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5/25/2018 LynnPicknett-OSegredodeSiao.pdf-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/lynn-picknett-o-segredo-de-siaopdf 1/359 O SEGREDO DE SIÃOLYNN PICKNETT E CLIVE PRINCE Autores de O Segredo dos Templários O SEGREDO DE SIÃO PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICATítulo original: The Sion Revelation Tradução de Maria Doroteia Heitor Tradução portuguesa © de P. E. A., 2006 © Lynn Picknett e Clive Prince 2006 Publicado originalmente na Grã-Bretanha em Fevereiro de 2006 por Time Warner Books l.a edição, Maio de 2006 Capa: estúdios P. E. A. Direitos reservados por Publicações Europa-América, Lda.  Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma ou por qualquer processo, electrónico, mecânico ou fotográfico, incluindo fotocópia, xerocópia ou gravação, sem autorização prévia e escrita do editor. Exceptua- se naturalmente a transcrição de pequenos textos ou passagens para apresentação ou crítica do livro. Esta excepção não deve de modo nenhum ser interpretada como sendo extensiva à transcrição de textos em recolhas antológicas ou similares donde resulte  prejuízo para o interesse pela obra. Os transgressores são passíveis de procedimento  judicial Editor: Tito Lyon de Castro PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA, LDA. Apartado 8 2726-901 MEM MARTINS PORTUGAL E-mail: [email protected] Execução técnica: Gráfica Europam, Lda., Mira-Sintra — Mem Martins Edição n.°: 132149/8804 Depósito legal n ° 240566/06 Para CRAIG OAKLEY «Amor e Honra» Consulte o nosso site na Internet: www.europa-america-ptÍNDICE [Agradecimentos 9 i Introdução 11 PARTE UM ILUSÃO 1 Mentiras verdadeiras 17 2 Por detrás do trono 64 3 Uma história de dois tesouros 132 4 «Tesouro secreto, linhagem secreta...» 199 5 O mito da linhagem 270 PARTE DOIS REALIDADE 1 Regresso à origem 335 2 Os camaleões 398 3 Uns novos Estados Unidos 440 I Apêndice I Os alegados grão-mestres (Nautonniers) do Priorado de Sião 477 Apêndice II Introdução a A Serpente Vermelha (Tradução) 481  Notas e Referências 484 Bibliografia 519

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  • O SEGREDO DE SIOLYNN PICKNETT E CLIVE PRINCE Autores de O Segredo dos Templrios O SEGREDO DE SIO PUBLICAES EUROPA-AMRICATtulo original: The Sion Revelation Traduo de Maria Doroteia Heitor Traduo portuguesa de P. E. A., 2006 Lynn Picknett e Clive Prince 2006 Publicado originalmente na Gr-Bretanha em Fevereiro de 2006 por Time Warner Books l.a edio, Maio de 2006 Capa: estdios P. E. A. Direitos reservados por Publicaes Europa-Amrica, Lda. Nenhuma parte desta publicao pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma ou por qualquer processo, electrnico, mecnico ou fotogrfico, incluindo fotocpia, xerocpia ou gravao, sem autorizao prvia e escrita do editor. Exceptua-se naturalmente a transcrio de pequenos textos ou passagens para apresentao ou crtica do livro. Esta excepo no deve de modo nenhum ser interpretada como sendo extensiva transcrio de textos em recolhas antolgicas ou similares donde resulte prejuzo para o interesse pela obra. Os transgressores so passveis de procedimento judicial Editor: Tito Lyon de Castro PUBLICAES EUROPA-AMRICA, LDA. Apartado 8 2726-901 MEM MARTINS PORTUGAL E-mail: [email protected] Execuo tcnica: Grfica Europam, Lda., Mira-Sintra Mem Martins Edio n.: 132149/8804 Depsito legal n 240566/06 Para CRAIG OAKLEY Amor e Honra Consulte o nosso site na Internet: www.europa-america-ptNDICE [Agradecimentos 9 i Introduo 11 PARTE UM ILUSO 1 Mentiras verdadeiras 17 2 Por detrs do trono 64 3 Uma histria de dois tesouros 132 4 Tesouro secreto, linhagem secreta... 199 5 O mito da linhagem 270 PARTE DOIS REALIDADE 1 Regresso origem 335 2 Os camalees 398 3 Uns novos Estados Unidos 440 I Apndice I Os alegados gro-mestres (Nautonniers) do Priorado de Sio 477 Apndice II Introduo a A Serpente Vermelha (Traduo) 481 Notas e Referncias 484 Bibliografia 519

  • AGRADECIMENTOS Muitos amigos e colegas contriburam para a gestao, redaco [e produo deste livro. Gostaramos de agradecer especialmente a estas pessoas: Craig Oahley que compartilhou das nossas experincias desde o princpio, e por ser um amigo dedicado nos bons e maus momentos. Jeffrey Simmons por ser nosso agente e nosso amigo. O nosso amigo e colega j falecido, Stephan Prior por nos ter encorajado, apoiado e incitado a escrever este livro. E Francesca Prior, pela sua amvel hospitalidade e amizade. Na Time Warner: Joanne Dickinson, Sheena-Margot Lavelle, Andy Hme, Linda Silverman e Jenny Fry. Pelo auxlio na investigao e informao: Geoffrey Basil-Smith; Robert Brydon; Andrew Collins; Simon Cox; Nigel Foster; Giovanni; Jerry Jardine; Hannah R. Johnson; Joy e John Millar e a toda a Sociedade Saunire; Dr. Steven Mizrach; Guy Patton; Graham Phillips; Keith Prince; Rat Scabies; Mick Staley; Caroline Wise. Por vrias formas de apoio, encorajamento e auxlio: Vida Adamoli; David Bell; Debbie Benstead; Bali Beskin; Geraldine Beskin; Ashley Brown; Jayne Burns; Yvan Cartwright; Karine Esparseil; Carina Fearnley; Stewart Ferris e Katia Milani; Charles e Annette Fowkes; Susan Hailstones; Sarah Litvinoff; Jane Lyle; Vera e Michael Moroney; Lily e david Prince; Lou Tate; Sheila e Eric Taylor; Lucy Smith; Joe Webster, David trotter e a equipa da desaparecida Edge (especialmente a nossa sociedade anglica particular Leda Kalleske, Jess Roper e Daisy Lythe) por nos ajudar a recuparar o equilbrio mental! E aos funcionrios de British Library; British National Newspaper Library; British Library of Political and Economic Science; St. Johns Wood Library; Institut Franais (Londres]; Bibliothque Nationale, Paris; ao servio de informaes da Embaixada Francesa no Reino Unido. INTRODUO Quando apresentmos a nossa descoberta do simbolismo secreto nas pinturas de Leonardo da Vinci no nosso livro de 1997, O segredo dos Templrios (The Templar Revelation: Secret Guardians of the Identity ofChrist)* com o nome, no imaginvamos que estvamos a prestar uma importante contribuio para um extraordinrio fenmeno do sculo XXI. No s o nosso livro inspirou directamente Dan Brown a compor o seu sucesso de vendas, O Cdigo Da Vinci (2003), em torno do conceito da predileco de Leonardo pelas heresias ocultas e cdigos perigosos, como ficmos espantados ao compreender que ao faz-lo tambm tnhamos assistido ao nascimento de uma nova e apaixonada vaga de interesse pela verdade acerca das origens do Cristianismo. Uma parte central da fico de Dan Brown a ideia de que existe uma antiqussima sociedade francesa, o Priorado de Sio, cuja misso proteger a descendncia sagrada de Jesus e de Maria Madalena cujas implicaes so verdadeiramente chocantes para os que permanecem fiis s doutrinas tradicionais da Igreja. A inevitvel reaco negativa a todos os temas suscitados pelo livro de Dan Brown assegurou que o Priorado de Sio fosse severamente atacado, considerado definitivamente como uma evidente fraude. Contudo, sentamo-nos cada vez mais descontentes com qualquer dos extremos completa aceitao de tudo o que alegado pelo Priorado, ou em seu nome, ou a rejeio total. Embora haja provas de que o Priorado uma criao moderna, e no uma antiga e venervel sociedade secreta como se supe ser, ele mais do que uma simples

  • fraude. Como a nossa continuada investigao descobriu, o Priorado realmente importante, mas por razes muito diferentes. Isto proporcionou-nos a oportunidade ideal para apresentar a nossa continuada investigao do Priorado de Sio. E, inesperadamente, verificmos que este trabalho converge com outras, completamente independentes, linhas de investigao, especificamente as que conduziram ao nosso livro de 1999, The Stargate Conspiracy, que tratava de um movimento poltico-ocultista, pouco conhecido, mas extremamente influente, conhecido como sinarquia. Quando o aprofundmos mais, encontrmo-nos, inesperadamente, de regresso corrente ocultista que tambm implica o Priorado de Sio. Mesmo a investigao para o nosso livro sobre a histria secreta da Segunda Guerra Mundial, Frendly f ire: The Secret WarBetween theAllies (em co-autoria com o falecido Stephan Prior e Robert Brydon, 2004) tornou-se surpreendentemente relevante, porque certas lutas de poder na Frana da poca da guerra apresentam um cenrio que ajuda a explicar o Segredo de Sio. A segunda razo que nos levou a escrever este livro tem um mbito muito mais vasto, e mais importante para ns: os que defendem as ideias religiosas tradicionais contra o livro de Dan Brown alegam que, se pudessem provar que o Priorado de Sio uma fraude, ento as questes mais profundas como a realidade dos evangelhos proibidos, a relao entre Jesus e Maria Madalena e o encobrimento destas evidncias inconvenientes sobre a religio crist que a Igreja pratica h sculos poderiam tambm ser condenadas e rejeitadas. Isto um completo disparate. Seja o que for que possa ser dito sobre o livro de Dan Brown, ele trouxe algumas questes fundamentais sobre espiritualidade e religio at uma audincia internacional, vasta e secular, e deu origem a debates de grande alcance. Foi mesmo observado que ele fez reviver, a nvel bsico, o mesmo acalorado debate que assolou os anos de formao da religio crist. A principal divergncia verificou-se entre as duas concepes fundamentalmente diferentes da f: a concepo gnstica, na qual o indivduo cria a sua prpria relao com Deus e , por conseguinte, responsvel pela sua prpria salvao, e a faco liderada pelos padres que se transformou na Igreja na qual s a Igreja detm as chaves do Reino. uma batalha que a Igreja considerava ganha h muito tempo, mas, agora, as linhas de fissura esto a reabrir-se, porque o terreno est preparado para um novo e participado debate ou para uma luta e tudo devido imprevisvel influncia de um romance emocionante que se pode comprar num aeroporto! Obviamente, por alguma razo e de alguma forma misteriosa, Dan Brown fez uso do estado de esprito dominante nesta poca, mas este fenmeno pode existir apenas porque as pessoas tm uma profunda necessidade interior de aprofundar certezas religiosas tradicionais. Mas Brown no , de modo algum, a nica manifestao popular desta necessidade. Harry Potter, o jovem feiticeiro de J.K. Rowling, cintila com audcia gnstica, e como muitos comentadores referem a srie cinematogrfica The Matrix inspira-se directamente em conceitos gnsticos, apresentando-os como fico cientfica, com elementos dos mitos do Priorado de Sio a ocuparem tambm um lugar de relevo. Embora a cidade sagrada de Sion/Zion, em The Matrix, no seja exclusiva da tradio do Priorado, difcil encontrar outra fonte para o personagem chamado o Merovngio. A verdadeira histria do Priorado bastante diferente da verso de Brown, mas ela muito significativa, perturbadora e mesmo alarmante. E arrasta-nos para um mundo misterioso e intrigante onde muitos outros factos inquietantes, tanto religiosos como polticos, tm que ser enfrentados. LYNN PICKNETT CLIVE PRINCE

