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MAPEAMENTO DE RISCOS EM ENCOSTAS E MARGENS DE RIOS

PRESIDENTE DA REPBLICA Lus Incio Lula da Silva MINISTRO DAS CIDADES Marcio Fortes de Almeida SECRETRIO NACIONAL DE PROGRAMAS URBANOS SUBSTITUTO Benny Schasberg DIRETOR DE ASSUNTOS FUNDIRIOS URBANOS Celso Santos Carvalho REALIZAO, COORDENAO E FINANCIAMENTO Secretaria Nacional de Programas Urbanos - SNPU ELABORAO Instituto de Pesquisas Tecnolgicas - IPT COORDENAO GERAL E REVISO DE CONTEDO Celso Santos Carvalho Frederico do Monte Seabra Leonardo de Almeida Ferreira Thiago Galvo ORGANIZAO Agostinho Tadashi Ogura Celso Santos Carvalho Eduardo Soares de Macedo COLABORADORES Fernando Rocha Nogueira Margareth Mascarenhas Alheiros Leandro Eugnio da Silva Cerri

EQUIPE MINISTRIO DAS CIDADES Adriana de Melo Alves Antonio Menezes Jnior Celso santos Carvalho Deborah Lyra Marques da Silva Denise de Campos Gouva Felipe Vilarinho e Silva Frederico do Monte Seabra Gleisson Mateus Souza Jorge Lucien Mnchen Martins Leonardo Augusto Rodrigues Barros Leonardo de Almeida Ferreira Marta Wendel Abramo Roberta Pereira da Silva Sandra Bernardes Ribeiro Thiago Galvo EQUIPE INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLGICAS - IPT Agostinho Tadashi Ogura Alessandra Cristina Corsi Cludio Benedito Baptista Leite Eduardo Soares de Macedo Fabiana Checchinato Silva Fabrcio Arajo Mirandola Gerson Salviano de Almeida Filho Ktia Canil Marcelo Fischer Gramani Samuel Sussumu Agena Mara Rosa Avelino Pinto Scarance Nabil Alameddine Nestor Kenji Airton Marambaia Santa Luis Celso Coutinho da Silva PROJETO GRFICO E EDITORAAO Cris Fernandes CAPA Ricardo Luis Neves Cardoso Juliana de Castro Faria

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FICHA CATALOGRFICABrasil. Ministrio das Cidades / Instituto de Pesquisas Tecnolgicas IPT Mapeamento de Riscos em Encostas e Margem de Rios / Celso Santos Carvalho, Eduardo Soares de Macedo e Agostinho Tadashi Ogura, organizadores Braslia: Ministrio das Cidades; Instituto de Pesquisas Tecnolgicas IPT, 2007 176 p. ISBN 978-85-60133-81-9 1.Mapeamento. 2. Gerenciamento de Riscos. 3. Deslizamentos de Encostas. I.Ttulo. II. Carvalho, Celso Santos. III. Macedo, Eduardo Soares de. CDU 551.577.6

Uma pesquisa realizada pela Fundao Joo Pinheiro em 2005 apontou um dficit habitacional de 7.902.699 no Brasil. Isso reflete o atual quadro de excluso social quanto ao direito de moradia, tendo como pano de fundo o processo desordenado histrico de urbanizao no Pas. A ausncia ou m aplicao de uma poltica de habitao e de desenvolvimento urbano levou boa parte da populao a ocupar reas ambientalmente frgeis, especialmente em margens de rios e encostas. Em regies marcadas por perodos chuvosos mais severos, tais ocupaes, caracterizadas por baixo construtivo e pela ausncia de infra-estrutura urbana, tornam-se extremamente vulnerveis a eventos como os deslizamentos de encostas e inundaes que, por sua vez, implicam acidentes envolvendo danos materiais e perdas humanas. Ciente de sua responsabilidade na promoo do desenvolvimento urbano, o Ministrio das Cidades tem apoiado dentre outros, os municpios mais atingidos por deslizamentos de encostas, visto que apresentam maior registro de vitimas, embora as inundaes causem maiores danos materiais. A nossa atuao tem se voltado principalmente para as aes de planejamento e de capacitao tcnica para que as equipes tcnicas tenham condies de, a partir do reconhecimento e dimenso do problema, montar um sistema municipal de gerenciamento de riscos, articulado e integrado com as polticas de habitao, saneamento e defesa civil. Neste cenrio que apresentamos o Material de Treinamento de Equipes Municipais para o Mapeamento de Riscos de Deslizamentos de Encostas e Solapamentos de Margens aos tcnicos dos municpios brasileiros sujeitos a

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riscos, a fim de identificarem e hierarquizarem suas reas de riscos a partir de uma linguagem comum e unificada. Nosso intuito de que esta publicao se transforme em um material de referncia para todos os municpios que sofrem de forma recorrente com esses problemas a cada perodo de chuvas e, assim, possam reduzir suas vulnerabilidades e o risco de ocorrncia de novos acidentes.

Marcio Fortes de Almeida MINISTRO DAS CIDADES

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APRESENTAOConsiderando que diversas cidades brasileiras possuem reas de risco de deslizamentos de encostas, enchentes e inundaes, o Ministrio das Cidades tem como um dos seus principais objetivos o combate excluso territorial e degradao ambiental das cidades brasileiras, o que, por sua vez, pressupe uma atuao decisiva na poltica de preveno de desastres scio-ambientais. Um sistema de gerenciamento de reas de risco implica, em primeiro lugar, no conhecimento do problema por meio do mapeamento dos riscos, sendo que essas reas caracterizadas em seus diferentes nveis de risco, hierarquizadas para o estabelecimento de medidas preventivas e/ou corretivas, e administradas por meio de aes de controle de uso e ocupao do solo. Para que as equipes municipais desenvolvam seus trabalhos com a melhor qualidade possvel, se faz necessrio o seu treinamento. Essa ao deve permitir a formao ou atualizao do conhecimento de profissionais para que esses possam atuar como agentes multiplicadores dos conhecimentos tcnicos e dos mtodos empregados. com base nesse principio que o Ministrio das Cidades props, a partir da experincia de instituies que trabalham com o tema, a elaborao de um material de treinamento para o gerenciamento de reas de risco com nfase no mapeamento de risco de deslizamentos, enchentes e inundaes. Com isso pretende-se unificar, em mbito nacional, um mtodo de mapeamento que apresente menor grau de

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complexidade para a determinao e hierarquizao das reas de riscos, e com baixo custo de execuo, permitindo comparar as mais variadas situaes de risco no Pas, quais sejam as diferenas regionais, auxiliando no dimensionamento do problema. Este Material de Treinamento de Equipes Municipais para o Mapeamento e Gerenciamento de Riscos, concebido e desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo IPT, com recursos do Banco Mundial, objetiva fortalecer a gesto urbana nas reas sujeitas a riscos de deslizamentos, enchentes e inundaes, investindo na capacitao de tcnicos municipais para elaborarem, de forma autnoma, o diagnstico das reas de risco e a montagem de um sistema municipal de gerenciamento de riscos que contemple a participao ativa das comunidades. 6

Benny Schasberg SECRETRIO NACIONAL DE PROGRAMAS URBANOS SUBSTITUTO

SUMRIOIntroduo ........................................................................... 09 Captulo 1: Captulo 2: Captulo 3: Captulo 4: Introduo ao Gerenciamento de reas de Risco ......................................... 13 Conceitos bsicos de risco e de reas de risco ............................................... 23 Identificao, anlise e mapeamento de reas de risco de escorregamentos ............. 27 Apresentao de roteiro metodolgico para anlise de risco e mapeamento de reas de risco em setores de encosta e de baixada .................................... 49 Identificao, anlise e mapeamento de reas de risco de enchentes e inundaes ... 87 Noes de sistema de informaes geogrficas como ferramenta na gesto municipal .........113 Gerenciamento de reas de Risco: Medidas Estruturais e No-Estruturais ....... 123 Plano Preventivo de Defesa Civil PPDC ... 141 Introduo ao treinamento de campo em rea de risco previamente escolhida com aplicao do roteiro metodolgico e montagem do PPDC .......... 157 7

Captulo 5: Captulo 6: Captulo 7: Captulo 8: Captulo 9:

Bibliografia ........................................................................ 161 Anexo I .............................................................................. 165 Anexo II ............................................................................ 169

INTRODUOO processo de urbanizao brasileiro, caracterizado pela apropriao pelo mercado imobilirio das melhores reas das cidades e pela ausncia, quase que completa, de reas urbanizadas destinadas moradia popular, levou a populao mais pobre a buscar resolver seu problema de moradia ocupando reas vazias desprezadas pelo mercado. Neste processo, reas ambientalmente frgeis, como margens de rios, mangues e encostas ngremes desocupadas, foram ocupadas de forma precria. A precariedade da ocupao (representada por aterros instveis, taludes de corte em encostas ngremes, palafitas, ausncia de redes de abastecimento de gua e coleta de esgoto), aumenta a vulnerabilidade das reas j naturalmente frgeis, fazendo com que surjam setores de alto risco que, por ocasio dos perodos chuvosos mais intensos, tm sido palco de graves acidentes. De fato, apesar da possibilidade de ocorrncia de escorregamentos atingir todas as reas de maior declividade das cidades, inegvel que os acidentes so maiores e mais freqentes nas favelas, loteamentos irregulares e demais formas de assentamentos precrios que abrigam a populao de baixa renda. Um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo IPT indica a ocorrncia de acidentes relacionados com deslizamentos de encostas em cerca de 150 municpios brasileiros, localizados principalmente nos estados de SP, RJ, MG, PE, BA, ES e SC.

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Nesses municpios, a gravidade do problema torna necessrio incluir, no rol das polticas de desenvolvimento urbano, uma componente especfica de gerenciamento de risco associada aos programas de urbanizao de assentamentos precrios. O Governo Federal, por meio da Secretaria Nacional de Programas Urbanos do Ministrio das Cidades, inseriu no Programa de Urbanizao, Regularizao e Integrao de Assentamentos Precrios, uma ao especfica de Preveno e Erradicao de Riscos em Assentamentos Precrios. Esta Ao, indita na rea de polticas nacionais de desenvolvimento urbano, composta por trs grandes atividades: (a) apoio para elaborao de planos municipais de reduo de riscos e projetos de obras de estabilizao de encostas; (b) capacitao de equipes municipais para a elaborao de mapas de risco e a concepo de programas preventivos de gerenciamento de risco; e (c) difuso de polticas preventivas de gesto de risco e intercmbio de experincias municipais.

Municpios com registro de mortes ocorridas por escorregamentos de 1988 a 2007. Fonte: Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do ESP IPT.

A presente publicao faz parte desse conjunto de aes e consiste no material didtico bsico para treinamento de equipes municipais encarregadas do mapeamento de risco e da implementao de medidas de segurana nas reas de risco. Apresenta um mtodo de anlise de risco adaptado realidade das cidades brasileiras, de baixo custo de execuo e que permite comparar as situaes de risco nas diversas regies do Pas e, dessa forma, dimensionar o problema em escala nacional. Concebido e elaborado pelo Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo em 2004, a pedido do Ministrio das Cidades, este material de treinamento tem sido utilizado em mais de 60 municpios para elaborao dos planos municipais de reduo de riscos, servindo de base tambm para todos os cursos de capacitao promovidos pelo Ministrio das Cidades para tcnicos municipais nos estados de Santa Catarina, So Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Pernambuco. A presente publicao apresenta, nos captulos iniciais, conceituaes bsicas sobre risco e gesto, enquanto os seguintes referem-se aos mtodos de identificao, anlise e avaliao de reas de risco. dada ateno tambm s ferramentas tecnolgicas como instrumento de apoio ao gerenciamento de riscos e aos planos preventivos de defesa civil.

