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LUDOTERAPIA: O JOGO E O BRINCAR NA RELAÇÃO TERAPÊUTICA COM A CRIANÇA HISTÓRICO DA LUDOTERAPIA Melanie Klein ao iniciar seu trabalho na década de 20, desenvolveu um novo instrumento de trabalho: ¨a técnica do brincar¨. Por meio dessa técnica foi possível alcançar as fixações e experiências mais profundamente recalcadas da criança e exercer uma influência importante em seu desenvolvimento. Na psicanálise infantil o brincar tomou forma e sentido, passou a ser visto e trabalhado como técnica infantil, chamada de ludoterapia. Para a psicanálise infantil a palavra e o brincar da criança devem ser resgatados em toda sua autenticidade. Essa abordagem vai além da concepção cronológica e, objetiva revelar o que há de específico no infantil e na criança. A Ludoterapia é uma técnica psicoterápica usada no tratamento dos distúrbios de conduta infantis e, baseia-se no fato de que o brincar é um meio natural de auto-expressão da criança. Podendo ser utilizada de forma individual ou grupal. Visto que não se pode exigir de uma criança que faça associações livres, Melanie Klein tratou o brincar como equivalente a expressões verbais, isto é, como expressão simbólica de seus conflitos inconscientes. Assim a Psicoterapia Infantil ajudaria a criança a resolver fixações e a elaborar situações traumáticas do seu desenvolvimento. A análise através do brincar mostra que o simbolismo possibilita à criança transferir não apenas interesses, mas também fantasias, ansiedades e culpa a outros objetos além de pessoas, ou seja, muito alívio é possibilitado através do brincar. Podemos assim pensar que a criação, no uso da criatividade através do brincar seria um viés sublimatório; forma encontrada pela criança de colocar suas pulsões à mostra, expostas via objetos socialmente valorizados ou não. Melanie Klein percebeu que o brincar da criança poderia representar simbolicamente suas ansiedades e fantasias e, que estas brincadeiras possibilitam conhecer os significados latentes e estabelecer correlações com situações experimentadas ou imaginadas por elas, fornecendo à cada uma delas a possibilidade de elaborar tais situações; mas, parece ter sido Donald Woods 1

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LUDOTERAPIA: O JOGO E O BRINCAR NA RELAO TERAPUTICA COM A CRIANA

HISTRICO DA LUDOTERAPIA

Melanie Klein ao iniciar seu trabalho na dcada de 20, desenvolveu um novo instrumento de trabalho: a tcnica do brincar. Por meio dessa tcnica foi possvel alcanar as fixaes e experincias mais profundamente recalcadas da criana e exercer uma influncia importante em seu desenvolvimento.Na psicanlise infantil o brincar tomou forma e sentido, passou a ser visto e trabalhado como tcnica infantil, chamada de ludoterapia. Para a psicanlise infantil a palavra e o brincar da criana devem ser resgatados em toda sua autenticidade. Essa abordagem vai alm da concepo cronolgica e, objetiva revelar o que h de especfico no infantil e na criana.A Ludoterapia uma tcnica psicoterpica usada no tratamento dos distrbios de conduta infantis e, baseia-se no fato de que o brincar um meio natural de auto-expresso da criana. Podendo ser utilizada de forma individual ou grupal.Visto que no se pode exigir de uma criana que faa associaes livres, Melanie Klein tratou o brincar como equivalente a expresses verbais, isto , como expresso simblica de seus conflitos inconscientes.Assim a Psicoterapia Infantil ajudaria a criana a resolver fixaes e a elaborar situaes traumticas do seu desenvolvimento.A anlise atravs do brincar mostra que o simbolismo possibilita criana transferir no apenas interesses, mas tambm fantasias, ansiedades e culpa a outros objetos alm de pessoas, ou seja, muito alvio possibilitado atravs do brincar. Podemos assim pensar que a criao, no uso da criatividade atravs do brincar seria um vis sublimatrio; forma encontrada pela criana de colocar suas pulses mostra, expostas via objetos socialmente valorizados ou no.Melanie Klein percebeu que o brincar da criana poderia representar simbolicamente suas ansiedades e fantasias e, que estas brincadeiras possibilitam conhecer os significados latentes e estabelecer correlaes com situaes experimentadas ou imaginadas por elas, fornecendo cada uma delas a possibilidade de elaborar tais situaes; mas, parece ter sido Donald Woods Winnicott o primeiro ps-freudiano a se debruar sobre a real temtica, como objeto de estudo especfico.

