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MA311 - Calculo III Primeiro semestre de 2020 Turma B { Curso 51 Ricardo M. Martins [email protected] http://www.ime.unicamp.br/ ~ rmiranda Aula 29: Sistemas lineares

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  • MA311 - Cálculo III

    Primeiro semestre de 2020

    Turma B – Curso 51

    Ricardo M. Martins

    [email protected]

    http://www.ime.unicamp.br/~rmiranda

    Aula 29: Sistemas lineares

    http://www.ime.unicamp.br/~rmiranda

  • Sistemas de equações diferenciais lineares

    Até agora, aprendemos a resolver equações diferenciais em R: dadauma equação do tipo

    F (x ′′, x ′, x , t) = 0,

    onde F : U ⊂ R4 → R é uma função “boa”, aprendemos aencontrar uma função x(t) que satisfaz a esta equação, ou seja,

    que

    F (x ′′(t), x ′(t), x(t), t) = 0.

    Um exemplo t́ıpico é F (x ′′, x ′, x ′t) = x ′′ − 5x ′ + 6x − et , que temcomo solução x(t) = c1e

    2t + c2e3t + et/2, c1, c2 constantes (que

    serão definidas com as condições iniciais).

  • Sistemas de equações diferenciais lineares

    Agora vamos resolver sistemas de equações diferenciais lineares, ou

    seja, teremos várias funções para encontrar, e as relações entre elas

    serão dadas por várias equações.

    Uma forma de obter um sistema de equações diferenciais é a partir

    de uma equação de ordem superior: por exemplo, a equação

    x ′′ − 5x ′ + 6x = et

    pode ser transformada num sistema introduzindo a variável auxiliar

    y = x ′, donde ficamos com

    x ′ = y ,

    y ′ = x ′′ = 5x ′ − 6x + et = 5y − 6x + et ,

    e dáı iremos procurar x(t), y(t) satisfazendo a este sistema.

  • Sistemas de equações diferenciais lineares

    Estes sistemas admitem soluções? Sim!

    Teorema

    Sejam aij(t), 1 ≤ i , j ≤ n e b1(t), . . . , bn(t) funções cont́ınuasdefinidas no intervalo (α, β). Seja t0 ∈ (α, β). Então o PVI

    x ′1 = a11(t)x1(t) + a12(t)x2(t) + . . .+ a1n(t)xn(t) + b1(t),

    x ′2 = a21(t)x1(t) + a22(t)x2(t) + . . .+ a2n(t)xn(t) + b2(t),...

    x ′n = an1(t)x1(t) + an2(t)x2(t) + . . .+ ann(t)xn(t) + bn(t)

    tem única solução x(t) = (x1(t), . . . , xn(t)) definida para t ∈(α, β).

  • Sistemas de equações diferenciais lineares

    Exemplo

    O sistema {x ′ = x + y + et ,

    y ′ = −x + y ,

    com condições iniciais x(0) = 0, y(0) = 0 tem solução dada por

    x(t) = et sen(t), y(t) = −et(1− cos(t)),

    ou em notação vetorial por

    x(t) =(et sen(t),−et(1− cos(t))

    ).

  • Sistemas de equações diferenciais lineares

    Usaremos a notação matricial para o sistema do teorema anterior:

    se A(t) = (aij(t))i ,j e b(t) = (b1(t), . . . , bn(t))t , o sistema será

    denotado por

    x′ = A(t)x + b(t).

    Atenção à diferença entre x e x : negrito significa que é uma

    variável vetorial.

    Além disto, denotaremos a derivada de x por ẋ ao invés de x′

    Iremos começar a estudar como encontrar as soluções no caso em

    que as funções aij(t) são constantes e o vetor b(t) é nulo. Assim,

    o sistema que estaremos interessados é da forma

    x′ = Ax.

  • Sistemas de equações diferenciais lineares

    Na última aula vimos que se A é uma matriz n × n, então asolução do sistema

    ẋ = Ax

    com condição inicial x(0) = x0 é

    x(t) = eAtx0.

    O que vamos fazer hoje?

