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Rochas & Minerais Industriais Usos e Especificações Editores: A. B. da Luz ! F. F. Lins Rochas & Minerais Industriais

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Rochas & Minerais IndustriaisRochas & Minerais Industriais

Usos e EspecificaesEditores: A. B. da Luz ! F. F. Lins

ROCHAS & MINERAIS INDUSTRIAISUSOS E ESPECIFICAES

Ado Benvindo da Luz Engo de Minas (UFPE), Mestre e Doutor em Engenharia Mineral, USP. Fernando Antonio Freitas Lins Engo Metalrgico/PUC-Rio, Mestre e Doutor em Cincias em Engenharia Metalrgica e de Materiais/COPPEUFRJ.

CETEM-MCTCENTRO DE TECNOLOGIA MINERAL MINISTRIO DA CINCIA E TECNOLOGIA

Rio de Janeiro 2005

Copyright 2005 CETEM/MCT

Todos os direitos reservados. A reproduo no autorizada desta publicao, no todo ou em parte, constitui violao de copyright (Lei 5.988) Colaboradores

Diagramao e Editorao Eletrnica Valria Cristina de Souza Vera Lcia do Esprito Santo Souza

Capa Vera Lcia do Esprito Santo Souza

Rochas & Minerais Industriais/Ed. Ado Benvindo da Luz e Fernando Antonio Freitas Lins. Rio de Janeiro: CETEM/MCT, 2005. 867p.: il. 1.Rochas Industriais. 2. Minerais Industriais. 3. Uso e Especificaes. 4. No Metlicos. I. Centro de Tecnologia Mineral. II. Luz, Ado Benvindo da, ed. ISBN 85-7227-204-6 CDD 622.7

APRESENTAO

Este livro sobre as Rochas e Minerais Industriais, editado por Ado Benvindo da Luz e Fernando Freitas Lins, dois eminentes pesquisadores do CETEM, contribuir, sem dvida, para preencher uma lacuna na literatura tcnica nacional e na valorizao dos recursos minerais brasileiros. Alm de apresentar dois captulos introdutrios ao tema, so analisadas 31 substncias minerais de importncia para diversos fins. Para cada substncia, inicialmente ressalta-se sua importncia econmica, seguindo-se uma abordagem sobre a mineralogia e geologia, lavra e processamento, e finalmente usos e especificaes. Este livro ser de grande utilidade para profissionais, estudantes e empresrios do setor produtivo e consumidor de rochas e minerais industriais, e tenho certeza, se constituir numa referncia na literatura sobre o aproveitamento dos recursos minerais. Esto de parabns os editores, autores dos captulos e o Centro de Tecnologia Mineral - CETEM, que assim cumpre uma das atribuies de sua misso em prol do desenvolvimento mineral brasileiro, e todos aqueles que, direta ou indiretamente, contriburam para a elaborao desta obra.

Rio de Janeiro, novembro de 2005 Avlio Antnio Franco Subsecretrio de Coordenao das Unidades de Pesquisa-MCT

PREFCIOEste livro se originou da percepo dos editores da lacuna existente na literatura tcnica nacional sobre as rochas e minerais industriais, em descompasso com sua crescente importncia no Brasil. Vrias geraes de profissionais (inclusive as dos editores) do setor mineral foram marcados em sua formao pela cultura dos minerais metlicos e das grandes empresas. Diferentemente, na classe dos no metlicos, ou das rochas e minerais industriais, predomina a produo por pequenas e mdias empresas, assim como por arranjos produtivos locais (APLs). H outra caracterstica dessa classe, para um grande nmero de substncias minerais, que a diferencia da classe dos metlicos: no h muita troca de informaes nem se publica muito sobre os usos e as especificaes, e cada empresa tende a considerar as caractersticas de seu produto como um segredo industrial. Outra diferena marcante a possibilidade de agregar valor ao produto mineral, conferindo-lhe propriedades para usos especficos. Assim, enquanto cobre cobre e ouro ouro, negociados por preos cotados internacionalmente, um produto de feldspato ou caulim , entre muitos outros, pode apresentar diferena de vrias vezes no preo. A tecnologia, para esses casos, um insumo fundamental. Este livro oferece ao leitor dois captulos introdutrios e um perfil de 31 substncias minerais. As substncias foram escolhidas tanto pela importncia, como pela disponibilidade dos especialistas internos e externos ao CETEM, que graciosamente colaboraram na elaborao dos captulos. Algumas das substncias (nefelina sienito e zeolita) no so produzidas ainda no Brasil, mas apresentam depsitos promissores. Por outro lado, no foram includos, nesta primeira edio, os importantes segmentos dos agregados para construo civil (areia e brita) e o de rochas ornamentais, porque, ao conhecimento dos editores, suas associaes empresariais (ANEPAC e ABIROCHAS) estavam trabalhando na elaborao de livro ou manual especfico. O projeto que ajudou a viabilizar as atividades, que resultaram na edio deste livro, foi apoiado, aps submetido a um edital, pelo Fundo Setorial Mineral, atravs do CNPq. Registramos nossos agradecimentos a ambos, bem como aos autores dos diversos captulos.

Rio de Janeiro, novembro de 2005 Editores: Ado Benvindo da Luz e Fernando A. Freitas Lins

SUMRIO

PARTE I: INTRODUO GERAL 01.PANORAMA DA PRODUO E CONSUMO DE ROCHAS E .............................................. 011 MINERAIS INDUSTRIAIS NO BRASIL Fernando A. Freitas Lins 02. DESEMPENHO FUNCIONAL DOS MINERAIS INDUSTRIAIS: ......................................... 031 DESAFIOS TECNOLGICOS, FERRAMENTA DE MARKETING E ESTRATGIA DE VALORIZAO Renato R. Ciminelli PARTE II: ROCHAS E MINERAIS INDUSTRIAIS: USOS E ESPECIFICAES 03. AGALMATOLITO .................................................................................................................. 073 Ado Benvindo da Luz, Paulo Tomedi e Rodrigo Martins 04. AMIANTO .............................................................................................................................. 085 Normando Claudino Moreira de Queiroga, Renato Ivo Pamplona, William Bretas Linares, Ado Benvindo da Luz e Ivan Falco Pontes 05. AREIA INDUSTRIAL ............................................................................................................. 107 Ado Benvindo da Luz e Fernando A. Freitas Lins 06. AGROMINERAIS/ENXOFRE .............................................................................................. 127 Gildo de Arajo S C. de Albuquerque (in memoriam), Ronaldo Simes L. Azambuja e Fernando A. Freitas Lins 07. AGROMINERAIS/FOSFATO ................................................................................................ 141 Francisco E. Lapido Loureiro, Marisa Bezerra de Mello Monte e Marisa Nascimento 08. AGROMINERAIS/POTSSIO ............................................................................................... 173 Marisa Nascimento, Marisa Bezerra de Mello Monte e Francisco E. Lapido Loureiro 09. ARGILA/ATAPULGITA E SEPIOLITA................................................................................. 201 Ado Benvindo da Luz e Salvador Luiz M. de Almeida 10. ARGILA/BENTONITA ......................................................................................................... 217 Ado Benvindo da Luz e Cristiano Honrio de Oliveira 11. ARGILA/CAULIM ................................................................................................................. 231 Ado Benvindo da Luz, Antnio Rodrigues de Campos, Eduardo Augusto de Carvalho e Luiz Carlos Bertolino

12. BARITA .................................................................................................................................. 263 Ado Benvindo da Luz e Carlos Adolpho Magalhes Baltar 13. BAUXITA ............................................................................................................................... 279 Joo Alves Sampaio, Mnica Calixto de Andrade e Achilles Junqueira Bourdot Dutra 14. BERILO .................................................................................................................................. 305 Marcelo Soares Bezerra e Jlio de Rezende Nesi 15. CALCRIO E DOLOMITO ................................................................................................... 327 Joo Alves Sampaio e Salvador Luiz Matos de Almeida 16. CROMITA ............................................................................................................................... 351 Joo Alves Sampaio, Mnica Calixto de Andrade e Paulo Renato Perdigo Paiva 17. DIAMANTE ........................................................................................................................... 375 Mario Jorge Costa e Ado Benvindo da Luz 18. DIATOMITA .......................................................................................................................... 399 Silvia Cristina Alves Frana, Ado Benvindo da Luz e Paulo Francisco Inforati 19. FELDSPATO .......................................................................................................................... 413 Ado Benvindo da Luz e Jos Mario Coelho 20. FLUORITA ............................................................................................................................. 431 Joo Alves Sampaio, Mnica Calixto de Andrade e Carlos Adolpho Magalhes Baltar 21. GIPSITA ................................................................................................................................. 449 Carlos Adolpho Magalhes Baltar, Flavia de Freitas Bastos e Ado Benvindo da Luz 22. GRAFITA ............................................................................................................................... 471 Joo Alves Sampaio, Mnica Calixto de Andrade, Paulo Renato Perdigo Paiva e Achilles Junqueira Bourdot Dutra 23. MAGNESITA .......................................................................................................................... 489 Lus Rodrigues Arma Garcia, Paulo Roberto Gomes Brando e Rosa Malena Fernandes Lima 24. MANGANS .......................................................................................................................... 515 Joo Alves Sampaio, Mnica Calixto de Andrade, Achilles Junqueira Bourdot Dutra e Mrcio Torres Moreira Penna 25. MICA ...................................................................................................................................... 531 Patrcia Maria Tenrio Cavalcante, Carlos Adolpho Magalhes Baltar e Joo Alves Sampaio 26. NEFELINA SIENITO ............................................................................................................ 545 Joo Alves Sampaio e Silvia Cristina Alves Frana

27. RMIS: ROCHAS E MINERAIS PARA CERMICA DE REVESTIMENTO ......................... 559 Mnica Calixto de Andrade, Joo Alves Sampaio, Ado Benvindo da Luz e Alberto Buoso 28. RMIS: ARGILAS PARA CERMICA VERMELHA ............................................................... 583 Marsis Cabral Junior, Jos Francisco Marciano Motta, Amilton dos Santos Almeida e Luiz Carlos Tanno 29. TALCO ................................................................................................................................... 607 Ivan Falco Pontes e Salvador Luiz Matos de Almeida 30. TERRAS RARAS ..................................................................................................................... 629 Simon Rosental 31. TITNIO: MINERAIS DE TITNIO .................................................................................... 655 Carlos Adolpho Magalhes Baltar, Joo Alves Sampaio e Mnica Calixto de Andrade 32. VERMICULITA ...................................................................................................................... 677 Jos Fernandes de Oliveira Ugarte, Joo Alves Sampaio e Silvia Cristina Alves Frana 33. ZEOLITAS NATURAIS .......................................................................................................... 699 Nlio das Graas de Andrade da Mata Resende e Marisa Bezerra de Mello Monte GLOSSRIO

Rochas e Minerais Industriais CETEM/2005

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1. Panorama da Produo e Consumo de Rochas e Minerais Industriais no BrasilFernando A. Freitas Lins 1