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CAPTULO 1

INTRODUO AO GERENCIAMENTO DE REAS DE RISCO

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CAPTULO 1INTRODUO AO GERENCIAMENTO DE REAS DE RISCO

CENRIO POLTICO E SOCIALAtualmente, o aumento do nmero de pessoas vivendo em reas de risco de deslizamentos, enchentes e inundaes tem sido uma das caractersticas negativas do processo de urbanizao e crescimento das cidades brasileiras, o que se verifica, principalmente, nas regies metropolitanas. Fatores econmicos, polticos, sociais e culturais contribuem para o avano e a perpetuao desse quadro indesejvel. Em linhas gerais o problema das reas de risco de deslizamentos, enchentes e inundaes nas cidades brasileiras pode ser sintetizado nos itens abaixo: Crise econmica e social com soluo a longo prazo; Poltica habitacional para baixa renda historicamente ineficiente; Ineficcia dos sistemas de controle do uso e ocupao do solo; Inexistncia de legislao adequada para as reas suscetveis aos riscos mencionados; Inexistncia de apoio tcnico para as populaes; Cultura popular de morar no plano.

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Alternativas TcnicasAs aes para o controle dos riscos geolgicos e hidrolgicos e a preveno de acidentes podem ser aplicadas a partir de trs enfoques distintos, simultaneamente ou no, conforme observado a seguir: Eliminar/reduzir o risco Agindo sobre o processo Agindo sobre a conseqncia Evitar a formao de reas de risco Controle efetivo do uso do solo Conviver com os problemas Planos Preventivos de Defesa Civil 16 A primeira ao tem como objetivo, eliminar ou reduzir o risco agindo sobre o prprio processo - por meio da implantao de medidas estruturais, ou sobre a conseqncia - removendo os moradores das reas de risco. A segunda ao visa, evitar a formao e o crescimento de reas de risco aplicando um controle efetivo da forma de uso e ocupao do solo, por meio de fiscalizao e de diretrizes tcnicas que possibilitem a ocupao adequada e segura de reas suscetveis a riscos geolgicos e hidrolgicos. A terceira ao objetiva a convivncia com os riscos geolgicos presentes por meio da elaborao e operao de planos preventivos de defesa civil, envolvendo um conjunto de aes coordenadas que buscam reduzir a possibilidade de ocorrncia de perda de vidas humanas, visando um convvio com as situaes de risco dentro de nveis razoveis de segurana.

Perguntas BsicasO gerenciamento de reas urbanas com risco de deslizamentos, enchentes e inundaes tem como base quatro questes, a partir das quais o trabalho desenvolvido. A primeira questo relativa ao tipo de processo a ser mapeado/identificado. Deve-se definir quais so os processos presentes e como eles ocorrem, identificando quais so seus condicionantes naturais e/ou antrpicos. Definidos os processos, o mapeamento identificar onde estes ocorrem e, por meio de estudos de correlao e monitoramento, sero definidos os momentos de maior probabilidade de deflagrao do processo. Sabendo o tipo de processo, como, onde e quando ele poder ocorrer, sero definidas as medidas a serem tomadas, sejam de carter estrutural ou no-estrutural e quem ser o responsvel por elas. Em linhas gerais o quadro abaixo sintetiza as cinco perguntas bsicas:

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1. O que e como ocorre? Identificao da Tipologia dos Processos. 2. Onde ocorrem os problemas? Mapeamento das reas de risco. 3. Quando ocorrem os problemas? Correlao com condies hidrometeorolgicas adversas, Monitoramento. 4. Que fazer? Medidas Estruturais e No-Estruturais. 5. Quem ira fazer? Responsveis pela implementao das medidas.

FundamentosNo gerenciamento de reas com risco de deslizamentos, enchentes e inundaes, existem dois fundamentos principais. O primeiro fundamento a Previso, que possibilita a identificao das reas de risco e indica os locais onde podero ocorrer acidentes (definio espacial = ONDE), estabelecendo as condies e as circunstncias para a ocorrncia dos processos (definio temporal = QUANDO). O segundo a Preveno, que fornece a possibilidade de adotar medidas preventivas, visando impedir a ocorrncia dos processos ou a reduo das magnitudes, minimizando os impactos e agindo diretamente sobre edificaes e/ou a prpria populao.

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MODELO DE ABORDAGEM DA ONUNo ano de 1991, a UNDRO (Agncia de Coordenao das Naes Unidas para o Socorro em Desastres) elaborou um modelo de abordagem para o enfrentamento de acidentes naturais, baseando-se em duas atividades: preveno e preparao. As atividades de preveno esto relacionadas a estudos de natureza tcnico-cientfica, na definio da magnitude de um desastre e no estabelecimento das medidas que possibilitem a proteo da populao e de seus bens materiais. Tais atividades compreendem os estudos da fenomenologia dos processos, da anlise de risco e a formulao de mtodos, tcnicas e aes de preveno de desastres.

As atividades de preparao tm carter logstico, auxiliando no enfrentamento de situaes de emergncia ligadas, principalmente, aos trabalhos de defesa civil. Nesta fase so indicadas quais populaes devem ser evacuadas e/ou protegidas quando localizadas em reas de muito alto risco ou logo aps a ocorrncia do processo. De acordo com este modelo, os programas de Mitigao de Desastres da UNDRO incluem a seguinte seqncia de aes de preveno e preparao: Eliminar/reduzir o risco Identificao dos riscos Anlise dos riscos Medidas de preveno Planejamento para situaes de emergncia Informaes pblicas e treinamento

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A seguir so descritas cada uma das aes relacionadas a estas atividades, discutindo-se, em linhas gerais, algumas prticas de atuao em relao s reas de risco de deslizamentos, enchentes e inundaes.

Identificao dos RiscosEsta ao se refere aos trabalhos de reconhecimento de ameaas ou perigos e da identificao das respectivas reas de risco. Para cada tipo de ameaa, deve-se entender os fatores condicionantes, os agentes deflagradores e os elementos sob risco. Os trabalhos de identificao apresentamse, geralmente, sob a forma de mapas de identificao espacial das reas de risco. Estudos de retro-anlise de acidentes

associados aos diferentes tipos de processos passveis de ocorrer em uma dada localidade, so um dos mtodos aplicados na identificao dos riscos para o reconhecimento prvio do problema. Desta forma, a identificao de riscos envolve:

Eliminar/reduzir o risco Estudos fenomenolgicos dos processos; Pr-setorizao das reas.

Anlise de RiscosA anlise de riscos inicia-se a partir dos resultados gerados pela identificao dos riscos, objetivando reconhecer mais detalhadamente o cenrio presente num determinado espao fsico, de acordo com os diferentes tipos de processos previamente reconhecidos. Esse tipo de anlise pode ser realizado, tanto para uma rea restrita, quanto para um conjunto de reas, envolvendo: Zoneamento ou setorizao das reas; Quantificao relativa e/ou absoluta do risco; Cadastramento de risco; Carta de risco; Hierarquizao de risco; Avaliao de possveis cenrios de acidentes. Estes estudos possibilitam o melhor reconhecimento do grau de risco efetivo em cada rea, o que possibilita a

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definio de medidas mais adequadas de preveno de acidentes.

Medidas de Preveno de AcidentesA partir dos dados obtidos nos estudos de anlise de risco so realizadas atividades para o gerenciamento das reas de risco, o que compreende a definio, formulao e execuo de medidas estruturais e no estruturais mais adequadas ou factveis de serem executadas a curto, mdio e longo prazos, no sentido de reduzir o risco de acidentes. Os produtos obtidos nos estudos de anlise de risco permitem a formulao de um plano de preveno de acidentes. Este plano deve priorizar a aplicao de medidas de preveno nas reas que apresentam os cenrios de risco mais crticos, considerando as avaliaes de custo/benefcio para as medidas passveis de serem implantadas. Estas medidas podem ser estruturais ou no estruturais, as quais so detalhadas no captulo 6: Gerenciamento de reas de Risco Medidas Estruturais e No-Estruturais.

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Planejamento para Situaes de EmergnciaNo caso dos desastres naturais, os acidentes podem acontecer mesmo que diversas aes estruturais e no estruturais de preveno sejam executadas. Para poder enfrentar condies potencialmente adversas, h que se planejar aes logsticas para o atendimento das emergncias. O planejamento para situaes de emergncia trata, principalmente, da determinao de como uma dada populao em uma rea de risco deve ser preventivamente evacuada ou protegida quando o risco muito alto. Dentre os trabalhos a serem realizados, constam:

Determinao da fenomenologia preliminar, causas, evoluo, rea de impacto; Delimitao da rea de risco para remoo da populao; Abrigo da populao; Orientao do resgate; Obras emergenciais; Sistema de monitoramento da rea; Recomendaes para o retorno da populao.

Informaes Pblicas e TreinamentoA existncia de um sistema educativo eficaz, que gere e difunda uma cultura de preveno, o melhor instrumento para reduzir os desastres. Esse sistema deve abranger todos os nveis de ensino, com a incluso de conhecimentos e experincias locais e solues pragmticas, com o intuito de serem colocadas em prtica pela prpria populao. Devem ser elaborados e organizados cursos, oficinas, palestras, manuais, livros e cartilhas que possibilitem a capacitao de equipes locais e da populao. Com o mesmo propsito, deve ser incentivada a utilizao dos meios massivos de informao como rdio, televiso e imprensa escrita. O contedo desses instrumentos deve abranger a identificao dos perigos, vulnerabilidades, medidas de preveno e mitigao, legislao e sistemas de alerta.

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CAPTULO 2

CONCEITOS BSICOS DE RISCO E DE REAS DE RISCO

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CAPTULO 2CONCEITOS BSICOS DE RISCO E DE REAS DE RISCOEmbora as ltimas dcadas tenham assistido a um crescente avano tcnico-cientfico em relao rea de conhecimentos sobre riscos naturais, a terminologia usualmente empregada pelos profissionais que atuam com o tema ainda encontra algumas variaes e divergncias em sua definio. Termos como evento, acidente, desastre, perigo, ameaa, suscetibilidade, vulnerabilidade, risco e o muito discutido hazard, ainda no encontraram definies unnimes entre os seus usurios. Surge ento a necessidade em se homogeneizar o entendimento das equipes tcnicas, por meio das seguintes e definies dos termos mais utilizados: EVENTO Fenmeno com caractersticas, dimenses e localizao geogrfica registrada no tempo, sem causar danos econmicos e/ou sociais. PERIGO (HAZARD) Condio ou fenmeno com potencial para causar uma conseqncia desagradvel.

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VULNERABILIDADE Grau de perda para um dado elemento, grupo ou comunidade dentro de uma determinada rea passvel de ser afetada por um fenmeno ou processo. SUSCETIBILIDADE Indica a potencialidade de ocorrncia de processos naturais e induzidos em uma dada rea, expressando-se segundo classes de probabilidade de ocorrncia. RISCO Relao entre a possibilidade de ocorrncia de um dado processo ou fenmeno, e a magnitude de danos ou conseqncias sociais e/ou econmicas sobre um dado elemento, grupo ou comunidade. Quanto maior a vulnerabilidade, maior o risco. 26 REA DE RISCO rea passvel de ser atingida por fenmenos ou processos naturais e/ou induzidos que causem efeito adverso. As pessoas que habitam essas reas esto sujeitas a danos integridade fsica, perdas materiais e patrimoniais. Normalmente, no contexto das cidades brasileiras, essas reas correspondem a ncleos habitacionais de baixa renda (assentamentos precrios).

