lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

135
OCENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA IZABELA HENDRIX CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO GUILHERME GOMES DA SILVA TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO - TFG LUGAR E IDENTIDADE CONFLITOS GERADOS PELA VALORIZAÇÃO DO ESPAÇO Belo Horizonte 2012

Upload: guigomesilva

Post on 19-Jul-2015

111 views

Category:

Education


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

OCENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA IZABELA HENDRIX

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

GUILHERME GOMES DA SILVA

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO - TFG

LUGAR E IDENTIDADE CONFLITOS GERADOS PELA VALORIZAÇÃO DO

ESPAÇO

Belo Horizonte

2012

Page 2: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

2

GUILHERME GOMES DA SILVA

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO - TFG

LUGAR E IDENTIDADE CONFLITOS GERADOS PELA VALORIZAÇÃO DO

ESPAÇO

Trabalho Final de Graduação – TFG - apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix como requisito para a aprovação na disciplina.

Orientador: José Júlio Vieira

BELO HORIZONTE

2012

Page 3: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Dedicatória

A meu irmão Cláudio, pelo carinho e tempo jogando vídeo-game pra me ajudar a

pensar, a minha irmã Claudia por fazer com que esse trabalho conseguisse existir e

por me ensinar a nunca desistir dos meus sonhos, a minha mãe, Dalva, por se fazer

presente até nos momentos que eu achei não ser mais capaz de escrever, aos meus

amigos, em especial para Aline, Amanda, Fernando, Junior, Jeffersom e Warlley, por

nunca me abandonarem e por me lembrarem do significado da expressão amizade.

Page 4: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

4

Agradecimentos

Agradeço a todos que colaboraram de alguma forma pra que esse trabalho viabiliza-

se, em especial destaque para:

O querido professor José Júlio que demonstrou ser mais que um mestre, ser um

amigo, me orientando e mostrando ser possível e viável o presente trabalho

acadêmico.

Aos professores que me ensinaram durante todo curso e me mostraram que a

Arquitetura deve começar a ser construída a partir dos sonhos.

As professoras Karine Carneiro e Raquel Garcia que me ajudaram a dar os primeiros

passos neste trabalho, definindo tema e finalizando a pré monografia.

A toda equipe de funcionários do Instituto Metodista Izabela Hendrix, que com um

simples bom dia me ajudavam a ter animo para mais um dia de estudos e

compromissos.

Enfim, agradeço a todos que de alguma forma tornaram possível que hoje eu atingi-

se o ponto de finalizar essa pesquisa e acima de tudo me torna-se uma pessoa

melhor.

Page 5: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Resumo

O presente projeto de pesquisa visa analisar os efeitos da valorização e dos conflitos

sucedidos no espaço urbano do bairro Serra, a partir da perspectiva de seus

lugares, territórios e territorialidades. Para tanto, são abordados conceitos

desenvolvidos por autores que tratam dos referidos temas, bem como apresentados

relatos da história do bairro, levantamentos de campo e análise do material coletado,

com vistas à identificação dos lugares do bairro e dos fatores que influenciaram sua

perda ou manutenção.

Abstract

This research project aims to analyze the effects of successful recovery and conflicts

in the urban neighborhood of Serra, from the perspective of their places, territories

and territoriality. For both, are discussed concepts developed by the authors dealing

with these issues, as well as presented accounts of the history of the neighborhood,

field surveys and analyze the collected data, in order to identify the places in the

neighborhood and the factors that influenced their loss or maintenance.

Page 6: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

6

IMAGENS

IMAGEM 1: Ligação Rua Desembarcador Drumond com Avenida do Contorno.

Trecho marcado por edificações de maior porte, mais que 15 pavimentos, e com uso

predominantemente diurno. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor:

Guilherme Gomes ..................................................................................................... 40

IMAGEM 2: Esquina Rua Desembargador Drumond e Avenida do Contorno.

Edificação modificada para atender a demandas comerciais. Foto dia 22/08/2012 às

15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ............................................................................... 41

IMAGEM 3: Vista da Avenida do Contorno, próximo a Rua Estevão Pinto, a altura

das edificações nesse trecho é destoante de praticamente todo o resto do bairro,

onde as edificações costumam ter até 15 pavimentos. Foto tirada no dia 22/08/2012

às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................................... 41

IMAGEM 4: Exemplo da diferenciação da altimetria das edificações deste entorno,

Prédio Lifecenter. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

.................................................................................................................................. 42

IMAGEM 5: Esquina de Capivari e Capelinha, edificação com uso misto, em que o

primeiro pavimento funciona como galeria de pequenos comércios. Foto tirada no

dia 18/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes .................................................. 43

IMAGEM 6: Edificação, no entroncamento de Rua Capivari e Rua Herval, em que o

uso misto é dado em salas comerciais e restaurante. Foto tirada no dia 18/08/2012

às 17hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................................... 43

IMAGEM 7: Esquina conformada por Rua do Ouro, Rua Palmira e Rua Amapa,

ponto em que é comum o uso do primeiro pavimento para comércios. Aqui vale

ressaltar a presença do Bar do Salomão, ponto de destaque em uso pelos usuários

do bairro, principalmente em dias de jogos de futebol. Foto tirada no dia 18/08/2012

às 17hrs. Autor: Guilherme Gomes. .......................................................................... 44

IMAGEM 8: Casa localizada na Rua do Ouro, novamente o primeiro andar é utilizado

como comercio. A presença de edificações de ocupação pretérita do bairro é notada

inclusive ligação da edificação com a rua, sem contar com afastamento. Foto tirada

no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ............................................ 44

IMAGEM 9: Rua do Ouro 187. Seguindo a configuração de uso misto com a mesma

colada a divisa frontal. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 17:30hrs. Autor: Guilherme

Gomes ....................................................................................................................... 45

Page 7: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

IMAGEM 10: Rua Estevão Pinto esquina com Monte Alegre a tonalidade de cor

funciona como um dos divisores entre comércio e moradia. Foto tirada no dia

22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................ 45

IMAGEM 11: Rua Estevão Pinto esquina com Monte Alegre. O uso de cores pra

diferenciação não é utilizado, mas a presença de platibanda gera o dialogo de época

entre as duas edificações de esquina. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor:

Guilherme Gomes ..................................................................................................... 46

IMAGEM 12: Rua Monte Alegre, a utilização de casas para comercio é comum na

faixa de via apresentada. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme

Gomes ....................................................................................................................... 46

IMAGEM 13: Rua Capelinha, sentido Rua Sacramento, apesar de não fazerem parte

da atual verticalização do bairro o trecho já é marcado por prédios com, no mínimo,

cinco pavimentos. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 17hrs. Autor: Guilherme Gomes

.................................................................................................................................. 47

IMAGEM 14: Rua Capivari esquina com Capelinha. Na imagem, lado esquerdo, já é

possível observar uma das edificações que fazem parte do novo processo de

verticalização. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes .... 47

IMAGEM 15: Rua Níquel, à esquerda tapume da Aguimar marcando mais um local

com edificação que terá uso multifamiliar. Na rua já é possível observar o efeito da

verticalização, visto que a mesma não possui presença de usuários na rua, sendo a

mesma utilizada como estacionamento de carros. Foto tirada no dia 22/08/2012 às

15hrs. Autor: Guilherme Gomes ................................................................................ 48

IMAGEM 16: Rua Henrique Passini nº720. Edificação que também faz parte do novo

processo de verticalização do bairro. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor:

Guilherme Gomes. .................................................................................................... 48

IMAGEM 17: Rua Caraça nº 777, trecho próximo ao ponto final do ônibus 2102. A

ocupação da rua nesse espaço é dada tanto pelos usuários do ônibus, quanto por

pessoas que utilizam os pequenos comércios que são mantidos lindeiros a Rua

Caraça. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes. ............. 49

IMAGEM 18: Rua Caraça, final dos ônibus 2102, 9106 e 8150. Edificações de baixo

porte e próximas a entrada do Parque das Mangabeiras. Foto tirada no dia

21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes. ....................................................... 50

IMAGEM 19: Esquina de Rua Caraça e Rua Serranos. Foto tirada no dia 21/08/2012

às 17hrs. Autor: Guilherme Gomes. .......................................................................... 50

Page 8: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

8

IMAGEM 20: Rua Caraça. Apesar do afastamento em relação a rua o uso de grade

e vegetação ainda trazem a ligação entre rua e residência. Foto tirada no dia

21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes. ....................................................... 51

IMAGEM 21: Avenida do Contorno, esquina com Desembargador Drumond, nº 4631.

Uma das edificações que compõem a área que marcam essa verticalização de alto

gabarito da região. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

.................................................................................................................................. 53

IMAGEM 22: Vista geral da Avenida do Contorno, sentido Avenida Getúlio Vargas,

prédios com características semelhantes ao estreitamento e verticalização

acentuada. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ......... 53

IMAGEM 23: Rua Estevão Pinto, a tendência de estreitamento também faz-se

presente no trecho, mas em menor medida que na Avenida do Contorno. Outro

ponto importante é a maior presença de arborização na área. Foto tirada no dia

22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme ..................................................................... 54

IMAGEM 24: Rua Alumínio, esquina com Rua Estevão Pinto. Rua que também é

marcada por presença de edificações extremamente verticalizadas e com muros que

tornam-nas voltadas para seu interior sem ligação com a rua. Foto tirada no dia

22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................ 54

IMAGEM 25: Vista da Rua Luz a partir da Rua Estevão Pinto, apesar de isolada a

edificação ultrapassa os 15 pavimentos comuns a área do Bairro Serra. Foto tirada

no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ............................................. 55

IMAGEM 26: Esquina de Rua Estavão Pinto e Rua Alumínio. Primeira edificação da

serie que compõem a verticalização da área. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs.

Autor: Guilherme Gomes ........................................................................................... 55

IMAGEM 27: Rua Caraça, esquina com Rua Estevão Pinto. Em primeiro plano

edificação de pequeno porte que é cercada por zona de verticalização. Foto tirada

no dia 22/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes ............................................. 56

IMAGEM 28: Rua Palmira, esquina com Rua do Ouro. Apesar de ter uso multifamiliar

e tendência a verticalização, o gabarito das edificações é mais suave. Foto tirada no

dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes .................................................. 56

IMAGEM 29: Rua Capivari, esquina com Ruas Capelinha e Amapá. Apesar da

verticalização, o gabarito das construções é menor em relação as que ocorrem em

torno da Avenida Estevão Pinto. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor:

Guilherme Gomes ..................................................................................................... 57

Page 9: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

IMAGEM 30: Rua Capivari, esquina com Oriente. Novamente a verticalização é feita,

mas com porte menor das edificações. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs.

Autor: Guilherme Gomes ........................................................................................... 57

IMAGEM 31: Rua Oriente, ainda com traços da primeira verticalização do bairro,

decada de 50 e 60, a relação de proporção não é tão marcante quanto em outras

regiões do bairro. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes

.................................................................................................................................. 58

IMAGEM 32: Rua Capivari. A presença da verticalização faz-se presente, mas com

gabarito que permite uma leitura pelo pedestre sem a necessidade de inclinar

demais a cabeça, como ocorre nas proximidades da Rua Estevão Pinto

principalmente na ligação com rua Alumín ................................................................ 58

IMAGEM 33: Ocupação aglomerado. Com exceção a edificação da prefeitura para o

programa Vila Viva as casas constituem-se em dois ou três pavimentos. Foto tirada

no dia 23/08/2012 às 12hrs. Autor: Guilherme Gomes ............................................. 59

IMAGEM 34: Ocupação favela, próximo a comunidade da Igrejinha. Foto tirada no

dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes .................................................. 59

IMAGEM 35: Ocupação próxima a Avenida Mendes Sá. A construção em vermelho

marca a inserção de uma UMEI na região. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs.

Autor: Guilherme Gomes ........................................................................................... 60

IMAGEM 36: Rua Capivari, próximo a esquina com a Rua Oriente. O mesmo imóvel

funciona como conserto de móveis e roubas (entrada na esquina). Foto tirada no dia

18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................ 62

IMAGEM 37: Rua Itapemerim, esquina com Rua Capivari. A Padaria Gênova é uma

das responsáveis pela movimentação diurna no local. Foto tirada no dia 18/08/2012

às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................................... 63

IMAGEM 38: Padaria Santíssimo Pão, influência diretamente o fluxo de pessoas na

região. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ............... 63

IMAGEM 39: Rua do Ouro. Apesar da proximidade a região do bar do Salomão a

região conta com pouca utilização na sua parte residencial. Foto tirada no dia

18/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................ 64

IMAGEM 40: A Auto Escola Cesinha tem seu horário de funcionamento iniciado a

partir das 16hrs, o que garante o uso da região também durante a noite garantindo

segurança a área. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

.................................................................................................................................. 65

Page 10: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

10

IMAGEM 41: Rua Capivari nº 429, o uso do espaço é dado principalmente por

clientes da loja de roupa e do salão de beleza. Dessa forma a maioria das pessoas

que se utilizam do local são mulheres. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor:

Guilherme Gomes ..................................................................................................... 65

IMAGEM 42: Rua Caraça, próximo à entrada do Parque das Mangabeiras. A

ocupação do espaço público pelo pedestre já é perceptível. Foto tirada no dia

18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................ 66

IMAGEM 43: Rua do Ouro, foto tirada a partir da esquina com Rua Capivari, aqui o

número de carros na rua já é mais marcante que o número de pedestres. Foto tirada

no dia 17/08/2012 às 18hrs. Autor: Guilherme Gomes. ............................................ 94

IMAGEM 44: Rua do Ouro, proximo a esquina com Rua Caraça. Ponto marcado por

movimentação associado a característica comercial da área. Foto tirada no dia

22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................ 94

IMAGEM 45: Rua do Ouro, esquina com Caraça. Ponto onde se localiza o Fotos

Mendes, responsável, juntamente com as demais lojas do trecho, pelo movimento

da região. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes .......... 95

IMAGEM 46: Rua Caraça, esquina com Rua do Ouro. Foto tirada no dia 22/08/2012

às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................................... 95

IMAGEM 47: Rua Caraça, a partir da esquina com Rua do Ouro. Ponto onde ocorre

movimento e utilização da rua pela proximidade entre comerciantes e moradores da

área. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes .................. 96

IMAGEM 48: Rua Estevão Pinto, próximo a Rua Caraça, o comércio tradicional

garante o movimento e uso da rua. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor:

Guilherme Gomes ..................................................................................................... 96

IMAGEM 49: Esquina de Rua Estevão Pinto e Caraça, ponto com destaque para

movimentação ligada ao comercio. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor:

Guilherme Gomes ..................................................................................................... 97

IMAGEM 50: Rua Estevão Pinto, esquina com Caraça. Foto tirada no dia 22/08/2012

às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................................... 97

IMAGEM 51: Prédio localizado na Rua Capivari, a tipologia construtiva é marca do

novo processo de verticalização do bairro. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs.

Autor: Guilherme Gomes. ........................................................................................ 102

Page 11: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

IMAGEM 52: Prédio localizado na Rua Capivari, próximo a esquina com a Rua

Capelinha, mesma tipologia construtiva de prédio na região. Foto tirada no dia

18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ..................................................... 102

IMAGEM 53: Rua Caraça, esquina com Rua Serranos, nesse ponto a leitura pelo

pedestre é dificultada pela altimetria da edificação. Foto tirada no dia 19/08/2012 às

15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ............................................................................. 103

IMAGEM 54: Rua Capivari, próximo a esquina com Rua Angustura, o muro fechado

não permite a visualização pelo pedestre, dificultando a identidade do mesmo com a

edificação. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ...... 107

IMAGEM 55: Rua Capelinha, esquina com Rua Capivari, o muro torna o ambiente

privado fechado ao contato com o espaço público. Mantêm-se a ideia de segurança

por dispositivos de inibição não pela proteção do proprio pedestre. Foto tirada no dia

18/08/2012 às 15hrs. ............................................................................................... 107

IMAGEM 56: Rua Capelinha, o número de fachadas fechadas para o contato com a

rua tornam o ambiente pouco atrativo ao caminhar pelo pedestre. Foto tirada no dia

18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ..................................................... 108

IMAGEM 57: Rua Capivari, esquina com Rua Angustura, apesar da presença da

grade, a permeabilidade do elemento permite o contato entre o pedestre e o interior

da edificação. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. . 108

IMAGEM 58: Rua Serranos, esquina com Rua Caraça, a edificação conta com três

elementos que conformam a separação entre espaço público e espaço privado

(muro em alvenaria, gradil e vegetação). Essa combinação torna o ambiente ainda

permeável a visualização pelo pedestre. Foto tirada no dia 19/08/2012 às 15hrs.

Autor: Guilherme Gomes. ........................................................................................ 109

IMAGEM 59: Rua Estevão Pinto, nº313, a mescla de tipos de fechamento pode

configurar-se como bom partido para execução da transição, possibilitando o contato

e ainda mantendo a descrição do privado. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs.

Autor: Guilherme Gomes. ........................................................................................ 110

IMAGEM 60: Bar do Salomão, primeiro ponto identifica do com características de

lugar. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. .............. 111

IMAGEM 61: Rua do Ouro, esquina com Rua Palmira, ponto com característica de

lugar pelo comércio desenvolvido no local. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs.

Autor: Guilherme Gomes. ........................................................................................ 111

Page 12: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

12

IMAGEM 62: Rua Estevão Pinto, ponto com características que o permitem a

aplicação do conceito de lugar pelo caráter local do comércio. Foto tirada no dia

22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ..................................................... 112

IMAGEM 63: Bar Boiadeiro, entroncamento das Ruas Palmira, Niquel e

Desembargador Mário Matos, a foto mostra um horário em que o comercio encontra-

se fechado, evidenciando a queda do movimento na região. Foto tirada no dia

18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ..................................................... 112

IMAGEM 64: Trecho na esquina de Rua Caraça e Rua Estevão Pinto, primeiro ponto

indicado para fechamento. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme

Gomes. .................................................................................................................... 114

IMAGEM 65: Rua do Ouro, esquina com Palmira, segundo ponto indicado para

fechamento. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. .... 114

IMAGEM 66: Vista do segundo trecho a partir da Rua do Ouro. Foto tirada no dia

22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ..................................................... 115

IMAGEM 67: Trecho de fechamento na esquina de Rua Estevão Pinto e Rua Monte

Alegre, é indicado o fechamento até a esquina com a Rua Alumínio e com a Avenida

do Contorno. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ... 115

IMAGEM 68: Rua Níquel, esquina com Capivari, serie de quatro casas foram

derrubas para dar lugar a empreendimento vertical. Foto tirada no dia 18/08/2012 às

15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ............................................................................. 119

IMAGEM 69: Vista do mesmo empreendimento a partir da Rua Capivari. Foto tirada

no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. .......................................... 119

IMAGEM 70: Rua Capivari, prédio localizado em frente ao empreendimento da

Agmar. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ............ 119

IMAGEM 71: Empreendimento localizado na Rua Herval, esquina com Rua

Joanésia. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ........ 120

Page 13: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

FIGURAS

FIGURA 1: Diagrama com etapas previstas para realização do trabalho. ....... 31

FIGURA 2: Planta cadastral de Belo Horizonte de 1898, marcado em vermelho a

primeira conformação do Bairro Serra. ............................................................ 34

FIGURA 3: Ocupação do aglomerado na década de 50, a menor mancha representa

a ocupação que deu lugar ao Minas Tênis Clube, a mancha média representa a

Favela do Pendura Saia e a terceira e maior mancha representa a favela da Serra.

