ludicidade, qualidade de vida e inclusão social no canto coral

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA COORDENAÇÃO GERAL DE EDUCAÇÃO TÉCNICA INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLÓGICA DO MATO GROSSO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO: EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INCLUSIVA JOSÉ GLEDSON IZAIAS DOS SANTOS LUDICIDADE, QUALIDADE DE VIDA E INCLUSÃO SOCIAL NO CANTO CORAL Natal-RN 2009

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Page 1: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA

COORDENAÇÃO GERAL DE EDUCAÇÃO TÉCNICA INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLÓGICA DO MATO

GROSSO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO: EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E

TECNOLÓGICA INCLUSIVA

JOSÉ GLEDSON IZAIAS DOS SANTOS

LUDICIDADE, QUALIDADE DE VIDA E INCLUSÃO SOCIAL NO CANTO CORAL

Natal-RN 2009

Page 2: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

JOSÉ GLEDSON IZAIAS DOS SANTOS

LUDICIDADE, QUALIDADE DE VIDA E INCLUSÃO SOCIAL NO CANTO CORAL

Natal-RN

2009

Monografia apresentada à banca

examinadora da Especialização: Educação

Profissional e Tecnológica Inclusiva do

MEC/IF/MT, como requisito parcial para

obtenção do título de Especialista.

Page 3: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

JOSÉ GLEDSON IZAIAS DOS SANTOS

LUDICIDADE, QUALIDADE DE VIDA E INCLUSÃO SOCIAL NO CANTO CORAL

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________ Sonia Cristina Ferreira Maia, Dra. (Orientadora)

_____________________________________________________ Narla Sathler Musse de Oliveira, Ms.

____________________________________________________ Lígia Sousa de Santana Pereira, Ms.

Natal/RN 2009

Monografia apresentada à banca

examinadora da Especialização: Educação

Profissional e Tecnológica Inclusiva do

MEC/IF/MT, como requisito parcial para

obtenção do título de Especialista.

Page 4: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 6

1.1 Problematização 6

1.2 OBJETIVOS 8

1.2.1 Objetivo Geral 8

1.2.2 Objetivos Específicos 8

1.3 Justificativa 8

1.4 Metodologia 10

1.4.1 Caracterização da pesquisa 10

1.4.2 População e Amostra 11

1.4.3 Instrumento de Pesquisa 11

1.4.4 Analise e Discussão dos Resultados 11

2 REFERENCIAL TEÓRICO 12

2.1 Terceira Idade e Educação Inclusiva 12

2.2 Qualidade de Vida e Ludicidade 17

2.3 Técnicas Básicas de Regência Coral 22

2.4 Educação Inclusiva 25

2.5 A Música e sua relação com a Ludicidade 30

3 APRESENTAÇÃO DOS DADOS 34

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 37

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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Page 5: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

RESUMO:

A pesquisa é problematizada com a prática musical do canto coral

vivenciado no Programa Saúde e Cidadania da Terceira Idade no Instituto Federal

de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte. O canto coral

compreendido como uma manifestação educacional musical com significado para

a interação social da pessoa da Terceira Idade. O estudo tem como objetivo

descrever os principais fatores e aplicar técnicas vocais no canto que contribuam

com a ludicidade, a qualidade de vida e a inclusão social no processo pedagógico

na formação de um coral. O referencial teórico pautado na Terceira Idade, na

Ludicidade, na Educação Inclusiva, na Qualidade de Vida, nas Técnicas de

Regência, na Música e na Inclusão Social. Como resultados podemos destacar os

benefícios dos exercícios para a respiração, melhor afinação, melhora no estado

emocional, o prazer e estar no grupo e conseguir superar dificuldades emocionais

por participarem de apresentações.

PALAVRAS – CHAVES: Ludicidade – Qualidade de Vida – Terceira Idade.

Page 6: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

6

1 INTRODUÇÃO

1.1 PROBLEMATIZAÇÃO

O canto coral configura-se como uma prática musical exercida e difundida

nas mais diversas etnias e culturas por apresentar–se como um grupo de

aprendizagem musical, desenvolvimento vocal, integração e inclusão social. O

coro, por sua vez é um espaço constituído por diferentes relações interpessoais e

de ensino-aprendizagem, exigindo do regente, uma série de habilidades, e

competências referentes não somente ao preparatório técnico musical, mas

também gestão e condução de um conjunto de pessoas que buscam motivação,

aprendizagem e convivência em um grupo social. O coral, nesse sentido é um

espaço de motivação, inclusão e integração social que viabiliza o desenvolvimento

da cultura.

O canto coral se constitui em uma relevante manifestação educacional

musical e em uma significativa ferramenta de integração social. Os trabalhos com

grupos vocais nas mais diversas comunidades, empresas, instituições e centros

comunitários pode, por meio de uma prática vocal bem conduzida e orientada

realizar a integração (entendida como uma questão de atitude, na igualdade e na

transmissão de conhecimentos novos para todas as pessoas, independente da

origem social, faixa etária ou grau de instrução, envolvendo-as no fazer o novo)

entre os mais diversos profissionais, pertencentes a diversas classes

socioeconômicas e culturais, em uma construção de conhecimento de si (da sua

voz, de cada um, do seu aparelho fonador) e da realização da produção vocal em

conjunto, culminando no prazer estético e na alegria de cada execução com

qualidade e reconhecimentos mútuos, enquanto fazedores de arte e apreciados

por tal, por exemplo, em apresentações públicas. Além disso, os conhecimentos

adquiridos pelos integrantes do coral influenciam na apresentação artística e na

motivação pessoal de cada um, independentemente de sua faixa etária ou de seu

capital cultural, escolar ou social.

A partir da análise acima, podemos incluir o canto coral em um cenário de

qualidade de vida e equilíbrio social. Assim, após o cumprimento das

necessidades básicas e de segurança de dada população, a participação em

Page 7: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

7

atividades que promovam o aumento da auto-estima e do senso de auto-

realização constitui significativo aspecto da formação do indivíduo. Nessa

perspectiva, o canto coral auxilia a pessoa no seu crescimento pessoal e, a partir

de então, em sua motivação (AMATO NETO; AMATO, 2007).

O regente de um coral deve atuar com a perspectiva de realizar um trabalho

de educação musical dos integrantes do seu grupo. Para a condução de um

trabalho artístico que envolve um grupo diversificado como um coral faz-se

necessária a capacidade de estabelecer critérios, motivar cada um de seus

integrantes, liderá-los e levá-los a uma meta estabelecida. A partir desse processo

pode-se gerar e difundir conhecimentos musicais e vocais, estimulando a

propriocepção e o aumento da qualidade de vida dentro de uma comunidade no

que diz respeito a uma participação cultural, tornando-o participativo e sujeito na

sociedade.

A Organização das Nações Unidas – ONU, em 1999, preocupada com a

qualidade de vida da pessoa idosa declarou como o “Ano Internacional do Idoso”

cujo tema foi “Para uma sociedade de todas as idades”. Também foi criado no ano

de 1988 pela WLRA (leisure and Recreation Association) – Associação Mundial de

Lazer e Recreação, uma comissão para a terceira idade com o objetivo de criar

Programas de lazer, no intuito de incluir a pessoa idosa na sociedade,

desmistificando aquela antiga idéia de que o idoso, a partir de certa idade, não

serve mais pra nada.

Em virtude da falta de compreensão do lazer na terceira idade e a falta de

iniciativas para implementação de programas de lazer para os idosos, as decisões

da ONU e da WLRA, vem estimular a pesquisa e o estabelecimento de políticas

que irão melhorar a qualidade de vida dos idosos em diferentes contextos sociais

e culturais.

Com a preocupação aflorada na qualidade de vida da pessoa idosa e por

ser regente de coral é que surge a seguinte pergunta fundamental: Como a prática

pedagógica na formação de um coral para a terceira idade pode proporcionar a

ludicidade, a qualidade de vida e a inclusão social?

Page 8: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

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1.2 OBJETIVOS

1.2 Objetivo Geral

Descrever os principais fatores e aplicar técnicas vocais no canto, que

contribuam com a Ludicidade, Qualidade de vida e Inclusão Social no processo

pedagógico na formação de um Coral.

1.2.1 Objetivos Específicos

� Aplicar técnicas vocais para o canto coral para desempenho no estudo do

repertório.

