2018, assim como os investimentos em

saneamento para reutilização desse recurso.

Além da escassez, o tratamento da água potável também deve estar na ordem do dia, uma

vez que atividade agrícola e a falta de tratamento de rejeitos domésticos têm poluído superfícies

subterrâneas e encarecido o custo de recomposição. Novas tecnologias serão importantes

aliadas para a solução desse problema. Soluções tecnológicas como a digitalização e integração

de sistemas são capazes de reduzir o desperdício da coleta e na distribuição, além de permitir o

reaproveitamento da água tanto no campo, quanto nas cidades.

2.1.3 Alimentos processados

Associado às restrições ao aumento da produção, como o acesso limitado à água, um setor

que deve se expandir muito nos próximos anos é o de alimentos processados, com especial

destaque para aqueles com maior validade e alimentos funcionais. O aumento do tempo médio

de vencimento dos alimentos é essencial no processo de torná-los transacionáveis e, portanto,

capaz de atingir mercados mais distantes. A indústria de embalagens tem inovado bastante

buscando reduzir a quantidade de conservantes dos alimentos diante da pressão dos

consumidores e de agências reguladoras sem que isso concorra para redução da validade

desses produtos.

Paralelamente, há uma crescente demanda por alimentos funcionais, compostos de

ingredientes que, além de suas funções nutricionais básicas, produzem efeitos benéficos à

saúde. Estima-se que até 2020 o mercado para esse tipo de alimento atinja US$ 377,8 bilhões.

Trata-se de um mercado com bastante relevância principalmente em países desenvolvidos, cuja

sofisticação dos produtos é fator decisivo.

Nos países de renda mais baixa, por outro lado, a demanda por alimentos tradicionais, como

o arroz e o trigo, cria oportunidades para que os produtores tradicionais expandam sua produção.

No entanto, conforme destacado anteriormente, a biotecnologia, a plasticultura e a agricultura de

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precisão serão muito relevantes para o controle de pragas, além de possibilitar um aumento

substancial da produtividade da terra e a utilização de terras originalmente não agricultáveis.

2.1.4 Posicionamento do Brasil:

Apesar de a renda brasileira estar estagnada e não se esperar um aumento tão grande

quanto se verificará no resto do mundo, o Brasil se encontra em uma condição mais confortável

nesses setores do que em praticamente qualquer outro que será analisado neste estudo. O país

realizou investimentos relevantes no agronegócio e tem empresas entre as líderes mundiais

nesse segmento, assim como no setor de alimentos. Desta forma, o país tem grandes condições

de absorver a demanda mundial.

A geração e adoção de tecnologias capazes de reduzir custos e expandir as oportunidades

de penetração do produto nacional no exterior (por exemplo, usar nanotecnologia para ampliar a

validade dos alimentos) são essenciais para essa estratégia. O país tem um potencial muito

grande no agronegócio por ser um dos líderes mundiais na produção, mas muitas dessas

tecnologias utilizadas são importadas. Para além de grande produtor, é necessário que o país se

coloque em condições de desenvolvedor dessas novas tecnologias.

Importantes regiões do Brasil estão passando por desertificação. Regiões que antes eram

agricultáveis estão se tornando semiáridas, dificultando o acesso à água, principalmente no

Nordeste, onde já se produz frutas com água fóssil. Técnicas para dessalinização estão sendo

desenvolvidas em conjunto com outros países, o que é fundamental, pois tanto a água do mar,

quanto a água fóssil demandam isso antes do uso. Novas tecnologias que permitem a reutilização

da água, tais como o desenvolvimento de novos equipamentos, no entanto, são o principal foco

das políticas atuais e, provavelmente, onde o Brasil tem oportunidades de concorrer

internacionalmente.

2.2. Aumento da demanda por energia

O crescimento econômico é um determinante do crescimento da demanda de energia. Por

isso, ela irá aumentar principalmente em países em desenvolvimento, como China, Índia e nos

países do sudeste asiático, pois são eles que devem puxar o crescimento do mundo nas próximas

décadas.

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Estimativas da OCDE mostram que entre 2012 e 2040, o PIB (em paridade do poder de

compra) do mundo deve crescer 3,3% ao ano, puxado principalmente pelos países emergentes

que não são membros da OCDE (4,2% ao ano), enquanto o crescimento dos países-membros

deve ser de 2% ao ano em razão da maturidade das suas economias e pela tendência de

crescimento demográfico lento ou em declínio.

Em termos de consumo de energia, desde 2007, os países de fora da OCDE superam o de

países-membros e essa tendência deve se manter nas próximas décadas. Entre 2012 e 2040,

os países não-OCDE devem aumentar a demanda por energia em 71%, liderados principalmente

pela China e Índia, enquanto nos países-membros deve aumentar 18%. Em 2040, quase dois

terços da energia consumida no mundo será em países de fora da OCDE.

A Figura 2.2 apresenta um panorama dos principais setores que serão impulsionados pelo

aumento da demanda energética e os principais produtos e tecnologias associadas.

Figura 2.2 – Setores impulsionados e produtos associados a maior demanda energética

Au

me

nto

da

de

ma

nd

a p

or

en

erg

ia

Geração de energia renovável

Eólica maq/eq: 79,5GW

Fotovoltaica US$ 140 bi

Hidroelétrica US$ 75bi

Biomassa e resíduosgeração: 600

TWh/ano

Geração de energia não renovável

Petróleo, gás natural e gás de xistoCombustíves

fósseis: US$ 4 tri

Nucleargeração, maq/eq e etc.: US$677bi

Distribuição de energia Distribuição inteligente: “smart grid” US$65,4 bi

Armazenamento de energia

Baterias e capacitoresUS$400bi (excl.

carros)

Formas alternativas (ex.: armazenamento químico – H2)

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Conforme apresentado na figura, o aumento da demanda por energia terá efeitos diretos

sobre a geração, a distribuição e o armazenamento de energia. Será estimulado tanto o

desenvolvimento de novas tecnologias, quanto a utilização de recursos mais eficientes e menos

prejudiciais ao meio ambiente.

Dentro do setor de geração de energia é possível distinguir entre dois setores com

características e dinâmicas bastante distintas: o setor de geração de energia renovável e de

energia não renovável.

2.2.1 Geração de energia renovável

O setor de geração de energia renovável é o que se apresenta com maior expectativa de

expansão, pois há uma demanda mundial por formas mais limpas de se produzir energia e com

menor impacto ambiental:

O segmento de energia eólica deve apresentar uma taxa de crescimento muito elevada,

se consolidando como uma das principais fontes. Estima-se que a capacidade dobrará até 2020,

atingindo 792 GW no mundo. Espera-se que até 2030 essa tendência se intensifique, uma vez

que o setor tem se mostrado cada vez mais capaz de substituir fontes não renováveis diante da

queda de preço dos equipamentos.

A energia fotovoltaica é outro segmento que deve apresentar uma grande expansão e,

possivelmente, se configurará como principal fonte num prazo mais longo. Estima-se que serão

investidos US$ 140 bilhões em 2023 e que sua capacidade de oferta deve atingir 600 GW nesse

ano. O segmento é muito provavelmente o mais promissor dentre os renováveis, mas ainda figura

como coadjuvante em termos mundiais, com potencial energético inferior ao eólico e ao

hidrelétrico.

Ainda dentro do setor de energia renovável, dois outros segmentos com bastante

importância, mas já mais consolidados, são:

A geração hidroelétrica: apesar de se esperar um investimento bem menor em

hidrelétricas nos próximos anos do que em fotovoltaica, estima-se que o investimento anual no

setor deve chegar a US$ 75 bilhões em 2020. Além disso, esse segmento se destaca pela atual

capacidade de geração, que, atualmente, supera 1000 GW, e deve chegar a 1400 GW em 2020.

Trata-se, portanto, de uma importante oportunidade, uma vez que o setor ainda é o principal

fornecedor de energia renovável no mundo.

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Biomassa/resíduos: este segmento de geração de energia, apesar de importante, tem

bem menos relevância do que os demais. Atualmente, são gerados no mundo 464 TWh/ano por

meio dessa fonte e, em 2020, deve-se chegar a aproximadamente 600 TWh/ano (o que equivale

a aproximadamente 70 GW de capacidade sendo utilizada 100% do tempo, ou seja,

aproximadamente 5% da capacidade das hidroelétricas). Embora menor que os demais, trata-se

de um segmento que não pode ser ignorado, pois cumpre função estratégica em países cujo

agronegócio gera muitos resíduos.

2.2.2 Geração de energia não renovável

Apesar de haver muita pressão para redução da utilização de fontes energéticas não

renováveis, dificilmente elas perderão espaço nos quinze anos diante da elevada demanda

oriunda do crescimento dos países em desenvolvimento. Ainda nos próximos anos os

combustíveis fósseis serão os principais responsáveis pelo aumento da oferta. Estima-se que

dois terços do fornecimento de energia virão de combustíveis fósseis, impulsionados pelo gás

natural e pelo consumo de petróleo.

Petróleo e gás: espera-se que a demanda por petróleo cresça a uma taxa de 0,9% ao ano

até 2030 e que sejam acrescidos à produção atual 16 milhões de barris/dia até esse ano. A

demanda por gás, por seu turno, irá evoluir a uma taxa ainda superior: 2,0% ao ano até 2030 e

estima-se que, em quinze anos, 16% da produção total de gás do mundo será de gás de xisto.

Energia nuclear: outra fonte energética que ainda terá muita presença no futuro é a energia

nuclear. Os países não abandonam esse tipo de energia porque é muito eficiente e os problemas

com segurança e lixo atômico já foram minimizados. Não por acaso, espera-se que o

investimento anual no segmento seja de US$ 300 bilhões em 2030.

Em suma, em termos de geração a principal tendência é a convivência de diferentes

paradigmas, pois será preciso combinar várias formas de energia a fim de que se garanta um

sistema seguro e estável.

2.2.3 Transmissão e distribuição de energia

Um setor que deve se desenvolver muito nos próximos anos e que passará por importantes

transformações é o de distribuição de energia. Diante da possibilidade de se gerar energia em

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menor escala, redes interconectadas permitirão que consumidores de energia se tornem também

vendedores. A relação entre geração e consumo vai mudar, pois a descentralização da geração

e os “smart grids” vão permitir que consumidores se tornem prosumers – produtores e

consumidores simultaneamente. Para isso, porém, os equipamentos de geração terão de ser

mais leves. Estima-se que os investimentos em distribuição inteligente (“smart grid”) devem

atingir U$S 65 bilhões em 2022, sendo que o segmento de energia é o principal motor desse

investimento no mundo.

A atuação pública no segmento é fundamental para garantir que isso ocorra. Novos

investimentos em infraestrutura energética urbana deverão ser feitos para evitar que a

distribuição energética encontre limitantes para além da capacidade de geração. Nesse sentido,

o segmento de distribuição, que tem se modificado muito, apresenta-se como uma relevante

oportunidade para o desenvolvimento de novas tecnologias que associam sistemas digitalizados

com linhas de transmissão e distribuição tradicionais.

2.2.4 Armazenamento de energia

O maior desafio do setor energético é o armazenamento, mas também é de onde podem

sair as inovações mais disruptivas. Atualmente, há menos de 1GW de potencial de

armazenamento no mundo, o que é incomparável à capacidade de geração e a demanda. Porém,

estima-se que o mercado de armazenamento represente US$ 250 bilhões em 2040, o que

significa que essa capacidade deve crescer muito nos próximos anos.

A bateria de lítio é a forma mais comum de armazenamento de energia. Porém, a dificuldade

de aumentar significativamente sua eficiência é notoriamente reconhecida. Nesse sentido, novas

formas de se estocar energia estão sendo pensadas e desenvolvidas nas principais

universidades do mundo a fim de se criar possibilidades para um mercado que está demandando

fortemente alternativas.

