maciel,o. estatutos de sociedades mutualistas e a história social do trabalho

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Sociedade mutualistas, operarios

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  • Revista Crtica Histrica Ano I, N 1, Junho/2010

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    DOCUMENTAO

    Estatutos de Sociedades Mutualistas e a Histria Social do Trabalho: Conjecturas em Torno da Sociedade Beneficente Proteo e Auxlio da Cia. Unio Mercantil (Ferno Velho, 1876/1879)

    Osvaldo Batista Acioly Maciel* Universidade Federal de Alagoas

    Universidade Estadual de Alagoas

    Introduo Em torno da Fbrica de tecidos existente em Ferno Velho, beira da

    Lagoa Munda, j podemos falar que existe um olhar historiogrfico e uma memria que por desventura, descontinuamente vem esclarecendo aspectos da histria deste povoado, das condies de vida e de trabalho de seus operrios, bem como das lutas implementadas pela categoria contra os interesses capitalistas de seus proprietrios e acionistas. Entre as obras que podemos destacar sobre o tema e que sejam de nosso conhecimento, cito o documentrio de Celso Brando, Memria da vida e do trabalho, e a pesquisa empreendida por Golbery Lessa e outros colaboradores no Trama da Memria, Urdidura do Tempo.1

    Meu intuito aqui no ser o de realizar uma contribuio significativa a esta histria. Pretendo, antes, indicar como os estatutos de uma sociedade composta por teceles pode contribuir para entendermos um pouco da histria desta categoria e de toda uma classe, justamente a partir de uma comparao entre as duas primeiras verses do estatutos da Sociedade Beneficente Proteo e Auxlio da Cia. Unio Mercantil elaborados e em vigor nos anos 1870.2

    Desde a anlise de vis sociolgico sobre a formao do operariado brasileiro que vimos notcias sobre as sociedades mutualistas, tendencialmente inseridas como uma maldefinida prhistria do movimento operrio.3 De

    * Mestre e Doutorando em Histria (UFPE). Atualmente professor nos cursos de Histria da UFAL e UNEAL. 1 LESSA, GOLBERY. Trama da Memria, Urdidura do Tempo (Ethos e lugar dos operrios txteis alagoanos). Macei, UNCISAL, Digitado, 2008; BRANDO, Celso (direo e produo) Memria da vida e do trabalho. Estrela do Norte, Brasil, 198?. 2 A primeira verso do Estatuto segue em anexo abaixo e tambm pode ser encontrada no livro por mim organizado: Maciel, Osvaldo (org.). Operrios em movimento: documentos para a histria da classe trabalhadora em Alagoas (1870-1960). Macei: EDUFAL, 2007, pp 91/6. 3 RODRIGUES, Jos Albertino. Sindicato e desenvolvimento no Brasil. So Paulo: DIFEL, 1968, pp. 6/8; SIMO, Azis. Sindicato e Estado. So Paulo: tica, 1981, pp. 150/1.

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    algum tempo para c, estas entidades passaram a ganhar um novo vigor no conjunto da histria social do trabalho, incorporando-se sua experincia a um conjunto de continuidades e algumas rupturas no longo fazer-se da classe operria brasileira. Este fazer-se seria dialeticamente mais complexo do que o pressuposto em outras realidades tidas como clssicas (europia) na medida em que incorporava diversas especificidades, talvez a principal delas sendo a de a formao de classe operria brasileira remontar a um ambiente escravista.

    Estas sociedades mutualistas (denominadas tambm de sociedades de socorros mtuos, ou ainda beneficentes, por alguns) eram sociedades organizadas por grupos socialmente heterogneos. Tal fenmeno possui maior fora no cenrio brasileiro principalmente ao longo do Segundo Reinado e da Primeira Repblica. Dentre estes grupos, encontramos mutuais organizadas por interesses mais diretamente recreativos, tnicos e profissionais. Freqentemente seus objetivos estavam ligados ao auxlio em casos de doena, invalidez ou morte de scios e/ou familiares, porm em alguns casos a mutualidade possua como principal objetivo explicitado em seus estatutos, angariar foras para realizar atividades culturais, organizar grupos teatrais e bandas de msica, etc. Para Alagoas, no perodo entre 1869 (data de criao do que parece ter sido a primeira sociedade mutualista alagoana, a Associao Tipogrfica Alagoana de Socorros Mtuos) e 1923, j consegui identificar cerca de uma centena de sociedades deste tipo ou congneres (clubs literrios, sociedades musicais, etc). Em que pese a amplitude de interesses e a relativa diversidade dos grupos e classes sociais que criaram e mantiveram sociedades de socorros mtuos na histria do Brasil, parece-me que a grande maioria de seus scios era composta de trabalhadores que estavam inseridos no mercado de trabalho. Isto faz com que este seja eminentemente um tema que pertena a histria operria.

