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LIXO: UM GRAVE PROBLEMA SOCIOAMBIENTAL CONTEMPORÂNEO
Autor: Eder Valter Camargo1
Orientadora: Elisabeth Christmann Ramos2
As palavras convencem, mas são os exemplos que arrastam, e é por este princípio verdadeiro que me empenho em aplicar estas ações aos meus educandos, para que eles possam de alguma forma, obter bons exemplos em suas ações presentes e futuras a nossa natureza.
RESUMO
O presente projeto de pesquisa teve como finalidade trabalhar os problemas relacionados à deficiência na destinação dos resíduos sólidos produzidos no Colégio Estadual Jayme Canet, localizado no bairro Xaxim, na cidade de Curitiba-PR, que possui um grande número de alunos no Ensino Fundamental e Médio. A carência de lixeiras seletivas no ambiente escolar, o comportamento inadequado dos alunos em suas atividades em sala de aula e demais dependências da escola tem como consequência grande quantidade de rejeitos espalhados no ambiente escolar. A constatação destes fatos foi a motivação inicial deste trabalho. As ações propostas visaram a chamar a atenção e provocar a reflexão sobre os graves problemas causados pelo excesso de lixo produzido pela sociedade, consequência de um modelo de produção que acarreta o consumo desnecessário, assim como a obsolescência programada que nos induz ao descarte cada vez mais rápido dos produtos. As questões apontadas foram trabalhadas a partir dos conteúdos definidos no planejamento da escola para as turmas do Ensino Médio, público alvo desta proposta. O pressuposto teórico apoia-se na pedagogia dos três R’s – Reduzir - Reutilizar e Reciclar –, na utilização de material multimídia, textos e aula de campo. Além de alertar os alunos acerca das consequências do consumo desenfreado dos recursos naturais, espera-se também sensibilizá-los para os benefícios da sustentabilidade na produção dos bens de consumo, na comparação entre comportamentos adequados e soluções para amenizar e sanar os impactos ambientais negativos para melhorar a qualidade de vida da população não só em escala local, mas também global.
Palavras-chave: Educação. Meio ambiente. Lixo.
1 Professor de Geografia na Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná no Colégio Estadual Jayme
Canet. Curitiba-PR. Possui Especialização em Magistério de 1º e 2º Graus (Faculdades Integradas Espírita - 1998); Licenciatura em Geografia Plena (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Catanduva-SP – 1994). E-mail: [email protected]. 2 Professora orientadora – Setor de Educação/UFPR. Possui doutorado Interdisciplinar em Ciências
Humanas (UFSC - 2006); Mestrado em Educação (UFPR - 1996); Graduação em Ciências Biológicas (UFPR - 1981).
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ABSTRACT This project aims to work with the problems caused by the inappropriate destination of solid residues from the Colégio Estadual Jayme Canet, located at the neighborhood of Xaxim, in Curitiba-PR, which has a large number of students in Fundamental and Mid School. The lack of selective trashcans at the school surroundings, the inadequate behavior of students in the classrooms as well as in other areas result in a large amount of tailings spread over the school environment by the end of classes. The detection of those facts was the initial motivation for this work, and the proposed actions aim to get attention and trigger reflexions about the serious problems caused by the excess of trash produced by society, which is a consequence of a production and consumption model that results in unnecessary consumption, as well as the programmed obsolescence that persuades us to discard products faster and faster. The pointed topics will be worked from the defined contents at the school planning for Mid School classes, the target of this proposal. The theoretical presupposition is supported by the pedagogy of the three “R’s” - Reduce, Reuse and Recycle -, and by the use of multimedia materials, texts and outdoor classes. Besides warning the students about the consequences of uncontrolled consumption of the natural resources, it is also expected to get their attention for the benefits of appropriate sustainability during the production of consumer goods, in comparisons between adequate behaviors and its solutions to soften and eliminate the negative environmental impacts and improve the population’s quality of life not only at the local scope, but also at the global one. Keywords: Education. Environment. Trash.
