logica e argumentacao (1)
TRANSCRIPT
CARMEN SUELY CAVALCANTI DE MIRANDA
Sou graduada em Serviço Social e Filosofia, especialista em
Serviço Social e mestre em Educação pela Universidade Federal do
Rio Grande do Norte. Atuo como Assistente Social desde 1981 e
atualmente exerço a profissão de Assistente Social na Unidade de
Saúde Familiar e Comunitária, uma Unidade de atenção básica em
Saúde da Secretaria Municipal de Saúde da cidade de Natal. Leciono
desde 1996 na Universidade Potiguar as disciplinas: Filosofia, Ética,
Metodologia Científica, Cultura Brasileira e Filosofia da Educação.
Desde 2010 estou na Direção do Curso de Serviço Social desta
mesma Universidade.
IVICKSON RICARDO DE MIRANDA CAVALCANTI
Sou graduado em Filosofia e especialista em Ética pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Sou professor de
Filosofia desde o ano de 2004. Iniciei minhas atividades profissionais
como professor substituto do Instituto Federal do Rio Grande do Norte.
Lecionei no ensino médio na rede pública da cidade de João Pessoa. Fui
professor do Instituto Federal de Alagoas. Atualmente sou professor
do Instituto Federal do Rio Grande do Norte, atuando no campus
de Apodi. Leciono as disciplinas de Lógica, Filosofia, Epistemologia e
Metodologia Científica.
CO
NH
EC
EN
DO
OS
AU
TOR
ES
RACIOCÍNIO LÓGICO
A disciplina de Raciocínio Lógico, que você inicia agora, é de
fundamental importância para sua vida prática. Se você observar
quando queremos pensar, falar ou escrever corretamente,
precisamos primeiro ordenar nosso pensamento, isto é, precisamos
utilizar a lógica. Nem sempre raciocinamos da maneira correta, às
vezes tomamos uma decisão ao invés de outra, agimos diversas
vezes de maneira ilógica. Através do Raciocínio Lógico nos
apropriamos de ferramentas que contribuem para aprimorar a
arte de pensar corretamente.
Qualquer profissional que utilize o raciocínio como ferramenta
de trabalho para resolver problemas de ordem administrativa
ou financeira, problemas matemáticos, de planejamento ou de
estratégia, entre outros, utiliza como matéria prima para o seu
trabalho a arte de pensar. Utilizar o pensamento exige cada vez mais
o estudo de disciplinas voltadas ao aprimoramento, treinamento e
aplicabilidade do pensamento.
Convidamos você a percorrer conosco os vários momentos
que compõem esta disciplina, percebendo gradativamente sua
utilidade no seu dia a dia.
CO
NH
EC
EN
DO
A D
ISC
IPLI
NA
SU
MÁ
RIO
Capítulo 1 - O que é lógica ................................................................... 131.1 Contextualizando ........................................................................................................... 13
1.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 14
1.2.1 Os mecanismos da inteligência ...................................................................... 14
1.2.2 De�nindo a lógica ................................................................................................ 21
1.2.3 A importância da lógica ..................................................................................... 23
1.2.4 Desenvolvendo o raciocínio lógico ............................................................... 24
1.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 29
1.4 Para saber mais ............................................................................................................... 30
1.5 Relembrando ................................................................................................................... 31
1.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................. 32
Onde encontrar ...................................................................................................................... 32
Capítulo 2 - Introdução à história da lógica ........................................ 352.1 Contextualizando ........................................................................................................... 35
2.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 35
2.2.2 O nascimento da lógica formal ....................................................................... 39
2.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 51
2.4 Para saber mais ............................................................................................................... 52
2.5 Relembrando ................................................................................................................... 52
2.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................. 53
Onde encontrar ...................................................................................................................... 53
Capítulo 3 - A divisão da lógica ........................................................... 553.1 Contextualizando ........................................................................................................... 55
3.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 56
3.2.1 A lógica formal ...................................................................................................... 56
3.2.2 A lógica material ................................................................................................... 67
3.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 71
3.4 Para saber mais ............................................................................................................... 71
3.5 Relembrando ................................................................................................................... 72
3.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................. 73
Onde encontrar ...................................................................................................................... 73
Capítulo 4 - Argumento e raciocínio - dedução e indução................. 754.1 Contextualizando ........................................................................................................... 75
4.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 76
4.2.1 De�nido a dedução ............................................................................................. 76
4.2.2 O raciocínio indutivo .......................................................................................... 82
4.2.3 Falácias e erros de raciocínio ........................................................................... 86
4.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 89
4.4 Para saber mais ............................................................................................................... 90
4.5 Relembrando ................................................................................................................... 90
4.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................. 91
Onde encontrar ...................................................................................................................... 92
Capítulo 5 - Elementos básicos da lógica proposicional .......................................955.1 Contextualizando .................................................................................................................................... 95
5.2 Conhecendo a teoria .............................................................................................................................. 96
5.2.1 Conhecendo as proposições ..................................................................................................... 96
5.2.2 A linguagem proposicional .....................................................................................................101
5.2.3 Tabela-verdade ............................................................................................................................105
5.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................108
5.4 Para saber mais ......................................................................................................................................110
5.5 Relembrando ..........................................................................................................................................110
5.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................111
Onde encontrar .............................................................................................................................................112
Capítulo 6 - Operações lógicas e tabelas-verdade ...............................................1136.1 Contextualizando ..................................................................................................................................113
6.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................114
6.2.1 As operações lógicas e as tabelas-verdade .......................................................................114
6.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................126
6.4 Para saber mais ......................................................................................................................................129
6.5 Relembrando ..........................................................................................................................................129
6.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................131
Onde encontrar .............................................................................................................................................131
Capítulo 7 - Lógica de predicados .........................................................................1337.1 Contextualizando ..................................................................................................................................133
7.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................134
7.2.1 A lógica de predicados ..............................................................................................................134
7.2.2 Sintaxe da lógica de predicados ............................................................................................137
7.2.3 Semântica da lógica de predicados .....................................................................................140
7.2.3 Enunciados categóricos ............................................................................................................142
7.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................143
7.4 Para saber mais ......................................................................................................................................145
7.5 Relembrando ..........................................................................................................................................145
7.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................147
Onde encontrar .............................................................................................................................................147
Capítulo 8 - Sequências lógicas e algoritmos.......................................................1498.1 Contextualizando ..................................................................................................................................149
8.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................150
8.2.1 Sequências lógicas e suas leis de formação ......................................................................150
8.2.2 Algoritmos .....................................................................................................................................155
8.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................162
8.4 Para saber mais ......................................................................................................................................163
8.5 Relembrando ..........................................................................................................................................163
8.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................165
Onde encontrar .............................................................................................................................................166
Referências ....................................................................................................................169
Capítulo 1
13Raciocínio Lógico
O QUE É LÓGICA
CAPÍTULO 1
1.1 Contextualizando
O que é? Por que a lógica integra a estrutura curricular de um curso de
graduação? Seja qual for a pergunta, essas são questões que muitos estudantes
fazem quando têm que cursar uma disciplina de Raciocínio Lógico.
Para que você possa entender a importância dessa disciplina, é fundamental
que saiba, em primeiro lugar, o que é a lógica, conhecimento cuja aplicabilidade
se faz presente desde a Grécia quando os primeiros pensadores, os filósofos,
utilizavam a lógica para distinguir o argumento correto do incorreto, até a
nossa atualidade, com os computadores e toda tecnologia da informação - a
base do funcionamento de um computador está na eletrônica e na lógica. E até
mesmo para uma boa redação é indispensável coerência, clareza e coesão no
desenvolvimento das ideias. E nisto a lógica pode e vai ajudá-lo muito.
Por outro lado, desenvolver um pensamento que se preocupa com o
aspecto lógico torna-se um desafio para o aluno que está compreendendo e
exercitando operações mentais. Ou seja, a lógica possibilita ao aluno educar
sua forma de pensar, de estruturar suas ideias e concepções.
Assim, esperamos que as pistas para a resposta do que é a lógica e de sua
importância, você possa começar a encontrar neste nosso primeiro capítulo
que tem como objetivos:
situar os mecanismos do pensamento;
definir a lógica;
explicitar o raciocínio lógico;
evidenciar a importância desse conhecimento para o ser humano.
Capítulo 1
14 Raciocínio Lógico
1.2 Conhecendo a teoria
1.2.1 Os mecanismos da inteligência
Vivemos em uma realidade complexa e em constante transformação. Se
olharmos para um passado recente veremos como ocorreram transformações
na medicina, na educação, nas comunicações, nas tecnologias, enfim, nas
várias áreas do conhecimento e de sua aplicação.
Essas transformações foram possíveis porque o homem, elemento
desse conjunto infinito de seres que compõem a realidade, também se
transforma cotidianamente. Usa para isso sua razão e sua inteligência. Razão
e inteligência são, portanto, faculdades que possibilitam ao homem construir
conhecimentos que, aplicados à realidade, garantem sua vida no planeta.
Razão e inteligência são conceitos fundamentais no processo de produção
do conhecimento verdadeiro.
Vejamos cada um deles de forma detalhada.
a) O que é a razão?
A palavra razão no nosso cotidiano é empregada em vários sentidos.
Veja alguns dos usos mais comuns:
Uma razão de ser...
Qual a razão de tudo isso?
Você tinha razão
O homem é um animal racional
Ele ficou revoltado e com razão
É uma atitude irracional
Usamos “razão” com o sentido de certeza, lucidez, motivo, causa. Todos
esses sentidos constituem a nossa ideia de razão.
Podemos dizer que a razão “tem não só a função de perceber os
fatos que provocam as sensações, como também de avaliá-los, julgá-los e
organizá-los” (COTRIM, 1989, p. 20). Assim, por meio da razão tomamos
conhecimento da realidade.
Capítulo 1
15Raciocínio Lógico
Apesar das funções anteriormente descritas, o dia a dia evidencia fatos
que são incompreensíveis pela razão. Bem ilustrativo para o que acabamos
de dizer são as palavras de Pascal (apud CHAUÍ, 2001, p. 58), filósofo francês
do século XVII: “O coração tem razões que a razão desconhece”. Esta frase
traz a compreensão de que muitas vezes agimos motivados pelas paixões
ou sentimentos deixando de lado a nossa atividade consciente, intelectual
– isto é, a razão.
Do que vimos acima, existem situações que a razão não consegue
compreender. Nesse momento, ela apela para outra faculdade de nossa
mente: a inteligência. Diante de uma dificuldade ou problema, nossa razão
aciona a inteligência.
b) O que é a inteligência?
Quando falamos em inteligência, de imediato algumas questões vêm
à tona: existem pessoas mais inteligentes que outras? As mulheres são
mais inteligentes que os homens, porque possuem maior sensibilidade e
guardam, por maior tempo, informações na memória? Só os homens possuem
inteligência? Quem é mais inteligente: um cientista ou um índio? Um professor
universitário ou um pedreiro?
Se adotarmos o conceito clássico de Inteligência como a capacidade
mental de raciocinar, planejar, resolver problemas e aprender, as respostas a
essas questões parecem lógicas. Ou seja, com certeza se julga que algumas
pessoas são mais inteligentes que outras e essa diferença tem um teor
ideológico, ou seja, considera o modelo social, o status quo das pessoas
comparadas, a classe social, entre outros.
No entanto, quando adotamos a visão de inteligência proposta pelo
psicólogo norte-americano Howard Gardner, tudo depende do que estamos
fazendo, onde e por que, ou seja, a simples comparação de um cientista com
um índio, de um universitário com um pedreiro, não significa nada a não ser
que se possa contextualizar esta abordagem. O que estamos dizendo, com
Gardner, é que se estamos no meio da selva e precisamos ir de um lugar a
outro sem qualquer instrumento específico, o índio nos será mais útil, pelo
fato de conhecer a região. Nesse caso sua inteligência será mais efetiva que a
do professor universitário. Se precisamos construir ou fazer algum reparo em
casa, provavelmente, o pedreiro terá uma inteligência mais efetiva.
Capítulo 1
16 Raciocínio Lógico
Para Gardner (apud TRAVASSOS, 2011, p. 3) “A inteligência [...] é a
capacidade de solucionar problemas ou elaborar produtos que são importantes
em um determinado ambiente ou comunidade cultural”.
Durante muito tempo, baseado na concepção clássica de inteligência,
buscava-se mensurar a inteligência com bases em testes. Com estes
obtínhamos o QI (Quociente de Inteligência). Como surgiram estes testes?
Com o intuito de tentar prever o sucesso das crianças nas escolas, os liceus,
as autoridades francesas, no início do século, solicitaram a Alfredo Binet
que criasse um instrumento que pudesse indicar em que nível tais crianças
deveriam ser inseridas. O instrumento criado por Binet buscava as respostas
das crianças nas áreas de linguística e matemática, pois os currículos franceses
privilegiavam tais disciplinas. Este instrumento deu origem ao primeiro teste
de inteligência, desenvolvido por Terman na Universidade de Stanford, na
Califórnia: a Escala de Inteligência de Stanford-Binet. Vários outros testes de
inteligência vieram à tona a partir de Binet, formando a ideia de inteligência
como algo capaz de ser mensurado.
A partir de seus estudos sobre inteligência humana, Gardner desenvolveu
a teoria das inteligências múltiplas. Nos seus estudos, concluiu que o cérebro do
homem possui oito tipos de inteligência. Porém, a maioria das pessoas possui
uma ou duas inteligências desenvolvidas. Isto explica porque um indivíduo é
muito bom com cálculos matemáticos, porém não tem muita habilidade com
expressão artística.
Segundo Gardner (apud TRAVASSOS, 2011, p. 4-5), as inteligências são:
Lógica – voltada para conclusões baseadas em dados numéricos e na
razão. As pessoas com esta inteligência possuem facilidade em explicar
as coisas utilizando-se de fórmulas e números. Costumam fazer contas
de cabeça rapidamente.
Linguística – capacidade elevada de utilizar a língua para comunicação
e expressão. Os indivíduos com esta inteligência desenvolvida
são ótimos oradores e comunicadores, além de possuírem grande
capacidade de aprendizado de idiomas.
Corporal – grande capacidade de utilizar o corpo para se expressar ou
em atividades artísticas e esportivas. Um campeão de ginástica olímpica
Capítulo 1
17Raciocínio Lógico
ou um dançarino famoso, com certeza, possuem esta inteligência bem
desenvolvida.
Naturalista – voltada para a análise e compreensão dos fenômenos da
natureza (físicos, climáticos, astronômicos, químicos).
Intrapessoal – pessoas com esta inteligência possuem a capacidade
de se autoconhecerem, tomando atitudes capazes de melhorar a vida
com base nestes conhecimentos.
Interpessoal – facilidade em estabelecer relacionamentos com outras
pessoas. Indivíduos com esta inteligência conseguem facilmente
identificar a personalidade das outras pessoas. Costumam ser ótimos
líderes e atuam com facilidade em trabalhos em equipe.
Espacial – habilidade na interpretação e reconhecimento de fenômenos
que envolvem movimentos e posicionamento de objetos. Um jogador
de futebol habilidoso possui esta inteligência, pois consegue facilmente
observar, analisar e atuar com relação ao movimento da bola.
Musical – inteligência voltada para a interpretação e produção de
sons com a utilização de instrumentos musicais.
Figura 1 - A Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner
Fonte: A Teoria das Inteligências Múltiplas (GARDNER, 1985)
Capítulo 1
18 Raciocínio Lógico
Como funciona a nossa inteligência no processo de apreensão da
realidade? O primeiro passo da inteligência é a apreensão do fato novo;
nessa etapa não chegamos a nenhuma conclusão acerca do problema que
se apresenta. Logo após a apreensão, estabelecemos ideias sobre o fato
apresentado. A comparação das ideias nos leva a formular juízos a respeito
do problema investigado. Nesse momento, nossa inteligência ordena os juízos
buscando uma conclusão final para solucionar o problema.
A operação mental que de dois ou mais juízos conclui outro juízo é o que
chamamos de raciocínio. Todo profissional que possui como ferramenta de
trabalho o raciocínio, seja para resolver problemas de ordem administrativa
ou financeira, problemas matemáticos, de planejamento ou de estratégia,
entre outros, utiliza como matéria prima para o seu trabalho a arte de pensar.
Mas afinal o que é um juízo?
Podemos definir um juízo como um ato pelo qual o espírito afirma
alguma coisa de outra, por exemplo: “Deus é bom”, ou “o homem não é
imortal” são juízos, enquanto um afirma de Deus a bondade, o outro nega
do homem a imortalidade.
Um juízo necessariamente apresenta três elementos:
1. Um sujeito: é o ser de que se afirma ou nega alguma coisa.
2. Um atributo ou predicado: é o que se afirma ou nega do sujeito.
3. Uma afirmação ou uma negação.
Assim, podemos dizer que o juízo é a forma central de todo pensamento.
A expressão verbal de um juízo é a proposição.
Podemos dizer que uma proposição pode ser definida como uma frase
que admite dois valores lógicos: verdadeiro (V) ou falso (F).
A proposição se compõe dos seguintes termos:
1. Sujeito.
2. Predicado.
3. Verbo. Chamado cópula (isto é, elo), pois liga ou desliga os dois
termos – sujeito e predicado.
Capítulo 1
19Raciocínio Lógico
Para ser uma proposição uma frase deve, necessariamente, apresentar
estes termos.
Exemplo de frases que não são proposições:
Silêncio!
Quer jogar futebol?
Eu não estou bem certo se este quarto me agrada.
Exemplo de frases que são proposições:
A lua é o único satélite do planeta terra. (V)
A cidade de Natal é a capital do estado da Paraíba. (F)
O numero 10 é ímpar. (F)
Um estudo mais aprofundado sobre proposições será feito nos
próximos capítulos.
Agora vamos voltar à discussão sobre a inteligência. Como você viu
acima, o interesse para medir a inteligência determinou uma série de estudos
entre psicólogos. O resultado foi a elaboração de TESTES DE INTELIGÊNCIA.
Veja como funciona um teste de inteligência a partir do exemplo a seguir
(COTRIM, 1989, p. 32-4). Via de regra os testes de inteligência giram em torno
de questões que devem ser respondidas em tempo estipulado e ao final
somam-se os acertos para obter um resultado.
TEMPO: 10 MINUTOS
1. Qual o objeto não pertinente a esse
grupo?
a. panela; b. caneta;
c. prato; d. faca;
e. metal.
2. Uma caneta sempre tem:
a. tinta; b. tampa;
c. tamanho; d. pena;
e. metal.
3. Que número vem a seguir nesta série?
4; 4; 8; 13; 18; 24; 30; 37; 44; 52;
10. Qual o objeto não pertinente a este
grupo?
a. pneu; b. volante;
c. rédeas; d. faróis;
e. para-choques.
11. Um livro sempre tem
a. capa; b. ilustrações;
c. massa; d. dedicatória;
e. ensinamentos escolares.
12. Que número vem a seguir nesta série?
6; 8; 10; 12; 14; 11; 8; 5; ...
Capítulo 1
20 Raciocínio Lógico
4. Ordene estas palavras de modo a formar
uma sentença. Se a sentença exprimir
verdade escreva V e se exprimir falsidade
escreva F.
POSSUI PESSOA AMOR NENHUMA
_______________________________ ( )
5. O amor está para alegria, assim como o
ódio está para a ...
a. angústia; b. solidão;
c. saudade; d. tristeza;
e. lágrima.
6. Qual o objeto não pertinente a este
grupo?
a. lápis; b. panela:
c. caderno; d. livro;
e. caneta.
7. Uma cadeira sempre tem
a. quatro pés; b. madeira;
c. estofamento; d. assento;
e. apoio para os braços.
8. O sol está para a sensação visual, assim
como o alimento está para a sensação
a. olfativa; b. auditiva;
c. tátil; d. cinestésica;
e. gustativa.
9. Ordene as palavras de maneira a
formar uma sentença. Se a sentença
exprimir verdade escreva V e se exprimir
falsidade escreva F.
PONTOS FRANÇA PISA. AS TORRES SÃO
TURÍSTICOS E DA EIFFEL.
_____________________________ ( )
13. Sócrates está para a Filosofia, assim
como Freud está para a
a. química; b. biologia;
c. psiquiatria; d.parapsicologia;
e. reflexologia.
14. Que número vem a seguir nesta série?
1/2; 1/4; 1/8; 1/16; ...
15. Ordene estas palavras de maneira a
formar uma sentença. Se a sentença
exprimir verdade escreva V e se exprimir
falsidade escreva F.
BRASIL DA AQUARELA DO BARROSO
COMPOSITOR É ARI O.
__________________________________ ( )
16. Na palavra involuntariamente, qual é a
penúltima letra, imediatamente anterior
ao 3º n?
( )
17. Que número vem a seguir nesta série?
4; A; 10; B; 8; C; 14; D; ...
18. Somente os homens possuem razão.
Assim sendo, qual destas alternativas
logicamente encadeadas é correta?
a. Os homens perdem a razão com
a idade.
b. A razão é uma faculdade maravilhosa.
c. O peixe não possui razão.
19. Qual a letra errada nesta série?
B; D; L; N; P; O; Z; Q; M; ( )
20. Qual o número errado nesta série?
1; 12; 25; 33; 207.
Veja a classificação a partir dos acertos.
CLASSIFICAÇÃO NÚMERO DE RESPOSTAS CERTAS
Superior 20
Ótimo 15 a 19
Bom 10 a 14
Capítulo 1
21Raciocínio Lógico
Regular 5 a 9
Inferior 0 a 4
Caso você tenha curiosidade seguem as respostas esperadas para que
possa testar a sua inteligência. Vamos vê-las?!
1 – d (faca) 2 – c (tamanho) 3 – 604 – Nenhuma pessoa
possui amor (F)
5 – d (tristeza) 6 – b (panela) 7 – d (assento)8 – e (sensação
gustativa)
9 – As torres Eiffel e
Pisa são pontos
turísticos da
França (F)
10 – c (rédeas) 11 – c (massa) 12 – 2
13 – c (Psiquiatria) 14 – 1/32
15 – O compositor
da Aquarela
do Brasil é Ari
Barroso (V)
16 – M
17 – 12; F18 – c (O peixe não
possui razão)19 – O 20 – 207
É como se pudéssemos, a partir desses testes, identificar nossa capacidade
de inteligência. A questão a se considerar é que estes instrumentos não levam
em conta nosso momento atual, nossa história. Supõem um homem universal.
1.2.2 Definindo a lógica
Até aqui você foi apresentado às duas faculdades da mente humana
responsáveis pelo conhecimento da realidade – razão e inteligência. Uma vez
que o conhecimento produzido por estas duas faculdades busca a verdade e
tem como manifestação o pensamento, é preciso estabelecer algumas regras
para que essa meta possa ser atingida.
Entra em cena a lógica enquanto ramo da filosofia que cuida das regras
do bem pensar, ou do pensar correto, sendo, portanto, um instrumento
do pensamento.
É LÓGICO!
Capítulo 1
22 Raciocínio Lógico
Quantas vezes você já utilizou essa expressão? Será que nas situações
utilizadas era realmente lógico? Em que você se baseou para fazer tal afirmação?
De uma maneira geral, quando usamos a expressão É LÓGICO, quase
sempre estamos nos referindo a algo que nos parece evidente, ou quando
temos uma opinião muito fácil de justificar (MACHADO, 2000).
Portanto, podemos iniciar essa tentativa de definir a lógica afirmando
que ela representa o aperfeiçoamento do pensamento, a arte de pensar
corretamente. O ato de pensar corretamente antes de executar qualquer ação
é, comprovadamente, um ponto positivo para que tal tarefa seja executada
com total sucesso. Criar estratégias, relacionar informações e levantar hipóteses
são habilidades essenciais não apenas para a prática escolar, mas para diversas
situações do cotidiano.
Mas afinal, o que é lógica?
Lógica, do grego , logos, significa palavra, pensamento, ideia,
argumento, relato. Apesar de ser um ramo da Filosofia, não é de propriedade
exclusiva do filósofo. Todo aquele que deseja entender e desenvolver
raciocínios matemáticos e científicos deveria estudá-la.
Segundo o filósofo Régis Jolivet (apud COTRIM, 1989, p. 199) “a lógica é
a ciência das leis ideais do pensamento e a arte de aplicá-las corretamente na
procura e demonstração da verdade”.
Não há consenso quanto à definição da lógica. Registra-se uma
pluralidade de definições que evidenciam a diversidade de estudos que são
abrangidos pela Lógica. Destacamos algumas definições que servem para
iniciar a nossa reflexão.
“O estudo da lógica é o estudo dos métodos e princípios usados para distinguir o raciocínio correto do incorreto.”
Irving Coppi
“A lógica trata de argumentos e inferências. Um de seus propósitos básicos é apresentar métodos capazes de identificar os argumentos logicamente válidos, distinguindo-os dos que não são logicamente válidos.”
Wesley Salmon
Capítulo 1
23Raciocínio Lógico
“A tarefa da lógica sempre foi a de classificar e organizar as inferências válidas, separando-as daquelas que não o são. A importância desta organização não deve ser subestimada, pois usam-se as inferências (de preferência válidas) tanto na vida comum como nas ciências formais, sendo um exemplo a matemática.”
Jesus Eugênio de Paula Assis
“Para Aristóteles, a lógica é a ciência da demonstração; [...] para Lyard é a ‘ciência das regras do pensamento’. Poderíamos ainda acrescentar: [...] é a ciência das leis ideais do pensamento e a arte de aplicá-las corretamente na procura e demonstração da verdade.”
Maria Lucia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires
Fonte: Strecker, 2011
E por que estudar Lógica? Há inúmeras razões! Uma delas liga-se ao
nosso tempo. Vivemos a era pós-industrial, na qual os principais produtos da
mente humana são as ideias. Neste novo ambiente, terão vantagens aqueles
que têm raciocínio lógico e sabem conferir concretude ao processo criativo.
Para desenvolver um raciocínio correto nos deparamos com dois
problemas:
Estabelecer a forma correta do pensamento para que ele possua
validade;
Estabelecer a forma correta do pensamento para que ele corresponda
a algum fato da realidade (COTRIM, 1989, p. 199).
É exatamente com o objetivo de responder esses dois problemas que a
lógica se divide em duas grandes partes: a lógica formal e a lógica material.
A lógica formal se preocupa com os caminhos que devem ser seguidos pelo
pensamento para este ser correto, ao passo que a lógica material volta-se
para a garantia da correspondência verdadeira entre nosso pensamento e
a realidade. Sobre estas duas grandes divisões da lógica você irá saber mais
no capítulo III.
1.2.3 A importância da lógica
Acreditamos que agora que você já tem uma compreensão inicial do
que seja a lógica, fica mais fácil entender a sua importância para um curso de
nível superior, principalmente sua importância para o exercício profissional.
Capítulo 1
24 Raciocínio Lógico
Senão vejamos: o que mais esperamos dos alunos, profissionais, enfim, dos
seres humanos é que possam pensar de forma cada vez mais crítica e com
argumentos, com base e critérios logicamente válidos. Por outro lado, quando
fazemos afirmações sem argumentos não oferecemos ao nosso interlocutor
motivo para aceitar nosso ponto de vista.
Quando apresentamos argumentos, iniciamos um diálogo em que
estaremos abertos a rever nossos argumentos em função de argumentos mais
sólidos e válidos. Todo esse exercício de argumentação exige critérios válidos e
é nesse momento que entra a lógica.
Sobre a importância da lógica Lewis Carol (apud SOARES; DORNELAS,
2011) afirma que
ela [a Lógica] lhe dará clareza de pensamento, a habilidade de ver seu caminho através de um quebra-cabeça, o hábito de arranjar suas idéias numa forma acessível e ordenada e, mais valioso que tudo, o poder de detectar falácias e despedaçar os argumentos ilógicos e inconsistentes que você encontrará tão facilmente nos livros, jornais, na linguagem cotidiana e mesmo nos sermões e que tão facilmente enganam aqueles que nunca tiveram o trabalho de instruir-se nesta fascinante arte.
Como você pode observar, este conhecimento é uma exigência cada vez
maior no nosso cotidiano, no sistema escolar e na vida em sociedade, na medida
em que nestes contextos é necessário o desenvolvimento da capacidade de
distinguir entre um discurso correto e um incorreto, a identificação de falácias,
o desenvolvimento da capacidade de argumentação, compreensão e crítica de
argumentações e textos.
Ao lado de sua importância no nosso cotidiano, a lógica é hoje presença
constante em concursos para ingresso no mundo do trabalho. As questões
de lógica se apresentam como problemas que exigem um caminho com
possibilidades que levem a uma solução – até aqui estamos no campo do
raciocínio. Uma vez encontrada a solução é preciso que seja validada – aqui
está o espaço da lógica.
1.2.4 Desenvolvendo o raciocínio lógico
Como você viu até aqui, ter raciocínio lógico significa raciocinar bem.
Mas, o que fazer para aprender a raciocinar bem? Sabemos que algumas
Capítulo 1
25Raciocínio Lógico
decisões na nossa vida são intuitivas, mas existe uma fórmula de aprimorar a
nossa capacidade de raciocinar. E a lógica é essa ferramenta que o capacita a
aprimorar seus argumentos, garantido cada vez mais sua validade.