    As fontes documentais utilizadas pela historiografia que aborda o tema baseiam-se em um conjunto relativamente amplo: estatutos, relatrios, livros de atas de reunies, correspondncia ativa e passiva, bem como narrativas e memrias com tonalidades genealgicas e notas esparsas sadas nos jornais dirios e/ou hebdomadrios. Existem ainda os ofcios expedidos e recebidos (particularmente junto aos governos provinciais/estaduais), os livros sociais (ou seja, livros de matrculas de scios, de entrada de jias) e de mensalidades

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    dos scios (prestao de contas), livros de atas, de documentos oficiais expedidos, livros de beneficncia (onde se indicam os auxlios prestados) etc. Apesar desta diversidade documental, pouca coisa chegou aos nossos dias. Para o caso de vrias pesquisas realizadas no Brasil, como so os exemplos de Minas-Gerais, So Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, a documentao normalmente esparsa e rarefeita, tornando-se um desafio a mais para quem deseja estudar o fenmeno mutual.4 At onde de meu conhecimento, apenas no caso da Imperial Sociedade dos Artistas Mecnicos e Liberais de Recife, de Pernambuco, preservou-se um conjunto documental macio, o que no impediu que, em sua pesquisa, Marcelo Mac Cord compulsasse um conjunto documental paralelo ainda maior para dar mais vivacidade e fundamento a seu estudo.5

    Relativamente a Alagoas, h poucos itens desta documentao listada acima preservados, e quando tais itens sobrevivem a traas e s polticas pblicas de gesto documental, chegam at ns lacunares, por vezes em pginas que quase se esfarelam ao mnimo contato.6 Em muitos casos temos apenas pistas malogradas. Da ausncia de documentao relativa s mutuais, o caso dos relatrios anuais das entidades constitui a maior lacuna. Este material permitiria um acesso mais direto a um conjunto de informaes ricas

    4 LUCA, Tnia Regina de. O sonho do futuro assegurado (o mutualismo em So Paulo). So Paulo/Braslia, DF: Contexto/CNPq, 1990. (Srie Repblica); BATALHA, Claudio Henrique de Moraes. Sociedades de trabalhadores no Rio de Janeiro do sculo XIX: algumas reflexes em torno da formao da classe operria. In: Cadernos AEL: Sociedades operrias e mutualismo. Campinas, vol. 6, n 10/11, 1999. (pp. 41/66); LONER, Beatriz Ana. Construo de classe: operrios de Pelotas e Rio Grande (1888-1930). Pelotas, RS: Ed. UFPel/Unitrabalho, 2001; SILVA JR, Adhemar Loureno da. (2002). Primeiros apontamentos sobre grupos religiosos e sociedades de socorros mtuos. Revista Histria-Unisinos, vol. 6, n 6, So Leopoldo, Ed. Unisinos, (pp. 185/218); JESUS, Ronaldo Pereira de. Histria e historiografia do fenmeno associativo no Brasil monrquico. In: ALMEIDA, Carla Maria Carvalho de e OLIVEIRA, Mnica Ribeiro de (orgs.) Nomes e Nmeros: alternativas metodolgicas para a histria econmica e social. Juiz de Fora, MG: EDUFJF, 2006, (pp. 285/303); VISCARDI, Cludia Maria Ribeiro. As experincias mutualistas de Minas Gerais: um ensaio interpretativo. In: ALMEIDA, Carla Maria Carvalho de e OLIVEIRA, Mnica Ribeiro de (orgs.) Nomes e Nmeros: alternativas metodolgicas para a histria econmica e social. Juiz de Fora, MG: EDUFJF, 2006, (pp. 305/22); VISCARDI, Cludia Maria Ribeiro e JESUS, Ronaldo Pereira de. A experincia mutualista e a formao da classe trabalhadora no Brasil. In: FERREIRA, Jorge e REIS FILHO, Daniel Aaro (orgs). As esquerdas no Brasil (vol 1) A formao das tradies (1889-1945). Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2007, (pp. 21/51).

    5 MAC CORD, Marcelo. Andaimes, casacas, tijolos e livros uma associao de artfices no Recife (1836-1880) Campinas, PPGH, 2009. 6 Gostaria aqui de registrar o ambivalente desejo que acomente a muitos de ns historiadores que consiste em, de um lado, compulsar o material mesmo sabendo que isto pode comprometer irremediavelmente a consulta posterior, e por outro lado, preserva a documentao para que s aps seu devido tratamento tcnico ser permitida a consulta. Este um dos graves problemas que encontramos em nossas instituies arquivsticas pois, muitas vezes por falta de uma triagem rigorosa, chegam documentos s salas de consultas cujas condies no lhes deveriam permitir ser compulsados.

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    sobre as atividades desenvolvidas. A sua no preservao um problema enfrentado para outras unidades federadas.7

    Para este artigo, especificamente, explorarei rapidamente dois estatutos da referida sociedade de teceles de Ferno Velho, exemplificando a possibilidade de trabalharmos com um tipo de documentao que normalmente no fornece pistas sobre a dinmica existncia destas entidades.8 Por um motivo bvio, os artigos, captulos, princpios, condutas requeridas em estatutos e regimentos so, menos que a experincia vivida, expectativas de normatizao que muitas vezes no so seguidas ao p-da-letra e outras vezes so flagrantemente desafiadas. Portanto, em funo de sua valia restrita, estatutos so normalmente lidos com alguma prudncia na histria social, ou em associao com outras fontes, para que no se cometa o risco de afirma o que foi a partir de prescries do que deveria ter sido.