1 INTRODUÇÃO
A lei nº 9.795 de 27 de Abril de 1999 destaca a importância da educação
ambiental como componente essencial e permanente da educação nacional
devendo estar presente de forma articulada em todos os níveis e modalidades
do processo educativo, em caráter formal e não formal. Em outras palavras,
propõe que as ações e práticas educativas sejam voltadas à sensibilização da
coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação
na defesa da qualidade do meio ambiente. Cabe ao Poder Público, em níveis
federal, estadual e municipal, incentivar a ampla participação da escola, das
universidades e de organizações não governamentais na formulação e
execução de programas e atividades vinculadas à educação ambiental.
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Embora a legislação vigente garanta a obrigatoriedade dos temas
ambientais é observado que no cotidiano das escolas ainda existe uma
indiferença bastante significativa sobre o assunto, tanto pelos professores e
dirigentes das instituições de ensino em geral como dos alunos. Este fato
sugere que é urgente a necessidade de se buscar construir práticas
pedagógicas que proporcionem uma compreensão crítica sobre as questões
ambientais atuais, sobretudo, aquelas relacionadas com a produção e
destinação do lixo, já que este é um dos problemas cruciais do nosso tempo,
com impactos significativos na qualidade de vida de grande parcela da
população do planeta. Para isso, entende-se que é necessário muito mais do
que a transmissão de informações e conceitos, a escola deve propor, também,
trabalhar com atitudes e formação de valores. Este certamente é um grande
desafio para a educação.
É neste contexto contraditório que surgiu a necessidade de se refletir
com os alunos e trabalhar estas contradições, onde de um lado se fala sobre a
Pedagogia dos Três R’s (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), em sustentabilidade e,
por outro se observa claramente as falhas no sistema de coleta e de separação
dos resíduos gerados.
Registros têm apontado que o tema lixo, sobretudo aqueles relacionados
ao aproveitamento e reciclagem é, dentre os temas ambientais, o mais
trabalhado nas escolas assim como na sociedade (RIC, 2011). No entanto, os
mesmos registros mostram também, e a realidade do dia-a-dia confirma que
ainda é pequeno o número de pessoas que separam seus rejeitos, sendo
evidente a indiferença da sociedade, incluindo os jovens, diante das questões
ambientais. Esta constatação reforça a necessidade urgente de trazer para o
espaço escolar reflexões sobre o assunto para se construir uma prática
pedagógica capaz de proporcionar uma compreensão crítica sobre essa
realidade.
O descuido habitual e inconsciente em não se depositar adequadamente
o lixo nas “lixeiras seletivas” ou destinar corretamente os resíduos sólidos para
o reciclo do lixo produzido no ambiente escolar, bem como nos demais locais
em que se vive (tanto pela comunidade escolar como pelas demais pessoas da
sociedade em geral), tem contribuído para o colapso, em curto espaço de
tempo, dos aterros sanitários em diferentes cidades do país. Curitiba é um
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exemplo. Embora haja a coleta seletiva e campanhas de conscientização na
cidade, Curitiba tem a cada ano batido recordes na produção de lixo, a
exemplo disso temos que só no ano de 2010 “o serviço de coleta de lixo em
Curitiba recolheu 437.904 toneladas de lixo domiciliar [...]. Diariamente, Curitiba
produz 2.560 toneladas de lixo de todos os tipos que são levados para os
aterros sanitários.” (BEM PARANÁ, 2011).
Observa-se que existe um desconhecimento das implicações do
desperdício e do depósito inadequado dos resíduos sólidos na natureza, e dos
graves problemas que isto acarreta para o meio ambiente e saúde da
população. Razão pela qual estes temas se revelam fundamentais para serem
explorados e trabalhados em sala de aula visando à conscientização de cada
cidadão para a sua responsabilidade com relação os resíduos sólidos
produzidos nos diferentes ambientes.
