livro e agora 4

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Muita gente tem dúvidas no dia-a-dia que, nem sempre, consegue sanar, naquele momento, com seu advogado. Pensando nisso, a equipe jurídica do escritório Resina & Marcon, em Campo Grande, lançou dia 6 de dezembro, a quarta edição do livro “E Agora? 4 – Tudo aquilo que você sempre quis perguntar para o seu advogado”.

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Page 1: Livro E Agora 4
Page 2: Livro E Agora 4

LIVRO “E AGORA? 4”

Resina & Marcon Advogados Associados

Organização

Autores

Ana Paula da Costa Aoki

Arianne Gonçalves Mendonça

Bruno Sanches Resina Fernandes

Caroline Mendes Dias

Jane Resina Fernandes de Oliveira

Leandro Cara Artioli

Marlon Sanches Resina Fernandes

Telma Curiel Marcon

Capa

Agilitá Propaganda e Marketing Ltda

Revisão Linguística

Maria Helena S. Cruz

Volume IV

1ª. Edição – Setembro 2011

" Não devemos permitir que alguém saia de nossa presença sem se sentir melhor e mais

feliz. "

Madre Teresa de Calcutá

A todos que direta ou indiretamente incentivam a Equipe

“Resina&Marcon” a buscar novos caminhos, enfrentando desafios para atender,

com ética, dedicação, superação, dinamismo e eficiência, aos anseios e necessidades

dos nossos clientes.

SUMÁRIO

DIREITO SOCIETÁRIO

Page 3: Livro E Agora 4

CONSÓRCIO E SOCIEDADE PROPÓSITO ESPECÍFICO

SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO

CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM

MARCA EMPRESARIAL

PATENTES E MODELO DE UTILIDADE

IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

REGIME DE BENS

DA ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA E INVENTÁRIO

USUFRUTO E PLANEJAMANTO EM VIDA

DOAÇÃO

FAMÍLIA X EMPRESA

ACORDO DE ACIONISTA/QUOTISTA

HOLDING

TRUST

OFFSHORE

DIREITO AUTORAL

DÚVIDAS COMUNS DE DIREITOS AUTORAIS

ECAD – ESCRITÓRIO CENTRAL DE ARRECADAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO

DIREITO IMOBIIÁRIO

DIREITO TRIBUTÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO

SERVIDOR PÚBLICO

DÚVIDAS SOBRE LICITAÇÃO

QUESTÕES FREQUENTES SOBRE CONTRATOS PÚBLICOS

CONVÊNIOS ADMINISTRATIVOS

TOMBAMENTO DE PATRIMÔNIO CULTURAL

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

DIREITO AMBIENTAL

DIREITO MÉDICO

DIREITO DO TRABALHO I

Page 4: Livro E Agora 4

INSTRUÇÕES BÁSICAS SOBRE CONTRATAÇÃO, DEMISSÃO E VERBAS

DEVIDAS DIANTE DE UMA RELAÇÃO DE EMPREGO

QUESTÕES SOBRE ACIDENTE DE TRABALHO, DOENÇA DE TRABALHO,

SAÚDE DO TRABALHADOR, SUAS PECULIARIDADES E DISCUSSÕES

CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRABALHO DO MENOR DE IDADE

QUESTÕES VARIADAS

DIREITO DO TRABALHO II

EMPREGADO DOMÉSTICO

QUESTÕES VARIADAS

DIREITO DO CONSUMIDOR

QUESTÕES INICIAIS

VÍCIOS E DEFEITOS EM PRODUTOS E SERVIÇOS

DIREITOS DOS FORNECEDORES NAS RELAÇÕES DE CONSUMO

REGRAS GERAIS SOBRE RELAÇÃO DE CONSUMO

TURISMO, AGÊNCIAS, AVIAÇÃO E HOTELARIA

INSTITUIÇÕES DE ENSINO

PLANOS DE SAÚDE

DÚVIDAS SOBRE COBRANÇAS DE DÍVIDAS

SISTEMA DE CONSÓRCIOS

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

ATENDIMENTOS NOS SAC‘S

SERVIÇOS ESSENCIAIS – ENERGIA ELÉTRICA, ÁGUA E ESGOTO,

TELEFONIA

ESTACIONAMENTO

BARES, RESTAURANTES E CASAS NOTURNAS

TELEMARKETING

PORTABILIDADE DE TELEFONIA FIXA E MÓVEL

TV POR ASSINATURA

BOLETO BANCÁRIO

POSTOS DE ATENDIMENTO DE PROCON EM SHOPPING CENTERS

DANO MORAL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO

ACIDENTE DE CONSUMO

CADASTRO POSITIVO DE CRÉDITO

Locais que facilitam seu acesso à Justiça e a solução de seus problemas

ÍNDICE REMISSIVO

Page 5: Livro E Agora 4

DIREITO DE FAMÍLIA

* Jane Resina Fernandes de Oliveira

Há limite de idade para se realizar o casamento?

Homens e mulheres entre os dezesseis anos e os dezoito anos incompletos

podem casar apenas mediante autorização dos pais ou de seus representantes legais (art.

1.517 do Código Civil).

Quais os direitos e deveres do casal no casamento?

Para o atual Código Civil (Lei nº 10.406, de 2002), o homem não é mais chefe

da sociedade conjugal. Em seu art. 1.511, determina que o casamento estabelece

comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges, o

que significa que homens e mulheres têm direitos e deveres iguais no matrimônio.

Qualquer dos cônjuges, querendo, poderá acrescer seu sobrenome ao sobrenome do

outro.

De acordo com o art. 1566 do Código Civil, são deveres de ambos os cônjuges,

entre outros, mútua assistência, sustento, guarda e educação dos filhos. O art. 1568

determina que os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção de seus bens e dos

rendimentos do trabalho, para o sustento da família e educação dos filhos, qualquer que

seja o regime patrimonial.

O domicílio do casal será escolhido pelo marido e pela mulher, mas qualquer um

deles pode se ausentar, no exercício de sua profissão, para atender a encargos públicos

ou por interesses particulares relevantes.

A celebração do casamento civil é gratuita e, para as pessoas comprovadamente

carentes, a habilitação, o registro e a primeira certidão são gratuitos (art. 1.512, do

Código Civil).

É possível validar o casamento religioso?

Para que tenha a mesma validade que o casamento civil, o casamento religioso

deverá ser registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua

celebração.

Assim, o registro civil do casamento religioso deverá ser promovido dentro de

90 dias de sua realização, por meio de ofício emitido pelo celebrante, ou por iniciativa

das partes, para o cartório civil, devendo ser observado, neste caso, o prazo de

habilitação. (artigos 1515 e 1516 NCC)

A união estável pode ser comparada ao casamento?

Sim, pois ocorre a união estável quando os cônjuges passam a ter a condição de

entidade familiar, podendo ser comparada ao casamento. Para a caracterização da união

estável, são exigidos quatro requisitos fundamentais: que a convivência seja duradoura,

Page 6: Livro E Agora 4

seja pública, seja contínua e, finalmente, que a união tenha o objetivo de constituir

família.

Qual é o prazo para que fique caracterizada a união estável?

Não há prazo. Basta que haja pela sociedade um reconhecimento de que aquele

determinado casal vivia com o objetivo de constituir família.

A união de pessoas do mesmo sexo pode ser equiparada à união estável?

Há decisão do Supremo Tribunal Federal, STF, que reconheceu a união estável

também para casais do mesmo sexo, concedendo aos parceiros das relações

homoafetivas os mesmos direitos que são dados às uniões estáveis entre homens e

mulheres, ou seja, passam a ter direitos como: à herança, à pensão alimentícia, à divisão

de bens entre outros, desde que preencham os requisitos de união estável (relação

duradora, pública e com objetivo de constituir família). As uniões estáveis homoafetivas

passam a ser reconhecidas como um núcleo familiar.

Como ficam os direitos dos cônjuges a partir do reconhecimento da união estável?

Os direitos e deveres dos cônjuges são iguais. Exemplo: ambos têm direito à

metade de todos os bens adquiridos onerosamente no curso da união estável, e aquele

que não tiver condições de se sustentar sozinho tem direito a receber pensão alimentícia

É possível converter uma união estável em casamento?

Sim, face ao disposto no art. 8º. da Lei 9.278/96. Para tanto basta que os

conviventes a requeiram ao Oficial de Registro Civil de Pessoas Naturais, da

Circunscrição de seu domicílio.

Como fica a divisão dos bens em caso de separação quando os cônjuges viviam em

união estável? Devem ser partilhados em partes iguais, uma vez que a presunção legal é a de

que foram adquiridos por meio do esforço comum.

Caso os cônjuges vivam em união estável, e um cônjuge venha a falecer, o(a)

companheira(o) herda suas dívidas?

Se as dívidas foram contraídas só pelo falecido, não; mas isso poderá interferir

no direito à herança. Por exemplo: esse(a) companheiro(a) não herda as dívidas, mas

também não herda o bem, caso as dívidas se refiram a este. Os herdeiros respondem

pelas dívidas no limite da herança.

Com o divórcio, cessa a obrigação de assistência mútua entre cônjuges decorrente

do vínculo matrimonial? Sim. Desde que, na separação judicial ou no divórcio direto, não tenha ficado

convencionado ou determinado pagamento de pensão alimentícia a qualquer um deles.

Page 7: Livro E Agora 4

Como ocorre a dissolução da sociedade e do vínculo conjugal?

A sociedade conjugal termina pela morte de um dos cônjuges, pela nulidade ou

anulação do casamento, pela separação judicial ou pelo divórcio (art. 1.571 do Código

Civil). O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo

divórcio.

Existe a possibilidade de parentes de um dos cônjuges propor Ação de divórcio? Sim. Sendo incapaz um dos cônjuges, seus ascendentes, irmãos ou curador

poderão tomar a iniciativa de propor Ação de Divórcio.

Como pode ser realizado o divórcio?

Após a Emenda Constitucional nº. 66 de 13/07/2010, o divórcio poderá ser

realizado a qualquer tempo, por qualquer um dos cônjuges. Se for amigável, o divórcio

poderá ser realizado extrajudicialmente, mediante escritura pública, desde que o casal

não possua filhos menores. Se litigioso, deverá ser proposto na Justiça Comum.

É possível realizar o divórcio no cartório?

Sim. Não tendo o casal filhos menores ou incapazes e observados os requisitos

legais quanto aos prazos, o divórcio poderá ser realizado por escritura pública, da qual

constarão as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão

alimentícia e, ainda, as referentes ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu

nome de solteiro ou à manutenção do nome adotado quando se deu o casamento. A

escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil para o registro

civil e o registro de imóveis. O tabelião somente lavrará a escritura se os contratantes

estiverem assistidos por advogado comum ou advogados de cada um deles, cuja

qualificação e assinatura constarão do ato notarial.

Quais direitos e deveres dos pais com relação à guarda dos filhos?

O divórcio não modifica os direitos e deveres dos pais em relação aos filhos, e o

novo casamento de qualquer dos pais não poderá implicar restrições a esses deveres e

direitos (art. 1.579 do Código Civil).

No caso de dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, os cônjuges

decidem sobre a guarda dos filhos. Quando não houver acordo entre as partes, cabe ao

juiz determinar a quem caberá a guarda, sempre levando em consideração o interesse da

criança.

De acordo com o estabelecido pelos cônjuges ou determinado pelo juiz, o pai ou

a mãe que não tiver a guarda dos filhos poderá visitá-los e tê-los em sua companhia,

devendo fiscalizar sua manutenção e educação. As disposições relativas à guarda e a

prestação de alimentos aos filhos menores estendem-se aos maiores incapazes (art.

1.590 do Código Civil).

Há o Instituto da Guarda Compartilhada, em que os filhos de pais separados

permanecem sob a autoridade e cuidado de ambos os genitores, que sempre tomarão em

conjunto as decisões que afetam o bem-estar, a educação e a criação dos filhos.

Page 8: Livro E Agora 4

A pessoa casada perde o direito aos bens se abandonar o lar?

Não, em nenhuma hipótese, a pessoa perde o direito àquilo que adquiriu

onerosamente na constância da união. Dependendo do motivo do abandono (adultério,

por exemplo), perderá o direito à pensão alimentícia. Mas o ideal seria o pedido liminar

de separação de corpos.

A pessoa casada com regime de separação de bens, após a separação, tem direito

ao recebimento de pensão alimentícia? A pensão alimentícia é devida quando o cônjuge, em qualquer regime de

casamento, não tem condições de subsistência. Os alimentos são fixados na proporção

das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.

O que fazer para que, em caso de divórcio, um cônjuge não tenha direito aos bens

do outro?

Para que os cônjuges não tenham direito a quaisquer bens de um ou de outro, por

ocasião do divórcio, é preciso fazer constar, no pacto antenupcial (documento realizado

em Cartório), que não se comungam nenhum dos bens passados, presentes ou futuros,

nem os aquestos (que são os bens adquiridos pelo esforço comum, com ajuda financeira

de ambos).

Quando a pessoa é casada no regime de separação total de bens, mediante a

realização de pacto antenupcial, em caso de morte, o cônjuge sobrevivente tem

direito a herança?

O cônjuge sobrevivente concorre, juntamente com os herdeiros necessários, à

totalidade da herança. Há jurisprudência, no entanto, entendendo que, quando há a

realização de pacto antenupcial definindo a separação total, não há direito à herança.

Quando é obrigatória a adoção do regime de separação obrigatória de bens?

Conforme o Art. 1.641 do Código Civil, é obrigatório o regime da separação de

bens no casamento, da pessoa maior de 70 (setenta) anos e de todos os que

dependerem, para casar, de suprimento judicial.

Quando a pessoa é casada no regime obrigatório de separação total de bens, em

caso de morte, o cônjuge sobrevivente tem direito à herança?

Conforme disposição legal, artigo 1829 do Código Civil, quando o regime

adotado for o da separação obrigatória de bens, o cônjuge será herdeiro do cônjuge

falecido.

Dispõe o artigo 1829 do NCC: ― A sucessão legítima defere-se na ordem

seguinte:

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este

com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de

Page 9: Livro E Agora 4

bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da

herança não houver deixado bens particulares;

II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;

III - ao cônjuge sobrevivente;

IV - aos colaterais.

No caso de uma pessoa separada que, após a separação, volta a conviver com o ex-

marido e não averbou a separação no cartório, qual o seu estado civil? Como

regularizar a situação?

O estado civil é de convivente. Se não ocorreu o divórcio, basta fazer uma

petição em conjunto, nos autos da separação, que voltam a ser casados. A separação é

reversível; o divórcio, não. Uma vez divorciados, os cônjuges que reatam precisam se

casar novamente.

O divorciado, para se casar novamente, tem de cumprir algum prazo fixado em

lei?

Após a homologação do divórcio, não há qualquer prazo a cumprir, podendo o

casamento realizar-se imediatamente.

Caso um homem tenha tido um filho antes do casamento em regime de comunhão

total de bens e venha a falecer, como fica a divisão dos bens entre os filhos deste

casamento, a esposa e o filho não reconhecido legalmente? Como meeira, a esposa fica com 50% de todo o patrimônio. A metade restante

será dividida entre todos os filhos reconhecidos. O filho não reconhecido poderá

requerer a comprovação da paternidade e, uma vez que isso ocorra, terá direito à sua

parte na herança em igualdade de condições com os demais irmãos.

Uma pessoa casada anteriormente em comunhão total de bens, separada e

divorciada, volta a viver com o mesmo cônjuge. Podem eles se casar novamente,

mas com separação total de bens?

Sim, poderão se casar novamente escolhendo outro regime.

Em caso de pessoas que vivem em união estável, caso ambos tenham filhos de outro

relacionamento, o que fazer para garantir que, em caso de falecimento, os bens

deixados por um dos cônjuges e adquiridos por seu próprio esforço, não sejam

divididos entre os filhos do cônjuge falecido?

Poderá ser feito um contrato de convivência e união estável no qual se

estipulem todas essas vontades em caso de falecimento, e ainda, por ocasião da

aquisição de bens por esforço próprio, fazer constar a incomunicabilidade desses bens

na respectiva escritura por ter sido fruto de trabalho e esforço próprio.

Adultério é ou não um crime? Quais as consequências deste ato na divisão dos

bens?

Adultério é uma injúria grave, com consequências no direito de família e cível.

Provada a traição, a mulher ou o marido que traem perdem o direito a receber pensão.

Se a traição se tornar pública e notória, o cônjuge traído poderá entrar na Justiça para

Page 10: Livro E Agora 4

pedir indenização por danos morais. O adultério não afeta a partilha dos bens, que

deverá seguir o regime de casamento adotado entre os cônjuges.

Ao se divorciar, quais os direitos de uma pessoa que se casa em regime de

separação de bens? E em caso de morte do outro cônjuge?

Em caso de separação, a pessoa tem direito aos bens que estão em seu próprio

nome. Em caso de morte, passa a ser herdeira, em concorrência com os filhos (artigo

1829 do Código Civil). Há jurisprudência entendendo que, caso seja realizado o pacto

antenupcial declarando a incomunicabilidade dos bens, não haverá direito à herança.

É possível fazer divórcios, inventários e partilhas no Cartório de Notas?

Sim, a Lei 11.441/07 trouxe grandes inovações facilitando os procedimentos

daqueles que desejam divorciar, fazer inventários e partilhas, pois autoriza que tais atos

sejam efetivados por escrituras públicas lavradas em Cartórios de Notas e define os

documentos necessários para a prática dos atos.

O que é necessário para se fazer divórcio, inventários e partilhas no Cartório?

Para a prática dos atos em Cartório, é necessário que haja consenso entre as

partes e não exista interesse de menores ou incapazes envolvidos. Ressalta-se que é

imprescindível a participação de um advogado para o assessoramento dos atos.

A escritura lavrada dos atos de interesse da parte (divórcio, inventário e partilha)

não depende de homologação judicial, devendo, apenas, ser registrada no Cartório de

Registro Civil para averbação da alteração do estado civil na certidão de casamento (em

caso de divórcio ou separação), e, se houver bens a partilhar, deve ser levada ao

Cartório de Registro de Imóveis onde os bens imóveis estiverem registrados.

O que é necessário para se fazer o Divórcio no Cartório e quais são os documentos

necessários para apresentação em cartório em caso de Divórcio?

Para a efetivação do Divórcio, é necessário: mútuo consentimento dos

cônjuges, ausência de filhos menores não emancipados ou incapazes do casal e

presença de advogado.

Os documentos necessários são: RG e CPF das partes, informação sobre

profissão e endereço dos cônjuges; RG e CPF, informação sobre profissão e endereço

dos filhos maiores (se houver) e certidão de casamento (se casados); carteira da OAB,

informação sobre estado civil e endereço do advogado; certidão de casamento

(atualizada – prazo máximo de 90 dias); escritura de pacto antenupcial (se houver);

descrição dos bens móveis e dos imóveis acompanhados das matrículas atualizadas e

comprovantes de quitação de todos os impostos; descrição da partilha dos bens (se não

houver acordo, pode ser decidida no divórcio) ; definição sobre a retomada do nome de

solteiro ou manutenção do nome de casado; definição do valor da pensão alimentícia;

definição de valor de contribuição para criar e educar os filhos maiores; pagamento de

eventuais impostos devidos em decorrência da partilha de bens.

Page 11: Livro E Agora 4

O que é necessário para se fazer o Inventário no Cartório e, nesse caso, quais são

os documentos necessários para apresentação em cartório?

Para a efetivação do Inventário, deve ser respeitado o prazo de abertura de 60

(sessenta) dias a contar da data da abertura da sucessão (art. 983 do CPC); mútuo

consenso entre os herdeiros; ausência de herdeiros menores não emancipados ou

incapazes; presença de advogado; e inexistência de testamento.

Os documentos necessários: a) Do ―de cujus‖: RG, CPF, certidão de óbito, certidão de

casamento (atualizada até 90 dias) e escritura de pacto antenupcial (se houver), certidão

do Colégio Notarial do Brasil/SP comprovando a inexistência de testamento; certidão

negativa Conjunta da Receita Federal e Procuradoria Geral da Fazenda Nacional; b) Do

cônjuge, herdeiros e respectivos cônjuges e do administrador provisório: RG e CPF,

informação sobre profissão, endereço, certidão de nascimento, certidão de casamento

dos cônjuges (atualizada até 90 dias); c) Do advogado: carteira da OAB, informação

sobre estado civil e endereço.

Devem ser apresentadas, ainda, informações sobre bens, dívidas e

obrigações, descrição da partilha, indicação do administrador provisório e pagamento do

ITCMD: a) imóveis urbanos: original da certidão negativa de ônus expedida pelo

Cartório de Registro de Imóveis (atualizada até 30 dias), carnê de IPTU, certidão de

tributos municipais incidentes sobre imóveis, declaração de quitação de débitos

condominiais; b) imóveis rurais: via original da certidão negativa de ônus expedida pelo

Cartório de Registro de Imóveis atualizada (30 dias), cópia autenticada da declaração de

ITR dos últimos 5 (cinco) anos ou Certidão Negativa de Débitos de Imóvel Rural

emitida pela Secretaria da Receita Federal – Ministério da Fazenda, CCIR – Certificado

de Cadastro de Imóvel Rural expedido pelo INCRA, observância da legislação sobre

georreferenciamento; c)bens móveis: documento de veículos, extratos de ações, notas

fiscais de bens e joias etc.

Que Lei assegura exames gratuitos de DNA nas investigações de maternidade e

paternidade?

A Lei nº. 10.317, de 6 de dezembro de 2001, assegura às pessoas

comprovadamente carentes a realização gratuita dos exames de DNA nas investigações

de maternidade e paternidade.

O que é interdição?

É o ato judicial em que se declara a incapacidade efetiva de uma pessoa maior

praticar os atos da vida civil, não conseguindo reger-se a si e seus bens.

Quais os documentos necessários para o pedido de interdição?

Cópia autenticada dos documentos pessoais do interditado;

Laudo Médico circunstanciado da situação de saúde do doente, contendo o

código da doença;

Page 12: Livro E Agora 4

Exames e laudos que já tenham sido realizados;

Cópia autenticada do documento pessoal que comprove o grau de parentesco

entre o autor da ação (filho, esposa(o), irmãos etc) e o interditado;

Com que idade poderá ser realizada a emancipação dos filhos?

A emancipação do filho é concedida por ambos os pais ou só por um deles na

ausência do outro. A idade mínima para antecipação por ato dos pais é 16 anos.

No casamento, o marido poderá adotar o nome da mulher?

Sim. O marido poderá adotar o sobrenome da mulher.

Em que caso poderá haver a perda do poder familiar?

Seguindo a orientação do Estatuto da Criança e do Adolescente, o novo código

civil dispõe que perderá o poder familiar o pai ou a mãe que castigar imoderadamente o

filho, deixá-lo em abandono ou praticar atos contrários à moral e aos bons costumes.

Quais os direitos dos filhos havidos por reprodução assistida?

Filhos concebidos por reprodução assistida têm sua paternidade reconhecida e os

mesmos direitos que os outros filhos. O código civil estabelece a presunção de

paternidade em favor dos filhos havidos por inseminação artificial mesmo que

dissolvido o casamento ou falecido o marido.

Há alguma diferença na lei sobre os direitos dos filhos havidos fora do casamento

ou adotados?

Desde a Constituição de 1988, os filhos adotados e os concebidos fora do

casamento têm direitos idênticos aos dos filhos do casamento. Isso é atualizado pelo

novo código, que acaba com a distinção entre filhos "legítimos" e "ilegítimos", adotada

pelo código de 1916.

Quem poderá pedir pensão alimentícia?

Parentes, cônjuges ou conviventes podem pedir pensão alimentícia quando dela

necessitarem. A Lei estabelece a possibilidade de que alimentos sejam fornecidos

mesmo ao cônjuge culpado da dissolução do casamento.

Sou casada no regime de separação de bens. Mas meu marido fez uma doação para

que o irmão dele comprasse uma casa usando o dinheiro de uma poupança em

comum. Posso contestar essa doação?

Pode, se provar que a poupança tinha contribuições de ambos.

Moro com alguém há 12 anos. Se eu sair para a casa dos meus pais perco o direito

a tudo o que adquirimos juntos?

Page 13: Livro E Agora 4

Não, em nenhuma hipótese você perderá o direito àquilo que adquiriu

onerosamente na constância da união. Dependendo do motivo pelo qual sairá de casa

(adultério, por exemplo), perderá o direito à pensão alimentícia.

Uma pessoa que era casada com separação total de bens separa-se judicialmente e

depois volta a se casar com a mesma pessoa, anulando o processo de separação.

Como fica o regime de casamento?

Permanece o regime de casamento adotado quando do casamento, uma vez que a

separação foi anulada.

Namorei por muito tempo um rapaz e realizei muitos gastos com o enxoval. Depois

de dez anos ele rompeu o namoro. Posso pedir indenização por danos materiais e

morais?

Sim, se houve a promessa efetiva de casamento devidamente comprovada.

Após o Novo Código Civil, houve mudança com referência à ordem de sucessão e

herança?

A principal mudança acrescentou o cônjuge sobrevivente no rol dos herdeiros

chamados necessários por definição legal, posição que, em 1916, cabia apenas aos

descendentes e aos ascendentes. O texto de 2002 confirmou, nos primeiros lugares da

ordem sucessória, os descendentes e os ascendentes do morto, mas também incluiu seu

cônjuge sobrevivente como concorrente à herança. Não havendo descendentes, são

chamados para a sucessão os ascendentes, também em concorrência com o cônjuge

sobrevivente. Não havendo ascendentes ou descendentes, a herança vai inteiramente

para o cônjuge. Não havendo o cônjuge, vai para os colaterais até o quarto grau (primos

irmãos).

Não havendo herdeiros, a herança vai para o município ou para o Distrito

Federal.

Quais são os regimes de casamento existentes e como fica a sucessão em cada um

deles?

Os regimes de casamento existentes são: comunhão universal, comunhão parcial,

participação final nos aquestos e separação de bens. Esse último pode ser convencional,

efetivado através de pacto antenupcial ou legal ou, quando um dos cônjuges estiver com

mais 70 anos, por ocasião das núpcias.

No regime de comunhão total ou universal de bens, os bens adquiridos antes ou

durante o casamento se comunicam entre os cônjuges, formando em sua integridade um

patrimônio comum, inclusive, doações e heranças recebidas por uma das partes.

Na Comunhão parcial de bens, os bens adquiridos antes do casamento não se

comunicam entre os cônjuges, mas os adquiridos durante a união passam a ser

patrimônio comum do casal. Essa regra não inclui as doações e heranças, que não se

comunicam entre os cônjuges. Na hipótese de falecimento, o cônjuge sobrevivente

participará na divisão do espólio, na qualidade de herdeiro, concorrendo com os demais

Page 14: Livro E Agora 4

na sucessão, apenas sobre os bens particulares do falecido, ou seja, aqueles adquiridos

antes da constância do casamento, com base na regra do regime da separação total.

No regime de participação final nos aquestos, cada cônjuge possui patrimônio

próprio e, na dissolução do casamento, cada qual terá direito à metade dos bens

adquiridos pelo casal, a título oneroso. Na sucessão, apenas são divididos entre os

cônjuges os bens comuns.

A separação obrigatória de bens ocorre quando um dos cônjuges tem mais de 70

(setenta) anos de idade ou quando há necessidade de suprimento judicial para casar

(menores de 16 anos), sendo que os bens de cada cônjuge não se comunicam com o do

outro. Na separação total de bens, os bens adquiridos antes ou durante o casamento não

se comunicam entre os cônjuges. Assim, na hipótese de separação judicial, não há

partilha.

Por outro norte, o cônjuge sobrevivente é herdeiro necessário, ou seja, tem

participação obrigatória na herança, mesmo que o regime de casamento seja o de

separação total. Há, no entanto, jurisprudência entendendo que o cônjuge não é herdeiro

conforme já exposto anteriormente.

Qual a diferença entre meeiro e herdeiro no regime de casamento?

Meeiro é aquele que tem o direito legal à metade dos bens. No caso de

comunhão total de bens, os cônjuges são meeiros. O cônjuge herdeiro terá de obedecer

à linha de sucessão de acordo com o regime de casamento, conforme exposto no caso

acima.

O que são parentes colaterais?

Aqueles que possuem um ancestral comum, mas que não sejam descendentes, nem

ascendentes entre si. Ex: os irmãos, os tios, os sobrinhos, os primos-irmãos, os tios-avós

e os sobrinhos netos.

Quais são os graus de parentesco?

Parentes em linha reta - primeiro grau: meu pai/meu filho; segundo grau: meu

avô/meu neto; terceiro grau: meu bisavô/meu bisneto. Parentes colaterais - segundo

grau, meu irmão; terceiro grau, meu tio/meu sobrinho; quarto grau, meu tio-avô/meu

sobrinho-neto/meu primo irmão etc.

Como se dá a sucessão?

A sucessão se dá de duas formas: por Sucessão Legítima (ou ab intestato),

decorrente de lei, e por sucessão testamentária, decorrente de disposição de última

vontade, constante em testamento ou codicilo (documento que dispõe sobre as últimas

vontades: forma de funeral, doações de pequena monta, legado de móveis, roupas ou

joias de pouco valor ou uso pessoal).

Quem são os sucessores?

Page 15: Livro E Agora 4

Podemos citar como tipos de sucessores: os legítimos, os testamentários e os

legatários. Legítimos são aqueles eleitos pela legislação, através da vocação hereditária

(1829 NCC); testamentários, aqueles indicados como beneficiários da herança por

disposição de última vontade; legatários, aqueles sucessores instituídos por testamento

que recebem coisa certa e determinada. Pessoas legítimas para suceder são aquelas

nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão (artigo 1798 do NCC).

Na sucessão testamentária, podem ser chamados a suceder os filhos ainda não

concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas ao abrir a sucessão; as

pessoas jurídicas; as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador

sob a forma de fundação (artigo 1799 do NCC).

Qual a ordem estabelecida por lei para recebimento da herança?

A ordem estabelecida em lei para o recebimento da herança está prevista no

artigo 1829 do NCC. Assim, a classe seguinte de herdeiros somente será chamada se

não houver herdeiros da classe precedente.

Os descendentes (filhos, netos, bisnetos) formam a primeira classe de herdeiros,

muito embora possa haver concorrência com o cônjuge. Dentro da classe de

descendentes, os mais próximos têm preferência sobre os mais remotos. Assim,

havendo um filho, os netos estão, em princípio, excluídos da herança. Entretanto, netos

de filho falecido herdarão a parte que caberia ao filho falecido.

Salvo exceções determinadas em razão do regime de casamento, o cônjuge

concorrerá com os descendentes na divisão da herança e tem direito à parcela igual à

dos descendentes (pai, mãe, avô, avó), da mesma forma que, no caso dos descendentes,

não podendo sua quota ser inferior a ¼ (um quarto) da herança se for ascendente (mãe

ou pai ou avó ou avô). A existência dos ascendentes mais próximos afasta a herança dos

mais remotos. No caso específico dos ascendentes, não há herança por representação, ou

seja, não estando vivo o pai da pessoa falecida, a mãe viva receberá a totalidade da

herança. O cônjuge também concorre com os ascendentes na divisão da herança e, neste

caso, não é levado em consideração o regime de bens adotado no casamento.

Ressalte-se que o direito à herança do cônjuge não se confunde com a meação. A

meação se refere aos bens de propriedade comum do casal, dependendo do regime de

bens. Já o direito à herança se refere aos bens pertencentes exclusivamente ao cônjuge

falecido, os quais, em razão do falecimento, podem ser herdados pelo cônjuge

sobrevivente. Não havendo descendentes ou ascendentes, o cônjuge é o próximo a ser

chamado na lista de herdeiros necessários.

Quais os efeitos do regime de bens escolhido pelos cônjuges na sucessão?