� Relacionar as atividades prioritárias da técnica vocal de forma lúdica as

quais proporcionam saudabilidade e qualidade de vida aos integrantes.

� Identificar a ludicidade, a qualidade de vida e a inclusão social dos

integrantes por meio das vivências pedagógicas.

1.3 JUSTIFICATIVA

Devido a uma grande experiência com o tema Canto, por meio da

participação no Coral do Povo, da Fundação Demócrito Rocha na cidade de

Fortaleza - CE, no período de 1985 a 1992, quando tive a oportunidade de

ingressar no Projeto Ópera Nordestina da Universidade Federal do Ceará que teve

como ideologista o Sopranista Lírico Internacional Paulo Abel do Nascimento com

o qual estudei teoria musical, regência e técnica vocal. Por isso o grande interesse

em defender essa monografia da terceira idade por meio da prática do canto. O

Curso de Tecnologia em Lazer e Qualidade de Vida no IFRN – Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, onde conclui a

graduação, me deu bastante prática na elaboração de projetos sociais na área

cultural ampliando assim, um trabalho de pesquisa. Na Graduação estudei

Page 9: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

9

disciplinas como “Lazer e Inclusão Social”, “Princípios Básicos da Qualidade de

Vida”, “Elemento Lúdico da Cultura”, dentre outras que me deram embasamento

teórico para avançar no estudo que se propõe. Por isso, o grande interesse em

defender e elaborar um Projeto Social com o Canto Coral no IFRN no Programa

Saúde e Cidadania na Melhor Idade no qual o pragmatismo pedagógico Nesse

sentido o grande interesse em defender pedagógica na formação de um coral.

Segundo Maia (2007) os saberes que ora devemos nos preocupar ocorrem

no contexto de um mundo organizado por instâncias individuais, coletivas e

institucionais, no qual os sujeitos que interagem são heterogêneos. As três

instâncias se diferenciam pelos seus atos, dando sentido ao mundo e subsidiando

a rede do conhecimento, como uma multiplicidade de instâncias em articulações

dinâmicas e complexas. Compreender a construção de saberes nesse novo

cenário plurisensual do conhecimento, o qual poderá se preocupar com o jogo

entre as certezas e as incertezas que vão acontecendo no decorrer das mudanças

que a vida nos vai apresentando é uma arte vislumbrada e tentada por poucos.

O estudo tem uma grande relevância acadêmica por ser um tema bem

divergente dos explorados dando uma contribuição para o acervo bibliográfico na

área de Lazer e Qualidade de Vida, como também da Inclusão Social

Era bastante comum caracterizar o idoso com estereotipo de inútil, de uma

ferramenta descartada das suas atribuições como cidadão, na construção de uma

sociedade mais inclusiva no que diz respeito ao ser humano. Por isso as técnicas

trabalhadas no canto trazem melhorias na qualidade de vida dos atores do Projeto

Saúde e Cidadania na Melhor Idade do IFRN, fortalecendo assim as atividades

desenvolvidas no Programa.

A experiência com o Canto Coral é de uma grande relevância pessoal

podendo-se fazer a relação do aprendizado antes do ingresso no Curso com a

aplicação desse aprendizado numa nova visão como profissional de Lazer e

qualidade de vida.

Nesse sentido é que se faz necessário pensar no Programa Saúde e

Cidadania da Melhor Idade um indivíduo que constrói o conhecimento através de

interações que ocorrem entre a cultura e o pensamento e, dessa forma, resgatar a

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visão de contexto social revelando que os indivíduos são o que são dentro de

determinados contextos, podendo e devendo ser compreendidos a partir de suas

conexões e de suas relações com a sua realidade contextual. Isso implica em que

a Educação/Estado/Sociedade promova o respeito às diferenças, à diversidade

entre os seres, às variações culturais e aos diferentes processos de

desenvolvimento humano. Ressaltam-se nesses processos, alguns aspectos

relevantes, dentre eles a interconectividade dos problemas educacionais

existentes em nosso País e especificamente em nossa cidade, a reintegração do

sujeito da terceira idade no processo de construção do conhecimento, sendo este

algo que está sempre em processo de vir-a-ser. Ampliando ainda a nossa

compreensão ao esclarecer a existência de transitoriedade, da criatividade

presente nos processos da natureza e sua importância para a evolução da

humanidade.

1.4 METODOLOGIA

1.4.1 Caracterização da Pesquisa.

A caracterização da pesquisa deu-se através de observações de

modalidades culturais no sentido do Canto Coral e outras atividades, de lazer,

paralelas desenvolvidas no projeto da terceira idade do IFRN, onde se

desencadeia palestras de ordem referente ao tema citado. Busca de

apresentações nos locais populares da cidade como escolas, creches, instituições

filantrópicas etc.

Pesquisa descritiva do tipo pesquisa ação, na qual o pesquisador interage

diretamente com o grupo pesquisado e se pauta numa dimensão interventiva – na

produção de recursos adequados ao canto, no encontro com os atores envolvidos

e criação do diário de campo; formativa – capacitação do pesquisador e dos

atores da pesquisa na operacionalização do conhecimento técnico do canto;

dimensão investigativa - levantamento da realidade do conhecimento que os

atores tem do canto, estudo sobre as preferências dos atores e a coleta sobre

estratégias e técnicas adotadas.

Page 11: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

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1.4.2 População e Amostra

A população a que se destinou este estudo são as pessoas da terceira

idade que estão inseridas no Projeto da Cidadania da Terceira Idade do IFRN.

Dentre as pessoas do Projeto da Cidadania da Terceira Idade do IFRN,

foram escolhidos 30 pessoas, 7 homens e 23 mulheres. Os mesmos foram

selecionados de forma inclusiva e aleatória, estando aberto a participação de

qualquer membro do Projeto, basta haver interesse e querer participar, isso é que

chamamos de forma aleatória e a forma inclusiva é qualquer integrante do Projeto

seja de qualquer raça, etnia, tenha voz afinada ou desafinada é aceito no Grupo

do Coral, pois tenho a responsabilidade de ensinar a cantar até fazer

apresentações em público. A minha formação de Técnica vocal pela UFC –

Universidade Federal do Ceará, me deu aprendizado profissional, para que eu

possa fazer um Coral de todas as modalidades: Infantil, juvenil,adulto e terceira

idade, basta para cada modalidade, eu faça um planejamento pedagógico para ter

um bom êxito.

1.4.3 Instrumento de pesquisa

Avaliações através de discussões e das observações com o diário de

campo, observação participante e entrevista semi-estruturada.

1.4.4 Análise e discussão dos resultados

Os dados foram analisados de forma qualitativa por meio das entrevistas

disponibilizadas e o diário de campo nos quais foram discutidos com o referencial

teórico abordado ao longo do estudo.

Page 12: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 TERCEIRA IDADE E EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Educação inclusiva é o processo de adequação da escola para que todos

os alunos possam receber uma educação de qualidade, cada um a partir da

realidade com que chega à escola, independentemente de raça, etnia, gênero,

situação sócio econômica, deficiências à realidade do alunado que, por sua vez,

deve representar toda a diversidade humana. É a escola que deve ser capaz de

acolher todo tipo de aluno e de lhe oferecer uma educação de qualidade, ou seja,

respostas educativas compatíveis com as suas habilidades, necessidades e

expectativas. Nenhum tipo de aluno poderá ser rejeitado pelas escolas. As escolas

passam a ser chamadas inclusivas no momento em que decidem aprender com os

alunos o que deve ser eliminado, modificado, substituído ou acrescentado nas seis

áreas de acessibilidade, a fim de que cada aluno possa aprender pelo seu estilo

de aprendizagem e com o uso de todas as suas múltiplas inteligências.

As escolas passam a ser chamadas inclusivas no momento em que

decidem aprender com os alunos o que deve ser eliminado, modificado,

substituído ou acrescentado nas seis áreas de acessibilidade, a fim de que cada

aluno possa aprender pelo seu estilo de aprendizagem e com o uso de todas as

suas múltiplas inteligências. As seis áreas de acessibilidade são: arquitetônica

(desobstrução de barreiras ambientais), atitudinal (prevenção e eliminação de

preconceitos, estigmas, estereótipos, discriminações), comunicacional (adequação

de códigos e sinais às necessidades especiais), metodológica (adequação de

técnicas, teorias, abordagens, métodos), instrumental (adaptação de materiais,

aparelhos, equipamentos, utensílios, tecnologias assistivas) e programática

(eliminação de barreiras invisíveis existentes nas políticas, normas, portarias, leis

e outros instrumentos afins

O envelhecimento populacional vem se constituindo uma preocupação

emergente na agenda de inúmeros governantes. Ouvimos com freqüência que o

Page 13: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

13

Brasil não é mais um país jovem. Os idosos representavam apenas 3,2% da

população geral de 1900 e 4,7% em 1960, poderão atingir 13,8% no ano de 2025.

