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Livro de Resumos da Semana da

Educação Física UTFPR 2010

Corpo, Percepção e Transformação

Organização

Adriana Maria Wan Stadnik

Daniela Isabel Kuhn

Curitiba, junho de 2010

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Ficha Catalográfica

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COMISSÃO ORGANIZADORA

Presidente: Daniela Isabel Kuhn Vice-presidente: Bruno Barth Pinto Tucunduva Adriana Maria Wan Stadnik Fábio Mucio Stinghen Laboratório de Ginástica e Dança – LAGID Centro Acadêmico de Educação Física da UTFPR, Campus Curitiba – CAEF Alunos do 2º período do Bacharelado em Educação Física da UTFPR, Campus Curitiba – disciplina Projeto Integrador II.

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APRESENTAÇÃO

A Semana Acadêmica da Educação Física da UTFPR é um evento que ocorre anualmente e tem como objetivo a complementação extracurricular e a disseminação de conhecimento científico, técnico e cultural. Trata-se de um momento muito especial para o nosso curso, pois nossas demais atividades acadêmicas são suspensas e nossos alunos, professores e convidados reúnem-se para gerar conhecimento na área de Educação Física. No ano de 2010 a Semana Acadêmica discutiu o movimento humano além de sua forma mecânica e propôs um olhar sobre o potencial de integração do ser humano, a partir de ações corporais. Apoiados na abordagem da corporeidade, convidamos o participante a pensar e vivenciar o corpo, a percepção e as possibilidades de transformação que emanaram das propostas apresentadas no evento. No processo de construção deste evento, submetemos um projeto à Fundação Araucária e o mesmo foi aprovado, financiando uma considerável parte das despesas. Além disto, contamos com o apoio da Caixa Econômica Federal, que nos forneceu 150 camisetas. Agradecemos as duas instituições pelo reconhecimento e credibilidade depositados ao nosso trabalho. A Comissão Organizadora deste ano pôde realizar um trabalho juntamente com o corpo discente, pois contou com o apoio do CAEF e dos alunos do 2º período de curso. Vislumbramos este envolvimento dos alunos como fundamental no seu processo de formação acadêmica e desejamos que nos anos seguintes possamos inverter a situação atual: os alunos assumam a coordenação do evento e nós professores tenhamos o papel de apoiadores. Foram três meses de preparação para que nossos alunos tivessem um evento com excelentes profissionais e propostas que dialoguem com o contexto histórico-cultural no qual estamos inseridos e o futuro profissional de nossos discentes. Como a temática deste ano – Corpo, Percepção e Transformação – apoiou-se na abordagem da corporeidade a comissão organizadora julgou ser fundamental que as atividades do evento fossem voltadas para a prática, para o corpo em movimento. Mesmo nas palestras, bate-papo e mesa-redonda, foi dada prioridade a profissionais que tivessem em sua bagagem profissional uma atuação na prática da educação física. A palestra de abertura, proferida pelo Prof. Dr. Odilon Roble (UNICAMP) abriu nossas atividades com a temática: “O corpo como lugar de conhecimento”. No segundo dia o Prof. Ms.Carlos Henrique Silvestre realizou um Bate-papo a partir do tema: “O esporte e a condição psicoafetiva do atleta”. Na quinta-feira tivemos uma mesa-redonda com a presença do Prof. Ms. Jorge Brand e das Profª Sônia Prati e Rosemari Fackin, sendo a mediadora: Profª Ms. Daniela Kuhn, trazendo suas experiências sob a perspectiva do tema: “De corpo e alma: Ações individuais e grupais para um mundo melhor”. Durante os quatro dias do evento foram oferecidas sete oficinas práticas: Programação Neurolinguística na Educação Física, Dança Contemporânea e Capoeira, O Yoga e a Libertação do Ser, Dança Contemporânea: vivências para aguçar os sentidos, Percussão Corporal, Práticas Corporais, Parkour. Além destas ocorreram quatro Oficinas Abertas de Lazer e uma Oficina Extra de Trapézio Voador. O fechamento do evento ocorreu no Ginásio da UTFPR, com o propósito de trazer o encontro de alunos, professores do DAEFI e convidados para produzirmos o “Circulando Conhecimento”. Tratou-se de um momento para refletirmos sobre o aprendizado gerado pela Semana e a proporcionar a produção de material escrito pelos próprios alunos sobre sua vivência no evento. Todas estas atividades realizadas nos deixaram a certeza de que existem trabalhos com excelente qualidade dentro da abordagem proposta. Percebemos a necessidade de ampliarmos as possibilidades de trocas de saberes entre profissionais e alunos, bem como de oportunizar que nossos discentes entrem em contato com propostas de professores de outras instituições.

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Desta forma, o conhecimento que circulou durante a Semana Acadêmica necessitava de um espaço para continuar se desenvolvendo. Este caderno de resumos nasce desta demanda e resulta do trabalho realizado pela Comissão Organizadora, pelos alunos na atividade Circulando Conhecimento e pelos profissionais que apresentaram seus trabalhos no evento. Trata-se de uma produção bibliográfica de caráter simples, mas que, temos certeza, apresenta primorosa qualidade em seu conteúdo. Desejamos que as palavras escritas colaborem para que possamos nos aproximar e aprofundar nos estudos sobre CORPO, PERCEPÇÃO E TRANSFORMAÇÃO, A todos uma ótima leitura, Profª Daniela Kuhn Presidente da Comissão Organizadora

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 4 PROGRAMA 7 A PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA 8 BICICLETAS, YOGA E A CULTURA DO AUTOMÓVEL 9 CORPO E AMBIENTE- NESTE DIÁLOGO, O QUE PERMANECE? 11 DANÇA CONTEMPORÂNEA E CAPOEIRA 12 O CORPO COMO LUGAR DE CONHECIMENTO 14 O ESPORTE E A CONDIÇÃO PSICOAFETIVA DO ATLETA 16 OFICINA DE PERCUSSÃO CORPORAL 17 PRÁTICAS CORPORAIS: PELO RESGATE DA DIMENSÃO HUMANA DO CORPO E DA EXPERIÊNCIA 18

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PROGRAMA

Semana da Educação Física UTFPR, campus Curitiba Corpo, Percepção e Transformação De 08 a 12 de junho de 2010

Dia 08

Terça-feira

Dia 09

Quarta-feira

Dia 10

Quinta-feira

Dia 11

Sexta-feira

Dia 12

Sábado

Manhã 9:00 às 11:00

Oficina1: Programação

Neuro Linguística na Educação

Física

9:00 às 11:00 Oficina1:

Programação Neuro

Linguística na Educação Física

9:00 às 12:00 Oficina 6: Práticas

Corporais

8:00 às 12:00

Oficina EXTRA:

Trapézio Voador

9:00 às 11:00 Oficina 2:

Dança contemporânea e

Capoeira

9:00 às 11:00 Oficina 2:

Dança contemporânea

e Capoeira

9:00 às 11:00 Oficina 7:

Parkour

Tarde

12:00 às 13:00 Oficina Aberta de Lazer 1 –

Intro. ao Merengue

12:00 às 13:00 Oficina Aberta de

Lazer 2 – Iniciação ao

Futebol Americano

12:00 às 13:00 Oficina Aberta de Lazer 3 –

Brincadeiras e Jogos Antigos

12:00 às 13:00 Oficina Aberta de Lazer 4 –

Footsack

13:30 às 15:30 Palestra de abertura:

O corpo como lugar de

conhecimento

13:00 às 15:30 Bate-Papo:

O esporte e a condição psico-afetiva do atleta.