    Como Surgem Legalmente as Sociedades Mutualistas? Existentes pelo menos desde os anos 1830, em substituio s antigas

    corporaes de ofcio (extintas com a constituio de 1824) e determinadas caractersticas das irmandades, a primeira lei do Imprio a tratar especificamente das agremiaes mutuais foi a lei n 1.083, de 22 de agosto de 1860, regulamentada pelo decreto 2.711, de 19 de dezembro do mesmo ano. Esta lei apontava que tais entidades passavam a depender do parecer do Imperador no Rio de Janeiro e dos Presidentes de Provncias para poderem se instalar.9 Vrios dos pareceres elaborados nos cabealhos dos estatutos de diversas sociedades analisados para o caso alagoano fazem remisso a este decreto 2.711. por fora dele que o presidente da provncia passa a ser o responsvel pela indicao do presidente da entidade mutualista que requeresse sua legalizao. Costumeiramente, porm, os presidentes sancionavam a escolha indicada pela assemblia geral dos associados ou por

    7 BATALHA, Claudio. Sociedades de trabalhadores no Rio de Janeiro do sculo XIX: algumas reflexes em torno da formao da classe operria. In: Cadernos AEL: Sociedades operrias e mutualismo. Campinas, vol. 6, n 10/11, 1999, (pp. 41/66), p. 61. 8 Estas duas verses dos estatutos foram encontradas no Livro de provises e estatutos de sociedades beneficentes, literrias e outras (correspondncia ativa). (1869 1887). L 94, E. 20. [APA]. Neste rico e desorganizado acervo documental, encontramos tambm o livro Registro de Estatutos (Sociedades beneficentes) 1921-1931, L170, E21. H referncias ainda, no fichrio da instituio, ao livro Registros de Estatutos (Sociedades Beneficentes) 1914/21 L164, E21, porm no foi possvel localiz-lo. 9 LUCA, Tania de. Op. Cit., pp. 13/4.

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    qualquer outra forma de escolha dos membros da diretoria que porventura existisse nas diversas sociedades. Este o caso de So Paulo10 e parece ter sido o caso de Alagoas. Como se verifica pelo resumo da lei realizado por Luca, o formato dos estatutos destas entidades em boa medida era fruto do que a regulamentao indicava. Comentando as amarras que a lei realizava junto a este tipo de associao civil, a pesquisadora afirma que abandonava-se um regime de total liberdade existente at ento na organizao de entidades desta natureza, em favor de um rgido controle do Estado.11 Houve posteriormente uma alterao na legislao. Em 1882, com a lei n 3.150, de 4 de novembro, lei regulamentada pelo decreto n 8.821, de 20 de dezembro do mesmo ano, alteraram-se as disposies para existncia das beneficentes, que no precisariam mais obter a autorizao estatal. Para Luca, retrocedia-se, assim, ao privatismo anterior a 1860. Contudo, esta mudana legal causar um impacto reduzido no modo como tais entidades continuam se organizando, inclusive porque elas permanecem dependendo de autorizao do presidente da provncia.12

    O fato de os registros atualmente existentes indicarem que apenas em 1869 surge a primeira sociedade mutualista em Alagoas pode significar, primeiro, que a eventualidade de terem existido outras entidades anteriores a esta data acabou por ser mal documentada justamente por no estar sob a malha do poder provincial.13 Em segundo lugar, este dado indica a morosidade com que informaes oficiais e legais que contribussem para melhorar as condies de vida e de organizao de grupos socialmente desfavorecidos chegavam at o solo da provncia. Obviamente, no fortuito que a primeira entidade a possuir seus estatutos aprovados tenha sido a dos Tipgrafos, profissionais muito bem instrudos e a par de todas as novas informaes sadas na imprensa nacional e at estrangeira. Este argumento sugere, de

    10 IDEM, p. 15. 11 IBIDEM, p. 14. 12 IBIDEM, p. 17. 13 Sem citar a referncia, Douglas Apratto Tenrio fala da existncia de uma Associao Beneficente Typogrfica para a segunda metade do sculo XIX, o que poderia ser o caso de uma mutual anterior a data que indico. Parece-me que no, de qualquer modo. Provavelmente o autor refere-se Associao Tipogrfica Alagoana de Socorros Mtuos e sua fonte fora Thomaz Espndola, que fornece a denominao errada para a entidade. Cf. TENRIO, Douglas Apratto. Capitalismo e Ferrovias no Brasil. 2 ed. Curitiba: HDLivros, 1996 [1979], p. 90; e ESPNDOLA, Thomas do Bom-Fim. Geografia alagoana ou descrio fsica, poltica e histrica da Provncia das Alagoas. 2 ed. Macei: Edies Catavento, 2001 [1871], p. 83.

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    qualquer modo, um aspecto importante da histria operria: o de que antes de as aes (ou, se quiser, o nvel de conscincia) existirem, serem concretizadas e formalizadas em vnculos identitrios, rituais, instituies, atividades normatizadas e/ou de luta coletiva, existiram intenes dispersas, desejos latentes, insatisfaes cotidianas que foram se amalgamando em comentrios, queixas, conversas rpidas no caminho de volta do trabalho; leituras e comentrios de leituras realizadas sobre por exemplo a existncia de uma lei que autorizava a criao de sociedades mutualistas como aquela, fundada no ms prximo passado na corte... etc. Cabe considerar, de qualquer modo, que h um impacto aglutinador de intenes a partir da emanao da lei e que tal impacto sugeriu este tipo de possibilidade de organizao das camadas mdias e baixas da sociedade como um todo. Assim, apesar de atestar, sem dvidas, algum vigor para a sociedade civil do perodo, particularmente em provncias mais distantes da sede do Imprio, esta avaliao tem que ser matizada com a fora que as regulamentaes legais e/ou polticas pblicas que recobriam todo o territrio nacional causavam em reas - falta de uma melhor localizao gramatical perifricas.