É fácil verificar a grande quantidade de lixo que as escolas produzem em
suas atividades diárias, assim, discutir este assunto e buscar os conhecimentos
sobre este problema é necessário e urgente.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Ao observar as falhas no sistema de coleta e separação dos resíduos
gerados no ambiente escolar, pode-se indagar por que eles não são
selecionados de forma adequada e contínua? Sobretudo se for levado em
consideração que a escola é um ambiente propício para introduzir novos
hábitos, atitudes e instigar posições críticas e concretas diante dos problemas
socioambientais atuais.
Envolver os alunos com a pedagogia dos três R’s pode levá-los a
colocar em prática ações corretas na separação e deposição dos resíduos
sólidos? Pode ainda contribuir para torná-los cidadãos mais conscientes e
menos consumistas?
Acreditamos que sim, afinal, a pedagogia dos três R’s é uma proposta
que tem como objetivo levar os indivíduos a refletir sobre os problemas
relacionados à produção de lixo. Esta pedagogia visa dar enfoque aos três R’s
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representados pelas expressões: “Reduzir, Reutilizar e Reciclar” nesta ordem.
Segundo Zacarias (2000), estes termos significam:
Primeiro “R” – REDUZIR: papel preventivo postula a redução
do consumo e do desperdício. Propõe que o cidadão deva
aprender a reduzir o consumo e a quantidade de lixo
produzido, entendendo que a redução não implica padrão de
vida menos agradável. Menos consumo e menos lixo gerado
implicará uma estrutura de coleta menor e uma redução de
custos, além de se constituir como fator decisivo na
preservação dos recursos ambientais. Dos três erres, Reduzir é
a tarefa mais difícil de ser realizada, pois vai exigir um alto grau
de consciência.
O Segundo “R” – REUTILIZAR: propõe a reutilização dos
mesmos objetos, como: escrever dos dois lados da folha, usar
embalagens retornáveis, reaproveitarem as embalagens
descartáveis para outros fins, restaurar e consertar em vez de
jogar fora, doar materiais que podem servir a outras pessoas,
entre outros. Esta forma de lidar com os objetivos é uma das
que sofre maior preconceito, pois, no Brasil, reaproveitar está
associado à pobreza, dificuldades financeiras ou, então, à
avareza. A preocupação com a preservação ambiental vem
recolocar o reaproveitamento, como diz Langenbach (1997, p.
158), “em sua verdadeira dimensão, pois este pode se dar de
múltiplas formas: através do repasse, da troca, vislumbrando
novos usos e finalidades, transformando visualmente os
objetos”.
O último “R” - RECICLAR: forma a terceira base do tripé, sendo
a alternativa quando não é mais possível reduzir e nem
reutilizar. Podemos contribuir para a reciclagem, separando o
lixo, participando da coleta seletiva “lixo úmido, seco, papéis,
plásticos, vidros, metais, rejeitos” (ZACARIAS, 2000, p. 51-55).
No final dos anos 90 do século XX, foram aprovados os novos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e a Nova Lei de Diretrizes e Bases
da Educação propiciando uma reorganização dos currículos escolares, dos
ciclos da escolarização e das formas de avaliação dos conteúdos trabalhados.
Tais documentos colocaram no centro do processo educativo a formação da
cidadania, o que veio ao encontro das modernas concepções de educação. Ao
mesmo tempo foi proposto o tema do meio ambiente, dentre outros, como tema
a ser incluído transversalmente no currículo das escolas do ensino
fundamental. No final dos anos 90 também foi sancionada a Lei nº 9.795/99
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que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) que consagrou
os princípios básicos, os objetivos da educação ambiental, as suas linhas
gerais de ação e a sua obrigatoriedade em todos os níveis de ensino, tanto no
ensino formal como não formal.