A IMPORTNCIA DA LUDOTERAPIA NO TRATAMENTO DE CRIANAS VTIMAS DA VIOLNCIA

A anlise infantil funda-se no princpio da catarse, uma vez que tenta explorar o mundo de sentimentos e impulsos inconscientes como origem efetiva de todas as aes e reaes observadas nos pequenos pacientes.E, embora a livre associao seja uma tcnica aplicvel na psicoterapia infantil, nem sempre ser possvel fazer com que a criana venha a falar. Em razo disso, o analista dever fazer uso de jogos, brincadeiras, desenhos e anlise de sonhos dos quais passaremos a tratar a partir de agora.A essa tcnica que faz uso desse tipo de recursos deu-se o nome Ludoterapia, a qual, surgiu a partir de estudos de Ana Freud e Melaine Klein, que analisavam as relaes infantis e o processo de transferncia de informaes, visando o tratamento psicolgico.Desde o mtodo clnico de Klein e seus seguidores, que acentuava a importncia do trabalho exaustivo de interpretao em anlise de crianas, visando decodificao do significado da brincadeira desenvolvida na sesso analtica, encontramos, atualmente, modelos tericos que ampliam ou alteram essas concepes originais.Por meio deste mtodo possvel ao terapeuta obter acesso s fixaes e experincias mais profundamente recalcadas da criana, o que lhe possibilitar exercer uma influncia radical em seu desenvolvimento.No caso de crianas vtimas da violncia, os objetos so providenciados especialmente com esta finalidade e ajudam a analisar a violncia sofrida pela criana e descobrir o agressor; um trabalho que pode ser desenvolvido com crianas a partir de dois anos de idade, visto que a partir desta idade, j conseguem expor os fatos por meio das brincadeiras.O terapeuta poder fazer uso do psicodrama (que envolve essencialmente a brincadeira do faz-de-conta, embora se utilize de todo tipo de brincadeira), transformando o brincar da criana em tratamento.Dentre as tcnicas mais utilizadas esto o teatro espontneo (desempenho de papis sem texto previamente definido), o monlogo (pensar alto enquanto desempenha um papel), o duplo (atribuir fala a um outro personagem), entre outras.O psicodrama auxilia as crianas na superao de obstculos a seu desenvolvimento emocional, atravs daquilo que ningum lhes pode tirar sua imaginao.O fato que por trs de toda agresso fsica h sempre um abuso psicolgico, que inibe a denncia. Com a ludoterapia, a vtima induzida a falar brincando, esquecendo das ameaas que normalmente sofre e isso muito bom para o profissional e para a prpria criana alegam os especialistas. somente a presena mental de algum mais que brinque com a criana que permite que o jogo seja plenamente transformador de angstias (FERRO, 1995, p. 80).Atravs do brincar a criana tem a possibilidade de vencer medos, angstias, traumas e tudo aquilo que atinge sua sensibilidade. Porm, para se fazer psicoterapia, necessrio que o brincar seja espontneo.E, alm disso, a brincadeira alm de refletir a forma de pensar e sentir da criana, onde ela demonstra sua histria vivida, favorece:O desenvolvimento intelectual, O equilbrio emocional, A comunicao, A criatividade e A independncia.

