luzinéa de maria pastor santos frias natany sampaio santos dias · 2017-10-05 · “doença...
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PREVALÊNCIA DE SÍNDROME HIPERTENSIVA NA GESTAÇÃO E SUAS PRINCIPAIS
COMPLICAÇÕES EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SÃO LUÍS - MA.
Luzinéa de Maria Pastor Santos Frias1
Natany Sampaio Santos Dias2
Resumo Estudo descritivo, quantitativo que objetivou estimar a prevalência e complicações para mãe e feto das Síndromes Hipertensivas na Gestação, considerando seu impacto na mortalidade. Realizado entre agosto a dezembro de 2015 com 204 mulheres de hospital de referência de São Luís (MA). As mulheres tinham entre 25 a 34 anos, pardas, viviam em união estável, ensino médio completo e 54,41% sem remuneração. A prevalência da síndrome foi de 11% e as complicações: Eclampsia, (3,20%) óbitos neonatais (7,3%) prematuridade (27,94%) baixo peso (19%). É fundamental a Implementação de estratégias para monitoramento e prevenção das complicações. Palavras-chave: Prevalência. Síndrome Hipertensiva. Complicações na gravidez.
Abstract Descriptive, quantitative study aimed at estimating the prevalence and complications for mother and fetus of hypertensive syndromes during pregnancy, considering its impact on mortality. Made between August and December 2015 with 204 women from a reference hospital in São Luís (MA). The women were between 25 and 34 years old, brown, lived in a stable union, complete high school and 54.41% without remuneration. The prevalence of the syndrome was 11% and complications were: Eclampsia, (3.20%) neonatal deaths (7.3%), prematurity (27.94%), low birth weight (19%). It is fundamental to implement strategies for monitoring and prevention of complications. Keywords: Prevalence. Hypertensive Syndrome. Complications in pregnancy.
1 Doutora. Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail:
[email protected] 2 Enfermeira
I. INTRODUÇÃO
As Síndromes Hipertensivas na Gestação (SHG) são um conjunto de entidades
(hipertensão crônica, pré-eclâmpsia/eclampsia, pré-eclâmpsia sobreposta à hipertensão
crônica e hipertensão gestacional) com algumas características diferenciadas, mas que tem
como substrato a hipertensão arterial (BRASIL, 2012). O tema é de fundamental
importância, em função dos agravos na saúde da mulher e seu filho, mas principalmente
pelo impacto na mortalidade de mães e crianças ao redor do mundo, principalmente em
países menos desenvolvidos.
Enquanto nos países desenvolvidos, a Síndrome Hipertensiva na Gestação
ocorre entre 2% e 8% das gestações, no Brasil, podem chegar a 30%, representando a
terceira causa de morte materna no mundo e a principal causa de morte materna no país
(SOUZA et al., 2010).
Na América Latina e Caribe, 95% das mortes maternas tiveram como causas
mais frequentes a hipertensão induzida pela gestação (26%), seguida pelas hemorragias
(21%), complicações do aborto em condições perigosas (13%), parto obstruído (12%),
sepse (8%) e outras causas diretas (15%) (OPAS/OMS, 2011).
O Brasil assumiu o compromisso proposto pela Organização Mundial de Saúde
no ano 2000 de reduzir a mortalidade materna (5º Objetivo do Milênio) para três quartos dos
valores de 1990 (140 mortes por 100 mil nascidos vivos), ou seja, 35 por 100 mil. Várias
iniciativas foram desenvolvidas no sentido de atingir essa e outras metas, como o
lançamento da Política de Humanização do Parto e Nascimento, ano 2000, a qual tinha
como uma das suas prioridades reduzir as taxas morbimortalidade maternas e neonatais, e
como a atual política, a estratégia Rede Cegonhas, em 2011, no entanto, o país não
consegui atingir a meta proposta (BRASIL, 2012).