O raciocínio lógico hoje é uma exigência em provas de concurso, bem
como em psicotestes de empresas para seleção de funcionários para cargos
específicos. O conhecimento de alguns mecanismos de análise das questões,
bem como a realização de exercícios, é um treino efetivo para desenvolver um
bom raciocínio.
Nesse sentido, vamos destacar três tópicos que vêm sempre sendo
explorados nas questões apresentadas em concursos, são eles: o raciocínio
verbal, o raciocínio numérico e o raciocínio visuo-espacial.
Antes de situar esses tipos de raciocínios é
importante que você saiba que para responder
qualquer tipo de questão envolvendo raciocínio
lógico é necessário ter claro que, nestas questões,
o raciocínio pode seguir um caminho lógico ou
um caminho ilógico (BOTELHO, 2011).
O caminho lógico se efetiva no contexto da
lógica matemática. Apresenta uma ordem que
pode ser crescente, decrescente ou constante. O caminho ilógico
envolve outros raciocínios fora da lógica matemática. São questões
que utilizam os meses do ano, os dias da semana, as fases da lua, as
letras do alfabeto.
SAIBA QUE
Retomando a explicação anterior, veja o quadro a seguir:
RACIOCÍNIO LÓGICO RACIOCÍNIO ILÓGICO
Crescente Semana/ Meses
Decrescente Fases da lua
Constante Letras do alfabeto
Voltemos aos três tipos de raciocínio citados anteriormente: o verbal, o
numérico e o visuo-espacial.
Capítulo 1
26 Raciocínio Lógico
Comecemos por exemplificar o raciocínio verbal.
Considere a sequência. Qual a próxima letra?
B, D, G, K, _____
O primeiro ponto a considerar é que estamos diante de um raciocínio
lógico sequencial verbal crescente.
B D G K P
pula 1 pula 2 pula 3 pula 4
Vamos entender:
1) É uma sequência de letras (por isso sequencial verbal)
2) A distância entre elas é crescente
3) Portanto o caminho é lógico
4) Assim a próxima letra da sequência será a letra P
Agora vejamos uma questão desenvolvida com base no raciocínio
numérico.
Considere a sequência. Qual o próximo número?
77; 49; 36; 18; _______
Estamos diante de um raciocínio lógico sequencial numérico decrescente.
É importante lembrar que as questões
envolvendo raciocínio lógico trabalham com
as operações: adição, subtração, multiplicação,
divisão, radiciação e potenciação.
SAIBA QUE
Capítulo 1
27Raciocínio Lógico
Veja a resolução da questão:
77 49 36 18 8
7 x 7 4 x 9 3 x 6 1 x 8
Vamos traduzir:
1) É uma sequência de números (por isso sequencial numérica)
2) A sequência está em ordem decrescente
3) Portanto o caminho é lógico
4) A operação utilizada foi a multiplicação
5) Assim o próximo número da sequência é 8
Quando falamos dos caminhos que um raciocínio pode seguir na
resolução das questões de raciocínio lógico, destacamos o caminho lógico
– exemplificado nas questões acima – e o caminho ilógico. Vamos agora
exemplificar uma questão que seguiu o caminho ilógico.
Considere a sequência. Qual a próxima letra?
JJASOND_____
Veja que, diferente das questões anteriores, não há uma sequência
previsível. Ora é crescente, ora decrescente – não há continuidade. Estamos
diante de um caminho ilógico.
Sabendo que este tipo de raciocínio trabalha com meses do ano,
identificamos aí a resposta a nossa questão. Veja que as letras correspondem
à inicial dos meses do ano começando com o mês de junho – (junho, julho,
agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro). Neste caso a próxima letra
da sequência será a letra J, referente ao mês de JANEIRO.
Vamos a um exemplo de um raciocínio numérico que seguiu o caminho
ilógico:
Considere a sequência. Qual o próximo número?
2; 12; 16; 17; 19 _________
Capítulo 1
28 Raciocínio Lógico
Primeiro ponto a considerar: o caminho do raciocínio é lógico ou ilógico?
Vamos considerar o intervalo entre os números.
2 12 16 17 19 200
10 4 1 2
Veja que, entre os números da sequência apresentada, não há nem uma
ordem crescente, nem uma ordem decrescente, nem mesmo uma constância.
Nesse caso o caminho a seguir será o ilógico. E neste caso recorremos às letras
do alfabeto. Veja que a sequência de números apresentados começa com a
letra D. No caso, o próximo número depois de dezenove a iniciar com a letra
D será 200.
Passemos agora a exemplos de raciocínios visuo-espaciais.
Questões de raciocínio visuo-espacial apresentam uma quantidade de
figuras em linhas e a última figura vem em branco para que você identifique
o desenho.
O primeiro passo é analisar linha por linha. Cada linha segue uma lei de
formação. O passo seguinte é identificar a lei de formação da primeira linha
que se repete na segunda. Assim é razoável que esta mesma lei de formação
se repita na terceira linha.
Capítulo 1
29Raciocínio Lógico
No caso das figuras, você identifica que existem orelhas para fora e
orelhas para dentro. As orelhas para fora serão positivas e as orelhas para
dentro serão negativas.
Assim vejamos, na primeira linha temos:
+ 2 - 1 = 1
Na segunda linha temos:
- 2 + 3 = 1
A terceira linha necessariamente seguirá a lei de formação das duas
primeiras. Assim vejamos:
+ 1 - 1 = 0
Em todas as questões apresentadas você pode perceber que é necessário
um constante treinamento para que cada vez mais você possa se apropriar de
mecanismos que darão maior capacidade de raciocínio.
1.3 Aplicando a teoria na prática
Agora é hora de articular a discussão teórica até aqui desenvolvida
com a vida prática. Entre outros temas, discutimos a razão humana. Vamos
pensar um pouco sobre essa faculdade que possibilita ao homem estabelecer
uma articulação entre pensamento e realidade. Um olhar atento e reflexivo
sobre nosso cotidiano deixa evidente como por vezes, e sem nenhum esforço,
mudamos de ideia; ao mesmo tempo, é possível por meio desse exercício,
perceber como, algumas vezes, nos apegamos a alguma ideia sem saber de
Capítulo 1
30 Raciocínio Lógico
onde veio, principalmente, se percebemos que alguém quer se apropriar
assumindo sua autoria, ou mesmo querendo nos fazer mudar de ideia.
Por que isso acontece? São as ideias que nos são caras? Ou será nosso
amor próprio que está em jogo? Dito de outra maneira: por que é tão difícil
mudarmos nosso ponto de vista e aceitar o ponto de vista do outro?
Na verdade poucos de nós param e refletem sobre a origem das
nossas convicções. Acreditamos, grande parte das vezes, naquilo que nos
acostumamos a aceitar como verdade. E nesse caso, usamos nossa razão para
encontrar argumentos capazes de justificar nossas convicções. Você sabe
como os cientistas modernos designam esse apego incondicional (no sentido
de que muitas vezes nem sabemos a origem daquilo que defendemos) as
nossas crenças e aos nossos (pré)conceitos fazendo com que busquemos
razões para justificá-los?
Saiba que esse mecanismo recebe o nome de RACIONALIZAÇÃO. Apesar
de ser uma palavra pouco compreendida é um mecanismo presente na vida de
cada um de nós. Apegamo-nos aos nossos (pré)conceitos, as nossas convicções
e buscamos boas razões para justificá-las. Difícil é admitir a ideia de estarmos
errados e reconstruir nossos conceitos e convicções.
1.4 Para saber mais
Título: O cérebro nosso de cada dia
Autores: Suzana Herculano-
Houzel Editora: Vieira e Lente Ano: 2002
Uma boa indicação para aprofundar seus conhecimentos na
área da neurociência você pode encontrar neste livro de Suzana
Herculano-Houzel, O Cérebro Nosso de Cada Dia. Nesta obra, ela
fala de maneira clara para leigos como funciona nosso cérebro e
como tudo acontece dentro dele. Conta o fato que ocorreu quando
o fantástico físico Albert Einstein faleceu. Com permissão da
família, seu cérebro foi retirado e estudado. Conclusões: o cérebro
de Einstein era do tamanho do cérebro médio das mulheres, ou
seja, tinha um cérebro pequeno.
Capítulo 1
31Raciocínio Lógico
1.5 Relembrando
Neste capítulo você aprendeu que:
O homem usa suas faculdades da razão e da inteligência para construir
conhecimentos que, aplicados à realidade, garantem sua vida
no planeta.
A razão tem não só a função de perceber os fatos que provocam as
sensações, mas também de avaliá-los, julgá-los e organizá-los. Por
meio da razão tomamos conhecimento da realidade.
Inteligência, no seu conceito clássico, é a capacidade mental de
raciocinar, planejar, resolver problemas e aprender.
Gardner amplia este conceito no que denomina Teoria das Inteligências
múltiplas. São as seguintes as inteligências: lógica, linguística, corporal,
naturalista, intrapessoal, interpessoal, espacial e musical.
Um juízo é um ato pelo qual o espírito afirma alguma coisa de outra,
por exemplo: “Deus é bom”, ou “o homem não é imortal” são
juízos, enquanto um afirma de Deus a bondade, o outro nega do
homem a imortalidade.
A operação mental que de dois ou mais juízos conclui outro juízo
chamamos de raciocínio.
Lógica, do grego , logos, significa palavra, pensamento, ideia,
argumento, relato. É o ramo da filosofia que cuida das regras do
bem pensar, ou do pensar correto, sendo, portanto, um instrumento
do pensar.
Tópicos, dentro do conteúdo de raciocínio lógico, que vêm sempre
sendo explorados nas questões apresentadas em concursos: raciocínio
verbal, raciocínio numérico e raciocínio visuo-espacial.
Capítulo 1
32 Raciocínio Lógico
1.6 Testando os seus conhecimentos
1) 2, 4, 8,16, ... o número que vem a seguir nesta série é:
a) 20
b) 24
c) 32
d) 64
e) 128
2) A, C, F, J, ... a letra que vem a seguir série é:
a) O
b) R
c) S
d) M
e) U
3) É possível afirmar que os japoneses são mais inteligentes que os africanos?
Responda considerando o conceito clássico de inteligência e a seguir utilize a
teoria das inteligências múltiplas de Gardner.
Onde encontrar
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2001.
COPI, I. M. Introdução à lógica. 2. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1978.
COTRIM, G. Fundamentos da filosofia. Para uma geração consciente. São
Paulo: Saraiva, 1989.
MACHADO, N. J. Lógica? É Lógico! São Paulo: Scipione, 2000.
TRAVASSOS, L. C. P. Inteligências múltiplas. Disponível em: <http://eduep.uepb.
edu.br/rbct/sumarios/pdf/inteligencias_multiplas.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2011.
Capítulo 1
33Raciocínio Lógico
SCOLARI, A. T.; BERNARDI, G. O Desenvolvimento do raciocínio lógico
através de objetos de aprendizagem. Disponível em: <http://www.cinted.
ufrgs.br/ciclo10/artigos/4eGiliane.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2011.
SOARES, F.; DORNELAS, G. N. A lógica no cotidiano e a lógica na matemática.
Disponível em: <http://www.sbem.com.br/files/viii/pdf/05/MC03526677700.
pdf>. Acesso em: 10 mar. 2011.
STRECKER, H. Lógica – Introdução. Uma porta ao mundo da filosofia e da
ciência. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult3323u4.
jhtm>. Acesso em: 25 fev. 2011.
TOGATLIAN, M. A. Teoria das inteligências múltiplas. Disponível em: <http://
togatlian.pro.br/docs/pos/unesa/inteligencias.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2011.
Capítulo 2
35Raciocínio Lógico
INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA LÓGICA
CAPÍTULO 2
2.1 Contextualizando
No capítulo anterior, você viu que a lógica é um conhecimento que estuda
alguns aspectos da argumentação. Especificamente, os aspectos que determinam
se um argumento é válido ou não. Assim, a lógica permite-nos: 1) distinguir
os argumentos corretos dos incorretos; 2) compreender por que razão uns são
corretos e outros não, e 3) evitar os equívocos na nossa argumentação. Esse
conhecimento, como você viu, é fundamental na construção de uma postura
crítica. Para termos uma postura crítica precisamos de argumentos corretos.
Como toda produção humana, a lógica tem um desenvolvimento histórico.
Entender a história da lógica permite a compreensão das transformações pelas
quais passou esse conhecimento e as diversas formas e instrumentos utilizadas
pelo homem para explicar crítica e racionalmente o mundo que o cerca.
Ao final deste capítulo esperamos que você seja capaz de:
conhecer o desenvolvimento histórico da ciência da Lógica;
identificar a contribuição de filósofos e matemáticos na sistematização
desse conhecimento chamado lógica.
2.2 Conhecendo a teoria
A lógica, como colocamos no primeiro capítulo, pode ser considerada
um instrumento mental construído pelo homem que permite distinguir o
raciocínio correto do incorreto. Como se constituiu esse conhecimento? Quais
as transformações pelas quais passou? Você vai conhecer neste capítulo o
desenvolvimento histórico da lógica, um desenvolvimento que acompanha de
forma indissociável o desenvolvimento da filosofia, desde seu princípio.
Capítulo 2
36 Raciocínio Lógico
É comum encontrarmos nas conversas entre amigos, ou até entre colegas
de curso a ideia do filósofo como uma figura desligada, uma pessoa que
sempre está no mundo da lua. Esse preconceito não encontra na vida real
fundamento, uma vez que a preocupação do filósofo é, antes de tudo, com a
compreensão do mundo.
Assim, contrariando esse preconceito, podemos afirmar que a
preocupação fundamental da filosofia desde sua origem é a de procurar
dar uma lógica a este mundo. Talvez seja por isso mesmo que o filósofo seja
identificado com um louco já que o mundo, este sim, parece ser louco, por
suas incertezas e contradições.
Mas este é um assunto que podemos discutir mais profundamente em
outra oportunidade. Agora, convidamos você a conhecer a origem histórica
da lógica como disciplina instrumental e formal ao auxílio do raciocínio.
Para entendermos o nascimento da lógica é necessário voltar no tempo
àqueles que primeiro se utilizaram do pensamento racional, os filósofos gregos
antigos e, claro, às suas investigações sobre o Arché, o princípio do Cosmo.
Com Tales de Mileto (cerca de 624-545 a.C.) surge a primeira proposição
filosófica, ou pode-se dizer, a primeira explicação sobre a origem do Cosmo.
Tales afirma que “Tudo é água”. De acordo com a tradição filosófica, isto é
tudo o que este pensador tem a nos dizer sobre o princípio vital da natureza.
Mas esta resposta significa a substituição de uma explicação do Cosmo
dada pelas narrações míticas utilizadas naquele período, que não tinham
preocupação alguma com a coerência do que estava sendo dito, para uma
explicação racional face ao mundo e à vida.
Tales foi um filósofo grego, nasceu em Mileto
(atualmente pertencente à Turquia) por volta
de 646 a.C. e morreu no ano de 546 a.C. É um
dos “sete sábios” da antiguidade; se destacou
tanto na filosofia como na matemática. A ele se
atribui as primeiras demonstrações de teoremas
geométricos mediante o raciocínio lógico.
Figura 1 - Tales de Mileto
Disponível em: <http://www.professoradanielamendes.blogspot.com>
BIOGRAFIA
Capítulo 2
37Raciocínio Lógico
Para que você possa melhor entender o que estamos dizendo até aqui,
alguns conceitos são importantes, veja a seguir:
CONCEITOCONCEITO
ARCHÉ – palavra grega que significa o princípio
ordenador do mundo, presente em todas
as coisas, dando a origem à variedade dos
fenômenos naturais.
COSMO – palavra de origem grega que significa
mundo, de maneira mais ampla, o universo que
o homem conhece (CHALITA, 2005).
A explicação de Tales de Mileto, assim como dos seus sucessores até a
obra de Platão, não é exposta em forma de argumento, mas de fragmentos
que nos chegam por intermédio de pesquisadores e outros filósofos antigos
conceituados, como é o caso de Aristóteles. Essa explicação era o remate e a
consequência de uma preocupação crescente com a formulação de respostas
mais coerentes do que as histórias fantásticas de deuses e seres sobrenaturais,
até aquele contexto, utilizadas para explicar o mundo.
Os primeiros filósofos foram chamados de fisiólogos, uma vez que
estavam preocupados mais especificamente com a phýsis (natureza) e seus
fenômenos (seu desenvolvimento, o nascimento dos seres, a morte etc.),
e isso eles o faziam, não por meio de narrações mitológicas, mas sim da
observação da própria natureza. Ora, e isso tinha pelo menos, como dizemos
habitualmente, mais lógica?
Tales escolheu a água como elemento originário, isso por que ele observava
como ela é importante para a vida dos homens, dos animais e das plantas, e
como era tão dinâmica, podendo se configurar nas mais variadas formas. Logo
depois de inaugurada a investigação racional com Tales, não demorou muito e
praticamente no mesmo período surgiram mais explicações racionais, destacando-
se a de seus sucessores também de Mileto, Anaximandro (cerca de 610-547 a.C.)
e Anaxímenes (cerca de 596-525 a.C.). O primeiro dizia ser impossível escolher
apenas um elemento da natureza para explicar toda ela, pois se assim fosse, como
poderíamos explicar elementos como o fogo, oposto à água? Tudo na natureza,
para Anaximandro, tinha um oposto e, portanto, o princípio deveria ser uma
mistura infinita, ou, como ele teria chamado: o ápeiron.
Capítulo 2
38 Raciocínio Lógico
Já Anaxímenes, não se contentando com a resposta de seu
contemporâneo, segundo a qual não respondia nada, elegeu o ar como
elemento originário. Este, e não a água, seria o princípio de tudo, pois na
sua análise era o elemento mais sutil da natureza e desta forma é anterior
à água. Para este pensador, basta observarmos o que acontece quando
colocamos o elemento fogo em contato com a água para vermos que esta
última se desfaz em vapor, ou como queira, ar.
Bom, não nos cabe aqui um aprofundamento na teoria de cada pensador
daquele período, basta o exemplo destes três primeiros para desmistificar
a visão do filósofo como um louco e compreender que a preocupação
fundamental que ronda a mente destes homens é a busca cada vez maior por
coerência, ou lógica, nas explicações.
Veja, a título de exemplo, trechos da letra da canção da banda de
rock brasileira Detonautas. Podemos ler nas entrelinhas elementos que nos
remetem à atitude dos primeiros filósofos em relação ao mundo.
Lógica
Te encontrar em sonhos
Dividir segredos
Relembrar os planos
Enfrentar os medos
E cuidar desse amor que nasceu de ti
[...]
Que eu encontre uma lógica
Que me ensine os caminhos do mundo
Que eu descubra uma mágica
Que te traga pra perto de mim
Se eu não vou julgar
O que é o certo e o que não é
Eu não vou julgar
O que é o certo e o que não é
[...]
Capítulo 2
39Raciocínio Lógico
Você pode perceber que a música destaca o grande desafio do homem
diante mundo, desde os primeiros filósofos: enfrentar o desconhecido,
encontrar respostas capazes de explicar RACIONALMENTE a origem de todas
as coisas. A canção tem o título LÓGICA e a busca pelos caminhos do mundo
tem que ser uma busca LÓGICA, portanto, fundada na razão. Esse desafio é
uma eterna busca da verdade e do bem numa convivência com o outro.
2.2.2 O nascimento da lógica formal
Parmênides e o princípio de identidade
Vimos anteriormente que dos primeiros filósofos só chegaram até nós
fragmentos sobre o que pensavam. Apesar de serem responsáveis por uma
preocupação cada vez maior em dar explicações mais coerentes e de acordo
com as observações dos fenômenos naturais, ainda assim, não desenvolveram
uma preocupação com a criação de algum método ou princípio básico a se
seguir para que isso se tornasse possível.
Foi com Parmênides (cerca de 515-450 a.C.), filósofo de Eleia (cidade
colônia da magna Grécia, região hoje próxima da Itália), que este problema foi
trazido à tona. Dos fragmentos deste pensador, surgia a primeira exposição de
um princípio lógico a partir do qual deveria ser conduzido o nosso raciocínio.
Esse princípio se chamou: princípio da identidade.
O pensamento de Parmênides teria se desenvolvido e seria marcado pela
sua contraposição a Heráclito (cerca de 540-480 a.C.), seu contemporâneo
da cidade Éfeso (região de Mileto), para quem a contradição e a mudança
seriam o princípio universal do Cosmo e da própria vida. Este seria, para
Parmênides, o erro e o problema de toda a filosofia e ciência desde Tales.
Ele notava que a verdade não poderia estar nas coisas, e consequentemente
nem poderia provir das experiências sensoriais. O caminho correto à verdade
estaria só no pensamento. Para Parmênides, se confiássemos apenas no que
estávamos vendo, ou no que estávamos sentindo, não seria possível dizer
algo sobre o mundo. Como dizer, por exemplo, que uma árvore ou outra
coisa qualquer seria bonita se em alguns segundos, se por qualquer causa
repentina ou acidental, ela poderia parecer feia? O filósofo de Eleia chegou
à conclusão de que o pensamento, o dizer, portanto, exigia antes de tudo,
identidade. Estava assim formulado, mesmo que ainda em entrelinhas o
primeiro princípio lógico, o princípio da identidade. O ponto de partida para
Capítulo 2
40 Raciocínio Lógico
se superar as contradições e mudanças e construir um discurso ou um logos
sobre a verdade ou a essência das coisas.
A seguir temos alguns fragmentos do poema Da Natureza de Parmênides.
Um texto cheio de alegorias e elementos mitológicos, onde é possível ver a
preocupação de Parmênides com este caminho pelo qual devemos orientar
nosso pensamento se quisermos conhecer a verdade.
Pois bem, eu te direi, e tu acolhes a minha palavra:/quais são os únicos caminhos de busca que se podem pensar:/um diz que é e que não é possível que não seja, /é a vereda da persuasão (porque acompanha a Verdade); o outro diz que não é e que é preciso que não seja, / eu te digo que esta é uma vereda em que nada se pode aprender. De fato, não poderias conhecer o que não é, porque tal não é fatível, nem poderias expressá-lo...
É necessário dizer e pensar que o ser é: de fato, o ser é, /o nada não é: te exorto a que consideres isso. / E, portanto, desse caminho de busca te conservo distante, / mas, depois, também daquele sobre o qual os mortais que nada sabem seguem vagando, homens de duas cabeças: / de fato, é a incerteza que ao seu peito conduz uma destinada mente (PARMÊNIDES apud NICOLA, 2005, p. 29-30).
PRATICANDOPRATICANDO
1. Que princípio lógico já está implícito no poema
Sobre a natureza de Parmênides? Comente.
2. Em qual dos fragmentos expostos acima, está
mais bem expresso este princípio? Comente.
Platão e o método dialético
Apesar de não ter deixado nenhuma obra completa, apenas fragmentos
deste poema que vimos acima, Parmênides já teria alertado para a evidência
da existência em nosso intelecto, de um caminho prévio em direção à verdade,
e teria deixado assim à posteridade a preocupação em se estabelecer um
método ou regras pelas quais fosse possível detectar ou traçar tal caminho. Tal
tarefa seria levada a cabo primeiramente pelo ateniense Platão (cerca de 428-
347 a.C.), responsável pelos primeiros grandes escritos da tradição filosófica e
um dos maiores pensadores da história.
Capítulo 2
41Raciocínio Lógico
Era por meio do método
dialético que Platão pretendia
fundamentar suas respostas
sobre a realidade. Mas que
método seria esse? O termo
‘dialética’ vem do grego. O
prefixo dia quer dizer dois, e o
sufixo lética deriva de logos, que
é discurso. Portanto, dialética
significa diálogo, contraposição,
e era justamente assim, em
forma de diálogo que o filósofo
ateniense escreveu suas obras.
Os diálogos platônicos tinham como objetivo passar do que era
incerto e mutável para o imutável, da opinião para o conceito, ou à própria
verdade. Por exemplo, se estamos discutindo sobre a justiça, é evidente
que na realidade em que vivemos tenhamos as mais variadas opiniões
contraditórias e diferentes, cada qual de acordo com a localidade, a crença
e todas as outras peculiaridades possíveis daqueles que opinam. Mas se
colocamos tais propostas lado a lado, estabelecendo o diálogo entre as
mesmas e analisando as incoerências de cada uma até chegarmos àquela
mais bem fundamentada e isenta de refutação, chegaremos assim ao
verdadeiro conceito de justiça.
Neste sentido, ao optar por uma posição, estaria eliminada a contradição
uma vez existente, e dessa forma seria estabelecida ou encontrada a identidade.
Uma coisa não pode ser definida como “isto” ou “aquilo”, tem que ser ou isto
ou aquilo. Só assim poderia estar garantida sua realidade, só assim ela poderia
ser. Podemos dizer que Platão teria assim inventado a lógica dialética, método
que teria lhe rendido um vasto e rico conjunto de diálogos, cada um com o
objetivo de desvendar um conceito como amor, justiça, bem etc., apesar de
não necessariamente ter chegado a respostas satisfatórias, e por isso mesmo
ser o alvo de críticas como as de seu discípulo Aristóteles.
Leia a seguir como a historiadora da filosofia Marilena Chauí (2001, p.
181-2) caracteriza a lógica dialética criada por Platão.
Figura 2 - Platão
Fonte: <www.platomania.blogspot.com>
Capítulo 2
42 Raciocínio Lógico
[...] Partindo de sensações, imagens, opiniões contraditórias sobre alguma coisa, a dialética vai separando os opostos em pares, mostrando que um dos termos é aparência e ilusão e o outro, verdadeiro ou essência. A dialética é um debate, uma discussão, um diálogo entre opiniões contrárias e contraditórias para que o pensamento e a linguagem passem da contradição entre as aparências à identidade de uma essência. Superar os contraditórios e chegar ao que é sempre idêntico a si mesmo é a tarefa da discussão dialética, que revela o mundo sensível como heraclitiano (a luta dos contrários, a mudança incessante) e o mundo inteligível como parmenidiano (a identidade perene de cada idéia consigo mesma).
A lógica aristotélica e a teoria do silogismo
Apesar de toda essa trajetória que você pôde ver até aqui, quem primeiro
estabeleceu e apontou mais efetivamente as regras e princípios do pensamento
correto, dando assim corpo ao que se denominou lógica, foi justamente o sucessor
e discípulo de Platão, o macedônio Aristóteles (cerca de 384-324 a.C.), que passaria
a dedicar todo um estudo a parte no que diz respeito a estas regras e princípios.
Segundo ele, o método seguido por seu mestre na busca dos conceitos
não poderia cumprir o papel de instrumento do pensamento correto. Ora,
o método dialético tal como Platão criara e desenvolvera era baseado
em opiniões. Como você viu, seu objetivo era estabelecer a passagem da
contradição entre aparências à identidade de uma essência. Ir da superação
do que é contraditório ao que é sempre idêntico.
Seria justamente este, para Aristóteles, o problema desta lógica dialética.
Ter como fundamento e ponto de partida opiniões pode ser bom para quem
tem como único objetivo a persuasão ou ganhar uma disputa oratória, mas este
estaria longe de ser o procedimento seguro para quem almejasse a verdadeira
filosofia ou ciência. Aristóteles entendia que a dialética era um exercício do
pensamento e do discurso e ela tinha seu valor; no entanto, para exercitar o
pensamento, ou mesmo quando pensamos e proferimos algum discurso, antes
mesmo de formarmos qualquer conteúdo ou juízo, é necessário seguir leis que
já estão a priori a nossa disposição no intelecto. Nesse sentido, a lógica para
Aristóteles seria instrumental e também formal.
Capítulo 2
43Raciocínio Lógico
Vale aqui observar que a dialética platônica se desenvolveu tendo
como pano de fundo aquele velho problema já discutido com Heráclito e
Parmênides, o problema da tensão entre a mudança e a identidade. Para
Platão, a mudança não passa de uma ilusão, já que a verdade é imutável. Isso
significa dizer também que o método dialético tem como objetivo a ascensão
de um nível de realidade inferior (das aparências) a um nível de realidade
superior (das essências), um nível inteligível.
Para Aristóteles, a mudança não necessariamente implica contradição,
existe apenas uma realidade caracterizada também pela mudança, que por
sua vez, não é uma ilusão. Tudo na natureza caminha em direção à realização
de um fim, por exemplo, a criança visa tornar-se adulta, a semente tornar-
se-á árvore. Como poderíamos pensar ou dizer algo de uma realidade cujas
coisas estão sempre se transformando em seus opostos? A concepção de
Heráclito e de Platão impossibilita a própria explicação do funcionamento da
natureza e, sobretudo do movimento, que é algo ordenado e organizado, já
que enquanto houver mudança nas coisas é porque há sempre um novo fim a
ser realizado. A realidade tem uma estrutura da qual podemos abstraí-la por
meio de regras e leis que lhes corresponde, que se bem utilizadas farão com
que possamos encaixar pensamento e realidade encontrando as causas e a
essência dos fenômenos.
O objeto principal da lógica aristotélica, portanto, consiste na proposição,
que é a expressão, em forma de linguagem, dos juízos que temos da realidade, e
consequentemente, o encadeamento de tais proposições que chamamos raciocínio.
