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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA – PROPGP
PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO – PROEX
ESCRITÓRIO DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL – ECI
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - CCS
LUIZA HELENA GOMES FROTA
PERMACULTURA E TRABALHO PROCESSIVO: O FLUIR DA EXPERIÊNCIA EM SI MESMO E NO MEIO AMBIENTE
Fortaleza - Ceará
2013
2
LUIZA HELENA GOMES FROTA
PERMACULTURA E TRABALHO PROCESSIVO: O FLUIR DA EXPERIÊNCIA EM SI MESMO E NO MEIO AMBIENTE
Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Educação e Permacultura para a Sustentabilidade nas Unidades de Conservação, para a obtenção do título de Especialista em Permacultura da Universidade Estadual Do Ceará – UECE Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa – PPGP Pró-Reitoria de Extensão – PROEX Escritório de Cooperação Internacional – ECInt Centro de Ciências da Saúde Orientadora: Prof.ª Ms. Cleusa Maria Denz dos Santos
Fortaleza - Ceará 2013
4
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Estadual do Ceará
Biblioteca Central Prof. Antônio Martins Filho
Bibliotecária Responsável – Leila Sátiro – CRB-3 / 544
F941p Frota, Luiza Helena Gomes. Permacultura e Trabalho Processivo: o fluir da experiência em si
mesmo e no meio ambiente/Luiza Helena Gomes Frota.— 2013. CD-ROM54f:.il. (algumas color.) ; 4 ¾ pol. “CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do trabalho
acadêmico, acondicionado em caixa de DVD Slin (19 x 14 cm x 7 mm)”.
Monografia (especialização) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de Ciências da Saúde, Especialização em Educação e Permacultura para a Sustentabilidade nas Unidades de Conservação, 2013.
Orientação: Profª. Ms. Cleusa Maria Denz dos Santos. 1. Permacultura. 2. Princípios éticos. 3. Design. 4. Trabalho Processivo. I. Título.
CDD: 574.5
5
Ao meu filho, pois nos momentos de
estudos, precisei me ausentar da
relação com ele; ao meu
companheiro que fez parte nos
momentos mais difíceis. À Prof.ª
Cleusa que me orientou e acreditou
insistentemente que eu conseguiria.
E a todos que indiretamente fizeram
parte desse processo.
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Universo por me inspirar na
idealização deste trabalho e a todas as
forças internas e externas a mim que
tornaram possíveis a sua concretude.
7
RESUMO
Este trabalho pretende mostrar a relação da Permacultura com o Trabalho Processivo, através da sua aplicação ao social. Facilitando assim o processo de despertar da consciência humana para a situação global e permitindo à humanidade tomar as atitudes adequadas para possíveis soluções criativas para o planeta e seus habitantes. De início, é mostrada uma visão geral da Permacultura, segundo David Holmgren: sua origem e seus princípios, éticos e de design. É apresentada então minha história de vida, ressaltando as relações com as pessoas e a Natureza. Posteriormente, o Trabalho Processivo criado por Arnold Mindell é apresentado, com sua história, seus conceitos, métodos e aplicações, mostrando como ele pode trazer um diferencial para a Permacultura e, de uma maneira prática, dar suporte ao seu princípio ético - Cuidar das Pessoas.
Palavras-chaves: Permacultura; Princípios Éticos; Design; Trabalho Processivo.
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ABSTRACT
This work aims to show the relationship of Permaculture with Process Work, through its application to the social.Thus facilitating the awakening process of human consciousness to the global situation and allowing humankind to take appropriate actions for possible creative solutions to the planet and its inhabitants. At first, an overview of Permaculture, according to David Holmgren, is shown: its origin and its principles, ethics and design. My life story is then presented, highlighting the relations with people and nature. Subsequently, the Process Work created by Arnold Mindell is presented, its history, its concepts, methods and applications, showing how it can bring a differential to Permaculture, and in a practical way support its ethical principle -Care for People.
Keywords: Permaculture; Ethical Principles; Design; Process Work
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 10
2 ORIGEM E REFLEXÕES TEÓRICAS 12
2.1 CONCEITO DE PERMACULTURA 13
2.2 PRINCÍPIOS ÉTICOS DA PERMACULTURA 16
2.3 PRINCÍPIOS DO DESIGN 20
3 MINHA TRAJETÓRIA DE VIDA 23
4 TRABALHO PROCESSIVO: O DESENROLAR DE UMA PRÁTICA 27
4.1 O MÉTODO 29
4.2 O ENCONTRO COM O TRABALHO PROCESSIVO 32
5 PERMACULTURA E TRABALHO PROCESSIVO: O FLUIR DA RELAÇÃO 35
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 44
ANEXOS 45
10
1 INTRODUÇÃO
Diante de um planeta que há muito tempo grita por socorro, é preciso fazer
algo, mas o quê? Muitas vezes, nos recusamos a ouvi-lo, estamos desconectados,
assim como de nós mesmos. Vivemos no mundo como se estivéssemos
adormecidos e as catástrofes, as manifestações sociais e a violência viessem até
nós como um pesadelo que nos obriga a despertar para a ação.
Mesmo que o desenvolvimento moderno nos tenha proporcionado alguns
sucessos, a globalização deixou no seu rastro numerosos problemas, exacerbando
os danos aos mais pobres e ao meio ambiente e deixando muitos povos e nações
para trás. Surgiu uma compreensão de que os problemas do próximo são também
meus e a minha solução tenha que também contemplá-lo. As crises políticas,
econômicas, sociais e ambientais com que o mundo se depara hoje, clamam por
uma nova compreensão de mundo e de sustentabilidade.
A teoria de Gaia desenvolvida pelo ambientalista James Lovelock (2007) fala
que a terra tem um comportamento sistêmico e é um organismo vivo, com
capacidade de regular seu clima, mas diante de um desequilíbrio do ecossistema a
situação se encontra num ponto que para ele não tem retorno.
Já Filipe Freitas (2004) no seu artigo Eco alfabetização e Permacultura
mostra uma visão mais otimista, afirmando que a processo criativo do homem “já
desenvolveu a base conceitual e as ferramentas necessárias para (…) o surgimento
de um novo patamar civilizatório caracterizado por sustentabilidade e integração
ecológica.”. Ele afirma que enquanto houver células se auto organizando, há
possibilidade de saltos evolutivos e imprevisíveis, tão inesperados que nem mesmo
um cientista do porte de James Lovelock será capaz de prever.
Leonardo Boff (1999, p.134) alerta que: “Para cuidar do planeta precisamos
todos passar por uma alfabetização ecológica e rever nossos hábitos de consumo.
Importa desenvolver uma ética do cuidado.” Nesta perspectiva, vejo que, além da
falta de consciência de algumas pessoas, muitos fecham os olhos e tapam os
ouvidos diante do que se passa ao seu redor, como também alguns comportamentos
humanos destrutivos vêm causando sérias doenças. Existe não só uma pobreza
econômica generalizada, mas também uma pobreza não material, onde indivíduos e
grupos não têm mais tempo para si. Muitos têm fome; e todos estamos
espiritualmente carentes. (MINDELL. 1992, p.24)
11
No contexto acima, a Permacultura e o Trabalho Processivo vem se
apresentando como um grande sistema, intrinsecamente relacionados e permeados
por uma visão holística e sustentável. Eles aproveitam todos os recursos disponíveis
na natureza e os transformam em crescimento para si e para o mundo.
Ampliar meus conhecimentos sobre Permacultura e utilizar a metodologia do
Trabalho Processivo como contribuição para um dos princípios éticos da
permacultura - “O cuidado com as pessoas”1, tornou-se um dos grandes objetivos
deste trabalho. Tem sido muito significativo trazer para a Permacultura um método
que venha processar o nosso lixo humano: as tensões emocionais que despejamos
no mundo, as fantasias não resolvidas sobre nós e sobre os outros na qual
alimentamos, bem como inserir novas maneiras de capacitar líderes a criar bons
relacionamentos e espírito de equipe. Este trabalho poderá ser um bom subsídio
para futuras pesquisas. Ele apresenta a Permacultura, seus conceitos e princípios
éticos e de design, a minha trajetória de vida nesse processo, mostra como o
trabalho processivo desenvolveu a sua prática, e como se deu essa relação da
permacultura e o trabalho processivo fortalecendo um dos princípios básicos da
Permacultura que é o “Cuidar das Pessoas”.
1 Conforme HOLMGREN, 2013, p. 58
12
2222 ORIGEM E REFLEXÕES TEÓRICASORIGEM E REFLEXÕES TEÓRICASORIGEM E REFLEXÕES TEÓRICASORIGEM E REFLEXÕES TEÓRICAS
A Permacultura foi criada por dois ambientalistas australianos Bill Mollison e
David Holmgren na década de 70. No começo, eles estavam buscando uma
agricultura permanente, logo depois, eles evoluíram para uma cultura permanente, o
que deu origem a nomenclatura “permacultura”. Eles perceberam que era mais
amplo do que a agricultura, começaram a ter uma visão de planejamento para se
criar padrões ambientais mais humanos e que se sustentassem.
A Permacultura foi uma das alternativas ambientais que surgiram a partir da
primeira grande onda da moderna conscientização ambiental, após o relatório do
Clube de Roma de 1972 e as crises do petróleo de 1973 e 1975. Após o crescimento
econômico das nações ricas durante os anos 1980, houve um aumento do nível de
consciência sobre o efeito estufa, nessa época o interesse dos ambientalistas pela
permacultura aumentou (HOLMGREN, 2013, p.30).