  • Londres 17 de Setembro de 2005 PARTE UM ILUSO CAPTULO l MENTIRAS VERDADEIRAS FACTO: O livro mais rapidamente vendido de sempre em todo o mundo o romance de Dan Brown, de 2003, O Cdigo Da Vinc. FACTO: Uma moderna demanda do Graal, o romance de Brown baseia-se nos segredos que rodeiam a sociedade secreta sediada em Frana, o Priorado de Sio (Prieur de Sion), alegadamente devotado a proteger a linhagem sagrada de Jesus e Maria Madalena. No entanto, no caso do Priorado (como tomaremos a liberdade de chamar a essa intrigante organizao, para abreviar), embora os factos sejam difceis de encontrar, mesmo esses poucos factos levam-nos a um mundo consideravelmente mais estranho do que a fico do Sr. Brown... O Priorado de Sio1 ocupa um lugar importante em O Cdigo Da Vinci como a ordem secreta cujos segredos espantosos esto ameaados por inimigos poderosos, e os quais os hericos Robert Langdon e Sophie Neveu tm que impedir que caiam nas mos erradas. Apesar do aplauso, espanto e completo horror dependendo do ponto de vista de cada pessoa com que estes segredos foram recebidos em todo o mundo, basicamente, o romance de Brown apenas faz ressurgir um antiga polmica. De facto, tudo no misterioso Priorado de Sio at a sua prpria existncia tem sido acaloradamente debatido no mundo de lngua inglesa desde o princpio dos anos 80, e na sua ptria, Frana, pelo menos uma dcada antes dessa data. No romance, o Priorado apresentada sob a forma pela qual ele se tornou mais conhecido (pelo menos em Inglaterra e nos Estados Unidos), como uma sociedade secreta, velha de sculos, que existe para preservar e proteger certos factos potencialmente explosivos, e que exerceu uma influncia secreta na histria da Europa durante sculos, e continua a exerc-la actualmente. Os leitores e investigadores, que ainda no esto familiarizados com o tema, sentem-se positivamente extasiados com a descrio que Brown faz do Priorado, como uma moderna sociedade do culto da deusa, guardies do Graal e protectores de antigos documentos.2 Que relao podero ter deusas pags com o Santo Graal, a quinta-essncia do Cristianismo? Que possveis documentos poderiam existir para provar essa ligao? A atraco irresistvel. O grande segredo que o Priorado supostamente jurou proteger a existncia de uma linhagem uma famlia que descendia nada menos do que do prprio Jesus Cristo e da sua esposa, Maria Madalena. Evidentemente, a prpria existncia desta famlia se isso pudesse ser provado abalaria os alicerces do Cristianismo. Para os crentes, Jesus era Deus encarnado, celibatrio durante toda a sua vida, que no tinha nem necessidade nem desejo de uma relao ntima (e certamente no com uma mulher que, supostamente, tinha sido uma prostituta). Devido ao seu potencial explosivo, o segredo fora escondido de olhares indiscretos pelo Priorado de Sio, porque a Igreja estaria disposta a tudo para eliminar esta ameaa sua base de poder e ao seu antiqussimo domnio sobre o seu rebanho. No livro de Brown, o Priorado tem trs deveres principais e inter-relacionados: proteger a linhagem sagrada de Jesus, salvaguardar o tmulo de Maria Madalena e preservar documentos que provassem a verdadeira histria de Jesus e da sua descendncia (e, presumivelmente, das suas crenas fundamentais, as quais so mais pags do que crists ou judaicas).

  • Brown vai mais longe e torna o Priorado num repositrio de outra parte integrante do conhecimento proibido: a importncia e o poder do sagrado feminino como estando personificado num antigo e pago culto da deusa, associado ao conceito de sexualidade sagrada de carcter semelhante aos actuais ritos tntricos orientais. Como O Cdigo Da Vinci inclui ritos sexuais nas cerimnias do Priorado, o leitor sente-se confuso: como poderia Jesus Cristo, personificao da divina castidade, ser associado ao sexo, no s como um acto pessoal de paixo e de comprometimento emocional, mas tambm como um sacramento religioso, igual em santidade ao baptismo e Missa? Todas estas ideias provocadoras e, para muitas pessoas, completamente estranhas, contriburam para elevar uma brochura ao estatuto de histria reveladora, quase de teologia particularmente nos Estados Unidos. Espantosamente, a leitura de uma histria policial tornou-se agora numa experincia religiosa pessoal, a espcie de epifania que se supe receber apenas das mos da Igreja ou do clero. As localizaes-chave do romance o Museu do Louvre e a igreja de Saint-Sulpice em Paris, e a Capela Rosslyn na Esccia foram inundadas com turistas, principalmente vindos da Amrica: na verdade, o Louvre verificou um aumento de 50 por cento do nmero de visitantes, enquanto os exasperados funcionrios de Saint-Sulpice afixaram uma nota na entrada da igreja declarando que absolutamente nenhuns segredos se podem encontrar no interior da igreja. O nmero de fruns na Internet dedicados discusso das polmicas centrais de O Cdigo da Vinci aumentou rapidamente a Universidade de Yale criou mesmo um curso online sobre o tema. O livro de Brown deu origem a toda uma indstria de guias no autorizados, como O Cdigo Da Vinci Descodificado, de Simon Cox*, e Secrets of the Code (Segredos do Cdigo), de Dan Burstein, que tentam explorar, amplificar ou desacreditar os conceitos subjacentes. No momento em que escrevemos, no Vero de 2005, pelo menos uma dzia desses guias j foi publicada. Tudo isto indito em relao a qualquer novo livro, e apanhou o mundo editorial completamente de surpresa. Mesmo o prprio Brown parece admirado com o fenmeno nico a que ele deu origem. E vejamos a reaco espantosa da prpria Igreja: em Maro de 2005, o Cardeal Tarcsio Bertone, Arcebispo de Gnova na altura, um dos principais candidatos a prximo Papa anunciou que se comprometera a representar a oposio da Igreja ao livro de Brown, dirigindo uma campanha para refutar as suas fbulas. Por detrs da sensao com ou sem inteno, Dan Brown conseguiu apresentar a toda uma nova audincia vrias questes importantes que, embora familiares aos investigadores da especialidade, raramente so discutidas a um nvel mais popular. Estas questes incluem: as origens do dogma cristo, particularmente o grau em que eles foram criados pela Igreja com fins polticos, mais do que espirituais; como interpretaes alternativas igualmente vlidas, mas herticas, do Cristianismo foram impiedosamente suprimidas, e como evidncias que desafiam o dogma estabelecido foram ocultadas pela Igreja; vises alternativas da natureza de Jesus em particular, a de que ele era um homem mortal, que casou e teve filhos; a supresso do sagrado Feminino universalmente aceite antes do advento das religies patriarcais do Judasmo e Cristianismo; e a natureza sacramental do sexo. Embora Brown usasse estas ideias como antecedentes, introduzindo-as habilmente no ritmo rpido da sua narrativa, elas prenderam a ateno e a imaginao de milhes de leitores em todo o mundo. Entusiasmados e surpreendidos por estas revelaes, tambm eles fazem agora uma investigao: descobrir pessoalmente at que ponto estes conceitos so realmente verdadeiros. Subitamente, o mundo est cheio de perspicazes detectives que investigam a histria, e que j no iro tolerar conspiraes

  • eclesisticas, ocultaes ou mesmo a antiga arrogncia, presuno e condescendncia clericais. E tudo o que O Cdigo da Vinci possa inspirar, certamente que nunca pode ser uma ideia m. Brown colheu as suas ideias em vrias fontes, mas uma das suas inspiraes foi O Sangue de Cristo e o Santo Graal (The Holy Blood and the Holy Grait) um controverso best-seller internacional por direito prprio, tendo continuado a ser editado durante quase um quarto de sculo escrito por Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln em 1982. A outra importante fonte de Brown foi o nosso livro O Segredo dos Templrios, publicado em 1997 no Reino Unido*. Estes ttulos, juntamente com outras fontes,3 aparecem nas estantes de livros de Sir Leigh Tebing, o vilo de O Cdigo da Vinci o seu nome to estranho porque resulta dos nomes de dois dos autores de O Sangue de Cristo e o Santo Graal, como um anagrama. O elemento identificativo comum entre O Sangue de Cristo e o Santo Graal e O Segredo dos Templrios o grande gnio da Renascena italiana, Leonardo da Vinci (1452-1519) a propsito, ele deve ser conhecido como Leonardo e no Da Vinci (embora o uso comum tornasse agora inevitvel que at ns sucumbamos de vez em quando). Alegadamente, ele foi o gro-mestre do Priorado de Sio durante os ltimos nove anos da sua vida, uma afirmao largamente aceite por Baigent, Leigh e Lincoln. Brown retirou de O Sangue de Cristo e o Santo Graal o conceito central da existncia e sobrevivncia da descendncia de Jesus e Maria Madalena, e da sua proteco pelo Priorado (levando Baigent e Leigh a iniciar uma aco legal contra os editores de O Cdigo Da Vinci, que decorre na altura em que escrevemos).* Brown misturou o conceito de descendncia com ideias e descobertas retiradas do nosso livro, O Segredo dos Templrios. Em particular, ele retirou a ideia-chave de informao secreta especfica codificada no simbolismo das pinturas de Leonardo, como A Ultima Ceia e A Virgem dos Rochedos, do nosso primeiro captulo, O Cdigo Secreto de Leonardo da Vinci. A importncia da sexualidade sagrada e da reverncia pelo Feminino, alm dos antecedentes essencialmente pagos da doutrina de Jesus, so tambm questes centrais do nosso livro. Elas esto ausentes de O Sangue de Cristo e o Santo Graal, mas, de facto, no se coadunam com alguns dos seus temas centrais, baseados, como so, na ideia de que a autoridade de Jesus provinha do seu estatuto como legtimo Rei de Israel, e que ele foi, essencialmente, uma figura poltica que nunca teve a inteno de fundar uma nova religio. Por fim, o livro de Brown revela que o segredo fsico guardado pelo Priorado de Sio literalmente, o seu Santo Graal o verdadeiro corpo de Maria Madalena. Embora reflectssemos sobre essa possibilidade em O Segredo dos Templrios, na ausncia de uma prova slida impossvel desenvolver mais a ideia. Facto? No entanto, embora o sucesso do livro de Brown tivesse indiscutivelmente apresentado muitas ideias provocadoras e excitantes ao olhar surpreendido dos leitores de todo o mundo, muitos dos que passaram dcadas a investigar estes temas interligados ficam um pouco surpreendidos pelas ideias erradas que ele perpetua, especialmente no que diz respeito ao Priorado de Sio (embora, para sermos justos, no devamos esquecer que se trata de uma obra de fico). O retrato que Brown faz da finalidade e da histria do Priorado de Sio, embora no dos seus rituais, um retrato familiar aos leitores de O Sangue de Cristo e o Santo Graal e da sua sequela de 1986, The Messianic Legacy (que explora algumas das implicaes religiosas e das modernas actividades do Priorado com maior detalhe). Mas,

