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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO Curso de História MARCORÉLIO PIMENTEL SOARES HISTÓRIA DO BRASIL II

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Page 1: Lustosa, Isabel. Insultos Impressos. Trabalho de Barsil II - Compartilhar

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

Curso de História

MARCORÉLIO PIMENTEL SOARES

HISTÓRIA DO BRASIL II

Seropédica – RJ

Abril de 2013

Page 2: Lustosa, Isabel. Insultos Impressos. Trabalho de Barsil II - Compartilhar

MARCORÉLIO PIMENTEL SOARES

INSULTOS IMPRESSOS. A GUERRA DOS JORNALISTAS NA

INDEPENDÊNCIA. 1821 – 1823. ISABEL LUSTOSA.

Trabalho apresentado a

Professora Doutora Adriana

Barreto, na disciplina História

Do Brasil II

Seropédica – RJ

Abril de 2013

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O livro de Isabel Lustosa “Insultos Impressos. A Guerra dos Jornalistas na Independência. 1821-1823” descreve a história da Independência do Brasil e através dela, a do surgimento da imprensa brasileira. O período tratado no livro vai da partida do rei em abril de 1821 até o fechamento da Assembleia em novembro de 1823, época marcada por intenso conflito entre esses primeiros jornalistas. A cena dessa história-narrativa é o Rio de Janeiro. Embora os jornais dessa época tivessem vida efêmera, o intervalo de tempo analisado por Lustosa se acentua pela “intensa participação da imprensa na busca de uma definição do formato político que a nação brasileira tomaria.”¹

O problema a partir do qual o livro se constrói e que deu origem à tese de Lustosa é inicialmente sobre as condições do surgimento da imprensa no Brasil, além da criação dos primeiros jornais e suas propostas iniciais. Num universo onde o quadro da imprensa permaneceria praticamente inalterado, Lustosa trata dos embates entre liberais e monarquistas e ao referir-se aos jornalistas do período, ela procura entende-los. A autora expõe os jornais e redatores mais influentes da época e as ideias que eles difundiam. Os materiais, bem como as fontes utilizadas por Lustosa, são conservados no contexto em que foram inseridos. Perguntas frequentes que Isabel Lustosa tenta responder são: Pra quem escreviam esses primeiros jornalistas? Qual a sua missão? Qual o propósito dos jornais surgidos no Brasil entre 1821 e 1823? Quais as marcas características dessa imprensa?

Tais problemas podem ser inseridos na discussão historiográfica sobre otema a partir de uma obra da mesma autora, que se intitula: “O nascimento da imprensa brasileira.”2 no qual Lustosa também analisa as influências da imprensa no processo de independência nacional. Embora muitos autores atribuam a Gazeta do Rio de Janeiro o papel de primeiro jornal brasileiro, Isabel Lustosa discorda e concede essa honra ao Correio Braziliense de Hipólito da Costa.

O contexto histórico da época foi marcado por três circunstâncias que IsabelLustosa destaca como fomentadoras da violência entre os jornalistas que partiam do insulto e alcançavam a agressão física. Tais circunstâncias foram: a instabilidade e indefinição política, onde até mesmo a imprensa vivia uma total liberação; a democratização do prelo, tornando fácil a impressão de ideias e insultos; e, por fim, uma nova configuração da elite brasileira fazendo emergir uma classe sem experiênciade vida pública. Tais marcas desta época causaram forte influência na imprensa e, como reação, na política do Brasil oitocentista, levando Isabel Lustosa a uma análise das transformações políticas através da imprensa. Além disto, ela consegue nos presentear com uma breve visão da sociologia do jornalismo brasileiro e da etnografia dos jornalistas.

A meta de pesquisa da autora é mostrar a importância da imprensa na transição que o Brasil sofrera de Reino Unido para um país independente.

1LUSTOSA, Isabel. Insultos Impressos: a guerra dos jornalistas na Independência (1821-1823). São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p.37.2LUSTOSA, Isabel. O nascimento da imprensa brasileira. 2ª edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda., 2004.

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O livro é dividido em sete capítulos nos quais Isabel Lustosa desenvolve as suas metas. No capítulo 1 “Quem dá primeiro, dá duas vezes”, é feita uma apresentação da imprensa que vigorava antes da partida de D. João VI. A autora também trata das diferenças entre José da Silva Lisboa – o barão de Cairú – e Hipólito da Costa.

O capítulo 2 “Bulas do papa para o imperador da China”, abrange os trêsJornais mais importantes no final de 1821: o Revérbero (primeiro jornal de caráter político independente), o Espelho (fazia um jornalismo agressivo) e a Malagueta (publicado de forma irregular). Nesse capítulo é tratado das primeiras rivalidades entre os redatores.