Existem vários fatores que aumentam a chance de uma gestante ter hipertensão
arterial como: primiparidade, diabetes mellitus, gestação gemelar, história familiar de pré-
eclâmpsia e eclampsia, hipertensão arterial crônica, pré-eclâmpsia sobreposta em gestação
prévia, hidropsia fetal (não imune), gestação molar, nova paternidade (BRASIL, 2012).
A incidência bem como a prevalência das SHG, deve ser merecedora de
maiores investigações, tendo em vista a multiplicidade de fatores que podem predispor a
mulher gestante a desenvolver a doença.
Este estudo buscou estimar a prevalência e as complicações para a mulher e
feto das síndromes hipertensivas e fazer a relação entre alguns fatores sociodemográficos.
Seguindo a esta introdução discutimos o método utilizado no trabalho, na
sequência detalhamos os resultados encontrados e a discussão com o aporte na literatura
pesquisada. Por último, apresentamos nossas considerações finais do trabalho.
II. METODOLOGIA
Pesquisa descritiva, com uma abordagem quantitativa, recorte da pesquisa
“Doença Hipertensiva Especifica da Gestação: estudo com mulheres internadas em um
serviço de referência de São Luís - MA”, do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Saúde da
Mulher – Nepesm, do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Maranhão.
O estudo foi realizado na Unidade Materno Infantil do Hospital Universitário da
Universidade Federal do Maranhão (HUUFMA), que é referência para o atendimento à
gestação de risco. A população estudada foram mulheres que estavam internadas nos
setores de Internação Obstétrica e Alojamento Conjunto, no período de agosto a dezembro
de 2015. O tamanho da amostra foi determinado pela média de internação por hipertensão
na gestação no primeiro semestre dos anos de 2013 e 2014, respectivamente, 135 e 129,
constando 204 mulheres internadas no período estudado. utilizando-se como instrumento
um formulário abrangendo aspectos sociodemográficos, antecedentes familiares, pessoais e
obstétricos, dados da gestação atual e da internação.
Os dados foram armazenados em um banco de dados do programa EpiInfo
versão 7.0, e exibidos em forma de gráficos e tabelas no programa Excel. A taxa de
prevalência foi estimada pelo cálculo do número de casos pelo número de mulheres
internadas
O estudo foi desenvolvido respeitando os aspectos éticos conferidos pela
Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). O estudo teve a aprovação do
Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário da UFMA com parecer Nº 1.150.467.
III. RESULTADOS
A prevalência da SHG encontrada no estudo foi de 11%. A idade das
entrevistadas variou entre 15 a 46 anos, sendo predominante entre 25 a 34 anos,
correspondendo a 50,96%. 58,82% eram pardas, e 48,04% viviam em união estável.
49,51% possuíam ensino médio completo. A renda familiar prevaleceu a de 1 a 2 salários
mínimos (43,63%), 54,41% das mulheres não exerciam nenhuma atividade com
remuneração, estando nesse grupo às donas de casa, estudantes e desempregadas e
50,98% eram naturais de São Luís – MA. 65,20% casos de hipertensão, 26,47% de pré-
eclâmpsia e 14,71% de eclampsia, 12,75% das mulheres apresentavam hipertensão anterior
à gestação, quanto à paridade, 45,59% eram primíparas, 22,73% afirmaram ter apresentado
hipertensão na gestação anterior.
Das 204 mulheres que participaram do estudo, 16 receberam alta antes do
desfecho da gestação, não sendo possível avaliar o desfecho do parto e possíveis
complicações. Das 188 mulheres que permaneceram neste estudo, 39 % (n=74)
apresentaram alguma complicação materna e/ou fetal. Dentre as complicações maternas
apresentadas a eclampsia representou 6 casos (3, 20%), seguido da Síndrome HELLP com
5 casos (2,66%). No presente estudo tivemos um óbito materno e se observou um total de
188 nascimentos, destes, 5 eram gêmeos. Dos nascidos vivos 7,3% (14) evoluíram para
óbito, não sendo analisadas suas características perinatais. Em relação às condições
neonatais ao nascimento, verificou-se que dos 179 recém-nascidos vivos, 5 foram de
gestação gemelar, a prematuridade foi evidenciada em 27,94% (50) dos casos e o baixo
peso em 19%.