13:00 às 15:30 Mesa-redonda:

De corpo e alma: Ações

individuais e grupais para um mundo melhor

13:00 às 15:30 Encerramento:

Circulando conhecimento

16:00 Palestra CREF

15:30 às 17:30 Oficina3:

O Yoga e a Libertação do

Corpo

15:30 às 17:30 Oficina3:

O Yoga e a Libertação do

Corpo

15:30 às 17:30 Oficina 4:

Dança Contemporânea: vivências para

aguçar os sentidos

15:30 às 17:30 Oficina 5:

Percussão corporal

Noite 17:30

Apresentação Cultural

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A PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA

Carlos Henrique Silvestre Mestre em Educação Física

Faculdade de Jaguariúna - FAJ Faculdade Adventista de Hortolândia – UNASP

Na década de 70 começa a surgir uma nova abordagem de comunicação criada por

Grinder e Bandler ao estudar os conceitos psicoterapêuticos a partir dos terapeutas Fritz Perls, fundador da escola terapêutica Gestalt, Virginia Satir e Milton Erickson, hipnoterapeuta, estavam interessados em produzir modelos de terapias que pudessem proporcionar uma comunicação clara, objetiva, eficaz, produzindo assim uma mudança pessoal. Essa abordagem conhecida como “Programação Neurolinguística” baseada nos estudos das neurociências está diretamente ligada com a forma como nosso cérebro funciona, interpreta o que vê, sente, assimila informações via “input”, assim como emite informações ao mundo via “output” através dos canais de comunicação.

O objetivo de utilizar a PNL como instrumento para o desenvolvimento e das condições físicas pode ser explicado pela idéia de que todas as informações captadas pelo mundo externo precisam ser interpretadas pelo cérebro para poderem se transformar em ação.

O mecanismo de manifestação da ação motora é a chave do conceito de desenvolvimento perceptivo-motor. Através dele o processo de aprendizagem se estabelece. 1. Input: Receber várias forma de estímulos sensoriais através dos receptores e transmissores sensoriais internos e externos e transmitir as informações ao sistema neurológico. 2. Organização: Coletar, interpretar e tabular os estímulos sensoriais para que eles sejam formulados e registrados na memória para serem utilizados no futuro. 3. Integração: Combinar novas informações com as informações previamente registradas na memória. 4. Output: Traduzir as informações integradas para um novo padrão de energia neural. 5. Resposta: Manifestação do movimento. 6. Feedback: Realimentação, reavaliação do estímulo/resposta e calibração do próximo movimento (GALLAHUE, p. 70).

A PNL divide o processo de aprendizagem em quatro fases distintas: 1. Incompetência inconsciente – (Não sabe que não sabe) 2. Incompetência consciente – (Sabe que não sabe) 3. Competência consciente – (Sabe que sabe) 4. Competência inconsciente – (Excelência)

O mecanismo de aprendizagem das ações motoras passa por todos os estágios citados acima. À medida que o processo de aprendizagem se desenvolve o mecanismo de ações motoras input- organização- integração- output- resposta- feedback se mantém em ação. No entanto, toda experiência processada passa por um processo de filtros conhecidos como filtros universais de: 1. Eliminação: sempre que focamos nossa atenção em algo deixamos de dar atenção para outros estímulos que podem ser considerados ruídos e interferem negativamente na concentração do foco em questão. 2. Distorção: sempre que focamos nossa atenção em algo completamos a imagem, som ou percepção corporal com informações criadas pelo nosso próprio sistema com a finalidade de dar um sentido mais amplo ao foco em questão. 3. Generalização: Após uma experiência adquirida criamos um sistema de crenças e valores que generaliza todas as questões de foco parecido como sendo a mesma interpretação e resposta. A generalização corta o processo de aprendizagem. Robert Dilts (co-criador da PNL) desenvolveu um modelo de experiências em seus respectivos níveis neurológicos. A utilização do modelo permite determinar o comprometimento

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de uma determinada experiência e saber em que direção intervir para gerar mudanças positivas. A. Contexto – Onde? – reação B. Comportamento – O que? Ação C. Capacidade – Como? Direção D. Crenças - Porque? Motivação E. Identidade – Quem? Missão F. Espiritual – Quem mais? Transmissão OS SISTEMAS REPRESENTACIONAIS A grande diferença entre a interpretação dos sentidos entre os seres humanos e os animais está na capacidade do ser humano de imaginar ou representar. Representar significa reviver a experiência em nível mental. Para isto, utilizamos os sentidos como forma de registrar em nossa memória as informações do mundo exterior. Nosso sistema fisiológico tem as mesmas reações para situações reais ou representadas. COMUNICAÇÃO CORPORAL Sempre que nos comunicamos com alguém nosso corpo reage com mudanças de gestos, posturas, movimentos dos olhos, brilho da pele e dos olhos. Nosso corpo passa a ser uma representação geral de todo o mecanismo de ação motora, mecanismo de aprendizagem das ações motoras e níveis neurológicos de experiências através dos sistemas representacionais (visão, audição e cinestesia). Podemos ter uma visão mais clara das condições mencionadas acima quando avaliamos um ator de um filme ou novela. Quando sua fala não condiz com seus gestos, atitudes, posturas, etc. nós o consideramos um péssimo ator. A interpretação das nossas ações motoras na vida real não é nada diferente de um ator. Portanto, a Programação Neurolinguística pode trazer grandes benefícios no processo de comunicação interna e externa. REFERÊNCIAS DALGALORANDA, Fernando. Practitioner - Formação na Arte da PNL. Actius Consultoria, Desenvolvimento e Liderança, Campinas, 2003.

VANNIER, Maryhelen.; GALLAHUE, David. Teaching Physical Education in Elementary Schools . Editora Saunders College Publishing, 1978.