A partir deste momento histórico nasce a lógica como disciplina a parte,
que tem como proposta oferecer instrumentos necessários para que possamos
formular um raciocínio correto sobre o mundo. Mas que instrumentos são esses?
Em sua obra intitulada Metafísica, cujo tema principal trata do ser ou do
problema da verdade, Aristóteles apresenta aqueles que seriam os princípios
básicos do pensamento racional.
Capítulo 2
44 Raciocínio Lógico
Segundo Aristóteles, a razão humana opera
de acordo com princípios que ela própria
estabelece e que garantem que a realidade é
racional. São eles:
Princípio da identidade, cujo enunciado pode
parecer surpreendente: “A é A”. [...] O princípio
de identidade é a condição do pensamento e
sem ele não podemos pensar. Ele afirma que
uma coisa, seja ela qual for [...] só pode ser conhecida e pensada se
for percebida e conservada com sua identidade.
Princípio da não-contradição, cujo enunciado é: “A é A e é
impossível que seja, ao mesmo tempo e na mesma relação, não-A”.
Assim é impossível que a árvore que está diante de mim seja e não
seja uma mangueira; [...] Afirma, também, que as coisas e as idéias
contraditórias são impensáveis e impossíveis.
Princípio do terceiro-excluído, cujo enunciado é: “Ou A é x ou é
Y e não há terceira possibilidade. Por exemplo: “Ou este homem
é Sócrates ou não é Sócrates”; [...] “ou está certo ou está errado”
(CHAUÍ, 2001, p. 60).
SAIBA QUE
Estes seriam, segundo Aristóteles, os princípios básicos a que obedecemos
quando construímos qualquer tipo de proposição e, consequentemente,
argumentação. Tomemos como exemplo o princípio de não-contradição,
que foi, dentre os três, o mais estudado durante toda a tradição filosófica.
Se fosse possível afirmar que um animal
X é enquadrado na classe dos mamíferos
e também que não pode ser enquadrado
em tal classe, qualquer coisa poderia
ser dito sobre este animal, mas nunca
chegaríamos à verdade sobre o mesmo.
A sistematização aristotélica
do que hoje chamamos de lógica,
como disciplina, se realiza mais
especificamente num grupo de textos
chamados de Organnon (os analíticos,
os tópicos, a retórica), onde o filósofo
estuda a temática da lógica nos seus
Figura 3 - Aristóteles
Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/
File:Aristotle_Altemps_Inv8575.jpg>
Capítulo 2
45Raciocínio Lógico
fundamentos, princípios, categorias e métodos – mas note-se, falta nesses
textos aristotélicos a palavra lógica para designar tal tema, o que só
aconteceria mais de trezentos anos depois com os filósofos estoicos.
CONCEITOCONCEITO
O estoicismo é uma doutrina filosófica fundada
por Zenão de Cítio. Floresceu na Grécia, sendo
levada a Roma no ano 155 a.C. por Diógenes
de Babilônia. Os seguidores do estoicismo são
chamados de estoicos. A preocupação dos
estoicos era como o indivíduo deveria agir para
viver bem (CHALITA, 2006).
De qualquer modo, sem dar o nome preciso de lógica, mas no âmbito do
que ele chamou de silogismo (teoria do raciocínio ou cálculo), Aristóteles definiu
os processos lógicos do raciocínio perfeito que seria, como tal, o raciocínio
demonstrativo ou dedutivo – diz ele que o discurso dedutivo é “um discurso
em que, postas algumas coisas, outras se seguem necessariamente” (Analíticos
Posteriores, I, 1, 24b). Assim, o silogismo seria a argumentação lógica perfeita,
constituída de três proposições declarativas que se conectam de tal modo que a
partir das duas primeiras, chamadas premissas, é possível deduzir uma conclusão.
A definição aristotélica do silogismo demonstrativo ou dedutivo projeta
até hoje o objetivo geral e as características fundamentais do que se busca na
lógica: 1) o caráter de mediação; 2) o caráter de necessidade.
Mas como ter uma compreensão geral do que queria Aristóteles com
seu silogismo?
Pode-se dizer que Aristóteles queria captar e traduzir o mundo, as coisas,
as relações, por meio de um raciocínio perfeito que pudesse ser posto num
discurso correto, inteligível, sem ambiguidades ou contradições.
Ele acreditava, como dissemos anteriormente, que o mundo era Cosmos
– isto é, um universo bem ordenado, arrumado em categorias (para Platão e
Aristóteles a palavra “categorias” significa gêneros supremos ou determinações
da realidade.), e que temos no nosso intelecto as ferramentas necessárias para
captar e organizar tais categorias.
Capítulo 2
46 Raciocínio Lógico
Assim é que a base da teoria do silogismo de Aristóteles é a correspondência
necessária e mediadora entre a realidade e o discurso, através dessas categorias
que ordenam o mundo, dos princípios que regem o pensamento humano,
acima abordados, enquanto princípios básicos do pensamento racional, a
saber - contradição, identidade e terceiro excluído.
Esses princípios são considerados as três leis do pensamento.
No campo do pensamento humano, os princípios básicos do pensamento
racional assim se explicitam:
O princípio de identidade afirma que se qualquer enunciado é
verdadeiro, então ele é verdadeiro. Ou seja, este princípio é condição
do pensamento e sem ele não podemos pensar. Ele afirma que
uma coisa, seja ela qual for, só pode ser conhecida e pensada se for
percebida e conservada com sua identidade. Por exemplo, depois que
um matemático definir o triângulo como figura de três lados e de três
ângulos, só outra figura que tenha esse número de lados e de ângulos
pode ser chamada de triângulo.
O princípio da contradição afirma que nenhum enunciado pode ser
verdadeiro e falso ao mesmo tempo. Assim, é impossível que a árvore
que está diante de mim seja e não seja um cajueiro; que o triângulo
tenha e não tenha três lados e três ângulos; que o homem seja e não
seja mortal.
O princípio do terceiro excluído afirma que um enunciado ou é
verdadeiro ou é falso. Ele exige que apenas uma das alternativas seja
verdadeira. Como exemplo temos, em um teste de múltipla escolha,
quando escolhemos na verdade apenas entre duas opções - ou está
certo ou está errada - e não há terceira possibilidade ou terceira
alternativa, pois, entre várias escolhas possíveis, só há realmente duas,
a certa ou a errada
Para Aristóteles, ao lado dos princípios, existiam 10 grandes categorias
ordenadoras do mundo: substância, quantidade, qualidade, –relação, lugar,
posição, ter, agir, possessão. Para o filósofo, amante da sabedoria, bastava
captá-las e contemplá-las em suas ordenações e, então, exprimi-las segundo
certos princípios universais do pensar num discurso silogístico correto. Ou seja,
Capítulo 2
47Raciocínio Lógico
como operação do pensamento, o raciocínio se realiza por meio de juízos que
são enunciados linguística e logicamente por proposições encadeadas que
chamamos de silogismo.
Todo o silogismo é formado por três e só três proposições. Tais
proposições designam-se:
a) Premissa Maior - aquela que tem o termo maior
b) Premissa Menor - aquela que tem o termo menor
c) Conclusão - aquela que articula o termo menor com o termo maior
Veja um exemplo clássico do silogismo aristotélico:
Figura 4 – Exemplo clássico do silogismo aristotélico
Todo Homem é Mortal Premissa Maior Antecedente
Sócrates é Homem Premissa Menor Antecedente
Sócrates é Mortal Conclusão Consequente
A premissa maior do silogismo coloca uma realidade universal necessária
fundada na substância (categoria fundamental – a essência da coisa) de que
é feita - o Homem – uma substância cuja característica é a mortalidade de sua
natureza, em qualquer circunstância predicada das outras categorias.
A premissa menor faz a mediação entre o homem universal, qualquer homem,
e o homem particular, Sócrates, esse indivíduo único, que não existe outro igual.
Finalmente a conclusão de todo o argumento sintetiza aquela categoria
universal da mortalidade humana em geral com a universalidade necessária da
mortalidade de Sócrates, um particular. Há toda uma sequência demonstrativa
mediadora e necessária.
Veja mais um exemplo de silogismo:
Todo árbitro é desonesto. PREMISSA MAIOR
João é árbitro. PREMISSA MENOR
Logo, João é desonesto. CONCLUSÃO
Capítulo 2
48 Raciocínio Lógico
O silogismo apresenta:
Um termo maior - assim designado porque é aquele que tem maior
extensão. Ocupa sempre o lugar de predicado na conclusão.
Um termo menor - aquele que tem menos extensão. Ocupa sempre o
lugar de sujeito na conclusão.
Um termo médio - é o intermediário entre o termo maior e o termo
menor. É ele que permite a passagem das premissas à conclusão.
Veja no exemplo dado:
Figura 5 – Termos do silogismo
Mortal
Sócrates
Homem
Termo Maior
Termo Médio
Termo Menor
Aristóteles considerava que todos os argumentos poderiam ser reduzidos
à forma do silogismo. Hoje sabemos que isto não é verdade. Mesmo assim, o
conceito ainda tem muita utilidade na avaliação de argumentos simples.
PRATICANDOPRATICANDO
Que tal exercitar sua compreensão?
Identifique no argumento a seguir os termos
maior, menor e médio.
- Todas as baleias são mamíferos.
- Alguns animais são baleias.
- Logo, alguns animais são mamíferos.
Capítulo 2
49Raciocínio Lógico
Avançando na história até o século 19, observa-se que não houve
modificações substanciais em relação à lógica desenvolvida por Aristóteles,
mais especificamente no que diz respeito a esta teoria do silogismo, só
pequenas variações empreendidas pelos filósofos estoicos, que, diga-se de
passagem, foram os primeiros a dar o nome de lógica a esta disciplina.
No séc. 19 o que já parecia a última voz em termos de lógica sofre uma
reviravolta, surge a lógica simbólica, ou matemática.
Se analisarmos a importância de Aristóteles e de suas investigações no
campo da ciência, veremos sua preocupação com problemas metodológicos
dos mais variados, nesse sentido ele construiu as bases da lógica e da retórica.
Esta última responsável pelo estabelecimento dos mecanismos e formas de
argumentação. Vejamos o que dizem Cruz e Moura (2004, p. 2) analisando
essa importância:
No discurso comum, provar, argumentar e demonstrar são usados com muitos e variados significados. O uso do dia-dia, impreciso por sua própria natureza não gera confusão e desentendimento. Com a mesma insistência com que se exige “prove que estou errado!”, se diz que “esse seu argumento não se sustenta” ou “não tem quem consiga demonstrar que ele está mentindo”. Os pesquisadores das ciências humanas e sociais nada provam, mas argumentam a favor de suas teses. Por sua vez, os físicos e químicos não argumentam a favor de seu resultado, mas os demonstram, empiricamente. Os matemáticos às vezes provam, outras vezes demonstram.
A lógica simbólica: a reformulação de Frege
A lógica matemática foi criada entre o fim do séc. 19 e o início do 20.
Num livro chamado Conceitografia, de 1879, quando o filósofo chamado
Gottlob Frege (1848-1925) lançou os fundamentos de um novo sistema que
reformulou toda a lógica tradicional e a apresentou sob a forma de uma
linguagem matemática.
Uma das maiores contribuições de Frege foi a invenção de símbolos
universais para tornar mais enxuto, conciso e formal o discurso da linguagem
comum que ele considerava muito genérico e ambíguo. Frege criou o que
podemos chamar de uma metalinguagem lógica moderna.
Capítulo 2
50 Raciocínio Lógico
CONCEITOCONCEITO
Metalinguagem – em lógica é uma linguagem
utilizada para descrever algo sobre outra
linguagem, o discurso acerca de uma língua.
Como é isso, em linhas gerais?
Lembram que a lógica de Aristóteles trabalhava com as noções de
categorias universais (que ordenam o mundo) e com os princípios universais
do pensamento (que ordenem o raciocínio)?
Pois bem, sem seguir o modelo silogístico, Frege organiza todas essas
categorias e princípios do discurso numa linguagem lógica mais concisa de
duas maneiras que se completam:
a) Uma lógica proposicional – é um sistema formal desenhado para analisar
certos tipos de argumentos. É “um formalismo matemático através
do qual podemos abstrair a estrutura de um argumento, eliminado a
ambiguidade existente na linguagem natural” (PEREIRA, 2011).
b) Uma lógica dos predicados – é um sistema lógico formado por um
conjunto de fórmulas e um conjunto de regras de inferência. As
fórmulas são sentenças que pertencem a uma linguagem formal.
Nos capítulos 7 e 8 iremos estudar a lógica proposicional e a lógica de
predicados.
CONCEITOCONCEITO
Designa-se por inferência a operação mental
pela qual obtemos de uma ou mais proposições
outra ou outras que nela(s) estava(m) já
implicitamente contida(s).
Capítulo 2
51Raciocínio Lógico
Peano, Russell, Carnap, Gödel, Wittgenstein e Newton da Costa são os
nomes de alguns matemáticos e filósofos famosos que desde o século XX, a
partir dos paradoxos a que chegaram devido a novas descobertas em disciplinas
como a física e a matemática, fizeram desenvolver a lógica matemática tal
como reformulada por Frege.
No nosso tempo há um interesse mundial pelo
avanço de um novo aspecto da lógica descoberto
pelo brasileiro Newton da Costa, a partir de sua
tese de cátedra “Sistemas formais inconsistentes”,
1963 – é a chamada Lógica paraconsistente que
opera e admite contradições, em contraste com
a lógica clássica, cujo princípio básico, como
temos visto, é a não-contradição.
Indagado em entrevista para a Folha de São Paulo sobre o sucesso,
o alcance e a importância da lógica paraconcistente, Da Costa
aponta dois alcances de peso – um prático, no campo da medicina,
de suporte a diagnósticos médicos, e outro avançado no campo
das pesquisas físicas de ponta.
SAIBA QUE
2.3 Aplicando a teoria na prática
A importância da lógica simbólica
Até aqui situamos a lógica e seu desenvolvimento na história. Convido você
a identificar, no percurso histórico traçado, a importância deste conhecimento,
desde seu surgimento até os dias atuais.
Para proceder a essa identificação, vejamos a lógica clássica, tal como
Aristóteles a formulou, e as contribuições que os filósofos deram ao longo do
tempo, que não a alteraram substancialmente. A tal ponto isso é verdadeiro
que, no séc. 18, Kant afirmava ser a lógica uma ciência completa, acabada. A
partir do séc. 19, porém, surgiram inúmeras lógicas, não só para complementá-
la, como a lógica simbólica, mas também para rivalizar com a tradicional.
Capítulo 2
52 Raciocínio Lógico
A importância da lógica tem aumentado com o desenvolvimento
da ciência e da tecnologia, na medida em que seu campo de atuação se
amplia como instrumento do pensar indispensável em filosofia, matemática,
computação, direito, linguística, ciências da natureza e tecnologia em geral.
Neste último quesito, citamos a sua contribuição em setores os mais diversos:
inteligência artificial, robótica, engenharia de produção, administração,
controle de tráfego, entre outros.
Enfim, é a lógica simbólica que nos proporciona inúmeras facilidades em
nossa vida diária que muitas vezes nem suspeitamos, como retirar dinheiro no
caixa eletrônico, distrairmo-nos com os joguinhos computadorizados e digitar
comandos no computador. Por exemplo, ao acionar um ícone que se encontra
na barra de ferramentas, nem sempre sabemos que estamos ativando uma
função matemática, que é um caso particular da lógica simbólica.
2.4 Para saber mais
Título: Introdução à lógica
Autor: Irving M. Copi Editora: Mestre Jou Ano: 1968
Esta é uma obra considerada um manual indispensável ao aluno
que queira aprofundar seus conhecimentos em lógica. É um guia
de estudo muito útil aos estudantes. Traz uma série de exercícios
objetivando o conhecimento prático dos temas tratados.
2.5 Relembrando
Veja de forma sintética o que foi trabalhado neste capítulo.
A lógica, como disciplina, tem um desenvolvimento histórico
indissociável da história da filosofia, haja vista que desde o nascimento
desta última os homens vêm tentando dar um sentido, ou uma lógica
ao mundo.
A primeira formulação de um princípio lógico, o princípio de
identidade, foi esboçada pelo filósofo grego Parmênides e quem
primeiro apresentou um método a fim de conduzir o pensamento
à verdade, chamado método dialético, foi Platão. Não obstante, só
Capítulo 2
53Raciocínio Lógico
com Aristóteles, por meio de sua teoria do silogismo, é que a lógica
seria pela primeira vez sistematizada (em seus princípios e regras),
tornando-se uma disciplina a parte e instrumental as outras ciências.
A lógica tal como sistematizada por Aristóteles teria resistido com
poucas modificações substanciais até o séc. XIX. A partir de Frege,
surgiria um novo sistema lógico baseado na linguagem matemática,
que, utilizando símbolos como quantificadores e variáveis para
designar proposições, tinha como propósito deixar o discurso mais
conciso, enxuto e formal.
2.6 Testando os seus conhecimentos
Responda às questões a seguir:
1) Por que podemos dizer que o desenvolvimento histórico da lógica como
disciplina é indissociável do desenvolvimento histórico da filosofia?
2) Qual a contraposição de Aristóteles em relação ao método dialético criado
por Platão?
3) Baseado no que foi estudado, responda qual era o propósito de Aristóteles
ao criar a teoria do Silogismo.
Onde encontrar
CHALITA, G. Vivendo a filosofia. São Paulo: Ática, 2006.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2001.
MARGUTTI, P. Silogística aristotélica. Disponível em: <http://www.fafich.
ufmg.br/~margutti/Silogistica%20Aristotelica.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2011.
NICOLA, U. Ontologia ilustrada de filosofia. São Paulo: Globo, 2005.
PEREIRA, S. do L. Lógica proposicional. Disponível em: <http://www.ime.usp.
br/~slago/IA-logicaProposicional.pdf>. Acesso em: 16 fev. 2011.
Capítulo 3
55Raciocínio Lógico
A DIVISÃO DA LÓGICA
CAPÍTULO 3
3.1 Contextualizando
Até aqui você vem sendo apresentado à lógica e pode conhecer sua
definição e seu desenvolvimento na história. Estes são conteúdos indispensáveis
para que você possa avançar na compreensão e uso desse conhecimento. Pode
perceber que a preocupação com a lógica não é atual, já estava presente entre
os gregos, e que a lógica é um instrumento bastante utilizado pela ciência, na
medida em que todo conhecimento para ser científico tem que ser lógico.
É muito importante, ainda, que você possa ter percebido, que a lógica
deve ser aplicada na procura e demonstração da verdade. Quando falamos em
procura da verdade, devemos ter claro que esse é um processo que envolve
a relação do pensamento com a realidade. É exatamente em função destes
elementos que se estabelecem as duas grandes divisões da lógica: a lógica
formal e a lógica material – objeto desse capítulo.
Quando falamos em verdade no campo da ciência, nos referimos ao
mundo fenomênico, ou seja, à realidade concreta, aquilo que aparece a
cada um que busca a verdade. No entanto, a definição/conceituação dos
fenômenos, liga-se necessariamente a operações mentais. Assim, é necessária
a observação do pensamento, a forma pela qual ele deve se apresentar para
que possua validade.
Em outras palavras, a validade de um argumento deve ser considerada
no conjunto das operações do qual resultou. Desde o momento de formulação
da ideia até a construção do novo conhecimento com a formulação do
argumento. Veja que este processo implica uma reflexão em dois níveis: o nível
das operações mentais, que se inicia com a formulação da ideia, e o nível da
Capítulo 3
56 Raciocínio Lógico
articulação do pensamento com a realidade, que se efetiva na formulação do
argumento. São esses os problemas que se explicitam na aplicação da lógica
e em decorrência dos quais são definidas as duas divisões da lógica: a lógica
formal e a lógica material.
Ao final deste capítulo esperamos que você esteja apto a:
identificar as duas grandes divisões da lógica;
conceituar a lógica formal e a lógica material.
3.2 Conhecendo a teoria
3.2.1 A lógica formal
Como você pôde ver nos capítulos anteriores, a lógica, sobretudo
no que diz respeito à sua origem, configura-se como um instrumento que
busca fazer com que nossas operações intelectuais sejam corretas e de
acordo com a realidade.
Essa busca se inicia com uma primeira preocupação: o acordo do
pensamento consigo mesmo, para que não apresente contradições. Esta
deve ser a primeira condição de nossas operações intelectuais na busca pela
verdade. Estamos falando do campo de atuação do que chamamos de lógica
formal, que é responsável pelo estudo das leis gerais do pensamento.
Observe o exemplo a seguir:
Todos os mamíferos têm asas – premissa 1
O gato é um mamífero – premissa 2
O gato tem asas – CONCLUSÃO
Temos duas premissas e uma conclusão.
No que diz respeito ao pensamento em relação a si mesmo, ao seu aspecto
formal, a conclusão deste argumento é deduzida corretamente das premissas,
o que garante a sua validade. Confira o que estamos dizendo: da afirmação de
que todos os mamíferos têm asas e da classificação do gato como mamífero,
Capítulo 3
57Raciocínio Lógico
é lógica a conclusão de que o gato (uma vez tendo sido afirmado que é um
mamífero) tem asas. Essa lógica se efetiva no campo formal. Não obstante, se
recorrermos à realidade material, saberemos que a primeira premissa – todos
os mamíferos têm asas - é falsa, o que faz com que, consequentemente, a
conclusão a que se chega também seja falsa.
O exemplo acima deixa evidente que o objetivo da lógica formal não é
avaliar o conteúdo em si, mas se o argumento apresentado foi bem construído.
Partes e bases da lógica formal
Para que você possa compreender o campo de reflexão da lógica formal
é importante que possa saber identificar suas partes constitutivas. São elas:
ideia, juízo e raciocínio – como elementos do pensamento;
termo, proposição e argumento – como representação concreta dos
elementos do pensamento.
De forma esquemática temos:
Ideia TERMO
Juízo PROPOSIÇÃO
Raciocínio ARGUMENTO
A ideia e o termo
A primeira operação do intelecto na busca da verdade é a apreensão dos
fatos, momento em que introjetamos em nós um conhecimento que vem da
realidade. Esse conhecimento possibilita a formação da ideia. É este o ponto
de partida da lógica formal: a ideia. Podemos defini-la como a representação
intelectual de um objeto (homem, Brasil, Pedro, entre outros).
Toda ideia apresenta uma compreensão e uma extensão.
1) A compreensão de uma ideia diz respeito ao seu conteúdo, ao
conjunto dos elementos que a compõe. Assim, a ideia de HOMEM
supõe uma série de elementos para sua compreensão: ser, sensível,
racional, bípede, entre outros.
Capítulo 3
58 Raciocínio Lógico
2) A extensão diz respeito à quantidade de indivíduos que podem ser
depreendidos da ideia. Da ideia de animal, por exemplo, participam
uma grande quantidade de indivíduos: vertebrados, invertebrados,
celenterados, e até mesmo o próprio homem.
Quanto mais compreensiva uma ideia, menos extensa e vice-versa. Por
exemplo, quando nos referimos à ideia de animal, podemos imaginar a partir
dela todos os animais, e ao mesmo tempo não teremos condições de especificar
nenhum. Sua extensão é ampla, ao mesmo tempo, sua compreensão é limitada.
Fica difícil compreender plenamente o que uma pessoa quer dizer quando
pronuncia a palavra animal.
Já, se pensarmos a ideia de homem, esta se aplica a uma categoria
de animal e traz consigo uma série de elementos que contribuem à sua
compreensão. Tal ideia é mais compreensível do que extensa.
As ideias podem ser divididas considerando a capacidade que têm de
representar o objeto, a compreensão e a extensão.
a) Quanto à perfeição, as ideias podem ser:
Adequadas – quando são esgotadas as possibilidades de
conhecimento da coisa (ex.: relâmpago, Marco Polo). Quando
as possibilidades não são esgotadas e as ideias podem referir-se
a mais de uma coisa, elas classificam-se como inadequadas (ex.:
clarão, som, vulto).
Claras – quando os elementos percebidos são suficientes para
distingui-la de outras (ex.: homem, peixe), ela nunca será confundida
com outra. Quando falta clareza de seus elementos é classificada
como obscura (ex.: objeto voador, animal peludo).
Distintas – quando todos os seus elementos são suficientes para
torná-la clara, apresentando dados significativos individualizantes
(ex.: relógio-pulseira de ouro, marca ômega). Quando não há
clareza, a ideia é classificada como confusa (ex.: relógio, veículo).
b) Quanto à compreensão, as ideias podem ser classificadas como:
Simples – quando é composta por um só elemento significativo sua
compreensão é imediata (ex.: ser, ente).
Capítulo 3
59Raciocínio Lógico
Compostas - quando é composta por mais de um elemento
significativo, sua compreensão implica vários elementos (ex.:
homem, animal).
c) Quanto à extensão, por sua vez, as ideias podem ser classificadas
como:
Singulares - quando se referem a um determinado ser ( ex.: este
lápis, o primeiro satélite espacial).
Particulares - quando designam parte de uma classe ou gênero de
seres (ex.: muitos soldados, alguns livros, várias televisões).
Universais - quando designam todos os seres de uma mesma espécie
ou gênero de seres (ex.: animal, racional, homem).
Como a lógica formal estuda as regras do pensamento correto, regras
estas que estão sustentadas pelos três princípios aristotélicos, vistos no capítulo
2, principalmente no princípio da não-contradição, essas regras devem estar
presentes desde o primeiro momento do pensamento que é a apreensão da
ideia. A regra básica, no que diz respeito a este momento, é de que a ideia
não pode conter nenhum elemento contraditório; em outras palavras, para
que uma ideia tenha sentido e seja válida, ela não deve ser composta por
elementos que se excluam. Explicitando: não podemos idealizar um círculo
quadrado, um deus mal, um sol sem luz, entre outros.
Uma vez estabelecida uma ideia é necessário que ela seja comunicada.
Passamos a falar do termo como expressão material da ideia, que permite
que esta seja transmitida de uma pessoa para outra. Assim, o termo é a
representação concreta de uma ideia.
Da mesma forma que a ideia, o termo também se classifica a partir da
capacidade que tem de representar o objeto, sua extensão e sua compreensão.
a) Quanto à capacidade que apresenta de representar o objeto, o termo
pode ser classificado como:
Unívoco – quando se aplica a uma única ideia, designando sempre
a mesma coisa, possui sempre o mesmo significado. Exemplos:
Deus, casa, cadeira.
Capítulo 3
60 Raciocínio Lógico
Equívoco – quando se aplica a ideias diversas, possui duas ou mais
significações completamente diversas entre si. Exemplos: manga
(de camisa, fruta), vela (de barco, de acender).
Análogo – quando possui vários significados que, apesar de se
diferenciarem, guardam entre si alguns nexos. Exemplos: Visão/
Olho = Intelecção/Inteligência.
b) Quanto à extensão, o termo pode ser:
Singular – quando se refere a um único indivíduo. É exemplo: este
livro.
Particular – quando se refere a certo número de indivíduos.
Exemplo: alguns homens.
Universal – quando representa uma ideia universal. Exemplo:
homem.
c) Quanto à compreensão, o termo pode ser:
Incomplexo – quando o termo é composto por um só elemento
vocabular. Exemplo: casa, árvore.
Complexo – quando é composto por mais de um universo vocabular.
Exemplo: guarda-roupa, navio-escola.
PRATICANDOPRATICANDO
Agora teste sua compreensão sobre os termos
classificando-os quanto à capacidade de
representar o objeto, quanto à extensão e
quanto à compreensão.
TERMO
QUANTO À CAPACIDADE DE REPRESENTAR O
OBJETO
QUANTO À EXTENSÃO
QUANTO À COMPREENSÃO
cadeira
quadro negro
animal
comunidade
alemã
Capítulo 3
61Raciocínio Lógico
A explicação da ideia e do termo, de tal forma que não se estabeleça
a contradição, remete-nos à exigência da definição. Na sua vida acadêmica,
você, vez por outra, é solicitado a definir alguma coisa. Por exemplo, se está
cursando direito é solicitado a definir JUSTIÇA; se faz odontologia, deve
saber definir SAÚDE; se é aluno de pedagogia, deve definir EDUCAÇÃO e
assim por diante.
DEFINIÇÃODEFINIÇÃO
Apesar de muitas vezes usados como sinônimos,
os termos DEFINIR e CONCEITUAR têm
significados diferentes. Assim:
CONCEITO – “Instrumento mental que nos
serve para pensar as diversas realidades,
representando-as no nosso espírito. Por ele nós pensamos um
conjunto de propriedades (formando a sua compreensão) como
realizadas num conjunto de objectos (constituindo a sua extensão)
(M. Gex). O conceito reúne as características comuns ao conjunto
de seres da mesma espécie, distinguindo-os dos seres constitutivos
de outra(s) espécie(s). Enquanto representação mental, o conceito
distingue-se do termo, a sua expressão verbal. Assim, o conceito de
ser humano (animal racional) pode exprimir-se pelos termos homem,
hombre, homme...” (DICIONÁRIO, 2011).
DEFINIR – “Enunciar os atributos, as características específicas de
uma coisa (objeto, ideia, ser) de tal modo que ela não se confunda
com outra. Dizer exatamente, explicar a significação de. Demarcar,
fixar” (DICIONÁRIOWEB, 2011).