IV. DISCUSSÃO
A idade materna constitui um fator de risco para o surgimento da hipertensão na
gestação, porém, há controvérsias na literatura se a gravidez nos extremos do período
procriativo eleva os riscos das síndromes hipertensivas (NEME, 2006).
No presente estudo verificou-se que apesar da idade do grupo ter variado de 15
a 45 anos, houve menor incidência de hipertensão na gestação entre as mulheres maiores
de 40 anos (5,88%) seguidas das menores de 19 anos (10,78%), predominando a faixa
etária entre 25 a 34 anos, correspondendo a 50,96%. Resultado semelhante foi encontrado
em um estudo realizado com 204 mulheres internadas com hipertensão na gestação em
uma maternidade de Caruaru- PE onde, 31,9 % encontravam-se na mesma faixa etária.
Dessa forma, os dados evidenciam que o maior predomínio de casos de síndromes
hipertensivas na gestação (SHG) ocorreu na fase com maior probabilidade de engravidar e
não nos extremos da fase reprodutiva. Este fato, segundo Herculano (2010), pode ser
explicado por tal intervalo coincidir com o período reprodutivo da mulher. Ainda
corroborando com esse achado, um estudo realizado no Recôncavo Baiano com a análise
de 175 prontuários verificou que a maioria das pacientes encontrava-se na faixa etária entre
20 e 34 anos (73,1%), seguida daquelas com idade igual ou superior a 35 anos (16%) e,
com percentuais mais baixos, aquelas com idade igual ou inferior a 19 anos (10,9%). Em
contrapartida, um estudo realizado no Rio de Janeiro, afirmou que o número de casos de
mulheres com hipertensão na gestação foi maior naquelas que se encontravam com idade
superior a 35 anos (VETTORE et al., 2011). Neste grupo, o risco aumentado está
relacionado com a incidência de hipertensão crônica que aumenta com o passar dos anos e
é possível que o comprometimento vascular inerente à idade torne algumas pacientes mais
suscetíveis às síndromes hipertensivas específicas da gestação (CHAN; LAO, 2008).
Quanto a variável raça/cor, a cor da pele foi auto referida, e a maior parte das
mulheres se declararam como pardas/mulatas/morenas representando 58,82% da
população estudada, seguida das pretas com 25,49%. Este resultado é semelhante ao
estudo realizado na região Sudeste do Brasil, onde de um total de 10154 mulheres 50,04%
se declararam pardas (QUEIROZ, 2014). A população em questão reside em uma região
marcada fortemente pela miscigenação racial, havendo prevalência das raças pardas e
negras. Alguns estudos fazem referências a maior incidência de pré eclampsia (PE) entre
mulheres afro descendentes (NEME, 2006).
No que tange a situação conjugal, verificou-se que 48,04% das parturientes com
SHG encontrava-se em união consensual, sem vínculo formal e 28,43% eram casadas.
Estudos realizados anteriormente afirmam que existe uma relação entre o estado marital e a
forma como a mulher cuida da sua saúde durante a gestação, sendo mais frequentes as
complicações da gestação entre as solteiras (GRADIM et al., 2010). Sabe-se ainda que,
dentre as teorias que procuram explicar os mecanismos que desencadeiam a hipertensão
na gestação, encontra-se a teoria imunológica, na qual a gestação com parceiros diferentes
podem promover a exposição da mulher aos antígenos fetais provenientes de outros
parceiros, predispondo assim, um maior índice de acometimento das SHG nas mulheres
sem parceiro estável (FERRAZ, 2006). A convivência com o companheiro pode consistir em
apoio a essas gestantes, interferindo positivamente em seu estado físico, psíquico e social
durante a gestação (GRADIM et al., 2010) e, consequentemente, contribuindo para
melhores desfechos.