No período de 1960 a 2025, espera-se que o crescimento da população idosa seja

de 917% enquanto que o ritmo de aumento da população total deverá cair para

250%. Hoje, temos aproximadamente 11 milhões de pessoas com mais de 60

anos (idosos), e projeções indicam que seremos o 6o.País do mundo em número

de idosos no ano de 2020, com aproximadamente 32 milhões (WORLD HEALTH

STASTISTICS).

Considerando o rápido e acelerado aumento da população idosa, talvez o

país não tenha tido tempo suficiente para se preparar para lidar de modo

adequado com as demandas dessa população. Embora sejam situações já

conhecidas e previsíveis, tais como preconceito, marginalização social, pobreza,

abandono, doenças, incapacidades e baixa qualidade de vida, inexistem ainda

políticas efetivas para essa clientela.

Diante deste contexto do envelhecimento nacional os docentes da área da

saúde, se preocupam com a situação da realidade profissional, o "cuidar do idoso"

nos diferentes espaços de atuação, dos cuidados integrais desse contingente,

restaurando a importância das pessoas idosas para a sociedade, fazendo com

que a velhice seja marcada pela “vida, dignidade e esperança”. E é por isso que

buscamos, por meio de uma atuação multidisciplinar, uma prática voltada para a

atenção e qualidade de vida do idoso no contexto social.

Ao longo da existência humana, os homens procuram entender o sentido

da própria vida e os mistérios da morte. Nesse processo está incluída a chegada

da velhice, quando acontece o enfraquecimento das forças e o aumento da

necessidade de apoio familiar e social.

Algumas civilizações lidam com a questão de forma amena, outras não. O

certo é que a vida longa traz conseqüências, principalmente numa sociedade que

idolatra a juventude, na qual “ser velho” significa estar envolvido num universo de

preconceito e exclusão.

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O que é ser velho? Velho não é apenas aquele que “conseguiu” viver mais,

mas aquele que teve possibilidade de vivenciar mais desejos e sonhos e aprendeu

com isso, o que o torna doutor em vida. Talvez, essa seja a inveja dos jovens, ao

designar essa faixa etária de forma pejorativa.

A velhice pode ser compreendida como um destino do homem. Nela ocorre

o declínio do funcionamento físico e mental do ser humano, que acontece em

diferentes proporções e varia de pessoa para pessoa. É muito mais um fenômeno

psicossocial do que um momento cronobiológico da vida. O dinamismo joga,

nesse sentido, um papel decisivo para que a velhice possa ser entendida com

uma redução aceitável dessa mobilidade e/ou uma abertura para infinitas

possibilidades de novos horizontes.

Salvo exceções, todos nascem com saúde. Manter essa condição, através

de hábitos saudáveis como uma boa alimentação, atividade física regular, um

trabalho prazeroso, boas relações afetivas e de lazer freqüentes deveria ser

compromisso de todos.

Inúmeras são as definições de velhice, mas preferimos listar somente duas,

sobre as quais idealizamos a filosofia deste programa: “É fase da incerteza do

futuro, do medo da morte. É a diminuição da vitalidade das forças físicas e das

aptidões, carência que obriga a pessoa a adotar definitivamente um outro ritmo de

vida” (D’EPINAY, 1984 p. 461); “é a fase da existência diferente da juventude e da

maturidade, mas dotada de um equilíbrio próprio, deixando aberta ao indivíduo

uma ampla gama de possibilidades” (BEAUVOIR, 1970 p.300).

Além disso, a procura por certos tipos de lazer também é um reflexo de

certas tendências que podem influenciar somente um grupo etário ou somente

certo segmentos de um grupo etário.

Ao longo da história muitas imagens do processo de envelhecimento e dos

idosos têm estado presentes na literatura, nas artes, no cinema e na mídia.

Geralmente, essas imagens são mais negativas do que positivas, por causa dos

exemplos radicais de idosos descritos como fracos e dependentes, algumas vezes

com um traço de ironia, ou seja, a terceira idade é freqüentemente retratada como

Page 15: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

15

um período no qual a doença, a dependência, a solidão, a pobreza, a fraqueza

tanto cognitiva como física e o isolamento prevalecem. Essas imagens negativas

da terceira idade são aceitas não somente pelos idosos, mas também pela mídia e

pela população em geral.

Para desenvolvermos e colocarmos em prática, programas e políticas de

lazer eficientes para a Terceira Idade é necessário compreender as estruturas de

idade atual e projetada de uma sociedade e de uma comunidade. É de

conhecimento de todos que a expectativa de vida está aumentando, que as taxas

de fertilidade estão decaindo, que as populações estão envelhecendo e que as

proporções de idosos, comparada a outros grupos etários, estão crescendo em

muitas sociedades.

A busca por atividades de lazer durante o curso da vida é geralmente

caracterizada tanto pela continuidade quanto pela mudança, por um tipo

específico de lazer.

No decorrer de nossas vidas, adquirimos um repertório de habilidades e

atividades de lazer, sendo que todas podem ter significados e graus diferentes de

importância em nossa história pessoal em determinado estágio da vida. Se

adquirirmos certas habilidades específicas, ou mesmo se uma habilidade ou

atividade se torna significativa na vida de uma pessoa ou de um grupo etário, isso

depende de normas culturais e de fatores sócio-demográficos como sexo, raça

etnia, lugar de residência, do custo da atividade, do clima e da qualidade da

comunidade, assim como da disponibilidade de instalações físicas, programas e

condições favoráveis de transporte e em grupo podem mudar em razão de

mudanças nas preferências, nas limitações, nas habilidades, na saúde e nos

valores culturais.

Não obstante, também há consistência e continuidade em muitos interesses

relacionados a atividades de lazer a participação e a intensidade possam mudar

em diferentes estágios. Por exemplo, uma pessoa que durante toda a vida foi uma

ardorosa fã de ópera pode assistir a um número menor de concertos de ópera à

medida que vai envelhecendo, mas seu interesse por ópera vai continuar a existir

e vai ser expresso e vivido quando escutar óperas no rádio ou em CDs.

Page 16: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

16

Além disso, a adoção de um tipo específico de um estágio da vida pode

persistir por toda a vida, mas ser expressa de maneiras diferentes.

No próximo milênio, seremos parte de uma sociedade global que será a

maior e mais longeva de toda a história da humanidade. Com uma população

projetada de um bilhão de idosos, de 60 anos ou mais, para o ano 2025, as

sociedades devem preparar-se para essa mudança demográfica que vai introduzir

diferentes necessidades e desafios nas regiões desenvolvidas versus região em

desenvolvimento. Em 2025, enquanto 25% da população total dos países

desenvolvidos vão atingirem 60 anos de idade ou mais, somente 12% da

população dos países em desenvolvimento vão atingir mais de 70 anos. E essa

última porcentagem pode representar aproximadamente 860 milhões de pessoas,

quase que 71% da população mundial de idosos. (BARRY, 2000)

Segundo Comênio (1985) a idéia de qualidade de vida parece ser um

acontecimento novo surgido no final do século XX. Para contestar essa hipótese,

basta a lembrança da Didática Magna, de Comênio, quando demonstrava a

vinculação entre saúde, higiene educação no sentido de estabelecer fundamentos

para o prolongamento da vida. Nessa obra, o autor enaltece que prolongar a vida

está relacionado ao sentido de uso ou utilização que fazemos da vida, quando

mostra que, se soubermos fazer bom uso da nossa vida, ela será longa ou

suficiente; da mesma forma, se a gastarmos de forma perdulária, ela será curta e

insuficiente. Ao que tudo indica, Comênio (1985) estava mais preocupado com o

destino que atribuímos à nossa vida do que com sua duração em anos. Também

era sua preocupação o cuidado com a vida em decorrência de problemas que

poderiam acarretar perdas para o portador dessa vida ou a seus descendentes.