2.2.5 Posicionamento do Brasil

O Brasil apresenta algumas especificidades no setor energético que podem lhe garantir

alguma inserção internacional. O país tem elevado potencial energético em fontes renováveis,

podendo-se destacar hidroelétrica, a qual já se tem uma elevada capacidade instalada. O país é

o terceiro mais importante do mundo no segmento, perdendo apenas para China e Canadá, o

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que o coloca como um dos países cuja participação de energias renováveis está entre as maiores

do mundo (aproximadamente 75% da energia gerada no país é renovável, da qual 83% é

hidroelétrica). Como há uma perspectiva de demanda crescente para os investimentos no setor,

e o Brasil tem um elevado potencial de produção de máquinas e equipamentos para geração e

distribuição nesse segmento, há uma grande oportunidade do país se inserir internacionalmente

nessa área.

Nas demais fontes renováveis o Brasil apresenta algum destaque, ainda que incomparável

à hidrelétrica. Apesar do potencial técnico, o país praticamente não utiliza energia solar. Porém,

o país conta com tecnologias já desenvolvidas em biomassa para substituir o petróleo, como o

etanol, que tem servido como alternativa à volatilidade de preço dos hidrocarbonetos no mercado

internacional. Além disso, o país está entre os dez maiores produtores de energia eólica do

mundo e conta com conhecimento tecnológico no desenvolvimento e produção de turbinas.

2.3 Entretenimento e Turismo

O mercado de trabalho tem passado por uma grande reestruturação que somente encontra

precedentes na época da revolução industrial. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, mais

de 7,0 milhões de empregos serão perdidos no mundo até 2020 devido à automação industrial,

e dependendo do ritmo dos avanços tecnológicos, entre 400 e 800 milhões de pessoas serão

afetadas até 2030. Funções administrativas e industriais serão as mais afetadas negativamente,

muito embora funções ligadas à computação, matemática, arquitetura e engenharia deverão

ganhar espaço.

O desenvolvimento de novas tecnologias poupadoras de trabalho impõe, portanto, um

conflito social bastante relevante, pois não haverá emprego para toda população. Como forma

de resolução desses conflitos, soluções como a renda mínima para toda população já estão em

fase de experimentação em países como a Finlândia. Por outro lado, essas transformações

colocam oportunidades relevantes para os setores de entretenimento, cultura e turismo, pois as

pessoas terão mais tempo para desenvolverem essas atividades. Segmentos como esses

ganharão espaço principalmente nos países desenvolvidos, em que a demanda por produtos

industriais tradicionais tem se deparado com uma saciedade cada vez mais relevante.

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A Figura 2.3 apresenta uma sistematização dos setores que serão impulsionados pela

intensificação da demanda por entretenimento e turismo, assim como os produtos e tecnologias

associados.

Figura 2.3 – Setores impulsionados e produtos associados à urbanização

Conforme apresentado na Figura 2.3, os setores ligados ao entretenimento e turismo são

bastante variados e, embora muitas vezes se inter-relacionem, podem ser classificados em dois

grupos: os setores diretamente ligados diretamente ao turismo e os setores ligados à economia

criativa. Estima-se que o número de turistas no mundo deve quase dobrar nos próximos anos,

saltando de 1,2 em 2016 para cerca de 2,0 bilhões em 2030. Isso exigirá uma estrutura de

acomodações capaz de suprir essa demanda, além de investimentos significativos em atividades

culturais urbanas, como museus e galerias de arte, e não urbanas, como turismo ecológico e o

turismo de aventura.

Além disso, o setor de economia criativa deve se expandir muito nos próximos anos. A

demanda por produtos como softwares, jogos, audiovisual e espaços culturais tem crescido muito

principalmente nos países desenvolvidos devido à já citada saciedade dos produtos industriais.

Se no Século XX a demanda cresceu principalmente na indústria, puxada pelos setores

automotivo, químico e eletrônico, neste século a demanda por serviços tecnológicos, como

En

tre

ten

ime

nto

e tu

rism

o

Turismo

Acomodação e alojamento US$ 1 tri

Museus e galerias

Ecologia e aventuraUS$ 1,3 tri

(2023)

Economia criativa

Espaços culturais e para eventos

Audiovisual e demais mídias

Softwares, jogos e design

US$ 2,2 tri (games) em 2021

US$ 25,8 bi (software) em 2021

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design, videogames e aplicativos deve se apresentar como principal alavanca do crescimento do

consumo urbano.

2.3.1 Turismo

O turismo é um dos maiores setores mundiais. Responde por cerca de 9% do PIB mundial

e um em cada onze empregos. Somente a indústria hoteleira faturou mais de US$ 500 bilhões

em 2016. Estima-se que mais de um bilhão de turistas viajaram para fora de seus países nesse

ano. Além disto, é um dos setores que mais crescem no mundo. Segundo medição do Conselho

Mundial de Viagens e Turismo, a indústria mundial de viagens cresceu mais que a economia

global no período de 2011 a 2016.

E a projeção da entidade para os próximos dez anos permanece otimista. Nos próximos

anos, ele deve dobrar de tamanho e se aproximar de US$ 1 trilhão em 2030, com destaque para

valorização de mercados em desenvolvimento como Azerbaijão, Costa Rica, Tailândia, Sri Lanka

e Índia. As chegadas de turistas em países emergentes crescerão duas vezes mais que os países

desenvolvidos, segundo estimativas da Organização Mundial de Turismo.

Por ser uma atividade que movimenta diversos segmentos do setor terciário, como comércio

e restaurantes, trata-se de um setor bastante atrativo e fundamental no desenvolvimento de

regiões menos industrializadas. De acordo com o Relatório da ONU sobre o tema, um a cada

onze empregos no mundo se relacionam com o setor, o que permite inferir sua relevância tanto

para as economias desenvolvidas, quanto para as economias em desenvolvimento.

Atualmente, a Europa é o principal destino turístico no mundo: quase metade das vagas de

hotel estão no velho continente. Estima-se que 5% do PIB da União Europeia tenha origem em

atividades turísticas direta ou indiretamente. Tem havido, porém, uma crescente diversificação

do turismo no mundo em termos da localização. Regiões onde a natureza é fator de atração,

como o Sudeste da Ásia, tem cada vez mais ampliado sua relevância no turismo mundial. Em

2015, 23% dos destinos turísticos foram na Ásia e Pacífico.

Diante dessa expansão, é fundamental garantir a atratividade turística das regiões, com

especial destaque para as menos industrializadas, pois o financiamento ao desenvolvimento

desse setor é fator-chave de sucesso para seu crescimento ordenado e, portanto, para geração

de renda e empregos qualificados.

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As mudanças demográficas, sociais, econômicas e tecnológicas afetarão em grande

medida o setor de acomodação e alojamento, que é responsável por cerca de 20% do turismo

total, segundo a OCDE. As plataformas digitais serão crescentemente utilizadas para marcar e

planejar viagens. Em particular, as mídias sociais influenciarão cada vez mais a escolha de

lugares para ficar. Estima-se que a digitalização tenha gerado aproximadamente US$ 305 bilhões

em valor para o setor entre 2015 e 2016. As plataformas compartilhadas de acomodação privada,

como Airbnb, já são competidoras da indústria hoteleira. Para se ter uma dimensão, o valor

estimado da Airbnb é de US$ 30 bilhões, enquanto a rede de hoteis Hilton é avaliada em US$ 19

bilhões. E o crescimento deste tipo de acomodação tem sido vertiginoso: enquanto um em cada

dez viajantes americanos utilizaram acomodação privada em 2011, em 2015, este número saltou

para um em cada três. Isto reflete uma mudança de visão a respeito do turismo como simples

fato de viajar, e sim, como experiências de vida, o que envolve experimentar culturas, modos de

vida, culinárias e ambientes. Trata-se de “viver como um local” e se sentir pertencido àquela

região, o que significa gastar menos em objetos e mais em experiências.

Isto coloca desafios para os operadores e agentes de viagens. Um nicho a ser explorado

pode ser o segmento de luxo. Além disto, as empresas do setor de turismo utilizarão big data e

análise preditiva para aumentar o conhecimento a respeito do comportamento do consumidor e

customizar as experiências de viagem. A indústria já tem desenvolvido assistentes virtuais

dotadas de inteligência artificial para auxiliar os viajantes a marcar a viagem mais facilmente.

Outra macrotendência que tem aplicações em diversos setores é a tecnologia de

blockchain, que pode fazer com que as transações se tornem mais seguras e eficientes. No setor

de turismo, ela terá uma gama de aplicações, das companhias aéreas a programas de fidelidade.

Ainda, a tecnologia de realidade virtual permitirá que hotéis e companhias aéreas ofereçam

simulações prévias ao seu serviço, dando aos clientes a oportunidade de experimentar a viagem

antes de comprá-la.

Além disto, é preciso considerar que o perfil do viajante será diferente, principalmente se

considerarmos que a população mundial com mais de 60 anos irá dobrar nos próximos 35 anos,

segundo a OCDE. Isto abre um mercado para atendimento deste perfil de viajante e demanda

serviços de infraestrutura e acessibilidade que precisam ser adaptados.

Os museus e galerias também são espaços em transformação, refletindo as mudanças nas

sociedades e culturas. Com o avanço da tecnologia, eles ampliarão sua capacidade de atuação

através dos meios digitais (o “museu virtual”) e esta é uma mudança bastante sensível para tais

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instituições. Para se ter uma ideia, o MASP recebeu cerca de 410 mil pessoas no ano de 2016,

enquanto o site do museu, mais de um milhão e meio de acessos no mesmo período. No mundo,

43% das visitas a museus em 2006 já foram remotas, segundo pesquisa do Instituto para

Serviços de Museus e Livrarias. Algumas coleções já virão inteiramente em formatos digitais.

Indo além, a presença da inteligência artificial, assim como em outros setores, fará com que

algumas funções sejam preenchidas por robôs, principalmente as de atendimento ao público

ajudando a responder dúvidas de visitantes ou auxiliando os funcionários em seus trabalhos de

pesquisas.

Mas os museus serão também espaços híbridos, que reunirão diversos espaços para

conectar públicos diversos com interesses em comum, incluindo áreas para práticas de bem-

estar ou mesmo apresentação de desfiles de moda.

As preocupações com a interação entre natureza e comunidade têm sido crescentes e a

conservação do patrimônio natural. Por isto, o segmento de ecologia e aventura tem crescido de

forma exponencial globalmente. O segmento foi avaliado em US$ 444 bilhões em 2016 e pode

chegar a US$ 1,3 trilhão em 2023. As atividades relacionadas ao ecoturismo incluem a

exploração de áreas exóticas ou remotas e englobam escalada, ciclismo, caça, rafting, entre

outras. Uma tendência tem sido a desintermediação, ou seja, à medida que o consumidor posse

acessar informações confiáveis online a respeito de seu destino, ele deixa de contratar um agente

de viagens ou operador de turismo. Esta é uma tendência mais proeminente em mercados

maduros. Nos Estados Unidos, as estimativas são de que 71% dos turistas de aventura

organizem sua viagem sozinhos. Um segmento onde esta tendência é crescente é o ciclismo.

2.3.2 Economia criativa

As atividades diretamente relacionadas à cultura e às artes (edição de livros, rádio,

televisão, teatro, música, bibliotecas, museus e patrimônio histórico) já somavam US$ 547

bilhões no mundo em 2012. E com o aumento da urbanização, do acesso à infraestrutura de

tecnologia da informação e as mudanças de estilo de vida, este é um segmento com alto potencial

de crescimento.