Quanto ao grau de escolaridade observou-se que 49,51% possuíam ensino
médio completo, sabe-se que quanto maior é o nível intelectual maiores serão as chances
do acompanhamento pré-natal, que é importante para o controle dessa patologia. Fato
semelhante foi observado em um estudo realizado em Belém- PA, com uma amostra
composta por 200 puérperas, destas 55,3 % possuíam ensino médio completo (DIAS et al.,
2016). Resultado diferente foi encontrado em um estudo realizado no hospital universitário
do Rio de Janeiro onde 46,7% das gestantes não concluíram o ensino médio, indicando que
a baixa escolaridade é um fator que dificulta o ingresso das mulheres às informações e ao
conhecimento, podendo interferir negativamente nas condições para o autocuidado, pois
implica tanto em assimilar as informações recebidas sobre os cuidados com a saúde quanto
na facilidade em buscar esses cuidados (SPINDOLA et al., 2013). Neste sentido, o
Ministério da Saúde adverte que a baixa escolaridade, inferior a cinco anos de estudos, se
enquadra num fator de risco para a gravidez atual (BRASIL, 2006). No presente estudo, as
mulheres apresentaram um nível de escolaridade elevado, o que pode ter contribuído para
um melhor desfecho das gestações, mesmo que algumas destas tenham apresentado
algumas complicações.
Sobre a renda familiar, encontramos uma predominância de 1-2 salários
mínimos, correspondendo a 43,63%. A baixa renda pode levar a uma dificuldade maior no
acesso aos meios de subsistência adequado, dificultando a procura de uma assistência por
um serviço de saúde de melhor qualidade e podendo interferir no acesso e uso de
medicamentos que podem suprir as necessidades de saúde. Estas informações são
importantes, inclusive na análise das condições de vida, bem como para a tomada de
decisões políticas em relação à saúde da população. Este mesmo resultado também foi
mostrado em um estudo transversal realizado em uma maternidade de referência terciária
em Fortaleza - CE com 40 gestantes onde, 75% delas possuíam baixa renda familiar, o que
pode ocasionar condições nutricionais deficientes e estresse relacionado às necessidades
básicas não atendidas, conjugando aspectos que concorrem para os distúrbios
hipertensivos (MOURA et al., 2010).
Acerca dos dados referentes à ocupação, 54,41% das mulheres não exerciam
nenhuma atividade com remuneração, estando nesse grupo as estudantes, donas de casa e
desempregadas. Não exercer uma atividade remunerada pode parecer ser menos
estressante do que ter dupla jornada de trabalho e assim, menor risco de pré-eclâmpsia.
Porém, destacamos que essa condição poderá, por outro lado, contribuir para a redução da
renda familiar, com o estresse relacionado ao desemprego e a difícil inserção no mercado
de trabalho e, igualmente, contribuir para distúrbios hipertensivos na gestação. Um estudo
com 230 mulheres realizado em Fortaleza apontou que mais da metade da população
estudada (69,70%) também não exercia uma atividade com remuneração (HERCULANO,
2010).
O antecedente familiar de hipertensão crônica foi confirmado em 65,20% das
gestantes e 26,47% relataram a ocorrência de pré-eclâmpsia. Fato semelhante foi
encontrado em um estudo realizado em Fortaleza – CE, onde, o antecedente familiar de
hipertensão foi confirmado em 62,5% das gestantes (MOURA et al., 2010). Alguns trabalhos
mostram alta incidência de Pré Eclampsia (PE) entre familiares. O antecedente da patologia
na mãe e/ou irmã parece exercer forte influência no desenvolvimento da mesma. Mulheres
provenientes de gestações complicadas por PE têm elevado risco de desenvolverem a
patologia em suas próprias gestações (AMARAL; PERAÇOLI, 2011). No histórico de uma
gestante, a atenção deve estar voltada para a ocorrência de hipertensão arterial em
familiares, pois a incidência de SHG na primeira gestação viável está em torno de 5% na
população geral, 22% nas filhas e 38% nas irmãs de mulheres que tiveram a doença
(MOURA et al., 2010).