CAPTULO 3

IDENTIFICAO, ANLISE E MAPEAMENTO DE REAS DE RISCO DE DESLIZAMENTOS

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CAPTULO 3IDENTIFICAO, ANLISE E MAPEAMENTODE REAS DE RISCO DE DESLIZAMENTOS

A paisagem de nosso planeta dinmica, sendo caracterizada por uma constante mudana nas suas formas. Parte destas mudanas necessita de milhares de anos para completar seu ciclo, outras ocorrem relativamente rpido, sendo perceptveis na escala de tempo humana. As encostas constituem uma conformao natural do terreno, originadas pela ao de foras externas e internas por meio de agentes geolgicos, climticos, biolgicos e humanos, os quais, atravs dos tempos esculpem a superfcie da Terra.

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ConceitosTaludes Naturais: so definidos como encostas de macios terrosos, rochosos ou mistos, de solo e/ou rocha, de superfcie no horizontal, originados por agentes naturais.

Figura 3.1 Perfil de encosta ou talude natural.

Talude de Corte: definido como um talude, resultante de algum processo de escavao executado pelo homem. Talude de aterro: refere-se aos taludes originados pelo aporte de materiais, tais como, solo, rocha e rejeitos industriais ou de minerao.

Figura 3.2 Perfil de encosta com taludes de corte e aterro.

Elementos geomtricos bsicos do talude30 Inclinao: traduz o ngulo mdio da encosta com o eixo horizontal medido, geralmente, a partir de sua base. (inclinao = ARCTAN (H/L)).

Figura 3.3 Clculo da inclinao de uma encosta.

Declividade: representa o ngulo de inclinao em uma relao percentual entre o desnvel vertical (H) e o comprimento na horizontal (L) da encosta (declividade = H/L X 100).

Figura 3.4 Clculo da declividade.

O quadro abaixo apresenta a relao entre os valores de declividade e inclinao. Ressalta-se que esta relao no proporcional.

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Tabela 3.1 Tabela de converso entre os valores de declividade e inclinao.

O termo genrico escorregamentos ou deslizamentos engloba uma variedade de tipos de movimentos de massa de solos, rochas ou detritos, gerados pela ao da gravidade, em terrenos inclinados, tendo como fator deflagrador principal a infiltrao de gua, principalmente das chuvas. Podem ser induzidos, gerados pelas atividades do homem que modificam as condies naturais do relevo, por meio de cortes para construo de moradias, aterros, lanamento concentrado de guas sobre as vertentes, estradas e outras obras. Por isso, a ocorrncia de deslizamentos resulta

da ocupao inadequada, sendo, portanto, mais comum em zonas com ocupaes precrias de baixa renda. Os deslizamentos podem ser previstos, ou seja, podese conhecer previamente onde, em que condies vo ocorrer e qual ser a sua magnitude. Para cada tipo de deslizamento existem medidas no estruturais e estruturais especficas.

TIPOS DE DESLIZAMENTOSExistem diversas classificaes nacionais e internacionais relacionadas a deslizamentos. Neste texto ser adotada a classificao proposta por Augusto Filho (1992), onde os movimentos de massa relacionados a encostas so agrupados em quatro grandes classes de processos, sendo: Rastejos, Escorregamentos, Quedas e Corridas. 32Tabela 3.2 Classificao de deslizamentos (Augusto Filho, 1992) PROCESSOS CARACTERSTICAS DO MOVIMENTO/ MATERIAL/GEOMETRIA

RASTEJO (CREEP)

ESCORREGAMENTOS (SLIDES)

vrios planos de deslocamento (internos) velocidades muito baixas a baixas (cm/ano) e decrescentes com a profundidade movimentos constantes, sazonais ou intermitentes solo, depsitos, rocha alterada/fraturada geometria indefinida poucos planos de deslocamento (externos) velocidades mdias (m/h) a altas (m/s) pequenos a grandes volumes de material geometria e materiais variveis: PLANARES: solos poucos espessos, solos e rochas com um plano de fraqueza CIRCULARES: solos espessos homogneos e rochas muito fraturadas EM CUNHA: solos e rochas com dois planos de fraqueza

QUEDAS (FALLS)

sem planos de deslocamento movimento tipo queda livre ou em plano inclinado velocidades muito altas (vrios m/s) material rochoso pequenos a mdios volumes geometria varivel: lascas, placas, blocos, etc. ROLAMENTO DE MATACO TOMBAMENTO muitas superfcies de deslocamento (internas e externas massa em movimentao) movimento semelhante ao de um lquido viscoso desenvolvimento ao longo das drenagens

CORRIDAS (FLOWS)

velocidades mdias a altas mobilizao de solo, rocha, detritos e gua grandes volumes de material extenso raio de alcance, mesmo em reas planas

RastejoOs rastejos so movimentos lentos, que envolvem grandes massas de materiais, cujo deslocamento resultante ao longo do tempo mnimo (mm a cm/ano). Esse processo atua sobre os horizontes superficiais do solo, bem como, nos horizontes de transio solo/rocha e at mesmo em rocha, em profundidades maiores. Tambm includo neste grupo o rastejo em solos de alterao (originados no prprio local) ou em corpos de tlus (tipo de solo proveniente de outros locais, transportado para a situao atual por grandes movimentos gravitacionais de massa, apresentando uma disposio catica de solos e blocos de rocha, geralmente, em condies de baixa declividade). Este processo no apresenta uma superfcie de ruptura definida (plano de movimentao), e as evidncias da ocorrncia deste tipo de movimento so trincas observadas

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em toda a extenso do terreno natural, que evoluem vagarosamente, e rvores ou qualquer outro marco fixo, que apresentam inclinaes variadas. Sua principal causa antrpica a execuo de cortes em sua extremidade mdia inferior, o que interfere na sua precria instabilidade.

Figura 3.5 rvores inclinadas e degraus de abatimento indicando processo de rastejo

Figura 3.6 Perfil esquemtico do processo de rastejo.

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Deslizamentos propriamente ditosOs deslizamentos so processos marcantes na evoluo das encostas, caracterizando-se por movimentos rpidos (m/h a m/s), com limites laterais e profundidade bem definidos (superfcie de ruptura). Os volumes instabilizados podem ser facilmente identificados, ou pelo menos inferidos. Podem envolver solo, saprolito, rocha e depsitos. So subdivididos em funo do mecanismo de ruptura, geometria e material que mobilizam. O principal agente deflagrador deste processo so as chuvas. Os ndices pluviomtricos crticos variam de acordo com a regio, sendo menores para os deslizamentos induzidos e maiores para os generalizados. Existem vrios tipos de deslizamentos propriamente ditos: planares ou translacionais, os circulares ou rotacionais,

em cunha e os induzidos. A geometria destes movimentos varia em funo da existncia ou no de estruturas ou planos de fraqueza nos materiais movimentados, que condicionem a formao das superfcies de ruptura. Os deslizamentos planares ou translacionais em solo so processos muito freqentes na dinmica das encostas serranas brasileiras, ocorrendo predominantemente em solos pouco desenvolvidos das vertentes com altas declividades. Sua geometria caracteriza-se por uma pequena espessura e forma retangular estreita (comprimentos bem superiores s larguras). Este tipo de deslizamento tambm pode ocorrer associado a solos saprolticos, saprolitos e rocha, condicionados por um plano de fraqueza desfavorvel estabilidade, relacionado a estruturas geolgicas diversas (foliao, xistosidade, fraturas, falhas, etc.). 35

Figura 3.7 Deslizamentos planares induzidos pela ocupao.

Figura 3.8 Perfil esquemtico dos deslizamentos planares.

Os deslizamentos circulares ou rotacionais possuem superfcies de deslizamento curvas, sendo comum a ocorrncia de uma srie de rupturas combinadas e sucessivas. Esto associadas a aterros, pacotes de solo ou depsitos mais espessos, rochas sedimentares ou cristalinas intensamente fraturadas. Possuem um raio de alcance relativamente menor que os deslizamentos translacionais.

Figura 3.9 Deslizamento circular ou rotacional.

Figura 3.10 Perfil esquemtico do deslizamento circular ou rotacional.

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Os deslizamentos em cunha esto associados a saprolitos e macios rochosos, onde a existncia de dois planos de fraqueza desfavorveis estabilidade condicionam o deslocamento ao longo do eixo de interseco destes planos. Estes processos so mais comuns em taludes de corte ou encostas que sofreram algum processo natural de desconfinamento, como eroso ou deslizamentos pretritos.

Figura 3.11 Deslizamento em cunha ou estruturado.

Figura 3.12 Perfil esquemtico de um deslizamento em cunha ou estruturado.

Os deslizamentos induzidos, ou causados pela ao antrpica, so aqueles cuja deflagrao causada pela execuo de cortes e aterros inadequados, pela concentrao de guas pluviais e servidas, pela retirada da vegetao, etc. Muitas vezes, estes deslizamentos induzidos mobilizam

materiais produzidos pela prpria ocupao, envolvendo massas de solo de dimenses variadas, lixo e entulho. Em geral, a evoluo da instabilizao das encostas acaba por gerar feies que permitem analisar a possibilidade de ruptura. As principais feies de instabilidade, que indicam a iminncia de deslizamentos, so representadas por fendas de trao na superfcie dos terrenos ou pelo aumento de fendas preexistentes, devido ao embarrigamento de estruturas de conteno, pela inclinao de estruturas rgidas, como postes, rvores, etc., pelo surgimento de degraus de abatimento e trincas no terreno e nas moradias.

QuedasOs movimentos do tipo queda so extremamente rpidos (da ordem de m/s) e envolvem blocos e/ou lascas de rocha em movimento de queda livre, instabilizando um volume de rocha relativamente pequeno. A ocorrncia deste processo est condicionado presena de afloramentos rochosos em encostas ngremes, abruptas ou taludes de escavao, tais como, cortes em rocha, frentes de lavra, etc., sendo potencializados pelas amplitudes trmicas, por meio da dilatao e contrao da rocha. As causas bsicas deste processo so a presena de descontinuidades no macio rochoso, que propiciam isolamento de blocos unitrios de rocha; a subpresso por meio do acmulo de gua, descontinuidades ou penetrao de razes. Pode ser acelerado pelas aes antrpicas, como, por exemplo, vibraes provenientes de detonaes de pedreiras prximas. Ressalta-se que as frentes rochosas de pedreiras abandonadas podem resultar em reas de instabilidade decorrentes da presena de blocos instveis remanescentes do processo de explorao.

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Figura 3.14 rea de risco de processos de queda de blocos rochosos.

Figura 3.15 Perfil esquemtico do processo de queda de blocos.

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Alm da queda, existem mais dois processos envolvendo afloramentos rochosos, o tombamento e o rolamento de blocos. O tombamento, tambm conhecido como basculamento, acontece em encostas/taludes ngremes de rocha, com descontinuidades (fraturas, diclases) verticais. Em geral, so movimentos mais lentos que as quedas e ocorrem principalmente em taludes de corte, onde a mudana da geometria acaba desconfinando estas descontinuidades, propiciando o tombamento das paredes do talude.

Figura 3.15 Situao de risco de tombamento de bloco rochoso.

O rolamento de blocos, ou rolamento de mataces, um processo comum em reas de rochas granticas, onde existe maior predisposio a origem de mataces de rocha s, isolados e expostos em superfcie. Estes ocorrem naturalmente quando processos erosivos removem o apoio de sua base, condicionando um movimento de rolamento de bloco. A escavao e a retirada do apoio, decorrente da ocupao desordenada de uma encosta, a ao antrpica mais comum no seu desencadeamento.