Em audiovisual e demais mídias, que incluem TV, vídeo, games e internet, o setor já

movimenta anualmente mais de um trilhão de reais no mundo e bilhões de reais no Brasil. E este

é outro segmento que tem sentido diversas transformações na forma de produzir e transmitir

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conteúdo. Uma das maiores transformações têm sido as assinaturas de Video on Demand, como

o Netflix, Amazon Prime, HBOgo, entre outros que se contrapõem a canais de TV. Atualmente,

qualquer dispositivo conectado à internet pode exibir conteúdo audiovisual. Estima-se que a

receita do setor tenha sido de R$ 42,7 bilhões no Brasil em 2015, sendo que o crescimento de

obras produzidas e registradas na Ancine entre 2008 e 2014 tenha sido de 153%. À TV, caberá

criar o conteúdo e disponibilizar em diferentes plataformas (“TV everywhere”).

Os investimentos em distribuição de conteúdo para multiplataformas respondeu por mais

da metade das empresas americanas e europeias em pesquisa da International Association of

Broadcasting Manufacturers, que sinaliza tendências. Em segundo lugar, os investimentos em

gerenciamento de arquivos digitais (workflow), seguidos dos investimentos em produção com

tecnologia 4k.

Consequência do desenvolvimento tecnológico, as câmeras já têm ficado menores e

melhores e, com o passar do tempo ganharão novos equipamentos que facilitem seu movimento.

É o caso dos drones, veículos aéreos não tripulados e controlados remotamente. A despeito da

grande utilização, ele possui limitações, então a tendência é que cresçam setores de

equipamentos que possibilitem a melhor movimentação das câmeras, como estabilizadores de

câmeras ou lentes contendo estabilizadores internos.

Por fim, em softwares, jogos e design, as mudanças de comportamento do consumidor e

o crescimento da banda larga móvel tem feito com que as pessoas tenham mais tempo e

condições de lazer. O mercado global de mídia e entretenimento5 crescerá a uma média anual

de 4,2% nos próximos cinco anos e, em 2021, chegará a US$ 2,23 trilhões. No Brasil, a

expectativa é que o faturamento do setor cresça à taxa ligeiramente superior, de 4,6% a.a. até

2021.

Entre os principais segmentos, o mercado mundial de games foi estimado em US$ 75

bilhões em 2016. E ele deverá crescer 13,4% ao ano até 2020, considerando-se a venda de jogos

(softwares), a publicidade e as chamadas microtransações, que são os gastos dos consumidores

dentro dos jogos. Segundo dados da consultoria PWC, no mercado de entretenimento e mídia,

ele é o segundo que mais cresce, atrás apenas da publicidade na internet. Por isso que ele acaba

sendo maior do que o seu irmão, o cinema. Vale lembrar que, em 2016, cerca de 60% do

crescimento do mercado de games no mundo veio da região da Ásia.

5 Considerando 54 países que representam cerca de 80% da população mundial.

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As mudanças no mercado de redes sociais, computação em nuvem e as plataformas

móveis estão modificando a cadeia de valor do setor. A internet em banda larga criou nos últimos

anos novas possibilidades de distribuição, interação, e consequentemente, novos modelos de

negócio. Por conta disto, a distribuição digital tende a substituir a distribuição física de jogos para

computadores e consoles (Nintendo, etc), diminuindo a importância da distribuição física (que

ainda possui importância), mas ressaltando a presença do download digital e do cloud gaming.

Os jogos dirigidos às plataformas móveis (mobile) e online passaram a ser o segmento com maior

receita em 2017.

No mercado de software, um dos principais tópicos será a necessidade de se terem medidas

de cibersegurança em todos os elos da cadeia produtiva, além da preocupação em se produzirem

aplicações eficientes. E para se produzir de forma ágil e segura, ganha relevância o machine

learning, que usa métodos estatísticos para ensinar um computador a ler dados. Outra tendência

é o open source, isto é, códigos com fontes abertas, porque o mercado de software também foi

aberto e compartilhado. No passado, 90% deles era criado por empresas, mas hoje a maioria é

feita por desenvolvedores. A discussão volta à questão da segurança: como usar estes códigos,

afinal, de forma segura?

2.3.3 Posicionamento do Brasil

Embora o Brasil não figure entre os principais exportadores de bens e serviços criativos,

esse setor representa parcela importante da economia brasileira. Em 2015, o setor representava

aproximadamente 2,5% do PIB, sendo responsável por quase 1 milhão de ocupações formais.

O segmento de consumo, com especial destaque para publicidade e arquitetura, é o que

tem maior representatividade em termos de empregos gerados. O segmento de tecnologia, por

seu turno, é o que apresenta maior representatividade em termos da massa salarial,

representando cerca de metade dos salários pagos no setor. Conforme é apresentado na tabela

abaixo, a indústria criativa emprega 851 mil trabalhadores, dos quais 376 mil, ou seja, 44,2%,

estão no segmento de consumo. Os segmentos de publicidade (15,5%) e de arquitetura (13,3%)

são os mais relevantes dentro do segmento de consumo.

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Tabela 2.3.3.1 – Mercado formal de economia criativa no Brasil, 2015.

Empregos Massa salarial (R$ milhões)

TOTAL % do setor TOTAL % do setor

Indústria Criativa 851.244 5.337,3

Consumo 376.275 44,2% 2.036,0 38,1%

Publicidade 131.717 15,5% 826,7 15,5%

Arquitetura 113.499 13,3% 878,0 16,5%

Design 81.863 9,6% 246,4 4,6%

Moda 49.196 5,8% 84,8 1,6%

Cultura 66.527 7,8% 192,8 3,6%

Expressões culturais 26.815 3,2% 49,7 0,9%

Patrimônio e Artes 16.005 1,9% 70,1 1,3%

Música 11.989 1,4% 34,3 0,6%

Artes cênicas 11.718 1,4% 38,7 0,7%

Mídias 95.099 11,2% 341,4 6,4%

Editorial 48.930 5,7% 212,0 4,0%

Audiovisual 46.169 5,4% 129,5 2,4%

Tecnologia 313.343 36,8% 2.767,1 51,8%

P&D 164.346 19,3% 1.841,5 34,5%

TIC 120.601 14,2% 770,2 14,4%

Biotecnologia 28.396 3,3% 155,4 2,9% Fonte: FIRJAN, 2016. Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil. Elaboração: FIESP

Há, nesses segmentos, um enorme potencial para a economia brasileira crescer e ganhar

mercados internacionais. Embora as importações desses bens e serviços estejam se

expandindo, ainda há muitas limitações para o comércio desse tipo de produto. Desta forma, o

mercado interno brasileiro tem muito potencial para servir de alavanca para diversos desses

setores. Se por um lado os segmentos de publicidade, TIC, biotecnologia e P&D podem se

expandir aproveitando do crescimento das empresas brasileiras, por outro, os segmentos de

arquitetura, design, moda e aqueles ligados à cultura e às mídias têm oportunidades crescentes

com o aumento do consumo.

Com relação ao turismo, espera-se que, em 2030, 57% das chegadas de turistas de

aventura aconteçam em países emergentes. Para acomodar esta demanda, o segmento, que é

formado de pequenos negócios, terá de se adaptar e buscar conhecimento a respeito. Por parte

dos governos, o desafio é criar infraestrutura que permita ampliar as possibilidades de

exploração.

O Brasil tem potencial turístico inequívoco. É o primeiro país do mundo no quesito recursos

naturais e oitavo em recursos culturais, de acordo com o ranking de competitividade do Fórum

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Econômico Mundial. Mas algumas necessidades terão de ser supridas. De uma pequena

hospedagem a grandes hotéis, o turismo precisa de conexão de internet robusta, um website e

outras plataformas online para atender ao cliente.

Na área de economia criativa, por sua vez, tem-se uma necessidade crescente de

produção e de que a oferta de conteúdo se diversifique para atender as novas demandas. A

produção e a distribuição são cada vez mais customizadas, dando espaço para os mercados de

nicho. Estes mercados propiciam chances de vida longa às obras audiovisuais.

Com o crescimento das tecnologias de informação e comunicação, as receitas foram

pulverizadas mas, em contrapartida, a fidelização e a rentabilidade ganharam força. Além disto,

elas fizeram com que a oferta de conteúdo não seja condicionada ao espaço físico limitado, o

que permite que os riscos do negócio diminuam e as possibilidades de rentabilidade aumentem

(como os museus virtuais, por exemplo).

A expansão do mercado de vídeo on demand também pode contribuir significativamente

para a área audiovisual, pois abre oportunidades para projetos do cinema nacional em parceria

com a Netflix, por exemplo. Vale lembrar que a produção de audiovisual em formato de seriado

já é uma grande tendência no Brasil.

Outro segmento de destaque são os games. Somente os jogos online, movimentaram US$

1,3 bilhão em 2017 no Brasil, e o país tem a liderança do mercado na América Latina, que tem

32,6% da população jogando em algum dispositivo. No mundo, o Brasil é o 12º na lista dos

maiores consumidores. São 59,2 milhões de jogadores online, o que representa 28% da

população. Os estilos de jogos preferidos são os de estratégia (54,7%) e de aventura (49%). E a

maioria dos jogadores já prefere os smartphones (34,4%). Do lado dos desenvolvedores, o

número é igualmente impressionante, já que registrou crescimento de 600% nos últimos 8 anos.

O crescimento do mercado de games também alavanca outros setores, como publicações

de livros e revistas especializadas, eventos e competições esportivas, venda de produtos como

camisas e objetos de decoração, criação de canais de Youtube. São os chamados mercados

satélites dos jogos online. A indústria de games e de vídeo por demanda são novas fronteiras

que podem contribuir muito com o crescimento do mercado brasileiro e a consolidação de uma

indústria.

Há um número de novos modelos de negócios emergindo, num cenário ainda indefinido,

que podem se tornar novos canais de distribuição de jogos digitais e via streaming, abrindo novas

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oportunidades em curtos espaços de tempo. É possível vermos em breve, por exemplo, o

surgimento de jogos inseridos em plataformas como o WhatsApp. E uma das primeiras

alternativas de monetização está na receita com publicidade.

Há também oportunidades no crescimento do mercado de suporte à transmissão em

broadcasting de partidas de jogos, em que já há empresas apostando na audiência de grupos

interessados em assistir partidas de gamers famosos. Trata-se quase de uma rede social, para

uma comunidade com interesses específicos. As empresas certamente deverão se especializar

cada vez mais em marketing e novos formatos de divulgação, como forma de garantir a adesão

das pessoas aos games, já que com a produção facilitada (que dá oportunidades para pequenos

e médios desenvolvedores criarem seus jogos), houve aumento na concorrência.

2.4 Mudança no padrão de produção

O aumento da demanda mundial tem gerado várias dúvidas com relação à sustentabilidade

dos modelos atuais de consumo e produção adotado pela maioria dos países. Nesse sentido,

diversos investimentos têm sido feitos no sentido de reduzir a emissão de poluentes e melhorar

a eficiência energética da produção.

Desde 1990, o consumo energético e de gás carbônico por unidade de produto tem

reduzido. Se a trajetória se mantiver, a expectativa é que se reduza ainda mais. Em 1990 eram

necessários 181g de óleo equivalente para se produzir US$ 1,00 (em PPC, preços de 2011),

atualmente são necessários 131g para se produzir a mesma quantidade de produto, e espera-se

que em 2030 sejam necessários 115g. Isso significa que serão necessários 12,5% menos energia

para se produzir a mesma quantidade de produto.

Em termos de emissão de gás também se verifica uma redução relevante. Em 1990, emitia-

se 473g de CO2 para produzir US$ 1,00 (em PPC, preços de 2011). Em 2011, eram emitidos

367g para se produzir a mesma quantidade e, em 2030, serão emitidos apenas 299g, o que

caracteriza uma redução de 18,4% nesse período.

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Gráfico 2.4.1 – Intensidade energética e emissão de CO2 – mundo, 1990-2030

Fonte: Banco Mundial; Elaboração: FIESP

Isso não significa, porém, que haverá redução do consumo energético e das emissões.

Como visto anteriormente, o PIB mundial deverá crescer 74,5% entre 2015 e 2030. Assim, a

demanda energética vai aumentar cerca de 62% entre 2015 e 2030, exigindo que novas fontes

sejam utilizadas de modo a evitar que os desastres ambientais se intensifiquem.