Segundo Neme (2006) a primigesta tem seis a oito vezes mais susceptibilidade
de apresentar SHG do que a multípara e este fato foi confirmado neste estudo, pois das 204
gestantes com SHG, 54,90% eram primigestas. Resultados semelhantes foram encontrados
em um estudo no estado Paranaense onde ao avaliar a paridade observou-se que em
45,7% dos casos tratava-se da primeira gestação (TONIN et al., 2013). Acredita-se que a
hipertensão na gravidez teria origem em uma resposta imune materna anormal, sendo,
portanto, um estado de desequilíbrio entre a quantidade de anticorpos bloqueadores
maternos e o de antígenos fetais (FEBRASGO, 2006).
Na primigesta, pelo fato do organismo materno entrar em contato pela primeira
vez com os antígenos fetais, estariam exacerbadas as reações imunológicas resultante de
uma baixa produção de anticorpos bloqueadores. Desta forma a primeira gravidez seria um
fator predisponente para hipertensão (FERRAZ et al., 2006).
A própria hipertensão é considerada como fator de risco para desenvolvimento
de PE superposta. A HAS acomete em torno de 5% das gestações. A taxa de pré-eclâmpsia
sobreposta em pacientes hipertensas crônicas é 15 a 25% (MORAIS et al., 2013). Neste
estudo foi evidenciado que 12,71% das gestantes eram previamente hipertensas. Estudos
afirmam que as pacientes com HAS têm 70% de chance de uma hipertensão arterial crônica
superposta por pré-eclâmpsia (NEME, 2006). Em um estudo realizado com 120 mulheres
atendidas na maternidade do hospital Materno Infantil de Belém - PA demonstrou que 81,4%
das mesmas possuíam HAS (DIAS et al., 2015).
Em nosso estudo, das 188 mulheres que tiveram o desfecho da gestação
durante o período de realização da pesquisa, 39, 54% apresentaram complicações, tanto
maternas quanto fetais. Segundo o Ministério da Saúde (2012), a maior causa de morbidade
e mortalidade materna e fetal são as complicações hipertensivas na gravidez, que ocorrem
em cerca de 10% de todas as gestações, sendo mais comuns em mulheres nulíparas,
mulheres com hipertensão há 04 anos, história de hipertensão em gravidez prévia e de
doença renal, ou mulheres com história familiar de pré-eclâmpsia.
Em relação à morbidade materna, Morse et al, (2011) avaliaram, entre junho e
outubro de 2009, pacientes com critérios near miss ou morbidade materna grave. Os
autores verificaram que 70% das mulheres identificadas no estudo apresentaram pré
eclâmpsia grave, síndrome HELLP e eclâmpsia.
As principais complicações maternas encontradas em nosso estudo foram:
eclampsia, síndrome HELLP e óbito materno.
A eclampsia ocorreu em 3, 20 % (6) das pacientes, estas tinham idade entre 19
e 42 anos, 83,33% de cor parda e 50% (3) dos Rns dessas pacientes evoluíram para óbito.
A eclampsia é caracterizada por uma crise convulsiva tônico-clônica generalizada e está
entre as manifestações mais graves da doença. Muitas vezes é precedida por eventos
premonitórios, tais como, cefaleia frontal/occipital, torpor, obnubilação e alterações do
comportamento; alterações visuais evidenciados através de escotomas, visão embaçada e
até amaurose; além dos distúrbios gástricos como náuseas, vômitos e dor no hipocôndrio
direito ou na região epigástrica, mas pode ocorrer na ausência de sinais ou sintomas
(BRASIL, 2010). Em um estudo realizado por Brito et al(2015) ocorreram 2 (1,2%) casos de
eclâmpsia . Resultado semelhante foi encontrado em um estudo realizado em um hospital
municipal de fortaleza com 132 puérperas onde verificou-se que 1,5% das mesmas
desenvolveram eclâmpsia (LACERDA et al., 2011). Nossa pesquisa apresentou resultados
superiores aos encontrados nos estudos citados.