Como se vê, já nessa época identificou um movimento pela saúde, pela qualidade

de vida, e os problemas e riscos decorrentes dos excessos cometidos contra o

corpo. Sem dúvida podemos chamar a isso de preocupação com a “qualidade de

vida” – e podemos constatar que esta inquietação já não é tão recente.

No entanto, fazendo um contraponto com o pensamento de Comênio,

identificamos que nas propostas de qualidade de vida de nosso tempo atual o

sentido de prolongar a vida é um valor por si só, descartando-se as preocupações 9

Page 17: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

17

sobre como usamos essa vida. O prolongar da vida é um valor biologicamente

desejável, posto como um valor cultural. Prolongar a vida hoje torna absoluta a

cronologia, traduzida como longevidade e esperança de vida, e a falta de cuidados

para atingir esse fim é alertada por campanhas contra seus riscos, pelo valor

negativo para as finanças públicas nos gastos com saúde. Não faz parte da

preocupação atual do movimento da qualidade de vida o que cada um deve fazer

com sua própria vida, bem como na relação que cada um estabelece com a vida

de seus semelhantes, quando beneficiado com o aumento dos anos que deverá

viver.

A indagação a ser feita desse momento é aumentar o tempo de duração da

vida por que e para que? Como apenas um exemplo dessa preocupação,

lembramos Simões (1994), quando seus escritos sobre a terceira idade já fazem

referências elucidativas a esse respeito, ao afirmar que as ciências biológicas

procuram de várias maneiras, prolongar a vida dos indivíduos. No entanto,

também menciona que, embora o desenvolvimento científico esteja contribuindo

para prolongar a vida dos indivíduos, socialmente, aqueles que chegam a vida

avançada sofrem vários preconceitos, como o de serem pessoas irrelevantes, de

representarem algo menos que o adulto, de serem tratados com desprezo pelas

políticas públicas, condenando-os muitas vezes ao isolamento.

2.2 QUALIDADE DE VIDA E LUDICIDADE

No mundo das idéias de hoje, está disseminado o trato com a chamada

“qualidade de vida”, em todas as áreas do saber, parecendo ser essa a nova

panacéia para os males da humanidade. Vemos textos sobre o assunto em

propostas para: uma “filosofia alternativa”; um “novo tratamento ou novo recurso

terapêutico”; “formas emergentes de atividades físicas” ou mesmo de “exercícios

mentais de relaxamento”; facilitar o “contato com energias místicas”; ajude-se com

“novos manuais de auto ajuda”, dentre outros, sempre para melhorar a vida do

cidadão neste planeta, assumido como um lugar inóspito.”Naturalmente”

complicado para a vida em comunicação e em comunhão social.

Page 18: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

18

A maioria dessas propostas, visando à busca da qualidade de vida, parte

do princípio de que, alterando-se as estratégias daquilo que é feito, ou alterando-

se alguns critérios que balizam ações no dia a dia, será possível reverter o quadro

da desqualificação da vida atual e, como num passe de mágica ou de posse de

um poder revelador, estaremos desfrutando de vida qualificada. Assim, parece-

nos, numa primeira análise, que essas propostas são portadoras de idealismos

positivistas históricos, tentando mais uma vez afirmar que os meios (técnicas ou

procedimentos metodológicos) podem alterar ou até mesmo transformar os fins

(atitudes incorporadas ao longo dos tempos). Isso tudo sem nos esquecermos de

que muito dessas propostas tem como suporte a “qualidade em educação”, a

“qualidade da eficiência do e no trabalho”, a qualidade dos serviços prestados ao

consumidor que ele esteja na escola, na linha de produção ou na linha de

consumo de bens materiais, apontando claramente para o valor mercantil das

propostas, pois elas são destinadas aos que tem o poder da aquisição.

Evitar equívocos é uma das funções do pensar acadêmico, o que nos

motiva a produzir algum alerta apresentado por Morin citado por Moreira (2001)

aos colegas que estão empenhados na produção de conhecimento.

Observação que gostaríamos de fazer sobre o tema qualidade de vida é a

de que não se pode pensar de forma linear preconizada pelo paradigma

cartesiano, pois nesse caso, podemos prever um futuro de uma vida com

qualidade calcado na tecnocracia, como destaca Morin (1996):

A furologia dos anos 60 colocava que o passado era por demais conhecido e que a base de nossas sociedades era estável, considerando que, nessas bases seguras, o futuro se forjava no e pelo desenvolvimento das tendências dominantes da economia, da técnica, da ciência (...) Mas, na realidade, os futurólogos edificaram um futuro imaginário a partir de um presente abstrato. Um pseudopresente alimentado à base de hormônios substituiu-lhes o futuro. As ferramentas grosseiras, mutiladas, mutilantes, que lhes permitem perceber, conceber o real, cegaram-nos não só para o imprevisível, mas também para o previsível. Não posso resistir ao prazer de citar de novo p especialista dos especialistas. Robert Gibrat, presidente das Sociétés statistiques de France:”Os especialistas têm se enganado regulamente aos vinte anos “ (...) Isso porque, aqui, ainda e principalmente, para conseguir o devir histórico é preciso substituir por uma concepção complexa a concepção simplista reinante (p.307).

Page 19: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

19

A concepção complexa proclama que o passado é construído do presente,

e a seleção histórica do passado é feita pelo observador no presente com os olhos

desse observador. Assim o passado toma o seu sentido a partir de uma

abordagem posterior que lhe dá o sentido da história.

Da mesma forma, o futuro nasce do presente, o que já nos coloca adiante

de problema: é difícil pensar o presente. Se estivermos cegos no presente,

teremos que “perspectivar” um futuro às cegas.

O tema de qualidade de vida é presente, e pensá-lo para o futuro, com

base nas perspectivas do presente, requer pensá-lo na pluralidade de

perspectivas do presente. As perspectivas do presente são necessárias para as

prospectivas futuras. Assim, “o jogo do devir é de uma prodigiosa complexidade”.

O Tema qualidade de vida, assim encarado, faz-nos lembrar que foi

considerado um século de progressos, de desenvolvimentos, de grandes

descobertas, mas, ao mesmo tempo, foi um século de convulsões, de horrores, de

holocausto, de guerras mundiais. O desenvolvimento trouxe consigo o

subdesenvolvimento; o progresso foi experimentado e, com ele, as regressões.

Vivenciou-se, nesse período, o verdadeiro significado de crise, quando os perigos

conviveram com as oportunidades de mudança.

Quando adentramos a análise do que significa qualidade de vida,

necessitamos realizar essa tarefa dentro do pensamento complexo, dentro das

incertezas, dentro dos avanços e dos retrocessos, sabendo dos ganhos e das

perdas, pois isso qualificará nossas idéias críticas. A crise do presente não é para

ser negada nem para ser enfrentada como se possuíssemos apenas duas opções

para a solução do problema. A crise do presente é para ser superada, daí a

necessidade de associarmos as noções de crise, evolução, revolução, regressão,

em vez de escolhermos uma, abandonando as outras.

Qualidade de vida significa vivenciar tudo isso ao mesmo tempo, motivo

suficiente para realizarmos propostas, em qualquer área do conhecimento

humano, que levem em consideração a interdependência de ver, perceber,

Page 20: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

20

conceber e pensar. Isso só é possível por meio do conhecimento complexo, pois

este reconhece os limites do próprio ato de conhecer.

A essência da atividade lúdica, a priore, se desvendou com suas raízes na

dimensão histórica e cultural da produção coletiva dos homens vivendo em

sociedade, hoje sabemos que o lúdico se constitui no ato criativo de afastamento

da realidade para a proximidade da fantasia, da liberdade e da alegria.

Em determinados períodos da história o lúdico da música foi utilizado como

forma de alienação para ocultar certos desígnios políticos ou sociais, porém, de

acordo com os estudos, conclui-se que a civilização tem suas raízes no jogo lúdico

e, portanto só conseguiremos a plenitude da dignidade e estilo com a utilização

correta desse elemento.

Para existir uma força de cultura autêntica é necessário que o elemento

lúdico seja puro, que ele não sirva de máscara para esconder normas ditadas pela

razão, pela humanidade ou pela fé.

Segundo a concepção teórica de Vygotsky (1991), pode-se inferir que o

comportamento humano não é uma doação, nem decorrente de um processo

biológico hegemônico, mas resulta de um processo de inter-relação entre fatores

internos e externos, construção humana sistemática e permanente que ocorre

para atender às necessidades com as quais o homem se depara em todos os

momentos históricos.

