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PREVALÊNCIA DE SÍNDROME HIPERTENSIVA NA GESTAÇÃO E SUAS PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SÃO LUÍS - MA. Luzinéa de Maria Pastor Santos Frias 1 Natany Sampaio Santos Dias 2 Resumo Estudo descritivo, quantitativo que objetivou estimar a prevalência e complicações para mãe e feto das Síndromes Hipertensivas na Gestação, considerando seu impacto na mortalidade. Realizado entre agosto a dezembro de 2015 com 204 mulheres de hospital de referência de São Luís (MA). As mulheres tinham entre 25 a 34 anos, pardas, viviam em união estável, ensino médio completo e 54,41% sem remuneração. A prevalência da síndrome foi de 11% e as complicações: Eclampsia, (3,20%) óbitos neonatais (7,3%) prematuridade (27,94%) baixo peso (19%). É fundamental a Implementação de estratégias para monitoramento e prevenção das complicações. Palavras-chave: Prevalência. Síndrome Hipertensiva. Complicações na gravidez. Abstract Descriptive, quantitative study aimed at estimating the prevalence and complications for mother and fetus of hypertensive syndromes during pregnancy, considering its impact on mortality. Made between August and December 2015 with 204 women from a reference hospital in São Luís (MA). The women were between 25 and 34 years old, brown, lived in a stable union, complete high school and 54.41% without remuneration. The prevalence of the syndrome was 11% and complications were: Eclampsia, (3.20%) neonatal deaths (7.3%), prematurity (27.94%), low birth weight (19%). It is fundamental to implement strategies for monitoring and prevention of complications. Keywords: Prevalence. Hypertensive Syndrome. Complications in pregnancy. 1 Doutora. Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: [email protected] 2 Enfermeira

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Page 1: Luzinéa de Maria Pastor Santos Frias Natany Sampaio Santos Dias · 2017-10-05 · “Doença Hipertensiva Especifica da Gestação: estudo com mulheres internadas em um serviço

PREVALÊNCIA DE SÍNDROME HIPERTENSIVA NA GESTAÇÃO E SUAS PRINCIPAIS

COMPLICAÇÕES EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SÃO LUÍS - MA.

Luzinéa de Maria Pastor Santos Frias1

Natany Sampaio Santos Dias2

Resumo Estudo descritivo, quantitativo que objetivou estimar a prevalência e complicações para mãe e feto das Síndromes Hipertensivas na Gestação, considerando seu impacto na mortalidade. Realizado entre agosto a dezembro de 2015 com 204 mulheres de hospital de referência de São Luís (MA). As mulheres tinham entre 25 a 34 anos, pardas, viviam em união estável, ensino médio completo e 54,41% sem remuneração. A prevalência da síndrome foi de 11% e as complicações: Eclampsia, (3,20%) óbitos neonatais (7,3%) prematuridade (27,94%) baixo peso (19%). É fundamental a Implementação de estratégias para monitoramento e prevenção das complicações. Palavras-chave: Prevalência. Síndrome Hipertensiva. Complicações na gravidez.

Abstract Descriptive, quantitative study aimed at estimating the prevalence and complications for mother and fetus of hypertensive syndromes during pregnancy, considering its impact on mortality. Made between August and December 2015 with 204 women from a reference hospital in São Luís (MA). The women were between 25 and 34 years old, brown, lived in a stable union, complete high school and 54.41% without remuneration. The prevalence of the syndrome was 11% and complications were: Eclampsia, (3.20%) neonatal deaths (7.3%), prematurity (27.94%), low birth weight (19%). It is fundamental to implement strategies for monitoring and prevention of complications. Keywords: Prevalence. Hypertensive Syndrome. Complications in pregnancy.

1 Doutora. Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail:

[email protected] 2 Enfermeira

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I. INTRODUÇÃO

As Síndromes Hipertensivas na Gestação (SHG) são um conjunto de entidades

(hipertensão crônica, pré-eclâmpsia/eclampsia, pré-eclâmpsia sobreposta à hipertensão

crônica e hipertensão gestacional) com algumas características diferenciadas, mas que tem

como substrato a hipertensão arterial (BRASIL, 2012). O tema é de fundamental

importância, em função dos agravos na saúde da mulher e seu filho, mas principalmente

pelo impacto na mortalidade de mães e crianças ao redor do mundo, principalmente em

países menos desenvolvidos.