Os efeitos do regime de bens na sucessão do cônjuge não interferem na ordem

da vocação hereditária, ou seja, se não existirem descendentes e ascendentes, o cônjuge

sobrevivente receberá a herança inteira. É certo ainda que o regime de bens também não

modificará o direito do cônjuge à herança, se existirem apenas ascendentes.

Quando o regime de bens poderá modificar o direito do cônjuge à herança?

O regime de bens poderá modificar o direito do cônjuge à herança se existirem

descendentes: o cônjuge não concorrerá com os descendentes se o regime for o da

comunhão universal, o da separação obrigatória ou o da comunhão parcial caso não

existam bens exclusivos do falecido. No regime de separação de bens, o cônjuge

sobrevivente concorre com os herdeiros sobreviventes. (1831 NCC). No regime de

comunhão parcial, o cônjuge sobrevivente concorre com os herdeiros em relação aos

bens de propriedade exclusiva do cônjuge falecido.

Page 16: Livro E Agora 4

Nos casos de união estável, caracterizada pela convivência pública, contínua e

duradoura, com o objetivo de constituir família, observando-se que não há prazo

definido para a sua caracterização, aplica-se como regra geral, em caso de falecimento,

o regime da comunhão parcial de bens, e, conforme legislação, artigo 1790 do Código

Civil, a parcela da herança se refere apenas ao patrimônio adquirido onerosamente na

vigência da união estável.

Na sucessão para os ascendentes, inexistindo descendentes, estes são chamados,

em concorrência com o cônjuge sobrevivente, independentemente do regime de bens

adotado, conforme preceitua o artigo 1836 do NCC. O grau mais próximo exclui o mais

remoto. Nesse caso, não há direito à representação, que somente se dá na linha reta

descendente, nunca na ascendente, conforme artigo 1852 do NCC. O cônjuge terá

direito a 1/3 (um terço) da herança se concorrer com o pai e com a mãe do autor da

herança; e à metade, se houver apenas um ascendente ou se maior for aquele grau. Na

inexistência de descendentes, ascendentes, cônjuge e/ou companheiro, colaterais, ou

tendo os herdeiros suscetíveis renunciado à herança, esta se devolve ao Município ou ao

Distrito Federal, se localizada nas respectivas circunscrições, ou à União, quando

situada em território nacional.

O que é sucessão Testamentária?

Toda pessoa capaz poderá dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens ou

de parte deles, para depois da morte (artigo 1857 do NCC), e a exceção a tal direito

ocorre quando o testador tenha herdeiros necessários, hipótese em que o testador

somente poderá dispor da metade da herança, pois a legítima dos herdeiros necessários

não poderá ser incluída no testamento.

Quais as formas de realização dos Testamentos?

Os testamentos, conforme preceitua o artigo 1862 do NCC, podem ser realizados

de forma pública, cerrada ou particular. O testamento é escrito por tabelião ou por seu

substituto em livro de notas. O testamento cerrado é escrito pelo testador, ou por outra

pessoa, a seu pedido, o qual após ser redigido deve ser levado pelo testador ao cartório

competente, acompanhado de duas testemunhas, para declarar ser o seu testamento,

oportunidade em que o tabelião lavrará o auto de aprovação, que deverá ser assinado

pelas testemunhas e pelo testador.

Já o testamento particular é escrito de próprio punho pelo testador ou por

processo mecânico; deve ser lido e assinado na presença de, pelo menos, três

testemunhas. Após a abertura da sucessão, pelo menos uma das testemunhas deverá

confirmar, perante o Juiz, que presenciou a leitura e que assinou o testamento, sob pena

de ineficácia. Importante salientar que não poderão ser nomeados herdeiros, nem

legatários: a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge, ou

companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos, bem como, as testemunhas (artigo 1801

do NCC).

Há, ainda, testamentos especiais: marítimo, aeronáutico e militar. O marítimo

poderá ser efetivado por quem estiver em viagem, a bordo de navio nacional, de guerra

ou mercante, e perante o comandante. O aeronáutico, por quem estiver a bordo de

aeronave militar ou comercial. Já o testamento dos militares poderá ser efetivado, não

havendo tabelião ou substituto, ante duas ou três testemunhas, quando estiverem em

Page 17: Livro E Agora 4

campanha, dentro do País ou fora dele, em praça sitiada, ou de comunicação

interrompida.

O que é Codicilo?

Codicilo é o ato realizado por toda pessoa capaz, que poderá, mediante escrito

particular seu, datado e assinado, fazer disposições especiais sobre o seu funeral, sobre

esmolas de pouca monta a certas e determinadas pessoas, ou, indeterminadamente, aos

pobres de certo lugar, assim como, legar móveis, roupas ou joias, de pouco valor, de seu

uso pessoal (artigo 1881 NCC).

Como poderá ser realizado o Inventário e qual é o prazo para abertura?

O inventário poderá ser judicial ou extrajudicial. O judicial deverá ser aberto no

prazo de 60 dias do falecimento e ser instaurado no último domicílio do falecido ou no

local da situação dos bens. O Inventário extrajudicial foi instituído pela Lei nº.

11.441/2007 e poderá ser utilizado nos casos em que há herdeiros capazes, acordo

quanto à divisão dos bens inventariados, inexistência de testamento, todavia é

obrigatória a presença de advogado.

O que significa chamar os bens à Colação?

Por ocasião da abertura da sucessão, os descendentes que concorrem à sucessão

do ascendente comum são obrigados trazer à COLAÇÃO, para igualar as legítimas, o

valor e bens das doações que dele em vida receberam, sob pena de sonegação. Para

cálculo da legítima, os valores dos bens conferidos serão computados na parte

indisponível, sem aumentar a parte disponível. (artigo 2002 NCC). Tal obrigação tem,

por finalidade, igualar, na proporção estabelecida em lei, as legítimas dos descendentes

e cônjuge sobrevivente, obrigando também os donatários que, ao tempo do falecimento

do doador, já não possuírem os bens doados. A dispensa da colação pode ser outorgada

pelo doador em testamento, ou no próprio título de liberalidade. Ou seja, no ato da

doação, o doador deixa claro que tal doação não faz parte da legítima ou especifica

valores atribuídos de forma igualitária para todos os herdeiros necessários.

O que é domicílio civil?

O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com

ânimo definitivo. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde,

alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer uma delas. Pode, ainda,

ser considerado domicílio da pessoa natural quanto às relações concernentes à profissão,

o lugar onde esta é exercida, e, se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada

um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1](Fonte http://www.senado.gov.br/anodamulher/livro_mu_lei/dir_familia.asp - acesso

03/6/07)

[2]( http://www.felsberg.com.br/info_felsberg_conteudo.asp?i=13260&desc=if

Acesso em 3/6/07)

Page 18: Livro E Agora 4

[3] (fonte http://www.juridicobrasil.com/direito_familia.htm

Acesso em 3/6/07)

Lei 10.406/2002 de 12 de janeiro de 2003 – Novo Código Civil Brasileiro.

Autora - * Jane Resina F. de Oliveira é advogada. Sócia fundadora do escritório Resina

& Marcon Advogados Associados. Mestre UnB – Universidade de Brasília, MBA em

Gestão Empresarial/FGV-RJ/ MBA Internacional em Gestão Empresarial Ohio

University. Pós-Graduação em Direito Empresarial UCDB/MS. Palestrante, com livros

e artigos publicados nas áreas de Direito Societário e Eletrônico.

www.resinamarcon.com.br. Blog – http://www.janeresina.adv.br; Twitter -

http://twitter.com/JaneResina

DIREITO SOCIETÁRIO

* Jane Resina Fernandes de Oliveira

Como pode ser definido o Empresário? É aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a

produção ou a circulação de bens ou de serviços. O Novo Código Civil, em seu artigo

966, parágrafo único, diz que não se considera empresário quem exerça profissão

intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de

auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de

empresa.

O que é necessário para realizar a inscrição de Empresário?

Deverá a inscrição ser realizada mediante requerimento no Registro Público de

Empresas Mercantis da sede do empresário, documento que deverá conter o nome,

nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens; a firma, com a

respectiva assinatura autógrafa; o capital; o objeto e a sede da empresa.

Qual a diferença entre Empresário e Sociedade Empresária? Empresário é a pessoa física que exerce atividade empresarial (artigo 966 do

NCC). Sociedade Empresária é a pessoa jurídica que exerce atividade empresarial

(artigo 982 do NCC).

O que é estabelecimento comercial?

É todo complexo de bens organizado, para o exercício da empresa, por

empresário ou por sociedade empresária.

Como pode ser definida a Sociedade? Sociedade, conforme o dicionário Aurélio, é definido como grupo de seres que

têm vida em comum; grupo de indivíduos que vivem por vontade própria sob normas

comuns; grupo de indivíduos que mantém relações sociais, culturais, financeiras,

comerciais etc.

E a sociedade estabelecida no Novo Código Civil tem as mesmas características,

sendo uma reunião de pessoas, através da celebração de contrato de sociedade, as quais

reciprocamente se obrigam a contribuir com bens e serviços, para o exercício de

Page 19: Livro E Agora 4

atividades econômicas e a partilha, entre si, dos resultados (artigo 981 do NCC),

sociedade essa que pode ser simples ou empresária.

O que é a Sociedade Empresária?

É aquela que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário

sujeito ao registro, que deve ser realizado na Junta Comercial da respectiva sede da

sociedade.

O que é a Sociedade Simples?

É a reunião de duas ou mais pessoas (que, caso atuassem individualmente,

seriam consideradas autônomas), que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens

ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos

resultados, não tendo por objeto o exercício de atividade própria de empresário.

As sociedades simples estão disciplinadas nos artigos 997 e seguintes do Novo

Código Civil e são constituídas com a finalidade da prestação de serviços decorrentes de

atividade intelectual e de cooperativa. Em razão de não terem caráter empresarial, não

precisam ser registradas na Junta Comercial, bastando a inscrição do contrato social no

Registro Civil de Pessoas Jurídicas do local da sede.

O objetivo da sociedade simples é somente o de prestação de serviços

relacionados à habilidade profissional e intelectual pessoal dos sócios, não devendo

conter outros serviços estranhos, caso em que poderá configurar o elemento de

empresa o qual, nesse caso, transformar-se-á em sociedade empresária.

Como deve ser constituída a Sociedade Empresária e a Sociedade Simples?

A sociedade empresária deverá ser constituída conforme os tipos regulados no

Novo Código Civil, ou seja, sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita

simples, sociedade limitada, sociedade anônima e sociedade em comandita por ações. A

sociedade simples poderá ser constituída com um desses tipos, e, não o fazendo,

subordina-se às normas que lhe são próprias, pois o Novo Código Civil adotou a

possibilidade de autonomia contratual e a garantia da necessidade da livre atividade

negocial, vigorando o princípio da atipicidade societária.

A forma organizacional de cada tipo societário está definida no Novo Código

Civil, como abaixo especificado:

a) Sociedade Simples (artigos 997 e seguintes do Novo Código Civil);

b) Sociedade em nome coletivo (artigos 1039 a 1044 do NCC);

c) Sociedade em comandita simples (artigo 1045 a 1051 do NCC);

d) Sociedade limitada (artigos 1052 a 1087 do NCC);

e) Sociedade anônima (artigos 1088 a 1089 do NCC);

f) Sociedade em comandita por ações (artigos 1090 a 1092 do NCC).

Quais as características da Sociedade em Nome Coletivo?

Neste tipo de sociedade, somente as pessoas físicas podem tomar parte na

sociedade, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações

sociais. Importante observar que os sócios podem, sem prejuízo da responsabilidade

perante terceiros, no ato constitutivo, ou por unânime convenção posterior, limitar entre

si a responsabilidade de cada um.

Quais as características da Sociedade em Comandita Simples?

Page 20: Livro E Agora 4

Neste tipo de sociedade, os sócios podem ser de duas categorias: os

comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações

sociais; e os comanditários, obrigados somente pelo valor de sua quota, devendo tal

designação constar do contrato social.

Importante observar que o sócio definido comanditário não poderá praticar

qualquer ato de gestão, nem ter o nome na firma social, sob pena de ficar sujeito às

responsabilidades de sócio comanditado.

Quais as características da Sociedade Limitada?

Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de

suas quotas, mas todos respondem, solidariamente, pela integralização do capital social.

Importante observar que, após a efetiva integralização do capital social, os sócios

respondem pelas dívidas da sociedade até o limite de suas quotas sociais, desde que não

seja provado excesso de poderes ou má condução dos negócios, caso em que poderão

responder solidariamente.

Como deve constar a cláusula da responsabilidade dos sócios no Contrato Social de

uma Empresa Limitada?

Poderá constar do contrato social que ―a responsabilidade de cada sócio é restrita

ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do

capital social‖.

Como se constitui uma Sociedade e o que deve constar no Contrato Social?

Conforme o artigo 997 do Novo Código Civil, a sociedade constitui-se mediante

contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes,

mencionará:

1- o nome, a nacionalidade, o estado civil, a profissão e a residência dos sócios, se

pessoas naturais. E a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se

jurídicas;

2- a denominação, o objeto, a sede e o prazo da sociedade;

3- o capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender

qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;

4- a quota de cada sócio no capital social e o modo de realizá-la;

5- as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;

6- as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade e seus poderes e

atribuições;

7- a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;

8- se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.

Deve constar ainda: data de encerramento do exercício social, quando não coincidente

com o ano civil; qualificação do administrador não sócio, designado no contrato; foro

ou cláusula arbitral.

A Sociedade Limitada pode ser constituída com apenas um sócio?

Sim, no dia 1° de junho de 2011, a Comissão de Constituição e Justiça do

Senado Federal aprovou o Projeto de Lei 18/2011, autorizando a criação de Empresas

Individuais de Responsabilidade Limitada.

O empresário poderá, sozinho, constituir uma pessoa jurídica, gozando da

proteção conferida pela separação entre o patrimônio do negócio e o seu pessoal. O

patrimônio social da empresa individual deverá ser ao menos 100 vezes superior ao

maior salário mínimo vigente no país. O empresário deverá, ainda, utilizar a expressão

Page 21: Livro E Agora 4

―EIRELI‖ após a firma ou denominação. Além disso, o empresário somente poderá ter

uma empresa desta modalidade.

Existem cláusulas facultativas no Contrato Social da Empresa Limitada?

As cláusulas facultativas são:

a) regras das reuniões de sócios (art. 1.072 NCC);

b) previsão de regência supletiva da sociedade pelas normas da sociedade anônima (art.

1.053, parágrafo único NCC);

c) exclusão de sócios por justa causa (art. 1.085 NCC);

d) autorização para pessoa não sócia ser administradora (art. 1.061 NCC);

e) instituição de conselho fiscal (art. 1.066 NCC);

f) outras, de interesse dos sócios.

A integralização do Capital Social de Sociedade Limitada pode ser realizada com

bens móveis e imóveis?

Poderão ser utilizados para integralização de capital quaisquer bens, desde que

suscetíveis de avaliação em dinheiro.

No caso de imóvel ou direitos a ele relativos, o contrato social por instrumento

público ou particular deverá conter sua descrição, identificação, área, dados relativos à

sua titulação, bem como o número de sua matrícula no Registro Imobiliário.

No caso de sócio casado, deverá haver a anuência do cônjuge, salvo no regime

de separação absoluta.

No caso de pessoa menor de idade, a integralização de capital com bens imóveis

deverá ter autorização judicial.

É possível a permanência de apenas um sócio em Sociedade Limitada?

O Novo Código Civil em seu artigo 1033, parágrafo IV, permite que, durante o

prazo de cento e oitenta dias, permaneça apenas um sócio na sociedade; após esse

período, ela poderá ser dissolvida. Esse artigo normalmente é utilizado nas ocasiões que

existem dois sócios e um deseja se retirar, e o tempo é concedido para oportunizar o

encontro de novo sócio.

Quais as matérias e respectivos quóruns de deliberações previstos em Lei?

Conforme tabela divulgada pelo Departamento Nacional de Registro no

Comércio, os sócios deliberarão sobre as seguintes matérias, além de outras previstas na

lei ou no contrato, observados os respectivos quoruns:

Matérias Quoruns

Matérias previstas no art.

1.071 do NCC/2002:

a) aprovação das contas da

administração;

Maioria de capital dos presentes, se o contrato não

exigir maioria mais elevada (inciso III, art. 1.076

NCC/2002).

b) designação dos

administradores, quando feita

em ato separado;

Administrador não sócio: (art. 1.061 NCC/2002)

unânimidade dos sócios, se o capital social não

estiver totalmente integralizado;

dois terços do capital social, se o capital estiver

totalmente integralizado:

Page 22: Livro E Agora 4

Administrador sócio (inciso II, art. 1.076 NCC/2002)

mais da metade do capital social.

c) destituição dos

administradores; Administrador, sócio ou não, designado em ato

separado mais da metade do capital social (inciso II, art.

1.076 NCC/2002);

Administrador sócio, nomeado no contrato social

dois terços do capital social, no mínimo, salvo

disposição contratual diversa (§ 1º, art. 1.063,

NCC/2002)

d) o modo de remuneração dos

administradores, quando não

estabelecido no contrato;

Mais da metade do capital social (inciso II, art. 1.076

NCC/2002).

e) modificação do contrato

social;

Três quartos do capital social, salvo nas matérias

sujeitas a quorum diferente (inciso I, art. 1.076

NCC/2002).

f) incorporação, fusão e

dissolução da sociedade, ou a

cessação do estado de

liquidação;

Três quartos do capital social (inciso I, art. 1.076

NCC/2002).

g) nomeação e destituição dos

liquidantes e o julgamento das

suas contas;

Maioria de capital dos presentes, se o contrato não

exigir maioria mais elevada (inciso III, art. 1.076

NCC/2002).

h) pedido de concordata. Mais da metade do capital social (inciso II, art. 1.076

NCC/2002)

Outras matérias previstas no

Código Civil 2002

Exclusão de sócio – justa causa Mais da metade do capital social, se permitida a

exclusão por justa causa no contrato social (art. 1.085

NCC/2002).

Exclusão de sócio remisso Maioria do capital dos demais sócios (parágrafo único

do art. 1.004 NCC/2002).

Transformação Totalidade dos sócios, salvo se prevista no ato

constitutivo (art. 1.114 NCC/2002)

Quais as características da Sociedade Anônima?

Neste tipo de sociedade ou companhia, o capital divide-se em ações, obrigando-

se cada sócio ou acionista somente pelo preço de emissão das ações que subscrever ou

adquirir. A sociedade anônima rege-se por lei especial, Lei nº. 6.404/76 – LSA, e

aplica-se o Novo Código Civil nos casos omissos.

Marido e mulher podem ser sócios em uma mesma empresa?

Page 23: Livro E Agora 4

Sim, os cônjuges podem ser sócios entre si, exceto se forem casados sob o

regime da comunhão universal ou separação obrigatória (quando um dos cônjuges

tiver mais de 70 anos).

Qual a alternativa para constituir sociedade casais que contraíram núpcias e pelo

regime de comunhão total de bens, efetivado através de pacto antenupcial?

Como alternativa para casos como esse, há a possibilidade da constituição de

uma sociedade anônima, capital fechado, pois, para a sua constituição, não há

necessidade da efetivação de contrato social, e sim de Estatuto Social. E esse tipo

societário é regido por Lei especial – Lei nr. 6.404/76, que não impede a pessoas

casadas sob os regimes excluídos pelo código civil, fazerem parte de uma S/A.

Tanto é que o próprio código civil, em seu artigo 1089, estabelece que: ―a

sociedade anônima rege-se por lei especial, aplicando-se-lhe, nos casos omissos, as

disposição deste Código‖.

Apesar de ser mais onerosa e demandar maiores cuidados contábeis, para os

casais que contraíram núpcias pelos regimes proibitivos, a constituição de uma S/A

surge como alternativa para constituir sociedade, sendo inclusive, ótima opção para a

constituição de holding patrimonial através deste tipo societário.

O empresário(a) casado(a) pode alienar bens da sociedade sem a outorga

(assinatura autorizando a venda) do outro cônjuge?

O(a) Empresário(a) casado(a), conforme o artigo 978 do NCC, pode, sem

necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis

que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real.

Qual o momento que a Sociedade adquire personalidade jurídica?

A partir da inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos

(artigos 45 e 1.150 do NCC).

Como podem ser consideradas aquelas sociedades de fato, que praticam atos do

comércio, mas não têm registro na Junta Comercial? E qual a responsabilidade

que lhes cabe?

Essas sociedades são classificadas pelo Novo Código Civil como sociedade em

comum, podendo ainda ser chamadas como sociedades irregulares, ou sociedades de

fato, ou sociedade sem registro. Têm natureza de sociedade, porque nelas se identifica a

affectio societatis, mas não são pessoas jurídicas, pois estas adquirem personalidade

jurídica quando da inscrição de seus atos constitutivos no registro próprio e na forma da

lei (NCC artigo 45), o que não ocorre nessa hipótese. Seus sócios respondem solidária e

ilimitadamente pelas obrigações sociais, ou seja, o patrimônio pessoal do sócio passa a

responder pelas dívidas contraídas pela sociedade.

Como pode ser provada a existência de uma sociedade de fato?

Pode ser provada por qualquer meio de prova admitida em direito, inclusive por

presunção.

Como pode ser configurada a presunção da existência de sociedade de fato?

Page 24: Livro E Agora 4

A presunção poderá ser provada por qualquer meio de prova admitida em

direito.

Se os sócios realizarem, em contrato particular, qualquer tipo de pacto atinente à

sociedade, isso tem valor perante terceiros?

A legislação é clara quanto a isso, declarando ser ineficaz em relação a terceiros

qualquer pacto separado, contrário ao disposto no instrumento do contrato.

O que é responsabilidade subsidiária?

Por subsidiária entende-se a responsabilidade daquele que é obrigado a

complementar o que o causador do dano (ou débito) não foi capaz de arcar sozinho. Ou

seja, o subsidiário só responde pela dívida ou débito, depois que os bens do devedor

principal não forem suficientes para a satisfação do débito.

Na responsabilidade subsidiária, os sócios são obrigados a complementar seu

patrimônio, com os bens pessoais, tudo aquilo que a sociedade não cumpriu sozinha.

O que é responsabilidade solidária?

Por solidária entende-se a responsabilidade igual, equivalente, da mesma

natureza, obrigando-se, em condições de igualdade, ao devedor principal. Se houver

responsabilidade solidária, o credor poderá executar tanto a sociedade, quanto aos seus

sócios.

Quando um sócio se retira da sociedade, acabam as suas responsabilidades?

Não. O artigo 1003, parágrafo único do Novo Código Civil é claro ao dizer que

até 2 anos depois de averbada a modificação do contrato, responde o cedente

solidariamente com o cessionário, perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações que

tinha como sócio.

A sociedade pode nomear administradores que não sejam sócios?

Pode, e o ato de nomeação deve constar no contrato social ou ser registrado

perante a Junta Comercial, e definidos os deveres e obrigações. Responde por perdas e

danos perante a sociedade o administrador que realizar operações, sabendo ou devendo

saber que estava agindo em desacordo com a maioria. Importante ressaltar que, no

silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos os atos pertinentes à

gestão da sociedade, não constituindo objeto social, a oneração ou a venda de bens

imóveis o que depende do que a maioria dos sócios decidirem.

Os administradores nomeados pelos sócios são responsáveis pelos atos que

praticarem?

Os administradores só respondem solidariamente perante a sociedade e terceiros

prejudicados, se agir por culpa no desempenho de suas funções e em desacordo com as

suas atribuições e responsabilidades definidas no contrato social.

Page 25: Livro E Agora 4

É possível a revogação dos poderes de administração concedidos a um dos sócios

em Sociedade Simples?

Os poderes do sócio investido na administração por cláusula expressa do

contrato social, salvo justa causa, reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos

sócios, são irrevogáveis. São revogáveis, no entanto, a qualquer tempo, os poderes

conferidos a sócio por ato separado, ou a quem não seja sócio.

Como cessa o cargo de administrador em Sociedade Limitada?

O exercício do cargo de administrador cessa pela destituição, em qualquer

tempo, do titular, ou pelo término do prazo se, fixado no contrato ou em ato separado,

não houver recondução. Tratando-se de sócio nomeado administrador no contrato, sua

destituição somente se opera pela aprovação de titulares de quotas correspondentes, no

mínimo, a dois terços do capital social, salvo disposição contratual diversa.

Como se deve fazer a nomeação do administrador na sociedade?

A nomeação deve ser feita através do registro de uma Ata, em ato separado e

deve ser averbada no órgão de registro público das sociedades (Cartório ou Junta

Comercial) nos 10 (dez) dias seguintes ao da investidura, devendo o administrador

declarar a Inexistência de Impedimento para o Exercício de Administração da

Sociedade.

Quais as pessoas que não podem ser empresárias? As pessoas que não podem ser empresárias são:¹

a) as pessoas absolutamente incapazes (exceto quando autorizadas judicialmente

para continuação da empresa): os menores de 16 (dezesseis) anos; os que, por

enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a

prática desses atos; os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua

vontade;

b) as pessoas relativamente incapazes (exceto quando autorizadas judicialmente

para continuação da empresa): os maiores de 16 (dezesseis) e menores de 18 (dezoito)

anos. O menor de 18 anos e maior de 16 anos pode ser emancipado e, desde que o seja,

pode assumir a administração da sociedade; os ébrios habituais, os viciados em tóxicos,

e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; os excepcionais,

sem desenvolvimento mental completo; os pródigos;

c) os impedidos de ser empresário, tais como: os Chefes do Poder Executivo,

nacional, estadual ou municipal; os membros do Poder Legislativo, como Senadores,

Deputados Federais e Estaduais e Vereadores, caso a empresa ―goze de favor decorrente

de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada‖;

os Magistrados; os membros do Ministério Público Federal; os empresários falidos,

enquanto não forem reabilitados; as pessoas condenadas à pena que vede, ainda que

temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação,

peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema

financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de

consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação;

os leiloeiros; os cônsules, nos seus distritos, salvo os não remunerados; os médicos, para

o exercício simultâneo da farmácia; os farmacêuticos, para o exercício simultâneo da

medicina; os servidores públicos civis da ativa, federais (inclusive Ministros de Estado e

Page 26: Livro E Agora 4

ocupantes de cargos públicos comissionados em geral). Em relação aos servidores

estaduais e municipais, observar a legislação respectiva; os servidores militares da ativa

das Forças Armadas e das Polícias Militares; estrangeiros (sem visto permanente);

estrangeiros naturais de países limítrofes, domiciliados em cidade contígua ao território

nacional; estrangeiro (com visto permanente), para o exercício das seguintes atividades:

pesquisa ou lavra de recursos minerais ou de aproveitamento dos potenciais de energia

hidráulica; atividade jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens; serem

proprietários ou armadores de embarcação nacional, inclusive nos serviços de

navegação fluvial e lacustre, exceto embarcação de pesca; serem proprietários ou

exploradores de aeronave brasileira, ressalvado o disposto na legislação específica.

Observações:

a) Os portugueses, no gozo dos direitos e obrigações previstos no Estatuto da

Igualdade, comprovado mediante Portaria do Ministério da Justiça, podem requerer

inscrição como Empresários, exceto na hipótese de atividade jornalística e de

radiodifusão sonora e de sons e imagens; Da mesma forma, os brasileiros naturalizados

há menos de dez anos, para o exercício de atividade jornalística e de radiodifusão de

sons e de sons e imagens.

b) A capacidade dos índios será regulada por lei especial.

Onde o “Empresário” deverá se registrar para exercer sua atividade? E a

“Sociedade Empresária”, onde deverá se registrar?

O empresário deverá se registrar na Junta Comercial do respectivo Estado,

conforme regulamentação baixada pelo Departamento Nacional de Registro de

Comércio – DNRC. A sociedade empresária deverá, além da Junta Comercial do

respectivo Estado, também se inscrever na Secretaria da Receita Federal, na Secretaria

da Fazenda do Estado (caso seja contribuinte do ICMS), na Previdência Social, na

Prefeitura local e no Sindicato da categoria.

Onde o “Autônomo” deverá se registrar? E a “Sociedade Simples”, onde deverá se

registrar?

O profissional autônomo necessita apenas se registrar na Prefeitura Municipal e

se inscrever na Previdência Social. Nessa condição não terá o Cadastro Nacional das

Pessoas Jurídicas - CNPJ, entretanto poderá emitir recibos ou solicitar a confecção de

Notas Fiscais de Serviços que comprovem a prestação dos serviços realizados e que

servirão como base para a apuração dos tributos devidos.

A sociedade simples adquire personalidade jurídica com o registro de seus atos

constitutivos no Cartório de Registro de Títulos e Documentos das Pessoas Jurídicas.

Além disso, em linhas gerais, deverá também se inscrever na Receita Federal, na

Previdência Social, na Prefeitura local, no Sindicato da categoria e, conforme o caso, no

respectivo Conselho Regional da Profissão (Ex.: Conselho Regional de Contabilidade -

CRC, Conselho Regional de Administração – CRA, Conselho Regional de Engenharia,

Arquitetura e Agronomia - CREA, Conselho Regional de Medicina – CRM, Conselho

Regional de Odontologia - CRO etc.).

O contador de uma empresa pode ser responsabilizado por falhas na

contabilidade?

Page 27: Livro E Agora 4

Sim, o Contador será responsabilizado junto com os empresários por falhas nas

atividades escriturais que vierem a causar danos ao fisco ou a terceiros que caracterize

evasão fiscal.

Existe um quórum definido por lei para modificação no contrato social das

empresas?

Sim. Serão necessários no mínimo três quartos do Capital Social, ou seja, 75%

dos sócios, nos casos de modificação do Contrato Social, de incorporação, fusão,

dissolução da sociedade ou cessação do estado de liquidação da sociedade.

Qual é o domicílio de uma pessoa jurídica?

O Domicílio é o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e

administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos

constitutivos. Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes,

cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados. Se a

administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da

pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o

lugar do estabelecimento sito no Brasil que a ela corresponder.

Podem os bens dos sócios responder por dívidas sociais?

O artigo 1023 do Novo Código Civil é claro ao declarar que, se os bens da

sociedade não forem suficientes para cobrirem as dívidas, respondem os sócios pelo

saldo, na proporção em que participem das perdas sociais, salvo cláusula de

responsabilidade solidária. E o artigo 1024 do mesmo diploma legal fala que os bens

particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão

depois de executados os bens sociais.

Quando uma pessoa ingressa em uma Sociedade e esta já possui dívidas, o Sócio

que ingressou é responsável por elas?

O sócio admitido em sociedade já constituída não se exime das dívidas sociais

anteriores à admissão.

O que é desconsideração da personalidade jurídica da sociedade?

É o ato que declara que os bens particulares dos sócios respondem pelas dívidas

da sociedade. Ocorre a desconsideração da personalidade jurídica da sociedade quando

existe prova de que a empresa devedora vem-se utilizando de meios indevidos para

frustrar a execução e, quando inexistirem nos autos elementos que comprovem ter a

empresa outros bens passíveis de penhora, é possível desconsiderar-se sua

personalidade jurídica e proceder-se à penhora de bens particulares dos sócios.

Qual a idade mínima para a pessoa ser empresária?

A capacidade civil para ser empresário(a) é de 18 anos, desde que a pessoa não

seja legalmente impedida.

Page 28: Livro E Agora 4

Uma pessoa com 17 anos pode ser empresária?

Sim. Para tanto essa pessoa deverá ser emancipada. A emancipação do menor

(relativamente incapaz) poderá se dar entre 16 e 18 anos. A emancipação se faz pela

outorga dos pais ou por sentença do juiz, cujo ato deverá ser registrado em Cartório das

Pessoas Naturais e, posteriormente, averbado no órgão de registro de empresas.

Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da

capacidade civil e não forem legalmente impedidos.

São hipóteses de emancipação: casamento; ato judicial; concessão dos pais;

colação de grau em curso de ensino superior; exercício de emprego público efetivo;

estabelecimento civil ou comercial, ou existência de relação de emprego, desde que, em

função deles, o menor com 16 anos completos tenha economia própria.

O menor de 18 anos emancipado pode ser sócio de empresa?

Sim. O sócio menor não emancipado só poderá participar de uma sociedade se o

capital social da empresa estiver totalmente integralizado e, nesse caso, ele não poderá

exercer a função de administrador da empresa.

Como se faz para emancipar o menor?

A emancipação do menor (relativamente incapaz), entre 16 e 18 anos, faz-se

pela outorga dos pais ou por sentença do juiz, cujo ato deverá ser registrado em Cartório

das Pessoas Naturais e, posteriormente, averbado no órgão de registro de empresas.

Lembramos que podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno

gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos.

Qual a função do “Administrador da Empresa” e do “Sócio-Gerente”?

Após o Novo Código Civil, o representante legal da empresa passa a ser o

administrador. O administrador substituiu a antiga figura do sócio-gerente como o

principal responsável pela empresa. Não há mais a figura do sócio-gerente, conforme

fora concebido pela legislação anterior. A função de representante legal da empresa

passou a ser atribuída ao administrador. Entretanto, o novo Código Civil conserva a

figura do gerente, que passa a ser um cargo hierarquicamente inferior ao do

administrador. O cargo de gerente normalmente é conferido a um empregado de

confiança.

O estrangeiro pode ser sócio de empresa e exercer a administração? Como se deve

fazer a nomeação do administrador na Sociedade Limitada?

O estrangeiro poderá ser sócio de uma empresa brasileira, com as seguintes

ressalvas:

a) não poderá ser sócio em empresa jornalística e de radiodifusão sonora (Lei nº

10.610,02) e de sons e imagens;

b) não poderá ser sócio o domiciliado e residente no Exterior, como majoritário, em

empresa de pesquisa ou lavra de recursos minerais ou de aproveitamento dos potenciais

de energia hidráulica;

c) o domiciliado e residente no Exterior, em empresas que atua direta ou indiretamente

na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei;

d) o estrangeiro com visto permanente, com recursos oriundos do Exterior, em empresas

que atuem direta ou indiretamente na assistência à saúde no País, salvo nos casos

previstos em lei;

Page 29: Livro E Agora 4

e) em empresa proprietária ou armadora de embarcação nacional, inclusive nos serviços

de navegação fluvial e lacustre, exceto embarcação de pesca;

f) em empresa que seja titular de direito real sobre imóvel rural na Faixa de Fronteira

(150 Km de largura, ao longo das fronteiras terrestres), salvo consentimento do

Conselho de Defesa Nacional da Presidência da República.

O estrangeiro só poderá fazer parte da administração da empresa se tiver residência no

Brasil, isto é, se possuir visto permanente emitido pela autoridade competente e não

estiver enquadrado em caso de impedimento para exercício da administração.

O administrador poderá ser nomeado no próprio contrato (em cláusula específica), ou

em instrumento à parte (em ato separado).

Como poderá um incapaz exercer atividade empresarial em razão da aquisição

através de direitos hereditários ou em razão da ocorrência da incapacidade após a

abertura da empresa?

Por meio de representante ou devidamente assistido, o incapaz poderá continuar

a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por intermédio de seus pais ou por

autor de herança. Nesses casos, precederá à autorização judicial, a qual poderá ser

revogada pelo juiz, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros.

Se o representante ou assistente do incapaz for pessoa que, por disposição de lei,

não puder exercer atividade de empresário, nomeará, com a aprovação do juiz, um ou

mais gerentes. Essa nomeação, devidamente autorizada, deverá ser arquivada na Junta

Comercial, caso não conste da autorização judicial para continuação da empresa pelo

incapaz. Poderá, ainda, ser nomeado um gerente em todos os casos em que o juiz

entender ser conveniente.

Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao

tempo da sucessão ou da interdição desde que estranhos ao acervo daquela, devendo tais

fatos constarem do alvará que conceder a autorização.

O que é nome empresarial?

Protegido por lei, é o nome sob o qual a empresa mercantil exerce sua atividade

e se obriga aos atos a ela pertinentes, compreendendo os seguintes tipos: firma

individual, firma ou razão social e denominação social. Serve também para identificar o

tipo jurídico da empresa ¹.

É necessário realizar a busca prévia do nome empresarial antes de registrar a

empresa?

É recomendável, antes de dar entrada na documentação, requerer Proteção do

Nome Empresarial ou Pesquisa de Nome Empresarial à Junta Comercial da unidade da

federação na qual será aberta ou transferida a sede, para evitar sustação do registro na

Junta Comercial por ser colidente com nome empresarial já protegido. Havendo

colidência, será necessário alterar o nome empresarial.

A proteção do nome empresarial decorre, automaticamente, do arquivamento de

ato constitutivo ou de alteração que implique mudança do nome, e circunscreve-se à

unidade da federação em que se localiza a sede da empresa. A proteção do nome

empresarial pode ser estendida pela empresa interessada a outras unidades da federação,

mediante procedimentos próprios perante a Junta Comercial da unidade da federação

onde se deseja a proteção.

Page 30: Livro E Agora 4

A inscrição do nome da empresa (firma ou denominação social) no respectivo

órgão de registro (Cartório ou Junta Comercial) assegura o seu uso exclusivo no limite

territorial do respectivo Estado. Entretanto, caso o empreendedor pretenda estender a

exclusividade para todo o território nacional, deverá registrar o nome da empresa no

Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI.

Como pode ser adotado o nome empresarial?

Dependendo do tipo de sociedade escolhida, o nome a ser adotado poderá ser em

forma de denominação social ou firma.

A firma será composta com o nome de um ou mais sócios, desde que pessoas

físicas, indicando-se a relação social.

Exemplo:

• ANTONIO CARLOS DOS SANTOS E CARLOS ALBERTO

Despachantes

A denominação social é formada com palavras de uso comum ou vulgar na

língua nacional ou estrangeira e ou com expressões de fantasia, devendo designar o

objeto da sociedade. É permitido figurar na denominação social o nome de um ou mais

sócios.

Exemplo:

• Bar e Restaurante Dona Benta Ltda.

Inscrita essa denominação social no Cartório ou Junta Comercial, é assegurada a

essa empresa a utilização desse nome exclusivamente no limite territorial do respectivo

Estado.

Como o “Empresário Individual” poderá identificar sua empresa?

O empresário individual só pode utilizar firma.

Esse empresário é aquele cuja titularidade é unipessoal e a responsabilidade,

ilimitada. Responde seu patrimônio pelas dívidas da empresa.

Para tanto, deverá adotar o seu nome civil, por extenso ou abreviado. Poderá

aditar designação mais precisa de sua pessoa ou da atividade a ser exercida para

diferenciar de outro nome já existente. Não pode ser abreviado o último sobrenome,

nem ser excluído qualquer dos componentes do nome. Não constituem sobrenome e não

podem ser abreviados: FILHO, JÚNIOR, NETO, SOBRINHO etc., que indicam uma

ordem ou relação de parentesco.

Exemplos – Antonio Vicentino dos Santos

Antonio V. dos Santos – Comércio de Bebidas;

A. V. dos Santos – Supermercado

Como o comerciante individual deverá realizar a alteração do nome empresarial?

O comerciante individual deverá alterar o nome empresarial quando houver

modificação do nome civil do titular da firma individual ou quando houver modificação

da atividade constante do nome.

Exemplos: de Maria Joaquina Santos para Maria Joaquina Santos de Azevedo;

de Pedro de Jesus – Açougue para Pedro de Jesus – Mercearia ¹ .

Page 31: Livro E Agora 4

Como é a formação do nome empresarial de Sociedade Limitada?

Para formar o nome empresarial, a sociedade por cotas de responsabilidade

limitada poderá adotar RAZÃO SOCIAL ou DENOMINAÇÃO SOCIAL, sempre

seguida, qualquer uma delas, da expressão "limitada', por extenso ou abreviadamente.

A razão social é constituída pelo nome civil completo ou abreviado de um, de

alguns - nesses casos acrescida a expressão "e companhia" ou "e Cia.", para indicar

a existência de outros sócios -, ou de todos os sócios, além da palavra "limitada", por

extenso ou abreviada.

A expressão "e companhia" indica tratar-se de uma sociedade que, na

composição da Razão Social, não declinou o nome de todos os sócios, podendo ser

substituído por qualquer outro capaz de exercer a mesma função, por exemplo: "e

Filhos", "e Irmãos", "e Sobrinhos", "e Amigos".

Exemplos: Oliveira, Xavier e Silva Ltda.; P. de Jesus e Cia. Ltda.; P. de Jesus e Irmãos

Limitada.

A DENOMINAÇÃO SOCIAL é formada por expressões de fantasia

incomuns (termos criados) e/ou por palavras de uso comum ou vulgar livremente

escolhidas pelos sócios, seguidas da palavra "limitada", abreviada ou por extenso.

Omitida a palavra "limitada", os sócios passam a responder ilimitadamente pela

empresa.

Caso figurem, no nome empresarial, uma ou mais atividades econômicas, essas

deverão constar expressamente no objeto social da empresa.

O nome empresarial não pode incluir ou reproduzir, em sua composição, sigla

ou denominação de órgão público da administração direta, indireta e fundacional,

federal, estadual ou municipal, bem como de organismos internacionais.

Como pode ser dissolvida a sociedade?

Pode ser dissolvida quando ocorrer o vencimento do prazo de duração, salvo se,

vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em

que essa sociedade se prorrogará por tempo indeterminado; quando ocorrer o consenso

unânime dos sócios; a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de

prazo indeterminado; a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de

centro e oitenta dias; a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar,

conforme o artigo 1.033 do NCC.

O que acontece quando uma sociedade limitada for encerrada sem obediência ao

que a lei determina?

A jurisprudência dominante tem entendimento de que, se a sociedade por quotas

de responsabilidade limitada encerrar as suas atividades, sem obedecer aos preceitos

legais de dissolução das sociedades em geral, seus sócios têm legitimidade concorrente

para figurar no polo passivo da ação intentada contra ela, ou seja, os sócios podem ser

responsabilizados.

Page 32: Livro E Agora 4

Pode o sócio de uma Empresa ceder as suas quotas sociais?

Caso o Contrato Social não estipule direito de preferência quando da cessão das

cotas, o sócio poderá ceder sua cota total ou parcialmente a um estranho que ingresse na

sociedade se não houver oposição de mais de um quarto da sociedade.

Para reunião de Sócios, é necessário convocação por escrito?

Sim, exceto se todos os sócios comparecerem ou declararem, por escrito, que

estão cientes do local, data hora e ordem do dia das deliberações que serão tomadas.

Nas sociedades com mais de 10 de sócios, estes devem reunir-se em assembleia,

existindo a obrigação legal de realização de, pelo menos, uma assembleia anual, que

terá por ordem do dia a tomada de contas dos administradores, a aprovação do balanço e

a designação dos novos administradores.

Poderá haver redução de Capital Social de empresa?

Sim. Depois de integralizado o capital social, com a correspondente modificação

no contrato social, caso ocorram perdas irreparáveis ou se ele for excessivo em relação

ao objeto da sociedade.

Quais os principais atos que deverão ser averbados no órgão de registro das

empresas?

Os pactos e declarações antenupciais do empresário, o título de doação, herança,

ou legado de bens clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade;

A sentença que decretar ou homologar a separação judicial do empresário e o ato

de reconciliação;

Nomeação e saída de Administrador e Gerente;

Qualquer alteração do contrato social;

Renúncia de Administrador;

Atas da assembleia ou reunião;

Dissolução da Sociedade;

Venda de Estabelecimento;

Redução de capital social;

Renúncia de Administrador;

Convocação de assembleias;

Dissolução da Sociedade;

Venda de Estabelecimento.

As publicações deverão ser realizadas no Diário Oficial da União ou do Estado,

conforme o local da sede do empresário ou da sociedade, e em jornal de grande

circulação.

Quais os livros especiais que a sociedade limitada precisa ter?

Livro de Atas da Administração;

Livro de Presença dos Sócios nas Reuniões e Assembleias;

Livro de Atas da Assembleia ou Livro de Atas da Reunião;

Livro de Atas e Pareceres do Conselho Fiscal, caso a sociedade opte por ter

Conselho Fiscal.

Page 33: Livro E Agora 4

Os bens particulares dos sócios de sociedade limitada estão sujeitos à execução por

débitos comuns, fiscais e trabalhistas, contraídos pela empresa no exercício de

atividade mercantil?

O sócio de sociedade empresarial limitada, enquanto não for integralizado, por

inteiro, o capital social, com a exata estimação de bens móveis ou imóveis a este

conferida, independentemente de haver ou não pago seu quinhão, responde,

solidariamente, com os demais, com seus bens particulares por dívidas da sociedade

limitada.

Trata-se de responsabilidade subsidiária, eis que, inicialmente, devem ser

executados os bens do patrimônio da sociedade limitada. Assim, o sócio, quando for

acionado por dívida por ela contraída, tem o direito de exigir a execução, em primeiro

lugar, dos bens pertencentes à sociedade limitada inadimplente, arguindo o denominado

benefício de ordem previsto no arts. 1.024 do NCC e 596 do CPC.

Os bens particulares do sócio meramente quotista, isto é, daquele que não tem

poderes de gestão e dela de qualquer forma não participa, não respondem por débitos da

sociedade limitada de qualquer natureza (comuns e fiscais).

A responsabilidade do sócio-quotista, com poderes de gestão da sociedade

limitada (por exemplo, gerente, diretor ou administrador), que também é subsidiária

(benefício de ordem), exsurge quando ficar provado (pelo credor) que exerceu essa

função, com excesso de mandato, fraude ou abuso do direito, infringindo, assim, o

contrato social e/ou legislação aplicável à espécie.

A contrário senso, o sócio-quotista administrador da sociedade, mesmo que

esgotados ou insuficientes os bens desta, e demonstrada gestão temerária ou abusiva,

não responde com seus bens pessoais pelas dívidas não saldadas da sociedade limitada.

A responsabilidade de sócio-gerente, diretor ou representante por dívidas

tributárias da sociedade limitada, quando há impossibilidade material de ela arcar com

tais débitos, tão somente se configura quando, no exercício da gerência, esse sócio

pratica atos com excesso de poderes ou com infração à lei ou ao contrato social, a teor

do que dispõe o art. 135 do Código Tributário Nacional.

A responsabilidade do sócio-gerente de sociedade limitada, por débito

previdenciário contraído por esta, sem condições de quitá-lo, é ponto controvertido,

sendo que se admite a responsabilidade objetiva nos termos do art. 13 da Lei nº

8620/93, e a subjetiva nos termos art. 135 do Código Tributário Nacional.

Os sócios de duas ou mais sociedades poderão ter suas cotas penhoradas em uma

sociedade por dívida da outra?

É possível a penhora de cotas de uma sociedade limitada por dívida de outra

sociedade quando forem conjugadas duas condições: a constituição da sociedade sem o

intuitu personae e a desconsideração da personalidade jurídica da outra sociedade.

Page 34: Livro E Agora 4

Os bens imóveis, integralizados ou não como capital da sociedade limitada,

poderão ser atingidos pela execução?

Quando a sociedade foi criada com o intuitu personae, os bens imóveis

integralizados como capital não poderão ser atingidos pela execução. Todavia, nada

impedirá que a execução se proceda sobre outros bens de propriedade da empresa

executada, pois admite-se a penhora sobre os direitos de índole patrimonial

correspondentes à cota em razão de sua possibilidade de alienação sem afetar a afectio

societatis.

Qual o documento mais importante ao se constituir uma Empresa?

O documento mais importante da empresa, é o Contrato Social, onde deverão

ser estabelecidas, entre outras coisas, as regras sociais, os deveres e atribuições dos

sócios, o destino da sociedade em caso de falecimento de um dos sócios, quórum para

definição de decisões importantes a serem tomadas na sociedade.

Esquecem os sócios que, quando surgir qualquer tipo de conflito societário, o

Contrato Social é o documento que norteará as decisões presentes e futuras. Sendo

assim, se esse documento não for elaborado com todo o critério e cuidado necessário,

iniciarão discussões desnecessárias podendo levar até a uma dissolução societária.

Esse documento é fundamental também, para estabelecer o quórum necessário

para aprovação das deliberações societárias em assembleias, o qual, caso não

estabelecido diferentemente daquele determinado na legislação, deverá

obrigatoriamente seguir os ditames legais, sendo que as deliberações tomadas em

conformidade com a lei e o contrato vinculam todos os sócios, ainda que ausentes ou

dissidentes, conforme preceitua o artigo 1072, parágrafo 5º do código civil.

Qual o quórum necessário para a nomeação e destituição de administradores na

Sociedade Limitada?

O quórum exigido para a nomeação de Administradores, quando estes forem

sócios, é de maioria simples (51%), desde que não seja necessária a alteração do

contrato social e o administrador tenha sido nomeado em ato separado. Quando for

nomeado no próprio contrato social, o quorum é de ¾ (três quartos) do capital social.

Para a nomeação de Administradores não sócios, se o capital social não estiver

integralizado, é necessária a aprovação da totalidade dos sócios. Se o capital estiver

integralizado, bastam 2/3( dois terços) do capital social, desde que não seja necessária

a alteração do contrato social e o administrador seja nomeado em ato separado. Quando

for nomeado no próprio contrato social e houver a necessidade da alteração do contrato,

o quorum será de ¾ (três quartos) do capital social.

Para a destituição de Administradores, o quórum é de maioria simples (51%),

quando não é necessária a alteração do contrato social e o administrador tenha sido

nomeado em ato separado. Quando tiver sido nomeado no próprio contrato social, o

quorum é de 2/3 ( dois terços) do capital social, devendo o contrato ser alterado.

Qual o quórum necessário para a alteração do Contrato Social da Ltda?

Page 35: Livro E Agora 4

É necessária a maioria qualificada, ou seja, sócios representando ¾ (três

quartos) do capital social, quando houver necessidade de alteração do contrato social,

incorporação, fusão, dissolução e cessação de estado de liquidação. Para a

transformação do tipo societário, precisa-se da aprovação da totalidade dos sócios.

Qual o procedimento para a exclusão de sócio na Ltda?

Para a exclusão de sócio extrajudicialmente, a deliberação deve ser tomada pela

maioria dos sócios, em reunião ou assembleia especialmente convocada, assegurada ao

acusado a ampla defesa. E, para a exclusão de sócio judicialmente, a iniciativa dever ser

tomada pela maioria dos sócios, por falta grave ou por incapacidade.

Qual o quórum necessário para a instituição de Conselho Fiscal?

Para a instituição de Conselho Fiscal, por meio do contrato social, o quórum é

de ¾ (três quartos) dos sócios.

Qual o quórum necessário para a dissolução da Sociedade Ltda?

Para a dissolução da sociedade, é necessária a concordância da totalidade dos

sócios, quando a sociedade tiver prazo determinado; e ¾ (três quartos) dos sócios

quando constituída por prazo indeterminado.

Há diferença de quórum nas decisões sociedade de Sociedade Simples e Sociedade

Limitada?

Sim, o quórum para deliberações nas sociedades simples é um pouco

diferenciado da sociedade limitada, pois as modificações do contrato social, indicadas

no artigo 997 do código civil, precisam do consentimento de todos os sócios, para o que

é necessário apresentar: dados dos sócios, denominação, objeto, sede e prazo da

sociedade; capital social, quota de cada sócio, prestação a que se obriga o sócio

(serviços), administração com poderes e atribuições, participação de cada sócio nos

lucros e nas perdas e definição se os sócios respondem, ou não, solidariedade pelas

obrigações sociais.

As demais questões não arroladas acima podem ser decididas por maioria

absoluta, se o contrato não determinar deliberação unânime.

Nesse sentido, é muito importante, ao iniciar qualquer sociedade, que o Contrato

Social seja efetivado com o auxílio de profissional capacitado para que o documento

elaborado retrate a real vontade e anseio dos sócios, definindo antecipadamente, as

questões de interesse comum, com o objetivo de evitar conflitos futuros.

CONSÓRCIO E SOCIEDADE COM PROPÓSITO ESPECÍFICO

Quais as diferenças entre a constituição de um Consórcio e a abertura de uma

Sociedade com Propósito Específico- SPE?

Page 36: Livro E Agora 4

O Consórcio, definido no artigo 278 e 279 da Lei nº 6.404/76, estabelece que as

companhias e quaisquer outras sociedades, sob o mesmo controle ou não, podem

constituir consórcio para executar determinado empreendimento, o que não se confunde

com grupos de sociedades. Normalmente estes são constituídos para execução de

grandes obras de engenharia; atuação no mercado de capitais; acordos exploratórios de

serviços de transporte; exploração de atividades minerais e correlatas; atividades de

pesquisa ou uso comum de tecnologia; licitações públicas entre outras.

A SPE surgiu junto com a Lei de Parceria Pública Privada-PPP (Lei n.

11.079/2004), com o objetivo de unir forças entre os setores público e privado, para a

realização de um contrato de parceria, concedido após licitação. É organizada sob um

dos tipos societários personificáveis existentes na ordem jurídica, como exemplo:

sociedade limitada, sociedade anônima aberta, com valores mobiliários admitidos a

negociação no mercado (§ 2º do art. 9º da Lei de PPP) entre outras.

A SPE, como o próprio nome diz, tem um fim específico, tem prazo

determinado, podendo ter, como membros, empresas particulares e a Administração

Pública, sendo vedado a esta ser titular da maioria do capital votante (§ 4º do art. 9º da

Lei de PPP), salvo sua eventual aquisição por instituição financeira controlada pelo

Poder Público em caso de inadimplemento de contratos de financiamento.

A SPE, além de ser muito utilizada em PPP, de acordo com o parágrafo único

do art. 981 NCC, também poderá ser criada sem a participação do Estado, para a

realização de um ou mais negócios determinados, citando-se, como exemplo, a

constituição de uma SPE para a construção e exploração de uma estrada, para o fim de

construção e venda de imóveis em condomínios, loteamentos entre outros

empreendimentos de grande vulto.

Qual a característica principal do contrato para constituição de um Consórcio?

Como principal característica desse tipo de contrato, pode ser citado o fato em

que há junção de duas ou mais empresas para a constituição de um objetivo comum,

sem que cada empresa perca a sua individualidade, ou seja, cada uma, individualmente,

continua em pleno funcionamento conforme os seus objetivos sociais e, por meio de

contrato particular, se unirão para a execução, por exemplo, de uma obra de

infraestrutura, estabelecendo, no referido instrumento, as prerrogativas e

responsabilidades das partes envolvidas, sem que com isso seja constituída uma

empresa. Nesse caso, conforme determina a lei, nomeia-se uma empresa líder que será a

responsável pela escrituração contábil, guarda dos livros e documentos comprobatórios

das operações do consórcio,.

É obrigatória a inscrição no CNPJ, e seus atos e alterações deverão ser

arquivados no registro do comércio do lugar de sua sede, devendo a certidão do

arquivamento ser publicada. O Consórcio não tem personalidade jurídica, e as

consorciadas somente se obrigam nas condições previstas no respectivo contrato,

respondendo cada uma por suas obrigações, sem presunção de solidariedade. A falência

de uma consorciada não se estende às demais, subsistindo o consórcio com as outras

contratantes, e os créditos que por ventura tiver a falida serão apurados e pagos na

forma prevista no contrato de consórcio.

O que deve conter no Contrato para a constituição do Consórcio?

Para a constituição do Consórcio, deverá constar do contrato, que deverá ser

aprovado pelo órgão da sociedade competente para autorizar a alienação de bens do

ativo permanente: a) designação do consórcio, se houver; b) o empreendimento que

constitua o objeto do consórcio; c) a duração, o endereço e o foro; d) a definição das

Page 37: Livro E Agora 4

obrigações e responsabilidades de cada sociedade consorciada, e das prestações

específicas; e) normas sobre o recebimento de receitas e partilha de resultados; f)

normas sobre administração do consórcio, contabilização, representação das sociedades

consorciadas e taxa de administração, se houver; g) forma de deliberação sobre

assuntos de interesse comum, com o número de votos que cabe a cada consorciado; h)

contribuição de cada consorciado para as despesas comuns, se houver.

Como fica o recolhimento de Tributos em tal caso?

Como o consórcio não tem personalidade jurídica, não recolhe tributos, quem o

faz são as consorciadas, na razão de suas atividades e arrecadações. A Receita Federal

vem controlando com maior rigor a movimentação financeira de consórcios,

determinando a apresentação de um registro contábil geral e diário para poder

confrontar os dados pela fiscalização em comparação com a declaração tributária de

cada participante. Cada empresa participante deverá declarar qual a sua porcentagem

no faturamento do negócio e reter seus respectivos impostos. A Instrução Normativa nr.

834 de 26/3/08, artigo 3º, Parágrafo 2º, determina que: ― O consórcio deverá manter

registro contábil das operações em Livro Diário próprio, devidamente registrado‖. E

ainda, conforme o mesmo artigo 3º, as empresas participantes do consórcio também

ficam comprometidas a apresentar seu faturamento proporcional no negócio.

Qual a forma de constituição da Sociedade de Propósito Específico – SPE?

Esse tipo de empresa possui as regras estabelecidas na legislação, conforme o

tipo societário escolhido para a sua constituição, ou seja, é uma empresa como outra

qualquer.

SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO

O que significa Sociedade em Conta de Participação?

O Código Civil Brasileiro, em seus artigos 991 a 996 do Código Civil Brasileiro,

trata da constituição e operacionalização da SCP (Sociedade em Conta de Participação),

a qual é definida em síntese como uma sociedade não personificada, ou seja, ela é

instrumentalizada por meio de um contrato particular entre os sócios, no qual estarão

previstas todas as regras/condições estabelecidas livremente, sendo que não requer o

registro nos órgãos do comércio ou no Registro Civil das pessoas jurídicas.

Quando poderá ser utilizada essa modalidade de sociedade?

Essa modalidade de sociedade normalmente é utilizada para a realização de um

empreendimento ou negócio específico, em que os sócios podem ser classificados

como: ostensivo ou oculto. O sócio ostensivo é aquele que atua e exerce todos os

negócios da sociedade em seu próprio nome, assumindo, consequentemente, todas as

obrigações e responsabilidades sociais, comerciais e jurídicas, as quais, não vinculam o

sócio oculto, já que este último não assume, perante terceiros, qualquer responsabilidade

quanto ao objeto social definido no contrato de constituição da SCP.

Qual a forma de operacionalização de tal tipo societário?

Na SCP, a atividade definida como objeto social é exercida unicamente pelo

sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade,

participando os demais sócios (ocultos) dos resultados correspondentes. Os sócios

Page 38: Livro E Agora 4

ocultos somente se responsabilizam perante o sócio ostensivo, na forma definida pelas

partes no contrato social que é particular, o qual não se limita às empresas, podendo ser

constituída por qualquer pessoa física ou jurídica.

Como é constituída a Sociedade em Conta de Participação?

A constituição da sociedade independe de qualquer formalidade, pois trata-se de

contrato social particular firmado entre os interessados, o qual produz efeitos somente

entre os sócios, uma vez que, perante terceiros, a responsabilidade é integral do sócio

ostensivo, podendo, no entanto, o sócio oculto ou participante, como também é

conhecido, fiscalizar a gestão dos negócios sociais.

A contribuição do sócio oculto ou participante constitui, com a do sócio

ostensivo, patrimônio especial, com valor definido em contrato, que será designado

como objeto da conta de participação e será utilizado para a finalidade estabelecida no

contrato para determinado negócio. Exemplificando: A empresa ―A‖ precisa de capital

para construir um empreendimento que será colocado à venda. Para tanto encontra dois

investidores, ―B‖ e ―C‖, que serão os sócios ocultos, os quais fornecerão os recursos

financeiros necessários para que a empresa ―A‖ cumpra o objeto da sociedade que será

constituída para determinado fim: construir e vender imóveis. No contrato da SCP,

serão estabelecidas as regras, prestação de contas, retorno do investimento,

responsabilidades das partes entre si entre outras. Os investidores ―B‖ e ―C‖ não terão

qualquer responsabilidade perante terceiros, sendo esta exclusivamente do sócio

ostensivo que executará o negócio. A responsabilidade dos sócios ocultos serão aquelas

definidas em contrato da SCP e serão exclusivamente perante o sócio ostensivo, e não

perante terceiros.

Qual o prazo de duração da SCP?

A sociedade poderá ser constituída com prazo determinado ou indeterminado,

para a efetivação de um ou mais negócios.

Em que tipo de negócio ou empreendimento pode ser utilizada SCP?

Esse tipo societário é muito utilizado, por exemplo, para que investidores

possam injetar dinheiro em uma empresa que pretende lançar um novo produto; em

incorporadoras imobiliárias, para aquisição de matéria prima para atendimento a um

contrato específico do sócio ostensivo, construção de prédios, condomínios entre outros,

uma vez que, no próprio contrato de constituição serão estabelecidas as diretrizes

societárias, como a forma de utilização do capital da sociedade em conta de

participação, a restituição desse capital, as atribuições e responsabilidades das partes, a

dissolução, prazo de duração entre outras.

As regras estabelecidas para a sociedade simples são aplicadas subsidiariamente

a esse tipo societário, e a sua liquidação rege-se pelas normas processuais relativas à

prestação de contas.

CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM

Page 39: Livro E Agora 4

Qual o embasamento para a utilização da Arbitragem na resolução de litígios no

Brasil?

No Brasil, a Lei 9.307 de setembro de 1996 autorizou a utilização da arbitragem

para o julgamento de litígios envolvendo bens patrimoniais disponíveis, ou seja, aqueles

direitos nos quais as partes podem transacionar contratos em geral (civis, comerciais e

trabalhistas). As sentenças proferidas pelos tribunais arbitrais têm a mesma eficácia da

sentença judicial. A principal diferença é o prazo máximo de seis meses para a solução

dos conflitos.

O que são conciliação, mediação e arbitragem?

A conciliação, a mediação e a arbitragem são meios alternativos de resolução de

litígios. Veremos cada um deles:

A conciliação ocorre quando um terceiro ou terceiros (conciliadores)

desenvolvem esforços e se empenham, com sugestões e propostas, para o consenso dos

interessados diretos em resolver os conflitos.

A mediação é um diálogo entre duas ou mais partes em conflito, assistidas por

um mediador, para que possam chegar a um acordo satisfatório para ambas as partes. Na

mediação, prevalece sempre a vontade das partes. O mediador não impõe soluções,

apenas aproxima as partes para que negociem diretamente e reconheçam o conflito para

buscar algum tipo de solução que contemple e satisfaça razoavelmente os interesses de

todas elas.

Na arbitragem, o(s) árbitro(s), substituindo a vontade das partes em

divergência, decide(m) a pendência pela confiança que foi nele(s) depositada pela

eleição prévia em cláusula compromissória.

Quando posso recorrer à arbitragem?

Pode ser submetida aos tribunais arbitrais qualquer controvérsia de origem civil,

comercial e trabalhista que envolva bens patrimoniais disponíveis, havida entre pessoas

jurídicas ou físicas capazes de contratar.

Toda vez que houver um conflito em um contrato que contenha a Cláusula

Compromissória elegendo-o, o Tribunal Arbitral será chamado a atuar.

Quando o litígio versar sobre direito disponível (usados em contratos ou não),

mesmo que não haja a cláusula compromissória, os tribunais arbitrais poderão atuar se

todas as partes envolvidas elegerem a arbitragem como meio de solução assinando o

Termo de Compromisso Arbitral.