A CRIANA E O BRINCAR SEGUNDO VERA BARROS DE OLIVEIRA

Segundo a Psicloga Infantil, Vera Barros Oliveira (2000), no brincar casam-se a espontaneidade e a criatividade com a progressiva aceitao das regras sociais e morais; ou seja, brincando a criana se humaniza, aprendendo a conciliar de forma efetiva a afirmao de si mesma criao de vnculos afetivos duradouros.Oliveira explica que brincando a criana elabora progressivamente o luto da perda relativa dos cuidados maternos, assim como encontra foras e descobre estratgias para enfrentar o desafio de andar com suas prprias pernas e pensar aos poucos com a prpria cabea, assumindo a responsabilidade por seus atos.Dessa forma, o brincar se constitui na ferramenta por excelncia que a criana dispe para aprender a viver. no brincar que a criana encontra condies de desenvolver seu potencial j adquirido geneticamente.Segundo Oliveira, o brincar tem um papel importante na construo da inteligncia e equilbrio emocional do beb, contribuindo para sua integrao com o meio em que vive e, at mesmo para sua auto-afirmao.Ela alega que as estruturas mentais, por serem orgnicas, s se desenvolvem mediante a possibilidade de expresso e comunicao com o meio. E, complementa, dizendo: o brincar ensina a escolher, a assumir, a participar, a delegar e, a postergar.Oliveira esclarece que a crena no retorno peridico da me, que alimenta, protege, aquece, conversa e brinca, que d foras ao beb para suportar sua ausncia. E, que o carter ondulatrio e cclico de sua atividade ldica, com temas opostos como vimos, expressa simbolicamente que est aprendendo a esperar e a suportar a tenso e a frustrao da separao, justamente porque confia em seu retorno.E, completa dizendo que o brincar compensa e reequilibra o organismo, chegando mesmo a armazenar bem-estar, se assim podemos dizer, para momentos futuros.

O brincar do beb com o prprio corpo

Segundo Oliveira (2000), so as brincadeiras do beb com seu prprio corpo, quando rola, engatinha, tira e pe, vezes sem conta, objetos uns dentro dos outros, numa cadncia rtmica, que alterna movimentos opostos, como os de abaixar e levantar, puxar e empurrar, abrir e fechar, esconder e achar, que do condio passagem da vida ainda muito prxima dos instintos, aliceradas nos reflexos, ao lento, gradual e batalhado ingresso no universo humano propriamente dito, o simblico.A brincadeira simblica

Para Oliveira (2000), essa fase do faz-de-conta, em que a criana passa a representar sua ao internamente e a se utilizar de manifestaes simblicas para interagir com o meio.Exemplos: 1) uma criana brincando com pedao de pau, imaginando que o mesmo um cavalo; 2) comea a falar, a imitar na ausncia do modelo, a se lembrar de algo sem precisar v-lo; desenha, pinta, modela, expressa aquilo que tem significado para ela.Oliveira diz que a brincadeira simblica, ao representar a realidade do jeito que a criana a v e sente, no uma negao da mesma, mas uma situao privilegiada de aprender a lidar com as funes e relaes sociais.E, explica que o brincar, por ser uma atividade livre que no inibe a fantasia, favorece o fortalecimento da autonomia da criana e contribui para a no formao e at quebra de estruturas defensivas.Assim, ao brincar de que a me da boneca, por exemplo, a menina no apenas imita e se identifica com a figura materna, mas realmente vive intensamente a situao de poder gerar filhos, e de ser uma boa me, forte e confivel esclarece Oliveira e, prossegue dizendo quedramatizar o vivido, representando-o, ajuda a criana a afirmar-se como pessoa e a externalizar sentimentos e pensamentos, inclusive os de hostilidade para com os outros, principalmente para com as pessoas mais ntimas, como os pais e irmos, e dar vazo possvel necessidade de auto-punio, pela culpa gerada por senti-los.Oliveira ainda explica que no faz-de-conta, j se faz presente a necessidade de respeitar o outro, pelo menos parcialmente e, diz que paralelamente a essa descoberta, a criana experimenta o prazer de aprender a brincar com outras crianas em situaes imaginrias.

