luiz carlos marinovic doro · 2017-10-31 · autoconhecimento e o sentimento de eficácia,...

107
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado em Ciências do Envelhecimento Luiz Carlos Marinovic Doro Surfe e Qualidade de Vida do idoso: uma pesquisa exploratória São Paulo 2015

Upload: others

Post on 16-Feb-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

    Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu

    Mestrado em Ciências do Envelhecimento

    Luiz Carlos Marinovic Doro

    Surfe e Qualidade de Vida do idoso: uma pesquisa exploratória

    São Paulo

    2015

  • UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

    Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu

    Mestrado em Ciências do Envelhecimento

    Luiz Carlos Marinovic Doro

    Surfe e Qualidade de Vida do idoso: uma pesquisa exploratória

    Dissertação apresentada ao Programa de

    Mestrado em Ciências do Envelhecimento

    da Universidade São Judas Tadeu para a

    análise da banca examinadora como

    requisito à obtenção do título de Mestre em

    Ciências do Envelhecimento

    Linha de pesquisa: Aspectos educacionais,

    psicológicos e socioculturais do

    envelhecimento.

    Orientadora: Profª Drª Ana Martha de

    Almeida Limongelli.

    São Paulo

    2015

  • Doro, Luiz Carlos Marinovic

    D715s Surfe e qualidade de vida do idoso: uma pesquisa exploratória / Luiz

    Carlos Marinovic Doro. - São Paulo, 2015.

    107 f. ; 30 cm.

    Orientadora: Ana Martha de Almeida Limongelli.

    Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo,

    2015.

    1. Atividade física. 2. Envelhecimento. I. Limongelli, Ana Martha de

    Almeida. II. Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-Graduação

    Stricto Sensu em Ciências do Envelhecimento. III. Título

    CDD 22 – 613.70446

    Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca

    da Universidade São Judas Tadeu Bibliotecária: Daiane Silva de Oliveira - CRB 8/8702

  • FOLHA DE APROVAÇÃO

    Luiz Carlos Marinovic Doro

    SURFE E QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO: UMA PESQUISA EXPLORATÓRIA.

    Dissertação apresentada ao Programa de

    Mestrado em Ciências do Envelhecimento da

    Universidade São Judas Tadeu para a análise

    da banca examinadora como requisito à

    obtenção do título de Mestre em Ciências do

    Envelhecimento

    Linha de pesquisa: Aspectos educacionais,

    psicológicos e socioculturais do envelhecimento.

    Aprovado em:____/____/______

    Banca Examinadora

    Profa. Dra. Ana Lúcia Gatti

    Instituição: USJT Assinatura:___________________________

    Prof. Dr. Waldecir Paula Lima

    Instituição: IFSP Assinatura____________________________

    Profa. Dra. Ana Martha de Almeida Limongelli. (Orientadora)

    Instituição: CeuClar/USJT Assinatura:____________________________

  • DEDICATÓRIA

    Esta dissertação é dedicada às minhas filhas

    Clara e Julia e à minha querida

    esposa Simone.

  • AGRADECIMENTOS

    Primeiramente a Deus e Nossa Senhora, por me darem saúde e força para eu conciliar

    os estudos ao trabalho e à minha família.

    Ao meu grande amor, minha esposa Simone, pela paciência e conselhos durante

    minhas horas de estudo.

    A todos da escolinha de surfe, em especial aos alunos participantes deste estudo, sem

    vocês esta pesquisa não se concretizaria.

    À minha querida mãe Inês, ao meu irmão Marco, à Larissa, à Maria da Penha e toda

    minha família pela força e pensamento positivo.

    À minha orientadora, Prof.ª Doutora Ana Martha de Almeida Limongelli, por

    compartilhar seu conhecimento ,direcionar o trabalho e, acima de tudo, me aconselhar

    o quanto é importante, dentro de um Mestrado, conciliar os estudos com a família.

    Acredito que de todas as ajudas esta foi a mais importante para seguir firme até à

    conclusão da pesquisa.

    Em especial à minha tia Prof.ª Doutora Norma Marinovic Doro, que sempre incentivou

    não só a mim, mas a todos seus sobrinhos a investirem em cultura e conhecimento.

    Hoje, vejo o quanto isso engrandece nossa vida. Só mesmo uma pessoa tão inteligente,

    humilde e com um coração extremamente bondoso para nos possibilitar esta

    oportunidade.

    Sou grato de coração a todos.

  • RESUMO

    Com o avanço da ciência no controle de diversas doenças, tem aumentado

    significativamente a expectativa de vida no ser humano. Há evidências cientificas de

    que a atividade física realizada por idosos relacionada a hábitos de vida saudáveis

    proporcionam uma expectativa de melhor qualidade de vida, e contribuem para retardar

    os efeitos do envelhecimento. Dentre essas modalidades esportivas está o surfe,

    modalidade esportiva que trabalha capacidades físicas, como: equilíbrio, flexibilidade,

    coordenação motora geral, e variáveis psicológicas como: confiança e autoestima além

    de possibilitar novas relações interpessoais. O objetivo deste trabalho foi identificar a

    percepção subjetiva da Qualidade de Vida do idoso praticante de um programa de

    surfe. Para tanto, foi realizada uma pesquisa descritiva do tipo exploratório de cunho

    qualitativo. Participaram desta pesquisa seis idosos do sexo masculino e feminino com

    idade entre 60 e 75 anos, com status funcional ativo e fisicamente independente. Para a

    coleta de dados foram utilizados os seguintes instrumentos: Questionário de Qualidade

    de Vida, WHOQOL-Bref, WHOQOL-Old, Questionário de Classificação Econômica

    Brasil (ABEPE, 2014), Questionário de Anamnese e entrevista individual

    semiestruturada. Para a análise de dados obtidos pelos instrumentos tipo questionários

    utilizaram-se as orientações específicas de cada instrumento. As entrevistas foram

    submetidas à Análise de Conteúdo, adotando o tema como unidade central.

    Concluímos que os participantes do estudo apresentaram percepção subjetiva, em

    relação à Qualidade de Vida, de boa para muito boa. A prática do surfe foi considerada

    como fator positivo para a Qualidade de Vida dos participantes influenciando

    predominantemente nos domínios psicológico, ambiental e social. Isso indicou que os

    participantes referem-se mais aos elementos psicológicos, ambientais e sociais que a

    prática do surfe pode oferecer para sua Qualidade de Vida do que pelos benefícios

    físicos e metabólicos. Os elementos psicológicos preponderantes foram às conquistas e

    sentimentos positivos. O elemento ambiental preponderante foi a oportunidade de

    aprender novas habilidades. O elemento social preponderante foi o suporte social.

    Palavras-chave: Atividade Física; Envelhecimento; Atividades Aquáticas.

  • ABSTRACT

    Life expectancy in human being has increased significantly with the science

    advancement in control of various diseases. There are scientific evidences that physical

    activities performed by elderly people and related to healthy lifestyle habits provide a

    better quality of life expectancy and they can slow down the effects of aging. Among

    these sports is surfing. This sport deals with physical abilities, such as balance,

    flexibility, general coordination, and psychological variables such as confidence and self-

    esteem. Furthermore, surfing can enable new interpersonal relationships. The objective

    of this study was to identify subjective perception of life quality by elderly people, who

    are taking part of a surfing program. For this purpose a descriptive research of

    exploratory type, with qualitative approach, was carried out. Six elderly men and women

    aged between 60 and 75 years old participated in this research, with active functional

    status and physically independent. For data collection, the following instruments were

    used: Life Quality Questionnaire, WHOQOL Bref, Old WHOQOL, Questionnaire of

    Brazil’s Economic Classification (ABEPE, 2014), Anamnese Questionnaire and semi-

    structured individual interviews. For the analysis of data, which were obtained by

    instruments like different questionnaires, we used the specific guidelines of each of

    them. The interviews were subjected to Content Analysis, adopting the theme as central

    unit. We concluded the studied participants showed subjective perception concerning

    life quality, changing from good to very good. The practice of surfing was considered a

    positive factor for Life Quality by participants, influencing predominantly in the

    psychological domains, environmental and social fields. This indicated that the

    participants refer more to the psychological, environmental and social elements which

    the practice of surfing can offer to their quality of life, than the physical and metabolic

    benefits. The predominant psychological elements were the achievements and positive

    feelings. The major environmental element was the opportunity to learn new skills. The

    dominant social element was social support.

    Keywords: Physical activity; Aging; Water Activities.

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Conceitos e conteúdos das facetas inclusas no módulo WHOQOL-OLD ..... 41

    Quadro 2: Pontuação do instrumento WHOQOL-OLD, considerando reversão de

    escores negativos .......................................................................................................... 42

    Quadro 3: WHOQOL-BREF: Questões, Domínios e Facetas ........................................ 43

    Quadro 4: Alinhamento WHOQOL-OLD E WHOQOL-BREF ......................................... 46

    Quadro 5: Perfil dos participantes .................................................................................. 47

    Quadro 6: Histórico da Prática de Atividade Física ........................................................ 49

    Quadro 7: Anamnese e Locomoção cotidiana................................................................ 51

    Quadro 8: Percepção Subjetiva QV (WHOQOL-BREF) ................................................. 52

    Quadro 9: Percepção Subjetiva QV (WHOQOL-OLD) ................................................... 53

    Quadro 10: Motivos da Prática ....................................................................................... 55

    Quadro 11: Mudança da rotina diária ............................................................................. 57

    Quadro 12: Chamamento para novo praticante idoso .................................................... 58

  • LISTA DE TABELA

    Tabela 1: QV (WHOQOL-BREF) x QV (WHOQOL-OLD) ............................................... 53

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 12

    1.1 Justificativa do Estudo .......................................................................................... 16

    2 REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................... 19

    2.1 Envelhecimento .................................................................................................... 19

    2.2 Qualidade de Vida ................................................................................................ 26

    2.3 Surfe ..................................................................................................................... 30

    3 PERCURSO METODOLÓGICO ................................................................................ 39

    4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................. 47

    5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 69

    6 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 71

    APÊNDICE A - PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP ......................................... 83

    APÊNDICE B - TERMO DA AUTORIZAÇÃO E RESPONSABILIZAÇÃO DA

    INSTITUIÇÃO ................................................................................................................. 85

    APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .................. 86

    APÊNDICE D - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS (ROTEIRO DA

    ENTREVISTA) ................................................................................................................ 88

    APÊNDICE E - TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS .................................................. 89

    ANEXO A - PERFIL SÓCIO-DEMOGRÁFICO ............................................................... 95

    ANEXO B - QUESTIONÁRIO DE ANAMNESE E PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA DO

    PROJETO SÊNIOR PARA VIDA ATIVA/USJT .............................................................. 97

    ANEXO C - WHOQOL-OLD ......................................................................................... 100

    ANEXO D - WHOQOL-BREF ....................................................................................... 105

  • 12

    1 INTRODUÇÃO

    Um fenômeno comum no mundo inteiro e, em especial nas nações mais desenvolvidas,

    é o aumento do número de indivíduos que atinge a velhice. Dentre as razões para

    explicar o aumento da expectativa de vida na população, destacam-se a diminuição de

    enfermidades cardiovasculares e a melhoria do saneamento básico e das condições de

    saúde pública. Para investigarmos o envelhecimento humano, devemos ter em mente

    que este processo não é idêntico para todos os indivíduos, ou seja, não basta atingir

    certa idade cronológica para se tornar um velho. Pessoas da mesma idade cronológica

    podem estar em diferentes processos de envelhecimento (JACOB, 2006).