O que deve ser feito para fazer uso da mediação e arbitragem?

O primeiro passo para poder utilizar a mediação e a arbitragem no TRIBUNAL

ARBITRAL é inserir uma cláusula nos contratos - sejam eles de locação, venda e

compra, prestação de serviços, contrato social, de planos de saúde ou seguro, além de

qualquer outro que verse sobre direito civil e comercial – elegendo o Tribunal Arbitral

Page 40: Livro E Agora 4

como foro competente para resolução de conflitos. Essa cláusula, chamada Cláusula

Compromissória, deve ser regida assim:

"Fica eleito o TRIBUNAL ARBITRAL DE _____, localizado na rua_____, para

a resolução de quaisquer dúvidas advindas do presente contrato".

A Cláusula Compromissória pode ser colocada em dois momentos:

na elaboração do contrato;

nos contratos em vigência, por meio de aditamento.

Nos casos em que o litígio já esteja instalado e não exista Cláusula

Compromissória, o Tribunal Arbitral poderá atuar com a concordância das partes, que

deverão firmar o Termo de Compromisso Arbitral.

Como é estabelecido o procedimento arbitral?

Instalado o conflito, o primeiro passo do TRIBUNAL ARBITRAL é tentar um

acordo amigável entre as partes por meio de mediação e de conciliação. Se não ocorrer

o acordo, será instalada a arbitragem, iniciado o processo, com posterior sentença

proferida pelos árbitros.

Os árbitros (pertencentes ao corpo de árbitros do Tribunal) são sempre em

número ímpar e são escolhidos pelas partes. Esses árbitros proferirão então a sentença

arbitral, promovendo a solução definitiva para o litígio.

Quais as vantagens da utilização do Tribunal Arbitral?

As vantagens da Arbitragem, aplicada em um Tribunal Arbitral, são numerosas:

Eficácia (mesmo valor da sentença estatal);

Agilidade (prazo máximo de seis meses);

Especialização (conferida pela presença de árbitros-peritos);

Sigilo (garantido pela Lei 9.307/96);

Prevalência da autonomia das partes (elas que escolhem os árbitros);

Menor custo (2 a 6% do valor da causa, conforme o Regulamento Interno do

Tribunal Arbitral).

Além disso, o menor tempo gasto viabiliza economicamente a utilização da

arbitragem.

O clima em que é desenvolvida a arbitragem é menos formal e mais flexível do

que a justiça comum;

Não há o trauma jurídico e o rigor processual presentes na justiça comum.

Normalmente as partes voltam a realizar outras negociações.

A Arbitragem permite o desafogamento do judiciário. Consequentemente,

proporciona melhores condições para que o judiciário se dedique aos litígios que

envolvam interesse público ou direitos indisponíveis.

Qual o tempo médio e custo da arbitragem?

Page 41: Livro E Agora 4

Normalmente, o tempo médio para resolução de um conflito é de 28 dias,

contados a partir da entrada do processo.

Os custos são estipulados em 2 a 6% do valor da causa ou o mínimo de dois

salários.

MARCA EMPRESARIAL

Qual a importância do registro e manutenção da marca para a Empresa?

A marca é o maior valor intangível pertencente à empresa.Por meio da marca, há

a fidelização do cliente, e ela é vista como garantia de qualidade, tanto dos produtos,

como dos serviços. Segundo Stephen King - Grupo WPP, Londres: ―O produto é algo

feito na fábrica; a marca é algo que é comprado pelo consumidor, o produto pode ser

copiado pelo concorrente; a marca é única, o produto pode ficar ultrapassado

rapidamente; a marca bem-sucedida é eterna.

Como pode ser definida a Marca?

Segundo Mônica Sabino, ―Uma marca é a percepção dos consumidores sobre

um produto, serviço, experiência ou organização. Não o que os profissionais

de marketing pensam que a marca é, mas o que ELES, os consumidores acham que ela

é‖.

Qual a Legislação que trata do registro e manutenção da Marca?

A Lei 9.279, de 14/5/96, regula os direitos e obrigações relativos à propriedade

industrial.

Onde deve ser feito o registro da Marca?

O registro deve ser efetivado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial –

INPI, e deverá ser realizado em classes e itens organizados pelo próprio INPI, sendo que

a efetivação do registro dá o direito do uso exclusivo da marca, nas classes e itens

registrados. Importante ressaltar que o registro deve ser realizado em várias classes,

CONFORME O OBJETO SOCIAL, para impedir que outros possam usar a mesma

marca em classes similares. A Classificação atual é composta de 41 classes, sendo 35

referentes a produtos, e 6, a serviços.

O que pode ser registrado?

São suscetíveis de registro como marca os sinais distintivos visualmente

perceptíveis.

Quais são os tipos de Marcas?

I - Marca de produto ou serviço - distingue produto ou serviço de outro idêntico,

semelhante ou afim, de origem diversa;

II - Marca de certificação: atesta a conformidade de um produto ou serviço com

determinadas normas ou especificações técnicas, como: qualidade, natureza do material

utilizado, metodologia empregada;

Page 42: Livro E Agora 4

III - Marca coletiva: identifica produtos ou serviços provindos de membros de uma

determinada entidade.

Quais as formas de apresentação das marcas?

Nominativa: É constituída por uma ou mais palavras no sentido amplo do

alfabeto romano, compreendendo, também, os neologismos e as combinações de letras

e/ou algarismos romanos e/ou arábicos.

Figurativa: É constituída por desenho, imagem, figura ou qualquer forma

estilizada de letra e número, isoladamente, bem como dos ideogramas de línguas tais

como o japonês, chinês, hebraico etc

Mista: É constituída pela combinação de elementos nominativos e figurativos,

cuja grafia se apresente de forma estilizada.

Tridimensional É constituída pela forma plástica (entende-se por forma plástica

a configuração ou a conformação física) de produto ou de embalagem, cuja forma tenha

capacidade distintiva em si mesma e esteja dissociada de qualquer efeito técnico.

Como se adquire a propriedade da marca?

Pelo registro validamente expedido. Assegurado ao titular seu uso exclusivo em

todo o Território Nacional.

Por quanto tempo vigora o registro da marca?

Vigora por 10 anos, contados da data da concessão do registro, prorrogável por

períodos iguais e sucessivos.

O que significa a Marca de Alto Renome?

A marca registrada no Brasil considerada de alto renome será assegurada

proteção especial, em todos os ramos de atividade. A Resolução n. 110/04 – define os

critérios que devem ser avaliados na verificação do alto renome de uma marca: Data do

início do uso da marca no Brasil; Público usuário dos produtos ou serviços a que a

marca se aplica; Meios de comercialização, amplitude geográfica e extensão temporal

do uso da marca no Brasil; Volume de vendas e valor investido pelo titular em

publicidade/propaganda da marca na mídia brasileira nos últimos 3 (três) anos; Valor

econômico da marca no ativo patrimonial da empresa.

O que é uma Marca Notoriamente Conhecida?

A marca notoriamente conhecida é aquela registrada em outro país, e que possui

expressivo reconhecimento perante os consumidores. Nesse caso, a proteção estende-se

apenas ao seu ramo de atuação.

A Marca notoriamente conhecida goza de proteção especial, independentemente

de estar previamente depositada ou registrada no Brasil. O deferimento do registro de

marca notória é um ato discricionário do INPI e não admite revisão do Poder Judiciário.

Qual a diferença entre marca de alto renome e marca notoriamente reconhecida?

Page 43: Livro E Agora 4

A marca de alto renome é aquela conhecida no mercado de consumo em geral,

que alcançou um patamar de grande reconhecimento e reputação positiva, sendo

protegida em todos os ramos de atividade.

A Lei 9.279/96, em seu art. 125, diz que à marca registrada no Brasil

considerada de alto renome será assegurada proteção especial, em todos os ramos de

atividade.

O Art. 126 da Lei 9.279 de 14/5/96, diz que a marca notoriamente conhecida em

seu ramo de atividade goza de proteção especial, independentemente de estar

previamente depositada ou registrada no Brasil.

O titular de registro ou o depositante de pedido de registro poderá celebrar

contrato de cessão ou licença para uso da marca?

Sim, através de contrato escrito de cessão ou licença, informando o INPI para as

devidas anotações.

Quais os crimes que poderão ser cometidos contra registro de marca?

A legislação é clara ao dizer que comete crime contra o registro de marca quem:

Reproduz, imita ou altera sem autorização, de modo que possa induzir confusão, a

marca registrada de outrem já aposta em produto colocado no mercado. Nesse caso, a

pena é de detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa. Também quem importa, exporta,

vende, oferece ou expõe à venda, oculta ou tem, em estoque, produto assinalado com

marca ilicitamente reproduzida ou imitada, caso a que se aplica como pena detenção de

1 a 3 meses, ou multa.

Como é praticado o crime de concorrência desleal?

Comete crime de concorrência desleal quem, com o fim de obter vantagem,

publica, presta ou divulga, por qualquer meio, falsa afirmação, em detrimento de

concorrente, com o fim de obter vantagem; emprega meio fraudulento, para desviar, em

proveito próprio ou alheio, clientela de outrem; usa expressão ou sinal de propaganda

alheios, ou os imita, de modo a criar confusão entre os produtos ou estabelecimentos;

divulga, explora ou utiliza, sem autorização, conhecimentos, informações ou dados

confidenciais, utilizáveis na indústria, comércio ou prestação de serviços. A pena é de

detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa.

Qual a prescrição para ingressar com a ação para reparação de dano causado ao

direito de propriedade industrial?

Prescreve em 5 anos a ação para reparação de dano causado ao direito de

propriedade industrial.

Antes de criar uma marca, com o que o empresário deve se preocupar?

A marca empresarial identifica o produto, e o primeiro passo que deve ser dado,

é o seu registro no Instituto Nacional de Propriedade Industrial - INPI.

O que ele deve evitar?

Page 44: Livro E Agora 4

Deve ser evitado o não registro, pois tal ato pode trazer muitos prejuízos ao

empresário, e, por ocasião do registro, há de se observar que este será realizado em

classes e itens organizados pelo próprio INPI, e aquele que efetivou o devido registro

somente terá o direito do uso exclusivo da marca, nas classes e itens em que fez o

registro.

Quais são os principais problemas no campo jurídico para as marcas?

Os principais problemas enfrentados pelos empresários que não efetivaram o

devido registro de sua marca são ações de indenização que normalmente ocorrem, além

da cessação do uso da marca depois de vultosos investimentos em publicidade, gráfica,

fidelização do cliente entre outros.

O registro de uma marca considera separadamente "nome fantasia" e "sinal

gráfico"?

Sim, o registro deve ser do nome e do sinal gráfico que identifica a marca.

O registro de uma marca possui limites territoriais? Municipal, Regional, Nacional

ou Internacional?

Conforme o Art. 129 da LPI, ―A propriedade da marca adquire-se pelo registro

validamente expedido, conforme as disposições desta lei, sendo assegurado ao titular

seu uso exclusivo em todo o território nacional, observado quanto às marcas coletivas e

de certificação o disposto nos arts. 147 e 148.‖ Se, no entanto, a marca for de alto

renome, conforme o art. 125 da Lei de Propriedade Industrial, é assegurado proteção

especial, conforme determinação legal: ―Art. 125 - À marca registrada no Brasil

considerada de alto renome será assegurada proteção especial, em todos os ramos de

atividade‖, e em todo território nacional, sendo impedido inclusive, o registro de marcas

idênticas ou semelhantes em todas as demais classes e itens. O deferimento do registro

de marca notória é um ato discricionário do INPI e não admite revisão do Poder

Judiciário.

Podem existir dois nomes de empresas iguais, porém registrados em segmentos

diferentes?

No Brasil os registros são efetivados por classe. Assim pode ocorrer o registro

da mesma marca em classes diferentes, o que é possível.

Quanto tempo leva para se conquistar uma marca registrada? E por que leva esse

tempo?

O registro definitivo demora bastante, não se tem um prazo fixado, após 2 anos

do pedido do depósito pode sair o registro definitivo. Acredita-se que a demora decorra

de problemas na agilidade e política interna.

Que garantias a empresa possui ao registrar a sua marca e que direitos ela

conquista?

Page 45: Livro E Agora 4

Conforme o Art. 130 da LPI, o titular da marca ou o depositante terá o direito

de: ceder seu registro ou pedido de registro; licenciar seu uso e zelar pela sua

integridade material ou reputação.

Quais riscos a empresa pode ter se não registrar sua marca?

A empresa que não efetivar o registro de sua marca no INPI, corre o risco de

uma hora para outra ser obrigada a deixar de usar a marca, sofrendo processos judiciais

discutindo-se direitos ao uso da marca, indenizações etc., o que poderia ser evitado.

Como funciona o processo de prorrogação da marca? Quanto tempo leva?

O pedido de prorrogação do registro deverá ser formulado durante o último ano

de vigência do registro. Se o pedido de prorrogação não tiver sido efetuado até o termo

final da vigência do registro, o titular poderá fazê-lo nos 6 (seis) meses subsequentes,

mediante o pagamento de retribuição adicional, prorrogando-se por mais 10 anos

automaticamente.

Quanto custa o processo de registro?

O preço depende muito da quantidade de classes em que será efetivado o

registro, sendo aproximadamente 1 salário e meio por classe, caso tenha a assessoria de

empresas do ramo, o que é ideal, face ao acompanhamento do processo e verificação do

uso indevido da marca registrada.

Quando é indicado para uma empresa registrar a marca? O critério é tamanho,

volume de capital?

Sempre é indicado, mesmo para uma empresa que está iniciando as suas

atividades, pois pode se tornar uma empresa de sucesso no primeiro ano de sua

fundação e, sem o registro efetivo da marca no INPI, a empresa poderá ficar vulnerável

à possibilidade de usar sua marca, sobretudo em caso de crescimento.

Se eu usar a marca há muito tempo e não for registrada e uma empresa nova

tentar registrá-la eu a perco ou tenho chance de manter?

A discussão é longa, em tese quando se efetiva o registro do nome empresarial

na Junta Comercial, a sua proteção restringe-se ao território sob jurisdição do órgão

encarregado do registro: tão somente a área correspondente ao Estado em que localizada

a respectiva Junta Comercial. A nova marca pode, assim, registrar em outras classes e

manter o nome em todo o território nacional. De qualquer forma, para se evitar riscos e

demandas, o ideal é efetivar o registro no INPI imediatamente.

PATENTES E MODELO DE UTILIDADE

Qual a legislação que trata sobre Patentes?

A lei que trata desse tema é a Lei 9.279 de 14/5/96. Ela regula direitos e

obrigações relativos à propriedade industrial, fala sobre a concessão de patentes de

invenção e de modelo de utilidade; concessão de registro de desenho industrial;

Page 46: Livro E Agora 4

concessão de registro de marca; repressão às falsas indicações geográficas e a repressão

à concorrência desleal.

O que é Patente?

Outorgado pelo Estado, ao inventor ou pessoa legitimada, é um título de

propriedade temporária, que permite explorar comercialmente uma invenção, com

exclusividade. Em troca da exclusividade de exploração, o inventor compromete-se a

revelar seu invento à sociedade.

Onde pode ser feito o pedido da Patente?

Deverá ser feito no Instituto de Propriedade Industrial – INPI, através do site:

www.inpi.gov.br

Qual a garantia do autor que faz o pedido da Patente?

Ao autor de invenção ou modelo de utilidade será assegurado o direito de obter a

patente que lhe garanta a propriedade.

O que pode ser patenteável?

É patenteável: A invenção que atenda aos requisitos de novidade, atividade

inventiva e aplicação industrial. Como modelo de utilidade, o objeto de uso prático

ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou

disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou

em sua fabricação. O Registro de Desenho Industrial ocorre quanto são feitas

modificações no ―design‖ do objeto, tornando-o mais agradável ao consumidor e

distinguindo-o daqueles da concorrência. A invenção, modelo de utilidade e desenho

industrial são considerados novos quando não compreendidos no estado da técnica.

O que significa o “estado da técnica”? O artigo 11 da Lei 9.279 de 14/5/96, diz que o estado da técnica é constituído

por tudo aquilo tornado acessível ao público antes da data de depósito do pedido de

patente, por descrição escrita ou oral, por uso ou qualquer outro meio, no Brasil ou no

exterior;

O que não são patenteáveis? Apenas não será patenteável o que for contrário à moral, aos bons costumes e à

segurança, à ordem e à saúde públicas;

Por quanto tempo vigora o registro da Patente?

A patente de invenção vigorará pelo prazo de 20 (vinte) anos, e a de modelo de

utilidade, pelo prazo 15 (quinze) anos contados da data de depósito, e o registro do

desenho industrial vigorará pelo prazo de 10 (dez) anos contados da data do depósito,

prorrogável por 3 (três) períodos sucessivos de 5 (cinco) anos cada. O prazo de vigência

não será inferior a 10 anos para a patente de invenção e a 7 anos para a patente de

modelo de utilidade, a contar da data de concessão;

Poderá haver a cessão e licença de uso de uma Patente?

O pedido de patente poderá ser cedido ou licenciado mediante informação ao

INPI.

Page 47: Livro E Agora 4

Quanto se extingue a patente?

A patente extingue-se: pela expiração do prazo de vigência; pela renúncia de seu

titular, ressalvado o direito de terceiros; pela caducidade; pela falta de pagamento da

retribuição anual e pela inobservância do disposto no art.217 da Lei 9.279 de 14/5/96

(pessoa domiciliada no exterior deverá constituir e manter procurador no pais ). Sendo

que, extinta a patente, o seu objeto cai em domínio público.

A quem pertence o direito sobre a invenção e o modelo de utilidade? Ao

Empregado ou ao Empregador?

A invenção e o modelo de utilidade pertencem exclusivamente ao empregador

quando decorrerem de contrato de trabalho cuja execução ocorra no Brasil e que tenha

por objeto a pesquisa ou a atividade inventiva, ou resulte esta da natureza dos serviços

para os quais foi o empregado contratado.

Poderá haver negociação em tais casos?

O empregador, titular da patente, poderá conceder ao empregado, autor de

invento ou aperfeiçoamento, participação nos ganhos econômicos resultantes da

exploração da patente, mediante negociação com o interessado ou conforme disposto

em norma da empresa, e esta participação não se incorpora ao salário (art. 89). Isso

também se aplica ao trabalhador autônomo, estagiários e empresas contratadas (Lei

9279, art. 92).

IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

*Jane Resina Fernandes de Oliveira

Quando se fala em planejamento sucessório, não se deve pensar em programar a

morte, ou se encher de tristeza em razão da transferência em vida do patrimônio aos

herdeiros.

Na realidade, é muito importante o planejamento sucessório para a organização

da sucessão, impondo-se responsabilidades aos herdeiros na preservação do patrimônio,

evitando-se conflitos futuros, possibilitando a profissionalização da administração da

empresa e bens, estabelecendo-se medidas que impeçam a sua dilapidação.

Há, ainda, uma considerável redução de gastos com inventário, com diminuição

no pagamento de impostos, economia de tempo, redução de pagamento de honorários

advocatícios entre outros, e ainda, e mais relevante, a preparação dos sucessores para

que deem continuidade ao legado que receberão, evitando surpresas e conflitos. Sendo

assim, é necessário conhecer os instrumentos existentes, para que seja feita uma

adequação das soluções legais a cada característica e necessidade familiar.

Como elementos do planejamento sucessório, podemos indicar: o regime de

casamento (celebração de contratos de convivência, celebração de pacto antenupcial),

testamento, doação, usufruto, definição do que é patrimônio familiar e patrimônio da

empresa, constituição de holding, trust, offshore e fundação.

Page 48: Livro E Agora 4

Abordaremos abaixo, cada elemento do planejamento sucessório, indicando

alternativas para a transferência do patrimônio com redução de custos. Não

ingressaremos na esfera tributária por entender que a matéria é muito extensa e varia

conforme o tipo de empresa, bens e pessoas.

1. Regime de Bens

Antes de iniciar qualquer planejamento, é necessário saber o regime de bens

adotado pelos cônjuges envolvidos na sucessão, em razão dos direitos oriundos do

regime escolhido.

Atualmente, os regimes de bens previstos no Código Civil são a comunhão

universal, comunhão parcial, participação final nos aquestos e a separação de bens. Esta

última poderá ser convencional, efetivada através de pacto antenupcial ou legal, quando

um dos cônjuges tiver mais 70 anos.

Seguindo a previsão de tais regimes, tem-se que os bens que o casal adquire na

constância do casamento poderão ser classificados como bens particulares ou comuns.

Os bens comuns são os bens de um cônjuge ou de ambos, que se comunicam

com o outro e têm aplicação no regime de comunhão universal e parcial (adquiridos na

constância do casamento) e na participação final nos aquestos (por ocasião da

separação, os bens adquiridos na constância do casamento são divididos).

Já os bens particulares são aqueles de propriedade de um só cônjuge e que não se

comunicam com o outro, e têm a sua aplicação no regime de separação total, comunhão

parcial (bens recebidos em doação ou sucessão, bens que cada cônjuge possuía ao casar,

e os sub-rogados em seu lugar) e participação final nos aquestos.

Na comunhão total ou universal de bens, os bens adquiridos antes ou durante o

casamento se comunicam entre os cônjuges, formando em sua integridade um

patrimônio comum, inclusive, doações e heranças recebidas por uma das partes.

Na Comunhão parcial de bens, os bens adquiridos antes do casamento não se

comunicam entre os cônjuges, mas os adquiridos durante a união passam a ser

patrimônio comum do casal. Essa regra não inclui as doações e heranças, que não se

comunicam com o cônjuge. O cônjuge sobrevivente pode pleitear bens particulares do

falecido, desde que adquiridos antes do casamento, com base na regra do regime da

separação total.

No regime de participação final nos aquestos, cada cônjuge possui patrimônio

próprio e, na dissolução do casamento, cada qual terá direito à metade dos bens

adquiridos pelo casal, a título oneroso. Na sucessão, apenas são divididos entre os

cônjuges os bens comuns.

A separação obrigatória de bens ocorre quando um dos cônjuges tem mais de 70

(setenta) anos de idade ou necessita de suprimento judicial para casar (menores de 16

anos), sendo que os bens de cada cônjuge não se comunicam com o do outro. Na

separação total de bens, os bens adquiridos antes ou durante o casamento não se

comunicam entre os cônjuges. Assim, na hipótese de separação judicial não há partilha.

Page 49: Livro E Agora 4

Por outro norte, o cônjuge sobrevivente é herdeiro necessário, ou seja, terá

participação obrigatória na herança, mesmo que o regime de casamento seja o de

separação total.

Veja-se que essa é uma inovação e poderá trazer grandes problemas caso não

haja um planejamento sucessório responsável. Utilizaremos como exemplo, a seguinte

situação: Um patriarca tem um filho que é casado com separação total de bens e não

possui filhos. Ambos possuem uma empresa em sociedade, igualitária, constituída

anteriormente ao casamento do filho, ou seja, em caso de separação, as quotas sociais de

tal empresa são exclusivamente do filho e não se comunicam com o cônjuge. Ao

contrário, vindo o filho a falecer, o cônjuge sobrevivente, mesmo tendo sido casado

sob o regime da separação total de bens, terá direito ao recebimento de metade das

quotas sociais que pertencia ao filho do patriarca, ou seja, passará a ser sócio do seu

sogro. E, para complicar, se ambos os cônjuges tivessem sofrido um acidente, no qual

resultasse a morte de ambos, todavia sendo a hora do óbito da esposa declarada como

posterior à do esposo, os pais desta teriam direito ao recebimento de sua parte na

herança, passando, então, a ser sócios dos sogros da filha. Verifica-se, nesse caso, a

importância da efetivação de um bom contrato social e acordo de cotista das empresas,

prevendo todas as situações que possam ocorrer, prevenindo-se da melhor forma

possível.

2. Da ordem da vocação hereditária

A sucessão legítima defere-se conforme as regras estabelecidas no artigo 1829

do Código Civil, na seguinte ordem: a) aos descendentes, em concorrência com o

cônjuge sobrevivente (salvo se o regime adotado for o da comunhão universal, ou de

separação obrigatória de bens, ou se no regime de comunhão parcial, o autor da herança

não houver deixado bens particulares); b) aos ascendentes, em concorrência com o

cônjuge; c) ao cônjuge sobrevivente, d) aos colaterais (aqueles que possuem um

ancestral comum, mas que não sejam descendentes, nem ascendentes entre si. Ex: os

irmãos, os tios, os sobrinhos, os primos-irmãos, os tios-avós e os sobrinhos netos).

Exemplos de graus de parentesco: Parentes em linha reta, primeiro grau: meu pai/meu

filho; segundo grau: meu avô/meu neto; terceiro grau: meu bisavô/meu bisneto.

Parentes colaterais, segundo grau: meu irmão; terceiro grau, meu tio/meu sobrinho;

quarto grau, meu tio-avô/meu sobrinho-neto/meu primo irmão etc.

A sucessão se dá de duas formas: sucessão legítima (ou ab intestato), decorrente

de lei; e sucessão testamentária, que decorre de disposição de última vontade:

testamento ou codicilo (documento que dispõe sobre as últimas vontades: forma de

funeral, doações de pequena monta, legado de móveis, roupas ou joias de pouco valor

ou uso pessoal).

Podemos citar como tipos de sucessores: os legítimos, os testamentários e os

legatários. Legítimos são aqueles eleitos pela legislação, através da vocação hereditária

(1829 NCC); testamentários, aqueles indicados como beneficiários da herança por

disposição de última vontade; legatários, aqueles sucessores instituídos por testamento

que recebem coisa certa e determinada. Pessoas legítimas para suceder são aquelas

nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão (artigo 1798 do NCC).

Na sucessão testamentária, podem ser chamados a suceder os filhos ainda não

concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas ao abrir a sucessão; as

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pessoas jurídicas; as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador

sob a forma de fundação (artigo 1799 do NCC).

Salienta-se que existe uma ordem estabelecida em lei para o recebimento da

herança, e esta lista (1829 do NCC) reflete a ordem de preferência. Assim, a classe

seguinte de herdeiros somente será chamada se não houver herdeiros da classe

precedente.

Os descendentes (filhos, netos, bisnetos) formam a primeira classe de herdeiros,

muito embora possa haver concorrência com o cônjuge. Dentro da classe de

descendentes, os mais próximos têm preferência sobre os mais remotos. Assim,

havendo um filho, os netos estão em princípio excluídos da herança. Entretanto netos de

filho falecido herdam a parte que cabe ao filho falecido.

Salvo exceções determinadas em razão do regime de casamento, o cônjuge

concorrerá com os descendentes na divisão da herança e tem direito à parcela igual à

dos descendentes (pai, mãe, avô, avó), da mesma forma que, no caso dos descendentes,

não podendo sua quota ser inferior a ¼ (um quarto) da herança se for ascendente (mãe

ou pai ou avó ou avô). A existência dos ascendentes mais próximos afasta a herança dos

mais remotos. No caso específico dos ascendentes, não há herança por representação, ou

seja, não estando vivo o pai da pessoa falecida, a mãe viva receberá a totalidade da

herança. O cônjuge também concorre com os ascendentes na divisão da herança e, neste

caso, não é levado em consideração o regime de bens adotado no casamento.

Ressalte-se que o direito à herança do cônjuge não se confunde com a meação. A

meação se refere aos bens de propriedade comum do casal, dependendo do regime de

bens. Já o direito à herança se refere aos bens pertencentes exclusivamente ao cônjuge

falecido, os quais, em razão do falecimento, podem ser herdados pelo cônjuge

sobrevivente. Não havendo descendentes ou ascendentes, o cônjuge é o próximo a ser

chamado na lista de herdeiros necessários.

Quanto aos efeitos do regime de bens na sucessão do cônjuge, tem-se que o

regime adotado não interfere na ordem da vocação hereditária, ou seja, se não existirem

descendentes e ascendentes, o cônjuge sobrevivente receberá a herança inteira. É certo

ainda que o regime de bens também não modificará o direito do cônjuge à herança, se

existirem apenas ascendentes.

O regime de bens poderá modificar o direito do cônjuge à herança se existirem

descendentes: o cônjuge não concorrerá com os descendentes se o regime for o da

comunhão universal, o da separação obrigatória ou o da comunhão parcial caso não

existam bens exclusivos do falecido. No regime de separação de bens, o cônjuge

sobrevivente concorre com os herdeiros sobreviventes. (1831 NCC). No regime de

comunhão parcial, o cônjuge sobrevivente concorre com os herdeiros em relação aos

bens de propriedade exclusiva do cônjuge falecido.

Nos casos de união estável, caracterizada pela convivência pública, contínua e

duradoura, com o objetivo de constituir família, observando-se que não há prazo

definido para a sua caracterização, aplica-se como regra geral, em caso de falecimento,

o regime da comunhão parcial de bens, e, conforme legislação, artigo 1790 do Código

Civil, a parcela da herança se refere apenas ao patrimônio adquirido onerosamente na

vigência da união estável.

Inexistindo descendentes, na sucessão para os ascendentes, estes são chamados,

em concorrência com o cônjuge sobrevivente, independentemente do regime de bens

adotado, conforme preceitua o artigo 1836 do NCC. O grau mais próximo exclui o mais

remoto. Neste caso, não há direito à representação, que somente se dá na linha reta

descendente, nunca na ascendente, conforme artigo 1852 do NCC. O cônjuge terá

direito a 1/3 (um terço) da herança se concorrer com o pai e com a mãe do autor da

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herança; e à metade, se houver apenas um ascendente. Na inexistência de descendentes,

ascendentes, cônjuge e/ou companheiro, colaterais, ou tendo os herdeiros suscetíveis

renunciado à herança, esta se devolve ao Município ou ao Distrito Federal, se localizada

nas respectivas circunscrições, ou à União, quando situada em território nacional.

3. Sucessão Testamentária e Inventário

Quando a sucessão se dá por testamento, prevalece o ato de vontade do autor da

herança, que poderá ser manifestada em testamento ou codicilo e, por ser ato

personalíssimo, pode ser alterado a qualquer tempo pelo testador.

Toda pessoa capaz poderá dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens ou

de parte deles, para depois da morte (artigo 1857 do NCC), e a exceção a tal direito

ocorre quando o testador tenha herdeiros necessários, hipótese em que o testador

somente poderá dispor da metade da herança, pois a legítima dos herdeiros necessários

não poderá ser incluída no testamento.

Os testamentos, conforme preceitua o artigo 1862 do NCC, podem ser realizados

de forma pública, cerrada ou particular. O testamento é escrito por tabelião ou por seu

substituto em livro de notas. O testamento cerrado é escrito pelo testador, ou por outra

pessoa, a seu pedido, o qual após ser redigido deve ser levado pelo testador ao cartório

competente, acompanhado de duas testemunhas, para declarar ser o seu testamento,

oportunidade em que o tabelião lavrará o auto de aprovação, que deverá ser assinado

pelas testemunhas e pelo testador.

Já o testamento particular é escrito de próprio punho pelo testador ou por

processo mecânico; deve ser lido e assinado na presença de pelo menos três

testemunhas. Após a abertura da sucessão, pelo menos uma das testemunhas deverá

confirmar, perante o Juiz, que presenciou a leitura e que assinou o testamento, sob pena

de ineficácia. Importante salientar que não poderão ser nomeados herdeiros, nem

legatários: a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge, ou

companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos, bem como as testemunhas. (artigo 1801

do NCC).

Há, ainda, testamentos especiais: marítimo, aeronáutico e militar. O marítimo

poderá ser efetivado por quem estiver em viagem, a bordo de navio nacional, de guerra

ou mercante, e perante o comandante. O aeronáutico, por quem estiver a bordo de

aeronave militar ou comercial. Já o testamento dos militares poderá ser efetivado, não

havendo tabelião ou substituto, ante duas ou três testemunhas, quando estiverem em

campanha, dentro do País ou fora dele, em praça sitiada, ou de comunicação

interrompida.