Entre 1990 e 2013, as regiões que mais reduziram a intensidade energética foram o Sul da

Ásia (36,1%), a Europa e Ásia Central (35,5%) e a América do Norte (33,8%). Enquanto isso, o

Oriente Médio e Norte da África foram as regiões que apresentaram aumento da intensidade

energética no mesmo período (23%).

Na mesma direção do Oriente Médio e Norte da África, e ao contrário da tendência mundial,

a intensidade energética da produção brasileira apresenta um leve aumento. Se em 1990 eram

necessários 91g de óleo equivalente para se produzir US$ 1,00, atualmente são necessários 94g

para produzir a mesma quantidade de produto. Se o Brasil continuar aumentando sua intensidade

energética nessa mesma taxa, a demanda total por energia deverá crescer 32,8% até 2030,

tendo como principal explicação o crescimento da renda (28,4 pontos percentuais).

É inevitável, portanto, que a produção mundial passe por transformações relevantes tanto

em termos do consumo energético, quanto em termos das emissões geradas no processo

produtivo. Isso terá, certamente, um importante impacto sobre a estrutura da demanda mundial,

que precisará ser qualitativamente diferente para garantir sua sustentabilidade.

0,00

100,00

200,00

300,00

400,00

500,00

Gramas de óleo equivalente para produzir US$ 1.00

Gramas de CO2 emitidos para produzir US$ 1.00

Gra

mas

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51

Diferentemente das demais tendências, que apresentam setores e produtos relacionados,

essa tendência tem características mais horizontais, podendo-se incluir nela praticamente todos

os setores analisados. A maior demanda energética, por exemplo, exigirá um aumento da oferta.

A questão central é: qual será a fonte dessa oferta? Até que ponto será possível substituir, senão

completamente, pelo menos com bastante relevância, os combustíveis fósseis pelos renováveis?

A busca por um modelo de produção mais limpo e com menor consumo energético é tanto

uma demanda dos países, quanto uma demanda dos consumidores, que cada vez mais exigem

produtos que respeitem o meio ambiente. Restrições comerciais cumprirão papel chave no

desenvolvimento de tecnologias não poluentes, pois o acesso ao seu mercado é o principal poder

de barganha dos países desenvolvidos empenhados na reversão do aquecimento global.

Finalmente, há uma crescente demanda por novas tecnologias de controle ambiental. Esse

segmento assume diversas formas e penetra outros setores na medida em que deve se adaptar

às especificidades de cada sistema produtivo. Porém, com a digitalização, torna-se viável a

padronização desse tipo de tecnologia, possibilitando sua produção em maior escala.

2.5 Novas tecnologias6

A tendência das novas tecnologias ganhará força com a chegada da quarta revolução

industrial, que terá o maior nível de complexidade tecnológica da história. Também conhecida

como Indústria 4.07 ela terá como principal característica o desenvolvimento de novos produtos

e serviços a partir da integração das seguintes tecnologias: internet das coisas (IoT), robótica,

realidade aumentada, manufatura aditiva, materiais avançados, design digital, simulação,

computação de alto desempenho, Big Data, cloud computing, cibersegurança.

Haverá uma massificação no uso dessas tecnologias e um crescimento exponencial na

geração de dados e estatísticas.

Principais características da quarta revolução industrial:

6 Esse capítulo pode ser complementado com os Cadernos da Indústria 4.0 que a FIESP já elaborou. Disponíveis em:

http://hotsite.fiesp.com.br/industria40/cadernos.html 7 O termo Indústria 4.0 é de origem alemã e foi o que mais se difundiu pelo mundo principalmente após o encontro anual do

World Economic Forum de 2016 que abordou exclusivamente esta temática. Outras denominações utilizadas são: Manufatura

Avançada (origem norte-americana), Internet Industrial, Fábricas Inteligentes, Fábricas do futuro, ou até mesmo em sentido

mais amplo Economia Digital.

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A maior parte do investimento será do tipo brownfield, que é investir em plantas que

já existem; e, neste contexto, o melhor exemplo é tornar fábricas que já existem em

fábricas inteligentes.

O processo de produção será baseado em tecnologia e dispositivos autônomos que

se comunicam entre si ao longo da cadeia de valor.

Sistemas de computador monitoram processos físicos, criam uma cópia virtual do

mundo físico e tomam decisões descentralizadas baseando-se em mecanismos auto

organizáveis.

O conceito leva em conta o aumento da informatização na manufatura, onde objetos

físicos são perfeitamente integrados em redes de informação. Como resultado, o

sistema de manufatura está verticalmente conectado com o processo de negócios

dentro das empresas, e horizontalmente conectado às cadeias de valor dispersas

geograficamente e que podem ser gerenciadas em tempo real – do momento em que

o pedido é tomado, até a logística de saída.

As diferenças entre indústria e serviços tornam-se menos relevantes conforme

tecnologias digitais estão conectadas com produtos e serviços (híbridos), que não

são nem bens nem serviços exclusivamente.

A quarta revolução industrial traz um novo conceito ou abordagem para alcançar

resultados que não eram possíveis há 10 anos, mas que se tornaram factíveis graças

aos avanços tecnológicos da última década.

Refere-se a uma combinação de tecnologias e não há solução pronta para todas as

empresas.

Outras características do processo de produção da quarta revolução industrial:

Interoperabilidade: sistemas ciberfísicos permitem que seres humanos e fábricas

inteligentes se conectem e se comuniquem.

Virtualização: uma cópia virtual da fábrica inteligente é criada por meio da conexão

entre os dados dos sensores com modelos de plantas virtuais e modelos de

simulação.

Descentralização: capacidade dos sistemas ciberfísicos de tomar suas próprias

decisões e produzir localmente graças a tecnologias como a impressão 3D.

Capacidade em tempo real: a capacidade de recolher e analisar dados e fornecer

os insights imediatamente.

Orientado a serviços: oferta de serviços através da Internet.

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Modularidade: adaptação flexível das fábricas inteligentes aos requisitos para

substituir ou expandir módulos individuais.

A seguir há uma definição das principais tecnologias:

Cloud computing: é a entrega da computação como um “serviço” ao invés de um

produto, onde recursos compartilhados, software e informações são fornecidas,

permitindo o acesso por meio de qualquer computador, tablete ou celular conectado

à internet.

Big Data: análise de grande quantidade de dados, principalmente os não

estruturados. Pretende responder perguntas de análise preditiva e prescritiva, como,

respectivamente “o que vai acontecer?”, “o que devemos fazer?”, além de permitir

otimizar a qualidade da produção, economizar tempo e energia, melhorar a

performance dos equipamentos, e auxiliar a tomada de decisão em tempo real.

Cibersegurança: é o termo que designa o conjunto de meios e tecnologias que

visam proteger, de danos de intrusão ilícita, programas, computadores, redes e

dados.

Internet of Things (IoT): refere-se à fusão de software, sensores e conectividade

de rede que permite a interação digital entre objetos e máquinas.

Materiais avançados: referem-se à descoberta e fabricação de novos materiais,

como metais leves e de alta resistência e ligas de alta performance, cerâmicas

avançadas e compósitos, materiais críticos e polímeros bio-based.

Design digital, simulação e integração: é a conceitualização e construção digital

de um protótipo virtual, ou de um processo virtual, alcançado por meio de simulação

computacional de um produto ou processo físicos.

Computação de alto desempenho: refere-se à prática de utilizar a capacidade

computacional para ter um desempenho maior. São sistemas que normalmente

funcionam acima de um teraflop ou 10¹² operações de floating-point por segundo,

afim de resolver problemas altamente complexos em ciência, engenharia ou

negócios.

Robótica Avançada: são máquinas ou sistemas capazes de aceitar comandos de

alto nível orientados para missão, por exemplo, navegar para um local de trabalho

e executar tarefas complexas em um ambiente com um mínimo de intervenção

humana. Uso de Inteligência Artificial e Machine Learning.

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Manufatura Aditiva (Impressão 3D/Scanning): é um processo aditivo de

construção de objetos, camada sobre camada, em oposição a metodologias de

fabricação subtrativa como usinagem. A digitalização 3D é um método rápido e

preciso de transferir as medidas físicas de um objeto para um computador em

formato digital e de forma organizada, resultando no chamado 3D scan data.

Realidade Aumentada: tecnologia que adiciona visão de computador e

reconhecimento de objetos para tornar a informação interativa e manipulável pelo

usuário. A realidade aumentada engrandece o mundo ao redor do usuário.

Breve histórico sobre o surgimento da Indústria 4.0

O contexto do surgimento das iniciativas para a quarta revolução industrial foi no período

posterior a crise econômica mundial do final de 2008/2009, que obrigou os países

desenvolvidos a repensarem suas economias. Constatou-se que países com sólida indústria de

transformação sofreram em menor intensidade os impactos da crise. Isto provocou um

renovado interesse em política industrial nos Estados Unidos, Alemanha, China, França,

Reino Unido, Holanda, Índia, entre outros.

Mesmo com objetivos relativamente diferentes, os objetivos convergiam para o mesmo

rumo:

• Aumentar a participação da indústria de transformação no PIB (caso do Estados

Unidos e da União Europeia), ou;

• Se a participação da indústria de transformação já é alta (caso da China, Japão e

Coreia), buscar formas estratégicas de “subir” na cadeia de valor.

A evolução temporal das medidas:

• Em 2011, os Estados Unidos lançaram sua primeira política para revitalizar a

indústria, o “Ensuring American Leadership in Advanced Manufacturing”, e na

continuidade dela, em anos posteriors, foram incluídas as diretrizes da indústria do

futuro.

• Desde 2012, a União Europeia (UE) publica várias resoluções e estratégias

voltadas ao “Renascimento Industrial da Europa” com o objetivo de aumentar a

contribuição da indústria no PIB da UE para 20% até 2020, em vez de 15%.

• Na esteira dessa tendência, em 2013, a Alemanha divulga suas estratégias de

política industrial no documento “Recommendations for implementing the strategic

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initiative Industrie 4.0”. Esta foi a primeira utilização do termo “Indústria 4.0”, que

anos depois se difundiu pelo mundo.

Com o passar dos anos, essas políticas lançadas pelos Estados Unidos e Alemanha se

aprofundaram na perspectiva de ter uma nova fronteira tecnológica para a indústria, e é neste

momento que as políticas de reindustrialização se fundem à ideia de quarta revolução

industrial e ganham dimensão internacional, com iniciativas similares em diversos países.

Outras iniciativas de Indústria 4.0 pelo mundo:

• Em 2015, a China lança um programa agressivo intitulado “Made in China”, cujo objetivo

é estar entre as maiores forças industriais do mundo até 2049.

• Em 2015, o Japão lança o Fórum Industrial Value Chain Initiative para discutir a indústria

do futuro e a Robot Strategy.

• Iniciativas da União Europeia estão no mapa a seguir.

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Mapa 2.5.1. Apresentação das principais iniciativas na Europa.

Fonte: European Parliament. Directorate General for Internal Policies. Policy Department A: Economic and Scientific

Policy. Industry 4.0. 2016.

No quadro a seguir há um overview dos principais investimentos a serem realizados no

mundo.

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Quadro 2.5.1 Investimento em Indústria 4.0

Posicionamento do Brasil

O país já possui ótimos exemplos de unidades fabris funcionando no modelo 4.0, mas

comparado aos países que estão à frente, como Alemanha, Estados Unidos, China, a indústria

brasileira ainda tem um caminho a percorrer. Para se ter ideia, para cada 10 mil trabalhadores

da indústria, há apenas 11 robôs no Brasil e 36 na China, enquanto na Coreia do Sul este número

é 531, no Japão 305, na Alemanha 301, e nos Estados Unidos 176.