    Nos dias atuais, os indivíduos que se encontram na velhice recebem vários termos para

    definição de suas idades cronológicas. Segundo Neri (2000), a razão para tantos

    termos está relacionada ao preconceito em relação à velhice. Esta situação está

    associada com as doenças, afastamentos e perdas que os idosos sofrem no decorrer

    de suas vidas.

    Devemos ter em mente que uma velhice bem sucedida não é um atributo do indivíduo

    biológico, psicológico ou social, mas sim resulta da qualidade da interação entre

    pessoas em mudança, vivendo em uma sociedade que se transforma a todo o

    momento. Envelhecer satisfatoriamente depende do delicado equilíbrio entre as

    limitações e as potencialidades do indivíduo. Esse equilíbrio lhe permitirá conviver, em

    diferentes graus de eficácia, com as perdas inevitáveis do envelhecimento. Ter uma

    boa velhice depende da correlação entre o indivíduo e seu contexto, ambos em

    constante transformação (NERI, 2012).

    A qualidade de vida, na velhice, é conceituada por Neri (2011) como sendo uma

    associação direta entre conseguir realizar as funções diárias básicas, manter uma rede

    de amigos e dar continuidade aos papéis familiares, ou seja, viver de uma forma

    independente e com contato social, o que permite a aquisição de papéis e

    competências relacionadas à sua faixa etária.

    Jacob e Santarém (2006) corroboraram com estas citações, dizendo que atualmente

    percebe-se uma maior sensibilidade dos pesquisadores para os estudos científicos

    sobre envelhecimento, decorrente do crescimento do número de idosos e do aumento

    da longevidade. E ainda cita que a atividade física realizada por idosos associados a

  • 13

    hábitos de vida saudáveis proporcionam uma expectativa de melhor qualidade de vida,

    além, de ser um facilitador para novas relações interpessoais.

    Os mesmos autores apontam, entretanto, que apesar do grande número de estudos

    comprovando os inúmeros benefícios de se manter ativo, constata-se que com o

    aumento da idade cronológica há uma tendência de as pessoas se tornarem menos

    ativas, mais dependentes física e socialmente.

    Okuma (2002) comenta que o indivíduo idoso que realiza atividade física regular obtém

    benefícios físicos, psicológicos e sociais. Isto é comprovado cientificamente por meio da

    melhora da autoestima, do humor, da imagem corporal, das funções cognitivas e da

    sociabilização; associada à redução do estresse, da ansiedade, da insônia além do

    menor consumo de medicamentos. Não se pode pensar nos dias atuais em minimizar

    os efeitos do envelhecimento sem que, além das medidas gerais de saúde, não se

    inclua também a atividade física.

    A atividade física regular e o vínculo familiar ajudam o idoso a encontrar a satisfação

    pessoal e o suporte social, o que parece ser um redutor de preocupações nos

    momentos em que estejam desanimados. Esse suporte social aliado à pratica de

    atividades físicas pode reforçar o sentimento de valor social, assim como o

    autoconhecimento e o sentimento de eficácia, facilitando com isso o modo de lidar com

    situações de estresse e, também, com a possibilidade de dar sequência ao seu

    crescimento pessoal (NERI, 2012).

    Matsudo (2009) afirma que a atividade física realizada pelo idoso fortalece seu bem-

    estar físico, social, espiritual e ajuda a minimizar os efeitos do envelhecimento,

    motivando-o buscar formas saudáveis de conviver com o avanço da idade. As

    atividades mais indicadas para os idosos são de preferência de baixo impacto como

    caminhada, ioga, tai-chi-chuã, o ciclismo entre outras, e, se possível, realizadas no

    meio aquático tais como: natação e hidroginástica. Estas devem ocorrer paulatinamente

    e de acordo com as condições individuais do idoso. Em média, iniciam-se-entre 50 a

    70% da frequência cardíaca máxima e a duração das atividades não deve ultrapassar

    60 minutos, para não desmotivar a prática regular da atividade física.

    Simões et. al. (2011) citam que entre as diversas possibilidades de atividades físicas

    para os idosos, as realizadas em ambientes aquáticos vêm se destacando por ser

  • 14

    particularmente apropriado para essa faixa etária por facilitar a locomoção, diminuir o

    impacto aos ossos e às articulações.

    Embora as pesquisas sobre as relações entre prática regular de atividade física e seus

    benefícios, em particular benefícios para o envelhecimento, estejam ganhando cada

    vez mais divulgação nas redes de comunicação, ainda a vida cotidiana em nossa

    sociedade é urgente, rápida e ansiosa. Desta forma, ainda não programamos nosso

    tempo no sentido de realizá-las. Nunca as pessoas tiveram uma mente tão agitada e

    estressada. Estamos na era da indústria do entretenimento e, paradoxalmente, na era

    do tédio. As pessoas fazem diversas amizades nas redes sociais, mas raramente

    conhecem alguém a fundo e o que é pior, raramente conhecem-se a si mesmas. Esse

    quadro descrito relaciona-se à Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA). A SPA

    talvez seja o mal do século, acarreta diversos sintomas: ansiedade, sedentarismo,

    transtorno do sono, impaciência, problemas sociais, intelectuais, cansaço físico e

    mental. Provavelmente atinge mais de 80% dos indivíduos de todas as faixas etárias,

    inclusive os idosos. A Síndrome do Pensamento Acelerado nos leva a viver uma vida

    tão rápida em nossa mente, que distorce nossa percepção do tempo. Vivemos mais

    tempo biologicamente, mas morremos mais cedo emocionalmente. A medicina

    prolongou a vida e o sistema social contraiu o tempo emocional. Não sabemos mais

    amar, dialogar, ouvir, sonhar e interiorizar. Estamos viciados em informações, viciados

    em celulares, viciados em asfixiar o tempo, viciados em pensar. As pessoas estão

    ansiosas, impacientes, inquietas, sedentárias, detestam a rotina e querem tudo

    imediatamente e não percebe a vida passar (CURY, 2014).

    De acordo com Bauman (2008), vivemos hoje a “modernidade líquida”, pois o ritmo

    acelerado do mundo na atualidade contribui para que nada seja estável. As pessoas

    estão submetidas a uma constante pressão para acompanhar o mercado desta

    sociedade globalizada em suas relações econômicas e políticas. O excesso de

    informação através das inúmeras tecnologias, a busca por objetos, que, rapidamente

    são descartados exercem uma pressão sobre o ser humano. Esses novos valores

    provocam incertezas, ansiedade e medo. Diante desse quadro, as atividades físicas

    podem ajudar na diminuição dessa tensão, elas, quando bem orientadas, ajudam o

    indivíduo a enfrentar com maior desempenho este mundo acelerado.

  • 15

    Define-se o surfe como um esporte em que a pessoa, utiliza uma prancha para deslizar

    na crista de uma onda. Para que isso ocorra são necessárias algumas demandas, tais

    como, capacidade aeróbica, anaeróbica, equilíbrio e técnica apurada (ALEGRO,

    SIMÃO, EVANGELISTA 2013).

    García et al. (2008) comentam que o surfe é modalidade esportiva classificada como

    intermitente por exigir esforços variados em intensidade, duração e recuperação ativa

    ou passiva, durante uma sessão na água, entretanto em média a intensidade

    predominante utilizada é a moderada com frequência cardíaca em torno de 70% da

    frequência cardíaca máxima.

    Quando sua prática é realizada como uma atividade de lazer, pode-se classificá-lo

    como um esporte de baixo impacto e baixo ou moderado volume e intensidade. Estas

    características permitem associar tal prática a um menor risco de lesões aos seus

    praticantes (COSTA, 1998).

    O mesmo autor comenta que as atividades físicas de baixo impacto são realizadas com

    menos impacto sob as articulações, ligamentos e estruturas ósseas do nosso corpo. E,

    de acordo com especialistas, são as mais adequadas para os indivíduos que se

    encontram na velhice. Além disto, a prática do surfe também é capaz de proporcionar a

    realização de novas amizades aos seus praticantes, ou seja, observa-se que esta

    modalidade esportiva exerce um papel socializador e de lazer ao mesmo tempo.

    Ortega (2010) corrobora com as citações acima, afirmando que atividades realizadas no

    ambiente aquático oferecem maior segurança ao idoso, aprimoram seu

    condicionamento físico, mobilidade articular e postura, influenciando no desempenho

    das suas atividades cotidianas, além de também ajudar a desenvolver o relacionamento

    social.

    De acordo com Steinman (2003), a prática regular do surfe ou de qualquer outra

    atividade física contribui no combate do sedentarismo e da obesidade, além de

    proporcionar uma redução nos níveis de glicose, colesterol, triglicérides, ácido úrico e

    hipertensão arterial.