    # Ver muitos exemplos disto.

    # Entender a relação equação diferencial x campo vetorial.

    # Entender retratos de fase.

  • Equações diferenciais X campos vetoriais

    Vamos fazer quase tudo em R2. Um campo vetorial de classe C r éuma função X : Ω ⊂ R2 → R2 de classe C r .

    O campo vetorial X associa a cada ponto (x , y) ∈ Ω ⊂ R2 o pontoX (x , y) ∈ R2.

    Geometricamente, iremos representar X (x , y) como sendo um

    vetor (“setinha”) com ponto inicial em (x , y).

    Isto nos permite dar uma representação gráfica para o campo

    vetorial X , já que seu gráfico não pode ser visto (o gráfico de X

    está em R4).

  • Equações diferenciais X campos vetoriais

    Exemplo

    O campo vetorial X (x , y) = (−2x , y) está representado abaixo.

    6 4 2 0 2 4 6x

    6

    4

    2

    0

    2

    4

    6y

    Com o único objetivo de deixar a figura mais bonitinha, representaremos todas

    as setinhas com mesma norma.

  • Equações diferenciais X campos vetoriais

    Exemplo

    O campo vetorial X (x , y) = (−2x , y) está representado abaixo.

    6 4 2 0 2 4 6x

    6

    4

    2

    0

    2

    4

    6y

  • Equações diferenciais X campos vetoriais

    Acabamos de ver o campo vetorial X (x , y) = (−2x , y). Vamosagora pensar no sistema de equações diferenciais{

    x ′ = −2x ,y ′ = y .

    Seja x(t) = (x(t), y(t)) uma solução deste sistema. Então

    x′(t) = (x ′(t), y ′(t)) = (−2x(t), y(t).

    Isto significa que, em cada ponto x(t0) = (x(t0), y(t0)) da curva, o

    vetor tangente será dado por (−2x(t0), y(t0)).

  • Equações diferenciais X campos vetoriais

    Procurar solução do sistema (ẋ , ẏ) = (−2x , y) é equivalente aprocurar uma curva x(t) cujo vetor tangente x′(t) é dado por

    (−2x , y) em cada ponto (x , y).

    Isto é verdade sempre que tivermos um sistema autônomo de

    primeira ordem, ou seja, um sistema de equações diferenciais da

    forma ẋ1 = f1(x1, . . . , xn),

    ẋ2 = f2(x1, . . . , xn),...

    ẋn = f2(x1, . . . , xn),

    sem dependência de t nas funções do lado direito, e com fj de

    classe C r , r ≥ 1. Vamos começar trabalhando com este tipo desistema, e suporemos também que as fj ’s são lineares.

  • Nosso primeiro exemplo

    Exemplo

    Resolva o sistema {x ′ = −2x ,y ′ = y ,

    com condições iniciais x(0) = α e y(0) = β.

    Este é um caso onde é mais fácil achar a solução diretamente do

    que usando exponenciais: pelos coeficientes indeterminados,

    suponha que

    x(t) = p cos(ωt) + q sen(ωt),

    substitua na equação, ache p, q, ω e pronto. Depois ache y

    fazendo y ′ = x .

    Mesmo assim, vamos usar exponencial matricial.

  • Nosso primeiro exemplo

    Exemplo

    Resolva o sistema {x ′ = −2x ,y ′ = y ,

    com condições iniciais x(0) = α e y(0) = β.

    Seja

    A =

    (−2 00 1

    ).

    Vamos calcular exp(At). Note que

    Ak =

    ((−2)k 0

    0 1

    )

  • Nosso primeiro exemplo

    Exemplo

    Resolva o sistema {x ′ = −2x ,y ′ = y ,

    com condições iniciais x(0) = α e y(0) = β.

    Dáı

    (At)k =

    ((−2t)k 0

    0 tk

    )

  • Nosso primeiro exemplo

    Assim

    exp(At) =∞∑n=0

    1

    n!(At)n =

    (−2t)n

    n!0

    0tn

    n!

    =

    ∞∑n=0

    (−2t)n

    n!0

    0∞∑n=0

    tn

    n!

    =

    (e−2t 0

    0 et

    )

  • Nosso primeiro exemplo

    Portanto, a solução com condição inicial x(0) = α e y(0) = β é

    dada por

    x(t) =

    (e−2t 0

    0 et

    )(α

    β

    )=

    (e−2tα

    etβ

    ),

    onde x(t) = e−2tα e y(t) = etβ.

