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    S P, stmb d 2008

    Bioenergiano Estado dE so Paulo

    Js gdmbFcsc e. B. nS T. Ch

    SiTuao aTual,

    PerSPeCTivaS,BarreiraS e ProPoSTaS

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    Dados Internacionais de Catalogao na PublicaoBiblioteca da Imprensa Ocial do Estado de So Paulo

    Goldemberg, JosBioenergia no estado de So Paulo : situao atual,

    perspectivas, barreiras e propostas / Jos Goldemberg,Francisco E. B. Nigro, Suani T. Coelho So Paulo : ImprensaOcial do Estado de So Paulo, 2008.

    152p. : il.

    Bibliograa.

    Bioenergtica I. Nigro, Francisco E.B. II. Coelho, Suani T.III. Ttulo

    CDD 333.79

    ndice para catlogo sistemtico:

    1. Bioenergtica 333.79

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    CURRCULO DOS AUTORES

    Pro. Jos Goldemberg: sico, doutor em sica pela Universidade de SoPaulo, proessor do Programa Interunidades de Ps-graduao do IEE/USP, pre-sidente do Conselho Consultivo do CENBIO Centro Nacional de Reernciaem Biomassa, ex-Secretrio de Meio Ambiente do Estado de So Paulo, ex-Se-cretrio de Cincia e Tecnologia do Governo Federal, ex-Ministro da Educao,ex-Reitor da USP.

    Pro. Francisco E. B. Nigro: engenheiro mecnico, doutor em engenhariamecnica pela Universidade de Waterloo, Canad, pesquisador do IPT Ins-

    tituto de Pesquisas Tecnolgicas, proessor da EPUSP Escola Politcnica daUSP, atualmente assessor da Secretaria de Desenvolvimento, ex-Diretor Tc-nico do IPT.

    Proa. Suani T. Coelho: engenheira qumica, doutora em energia pela Uni-versidade de So Paulo, proessora do Programa Interunidades de Ps-gradu-ao do IEE/USP, secretria executiva do CENBIO, ex-Secretria Adjunta doMeio Ambiente do Estado de So Paulo.

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    PREFCIO

    O uso do lcool em grande escala como substituto da gasolina no Brasilteve incio quando o presidente Geisel anunciou no dia 9 de outubro de 1975,a criao do Programa Nacional do lcool Pralcool e deniu como metauma mistura obrigatria de 20% de lcool na gasolina que s oi alcanada na-cionalmente em 1983. No Brasil, o lcool produzido da cana-de-acar desdeo sculo 16.

    Quando o Pralcool oi criado, o Brasil produzia somente 160 mil barrisde petrleo por dia, o que representava 20% do consumo do produto no Pas,

    sendo altamente dependente da importao de petrleo, que consumia napoca, cerca de metade dos recursos em dlares das exportaes brasileiras.A crise dos preos do petrleo, elevados signicativamente no inicio da dcadade 1970, considerada como um ator importante na criao do programa,mas no oi o nico. A expanso da agricultura e os interesses da indstria deacar tambm oram importantes na criao do programa, porque os preosdo acar no mercado internacional eram baixos na ocasio.

    O que motivou a criao do Pralcool, portanto, oram razes econ-micas e estratgicas. Consideraes de carter ambiental e social no tiveramum papel signicante na deciso do governo Geisel. A expanso da produodo etanol da cana-de-acar ez com que essas consideraes tivessem umpeso crescente nas preocupaes das autoridades governamentais, sobretudono Estado de So Paulo, de onde mais de 60% de toda a produo nacional deetanol se origina.

    O aspecto mais visvel dos problemas sociais decorrente da colheitamanual da cana que precedida de queimadas. Cerca de 700 mil bias-rias oram envolvidos nesse processo nas dcadas dos anos 1980 e 1990. Asqueimadas se tornaram um srio problema ambiental, bem como os resduosdas destilarias lanados em cursos dgua, sobretudo no Rio Piracicaba, e que

    provocou srios danos ambientais.Com o correr do tempo caram claras as vantagens do uso de canapara a produo de etanol em comparao com o uso do milho como matriaprima, o que eito em grande escala nos Estados Unidos. Na produo delcool do milho nos Estados Unidos as usinas importam energia (quase todaela produzida com carvo) para o processo industrial. No Brasil toda a energianecessria vem do bagao, que at gera excedentes de eletricidade que soexportados para a rede eltrica.

    O que isso signica que, ao usar milho para produzir etanol, o que seaz converter carvo em etanol. J no Brasil, o que ocorre que a luz solar

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    capturada pela cana-de-acar e convertida em lcool. Em outras palavras, o

    etanol brasileiro renovvel, enquanto o etanol do milho no o . O signica-do deste ato para a reduo das emisses de gases do eeito estua muitogrande.

    Com a recente expanso do uso do etanol no mundo como combustvelmais limpo do que a gasolina, a cultura da cana-de-acar no Estado de SoPaulo est crescendo rapidamente. O aumento de produtividade na produode etanol (em litros por hectare) tem sido superior a 3% ao ano nos ltimos30 anos.

    O que o governo do Estado deseja que essa produtividade continue aaumentar e que a expanso seja eita de orma pouco agressiva, tanto do pontode vista social como ambiental. Por isso, incentivou a colheita mecanizada e oreaproveitamento da vinhaa, que h muito no mais lanada nos rios. Almda cana-de-acar, o Estado de So Paulo conta ainda com outros tipos debioenergia, como madeira, biogs e biodiesel, que tambm so relevantes parasua matriz energtica.

    A Comisso de Bioenergia do Estado de So Paulo oi criada para es-tudar a situao atual da produo de bioenergia no Estado, suas perspectivas,barreiras e propostas para remov-las. Fundamentada nos resultados de oitoseminrios tcnicos que contaram com mais de 500 participantes, nos quais

    oram debatidos quatorze termos de reerncia previamente preparados porespecialistas, a Comisso coordenou e recomendou diversas aes, sendo esteo relatrio dos seus trabalhos.

    So Paulo, 1o de setembro de 2008

    Alberto GoldmanVice-Governador e Secretrio de Estado de Desenvolvimento

    Jos GoldembergCoordenador da Comisso Especial de Bioenergia

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    SUMRIO EXECUTIVO

    O Estado de So Paulo lder na produo de bioenergia no Pas. Doponto de vista tecnolgico, a maior parte da pesquisa e desenvolvimento deconhecimento se d nas instituies pblicas e privadas existentes no Estado.Alm disso, So Paulo conta com a quase totalidade das indstrias de bens decapital para a produo de bioenergia.

    Do ponto de vista de capital humano, So Paulo o lder na ormao deprossionais nas reas de cincias agrrias e biolgicas. A agricultura paulista secaracteriza por dispor de cadeias completas e diversicadas.

    O Estado de So Paulo produz 60% do lcool do pas, alm de outrasbiomassas de importncia signicativa, tais como biodiesel, biogs e forestasenergticas, em que a bioenergia representa 30% da oerta total de energia noEstado. tambm relevante destacar a importncia dos aspectos scio-econ-micos relacionados bioenergia, a sua contribuio para a melhoria do meioambiente, bem como a necessidade de planejamento e compatibilizao dasaes de governo necessrias ao seu desenvolvimento.

    Em vista da importncia estratgica da bioenergia para o Estado, oi cria-da a Comisso Especial de Bioenergia do Estado de So Paulo, pelo Decreto no51.736, de 4 de abril de 2007, pelo governador Jos Serra.

    A m de embasar suas recomendaes a Comisso decidiu que seriamelaborados, por dierentes especialistas, 14 Termos de Reerncia (TRs), cadaum sobre uma rea undamental da produo e utilizao da bioenergia, nosquais oram analisadas as barreiras existentes em cada rea e apresentadas pro-postas de polticas pblicas para o Estado de So Paulo suplant-las.

    Todos os relatrios oram amplamente debatidos em reunies realiza-das na Federao das Indstrias do Estado FIESP , no Instituto de PesquisasTecnolgicas - IPT, na Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Pau-lo - FAPESP e nas Secretarias Estaduais de Meio Ambiente e da Agricultura e

    Abastecimento, estando disponveis para consulta dos interessados.O texto aqui apresentado oi extrado em grande parte dos reeridosTRs, porm a responsabilidade do seu contedo nal dos autores deste do-cumento.

    Alm de uma Introduo Geral, este documento constitudo dos se-guintes captulos:

    PanoramaGeraldaBioenergia;CenriosePerspectivasdaEvoluodaBioenergia;PrincipaisBarreiraseDesaosaoDesenvolvimentodaBioenergia;SugestesdePolticasPblicas.

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    Concluses

    UmolharsobreofuturoNo captulo reerente ao Panorama Geral da Bioenergia apresentada

    e discutida a situao atual da bioenergia no Estado de So Paulo, particular-mente nos casos de etanol, biodiesel, forestas energticas e biogs. Alm disso,so abordados os seguintes tpicos especcos pertinentes ao tema: cogeraoe gerao de energia com biomassa e biogs, recursos humanos e relaes de

    trabalho na bioenergia, meio ambiente, tributao, normalizao, logstica e pes-quisa e desenvolvimento.

    Em seguida, no captulo reerente a Cenrios e Perspectivas da Evoluo daBioenergia, o tema analisado enatizando-se os aspectos reerentes a etanol,biodiesel, forestas energticas, cogerao e gerao de energia eltrica a partirde biomassa e biogs, alm de serem apresentadas as perspectivas de evoluodos recursos humanos e relaes de trabalho, de meio ambiente, de tributao,de recursos logsticos, e de pesquisa e desenvolvimento.

    O captulo Principais Barreiras e Desaos ao Desenvolvimento da Bioenergiaaborda os seguintes tpicos:

    MelhoriadaSustentabilidadeSocialeAmbientalnaProduoeUsodaBioenergia;Planejamento e Adequao das Cadeias dos Biocombustveis para

    AtenderExpansodaDemanda;AperfeioamentoeExpansodoMercadoDomsticodeBioenergia;CriaoeDesenvolvimentodoMercadoInternacional;Desenvolvimento e Aplicao deTecnologias para Manuteno da

    Competitividade Nacional.No captulo Sugestes de Polticas Pblicas so analisadas as sugestes

    apontadas nos Termos de Reerncias e nos Seminrios, aps terem sido con-densadas e reordenadas segundo os macrodesaos apontados acima.

    Por ltimo, os captulos Concluses e Um Olhar para o Futuro resumem asaes que j vm sendo e as que sero realizadas.