JAMES, Tad; WOODSMALL, Wyatt. A Terapia da Linha do Tempo. Editora Eko, Blumenau, SC, 1988

Carlos Henrique Silvestre Rua Comendador Luiz José Pereira de Queiróz, 170, apto 131-A Botafogo, Campinas, São Paulo, CEP:13020-080 e-mail: [email protected]

BICICLETAS, YOGA E A CULTURA DO AUTOMÓVEL

Jorge Brand Graduado em Filosofia pela UFPR

Mestre em Filosofia pela UFPR Formado em Sivananda Yoga – Divine Life Society - Puri/Índia

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Uma das mais importantes qualidades de um yogi, um estudante do yoga, é a capacidade de reconhecer em tudo o que existe, nas mais diversas e distintas manifestações de existência, a unidade do brahman, o princípio único que subjaz em todos os fenômenos. Este olhar singular, este re-conhecimento místico, aparece na Bhagavad-gita sob o termo sama-darshinah - visão equanime. O yogi possui uma visão de igualdade. Na diversidade quase infinita do mundo material ele vê sempre o brahman, a divindade, por trás das formas sempre diferentes, sempre mutantes dos fenômenos. Ao agir de acordo com este entendimento o yogi, naturalmente, expressa em suas ações a virtude de ahimsa - a não-violência. Tratar com respeito e reverência tudo o que existe é uma condição essencial para o desenvolvimento da humanidade e consiste, dentro da cultura do yoga, uma das obrigações universais que devemos ter em nossas condutas. Visto que, nos dias de hoje, as manifestações de agressividade e violência estão presentes em quase todas as esferas da vida, torna-se um desafio ainda maior buscar esta visão ampla, universal, que traz união ao invés de separar, que aproxima o ser humano da natureza ao invés de isolá-lo numa vida artificial, pautada por valores ilusórios, como o dinheiro e o poder. Isto, no entanto, deve ser objeto de profunda reflexão. Contra a corrente do conformismo vemos o yoga afirmando a não-violência como tema principal. Com o avanço da sociedade industrial, a sociedade do excesso e do consumo, os valores da individualidade, da competição e a falsa filosofia de que os fins justificam os meios, estão presentes em tudo e em todos. Crescemos ouvindo isto, imersos em ambientes de alienação e doutrinação, onde aprendemos que ajuda mútua, cooperação e coletividade são utopias. De fato não se trata aqui de afirmar, ingenuamente, uma irmandade dos seres humanos e pedir que a partir disto nossas ações sejam mais fraternas e solidárias. A visão do yoga é ainda mais ousada. Tudo o que existe é parte desta realidade única. Absolutamente tudo. Temos que ver com os mesmos olhos os animais, as plantas, as montanhas, bem como todos os tipos de seres humanos. Reconhecer em todos a manifestação da mesma realidade da qual você, sujeito consciente, brotou. Afirma Krishna, o divino professor da Bhagavad Gita, que esta é a condição para que haja paz no mundo. Um dos fatores que mais contribuem para a atmosfera de conflito em que vivemos, atmosfera onde predomina a ausência da visão equanime, é a assim chamada 'cultura do automóvel'. Observamos que nossas cidades estão insalubres, que o ar que respiramos esta contaminado, a água impura, e o barulho constante dos motores faz parte do pano de fundo da urbe. A cultura do consumo inculcou em nossa mente o ideal do carro individual como sonho de aquisição, promessa de liberdade e segurança. A ideologia do automóvel conquistou todos os continentes. Do Rio de Janeiro à Shangai observamos cidades construidas para o carro. Numa conversa recentemente, entre amigos, nomearam-no 'o protagonista do século XX'. O carro, no entanto, perde seu valor de uso quando todo mundo possui um. Torna-se símbolo de ostentação, egoísmo e vaidade. Por causa de sua tirania as ruas estão deixando de ser espaços de convivência e tornando-se fluxo de trânsito. Para satisfazer os ímpetos de sociabilidade oferecem-nos, no lugar das praças, das calçadas, das pequenas mercearias e lojas locais, os ambientes controlados e assépticos dos shopping-centers e hiper-mercados, onde a convivência é pautada diretamente pelas regras do grande capital. Estamos propondo aqui uma reflexão sobre a mobilidade baseada em ahimsa, a mobilidade não-violenta, capaz de provocar uma verdadeira revolução em nossos habitos, e incitar transformações efetivas no curso da era de conflitos e hipocrisia em que vivemos. A tese é simples. Precisamos gastar menos. Produzir menos lixo, menos resíduos. O yoga afirma a necessidade de defender o de-crescimento sustentavel. A humanidade ja tem tudo o que precisa. É nosso dever reavaliar a lógica absurda da produção, do trabalho e do consumo. As pessoas não estão mais felizes ou realizadas neste paradigma, pois o desejo nunca se satisfaz e a ansiedade somente aumenta. Sendo assim propomos, como método de libertação da mente das angústias inerentes à vida moderna, a inserção da bicicleta em nosso cotidiano. A bicicleta como meio de transporte capaz de desacelerar o ritmo mental desenfreado em que vivemos. Falta oxigenação no cérebro da maior parte das pessoas, principalmente daquelas que se propõem a organizar e direcionar a sociedade. Falta oxigênio e sobra ignorância. O motorista assume uma postura passiva. Locomove-se sem usar o sangue, os músculos e o coração. Se distancia da cidade e se afasta das pessoas. Cria para si uma extensão de seu

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quarto, de sua vida privada, e pelas janelas do automóvel observa o mundo como se estivesse olhando mais uma vitrine ou a tela da televisão. Ao enumerarmos os malefícios da cultura do automóvel, por si só, os benefícios da mobilidade limpa falam a nossa consciência. Uma dose saudável de radicalismo é necessaria. Sem ela não tomamos a coragem de questionar nossos hábitos e condicionamentos. E este é o ponto principal. O carro nos condiciona. Ficamos tensos por sua causa. Indolentes, preguiçosos, obesos, irritados, impacientes. Certa vez Bernard Shaw, escritor e dramaturgo inglês, perguntado sobre o por que de sua opção vegetariana de alimentação - 'por que não comer carne?' - afirmou que a interrogação não era apropriada. O correto era inverter o questionamento. Temos infinitas razões para não matar os animais em nossa dieta e pouquíssimas para afirmar esta matança. Da mesma forma, a pergunta não é - Por que não utilizar o automóvel? - mas sim: Por que utilizar o automóvel, diariamente, em tudo o que fa zemos, como se não houvessem alternativas mais inteligentes? Vejamos se nossos argumentos convencem nossa preguiça, nosso conforto inconsequente, nossa alienação da rua e de nós mesmos.

1. Em primeiro lugar lembre-se de que o carro disciplina o corpo.

2. O carro polui tudo - mais de 70% da poluição sonora das cidades grandes é oriunda dos veículos de transporte movido a combustão. A emissão de gases dos automóveis é responsavel direta pela péssima qualidade do ar que respiramos diariamente.

3. Nas vias urbanas o trajeto feito de bicicleta é sempre mais eficiente. Rápido, sem custos, estimulante e faz bem à saude.

A escolha é nossa. Contribuimos para o novo paradigma, baseado na mobilidade limpa e consciente, ou continuamos com o papel de poluidores, inconscientes e inconsequentes. Jorge Brant Rua Augusto Stresser, 207 Alto da Glória Curitiba – PR / Cep: 80040-130 e-mail: [email protected]

CORPO E AMBIENTE- NESTE DIÁLOGO, O QUE PERMANECE?