  • espantosamente, o facto que a maior parte do material sobre a histria do Priorado, no qual estes livros se baseiam, no objectivo afinal, provm do prprio Priorado. A principal fonte de informao sobre o Priorado de Sio uma srie de documentos que foram depositados na Biblioteca Nacional de Frana, a Bibliothque Nationale, em Paris, nos anos 60 do sculo vinte, que se tornaram colectivamente conhecidos como os Dossiers Secretos. Construindo a histria pea por pea, eles tm uma origem clara no Priorado (embora ele sempre mantivesse uma distncia discreta dos Dossiers, acabando por se dissociar completamente deles como veremos). Segundo os Dossiers Secretos, o Priorado de Sio foi fundado quase h mil anos, no tempo das Cruzadas, desfrutando de uma existncia ininterrupta desde ento, e sendo presidido por alguns dos maiores nomes da histria. Baigent, Leigh e Lincoln atravs da sua prpria investigao das afirmaes feitas nos Dossiers Secretos aceitaram largamente esta histria, e embora O Cdigo Da Vinci seja fico, Dan Brown reforou esta ideia ao fazer esta ousada afirmao frontal, numa pgina do prefcio intitulada Facto: O Priorado de Sio uma sociedade secreta europeia fundada em 1099 uma verdadeira organizao. Em 1975, a Bibliothque Nationale de Paris descobriu os seus pergaminhos conhecidos como os Dossiers Secretos, identificando numerosos membros do Priorado de Sio, incluindo Sir Isaac Newton, Sandro Boticelli, Victor Hugo e Leonardo da Vinci. No entanto, mesmo este curto pargrafo contm alguns erros flagrantes. De facto, longe de serem velhos pergaminhos romnticos, muitos dos Dossiers Secretos so realmente dactilografados! A Bibliothque Nationale no os descobriu: os documentos foram l depositados pelos seus criadores, para virem a ser encontrados por investigadores e. mesmo ento, estes foram mais ou menos orientados para eles. E isso aconteceu nos anos 60, no em 1975. Esta coleco de documentos realmente notvel, ainda que apenas pelo facto de ter inspirado dois dos livros mais lidos e mais controversos dos anos recentes, O Sangue de Cristo e o Santo Graal e O Cdigo Da Vinci. E, no entanto, pelo menos superficialmente, h bons argumentos a favor de que os Dossiers Secretos sejam uma elaborada inveno por outras palavras, que o Priorado de Sio seja uma fraude engenhosa. Mas, como veremos, nada certo quanto a esta complicada organizao, que ainda tem o poder de surpreender ou mesmo de chocar... O cdigo da casa de campo Estes dois livros tiveram um sucesso to surpreendente que a longa existncia histrica do Priorado de Sio um facto inquestionvel. Esta extraordinria certeza fez eco, recentemente, na sua associao com uma misteriosa mensagem codificada encontrada em Inglaterra, na casa de campo de Shugborough Hall, em Stafordshire. No vero de 2004, foi organizado um concurso pelo Bletchley Park, agora um museu e um monumento ao trabalho brilhante e vital realizado ali pelos geniais criptgrafos da Segunda Guerra Mundial. O concurso destinava-se a decifrar o mistrio do Monumento dos Pastores de Shugborough Hall, a manso ancestral dos Condes de Lichfield, que foi propriedade, at sua morte em Novembro de 2005, do fotgrafo internacionalmente famoso Lorde Patrick Lichfield, primo da Rainha. O Monumento dos Pastores, que data de meados do sculo dezoito, h muito tempo que um foco de especulao devido sua enigmtica inscrio. Encomendado pelo ento proprietrio da casa de campo, George Anson, um conhecido marinheiro que atingiu o posto de Lord Admirai (os Ansons compraram o extinto ttulo Lichfield no sculo dezanove), apresenta um baixo-relevo do famoso quadro produzido cerca de 1640 pelo pintor francs Nicolas Poussin, Os Pastores da Arcdia, embora a verso de

  • Shugborough seja uma imagem invertida. A pintura contm tambm um curioso mote latino, gravado no tmulo, que a sua caracterstica principal: Et in Arcdia ego E eu na Arcdia, uma afirmao geralmente considerada como advertncia da inevitabilidade da morte. Sob o baixo-relevo de Shugborough esto as letras O.U.O.S.V.A.V.V., entre as letras D e M que se encontram abaixo.4 O Monumento de Shugborough j fora associado ao mistrio do Priorado de Sio porque apresenta a pintura de Poussin e o mote Et in Arcdia ego. Talvez George Anson estivesse envolvido com o Priorado de Sio, e o Monumento dos Pastores, de alguma maneira, estivesse relacionado com a sociedade secreta ou isso o que reza a especulao. Organizado pelos descodificadores da Segunda Guerra Mundial, Oliver e Sheila Lawn, o concurso de Bletchley Park organizado de forma divertida embora apresentada pelos meios de comunicao como uma muito mais sria demanda do Santo Graal recebeu cerca de cinquenta respostas, apresentando solues que iam do absurdo ao verdadeiramente difcil de aceitar. (De facto, a hiptese-chave de que a peculiar inscrio um cdigo mais exactamente, uma cifra no , de modo algum, certa: poderiam ser as letras iniciais de uma frase que transmitisse alguma coisa s conhecida da famlia Anson.) Contudo, a soluo favorita dos Lawns que atraiu o interesse da maior parte dos meios de comunicao quando foi anunciada em Novembro de 2004 foi uma soluo que evocava o Priorado de Sio. Infelizmente, no entanto, esta soluo foi apresentada por um perito em criptografia que exigiu manter o anonimato, nem deu autorizao para que o seu mtodo de decifrao fosse tornado pblico. Mas do pouco que se soube, parece que o mtodo era baseado num sistema de substituio de letras, transformando o resultado num anagrama sempre subjectivo e, portanto, questionvel. Nestas circunstncias, impossvel verificar o trabalho ou as credenciais do descodificador (embora os Lawn ficassem suficientemente impressionados pelas ltimas). O resultado foi a aparente injuno Jesus H Contestar, que o annimo criptgrafo interpretou como Jesus como Cristo desafiar por outras palavras, contestar a ideia de que Jesus Cristo com o H engenhosamente transformado em Cristo por referncia aos Gregos.5 (Para ns, uma interpretao mais bvia seria a simples ordem para contestar Jesus Cristo, mas o descodificador sentia-se obviamente incomodado com esta mensagem completamente anticrist. No entanto, impossvel prosseguir esta linha sem verificar o misterioso processo de decifrao para assegurar, em primeiro lugar, que ele funciona.) De forma significativa, esta mensagem peculiar foi explicada por associao com o Priorado de Sio nas palavras do website do Bletchley Park: Por volta do sculo dezoito, emergia uma ordem secreta conhecida como o Priorado de Sio. As ideias da ordem eram consideradas herticas, especialmente pela Igreja de Inglaterra, porque a ordem considerava que Jesus tinha sido um profeta terreno. O descodificador annimo associou esta ideia a uma placa de pedra legada por Jacob, uma figura do Antigo Testamento, a qual se tornou o talism do Priorado, e que Anson levou para a Nova Esccia por uma questo de segurana. Talvez seja significativo que a Nova Esccia fosse denominada Arcdia pelos seus primeiros colonizadores franceses. A existncia do Priorado de Sio no sculo dezoito e as suas convices profundas de que Jesus no era divino so consideradas como verdadeiras, embora no haja, de facto, nenhuma prova independente da existncia do Priorado nessa altura. Alm disso, a ideia de que as suas doutrinas incluem um repdio da divindade de Jesus algo que resulta de O Sangue de Cristo e o Santo Graal, e no do prprio Priorado embora, como veremos, o Priorado esteja pronto a ser associado a indivduos cujas ideias sobre Cristo sejam no-ortodoxas, para dizer o mnimo.

  • Talvez que o aspecto mais significativo da descodificao da inscrio de Shugborough seja o facto de ela se basear num conceito do Priorado que est em concordncia com a relativamente nova linha oficial do Priorado sobre as suas origens. Agora, o Priorado alega que se formou no sculo dezoito, e no na poca das Cruzadas, tendo repudiado a verso da sua histria que formou a base de O Sangue de Cristo e o Santo Graal. Um acalorado debate A opinio dividiu-se em dois campos: os que aceitam a histria e a finalidade do Priorado de Sio tal como elas so contadas nos Dossiers Secretos (e desenvolvidas em O Sangue de Cristo e o Santo Graal}, e os que consideram todo o caso como uma charada. Para o ltimo campo, o Priorado no tem substncia real alm de um pequeno grupo de indivduos suspeitos que, meticulosamente, perpetraram a fraude, e certo que ele no tinha qualquer existncia antes da era moderna. Contudo, embora os cpticos tenham o peso da evidncia do seu lado, na nossa opinio, um erro grave rejeitar o Priorado apenas por essa razo pelo menos at que certas perguntas importantes tenham sido respondidas. A primeira e a mais bvia simplesmente saber por que razo os perpetradores investiram tanto esforo na sua fraude. Mas no duvidem, se uma fraude, o Priorado de Sio uma fraude to complexa como qualquer outra na histria, e mesmo que s por essa razo digna de novo escrutnio. De facto, foi este paradoxo central que nos inspirou a continuar a nossa investigao do Priorado depois de O Segredo dos Templrios, Evidentemente, mesmo que duas ou trs pessoas se associem e decidam intitular-se o Priorado de Sio para seu prprio entretenimento, ento ele existe. Na verdade, talvez sendo vtima do seu prprio sucesso, a organizao deu origem, desta maneira, a muitas imitaes Priorados de Sio que so incontestavelmente os produtos de um ou dois indivduos que no tm nada de melhor a fazer. Como o secretrio-geral (oficial) do Priorado, Gino Sandri, disse em 2003: A assero de que o Priorado de Sio no existe diverte-me francamente, porque, que saibamos, podemos contar onze, no mnimo, em todo o mundo.6 A verdadeira questo saber se o Priorado importante. Possuir realmente segredos antigos que, se revelados, mudariam fundamentalmente a nossa ideia de Cristianismo e mesmo o nosso conceito bsico do seu fundador? E o Priorado ter realmente alguma influncia real no mundo actual, como ele reivindica? H outras perguntas menos importantes, como o nmero dos seus membros. (No que uma sociedade tenha que ser particularmente numerosa para exercer influncia considervel mesmo um pequeno grupo de pessoas pode ser muito poderoso, desde que esteja no lugar certo, no momento certo.) Contudo, a nossa longa investigao levou-nos a acreditar que o Priorado de Sio deve ser levado a srio apesar de toda a controvrsia e dvidas. A nossa prpria experincia faz-nos ir ainda mais longe: agora, podemos compreender que seria um erro grave subestimar o poder e a influncia muito reais do Priorado. Mas porqu? Quais so os argumentos a favor de um Priorado de Sio real e activo? A verso popular Concentremo-nos, primeiro, no campo pr-Priorado: a mais conhecida verso da histria e da finalidade do Priorado apresentada em O Sangue de Cristo e o Santo Graal, que pode ser resumida assim: Jesus e Maria Madalena eram marido e mulher, e tinham filhos. Depois da crucificao, Maria e os filhos fugiram para Frana, onde os seus descendentes se fixaram. Finalmente, casaram com membros de uma dinastia de reis Francos, os agora lendrios Merovngios, que estabeleceram o seu reino em partes do que hoje a Frana, a Alemanha, a Blgica e a Holanda, entre os sculos quinto e oitavo. No entanto, eles