A agressividade manifesta no brincar

No que tange questo dessa agressividade manifesta no brincar, Oliveira defende que parte inerente do psiquismo e indispensvel sobrevivncia. E, prossegue dizendo que:...construir de forma equilibrada nossa personalidade, consiste inclusive em aprender a canalizar esse potencial agressivo, que nos torna sofregamente vidos de alimento, de carinho, de fora ou poder, assim como capazes de cometermos ou desejarmos cometer atos hostis para com os outros. S h uma possiblidade de dirigirmos de forma saudvel esses impulsos, se os reconhecermos em ns mesmos (Oliveira, p. 19, 2000).Oliveira prossegue dizendo que o brincar, ao possibilitar a projeo de contedos ameaadores e dinmicas negativas internas, torna-os visveis e passveis, portanto, de serem identificados e controlados.Segundo ela, a importncia de dar livre curso s fantasias, inclusive s de destruio, no brincar, fundamental, pois quando estas se tornam assustadoras demais, internamente passam a correr o risco de no poderem mais ser projetadas ou sublimadas.E diz que quando a criana no consegue controlar suficientemente bem suas fantasias de destruio e passa a temer que as mesmas tomem conta de sua realidade (externa e interna), ela pode tambm passar a manifestar essa insegurana atravs de atitudes violentas de desafio e confronto, mas, no fundo, o que est buscando ansiosamente encontrar um limite externo que a contenha e salve.Oliveira esclarece que s crianas devem ser dados limites claros e objetivos, que ajudem a trabalhar sua impulsividade, onipotncia e voracidade, assim como a aprender a lidar com sua prpria destrutividade e, prossegue dizendo que, por trs de todo, trabalho e arte est o remorso inconsciente pelo dano causado na fantasia inconsciente e um desejo de comear a corrigir as coisas.Pois, segundo ela, a agressividade encobre muitas vezes uma sensao de medo ou excitao frente ao objeto de desejo e pode se manifestar de forma disfarada atravs de atitudes de manipulao, seduo ou negao; como pode ser desviada para outras pessoas ou situaes, como por exemplo, esconder-se, camuflar-se, ou ainda projetar-se.Oliveira cita o exemplo da criana, que hostiliza seu irmo menor, por se sentir rejeitada pela me e, procura compens-lo manifestando extremo carinho em relao a ele, ou, que tenta manipular a ateno da me, hostilizando-a atravs de uma recusa em receber alimento.Embora seja difcil para a prpria criana e para as pessoas que a rodeiam admitir a agressividade latente ou evidente na criana, para esta, essencial que a me no a idealize e que aceite suas limitaes. Pois, s assim, a criana poder se enxergar como e se aceitar, para ento aprender a se controlar para viver no convvio com os outros e, para isso, no poder haver a interferncia super-protetora materna, buscando amenizar as falhas, conflitos e hostilidades da criana na relao com o outro.O jogo de regras

No jogo de regras o prazer est em cumprir as regras. Ex: para uma criana de 2 ou 3 anos, o simples fato de subir os degraus de uma escada j uma satisfao. Ao passo que para uma criana de 6 anos, por exemplo, esta atividade s ser atraente se envolver algumas regras determinando o procedimento: subir com um p s, de dois em dois, pulando, etc.Oliveira esclarece que, ao contrrio do faz-de-conta coletivo, no jogo de regras h colaborao e/ou competio. Alm disso, o jogo de regras prepara a criana para as questes de regra morais, sociais com as quais, ter que lidar em sociedade, quando na idade adulta.

O JOGO E O BRINCAR SEGUNDO MELANIE KLEIN

Melanie Klein, discpula fiel de Sigmund Freud, acabou por criar sua prpria linha de psicanlise. Conjecturava a possibilidade do ldico no apenas com o propsito de resgatar a relao de amor que a criana pode no ter tido, mas uma possibilidade de se trabalhar mais enfaticamente com o sujeito infantil. A referida autora observou que existem outras emoes em jogo nessa relao, como o dio, a inveja, a sexualidade, etc. Verificou, ento, que a criana havia perdido a inocncia e suas brincadeiras e jogos apresentavam contedos sexuais. Para ela, os brinquedos e jogos infantis, tornaram-se processos simblicos, com sentidos e significaes especiais e nicos para cada criana.Em 1929, Melanie Klein, no focalizava a criatividade como sendo uma temtica especfica, mas descreveu o processo criativo como sendo uma tentativa de restaurao de danos causados a objetos, sejam esses internos ou externos.Segundo ela, brincando a criana expressa de modo simblico suas fantasias, seus desejos e suas experincias vividas.