Caroline Pellegrini Graduada em Dança pela FAP-PR

Professora de dança da UTFPR-Campus Curitiba

Entre a pressa e a calma, nosso corpo lá está. Lá está ele ás 18 horas da tarde em um ônibus lotado,lá esta ele em Janeiro em uma praia deserta. E nesses ambientes que se alteram, nestes espaços que são mensagens, que proporcionam explosões de sensações, de estímulos e percepções, o que permanece no corpo? O corpo já foi considerado como obstáculo para o conhecimento por Platão, retratado como tábula rasa por Locke, repleto de sensações enganadoras segundo Descartes, fruto do pecado, proclamado pelo Cristianismo. Mas o corpo que aqui se fala é o agregado de suas relações, é carnificado por seus registros, sua história, seu DNA, por suas células que denunciam experiências e vivências, pulsando em linguagens e códigos únicos, individuais e que nunca voltam a ser revisitados da mesma maneira: Corpo como lugar de circulação de referências e informações diversas que o atravessam, dando visibilidade à multiplicidade e à efemeridade de suas representações. (...) Corpo médium, que não despreza a natureza de constituição enquanto corpo evolutivo, projeto biológico transitório, corpo processo, intercambiado por informações que dialogam com o

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ambiente e não um corpo-invólucro ou recipiente de uma substância pensante.(WOSNIAK, 2006, p.31).

Este corpo vibra memória; suas informações não são estocadas, mas movimentam-se inenterruptamente, aglomerando-se com outras, dando origem a outras, complexiando-se, ampliando sua rede de significações a cada instante: O corpo não é um meio por onde a informação simplesmente passa, pois toda a informação que chega entra em negociação com as que já estão. O corpo é o resultado desses cruzamentos, e não um lugar onde as informações são apenas abrigadas. É com esta noção de mídia de si mesmo que o corpomídia lida, e não com a idéia de mídia pensada como veiculo de transmissão. A mídia à qual o corpomídia se refere diz respeito ao processo evolutivo de selecionar informações que vão constituindo o corpo. A informação se transmite em processo de contaminação.(GREINER, 2005,p.131).

A dança contemporânea, por focar no modo como o corpo pensa e se comporta no mundo, faz-se fundamental neste questionamento: Corpo e ambiente, o que permanece? Corpo e ambiente, qual é o diálogo que fica? Corpo que é a mensagem, que modifica e interfere no espaço. E neste trânsito entre espaço que modifica corpo e corpo que modifica espaço, ações e reações são latentes e transformam-se em dança. Corpo que é atravessado de informações que significa diferenças geradas pelo contato dele com o ambiente. É por meio dessas diferenças que o corpo transforma tanto ele mesmo como as informações que o invadem. Este processo é evidente no corpo e implica pensar que tipo de estado transitório de representação está em jogo.Transitório porque está em mudança constante. Estado porque se considera o processo e não a ação em si mesma, a possibilidade de movimento, de gesto, de intenção, que é selecionada entre outras e está desencadeada com a noção processual de criação. (MARINHO, 2004 p.24) REFERÊNCIAS FERRARA,D. Leitura sem palavras .São Paulo:Ática;1993.

FERNANDES,C. O corpo em movimento : o sistema Laban/Bartenieff na formação e pesquisa em artes cênicas.São Paulo: Annablume, 2006.

KATZ, H.GREINER, C. Por uma teoria do corpomídia . In GREINER, Christine. O corpo: pistas para estudos indisciplinares. São Paulo: Editora Annablumme, 2005.

NICOLA,U. Antologia ilustrada de Filosofia : Das origens à idade moderna. São Paulo:Globo, 2005.

WOSNIAK,C. Dança, cine-dança, vídeo-dança, ciber-dança: dança, tecnologia e comunicação . Curitiba: UTP, 2006.

Caroline Pellegrini Rua Voluntários da Pátria, 475, apto 502, Centro. Curitiba-PR [email protected]

DANÇA CONTEMPORÂNEA E CAPOEIRA

Odilon José Roble Doutor em Educação Bacharel em Filosofia

Licenciado em Educação Física Docente da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp

Departamento de Educação Motora

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Seriam as técnicas corporais da Capoeira uma fonte possível para o trabalho expressivo e coreográfico em dança contemporânea? Essa pergunta geradora nos leva a analisar as possibilidades de movimento que a Capoeira, como manifestação corporal brasileira, pode oferecer a um trabalho expressivo em dança e nos coloca em uma zona de intersecção de linguagens, expressões e valores.

A dança contemporânea é caracterizada, entre outros fatores, pela pesquisa de linguagens e de movimentos. Afirmar isso consiste em entender que não há, ou não deve haver, uma técnica única que subsidie o trabalho em dança contemporânea, seja do ponto de vista da preparação corporal, seja da composição coreográfica. Ainda que algumas formas sejam consagradas, tais como o balé na dança clássica, ou a técnica Laban na dança moderna, ou outras muito populares, como o Jazz ou o sapateado, nenhuma delas deve ser encarada com possibilidade única de desenvolvimento para um trabalho em dança contemporânea, seja em caráter educativo, seja em caráter de performance.

Desse modo, cabe a nós pensarmos que linguagens poderiam ser ofertadas a um trabalho em dança contemporânea, por parte da cultura brasileira, que ofereçam subsídios interessantes tanto para o processo criativo, como para a fundamentação técnica e artística. Sem sombra de dúvida, há um número bastante significativo de expressões populares, jogos, festas, folguedos e danças dramáticas que povoam o repertório cultural brasileiro tal como já compilaram importantes estudiosos de nossas tradições como Mário de Andrade1 ou Câmara Cascudo2. Entre essas tradições, uma de grande permeação no cenário dramático e corporal do brasileiro é a Capoeira.

A origem da Capoeira bem como sua íntima relação com a formação do brasileiro já foi explorada por diversos autores, constituindo-se uma referência no patrimônio cultural do Brasil. A oficina de Dança Contemporânea e Capoeira oferecida nessa Semana Acadêmica aponta algumas possibilidades de cruzamento entre esses dois universos, apresentando a Capoeira como um suporte técnico e expressivo para o trabalho em dança contemporânea. As principais referências dessa proposta são apenas citadas abaixo.

O primeiro e mais essencial elemento que pode subsidiar um trabalho em dança contemporânea a partir da Capoeira é a ginga. Elemento central do gestual da Capoeira, a ginga apresenta uma inteligência de movimento toda fundamentada na espiralidade. Remetendo-se ao movimento infinito, a espiralidade, que aparece como fundamento técnico de outras vertentes em dança contemporânea, como o contact-improvisation, por exemplo, é um recurso que promove grande capacidade de ocupação espacial e exploração da kinesfera, além de propiciar possibilidades de uso dos membros em harmonia, compondo trabalhos de necessário equilíbrio.