Com relação à síndrome HELLP esta ocorreu em 2,66% das pacientes, esse
resultado mostra-se de acordo com o demonstrado na literatura, que afirma que a incidência
da síndrome HELLP varia de 2 a 12% e é alta em virtude do retardo no seu diagnóstico e na
resolução do parto (SILVA,TIAGO,OLIVEIRA, 2012). Por não ser uma patologia com
manifestações clínicas comuns à gestação, muitos profissionais de saúde não reconhecem
as suas características clínicas de imediato, muitas vezes retardando a intervenção e
agravando o quadro clínico-obstétrico e algumas gestantes desenvolvem apenas uma ou
duas das características da Síndrome ( LOPES et al., 2013). Resultado semelhante a nossa
pesquisa foi encontrado por Brito et al(2015) onde 2,4% das gestantes estudadas
desenvolveram a síndrome. Um estudo desenvolvido na maternidade pública de Patos com
gestantes internadas na UTI constatou que dos prontuários analisados, a prevalência da
Síndrome HELLP foi de 5% num universo de 40 pacientes. Um estudo realizado por França
(2010), envolvendo uma amostra composta por 741 gestantes com SHG, constatou que 18
destas desenvolveram a Síndrome HELLP, o que representou um percentual de 2,42%.
Ao analisarmos algumas características apresentadas por essas gestantes
destaca-se o fato de que 80% das gestantes necessitaram de uma UTI. A chance de uma
mulher durante o ciclo gravídico-puerperal ser admitida em uma unidade de terapia intensiva
(UTI) é bem maior do que a de uma mulher jovem não-grávida. Estima-se que 0,1 % a 0,9%
das gestantes desenvolvem complicações, requerendo hospitalização em unidades de
suporte avançado (TONIN et al., 2013). Chama atenção também o fato de que 100% dos
RNs dessas gestantes evoluíram para óbito. A hipertensão arterial na gravidez está
associada com desfechos perinatais desfavoráveis, especialmente nos casos mais graves
como os de síndrome HELLP.
Em nosso estudo houve um caso de óbito materno em decorrência de SHG. Em
um estudo realizado no hospital universitário no Oeste paranaense de um total de 40
internações na unidade de terapia intensiva 50 % foram em decorrência de síndromes
hipertensivas na gravidez, dentre essas mulheres 7 (20%) evoluíram para óbito e dentre as
causas desses 28, 6% (2) em decorrência da hipertensão. Outro estudo, com o objetivo de
analisar os óbitos maternos ocorridos em uma Maternidade Pública de Fortaleza-CE e
identificar a existência de associações entre o momento do óbito e as causas do óbito,
demonstrou que s causas mais evidenciadas foram: síndrome hipertensiva (27; 28,1%);
infecção (17; 17,7%); e hemorragia (16;16,7%) (HERCULANO et al., 2012).
As SHG podem afetar as condições do nascimento do feto no que diz respeito
ao peso, prematuridade, índice de apgar, vitalidade fetal e complicações associada à
hipertensão na gravidez.
As síndromes hipertensivas também apresentam elevada taxa de mortalidade
perinatal, oscilando entre 5% e 20%, devido principalmente à insuficiência uteroplacentária,
que ocasiona restrição de crescimento intra-útero (RCIU) as complicações secundárias a
prematuridade (SOUZA et al., 2010).
No que concerne aos dados da mortalidade perinatal decorrente de
complicações da SHG, em nosso estudo 7, 3% (14 )evoluíram para óbito, valor elevado se
comparado a um estudo realizado em João Pessoa - PB onde foram encontrados 7 (4,1%)
óbitos neonatais e o mesmo percentual referente a óbitos fetais intrauterinos (BRITO et al.,
2015) e Chaim (2008) que encontrou em seu estudo 0,8% de óbito neonatal precoce.