O JOGO E O BRINCAR SEGUNDO DONALD WINNICOTT

Winnicott, observou que os bebs tendem a usar os punhos e os dedos para satisfazerem seus instintos e, que aps alguns meses passam a usar algum objeto especial para substituir este meio de estimulao, j tendo a capacidade de reconhecer este objeto como no-eu. Adquirem tambm, a capacidade de criar, imaginar, inventar, produzir um objeto e estabelecer uma relao afetuosa com este objeto.Segundo ele, fenmenos transicionais justamente a transferncia que ocorre na troca do uso do dedo ou polegar para a utilizao de um objeto como o no-eu a que ele chama de objeto transicional. Ou seja, quando pensamos no brincar como um instrumento valioso para o trabalho analtico, sabemos que estamos tratando de uma atividade que ocorre na rea que foi denominada por Winnicott de transicional.Ele afirma que quando o simbolismo empregado, o beb j est claramente distinguindo entre fantasia e fato, entre objeto externo e interno, entre criatividade primria e percepo.E, diz que o brincar tem um lugar e um tempo, acontecendo primeiro entre me e beb, segundo as experincias de vida. Ele explica que o brincar facilita o crescimento e, portanto, a sade - alm de conduzir aos relacionamentos grupais, at por que, brincar fazer..Segundo ele, no brincar a criana manipula fenmenos externos a servio do sonho e veste fenmenos externos, escolhidos com significado e sentimentos onricos.E, prossegue dizendo que h uma evoluo direta dos fenmenos transicionais para o brincar, do brincar para o brincar compartilhado, e deste para as experincias culturais.Winnicott esclarece ainda, que o brincar envolve o corpo devido manipulao de objetos. Assim sendo, a criatividade fundamental e atravs dela que o indivduo sente que a vida digna de ser vivida.Ele explica que em todas as fases da vida, o mediador fundamental para o sucesso no desenvolvimento do beb, criana, adolescente, adulto ou velho. E, que tudo acontece com um mediador, com interao: o segurar, o manejar, a apresentao de objetos, a destruio do objeto, a sobrevivncia destruio.Assim, quando essa interao feita com confiana, se a tarefa da me cumprida na sua integralidade o desenvolvimento emocional e mental do beb e da criana conseguido sem consequncias negativas. E, de acordo com Winnicott o simples fato de estar ao lado da criana, amando-a e repeitando seu ritmo natural, o suficiente para proporcionar condies para seu desenvolvimento.Ele afirma que quando a criana experimenta angstia, medo e desamparo, o objeto transacional serve como suporte - um apoio para criana.Segundo Winnicott, este objeto reconhecido pelos pais e carregado para todos os lugares, pois ele representa conforto e segurana para o beb. Um objeto que no imposto criana, antes por escolhido pela prpria criana. s vezes uma fralda velha, um pedao de roupa dos pais, um cobertor, possui caractersticas muito particulares, como, por exemplo, o cheiro e, por isso no pode ser lavado.Ele esclarece que esse objeto no auto-ertico, como por exemplo, chupar o dedo ou enrolar o cabelo; ou seja, no auto-ertico porque externo ao corpo da criana. Esclarece ainda que, para cada criana, esse objeto tem um sentido, e sentido como algo seu que lhe passa segurana e, visto que lhe familiar, pode experimentar um sentimento de posse e controle, pois, sabe que pode lev-lo para onde quer.E, nos fala enfaticamente que no brincar que o individuo criana ou adulto pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e somente sendo criativo que o individuo descobre o eu (self).

O Jogo dos Rabiscos de Donald Winnicott

Sentindo-se pressionado a atender um nmero cada vez mais elevado de crianas que lhe eram trazidas em busca de tratamento, Winnicott passou a se dedicar a estudar os meios de utilizar o espao teraputico da forma mais produtiva a fim de obter os melhores resultados teraputicos possveis; para isso, ele desenvolveu o jogo dos rabiscos e a consulta teraputica.Segundo Clare Winnicott (que fora sua esposa,assistente social psiquitrica, com quem escreveu "The Problem of Homeless Children" em 1944 e "Residential Management as Treatment for Difficult Children" em 1947), ele se esforava por tornar a consulta significativa para a criana, dando-lhe alguma coisa para levar e que pudesse ser utilizada e/ou destruda. Donald Winnicott se armava de papel e, na maioria das vezes, fazia um avio ou um leque com o qual brincava um pouco e, depois dava-o criana, despedindo- se dela. E, segundo Claire, jamais se soube de uma criana que houvesse resistido a esse gesto.