Enquanto nos países desenvolvidos, a Síndrome Hipertensiva na Gestação

ocorre entre 2% e 8% das gestações, no Brasil, podem chegar a 30%, representando a

terceira causa de morte materna no mundo e a principal causa de morte materna no país

(SOUZA et al., 2010).

Na América Latina e Caribe, 95% das mortes maternas tiveram como causas

mais frequentes a hipertensão induzida pela gestação (26%), seguida pelas hemorragias

(21%), complicações do aborto em condições perigosas (13%), parto obstruído (12%),

sepse (8%) e outras causas diretas (15%) (OPAS/OMS, 2011).

O Brasil assumiu o compromisso proposto pela Organização Mundial de Saúde

no ano 2000 de reduzir a mortalidade materna (5º Objetivo do Milênio) para três quartos dos

valores de 1990 (140 mortes por 100 mil nascidos vivos), ou seja, 35 por 100 mil. Várias

iniciativas foram desenvolvidas no sentido de atingir essa e outras metas, como o

lançamento da Política de Humanização do Parto e Nascimento, ano 2000, a qual tinha

como uma das suas prioridades reduzir as taxas morbimortalidade maternas e neonatais, e

como a atual política, a estratégia Rede Cegonhas, em 2011, no entanto, o país não

consegui atingir a meta proposta (BRASIL, 2012).

Existem vários fatores que aumentam a chance de uma gestante ter hipertensão

arterial como: primiparidade, diabetes mellitus, gestação gemelar, história familiar de pré-

eclâmpsia e eclampsia, hipertensão arterial crônica, pré-eclâmpsia sobreposta em gestação

prévia, hidropsia fetal (não imune), gestação molar, nova paternidade (BRASIL, 2012).

A incidência bem como a prevalência das SHG, deve ser merecedora de

maiores investigações, tendo em vista a multiplicidade de fatores que podem predispor a

mulher gestante a desenvolver a doença.

Este estudo buscou estimar a prevalência e as complicações para a mulher e

feto das síndromes hipertensivas e fazer a relação entre alguns fatores sociodemográficos.

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Seguindo a esta introdução discutimos o método utilizado no trabalho, na

sequência detalhamos os resultados encontrados e a discussão com o aporte na literatura

pesquisada. Por último, apresentamos nossas considerações finais do trabalho.

II. METODOLOGIA

Pesquisa descritiva, com uma abordagem quantitativa, recorte da pesquisa

“Doença Hipertensiva Especifica da Gestação: estudo com mulheres internadas em um

serviço de referência de São Luís - MA”, do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Saúde da

Mulher – Nepesm, do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Maranhão.

O estudo foi realizado na Unidade Materno Infantil do Hospital Universitário da

Universidade Federal do Maranhão (HUUFMA), que é referência para o atendimento à

gestação de risco. A população estudada foram mulheres que estavam internadas nos

setores de Internação Obstétrica e Alojamento Conjunto, no período de agosto a dezembro

de 2015. O tamanho da amostra foi determinado pela média de internação por hipertensão

na gestação no primeiro semestre dos anos de 2013 e 2014, respectivamente, 135 e 129,

constando 204 mulheres internadas no período estudado. utilizando-se como instrumento

um formulário abrangendo aspectos sociodemográficos, antecedentes familiares, pessoais e

obstétricos, dados da gestação atual e da internação.

Os dados foram armazenados em um banco de dados do programa EpiInfo

versão 7.0, e exibidos em forma de gráficos e tabelas no programa Excel. A taxa de

prevalência foi estimada pelo cálculo do número de casos pelo número de mulheres

internadas

O estudo foi desenvolvido respeitando os aspectos éticos conferidos pela

Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). O estudo teve a aprovação do

Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário da UFMA com parecer Nº 1.150.467.

III. RESULTADOS

A prevalência da SHG encontrada no estudo foi de 11%. A idade das

entrevistadas variou entre 15 a 46 anos, sendo predominante entre 25 a 34 anos,

correspondendo a 50,96%. 58,82% eram pardas, e 48,04% viviam em união estável.