Uma boa definição deve estabelecer o gênero próximo e a diferença
específica. Como exemplo, podemos citar a definição de Homem, seu gênero
próximo é animal e a diferença específica é que o Homem é racional.
Assim, temos como exemplo de uma possível DEFINIÇÃO de homem: o
homem é um animal racional.
Segundo Nerici (1988, p. 40), uma boa definição deve ser orientada por
algumas regras, a saber:
1. “A definição deve convir somente ao definido.” Assim sendo, será possível substituir a definição pelo definido, sem possibilidade de equívoco. [...]
Capítulo 3
62 Raciocínio Lógico
2. “Deve ser curta para ser memorizada.” É desejável que assim seja mas nem sempre isso é possível. [...]
3. “Deve ser clara e precisa.” Esta é uma exigência fundamental para a definição e, de certo modo, encerra as duas regras anteriores. [...]
4. A definição não deve ter elementos supérfluos. [...]5. A definição não deve ser negativa quando pode ser positiva. O
objeto deve ser definido, preferencialmente, pelo que é, e não, pelo que não é.
6. A definição não deve ser tautológica, isto é, não deve ser mera repetição do definido.
Com esta orientação é possível construir uma boa definição, capaz de
possibilitar a compreensão do que a coisa é. Quando definimos, estamos
também delimitando.
O juízo
Depois de formadas, as ideias passam a se relacionar entre si. Desta
relação surge o juízo. Ou seja, depois que o espírito apreende as ideias, o
próximo passo consiste em compará-las e, consequentemente, produz-se um
julgamento de inconveniência ou conveniência entre as mesmas. Temos assim
um juízo. É através dele que tornamos as ideias falsas ou verdadeiras. O juízo,
portanto, pode ser definido como “o ato em que o espírito ‘afirma ou nega
uma coisa de outra’” (NERICI, 1988, p. 43).
Quando um juízo é expresso verbalmente, temos a proposição. Sobre a
proposição estudaremos no capítulo 5.
A proposição é um enunciado no qual afirmamos ou negamos um termo (um conceito) de outro. No exemplo “Todo cão é mamífero“ (Todo C é M), temos uma proposição em que o termo “mamífero” afirma-se do termo “cão” (ARRUDA; MATINS, 2010, p. 131).
Se o juízo ou proposição é fruto da correlação entre ideias, e se esta
relação acaba por se estabelecer como um julgamento, cada ideia ou parte
que compõe esta proposição deve ter uma função determinada. Estamos
falando nas partes de um juízo, a saber:
o sujeito – a ideia da qual se afirma alguma coisa;
o predicado – a ideia que afirma alguma coisa do sujeito;
o verbo – a afirmação em si, une o predicado ao sujeito.
Capítulo 3
63Raciocínio Lógico
Exemplo:
Maria está grávida
(ideia/sujeito) (verbo) (ideia/predicado)
Um juízo pode ser classificado como analítico ou sintético.
Juízo analítico - aquele em que o predicado está contido na noção do
sujeito. Exemplo: O leite é branco.
Juízo sintético – aquele em que o predicado não está contido na
noção do sujeito. Exemplo: Maria está doente.
Kant, filósofo alemão, já precisava a especificidade dos juízos analíticos
e sintéticos.
Em todos os juízos, nos quais se pensa a relação entre um sujeito e um predicado [...], esta relação é possível de dois modos. Ou o predicado B pertence ao sujeito A como algo que está contido (implicitamente) nesse conceito A, ou B está totalmente fora do conceito A, embora em ligação com ele. No primeiro caso chamo analítico ao juízo, no segundo, sintético (KANT, 1997 apud FERREIRA, 2011).
Segundo Kant, o juízo analítico independe da experiência, por isso é a
priori; por sua vez, o juízo analítico é a posteriori, isto é, empírico – depende
da experiência.
PRATICANDOPRATICANDO
Vamos praticar?
Identifique as partes dos juízos abaixo e
classifique-os (analíticos ou sintéticos):
1. Cláudia estudou a matéria da prova.
2. O círculo é redondo.
3. A casa é de taipa.
Capítulo 3
64 Raciocínio Lógico
O argumento e o raciocínio
Chegamos ao momento da lógica formal, que pode ser considerado a
síntese de todo processo sobre o qual ela se debruça e que, ao mesmo tempo,
se constitui o ponto de partida para o desenvolvimento da lógica material:
estamos falando do argumento. Recapitulemos o que foi dito até então sobre
o processo intelectivo. Em primeiro lugar, o nosso intelecto apreende as ideias,
logo depois, relaciona-as formando os juízos que são ordenados de forma
a se chegar a uma conclusão sobre determinado assunto, produzindo novo
conhecimento. Todo esse percurso constrói um argumento. É fundamental
que tenhamos argumentos convincentes, argumentos capazes de garantir o
nosso ponto de vista.
Veja o caminho que vai da ideia ao argumento: o primeiro momento é
a apreensão dos fatos e a formação das ideias, que são enunciadas através do
termo; a seguir, da relação das ideias entre si formula-se o juízo. A enunciação
do juízo através da palavra falada ou escrita recebe o nome de proposição.
A formulação de juízos nos encaminha para conclusões. Toda essa operação
mental recebe o nome de raciocínio, cuja enunciação, através da palavra
escrita ou falada, recebe o nome de argumento. O argumento pode ser
definido como “um discurso em que encadeamos proposições para chegar a
uma conclusão” (ARRUDA; MARTINS, 2010, p. 133). O argumento é, ainda, o
meio utilizado para convencer alguém acerca de algo
Podemos inferir que o raciocínio, e sua enunciação através do argumento,
é o remate final de todo o processo do pensamento.
Quando você estudou a história da lógica pôde conhecer sobre o
silogismo aristotélico, que não é outra coisa senão a maneira mais básica de se
demonstrar um argumento. O silogismo é a fórmula que possibilita analisar,
por meio do argumento, o grau de perfeição e validade do raciocínio.
Você também viu que o silogismo é um argumento formado por dois
antecedentes e uma conclusão. Os antecedentes são chamados de premissas.
A veracidade da conclusão do silogismo é orientada por duas regras
fundamentais:
Capítulo 3
65Raciocínio Lógico
1) Se as premissas forem verdadeiras, a conclusão será verdadeira.
Veja o exemplo:
Todo metal conduz
energia
antecedente V
PREMISSAS
O bronze é um metal antecedente V
Logo,
O ouro conduz energia consequente F CONCLUSÃO
2) Se as premissas foram falsas, a conclusão será falsa.
Veja o exemplo:
Todo animal voa antecedente FPREMISSAS
O homem é um animal antecedente F
Logo,
O homem voa consequente F CONCLUSÃO
Afinal, o que significa argumentar?
De forma sintética podemos afirmar que argumentar é apresentar uma
proposição como sendo uma consequência de duas ou mais proposições. De
modo geral, um argumento é constituído por premissas (p, p1, ..., pn) nas
quais nos baseamos para afirmar outra premissa que é a conclusão.
Um argumento pode ser apresentado de duas formas:
1) A forma simbólica
p1, p2, ..., pn c
premissas conclusão
2) A forma padronizada
Capítulo 3
66 Raciocínio Lógico
P1premissas
P2
...
Pn
C conclusão
Um argumento válido é aquele cuja conclusão decorre do que foi
afirmado nas premissas. É preciso, ainda, que as premissas e a conclusão
estejam relacionadas corretamente. Neste sentido, quando a conclusão
é uma consequência necessária das premissas, dizemos que o argumento
é válido. Quando a conclusão não é uma consequência necessária das
premissas, dizemos que o argumento é inválido.
Veja o exemplo:
Bruno é uma pessoa que tem boa memória para fatos ou objetos vistos
anteriormente, pois é paranaense e todo paranaense tem boa memória para
fatos ou objetos vistos anteriormente.
Veja agora a forma lógica desse argumento:
Bruno é paranaense PREMISSA 1
Todos os paranaenses têm boa memória para fatos ou objetos vistos anteriormente.
PREMISSA 2
Logo,
Bruno é uma pessoa que tem
boa memória para fatos ou
objetos vistos anteriormente.
CONCLUSÃO
Neste caso, a conclusão decorre necessariamente das premissas 1 e 2.
Portanto, podemos afirmá-lo como argumento válido.
Capítulo 3
67Raciocínio Lógico
PRATICANDOPRATICANDO
Considerando a forma simbólica e a forma
padroniza de apresentar um argumento, exercite
sua compreensão sobre o assunto colocando o
argumento acima na forma simbólica e na forma
padronizada.
Até aqui falamos da validade formal de um argumento, torna-se
necessário agora assegurar a validade material, esse é o campo de ação da
lógica material.
3.2.2 A lógica material
Até aqui, você foi apresentado à lógica formal, responsável pelo
estudo das leis gerais do pensamento. Convidamos você, agora, a pensar a
relação do nosso pensamento com os fatos da realidade. Este é o campo da
lógica material.
A lógica material se desenvolveu com as transformações no conceito
de ciência. Momento em que se passou a exigir a comprovação empírica do
conhecimento produzido para explicar a realidade. Sabe-se que a partir do
séc. XVI, com a consolidação da revolução científica, a ciência, até então um
conhecimento voltado à explicação da realidade, passou a ser um conhecimento
experimental voltado à transformação da natureza.
A verdade e o erro
A relação pensamento/realidade move o homem a estabelecer juízos sobre
a realidade do mundo. Esse processo pode se desenvolver em duas perspectivas:
a da verdade lógica – quando se verifica a correspondência do pensamento
com a realidade; ou a do erro, quando não há essa correspondência. Apesar
do conhecimento dos princípios do raciocínio correto, postulados pela lógica
formal, o homem continua sujeito ao erro, tomando o falso como verdadeiro.
Você pode perceber que a lógica, como todo conhecimento filosófico e
científico, constrói-se tendo como referência a verdade. O que é a verdade?
Podemos elencar uma série de definições. Veja algumas:
Capítulo 3
68 Raciocínio Lógico
1. Correspondência entre o conhecimento e o objeto – É o conceito mais antigo e que pode ser expresso como ‘o acordo do pensamento com seus objetos’.
2. Coerência lógica – Segundo este conceito, a verdade exclui o objeto, que não pode ser conhecido em sua essência, em si [...]. Logo, um juízo será verdadeiro quando se ajustar às normas e leis do pensamento.
3. Utilidade prática – É o conceito de funcionalidade, de utilidade que vai prevalecer (NERICI, 1988, p. 17-8).
Podemos definir duas perspectivas de verdade: a verdade ontológica e a
verdade lógica.
Jolivet (2011) define as duas perspectivas de verdade afirmando que:
1) A verdade ontológica exprime o ser das coisas, enquanto corresponde
exatamente ao nome que se lhe dá, enquanto, por conseguinte, é
conforme à ideia divina de que procede. As coisas, com efeito, são
verdadeiras enquanto são conformes às ideias segundo as quais foram
feitas. Conhecer esta verdade, quer dizer, conhecer as coisas tais quais
são, é tarefa de nossa inteligência.
2) A verdade lógica exprime a conformidade do espírito às coisas, isto
é, à verdade ontológica. Desde que eu afirme: “Este ouro é puro”,
enuncio uma verdade, se verdadeiramente a pureza pertence a este
ouro, isto é, se meu julgamento está conforme ao que é.
Ainda segundo Jolivet (2011), diante do verdadeiro, o espírito humano
pode se apresentar em quatro estados diferentes:
1) Ignorância – caracteriza-se pela ausência de conhecimento do objeto.
2) Dúvida – caracteriza-se pelo estado de equilíbrio entre afirmação e
negação do objeto, levando a uma suspensão de juízo.
3) A opinião – consiste na afirmação ou negação acerca do objeto com
medo de estar equivocado.
4) A certeza e a evidência – enquanto a certeza é a adesão a uma verdade
sem temor de engano; a evidência é o que fundamenta nossa certeza.
Capítulo 3
69Raciocínio Lógico
Uma vez explicitada a compreensão de verdade, é fundamental também
dizer alguma coisa sobre o seu oposto: o erro.
Segundo o filósofo Régis Jolivet (apud COTRIM, 1989) o erro tem causas
lógicas, psicológicas e morais. Em lógica, o erro se chama falsidade, em moral
chama-se mentira.
As causas lógicas ligam-se à falta de inteligência.
Causas psicológicas ligam-se à falta de atenção e de memória.
As causa morais, para este pensador, verdadeiras causas do erro, são
basicamente de três ordens: a vaidade, o interesse e a preguiça.
Como remédios contra o erro, o filósofo aponta:
Os remédios lógicos – constituem-se em uma higiene intelectual,
estimulando-se a memória, controlando-se a imaginação.
Os remédios morais – que podem ser sintetizados no amor à
verdade, que nos impulsiona a julgar com imparcialidade, paciência e
perseguição da verdade.
Pode ocorrer de um raciocínio sobre a realidade se apresentar com
aparência de verdade. Neste caso estamos diante de um sofisma.
DEFINIÇÃODEFINIÇÃO
SOFISMA – “não é mais do que um raciocínio
falso. Esta falsidade pode nascer da má aplicação
do raciocínio em premissas certas ou do raciocínio
certo em premissas falsas. O sofisma pode ou
não ser empregado com intenção de enganar”
(NERICI, p. 77).
Vejamos agora quais os tipos mais frequentes de Sofisma.
a) Equívoco e ambiguidade – este sofisma resulta do emprego de uma
mesma palavra em dois ou mais sentidos.
Capítulo 3
70 Raciocínio Lógico
Exemplo: Toda barata é um inseto.
Esta flor é barata.
Logo, esta flor é um inseto.
b) Ignorância da causa – este sofisma resulta daquelas inferências
cotidianas, quando concluímos que um fato foi causado
por circunstâncias acidentais que o antecederam, e que não
necessariamente sejam a causa verdadeira.
Exemplo: Não levo meu primo em jogo do meu time, porque das vezes
em que levei, meu time perdeu: ele é pé frio.
c) Comparação indevida – este sofisma resulta das semelhanças que
estabelecemos entre objetos, sem, no entanto, preocuparmo-nos com
as diferenças dos mesmos.
Exemplo: Os animais são seres vivos como os vegetais. Os animais se
locomovem. Logo, os vegetais também se locomovem.
d) Petição de princípio – este sofisma ocorre quando resolvemos tomar
como verdade demonstrada aquilo que já está em discussão.
Exemplo: Tal ação é injusta porque é condenável; e é condenável
porque é injusta.
Superar o erro é, portanto, o que o ser humano almeja. Essa superação
implica distingui-lo da verdade. Acima falamos conceitualmente sobre o erro,
agora vamos entender conceitualmente a verdade.
A lógica, seja na reflexão sobre as operações do pensamento (lógica
formal), seja na reflexão sobre a relação deste com a realidade (lógica
material), persegue o raciocínio correto, buscando superar o erro. Para
finalizar, veja que esta é uma preocupação presente em cada um de nós,
descrita em ditos populares:
Errar é humano, persistir no erro é burrice.
Capítulo 3
71Raciocínio Lógico
3.3 Aplicando a teoria na prática
Veja o que afirmamos abaixo e pense em uma situação em que você já
foi convencido, em algum momento, a partir do argumento dado por alguém.
A formulação de argumentos válidos em nossa vida pessoal ou profissional
possibilita levarmos adiante nossos projetos. Saber argumentar é uma forma
efetiva de inserção na realidade. É tão evidente o valor da boa argumentação
que, em muitas situações, uma disputa é vencida pelo que chamamos de
argumento de autoridade. Ou seja, a conclusão de um argumento se sustenta
no conhecimento, ou reputação de uma autoridade.
Essa autoridade pode ser uma pessoa, uma instituição. No entanto, é
importante destacar que um argumento de autoridade apenas é um bom
argumento se a autoridade em causa é realmente qualificada em relação ao
assunto acerca do qual desejamos provar a conclusão.
Por exemplo, quando afirmamos que segundo órgãos de defesa
ambiental há 90% de probabilidade de o aquecimento global ter uma causa
humana, estamos afirmando que é muito provável que o aquecimento global
tenha sido causado pelos seres humanos. Neste caso, procura-se provar a
participação do homem no aquecimento global recorrendo à autoridade dos
órgãos responsáveis pelo meio ambiente. Se aceitarmos que estes órgãos são
qualificados, temos um bom argumento.
3.4 Para saber mais
Título: Educando para a argumentação: contribuições do ensino da lógica
Autor: Patrícia Del Nero Velasco Editora: Autêntica Editora Ano: 2010
Este livro oferece uma introdução às noções elementares de lógica,
possibilitando um contato com os seus conceitos fundamentais.
Apresenta noções elementares da chamada lógica não formal, que
independe da formalização e da simbologia típicas da matemática.
Com a utilização de fragmentos jornalísticos, quadrinhos e outras
ferramentas que ilustram e dão suporte aos conceitos apresentados,
possibilita uma incursão prazerosa ao universo da lógica.
Capítulo 3
72 Raciocínio Lógico
3.5 Relembrando
Neste capítulo você aprendeu que a lógica apresenta duas grandes
divisões:
a) Lógica formal - trata do acordo do pensamento consigo mesmo e
tem como ponto central de estudo o argumento e o raciocínio em
si, especificamente os elementos básicos que o compõe: a ideia, a
proposição e enfim ele mesmo, o argumento.
b) Lógica material - trata do estudo do raciocínio em sua dependência
em relação ao conteúdo material, aos objetos da realidade a que se
dirige.
São partes constitutivas da lógica formal:
ideia, juízo e raciocínio – como elementos do pensamento;
termo, proposição e argumento – como representação concreta
dos elementos do pensamento.
De forma esquemática temos:
Ideia TERMO
Juízo PROPOSIÇÃO
Raciocínio ARGUMENTO
A ideia é o ponto de partida da lógica formal. O termo é a
representação concreta de uma ideia.
O juízo pode ser definido como “o ato em que o espírito ‘afirma ou
nega uma coisa de outra’” (NERICI, 1988, p. 43). Quando um juízo
é expresso verbalmente temos a proposição.
A operação mental que vai da ideia ao argumento recebe o nome
de raciocínio. A enunciação deste através da palavra escrita ou
falada recebe o nome de argumento.
Capítulo 3
73Raciocínio Lógico
A lógica, como todo conhecimento filosófico e científico, constrói-
se tendo como referência a verdade.
O conceito de verdade é amplo, pode ser pensado em duas
perspectivas: a verdade ontológica e a verdade lógica.
O oposto da verdade é o erro.
O erro tem causas lógicas e causas morais. Em lógica, o erro se
chama falsidade, em moral chama-se mentira.
Existem raciocínios que se apresentam com aparência de verdade –
são os sofismas. Os tipos mais frequentes de Sofisma são: equívoco
e ambiguidade; ignorância da causa; comparação indevida; petição
de princípio.
3.6 Testando os seus conhecimentos
1) Observe os sofismas I e II e responda o que se pede:
I. Toda violeta é roxa
Toda violeta é flor
Logo, toda flor é roxa
II. Alguns humanos são sábios
Alguns humanos não são inteligentes
Logo, alguns sábios não são
inteligentes
a) Em cada um desses sofismas identifique as premissas e a conclusão.
b) Identifique os três termos que compõem o silogismo.
2) Considerando os tipos mais frequentes de sofismas estudados neste capítulo,
classifique-os:
a) O cigarro prejudica a saúde porque faz mal para o organismo.
b) Toda barata é um inseto. Esta flor é barata. Logo, esta flor é um inseto.
c) Maria viu um gato preto antes de cair da escada. Logo, ela caiu
porque viu um gato preto.
Capítulo 3
74 Raciocínio Lógico
Onde encontrar
ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando. Rio de Janeiro:
Moderna, 2010.
COTRIM, G. Fundamentos da filosofia. São Paulo: Saraiva, 1989.
DICIONÁRIO de Filosofia. Sobre as definições de conceito. Disponível em:
<http://www.terravista.pt/ancora/2254/lexc.htm>. Acesso em: 12 abr. 2011.
DICIONÁRIOWEB. Definir. Disponível em: <http://www.dicionarioweb.com.br/
definir.html>. Acesso em: 20 abr. 2011.
FERREIRA, I. L. A distinção analítico-sintético. Disponível em: < http://www.
diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/conteudo/artigos_
teses/FILOSOFIA/Dissertacoes/Isaias.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2011.
JOLIVET, R. Lógica material. Disponível em: <http://www.consciencia.org/
cursofilosofiajolivet6.shtml>. Acesso em: 25 abr. 2011.
______. Curso de filosofia. Rio de Janeiro: Agir, 1966.
NERICI, I. G. Introdução à lógica. São Paulo: Nobel, 1988.
VELASCO, P. D. N. Educando para a argumentação: contribuições do ensino
da lógica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. (Coleção Ensino de
Filosofia, 3).
Capítulo 4
75Raciocínio Lógico
ARGUMENTO E RACIOCÍNIO - DEDUÇÃO E INDUÇÃO
CAPÍTULO 4
4.1 Contextualizando
Você viu no capítulo anterior, quando estudou a lógica formal, que o
raciocínio e sua expressão verbal, o argumento, constituem o remate final
de todo o processo do pensamento. Quando afirmamos alguma coisa sobre
algo, precisamos apresentar evidências sobre a nossa afirmação. Neste caso,
estamos argumentando. Não podemos saber tudo só por observação. Por
exemplo, por testemunho sabemos que a Terra é redonda — são os cientistas
que o dizem. Mas como eles sabem isso? Sabem-no raciocinando intensamente
a partir de vários dados relevantes. Esses dados constituem as evidências que
sustentam suas afirmações.
Assim, o argumento tem importância fundamental no processo de
apreensão e intervenção na realidade. Quando apresentamos uma ideia e
queremos que seja considerada, precisamos de um bom argumento. O bom
argumento é aquele que convence. Isso serve para qualquer plano da vida:
para o homem do senso comum, para o advogado, para o engenheiro, para o
assistente social, ou para o médico.
No ensino de excelência procura-se que o estudante ganhe autonomia
para raciocinar por si, isto significa que não se quer que ele se limite a repetir o
que diz o professor ou o livro. Essa autonomia é possibilitada quando sabemos
raciocinar bem. Basicamente, há dois processos segundo os quais organizamos
os nossos raciocínios: a dedução e a indução.
Ao final da leitura do capítulo, esperamos que você seja capaz de:
diferenciar um raciocínio dedutivo de um raciocínio indutivo;
Capítulo 4
76 Raciocínio Lógico
conhecer as técnicas de dedução;
identificar os tipos de indução;
identificar um argumento inválido, expresso nas falácias.
4.2 Conhecendo a teoria
4.2.1 Definindo a dedução
Até aqui você pôde perceber que raciocinar ou argumentar é um ato
próprio da inteligência humana. Esse ato se efetiva quando partimos de
premissas que apresentam evidências e que levam a uma conclusão.
Podemos raciocinar ou argumentar logicamente de três modos:
dedutivamente, indutivamente ou analogicamente – apesar de a analogia
ser apresentada como um modo de raciocínio, ela será estudada enquanto
uma “indução imperfeita, que conclui do particular para o particular” (NERICI,
1988, p. 74).
Vamos começar estudando o modo dedutivo de raciocinar.
O raciocínio dedutivo mereceu destaque entre os lógicos desde o tempo
de Aristóteles. A dedução é um tipo muito específico de raciocínio porque
não produz nenhum conhecimento novo. A dedução é tão somente um
esclarecimento. Esse raciocínio torna visível aquilo que já sabemos. O resultado
é, portanto, um resultado óbvio, mesmo para quem não conhece o assunto
tratado. Ou seja, o argumento dedutivo tem como característica principal a
necessidade lógica que o acompanha.
Veja a seguir algumas formas lógicas do raciocínio dedutivo:
Todo A tem a propriedade f.
X é A.
Logo, x tem a propriedade f.
Vamos entender o raciocínio anterior. Perceba que: ele inicia com uma
proposição universal (“Todo A tem a propriedade f”), que é seguida por uma
Capítulo 4
77Raciocínio Lógico
proposição particular (“x é A”), e termina numa conclusão que também é uma
proposição particular (“Logo, x tem a propriedade f”).
Agora veja o exemplo:
Todo metal é dilatado pelo calor.
(Premissa maior)– PROPOSIÇÃO
UNIVERSAL
A prata é um metal. (Premissa menor)– PROPOSIÇÃO
PARTICULAR
Logo, a prata é dilatada pelo calor.
(Conclusão)– PROPOSIÇÃO
PARTICULAR
Veja outra formula válida de raciocínio dedutivo:
Todo A tem a propriedade f.
Todo B é A.
Logo, todo B tem a propriedade f.
Vamos entender com o exemplo:
Todos os sul-americanos são homens.
Todos os brasileiros são sul-americanos.
Logo, todos os brasileiros são homens.
Neste caso temos duas premissas universais e uma conclusão que também
é universal. O raciocínio dedutivo procede do universal para o particular.
Acima dissemos que, mesmo sem entender, considerando as formas do
raciocínio dedutivo, chegamos a sua conclusão. O que estamos dizendo está
expresso no exemplo que segue:
Todo zebetrix é zibilex. (Todo A é B)
Zapalix é zebetrix. (C é A)
Logo, zapalix é zibilex. (Logo, C é B)
No caso específico, você não deve saber o que é um zebetrix, nem um
zapalix e nem tampouco um zibilex. No entanto, pela forma lógica, pode
inferir a validade do argumento.
Capítulo 4
78 Raciocínio Lógico
Em um raciocínio dedutivo:
A conclusão se segue necessariamente das
premissas.
SAIBA QUE
Em síntese, podemos dizer que os raciocínios dedutivos são aqueles em
que a verdade das premissas é logicamente preservada na conclusão.
Quando você estudou a história da lógica, no capítulo 2, viu que
Aristóteles foi um filósofo que desenvolveu importantes estudos sobre a
lógica. Ele chamou de silogismo (teoria do raciocínio ou cálculo) os processos
lógicos do raciocínio perfeito. Pois bem, o silogismo, enquanto argumentação
lógica perfeita, é um tipo de raciocínio demonstrativo ou dedutivo.
Está lembrado do exemplo clássico do silogismo aristotélico, visto no
capítulo 2 do nosso livro? Sugerimos que volte a esse capítulo e retome o
exemplo.
Naquela ocasião você soube que Aristóteles queria captar e traduzir o
mundo, as coisas, as relações, através de um raciocínio perfeito que pudesse
ser posto num discurso correto, inteligível, sem ambiguidades ou contradições.
Assim é que a base da teoria do silogismo de Aristóteles é a correspondência
necessária e mediadora entre a realidade e o discurso.
Uma vez que o silogismo se apresenta como a forma perfeita do
raciocínio dedutivo, a expressão formal do método dedutivo, apesar de já ter
sido abordado no capítulo 2, é importante que aprofundemos um pouco seu
conhecimento.
Você já estudou que um silogismo é composto por premissas - uma
premissa maior, uma premissa menor e a conclusão. Saiba também que é
composto por três termos: maior, médio e menor.
Capítulo 4
79Raciocínio Lógico
a) O termo maior apresenta a maior extensão, integra a premissa maior
e aparece como predicado na conclusão.
b) O termo médio tem extensão intermediária e não aparece na
conclusão.
c) O termo menor tem menor extensão, integra a premissa menor e é o
sujeito da conclusão.
Parece complicado não é? Vamos utilizar um exemplo para facilitar a sua
compreensão.
Exemplo:
Todo brasileiro é sul-americano.
Os natalenses são brasileiros.
Logo, os natalenses são sul-americanos.
A partir do exemplo dado vamos analisar a relação entre as premissas e
a relação entre os termos.
Relação entre as premissas:
Premissa maior Todo brasileiro (A) fala português (B) Todo A é B
Premissa menor Os natalenses (C) são brasileiros (A) Todo C é A
Conclusão Os natalenses (C) falam português (B) Todo C é B
Relação entre os termos:
Termo maior: Falar portuguêsApresenta a maior extensão, integra a premissa maior e aparece como predicado na conclusão.
Termo médio: BrasileiroTem extensão intermediária e não aparece na conclusão.
Termo menor: NatalenseTem menor extensão, integra a premissa menor e é o sujeito da conclusão.
Capítulo 4
80 Raciocínio Lógico
E agora? Esperamos que o exemplo tenha possibilitado uma melhor
compreensão sobre a composição de um silogismo.
A veracidade da conclusão de um silogismo é orientada por duas regras:
a) Se as premissas forem verdadeiras, a conclusão será verdadeira.
O homem é mortal – PREMISSA – verdadeira
João é homem – PREMISSA – verdadeira
João é mortal – CONCLUSÃO – verdadeira
b) Se as premissas forem falsas, a conclusão poderá ser verdadeira ou
falsa.
Todo homem é inteligente
– PREMISSA – falsa (isso não pode ser
afirmado)
Jaci é homem – PREMISSA – falsa (Jaci pode ser mulher)
Jaci é inteligente – CONCLUSÃO – (pode ser verdadeira ou falsa)
Capítulo 4
81Raciocínio Lógico
PRATICANDOPRATICANDO
Vamos praticar um pouco a partir de uma
questão sobre silogismo elaborada pela
Fundação Getúlio Vargas, no ano de 2009, para
um concurso do MEC.