Mollison (1991, p.13) descreveu a Permacultura como uma ciência do
design2 integrado, uma ciência voltada para a melhoria e o bem-estar das pessoas
por um longo período, cuja essência é seguir a natureza. Com ela e não contra ela
Acredito que a harmonia com a natureza é possível somente se abandonarmos a ideia de superioridade sobre o mundo real. Levi Strauss disse que o nosso erro mais profundo é o de sempre julgarmo-nos mestres da criação`, no sentido de estarmos acima dela. Não somos superiores a outras formas de vida; todas as criaturas vivas são uma expressão de vida. Se pudéssemos ver essa verdade, poderíamos entender que tudo que fazemos a outras formas de vida, fazemos a nós mesmos. Aquela cultura que compreende isso, jamais, salvo necessidade absoluta, destruirá qualquer ser vivo. (Mollison,1991, p.13)
A Permacultura tem uma visão que passa pelo modelo de Alfabetização
Ecológica por facilitar o processo de conscientização. Diante de um mundo racional
e científico que durante muito tempo modelou nossas mentes e atitudes, rompendo
nossa ligação com a natureza, a conscientização é o que nos diferencia e nos torna
mais humanos e integrados a qualquer forma de vida, é ela que nos faz enxergar os
2 um sistema de composição de diversos elementos, estruturais, vegetais, animais e sociais
visando a criação de um ambiente integrado para a convivência sustentável de pessoas.
13
acontecimentos ao redor e nos possibilita a tomarmos uma atitude diferenciada
diante da situação.
Para Capra (1997, p.235) nas próximas décadas a sobrevivência humana
vai depender de nossa eco alfabetização, isto é de nossa habilidade de extrair
conhecimento da natureza de entender os princípios básicos da ecologia e de viver
de acordo com esses princípios.
Ele se torna um dos inspiradores dessa metodologia baseada no contato
emocional com a terra, e no desenvolvimento de projetos. Esse método procura
difundir seus pensamentos nas escolas, empresas, instituições, e em qualquer grupo
de pessoas. Segundo ele, aprender os princípios básicos da ecologia é um dos
objetivos da alfabetização. Ele propõe que nós nos reconectamos através do
conhecimento a teia da vida, pois segundo ele seus princípios organizadores nos
servem como referência para construir um conceito de sustentabilidade. Tais
princípios são:
1. Interdependência – O sucesso de uma comunidade depende do sucesso de cada um de seus membros e o sucesso de cada um dos membros depende do sucesso da comunidade como um todo. 2. Ciclos – A natureza recicla tudo, considerando todo resíduo como recurso. 3. Parceria - A natureza recompensa a cooperação. A aliança é uma característica essencial das comunidades sustentáveis. 4. Diversidade – A natureza confia na complexidade e valoriza as diferenças. �� Flexibilidade e Equilíbrio Dinâmico – A natureza inibe os excessos, transformando-se constantemente para conservar sua essência adaptativa e criativa.(CAPRA, 1997, p.235)
Esses princípios são importantes porque nos auxiliam a parar e refletir sobre
nossa realidade, a partir da qual pessoas adotam maneiras de viver totalmente
diferentes deles. Precisamos divulgá-los para ajudar que se tome mais consciência
da realidade e se melhore a manutenção da vida no planeta.
É importante ressaltar outra habilidade que seria o respeito e aprendizado
com os povos primitivos, pois são nações que mais cultuam e veneram a natureza, e
se encontram atualmente em extinção ou absorvidos por uma cultura racional.
2.1 CONCEITO DE PERMACULTURA
14
Holmgren (2013, p.33) faz uma definição atual da permacultura como
paisagens conscientemente planejadas que imitam os padrões e as relações
encontradas na natureza, enquanto produzem uma abundância de alimentos, fibra e
energia para prover as necessidades locais. Segundo ele, a definição do que é e do
que não é permacultura é uma questão que preocupa algumas pessoas, como ela
tem um caráter multifacetado existe um perigo de tentar usá-la para tudo. Mas ele
consegue ver a evolução da permacultura como uma força que influencia a natureza
e a transformação social.
A permacultura é uma maneira criativa que se gerou para que nós
pudéssemos lidar com uma realidade onde os recursos naturais estão limitados,
onde existe um colapso econômico e onde a natureza se torna a nossa maior
inspiradora.
Em poucas palavras, dizemos que Permacultura é um sistema de
planejamento integrado para a criação de ambientes humanos sustentáveis. Seus
princípios teóricos e práticos são uma síntese das práticas agrícolas e
conhecimentos tradicionais e das descobertas da ciência moderna visando o seu
desenvolvimento integrado.
A rede PERMEAR3 procura tornar o conceito mais claro, e acrescenta que a
Permacultura oferece as ferramentas para o planejamento, a implantação e a
manutenção de ecossistemas cultivados no campo e nas cidades, de modo a que
eles tenham a diversidade, a estabilidade e a resistência dos ecossistemas naturais.
Alimento saudável, habitação e energia devem ser providos de forma sustentável
para criar culturas permanentes.
No centro da atividade do permacultor está o sistema de design introduzido
por Bill Mollison4. O design se aplica a qualquer assentamento humano, seja ele
uma vila, um sítio ou uma casa na cidade. Temos o design da sistematização da
água, do espiral de ervas, das bacias de evapotranspiração, sanitário compostável e
outros. Para um permacultor chegar nesse processo precisa ter uma visão de
mundo sistêmica indo além dos padrões naturais que muitas vezes são limitados.
Por isso que é importante um permacultor observar a complexidade da natureza e
procurar uma nova maneira de interagir de forma respeitosa sem esquecer, é claro,
3 Rede de permacultores de vários estados brasileiros criados em 2004 para irradiar a permacultura. 4 Conforme <http://www.setelombas.com.br/permacultura/design/> acesso em: 28/10/2013
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os ensinamentos e técnicas das culturas tradicionais que servem de base para a
cultura moderna. Essa técnica inovadora mais muito respeitosa ao que é tradicional
veio para mudar uma realidade que não se sustenta e que está em crise por se
alimentar da ideia de progresso.
Leonardo Boff (1995, p.12) comenta: “[...] que esse progresso se move
entre dois infinitos: o infinito dos recursos da terra e o infinito do futuro. Esses dois
infinitos são ilusórios”. Ter consciência dessa crise é ter consciência de que os
recursos da terra têm seu limite, nem tudo se renova, o aumento populacional é
mais do dobro do que o aumento da produção de alimentos. Precisamos buscar
novas alternativas de sustentabilidade para o planeta.
O que parece óbvio para a permacultura, está distante de nossos olhos. Ela
requer uma dedicação e uma habilidade para criar. As pessoas estão em falta com o
seu lado criativo. Nós estamos acomodados e nosso sistema, como disse Holmgren
(2013, p.60) é reducionista, desintegrador e reforça ao individualismo, pois tudo já
vem pronto. As crianças não constroem mais suas brincadeiras, os alimentos já
estão preparados e enlatados. As próprias relações são eliminadas sem passar por
processos de transformação. Mollison e Holmgren (1978 apud HOLMGREN, 2013)
nos trazem um sistema prático que promove as necessidades humanas
fundamentais: produção alimentar orgânica, construção de moradias com técnicas
ecológicas, acesso e utilização consciente da água, emprego de fontes renováveis
para geração de energia elétrica, além de saneamento com métodos naturais,
reciclagem e reaproveitamento de resíduos.
Esse sistema vem sendo desenvolvido em várias partes do planeta, de início
ele centrou-se no manejo cuidadoso da terra e da natureza mais agora ele se
estendem a recursos físicos e energéticos assim como organizações humanas.
Holmgren (2013, p.35) fala que a permacultura também é uma rede mundial, um
movimento de pessoas e grupos que trabalham com países ricos e pobres em todos
os continentes para demonstrar e espalhar soluções de design permacultural.
Geralmente, essas pessoas não encontram apoio de instituições
governamentais ou empresas, elas estão dando sua contribuição para um futuro
sustentável, fazendo mudanças pequenas mais que vem repercutindo a nível
mundial. Holmgren (2013, p.35) diz que: “Depois de vinte anos, a permacultura
pode figurar como uma das mais significativas ‘exportações intelectuais’ da
16
Austrália”.
David Holmgren (2013, p.51) em seu livro “Permacultura - Princípios e
caminhos além da sustentabilidade”, fala em três princípios éticos da Permacultura:
Cuidado com a terra; Cuidado com as pessoas e O Limite do consumo e da
reprodução e a redistribuição dos excedentes. Segundo ele, o segundo e o terceiro
princípio podem ser vistos como derivados do primeiro, que surgiram em pesquisas
realizadas com comunidades, grupos cooperativos e antigos religiosos. Esses
princípios da permacultura são vistos em muitas culturas indígenas e a permacultura
procura sempre esta referência por saber que tais povos sempre buscaram um
equilíbrio com seu meio ambiente. Se observarmos ao longo dos tempos, esses
povos são os que mais sobreviveram, se compararmos outros “civilizados”, eles
contêm ensinamentos que adquiriram com a natureza por está tão próximo e
respeitá-las, eles os antigos, nos mostram que as coisas tem sua interdependência,
isto é, cada coisa que nasce vai dar lugar a uma coisa maior, e outra coisa que é
diferente da original, elas se sustentam, por serem diferentes. Vejam as grandes
florestas. Só existe unidade na diversidade, os povos primitivos nos ensinaram que a
natureza precisa ser respeitada dentro da sua diversidade e tudo que se tira da terra
tem seu limite.
Esse novo sistema que acompanha a permacultura mostra uma visão mais
holística dos seres e dos fenômenos, a permacultura veio para mostrar que a
humanidade precisa despertar para o que está acontecendo, atualmente quase toda
a sociedade está doente. Há péssimas condições de vida não só para o homem
mais para outros seres isso se dá ao consumo inconsciente, a uma exploração da
natureza. Segundo Boff (1999) saber cuidar não se trata de impor limites de
crescimento, mais de mudar o tipo de desenvolvimento. Para ele a sociedade deve
mostrar-se capaz de assumir novos hábitos e de projetar um tipo de
desenvolvimento que cultive o cuidado com o equilíbrio ecológico e funcione dentro
dos limites impostos pela natureza.