1. INTRODUOQualquer atividade agrcola ou industrial, no campo da metalurgia, da indstria qumica, da construo civil ou do cultivo da terra, utiliza os minerais ou seus derivados. Os fertilizantes, os metais e suas ligas, o cimento, a cermica, o vidro, so todos produzidos a partir de matrias-primas minerais. cada vez maior a influncia dos minerais sobre a vida e o desenvolvimento de um pas. Com o aumento das populaes, cada dia se necessita de maior quantidade de minerais para atender s crescentes necessidades. Em nvel mundial, a acelerao da produo de matrias-primas minerais foi extraordinria nas ltimas dcadas. Com efeito, estimou-se (Wellmer e BeckerPlate, 2001) que, ao longo da histria da humanidade, at o final do Sculo XX, o consumo acumulado dos velhos metais (Au, Sn, Cu e Fe) alcanou menos de 50% por volta da 2a Grande Guerra. (Como curiosidade, para o ouro a produo acumulada foi estimada em 130 mil t.) O abastecimento de matrias-primas , sem dvida, um desafio que preocupa os governos, particularmente os dos pases em desenvolvimento, nos quais o crescimento demogrfico ser superior. Este abastecimento exige conhecimento dos prprios recursos minerais; estratgias para sua explorao e explotao; e mecanismos para que o valor agregado de sua extrao no seja apropriado pelos pases ricos, que geralmente so os que dispem de capital e tecnologia; mas, ao contrrio, pelos pases produtores, aumentando assim a qualidade de vida e os nveis de emprego de seus habitantes, e com o desafio de faz-lo minimizando os impactos ambientais (Calvo, 2001). O impacto no planeta ocorre tanto pela ao da prpria natureza como pelas atividades humanas. Wellmer e Becker-Plate (2001) quantificaram a movimentao total de material slido, resultando em 72 bilhes de m3/ano, segundo discriminado a seguir:1Eng. Metalrgico/PUC-Rio, D.Sc. em Engenharia Metalgica/COPPE-UFRJ, Pesquisador Titular do CETEM/MCT

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Panorama da Produo e Consumo de RMIs no Brasil

Geognico (37 bilhes de m3/ano): (a) eroso do solo pela gua ~ 20; (b) gerao de crosta ocenica ~10 e (c) formao de montanhas ~ 7. Antropognico (35 bilhes de m3/ano): (a) minerao ~ 17,8 incluindo os produtos minerais e os rejeitos de lavra e processamento e (b) massa movimentada em obras de engenharia estrutural e civil ~ 17,2.

Verifica-se que cerca da metade do material slido movimentado no planeta de origem antropognica. Desta parcela, a minerao e a construo civil compartilham, quase igualmente, a responsabilidade pelo impacto na Terra . O impacto ambiental da explotao dos minerais metlicos e energticos tende a ser mais grave que o provocado pela produo de rochas e minerais industriais (RMIs, como nos referiremos aqui com freqncia). Drenagem cida e contaminao com metais pesados so mais regularmente verificadas na extrao de minerais metlicos e carves, via de regra requerendo tratamentos especiais preventivos ou corretivos. As mineraes de RMIs normalmente no geram aqueles problemas, mas, como s vezes se encontram em reas mais habitadas ou prximas a cidades, enfrentam o desafio de evitar danos paisagsticos, de disposio adequada dos estreis da lavra e dos rejeitos do processamento, e no raro disputam espao fsico com a comunidade em seu entorno. A produo mundial de minerais, incluindo os energticos (carvo, petrleo etc.), segundo estimativa para o ano 2000, foi de 32 bilhes de toneladas (Wellmer e Becker-Plate, 2002). Desse total, cerca de 60% so de minerais (dos quais 2/3 de agregados para a construo civil) e 40% de energticos. Os minerais metlicos fundamentaram o desenvolvimento industrial do Sculo XIX, que se prolongou pelo sculo seguinte. Os recursos energticos foram os grandes protagonistas do Sculo XX, e ainda o so neste novo sculo. De acordo com Kuzvart, citado por Calvo (2001), as rochas e minerais industriais (RMIs) sero as matrias-primas tpicas da segunda revoluo industrial, as matrias-primas do terceiro milnio, por serem imprescindveis na fabricao de produtos demandados pela sociedade ps-industrial (plstico, fibra ptica, componentes eletrnicos etc.).

Seria importante um estudo de consolidao dos dados sobre a gerao de estreis nas operaes de lavra e de rejeitos nas usinas de processamento de minrios no Brasil. Essas informaes sero teis para o acompanhamento do impacto fsico da atividade de minerao em nosso territrio, inclusive com uma pr-qualificao do potencial de contaminao, por um lado, e de reaproveitamento dos minerais dos rejeitos, por outro.

Rochas e Minerais Industriais CETEM/2005

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Sem embargo, prevalecer a importncia das RMIs nos usos tradicionais, como construo civil, entre outros, que demandaro grandes volumes de matrias-primas para atender a demanda reprimida de conforto material e de infra-estrutura de populaes ainda crescentes. No Brasil, com a predominncia de pequenas e mdias empresas e Arranjos Produtivos Locais-APLs na produo de rochas e minerais industriais, a atividade mineral pode ser uma opo importante para gerao de emprego e renda. Diversos autores sugerem a convenincia de usar a produo de RMIs como uma medida aceitvel do amadurecimento industrial de um pas (Calvo, 2001). Assim, quanto mais tarde ocorre o momento em que a produo nacional de RMIs supera, em valor, a produo de minerais metlicos, mais recente a industrializao deste pas. Pases como a Inglaterra (primeiramente) e os EUA j ultrapassaram esse momento h dcadas. O Brasil parece confirmar esse padro. Com efeito, com os ltimos dados oficiais, de 2000, as RMIs (ou no-metlicos) responderam por 15% do valor da produo mineral, os metlicos por 20%, a diferena cabendo quase toda aos energticos (DNPM, 2001a). Tendo em vista a elevao recente da cotao internacional dos metais e energticos, a participao das RMIs deve ser menor atualmente. As RMIs, com reservas abundantes e produo em diversos pases, em geral no sofrem grandes oscilaes de preos. Os fatores que mais influenciam na variao dos preos so (Calvo, 2001): aumento do PIB do pas produtor, o descobrimento de novas aplicaes, o aparecimento no mercado de substitutos ou similares, as polticas governamentais de construo e obras pblicas, o desenvolvimento de novas tecnologias e as variaes do preo de energia. Neste captulo sero apresentados, em seqncia, a classificao dos minerais, com nfase nas rochas e minerais industriais; um panorama de longo perodo (1975-2004) da produo e consumo de algumas substncias minerais em nosso pas; a evoluo do consumo per capita de alguns materiais; e a relevncia econmica da minerao e das RMIs, estimando-se o valor do negcio mineral brasileiro.

2. CLASSIFICAO DOS MINERAISA questo de classificao dos minerais controversa. Na indstria mineral, os minrios ou minerais so normalmente classificados em trs grandes classes: metlicos, no-metlicos e energticos (Luz e Lins, 2004). Os minerais metlicos, de imediato entendimento, so aqueles dos quais os metais so extrados para suas

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Panorama da Produo e Consumo de RMIs no Brasil

inmeras aplicaes. Os energticos tambm no geram dubiedade por sua denominao, pois deles derivam as diversas modalidades de energia. A terminologia no-metlicos, todavia, traz um problema em si: antes uma negao, ou seja, a denominao pelo que no . Uma tendncia mais recente subdividir a classe dos minerais que no compe a classe dos metlicos nem a dos energticos em outras classes, conferindo mais clareza quando se faz referncia a seus membros constituintes. Com essa perspectiva, apresenta-se, a seguir, a classificao que a nosso ver embasa o escopo deste livro, que abordar as Rochas e Minerais Industriais (RMIs). Nesta classe, diferentemente das classes dos metlicos e dos energticos, os minerais se aplicam diretamente, tais como se encontram ou aps algum tratamento, ou se prestam como matria-prima para a fabricao de uma grande variedade de produtos. Em sntese, a classificao contempla as classes: metlicos, RMIs, energticos, gemas e guas. A lista complementada com algumas categorias de aplicaes minerais sugeridas (Cabral et al., 2005). Minerais Metlicos Ferrosos (tm uso intensivo na siderurgia e formam ligas importantes com o ferro): alm do prprio ferro, mangans, cromo, nquel, cobalto, molibdnio, nibio, vandio, wolfrmio;

No-ferrosos: bsicos (cobre, zinco, chumbo e estanho) e leves (alumnio, magnsio, titnio e berlio); Preciosos: ouro, prata, platina, smio, irdio, paldio, rutnio e rdio; Raros: escndio, ndio, germnio, glio etc.

Rochas e Minerais Industriais (RMIs) Estruturais ou para construo civil: agregados (brita e areia), minerais para cimento (calcrio, areia, argila e gipsita), rochas e pedras ornamentais (granito, gnaisse, quartzito, mrmore, ardsia etc.), argilas para cermica vermelha, artefatos de uso na construo civil (amianto, gipsita, vermiculita etc.);

Indstria qumica: enxofre, barita, bauxita, fluorita, cromita, pirita etc.; Cermicos: argilas, caulins, feldspatos, slica, talco etc.; Refratrios: magnesita, bauxita, cromita, grafita etc.; Isolantes: amianto, vermiculita, mica etc.; Fundentes: fluorita, calcrio, criolita etc.;

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Abrasivos: diamante, granada, quartzito, corndon etc.; Minerais de carga: talco, gipsita, barita, caulim, calcita etc.; Pigmentos: barita, ocre, minerais de titnio; Agrominerais (minerais e rochas para a agricultura): fosfato, calcrio, sais de potssio, enxofre, feldspato, flogopita, gipsita, zelita etc.; Minerais ambientais (tambm denominados de minerais verdes): bentonita, atapulgita, zelitas, vermiculita etc., utilizados (na forma natural ou modificados) no tratamento de efluentes, na adsoro de metais pesados e espcies orgnicas, ou como dessulfurantes de gases (calcrio).

Gemas Pedras preciosas: diamante, esmeralda, safira, turmalina, opala, topzio, guas marinhas, ametista, etc. (Segundo especialistas, a terminologia semi-preciosas no deve ser mais usada.) guas Minerais e Subterrneas. Minerais Energticos

Radioativos: urnio e trio; Combustveis fsseis: petrleo, turfa, linhito, carvo e antracito, que embora no sejam minerais no sentido estrito (no so cristalinos e nem de composio inorgnica) so estudados pela geologia e extrados por mtodos de minerao.

As RMIs podem adicionalmente ser agrupadas conforme sejam estritamente ou rochas ou minerais (Calvo, 2001). Assim, podem ser subdivididas em rochas industriais (agalmatolito, bauxita, calcrio, dolomito, quatzito etc.) e minerais industriais (apatita, barita, magnesita, talco etc.) Uma outra apresentao tem se estabelecido em vrios pases atuantes no setor de minerais industriais, e no Pas tem sido disseminada pelo especialista Renato Ciminelli. Essa classificao divide os minerais industriais segundo a funo que apresentam em suas aplicaes. O tema ser tratado em profundidade no prximo captulo, e apresenta-se a seguir apenas a sntese da classificao:

Minerais fsicos (mantm a identidade fsica original): estruturais, cargas e

extensores, auxiliares de processos, fundio etc.

