localização industrial - teorias

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    INTRODUO S TEORIAS DA LOCAL IZAOO R I E N T A E S R E C E N T E S N A L O C A L I Z A O I N D U S T R I A L

    Rui A . R. RamosJos F. G. Mendes

    Univers idade do Minho Depar tamento d e Engenhar ia C iv i l2001

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    Rui A. R. Ramos & Jos F. G. Mendes i

    NDICE GERAL

    1 - INTRODUO................................................................................................................................... 1

    2 - OS PIONEIROS DA TEORIA DA LOCALIZAO .......................................................................... 1

    2.1-O PERCURSOR:RICHARD CANTILLON ............................................................................................ 2

    2.2-OS FUNDAMENTOS DA TEORIA DA LOCALIZAO AGRCOLA:VON THNEN ....................................... 3

    2.2.1 - O esquema ter ico dos c rculos concnt ricos ..............................................................................32.2.2 - Disto ro do espao real .................................................................................................................42.2.3 - Prolongamento da anlise...............................................................................................................5

    2.3-OS FUNDAMENTOS DA TEORIA DA LOCALIZAO INDUSTRIAL:ALFRED WEBER ................................ 5

    2.3.1 - Os factores de localizao das indstr ias .....................................................................................52.3.2 - Evoluo das est ruturas locais e regionais ................................................................................... 7

    2.4-DAS TEORIAS DA LOCALIZAO A UMA TEORIA ESPACIAL GERAL ...................................................... 7

    2.4.1 - Andreas Predhl e o princpio da substi tuio de factores ......................................................... 72.4.2 - Hans Weigmann e a concorrncia imperfeita ................................................................................82.4.3 - Tord Palander e o mtodo das iso linhas ........................................................................................92.4.4 - Walter Christal ler e a anlise dos sis temas urbanos ..................................................................122.4.5 - A anli se geral das reas de mercado: August Lsch................................................................16

    2.4.5.1 - A teor ia da locali zao ........................................................................................................... 162.4.5.2 - A teor ia das reas de mercado.............................................................................................. 19

    3 - AS ORIENTAES RECENTES DA TEORIA DA LOCALIZAO INDUSTRIAL ...................... 22

    3.1-A VIA CLSSICA: LOCALIZAO E INCERTEZA................................................................................ 22

    3.2-A LOCALIZAO DA GRANDE EMPRESA......................................................................................... 24

    3.3-A DIVISO ESPACIAL DO TRABALHO.............................................................................................. 26

    4 - A OBSERVAO DO COMPORTAMENTO ESPACIAL DAS EMPRESAS INDUSTRIAIS ........ 29

    4.1-OS INQURITOS........................................................................................................................... 29

    4.1.1 - Problemas de interpretao ..........................................................................................................294.1.2 - Alguns ensinamentos .................................................................................................................... 30

    4.2-A ANLISE ECONOMTRICA DAS LOCALIZAES ........................................................................... 35

    4.3-O PROCESSO DE DECISO ........................................................................................................... 355 - OS FACTORES DE LOCALIZAO DAS EMPRESAS INDUSTRIAIS........................................ 38

    5.1-OS CUSTOS DO TRANSPORTE E A PROXIMIDADE DAS MATRIAS PRIMAS.......................................... 38

    5.2-O TRABALHO .............................................................................................................................. 40

    5.3-A PROXIMIDADE DOS MERCADOS.................................................................................................. 40

    5.4-A EXISTNCIA DE UM MEIO INDUSTRIAL ......................................................................................... 41

    5.5-A ORGANIZAO DOS CONTACTOS INTERNOS DA EMPRESA ........................................................... 43

    5.6-OS TERRENOS E OS EDIFCIOS ..................................................................................................... 44

    5.7-AS INFRAESTRUTURAS ................................................................................................................ 44

    5.8-O MERCADO FINANCEIRO E SERVIOS S EMPRESAS..................................................................... 455.9-OS FACTORES PESSOAIS ............................................................................................................. 45

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    5.9.1 - A histria individual de cada empresa e de cada unidade fabri l ............................................... 455.9.2 - As amenidades locais ................................................................................................................ 46

    5.10-AS CONDIES FISCAIS LOCAIS ................................................................................................. 46

    5.11-A ATITUDE DA POPULAO RELATIVAMENTE EMPRESA ............................................................. 46

    5.12-AS AJUDAS PBLICAS ............................................................................................................... 47

    6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................................. 48

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    NDICE DE FIGURAS

    Fig. 1 - A h ierarquia urbana segundo Christaller ............................................................................. 14Fig. 2 - Os lugares centrais e respectivas reas de inf luncia segundo Christaller.................... 15

    Fig. 3 - A organizao do espao segundo Lsch. ......................................................................... 20

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    NDICE DE QUADROS

    Quadro 1 - Razes para abrir uma nova fbrica e no ampliar ou deslocalizar as ins talaesexistente ....................................................................................................................................... 31

    Quadro 2 - Factores de localizao cons iderados como restriti vos segundo d iferentes tipos de

    empresas...................................................................................................................................... 31

    Quadro 3 - Factores de localizao de segunda ordem considerados desejveis pelas

    empresas...................................................................................................................................... 31

    Quadro 4 - Localizao industrial - Influncia dos vrios factores ............................................... 32

    Quadro 5 - Hierarquia dos principais factores de localizao industrial (resultados de um

    inqurito) ...................................................................................................................................... 34

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    1 - INTRODUO

    A anlise da localizao das actividades humanas depara-se com problemas

    diversos. Uns, de ndole fundamentalmente terica, prendem-se com a

    elaborao de modelos que permitem explicar, de forma geral e abstracta, a

    localizao das diversas actividades. Outros, sobretudo de carcter emprico,

    relacionam-se com a tentativa de compreenso e explicao da partilha das vrias

    actividades num determinado contexto histrico-geogrfico (Mendes, 1984,

    pp.283-284).

    A primeira parte deste texto consiste na anlise das diferentes teorias,surgidas ao longo dos tempos, que abordam a problemtica da anlise espacial da

    localizao; fazem-se tambm algumas referncias s evolues recentes no

    campo dos estudos tericos e empricos e finaliza-se com a anlise dos diferentes

    factores intervenientes particularmente no caso da localizao da indstria.

    Como refere Simes Lopes (1987, pp.171-172), neste como noutros

    campos tem havido um certo afastamento entre as abordagens empricas e as

    tentativas de generalizao terica; e nem sempre se tem visto nessa evoluo

    relaes de complementaridade entre a prtica e teoria, em parte, talvez, porque amatria aparece ligada a duas reas disciplinares que poucas vezes tm criado

    oportunidades para abordagem integrada efectiva: a do gegrafo e a do

    economista. Alm disso, a teoria tem avanado da nica maneira como pode

    avanar: base de hipteses simplificadoras que tornem possvel as abordagens

    da realidade complexa; e na natureza das hipteses se tm apoiado os detractores

    das construes tericas para lhes minimizar o interesse, eles que em regra so

    acusados por sua vez de lhes no interessar ver para alm do caso concreto,

    isolado, os mecanismos lgicos que regulam o comportamento.

    2 - OS PIONEIROS DA TEORIA DA LOCALIZAO

    habitual considerar-se como sendo Von Thnen (1826) o percursor da

    economia espacial; no entanto, sem dvida que algumas preocupaes deste tipo

    se encontram, de uma forma superficial, nos economistas dos sculos XVII e

    XVIII, tendo sido esquecidas durante o sculo XIX.

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    Richard Cantillon (1755) o nico que aprofunda os seus estudos de modo

    a ser considerado como um verdadeiro percursor da economia espacial. Von

    Thnen, aps Cantillon, definiu os fundamentos da teoria da localizao agrcola

    e Alfred Weber (1909) fez o mesmo para a localizao industrial. Vrios autores

    alemes e escandinavos tentaram ligar estas duas teorias teoria econmicageral, tais como Andreas Predhl (1925), pela aplicao do princpio da

    substituio, Hans Weigmann (1931), por referncia ao regime da concorrncia

    imperfeita, e Tord Palander (1935), pela generalizao do mtodo das isolinhas,

    que est na base das curvas de indiferena. Em seguida apareceram os

    percursores da anlise urbana com William Reilly (1929) e os seus estudos da

    rea de influncia das cidades e com Walter Christaller (1933), um dos primeiros

    estudos dos sistemas urbanos. Por fim, a obra de August Lsch (1940) constitui

    uma tentativa de elaborao duma teoria geral de equilbrio espacial e umaanlise das reas de mercado, enquanto que Franois Perroux (1950) prope uma

    anlise de conceitos de espao econmico, que define as relaes existentes entre

    os diferentes elementos econmicos.

    Apesar desta sequncia de desenvolvimentos tericos, autores como

    Lajugie et al. sustentam que ainda que a integrao do tempo, na anliseeconmica, tenha sido uma das preocupaes centrais dos economistas do fim do

    sculo XIX e princpios do sculo XX, a integrao do espao manteve-se at ao

    meio do sculo XX como um campo parte da cincia econmica (Lajugie et al.,1985, p.16).

    2.1 - O PERCURSOR: RICHARD CANTILLON

    No seu livro Essai sur la nature du commerce en gnrale, publicado em1755, Cantillon inicia uma teoria da localizao e uma anlise das relaes

    inter-regionais, que no so mais do que verdadeiras polticas de

    descentralizao industrial (Lajugie et al., 1985, p.18).

    Partindo da repartio da populao e das suas diferentes actividades, ele

    estuda as vrias reas de povoamento (aldeias, burgos, cidades e capitais), a sua

    situao, a sua dimenso e a sua zona de atraco. a necessidade de economizar

    nos transportes que leva a que algumas aldeias se transformem em burgos, isto ,

    lugares de mercado. A rea de influncia desses mercados funo da densidade

    populacional envolvente e da distncia entre os diversos centros de povoamento.