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    ndICEI INTRODUO GERAL ................................................................................................. 15

    II PANORAMA GERAL DA BIOENERGIA ............................................................. 21

    II.1 Etanol ....................................... ....................................... ....................................... .......... 24II.2 Biodiesel ....................................... ....................................... ....................................... .... 31II.3 Floresta energtica ................................... ....................................... ......................... 35II.4 Cogerao e gerao de energia com biomassa e biogs ............... 39II.5 Recursos humanos e relaes de trabalho na bioenergia ................ 41II.6 Bioenergia e meio ambiente ....................................... ....................................... 46II.7 Tributao no uso de biocombustveis .................................... .................... 49II.8 Normalizao de biocombustveis ....................................... ........................... 52II.9 Logstica de transpor te de biocombustveis ..................................... ........ 56II.10 Pesquisa e desenvolvimento ...................................... ....................................... .. 62

    III CENRIOS E PERSPECTIVAS DA EVOLUO DE BIOENERGIA .. 71

    III.1 Etanol ................................. ....................................... ....................................... ................ 73III.2 Biodiesel ................................. ....................................... ....................................... .......... 84

    III.3 Florestas energticas ....................................... ....................................... ................. 88III.4 Cogerao ................................. ....................................... ....................................... ..... 91III.5 Recursos humanos e relaes de trabalho .................................... ........... 99III.6 Meio ambiente .................................... ....................................... ................................ 102III.7 Tributao ....................................... ....................................... ....................................... 103III.8 Logstica ..................................... ....................................... ....................................... ....... 104III.9 Pesquisa e desenvolvimento ....................................... ...................................... .. 110

    IV PRINCIPAIS BARREIRAS E DESAFIOS AO DESENVOLVIMENTODA BIONERGIA................................................................................................................... 115

    IV.1 Melhoria da sustentabilidade social e ambiental na produoe uso da bioenergia .................................... ....................................... ...................... 115

    IV.2 Planejamento e adequao das cadeias dos biocombustveispara atender expanso da demanda ................................... ...................... 121

    IV.3 Apereioamento e expanso do mercado domstico debioenergia ..................................................................................................................... 126

    IV.4 Criao e desenvolvimento do mercado internacional...................... 127IV.5 Desenvolvimento de tecnologias incrementais e radicais

    para manuteno da competitividade nacional .................................. ..... 131

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    V SUGESTES DE POLTICAS PBLICAS ............................................................ 133

    V.1 Aumentar a sustentabilidade social e ambiental na produoe uso dos biocombustveis no Estado de So Paulo ............................ 133

    V.2 Planejar e adequar a cadeia produtiva para atender expanso da demanda ................................... ....................................... ................. 134

    V.3 Apereioar e expandir o mercado domstico debiocombustveis ......................................................................................................... 134

    V.4 Criar e desenvolver o mercado internacional ..................................... .... 135V.5 Desenvolver tecnologias incrementais e radicais para manter

    a competitividade nacional ..................................... ....................................... ...... 135

    V.6 Coordenar as aes dos atores relacionados com a cadeia ........... 136VI CONCLUSES ....................................... ....................................... ....................................... 137

    VI.1 Meio ambiente .................................. ....................................... .................................. 137VI.2 Agricultura .................................... ....................................... ....................................... .. 138VI.3 Recursos humanos................... ....................................... ....................................... .. 139VI.4 Energia ..................................... ....................................... ....................................... ......... 139VI.5 Pesquisa, desenvolvimento e inovao ................................... ...................... 140VI.6 Transpor tes ...................................... ....................................... ..................................... 140

    VII UM OLhAR SOBRE O FUTURO............................................................................. 141

    VIII REFERNCIAS...................................................................................................................... 143

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    lIsta dE taBElas E FIGuRasTabela 1. Principais produtores, exportadores e importadores de petrleo...... 15Figura 1. Preo anual mdio do petrleo ...................................... ............................... 16Figura 2. Fluxograma da estrutura produtiva da agricultura paulista ............ 18Figura 3. Curva do aprendizado brasileiro na produo de etanol ............... 23Figura 4. Investimento global em energia sustentvel ....................................... ..... 23Figura 5. Evoluo da produo de cana no Estado de So Paulo ................ 27Figura 6. Produo de lcool no Brasil ...................................... ..................................... 27Figura 7. Evoluo da oerta de lcool em So Paulo ...................................... ..... 28Figura 8a. Cana plantada no pas................................. ....................................... .................. 29

    Figura 8b. Localizao das usinas na regio Centro-Sul ..................................... ..... 29Tabela 2. Disponibilidade interna de leos vegetais no Brasil em 2006* ... 33Figura 9. Capacidade instalada de produo de biodiesel em SP-2006

    (m3/ano) ..................................... ....................................... ....................................... .... 34Figura 10. Evoluo das reas de vegetao nativa no Estado de So Paulo . 36Figura 11. Evoluo da cobertura vegetal e do reforestamento no

    Estado de So Paulo ..................................... ....................................... ................. 36Figura 12. Evoluo do consumo nal por energtico .................................. .......... 37Figura 13. Consumo estimado de produtos forestais no Estado de So Paulo 38Figura 14. Produo, demanda e dcit madeireiro no Estado de So Paulo .... 38

    Figura 15. Nmero de empregos gerados por onte de energia ...................... 42Figura 16. Investimentos necessrios para gerao de empregos nosdiversos setores industriais ................................... ....................................... ..... 42

    Figura 17. Contrataes mensais dos cortadores de cana no EstadoSo Paulo ................................. ....................................... ....................................... ...... 43

    Figura 18. Contrataes mensais de dierentes categorias no setorsucroalcooleiro no Estado de So Paulo ...................................... ............ 44

    Tabela 3. Distribuio das ocupaes (%) por grau de instruo nosetor sucroalcooleiro, Estado de So Paulo, 2007 ............................... 45

    Tabela 4. Alquotas de IPI ....................................... ....................................... .......................... 50Figura 19. ICMS sobre combustveis para veculos leves .................................. ...... 51Figura 20. ndice de no-conormidade dos combustveis no Brasil ................ 55Figura 21. Cadeia de produo e comercializao do etanol .............................. 56Figura 22. Localizao das usinas de etanol no Estado de So Paulo ............. 57Figura 23. Distribuio de etanol no Brasil .................................... ................................. 58Tabela 5. Porte e localizao da rota de automveis do Estado de

    So Paulo ...................................... ....................................... ....................................... . 59Tabela 6. Extenso da malha rodoviria do Estado de So Paulo, 2006 ..... 59Figura 24. Inra-estrutura rodoviria do Estado de So Paulo............................. 60Figura 25. Rede estrutural Petrobras de distribuio de combustveis .......... 61Figura 26. Frota de veculos leves e motocicletas no Brasil, cenrio otimista .... 74

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    Figura 27. Consumo de combustveis por automveis e motocicletas

    no Brasil ..................................... ...................................... ....................................... ..... 75Figura 28. Frao da rota de veculos fexveis operando com AEHC

    em uno da relao de preos entre o AEHC e a gasolina C ,nos postos, em cada unidade da Federao........................................ .......... 75

    Tabela 7. Frao da rota de veculos fexveis que utilizam AEHC,para dois cenrios de preo de etanol e de petrleo ...................... 76

    Figura 29. Comparao entre a produo, a exportao e o consumointerno de AEHC .................................. ....................................... ......................... 77

    Figura 30. Estimativa de rea da cana-de-acar para indstria no Brasil..... 78Figura 31. Estimativa da rea de cana para indstria para produo de

    lcool e acar em So Paulo ................................... ...................................... 79Tabela 8. Projeo da produo de etanol na Unio Europia para 2012 ... 81Figura 32. Produo de milho nos EUA de 1980 a 2006 ...................................... 82Tabela 9. Estimativa da demanda por biodiesel por regio geogrca

    Brasil, 2008 a 2011 .................................. ....................................... ................... 85Tabela 10. Capacidade de produo das usinas de biodiesel, por regio

    geogrca e para o Estado de So Paulo, julho/2008. ....................... 86Figura 33. Esquema de uso mltiplo da foresta ....................................... ................... 90Tabela 11. Projeo da demanda por madeira no Estado de So Paulo

    em 2032 ................................. ....................................... ....................................... ....... 91Tabela 12. Parmetros utilizados e resultados da simulao com queima

    de bagao e palha ....................................... ....................................... .................... 93Tabela 13. Bioeletricidade considerando a venda nos leiles de energia eo comercializado at 2007.................................. ....................................... ....... 93

    Tabela 14. Potencial de gerao de excedentes para o Estado nas saras2006/2007 e 2012/2013 utilizando apenas bagao comocombustvel ....................................... ....................................... .................................. 95

    Tabela 15. Potencial de gerao de excedentes para o Estado nassaras 2006/2007 e 2012/2013 utilizando bagao e palhacomo combustvel ...................................... ....................................... ..................... 95

    Figura 34. Rotas e avanos no potencial da cogerao no setorsucroalcooleiro em So Paulo at 2013 (estimativa-limite) .......... 96

    Tabela 16. Resumo do parque atual de usinas de So Paulo ............................... 97Tabela 17. Potencial de gerao eltrica por biogs e biomassa(exceto cana) no Estado .................................... ....................................... ......... 97

    Tabela 18. Cronograma de eliminao da queima da cana-de-acar noEstado de So Paulo, segundo Lei no 11.241/2002 ............................. 100

    Tabela 19. Cronograma de eliminao da queima da cana-de-acar noEstado de So Paulo, segundo o Protocolo Agroambiental .......... 101

    Figura 35. Produes e fuxos de lcool carburante em 2016(bilhes de litros/ano) .................................. ....................................... ................. 105

    Figura 36. Rede Paulista de Polidutos.................................................... .............................. 109Tabela 20. Investimentos Previstos para a inra-estrutura do setor rodovirio .... 125

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    aBREVIaEsABNT Associao Brasileira de Normas TcnicasAEAC lcool Etlico Anidro CarburanteAEHC lcool Etlico Hidratado CarburanteANP Agncia Nacional do Petrleo e BiocombustveisBIRD Banco Internacional de Reconstruo e Desenvolvimento

    (Banco Mundial)BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

    Caged Cadastro Geral de Empregados e DesempregadosCENBIO Centro Nacional de Reerncia em Biomassa, Instituto deEletrotcnica e Energia da Universidade de So PauloCETESB Companhia de Saneamento Ambiental do Estado de So PauloConab Companhia Nacional de AbastecimentoCQNUMC Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudanas

    ClimticasCons Contribuio para Financiamento da Seguridade Social.Etecs Escolas Tcnicas

    EUA Estados Unidos da AmricaFaesp/Senar/SP Federao da Agricultura do Estado de So Paulo/ServioNacional de Aprendizagem RuralFatecs Faculdades de TecnologiaFIESP Federao das Indstrias do EstadoFINEP Financiadora de Estudos e ProjetosGEF Global Environmental Facility (Banco Mundial)IAC Instituto Agronmico de CampinasIBGE Instituto Brasileiro de Geograa e Estatstica