Talvez, a necessidade mais marcante e presente desde os tempos mais

remotos até a contemporaneidade seja a necessidade de criar e vivenciar uma

cultura que proporcione um bem-estar e uma atmosfera propícia para a

integração. Pois hoje, mais do que nunca, no mundo moderno, se faz necessário

que os cidadãos tenham uma força cultural, que por sinal, ainda lhe sirva como

instrumento de lazer para a vivência do lúdico e para o relaxamento dos conflitos.

Contudo, a música também tem o seu papel profissional na sociedade

capitalista, onde leigos e estudiosos que adquirem vasto conhecimento sobre o

mundo físico e o homem, além de um conjunto de matérias relacionadas às

humanidades, buscam remunerações por atuações profissionais.

Page 21: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

21

Segundo Barcellos apud Morais (1998), no processo de urbanização e

profissionalização, em que se vive hoje, há uma nítida separação dos campos do

trabalho e do lazer. A ruptura lazer/trabalho tem significado o ocultamento e

desvalorização do lúdico, uma vez que a sociedade só valoriza a utilidade, ou

seja, o produto que dá lucro.

Segundo Maia (2005), a sociedade contemporânea o homem passa grande

parte de sua vida trabalhando e tentando chegar em algum lugar no mundo do

trabalho primeiro do que o outro, como se fosse uma atitude de gênio. Tornando-

se um funcionário exemplar e comprometido com a empresa, submetido ao chefe,

como um verdadeiro esquizofrênico, porque o apogeu de um homem e sua

dignidade passa pela conquista do trabalho. Nas palavras de Lafargue (2000, p.

11):

Essa idéia aparece em quase todos os mitos que narram a origem das sociedades humanas como efeito de um crime cuja punição será a necessidade de trabalhar para viver. Ela também aparece nas sociedades escravistas antigas, como a grega e a romana, cujos poetas e filósofos não se cansam de proclamar o ócio um valor indispensável para a vida livre e feliz, para o exercício da nobre atividade da política, para o cultivo do espírito (pelas letras, artes e ciências) e para o cuidado com o vigor e a beleza do corpo (pela ginástica, dança e arte militar), vendo o trabalho como pena que cabe aos escravos e desonra que cai sobre homens livres pobres.

Parte dessas mudanças paradigmáticas nas relações de trabalho se dá

pela transformação da operação manual em tecnologias sofisticadas para atender

aos investimentos e as exigências do mercado, ou seja, passa-se da simplicidade

à complexidade.

Esse marco tecnológico foi característica do século XX com o crescimento

demográfico, pelo progresso tecnológico, pela excitante vitalidade, pela grande

expansão da classe média, pela profunda reestruturação dos conceitos de tempo

e espaço, então modificados pela difusão do relógio, da bússola e da escrita, hoje

modificada pelos meios de transportes velozes, pelos meios de comunicação de

massa, pelo computador e as redes informáticas.

Aliado a isso, conforme Morais (1998, p.158):

Page 22: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

22

Certamente que ninguém nunca desejou a sordidez, a feiúra ou a falta de sentido. Se FREUD esteve certo ao afirmar que somos todos vitalmente fascinados pela busca do prazer (princípio do prazer), ou bem antes de FREUD esteve certo ARISTÓTELES ao ponderar que a vida humana é uma caminhada constante à procura da felicidade, ninguém pode ter planejado e desejado construir a própria infelicidade do atual ambiente, que caracteriza a tecnologia científica. No entanto todos fomos contribuindo para a construção de um ambiente feio, freqüentemente sórdido, e para a instalação de um modo de viver vazio e desorientado.

Contudo, a manifestação musical ainda serve ao homem, no geral, na

medida em que atende às suas necessidades como ser social vale dizer, cultural.

A música como cultura toma, em cada momento histórico, uma dimensão

diferente na vida do homem, em razão não só de suas condições, mas de suas

necessidades e capacidades. Portanto, a música só pode ser compreendida por

meio do sentido a ela conferido pelo homem, como sujeito do processo cultural, o

que constitui a face subjetiva da cultura.

A música como arte se exprime por meio de sons seguindo regras e

variações conforme a época e a civilização, constituindo assim, em elemento de

uma cultura que se situa em tempos e espaços historicamente determinados.

Percebe-se que para um entendimento concreto do contexto histórico-

cultural da música é necessário primeiro considerar que a arte musical e seus

objetivos estão presentes na sociedade desde os tempos mais remotos e sobrevive

até os dias atuais como fonte de suprimento das várias necessidades humanas,

inclusive a necessidade do lúdico.

2.3 TÉCNICAS BÁSICAS DE REGÊNCIA CORAL

Para a formação de um coral existe uma metodologia pedagógica onde,

segundo Zander (1979), a mesma facilita bastante o aprendizado e

desenvolvimento musical do coralista. È de grande importância o regente ter uma

formação de regência e técnica vocal, para um bom desempenho das atividades

no que diz respeito da formação de um coral ou um grupo vocal.

Page 23: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

23

• Conceituação geral: Regência vem da palavra em latim – dirijo – que significa

dirigir, ordenar. Em música significa dirigir, conduzir um grupo de executantes,

músicos ou cantores, guiada pelos gestos das mãos, do corpo e, até certo

ponto por expressões fisionômicas.

• Condições fundamentais: ter talento e liderança de grupo

� Fundamentos psicológicos: regente se realiza através de sua vivência emotiva

no seu ambiente natural, que é o seu conjunto, os solistas e o grupo vocal.

� O regente como formador e educador de seu grupo: o importante não é só

cantar, mas, o como cantar e também o por quê cantar. O principal papel do

regente é o de recriar a obra de arte e reapresentá-la seguindo os níveis de

preparo do grupo que a recriou.

� A importância do canto coral na sociedade: é uma atividade que além de

proporcionar a educação musical também integra as pessoas direcionando-as

para um mesmo objetivo que só é alcançado a base de paciência,

determinação nos ensaios e o resultado são pura harmonia, como se expressa

na foto abaixo.

� A Técnica da regência: tipos de regência:

a) Regência Coral - O regente coral convive mais com o seu grupo. Esta

convivência já começa pela formação da voz. Os ensaios corais têm um caráter

mais íntimo e subjetivo;

b) Regência Orquestral – A orquestra é um conjunto mais neutro em

relação ao regente. Ele tem menos contato com os músicos, daí a regência

orquestral ser mais impessoal mais abstrato e objetivo.

• Os tipos de marcação:

1 – Marcação rítmica ( gregoriana) – Consiste no movimento das mãos do

regente que deverão indicar todo o desenrolar do canto. Esta é a técnicas mais

orgânicas, naturais e lógicas.

2 - Marcação da pulsação da unidade – Consiste num movimento ascendente

e descendente da mão , como se fosse um metrômono, dando a pulsação

normal e constante que deverá guiar a execução da música.

Page 24: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

24

3 – Marcação métrica – a marcação métrica é a que indica os tempos do

compasso e é a mais freqüente.

• Os diferentes tipos de marcação de compassos simples:

1- Compasso binário 2 / 4 .

2- Compasso ternário 3 / 4 .

3- Compasso quaternário 4 / 4

� A empostação e a técnica da respiração

1- A respiração diafragmática – a) Voz falada; b) Voz cantada

2- A respiração completa – exercício diário para a oxigenação e purificação do

sangue além de aumentar a capacidade de ar dos pulmões

� A afinação

a) A técnica de passar a afinação para o coro

� O ouvido absoluto ou o relativo

� O arpejo de acordes nas posições fundamental, 1º e 2

inversão

� Exercícios de intervalos partindo do lá (diapasão)

b) As causas musicais da desafinação

� Falta de ouvido musical de alguns componentes.

� A falta de capacidade do regente em saber manter a

afinação através dos gestos e da entonação.

� O ambiente onde o coro canta que pode acusticamente, ser

pesado e fazer o coro baixar.

� Outros fatores que são impertinentes à maneira de ensaiar o

coro

� AS VÁRIAS FORMAÇÕES CORAIS (Disposições dos coralistas no palco)

Deve ser observado o fator técnico da regência, o fator acústico, humano e a

estrutura das vozes na composição coral.

Page 25: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

25

� A ESCOLHA DO REPERTÓRIO.

a) A formação do regente

b) As características do coral

c) Os objetivos do coral

d) A escolha do repertório em função das características que envolvem

a apresentação (data comemorativa, ambiente, assistência etc).