Com referência ao Codicilo, toda pessoa capaz poderá testar, mediante escrito

particular seu, datado e assinado, fazer disposições especiais sobre o seu funeral, sobre

esmolas de pouca monta a certas e determinadas pessoas, ou, indeterminadamente, aos

pobres de certo lugar, assim como legar móveis, roupas ou joias, de pouco valor, de seu

uso pessoal. (artigo 1881 NCC).

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Quando não há planejamento sucessório, obrigatoriamente deverá ser realizado o

inventário. E uma das vantagens do planejamento é exatamente a transferência dos

bens, evitando-se a partilha e impostos.

O inventário poderá ser judicial ou extrajudicial. O judicial deverá ser aberto no

prazo de 60 dias do falecimento e ser instaurado no último domicílio do falecido ou no

local da situação dos bens. O Inventário extrajudicial foi instituído pela Lei nº.

11.441/2007 e poderá ser utilizado nos casos em que há herdeiros capazes, acordo

quanto à divisão dos bens inventariados, inexistência de testamento, todavia é

obrigatória a presença de advogado.

Por ocasião da abertura da sucessão, os descendentes que concorrem à sucessão

do ascendente comum são obrigados trazer à COLAÇÃO, para igualar as legítimas, o

valor e bens das doações que dele em vida receberam, sob pena de sonegação. Para

cálculo da legítima, os valores dos bens conferidos serão computados na parte

indisponível, sem aumentar a parte disponível. (artigo 2002 NCC). Tal obrigação tem,

por finalidade, igualar, na proporção estabelecida em lei, as legítimas dos descendentes

e cônjuge sobrevivente, obrigando também os donatários que, ao tempo do falecimento

do doador, já não possuírem os bens doados. A dispensa da colação pode ser outorgada

pelo doador em testamento, ou no próprio título de liberalidade. Ou seja, no ato da

doação, o doador deixa claro que tal doação não faz parte da legítima ou especifica

valores atribuídos de forma igualitária para todos os herdeiros necessários.

4. Usufruto e Planejamento em Vida

O usufruto é o direito real sobre coisas alheias, conferindo ao usufrutuário a

capacidade de usar as utilidades e os frutos de uma coisa, ainda que não seja o

proprietário. No usufruto, o proprietário (denominado nu-proprietário) perde a posse

sobre a coisa. O titular do usufruto é determinado individualmente e, por isso, o direito

se extingue, o mais tardar, com a morte do usufrutuário (usufruto vitalício). Pode ser

constituído por certo prazo (usufruto temporário), mas a morte do titular extingue-o

mesmo antes do vencimento do prazo estabelecido.

A coisa objeto de usufruto fica pertencendo a seu proprietário, mas este quase

não tirará proveito real dela, enquanto subsistir o usufruto. Entretanto o nu-proprietário

conserva a expectativa de recuperar a plenitude desse direito.

O usufruto somente poderá ser estabelecido sobre coisa inconsumível, porque a

consumível não pode ser usada sem que lhe destrua a substância. O usufruto pode recair

em um ou mais bens móveis ou imóveis, em um patrimônio inteiro ou parte deste. Os

bens móveis, como objeto do usufruto, obrigatoriamente terão que ser infungíveis e

transcritos no registro que fica arquivado. Os bens imóveis, como objeto do usufruto,

terão que ser transcritos no Registro de Imóveis.

Um usufrutuário também não poderá vender o bem de que usufrui (pois não é

proprietário), mas pode administrá-lo, inclusive sublocando o bem para terceiros. O

direito do usufruto é intransferível, mas seu exercício pode ser cedido, tanto a título

gratuito como a título oneroso. O usufrutuário deve exercer seu direito boni viri

arbitraru: como homem cuidadoso. Assim, é a sua obrigação legal conservar o bem,

para assegurar a devida devolução da coisa no estado em que estava quando recebida.

Poderão também ser objeto de usufruto as quotas ou ações. Neste caso, quando o doador

optar por tal instrumento, deverá constar no documento, de forma expressa, que o

usufrutuário vai exercer o direito de voto.

Page 53: Livro E Agora 4

5. Planejamento em vida.

É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de última vontade,

contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros necessários. (2018NCC). Neste

caso, deverão ser explicitados os 50% (cinquenta por cento) da parte disponível para os

herdeiros necessários. A partilha deve ser aceita por todos os herdeiros, e os bens

partilhados em vida não estão sujeitos a inventário e não necessitarão vir à colação

posteriormente.

Verifica-se que há muitos instrumentos que a lei confere ao cidadão, em relação

ao planejamento sucessório de seus bens e patrimônio. Deve ser analisado cada um

deles, para saber qual melhor se adapta às necessidades daquele que deseja efetivar o

seu planejamento, evitando custos excessivos e confusão por ocasião da sucessão.

6. Doação

Doação, conforme preceitua o artigo 538 do Código Civil, é o contrato em que

uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de

outra.

A doação deve ser efetivada por escritura pública ou instrumento particular,

sugere-se, no entanto, que sempre seja realizada por meio de escritura pública.

O artigo 543 do Código Civil estabelece que a doação de ascendentes a

descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhe cabe por

herança, a que se dá o nome de COLAÇÃO. Por esse motivo, é necessário, no ato da

doação, esclarecer, caso seja de interesse do doador, que o bem doado não faz parte da

legítima, e sim dos bens de sua propriedade, da parte disponível, os quais podem ser

atribuídos a quem bem entender. Na mesma ocasião, é interessante que se estabeleçam

os respectivos valores, do bem, da legítima e da parte disponível.

A doação poderá ser revogada por ingratidão do donatário ou por inexecução do

encargo. (artigo 555 do NCC). Existem doações que são feitas em caráter irrevogável e

irretratável, hipótese em que só poderá haver revogação se ficar comprovada a

ingratidão do donatário, configurada pelos seguintes atos: a) atentar contra a vida do

doador; b) cometer contra ele ofensa física; c) injuriá-lo gravemente ou caluniá-lo e d)

se, podendo ministrá-los, recusou ao doador, os alimentos de que este necessitava.

Uma particularidade interessante na doação é a chamada REVERSÃO, cláusula

que poderá ser estipulada na doação, e é usada quando o doador determina que, caso o

donatário venha a falecer antes do doador, o bem doado retorna ao patrimônio do

doador. Assim, se o donatário tiver filhos/cônjuge (por exemplo), o bem doado não será

herdado pelos sucessores do falecido e voltará imediatamente para o doador. Há ainda

a cláusula de ACRÉSCIMO, se o bem for doado a mais de uma pessoa, quando do

falecimento de uma delas a sua parte acrescerá à parte do donatário sobrevivo. Neste

caso também, se o donatário falecido deixou filhos/cônjuge (por exemplo), a sua parte

no imóvel não será herdada pelos sucessores do falecido.

Outras cláusulas muito utilizadas por ocasião da doação visando à proteção do

patrimônio são: incomunicabilidade, impenhorabilidade e inalienabilidade.

Page 54: Livro E Agora 4

Quando o bem doado é gravado com a cláusula de incomunicabilidade, o bem

objeto da doação é transmitido somente ao donatário, não se comunica com o cônjuge.

Assim, qualquer que seja o regime de bens (se casado for) o objeto doado não se

comunicará com o cônjuge ou futuro cônjuge.

No entanto, com o surgimento do Código Civil de 2002, caso haja o falecimento

do donatário, para fins de recebimento de herança, ocorre que tal gravame não é levado

em consideração. Desta feita, torna-se imprescindível o planejamento para verificação

da real vontade do doador, no sentido de se precaver com referência aos bens que

poderão ser transmitidos ao cônjuge.

A cláusula de impenhorabilidade é utilizada para garantir que o bem doado não

seja penhorado pela Justiça, para garantia de pagamento de dívidas. A inalienabilidade é

a garantia de que o bem doado não será alienado, ou seja, não poderá ser vendido,

transmitido, ―dado‖ em hipoteca etc. A inalienabilidade poderá ser vitalícia (o donatário

nunca poderá dispor do bem) ou temporária (por certo período, por exemplo: até que o

donatário complete determinada idade).

Poderá também ser efetiva a doação de quotas ou ações, devendo em tais casos,

gravá-las com as cláusulas restritivas já mencionadas.

7. Família x Empresa

Pesquisas indicam que 80% (oitenta por cento) das empresas nacionais são

familiares, que a família e o trabalho são os itens que mais importam para as pessoas.

Em razão desse fato, é muito difícil para o patriarca resolver efetivar o seu

Planejamento Sucessório, porque o ato envolve o trabalho e a família. E tal dificuldade

está ligada ao fato de que o patriarca não deseja mais conflitos do que aqueles que já

existem no dia-a-dia, pois a definição dos critérios na escolha do processo sucessório

deverá envolver todos os herdeiros necessários.

Mas é melhor resolver tal problema com diálogo, educação e demonstração da

realidade, do que deixar para serem resolvidos de forma inesperada e abrupta. Há

algumas regras seguidas por todos aqueles que auxiliam no processo do planejamento

sucessório, dentre as quais está a necessidade de se passar para os sucessores os valores

do fundador, uma vez que a imagem do fundador e seus valores (moral, honestidade,

ética, justiça entre outros) devem permanecer presentes por gerações.

Também deve ser analisado se a sucessão deve ser familiar ou profissional, uma

vez que, nem sempre, as empresas familiares possuem sucessores capazes de dar

continuidade ao negócio familiar, e, nesses casos, é muito mais vantajoso a todos que

uma equipe de profissionais dirija a empresa.

Para evitar conflitos e problemas familiares, não devem ser discutidos problemas

empresariais no lar, e vice-versa. As experiências devem ser transmitidas, e não é por

ter mais tempo de empresa ou mais idade, que uma pessoa sabe mais do que as outras.

O aprendizado deve ser contínuo, e todos devem tirar proveito do conflito de gerações, e

não fazer das diferenças um problema, mas sim, uma fonte de trocas de experiências e

conhecimento.

Page 55: Livro E Agora 4

Luciano Salamanca, que se dedica aos estudos do planejamento sucessório, diz

que um filho sempre aprende com o seu pai, sejam as coisas boas ou ruins. E por esse

motivo, o pai nunca deve passar ao filho uma imagem de sofrimento na condução de

seus negócios, pois isso cria na criança uma rejeição natural pela empresa, e as decisões

que ela terá de tomar na fase adulta poderão ser baseadas nessas percepções e

experiências transmitidas pelo seu pai.

É obrigação dos pais capacitar os seus filhos para que sejam seus sucessores e

não somente seus herdeiros. Devem incentivá-los, desde muito cedo, a irem à empresa,

trabalhar em diversas funções para saber as responsabilidades e obrigações de cada uma

delas; devem também trabalhar em outras empresas, para saber outras formas de

administrar, gerenciar, conduzir os negócios. Os pais devem incentivar seus filhos ao

trabalho e ao estudo, de modo que é um erro não deixar os filhos conhecerem a

empresa dos pais.

Se quiserem sucessores, devem fazer sucessores. E eles não nascem prontos, são

educados e preparados para isso. Os filhos jovens ainda não possuem a experiência e o

discernimento para a escolha profissional na adolescência, cabendo aos pais conduzi-

los, prepará-los e incentivá-los a tomar conta dos negócios da família. Pois, se assim

não for, os pais não terão sucessores, e sim herdeiros, que, por ocasião do recebimento

da herança, a primeira coisa que farão será vender aquilo que seus pais ou avós levaram

a vida toda para construir.

Os interesses da empresa devem estar acima dos sentimentos de ciúmes, inveja,

traumas da infância etc. Os pais devem dar aos filhos uma visão de futuro, mostrando

que há coisas muito superiores a isso.

Há vários casos bem e mal sucedidos na sucessão familiar, pois cada família é

única, com características e necessidades individuais, e não é fácil efetivar mudanças

sem deixar mágoas e insatisfações. Por esse motivo, o planejamento deve iniciar muito

cedo, com muita transparência e preparação dos filhos, com o objetivo de facilitar esse

processo.

Como exemplos de Planejamento Patrimonial e Sucessório, podemos indicar:

Testamento ou doação ou adiantamento de legítima (metade do patrimônio).

Indicado para ordenar a sucessão, permitir que determinados herdeiros tenham o

controle sobre determinados bens e/ou negócios.

Criação de Conselho Familiar. Para estabelecer um foro para discussão das

questões familiares, ajudar no planejamento de carreira das novas gerações, dar a todos

familiares acesso a informações sobre operações, resultados, estratégia etc.

Acordo de acionistas ou de quotistas. Para unificar a administração, controlar

admissão de terceiro como sócio, organizar alienação a terceiro etc.

Segregação de bens em ―holding‖ ou ―holdings‖. Para ―blindar‖ bens em caso de

futura situação difícil, programar pagamentos periódicos a membros da família, realizar

outros negócios com tais bens, entre outros.

8. Acordo de Acionista/Quotista

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O documento chamado de Acordo de Acionista há muito é utilizado nas

Sociedades Anônimas, conforme determinação da Lei 6.404/76, artigo 108 e

parágrafos, podendo ser arquivado na sede da companhia. Tal documento tem como

objetivo estabelecer critérios sobre a compra e venda de ações, a preferência para

adquiri-las, o exercício do direito a voto; definir o poder de controle, as obrigações dos

acionistas, as disposições sobre a política de reinvestimento dos lucros e a distribuição

de dividendos, a forma de constituição de procurações e ou mandatos, a indicação de

representante para comunicar-se com a companhia para prestar ou receber informações,

quando solicitadas entre outros.

A Lei no 10.406/2002, do Código Civil Brasileiro, a qual regula as Sociedades

Limitadas, trouxe modificações e inovações na estruturação desse tipo societário. Uma

delas permite a realização de Acordo de Quotista nas sociedades limitadas, nos mesmos

moldes instituídos pelas Sociedades Anônimas.

Apesar de pouco usado, entendemos que as Sociedades Limitadas devam utilizar

este poderoso documento, chamado de Acordo de Quotista, que nada mais é do que um

contrato particular efetivado entre os sócios da limitada, no qual são estabelecidas as

normas de conduta, as obrigações e as responsabilidades na gestão societária, as quais

deverão ser cumpridas por todos os envolvidos na empresa.

Em razão da liberdade de contratar, ao efetivar o citado acordo, os sócios

expressam suas expectativas quanto à gestão societária, as quais, quando esclarecidas,

explicitadas e acordadas por todos, facilitam a administração, em que cada sócio tem

conhecimento exato de qual é o seu papel na empresa, evitando conflitos futuros.

Os limites da administração, a eleição de administrador, a função de cada sócio

e/ou administrador, a forma de cessão de quotas, o quórum de votação, os

procedimentos e forma de pagamentos das quotas em caso de exclusão, a liquidação, a

morte e outros, são mais bem definidos no acordo de quotista. É certo que todas as

disposições contidas no acordo não poderão ser contrárias à lei e ao contrato social, sob

pena de tornarem-se nulas.

Esse documento passou a ser usado principalmente no Planejamento Sucessório,

em que são estabelecidas pelos interessados as regras quanto à comunicabilidade de

quotas e bens, usufruto, doação, ingresso de herdeiros e sucessores, conselho de

administração, conselho familiar, casos de arbitragem e outros pontos que se fizerem

necessários dependendo da característica empresarial e familiar.

É importante a efetivação do Acordo porque nem sempre é do interesse dos

sócios que tais disposições estejam contidas no Contrato Social da Empresa, por serem

medidas internas de conduta e até de assunção de responsabilidades. Não é de interesse

dos sócios que essas disposições constem no corpo de contrato social por tratar-se de

cunho administrativo e comercial.

Tal disposição harmoniza as decisões sociais, assim há uma maior tranquilidade,

evitando surpresas e desconfortos que possam surgir, conferindo aos sócios maior

segurança para administrar situações conflituosas de maneira lícita.

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O Acordo de Quotista obriga as partes envolvidas, podendo ser arquivado na

sede da empresa, no cartório de títulos e documentos e/ou na Junta Comercial.

Sem dúvida, é muito importante o acompanhamento de profissionais

especializados na confecção do Acordo de Quotista, para que todas as situações que

possam ocorrer na administração das empresas limitadas sejam elencadas e decididas

previamente, facilitando a continuidade da empresa com diminuição de conflitos e com

harmonia na tomada de decisões.

9. Holding

A holding nada mais é do que uma sociedade (empresa), que mantém ou

controla ou outras sociedades/empresas, compartilhando gerências, buscando proteção

patrimonial e solidez empresarial.

Há vários tipos de empresas constituídas sobre a forma de holding, mas vamos

nos atentar exclusivamente a holding patrimonial.

Esse tipo de empresa tem como objetivo controlar o patrimônio de uma ou mais

pessoas físicas ou jurídicas, geralmente sob a forma de sociedade Ltda., mas nada

impede que seja constituída como sociedade anônima. Normalmente, a empresa mãe,

holding principal, tem um diretor ou presidente, que comanda todo o grupo, com

liderança, visão administrativa e de gestão. Podem ser nomeados diretores, membros da

família ou não, para o comando de determinadas áreas ou outras empresas específicas.

Dentre um dos benefícios da constituição da empresa holding familiar e

patrimonial está o fato de que, quando há qualquer desentendimento entre os sócios,

este dificilmente atingirá as empresas operadoras, pois estas estarão sobre os braços da

holding, e as discussões societárias se manterão na holding. Outro benefício ocorre por

ocasião da realização do inventário, pois, em razão da constituição da empresa holding

patrimonial, o que será inventariado serão as quotas empresariais, e não os imóveis da

família, e, consequentemente, o imposto de transmissão poderá ser menor.

A constituição de empresas holdings tem como objetivo fiscal a redução da

carga tributária, pois o retorno do capital é realizado sob a forma de lucros e dividendos,

sem tributação, como também, a facilitação do planejamento sucessório, uma vez que

todo o patrimônio da família pode ser incorporado na holding, resolvendo-se inclusive

os problemas de sucessão. Há uma facilitação para o crescimento do grupo, melhor

planejamento e controle, administração de todos os investimentos de forma profissional,

aumento de rendas e gerenciamento dos interesses societários internos.

Há ainda, um melhor planejamento financeiro, administrativo e jurídico dos

investimentos. Como controladora de um grupo empresarial, ela soluciona problemas de

sucessão administrativa e de herança, permite maior facilidade na aplicação e aquisição

de financiamento bancário, melhor controle na administração de bens móveis e imóveis,

resguardando o patrimônio das controladas.

A finalidade para a constituição desse tipo de empresa é a profissionalização da

gestão (quando for o caso de grandes grupos), de modo a resguardar o patrimônio

familiar, resolver sucessão e incomunicabilidade de bens, estabelecer a doação ou

usufruto de quotas, quando for o caso; a impenhorabilidade de quotas, e em casos de

necessidade, a criação do conselho fiscal, familiar e administrativo.

Ao constituir uma empresa holding, faz-se necessário definir os objetivos de

cada componente da sociedade, para que a formalização da empresa possa retratar as

expectativas de cada um e do grupo. É de suma importância a efetivação do acordo de

cotista, já mencionado em artigo anterior, com definição de funções, atribuições,

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responsabilidades, limites da gestão etc. de todos os envolvidos, podendo ainda ser

escolhida, como forma de solução de conflitos, a arbitragem, quando for o caso.

Recomenda-se que todas as resoluções tomadas sejam registradas em Ata de

Reunião dos sócios. Há várias vantagens na constituição de tal empresa, como dito

acima, devendo sempre ser analisado o caso concreto de cada família, para se encontrar

a melhor alternativa de custo-benefício, conforme as necessidades e exigências dos

familiares envolvidos.

10. Sociedades estrangeiras

As sociedades estrangeiras são utilizadas em razão de certas vantagens como: o

sigilo quanto à transferência de patrimônio na busca de condições tributárias mais

favoráveis e seguras, além da imunidade em razão das oscilações econômicas

brasileiras. E esta última vantagem, depois da grande crise econômico-financeira por

que passam os mercados americanos e europeus, não pode ser levada em consideração.

Podemos citar como sociedades estrangeiras o Trust e a Offshore.

11. Trust

O Trust é uma sociedade estrangeira, que não tem regulamentação na legislação

nacional. É instituído mediante a transferência da propriedade de um determinado

patrimônio por uma pessoa, denominada INSTITUIDOR, a outra, denominada

TRUSTEE, para que tal patrimônio seja administrado e distribuído pelo Trustee, nos

termos do instrumento de constituição do TRUST (definido pelo Instituidor) em

benefício de terceiros ou do próprio Instituidor em vida, que são chamados de

Beneficiários. Esse tipo de sociedade é muito utilizado na Inglaterra.

O Trust pode ser determinado de acordo com o grau de autonomia conferida

pelo Instituidor ao Trustee para administração do patrimônio atribuído ao Trust, a qual

pode ser: Fixed Trusts (autonomia limitada) e Discretionary Trusts (maior autonomia).

Este modelo, em razão do grau de confiança, tem uma legislação muito segura, porém

onerosa, uma vez que deve ser contratado profissional no país escolhido para a

execução do Trust e contratado um Trustee, que receberá mensalmente pelo encargo

recebido. O Trustee deve defender legal e judicialmente o patrimônio do Trust, devendo

conservar, cuidar e efetivar todas as diligências necessárias para manter o patrimônio na

mais perfeita ordem.

O Trustee responde por todos os atos que praticar em desacordo com o que foi

contratado por ocasião da instituição do Trust, e, caso não cumpra com o pactuado,

deverá indenizar os Beneficiários pelas perdas patrimoniais do Trust, podendo

inclusive, ser acionado judicialmente por eles, caso haja algum tipo de prejuízo. Com

referência ao patrimônio, há muita dúvida, quanto a sua proteção, tanto em relação ao

Trust, como em relação ao Trustee, uma vez que o patrimônio do Trust é transferido

para o patrimônio do Trustee.

Nesse tipo de contrato, o patrimônio do Trust não se confunde com o patrimônio

do Trustee, não podendo assim, ser atingido nem pelos credores do Trust, nem pelos

credores dos Trustee. Não podem os credores do Trustee utilizar o patrimônio

instituído para sanar dívidas pessoais ou o próprio Trustee utilizar o patrimônio para

Page 59: Livro E Agora 4

fins pessoais. A única forma de o patrimônio ser atingido por dívidas é quando o

Instituidor seja também um dos beneficiários do Trust.

Os Beneficiários do Trust, junto com o Trustee, são proprietários do patrimônio

do Trust, ou seja, propriedade dupla. Sendo assim, à medida que o patrimônio seja

atribuído aos beneficiários, caso estes tenham dívidas, o patrimônio responderá por

estas. A determinação, em contrato, impossibilitando aos credores atingir o patrimônio

do Trust por dívidas dos Beneficiários não é aceita em muitas jurisdições, dentre elas, a

Inglaterra.

12. Offshore

São sociedades que se encontram instituídas além das fronteiras de um país.

Existem em razão da adoção de políticas externas, em que há isenção fiscal para atrair

investimentos e capitais estrangeiros.

Na América Latina, o Uruguai é um exemplo típico da adoção dessa política, na

qual empresas sediadas em paraísos fiscais (extraterritorial), com alíquotas menores que

aquelas praticadas no Brasil, gozam de privilégios tributários, com impostos reduzidos

e/ou isentos.

Essas empresas são organizadas com personalidade jurídica própria, não se

confundindo com a personalidade jurídica de seus sócios (ou de uma só pessoa), suas

atividades econômicas têm como objetivo a produção ou circulação de bens ou de

serviços.

A sua constituição não tem uma forma jurídica determinada, podendo moldar-se

às necessidades de cada caso específico, atingindo assim, sua finalidade principal, que é

a de atender aos interesses dos sócios, suas outras empresas e ou ao controle destas.

As empresas Offshore não podem, quando sediadas em paraísos fiscais,

desenvolver suas atividades nesses países, devendo operar tão somente fora do território

onde está sediada. Como exemplo: se a offshore está sediada no Uruguai, ou na Ilhas

Cayman, não poderá operar efetivamente nesses países, mas sim no exterior. São

revestidas de legalidade, permitindo ao empresário um planejamento financeiro,

tributário e comercial, o que poderia lhe trazer vantagens. Quando do pagamento de

dividendos, existe considerável redução de impostos retidos na fonte, que pode ser

obtido utilizando-se uma companhia constituída em países de imposto com alíquota

zero. Pode ser facilitadora da sucessão, uma vez que, também nesses casos, há a

transferência de quotas, sem custos com procedimentos jurídicos e processos judiciais.

Com referência às sociedades estrangeiras, há que ser considerado

principalmente o montante do patrimônio, para que possam ser escolhidas as que

melhor se adaptam às necessidades do interessado, pois o custo financeiro que envolve a

constituição e manutenção de qualquer uma delas é alto.

Sendo assim, diante de todas as alternativas apresentadas, as quais podem ser

utilizadas para a concretização do Planejamento Sucessório, levando-se em conta as

características e desejos de cada entidade familiar, é de suma importância a

conscientização da necessidade do planejamento sucessório, iniciando uma mudança de

atitude na preparação dos sucessores para que amem o negócio e trabalhem naquele que

Page 60: Livro E Agora 4

as gerações anteriores construíram, uma vez que o caminho já está percorrido e basta

apenas dar-lhe continuidade.

Se o objetivo é a preservação da empresa e do patrimônio, o planejamento deve

ser executado durante toda a vida e não deixar que terceiros decidam o que fazer com o

patrimônio que foi construído com tanto trabalho, dedicação e amor.

REFERÊNCIAS

[1] http://www.dnrc.gov.br acesso em 15/06/2007

[2]http://www.sebraemg.com.br/arquivos/parasuaempresa/legislacao/cod_civil/cartilha.

pdf - acesso 15/06/2007.

[3]http://www.dji.com.br/dicionario/presuncao.htm - acesso 15/6/2007.

http://www.sistemacontabilidademg.com.br/codigocivil.asp - Acesso em 10/04/2007

http://www.manualdepericias.com.br/arbitrosTASP.asp - Acesso em 10/407

Lei nº 9.279 - de 14 de maio de 1996 – DOU de 15/5/96

Lei 10.406/2002 de 12 de janeiro de 2003 – Novo Código Civil Brasileiro.

Lei nº. 556, de 25 de Junho de 1850 - Código Comercial

Referências

BRASIL, Lei nº 10.406, de 10 de fevereiro de 2002, Código Civil Brasileiro

FIÚZA, Ricardo. Novo Código Civil Comentado. 4.ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

GAGLIANO, Pablo Stolze. O Contrato de Doação. São Paulo: Saraiva, 2007.

LANDES, David L. Dinastias: esplendores e infortúnios das grandes famílias

empresariais/David Landes; tradução Regina Lyra – Rio de Janeiro: Elsevier,2007

LUCENA, José Waldecy . Das sociedades limitadas / José Waldecy Lucena – 6 ed

atualizada e ampliada – Rio de Janeiro: Renovar, 2005.

RODRIGUES, Silvio Rodrigues. Direito Civil. v.1. 34.ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

SANTOS. Ozéias J. Da Doação. 1ª.ed. Campinas-SP: Bookseller, 1999.

SOUZA, Sylvio Caponema de. Comentários ao novo código civil. v.8. Rio de Janeiro:

Forense, 2004.

Page 61: Livro E Agora 4

Autora - * Jane Resina F. de Oliveira é advogada. Sócia fundadora do escritório Resina

& Marcon Advogados Associados. Mestre UnB – Universidade de Brasília, MBA em

Gestão Empresarial/FGV-RJ/ MBA Internacional em Gestão Empresarial Ohio

University. Pós Graduação em Direito Empresarial UCDB/MS. Palestrante, com livros

e artigos publicados nas áreas de Direito Societário e Eletrônico.

www.resinamarcon.com.br. Blog – http://www.janeresina.adv.br; Twitter -

http://twitter.com/JaneResina

DIREITO AUTORAL

Caroline Mendes Dias*

DÚVIDAS COMUNS DE DIREITOS AUTORAIS

O que é Direito Autoral?

É o direito do autor, do criador, do pesquisador, do artista, em controlar o uso

que se faz de sua obra. O direito autoral, consolidado na Lei nº 9.610/98, garante ao

autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que criou.

Direito Autoral é a forma de proteção concedida aos autores de trabalhos

originais, incluindo obras literárias, dramáticas, musicais, artísticas e outros trabalhos

intelectuais, tanto publicados como não publicados.

Qual é a legislação brasileira sobre direitos autorais?

Atualmente, no Brasil, a lei que trata de direitos autorais é a lei 9.610, de 1998.

Há outras normas referentes à distribuição de direitos autorais, mas são regulamentos do

ECAD, outras leis referentes à propriedade intelectual, como a lei de propriedade

industrial; mas, para direitos de autor, a principal norma é basicamente a lei 9.610/98.

Quais são as obras que têm os direitos autorais protegidos legalmente?

O direito autoral é o reconhecimento naturalmente concedido a uma obra

original de caráter intelectual ou artístico de paternidade ao seu criador. Os direitos

autorais abrangem as mais variadas áreas da criação intelectual e expressão artística do

homem.

Os direitos autorais estão disciplinados pela Lei nº. 9.610/1998, que, em seu

artigo 7º, incisos I a XIII, prevê a proteção às seguintes obras: os textos de obras

literárias, artísticas ou científicas; as conferências, alocuções, sermões e outras obras da

mesma natureza; as obras dramáticas e dramático-musicais; as obras coreográficas e

Page 62: Livro E Agora 4

pantomímicas, cuja execução cênica se fixa por escrito ou por outra qualquer forma; as

composições musicais, tenham ou não letra; as obras audiovisuais, sonorizadas ou não,

inclusive as cinematográficas; as obras fotográficas e as produzidas por qualquer

processo análogo ao da fotografia; as obras de desenho, pintura, gravura, escultura,

litografia e arte cinética; as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma

natureza; os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia, engenharia,

topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência; as adaptações, traduções e

outras transformações de obras originais, apresentadas como criação intelectual nova; os

programas de computador; as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias,

dicionários, bases de dados e outras obras, que, por sua seleção, organização ou

disposição de seu conteúdo, constituam uma criação intelectual.

Não são objeto de proteção as ideias, procedimentos normativos, sistemas,

métodos, projetos ou conceitos matemáticos, os esquemas, planos ou regras para

realizar atos mentais, jogos ou negócio, formulários em branco e suas instruções, textos

de tratados ou convenções, leis, decretos, regulamentos, decisões judiciais e demais atos

oficiais, informações de uso comum, nomes e títulos isolados, aproveitamento industrial

ou comercial das ideias contidas em obras.

Quais são os direitos do autor de uma obra? Como é possível usufruir da obra de

terceiros?

De acordo com o disposto no artigo 28 da Lei do Direito Autoral, cabe ao autor

o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou científica. E o

artigo 29 dispõe que depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da

obra, por quaisquer modalidades, dentre elas a reprodução parcial ou integral.

Contudo essa exclusividade é limitada pelas hipóteses expressamente indicadas

no artigo 46 da mesma lei. Fora dessas exceções legais e da permissão da cópia para uso

privado do copista, a reprodução, sem autorização do titular de direitos autorais ou de

seu representante, constitui contrafação (cópia não autorizada de uma obra), passível de

punição nas esperas cível e criminal.

Por que esta questão do Direito Autoral tornou-se tão premente no Brasil?

O Brasil avançou muito de uns anos para cá no campo do Direito Autoral. No

caso específico de livros, pressionado pelos autores, que exigiam uma remuneração

justa por seu trabalho, e pelos editores, que investem crescentemente em tecnologia e

mão-de-obra para produzir livros com qualidade. Reconhecer o direito de quem cria e

de quem produz é um avanço em cidadania e respeito à cultura do nosso país.