    IEA Instituto de Economia AgrcolaICMS Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios.Inmetro Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao

    e Qualidade IndustrialIPEF Instituto de Pesquisa e Estudos FlorestaisIPI Imposto sobre Produtos IndustrializadosIPT Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So PauloMDL Mecanismo de Desenvolvimento LimpoMP Ministrio Pblico

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    MTE Ministrio do Trabalho e Emprego

    OCDE Organizao para Cooperao e Desenvolvimento EconmicoOrplana Organizao de Plantadores de Cana da Regio Centro-Sul

    do BrasilPCHs Pequenas Centrais HidroeltricasPIS Programa de Integrao SocialPNPB Programa Nacional de Produo e Uso do BiodieselRMSP Regio Metropolitana de So PauloSabesp Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So PauloSAA Secretaria de Estado da Agricultura e AbastecimentoSeaz Secretaria da Fazenda do Estado de So PauloSindicom Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustveis

    e LubricantesSMA Secretaria de Estado do Meio AmbienteSSP Secretaria de Estado da Segurana PblicaTR Termo de ReernciaUE Unio EuropiaUDOP Unio dos Produtores de BioenergiaUNICA Unio da Indstria de Cana de AcarUnicamp Universidade Estadual de Campinas

    UTE Usina Termoeltr icaZEE Zoneamento Ecolgico-Econmico

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    I IntRoduo GERalAtualmente, o sistema energtico internacional ortemente dependen-

    te de combustveis sseis (carvo, petrleo e gs): cerca de 80% do consumomundial de energia se originam dessas ontes, consumo este que apresentavaum crescimento anual de cerca de 2% (mdia em 20 anos), e que nos ltimoscinco anos cresceu em mdia 3,1% ao ano.

    Esta uma situao que no pode perdurar no s pela exausto grada-tiva das reservas de combustveis sseis como tambm pelos eeitos negativosao meio ambiente que resultam do seu uso, entre os quais o aquecimento

    global.Problemas relacionados segurana no suprimento de energia tm

    tambm um papel relevante. A segurana energtica est ligada ao ato dea produo de petrleo estar concentrada em poucos pases, e dos EUA,

    Japo, China, Coria e outros da Unio Europia estarem entre os maioresimportadores, conorme Tabela 1. Alm disso, os preos do petrleo e seusderivados atingiram recordes histricos e no h perspectivas, mantido ocrescimento econmico mundial, de que declinem sensivelmente nos prxi-mos anos.

    Tabela 1. Principais produtores, exportadores e importadores de petrleo

    Produtores Mt Exportadores Mt Importadores Mt

    Rssia 487 Arbia Saudita 358 Estados Unidos 587

    Arbia Saudita 483 Rssia 248 Japo 203

    Estados Unidos 310 Iran 130 China 145

    Iran 218 Nigria 119 Coria 120

    China 188 Noruega 109 ndia 111

    Mxico 173 Emirados rabes 106 Alemanha 110

    Canad 157 Mxico 99 Itlia 94

    Venezuela 138 Canad 93 Frana 82

    Kuwait 136 Venezuela 89 Espanha 61

    Emirados rabes 131 Kuwait 88 Reino Unido 59

    Resto do Mundo 1.516 Resto do Mundo 764 Resto do Mundo 713

    Mundo 3.937 Mundo 2.203 2285

    Fonte: International Energy Agency, 2008

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    16 Bioenergia no Estado de So Paulo

    Conseqentemente, entende-se que as condies econmicas esto de-nidas, de orma estrutural, para a viabilizao da agroenergia como elementorelevante ao dinamismo do agronegcio. As presses sociais (emprego, renda,

    fuxos migratrios) e ambientais (mudanas climticas, poluio) apenas reor-am e consolidam essa tendncia.

    O Brasil o pas do mundo que rene mais vantagens comparativaspara liderar a agricultura de energia. A primeira vantagem comparativa que sedestaca a perspectiva de incorporao de novas reas agricultura de energia,sem ocorrer competio com a agricultura de alimentos, problema este quevem sendo enrentado por alguns pases, a exemplo dos Estados Unidos. NoBrasil, existe grande disponibilidade de terras com pastagens degradadas, nasquais a insero da cana-de-acar e de algumas culturas necessrias rotao,

    tais como soja e amendoim, contribui para a ampliao no s da produo delcool, como tambm da produo de acar e de protena vegetal. A expansoda cana sobre pastagens capaz de beneciar tambm o pecuarista, que podevericar um aumento na rentabilidade de sua propriedade rural e, ainda, melho-rar a condio de ertilidade do solo, em relao ao que existia originalmente.O segundo aspecto observado no Brasil, a ser considerado a possibilidade demltiplos cultivos dentro do ano agrcola.

    Alm disso, ocorre no Estado de So Paulo o cultivo de oleaginosascomo soja, girassol e amendoim para produo de biodiesel, bem como a utili-zao de gordura animal.

    Fonte: BP Statistical Review 2007

    Figura 1. Preo anual mdio do petrleo

    60

    80

    100

    120

    Barr

    il

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    US$/

    Ano

    US$ Corrente

    US$ (2007)

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    Introduo Geral 17

    No nosso Estado, alm de suas caractersticas socioeconmicas e edao-

    climticas avorveis, o apereioamento gentico, a introduo de novas tecno-logias e a crescente mecanizao, dentre outros, contriburam para conduzi-lo condio de grande produtor agrcola e com grande potencial de ser um plonacional na produo de biocombustveis.

    O Estado de So Paulo lder na produo de bioenergia no Pas. Doponto de vista tecnolgico, a maior parte da pesquisa e desenvolvimento deconhecimento se d nas instituies pblicas e privadas existentes no Estado.So Paulo tambm detm a quase totalidade das indstrias de bens de capitalpara a produo de bioenergia.

    Do ponto de vista de capital humano, So Paulo o lder na ormao de

    prossionais nas reas de cincias agrrias, biolgicas e de alimentos, e a agricul-tura paulista se caracteriza por contar com cadeias completas e diversicadas.

    Dessa orma, o elemento interessante do agronegcio paulista queo Estado tem a maior base industrial do Pas. A integrao entre o produtorrural, o processador de alimentos, os distribuidores, o atacado, o varejo e osexportadores especialmente orte. A ligao entre os elos da cadeia conereo poder de rpida assimilao do progresso tecnolgico que permeia todos osagentes envolvidos no processo. Alm disso, So Paulo tem a maior estrutura depesquisa sobre produo e aplicao de bioenergia no Brasil.

    Esse conjunto de estruturas produtivas conere ao Estado um orte

    dinamismo agrcola que, desse ponto de vista ainda h muito que avanar. Emespecial, merece destaque a integrao do sistema de produo de gros pas-

    tagem e ao setor de cana-de-acar. A m de desenvolver melhor esse conceitode integrao lavoura-pecuria, torna-se relevante avaliar a estrutura produtivado Estado, considerando a produo de alimentos e de agroenergia.

    A Figura 2, reproduzida do Estudo sobre o Desenvolvimento da CadeiaProdutiva Agrcola para Biocombustveis no Estado de So Paulo (TR 2, 2007),ilustra a estrutura de produo do Estado. O primeiro ponto a ser notado que existe ampla possibilidade de integrao entre as reas de pecuria (combase em pasto) e a rea agrcola. De acordo com dados do IBGE (Instituto

    Brasileiro de Geograa e Estatstica) e do IEA (Instituto de Economia Agrcola),So Paulo tem 10 milhes de hectares de pastos nativos (cerca de 1,5 milho)e plantados (cerca de 8,5 milhes). Essa rea de pastagem convive com umarea agrcola que envolve a produo de gros (arroz, eijo, milho, soja e trigocom 1,7 milho de hectares), cana-de-acar (4,2 milhes de hectares), laranja(800 mil hectares), madeira (1 milho de hectares) e ca (220 mil hectares),dentre outras. Ocorre que as reas de pastagem tm baixa produtividade e,esto sendo substitudas por cana-de-acar. Esse processo de avano da reaagrcola leva elevao da produtividade do pasto e permite, ainda, a expansoda rea de gros do Estado.

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    18 Bioenergia no Estado de So Paulo

    O Estado apresenta ainda grande mercado consumidor e excelente lo-gstica, se comparado ao restante do pas. Do ponto de vista climtico as princi-pais caractersticas so uma boa precipitao mdia e a presena de veranicos(com risco para culturas anuais).

    Em suas diversas ormas, a bioenergia respondeu por 28,6% da oertatotal de energia em So Paulo em 2006 (SSE, 2007), distribuindo-se principal-mente entre produtos da cana-de-acar (88%) e lenha, como uso direto (5%)ou como lixvia celulsica (4%), um subproduto da indstr ia de papel e celulose.

    O segmento outros resduos de biomassa correspondeu parcela restante (3%)e compreende os aproveitamentos de p de serra, briquetes de madeira e ca-vacos no utilizados no setor de papel e celulose, alm de resduos agrcolas eindustriais como a palha de arroz e a borra de ca.

    A incerteza quanto s reservas petroleras e o aumento das cotaesde petrleo, como mencionado, associados s questes ambientais e sociais,impem a premncia de se alterar as bases do desenvolvimento econmico ede modicar a matriz energtica mundial. A produo de biocombustveis surge,portanto, como importante opo estratgica, quer para emprego como pro-duto complementar, quer como substituto aos derivados do petrleo.

    Figura 2. Fluxograma da estrutura produtiva da agricultura paulista

    Pgem agricr

    Gr C or

    Cre, eie aime Bieergi

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    Introduo Geral 19

    Neste contexto, oi criada a Comisso Especial de Bioenergia do Estado

    de So Paulo, pelo Decreto 51.736, de 4 de abril de 2007, pelo governador JosSerra, com os seguintes objetivos:

    IelaboraroPlanodeBioenergiadoEstadodeSoPaulo;II denir as aes de governo necessrias ao pleno desenvolvimento

    dasatividadesdegeraodeenergiasrenovveis;III avaliar a contribuio das ormas renovveis de energia para o de-

    senvolvimentosustentvel;IV avaliar e indicar as aes necessrias ao desenvolvimento do conjun-

    todascadeiasprodutivasdebiodieseleetanolnoEstadodeSoPaulo;V avaliar e propor aes de estudo e pesquisa cientca e tecnolgica

    necessrias ao pleno desenvolvimento das atividades de bioenergia no EstadodeSoPaulo;

    VI subsidiar o governador do Estado e as secretarias estaduais nasaes relativas ao desenvolvimento da bioenergia.