Dentre as recomendações destes documentos o tema do Meio Ambiente
foi proposto com a finalidade de contribuir para a formação de cidadãos
conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental onde
vivem, comprometendo-se com a melhoria da qualidade de vida da sociedade
local e global.
Entre os muitos caminhos a serem seguidos pelo educador, em busca de
uma orientação no processo de educar para o ambiente, é importante levar em
conta aquilo que já está construído com perspectivas para ações mais justas e
transformadoras da sociedade. Como exemplo, nas escolas, temos as lixeiras
seletivas. Em outros ambientes, temos as ações de Desenvolvimento
Sustentável, a pedagogia dos Três R’s, os núcleos de reciclagem que
garantem o sustento de muitos catadores de papel, as propagandas
ecologicamente corretas, enfim, são muitas possibilidades de encaminhamento
ao certo pensar, sentir e agir.
Acontece muitas vezes que as práticas propostas para a educação
ambiental são desvinculadas de uma reflexão mais profunda o que pode
transformá-la em instrumento ideológico de reprodução das políticas públicas
relacionadas aos problemas socioambientais. A questão do lixo, por exemplo,
de acordo com Layrargues (2002) é apontada pelos ambientalistas como alvo
privilegiado de programas de educação ambiental nas escolas, e segundo o
autor, acabam por adotar uma concepção reducionista de educação uma vez
que:
[...] desenvolvem apenas a Coleta Seletiva de Lixo, em
detrimento de uma reflexão crítica e abrangente a respeito dos
valores culturais da sociedade de consumo, do consumismo,
do industrialismo, do modo de produção capitalista e dos
aspectos políticos e econômicos da questão do lixo.
(LAYRARGUES, 2002, p. 179).
Por isso, a abordagem do Meio Ambiente e dos Problemas Ambientais
sugeridos neste Projeto, utilizando a Pedagogia dos Três R’s, são tratados
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transversalmente nos conteúdos “Estruturantes e Específicos”, inseridos no
Planejamento Escolar para 2011 do Colégio Estadual Jayme Canet. Estes
conteúdos fazem parte do rol de temas arrolados no livro didático de Geografia
Geral e do Brasil (2005), utilizado pela escola e fornecido pelo Governo
Estadual do Paraná, conforme segue:
a) Paisagens naturais do Brasil e do Mundo;
b) Dinâmica demográfica e a qualidade de vida da população brasileira e
no Mundo;
c) Urbanização e metropolização do Brasil;
d) Evoluções das questões ambientais no Brasil e no Mundo;
e) O Quadro ambiental do planeta;
O trabalho com os temas citados se pauta no pressuposto de que inserir
a Educação Ambiental nas atividades escolares rotineiras da escola nada mais
é do que tomar como foco principal de toda e qualquer atividade a questão
ambiental presente no conteúdo que se pretende desenvolver. Importante
destacar, também, que o trabalho sugerido não pode ser entendido como
práticas estanques, determinando um período específico para o seu
desenvolvimento, mas deve (ou pelo menos deveria) estar inserido nas
diferentes formas de trabalho no cotidiano da escola. Este talvez seja o maior
desafio a ser enfrentado, já que, de acordo com as pesquisas atuais, existe
uma certa resistência dos professores quanto à inserção da Educação
Ambiental nas suas atividades educacionais cotidianas. Isto pode estar
acontecendo pelo fato de termos poucas referências sobre práticas educativas
ambientalistas. Com esta falta de referenciais, professores e professoras em
geral sentem-se inseguros para ousar neste novo campo do saber.