    A instalao a de grandes proprietrios fundirios, com grande poder financeiro,

    explica a formao de cidades e de capitais.

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    Nascem assim, entre as cidades e o campo, relaes comerciais que criam

    fluxos de mercado e de moeda, e Cantillon esclarece, desde logo, a ideia de

    balanos regionais. A venda de produtos agrcolas que so transportados para

    os mercados, cria, devido aos transportes, diferenas locais de preos e prev-se,

    desde j, a teoria de crculos concntricos de Von Thnen. Cantillon mostratambm como os preos no mercado urbano determinam a repartio das culturas

    em torno das cidades, tendo em conta os preos dos transportes e os riscos

    inerentes.

    2.2 - OS FUNDAMENTOS DA TEORIA DA LOCALIZAOAGRCOLA: VON THNEN

    Foi necessrio esperar trs quartos de sculo para que um autor alemo

    colocasse em primeiro plano os problemas de ocupao do espao e asimplicaes econmicas. Foi em 1826 que apareceu, em Hamburgo, a primeira

    parte da obra de Von Thnen, intitulada Der isolierte staat in Beziehung auf

    Landwitschaft und Nationalokonomie (O Estado Isolado)1, que representa umgrande esforo de abstraco para, a partir de um exemplo concreto, definir

    princpios gerais explicativos da localizao de culturas e da delimitao de reas

    de mercado. necessrio relembrar que a anlise feita anterior ao aparecimento

    do caminho de ferro e portanto existiam custos elevados e grandes demoras nos

    transportes, o que condicionava a localizao das diferentes produes agrcolasface ao seu escoamento. No entanto, mesmo com a introduo de novos meios de

    transporte, o rigor e a qualidade do raciocnio desenvolvido mantm-se vlidos

    num processo analtico que vai levar teoria, agora clssica, dos crculos

    concntricos.

    No seu modelo, os produtores agrcolas entram apenas em concorrncia na

    localizao ptima das suas culturas, e as necessidades do sistema produtivo

    (trabalho e matrias primas) so consideradas disponveis em qualquer ponto

    (Derycke, 1995, p. 3).

    2.2.1-O ESQUEMA TERICO DOS CRCULOS CONCNTRICOS

    Partindo da hiptese de um espao agrcola perfeitamente homogneo,

    plano, contnuo e isolado do resto do mundo por um deserto, igualmente frtil em

    toda a sua extenso, com facilidades de comunicaes equivalentes em todas as

    direces e no centro do qual se encontra uma cidade que desempenha o papel de

    mercado, pretende-se definir como se localizaro aqui as culturas.

    1 A segunda e terceiras partes da sua obra foram publicadas respectivamente em 1850 e 1863.

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    O elemento determinante da localizao ser a maximizao da renda

    fundiria, que neste caso depende da distncia dos diversos locais de produo ao

    mercado. Para cada categoria de produtos, as culturas vo-se localizar de forma a

    reduzir os custos devidos ao transporte que so funo da distncia a percorrer e

    do peso a transportar. Sendo este custo, por hiptese, constante em todas asdireces, as zonas de culturas so definidas por crculos concntricos, em torno

    da cidade. uma primeira aplicao do mtodo das isolinhas, de que se falar

    mais frente.

    De acordo com os seus estudos, Von Thnen definiu o seguinte esquema:

    A primeira zona, correspondente periferia da cidade, destinada sculturas leguminosas e produo de leite, produtos de transporte delicado e

    caro;

    A segunda zona destinada silvicultura, ento muito rentvel devido grande necessidade de madeira, e uma vez que o seu transporte era difcil e

    tambm dispendioso;

    Os trs crculos seguintes so destinados produo de cereais; em

    funo do tipo de explorao, os preos so estabelecidos de modo a cobrirem os

    custos mais elevados de explorao e transporte, das quantidades necessrias

    satisfao de toda a procura;

    O ltimo crculo destinado pastorcia.

    2.2.2-DISTORO DO ESPAO REAL

    Em seguida, o autor reintroduz os elementos que inicialmente tinha

    retirado, com o fim de simplificao, mas que provocam distores no

    desprezveis. A presena de uma via fluvial navegvel, que permite transportes

    menos dispendiosos, tem como resultado o alongamento das reas concntricas

    acompanhando a direco do rio; a existncia de diversas povoaes em vez de

    uma nica, estabelecem diversos centros de crculos que se entrecruzam. Outros

    elementos, diversos valores de taxas e fertilidade dos terrenos no homognea,

    traduzem-se em deformaes do modelo primitivo.

    Os resultados apresentados s podem ser vlidos nas condies histricas

    que presidiram definio das bases do estudo. Mas o raciocnio efectuado e os

    princpios bsicos considerados podem-se considerar de certo modo generalistas.

    No entanto, foi necessrio aguardar o fim do sculo para fazer a sua aplicao s

    novas condies de uma economia alterada pela segunda revoluo industrial.

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    2.2.3-PROLONGAMENTO DA ANLISE

    Albert Schaffle (1873) utilizou o mtodo dos crculos concntricos para

    explicar os resultados da luta entre foras centralizadoras e descentralizadoras na

    localizao da indstria, segundo a importncia relativa que possuam, em cadasector, os diferentes factores: mo-de-obra, matrias primas e fontes de energia.

    Na mesma poca, um outro autor alemo, Wilhelm Launhardt (1882)

    prepara a transio entre Von Thnen e Alfred Weber recorrendo a um mtodo

    puramente dedutivo e situando a sua escala de anlise ao nvel da empresa e no

    de cada sector. Ele mostra como os custos de transportes, proporcionais ao peso e

    distncia, funcionam como foras sobre as empresas, para determinar, em

    funo da localizao dos centros de produo de matrias primas e dos

    mercados consumidores, um ponto ptimo de localizao, que consiste no local

    do mnimo custo de transportes. Launhardt (1885) seria tambm um dosprimeiros a pensar numa teoria geral de fronteiras de reas de mercado.

    2.3 - OS FUNDAMENTOS DA TEORIA DA LOCALIZAOINDUSTRIAL: ALFRED WEBER

    Alfred Weber (1909) pretendeu definir uma teoria da localizao industrial,

    tal como Von Thnen tinha pretendido definir uma da localizao agrcola. Ele

    definiu-a como sendo parte de um problema geral de repartio no espao das

    actividades econmicas e prolonga-a para uma teoria da evoluo das estruturas

    locais e regionais.

    2.3.1-OS FACTORES DE LOCALIZAO DAS INDSTRIAS

    Analisando os factores que podiam influenciar a localizao das indstrias,

    separou trs que considerou principais, denominando-os de: ponto mnimo de

    custos de transporte; distoro do trabalho; foras de aglomerao ou

    desaglomerao.

    a)Oponto mnimo de custos de transporte determinado geometricamente,

    tendo em conta os dois elementos que condicionam esse custo, isto , o peso e a

    distncia. A deciso de localizao tomada pelos responsveis das empresas

    depende, em grande medida, da comparao de preo entre o transporte das

    matrias primas e dos produtos finais. O ponto ptimo que minimiza estes custos

    determinado pelo mtodo dos tringulos de localizao, formados pelas

    linhas que ligam as fontes de matrias primas e os centros de consumo. No

    interior desta superfcie exercem-se foras concorrentes que correspondem umas atraco das matrias primas e outras atraco dos produtos finais. No ponto

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    em que se equilibram estas foras, atinge-se o menor valor das despesas de

    transporte. Pode ser definido um ndice de materiais que corresponde relao:

    Nmero de unidades de peso das matrias primas localizadas

    Nmero de unidades de peso dos produtos finais

    Se este ndice for superior unidade, a atraco das matrias primas que

    predominante; se for inferior a atraco dos produtos finais que condiciona. No

    entanto, algumas alteraes podem ser admitidas, tendo em ateno o factor

    mo-de-obra.

    b) A distoro do trabalho corresponde atraco exercida por centros

    vantajosos em mo-de-obra. Esta distoro depende essencialmente dasdiferenas entre os nveis salariais dos diferentes locais, considerando a mo de

    obra imvel e a oferta ilimitada. A influncia deste factor sobre os produtos, por

    unidade de peso, mede-se atravs de um ndice de custo do trabalho, que ser

    tanto maior e provocar uma maior distoro, quanto maior for o peso da mo de

    obra no processo de produo. Coeficientes de trabalho elevados, levam a que as

    indstrias se concentrem geograficamente e quanto mais baixos forem, maior

    disperso haver nas indstrias.

    c) O nvel de concentrao atingido cria, por si s, um campo de foras deaglomerao ou de desaglomerao. O primeiro consiste em economias de

    aglomerao, resultantes do reagrupamento geogrfico das empresas em termos

    de produo e de escoamento (existncia de preos mais favorveis, melhores

    adaptaes s condies do mercado, integrao de maior nmero de unidades

    fabris). O segundo traduz-se num aumento das rendas fundirias provocado por

    uma concentrao excessiva, que reduz os locais disponveis e faz aumentar o

    preo dos solos.

    O resultado da interveno destas foras definir a densidade industrial e

    poder provocar variaes relativamente localizao que os dois primeiros

    factores, transportes e trabalho, teriam tornado preferencial. A sua influncia ser

    maior nas indstrias com produtos de grande valor acrescentado e poder ser

    medida por um coeficiente de produo. De uma maneira geral, as indstrias

    de elevado coeficiente de produo tm tendncia para se aglomerarem.

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    2.3.2-EVOLUO DAS ESTRUTURAS LOCAIS E REGIONAIS

    Esta teoria da localizao industrial de Weber no mais do que uma teoria

    da transformao das estruturas locais e regionais, atendendo a factores

    econmicos e demogrficos, histricos e geogrficos. Numa primeira fase, aactividade agrcola produzia os meios de subsistncia, o que leva, numa segunda

    fase, a concentraes da populao, permitindo dessa forma o incio das

    actividades industriais, comerciais e intelectuais. Estas diversas localizaes

    reagem entre si e provocam novos processos de evoluo no interior do sistema

    econmico.