39Figura 3.16 Situao de risco de rolamento de bloco rochoso. Figura 3.17 Perfil esquemtico de rolamento de bloco rochoso.

Corridas de massaAs corridas de massa so movimentos gravitacionais de massa complexos, ligados a eventos pluviomtricos excepcionais. Ocorrem a partir de deslizamentos nas encostas e mobilizam grandes volumes de material, sendo o seu escoamento ao longo de um ou mais canais de drenagem, tendo comportamento lquido viscoso e alto poder de transporte. Estes fenmenos so mais raros que os deslizamentos, porm podem provocar conseqncias de magnitudes superiores, devido ao seu grande poder destrutivo e extenso raio de alcance, mesmo em reas planas.

As corridas de massa abrangem uma gama variada de denominaes na literatura nacional e internacional (corrida de lama, mud flow, corrida de detritos, corrida de blocos, debris flow, etc.), principalmente em funo de suas velocidades e das caractersticas dos materiais que mobilizam.

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Figura 3.18 Perfil esquemtico de processos do tipo corrida.

Figura 3.19 Acidente associado ao processo do tipo corrida.

CONDICIONANTES E CAUSAS DOS DESLIZAMENTOSOs deslizamentos ocorrem sob a influncia de condicionantes naturais, antrpicos, ou ambos. As causas destes processos devem ser entendidas, a fim de se evitar e controlar deslizamentos similares. Os Condicionantes naturais podem ser separados em dois grupos, o dos agentes predisponentes e o dos agentes efetivos. Os agentes predisponentes so o conjunto das caractersticas intrnsecas do meio fsico natural, podendo ser diferenciados em complexo geolgico-geomorfolgico (comportamento das rochas, perfil e espessura do solo em funo da maior ou menor resistncia da rocha ao intemperismo) e complexo hidrolgico-climtico (relacionado

ao intemperismo fsico-qumico e qumico). A gravidade e a vegetao natural tambm podem estar inclusos nesta categoria. Os agentes efetivos so elementos diretamente responsveis pelo desencadeamento dos movimentos de massa, sendo estes diferenciados em preparatrios (pluviosidade, eroso pela gua e vento, congelamento e degelo, variao de temperatura e umidade, dissoluo qumica, ao de fontes e mananciais, oscilao do nvel de lagos e mars e do lenol fretico, ao de animais e humana, inclusive desflorestamento) e imediatos (chuva intensa, vibraes, fuso do gelo e neves, eroso, terremotos, ondas, vento, ao do homem, etc.). Outros condicionantes naturais de grande importncia so as caractersticas intrnsecas dos macios naturais (rochosos e terrosos), a cobertura vegetal, a ao das guas pluviais (saturao e/ou elevao do lenol fretico, gerao de presses neutras e foras de percolao, distribuio da chuva no tempo), alm dos processos de alterao da rocha e de eroso do material alterado. Com relao aos condicionantes antrpicos, pode se citar como principais agentes deflagradores de deslizamentos a remoo da cobertura vegetal, lanamento e concentrao de guas pluviais e/ou servidas, vazamento na rede de gua e esgoto, presena de fossas, execuo de cortes com alturas e inclinaes acima de limites tecnicamente seguros, execuo deficiente de aterros (compactao, geometria, fundao), execuo de patamares (aterros lanados) com o prprio material de escavao dos cortes, o qual simplesmente lanado sobre o terreno natural, lanamento de lixo nas encostas/taludes, retirada do solo superficial expondo

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horizontes mais suscetveis, deflagrando processos erosivos, bem como elevando o fluxo de gua na massa do solo. Um grande problema presente em reas de assentamentos precrios urbanos a implantao de obras que provocam a obstruo da drenagem natural, levando a saturao do solo e reduo de sua resistncia, o que agravado pelo lanamento de detritos e lixo, e pela ao das chuvas de vero. Raramente um deslizamento pode ser associado a um nico e definitivo fator condicionante, devendo ser observado como o produto de uma cadeia de fatores e efeitos que acabam determinando sua deflagrao. A identificao precisa dos elementos responsveis pela deflagrao dos deslizamentos e dos processos correlatos fundamental para a adoo de medidas corretivas ou preventivas, o que garante maior acerto do ponto de vista tcnico e econmico.

TIPOS DE MAPEAMENTOSDentre os tipos de mapeamentos existentes, trs podem ser destacados, os quais, conjuntamente, resultaro no mapa de risco de uma determinada rea. O primeiro mapa a ser elaborado o mapa de inventrio. Este mapa a base para a elaborao da carta de suscetibilidade e do mapa de risco. So suas caractersticas: distribuio espacial dos eventos; contedo: tipo, tamanho, forma e estado de atividade; informaes de campo, fotos e imagens. Tendo o mapa de inventrio em mos, pode-se iniciar a elaborao do mapa de suscetibilidade. Este muito importante para a elaborao de medidas de preveno e planejamento

do uso e ocupao, pois indica a potencialidade de ocorrncia de processos naturais e induzidos em reas de risco, expressando a suscetibilidade segundo classes de probabilidade de ocorrncia. Apresenta as seguintes caractersticas: baseado no mapa de inventrio; mapas de fatores que influenciam a ocorrncia dos eventos; correlao entre fatores e eventos; classificao de unidades de paisagem em graus de suscetibilidade; Tendo o mapa de inventrio e o de suscetibilidade para se basear, inicia-se a elaborao do mapa de risco. Este mapa preponderar a avaliao de dano potencial ocupao, expresso segundo diferentes graus de risco, resultantes da conjuno da probabilidade de ocorrncia de processos geolgicos naturais ou induzidos, e das conseqncias sociais e econmicas decorrentes. Suas caractersticas principais so: contedo - probabilidade temporal e espacial, tipologia e comportamento do fenmeno; vulnerabilidade dos elementos sob risco; custos dos danos; aplicabilidade temporal limitada. PROPOSTA DE MTODO PARA MAPEAMENTO Os mtodos para mapeamento apresentados a seguir tm por finalidade a identificao e a caracterizao de reas de risco sujeitas a deslizamentos e solapamento de margens, principalmente em assentamentos precrios, com vistas implementao de uma poltica pblica de gerenciamento de riscos.

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O zoneamento compreende a identificao dos processos destrutivos atuantes, a avaliao do risco de ocorrncia de acidentes e a delimitao e distribuio espacial de setores homogneos em relao ao grau de probabilidade de ocorrncia do processo ou mesmo ocorrncia de risco, estabelecendo tantas classes quantas necessrias. Permite individualizar e caracterizar cada um dos setores, fornecendo informaes sobre aos diversos nveis de suscetibilidade ao qual esto submetidos. O cadastramento de risco fornece informaes especficas, como a quantidade de moradias localizadas nos setores de risco, alm de identificar aquelas passveis de uma prvia remoo, constituindo-se em subsdio para aes que necessitem de uma rpida interveno dos rgos responsveis. Possibilita o detalhamento das situaes caso a caso ou, s vezes, por agrupamentos de mesmo grau de probabilidade de ocorrncia do processo ou risco.

Zoneamento pr setorizaoO zoneamento de risco geolgico se inicia com a prsetorizao da rea, utilizando-se a percepo e parmetros bsicos. A percepo est atrelada experincia e vivncia do profissional nos trabalhos de mapeamento. Os parmetros bsicos a serem observados, so os seguintes: Declividade/inclinao; Tipologia dos processos; Posio da ocupao em relao encosta; Qualidade da ocupao (vulnerabilidade). A declividade/inclinao pode variar de acordo com o tipo de solo, rocha, relevo, ou de acordo com as

intervenes antrpicas, como cortes e aterros. Existem valores de referncia para este parmetro, acima dos quais a deflagrao do processo de deslizamento iminente. Como referncias temos: 17 (30%) Lei Lehman (Lei Federal 6766/79), que determina que reas com declividades acima de 30% devem ter sua ocupao condicionada a no existncia de riscos (verificado por laudo geolgico-geotcnico); 20-25 a declividade onde j se iniciam os deslizamentos na Serra do Mar no litoral paulista; Mesmo com as referncias apresentadas, cada rea deve passar por avaliao, principalmente a partir do reconhecimento de deslizamentos j ocorridos. A tipologia do processo, assim como a declividade, est intimamente ligada ao tipo de solo, rocha, relevo da rea e varia de acordo com as intervenes antrpicas, como cortes e aterros. Os tipos mais comuns observados no Brasil so: Deslizamento planar em corte e aterro (sudeste); Deslizamentos na Formao Barreiras (nordeste). Mesmo com as referncias apresentadas, cada rea deve passar por avaliao, principalmente a partir do reconhecimento de deslizamentos j ocorridos. A posio da ocupao em relao encosta indica a possibilidade de queda ou atingimento. As moradias localizadas no alto da encosta apresentam possibilidade de queda e as localizadas na base apresentam possibilidade de atingimento. As moradias localizadas em meia encosta apresentam tanto a possibilidade de queda como atingimento.

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A qualidade da ocupao (vulnerabilidade) outro parmetro importante. Uma ocupao com moradias em madeira apresenta menor resistncia ao impacto da massa escorregada. J as moradias em alvenaria tm maior resistncia ao impacto devido as suas fundaes e paredes mais resistentes. As ocupaes mistas apresentam mdia vulnerabilidade. Em resumo: Madeira Misto Alvenaria

AUMENTO DA VULNERABILIDADE

Zoneamento setorizaoAps a pr-setorizao, iniciam-se os trabalhos de setorizao, realizado com o auxlio de fichas de campo (check list). Alm da ficha que contempla campos para preenchimento sobre a caracterizao do local, sobre a presena de evidncias de movimentao, presena de gua e vegetao, so utilizadas plantas, mapas, ou mesmo guia de ruas para identificao e delimitao correta da rea a ser mapeada. Para se obter melhor representao do local so utilizadas fotografias areas, imagens de satlite e fotografias oblquas de baixa altitude (obtidas a partir de sobrevo por helicptero), onde sero representados os setores identificados. Este trabalho deve ser realizado por uma equipe treinada, que possua um conhecimento mnimo do histrico da rea com relao presena de deslizamentos, a fim de se determinar o grau de probabilidade de ocorrncia do processo ou mesmo do risco dos setores.