    Costa (2010) corrobora com as citações acima, dizendo que uma atividade física bem

    planejada poderá aumentar ou manter a saúde e a aptidão física do idoso, podendo

    propiciar benefícios agudos e crônicos. Dentre eles, destacam-se redução na perda de

  • 16

    massa óssea e muscular, na pressão arterial, na incapacidade funcional e nas

    dislipidemias e no aumento na força, coordenação e equilíbrio. Além de promover uma

    melhoria no bem-estar e no humor.

    Os benefícios físicos e mentais proporcionados pela prática do surfe são diversos, pois

    possuem uma interação direta com a natureza. O surfe possibilita realizar um excelente

    exercício cardiovascular, trabalhando tanto a resistência aeróbia como a anaeróbia, e

    envolve variados grupos musculares. Por ser praticado em ambiente aberto, trabalha

    equilíbrio e coordenação motora na tentativa do surfista sempre procurar se manter em

    pé sobre a prancha. O bem - estar gerado pela prática do surfe intuitivamente faz com

    que o praticante procure hábitos saudáveis, como cuidados com a alimentação, evitar

    cigarros e bebidas alcoólicas, além de procurar conciliar outras atividades físicas

    visando melhorar seu desempenho nas ondas Souza (2004 apud Bernardes, 2013).

    Wheeler et al. (2012) verificou que as pessoas preferem ver e estar perto da água do

    que em ambientes urbanos e verdes. Também foi constatado que, nas comunidades

    costeiras os indivíduos tendem a ter uma melhor saúde global do que as pessoas que

    vivem nas cidades ou no interior, e que a atividade física combinada a ambientes

    aquáticos nos quais podem ser praticados esportes como: a natação, o surfe, o

    caiaque, a pesca ou simplesmente uma caminhada ao longo da costa podem influenciar

    de maneira positiva no bem-estar de seus praticantes.

    Caddicke; Smith (2012) realizou uma pesquisa de como a prática do surfe e a

    imensidão azul dos oceanos poderia influenciar no bem-estar de um grupo de

    veteranos de guerra que sofreram estresse psicológico após os combates. O resultado

    demonstrou que a prática regular do surfe não eliminou por completo esse estresse,

    mas proporcionou aos veteranos de guerra momentos de diversão e uma sensação de

    alívio dessa angústia, mesmo que de forma momentânea, colocando mesmo que fosse

    por algumas horas, esse sofrimento em segundo plano.

    1.1 Justificativa do Estudo

    O surfe faz parte de minha rotina de vida, pelo menos, há vinte anos. Além de surfista

    realizo também, em minhas horas de lazer, pinturas relacionadas ao tema, ou seja,

    tanto na prática da modalidade ou em trabalhos artísticos o mar e todo o seu contexto

  • 17

    contribuem para melhorar meu estado físico, psicológico e social. Por meio desse

    esporte, tanto tive oportunidade de trabalho de instrutor de surfe no Guarujá, como

    também de conhecer lugares e culturas distintas. Já surfei ondas do litoral sul e norte

    de São Paulo e das cidades de Natal, Florianópolis, Recife, Fortaleza, Rio de Janeiro

    além das ondas de Países como Costa Rica e Estados Unidos.

    Com relação às pinturas, o surfe me proporcionou exposições em São Paulo, Minas

    Gerais e Florianópolis, além de diversas matérias em jornais, sites e revistas

    especializadas como: Hardcore, Venice, Mareas (Uruguai), Observer, Alma Surf,

    Planeta Àgua, Waves, Câmera surf e Jornais Diário da Tarde (Belo Horizonte) e Go

    Surf (Rio Grande do Sul).

    Essa minha identificação com a prática corporal, levou-me a escolher os Cursos de

    Educação Física, Bacharelado e Licenciatura, como minha profissão, tanto pela

    motivação de aprofundar conhecimentos sobre as práticas corporais como, também,

    contribuir com o processo de educação corporal das pessoas.

    Frente à minha trajetória, escolhi este tema como objeto de pesquisa, pois acredito que

    o surfe é um meio capaz de acrescentar elementos positivos na vida das pessoas, seja

    no lado físico, espiritual, psíquico ou social.

    Outro motivo que me fez escolher este assunto foi à escassez de material científico

    sobre surfe existente em nosso país, mesmo tendo esse esporte inúmeros adeptos de

    diferentes classes sociais e faixas etárias, e que vem crescendo muito a cada dia. Brasil

    (2015) cita que houve aumento nas publicações sobre surfe entre os anos 2000 a 2011,

    mas ainda há uma lacuna sobre estudos pedagógicos e de intervenção profissional.

    Após levantamento de dados entre os anos de 2009 a 2014 nas bases de dados

    Pubmed, Medline, Lilacs, Scielo, Capes, Scopus e constatou-se que há poucas

    produções científicas relacionadas ao tema. Encontramos 67 trabalhos relacionados ao

    surfe em seu contexto geral, e apenas um trabalho relacionado a Qualidade de Vida de

    surfistas, daí a importância deste estudo. E, por fim, a escolha deste tema foi por eu

    acreditar que este esporte possa trazer aos idosos a possibilidade de vivenciar uma

    atividade diferente das tradicionais fomentando a sociabilidade, a alegria, o contato com

    o mar/natureza e a harmonia integral da pessoa.

    Frente ao exposto, os objetivos do presente estudo foram:

  • 18

    Objetivo Geral

    Identificar a percepção subjetiva da Qualidade de Vida do idoso praticante de surfe.

    Objetivos Específicos:

    Apresentar o perfil sócio - demográfico

    Levantar dados de anamnese e de atividade física ao longo da vida.

    Identificar o motivo da prática do surfe.

    Avaliar a percepção subjetiva da Qualidade de Vida.

  • 19

    2 REVISÃO DE LITERATURA

    2.1 Envelhecimento

    A Organização das Nações Unidas estima que o Brasil, por volta do ano 2020, tende a

    ser o país com o maior número de idosos da América Latina e, ainda, o sexto do

    mundo, com 32 milhões de indivíduos acima de sessenta anos.

    Com o progresso e avanços da tecnologia e do conhecimento, nas diversas áreas da

    medicina, temos tido considerável aumento da longevidade. De acordo com Jacob

    (2006), nunca houve, na história da humanidade, tanta chance de envelhecer. Neste

    último século, nenhuma faixa etária se expandiu tanto como a dos idosos

    principalmente pela melhora do saneamento básico, das condições de saúde pública,

    da diminuição das taxas de fertilidade e natalidade.

    Biologicamente, o envelhecimento é descrito como um estágio de degeneração do

    organismo. Esta deterioração, que está associada à passagem do tempo, tem como

    consequência a diminuição da capacidade do organismo para sobreviver. Constata-se

    que, com o aumento da idade cronológica, há uma tendência das pessoas se tornarem

    menos ativas, mais dependentes física e socialmente, e suas capacidades físicas

    decrescem; por outro lado, um estilo de vida ativo pode melhorar a saúde e a qualidade

    de vida durante o processo de envelhecimento (MATSUDO, 2009).

    De acordo com Ursine et al. (2011) as doenças crônicas, comuns ao envelhecimento,

    podem dificultar a interação social do idoso, principalmente se estes indivíduos não

    participarem de atividades que fujam da rotina de seus lares, ou seja, se ficarem

    restritos as suas casas terão uma menor auto percepção da saúde.

    Os declínios físicos, psicológicos e sociais que ocorrem normalmente com o

    envelhecimento são lentos e graduais, porém pode ser ampliados pela presença de

    doenças somáticas, demências e pela depressão. Este processo determina perdas

    mais ou menos acentuadas da capacidade funcional, o que pode traduzir - se em maior

    ou menor incapacidade física e cognitiva, necessitando de alguma ajuda, seja ela em

    maior ou menor grau. O processo de envelhecer acarreta, ao indivíduo, perda da

    memória, força, agilidade, visão, audição, vigor, sociabilidade e entusiasmo, ou seja,

    conforme envelhecemos, ficamos cada vez mais vulneráveis as mudanças do meio

  • 20

    ambiente extemos tais como: o local e forma que vivemos nossas relações familiares e

    sociais (REZENDE, 2006; GALIÁS, 2012).

    Ocorrem também nos indivíduos que se encontram na velhice as perdas funcionais.

    Elas se aceleram com o passar da idade, entre os 60 e 70 anos ocorrem as maiores

    perdas, se comparadas com as que acontecem entre 50 e 60 anos. Entre os diversos

    hormônios humanos, os níveis de melatonina produzidos pelo organismo diminuem com

    o passar da idade. Isto ocasiona um descontrole nos processos fisiológicos durante a

    noite, desregulando o sono, dificultando a digestão, diminuindo a temperatura e a

    pressão sanguínea corporal, ou seja, alterando todo o relógio biológico humano.

    Percebe-se, também, uma diminuição das capacidades visuais, motoras, intelectuais e

    cardiorrespiratórias, além do aparecimento de doenças crônico-degenerativas

    (HOFFMANN, 2003).

    Também ocorre em mulheres idosas um declínio de estrogênios associados à

    menopausa, acarretando rápida perda óssea, e causando, em muitos casos, a

    osteoporose primária em mulheres no período pós-menopáusico. De acordo com

    Sachetti et al. (2010), a osteoporose é uma doença caracterizada por diminuição da

    densidade mineral óssea e deterioração na microarquitetura do tecido ósseo. Esta

    diminuição da massa óssea contribui significativamente para o risco de fraturas

    principalmente em indivíduos que se encontram na velhice. Estima-se que ela afete

    grande parcela da população idosa no mundo com predileção pelo gênero feminino.

    Outra alteração fisiológica e anatômica que acompanha os indivíduos que se encontram

    na velhice é a sarcopenia. Conforme Cruz-Jentoft (2010), esta síndrome é caracterizada

    pela perda progressiva e generalizada de massa muscular e força, em consequência do

    envelhecimento. Esta perda de força, de massa muscular e funcionalidade muscular,

    surgem como um potencial fator de risco para a baixa densidade mineral óssea, e

    ocorre com maior prevalência em homens idosos.

    Silva et al. (2006) ratificam e complementam, citando que a sarcopenia é uma das

    variáveis utilizadas para definição da síndrome de fragilidade, que é muito comum em

    idosos, o que propicia risco para quedas, fraturas, incapacidade e dependência. Esta

    síndrome representa uma vulnerabilidade fisiológica relacionada à idade, resultado da

  • 21

    deterioração da homeostase biológica e da capacidade de o organismo se adaptar às

    novas situações de estresse.