Já os golpes característicos da Capoeira podem alimentar propostas de gestuais dos membros inferiores, sobretudo nas qualidades de empurrar, sustentar, descrever círculos e rodar. Esses movimentos, que foram objetos de estudo, por exemplo, na gênese do balé clássico, são também contemplados pelos golpes da Capoeira que, se submetidos a um outro contexto no qual variamos a dinâmica e os fatores do movimento (tempo, espaço fluxo e peso), podemos obter uma combinação muitíssimo vasta de possibilidades expressivas.

Por fim, devemos observar ainda a possibilidade do jogo. Muito valorizado pelas artes cênicas, em especial o teatro, o jogo dramático ainda está em uma fase introdutória nos trabalhos em dança, sendo objeto recente de estudos e pesquisa3. É próprio da dinâmica da Capoeira o jogo e, nele, estão contidos muitas das características fundamentais para um trabalho cênico, tais como a prontidão, a gestualidade conjunta ou a anteposição dentro/fora, cheio/vazio, alto/baixo fornecidos pelo estímulo-resposta do jogo da Capoeira.

Desse modo e por muitas outras característica intrínsecas da arte brasileira da Capoeira, parece extramente profícuo um trabalho em Dança Contemporânea que tenha os subsídios de seu gestual. No mais, talvez seja possível inferir que a inclinação à absorção de técnicas advindas de outros países em detrimento do uso de um patrimônio gestual tão rico como o da Capoeira, mostra-nos uma importante lacuna a preencher na educação do corpo no

1 ANDRADE, Mário. Danças dramáticas do Brasil . Belo Horizonte: Itatiaia, 1982. 2 CASCUDO, Câmara. Antologia do Folclore Brasileiro . São Paulo: Global, 2 volumes, 2001. 3 Note-se, por exemplo, que o jogo em dança contemporânea foi o tema da última Bienal da Dança no Brasil, evento desenvolvido pelo SESC.

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Brasil, na cena da dança contemporânea brasileira e, claro, nas discussões sobre dança na Educação Física nacional. REFERÊNCIAS ANDRADE, M. Danças dramáticas do Brasil . Belo Horizonte: Itatiaia, 3 volumes, 1982.

CASCUDO, C. Antologia do Folclore Brasileiro . São Paulo: Global, 2 volumes, 2001.

Prof. Dr. Odilon José Roble UNICAMP Faculdade de Educação Física Avenida Érico Veríssimo, 701 - Cidade Universitária Zeferino Vaz - Barão Geraldo 13.083-851 - Campinas - São Paulo - Brasil - Caixa Postal 6134 e-mail: [email protected]

O CORPO COMO LUGAR DE CONHECIMENTO

Odilon José Roble Doutor em Educação Bacharel em Filosofia

Licenciado em Educação Física Docente da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp

Departamento de Educação Motora

Estamos acostumados a supor que o lugar do conhecimento é a mente e que seu modo exclusivo de produção é a razão. No entanto, na história do pensamento ocidental, encontramos outras orientações não racionalistas que elegem o corpo, a atividade e a vitalidade como as formas mais efusivas de se encontrar a sabedoria. É nesse cenário em que a Filosofia, a educação do corpo e a Educação Física se encontram e de onde podemos extrair alguns dos manifestos mais profícuos para os estudos sobre o corpo e suas expressões. Dado o caráter meramente alusivo desse resumo expandido, esse texto apenas apresentará algumas dessas orientações não racionalistas, cabendo à conferência de abertura um espaço maior de exploração.

Um divisor de águas na história do pensamento ocidental, foi a filosofia de Sócrates. De fato, convencionou-se dividir a Filosofia em pré e pós socrática. A Filosofia pré-socrática, mesmo que contando com nomes fundamentais no desenvolvimento da sabedoria ocidental, é considerada embrionária, fundamentalmente por não ter como mecanismo básico aquilo que só a partir de Sócrates teve sua formulação mais consistente, ou seja, a razão.

O que é, em suma, a razão? A partir da formulação socrática, muito incrementada nas filosofias de Platão (seu aluno) e de Aristóteles (aluno de Platão), a razão passa a ser entendida como a capacidade, rematadamente humana, de refletir, abstrair e compreender. Sem dúvida, essa é uma marca distintiva do ser humano e aquilo que nos faz mais capazes de viver nesse mundo. Entretanto, no caminho da compreensão do que é essa capacidade humana da razão, Sócrates e seus seguidores, ao notarem a natureza não imediata, meticulosa e complexa da razão construíram um antagonismo entre ela e toda outra forma de conhecimento que se manifestasse de modo imediato, sensível e simples. Nesse contexto, a intuição, a sensibilidade e de, modo amplo, todo conhecimento oriundo do corpo não poderia encaixar-se naquilo que estes filósofos tanto valorizam como razão.

Para além do simples antagonismo, o corpo foi tomado como um obstáculo ao conhecimento. Por ser fonte de prazer e de dor, de vontades e emoções o corpo não pode produzir conhecimento racional, pelo contrário, é algo que deve ser desprezado para que o conhecimento verdadeiro possa se desenvolver, tal como vemos na fala de Sócrates, por intermédio dos escritos de Platão, no Fédon4:

4 O original do Fédon é de, aproximadamente, 388 a.C. Nesse texto, utilizamos a edição PLATÃO. Fédon. In: Os pensadores . São Paulo: Nova Cultural, 1999.

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(...) conseguirá mais claramente [o conhecimento] quem examinar as coisas apenas com o pensamento, sem pretender aumentar sua meditação com a vista, nem sustentar seu raciocínio por nenhum outro sentido corporal; aquele que se servir do pensamento sem nenhuma mistura procurará encontrar a essência pura e verdadeira sem o auxílio dos olhos ou dos ouvidos e, por assim dizê-lo, completamente isolado do corpo, que apenas transtorna a alma e impede que encontre a verdade.

A tradição racionalista, inaugurada por essa dicotomia psicofísica socrático-platônica, influencia a Filosofia, a religião e a ciência, locais onde o corpo nunca mais será visto como lugar de conhecimento. Quando muito, será objeto inanimado de análise, tal como na anatomia, ou na concepção mecânica de corpo de Descartes (séc. XVII) ou La Mettrie (séc. XVIII)5.

Em que outras referências podemos nos ancorar para entendermos o corpo como um local de conhecimento? De modo muitíssimo breve, citarei pelo menos cinco dessas outras orientações: a mitologia, a dialética de Heráclito, o projeto alquímico, a volição em Schopenhauer e o vitalismo em Nietzsche.

A primeira delas, refere-se ao mito, em especial, à mitologia grega. Antes do advento da razão socrática, a sociedade grega era especialmente influenciada por uma forma rebuscada e profundamente poética de ver a realidade, na qual os deuses, o destino e as forças da natureza agiam de modo intencional para guiar a vida (VERNANT, 2005). Nesse jogo incessante, o corpo do homem, assim como o corpo dos deuses, era uma das matérias fundamentais da existência, de modo que toda a mitologia grega, ao contrário de outros sistemas religiosos fundamentados na transcendência e no imaterial, tem um forte apelo à imanência e à materialidade do corpo, das paixões e dos desejos.