6 - Q59381 (FGV - 2009 - MEC - Documentador /
Raciocínio-Lógico / Proposição).
O silogismo é uma forma de raciocínio dedutivo. Na sua forma
padronizada, é constituído por três proposições: as duas primeiras
denominam-se premissas e a terceira, conclusão.
As premissas são juízos que precedem a conclusão. Em um silogismo,
a conclusão é consequência necessária das premissas.
São dados três conjuntos formados por duas premissas verdadeiras e
uma conclusão não necessariamente verdadeira.
Premissa 1: Todos os mamíferos são homeotérmicos
Premissa 2: Todas as baleias são mamíferas
Premissa 3: Todas as baleias são homeotérmicas
Premissa 1: Todos os peixes são pecilotérmicos
Premissa 2: Todos os tubarões são pecilotérmicos
Premissa 3: Todos os tubarões são peixes
Premissa 1: Todos os primatas são mamíferos
Premissa 2: Todos os mamíferos são vertebrados
Premissa 3: Todos os vertebrados são primatas
Assinale:
a) se somente o conjunto I for um silogismo;
b) se somente o conjunto II for um silogismo;
c) se somente o conjunto III for um silogismo;
d) se somente os conjuntos I e III forem silogismos;
e) se somente os conjuntos II e III forem silogismos.
I
II
III
Capítulo 4
82 Raciocínio Lógico
Agora, vamos comentar um pouco sobre a questão anterior que
você acabou de resolver. Veja que a alternativa a é a correta uma vez que
segue uma das formas do raciocínio dedutivo, ou seja: Todo A é F / X é A /
Logo, X é F. Assim, só no conjunto II a conclusão é consequência necessária
das premissas.
4.2.2 O raciocínio indutivo
Diferente do raciocínio dedutivo que, como você viu anteriormente, não
produz novo conhecimento - apenas esclarece o conhecimento já produzido
- o raciocínio indutivo amplia o conhecimento. É um raciocínio pelo qual,
partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma
verdade geral ou universal.
O dicionário de filosofia define a indução como:
Operação mental que consiste em remontar de um certo número de proposições dadas, geralmente singulares ou especiais, a que chamaremos indutoras, a uma proposição ou a um pequeno número de proposições mais gerais, chamadas induzidas, tais que implicam todas as proposições indutoras (LALANDE, 1999, p. 559).
Veja o que estamos dizendo a partir de um exemplo prático:
da observação de que o ferro conduz eletricidade, o cobre conduz
eletricidade, o zinco conduz eletricidade; da observação de que ferro,
cobre e zinco são metais – por meio de um raciocínio indutivo conclui-se
que o metal conduz energia.
Assim, o método indutivo parte de premissas observadas para chegar
a uma conclusão que contém informações sobre fatos não observados. O
objetivo dos argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito
mais amplo do que o das premissas nas quais se baseiam. É justamente neste
aspecto que se efetiva a crítica à indução. Estamos falando do salto indutivo.
Vamos explicar.
A ciência moderna é construída com base neste tipo de raciocínio. Na
medida em que conclusões são construídas a partir da observação de casos
particulares, constrói-se novo conhecimento. A questão que se coloca é que
por mais ampla que sejam as observações, existirão casos que não serão
Capítulo 4
83Raciocínio Lógico
considerados – ou porque já ocorreram, ou porque ainda ocorrerão, ou mesmo
porque escaparam à análise do pesquisador. Considere-se que um caso que
contrarie a observação, nega a conclusão.
Para que um raciocínio indutivo seja legítimo é necessário que:
1) o número de proposições de observação que forma a base de uma
generalização deve ser grande;
2) as observações devem ser repetidas sob uma ampla variedade de
condições;
3) nenhuma proposição de observação deve conflitar com a lei universal
derivada.
O raciocínio indutivo se efetiva em três etapas:
1ª etapa Observação dos fenômenos – Pedro, Paulo, ..., João são mortais.
2ª etapaDescoberta da relação entre
esses fenômenos
– Pedro, Paulo, ..., João são homens. (há
uma relação entre ser homem e ser
mortal para estes casos observados)
3ª etapa
Generalização da relação
encontrada entre os fatos
semelhantes
– Todo homem é mortal.
PRATICANDOPRATICANDO
Considere o raciocínio a seguir:
Está comprovado cientificamente que o hábito
de ler melhora a capacidade de interpretação,
raciocínio e aumenta o conhecimento das
pessoas. – PREMISSA MAIOR
Pedro procura ler cada dia mais. – PREMISSA
MENOR
Pedro irá conseguir melhorar a sua capacidade
de interpretação, raciocínio e aumentar o seu
conhecimento. - CONCLUSÃO
O exemplo anterior trata-se de indução ou
dedução? Por quê?
Capítulo 4
84 Raciocínio Lógico
PRATICANDOPRATICANDO
Agora considere mais este raciocínio:
Cristina, João, Mauro e Joana são alunos
da Universidade Potiguar e têm um
comportamento disciplinado e comprometido.
– PREMISSA MAIOR
Valter e Rômulo também são alunos da
Universidade Potiguar. – PREMISSA MENOR
Portanto, Valter e Rômulo são disciplinados e
comprometidos. - CONCLUSÃO
Isto é deduzir ou induzir? Justifique.
Existem vários tipos de indução. Navega (2011) destaca em seus estudos
como principais tipos:
Indução enumerativa - é o tipo de raciocínio utilizado quando se
chega a uma generalização sobre um grupo de coisas, após observar
apenas alguns dos membros desse grupo. Veja o que estamos dizendo
com o exemplo abaixo:
O cobre conduz energia.
O bronze conduz energia.
Todos os metais que vi até agora conduzem energia.
Todo metal conduz energia. – CONCLUSÃO INDUTIVA
Neste caso de indução, quanto maior a amostragem, mais forte e
representativa a conclusão.
Indução analógica – É um dos raciocínios que mais fácil e
espontaneamente a mente humana elabora. Nesse tipo de raciocínio,
a partir da constatação de similaridade, sob certos aspectos, entre
duas coisas, amplia-se a outros aspectos.
Veja o exemplo:
Capítulo 4
85Raciocínio Lógico
Maria apresentou tosse e febre noturna. O médico diagnosticou
pneumonia.
Manuel está apresentado tosse e febre noturna.
Logo, Manuel está com pneumonia. – CONCLUSÃO INDUTIVA
Neste caso, a conclusão tem apenas certa probabilidade de estar correta;
quanto maiores as similaridades, maior a probabilidade.
Indução hipotética – também conhecida domo abdução ou inferência
pela melhor explicação – esse raciocínio acontece quando frente a mais
de uma explicação para o fenômeno observado, prefere-se a melhor.
O exemplo a seguir pode melhor esclarecer este tipo de raciocínio.
O motor de um carro pode falhar devido ao uso de combustível
adulterado, velas velhas ou problemas com a injeção eletrônica.
Meu carro é novo e ontem abasteci no posto e coloquei meio
tanque.
É provável que seja devido ao combustível adulterado. - CONCLUSÃO
INDUTIVA
Essa forma de raciocínio é bastante utilizada por médicos, engenheiros,
professores, enfim, pela maioria de nós no dia a dia.
PRATICANDOPRATICANDO
Vamos praticar um pouco? Complete o
enunciado:
O método indutivo induz conclusões a
partir___________________________.
( ) a) de um grupo de casos particulares.
( ) b) de uma lei geral.
( ) c) da observação da realidade.
( ) d) da teoria existente.
Capítulo 4
86 Raciocínio Lógico
4.2.3 Falácias e erros de raciocínio
A comunicação é, em nosso tempo, fator fundamental de inclusão. Cada
vez mais precisamos estabelecer relações. Nesse sentido é preciso estar atento
às mensagens que recebemos. Hoje em dia é preciso ter habilidade para lidar
com discursos, com textos, com o que nos dizem, com argumentos que nos
apresentam nos debates do dia a dia. Por isso deve-se ter critérios para aceitar
ou rejeitar enunciados, argumentos, declarações feitas. Muitas dessas não
têm fundamentação, são falaciosas. Para evitar ser enganado é importante
reconhecer argumentos falaciosos.
Os argumentos falaciosos se apresentam como tentativas de persuadir o
interlocutor mediante um raciocínio equivocado. Estas formas de argumentar
estão presentes em todos os discursos: na publicidade, na política, nas religiões,
na economia, no comércio, entre outros. São aparentemente válidos, mas, na
verdade, incorretos. Nos levam ao erro.
Designa-se por falácia um raciocínio errado com aparência de
verdadeiro. O termo falácia deriva do verbo latino fallere que significa
enganar. As falácias que são cometidas involuntariamente designam-se por
paralogismos; as que são produzidas de forma a confundir alguém numa
discussão designam-se por sofismas (sobre os sofismas você já viu no capítulo
3 quando estudamos sobre o erro).
Um argumento é falacioso se contiver:
premissas inaceitáveis – são tão duvidosas quanto a alegação que
pretendem apoiar.
Exemplo: Tudo que comemos ou mata, ou engorda.
Comer cenoura não mata.
Logo, comer cenoura engorda.
premissas irrelevantes – quando não têm relação com a verdade da
conclusão.
Exemplo: O filme “O Sexto Sentido” teve ótima direção.
Os atores que atuaram se destacaram na performance.
Portanto, o filme trata de caso verídico.
Capítulo 4
87Raciocínio Lógico
premissas insuficientes - quando deixam dúvidas quanto à validade
da conclusão.
Exemplo: Comida com muito sal não é saudável.
Governos devem zelar pelo bem-estar das pessoas.
Portanto, o Governo deve controlar a venda de sal.
Podem ser destacadas duas formas de gerar argumentos incorretos.
Cometendo erros de raciocínio com informações verdadeiras, erro FORMAL,
ou raciocinando corretamente com informações falsas, erro INFORMAL. Com
essa compreensão e para efeito de nosso estudo vamos classificar as falácias
em dois grandes tipos (COPI, 1968):
a) As falácias formais, aquelas que apresentam erro em sua construção,
em geral uma violação das regras do silogismo.
b) As falácias não-formais, argumentos em que as premissas não
sustentam a conclusão em virtude de deficiências no conteúdo.
Segundo Moreland e Craig (2005), dentre as chamadas falácias formais,
as mais comuns são a falácia de afirmação do consequente e a falácia de
negação do antecedente.
A falácia de afirmação do consequente deriva da confusão entre condição
suficiente e condição necessária.
Veja o exemplo a seguir:
Se jogamos bem, ganhamos. ANTECEDENTE
Ganhamos. CONSEQUENTE
Logo, jogamos bem. CONCLUSÃO
Este é um exemplo de afirmação do consequente. Observe que a conclusão
não segue das premissas, não é, portanto, condição necessária das premissas,
já que o time poderia ter ganhado porque, por exemplo, o time adversário
não só jogou pior como o árbitro ajudou numa má atuação. Estamos diante
de uma falácia.
Capítulo 4
88 Raciocínio Lógico
Veja mais um exemplo:
Se a fábrica estivesse poluindo o rio, então veríamos o número de peixes mortos aumentar.
ANTECEDENTE
Há cada vez mais peixes mortos. CONSEQUENTE
Logo, a fábrica está poluindo o rio. CONCLUSÃO
Mais uma vez a conclusão não é condição necessária das premissas. Por
exemplo, a morte dos peixes pode ser provocada pela aplicação de pesticidas
e não pela fábrica.
Vamos entender a outra forma de falácia formal: a de negação do
antecedente. Neste caso, mais uma vez confunde-se a condição suficiente com
a condição necessária.
Se estou em Natal, então estou no Rio Grande do Norte.
ANTECEDENTE
Não estou em Natal. CONSEQUENTE
Logo, não estou no Rio Grande do Norte.
CONCLUSÃO
Mais uma vez, a conclusão não é condição necessária das premissas, neste
caso a conclusão extrapola as informações contidas nas premissas. Estamos
diante de uma falácia.
Vimos exemplos de falácia formal, agora vejamos algumas falácias não-
formais (aquelas que apresentam erro de conteúdo):
Apelo à força – é o argumento que ameaça com consequências
desagradáveis se não for aceita ou acatada a proposição ou regra
apresentada.
Exemplo: Ou você segue as orientações do partido, ou será expulso.
Apelo de misericórdia – é o argumento que apela para a piedade, ou
a misericórdia para o estado ou mesmo para as virtudes de alguém.
Capítulo 4
89Raciocínio Lógico
Exemplo: Ele não pode ser condenado: é bom pai de família, contribuiu
com a escola, com a igreja etc.
Apelo ao povo – argumento que busca sua comprovação pela
quantidade de pessoas que defendem a ideia propagada. Neste
argumento estão incluídos os boatos.
Exemplo: Dizem que um disco voador caiu em Minas Gerais, e os
corpos dos alienígenas estão com as Forças Armadas.
Apelo à autoridade – argumento que procura sustentar sua validade
utilizando uma autoridade.
Exemplo: Segundo Schopenhauer, filósofo alemão do séc. 19,
“toda verdade passa por três estágios: primeiro, ela é
ridicularizada; segundo, sofre violenta oposição; terceiro,
ela é aceita como autoevidente”.
Falso dilema – é uma forma de argumentar que apresenta duas opções
de escolha apesar de existirem mais.
Exemplo: Quem não está a favor de mim está contra mim.
Finalizamos nossa reflexão sobre falácias convidando-o (a) a ficar atento
(a) às falácias do nosso cotidiano. Um bom profissional é alguém que sabe
“separar o joio do trigo”.
4.3 Aplicando a teoria na prática
Sherlock Holmes é um personagem criado pelo médico e escritor
britânico Sir Arthur Conan Doyle. Sherlock Holmes ficou famoso por utilizar,
na resolução dos seus mistérios, o método científico e a lógica dedutiva.
Com base nas ideias de Sherlock Holmes, que tal agora analisarmos o seu
dia a dia? Examine-o e identifique qual o raciocínio que utiliza para resolver
seus problemas. Geralmente utiliza a dedução? A indução? Os dois?
Capítulo 4
90 Raciocínio Lógico
Se você proceder a essa reflexão com certeza verá que utiliza os dois tipos
de raciocínio no seu dia a dia. Veja: O horário de encerramento das aulas na
universidade é 11h30min; alguém o questiona sobre o horário do término da
sua aula naquele dia; imediatamente, por dedução, você conclui que as aulas
encerrarão às 11h30min. Se durante toda semana choveu e você observou que
o trânsito de Natal ficou complicado, você, por um raciocínio indutivo conclui
que toda vez que chover, em Natal, o trânsito ficará complicado.
4.4 Para saber mais
Título: Educando para a argumentação: contribuições do ensino da lógica
Autor: Patrícia Del Nero Velasco Editora: Autêntica Editora Ano: 2010
Esta obra discute o lugar da lógica na sala de aula. Suas reflexões
estão voltadas para pensar a apropriação que os alunos têm
a respeito da lógica, especificamente sobre os conteúdos que
vêm sendo ministrados. A autora propõe o ensino de conteúdos
lógicos sob um ponto de vista essencialmente informal. Há
uma reflexão no campo da argumentação fornecendo ao aluno
elementos que ajudam no reconhecimento de argumentos em
textos, bem como a capacidade e as dificuldades que esses alunos
têm de avaliar os argumentos.
4.5 Relembrando
Neste capítulo você estudou que:
O raciocínio e sua expressão verbal, o argumento, constituem o remate
final de todo o processo do pensamento.
Existem dois processos segundo os quais organizamos os nossos
raciocínios: a dedução e a indução.
São características da dedução e da indução:
Capítulo 4
91Raciocínio Lógico
DEDUÇÃO INDUÇÃO
Particulariza a conclusão pela
confirmação geral.
Generaliza a partir da comprovação
de casos.
Premissa maior é verdade universal.Premissa maior não é verdade
universal.
Lógica, comprovada. Empírica, hipotética.
Propõe verdades. Comprova induções.
Os argumentos falaciosos se apresentam como tentativas de persuadir
o interlocutor mediante um raciocínio equivocado.
As falácias se classificam em dois grandes tipos (COPI, 1968):
a) As falácias formais, aquelas que apresentam erro em sua construção,
em geral uma violação das regras do silogismo.
b) As falácias não-formais, argumentos em que as premissas não
sustentam a conclusão em virtude de deficiências no conteúdo.
4.6 Testando os seus conhecimentos
Agora é com você! A partir do que você estudou neste capítulo responda
as questões abaixo.
1) Marque C (certo) ou E (errado).
a) A indução é um método de raciocínio que parte de uma premissa geral,
chamada de premissa maior e conclui sobre as características de um ser
particular. ( )
b) A indução parte da observação de casos particulares com variáveis
comuns e chega à formulação de uma conclusão geral que abrange
todos os casos. ( )
Capítulo 4
92 Raciocínio Lógico
c) O seguinte exemplo é um caso de dedução corretamente formulado. ( )
Todos os animais respiram.
Ora, o mosquito é um animal.
Logo, o mosquito respira.
2) Marque a alternativa correta:
O método dedutivo é composto pela __________,_______e _________-.
a) premissa maior, premissa média e conclusão.
b) premissa maior, premissa menor e conclusão.
c) Lei, casos e premissa.
c) Lei, premissas e conclusão.
3) Considere o raciocínio abaixo, é uma indução ou dedução?
Premissa maior
Está comprovado cientificamente que o hábito de ler melhora
a capacidade de interpretação, raciocínio e aumenta o
conhecimento das pessoas.
Premissa menor
Pedro procura ler cada dia mais.
Conclusão
Pedro irá conseguir melhorar a sua capacidade de interpretação,
raciocínio e aumentar o seu conhecimento.
Capítulo 4
93Raciocínio Lógico
Onde encontrar
LALANDE, A. Vocabulário técnico e crítico de filosofia. São Paulo: Martins
Fontes, 1999.
MORELAND, J. P.; CRAIG, W. L. Filosofia e cosmovisão cristã. São Paulo:
Edições Vida Nova, 2005.
NAVEGA, S. Pensamento crítico e argumentação sólida. São Paulo:
Publicações Intelliwise, 2005.
NERICI, I. G. Introdução à lógica. São Paulo: Nobel, 1988.
QUESTÕES de concurso. Disponível em: <http://www.questoesdeconcursos.
com.br/imprimir/caderno/raciocinio-logico-fgv-155693>. Acesso em: 30
maio 2011.
RODRIGUES NETO, C. Lógica: dedução e indução. Disponível em: <http://
www.each.usp.br/camiloneto/tadi/aula4.pdf>. Acesso em: 25 maio 2011.
REBOUÇAS, F. Sofisma. Disponível em: <http://www.infoescola.com/filosofia/
sofisma/>. Acesso em: 16 maio 2011.
VELASCO, P. D. N. Educando para a argumentação: contribuições do ensino
da lógica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. (Coleção Ensino de
Filosofia, 3).
Capítulo 5
95Raciocínio Lógico
ELEMENTOS BÁSICOS DA LÓGICA PROPOSICIONAL
CAPÍTULO 5
5.1 Contextualizando
Como você viu no capítulo 3, o juízo é a forma central de todo o
pensamento e sua expressão verbal é a proposição. Julgar é uma prerrogativa
própria do homem. Formulamos juízos como resultado de nossas atividades
mentais. Para fundamentar nossos juízos utilizamos argumentos. Ou seja,
apresentamos à pessoa a quem nos dirigimos as razões pelas quais nós próprios
aceitamos o que dizemos. Os argumentos são constituídos por proposições.
Tanto as premissas quanto a conclusão de um argumento são proposições.
Segundo o professor de Raciocínio Lógico, Nelson Carnaval (2011), a
Lógica das Proposições tem sido um assunto sempre exigido em concursos. É
importante, portanto, um estudo mais aprofundado sobre essa temática.
Ao final deste capítulo, esperamos que você possa:
definir uma proposição;
reconhecer a importância dos conectivos lógicos e as suas aplicações
nas operações lógicas para a elaboração de proposições compostas;
construir uma tabela de verdade.
Capítulo 5
96 Raciocínio Lógico
5.2 Conhecendo a teoria
5.2.1 Conhecendo as proposições
Um dos ramos da lógica se dedica ao estudo das proposições. Vamos
começar entendendo o que são proposições.
No nosso dia a dia nos expressamos de diversas formas. Veja alguns
exemplos:
1) Chove muito!
2) Que dia é hoje?
3) Cinco mais dois.
4) Natal é a capital do Rio Grande do Norte.
Os exemplos 1, 2 e 4 apresentam um significado pelo que está sendo
expresso. Apenas o exemplo 3 não apresenta sentido completo. O exemplo 3,
por não apresentar sentido completo, chamamos de expressão. Os exemplos
1, 2 e 4 chamamos de sentenças.
Veja a definição de sentença a partir do que dissemos anteriormente.
CONCEITOCONCEITO
Sentença é uma forma de se expressar que
apresenta um sentido completo.
As sentenças podem ser:
Abertas – quando apresentam uma variável. Exemplo: 2 + x = 5; y é
menor que 12.
Fechadas – quando não apresentam variáveis. Exemplo: a poluição
causa doenças respiratórias; 3 – 2 = 1.
Capítulo 5
97Raciocínio Lógico
As sentenças fechadas são ainda aquelas que permitem julgamento
verdadeiro ou falso. São essas sentenças que chamamos de proposições.
CONCEITOCONCEITO
Assim, “proposição é uma sentença declarativa
que admite um e somente um dos dois valores
lógicos – V ou F” (FURTADO, 2010, p. 11).
Ou seja, uma proposição terá como valor lógico verdade se a proposição
é verdadeira e falsidade se a proposição é falsa. Representamos verdadeiro
pela letra V ou 0 e falso pela letra F ou 1.
VALOR LÓGICO SÍMBOLO DE DESIGNAÇÃO
Verdade V
Falsidade F
Para simbolizar o valor lógico de uma proposição, em lógica matemática,
adota-se uma notação específica. Assim, quando temos uma proposição
simples verdadeira ela será simbolizada da seguinte forma:
V(q) = V – traduzindo – o valor lógico da proposição q é verdadeiro.
Por outro lado, se a proposição for falsa teremos:
V(q) = F – traduzindo – o valor lógico da proposição q é falso.
Toda proposição apresenta um sujeito (o termo a respeito do qual se
declara algo), um predicado (aquilo que se declara sobre o sujeito) e um verbo
que se denomina cópula (elo). A proposição é a atribuição de um predicado a
um sujeito: S é P.
Veja o que estamos dizendo no exemplo a seguir:
Capítulo 5
98 Raciocínio Lógico
A praia de Ponta Negra
SUJEITO
tem
CÓPULA
muito assalto
PREDICADO
Mesmo não apresentando variável, nem todas as sentenças exprimem
uma proposição. De acordo com os estudos de Murcho (2011), não constituem
proposições as seguintes sentenças:
1. Exclamativas – aquelas que exteriorizam estado afetivo.
Exemplo: Que dia lindo!
2. Interrogativas – as que indicam perguntas.
Exemplo: Qual a cor do seu automóvel?
3. Imperativas – aquelas que expressam ordem, desejo, pedido, conselho.
Exemplo: Ande depressa!
4. Prescritivas – contêm informação acerca do modo de realizar uma
atividade: são instruções.
Exemplo: Não ultrapasse no sinal vermelho.
5. Compromissivas – expressam a intenção assumida de o locutor vir a
praticar uma ação futura.
Exemplo: Prometo que estudarei mais.
As proposições se baseiam nas três leis do pensamento ou, como você
viu no capítulo 2, nos princípios que a razão estabelece e garantem que a
realidade seja racional. Assim,
1) Se qualquer proposição é verdadeira, então ela é verdadeira. (Princípio
da identidade)
2) Nenhuma proposição pode ser verdadeira e falsa, ao mesmo tempo,
sob uma mesma condição. (Princípio da não-contradição)
3) Uma proposição ou é verdadeira ou é falsa. (Princípio do terceiro
excluído) (CARNAVAL, 2011).
Capítulo 5
99Raciocínio Lógico
Algumas proposições quebram as leis do
pensamento e cometem o que se denomina
infração lógica; nesses casos, temos os paradoxos.
Veja um exemplo do que estamos dizendo:
"A frase que você está lendo é falsa."
Se você afirmar que a frase é verdadeira, é porque
ela é falsa; e se é falsa, é porque é verdadeira.
Existem ainda proposições que são
incondicionalmente verdadeiras, independente
do valor lógico das variáveis proposicionais. Por
exemplo, a afirmação de que UMA PROPOSIÇÃO
OU É VERDADEIRA OU FALSA é sempre
verdadeira.
Na linguagem do dia a dia, a tautologia é um
vício de linguagem. Veja alguns exemplos: elo de
ligação; certeza absoluta; surpresa inesperada;
fato real, entre outros.
SAIBA QUE
As proposições podem ser:
1) Proposições simples ou atômicas
Simples ou Atômica - é a proposição que não contém nenhuma
outra proposição como parte integrante de si mesma. As proposições
simples são geralmente designadas por letras minúsculas p, q, r, s ...,
chamadas letras proposicionais (GASPAR, 2011).
Veja exemplos de proposições simples:
Paulo gosta de estudar.
O curso que estou fazendo é de excelente qualidade.
A lua é um satélite da terra.
Capítulo 5
100 Raciocínio Lógico
2) Proposições compostas ou moleculares
Composta ou Molecular - é a proposição formada pela combinação de
duas ou mais proposições. São habitualmente designadas por letras
maiúsculas P, Q, R, S..., também denominadas letras proposicionais
(GASPAR, 2011).
Veja exemplos de proposições compostas:
João é engenheiro e Marta é estudante.
Se o aluno estudar durante o ano, então será aprovado.
Pedro é estudioso e José é preguiçoso.
Para ilustrar o que estamos dizendo, apresentamos a proposição
composta a seguir.
Tenho uma bicicleta
e gosto de arroz
Fonte: Beck
Você pode ver que ela é resultado da combinação de duas proposições,
ou seja, ela pode ser dividida em duas proposições:
Tenho uma
bicicleta.Gosto de arroz.e
As proposições podem, ainda, ser classificadas quanto à:
Capítulo 5
101Raciocínio Lógico
a) Quantidade - nesse caso podem ser universais, particulares e singulares.
UniversaisQuando o predicado se refere à extensão total do sujeito.
Todo S é P
ParticularesQuando o predicado é atribuído a uma parte da extensão do sujeito.
Algum S é P
SingularesQuando o predicado é atribuído a um único indivíduo.
S é P
b) Qualidade - as proposições podem ser afirmativas ou negativas.
AfirmativasAtribuem alguma coisa a um sujeito.
Os natalenses são brasileiros.
NegativasSeparam o sujeito de alguma coisa.
Os portugueses não são simpáticos.
5.2.2 A linguagem proposicional
Até aqui é possível concluir que as proposições são juízos sobre a
realidade. Para Wittgenstein (apud SOUZA, 2011), “a proposição é uma
imagem da realidade. A proposição é um modelo da realidade tal como nós a
pensamos”. É resultado de nossas percepções, expressa através da linguagem.
Toda a realidade que nos cerca e está dentro de nós pode ser expressa
pela linguagem. No entanto, a linguagem coloquial é passível de erros. É para
evitar estes equívocos que a lógica propõe a transformação dos argumentos da
linguagem coloquial em argumentos lógico-matemáticos. Estamos falando da
linguagem proposicional, entre os elementos dessa linguagem destacam-se:
Os símbolos proposicionais, também chamados variáveis proposicionais
ou átomos – são letras latinas minúsculas p, q, r, s, ... para indicar as
proposições (fórmulas atômicas).
Os conectivos proposicionais – veja os exemplos a seguir:
SE Pedro é médico, ENTÃO sabe biologia.
Não vai chover hoje.
Ana trabalha OU Carlos descansa.
Capítulo 5
102 Raciocínio Lógico
Podemos considerar como conectivos usuais da lógica: e, ou, não,
se... então..., se e somente se. A cada um dos conectivos que possibilita a
combinação de proposições corresponde um símbolo.
CONECTIVOS SÍMBOLOS
e
ou
se ... então...
se e somente se
~ não
PROPOSIÇÃOLINGUAGEM
MATEMÁTICA
A lua é quadrada. p
A lua é quadrada e a neve é branca. p Q
Maria estuda ou Pedro vai ao cinema. p Q
Se chover amanhã, então não saio. p Q
A lua é quadrada se e somente se a neve é branca.
p Q
A lua não é quadrada. ~ p
Cada conectivo tem sua especificidade a seguir explicitada:
1) Com o conectivo “~” (não), obtemos, a partir de uma proposição p,
uma segunda proposição ~p, chamada negação. O conectivo “~” age
apenas sobre a proposição negada.
Exemplo:
p = A terra é um planeta. ~p = A terra não é um planeta.
2) Com o conectivo “^” (e), obtemos, a partir de duas proposições p, q,
uma terceira proposição, “p ^ q”, chamada conjunção. Nesse caso, o
conectivo “^” age sobre duas proposições. O símbolo mais utilizado
para a conjunção, em eletrônica digital, é o ponto “.”.
Capítulo 5
103Raciocínio Lógico
Exemplo:
p = O sol é uma estrela.
q = A terra é um planeta.
p ^ q = O sol é uma estrela e a terra é um planeta.