FONTE: Cadernos de Arquitetura e Urbanismo. 1999 ed. PUC Minas, Belo

Horizonte. p. 71. ............................................................................................... 35

FIGURA 4: Ocupação pelo aglomerado, ao final do estudo de Manoel Teixeira. Nele

a menor ocupação da Figura 2 já havia dado lugar ao Minas Tênis Clube e a favela

do Pendura Saia já havia praticamente desaparecido, restando apenas três

pequenas manchas da antiga ocupação. Em contra partida a mancha conformada

pela Favela da Serra aumenta de proporção, tornando-se uma das ligações do

bairro com o Bairro São Lucas. FONTE: Cadernos de Arquitetura e Urbanismo. 1999

ed. PUC Minas, Belo Horizonte. p. 71. ............................................................. 36

FIGURA 5: Ocupação recente do aglomerado. Atualmente a área é maior do que a

representada por Manoel Teixeira, mas concentra-se em somente um local,

formando conurbação do bairro e o Bairro São Lucas. .................................... 37

FIGURA 6: Em vermelho área de intervenção, Bairro Serra. Fonte: Google Mapas.

......................................................................................................................... 40

FIGURA 7: Em vermelho, edificações com uso predominantemente comercial. Em

laranja, edificações com uso predominantemente misto. Em azul, uso

predominantemente residencial multifamiliar. Em magenta, uso predominantemente

residencial unifamiliar. FONTE: Google Maps. ................................................. 51

FIGURA 8: Em vermelho, construções acima de 15 pavimentos. Em amarelo,

construções até 15 metros de altura. Em laranja, ocupação irregular, zona do

aglomerado da Vila Cafezal. Fonte: Google Maps. .......................................... 52

FIGURA 9: Em roxo, ocupação aglomerado. Em laranja, ocupação mista, com maior

peso para ocupação residencial. Em verde, zona de uso residencial. Em Marrom uso

misto, com predominância comercial, grande rotatividade de pessoas durante o dia,

horário de uso ligado muito ao comercio, pouca atividade quando esse termina seu

Page 14: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

14

expediente. Em vermelho, Minas Tênis Clube. Em magenta, ocupação com

características comerciais. FONTE: Google Earth. .......................................... 61

Page 15: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

GRÁFICOS

GRÁFICO 1: Gráfico mostra idade média dos usuários entrevistados, em “y” número

de usuários por área e em “x” intervalos de idade propostos. Essa media mostra que

o bairro varia a dominância de acordo com a área, tendo a repetição de idade

predominante quase escassa. .......................................................................... 71

GRÁFICO 2: Tempo de convívio no Bairro Serra, em “y” é apresentado o número de

usuários por região e em “x” é representado o tempo que eles convivem no Bairro

Serra. Segundo o analisado em nenhum setor as pessoas convivem no bairro a mais

de 60 anos e em todos os cinco setores há predominância do menor tempo de

convívio possível. Apontando mudança populacional do bairro. ...................... 72

GRÁFICO 3: Gráfico com número de usuários que moram, trabalham ou fazem as

duas atividades no bairro, em “y” é representado o número de cada usuário por área,

em "x” é apresentado qual é o tipo de atividade realizada. As áreas 5 e 6 tem a

maior concentração da combinação de usos do bairro. ................................... 72

Page 16: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

16

TABELAS

TABELA 1: Locais mais utilizados pelos questionados. Na tabela faz-se o

diagnóstico através das atividades mais citadas pelos entrevistados e número de

usuários a citá-las por área. ........................................................................... 123

TABELA 2: Locais mais movimentados do Bairro Serra. Vale ressaltar a variedade

de áreas que apontam as Ruas Alípio Goulart, Rua Estevão Pinto e Rua do Ouro

como movimentadas. ..................................................................................... 124

TABELA 3: Mudanças no Bairro Serra. vale ressaltar o caráter de destaque que a

verticalização tem como ponto de observação pela população. .................... 125

TABELA 4: Pontos de referência do Bairro Serra. Destaque para o número de

citações do Hospital Evangélico como Ponto de Referência. ........................ 126

TABELA 5: Pontos de referência do Bairro Serra. Destaque para o número de

citações do Hospital Evangélico como Ponto de Referência. ........................ 127

TABELA 6: Pontos de referência do Bairro Serra. Destaque para o número de

citações do Hospital Evangélico como Ponto de Referência. ........................ 128

TABELA 7: Pontos de referência do Bairro Serra. Destaque para o número de

citações do Hospital Evangélico como Ponto de Referência. ........................ 129

TABELA 8: Pontos de referência que apareceram. Destaque para as nove citações

da Praça do Cardoso e para as 13 e 12 (área 1 e 5) do não aparecimento de pontos

de referência. ................................................................................................. 130

TABELA 9: Pontos de referência que desapareceram. Destaque para o grande

número de vezes a ser citado a não recordação de desaparecimentos. ....... 131

TABELA 10: Pontos de referência que desapareceram. Destaque para o grande

número de vezes a ser citado a não recordação de desaparecimentos. ....... 132

TABELA 11: Pontos de referência que desapareceram. Destaque para o grande

número de vezes a ser citado a não recordação de desaparecimentos. ....... 133

Page 17: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

SUMÁRIO

Dedicatória .................................................................................................................. 3

Agradecimentos .......................................................................................................... 4

Resumo ....................................................................................................................... 5

Abstract ....................................................................................................................... 5

IMAGENS .................................................................................................................... 6

FIGURAS .................................................................................................................. 13

GRÁFICOS ................................................................................................................ 15

TABELAS .................................................................................................................. 16

SUMÁRIO .................................................................................................................. 17

1 - APRESENTAÇÃO DO TRABALHO ..................................................................... 19

1.1 - Introdução ...................................................................................................... 19

1.2 - Problema ....................................................................................................... 21

1.3 - Objetivos ........................................................................................................ 23

1.3.1 – Objetivo geral ............................................................................................. 23

1.3.2 – Objetivos específicos ................................................................................. 23

1.4 - Justificativa .................................................................................................... 24

1.6 - Metodologia ................................................................................................... 29

1.7 - Cronograma ................................................................................................... 32

2 – DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO .............................................................. 33

2.1 – Histórico ........................................................................................................... 33

2.1.1 – Histórico do bairro Serra ............................................................................ 33

2.1.2 – Abordagem da história e do lugar segundo Manoel Teixeira de Azevedo

Junior ..................................................................................................................... 37

2.2 – Diagnóstico ....................................................................................................... 39

2.2.1 – Área de estudo .......................................................................................... 39

2.2.2 Usos do solo ................................................................................................. 40

2.2.3 – Altimetria das edificações .......................................................................... 52

2.2.4 – Apropriação diurna ..................................................................................... 60

2.3 – Percepções da comunidade sobre o bairro Serra ............................................ 68

2.3.1 – Metodologia de pesquisa ........................................................................... 68

2.3.2 – Questionário para obtenção dos lugares de destaque ............................... 69

Page 18: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

18

2.3.3 – Caracterização dos usuários por idade, tipo de atividade e tempo de

relação com o bairro .............................................................................................. 71

2.3.4 – Percepção sobre a região .......................................................................... 73

2.3.5 – Percepção quanto aos pontos de referência ............................................. 80

2.3.6 – Conclusão a cerca das entrevistas ............................................................ 85

2.3.7 – Análise dos lugares do bairro segundo definição de Ana Fani Carlos ....... 87

2.3.8 – Analise dos motivos de manutenção/ perdas dos lugares do bairro Serra 91

3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 104

3.1 – Diretrizes para intervenção no bairro Serra ................................................ 104

3.1.1 – Primeira Diretriz – Valorização da relação das esquinas como espaço de

convivência e identidade ..................................................................................... 104

3.1.2 – Segunda diretriz – Desenvolvimento de tipologias e soluções projetuais

que valorizem uma melhor relação entre espaço público e espaço privado ........ 105

3.1.3 – Terceira diretriz – Inventário dos locais comerciais de destaque no bairro

Serra .................................................................................................................... 111

3.1.4 – Quarta diretriz – Estimular atividades que aconteçam no espaço público

............................................................................................................................. 113

3.1.5 – Quinta diretriz – Realização de inventário das edificações de interesse de

preservação no bairro Serra, com vistas á posterior definição de conjunto urbano.

............................................................................................................................. 118

ANEXOS ................................................................................................................. 123

TABELAS COM ANALISE DOS QUESTIONÁRIOS ............................................ 123

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 134

Page 19: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

1 - APRESENTAÇÃO DO TRABALHO

1.1 - Introdução

O presente trabalho objetiva problematizar as formas como o crescimento urbano e

as políticas formadoras da cidade influenciaram os lugares, segundo definição de

Ana Fani Carlos (1996), conformados no bairro Serra, identificados através de

entrevistas com moradores e usuários da região. Para tanto, busca-se discutir como

as mudanças recentes na conformação do espaço do bairro, decorrentes do trabalho

de diversos agentes – com destaque para as formas como o mercado (entendido

como a disputa por pontos de venda ou ações do âmbito das políticas urbanas

(CORRÊA,2002) de Belo Horizonte) e o Poder Público influenciam a dinâmica de

formação do espaço, as territorialidades e os lugares que caracterizam determinada

área.

O espaço, segundo Lefebvre, “está além de uma simples análise econômica, pois

deriva das formas de relação entre indivíduos, sendo ele maior do que a análise de

coleção de objetos, coisas e mercadorias, definindo-se assim pelo desenvolvimento

das atividades do cotidiano na forma dinâmica de corelações entre as pessoas”

(LEVEBVRE, 2008, p.35).

A abordagem de espaço apresentada por Lefebvre conduz à busca pela definição do

segundo termo de importância para a pesquisa, o lugar. Sendo assim, o lugar é

definido de acordo com a teoria de Ana Fani Alessandri Carlos (1996), como,

essencialmente, “a base de relação da vida de determinado individuo”. Portanto, o

lugar seria o âmbito representado pela cotidianidade, sejam as coisas rotineiras ou

as acidentais, e na forma de apropriação que o individuo faz do espaço.

O ponto de partida do presente trabalho é a relação de identidade desenvolvida

entre a população e um determinado lugar, aqui assinalada pelo Bairro Serra.

Propõe-se a realização de análises acerca das discussões inerentes a essa

territorialidade que se permeia no que é lembrado e sentido no cotidiano dos

moradores da região. Nesse sentido, faz-se necessário entender que “os territórios

são construídos, e desconstruídos, dentro de variadas escalas temporais: séculos,

Page 20: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

20

décadas, anos, meses ou dias; podendo ter como característica ser permanentes,

mas também podem ter uma existência efêmera, periódica ou cíclica” (SOUZA,

2005, p. 85).

Pretende-se trabalhar um viés ligado a história e identidade que determinado grupo

social cria com um local. Essa territorialidade, entendidos os territórios como os

espaços ligados primariamente às relações projetadas no espaço antes mesmo que

sejam espaços concretos (SOUZA, 2005) será base para o desenvolvimento da

pesquisa.

Assim sendo, “a história tem uma dimensão social que emerge do cotidiano das

pessoas, no modo de vida, no relacionamento com o outro, entre estes e o lugar, no

uso” (CARLOS, 1996, p.19). A investigação da permanência ou perda dos lugares

no cotidiano atual do bairro, bem como de suas causas, constitui o escopo do

presente trabalho.

Page 21: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

1.2 - Problema

A busca pela compreensão dos aspectos relacionados a um determinado tema

passa pela identificação de uma amplitude de ramificações relacionada ao foco

principal. A modificação do espaço e como essa reflete, frequentemente, em

situações de conflito – sejam elas decorrentes da falta de interesse dos usuários

tradicionais do bairro pelo novo espaço conformado, da expulsão causada por um

critério anterior, a valorização do local aonde a pessoa realiza suas atividades – é a

base que norteia a interdisciplinaridade associada ao Urbanismo.

Esta valorização dos imóveis de uma determinada área frequentemente relaciona-se

à atuação do mercado, principalmente a de adquirir lotes ou casas para construção

de um empreendimento de grande porte por imobiliárias, sendo o grupo denominado

“promotores imobiliários” (CORRÊA, 2002). Isso pode ocasionar uma expulsão,

mesmo que indiretamente, dos usuários comuns à área, seja pela falta de condições

de adquirir esse novo bem, ou pelo simples desinteresse na ambiência criada, seja

pela saída das pessoas que se utilizavam de determinado comércio tradicional do

bairro.

É importante ressaltar que o impacto causado pelos empreendimentos imobiliários

afeta, em muito, as formas de ocupação do espaço público, visto que mudanças

relacionadas à quantidade de tráfego, à falta de ligação e identificação dos novos

usuários com o local e ao tamanho dos empreendimentos, prejudica a leitura do

nível do usuário realizada tanto pelos pedestres quanto pelos motoristas (mesmo

que seja, a segunda, uma leitura mais dinâmica e superficial do espaço) (JUNIOR,

1999, p.85) perdidas na paisagem geral, além das condições de habitabilidade das

edificações já existentes de menor porte, notadamente no que diz respeito à

ventilação e à insolação.

O poder público é, segundo Corrêa (2002), um dos agentes conformadores do

espaço, uma vez que frequentemente é responsável por políticas que buscam

requalificar ou preservar uma determinada área. Por vezes, tais políticas acabam por

elevar os custos de permanência num determinado espaço, de modo a ocasionar a

Page 22: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

22

expulsão de seus moradores ou usuários. Nesse sentido, o trabalho inclui a leitura

da atuação do Município no processo evolutivo do bairro.

A busca, em resumo, é pela compreensão da influência das recentes mudanças

ocorridas no bairro nos conflitos de apropriação, em situações de relevância entre

usuários e personagens de destaque do Serra, em ações de uso do espaço público,

para além das atividades de rotina, e, em menor escala, na identificação espacial

característica do Bairro, podendo ter este conflitos ligações com o interesse público

ou com o interesse privado.

Page 23: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

1.3 - Objetivos

1.3.1 – Objetivo geral

Analisar a influência gerada pelas transformações urbanas recentes na perda ou

manutenção dos lugares conformados no bairro Serra

1.3.2 – Objetivos específicos

- Analisar história de formação e transformações do Bairro Serra;

- Identificar os lugares do bairro, segundo conceito de Ana Fani Carlos;

- Analisar se o lugar ainda se mantêm, se ele perdeu relevância e se outro lugar

surgiu para substituí-lo.

- Analisar os fatores que influenciam, direta ou indiretamente, nessa perda ou

manutenção.

Page 24: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

24

1.4 - Justificativa

As escolhas baseiam-se numa busca de compreensão do que ocorre nas grandes

metrópoles, em específico em Belo Horizonte, o crescimento e transformações que

causam a perda dos lugares que caracterizam uma dada região, aqui assinalada

pelo Bairro da Serra.

O grande acervo bibliográfico acerca do tema, mesmo que em áreas diferentes –

ainda que próximas da arquitetura –, como os autores já citados e outros (Pierre

George, Michel Foucault dentre outros), a proximidade e ligação desenvolvidas com

o bairro, gerando conhecimento suficiente de pessoas que são importantes para a

história local (como o Senhor Melo, da mercearia, ou a vendedora de frutas da

esquina, Senhora Ilma, e a disponibilidade de tempo para realizar a pesquisa)

conduziram à escolha do tema e do local.

Questões de conflitos urbanos são documentadas desde a Grécia antiga, onde nem

todos eram considerados cidadãos (esse já sendo um conflito de gênero). O tema

busca entender em sua essência os locais que tornam-se pontos de encontro e

convívio dentro de uma dada região e como esses são influenciados por questões

relativas a valorização do espaço e a perda de identidade entre usuários e o local.

Entendê-los conduz a considerar um tema que segue rumo ao que Henri Lefebvre

denomina de “mitos de época”1, em que questionar-se-á e embasar-se-á para

buscar as unidades significantes de uma determinada região.

O Bairro Serra passa por processo de redefinição dos locais que podem receber o

conceito de lugar, com significativa perda da identidade entre usuários e bairro2.

Nesse sentido, o presente trabalho visa identificar o processo pelo qual o bairro

passa com definição dos locais que se mantém no bairro. Apontando o motivo da

manutenção e identificando os locais que se perderam, com apontamento dos

motivos que geraram tal fato.

1 Sobre o tema ver LEFEBVRE, H., A revolução urbana, Belo Horizonte, UFMG, 1999.

2 Sobre esse ponto ler o diagnostico realizado sobre as entrevistas com os usuários, que segue o

trabalho.

Page 25: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

O presente trabalho também busca servir como base de pesquisa para discussões

acerca dos conflitos ocasionados pela atuação do mercado imobiliário em áreas de

ocupação tradicional. Além disso, pretende-se que o mesmo sirva de referência para

futuras ações de planejamento para a área, inclusive de revisão da legislação válida

para o bairro e para estudos que busquem inventariar e preservar o patrimônio

imaterial levantado nesse estudo.

Sendo assim, justifica-se o problema e a escolha na tentativa de entender algo que é

contemporâneo. A forma que determinado lugar, aqui entendido como o espaço

gerado pelo que é vivido e pelas relações do individuo com a área, podem ser

influenciados pelos conflitos gerados pelas questões políticas/privadas de conduzir a

cidade, em termos de moradia e valorização do espaço – bem como nos possíveis

benefícios para o desenvolvimento de propostas de planejamento para a área que o

estudo deverá fornecer.

Page 26: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

26

1.5 – Referencial teórico

Este capítulo trata das referências que servem de ponto de partida para o

desenvolvimento do presente trabalho. A seguir, são apresentados definições e

conceitos de autores que trataram sobre o tema, bem como sua forma de

contribuição para o desenvolvimento do estudo.

Para definição de espaço, a referência é a obra de Henri Lefebvre, contida no trecho

a seguir:

Não se pode dizer que o espaço seja um produto como um outro, objeto ou soma de objetos, coisa ou coleção de coisas, mercadoria ou conjunto de mercadorias. Não se pode dizer que se trata simplesmente de um instrumento, o mais importante dos instrumentos, o pré suposto de toda produção e de toda troca. O espaço estaria essencialmente ligado à reprodução das relações (sociais) de produção (LEFEBVRE, 2008, p.48).

Este conceito torna possível elucidar a forma em que se busca identificar o mercado

enquanto agente transformador de espaço, sendo ele co-responsável (juntamente

com outros fatores) pela mudança no espaço arquitetônico e urbanístico.

Outro conceito importante para definição de espaço é a cedido por Roberto Lobato

Corrêa, sobre os agentes formadores do espaço urbano. Segundo Corrêa (2002), o

espaço é formado por 5 agentes principais, os proprietários dos meios de produção,

os proprietários fundiários, os promotores imobiliários, o Estado e os grupos sociais

excluídos (CORRÊA, 2002, p.12).