  • foram trados e depostos por uma nova dinastia, os Carolngios com o apoio da Igreja de Roma, que conhecia o segredo das origens dos Merovngios e temia o que poderia acontecer s suas doutrinas cuidadosamente elaboradas se a existncia de descendentes de Jesus, com tudo o que isso implicava, se tomasse conhecida. O acontecimento-chave nesta usurpao foi o assassnio em 679 do Rei Dagoberto II embora ele no fosse o ltimo rei merovngio, como frequentemente se supe. No entanto, segundo as fontes do Priorado, o filho infante de Dagoberto, Sigeberto, que a histria supe ter morrido pouco depois do pai, sobreviveu queda dos Merovngios. Foi escondido na regio do Languedoque, no sul de Frana especificamente no que hoje a lendria aldeia de Rennes-le-Chteau, perto do sop dos Pirenus. Ele e os seus descendentes foram protegidos por aqueles que conheciam o segredo das origens da famlia, um grupo que, finalmente, se formalizou como a Ordem de Sio, uma organizao secreta formada no fim do sculo onze, para promover os interesses da descendncia. A Ordem de Sio foi fundada em Jerusalm por um dos chefes da Primeira Cruzada, Godefroy de Bouillon (Godofredo de Bulho) alegadamente, um dos descendentes de Dagoberto. A verso popular, como largamente narrada em O Cdigo Da Vinci, continua: a Ordem de Sio, por sua vez, apoiou a criao dos mticos Cavaleiros Templrios, a ordem de guerreiros-monges que dominou a Terra Santa e a Europa durante quase duzentos anos depois da sua fundao em (ou cerca de) 1118. No entanto, em 1118, houve algum gnero de cisma entre as duas ordens e elas seguiram caminho distintos. O Priorado de Sio como, finalmente, se veio a chamar resistiu queda dos Templrios em 1307, sobrevivendo ao longo dos sculos at actualidade, presidido por uma sucesso de gro-mestres que inclua alguns dos nomes mais ilustres da histria europeia (associados a outras personalidades bastante mais obscuras), como os britnicos Sir Isaac Newton, Robert Fludd e Robert Boyle, e os italianos Boticelli e Leonardo da Vinci. Em tempos mais recentes, algumas personalidades bastante inesperadas do mundo da literatura e das artes presidiram, supostamente, ao Priorado: Victor Hugo, Claude Debussy e Jean Cocteau. Estes gro-mestres dos sculos dezanove e vinte eram todos franceses. O Priorado de Sio reivindica ter sido a fora que inspirou muitos dos mais importantes movimentos do esoterismo europeu, como os rosacrucianos e, em pocas mais remotas, ter sido a fora impulsionadora de figuras como Joana dAre e Nostradamus. E mesmo hoje, ele prossegue o seu objectivo de repor a descendncia sagrada dos Merovngios no poder em Frana na verdade, na Europa. Esta a reconstituio segundo os autores de O Sangue de Cristo e o Santo Graal. Os Dossiers Secretos reconhecem que o objectivo do Priorado proteger a descendncia de Dagoberto II, mas isto devido, dizem eles, ao facto de ela representar a legtima famlia real de Frana. O supremo objectivo do Priorado repor os Merovngios no trono de Frana (o que no deixa de ser ambicioso). A acrescida importncia da dinastia merovngia que se considera descendente dos filhos de Jesus no se encontra nos Dossiers Secretos, mas foi a hiptese original de Baigent, Leigh e Lincoln. (No entanto, os Dossiers Secretos afirmam que os Merovngios eram descendentes da Casa de David.) Muitos adeptos entusiastas dos livros de Baigent, Leigh e Lincoln (incluindo Dan Brown) parecem no saber que o Priorado no s nunca reivindicou descender de Jesus, como tambm reprovou explicitamente essa hiptese, como veremos. Os argumentos a favor da fraude Os argumentos a favor de o Priorado ser uma pura e simples fraude so claros. Primeiro, longe de ter uma genealogia que remonte quase h mil anos, no h nenhuma prova

  • documental de que ele tivesse existido antes de 1956! E nunca nenhum historiador ou investigador perito em sociedades secretas ou ocultistas ouviu falar do Priorado de Sio antes de ele se tornar tema de discusso na dcada de setenta do sculo vinte. Embora esta ausncia de provas slidas no prove necessariamente que ele no existia no passado afinal, a sociedade secreta mais bem-sucedida deve permanecer totalmente desconhecida de estranhos certamente que ele teria deixado algum vestgio da sua continuada presena. Em sua defesa, o Priorado alega ter operado atravs de organizaes de fachada outras sociedades e grupos, tal como a secreta cabala catlica do sculo dezassete, a Companhia do Santo Sacramento (Compagnie du Saint-Sacrement) que so conhecidas da histria. Mas no h corroborao independente desta alegao: simplesmente temos que acreditar na palavra do Priorado. Segundo, h erros inegveis no cenrio histrico esboado nos Dossiers Secretos que revelam que muitas das suas principais alegaes so falsas. Embora os examinemos mais tarde, diremos, em poucas palavras, que todos os seus erros fatais esto relacionados com o que se supe ser a verdadeira razo da existncia do Priorado a sobrevivncia da dinastia merovngia. Logo no princpio da nossa investigao, conclumos que havia alguma coisa decididamente suspeita em todo o caso dos Merovngios. Em parte, isso deveu-se aos problemas com o material histrico dos Dossiers, mas tambm devido a alguns evidentes problemas lgicos com o cenrio da descendncia: simplesmente impossvel provar, para alm da dvida razovel, que qualquer pessoa actualmente viva seja descendente directa de Dagoberto II e mesmo do prprio Jesusl e, em muitos casos, a simples matemtica mostra que haveria milhes de membros da descendncia sagrada em todo o mundo, uma diluio exponencial tanto do sangue como da sacralidade que a tornaria consideravelmente menos do que especial. Depois, h perguntas srias quanto pessoa mais associada ao Priorado certamente, o seu rosto pblico na sua encarnao actual: o enigmtico Pierre Plantard (tambm conhecido, de forma algo pomposa, como Pierre Plantard de Saint-Clair, entre outros supostos nomes que ele adoptou durante a sua longa carreira). Plantard referido como um dos membros do Priorado na sua apresentao oficial em 1956, e continuou a ser o seu rosto pblico desde os anos 60 at ao fim dos anos 80. Na altura da publicao de O Sangue de Cristo e o Santo Graal, para o qual deu informaes, ele era o gro-mestre do Priorado. Indo mais longe, os Dossiers Secretos sugeriam e Plantard, mais tarde, afirmou explicitamente que ele era, de facto, o representante e a personificao moderna da linhagem, o descendente directo de Dagoberto II. Evidentemente, as implicaes destinavam-se a ser impressionantes, para no dizer sensacionais. Se os Merovngios fossem realmente a legtima famlia real francesa, ento Plantard era o verdadeiro, embora no coroado, Rei de Frana. E se a hiptese central de O Sangue de Cristo e o Santo Graal estivesse correcta, ento Plantard era tambm o descendente directo de Jesus... Como o prprio Priorado, Plantard inspira opinies extremas e paixes igualmente extremas. Para alguns, ele era um notvel iniciado que possua alguns dos maiores segredos de sempre, o homem que, literalmente, personificava a verdade, h muito tempo oculta, sobre o Cristianismo. Para outros, no entanto, ele ser apenas um vulgar e indigno vigarista.7 Por um lado, Baigent, Leigh e Lincoln ficaram claramente impressionados, descrevendo o seu primeiro encontro com ele, em 1979: M. Plantard mostrou ser um homem digno e corts, de porte discretamente aristocrtico, de aparncia simples, com uns modos graciosos, volteis mas afveis. Mostrou uma enorme erudio e uma impressionante agilidade de pensamento com um dom para a rplica irnica, espirituosa, malvola,

  • mas, de modo algum, ofensiva... Apesar dos seus modos modestos e tmidos, ele exercia uma impressionante autoridade sobre os seus companheiros.8 E o escritor francs Grard de Sede que desempenhar um papel importante nesta histria disse a respeito de Plantard: [ele ] alto, magro, come pouco, no bebe nem fuma e quando nosso convidado nunca se serve do primeiro prato [claramente, um factor revelador para um francs]. H nele, simultaneamente, o erudito, o poeta e um sarcasmo levemente diablico.9 Por outro lado, os detractores de Plantard acusaram-no de tudo, incluindo ser um simpatizante Nazi e um pedfilo. Um comentador recente escreve: Muitas vezes, difcil encontrar a linha divisria entre o que conhecido e o que uma boa histria.10 Plantard, que morreu em 2000 com a idade de oitenta anos, era, na melhor das hipteses, uma figura misteriosa, e na pior das hipteses, uma personalidade obviamente dbia. Reservado, elusivo, mas encantador, corresponde perfeitamente ao perfil de um vigarista ou, devemos diz-lo, de um agente dos servios secretos: as habilidades necessrias a ambos no so dissimilares. Ele estava certamente implicado nalgumas aventuras suspeitas, incluindo duvidosas transaces financeiras. Mas o mais condenatrio de todo o caso o alegado facto de que, cerca de sete anos antes da sua morte, Plantard admitiu, sob juramento, que inventara toda a histria.11 O principal cptico e acusador do Priorado, em geral, e de Plantard, em particular, o investigador britnico Paul Smith, que lhes seguia o rasto h mais de uma dcada.12. Ao longo dos anos, Smith fez um trabalho excelente e persistente descobrindo e apresentando documentos originais relacionados com o Priorado e Plantard. (O seu particular triunfo foi a obteno, junto da Prefeitura da Polcia de Paris, de um ficheiro sobre o ltimo.) Sem dvida que, dado o torn estridente que ele habitualmente adopta quando denuncia Plantard, Smith um fantico anti-Priorado/ /Plantard. Mas o que mais importante, o seu argumento de que todo o caso Priorado era um plano desonesto de Plantard no consegue responder a certas perguntas cruciais, como veremos. Assim, a ausncia de qualquer prova documental independente a favor da existncia do Priorado antes dos anos 50, considerada juntamente com os problemas relativos s suas pretenses histricas, pode parecer dar vantagem aos cpticos, mas acerca do Priorado nunca nada claro. Cada vez mais suspeito Para muitas pessoas, a prova de que o Priorado mentiu sempre, sobre todos os assuntos significa automaticamente que ele pode ser rejeitado de imediato. Mas esta atitude ignora alguns dos aspectos mais importantes do enigma. O Priorado de Sio no foi a nica inveno de Pierre Plantard, nem ele era o seu nico membro. Mesmo que tudo fosse uma fraude, ele tinha co-conspiradores. Nunca agiu sozinho: quando o Priorado fez a sua primeira apario em registos oficiais, em 1956, havia, no mnimo, trs outras pessoas implicadas. O mais famoso colaborador de Plantard, desde o princpio dos anos 60 at sua morte em 1985, foi Philippe, marqus de Chrisey. E o Priorado sobreviveu a Plantard: continua a operar sob as ordens do seu secretrio-geral, Gino Sandri, que conheceu Plantard no princpio dos anos 70 e se envolveu com o Priorado desde 1977. Qualquer teoria que tente reduzir o Priorado a uma fraude de Plantard ter tambm de explicar o envolvimento destas pessoas e de muitas outras. Plantard e os seus companheiros mantiveram o embuste durante l mais de trinta anos, com esforo considervel. Mas ningum, nem mesmo Paul Smith, foi capaz de apresentar um motivo satisfatrio para um plano to persistente e prolongado. O motivo mais bvio dinheiro pode ser rejeitado. No s no h nenhuma prova de que Plantard lucrasse alguma coisa, excepto quantias modestas, com o caso, como h