3) Com o conectivo “v” (ou), obtemos, a partir de duas proposições p,
q, uma terceira proposição “p v q”, chamada disjunção. Assim como
o conectivo “^”, o conectivo “v” age sobre as duas proposições. O
símbolo mais utilizado para a disjunção, em eletrônica digital, é o
sinal “+”.
Exemplo:
p = O sol é uma estrela.
q = A terra é um planeta.
p v q = O sol é uma estrela ou a terra é um planeta.
4) Com o conectivo “ ”(se..., então...), obtemos de duas proposições p,
q, uma terceira proposição “p q”, chamada condicional. Observe
que este conectivo também age sobre as duas proposições.
Exemplo:
p = O sol é uma estrela.
q = A terra é um planeta.
p q = Se o sol é uma estrela, então a terra é um planeta.
5) Com o conectivo “ ” (se, e somente se), obtemos de duas proposições
p, q, uma terceira proposição “p q”, chamada bicondicional.
Observe que este conectivo também age sobre as duas proposições.
Exemplo:
p = O sol é uma estrela.
q = A terra é um planeta.
p q = O sol é uma estrela se, e somente se, a terra é um planeta.
Capítulo 5
104 Raciocínio Lógico
Os símbolos de pontuação: parênteses
Ainda como símbolo auxiliar na transformação da linguagem coloquial
para linguagem matemática temos os parênteses ( ). Eles servem para denotar
o alcance dos conectivos. Os parênteses serão usados segundo a seguinte
ordem dos conectivos: ~
Veja um exemplo:
a) A lua não é quadrada se, e somente se, a neve é branca.
((~p) q).
b) Se a lua é quadrada e a neve é branca então a lua não é quadrada.
((p ^ q) p).
PRATICANDOPRATICANDO
Agora é com você:
1. Sendo p a proposição Paulo é paulista e q a
proposição Ronaldo é carioca, traduzir para a
linguagem corrente as seguintes proposições:
a) ~q
b) p q
c) p q
d) p q
e) p (~q)
e) p q
2. Considere as proposições p: está frio e q: está chovendo. Traduza
para a linguagem corrente as seguintes proposições:
a) p ~q
b) p q
c) p q
3. Traduza para a linguagem simbólica as seguintes proposições:
a) Se a terra é um planeta, então a terra gira em torno do sol.
b) Não irei estudar.
c) A terra não é um planeta e não gira em torno do sol.
Capítulo 5
105Raciocínio Lógico
Você já sabe que através das letras proposicionais, dos conectivos e
dos símbolos de pontuação é possível estabelecer a representação lógica das
proposições. Vamos agora falar sobre seu valor lógico.
5.2.3 Tabela-verdade
Como você viu acima, de acordo com o princípio do terceiro excluído,
uma proposição ou é verdadeira ou é falsa. Assim, atribuir um valor lógico a
uma proposição é indicar a sua validade considerando a possibilidade de esta
ser verdadeira ou falsa.
p
V
F
Para estabelecermos o valor lógico de uma proposição composta
é necessário sabermos os valores lógicos das proposições simples que a
compõem. Os valores lógicos de uma proposição são expressos pela tabela-
verdade ou tabela de verdade. Na tabela-verdade figuram todos os possíveis
valores lógicos da proposição correspondentes a todas as possíveis atribuições
de valores lógicos às proposições simples componentes.
As tabelas-verdade surgem a partir dos trabalhos
desenvolvidos por Gottlob Frege, Charles
Peirce e outros da década de 1880. Assumiram
a forma com a qual trabalhamos em 1922,
com as contribuições de Emil Post e Ludwig
Wittgenstein.
SAIBA QUE
Uma tabela-verdade é construída por linhas e colunas. Para sua construção
é preciso que consideremos alguns pontos:
1) o número de proposições;
2) o número de linhas da tabela-verdade;
3) a variação dos valores lógicos.
Capítulo 5
106 Raciocínio Lógico
O número de colunas de uma tabela-verdade é igual ao número de
proposições que a compõem. O número de linhas é dado pela fórmula 2n. Aqui,
n corresponde ao número de proposições utilizadas. Vamos ver a construção
da tabela-verdade nas linhas e colunas, considerando uma e duas proposições.
1) Para uma proposição
número de linhas dado pela fórmula 2n (o n = 1 uma vez que temos
apenas 1 proposição) 2¹ = 2, no caso duas linhas.
número de colunas = ao número de proposições, no caso 1 coluna.
P
V
F
2) Para duas proposições
número de linhas dado pela fórmula 2n (o n = 2 uma vez que temos
2 proposições) 2² = 4, no caso quatro linhas.
número de colunas = ao número de proposições, no caso 2 colunas.
p q
Uma vez construída a tabela é necessário acrescentar seus valores
lógicos. Como você já sabe, os valores lógicos possíveis para cada variável são
V (verdadeiro) ou F (falso), seu registro na tabela verdade – uma vez definidas
linhas e colunas – realiza-se considerando a seguinte distribuição:
Na primeira coluna, metade das linhas terá valor V e a outra metade valor F.
Na segunda coluna, metade das linhas que possuem valor V na primeira coluna terá valor V e a outra metade valor F; e metade das linhas que possuem valor F na primeira coluna terá valor V e a outra metade valor F.
Capítulo 5
107Raciocínio Lógico
Na terceira coluna, metade das linhas que possuem valor V na segunda coluna terá valor V e a outra metade valor F; e metade das linhas que possuem valor F na segunda coluna terá valor V e a outra metade valor F.
Parece confuso, mas vamos à construção de uma tabela verdade para
que você veja que é algo simples.
Vamos começar traduzindo para a linguagem simbólica a proposição
a seguir:
A Universidade a cada dia recebe mais alunos brilhantes e Paulo faz engenharia.
Estamos diante de uma proposição composta, resultante da combinação
de duas proposições simples, a saber:
A Universidade a cada dia recebe mais alunos brilhantes
passamos a representar pela letra proposicional - p
Paulo faz engenharia
passamos a representar pela letra proposicional - q
Essas proposições estão ligadas pelo conectivo e -
Assim, teremos a seguinte representação: p q
Vamos tentar entender construindo uma tabela-verdade.
p q
temos duas proposições, portanto, duas linhas.
para o número de colunas usamos a fórmula 2n – 2x2 = 4
p q
V V
V F
F V
F F
Capítulo 5
108 Raciocínio Lógico
Lembra como foram colocados os valores lógicos? Na primeira coluna, a
metade das linhas é V e a outra metade é F; na segunda coluna, metade das
linhas que possuem valor V na primeira coluna será F e metade das que foram
F será V.
Para que você não esqueça:
Para construirmos as tabelas-verdade utilizamos o Principio Fundamental
da Contagem (PFC): o número de linhas sempre depende do número de
elementos combinados e, como uma proposição pode assumir os valores V ou
F, o número de linhas de uma tabela-verdade é dado por 2n, Sendo:
1 elemento: 2¹ linhas = 2 linhas
2 elementos: 2² linhas = 4 linhas
3 elementos: 2³ linhas = 8 linhas
Viu como é fácil?
Agora que você já aprendeu a construir uma tabela-verdade vai
colocá-la em prática com as operações lógicas que serão desenvolvidas no
capítulo seguinte.
5.3 Aplicando a teoria na prática
Até aqui você pôde aprender que a lógica é uma ferramenta utilizada
na formalização de nossos pensamentos. Quando a utilizamos é possível
elaborar o pensamento de modo mais preciso, apresentar argumentos de
forma mais exata e ponderada, portanto, cometer menos equívocos. Essa é
uma afirmação corrente quando estudamos lógica. Como perceber, na prática,
essa afirmação? Especificamente, qual a importância do estudo da lógica de
proposições para nossa vida?
Estudando a lógica das proposições trabalhamos com argumentos. Nossos
argumentos sustentam nossos pontos de vista. Um argumento é um conjunto
de proposições que utilizamos para justificar (provar, dar razão, suportar) algo.
É exatamente o estudo dos argumentos e das proposições o objeto de estudo
da lógica das proposições. Interessa à lógica a validade desses argumentos.
Capítulo 5
109Raciocínio Lógico
É muito comum, por exemplo, vermos situações em que a capacidade
argumentativa é determinante para decidir os rumos de uma situação.
Lembramos aqui que a verdade é uma propriedade das proposições e a
validade é uma propriedade dos argumentos. Considerando a verdade das
proposições, chegaremos à validade ou não de um argumento.
Veja o caso do direito. Um advogado de defesa consegue muitas vezes
diminuir a pena, ou até anulá-la, apenas pela capacidade argumentativa.
Eis um exemplo que pode ser representado através da lógica de
proposições: um indivíduo foi julgado por participação em um roubo. Na
audiência, intervieram o juiz de acusação e o de defesa. O de acusação disse:
“Se o réu é culpado, então teve um cúmplice”. O de defesa contra argumentou:
“Não é verdade!” e não podia ter dito coisa pior.
Deste modo, não só reconheceu a culpabilidade do cliente, mas tornou-o
totalmente responsável pelo delito, agravando a futura pena. O defensor
equivocou-se porque não soube formular corretamente a sua ideia.
Advogado de acusação disse "Se o réu é culpado, então teve um
cúmplice". Essa proposição pode ser assim representada:
R = réu é culpado
C = réu tem um cúmplice
Assim teremos: R C
Sabemos que na condicional só teremos a negação desta proposição se
R (o réu é culpado) for verdadeira e C (o réu tem um cúmplice) for falsa. Nos
demais casos a proposição será verdadeira, portanto o argumento é válido.
O defensor afirmou que a proposição de que o réu tinha um cúmplice
não era verdadeira. Com sua argumentação, ficamos com a seguinte situação:
R C onde: R é verdadeira e C é falsa.
Assim, o argumento se configura como inválido.
Capítulo 5
110 Raciocínio Lógico
5.4 Para saber mais
Título: Lógica uma introdução voltada para as ciências
Autor: Stan Baronett Editora: Bookman Ano: 2009
Nesse livro o autor apresenta uma discussão sobre conceitos básicos
de lógica, matéria exigida em inúmeras disciplinas que exigem
raciocínio lógico. Apresenta um texto escrito de forma clara e
acessível, com exemplos que facilitam a compreensão do leitor. A
forma de apresentação do livro o torna atraente pelo projeto gráfico,
bem como pelo fato de o autor aproximar a lógica do cotidiano de
todos nós.
5.5 Relembrando
Neste capítulo você ficou sabendo que:
Uma proposição é uma afirmação passível de assumir valor lógico
verdadeiro ou falso.
Apresenta um sujeito (o termo a respeito do qual se declara algo), um
predicado (aquilo que se declara sobre o sujeito) e um verbo que se
denomina cópula (elo).
De acordo com os estudos de Murcho (2011), não constituem
proposições as seguintes sentenças: exclamativas, interrogativas,
imperativas, prescritivas e compromissivas.
As proposições se baseiam nos princípios que a razão estabelece e
garantem que a realidade é racional:
1. Toda proposição é verdadeira ou falsa (princípio do terceiro
excluído);
2. Uma proposição não pode ser verdadeira E falsa (princípio da não-
contradição).
Proposições compostas são conectadas através dos seguintes conectivos:
“~” ou “!” (negação);
Capítulo 5
111Raciocínio Lógico
“^” (conectivo “e”);
“v” (conectivo “ou”);
“ ” (conectivo “implica”);
“ ” (conectivo “se, e somente se”).
Os valores lógicos de uma proposição composta são expressos pela
tabela-verdade ou tabela de verdade. Para construir uma tabela-
verdade é preciso considerar:
1. o número de proposições;
2. o número de linhas da tabela verdade;
3. a variação dos valores lógicos.
O número de colunas de uma tabela verdade é igual ao número de
proposições que a compõem. O número de linhas é dado pela fórmula
2n, onde n corresponde ao número de proposições utilizadas.
5.6 Testando os seus conhecimentos
1) Sendo p a proposição Paulo é paulista e q a proposição Ronaldo é carioca,
traduzir para a linguagem corrente as seguintes proposições:
a) ~q
b) p ^ q
c) p v q
d) p q
e) p (~q)
2) Sendo p a proposição Roberto fala inglês e q a proposição Ricardo fala
italiano, traduzir para a linguagem simbólica as seguintes proposições:
a) Roberto fala inglês e Ricardo fala italiano.
b) Ou Roberto não fala inglês ou Ricardo fala italiano.
c) Se Ricardo fala italiano, então Roberto fala inglês.
d) Roberto não fala inglês e Ricardo não fala italiano.
Capítulo 5
112 Raciocínio Lógico
3) Escrever na forma simbólica, indicando as proposições simples:
a) Ou a notícia foi publicada, ou o cofre foi aberto.
b) Se o Sr. Wilson não estava dormindo, então já passava de meia noite.
c) A Sra. Wilson mentiu no caso de o Sr. Wilson ter saído da cidade e o
caso foi arquivado.
d) A prova de recuperação estava bastante complexa.
4) Construa uma tabela-verdade para 3 elementos: p, q, r.
Onde encontrar
CARNAVAL, N. Lógica sentencial. Disponível em: <http://www.jusdecisum.
com.br/sistema/turma/arquivos/BB%20LOGICA%20E%20MATEMATICA.pdf>.
Acesso em: 10 jun. 2011.
FURTADO, E. M. Raciocínio lógico para concursos. Curitiba: IESDE Brasil Ltda,
2010.
GASPAR, M. Introdução à lógica matemática. Disponível em: <http://
mjgaspar.sites.uol.com.br/logica/logica#listapref>. Acesso em: 15 jun. 2011.
MURCHO, D. Lógica. Disponível em: <http://dmurcho.com/docs/introlog.pdf>.
Acesso em: 15 jun. 2011.
SOUZA, M. A. A lógica representa uma ordem, de fato a ordem a priori do
mundo. Disponível em: <http://logicanet.wordpress.com/2007/11/25/18/>.
Acesso em: 25 nov. 2011.
VELASCO, P. D. N. Educando para a argumentação: contribuições do ensino
da lógica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. (Coleção Ensino de
Filosofia, 3).
Capítulo 6
113Raciocínio Lógico
OPERAÇÕES LÓGICAS E TABELAS-VERDADE
CAPÍTULO 6
6.1 Contextualizando
Estudando sobre as proposições, no capítulo anterior, você pôde
ver que elas constituem a representação de nossos argumentos. Estes
podem ser simples ou podem se apresentar de forma complexa, a partir do
momento em que realizamos algumas operações sobre as proposições que
os formam. Essas operações são chamadas operações lógicas ou operações
do cálculo proposicional. Toda proposição, como você viu no capítulo 5,
tem um valor lógico.
Neste capítulo, trabalharemos com as principais operações lógicas e
suas respectivas tabelas-verdade. Quando o aluno tem o primeiro contato
com as tabelas-verdade, tem a impressão de que é necessário decorá-las para
poder utilizá-las. Essa é uma impressão equivocada. Como você já pôde ver no
capítulo anterior, existem elementos lógicos que possibilitam a construção e
compreensão de uma tabela-verdade.
Esperamos que ao final do capítulo você possa:
analisar a estrutura de um argumento identificando sua validade ou
falsidade;
exercitar questões com operações lógicas que cada vez mais estão
presentes nos concursos públicos.
Bom estudo!
Capítulo 6
114 Raciocínio Lógico
6.2 Conhecendo a teoria
6.2.1 As operações lógicas e as tabelas-verdade
A ação de combinar proposições é chamada de operação. Os conectivos
que fazem a ligação entre as proposições são chamados de operadores e são
representados por símbolos, como você estudou no capítulo 5.
Uma vez construída uma proposição, como determinar seu valor lógico?
A resposta a essa pergunta implica a definição de algumas operações lógicas
que você conhecerá a seguir.
1) Negação (símbolo ~) – significa: “ao contrário” – a negação inverte o valor
de verdade de uma expressão.
Veja o que estamos dizendo no exemplo a seguir:
Maria foi ao cinema
Maria não foi ao cinema p
É falso que Maria tenha
ido ao cinemaq
Considerando a proposição
Sua negação será
DEFINIÇÃODEFINIÇÃO
Chama-se negação de uma proposição “p”,
a proposição representada por “não p”, cujo
valor lógico é a verdade (V) quando p é falsa e a
falsidade (F) quando p é verdadeira.
Capítulo 6
115Raciocínio Lógico
Na linguagem comum, para realizar uma negação, antepomos o advérbio
“não” ao verbo da proposição dada. Se considerarmos o exemplo acima,
“Maria vai ao cinema”, de imediato a expressão “Maria não vai ao cinema”
representa a forma mais utilizada para a sua negação.
Outra maneira de efetuar a negação consiste em antepor à proposição
dada expressões tais como “não é verdade que” ou “é falso que”. Ainda
considerando o exemplo, teremos como sua negação: não é verdade que
Maria foi ao cinema e é falso que Maria foi ao cinema.
Na linguagem lógica teremos: p
(representando a expressão dada) e ~p
(representando sua negação). Veja ao lado a
tabela de verdade da negação.
Até aqui falamos da negação de uma proposição simples. Veja agora a
negação de proposições compostas e condicionais. Para isso, chamaremos “p
e q” as proposições simples.
a) Negação da conjunção – se a conjunção é p ^ q, a sua negação é a
disjunção entre ~p e ~q. Assim teremos:
~(p ^ q) = ~p v ~q
Agora compreenda através da tabela-verdade:
Tabela 2 – Tabela-verdade aplicada à negação da conjunção
NEGAÇÃO DA CONJUNÇÃO
p q p q ~(p q)
V V V V
V F F V
F V F V
F F F F
Tabela 1 – Verdade da negação
VERDADE DA NEGAÇÃO
p ~p
1 V F
2 F V
Capítulo 6
116 Raciocínio Lógico
b) Negação da disjunção – se a disjunção é p v q, a sua negação será;
~(p q) = ~p ~q
Através da tabela-verdade é possível entender esse processo em que p
v q e ~p ^ ~q apresentam resultados similares e, portanto, são equivalentes.
Tabela 3 – Tabelas-verdade aplicadas à negação da disjunção
NEGAÇÃO DA DISJUNÇÃO NEGAÇÃO DA DISJUNÇÃO
p q p q ~(p q) p q ~p ~q ~p ~q
V V V F V V F F F
V F V F V F F V F
F V V F F V V F F
F F F V F F V V V
c) Negação da condicional – A negação de uma condicional não é outra
proposição condicional, mas sim uma conjunção entre p ^ ~q. Assim:
~(p q) = p ~q
Através de um exemplo fica mais fácil compreender o que estamos
dizendo. Veja:
“Se eu for ao cinema então vou comer pipoca” for uma proposição
VERDADEIRA, negando-a como “se eu não for ao cinema, então não como
pipoca” continua sendo verdadeira. Como negá-la? Considere que “Se eu
for ao cinema então vou comer pipoca” for VERDADEIRA, em que condições
teremos a FALSIDADE? Resposta: “Se for ao cinema mas não comer pipoca”.
Assim a NEGAÇÃO correta será: Eu fui ao cinema e não comi pipoca” Ou seja,
esta forma nega a frase de origem.
Veja a equivalência através da tabela-verdade. Observe que ~(p q) é
equivalente a p ~q.
Capítulo 6
117Raciocínio Lógico
Tabela 4 – Tabela-verdade aplicada à negação da condicional
NEGAÇÃO DA CONDICIONAL
p q ~p p q ~(p q) ~p ~q
V V F V F F
V F V F V V
F V F V F F
F F V V F F
d) Negação da bicondicional – a negação da bicondicional apresenta duas
fórmulas. Considerando a primeira fórmula, temos que a negação da
bicondicional é a disjunção exclusiva. Ou seja:
~(p q) = p q
Agora veja as tabelas-verdade:
Tabela 5 – Tabelas-verdade aplicadas à negação da bicondicional
NEGAÇÃO DA BICONDICIONAL NEGAÇÃO DA BICONDICIONAL
p q p q p q ~(p q)
V V V V V F
V F F V F V
F V F F V V
F F V F F F
Considerando que a bicondicional na realidade é um conjunto entre
duas condicionais p e q, teremos:
(p q) = [(p q) e (p q)], então:
Capítulo 6
118 Raciocínio Lógico
~(p q) = ~[(p q) e (p q)] substituindo nesse conjunto a negação
da condicional, teremos a segunda fórmula:
~(p q) = ~= (p ~q) v (p ~q)
A seguir as tabelas-verdade:
Tabela 6 – Tabelas-verdade aplicadas à negação da bicondicional
NEGAÇÃO DA BICONDICIONAL NEGAÇÃO DA BICONDICIONAL
p q p q p q ~(p q)
V V V V V F
V F F V F V
F V F F V V
F F V F F F
e) Negação da disjunção exclusiva – como você viu que a disjunção
exclusiva e a bicondicional são o inverso uma da outra vai entender que
a negação da disjunção exclusiva é a bicondicional assim representada:
Se ~(p q) = p q
Então ~ (p q) = p q
Parece confuso? Veja o exemplo abaixo. Através dele você pode perceber
melhor todas essas informações.
Considere a afirmação P onde P = A v B e A e B são as seguintes afirmações:
A = Carlos é professor.
B = Se Enio é engenheiro, então João é pintor.
Ora, sabe-se que a afirmação P é falsa. LOGO:
a) Carlos não é professor, Enio não é engenheiro, João não é pintor.
b) Carlos não é professor, Enio é engenheiro, João não é pintor.
c) Carlos não é professor, Enio é engenheiro, João é pintor.
Capítulo 6
119Raciocínio Lógico
d) Carlos é professor, Enio não é engenheiro, João não é pintor.
e) Carlos é professor, Enio é engenheiro, João não é pintor.
Os caminhos da resolução
Passo 1 - a primeira coisa do enunciado a ser considerada é que P é
falsa. Dizer que P é falsa é negar A v B. Estamos falando da negação de uma
disjunção. Para negar uma disjunção, você viu que devemos negar A, negar B
e substituir o “ou” (v) por “e” (^). Traduzindo:
~(A v B) = ~A ~B
Passo 2 – agora você deve negar A. Para negar A é fácil.
Se A = Carlos é professor.
~A = Carlos não é professor.
Passo 3 - Negar B é entender primeiro que B é uma sentença condicional,
portanto, composta. É expressa por B = Se Enio é engenheiro, então João é
pintor. Vamos representar a proposição B por p e q, onde:
p = Enio é engenheiro.
q = João é pintor.
Pelo que você aprendeu acima, para negar a condicional é preciso
conservar o antecedente (no caso o “p”) e negar o consequente (no caso o q)
e colocar a conjunção “e”. Assim teremos:
~B = p ~r. Traduzindo:
p = Enio é engenheiro.
~q = João não é pintor.
Agora é só reunir todos os cálculos e teremos:
Carlos não é professor, Enio é engenheiro, João não é pintor.
Essa conclusão significa a letra “b”.
Capítulo 6
120 Raciocínio Lógico
2) Conjunção (símbolo ^) – é a proposição composta formada por duas
proposições quaisquer que estejam ligadas pelo conectivo “e”.
Dadas as proposições p e q, a expressão p q é chamada conjunção
de p q. Cada uma das proposições é chamada de fator de expressão. Uma
vez conhecido o valor de verdade de cada uma das proposições, o valor de
verdade da conjunção p q é verdadeiro quando os dois fatores de expressão
forem verdadeiros e é falso se pelo menos um dos fatores, ou os dois fatores,
forem falsos.
A seguir um exemplo para que você consiga compreender melhor.
Considere a expressão
se o fator de expressão Maria estudou for verdadeiro e se o fator de
expressão João foi ao cinema for verdadeiro, então a conjunção será
VERDADEIRA;
se o fator de expressão Maria estudou for falso e se o fator de
expressão João foi ao cinema for falso, então a conjunção será FALSA;
se o fator de expressão Maria estudou for verdadeiro e se o fator de
expressão João foi ao cinema for falso, então a conjunção será FALSA;
se o fator de expressão Maria estudou for falso e se o fator de
expressão João foi ao cinema for verdadeiro, então a conjunção será
FALSA.
Veja agora a tabela-verdade da conjunção:
Tabela 7 – Verdade da conjunção
VERDADE DA CONJUNÇÃO
p q p q
V V V
Maria estudou e João foi cinema
^~p q
Capítulo 6
121Raciocínio Lógico
V F F
F V F
F F F
PRATICANDOPRATICANDO
Considere a conjunção “A vida é maravilhosa e a
felicidade é real”.
a) Admitindo que a vida não é maravilhosa, a
conjunção é verdadeira ou falsa? Por quê?
3) Disjunção (símbolo v) – é a proposição composta formada por duas
proposições quaisquer que estejam ligadas pelo conectivo “ou”.
A disjunção de duas proposições p e q é uma proposição representada
por “p v q”, cujo valor lógico é verdadeiro (V) quando ao menos uma das
proposições p ou q for verdadeira e é falso (F) quando as proposições p e q
forem ambas falsas.
Veja a tabela-verdade da disjunção:
Tabela 8 – Verdade da disjunção
VERDADE DA DISJUNÇÃO
p q p q
V V V
V F V
F V V
F F F
Existe um tipo especial de disjunção chamada disjunção exclusiva. A
disjunção exclusiva de duas proposições p e q é uma nova proposição que
resulta da ligação de p e q através do símbolo “v”. O valor lógico da nova
proposição é verdadeiro se p e q têm valores lógicos distintos e é falso quando
p e q forem verdadeiras ou falsas.
Capítulo 6
122 Raciocínio Lógico
Veja a tabela-verdade correspondente:
Tabela 9 – Tabela-verdade da disjunção exckusiva
DISJUNÇÃO EXCLUSIVA
p q p q
V V F
V F V
F V V
F F F
Considere o exemplo:
p Compro livros
q Compro apostilas
Utilizando a disjunção exclusiva teremos:
p v q - Ou compro livros ou compro apostilas
(MAS NÃO AMBAS AS COISAS)
4) Condicional (símbolo ) – denomina-se condicional a proposição composta
formada por duas proposições equivalentes.
O conectivo da condicional significa “se p, então q”. Este conectivo dá a
ideia de condição para que a outra proposição exista:
Capítulo 6
123Raciocínio Lógico
“p” será condição suficiente para “q”
“q” será condição necessária para “p”
Essa é uma proposição composta que só admite valor lógico falso no caso
em que a proposição p é verdadeira e a proposição q é falsa, sendo verdade
nos demais casos.
Veja a tabela-verdade da condicional:
Tabela 10 – Verdade da condicional
VERDADE DA CONDICIONAL
p q p q
V V V
V F F
F V V
F F V
5) Bicondicional (símbolo ) – é a proposição composta formada por
duas proposições quaisquer que estejam ligadas pelo conectivo “se e
somente se”.
Esse conectivo funciona como um nó, amarrando os fatores de expressão.
Assim, se o que estiver antes do “se e somente se” for verdadeiro”, o que vem
depois será verdadeiro; se o que vier antes do “se e somente se” for falso, o
que vem depois será falso.
Vamos à tabela-verdade da bicondicional:
Capítulo 6
124 Raciocínio Lógico
Tabela 10 – Verdade da condicional
VERDADE DA BICONDICIONAL
p q p q
V V V
V F F
F V F
F F V
A compreensão das operações lógicas até aqui apresentadas são
fundamentais para que você esteja apto(a) a resolver muitas das questões de
raciocínio lógico que compõem os concursos.
Você pôde ver como se desenvolvem as operações lógicas. Agora,
propomos que acompanhe o raciocínio que segue utilizando questões com
as estruturas lógicas acima apresentadas. Vamos trabalhar com a construção
mais simples.
Para que possamos resolver questões de lógica
proposicional é preciso ter em mente que a
lógica é argumentativa, nesse sentido está
sempre ligada à formação de argumentos.
Um argumento é constituído de premissas e
conclusão.
Uma premissa é uma proposição
pressupostamente VERDADEIRA. É uma frase
que se acredita ser VERDADEIRA, mesmo que
não seja.
Só depois de resolvida chegaremos à VERDADE
ou FALSIDADE do argumento.
SAIBA QUE
Capítulo 6
125Raciocínio Lógico
PRATICANDOPRATICANDO
Surfo ou estudo; durmo ou não surfo; viajo ou
não estudo. Ora, não velejo.
Caminhos para resolução
O que se espera do candidato nesta questão é
que chegue a algumas conclusões. Esse tipo de
questão apresenta uma proposição simples.
Não velejo
Cada vez que você estiver diante de uma
questão com essa característica, ou seja, uma
questão que apresenta em seu enunciado uma
proposição simples, você já sabe onde se localiza
o ponto de partida da resolução da questão: a
proposição simples.
Essa proposição simples sempre será verdadeira.
A partir dela será desenvolvido todo o raciocínio.
Assim, seguindo a numeração em ordem
crescente veja a resolução da questão.
Para a resolução de questões com proposições,
saiba que os resultados das proposições sempre
têm que ser verdadeiros.
SAIBA QUE
Capítulo 6
126 Raciocínio Lógico
NÃO VIAJO
V
– o ponto de partida, a proposição
simples, sempre será VERDADEIRA.
SURFO
V
OU
ESTUDO
F
- como já sabemos que “não estudo”
é VERDADEIRA, “estudo” será FALSO.