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3 AÇÕES DESENVOLVIDAS E RESULTADOS
Com a proposta de uma Educação Ambiental (EA) crítica, o projeto
“LIXO: um grave problema socioambiental contemporâneo” promoveu um
conjunto de ações desenvolvidas a partir de agosto de 2011, nas aulas
semanais da disciplina de Geografia, seguindo a organização descrita a seguir:
3.1 Introdução ao tema
Foi apresentado aos alunos os conteúdos que estudaríamos no segundo
semestre/2011, assim como as ações deste projeto dando ênfase às questões
ambientais do planeta e inserindo ao tema proposto os seguintes Conteúdos
Estruturantes: Paisagens naturais do Brasil e do Mundo; Dinâmica demográfica
e a qualidade de vida da população brasileira e no Mundo; Urbanização e
metropolização do Brasil; Evoluções das questões ambientais no Brasil e no
Mundo.
Nas explanações iniciais foram apresentadas as ideias centrais dos
conteúdos ligados ao projeto, suas ações e as formas como seriam aplicadas.
As aulas foram bem aceitas pelos alunos, principalmente pela aplicação de
atividades em grupos. Além do fato de terem sido utilizados mecanismos de
aprendizagem diferenciados como: o uso de vídeos, aulas extraclasse, o uso
do sistema de som do colégio, a apresentação de textos com linguagem de
fácil aceitação e atividades multidisciplinares (confecções de cartazes ligados
ao tema nas aulas de Artes).
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3.2 Sensibilização
Como estratégia para sensibilizar foi passado aos alunos um vídeo
mostrando a importância dos cuidados que devemos ter com a biosfera
provocando discussões com as questões ligadas ao “Meio Ambiente”.
As atividades, tanto com os vídeos como com os textos, foram sempre
seguidas de estímulos à reflexão da seguinte forma:
1) Os alunos deveriam anotar as ideias principais observadas no que foi
exposto;
2) Em pequenos grupos, foi solicitado que os alunos discutissem as
principais ideias anotadas e respondessem às questões pertinentes
sugeridas pelo professor;
3) No grande grupo, foram anotadas no quadro de giz as respostas dos
grupos, realizando discussões formulando respostas coletivas.
Foi surpreendente como esse tema despertou nos alunos a
sensibilização pelas questões ambientais. Pude observar o envolvimento dos
mesmos nas discussões sobre o tema, nos questionamentos sobre o assunto,
em suas expressões de preocupação com o futuro do planeta e também na
busca de alternativas para os problemas apresentados.
3.3 Estímulo à reflexão
Após a sensibilização, para provocar a reflexão foram utilizados textos e
vídeos, dentre eles, o texto “Lixo: a poluição nossa de cada dia” com leitura em
voz alta para a classe destacando os tópicos relevantes. Após a leitura iniciou-
se o debate sobre as principais ideias do texto, onde simultaneamente foram
indicadas no quadro as páginas correlatas dos tópicos principais do texto que
também estão disponíveis nos conteúdos do livro didático de Geografia
utilizado. Nessa atividade foi observado que no geral, os alunos se dispuseram
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a responder às questões em grupos, demonstrando na maioria a compreensão
dos temas abordados, contudo, vários demonstraram não ter conhecimento
algum ou bem pouco sobre a inter relação com os biomas terrestres e os
problemas ecológicos geradores dos problemas ambientais e de saúde, ou
seja, os alunos não conseguiram associar tais problemas com o descaso com o
lixo, assim como poucos souberam apontar alternativas corretas para o lixo.
Outra atividade foi a apresentação do filme Ilha das Flores com o
objetivo de levar os alunos a observarem o ciclo que envolve a produção do
lixo, as questões econômicas, políticas, sociais, ambientais e éticas
relacionadas a ele.
No estímulo à reflexão, diversas opiniões surgiram sobre os temas,
como a banalização do ser humano, o retrato de uma sociedade de consumo,
condições de subemprego, desigualdades sociais, falta de políticas públicas,
sendo a educação a mais discutida, o desinteresse político, entre outros.
Com estas discussões ficou evidente que os alunos já perceberam as
sérias consequências ao planeta da produção excessiva de lixo. Além disso,
dimensionaram também a responsabilidade ambiental que cada um tem com o
planeta através da separação adequada e do retorno socioambiental e
econômico que o destino correto do lixo traz à população.