    Outro transtorno que causa desconforto ao idoso está ligado à qualidade do sono. De

    acordo com Cendes (2001), estima-se que em torno de 50% dos indivíduos com mais

    de 65 anos possuem problemas de acordar muito cedo, muitos despertam ainda de

    madrugada, e não conseguem mais retornar ao sono. Estas alterações que acontecem

    no sono noturno proporcionam uma sonolência excessiva diurna, cansaço, falta de

    energia, irritabilidade e mau humor.

    As alterações fisiológicas do aparelho respiratório também são frequentes nos

    indivíduos que se encontram na velhice. Dentre elas, as mais encontradas são: perda

    da propriedade de retração elástica do pulmão, enrijecimento da parede torácica e a

    baixa potência muscular e motora (GALLO, 2001).

    Souza (2013), Trindade (2011) e Fagherazzi (2010) citam que a redução na

    complacência da parede torácica do idoso é provocada por alterações dos sistemas

    colágeno e elástico gerando mudanças nos tecidos conectivos de suporte.

    Gagliardi (2003) ratifica ao afirmar que, sob o ponto de vista anatômico e funcional, com

    o envelhecimento ocorre redução da mobilidade da caixa torácica, da elasticidade

    pulmonar e redução dos valores da pressão inspiratória e expiratória máximos.

    A hipotrofia nos músculos respiratórios e perda da elasticidade torácica podem resultar

    em dificuldades para os pulmões em captar o oxigênio do ar atmosférico, em razão da

    deficiência na mecânica respiratória. Esse fato pode piorar em situações de esforço

    físico, ocasionando uma diminuição na tolerância ao exercício. A fragilidade desses

    músculos em indivíduos idosos pode dificultar até mesmo atividades do cotidiano, as

    quais necessitam de pequenos esforços físicos (WATSFORD, MURPHY 2008;

    BERBET e JORGETI, 2013).

    Outra doença crônica que acomete grande parte dos idosos é a hipertensão arterial.

    Segundo Monteiro; Sobral (2004), sua prevalência aumenta consideravelmente com o

    passar da idade. Essa doença não possui causa conhecida, apresentando apenas

    descritores para controle. Embora grande parte dos fatores de risco seja desconhecida,

    alguns deles já foram detectados, como idade, antecedentes familiares, obesidade,

    tabagismo, excesso de sódio na alimentação e estresse.

  • 22

    Brito et al (2008) corroboram com Monteiro; Sobral (2004), pois afirmam que a

    Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma doença de condição crônica, de origem

    multifatorial com grande prevalência na população brasileira, constituindo-se como um

    facilitador para futuras complicações cerebrovasculares e cardíacas. É considerado um

    problema de saúde pública em todo o mundo. No Brasil, estima-se que ela tenha

    prevalência entre 50 a 70% dos idosos, o que a transforma num dos principais

    determinantes de mortalidade dessa população. Além disso, a hipertensão interfere nas

    capacidades física e emocional, nas atividades de interação social, intelectual e tarefas

    cotidianas dos idosos, comprometendo a Qualidade de Vida dos mesmos.

    O diagnóstico correto e a persistência dos pacientes no acompanhamento, incluindo

    tanto o uso de medicamentos como as mudanças no estilo de vida, são fatores de

    suma importância para se alcançar resultados positivos no tratamento, e reduzir as

    enfermidades cardiovasculares (World Health Organization, 2011).

    Outra modificação que ocorre nos idosos diz respeito à estrutura de sua pele. Harris

    (2003) comenta que com o passar dos anos ocorre uma perda de elasticidade e

    capacidade de retenção de água, aumentando assim a rugosidade e diminuindo sua

    maciez. Já as unhas por sua vez ficam mais frágeis e demoram mais para crescer. O

    cabelo com a perda do pigmento natural torna-se mais branco e quebradiço. Há

    também uma perda do paladar e audição decorrentes do processo de envelhecimento.

    Também ocorrem alterações no sistema imunológico, durante o processo do

    envelhecimento. Estas alterações contribuem sensitivamente para o desenvolvimento

    de doenças e para a alta taxa de mortalidade nos idosos (BAUER, 2003).

    O mesmo autor cita que com o envelhecimento, a velocidade de condução nervosa,

    declina de 10% a 15% dos 30 aos 80 anos, enquanto a frequência cardíaca em repouso

    declina de 20% a 30% e a capacidade respiratória máxima ao se atingir 80 anos é de

    cerca de 40% inferior à daquela observada aos 30 anos.

    Com relação aos aspectos psicológicos e sociais do envelhecimento, Berbet e Jorgeti

    (2013) afirma que ocorre uma diminuição da sociabilidade, um aumento no isolamento,

    além da baixa da autoestima e do aumento nos casos de depressão. Porém, parece

    que viver e fazer planos, ter projetos e objetivos a curto e longo prazo são elementos

    fundamentais para minimizar estas situações.

  • 23

    Nota-se pelo exposto, que o olhar biológico do envelhecimento centra-se nas perdas

    que o idoso apresenta ao longo de seu processo de desenvolvimento, mas na

    atualidade, compreender o envelhecimento envolve ampliar essa visão. É trabalhar na

    compreensão de que a pessoa humana é um ser multidimensional, complexo cujo

    desenvolvimento é produzido dentro do contexto sócio-cultural-histórico, influenciando a

    totalidade das dimensões da pessoa. Desta forma, atualmente o envelhecimento bem

    sucedido está relacionado com uma boa qualidade de vida física, psicológica e social. É

    indispensável à manutenção de hábitos saudáveis de vida, como tempo para o lazer,

    contato social, alimentação adequada e atividade física regular. É importante ressaltar

    que com o passar do tempo ocorrem os incidentes patológicos; o que torna o

    organismo do idoso diferente qualitativamente, porém a velhice não é sinal de doença.

    A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2005) sugere a substituição da expressão

    envelhecimento saudável por envelhecimento ativo, pois ocorre a “otimização das

    oportunidades de saúde, participação e segurança, com objetivo de melhorar a

    qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas” (OMS, 2005, p. 13).

    Entretanto na literatura atual, encontramos diferentes conceitos como: envelhecimento

    bem - sucedido, ativo, saudável entre outros. Porém, todos eles seguem o mesmo

    princípio de que o processo do envelhecimento é multidimensional, e que fatores

    externos podem determinar o processo de como envelhecemos (Gardner, 2006).

    Oliveira (2012) cita que a escolha do termo tem relação direta com a área de formação

    do pesquisador e dos elementos abordados no estudo. Desta forma, pesquisadores da

    área biomédica tendem a utilizar o termo envelhecimento saudável, pesquisadores da

    área de humanas já utilizam o termo envelhecimento bem-sucedido e pesquisadores da

    área biológica preferem utilizar o termo envelhecimento ativo.

    Frente ao exposto, o presente estudo adotará o termo envelhecimento bem - sucedido

    para tratar do processo de envelhecimento.

    Um envelhecimento bem - sucedido consiste na otimização da expectativa de vida e na

    minimização da morbidade física, psicológica e social. Isto é, as pessoas poderão viver

    por mais tempo e de maneira saudáveis, e seu período de doenças poderá ser adiado

    ou até mesmo evitado, dependendo de fatores econômicos, sociais, estilo de vida e

    segmento social que participam Fries (2006 apud NERI, 2012).

  • 24

    O mesmo autor comenta o que os exercícios aeróbios são importantes para os

    indivíduos com mais de 70 anos, pois influenciam no controle da pressão arterial, do

    colesterol e na diminuição de fraturas por osteoporose. Também o controle de fatores

    de risco, tais como: fumo, álcool, obesidade, sedentarismo, entre outros, podem

    minimizar as patologias crônicas nos idosos. Porém, é importante lembrar que estas

    questões não podem ser observadas como responsabilidade individual, demanda de

    políticas sociais que devem impactar os sistemas de saúde e educação, além do

    planejamento dos ambientes de trabalho, dos espaços urbanos e da formação e

    atuação de profissionais envolvidos nestes assuntos.

    Outro fenômeno importante que vem sendo estudado no processo de envelhecimento é

    o da plasticidade cerebral. É muito evidente em cérebros jovens, porém, existem casos

    de idosos que após uma agressão do sistema nervoso apresentaram prejuízos de fala,

    motores e cognitivos, e que, com o passar do tempo, recuperam parcial ou totalmente

    essas funções. Não há como negar que os cérebros de pessoas que se encontram na

    velhice podem sofrer mudanças por ação e fatores variados, e que a atividade física

    possa contribuir para sua saúde física e mental. Isto ocorre devido a um aumento da

    eficiência sináptica influenciando positivamente os processos de memória e

    aprendizagem (GONCALVES, et al., 2006).

    Conforme Ravaglia et al (2007), a atividade física propicia um impacto positivo nos

    aspectos cognitivos, na saúde mental e bem - estar geral do indivíduo, durante o

    processo de envelhecimento.

    Já Cotman (2002) cita que a atividade física pode mobilizar a expressão de genes que

    beneficiam o processo de plasticidade cerebral, aumentar a resistência do cérebro ao

    dano, contribuindo na melhora da aprendizagem e do desempenho mental.

    Colcombe; e Kramer (2003) corroboram com as afirmações acima, apresentando que

    adultos idosos, que passaram por treinamento aeróbio mostraram melhoras

    significativas em vários domínios cognitivos ligados as funções de planejamento,

    organização e coordenação de tarefas em geral.

    Antunes et al. (2006) citam que o exercício físico pode ser uma alternativa não

    medicamentosa relevante para a melhora da função cognitiva de idosos, pois a prática

    regular destes possibilitam aumento na capacidade oxidativa do cérebro,

  • 25

    desenvolvendo efeito trófico em centros cerebrais envolvidos com a função sensório-

    motora. Mas, ainda são necessários mais estudos, tanto para identificar quais os tipos

    dos exercícios físicos mais adequados como também para esclarecer os mecanismos

    envolvidos entre a prática de exercícios e a função cognitiva de idosos. Embora, não se

    possa negar que esta melhora esteja envolvida com fatores de crescimento neural

    como o BDNF (brain-derived neurotrophic factor) ou outros estimuladores neurais que

    promovem a manutenção da função cerebral e promoção da plasticidade neural, e que

    os exercícios mais adequados para as funções cognitivas são os que envolvem o

    controle da consciência e o aumento do processamento central.