2.2 PRINCÍPIOS ÉTICOS DA PERMACULTURA
1º O cuidado com a terra
O cuidado com a terra pode significar o cuidado com o solo vivo como fonte
de vida segundo a visão da tradição científica da agricultura orgânica. Há razões
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para considerarmos o estado do nosso solo importante para a futura saúde e bem
estar da sociedade, mais o respeito ao solo tende a ser esquecido. E o como cuidar
do solo vem com bastante controvérsia não se sabe o quanto é possível melhorar
sua capacidade para melhor suprir as necessidades humanas, só se sabe que o
mau uso dele em pouco tempo perde a condição de gerar novas vidas. O cuidado
com a terra é o cuidado com toda a forma diversa de vida no planeta, é o cuidar de
casa, do lugar, do território, mas ter que assumir esta responsabilidade acaba se
tornando demais para o homem, é além de sua capacidade. Para (W.BERRY 1977
apud Holmgren, 2013,p.56):
A questão de que se deve tratar (...) não é sobre como cuidar do planeta, mais como cuidar de cada um dos milhões de seres humanos e vizinhos naturais do planeta, cada uma das milhões de parcelas e pedaços de terra, cada uma das quais é, de algum modo, preciosa e excitante, diferente de todas as outras.
Acredito que esse cuidado deve-se começar nas escolas com crianças e
jovens, ensinando-os a se apropriarem daquilo que lhes foi dado de forma generosa
pela grande mãe- terra. Ao elevarmos nosso foco a terra tirando-as do chão ou os
fazendo irem até ela, estamos ajudando-os a cuidar de sua casa de maneira mais
consciente e com mais propriedade e amorosidade como fazem as culturas
primitivas. É na educação que se planta a semente.
O cuidado com a terra também pode está inserido no cuidado com as
diversas formas de vida no planeta, pois cada forma de vida tem sua importância no
ecossistema. Holmgren (2013, p.57) fala que nossa capacidade de cuidar
diretamente da diversidade é tão limitada quanto nossa capacidade de cuidar do
planeta inteiro. Assumir a responsabilidade pelo destino de toda espécie para ele é
algo além do poder e da inteligência. Acredito que a permacultura trabalha em cima
de limites, e com seu viés criativo de seguir e observar a natureza o cuidado muitas
vezes está no apenas observar. Como ele diz no seu livro: “viva e deixe viver”.
2º O cuidado com as Pessoas2º O cuidado com as Pessoas2º O cuidado com as Pessoas2º O cuidado com as Pessoas
Para Holmgren (2013, p.58) o segundo princípio da permacultura pode ser
interpretada de várias formas.
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Primeiro ela faz da permacultura uma filosofia voltada para o humano no
qual os interesses dele se torna uma preocupação central pela total capacidade de
nós afetarmos nossas vidas. Em uma situação mais próxima seria a de aceitar a
responsabilidade pessoal por nossa situação dentro da medida do possível sem ter
que delegar a outros o controle de nossas vidas. A maneira da permacultura focar no
positivo, nas oportunidades que possam ter mesmo em estados de crise é
fundamental pois abre um leque de possibilidades de ajudar pessoas pobres a se
tornarem autônomas.
O cuidar das pessoas tem que começar a partir de você, depois se ampliar
para outras pessoas, familiares, comunidades, grandes e pequenos grupos. Cuidar
de você não quer dizer um convite à ganância, mais um desafio para o crescimento
por meio da autossuficiência e da responsabilidade pessoal.
O bem-estar não material também é um cuidar das pessoas. Um fim de
tarde em um parque, uma boa brincadeira com crianças na areia da praia, uma
conversa na calçada num fim de tarde, uma visita ao amigo, são maneiras simples
de estarmos cuidando de nós, dos outros, e do planeta. A um crescente
reconhecimento de que o aumento de consumo em países ricos, não tem melhorado
o bem estar da população. Essa grande riqueza é muitas vezes para compensar os
efeitos do excesso de consumo. Isto inclui o aumento do gasto com a saúde
curativa, controle da poluição, controle do crime e outros males. Dessa maneira os
limites para a melhoria material são tanto estruturais e internas a nós mesmos, bem
como externos, políticos e ambientais.
Para Holmgren (2013, p.59) fazer referência a esse cuidado é uma
retomada as velhas tradições tribais, na qual existia um respeito profundo pela terra
e a economia era local e não global gerando uma redução das desigualdades.
3º Limites ao consumo e à reprodução e redistribua os excedentes3º Limites ao consumo e à reprodução e redistribua os excedentes3º Limites ao consumo e à reprodução e redistribua os excedentes3º Limites ao consumo e à reprodução e redistribua os excedentes
Tudo na natureza tem um limite. Adquirir um senso de limite é algo coerente
diante da limitação que nós vivemos diariamente. Os dados estatísticos mostram
que as espécies passam por um processo de extinção então se torna inviável um
crescimento permanente das coisas. O limite que Holmgren (2013, p.61) relata
também é o limite produzido por uma economia industrial e não por limites físicos
reais. Segundo ele, essa escassez fabricada estimula a reprodução e o consumo
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desenfreado na esperança que eles tragam segurança. Um método que tem ajudado
a organizar a nossa demanda pessoal é a “Pegada Ecológica” ela nos diz o que é
suficiente pra manter as nossas necessidades, isto é, o quanto devo consumir e a
quantidade de resíduos que devo produzir em determinada área.
A Pegada Ecológica é uma metodologia de contabilidade ambiental que avalia
a pressão do consumo das populações humanas sobre os recursos naturais.
Expressada em hectares globais (gha), permite comparar diferentes padrões de
consumo e verificar se estão dentro da capacidade ecológica do planeta. Um hectare
global significa um hectare de produtividade média mundial para terras e águas
produtivas em um ano5.
David Holmgren (2013, p.61) fala da abundância como um aspecto da
natureza no sentido dela ser uma dádiva, mais segundo ele essa dádiva pode se
perder em excessos e em desperdícios principalmente quando adquirirmos um
poder sobre as pessoas e o meio ambiente. Por esse motivo se faz necessário
termos limites, pois tudo na natureza é limitado até nós mesmos. As estatísticas
sobre o crescimento da população e do consumo humano e as extinções das
espécies mostram claramente a impossibilidade do crescimento contínuo de
qualquer coisa.
Neste sentido, é interessante ressaltar um artigo da revista carta capital (ano
XIX) que mostra que nos últimos tempos os indivíduos em sua maioria, passaram a
achar que eliminar outra espécie é errado. Quando o homem passou a
compreender melhor a ecologia, percebeu que a destruição ambiental na busca do
crescimento pode ser contraproducente. Os rios precisam ser saudáveis para
fornecer água limpa e peixes, a beleza natural estimula o turismo. A própria política
mudou diante dessas atitudes, nas últimas décadas o primeiro mundo e outros
criaram leis que proíbem caça e tráfico de animais ameaçados e a proteção de
áreas ricas em biodiversidades. ONGs ecológicas, ambientalistas e ecologistas tem
dado uma grande contribuição nesse processo ao andar pelo mundo anunciando
que o fim está próximo.
Mesmo com a consciência de alguns países emergentes algumas espécies
ainda não estão seguras, a extinção em massa ainda é um perigo real. (Revista
5 Veja <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/pegada_ecologica/o_que_e_pegada_ecologica/> acessado em 27/10/13
20
Carta Capital ano XIX / Novembro 2013).
Com relação à redistribuição de excedentes requer que nós compartilhemos
nossos recursos em excesso para ajudar ao planeta e as pessoas. Procurar
exercitar este ato para além da família e comunidade é algo que ajuda na relação
entre elas. As comunidades tradicionais indígenas e camponesas além de ter o
cuidado com a terra trazem em sua essência esse ato de distribuir seus pertences.
Em 1991, a partir de uma pesquisa com os melhores exemplos de
comunidades sustentáveis ao redor do mundo, realizada pela organização Gaia
Trust6, nasce o conceito de Ecovila - “um povoado autônomo no qual as atividades
humanas são harmoniosamente integradas na natureza de forma a promover um
desenvolvimento humano saudável e que possa ser mantido indefinidamente.”
Hoje, a Rede Global de Ecovilas, GEN7 na abreviatura da sigla na língua
inglesa, existem cerca de 15.000 ecovilas no mundo, inclusive no Brasil no que se
denomina “A Revolução do Habitat.”
2.3 PRINCÍPIOS DO DESIGN
Holmgren e Mollison (2013,p.42) no aprofundamento de sua prática
sintetizaram doze princípios que devem reger a construção e as ações para a
sustentabilidade. São eles:
2. Observe e interaja Observar de maneira cuidadosa antes de interagir te
possibilita agir de forma mais consciente e integrada, revelando aspectos novos
e trazendo à tona antigas crenças e valores a muito esquecidos. Em sociedades
pré-industriais o trabalho braçal tinha uma maior exigência. Já na sociedade
industrial se faz um maior uso de energias provenientes de combustível fóssil
para o suprimento de alimentos e outros bens de serviços. Com o advento da
permacultura veio a observação cuidadosa e uma interação reflexiva, que não só
reduz o trabalho manual que se repete, como também o de energia não
renovável e alta tecnologia. Desse modo, o que era agricultura tradicional com
ênfase no trabalho humano e a agricultura industrial com ênfase na energia são
superados pela permacultura em suas informações e design.