    Contrariamente aos seus antecessores, Weber obteve, rapidamente, um

    grande acolhimento s suas ideias e exerceu grande influncia no s na

    Alemanha mas tambm nos pases anglo-saxnicos e escandinavos.

    2.4 - DAS TEORIAS DA LOCALIZAO A UMA TEORIA ESPACIALGERAL

    2.4.1-ANDREAS PREDHL E O PRINCPIO DA SUBSTITUIO DE FACTORES

    Unir as teorias parciais da localizao agrcola e industrial teoria

    econmica geral, foi o objectivo de Predhl (1925, 1927, 1928), cuja obra no

    surge por acaso, mas sim no seguimento do seu contemporneo Walras. Ele

    consegue tal unio aplicando o princpio da substituio, recuperado pelos

    marginalistas e sistematizado por Alfred Marshall e Cassel no problema da

    localizao, a uma escala micro-econmica.

    Produo e localizao so finalmente um nico problema. Toda a mudana

    de localizao de uma empresa est associada substituio de factores

    produtivos localizados em diferentes pontos, em funo dos seus preos relativos

    e dos custos comparados do transporte. Estes factores so, de qualquer modo,

    afectados por um coeficiente de ponderao local e as variaes intervenientes

    nestes coeficientes provocam modificaes nas suas combinaes. No entanto, aocontrrio do esquema clssico em que a substituio se operava num nico

    ponto, Predhl introduz a varivel espacial, e a substituio pode agora traduzir-

    se por uma mudana de localizao.

    Na substituio de factores de produo, situados em diferentes pontos do

    espao, entram em linha de conta, cada um por sua vez, os preos relativos dos

    factores, os custos que representam o transporte e a qualidade. Estes elementos

    traduzem-se em unidades de utilizao, cujo nmero determina o grau de

    produtividade de cada factor. Predhl distingue as unidades de utilizao daterra, do capital e do trabalho, e as unidades de utilizao do transporte, entre as

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    quais tm lugar as substituies quando uma empresa muda de localizao. Por

    exemplo, a alterao de uma localizao A para uma localizao B pode-se

    traduzir pelo emprego de um nmero cada vez maior de unidades de utilizao de

    terra, de um nmero cada vez menor de unidades de utilizao de capital e de

    trabalho e um igual nmero de unidades de utilizao de transporte.Para cada ponto do espao pode-se assim determinar os custos

    correspondentes melhor combinao dos factores de produo e as zonas em

    que os custos globais so menores so as preferenciais para a implantao das

    empresa.

    No parece possvel para o autor definir uma frmula geral de substituio

    de factores, mas ele cr ser possvel chegar a generalizaes empricas, tendo em

    conta certas partes dos custos conhecidos como habitualmente substituveis. Na

    sua poca, por exemplo, a indstria de ferro localizava-se tradicionalmente juntos exploraes de carvo e no prximas das minas de ferro; a indstria txtil

    perto dos centros de mo-de-obra e no dos locais de produo da matria prima.

    De uma maneira geral, quando s factores tcnicos que esto em jogo, e para

    custos fixos, a taxa de substituio pode-se exprimir em termos tcnicos e

    quantitativos.

    possvel encontrar uma aplicao, ainda mais abrangente, do princpio da

    substituio, no trabalho do autor americano contemporneo Walter Isard (1949),

    que faz deste princpio a base de uma teoria geral da interdependncia espacialdas unidades de um sistema econmico.

    2.4.2-HANS WEIGMANN E A CONCORRNCIA IMPERFEITA

    Os autores precedentes admitiam todos, como base implcita do seu

    raciocnio, um regime de concorrncia puro e perfeito. Hans Weigmann (1931)

    vem sublinhar que esta hiptese de todo inapropriada anlise espacial.

    Num estilo infelizmente pouco claro e utilizando conceitos de base

    complexos e confusos, Weigmann tentou formular uma teoria realista que

    envolve a estrutura espacial dos processos econmicos, a extenso e as ligaes

    espaciais dos mercados e as interrelaes espaciais dos volumes econmicos.

    Retenha-se somente aqui a considerao das diversas formas de mercado e a sua

    contribuio para a metodologia da anlise espacial.

    Weigmann mostra, antes de mais, que os mercados, tidos como superfcies

    e no como pontos, esto limitados no espao, uma vez que em todas as

    direces a mobilidade dos factores e dos produtos choca com obstculos

    mltiplos e de natureza variada (econmicos, sociais, polticos e culturais). A

    concorrncia dos factores e dos produtos entre si, em locais diferentes, portanto

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    Rui A. R. Ramos & Jos F. G. Mendes 9

    incompleta. A existncia mesmo de um espao fsico, isto , a passagem de um

    espao abstracto a um espao real, implica mobilidade imperfeita e inelasticidade

    espacial, e mesmo ainda elasticidade espacial negativa.

    Esta aplicao anlise espacial, da hiptese de concorrncia imperfeita ou

    de concorrncia monopolista, j evocada por Hotteling (1929), seria reposta edesenvolvida por Chamberlin (1933).

    Por outro lado, do ponto de vista metodolgico, Weigmann substitui a

    anlise casual e linear tradicional por uma abordagem em termos de equilbrio

    geral de economia espacial, concebida como um vasto ordenamento de mercados

    espaciais. Ele deseja apresentar um quadro realista e funcional da totalidade da

    vida econmica, no qual os diversos elementos so ponderados em funo da sua

    importncia.

    Tudo isto leva-o a tentar determinar uma forma bsica dos fenmenoseconmicos, a partir da qual podero ser dominadas e sistematicamente

    ordenadas as inumerveis formas espaciais que revelam os processos

    econmicos. Certas estruturas so activas e mudam frequentemente, outras,

    passivas, mudam lentamente. Estas ltimas, relativamente permanentes, so os

    elementos essenciais da forma bsica, e a sua combinao determina a

    estrutura fundamental da economia. Elas englobam os mercados dos factores

    produtivos, terra e trabalho. As estruturas variveis (mutveis) so consideradas

    como acidentais ou secundrias e os seus movimentos esto condicionados, emlarga medida, pela forma bsica, j determinada pelo ncleo dos mercados mais

    estveis. Elas correspondem preferencialmente aos mercados especficos dos

    bens capitais.

    2.4.3-TORD PALANDER E O MTODO DAS ISOLINHAS

    Na sua tese de doutoramento, escrita na Alemanha, o sueco Tord Palander,

    apresenta, em 1935, uma importante Contribuio para a Teoria do Espao.

    Palander insiste sobre a complexidade dos factores de localizao, numaeconomia fundada sobre a diviso do trabalho e sobre o mecanismo do mercado:

    factores tcnicos e resultados exactos do clculo econmico, mas tambm

    elementos climticos, legislativos, institucionais. Demonstra ainda que a

    localizao do consumo levanta, tambm ela, problemas complexos, uma vez que

    na economia capitalista moderna esta no sempre comandada pela localizao

    da produo.

    Palander procede a uma comparao interessante de trabalhos anteriores

    distinguindo, de uma forma um pouco arbitrria, as teorias espaciais e as

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    teorias universais da localizao e anuncia a sua ambio de chegar a uma

    sntese geral, da qual d um plano mas que no realizar seno parcialmente.

    O exemplo da imperfeita mobilidade da mo-de-obra ou do capital real

    desmente a ideia de que os factores de produo so instantaneamente atrados

    para os locais onde a sua remunerao a mais elevada. De facto, a repartioespacial das actividades econmicas depende, por sua vez, das condies dos

    perodos anteriores e da rapidez dos movimentos de adaptao. A anlise deve

    pois integrar a durao de reaco dos diversos factores de localizao.

    A partir da, Palander levado a estudar as reaces do empresrio perante

    as diferenas locais nas condies de mercado; a teoria do dipolo, aplicada s

    relaes de dois vendedores, em condies idnticas, situados em dois pontos

    diferentes, que lhe parece constituir o modelo mais prximo da realidade.

    nesta altura que ele vai generalizar o mtodo das isolinhas, das quaisPareto havia feito uma ilustrao notria com as curvas de indiferena, e que

    vrios autores comearam a aplicar anlise espacial, seguindo o esprito de Von

    Thnen com os seus crculos concntricos.

    Sabe-se que uma isolinha um lugar geomtrico de pontos representando

    certas caractersticas idnticas. Os gegrafos fazem um largo uso desta tcnica,

    como por exemplo as isotrmicas e as isbaras.

    J antes de Palander, a aplicao desta tcnica havia sido feita com diversas

    grandezas econmicas, tais como:

    1A distncia. O sueco Olaf Jonasson (1930) havia introduzido o conceito

    de isodistantes, lugar geomtrico dos pontos situados a iguais distncias, em

    linha recta, de um centro. Por definio as isodistantes definem crculos

    concntricos e a interseco de isodistantes absolutas do mesmo valor, isto , a

    interseco de crculos traados a partir de dois centros e tendo o mesmo raio,

    permite definir isodistantes relativas, que constituem o lugar dos pontos situados

    a igual distncia de dois centros.

    2 O preo e a durao do transporte. Foi uma vez mais Jonasson quedesenvolveu o conceito de isovector, lugar dos pontos para os quais os custos

    de transporte so iguais para uma dada mercadoria.

    Por sua vez, Alfred Weber havia definido as isodapanes, lugares

    geomtricos dos pontos de igual aumento nos custos de transporte, devido

    mudana de localizao relativamente ao ponto mnimo de transporte, sob a

    influncia da atraco do factor mo-de-obra. Estes pontos podem estar ligados

    por curvas que circundam o ponto mnimo de transporte a uma distncia varivel,

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    segundo o ndice material prprio da indstria considerada. Estas curvas so

    isodapanes (curvas de igual custo) e Weber destaca, de entre elas, uma

    chamada isodapane crtica, que corresponde aos pontos onde as economias

    realizadas, em termos de mo-de-obra, so iguais s despesas suplementares

    suportadas em termos de transportes. A localizao da empresa ser desviadapara a fonte de mo-de-obra, se esta se situar no interior da rea delimitada pela

    "isodapane crtica", isto , se estiver localizada, ela prpria, sobre uma

    "isodapane" de menor valor, correspondente a um aumento dos custos de

    transporte inferior s economias em mo-de-obra.