49,51% possuíam ensino médio completo. A renda familiar prevaleceu a de 1 a 2 salários

mínimos (43,63%), 54,41% das mulheres não exerciam nenhuma atividade com

remuneração, estando nesse grupo às donas de casa, estudantes e desempregadas e

50,98% eram naturais de São Luís – MA. 65,20% casos de hipertensão, 26,47% de pré-

eclâmpsia e 14,71% de eclampsia, 12,75% das mulheres apresentavam hipertensão anterior

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à gestação, quanto à paridade, 45,59% eram primíparas, 22,73% afirmaram ter apresentado

hipertensão na gestação anterior.

Das 204 mulheres que participaram do estudo, 16 receberam alta antes do

desfecho da gestação, não sendo possível avaliar o desfecho do parto e possíveis

complicações. Das 188 mulheres que permaneceram neste estudo, 39 % (n=74)

apresentaram alguma complicação materna e/ou fetal. Dentre as complicações maternas

apresentadas a eclampsia representou 6 casos (3, 20%), seguido da Síndrome HELLP com

5 casos (2,66%). No presente estudo tivemos um óbito materno e se observou um total de

188 nascimentos, destes, 5 eram gêmeos. Dos nascidos vivos 7,3% (14) evoluíram para

óbito, não sendo analisadas suas características perinatais. Em relação às condições

neonatais ao nascimento, verificou-se que dos 179 recém-nascidos vivos, 5 foram de

gestação gemelar, a prematuridade foi evidenciada em 27,94% (50) dos casos e o baixo

peso em 19%.

IV. DISCUSSÃO

A idade materna constitui um fator de risco para o surgimento da hipertensão na

gestação, porém, há controvérsias na literatura se a gravidez nos extremos do período

procriativo eleva os riscos das síndromes hipertensivas (NEME, 2006).

No presente estudo verificou-se que apesar da idade do grupo ter variado de 15

a 45 anos, houve menor incidência de hipertensão na gestação entre as mulheres maiores

de 40 anos (5,88%) seguidas das menores de 19 anos (10,78%), predominando a faixa

etária entre 25 a 34 anos, correspondendo a 50,96%. Resultado semelhante foi encontrado

em um estudo realizado com 204 mulheres internadas com hipertensão na gestação em

uma maternidade de Caruaru- PE onde, 31,9 % encontravam-se na mesma faixa etária.

Dessa forma, os dados evidenciam que o maior predomínio de casos de síndromes

hipertensivas na gestação (SHG) ocorreu na fase com maior probabilidade de engravidar e

não nos extremos da fase reprodutiva. Este fato, segundo Herculano (2010), pode ser

explicado por tal intervalo coincidir com o período reprodutivo da mulher. Ainda

corroborando com esse achado, um estudo realizado no Recôncavo Baiano com a análise

de 175 prontuários verificou que a maioria das pacientes encontrava-se na faixa etária entre

20 e 34 anos (73,1%), seguida daquelas com idade igual ou superior a 35 anos (16%) e,

com percentuais mais baixos, aquelas com idade igual ou inferior a 19 anos (10,9%). Em

contrapartida, um estudo realizado no Rio de Janeiro, afirmou que o número de casos de

mulheres com hipertensão na gestação foi maior naquelas que se encontravam com idade

superior a 35 anos (VETTORE et al., 2011). Neste grupo, o risco aumentado está

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relacionado com a incidência de hipertensão crônica que aumenta com o passar dos anos e

é possível que o comprometimento vascular inerente à idade torne algumas pacientes mais

suscetíveis às síndromes hipertensivas específicas da gestação (CHAN; LAO, 2008).

Quanto a variável raça/cor, a cor da pele foi auto referida, e a maior parte das

mulheres se declararam como pardas/mulatas/morenas representando 58,82% da

população estudada, seguida das pretas com 25,49%. Este resultado é semelhante ao

estudo realizado na região Sudeste do Brasil, onde de um total de 10154 mulheres 50,04%

se declararam pardas (QUEIROZ, 2014). A população em questão reside em uma região

marcada fortemente pela miscigenação racial, havendo prevalência das raças pardas e

negras. Alguns estudos fazem referências a maior incidência de pré eclampsia (PE) entre

mulheres afro descendentes (NEME, 2006).