Além disso, uma pesquisa realizada pela FIESP identificou que 32% das empresas nunca

ouviram falar em Indústria 4.0, o que mostra a necessidade de um trabalho de difusão do

conhecimento e de mobilização. A mesma pesquisa também mostrou que 60% ainda não utilizam

a metodologia de lean manufacturing que consiste no alicerce para receber as tecnologias da

Indústria 4.0.

O tem dificultado a reversão desse cenário é a recente crise econômica, incertezas políticas,

aumento da ociosidade e a dificuldade das empresas em colocar produtos no mercado.

Diferente dos países desenvolvidos, no Brasil, o apoio do governo e as políticas públicas

para 4.0 tem sido modestos. São medidas bem intencionadas mas sem a robustez e a ousadia

necessárias.

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Em março, o governo lançou a Agenda Brasileira para a Indústria 4.0 que contempla

diversos pontos relevantes. Dentre eles, o que tem mais avançado é o trabalho de difusão do

conhecimento, implementação do lean manufacturing, pelo programa Brasil Mais Produtivo, e

apoio a testbeds. Mas, infelizmente, não foram contemplados subvenção, linhas de

financiamento diferenciadas e incentivos fiscais. Mas é preciso reconhecer que, mesmo com suas

dificuldades orçamentárias, as principais agências de fomento estão atentas a essa

movimentação e vem discutindo cada vez mais a importância desses investimentos. A Finep (em

internet das coisas) e a Fapesp (consórcios para Manufatura Avançada) por exemplo já saíram

à frente com editais mais específicos.

2.6 Urbanização e megacidades

Em meados da década de 2000, a população urbana mundial superou, pela primeira vez, a

população rural. Segundo o Banco Mundial, em 2015, 53,9% da população mundial já vivia em

cidades, e essa parcela continua se expandindo. Projeta-se que, em 2030, mais de 60% da

população esteja vivendo em cidades, o que é quase o dobro do grau de urbanização de 1960,

quando 33,4% das pessoas habitavam regiões urbanas.

Em termos absolutos, isso significa que a população urbana passará de 3,96 bilhões, em

2015, para 5,25 bilhões, em 2030, ou seja, haverá um aumento de 1,29 bilhão de pessoas

vivendo em cidades em 15 anos. Considerando que a população mundial deve aumentar em

1,35 bilhões de pessoas no período, conforme já discutido, pode-se afirmar que quase todo o

aumento da população mundial ocorrerá nas cidades (96% do aumento total).

As regiões que estão se urbanizando mais rapidamente são as mesmas que estão

crescendo mais rápido: Leste asiático e Pacífico, Sul da Ásia e África subsaariana. Atualmente,

57% da população do Leste da Ásia e Pacífico vivem nas cidades. Espera-se que, em 2030, essa

parcela aumente para 69%, o que significará 418 milhões de pessoas a mais vivendo em áreas

urbanas na região.

No Sul da Ásia e na África subsaariana, apesar do baixo grau de urbanização, há uma clara

tendência de migração das pessoas para os centros urbanos. Conforme apresentado no Gráfico

1.3.1, em 2015, 33% da população do Sul da Ásia e 38% da África Subsaariana vivia nas cidades.

Projeta-se que, em 2030, esses percentuais se ampliem para 40% e 46%, respectivamente, o

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que significa em termos absolutos um aumento de 265 milhões no Sul da Ásia e 300 milhões na

África Subsaariana.

Em contrapartida, as regiões com maior urbanização são Europa e Ásia central (70,1%),

América Latina (79,9%) e América do Norte (81,6%). Apesar do já elevado grau de urbanização,

nessas regiões haverá aumento de 205 milhões da população urbana, enquanto que a população

rural deverá se manter estável ou até diminuir.

O caso brasileiro é semelhante, pois, não obstante o elevado grau de urbanização (85,7%),

espera-se que ele aumente ainda mais, chegando em 88,8% em 2030, o que significa que haverá

20 milhões a mais de pessoas vivendo nas cidades. Se se considerar que o aumento total da

população será de 15 milhões, verifica-se uma tendência declinante no número de pessoas

vivendo em áreas rurais. Destaca-se, porém, que, no Brasil, menos de 40% vivem em grandes

cidades (mais de 1 milhão de habitantes), o que indica uma predominância de cidades

médias.

Nesse contexto, é possível verificar uma transformação relevante na distribuição da

população entre o campo e as cidades e compreender a relevância que isso terá para a dinâmica

da demanda mundial. Conforme é possível verificar no Gráfico 2.6.1 e Tabela 2.6.1, há dois

grupos de regiões com características bastante distintas: de um lado, há o grupo composto por

América Latina e Caribe, América do Norte, Europa e Ásia Central e Oriente Médio e Norte da

África, que apresentam alto grau de urbanização, mas cujo crescimento dessa população não

deve ser muito grande. De outro, há o Leste Asiático e Pacífico, o Sul da Ásia e a África

Subsaariana, que devem passar por um período de forte urbanização, gerando um crescimento

intenso de demanda por produtos e serviços específicos das médias e grandes cidades.

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Gráfico 2.6.1 – Taxa de crescimento do grau de urbanização 2015-2030, por região

Fonte: Banco Mundial e FIESP; Elaboração: FIESP

Tabela 2.6.1 – Projeções para urbanização 2015-2030, por região

Participação em

2030 Variação anual

2015-2030 Total em 2030

(bilhões)

Leste Asiático e Pacífico 33% 1,31% 1,708

Sul da Ásia 16% 1,29% 0,841

África subssariana 13% 1,35% 0,678

Europa e Ásia Central 14% 0,23% 0,711

América Latina e Caribe 12% 0,28% 0,605

Oriente Médio e Norte da África 7% 0,35% 0,376

América do Norte 6% 0,21% 0,330

Brasil 4% 0,24% 0,198 Fonte: Banco Mundial e FIESP; Elaboração: FIESP

Não apenas a população urbana vem crescendo, mas principalmente a população que vive

em megacidades. O número de megacidades triplicou entre 1990 e 2015, saltando de apenas 4

aglomerações urbanas com mais de 15 milhões de habitantes para 12. Em 2030, espera-se que

no mundo haverá 41 aglomerações urbanas com mais de 10 milhões de habitantes e, de acordo

com o Banco Mundial, cerca de dois terços da população mundial viverá em cidades.

30,0%

50,0%

70,0%

90,0%

0,2% 0,4% 0,6% 0,8% 1,0% 1,2% 1,4%

Gra

u d

e u

rban

ização

em

2030 (

%)

Taxa de crescimento anual da urbanização (2015 a 2030)

Sul da Ásia

África Subssariana

Oriente Médio e Norte da África

América Latina e Caribe

Europa e Ásia Central

Brasil

América do Norte Leste Asiático e Pacífico

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Ganhará espaço nesse cenário a tendência dual de aumento da urbanização e sofisticação

tecnológica para dar origem a muitas cidades inteligentes (“smart cities”) pelo mundo, uma vez

que o aumento na dimensão e na escala das cidades gera uma enorme pressão por mais e

melhores serviços, infraestrutura, entretenimento e segurança.

A estrutura das cidades já existentes passará por importantes transformações ligadas

principalmente à automação e integração dos sistemas de transporte, energia, obras de

engenharia, prevenção de acidentes, saneamento, água, entre outros8.

Algumas cidades, porém, vão ser mais inclusivas e outras menos. O sistema de transporte,

por exemplo, será focado em transporte público, em veículos particulares ou será possível

encontrar um equilíbrio? Os desafios da habitação também deverão se intensificar, ao mesmo

tempo em que emergirão novas tecnologias para construção de baixo custo.

É importante salientar que, conforme destacado na seção anterior, o padrão de produção e

consumo atual é insustentável. No caso das cidades, ganha relevância a questão da geração de

lixo e de outros dejetos e, portanto, da necessidade de se estruturar sistemas de reciclagem e

saneamento adequados. Essa questão será aprofundada na seção seguinte.

A Figura 2.6.2 apresenta uma sistematização dos setores que serão impulsionados pela

intensificação do processo de urbanização e de emergência das megacidades, assim como os

produtos e tecnologias associados.

8 Para que isso funcione é preciso que todos os stakeholders colaborem - cidadãos, autoridades municipais e estaduais, e

empresas locais – pois o principal combustível de uma smart city é a geração de dados e a capacidade de processá-los.

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Figura 2.6.2 – Setores impulsionados e produtos associados à urbanização

A urbanização e emergência de megacidades levará a transformações relevantes que,

associadas a tecnologias disruptivas, poderão reconfigurar a forma como se compreende o meio

urbano. Conforme apresentado, destacam-se quatro setores específicos cujas transformações

impulsionarão mudanças relevantes: (i) infraestrutura social, (ii) segurança, (iii) transporte, e (iv)

reconstrução do espaço.

2.6.1 Infraestrutura Social

Em relação à infraestrutura social, os sistemas de saúde e educação estão passando por

transformações muito relevantes. Essas duas funções sociais são indispensáveis para o

desenvolvimento da população e estão se modificando diante da nova dinâmica das cidades.

Estima-se que até 2020 o mercado mundial de saúde digital atinja US$ 233,3 bilhões e o de e-

learning US$ 240,0 bilhões.

Saúde: Sistemas de saúde digitalmente interligados permitem, por exemplo, que as

pessoas possam reduzir significativamente o deslocamento, uma vez que postos de saúde locais

estão interconectados com hospitais que passam a atender apenas os casos mais graves. A

Urb

an

iza

çã

o e

no

va

s

me

ga

cid

ad

es

Infraestrutura social

Sistemas de saúde digitalmente interligados,

Saúde digital: US$233 bi

Plataformas de educação à distância US$240 bi

Segurança Câmeras e estruturas de comandoComunicação

militar: US$248 bi

Transporte urbano

Gestão de trânsito com big dataSmart transport.:

US$139 bi

Transporte coletivo interconectadoSmart transport.:

US$139 bi

Veículos elétricos80 milhões de veículos: US$

800bi

Reconstrução do espaço urbano

Habitação de baixo custo e pré-fabricada

Construção: US$8tri

Áreas públicas de lazer

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partir dos dados coletados em tempo real, será possível fazer previsões ou identificar pontos

críticos da saúde da população (como epidemias ou impactos na saúde durante eventos

climáticos extremos), além de fazer registros digitais de saúde, acionar serviços de saúde em

casa, diagnósticos remotos, tratamento e monitorização dos cidadãos como um todo ou daqueles

que já estão doentes. Deve haver portanto uma mudança na ênfase da saúde pública, que passa

a se dedicar mais à prevenção do que à cura, e a ter uma visão mais ampla de vida saudável e

bem estar.

Educação: com relação ao segmento educacional, o mercado de aprendizado à distância

tem se colocado como elemento de transformação principalmente nas etapas mais avançadas

do ensino, como o técnico, superior e complementar, e também para aqueles que já têm

experiência no mercado de trabalho, mas que precisam continuamente reciclar seus

conhecimentos.

2.6.2 Segurança

O setor de segurança é outro que tem crescido muito em razão não só do aumento da

urbanização por si só, mas também pela falta de planejamento que por vezes a acompanha,

principalmente em países subdesenvolvidos., A falta de controle do Estado sobre a urbanização

eleva as tensões sociais na medida em que coloca em contraste pessoas com níveis de vida

bastante divergentes e torna o conflito entre elas iminente.

Por isso, câmeras e estruturas complexas de comando serão cada vez mais comuns em

grandes cidades na medida em que dificultam a ação criminosa, possibilitando, assim, a

utilização do espaço público para atividades de recreação e entretenimento. O mercado de

comunicação militar, que é parte relevante desse segmento, deve representar US$ 40,8 bilhões

até 2020, o que significa que há bastante espaço para o crescimento de empresas ligadas a essa

atividade.

2.6.3 Transporte

Possivelmente, o setor com maior capacidade de se beneficiar da intensificação do

processo de urbanização é setor de transporte urbano, e, dentro dele, diversos outros segmentos,

a exemplo da gestão de tráfego, que objetiva reduzir o tempo de deslocamento dentro das

cidades.