Quem é o autor de uma obra?

De acordo com o artigo 11 da Lei 9610/98, autor é a pessoa física criadora de

obra literária, artística ou científica. Porém a mesma norma determina que a proteção

concedida ao autor pode aplicar-se às pessoas jurídicas nos casos previstos na Lei.

As gravadoras, editor de música, editores de livros, produtores de cinema e outros

intermediários/investidores também possuem Direito Autoral? Por quê?

Sim. Apesar de o direito de autor ser originalmente da pessoa física, o autor

necessita de intermediários que invistam na difusão de suas obras em larga escala.

Page 63: Livro E Agora 4

Alguns desses intermediários possuem direitos conexos concedidos pela própria Lei

Autoral, como as gravadoras, TVs e rádios. Assim, os titulares de direitos conexos são:

o artista, sobre sua interpretação ou execução; o produtor de fonogramas, sobre sua

produção sonora; e o organismo de radiodifusão, sobre seu programa. Outros

intermediários adquirem direitos autorais dos criadores por meio de contratos de cessão

e transferência de direitos.

Como se dá a relação de autores e artistas com os intermediários/investidores?

Por meio de contratos de transferência de direito de exploração econômica das

obras, sendo que, no caso do Brasil, muitas vezes tais direitos são cedidos de forma

universal e definitiva, levando à perda do controle da obra por parte do criador.

O que são limitações ao Direito Autoral?

Todo Direito está sujeito a limites, até mesmo os direitos exclusivos. No caso do

Direito Autoral, as limitações visam a atender o interesse público e garantir o acesso

mais amplo à cultura e à educação sem prejudicar os legítimos interesses dos autores

das obras intelectuais. O limite mais óbvio é o prazo de proteção, findo o qual as obras

caem em domínio público, podendo ser utilizadas livremente por qualquer pessoa. No

Brasil, esse limite é de 70 anos após a morte do autor. As limitações facultam a

utilização de obras sem a necessidade de autorização e/ou pagamento de retribuição aos

seus titulares. Há uma série de outras limitações que asseguram o acesso e o uso de

obras intelectuais protegidas para grupos específicos da sociedade, como é o caso dos

portadores de deficiências visuais, e para usos educativos em que não haja intuito de

lucro.

Como se comportam os direitos autorais no ambiente digital?

Os avanços tecnológicos permitiram a ampla difusão e o uso das obras

protegidas por direito de autor. Ao mesmo tempo, trouxeram problemas no que se refere

ao controle, por parte de seus titulares, dos usos legítimos das obras no ambiente digital.

Via de regra, pode-se afirmar que o Direito Autoral permanece intacto no ambiente

digital, continuando a vigorar as mesmas regras ora estabelecidas.

O que é reprodução e o que constitui contrafação?

Reprodução é a cópia de um ou mais exemplares de uma obra literária, artística

ou científica. Contrafação é a cópia não autorizada de uma obra. Sendo assim, toda

reprodução é uma cópia. E cópia sem autorização do titular dos direitos autorais e/ou

detentor dos direitos de reprodução constitui contrafação, ato ilícito civil e penal.

Por que é um crime copiar livros?

Em primeiro lugar porque a Lei assim o diz e também porque é apropriar-se do

que é do outro. O livro é propriedade intelectual do autor, que ganha percentual sobre a

venda de exemplares de sua obra, é um bem produzido pelo editor. Fazer cópias de

livros sem autorização do autor e do editor é roubo.

Qual o papel do editor e quais os seus direitos e deveres?

Page 64: Livro E Agora 4

O editor é a pessoa que assume a responsabilidade de produzir e distribuir a

obra. É a pessoa física ou jurídica a quem se atribui o direito exclusivo de reprodução da

obra e o dever de divulgá-la, nos limites previstos do contrato da edição.

Estarei infringindo a lei se mandar fazer cópias de obras e distribuí-las

gratuitamente, ou pedir que as devolvam após o uso?

Só são permitidas cópias, para uso privado do copista, sem intuito de lucro direto

ou indireto. Copiar para distribuir, ainda que sem ganho material, é contra lei e ofende o

quesito "uso próprio".

Posso tirar cópia de um capítulo de livro para uso acadêmico? Não seria uma

ofensa aos direitos autorais da obra? Quantas páginas poderiam ser fotocopiadas?

Sim. De acordo com o artigo 46 da Lei 9.610/1998, não constitui ofensa aos

direitos autorais, a reprodução em um só exemplar de pequenos trechos, para uso

privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro.

A nova Lei dos Direitos Autorais, também chamada de Lei Anti-Pirataria, de nº.

10.695/2003, também garante a possibilidade de utilização da cópia de obra intelectual

ou fonograma, em um só exemplar, para uso privado do copista, sem intuito de lucro

direto ou indireto.

Segundo o manual da ABDR (Associação Brasileira de Direitos Reprográficos),

―[...] pequeno trecho é um fragmento da obra que não contempla sua substância.

Pequeno trecho não se refere à extensão da reprodução, mas sim ao conteúdo

reproduzido.

Assim, não há uma quantidade exata de páginas, nem se deve associar o pequeno

trecho a uma porcentagem da totalidade de uma obra integral.

Como devo proceder para fazer a citação de obras de outros autores em trabalhos

meus? Como evitar que se configure plágio?

O artigo 46 da Lei 9.610/1998 permite a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer

outro meio de comunicação, de passagens de quaisquer obras, para fins de estudo,

crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, devendo-se indicar o

nome do autor e a origem da obra. Também é permitida a reprodução, em quaisquer

obras, de pequenos trechos de obras preexistentes, de qualquer natureza, ou de obra

integral, quando de artes plásticas, sempre que a reprodução em si não seja o objetivo

principal da obra nova e que não prejudique a exploração normal da obra reproduzida

nem cause um prejuízo injustificado aos legítimos interesses dos autores.

Assim, sempre que houver a citação ou reprodução de qualquer obra, é

imprescindível a indicação do nome do autor, se assinado, e da publicação de onde foi

transcrito.

A proteção aos direitos autorais depende de registro da autoria nos órgãos

competentes?

Não. O artigo 18 da Lei 9610/98 define que a proteção aos direitos de que trata a

Lei independe de registro, sendo facultado ao autor registrar a sua obra no órgão público

competente.

Page 65: Livro E Agora 4

Por que deveria registrar minha obra se a proteção dos direitos autorais é

automática?

O registro é recomendado por várias razões. Muitos escolhem registrar suas

obras porque desejam ter de fato o direito autoral reconhecido no registro público e ter

um certificado de registro.

As obras registradas podem, mais facilmente, ser reconhecidas nos casos de

danos causados ao seu autor podendo garantir-lhe um litígio mais bem sucedido, com

provas mais robustas.

Quais são os órgãos responsáveis pelos registros de obras?

Os órgãos responsáveis pelo registro de autoria estão definidos no caput e no §

1º do artigo 17 da Lei nº 5.988/73, que disciplina que o autor da obra intelectual poderá

registrá-la, conforme sua natureza, na Biblioteca Nacional, na Escola de Música, na

Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Instituto Nacional

do Cinema, ou no Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia.

Se a obra for de natureza que comporte registro em mais de um desses órgãos,

deverá ser registrada naquele com que tiver maior afinidade. Não se enquadrando a

obra nas entidades nomeadas neste artigo, o registro poderá ser feito no Conselho

Nacional de Direito Autoral.

A Biblioteca Nacional ou Escola Nacional de Belas Artes são o único lugar em que

posso registrar um direito autoral?

Embora formas de registro de direitos autorais possam estar disponíveis em

cartórios com algumas reservas, os departamentos de registro de direitos autorais das

entidades citadas e outros são os únicos que podem aceitar pedidos e inscrições dessa

natureza.

Como posso registrar meu direito autoral?

Naquelas entidades que são as que mais registram, você precisa preencher um

formulário de registro acompanhado pela documentação pessoal exigida, pagar uma

taxa de R$ 30,00 e oferecer uma cópia não restituível (dentro do número obrigatório de

três cópias da obra a ser registrada).

Quanto demora obter-se o resultado de uma solicitação?

O tempo que o escritório proteção de direitos autorais precisa para processar um

pedido varia e depende da quantidade de material que esteja recebendo. Geralmente

pode-se esperar pela obtenção de um certificado registro no prazo de 4 meses, após a

data da solicitação.

O que é a taxa de solicitação?

É a taxa para registro, a qual atualmente é de R$30,00 por pedido de registro.

Geralmente, cada obra requer um registro separado.

Posso fazer cópias da forma do pedido?

Page 66: Livro E Agora 4

Sim, pode-se fazer cópias dessas formas para proteção dos direitos autorais se

obedecer ao seguinte critério: fotocópias em uma única folha de 8 1/2 X 11 polegadas,

em papel branco. Em outras palavras, essa cópia tem que se parecer com a original.

O que é um depósito?

Um depósito normalmente é uma cópia (se inédito) ou duas cópias (se publicou)

da obra ser registrada como direito autoral. Em certos casos, como o das obras das artes

visuais, identifica-se o material com uma fotografia ao invés de ser usada a própria obra.

É o caso de uma escultura, por exemplo.

Tenho que enviar minha obra? Terei a devolução desta?

Sim, você tem que enviá-la para fazer o registro, para o que uma cópia ou mais

cópias de sua obra são exigidas. Essas cópias não serão devolvidas.

Posso registrar mais que um trabalho no mesmo pedido? Onde eu listo os títulos?

Você pode registrar obras inéditas como uma coletânea em um só pedido com

um mesmo título para a coleção inteira se observadas certas condições. Não é necessário

listar os títulos individuais em sua coleção, embora você possa fazê-lo em uma folha de

continuação.

Só podem ser registradas obras publicadas como uma coletânea se elas forem

publicadas de fato como uma coleção e se forem satisfeitas as exigências para este caso.

Tenho que renovar meus direitos autorais?

Não. Obras são protegidas por 70 anos, depois disso, serão consideradas de

domínio público.

Posso apresentar meu manuscrito em um disco de computador?

Não. Há muitos softwares de diferentes formatações, e os escritórios de proteção

de direitos autorais não têm o equipamento para arquivar todos deles.

É necessário apresentar uma cópia impressa da obra para o depósito.

Como protejo minha receita?

Uma mera lista de ingredientes não é protegido sob as leis de direitos autorais.

Porém, onde uma receita ou fórmula é descrita através de expressão literária

significativa, na forma de uma explicação ou de instruções, ou quando há uma coleção

de receitas como num livro de receitas, pode haver uma base suficiente para a proteção

por meio direitos autorais.

O registro protege uma obra de arquitetura?

Sim. Obras arquitetônicas estão sujeitas à proteção por direitos autorais, e o

registro é efetuado no CONFEA - Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e

Agronomia.

Page 67: Livro E Agora 4

A lei de direitos autorais define a "obra" arquitetônica como o desining de um

edifício demonstrado em qualquer meio tangível de expressão, inclusive, em plantas

arquitetônicas, ou em desenhos.

Posso registrar um diário que eu achei no sótão de minha avó?

Você só pode registrar direitos autorais sobre o diário se você o transfere para si

por herança. Direito autoral é o direito do autor sobre a obra, ou dos herdeiros do autor

ou pessoas pelo autor assinaladas através de um testamento.

Estrangeiros podem registrar as obras deles no Brasil?

Qualquer obra é protegida no Brasil. Isso inclui muitas obras de origem

estrangeira. Toda obra inédita, a despeito da nacionalidade do autor, é protegida no

Brasil. Obras que são publicadas primeiro no Brasil ou em um país com o qual temos

um tratado de proteção dos direitos autorais, ou é criado por um cidadão de um país

participante do tratado, também podem ser registradas aqui.

Quem é um autor?

Sob a lei de direitos autorais, o criador da expressão original em uma obra é seu

autor. Este também é o proprietário dos direitos sobre a obra, a menos que haja um

acordo ou contrato escrito pelo qual o autor nomeia ou transfere os direitos autorais a

outra pessoa ou entidade, como um editor, por exemplo.

Em caso de obras produzidas sob contrato prévio (encomenda), o empregador ou

contratante é considerado o proprietário da obra.

Tenho que usar meu nome verdadeiro no formulário do pedido? Posso usar um

pseudônimo?

Não há nenhuma exigência legal de que o autor seja identificado como a pessoa

real ou que este se nomeie a si mesmo de outra forma no pedido.

O que é publicação?

A publicação tem um significado técnico na Lei dos Direitos Autorais. De

acordo com esta lei: A publicação é a distribuição de cópias de uma obra ao público por

venda ou por transferência de propriedade, ou através de aluguel, ou empréstimo. O

oferecimento para distribuir cópias para um grupo de pessoas para propósitos de

distribuição exclusiva ou promocional, execução pública, ou exibição pública constitui-

se em publicação. A simples exibição de uma obra não constitui uma publicação.

Geralmente, a publicação acontece na data na qual são feita(s) a(s) primeira(s)

cópia(s) da obra para o público.

Minha obra tem de ser publicada para ser protegida?

A publicação não é necessária para proteção por direitos autorais.

Como tenho minha obra publicada?

Page 68: Livro E Agora 4

A publicação acontece por escolha e iniciativa do criador ou proprietário dos

direitos autorais. Os escritórios de registro dos direitos autorais (Biblioteca Nacional ou

a Escola Nacional de Belas Artes e outros) não têm nenhum papel no processo de

publicação.

Direitos autorais são transferíveis?

Sim. Como qualquer outra propriedade, os direitos de uma obra, ou parte deles,

podem ser transferidos pelo autor para terceiros.

Posso registrar o nome de minha banda?

Não. Nomes não são protegidos pela lei de direitos autorais. Alguns nomes

podem ser protegidos sob a lei de marcas.

Como registro um nome, título, slogan ou logotipo?

O Direito autoral não protege nomes, títulos, slogans, ou frases pequenas, os

quais podem eventualmente ser protegidos como marcas registradas, caso a lei o

permita, ou seja, nesses casos a proteção pode ser feita por meio de marcas registradas.

Porém, a proteção por direitos autorais pode estar disponível para obra de arte de

logotipo que contém originalidade artística suficiente. Um logotipo artístico pode ser

protegido também como uma marca registrada.

Como protejo minha ideia?

O Direito autoral não protege ideias, conceitos, sistemas, ou métodos de fazer

algo. Você pode expressá-las por escrito e reivindicar os direitos autorais de sua

descrição. Mas o Direito autoral não protegerá a própria ideia como a revelou em seu

escrito.

Quais as licenças que podem ser usadas em uma obra?

No momento em que se garante como titular dos direitos da obra, uma pessoa

pode estabelecer quais usos podem ser feitos daquela obra. Para isso, utiliza-se uma

licença de uso.

A licença é um contrato por meio do qual o titular de direitos sobre

determinação criação define condições e limites para a utilização de determinada obra,

para todos que possam utilizá-la.

O que é o aviso "protegido por direitos autorais"? Como se coloca uma

advertência assim em uma obra?

Um aviso "protegido por direitos autorais" é uma indicação, colocada nas cópias

de uma obra, para informar ao público sobre a propriedade protegida pela lei de direitos

autorais. O uso dessa advertência é opcional e de responsabilidade do autor e não requer

permissão de antemão, ou solicitação ao escritório de registro de direitos autorais.

Uma obra protegida no Brasil está protegida também no exterior, ou a proteção é

restrita ao território nacional?

Page 69: Livro E Agora 4

As leis de tratados internacionais de direitos de autor garantem também uma

proteção internacional da obra. Uma vez protegida no Brasil, ela também está protegida

fora do país, até mesmo para garantir a circulação de obras no âmbito mundial e global.

Entrando na questão do remix, o que é um sample em música, em vídeo?

Sample vem do inglês ―amostragem‖. É um trecho que você pega de uma

criação de alguma outra pessoa - seja um pedaço de uma música, um trecho de um

fonograma, um trecho de um vídeo, um frame de um vídeo, um pedaço de uma foto - e

utiliza em outra criação, ou em outras obras intelectuais.

Por exemplo: você ouve um disco de um autor ―x‖; tem um fonograma lá de um

samba. Você ―sampleia‖ (pega um trecho) daquele pandeiro que está ali, e usa aquele

pandeiro para fazer outra base rítmica de uma outra canção, e fixa isso em outro

fonograma. Você ―sampleou‖ uma música e está usando aquele sample em uma outra

obra. É a mesma coisa se você utilizar um ou vários frames de um vídeo - de alguém

jogando bola, ou fazendo qualquer coisa - e utilizá-los em outra obra.

A partir de uma pequena amostragem você pode criar outra obra totalmente

original ou não. É possível puxar uma base inteira sem ter um grande esforço intelectual

no sentido de fazer este sample ser algo que crie uma obra totalmente diversa daquela

que a antecedeu, ou criar uma outra obra totalmente criativa e original.

É preciso autorização para usar um sample?

É interessante ter alguns cuidados quando se fala em sample porque, para usá-

lo, é preciso ter autorização. Para você usar, modificar, alterar um fonograma, extrair

fragmentos dele, ou fazer qualquer coisa com ele, você precisa de autorização do/a

titular de direitos sobre aquele fonograma. Via de regra, trata-se do/a produtor/a

fonográfico. Então, ao ―samplear‖ (usando trechos de outras obras), as pessoas têm de

saber que, pela regra, aquilo ali é de alguém e é necessária a autorização dessa pessoa

para fazer uso daquilo.

Como pedir autorização para o uso de uma obra que não tenha sido licenciada

ainda? Qual o caminho a percorrer?

Para a pessoa utilizar um fonograma hoje em dia, ela vai ter de correr atrás do/a

titular do direito fonográfico. Normalmente é uma gravadora. Quando o artista é

independente ou a banda ainda é independente, normalmente eles/elas são os donos do

fonograma, ou um selo independente é o dono do fonograma. Mas há sempre um/a

dono/a do fonograma, o/a produtor/a fonográfico/a, que é quem banca a produção

fonográfica.

Então precisamos de duas autorizações distintas para usar um trecho de um CD?

Como assim?

Caso vá usar um trecho, um sample, se for uma coisa reconhecível do/a autor/a,

a pessoa pede autorização para os dois – autor/a e dono do fonograma. Se for só uma

batida ou algo não tão explícito, pede autorização só ao dono do fonograma. Mas se

você quer usar uma batidinha de violão, um ruído, um beat ou algo assim, você vai ter

que pedir autorização da gravadora, ou seja, do titular de direito fonográfico.

Page 70: Livro E Agora 4

Mesmo que seja para fins não comerciais, você tem pedir autorização?

Sim. Você não pode utilizar as obras dos outros para fazer caridade. Isso

significa que você pode até criar algo a partir da obra de alguém, mas, por mais que

você não esteja ganhando dinheiro com aquilo, não é o titular do direito ou autor/a que

vai ter que se responsabilizar por isso ou vai se onerar com isso. Existe uma falsa

impressão generalizada de que se você está usando obras de terceiros, se você está

gravando um CD de uma obra de terceiros, se você está sampleando isso ou exibindo

isso sem finalidades comerciais, você não precisa proceder com as autorizações, ou

pagar pelos direitos autorais. Isso é um erro. Muita gente fala: ―ah, não, mas eu vou

criar uma rádio sem finalidades comerciais!‖ Não importa. Se você está a fim de fazer

caridade e não ganhar dinheiro, não é o/a autor/a ou titular de direitos que vai ter que ser

solidário com você nessa história. Você precisa de autorização dele/a, nem que fale:

―preciso usar, mas não vai ter finalidade comercial!‖. Aí você vai ter de ter autorização

para isso, salvo nas hipóteses em que essas obras já estão autorizadas, seja por licença

livre, seja por iniciativa de o autor ter previamente autorizado isso.

Caso a pessoa utilize um sample sem autorização, o que pode acontecer com ela?

Ela pode ser processada civil e criminalmente por violação de direitos autorais

pelo titular do direito.

Qual o papel do Estado no campo autoral?

Não existe um modelo único para a atuação do Estado no campo autoral. Na

imensa maioria dos países democráticos, o Estado exerce alguma atividade de

supervisão, regulação, mediação de conflitos e arbitragem. Em muitos países, os

negócios que envolvem direitos autorais estão sujeitos às leis de defesa da concorrência.

A atual Lei Autoral Brasileira atende a todos os interesses e anseios da sociedade?

Pode-se afirmar que, na atual Legislação Autoral Brasileira, encontram-se vários

problemas na sua implementação, tais como:

• Desequilíbrio nas relações contratuais entre autores e investidores/ intermediários,

tendo em vista a permissão por lei da cessão e transferência total e definitiva de direitos,

prática imposta pelo mercado e prejudicial aos autores quanto à gestão na utilização

futura de suas criações. Em alguns países, a legislação veda a cessão definitiva de

direitos no intuito de proteger a parte mais frágil da relação contratual, os autores e

artistas. Ou estabelece mecanismos de revisão do contrato, no caso de desequilíbrio

devido à supervalorização da obra após contrato inicial.

• As limitações aos direitos autorais previstas na Lei Brasileira estão em desacordo com

a realidade socioeconômica do nosso país e inviabilizam que o potencial do ambiente

digital seja aproveitado em nosso país. Por exemplo, no estado atual da Lei é um ilícito

copiar uma música, de um CD legalmente adquirido, para um Ipod ou um MP3 ou MP4.

• A reprodução integral de obras não é permitida por nossa legislação para uso privado e

sem fins lucrativos, gerando problemas nas universidades brasileiras, onde alunos,

professores e diretórios acadêmicos têm sido alvo constantes de ações judiciais.

• Os museus, bibliotecas e instituições de ensino, ao digitalizarem seus acervos, mesmo

visando unicamente à preservação da memória nacional, cometem também um ilícito,

Page 71: Livro E Agora 4

pois, pela atual Lei Autoral, digitalizar significa reproduzir, o que demandaria

autorização prévia dos titulares.

• As conversões de formatos digitais visando à interoperalidade e portabilidade de obras

digitalizadas – de forma que as obras possam ser utilizadas em aparelhos de diferentes

tecnologias – também encontram obstáculos em nossa Legislação Autoral. Da mesma

forma que a digitalização, essas conversões são entendidas como reproduções, o que

demandaria autorização prévia e expressa dos titulares de direitos autorais, mesmo que

seja para uso privado.

• No Brasil, não há qualquer supervisão estatal nas atividades de Gestão Coletiva de

Direitos Autorais. No caso da música, o Estado concede um monopólio legal para essa

atividade sem prever qualquer supervisão pública, fato incomum na maioria dos países

democráticos. Assim, o Estado se vê sem instrumentos para mediar conflitos – que são

muitos – e buscar soluções mutuamente satisfatórias para autores e sociedade. De uma

forma geral, o Estado brasileiro é impedido de atuar de forma mais incisiva na área de

direitos autorais por falta de previsão legal, causando uma sobrecarga de ações no

Judiciário, que poderiam ser resolvidas por via administrativa de forma mais célere.

ECAD – ESCRITÓRIO CENTRAL DE ARRECADAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO

O que é o ECAD e como funciona o órgão?

ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) é o órgão brasileiro

responsável pela a arrecadação e distribuição dos direitos autorais das obras musicais,

tendo sua sede localizada no Rio de Janeiro.

O ECAD é formado por onze associações de música, às quais devem ser filiados

os titulares das obras (sejam eles compositor, intérprete, músico, produtor fonográfico

ou editora musical). Tais associações repassam os dados dos associados para o ECAD

para que seja feita a arrecadação de em seu favor. Parte do valor arrecadado é passado

para a associação, que, por sua vez, o repassa para o associado.

O que acontece se os direitos autorais não são pagos ao ECAD?

O ECAD somente repassa às associações de titulares o que é arrecadado

daqueles que utilizam obras musicais em suas atividades. Consequentemente, se alguém

não paga a respectiva retribuição autoral, os titulares das obras que foram utilizadas

nada recebem.

O usuário não pagante infringe a lei, ficando sujeito à lavratura de um "Termo de

Verificação", que poderá acarretar a interdição ou a suspensão da execução pública

musical, bem como procedimentos judiciais cíveis e criminais.

É preciso pagar direitos autorais em eventos sem fins lucrativos?

Segundo o ECAD, é necessário que ocorra o pagamento dos direitos autorais

ainda que a utilização da obra musical seja feita em eventos sem fins lucrativos. O órgão

afirma não ter poder para isentar o pagamento por parte do uso de obras de terceiros,

salvo quando expressamente autorizado pelos titulares.

Porém a jurisprudência tem se posicionado contra esse entendimento

apresentado pelo ECAD, concluindo que, em eventos sem fins lucrativos, não é

necessário o pagamento de direitos autorais pela utilização de músicas.

Page 72: Livro E Agora 4

O que é domínio público? Como saber quais são as obras que já são de domínio

público?

Para que uma obra caia em domínio público, nos termos da lei vigente, é

necessário que o autor, ou o último autor, no caso de parceria, tenha falecido há mais de

70 anos. Isso quer dizer que, somente após decorridos 70 anos da morte do autor ou do

parceiro, é que a obra é considerada de domínio público e pode ser utilizada livremente,

nos termos do que prevê o artigo 41 e seguintes da lei 9.610/98.

É permitida a regravação de músicas de terceiros?

Conforme a Lei 9.610/98, somente o autor poderá usar, fruir ou dispor de sua

obra musical. Para que outra pessoa possa regravar ou adaptar uma obra musical, é

necessário que solicite a devida autorização diretamente ao autor (ou herdeiros) ou à sua

editora. No caso de um fonograma, a solicitação pode ser feita à própria gravadora.

Qual o procedimento para fazer o registro de uma obra musical? Esse registro é

necessário para a proteção dos direitos do autor da música?

Para registrar uma música, o autor deverá procurar a Escola Nacional de Música

ou o Escritório de Direito Autoral (EDA), órgão da Fundação Biblioteca Nacional,

responsável pelo registro de obras intelectuais. Esse registro permite o reconhecimento

da autoria, especifica os direitos morais e patrimoniais e estabelece prazos de proteção

tanto para o titular quanto para os seus sucessores.

Mesmo com o advento da nova Lei 9.610/98, os artigos 18 e 19 da Lei Autoral

anterior (Lei nº 5.988/73) continuam em vigor, dispondo que o registro das obras é

facultativo e que a proteção dos direitos autorais independe do respectivo registro.

Quando se sintoniza uma rádio ou um canal de televisão em local público, é

necessário que sejam pagos os direitos autorais ao ECAD? As emissoras já não

pagaram o direito autoral? Por que se deve pagar novamente?

De acordo com o que disciplina o artigo 31 da Lei 9.610/98, as diversas

modalidades de utilização da música são independentes entre si, e a autorização para

uso por uma delas não se estende para as demais.

Assim, as emissoras de rádio e televisão pagam direito autoral para transmitirem

suas programações, e o uso destas por terceiros caracteriza uma nova utilização,

cabendo, portanto, uma nova autorização/licença, ou seja, um novo pagamento.

Como é feita a arrecadação dos direitos autorais pelo ECAD?

O ECAD calcula os valores que devem ser pagos pelos usuários de música de

acordo com os critérios do Regulamento de Arrecadação desenvolvidos pelos próprios

titulares, por meio de suas associações musicais.

O valor a ser pago é calculado de acordo com o uso (realizado a partir das

informações fornecidas pelo mesmo) e com a forma de cobrança, determinada em

função do parâmetro físico ou do percentual incidente sobre a receita bruta. Quando um

evento contemplar obras em domínio público e obras protegidas, o cálculo dos direitos

autorais será proporcional e considerará apenas as obras protegidas.

Page 73: Livro E Agora 4

Depois de definido o valor da retribuição autoral, o usuário recebe um boleto de

cobrança que deverá ser pago em qualquer agência bancária, com o que, após a

quitação, autoriza-se a utilização da música. O pagamento da retribuição autoral deve

ser efetuado previamente.

O usuário fica obrigado a fornecer os meios adequados para que se verifique a

veracidade das informações que servirão de base para o cálculo do pagamento, bem

como os dados necessários para a distribuição dos direitos arrecadados.

Os pagamentos são realizados por rede bancária. O ECAD não está autorizado

por Lei nem por sua Assembleia Geral a aceitar valores em espécie ou de qualquer outra

forma, por meio de seus funcionários e/ou agentes autônomos terceirizados.

Os ingressos cortesias ficam limitados a 10% (dez por cento) sobre o total de

ingressos vendidos. O número de ingresso que exceder será cobrado da seguinte forma:

total da bilheteria dividido pela quantidade de ingressos vendidos; a partir daí, resultará

o valor da média, que deverá ser multiplicado pelas cortesias excedentes.

No caso de shows/eventos realizados por entidades beneficentes, os preços do

regulamento de arrecadação sofrerão uma redução de até ¼, desde que seja apresentada

toda a documentação comprobatória necessária.

Quando a execução for exclusivamente ao vivo, os valores da Tabela de Preços

constante do Regulamento de Arrecadação sofrerão uma redução de 1/3 (um terço), seja

pelo critério de cobrança por participação percentual, seja por parâmetro físico. Isso

ocorre porque, se a execução é ao vivo, inexistem os direitos conexos a serem

remunerados, porque não há execução de fonograma.

Quem é considerado usuário de música, passível de pagamento de direitos autorais

ao ECAD?

Usuários de música são pessoas físicas ou jurídicas, que utilizam música

publicamente, entre eles: promotores de eventos e audições públicas (shows em geral,

circo etc), cinemas e similares, emissoras de radiodifusão (rádios e televisões de sinal

aberto), emissoras de televisão por assinatura, boates, clubes, lojas comerciais,

micaretas, trios, desfiles de escola de samba, estabelecimentos industriais, hotéis e

motéis, supermercados, restaurantes, bares, botequins, shoppings centers, aeronaves,

navios, trens, ônibus, salões de beleza, escritórios, consultórios e clínicas, pessoas

físicas ou jurídicas que disponibilizem músicas na Internet, academias de ginástica,

empresas prestadoras de serviço de espera telefônica, ringtones e truetones.

O Regulamento classifica o nível de importância da música para a atividade ou

estabelecimento, como indispensável, necessária ou secundária. Considera ainda a

periodicidade da utilização (se permanente ou eventual) e se a apresentação é feita por

música mecânica ou ao vivo, com ou sem dança.

A proteção legal dos direitos autorais abarca as obras disponibilizadas através da

Internet? Posso reclamar judicialmente a violação de meus direitos autorais no

meio eletrônico?

Sim, a Lei dos Direitos Autorais – Lei nº 9.610/98, se aplica, inequivocamente,

ao meio virtual, sem qualquer ressalva, haja vista que o artigo 7º, inciso XIII da referida

norma dispõe que são protegidas quaisquer criações do espírito, sejam elas expressas

por qualquer meio, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro.

Page 74: Livro E Agora 4

Assim, nota-se que o meio eletrônico está inserido na proteção legal vigente,

sendo perfeitamente cabível a reivindicação dos direitos autorais violados através desse

meio.

Existe alguma proteção à propriedade intelectual de programa de computador?

Sim, a proteção à propriedade intelectual do programa de computador foi

tratada, especificamente, pela Lei nº 7.646/87, que trouxe sanções penais ao infrator dos

direitos autorais de software. Contudo essa Lei foi revogada pela atual Lei 9.609/98,

cujo texto apresentou uma atualização das sanções e qualificação de novos ilícitos

contra os direitos autorais de programa de computador.

A Lei nº 9.609/98 aumentou a previsão de tipos penais; fixou penas mais

severas; descreveu ações cíveis para garantias acautelatórias; e previu as indenizações

por perdas e danos.

Comprei alguns cd’s de software piratas para instalar em meu computador.A

cópia de um programa de computador é crime?