    A estes instrumentos de anlise Palander vai acrescentar as iscronas,

    lugares de pontos para os quais a durao do transporte a mesma, seja em

    relao a um s centro (iscronas absolutas) seja em relao a vrios centros

    (iscronas relativas).Mas Palander vai, sobretudo, desenvolver esta tcnica, utilizando o conceito

    de isodapane para designar o lugar geomtrico dos pontos para os quais a soma

    total dos custos de transporte a mesma quer para as matrias primas quer para

    os produtos acabados.

    Para uma tal rede de "isodapanes", necessrio construir "isovectores" para

    cada matria prima e para cada produto final. No caso das matrias primas, os

    "isovectores" unem os pontos para os quais a quantidade necessria de matrias

    primas pode ser expedida com o mesmo custo de transporte. Pode-se portantotraar, em torno de cada fonte de matria prima, uma rede de "isovectores"

    correspondendo cada um a um dado custo de transporte, que aumenta em geral

    com a distncia em relao a essa fonte. No caso dos produtos finais, os

    "isovectores" unem os pontos para os quais um produto pode ser expedido, a um

    dado mercado, pelo mesmo custo de transporte. Tambm aqui se pode traar uma

    rede de "isovectores", correspondendo cada um a um nvel diferente de custo de

    transporte que, em geral, aumenta com a distncia ao mercado.

    Uma vez definidas tais redes de "isovectores" em torno de todas as fontes

    de matrias primas e de todos os mercados relativos a um problema de

    localizao, podem-se traar as "isodapanes", unindo todos os pontos onde a

    soma total dos custos de transporte ser a mesma, para as matrias primas e para

    os produtos finais. Estas "isodapanes" definem os limites de uma superfcie de

    custo total de transporte, no interior da qual se situa o ponto mnimo de

    transporte.

    A partir da, Palander tornar mais complexas as redes de "isodapanes",

    combinando diversas hipteses: tarifas uniformes ou tarifas decrescentes em

    matria de transportes, existncia de uma ou vrias matrias primas, igualdade ou

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    no no peso da matria prima e no peso do produto, hipteses que distorcem a

    rede de "isodapanes", mas que aproximam o esquema da realidade. Desta forma

    mostra, por exemplo, que as tarifas variveis tendem a criar vrios pontos

    mnimos de transporte, entre os quais se encontram zonas onde os custos sofrem

    s fracas variaes, ou ento que, segundo o tipo da tarifa e das relaesexistentes entre o peso das matrias primas e dos produtos e entre os lugares de

    extraco e produo, a localizao ptima pode situar-se em zonas

    suficientemente amplas, no interior das quais o factor transporte deixa de ser o

    elemento essencial de deciso.

    3 Opreo total. Por fim, o mtodo das isolinhas pode ser aplicado ao preode venda dos produtos, entendido como a soma do preo na produo com o

    custo de transporte.Schilling (1924) determinou assim as isostantes, lugares de pontos para

    os quais o preo de uma mercadoria idntico, qualquer que seja a sua

    provenincia. A "isostante" o lugar onde eventuais diferenas nos preos de

    origem so compensadas pelas diferenas de sentido contrrio no preo do

    transporte.

    Palander vai definir com preciso o conceito de istimas, lugares dos

    pontos onde os preos de uma mercadoria proveniente de um dado centro so

    iguais. Bem entendido, "istimas" so constitudas por crculos concntricosquando o custo de transporte idntico em todas as direces e confundem-se,

    por isso, com os "isovectores". As "isostantes" so obtidas ligando entre si os

    pontos de interseco das "istimas" que tm o mesmo valor, e elas definem a

    rea de mercado de cada centro de produo, pelo menos para a venda no

    produtor e no comrcio por grosso, uma vez que o comrcio a retalho obedece a

    normas diferentes.

    2.4.4-WALTER CHRISTALLER E A ANLISE DOS SISTEMAS URBANOS

    O estudo das zonas de influncia dos centros urbanos, tendo em conta o

    papel das aglomeraes urbanas enquanto plos de atraco, deveria levar, muito

    naturalmente, anlise da justaposio e da comprovao destas zonas e s

    relaes existentes entre estes plos. Assim deveriam nascer os conceitos de rede

    e de sistemas urbanos, e numerosos autores tentaram estabelecer os princpios de

    uma hierarquia dos centros urbanos que conduziria posteriormente a uma poltica

    de organizao sistemtica da estrutura urbana.

    Em 1933, Walter Christaller elabora uma teoria de lugares centrais, que

    consiste numa anlise da hierarquia dos centros urbanos, baseada nas suas

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    actividades tercirias e servios prestados sua rea de influncia. Ele parte da

    ideia de que todo o aglomerado constitudo tendo em vista fornecer um certo

    nmero de bens e servios tercirios ao resto do pas: o princpio do

    abastecimento dos mercados (marktprinzip). O exerccio das funes comerciais

    constitui uma primeira fora aglomerativa para as populaes rurais, dispersassobre um dado territrio; as necessidades de troca levam a um ajuntamento pelo

    menos peridico (feiras, mercados), num lugar privilegiado do ponto de vista das

    distncias a percorrer. Uma segunda fora tender a tornar esta aglomerao

    permanente, residindo no facto de que certos bens e servios no podem ser

    produzidos a no ser num nmero limitado de lugares, onde esto reunidos os

    factores de produo necessrios e a partir dos quais eles so distribudos por

    todo o territrio.

    A importncia do centro de produo e a extenso da zona servida variamcom a natureza do produto ou do servio. Para os bens inferiores, tais como os

    alimentares ou pronto a vestir corrente, objectos de uma forte e regular procura, a

    distribuio pode ser mais dispersa; o volume de populao a abranger para

    assegurar a viabilidade da comercializao destes produtos relativamente baixo.

    Pelo contrrio, os bens e servios superiores (artigos de luxo, servios de

    especialistas, teatros) so procurados por um nmero inferior de pessoas e menos

    frequentemente necessrio por isso uma populao muito maior para tornar

    possvel a produo e a comercializao que, neste caso, estaro muito maisconcentradas geograficamente.

    Obtm-se ento uma hierarquia de centros urbanos baseada na natureza dos

    bens e servios produzidos, distribudos pela extenso da rea servida. Os lugares

    centrais secundrios exercem somente funes correntes, enquanto que os

    lugares centrais principais exercem, para alm destas, certas funes mais raras

    que correspondem ao que se denominar por bens e servios excepcionais.

    Neste caso, a rea de influncia dos lugares centrais principais engloba vrias

    aglomeraes secundrias.

    A partir da, Christaller, tenta sistematizar os princpios da organizao

    urbana do espao.

    Na base da hierarquia est a aldeia, aglomerao rural; o lugar central que

    exerce as funes elementares e cuja rea de influncia a mais reduzida. De

    acordo com o trabalho de Christaller, esta dever ser alcanada numa hora de

    marcha e a sua rea de atraco no dever ser superior a quatro quilmetros.

    Estas reas de influncia dos centros elementares consistiriam em crculos

    de 4 Km de raio, mas tal configurao levanta o problema dos espaos no

    preenchidos (reas no servidas). Tambm a presso da concorrncia conduzir a

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    uma sobreposio das reas de influncia circulares; Christaller chega ento a

    determinar uma estrutura elementar em tringulos equilteros, nos quais os

    vrtices so ocupados pelos lugares centrais e que se reagrupam em hexgonos

    regulares. Sendo a distncia entre cada um dos vrtices e o centro dos tringulos

    de 4 km, o comprimento de cada lado do tringulo, isto , a distncia que separadois lugares centrais elementares, ser portanto igual a 4 km x 3 , seja 7 km

    aproximadamente. A partir disto fcil mostrar que os centros dos hexgonos

    correspondem a lugares de hierarquia mais elevada, separados por uma distncia

    de 7 km x 3 , seja 12 km aproximadamente. Seguindo este raciocnio, chega-se

    a determinar um sistema hierarquizado de lugares centrais que estaro

    distanciados entre si de 21, 36, 62km, etc. (Figuras 1 e 2).

    E

    OB = 4km

    BC 7km

    AD 12km

    - centro elementar

    - centro de ordemimediatamente superior

    CBD

    O

    A

    Fig. 1 - A hierarquia urbana segundo Christaller

    A aplicao deste princpio ao sul da Alemanha, ento caracterizado poruma densidade de 60 habitantes por quilmetro quadrado, permite a Christaller

    construir racionalmente uma estrutura urbana, comportando at sete nveis

    hierrquicos.

    No entanto, este modelo terico apresenta algumas distores na realidade,

    uma vez que, a par do princpio do abastecimento dos mercados, baseado no

    volume da populao servida, dois outros princpios influenciam a repartio das

    aglomeraes no espao: o princpio do transporte (Verkersprinzip), baseado nanatureza e qualidade das vias de comunicao e o princpio da organizao

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    administrativa (Zuordnungsprinzip), baseado nas funes administrativas dascidades.

    centro E

    centro D

    centro C

    centro B

    centro A

    Lugares centrais Limites das respectivasreas de influncia

    Fig. 2 - Os lugares centrais e respectivas reas de influncia segundo Christaller

    Uma vez que o princpio do mercado conduz a uma estrutura hexagonal

    regular, do tipo alveolar, correspondendo a um espao homogneo e abstracto,

    a tomada em considerao das vias de comunicao, numa anlise concreta do

    espao diferenciado, leva a uma distribuio do tipo linear das aglomeraes,

    cuja rea de influncia se estende ao longo dos eixos de transporte. Tambm a

    distribuio dos lugares centrais est igualmente afectada pelas estruturas

    administrativas, uma vez que os centros administrativos nem sempre coincidem

    com os centros comerciais. Christaller considera que na prtica um centroadministrativo controla sete centros de ordem imediatamente inferior (contra trs

    para os centros comerciais).