O capítulo 3 “Quando vires as barbas do teu vizinho arder deita as tuas de molho” trata dos confrontos entre Cairu e a facção gálica. Também é apresentado o jornalista mais popular do período: João Soares Lisboa – redator do Correio do Rio de Janeiro.

No capítulo 4 “Quando o rei é Frederico, todos que o rodeiam são Fredericotambém” acontece a Independência e a autora apresenta as disputas que antecederam e sucederam tal fato.

O capítulo 5 “Quem não tem padrinho morre mouro” traça a trajetória agressiva do jornalismo de situação. Menciona também sobre o artigo violento que D. Pedro publicou contra Luís Augusto May, além dos insultos ocorridos entre frei Caneca e frei Sampaio.

O capítulo 6 “Quem seus inimigos poupa nas mãos lhes morre” trata dos efeitos da queda dos Andrada, fala sobre a publicação do Tamoyo, além do estilo e ação jornalística do redator da Sentinela da Praia Grande – Joseph Stephano Grondona.

No capítulo 7 “Na barba do tolo aprende o barbeiro novo” a autora mostra o papel que a imprensa teve no fechamento da Assembleia, também evidencia o destino dos principais jornalistas apresentados neste livro.

As principais fontes utilizadas pela autora são os jornais, periódicos e panfletos do período de 1821 a 1823, em sua maioria circulantes no Rio de Janeiro e designados pela própria autora como “Jornais Cariocas da Independência”3. Apesar de receberem a qualificação de “nacional”, tal não se referia a sua circulação, mas a sua posição política na disputa entre brasileiros e lusitanos, pois seu alcance não costumava ultrapassar a sua cidade de publicação. Sua distribuição era feita por meio de assinaturas, pois ainda não havia venda de exemplares avulsos nas ruas. No total a autora utiliza em sua pesquisa trinta e cinco periódicos e panfletos todos listados em ordem alfabética e com informações como criador do periódico, redatores, período de existência, periodicidade e outras tantas informações enumeradas nas páginas 483 a 485 e nas cento e trinta e duas notas de citações organizadas por capítulos que estão registradas nas páginas 445 a 471. Outra fonte muito utilizada por Isabel Lustosa é a vasta bibliografia que lhe auxilia na pesquisa sobre a imprensa, sobre os fatos históricos da época e, também, sobre os personagens envolvidos nos fatos.

3LUSTOSA, Isabel. Insultos Impressos: a guerra dos jornalistas na Independência (1821-1823). São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p.32.

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Sua pesquisa é tão detalhista que a bibliografia se estende por nove páginas, indo da página 473 a 481. Quanto aos personagens citados por Isabel Lustosa, em sua maioria, recebem uma descrição biográfica registrada nas notas de citações e todos os nomes citados constam no índice onomástico registrado nas páginas 491 a 497. Sua obra, ainda, inclui uma cronologia desde 1792 até 1825 com narração de fatos anteriores e posteriores ao recorte temporal analisado que contribuem para melhor compreensão da pesquisa. As fontes utilizadas nesta obra são, principalmente, da biblioteca da Fundação Casa de Rui Barbosa, onde foi desenvolvida a pesquisa, e, também, do arquivo e biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, arquivo do Museu Imperial, seção de obras raras da Biblioteca Nacional, Arquivo Nacional, Museu Histórico Nacional, Museu Nacional de Belas Artes e Museu Paulista da Universidade de São Paulo. Em uma seção do livro, situada entre as páginas 487 e 489, Isabel Lustosa, faz o crédito de quase todas as imagens utilizadas na obra, pois algumas são de autor desconhecido.

As fontes utilizadas pela autora refletem o início de uma vasta produção intelectual no país e, também, o início da imprensa, que foi o veículo de manifestação e persuasão política mais prolífera na época. Por isto, Isabel Lustosa foi tão bem sucedida em sua tese de doutorado em Ciência Política, pelo IUPERJ. Os jornais ou periódicos eram de circulação restrita destinados aos jornalistas, aos políticos e ao Imperador, somente atingindo a pequena classe média do Rio de Janeiro através de seus anúncios. Este diálogo entre jornalistas foi tão intenso que até mesmo o Imperador, utilizando-se de um pseudônimo, respondeu os ataques a ele dirigidos.

No trato das fontes, a autora resolveu conservá-las no contexto em que foram produzidas, preservando assim as informações do processo histórico e os estilos de escrita que foram ricos, variados, originais e identificavam o emissor do texto.