Dando continuidade aos trabalhos, formaram-se grupos para a leitura
dos textos: Consumismo e meio ambiente e Consumo e desperdício. Estes
textos foram complementares às discussões que já vinham sendo feitas nas
atividades anteriores, ampliando a compreensão dos educandos sobre o tema.
O que ficou mais evidente para os alunos com a leitura destes textos, foi a
urgente necessidade de rever hábitos excessivos de consumo, de incluir em
suas escolhas de compra e comportamento um compromisso ético, uma
consciência e uma responsabilidade quanto aos impactos sociais e ambientais,
na maior parte das vezes geográfica e temporalmente distantes, que nossas
escolhas podem causar.
Seguindo o cronograma, a atividade aplicada foi a exibição do vídeo “A
história das coisas”. Os alunos se mostraram surpresos com o processo de
produção abordado no vídeo, que vai desde a extração da matéria prima até a
venda, uso e disposição dos produtos. Várias foram as reflexões feitas por
eles, destacando entre elas, a influência da sociedade capitalista que tem como
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objetivo principal o lucro, incentivando as indústrias a lançarem todos dias no
mercado novos produtos, utilizando-se dos meios de comunicação, que
exercem forte influência sobre nossos padrões de consumo, levando-nos a
pensar que estes produtos são indispensáveis para nossa sobrevivência. Com
isso, os alunos perceberam a importância de uma análise crítica daquilo que a
mídia apresenta e da conscientização das consequências dos processos
produtivos capitalistas.
A degradação ambiental foi trabalhada na atividade prática denominada
“Túnel do Tempo”, cuja proposta interdisciplinar, em parceria com a professora
de Artes, era a criação de um túnel do tempo que retratasse o passado e o
presente das mudanças observadas na paisagem do bairro. A participação dos
alunos se deu através da confecção de cartazes, de modo que demonstrassem
as transformações ocorridas nas paisagens observadas, fazendo um paralelo
entre como eram no passado e como são atualmente. Os cartazes, então,
foram dispostos no interior do túnel.
O “Túnel do Tempo” foi apresentado à comunidade escolar na Semana
Cultural e Esportiva, na qual foi disponibilizado aos visitantes do túnel um
espaço para que pudessem interagir ao expressar seus comentários e
conclusões a respeito da atividade.
Apesar de relativamente simples, a atividade contribuiu para que o
público alvo, alunos e comunidade escolar, fossem deslocados para uma
posição mais próxima das transformações ambientais, uma vez que estas
foram observadas na realidade do próprio bairro. Consequentemente, um dos
grandes méritos dessa atividade foi o de desconstruir a equivocada ideia de
que os problemas ambientais estão distantes do nosso cotidiano. Além disso,
devido ao seu caráter interdisciplinar, o “Túnel do Tempo” incentivou novas
atividades a serem realizadas com propostas pedagógicas semelhantes,
facilitando, portanto, a assimilação do conteúdo pelos alunos.
Na atividade sobre o texto A Pedagogia dos TRÊS R’s: Reduzir,
Reutilizar e Reciclar, os alunos puderam observar as diferentes possibilidades
que a utilização da proposta dos três R’s oferece, além de discutirem também
sobre as dificuldades de colocá-las em prática. Na sequência, reuniram o
material pesquisado e, em grupos, debateram as ideias do texto.
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As discussões, em geral, convergiram para uma conclusão já esperada:
a prática de reduzir e reutilizar os produtos enfrenta resistências
socioeconômicas e culturais.
Muitos alunos relataram o fato de não adquirirem bens descartáveis
constantemente, uma vez que o nível socioeconômico deles não os permite.