    Voelcker-Reahage (2010) em sua pesquisa, sobre a relação entre condicionamento

    físico e cognição com 72 indivíduos com idade média de 68 anos, concluiu que

    indivíduos que praticavam atividade física regular apresentaram uma pontuação

    elevada em testes cognitivos.

    Petroianu et al. (2010) encontraram que a prática regular de atividades físicas e mentais

    retarda a perda cognitiva de idosos. Sugere-se que essas práticas regulares promovam

    uma melhora na saúde geral do idoso, na qual há indícios de aumento dos níveis de

    fatores neurotróficos cerebrais, que estimulam a sinaptogênese e neurogênese,

    elevando a resistência às agressões cerebrais, e melhorando assim o aprendizado e o

    desempenho mental do idoso. Mas o estudo evidenciou que as atividades mentais

    demonstram maior eficácia do que as atividades físicas. Estes autores citam que a

    dificuldade em esclarecer os benefícios do exercício físico isolado para a função

    cognitiva decorre da própria dificuldade de separar qualquer estímulo cognitivo da

    atividade física. Corroborando, Chiari et al. (2010) citam que há fortes evidências de

    que atividade física e exercícios físicos regulares promovam benefícios na memória de

    idosos, mas ainda são escassas as publicações que esclarecem os diferentes efeitos

    dos exercícios aeróbios.

    O envelhecimento bem-sucedido, na visão de Baltes e Smith (2003), pode ser

    alcançado através da utilização de estratégias psicológicas relacionadas às perdas, que

    ocorrem no decorrer da vida do idoso. Do ponto de vista psicossocial um

    envelhecimento bem- sucedido se constrói através das situações vivenciadas que

    ocorrem durante o dia a dia e de experiências, que ocorrem durante toda a vida.

  • 26

    Neri; Yassuda; Cachioni (2004) reforçam estas afirmações, citando que os aspectos

    afetivos e cognitivos na velhice definirão um envelhecimento bem - sucedido, se vierem

    precedidos de boas escolhas por parte dos idosos. Estas escolhas devem selecionar o

    que é importante ou não para seu bem- estar, ou seja, suas amizades, seu lazer, sua

    forma de conviver com perdas físicas, afetivas- emocionais e cognitivas.

    Também a melhoria nas condições de vida das populações, associadas ao incremento

    dos sistemas de saúde, trabalho, transporte, educação, lazer e habitação, conduzirá a

    uma progressiva homogeneização de envelhecimento bem - sucedido. Porém ressalta

    que em se tratando da realidade brasileira essas perspectivas estão distantes

    considerando os indicadores sociodemográficos sobre o envelhecimento Fry (2001

    apud NERI, 2012).

    Em síntese, Neri (2011) pontua que o envelhecimento é um processo complexo que

    envolve diversas variáveis como: genética, estilo de vida, doenças crônicas, entre

    outras. O Envelhecimento bem - sucedido depende do delicado equilíbrio entre as

    limitações e as potencialidades do indivíduo no qual lhe possibilitará lidar, em graus de

    eficácia distintos com as perdas inevitáveis que surgirão até se atingir à velhice.

    Frente ao exposto, esse estudo compreende que o processo de envelhecimento se

    organiza segundo a compreensão do envelhecimento bem - sucedido, implicando

    reconhecer que os processos biológicos do desenvolvimento humano não são iguais

    para todos os idosos, visto sofrerem influências dos contextos socioculturais

    experimentados ao longo da vida pelo idoso. Entendemos que a atividade física e o

    contexto social interferem sobre a qualidade de vida do indivíduo, e sabemos que não

    existe uma única forma mágica que conduzirá as pessoas a um envelhecimento bem -

    sucedido.

    2.2 Qualidade de Vida

    Na sociedade atual há uma crescente preocupação com a qualidade de vida das

    pessoas. Conforme o grupo de qualidade de vida da Organização Mundial de Saúde, o

    conceito de qualidade de vida envolve três aspectos fundamentais: a subjetividade, a

    multidisciplinaridade e a presença de dimensões positivas e negativas (WHOQOL

    GROUP, 1998).

  • 27

    De acordo com Neri (2011), a QV na velhice é um conceito importante hoje no Brasil,

    percebe-se que existe uma nova sensibilidade social para com os idosos, quer

    considerada como um problema quer como um desafio para a sociedade em geral.

    Vários elementos vêm contribuindo para essa nova sensibilidade. Primeiramente nas

    últimas décadas, aumentou a consciência de que está em curso um processo de

    envelhecimento populacional. Em segundo lugar, as mudanças sociais provocaram

    novas formas das pessoas viverem a velhice, ou seja, os idosos da atualidade vivem

    mais, são mais saudáveis e mais produtivos do que os do passado.

    Irigaray; Trentini (2009) consideram que qualidade de vida é um construto

    multidimensional, que envolve critérios subjetivos e objetivos sofrendo influências da

    sociedade. Sendo assim, na velhice, a qualidade de vida está associada a ter prazer de

    viver, ter relacionamentos saudáveis, ter saúde, ter autonomia, e ter participação em

    atividades físicas, que trazem benefícios físicos e sociais aos idosos.

    Segundo Castellóm (2003), o conceito de qualidade de vida se torna cada dia mais

    importante dentro da sociedade. É bastante discutido, sobretudo em relação à vida de

    adultos e das pessoas que se encontram na velhice, sendo considerado referencial no

    âmbito da saúde e no planejamento de políticas sanitárias e sociais para os idosos.

    Para Tavares (2011), a qualidade de vida é multidimensional, e envolve questões

    financeiras, estilo de vida, saúde, moradia, satisfação pessoal e contexto do ambiente

    social. É conceituada de acordo com um sistema de valores e normas que mudam de

    individuo para individuo, de grupo para grupo e de lugar para lugar, de maneira que o

    conceito de qualidade de vida integra, entre suas variáveis, o sentimento de bem-estar

    que representa a somatória destes sentimentos.

    Neri (2012) corrobora com as citações acima dizendo que a velhice é compreendida

    como um construto sociopsicológico e processual, que reflete formas socialmente

    valorizadas e continuamente emergentes de adaptação às condições de vida

    culturalmente reconhecidas, que a sociedade, proporciona aos idosos. A procura por

    condições de um envelhecimento bem – sucedido com boa qualidade física, psicológica

    e social é mais que um desafio pessoal e social; são também questões de importância

    relevante tanto para a ciência, como para a sociedade em geral.

  • 28

    Na perspectiva de Fleck et al. (2008), encontrar virtudes na velhice, e envelhecer com

    boa percepção de qualidade de vida vêm se tornando um dos grandes desafios para o

    ser humano na atualidade. Os autores acrescentam que, nesse contexto, passou a ser

    determinante dispor de maneiras de mensurar a forma como as pessoas estão vivendo,

    com o passar dos anos, suas vidas, ou seja, de medir a percepção de Qualidade de

    Vida dos indivíduos idosos. Também ressaltam que esta concepção de Qualidade de

    Vida se refere a uma percepção subjetiva sobre a vida de cada indivíduo, influenciada

    pelo contexto sociocultural e ambiental em que vive.

    Segundo o Grupo de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde - WHOQOL

    GROUP (1995, p. 1405), a Qualidade de Vida pode ser compreendida como “a

    percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto cultural e de sistemas de

    valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e

    preocupações”.

    Percebemos uma proliferação de programas voltados à qualidade de vida dos idosos,

    encorajando-os desta maneira a buscarem a autonomia, a independência, a saúde

    física, psicológica e a inserção social, contribuindo assim para a melhoria da

    expectativa de vida. Na velhice, os idosos, precisam se movimentar para minimizar a

    perda da independência física tanto no plano pessoal, individual e social. A atividade

    física é apontada como um meio privilegiado de o idoso obter o bem- estar físico, social

    e psicológico. Estas atividades podem ser físicas e mentais, individuais ou grupais e

    podem constituir-se numa oportunidade de aumentar a autonomia e melhorar a

    qualidade de vida dos idosos, pois proporciona a oportunidade de convívio com outras

    pessoas fora do ambiente familiar (NERI, 2011; SILVA, 2012).

    Farinatti (2006) diz que, a prática regular de atividades físicas é uma estratégia auxiliar

    para a redução dos efeitos do envelhecimento sobre a autonomia funcional e da

    qualidade de vida, considerando as relações entre os fatores socioculturais e

    econômicos como participantes do processo.

    Porém, é comum, trabalhos na área da saúde, realizarem aproximações entre os

    termos autonomia e independência física e compreendê-los como sinônimos, quando

    na realidade não o são. Por isso, é importante diferenciar o conceito de autonomia e

    independência física. A independência física é caracterizada pelo desempenho

  • 29

    satisfatório das capacidades funcionais, ou seja, quando uma pessoa não precisa de

    ajuda externa, ou ainda utiliza pouco auxílio para realizar suas atividades do cotidiano.

    Já a autonomia deve ser considerada decorrente de algo que ultrapasse as ações

    cotidianas e se relacione com a realização pessoal (VELARDI, 2003). Autonomia é um

    processo de decisão e humanização que as pessoas constroem de acordo com as

    várias tomadas de decisões que vão realizando ao longo da vida e dentro dos

    diferentes movimentos sociais vivenciados. Desta forma, a autonomia se constrói

    mediante apropriação de conhecimentos dentro de um processo de coerência e ética

    (CORREIA; MIRANDA; VELARDI, 2011).

    Os autores acima afirmam que a autonomia, tanto em relação ao ensino, quanto a

    saúde, está amplamente relacionada à Promoção da Saúde. Ela é fundamental para

    que os interesses individuais e coletivos dentro de uma comunidade sejam levados até

    o objetivo final. Sendo assim, a Promoção da Saúde coloca a educação como uma

    maneira de desenvolver o exercício da cidadania no sentido de estimular atitudes, que

    propiciem melhorias das condições de saúde e qualidade de vida dos indivíduos.