  • tambm ocasies em que ele podia ter tirado proveito dele, mas, notoriamente, no fez nenhuma tentativa para obter lucros. Se ele fosse apenas um vigarista, por que no esqueceu o Priorado e no se dedicou a alguma coisa muito mais lucrativa? De facto, teria sido demasiado fcil transformar o Priorado de Sio numa mquina de fazer dinheiro. O mundo das ordens de cavalaria aristocrticas (o que o Priorado alega ser, embora uma ordem secreta) est cheio de fraudes e embustes. H numerosas organizaes, quer novas invenes, quer alegados renascimentos de ordens histricas extintas, sem qualquer base legtima. Estas auto-intituladas ordens foram criadas por indivduos com uma folie degrandeur, para quem esta era a nica maneira de adquirir prestgio, ou como meio de extorquir dinheiro a incautos e existem muitos que pagaro generosamente para serem admitidos nessas ordens, para ostentar ttulos e dignidades grandiosas, e usar trajes e insgnias (tudo pago, evidentemente). Desde que uma ordem tenha a qualidade certa para atrair membros (ou melhor, subscritores) ela pode significar lucros relativamente fceis: nalguns pases, como a Itlia e (com certas qualificaes) a Frana, que j no reconhecem prerrogativas reais ou aristocrticas, cobrar dinheiro s pessoas pela admisso numa ordem que alegue uma genealogia espria nem ilegal. Mas o Priorado pode oferecer muito mais do que isso. Ele consideravelmente mais do que uma ordem neocavaleiresca, com hierarquias e graus com designaes fantsticas; ele tem a vantagem acrescida de iniciar os seus membros numa ordem que, como milhes de pessoas em todo o mundo agora acreditam, lhes revelar eventualmente alguns dos maiores segredos de sempre. Para muitos, essa possibilidade parece irresistvel, e o motivo mais bvio para a criao de uma fraude to elaborada (afinal, no seria a primeira vez que uma coisas destas acontecia). Mas nunca houve a mais leve sugesto de que algum tivesse sido explorado desta maneira, ou que o Priorado solicitasse um quota aos seus membros e h muitos crticos prontos a atacar se tal alegao chegasse a ser insinuada. Poucas auto-intituladas ordens estiveram numa posio to perfeita para explorar pessoas crdulas e fantasiosas como esteve o Priorado depois do sucesso de O Sangue de Cristo e o Santo Graal mas Plantard no s nunca o fez, como se afastou quando a sociedade comeou a despertar um interesse crescente. Mesmo dois cpticos escritores britnicos, Bill Putman e John Edwin, embora rejeitando as pretenses de Plantard e de Chrisey, declararam-se perplexos com a razo de tudo isto: O grau de esforo que os dois investiram na criao dos enigmas, das genealogias e das fraudes histricas imenso... [mas] o lucro financeiro no parece ter sido o seu motivo...13 Outros sugeriram que se tratava de algum gnero de uma elaborada partida pregada a algum; nesse caso, ainda estamos espera do final. Divina comdia Talvez nunca haja um final. Uma sugesto crescentemente popular nos anos recentes que todo o caso do Priorado de Sio era no s uma complicada partida, mas tambm uma brincadeira como arte de representao surrealista, onde no h final, literalmente, a arte pela arte (uma espcie de paralelo do conceito dos crculos gravados nos campos agrcolas). Um investigador americano, o antroplogo Dr. Steven Mizrach, identificou mesmo a tradio surrealista francesa que floresceu nos anos 60, conhecida como Oulipo, na qual as mistificaes implicavam cdigos e criptogramas complexos, simbolismo oculto em pinturas e na literatura, e engenhosos jogos de palavras eram imaginados como pura arte e, depois, lanados a um pblico incauto para ver como ele reagia. (Uma das caractersticas fundamentais da experincia era nunca revelar que se tratava essencialmente de uma brincadeira.) Segundo Mizrach, Jean-Pierre Deloux, o jornalista associado de Plantard nos anos 70 e 80, pertencia a um ramo chamado Oupolipo, que

  • usava a frmula das histrias policiais nos seus estratagemas artsticos.14 Apesar de ser uma das explicaes mais satisfatrias de todo o caso visto que explica a incapacidade, de outro modo inexplicvel, dos mistificadores para explorar a sua inveno como todas as teorias, esta no consegue explicar tudo, especialmente as actividades polticas de Pierre Plantard nos anos 40 e 50, nas quais ele enredou o Priorado de Sio e os seus precursores. Mas embora o surrealismo no fosse, de modo algum, o estilo de Plantard, era muito tpico do seu parceiro no crime nos anos 60, Philippe de Chrisey, actor e escritor que colaborava com um dos grandes humoristas surrealistas de Frana, o Goon Francs Francis Blanche. Contudo, as duas explicaes aparentemente opostas (de um objectivo srio a uma fraude surrealista) no so realmente mutuamente exclusivas. Se, como vamos cada vez mais acreditando, o Priorado fosse uma fachada e os Dossiers Secretos uma manobra de desinformao iremos desenvolver isto mais frente ento quem melhor do que um oupolipista para o fazer? E embora a imagem popular dos ocultistas seja de fanticos de semblante grantico e de excntricos sem sentido de humor envolvidos em rituais hercleos, de facto o humor tem tido sempre um lugar de honra nas suas actividades extraordinrias. A grande historiadora do esoterismo renascentista, Dame Francs Yates, no seu estudo das origens do primitivo rosacrucianismo do sculo dezassete (The Rosicrucian Enlightment, 1972), discute o sentido de humor dos rosacrucianos. Johann Valentin Andreae, considerado por muitos como o melhor candidato a autor dos famosos Manifestos Rosacrucianos, descreve os seus escritos msticos como um ludibrium uma espcie de brincadeira teatral. Mas Yates identifica um subjacente desgnio srio: Pode no ser, no caso dele, sempre um termo desdenhoso. De facto, se examinarmos as passagens das obras de Andreae sobre os irmos RC [Rosacruzes], verificamos que, embora uma forma frequente de os denegrir design-los de meros actores, comediantes, pessoas frvolas e tolas, no entanto, outras vezes, faz grandes elogios a actores, peas teatrais, e arte dramtica em geral, como social e moralmente valiosas.15 Yates tambm comenta: o grande interesse de Andreae no drama que ajuda a explicar o ludibrium de Christian Rosenkreutz e da sua Irmandade como, no uma fraude, mas uma representao dramtica de um movimento profundamente religioso e intelectual.16 E o Dr. Christopher Mclntosh concorda, escrevendo: Os rosacrucianos personificavam a [ sua] viso de uma mitologia brilhantemente criada com um forte elemento de jocosidade. 17 O conceito desta divina comdia, tratando questes muito srias com uma aparente jovialidade, encontra-se noutros aspectos do ocultismo. Em 1616, o famoso esoterista Michael Maier intitulou um importante tratado Ludus Serius Jogo Srio e a sua ideia continua a expressar-se hoje na forma de magia do caos. E, evidentemente, da Vinci, que Yates acredita ter prefigurado qualidades distintamente rosacrucianas, personificadas na crena dos ocultistas na importncia da divina comdia nas suas pinturas, e nas suas vrias mistificaes, brincadeiras e iluses que tanto fascinaram os que o conheceram. Mas poucos poderiam duvidar de que, sob a jovialidade e ligeireza de estilo, Leonardo no fosse absolutamente, mesmo terrivelmente, srio. A criao de Sio A explicao favorita da maior parte dos defensores da teoria da fraude pura e simples que Plantard era um mitomanaco que acreditava realmente nas suas prprias fantasias relativamente a ser o legtimo Rei de Frana. (Presumivelmente, a razo para esta explicao a completa ausncia de qualquer prova de que Plantard ganhasse algum dinheiro com a sua promoo do Priorado.) Por outras palavras, Plantard era

  • basicamente alucinado, quer acreditando realmente nos seus direitos reais, quer com uma compreenso to tnue da realidade que acreditava que poderia persuadir a Frana a entregar-lhe a sua coroa. Contudo, impossvel negar que os Dossiers Secretos, como Putman e Wood reconhecem, foram compostos com grande esforo, e, frisamos, com considervel arte histrica e psicolgica. Ao examinar as pretenses histricas do Priorado, continuamente chegvamos ao ponto de considerar todo o caso como uma fraude geralmente, quando surgia outra falsidade bvia depois, alguma obscura pea de informao emergia, estabelecendo uma ligao que nos fazia reflectir. Um alto grau de esforo foi investido na criao da histria narrada nos Dossiers Secretos, composta de verdades, meias verdades e mentiras, entrelaadas para compor um todo sedutor. Podemos provar que alguns elementos da histria esto incorrectos quer devido a um erro genuno ou porque foram distorcidos, elaborados ou mesmo inventados. Mas apesar do que dizem os detractores do Priorado, nem tudo nele inveno ou distoro. O conjunto foi composto tematicamente, mais do que logicamente, e a forma como os temas-chave emergem e reaparecem durante a investigao que mais impressiona. Para citar um exemplo (outros se seguiro): A lista dos supostos gro-mestres nos Dossiers Secretos contm o nome do clebre Ren dAnjou bom Rei Ren um dos grandes patronos do Renascimento. A sua presena na lista dos gro-mestres acrescentou mais uma figura histrica importante que poderia impressionar os leitores com a importncia e a seriedade do Priorado. Contudo, Baigent, Leigh e Lincoln descobriram que Ren estava particularmente fascinado com o tema da Arcdia, e como ns prprios verificmos, ele tinha tambm um interesse apaixonado pelas lendas da vida de Maria Madalena no sul de Frana, por exemplo, ordenando escavaes nos lugares-chave numa tentativa de encontrar o seu tmulo.18 No entanto, os Dossiers referem como sucessor de Ren a sua menos conhecida filha, lolanda de Bar. Esta casou com um dos cavaleiros de Ren, Ferri, o senhor do importante centro de peregrinao de Sion-Vaudmont na Lorena, onde ela passou grande parte do resto da sua vida. A montanha, com o nome impressionante de Sion-Vaudmont, fora considerada sagrada desde os tempos pr-cristos, originalmente em honra da deusa Rosemerta, mas no tempo de lolanda de Bar foi dedicada a Nossa Senhora de Sio, um culto centrado numa esttua votiva, qual os duques de Lorena prestavam homenagem desde, no mnimo, o princpio da Idade Mdia. Existia tambm a Abadia de Notre-Dame de Sion, qual estava ligada a ordem de cavalaria chamada Cavaleiros ou Irmandade de Sio, fundada pelo av de Ferri em Dezembro de 1396.19 (Segundo Baigent, Leigh e Lincoln, estes cavaleiros estavam associados Abadia de Nossa Senhora do Monte Sio em Jerusalm, que o Priorado de Sio reivindica como seu lugar de origem cerca de duzentos anos antes, mas no pudemos verificar esta pretenso.) Ser esta a elusiva prova da existncia do Priorado de Sio como uma organizao tangvel e histrica? Evidentemente, compreende-se perfeitamente que uma ordem de cavalaria estivesse associada a esta importante abadia (ordem similares eram populares nessa poca), e que ela usasse o nome do lugar onde foi fundada. Nesta base, no h nada de particularmente surpreendente na existncia dos Cavaleiros de Sio no sculo catorze, e nenhuma prova especfica que os associe ao actual Priorado de Sio ou a qualquer das organizaes que ela reivindica como antepassados. Mas o que significativo que esta associao no est explcita nos Dossiers Secretos: o nome de lolanda de Bar aparece simplesmente na lista dos gro-mestres, incitando os investigadores a aprofundar a informao sobre ela, e deste modo, a descobrir uma