Esse conceito de agentes formadores faz-se importante para o projeto de pesquisa

para melhor esclarecimento de uma abordagem dos que seriam responsáveis pela

forma que o espaço urbano toma desde seu planejamento até sua apropriação.

Segundo Milton Santos o espaço ainda pode ser entendido como algo mútuo e

associado, dessa forma:

O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistema de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá (SANTOS, 2009, p.62).

Page 27: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Abordando o conceito de território, pretende-se discutir com a noção cedida por

Marcelo José Lopes de Souza. É interessante ressaltar uma das possíveis noções

de territorialidade contidas no artigo do professor para o livro Geografia: conceitos e

temas, aonde o termo é definido da seguinte forma:

Outra forma de se abordar a temática da territorialidade, mais abrangente e crítica, pressupõem não propriamente um deslocamento entre as dimensões política e cultural da sociedade, mas uma flexibilização da visão do que seja território. Aqui, o território será um campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais que, a par de sua complexidade interna, define, ao mesmo tempo, um limite, uma alteridade: a diferença entre “nós” (o grupo, os membros da coletividade ou “comunidade”, os insiders) e os “outros” (os de fora, os estranhos, os outsiders) (SOUZA, 2009, p.86).

Outro autor a tratar sobre o conceito de território, também na obra Geografia:

conceitos e temas é Rogério Haesbaert. Sua contribuição para o artigo em

desenvolvimento está na sua abordagem de território através da tríade

“territorialização, desterritorialização e reterritorialização” (HAESBAERT, 2009,

p.169).

Para o estudo são relevantes, principalmente, os conceitos de reterritorialização e

desterritorialização, que podem estar ligados ou ocorrer em um mesmo momento no

mesmo território, sendo originados de diferentes fatores, como velocidade de

alterações da informação ou por agentes políticos (HAESBAERT, 2009).

Por fim, reforça-se aqui já apresentado conceito de lugar de Ana Fani Alessandri

Carlos (1996), referência chave para o desenvolvimento do trabalho:

O lugar é a base da reprodução da vida e pode ser analisado pela tríade habitante-identidade-lugar. A cidade, por exemplo, produz-se e revela-se no plano da vida do indivíduo. Este plano é aquele do local. As relações que os indivíduos mantêm com os espaços habitados se exprimem todos os dias nos modos do uso, nas condições banais, no secundário, no acidental. É o espaço passível de ser sentido, pensado, apropriado e vivido pelo corpo (CARLOS, 1996, p.22).

Dessa forma, utilizando principalmente a definição de Ana Fani Carlos sobre lugar,

as definições de espaços cedidas por Henri Lefebvre e Milton Santos e a tríade de

Rogério Haesbaert sobre território será embasado o presente trabalho acadêmico

Page 28: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

28

para a tentativa de compreensão de como diferentes fatores podem influenciar na

presença e permanência dos lugares identificados no âmbito do Bairro Serra.

Page 29: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

1.6 - Metodologia

A pesquisa será desenvolvida em três etapas.

A primeira etapa é formada por tópicos de apresentação da base utilizada para o

desenvolvimento do trabalho acadêmico, como trabalho de Manoel Teixeira Azevedo

sobre o Bairro Serra, e por passos que deem inicio ao projeto de pesquisa, com

aplicação do questionário para identificação dos personagens de destaque no bairro

e diagnóstico que apresente a área de atuação e demarque as zonas de pesquisa.

Explicando a etapa em detalhes, seria possível traduzi-la da seguinte maneira:

- Apresentação da História do Bairro Serra;

- Apresentação do trabalho de Manoel Teixeira, trabalho esse que servirá como

ponto de partida para escolha do marco temporal da pesquisa,

- Elaboração do diagnóstico atual da área;

- Comparação com o trabalho de Manoel Teixeira, mudanças e permanências;

- Definição da metodologia para as entrevistas;

- Aplicação das entrevistas, com usuários do Bairro Serra.

A investigação documental “é realizada em documentos conservados no interior de

órgãos públicos e privados de qualquer natureza entre outros” (VERGARA, 2004, p.

48). Em termos de investigação documental, o trabalho inclui a busca, junto ao

Arquivo Público Mineiro e à Diretoria de Patrimônio Cultural da Fundação Municipal

de Cultura, informações sobre a história do Bairro Serra e o mapa cadastral de Belo

Horizonte, com vistas especialmente à identificação do período inicial de ocupação

do bairro.

O trabalho de Manoel Teixeira servirá como marco por explicar em detalhes o Bairro

até o final do seu período de estudo, com o objetivo de fornecer subsídios à

identificação dos lugares do bairro. Quanto às entrevistas, estas serão feitas com

pessoas que tenham no mínimo 25 anos de idade e vivência de treze anos do bairro

desde a data estipulada. Dessa forma, caso a pessoa tenha vindo para o bairro com

maior idade, ela terá desenvolvido tempo suficiente de vivência do local e para quem

Page 30: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

30

cresceu na região é possível que a pessoa tenha no mínimo 12 anos de idade na

data de início, tornando-a apta a perceber as mudanças que o bairro sofreu.

Na segunda etapa serão realizadas as análises dos questionários/entrevistas

aplicados na primeira etapa e, a partir daí, identificados os lugares do bairro.

Será ainda analisada a legislação urbanística incidente no bairro, com vistas a

identificar possíveis fatores responsáveis pela mudança da configuração dos

espaços e atividades em sua área.

Na terceira e última etapa serão apontados os fatores responsáveis pela perda ou

manutenção dos lugares e a perspectivas para estudos futuros a partir do trabalho

realizado.

Page 31: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Figura 1: Diagrama com etapas previstas para realização do trabalho.

Page 32: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

32

1.7 - Cronograma

Page 33: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

2 – DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

2.1 – Histórico

2.1.1 – Histórico do bairro Serra

Pensar um bairro é abordar, inicialmente, a sua identidade, o modo específico de ele ser, aquilo que o diferencia das áreas em volta e determina características próprias, perceptíveis para quem o frequenta ou percorre seus espaços (JUNIOR, 1996, p.69).

A toponímia Serra tem referência ao Córrego da Serra, que corta a região desde o

Parque das Mangabeiras (com 59 nascentes no local) até a Rua Dona Cecília,

contanto com boa parte do seu percurso hoje pavimentado3.

Essa configuração é característica do inicio da formação da nova capital de Minas

Gerais, sendo o bairro já pensado no plano original de Aarão Reis, como parte

componente da primeira e segunda região suburbana de Belo Horizonte (Figura 2).

A figura 2 apresenta a planta cadastral de Belo Horizonte em 1898, no período a

ocupação do bairro era dada predominantemente pelos cofundadores da cidade

(como Estevão Pinto e o Professor Antônio Aleixo) com grandes terrenos e

chácaras.

3 Prefeitura de Belo Horizonte. Disponível em

<http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/contents.do?evento=conteudo&idConteudo=23748&chPlc=23748&termos=Bairro%20Serra.> Acesso em 19/03/2012 às 18h16min

Page 34: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

34

Figura 2: Planta cadastral de Belo Horizonte de 1898, marcado em vermelho a primeira conformação do Bairro Serra.

.Fonte:http://3.bp.blogspot.com. Acesso em 17/04/2012 às 21:30

O Bairro Serra constituiu-se junto às encostas da Serra do Curral, outro motivo

responsável pela denominação da região, sendo a única forma de acessar a região

montanhosa, já que a Avenida Afonso Pena continuou seu percurso somente nos

arredores da década de 60 (com a idealização do Bairro Mangabeiras). Desta forma,

para os interessados em visitar ou se aventurar na Serra do Curral, o Bairro Serra e

suas vias principais, Rua Estevão Pinto, Rua do Ouro, Palmira e Caraça eram o

único meio de ter acesso a região montanhosa (JUNIOR, 1999, p. 69-75)

A ocupação do aglomerado se confunde com o inicio da história do Bairro Serra,

tendo ocorrido a partir da década de 1920, juntamente com o inicio dos

parcelamentos dos terrenos das chácaras. Apesar da ocupação pretérita, foram

necessários cerca de trinta anos para que o processo de ocupação do aglomerado

fosse consolidado; segundo Junior (1999) essa primeira ocupação ocorre em três

manchas básicas (Figura 3): a primeira marcada pela área ocupada em terreno de

topografia íngreme a leste e nordeste do bairro, recebendo o nome de favela da

Serra, a segunda ocorre em área denominada de favela do Pendura Saia, ao sul da

Praça Milton Campos, sendo esta hoje componente de parte do bairro Cruzeiro. A

Page 35: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

ultima porção já inexiste, tendo dado lugar ao Minas Tênis Clube, sendo conformada

pelo final da Rua Trifana e Avenida Bandeirantes.

Ainda seguindo a analise de Azevedo (Ibid.) a favela do Pendura Saia foi outra a

sofrer com processo de elitização da região, tendo sido sua área cedida a órgãos da

iniciativa privada e publica e outro grande trecho sendo retirado para dar

continuidade a Avenida Afonso Pena, sendo assim, do trecho original da favela

restavam, até o final do estudo realizado por Manoel Teixeira, três pequenas

porções de ocupação (Figura 4).

Na configuração atual do bairro, já não perdura a ocupação do Pendura Saia, tendo

maioria dos seus terrenos tornado-se edificações multifamiliares de classe média do

Bairro Cruzeiro. E, mais recentemente, a favela da Serra já passa por modificações

com desocupação, com a abertura da Avenida Mem de Sá (popularmente conhecida

como Avenida do Cardoso) e com os projetos de urbanização conhecidos como Vila

Viva (Figura 5).

Figura 3: Ocupação do aglomerado na década de 50, a menor mancha representa a ocupação que deu lugar ao Minas Tênis Clube, a mancha média representa a Favela do Pendura Saia e a terceira e maior mancha representa a favela da Serra. FONTE: Cadernos de Arquitetura e Urbanismo. 1999 ed. PUC Minas, Belo Horizonte. p. 71.

Page 36: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

36

Figura 4: Ocupação pelo aglomerado, ao final do estudo de Manoel Teixeira. Nele a menor ocupação da Figura 2 já havia dado lugar ao Minas Tênis Clube e a favela do Pendura Saia já havia praticamente desaparecido, restando apenas três pequenas manchas da antiga ocupação. Em contra partida a mancha conformada pela Favela da Serra aumenta de proporção, tornando-se uma das ligações do bairro com o Bairro São Lucas. FONTE: Cadernos de Arquitetura e Urbanismo. 1999 ed. PUC Minas, Belo Horizonte. p. 71.

Page 37: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Figura 5: Ocupação recente do aglomerado. Atualmente a área é maior do que a representada por Manoel Teixeira, mas concentra-se em somente um local, formando conurbação do bairro e o Bairro São Lucas.

Dessa forma, a ocupação inicial do bairro mostra já antecipa característica relevante

de sua configuração atual, marcada pela heterogeneidade, com clara mescla entre

diferentes setores sociais. Na mesma medida, a evolução de ocupação do bairro é

influenciada diretamente pela configuração do aglomerado, visto que enquanto o

bairro formal desenvolvia-se em torno da Avenida do Contorno e das ruas que

faziam ligações com a mesma, eram iniciados novos parcelamentos e ocupações

em trechos que hoje são conformados pelas ruas Capivari e adjacências que cortam

as vias principais, como Rua do Ouro, Rua Caraça, Rua Estevão Pinto e Rua

Trifana.

2.1.2 – Abordagem da história e do lugar segundo Manoel Teixeira de Azevedo

Junior

Manoel T. A. Junior (1999) identifica o bairro a partir da observação e análise do

mesmo, realizada por Pedro Nava no seu livro Chão de Ferro (1976). Nessa obra,

Nava pontua as relações entre edificação e terreno e entre os moradores da região,

com destaque para o contato entre os diversos estratos socioeconômicos que

formam o bairro.

Page 38: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

38

Para tanto, Manoel T. A. Junior se apropria da analise cedida por Pedro Nava para

fazer um estudo sobre a identidade característica do bairro a partir do seu sistema

viário e pelas Avenidas e ruas que o separam dos bairros que fazem vizinhança e

pela forma como os moradores se apropriam do mesmo e como é a relação

dinâmica e transforma do exterior para o interior do bairro.

Na analise do sistema viário Manoel T. A. Junior aponta a forma em que o bairro

está inserido na cidade e delimitado pelas vias estruturantes que o contornam. A

Avenida Afonso Pena, a Avenida Bandeirantes e a Avenida do Contorno formando

um eixo de vias importantes que demarcam os limites do bairro e caracterizam a

diferença, tanto do traçado quanto da arquitetura, entre o Serra e os bairros

circunvizinhos, como Anchieta, Cruzeiro, Funcionários e Mangabeiras.

Em relação aos bairros Mangabeiras, Anchieta e Cruzeiro a mudança é marcada

pela uniformização da ocupação do primeiro, com arquitetura horizontalizada e

unifamiliar, e pela verticalização de médio e alto porte dos dois outros. Outra

característica que difere os bairros citados e o Bairro Serra é o relevo acidentado de

ambos os espaços, relevo esse, que apesar de íngreme no Serra, ainda é mais

suave que nos vizinhos Mangabeiras, Anchieta e Cruzeiro. Grande semelhança

entre os bairros está na forma orgânica de organização viária, muitas vezes com as

ruas mantendo o mesmo em alguns casos (JUNIOR, 1999).

Em relação ao Bairro Funcionários essa diferença se caracteriza pelo traçado das

vias, no Serra elas tendem a ser orgânicas e muitas das vezes não contando com

ortogonalidade. Já no Bairro Funcionários esse traçado segue ortogonal, equivalente

ao parcelamento original proposto por Aarão Reis para o perímetro interno da

Avenida do Contorno.

Essa explicação em termos viários continua sendo realizada por Manoel T. A. Junior

para delimitar a forma de organização do bairro, partindo do macro para o micro,

onde a rua movimentada e com usos diversificados e de intensa velocidade das

Avenidas que circundam o bairro vão dando lugar a ruas tranquilas e com menor

fluxo de usuários na rua e por fim chegam na casa, espaço reservado pro privado.

Page 39: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Nessa analise é possível elucidar a organização das edificações pretéritas do bairro,

onde a ligação com a rua é feita por meio de arborização e aberturas através de

grades vazadas ou sem nenhuma medida de intrusão tornando a proximidade e

ligação entre público e privado em maior medida do que a arquitetura que se torna

vigente no bairro a partir da década de 80, onde essa proximidade cede lugar a

afastamentos, exigidos pela legislação, revolvendo a ligação entre público e privado

prejudicada.

Dessa forma, Manoel T. A. Junior identifica o bairro a partir da sua formação e da

forma como ele desenvolveu-se a partir dos seus dois eixos viários principais, Rua

do Ouro e Rua Estevão Pinto (antiga Rua Chumbo).

2.2 – Diagnóstico

2.2.1 – Área de estudo

A área de estudo consiste nas duas ramificações do Bairro Serra, o bairro formal e o

aglomerado. Essa divisão ocorre por motivos didáticos, para que seja possível a

identificação de lugares nos dois meios tornando assim a pesquisa com maior

amplidão.

Outra divisão ocorrerá na área composta pelo aglomerado, visto que o mesmo

ocupa grande trecho do bairro e, pelo tempo disposto para realização do trabalho

acadêmico seria inviável a pesquisa e levantamento de dados em todo seu

perímetro.

Dessa forma o trecho representado como área de estudo consiste em todo o bairro

formal e no trecho limitado pelas Ruas Capelinha, Bandonion e Sacramento para

demarcação da área de estudo no aglomerado como é representado no mapa a

seguir:

Page 40: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

40

Figura 6: Em vermelho área de intervenção, Bairro Serra. Fonte: Google Mapas.

2.2.2 Usos do solo

O Bairro da Serra tem a marcação de usos, de certa forma, clara. As regiões

polarizada pelas avenidas do Contorno, Afonso Pena e Bandeirantes conformam um

uso com características marcadas pelo uso predominantemente comercial, com

maior parte das edificações voltadas para essa demanda (Erro! Fonte de

referência não encontrada. à Imagem 4).

Imagem 1: Ligação Rua Desembarcador Drumond com Avenida do Contorno. Trecho marcado por edificações de maior porte, mais que 15 pavimentos, e com uso predominantemente diurno. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Page 41: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Imagem 2: Esquina Rua Desembargador Drumond e Avenida do Contorno. Edificação modificada para atender a demandas comerciais. Foto dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Imagem 3: Vista da Avenida do Contorno, próximo a Rua Estevão Pinto, a altura das edificações nesse trecho é destoante de praticamente todo o resto do bairro, onde as edificações costumam ter até 15 pavimentos. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Page 42: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

42

Imagem 4: Exemplo da diferenciação da altimetria das edificações deste entorno, Prédio Lifecenter. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Nesta mesma linha, o perímetro conformado entre Rua Estevão Pinto e Rua

Capelinha apresenta traços marcantes de uso misto, principalmente com uso de

casas tradicionais para o mesmo. Tendo o primeiro pavimento o uso comercial e o

segundo sendo usado, normalmente, para moradia. Desta forma, esse trecho ainda

conta com grande parte da arquitetura conformada até a década de 80 no bairro,

mantendo as características históricas do mesmo (Imagem 5 à Imagem 12).

Page 43: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Imagem 5: Esquina de Capivari e Capelinha, edificação com uso misto, em que o primeiro pavimento funciona como galeria de pequenos comércios. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes

Imagem 6: Edificação, no entroncamento de Rua Capivari e Rua Herval, em que o uso misto é dado em salas comerciais e restaurante. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 17hrs. Autor: Guilherme Gomes

Page 44: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

44

Imagem 7: Esquina conformada por Rua do Ouro, Rua Palmira e Rua Amapa, ponto em que é comum o uso do primeiro pavimento para comércios. Aqui vale ressaltar a presença do Bar do Salomão, ponto de destaque em uso pelos usuários do bairro, principalmente em dias de jogos de futebol. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 17hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Imagem 8: Casa localizada na Rua do Ouro, novamente o primeiro andar é utilizado como comercio. A presença de edificações de ocupação pretérita do bairro é notada inclusive ligação da edificação com a rua, sem contar com afastamento. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Page 45: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Imagem 9: Rua do Ouro 187. Seguindo a configuração de uso misto com a mesma colada a divisa frontal. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 17:30hrs. Autor: Guilherme Gomes

Imagem 10: Rua Estevão Pinto esquina com Monte Alegre a tonalidade de cor funciona como um dos divisores entre comércio e moradia. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Page 46: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

46

Imagem 11: Rua Estevão Pinto esquina com Monte Alegre. O uso de cores pra diferenciação não é utilizado, mas a presença de platibanda gera o dialogo de época entre as duas edificações de esquina. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Imagem 12: Rua Monte Alegre, a utilização de casas para comercio é comum na faixa de via apresentada. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Seguindo com a caracterização do bairro enquanto usos das edificações, vale

ressaltar a porção que passa pelas modificações de verticalização mais acentuadas

no processo recente de reorganização. O trecho é conformado pela Rua Capelinha

até a ligação com o aglomerado através da Rua Caraça, Sacramento e Alípio

Goulart, sendo a última um limite que tem ligação com as Ruas Capivari e

Page 47: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Sacramento (Imagem 13 à Imagem 16). O processo de verticalização neste trecho é

intenso e, segundo observações realizadas durante toda a estadia no bairro4, já

ocorre há cerca de sete anos, com casas sendo demolidas para dar origem a

prédios – motivo que gerou a identificação do mesmo como moradia

majoritariamente multifamiliar.