    Naturalmente, os trs princpios de organizao devem estar combinados

    para dar uma imagem completa das redes urbanas reais, e a sua respectiva

    influncia varia segundo a natureza de cada caso.

    Foram realizadas numerosas tentativas de verificao emprica da anlise de

    Christaller, tanto nos Estados Unidos como na Gr-Bretanha e na Alemanha.

    Todas elas se depararam com a dificuldade de escolher critrios de classificao

    de produtos e de servios, que permitissem estabelecer uma hierarquia das

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    funes urbanas ou determinar os elementos a reter para medir a extenso das

    reas de influncia e chegar a uma hierarquia dimensional dos centros urbanos.

    Por isso alguns autores foram levados a fundamentar a hierarquia dos

    centros urbanos com base em relaes mais rigorosas entre a sua ordem e a sua

    dimenso, ou ainda entre as suas funes e a sua dimenso.

    2.4.5-A ANLISE GERAL DAS REAS DE MERCADO:AUGUST LSCH

    As anlises empricas de Christaller deram bem cedo lugar a um enorme

    esforo de abstraco, tendente generalizao das concluses para as integrar

    num verdadeiro modelo de equilbrio global. ainda um autor alemo que, nos

    meados do sculo XX, realizar esta primeira formalizao esquemtica do

    espao econmico, com a sua grande obra O ordenamento espacial da

    economia (1940).No seu livro, que o culminar de uma obra abundante e multiforme, Lsch

    (1940) faz a sntese dos trabalhos dos seus antecessores e completa-a com

    achegas originais e importantes. Alargando o problema da localizao industrial

    a todo o sistema econmico, sugere uma teoria de equilbrio espacial geral, que

    se mantm ainda actual. O seu trabalho articula-se em torno de trs temas

    principais: uma teoria da localizao, uma teoria das regies, que de facto uma

    teoria das reas de mercado, e uma teoria da troca. Vamos aqui analisar as duas

    primeiras.2.4.5.1-A TEORIA DA LOCALIZAO

    As localizaes efectivamente encontradas na realidade, no esto

    necessariamente conforme as normas que deveriam determinar a sua localizao

    ideal; o importante, diz Lsch, no procurar as consideraes que guiaram os

    empresrios na sua escolha, mas sim determinar de forma abstracta as condies

    ptimas de localizao. Os princpios desenvolvidos sero, alis, diferentes

    conforme se trate do ponto de vista do empreendedor individual a um nvel

    sectorial (industrial, agrcola ou urbano) ou a um nvel global.Com efeito as localizaes particulares, determinadas em funo da

    situao dos factores de produo, tanto dos concorrentes como dos

    consumidores, influenciam-se umas s outras pelas suas repercusses ao nvel da

    oferta e da procura e, por isso, ao nvel da forma e da natureza das actividades

    econmicas. As localizaes individuais so determinadas pela procura do lucro

    individual mximo; estas inter-relaes levam igualizao das vantagens das

    unidades econmicas e maximizao do numero de unidades autnomas.

    Resultam, por isso, entre os centros de produo e os centros de consumo,combinaes caractersticas que constituem mercados parciais, subdivises do

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    mercado global: so as reas de mercado que se podem reportar a dois tipos

    principais - vrios produtores reagrupam-se em torno de um centro de consumo,

    situao definida por Lsch como constituindo uma regio de abastecimento,

    ou centros de consumo reagrupados em torno de um produtor, e nesse caso ele

    define como constituindo uma regio de extraco. A primeira particularmente caracterstica da localizao agrcola e a segunda da localizao

    industrial.

    Pouco importa o nmero de unidades de produo, que geralmente mais

    elevado na agricultura do que na indstria, o que conta o nmero e a posio

    das localizaes: isto que determina a natureza da regio. Estas localizaes

    podem ser dispersas ou aglomeradas e as concentraes podem, elas mesmas,

    consistir em reagrupamentos pontuais ou reagrupamentos por zonas. No primeiro

    caso, as reas de mercado sobrepem-se; no segundo caso elas esto justapostas eas suas fronteiras correspondem seja a linhas seja a faixas de terreno, segundo a

    fora respectiva das localizaes concorrentes e segundo a diversidade dos

    produtos.

    A partir da, Lsch analisa as particularidades que distinguem a localizao

    industrial e a localizao agrcola.

    No caso da indstria, tema em estudo, entram em linha de conta os custos

    (custos de transporte, custos de produo e a relao entre os dois) e as receitas

    (importncia e poder de compra da clientela, nvel dos preos); mas se estesdiversos elementos podem explicar as localizaes reais, a localizao ideal

    depende, por seu lado, do rendimento lquido. No entanto, aps ter colocado

    desta forma a interdependncia estreita que relaciona preo, procura e

    localizao, Lsch no cr conseguir chegar a uma frmula geral, determinando a

    localizao ptima, por ser to elevado o nmero de variveis em jogo. Tudo o

    que se pode fazer reconhecer para cada localizao industrial virtual a procura

    total possvel e o volume de produo desejvel, em funo do seu custo.

    Para Lsch a formao de centros urbanos corresponde a aglomeraes

    pontuais de localizao no agrcola. Esta formao explica-se por cinco sries

    de factores:

    - as vantagens da grande produo podem levar concentrao, num local,

    de grandes empresas individuais;

    - as empresas do mesmo tipo podem ser levadas a aglomerar-se pela

    atraco das economias externas, pelas vantagens tcnicas do local, no que

    respeita aos factores de produo, e pela maior possibilidade de concorrncia;

    - as empresas heterogneas podem-se aproximar geograficamente devido s

    suas ligaes de interdependncia;

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    - os centros urbanos podem nascer da simples aglomerao de

    consumidores;

    - convm ainda acrescentar o factor histrico que favorece a aglomerao

    em torno das fontes de oferta pr-existentes, quer se trate de matrias primas, de

    fontes de energia, de mo-de-obra ou de capital.As mesmas razes (vantagens do local, atraco das fontes de oferta,

    benefcios da concentrao) explicam a formao das cinturas industriais dos

    centros urbanos.

    A partir destas teorias parciais da localizao, Lsch discute as condies

    de um equilbrio espacial geral. Ele cr que este determinado pelo jogo de duas

    tendncias fundamentais: a maximizao das vantagens individuais e a

    maximizao do nmero de unidades econmicas autnomas. A

    interdependncia das localizaes est assegurada no ponto de equilbrio destasduas tendncias. Este pode ser encontrado por um sistema de equaes a que

    correspondem cinco condies:

    - a localizao de cada unidade deve ser o mais vantajosa possvel;

    - as localizaes devem ser suficientemente numerosas de forma a cobrir a

    totalidade do espao;

    - os lucros anormais devem desaparecer;

    - as reas de oferta, de produo e de venda devem ser o mais pequenas

    possvel, isto , de um tamanho que permita a sobrevivncia do maior nmeropossvel de unidades individuais;

    - os limites das reas econmicas so linhas de indiferena, que podem

    pertencer a qualquer das localizaes vizinhas.

    No entanto, mesmo preenchidas estas condies, a melhor localizao para

    os produtores no necessariamente a melhor para os consumidores e subsiste

    sempre uma diferena fundamental: para a produo e consumo de bens

    industriais, a melhor localizao encontra-se numa grande cidade, enquanto que

    para os bens agrcolas ela implica uma distribuio estvel e uniforme.

    Ainda, aps ter estabelecido que existem tantas equaes como incgnitas e

    que um sistema espacial de equilbrio geral possvel, Lsch no explicita as

    formas deste equilbrio. Ele no desenvolve este sistema de equaes, que ele

    prprio julga ser muito geral para ter uma aplicao prtica, e apresenta uma

    teoria das reas de mercado e das regies que lhe parece ser intermediria, lgica

    e necessria, entre a teoria das localizaes individuais e a teoria do equilbrio

    espacial geral.

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    2.4.5.2-A TEORIA DAS REAS DE MERCADO

    A anlise das reas de mercado e da sua imbricao em regies econmicas

    constitui, sem dvida, a contribuio mais importante de Lsch para a teoria

    econmica do espao.Lsch concentra o seu esforo na linha de Berthil Ohlin (1933), que havia

    contestado o princpio da teoria clssica do comrcio internacional, identificando

    fronteiras polticas e fronteiras econmicas. Ele deseja mostrar que se podem

    delimitar regies econmicas que no coincidem com os estados e que, ou bem

    se situam no interior das fronteiras polticas ou bem as transcendem.

    1 O modelo: um espao homogneo abstracto.

    Como Von Thunen, Lsch parte da hiptese, simplificada ao extremo, de

    uma rea de mercado constituda por um espao economicamente homogneo:uma plancie uniforme sobre a qual as matrias primas e populao esto

    repartidas de igual modo e que dispe de facilidades de transporte equivalentes

    em todas as direces. partida, cada centro vive em economia fechada e a

    influncia de foras extra econmicas est excluda.

    Se um dos exploradores agrcolas resolve produzir um bem, cerveja por

    exemplo, para l das quantidades necessrias s suas necessidades, ele descobre

    as vantagens da especializao e da produo em massa, contrabalanadas, no

    entanto, pelos custos de transporte que limitam o escoamento do produto, para lde uma certa distncia. A sua rea de mercado vai depender da curva da oferta e

    do preo no mercado, isto , do preo total: preo de venda mais custo de

    transporte. Cumprindo os postulados da uniformidade, ento estas reas de

    mercado possuem uma forma circular.