    Os integrantes da Comisso so os seguintes:JosGoldemberg,coordenador;AlbertoGoldman,SecretriodeDesenvolvimento;FranciscoVidalLuna,SecretriodeEconomiaePlanejamento;DilmaSeliPena,SecretriadeSaneamentoeEnergia;

    JoodeAlmeidaSampaioFilho,SecretriodeAgriculturaeAbasteci -mento;MauroGuilhermeArce,SecretriodosTransportes;FranciscoGrazianoNeto,SecretriodeMeioAmbiente;CarlosHenriquedeBritoCruz,representantedaFAPESP;JosRobertoMendonadeBarros,representantedaUSP;IsaasMacedo,representantedaUnicamp;RobertoRodrigues,representantedaUnesp.A m de embasar suas recomendaes a Comisso decidiu que seriam

    elaborados 14 Termos de Reerncia (TRs), cada um sobre uma rea unda-

    mental da produo e utilizao da bioenergia, nos quais oram analisadas asbarreiras existentes em cada rea e apresentadas propostas de polticas pbli-cas para o Estado de So Paulo suplant-las. As principais questes analisadasnos TRs e as vises de seus coordenadores oram amplamente discutidas emreunies realizadas na Fiesp, IPT, FAPESP, Secretaria da Agricultura e Secretariade Meio Ambiente.

    Os Termos de Reerncia em questo, bem como seus respectivos coor-denadores, so os seguintes:

    I Mercados interno e internacional para biocombustveis Airton Ghi-berti;

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    II Desenvolvimento da cadeiaprodutivaagrcolaRobertoRodrigues;

    IIICadeiaindustrialedeserviosetanolebioenergiaJooFurtado;IV Impactos ambientais na cadeia de biocombustveis Oswaldo dos

    SantosLucon;V Tecnologia e cincia para o desenvolvimento sustentvel da bioenergia

    emSoPauloIsaasdeCarvalhoMacedoeLuizAugustoHortaNogueira;VIQualicaodostrabalhadoresnacana-de-acarAirtonGhiberti;VII Relaes de trabalho no setor sucroalcooleiro e de oleaginosas no

    EstadodeSoPauloMarcioPochmann;VIII Gerao de eletricidade a partir de biomassa e biogs Joo Car-

    losO.deMello;

    IX Logstica e transporte multimodal na cadeia produtiva de biocom-bustveisAntonioGalvolvaresdeAbreu;

    X Tributao: regimes dierenciados de ICMS, tributos ederais e outrosCarlosAmricoPacheco;

    XI Instrumentos de normalizao e qualidade dos biocombustveisAntonioBonomi;

    XIIFlorestaenergticaEduardoCastanho;XIII Biogs gerado pela deposio de resduos slidos urbanos em

    aterros sanitrios e pelo tratamento anaerbio de efuentes, resduos rurais evinhaaJooWagnerAlves;

    XIV Zoneamento socioeconmico e agrcola de So Paulo AirtonGhiberti.

    Nesse contexto, o presente documento rene os resultados principaisdos TRs produzidos pelos dierentes especialistas, que merecem os crditospelo trabalho realizado. O texto aqui apresentado oi extrado em grandeparte dos reeridos TRs, porm a responsabilidade do seu contedo nal dosautores deste documento.

    Embora o Brasil exera a liderana mundial inequvoca na produoeconmica e uso de combustveis renovveis, vale lembrar que essa situaooi assegurada por desenvolvimentos tecnolgicos e investimentos realizados

    persistentemente, com grande participao pblica, durante as ltimas trs d-cadas. Os principais desaos identicados, tanto pelos autores dos TRs comonos debates organizados, manuteno dessa liderana so: melhorar a susten-

    tabilidade social e ambiental da produo e uso dos biocombustveis, inclusiveparajusticarasuainseronomercadointernacional;planejareadequaracadeia produtiva para atender expanso da demanda, com ateno especialaosgargalosembensdecapitalelogstica;aperfeioareexpandiromercadodomstico;criaredesenvolverummercadointernacional;difundiredesenvol-ver tecnologias incrementais e radicais em prazos apropriados e coordenar asaes dos atores relacionados com a cadeia.

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    II PanoRaMa GERal da BIoEnERGIaOs estudos cientcos dos ltimos 30 anos demonstraram de maneira

    clara que o aumento da concentrao dos gases responsveis pelo eeito estua,principalmente CO2, resultado da combusto de combustveis sseis, provoca-ro um aumento na temperatura mdia do planeta entre 1,4C e 5,8C nosprximos 100 anos (IPCC, 2007). Para enrentar este problema, as NaesUnidas promoveram em 1992 a Conveno Quadro das Naes Unidassobre Mudanas Climticas (CQNUMC), cujo documento nal oi aberto paraassinatura em junho do mesmo ano no Rio de Janeiro, durante a Conerncia

    Rio 92.Os pases que raticaram a Conveno, denominados Partes, vm rea-

    lizando conerncias tentando encontrar solues para o problema. A terceiradessas conerncias, conhecidas como Conerncias das Partes, realizada emQuioto, no Japo, em dezembro de 1997, considerada uma das mais impor-

    tantes pois estabeleceu o Protocolo de Quioto, que deniu metas de reduodas emisses dos gases de eeito estua. O Protocolo entrou em vigor no dia 16de evereiro de 2005, raticado por 171 pases e totalizando 61,6% das emis-ses de CO2 das Partes do Anexo I (pases industrializados).

    Os pases do Anexo I se comprometeram conjuntamente, no primeiroperodo do Protocolo (2008 2012), a reduzir suas emisses de gases de eeitoestua em 5,2%, com relao aos nveis de 1990.

    A bioenergia no uma alternativa capaz de solucionar totalmente oproblema energtico, mas tem o potencial de substituir parcialmente os com-bustveis sseis nos meios de transporte. Observe-se que, nesse trabalho, o

    termo bioenergia no inclui a biomassa dita tradicional, isto , aquela derivadade madeira/lenha catada, para uso domstico, nem a biomassa proveniente dedesmatamento. Nessa rea de bioenergia destaca-se o etanol para uso em ve-culos. O Brasil pioneiro e apresenta reconhecida vantagem comparativa no

    mercado internacional, construda pela interveno do poder pblico a partir dacriao do Pralcool em 1975. Embora nem sempre com a mesma intensidade,o governo brasileiro deu continuidade ao programa de estmulo ao empregodo lcool de vrias ormas, desde a prpria produo do combustvel at ocomrcio de automveis a lcool com reduo de impostos.

    O domnio da tecnologia agrcola em ambiente tropical permitiu que anatural abundncia de solo, luminosidade, temperatura e gua pudessem serutilizadas a m de elevar a produtividade da agricultura. Em poucas palavras,o desenvolvimento tecnolgico permitiu ao Brasil azer uso de suas vantagenscomparativas na agricultura.

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    22 Bioenergia no Estado de So Paulo

    O Pas possui um volume expressivo de rea potencialmente agricult-

    vel. Existem dierentes estudos reerentes disponibilidade de terra que, emgeral, tendem a convergir para uma rea potencial superior a 100 milhes dehectares na regio do cerrado. Existe, ainda, uma enorme rea de pastagemcaracterizada por baixa produtividade das orragens e que atualmente come-a a ser integrada ao sistema de gros, congurando um inovador sistema derotao. Em trabalho recente, Brando et al (2005)1 concluem que cerca de80% do aumento da rea cultivada com lavouras nos ltimos 10 anos no Brasildeu-se em antigas reas de pasto. A rea total de pastagem no pas de quase200 milhes de hectares. A rea agrcola atualmente cultivada no Brasil estnum patamar de 60 milhes de hectares, o que permite dar a dimenso doenorme potencial produtivo do pas.

    A produo de lcool combustvel em larga escala no Brasil trouxe aoportunidade (e a necessidade) de um grande desenvolvimento tecnolgicopara o setor de agroindstria da cana. De modo simplicado, possvel identi-car trs ases no desenvolvimento e implantao de tecnologia nesse perodo:inicialmente uma nase em produtividade, entre 1975 e 1985, para atenderaos aumentos de demanda (aumentos de capacidade nos sistemas de moagemedestilao;grandesganhosnaprodutividadedasfermentaes;crescimentoconstante da produtividade agrcola). A partir de 1980 os programas oramdirecionados para a obteno de maior ecincia de converso, tendncia re-orada com o advento da estabilizao da produo, desde 1985 (os melhoresexemplos so os ganhos em rendimento da ermentao e extrao). Por voltade 85, a implementao de erramentas tecnolgicas para o gerenciamento daproduo agroindustrial passou a ter importncia crescente. Exemplos so osprogramas para otimizao da reorma de canaviais, para o acompanhamentodasafra;paraocontroleoperacionaldeprocessoseoscontrolesmtuosagr-colas e industriais, entre outros.

    Essas trs ases ainda coexistem, em parte, em muitas unidades produtoras.Indicadores medidos numa expressiva amostra de usinas, compreendendo cercade 700 mil hectares (Copersucar, 2000) mostram que na rea industrial havia umadierena constante de quase 10 pontos porcentuais entre os valores mximos pra-ticados para a ecincia total de converso e os valores mdios, ambos crescentesno tempo, indicando a grande margem para a transerncia interna de tecnologia.Dierenas da mesma ordem podem ser observadas na produo agrcola.

    Em conseqncia desse ato, a curva de aprendizado brasileira constituium notvel exemplo das possibilidades que se oerecem ao desenvolvimento

    1. Brando et alii. (2005). Crescimento agrcola no perodo 1999-2004, exploso da rea plantada com soja emeioambiente no Brasil. Texto para discusso 1.062, Ipea/Dimac.

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    Panorama Geral da Bioenergia 23

    sempre que existe um nvel (minimamente aceitvel) de continuidade das orien-

    taes e das aes. Assim, o etanol brasileiro economicamente competitivocom a gasolina desde 2004 sem necessidade de subsdios, conorme gura 3.

    Nos ltimos anos o mundo se envolveu no esoro de desenvolver ener-gia sustentvel e os investimentos com esse propsito vm crescendo em ritmoacelerado, praticamente dobrando a cada ano, conorme apresentado em recenterelatrio da ONU (UN, 2008). Os investimentos mundiais novos (sem considerarincorporaes e aquisies) alcanaram US$ 117,7 bilhes em 2007.

    Fonte: adaptado, SEFI, New Energy Finance

    Figura 4. Investimento global em energia sustentvel

    Fonte: Golbemberg, Coelho, Nastari e Lucon, (2004)

    Figura 3. Curva do aprendizado brasileiro na produo de etanol

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    Preo Etanol BR Preo gasolina BR Preo gasolina Rotterdam

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    Panorama Geral da Bioenergia 25

    energia ssil consumida. O indicador brasileiro para cana tem um valor apro-

    ximadamente 5 vezes maior do que o do etanol de milho dos Estados Unidos.Essa enorme vantagem deve elevar-se ainda mais, se persistirem as rotas atuais.O avano da mecanizao da colheita, o recolhimento da palha e a produo deenergia eltrica com o bagao e a palha devero elevar ainda mais o quocienteentre a energia renovvel e a no renovvel (Macedo, 2005).