DECIFRANDO A CRIANA POR MEIO DOS DESENHOS INFANTIS

Nicole Bdard, pedagoga canadense, explica em sua obra Como Interpretar os Desenhos das Crianas, que os rabiscos, as formas e as figuras que as crianas colocam habitualmente no papel, so verdadeiras fontes de informaes valiosas, na tarefa de educ-las e, na formao de sua personalidade. Segundo ela, por meio dos desenhos possvel conhecer o temperamento, o perfil psicolgico e o estado emocional das crianas, visto que, refletem a forma como elas enxergam seu ambiente familiar e o mundo sua volta. Alm de constantemente revelar as dificuldades pelas quais elas esto passando em casa, na escola ou nas relaes sociais.Bdard, porm, explica que decifrar corretamente os desenhos infantis e descobrir o que est por trs dessas janelas do consciente e do inconsciente nem sempre fcil, pois, exige sensibilidade e alguma prtica, embora no seja nenhum bicho-de-sete-cabeas. E, segundo ela, h significado, inclusive, na escolha do tipo de lpis e papel que a criana utiliza.No devemos esquecer que o que nos interessa o simbolismo e as mensagens que o desenho transmite, e no sua perfeio esttica, adverte Bdard.Segundo ela, se a criana escolhe uma folha de papel pequena, indica capacidade de concentrao e certa tendncia introverso. Se nessa mesma folha ela aplicar traos menos definidos, superficiais ou feitos com pouca presso do lpis, estar exteriorizando uma falta de confiana em si prpria.Ainda quanto s escolhas iniciais para o desenho, ela esclarece que importante observar por onde a criana o comea e explica que: Se for pelo lado esquerdo da folha, significa que seus pensamentos esto girando ao redor do passado; se for pelo lado direito, quer dizer que ela deposita f e esperanas no futuro; o incio no centro indica que ela est aberta a tudo sua volta e no momento no vive ansiedades nem tenses de maior monta.Ainda segundo Bdard, as cores tambm fornecem pistas sobre o que vai pela cabea dos pequenos desenhistas.Ela explica que a preferncia pelo vermelho revela uma natureza enrgica e um esprito esportivo e, por outro lado, pode sinalizar algum tipo de agressividade. J o amarelo representa o conhecimento, a curiosidade e a alegria de viver - a criana que usa essa cor com freqncia generosa, extrovertida, otimista e ambiciosa. O preto, avisa a autora, costuma ser uma cor mal interpretada pelos pais, associada a maus pensamentos ou tristeza, mas, explica que no necessariamente assim. O preto representa o que vai pelo inconsciente e mostra que a criana tem confiana em si mesma e no dia de amanh, alm de ser adaptvel s circunstncias. Quando o preto vem acompanhado do azul, no entanto, talvez revele um sentimento de depresso e derrota.Segundo o psiclogo Fabiano Murgia (2010), nos desenhos infantis, o sol, por exemplo, est quase sempre relacionado figura paterna: ele est l em cima, transmite calor, o provedor.O mesmo sol a que o psiclogo Murgia se refere, tem, porm, para Nicole Bdard, significados um pouco mais complexos. Segundo ela, o sol realmente representa a energia masculina, mas, ela sustenta que, quando desenhado esquerda do papel, pode representar a influncia de uma me de ndole muito independente, e quanto mais fortes forem os raios, mais a me ser controladora e do tipo que impe sua vontade em todas as situaes.Bdard prossegue dizendo, que o sol desenhado direita do papel revela a percepo que a criana tem a respeito do pai. Se for muito intenso, radiante, pode indicar um pai com tendncias violncia verbal ou fsica. E, quando desenhado no centro do papel, representa um auto-retrato da criana e, nesse caso, explica Nicole, estamos diante de uma criana que acredita ter certa responsabilidade por sua me e por seu pai talvez se trate de uma famlia desarticulada, mas ela possui o carter e o potencial necessrios para fazer frente situao.Bdard esclarece ainda, que as figuras humanas, to frequentes nos desenhos infantis, so excelentes pistas para se desvendar o que vai por dentro das cabeas das crianas. Pois, na maioria das vezes, ao desenh-las, as crianas esto retratando a si prprias ou as pessoas com quem elas convivem cotidianamente, principalmente os pais e parentes. E, chama a ateno para a necessidade de se atentar nessas figuras humanas, para o rosto, a posio dos braos e os ps. luz da pedagogia, o auto-retrato infantil pode ser analisado por outros ngulos. Quando a criana desenha a si prpria, est mostrando exatamente como