Antes ainda de Sócrates, no período já lembrado dos pré-socráticos, havia Heráclito. O pensador dos contrários, das mudanças, para o qual tudo existe no fluxo do devir. Para sua filosofia, as coisas são e não são ao mesmo tempo, pois têm em si a energia dos opostos. Em uma dialética desse tipo, a lógica binária não é aplicável e as dicotomias perdem sentido, pois o corpo, por exemplo, é ele mesmo matéria e espírito não havendo oposição entre esses dois conceitos.

Mesmo na Idade Média, período talvez mais obscuro em relação ao corpo, em um ambiente dominado por toda uma ideologia do pecado e da subserviência em vista a uma vida não terrena, havia o pensamento desviante e profundamente somático dos alquimistas. Com seus projetos de transmutação e purificação, o conhecimento da natureza, da vida e do corpo eram objetivos supremos de suas pesquisas, as quais frequentemente lhes causavam o banimento ou até mesmo a morte (ROOB, 1997).

Por fim, temos dois filósofos modernos que elegeram o corpo não só como o único objeto de fato cognoscível (Schopenhauer), como também o fundamento e objetivo maior de uma verdadeira ciência ou Filosofia (Nietzsche). Para Schopenhauer, somos movidos pela vontade e são nos nossos desejos e emoções, portanto, que encontraremos todo o conhecimento e não nas abstrações da razão, que são sempre e unicamente ficções. Já para Nietzsche, a vida só tem sentido se for para que digamos um grande “sim” a ela. Sua doutrina vitalista prega que a “grande saúde” é aquela do corpo, dos sentidos, das emoções e do conhecimento que de tudo isso emana. O corpo é o maior sentido do homem e devemos anunciar a morte da metafísica.

Sem dúvida, a hegemonia do racionalismo é muito expressiva na maior parte das áreas do saber, de modo que a produção de conhecimento, quase sempre, é buscada a partir dos seus mecanismos. No entanto, novas formas de saber complexo tem sido valorizados e, cada vez mais, atenta-se para um re-ligação dos saberes (MORIN, 2001) ou para uma espécie de razão sensível (MAFFESOLI, 2005), na qual a experiência do corpo e do movimento é, ela mesma, uma fonte riquíssima de conhecimento. REFERÊNCIAS NOVAES, A. (org.). O homem-máquina . São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

5 Para maior aprofundamento nesse tema ver: NOVAES, Adauto (org.). O homem-máquina . São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

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MORIN, E. A religação dos saberes . Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001

PLATÃO. Fédon. In: Os pensadores . São Paulo: Nova Cultural, 1999.

ROOB, A. Alquimia e misticismo . Lisboa: Taschen, 1997.

VERNANT, J.P. O Universo, os deuses, os homens . São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

Prof. Dr. Odilon José Roble UNICAMP Faculdade de Educação Física Avenida Érico Veríssimo, 701 - Cidade Universitária Zeferino Vaz - Barão Geraldo 13.083-851 - Campinas - São Paulo - Brasil - Caixa Postal 6134 [email protected]

O ESPORTE E A CONDIÇÃO PSICOAFETIVA DO ATLETA

Carlos Henrique Silvestre Mestre em Educação Física

Faculdade de Jaguariúna - FAJ Faculdade Adventista de Hortolândia – UNASP

Quando observamos um atleta pronto para atuar no campo esportivo podemos

imaginar o quanto esse indivíduo se preparou com treinamento, alimentação adequada, horas de descanso, organização e planejamento para esse único momento. A competição esportiva facilita o processo de desenvolvimento para a superação dos desafios pessoais e coletivos. Considerando que, hoje em dia, as ciências biológicas alcançaram um alto grau de desenvolvimento à disposição do atleta para que ele possa superar seus limites, chegamos a um momento histórico que, como exemplo, a diferença entre o primeiro lugar e o décimo lugar num campeonato mundial de ginástica artística pode ser o erro de um passo a mais na aterrissagem. Não podemos mais responsabilizar o corpo físico como sendo o único determinante para o alcance do sucesso esportivo, mas sim, a um complexo sistema de comunicação entre o corpo físico e a mente em perfeita afinação e sincronismo.

Ao avaliarmos e compararmos as informações obtidas pelos vários pesquisadores com respeito às influências da mente no corpo e/ou do corpo na mente percebemos que, é de comum acordo que todo processo de ação tem uma resultante emocional associada. Em cada emoção vivenciada, o corpo reage positiva ou negativamente tonificando sua estrutura muscular ou criando dificuldades na coordenação. Podemos, desta forma, sanar os problemas das dificuldades associadas ao desempenho to atleta tratando do indivíduo como um todo: 1. Desenvolvendo uma preparação mental adequada para os objetivos. 2. Tratando das questões da psique que possam interferir no desempenho esportivo através da intervenção direta no corpo com o tratamento das posturas, intervenção psicoterapêutica ou pelas neurociências onde encontramos as programações e treinamentos mentais.

O pesquisador Paul D. MacLean descreve o cérebro como uma “tríade”, ou seja, composto por três partes. A primeira e mais primitiva, está associada com o cérebro de um réptil ou visceral. Este cérebro contém informações de sobrevivência, de forma repetitiva padronizada (instintiva). A vida de um réptil consiste em repetir padrões de comportamento baseados na sobrevivência. Sendo assim, a prática de uma determinada técnica desportiva é registrada e automatizada pelo cérebro visceral. O segundo cérebro é o paleomamífero, o cérebro do sentimento ou tecnicamente falando, o sistema límbico. O sistema límbico abriga sentimentos de alegria, tristeza, raiva, depressão, prazer, e assim por diante. Sabemos que estes estão diretamente ligados à motivação, ou seja, a energia necessária para o alcance de resultados satisfatórios. A terceira e última parte cerebral é o cérebro pensante, o neo-cortex. Ele nos possibilita raciocinar, usar a linguagem como forma metafórica para resolver problemas mais complexos e chegar a conclusões. (BRADSHAW, 2002, p. 103-104).

Ao considerarmos as informações obtidas através do sistema “cérebro tripartido” de acordo com McLean, podemos afirmar que, quando um atleta se encontra num estado emocional alterado excessivamente, a porta de conexão entre o cérebro paleomamífero se

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fecha e impede que haja comunicação efetiva e eficáz entre o sistema límbico e a neo-cortex. Tais condições impedem que o corpo mental atue de forma certeira e direta. Automaticamente a performance do atleta em questão entra num estado de deficiência psicomotora.