    Para a organizao de uma sociedade mutualista era preciso juntar um grupo pequeno de pessoas com tal inteno, realizar reunies de planejamento, divulgar entre os potenciais associveis a reunio (em alguns casos, reunies), realizar pelo menos mais uma outra reunio para discusso e aprovao, em assemblia, dos estatutos (princpios, objetivos, deveres, atribuies e competncias dos scios etc.), tudo devidamente registrado em Ata. A sociedade, ento, estava instalada. A documentao produzida, em seguida, seria encaminhada ao presidente da provncia para anlise e aprovao. A partir de ento a entidade podia funcionar normalmente. Entre a instalao e o envio para o presidente da provncia passavam-se poucos dias. At sua aprovao, podia demorar meses, mas encontramos muitos casos em que com apenas um ms a entidade j possua seus estatutos aprovados. Em alguns casos, encontramos evidncias de entidades que realizavam suas atividades antes do incio e/ou da formalizao deste trmite burocrtico, como o caso da Sociedade Auxlio e Perseverana dos Caixeiros de Macei, surgida entre 1879 e 1883.

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    Mutuais por Empresas A Sociedade Beneficente Proteo e Auxlio da Cia. Unio Mercantil

    tipicamente aquilo que Tnia de Luca classifica como uma mutual por empresa, ou seja, uma sociedade que possua como scios apenas os operrios/trabalhadores empregados em dada empresa, companhia ou estabelecimento. Na pesquisa que realiza para So Paulo, Luca encontra um percentual significativo destas sociedades que eram organizadas, patrocinadas e administradas pelos patres ou seus representantes.14 Alm de acusadas de ineficincia, prestando um servio mdico falho e extremamente dispendioso para o cofre das sociedades, algo que s serve para os que administram e superintendem as mutuais, elas eram acusadas pelos lderes operrios de afastarem os trabalhadores das verdadeiras associaes de classe, lhes sendo vedado desfrutar de uma existncia autnoma.15

    Tania de Luca, sempre a partir do estudo de caso paulista, afirma que estas sociedades geralmente surgiam sem obrigatoriedade de associao. De todo modo, pelo menos para os primeiros anos do sculo XX, elas passaram a colocar a associao como obrigatria, inclusive utilizando-se de mtodos incisivos de filiao.16 Na Sociedade Beneficente dos Empregados da Companhia Paulista, por exemplo, com a reforma estatutria ocorrida em 3 de maio de 1906, que tornava obrigatria a associao entidade por parte de todos os empregados, estes declararam greve, exigindo o fim de tal obrigatoriedade e a demisso de 3 empregados graduados, aparentemente todos envolvidos na nova poltica da empresa.17 Apesar de no ter encontrado outras mutuais por empresa em Alagoas o que possivelmente lacuna da documentao compulsada pelo menos no caso da entidade da fbrica de tecidos Cia. Unio Mercantil (Proteo e Auxlio) a trajetria de sua criao e anos iniciais distinto do que acontece em So Paulo. Vejamos o caso e, em funo da escassez de dados que permitam tirar argumentos conclusivos, conjecturemos acerca do que motivou tal trajetria.

    Os Estatutos da Sociedade Proteo e Auxlio (dos empregados e operrios da Fbrica de Tecidos da Cia. Unio Mercantil, de Ferno Velho)

    14 LUCA, Tania. Op. Cit., p. 48. 15 IDEM, pp. 52 e 58. 16 IBIDEM, pp. 48/50. 17 IBIDEM, p. 50.

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    foram aprovados, concedendo-se autorizao para funcionamento, pelo Presidente da Provncia, em 21 de abril de 1876. Seguindo o modelo/estrutura da maioria dos estatutos, a sua aprovao foi condicionada a alterao do teor do artigo 5, como veremos logo adiante.18 Tais disposies estatutrias, como aprovadas em 1876, foram reformulados em 1879 a partir das resolues dAssemblia Geral dos seus associados realizada em sesso de 19 de janeiro de 1879. Esta reformulao, parece-me, deu-se em funo daquilo que Tnia de Luca indicia como uma resistncia silenciosa em relao a essas sociedades por parte dos empregados/operrios destas empresas.19 Em que pese o ambiente asfixiante das relaes de trabalho em empresas desta natureza, particularmente em casos como o da Cia. Unio Mercantil, localizada nos limites do municpio de Macei, em um ambiente rural de forte controle e disciplina, os trabalhadores organizam-se para reagir a tais situaes e muitas vezes conseguem ganhos objetivos.

    A principal mudana acontecida com a reformulao dos referidos estatutos foi relativa obrigatoriedade de associao. A redao do artigo 2,que tratava deste ponto na primeira verso do estatuto, era a seguinte: Todos os operrios e empregados da oficina so scios, e obrigados a depositar 5% de seus vencimentos semanalmente, que ganhem por ms ou por dia. A proposta aprovada em 1879 modificou a redao deste artigo, e seu teor passou a constar logo do artigo 1, ficando assim:

    Os empregados e operrios da fbrica de tecidos da Cia. Unio Mercantil = que quiserem [sic] formaro entre si uma associao denominada Proteo e Auxlio, a qual tem por fim auxiliar o scio doente, promovendo o seu tratamento e, no caso de morte, o seu enterro.20

    A mudana transformava a obrigatoriedade inicial em uma opo, se no de todo, pelo menos em parte, sujeita ao arbtrio do operrio, que avaliaria at que ponto seria interessante a si e sua famlia a entrada no quadro de scios da entidade. Lembramos que, como j indicado acima, apesar de no haver a cobrana de jia para os novos scios, a entrada compulsria na entidade

    18 Ser aprovado com alteraes um fato incomum para os estatutos que encontrei em Alagoas. 19 IBIDEM, p. 58. 20 Estatutos da Sociedade Beneficente Proteo e Auxlio, reforma de 1879, Artigo 1.