� A ESTRUTURA DO PROGRAMA, A APRESENTAÇÃO NO CONCERTO:

a) Obedece geralmente a seqüência cronológica de criação das peças.

b) Os estilos – do Clássico para o regional e folclore.

c) Os andamentos – alternados com a tendência do encerramento com

a peça mais alegre.

2.4 EDUCAÇÃO INCLUSIVA

.

Já estamos bem adiantados, no que se diz respeito ao termo "Educação

Inclusiva". É importante que saibamos que já houve um processo evolutivo na

sociedade, no que diz respeito ao trinômio "segregação, exclusão social e inclusão

social.Como por exemplo:Na segregação, temos as colônias dos

leprosos,hospícios para loucos.Exclusão social, um passo a frente da segregação,

já existe tratamento para hanseníase, antiga lepra e as pessoas convivem

normalmente na sociedade, mas ainda existe grande preconceito.Inclusão social

A estrutura das sociedades, desde os seus primórdios, sempre inabilitou as

pessoas com necessidades especiais de deficiência, marginalizando-os e

privando-os de liberdade. Nos últimos anos, ações isoladas de educadores e de

pais têm promovido e implementado a inclusão, nas escolas, de pessoas com

algum tipo de deficiência ou necessidade especial, visando resgatar o respeito

humano e a dignidade, no sentido de possibilitar o pleno desenvolvimento e o

acesso a todos os recursos da sociedade por parte desse segmento.Movimentos

Page 26: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

26

nacionais e internacionais têm buscado o consenso para a formatação de uma

política de integração e de educação inclusiva.

Os constantes avanços da ciência e da tecnologia e de como estes vêm

modificando as formas de relações sociais até então conhecidas nos levam a

reforçar a o papel da escola e do fazer pedagógico que se vê comprometido com a

formação humana. Nesta perspectiva, a escola se constitui em um espaço

privilegiado para encontrar pessoas, para estabelecer relações de interação, para

desvelar a realidade e construir novos conhecimentos. A educação, na abordagem

histórico-cultural tem a função de contribuir para a integração social através da

apropriação da cultura e a função de construção da própria identidade do sujeito.

O termo “deficiência” significa uma restrição física, mental ou sensorial, de

natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou

mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente

econômico e social. O termo “Incluir” significa inserir, pôr, colocar para dentro,

compreender, tornar parte de..

A discussão sobre a educação inclusiva de alunos com deficiências ou com

necessidades educacionais especiais tem se intensificado nestas duas últimas

décadas no Brasil e no mundo, levando a uma reflexão sobre como a deficiência é

encarada e vivenciada no contexto escolar. Esta incursão exploratória no mundo

da “escola que procura ser inclusiva” tem sido inspirada na necessidade de nova

avaliação do ensino, sob a influência de transformações paradigmáticas que

defendem a educação de qualidade para todos.

Na cultura brasileira, os professores mostram-se mais preocupados em

atribuir notas ao desempenho dos alunos, como se a medida que expressa os

resultados fosse o mais importante aspecto da avaliação em vez de seu

significado e, principalmente, sua função. A avaliação é elemento do processo

ensino-aprendizagem e deve ter características que a tornem importante para

melhorar a qualidade do referido processo.

O projeto político-pedagógico é um instrumento técnico e político que orienta

as atividades da escola, delineando a proposta educacional e a especificidade

cação da organização e os recursos a serem disponibilizados para sua

Page 27: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

27

implementação. Uma escola que se propõe inclusiva necessita ter uma definição

operacional do processo de avaliação escolar do aluno com necessidades

especiais e das adaptações de acesso ao currículo, ou seja, eliminação de

barreiras arquitetônicas e metodológicas.

Entendemos que estas mudanças de concepções do educador favorecem o

repensar a sua prática pedagógica e, conseqüentemente, a transformação da

escola e da sociedade em relação ao respeito às diferenças. Dessa forma, parece-

nos evidente que a formação de educadores é essencial para que se viabilizem

novas concepções do ensinar e do aprender em um contexto inclusivo uma vez

que os educadores são os atores e autores das mesmas.

A inclusão é um processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir,

em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e,

simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade. A

inclusão social constitui então, um processo bilateral no qual as pessoas,ainda

excluídas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir

sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos. Para isso

pressupõe a modificação da sociedade como pré-requisito para a pessoa com

necessidades especiais buscar seu desenvolvimento e exercer a cidadania.

A educação de alunos com necessidades educacionais especiais inseridos

no ensino regular apresenta-se portanto, como proposta de mudança de

paradigma, na perspectiva social. Trata-se de um processo que contribui para a

construção de um novo tipo de sociedade através de transformações nos

ambientes físicos (espaço internos e externos, equipamentos aparelhos e

utensílios, mobiliário e meios de transporte) e na mentalidade das pessoas, com

ou sem deficiência

A escola deve ser capaz de atender seus alunos em suas especificidades e

singularidades e isso é válido para todos, não só para os que possuem algum

déficit. Todas as pessoas apresentam diferentes características, se sobressaem

em algumas áreas e apresentam dificuldade em outras, e isso precisa ser

respeitado e levado em conta na hora da aprendizagem e do convívio social.

Page 28: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

28

Sendo assim, os alunos que apresentam diferentes déficits, sejam eles

temporários ou crônicos, graves ou leves, devem ser inseridos no ensino regular.

Hoje, no Brasil, milhares de pessoas com algum tipo de deficiência estão

sendo discriminadas nas comunidades em que vivem ou sendo excluídas do

mercado de trabalho. O processo de exclusão social de pessoas com deficiência

ou alguma necessidade especial é tão antigo quanto a socialização do homem.

A estrutura das sociedades, desde os seus primórdios, sempre inabilitou as

pessoas com necessidades especiais, marginalizando-as e privando-as de

liberdade. Essas pessoas, sem respeito, sem atendimento, sem direitos, sempre

foram alvo de atitudes preconceituosas e ações impiedosas.A literatura clássica e

a história do homem refletem esse pensar discriminatório, pois é mais fácil prestar

atenção aos impedimentos e às aparências do que aos potenciais e capacidades

de tais pessoas.

Nos últimos anos, ações isoladas de educadores e de pais têm promovido e

implementado a inclusão, nas escolas, de pessoas com algum tipo de deficiência

ou necessidade especial, visando resgatar o respeito humano e a dignidade, no

sentido de possibilitar o pleno desenvolvimento e o acesso a todos os recursos da

sociedade por parte desse segmento. Movimentos nacionais e internacionais têm

buscado o consenso para a formatação de uma política de integração e de

educação inclusiva, sendo que o seu ápice foi a Conferência Mundial de Educação

Especial, que contou com a participação de 88 países e 25 organizações

internacionais,em assembléia geral, na cidade de Salamanca, na Espanha, em

junho de 1994.Este evento teve como culminância a “Declaração de Salamanca”,

da qual transcrevem-se, a seguir, pontos importantes, que devem servir de

reflexão e mudanças da realidade atual, tão discriminatória.

Acreditamos e Proclamamos que: - toda criança tem direito fundamental à

educação e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de

aprendizagem; - toda criança possui características, interesses, habilidades e

necessidades de aprendizagem que são únicas;- sistemas educacionais deveriam

ser designados e programas educacionais deveriam ser implementados no sentido

de se levar em conta a vasta diversidade de tais características e necessidades; -

Page 29: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

29

aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola

regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança,

capaz de satisfazer tais necessidades; - escolas regulares, que possuam tal

orientação inclusiva,constituem os meios mais eficazes de combater atitudes

discriminatórias, criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma

sociedade inclusiva e alcançando educação para todos.

Movido pela necessidade de fontes de análise sobre o lúdico, procuramos

elaborar esta pesquisa em que se encontram condensados aspectos

diversificados a cerca do processo cultural da música e sua relação com o lúdico.

A presente pesquisa traz como tema a musicalidade como manifestação

convincente do fenômeno lúdico. Entendemos, pois, que através da música, que

se constitui na relação de combinar a arte e a técnica na produção de sons de

maneira agradável ao ouvido, pode-se abstrair a harmonia e o prazer de infinitas

experiências lúdicas.

O caráter lúdico da música é ancestral na humanidade, ele serve aos

apreciadores dessa arte como fórmula estimulante e tocante ao espírito cultural.