Os conceitos utilizados por Isabel Lustosa partiram de três outros autores que lhe influenciaram a enxergar o poder da retórica utilizada pela imprensa oitocentista na definição política do Brasil e na contribuição para sua independência. Estes foram José Murilo de Carvalho, seu orientador, Antônio Cândido e Richard Hoggart. Ela faz uma análise literária dos artigos jornalísticos, tendo o cuidado de destacar o autor, o receptor, o dito ou mensagem e a forma de locução utilizada para garantir a eficácia retórica.

Na conclusão do livro, Isabel Lustosa faz uma análise do papel da retórica, nos embates da imprensa. Utilizando uma história contada por seu tio, frei Oscar de Figueiredo Lustosa, Isabel compara o jornalista a um pregador que encara a plateia do alto de seu púlpito. No momento em que as opiniões dividiam-se, o objetivo dos jornalistas era ter o apoio do público leitor.

Citando autores como José Murilo de Carvalho e Richard Hoggart, Lustosa chama atenção para o caráter democrático da retórica e para o filtro que a compreensão geral fazia de certas ideias de alguns pensadores. Elemento indispensável para que a população pudesse filtrar as ideias eram os panfletários que misturavam argumentos com injúrias.

Num universo onde cada pessoa escrevia o que bem entendia, a presença de gírias, aforismos, palavrões, ataques pessoais e violência habitavam os jornais da época. O nascimento da imprensa brasileira com a sua oralidade popular, deu-se no

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meio de uma guerra de insultos de todas as naturezas. Embora nenhum jornal da época tivesse o intuito de fazer humor, das situações de desgraça, ironia e descrição de aspectos físicos, ele nascia.

Cada redator, a partir de suas ideias, estilo e retórica, conquistava o seu público alvo. Escreviam uns para os outros e todos para D. Pedro, a quem queriam conquistar para terem o apoio para o projeto político que defendiam. Da imprensa nascida em 1821, D. Pedro fora o que adotara o estilo mais agressivo. Este, quando escrevia seus artigos anônimos os fazia sem nenhum pudor quanto à linguagem. E como indica Isabel Lustosa: “Por meio dela é que um príncipe que tinha os modos de um moço de estrebaria pôde somar sua voz a tantas outras, ajudando a compor a polifonia tonitruante que encheu de sons e de fúria a animada cena impressa da Independência.”4

Em uma resenha sobre essa obra de Isabel Lustosa, o autor Marcos Guedes Veneu5 compara o livro a uma peça de teatro. Para ele, a autora ao utilizar elementos dramáticos para escrever a sua obra, na verdade monta uma peça teatral quando pensa estar escrevendo um livro. Veneu exemplifica também que o mosaico de cenas apresentado por Lustosa desenrolam-se como nos filmes de Fellini.

Uma outra crítica à obra de Lustosa vem de Candice Vidal de Souza, quando ainda era doutoranda do PPGAS-MN-UFRJ, publicada pela revista Mana6. Candice elogia Isabel quando ela corajosamente desconstrói opiniões acerca de José Bonifácio, mas lhe critica quando deixa escapar características “nacionalistas” da história da imprensa brasileira. Também cobra explicações acerca da bibliografia escolhida e critica Isabel quando não percebe que a história da imprensa brasileira é uma narração com efeitos performativos.

4LUSTOSA, Isabel. Insultos Impressos: a guerra dos jornalistas na Independência (1821-1823). São Paulo: Companhia das Letras, 2000 p. 436.5VENEU, Marcos Guedes. As artes de maldizer. Fundação Casa de Rui Barbosa. Disponível em: <http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/o-z/FCRB_MarcosGuedesVeneu_Arte_maldizer.pdf> Acesso em 26 de mar. 2013.6LUSTOSA, Isabel. Insultos Impressos: a guerra dos jornalistas na Independência (1821-1823). São Paulo: Companhia das Letras, 2000. Resenha de: SOUZA, Candice Vidal e. Revista Mana, Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, p.181-184, abr. 2001.

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Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132001000100013> Acesso em 27 de abr. 2013.

BIBLIOGRAFIA

LUSTOSA, Isabel. Insultos Impressos: a guerra dos jornalistas na Independência (1821-1823). São Paulo: Companhia das Letras, 2000.LUSTOSA, Isabel. O nascimento da imprensa brasileira. 2ª edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda., 2004.VENEU, Marcos Guedes. As artes de maldizer. Fundação Casa de Rui Barbosa. Disponível em: <http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/o-z/FCRB_MarcosGuedesVeneu_Arte_maldizer.pdf> Acesso em 26 de mar. 2013.LUSTOSA, Isabel. Insultos Impressos: a guerra dos jornalistas na Independência (1821-1823). São Paulo: Companhia das Letras, 2000. Resenha de: SOUZA, Candice Vidal e. Revista Mana, Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, p.181-184, abr. 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132001000100013> Acesso em 27 de abr. 2013.