    Ao lado desse indicador convm salientar pelo menos mais um, de gran-de importncia para a sustentabilidade do etanol brasileiro no contexto daagroindstria e do padro de consumo de combustveis brasileiros. Ele diz res-peito quantidade de terras utilizadas para produzir a quantidade de etanol

    hoje, aproximadamente 4 milhes de hectares2, contra algo em torno de 21milhes para a soja e 200 milhes de hectares para as pastagens (IBGE, 2007).

    O principal indicador econmico da liderana brasileira em etanol ree-re-se a seus custos de produo, muito ineriores aos que existem em todosos demais pases. Pode-se argumentar, contra essa liderana, que ela se baseiaem custos no contabilizados ambientais (as queimadas) e sociais ( trabalhoem condies pouco edicantes). A despeito dessas prticas remanescentes, queesto sendo eliminadas, necessrio reconhecer que a sustentao dos custosde produo baixos no depende da prtica das queimadas (Lei estadual no10.547/00, reormulada pela Lei no 11.241 em 2002) ou do sobreesoro huma-

    no. Com a supresso das queimadas e a eliminao daquele sobreesoro (pelamecanizao) ter-se-ia uma reduo adicional dos custos de produo mdios,alm do aumento de receitas gerado pela energia produzida pela queima dapalha em caldeiras.

    At meados da dcada de 1970, o lcool no tinha muita importnciaeconmica no pas e sua produo era considerada complementar produode acar, sendo, portanto, este produto o que impulsionava a expanso cana-vieira, principalmente para o atendimento da demanda externa.

    Aps o primeiro choque do petrleo e o problema no mercado inter-nacional de acar decorrente de superproduo, em 1975 oi introduzido o

    Pralcool. A crise subseqente do petrleo, associada localizao do parqueindustrial automotivo brasileiro no Estado de So Paulo, deu impulso produ-o paulista de etanol e incentivou a modernizao e consolidao do setor.

    At o nal dos anos 80, os veculos movidos exclusivamente a lcoolhidratado representavam 85% dos veculos novos na rota nacional. No entantonessa poca, problemas de logstica no abastecimento, reduo dos preos dopetrleo e recuperao dos preos do acar no mercado internacional torna-

    2. Cerca de 3,2 milhes de hectares adicionais so usados para produo de acar.

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    ram o etanol pouco competitivo, o que levou estagnao do Pralcool. Nos

    anos 1990 ocorreu, ainda, a desregulamentao estatal dos mercados de acare lcool no pas, o que aumentou a incerteza sobre o uso do etanol comocombustvel.

    A retomada da importncia do etanol na matriz brasileira de com-bustveis teve incio a partir de 2003 com o lanamento dos veculos fex-uel3, em meio nova alta do preo do petrleo e ao interesse dos pasesdesenvolvidos em solues que minimizem o impacto poluidor dos veculosautomotores na atmosera. A ampliao das unidades industriais e constru-o de novas usinas resultam, especialmente, de decises da iniciativa privada,

    a partir da atual viso mundial sobre a importncia do combustvel verdena matriz energtica. Esse impulso na produo de etanol, no entanto, nopermite que a anlise da oerta desse produto seja desvinculada do merca-do de acar, visto que ainda prevalece o modelo de usinas de acar comdestilarias anexas.

    A produo de cana-de-acar tem crescido sistematicamente no Bra-sil, alcanando uma produo de 556,8 milhes de toneladas no ano-sara de2007/08 em 343 usinas (IBGE e Conab, 2008)4 e com uma produtividade de77.200 kg de cana-de-acar por hectare, na rea plantada de 7,2 milhes dehectares, sendo aproximadamente 45% destinada para acar e 55% para lcool,segundo dados da Unio da Indstria de Cana-de-Acar5.

    Se a cana-de-acar osse totalmente destinada produo de etanol, aprodutividade mdia seria de 6.540 litros por hectare. No perodo de 2000/01 a2006/07 a produo de cana cresceu taxa mdia de 8,4% ao ano. A anlise porregio produtora mostra que nesse perodo houve um aumento de 5,4% naRegio Norte-Nordeste, 80,0% na Regio Centro-Sul, enquanto que no Estadode So Paulo o acrscimo oi de 78,3%.

    A gura 5 apresenta a evoluo da produo de cana para indstrianeste Estado, onde 4,8 milhes de hectares oram ocupados com cana em

    2007, dos quais cerca de 1,4 milho correspondem a cana produzida porornecedores.

    3. Flex uel veculo fexvel que opera com gasolina C (gasolina com 20-25% de etanol anidro), lcool etlicohidratado ou qualquer mistura desses combustveis.

    4. Realizado em novembro de 2007, o segundo prognstico das reas plantadas contempla as Regies Sudes-te, Sul e Centro-Oeste e os Estados de Rondnia, Maranho, Piau e Bahia. As inormaes da pesquisa doprognstico representam 85,6% da produo nacional prevista. Disponvel em http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1050&id_pagina=1. Acesso em 19/1/2008.

    5. http://www.unica.com.br

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    Na sara 2007/2008 oram produzidos 31 milhes de toneladas de a-car e 22 milhes de m3 de etanol no pas (gura 6). O Brasil o maior produtormundial de cana e de acar, o segundo de etanol e tambm o maior expor-

    tador de acar e etanol. Cerca de 40% da produo de acar e 85% da de

    etanol so destinados atualmente ao mercado interno. Em 2008, o volume totalde etanol utilizado como combustvel da rota de veculos leves no pas ultra-passou o volume de gasolina.

    Figura 5. Evoluo da produo de cana no Estado de So Paulo

    Fonte: Canaplan

    Figura 6. Produo de lcool no Brasil

    Fonte: Elaborados pelos autores a partir de dados da Unica (2007)

    200

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    Ano Safra-

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    28 Bioenergia no Estado de So Paulo

    Como j oi mencionado, o etanol de cana um produto estratgico

    para o Estado de So Paulo. Em 2007, oram produzidos quase 12 bilhes de li-tros desse combustvel (gura 7), cerca de 62% do total nacional e 26% do totalmundial6. Os produtos da cana-de-acar etanol e bagao so responsveispor mais de um quarto da energia primria total no Estado.

    O Estado de So Paulo respondeu por 69% da cana moda na sara 07/08,na Regio Centro/Sul. Mesmo com o crescimento dos outros Estados, SP deverresponder por 67% a 68% da sara 08/09, em curso no Centro/Sul. Em termosdos produtos obtidos, So Paulo respondeu por 73% do acar produzido naregio;aproduodeetanolpaulistacorrespondeua66%dototaldoCentro/

    Sul, sendo dierente a proporo entre os tipos: o anidro respondeu por 69% doobtido na regio, e o hidratado por 63%. Da rea total ocupada com cana, 3,9milhes de hectares oram colhidos para a produo de acar e lcool.

    Na verdade, justicam-se as preocupaes com a expanso da cultura dacana-de-acar no Estado. O aumento da rea cultivada oi de 7% ao ano emmdia nos ltimos seis anos.

    6. UNICA (http://www.portalunica.com.br/portalunica/?Secao=reerncia) e US RFA (http://www.ethanolra.org/industry/statistics/#E)

    Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados da UNICA (2008)

    Figura 7. Evoluo da oerta de lcool em So Paulo

    8

    10

    12

    14

    16

    es

    de

    m

    0

    2

    4

    6

    milh

    Ano - safra

    Etanol Anidro

    Etanol Hidratado

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    Panorama Geral da Bioenergia 29

    Figura 8a. Cana plantada no pas

    Figura 8b. Localizao das usinas na Regio Centro-Sul

    Fonte: IBGE/Sidra (2005)

    Fonte: TR 2

    29170003 miolo.indd 29 10/29/08 6:02:37 PM

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    A gura 8a ilustra a rea da cana plantada no territrio nacional. A gura

    8b ilustra a expanso de cana na Regio Centro-Sul, em particular a localizaodas usinas.

    A expanso da cana-de-acar no Estado de So Paulo tem-se dado, emmaior proporo, sobre as reas de pastagem. So Paulo tem cerca de 8,5 mi-lhes de hectares de pastagem plantada e 1,5 milho de hectares de pastagemnativa. O rebanho paulista, de acordo com o IBGE (2005), era de 13 milhes decabeas, o que corresponde a uma lotao mdia de 1,3 cabea por hectare,que um ndice baixo, apesar de maior que a mdia brasileira (menor que 1cabea por hectare).

    Do ponto de vista da agroenergia possvel notar que o sistema paulista bastante interessante. De um lado, o Estado o maior produtor de etanolde cana-de-acar do Brasil. Ou seja, a maior parte da agroenergia gerada emSP oriunda de cana, e no de gros como ocorre nos Estados Unidos. Almdisso, h um potencial a ser explorado na produo de biodiesel que se originano plantio de soja na rotao de cana-de-acar. interessante notar que a ex-panso da rea de cana oerece a oportunidade de aumento da rea de gros,quando considerado este processo de rotao.

    Observa-se que o padro climtico de boa parte do Estado, em especialno novo plo de expanso do setor sucroalcooleiro que a Alta Paulista,

    marcado por orte presena de veranicos, o que eleva sobremaneira o risco daproduo de lavouras anuais e responsvel pela boa competitividade da cana.Por essa razo, o plantio dessas lavouras nunca apresentou grande densidadegeogrca, como ocorre no Paran e Mato Grosso.

    O avano da cana permite mudar esse cenrio por carregar consigo ocapital necessrio para a recuperao das economias de municpios, os quaisperderam o dinamismo econmico, e por reduzir o risco climtico de plantargros em rea dedicada exclusivamente a esses cereais ou plant-los em reade reorma de cana-de-acar.

    Por outro lado, a abricao de equipamentos para a indstria sucroalco-

    oleira rene uma centena de empresas, tanto na parte industrial quanto na agr-cola. Mas, se uma caracterstica deve ser ressaltada nesse universo empresarial precisamente a sua heterogeneidade.

    A indstria est estruturada em torno de dois plos principais: Piracicabae Sertozinho, mas existem bricas e empresas em outras cidades. A expan-so da atividade para o oeste de So Paulo, e em direo a Minas Gerais e aoCentro-Oeste, dever contribuir para o nascimento de novas empresas nessasregies, bem como para a criao de novas unidades das empresas existentes.