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Determinao do grau de probabilidade de ocorrncia do processo ou riscoPrope-se utilizar escala com 4 graus (nveis) de probabilidade de ocorrncia dos processos, com base nas informaes geolgico-geotcnicas. Esta escala ser explicada no Captulo 4: Muito Alto - R4 Alto - R3 Mdio - R2 Baixo ou sem risco - R1Quadro 3.1 - Exemplo de ficha de campo preenchida.MAPEAMENTO DE RISCO Ficha de Campo: SUBPREFEITURA DO CAMPO LIMPO Equipe: Data: Diagnstico do setor (condicionantes e indicadores do processo de instabilizao): Ocorrncia de cicatriz de escorregamento. Trs casas foram afetadas e demolidas pela prefeitura. Talude da margem do crrego. Declividade acentuada 45. Altura de 8m. Descrio do Processo de Instabilizao: (escorregamento de solo / rocha / aterro; naturais / induzidos; materiais mobilizados; solapamento; ao direta da gua, etc): Escorregamento induzido no talude do crrego devido presena de aterro sobre o solo e a drenagem superficial. Tambm houve contribuio do processo de solapamento da margem do crrego. Observaes (incluindo descrio de fotos obtidas no local e coordenadas): rea parcialmente consolidada, faltando a complementao da infra-estrutura. Devem ser realizados servios de limpeza e recuperao da rea com a retirada do entulho e lixo do talude na margem do crrego, e obras de drenagem de superficial que conduza as guas superficiais do alto do talude at o crrego, e retaludamento e estabilizao do canal do crrego. Fotos: FV-CL-2-01; FH-CL-2-01; FC-CL-2-01. Grau de Probabilidade: R3- ALTO X Encosta X Margem de Crrego

REA N 02 (JD. COMERCIAL I) SETOR 1

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CAPTULO 4

APRESENTAO DO ROTEIRO METODOLGICO PARA ANLISE DE RISCO E MAPEAMENTO DE REAS DE RISCO EM SETORES DE ENCOSTA E BAIXADA, COM ENFOQUE EM DESLIZAMENTOS DE SOLO PARTE 1

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CAPTULO 4APRESENTAO DO ROTEIRO METODOLGICO PARA ANLISE DE RISCO E MAPEAMENTO DE REAS DE RISCO EM SETORES DE ENCOSTA E BAIXADA, COM ENFOQUE EM DESLIZAMENTOS DE SOLO PARTE 1

O cadastro de riscos um instrumento utilizado em vistorias em campo que permite determinar a potencialidade de ocorrncia de acidentes, com a identificao das situaes de risco. Para a elaborao de um roteiro de vistoria visando o cadastro de risco em situaes emergenciais, com pblico-alvo formado por no especialistas, devero ser contemplados os parmetros mais importantes para a realizao da avaliao, dentre aqueles listados pelo meio tcnico. Esses parmetros so discutidos em cada passo deste roteiro. A proposta do roteiro de cadastro emergencial de risco de deslizamentos que se segue, dever permitir ao usurio a concluso sobre o grau (nvel) de risco da situao em anlise. Este cadastro proposto para uso de pessoas que no tenham necessariamente formao tcnica em geologia ou engenharia.

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INTRODUO AO ROTEIROO Quadro 4.1 mostra a introduo do roteiro, que dever ser modificada conforme as caractersticas e necessidades de cada local. Todos os passos do roteiro so precedidos por instrues, onde se procura direcionar a anlise da situao, fornecendo alternativas que possam facilitar a tarefa para o usurio.Quadro 4.1 - Introduo ao roteiro de cadastro

ROTEIRO DE CADASTRO EMERGENCIAL DE RISCO DE DESLIZAMENTOSMunicpio Bairro N do cadastro Data: / /

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a) Este roteiro objetiva auxiliar a tomada de deciso sobre as moradias que esto sob risco de deslizamentos. b) Ao final do preenchimento ser possvel se estabelecer o grau (nvel) de risco ao qual est sujeita a moradia. c) O preenchimento deve ser feito passo-a-passo. Para cada passo existem instrues que devem ser lidas com ateno. d) Converse com os moradores das casas e vizinhos. As pessoas tm a tendncia de tentar esconder fatos, pensando nos problemas que uma remoo pode lhes causar. Quando for possvel pergunte para crianas.

1 Passo Dados gerais sobre a moradiaO Quadro 4.2 apresenta o 1 Passo do roteiro de cadastro, onde so levantados os dados gerais sobre a moradia ou grupo de moradias.Quadro 4.2 - Roteiro de cadastro (1 Passo) 1 passo dados gerais sobre a moradia Instrues: Este campo deve ser preenchido com cuidado, pois dever permitir que qualquer pessoa possa chegar (retornar) ao local. Colocar a localizao (endereo) da moradia (usar nome ou nmero da rua, viela, escadaria, ligao de gua ou luz, nomes de vizinhos), nome do morador e as condies de acesso rea, como por exemplo: via de terra, escadaria de cimento, rua asfaltada, boas ou ms condies, etc. Mencionar o tipo de moradia (alvenaria, madeira ou misto (alvenaria e madeira)).

LOCALIZAO: NOME DO MORADOR: CONDIES DE ACESSO AREA: TIPO DE MORADIA: Alvenaria Madeira Misto (alvenaria e madeira)

A necessidade de levantar o tipo de moradia se deve s diferentes resistncias que cada tipo (madeira ou alvenaria) tem com relao ao impacto dos materiais mobilizados pelos deslizamentos. Pressupe-se que casas em alvenaria apresentem maior resistncia que as de madeira. Esse fator pode influenciar a classificao dos graus de risco a que a moradia est submetida.

2 Passo Caracterizao do localEste passo descreve a caracterizao do local da moradia ou grupo de moradias, conforme o Quadro 4.3: Tipo de talude - natural ou corte; Tipo de material - solo, aterro, rocha; Presena de materiais - blocos de rocha e mataces, bananeiras, lixo e entulho; Inclinao da encosta ou corte; Distncia da moradia ao topo ou base dos taludes. Os tipos de talude e de materiais presentes do pistas sobre a tipologia dos processos esperados e dos materiais que podem ser mobilizados. A determinao da inclinao dos terrenos no campo, sem o auxlio de inclinmetros ou bssolas, tem se mostrado um problema que envolve no s pessoal sem formao tcnica, mas tambm tcnicos especializados. Para evitar problemas com essa determinao, j que a inclinao 53

reconhecidamente um dos principais parmetros para a determinao da estabilidade de uma rea, foram desenhadas as vrias situaes considerando como inclinaes-tipo os ngulos de 90, 60, 30, 17 e 10. O ngulo de 17 mencionado na Lei 6766/79 (Lei Lehman) como referncia para os planejadores municipais.Quadro 4.3 - Roteiro de cadastro (2 Passo)

2 Passo Caracterizao do localInstrues: Descrever o terreno onde est a moradia. Marque com um X a condio encontrada. Antes de preencher d um passeio em volta da casa. Olhe com ateno os barrancos (taludes) e suba neles se for necessrio. ( ) Encosta Natural altura _____ m Inclinao (marque com x o desenho que apresenta a condio mais parecida com a situao)

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(

) Talude de corte

altura _____ m Inclinao (marque com x o desenho que apresenta a condio mais parecida com a situao)

Dist. da moradia:____ m da base da encosta/talude

OU_____ m do topo da encosta/talude

(

) Aterro Lanado

altura _____ m Inclinao (marque com x o desenho que apresenta a condio mais parecida com a situao)

(

) Dist. Da moradia: _____ m do topo do aterro

55OU _____ m da base do aterro

(

) Presena de parede rochosa

altura _____ m Inclinao (marque com x o desenho que apresenta a condio mais parecida com a situao)

( (

) Presena de blocos de rocha e mataces ) Presena de lixo/entulho

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A distncia da moradia ao topo ou base de taludes e aterros tambm crucial para a determinao do grau (nvel) de risco a que a moradia est sujeita. Vrias tentativas j foram feitas pelo meio tcnico para tentar determinar qual a distncia que os materiais mobilizados atingem a partir da base do deslizamento. Augusto Filho (2001), em trabalhos na regio da Serra do Mar em Caraguatatuba (SP), estimou que os materiais mobilizados percorreram aproximadamente 70% da altura dos taludes (0,7:1). Para os trabalhos do Plano Preventivo de Defesa Civil, no Estado de So Paulo, tem sido considerada, ao menos em carter provisrio, a largura da faixa de segurana da ordem de uma vez a altura do talude (1:1). A presena de paredes, blocos e mataces rochosos indicam a possibilidade de ocorrncia de um processo diferente do que aqueles para solos. Neste caso, deve ser utilizado o material exposto na Parte 2 deste captulo.

3 Passo guaA gua reconhecidamente o principal agente deflagrador de deslizamentos. A presena da gua pode se dar de diversas formas, como gua das chuvas, guas servidas e esgotos. A origem e destino dessas guas so fatores que devem ser levantados durante os cadastramentos. O Quadro 4.4 mostra os itens referentes ao papel da gua.Quadro 4.4 - Roteiro de Cadastro (3 Passo) 3 Passo gua Instrues: A gua uma das principais causas de deslizamentos. A sua presena pode ocorrer de vrias formas e deve ser sempre observada. Pergunte aos moradores de onde vem a gua (servida) e o que feito dela depois do uso e o que ocorre com as guas das chuvas.

( ) Concentrao de gua de chuva em ( ) Lanamento de gua servida em superfcie (enxurrada) superfcie (a cu aberto ou no quintal). Sistema de drenagem superficial ( ) inexistente ( ) precrio Para onde vai o esgoto? ( (cu aberto) ( ) satisfatrio ) canalizado ( ) lanamento em superfcie ) mangueira ) gua ( ) NO

) fossa (

De onde vem a gua para uso na moradia? ( Existe vazamento na tubulao? ( ) SIM (

) Prefeitura ( ) esgoto (

Minas dgua no barranco (talude) ( ) no p ( ) no meio ( ) topo do talude ou aterro

4 Passo Vegetao no talude ou proximidadesO papel da vegetao na estabilidade das encostas j foi objeto de vrios trabalhos. Gusmo Filho et al. (1997) mostraram, nas encostas do Recife, que as reas com cobertura vegetal menor que 30%, tiveram 46% dos deslizamentos registrados. No entanto, nem toda vegetao traz acrscimo de estabilidade para as encostas. Discute-se, e largamente aceito, que as bananeiras so prejudiciais estabilidade, por facilitar a infiltrao de gua. Paradoxalmente, a bananeira o cultivo preferencial das populaes que ocupam encostas, seja para a produo destinada venda, seja como fonte de alimento. Outra caracterstica da vegetao que pode ser prejudicial a resistncia em relao ao vento, pois existe a possibilidade de galhos se quebrarem e atingir as moradias. O quadro 4.5 mostra as informaes que devem ser coletadas durante o cadastro.Quadro 4.5 - Roteiro de Cadastro (4 Passo). 4 Passo Vegetao no talude ou proximidades Instrues: Dependendo do tipo de vegetao, ela pode ser boa ou ruim para a segurana da encosta. Anotar a vegetao que se encontra na rea da moradia que est sendo avaliada, principalmente se existir bananeiras.