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    significava ter uma reduo de pelo menos 5% do seu salrio,21 muito provavelmente para ter acesso a um conjunto de servios deficientes ou insatisfatrios.

    Voltemos mencionada alterao do artigo 5, realizada a partir da aprovao dos estatutos da entidade pela presidncia da provncia. Originalmente, a sua redao era a seguinte: O scio que seqestrar e seduzir a mulher, filha ou irm do outro scio, ser expulso da sociedade, despedido da oficina e perder suas entradas. Com a alterao, ficou com o seguinte acrscimo final: ..., ficam os dependentes de aprovao da presidncia [sic]. Ou seja, os dependentes dos scios que perderem sua condio de associado, podem obter os benefcios a que os dependentes dos scios falecidos possuem direito, desde que os casos sejam avaliados e aprovados pela presidncia da entidade. Com a reformulao dos estatutos trs anos depois acontece a total supresso do artigo 5, o que pode sugerir tanto que os trabalhadores barganharam sua supresso em funo do carter disciplinador que o artigo conferia as suas investidas amorosas, quanto que eles no queriam perder sua condio de associados e, principalmente, o emprego e/ou as entradas (pagamentos de jias e mensalidades) que realizaram junto aos cofres da Proteo e Auxlio desde quando foram admitidos. Quanto ao ponto, cabe observar que o estatuto da sociedade beneficente da Cia Unio Mercantil atencioso com relao aos rfos dos scios, de um modo em geral, e mesmo com os filhos de ex-scios que, por algum motivo justo, perderam a condio de scio. Para os estatutos, muito possivelmente em consonncia com interesses da diretoria da Cia., eles devem ser preparados para assumirem as funes e empregos de seus pais, e portanto devem ser cuidados e educados pela Sociedade at a idade de nove anos, quando passam a ser aprendizes.22

    Para estas mutuais por empresa, Tania de Luca atesta que havia uma constante presena de altos funcionrios nas suas direes, mesmo quando a

    21 Tendo em vista que a cobrana era semanal e o pagamento poderia ser, eventualmente, dirio, semanal ou mensal, no improvvel que houvesse um jogo de contas e descontos que tentasse retirar um pouco alm dos cinco por cento previstos no estatuto. Neste sentido, a reforma do estatuto, tambm resultou em um ganhou para os associados pois, em seu novo Artigo 2, rezava-se que Os empregados e operrios da oficina que forem scios, so obrigados a capitalizao no cofre da sociedade 5% dos seus vencimentos quer seja por ms, quer seja semanalmente, conforme o seu recebimento. (sic, grifo meu). 22 Ver artigos 11 e 16, por exemplo.

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    escolha ocorria atravs de eleies.23 Para o caso analisado aqui, isto no parece ter ocorrido em grande monta. Uma olhada nas relaes das composies das Diretorias e do Conselho de Fiscalizao da Companhia as quais consegui encontrar (anos 1874-5, 1877, 1879/85) a partir de diversos ofcios encaminhados aos presidentes de Provncia indicam que, pelo menos Miguel Feliciano Bastos da Silva, o presidente da sociedade para 1876, pertencera ao Conselho de Fiscalizao da Cia. no mandato 1880/1.24 um nmero reduzido para constatar algo desta natureza. Isto no implica, obviamente, que no houvesse uma comunho de interesses maiores entre os objetivos mais gerais de criao da entidade, a gesto da mutual pelas suas diretorias e a reproduo e ampliao de capital por parte das diretorias da Cia. Unio Mercantil e seus acionistas.

    Ainda mais tendo em vista que uma srie de outros artigos, bem como o prprio perfil de atuao da entidade, delineado a partir destes documentos, revelam uma forte confluncia com estratgias disciplinadoras, desmobilizadoras e exploradoras por parte da Cia. Assim, os scios poderiam ser expulsos da entidade, perdendo suas entradas, caso venham infringir o regulamento interno da oficina e der causa a ser despedido (artigo 2). Aqui vemos um reforo a um dos principais mecanismo de disciplinamento existente nas fbricas modernas. Em outro artigo, em que se tratam do conjunto das competncias do presidente da Proteo e Auxlio, atribui-se-lhe a incumbncia de receber as reclamaes dos associados, todos empregados da empresa, para apresent-las Assemblia Geral dos acionistas da Cia. Unio Mercantil25. Vemos, neste item, a formatao da desmobilizao da categoria, na medida em supostamente se asseguraria um canal de reivindicaes sem a fora e o mpeto das principais formas de mobilizao operria, coletivas e espontneas. Para no alongar demais a lista de itens que fazem confluir os interesses da mutual e da companhia, vemos que ao final de cada ano o presidente da Proteo e Auxlio, de acordo com o artigo 26 dever converter os lucros existentes da sociedade em aplices da Cia. Unio Mercantil, e os

    23 LUCA, Tania. Op. Cit. p. 54. 24 Caixas associaes, diversos maos, estante 02. Advirto, no entanto, que esta checagem foi de difcil acesso e incompleta, levando-se em conta inclusive que muitas das assinaturas dos diretores e/ou conselheiros eram praticamente ilegveis. 25 Artigo 22 do primeiro estatuto, e artigo 14, pargrafo 2 do estatuto reformulado.

