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MA311 - Calculo III
Primeiro semestre de 2020
Turma B – Curso 51
Ricardo M. Martins
http://www.ime.unicamp.br/~rmiranda
Aula 2: Existencia de solucoes, equacoes separaveis, fator
integrante
Existencia e unicidade de solucoes
Encontrar a solucao y(x) de{y ′(x) = f (x , y),
y(x0) = y0,(1)
e equivalente a encontrar uma funcao y(x) com
y(x) = y0 +
∫ x
x0
f (s, y(s)) ds,
para x num certo intervalo I contendo x0.
O problema (1) e conhecido como problema de valor inicial (PVI).
Existencia e unicidade de solucoes
Seja C um “certo” conjunto de funcoes e considere a funcao
L : C → C que associa a funcao y ∈ C a funcao L(y) ∈ C dada por
L(y)(x) = y0 +
∫ x
x0
f (s, y(s)) ds.
Existencia e unicidade de solucoes
y(x) resolve o PVI
{y ′(x) = f (x , y),
y(x0) = y0.⇔ y e ponto fixo de L,
pois
L(y) = y ⇔ y(x) = y0 +
∫ x
x0
f (s, y(s)) ds,
que, como vimos, e a solucao de (1).
Existencia e unicidade de solucoes
Como garantir a existencia de um ponto fixo para o operador L?
Teorema (Banach)
Seja (M, d) um espaco metrico completo e seja f : M → M uma
contracao, ou seja, existe uma constante 0 ≤ k < 1 tal que
d(f (x), f (y)
)≤ k d(x , y), ∀ x , y ∈ M.
Entao existe um unico p ∈ M tal que f (p) = p.
Prova: seja x0 ∈ M e construa a sequencia
xn = f (xn−1), n ≥ 1.
Entao xn → p, onde p e um ponto fixo (o unico). Para provar que
esta sequencia tem limite, prove que ela e de Cauchy.
Existencia e unicidade de solucoes
Teorema (Picard, versao simples)
Seja f (x , y), com f : U ⊂ R2 → R uma funcao contınua definida
num aberto U e suponha que a derivada parcial com relacao a
y seja contınua. Entao, para cada (x0, y0) ∈ U, existem um
intervalo aberto I contendo x0 e uma unica funcao diferenciavel
φ : I → R, com (x , φ(x)) ∈ U para todo x ∈ I , que e solucao do
problema {y ′ = f (x , y),
y(x0) = y0,
ou seja, φ′(x) = f (x , φ(x)) para todo x ∈ I e φ(x0) = y0 e
tambem
φ(x) = y0 +
∫ x
x0
f (s, φ(s)) ds, x ∈ I .
Existencia e unicidade de solucoes
# O teorema anterior nos da alguma tranquilidade sobre a
questao da existencia de solucoes para EDOs e PVIs.
# A prova do Teorema de Picard e complicada para este
momento: ela usa o Teorema de Banach, cuja prova encontra
o ponto fixo como limite de uma sequencia, portanto, nao
exibe explicitamente qual e a solucao do PVI.
Como vamos entao encontrar solucoes de EDOs e PVIs?
Veremos..
Classificacao
A equacao diferencial e:
# ordinaria, se a equacao so envolve derivadas com respeito auma variavel:
◦ y ′′(x) + 3y(x)2 = cos(x),
◦ zx(x , y) + zx(x , y)3 = 1.
# parcial, se a equacao envolve derivadas com respeito a maisque uma variavel:
◦ α2uxx(x , t) = ut(x , t),
◦ α2uxx(x , t) = utt(x , t).
Classificacao
Considere a equacao diferencial
L(t, y , y ′, . . . , y (n)
)= 0,
definida pelo operador L. A equacao diferencial e:
# linear, se o operador L e linear nas variaveis y , y ′, . . . , y (n)
(pode ser nao-linear em x):
◦ y ′′(t) + 3ety(t) = cos(t),
◦ 7y ′′(t) + 3y ′(t)− y(t) = t.
# nao linear, se o operador L nao e linear:
◦ (y ′(t))2 + y(t) = t
◦ y(t)y ′(t) + cos(t) = 1
Classificacao
# A ordem de uma equacao diferencial e a maior ordem dederivacao que aparece na equacao diferencial.
◦ (y ′(t))4 + y ′′′(t) = 2 equacao de ordem 3
◦ y(t)y ′(t) + cos(t) = y ′′(t) equacao de ordem 2
# Vamos supor que o termo com maior ordem de derivacao
sempre pode ser isolado, ou seja, que as equacoes sao da
forma
y (n) = f(t, y , y ′, . . . , y (n−1)
)para algum operador f .
◦ Isto nao nos impedira de resolver equacoes como
cos(y ′(t)
)= t de vez em quando.
Exemplo
Exemplo
A funcao y(t) = kebt e solucao de y ′(t) = by(t).
Exemplo
Se y(t) = a + kebt entao
y ′(t) = kbebt = b(y(t)− a)
portanto solucao de
y ′ = −ab + by .
EDOs lineares de primeira ordem
y ′(t) = −ay(t) + b (a, b numeros reais)
A equacao e equivalente a
y ′(t) + ay(t) = b.