Imagem 13: Rua Capelinha, sentido Rua Sacramento, apesar de não fazerem parte da atual verticalização do bairro o trecho já é marcado por prédios com, no mínimo, cinco pavimentos. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 17hrs. Autor: Guilherme Gomes

Imagem 14: Rua Capivari esquina com Capelinha. Na imagem, lado esquerdo, já é possível observar uma das edificações que fazem parte do novo processo de verticalização. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

4 É interessante ressaltar que a relação do pesquisador com o bairro ocorre a 22 anos, tornando

possível essa identificação.

Page 48: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

48

Imagem 15: Rua Níquel, à esquerda tapume da Aguimar marcando mais um local com edificação que terá uso multifamiliar. Na rua já é possível observar o efeito da verticalização, visto que a mesma não possui presença de usuários na rua, sendo a mesma utilizada como estacionamento de carros. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Imagem 16: Rua Henrique Passini nº720. Edificação que também faz parte do novo processo de verticalização do bairro. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Por fim, a ultima ocupação identificada é a das casas unifamiliares, moradias que

marcaram o inicio da ocupação do bairro e foram responsáveis pela principal forma

de construção ocorrida até a década de 50 – quando as ideias modernistas de

verticalização começam a ser inseridas na região da Serra – (JUNIOR, Ibid).

Page 49: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

O trecho apontado como ainda remanescente desta ocupação unifamiliar

compreende pequena porção do bairro formal, entorno da Rua Alípio Goulart,

Caraça (Imagem 17 à Imagem 20) e Sacramento. O uso residencial unifamiliar é

também marcante na porção correspondente ao aglomerado, que, apesar do

processo de urbanização recente com o Programa Vila Viva, ainda tem forte traço de

unifamiliar. É importante ressaltar, nesse ponto, a peculiaridade da forma de

expansão das edificações no aglomerado, na maior parte dos casos, forma de

manter familiares próximos ou decorrência da falta de lugares disponíveis na mesma

região para que se mantenha a proximidade a área central da cidade.

Imagem 17: Rua Caraça nº 777, trecho próximo ao ponto final do ônibus 2102. A ocupação da rua nesse espaço é dada tanto pelos usuários do ônibus, quanto por pessoas que utilizam os pequenos comércios que são mantidos lindeiros a Rua Caraça. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Page 50: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

50

Imagem 18: Rua Caraça, final dos ônibus 2102, 9106 e 8150. Edificações de baixo porte e próximas a entrada do Parque das Mangabeiras. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Imagem 19: Esquina de Rua Caraça e Rua Serranos. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 17hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Page 51: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Imagem 20: Rua Caraça. Apesar do afastamento em relação a rua o uso de grade e vegetação ainda trazem a ligação entre rua e residência. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes.

O diagnóstico desenvolvido evidencia que a residência multifamiliar é vem tornando-

se a principal forma de ocupação ocorrente no bairro, mesmo que não seja marcada

somente pelo novo processo de transformação do Bairro Serra, com número cada

vez maior de casas sendo derrubadas para que seja possível a construção de

prédios. Esse processo só não ocorre de forma tão clara na ocupação do

aglomerado, onde as moradias unifamiliares – ainda que com a citada expansão

horizontal – permanecem como tipologia mais comum. Desse modo,

georreferenciando a leitura apresentada, segue-se a forma de organização do bairro.

Figura 7: Em vermelho, edificações com uso predominantemente comercial. Em laranja, edificações com uso predominantemente misto. Em azul, uso predominantemente residencial multifamiliar. Em magenta, uso predominantemente residencial unifamiliar. FONTE: Google Maps.

Page 52: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

52

2.2.3 – Altimetria das edificações

No que tange a referência altimétrica do Bairro Serra a divisão foi simplificada em

três zonas (Erro! Fonte de referência não encontrada.) com altura maior do que

15 pavimentos (maiores que 30m de altura), edificações até 15 pavimentos (cerca

de 30 metros de altura) e edificações do aglomerado que mantêm gabarito entre 9 e

12 m de altura.

Figura 8: Em vermelho, construções acima de 15 pavimentos. Em amarelo, construções até 15 metros de altura. Em laranja, ocupação irregular, zona do aglomerado da Vila Cafezal. Fonte: Google Maps.

Nesse sentido, é interessante ressaltar que o trecho que agrega as edificações

superiores a trinta metros de altura tem coincidência com a região com

características marcadamente comerciais no Bairro, apesar de estender-se ao

interior do bairro, chegando ao entorno da Rua Estevão Pinto (IMAGEM 21 à

IMAGEM 26). Esse fato pode ser explicado pela proximidade das construções com a

Avenida do Contorno, garantindo que o afastamento da via tenha que ser maior – de

acordo com a Lei n 7.166/96, esse deve ser de, no mínimo, 4m entre fachada frontal

do lote e inicio da edificação e desta forma concentrando o potencial construtivo

verticalmente.

Page 53: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Imagem 21: Avenida do Contorno, esquina com Desembargador Drumond, nº 4631. Uma das edificações que compõem a área que marcam essa verticalização de alto gabarito da região. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Imagem 22: Vista geral da Avenida do Contorno, sentido Avenida Getúlio Vargas, prédios com características semelhantes ao estreitamento e verticalização acentuada. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Page 54: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

54

Imagem 23: Rua Estevão Pinto, a tendência de estreitamento também faz-se presente no trecho, mas em menor medida que na Avenida do Contorno. Outro ponto importante é a maior presença de arborização na área. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme

Imagem 24: Rua Alumínio, esquina com Rua Estevão Pinto. Rua que também é marcada por presença de edificações extremamente verticalizadas e com muros que tornam-nas voltadas para seu interior sem ligação com a rua. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Page 55: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Imagem 25: Vista da Rua Luz a partir da Rua Estevão Pinto, apesar de isolada a edificação ultrapassa os 15 pavimentos comuns a área do Bairro Serra. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Imagem 26: Esquina de Rua Estavão Pinto e Rua Alumínio. Primeira edificação da serie que compõem a verticalização da área. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

As edificações até quinze pavimentos encontram-se, por sua vez, distribuídas entre

as vias internas ao bairro, sendo as de maior altura aquelas que circundam a Rua

Page 56: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

56

Estevão Pinto, a partir da sua ligação com a Rua Monte Alegre, até Rua Trifana

(IMAGEM 27 à IMAGEM 32). Esse mesmo trecho marca a intensa verticalização da

configuração atual do Bairro, sendo composto quase que inteiramente por

edificações de uso residencial multifamiliar, exceção marcada pelas antigas

chácaras do Professor Estevão Pinto e pela casa do Professor Antônio Aleixo (atual

sede da Diretoria do Patrimônio Cultural da Fundação Municipal de Cultura).

Imagem 27: Rua Caraça, esquina com Rua Estevão Pinto. Em primeiro plano edificação de pequeno porte que é cercada por zona de verticalização. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes

Imagem 28: Rua Palmira, esquina com Rua do Ouro. Apesar de ter uso multifamiliar e tendência a verticalização, o gabarito das edificações é mais suave. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes

Page 57: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Imagem 29: Rua Capivari, esquina com Ruas Capelinha e Amapá. Apesar da verticalização, o gabarito das construções é menor em relação as que ocorrem em torno da Avenida Estevão Pinto. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes

Imagem 30: Rua Capivari, esquina com Oriente. Novamente a verticalização é feita, mas com porte menor das edificações. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes

Page 58: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

58

Imagem 31: Rua Oriente, ainda com traços da primeira verticalização do bairro, decada de 50 e 60, a relação de proporção não é tão marcante quanto em outras regiões do bairro. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes

Imagem 32: Rua Capivari. A presença da verticalização faz-se presente, mas com gabarito que permite uma leitura pelo pedestre sem a necessidade de inclinar demais a cabeça, como ocorre nas proximidades da Rua Estevão Pinto principalmente na ligação com rua Alumín

Por fim, na área polarizada pelas ruas Capivari, Caraça e Sacramento e em direção

ao aglomerado marca uma ruptura com o padrão verticalizado das edificações que

ocorre nos demais trechos. Nessa porção, a predominância é de construções

verticais de altimetria reduzida e de pavimento único (IMAGEM 33 à IMAGEM 35).

Page 59: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Imagem 33: Ocupação aglomerado. Com exceção a edificação da prefeitura para o programa Vila Viva as casas constituem-se em dois ou três pavimentos. Foto tirada no dia 23/08/2012 às 12hrs. Autor: Guilherme Gomes

Imagem 34: Ocupação favela, próximo a comunidade da Igrejinha. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes

Page 60: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

60

Imagem 35: Ocupação próxima a Avenida Mendes Sá. A construção em vermelho marca a inserção de uma UMEI na região. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes

2.2.4 – Apropriação diurna

A presente leitura visa identificar a relação estabelecidas entre usuários e espaços

públicos no Bairro Serra, considerando o período do dia, de 8:00 às 18:00,

concentrando dessa forma o período em que os moradores costumam deixar o

bairro e dirigir-se ao local em que trabalham e também o contrário, quando usuários

do bairro chegam para realizar a atividade diária. O trabalho conduziu à identificação

de seis áreas distintas (Fig.4), delimitadas de acordo com o que ocorre de mais

representativo em cada uma delas.

Page 61: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Figura 9: Em roxo, ocupação aglomerado. Em laranja, ocupação mista, com maior peso para ocupação residencial. Em verde, zona de uso residencial. Em Marrom uso misto, com predominância comercial, grande rotatividade de pessoas durante o dia, horário de uso ligado muito ao comercio, pouca atividade quando esse termina seu expediente. Em vermelho, Minas Tênis Clube. Em magenta, ocupação com características comerciais. FONTE: Google Earth.

A primeira área é marcada por uso com características comerciais, tendo seu uso

ligado ao horário de funcionamento do mesmo.

A segunda área de apropriação, conformada pelo Minas Tênis Clube, também

possui caráter diurno, principalmente pelo horário de funcionamento do clube – até

as 20 horas – tendo como principais frequentadores pessoas que praticam algum

exercício físico no local, os lavadores de carros que exercem seu serviço nos

arredores pela facilidade de adquirir clientes e os alunos da Escola Estadual Pedro

Aleixo e do Colégio Promove, que costumam passar os períodos sem aula nos

arredores das escolas citadas e do clube.

É importante mencionar que a região também conta com uma companhia de polícia,

142º distrito, e com uma das entradas do Parque das Mangabeiras. A portaria é

utilizada como local declaradamente de passagem, tanto para pessoas que

pretendem embarcar no ônibus 4111 ou para trabalhadores que tem empregos nos

bairros Anchieta, Mangabeiras e Sion, que descem a pé para o local e utilizam da

entrada do parque como um atalho.

Page 62: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

62

Esta área não será tratada como área isolada no desenvolvimento do trabalho

devido ao seu caráter pendular de apropriação, sendo praticamente todos os

usuários de outras regiões de Belo Horizonte e não necessariamente do Bairro

Serra, desta forma tendo relação superficial com bairro.

Seguindo a analise de apropriação, a terceira zona apresenta uma maior ligação

com o bairro e as relações que se desenvolvem nele. Ela é conformada pelas ruas

Estevão Pinto, Palmira, Doutor Camilo e Níquel (Erro! Fonte de referência não

encontrada., Erro! Fonte de referência não encontrada.). Essa área tem caráter

predominante ao uso residencial, mas com pontos de funcionamento de comércio

que garantem a utilização da mesma durante o dia.

Imagem 36: Rua Capivari, próximo a esquina com a Rua Oriente. O mesmo imóvel funciona como conserto de móveis e roubas (entrada na esquina). Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Page 63: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Imagem 37: Rua Itapemerim, esquina com Rua Capivari. A Padaria Gênova é uma das responsáveis pela movimentação diurna no local. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Os pontos comerciais concentram-se ao redor das Ruas Estevão Pinto e Palmira,

com destaque para o Bar do Salomão e a padaria Santíssimo Pão (Erro! Fonte de

referência não encontrada.7) que garantem grande movimentação a região,

principalmente ao final da tarde. Outros pontos que podem receber destaque são a

Sorveteria Palmira e a Max Vídeo Locadora, que já mantêm serviços há

aproximadamente dez anos no bairro.

Imagem 38: Padaria Santíssimo Pão, influência diretamente o fluxo de pessoas na região. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Page 64: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

64

Nas porções com caráter residencial, é possível notar a pouca apropriação das

áreas públicas, visto que, por ser uma das regiões com pessoas de maior poder

aquisitivo do bairro, a maioria dos residentes desenvolvem suas atividades

profissionais fora da região, ou costumam utilizar veículos motorizados para se

locomover, fazendo pouco uso da rua como pedestres (Erro! Fonte de referência

não encontrada.38).

Imagem 39: Rua do Ouro. Apesar da proximidade a região do bar do Salomão a região conta com pouca utilização na sua parte residencial. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes

Essa característica também se repete na quarta área, em marrom, onde o uso do

automóvel é um dos responsáveis pelo esvaziamento da rua. Nesta área, marcada

pelas Ruas do Ouro, Palmira, Pouso Alto e Avenida do Contorno, temos o uso misto,

com predominância comercial, como característica básica. Dessa forma, a ocupação

da rua se dá, principalmente, em horários em que a parte comercial das edificações

está aberta tendo seu movimento coordenado por esse horário.

Outro ponto que faz com que a área seja utilizada são as linhas de ônibus do bairro

que passam pelo local (4102, 4107 e 2151 – no sentido bairro/centro – e 4102, 2102,

2151, 4107 e os suplementares que atendem no sentido centro/bairro), que são

responsáveis diretos pelo número de pedestres no local.

Como quinta área tem-se a região de transição entre bairro formal e aglomerado,

marcada pelas Ruas Níquel, Oriente, Caraça, Sacramento e Alípio Goulart (IMAGEM

Page 65: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

39 à Imagem 41). A área é caracterizada por ocupação mista, com predominância a

ocupação residencial multifamiliar.

Imagem 40: A Auto Escola Cesinha tem seu horário de funcionamento iniciado a partir das 16hrs, o que garante o uso da região também durante a noite garantindo segurança a área. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Imagem 41: Rua Capivari nº 429, o uso do espaço é dado principalmente por clientes da loja de roupa e do salão de beleza. Dessa forma a maioria das pessoas que se utilizam do local são mulheres. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Page 66: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

66

Ao contrário da área mista comercial e da área de características residenciais essa

mancha conta com ocupação quase que constante em seus limites, principalmente

pela proximidade e uso do comercio da mesma também pelos moradores do

aglomerado. A presença do Supermercado EPA é um dos destaques para o uso da

região sendo utilizado pelas diferentes camadas sociais que habitam o Bairro. O

tamanho dos comércios e a tipologia também tem influência direta na apropriação,

sendo lojas de menor porte ou com donos que permitem vendas “fiadas” aos seus

clientes tornando a relação proprietário e morador mais próxima e intima.

Imagem 42: Rua Caraça, próximo à entrada do Parque das Mangabeiras. A ocupação do espaço público pelo pedestre já é perceptível. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Por fim, apresenta-se a sexta região, conformada pelo trecho do aglomerado que faz

parte do estudo. Assim como na quinta região, a utilização da área é feita de forma

intensiva e independente do horário sendo marcada por uma proximidade ainda

maior entre moradores e comerciantes, sendo o trato marcado por apelidos e nomes

carinhos, como o “Sr. Tonho da mercearia” e o “Sr. Manquinha” que mostram uma

relação intima e de confiança que muitas vezes garante segurança ao comercio de

forma a não necessitar, às vezes, da presença do dono para que o mesmo esteja

seguro de roubos.

Page 67: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Desta forma, com a divisão realizada em termos de uso do espaço urbano, é

possível observar que a proximidade entre os usuários e os comerciantes e a

diversidade entre tipologias de ocupação, comércio e residência, tem caráter

decisivo na apropriação por parte das pessoas, sendo um dos principais

responsáveis pela utilização do local por pedestres e trazendo aos mesmos o

sentimento de segurança.

Page 68: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

68

2.3 – Percepções da comunidade sobre o bairro Serra

O presente questionário busca levantar e analisar dados e temas que possam

apontar os locais passiveis de identificação como lugares, segundo definição do

termo por Ana Fani Alessandri Carlos, no Bairro Serra. Para tanto, visa-se

questionar os pesquisados sobre sua vivencia do Bairro, sobre o tempo que os

mesmos convivem na região e como identificam-na no presente momento e a

perspectiva para o futuro local. Essa construção permitirá o embasamento para

desenvolvimento do trabalho acadêmico e a forma de conduzir a próxima etapa,

relativa à identificação e análise dos fatores responsáveis pela perda ou manutenção

dos lugares do bairro.

2.3.1 – Metodologia de pesquisa

A definição do método de pesquisa levou em conta o Mapa de Usos (Fig. 4)

juntamente com o diagnóstico fornecido nesse ponto e o estudo anteriormente

realizado pelo professor Manoel Teixeira Azevedo Junior (1999) que trata do bairro

por um longo período e com sólido embasamento teórico.

A pesquisa de Manoel Azevedo trata do período até 1999. A analise comparativa

entre a obra de Manoel Teixeira e o diagnóstico realizado nesse trabalho permite

observar mudanças na conformação espacial do bairro desde então. Desse modo, a

obra foi tomada como ponto de partida para investigação das alterações ou

manutenção dos personagens de destaque do bairro.

A resolução partiu desse mapa devido a divisão que melhor elucidou a apropriação

por parte dos usuários do Bairro Serra, sendo possível dividir a área de estudo em

cinco áreas, com a parte formada pelo Minas Tênis Clube sendo incorporada à

terceira área.

A pesquisa foi realizada observando-se a proporção de 70%/30%, aplicada de

acordo com a característica de maior destaque da zona conformada segundo o

Mapa de Usos. Dessa forma, para as porções identificadas como de caráter

predominantemente comercial, a pesquisa deu-se com 70% dos entrevistados sendo

Page 69: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

comerciantes ou funcionários do comércio e 30% sendo moradores; nas porções

com predominância residencial a lógica é a mesma, mas com os valores invertidos.

No caso das áreas de uso misto, foram aplicados questionários com igualdade entre

a quantidade de entrevistados dos dois setores.

O questionário aplicado nas entrevistas teve como objetivo identificar a percepção

dos usuários sobre o Bairro Serra, podendo ocasionar o apontamento de

personagens de destaque ou de lugares de referência ou que remetam a memória

do bairro, levando em conta para analise dos lugares a definição de Ana Fani Carlos

(1996). O mesmo foi aplicado exclusivamente a usuários que tenham idade mínima

de 23 anos, para que seja possível a vivência desde a finalização da pesquisa de

Manoel Teixeira Azevedo Junior, concluída em 1996.

A abordagem inicial deu-se com o pesquisador apresentando a si e ao objetivo da

pesquisa, bem como os resultados que ele pretendia obter. Concluída essa fase,

passou-se à análise do material, com vistas à identificação dos lugares do bairro a

partir da percepção dos entrevistados.