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    dividendos dessas aplices sero capitalizados em mo do Diretor Gerente, com o prmio de 1% ao ms.. Parte do dinheiro que seria pago aos assalariados da fbrica de tecidos retornaria em forma de investimento financeiro tpicos dos acionistas. Para uma empresa que sempre vivia reclamando da falta de investimentos e de foras financeiras para dar continuidade, estabilizar e, se possvel, ampliar a produo da mesma,26 por menor que fosse o montante existente nos cofres da mutual que se destinasse a esse propsito, certamente seria bem vindo.

    As reformulaes estatutrias indicadas, com as devidas conjecturas realizadas aqui, bem como o leque de artigos citados e que indiciam pela prtica de reiterao da dominao e explorao mais geral dos trabalhadores e seus familiares no interior da fbrica de tecidos, sugerem o quo conflituoso era o estabelecimento de objetivos, princpios e regras dentro do ambiente associativo do operariado txtil de Alagoas. Assim, cabem algumas reflexes em torno de questes suscitadas pelos poucos rastros documentais encontrados sobre o episdio. E com isto vou me despedindo, deixando claro que a inteno deste breve texto foi, menos que explicitar um pouco da experincia associativa da primeira gerao de trabalhadores de Ferno Velho, indicar possibilidades de analise histrica de documentos normalmente tidos como ridos, como so os casos dos estatutos, regimentos, regulamentaes legais etc.

    A primeira destas reflexes seria a de no realizar genericamente uma avaliao generosa destas entidades, como tem sido a prtica atual de nossa historiografia. Do mesmo modo que h algum tempo atrs todas estas entidades mutualistas eram vistas como espao de cooptao e mecanismo de dominao dos trabalhadores pelos patres e elite do perodo, hoje h quase um consenso em torno de uma avaliao oposta, em que, a partir de uma certa leitura da abordagem thompsoniana, os subalternizados sempre conseguem barganhar melhores condies de vida e trabalho. Parece-me que nem sempre isto ocorre, infelizmente. E creio o caso analisado aqui um deles. preciso levar em considerao a conjuntura e o contexto em que tais negociaes acontecem e, ao que parece, para o caso da Proteo e Auxlio apesar do

    26 Regra geral o que percebo em diversos relatrios anuais encaminhado pelas diretorias para conhecimento e aprovao dos seus acionistas, os quais no cabem serem considerados aqui.

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    indiciamento de conflitos existentes no fazer-se desta entidade os operrios no conseguiram um nvel de autonomia e gerenciamento da associao que fortalecesse a construo de uma identidade coletiva. Pelo contrrio, a julgar pela mudana da obrigatoriedade para a opo que se instalava na segunda redao dos estatutos, a experincia daqueles primeiros anos levou muitos a pensarem se valeria pena continuar na entidade, o que possivelmente criou uma divergncia interna entre os teceles de Ferno Velho. Ou, ento, deu-se o mesmo resultado a partir de um outro tipo de incmodo: a Diretoria da empresa e seus acionistas passaram a perceber que a relao custo/benefcio estabelecida entre a contribuio financeira dos associados e os servios a que possuam por direito, mostrava um balano deficitrio, sem saldo para os acionistas. Talvez inclusive porque a obrigatoriedade da participao de todos na entidade gerava a entrada compulsria na assistncia de um conjunto de trabalhadores com qualificaes as mais variadas e que, muitos deles, ganhavam extremamente mal, porm que possuam os mesmos direitos de assistncia que os demais, numa profisso sabidamente perigosa como a de tecelo, onde os acidentes de trabalho eram comuns.

    preciso dizer, contudo, que parto da pressuposio de que alguma avaliao de toda esta situao era realizada pelos teceles, avaliao esta que caminharia no sentido de, por exemplo, comparar a vida sem a mutual com a realidade posterior, muito particularmente a partir da reduo de 5% do salrio recebido e da oferta de alguns servios. Alguns outros pontos passveis de avaliao por parte dos sujeitos que viveram aquela histria poderiam ser tomados aqui. Por hora, no entanto, cabe apenas considerar que, de qualquer forma, mesmo os eventuais embates acontecidos entre o conjunto mais amplo dos operrios da Unio Mercantil com os inevitveis conflitos entre grupos internos e possveis persistncias de inimizades a experincia mutual pontuou-se como um elemento a mais a ser levado pelos operrios na baliza das opes cotidianas e de alcance mais longnquo que estes trabalhadores precisavam, a todo momento, realizar. Desnorteadora, em um primeiro momento, o incio da experincia mutualista pode bem ter servido, no mdio prazo, para que fossem percebidos os limites concretos de sua interveno nas condies efetivas de trabalho e vida a que estavam submetidos aqueles trabalhadores que moravam a beira da lagoa Munda. Por conseguinte, pode

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    ter facilitado o acesso coletivo destes teceles a um nvel de conscincia de classe mais fortalecido e em oposio a outros grupos e classes sociais.

    ANEXO ESTATUTOS DA SOCIEDADE BENEFICENTE PROTEO E AUXLIO CAPTULO 1 Fins da Sociedade Art. 1 - Os empregados e operrios da fbrica de tecidos da Cia. Unio Mercantil formaro entre si uma associao denominada Proteo e Auxlio, a qual tem por fim

    Pargrafo 1 - Auxiliar o operrio doente promovendo seu tratamento e enterro.

    Pargrafo 2 - Auxiliar a viva do operrio e tratar da educao dos filhos.