No que tange a situação conjugal, verificou-se que 48,04% das parturientes com

SHG encontrava-se em união consensual, sem vínculo formal e 28,43% eram casadas.

Estudos realizados anteriormente afirmam que existe uma relação entre o estado marital e a

forma como a mulher cuida da sua saúde durante a gestação, sendo mais frequentes as

complicações da gestação entre as solteiras (GRADIM et al., 2010). Sabe-se ainda que,

dentre as teorias que procuram explicar os mecanismos que desencadeiam a hipertensão

na gestação, encontra-se a teoria imunológica, na qual a gestação com parceiros diferentes

podem promover a exposição da mulher aos antígenos fetais provenientes de outros

parceiros, predispondo assim, um maior índice de acometimento das SHG nas mulheres

sem parceiro estável (FERRAZ, 2006). A convivência com o companheiro pode consistir em

apoio a essas gestantes, interferindo positivamente em seu estado físico, psíquico e social

durante a gestação (GRADIM et al., 2010) e, consequentemente, contribuindo para

melhores desfechos.

Quanto ao grau de escolaridade observou-se que 49,51% possuíam ensino

médio completo, sabe-se que quanto maior é o nível intelectual maiores serão as chances

do acompanhamento pré-natal, que é importante para o controle dessa patologia. Fato

semelhante foi observado em um estudo realizado em Belém- PA, com uma amostra

composta por 200 puérperas, destas 55,3 % possuíam ensino médio completo (DIAS et al.,

2016). Resultado diferente foi encontrado em um estudo realizado no hospital universitário

do Rio de Janeiro onde 46,7% das gestantes não concluíram o ensino médio, indicando que

a baixa escolaridade é um fator que dificulta o ingresso das mulheres às informações e ao

conhecimento, podendo interferir negativamente nas condições para o autocuidado, pois

implica tanto em assimilar as informações recebidas sobre os cuidados com a saúde quanto

na facilidade em buscar esses cuidados (SPINDOLA et al., 2013). Neste sentido, o

Ministério da Saúde adverte que a baixa escolaridade, inferior a cinco anos de estudos, se

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enquadra num fator de risco para a gravidez atual (BRASIL, 2006). No presente estudo, as

mulheres apresentaram um nível de escolaridade elevado, o que pode ter contribuído para

um melhor desfecho das gestações, mesmo que algumas destas tenham apresentado

algumas complicações.

Sobre a renda familiar, encontramos uma predominância de 1-2 salários

mínimos, correspondendo a 43,63%. A baixa renda pode levar a uma dificuldade maior no

acesso aos meios de subsistência adequado, dificultando a procura de uma assistência por

um serviço de saúde de melhor qualidade e podendo interferir no acesso e uso de

medicamentos que podem suprir as necessidades de saúde. Estas informações são

importantes, inclusive na análise das condições de vida, bem como para a tomada de

decisões políticas em relação à saúde da população. Este mesmo resultado também foi

mostrado em um estudo transversal realizado em uma maternidade de referência terciária

em Fortaleza - CE com 40 gestantes onde, 75% delas possuíam baixa renda familiar, o que

pode ocasionar condições nutricionais deficientes e estresse relacionado às necessidades

básicas não atendidas, conjugando aspectos que concorrem para os distúrbios

hipertensivos (MOURA et al., 2010).

Acerca dos dados referentes à ocupação, 54,41% das mulheres não exerciam

nenhuma atividade com remuneração, estando nesse grupo as estudantes, donas de casa e

desempregadas. Não exercer uma atividade remunerada pode parecer ser menos

estressante do que ter dupla jornada de trabalho e assim, menor risco de pré-eclâmpsia.

Porém, destacamos que essa condição poderá, por outro lado, contribuir para a redução da

renda familiar, com o estresse relacionado ao desemprego e a difícil inserção no mercado

de trabalho e, igualmente, contribuir para distúrbios hipertensivos na gestação. Um estudo

com 230 mulheres realizado em Fortaleza apontou que mais da metade da população

estudada (69,70%) também não exercia uma atividade com remuneração (HERCULANO,

2010).