2.3.2 – Questionário para obtenção dos lugares de destaque

A seguir, é apresentado o questionário que conduziu as entrevistas com os usuários

do bairro para futura identificação dos lugares no Bairro Serra.

Page 70: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

70

Ordem Questões Aplicadas aos Usuários do Bairro Serra

1ª Idade

2ª Grau de escolaridade

3ª Profissão

4ª Qual tipo de relação com o bairro: residente, trabalha ou ambos?

5ª Caso seja residente, qual o tipo de moradia: multifamiliar ou

unifamiliar?

6ª Onde mora ou trabalha?

7ª Em caso de moradia: é proprietário ou é alugado? Em caso de

estabelecimento: dono ou empregado?

8ª De quanto tempo é a relação desenvolvida com o bairro?

9ª Quais lugares do bairro costuma frequentar?

10ª Quais os lugares do bairro que destacaria como de maior movimento?

11ª Percebe mudanças no bairro?

12ª Quais os lugares que, na sua concepção, são pontos de referencia no

bairro?

13ª Os lugares/pontos de referencia são recentes?

14ª Identifica lugares/pontos de referencia que existiram e não existem

mais?

15ª Apontaria o desaparecimento ou aparecimento de alguma referencia

no bairro?

Page 71: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

2.3.3 – Caracterização dos usuários por idade, tipo de atividade e tempo de

relação com o bairro

A primeira parte da entrevista visou delimitação etária dos usuários do bairro (Gráfico

1).

Analisando-se os questionários, foi possível perceber que a variação concentra-se,

principalmente, entre as duas primeiras faixas de divisão etária dos usuários (25 a

40 e 41 a 60) sendo os dois trechos predominantes nos setores 3 e 4, de 25 à 40

anos, e 1 e 5, de 41 à 60 anos. O trecho 4, representado pela entrada do bairro à

partir da Rua do Ouro mostra que os usuários são pautados em uma idade mais

avançada.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

DE 25 A 40 ANOS DE 41 A 60 ANOS ACIMA DE 60 ANOS

ÁREA 1

ÁREA 3

ÁREA 4

ÁREA 5

ÁREA 6

Gráfico 1: Gráfico mostra idade média dos usuários entrevistados, em “y” número de usuários por área e em “x” intervalos de idade propostos. Essa media mostra que o bairro varia a dominância de acordo com a área, tendo a repetição de idade predominante quase escassa.

Em termos de convivência na região ( Gráfico 2) todas as cinco áreas tem predominância ao menor tempo delineado, entre

13 e 30 anos, mostrando uma temporalidade e contato com bairro pautado por

relações a partir da década de 80, onde a região já havia sofrido processos de

mudanças pela verticalização e pela conclusão da Avenida Afonso Pena até o Bairro

Mangabeiras. Nesse momento, o bairro não mais constituía o único caminho

possível de ligação a Serra do Curral, fato que o reforçava sua identidade dentro da

cidade de Belo Horizonte.

Page 72: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

72

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

13 A 30

ANOS DE

CONVÍVIO

DE 31 A 45

ANOS

DE 45 A 60

ANOS

ACIMA DE

60 ANOS

ÁREA 1

ÁREA 3

ÁREA 4

ÁREA 5

ÁREA 6

Gráfico 2: Tempo de convívio no Bairro Serra, em “y” é apresentado o número de usuários por região e em “x” é representado o tempo que eles convivem no Bairro Serra. Segundo o analisado em nenhum setor as pessoas convivem no bairro a mais de 60 anos e em todos os cinco setores há predominância do menor tempo de convívio possível. Apontando mudança populacional do bairro.

Seguindo a pesquisa, foi questionado aos usuários qual era o tipo de relação que

eles desenvolviam com o bairro (Gráfico 3), trabalho, moradia ou os dois. Por meio de

tal indagação, buscou-se identificar o motivo da predominância do menor tempo de

relação com a região.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

MORA TRABALHA MORA E

TRABALHA

ÁREA 1

ÁREA 3

ÁREA 4

ÁREA 5

ÁREA 6

Gráfico 3: Gráfico com número de usuários que moram, trabalham ou fazem as duas atividades no bairro, em “y” é representado o número de cada usuário por área, em "x” é apresentado qual é o tipo de atividade realizada. As áreas 5 e 6 tem a maior concentração da combinação de usos do bairro.

Page 73: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Foi possível perceber que, mesmo não sendo predominante dentre os entrevistados

em nenhuma das áreas, o número de pessoas que moram e trabalham no bairro é

relevante em comparação às que somente trabalham ou somente residem. Esse fato

só não é ocorrente na área 1, apontando um grau de ligação com o bairro que pode

ser impactado pela característica comercial do perímetro.

Dessa forma, analisando-se o bairro no comparativo idade x tempo de convivência x

tipo de utilização, é possível perceber que, apesar de terem sido identificadas faixas

etárias de ocupação variadas, o tempo de convívio da população no bairro é baixo,

independente do tipo de ocupação dos usuários (residente ou trabalho) podendo

afetar assim os processos de percepção temporal da região e de identificação das

transformações sofridas pela mesma.

2.3.4 – Percepção sobre a região

Após identificação inicial do padrão de usuários do bairro, seguiu-se o

questionamento buscando-se incentivar a reflexão sobre quais locais eles utilizam,

sobre quais locais consideram movimentados na região e, principalmente, sobre as

mudanças sofridas recentemente pelo bairro. Ao contrário da analise realizada no

item 2.3.3, esse item contou com divisão do diagnóstico da pesquisa feita área a

área, para que fosse possível analisar as especificidades detectadas em cada uma

das regiões.

Em termos de utilização do bairro (Tabela 1), foi possível identificar situações de

similaridade em alguns dos termos utilizados.

Para a primeira porção, os usuários mostraram não identificar ruas do bairro como

áreas de utilização comum, sendo muitos dos locais citados utilizados pela mesma

pessoa ou por pequeno grupo de pessoas. Nesta porção, a apropriação da rua é

afetada, principalmente, pelo caráter da área, sendo a utilização baseada em

critérios ligados a necessidade imediata do usuário e não no interesse de usufruir do

espaço público.

Page 74: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

74

Dando sequencia a analise na mesma porção, pontos foram citados como utilizados

predominantemente, sendo eles bares e farmácias. No caso dos bares não houve

uma coincidência entre o nome do bar utilizado. No caso das farmácias, todos os

usuários apontaram a Drogaria Araújo como principal drogaria da região, sendo

lembrada por todas as pessoas que apontaram usar locais do bairro.

A porção 1 foi a que apresentou maior número de usuários a não identificar

nenhuma rua ou serviço do bairro como lugares de uso, tendo a resposta “eu só

frequento meu trabalho” sido utilizada por dez dos quinze entrevistados na área.

A área três apresenta maior utilização do bairro pelos entrevistados, ocorrendo

somente duas respostas em que não havia locais de utilização, e com diversidade

nas áreas citadas como de uso. Sendo os bares a porção predominante (cinco

citações) e as farmácias e supermercados os que o seguem (três citações cada).

Entre os bares houve destaque para citação do Boiadeiro, com duas citações, e o

Bar do Salomão, também com duas citações. Além deles, foram incluídos na lista de

bares utilizados o Bar do Baltazar e o Bar do Caçapa, com uma citação cada. Em

termos de supermercado, todas as pessoas a indicar o item apontaram o

Supermercado EPA como local de utilização. Para o item drogarias também houve

unanimidade no local indicado, sendo ele a Drogaria Araujo, localizada na esquina

de Rua Palmira e Rua do Ouro.

Na área 4, ocorreu a identificação de ruas como locais de utilização, apesar de não

serem destaque, sendo as Ruas Estevão Pinto (duas citações) e Rua do Ouro (uma

citação) lembradas. Outra tipologia de destaque na região foi o de escola, sendo a

Escola Estadual Dulce Pinto Rodrigues citada por três entrevistados.

Também foram mencionados os bares – quatro vezes entre os entrevistados. Não

ocorreu, no entanto, a lembrança de nenhum estabelecimento em especifico, sendo

o item sempre mencionado no plural.

Page 75: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

A área 5, área que representa transição entre bairro formal e aglomerado, apresenta

a maior diversidade de utilizações entre os setores de divisão sugeridos, tendo sido

nove os lugares lembrados entre os de uso por parte da população.

O destaque do setor fica a cargo dos bares e da Praça Alípio Goulart, sendo ambos

citados três vezes, a rua de mesma alcunha e o Clube Olímpico vem em seguida,

com duas citações cada.

Aqui, novamente, surgem a citação dos bares Boiadeiro, Caçapa e Salomão, sendo

cada um lembrado pelo menos uma vez por parte dos usuários (2 vezes, 1 e 1,

respectivamente).

É importante ressaltar também o caráter recente da Praça Alípio Goulart, que tem,

aproximadamente, um ano de execução e já é vista como local de apropriação por

parte da população do bairro.

Por fim, em termos de analise da utilização do bairro pelos usuários, temos a área 6,

conformada pelas ruas que margeiam o aglomerado e pelo trecho do mesmo

abordado para delimitação da área de pesquisa (Figura 9). Há dois locais que se

igualam quanto a utilização por parte dos entrevistados, sendo eles o próprio

aglomerado e a Rua Alípio Goulart (com quatro citações cada).

Os outros dois setores com relevância em termos de citação são recorrentes de

outras áreas já mencionadas, sendo eles a Praça Alípio Goulart e o Supermercado

EPA (com três menções cada).

Em termos de movimentação (

Tabela 2) o número de locais citados teve a inclusão de cinco novos pontos, sendo

eles as Ruas Herval, Capivari, Palmira e Caraça, a Avenida Afonso Pena e os

pontos de ônibus do bairro.

Na área 1, houve destaque para citação da Avenida Afonso Pena, tendo sido

mencionada sete vezes entre os entrevistados, seguida pelas menções à Drogaria

Araújo, (5). Essas menções sugerem o caráter comercial e de serviço dessa camada

Page 76: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

76

do bairro, tendo as lembranças sido concentradas em locais de uso rápido e não em

locais de estadia prolongada.

A área 3 mostra-se mais diversificada em termos de locais citados como

movimentados, tendo a Rua do Ouro sido apontada como a de maior movimento

(cinco menções). Apesar do destaque houve também recordação de outros três

pontos com relevância as menções, sendo eles a Rua Estevão Pinto, o Parque das

Mangabeiras e as praças da região (visto que a população também considerava a

Praça do Papa parte do bairro). Todos os três foram citados quatro vezes.

Destaca-se também o número de menções às Ruas Alípio Goulart e Caraça, duas e

três menções respectivamente. Esse detalhe é interessante principalmente pelo fato

da Rua Alípio Goulart ter sido lembrada, já que ela possui considerável afastamento

em relação à área demarcada como trecho três. Isso poderia ser justificado por

menções realizadas por usuários que apontaram morar e trabalhar na região e foram

entrevistados na área três, mas apenas um dos dois que afirmou morar e trabalhar

indicou a rua como ponto movimentado.

A área 4 volta a apontar a Rua do Ouro como local mais movimentado (cinco

alusões), seguido pela Rua Estevão Pinto(quatro citações). Outros três pontos

voltam a ser novamente citados, sendo eles os bares, aqui direcionados ao Bar do

Salomão (com duas citações), a Rua Alípio Goulart (uma menção) e o Parque das

Mangabeiras (uma menção) apontando seu caráter marcante no bairro.

As Ruas do Ouro e Estevão Pinto incluem-se entre as mais características do bairro,

sendo parte do traçado original e dos limites entre o Bairro Serra e o restante da

cidade, compondo duas das três portas de entrada para a região pelo bairro formal,

ficando a terceira a cargo da Avenida Bandeirantes. Há também a entrada para o

bairro através do Bairro São Lucas pela Avenida Mem de Sá, próximo a Rua Alípio

Goulart, mas essa tem seus limites baseados na inserção pelo aglomerado.

Para área 5, a Rua Alípio Goulart assume o posto de local mais movimentado, com

sete menções, seguida pela Rua do Ouro, com cinco, e pela Rua Capivari e Praça

Alípio Goulart, com três citações cada. Na área houve também menções de

destaque para Rua Estevão Pinto, para o Clube Olímpico e bares, com duas

Page 77: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

citações cada. No caso dos bares, assim como nas áreas um e três, não houve

nomeação do bar movimentado, sendo somente citado o estabelecimento como

local de movimento.

Para a área 6, há, para a Rua Alípio Goulart e o aglomerado, oito citações, refletindo

a importância das mesmas como pontos de referência do bairro, provavelmente em

decorrência do significativo número de pessoas utilizando-se da Rua Alípio Goulart e

da Rua do Ouro mostra o caráter marcante das vias

Por fim, foi questionado aos usuários sobre as mudanças que ocorrem no bairro ( Tabela 3), para que eles pudessem dizer se as percebiam ou não e qual era a

influência que elas geravam na região.

Na área 1 houve igualdade entre as pessoas que apontaram o aumento do transito

como mudança e as pessoas que não perceberam alterações no bairro, com cinco

afirmações cada, mostrando o baixo contato entre os usuários da área e o bairro. Na

relação do aumento do transito todos os entrevistados apontaram-no mais intenso

na área da Avenida Afonso Pena e sendo ponto negativo por isso.

Outro ponto com grande menção foi a segurança, quatro vezes, sendo a sua

melhora, principalmente nas ruas que afluem a Avenida Afonso Pena, Avenida do

Contorno e Bandeirantes as mais citadas. Como causa da melhora todos os

usuários apontaram o aumento do policiamento e dos seguranças na rua sendo a

influência do fato. Também foram citados o aumento da verticalização (com três

afirmações) e o aumento da população (duas menções) como pontos de alteração

do bairro.

Na área três foram citados seis pontos diferentes de mudança. O destaque foi a

reposta com o termo verticalização (dez citações), apontada negativamente por

todos os usuários que a mencionaram. Os outros termos a aparecer foram: mudança

no aglomerado (duas citações), segurança (uma menção), aumento transito (três

citações), abertura de vias (duas menções), diversificação comercio (uma citação).

Page 78: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

78

A verticalização foi justificada negativamente por alterar a intensidade do bairro e a

taxa populacional, influenciando, segundo os entrevistados, “a calma característica

do bairro” tornando-o sempre ruidoso e de difícil estadia.

O setor 4 contou com dois pontos de destaque, sendo eles verticalização e aumento

do transito, ambos com seis menções. Os outros dois pontos de mudança citados na

área foram o aumento populacional, três citações, e segurança, com duas citações.

Assim como na área três a verticalização foi citada negativamente, mas sendo

relacionada diretamente com o aumento do trânsito, a justificativa nesse setor foi

dada pela dificuldade de se andar nas ruas, com a afirmação que a verticalização

havia trazido o aumento do trânsito, que tornava inseguro atravessar as vias,

principalmente as que tinham caráter interno ao bairro.

Outro ponto mencionado negativamente, quanto ao aumento do transito, foi a

dificuldade de se estacionar na região, sendo justificado que não havia necessidade

de estar no local de trabalho mais cedo para conseguir se estacionar e atualmente

há essa demanda.

A área 5 apresentou o maior número distinto de mudanças percebidas, sendo

novamente a verticalização a com maior número de apontamentos (dez menções).

Os outros pontos recordados envolvem a mudança no aglomerado, três citações, a

segurança, duas menções, o aumento do trânsito, três menções, e os termos

aumento da população, abertura de vias e diversidade do comercio, todos com uma

menção.

Nesse setor a menção da verticalização também foi apontada, predominante, como

sendo ruim ao bairro, com sete das dez menções sendo negativas. A justificativa

para discordância tem seu predomínio na afirmação da perda de casas relevantes

esteticamente ao bairro, sendo a casa nomeada de “chácara” localizada no

entroncamento de Rua Palmira e Rua do Ouro a perda mais sentida, todos os

usuários informaram que o local dará lugar a uma filial do Supermercado Mart Plus.

Page 79: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Os entrevistados a visualizar a mudança de forma positiva deram a aprovação pelo

caráter evolutivo do bairro, apontando o crescimento como algo bom e que permite à

chegada de novos serviços a região.

A percepção na mudança do aglomerado também contou com avaliação positiva,

sendo justificada pela melhoria nas habitações dos moradores e na educação e

relacionamento entre os moradores do aglomerado e do bairro formal.

A área 6 teve sua percepção de mudança atrelada ao aglomerado, com nove

menções as alterações pelas quais a área passou. Apesar do destaque para essa

opção outros três pontos tiveram recordação relevante, sendo eles a verticalização,

a abertura de vias e as características da população, todos com três citações.

A mudança no aglomerado foi bem vista pela população, sendo apontada

positivamente por nove dos dez usuários a cita-la. A aprovação envolve como

motivo a urbanização, com inserção de habitações, UMEI’S e creches, e a melhoria

dos acessos ao aglomerado, além disso apontasse a diminuição do tráfico e dos

problemas de guerra por controle de bocas de fumo como outro ponto de melhora.

A citação que afirmou não estar de acordo com as mudanças relacionou o

desagrado pela retirada de vizinhos que isso ocasionou em sua rua, dando o

seguinte depoimento: “Quando pequena eu conhecia todo mundo da minha rua, saía

pra brincar e me divertir com meus amigos. Hoje eu não conheço ninguém, não

posso deixar meu filho sair pra brincar, pois essa nova Avenida do Cardoso

aumentou demais o transito na região, acho inseguro pra ele”.

Vale ressaltar também a aprovação quanto à mudança de pessoas, os entrevistados

afirmaram que hoje há maior dialogo e convívio harmonioso entre os moradores,

dando como motivo o aumento da escolaridade e melhoria da educação.

Dessa forma, a relação entre locais de utilização, locais mais movimentados e

percepção de mudanças no bairro tornou possível apontar alguns possíveis

territórios para que seja dada continuidade ao trabalho de pesquisa. Sendo eles a

Rua do Ouro, a Rua Alípio Goulart e a Rua Estevão Pinto. Através dos depoimentos

há também o surgimento de um ponto recente que pode passar a ser alvo de

Page 80: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

80

investigação sendo ele a Praça da Rua Alípio Goulart, ponto lembrando tanto como

mudança quanto como local de uso, tornando-se destaque nas áreas 5 e 6.

2.3.5 – Percepção quanto aos pontos de referência

Por fim, foi solicitado aos usuários que se manifestassem quanto aos pontos de

referência do bairro. Para tanto, buscou-se fazer questionamentos sobre quais

lugares do bairro eram vistos como ponto de referência, sobre o tempo do ponto de

referência no bairro e, por fim, pela perda ou surgimento de pontos de referência na

região.

Como resposta a primeira questão foram mencionados 32 pontos de referência, entre todas as áreas de

entre todas as áreas de divisão da pesquisa (Tabela 4,

Tabela 5,

Tabela 6 e Tabela 7).

A primeira área teve apresentação de sete pontos de referência, sendo os dois mais

citados a Praça Milton Campos e a Telemar (ambos com quatro menções). Também

foram citados a Rua do Ouro, com duas menções, o Clube Olímpico, com uma

citação, o Lifecenter, com três menções, a Praça do Papa, com duas citações, e a

Drogaria Araújo, também com duas menções.