3. Capte e armazene energia Diante de um mundo de riquezas sem precedentes,
6 Conforme http://pt.wikipedia.org/wiki/Ecovila acesssado em 08/11/2013 7 Idem 6
21
da colheita de enormes quantidades de energias não renováveis, economizar e
reinventar são ações que precisamos realizar. Essa é uma questão importante
que as pessoas não têm o hábito, mas diante da nossa realidade de muita
limitação dos recursos precisamos usar mais nossa criatividade, retomar nossas
tradições, investir em algo mais natural e humano.
4. Obtenha rendimento Este princípio nos diz que devemos construir algo para nos
manter agora, pois o que adianta plantarmos florestas para as gerações futuras
se não temos como nos alimentar. Diante da tendência a diminuir os recursos
naturais devemos usar de forma criativa maneiras de se obter um rendimento
imediato, uma vez que, se isso não se der, qualquer coisa que projetemos para o
futuro não sobreviverá.
5. Pratique a auto regulação e aceite retorno Esse princípio pode ser expresso
através da hipótese gaia que fala da terra como um sistema autorregulador
semelhante a um organismo vivo. Ele lida com aspectos autorreguladores e de
desenho autossustentáveis que limitam ou desencorajam desenhos ou
comportamentos inadequados ao invés de confiar em controles externos de alta
escala. Enquanto o retorno positivo pode empurrar o sistema na direção da
energia totalmente livre disponível, o retorno negativo é um freio que evita o
sistema de cair na escassez e instabilidade sobre o mau uso de energia.
6. Use e valorize os serviços e recursos renováveis O design permacultural deve
fazer o melhor uso possível de serviços naturais não consumíveis a fim de
minimizar nossas demandas de consumo de recursos e enfatizar as
possibilidades harmoniosas de interação entre as pessoas e a natureza. A
intervenção do homem na natureza de maneira descontrolada pode tornar as
coisas piores, devemos respeitar e valorizar a sabedoria, inerentes aos sistemas.
7. Evite desperdícios Esse princípio reúne valores de cuidados com os bens
materiais, existe uma preocupação grande com a poluição e uma perspectiva
que vê o descarte como recursos e oportunidade. Para Bill Mollison (1988 apud
Holmgren, 2002, p.197). Fala dos poluentes como “um produto de qualquer
componente do sistema que não está sendo usado de forma produtiva por
qualquer outro componente do sistema”. Essa visão nos faz refletir sobre como
estamos usando os nossos descartes e nos incentiva a usar maneiras novas de
22
reutilização deles.
8. Projete dos padrões aos detalhes. Sistemas complexos que funcionam tendem
a evoluir a partir de sistemas simples que funcionam; assim, encontrar o padrão
apropriado a esse design é mais importante que compreender todos os detalhes
dos elementos no sistema.
9. Integrar em vez de segregar Esse princípio fala da importância da integração.
Vivemos em uma sociedade na qual segrega os elementos reduzindo a
complexidade das relações, usando o método reducionista que separa os
elementos a fim de estudá-los de maneira isolada. Esse princípio focaliza de
perto os diferentes tipos de relacionamentos que aproximam elementos em
sistemas mais intimamente integrados e os métodos apropriados de
planejamento de comunidades, de plantas, animais e pessoas a fim de se obter
benefícios desses relacionamentos.
10. Use soluções pequenas e lentas Devagar e sempre se vai longe. Quando
fazemos coisas que são autossuficientes como consertar um aparelho, cultivar
alimentos, cuidar da saúde. Quando compramos algo dentro de nossa
comunidade e tentando resolver problemas nela, estamos utilizando esse
princípio. Quando percorremos caminhos a pé ou de bicicleta, nós ampliamos
nossa visão, nossa audição e outras partes, o contrário acontece se nós sempre
percorremos os locais de carro isso aumenta a velocidade é há uma diminuição
de energia disponível no sistema.
11. Use e valorize a diversidade A diversidade de formas, funções e interações tanto
no meio ambiente quanto no meio humano são fontes de uma complexidade
sistêmica em constante evolução. A diversidade precisa ser vista como um
resultado de uma constante busca do equilíbrio pela natureza.
12. Use as bordas e valorize o marginal Este princípio nos faz lembrar que
precisamos nos manter sempre alertas e fazer uso dos limites e margens de
todos os sistemas. Seja o que for que nos chame a atenção, é no limite onde
está a oportunidade e chance de mudanças, novas adaptação e crescimento.
13. Use e responda à mudança com criatividade Embora na permacultura a
estabilidade constitua um importante aspecto, a mudança é algo essencial. A
permacultura refere-se à durabilidade dos sistemas vivos naturais e da cultura
23
humana, mais paradoxalmente essa durabilidade depende de flexibilidade e de
mudança. Uma relação estável é uma relação que enfrenta muitas mudanças.
24
3 MINHA TRAJETÓRIA DE VIDA
Atuo como psicóloga desde 1996, tenho formação em Psicodrama, utilizo
em meu trabalho o Rei-ki (terapia energética) e a massagem chinesa (Tui-ná).
Conheci a Psicologia Orientada pelo Processo, ou Trabalho Processivo, em 1999,
mas só comecei a estudá-la alguns anos depois.
Em 1996, fui admitida em uma Associação para trabalhar com reabilitação
de pessoas e concomitantemente atendia em uma clínica como psicoterapeuta.
Meu interesse por trabalhos ligados a consciência corporal se iniciou no final
do meu curso, estagiando em uma empresa na área de Recursos Humanos fui
convidada por Norval Cruz um educador físico, que na época facilitava o grupo de
teatro da empresa a se expressar melhor corporalmente. Esse convite me aproximou
mais do seu trabalho e despertou em mim interesse em conhecer com mais
profundidade as atividades que ele desenvolvia nas serras, dunas e lagoas. Essas
vivências na qual ele chama de consciência corporal, me possibilitaram a confrontar
com meus limites, com a visão que eu tinha de mundo, e me proporcionaram
quebrar alguns paradigmas que eu considerava como verdades absolutas.
Com o passar do tempo fui observando que além de uma superação de
limites existia também um despertar da consciência não só corporal mais emocional
e do ambiente ao redor. Essas experiências vividas juntamente com a teoria
processiva alimentaram minha prática de vida e a minha autoconfiança.
O trabalho com a consciência corporal foi se apropriando no meu estilo de
vida abrindo espaço para a prática da capoeira angola, uma luta de origem afro-
brasileira que a muito foi utilizada por negros aqui no Brasil, como uma maneira de
conseguir se libertar da escravidão. Comecei a permitir a entrada da capoeira em
minha vida não só como uma visão de luta, mas como uma tentativa de buscar
dentro de uma filosofia antiga respostas para os conflitos modernos. Ela traz na sua
essência a musicalidade, a poesia, a paz e as resistências.
Capoeira Angola é colocar a mão no chão, é ver o mundo de cabeça para
baixo, é a inversão das coisas, é o libertar-se da prisão da comodidade, do conforto
e ousar enfrentar os limites do corpo. Tudo que se aprende na sua roda, que é
pequena, é levada para a grande roda que é a vida.
Foi com essa vivência da capoeira que em 2010 recebi um convite do Dr.
25
Arnold Mindell para apresentá-la em um seminário: The Facilitator's Dance:
Worldwork for Sustainable Futures (A dança do facilitador: Trabalho Global para
futuros sustentáveis), em Yachats, Oregon, para oitenta pessoas de diversos países.
Para mim foi muito marcante juntar a prática da capoeira com a prática do Trabalho
Processivo.
Essa prática soma-se a muitas outras que venho desempenhando desde a
fundação da ONG Janus Instituto de Consciência Global e Ecologia Social, em 1999,
que hoje presido. Foi ela que abriu portas para a utilização do Trabalho Processivo
aqui no Brasil, empregando-o em pequenos e grandes grupos, em empresas e
comunidades, bem como apoiando a minha prática na clínica. O Instituto Janus
como é melhor conhecido, foi idealizado para ajudar as pessoas a conciliar suas
diferenças, promovendo uma percepção mais consciente da realidade para, como
diz Mindell (1992,p.19), “que as pessoas, seus grupos ou instituições, não apenas
cumpram seus objetivos, mas concretizem a essência que lhes dá a vida.”
No entanto, trabalhar com vivências que ajudem a resgatar a essência do
indivíduo e abram a possibilidade de um despertar da consciência de uma realidade,
é tarefa difícil. Requer de mim, como facilitadora, um trabalho constante comigo
mesma, aumentando a minha percepção, com uma disciplina de guerreira. E é este
trabalho que dá sustentação ao trabalho com o outro na facilitação de grupos e
indivíduos.
Nesses quatorze anos de ONG e dezessete como psicoterapeuta tenho
permitido atuar em vários campos e aproveitar oportunidades que a vida me oferece,
procurando primeiramente me alimentar delas e depois compartilhar este alimento
de maneira sustentável.
O trabalho que venho desenvolvendo em empresas com o clima
organizacional tem ajudado as pessoas a se observarem mais, e a perceberem que
suas questões, mesmo familiares, afetam o clima da empresa e as relações
interpessoais. Nosso trabalho com o clima é trazer as questões que não são ditas,
ou por falta de coragem de se expressar ou por não ter espaço institucional para
tanto. Através das vivências de papéis as pessoas conseguem se vir a partir de fora
e começam a falar como se fossem atores em cena expressando suas emoções e,
sentindo-se apoiadas nestes momentos, se sentem mais verdadeiras: para com elas
mesmas e para com os outros. Isso torna o ambiente mais fluido, mais leve e
26
transparente.
Nas comunidades que apresentam conflitos, trabalhamos com os papéis:
presentes e ausentes na comunidade. Todos os papéis são importantes para compor
a totalidade. Dessa maneira todos precisam ser ouvidos, até os ausentes. Estes são
expressos, inicialmente por nós, que sempre damos a partida, e depois por outros
membros da comunidade que se sintam mobilizados para tanto.