  • ordem de cavalaria de Sio. Ou a associao genuna, ou esta pista foi planeada com uma arte consumada, mais ou menos para forar os investigadores a encontrarem a ligao por si prprios, tornando, por esta razo, tudo mais convincente. (A terceira possibilidade, pura coincidncia, pode funcionar para uma ligao particular, mas h tantos exemplos que podemos rejeit-la como uma explicao.) O rasto de associaes continua... A importncia de Sion-Vaudmont como centro de peregrinao diminuiu em consequncia da Revoluo Francesa, mas, a partir de 1830, trs irmos todos padres catlicos, Lopold, Franois e Quirin Baillard dedicaram a sua vida a recuper-lo como centro sagrado, juntamente com o seu monte associado, o Mont Sainte-Odile na Alscia, a cerca de 100 quilmetros de distncia20. Realizaram essa tarefa com grande habilidade e sucesso, angariando fundos vindos de lugares to distantes como os Estados Unidos, para restabelecer o mosteiro em Sion-Vaudmont. Curiosamente, os trs irmos tornaram-se ento discpulos do controverso mstico Eugne Vintras (1807-75), que fundou uma seita chamada Igreja do Carmelo, na qual era dada aos homens e as mulheres uma categoria igual, e que incorporava prticas sexuais nos seus rituais. Como era de esperar, ele e os irmos Baillard foram severamente condenados e excomungados pelo Papa (embora Loplod se retractasse no seu leito de morte e se reconciliasse com a Igreja). Assim, Sion-Vaudmont, em tempos comparativamente recentes, tornou-se um centro de heresia e de ritos sexuais.21 No princpio do sculo vinte, esta curiosa histria foi usada como base para um livro escrito pelo grande romancista francs Maurice Barres (que, embora no particularmente famoso em Inglaterra, foi um dos mais influentes escritores de Frana), La Coline inspire (A Colina Inspirada, 1913). O romance inicia-se com a expulso de uma irmandade religiosa, os Oblatas de Sio, da montanha. E curiosamente, a histria de Barres apresenta muitas semelhanas surpreendentes com o verdadeiro mistrio de Rennes-le-Chteau, com o qual o Priorado afirma ter estado intimamente associado. Barres estava tambm profundamente implicado no renascimento do ocultismo que se difundiu rapidamente nos sales de Paris no fim do sculo dezanove. Quando esta srie de associaes acontece uma vez, evidentemente que ela interessante mesmo sugestiva mas no o suficiente para servir de base a uma concluso. Mas quando ela acontece repetidamente seguindo vias de investigao que parecem completamente distintas, mas acabam nos mesmos indivduos, nos mesmos lugares-chave, e tratando os mesmos temas religiosos, esotricos ou artsticos ela torna-se rapidamente impressionante. Estas sries de associaes tornam-se completamente vertiginosas passado algum tempo, e, naturalmente, fazem com que os investigadores acreditem que algo genuno se encontra por trs de tudo aquilo que o Priorado participou realmente em todos aqueles acontecimentos ao longo dos sculos, e agora, de forma provocante, apresentam essas associaes para que os investigadores prossigam o seu trabalho. Foi isto o que aconteceu no caso de Baigent, Leigh e Lincoln embora eles rejeitassem certas afirmaes feitas pelos Dossiers Secretos e por Pierre Plantard. Mas, evidentemente, existe sempre a possibilidade de que os Dossiers Secretos fossem deliberadamente planeados para criar exactamente essa impresso, associando ocorrncias, de outro modo desconexas, que tm, por acaso, alguma coisa (como o nome de Sio) em comum, e que reforam um ou outro dos temas principais dos Dossiers. Mesmo assim, se esta explicao estiver correcta, ento uma enorme quantidade de investigao, conhecimento e percia foi usada, contrariando a acusao de que foi tudo apenas um plano para ganhar dinheiro. (Muitos dos detractores de Plantard afirmam no s que ele foi o principal autor da fraude, mas tambm que ele era

  • de inteligncia abaixo da mdia: considerando a quantidade de trabalho que est por trs do Priorado de Sio, evidente que as acusaes no podem ser ambas verdadeiras.) Este tambm um exemplo da arte psicolgica que foi usada na Criao da histria narrada nos Dossiers Secretos. Os criadores usaram utros estratagemas semelhantes, especialmente na incorporao de temas e smbolos que possuem uma poderosa carga emocional: por utras palavras, arqutipos. Como escrevem Baigent, Leigh e Lincoln erft The Messianic Legacy: At ao ponto a que ns, nas nossas investigaes, viemos a conhecer o Prieur, encontrmos uma organizao que, com pleno conhecimento do que est a fazer e, na verdade, como uma questo de estratgia calculada activa, manipula e explora arqutipos. No s tira partido de arqutipos familiares e tradicionais tesouro escondido, o rei perdido, o carcter sagrado de uma descendncia, um segredo sinistro transmitido ao longo dos sculos. Tambm, e deliberadamente, usa-se a si prprio como arqutipo. Tenta orquestrar e regulamentar a percepo que os estranhos tm de si prprio como o arqutipo de uma cabala se no, na verdade, a cabala-arqutipo. Assim, embora a natureza e o alcance do seu poder social, poltico e econmico possam manter-se cuidadosamente secretos, a sua influncia psicolgica pode ser discernvel e substancial. Pode transmitir a impresso de ser o que ele deseja que as pessoas pensem que ele , porque ele compreende a dinmica por meio da qual essas impresses so transmitidas... estamos a lidar com uma organizao de subtileza psicolgica e sofisticao extraordinrias.22 O Priorado usa estratagemas e provocador. Ilude os investigadores, e quando decide que chega o momento certo, facilmente os mantm ocupados sem fazerem nenhum progresso, sem dvida menosprezando a sua capacidade colectiva. Ningum pode permitir-se acreditar em tudo o que o Priorado diz, mas como a experincia nos ensinou pessoalmente, como veremos tambm seria um erro no acreditar. Temos que tratar com cautela absolutamente tudo o que o Priorado diz. Temos tambm de tratar com cautela muitas declaraes pblicas sobre esta peculiar sociedade secreta. As opinies sobre o Priorado tendem a dividir-se em alternativas puramente certas ou erradas, negativas/positivas; ou tudo o que ele afirma verdade, ou tudo uma grande quantidade de mentiras bastante bvias. Mas, evidentemente, a vida real no assim. A experincia noutros campos mostra que, apenas porque um grupo ou organizao mentiu, exagerou ou deturpou a informao, ela no deve ser automaticamente rejeitada como insignificante. (Afinal, o governo Blair ainda preside ao destino do Reino Unido.) Para citar um exemplo bvio, uma grande parte do trabalho dos servios secretos e das agncias de segurana, como a CIA, envolve a composio e disseminao de informao errada mentiras oficiais, por outras palavras mas ningum afirmaria que, se essas mentiras fossem denunciadas, a CIA pudesse e devesse ser ignorada como uma organizao sem relevncia, ou que o resto das suas actividades fosse sempre e para sempre considerado insignificante. De facto, quanto mais ela se encarrega de mentir, maior o nmero de pessoas que acredita que ela deve ser tomada a srio. Dizer no-verdades no necessariamente considerado ser sempre uma coisa m: depende da razo por que elas so ditas (e, na verdade, do lado em que nos encontramos). Operaes de desinformao fraudes oficiais desempenharam um papel importante na vitria da Segunda Guerra Mundial, dispersando recursos inimigos, desviando a ateno de operaes genunas. Ao lidar com o Priorado de Sio, e com as afirmaes que ele disseminou quer atravs dos Dossiers Secretos, quer atravs de outros meios, devem ser adoptados exactamente os mesmos mtodos que os usados na anlise das actividades das agncias de servios secretos. Os dois tm muito em comum.

  • Um ponto mais crucial que todos os outros frequentemente ignorado quando analisamos o Priorado de Sio: nenhuma sociedade secreta antiga ou moderna, quer uma grande organizao global ou apenas alguns conspiradores em Frana, e quer as suas intenes sejam srias ou fraudulentas revelaria alguma coisa sobre si mesma em pblico, a no ser que houvesse vantagem em o fazer. Portanto, o teste de tudo o que o Priorado decida revelar talvez ainda mais importante do que saber se isso factualmente verdadeiro saber por que razo foi revelado. A quem se dirigia generalidade do pblico ou a um grupo especfico? E por que deseja o Priorado que essa audincia visada acredite que essas revelaes so verdadeiras? At que estas perguntas tenham tido resposta, a soluo do mistrio continua to elusiva como o prprio Graal. Tendo em mente todas estas consideraes, encontrmo-nos na terra de ningum entre as duas posies extremas. Por um lado, h os que, sem critrio, aceitam todas as alegaes do Priorado, construindo todas as teorias e hipteses sobre as suas declaraes, por muito contraditrias ou ridculas que sejam; por outro lado, h os que, automaticamente, rejeitam tudo, sem excepo, o que o Priorado diz apenas porque ele parece gostar de ser contraditrio e ridculo em certas ocasies. Contudo, a questo crucial que ambos os lados ignoram qualquer prova que no se enquadre na sua soluo preferida; o ditado sobre o beb e a gua do banho frequentemente verdadeiro quando se aplica ao Priorado! Mas, para ns, nenhum dos campos apresenta uma soluo satisfatria do enigma. H razes puramente lgicas pelas quais tomamos o Priorado mais a srio do que muitos outros [mas, sublinhamos, muito menos literalmente do que muitos outros]. Contudo, temos uma outra razo, mais prtica, para esta atitude. Nalguns aspectos, falamos por experincia pessoal do Priorado. Indivduos associados a ele forneceram-nos informao arcana e inverosmil que, contra todas as probabilidades, provou ser realmente correcta. Na verdade, no exagero dizer que, embora indirectamente, devemos dez anos de carreira de co-autores ao Priorado de Sio uma questo nada insignificante nas nossas vidas! Do nosso contacto pessoal com a organizao, sabemos que vale a pena toma-lo a srio. Face a tudo o que ele possa ou no possa ser, acreditem em ns, seria um grave erro considerar o Priorado como uma completa fraude. O contacto com o Priorado Tudo comeou em 1990, no decurso da nossa investigao do Sudrio de Turim, quando fomos contactados por um indivduo que usou sempre e apenas o pseudnimo de Giovanni [Joo, em italiano). Recebemos vrias cartas deste homem-mistrio inicialmente guardadas no nosso ficheiro de excntricos, mas depressa atentamente lidas porque comeamos a ficar genuinamente intrigados culminando num nico encontro com ele em Londres, em Maro de 1991,23 Foi um encontro excitante, embora algo tenso para no dizer intenso. Provavelmente com perto de cinquenta anos, era muito parecido com o actor britnico torn Conti [o Grego, proprietrio do caf no filme Shirley Valentine), com uma farta cabeleira grisalha e roupas de boa marca, levemente amarrotadas. Falava fluentemente ingls, mas com um acentuado sotaque italiano, e tinha uma maneira de nos observar atentamente, sem ser demasiado bvia, como um detective particular ou um agente dos servios secretos. Os seus olhos risonhos pestanejavam constantemente, por mais srias que fossem as suas palavras. Ocasionalmente, fazia um gesto dramtico e expansivo com mos elegantes, desprovidas de anis, mas os seus maneirismos fsicos eram surpreendentemente contidos estranho, poder-se-ia pensar, para um italiano. Talvez ele tivesse sido habilmente treinado para disciplinar a sua linguagem corporal.