Apesar de das citações à Praça Milton Campos e ao prédio da Telemar, nenhum dos

entrevistados demonstrou frequentá-los, citando-os apenas como “o ponto que a

gente dá quando alguém quer vir aqui” (Entrevista cedida pelo Senhor Evandro Silva

Cunha, 48 anos de idade e 15 anos de relação com o bairro).

A área três, segundo o que é visualizado no quadro de pontos de referência (Tabela 4, Tabela 5,

Tabela 6 e Tabela 7), mostra ser aquela na qual é perceptível uma relação de maior

conhecimento entre usuários e bairro, com presença de treze pontos de referencia

citados pelos entrevistados. O Hospital Evangélico é o mais mencionado, cinco

vezes. Além do hospital, outro ponto com grande número de menções é o Parque

das Mangabeiras, com quatro marcações. Além deles houve a citação da Rua do

Ouro, com três menções, a Rua Estevão Pinto, Praça Milton Campos, Bar do

Page 81: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Salomão, todos com duas menções, o Supermercado EPA, Igreja São João

Evangelista, o Clube Olímpico, o Minas Tênis Clube, a Rua Caraça, o

estabelecimento Fotos Mendes, a Rua Palmira, o Bar Boiadeiro e a Drogaria Araujo,

todos com uma anotação.

A área 4 também conta com treze locais apontados como referência, sendo alguns

pontos coincidentes com os da área 3. Os principais pontos da área são o Hospital

Evangélico e a Rua Estevão Pinto, ambos com quatro marcações. Em seguida,

aparecem Supermercado EPA, a Rua do Ouro, o Lifecenter e a Praça Milton

Campos, todos com três menções, seguidos pelos bares Salomão e Baltazar, com

dois apontamentos, pelo Espaço Criança Esperança, pela padaria Santíssimo Pão e

Rua Palmira, todos com uma citação.

A área 5, assim como as duas áreas anteriores, conta com número elevado de

pontos de referência citados, doze no total, sendo o Hospital Evangélico novamente

o ponto mais destacado em uma área (8 menções). A Rua do Ouro também mantém

caráter de destaque, juntamente com a Rua Estevão Pinto, ambas com cinco

marcações. Em seguida aparecem a Praça do Cardoso e o Parque das

Mangabeiras, com três citações cada, seguidos pelas duas citações ao Aglomerado

e a Rua Capivari e, com uma citação, aparecem a Rua Alípio Goulart, a Avenida

Mem de Sá, a Praça Alípio Goulart e a Villa Rizza.

A área 6 reafirma o marco representado pelo Hospital Evangélico. A instituição

contou com nove menções na área, sendo novamente o destaque como ponto de

referência. Outro ponto que mostra relevância ao espaço é a Praça do Cardoso, com

sete afirmações. Outros dez pontos são memorados como pontos de referencia,

sendo quatro deles marcados duas vezes (Rua do Ouro, Rádio 98fm, Rua Alípio

Goulart e o Aglomerado) e outros 6 apontados uma vez (Bar do Caçapa, Parque das

Mangabeiras, Avenida Mem de Sá, Drogacelso, Praça Alípio Goulart,Criança

Esperança e Academia Toninho).

Os pontos de coincidência, como Supermercado EPA e Rua do Ouro, mostram-se

relevantes também como resposta a outros pontos da pesquisa – como locais de

movimento e utilização pela população local. As áreas 5 e 6 mantém o dialogo que

lhes foi característico durante todo o processo de entrevista, tendo seus usuários

Page 82: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

82

identificado o mesmo ponto principal de referência, além de vários outros pontos em

comum.

Dentre os trinta e dois pontos mencionados, quatro deles tem existência inferior a

dez anos: Criança Esperança, Praça do Cardoso, Avenida Mem de Sá e Praça

Alípio Goulart, sendo que os três últimos pontos têm tempo menor que cinco anos.

Entre os demais pontos, um ainda conta com idade inferior a quinze anos,

Lifecenter, sendo considerado um ponto recente pelos entrevistados que o citaram

nas áreas 1 e 4.

No prosseguimento do questionamento, foi sugerido aos entrevistados que indicassem novos pontos de

indicassem novos pontos de referência (Tabela 8), bem como aqueles que foram perdidos recentemente (

Tabela 9, Tabela 10 e

Tabela 11).

Foram identificados treze novos pontos de referência no bairro, parte deles citados

nesse item e não considerados como pontos de referência no questionamento

anterior.

A área 1 apresentou somente o Lifecenter como ponto recente, sugerindo que ele

veio substituir o Hospital Santa Amélia. O maior destaque da área fica a cargo do

não apontamento de pontos de referencia surgidos, sendo justificados pelos

usuários que todos os locais que eles se recordavam são anteriores a estadia deles

no bairro.

A área 3 conta com a indicação de sete pontos recentes para o Bairro Serra, sendo

o Mart Plus (duas menções), ponto que substituirá a casa apontada como de

destaque no entroncamento de Rua Palmira e Rua do Ouro, considerado como

ponto de referência, mesmo que não citado quando a questão envolvia o tema

pontos de referência.

Os demais pontos identificados foram o Boiadeiro, que sofreu mudança de

endereço, a Praça do Cardoso, a nova conformação do aglomerado, Supermercado

Oba, que não chegou a ser mencionado na primeira questão dessa parte avaliativa,

Page 83: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

com dois votos, a nova UMEI da Vila Marçola, com um voto, o Centro Cultural Vila

Marçola, também novo ponto, com uma menção, a Pizzaria Melo, que passou a

substituir a Mercearia Melo, com um voto. Houve dois entrevistados que não

apontam pontos de referência recentes.

Para a área 4 foram apontados três pontos considerados recentes, sendo o Pizzaria

Melo e o Criança Esperança, com três citações, os mais lembrados. Os outros dois

pontos ficam a cargo do Lifecenter e do Bar e Restaurante Boiadeiro, ambos com

duas menções, além deles foi mencionado que nenhum dos pontos é recente, com

seis menções.

Para a área 5 foram apresentados três pontos novos, sendo todos mencionados

apenas uma vez cada: a Praça Alípio Goulart, a Praça do Cardoso e a Avenida Mem

de Sá. Os demais entrevistados afirmaram que seus pontos de referencia são

antigos ao bairro.

Esse é um ponto interessante a ser ressaltado, visto que houve três indicações

como sendo um ponto de referência a Praça do Cardoso e somente um entrevistado

menciona-o como recente, mostrando uma noção de temporalidade variável entre

usuários do bairro, já que nas áreas 1 e 4 houve a indicação do Hospital Lifecenter

como sendo recente por pelo menos duas pessoas.

A área 6 apresenta o maior número de menções a um ponto de referência como

sendo recente: a Praça do Cardoso, indicada nove vezes. Outros três pontos foram

citados como recentes, todos com duas menções: a Avenida Mem de Sá, a nova

conformação do aglomerado e as UMEI’s da região. Além disso, dois dos

entrevistados não apontaram o aparecimento de pontos de referência,

demonstrando novamente a noção de temporalidade que varia entre usuários.

Por fim, foi questionado aos usuários sobre os pontos desaparecidos ( Tabela 9, Tabela 10 e

Tabela 11). Houve a menção a dezoito pontos diferentes que desapareceram, mas o

destaque é o número de pessoas que não se lembram de pontos desaparecidos,

sendo o número predominante em quatro das cinco áreas de estudo.

Page 84: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

84

A área 1 teve todos os seus pontos mencionados pela mesma pessoa, que

frequenta a região há cinquenta e dois anos, sendo eles o Asilo São Vicente,

antigamente localizado no local do atual Hotel Afonso Pena, o Campo Copacabana,

no local do atual edifício da Telemar, o Cine Copacabana, substituído por

empreendimentos imobiliários, o Clube Ginásio, passa a compor área do Clube

Olímpico e as casas da região, que foram vendidas para incorporadoras imobiliárias.

As demais quatorze pessoas afirmaram não perceber o desaparecimento de pontos

de referência no bairro, mostrando pouco vínculo com a região.

A área três apresentou o maior número de usuários capazes de identificar pontos de

referência desaparecidos. Foram seis pontos apresentados, um deles mencionado

por três pessoas: o desaparecimento das casas da região, sendo citada

especificamente a casa próxima ao entroncamento de Rua Palmira e Rua do Ouro,

que dará lugar ao Supermercado Mart Plus. Além desse ponto, foram mencionados,

com uma anotação cada, o Supermercado EPA, o campo de futebol da Rua

Mangabeiras da Serra, a escola Jardim Olímpico, a Vila Pombal e o Clube de

Caçadores, sendo os dois últimos retirados para dar lugar ao Bairro Mangabeiras.

Na área 4, nenhum dos entrevistados apontou um ponto específico como destaque.

Foi mencionado, no entanto, o desaparecimento das casas da região, com quatro

menções, sendo consideradas todas as casas que passam a dar origem a prédios

no bairro como pontos de referência perdidos.

Os outros pontos mencionados são o Sacolão Taíde, o Supermercado Ari, a

Mercearia Melo, a Padaria Shirley, todos com duas anotações, o Hospital Santa

Clara e a Villa Rizza, mencionada pela desconfiguração interna, ambas com uma

citação.

Para área 5, verifica-se também a dificuldade dos entrevistados em apontar

referências perdidas. Houve três pontos citados duas vezes pelos entrevistados,

sendo eles: Casas, Mercearia Melo e a Rádio 107fm, ponto que dá lugar a Lotérica

Capivari, localizada na rua de mesma alcunha. Os outros oito pontos recordados

receberam uma menção cada, sendo eles: o Supermercado EPA, o Sacolão Taíde,

Page 85: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

o Supermercado Ari, a Padaria Shirley, o Colégio Promove, o festival Favela Rock, o

ponto conhecido como “Escadão” e as alterações no aglomerado.

Na área 6, o aglomerado foi identificado como ponto perdido – a mudança na sua

configuração é identificada pelos usuários como uma perda. Outros dez pontos são

recordados, sendo a Farmácia do Senhor José, com duas menções, a segunda mais

citada. Os outros nove pontos contam com uma menção cada, sendo eles a Rádio

98 fm, a Rua da Passagem, o Bar da Marilena, o Armazém do Arnaldo, o Bar do

Tenente, o Bar do Geraldo, o Campo do Bola de Ouro, o “Escadão” e as casas da

região.

Sendo assim, foi possível perceber que a baixa média do tempo de relação com o

bairro e idade dos entrevistados tem grande influência na percepção dos pontos de

referência antigos ao bairro e as mudanças pelas quais a região passou mostrando-

se que não é recordado pontos que tenham mais do que dez anos de

desaparecimento como pontos perdidos.

2.3.6 – Conclusão a cerca das entrevistas

Através da análise dos questionários foi possível perceber a relevância do tempo de

convívio no bairro para que torne-se possível identificar os pontos de referência e as

mudanças que aconteceram na região. Sendo a área 1 a que demonstra a maior

influência desse tempo na relação usuário x bairro.

Outro ponto de destaque na área 1 é o afastamento entre entrevistados e Bairro

Serra, tendo várias das respostas demonstrado pouco ou nenhum contato com a

região. As demais áreas demonstram que o tempo ainda é um definidor na

percepção, influenciando, principalmente, a percepção dos pontos de referencia que

não existem mais, mas demonstram ligação e quantidade elevada de pontos de

referência indicados.

A obtenção dos pontos de referência demonstra ligação com grandes equipamentos

urbanos ou vias, sendo o ponto com maior destaque o Hospital Evangélico, indicado

em quatro das cinco áreas, evidenciando a percepção, em primeiro momento, do

Page 86: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

86

que é relevante para o grupo e não para o individuo, sendo pouco citados os

estabelecimentos com caráter local, como, por exemplo, o Bar do Salomão.

O tempo dos pontos de referência demonstra que há manutenção dos mesmos,

sendo somente quatro dos pontos apresentados pontos com menos de quinze anos

no bairro. Apesar desta manutenção há também o valor significativo de pontos que

desapareceram, tendo sido citados vinte nove pontos de desaparecimento.

Desses vale destacar o número de citações para o termo casa, sendo citado pelo menos uma vez em menos uma vez em cada um dos setores, esse fato pode ser influenciador direto na identificação entre identificação entre usuário e bairro, sendo o processo recente de retirada de casas para o processo de para o processo de verticalização identificado como ponto de destaque segundo a percepção dos percepção dos usuários quanto a mudanças no bairro (

Tabela 3). Além delas vale ressaltar o número de pontos com citação relacionada ao

aglomerado, demonstrando o impacto gerado nas recentes alterações na área

conformada pelo mesmo.

Dessa forma, é possível começar a fazer a leitura de alguns pontos, principalmente

associados aos pontos de referencia e a locais mais movimentados, como passivos

de formação de territórios para estudo durante o processo de continuidade da

pesquisa. Dentre eles ficam citados o Hospital Evangélico, a Rua do Ouro, a Rua

Alípio Goulart, a Praça Milton Campos, a Praça do Cardoso e o Supermercado EPA,

sendo todos lembrados em praticamente todas as questões que envolviam

demarcação de pontos de referencia e locais mais movimentados do bairro.

O tamanho dos pontos de referência será influenciador direto no prosseguimento da

pesquisa, demonstrando que a busca pode ter sentido direcionado aos territórios e

ao lugar, segundo a definição de Ana Fani Carlos (1996, p. 19), onde o lugar é “o

que é vivido pelo individuo”, e não aos agentes conformadores de territorialidade em

si. Visto que todos os pontos apresentados como referência ou de movimento não

tornam possível o apontamento de um agente em si, mas do espaço que ali se

conforma.

Page 87: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Sendo assim, para continuidade do trabalho de pesquisa será realizado a

identificação dos lugares do bairro que mantêm caráter de convívio entre usuários,

aqueles que desapareceram e os que surgiram, gerando-se analises a cerca do

motivo de desaparecimento e sobre como outros surgem e dão prosseguimento ao

caráter local das relações, segundo definido por Ana Fani Carlos.

2.3.7 – Análise dos lugares do bairro segundo definição de Ana Fani Carlos

Como elucidado anteriormente, Ana Fani Carlos trabalha a relação do indivíduo com

a tríade “habitante-identidade-lugar” (CARLOS, 1996, p.20). Para tanto ela escreve

que “para que a cidade exista e possa ser entendida como lugar é necessária às

relações no âmbito local, através das relações corporais do individuo e seu meio

para além das atividades do cotidiano” (Idem, Ibdem).

Aplicando esse conceito ao Bairro Serra, e analisando os questionários realizados, é

possível perceber que os locais identificados no bairro passam por um período de

transformação, inclusive com perdas significativas na relação entre os usuários e o

espaço urbano. Essa afirmativa baseia-se na percepção demonstrada pelos

usuários aos grandes equipamentos e não aos estabelecimentos comerciais locais e

que dão caráter íntimo de contato, típicas da região e não ao que seria a observação

geral da cidade.

Apesar da perda do referencial local ainda é possível, através dos questionários,

identificar pontos que carregam a definição de lugar na sua existência, sendo o

primeiro deles o Bar do Salomão, ponto lembrado tanto em termos de movimento

como de referencial (mesmo que em menor demanda em relação ao segundo ponto,

com quatro menções).

Podemos justificar o caráter de lugar do bar, marcado como um ponto de encontro e

realizador de convívio, no que Ana Fani Carlos define através da seguinte afirmativa

“O lugar é a porção do espaço para a vida – apropriada através do corpo – dos

sentidos – dos passos (...)” (CARLOS, 1996, p.20). Essa característica de ponto de

encontro associado ao bar só lhe garantem sentido de lugar por estar associada ao

caráter local do mesmo, sendo a maioria dos usuários pessoas que tem por

tendência serem atleticanas, e daí unirem-se para compartilhar o momento de

Page 88: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

88

assistir ao jogo de seu time, ou por moradores mais antigos que mantêm amizade

com o proprietário e os funcionários do local.

Outro ponto possível de identificação como lugar é a Rua Alípio Goulart, ponto esse

de transição entre o bairro formal e o aglomerado, sendo considerado de destaque

tanto na área 5 como na área 6. Aqui o destaque fica na característica comercial da

rua, ainda persistindo o caráter de comercio interiorano na região, sendo um dos

últimos pontos de observação possível do mesmo no bairro.

Mantendo a analise através do tato do usuário, que Ana Fani identifica como

essencial para que sejam definidas as relações de lugar entre individuo e metrópole,

a rua tem caráter tanto de permanência como de passagem, sendo responsável por

maioria dos serviços realizados pela comunidade, mas também pela proximidade

entre usuários e comerciantes da região.

Ou seja, aqui há ainda a possibilidade de observar uma tendência de convivência

com características interioranas onde usuários e proprietários do comercio mantêm

relações de proximidade em que ocorre a garantia da segurança do comercio pela

alta taxa de conhecimento entre as pessoas e os usuários conseguem realizar

operações de troca mesmo sem possuir soldo para quita-las havendo ainda a ideia

de compra através de cadernetas.

Outros dois pontos com características de lugar no bairro são a Rua do Ouro e a

Rua Estevão Pinto, esses serão definidos em conjunto por possuírem a

característica de lugar equivalente.

A igualdade é evidenciada pelo caráter de passagem e ligação com o restante da

cidade que as duas ruas possuem, influenciando em grande medida a nova

organização e ocupação que as duas têm. Apesar de hoje contarem com caráter de

vias de ligação a pontos arteriais da cidade, como Avenida Afonso Pena e Avenida

do Contorno, ocorrem manchas com caráter de lugar nos dois pontos. Sendo o da

Rua do Ouro presente na ligação entre a mesma e a Rua Palmira e dela com a Rua

Caraça (Erro! Fonte de referência não encontrada. e Erro! Fonte de referência

não encontrada.), formada pelo comercio ali presente, e o da Rua Estevão Pinto

Page 89: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

marcado pela ligação da mesma com a Rua Monte Alegre e com a Rua Caraça

(Erro! Fonte de referência não encontrada. e Erro! Fonte de referência não

encontrada.), mantendo nos dois locais comércios em que usuários e proprietários

ainda mantêm tratamento nominal.

Outro ponto com características de lugar, esse ligado a transição do bairro, é a

Praça Milton Campos. O ponto tem caráter de permanência atrelado, principalmente,

a usuários dos prédios comerciais que cercam a praça e a usuários da área 4. Além

deles é possível perceber a utilização por babas e enfermeiras com idosos a que

realizam cuidados.

Ao contrário dos pontos citados anteriormente, a Praça Milton Campos tem caráter

de permanência ligado ao horário de funcionamento do entorno, sendo utilizada,

predominantemente, no período diurno. Apesar dessa apropriação com horário

programado é possível identifica-la como lugar pelo caráter atrativo que o local

mantém, contando com áreas gramadas e com número elevado de bancos para

estádia prolongada dos usuários.

É interessante ressaltar que durante a noite há utilização da praça, mas sendo essa

pautada por mudança, de certa maneira, brusca do território conformado. Com a

utilização ligada a zonas de prostituição, sendo utilizada, em maior medida, por

homens travestidos para sua prostituição. Ainda seria possível identificar o local

como lugar, segundo a definição de Ana Fani Carlos, mas esse com especificidades

e grau de complexidade que tornariam sua analise superficial pelo presente

pesquisador.