Entretanto, atestaram que, quando possível, trocam seus objetos pessoais por
novos, sem grande preocupação com o destino dos antigos. Portanto, a
simples separação do lixo ainda é, para a maioria, a única ação diretamente
relacionada com os pilares da política dos Três R’s e com os princípios da
responsabilidade ambiental, visto que a prática plena dos Três R’s ainda
necessita de um processo educativo mais avançado.
Houve também a reflexão sobre o texto “Falando francamente sobre
consumo e consumismo”, escrito por Vilmar Berna. Durante essa reflexão, os
alunos relacionaram as questões ambientais aos aspectos demográficos, uma
vez que o vertiginoso crescimento populacional tem trazido diversas mudanças
nos diferentes níveis socioeconômicos, transformando, também, o modo com
que as pessoas encaram os problemas ambientais.
Os impactos da análise do texto variaram de acordo com o nível de
conscientização ambiental de cada turma, haja vista que alguns grupos de
alunos tinham as ideias acerca de seu papel social como cidadãos
consumidores e produtores de rejeitos mais consolidadas que outros. No
entanto, em geral, houve um avanço na compreensão dos problemas
apontados pelo texto por parte dos alunos.
Na apresentação do vídeo Comprar, jogar fora e comprar: a história
secreta da obsolescência programada, foi impressionante como a
obsolescência abordada causou incômodo e indignação aos alunos. Foram
muitos os relatos contando que estavam usando determinado objeto e este, de
repente, quebrou ou parou de funcionar. Coube nesta abordagem explorar o
que está por trás das intenções do capitalismo no processo de produção dos
bens de consumo. Não obstante, alguns alunos relataram que até gostam
quando alguns objetos tidos como ultrapassados quebram para poderem
comprar algo novo, que apresente melhor funcionamento, tecnologia mais
avançada, entre outras vantagens sobre o antigo.
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Isso demonstra que, mesmo não possuindo as condições econômicas
para aquisição dos produtos mais sofisticados, eles, em sua maioria, também
gostam de novidades e são seduzidos pelos apelos publicitários veiculados
exaustivamente pelos meios de comunicação em massa. Justificou-se,
portanto, a abordagem do tema na sala de aula, a fim de instigar discussões
sobre essa problemática tão recorrente no cotidiano dos alunos.
No uso do vídeo que retratou um trecho do Jornal semanal Fantástico,
“Sopa plástica: o lixo do Oceano Pacífico” foi observado como os alunos se
identificaram com os problemas causados na “ilha de plástico do Pacífico”,
além de poderem observar os diferentes tipos de lixo vindos de todos os lados
do Planeta. A quantidade enorme de plásticos espalhados pelos oceanos, a
degradação da flora e fauna marinha, os lixões e o descaso com os rejeitos
produzidos também chamou a atenção dos alunos.
Entretanto, previamente, poucos alunos souberam associar o processo
de formação das “ilhas de plástico” com o início do problema, que é o descarte
inadequado do lixo nos centros urbanos. Com as chuvas, o lixo é arrastado
para o leito dos rios, que carregam todos esses materiais até suas fozes. As
correntes marítimas, por sua vez, arrastam os rejeitos trazidos pelos rios para o
interior dos oceanos e, através das diferenças de pressões, concentram o lixo
em águas calmas, gerando, assim, as chamadas “ilhas de plástico”.
Outro vídeo apresentado para o trabalho em grupos foi o Lixeira Viva e o
movimento “Do meu lixo cuido eu”. O vídeo mostrava que, em grandes centros
urbanos, onde muitos possuem espaços físicos limitados, principalmente os
residentes de edifícios e condomínios fechados, ficando evidente a viabilidade
da técnica da Lixeira Viva.