    Nesse sentido, Borges; Benedetti; Farias (2011) corroboram com as citações acima

    afirmando que a autonomia é um elemento fundamental no processo do

    envelhecimento ativo, pois promover a autonomia das pessoas idosas e o direito à sua

    autodeterminação potencializam a dignidade, integridade e poder de escolha delas,

    tornando-as mais aptas para gerenciar melhores condições de saúde.

    No envelhecimento usual ou normal, os indivíduos sofrem alterações cognitivas que

    podem comprometer ou não a funcionalidade dos indivíduos para a realização de suas

    atividades diárias. De acordo com Yassuda; Abreu (2006) as funções viso espaciais

    tendem a ser pouco afetadas durante o envelhecimento, enquanto habilidades como

    memória e atenção declinam marcantemente durante este processo.

    Cançado; Horta (2006) corroboram com essas afirmações, dizendo que as perdas

    cerebrais (como diminuição no número de neurônios) acontecem com intensidade maior

    nos indivíduos que atingem a velhice, provocando alterações das funções do cérebro.

    Estas alterações acarretam, nos idosos, deficiência funcional que muitas vezes

    comprometem sua qualidade de vida, pois interferem diretamente em sua rotina social e

    familiar.

  • 30

    Entretanto os mesmos autores afirmam que isso pode ser amenizado por atitudes

    pessoais como: nível educacional, relações sociais, prática regular de atividade física e

    hábitos de vida saudáveis.

    Neri (2011) afirma que, variáveis objetivas tais como bom nível de renda, classe social,

    escolaridade, etnia, religiosidade, idade e saúde são preditores da qualidade de vida de

    indivíduos e de coletividade.

    A pobreza, a baixa escolaridade e o baixo nível ocupacional favorecem a exposição dos

    idosos ao estresse crônico, pois através desses fatores aumenta o risco de sofrerem

    negligências, abandono e depressão. Os efeitos desses estressores podem

    potencializar doenças crônicas como depressão, incapacidade física e demências

    (TAVARES, 2004).

    Porém, entendemos que uma boa qualidade de vida na idade madura excede os limites

    da responsabilidade pessoal, e deve ser vista como um empreendimento de caráter

    sociocultural. Ou seja, uma velhice aceitável não é atributo do individuo biológico,

    psicológico ou social, mas resulta da qualidade da interação entre pessoas em

    mudança, vivendo numa sociedade em mudanças Featherman (1990 apud NERI,

    2012).

    Percebemos que os autores concordam que o conceito de qualidade de vida é

    multidimensional, e se torna cada vez mais importante em nossa sociedade atual.

    No presente estudo, esse assunto estará baseado nesta linha de pesquisa, que

    percebe que as interações sociais, culturais, familiares e esportivas podem influenciar a

    nossa qualidade de vida quando atingirmos a velhice.

    2.3 Surfe

    O surfe é milenar, nasceu num passado distante irrecuperável, ninguém sabe onde e

    como, ao certo. Para historiadores, seu provável surgimento ocorreu na Polinésia ou no

    Peru, duas regiões cercadas pelas sagradas águas do Pacífico Sul. Migrou para o

    Havaí, onde fincou suas raízes. Cresceu e se expandiu na Califórnia, e seguiu se

    espalhando pelos oceanos mundo afora. Devido à cultura e à religião havaiana o surfe

    se tornou mais do que um esporte radical ou tradicional; integrando o homem, o corpo e

    sua mente com a natureza. O esporte passou a ser divulgado em todo o planeta graças

  • 31

    a Duke PaoaKahanamoku, pois demonstrou para a América, a Europa e a Oceania

    toda a magia da modalidade. Ele é lembrado até os dias de hoje como o pai do surfe

    moderno. Foi um grande esportista; como nadador ganhou duas medalhas de ouro

    olímpicas (1912 e 1920) em Estocolmo na Suécia, além de bater o recorde mundial dos

    100 metros livres, em 1914, na Austrália (BROWN, 1998).

    Duke foi apelidado de “homem-peixe”, devido a suas exibições em provas de natação e,

    imediatamente, influenciou a Califórnia ao esporte do surfe, associando a um estilo de

    vida caracterizado pelas atitudes de rebeldia da juventude californiana, influenciada

    pela sensação de liberdade e independência. A Austrália, maior nação surfista do

    mundo, também foi iniciada por Duke após apresentações de surfe pelo País. Duke

    morreu em 1968 de ataque cardíaco aos 75 anos de idade Souza (2004 apud

    BERNARDES, 2013).

    Já no Brasil, o surgimento do surfe ocorreu entre os anos de 1934 e 1938. Thomas

    Rittscher, americano naturalizado brasileiro, e residente na cidade de Santos-SP, foi o

    primeiro surfista e fabricante de pranchas no país no ano de 1934. Já por volta de 1938

    Osmar Gonçalves e JuaHarfers, deslumbrados com o que presenciaram decidiram

    também praticar a modalidade. Osmar é considerado o primeiro surfista brasileiro, pois

    durante muitos anos deslizou sobre as ondas da Praia do Gonzaga, em Santos, na

    companhia de seus amigos. Em sua homenagem, existem dois monumentos no

    calçadão da praia de Santos. A partir de 1950 com a expansão de voos internacionais

    para o país, abriram-se as portas para surfistas de todas as regiões do mundo

    conhecerem as maravilhas do nosso litoral e a qualidade de nossas ondas (MENDES,

    2005; SARLI, 2011).

    A evolução das pranchas de surfe evoluiu paralelamente ao seu crescimento no Brasil,

    por volta dos anos 40, eram planas, pesadas e feitas de madeira. Possuíam

    comprimento de 6 a 10 pés, eram grossas e as bordas levemente arredondadas. A

    partir do final dos anos 50, houve uma evolução das pranchas; foram utilizados blocos

    de poliuretano: o que permitiam ao surfista explorar novos limites do seu corpo e das

    ondas. Já na década de 80, o design das pranchas foi modificado, permitindo maior

    estabilidade e velocidade nas manobras. Esta troca da prancha de madeira pela de

    poliuretano aumentou muito o desempenho do surfista, mas acarretou um problema

  • 32

    para as pessoas que as confeccionavam. A inalação da poeira da espuma de

    poliuretano do processo “Shapear” poderia irritar as vias aéreas, especialmente em

    pessoas sensíveis, e causar ao longo do tempo bronquite e câncer (STEINMAN, 2003).

    Outro momento importante se deu no inicio dos anos 60; assistiu-se uma explosão de

    filmes de surfe de Hollywood que catapultaram o desporto para uma posição de

    momentâneo prestigio e deram origem a um boom de conscientização de surfe por todo

    o planeta. O surfe resistiu a quase uma década de caricatura nos filmes de Hollywood.

    Graças ao seu êxito, todos os anos notava-se que surgiam milhares de novos surfistas

    a comprar pranchas e acessórios de surfe (BROWN, 1998).

    Souza (2004) comenta que, na metade dos anos 1970 “quase todos os surfistas tinham

    cabelos longos e suas imagens não eram bem aceitas pela sociedade em geral , pois a

    grande maioria não trabalhava, tinha poder aquisitivo elevado e alguns nem

    estudavam”. Nessa época o surfe foi proibido nas praias cariocas entre 08h00min e

    14h00min devido à possibilidade de as pranchas machucarem os banhistas. Muitas

    crianças e adolescentes se apaixonavam pelo esporte, mas tinham seu comportamento

    desaprovado pelos pais e familiares.

    De acordo com Brownn (1998), nessa época a população em geral via os surfistas

    como um conjunto de vadios da praia, algumas revistas escreviam artigos

    caracterizando os surfistas como tontos e apanhados, mas não perigosos.

    Todavia, após essa tribulação, o esporte cresceu em ritmo acelerado. Em Ipanema, os

    hábitos alimentares de comer lanches e bebidas naturais pelos surfistas se expandiram

    para outras regiões do país, juntamente com o surfe. Em 1980, ocorreu uma

    verdadeira explosão no surfe. Filmes passaram a ser exibidos em circuito comercial nas

    cidades de São Paulo, Santos e Rio de Janeiro como: Endlees Summer, Nas ondas do

    surfe e Menino do Rio. As indústrias de surfe wear, as competições nacionais e

    internacionais se modernizaram e consequentemente houve a profissionalização dos

    atletas (SOUZA, 2004).

    Em 1980, outro fator relevante para a história do surfe foi à criação de uma prancha

    moderna pelo australiano Simon Anderson. A prancha era curta, leve, fina e possuía

    três quilhas. A partir daí ele não parou de ganhar campeonatos importantes de surfe, o

  • 33

    que fez com que quase todos os surfistas do planeta aderissem a este tipo de prancha

    (BROWN, 1998).

    A evolução continuou em ritmo acelerado e, na década de 1990, as pranchas passaram

    a ser mais leves, aumentando sua velocidade e projeção nas ondas, permitindo assim

    manobras mais arrojadas, caracterizando e criando um estilo de uma nova geração de

    surfistas. O que se pode notar neste período foi o ressurgimento de surfistas mais

    experientes surfando ao lado de jovens, promovendo assim uma mistura de gerações

    dentro do mar. Ou seja, todos estes aspectos interligados deram uma visibilidade

    mundial à modalidade. Hoje o surfe é praticado em todas as praias do planeta que

    ofereçam condições Souza (2004 apud BERNARDES, 2013).

    No final dos anos 90, iniciaram a revistas especializadas em surfe no Japão, Inglaterra,

    Irlanda, África do Sul, França, Espanha, Canadá, Uruguai, Portugal, Brasil e

    provavelmente noutros países (BROWN,1998). Existem muitas hotlines de surfe,

    telefônicas e na internet, que fornecem condições atualizadas das ondas em qualquer

    lugar do mundo em que se queira surfar. A surfline, por exemplo, possibilita conferir

    locais a norte e a sul na costa dos Estados Unidos e Havaí; vários sites estão

    equipados com câmeras de vídeo modernas que mostram aos internautas fotos e

    condições climáticas em tempo real.