Outro ponto que mantém marcado em suas características o conceito de lugar é o

Bar Boiadeiro. O local já passou por mudanças de área, sendo localizado

anteriormente na Rua Monte Alegre e hoje inserido na Rua Palmira.

O novo local trouxe ao bar características de comercio local, ainda carregado pelo

convívio e contato entre usuários e dono, apontando, dessa forma, o conceito de

lugar, mas também crescimento e diversificação do número de usuários, tornando-o

Page 90: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

90

ponto de ligação entre bairro e metrópole, apontando crescimento e possível

alteração desse conceito.

Além dos pontos citados, sendo esses pontos antigos ao bairro, existem pontos de

referência recentes, mas que permitem a leitura do termo lugar também em seus

espaços.

O primeiro é a Praça do Cardoso, ponto de permanência e de realização de eventos

no aglomerado. O ponto tem caráter de lugar associado aos dois tipos de

apropriação que lhe ocorrem, diurna e noturna. Sendo no período diurno utilizado

para projetos do Fica Vivo para realização de oficinas e treinamento dos times de

futebol. Além disso, havendo também utilização para comercio ambulante e

permanência dos moradores do aglomerado.

Para apropriação noturna há, além da apropriação da população para estádia, a

utilização da praça para realização de shows de funk, garantindo que o local tenha

movimento e vida durante todo o período do dia. Sendo assim, a praça assume, com

essas características, o caráter de reprodução da vida no cotidiano.

Por fim, o ultimo ponto elucidado como ponto de referência no bairro é a Pizzaria

Melo, ponto que passou por alterações e ainda consegue se manter como local de

destaque no bairro. O local deixa de ser a Mercearia Melo, ponto antigo do bairro, e

passa a ser o novo local.

Apesar da mudança o local ainda funciona como ponto de destaque quanto à

socialização de pessoas no bairro. Tendo horário de funcionamento integral, com

alta taxa de rotatividade do público durante todo período do dia.

No que concerne ao sentido de perdas dos espaços com características de lugar do

bairro ocorre, principalmente, pelo menor contato da população com esses

equipamentos, especialmente na área 1 de pesquisa, onde os usuários demonstram

não utilizar-se do bairro ou apontam baixa taxa de percepção do local.

Page 91: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Assim como foi possível identificar locais com características que tornam aplicáveis

o conceito de lugar, que se mantém no bairro, é possível identificar pontos com

características semelhantes que deixaram de existir na região.

O primeiro local passível dessa analise seriam as casas da região, que, apesar de

não serem em si um lugar, a ambiência e conformação por elas gerada torna

possível a geração de identidade entre usuários e bairro. O conceito de lugar, nesse

ponto de referência, ficava a cargo da maior possibilidade de contato entre

moradores, além do convite ao flanar ocasionado pela proximidade entre rua e casa,

onde o contato entre o interno (privado) e o externo (publico) era convidativo ao

pedestre (JUNIOR, 1999).

Outro ponto que poderia receber o conceito lugar, esse ligado as relações

comerciais, seria o Sacolão Taíde. A identidade entre moradores e o dono do local

tornava-o ponto de encontro e obtenção de relações de troca de maior intimidade

entre os dois lados.

Por fim, como pontos que desapareceram, é possível apontar a Mercearia Melo,

esse ponto passando por alteração de uso e tipo de comercio. Aqui vale ressaltar

que o ponto será estudado em duas frontes, sendo o mesmo apontado como

aparecimento e desaparecimento, visto que a Pizzaria Melo ainda mantêm o caráter

de lugar, mas esse conta com o convívio e o contato de usuários diferentes ao que

seria a ocupação e proposta da Mercearia Melo. Sendo, no caso da Mercearia Melo,

o ponto com uso marcado pelo contato direto entre clientes e o dono do local, o

Senhor Melo, e hoje esse contato sendo feito através de maior número de

funcionários.

Com essa explicação dos locais que permanecem com características de lugar,

segundo a definição de Ana Fani Carlos, e dos locais que desapareceram o trabalho

segue no sentido de buscar a compreensão dos motivos relacionados à perda ou

manutenção dos lugares, analisando-se os fatores responsáveis por esse fato.

Page 92: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

92

2.3.8 – Analise dos motivos de manutenção/ perdas dos lugares do bairro

Serra

Para sequência do trabalho será realizada a analise dos motivos identificados como

pontos contribuintes para manutenção ou perda dos lugares de destaque no Bairro

Serra, sendo elucidado de forma a contemplar as especificidades de cada um dos

lugares apresentados no item 2.3.7.

O primeiro ponto apresentado, o Bar do Salomão, tem elevado tempo de

permanência no local, quarenta e cinco anos5, aproximadamente, tornando o tempo

de relação entre usuários e local elevada, possibilitando o convívio e contato entre

dono e clientes, aumentando a identidade com o local.

Outro ponto que contribui com a permanência do bar na região é o local onde o

mesmo se insere, esquina de Rua do Ouro e Rua Palmira, local com caráter

predominantemente comercial e ponto de convergência de duas vias importantes no

traçado regulador do bairro, sendo a transição entre uma das ruas do traçado inicial

da região e outra que dá inicio a ocupação posterior. Dessa forma, tornando a

esquina em que o local se insere um ponto de relevância a área.

Há de se destacar também a identificação e temática que o bar sugere, sendo

conhecido pelo fanatismo do seu dono pelo Clube Atlético Mineiro, o que tornou o

ponto marco para reunião de torcedores do mesmo time para dias de jogo, mesmo

após a morte do Senhor Salomão.

O segundo ponto apresentado, a Rua Alípio Goulart, conta com fatores que podem

justificar seu caráter de lugar no Bairro Serra baseados na tipologia comercial da rua

e na característica local do comercio da região. O primeiro é baseado na evolução e

transformação do comercio que ocorre na porção, sendo o mesmo transformado ou

acrescido de serviços de acordo com a necessidade do nicho de usuários que dele

se abastece.

5 Informação baseada em entrevista de Manoel da Cunha Nascimento, cedida no dia 20/09/2012 às

16:00, usuário do bairro a cinquenta e dois anos, tendo vinte e um na chegada a região.

Page 93: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Essa mimese é caracterizada pelo contato pessoal entre donos do comercio e

moradores, sendo feitas transformações e melhorias de acordo com o que é

identificado como necessário a população da região6.

O segundo se relaciona a característica de comercio local que o empório desenvolvido na região mantém, já que, apesar das transformações, o consumo dos serviços e a ligação com o local ainda é

predominado pelas áreas 5 e 6 de pesquisa (Tabela 1 e

Tabela 2), áreas que contam com publico em que o tempo de moradia no bairro é

variado, tornando possível o dialogo entre comércios antigos e recentes da região.

Outro ponto que torna a Rua Alípio Goulart ponto com características de lugar no

bairro são os espaços de permanência que existem na mesma, principalmente a

nova praça realizada, de mesma alcunha, na qual os moradores da região

costumam realizar passeios e apropriar-se para períodos maiores de permanência.

As Ruas do Ouro e Estevão Pinto mantêm pontos característicos em comum no que

tange o conceito de lugar. O primeiro deles é relacionado ao tempo de inserção no

bairro, sendo as duas marcadas por ocupação pretérita do mesmo.

Outro ponto de relevância, esse já com processo de mudança acelerado devido ao

crescimento do bairro, é o convite ao flaneur, sendo as duas ruas rotas para saída

ou entrada no bairro o que torna o número de carros presentes e circulando pelas

mesmas inibidores ao processo de caminhar pelo pedestre (Imagem 43) (JUNIOR,

1999).

Vale ressaltar o que Ana Fani Carlos define como a identificação por parte do

usuário com o local pela vivencia através das sensações corporais (CARLOS, 1996).

Para tanto há ainda locais que mantém essa característica de identificação nas duas

vias, sendo-os associados principalmente aos locais com comércios comuns a

região, na Rua do Ouro este localizado principalmente nas redondezas do Bar do

Salomão (Imagem 7) e do Fotos Mendes (Imagem 43 à Imagem 46), e na Rua Estevão

6 Informação baseada nas entrevistas do Senhor Wagner, cabeleireiro na região, e da Senhorita Diva

Amarante, secretária na loja Decent Line, que afirmaram ter contato e pedir feedback por parte dos

usuários de seus serviços para poder realizar melhoras no atendimento e prestação dos mesmos.

Page 94: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

94

Pinto localizados na ligação da via com a Rua Monte Alegre e com a Rua Caraça

(Imagem 10, Imagem 11, Imagem 48 à Imagem 50)

Imagem 43: Rua do Ouro, foto tirada a partir da esquina com Rua Capivari, aqui o número de carros na rua já é mais marcante que o número de pedestres. Foto tirada no dia 17/08/2012 às 18hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Page 95: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Imagem 44: Rua do Ouro, proximo a esquina com Rua Caraça. Ponto marcado por movimentação associado a característica comercial da área. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Imagem 45: Rua do Ouro, esquina com Caraça. Ponto onde se localiza o Fotos Mendes, responsável, juntamente com as demais lojas do trecho, pelo movimento da região. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Page 96: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

96

Imagem 46: Rua Caraça, esquina com Rua do Ouro. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Imagem 47: Rua Caraça, a partir da esquina com Rua do Ouro. Ponto onde ocorre movimento e utilização da rua pela proximidade entre comerciantes e moradores da área. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Page 97: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Imagem 48: Rua Estevão Pinto, próximo a Rua Caraça, o comércio tradicional garante o movimento e uso da rua. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Imagem 49: Esquina de Rua Estevão Pinto e Caraça, ponto com destaque para movimentação ligada ao comercio. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

Page 98: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

98

Imagem 50: Rua Estevão Pinto, esquina com Caraça. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes

O Bar Boiadeiro, assim como o Bar do Salomão, mantém o caráter de convívio como

definidor para sua manutenção e conceituação como lugar no bairro. Além disso, o

bar sofreu com mudanças de endereço que contribuíram para sua manutenção

como lugar e expansão como ponto de encontro, tornando-se ponto de encontro

para além do Bairro Serra.

Essa mudança está associada ao local de inserção do bar, saindo do entroncamento

de Rua Estevão Pinto e Monte Alegre e mudando-se para a Rua Palmira, esquina de

Rua Níquel e Rua Desembarcador Mário Matos, ampliando sua ligação para além da

área 4 de pesquisa, no que diz respeito ao uso por parte dos moradores do bairro

(tendo o bar sido apontado como ponto de uso também nas área 3,5 e 6).

A Praça Milton Campos conta com características que a fazem ser ponto específico

entre os identificados como lugar dentro do bairro.

O primeiro deles se associa as vias de transito rápido que a conformam, sendo a

praça rodeada pela Avenida Afonso Pena e pela Avenida do Contorno, podendo ser

esse um fator que causaria o desuso da porção, mas, apesar desse fato, o local

Page 99: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

conta com publico durante boa parte do dia, com horário associado, principalmente,

a usuários dos prédios ao redor da mesma.

O segundo fator associa-se a ocupação noturna da região, sendo o ponto utilizado

como local para realização de prostituição, principalmente por homens, tornando o

uso e a denominação de lugar ainda possíveis, mas com as características de

território alteradas (HAESBAERT, 2009).

A Praça do Cardoso, levando em conta os aspectos apontados por Ana Fani Carlos

para conceituação de lugar, é o que melhor representa o conceito. Apesar do caráter

recente, tendo menos do que dez anos de idade, o local conta com vivência e

variações de uso que garantem a apropriação por parte da população durante todo

período do dia.

A primeira característica que garante vida ao local é a realização de atividades

físicas, principalmente exercidas pelo programa Fica Vivo7, na área. Essas

atividades garantem a utilização do espaço pelas crianças e adolescentes da região.

O segundo ponto elucida-se na permanência no local, assim como na Praça Alípio

Goulart, sendo utilizado pela população para realização de convívio com a

vizinhança. Essa característica é reforçada pela variação de comércios que ocorre

nas redondezas da praça, sendo muitos deles feitos por moradores próximos da

região.

O terceiro ponto é a apropriação noturna do local, com utilização para realização de

festas, principalmente bailes funk. Esse é o ponto com maior apropriação da praça,

com pessoas vindas de outras regiões da cidade para participar do evento.

7 Programa desenvolvido pelo Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Publica (CRISP) e

pelo Comando da Polícia Civil de Belo Horizonte. Informação obtida em

http://dssbr.org/site/2011/08/projeto-fica-vivo-acoes-estrategicas-mobilizacao-e-participacao-social-

interferem-positivamente-na-sociedade/ acessado no dia 18/10/2012 às 11:40

Page 100: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

100

Por fim, como pontos que se mantêm no bairro com características de lugar, temos a

Pizzaria Melo ponto que tem caráter recente, mas que existe pela transformação de

um ponto antigo na região, a Mercearia Melo. O local mantém o mesmo espaço de

utilização da antiga mercearia, sendo decorado e adornado com materiais que

remetem ao antigo comercio realizado, sendo esse um ponto contribuinte para

identificação entre usuários e local.

Ao contrario da antiga mercearia, que contava com o publico voltado,

principalmente, para terceira idade, com boa parte dos usuários indo pelo contato e

convívio com o dono do estabelecimento, a nova configuração é marcada por maior

diversificação de publico. Sendo a ligação com o local marcada pelo divertimento no

espaço e na inter-relação com as pessoas de seu convívio e, em menor escala, com

os funcionários do local.

Nesse caso o desaparecimento da mercearia poderia estar atrelado ao processo de

crescimento e transformação do comercio da região, sendo preferido pela população

a utilização de grandes equipamentos, como o Supermercado EPA e Mart-Plus, para

realização de compras, pela maior quantidade na opção de produtos8.

Dessa forma o processo de transformação do local para Pizzaria Melo garantiu com

que o dono do local pudesse continuar na região e ainda manter o local que

desenvolvia contato e vinculo com os moradores do bairro.

No caso das casas esse processo de transformação tem ligação direta com a

dinâmica de verticalização do bairro, promovida pelo mercado imobiliário (CORRÊA,

2002), tornando a percepção e identificação entre usuários e bairro diferenciado.

8 Considera-se essa dinâmica um dos pontos de perda pelo alto índice de apontamento, nos

questionários, para o item “Supermercado” como local de uso, sendo citado o Supermercado EPA e

Mart-Plus como utilizados e não os comércios de porte local.

Page 101: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Em entrevista cedida pela Senhorita Ana Valéria9 ela afirma que no tempo de

contato com o bairro, cerca de vinte anos, essas alterações influenciaram seu gosto

pelo local, sendo, segundo ela, “um local menos agradável de ver”10.

Esse processo ocorre de forma mais marcante em ruas interiores ao bairro, com

destaque para as Ruas Capivari e Caraça, onde o número de casas que foi retirado

já torna a descaracterização em ritmo acelerado (Imagem 14 à Imagem 16).

Segundo Manoel Teixeira de Azevedo Junior a proximidade entre o publico e o

privado é um caracterizador necessário para que sejam utilizados os espaços

públicos, sendo o Bairro Serra ponto onde o caminhar e o convívio é influenciado

pela configuração vertical das edificações (JUNIOR, 1999, p. 85).

Essa característica de uso do espaço publico pelo convívio entre moradores e pela

forma de locomoção, a pé, transporte coletivo ou transporte individual (JUNIOR,

1999) é a característica de maior destaque para o apontamento das casas com

aplicação do conceito de lugar. Visto que, para que seja possível a identidade entre

usuários e bairro, faz-se necessário que o contato vá além da guarita de segurança

ou do muro, sendo a vista da edificação e sua compreensão em primeiro plano de

visada necessária para essa identificação (JUNIOR, 1999, p.69).

Dessa maneira, não é identificado o termo lugar no que concerne a individualidade

de cada edificação isoladamente, mas pelo conjunto de características e formas de

ocupação que geram a ambiência característica do Bairro Serra. É a ambiência

conformada por essas edificações e pela relação que as mesmas estabelecem com

o espaço público a responsável pelo “lugar” Serra, pela identidade do bairro, em

grande parte já comprometida. (JUNIOR, 1999).

Por fim, vale ressaltar a uniformização das novas construções que ocorrem no

bairro, dificultando o sentimento de apego, pela forma arquitetônica, nos usuários,

9 Entrevista cedida no dia 18/09/2012 às 10hrs.

10 Idem

Page 102: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

102

diminuindo assim a identificação dos mesmos com a nova forma de ocupação, de

contato restrito com o espaço público.

Imagem 51: Prédio localizado na Rua Capivari, a tipologia construtiva é marca do novo processo de verticalização do bairro. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Page 103: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Imagem 52: Prédio localizado na Rua Capivari, próximo a esquina com a Rua Capelinha, mesma tipologia construtiva de prédio na região. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Page 104: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

104

Imagem 53: Rua Caraça, esquina com Rua Serranos, nesse ponto a leitura pelo pedestre é dificultada pela altimetria da edificação. Foto tirada no dia 19/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Page 105: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

3.1 – Diretrizes para intervenção no bairro Serra

As diretrizes que serão propostas para o Bairro Serra visam possibilitar a

manutenção dos lugares identificados e o estímulo, nos usuários do bairro, a

apropriação dos espaços públicos de destaque e nos demais espaços que possam

receber essa conceituação na área e que não foram vislumbrados pela presente

pesquisa, possibilitando, dessa maneira, que permaneçam traços da ambiência

característica do bairro. De modo geral, todas têm como objetivo estreitar a relação

das pessoas com o espaço, seja por meio da preservação da memória do bairro ou

da aproximação do espaço privado ao espaço público.

3.1.1 – Primeira Diretriz – Valorização da relação das esquinas como espaço de

convivência e identidade

A primeira delas visa à valorização da relação das esquinas como espaços de

convivência e identidade. Segundo Manoel de Azevedo Teixeira Junior, essa relação

tem características especiais devido ao caráter de transição associado à mesma,

sendo um elo de entroncamento de vias, com a perspectiva de mudança de uma pra

outra ou de permanência na que se seguia pelo usuário (JUNIOR, 1999, p.95).

No Bairro Serra essa característica é marcante pelos pontos com conceito de lugar

que se associam as esquinas, sendo os locais comerciais, as manchas com

características de lugar nas Ruas Estevão Pinto e na Rua do Ouro, e as praças

sempre associados a esquinas de destaque do bairro11.

Esse enriquecimento da esquina como ponto marcante tem como pressuposto a

relação estabelecida entre a tipologia da edificação, sempre contando com uso

misto, e a relação que a mesma desenvolve com a rua, estando sempre com a

fachada realizada na divisa, possibilitando contato direto entre pedestre e edificação

(Imagem 5, Imagem 7, Imagem 10, Imagem 11, Imagem 45).

11

Sobre isso ver o texto realizado no item 2.3.8

Page 106: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

106

Dessa forma, é interessante que se estabeleça, para possibilitar formas que

garantam esse contato, diretrizes especiais para projetos executados em locais com

relação direta com esquina, permitindo que a edificação seja executada diretamente

nas divisas, sem realização de afastamentos frontais.