Segundo um estudo realizado por Neme (2006), a mortalidade perinatal, em relação às
síndromes hipertensivas, foi distribuída da seguinte forma: eclâmpsia 16%, hipertensão
sobreposta 15%, pré-eclâmpsia 5%, hipertensão crônica 0,3% das mortes perinatais. Esses
achados ratificam os resultados encontrados nesta pesquisa.
A prematuridade constitui ainda em nossos dias, uma das complicações mais
frequentes da SHG, com possibilidades de sequelas imediatas ou tardias decorrente, quer
de um trabalho de parto espontâneo, em razão da contratilidade uterina aumentada ou,
comumente, da conduta obstétrica de interrupção da gravidez, quando o quadro clínico se
agrava e há comprometimento das condições maternas ou fetais (COELHO et al., 2012).
Em relação à prematuridade, em nosso estudo verificamos que 27,94% dos RNs
nasceram pré-termo. Em um estudo realizado por Brito et al(2015) encontramos um número
bem maior, 80 (47,1%) das parturientes estavam com idade gestacional menor que 37
semanas (Pré- termo). Resultado semelhante a nossa pesquisa foi encontrado em um
estudo realizado em Belém/PA onde a idade gestacional dos bebês mais frequente foi a
termo (52,2%), seguido pelos que nasceram prematuros (27,3%) (DIAS et al., 2016), ao
passo que um número bem mais elevado foi encontrado por Tonin (2013) em uma UTI do
Oeste Paranaense, com uma incidência de 77,2% de partos prematuros. Apesar do
resultado que encontramos, a maior parte dos nascimentos foi de RNs a termo 121
(67,59%), esse fato pode ser explicado pela qualidade da assistência prestada durante o pré
natal e principalmente devido ao acompanhamento no Hospital Universitário que possibilitou
a manutenção da gravidez até o momento adequado ao parto.
Outra complicação relacionada fatores a determinar a probabilidade de
sobreviver ao período neonatal e mesmo a todo o restante do primeiro ano de vida. O peso
ao nascer é uma medida muito usada para avaliar as condições de nascimento da criança,
dentre vários fatores, pode ser uma consequência do retardo do crescimento fetal, uma
condição na qual a circulação uteroplacentária é insuficiente para a nutrição fetal em
decorrência da diminuição da perfusão placentária, hipóxia e formação de um ambiente com
baixa tensão de oxigênio, alterando o desenvolvimento fetal (NEME, 2006).
V. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A síndrome hipertensiva na gestação pode levar a danos severos e irreparáveis
para mãe e filho, portanto, toda a rede de atenção à saúde da mulher deve estar aparelhada
para acolher, cuidar e tratar a mulher para que o resultado da sua gestação seja um parto e
um recém-nascido nas melhores condições possíveis.
É necessário que toda a equipe que presta atendimento à gestante, esteja
atenta para aquelas que demonstram maiores riscos de desenvolver a SHG e suas
complicações, realizando diagnósticos precocemente e fazendo as intervenções que se
fizerem necessárias. Para isso, o sistema de saúde precisa estar equipado, aparelhado.
Percebemos durante este estudo a necessidade de uma melhoria na assistência
à mulher, durante o período gravídico puerperal, seja no acolhimento da mesma, na
detecção e tratamento das patologias que podem surgir neste período, como as SHG.
É necessário que haja um monitoramento e prevenção das complicações maternas e fetais
decorrentes dos processos patológicos instalados neste período. Portanto faz-se necessária
uma mudança substancial dos serviços públicos prestados às gestantes criando-se
estratégias que podem melhorar os serviços de atendimento à gestante durante o pré-natal
e parto.
REFERÊNCIAS
AMARAL WT, PERAÇOLI JC. Fatores de risco relacionados à pré-eclâmpsia. Com. Ciências Saúde - 22 Sup 1:S161-S168, 2011
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