O antecedente familiar de hipertensão crônica foi confirmado em 65,20% das

gestantes e 26,47% relataram a ocorrência de pré-eclâmpsia. Fato semelhante foi

encontrado em um estudo realizado em Fortaleza – CE, onde, o antecedente familiar de

hipertensão foi confirmado em 62,5% das gestantes (MOURA et al., 2010). Alguns trabalhos

mostram alta incidência de Pré Eclampsia (PE) entre familiares. O antecedente da patologia

na mãe e/ou irmã parece exercer forte influência no desenvolvimento da mesma. Mulheres

provenientes de gestações complicadas por PE têm elevado risco de desenvolverem a

patologia em suas próprias gestações (AMARAL; PERAÇOLI, 2011). No histórico de uma

gestante, a atenção deve estar voltada para a ocorrência de hipertensão arterial em

familiares, pois a incidência de SHG na primeira gestação viável está em torno de 5% na

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população geral, 22% nas filhas e 38% nas irmãs de mulheres que tiveram a doença

(MOURA et al., 2010).

Segundo Neme (2006) a primigesta tem seis a oito vezes mais susceptibilidade

de apresentar SHG do que a multípara e este fato foi confirmado neste estudo, pois das 204

gestantes com SHG, 54,90% eram primigestas. Resultados semelhantes foram encontrados

em um estudo no estado Paranaense onde ao avaliar a paridade observou-se que em

45,7% dos casos tratava-se da primeira gestação (TONIN et al., 2013). Acredita-se que a

hipertensão na gravidez teria origem em uma resposta imune materna anormal, sendo,

portanto, um estado de desequilíbrio entre a quantidade de anticorpos bloqueadores

maternos e o de antígenos fetais (FEBRASGO, 2006).

Na primigesta, pelo fato do organismo materno entrar em contato pela primeira

vez com os antígenos fetais, estariam exacerbadas as reações imunológicas resultante de

uma baixa produção de anticorpos bloqueadores. Desta forma a primeira gravidez seria um

fator predisponente para hipertensão (FERRAZ et al., 2006).

A própria hipertensão é considerada como fator de risco para desenvolvimento

de PE superposta. A HAS acomete em torno de 5% das gestações. A taxa de pré-eclâmpsia

sobreposta em pacientes hipertensas crônicas é 15 a 25% (MORAIS et al., 2013). Neste

estudo foi evidenciado que 12,71% das gestantes eram previamente hipertensas. Estudos

afirmam que as pacientes com HAS têm 70% de chance de uma hipertensão arterial crônica

superposta por pré-eclâmpsia (NEME, 2006). Em um estudo realizado com 120 mulheres

atendidas na maternidade do hospital Materno Infantil de Belém - PA demonstrou que 81,4%

das mesmas possuíam HAS (DIAS et al., 2015).

Em nosso estudo, das 188 mulheres que tiveram o desfecho da gestação

durante o período de realização da pesquisa, 39, 54% apresentaram complicações, tanto

maternas quanto fetais. Segundo o Ministério da Saúde (2012), a maior causa de morbidade

e mortalidade materna e fetal são as complicações hipertensivas na gravidez, que ocorrem

em cerca de 10% de todas as gestações, sendo mais comuns em mulheres nulíparas,

mulheres com hipertensão há 04 anos, história de hipertensão em gravidez prévia e de

doença renal, ou mulheres com história familiar de pré-eclâmpsia.

Em relação à morbidade materna, Morse et al, (2011) avaliaram, entre junho e

outubro de 2009, pacientes com critérios near miss ou morbidade materna grave. Os

autores verificaram que 70% das mulheres identificadas no estudo apresentaram pré

eclâmpsia grave, síndrome HELLP e eclâmpsia.

As principais complicações maternas encontradas em nosso estudo foram:

eclampsia, síndrome HELLP e óbito materno.

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A eclampsia ocorreu em 3, 20 % (6) das pacientes, estas tinham idade entre 19

e 42 anos, 83,33% de cor parda e 50% (3) dos Rns dessas pacientes evoluíram para óbito.