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Também associado a isso está a interconexão dos meios de transporte com big datas, os

quais já permitem, por parte do usuário, decidir qual o modal e quais as linhas mais adequadas

para se chegar ao destino e, por parte dos fornecedores, qual é a maneira mais eficiente de se

disponibilizar um veículo.

No total, o mercado do setor de “smart transportation”, que inclui venda de bilhetes,

estacionamento, sinalização, gerenciamento de tráfego, sistemas de informação a passageiros,

entre outros, deve atingir US$ 139 bi no mundo até 2020.

Ainda dentro do setor de transporte, um segmento que deve se expandir nos próximos anos

é o de veículos puramente elétricos e híbridos. Em 10 anos, de 2005 até 2015, seu estoque saiu

de algumas centenas para a casa dos 1,2 milhão, refletindo o significativo aumento das vendas

nos últimos anos. Entre 2014 e 2015, as vendas de novas unidades aumentaram 70%, chegando

a 550 mil em todo o mundo. Deste total, 90% ocorreram em oito países: China (37%), Estados

Unidos (20%), Países Baixos (7%), Noruega (6%), Reino Unido (5%), Japão (5%), Alemanha

(5%) e França (5%). Com relação ao tamanho do mercado, estima-se que esses veículos

representem US$ 83,5 bilhões em 2019 e que, até 2040, 35% dos veículos sejam movidos a

eletricidade. Hoje este percentual é de 1%. Esse crescimento é resultado das políticas ativas

adotas em algumas cidades do mundo9, mas também da escolha com viés mais sustentável dos

próprios consumidores.

2.6.4 Reconstrução do espaço

Finalmente, outros segmentos relevantes que passarão por importantes transformações

nos próximos anos são aqueles ligados à reconstrução do espaço urbano. Espera-se que o

espaço público se torne cada vez mais uma área comum de entretenimento e lazer,

especialmente diante da expectativa de melhora na segurança e nas condições de vida da

população das cidades.

9 Na China, por exemplo, há concessão de subsídios para adquirir carros elétricos. O subsídio máximo pelo governo central é

de cerca de US$ 6.740 e os subsídios a nível local diferem por cidade, mas o máximo é de cerca de US$ 7.500, totalizando US$

14.240. Além disso, muitas cidades oferecem outros incentivos, como placas de licença gratuitas (obter uma placa para um

carro à gasolina pode custar até US$ 12.000 em uma cidade como Xangai) e lugares de estacionamento gratuito. As estações

públicas para carregamento das baterias aumentaram de 65% entre 2015 e 2016, chegando a 85 mil. No Brasil, existem cerca

de 100 eletropostos e a alíquota do Imposto de Importação caiu de 35% para zero para carros elétricos e movidos a células de

combustível (que produzem eletricidade por meio da reação do hidrogênio com o ar). Veículos híbridos também tiveram

redução do imposto de 35% para alíquotas que variam de 0% a 7%.

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Além disso, o segmento de habitação também deve passar por importantes transformações,

com especial destaque para as casas modulares ou pré-fabricadas. Atualmente, a construção

civil é quase exclusivamente um setor de produção local, porém, espera-se que, em 2020, mais

de um milhão de casas no mundo sejam construídas a partir de módulos – portanto, não

necessariamente construídas localmente.

Os diferentes perfis de demanda fazem com que os preços desse segmento variem muito,

pois as casas modulares podem atender: a) às políticas sociais voltadas a moradias de baixo

custo; b) o segmento de alto padrão; c) o público que busca alternativa aos “trailer homes”, que

são comuns nos Estados Unidos e na Europa; d) ativistas ambientais; e) os requisitos de

segurança em regiões de inverno muito rigoroso10 e/ou sujeitas a terremotos. No Japão, por

exemplo, 15% das novas residências construídas em 2015 eram pré-fabricadas, e na Alemanha

9%.

Por essas razões, seus custos sofreram leve aumento nos últimos anos. Uma casa modular

simples poderia ser construída nos Estados Unidos por US$ 856 o metro quadrado no ano de

2011, e em 2015 por US$ 1.112. Na Alemanha e Reino Unido, o custo médio é de

aproximadamente € 1.800 o metro quadrado.

2.6.5 Posicionamento do Brasil

Com relação à distribuição demográfica, a população urbana brasileira apresenta uma

característica muito específica se comparada aos países asiáticos: enquanto no Brasil as cidades

que apresentam maior taxa de crescimento são as médias cidades, na Ásia, crescem muito

cidades de grande porte.

Números divulgados pelo IBGE em 2014 mostraram que São Paulo foi a cidade que mais

cresceu (em números absolutos) no Brasil entre julho de 2013 e julho de 2014, ganhou mais 74

mil habitantes, com isto, atingiu a marca de quase 12 milhões de moradores, praticamente o

dobro do tamanho da segunda maior cidade do Brasil, Rio de Janeiro. Proporcionalmente, no

entanto, as cidades de médio porte são as que mais cresceram no país durante o período

analisado. Nos municípios que têm entre 100 mil e 500 mil habitantes, a taxa geométrica de

10 Cerca de 84% das moradias da Suécia utilizam vigas de madeira pré-fabricadas; na Holanda 20% de todas as novas habitações

usam madeira ou concreto pré-fabricados. Nos Estados Unidos, Austrália e Reino Unido, esse percentual não chega a 5%.

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crescimento é de 1,12%, enquanto nos locais com mais de meio milhão de moradores, a taxa cai

para 0,84%.

A urbanização brasileira, portanto, tem certas peculiaridades que podem gerar demandas

específicas. Diferentemente dos países em desenvolvimento do leste e sul da Àsia – e até mesmo

dos demais latino-americanos, no Brasil predominam cidades médias, cujas demandas são mais

específicas e a escala é menor. Nesse sentido, há uma grande oportunidade para o Brasil

desenvolver tecnologias específicas à população dessas cidades, pois o país pode se colocar

internacionalmente como uma referência nesse contexto. Os sistemas rodoviários e ferroviários,

por exemplo, devem estar adaptados às características das médias cidades, assim como os

sistemas de gestão de tráfego e de segurança. Isso não significa, porém, que não seja possível

concorrer internacionalmente nesses segmentos. Ao contrário, isso garantirá um mercado com

características diferentes que pode configurar um nicho específico para empresas brasileiras.

Além disso, outra peculiaridade das cidades brasileiras é a falta de ligação adequada entre

o centro e a periferia. Diferentemente das cidades chinesas, por exemplo, cujo processo de

urbanização foi planejado considerando não apenas as regiões mais centrais, mas todo o

perímetro urbano, no Brasil, a maior parte das cidades não cresceu de forma planejada,

resultando em grandes problemas de mobilidade. Isso certamente se coloca como uma demanda

adicional e, portanto, uma especificidade do mercado que tem que lidar não apenas com o

processo de construção, mas também com a realocação de grandes contingentes de pessoas.

2.7 Infraestrutura moderna e competitiva

Nos países em desenvolvimento do Leste da Ásia houve forte investimento nesse setor

para garantir redução dos custos e melhora da qualidade logística, no entanto, nos Estados

Unidos, e em muitos países da Europa (principalmente do Sul), ferrovias e portos estão obsoletos

e precisam ser modernizados. Na América Latina, além de obsoletos, eles precisam se expandir

para que os países possam competir internacionalmente. De uma forma geral, pode-se dizer que

na última década um “desinvestimento” em infraestrutura em diversas partes do mundo.

O índice de infraestrutura do Fórum Econômico Mundial ilustra bem esta situação: os países

que lideram o ranking são Hong Kong e Cingapura, seguidos por Holanda, Japão, Emirados

Árabes e Suíça. Os Estados Unidos, maior potência econômica e militar do mundo, se encontram

apenas na nona colocação, embora sejam responsáveis pelo desenvolvimento de grande parte

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das tecnologias empregadas no setor. Quando se trata de infraestrutura de eletricidade e

telecomunicações, essencial para o desenvolvimento das novas tecnologias, os Estados Unidos

se encontram em posição ainda pior, que não reflete em nada sua posição econômica: a

infraestrutura americana é apenas a décima-oitava melhor do mundo, atrás de países como

Uruguai e Portugal.

Com novas tecnologias emergindo, há uma demanda muito grande por modernização no

setor de transportes e de comunicações. A exportação de produtos do agronegócio e de minerais,

por exemplo, depende praticamente só da infraestrutura. Apesar de ser importante considerar o

custo de produção, o custo logístico tem um peso muito mais relevante, além de ser determinante

no acesso e no desenvolvimento. Ademais, infraestrutura de comunicações eficiente é a base

para o desenvolvimento da Manufatura Avançada (ou Indústria 4.0), pois dependem

essencialmente da interconexão entre fábricas e entre produtores e consumidores.

A Figura 2.7.1 apresenta os principais setores impulsionados pela demanda e os segmentos

que mais podem se beneficiar disso. Podem-se destacar três setores principais: sistemas de

transporte, sistemas de comunicação e sistemas de abastecimento de água e esgoto.

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Figura 2.7.1 – Setores impulsionados e produtos associados à demanda por infraestrutura

2.7.1 Sistemas de transporte integrados

Estima-se que, no mundo, serão investidos cerca de US$ 15 trilhões em infraestrutura até

2025 cumulativamente (ou seja, somando-se os investimentos dos próximos anos). Destes, US$

8,5 trilhões serão investidos em rodovias, US$ 3,0 trilhões em ferrovias, US$ 1,5 trilhão em portos

e US$ 1,0 trilhão em aeroportos. Mais da metade desses investimentos serão feitos na Ásia e

Pacífico (US$ 8,3 trilhões), enquanto que América do Norte e América Latina somados devem

representar US$ 2,6 trilhões nesse período. Os principais investimentos serão para o

fortalecimento e modernização de sistemas inteligentes de infraestrutura de transporte

interconectados. Isso porque os sistemas de transporte estão passando por uma modernização

que será capaz de aumentar radicalmente sua eficiência.

2.7.2 Sistemas de Comunicação

Infr

ae

str

utu

ra c

om

pe

titiva

Sistemas de transporte integrados

Rodoviário US$ 8,5 tri (ac.)

Ferroviário US$ 3,0 tri (ac.)

Hidroviário e Portuário US$ 3,0 tri (ac.)

Aeroviário US$ 1,0 tri (ac.)

Sistemas de comunicação

Novas redes de comunicação (5G) US$ 65,0 bi

Banda larga mais potente e ubíqua

Sistema de abastecimento de água e esgoto

Integração de regiões hidrográficas

Distribuição inteligente

Construção / Modernização da estrutura de saneamento

Insumos minerais

Mineração em áreas de difícil acesso

Reutilização e reciclagem de material

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Um setor chave para o desenvolvimento das demais atividades produtivas é o setor de

comunicação. Conforme foi destacado, a manufatura avançada (ou Indústria 4.0) depende

essencialmente de uma infraestrutura capaz de armazenar, processar e comunicar elevadas

quantidades de dados e que sejam acessíveis de qualquer lugar, ou seja, depende de uma

infraestrutura de internet robusta e disseminada por todo o país.

Não por acaso, haverá um grande investimento nesse segmento em todas as regiões do

mundo. Estima-se que até 2020 o investimento em 4G LTE11 seja de US$ 3 bilhões e, até 2025

sejam investidos US$ 25 bilhões em 5G.

2.7.3 Sistemas de abastecimento de água e esgoto

Outro setor que também será muito demandado diante da necessidade dos países de

melhorarem sua infraestrutura são os sistemas de abastecimento de água e esgoto. Os países

que mais crescem no mundo têm um percentual relativamente baixo de saneamento básico e,

muitos deles, enfrentam problemas hídricos relevantes. A integração de regiões hidrográficas

com a transposição de rios e a construção de sistemas de distribuição inteligentes, que sejam

capazes de reduzir a intermitência no fornecimento de água é uma questão chave no

desenvolvimento dos países. Ademais, a construção e modernização de estruturas de

saneamento trazem uma demanda adicional dentro desse setor. No caso brasileiro, por exemplo,

para que se chegue a 99% de cobertura de água e esgoto até 2033, será necessário investir R$

300 bilhões, o que demonstra o tamanho do déficit do país no setor.