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Panorama da Produo e Consumo de RMIs no Brasil

Minerais qumicos (perdem a identidade original): insumos para a indstria qumica, insumos para fertilizantes, auxiliares de processos qumicos, insumos para cermica, fluxo e metalurgia etc.

Vale ressaltar a dificuldade de uma classificao rgida para os minerais, pois muitos se enquadram perfeitamente em duas ou mais das subclasses, quaisquer que sejam as classificaes adotadas. Exemplos: a bauxita e a cromita servem, respectivamente, extrao dos metais Al e Cr, como tambm so usadas para fabricao de compostos qumicos; o diamante gema e o diamante industrial para uso abrasivo. A lista seria interminvel.

3. PRODUO E CONSUMO DE RMIS NO BRASILApresenta-se nesta seo a evoluo histrica da produo brasileira e do consumo aparente de algumas RMIs selecionadas, para o perodo 1975-2004. O objetivo foi oferecer ao leitor um panorama da evoluo, sem analisar as razes que determinaram os valores de produo ou de consumo. Tambm no analisaremos aquelas RMIs que so mais exportadas (rochas ornamentais, caulim, grafita, entre outras) ou, ao contrrio, aquelas que apresentam produo insuficiente para atender o consumo interno e so importadas (fosfato, potssio, enxofre etc.). Os captulos deste livro analisam 31 substncias minerais. Publicaes recentes tambm apresentam informaes (Coelho et al., 2005; DNPM, 2005a; DNPM, 2005b). Houve alguma dificuldade para obter informaes sobre determinadas RMIs. Por exemplo, a produo de argilas comuns para a produo de cermica vermelha no acompanhada anualmente no Sumrio Mineral; embora de baixo valor e de produo muito informal, so cerca de 82 Mt/ano (ABC, 2004), perdendo apenas, em quantidade, para os agregados de uso na construo civil (areia e brita) e minrio de ferro. Outro caso, a areia de uso industrial, tambm no consta do Sumrio; sua incluso se justifica pelos vrios usos que apresenta. Nas Tabelas 1 e 2 houve um agrupamento pelo critrio de associar a rocha ou o mineral aplicao que responde pelo seu principal consumo em quantidade. As matrias-primas para construo civil constituem o grupo mineral que mais extrado em volume. O setor de construo de longe o setor industrial que mais consome RMIs em quantidade, principalmente pelos agregados, e em variedade, quando se considera os artefatos que se destinam ao complemento/acabamento das construes. Por exemplo, o amianto, usado principalmente (90%) na fabricao de fibrocimento (telhas e caixas dgua), de emprego final na construo de moradias e galpes.

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O fosfato, matria-prima para fertilizantes, associado com a agricultura, assim como o enxofre, usado em sua maior parte para fabricao de fertilizantes. H tambm os minerais de consumo distribudo em duas ou trs aplicaes, como o caulim, na manufatura de papel e cermica. Em outro extremo, diversos minerais so consumidos em tantas aplicaes que nenhuma delas pode ser representativa de sua utilizao. Os agregados de construo (areia e brita) apresentam os mesmos valores de produo e consumo, e no foram repetidos na Tabela 2.Tabela 1: Evoluo da produo de algumas RMIs no Brasil.Materiais de Uso na Construo Civil Agregados Areia Agregados Brita Cimento Crisotila Gipsita [bruta] R. Ornamentais [bruta] Vermiculita [benef.] Agrominerais Enxofre [S contido]) Fosfato [concentrado] Potssio [K2O contido] Outras RMIs Bentonita [beneficiada] Caulim [beneficiado] Diamante Diatomita [calcinada] Feldspato [beneficiado] Fluorita Grafita [concentrado] Magnesita [calcinada] Mica (bruta) Talco/Pirofilita [bruto]un Mt Mt Mt kt Mt Mt kt un kt Mt kt un kt Mt kct kt kt kt kt kt kt kt 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004

n.d. n.d. 9,4 73,9 0,40 n.d. 0,801975

n.d. n.d. 22,1 170 0,57 n.d. 10,01980

n.d. n.d. 20,6 165 0,18 n.d. 9,001985

14,9 85,6 25,8 205 0,82 1,67 5,711990

87,0 105 28,3 210 0,95 1,89 3,391995

226 156 39,2 209 1,50 2,84 24,12000

236 163 38,9 173 1,51 3,06 21,52001

230 156 38,0 195 1,63 3,70 22,62002

191 130 34,0 231 1,53 6,08 26,12003

187 129 34,4 252 1,47 6,40 25,12004

25,0 0,41 0,01975

131 2,79 0,01980

229 4,21 1,511985

276 3,12 1131990

265 3,89 3741995

323 4,73 3522000

385 4,81 3192001

384 5,08 3372002

395 5,58 4162003

396 6,07 4032004

112 0,17 200 5,65 76,4 57,4 5,26 173 0,39 155

260 0,41 380 14,5 123 55,4 16,4 316 4,8 365

173 0,52 450 17,4 92,9 73,0 27,2 261 2,8 558

180 0,66 600 13,3 105 70,5 28,9 345 5,0 470

150 1,07 676 15,1 173 89,4 28,0 316 5,2 626

274 1,64 1000 7,20 118 42,9 71,2 280 4,0 474

179 1,73 700 6,73 69,2 43,7 60,7 266 4,0 398

185 1,76 500 5,84 45,2 47,9 60,9 269 4,0 348

199 2,08 400 6,92 53,5 56,3 70,7 306 5,0 369

227 2,20 300 7,20 116 57,8 76,3 366 5,0 401

Fontes: compilao e adaptao do autor a partir do Sumrio Mineral (DNPM), Balano Mineral Brasileiro (DNPM) e Anurio Mineral Brasileiro (DNPM).

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Panorama da Produo e Consumo de RMIs no Brasil

Tabela 2: Evoluo do consumo aparente de algumas RMIs no Brasil.Materiais de Uso na Construo Civil Cimento Crisotila Gipsita (bruta) R. Ornametais[ bruta] Vermiculita [benef.] Agrominerais Enxofre (S contido) Fosfato [concentrado] Potssio [K2O contido] Outras RMIs Bentonita Caulim [beneficiado] Diamante Diatomita [calcinada] Feldspato [beneficiado] Fluorita Grafita [concentrado] Magnesita [calcinada] Mica (bruta) Talco/Pirofilita [bruto]un Mt kt Mt Mt kt un Mt Mt Mt un kt kt kct kt kt kt kt kt kt kt 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004

9,4 103 0,40 n.d. n.d. 1975 0,46 0,40 0,55 1975 124 170 1770 24,5 76,4 35,0 5,18 134 n.d. 155

22,1 195 0,58 n.d. 9,61 1980 1,10 1,22 1,29 1980 273 230 3660 39,6 119 85,1 8,74 227 n.d. 365

20,5 145 0,56 n.d. 8,81 1985 1,34 4,25 1,07 1985 186 330 n.d. 32,5 92,9 72,4 18,6 176 2,0 554

25,8 170 0,82 1,90 13,3 1990 1,19 3,32 1,20 1990 211 390 45 15,3 98,1 45,6 18,9 163 2,9 469

28,6 182 0,96 1,27 16,8 1995 1,54 4,42 1,76 1995 208 490 n.d. 26,1 160 107 18,3 175 3,1 628

39,2 182 1,55 3,15 15,9 2000 2,03 5,71 2,97 2000 357 254 1340 26,5 116 74,6 51,0 208 3,1 477

39,0 152 1,57 2,02 14,3 2001 1,94 5,69 2,76 2001 252 303 825 18,4 67,1 61,9 57,5 260 2,9 399

37,8 119 1,63 2,50 11,2 2002 1,79 6,14 2,96 2002 185 318 780 18,4 44,1 80,3 49,0 242 3,3 347

33,6 109 1,52 4,51 22,1 2003 1,89 6,69 3,55 2003 197 235 328 21,4 54,4 78,0 58,3 278 4,6 368

33,9 121 1,46 4,61 24,0 2004 2,19 7,64 4,49 2004 226 56,5 n.d. 24,0 116 70,9 64,4 276 5,7 401

Fontes: compilao e adaptao do autor a partir do Sumrio Mineral (DNPM), Balano Mineral Brasileiro (DNPM) e Anurio Mineral Brasileiro (DNPM).

4. CONSUMO PER CAPITA DE MINERAISO consumo per capita de minerais e materiais um indicador normalmente usado para avaliar o grau de desenvolvimento material de um pas. Os pases industrializados geralmente consomem algumas vezes mais que aqueles em desenvolvimento. Alguns destes, como a China, tm acelerado o consumo de minerais, a reboque de altos nveis de crescimento econmico por muitos anos. O efeito China na evoluo da cotao internacional das commodities noticiado freqentemente. Esse pas, com sete vezes a nossa populao, e um PIB per capita ainda bem inferior, j nos ultrapassou no consumo per capita de ao, cimento, entre muitos outros minerais e materiais. A ttulo de ilustrao, apresenta-se o consumo per capita anual de minerais e metais (m&m), carvo e petrleo no Brasil, na Alemanha (Wellmer e Becker-Plate, 2002) e nos EUA (The future begins, 2004):

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Brasil: 3,1 de m&m + 0,1 de carvo + 0,5 de petrleo = 3,7 t; Alemanha: 10,5 de m&m + 2,5 de carvo + 1,6 de petrleo = 14,6 t; EUA: 17,6 de m&m + 3,4 de carvo + 3,1 de petrleo = 24,1 t.

O consumo acumulado de um cidado nascido hoje, ao longo de uma vida de 70 anos, mantidos os padres de consumo respectivos, seria: no Brasil, 260 t; na Alemanha, 1020 t; e nos EUA, 1690 t. A cesta de minerais do brasileiro (140 t de agregados, 35 t de petrleo, 14 t de cimento, 8 t de ao etc.) ter, como visto, um volume entre 4 e 7 vezes menor que as de seus contemporneos europeu e norte-americano. O IBGE, desde 1992, atualiza uma lista de indicadores de desenvolvimento sustentvel, agrupados em indicadores econmicos, sociais e ambientais. As informaes podem ser acessadas no stio dessa instituio. Um dos vrios indicadores econmicos o consumo per capita de um conjunto de 17 substncias minerais metlicas, 16 no-metlicas e 3 energticas. As recomendaes da comisso de Desenvolvimento Sustentvel-CDS da ONU destacam a importncia do indicador intensidade de uso, definido pela quantidade consumida de determinado material dividida pelo PIB (geralmente em kg/US$ 100). Quanto mais moderna uma economia, mais se espera que o setor de produo de matrias-primas, per si, tenha menor participao no PIB, com a agregao de valor via produtos mais elaborados. A involuo da intensidade de uso de uma determinada commodity reflete esta mudana, mesmo com o consumo per capita crescendo. Trata-se da inflexo para uma economia onde o setor tercirio (Servios) prepondera sobre o setor secundrio (Indstria). Apresenta-se na Tabela 3 um exerccio para o consumo aparente de alguns materiais no Brasil, entre 1970 e 2004. Para efeito de comparao, foram selecionados aqueles para os quais foram encontrados mais facilmente dados internacionais publicados. O cimento, representando a construo civil (habitao e infra-estrura). O ao, material pesado clssico, desde o sculo XIX lastreando a infra-estrutura e a indstria pesada. O cobre, freqentemente usado como uma medida do desenvolvimento industrial, utilizado em construes, produtos eltricos e mquinas e equipamentos. O alumnio, o metal leve cuja produo ascendeu ao longo do Sculo XX, empregado como material estrutural em construo e transporte e tambm em embalagem, e tem substitudo o ao em algumas aplicaes.