Mais uma vez, para que seja verdadeira
a disjunção, um dos fatores tem que
ser VERDADEIRO. Nesse caso, “surfo”
será VERDADEIRO.
DURMO
V
OU
NÃO SURFO
F
– já sabemos que pela proposição 3,
“surfo” é FALSO, logo “não surfo”
será FALSO. Como em 2 e 3 a disjunção
exige que pelo menos um dos fatores
de expressão seja verdadeiro, logo,
“durmo” será VERDADEIRO.
VIAJO
F
OU
NÃO
ESTUDO
V
– já sabemos que “não viajo” é
verdadeiro, logo “viajo” será FALSO.
Você já sabe que para que uma
disjunção seja VERDADEIRA, um dos
fatores de expressão tem que ser
verdadeiro. Se já temos um falso o
outro fator será VERDADEIRO.
Assim, a resposta da questão deve apontar para uma estrutura que afirme
“viajo”, “durmo” e “surfo”. Viu como fica fácil se tivermos o conhecimento
das operações lógicas?
6.3 Aplicando a teoria na prática
Como dissemos no início do capítulo, um dos nossos objetivos é prepará-
lo para questões com operações lógicas presentes em vários concursos
públicos. Assim, aproveitamos esse espaço para que você possa saber como
são construídas as questões com operações lógicas. Vamos trabalhar com uma
questão elaborada pela Fundação Carlos Chagas para o concurso do TRT 22ª
Região – 2010. Veja a seguir a questão:
Considere o argumento composto pelas seguintes premissas:
Se a inflação não é controlada, então não há projetos de
desenvolvimento.
Capítulo 6
127Raciocínio Lógico
Se a inflação é controlada, então o povo vive melhor.
O povo não vive melhor.
Considerando que todas as três premissas são verdadeiras, então uma
conclusão que tornaria o argumento válido é:
(a) A inflação é controlada.
(b) Não há projetos de desenvolvimento.
(c) A inflação é controlada ou há projetos de desenvolvimento.
(d) O povo vive melhor e a inflação não é controlada.
(e) Se a inflação não é controlada e não há projetos de
desenvolvimento, então o povo vive melhor.
Vamos agora aos caminhos da resposta.
O argumento apresentado é formado pelas seguintes premissas:
P¹ = Se a inflação não é controlada, então não há projetos de
desenvolvimento. (V)
P² = Se a inflação é controlada, então o povo vive melhor. (V)
P³ = O povo não vive melhor. (V)
CONCLUSÃO - VÁLIDA
Dessas premissas você deve tirar uma conclusão. No enunciado da
questão fica afirmado que as premissas são verdadeiras e a conclusão também
é verdadeira.
Com a conclusão verdadeira, teremos uma situação em que a
argumentação proposta será uma argumentação válida. Essa é justamente a
questão do exercício, ele quer que o argumento seja válido.
Como vamos encaminhar a solução?
Temos no argumento uma proposição simples. Vimos acima que ela
é o ponto de partida para a resolução do problema. Vamos à resolução
enumerando os passos em ordem crescente.
Capítulo 6
128 Raciocínio Lógico
P¹ = Se a inflação não é controlada, então não há projetos de desenvolvimento.
V F (para que o argumento seja
verdadeiro o consequente
terá que ser V, nunca F)
(antecedente V, uma vez que em P² vimos
que “se a inflação é controlada é F”)
P² = Se a inflação é controlada, então o povo vive melhor.
F F (uma vez que P³ é V)
(para que a condicional seja verdadeira,
sendo o consequente F, o antecedente
tem que ser F)
P³ = O povo não vive melhor.
V
Assim, chegamos à análise final descobrindo que “não há projetos de
desenvolvimento”. Voltando ao início da questão, você fica sabendo que a alternativa
que responde a questão é a “b”, ou seja, “Não há projetos de desenvolvimento”.
4
1
23
5
Capítulo 6
129Raciocínio Lógico
6.4 Para saber mais
Título: Raciocínio Lógico - Você consegue aprender. Série
Provas e Concursos
Autor: Enrique Rocha Editora: Campus Ano: 2008
Com um conteúdo apresentado de forma clara, com uma
linguagem descomplicada sem, no entanto, pecar pelo exagero,
este livro traz questões teóricas e exercícios propostos e resolvidos
contemplando os principais tipos de problemas em Raciocínio
Lógico (tabelas-verdade, argumentação, culpado-inocente,
sequenciais, entre outros).
Título: Raciocínio Lógico para Concursos. Série Provas e
Concursos
Autor: Fabrício Mariano Editora: Campus Ano: 2009
O livro aborda os mais variados tipos de problemas envolvendo a
Lógica. Apresenta conteúdos já indicados no Ensino Fundamental e
Médio que atualmente são cobrados nos novos editais de concursos
públicos. Ao final do livro você encontrará uma série de exercícios e
provas atuais dos mais variados examinadores.
6.5 Relembrando
Dentre os vários pontos trabalhados neste capítulo, veja de forma
sintética os pontos importantes.
1) Síntese das tabelas-verdade das operações lógicas:
Tabela 11 – Síntese das tabelas-verdade das operações lógicas
TABELAS-VERDADE DAS OPERAÇÕES LÓGICAS
p q ~p p q p q p q p q p q
V V F V V F V V
V F F F V V F F
F V V F V V V F
F F V F F F V V
Capítulo 6
130 Raciocínio Lógico
2) Tabela resumo para que uma proposição seja verdadeira:
Tabela 12 – Tabela resumo para que uma proposição seja verdadeira
PROPOSIÇÕES VERDADEIRAS
PROPOSIÇÃO CONDIÇÃO PARA QUE SEJA VERDADEIRA
p qA única possibilidade de uma frase com o conectivo e (^) ser
VERDADEIRA é se as duas proposições forem VERDADEIRAS.
p v q
A condição para que uma frase com o conectivo ou (v) seja
VERDADEIRA é que as duas proposições não sejam FALSAS
simultaneamente.
p q
Em uma frase com o conectivo “se... então” (condicional), a única
forma de a frase ser FALSA é quando a primeira proposição é
VERDADEIRA e a segunda é falsa. Em qualquer outra condição a
frase é VERDADEIRA.
p q
Para que a frase seja VERDADEIRA em uma bicondicional, o conectivo
“se e somente se”( ) exige que as duas proposições ou sejam
VERDADEIRAS ou FALSAS.
p v qDa mesma forma que na bicondicional, a disjunção exclusiva só será
verdadeira se as duas proposições forem ou VERDADEIRAS ou FALSAS.
3) Tabela final das negações:
Tabela 13 – Tabela final das negações
NEGAÇÕES
PROPOSIÇÃO CONDIÇÃO PARA QUE SEJA VERDADEIRA
CONJUNÇÃO ~(p q) = ~p ~q
DISJUNÇÃO ~(p q) = ~p ~q
CONDICIONAL ~( p q) = p ~q
BICONDICIONAL ~( p q) = p q = (p ~q) v (q ~q)
DISJUNÇÃO EXCLUSIVA ~(p q) = p q
Capítulo 6
131Raciocínio Lógico
6.6 Testando os seus conhecimentos
Agora que você se apropriou do conteúdo deste capítulo, teste seus
conhecimentos sobre a temática. Vamos às questões.
1) O enunciado a seguir reúne três estruturas lógicas: a disjunção, a condicional
e a bicondicional. Vamos resolvê-lo?
André é inocente ou Beto é inocente. Se Beto é inocente, então Caio é
culpado. Caio é inocente se e somente se Denis é culpado. Ora, Denis
é culpado.
2) Considere a proposição: “Paula estuda, mas não passa no concurso”. Nessa
proposição o conectivo lógico é:
a) Disjunção
b) Conjunção
c) Disjunção Exclusiva
d) Condicional
e) Bicondicional
3) Construa a tabela-verdade:
(p s) v (q s)
Onde encontrar
CARNAVAL, N. Lógica sentencial. Disponível em: <http://www.jusdecisum.
com.br/sistema/turma/arquivos/BB%20LOGICA%20E%20MATEMATICA.pdf>.
Acesso em: 10 jun. 2011.
FURTADO, E. M. Raciocínio Lógico para concursos. Curitiba: IESDE Brasil
Ltda, 2010.
GASPAR, M. Introdução à lógica matemática. Disponível em: <http://
mjgaspar.sites.uol.com.br/logica/logica#listapref>. Acesso em: 15 jun. 2011.
MURCHO, D. Lógica. Disponível em: <http://dmurcho.com/docs/introlog.pdf>.
Acesso em: 15 jun. 2011.
NAVEGA, S. Pensamento crítico e argumentação sólida. São Paulo:
Publicações Intelliwise, 2005.
VELASCO, P. D. N. Educando para a argumentação: contribuições do ensino da
lógica. Coleção Ensino de Filosofia 3. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.
Capítulo 7
133Raciocínio Lógico
LÓGICA DE PREDICADOS
CAPÍTULO 7
7.1 Contextualizando
No capítulo anterior você estudou a lógica das proposições. Através dela
desenvolvem-se operações que determinam se um argumento é válido ou
inválido. A lógica das proposições ou cálculo proposicional atesta a validade
ou invalidade de um argumento a partir da forma como o argumento se
apresenta. Através da lógica das proposições não há meios de simbolizar os
substantivos (comuns ou próprios), adjetivos, pronomes, verbos ou advérbios.
Existem argumentos cuja validade não pode ser verificada a partir
da forma como se apresentam, pois dependem da estrutura interna dos
seus enunciados. Para esses casos, o cálculo de proposições é insuficiente.
É necessário que utilizemos a lógica de predicados, objeto de estudo deste
nosso capítulo.
Entre outros usos, a lógica de predicados tem várias aplicações importantes
não só para matemáticos e filósofos como também para estudantes de Ciência
da Computação. A linguagem da computação se utiliza da lógica de predicados.
Ao final deste capítulo esperamos que você consiga:
estabelecer as diferenças entre lógica de predicados e lógica
proposicional;
conhecer uma linguagem formal que possa expressar qualquer
conjunto de fatos sistemáticos;
explicar como se formaliza a lógica de predicados.
Capítulo 7
134 Raciocínio Lógico
7.2 Conhecendo a teoria
7.2.1 A lógica de predicados
Como temos estudado até aqui, a lógica surge basicamente como uma
análise de argumentos. Com o filósofo Aristóteles, tínhamos de certa forma
um cálculo ou análise, baseado no silogismo em que dadas as proposições, de
acordo com as suas possíveis combinações, a conclusão poderia ser verdadeira
ou falsa, e isso serviria para apontar a validade de um raciocínio.
A partir do final do séc. 19 com os estudos de filósofos e matemáticos
como o britânico George Boole (1815-1864) e o alemão Gottlob Frege (1848-
1925), as construções argumentativas ganharam símbolos que possibilitaram
tornar a atividade de análise mais eficaz. Surgiu, assim, a lógica simbólica com
seus respectivos conectivos lógicos, os quais estudamos nos capítulos 5 e 6.
Frege foi, sem dúvida, quem proporcionou o avanço mais considerável
no que diz respeito à análise dos discursos, proposições e orações. Até ele,
tínhamos uma lógica proposicional que explicava, com o auxílio dos conectivos,
a estrutura das orações e argumentos. A explicação ficava a desejar no que
dizia respeito a palavras como Todos, Nenhum, Alguns, entre outras. Também
não era possível esclarecer ou destrinchar o significado de cada termo da
oração, a não ser de maneira superficial.
Frege introduziu os quantificadores, símbolos correspondentes a palavras
como todo, algum, nenhum, entre outras. Ao mesmo tempo transformou
muitas sentenças simples e sem substantivo definido em predicados, utilizando
variáveis (que ele diferenciara das constantes) para significar os objetos. Além
dos conectivos de uma lógica formal proposicional, temos fórmulas bem
formadas compostas de objetos, predicados, variáveis e quantificadores, que
compõem o que chamamos de sintaxe da lógica de predicados.
Capítulo 7
135Raciocínio Lógico
Friedrich Ludwig Gottlob Frege nasceu em 8 de
Novembro de 1848 em Wismar, Merklenberg
Schwerin (atualmente Alemanha). Estudou
na Universidade de Jena (1869-1871) e na
Universidade de Gottingen (1871-1873).
Dedicou-se à Matemática, à Física e à Química.
Frege queria mostrar que a aritmética era
idêntica à lógica e pode-se dizer que recriou
a disciplina da lógica ao construir o primeiro
«cálculo de predicados». Um cálculo de
predicados é um sistema formal constituído
por duas componentes: a linguagem formal
e a lógica.
Fonte: <http://www.
liveinternet.ru/>
BIOGRAFIA
Podemos dizer que com a Lógica de Predicados (ou Lógica de Primeira
Ordem) “aumenta o poder expressivo da linguagem ao permitir associar as
asserções lógica às propriedades de objectos de um determinado domínio”
(ALMEIDA, 2011).
Ou seja, a lógica de predicados é uma extensão da lógica de proposições.
Vamos explicar com mais detalhes para que você possa entender. Na Lógica
Proposicional (LP) um átomo (P, Q, R, ...) representa uma sentença declarativa que
pode ser V ou F, mas não ambos. Seus atributos e componentes são desprezados.
Por exemplo, se solicitarmos a você para representar na lógica
proposicional:
Pedro estuda. Teremos – P
O estudante foi aprovado no vestibular. – Q
Nos dois exemplos você pode observar que, para essa representação, os
predicados ou características não são considerados.
Capítulo 7
136 Raciocínio Lógico
No entanto, existem vários tipos de argumentos que apesar de válidos,
não podem ser justificados com os recursos do Cálculo Proposicional. Por
exemplo, considere o exemplo a seguir:
Todo homem é mortal.
Sócrates é homem.
Logo, Sócrates é mortal.
Se utilizássemos a lógica proposicional teríamos:
p: Todo homem é mortal.
q: Sócrates é um homem.
r: Sócrates é mortal.
Para formalizar este argumento através da lógica proposicional você
teria algo do tipo:
p
q
r
Observe que, nessa representação, não há como estabelecer uma
consequência lógica entre as premissas (p, q) e a conclusão (r). Por que isto ocorre?
Para provar que esse argumento é válido, é necessário identificar
indivíduos tais como Sócrates e seus predicados; é preciso considerar a palavra
TODO. A lógica proposicional não tem a capacidade de representar relações
entre os objetos, só determina V ou F de sentenças. É aqui que entra a lógica
de predicados.
Para iniciarmos uma análise da lógica de predicados, é preciso lembrar
que a lógica é concebida como uma linguagem, portanto, composta de uma
sintaxe e de uma semântica. A sintaxe diz respeito a tudo o que pode ser
tratado como uma combinatória de símbolos, sem considerar quaisquer
conteúdos que esses símbolos possam ter, isto é, sem considerar o que os
símbolos simbolizam. A semântica de uma linguagem lógica é baseada na
noção de interpretação (ou de estrutura).
Capítulo 7
137Raciocínio Lógico
Vamos entender a sintaxe e a semântica da lógica de predicados.
7.2.2 Sintaxe da lógica de predicados
Além dos conectivos lógicos (¬, ^, v e ), que você já aprendeu nos
capítulos 5 e 6, as fórmulas bem formadas da lógica de predicados são
compostas por: objeto, predicados, variáveis e quantificadores.
Uma Formula Bem Formada (fbf) é uma sentença
que obedece às regras de formação de sentenças
da Lógica de Predicados.
SAIBA QUE
Veja cada um dos elementos que compõem uma fórmula bem formada.
Objeto – na lógica de predicados o objeto é qualquer coisa a respeito do
qual dizemos algo.
De quem se afirma – do objeto.
Eles podem ser:
a) concretos – ex.: mesa, livro.
b) abstratos – ex.: paz, amor.
c) fictícios – ex.: curupira, unicórnio.
Por convenção, os nomes dos objetos são escritos em letras minúsculas
e para objetos diferentes correspondem letras diferentes. Veja os exemplos:
O livro p
Maria q
Capítulo 7
138 Raciocínio Lógico
Predicados – denotam uma relação entre objetos em um determinado
contexto ou uma característica.
O que se afirma – relação ou predicado.
Veja o exemplo:
b
a
c
São predicados neste contexto de estrelas:
cor (b, azul escuro) – a estrela b tem cor azul mais escuro.
maior (c, b) – a estrela c é maior que a estrela b.
O nome dos predicados se inicia com letras
maiúsculas. Assim, os predicados serão
representados por letras maiúsculas A, B, C, ...,
P, ..., e os objetos serão representados por letra
minúsculas a, b, c, d, ..., p, q, ....
SAIBA QUE
Para indicar que um sujeito sofre a ação de um predicado, utiliza-se uma
notação específica. Por exemplo, se tivermos a frase:
A terra é redonda.
A terra é o objeto – de quem se afirma algo. (t)
Redonda é o predicado – o que se afirma de algo. (R)
Assim teremos R(t) para a sentença – A terra é redonda.
Capítulo 7
139Raciocínio Lógico
Variáveis – na lógica, “a variável é um símbolo cujo significado não é
determinado” (MORA, 2011). Os nomes das variáveis são escritos com letras
minúsculas. Veja exemplos de variáveis:
Livro (x) = x é um livro.
Computador (y) = y é um computador.
Nas proposições anteriores não é possível estabelecer um valor de
verdade, uma vez ser impossível afirmar se livro (x) é verdadeiro ou falso até
que a variável x seja substituída ou quantificada.
Quantificadores – são expressões usadas nas sentenças para especificar a
que elementos do universo do domínio o predicado se aplica.
São dois os quantificadores:
Quantificador Universal - (Todo)
Quantificador Existencial - (Algum)
Utilizando cada um dos elementos vistos anteriormente, a frase: Todos
os homens são mortais, torna-se: Para todo x se x é humano, então x é mortal.
Simbolicamente teremos:
H(homem) e M(mortal) PREDICADOS
x (H (x) M (x))
QUANTIFICADOR x - VARIÁVEL
Veja mais um exemplo: Alguns homens são vegetarianos.
Teremos: Existe algum (ao menos um) x tal que x é humano e é
vegetariano. Simbolicamente teremos:
x (H(x) V(x))
Capítulo 7
140 Raciocínio Lógico
Saiba que o que realmente torna a lógica
de predicados mais expressiva que a lógica
proposicional é a noção de variáveis e
quantificadores. Através do uso de variáveis
estabelecemos fatos a respeito de objetos de
determinado contexto de um discurso. Usando
o quantificador universal estabelecemos fatos a
respeito de todos os objetos de um contexto.
SAIBA QUE
Veja que, de uma maneira geral, o vocabulário da lógica de predicados
é formado por:
Símbolos lógicos – cuja interpretação é fixa em qualquer contexto.
São eles:
os operadores lógicos que são os conectivos utilizados na lógica
proposicional - (^, v, ~, , );
os quantificadores - (universal), (existencial);
os parênteses - ( ).
Símbolos não lógicos – constituídos por:
letras nominais: letras minúsculas de ‘a’ a ‘t’;
variáveis: letras minúsculas de ‘u’ a ‘z’;
letras predicativas: letras maiúsculas.
7.2.3 Semântica da lógica de predicados
Para você interpretar uma fórmula na lógica de predicados, é preciso
que especifique o domínio de interpretação e uma atribuição de valores para
as constantes, funções e predicados ocorrendo na fórmula.
O domínio de interpretação – conjunto D # 0.
Um mapeamento ligando cada objeto a um elemento fixo em D.
Capítulo 7
141Raciocínio Lógico
Um mapeamento associando o predicado a uma relação em D.
É importante que você saiba que o quantificador Universal ( )
corresponde a uma conjunção e o quantificador Existencial ( ) corresponde a
uma disjunção.
Veja o que estamos dizendo: considere o domínio D {a, b, c}, a partir dele
a fórmula (x) colorido (X) corresponde a conjunção: colorido (a) ^ colorido
(b) ^ colorido (c).
No caso do quantificador a correspondência é com a disjunção. Assim
teremos que dado o domínio D {a, b, c} e a fórmula x [(cor (x; azul)], teremos
a disjunção: cor(a; azul) v cor(b; azul) v cor(c; azul).
Reconhecer o tipo de sentença é importante para sua tradução para a
linguagem da lógica de predicados. Veja nos exemplos a seguir:
Há aves que não voam.
tipo de sentença: x (ave(x) ^ não voa(x))
Alguns políticos não são honestos .
x (político (x) ^ honesto(x))
Os remédios são perigosos.
x [remédio(x) perigoso(x )]
PRATICANDOPRATICANDO
Vamos aplicar o que aprendemos até aqui? Então,
usando os símbolos de predicados indicados
e os quantificadores apropriados, represente
simbolicamente as declarações abaixo:
a) Alguém é infeliz.
b) Paulo ama Isabel.
c) Todos os leões são poderosos.
Capítulo 7
142 Raciocínio Lógico
7.2.3 Enunciados categóricos
Para facilitar a formalização das sentenças na lógica de predicados,
destacam-se quatro tipos de enunciados representados pelas letras A, E, I, O e
que são chamados enunciados categóricos:
A - da forma “Todo P é Q” (universal afirmativa).
E - da forma “Nenhum P é Q” ou “Todo P não é Q” (universal negativa).
I - da forma “Algum P é Q” (particular afirmativa).
O - da forma “Algum P não é Q” (particular negativa).
Veja como simbolizamos estes enunciados:
A - ( x)(P(x) Q(x))
E - ( x)(P(x) Q(x))
I - ( x)(P(x) Q(x))
O - ( x)(P(x) Q(x))
Veja como representar estas sentenças:
Enunciado Universal Afirmativo – ( x)(P(x) Q(x))
SENTENÇA: Todos os homens são mortais.
SINTAXE: x[h(X) m(X)]
SEMÂNTICA: Para todo x se x é h então x é m.
Enunciado Universal Negativo – X[p(X) q(X)]
SENTENÇA: Nenhum homem é imortal.
SINTAXE: x[h(x) (x)]
SEMÂNTICA: Para todo x se x é h então não é i.
Capítulo 7
143Raciocínio Lógico
Enunciado Particular Afirmativo – X[p(X) q(X)]
SENTENÇA: Alguns homens são imortais.
SINTAXE: x [h(x) (x)]
SEMÂNTICA: Existe um x tal que é h e é i.
Enunciado Particular Negativo – X[p(X) q(X)]
SENTENÇA: Alguns homens não são imortais.
SINTAXE: x[h(x) (x)]
SEMÂNTICA: Existe um x tal que x é h e x não é i.
PRATICANDOPRATICANDO
Que tal praticar um pouco?
Formalize as sentenças abaixo usando a lógica
de predicados:
a) Nenhuma princesa é feia.
b) Existem políticos honestos.
c) Todos gostam de férias.
7.3 Aplicando a teoria na prática
A lógica é um guia do pensamento. Dito dessa forma não fica claro,
para você aluno, como aplicar a lógica na prática, especificamente a lógica de
predicados. A questão que se estabelece é: afinal a lógica tem fins práticos?
Para responder essa questão é importante pensar nos avanços que
tivemos a partir da década de 1950, na área da computação, com o advento e
Capítulo 7
144 Raciocínio Lógico
desenvolvimento da lógica proposicional e, assim, de sua extensão, a lógica de
predicados. A lógica passou a se apresentar cada vez mais como um sistema
completo de símbolos e regras de combinação, isso teve como principais
remates o surgimento da informática e da cibernética. Ora, no momento
em que o pensamento e o conhecimento humano passaram a ser expressos
simbolicamente, não demoraria muito para que os pesquisadores apostassem
na criação de sistemas em que tais símbolos pudessem ser combinados a fim
de serem utilizados na resolução de vários problemas.
Mais do que isso, tais sistemas poderiam estar à disposição para serem
aplicados em qualquer hora e da forma mais eficaz possível em uma máquina,
que por sua vez teria, assim, pelo conteúdo referido, a capacidade de pensar.
É basicamente este princípio que fundamenta o funcionamento dos
primeiros aos mais modernos computadores da atualidade. Em um computador
estão sistematizados e armazenados vários passos necessários para se realizar
várias tarefas, em que cada sequência de tarefa é chamada de algoritmo.
No momento em que estamos operando um computador, estamos lidando
com sequências e combinações de símbolos que são os programas. Assim,
o Windows e o internet explorer, por exemplo, são a aplicação do conceito
de algoritmo no computador e estes programas, por serem algoritmos, são,
portanto, sequências de raciocínios que estão ligados aos princípios básicos
da lógica formal.
Observa-se, ainda, que nas linguagens de programação conhecidas como
PROCEDURAIS, os programas são elaborados para “dizer” ao computador
a tarefa que deve ser realizada. Em outras linguagens de programação,
conhecidas como DECLARATIVAS, os programas reúnem uma série de dados
e regras e as usam para gerar conclusões. Estes programas são conhecidos
como SISTEMAS ESPECIALISTAS ou SISTEMAS BASEADOS NO CONHECIMENTO
que simulam em muitos casos a ação de um ser humano. Essas linguagens
declarativas incluem predicados, quantificadores, conectivos lógicos e regras
de inferência que, como vimos, fazem parte do Cálculo de Predicados.
Capítulo 7
145Raciocínio Lógico
7.4 Para saber mais
Título: Pensamento crítico – o poder da lógica e da argumentação
Autores: Walter Carnielli e
Richard Epstein Editora: Ridel Ano: 2009
Na avaliação dos próprios autores, a obra tem como objetivo
servir de guia para a boa argumentação e, ao mesmo tempo, de
instrumento de “autodefesa intelectual contra as falácias do mundo
contemporâneo”. Trata-se de um estudo introdutório de Lógica,
focado na questão técnica sobre argumentações e persuasão.
Título: A cartilha da lógica
Autor: Maria Do Carmo
NicolettiEditora: Edufscar Ano: 2010
As principais temáticas da cartilha são especificamente a lógica
proposicional e sua extensão, a lógica de predicados. O livro traz
uma reflexão sobre a estreita relação entre lógica e computação,
especificada através do desenvolvimento de linguagens capazes de
modelar situações e problemas com vistas a uma solução. Como forma
de tornar o aprendizado mais efetivo apresenta 138 exemplos.
Título: Lógica: 40 lições de lógica elementar
Autor: Antonio de Sequeira
Zilhao Editora: Colibri Ano: 2001
A obra é um manual de lógica, por isso apresenta uma linguagem de
fácil acesso. Apresenta uma divisão em quatro partes, a saber: Lógica
Aristotélica, Teoria dos Conjuntos, Lógica proposicional e Lógica de
predicados, de forma a possibilitar ao estudante uma apropriação
mais metódica.
7.5 Relembrando
Este capítulo traz uma abordagem sobre a lógica de predicados.
Através de seu estudo, você ficou sabendo que foi Frege quem introduziu
os quantificadores, símbolos correspondentes a palavras, como: todo, algum,
nenhum, entre outras.
Capítulo 7
146 Raciocínio Lógico
Existem vários tipos de argumentos que, apesar de válidos, não podem
ser justificados com os recursos do Cálculo Proposicional. A lógica proposicional
não tem a capacidade de representar relações entre os objetos, só determina
V ou F de sentenças. É aqui que entra a lógica de predicados.
O vocabulário da lógica de predicados é formado por:
SINTAXE DA LÓGICA DE PREDICADOS
Objeto - de quem se afirma algo.
Predicados - o que se afirma de algo.
Variáveis - símbolo cujo significado não é determinado –
representadas por letras minúsculas.
Quantificadores:
Quantificador Universal - (Todo)
Quantificador Existencial - (Algum)
SEMÂNTICA DA LÓGICA DE PREDICADOS
Refere-se à interpretação de uma fórmula na lógica de predicados.
ENUNCIADOS CATEGÓRICOS
A - da forma “Todo P é Q” (universal afirmativa).
E - da forma “Nenhum P é Q” ou “Todo P não é Q” (universal
negativa).
I - da forma “Algum P é Q” (particular afirmativa).
O - da forma “Algum P não é Q” (particular negativa).
Sua simbolização:
A - ( x)(P(x) Q(x))
E - ( x)(P(x) ~Q(x))
I - ( x)(P(x) Q(x))
O - ( x)(P(x) ~Q(x))
Capítulo 7
147Raciocínio Lógico
7.6 Testando os seus conhecimentos
Agora que você conheceu a lógica de predicados, que tal exercitar um
pouco?
1) Formalize as seguintes frases:
a) Lisboa é grande e barulhenta.
b) Lisboa é grande e barulhenta, mas bonita.
c) Se Sócrates é ateniense, é grego.
d) Nem todos os portugueses vivem em Portugal.
2) Formalize os seguintes argumentos:
a) O Rui não é cético, pois todos os céticos são pessimistas e o Rui não é
pessimista.
b) Se certas pessoas acreditam em bruxas, então acreditam no diabo.
Ora, a Rita é uma pessoa que acredita em bruxas. Portanto, certas
pessoas acreditam no diabo.
Onde encontrar
ALMEIDA, C. B. Lógica de primeira ordem. Disponível em: <http://wiki.
di.uminho.pt/twiki/pub/Education/LC/MaterialApoio/LogPO.pdf>. Acesso em:
25 nov. 2011.
FURTADO, E. M. Raciocínio lógico para concursos. Curitiba: IESDE Brasil
Ltda, 2010.