    A crise do setor industrial produziu oscilaes no nvel de emprego, in-clusive no corpo tcnico das principais empresas (Dedini, Zanini, Renk-Zanini,

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    Panorama Geral da Bioenergia 31

    DZ e outras), e ensejou inmeras tentativas de estabelecimento de novos em-

    preendimentos para o setor ou para atividades complementares. Foi assim quesurgiram empresas como, num caso muito bem-sucedido, a TGM, abricante de

    turbinas a vapor. Como resultado das caractersticas do prprio setor, sujeitoa oscilaes pronunciadas, e das prprias atividades de abricao de equipa-mentos, cujos produtos podem ser destinados a outros segmentos industriais(mesmo que com projetos especcos ou adaptaes), muitas dessas empresasso, desde a sua origem, diversicadas com relao aos mercados de destinodos seus produtos. Por isso, a consolidao dos resultados econmicos do setorde abricao de equipamentos para o setor sucroalcooleiro impraticvel.

    Tal como outros equipamentos para essa cadeia industrial, tambm ascolheitadeiras so produzidas principalmente nos plos tradicionais dessa in-dstria. A abricao das colheitadeiras est situada em unidades localizadasem Piracicaba (Case) e Ribeiro Preto (Santal), alm de Catalo, em Gois(John Deere).

    Com relao a outros equipamentos agrcolas, a DMB Mquinas e Imple-mentos Agrcolas Ltda., undada em 1964, em Sertozinho, produz implementospara a cultura de cana-de-acar. A empresa abrica equipamentos para todas asases da cultura da cana-de-acar : subsoladores, sulcadores, cobridores, cultiva-dores para cana crua e queimada, carretas para distribuio de torta de ltro,

    adubadeiras de supercie, reboques e sistemas de transbordo para cana picada.Tambm desenvolveu e lanou plantadoras de cana, alm de uma linha de pro-dutos forestais. Dessa orma, no segmento de mquinas e implementos para aatividade agrcola se constata uma diversicao dos mercados de atuao dasempresas.

    II.2 Bds

    No que se reere ao biodiesel, undamental estabelecer a dierenaconceitual entre biodiesel e leos vegetais. O termo leo vegetal signica o leoin natura,semsubmet-loanenhumprocessoqumico;porsuavezobiodiesel o ster (mono-alquil ster) de cidos graxos provenientes de diversas ontes(leos vegetais, leos residuais ou sebo animal).

    Desde 1920 surgiram iniciativas para promover no Brasil o uso de leovegetal nos motores a diesel, com resultados limitados. Os programas mais im-portantes, propostos quase simultaneamente com a adoo do etanol, oramo Pr-leo e o Programa OVEG em 1980 (Ministrio da Indstria/ Secretariade Tecnologia Industrial, 1985). Foram realizados ensaios dinamomtricos em

    29170003 miolo.indd 31 10/29/08 6:02:37 PM

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    motores e ensaios de campo com nibus e caminhes, com biodiesel metlico

    e etlico de leo de soja. Nos testes de campo oram utilizados biodiesel puro(B100) e misturas de 30% de biodiesel em leo diesel (B30). Embora os resul-

    tados tcnicos tenham sido satisatrios, no nal dos testes de campo o preodo petrleo j havia recuado para valores que inviabilizavam economicamente ouso do biodiesel e o programa oi interrompido. Alm disso, o seu custo energ-

    tico era pouco competitivo quando comparado ao do etanol, o que estimulouo desenvolvimento de alternativas utiliz-lo como combustvel para motoresdiesel, via etanol aditivado ou sistema de dupla injeo.

    Conorme descrito e discutido em maiores detalhes nos TRs 1 e 2, o

    tema biodiesel oi retomado em 2002, sendo constituda a Rede de Pesquisae Desenvolvimento Tecnolgico (Probiodiesel), coordenada pelo Ministrio deCincia e Tecnologia que comeou a articular interesses e a discutir a especi-cao do biodiesel para o Brasil. Encontrar sucessores renovveis para o dieselmineral importante para o pas, j que esse combustvel o mais consumidoentre os derivados do petrleo, com uma demanda de aproximadamente 41milhes de m3 em 2007 (ANP, 2007a), dos quais 12% importados, e basica-mente utilizado no setor de transporte (82%) e gerao eltrica em sistemasisolados, geralmente na Amaznia.

    Em meados de 2003, o governo ederal criou um grupo interministerial

    encarregado de estudos sobre a viabilidade de utilizao de leos vegetais ebiodiesel, para ns energticos.

    Em dezembro de 2004 oi lanado o Programa Nacional de Produo eUso do Biodiesel (PNPB)7. A Lei no 11.097/05 estabeleceu que, a partir de 2008,

    todo o leo diesel comercializado no Brasil deveria conter 2% de biodiesel (B2),e que em 2013, ao leo diesel dever-se-ia adicionar 5% deste combustvel8 (B5).Entretanto, ainda em 2008, o Conselho Nacional de Poltica Energtica (CNPE)

    tornou mandatrio o uso de 3% de biodiesel a partir de 1o de julho de 2008.Em 2006 oram produzidos 70 milhes de litros de biodiesel, em 2007 a

    produo alcanou 402 milhes de litros e nos primeiros sete meses de 2008j haviam sido produzidos 558 milhes de litros, segundo os dados da ANP. Aparticipao do Estado de So Paulo na produo de biodiesel tem sido de12%, embora o Estado congregue 25% da capacidade industrial instalada.

    A produo brasileira das principais oleaginosas totalizou 60,6 milhes detoneladas na sara 2006/07, das quais 95% reerentes soja. A parcela restante

    7. Disponvel em: www.mct.gov.br8. Segundo essa mesma lei, esse prazo poder ser antecipado de acordo com a capacidade produtiva do

    Brasil.

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    Panorama Geral da Bioenergia 33

    compreende caroo de algodo, amendoim, mamona e girassol (Conab, 2007).

    Quanto ao dend (palma), a produo oi de 903,5 mil toneladas em 2005(IBGE, 2005) e, considerando-se este mesmo volume em 2007, tem-se umaparticipao de 1,5% dessa oleaginosa no total.

    A tabela 2 apresenta uma estimativa da disponibilidade brasileira de le-os vegetais, calculada com base na disponibilidade de cada gro (excetuando-seexportao do gro) e no respectivo teor de leo. A essa produo de leooram acrescentadas as importaes e deduzidas as exportaes. Estima-se,portanto, que a disponibilidade brasileira interna de leos vegetais seja de 4,4milhes de toneladas ou 4,8 milhes de metros cbicos, para uma exportao

    lquida de 1,4 milho de toneladas.

    Tabela 2. Disponibilidade interna de leos vegetais no Brasil em 2006*

    Oleaginosa Teor deleo(%)

    Produo (t) Importao(t)

    Exportao1(t)

    Disponibilidade(t)

    Densidade(kg/ m3)

    Volume(1000m3)

    Amendoim 48 67.632 16 16.376 51.273 914 56

    Algodo 18 303.431 0 25.838 277.594 918 302

    Girassol 44 41.756 5.598 0 47.354 918 52

    Mamona 45 37.958 10 4.343 33.625 960 35

    Soja 19 5.417.492 24.846 1.688.110 3.754.228 919 4.085

    Dend 22 198.770 17.080 22.859 192.991 891 217

    Babau 66 78.560 0 72 78.489 914 86

    Copaba - 479 - - 479 1.000 0

    Cumaru - - - - - - -

    Licuri - - - - - - -

    Oiticica 54 745 - - 745 1.000 1

    Pequi 50 2.545 - - 2.545 1.000 3

    Tucum - - - - - - -

    Total 4.439.322 4.836

    Fonte:Conab(2007),IBGE(2005)eMDIC/Secex(2007);dadostrabalhadospelosautoresdoTR1*Os itens produo, importao, exportao e disponibilidade reerem-se a tonelada de leo1 Reerem-se s exportaes de leo bruto

    Ressalte-se que, embora seja ampla a lista de ontes de leos vegetaispara alimentar o PNPB, na prtica, apenas sete delas tm produo signicativa.As demais, embora com potencial, na realidade so utilizadas na medicina po-pular e na indstria de cosmticos, constituindo-se em nichos de mercado compreos nais elevados. A maioria das oleaginosas extrativas ainda no dispe deestudos tcnicos e mercadolgicos para sua explorao comercial.

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    No Estado de So Paulo, em 2006, as produes mais signicativas de

    oleaginosas oram soja (1,7 milho de toneladas de gro) e amendoim (210 miltoneladas de gro), embora o amendoim esteja sendo utilizado principalmentepara alimentao.

    Em termos de produo de oleaginosas, So Paulo apresenta um quadrodecitrio, o que implicar na necessidade de importaes dessas matrias-pri-mas e/ou de leos. Isso j ocorre com o leo de soja para consumo alimentar.

    Alm disso, o ato de So Paulo ser o maior exportador de carnevermelha do pas e ter um relevante parque de rigorcos, possibilita a uti-lizao do sebo animal para produo de biodiesel. Entretanto, com essa

    demanda adicional, seu preo tem apresentando signicativa tendncia decrescimento.A gura 9 a seguir apresenta a localizao das plantas de biodiesel no

    Estado (no estgio em que se encontravam em 2006), as quais tm uma capa-cidade total instalada para produzir 650 milhes de litros anuais.

    Figura 9. Capacidade instalada de produo de biodiesel em SP-2006 (m3/ano)

    Fonte: TR 2

    Sumar

    Campinas

    Catanduva

    Taboo da Serra

    Taubat

    So Simo

    Mairipor

    Mairinque

    Charqueada

    Lins

    Saltinho

    Tup

    Paraso

    Ourinhos

    Guarulhos

    Piracicaba

    Usina Piloto

    Em planejamento

    4500

    4501 - 15000

    15001- 40000

    40001- 60000

    60001- 227000

    -

    -

    -

    -

    Em construo

    600

    601 - 100000-

    Construda, sem produo

    16800

    16801- 24000

    24001- 35000

    35001- 60000

    60001- 120000

    -

    -

    -

    -

    Construda, produzindo

    750

    751 - 6000

    6001 - 17000

    17001- 60000

    -

    -

    -

    29170003 miolo.indd 34 10/29/08 6:02:38 PM

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    Panorama Geral da Bioenergia 35

    Assim sendo, no Estado, as melhores oportunidades para biodiesel se

    concentram no uso da terra correspondente rotao de cultura de cana e aouso de subprodutos como sebo animal.

    II.3 Fst tcExcetuando-se o setor de papel e celulose, a utilizao da madeira e

    seus resduos como onte de energia em So Paulo pequena e tem um perl tradicional. No entanto, apresenta um potencial de crescimento interessanteseja pelo desenvolvimento ou pela adoo de novas tecnologias, seja pelo custo

    baixo de produo de uma unidade energtica comparativamente a outrosprodutos bioenergticos, conorme exposto no TR 12 Florestas Energticas,no qual esta seo est baseada.