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Panorama da Produo e Consumo de RMIs no Brasil

Tabela 3: Evoluo de consumo per capita de alguns materiais no Brasil.MaterialCimento Consumo (Mt) kg/hab Ao Consumo (Mt) kg/hab Cobre Consumo (kt) kg/hab Alumnio Consumo (kt) kg/habPOPULAO -106

1970 9,40 101 6,24 67 85,3 0,92 97,7 1,1 93,1

1975 17,4 162 8,93 83 160 1,5 240 2,2 107,3

1980 22,4 184 10,9 90 215 1,8 350 3,0 121,6

1985 20,5 153 10,4 77 110 0,82 329 2,5 134,2

1990 26,0 177 11,7 79,8 207 1,4 317 2,2 146,6

1995 28,5 179 15,7 98,9 268 1,7 503 3,2 158,9

2000 39,2 229 19,2 112 328 1,9 604 3,5 171,3

2002 37,8 214 18,7 106 255 1,4 701 4,0 176,4

2004 33,9 187 21,5 118 325 1,8 789 4,3 181,6

Fontes: BEN/MME (2005), Sumrio Mineral (DNPM), Balano Mineral Brasileiro (DNPM) e Menzie (2003).

Os dados da Tabela 3, com respeito ao consumo per capita, mostram diferentes padres de evoluo entre 1970 e 2004. O cimento e o ao tiveram seu consumo aumentado em quase duas vezes. O cobre, com oscilaes mais bruscas, chega ao fim do perodo com um consumo tambm duas vezes superior ao do ano 1970. O alumnio um destaque pelo crescimento, embora tambm com oscilaes, aumentando em quatro vezes seu consumo per capita. Uma anlise mais atenta , no entanto, revela que, em 1980, o consumo aparente per capita dos quatro materiais alcanou nveis bem superiores aos de 1970, havendo uma involuo nos anos seguintes, e uma recuperao a partir de 1995. A seguir, faz-se uma comparao com a evoluo do consumo per capita de outros pases (Menzie, 2003; USGS, 2005). O cimento variou nos EUA de 41 a 374 kg, entre 1910 e 2000, com tendncia ainda de crescimento; o nvel dos 300 kg foi alcanado nos anos 1960.

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Outras naes industrializadas j estabilizaram o consumo, no perodo entre 1970 e 2000, como o Reino Unido (260 kg) e o Japo (550 kg), ou apresentam queda de consumo, caso da Frana, de 540 a 340 kg. A China iniciou os anos 1970 com consumo de 12 kg (quase dez vezes menos que o Brasil), nos igualando no incio de 1990 e superando em duas vezes em 2000. Nos EUA, o consumo de ao em 1910 era de 264 kg, alcanando um mximo no incio dos anos 70 (420 kg), decrescendo para 350 kg em 1990. Aps, voltou a crescer, superando, no final dos anos 90 e incio desta dcada, o nvel mximo atingido anteriormente. Interessante registrar que h quase cem anos atrs os EUA j apresentavam consumo per capita de ao bem superior ao Brasil de hoje. O consumo de cobre nos EUA, entre 1970 e 2000, est estabilizado em 1011 kg, com ligeira tendncia de decrscimo. No Reino Unido houve uma queda acentuada no mesmo perodo, de 10 a 6 kg. A China quase multiplicou por dez seu consumo nas trs dcadas em anlise, de 0,2 para 1,8 kg, igualando o consumo brasileiro. O consumo de alumnio nos EUA era de apenas 0,2 kg no incio do sculo passado, superando casa dos 20 kg nos anos 1970-1980, e atingindo 30 kg em 1995, mantendo tendncia de crescimento. A Frana tambm apresenta crescimento, entre 9 e 15 kg, no perodo 1970-1995, assim como o Japo, entre 14 e 30 kg. J o Reino Unido estabilizou seu consumo de alumnio entre 10 e 11 kg neste perodo. A China saiu de 0,2 kg, em 1970, para 2 kg, em 1995, multiplicando por dez seu consumo por habitante. Cada pas, com sua cultura prpria e condicionantes climticos, apresenta padres de consumo diferenciados para cada commodity. Por exemplo, o Japo consome de cimento 550 kg por habitante, 50% a mais que os EUA, explicado pela preferncia japonesa por estradas pavimentadas com concreto, enquanto os EUA privilegiam as asfaltadas e usam mais madeira na construo de moradias. Outro exemplo, o Brasil consome, per capita, quatro vezes mais cermica de revestimento que os EUA e o Japo. Os pases da OCDE teriam acordado uma meta de reduzir, nas quatro primeiras dcadas deste sculo, por um fator de 10, a intensidade de uso de materiais (Materials, 1998). Equivaleria, para esses pases, decrescer de 300 para apenas 30 kg/US$ 100. Tecnologia para tal j estaria disponvel. Nesse sentido, foi assinalado que o Japo utiliza, per capita, metade dos materiais e energia dos EUA, com um padro de vida similar.

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Panorama da Produo e Consumo de RMIs no Brasil

A intensidade de uso de alguns materiais nos EUA foi analisada (Materials, 1998). A do ao foi decrescente ao longo de todo o Sculo XX; portanto, o ao foi menos crtico para o crescimento da economia, mesmo com o consumo per capita crescendo. J a intensidade de uso do alumnio aumentou quase 100 vezes at se estabilizar na dcada de 1970, enquanto o consumo per capita segue crescendo. A intensidade de uso do plstico, material moderno, sinttico, da metade do sculo passado, continua em crescimento desde a dcada de 1940. Seguindo-se padro similar, espera-se que no Brasil ocorra, em seu processo de modernizao, um crescimento da intensidade de uso daqueles materiais da Tabela 3, dentre outros, inclusive as RMIs, por muitos anos. Aps a estabilizao e o decrscimo da intensidade de uso, por longo tempo ainda dever crescer o consumo per capita. Nosso pas j comeou tarde seu desenvolvimento industrial. Deveria estar materializando sua economia mais rapidamente do que mostram os dados da Tabela 3. A restrio intensificao do uso de materiais (a chamada desmaterializao da economia), neste estgio de desenvolvimento do Brasil, seria, obviamente, um absurdo, dados os nveis de conforto material e de infraestrutura ainda muito deficientes que persistem no Pas. Isso refletiria o empobrecimento de nossa populao. Em escala planetria, luz dos princpios do desenvolvimento sustentvel, a questo mais complexa. O impacto ambiental previsto pela utilizao de recursos minerais, para a elevao do nvel de vida da maioria da populao mundial, deve ser considerado em conjunto com as demais naes. Nas prximas dcadas, haver que se chegar a um ponto de equilbrio, com os pases industrializados consumindo menos quantitativamente dos recursos minerais (e melhor qualitativamente), deixando espao para o avano, necessrio e desejvel, do crescimento quantitativo no consumo pelos demais pases. Os pases pobres e emergentes devero adotar tecnologias mais eficientes para aproveitamento dos recursos minerais, de reciclagem intensiva de materiais e de engenharia de design de produtos. Essas tecnologias provavelmente sero desenvolvidas pelos pases industrializados.

5. O MINERAL BUSINESS BRASILEIRO E AS RMISA importncia da minerao para a economia brasileira pode ser subestimada se for considerada apenas sua participao no PIB nacional, inferior a 1% (exclusive petrleo e gs natural).

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Seu papel no cenrio econmico, no entanto, eleva-se substancialmente com a agregao de fraes de outros subsetores que fornecem insumos para a minerao (em sua atividade extrativa strictu sensu de produo na prpria mina) e daqueles subsetores que dela dependem parcialmente, formando o elo da cadeia produtiva. Explicitamente, uma frao de cada atividade econmica formal (isto , aquelas discriminadas no Novo Sistema de Contas Nacionais-NSCN do IBGE), no entorno da rea de minerao: de onde vm seus insumos (equipamentos, produtos qumicos, servios diversos etc.); e das atividades seqenciais minerao, consumidoras dos bens minerais primrios; e as que dela dependem parcialmente na prestao de servios (transporte, comercializao etc.). Nas trs etapas, h que se considerar ainda os servios financeiros e a tecnologia, entre outros. Nessa linha de raciocnio, com a quantificao criteriosa dessas fraes de outros subsetores, estaramos conformando o mineral business brasileiro (ou mnero-negcio ou negcio mineral), o que contribuiria para o fortalecimento da imagem da minerao na sociedade como um todo. De nosso conhecimento, h pelo menos um trabalho relativamente recente analisando o tema em profundidade (Vale, 2001). Esse autor ento j ressaltava a necessidade e a convenincia do setor mineral discriminar e divulgar o minebusiness (como denominou o negcio mineral) por meio de um trabalho detalhado, em cooperao com o IBGE. Alguns setores e subsetores da economia tm sido hbeis na exposio de sua importncia, contabilizando parcelas de outras atividades econmicas associadas, inclusive apropriando fraes da prpria minerao. Exemplificando, o agribusiness contabiliza a produo de matrias-primas para a fabricao de fertilizantes. O construbusiness considera a produo e a comercializao dos materiais (areia, brita, cimento, ao e cermica etc.) usados na construo, aumentando em 20% sua participao original no PIB, com mais 10% em bens de capital e mais 20% em servios diversos. Em estudo recente, Machado (2004) calculou a contribuio do subsetor industrial petrleo ao PIB, para o ano de 2001, contabilizando no negcio petrleo outras atividades alm da extrao de combustveis propriamente dita, agregando refino de petrleo, produo e distribuio de gs, comrcio a varejo e a atacado de combustvel e comrcio a varejo de GLP (mas excluindo a extrao de carvo mineral e a indstria petroqumica). O negcio do petrleo atingiu 5,9% do PIB, com o preo internacional do barril ainda inferior a US$ 30.