Durante essa atividade, foi dado espaço para discussão, na qual os
alunos apontaram algumas dificuldades em se trabalhar com as lixeiras vivas,
especialmente devido à falta de tempo, hábitos ou de responsabilidade com a
destinação adequada dos resíduos orgânicos. Entretanto, todos os que
possuem espaço e tempo disponíveis para o manejo dessa técnica
comprometeram-se a adotá-la. Houve, ainda, alunos que relataram que seus
pais ou avós já praticam essa técnica, enfatizando que a utilização desse
sistema contribui substancialmente para amenizar os efeitos negativos que tais
rejeitos orgânicos causariam se fossem destinados aos aterros sanitários.
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3.4 Realização de trabalhos de pesquisa
Com os trabalhos de pesquisas apresentados pelos alunos foi possível
observar a importância de aliar teoria e prática. A aplicação do projeto junto aos
alunos, tendo como foco os Problemas Ambientais relacionados aos conteúdos
específicos trabalhados em sala de aula e avaliados no decorrer do semestre,
demonstrou que a inserção de temas ambientais nos conteúdos curriculares é
viável, apesar das dificuldades que esta iniciativa comporta.
Pelas conclusões dos trabalhos foi possível observar que grande parte
dos alunos compreenderam as questões fundamentais trabalhadas.
Perceberam, sobretudo, a importância da busca pelo desenvolvimento
sustentável aliado ao equilíbrio demográfico e ao processo de urbanização.
3.5 Aula de campo
A aula de campo consistiu em uma visita à Unidade de Valorização de
Recicláveis em Campo Magro – Museu do lixo, cujo papel foi complementar às
atividades até então trabalhadas. Parte da teoria estudada em sala de aula foi
demonstrada na prática durante a visita à Unidade, pois os alunos puderam
observar os inúmeros benefícios concretos que o ato de reciclar o lixo que eles
mesmos produzem pode oferecer.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De modo geral, as atividades da EA desenvolvidas neste projeto, tiveram
como foco, sensibilizar os alunos para a temática ambiental, levando-os a uma
análise crítica dos processos geradores do lixo e seus agravantes ao meio
ambiente, bem como os impactos ambientais causados pela cadeia produtiva
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de bens de consumo. Ainda dentro deste contexto, estudou-se a aplicação da
pedagogia dos três R´s no cotidiano das pessoas como processo vital para a
sustentabilidade do planeta.
Praticamente todo o cronograma de atividades proposto para o
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) 2010/2012 foi cumprido
conforme o planejado, mas, embora não tenha ocorrido nenhuma mudança
significativa, algumas pequenas alterações foram necessárias em virtude de
adequações do cronograma escolar, bem como algumas outras situações.
Em termos gerais, podemos afirmar que a experiência com a aplicação
do projeto através das abordagens textuais e audiovisuais articuladas com um
conjunto didaticamente sequencial de outras atividades, foi positiva. As
reflexões que as atividades realizadas provocaram elevou o nível de
compreensão dos alunos sobre o processo de geração e descarte de lixo em
nossa sociedade consumista, bem como suas responsabilidades com o meio
onde habitam. Passaram a se colocar, então, como agentes transformadores
dessa situação.
No decorrer da aplicação deste projeto observamos que são inúmeras
as maneiras de se trabalhar a EA dentro do contexto escolar, podendo ser
abordado pelas várias disciplinas, individualmente ou interdisciplinarmente,
independente da forma, o fundamental é que sejam trabalhadas. Pois, é
urgente percebermos que a temática ambiental envolve todas as disciplinas, e
que o contexto escolar é um dos grandes cenários capaz de produzir uma
mudança de mentalidade necessária para que a atitude de reduzir o consumo,
reutilizar e reciclar resíduos sólidos se estabeleça e transcenda para além do
ambiente escolar, uma vez que como educadores e agentes integrantes da
sociedade temos como responsabilidade buscar desenvolver uma geração de
indivíduos mais conscientes e equilibrados em suas ações.
Ter a devida sensibilidade com as limitações ambientais nos nossos
excessos consumistas é sem sombra de dúvidas uma conquista de todos, pois
a união é a força para reverter os desmandos socioeconômicos vigentes no
planeta.
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