    Atualmente, em termos mundiais, os ndices de cobertura forestal deterritrios nacionais, para serem considerados satisatrios, devem estar, no m-nimo, entre 25 e 30% (AbSaber, 1990).

    A cobertura vegetal nativa do Estado de So Paulo est ao redor de16,7% da sua extenso territorial (Castanho Fo, 2006). H mais de cem anos, asormaes vegetais nativas com caractersticas forestais cobriam cerca de 70%do territrio. Desse remanescente, o poder pblico declarou quase um tero,

    cerca de 990 mil hectares (Castanho Fo

    , 2006), como unidades de conservaocriadas para preservar esse patrimnio para o uturo.Numa anlise preliminar ca evidente que, apesar das reas com matas e

    capoeiras terem at se recuperado nos ltimos anos, as reas de campo prati-camente desapareceram (gura 10).

    Em 2006, alm da supercie coberta por vegetao nativa, existiam 932mil hectares reforestados (963 mil hectares segundo a Abra, 2006).

    A gura 11, a seguir, ilustra a composio forestal e sua evoluo no Es-tado de So Paulo nos ltimos 30 anos, na qual se observa uma leve mudanana tendncia de reduo das forestas nativas, e que oi conrmada em levan-

    tamentos posteriores.Entre os vrios aspectos da demanda geral por produtos forestais noEstado, cuja quanticao est detalhada no TR 12, vale ressaltar aqui a parceladedicada energia.

    A demanda por produtos forestais energticos oi determinada a par tirdos dados de consumo de carvo e lenha que so apresentados na gura 12.Esses dados envolvem uma gama de setores, com destaque para os usos in-dustriais e, entre esses, para os setores de papel e celulose (29% do consumo),alimentos e bebidas (11%), qumica (10%) e cermica (8%), com a demandapara coco no setor domstico estimada em 31% (SERHS, 2006).

    29170003 miolo.indd 35 10/29/08 6:02:38 PM

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    36 Bioenergia no Estado de So Paulo

    Figura 11. Evoluo da cobertura vegetal e do reforestamento no Estado de So Paulo

    Fonte: modicado de PDFS, 1993, conorme TR 12.

    Figura 10. Evoluo das reas de vegetao nativa no Estado de So Paulo

    Fonte: modicado de PDFS, 1993, conorme TR 12.

    2

    2,5

    3

    hectares

    0

    0,5

    1

    1,5

    Mata Capoeira Cerrado Cerrado Campo

    milhes

    de

    h

    1973

    1989

    2000

    2 5

    3

    3,5

    4

    4,5

    5

    ehectares

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    1973 1989 2000 2006

    milhesd

    e

    Ano

    Nativa

    Plantada

    29170003 miolo.indd 36 10/29/08 6:02:39 PM

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    Panorama Geral da Bioenergia 37

    Tal estrutura setorial para o uso de lenha bastante distinta da obser-vada no restante do Brasil, onde a maior parte da biomassa (43%) usadacomo insumo para produo de carvo vegetal, destinado a ns siderrgi-cos, e emprega uma parcela pondervel de recursos forestais nativos (Brito,2007;Uhlig,2008).

    A demanda geral por produtos forestais madeireiros pode ser divididaem, basicamente, trs grandes grupos, (gura 13):

    Matriaprimaparaprocessamentofsico-qumico(celuloseechapas);Insumoenergtico(lenha,carvo)Matriaprimaparaprocessamentomecnico(serrarias,laminadoras).Para atender a esta demanda, o parque forestal produtivo paulista deve-

    ria ter, teoricamente, 1,266 milho de hectares (para uma produtividade mdiade 30m3/ha/ano), embora seja de 933 mil hectares, quase todo ele reerente amadeira serrada e energia, produzidas por 38 mil produtores (gura 14). Istoimplicaria em aumentar a rea coberta por forestas plantadas no Estado em333 mil hectares.

    Fonte: Secretaria de Saneamento e Energia, 2006, conorme TR 12.

    Figura 12: Evoluo do consumo nal por energtico

    80

    100

    120

    stereos

    Lenha

    Carvo Vegetal

    0

    20

    40

    60

    1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

    milharesdem

    29170003 miolo.indd 37 10/29/08 6:02:39 PM

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    38 Bioenergia no Estado de So Paulo

    Figura 13. Consumo estimado de produtos forestais no Estado de So Paulo

    Figura 14. Produo, demanda e dcit madeireiro no Estado de So Paulo

    Fontes: Fundo Florestar, Bracelpa, Abima, Abracave, SSE, conorme TR 12

    Fonte: modicado de PDFS, 1993, conorme TR 12.

    15

    20

    25

    mstereos

    0

    5

    10

    Indstria Energia Serrada

    milh

    es

    de

    1991

    2005

    25

    30

    35

    40

    stereos

    0

    5

    10

    15

    20

    ConsumoProduo

    38000 Produtores

    milhes

    de

    m

    Outros usos

    Energia

    Indstria

    29170003 miolo.indd 38 10/29/08 6:02:39 PM

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    Panorama Geral da Bioenergia 39

    II.4

    C d cm bmss bsConorme apresentado em maiores detalhes no TR 8 Gerao de

    Eletricidade a Partir de Biomassa e Biogs, o Estado de So Paulo tem atual-mente uma capacidade instalada de gerao de energia eltrica de cerca de 18GW, dos quais 80% so provenientes de aproveitamentos hidrulicos. Entretan-

    to, o potencial hidrulico do Estado j est totalmente exaurido. Praticamente100% do potencial de grande porte j oi aproveitado, restando apenas algumasPCHs (pequenas centrais hidroeltricas) novas e outras unidades existentessujeitas repotencializao.

    Atualmente, So Paulo responde por 30% do consumo de energia eltri-cadopas;mas,apenaspartedessetotalproduzidolocalmente.AgeraonoEstado corresponde a cerca de 60% a 70% da energia consumida.

    Assim sendo, no balano nacional de energia eltrica, o Estado de SoPaulo o grande importador, com algo em torno de 50% do volume das tran-saes, com uma tendncia crescente, com previso de atingir 65% em 2015.Essa ragilidade da segurana energtica do Estado inequvoca. Dessa orma,So Paulo precisa urgentemente identicar novas ontes de gerao de eletri-cidade para assegurar o suprimento de energia, mantendo a oerta necessriapara acompanhar seu crescimento econmico e reduzindo o risco de dcitdosetor eltrico nacional.

    O setor sucroalcooleiro tem esse potencial, pelo processo de cogera-o9, com a produo de excedentes de eletricidade para venda rede. Ato nal dos anos 1990, o bagao da cana oi considerado um resduo indese-

    jvel pelo setor, sendo queimado de orma ineciente ou comercializado demaneira limitada. Essa caracterizao representava o perl das indstrias dosetor do Estado de So Paulo que, por alta de estmulos para comercializa-o de excedentes de energia eltrica, no investiam em ecincia. Essa situ-ao comeou a mudar no nal da dcada de 1990, oi reorada em 2002

    com o Proina10 e, posteriormente, com os leiles de energia, quando o setorvislumbrou as possibilidades de comercializar a energia excedente a preosmais vantajosos. Atualmente, esto em operao 146 usinas de cogerao,perazendo uma potncia total instalada de 1.712 MW, correspondendo a

    9. Cogerao o processo de produo simultnea de energia eltrica e trmica a partir de uma mesmaonte, no caso o bagao da cana.

    10. Proina Programa, coordenado pelo Ministrio de Minas e Energia (MME), estabelece a contratao de3.300 MW de energia no Sistema Interligado Nacional (SIN), produzidos por ontes elica, biomassa epequenas centrais hidreltricas (PCHs), sendo 1.100 MW de cada onte.

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    40 Bioenergia no Estado de So Paulo

    70% do segmento de cogerao no pas. Em 2007, o total de energia vendida

    no mercado oi cerca de 900 MWmdio11.A quantidade de excedentes em eletricidade que pode ser oerecida

    rede depende da tecnologia adotada para converso, do consumo de vaporno processo produtivo de acar e lcool e da quantidade de bras (bagao)contida na cana. Dentre esses parmetros, uma melhoria substancial poderia serobtida adotando-se uma tecnologia de converso mais eciente para a gerao,combinada com a eletricao do processo e reduo da demanda de vapor.

    O primeiro passo na evoluo da tecnologia de cogerao, dado prin-cipalmente durante o incio do Pralcool, visava auto-sucincia energticada usina, com um sistema capaz de suprir a demanda eletromecnica de vapor,com uma quantidade limitada de excedentes. Essa auto-sucincia era atingidacom turbinas de contrapresso e caldeiras de at 22 bar. As quantidades redu-zidas de excedentes de energia eltrica ou de bagao eram comercializadas naregio. O passo seguinte na evoluo da cogerao oi um aumento na pressodo vapor gerado para patamares em torno de 40 bar, mantendo-se ainda a

    tecnologia de turbinas de contrapresso, e realizando-se uma substituio par-cial dos sistemas de gerao existentes, o chamado retrot. Esse incremento nagerao, que ocorreu para algumas usinas no nal dos anos 1990, oi motivadopelos contratos com a Companhia Paulista de Fora e Luz - CPFL e o baixo

    preo do bagao excedente.Recentemente, as usinas iniciaram a mudana na tecnologia utilizada, pas-sando de turbinas de contrapresso para turbinas de condensao e elevando apresso das caldeiras para patamares maiores, atingindo 60 bar ou mais.

    Por outro lado, a participao do Estado de So Paulo, no caso da bio-massa forestal (licor negro e resduos forestais), ainda tmida. Enquanto noBrasil a potncia instalada com esse tipo de energtico est na aixa de 800MW, So Paulo tem apenas quatro empreendimentos signicativos, totalizandopouco mais de 100 MW de energia. Este um nmero reduzido, quando seconsidera que existem dez empresas de papel e celulose no Estado.

    Alm dessas, uma outra opo para gerao de energia renovvel o usode biogs de aterros sanitrios, tratamento de efuentes, resduos rurais e biogsde vinhaa (subproduto da destilao do lcool). O biogs um composto pro-duzido pela biodigesto anaerbia de resduos orgnicos com elevado teor demetano. Considerando o elevado impacto de metano no aquecimento global importante a sua queima, convertendo-o em dixido de carbono, com menorpotencial de gerao do eeito estua. Esta , assim, uma grande oportunidade

    11. MWmdio

    reere-se energia total ornecida no ano (MWh) dividida pelo nmero total de horas do ano.

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    para gerao de energia eltrica nesses setores, conorme discutido no TR 13

    Biogs Gerado pela Deposio de Resduos Slidos Urbanos em Aterros Sani-trios e pelo Tratamento Anaerbio de Efuentes, Resduos Rurais e Vinhaa.