A eclampsia é caracterizada por uma crise convulsiva tônico-clônica generalizada e está

entre as manifestações mais graves da doença. Muitas vezes é precedida por eventos

premonitórios, tais como, cefaleia frontal/occipital, torpor, obnubilação e alterações do

comportamento; alterações visuais evidenciados através de escotomas, visão embaçada e

até amaurose; além dos distúrbios gástricos como náuseas, vômitos e dor no hipocôndrio

direito ou na região epigástrica, mas pode ocorrer na ausência de sinais ou sintomas

(BRASIL, 2010). Em um estudo realizado por Brito et al(2015) ocorreram 2 (1,2%) casos de

eclâmpsia . Resultado semelhante foi encontrado em um estudo realizado em um hospital

municipal de fortaleza com 132 puérperas onde verificou-se que 1,5% das mesmas

desenvolveram eclâmpsia (LACERDA et al., 2011). Nossa pesquisa apresentou resultados

superiores aos encontrados nos estudos citados.

Com relação à síndrome HELLP esta ocorreu em 2,66% das pacientes, esse

resultado mostra-se de acordo com o demonstrado na literatura, que afirma que a incidência

da síndrome HELLP varia de 2 a 12% e é alta em virtude do retardo no seu diagnóstico e na

resolução do parto (SILVA,TIAGO,OLIVEIRA, 2012). Por não ser uma patologia com

manifestações clínicas comuns à gestação, muitos profissionais de saúde não reconhecem

as suas características clínicas de imediato, muitas vezes retardando a intervenção e

agravando o quadro clínico-obstétrico e algumas gestantes desenvolvem apenas uma ou

duas das características da Síndrome ( LOPES et al., 2013). Resultado semelhante a nossa

pesquisa foi encontrado por Brito et al(2015) onde 2,4% das gestantes estudadas

desenvolveram a síndrome. Um estudo desenvolvido na maternidade pública de Patos com

gestantes internadas na UTI constatou que dos prontuários analisados, a prevalência da

Síndrome HELLP foi de 5% num universo de 40 pacientes. Um estudo realizado por França

(2010), envolvendo uma amostra composta por 741 gestantes com SHG, constatou que 18

destas desenvolveram a Síndrome HELLP, o que representou um percentual de 2,42%.

Ao analisarmos algumas características apresentadas por essas gestantes

destaca-se o fato de que 80% das gestantes necessitaram de uma UTI. A chance de uma

mulher durante o ciclo gravídico-puerperal ser admitida em uma unidade de terapia intensiva

(UTI) é bem maior do que a de uma mulher jovem não-grávida. Estima-se que 0,1 % a 0,9%

das gestantes desenvolvem complicações, requerendo hospitalização em unidades de

suporte avançado (TONIN et al., 2013). Chama atenção também o fato de que 100% dos

RNs dessas gestantes evoluíram para óbito. A hipertensão arterial na gravidez está

associada com desfechos perinatais desfavoráveis, especialmente nos casos mais graves

como os de síndrome HELLP.

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Em nosso estudo houve um caso de óbito materno em decorrência de SHG. Em

um estudo realizado no hospital universitário no Oeste paranaense de um total de 40

internações na unidade de terapia intensiva 50 % foram em decorrência de síndromes

hipertensivas na gravidez, dentre essas mulheres 7 (20%) evoluíram para óbito e dentre as

causas desses 28, 6% (2) em decorrência da hipertensão. Outro estudo, com o objetivo de

analisar os óbitos maternos ocorridos em uma Maternidade Pública de Fortaleza-CE e

identificar a existência de associações entre o momento do óbito e as causas do óbito,

demonstrou que s causas mais evidenciadas foram: síndrome hipertensiva (27; 28,1%);

infecção (17; 17,7%); e hemorragia (16;16,7%) (HERCULANO et al., 2012).

As SHG podem afetar as condições do nascimento do feto no que diz respeito

ao peso, prematuridade, índice de apgar, vitalidade fetal e complicações associada à

hipertensão na gravidez.

As síndromes hipertensivas também apresentam elevada taxa de mortalidade

perinatal, oscilando entre 5% e 20%, devido principalmente à insuficiência uteroplacentária,

que ocasiona restrição de crescimento intra-útero (RCIU) as complicações secundárias a

prematuridade (SOUZA et al., 2010).