    No próximo slides, vamos plotar as curvas x(t) para algumas

    condições iniciais (α, β).

  • Nosso primeiro exemplo

    6 4 2 0 2 4 6x

    6

    4

    2

    0

    2

    4

    6

    y

    Cada curva representa uma condição inicial diferente. Vamos

    plotar, na mesma figura, o campo vetorial (normalizado) associado.

  • Nosso primeiro exemplo

    6 4 2 0 2 4 6x

    6

    4

    2

    0

    2

    4

    6

    y

    Como eu fiz esta figura? Fiz usando Python, com o matplotlib,

    veja detalhes aqui:

    https://rmiranda99.github.io/etc/python.html.

    https://rmiranda99.github.io/etc/python.html

  • Retrato de fase

    6 4 2 0 2 4 6x

    6

    4

    2

    0

    2

    4

    6

    y

    # As condições iniciais são da forma x(t0) = α e y(t0) = β, eno caso de sistemas autônomos o valor de t0 não importa;

    iremos sempre considerar t0 = 0.

    # Uma consequência do T.E.U. no caso de sistemas autônomosé que as soluções decompõe o espaço.

    # Veja o exemplo anterior: dados dois pontos P,Q ∈ R2, oueles pertencem à mesma curva-solução ou eles pertencem a

    soluções diferentes.

  • Retrato de fase

    6 4 2 0 2 4 6x

    6

    4

    2

    0

    2

    4

    6

    y

    # Chamaremos de trajetória a cada uma das curvas-solução dosistema.

    # Chamaremos de retrato de fase à união de todas as trajetórias(ou à sua representação geométrica, como na figura acima).

    Muitas vezes incluiremos o campo vetorial no retrato de fase.

    # Quando a figura só incluir o campo vetorial, chamaremos decampo de direções.

  • Mais um exemplo

    Exemplo

    Construa o retrato de fase do sistema{x ′ = −3y ,y ′ = 2x .

    Seja

    A =

    (0 −32 0

    ).

    Precisamos calcular exp(At), só que agora Ak não é tão fácil de

    obter como no caso da matriz anterior (que era diagonal).

  • Mais um exemplo

    Exemplo

    Construa o retrato de fase do sistema{x ′ = −3y ,y ′ = 2x .

    A =

    (0 3

    2 0

    ),A2 =

    (−6 00 −6

    ),A3 =

    (0 18

    −12 0

    ),A4 =

    (36 0

    0 36

    )

    A5 =

    (0 −108

    72 0

    ),A6 =

    (−216 0

    0 −216

    ),A7 =

    (0 648

    −432 0

    ), . . .

  • Mais um exemplo

    Exemplo

    Construa o retrato de fase do sistema{x ′ = −3y ,y ′ = 2x .

    Portanto

    exp(At) =∞∑n=0

    1

    n!Antn

    = Id +

    (0 −3t2t 0

    )+

    1

    2

    (6t2 0

    0 6t2

    )+ . . .

    =

    −3t6

    10+

    3t4

    2− 3t2 + 1 + . . . 9t

    7

    70− 9t

    5

    10+ 3t3 − 3t + . . .

    −3t7

    35+

    3t5

    5− 2t3 + 2t + . . . −3t

    6

    10+

    3t4

    2− 3t2 + 1 + . . .

  • Mais um exemplo

    Exemplo

    Construa o retrato de fase do sistema{x ′ = −3y ,y ′ = 2x .

    Portanto

    exp(At) =∞∑n=0

    1

    n!Antn

    = Id +

    (0 −3t2t 0

    )+

    1

    2

    (6t2 0

    0 6t2

    )+ . . .

    =

    cos(√

    6t)

    −√

    3

    2sen(√

    6t)

    √2

    3sen(√

    6t)

    cos(√

    6t)

  • Mais um exemplo

    Exemplo

    Construa o retrato de fase do sistema{x ′ = −3y ,y ′ = 2x .