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Panorama da Produo e Consumo de RMIs no Brasil

O Ministrio do Turismo anunciou, em 2005, convnio com o IBGE para quantificar seu negcio. O Ministrio da Cultura, posteriormente, seguiu a iniciativa. Faremos a seguir um exerccio de clculo expedito, com o objetivo de se obter uma ordem de grandeza do mineral business brasileiro, de sua minerao slida (exclusive petrleo e gs). A Tabela 4 mostra a evoluo do PIB (US$ de 2004) do subsetor industrial minerao, em uma retrospectiva de 34 anos, bem como seu percentual em relao ao PIB. A fonte de informaes o Balano Energtico Nacional-BEN (2005), base 2004, acessvel no stio do MME.Tabela 4: Evoluo dos produtos dos subsetores minerao, no-metlicos e metalurgia (bilhes de US$ de 2004) e a participao (%) no PIB brasileiro.SubSetores Minerao1 No-Metlico2 Metalurgia3MIN+NM+MET PIB BRASIL

1970 1,250 2,609 5,564 9,423 160,8 0,77 1,62 3,46 5,85 1.804

1975 2,139 4,502 8,841 15,48 259,7 0,82 1,73 3,40 5,96 2.420

1980 3,072 6,522 13,28 22,87 367,9 0,84 1,77 3,61 6,2 3.025

1985 3,230 5,308 11,73 20,27 391,9 0,82 1,35 2,99 5,17 2.920

1990 2,380 5,366 11,96 19,71 427,6 0,56 1,25 2,80 4,61 2.916

1995 2,100 5,531 13,22 20,85 427,6 0,49 1,29 3,09 4,88 3.130

2000 2,014 5,116 13,44 20,57 555,2 0,36 0,92 2,42 3,70 3.241

2004 3,289 5,664 18,50 27,45 604,7 0,54 0,93 3,06 4,54 3.330

Minerao (%) No-Metlico (%) Metalurgia (%)MIN+NM+MET

PIB per capita (US$)

Fonte: Balano Energtico Nacional-BEN, MME, de 2005. 1.Extrativa Mineral: exclui extrao de petrleo e carvo mineral. 2.Cimento + Cermica. 3.Ferro-gusa e ao + No Ferrosos + Ferro-ligas.

Verifica-se na Tabela 4 que a participao da minerao, no perodo analisado, varia entre 0,4 e 0,8% do PIB. Sua participao comea a ganhar expresso quando se leva em conta o efeito da primeira transformao de seus produtos minerais, com a agregao dos subsetores industriais dos no-metlicos (cermica + cimento), providos essencialmente pelas RMIs, e da metalurgia (ferrogusa/ao + ferro ligas + no ferrosos). A evoluo desses subsetores com respeito ao PIB nacional tambm apresentada na Tabela 4.

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Percebe-se que a minerao e sua agregao com a primeira transformao (no-metlicos e metalurgia) apresentam uma participao histrica no PIB entre 4 e 6% no perodo analisado. Em 2004, resulta em aumento de participao no PIB de 0,54% , apenas a minerao, para 4,54% . A essa agregao pode ser acrescida a primeira transformao de produtos minerais (essencialmente RMIs) que se d na indstria qumica, na fabricao de produtos inorgnicos em geral, intermedirios para fertilizantes e fertilizantes P e K; uma parcela que compe um grupo com outras atividades econmicas (fabricao de resinas, tintas e vernizes etc.) agrupadas em Qumica, e responsvel por 3,7% do PIB em 2003 (ABIQUIM, 2004). O autor estima que pelo menos 1020% podem ser creditados s RMIs, ou seja , algo como 0,5% do total do PIB. A partir dos 5,0% (4,5+0,5) j alcanados, como produto de primeira transformao, o mineral business pode ser expandido por uma estimativa sobre o impacto dos produtos minerais em outros subsetores do Setor Indstria (alm da Qumica). Por exemplo, construo civil (8% do PIB), papel (1,2%) e outros, que empregam como matrias-primas minerais principalmente as RMIs. Agregando ao setor mineral pelo menos 10% da participao mencionada, tem-se mais 1% do PIB. Atinge-se portanto a participao de 6,0% do PIB. Considerando tambm o que se destina prpria minerao, proveniente da fabricao de veculos, de mquinas e equipamentos e bens eltricos e eletrnicos, que somam cerca de 4% do PIB, e estimando-se em 10% desse valor a participao da minerao, o negcio mineral ganha mais 0,4% do PIB. Com as premissas acima, mais um pequeno acrscimo da contribuio da extrao de carvo, o mineral business brasileiro alcanou cerca de 6,5% do PIB nacional em 2004, com as RMIs contribuindo com aproximadamente 40%. O Sumrio Mineral informa anualmente a participao conjunta da minerao, petrleo e gs natural no PIB. Em 2004, o percentual foi de 4,2% (DNPM, 2005b). Com a primeira transformao, a participao conjunta alcanou 10,5% do PIB. Este percentual aproxima-se razoavelmente da soma do negcio mineral estimado neste trabalho e o negcio do petrleo citado na literatura, considerando que foram empregadas metodologias distintas de clculo. Ressalta-se que no se levou em conta neste exerccio ligeiro o grande setor Servios (comrcio, transportes, financeiro, governo etc.), que responde por cerca de 60% do PIB, ou seja, a frao de cada subsetor que depende exclusivamente da atividade mineral. No se fez nenhuma estimativa neste sentido, mas mereceria um estudo criterioso. O estudo do agribusiness contabiliza suas participao nos

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vrios subsetores de Servios, o que explica em grande parte o salto de 9-10% do PIB da agropecuria para o valor na casa dos 30%, freqentemente veiculado na mdia. A seguir, a ttulo de ilustrao, apresentam-se alguns exemplos de percentuais tpicos de participao no PIB, segundo as contas nacionais do IBGE, e o resultado de agregao de partes de outros subsetores, formando seu respectivo negcio:

agropecurio ~ 9% PIB >>> agribusiness ~ 25 a 35% PIB construo civil ~ 8% PIB >>> construbusiness ~ 12% PIB extrao de P&GNP ~ 2-3% PIB >>> petrobusiness ~ 6% PIB extrao de minerais ~ 0,5% PIB >>> mineralbusiness ~ 6,5% PIB

Voltando Tabela 4, no o objetivo deste captulo analisar as inmeras causas internas e externas que condicionaram a evoluo na economia nacional e nos subsetores em tela no perodo 1970-2004. Cabem algumas verificaes, todavia, observando-se a Tabela 5, cujos dados foram calculados a partir da Tabela 4. Iniciando pela economia nacional, esta teve um crescimento real de 276% no perodo 1975-2004 (mdia anual de 8,2%). O PIB per capita cresceu apenas 85% (mdia de 2,5%). No entanto, verifica-se na Tabela 4 que o PIB per capita atingiu o patamar de US$ 3.000 em 1980, podendo-se calcular o crescimento no perodo 1980-2004 em apenas 10% (mdia anual de 0,4%).Tabela 5: Evoluo do crescimento (%) dos subsetores industriais minerao, no-metlicos e metalurgia entre 1970 e 2004.SubSetores Minerao No-Metlico MetalurgiaMIN+NM+MET PIB BRASIL PIB per capita

1970-1980 145,8 145,0 138,7 142,7 128,8 67,7

1980-1990 (22,5) (17,7) (9,94) (13,8) 16,2 (3,60)

1990-2000 (15,4) (4,66) (12,4) (4,36) 29,8 11,1

2000-2004 63,3 10,7 37,6 33,4 8,92 2,75

1970-2004 163,1 117,1 232,5 191,3 276,1 84,6

Fonte: calculado pelo autor a partir da Tabela 4.

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A evoluo lenta do consumo aparente dos materiais mostrada na Tabela 3, a partir de 1980, parece se relacionar com o baixssimo crescimento do PIB per capita no perodo 1980-2004. As RMIs, em sua maioria destinadas ao mercado interno, devem tambm apresentar evoluo de consumo aparente em dependncia da evoluo do PIB per capita. Identifica-se na Tabela 5 tambm as diferenas entre as trs dcadas em perspectiva, estritamente do ponto de vista do crescimento econmico. A dos anos 70, incorporando parte do chamado milagre econmico, a denominada dcada perdida dos anos 80 e a de 90, apenas um pouco melhor que a anterior. A dcada em curso precisa apresentar uma acelerao do crescimento econmico nos prximos anos, para no reproduzir o modesto desempenho dos anos 90 Outro indicador merece meno, o ndice de Gini, que mede a desigualdade na distribuio de renda. Manteve-se estacionrio em 0,6 (variando entre 0,62 e 0,58) entre 1976 e 2002 (IPEA-Data, 2005). Certamente, uma melhor distribuio de renda contribui para aumentar a demanda por RMIs, especialmente aquelas de uso na construo de habitaes. O subsetor minerao teve um crescimento real de seu produto, no perodo 1970-2004, de 163%. O subsetor no-metlico cresceu 117% neste perodo, enquanto a metalurgia houve-se melhor, crescendo 233%. Vendo como um todo os subsetores minerao, no-metlicos e metalurgia, ou a minerao e a primeira transformao mineral, o crescimento de 191% esteve abaixo dos 276% da economia nacional, no perodo total de anlise. Por outro lado, cabe destacar o desempenho excelente da minerao no perodo mais recente, 2000-2004, no qual cresceu 63%, e da metalurgia, com 37%, bem superiores ao da economia como um todo, de apenas 8,9%, certamente influenciado pela alta nos ltimos anos na cotao internacional de minrios e metais, concorrendo para o destaque nas exportaes. O subsetor no-metlico, mais dependente do mercado interno, no se saiu bem (10,7%), acompanhando o baixo crescimento econmico do Pas.

5. CONSIDERAES FINAIS E SUGESTESAo fazer o levantamento de dados de produo e consumo, o autor encontrou dificuldades para ter acesso a informaes mais antigas, da era do papel, em documentos j quase raros. Seria de interesse da comunidade mineral, fica a sugesto ao DNPM, que todas as substncias tivessem sua evoluo histrica de produo, consumo, preos etc., por mineral, disponveis no stio da

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Panorama da Produo e Consumo de RMIs no Brasil

instituio. No stio do USGS essa iniciativa foi implementada. H registros desde o Sculo XIX. Foi calculado de forma expedita neste trabalho o peso do mineral business brasileiro na economia nacional: 6,5% do PIB para o ano de 2004. O autor reconhece, no entanto, a necessidade de estudo detalhado, contando inclusive com a colaborao de especialistas do IBGE, de modo a se estabelecer uma metodologia criteriosa que possa ser aplicada sistematicamente. Acredita-se que tal informao ajude a melhorar a percepo e consolidar a relevncia do setor mineral.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICASABIQUIM (2004). Anurio Brasileiro da Indstria Qumica Brasileira. ABC (2004). Anurio Brasileiro de Cermica BEN (2005). Balano Energtico Nacional Cap.7. Energia e Socioeconomia. Ministrio das Minas e Energia, www.mme.gov.br. CABRAL Jr, M. et al. (2005). Minerais Industriais orientao para regularizao e implantao de empreendimentos. So Paulo, IPT, 86p. CALVO, B. (2001). As rochas e os minerais industriais como elemento de desenvolvimento sustentvel. Srie Rochas e Minerais Industriais. n.3, CETEM, 37p. COELHO et al. (2005). A competitividade dos minerais industriais brasileiros. In: XXI Encontro Nacional de Tratamento de Minrios e Metalurgia Extrativa. Natal-RN, 23-27 novembro, 8p. DNPM (2001a). Anurio Mineral Brasileiro (ltimo ano publicado, base 2000). DNPM (2001b). Balano Mineral Brasileiro (ltima verso abrangendo o perodo 1988-2000 e as verses de perodos anteriores). DNPM (2005a), Informe Mineral, DIDEM. (www.dnpm.gov.br)

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Mineral

(tambm

de

anos

anteriores).