    Outro fator que prova que o surfe evoluiu bastante foi a sua introdução na área

    acadêmica. Em São Paulo, a UNIFMU foi uma das pioneiras com aulas de surfe

    teóricas e práticas em seu curso de Pós-Graduação em Esportes de Aventura. Em

    Florianópolis, o ICPG (Instituto Catarinense de Pós-Graduação), ligado à Faculdade

    Decisão, possui um curso de especialização em gestão e treinamento no

    surfe/boardsports. As aulas são teóricas e práticas, e tem objetivos de formar

    professores qualificados e desenvolver trabalhos acadêmicos sobre o assunto. Já na

    cidade de Santos, a Unimonte (Centro Universitário Monte Serrat) foi uma das pioneiras

    do Mundo a oferecer um curso de pós-graduação em Surfe no ano de 2002 através da

    Unipran (Universidade da Prancha) que já não existe mais. Seus objetivos eram

    fornecer informações científicas a respeito desses esportes para as pessoas que já

    trabalhavam ou pretendiam trabalhar com a modalidade esportiva (FOLHA DE SÃO

    PAULO, 2005).

  • 34

    Daólio (1998), Corrêa (2008) e Brasil; Carvalho (2009) verificaram necessidades de

    ampliar a matriz curricular dos cursos de graduação em Educação Física, revendo o

    olhar dos esportes, e citando a necessidade de incluir esportes de natureza, entre eles

    o surfe.

    Brasil; Ramos; Terme (2010) apresentam uma taxonomia para o surfe como esporte

    moderno a fim de tanto facilitar seu processo de ensino-aprendizagem, bem como

    contribuir com sua inclusão na matriz curricular de cursos de graduação em Educação

    Física.

    Ramos; Brasil; Goda (2012) realizaram pesquisa entre treinadores e professores de

    surfe brasileiros. Encontraram que a formação destes era oriunda, em sua maioria, por

    conhecimentos não formais, adquiridos em cursos oferecidos por associações de surfe

    e esportes radicais ou conhecimentos informais em vivências pessoais de praticantes,

    trocas de experiências com outros e relatos postados na net. Somente um sujeito

    pesquisado citou ter adquirido conhecimento formal, via curso de pós-

    graduação/especialização. Desta forma, os autores sinalizam para a importância de

    ampliar a matriz curricular dos cursos de graduação em Educação Física incorporando

    os esportes de aventura ou natureza ou radical para tratar, dentre eles, o surfe.

    Brasil (2015) cita que a formação profissional de treinadores de surfe acontece, em

    menor grau: via curso de Bacharelado em Educação Física e, em maior grau: via curso

    oferecido por entidades esportivas de surfe.

    Atualmente, alguns cursos de graduação em Educação Física no Estado de São Paulo

    apresentam, em sua matriz curricular, disciplinas com nomes variados, como Esportes

    da Natureza; Esportes Radicais e Esportes não convencionais que tratam do surfe

    como prática corporal a ser conhecida e refletida na formação do professor e do

    profissional de educação física.

    Outro aspecto que demonstra o envolvimento do surfe com a educação ocorre na

    cidade de Santos (SP). Todo ano é realizado um campeonato de surfe para estudantes

    do ensino médio regularmente matriculado em instituições reconhecidas pelo MEC, de

    Peruíbe a Bertioga, além de cidades convidadas como: São Sebastião, Caraguatatuba,

    Ubatuba e Ilha Comprida. Neste campeonato além da premiação tradicional com troféus

    são oferecidas as bolsas de estudos aos competidores (JORNAL A TRIBUNA, 2015).

  • 35

    Hoje em dia o surfe é um dos esportes que mais crescem no Brasil e no Mundo, está

    correlacionado a um estilo de vida voltado à saúde, ao lazer, à liberdade e ao constante

    desafio, além de ser uma modalidade com uma larga história, cultura e grandes

    personagens (ALEGRO, SIMÃO, EVANGELISTA, 2013).

    De acordo com a International Surfing Association (ISA) estima-se que

    aproximadamente 35 milhões de pessoas o pratiquem em todo o planeta. Só no Brasil

    são mais de sete milhões de pessoas que utilizam a modalidade como hábito de lazer.

    A indústria do surfe movimentou, em 2013, um total de US$ 22 bilhões no ano. Só nos

    Estados Unidos, o movimento chegou a US$ 8,8 bilhões, sendo que o Brasil figura com

    um movimento de US$ 4 bilhões (VASCONCELOS, 2013).

    Um dos motivos desde crescimento se dá pelo fato de o Brasil ser privilegiado em

    relação ao terreno que nos proporciona riquezas: é uma beleza magnífica e apropriada

    para a prática de esportes radicais. O litoral brasileiro possui uma extensão de 9.198 km

    e se espalha desde as fantásticas ondas da pororoca nos confins da Amazônia, até as

    recém-descobertas Ilhas dos Lobos, em Torres, Rio Grande do Sul. Atravessa

    Fernando de Noronha, as ondas do Nordeste, Rio de Janeiro, São Paulo e continua

    pelos 400 km do litoral catarinense.

    Porém, apesar de ser uma atividade física prazerosa é importante salientar que o surfe

    é um esporte que pode ocasionar acidentes, problemas físicos e de saúde aos seus

    praticantes com o decorrer do tempo. Isto se justifica por ser praticado em ambiente

    oceânico, algumas vezes de caráter hostil, onde o surfista é exposto às diferentes

    condições ambientais como vento, Sol, chuva e frio além da possibilidade do contato

    com praias que possuem pedras e corais abaixo das ondas. Também podem ocorrer

    durante a prática, afogamentos; queimaduras por (águas-vivas); cortes e lacerações

    causadas pela prancha; problemas de ouvido; lesões na coluna, pela constante

    hiperextensão do pescoço; dores articulares pelos movimentos repetitivos; problemas

    intestinais devido às precárias condições de limpeza das águas; e doenças de pele pela

    constante exposição ao Sol (STEINMAN, 2003).

    Lowe (2006) comenta que a exposição solar por longos periodos, e em horário

    inadequado, é responsável por um grande número de doenças dermatológicas ao redor

    do mundo nas últimas decádas. Sendo necessária a conscientização das pessoas no

  • 36

    sentido de diminuírem a exposição ao Sol, visando o retardamento do envelhecimento

    da pele e a diminuição da possiblidade de contraírem o câncer de pele.

    Segundo dados do INCA (Instituto Nacional de Câncer) profissionais que trabalham em

    atividades ao ar livre e, portanto, muito expostos ao Sol, como os pescadores,

    agricultores e salva-vidas, apresentam elevado risco de desenvolver câncer de pele. A

    exposição inadequada (no horário das 10h às 16h, quando os raios são mais intensos)

    e de forma intermitente é um fator importante nos tipos melanoma. Contudo, tem sido

    observado que a exposição cumulativa e excessiva durante os primeiros 10-20 anos de

    vida aumenta considerávelmente o risco de câncer de pele.

    O surfe, quando praticado em nível competitivo, pode ocasionar comprometimentos

    relacionados à saúde. Isso se deve principalmente à imprevisibilidade em manobras,

    contato com prancha, fundo do mar, envolvimento com a onda e postura inadequada

    durante a sua execução (ZOLTAN, 2005).

    Define-se o surfe como sendo um esporte radical. Ele é intrigante e desafiador por

    apresentar inúmeras variações em sua prática. Ou seja, um dia de surfe provavelmente

    não será idêntico ao dia seguinte devido ao ambiente aberto e às situações

    imprevisíveis que o mar proporciona. Neste ambiente natural de constantes

    transformações e adaptações, o preparo físico e mental torna-se um importante aliado

    para que o corpo humano se ajuste conforme os ventos, tamanho, velocidade e a força

    das ondas (ALEGRO; SIMÃO; EVANGELISTA, 2013).

    Os esportes radicais merecem atenção por serem opções diferentes das tradicionais

    para os idosos e por possibilitarem um novo campo de estudos e investigações para

    diversos pesquisadores (MARINHO, 2005).

    De acordo com Costa Marinho; Passos (2007), os esportes radicais compreendem um

    conjunto de práticas esportivas formais e não formais, vivenciadas a partir de

    sensações e de emoções, sob condição de risco calculado, realizadas em manobras

    arrojadas e controladas, como superação de habilidades de desafio extremo, e

    desenvolvidos em ambientes controlados e artificiais como manifestações educacionais,

    de lazer e de rendimento compreendidas com a sustentabilidade socioambiental.

    Há uma classificação das práticas esportivas dentro das modalidades radicais conforme

    o ambiente em que é realizado: aéreos, aquáticos e terrestres. O surfe é classificado

  • 37

    como aquático por ser praticado nos mares pelo mundo afora. Este esporte também

    pode ser um veículo para desempenho esportivo ou apenas voltado para o lazer e a

    saúde. Sendo assim pode ser praticado não só por atletas, mas, por qualquer individuo

    independente de sexo, cor, origem, nível socioeconômico e faixa etária, incluindo os

    idosos (STEINMAN, 2003).

    De acordo com Nunes (2006), há uma tendência que a aprendizagem do surfe também

    se realize em piscina. Muitas academias de São Paulo já oferecem aulas nesta

    modalidade. Na piscina, os alunos estão isolados das intempéries da chuva, vento, frio

    e correnteza: o que aumenta a segurança e autonomia nos iniciantes. Além de

    favorecer a intervenção e correção dos movimentos pelo professor.

    No surfe, a intimidade com a água e o aprendizado da natação é de suma importância.

    A natação pode ser introduzida desde cedo na vida da criança, visto que grande parte

    da população brasileira não sabe nadar e muitas vezes se aventura em piscinas, lagos

    ou até mesmo no mar. Uma vez tendo aprendido a nadar, a possibilidade de

    afogamento será minimizada além de facilitar bastante os primeiros passos para um

    surfista iniciante (STEINMAN, 2003).