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( (

) Presena de rvores ) rea desmatada

( (

) Vegetao rasteira (arbustos, capim, etc) ) rea de cultivo de __________________

5 Passo Sinais de Movimentao (Feies de instabilidade)Trata-se do parmetro mais importante para a determinao de maior risco. As feies de instabilidade sero mais teis quanto mais lentos forem os processos. Assim, deslizamentos planares de solo que, segundo Augusto Filho (1992), tem velocidades de metros por segundo a metros por hora, so processos cujo desencadeamento passvel de ser monitorado por meio de seus sinais. Outros autores, como Cerri (1993) e Gusmo Filho et al. (1997), ressaltam a importncia das feies de instabilidade. As feies principais se referem s juntas de alvio, fendas de trao, fraturas de alvio, trincas, e os degraus de abatimento, segundo os diversos autores que trataram do assunto. As trincas podem ocorrer tanto no terreno como nas moradias. Quando ocorrem em construes, interessante o concurso de profissional especializado em patologia de construes, para determinar a causa precisa dessas trincas. Estas duas feies (trincas e degraus de abatimento) podem ser monitoradas por meio de sistemas muito simples (medidas com rgua, selo de gesso) at muito complexos (medidas eletrnicas). Outra feio importante a inclinao de estruturas rgidas como rvores, postes e muros e o embarrigamento de muros e paredes. A inclinao pode ser fruto de um longo rastejo, denotando que a rea tem movimentao antiga. interessante a avaliao da inclinao de rvores. Quando o

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tronco for reto e estiver inclinado demonstra que o movimento posterior ao crescimento da rvore. J quando o tronco for torto e inclinado, o crescimento simultneo com o movimento. A presena de cicatriz de deslizamento prxima moradia leva-nos a supor que taludes em situao semelhante, tambm podero sofrer instabilizaes. Essa situao deve ser aproveitada para a observao da geometria do deslizamento (inclinao, espessura, altura, distncia percorrida pelo material a partir da base, etc.). Esses parmetros podem auxiliar o reconhecimento de outros locais em condies semelhantes. O Quadro 4.6 ilustra o 5 Passo do roteiro.Quadro 4.6 - Roteiro do cadastro (5 Passo). 5 Passo Sinais de movimentao (Feies de instabilidade) Instrues: Lembre-se que antes de ocorrer um deslizamento, a encosta d sinais que est se movimentando. A observao desses sinais muito importante para a classificao do risco, a retirada preventiva de moradores e a execuo de obras de conteno. Trincas ( ) no terreno ( ( ) postes ( ) na moradia ( ) muros ( ) Degraus de abatimento ) Muros/paredes embarrigados

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Inclinao ( ) rvores (

) Cicatriz de deslizamento prxima moradia

6 Passo Tipos de processos de instabilizao esperados ou ocorridosOs processos de instabilizao podem ser classificados conforme proposto por Augusto Filho (1992). Espera-se que com a caracterizao do local (2 Passo), onde se verifica os tipos de taludes (natural, corte, aterro), presena de parede rochosa, blocos, mataces, lixo e entulho, inclinao dos

taludes e distncia da moradia base e ao topo dos taludes; com a anlise da presena da gua (3 Passo); da vegetao (4 Passo) e dos sinais de movimentao (5 Passo), o usurio responsvel pelo cadastro tenha condies de reconhecer o tipo de processo que pode vir a ocorrer. Nos casos em que o processo j tenha ocorrido, isso se torna mais simples. Nas instrues do roteiro tomou-se o cuidado de indicar a consulta a um especialista caso o tcnico se defronte com situaes que ele julgue muito complicadas.Tabela 4.1 - Classificao de movimentos de massa. (Augusto Filho, 1992) PROCESSOS CARACTERSTICAS DO MOVIMENTO/MATERIAL/ GEOMETRIA ( ) vrios planos de deslocamento (internos) ( ) velocidades muito baixas a baixas (cms/ano) e decrescentes c/ a profundidade ( ) movimentos constantes, sazonais ou intermitentes ( ) solo, depsitos, rocha alterada/fraturada ( ) geometria indefinida ( ( ( ( ESCORREGAMENTOS (SLIDES) ) poucos planos de deslocamento (externos) ) velocidades mdias (m/h) a altas (m/s) ) pequenos a grandes volumes de material ) geometria e materiais variveis: - PLANARES: solos poucos espessos, solos e rochas com um plano de fraqueza - CIRCULARES: solos espessos homogneos e rochas muito fraturadas - EM CUNHA: solos e rochas com dois planos de fraqueza ) sem planos de deslocamento ) movimento tipo queda livre ou em plano inclinado ) velocidades muito altas (vrios m/s) ) material rochoso ) pequenos a mdios volumes ) geometria varivel: lascas, placas, blocos, etc. - ROLAMENTO DE MATACO - TOMBAMENTO

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RASTEJO (CREEP)

QUEDAS (FALLS)

( ( ( ( ( (

CORRIDAS (FLOWS)

( ) muitas superfcies de deslocamento (internas e externas massa em movimentao) ( ) movimento semelhante ao de um lquido viscoso ( ) desenvolvimento ao longo das drenagens ( ) velocidades mdias a altas ( ) mobilizao de solo, rocha, detritos e gua ( ) grandes volumes de material ( ) extenso raio de alcance, mesmo em reas planas

No roteiro so indicados os deslizamentos em taludes natural, de corte e aterro; queda e rolamento de blocos. O quadro 4.7 traz o 6 Passo do roteiro.Quadro 4.7 - Roteiro de cadastro 6 Passo. 6 Passo Tipos de processos de instabilizao esperados ou j ocorridos Instrues: Em funo dos itens anteriores, possvel se prever o tipo de problema que poder ocorrer na rea de anlise. Leve em conta a caracterizao da rea, a gua, a vegetao e as evidncias de movimentao. A maioria dos problemas ocorre com deslizamentos. Existem alguns casos de queda ou rolamento de blocos de rocha que so de difcil observao. Neste caso, encaminhe o problema para um especialista. Deslizamentos ( ) no talude natural ( ) no talude de corte

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(

) no aterro

(

) Queda de blocos

(

) Rolamento de blocos

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7 Passo Determinao do grau de riscoEste o ponto mais importante do roteiro. O nvel de acerto de um usurio no especializado em geologia de engenharia/geotecnia ser testado neste Passo. Os graus de probabilidade de ocorrncia do processo ou risco propostos esto baseados naqueles estabelecidos por documento do Ministrio das Cidades e nos trabalhos realizados na Prefeitura de So Paulo, pelo IPT e Unesp. Para a tomada de deciso em termos dos parmetros analisados nos passos do roteiro, pode-se dizer: Padro construtivo (madeira ou alvenaria): para uma mesma situao a construo em alvenaria deve suportar maior solicitao e, portanto, deve ser colocada em classe de risco inferior moradia de madeira; Tipos de taludes: taludes naturais esto, normalmente, em equilbrio. Taludes de corte e de aterro so mais propensos a instabilizaes; Distncia da moradia ao topo ou base dos taludes: deve ser adotada como referncia uma distncia mnima com relao altura do talude que pode sofrer a movimentao; lembrar que para a Serra do Mar e outras reas em So Paulo, adota-se a relao 1:1; Inclinao dos taludes: os deslizamentos ocorrem a partir de determinadas inclinaes. Por exemplo, na regio da Serra do Mar, em So Paulo, ocorrem a partir de 17 (poucos) e 25/30 (a maioria). Pode-se estabelecer que taludes acima de 17 so passveis de movimentaes e assim relacionar com a Lei 6766/79 (Lei Lehman). Lembrar que as estruturas geolgicas podem condicionar a existncia de taludes muito inclinados e mesmo assim estveis.

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A presena de gua deve ser criteriosamente observada. A existncia de surgncias nos taludes e a infiltrao de gua sobre aterros devem ser tomadas como sinais de maior possibilidade de movimentaes. A chave para a classificao a presena de sinais de movimentao/feies de instabilidade. Essa presena pode ser expressiva e em grande nmero; presente; incipiente ou ausente. O Quadro 4.8 explicita os critrios para a determinao dos graus de risco.Quadro 4.8 Critrios para a determinao dos graus de risco Grau de Probabilidade Descrio

64R1 Baixo ou sem risco

1. os condicionantes geolgico-geotcnicos predisponentes (inclinao, tipo de terreno, etc.) e o nvel de interveno no setor so de baixa ou nenhuma potencialidade para o desenvolvimento de processos de deslizamentos e solapamentos. 2. no se observa(m) sinal/feio/evidncia(s) de instabilidade. No h indcios de desenvolvimento de processos de instabilizao de encostas e de margens de drenagens. 3. mantidas as condies existentes no se espera a ocorrncia de eventos destrutivos no perodo compreendido por uma estao chuvosa normal. 1. os condicionantes geolgico-geotcnicos predisponentes (inclinao, tipo de terreno, etc.) e o nvel de interveno no setor so de mdia potencialidade para o desenvolvimento de processos de deslizamentos e solapamentos. 2. observa-se a presena de algum(s) sinal/feio/ evidncia(s) de instabilidade (encostas e margens de drenagens), porm incipiente(s). Processo de instabilizao em estgio inicial de desenvolvimento. 3. mantidas as condies existentes, reduzida a possibilidade de ocorrncia de eventos destrutivos durante episdios de chuvas intensas e prolongadas, no perodo compreendido por uma esto chuvosa.

R2 Mdio

R3 Alto

1. os condicionantes geolgico-geotcnicos predisponentes (inclinao, tipo de terreno, etc.) e o nvel de interveno no setor so de alta potencialidade para o desenvolvimento de processos de deslizamentos e solapamentos. 2. observa-se a presena de significativo(s) sinal/ feio/ evidncia(s) de instabilidade (trincas no solo, degraus de abatimento em taludes, etc.). Processo de instabilizao em pleno desenvolvimento, ainda sendo possvel monitorar a evoluo do processo. 3. mantidas as condies existentes, perfeitamente possvel a ocorrncia de eventos destrutivos durante episdios de chuvas intensas e prolongadas, no perodo compreendido por uma esto chuvosa.

R4 Muito Alto

1. os condicionantes geolgico-geotcnicos predisponentes (inclinao, tipo de terreno, etc.) e o nvel de interveno no setor so de muito alta potencialidade para o desenvolvimento de processos de deslizamentos e solapamentos. 2. os sinais/feies/evidncias de instabilidade (trincas no solo, degraus de abatimento em taludes, trincas em moradias ou em muros de conteno, rvores ou postes inclinados, cicatrizes de deslizamento, feies erosivas, proximidade da moradia em relao margem de crregos, etc.) so expressivas e esto presentes em grande nmero ou magnitude. Processo de instabilizao em avanado estgio de desenvolvimento. a condio mais crtica, sendo impossvel monitorar a evoluo do processo, dado seu elevado estgio de desenvolvimento. 3. mantidas as condies existentes, muito provvel a ocorrncia de eventos destrutivos durante episdios de chuvas intensas e prolongadas, no perodo compreendido por uma estao chuvosa.

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O Quadro 4.9 traz o 7 Passo do roteiro.Quadro 4.9 - Roteiro de Cadastro (7 Passo). 7 Passo Determinao do grau de risco Instrues: Agora junte tudo o que voc viu: caracterizao do local da moradia, a gua na rea, vegetao, os sinais de movimentao, os tipos de deslizamentos que j ocorreram ou so esperados. Avalie, principalmente usando os sinais, se esta rea est em movimentao ou no e se o deslizamento poder atingir alguma moradia. Utilize a tabela de classificao dos nveis de risco. Caso no haja sinais expressivos, mas a sua observao dos dados mostra que a rea perigosa, coloque alto ou mdio, mas que deve ser observada sempre. Cadastre somente as situaes de risco, marcando tambm as de baixo risco. ( ( ( ) MUITO ALTO - Providncia imediata ) ALTO - Manter local em observao ) MDIO - Manter o local em observao ) BAIXO OU SEM RISCO (pode incluir situaes sem risco)

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(

8 Passo Necessidades de remooEste Passo se refere s informaes que devem ser anotadas quando a situao indicar a necessidade de remover moradores (Quadro 4.10).Quadro 4.10 - Roteiro de cadastro (8 Passo). 8 Passo Necessidade de remoo (para as moradias em risco muito alto) Instrues: Esta uma informao para a Defesa Civil e para o pessoal que trabalha com as remoes. Marque quantas moradias esto em risco e mais ou menos quantas pessoas talvez tenham que ser removidas. N de moradias em risco:______ Estimativa do n de pessoas p/ remoo:______

Outras informaesNeste espao o usurio poder fazer anotaes que julgar importantes, inclusive sobre os processos analisados e situaes especiais verificadas.

DesenhosSo propostos dois desenhos: Planta da situao da moradia ou moradias. Devem ser desenhados os caminhos que levam moradia, lembrando sempre que, normalmente os trabalhos so realizados em reas com pouca ou nenhuma organizao do sistema virio. Assim, uma planta bem ilustrativa facilita muito o retorno ao local. Tudo o que for possvel deve ser anotado no desenho, principalmente fatores importantes para classificao de riscos, como, por exemplo, trincas, degraus, inclinao de estruturas, embarrigamento de muros e paredes e cicatrizes de deslizamentos; Perfil da encosta, onde as alturas e inclinaes de taludes, distncias da moradia base ou ao topo de taludes devem ser marcadas. Os desenhos visam dar equipe de trabalho uma melhor viso da situao, permitindo a discusso, mesmo com quem no participou do cadastro. claro que fotografias, principalmente as digitais por sua rapidez e facilidade de obteno, podem auxiliar nessa visualizao da situao. O quadro 4.10 mostra o espao para desenhos no roteiro.