    Logo que outros vendedores apaream, o espao divide-se em crculos que

    delimitam a rea de mercado de cada explorao agrcola. Com o crescimento do

    nmero de vendedores, os crculos acabam por se tornar tangentes e a rea de

    mercado de cada unidade de produo contgua a outras seis. No entanto, umaparte da populao no servida, aquela que reside nos espaos intersticiais, uma

    vez que os crculos deixam espaos vazios. A presso da concorrncia vai ento,

    pouco a pouco, modificar as reas de mercado primitivas e dar-lhe uma forma

    hexagonal, que tem a dupla vantagem de cobrir toda a superfcie a servir e

    igualizar os custos de transporte a partir do ponto central de produo (ver

    Figura 3).

    O hexgono representa assim uma rea elementar de mercado e a forma

    economicamente ptima, uma vez que, se os quadrados e os tringulos oferecem

    tambm eles a possibilidade de preencher os espaos vazios, o hexgono a

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    figura geomtrica que menos se afasta do crculo e que permite atingir, em igual

    superfcie, a maior procura por unidade de superfcie.

    A

    B

    C

    D

    E

    F

    G

    A

    B

    C

    D

    E

    F

    G

    (a) As reas de mercado. (b) As regies e os sistemas de redes.

    Fig. 3 - A organizao do espao segundo Lsch.

    Este modelo alveolar continua vlido se se passar da hiptese de umapopulao uniformemente distribuda a uma populao agrupada em exploraes

    agrcola equidistantes, das quais apenas algumas se transformam em fbricas de

    cervejas e produzem cerveja para o mercado. Cada uma destas se situar no

    centro do hexgono e abastecer um certo nmero de exploraes agrcolas,

    nmero varivel segundo elas se implantem nos ngulos, no meio dos lados ou

    no interior dos hexgonos. No primeiro caso, a concorrncia existir entre trs

    fbricas de cerveja e cada uma delas servir duas outras exploraes agrcolas; no

    segundo caso, a concorrncia existir entre duas fbricas de cerveja, cada umaservir trs outras exploraes agrcolas; no terceiro caso cada fbrica de cerveja

    conservar a clientela das seis outras exploraes agrcolas. A partir destas trs

    disposies elementares pode-se complicar o esquema mostrando como se

    dispem, em torno de um ponto central de produo, os hexgonos de dimenses

    cada vez maiores, mas cujos pontos centrais esto sempre separados por uma

    distncia dada pela frmula b a n= ; em que, b representa a distncia entre dois

    pontos centrais de produo, a constante e igual equidistncia entre todos os

    centros de consumo e n representa o nmero de centros servidos.Estas redes de hexgonos ordenam-se em sistemas de redes logo que secombinem as reas de mercado de vrios produtos heterogneos. Alm disso, em

    lugar de deixar que as diversas redes se constituam ao acaso, sobre a superfcie

    considerada, pode-se obter um arranjo mais ordenado fornecendo-lhes um

    mesmo centro, que se tornar ento num grande centro urbano beneficiando de

    uma procura local importante. Os outros centros urbanos, para os quais Lsch,

    depois de Christaller, retoma a denominao de lugares centrais, estaro

    dispersos regularmente; os pequenos centros urbanos situar-se-o a meio

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    Rui A. R. Ramos & Jos F. G. Mendes 21

    caminho entre os dois maiores e o tamanho das aglomeraes aumentar com o

    seu afastamento do lugar central principal.

    Estes sistemas de redes constituem as regies econmicas e a sua

    dimenso depende da dimenso da rea mais vasta de mercado que as constitui.

    Por sua vez eles constituem, com os sistemas vizinhos, redes de sistemas,igualmente em forma hexagonal e que so agrupamentos de regies. Temos

    assim uma hierarquia das reas de mercado.

    2 A reconstituio do espao concreto.

    A ordem deste esquema ideal perturbada, frequentemente, por factores

    reais que Lsch introduz no seu raciocnio:

    - os elementos econmicos: so as diferenas espaciais de preos, de

    produtos ou de custos de transporte. As reas de mercado diminuem com asdiferenciaes de preos; ao contrrio, elas aumentam e interpenetram-se com a

    diferenciao dos produtos, que podem nesse caso encontrar escoamento em

    reas concorrentes. O efeito das diferenas locais nos custos de transporte mais

    complexo, mas ele vai, em geral, no sentido de um alargamento das reas.

    - os elementos naturais: diferenas de fertilidade do solo e, sobretudo,

    desigualdade nas facilidades de acesso.

    - os elementos humanos: no existe nem uniformidade nem racionalidadeno comportamento dos empresrios no que diz respeito extenso dos mercados,

    aos preos, escolha das localizaes; diferenas idnticas existem entre grupos

    nacionais, sobretudo em matria de consumo.

    - os elementos polticos: na realidade, o fenmeno estado e as fronteiraspolticas so um obstculo mobilidade dos factores de produo e dos produtos,

    e originam quer uma reduo do nmero de localizaes nas zonas fronteirias

    quer a sua deslocao de um estado a outro.

    Assim se encontra reconstituda uma paisagem econmica, suficientemente

    distanciada do modelo abstracto que serviu de base a um raciocnio

    metodolgico de cujo interesse alguns se interrogam. Lsch no ignorou esta

    objeco, mas afasta-se dela deliberadamente. certo, escreve ele, que a

    estrutura econmica que nos envolve apresenta muitos traos ilgicos,

    irregulares, impossveis e que parecem no estar sujeitos a nenhuma lei, mas

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    recuso-me a enfatizar esta falta de ordem... Existe uma explicao racional que

    tem muito mais importncia a longo prazo que as explicaes contingentes.2

    3 - AS ORIENTAES RECENTES DA TEORIA DALOCALIZAO INDUSTRIAL

    Como refere Philipe Aydalot (1985, p. 50), a teoria da localizao est em

    crise. No limiar do terceiro milnio questiona-se a consistncia interna do

    quadro terico ento existente, sendo notrias algumas insuficincias e

    limitaes. A reduo evidente do papel dos transportes retira s teorias clssicas

    da localizao a sua base de suporte essencial. A concepo implcita do espao,

    em que elas se apoiavam, aparece manifestamente bastante reduzida, e a grandedesordem existente nas localizaes observadas desde os anos 50, coloca-lhes

    problemas que j no sabem resolver. Vrias orientaes recentes, que definem

    novos pressupostos mais ou menos importantes, oferecem novas explicaes para

    as opes tomadas na localizao das indstrias.

    3.1 - A VIA CLSSICA: LOCALIZAO E INCERTEZA

    Esta orientao assenta em vrios argumentos: a deciso de localizao, que

    tem efeitos a longo prazo, suporta mais do que qualquer outra o efeito daincerteza; a empresa no pode considerar que est num meio em que os preos

    so conhecidos ou previsveis, e no pode apenas aplicar o clculo econmico. A

    melhor escolha j no a procura de uma impossvel maximizao, mas sim de

    minimizar os riscos e de adoptar uma atitude probabilstica, devendo-se colocar

    primeiramente os factores de escolha cuja racionalidade no seja financeira.

    A estratgia de minimizar os riscos impe-se e justifica a menor das

    deslocalizaes: a inrcia torna-se racional, o que leva a uma reconduo dos

    modelos da localizao herdados do passado. Fazer como os outros parecelgico, e as localizaes devem-se agrupar. De uma forma geral, a incerteza

    justifica a escolha de uma localizao no ptima, mas apenas vivel, ao passo

    que a rentabilidade mxima procurada por outra via (nas escolhas cujo impacto

    a curto prazo, sobretudo escolhas tcnicas). o que prope Richardson (1973).

    Smith (1971) acha que as empresas incapazes de quantificar com preciso o

    balano econmico, obtido para cada localizao possvel, vo-se limitar a

    definir, para o territrio em causa, zonas de lucros positivos, e escolhero, dentro

    dessas zonas, as localizaes que maximizem as vantagens no financeiras.

    2 Segundo Lsch, citado por Lajugie et al., 1985, p. 58.

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    Assim, os factores no econmicos apresentam uma importncia crescente

    e podem mesmo ser justificados de uma forma econmica.

    Investigadores como Greenhut e Colbert (1962), mostraram que as escolhas

    fundamentadas em opes pessoais podiam revelar-se ptimas, pois levavam

    escolha de localizaes perfeitamente conhecidas. Hoover (1948) e Tiebout(1957) pensam que localizaes escolhidas ao acaso acabam por ser ptimas,

    uma vez que as ms escolhas so progressivamente eliminadas pela concorrncia.

    Paradoxalmente, as escolhas, mesmo no racionais economicamente, baseadas

    em pressupostos que no permitem o correcto conhecimento do mercado,

    podem-se tornar satisfatrias. A preferncia pelas comodidades pessoais, que

    levam as empresas para as grandes cidades, traz resultados positivos, uma vez

    que, num futuro incerto, estas oferecem as melhores garantias, pois existe a uma

    tendncia para o crescimento, bem como para uma maior divulgao de todos ostipos de informao.

    Mas sendo assim, a localizao depende de um modelo probabilstico, tal

    como o que proposto por Pred (1967 e 1969) ou Richardson (1973). Para este

    ltimo, os movimentos inter-regionais de capital dependem de duas sries de

    factores: o volume dos capitais oferecidos em cada regio e o balano oferecido

    por cada regio (riscos, incerteza, lucros potenciais, vantagens oferecidas por

    cada regio...). Richardson, fazendo uma sntese destas informaes, define

    assim uma matriz em que a cada caso corresponde um coeficiente probabilstico.Aydalot (1985, p. 51) procura tambm responder a algumas questes

    quanto s tendncias seguidas pela teoria de localizao.