    Para se surfar uma onda em boas condições é necessário ter algum conhecimento da

    variação da maré, dos ventos e ondulações, e saber utilizar todos os fundamentos da

    modalidade. Estes fundamentos são os movimentos específicos que seguem uma

    sequência lógica. Ou seja, inicialmente observa-se o mar, verificando a melhor

    formação das ondas e o vento ideal; em seguida, utiliza-se o fundamento da remada,

    deitar sobre a prancha; utilizando os braços com o movimento de rotação, para se

    deslocar até o outside (atrás da arrebentação das ondas). Após realizar este

    fundamento, os surfistas sentam em suas pranchas, e aguardam pela onda mais

    perfeita da série. Definida a onda, é realizado o fundamento do drop (ficar de pé e

    descer a onda) em seguida é possível realizar outros fundamentos como as manobras

    de front e back (movimento em que o surfista quebra a linha da onda e sobe com sua

    prancha em direção à sua parte superior e volta a sua base rapidamente). Por fim,

    dependendo da habilidade do surfista e da perfeição das ondas, é possível realizar a

    manobra mais cobiçada que é o tubo: um dos momentos mais especiais para o surfista

    é quando a onda se sobrepõe sobre ele, mas não consegue derrubá-lo. Ou seja, com

  • 38

    velocidade e agilidade a onda é finalizada em pé pelo surfista (ALEGRO, SIMÃO,

    EVANGELISTA, 2013).

    O surfe vem crescendo muito no Brasil, em particular destaca-se o impacto da

    conquista de Gabriel Medina no Campeonato Mundial de Surfe Profissional WCT (World

    Championship Tour) conquistado na última etapa do circuito na praia de Pipeline, Havaí

    em 12 de dezembro de 2014. Esta conquista foi amplamente divulgada na mídia

    televisiva e redes sociais, provocando um acréscimo de novos participantes. Dentro do

    contexto apresentado, o surfe aparece como uma opção diferente de praticar atividade

    física para todas as pessoas, inclusive para os idosos, e também entra no rol de

    conteúdos para a formação acadêmica do professor e do profissional de Educação

    Física.

    Frente ao apresentado, entendemos que a pesquisa proposta poderá ampliar as

    discussões sobre as relações da prática do surfe com a promoção da Qualidade de

    Vida do idoso, viabilizando o repensar de programas de surfe para a população idosa.

  • 39

    3 PERCURSO METODOLÓGICO

    Esse estudo caracterizou-se por uma pesquisa descritiva, do tipo exploratório de cunho

    qualitativo com dados existentes, extraído de uma amostra escolhida pelo autor frente

    ao problema de pesquisa levantado, condições temporais, técnicas e de acesso à

    instituição promotora de aulas de surfe para idosos (THOMAS; NELSON; SILVERMAN,

    2007; LAVILLE e DIONNE1999).

    De acordo com Denzin e Lincoln (1998), as técnicas qualitativas, trabalhadas em

    investigação científica são as mais apropriadas para o estudo das intervenções

    existentes entre sujeito e meio (LIMONGELLI, 2006).

    Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São

    Judas Tadeu (CEP-USJT), sob o parecer número 824.009, visto ter atendido os

    preceitos da Resolução 466/2012, sobre pesquisa envolvendo seres humanos

    (Apêndice A).

    A adoção de métodos qualitativos é justificada quando o estudo envolve situações no

    seu contexto real, compreendendo, entre outros, estudo de fenômenos complexos, em

    que os fatores contextuais necessitam ser analisados (LEONNARD-BARTON, 1998).

    A amostra foi composta por seis participantes de um programa de surfe na cidade de

    Santos, litoral sul do Estado de São Paulo. Os participantes, de ambos os sexos, já se

    encontravam no programa. O coordenador do Programa de surfe assinou o Termo de

    Responsabilidade e Autorização da Instituição para a realização da pesquisa (Apêndice

    B)

    Os critérios de inclusão foram: ter entre 60 e 75 anos; ter qualquer nível de

    escolaridade e nível socioeconômico, estar classificado no nível 4 do status funcional:

    independente e ativo, conforme Spirdurso (2005); ter frequência superior a 75% nas

    aulas ministradas: e portar autorização médica para a prática de atividades físicas.

    Os critérios de exclusão foram: apresentar dificuldades de compreensão que

    prejudicassem o entendimento das avaliações realizadas (neste caso, os dados do

    sujeito foram coletados, mas não utilizados nos estudos).

    Todos os participantes foram informados dos objetivos e procedimentos do estudo, bem

    como da possibilidade reduzida de riscos na sua participação. Também ficaram cientes

    de que se espera como benefício que a sua participação traga um incremento no

  • 40

    conhecimento sobre si e, ainda, que os ajudará a esclarecer aspectos relativos ao

    envolvimento de idosos em programas de surfe, contribuindo, assim, para a construção

    de conhecimentos.

    Ressalta-se que para aqueles que concordaram em participar do estudo foi entregue o

    Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Apêndice C), explicando

    individual e detalhadamente, em linguagem clara e acessível, de modo a esclarecer

    tanto os objetivos e finalidades da pesquisa como também os benefícios e riscos aos

    participantes, segundo as normas do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade

    São Judas Tadeu - CEP/USJT e estavam livres para interromper a pesquisa no

    momento em que desejassem, sem prejuízo em continuar participando do programa de

    surfe. Todos assinaram o TCLE, indicando oficialmente anuência em participar da

    pesquisa.

    O programa de surfe para idosos da cidade de Santos é um curso anual que se inicia

    em fevereiro e termina em dezembro. As aulas acontecem semanalmente às quartas,

    quintas e sextas feiras no período da manhã, das 09h00 às 10h00 e no período da

    tarde, das 16h00 às 17h00. Esta escola de surfe é a pioneira no Brasil, inaugurada em

    junho de 1992. Tem o apoio da Secretaria de Esportes da Prefeitura de Santos. As

    aulas acontecem na Praia da Pompeia (Avenida Senador Pinheiro Machado) em frente

    ao prédio do Posto de Salvamento Dois. O curso é oferecido por uma equipe de cinco

    professores formados em Educação Física. Ingressa, anualmente, um grupo de

    aproximadamente 12 idosos participantes. O programa envolve duas fases,

    primeiramente predomina o ensino de conceitos e na segunda predomina o ensino dos

    procedimentos. As aulas são teórico-práticas estruturadas ao redor de temas como

    Saúde, conhecimentos das técnicas do surfe e de benefícios das atividades físicas para

    os idosos. A Escola oferece todo o material e equipamentos necessários para sua

    prática, sendo esses: pranchas, camisetas de lycra, parafina e cordinhas (leash) entre

    outros.

    Para a coleta de dados foram utilizados os instrumentos abaixo relacionados:

    a) Para levantar o perfil sócio demográfico foi utilizado o Questionário de

    Classificação Econômica Brasil (ABEPE, 2014) (Anexo A).

  • 41

    b) Para avaliar o estado de saúde geral e o histórico da atividade física praticada

    ao longo das etapas de vida foi utilizado Questionário de Anamnese e Prática

    de Atividade Física do Projeto Sênior para Vida Ativa/USJT (Anexo B).

    c) Para avaliar a percepção subjetiva da Qualidade de Vida foi utilizado o

    WHOQOL-OLD em português (Anexo C)

    O questionário WHOQOL-OLD é um instrumento específico de QV para idosos.

    É composto por 24 itens com escala de resposta tipo Likert atribuídos a seis

    facetas: Funcionamento do sensório (FS), Autonomia (AUT), Atividades

    presentes, passadas e futuras (PPF), Participação Social conforme descritas no

    Quadro 1. No Quadro 2 está apresentada a pontuação de cada faceta podendo

    variar entre quatro e 20 pontos. Para a obtenção da pontuação em cada faceta,

    foram seguidas as orientações apresentadas no manual de aplicação, que

    consiste na soma dos pontos assinalados pelos participantes. Não há valor de

    corte, portanto os escores altos representam alta QV e os escores baixos

    representam baixa QV (WHO, 2000).

    Quadro 1: Conceitos e conteúdos das facetas inclusas no módulo WHOQOL-OLD

    Facetas Sigla Conceito/conteúdo

    Habilidades Sensoriais FS funcionamento sensorial, impacto da perda de habilidades sensoriais na qualidade de vida

    Autonomia AUT independência na velhice, capacidade ou liberdade de viver de forma autônoma e tomar decisões

    Atividades Passadas, Presentes e Futuras

    PPF satisfação sobre conquistas na vida e coisas a que se anseia

    Participação Social PSO participação nas atividades quotidianas, especialmente na comunidade

    Morte e Morrer MEM preocupações, inquietações e temores sobre a morte e sobre morrer

    Intimidade INT capacidade de ter relacionamentos pessoais e íntimos

    Fonte do Quadro 1: WHO, 2000, p.14.

  • 42

    Quadro 2: Pontuação do instrumento WHOQOL-OLD, considerando reversão de escores negativos

    Faceta Afirmativa Nada Muito pouco

    Mais ou menos

    Bastante Extremamente

    FS

    Q1 5 4 3 2 1

    Q2 5 4 3 2 1

    Q10 5 4 3 2 1

    Q20 1 2 3 4 5

    AUT

    Q3 1 2 3 4 5

    Q4 1 2 3 4 5

    Q5 1 2 3 4 5

    Q11 1 2 3 4 5

    PPF

    Q12 1 2 3 4 5

    Q13 1 2 3 4 5

    Q15 1 2 3 4 5

    Q19 1 2 3 4 5

    PSO

    Q14 1 2 3 4 5

    Q16 1 2 3 4 5

    Q17 1 2 3 4 5

    Q18 1 2 3 4 5

    MEM

    Q6 5 4 3 2 1

    Q7 5 4 3 2 1

    Q8 5 4 3 2 1

    Q9 5 4 3 2 1

    INT

    Q21 1 2 3 4 5

    Q22 1 2 3 4 5

    Q23 1 2 3 4 5

    Q24 1 2 3 4 5

    Nota: As células destacadas em cinza já contém a pontuação invertida nas afirmativas negativas.

    Fonte do Quadro 2: WHO, 2000, p.14.

    d) Para avaliar a percepção subjetiva da Qualidade de Vida foi utilizado o

    WHOQOL-BREF em português (Anexo D).

    O questionário WHOQOL-BREF é um instrumento genérico de QV composto por

    26 questões, sendo duas questões de auto percepção sobre QV geral. Todas as

    questões apresentam escala de resposta do tipo Likert de cinco pontos. As 24

    questões representam as 24 facetas dos quatro domínios: Físico, Psicológico,

    Relações Sociais e Meio Ambiente (Quadro 3) e um escore global medido pelas

    duas questões de auto percepção. Para obtenção da pontuação foram seguidas

    as orientações contidas no manual de aplicação do instrumento. O instrumento

  • 43

    não tem valor de corte, portanto os escores altos representa