Segundo os dados mais recentes do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento

(SNIS), referentes a 2015, apenas 50,3% dos brasileiros têm acesso à coleta de esgoto, o que

significa que mais de 100 milhões de pessoas utilizam medidas alternativas para lidar com os

dejetos – seja através de uma fossa, seja jogando o esgoto diretamente em rios.

2.7.4 Insumos Minerais

Com a ampliação da demanda por investimentos em infraestrutura de transporte e

comunicações, outro segmento que deve assistir sua demanda crescer é o de insumos minerais.

11 O LTE (Long Term Evolution) é uma tecnologia móvel de transmissão de dados que foi criada com base no GSM e WCDMA. A

diferença é que ela prioriza o tráfego de dados em vez do tráfego de voz.

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Ainda que haja muitas reservas minerais pelo mundo, cada vez mais a mineração em áreas de

difícil acesso, como em águas profundas e em áreas florestais, deve ganhar importância.

Empresas líderes mundiais de mineração estão cada vez mais investindo nesse segmento. A

criação de novas tecnologias, como sistemas autômatos ou controlados a distância, e máquinas

que compilam diversas funções, estão levando a mineração para o nível subaquático.

Apesar disso, há um problema muito relevante que emerge dessa tendência: os impactos

ambientais. Os efeitos danosos dessa atividade não podem ser descartados. Não por acaso, a

reutilização de recursos e a reciclagem de materiais também devem se colocar na fronteira do

setor de insumos minerais, uma vez que seus impactos sobre o meio ambiente são bem menores

e a questão do lixo, que cada vez mais ganhará força na agenda dos países, é mitigada por

essas atividades.

2.7.5 Posicionamento do Brasil

O Brasil apresenta algumas especificidades nesse setor que podem servir como alavanca

para empresas nacionais, mas que, por outro lado, podem limitar a expansão dessas empresas

para áreas mais distantes. Assim como nos EUA e em muitos países da Europa, a infraestrutura

de transportes brasileira se tornou cada vez mais precária e desatualizada pela falta de

investimentos. Ademais, o sistema de comunicação está se modernizando, mas há áreas

remotas sem acesso, o que dificulta bastante sua interconexão com as regiões mais

desenvolvidas do país.

Coloca-se, portanto, para o Brasil, uma oportunidade relevante de desenvolvimento de

tecnologias auxiliares na expansão de sistemas de infraestrutura de telecomunicações em áreas

remotas, que é muito pouco explorada por países desenvolvidos. O país, atualmente, já

desenvolve, ainda que em conjunto com potências internacionais, algumas dessas tecnologias,

e, utilizando o mercado interno para alavancar seu desenvolvimento, isso pode ser intensificado

para garantir ao país uma posição como um importante player internacional.

As principais restrições para o país desenvolver essa infraestrutura de telecomunicações e

de transporte, porém, vêm do lado fiscal. O investimento em infraestrutura é geralmente feito por

empresas privadas em conjunto com os governos, pois os riscos costumam ser bastante

elevados para que as empresas os realizem sem o apoio do setor público. Porém, dado o déficit

público brasileiro e sua dívida, o setor público não tem tido condições de contribuir diretamente

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com recursos para esse tipo de investimento, tornando alternativas como as Parcerias Público-

Privadas (PPPs) ferramentas chave para execução de obras de infraestrutura.

2.8 Envelhecimento da população

Devido ao aumento da expectativa de vida e redução da taxa de fertilidade, a população

idosa tem aumentado tanto em termos absolutos como em termos relativos. Conforme

apresentado por da ONU12, a taxa de fertilidade (medida em número de crianças por mulher),

que era superior a 5,0 em 1950, deve ser inferior a 2,5 em 2030, estando abaixo do nível mínimo

de reposição em muitas regiões do mundo. Soma-se a isso o fato de que a expectativa média de

vida da população, que estava entre 40 e 50 anos ao nascer em 1950, deve superar 70 anos em

2030.

A população jovem (até 14 anos) de todas as regiões deverá diminuir proporcionalmente,

enquanto a população idosa (65 anos ou mais) deverá aumentar. Espera-se que a população

total de idosos, que atualmente é de 608 milhões, aumente para 836 milhões, o que significa que

haverá 254 milhões de idosos a mais no mundo em 2030, ou seja, um crescimento de 37,5% -

variação muito maior do que a da população mundial, que, conforme visto anteriormente, deve

crescer 18,4% entre 2015 e 2030.

Um olhar regional sobre esse aspecto permite compreender melhor quais são os principais

determinantes dessa mudança na estrutura etária da população. Em 2015, a América do Norte e

a Europa eram as regiões com maior parcela da população acima de 65 anos, representando

14,9% e 15,6%, respectivamente. Essas parcelas devem aumentar na mesma ordem para 18,2%

e 17,7% em 2030. Isso significa que serão 243 milhões de idosos nessas duas áreas.

Nas demais regiões, a parcela de idosos deve continuar crescendo, mas abaixo do nível

verificado nas regiões mais desenvolvidas. Espera-se que, em 2030, no Leste asiático essa

população represente 12,4%, na América Latina, 9,7%, no Sul da Ásia, 6,6%, na África

subsaariana, 3,2%, e no Oriente Médio e Norte da África, 5,2. No total, serão 593 milhões de

pessoas idosas vivendo nessas regiões, das quais 309 milhões estará no Leste Asiático e

Pacífico.

12 World Population Aging 1950-2050, Capítulo 8.

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A população idosa no Brasil, que atualmente representa 7,8% da população, deve atingir

mais de 11,4% em 2030. Em 2015, eram 16,3 milhões de pessoas acima de 65 anos vivendo no

país, e, em 2030, serão 30 milhões, quase 15 milhões a mais. O país se caracteriza por um

crescimento da taxa de envelhecimento superior à todas as regiões do mundo. Enquanto o Leste

Asiático e Pacífico e a América Latina e Caribe, deverão apresentar uma taxa de crescimento

anual da população acima de 65 anos de 1,7%, o Brasil apresentará uma taxa de crescimento

de 3,6%.

O envelhecimento da população será, portanto, um fator determinante das transformações

da demanda mundial. A população idosa apresenta uma grande especificidade nos produtos e

serviços demandados e, por ser uma população com renda maior do que a população mais

jovem, isso terá impacto mais do que proporcional na estrutura de produtos e serviços que os

países produzirão. Destaca-se a relevância do Brasil nesse processo, país que apresenta uma

população acima de 65 anos relativamente baixa, mas que deverá apresentar uma taxa de

expansão superior a todas regiões do mundo.

Gráfico 2.8.1 – Taxa de crescimento da população acima de 65 anos, 2015 e 2030, por

região.

Fonte: Banco Mundial e FIESP; Elaboração: FIESP

0%

2%

4%

6%

8%

10%

12%

14%

16%

18%

20%

0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% 2,5% 3,0% 3,5% 4,0%

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Taxa de crescimento anual do envelhecimento (2015 a 2030)

Brasil

Leste Asiático e Pacífico

América do Norte

Europa e Ásia Central

Sul da Ásia

América Latina e Caribe

Oriente Médio e Norte da África

África Subssariana

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Tabela 2.8.1 – Projeções para envelhecimento 2015-2030, por região

Participação em

2030 Variação anual

2015-2030 Total em 2030

(milhões)

Leste Asiático e Pacífico 12% 1,7% 308,8

Sul da Ásia 7% 1,3% 138,1

África subssariana 3% 0,2% 46,7

Europa e Ásia Central 18% 0,9% 171,7

América Latina e Caribe 10% 1,7% 70,7

Oriente Médio e Norte da África 5% 0,5% 28,6

América do Norte 18% 1,3% 71,1

Brasil 13% 2,5% 30,0 Fonte: Banco Mundial e FIESP; Elaboração: FIESP

Os fatores responsáveis pelo rápido envelhecimento da população mundial podem ser

divididos em dois grupos: um relacionado à melhora na qualidade de vida e outro ao papel da

mulher na sociedade. A ampliação do acesso aos sistemas de saúde, medicina preventiva,

saneamento básico e tratamento da água, associados a uma nutrição adequada aumentou a

expectativa de vida e perfazem o primeiro grupo de fatores que têm levado ao aumento da taxa

de longevidade da população mundial. O segundo está relacionado à inserção da mulher no

mercado de trabalho, que trouxe consequências no seu nível educacional e queda da

fecundidade.

De acordo com a OCDE, em 2025 haverá mais pessoas com mais de 60 anos no mundo

do que abaixo de 14 anos e, em 2050, espera-se que a população acima de 65 anos salte de

10% para 22%. Ademais, o poder de compra dessa população é bastante elevado. A população

acima de 50 anos, que tem aproximadamente 80% da riqueza nos EUA, representa 51% do

consumo da população adulta (acima de 25 anos) e, de acordo com a Oxford Economics, espera-

se que, em 2032, essa parcela do consumo atinja 58%.

Nesse sentido, é importante compreender a estrutura de consumo dessa população para

que seja possível inferir quais serão os setores e produtos que mais se beneficiarão dessa

transição demográfica.

A Figura 2.8.2 tem esse objetivo e apresenta os principais setores impulsionados pelo

envelhecimento da população e os produtos e tecnologias associados.

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Figura 2.8.2 – Setores impulsionados e produtos associados ao envelhecimento da população

Conforme é apresentado, o envelhecimento da população impulsionará principalmente

setores ligados à saúde e à assistência a idosos. Podem se destacar três atividades específicas

cuja demanda mundial será estimulada: (i) a indústria cosmética e farmacêutica, (ii)

equipamentos médico-hospitalares, (iii) atendimento de pacientes em domicílio.

2.8.1 Indústria cosmética e farmacêutica

No caso da indústria cosmética e farmacêutica, há importantes transformações na forma

como os componentes químicos são desenvolvidos. Uma importante característica é o aumento

da biotecnologia e nanotecnologia nos produtos. Estima-se que até 2020 o mercado de

biotecnologia atinja US$ 604 bilhões no mundo, enquanto a nanotecnologia poderá chegar a mais

de US$ 3 trilhões. Esse massivo investimento permitirá a consolidação de uma nova geração de

produtos, os chamados “fármacos e ativos cosméticos”, os quais estimulam o corpo humano a

produzir os próprios elementos, como colágeno e elastina, que geram benefícios à saúde na

presença de luz, calor ou outros fatores naturais.

Outro fator relevante de transformação desse mercado é a tendência crescente de produtos

individualizados baseados em características genéticas do usuário. Estima-se, por exemplo, que

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ve

lhe

cim

en

to d

a P

op

ula

çã

o Indústria cosmética e farmacêutica

Codificação do DNA: produtos individualizados

Biópsia líquida: US$ 6 bi

Nano e Biotecnologia: cosmético ativoBiotecn.: US$ 600bi

Nanotecn.: $3 tri

Equipamentos médico-hospitalares

Diagnósticos avançados, como imagens 3D

Diagnóstico 3D: US$ 16,6 bi

Equipamentos cirúrgicos de alta precisão

Equip. cirúrgicos: US$ 20,3 bi

Demais equipamentos médico-hospitalares

Equip. duráveis: US$ 242 bi

Atendimento de pacientes em domicílio

Telemedicina US$ 43,4 bi

Monitoramento por sensores e chips adesivos

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até 2030 o mercado de biópsia líquida para teste de câncer atinja US$ 200 bi, o que significa que

a codificação do DNA será cada vez mais comum e haverá uma ampliação relevante de

mercados específicos de acordo com a genética dos indivíduos e grupos populacionais.