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Quadro 4.10 - Roteiro de cadastro Desenhos DESENHO 1 PLANTA Instrues: Neste espao faa um desenho de como chegar at a rea. Coloque a casa, os taludes, os sinais de movimentao, rvores grandes, etc. DESENHO 2 PERFIL Instrues: Neste espao faa um desenho com um perfil da rea ou a casa vista de lado, com a distncia e altura do talude e do aterro, posio dos sinais de movimentao, etc.

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Equipe TcnicaA assinatura dos cadastros importante, pois permite saber o seu autor, podendo esclarecer dvidas geradas pelo cadastro. Existe, claro, sempre a possibilidade de responsabilizao por um diagnstico equivocado, que possa ter causado prejuzos materiais ou sociais.

Lembrete importanteEste lembrete foi colocado no roteiro para que ficasse consignado que em caso de dvidas, a equipe de vistoria sem formao tcnica em geologia-geotecnia, tivesse uma sada consultando um tcnico especialista. O quadro 4.11 mostra o lembrete.

Quadro 4.11 - Lembrete colocado ao final do roteiro de cadastro. LEMBRETE IMPORTANTE: Em caso de dvidas encaminhe o problema para um tcnico especialista mais experiente.

ROTEIRO PARA AVALIAO DE ESTABILIDADE DE ROCHAS E MACIOS ROCHOSOS - PARTE 2Para a compreenso do comportamento dos taludes rochosos e blocos rochosos importante conhecer alguns parmetros mecnicos das rochas. Cada tipo de solo ou rocha possui caractersticas fsicas e mecnicas que, correlacionadas com as condies do entorno, podem ser analisadas, visando um estudo de estabilidade. Tipo de rocha A identificao do tipo de rocha nos d informao dos seus constituintes minerais principais e de sua resistncia. Grau de alterao das rochas Fornece diretamente a resistncia mecnica da rocha e, aliado ao conhecimento do tipo de rocha, pode-se estimar a velocidade de evoluo da alterao. ngulo de atrito um parmetro relacionado diretamente com o coeficiente de atrito. Trata-se do ngulo pelo qual ocorre a ruptura do material por cisalhamento. Coeso Fornece caractersticas de ligao das partculas constituintes da rocha, indicativas da resistncia do material. Forma geomtrica dos blocos rochosos Possibilita determinar o centro de gravidade, para analisar se o bloco rochoso se encontra em equilbrio instvel ou esttico (balano). Condies de contato o comportamento do contato entre

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dois planos, podendo estar preenchidos por um terceiro material diferente ou permitindo a percolao de gua. As condies de contato podem definir tambm a condio do deslizamento, estudando-se as condies de rugosidade e inclinao do plano basal. Plano basal Superfcie planar constituda de solo ou rocha, na qual pode ocorrer uma movimentao de materiais rochosos ou terrosos. Descontinuidades So fraturas naturais ou mecnicas (por interveno), seladas ou no (preenchimento de material na fratura aberta).

CONSIDERAES SOBRE OS PROBLEMAS MAIS COMUNS COM INSTABILIDADE DE ROCHAS EM REAS DE RISCO70 As reas de encostas onde afloram blocos e macios rochosos, principalmente no litoral do sudeste brasileiro, tm sido ocupadas por moradias originando diversas situaes de risco. Nestes locais, o intenso intemperismo e as intervenes humanas ao longo do processo de ocupao tm dado origem a grandes afloramentos e exposio de blocos rochosos que se movimentam ao longo do tempo. Os casos mais comuns de instabilidade ocorrem conforme mostram a figura 4.1, na qual os sucessivos cortes na encosta produzidos pelo processo desordenado de ocupao podem causar o afloramento e a instabilizao de mataces inicialmente imersos no solo. A partir da gerao de uma situao potencialmente instvel, a ao posterior de guas pluviais e servidas pode deflagrar processos erosivos e mudanas na condio de estabilidade do bloco rochoso, provocando sua movimentao

ao longo do tempo, at sua ruptura (queda). A figura 4.2 mostra um perfil esquemtico com os processos mais comuns de instabilizao de blocos rochosos e o risco para moradias. A situao se agrava quando o bloco possui descontinuidades (fratura).

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Figura 4.1 - (1) Ocupao de base de encosta; (2) evoluo da ocupao; (3) Execuo de cortes e aterros aflorando blocos rochosos; (4) Instabilizao do bloco rochoso.

Figura 4.2 (1) Alguns exemplos de processos que instabilizam o bloco rochoso e criam uma situao de risco para a moradia; (2) seqncia dos processos de instabilizao at a ruptura de um bloco rochoso fraturado.

Os casos mais comuns de instabilidade em rocha so mostrados esquematicamente na Figura 4.3

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Figura 4.3 Casos comuns no processo de instabilizao

Logo abaixo mostrado por meio do Fluxograma a seqncia ideal a ser adotada, a partir de uma situao encontrada, at a avaliao de risco.Quadro 4.12 - Fluxograma parcial para avaliao de encostas rochosas (Yoshikawa, 1997).

SITUAO A SER ANALISADA CONDIO ESTVEL* Condies topogrcas * Declividade * Descontinuidades * Condies de contato * Tipo de solo associado * Tipo de material rochoso * Presena de gua * Danos associado

CONDIO INSTVEL NO CARACTERIZADA Anlise de 2 ORDEM CONDIO INSTVEL CRTICA

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Anlise de 1 ORDEM

CONDIO ESTVEL

MEDIDAS PREVENTIVAS

* Ensaios expeditos * Anlise da geometria * Elabor. de pers * Topograa expedita * Geologia estrutural * Inuncia dgua * rea de inuncia * Modelo geomecnico

Determinao do Fator de Segurana (FS) Estimativa da Probabilidade de Ruptura

AVALIAO DO RISCO

Anlise de 2 ORDEM*

* A anlise de 3 ORDEM, referem-se a Investigao detalhada visando a elaborao de procedimentos para estabilizao denitiva do problema (ver Yoshikawa, NK, 1997 Fluxograma de Decises - tese de doutorado - EPUSP)

Anlise ps-rupturaNormalmente as anlises so feitas somente aps um acidente, quando o ideal seria a identificao das condies desfavorveis para a tomada de aes de preveno. Na maioria dos casos, quando ocorre a ruptura, a situao remanescente de difcil anlise e geralmente a soluo por conteno exige um alto custo. A investigao de um acidente pressupe identificar se o talude de solo ou de rocha: a) Talude em solo: (superfcie do plano basal em solo) 1. Verificar se h outros blocos na massa terrosa; 2. Verificar se o talude remanescente vertical, inclinado ou negativo; 3. Medir a altura em que encontra o bloco rochoso em relao base; 4. Verificar a forma geomtrica do bloco rochoso; 5. Identificar se o solo de aterro ou solo natural; 5.1 solo residual apresenta estruturas e granulometria homognea; 5.2 solo coluvionar apresenta uma heterogeneidade de gros; 5.3 solo de aterro desagrega facilmente e geralmente apresenta entulhos na massa terrosa. 6. Identificar se h conduo de gua de chuva para o talude, e identificar surgncia dgua; 7. Verificar a direo preferencial de queda do bloco; 8. Interditar as casas na faixa de influncia (faixa de espera); 9. Se a base for uma berma de talude, construir alambrado provisrio para amortecimento; e 10. Verificar se a remoo instabiliza o talude.

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b) Talude em rocha: (superfcie do plano basal em rocha) 1. Classificar se o talude vertical, inclinado ou negativo; 2. Verificar os planos da fratura e se possvel medir os ngulos basais de inclinao e sua direo (acima de 30 graus); 3. Verificar se h percolao de gua pelas fraturas; 4. Determinar o nvel de alterao; 5. Identificar se h intercalaes de rocha mais alteradas; 6. Identificar se h blocos em balano; 6.1 plano basal inclinado, e poro do bloco em contato maior que 80%; 6.2 plano basal subhorizontal a horizontal poro bloco em contato maior que 60%; 6.3 blocos com altura maior que 1,5 vezes a largura de base; 7. Verificar a dimenso do bloco rochoso, ou talude rochoso instvel, pois normalmente o volume envolvido de material fundamental para se ter uma idia do poder de destruio no caso de ruptura, bem como questo de custo e dificuldades associadas a sua remoo ou estabilizao. Como foi citado anteriormente, so quatro os tipos distintos nos quais podem ocorrer as rupturas: 1. Queda de blocos; 2. Queda e rolamento; 3. Deslizamento (escorregamento); e 4. Deslizamento e rolamento. Geralmente a ruptura em rocha, seja qual for a natureza do processo mecnico, ocorrer somente nos casos onde o Fator de Segurana (FS) j se encontra baixo (prximo de 1,0). Em uma anlise, para se garantir que a situao no se encontre nesta condio, conforme Yoshikawa (1997), devido

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s incertezas presentes na avaliao de encostas em rea de risco, deve-se ter como referncia um FS determinado bem acima de 1,0 (em torno de 3,5). O processo de ruptura pode ser somente por queda de blocos, porm, na maioria dos casos, o processo termina com o rolamento nas encostas at encontrar uma barreira suficiente para impedir sua progresso. A queda sempre ocorre por um desequilbrio do corpo rochoso, deflagrado por presena de gua ou movimentos de solo. Pelo fato da rocha encontrar-se com um fator de segurana baixo, este se desequilibra e cai. O deslizamento de rocha deflagrado sempre que as condies de atrito so vencidas por influncia da gua e pela alterao do material de contato. No entanto, na maioria dos casos em que ocorrem estes processos de ruptura, observa-se condies de fraturamento, bem como ngulos de mergulho destes planos desfavorveis s caractersticas do material. A presso neutra provocada pela vazo de gua sempre um fator desencadeador de um processo de ruptura. No caso em que a rocha encontra-se em talude de solo, h que se verificar a forma geomtrica, as condies de drenagem, e se a base do talude vertical ou negativa. No caso de talude em rocha, deve-se verificar primordialmente o ngulo de contato, o tipo de rocha, o grau de alterao e a presena de percolao de gua nas fraturas. Para taludes de rocha mediana a muito alterada, as condies de drenagem so desfavorveis, possibilitando um processo de intemperizao muito rpido. Sendo assim, h que se identificar e barrar a percolao de gua e verificar o ngulo de inclinao do talude, que no poder ultrapassar 45 graus.

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Figura 4.4 Casos tpicos encontrados nos morros do litoral paulista (Yoshikawa, 1997).

A partir da adoo do mtodo de equilbrio limite, onde so contabilizadas as condies favorveis e desfavorveis traduzidas pelo balano de foras na condio de estabilidade presente, pode-se determinar um Fator de Segurana. Para

um estudo detalhado necessria a obteno de dados para o clculo do Fator de Segurana. As figuras 4.5, 4.6 e 4.7 mostram exemplos de alguns levantamentos feitos para tal estudo.

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Figura 4.5 - Levantamento geomtrico modelizado efetuado para uma bloco rochoso (Ilhabela, 2000)

Figura 4.6 - Exemplo de um modelo geomecnico para estudo de estabilidade pelo mtodo do equilbrio limite

FIGURA 4.7 - Blocos rochosos potencialmente instveis.