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14. Berilo

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2. Desempenho Funcional dos Minerais Industriais: desafios tecnolgicos, ferramenta demarketing e estratgia de valorizaoRenato R. Ciminelli 1 RESUMO O novo paradigma para os negcios com Minerais Industriais no Brasil o marketing da performance industrial. O desempenho funcional dos minerais industriais como tema o eixo de conduo deste captulo, no qual so abordados os fundamentos, oportunidades, requisitos, estratgias e entraves que envolvem o aprimoramento de desempenhos funcionais dos minerais para segmentos e aplicaes industriais diversas. O autor destaca as vrias habilidades, caractersticas e atributos tcnico-industriais, mercadolgicos e gerenciais, j consagrados nos pases mais avanados, e que agora devem ser desenvolvidos pelas empresas brasileiras, como condio para o sucesso dos empreendimentos com minerais industriais. O autor tambm analisa os fundamentos da funcionalidade e do desempenho funcional explorando a discusso de casos especficos: caulim de revestimento para papel, metacaulim pozolnico como reforo de cimentos Portland, cargas, extensores, aditivos, reforos minerais funcionais em tintas e em plsticos. A complexidade e diversidade de perfis de funcionalidade e desempenho industrial para cada um dos vrios minerais industriais abre espao para incontveis oportunidades de implementao de estratgias de diferenciao, segmentao e explorao de nichos, direcionadas valorizao e ao fortalecimento de posies de mercado dentro do segmento de minerais industriais. A implementao de estratgias de diferenciao, segmentao e explorao de nichos est condicionada intimidade da empresa mineral com o mercado e sua capacitao tecnolgica, inclusive como pr-requisito para a negociao do valor do desempenho de cada produto a ser embutido no preo final. O cenrio de oportunidades do mercado brasileiro para os minerais industriais analisado com nfase para os espaos e nichos onde o desempenho funcional fator determinante.

1 Engo Qumico/UFMG; M.Sc. Engenharia. Cermica /Penn. State University - EUA; MBA Gesto Estratgica, USP; Doutorando do Programa de Geologia e Recursos Naturais da UNICAMP; Coordenador do Programa Mineral da Secretaria de Estado de Cincia, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais; Presidente do Conselho Diretor do Instituto Kairs; Especialista em Tecnologia e Gesto de Minerais Industriais e APLs de Base Mineral; Consultor de Marketing Industrial; Gestor de Projetos Empresariais e Inter-Institucionais.

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1. INTRODUOO desempenho funcional dos minerais industriais como tema o eixo de conduo deste captulo. Ao longo de todo o texto so abordados os fundamentos, requisitos, estratgias, entraves e contextos que envolvem o aprimoramento de desempenhos funcionais de produtos minerais a serem destinados a segmentos e aplicaes industriais diversos. As vrias sesses neste captulo foram elaboradas com o propsito de se contextualizar as questes que cercam a fundamentao, modelagem e o desenvolvimento do desempenho funcional dos minerais industriais s peculiaridades deste segmento da minerao. O autor neste texto consagra a abordagem que adota na concepo, conduo e no desenvolvimento de seus estudos e projetos com minerais industriais - sempre individualizar cada mineral industrial como um sistema binrio espcie mineral/produto mineral aplicao/segmento industrial. Os vrios outros captulos deste livro devem ser explorados de acordo com esta abordagem e orientao como forma de se otimizar e maximizar resultados, integrando e polarizando o estudo e anlise das fases de produo, controle e logstica s estratgias de comercializao, marketing e s aplicaes especficas de cada sistema mineral. Estes conceitos e fundamentos de marketing explorados pelo autor para os minerais industriais so analisados em algumas de suas publicaes mais recentes Ciminelli (2002a, 2001, 1997, 1996). Este texto se prope a desenvolver um entendimento mais apurado sobre as peculiaridades que diferenciam os Minerais Industriais dos demais segmentos minerais metlicos, energticos, gemas e minerais raros e preciosos. O autor refora sua convico de que gerir os negcios com Minerais Industriais, j a partir da pesquisa geolgica, com uma viso integrada polarizada para o mercado, seja um pr-requisito para o sucesso dos empreendimentos. Na abordagem proposta pelo autor ao se trabalhar com minerais industriais o foco deve ser sempre o sistema mineral industrial-mercado, consagrando sistemas como caulim refratrio, talco cosmtico, agalmatolito extensor em tintas, argila tixotrpica, alumina grau eletrnico, magnesita feed grade, cromita metalrgica, gesso agrcola, entre inmeros outros dentro de um universo muito amplo e diverso de sistemas. Como casos, as Figuras 1 e 2 exemplificam a dimenso e natureza de dois macro-sistemas: tintas-minerais e caulim-aplicaes.

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Os sistemas que compem cada macro-sistema se relacionam quanto a propriedades, funes, processos, desempenhos, ambientes e prticas comerciais. Torna-se altamente recomendvel, portanto, pela experincia do autor, que ao se trabalhar tcnica e mercadologicamente um determinado sistema se expanda o entendimento para outros sistemas explorando similaridades e correlaes. A funcionalidade mltipla que o mineral industrial pode desenvolver o principal diferencial do segmento dos no-metlicos. Alm de suas inmeras funes industriais, os produtos minerais podem atuar diferentemente de consumidor para consumidor, de pas para pas, de regio para regio, com perfis diferenciados de demanda e fornecimento, possibilidades de substituio, caractersticas variadas da gnese dos depsitos em cada produtor. Explorar esta diversidade o caminho para a rentabilidade e o crescimento da participao no mercado. O grande mrito da expresso Minerais Industriais a cobrana da polarizao da cultura e do gerenciamento da empresa mineral para o mercado. O sucesso dos negcios com os Minerais Industriais vai depender em grande parte do grau de intimidade dos produtores com o mercado, com os elos da cadeia produtiva e com as aplicaes finais. As empresas brasileiras de Minerais Industriais no esto adequadamente organizadas para seu principal desafio - a Polarizao da Capacitao Tecnolgica e Organizacional para o Mercado, pr-requisitos para o desenvolvimento de vantagens competitivas neste segmento mineral. Esta inadequao evidenciada, analisando-se o perfil dos principais elementos organizacionais nas empresas de minerao brasileiras - suas caractersticas estruturais e culturais do ambiente do trabalho, a qualificao da fora de trabalho e a presena de procedimentos e estratgias adequados para a absoro da base de conhecimentos acumulada. Conhecer as peculiaridades dos Minerais Industriais, diferenciando-os dos metlicos que caracterizam a cultura mineral predominante no pas, e contemplar as escalas mais adequadas e tpicas para cada mineral no-metlico, so prrequisitos para a viabilizao e valorizao tima dos empreendimentos neste setor mineral. O foco no mercado deve ser assegurado em todas as fases da produo dos Minerais Industriais, j no incio dos trabalhos geolgicos em um novo depsito mineral.

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Quartzo Slicas Especiais Vermiculita

Talco Dolomtico Carbonato de Clcio Precipitado Pigmentos

Dixido de Titnio Cargas Minerais Especiais Extensores Minerais Especiais Barita Caulim Dolomita

Sistemas Minerais - Tintas

Agalmatolito Caulim Calcinado

Calcita Natural Talco

Figura 1: Dimenses e natureza do macro-sistema tintasminerais.Caulim Usos Especiais

Caulim Grau Porcelana Caulim Reforo Poliolefnico Caulim Aditivo Genrico Caulim Grau para Borrachas Caulim Grau para Tintas Caulim Farmacutico

Caulim Cermico

Caulim Refratrio

Sistema Caulim

Caulim Calcinado

Metacaulim Pozolnico

Caulim Carga para Papel

Caulim Couch

Figura 2: Dimenses e natureza do macro sistema caulimaplicaes industriais.

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2. FUNCIONALIDADE E DESEMPENHO FUNCIONALA funcionalidade mineral deriva das propriedades primrias fsicas, qumicas, fsico-qumicas, morfolgicas e superficiais dos cristais e partculas minerais puras. O desempenho funcional, por sua vez, pode ser compreendido como a quantificao da funcionalidade. Outros captulos deste livro analisam a funcionalidade especfica de vrios minerais. Os minerais industriais enchem uma grande cesta de funes, aplicaes e segmentos industriais. Um nico mineral pode desempenhar inmeras funes em segmentos industriais diversos. Os perfis e fundamentos do espectro de funcionalidade de cada mineral e os parmetros que caracterizam as relaes entre os minerais industriais e suas aplicaes industriais so amplamente referenciados em uma bibliografia consolidada dedicada especificamente a este segmento mineral. Neste contexto, dignas de meno so as publicaes de Harben (1999), Harben and Kuzvart (1996), Ciullo (1996) e Carr (1994). A funcionalidade ancora a insero dos minerais nas cadeias produtivas, e se articula com a logstica como forma de segmentar e contextualizar os Minerais Industriais dentro da grande diversidade e amplitude de negcios que caracterizam e dimensionam este setor da minerao. O desempenho funcional em uma determinada aplicao industrial deriva da funcionalidade intrnseca do mineral/cristal puro de suas propriedades primrias, e das caractersticas secundrias do produto mineral: pureza e textura das partculas, e das tecnologias e condies de processamento. As propriedades intrnsecas dos minerais, e aquelas derivadas ou modificadas pelos processamentos fsicos e qumicos finais, muitas vezes sofisticados, de alto contedo tecnolgico, determinam as funes industriais viveis, os desempenhos especficos e a competitividade de cada espcie e produto mineral nas aplicaes industriais diversas frente a produtos e processos substitutos.

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Atributos e parmetros especficos de funcionalidade, como capacidade de adsoro, propriedades reolgicas, resistncia ao impacto, entre inmeros outros, iro ser trabalhados na seqncia de processamentos at o desempenho final do produto mineral comercial em determinada aplicao. Uma avaliao segura do desempenho industrial do mineral s possvel a partir de testes laboratoriais que avaliem o comportamento do produto mineral no processo de aplicao e determinem seu impacto sobre as propriedades do material e parmetros de processo onde incorporado. Uma estimativa preliminar deste desempenho, porm, pode ser sempre estimada correlacionando-se caractersticas de produtos minerais semelhantes e desempenhos quantitativos conhecidos. As caractersticas dos produtos minerais que mais impactam seu desempenho final, alm da funcionalidade intrnseca, so a pureza mineralgica, o teor e a natureza de contaminantes, na estrutura cristalina ou adsorvidas na superfcie das partculas, a morfologia e a distribuio dos tamanhos das partculas desenvolvidos aps processamento fsico final. Produtos minerais de desempenho mais avanado podem ter suas propriedades superficiais modificadas por aditivos orgnicos e inorgnicos; ou podem ser o resultado de combinaes hbridas de vrios minerais. Calcinao, sinterizao e ativao trmica so processamentos tambm usuais. Classificao pela Funcionalidade Uma sistemtica de classificao dos minerais industriais, muito utilizada, baseada em funcionalidade, separa os no-metlicos em dois grupos: Minerais Fsicos e Minerais Qumicos. As Tabelas 1 e 2 agrupam os principais minerais participantes destes dois grandes grupos de minerais industriais. Ciminelli (2002b) estudou o mercado para a produo brasileira de minerais cermicos e minerais funcionais que compem estes dois grandes grupos.