    Que dizer desta orientao recente da teoria? Sem dvida, a observao das

    decises tomadas por numerosas empresas leva a uma certa desconfiana

    relativamente ao clculo puramente econmico. Mas embaraoso que estas

    novas proposies no sejam mais do que montagens grosseiras de processos de

    tomada de deciso e se mostrem incapazes de determinar, pelo menos, as mais

    fortes tendncias das localizaes. No essencial, estas ideias recentes deixam

    entender que a mobilidade deve diminuir e que a concentrao espacial deve

    crescer, uma vez que as tendncias contrrias dominam largamente desde os anos

    50. A flexibilidade destas construes, que se podem adaptar a toda a nova

    orientao espacial, levanta dvidas sobre o seu interesse terico.

    Pior ainda, no se revestem estas atitudes, apesar das aparncias, de uma

    confiana total na teoria tradicional? Na incapacidade de imaginar uma outra

    lgica que no a da teoria clssica da localizao, -se conduzido a conceder

    localizao indiferente uma fraco cada vez maior das actividades industriais,

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    desde que manifestamente os custos de transporte se tornem ineficazes na

    explicao da sua localizao.

    No estaro as concepes de que acabmos de falar a camuflar o facto de

    que nenhuma teoria pode justificar a localizao das indstrias, uma vez que elas

    no esto submetidas, seno de uma forma marginal, presso dos custos detransporte? Trs quartos das indstrias sairiam do campo da teoria para depender

    dum simples catlogo de factores contraditrios que podem explicar qualquer

    comportamento? Estas construes (introduo da incerteza, modelos

    probabilsticos) no vm elas esconder um grande vazio terico, encoberto por

    uma tcnica sofisticada? Uma alternativa consiste na procura de uma outra lgica

    de localizao: voltando hiptese implcita da empresa com uma nica unidade

    fabril, tendo em conta o clculo global da empresa que procura no a

    maximizao do lucro de cada uma das suas unidades mas uma coerncia global(no espao, no tempo, face s escolhas tecnolgicas...).

    3.2 - A LOCALIZAO DA GRANDE EMPRESA

    Evidentemente, a escolha da localizao no pode ser sempre analisada

    somente atravs da referncia implcita ao clculo maximizador da pequena

    empresa, preocupada em minimizar os seus custos de transporte, ligada a um

    mercado nico e dotada de uma dada funo de produo. Alm disso, a teoria

    das organizaes e a anlise da empresa multinacional so integradas na teoriados comportamentos especficos da grande organizao, enquanto que a teoria

    tradicional da localizao v na empresa um agente neutro definido pelo clculo

    maximizador e pelas propores de factores. inevitvel suspender estas

    simplificaes ao nvel da anlise espacial, do mesmo modo como elas j foram

    suspensas em muitos outros domnios da anlise econmica (teoria dos preos,

    economia internacional...). Tal comportamento tanto mais necessrio uma vez

    que a escolha de uma nova localizao um problema que diz respeito, quase

    unicamente, grande empresa: a pequena empresa de unidade fabril nica no sedesloca nunca, excepto quando isso lhe imposto e s o faz em curtas distncias.

    Na maioria dos casos, as decises de localizao so um comportamento tpico

    de empresas possuidoras de vrias unidades fabris. Quando uma empresa cresce,

    ela conhece um certo nmero de mutaes que a tornam potencialmente mvel:

    diversificao da sua produo, internamento de servios anteriormente

    requisitados ao exterior, adjuno de capacidades produtivas, reorganizao dos

    servios (Sant, 1975)3. Cada uma destas mudanas traz, em si mesma, a

    possibilidade de um movimento no espao. As formas de mudana e de

    3 Citado em Aydalot , 1985, p. 52.

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    crescimento das empresas so portanto decisivas para compreender as suas

    escolhas espaciais. Por exemplo, nos Pases Baixos a Philips passou de 26

    unidades fabris, em 1949, a 81 unidades em 1973 (Fischer, 1994).

    Ter o comportamento especfico da grande organizao um impacto

    directo sobre as escolhas espaciais? Isto no certo. Cronologicamente, o ter emconsiderao a dimenso da empresa, na anlise das decises espaciais, andou a

    par com o desenvolvimento da teoria das organizaes, o que discutvel na

    medida em que a pequena empresa considerada pontual e sem contedo real.

    Somente a grande empresa teria uma estrutura complexa que interferiria nas suas

    decises.

    Dito isto, vrias aproximaes ao comportamento da grande empresa

    podero ser propostas:

    - pela sua estratgia;- pelas suas motivaes especficas;

    - pela sua natureza e seus trunfos prprios.

    No seguimento de vrios autores, como refere Aydalot (1985, p. 53),

    podem distinguir-se trs fases no desenvolvimento da empresa (fase de

    organizao, de expanso, de racionalizao) e procurar a aplicao destas trs

    lgicas de desenvolvimento nas formas do seu desenvolvimento espacial. Outros

    interrogaram-se sobre as motivaes especificas da grande empresa

    (maximizao, sobrevivncia, crescimento, interesses prprios dos dirigentes,lgica de uma estrutura organizacional complexa), sobre as modalidades por ela

    escolhidas para a resoluo dos conflitos: cada escolha estratgica pode-se

    traduzir por sistemas de localizao adaptados ao objectivo pretendido. Pode-se

    reflectir sobre os conflitos internos, as relaes de foras no seio da organizao

    e os processos internos de resoluo dos conflitos. Outros ainda analisaram a

    empresa como uma organizao dedicada produo de sinais, transmisso

    de mensagens. Cada carcter considerado determinante ao funcionamento da

    empresa pode dar lugar a uma nova interpretao das escolhas espaciais da

    empresa.

    Na ptica da teoria das organizaes, alguns vem na aco da empresa um

    processo de resposta a um stress externo, um processo de aprendizagem.

    Considera-se ento implcito que a empresa tenha uma localizao de equilbrio,

    que no modificar seno para reagir a uma modificao das condies exteriores

    (Rees et al., 1981; North, 1955). O modo como a empresa se adapta s condies

    mutveis est ligado aos seus mecanismos internos de organizao. Deve-se

    considerar que as estruturas de deciso da empresa definem a estratgia que ela

    segue? Ou, pelo contrrio, a ligao organizao-estratgia segue um

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    encaminhamento inverso, a definio de uma estratgia primeiramente e a

    organizao da empresa no seu seguimento?

    A hiptese de uma ligao entre organizao da empresa e decises

    espaciais levou vrios autores a analisar com cuidado as modalidades dos

    processo de deciso no seio da grande empresa: neste ponto de vista, os trabalhosde Rees et al.(1981) e de Stafford (1974) so instrutivos. Pode-se ser tentado aevidenciar o enriquecimento das potencialidades que a grande dimenso traz

    empresa: possibilidade de prever um futuro incerto, de se precaver contra os

    riscos de errar, de ultrapassar a submisso s tcnicas e formas de organizao

    actuais. Ento, a estratgia da empresa enriquece-se e as decises espaciais so

    um elemento de uma poltica de conjunto, que no faz sentido seno como uma

    parte de um todo coerente. Assim pensar-se que a dimenso da empresa traz-lhe

    liberdades especficas: concepo de tcnicas e de novos produtos, de novasformas de diviso do trabalho, possibilidade de utilizar o espao em seu proveito,

    etc. Ao contrrio, a pequena empresa est dependente do meio que a envolve. Ela

    determinada pelo meio, inserindo-se nas sua tcnicas, no seu mercado, nos seus

    produtos, na sua mo-de-obra. a aptido da grande empresa de se deslocar

    parcial ou totalmente sobre grandes distncias que lhe trs uma liberdade da qual

    privada a pequena empresa.

    3.3 - A DIVISO ESPACIAL DO TRABALHONo passado, as empresas, maioritariamente de pequena dimenso, estavam

    restringidas a localizar-se nas proximidades das suas localizaes iniciais. O

    conjunto da sua organizao e seu funcionamento era, desde ento, definido pelo

    meio envolvente, do qual elas se serviam (tcnicas, mercados e fora de

    trabalho...). Com a concentrao de capital e aumento da dimenso das empresas,

    estas tornam-se mais mveis e livres de escolher entre as numerosas localizaes.

    A diviso espacial do trabalho comea quando a empresa se pode libertar das

    injunes do seu meio inicial, passando a escolher a sua localizao em funodas caractersticas que deseja encontrar. No mais o espao que define a

    empresa mas a empresa que vai modelar o espao! (Aydalot, 1985, p. 54). Dizer

    que o trabalho a varivel que estrutura melhor o espao, dizer que o trabalho

    tende a se diferenciar no espao. Se assim , se cada potencial localizao

    apreciada atravs de parmetros de quantidade, estrutura e custo de trabalho, a

    empresa tende a repartir as suas actividades de modo a implantar em cada espao

    a unidade fabril cuja estrutura de emprego corresponde melhor s caractersticas

    da fora de trabalho que a se encontram. Posto isto, e para esquematizar os

    processos reais, a empresa especializa as suas unidades de forma a diferenciar ao

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    mximo a estrutura do emprego, e implantar cada uma delas onde encontrar a

    correspondente fora de trabalho disponvel e nas melhores condies. A

    tecnologia no mais uma varivel exgena: a sua funo de, entre outras

    coisas, permitir empresa adaptar os seus processos tcnicos s caractersticas da

    mo-de-obra que ela deseja empregar.Pode-se conceber que as grandes concentraes industriais oferecem uma

    concentrao de trabalhadores de todas as qualificaes, sem que haja

    especializaes funcionais ou estruturais do trabalho. Mas cada meio envolvente

    segrega um custo: o custo de vida dos trabalhadores no o mesmo em todas as

    localizaes. Na maioria dos casos, quanto maior for o tamanho da cidade

    maiores sero os custos suplementares que ela segrega, os quais devem ser

    cobertos pelos trabalhadores que a residem: por um lado porque o grau de

    comercializao dos produtos a superior (os numerosos bens e servios devemser adquiridos no mercado enquanto que, noutros locais, so produzidos

    gratuitamente pelos residentes); por outro lado porque surgem consumos

    suplementares (por exemplo: transportes individuais e colectivos). Porm, os

    salrios devem cobrir os custos suportados pelos trabalhadores. Se a relao de

    foras existente entre trabalhadores e patres e as lutas sociais podem afastar o

    nvel dos salrios do seu nvel terico, determinado a partir dos custos suportados

    pelos trabalhadores, simultaneamente existe uma ligao entre o salrio e o

    montante dos custos necessrios vida do trabalhador e da sua famlia.O salrio no mais do que o aspecto mais perceptvel ao economista de

    entre os factores de diferenciao dos trabalhadores no espao. A empresa no

    procura somente a minimizao de um custo salarial, ela deseja igualmente o

    desenvolvimento de um modo de relaes sociais que garanta a segurana, a

    regularidade e perenidade da sua actividade. -lhe necessrio reagrupar uma

    mo-de-obra que aceite as tarefas, as condies de trabalho e os salrios que lhe

    so propostos.