Sim, a tutela penal e civil do software é regulada pelo artigo 12 e seguintes da

Lei nº 9.609/98, muito embora o Código Penal, em seu artigo 184 e seguintes, já

dispusesse de um sistema de tipificação de crimes e fixação de penalidades aplicáveis

àqueles que infringem normas reguladoras do direito autoral e da proteção aos bens

imateriais, em cujo grupo está inserido o programa de computador.

Apesar da regra geral contida no Código Penal, aplica-se o princípio da

especialidade nesse caso, ou seja, a Lei n. 9.609/98, cujo texto visa combater de forma

mais eficaz o uso ilegal dos programas de computador sem autorização do respectivo

autor, em suas diversas possíveis formas, o que se conhece como ―pirataria‖.

Para a Lei, o que é um programa de computador?

A definição legal para o termo programa de computador está contida no artigo 1º

da Lei 9.609/98, que o conceitua como: ―a expressão de um conjunto organizado de

instruções em linguagem natural ou codificada, contida em suporte físico de qualquer

natureza, de emprego necessário em máquinas automáticas de tratamento da

informação, dispositivos, instrumentos ou equipamentos periféricos, baseados em

técnica digital ou análoga, para fazê-los funcionar de modo e para fins determinados‖.

Quais as sanções previstas para quem faz uso de programas de computador

piratas?

O artigo 12 da Lei nº 9.609/98 prevê uma pena de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos

de detenção ou multa ao infrator que violar direitos de autor de programa de

computador.

Quais as sanções para quem comercializa softwares piratas?

Considerada como uma nova arma para o combate à pirataria, a Lei 10.693, de

1º de julho de 2003, alterou os artigos 184 e 186 do Código Penal e acrescentou

parágrafos ao artigo 525 do Código de Processo Penal, elevando a pena mínima para os

Page 75: Livro E Agora 4

crimes de violação de direito de autor com intuito de lucro, ainda que indireto, para 2

(dois) anos de reclusão.

Com isso, o crime de violação de direito de autor, com finalidade de comércio,

deixa de ser considerado crime de menor potencial ofensivo, demonstrando a seriedade

com que passa a ser tratado pela legislação penal.

Além da pena de reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, de multa e da apreensão

da totalidade dos bens ilicitamente produzidos ou reproduzidos, existe também a

possibilidade de apreensão dos equipamentos, suportes e materiais que possibilitaram a

sua existência, desde que se destinem à prática do delito.

Na esfera cível, o infrator estará sujeito ao pagamento de indenização que pode

chegar até ao valor de 3.000 (três mil) exemplares por título reproduzido ilegalmente,

além dos apreendidos.

Existem limitações aos direitos do autor de uma obra?

Sim, o mesmo interesse social que fundamenta juridicamente a proteção aos

direitos do autor, justifica a necessidade de, em certos casos, haver uma limitação a

esses direitos, para que a sociedade possa também favorecer-se com o uso da obra.

Essas limitações são exceções, previstas no artigo 46 da Lei 9.610/1998, que são

impostas aos titulares dos direitos autorais quanto a determinados usos, dispostas no

próprio direito positivo, baseadas na função social da propriedade intelectual.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRÃO, Eliane Yachouh. Direitos de autor e direitos conexos. São Paulo: Ed. do

Brasil, 2002.

ABRUSIO, Juliana Canha. A Tutela Penal do Software. In: BLUM, Renato M. S.

Opice; BRUNO, Marcos Gomes da Silva; ABRUSIO, Juliana Canha (coord.). Manual

de Direito Eletrônico e Internet. São Paulo: Lex Editora, 2006.

BRUNO, Marcos Gomes da Silva. O Direito Autoral e os Meios Eletrônicos. In:

BLUM, Renato M. S. Opice; BRUNO, Marcos Gomes da Silva; ABRUSIO, Juliana

Canha (coord.). Manual de Direito Eletrônico e Internet. São Paulo: Lex Editora,

2006.

LIMA, George Marmelstein. A reprodução não-autorizada de obras literárias na

Internet. Jus Navigandi, Teresina, ano 2, n. 21, nov. 1997. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1792>.

OLIVEIRA, Jane Resina Fernandes de. Direito Autoral da Internet. Disponível em:

http//www.resinamarcon.com.br.

PAESANI, Liliana Minardi. Direito e Internet: Liberdade de informação e

responsabilidade civil. São Paulo: Atlas, 2002.

SILVEIRA, Newton. A Propriedade intelectual e as novas leis autorais. 2.ed. São

Paulo: Saraiva, 1998.

Caroline Mendes Dias - Advogada associada ao escritório Resina & Marcon Advogados Associados.

- Especialista em Direito Civil com ênfase em Registros Públicos e Direito do

Consumidor pela Faculdade Autônoma de Direito de São Paulo – FADISP e ESA/MS.

Page 76: Livro E Agora 4

- Pós-graduanda em Direito Administrativo pela Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo - PUC/SP.

- Pós-graduanda em Direito Público pela Universidade Católica Dom Bosco – UCDB.

- Graduada pela Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do

Pantanal – Uniderp.

- Extensão em Direito Processual Civil pela Escola Superior da Advocacia de Mato

Grosso do Sul – ESA/MS.

- Membro da Comissão de Defesa do Patrimônio Público e Social da OAB/MS (2008-

2009).

- Professora das disciplinas de Direito Processual Civil, Constitucional e Administrativo

para concursos públicos.

- Palestrante sobre temas das áreas de Direito do Consumidor, Administrativo, Autoral e

Marcário.

- Ministrante de cursos especiais e treinamentos em Direito Administrativo,

Constitucional e Consumidor.

- Articulista colaboradora periódica do Jornal ―A Crítica‖, Informativo Migalhas e

Revista BoniIuris.

- Autora de artigos jurídicos nas áreas de Direito Administrativo, Consumidor, Autoral

e Família.

DIREITO IMOBILIÁRIO

*Telma Curiel Marcon

Em um condomínio onde é permitido animais de estimação, é possível tomar

alguma medida contra um condômino que possui um animal que causa

perturbação aos demais moradores?

O direito da coletividade se sobrepõe ao direito individual, de modo que a

permissão do condomínio para que os condôminos possam manter animais de

estimação, ainda que conste da convenção, não retira o direito ao sossego que cada

condômino, individualmente, pode e deve exigir do síndico e dos demais vizinhos.

O horário de silêncio é de ordem legal e impera para todos independentemente

de regulamento; entretanto, o regulamento do condomínio pode prever situações

especiais e, nestes casos, havendo infratores, o síndico deve aplicar a multa prevista na

convenção de condomínio ou no regulamento.

Page 77: Livro E Agora 4

Em casos de abuso, a polícia pode ser acionada, entretanto, para fins judiciais é

importante que esse abuso seja comprovado pelos vizinhos e o infrator tenha sido

advertido, anteriormente, pelo síndico e não tenha cumprido a ordem dada.

A partir de qual horário é tido como de silêncio nos condomínios?

O horário de silêncio é de ordem legal e impera para todos, independentemente

de regulamento, após as 22 horas até às 06 horas; entretanto, o regulamento do

condomínio pode prever situações especiais e, nestes casos, havendo infratores, o

síndico deve aplicar a multa prevista na convenção de condomínio ou no regulamento,

sendo que em casos de abuso a polícia pode ser acionada.

Como deve ser o critério para o rateio da conta de água entre a cobertura e os

demais condôminos?

O critério para o rateio deve estar previsto na Convenção de Condomínio,

entretanto, se a Convenção omitir sobre a forma de cálculo das contribuições, a lei

estabelece que o valor deverá ser calculado em razão da fração ideal.

Assim, se tem o dobro da fração ideal das unidades padrão, e sendo omissa a

Convenção, uma unidade de cobertura pagará o valor equivalente ao dobro das

contribuições das demais unidades.

Como regra geral, não se deve basear em ser justa ou não a contribuição, mesmo

porque uma unidade que não esteja ocupada e que sequer tenha gasto com água, terá

que pagar sua contribuição como qualquer outra unidade. O valor da contribuição de

condomínio é baseado na potencialidade da unidade, e não no efetivo consumo.

O síndico tem direito à isenção da taxa de condomínio? E havendo despesas

extraordinárias, como fica a questão?

É bastante comum que a convenção de condomínio estabeleça que o síndico, a

título de compensação pelos serviços que presta ao condomínio, fique isento do

pagamento da sua contribuição mensal.

Em outras convenções de condomínio, principalmente nos grandes condomínios,

pode constar o direito do síndico em perceber uma remuneração pelos serviços que

presta ao condomínio. Entretanto essa remuneração não pode ser cobrada pelo síndico

se não estiver expressamente prevista na convenção.

Mas essa contribuição mensal é aquela denominada de ordinária, relativa às

despesas comuns da manutenção do prédio e não poderá incidir sobre as despesas

extraordinárias que se referem às reformas.

Todo condomínio deve ter um Fundo de Reserva? Qual o critério para definir o

seu valor?

Page 78: Livro E Agora 4

A assembleia de condôminos é quem fixa o percentual que incidirá sobre o valor

das contribuições ordinárias, o qual deverá ser cobrado a título de fundo de reserva,

considerando as necessidades do prédio em face de sua conservação. Em geral esse

valor é fixado no importe de 10% sobre o valor da contribuição mensal ordinária.

A principal destinação do fundo de reserva é garantir a continuidade do

funcionamento dos equipamentos do condomínio, quando surgem despesas imprevistas

e de urgência, e ainda a de formar recursos para viabilizar as grandes reformas das

partes comuns do bem em condomínio.

Como são recursos financeiros, na maioria dos casos para aplicação somente a

longo prazo, os valores originários do Fundo de Reserva crescem e formam um

patrimônio considerável, que deve ser destacado do caixa comum do condomínio e

aplicado em estabelecimento bancário para não perder seu valor real e, de preferência,

produzir renda, crescer.

Os recursos do Fundo de Reserva não devem ser aplicados em ações ou imóveis

uma vez que, pela própria natureza de sua finalidade, podem ser necessários de

imediato, sem tempo de esperar bom momento na bolsa de valores ou mercado

favorável no ramo imobiliário; portanto é recomendável que os recursos dessa origem

sejam objeto de uma aplicação financeira, segura, com total liquidez, capaz de ser

transformada em dinheiro em 24 horas.

Não se pode imaginar que uma despesa imprevista deva simplesmente ser

coberta pelos recursos do Fundo de Reserva. Esses recursos somente devem ser

utilizados para fazer face às emergências, mas, uma vez resolvidas, o síndico tem a

obrigação de promover o rateio das despesas e cobrá-las dos condôminos, de forma que

no mês seguinte já possa recompor o Fundo de Reserva.

O Fundo de Reserva é um patrimônio do condomínio, portanto não pode a

assembleia geral, por qualquer motivo, distribuir os valores em depósito entre os

condôminos, salvo se a decisão for aprovada pela totalidade dos condôminos

proprietários, sem qualquer dissidência ou ressalva.

Em condomínios onde não há demarcação de garagem, há alguma norma que

indique que os proprietários mais antigos têm preferência na escolha de

determinados espaços ou que os proprietários têm prioridade sobre os inquilinos?

Não, salvo quando existem disposições claras na convenção de condomínio, o

direito dos condôminos é exatamente o mesmo, sem distinção para condôminos ou

inquilinos.

O inquilino, quando aluga o apartamento, adquire o direito de utilização que o

proprietário tem, por isso não há como exigir-lhe situação inferiorizada nas utilidades

do condomínio.

A inadimplência do condômino impede sua votação em uma assembleia geral

ordinária?

Page 79: Livro E Agora 4

O condômino inadimplente, de acordo com o Novo Código Civil, fica impedido

de votar nas deliberações da assembleia e delas participar. (Art. 1335, III, CC):

Art. 1.335. São direitos do condômino: III - votar nas deliberações da assembleia e

delas participar, estando quite.

Havendo um vazamento provocado pelo apartamento localizado no andar

superior, é correto recorrer ao síndico?

Se o vazamento, ou uma infiltração, é decorrente do apartamento localizado no

andar superior, não é correto reclamar com o síndico, cuja competência de atuação está

estrita à administração dos interesses gerais dos condôminos e das áreas comuns; mas

a mediação pode ser útil e de solução mais rápida. Contudo, frustrada a negociação, o

condômino deverá buscar a solução pela via judicial.

Nesse caso, pode ser pedido ao juiz que fixe uma multa diária para o

condômino da unidade responsável pela infiltração até que os reparos sejam

satisfatoriamente realizados.

Qual a proporção de votos exigida pela lei para alterar a convenção de

condomínio? O inquilino também tem direito a voto nessas assembleias?

Cada convenção de condomínio estabelece qual o quórum definido para alterar

suas próprias cláusulas, entretanto, na hipótese de ser omissa a Convenção, o quórum

legal será de 2/3 (dois terços) das frações ideais que compõem o condomínio.

Deve ser observado que não se trata de dois terços de condôminos presentes à

assembleia, e sim de condôminos que detenham 2/3 (dois terços) de frações

ideais.(Art. 1333 CC)

Outro aspecto a ser considerado é que algumas hipóteses, como alterações que

envolvam direitos individuais de condôminos, como alteração de fração ideal, alteração

quanto ao uso de vagas de garagem já definidas na convenção, ou supressão ou

concessão de qualquer direito a um dos condôminos, implicam violação do direito real,

ou seja, modificação da propriedade individual, e nesses casos, óbvio, qualquer

alteração dependerá da aceitação de todos os condôminos.

O inquilino não tem direito a voto em decisões que envolvam alteração da

convenção de condomínio. O direito de voto do inquilino restringe-se às decisões que

envolvam despesas ordinárias e, ainda assim, se o proprietário não estiver presente.

Quais são os direitos do inquilino perante o condomínio?

Quando se tratar de assembleia que está deliberando sobre despesas ordinárias,

na hipótese de ausência do proprietário, nesse item, o locatário poderá votar. Essa

faculdade outorgada ao locatário teve origem na lei do inquilinato.

Page 80: Livro E Agora 4

Convém observar, o direito do locatário de votar está restrito às matérias que

envolvam despesas ordinárias e somente se os proprietários, ou seus procuradores, não

comparecerem à assembleia.

Entendemos, com a vigência do Novo Código Civil, que o inquilino possa votar

também nas eleições para síndico, por dois motivos: Primeiramente, porque não há

impedimento legal a que o locatário seja eleito síndico (embora a convenção o possa

proibir). E, podendo ser síndico, poderá votar também. Segundo, porque a única

restrição legal diz respeito às despesas extraordinárias.

Como definir responsabilidade financeira de pequenas obras feitas em

apartamentos, resultado de infiltrações, rachaduras etc.? Quando é que elas são de

responsabilidade do condomínio?

As obras serão de responsabilidade do condomínio quando destinarem a reparar

problemas ou defeitos de partes comuns ou de equipamentos comuns do condomínio.

Quando se trata de infiltrações, é necessário observar se estas decorrem de

defeitos no telhado; rachaduras nas paredes externas; rompimento ou defeito em

equipamentos (tubos, ralos, conexões, instalações etc.) das redes mestras, ou seja, de

redes que atendam a mais de um condômino ou que se situem ou se destinem às áreas

comuns. Nesses casos, sem dúvida, a responsabilidade pela reparação será do

condomínio.

Entretanto serão de responsabilidade do condômino os reparos dos defeitos e

problemas que venham ocorrer nas instalações exclusivas das suas respectivas unidades

autônomas, ainda que o condômino do lado ou dos andares abaixo sejam as vítimas das

infiltrações.

As obras de responsabilidade do condomínio, que eventualmente forem

suportadas pelo condômino, deverão ser integralmente ressarcidas e, da mesma forma,

deverá o condômino ressarcir o condomínio quando da ocorrência de situação inversa.

A deliberação de não arcar com os ônus que lhe competem, seja o condomínio, seja o

condômino, implica enriquecimento sem causa, o que é proibido por lei.

Há algum impedimento em fechar sacadas com blindex?

A jurisprudência dos tribunais tem entendido que o fechamento de áreas apenas

com vidro temperado não descaracteriza a fachada do prédio; portanto, se o projeto

não inclui nada além do fechamento com vidro, é desnecessária a autorização da

assembleia.

O condomínio é responsável em ressarcir o sumiço de uma capa protetora de carro

antigo, a qual estava na garagem do condomínio?

Hoje a matéria já está pacificada nos tribunais e já não existe dúvida quanto à

responsabilidade do condomínio em indenizar os furtos e danos que ocorram dentro

das áreas comuns, mas, é bom observar, assim o será somente quando o condomínio

possuir serviço próprio de segurança.

Page 81: Livro E Agora 4

Quando o condomínio possui somente porteiros e faxineiros, ou seja, não

mantém serviço especializado de segurança, não terá responsabilidade de indenizar os

furtos e danos que ocorrerem nas áreas comuns.

Se os condôminos quiserem essa tranquilidade deverão decidir, em assembleia,

pela criação ou contratação do serviço de vigilância interna, ou ainda pela contratação

de seguro que cubra esses tipos de furtos.

É legal a colocação de cerca elétrica em prédios e residências mesmo sendo de

pequena voltagem?

Os problemas que podem surgir pelo uso de cerca elétrica, não guardam relação,

necessariamente, com a voltagem. Dependendo das condições climáticas, o risco será

maior ou menor. A chuva, por exemplo, considerando que a água é um ótimo condutor,

pode potencializar os efeitos da descarga elétrica.

Não existe ainda proibição ou permissão para utilização de cerca elétrica,

entretanto, claro, os danos decorrentes do uso dessa modalidade de segurança podem

ser elevados, e todos os condôminos serão responsabilizados por eventuais danos nesse

sentido.

A falta de segurança interna que venha resultar em prejuízo para algum dos

condôminos é de responsabilidade do condomínio?

É responsabilidade do síndico também zelar pela segurança do prédio,

conferindo e promovendo periódica revisão nos equipamentos de incêndio, nos

extintores, nos sprinklers, nos registros de água, da mesma forma nos sistemas de

gás coletivo, quando houver, nos boilers de uso comum, piscinas etc.

Também é hoje um grande problema o sistema de segurança e vigilância das

portarias, garagens e acesso dos prédios. Os vigilantes poderão ser contratados como

empregados do condomínio ou, simplesmente, poderão ser contratadas empresas

especializadas para a prestação desses serviços. Mas sempre sabendo que a

responsabilidade do condomínio em relação a esses empregados é subsidiária, se a

empresa não os pagar corretamente, o condomínio poderá ser chamado em juízo para

efetuar os pagamentos.

Outro grande problema é quando um carro é furtado nas dependências do

condomínio. O proprietário do veículo sempre quer receber a indenização do

condomínio, e o condomínio sempre quer eximir-se dessa responsabilidade.

Quanto a essa questão, os tribunais já estão pacificados. Quando mantém serviço

de vigilância para guarda dos veículos, o condomínio será responsável pelo furto ou

danos ocorridos dentro de suas instalações. Quando não mantém serviço de vigilância, o

condomínio não terá responsabilidade quanto aos danos e furtos ocorridos em suas

instalações.

Page 82: Livro E Agora 4

Entretanto, situações específicas poderão surgir. É dever do síndico manter as

portas e acessos ao prédio em perfeitas condições de segurança. Na hipótese de defeito

de uma porta da garagem e negligência do condomínio na sua reparação, ou na

manutenção de um serviço de vigilância ou segurança, óbvio, que o condomínio será

responsabilizado, não pelo fato de o veículo se encontrar dentro de suas instalações,

mas pela negligência de não zelar pela manutenção das condições mínimas de segurança

do prédio.

Outro aspecto a considerar é que o porteiro não é considerado vigilante. Se

existe um porteiro que deve cuidar da portaria do prédio e não tem condições de manter

sob seu controle também as garagens e outros acessos, resta claro que o prédio não tem

vigilantes, mas apenas porteiro, cuja atividade, aliás, é bastante diferente e não pode ser

confundida.

O seguro contratado pelo Condomínio é o mesmo que o contratado

individualmente por cada condômino?

Não. Os seguros contratados pelos condôminos, inclusive os habitacionais,

geralmente, só contemplam a unidade autônoma e não as partes comuns do prédio.

Assim, se o condômino já possui seguro de sua unidade basta comunicar e

apresentar ao síndico o comprovante respectivo. Então, poderá solicitar que exclua do

seguro geral a sua unidade autônoma, mas, sem dúvida, a sua responsabilidade em

relação ao pagamento do prêmio de seguro das áreas comuns é devida, e o cálculo

deverá obedecer à proporcionalidade das frações ideais de áreas comuns.

Importa observar, ainda, que é responsabilidade legal do síndico contratar o

seguro do prédio e, quando os condôminos já mantiverem seguros de suas unidades,

deverão comunicá-lo com antecedência.

Sendo obrigatório por lei fazer seguro de condomínio, precisa-se resolver isso em

assembleia? Esse seguro obrigatório seria para apartamento e área de circulação?

Se a algum condômino isso não interessar, o que fazer?

O seguro deve ser providenciado pelo síndico e é obrigatório tanto em relação à

unidade autônoma como em relação às áreas comuns (Art. 1346 CC).

É recomendável, mas não obrigatória, a realização de assembleia que se destina

apenas a decidir sobre a escolha da seguradora, no mais, é responsabilidade do síndico

contratar o seguro, independente de assembleia.

O síndico deve promover a contratação do seguro pelo valor real das

construções, caso contrário poderá ser acionado por negligência em caso de sinistro e

até ser compelido a indenizar os demais condôminos.

O seguro não deve ser apenas para o sinistro de incêndio, mas sim, como dispõe

a lei, para os sinistros que possam causar destruição total ou parcial do imóvel. O

correto e tranquilo para o síndico será contratar seguro também para casos de

alagamento, desmoronamento, raio etc.

Page 83: Livro E Agora 4

Geralmente, o valor segurado pelo condomínio é inferior ao valor real do bem,

Nesse caso, cada condômino, querendo, pode contratar com qualquer companhia a

complementação do seguro de sua unidade. E isso é muito importante, pois, na

hipótese de um sinistro, e se o imóvel estiver segurado apenas parcialmente, o

condômino é considerado como cossegurador da outra parte.

O município tem poderes legais para cobrar multa dos condomínios que não

contratarem seguro a partir de 120 dias do ―habite-se‖.

O valor que o condomínio pagará para manter seguradas as unidades e as partes

comuns, denominado de ―prêmio‖, deve ser rateado como despesa ordinária, ou seja,

será considerado como despesa de manutenção do prédio.

É obrigatório que um condômino seja síndico? Esse assunto é resolvido em

assembleia? Quais os critérios para eleger um síndico?

A lei não obriga qualquer condômino a aceitar o encargo de síndico. O síndico

será sempre eleito conforme estabelecer a convenção; contudo, é importante observar

que, não havendo candidatos, a assembleia poderá deliberar pela contratação de

síndico profissional, e isso, óbvio, poderá encarecer o valor da contribuição de

condomínio.

O ideal é que se consiga conscientizar a todos os condôminos da importância,

da utilidade e economia de um revezamento na administração do condomínio, porém,

democraticamente.

Qual é o papel do subsíndico? Ele tem as mesmas responsabilidades do síndico?

Em caso de fraudes, desvios de dinheiro e outras irregularidades cometidas no

condomínio, ele também é responsável e pode ser acionado judicialmente?

A figura do subsíndico não tem origem na legislação e decorre simplesmente do

interesse das partes em criá-lo via convenção de condomínio. Assim, também a

Convenção deverá estabelecer suas funções e responsabilidades.

Na hipótese de o subsíndico atuar como síndico, durante o período em que

assumir esse encargo, poderá ser responsabilizado pelos seus atos, não pelos atos

passados ou futuros do síndico titular.

Assim, para medir o nível de responsabilidade de um subsíndico, é necessário

antes de tudo, conhecer o nível de sua atuação e seu poder de decisão como

administrador do condomínio. O simples fato de o nome do condômino constar como

subsíndico não é suficiente para lhe emprestar poderes e sequer para cobrar-lhe

responsabilidade pelos atos de terceiro.

Qual é a multa pelo inadimplemento da taxa de condomínio?

A multa será, no máximo, de 2% ao mês para os condôminos em atraso. Ao

mesmo tempo que reduz a multa, o novo Código Civil acaba com o limite dos juros de

mora, que era de 6% ao ano.

Page 84: Livro E Agora 4

As despesas com demissão de funcionários de condomínios são consideradas como

despesa ordinária ou extraordinária?

O pagamento de encargos trabalhistas e previdenciários é considerado despesa

ordinária de condomínio. No caso de imóvel locado, isenta-se o locatário de despesas

referentes à dispensa de empregados ocorrida em data anterior ao início da locação.

Ata de eleição do síndico de um condomínio residencial deve ser registrada em

cartório?

Embora a lei silencie quanto à exigência de atas, é costumeiro o seu registro no

Cartório de Títulos e Documentos quando os assuntos aprovados em assembleia forem

relacionados com a administração condominial, entre os quais a ata relacionada com a

eleição de síndico. Quando houver alteração ou modificação nos dispositivos da

convenção, o registro será averbado no Cartório de Registro de Imóveis. O registro de

atas não é obrigatório, a não ser se a Convenção determinar o seu registro. O registro da

ata em Cartório facilita a obtenção de certidões pelos condôminos para o fim que

desejar.

Para ocupar o cargo de síndico é necessário ser proprietário do imóvel e morador,

ao mesmo tempo?

A lei condominial diz que o síndico eleito poderá ser condômino, ou pessoa

física ou jurídica estranha ao condomínio, salvo disposição contrária da convenção,

estendendo-se ao subsíndico, da mesma forma.

Na hipótese de inadimplemento dos débitos condominiais, o condômino

inadimplente pode dar como pagamento de seus débitos condominiais a própria

unidade, fazendo com que esta, passe a ser de propriedade do condomínio?

A unidade do condômino inadimplente poderá ser dada como penhora ou

vendida para pagamentos dos débitos condominiais.

O condomínio é responsável pelo pagamento dos danos em veículos causados pelo

portão eletrônico, mesmo se o condomínio não possui garagista, nem manobrista?

Não. Estando o portão eletrônico de fechamento automático sem defeitos

de funcionamento, bem como o condômino sem obstáculo decorrente de

funcionários do condomínio no momento do fechamento do portão com

temporizador ajustado para a entrada ou saída de veículos em tempo hábil, restará

ao condômino-motorista a devida cautela para evitar danos, isentando o

condomínio de quaisquer responsabilidades. Neste caso, o condômino-motorista,

Page 85: Livro E Agora 4

diante de sua imperícia ou imprudência, deverá reparar os danos causados ao

portão.

É dever do condomínio a indenização de possíveis danos causados aos condôminos?

A princípio o Condomínio não tem o dever de guarda dos bens existentes

nas partes privativas que são isoladas das áreas comuns. Somente haverá

responsabilidade do Condomínio quando a convenção o estipular ou quando se

verificar prova contundente de culpa dos empregados do condomínio. Se houver

serviços de vigilância específica para a proteção das unidades condominiais, já que

os condôminos pagam pelos serviços, o condomínio será responsabilizado, assim

como a empresa que presta o serviço de vigilância.

Como elaborar uma convocação para eleição de síndico, subsíndico e comissão, e

assuntos gerais?

A convocação será feita na forma prevista na Convenção do Condomínio.

Normalmente a convocação é feita por correspondência, ou protocolo de cartas

individuais para cada unidade condominial, podendo ser também por meio de

jornais. O que importa é que todos os condôminos fiquem cientes da Assembleia.

Qual o procedimento a ser adotado pelo condomínio, quando o síndico renuncia antes

do término do seu mandato?

O subsíndico assume até que seja convocada uma assembleia ordinária para

eleição do novo síndico ou, se a necessidade for de urgência e não houver substituto

para o síndico renunciante, poderá ser convocada uma assembleia geral

extraordinária, em que deverá estar presente no mínimo ¼ dos condôminos. A

contabilidade do condomínio deverá estar sempre em ordem, poderá ser exigida

uma ação de prestação do síndico anterior. O novo síndico será responsável no

tempo de sua gestão. Assim que o síndico for eleito, contam-se dois anos para o

tempo máximo da nova gestão ou poderá a Convenção estabelecer um prazo

menor.

Page 86: Livro E Agora 4

Pode o síndico outorgar procuração para terceiro movimentar conta corrente em nome

do condomínio?

O procurador pode ser condômino ou pessoa estranha, salvo disposição em

contrário na Convenção. Nos termos da Lei do Inquilinato, há expressa

autorização quanto a poderem as funções administrativas ser delegadas a pessoas

de confiança do síndico, e sob a sua inteira responsabilidade, mediante aprovação

da assembleia geral de condôminos.

Qual o número necessário de condôminos para aprovação de demolição de

edificação em um edifício?

Nos termos da Lei, os condôminos que representem pelo menos 2/3 (dois terços)

do total de unidade isolada e frações ideais correspondentes a 80% (oitenta por cento)

do terreno e coisas comuns, poderão decidir sobre a demolição e reconstrução do

prédio, ou sua alienação, por motivos urbanísticos ou arquitetônicos, ou, ainda, no caso

de condenação do edifício pela autoridade pública, em razão de sua insegurança ou

insalubridade.

É permitido o cancelamento no fornecimento de água, gás etc. que integram o

condomínio, quando este estiver em atraso?

O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) impede o corte no

fornecimento de luz, água ou gás nos termos do art. 22; bem como no inciso X do

art. 6o e 42, no sentido de que os serviços de fornecimento de água, luz e gás são

considerados essenciais e de primeira necessidade à sobrevivência da vida com o

mínimo de dignidade, e por isso devem ser contínuos, bem como o usuário

(condômino) não poderá ser exposto ao ridículo, sob pena de reparação de danos

morais entre outros pedidos. De outro lado, admissível é a suspensão do

fornecimento de água nos termos do parágrafo 3o, II, do art. 6

o da Lei 8987/95, que

diz que não caracteriza descontinuidade do serviço público a sua interrupção em

situação de emergência, de interesse da coletividade, ou após prévio aviso ao

usuário inadimplente.

Page 87: Livro E Agora 4

Em condomínio cujo último pavimento é a cobertura (com terraço e piscina), o telhado

que está acima dela, em caso de conserto de goteiras, é de responsabilidade do

condomínio ou do proprietário da unidade?

Se as goteiras e infiltrações são provenientes de área comum, como é o telhado ou

laje do edifício, e atinge não só a unidade condominial abaixo, como também pode

comprometer a estrutura do edifício pelas infiltrações nas unidades, o condomínio

será o responsável em realizar as obras de manutenção sob pena de, não o fazendo,

responder pelos prejuízos.

Como proceder com referência ao condomínio de um edifício com 06 apartamentos e

um ponto comercial alugados, sendo que o edifício é de propriedade de uma só pessoa?

O Proprietário único de edifício poderá estabelecer, por escrito, entre todos

os locatários, a cobrança de despesas pela fração ideal de cada loja ou sala,

podendo variar de acordo com a utilização dos equipamentos e áreas comuns do

prédio, constando tais atribuições nos contratos de locação de cada unidade.

A antena parabólica altera a fachada? O condômino é obrigado a retirá-la sob

pena de multa?

De fato, a antena parabólica altera a fachada, todavia o condômino poderá

instalar a antena se, através de assembleia, obtiver aquiescência da unanimidade dos

condôminos. A instalação deverá ser de forma uniforme e harmônica em determinado

local de cada andar (antena parabólica SKY) ou na laje do prédio (antena Parabólica

normal). Sem essa autorização, os transgressores ficarão sujeitos à multa prevista na

Convenção, além de compelidos a desfazer a obra, judicial ou amigavelmente. (art. 10,I,

e § 1o. Da lei 4591/64).

Qual a responsabilidade do síndico no conserto e conservação de calçada do

condomínio?

