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Macontene Macontene é uma planície do atual concelho de Chibuto, situada a cerca de 10 km daquela vila, na província de Gaza. Em maio de 1897 travou-se neste local um combate entre o chefe rebelde Maguiguana, acompanhado dos seus guerreiros vátuas, que pretendia dar continuidade às sangrentas tiranias e incursões expansionistas do já feito prisioneiro e deposto Gungunhana (negro moçambicano, 3.º rei dos Vátuas) e dois corpos expedicionários portugueses. Maguiguana começou a atacar sistematicamente todos os pequenos postos, destruindo-os e lançando dessa maneira a desmoralização nas tropas portuguesas. A maior parte da guarnição militar portuguesa foi atacada e os poucos que escaparam, na sua fuga para Chibuto, foram completamente aniquilados na lagoa Nafucue. Depois deste sucesso, Maguiguana começou a fazer planos de atacar o posto de Chibuto onde se encontrava uma grande guarnição militar. Os sucessos de Maguiguana encorajaram o povo e muitos chefes de tribo começaram a acreditar de novo na possibilidade da resistência contra os portugueses. A 22 de maio de 1897, o primeiro corpo expedicionário comandado pelo capitão Gomes da Costa, governador de Gaza, atacou o acampamento de Maguiguana e retirou-se para Chibuto. A 21 de julho de 1897, o segundo corpo expedicionário comandado pelo governador-geral de Moçambique, Mouzinho de Albuquerque, destroçou por completo as forças de Maguiguana

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Macontene

Macontene é uma planície do atual concelho de Chibuto, situada a cerca de

10 km daquela vila, na província de Gaza.

Em maio de 1897 travou-se neste local um combate entre o chefe rebelde

Maguiguana, acompanhado dos seus guerreiros vátuas, que pretendia dar continuidade

às sangrentas tiranias e incursões expansionistas do já feito prisioneiro e deposto

Gungunhana (negro moçambicano, 3.º rei dos Vátuas) e dois corpos expedicionários

portugueses. Maguiguana começou a atacar sistematicamente todos os pequenos postos,

destruindo-os e lançando dessa maneira a desmoralização nas tropas portuguesas. A

maior parte da guarnição militar portuguesa foi atacada e os poucos que escaparam, na

sua fuga para Chibuto, foram completamente aniquilados na lagoa Nafucue. Depois

deste sucesso, Maguiguana começou a fazer planos de atacar o posto de Chibuto onde

se encontrava uma grande guarnição militar. Os sucessos de Maguiguana encorajaram o

povo e muitos chefes de tribo começaram a acreditar de novo na possibilidade da

resistência contra os portugueses.

A 22 de maio de 1897, o primeiro corpo expedicionário comandado pelo capitão

Gomes da Costa, governador de Gaza, atacou o acampamento de Maguiguana e retirou-

se para Chibuto.

A 21 de julho de 1897, o segundo corpo expedicionário comandado pelo

governador-geral de Moçambique, Mouzinho de Albuquerque, destroçou por completo

as forças de Maguiguana que ficou quase isolado, sem homens e rodeado de inimigos.

Resolveu ir refugiar-se no território dos Matabeles. Mouzinho enviou a sua cavalaria

para perseguir Maguiguana. Este conseguiu escapar à perseguição mas em

Mapulanguena, perto dos Montes Libombos, quando já se preparava para atravessar a

fronteira, foi cercado pelos portugueses. Apesar de se encontrar com uma dezena de

homens preferiu lutar a render-se. Deste combate resultou a morte deste chefe rebelde e

a pacificação da região de Gaza.

“Também foi essa mesma orientação que levou ainda Mouzinho a mandar

cortar a cabeça do Manguiguana, morto após o combate de Macontene, na segunda

Campanha de Gaza em 1897, para que fosse vista e reconhecida pelos indígenas, tendo

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para tal fim sido metida numa lata com álcool, que – pormenor macabro, contado por

Aires de Ornelas1”

Na batalha de Macontene as tropas de Maguiguana foram derrotadas devido à

superioridade do armamento português e sobretudo à cavalaria que desorientava as

mangas de Maguiguana com a sua mobilidade. A derrota de Maguiguana provocou uma

desmoralização nas tribos que lhe eram fiéis. Desta derrota resultou a ocupação

portuguesa de Gaza e uma paz que com poucos incidentes duraria cerca de 60 anos, até

ao dealbar da luta pela independência de Moçambique na década de 1960. Combate de

Macontene é a designação pela qual ficaram conhecidos na historiografia portuguesa os

recontros travados no contexto das campanhas de pacificação de Moçambique na região

de Macontene. Os combates ocorreram entre forças expedicionárias do Exército

Português, mas integrando grande número de homens recrutados localmente e em outras

colónias portuguesas de África, e forças dos povos vátuas comandadas pelo líder

insurgente Maguiguana.

“É Mouzinho a pessoa que comanda, para liquidar o que ficara indeciso. E isso

faz, como sempre, com a fulminante rapidez da águia que ataca, com a teimosa

persistência das irrevogáveis decisões, com o brilho e fulgurante lampejo de heroica

predestinação. Mouzinho completa e consolida cm Macontene a sua grandiosa obra de

estabelecimento da soberania de Portugal nestas ferras. Para além de Macontene, foge,

escorraçado por onde passa, um vencido sem esperança, imagem de um espírito

desfeito e disperso, de que só restaria uma tradição e a memória de muitos trabalhos e

glórias. Com o Maguiguana morre o último-lampejo da altivez e soberba vátua. Cai

com a beleza de um valente, isolado e grande, na enormidade de um símbolo, para que

a última página da vida heroica de Mouzinho pudesse conter, para sua maior grandeza,

uma meditação de respeito pelos vencidos. Macontene é o último combate de Mouzinho

que ele preparou, dirigiu e venceu; onde brilhou com mais alto fulgor a sua espada e

alma de cavaleiro aquele onde melhor se reflete a sua personalidade, toda feita de

rápidas decisões e de persistente e inquebrantável energia.” Extrato elaborado para a

alocução do discurso de inauguração do monumento de Macontene, por Major

Abranches Pinto (Chefe do Estado Maior do Quartel General da Colónia) em 1940. 2

1 http://viumhomem.wordpress.com/2009/07/01/vida-colonial-cortadores-de-cabecas, consultado em 07-

01-2013 às 02h30m.2 Pinto, Abranches. (1940). Macontene : último combate de Mouzinho, o «africano»!. N.º 24. P. 17-21.