Foi explorado nesse projeto o universo musical e cultural do Coral do

Projeto Saúde e Cidadania da Melhor Idade do IFRN

Este projeto oferece uma discussão sobre a música e sua construção

histórico-cultural, além de lúdico e prazer; o qual pode ser utilizado por pessoas de

diferentes áreas que desejem conhecer mais acerca do fenômeno lúdico e

desenvolver o seu maior potencial humano, a capacidade de sociabilidade e

comunicação.

Refiro-me à música não como uma simples atividade banal que proporciona

bem-estar, mas sim como uma manifestação direta de sentimentos e conflitos que

funcionam de maneira adequada e simbólica.

Já o lúdico é visto como forma de resgate da criatividade, da produção e da

função do homem na humanidade.

Page 30: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

30

Para Alves (1982, p.86),

“Através do lúdico, não se está perdendo uma evasão da realidade, mas, ao contrário, procura-se construir e recriar esta realidade, desistindo da lógica dominante do presente estado de coisas e tornando-se criativo”.

Dessa maneira surge uma grande expectativa a respeito do proveito deste

trabalho para a nossa sociedade. Esperamos, pois, que ele sirva de fonte de

inspiração para uma vivência mais constante do lúdico e do lazer que proporciona

a integração dos cidadãos e o bem-estar geral.

O lazer nos dias atuais se faz cada vez mais necessário, como forma de

desprendimento das tensões do cotidiano, além disso, a música é notada como

uma forma adequada e realmente lúdica para a prática do mesmo.

Estas considerações iniciais pretendem apenas situar dois dos elementos

chaves deste estudo, lançar algumas análises sobre a discussão conceitual

envolvendo o lúdico e a música, como elementos da cultura, e alguns

questionamentos sobre o lazer, enquanto espaço para a sua manifestação, na

nossa moderna sociedade urbano-industrial.

2.5 A MÚSICA E SUA RELAÇÃO COM A LUDICIDADE

Estudar o fenômeno lúdico em nossa sociedade parece uma atitude banal

por vê-lo como diversão, entretenimento, alegria e concebido como brinquedo,

jogo, brincadeira e festa, atividades desprovidas de utilidade para o sistema

capitalista em que se vive e que se permite um olhar vislumbrado ao dogma da

produtividade, furtando o lúdico de forma a impossibilitar a criatividade, alegria,

prazer, imaginação, sonhos, entre outras possibilidades.

Como retrata Santin (1994), num momento de entrega ao

imaginário e a realidade é o presente vivido, é como se estivesse vivendo no

mundo do brinquedo. É de uma vivência rica em conhecimento corporal, no qual a

fantasia tem seu lugar de honra que os homens da técnica perderam, ainda do

mesmo autor:

Page 31: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

31

[... o desaparecimento da ludicidade pode ser creditado a vários fatores. Primeiramente a idéia de rendimento traz em si mesma a obrigação da vitória e conseqüentemente dos resultados. O rendimento impõe a introdução de técnicas de treinamento para a melhoria da execução do gesto esportivo. Os treinamentos é uma preparação para o jogo. O impulso não exige nenhum ato preparatório..] (SANTIN, 1994, p. 27).

O comportamento lúdico que é vivenciado na música e na arte, como um

todo, atinge principalmente ao espírito humano, no tocante a sensibilidade e ao

prazer natural e artístico da expressividade de emoções e sentimentos. Ele se

apresenta como fator cultural de divertimento e arte que transcende o seu tempo e

torna-se patrimônio imortal de valor para a humanidade.

A música movimenta, mobiliza, e por isso contribui para a transformação e

para o desenvolvimento do homem. Cada um dos aspectos ou elementos da

música corresponde a um aspecto humano específico, ao qual o mobiliza com

exclusividade ou mais intensamente. O ritmo musical induz ao movimento corporal,

a melodia estimula a afetividade; a ordem ou a estrutura musical (na harmonia ou

na forma musical) contribui ativamente para a afirmação ou para a restauração da

ordem mental no homem.

Segundo Bruhns (1985), o traço identificador do humano é a separação

reflexiva em relação aos bens produzidos e a atribuição de significados a essa

produção. Os homens recriam o que criam, e faz isso como uma extensão da

consciência e não meramente do corpo, como os animais; o que lhes permite um

conhecer-se conhecendo através de uma construção social.

A música, pois, uma manifestação humana que se conserva intermediária

entre a atividade consciente das necessidades do espírito e atividade fisiológica,

atividades visceral, nervosa e muscular.

Conclui-se, portanto, que são várias as funções e finalidades da

musicalidade, porém o lúdico persiste na maior parte das expressões, fazendo com

que a consciência musical se torne aplicável à compreensão de cultura e de arte e

inspire o ato reflexivo.

Page 32: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

32

O comportamento lúdico não é herdado, é um comportamento adquirido

através do processo de aprendizagem, não só na escola, mas sim nos diferentes

contextos socioculturais.

O desenvolvimento do lúdico na humanidade foi e continua sendo uma

constante, na forma de um processo participativo e prazeroso no movimento

humanista e renovador.

A atividade do homem está, reconhecidamente, vinculada à construção de

significados que dão sentido à sua existência. A análise da cultura, pois, não pode

ficar restrita ao produto da atividade humana, mas tem que considerar também o

processo dessa produção. Assim, o lúdico, como componente da cultura, também

precisa ser visto dessa dupla perspectiva inter-relacionada: como produto e como

processo; enquanto conteúdo e enquanto forma.

Desse modo, as atividades artísticas, a música, a inspiração poética, o

comportamento moral, a organização política e outras formas de ação, como a

busca científica, totalizam as atividades humanas.

Porém, as formas de recepção e aceitação da música, enquanto atividade,

na nossa sociedade, é diversa e variam de acordo com a idade, com a educação e

o estado psicofísico de cada pessoa, assim as pessoas reagem mostrando maior

ou menor atração ou apetite pelo “alimento” sonoro que está ao seu alcance ou

que lhes é oferecido.

Contudo, fica explicito as diversas funções a que a música se propõe,

enquanto arte estimulante da liberdade e da sensibilidade; essas que são

características do sentido lúdico que rege todas as produções artísticas.

Todavia, fica claro que toda a manifestação humana é regida e comandada

pelo desejo maior do homem em ser e fazer a cultura, em detrimento de um

processo lúdico puro e transformador da realidade; para assim haver um

desenvolvimento ou crescimento deste na sociedade.

Na vivência lúdica a imaginação é aflorada e nesse momento o processo

criativo é vivenciado e de valor extremo, tendo em vista que a criatividade é uma

característica inerente à natureza humana, embora reconheça que a educação

atual venha inibindo esses processos. A criatividade e a capacidade de inovação

Page 33: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

33

evidenciam o potencial do indivíduo para mudar, para crescer e aprender ao longo

da vida. As capacidades de criar e inovar permite organizar e reorganizar

experiências ao longo da vida, recombinando-as para constituírem um novo

repertório existencial do indivíduo. A ampliação de oportunidade de ocorrência de

processo criativo e inovador, que facilita a compreensão de mudanças, tanto no

nível individual quanto coletivo.

Para Santin (1994) relata que o homem busca fundamentalmente a

plenitude de sua existência humana, ou seja, seu modo de ser. Engajar-se na

tarefa de humanização é seu desafio. Avanços e recuos, erros e acertos fazem

parte desse processo de humanização em diferentes narrativas históricas.

Sabendo que há grande dificuldade de avançar nessa reflexão, pelo fato de não

haver um ideal universal de humanização, um modelo único de existência

humana. O avanço científico e tecnológico tornou-se sinônimo do homem

civilizado, confundindo assim, o processo de humanização. O primeiro ponto que

esse processo deve tomar com o objetivo de resgatar o humano do homem é

proporcionar meios que levem o homem em direção a ele mesmo, como por

exemplo: encontro com o passado histórico, suas origens, valores culturais e suas

utopias.

A natureza lúdica do coral é notada como componente imprescindível e

indissociável para a realização completa do fenômeno cultural, que se expressa

através da arte musical.

Segundo Barcellos (2001), entender a cultura como algo dinâmico e

necessário à vida humana, permite uma análise concreta da manifestação lúdica,

verificando assim, a sua crescente desvalorização na nossa sociedade.