ela est, como se sente (MURGIA). Aeducadora infantil Luciane Isabel de Freitas, diz que quando a criana se retrata num cantinho da folha de papel, no est tendo o reconhecimento corporal dela prpria, ainda no percebeu seu corpo no espao, e tambm por isso pode esquecer de desenhar os olhos ou os braos isso normal at os 7 anos, completa.Outro tema recorrente nos desenhos infantis, e que pode ser bastante esclarecedor para os pais, a casa40. Quem acha que as casinhas coloridas so todas parecidas, deve comear a prestar ateno nos detalhes. Se a proporo da casa no desenho muito grande, a criana est vivendo uma fase mais emotiva do que racional. Se a casa muito pequena, significa que ela introspectiva, talvez com algumas perguntas girando na cabea. Uma porta pequena na casa sinaliza uma criana que tem dificuldades em convidar as pessoas para visit-la, seletiva com os amigos e parentes, no gosta que lhe faam muitas perguntas e nem que a observem. Uma porta grande, em contrapartida, sinal de boas-vindas para quem quiser fazer parte de seu cotidiano41.Quanto maaneta da porta, Bdard esclarece que quando a criana a desenha esquerda, significa que seus pensamentos esto ligados ao passado e dessa forma ela busca confiana para enfrentar o futuro. Essa criana no aprecia transformaes bruscas e precisa de tempo para assimilar novas idias. A maaneta desenhada direita sinal de que a criana tem desejos constantes de mudanas, aprecia os imprevistos positivos, as aventuras, e arrisca-se a antecipar o futuro. E, a maaneta desenhada no centro indica uma criana em busca de independncia e autonomia, mas, tambm indica teimosia e tendncia de impor as prprias vontades.Royer (1989) afirma, na sua obra Le dessin dune maison, que a casa constitui um arqutipo mais complexo, e por isso, mais difcil de interpretar, mais rico tambm de significados que os temas desenho da rvore e pessoa. A casa o smbolo de todas as "peles" sucessivas que nos envolvem - o seio materno, corpos, famlia, universo - e que vo se encaixando e modelando. Assim, desenhar uma casa evocar o ltimo Ego que reside mais fundo, assim como suas relaes com todos seus envelopes; revelar as modalidades de sua pertena no mundo. Para a autora, a casa o termo mais carregado de ressonncia afetiva, mais capaz de desencadear tantas lembranas, tantos sonhos, tantas paixes: a casa da infncia, a casa da famlia, a casa das frias, a casa dos sonhos matrimoniais, a casa de retiro, a ltima moradia. Cada uma de nossas casas possui suas fragrncias, corredores e portas secretas, espaos, recantos, alquimia, culinria, rudos e silncios, fogos e guas, luzes, penumbras assustadoras ou propcias aos desabafos. A imagem da casa, alegre ou no, nos acompanha ao longo de nossa vida. Esse arqutipo ligado a nossa segurana, amores, posses, status social, est inscrito mais profundamente em ns, at na nossa parte primitiva e animal, como a concha para o caracol.Nicole Bdard chama a ateno para o fato de que no se deve avaliar a personalidade, os pontos altos e baixos e as necessidades de uma criana com base em apenas dois ou trs desenhos. Ela diz que o ideal utilizar vrios desenhos feitos num determinado espao de tempo.A cada nova informao que recebe, a criana reestrutura a sua forma de ver o mundo e, por isso, na anlise do desenho, preciso levar em considerao o momento que ela vive, pondera a educadora Thereza Bordoni, diretora da ABC Pesquisa e Desenvolvimento em Educao, de Belo Horizonte, e que tem nos desenhos infantis uma de suas especialidades pedaggicas. E conclui dizendo que:A criana costuma colocar perto de si, no papel, as pessoas com quem ela mantm os laos mais fortes, mas se a me dela, naquele dia, a proibiu de comer um chocolate, pode ser retratada de forma menos afetuosa, o que eventual e no corresponde realidade de seus sentimentos.

O conselho que fica aos pais que jamais interfiram nos desenhos das crianas, alegando que no existem rvores com peixes nos galhos ou casas suspensas no cu. At por que, a criana provavelmente ir responder que sua rvore diferente das outras porque vem de Marte e que a casa pertence a um super-heri capaz de voar. Isso, ao contrrio de revelar uma criana distante da realidade, apenas mostra sua originalidade e, demonstra que est desenvolvendo a capacidade de afirmar as prprias opinies e de desbravar seus caminhos. O que certamente o que se espera dela.

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