A imaginação criativa pode ajudar a reduzir a ansiedade, aumentar a concentração e confiança. A prática da imaginação criativa consiste na visualização da atuação do esportista ou atividade física. É importante ressaltar que, para que o processo de imaginação criativa se torne mais efetivo, podemos intensificá-lo com a inserção dos sentidos: imagens, sons, sensações corporais, aromas, emoções acoplados ao movimento muscular em ação. Quando o indivíduo se sente inserido no contexto fazendo as coisas corretamente, com sucesso, confiança e habilidade, e sentindo-se bem disposto, porém relaxado, o sistema mental registra tal informação como sendo verdadeira. Esta condição pode ser considerada um dos fatores essenciais para a obtenção do sucesso nos resultados.

O atleta deve criar metas para a atuação, resultados e processos. As metas para o desempenho esportivo dizem respeito ao que se pode fazer de melhor. A fixação de metas pode aumentar a motivação e ao mesmo tempo, estimular o senso de desafio aumentando a autoconfiança e conseqüentemente a auto-estima. Um ginasta pode se imaginar efetuando uma série contendo todas as suas dificuldades e ao mesmo tempo sendo efetuadas com destreza e elegância. As metas de resultados dizem respeito às classificações dentro do evento esportivo. As metas de processos, dizem respeito às ações que o atleta deve fazer para atingir seus objetivos. O processo de estabelecimento de metas pode ser elaborado com mais eficiência e eficácia se for tratado junto com o técnico ou com outros membros da equipe desportiva. REFERÊNCIAS Bradshaw, John. Volta ao Lar : como resgatar e defender sua criança interior, Editora Rocco, p. 103,104,105, 2002.

Gallahue, David. Ozmun, John. Compreendendo o Desenvolvimento Motor . Phorte Editora Ltda., São Paulo, 2001. Keleman, Stanley. Anatomia Emocional . Editora Summus, São Paulo, 1992.

Vannier, Maryhelen.; Gallahue, David.; Teaching Physical Education in Elementary Schools . Editora Saunders College Publishing, p. 46.47, 1978

Carlos Henrique Silvestre Rua Comendador Luiz José Pereira de Queiróz, 170, apto 131-A Botafogo, Campinas, São Paulo, CEP:13020-080 e-mail: [email protected]

OFICINA DE PERCUSSÃO CORPORAL

Ragner Esperandio Seifert Licenciado em Música - EMBAP

A percussão corporal é uma proposta pedagógica baseada na utilização do corpo como instrumento musical. A exploração dos inúmeros sons produzidos pelo corpo é o ponto de partida dessa pesquisa. Tipos de palmas (grave, estrela, estalada, flecha entre outras), estalos de dedo, sapateados, vácuos de boca, estalos de língua, batidas no peito e na bochecha, percussão vocal, assobios, sopros e sonoplastia corporal são encadeados na produção de ritmos. Através do aprendizado de ritmos e de jogos de improvisação o aluno vai aprimorando tanto sua coordenação motora quanto sua capacidade de criar, ouvir e interagir num grupo. A percussão corporal se confunde com a dança nos seus primórdios. E aparece como “instrumento musical” antes de qualquer instrumento. Em danças ritualísticas, através de batidas com os pés (como na conhecida dança da chuva) e batidas no peito (como o personagem Tarzan), o corpo era usado como instrumento. Ainda sobre as origens da percussão corporal, se tem a dança Indonésia Saman, as palmas do flamenco espanhol e a música Etíope feita nas axilas. Posteriormente, os escravos nos Estados Unidos da América,

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por serem proibidos de tocar instrumentos musicais, também desenvolvem uma técnica de percussão corporal chamada Juba Dance. A técnica específica atual de percussão corporal foi desenvolvida principalmente pelo músico e pesquisador Keith Terry, pioneiro da percussão corporal na costa oeste dos Estados Unidos da América. Na década de setenta, Keith Terry fica conhecido pela sua inovadora musica corporal a qual literalmente incorpora ritmos sólidos e danças altamente energéticas. Atualmente é diretor artístico do grupo Crosspulse, onde tem criado projetos de performances multiculturais que fundem as linhas entre a música e a dança. No Brasil, o principal expoente da percussão corporal é o músico Fernando Barba. Formou o grupo Barbatuques e como diretor artístico desse, tem se dedicado às pesquisas na área desde 1988. Os principais benefícios da prática da percussão corporal são: o desenvolvimento da coordenação motora; a ativação da circulação do sangue; a melhora da concentração e da memória; bem-estar físico e mental; e redescoberta do próprio corpo. São feitos exercícios de independência rítmica trabalhando coordenação entre pés, mãos e voz, exercícios que trabalham o olhar e o andar, exercícios que trabalham atenção, reflexo, memorização e relacionam som com movimento (flechas, relógio, seqüência linear). Também através de improvisações, com exercícios de criação e composição utilizando os sons e ritmos estudados. Estes são voltados para que o aluno aplique e sintetize seus conhecimentos, buscando sua expressão individual nessa linguagem. É também voltado para que ele desenvolva a percepção do outro e o senso de escuta dentro de um grupo. Trabalham pontos específicos da prática de se fazer música em grupo (seqüência minimal, maestro, ecos, naipes, contágio livre, entre outros). REFERÊNCIAS ROMERO NARANJO, Francisco Javier: “Percusión corporal en diferentes culturas”. (Body percussion in different cultures) Música y Educación: Revista trimestral de pedagogía musical. Año XXI, 4 – Núm. 76 - Diciembre 2008. SPAIN, Madrid, pp. 46 – 97.

SITES

www.crosspulse.com

www.barbatuques.com.br

Ragner Esperandio Seifert Rua Oliveira Viana, 1060. Bl. B Apto 101 Hauer CEP 81630-070 Curitiba – PR e-mail: [email protected]

PRÁTICAS CORPORAIS: PELO RESGATE DA DIMENSÃO HUMANA DO CORPO E DA EXPER IÊNCIA

Priscilla de Cesaro Antunes

Licenciada em Educação Física Mestre em Educação Física

A expressão “práticas corporais” vem sendo cada vez mais utilizada nos estudos do campo da Educação Física. Lazzarotti Filho et al (2010) identificaram que este termo foi mencionado pela primeira vez em um artigo de Alex Fraga, no ano de 1995, e passou a aparecer com maior frequência a partir do ano 2000. Práticas corporais é um termo utilizado em diferentes campos de conhecimento; na Educação Física, ele vem sendo abordado, predominantemente, em contraponto ao conceito de atividade física, o qual se associa estreitamente à concepção difundida e hegemônica de trato com o corpo na atualidade, denominada de culto ao corpo, e à lógica instrumental que prevalece nas propostas de exercícios contemporâneas, especialmente no âmbito do lazer.

A definição clássica de atividade física a conceitua como “todo movimento corporal produzido pela musculatura esquelética e que resulta em gasto energético acima dos níveis de

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repouso” (CASPERSEN et al, 1985). Este significado se mostra reducionista, tanto etimológica como conceitualmente, pois denota uma visão monolítica de corpo, pautada em uma concepção mecanicista que o percebe como um conjunto de estruturas (ossos, músculos, órgãos, etc), que formam sistemas (digestório, circulatório, etc), animados por substâncias (enzimas, hormônios, etc) que, por meio de um funcionamento regular, fazem a vida acontecer. No âmbito da produção do conhecimento e intervenção do campo da Educação Física, a perspectiva hegemônica é a de corpo visto pelo viés biologicista, desligado da totalidade, independente da Natureza, auto-suficiente.