Em 2009, realizei pelo Instituto Janus um trabalho em três assentamentos do
INCRA no interior do Ceará, facilitando os conflitos com assentados Nesse trabalho,
surgiu a questão dos jovens que estavam deixando suas terras e vindo para a
capital, morando geralmente na periferia, com a ilusão de melhorarem de vida.
Isso despertou a nossa equipe para a realização de uma videoconferência
com Arnold e sua esposa Amy Mindell sobre esse tema: A Violência no Campo e na
Cidade, que foi realizada na Assembleia Legislativa do Ceará com participantes de
dois municípios (assentamentos) e de Fortaleza com tradução simultânea.
No mesmo ano, realizamos um seminário internacional - Trabalho
Processivo para Superar a Violência, com o Diplomado em Trabalho Processivo
Stanford Siver, PhD em Psicologia.
Em 2011, mobilizados por uma entrevista de rádio local sobre o aumento do
índice de assassinato de mulheres na região do Cariri, decidimos, meu companheiro
e eu, realizar mais uma videoconferência com Arnold e Amy Mindell sobre este tema.
Fomos à região do Cariri para uma pesquisa local e, para nossa surpresa, vimos que
não apenas as mulheres sofriam com agressões. Homens mas, principalmente,
casais homossexuais eram também vítimas. A partir de então, resolvemos ampliar o
tema da videoconferência para A Violência nas Relações Afetivas, integrando assim
todos os tipos de relacionamentos. A videoconferência, ligando Portland, Oregon,
EUA a Fortaleza, mais uma vez na Assembleia Legislativa, ocorreu em outubro,
mostrando uma realidade que ou é ignorada ou é vista como normal pela sociedade.
E também mostramos mais uma vez como funciona a metodologia do trabalho
processivo com esse tema.
Em Agosto de 2013, realizamos uma Semana Internacional com vários
Seminário focando o tema “Jovens em Conflitos e suas Realidades”. Essa semana,
com dois profissionais, mestres na metodologia do Trabalho Processivo, uma do
Japão e outro dos EUA, promoveu a troca de saberes e de experiências:
27
internacionais e locais e apresentou o Trabalho Processivo como uma metodologia
de resolução de conflitos para profissionais envolvidos com jovens em situação de
risco e vulnerabilidade e suas instituições.
28
4 TRABALHO PROCESSIVO: O DESENROLAR DE UMA PRÁTICA
A Psicologia Orientada pelo Processo8, também chamada de Trabalho
Processivo é uma prática multicultural, em múltiplos níveis de percepção consciente
criada pelo Dr. Arnold Mindell. Com Mestrado em Física pelo MIT - Massachusetts
Institute of Technology e Doutorado em Psicologia pelo Union Institute, Cincinnati,
Ohio, EUA, Mindell iniciou-se na Psicologia como Analista Junguiano. Ele é autor de
vinte e dois livros em vinte e três línguas, entre eles O Corpo Onírico (Summus,
1989), Dreammaker Aprentice (2001) (O aprendiz de fazedor de sonhos), The
Shaman's Body (1993) (O corpo do Xamã), Quantum Mind and Healing (2004)
(Mente Quântica e Cura), O Caminho do Rio e O Ano I – Rumo ao Processo Global.
Ele é bastante conhecido no exterior, na área de gerenciamento de conflito e pela
sua integração da Psicologia com a Física; seu trabalho com sonhos, trabalho
corporal e relacionamentos.
Nos anos 19709, Arnold desenvolveu o que ele chamou, inicialmente de
Trabalho com o Corpo Onírico, depois denominado Trabalho Processivo, ou como é
mais conhecido na Europa e Ásia, de Psicologia Orientada pelo Processo - POP.
Nos anos 1980, ele e sua companheira, Dra. Amy Mindell, com colegas, co-
fundaram o Instituto original de Psicologia Orientada pelo Processo em Zurique,
Suíça. Em 1991 Mindell muda-se para Portland, Oregon, EUA e funda com alguns
amigos o Instituto de Trabalho Processivo – PWI na sigla em inglès de onde passa a
difundir a metodologia e formar profissionais do mundo inteiro.
Mindell integrou as diversas correntes da Psicologia, extraindo da Psicologia
Junguiana a utilização de lendas e mitos e a imaginação ativa; da Gestalt-Terapia o
”perder a cabeça para encontrar seu sentido”, de Carl Rogers o apoio incondicional
ao indivíduo, entre outras.
Mindell (1991, p.17) define o Trabalho Processivo, na psicoterapia, como um
trabalho realizado em cima de situações que as pessoas trazem, essas situações
podem ser as mais variadas possíveis como um sintoma, que depois desencadeie
problemas de relacionamento, como dúvidas, sonhos ou dificuldades com a situação
8 Conforme sítio - <http://www.iapop.com/pt-br>
9 Conforme sítio - <http://www.aamindell.net/about/>
29
do planeta. A pessoa pode vivenciar um processo com vários aspectos interligados.
Cabe ao profissional de processos acompanhá-lo deixando as coisas se
transformarem segundo seus próprios desígnios, evitando organizá-las ele mesmo.
O cientista do processo como ele mesmo se chama, precisa acompanhar a situação
individual ou familiar do cliente, valendo-se de acuradas observações para descobrir
a natureza dos processos. Existe uma atenção aos verbos que são empregados
pela pessoa, como também uma observação aos movimentos corporais. O
profissional também acompanha as suas próprias reações diante da situação do
cliente. Dessa maneira, ele não só deixa o rio fluir, como aprecia a sua verdadeira
natureza.
As ideias e os métodos da Psicologia Orientada por Processos, ou Trabalho
Processivo, possuem fortes laços entre os ensinamentos ancestrais e a física
moderna. Os métodos se apoiam na percepção de um campo criativo sobreposto
que nos molda e atrai, inicialmente, nossos sentimentos conscientes e sutis, sinais e
impulsos, comunicações não intencionais, sonhos, estados alterados, sintomas,
tensões, conflitos e depois a criatividade, em nós mesmos, nas organizações e
comunidades a que pertencemos.
Hoje, o Trabalho Processivo é utilizado na terapia individual, problemas
corporais, pessoas em coma, vivências perto da morte, grandes grupos e gerência
de mudanças organizacionais.
Em 2012, Mindell recebeu um prêmio da Associação dos EUA para
Psicoterapia Corporal como um dos pioneiros no trabalho corporal, lançando as
bases para uma psicoterapia somática.
Pesquisas e práticas recentes de Arnold levam a uma “Ecologia Orientada
pelo Processo”10, integrando trabalho com conflito em grandes grupos com temas
ambientais. Arnold e Amy Mindell são palestrantes em conferências internacionais
sobre terapia, psicologia, física, mudança organizacional e trabalho com conflitos. O
casal, atualmente, trabalha com a UNESCO11 ensinando facilitação de conflitos e
fóruns abertos12.
A Metodologia do Trabalho Processivo vem sendo utilizada no Brasil pelo
10 Conforme <http://www.aamindell.net/2694/research/ecology-psychosocial-action/ecology-science-and-art/> 11 UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
12 Fóruns Abertos são encontros estruturados, presenciais ou remotos, nos quais todos se sintam representados e sejam facilitados de maneira profundamente democrática (Mindell, 2002, p. 3).
30
Instituto Janus, do qual eu faço parte, desde 1999. É um método que nos empolgou
por ser transformador, levar em conta a natureza interior das pessoas e do meio
ambiente, baseando-se na Física Quântica, na Psicologia, no Taoismo, no
Xamanismo e nas culturas tradicionais. Possibilitando a comunicação com pessoas
em coma profundo, a resolução de conflitos, questões raciais e de gênero, pessoas
em estados alterados de consciência e outras aplicações.
4.1 O MÉTODO
Trabalho processivo é uma metodologia prática de mudança e crescimento
pessoal, é um conjunto de ferramentas para lidar com as coisas que acontecem com
você. O Trabalho Processivo foi originalmente desenvolvido como um paradigma
psicoterapêutico clínico, para trabalhar com a vida pessoal, relacionamentos e a
Psiquiatria, mas começou a encontrar aplicação nos sintomas, com pacientes em
coma, na dinâmica organizacional e em conflitos, tanto pequenos quanto de larga
escala social.
Mindell (1991, p.23) fala em processo, para ele esse termo faz referência
a mudança na percepção e nas variações de sinais experimentados por um
observador. É uma abordagem para trabalhar os problemas humanos, baseada na
percepção consciente dos sinais e eventos que estejam ocorrendo no momento. Os
processos também podem ser descritos como mais próximos – processos primários,
ou mais distantes da consciência – processos secundários.
Mindell (1991, p.25) fala de processos primários e secundários, empregando
estes termos como uma redefinição do termo comumente empregado; “consciente” e
“inconsciente”. Ele achou adequada a substituição porque esse termo nem sempre
tem uma utilidade empírica em sua forma presente. Quando lidamos com estados
psicóticos, fenômenos que ocorrem próximo da morte e experiências corporais
profundas, observamos que esses termos perdem muito seu sentido.
Quanto mais desconhecido, mais secundário. O processo secundário,
geralmente, ocorre como uma espécie de crise de identidade, desse modo, quanto
mais conscientes formos mais perceberemos que somos uma combinação de muitos
processos, que podem está ocorrendo ao mesmo tempo. Uma pessoa consciente é
alguém que não só sente ou vê algo, como tem consciência do que está sentindo ou
vendo, tendo plena noção do que se passa, e estando ciente dos sinais emitidos ou
recebidos.