Exemplo de ilustrao para levantamento geomtrico

Na avaliao expedita, ou de carter emergencial, executa-se o levantamento dos parmetros que em tese, so determinantes para se fazer o balano de foras. Deve-se incluir ainda outros condicionantes geotcnicos considerados importantes baseados em observaes estatsticas de muitos casos. Portanto, empiricamente, atravs de uma ficha de levantamento dos parmetros relevantes, os casos analisados so classificados em estvel ou instvel.

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Avaliao da instabilidadePara o estudo de estabilidade de solo, temos na maioria dos casos, como processo deflagrador da ruptura, a ao das guas. J no caso de rochas, podemos separar em 3 categorias: 1. Bloco rochoso depositado em talude de solo Processo deflagrador: a. Ao das guas (perda de resistncia por saturao, eroso na base, etc,). b. Mudana do estado de tenso no solo (escavaes, progresso da vegetao no talude, etc).

2. Bloco rochoso depositado em talude de rocha Processo deflagrador: a. Ao das guas (alterao diferencial no contato, presso neutra nas fraturas, solicitao mecnica por fluxo dgua). b. Vegetao (abertura de fraturas, reposicionamento dos blocos, solicitao por movimentao de arvores, etc.). 3. Talude rochoso fraturado Processo deflagrador: a. Ao das guas (presso neutra nas fraturas, solicitao mecnica por fluxo dgua, alterao nas descontinuidades, remoo de materiais de preenchimento nos contatos, etc.). b. Vegetao (abertura de fraturas, reposicionamento dos blocos, solicitao por movimentao de rvores, etc.). 80

Grau de instabilidade inerente a cada categoriaConsidera-se que, para cada situao de instabilidade encontrada necessria uma avaliao particular, no entanto, nos casos analisados pelo IPT, considerando-se o plano basal inclinado, observou-se que a instabilidade aumenta quando a rocha est associada a solo. Temos a instabilidade inerente decrescente nas categorias de 1 a 3. Na Categoria 1, quando h contato de rocha com solo, a instabilidade resultante sempre maior do que quando ocorrer contato rocha com rocha.

UTILIZAO DO ROTEIRO SINTETIZADO NUMA FICHA DE AVALIAO DE CAMPOConforme citado anteriormente, todos os conceitos associados a estabilidade de taludes rochosos, tais como,

condies de atrito, grau de fraturamento, alterao, coeso, equilbrio instvel esto previstos como fatores favorveis e/ ou desfavorveis para estabilidade de um bloco rochoso ou de um talude rochoso. Como nos trabalhos emergenciais de campo, as anlises so expeditas. Os estudos realizados visam distinguir basicamente duas condies: Estveis Instveis O grupo de situaes instveis dever ser subdividido em subgrupos, nos quais a tomada de deciso ser de acordo com a situao encontrada aps anlise mais detalhada, a cargo de um profissional habilitado. Adotando-se uma postura conservadora, todos os casos que recarem na condio instvel devero ser considerados de risco quando vislumbrado o potencial de danos.

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Quadro 4.13 - Ficha de preenchimento de campo. CADASTRO E AVALIAO DE RISCO DE ROCHASVISTORIA TCNICA PARA BLOCOS ROCHOSOS EM ENCOSTAS LOCALIZAO: 1. Tipologia TALUDE ROCHOSO A) VERTICAL (80 A 90) B) INCLINADO 2. Localizao dos blocos rochosos A) IMERSO NO SOLO A) FAZ PARTE DO TALUDE EM ROCHA B) DEPOSITADO NO TOPO/FACE DO TALUDE DE SOLO B) DEPOSITADO NO TOPO/FACE DO TALUDE EM ROCHA TALUDE EM SOLO A) VERTICAL (80 A 90) B) INCLINADO Nmero _________ DATA: ____/_____/200___ 1/2

Cadastro ________

3. Condies de contato do(s) bloco(s) rochoso(s) 1. Rocha/Rocha A) INCLINADO 2. Rocha/Solo A) SOLO SECO B) SOLO SATURADO C) EROSO NO CONTATO

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B) CONTATO LISO 4. ngulo do Plano basal (GRAUS) A) 0 - 15 A) 15 - 35

C) MAIOR QUE 35 graus

5. Codies de equilbrio esttico A) 70% EM CONTATO B) > 70% EM CONTATO 6. Condies de alterao do material A) SO B) MUITO ALTERADO A) MDIO A POUCO ALTERADO B) DESAGREGA MANUAL

7. Forma geomtrica A) LASCAS (Extremidades nas) B) LAJES (Larura ou espessura bem menor que o comprimento) C) ARREDONDADOS OU CBICOS

8. Posio

A) REA MAIOR DO BLOCO EM CONTATO B) REA MENOR DO BLOCO EM CONTATO 9. Dimenses (aproximadas)

LARGURA (L) _____________ COMPRIMENTO ___________ ALTURA (A) _______________ A) Menor que 20X20X20 cm B) Maior que 20X20X20 cm

10. Estrutura 1. Talude em Rocha A) 01 famlia de fraturas B) 02 famlias de fraturas B) 03 ou mais famlias 11. Desenho da situao 2. Talude em solo A) Associado a solo natural B) Associado a aterro Observaes: (ex.: caminho dgua)

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Quantidade de A) = Quantidade de B) = Se B A INSTVEL Se B >> A MUITO INSTVEL Se B < A ESTVEL 1. ESTVEL (BA DIF. AT 1) .................................. 3. INTERDITAR E SOLICITAR INSPEO TCNICA .................. (B>>>A) Vistoria efetuada por:

Nome: ________________________________________ Ass _____________________

Avaliao do riscoNo roteiro aqui estabelecido, a caracterizao do risco ser puramente qualitativa, pois no se pretende fazer uma anlise de risco propriamente dita, mas sim, ter uma noo do risco a partir de observaes expeditas no campo, considerando-se o perigo existente, principalmente quanto a localizao e a quantidade de moradias ou edificaes.

Critrio para estabelecimento de riscoNo Quadro 4.14 feito um resumo dos critrios para o estabelecimento do grau de risco e as aes correspondentes. Deve-se enfatizar que para os graus de risco mdio, alto e muito alto, mesmo no ocorrendo indcios de movimentao da encosta ou talude, as moradias e outras reas devero ser interditadas.Quadro 4.14 - Critrio para estabelecimento do grau de risco

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Grau de risco

Condio da rocha obtida na ficha de campo Estvel

Caracterizao do risco Risco baixo ou inexistente

Condicionante

Ao

R1

Sinais de escavao ou outra atividade antrpica J ocorreu a ruptura Remanescente em direo da rea de influncia No ocorreu a ruptura Direo de queda provavelmente na rea de influncia Qualquer atividade de uso e ocupao no entorno.

-

R2

Instvel

Risco Mdio

Alerta Interdio

R3

Instvel

Risco Alto

Alerta Interdio Alerta Interdio

R4

Muito Instvel

Risco Muito Alto

AES EMERGENCIAIS ESTABILIZAO

E

OBRAS

DE

Para aes emergenciais, tendo em vista uma ruptura ocorrida ou a determinao de uma situao muito instvel por meio da ficha de avaliao, pode-se lanar mo de algumas intervenes emergenciais.

Tcnicas de conteno emergenciaisReforo de base com cascalhos ou racho; Impermeabilizao contra guas pluviais na superfcie do talude de solo; Paliadas de madeira com telas de alambrado; Desvio das guas superficiais de cotas superiores com canaletas tipo meia-cana; Suspenso por cabos de ao; Escavao de beros; Desvios de gua por meio de meias-canas.

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Tcnicas de estabilizaoDepois de definida a probabilidade do risco conforme anlise anterior pode se definir o tipo de interveno a ser a adotada, tais como: Muros de arrimo; Atirantamento de blocos; Muros atirantados; Grelhas atirantadas; Contrafortes (Gigantes); Construo de pilares de concreto; Retaludamento do solo; Retaludamento do macio rochoso; e Drenagem por barbacs.

Conforme citado anteriormente, para eliminar o risco, caso o problema esteja restrito a blocos rochosos devidamente identificados como instveis, pode se executar sua remoo ou sua fragmentao em dimenses menores. Os mtodos mais comuns so: Cantaria; Mtodos de desmonte por explosivos convencionais e plsticos; Argamassas ou lamas expansivas; Plvora negra; Boulder buster; e Derrubada por alavancas (manual).

MONITORAMENTO EXPEDITO86 Uma etapa de suma importncia, porm pouco utilizada, a observao contnua de situaes potencialmente instveis, que podero gerar situaes de risco. O processo sistemtico de observao e medio, visando estabelecer o comportamento de uma rocha ou macio rochoso, denomina-se monitoramento ou auscultao quando se utiliza equipamentos de preciso. Recomenda-se a adoo de monitoramento expedito, devido a seu baixo custo e facilidade de operao. Os mtodos de monitoramento expedito mais comuns so: Indicadores de abertura de fraturas com colunas de gesso; Documentao fotogrfica; Medida de deslocamento de blocos com trena; Verificao da movimentao de solo atravs da vegetao, em taludes com blocos imersos; Inspeo de surgncias ou percolaes de gua; e Verificao de trincas ou abatimentos de solo.

CAPTULO 5

IDENTIFICAO, ANLISE E MAPEAMENTO DE REAS DE RISCO DE ENCHENTES E INUNDAES

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CAPTULO 5IDENTIFICAO, ANLISE E MAPEAMENTO DE REAS DE RISCO DE ENCHENTES E INUNDAES

As enchentes e inundaes representam um dos principais tipos de desastres naturais que afligem constantemente diversas comunidades em diferentes partes do planeta, sejam reas rurais ou metropolitanas. Esses fenmenos de natureza hidrometeorolgica fazem parte da dinmica natural e ocorrem freqentemente deflagrados por chuvas rpidas e fortes, chuvas intensas de longa durao, degelo nas montanhas e outros eventos climticos tais como furaces e tornados, sendo intensificados pelas alteraes ambientais e intervenes urbanas produzidas pelo Homem, como a impermeabilizao do solo, retificao dos cursos dgua e reduo no escoamento dos canais devido a obras ou por assoreamento. Boa parte das cidades brasileiras apresenta problemas de enchentes e inundaes, sendo as das regies metropolitanas aquelas que apresentam as situaes de risco mais graves decorrentes do grande nmero de ncleos habitacionais de baixa renda ocupando terrenos marginais de cursos dgua.

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Este tpico visa mostrar aspectos de interesse ao estudo de enchentes e inundaes, com base no entendimento dos diferentes tipos de processos e proposio de medidas de gerenciamento de risco, a partir da identificao e anlise de cenrios de risco que comumente ocorrem em cidades brasileiras.

ASPECTOS CONCEITUAIS EnchenteAs guas de chuva, ao alcanar um curso dgua, causam o aumento na vazo por certo perodo de tempo. Este acrscimo na descarga dgua tem o nome de cheia ou enchente, como observado na figura 5.1 90

Figura 5.1 Situao de enchente em um canal de drenagem.

ENCHENTE ou CHEIA Elevao temporria do nvel dgua em um canal de drenagem devida ao aumento da vazo ou descarga.

InundaoPor vezes, no perodo de enchente, as vazes atingem tal magnitude que podem superar a capacidade de descarga da calha do curso dgua e extravasar para reas marginais habitualmente no ocupadas pelas guas. Este extravasamento caracteriza uma inundao (figura 5.2), e a rea marginal, que periodicamente recebe esses excessos de gua denomina-se plancie de inundao, vrzea ou leito maior.

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Figura 5