    Logo, a trajetória com condição inicial x(0) = (α, β) é dada por

    x(t) =

    (α cos

    (√6t)−√

    3

    2β sen

    (√6t),

    √2

    3α sen

    (√6t)

    + β cos(√

    6t))

  • Mais um exemplo

    Plotando algumas trajetórias e também o campo vetorial, obtemos:

    6 4 2 0 2 4 6x

    6

    4

    2

    0

    2

    4

    6

    y

  • Probleminha

    A igualdade

    − 3t6

    10+ 3t

    4

    2− 3t2 + 1 + . . . 9t

    7

    70− 9t

    5

    10+ 3t3 − 3t + . . .

    − 3t7

    35+ 3t

    5

    5− 2t3 + 2t + . . . − 3t

    6

    10+ 3t

    4

    2− 3t2 + 1 + . . .

    = cos

    (√6t)

    −√

    32sen(√

    6t)

    √23sen(√

    6t)

    cos(√

    6t)

    é verdadeira, mas estamos longe de descobŕı-la só olhando para as

    equações.

    O problema é que calcular exp(A) pode ser complicado.

    Apesar de termos uma fórmula fechada para isto, às vezes iremos

    precisar de “reconhecer” o somatório como uma função elementar

    (e/ou combinações).

    É aqui que precisará entrar um pouco de álgebra linear na história.

    Por hoje, vamos só fazer mais um exemplo importante.

  • Exemplos importantes

    Exemplo

    Seja A uma matriz diagonal, A = diag(λ, µ), com λ, µ ∈ R. Exibao retrato de fase do sistema

    ẋ = Ax⇔

    {x ′ = λx ,

    y ′ = µy .

    Neste caso é fácil calcular a exponencial de A:

    exp(At) =

    (eλt 0

    0 eµt

    ).

    Assim, se x(0) = (α, β) é a condição inicial, a solução é dada por

    x(t) = eAtx(0) =(αeλt , βeµt

    )

  • Exemplos importantes

    Caso 1: λ > 0 e µ > 0 (repulsor)

    x(t) = eAtx(0) =(αeλt , βeµt

    )

  • Exemplos importantes

    Caso 2: λ < 0 e µ < 0 (atrator)

    x(t) = eAtx(0) =(αeλt , βeµt

    )

  • Exemplos importantes

    Caso 3: λ < 0 e µ > 0 (µ = −ρ, ρ > 0) (ou vice-versa) (sela)

    x(t) = eAtx(0) =(αeλt , βe−ρt

    )

  • Um pouco de álgebra linear

    TeoremaSejam A,B matrizes n × n e suponha que exista uma matriz in-vert́ıvel M tal que A = MBM−1. Então

    exp(At) = exp((MBM−1)t) = M exp(Bt)M−1.

    A prova fica como exerćıcio, mas não é dif́ıcil.

    Substitua A por MBM−1 no somatório que define exp(A) e veja a

    mágica acontecer, lembrando que (MBM−1)k = MBkM−1

    (consegue justificar?).

    Como vamos usar este teorema neste curso?

  • Um pouco de álgebra linear

    Vamos recapitular um de nossos exemplos,{x ′ = −3y ,y ′ = 2x .

    e definir, como antes,

    A =

    (0 −32 0

    ).

    É posśıvel encontrar uma matriz M tal que

    A = M

    (0 −

    √6√

    6 0

    )M−1.

  • Um pouco de álgebra linear

    De fato, para que

    A =

    (0 −32 0

    )= M

    (0 −

    √6√

    6 0

    )M−1 = MBM−1

    basta escolhermos

    M =

    3

    5−√

    3

    5√2

    5

    √2

    5

    .Dáı, para calcular exp(A) poderemos simplesmente calcular exp(B)

    e multiplicar por M e M−1, ou seja,

    exp(At) = M exp(Bt)M−1.

  • Um pouco de álgebra linear

    Como

    B =

    (0 −

    √6√

    6 0

    ),

    após alguns cálculos (mostre!) obtemos que

    exp(Bt) =

    (cos(√

    6t)− sen

    (√6t)

    sen(√

    6t)

    cos(√

    6t) ) ,

    e dáı multiplicando por M e M−1, obtemos o resultado anteriorcos(√

    6t)

    −√

    3

    2sen(√

    6t)

    √2

    3sen(√

    6t)

    cos(√

    6t)

    .Na próxima aula vamos entender como calcular esta matriz M.