    Conclui-se que as empresas no tm interesse em se implantarem numa

    grande cidade, se o custo de eficcia da produo for elevado. Se uma

    infraestrutura complexa, apenas existente nas antigas concentraes urbanas e

    industriais, necessria, e se tambm as qualificaes exigem um aparelho de

    formao sofisticado concentrado nas grandes cidades, ento o custo de vida

    elevado e os salrios superiores da grande cidade sero a contrapartida inevitvel

    a uma produo eficaz.

    Ao invs, cada vez que os processos tcnicos podem ser suficientemente

    mecanizados de forma a permitir o emprego de trabalhadores no qualificados,

    os custos sero menores se a empresa procurar uma localizao caracterizada por

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    um menor custo de mo-de-obra (trabalhadores com mais baixo nvel de vida).

    o caso das operaes de produo e de montagem em srie, que se multiplicaram

    desde algumas dezenas de anos. Assim, o sucesso da empresa, ao adaptar as

    caractersticas da mo-de-obra local estrutura do emprego nas suas unidades,

    est ligado vontade de no pagar seno o custo necessrio ao nvel de vida dosseus trabalhadores.

    Pode ir-se mais longe e propor a ideia segundo a qual a empresa escolhe

    uma localizao de forma a poder utilizar uma fora de trabalho desvalorizada,

    de baixo custo de vida, privilegiando com esse fim as tcnicas que permitem o

    emprego de mo-de-obra no qualificada.

    Assim, nas suas escolhas, a empresa opta simultaneamente por uma tcnica

    e um espao: escolhe a tcnica adaptada fora de trabalho que ela deseja

    empregar; e no seguimento escolhe a localizao onde a fora de trabalho estadaptada tcnica que ela entende adoptar. O domnio tecnolgico no tem

    sentido seno no seio de um projecto de contedo espacial. Para uma empresa,

    possuir a arma tecnolgica, sem a aptido de uma deslocao longnqua, seria

    largamente intil. O possuir de uma nova tecnologia no pode dar todos os seus

    frutos se a empresa no souber adaptar as sua localizaes aos tipos de mo-de-

    obra correspondentes. Correntemente, necessrio empresa mobilizar uma

    fora de trabalho barata, o que pode levar a passar por vrios processos, que

    consistem todos na transferncia de parte dos custos relativos ao nvel de vida dafora de trabalho:

    - Escolher uma fora de trabalho barata: porque a localizao escolhida

    permite baixos salrios, ou porque os trabalhadores continuam a ter um nvel de

    vida baixo, semelhante ao que tinham nas suas regies de origem (tais como

    zonas rurais, ou pases do terceiro mundo);

    - Colocando-se numa posio em que no pagam seno uma fraco do

    custo total necessrio ao nvel de vida dos trabalhadores (salrio real), quer por a

    empresa empregar trabalhadores de contratos a curta durao ou por o Estado

    comparticipar em parte esse custo total (subsdio para alojamento, transportes,

    servios culturais e sociais).

    Nestas condies, os espaos tendem para uma certa homogeneizao: os

    empregos qualificados reagrupam-se nas cidades que oferecem um meio

    intelectual e tcnico necessrio sua eficcia, enquanto que os empregos no

    qualificados localizam-se em zonas perifricas de custo de vida reduzido, mas

    onde uma produo padronizada pode ser realizada com uma eficcia satisfatria.

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    4 - A OBSERVAO DO COMPORTAMENTO ESPACIALDAS EMPRESAS INDUSTRIAIS

    4.1 - OS INQURITOS

    Os inquritos so frequentemente utilizados para se conhecer os motivos

    que as direces das empresas consideraram para a sua escolha espacial. Face ao

    grande nmero de factores concretos de localizao, os inquritos deste tipo

    devem permitir a classificao e hierarquizao dos principais factores. A

    apresentao das concluses obtidas atravs desses inquritos deve rodear-se de

    algumas precaues, pois as respostas dadas pelos responsveis das empresas aos

    questionrios que lhes so colocados nem sempre so totalmente verdadeiras,

    sendo por vezes evasivas ou imprecisas.

    4.1.1-PROBLEMAS DE INTERPRETAO

    Em primeiro lugar deve evitar-se qualquer confuso quanto aos elementos

    do inqurito. Um factor que foi determinante para uma deciso de encerramento

    de uma unidade fabril pode no ter qualquer importncia para a implantao de

    uma nova unidade. Por exemplo, uma empresa que feche uma das suas unidades

    devido ao estado de degradao atingido pelas instalaes, pode abrir uma outra

    e apenas se preocupar com as facilidades de acesso das matrias primas face nova localizao. Os factores que justificam o encerramento de uma determinada

    unidade, a sua deslocalizao ou a sua criao, no so necessariamente

    idnticos.

    Cada factor de localizao tem um campo espacial prprio. Certos factores,

    por exemplo o preo do solo ou a facilidade de acesso para camies, variam em

    apenas alguns quilmetros ou mesmo centenas de metros, isto , o seu campo de

    aco intra-urbano. Para outros factores, por exemplo os salrios, a distncia

    que necessrio percorrer para que haja alguma variao pode ser de algumascentenas de quilmetros. H ainda alguns factores, como por exemplo as

    regulamentaes aduaneiras, que possuem um campo de aco internacional.

    Faa-se notar que possvel escolher um local porque o preo do terreno

    bastante baixo mas j no se escolhe uma regio pelo mesmo motivo, isto porque

    em todas as regies possvel encontrar terrenos livres e a bons preos.

    Agrupar numa classificao nica factores de localizao to diferentes no

    faz sentido. Por exemplo (Aydalot, 1985, pp. 50-60), se uma empresa francesa

    abrir um novo estabelecimento industrial nos arredores oeste de Santander, ela

    ter feito vrias consideraes sucessivas, diferentes e no somveis. Ter

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    inicialmente escolhido Espanha porque pretende tirar proveito dos salrios mais

    baixos que em Frana ou para ter acesso ao mercado espanhol. Em seguida

    escolheu uma regio caracterizada por diferentes parmetros (salrios, formao

    da mo-de-obra, etc.) que se adequam s caractersticas pretendidas. Escolheu a

    cidade de Santander devido existncia do seu porto de mar. Por fim um terrenovazio existente na zona oeste dos arredores pareceu ser conveniente devido ao

    baixo preo do solo, existncia de infraestruturas adequadas indstria, s

    facilidades de acesso e proximidade dos domiclios dos seus dirigentes. Vrios

    factores intervieram na escolha mas no em simultneo nem com o mesmo peso

    na deciso.

    Uma outra confuso possvel o facto de existirem diferentes tipos de

    indstrias, cada uma com as suas exigncias prprias e que normalmente os

    inquritos no conseguem distinguir. No se podem interpretar correctamente osresultados de um inqurito sem j se ter feito uma separao por cada tipo de

    indstria presente. Considerar a empresa individual ou a empresa com vrias

    unidades fabris de uma forma indiferenciada do ponto de vista da tomada de

    deciso na localizao industrial pode tambm conduzir a graves distores. De

    facto, enquanto o empresrio individual depende s de si na escolha do local para

    instalar a sua unidade fabril, a empresa colectiva possui formas de deciso

    integradas num processo mais complexo onde intervm vrios factores.

    necessrio tambm saber interpretar o discurso dos dirigentesinterrogados. Os seus propsitos nem sempre reflectem os seus comportamentos

    reais. Seja por eles j se no recordarem das verdadeiras razes que os levaram a

    tomar opes num passado mais ou menos longnquo, e por isso terem tendncia

    a dar respostas banais quando no podem ser suficientemente precisos; seja por

    quererem esconder alguns dos verdadeiros factores, por exemplo no admitir que

    os salrios baixos so um factor importante, argumentando que o clima social era

    favorvel; ou ento no admitir que a distncia a uma casa de fim de semana teve

    algum contributo para a escolha, argumentando que a localizao teve o acordo

    dos quadros da empresa.

    pois necessrio interpretar com clareza as respostas obtidas atravs dos

    inquritos efectuados e confront-las com a realidade observada para se colocar

    em evidncia, ao lado das respostas directas, as lgicas efectivas dos

    comportamentos.

    4.1.2-ALGUNS ENSINAMENTOS

    Schmenner (1982)4 analisou detalhadamente o processo de expanso das

    4 Citado em Aydalot , 1985, p. 60.

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    empresas: porqu expandir-se no local actual, deslocalizar-se ou ainda criar numa

    nova unidade num outro local? Que caractersticas dever apresentar a nova

    unidade? Que factores determinam a escolha de uma nova localizao? Nos

    Quadros 1 a 3, esto indicadas algumas das respostas a estas questes.

    Quadro 1 - Razes para abrir uma nova fbrica e no ampliar ou deslocalizar as instalaes existente

    Razes dadas para a opo de abrir uma nova fbrica e no ampliar ou deslocalizar as instalaesexistentes (amostra de 158 empresas):- espao disponvel insuficiente...........................................................................................................47 %- desejo de no colocar todos os ovos no mesmo cesto....................................................................33 %- desejo de se libertar da mo-de-obra improdutiva da fbrica actu