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Tabela 1: Grupo dos minerais fsicos.Mineral Minerais Estruturais Cargas e Extensores Auxiliares de Processos Fundio

Amianto Atapulgita Baritas Bentonita Carbonato de Clcio Cimento Diatomita Dolomita Gipsita Caulim Agregados de baixo peso Mica Nefelina Sienito Perlita Pedra Pomes Areia e Cascalho Slica Pedra Britada Pedra Talco Vermiculita Wollastonita

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Tabela 2: Grupo dos minerais qumicos.Minerais Insumos Indstria Qumica Insumos Fertilizantes Auxiliares Processos Qumicos Insumos Indstria Cermica Fluxos Metalurgia

Argilas Baritas Bauxita Boro Bromina Cromita Dolomita Feldspato Fireclay Fluorita Gipsita Ilmenita, Rutilo Caulim Cal Calcrio Sais de Ltio Magnesita Turfa Fosfatos Potssio Sal Carbonato de Sdio Sulfato de Sdio Enxofre Talco Wollastonita

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O grupo dos minerais fsicos mantm sua identidade fsica original ou no mximo interage quimicamente por adsoro ou absoro apenas na superfcie das partculas e/ou dos cristais. Os minerais fsicos funcionais, como o subsegmento mais sofisticado das cargas minerais e auxiliares de processo, so as especialidades deste grupo dos minerais fsicos. Os minerais funcionais representam a categoria com maiores demandas de um perfil empresarial mais apurado em tecnologias de produto e marketing. Um mineral do grupo dos minerais qumicos, por sua vez, tem em comum a perda de sua identidade fsica original ao ser incorporado nos processos e materiais, atuando como precursor de novos compostos nas fases lquidas ou gasosas, ou de novas fases cristalinas e vtreas em solues slidas aps tratamento trmico, como no caso das cermicas, ou ainda como dopante. A Tabela 3 relaciona, como exemplo, as funes industriais e as espcies minerais funcionais conforme propriedades e atributos de funcionalidade.Tabela 3: Propriedades minerais funcionais.Propriedades Morfologia das partculas funcionais e cristais Propriedades fsicas especiais Atividade qumica superficial

Funes Industriais

Cargas em tintas Reforo em polmeros Opacidade e brancura em papel Lamelares: talco, caulim e agalmatolito

Propriedades eltricas Poder de cobertura Transparncia Riscabilidade em plsticos Caulim calcinado Feldspato Wollastonita

Agente espessante Adsorvente Modificador de reologia Bentonita Talco

Minerais

UMA ESTRATGIA CONSAGRADA ENTRE PRODUTORES DE PASES MAIS DESENVOLVIDOS

3. DESEMPENHO FUNCIONAL

O novo paradigma para os negcios com minerais industriais o marketing da performance industrial do produto mineral. O produtor mineral deve desenvolver uma capacitao tecnolgica para negociar o valor e o preo do desempenho de seu produto em cada aplicao, fortalecendo, portanto, o comrcio de servios ou conhecimentos, frente ao comrcio de commodities minerais.

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Uma navegao investigativa em sites de busca, procura de fornecedores de minerais industriais especficos, revela, pela anlise do contedo de websites e de literaturas tcnicas de empresas americanas, principalmente, que a divulgao junto ao mercado de informaes amplas sobre o desempenho funcional especfico de cada produto mineral industrial ou de linhas de produtos uma prtica que j est plenamente consolidada como estratgia de marketing. Um artigo clssico publicado por Eckert (1985), consultor de uma grande empresa americana de consultoria especializada no marketing de minerais industriais e de especialidades e insumos qumicos, analisou e classificou, para segmentos minerais diferentes, a importncia de vrios parmetros sobre o sucesso dos negcios: 1) as caractersticas de sucesso dos negcios com minerais industriais; 2) as caractersticas de marketing de sucesso para minerais industriais; e 3) as habilidades de sucesso para empresas de minerais industriais. As Tabelas 4 a 6 consolidam o resultado desta anlise.Tabela 4: Caractersticas de sucesso dos negcios com minerais industriais.Minerais Qumicos CaractersticasInd. Qumica Fertilizantes Cermica

Minerais FsicosExtensores e Cargas Estrutural Auxlio Processo

Ciclicidade Tamanho empresa No. Consumidores Produo Suporte tcnico Intensidade de capital P&D Intensidade Marketing Alto / Grande Moderado Baixo / Pequeno

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Tabela 5: Habilidades de sucesso para as empresas de minerais industriais.Minerais Qumicos HabilidadeInd. Qumica Fertilizantes Cermica

Minerais FsicosExtensores e Cargas Estrutural Auxlio Processo

Engenharia de Minas Engenharia de Processos Know-How uso final Inovao do produto Suporte tcnico Vendas / Marketing Transporte Estocagem Maior habilidade Menor habilidade

Tabela 6: Caractersticas de marketing de sucesso para minerais industriais.Minerais Qumicos CaractersticasInd. Qumica Fertilizantes Cermica

Minerais FsicosExtensores e Cargas Estrutural Auxlio Processo

Nmero de tipos Grau de diferenciao Importncia do preo Vendas internacionais Vendas Varejo (distribuio) Vendas Diretas (contrato) Sofisticao do Consumidor Alto / Muito Moderado Baixo / Pequeno

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Uma anlise atenta das Tabelas 4 a 6 mostra que, medida em que se evolui para segmentos minerais, com destaque para fertilizantes e cargas/extensores, e para as especialidades em cada segmento, onde se constatam as perspectivas mais favorveis de valorizao dos produtos minerais alm das taxas convencionais de rentabilidade, pela agregao de atributos complementares queles tpicos das commodities, amplia-se a nfase em parmetros mais ligados a marketing e tecnologia de produtos, interface com o mercado, e aos valores do cliente e a demandas de servios de atendimento. Estes novos parmetros e atributos inovam a maneira de se gerir e desenvolver os negcios com minerais industriais, comparativamente a commodities, onde prevalece o domnio e a importncia das tecnologias clssicas de lavra, processamento, concentrao e logstica, e o marketing de grandes contratos. No Brasil as possibilidades de valorizao dos minerais industriais so barradas pelo domnio de uma escola de formao dos profissionais da minerao ainda muito clssica, voltada para a grande minerao dos metlicos e as grandes commodities energticas e no-metlicas. O autor prope que a gesto de negcios com minerais industriais seja desenvolvida com uma abordagem tecnolgica e de marketing mais pautada nos parmetros aplicveis a fertilizantes e cargas minerais, seguindo as recomendaes das Tabelas 4 a 6 como forma de se maximizar os resultados. Nos demais segmentos as especialidades de maior valorizao seguiro sempre os parmetros destes dois casos. Introduz-se neste contexto o conceito de taylor made onde as caractersticas dos produtos so desenvolvidas para mxima satisfao funcional e de servios do cliente. Tecnologias e Marketing de Produto e Aplicao como complemento s Tecnologias Clssicas da Minerao A capacidade de valorizao dos produtos pela funcionalidade e pelo desempenho, exigncia tpica para os minerais industriais, passa pelo domnio das tecnologias de produto, e pela aplicao de estratgias de diferenciao e segmentao desenvolvidas no marketing mineral. A capacitao tecnolgica das empresas torna-se um atributo determinante da capacidade de agregao de valor e diferenciao de produtos em algumas categorias, inclusive, como nas cargas minerais, a competitividade das empresas depende de certos perfis empresariais e caractersticas/habilidades de negcios especficos, introduzidos nas Tabelas 4 a 6, onde padres de capacitao tecnolgica de classe mundial tornam-se requisitos.

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O domnio das tecnologias de produto e aplicao, e de estratgias de marketing mineral direcionadas para a maior valorizao dos minerais industriai, passa por um grande desafio transformar a cultura do profissional da minerao no Brasil ainda muito voltada para commodities. O Brasil, como produtor mundial de destaque de algumas das mais importantes commodities minerais metlicas e nometlicas, como minrio de ferro, calcrio, caulim, entre outras, incontestavelmente domina as tecnologias clssicas de lavra, concentrao, processamento mineral, e logstica. Tambm a cultura dos profissionais brasileiros da minerao sempre esteve moldada para o domnio destas etapas. A Figura 3 introduz os conceitos de agregado tecnolgico ampliado, como a soma das tecnologias minerais clssicas, j dominadas, com as tecnologias de produto e aplicao; e do marketing estendido, que evolui do marketing clssico tpico das commodities para o marketing dos sistemas mineral/aplicao. O autor entende que o Brasil j domina as tecnologias de concentrao e processamento mineral de amplo uso pelas commodities metlicas e no-metlicas, e que as oportunidades para a conquista de novos espaos de mercado estaro voltadas para a capacidade dos investidores brasileiros de otimizar o desempenho funcional de seus minerais industriais em segmentos industriais diversos e de satisfazer diferenciadamente a demanda. Os minerais fsicos funcionais, por exemplo, a categoria que melhor ilustra este novo espao competitivo. Neste texto o autor estar focando sua discusso naquelas inovaes e conhecimentos de base tecnolgica que priorizam a otimizao da funcionalidade do mineral em variadas aplicaes industriais pelo processamento avanado do mineral, e pelo domnio e controle da interface com outros materiais onde incorporado.

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TECNOLOGIA DE PRODUTOS E APLICAES EXPANDE AS OPORTUNIDADE DE MERCADO DOS MINERAIS INDUSTRIAIS

O AGREGADO TECNOLGICO AMPLIADO

MARKETING ESTENDIDO VALORIZA MINERAL

MARKETING MINERAL

(commodity)

TECNOLOGIA DE PRODUO / LOGSTICA (COMMODITIES)

+TECNOLOGIAS DE PRODUTO, APLICAO E MERCADO

MARKETING SISTEMA PRODUTO / APLICAO

(funcionalidade, desempenho e servios so valorizados)

Figura 3: Agregado tecnolgico ampliado e marketing estendido.

O grande entendimento que se apresenta aqui que, maximizados os parmetros convencionais de competitividade atrelados liderana de custos (consagrados na gesto de processos, de operaes, de logstica e controle ambiental para as commodities, sejam elas metlicas ou no-metlicas), no caso dos Minerais Industrias, pode-se ampliar a competitividade e o valor dos produtos pela segmentao e pela diferenciao de parmetros tcnicos, de desempenho e servios.