  • Giovanni afirmou ser um membro italiano do Priorado de Sio, embora, evidentemente, no tivssemos possibilidade de examinar ou confirmar essa alegao. O que pudemos verificar independentemente foi que ele estava familiarizado com o mundo secreto esotrico da Europa. Identificou certos indivduos, em Inglaterra e no estrangeiro, os quais, disse ele, ou eram membros do Priorado ou membros de sociedades esotricas associadas. E nalguns [mas no em todos) casos ficmos intrigados ao descobrir que podamos confirmar esse facto. Assim, confirmmos as credenciais da sociedade secreta de Giovanni pelo menos, nesse aspecto. Em particular, Giovanni referiu duas figuras importantes do mundo editorial britnico, ambas j nossas conhecidas. Presumivelmente, ele escolhera-os por essa mesma razo: afinal, seria mais fcil para ns corroborar a sua informao sobre eles. Num dos casos, pudemos confirmar que a pessoa referida tinha surpreendentemente interesse em questes esotricas que inclua um envolvimento activo em grupos secretos. No outro caso, descobrimos uma indicao mais forte de qualidade de membro do prprio Priorado, e tambm ficmos impressionados com as suas ligaes com o mundo internacional da alta finana. [O Priorado alega estar fortemente envolvido com a actividade bancria global, mas, evidentemente, qualquer faux sociedade medianamente decente faria essa afirmao.) Infelizmente, nunca descobrimos a verdadeira identidade de Giovanni. Embora, em certa altura, pensssemos que a tnhamos descoberto, provou-se que era uma pista falsa provavelmente, uma brincadeira deliberada. Mas ele afirmou representar uma faco cismtica no seio do Priorado, determinada a deixar transpirar informao para a praa pblica. [E muito pouco lisonjeiramente, parecia que ns no tnhamos sido a sua primeira, nem mesmo a segunda escolha: aparentemente, ele tentara transmitir a sua informao a outros investigadores do Sudrio de Turim antes de ns.) Na altura, considermos isso como uma brincadeira deliberadamente usada para aumentar o sentido do dramtico: na verdade, virtualmente tudo relacionado com o nosso contacto com Giovanni era muito teatral, sem dvida para nos envolver e, evidentemente, para continuar vivo nas nossas memrias. Mas ficmos esPantados e interessados ao descobrir, atravs de informao que ernergiu muitos anos depois, que ele talvez estivesse a dizer a verdade. O motivo ostensivo de Giovanni para nos contactar era, como j rererimos, a nossa investigao do Sudrio de Turim, a respeito do qual e|e afirmava ter informao secreta como homem do Priorado. Segundo e/ o Sudrio era realmente uma fraude [como a datao pelo teste carbono em 1988 tinha demonstrado de forma famosa). Mas ele lrmava saber quem era o falsrio: o prprio Leonardo da Vinci, que o Priorado alegava ser um dos seus gro-mestres. Afirmou tambm que sabia como Leonardo tinha criado a ainda mistificadora imagem do Sudrio, atravs de um processo do que ele chamava impresso alqumica por outras palavras, uma forma primitiva de fotografia. Mas talvez que o mais desconcertante de tudo fosse a afirmao de Giovanni, segundo a qual Leonardo usara o seu prprio rosto para o do homem do Sudrio, a mesma imagem considerada pelos milhes de devotos, ao longo dos sculos, como sendo a prpria imagem de Jesus Cristo. Giovanni apresentou-nos estas trs dramticas peas de informao como pistas para um trabalho de investigao histrica, linhas de investigao que podamos e devamos provar ou refutar atravs dos nossos prprios esforos. (Mais tarde, compreendemos que este o mtodo tradicional de aprendizagem dos adeptos da magia, embora ele tambm tenha muito em comum com o treino dos agentes dos servios secretos.] Como os acontecimentos mostraram, este no era um trabalho para preguiosos nem, como viemos a descobrir, para os piedosos e os escrupulosos.

  • A relquia diablica de Da Vinci com grande surpresa nossa, pudemos at apresentar provas de algumas das mais aparentemente ridculas afirmaes de Giovanni. Apresentmos os resultados do nosso trabalho de investigao no nosso primeiro livro, Turin Shroud In Whose Imagel, em 1994 (revisto e actualizado em 2000, com o subttulo How Leonard da Vinci Fooled History). Contudo, no fomos os primeiros a propor que Leonardo fosse o autor da fraude do Sudrio: outros j tinham reconhecido que ele correspondia perfeitamente ao perfil de um falsrio. Tinha que ser algum capaz de imaginar um mtodo de criar a imagem que ainda recusa revelar os seus segredos (a datao pelo teste do carbono revelou-nos que o Sudrio era uma falsificao, mas no revelou nada quanto forma como a imagem foi impressa). Contudo, com grande surpresa nossa, iramos descobrir um grande nmero de provas circunstanciais que o fazem corresponder perfeitamente ao quadro: estar no lugar certo no momento certo, tendo relaes misteriosas com a famlia de Sabia, que era proprietria do Sudrio, etc. Quanto forma como a imagem foi criada, pudemos usar um processo fotogrfico muito bsico empregando uma cmara escura (precursora da moderna mquina fotogrfica, com a qual sabemos que Leonardo fez experincias) e substncias sensveis luz e fceis de obterpara produzir o nosso prprio Sudrio, que apresentou todas as caractersticas supostamente milagrosas da relquia alegadamente sagrada. Quase precisamente na mesma altura, o professor sul-africano Nicholas Allen fez exactamente a mesma coisa (de facto, usando um processo ainda mais simples que o nosso, mas usando tambm uma cmara escura). Por fim, s os irredutveis e desesperados crentes de que o Sudrio genuinamente o de Jesus conhecidos como os sudaristas so incapazes de ver a semelhana entre o homem do Sudrio e Leonardo. Um das mais divertidas confirmaes surgiu em 2001, durante a filmagem de um documentrio televisivo sobre as nossas teorias para o National Geographic Channel (vencedor do prmio Leonardo: The Man Behind the Shroud?24) Para contrabalanar, os realizadores do programa entrevistaram vrios crentes, incluindo o artista italiano Luigi Mattei, que faz soberbas esculturas em tamanho natural, baseadas na imagem do Sudrio. Embora sendo um crente fervoroso na sua autenticidade, enquanto demonstrava as suas tcnicas artsticas em frente da cmara, a propsito de nada, o artista fez a afirmao de que sempre ficara impressionado com a semelhana entre o homem do Sudrio e Leonardo. Evidentemente, a semelhana entre os dois refora o primeiro argumento: que Leonardo foi o gnio responsvel. Ao longo da investigao, descobrimos tambm que certas famlias que estavam implicadas na grande fraude do Santo Sudrio provaram ser a mesma dinastia que tem um papel importante em O Sangue de Cristo e o Santo Graal como estando ligadas ao Priorado de Sio... Tudo isto era muito estranho. Embora tivssemos estabelecido a conexo da Vinci antes de Giovanni entrar em cena de facto, foi por essa razo que ele nos contactou outra informao secreta que ele nos deu, tambm provou estar correcta. Isso sugeria que o Priorado (supondo que Giovanni era realmente um dos seus membros) tinha acesso a informao secreta sobre Leonardo. Mesmo ento, estvamos perfeitamente conscientes dos pontos de interrogao que pairavam sobre as pretenses histricas do Priorado, mas isso parecia confirmar que eles possuam algum conhecimento secreto ou perdido, alguns segredos genunos sobre indivduos herticos do passado. Estvamos tambm conscientes da opinio de que o Priorado inclua apenas um pequeno grupo de membros que mantinham a situao apenas para seu prprio

  • entretenimento ou como parte de um plano fraudulento concertado e mais vasto: mas, nesse caso, onde se enquadrava Giovanni? Talvez ele pertencesse realmente a uma outra sociedade ou grupo esotrico, e apenas fingira ser um emissrio do Priorado. Mas porqu? Como beneficiaria ele desse subterfgio? Contudo, a segunda via de investigao suscitada pela interveno misteriosa de Giovanni iria mostrar-se ainda mais extraordinria. Discpulos do outro Cristo No nosso nico encontro de referncia, Giovanni limitara-se sobretudo ao tema do Sudrio de Turim. Embora tivesse feito algumas declaraes incompreensveis sobre o Priorado do presente e passado, ele evitou sempre responder s nossas perguntas directas sobre a questo (como, na verdade, deveria fazer qualquer membro digno de uma sociedade secreta]. Mas no comentrio final, ele referiu outro tema, ento uma incongruncia muito peculiar, sob a forma de uma pergunta: Por que so os nossos gro-mestres conhecidos sempre por Joo?... Esta no uma questo insignificante, mas a chave. Iramos descobrir que essa breve pergunta continha uma insinuao importante sobre um segredo que ultrapassa indiscutivelmente a hiptese de Dan Brown no seu potencial para perturbar mesmo para chocar. Uma dcada depois, podemos afirmar categoricamente que a nossa investigao revelou que Giovanni possua informao que abriu a porta para um segredo verdadeiramente cataclsmico, um segredo que certamente e, na verdade, sensacionalmente representa um desafio sem igual para a Igreja oficial. Na verdade, para a prpria base da religio crist... Segundo os Dossiers Secretos, os gro-mestres do Priorado de Sio adoptam o nome oficial de Jean (Joo em Francs Jeanne/Joan/ /Joana se o gro-mestre uma mulher quase da mesma forma como cada um dos sucessivos Papas adopta um novo nome quando eleito. Leonardo, por exemplo, aparece nas suas listas como Jean IX Joo Nono. Mas no aparecia nenhuma explicao para esta aparente exaltao do nome de Joo. Nenhum dos anteriores investigadores tentou descobrir mais alguma coisa sobre este tema aliciante. O nosso trabalho sobre Leonardo e o Sudrio inspirar-nos, naturalmente, a querer saber mais sobre o que o motivara a criar esta suprema fraude (e uma das mais bem-sucedidas da histria). Era evidente que a resposta se encontrava nas suas convices religiosas e espirituais, que so reconhecidas como tendo sido herticas. (Muitas pessoas supem que, como primeiro cientista, Leonardo deveria ter sido um no-crente, um ateu mais do que um hertico, mas, de facto, nada pode tar mais longe da verdade.) Rapidamente se tornou claro por razes que explicmos no primeiro captulo de O Segredo dos Templrios que Leonardo estava virtualmente obcecado com So Joo Baptista. Metade das suas obras de arte sacra existentes incluem aquela bastante intimidante figura do Novo Testamento e iramos descobrir que muitas das restantes pinturas e esboos incluem referncias simblicas a Joo, mesmo quando ele no est fisicamente presente na composio. Por outras palavras, sempre que possvel, Leonardo incluiu Joo Baptista nas suas pinturas, mesmo que, por vezes, faz-lo significasse empregar alguma liberdade artstica na interpretao do tema que ele estava encarregado de pintar: ele acrescentava simplesmente uma referncia a Joo atravs do uso inteligente de simbolismo velado. Claramente, Joo Baptista era extraordinariamente importante para Leonardo por alguma razo secreta, mas muito especial. O smbolo-chave do que depressa se tornou aparente como a sua subtil subverso o que chamamos o gesto de Joo o dedo indicador direito apontando para o cu

  • observado mais obviamente na ltima pintura que Leonardo produziu, So Joo Baptista. Mas, crucialmente, o gesto tambm feito por figuras noutras pinturas, como um meio de dar a Joo uma presena fsica em obras nas quais Leonardo no podia justificar de outro modo a sua incluso. O outro aspecto surpreendente, e decididamente hertico (para dizer o mnimo) da obsesso joanista de Leonardo era que ele, claramente, considerava Joo Baptista no como meramente importante no contexto da vida e misso de Jesus. Discutindo a Virgem dos Rochedos de Leonardo, que representa o menino Jesus e Joo Baptista, Use Hecht, do Art Institute de Chicago, comenta: Joo passa de um espectador a uma pessoa igual a Cristo, uma inovao que atingiu os limites mximos do contedo espiritual do tema e s poderia ter sido conseguido por um artista como Leonardo que tinha apenas laos frouxos com o dogma da Igreja.25 A ideia de considerar Joo, o suposto mensageiro de Jesus, como algum igual a Cristo bastante espantosa. Mas mais de uma dcada de investigao levou-nos a acreditar que Hecht tinha realmente minimizado o caso. Para Leonardo, no havia nenhuma igualdade nele: aquele artista astuciosamente ousado e profundamente hertico acreditava realmente que Joo era superior a Cristo. Tudo isto nos ofereceu uma pista importante relativamente a qual Joo o Priorado de Sio se referia. E, tambm, esta aparente crena na superioridade de Joo em relao a Jesus foi outra pista importante. Segundo os Dossiers Secretos, o primeiro gro-mestre do Priorado de Sio, um nobre normando chamado Jean de Gisors, adoptou o ttulo de Jean II. Mas, por sua vez, isso representava um outro enigma. Porqu comear com Joo // e, em todo o caso, quem era Joo I? O historiador francs Jean Markale resume a estranha explicao do Priorado, segundo o qual Jean de Gisors adoptou este ttulo porque o ttulo de Joo I estava tradicionalmente reservado para Cristo,26 Mas por que razo deveria Cristo ser honrado por ser chamado Joo? Lentamente, um novo e provocador quadro comeou a emergir, embora fosse necessria uma investigao consideravelmente maior antes que os fragmentos giratrios do caleidoscpio acabassem por se fixar e formar uma imagem compreensvel. O centro exacto o movimento hertico conhecido como joanismo, o qual venera realmente Joo Baptista acima de Jesus, considerando-o mesmo como o verdadeiro Messias ou o verdadeiro Cristo. (A palavra grega Christos, simplesmente uma traduo do Hebraico Messiah ou o Ungido transmitia um significado muito diferente daquele que lhe foi imposto mais tarde pela tradio crist. Era suposto que o detentor deste divino mandato fosse e se comportasse de formas que eram tambm radicalmente diferentes da moderna crena crist.) Como no tardmos a descobrir, a verdadeira relao entre Joo Baptista e Jesus Cristo tambm exige incluir um ousado e empenhado esforo de vontade depois de sculos de ofuscao, encobrimentos e conspirao. Longe de ser uma voz solitria que clamava no deserto, Joo tinha os seus prprios discpulos: na verdade, a prova que Jesus comeou como um deles. Indiscutivelmente, alguns talvez a maioria dos discpulos de Joo consideravam-no como o Cristo, e nem todos transferiram o seu apoio para Jesus depois da execuo de Joo por Herodes Antipas. Nem h qualquer dvida de que o movimento de Joo Baptista continuou a ser rival do de Jesus mesmo depois da Crucificao. De facto, seitas herticas que veneravam Joo Baptista so registadas no Mdio Oriente, como os dositestas (segundo o nome de um dos seus lderes, Dositeus], durante mais de cinco sculos depois da fundao do cristianismo.