    CAPTULO 2 Obrigaes dos scios Art. 2 - Todos os operrios e empregados da oficina so scios, e obrigados a depositar 5% de seus vencimentos semanalmente, que ganhem por ms ou por dia. Art. 3 - Os scios so obrigados a se reunirem no primeiro domingo de janeiro de cada ano, em Assemblia Geral para os fins seguintes:

    Pargrafo 1 - Eleger a comisso auxiliadora Pargrafo 2 - Eleger o presidente, secretrio e tesoureiro Pargrafo 3 - Tomar contas ao tesoureiro

    Art. 4 - os scios tem por dever amizade ao seu companheiro, respeitar e considerar como sua a famlia dos demais scios. Art. 5 - O scio que seqestrar e seduzir a mulher, filha ou irm do outro scio, ser expulso da sociedade, despedido da oficina e perder suas entradas. Art. 6 - O scio que infringir o regulamento interno da oficina e der causa a ser despedido perder igualmente as suas entradas. Art. 7 - Todos os scios so obrigados a acompanhar o cadver do scio falecido.

    CAPTULO 3 Direitos dos scios Art. 8 - Scio doente ou impossibilitado de trabalhar, perceber metade de seus vencimentos enquanto durar a molstia ou impedimento. Art. 9 - Se a molstia for grave ter direito, alm da metade dos vencimentos, a mdico, botica e tratamento. No caso de perigar deve receber a confisso e os sacramentos da igreja e no caso de morte ter direito ao enterro. Art. 10 - A viva do scio falecido ter direito a uma mensalidade enquanto se mantiver com honestidade. Art. 11 - Os filhos dos scios falecidos sero considerados como filhos das sociedades e por ela alimentados e educados at a idade de 9 anos, idade com que devem entrar para oficinas como aprendizes. Art. 12 - O scio que sair da oficina por uma causa estranha sua vontade ou por motivo justo, ter direito tera parte de suas entradas, descontando-se do total destas a que a caixa j tiver despendido com ele.

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    CAPTULO 4 Comisso Auxiliadora Art. 13 - A Comisso Auxiliadora ser composta de 3 membros eleitos anualmente em assemblia geral, e tem por fim:

    Pargrafo 1 - Verificar a molstia ou impedimento do scio, se ele esta no caso ou no de merecer auxlio.

    Pargrafo 2 - Fornecer ao scio doente mdico, medicamentos e todo o tratamento diettico necessrio, processar os meios para que o doente seja confessado e sacramentado, promover e fazer o seu enterro. Art. 14 - a Comisso deve requisitar ao tesoureiro as quantias que forem necessrias, sendo essas requisies por escrito e com o visto do presidente. Art. 15 - De acordo com o presidente da sociedade, marcar a mensalidade que deve perceber a viva do scio falecido e cuidar da educao aos rfos, filhos dos mesmos scios. Art. 16 - A Comisso Auxiliadora tem por dever sindicar e informar da conduta e comportamento da viva, e logo que ela no proceda com honestidade, comunicar ao presidente para suspender as mensalidades, e chamar a comisso os rfos a si, os quais sero ento criados em casa de um dos membros da mesma comisso. Art. 17 - Fiscalizar a conduta civil e moral de todos os scios, e quando eles se afastarem dos bons princpios ou praticarem qualquer ato menos digno, comunicar ao presidente para que este admoeste ou repreenda o scio desviado. Art. 18 - Logo que qualquer scio tenha infringido o art. 5, qualquer membro da comisso deve comunicar ao presidente para reunir a Assemblia Geral, onde, ouvido o scio infrator lhe ser decretada a sua expulso. Art. 19 O membro mais votado substituir ao presidente em seus impedimentos.

    CAPTULO 5 Do presidente Art. 20 O presidente ser eleito na Assemblia Geral da primeira dominga do ano. Art. 21 Convocar a Assemblia Geral todas as vezes que for necessrio, dirigindo os trabalhos e mantendo a ordem. Art. 22 Receber as reclamaes dos scios para apresent-las Assemblia Geral dos acionistas da Cia. Unio Mercantil. Art. 23 Por o visto em todas as requisies da comisso auxiliadora, quando estas forem justas, e de acordo com as foras do cofre. Art. 24 Assistir com o tesoureiro a abertura do cofre, por ser um dos ... [ilegvel] Art. 25 No princpio de cada ms dar com o tesoureiro e o secretrio um balano no cofre e far emprstimos da quantia existente ao Diretor Gerente da Cia. Unio Mercantil ao prmio de 1% ao ms, recebendo do mesmo Diretor o documento competente. Art. 26 No fim de cada ano converter os lucros existentes da sociedade em aplices da Cia. Unio Mercantil, e os dividendos dessas aplices sero capitalizados em mo do Diretor Gerente, com o prmio de 1% ao ms.

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    Art. 27 Empregar todos os esforos ao seu alcance para que os rfos, filhos dos scios falecidos, tenham preferncia na comisso como aprendizes da oficina e percebendo a diria de 300 ris.