Neste sentido, as propostas de exercícios geralmente são pensadas com base na técnica instrumental e pautadas em objetivos de caráter anatomofisiológico; os conteúdos das aulas variam pouco; os processos didáticos são destituídos de dimensão pedagógica e enfatizam parâmetros como intensidade, duração e freqüência, visando provocar alterações fisiológicas no organismo que possam ser verificadas a partir de medidas e avaliações físicas ou na aparência estética dos sujeitos, numa relação de causalidade direta. Além disso, elas tendem a ser normativas, propiciando pouco espaço para que os sujeitos possam compreender e dialogar sobre as práticas; desconsideram a esfera do gosto e das pulsões humanas; pautam-se na lógica da prática pela prática. Aspectos estes que reforçam a ênfase na materialidade corporal, em detrimento da dimensão da subjetividade.

Esta maneira de compreender a exercitação corporal, centrada em uma normalização inspirada numa perspectiva de corpo-máquina, impõe aos sujeitos uma condição que expressa o esvaziamento da dimensão da experiência, condizente com o processo crescente de reificação do corpo característico da Modernidade, anunciado por Adorno e Horkheimer (1985).

Ao falar de experiência, estamos nos referindo a uma dimensão da sensibilidade e da percepção humana que não são consideradas pela racionalidade científica hegemônica da Modernidade. Levar em conta a experiência significa falar para o sujeito e também a partir do sujeito e não apenas sobre o sujeito. Por experiência, entendemos aquilo que nos marca, que nos toca, que nos passa, que nos acontece (BONDÍA, 2002). Inevitavelmente corporal, a experiência é um estado vivido interna e externamente, capaz de provocar uma transformação, e que se configura como um momento único, impossível de ser repetido e individual, mas que se consolida na relação com o outro. Para Silva (2005, p. 205), “a experiência constitui-se a partir da intenção de cultivar o encontro, compartilhar, abandonar a si mesmo para constituir-se outro”. Ela requer um “gesto de interrupção” (BONDÍA, 2002, p. 24), de parar para pensar, olhar, sentir, agir mais devagar, suspender a opinião, a vontade, os automatismos, cultivar o encontro, em contraposição à efemeridade, à rapidez e ao individualismo da atualidade.

A lógica de trato com o corpo na Modernidade dialoga com a realidade de “empobrecimento da experiência” (BENJAMIN, 1985) que vive atualmente toda a humanidade. Bondía (2002), ao propor uma concepção de educação baseada no par experiência/sentido, analisa os motivos pelos quais a experiência é cada vez mais rara no mundo atual. O autor aponta que a destruição da experiência se dá em virtude de fatores como a demasiada quantidade de informação circulante; pela necessidade constante de termos que apresentar uma opinião sobre as coisas; pela falta de tempo e pelo excesso de trabalho. Nesse sentido, Silva (2005) destaca que vivemos em um momento de pobreza interna e externa, por falta de tempo, espaço, condições materiais concretas, pela incapacidade de estabelecer conexões significativas com os acontecimentos da vida e pela dificuldade de compartilhamento do destino humano.

Silva et al (2010, p. 12), apoiados em Agamben, indicam que a “ciência tradicional desconfia da experiência; a perspectiva empírico-analítica que predomina tende a transformá-la em experimentação”. A experiência, por lidar com as emoções e as pulsões humanas é difícil de ser medida e enquadrada nos princípios lógicos e matemáticos que prevalecem no campo da Educação Física. Numa realidade efêmera, onde “tudo o que nos passa está organizado para que nada nos aconteça” (BONDÍA, 2002, p. 21), parece que os sujeitos não encontram mais sentido naquilo que realizam. Este efeito é maximizado pelo esvaziamento dos conteúdos nas atividades propostas, esvaziamento do conteúdo cultural e, ainda mais, do significado que pode assumir para cada um dos sujeitos envolvidos.

Pensar em intervenções na perspectiva das práticas corporais pressupõe resgatar a dimensão da experiência e partir de outra concepção de corpo, entendido como unidade psicossomática. Segundo Silva (2004; 2001) e Sant´Anna (2007; 2004; 2002; 2001; 2000), esta

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unidade foi perdida no decorrer da história e o desligamento do corpo da subjetividade atingiu seu ápice na Modernidade, conforme discutiram também Adorno e Horkheimer (1985).

A noção de práticas corporais se contrapõe ao entendimento de corpo fragmentado e busca resgatar a dimensão do humano e da experiência, superando a visão de corpo-máquina predominante nas propostas de intervenção da Educação Física. Mais do que um corpo veloz, jovem, produtivo e belo, considerado o corpo aparentemente ideal de acordo com os valores em voga na sociedade ocidental moderna, as práticas corporais se direcionam à conquista de harmonia e equilíbrio corporal e se constituem como possibilidades de superar o interesse de conquista de modelos e estereótipos de beleza e saúde predominantes. Esta perspectiva pressupõe considerar o enraizamento cultural dos movimentos humanos; superar a fragmentação do corpo; partir de uma crítica à racionalidade científica e às formas de organização da vida na Modernidade e seus desdobramentos no corpo; além de externar uma preocupação com os significados e sentidos atribuídos às práticas corporais por parte dos sujeitos que as praticam, para além de sua utilidade mais pragmática. Neste sentido, pensar em intervenções a partir da perspectiva das práticas corporais significa atentar para a dimensão da percepção e da sensibilidade humana; considerar os interesses, necessidades e condições dos sujeitos; desconstruir certos modelos de aula padrão; adotar uma outra concepção de tempo/ritmo das atividades; trabalhar com conteúdos diversos e ressignificá-los; valorizar a dimensão pedagógica das aulas; explorar diferentes espaços e materiais; despertar o contato dos sujeitos consigo mesmos, no sentido da consciência corporal e da busca pela inteireza na execução dos movimentos; respeitar os limites e possibilidades corporais de cada participante; olhar com atenção todos os sujeitos e cada um; estimular a criatividade; propor desafios; potencializar energia ao invés de gastar energia; dialogar sobre estereótipos de corpo e refletir sobre alguns valores vigentes na sociedade em que vivemos, tais como velocidade, consumo, produtividade, superficialidade e aparência física superestimada, na intenção de desmitificá-los. Estas ações se colocam na intenção de construir um entendimento das práticas corporais como possibilidades de experiências de (re)integração do ser. REFERÊNCIAS ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução de Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zaluar, 1985.

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Priscilla de Cesaro Antunes Rua Aristides Lobo, 520. Bloco 2, ap. 222 Bairro Agronômica - CEP: 88025-510 - Florianópolis-SC Email: [email protected]