  • Tudo isto pode ser encontrado no prprio Novo Testamento ou nas crnicas da Igreja primitiva. Embora possa ser desagradvel para muitos cristos, o facto que [Joo e Jesus eram rivais, como o eram os seus respectivos discpulos. Este facto contribui muito para responder pergunta que o investi;ador da verdade far mais cedo ou mais tarde: por que Santo Estevo, : no Joo Baptista, o primeiro mrtir do cristianismo? Na verdade, aluns momentos de reflexo revelaro que Joo no realmente consierado como sendo verdadeiramente um santo cristo... I H mais: os discpulos de Joo os joanistas no se extinguiram E no Mdio Oriente. De facto, eles sobrevivem at hoje, como a nica religio gnstica existente no mundo, uma seita e um povo conhecidos como mandestas, que chamam nazarenos aos seus sacerdotes. At recentemente, o seu refgio principal eram as terras pantanosas do sul do Iraque e do Iro, o cenrio de muita perseguio movida por Saddam Hussein. Embora depois da primeira guerra do Golfo em 1991, muitos se dispersassem por outros lugares volta do mundo Florida, Austrlia, Holanda e mesmo Londres a comunidade principal ainda vive no Iraque, centrada na cidade de Nasiriyah (um nome claramente derivado de nazareno).27 Agora, alvo das perseguies dos fundamentalistas islmicos, os mandestas tambm podem esperar pouco auxlio do Ocidente, porque eles tambm no so cristos. Veneram Joo Baptista como o seu grande profeta e no s rejeitam Cristo como o desprezam absoluta e veementemente como o usurpador do movimento e da legtima liderana de Joo.28 Os eruditos, de modo geral, esto de acordo em que os mandestas so os genunos descendentes dos discpulos imediatos de Joo Baptista, forados a deslocarem-se para oriente e para sul por perseguies, primeiro dos cristos, depois, dos muulmanos. Embora naturalmente muito mudados depois de quase dois milnios de vida nmada no deserto, eles ainda guardam uma forte memria das suas origens. Os mandestas talvez tenham sido conhecidos na Europa apenas desde o sculo dezoito, mas eles so registados em escritos rabes incluindo o Alcoro nos anos intermdios, tornando claro que eles eram a Igreja de Joo que desapareceu dos registos do Ocidente no final do sculo sexto. De facto, um autor rabe do fim do sculo oitavo afirma especificamente que os mandestas descendem dos mesmos dositestas que so registados como venerando Joo Baptista ainda no sculo sexto. E, evidentemente, os mandestas estavam muito mais disPersos, com comunidades em toda a Terra Santa e no Mdio Oriente, ^t, no mnimo, poca das Cruzadas, depois das quais uma vaga de Perseguies muulmanas os forou a dirigirem-se para sul. As provas so esmagadoras: no h dvida de que o movimento de Joo os que consideravam Joo Baptista como o legtimo Messias sobreviveu no Mdio Oriente. A hiptese que o movimento foi erradicado no Ocidente ou, mais exactamente, no mundo mediterrneo sob controlo da Igreja primitiva. (Comunidades de adeptos de Joo esto realmente registados nos Actos dos Apstolos.) Mas, nesse caso, como poderia Leonardo e outros, como verificmos ter tido conhecimento destas crenas na segunda metade do sculo quinze, quando o mundo rabe estava largamente fechado aos europeus? Intrigantemente, o joanismo ou reentrou na Europa durante as Cruzadas, quando as comunicaes com o Mdio Oriente foram reabertas, ou ento sobreviveu, profundamente oculto, como uma heresia secreta que usou as Cruzadas como uma oportunidade de ir em busca das suas origens. Conclumos que o mandesmo ou joanismo era o grande segredo de certos grupos como os Cavaleiros Templrios. Mas existem pistas mais aliciantes: certas tradies esotricas europeias que existiram desde, no mnimo, a viragem do sculo dezanove, asseguram que os Templrios

  • desenvolveram as suas doutrinas secretas a partir da descoberta de uma seita designada pelos joanistas do Oriente ou a Igreja de Joo do Oriente. Embora sem provas que as apoiem, evidentemente, as meras tradies no so capazes depravar nada, quando acrescentadas s provas que descobrimos sobre a hiptese de os cavaleiros Cruzados incluindo os Templrios terem conhecido os mandestas e absorvido algumas das suas crenas, elas so extraordinariamente intrigantes. E, de forma significativa, o Priorado de Sio no se envergonha de estar associado a estas mesmas tradies. O especialista francs Jean-Pierre Bayard, no seu Cuide to Secret Societi.es and Sects (2004) descreve especificamente o Priorado como uma Ordem joanista.29 Evidentemente, se o segredo do Priorado que ele joanista, ento claro que ele uma organizao muito diferente da sociedade secreta descrita em O Sangue de Cristo e o Santo Graal, o qual afirma que ele existe para proteger os descendentes de Jesus Cristo o grande rival de Joo! Foi um momento muito excitante quando compreendemos o verdadeiro significado da nossa questo com o Priorado. O comentrio, aparentemente estranho, de Giovanni sobre o facto de os gro-mestres serem sempre chamados Joo provara ser a chave de alguma coisa de to grande importncia que, sem a ideia sbita de hiprbole, pode realmente dizer-se que desafia a prpria base da religio crist. O cisma Se o Priorado uma fraude moderna do ps-guerra, como e porque Giovanni nos indicou uma pista que provou ser to bvia? No poderia ser mera coincidncia. Evidentemente, Giovanni estivera bastante seguro de que, uma vez indicada a pista, ns descobriramos provas slidas para corroborar as suas afirmaes. E como no ramos investigadores muito conhecidos naquela poca, a sua f em ns no poderia ter sido baseada nos nossos sucessos do passado. Os factos tinham que falar por si prprios, e quando os encontrmos, eles falaram de forma muito fcil de compreender. A implicao era que, como membro do Priorado, Giovanni j sabia que essas ideias eram verdadeiras. Por conseguinte, o Priorado teve acesso a informao secreta, historicamente genuna. E, por conseguinte, ele no poderia ser uma fraude moderna ou poderia? No considerando as dvidas quanto verdadeira identidade de Giovanni ou organizao que ele poder ter representado, a pergunta bvia era: Por que nos escolheu ele para revelar informao to sensvel e mesmo sensacional? Teria que ser para prprio benefcio do Priorado, no para o nosso. Talvez estivssemos a ser usados como o canal atravs do qual a suprema fraude de Leonardo seria finalmente avaliada por aquilo que ela era, e como um meio de encorajar as pessoas a reflectir sobre a heresia joanista e as suas extraordinrias implicaes. Talvez. Mas haveria alguma coisa em todo este caso que beneficiasse o Priorado de forma mais imediata? Uma razo bvia era que estas revelaes prestariam alguma corroborao independente a favor da existncia histrica do Priorado. De modo geral, a reconstruo histrica, baseada nos Dossiers Secretos e apresentada em O Sangue de Cristo e o Santo Graal e em The Messianic Legacy, passara sem grande contestao; a controvrsia centrara-se sobretudo nos elementos religiosos, particularmente na putativa relao entre Jesus e Maria Madalena. No entanto, depois de 1990, comearam vir superfcie as dvidas sobre a veracidade das pretenses histricas dos Dossiers Secretos. Se o Priorado pudesse provar possuir, ou ter acesso alguma informao secreta alguma coisa que ningum no exterior nunca tivesse sabido acerca de um dos indivduos que o Priorado reivindica como gro-mestres, talvez isso ajudasse a restabelecer alguma credibilidade.

  • Pelo menos, era assim que pensvamos nessa altura. Contudo, era impossvel sabermos ento que havia uma razo muito mais especfica para Giovanni nos ter contactado durante os anos 1990-1. O Priorado estava em grande agitao. Giovanni disse-nos que fazia parte de uma faco cismtica um grupo dissidente no seio da organizao. Especificamente, ele disse que acreditava que a actual liderana estava a desviar a organizao da sua raison dtre e crenas originais. Queixou-se da interferncia da poltica presumivelmente, lutas internas. De facto, ele disse que, por razes polticas, a liderana estava a tentar rescrever a sua histria. Aparentemente, era um momento de verdadeiro perigo; durante todo o tempo do seu contacto connosco, ele acentuou que estava a correr srios riscos pessoais ao fornecer-nos esta informao. Como seria de esperar, recebemos esta informao com muita cautela apenas como uma excitao extra para nos encorajar, e uma explicao conveniente para a sua abordagem clandestina. (Como veremos, o Priorado tinha usado realmente falsos cismas como cobertura para as suas mudanas de orientao.) Contudo, embora no estivssemos conscientes disso durante cerca de dez anos, nesse ponto, pelo menos, ele estava a dizer a verdade. Houvera realmente um grande cisma. Em 1989, Pierre Plantard (regressando como gro-mestre do Priorado, tendo-se demitido cinco anos antes) alterara completamente o plano secreto. Em carta aos membros e nas pginas do boletim interno do Priorado, Vaincre (Vencer), ele retractou-se da verso da histria da Ordem descrita nos Dossiers Secretos. (De facto, Plantard sempre evitara cuidadosamente sancionar directamente os Dossiers, e, embora poucas pessoas ficassem convencidas, ele manteve apenas a negabilidade plausvel suficiente para no ser punido por esta retractao abrupta.) Substituiu-a por uma histria muito menos interessante, mas, seja como for, depois de ter admitido que o original era uma mentira, quem acreditaria em qualquer coisa que ele dissesse? Agora, Plantard alegava que o Priorado de Sio datava no do sculo onze, mas do sculo dezoito; no tinha qualquer ligao com a com a fundao ou a histria subsequente dos Cavaleiros Templrios; a lista dos gro-mestres, que aparecia nos Dossiers era falsa embora ainda mantivesse que ela estava correcta a partir de 1766. Mas o mais significativo de tudo, Plantard no s se dissociou da teoria da linhagem sagrada, avanada em O Sangue de Cristo e o Santo Graal, como tambm a ridicularizou, positivamente.30 (Mais tarde, com maior detalhe, examinaremos as razes que estavam por trs desta abrupta e bizarra mudana de opinio.) O facto de que Plantard tinha alterado a verso oficial das origens t da histria do Priorado em 1989, no foi largamente conhecido at ao fim da dcada de 90, quando as suas cartas e boletins comearam a circular entre os investigadores. Mesmo agora, surpreendentemente poucos entusiastas de O Sangue de Cristo e o Santo Graal parecem ter conhecimento dessa alter