31
Vejamos a seguinte explicação de processos primários e secundários:
As pessoas se identificam com suas intenções, seu processo primário. Os processos secundários são vividos como coisas estranhas, distantes. Por exemplo, você pode ser um sujeito muito doce e decente no geral. Identifica-se com sua doçura e a sua decência. Mas de vez em quando se torna um monstro. Esse monstro algo que lhe acontece. Você acha que não é característica de sua pessoa. No que lhe diz respeito, uma vez ou outra vem à tona. Ser o monstro é seu processo secundário. Ser doce é se processo primário. (Mindell, 1991, p.25)
Mindell usa o termo canal para determinar como os sinais e processos são
transmitidos ou percebidos, isto é, o meio de comunicação das pessoas consigo
mesmas e com o mundo. Ele faz uma analogia com os canais dizendo que são
como trilhos no quais corre o trem do processo, ou então (são como) as direções
possíveis de um rio (Mindell,1991, p.26).
No entanto, a complexidade da vida moderna, as crises políticas,
econômicas, sociais e ambientais que nosso mundo vem enfrentando, reclamavam
uma nova dimensão de percepção consciente, novas lideranças e mais
responsabilidade por nossas vidas, relacionamentos interpessoais, organizações e
planeta. Assim nos anos 1990, Arnold começou a expandir o Trabalho Processivo
para incluir a Teoria Quântica e uma forma mais profunda de democracia que se
aplicasse aos três níveis de realidade13 e a todos os estados de consciência:
“normal”14, alterado e extremo, para indivíduos e grupos.
Em um de seus primeiros livros Mindell diz:
Aqueles que estão preocupados com a situação mundial precisam de métodos que: I. Funcionem rapidamente, sejam diversificados e multidimensionais; II. Valorizem as abordagens psicológicas, ecológicas, espirituais e comportamentais conhecidas e as vinculem aos métodos de resolução de conflitos para pequenos e grandes grupos; III. Lidem com os perigos do agravamento da tensão emocional que conduz a guerras, e reconheçam o significado potencial da raiva; IV. Sejam transculturais e tenham sido testados; V. Permitam opiniões e posturas divergentes a respeito de eventos coletivos. (MINDELL, 1992, p.18)
13 1) Realidade Consensual – realidade objetiva; 2) Realidade Emergente – subjetiva, emocional e onírica; e 3) Essência – realidade que não pode ser descrita com palavras, como o Tao.
14 Para o Trabalho Processivo o estado dito normal de consciência é característico de uma dada área, cultura e época.
32
Surgia assim, o Trabalho Global ou Worldwork, definido15 por Mindell como
uma metodologia do Trabalho Processivo para pequenos e grandes grupos que
utiliza o conceito de campo como um fenômeno natural que inclui todo o mundo.
Campos são onipresentes e exercem forças sobre as coisas em seu meio e não têm
limites, isto é, não tem interior nem exterior, mas permeiam tudo, como vibrações
eletromagnéticas ou uma atmosfera que não tem limites bem definidos. Todo mundo
tocado por um determinado campo torna-se parte dele.
Outro conceito fundamental do Trabalho Global, para resolver questões de
grupos e organizações de todo tipo, é a atitude da Democracia Profunda, em si
mesma, uma ideia ancestral, que pode aparecer em qualquer lugar, a qualquer
época e em qualquer grupo, sempre que a sensibilidade é usada em conexão com o
ambiente. Esta sensibilidade envolve a percepção consciente, um interesse por nós
mesmos, pelos outros e pelos eventos externos.
O princípio básico da Democracia Profunda é que a direção, a resolução e a
transformação de indivíduos e comunidades, se dão apenas quando todos os pontos
de vista, emoções e dimensões da experiência podem se expressar e interagir entre
si. Só assim ela contribui para a sabedoria do campo global.
A Democracia Profunda é a atitude de acolher todos os nossos lados, tanto
o “bom” que a gente reconhece, quanto o “mau” que repudiamos. Esta atitude na
vida pessoal, significa abertura para todas as nossas vozes internas, nossos
sentimentos e movimentos, aqueles que conhecemos e os que não conhecemos.
Nos relacionamentos, significa ter percepção consciente permanente de nossos
mais altos ideais e piores humores. Na vida do grupo ela significa a disposição para
ouvir e experimentar qualquer parte dele que apareça. No Trabalho Global, a
Democracia Profunda valoriza a política, a etnicidade, o separatismo e o espírito da
natureza. (MINDELL, 2008, p.185)
Para aplicarmos o Trabalho Global em nossa vida, precisamos ter mais
consciência de nós mesmos e do mundo ao nosso redor, como por exemplo, os
movimentos de rua, o aumento do índice de homicídios, principalmente de jovens, os
conflitos de gênero, raciais e muitos outros. No entanto, gastamos tanto tempo
policiando as pessoas e tão pouco tempo procurando soluções que sejam
15 Conforme definição em - http://www.aamindell.net/1691/worldwork-terms/worldwork-ww/
33
sustentáveis.
O que o Trabalho Processivo propõe, com a utilização do Trabalho Global,
diante da violência, por exemplo, é melhorar a situação dos pobres e o respeito aos
grupos minoritários. É reconhecer nos jovens o talento que naturalmente apresentam
e suas habilidades para a facilitação da Democracia Profunda. Os próprios jovens
poderiam fazer um tipo de trabalho que transforma a energia da violência em
animação e vida comunitária.
Insiste Mindell (2008, p.185) que as ferramentas do Trabalho Global só
funcionam a partir de uma atitude de Democracia Profunda.
4.2 O ENCONTRO COM O TRABALHO PROCESSIVO
Em 1999, através de meu companheiro descobri, na bibliografia de um livro
de terapia infantil, livros de Arnold Mindell sobre “O Corpo Onírico”. Percebi que
minha criança interior tinha me levado a uma grande descoberta: O Trabalho
Processivo. No início daquele mesmo ano fundamos o Instituto Janus, uma ONG de
assessoria. A partir de então, durante sete anos, estudamos e praticamos conosco
mesmo, na prática clínica e em uma pequena empresa.
Em 2006, o Banco do Nordeste do Brasil financiou um projeto, com essa
metodologia, para resolução de conflitos em três assentamentos de reforma agrária
no Estado do Ceará. A partir de 2007, começamos a trabalhar com conflitos e clima
organizacional em pequenas empresas.
Em 2008, o Instituto Janus publicou, de Mindell, o livro “A Liderança como
Arte Marcial - Técnicas e Estratégias para Resolução de Conflitos”, que nós
aplicamos em organizações, instituições e movimentos sociais ajudando a melhorar
o clima e as relações entre as pessoas.
Em 2009, Arny e Amy Mindell facilitaram um Fórum Aberto através de
videoconferência sobre A Violência no Campo e na Cidade – integrando
Assentamentos do interior do Ceará e a cidade de Fortaleza.
Em 2010, Mindell em um de seus seminários anuais em Yachats, no litoral
de Oregon, EUA: The Facilitator's Dance: Worldwork for Sustainable Futures16,
convidou, a mim e meu companheiro, para apresentarmos a Capoeira Angola, como
luta e dança, para um grupo de oitenta pessoas de vários países.
16 A Dança do Facilitador: O Trabalho Global para Futuros Sustentáveis
34
Começamos, neste mesmo ano, a trabalhar com a Coordenação do
Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim - MSMCBJ trabalhando
com o clima e mudança organizacional.
Em 2011, novamente Arny e Amy facilitaram novo Fórum Aberto por
videoconferência, desta vez sobre a Violência nas Relações Afetivas.
Nesses quatorze anos sentimos grandes dificuldades em apresentar esse
método, que propõe um novo paradigma, assumir as questões mundiais a nível local
e individual. Pois, como diz Mindell, em seu livro O Ano I - Rumo ao Processo
Global, a maioria das pessoas, inicialmente, diante de problemas globais prefere
ignorar o problema.
Diante de problemas no mundo a maioria de nós fecha os olhos e tapa os ouvidos. Acreditamos secretamente, que o mundo possui uma mágica de autocura. Quando a cidade se torna insuportável, fugimos para o mato, (...) e esquecemos o resto. Desenvolvemos um certo torpor diante de um ônibus lotado , ficamos apáticos quando nos perguntam como enfrentar a guerra (…). Não é que sejamos realmente inconscientes; apenas queremos evitar problemas. E, principalmente, temos medo. Não sabemos nem mesmo como lidar com um conflito com um vizinho, e quando se trata de conflitos globais e do ar cinzento e poluído de nossa vida cotidiana, desmoronamos.(MINDELL, 1992, p. 26)
Dessa maneira, o que as pessoas geralmente fazem é entregar as questões
ambientais, políticas e sociais ao governo, depositando neles suas esperanças, e
mudar isto, não é fácil. Mindell (1992, p.27) comentando a nossa resistência às
mudanças, diz: “E por que não mudamos? Poderia haver algo eventualmente útil em
nossas condutas atípicas?” Esta compreensão das pessoas que se opõe às nossas
ideias, só é possível pela visão do Trabalho Processivo, de que a cobiça, o ciúme e
a inveja, o ódio e a competitividade, quando processados, nos aproximarão mais de
nossos semelhantes.
No entanto, estas informações e experiências quando não são processadas
envenenam o corpo e o meio ambiente e afastam as pessoas. Em minha experiência
com grupos em conflitos observo isto, as pessoas jogam fora suas questões
humanas como sentimentos não reconhecidos e eles ficam pairando no ar como
fantasmas, perturbando as relações. No Trabalho Processivo compreende-se, no
entanto que todas essas questões são estados momentâneos, e seus significados
profundos só podem ser descobertos e transformados, quando acessados
35
conscientemente.
Assim, o Trabalho Processivo passou a fazer parte do meu cotidiano pois,
como a permacultura, ele me permite uma visão mais ampliada da nossa realidade.