2.8.2 Equipamentos médico hospitalares

Outro setor que será impulsionado é o de equipamentos médico-hospitalares, o qual está

se transformando com a inserção de elementos tecnológicos cada vez mais sofisticados. O

mercado para diagnósticos em terceira dimensão (3D), por exemplo, deve atingir US$ 16,6

bilhões no mundo, e este é apenas um dos vários segmentos associados ao segmento de

diagnósticos avançados, o qual aumentará muito a precisão das análises médicas.

Além da área de diagnósticos, o segmento de equipamentos cirúrgicos de alta precisão

também deve apresentar uma expansão relevante nos próximos anos. Estima-se que deva atingir

US$ 20,3 bilhões no mundo em 2022. Destaca-se ainda, dentro do setor de equipamentos

médicos, o segmento relacionado aos equipamentos tradicionais, que deverão assistir a um

aumento relevante de sua demanda diante do envelhecimento da população. Espera-se que, até

2024, a demanda por equipamentos médicos duráveis atinja US$ 242 bilhões, o que significa que

há muito espaço para empresas produtoras de bens menos sofisticados se destacarem e, na

medida do possível, migrarem para os equipamentos com maior conteúdo tecnológico.

2.8.3 Atendimento de pacientes em domicílio

Um setor que também terá muito espaço nos próximos anos será o de atendimento a

pacientes em domicílio. Tanto por conta do envelhecimento da população, como pelo processo

de urbanização e emergência de megacidades, esse setor poderá ganhar bastante peso na

economia mundial. A telemedicina, por exemplo, que se beneficia das modernas tecnologias da

informação e telecomunicações para o fornecimento de informação e atenção médica à pacientes

à distância, deve representar um mercado superior a US$ 40 bilhões até 2019. Além disso, o

monitoramento das condições de vida da população por sensores e chips adesivos deve trazer

uma nova dinâmica para o segmento médico, pois permitirá que as pessoas se previnam e

antecipem muitos problemas, evitando, assim, emergências médicas bastante custosas.

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2.8.5 Posicionamento do Brasil

O Brasil encontra-se em posição bastante peculiar nesses mercados. Assim como a

população dos demais países em desenvolvimento, a população brasileira tende a envelhecer

nos próximos anos, fazendo com que haja uma inversão na pirâmide etária. Isso significa que o

mercado brasileiro é relevante no sentido de garantir que as empresas nacionais possam se

estruturar domesticamente para, então, se internacionalizarem. Além disso, as compras

governamentais, principalmente as compras do Sistema Único de Saúde (SUS), têm bastante

potencial de fazer com que empresas nacionais se tornem importantes players, garantindo

estabilidade para que posteriormente se destaquem no mercado internacional.

2.9 Aumento das tensões geopolíticas

A escassez de recursos naturais, como petróleo e água, e aumento da demanda por

recursos antes pouco utilizados, como terras raras, recoloca a questão da segurança nacional

para países produtores desses recursos. Além disso, guerras civis e crises econômicas e

políticas têm levado milhares de pessoas a buscarem alternativas em outros países, ampliando

bastante o fluxo migratório.

De acordo com dados do Banco Mundial, o total de gastos militares como parcela do PIB

dos países apresentou um aumento relevante entre 2000 e 2009, quando saltou de 2,2% para

2,6%. Com a crise internacional e a necessidade dos países de reduzirem gastos públicos, esse

número passou a se reduzir, voltando para 2,2% do PIB em 2016. Os Estados Unidos e a China

são os principais investidores do setor no mundo, somando mais do que US$ 800 bilhões por

ano, o que representa quase tudo que os demais países do mundo gastam em conjunto. Os

americanos aumentaram seus gastos militares de 2,9% do PIB em 2000 para 3,3% em 2016

(ainda que tenha apresentado uma redução durante o governo Obama), enquanto os chineses

mantiveram seus gastos como parcela do PIB estável em torno de 2,0%, embora tenham

aumentado muito em termos absolutos.

Destacam-se, porém, os países do Oriente Médio: a Arábia Saudita é o quarto maior

investidor do mundo, logo atrás da Rússia, e gasta US$ 63,7 bilhões ao ano, o que representa

9,9% do seu PIB; os Emirados Árabes e Israel, outros importantes investidores, destinam 5,7%

e 5,8% do seu PIB para o setor militar.

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Todos esses fatores associados criam um contexto cujas tensões geopolíticas são

exacerbadas, criando espaço para emergência de novas tecnologias e dando impulso a setores

como a indústria de defesa e segurança.

A Figura 2.9.1 apresenta os setores impulsionados e os produtos associados ao aumento

das tensões geopolíticas.

Figura 2.9.1 – Setores impulsionados e produtos associados às maiores tensões geopolíticas

2.9.1 Indústria de defesa

Dentro da indústria de defesa, três segmentos devem ganhar especial destaque: (i)

sistemas de identificação e localização, (ii) armamentos e outros equipamentos bélicos, e (iii)

equipamentos de transporte militar, tais como caças, tanques e submarinos. Conforme foi

analisado, os sistemas de monitoramento e controle, que são fundamentais para garantir

segurança nas cidades, mas que também estão ligados à segurança externa e ao controle

migratório, devem representar US$ 40,8 bilhões até 2020. Se somarmos a isso os investimentos

que serão feitos no segmento de radares, que devem atingir US$ 25,1 bilhões em 2022, é

possível ter uma dimensão da importância desses segmentos no mundo. Os investimentos em

armamentos também representarão uma relevante parcela da demanda mundial, ainda que

menor do que os sistemas de identificação. Estima-se que serão investidos US$ 4,9 bilhões

apenas em armamentos leves até 2020.

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Indústria de defesa

Sistemas de identificação e localização

Armamentos e outros equipamentos bélicos

leves:US$ 4,9bi

radares:US$ 25,1bi

Equipamentos de transporte (caças, tanques e submarinos)

Indústria de segurança

Cibersegurança US$ 73,9bi

Satélites e drones para monitoramento de fronteiras

Drones: US$100bi

Tecnologias para controle de Imigração

Big data para controlar fluxos migratórios

Big data: US$57bi

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2.9.2 Indústria de segurança

A indústria de segurança também se coloca como um setor de grande potencial nos

próximos anos. Os investimentos em aviação e cibersegurança devem atingir US$ 73,9 bilhões

até 2022, o que significa um crescimento de 9,2% ao ano. Ademais, robôs de diversos tipos,

como drones e carregamento de armas, devem representar investimentos de US$ 21,1 bilhões

em 2020.

Apesar de geralmente associada à segurança interna, essa indústria tem ganhado

relevância internacional por conta da demanda de algumas parcelas da população por restrições

à imigração. Tecnologias de controle de pessoas tem sido desenvolvidas e tem ganhado espaço

como forma de reduzir o fluxo de imigrantes principalmente para países desenvolvidos ou países

próximos àqueles que estão passando por conflitos. Essa demanda, ainda que incipiente, pode

levar ao crescimento de segmentos da indústria de segurança muito específicos e com elevado

conteúdo tecnológico.

2.9.3 Posicionamento do Brasil

Nesses dois setores (defesa e segurança), há uma característica que pode possibilitar o

desenvolvimento de empresas nacionais. Essas indústrias sofrem com o “cerceamento

tecnológico”, ou seja, ao contrário dos demais setores, os países não buscam comercializar

tecnologias de ponta. Por isso, é indispensável ter uma indústria de defesa para a segurança

nacional. Os EUA, por exemplo, não vendem os aviões mais sofisticados. A despeito de o Japão

querer comprar a todo custo, ele não consegue. Em linhas gerais, as regras da Organização

Mundial do Comércio (OMC) não valem para isso.

É importante destacar ainda que as indústrias de defesa e segurança têm o caráter dual:

bélico e civil. Muitos dos produtos que são comercializados usam tecnologias da indústria

desenvolvidas para fins militares. No Brasil, apesar de haver empresas de armamentos, foco é

em baixa tecnologia, como uniformes, que pouco pode contribuir para essa transferência

tecnológica. Além disso, há pouco investimento em criptografia e transferência tecnológica. O

setor é bastante fechado em termos regionais e, portanto, há limitações não econômicas aos

mercados externos.

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Anexos

Tabela A.1 – Setores impulsionados e tendências

Envelheci-mento da população

Maior demanda por alimentos e

insumos

Urbanização e megacidades

Maior demanda por

energia

Demanda por infraestrutura competitiva

Aumento das tensões

geopolíticas

Cosmética e Farmacêutica

X

Equipamentos médico-hospitalares

X X

Atendimento de pacientes à domicílio

X X

Entretenimento, turismo e acessibilidade

X X

Insumos agrícolas X X

Insumos minerais X X

Alimentos processados X X

Água X X X

Consumo sustentável X

Infraestrutura social X X X

Segurança X X

Transporte urbano X X

Reconstrução do espaço urbano

X X

Geração de energia renovável

X X X X

Geração de energia não renovável

X X X

Distribuição de energia X X X

Armazenamento de energia

X X

Sistema de Transporte integrado

X X

Sistemas de comunicação

X X

Abastecimento de água e esgoto

X X X

Indústria de defesa X X

Indústria de segurança X

Controle de Imigração X X

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Quadro A.2. – Listas dos países por região

(continua)

Europa e Ásia

Central

Oriente Médio e Norte

da África

América Latina e

Caribe

América do

NorteSul da Ásia Leste Asiático e Pacífico

Albania Algeria Antigua And Barbuda Bermunda Afghanistan American Samoa

Andorra Bahrain Argentina Canadá Bangladesh Australia

Armenia Djibouti Aruba USA Bhutan Brunei Darussalam

Austria Egypt, Arab Rep. Bahamas, The India Cambodia

Azerbaijan Iran, Islamic Rep. Barbados Maldives China

Belarus Iraq Belize Nepal Fiji

Belgium Israel Bolivia Pakistan French Polynesia

Bosnia And

HerzegovinaJordan Brazil Sri Lanka Guam

Bulgaria Kuwait British Virgin Islands Hong Kong Sar, China

Channel Islands Lebanon Cayman Islands Indonesia

Croatia Libya Chile Japan

Cyprus Malta Colombia Kiribati

Czech Republic Morocco Costa Rica Korea, Dem. People’S Rep.

Denmark Oman Cuba Korea, Rep.

Estonia Qatar Curacao Lao Pdr

Faroe Islands Saudi Arabia Dominica Macao Sar, China

Finland Syrian Arab Republic Dominican Republic Malaysia

France Tunisia Ecuador Marshall Islands

Georgia United Arab Emirates El Salvador Micronesia, Fed. Sts.

Germany West Bank And Gaza Grenada Mongolia

Gibraltar Yemen, Rep. Guatemala Myanmar

Greece Guyana Nauru

Greenland Haiti New Caledonia

Hungary Honduras New Zealand

Iceland Jamaica Northern Mariana Islands

Ireland Mexico Palau

Isle Of Man Nicaragua Papua New Guinea

Italy Panama Philippines

Kazakhstan Paraguay Samoa

Kosovo Peru Singapore

Kyrgyz Republic Puerto Rico Solomon Islands

Latvia Sint Maarten (Dutch Part) Thailand

Liechtenstein St. Kitts And Nevis Timor-Leste

Lithuania St. Lucia Tonga

Luxembourg St. Martin (French Part) Tuvalu

Macedonia, FyrSt. Vincent And The

GrenadinesVanuatu

Moldova Suriname Vietnam

Monaco Trinidad And Tobago

Montenegro Turks And Caicos Islands

Netherlands Uruguay

Norway Venezuela, Rb

Poland Virgin Islands (U.S.)

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(continuação)

Quadro A.2. – Listas dos países por região

Europa e Ásia Central

Portugal

Romania

Russian Federation

San Marino

Serbia

Slovak Republic

Slovenia

Spain

Sweden

Switzerland

Tajikistan

Turkey

Turkmenistan

Ukraine

United Kingdom

Uzbekistan