    O Estado abriga uma das maiores usinas de energia a partir de biogs domundo, a UTE (usina termoeltrica) Aterro Bandeirantes, com capacidade paragerar 20 MW

    mdio de energia eltrica at 2018. Alm desse, existe outro aterroem So Paulo, cuja usina (UTE So Joo) entrou em operao em janeiro de 2008,gerando 20 MW

    mdio pelo perodo de 15 anos. Com a nalidade de utilizar o bio-gs de aterros sanitrios para gerao de energia, torna-se necessrio, por partedo Estado, avaliar melhor a situao e criar mecanismos ou obrigaes para o seu

    aproveitamento, principalmente ocado na gerao de energia eltrica.No caso do biogs de tratamento de esgoto, o nico projeto existenteno Estado um piloto na Sabesb - Companhia de Saneamento Bsico do Es-

    tado de So Paulo - de Barueri, executado pelo CENBIO e co-nanciado pelaFINEP - Financiadora de Estudos e Projetos. Este um projeto-piloto e inclu agerao de energia eltrica a par tir de biogs de tratamento de efuentes numamicroturbina de 30 kW (CENBIO, 2005a).

    Com relao ao biogs de vinhaa, existe no Estado de So Paulo apenasuma usina (So Martinho) que o processa para a produo de biogs, o qual usado como combustvel auxiliar nas caldeiras da usina ou na secagem de leve-

    duras sangradas do processo de ermentao em dornas.

    II.5 rcss hms s d tbh b

    Embora a produo de biomassa energtica seja baseada em monocultu-ras extensivas, que requerem um nvel relativamente baixo de empregos quan-do comparadas a culturas de alimentos, na realidade, a bioenergia responsvelpor um aumento na gerao de empregos na rea rural porque a produo de

    alimentos obrigatoriamente mantida para atender demanda.A Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD) do IBGE cap-tou para 2004 um contingente de 251 mil empregados permanentes e 242 miltemporrios, ocupados na cultura da cana-de-acar no Brasil(TR 6).

    De ato, a gerao de empregos tem sido reconhecida como uma dasmaiores vantagens das energias renovveis, em especial a biomassa, quandocomparada s de origem ssil. Alm de gerar empregos na zona rural, a pro-duo de biomassa uma atividade que envolve baixos investimentos por em-prego gerado quando comparados com outros setores industriais, conorme asguras 15 e 16 (Goldemberg, 2002).

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    Os temas desta seo, discutidos no TR 6 Recursos Humanos na reade Biocombustveis e no TR 7 Relaes de trabalho no setor sucroalcoo-leiro e de oleaginosas no Estado de So Paulo em detalhes, so de particular

    importncia no mbito da bioenergia, pela gerao de empregos na zona rural.

    Figura 15. Nmero de empregos gerados por onte de energia

    Figura16. Investimentos necessrios para gerao de empregos nos diversossetores industriais

    Fonte: Goldemberg (2002)

    Fonte: Goldemberg (2002)

    1

    152

    Petrleo

    Etanol

    4

    3

    0 50 100 150 200

    Carvo

    Hidroeletricidade

    Empregos/energia (petrleo=1)

    91

    98

    145

    220

    Automobilstica

    Bens de Capital

    Metalurgia

    Qumica/Petroqumica

    11

    44

    70

    91

    0 50 100 150 200 250

    Etanol (agro+ind)

    Bens de Consumo

    Intermediria

    1000 US$/Emprego

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    Panorama Geral da Bioenergia 43

    No Estado de So Paulo a atividade canavieira a principal empregadora

    tanto no setor agrcola como no conjunto das agroindstrias (Vicente, 2002,eBelik;Bolliger;GrazianoDaSilva,1999,apudVeiga Filho et al., 2003). Mesmoconsiderando que toda cana osse colhida crua, o que deve ocorrer no Estadode So Paulo no longo prazo, o nmero de empregos por unidade de energiaseria de aproximadamente 50 empregos/energia (petrleo=1), ainda assim mui-

    to acima dos ndices para as outras ontes energticas (Figura 15).A incorporao da lgica empresarial industrial pelo setor agropecu-

    rio paulista, especialmente no sucroalcooleiro e no de oleaginosas, permitiua expanso das culturas industriais no meio rural. Esse crescimento impactouconsideravelmente as relaes de trabalho, aastando-as das condies mais

    tradicionais de emprego da mo-de-obra no campo.A partir do nal do sculo 20, percebe-se, cada vez mais, a emergncia

    da reestruturao produtiva no meio rural, com eeitos no desprezveis nopadro de uso e remunerao dos trabalhadores. A crescente mecanizao dasculturas industriais no interior de So Paulo tem conseqncias importantes nasrelaes trabalhistas, pois provoca um aumento do emprego assalariado ormal,permitindo ao novo trabalhador do campo o pleno acesso aos direitos sociaise trabalhistas garantidos pela Consolidao das Leis do Trabalho. Ao mesmo

    tempo, pressiona os trabalhadores a aceitarem condies de negociao me-nos avorveis ou a se qualicarem, para permanecer na mesma regio. Nesse

    contexto, as guras 17 e 18, a seguir, indicam as contrataes mensais no setorsucroalcooleiro, no Estado de So Paulo.

    Figura 17. Contrataes mensais dos cortadores de cana no Estado So Paulo

    Fonte: Elaborado pelo TR 6 com base nos dados do Caged, MTE

    Jan/03 J ul/ 03 J an /04 Jul/04 J an/ 05 Ju l/05 Jan/06 J ul/ 06 J an /07

    60.000

    50.000

    40.000

    30.000

    20.000

    10.000

    0

    29170003 miolo.indd 43 10/29/08 6:02:40 PM

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    Conorme os dados da Canaplan, 2007 (TR 2), 31% da rea colhida em SoPaulo oi realizada com mquina, sendo que 76% dela oi mecanizada sem queima12.Aps o Decreto ederal no 2.661/98, o Estado de So Paulo editou a Lei estadualno 10.547/00, reormulada pela Lei no 11.241 em setembro de 2002, estabelecendoum cronograma para erradicar a queima da cana no Estado com ns de proteoambiental (conorme discutido adiante, no capitulo III.5.) e mitigar a emisso de gasespoluentes emitidos. Segundo esta legislao, a rea mecanizvel a ser colhida crua,deve atingir 50% em 2010. Na realidade, em nota do Protocolo Ambiental da Secre-

    taria de Meio Ambiente (TR 4), estes ndices atingiram 47% em 2007. Apesar disso,conorme guras 17 e 18, no houve reduo no nmero de empregos no setor, por

    causa da elevada taxa mdia de crescimento da rea colhida no Estado nos ltimos5 anos, da ordem de 8% a.a. (Lora, 2006). Note-se que, de 2007 para 2008, a rea decana colhida cresceu 17%, conorme a Secretaria de Meio Ambiente do Estado.

    Vale mencionar, tambm, que o Estado de So Paulo ainda recebe traba-lhadores de outros Estados para o corte da cana-de-acar (55 mil migrantes donorte de Minas Gerais e dos Estados do Nordeste, segundo os sindicatos rurais).

    12. Inormaes da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de So Paulo mostram que na sara 2006/2007a colheita mecanizada de cana correspondeu a 34% da cana colhida e que, em 2007/2008, esta raopassou para 47%. Estes dados indicam, inclusive, uma reduo da rea de cana queimada.

    Fonte: Elaborado pelo TR 6, com base nos dados do Caged, MTE

    Figura 18. Contrataes mensais de dierentes categorias no setor

    sucroalcooleiro no Estado de So Paulo

    0

    2000

    4000

    6000

    8000

    10000

    12000

    14000

    16000

    18000

    Tratoristas e Operadores de Mquinas Supervisores

    Outras Ocupaes Agrcolas Outras Ocupaes No Agrcolas

    Jan/03 Jul/03 Jan/04 Jul/04 Jan/05 Jul/05 Jan/06 Jul/06 Jan/07

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    Panorama Geral da Bioenergia 45

    Quanto ao grau de instruo dos trabalhadores no setor sucroalcooleiro,

    conorme Tabela 3, ele maior para os no-cortadores de cana quando com-parados com os cortadores e outros trabalhadores agrcolas, ato que reora anecessidade de treinamento.

    Conorme notcias veiculadas na imprensa de So Paulo, j existe alta detrabalhadores qualicados para operar as colheitadeiras de cana crua, enquantoinormaes do setor relatam que, dentro do cumprimento da legislao parareduo na queimada de cana, as usinas vm desenvolvendo programas de

    treinamento dos trabalhadores. O Programa Cana Limpa tem por objetivo acapacitao de mo-de-obra para oerecer servios com qualidade, segurana e

    produtividade. Segundo o boletim inormativo Faesp-Senar/SP

    13

    de 2005, cercade 70 mil cortadores de cana j teriam participado do programa.

    13. Federao da Agricultura do Estado de So Paulo/Servio Nacional de Aprendizagem Rural

    OcupaesTratoristas eoperadoresde mquinas

    Supervisores Cortadoresde cana

    Outrasocupaesagrcolas

    Outrasocupaes

    no-agrcolas

    Analabeto 0,1 0,7 3,7 2,5 0,5

    4a

    SrieIncompleta 8,5 16,3 31,7 34,0 7,2

    4a SrieCompleta

    19,4 19,7 26,7 25,4 15,8

    8a SrieIncompleta

    22,1 19,6 20,2 14,7 16,4

    8a SrieCompleta

    21,3 15,0 10,0 18,2 15,6

    2o GrauIncompleto

    8,1 5,0 3,3 2,2 7,9

    2o GrauCompleto

    20,1 21,4 4,2 2,9 31,6

    SuperiorIncompleto

    0,3 0,6 0,1 0,1 1,8

    SuperiorCompleto

    0,2 1,8 0,0 0,0 3,3

    Tabela 3. Distribuio das ocupaes (%) por grau de instruo no setorsucroalcooleiro, Estado de So Paulo, 2007

    Fonte: TR 6, com base nos dados do Caged, MTE

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    46 Bioenergia no Estado de So Paulo

    No mesmo sentido, outra ao de qualicao impor tante a da Udop14,

    que est capacitando para suas associadas, 100 mil trabalhadores nas reas agr-cola, industrial e administrativa.

    J o Centro Paula Souza, vinculado Secretaria de Desenvolvimento doEstado, administra 138 Escolas Tcnicas (Etecs) e 33 Faculdades de Tecnologia(Fatecs), em 116 cidades do Estado, com signicativo porcentual dirigido aoagronegcio.

    II.6 B m mbt

    Este tema oi apresentado com maiores detalhes no TR 4 Aspectosambientais na cadeia de biocombustveis, com nase ao etanol e biodiesel e noTR 14 Zoneamento Scio-Econmico e