Comecei a ver a realidade, externa e interna, com outros olhos e perceber minhas
atitudes e as das pessoas com mais cuidado e compaixão. Afinal, estamos todos em
um mesmo barco onde o que eu faço por você volta para mim. Como dizia Lavoisier,
nada se perde, tudo se transforma.
Em um mundo no qual as mudanças ocorrem de forma quase que
espontânea, temos hoje um grande desafio para com as gerações futuras; crescer
com maturidade e uma compreensão ampliada.
Diante de uma realidade na qual as pessoas vivem alheias de si e do outro,
enquadradas em suas vidas e desconectadas de si, esse método vem trazer você de
volta para você mesma e para o mundo. É como se fosse uma reapresentação às
origens, que as pessoas tem dificuldade de acessar ou não acessam há muito
tempo.
Algumas vivências que tenho feito em dunas, rios, lagos e matas, tem me
ajudado a ampliar alguns canais e a me apropriar de outros que tinha perdido
acesso. Essas vivências têm como meta “o despertar da guerreira,” é um trabalho de
grupo em profundo silêncio, subindo, descendo dunas e enfrentando a mata escura
em noite de lua cheia. É um trabalho que desperta nossos instintos selvagens.
Nessa prática, tenho percebido o quanto o nosso inconsciente constrói
barreiras à nossa volta, isolando-nos dos outros e do resto do mundo, fragilizando
nossas relações. O que observo é que muitas pessoas estão soltas, como folhas
que caem das árvores e são levadas pelo vento, perdendo assim suas velhas raízes
de sustentação. Sem essa base as pessoas se tornam frágeis, vazias de si e
alienadas do mundo.
Dentro da minha visão de realidade observo uma grande dificuldade das
pessoas em se verem como seres diferenciados e, ao mesmo tempo, integrados,
numa rede de conexões. As pessoas parecem desacreditar de mudanças e de que
uma outra realidade é possível.
Hoje, com uma maior integração destas vivências com as visões de mundo,
que o Trabalho Processivo e a Permacultura representam, sinto que posso torná-las
mais presente em minha vida colocando em prática os princípios da permacultura e
36
usando o método do Trabalho Processivo tanto em grupo como em indivíduos para
facilitar e despertar novas maneira de transformar a realidade.
37
5 PERMACULTURA E TRABALHO PROCESSIVO: O FLUIR DA RELAÇÃO
A principal relação que vejo entre a Permacultura e o Trabalho Processivo ou
Psicologia Orientada pelo Processo é o princípio de seguir a natureza. A
Permacultura observa, interage, transforma, cria, aceita e respeita a natureza das
coisas e a Psicologia Orientada pelo Processo do mesmo jeito. Ambas foram
geradas, inicialmente, a partir da observação da natureza e do homem.
A permacultura é uma ciência voltada para a melhoria e o bem-estar,
sustentáveis, das pessoas por longos períodos, com a visão holística de aproximar
as técnicas de culturas tradicionais com as modernas. O Trabalho Processivo é uma
nova e, ao mesmo tempo, antiga visão que resgata e trabalha com os problemas
humanos, baseado na percepção consciente dos sinais e eventos que estejam
ocorrendo no momento.
Como a permacultura, esse método tem a força na simplicidade, no óbvio, e
é integrador, trabalhando com o processo, acompanhando as mudanças e a
evolução das coisas, demonstrando que não funciona rejeitar partes de nós
mesmos. Ele recomenda a necessidade de assumir nossos maus humores, dores,
incômodos, pensamentos negativos. Em seu livro A Liderança como Arte Marcial
Mindell diz: “Nada pode ser jogado fora de um campo. Estamos todos realmente
interconectados como um ser único.” (2008, p. 158)
Um permacultor observa a influência de um campo da seguinte maneira. Ao
notar o pouco crescimento de árvores novas ao redor (ou no campo) de uma árvore
velha teve a ideia de podar a árvore velha e observar o que acontecia com as
árvores novas. Elas passaram de imediato a crescer mais rapidamente Essa
influência se dá, como se agora a árvore velha passasse uma “informação” de
crescimento para as árvores mais novas, que ao recebê-la cresceram
vigorosamente.
Temos outro exemplo citado por (SHELDRAKE,1988 apud Bolen,2003, p.25)
que é a história do centésimo macaco que inspirou os ativistas antinucleares a
manterem sua luta, quando tudo indicava que a corrida nuclear armamentista não
poderia ser detida. Esta fábula se baseia na “Teoria do Campo Mórfico” Nessa teoria
a mudança do comportamento de uma espécie ocorre quando uma massa crítica,
um número exato necessário é alcançado. Quando isso ocorre, o comportamento ou
38
hábito de toda espécie é alterado. (BOLEN, 2003, p.25)
Na minha experiência, noto a influência do campo, na atitude das pessoas
que se queixam por não poderem se pronunciar nos grupos. Algumas faltam às
reuniões, outras temem falar abertamente, como se ninguém soubesse mais como
escutar. O que tenho observado nessas pessoas é uma baixa autoestima uma falta
de capacidade em acolher umas às outras ou a ajudar-se mutuamente. Também se
observa a falta de resiliência, isto é, manter-se sereno diante de uma situação de
estresse. A resiliência tem essa capacidade de se vincular a outras pessoas para
viabilizar soluções para intempéries da vida, sem receios e medo do fracasso.
O Trabalho Processivo observa esse campo e interage com ele, com o
cuidado necessário e tentando trazer para a consciência o que está inconsciente
tentando resgatar o potencial que o ser humano possui.
Já a permacultura permite buscar uma possível descoberta, ver a
possibilidade de interação e qual a possível função entre cada componente. Ela
procura entender o funcionamento do ecossistema.
No Trabalho Processivo Mindell (2008, p.159) cita um exemplo de um caso
que se assemelha a essa visão da permacultura, mas com um viés terapêutico. Uma
cliente lhe procurou para pedir ajuda, pois estava em estado terminal de um câncer e
trazia queixas de depressão e insônia, onde mesmo com remédios não conseguia
dormir. Mindell suspeitou que esse distúrbio do sono estivesse ligado a uma
necessidade inconsciente de ela ficar acordada, e resolveu seguir o processo que
estava acontecendo. Recomendou que ela tomasse café preto antes de ir para a
cama. Ficando acordada desse modo ela percebeu que poderia realizar algumas
coisas que precisavam ser feitas, algumas pendências, como pagar seus impostos e
regularizar suas dívidas antes de morrer. Essa atitude, não só resolveu seu
problema de insônia, como lhe permitiu escrever vários artigos para revistas que,
posteriormente, foram publicados. Depois de algumas semanas uma coisa estranha
aconteceu, seu câncer parou de crescer e ela parou o tratamento de quimioterapia.
Segundo Mindell (2008, p.159), não há nenhum meio de se saber qual foi a
causa da recuperação da mulher. Teria sido sorte, o amor dele e a fé por ela, a
quimioterapia, ou uma reversão espiritual, como diriam alguns xamãs e curandeiros?
Ele ainda fala que o café nesse caso apesar de alguns malefícios a ele associados,
foi uma boa “ecologia”; ele serviu para o processo de vida total dela. Para ele o ser
39
humano não pode ser ajudado de forma linear, já que nosso mundo é complexo
demais. No exemplo acima o sintoma apresentado pela cliente foi associado a algo
aparentemente prejudicial a saúde (o café) que conscientemente utilizado, de
maneira criativa transformou-se em seu processo de cura.
O que vejo na Permacultura é a observação de maneira sistêmica e não
linear de ver as coisas que ela oferece. O que se tornou ruim, ou que não interessa
mais ao planeta, pode ser transformado em algo que tenha utilidade para o sistema.
No Trabalho Processivo, o pensamento ecológico deve, por natureza, incluir
a psicologia, a espiritualidade e a política. Para que o nosso planeta possa
sobreviver aos problemas precisamos ter mais consciência do que está ao nosso
redor, como os movimentos de rua, o aumento do índice de homicídios,
principalmente de jovens, os conflitos de gênero, raciais e muitos outros .
Precisamos aprender a conciliar nossas diferenças, a reprocessar o nosso lixo
humano e não delegar a solução às gerações seguintes ou a governos. Para se ter
mais consciência precisamos ousar a colocar as mãos naquilo que não parece ser
tão agradável e ter a coragem de transformá-la em algo útil para si e para o planeta.
Quanto mais detritos jogamos fora, mais atravancada a terra vai ficando.
Para a permacultura, os resíduos e detritos desequilibram os sistemas de
escoamento da Terra a menos que seja reciclados ou reaproveitados. Da mesma
forma, o Trabalho Processivo considera que os resíduos psicológicos, como as
tensões e os “não ditos”, podem congestionar os sistemas espiritual e
comunicacional do planeta. ”Se o globo é um sistema, ou campo, não podemos jogar
nada fora; só estaremos recolocando dentro do sistema.” (MINDELL, 1993).
O Trabalho Processivo pode também ser considerado uma ecologia do
psicológico ou psico-ecologia. Por isso o não processamento de nossos dejetos é
um sintoma do não processamento de nossas experiências com a terra. Processe
seu lixo, não o jogue mais simplesmente fora!
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A imagem abaixo foi criada por Arnold Mindell para expressar a ideia do
Trabalho Processivo em seus múltiplos aspectos. No centro a Percepção Consciente
da mutação e do processo que são representados pelo Tao, uma das bases da
filosofia chinesa. O Sol e a Lua representam as várias formas de percepção
consciente. Enquanto o sol foca nos aspectos claros como os sinais emitidos, a lua
foca nas interconexões mais amplas entre os indivíduos, suas partes e seus
mundos.
Ao redor se observa as áreas na qual o Trabalho Processivo ou Psicologia
Orientada por Processo é praticada. Esta prática tem um objetivo de amplo espectro.