    CAPTULO 6 Do tesoureiro Art. 28 O tesoureiro ser eleito na assemblia geral dos princpios do ano. Art. 29 Ter a seu cuidado o cofre da sociedade e far a escriturao, a qual constar unicamente de um livro em que se lancem as entradas ou sadas. Art. 30 Arquivar todos os pedidos da comisso auxiliadora e mais documentos tendentes a receita e despesa. Art. 31 Ser obrigado a informar ao presidente do estado do cofre todas as vezes que aquele disso tiver necessidade, e mesmo a reclamar quando a requisio da comisso auxiliadora for superior fora do cofre. Art. 32 No poder retirar do cofre quantia alguma que no seja a requisio da comisso auxiliadora e com o visto do presidente. Art. 33 Ser obrigado a prestar contas anualmente assemblia geral dos associados. CAPTULO 7 Do secretrio Art. 34 O secretrio ser eleito na assemblia geral do princpio de cada ano. Art. 35 Ter a seu cargo a escriturao de todos os trabalhos da sociedade e arquivar todos os papis que lhe disserem respeito. CAPTULO 8 e ltimo Das disposies gerais Art. 36 Os presentes estatutos sero apresentados Diretoria da Cia. Unio Mercantil para serem aprovados na parte que lhe dizem respeito. Art. 37 Os Estatutos podero ser modificados, conforme as necessidades da sociedade, sendo as emendas aprovadas em sesso da assemblia geral por dois teros dos scios presentes. Art. 38 O presidente da sociedade apresentar um relatrio do estado da mesma e das alteraes que houverem acontecido durante o ano. Macei, 12 de fevereiro de 1876. O presidente Miguel Feliciano Bastos da Silva; o secretrio Quintino Jos Alves; o tesoureiro Adolfe Fireman.

    REFERNCIAS 1.1. FONTES MANUSCRITAS:

    Arquivo Pblico de Alagoas - APA 1. Livro de provises e estatutos de sociedades beneficentes, literrias e

    outras - correspondncia ativa. (1869/1887). [L94, E20]. 2. LIVRO Registro de Estatutos - Sociedades beneficentes (1921/1931).

    [L170, E21]. 1.2. BIBLIOGRAFIA

    1. BATALHA, Claudio Henrique de Moraes. Sociedades de trabalhadores no Rio de Janeiro do sculo XIX: algumas reflexes em torno da formao da classe operria. In: Cadernos AEL: Sociedades operrias e mutualismo. Campinas, vol. 6, n 10/11, 1999. (pp. 41/66)

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    2. ESPNDOLA, Thomas do Bom-Fim. Geografia alagoana ou descrio fsica, poltica e histrica da Provncia das Alagoas. 2 ed. Macei: Edies Catavento, 2001 [1871].

    3. JESUS, Ronaldo Pereira de. Histria e historiografia do fenmeno associativo no Brasil monrquico. In: ALMEIDA, Carla Maria Carvalho de e OLIVEIRA, Mnica Ribeiro de (orgs.) Nomes e Nmeros: alternativas metodolgicas para a histria econmica e social. Juiz de Fora, MG: EDUFJF, 2006, (pp. 285/303).

    4. LESSA, GOLBERY. Trama da Memria, Urdidura do Tempo (Ethos e lugar dos operrios txteis alagoanos). Macei, Digitado, 2008.

    5. LONER, Beatriz Ana. Construo de classe: operrios de Pelotas e Rio Grande (1888-1930). Pelotas, RS: Ed. UFPel/Unitrabalho, 2001.

    6. LUCA, Tnia Regina de. O sonho do futuro assegurado (o mutualismo em So Paulo). So Paulo/Braslia, DF: Contexto/CNPq, 1990. (Srie Repblica).

    7. MAC CORD, Marcelo. Andaimes, casacas, tijolos e livros uma associao de artfices no Recife (1836-1880) Campinas, PPGH, 2009.

    8. MACIEL, Osvaldo. Operrios em movimento documentos para a histria da classe trabalhadora em Alagoas (1870-1960). Macei: EDUFAL, 2007,

    9. MATTOS, Marcelo Badar. E. P. Thompson no Brasil. In: Outubro Revista do Instituto de Estudos Socialistas. N 14, So Paulo: Alameda, 2 semestre de 2006, (pp. 81/110).

    10. ____. Escravizados e livres: experincias comuns na formao da classe trabalhadora carioca. Rio de Janeiro: Bom Texto, 2008.

    11. SILVA JR, Adhemar Loureno. As Sociedades de Socorros Mtuos: estratgias privadas e pblicas. (estudo centrado no Rio Grande do Sul, Brasil, 18541940). Porto Alegre: PUC/RS, 2004, (Tese de Doutorado).

    12. SILVA JR, Adhemar Loureno da. Primeiros apontamentos sobre grupos religiosos e sociedades de socorros mtuos. Revista Histria-Unisinos, vol. 6, n 6, So Leopoldo, Ed. Unisinos, 2002, (pp. 185/218).

    13. TENRIO, Douglas Apratto. Capitalismo e Ferrovias no Brasil. 2 ed. Curitiba: HDLivros, 1996 [1979].

    14. VISCARDI, Cludia Maria Ribeiro. As experincias mutualistas de Minas Gerais: um ensaio interpretativo. In: ALMEIDA, Carla Maria Carvalho de e OLIVEIRA, Mnica Ribeiro de (orgs.) Nomes e Nmeros: alternativas metodolgicas para a histria econmica e social. Juiz de Fora, MG: EDUFJF, 2006, (pp. 305/22).

    15. VISCARDI, Cludia Maria Ribeiro e JESUS, Ronaldo Pereira de. A experincia mutualista e a formao da classe trabalhadora no Brasil. In: FERREIRA, Jorge e REIS FILHO, Daniel Aaro (orgs). As esquerdas no Brasil (vol 1) A formao das tradies (1889-1945). Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2007, (pp. 21/51).