Se o lado esquerdo pudesse ser colocado no formato(µ(t)y(t)
)′,
entao conseguirıamos resolver a equacao.
O que fazemos? Se falta aparecer o µ(t), multiplique por µ(t)! A
equacao se transformara em
µ(t)y ′(t) + aµ(t)y(t) = bµ(t).
EDOs lineares de primeira ordem
y ′(t) = −ay(t) + b (a, b numeros reais)
µ(t)y ′(t) + aµ(t)y(t) = bµ(t).
Se o lado esquerdo fosse da forma(µ(t)y(t)
)′= µ(t)y ′(t) + µ′(t)y(t)
entao deveria acontecer aµ(t) = µ(t), ou seja, µ(t) = keat .
Neste caso, ficarıamos com
(µ(t)y(t))′ = bµ(t)⇒ (keaty(t))′ = bkeat
EDOs lineares de primeira ordem
y ′(t) = −ay(t) + b (a, b numeros reais)
(keaty(t))′ = bkeat
Portanto,
y(t) =bk
keat
∫eat dt =
b
eat
(eat
a+ c
)=
b
a− ce−at
e a solucao da EDO acima.
A funcao µ(t) e chamada de fator integrante, pois ela permite
que a equacao diferencial seja integrada.
EDOs lineares de primeira ordem
Exemplo
Considere a equacao diferencial
y ′ = 2y − 3.
# Com fator integrante: µ(t)y ′(t)− 2µ(t)y(t) = −3µ(t)
# se fosse (µ(t)y(t))′ = µ(t)y ′(t) + µ′(t)y(t)..
# deverıamos ter µ′(t) = −2µ(t)..
# .. ou seja, µ(t) = ke−2t .
EDOs lineares de primeira ordem
ExercıcioResolva o PVI
y ′ + 5y − 2 = 0, y(0) = 2.
EDOs lineares de primeira ordem
y ′(t) + p(t)y(t) = g(t) (p, g funcoes boas).
Multiplicando a equacao por um fator integrante ficamos com
µ(t)y ′(t) + p(t)µ(t)y(t) = µ(t)g(t).
Se o lado esquerdo for da forma(µ(t)y(t)
)′= µ(t)y ′(t) + µ′(t)y(t),
entao precisaremos que que µ′(t) = p(t)µ(t).
EDOs lineares de primeira ordem
Se
µ′(t) = p(t)µ(t)
entaoµ′(t)
µ(t)= p(t)
nos pontos em que µ(t) 6= 0. Integrando, obtemos
lnµ(t) =
∫p(t) dt,
ou
µ(t) = exp
(∫p(t) dt
).
EDOs lineares de primeira ordem
Com esta escolha de µ(t) teremos(µ(t)y(t)
)′= µ(t)g(t),
o que isolando y(t) nos da
y(t) =1
µ(t)
∫µ(t)g(t) dt
= exp
(−∫
p(t) dt
)·∫ [
g(t) · exp(∫
p(t) dt
)]dt
Conselho: nem pense em decorar esta formula. O metodo e mais
importante.
EDOs lineares de primeira ordem
Exemplo
Resolva a equacao diferencial
y ′ + 2xy = x .
# Equacao linear de 1o ordem!
# Com fator integrante: µ(x)y ′(x) + 2µ(x)xy(x) = µ(x)x
# Se fosse(µ(x)y(x)
)′= µ(x)y ′(x) + µ′(x)y(x)...
# ... terıamos µ′(x) = 2µ(x)x ..
# e daı µ(x) = ex2.
EDOs lineares de primeira ordem
ExercıcioResolva o PVI
y ′ +1
x· y = sen(x), y(π) = 1.
Equacao de Bernoulli
Fonte: https://www.slideshare.net/solohermelin/bernoulli-family
Equacao de Bernoulli
y ′ + P(x)y = Q(x)yn
# n = 0: ok
# n = 1: ok
# n ≥ 2:
◦ multiplique a equacao por y−n: y−ny ′ + P(x)y1−n = Q(x)
◦ Faca a mudanca de variaveis w = y1−n, w ′ = (1− n)y−ny ′
◦ Ficamos com1
1− nw ′ + P(x)w = Q(x)
Exercıcio
Resolva a EDO y ′ + xy = xy2.
Equacoes separaveis: modo ingenuo
Na proxima aula veremos mais detalhes sobre isto, mas aqui vai
algo para voces pensarem. Considere a EDO
dy
dx= f (x)g(y).
Neste caso, “multiplicando cruzado” os diferenciais,
dy
g(y)= f (x) dx
e daı integrando ambos os lados ficamos com∫dy
g(y)=
∫f (x) dx .
Agora e so integrar!
Equacoes separaveis: modo ingenuo
Exemplo
Resolva a EDOdy
dx= xey .
# “Multiplicando” os diferenciais:dy
ey= x , dx
# Integrando: −e−y =x2
2+ c
# Logo y = − ln
(x2
2+ c
).
Que fique claro: precisamos formalizar isto.
Proxima aula
# Equacoes exatas, equacoes separaveis
Ate mais!