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A complexidade e diversidade de perfis de funcionalidade e desempenho industrial para cada um dos vrios minerais industriais abre espao para incontveis oportunidades de implementao de estratgias de diferenciao, segmentao e de explorao de nichos, direcionadas para a valorizao e o fortalecimento de posies de mercado dentro do segmento de minerais industriais, fundamentadas por Porter (1990). A implementao de estratgias de diferenciao, segmentao e explorao de nichos est condicionada intimidade com o mercado e a capacitao tecnolgica dos produtores minerais, inclusive como pr-requisito para a negociao do valor e preo do desempenho de cada produto. A maturidade para o sucesso dos negcios com Minerais Industriais requer o entendimento de que a diferenciao vai demandar o domnio de tecnologias de produto e aplicao, em contraposio nfase nas tecnologias de produo e logstica, que prevalece nos negcios com commodities minerais. A segmentao, por sua vez, vai demandar maior nfase no marketing do sistema produto mineral/aplicao contra o marketing restrito espcie mineral, que persiste nas commodities. A segmentao mercadolgica uma estratgia de marketing muito recomendvel aos Minerais Industriais como forma de explorar a diversidade que caracteriza este segmento mineral, tirando vantagem das particularidades dos sistemas mineral/produto/aplicao/cliente. Em tese, um mesmo produto mineral pode apresentar preos bastante diferentes em sistemas diferentes. A segmentao mercadolgica requer da indstria mineral uma estrutura tcnica, administrativa e comercial polarizada para os segmentos alvos e compatvel com o perfil da demanda. A segmentao mercadolgica uma estratgia muito nova e de difcil assimilao e execuo para a maioria das mineradoras do Pas, cuja cultura ainda muito extrativista e est mais dirigida para a comercializao de commodities. A segmentao mercadolgica como estratgia de marketing no pode ser confundida com aes especulativas que tirem vantagem de condies atpicas e temporrias do mercado. A identificao do perfil da demanda e a elaborao e implementao desta estratgia de marketing demandam sensibilidade e competncias tcnica e mercadolgica. O pequeno minerador, principalmente, dever para isto reconhecer a importncia de profissionais especializados em sua equipe.

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4. ESTUDOS DE CASOS: CAULIM PARA REVESTIMENTO DE PAPEL E METACAULIM POZOLNICOUma pesquisa atenta da literatura tcnico-cientifica e empresarial internacional levanta inmeros exemplos que ilustram como o entendimento dos fundamentos da funcionalidade e da modificao, otimizao e controle do desempenho funcional dos minerais industriais pode impactar novas aplicaes, o maior valor dos produtos, a fidelidade do mercado, crescimento nas dimenses da demanda, e ampliao do potencial de substituio. Na Europa e nos Estados Unidos, na dcada de 70, j era uma prtica consolidada investimentos de P&D no estudo de funcionalidade e desenvolvimentos de novos perfis de desempenho para os produtos de minerais industriais. O Brasil, at hoje, no conseguiu criar uma dinmica importante de investimentos em tecnologias de produtos e aplicao para o segmento de minerais industriais. A constituio de redes de pesquisa seria a estratgia mais rpida para se alcanar os rtmos desejados de inovao. Alguns exemplos de inovao em tecnologias de produto so dignos de meno especial por terem induzidos verdadeiras mudanas de paradigmas no perfil de aplicao de minerais industriais. Alguns destes casos so listados abaixo.

Substituio de caulim por carbonato de clcio precipitado de plantas satlites no carregamento de papel; Substituio de caulim por calcita natural micronizada no revestimento de papel; Aplicao de wollastonita para desenvolvimento de propriedades antirisco em polipropileno para a indstria automobilstica; Caulim calcinado como extensor de TiO2.

Casos de destaque para o Brasil so o desenvolvimento da aplicao do agalmatolito como carga universal para tintas como alternativo ao talco e o fornecimento de polpas multi-minerais para a indstria de tintas. O autor considera, porm, que o caulim merece destaque nesta seo. Duas aplicaes especficas so tratadas aqui, como alvos de ateno importante na Europa e Estados Unidos ao longo dos ltimos 5-10 anos: o caulim de revestimento (ou coating clay ) para papel; e o metacaulim (caulim calcinado) uma pozolana para reforo mecnico e qumico de cimentos e concretos portland.

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4.1. Caulim para Revestimento de Papel A aplicao de caulim de alta finura, correspondente aos produtos obtidos na regio amaznica, predominantemente para exportao, pelas trs empresas da regio, Imerys e as duas do Grupo CVRD, como pigmento para a tinta de revestimento de papel, j consolidada mundialmente. Nosso destaque refere-se criao do engineering clay pelas concorrentes internacionais, principalmente nos EUA e Europa, como forma de impedir ou atrasar a penetrao do caulim brasileiro fino e naturalmente delaminado e de elevada alvura, de alta competitividade frente aos fornecedores tradicionais. Um grande esforo de pesquisa tem sido despendido por esses pases no desenvolvimento e na caracterizao do desempenho destes caulins alternativos. A literatura est repleta de referncias. Murray e Kogel (2005) explicam os fundamentos para a modificao de textura e finura dos caulins tradicionais como forma de desenvolver um desempenho similar aos caulins brasileiros. Na Figura 4 proposta a mudana na textura dos sistemas particulados visando uma menor viscosidade nas tintas de revestimento para papel formulada com caulim. Nas Tabelas 7 e 8 os mesmos autores ilustram como as propriedades dos recobrimentos podem variar conforme o tipo de caulim.

Alta Viscosidade

Baixa Viscosidade

Figura 4: Modificao de textura para engineered clay.

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Desempenho Funcional dos Minerais Industriais

Tabela 7: Propriedades pticas de caulins tradicionais e modificados.Propriedade N 1 N 2 Laminado

Alvura Opacidade Brilho Brilho impresso

81,8 81,8 48,0 62,0

80,5 81,4 43,0 59,0

82,3 82,2 47,0 64,0

Tabela 8: Relao entre o volume de poro do recobrimento, opacidade e reologia do recobrimento.Caulim Volume total de poro % Opacidade % Viscosidade (APS)

N 2 Laminado Quimicamente estruturado 85% laminado e 15 % calcinado

23 25 35 15

84,3 85,4 86,2 86,2

31 43 61 71

Remetro Hi-Shear Hercules, 4400 rpm e E bob, 50% slidos de recobrimento.

O grande entendimento que se apresenta aqui que, maximizados os parmetros convencionais de competitividade atrelados liderana de custos (consagrados na gesto de processos, de operaes, de logstica e controle ambiental para as commodities, sejam elas metlicas ou no-metlicas), no caso dos minerais industrias pode-se ampliar a competitividade e o valor dos produtos pela segmentao e pela diferenciao de parmetros tcnicos, de desempenho e servios. A complexidade e diversidade de perfis de funcionalidade e desempenho industrial para cada um dos vrios minerais industriais abre espao para incontveis oportunidades de implementao de estratgias de diferenciao, segmentao e de explorao de nichos, direcionadas para a valorizao e o fortalecimento de posies de mercado dentro do segmento de minerais industriais, fundamentadas por Porter (1990). A implementao de estratgias de diferenciao, segmentao e explorao de nichos est condicionada intimidade com o mercado e a capacitao tecnolgica dos produtores minerais, inclusive como pr-requisito para a negociao do valor e preo do desempenho de cada produto.

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A maturidade para o sucesso dos negcios com minerais industriais requer o entendimento de que a diferenciao vai demandar o domnio de tecnologias de produto e aplicao, contra a nfase nas tecnologias de produo e logstica, que prevalece nos negcios com commodities minerais. A segmentao por sua vez vai demandar maior nfase no marketing do sistema produto mineral/aplicao contra o marketing restrito espcie mineral, que persiste nas commodities. A segmentao mercadolgica uma estratgia de marketing muito recomendvel aos Minerais Industriais como forma de explorar a diversidade que caracteriza este segmento mineral, tirando vantagem das particularidades dos sistemas mineral/produto/aplicao/cliente. Em tese, um mesmo produto mineral pode ter preos bastante diferentes em sistemas diferentes. A segmentao mercadolgica requer da indstria mineral uma estrutura tcnica, administrativa e comercial polarizada para os segmentos alvos e compatvel com o perfil da demanda. A segmentao mercadolgica uma estratgia muito nova e de difcil assimilao e execuo para a maioria das mineradoras do Pas, cuja cultura ainda muito extrativista e est mais dirigida para a comercializao de commodities. A segmentao mercadolgica, como estratgia de marketing, no pode ser confundida com aes especulativas que tirem vantagem de condies atpicas e temporrias do mercado. A identificao do perfil da demanda e a elaborao e implementao desta estratgia de marketing demandam sensibilidade, competncia tcnica e mercadolgica. O pequeno minerador, principalmente, dever para isto reconhecer a importncia de profissionais especializados em sua equipe. 4.2. Metacaulim Pozolnico O metacaulim uma das commodities no-metlicas que estar apresentando ao longo das prximas duas dcadas um rtmo muito intenso de crescimento no volume da produo mundial. O metacaulim, uma pozolana de alta reatividade e eficincia, pode ser aplicada como um aditivo modificador de desempenho mecnico e qumico de concretos e outros produtos cimentcios, ou como substituto em propores significativas do cimento Portland, numa viso de mais longo prazo. As dimenses no consumo mundial de metacaulim podem atingir, nas prximas dcadas, centenas de milhes de toneladas anuais. No Brasil o potencial de demanda para metacaulim supera um milho de toneladas. O Brasil um candidato a dominar uma parcela significativa do mercado mundial por suas reservas de caulim na regio amaznica.

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O metacaulim no um resduo industrial, como acontece com praticamente todas as demais pozolanas reativas comerciais, e por esta razo um produto com maior controle de reatividade, cor e impurezas, e, portanto, desempenho mais apurado. A alta finura de caulins secundrios muito valorizada no contexto de melhor desempenho.O metacaulim pode ser descrito como uma super-pozolana de alto desempenho com as seguintes propriedades e funes : Aditivo pozolnico multi-uso;

Inibio da reao lcali-slica; Eliminao dos efeitos deletrios da cal residual e reativa do cimento; Aumento da durabilidade ao ataque qumico e de intempries; Reduo da permeabilidade e porosidade, e densificao do concreto e produtos de cimento;

Aumento da resistncia mecnica no curto e longo prazo.Na atualidade, o volume de aplicao de metacaulim no Brasil ainda reduzido e segue o perfil predominante de aplicao abaixo:

Inibio da reao lcali-agregado nos concretos para barragens tipos de pozolanas homologadas : micro-slica, a cinza Micromix e cimentos pozolnicos tipo CPIV. Metacaulim ainda no foi aprovado. Cimentos Pozolnicos, principalmente aqueles base de cinzas no sul metacaulim comea a ser utilizado emergentemente por cimenteiras.

A expectativa para o grande crescimento na demanda de metacaulim esperado para os prximos anos justificada pelo grande volume de pesquisa cientfica e tecnolgica, desenvolvida nos pases mais desenvolvidos e grandes produtores de caulim, envolvendo as propriedades, funes e aplicaes do metacaulim na construo civil. Na Figura 5 (A-E) MacPolin et al. (2005) estudam a resistncia ao ataque e ao ingresso de cloretos em concretos modificados com diferentes pozolanas: cimento Portland no-modificado (OPC), cinza pulverizada (PFA), escria siderrgica moda (GGBS), metacaulim (MK) e micro-slica (MS). Nos grficos o teor de cloreto no cimento analisado em vrias profundidades do concreto, com curvas para diferentes semanas de exposio de 12 a 48 semanas. O desempenho superior do metacaulim pode ser promovido com minrios de textura mais fina e pelo controle de reatividade.

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Figura 5: Perfil de penetrao de cloretos em concretos modificados com pozolanas variadas, em diferentes tempos (semanas) de exposio.

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5. OPORTUNIDADES E TENDNCIASO grande mrito da expresso minerais industriais estratgicomecadolgico, na medida em que posiciona as empresas e gestores de negcios com minerais industriais polarizadas para os segmentos industriais de aplicao dos produtos minerais. A denominao produto mineral, inclusive, neste novo contexto, se fortalece frente cultura tradicional da m