No que concerne aos dados da mortalidade perinatal decorrente de

complicações da SHG, em nosso estudo 7, 3% (14 )evoluíram para óbito, valor elevado se

comparado a um estudo realizado em João Pessoa - PB onde foram encontrados 7 (4,1%)

óbitos neonatais e o mesmo percentual referente a óbitos fetais intrauterinos (BRITO et al.,

2015) e Chaim (2008) que encontrou em seu estudo 0,8% de óbito neonatal precoce.

Segundo um estudo realizado por Neme (2006), a mortalidade perinatal, em relação às

síndromes hipertensivas, foi distribuída da seguinte forma: eclâmpsia 16%, hipertensão

sobreposta 15%, pré-eclâmpsia 5%, hipertensão crônica 0,3% das mortes perinatais. Esses

achados ratificam os resultados encontrados nesta pesquisa.

A prematuridade constitui ainda em nossos dias, uma das complicações mais

frequentes da SHG, com possibilidades de sequelas imediatas ou tardias decorrente, quer

de um trabalho de parto espontâneo, em razão da contratilidade uterina aumentada ou,

comumente, da conduta obstétrica de interrupção da gravidez, quando o quadro clínico se

agrava e há comprometimento das condições maternas ou fetais (COELHO et al., 2012).

Em relação à prematuridade, em nosso estudo verificamos que 27,94% dos RNs

nasceram pré-termo. Em um estudo realizado por Brito et al(2015) encontramos um número

bem maior, 80 (47,1%) das parturientes estavam com idade gestacional menor que 37

semanas (Pré- termo). Resultado semelhante a nossa pesquisa foi encontrado em um

estudo realizado em Belém/PA onde a idade gestacional dos bebês mais frequente foi a

termo (52,2%), seguido pelos que nasceram prematuros (27,3%) (DIAS et al., 2016), ao

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passo que um número bem mais elevado foi encontrado por Tonin (2013) em uma UTI do

Oeste Paranaense, com uma incidência de 77,2% de partos prematuros. Apesar do

resultado que encontramos, a maior parte dos nascimentos foi de RNs a termo 121

(67,59%), esse fato pode ser explicado pela qualidade da assistência prestada durante o pré

natal e principalmente devido ao acompanhamento no Hospital Universitário que possibilitou

a manutenção da gravidez até o momento adequado ao parto.

Outra complicação relacionada fatores a determinar a probabilidade de

sobreviver ao período neonatal e mesmo a todo o restante do primeiro ano de vida. O peso

ao nascer é uma medida muito usada para avaliar as condições de nascimento da criança,

dentre vários fatores, pode ser uma consequência do retardo do crescimento fetal, uma

condição na qual a circulação uteroplacentária é insuficiente para a nutrição fetal em

decorrência da diminuição da perfusão placentária, hipóxia e formação de um ambiente com

baixa tensão de oxigênio, alterando o desenvolvimento fetal (NEME, 2006).

V. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A síndrome hipertensiva na gestação pode levar a danos severos e irreparáveis

para mãe e filho, portanto, toda a rede de atenção à saúde da mulher deve estar aparelhada

para acolher, cuidar e tratar a mulher para que o resultado da sua gestação seja um parto e

um recém-nascido nas melhores condições possíveis.

É necessário que toda a equipe que presta atendimento à gestante, esteja

atenta para aquelas que demonstram maiores riscos de desenvolver a SHG e suas

complicações, realizando diagnósticos precocemente e fazendo as intervenções que se

fizerem necessárias. Para isso, o sistema de saúde precisa estar equipado, aparelhado.

Percebemos durante este estudo a necessidade de uma melhoria na assistência

à mulher, durante o período gravídico puerperal, seja no acolhimento da mesma, na

detecção e tratamento das patologias que podem surgir neste período, como as SHG.

É necessário que haja um monitoramento e prevenção das complicações maternas e fetais

decorrentes dos processos patológicos instalados neste período. Portanto faz-se necessária

uma mudança substancial dos serviços públicos prestados às gestantes criando-se

estratégias que podem melhorar os serviços de atendimento à gestante durante o pré-natal

e parto.

REFERÊNCIAS

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