Desenvolver teorias e métodos aplicáveis a quaisquer situações que envolva seres
humanos, incluindo a Ecologia, Psicologia, Medicina, Mudança Organizacional,
Atividade Política, Diversidade, Conflitos Severos e Trauma.
Neste sentido, a psicologia orientada por processos vê o ser humano como
esse símbolo com vários lados assumindo diversos papéis, esse leque de visões
possibilita trabalhar com movimento, questões espirituais, sonhos, relacionamentos,
Figura 1.Trabalho Processivo como uma ideia, teoria e prática
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a psicologia, a política, e a Física Quântica para explicar alguns fenômenos que a
mente causal não explica. Tudo isso é desenvolvido como já foi dito seguindo
sempre a natureza dos indivíduos e grupos considerando o ambiente e o campo no
qual estão inseridos.
Holmgren (2013, p.34) criou a imagem de uma flor para explicar o que é a
permacultura, mostrando na flor as várias dimensões que a permacultura percorre. A
jornada da permacultura se inicia a partir das éticas e dos princípios de design e
percorre os domínios fundamentais necessários para a criação de uma cultura de
sustentabilidade. O caminho evolucionário em espiral reúne todos estes campos de
domínio, iniciando por um nível pessoal e local e evoluindo para um nível coletivo e
global.
Ambas as imagens tem uma visão holística e integradora atuando em várias
áreas sempre seguindo a natureza e respeitando a realidade. Elas transmitem uma
ideia de algo sempre em movimento como se cada tópico complementasse ou
transformasse o outro.
A permacultura é interdisciplinar e ela ganha dimensão quando se fala da
Figura 2. A flor da Permacultura
42
pétala: espaço construído que é o espaço da bioarquitetura.
� O manejo da terra e da natureza onde se tem a dimensão da agronomia, do
técnico agrícola e onde entra a agroecologia com a agro-floresta e a
agricultura.
� A posse da terra e governo comunitário é uma dimensão da permacultura
mais social, também ajudam na criação de ecovilas de associações
comunitárias.
� A dimensão da economia e finanças entra a questão de recursos,
contabilidade, usam o paradigma da economia solidária, as feiras de troca, as
feiras orgânicas, isto é como se auto sustentar sem depender dos recursos
externos.
� A saúde e o bem-estar espiritual faz um resgate dos conhecimentos
tradicionais das ervas medicinais, dos remédios fitoterápicos, bem como as
práticas espirituais e da prática do yôga
� Na dimensão da educação e cultura a permacultura valoriza uma educação
mais holística uma pedagogia de contato com a natureza que foge das
tradicionais uma eco pedagogia baseada em Paulo Freire onde se tem uma
cultura do teatro, da dança, das artes, da musica. Visando aspecto cultural de
cada região.
� A dimensão ferramentas e tecnologias observam que a nossa cultura não tem
o hábito de mexer com ferramentas e que nossa tecnologia é reprodutiva. É
importante saber usar as ferramentas apropriadas principalmente diante do
conceito atual de tecnologia social que é uma tecnologia na qual se usa o
telhado verde , a captação da água da chuva, os fornos solares e etc. Essa
tecnologia já vem sendo usada no Brasil encontrando alguns grandes
financiadores.17
17 Conforme <http://www.youtube.com/watch?v=FRDoSQzAhMA> acesso em: 05.11.2013.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A principal contribuição deste trabalho para a Permacultura é permitir que o
Trabalho Processivo fortaleça e aprofunde o seu princípio ético de Cuidar das
Pessoas.
Ao chegar até aqui, no entanto, me percebi questionando os papéis que
venho desempenhando na vida. O que o mundo me demanda agora? O que tenho
feito para mudar esta realidade?
Resolvi então, contatar pessoas do interior do Estado para utilizar o Trabalho
Processivo e a Permacultura para ajudar as pessoas com menos recursos do campo
a se tornarem mais autossuficientes e a transformar criativamente seus obstáculos
em oportunidades. Com a utilização de técnicas permaculturais e processivas de
grupos, vejo grandes possibilidades de facilitar a transformação da realidade atual
excludente do interior do Estado, propiciando a esperança e melhorias para o
cotidiano das pessoas.
A Permacultura com sua visão transformadora precisa de diversos métodos
que tenham visão holística e que aproximem e integrem técnicas tradicionais e
modernas.
O Trabalho Processivo, na minha concepção, é o que se aproxima mais da
Permacultura, por trazer novas e antigas maneiras de trabalhar com problemas
humanos e, esta ideia foi se consolidando à medida que fui aprofundando meus
estudos e práticas. O Trabalho Processivo observa e integra os canais baseados
nos nossos sentidos - visão e audição, e o canal de mundo – ambiente e
acontecimentos externos significativos, como meios de comunicação, reforçando e
aprofundando as pétalas ligadas “ao aspecto 'teia de aranha' dessa espiral de
natureza incerta e variável” que é a flor da Permacultura. Pétalas estas,
fundamentais, para que a permacultora possa fluir e se sentir mais pertencente ao
ambiente em que se encontra, uma facilitadora de processos, desperta, para suas
conexões interiores, com o outro e o mundo.
Como bem disse o professor Stuart B.Hill da Universidade de Western
Sidney, Austrália, no prefácio do livro Permacultura (2013, p.14): “A Permacultura
também reflete a contínua evolução dos nossos sistemas de conhecimento” e esse
sistema de conhecimento não pode deixar de lado o ser humano, que precisa ser
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mais consciente de si e de suas realidades.
Isto tudo me levou a abrir mais conscientemente minha mente e fui assim
conduzida a pesquisar acontecimentos no mundo, envolvendo: conflitos de povos,
desastres ambientais, situações climáticas e outros.
Sinto que a Permacultura se tornará um método estudado por aqueles que
procuram entender como funcionam as ecovilas, os ecossistemas, a produção, o
consumo, o processo de reciclagem, etc. Ela fará parte do cotidiano das pessoas,
tanto as que moram no meio rural, como em cidades, e talvez se possa observar o
oposto do que se tem visto até agora. A volta das pessoas das cidades para o
campo.
Porém, sendo os criadores da Permacultura ambientalistas, pouco se
preocuparam, ou talvez tenham deixado às gerações futuras, o desenvolvimento do
aspecto humano interior. Proponho aqui a utilização sistemática do Trabalho
Processivo com a metodologia do Trabalho Global - Worldwork, a atitude da
Democracia Profunda e Fóruns Abertos em grupos que utilizam a Permacultura,
propiciando assim opções de transformação criativa dos problemas emocionais do
ser humano.
Dessa maneira, da mesma forma que a Permacultura vem transformando
seus resíduos em insumos e suas dificuldades em oportunidades, assim a aplicação
integrada do Trabalho Processivo, transformará os resíduos emocionais ou
psicológicos “produzidos” no interior do ser humano. Esses “resíduos” seriam
processos secundários que, uma vez “reciclados”, se tornariam “insumos” ou novos
aspectos da personalidade agora integrados conscientemente, ou seja, processos
primários.
Minha proposta de trabalho para a Permacultura com o Trabalho Processivo
é realizar com grupos e indivíduos atividades que melhorem a fluidez na
comunicação entre as pessoas, fortaleçam seus relacionamentos e o espírito de
equipe. Para isso proponho: a utilização do livro A Liderança como Arte Marcial, para
o desenvolvimento de técnicas para o trabalho de grupo; do livro Percepção
Consciente, para técnicas de trabalho interior; e d'O Corpo Onírico nos
Relacionamentos, para entender a natureza dos problemas de comunicação.
Com o estudo vivencial destes livros em Grupos, aprenderemos como
processar nossas cobiças, ciúmes, invejas, ambições e egocentrismos descobrindo
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seus significados e integrando-os conscientemente.
Estas questões humanas, quando processadas, podem nos aproximar mais
de nossos semelhantes. Certamente o amor não é a única força de ligação entre as
pessoas.
Como sentir e viver de maneira coerente acreditando que cada um tem um
papel importantíssimo na preservação da vida em nosso planeta. Da minha parte,
trago esta contribuição inicial, na qual pretendo ainda me dedicar e expandir teórico
e principalmente na sua práxis.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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______. Ecologia: grito da terra, grito dos pobres. Rio de Janeiro:Sextante,2004.
BOLEN, Jean Shinoda. O milionésimo círculo: Como transformar a nós mesmas e ao mundo: um guia para círculos de mulheres; tradução Elisabetta Recine – São Paulo:TRIOM, 2003.
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. São Paulo: Cultrix,1997.
DUAILIBI, Miriam. Alfabetização ecológica, do que estamos falando?, Fortaleza, 2012. Mimeografado
FREITAS, Filipe. Ecoalfabetização e permacultura, Fortaleza, 2012. Mimeografado
HOLMGREN, David. Permacultura: princípios e caminhos além da sustentabilidade;tradução Luzia Araújo-Porto Alegre:Via Sapiens,2013.
LOVELOCK, James. A vingança de Gaia. Folha de São Paulo,12 de Outubro de 2013. <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fc2201200601htm>.
MOLLISON, Bill. Introdução à Permacultura. Tyalgum (Austrália): Tagari Publications, 1991.
MINDELL, Arnold. O caminho do rio: a ciência dos processos do corpo onírico; tradução Maria Sílvia Mourão - São Paulo: Summus,1991.
______.O Ano I: rumo ao processo global; tradução Maria Sílvia Mourão – São Paulo: Summus, 1992.
______ Percepção Consciente: trabalhando sozinho com seu processo interior; tradução Maria Sílvia Mourão – São Paulo: Summus, 1993.
______. A Liderança como Arte Marcial: técnicas e estratégias para resolução de conflitos; tradução Raul Armando Monteiro Júnior – Fortaleza: Janus,2008.
REVISTA CARTA CAPITAL. São Paulo: Editora Confiança, 2013 Outubro