Capítulo 7
148 Raciocínio Lógico
MORA, F. Dicionário de filosofia. Disponível em: <http://books.google.com.br/
books>. Acesso em: 22.nov. 2011.
ROCHA, E. Raciocínio lógico - você consegue aprender. Série Provas e
Concursos. 2. ed. São Paulo: Campus, 2008.
Capítulo 8
149Raciocínio Lógico
SEQUÊNCIAS LÓGICAS E ALGORITMOS
CAPÍTULO 8
8.1 Contextualizando
No capítulo 1, você ficou sabendo que a lógica é um ramo da Filosofia
que cuida das regras do pensamento racional ou do modo de pensar de
forma organizada. A utilização das atividades lógicas contribui na formação
de indivíduos capazes de criar ferramentas e mecanismos responsáveis pela
obtenção de resultados efetivos na academia, no ambiente de trabalho, enfim,
na vida prática.
O tema que iniciamos agora e ao mesmo tempo encerra esta disciplina
trata de um aspecto importante na organização do nosso pensamento. Estamos
falando de sequências lógicas e algoritmos. Sabemos que na vida acadêmica e
profissional nosso discurso precisa de ordem lógica para ser eficaz e transmitir
uma mensagem.
Ao final deste capítulo esperamos que você possa:
conceituar uma sequência lógica e entender qual a importância deste
tema para a organização de seus argumentos;
definir as leis de formação das sequências lógicas;
conceituar algoritmo e identificar sua aplicação.
Capítulo 8
150 Raciocínio Lógico
8.2 Conhecendo a teoria
8.2.1 Sequências lógicas e suas leis de formação
De tudo que você já aprendeu até aqui pode perceber que a lógica é
uma ferramenta fundamental ao desenvolvimento cognitivo, induzindo à
organização do pensamento e das ideias e à formação de conceitos básicos
necessários a uma compreensão efetiva da realidade.
Entre as diversas temáticas da lógica encerraremos este livro com uma
discussão acerca de sequências lógicas e algoritmos. Essa é uma temática muito
cobrada em concursos públicos das diversas áreas profissionais. Além do que,
se você observar ao seu redor, tudo que você faz segue uma sequência lógica
e os avanços na área de informática têm como uma de suas ferramentas os
algoritmos.
Observe a sequência a seguir:
Figura 1 - As sequências no cotidiano
Fonte: Beck
Perceba que o menino sobe na cadeira, fica em pé, desequilibra e, por
isso, cai. Veja como existiu uma série de passos para a cena final. Assim acontece
com as nossas ações. Vamos ver uma cena do cotidiano.
Capítulo 8
151Raciocínio Lógico
Descrição de uma sequência lógica para mudar um pneu de carro:
1. pegar o pneu estepe;
2. pegar macaco e triângulo sinalizador;
3. afrouxar os parafusos do pneu vazio;
4. colocar o macaco;
5. tirar os parafusos;
6. substituir o pneu;
7. apertar os parafusos;
8. tirar o macaco;
9. voltar a apertar os parafusos;
10. guardar o material.
Claro que outra pessoa, diante da situação de um pneu furado, pode
estabelecer um caminho diferente do seu, mas sempre existirá uma sequência
lógica do que se faz.
A primeira questão que você precisa entender é: o que é uma
sequência lógica?
A partir do que vimos, no exemplo do pneu furado, você já pode inferir
uma resposta. Podemos dizer que uma sequência lógica é um conjunto de passos
que devem ser executados para atingirmos um objetivo ou solucionarmos um
problema. Você pode ver que esta temática está diretamente ligada com o
processo de planejamento. Quando planejamos precisamos estabelecer os
passos que serão executados. Isto é, precisamos estabelecer a sequência das
etapas que serão efetivadas. Uma sequência pode ser finita ou infinita.
As sequências podem ser formadas por números, letras, pessoas,
figuras, entre outros. Existem várias formas de se estabelecer uma sequência,
o importante é que existam pelo menos três elementos que caracterizem a
lógica de sua formação, entretanto, determinadas séries necessitam de mais
elementos para definir sua lógica.
Capítulo 8
152 Raciocínio Lógico
Algumas sequências são bastante conhecidas e todo aluno que estuda
lógica deve conhecê-las, são elas: as progressões aritméticas e geométricas, a
série de Fibonacci, os números primos e os quadrados perfeitos.
Veja cada uma delas.
Sequências de números
Progressão Aritmética
Soma-se constantemente um mesmo número.
2 5 8 11 14 17
+3 +3 +3 +3 +3
DEFINIÇÃODEFINIÇÃO
Chama-se Progressão Aritmética (PA) toda
sequência numérica cujos termos, a partir do
segundo, são iguais ao anterior somado com um
valor constante, denominado razão.
Veja agora alguns exemplos para melhor visualizar a definição.
Exemplos:
A = (1, 5, 9, 13, 17, 21, ...) razão = 4 (PA crescente)
B = (3, 12, 21, 30, 39, 48, ...) razão = 9 (PA crescente)
C = (5, 5, 5, 5, 5, 5, 5, ...) razão = 0 (PA constante)
D = (100, 90, 80, 70, 60, 50, ...) razão = -10 ( PA decrescente)
Capítulo 8
153Raciocínio Lógico
Progressão Geométrica
Multiplica-se constantemente um mesmo número.
2 6 18 54 162 486
x3 x3 x3 x3 x3
DEFINIÇÃODEFINIÇÃO
Chama-se Progressão Geométrica (PG) toda
sequência de números reais, formada por termos
que, a partir do segundo, é igual ao produto do
anterior por uma constante q dada, chamada de
razão da PG.
As Progressões Geométricas são formadas por uma sequência
numérica, em que os números são definidos (exceto o primeiro)
utilizando a constante q, chamada de razão. O próximo número da
PG é o número atual multiplicado por q.
Incremento em Progressão
O valor somado é que está em progressão.
1 2 4 7 11 16 ...
+1 +2 +3 +4 +5
Série de Fibonacci
Cada termo é igual à soma dos dois anteriores.
1 1 2 3 5 8 13 ...
Números Primos
Números naturais que possuem apenas dois divisores naturais (o 1 e o
próprio número).
2 3 5 7 11 13 17 ...
Capítulo 8
154 Raciocínio Lógico
Quadrados Perfeitos
Números naturais cujas raízes são naturais.
1 4 9 16 25 36 4 ...
PRATICANDOPRATICANDO
A seguir algumas sequências numéricas para
você completar.
Exercício 1: (PUC-SP/2003) Os termos da sequência
(10; 8; 11; 9; 12; 10; 13; ...) obedecem a uma lei
de formação. Qual o próximo termo?
a) 58
b)10
c) 11
d) 7
e) 15
Exercício 2: Qual o próximo número em cada
sequência abaixo?
1, 3, 6, 10, 15, 21, 28, ____
0, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, ____
Sequências de letras
As sequências de letras podem estar associadas a uma série de números
ou não. Em geral, você deve escrever todo o alfabeto (observando se deve
ou não contar com k, y e w) e circular as letras dadas para entender a lógica
proposta. Veja os dois exemplos a seguir:
Exemplo 1 - Considere a sequência A C F J O U
Vamos colocar todo alfabeto para tentar resolver.
A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U –
de imediato você pode perceber que as letras foram saltadas em
progressão: 1, 2, 3, 4 e 5 letras.
Capítulo 8
155Raciocínio Lógico
Exemplo 2 - Veja uma sequência alfa numérica
B2 4F H8 16L N32 64R
Para resolver essa sequência, comece por colocar todo o alfabeto
para entender o processo.
A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T
Veja que a sequência obedece a um crescendo em que as letras
saltam 1 3 1 3 1. E os números?
2 4 8 12 32 64
Você pode perceber que a sucessão é construída elevando o número
à potência de 2. Assim teremos:
2² = 4 4² =8 8² = 16 e, assim, sucessivamente.
Sequências de figuras
No caso de sequência com figuras, bastante presente em concursos, a
primeira coisa a fazer é identificar o que muda de uma figura para outra.
Assim, veja:
Figuras 1a 2a 3a
no de quadrados 1 3 6
Da 1a para a 2a figura pulam-se 2 (1+2)
Da 2a para a 3a pulam-se 3 (3+3)
Da 3a para a 4a deve-se pular 4, assim teremos 6+4 = 10
8.2.2 Algoritmos
Uma vez que você compreendeu o que é uma sequência lógica, vamos
passar à noção de algoritmo, que nada mais é que uma sequência lógica finita
de passos necessários à execução de uma tarefa. Para que você possa melhor
compreender, visualize uma receita de bolo. Para que se atinja o objetivo
Capítulo 8
156 Raciocínio Lógico
desejado, esta receita não pode ser entranhada de subjetividades, deve ser
clara e objetiva. Vamos ilustrar o que estamos dizendo.
Figura 2 – Torta de chocolate fácil
Fonte: Fernando Caprio <chefrs.com.br>
Torta de chocolate fácil
Tempo: 35min
Rendimento : 10 Porções
Dificuldade: Fácil
Ingredientes:
6 ovos
6 colheres (sopa) de açúcar
6 colheres (sopa) de chocolate em pó
6 colheres (sopa) de farinha de trigo
100g de coco ralado
1/2 xícara (chá) de margarina
1 colher (sopa) de fermento em pó
Margarina e farinha de trigo para untar
Cobertura:
1 lata de leite condensado
2 colheres (sopa) de chocolate em pó
1 colher (sobremesa) de margarina
Capítulo 8
157Raciocínio Lógico
Modo de preparo
Bata todos os ingredientes no liquidificador e despeje em uma fôrma
untada e enfarinhada. Leve ao forno médio, pré-aquecido, por 35
minutos. Para a cobertura, leve ao fogo todos os ingredientes, mexendo
até engrossar. Cubra a torta e sirva em seguida.
Para obter esta torta de chocolate fácil é necessário seguir essa sequência
de etapas descritas de forma clara e objetiva. Qualquer pessoa que consiga ler
atinge o objetivo.
Diariamente lidamos com o algoritmo quando usamos o computador.
Os programas de computador são algoritmos escritos em linguagem de
computador.
A linguagem de computador ou linguagem informática é destinada
a descrever o conjunto das ações consecutivas que um computador deve
executar. Estas se constituem em sequências finitas de ações. É uma maneira
prática para nós (humanos) darmos instruções a um computador. Uma
linguagem informática é rigorosa: A CADA instrução corresponde UMA ação
do processador.
A título de ilustração, veja os principais tipos de linguagem informática
que são construídas a partir de algoritmos:
Quadro 1 – Tipos de linguagens de informática
LINGUAGENS DE INFORMÁTICA
LINGUAGEM DOMÍNIO DE APLICAÇÃO PRINCIPALCOMPILADA/
INTERPRETADA
ADA O tempo real Linguagem compilada
BASICProgramação básica com
objetivos educativosLinguagem interpretada
C Programação sistema Linguagem compilada
C++ Programação sistema objeto Linguagem compilada
Cobol Gestão Linguagem compilada
Fortran Cálculo Linguagem compilada
Capítulo 8
158 Raciocínio Lógico
Java Programação orientada Internet Linguagem intermédia
MATLAB Cálculo matemático Linguagem interpretada
Mathematica Cálculo matemático Linguagem interpretada
LISP Inteligência artificial Linguagem intermédia
Pascal Ensino Linguagem compilada
PHP Desenvolvimento de sites web
dinâmicos
Linguagem interpretada
Prolog Inteligência artificial Linguagem interpretada
Perl Tratamento de cadeias de
caracteres
Linguagem interpretada
Fonte: Disponível em: <http://pt.kioskea.net/contents/langages/langages.php3>. Acesso em: 22 fev. 2012
Desenvolvimento de algoritmos
Qualquer tarefa que siga determinado padrão pode ser descrita por um
algoritmo. Para escrever um algoritmo, precisamos descrever a sequência de
instruções de maneira simples e objetiva. É preciso ainda desenvolver a tarefa
em 3 etapas:
Figura 3 – Sequência de instruções para elaboração de um algoritmo
ENTRADA - são os
dados de entrada do
algoritmo
PROCESSAMENTO
- procedimentos
utilizados para chegar
ao resultado final
SAÍDA - os dados já
processados
Fonte: Miranda, Cavalcanti (2012)
Um algoritmo tem cinco características importantes:
Finitude: um algoritmo deve sempre terminar após um número finito
de passos.
Definição: cada passo de um algoritmo deve ser precisamente definido.
As ações devem ser definidas rigorosamente e sem ambiguidades.
Capítulo 8
159Raciocínio Lógico
Entradas: um algoritmo deve ter zero ou mais entradas, isto é,
informações que lhe são fornecidas antes do algoritmo iniciar.
Saídas: um algoritmo deve ter uma ou mais saídas, isto é, quantidades
que têm uma relação específica com as entradas.
Efetividade: um algoritmo deve ser efetivo. Isso significa que todas as
operações devem ser suficientemente básicas, de modo que possam
ser, em princípio, executadas com precisão, em um tempo finito, por
um humano usando papel e lápis.
Quando construímos um algoritmo é importante que ele seja testado.
Esse teste se chama TESTE DE MESA. Ele consiste em seguir as instruções
fornecidas para observar se estão corretas ou não. Lembra o exemplo inicial
que demos com a torta de chocolate? Pois é, o teste de mesa seria seguir a
receita passo a passo para saber se ao final teremos a torta.
Vamos agora colocar em prática tudo o que dissemos até aqui sobre
algoritmo? Imagine o seguinte problema:
Calcule a média final dos alunos da 3ª Série.
Os alunos têm notas de duas unidades: U1 e U2
Onde: Média Final = (U1 + U2 )/ 2
Para montar o algoritmo proposto, faremos três perguntas:
a) Quais são os dados de entrada?
R: Os dados de entrada são U1 e U2.
b) Qual será o processamento a ser utilizado?
R: O procedimento será somar todos os dados de entrada e dividi-los
por DOIS.
c) Quais serão os dados de saída?
R: O dado de saída será a média final.
Capítulo 8
160 Raciocínio Lógico
Figura 4 – Sequência de elaboração de um algoritmo
ENTRADA
U1 = 7
U2 = 8
PROCESSAMENTO
7 + 8 = 15
15 : 2 =
SAÍDA
7,5
Fonte: Miranda, Cavalcanti (2012)
Com a montagem, veja como ficaria o algoritmo:
receba a nota da prova 1;
receba a nota de prova 2;
some todas as notas e divida o resultado por 2;
mostre o resultado da divisão.
Os algoritmos podem ser representados através das seguintes linguagens:
a) Linguagem Natural - os algoritmos são expressos diretamente em
linguagem natural. Veja um exemplo:
Filé de peixe com molho branco.
Preparo dos peixes
Lave os filés e tempere com o suco dos limões, sal, pimenta e
salsinha picada. Deixe por 1/2 hora neste tempero. Enxugue e passe
cada filé na farinha de trigo. Depois passe pelos ovos batidos e frite
na manteiga até ficarem dourados dos dois lados.
Preparo do molho branco
Coloque numa panela a manteiga, a farinha e o leite e misture bem.
Em fogo médio, cozinhe até engrossar. Adicione o sal, a pimenta
e o queijo. Continue com a panela no fogo, cozinhando até que o
queijo derreta, mexendo constantemente.
Juntando os dois
Adicione queijo parmesão ralado e queijo gruyère. Misture e ponha
sobre os filés.
Fim da receita do filé de peixe com molho branco
Capítulo 8
161Raciocínio Lógico
b) Fluxograma Convencional - esta é uma representação gráfica que
emprega formas geométricas padronizadas para indicar as diversas
ações e decisões que devem ser executadas para resolver o problema.
Para exemplificar esta forma de linguagem, vamos a um exemplo do
algoritmo para decidir o que fazer em um dia de domingo.
Figura 4– Modelo de fluxograma
Início
Ler jornal Ir à praia
Fim
Ir dormir
Fazer refeição
Ir ao cinema
Dia de
Sol?
Tomar café
Acordar
SimNão
Fluxograma para um domingo
Fonte: Adaptado de <http://equipe.nce.ufrj.br/adriano/c/apostila/algoritmos.htm>. Acesso em: 22 fev. 2012
Capítulo 8
162 Raciocínio Lógico
c) Pseudo-linguagem - emprega uma linguagem intermediária entre a
linguagem natural e uma linguagem de programação para descrever os
algoritmos. Essa é uma linguagem que colocamos aqui apenas para que
você tenha conhecimento. Ela é empregada no campo da computação.
Veja o exemplo:� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � Veja no exemplo que o algoritmo começa com a função principal, que
é a função obrigatória em todos os algoritmos. Os parênteses após o nome
principal são normalmente usados para delimitar a lista de argumentos,
também chamados parâmetros, que a função irá receber para executar a sua
tarefa. Nesse caso, a função não está recebendo nenhum parâmetro. Este
algoritmo executa um único comando que imprime o texto “Alo mundo” em
um dispositivo qualquer de saída de dados.
8.3 Aplicando a teoria na prática
Como você pôde aprender, algoritmos – apesar de a palavra parecer
estranha - são sequências finitas de etapas necessárias à resolução de
problemas. Funcionam como receitas que, se seguidas, deverão chegar ao
resultado indicado. Cotidianamente fazemos uso de algoritmos nas receitas
culinárias, nas tarefas domésticas, no dia a dia profissional.
Veja a situação em que é possível identificar o uso de algoritmos para
promover interações sociais.
No decorrer da trama do filme A REDE SOCIAL é apresentada uma cena
de ação com o uso de algoritmos, quando a versão cinematográfica de Mark
Zuckerberg, criador do Facebook, se debruça sobre a programação do site:
seu desafio é descobrir fórmulas matemáticas para a amizade. O resultado se
traduz no fato de que com mais de 500 milhões de usuários, o Facebook é um
sucesso global pelos recursos de conectividade entre as pessoas, desenvolvidos
a partir de algoritmos.
Capítulo 8
163Raciocínio Lógico
Na medicina, o uso de algoritmos é difundido na análise de tomografias,
radiografias e ressonâncias magnéticas. A principal função da máquina, nesses
casos, é comparar um exame com outro feito anteriormente para detectar
mudanças no padrão da imagem.
Em todos os dois exemplos, foram criados algoritmos que descrevem uma
sequência de etapas (com entrada, processamento e saída) que, se seguidas,
chegarão a um resultado eficaz.
8.4 Para saber mais
Título: Algoritmo e programação
Autores: Marco Medina e
Cristina Fertig Editora: Novatec Ano: 2005
Com este livro os autores se propõem a superar as dificuldades que
surgem na formação acadêmica quando o assunto são os algoritmos.
A temática é trabalhada a partir da exposição de conceitos formais,
seguidos da resolução de problemas, identificando erros comuns na
construção de algoritmos.
Título: Algoritmo - teoria e prática
Autores: Thomas H. Cormen,
Charles Leiserson,
Ronald Rivest e
Cli!ord Stein
Editora: Campus Ano: 2002
Os autores procuraram imprimir neste livro a marca do rigor e da
abrangência no tratamento da temática. No entanto, a apresentação
do conteúdo é feita em linguagem comum, elaborada para ser lida
por qualquer pessoa que tenha interesse na área de programação.
Título: Testes de lógica. Treine o raciocínio e mantenha sua
mente sempre a#ada
Autor: Ed. Marco Zero Editora: Marco Zero Ano: 2010
A prática regular de exercícios de lógica desenvolve a capacidade
de elaborar raciocínios coerentes e de pensar com clareza, além de
melhorar a concentração e a agilidade mental. Essa é a proposta
deste livro, que apresenta uma série de exercícios com respostas,
especialmente formulados para desenvolver o raciocínio lógico,
com níveis diversos de dificuldades.
Capítulo 8
164 Raciocínio Lógico
8.5 Relembrando
Com este capítulo encerramos nossa reflexão sobre LÓGICA. Na discussão
que fizemos acima você aprendeu sobre sequências lógicas e algoritmos. Entre
as questões fundamentais destacamos:
a lógica é uma ferramenta fundamental ao desenvolvimento cognitivo;
no contexto da lógica, um aspecto importante na organização do
nosso pensamento é o estudo das sequências lógicas;
o que é uma sequência lógica? Uma sequência lógica é um conjunto
de passos que devem ser executados para atingirmos um objetivo ou
solucionarmos um problema;
uma sequência pode ser finita ou infinita e pode ser formada por
números, letras, pessoas, figuras, entre outros;
algumas sequências são bastante conhecidas e todo aluno que
estuda lógica deve conhecê-las, são elas: as progressões aritméticas e
geométricas, a série de Fibonacci, os números primos e os quadrados
perfeitos:
1. Progressão Aritmética
Soma-se constantemente um mesmo número.
2 5 8 11 14 17 ...
+3 +3 +3 +3 +3
2. Progressão Geométrica
Multiplica-se constantemente um mesmo número.
2 6 18 54 162 486 ...
x3 x3 x3 x3 x3
Capítulo 8
165Raciocínio Lógico
3. Incremento em Progressão
O valor somado é que está em progressão.
1 2 4 7 11 16 ...
+1 +2 +3 +4 +5
4. Série de Fibonacci
Cada termo é igual à soma dos dois anteriores.
1 1 2 3 5 8 13 ...
5. Números Primos
Números naturais que possuem apenas dois divisores naturais (o 1
e o próprio número).
2 3 5 7 11 13 17 ...
6. Quadrados Perfeitos
Números naturais cujas raízes são naturais.
1 4 9 16 25 36 4 ...
algoritmo é uma sequência lógica finita de passos necessários à
execução de uma tarefa;
para escrever um algoritmo precisamos descrever a sequência de
instruções de maneira simples e objetiva. É preciso ainda desenvolver
a tarefa em 3 etapas: ENTRADA – PROCESSAMENTO – SAÍDA;
características importantes de um algoritmo: finitude, definição,
entradas, saídas e efetividade;
quando construímos um algoritmo, é importante que ele seja testado.
Esse teste se chama TESTE DE MESA. Ele consiste em seguir as instruções
fornecidas para observar se estão corretas ou não.
Capítulo 8
166 Raciocínio Lógico
8.6 Testando os seus conhecimentos
Uma vez que você aprendeu sobre sequências lógicas e algoritmos,
convidamos-te a testar os conhecimentos adquiridos.
1) Qual a carta que falta?
As cartas abaixo foram agrupadas em pares, segundo uma relação lógica.
Qual é a carta que está faltando, sabendo que K vale 13, Q vale 12, J vale
11 e A vale 1?
A K J 1 7 7
Q 2 4 10 8 ?
2) Identifique os dados de entrada, processamento e saída no algoritmo
abaixo:
( ) Receba código da peça
( ) Receba valor da peça
( ) Receba quantidade de peças
( ) Calcule o valor total da peça (quantidade * valor da peça)
( ) Mostre o código da peça e seu valor total
Agora exercite com uma questão de concurso público!
3) (FCC - Técnico Judiciário - TRF 4ª Região - 2004) - Considere os seguintes
pares de números:
(3,10) (1,8) (5,12) (2,9) (4,10)
Capítulo 8
167Raciocínio Lógico
Observe que quatro desses pares tem uma característica comum. O único
par que não apresenta tal característica é:
a) (3,10)
b) (1,8)
c) (5,12)
d) (2,9)
e) (4,10)
Onde encontrar
ALENCAR FILHO, E. Iniciação à lógica matemática. São Paulo: Editora Nobel,
2002.
DANTE, L. R. Didática da resolução de problemas de matemática. 12. ed. São
Paulo: Ática, 2002.
FORBELLONE, A. L. V. Lógica de programação – a construção de algoritmos e
estruturas de dados. São Paulo: MAKRON, 1993.
Capítulo 8
168 Raciocínio Lógico
169
Referências
ALENCAR FILHO, E. Iniciação à lógica matemática. São Paulo: Editora
Nobel, 2002.
ALMEIDA, C. B. Lógica de primeira ordem. Disponível em: <http://
wiki.di.uminho.pt/twiki/pub/Education/LC/MaterialApoio/LogPO.
pdf>. Acesso em: 25 nov. 2011.
ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando. Rio de Janeiro:
Moderna, 2010.
BOTELHO, I. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=vG2emrICxaw>. Acesso em: 7
mar. 2011.
CARNAVAL, N. Lógica sentencial. Disponível em: <http://www.
jusdecisum.com.br/sistema/turma/arquivos/BB%20LOGICA%20E%20
MATEMATICA.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2011.
CHALITA, G. Vivendo a filosofia. São Paulo: Ática, 2006.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2001.
COPI, I. M. Introdução à lógica. 2. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1978.
COTRIM, G. Fundamentos da filosofia. Para uma geração consciente.
São Paulo: Saraiva, 1989.
DANTE, L. R. Didática da resolução de problemas de matemática. 12.
ed. São Paulo: Ática, 2002.
DICIONÁRIO de Filosofia. Sobre as definições de conceito. Disponível
em: <http://www.terravista.pt/ancora/2254/lexc.htm>. Acesso em: 12
abr. 2011.
DICIONÁRIOWEB. Definir. Disponível em: <http://www.
dicionarioweb.com.br/definir.html>. Acesso em: 20 abr. 2011.
REFERÊNCIAS
170 Raciocínio Lógico
Referências
FERREIRA, I. L. A distinção analítico-sintético. Disponível em: < http://www.
diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/conteudo/artigos_
teses/FILOSOFIA/Dissertacoes/Isaias.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2011.
FORBELLONE, A. L. V. Lógica de programação – a construção de algoritmos e
estruturas de dados. São Paulo: MAKRON, 1993.
FURTADO, E. M. Raciocínio lógico para concursos. Curitiba: IESDE Brasil Ltda,
2010.
GASPAR, M. Introdução à lógica matemática. Disponível em: <http://
mjgaspar.sites.uol.com.br/logica/logica#listapref>. Acesso em: 15 jun. 2011.
JOLIVET, R. Lógica material. Disponível em: <http://www.consciencia.org/
cursofilosofiajolivet6.shtml>. Acesso em: 25 abr. 2011.
______. Curso de filosofia. Rio de Janeiro: Agir, 1966.
LALANDE, A. Vocabulário técnico e crítico de filosofia. São Paulo: Martins
Fontes, 1999.
MACHADO, N. J. Lógica? É Lógico! São Paulo: Scipione, 2000.
MARGUTTI, P. Silogística aristotélica. Disponível em: <http://www.fafich.
ufmg.br/~margutti/Silogistica%20Aristotelica.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2011.
MORA, F. Dicionário de filosofia. Disponível em: <http://books.google.com.br/
books>. Acesso em: 22.nov. 2011.
MORELAND, J. P.; CRAIG, W. L. Filosofia e cosmovisão cristã. São Paulo:
Edições Vida Nova, 2005.
MURCHO, D. Lógica. Disponível em: <http://dmurcho.com/docs/introlog.pdf>.
Acesso em: 15 jun. 2011.
NAVEGA, S. Pensamento crítico e argumentação sólida. São Paulo:
Publicações Intelliwise, 2005.
NERICI, I. G. Introdução à lógica. São Paulo: Nobel, 1988.
171Raciocínio Lógico
Referências
NICOLA, U. Ontologia ilustrada de filosofia. São Paulo: Globo, 2005.
PEREIRA, S. do L. Lógica proposicional. Disponível em: <http://www.ime.usp.
br/~slago/IA-logicaProposicional.pdf>. Acesso em: 16 fev. 2011.
RODRIGUES NETO, C. Lógica: dedução e indução. Disponível em: <http://
www.each.usp.br/camiloneto/tadi/aula4.pdf>. Acesso em: 25 maio 2011.
REBOUÇAS, F. Sofisma. Disponível em: <http://www.infoescola.com/filosofia/
sofisma/>. Acesso em: 16 maio 2011.
ROCHA, E. Raciocínio lógico - você consegue aprender. Série Provas e
Concursos. 2. ed. São Paulo: Campus, 2008.
TRAVASSOS, L. C. P. Inteligências múltiplas. Disponível em: <http://eduep.uepb.
edu.br/rbct/sumarios/pdf/inteligencias_multiplas.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2011.
SCOLARI, A. T.; BERNARDI, G. O Desenvolvimento do raciocínio lógico
através de objetos de aprendizagem. Disponível em: <http://www.cinted.
ufrgs.br/ciclo10/artigos/4eGiliane.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2011.
SOARES, F.; DORNELAS, G. N. A lógica no cotidiano e a lógica na matemática.
Disponível em: <http://www.sbem.com.br/files/viii/pdf/05/MC03526677700.
pdf>. Acesso em: 10 mar. 2011.
SOUZA, M. A. A lógica representa uma ordem, de fato a ordem a priori do
mundo. Disponível em: <http://logicanet.wordpress.com/2007/11/25/18/>.
Acesso em: 25 nov. 2011.
STRECKER, H. Lógica – Introdução. Uma porta ao mundo da filosofia e da
ciência. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult3323u4.
jhtm>. Acesso em: 25 fev. 2011.
TOGATLIAN, M. A. Teoria das inteligências múltiplas. Disponível em: <http://
togatlian.pro.br/docs/pos/unesa/inteligencias.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2011.
VELASCO, P. D. N. Educando para a argumentação: contribuições do ensino
da lógica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. (Coleção Ensino de
Filosofia, 3).