Vale destacar que para que isso ocorra o empreendedor deve realizar medidas

compensatórias com inserção de áreas permeáveis nos fundos da edificação e/ou

com a instalação de caixas de coleta de água pluvial com capacidade igual ou

superior a três vezes a capacidade da caixa d’água da edificação.

Além disso, há de ser levado em conta que as edificações inseridas em esquinas

devem, impreterivelmente, estabelecer o uso misto em seu programa, com o

primeiro pavimento sendo destinado ao uso comercial e os demais pavimentos

tendo uso de acordo com a demanda estabelecida pelo empreendedor.

Outro ponto importante é a relação entre a altimetria da edificação e o espaço em

que a mesma se insere, sendo necessário que seja seguido o gabarito das

edificações que circundam o empreendimento, sendo, segundo Manoel Teixeira de

Azevedo Junior, a “fácil leitura no nível do pedestre necessária para que o mesmo

tenha identificação com o local” (JUNIOR, 1999, p.85).

3.1.2 – Segunda diretriz – Desenvolvimento de tipologias e soluções projetuais

que valorizem uma melhor relação entre espaço público e espaço privado

A segunda diretriz caminha no mesmo sentido das soluções projetuais e das

tipologias de projeto que promovam melhor relação entre o espaço público e o

espaço privado.

Segundo elucidado por Manoel Teixeira de Azevedo Junior (1999) o bairro conta

com formas de ocupação diferenciadas, tornando o estilo arquitetônico dominante

inexistente, com variados estilos ocorrendo na área (JUNIOR, 1999, p.84). Apesar

dessa afirmativa, Manoel Teixeira de A. Junior indica que as ruas em que a

facilidade de leitura da edificação como um todo pelo pedestre, indicando que a

Page 107: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

relação 1/2 e 1/3 são indicadas para leitura do todo e para leitura do todo no

contexto, respectivamente, (Id. Ibdem), tornam o espaço mais agradável ao

caminhar.

Evidenciando ainda que a relação entre edificação multifamiliar, principalmente as

que ocorrem no primeiro processo de verticalização do bairro (década de 50 e 60),

mostram contato e relação direta com a rua, tornando a identidade do pedestre com

o local facilitada.

Dessa forma, indica-se a necessidade estudo com vistas à ampliação da área da

ADE Serra, para a qual já existe o limite altimétrico de 15 metros, com vistas à

redefinição da altimetria máxima permitida para outras áreas do bairro12, com vistas

à manutenção de tipologias que permitam o contato e relação do pedestre com a

área.

É importante ressaltar também como as formas de delimitação (muros, gradis e

afins) contribuem no contato e na forma de delimitação entre o espaço público e

privado. Há no Bairro Serra formas de delimitação variadas que possibilitam contato

mais amplo ou mais refreado com o interior das residências, principalmente quando

as mesmas configuram-se como residências unifamiliares, tornando o contato do

pedestre e seu sentimento de identidade com o espaço mais ou menos propicio

(Imagem 54 à Imagem 59).

12

Sobre isso ver os anexos da lei 7166 relativa a legislação de Parcelamento, Ocupação e Uso do

Solo de Belo Horizonte.

Page 108: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

108

Imagem 54: Rua Capivari, próximo a esquina com Rua Angustura, o muro fechado não permite a visualização pelo pedestre, dificultando a identidade do mesmo com a edificação. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Imagem 55: Rua Capelinha, esquina com Rua Capivari, o muro torna o ambiente privado fechado ao contato com o espaço público. Mantêm-se a ideia de segurança por dispositivos de inibição não pela proteção do proprio pedestre. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs.

Page 109: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Imagem 56: Rua Capelinha, o número de fachadas fechadas para o contato com a rua tornam o ambiente pouco atrativo ao caminhar pelo pedestre. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Imagem 57: Rua Capivari, esquina com Rua Angustura, apesar da presença da grade, a permeabilidade do elemento permite o contato entre o pedestre e o interior da edificação. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Page 110: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

110

Imagem 58: Rua Serranos, esquina com Rua Caraça, a edificação conta com três elementos que conformam a separação entre espaço público e espaço privado (muro em alvenaria, gradil e vegetação). Essa combinação torna o ambiente ainda permeável a visualização pelo pedestre. Foto tirada no dia 19/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Page 111: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Imagem 59: Rua Estevão Pinto, nº313, a mescla de tipos de fechamento pode configurar-se como bom partido para execução da transição, possibilitando o contato e ainda mantendo a descrição do privado. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Segundo Manoel Teixeira de Azevedo Junior os locais que permitem esse dialogo

entre os espaços público e privado, com o pedestre podendo desenvolver o

sentimento de proximidade com a família pela permeabilidade visual gerada pelos

fechamentos vazados, ou pelos não fechamentos, com a divisão entre o público e o

privado sendo feito somente por vegetação, tornam a segurança, tanto do

caminhante, quanto do residente, ampliada (JUNIOR, 1999, p.83).

Dessa forma, indica-se a utilização de gradis e fechamentos, mesmo que nas

residências multifamiliares, vazados. Permitindo a visualização do nível térreo, ou da

varanda da casa, pelo pedestre, desenvolvendo, desta maneira, o que a autora Jane

Jacobs denomina de “os olhos da rua” (JACOBS, 2000, p.30) possibilitando a

segurança pelo fato de ser possível visualizar qualquer evento diferenciado que

ocorra no interior da edificação e, no caso dos pedestres, seja desenvolvido o

interesse pelo caminhar nas calçadas da rua pelo sentimento de segurança

propiciado pela permeabilidade e sensação de ser “vigiado” pelas edificações que

circundam a via.

Page 112: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

112

3.1.3 – Terceira diretriz – Inventário dos locais comerciais de destaque no

bairro Serra

Como terceira diretriz é sugerido a execução de inventariado, por parte do Conselho

Deliberativo de Patrimônio Municipal, dos locais comerciais que tem por

característica o conceito de lugar em sua essência (Imagem 60 à Imagem 623),

podendo servir de base para consulta na execução tipológica e projetual sugerida

nas diretrizes um e dois do presente trabalho acadêmico.

Imagem 60: Bar do Salomão, primeiro ponto identifica do com características de lugar. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Imagem 61: Rua do Ouro, esquina com Rua Palmira, ponto com característica de lugar pelo comércio

desenvolvido no local. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Page 113: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Imagem 62: Rua Estevão Pinto, ponto com características que o permitem a aplicação do conceito de lugar pelo caráter local do comércio. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Imagem 63: Bar Boiadeiro, entroncamento das Ruas Palmira, Niquel e Desembargador Mário Matos, a foto mostra um horário em que o comercio encontra-se fechado, evidenciando a queda do movimento na região. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Page 114: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

114

Vale ressaltar que o estudo para inventariado pode utilizar-se dos pontos

identificados pelo autor para execução do processo, o que não exclui uma possível

ampliação da pesquisa para obtenção de outros pontos que possam ter conjunto de

características que o tornem passíveis de serem identificados como lugares.

Além do inventario sugere-se que sejam afixadas placas, ou totens, nos

estabelecimentos investigados contendo a historia do mesmo e como esse torna-se

local de destaque no Bairro Serra. Essa comunicação visual pode ser extrapolada

para além dos comércios, podendo constar também em painéis e/ou totens inseridos

nas praças próximas ao local, contando, quando as placas estiverem inseridas em

praças, o histórico geral do bairro, o histórico da praça e a relação entre a mesma e

o estabelecimento inventariado.

Faz-se necessário o inventariado para que seja possível extrair características em

comum entre os estabelecimentos e as especificidades características de cada

empreendimento para que assim possa-se estabelecer o que é visado na primeira e

segunda diretriz, com formas de apropriação e construção que incentivem o contato

entre usuário e bairro, desacelerando o processo de perda dos locais do bairro13.

3.1.4 – Quarta diretriz – Estimular atividades que aconteçam no espaço público

A quarta diretriz sugere o fechamento de trechos de ruas do bairro para que elas

sejam utilizadas por pedestres para atividades de entretenimento e apropriação do

espaço publico aos domingos e feriados. Indica-se, em primeira instancia, o

fechamento de trechos da Rua do Ouro, nos locais em que lhe foram reconhecidos o

conceito de lugar, e a Rua Estevão Pinto, levando em conta o mesmo processo

elucidado para Rua do Ouro (Imagem 64 à Imagem 67).

13

Sobre isso reler os itens que elucidam a analise e os resultados obtidos nas entrevistas com

usuários do bairro.

Page 115: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Imagem 64: Trecho na esquina de Rua Caraça e Rua Estevão Pinto, primeiro ponto indicado para fechamento. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Imagem 65: Rua do Ouro, esquina com Palmira, segundo ponto indicado para fechamento. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Page 116: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

116

Imagem 66: Vista do segundo trecho a partir da Rua do Ouro. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Imagem 67: Trecho de fechamento na esquina de Rua Estevão Pinto e Rua Monte Alegre, é indicado o fechamento até a esquina com a Rua Alumínio e com a Avenida do Contorno. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Apesar de conformarem duas vias importantes para saída e entrada no bairro o

fechamento de trechos das vias não configura algo prejudicial ao trafego no local. O

mesmo incentivo sugerido já é realizado com resultados positivos na Avenida

Page 117: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Bandeirantes e na Avenida Prudente de Morais, vias de ligação arterial da cidade

(Figura 10) não tornando, dessa forma, o impacto no tráfego um impeditivo a

proposta.

Outro fator que torna a proposta viável é o dia em que é sugerido que seja realizado

o fechamento, no domingo ou feriados. Sendo esses dias marcados por tráfego mais

brando e que não influenciaria o convívio na região.

Sugere-se ainda que o trecho seja bem assinalado, com placas e avisos que

indiquem o local de desvio para veículos, e o horário que o fechamento será

proposto, sugere-se que o mesmo ocorra das 6:00 da manhã de domingo até as

18:00 do mesmo dia, contemplando horário que possibilite atividades com

iluminação natural abundante.

Caso a iniciativa mostre-se efetiva é indicado o aumento da área de fechamento das

vias e a expansão para vias adjacentes, possibilitando o aumento da área de

abrangência da iniciativa.

Page 118: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

118

Figura 10: Hierarquização viária de Belo Horizonte. Fonte: http://www.bhtrans.pbh.gov.br/portal/pls/portal/docs/1/4710213.JPG. Acessado no dia 27/10/2012 às 10h:50m.

Page 119: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

3.1.5 – Quinta diretriz – Realização de inventário das edificações de interesse

de preservação no bairro Serra, com vistas á posterior definição de conjunto

urbano.

Como última diretriz indica-se a realização de inventariado das casas com interesse

de preservação que se mantiveram na região, para que possam ser realizados,

posteriormente, estudos para indicação de conjuntos urbanos que mantêm a

ambiência característica do Bairro Serra.

O mesmo pressuposto já foi realizado em outros bairros de Belo Horizonte, sendo os

dois mais recentes o Bairro Santo Antônio e o Bairro Prado, possibilitando a

identificação de configurações urbanas que diferem os bairros dos demais da

cidade.

Esse inventariado possibilitaria, juntamente com o inventário realizado na terceira

diretriz, a identificação de pontos materiais, sendo esses os próprios locais onde se

realizam os comércios e as tipologias de residências que ocorrem na região, e

imateriais, ancorados nas relações desenvolvidas entre usuários e donos dos

estabelecimentos e na forma com que a relação e visibilidade gerada pelas casas e

prédios antigos da região configuram o sentimento de pertencimento nos pedestres,

conformando, dessa forma, um conjunto urbano pautado na ambiência característica

do Bairro Serra.

Vale ressaltar que seriam gerados bolsões com essas características, já que o bairro

passa por processo avançado de verticalização, com perdas significativas das casas

da região (Imagem 68 à Imagem 71).

Page 120: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

120

Imagem 68: Rua Níquel, esquina com Capivari, serie de quatro casas foram derrubas para dar lugar a empreendimento vertical. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Imagem 69: Vista do mesmo empreendimento a partir da Rua Capivari. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Imagem 70: Rua Capivari, prédio localizado em frente ao empreendimento da Agmar. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Page 121: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Imagem 71: Empreendimento localizado na Rua Herval, esquina com Rua Joanésia. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.

Page 122: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

122

3.2 – Conclusão

Quando desenvolvido a proposta para o presente trabalho acadêmico visava-se a

obtenção de agentes de destaque do Bairro Serra que conformassem território no

mesmo, visando entender como a valorização do espaço, principalmente na forma

do novo processo de verticalização, afetava a relação do mesmo com o local.

Com o desenvolvimento e continuidade do processo foi evidenciado, através das

entrevistas desenvolvidas com usuários da região, que o contato das pessoas com o

bairro forma-se cada vez mais pelos grandes equipamentos e que a relação

pormenorizada com o individuo não era identificada como referencia entre usuários

e o Bairro Serra. Desta forma, o trabalho rumou em identificar pontos, que apesar

desse processo de perda de identidade entre usuários e bairro, mantinham, e

mantém, em suas características o conceito de lugar segundo a definição da autora

Ana Fani Carlos (1996).

Nesse sentido, foi possível perceber pontos e manchas do que configuram a

ambiência tradicional de ocupação e uso do Bairro Serra, com destaque para pontos

que possuem tempo de construção no bairro recente, sendo o principal deles a

Praça do Cardoso.

Foi interessante perceber como as residências do bairro, na ambiência gerada pelas

mesmas, conformavam em si um lugar, já que a identidade e sentimento de

proximidade entre os usuários os prédios antigos e as casas, principalmente o

segundo ponto, foram apontados como ponto referencial pelos entrevistados, sendo

em muitos casos indicado a mudança gerada pela verticalização que o bairro sofre

como ponto principal de mudança na região.

Esse processo, juntamente com o aumento populacional e de fluxo na região,

configuraram os pontos mais citados como transformadores e influenciadores na

região. Gerando, com as novas construções, um processo de homogeneização

arquitetônica que já era sentida ao final da pesquisa de Manoel T. A. Junior (1999),

mas que hoje passa por processo ainda mais intenso e com perdas cada vez mais

significativas nas construções e tipologias de ocupação características do bairro.

Page 123: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Dessa maneira, é possível identificar um processo de transformação das

características tradicionais do Bairro Serra, que conformaram seu uso desde a

ocupação inicial, com elevado contato e relação entre o espaço público e o espaço

privado, sendo perdido, dando espaço a relações que inibem o contato do pedestre

com o flanar pelo espaço urbano e dele, o pedestre, com as novas construções,

sendo executadas edificações que tendem a respeitar a Lei de Uso e Ocupação do

Solo de Belo Horizonte e não promover a relação entre espaço público e espaço

privado.

Com isso, percebendo-se esse processo de transformação e identificando-se locais

que ainda eram passíveis de receber a conceituação de lugar, foram sugeridas

diretrizes para tentar desacelerar o processo de transformação tipológico do bairro

ou, no mínimo, manter os pontos e bolsões identificados como lugares na região

garantindo que a identidade característica do bairro em relação as demais regiões

da cidade não fosse totalmente perdida.

Vale ressaltar que entende-se que processos de transformação do espaço são

conformados durante todo processo de formação da cidade, resultando em perdas e

manutenção de locais para que a mesma passe por desenvolvimento, mas também

entende-se que processos que acabem por resultar em rompimentos bruscos e que

visem a utilização da cidade somente para as atividades rotineiras não devem

prevalecer na dinâmica do espaço.

Sendo, sempre que possível – como ainda é possível de ser realizado no Bairro

Serra –, valorizado a relação do indivíduo com o espaço, ocasionando situações que

o incentivem ao uso do mesmo para além das situações de rotina, gerando

apropriações e usos que garantam vida e segurança na cidade.

Page 124: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

124

ANEXOS

TABELAS COM ANALISE DOS QUESTIONÁRIOS

Tabela 1: Locais mais utilizados pelos questionados. Na tabela faz-se o diagnóstico através das atividades mais citadas pelos entrevistados e número de usuários a citá-las por área.

Page 125: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Tabela 2: Locais mais movimentados do Bairro Serra. Vale ressaltar a variedade de áreas que apontam as Ruas Alípio Goulart, Rua Estevão Pinto e Rua do Ouro como movimentadas.

Page 126: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

126

Tabela 3: Mudanças no Bairro Serra. vale ressaltar o caráter de destaque que a verticalização tem como ponto de observação pela população.

Page 127: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Tabela 4: Pontos de referência do Bairro Serra. Destaque para o número de citações do Hospital Evangélico como Ponto de Referência.

Page 128: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

128

Tabela 5: Pontos de referência do Bairro Serra. Destaque para o número de citações do Hospital Evangélico como Ponto de Referência.

Page 129: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Tabela 6: Pontos de referência do Bairro Serra. Destaque para o número de citações do Hospital Evangélico como Ponto de Referência.

Page 130: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

130

Tabela 7: Pontos de referência do Bairro Serra. Destaque para o número de citações do Hospital Evangélico como Ponto de Referência.

Page 131: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Tabela 8: Pontos de referência que apareceram. Destaque para as nove citações da Praça do Cardoso e para as 13 e 12 (área 1 e 5) do não aparecimento de pontos de referência.

Page 132: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

132

Tabela 9: Pontos de referência que desapareceram. Destaque para o grande número de vezes a ser citado a não recordação de desaparecimentos.

Page 133: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

Tabela 10: Pontos de referência que desapareceram. Destaque para o grande número de vezes a ser citado a não recordação de desaparecimentos.

Page 134: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

134

Tabela 11: Pontos de referência que desapareceram. Destaque para o grande número de vezes a ser citado a não recordação de desaparecimentos.

Page 135: Lugar e identidade conflitos gerados pela valorização do espaço

REFERÊNCIAS

CARLOS, Ana Fani Alessandri, O lugar no/do mundo, São Paulo, Hucitec, 1996. CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano, 4ª Ed, São Paulo, Editora Atica, 2002. 93 p. HAESBAERT, Rogério. Desterritorialização: Entre as Redes e os Aglomerados de Exclusão, CASTRO, Íná Elias; GOMES, Paulo Cesar da Costa; CORREA, Roberto Lobato (orgs.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. JUNIOR, Manoel Teixeira Azevedo. Serra: Um Olhar Urbano, Caderno de Arquitetura e Urbanismo, v.7, n.7, Belo Horizonte, 1999. 180 p. LEFEBVRE, Henri. Espaço e Política, 1ª Ed, Belo Horizonte, UFMG, 2008. 192p. LEFEBVFRE, H., A revolução urbana, Belo Horizonte, UFMG, 1999. SANTOS, Milton, A Urbanização brasileira, 4ª Ed., São Paulo, Hucitec, 1994. 157p. SANTOS, Milton, A Natureza do Espaço, 4ª Ed., São Paulo, Edusp, 2009. 384 p. SOUZA, Marcelo José L., O Território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento, CASTRO, Íná Elias; GOMES, Paulo Cesar da Costa; CORREA, Roberto Lobato (orgs.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. VERGARA, Sylvia Constant, Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2004. 94 p. Site prefeitura de Belo Horizonte. www.pbh.gov.br Google Mapas. www.google.com/mapas