Nos dias atuais, com o presente processo de globalização percebe-se que

a ludicidade vem perdendo espaço para padrões, já estabelecido pela sociedade

capitalista, que impendem à criatividade e tornam as atividades culturais

uniformizadas, havendo dessa forma uma homogeneização da cultura.

O universo do coral é apenas um ambiente propício para a vivência do

lúdico, uma vez que podemos vivenciá-lo em diversos espaços e momentos do

nosso cotidiano.

Page 34: Ludicidade, Qualidade de Vida e Inclusão Social no Canto Coral

34

A vivência lúdica é dada por ações significativas praticadas por sujeitos

sociais, não sendo somente uma possibilidade de fuga da seriedade do cotidiano,

e sim como elemento constitutivo do homem dentro da própria sociedade,

“Um dos espaços possíveis para a recuperação do lúdico está nas atividades de lazer, uma vez que estas constituem um dos canais possíveis de transformação moral e cultural da sociedade, sendo, assim, instrumento de mudanças, mas instrumentos que podem ser acionados qualquer que seja a ordem social dominante” (MARCELLINO, 1995).

A nossa vida cotidiana necessita de dimensões que favoreçam a vivência

de atividades que estimulem o divertimento e o desenvolvimento da personalidade

e da sociabilidade, sendo assim o coral se enquadra nessa perspectiva na medida

em que se revela como um projeto coletivo, que favorece a comunicação, ao

relaxamento das tensões e principalmente, ao desenvolvimento do espírito cultural

para,

“Reencontrar o lúdico, entender o seu valor revolucionário torna-se imperativo se se deseja preservar os valores humanos no homem. Da mesma forma, através dele podemos resgatar a criatividade, ousando experienciar o novo, acordar do estado vegetativo, improdutivo, disfuncional do corpo ou da mente e escolher tornar-se homem, resistindo às experiências de vida desumanizantes; acreditando em si, em suas idéias, sonhos e visões, elementos, entre outros, percebidos como intrínsecos dos homens e da humanidade.” (MELLO, 1999).

Portanto, o coral, sendo fonte do lúdico e da cultura, se destina a satisfazer

as necessidades do ser humano na sociedade, que procura construir e recriar a

sua realidade.

3 APRESENTAÇÃO DOS DADOS

Ao final dos trabalhos houve entrevistas, esclarecimento junto ao grupo

do Canto Coral com o intuito de se averiguar as repercussões da ação lúdica,

qualidade de vida e integração no dia a dia dos participantes, juntamente às

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discussões. Os resultados foram analisados, sobre a forma de percentual e

exposto em forma de gráfico e fotografias.

Gráfico 1.

Prazer X Monotonia na Aula de Canto

16%

84%

1

2

Dos 100% da amostra, apenas 84% relataram que durante as aulas do

Canto Coral experimentaram o prazer de participar do grupo 16% ajudaram na

superação dos problemas do dia a dia, ou monotonia.

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Gráfico 2.

Benefícios dos Exercíicos de Respiração

20%

80%

1

2

Com relação aos benefícios proporcionados pelos exercícios de respiração

durante as aulas 80%, dos entrevistados relataram que os exercícios de técnica

vocal,ampliaram a capacidade respiratória, e 20% confirmou melhorar a afinação.

Estes resultados condizem com a literatura, pois já existem trabalhos que

constatam os benefícios dos exercícios respiratórios.

Gráfico 3.

Relação das apresentações em público e Estado Emocional

37%

25%

38%1

2

3

Outro ponto importante inserido no questionário é a relação das

apresentações em público e o estado emocional do grupo. No gráfico acima

observamos que em 38% dos questionários havia referência a melhora da

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sensação de sentir-se útil com as apresentações em público, 37% relatou sentir-se

emocionado com as apresentações, e 25% diz sentir nostalgia com as mesmas.

Estes dados confirmam a importância de trabalhos que promovam resgate da

memória e reinserção dos idosos na sociedade.

Gráfico 4.

12%

25%

38%

25%

Canto Coral X qualidade de Vida

123

O Gráfico acima mostra a relação do Canto coral com a qualidade de

vida dos participantes do grupo. De acordo com o 4 gráfico , 38% refere ter

melhorado a auto-confiança, 25% diz conseguir expressar o que está no coração,

25% diz experimentar crescimento espiritual, e 12% relatou uma nova

oportunidade de participar da vida social.

4 CONSIDERAÇÔES FINAIS

A ludicidade se concretiza no ambiente de total liberdade e autonomia. O

momento lúdico proporciona ao corpo viver o prazer da alegria construída no

sentir, amar, vibrar, conviver e relacionar-se em liberdade. Conseqüentemente,

exercita a participação, cooperação e a autogestão, na tomada de decisão coletiva

sobre as atividades propostas, musicais ou não, que se valoriza através da troca

de informações, estimulando o diálogo, múltiplas linguagem, hábitos e

sentimentos. É um espaço de manifestações, de desejos e de recriar o novo.

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Percebe-se que a música e o som, enquanto energia estimula o movimento

interno e externo no homem; impulsionando à ação, e promovem nele uma

multiplicidade de condutas de diferente qualidade e grau.

Desse modo, este trabalho baseou-se no pressuposto da ludicidade para melhorar

o desempenho do cidadão na sociedade e na vida.

Para a construção da teoria foram utilizados diversos conhecimentos:

dentre eles, conhecimento científico, conhecimento empírico, dado através da

experiência, e o conhecimento do senso comum.

A compreensão total da música se dá de maneira muito subjetiva,

dependendo essa maneira, das concepções pessoais de cada um: políticas,

culturais e sociais.

Além das observações feitas nos ensaios foi constatada com mais eficácia a

vivência da ludicidade em apresentações públicas nos vários espaços culturais na

cidade do Natal.

A escolha do repertório deu-se a partir de sugestões dos próprios

participantes em comum acordo com o regente e vice-versa, onde foram

escolhidas as músicas, cabendo ao regente fazer explicações técnicas e históricas

da música, resgatando valores da cultura.

Sendo assim, através da fala dos participantes constatamos que, realmente, o

elemento lúdico nas práticas do canto coral auxilia para um envelhecimento

saudável.

Pode-se dizer que esse estudo obteve como resultado, o aumento da

capacidade respiratória dos participantes, uma evolução na afinação das suas

vozes através dos exercícios de técnica vocal, e a facilidade de recordar

informações passadas, além de ficar bem perceptível a melhora na auto-estima

dos idosos, principalmente quando fazem apresentações em público.

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CORAL “GLEDSON IZAIAS” do Projeto Saúde e Cidadania da Melhor Idade do IFRN

(Regente: José Gledson Izaias dos Santos)

Ocorrências desse tipo de pesquisa anunciam uma saudável mudança de

hábitos e valores em relação à saúde, ao corpo e à convivência entre as gerações.

Progressivamente deverão ocorrer mudanças também no que hoje se concebe

como limites etários para algumas atividades, o que acarretará importantes

alterações nas normas sociais relativas a comportamentos esperados para cada

idade e no próprio funcionamento das instituições sociais.

O que antes era apontado como exceção: velhos bem-sucedidos,

vigorosos, olhos brilhantes de interesse pela vida, está se tornando um fato cada

vez mais possível para um número crescente de pessoas em todo o mundo. As

novas possibilidades do envelhecimento refletem avanços sociais que ecoam em

novos costumes e estilos de vida.

Em conjunto, essas influências deverão configurar novos cenários para a

espécie humana. Pessoas mais eficazes e satisfeitas tendem a buscar mais

controle, mais satisfação e mais envolvimento, parecendo, assim, diferentes do

estereótipo de velhice doentia, apagada e infeliz. A criação desse novo estímulo

social exerce um efeito positivo sobre as pessoas que envelhecem, as quais

passam a aspirar a um novo roteiro para suas vidas.

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As respostas e depoimentos dos participantes revelaram múltiplos

benefícios percebidos, nos domínios físico, afetivo, cognitivo e social, confirmando

tendências da literatura internacional. Os idosos pesquisados, sem sombra de

dúvida, proporcionaram informações de grande interesse para a comunidade

científica interessada em beneficiar mais e mais esse segmento da população, o

que nos leva a concluir que parte de nossas metas almejada pelo Programa no

canto coral estão sendo alcançada.

Espera-se que em futuros trabalhos possa se avançar e relacionar a

ludicidade, a qualidade de vida e a inclusão no canto coral de forma que se possa

averiguar a corporeidade fluída no corpo da pessoa da Terceira Idade.

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