Compete ao síndico representar ativa e passivamente o condomínio, em juízo ou fora

dele, praticar os atos de defesa dos interesses comuns e exercer a administração interna

do condomínio, no que respeita à sua vigilância, moralidade e segurança. A conservação

da calçada poderá ser aprovada em Assembleia ou, no caso de urgência, executada de

imediato. Diante de tais situações, se o síndico deixar de cumprir seu dever ou se omitir,

consequentemente, poderá ser destituído e responsabilizado pelos danos que sua

Page 88: Livro E Agora 4

negligência ou omissão resultarem ao condomínio ou individualmente a qualquer

condômino.

Ata de eleição do síndico de um condomínio residencial deve ser registrada em

cartório?

Embora a lei silencie quanto à exigência de atas, é costumeiro o seu registro no

Cartório de Títulos e Documentos quando o aprovado em assembleia forem assuntos

relacionados com a administração condominial, entre os quais o relacionado com a

eleição de síndico. Quando houver alteração ou modificação nos dispositivos da

convenção, o registro será averbado no Cartório de Registro de Imóveis. O registro de

atas não é obrigatório, a não ser se a Convenção determinar o seu registro. O registro da

ata em Cartório facilita a obtenção de certidões pelos condôminos para o fim que

desejar.

Pode o síndico contratar diretamente administradora de condomínios para este

fim, firmando o contrato sozinho na qualidade de contratante?

Não. Segundo o artigo 22, § 2o, da lei 4591/64, a contratação da administradora

deverá ser feita, necessariamente, mediante aprovação prévia ou posterior, nos casos de

urgência, da Assembleia Geral, tendo em vista que a administradora assumirá quase

toda a investidura do síndico. O contratante será o condomínio, e o síndico que o

representa firmará o contrato de administração, não sendo necessária a participação do

Conselho Consultivo, salvo disposição convencional em contrário.

O condômínio recebeu uma multa por infringir o regulamento interno. Essa multa pode

cobrada junto com as taxas condominiais de despesas ordinárias?

Nada impede que a multa seja cobrada junto com os valores da cota

condominial.

Tendo em vista que a cobrança do condomínio é feita por rede bancária, o síndico

pode protestar a cota condominial em atraso?

O boleto bancário para o pagamento de encargos condominiais não pode ser

protestado por não existirem os requisitos que autorizam o protesto. Esses boletos não

possuem as características formais nem a mesma obrigatoriedade de títulos de crédito e

documentos de dívida, bem como, em virtude da atual sistemática processual brasileira,

o condomínio deve propor uma ação de cobrança.

Qual o quórum exigido, para que os condôminos de um edifício comprem um terreno

vizinho ao condomínio?

Page 89: Livro E Agora 4

E bom que se frise que não existe personalidade jurídica do Condomínio para

comprar ou mesmo alugar áreas, com exceção do art. 63 da Lei 4591/64, na qual faculta

o Condomínio adjudicar a unidade inadimplente em construção por administração em

caso de leilão extrajudicial. O condomínio é uma relação entre os condôminos, o seja,

não pertence a uma só pessoa. Se houver compra ou locação, todos os condôminos

deverão figurar em contrato como compradores ou locatários pagantes e não em nome

unicamente do Condomínio. A anexação da área comprada por unanimidade entre

condôminos importará em modificação das frações ideais das unidades já construídas,

devendo ser feita uma nova Instituição do Condomínio, e essas frações farão um todo

junto com a área do terreno. Se não houver unanimidade de todos, a solução seria a

formalização de uma Associação de moradores, que é pessoa jurídica de direito privado,

e que, por ter comunhão unânime de interesses específicos entre os aderentes

(feedback), poderá comprar ou alugar, separadamente do Condomínio, mas nunca

anexar a área a este.

É possível alugar imóvel sem contrato por escrito, esse tipo de locação tem valor

legal?

O contrato verbal é plenamente aceito, posto que, neste caso não há forma

prescrita em Lei que determine que o contrato de locação tenha de ser apenas por

escrito, como acontece em outras modalidades contratuais. O que deve ser observado é

o que foi pactuado (combinado) entre as partes para que a locação seja efetivada.

Contrato verbal é aquele de cuja existência não há prova escrita. Presume-se que seja

sempre a prazo indeterminado. O inquilino não é obrigado a pagar os impostos, taxas e

prêmios de seguro e ele (locatário) poderá cobrar do locador as benfeitorias. Será mais

difícil cobrar as multas, pois não há provas de que foram ajustadas e em que montante.

Qual o prazo mínimo para duração de um contrato de imóvel comercial e o

residencial?

O prazo mínimo previsto em lei para celebração de um contrato de locação de

imóvel não residencial (comercial) é de 12(doze) meses, podendo ser estendido de

acordo com o interesse das partes. Já no contrato de locação de imóvel residencial, há

previamente estabelecido o prazo mínimo de 30(trinta) meses para as locações

residenciais.

Page 90: Livro E Agora 4

Existe obrigatoriedade no registro do contrato de locação à margem da matrícula

do imóvel locado?

Não existe obrigatoriedade em registrar o contrato de locação, todavia, trata-se

de uma segurança para o Locatário, posto que é uma das únicas formas para garantir-lhe

o exercício do direito de preferência, na hipótese de venda do imóvel pelo Locador.

Quantas garantias o locador pode exigir para locação de um imóvel?

O locador só poderá exigir uma garantia por contrato, ou seja, ou fiança, ou

seguro, ou aluguel antecipado, entre outras modalidades.

As partes podem fixar qual o índice que será utilizado para o reajuste do contrato

e a periodicidade do reajuste?

As partes podem fixar livremente o índice que será utilizado para o reajuste do

aluguel, todavia, de acordo com a legislação vigente, o reajuste do contrato será sempre

anual.

Um contrato de locação realizado sem prazo para término, no caso de rescisão por

vontade do locatário, o locador terá direito à cobrança da multa de 03 (três) meses

aluguéis?

Quando o contrato de locação não tem prazo previamente estabelecido para o

término ou estando aquele vigendo por prazo indeterminado, o locatário tem a

permissão legal de entregar o imóvel mediante aviso escrito ao locador, com

antecedência mínima de 30 dias, sem que o locador tenha direito de exigir o pagamento

da multa contratual ou a legal, desde que o locatário tenha cumprido com a notificação

prévia.

No contrato de locação quais as principais obrigações do locador?

Cabe ao locador: entregar ao locatário o imóvel alugado em estado de servir ao

uso a que se destina; garantir o uso pacífico do imóvel locado; responder pelos vícios ou

defeitos anteriores à locação; pagar as despesas extraordinárias do condomínio (que não

se refiram aos gastos rotineiros de manutenção do edifício).

Page 91: Livro E Agora 4

No contrato de locação quais as principais obrigações do locatário?

Cabe ao locatário: pagar pontualmente o aluguel e os encargos legalmente

contratados; usar o imóvel para o fim locado; restituir o imóvel, quando finda a locação,

no estado em que recebeu; informar ao locador o surgimento de qualquer dano ou

defeito cuja reparação a este incumba; não modificar a forma interna ou externa do

imóvel sem o consentimento prévio e por escrito do locador; pagar as despesas

ordinárias de condomínio (salário, encargos trabalhistas, consumos de água, esgoto, gás,

luz, limpeza, conservação e pintura das instalações e dependência de uso comum,

manutenção e conservação de elevadores, porteiro eletrônico e antenas coletivas etc.).

Quando o locador pode ingressar com uma ação de despejo em face do locatário?

O Locador poderá pleitear a retomada do imóvel por meio de Ação de Despejo

nos seguintes casos:

* Em decorrência de prática de infração legal ou contratual.

* Por falta de pagamento de aluguel e acessórios da Locação.

* Para realização de reparos urgentes determinados pelo poder público.

* Pelo instituto da denúncia vazia.

* Por mútuo acordo, quando pactuada a desocupação por escrito, com antecedência

mínima de 06 (seis) meses.

* Em decorrência da extinção do Contrato de Trabalho, se a ocupação do imóvel pelo

Locatário estiver relacionada a seu emprego.

*Para uso próprio de seu cônjuge, ou de seu companheiro.

*Para uso residencial de descendentes ou ascendentes que não tenham imóvel próprio.

*Para reformas (desde que se obedeça às condições legais para a referida tomada)

* Outros casos previstos em Lei.

O locador pode ingressar com ação de despejo, caso o locatário não esteja

efetuando o pagamento do IPTU?

Nesse caso, o locador pode ingressar com Ação de Despejo por Infração

Contratual e, para garantia, deve notificar os fiadores.

O locador pode vender o imóvel durante a vigência de um contrato de locação?

O locador pode vender o imóvel, desde que seja dada preferência de compra ao

atual locatário, sendo que, no caso da aquisição de compra por terceiro, este poderá

denunciar a locação (pedir o imóvel), concedendo ao locatário um prazo mínimo de 90

(noventa) dias para desocupação, salvo se o contrato tiver cláusula de vigência e estiver

registrado no Cartório de Registro de Imóveis, junto à matrícula do bem.

Havendo atraso de apenas um aluguel, pode o locador, desde logo, ingressar com

ação de despejo?

Page 92: Livro E Agora 4

O locador poderá propor a ação de despejo no dia seguinte ao atraso do aluguel,

não havendo prazo mínimo (ou máximo, salvo a prescrição), para a propositura da ação

de despejo.

A responsabilidade pelo pagamento do IPTU é do locatário ou locador?

A responsabilidade depende do pactuado entre as partes no contrato de locação,

sendo que, não havendo cláusula prevendo responsabilidade, esta será do locador.

Sou proprietário de inúmeros imóveis, mesmo assim posso pedir um imóvel locado

para uso próprio?

Desde que haja a demonstração da real necessidade de utilização daquele imóvel

em especial, não há nada que impeça tal solicitação, seja amigável ou judicial.

Havendo previsão no contrato de sublocação, a sublocadora pode exigir garantia

do sublocatário?

O sublocador tem, perante o sublocatário, as mesmas obrigações/direitos

impostos ao locador em face do locatário, pois a relação jurídica existente entre o

sublocador e o sublocatário é independente, e a eficácia de quaisquer das modalidades

de garantia previstas na Lei, dada pelo sublocatário ou sublocador, tem repercussão

somente entre ambos sem interferir nas garantias do contrato de locação originário.

É legal a cobrança de honorários advocatícios na realização de acordo

extrajudicial, referente a alugueres atrasados a ser pago ao profissional contratado

pelo locador?

O locatário que pagar os aluguéis em atraso, com os encargos previstos no

contrato, ficará em dia com suas obrigações, não sendo obrigado a pagar honorários

advocatícios em cobrança extrajudicial; todavia, havendo ação judicial para cobrança de

alugueres em atraso, o locatário será sempre responsável pelo pagamento dos honorários

estabelecidos pelo Juiz em favor do advogado do Locador.

Poderá haver inserção do nome do locatário e fiadores, inadimplentes, junto ao

SPC?

Page 93: Livro E Agora 4

Desde que haja prévia comunicação/notificação do locatário e dos fiadores do

débito existente, poderá haver a inserção dos nomes junto ao SPC.

A multa contratual deve incidir sobre quais valores?

A multa contratual prevista na Lei do Inquilinato tem por base, somente, o

valor do aluguel.

Existe um prazo para que termine as obrigações dos fiadores nos contratos de

locação?

De acordo com a última alteração da lei do Inquilinato, a exoneração do fiador

só ocorrerá com a entrega das chaves e cumprimento de todas as obrigações previstas no

contrato.

Como o locatário deve proceder para exercer o direito de preferência de aquisição

do imóvel locado?

O locatário deverá ser notificado pelo locador, do direito de preferência, por

meio de comunicação contendo todas as condições do negócio, tais como: preço,

condições de pagamento, entre as demais condições. O Locatário deverá manifestar sua

aceitação integral à proposta no prazo de 30 dias, sem contraoferta. O Locatário

preterido no seu direito de preferência pode optar entre as perdas e danos e adjudicação

do imóvel se o requerer no prazo de 06 meses a contar do Registro no Cartório de

Imóveis. Para isso é necessário que o contrato de locação esteja averbado pelo menos 30

dias antes da alienação junto à matrícula do imóvel.

Qual o procedimento a ser adotado, quando a garantia do contrato de locação for

caução, em moeda corrente?

A legislação diz apenas que o dinheiro caucionado seja ―depositado em

caderneta de poupança‖. É claro que o depósito feito em nome somente de uma das

partes pode estimular a fraude. Mesmo que o locatário não figure na conta-poupança,

não poderá sofrer prejuízos, pois o locador responderá pelo valor da caução com os

rendimentos da caderneta de poupança, e pode ser processado por apropriação indébita,

Page 94: Livro E Agora 4

além das ações cíveis cabíveis, pois a caução depositada reverterá em benefício do

locatário com todas as vantagens dela decorrentes por ocasião do seu levantamento.

Os sócios de uma empresa podem ser os fiadores do contrato de locação feito em

nome da empresa?

Sendo o locatário pessoa jurídica, nada impede que a pessoa física do sócio seja

o fiador da locação. O contrário também é verdadeiro. O que não pode é o próprio

locatário ser fiador de si mesmo.

Como deve ser realizada a entrega de imóvel locado?

O locatário deve notificar por escrito ao Locador, pelo menos com 30 dias de

antecedência, a sua intenção de deixar o imóvel. Vencido o prazo legal da notificação, o

Locatário deve desocupar o imóvel, entregar as chaves deste ao Locador ou à Empresa

Administradora, junto com as 03 (três) últimas contas de água devidamente pagas, a

última conta de luz e o respectivo pedido de desligamento, também pagos. Para o

encerramento efetivo da Locação, deve ainda o Locatário fazer o acerto final de aluguel

e da vistoria de saída do imóvel. Só após preenchidas todas essas formalidades legais é

que o Locatário e Fiador estarão exonerados das responsabilidades da Locação.

Durante a vigência de um contrato de locação é possível transferir ou modificar

locatário ou fiador?

Para que seja possível a alteração do fiador, basta que o Locatário apresente a

documentação exigida para o preenchimento das condições exigidas pelo locador, como

fizera no início da Locação. Se a pessoa apresentada preencher os requisitos exigidos,

basta um Pedido de Aditamento ao Contrato, fazendo constar a mudança do Fiador.

Quanto à mudança do inquilino, esta, sim, requer um pouco mais de cuidado, pois além

de apresentar toda a documentação exigida, faz-se necessário que o atual inquilino

rescinda por escrito a Locação.

O locatário tem preferência quando o imóvel que está alugando vai a leilão para

quitação de um débito trabalhista?

A lei de locação exclui qualquer direito de preferência para a hipótese de venda

judicial.

Pode o locador exigir do locatário um fiador e mais uma caução de 03 meses de

aluguel?

O locador não pode exigir do locatário mais de uma garantia.

Page 95: Livro E Agora 4

As imobiliárias têm algum tipo de responsabilidade perante os contratos que

intermedeia?

A responsabilidade da administradora se limita aos atos administrativos

(recebimento de aluguéis, idoneidade de fiador, contratação de seguro, captação de

pretendentes, etc.). Se o imóvel ainda não foi locado o locador ficará responsável

totalmente por ele caso não exista transferência contratual de responsabilidade para

outrem. No caso de danos, depredações, furto e roubos o melhor seria contratar um

seguro residencial que será mais barato do que incumbir uma administradora a fazer

serviços extras, além da sua especialidade.

É possível realizar a renovação de contrato de locação comercial com prazo

indeterminado?

Poderá ser feita a renovação do contrato por prazo indeterminado. E estando a

locação a prazo indeterminado, o locador poderá retomar o imóvel notificando o

locatário dando-lhe o prazo de 30 (trinta) dias para desocupação. Igualmente o locatário

poderá rescindir a locação, mediante notificação com prazo de 30 (trinta) dias.

As empresas possuem direito à renovação do contrato de locação de imóvel

comercial?

Para ter direito a pleitear a renovação de contrato de imóveis destinados ao

comércio, é necessário o preenchimento dos seguintes requisitos em sua totalidade: a) o

contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado; b) o prazo

mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos escritos

seja de cinco anos; c) o locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo

prazo mínimo e ininterrupto de três anos.

O locador pode solicitar a rescisão antecipada do imóvel locado, ou seja, antes do

término do prazo?

O contrato de locação em curso somente poderá ser rescindido por mútuo

acordo, por infração contratual ou legal, por falta de pagamento ou para realização

urgente de obras determinadas pelo Poder Público. Assim, durante o prazo estipulado

para duração do contrato, não poderá o locador reaver o imóvel alugado.

Quais os tipos de medidas que o locador deve tomar em relação aos fiadores?

Page 96: Livro E Agora 4

Para que o fiador responda pela dívida no contrato de locação em sua

integralidade e diretamente com seus bens, é indispensável que conste no contrato que o

fiador está assinando como devedor solidário, bem como que renuncia ao benefício de

ordem no ato da expropriação de bens.

Deverá constar no contrato que o fiador desobriga o locador de prévia notificação

judicial ou extrajudicial sobre ações ou procedimentos do contrato de locação.

Todas as despesas realizadas pelo shopping podem ser cobradas dos locatários?

O empreendedor não poderá cobrar do locatário em shopping center as seguintes

despesas: a) obras de reformas ou acréscimos que interessem à estrutura integral do

imóvel; b) pintura das fachadas, empenas, poços de aeração e iluminação, esquadrias

externas; c) indenizações trabalhistas e previdenciárias pela dispensa de empregados,

ocorridas em data anterior ao início da locação; d) despesas com obras ou substituições

de equipamentos, que impliquem modificar o projeto ou o memorial descritivo da data

do habite-se e obras de paisagismo nas partes de uso comum.

Falecendo o fiador de um contrato de locação, na hipótese de inadimplemento pelo

locatário, sua responsabilidade permanecerá?

Com a morte do fiador, extingue-se a fiança, ficando limitada a responsabilidade

do período decorrido do contrato de locação até data do falecimento fiador. Nesse caso,

os herdeiros responderão pelas obrigações não satisfeitas até o limite da parte que lhes

couber na herança.

O que são despesas voluptuárias?

As despesas voluptuárias são aquelas que feitas por deleite, prazer, comodidade,

para satisfazer gosto estético, ou seja, as que não são consideradas como benfeitorias

necessárias ou úteis. Dependendo de cada situação, do poder aquisitivo, da localidade

etc., a classificação como despesas voluptuárias poderá ser relativa.

Quanto ao ônus da primeira ligação de água, considerando-se a despesa com o

hidrômetro, a responsabilidade é do locador ou do locatário?

Como cabe ao locador entregar o imóvel com todas as condições de servir ao

uso a que se destina, é de sua responsabilidade a despesa referente ao pagamento de

taxas. Ao locatário cabe o valor referente ao consumo de água.

Nos contratos de locação, considera-se impenhorável o único bem imóvel do fiador,

o qual é utilizado como residência?

Page 97: Livro E Agora 4

Se a dívida tem como origem a fiança prestada em contratos de locação, poderá

o único imóvel ser objeto de penhora, pelo titular do crédito, conforme dispõe a exceção

prevista na lei 8009/90.

Quais os documentos que o comprador deve solicitar antes de adquirir um imóvel?

Antes da aquisição de um imóvel, o comprador deve exigir do vendedor as

seguintes certidões: certidão vintenária do imóvel; certidões de ações cíveis, execução

fiscal, falência e concordata dos últimos 10 anos; certidão de protesto dos últimos 05

anos; certidão negativa de tributos federais, estaduais e municipais, e de ações

trabalhistas.

Qual é o prazo estabelecido em lei para duração de um contrato denominado não

residencial?

O prazo de locação comercial é de 12(doze) meses, podendo ser estendido de acordo

com o interesse das partes.

Qual é o prazo estabelecido em lei para duração de um contrato denominado

residencial?

A lei estabelece o prazo de 30(trinta) meses para as locações residenciais.

O contrato de locação pode ter dois locatários?

Nos termos da Lei, o contrato de locação poderá ter mais de um locatário, ficando

solidários pela locação, caso o contrário não se estipulou.

O locador pode exigir pagamento antecipado do aluguel?

Se o contrato de locação não for garantido por qualquer das modalidades (fiança, seguro

etc.), o locador poderá exigir o pagamento do aluguel e encargos, antecipadamente.

Em ação de despejo por falta de pagamento, há a necessidade de juntada, pelo

locador, dos recibos de aluguéis não pagos, ou basta somente o cálculo

discriminado?

Page 98: Livro E Agora 4

É de praxe a juntada dos recibos não pagos pelo locador, entretanto, sabemos

que o pagamento dos locativos se provam pela anexação dos recibos pelo locatário,

bastando o locador somente alegar na petição inicial que não foram pagos. A doutrina

vem ao encontro desse entendimento, de que o recibo de aluguel devido não precisa ser

anexado.

Qual a medida a ser tomada para a retomada de imóvel comercial?

Em se tratando de locação comercial ou não residencial, seja por escrito ou

verbal, como a retomada será por denúncia vazia (inesperada e sem motivos),

obrigatoriamente deverá ser denunciada a locação verbal, notificando o locatário para

desocupação em 30 dias. Após isso, se não for desocupado o imóvel, deverá ser

proposta a ação de despejo.

Quais as providências que o proprietário deve tomar quanto descobre que o

locatário não pagou o IPTU?

Ele deve ingressar imediatamente com Ação de Despejo por Infração Contratual

e cientificar os fiadores solidários. Se o imóvel estiver sob a responsabilidade de uma

administradora, o Locador deverá fazê-lo por intermédio do departamento jurídico

desta.

Em que consiste a chamada “purgação da mora”?

A Purgação da mora é uma faculdade que a lei concede ao locatário para evitar o

despejo, pagando seu débito, apesar da propositura da ação. Ela deve ser requerida no

prazo da contestação e incluirá o débito, a multa, a correção monetária, os juros, as

custas e os honorários sucumbenciais.

A imobiliária deve aceitar a devolução das chaves de um imóvel cujo inquilino

esteja devendo aluguéis, encargos ou reparos de danos?

Sim. Entretanto deve ser fornecido ao inquilino um recibo provisório das chaves,

com a observação de que há débitos e outras obrigações contratuais pendentes. A recusa

do recebimento das chaves, nessas circunstâncias, quase sempre provoca o abandono do

imóvel pelo inquilino, gerando maiores problemas para a imobiliária e para o

proprietário.

O que é denúncia vazia?

É o direito que o locador tem de pedir a desocupação do imóvel locado sem

precisar apresentar motivo para o pedido.

O proprietário de vários imóveis pode pedir um imóvel locado para uso próprio?

Page 99: Livro E Agora 4

Sim. Desde que demonstre em juízo a necessidade de utilização daquele imóvel

em especial.

O proprietário pode pedir desocupação do imóvel locado para a utilização por

qualquer de seus parentes?

Não. A lei faculta o pedido de retomada para uso de ascendentes ou

descendentes que não tenham imóvel próprio e, em casos excepcionais, o judiciário tem

autorizado o pedido formulado para moradia de outras pessoas que dependam

economicamente do proprietário.

A reforma da calçada do prédio, mantendo-se as mesmas características e mesmo

material original, deve ser paga pelo inquilino ou pelo proprietário do imóvel?

A realização da obra vai propiciar a cobrança de cota extra de natureza

ordinária, sendo esta destinada à manutenção rotineira do condomínio, de modo que

será de responsabilidade do locatário o pagamento das despesas com a reforma da

calçada.

Cabe ao locador ou ao locatário a responsabilidade da rescisão do zelador que

trabalha há 04 anos no local, sendo que a locatária está no imóvel há 06 meses?

O locador responde pelas despesas decorrentes de indenizações trabalhistas e

previdenciárias pela dispensa de empregados, ocorridas em data anterior ao início da

locação.

Poderá haver indenização por danos morais na inclusão do nome da esposa do

fiador inadimplente junto ao SPC?

Se a esposa for fiadora junto com o seu cônjuge em contrato de locação, somente

poderá ser negativada no SPC se for notificada, cobrada ou tiver ciência do débito do

locatário. Caso contrário, poderá ajuizar uma ação de indenização por danos materiais e

morais.

Page 100: Livro E Agora 4

Existe alguma restrição em negativar o locatário e fiadores no SERASA?

Os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores, como o Serviço de

Proteção ao Crédito (SPC) e congêneres são considerados entidades de caráter público,

conforme art. 43, parágrafo 4o, do Código de Defesa do Consumidor, embora de

natureza privada. O SERASA, que é muito utilizado no ramo bancário e de

investimentos, também vem sendo utilizado para negativar locatários e fiadores. Os

fiadores deverão ser comunicados da inadimplência do locatário antes de serem

apontados no SPC ou no SERASA, a fim de se evitar uma possível indenização de

perdas e danos e danos morais contra o locador.

Pode ser negativado no SPC o nome de um inquilino que está em atraso com os

aluguéis, mas que não está mais no imóvel?

A inscrição do inquilino inadimplente no Sistema de Proteção ao Consumidor-

SPC, é facultada a qualquer credor, não importando que o imóvel esteja ou não ocupado

pelo locatário.

É legal, no contrato de locação, a cláusula que obriga o locatário a pagar

honorários advocatícios no caso de inadimplência, independentemente da

existência de processo?

O inquilino deverá pagar os aluguéis em atraso com as cominações legais

previstas no contrato, ficando em dia com suas obrigações, todavia não será obrigado a

pagar honorários advocatícios em cobrança extrajudicial, que somente fará jus em

cobrança judicial.

É legal estar estabelecido em contrato a renúncia ao direito de preferência dos

locatários na hipótese de venda do imóvel durante a vigência do contrato de

locação?

Page 101: Livro E Agora 4

A locação de bens imóveis é matéria de ordem pública. A lei que regula a

relação entre locador e locatário diz que ―São nulas de pleno direito as cláusulas do

contrato que visem a elidir os objetivos da presente lei‖, sendo declarada nula a cláusula

entre outras, a que declare renunciado o direito do inquilino à preferência do imóvel,

porque já consubstanciado na lei. Caracterizada a preterição do direito de preferência

na compra do imóvel alienado no curso da locação, existirá o direito à indenização.

Quais são as regras para o locatário exercer o direito de preferência de aquisição

do imóvel locado?

O locatário deverá ser notificado pelo locador, do direito de preferência, por

meio de comunicação contendo todas as condições do negócio, tais como preço, as

condições de pagamento etc. O Locatário deverá manifestar sua aceitação integral à

proposta no prazo de 30 dias, sem contraoferta. O Locatário preterido no seu direito de

preferência, pode optar entre as perdas e danos e adjudicação do imóvel se o requerer no

prazo de 06 meses a contar do Registro no Cartório de Imóveis, sendo necessário para

isto que o contrato de locação esteja averbado pelo menos 30 dias antes da alienação

junto à matrícula do imóvel.

Um imóvel totalmente reformado é locado por contrato e a vistoria assinada pelo

locatário. Passados alguns dias, surgem alguns problemas como goteira no teto ou

algum defeito hidráulico. Pergunto: de quem é a responsabilidade pelo conserto?

Do Locador ou do Locatário?

A responsabilidade será do locador. A vistoria demonstra apenas o estado

superficial do imóvel, e não os problemas que poderão ocorrer posteriormente. Deverá o

locador entregar ao locatário o imóvel alugado em estado de servir ao uso a que se

destina bem como manter, durante a locação, a forma e o destino do imóvel,

respondendo pelos vícios ou defeitos anteriores à locação. No caso de goteiras no teto,

se não foi o locatário que danificou as tubulações hidráulicas, deverá o locador

providenciar o conserto. O locador deverá repor as condições de habitabilidade com

obras de reforma ou acréscimos que interessem à estrutura integral do imóvel; já o

locatário tem o dever de manter e conservar os equipamentos.

Page 102: Livro E Agora 4

Uma sala comercial pode ser alugada a três locatários diferentes, caso não exista

incompatibilidade de horários entre os interessados, sendo que cabe ao Locador a

divisão das despesas entre todos os locatários?

Trata-se de um contrato atípico com um misto de locação e serviços, caso em

que prevalecerão as condições livremente pactuadas entre as partes, sendo regulado pelo

Código Civil.

O que é necessário para transferir ou modificar locatário ou fiador?

Para mudar Fiador, basta que o Locatário apresente a documentação exigida ao

pretenso Fiador, como fizera no início da Locação. Se a pessoa apresentada preencher

os requisitos exigidos, basta fazer um Pedido de Aditamento ao Contrato, fazendo

constar a mudança do Fiador. Quanto à mudança do inquilino, esta sim requer um

pouco mais de cuidado, pois além de apresentar toda a documentação exigida, se faz

necessário que o atual inquilino rescinda por escrito a Locação.

O locatário de um imóvel residencial, começou no quintal do imóvel locado uma

atividade comercial, tal como a fabricação de grades para janelas. Quais

providências podem ser tomadas? É de responsabilidade da imobiliária ou é um

caso de polícia? O locatário estaria infringindo contrato de locação/residencial?

A providência mais adequada é avisar a Prefeitura. A imobiliária não terá

responsabilidade por fatos alheios aos atos administrativos que desempenha. O

locatário estaria desviando a finalidade da locação residencial para comercial, cabendo-

lhe um despejo por infração legal ou contratual.

Na locação para temporada, qual será o valor cobrado referente ao depósito

(caução) para garantia dos prejuízos causados no imóvel e seus acessórios, com

futuro abatimento e ressarcimento?

Nos termos da lei, o depósito em dinheiro será, no máximo, o equivalente a três

valores locativos.

Quantos dias o locatário tem para pagar o aluguel? Pode-se reduzir para 05 dias?

Quantos meses podem ser cobrados por rescisão de contrato?

O locatário deverá pagar o aluguel pontualmente no prazo estipulado ou, em sua

falta, até o sexto dia útil do mês seguinte ao vencido, podendo-se acordar qualquer

Page 103: Livro E Agora 4

prazo, desde que seja após o mês vencido. A cobrança antecipada só é permitida, se não

houver nenhuma garantia de fiança ou caução. Também pode ser antecipado nos casos

por temporada. A multa rescisória tem sido considerada abusiva pelos tribunais se

ultrapassar a três valores locativos mensais e deve ser cobrada proporcionalmente ao

tempo faltante.

Um pequeno terreno, considerado área verde, poderá ser objeto de usucapião?

Se a área verde for considerada como bem público não poderá ser adquirida por

usucapião, não gerando, também, direitos possessórios. Se a área for particular, nada

impede em adquiri-la por usucapião ou de se defender pelas ações possessórias.

No decorrer do contrato de locação, poderá haver alteração da modalidade da

garantia?

A garantia poderá ser alterada sem nenhum problema, substituindo a caução

anteriormente dada, com a devolução do dinheiro. Tal modificação poderá ser feita

mediante termo aditivo ao contrato originário, passando este a valer por prazo

indeterminado.

O funcionário público tem direito a pedir prorrogação do vencimento de taxas de

condomínios para após a data do recebimento de seu salário?

Não existe, na legislação, dispositivo que permita a estipulação de prazo

diferenciado para o pagamento das taxas de condomínio, em decorrência da data de

recebimento de salário. A mudança somente será possível por meio de uma aprovação

pela Assembleia Geral do Condomínio.

Na hipótese de morte do fiador, sem que haja a devida comunicação ao locador,

pode ser proposta ação contra o fiador falecido e seu cônjuge que sobreviveu?

Com a morte do fiador, extingue-se a fiança, incidindo a regra do art. 1501 do

Código Civil, na qual a responsabilidade se limita ao tempo decorrido até a morte do

fiador, sendo que os herdeiros responderão pelas obrigações não satisfeitas até o limite

da parte que lhes couber na herança. Se a mulher assinou como fiadora, e não como

simples anuente, a sua obrigação subsistirá, embora a garantia fique reduzida pela

metade. Na hipótese da esposa ter assinado como anuente, a fiança cessa com a morte

do marido.

Qual o prazo para o locador realizar as reformas necessárias solicitadas pelo

locatário?

Page 104: Livro E Agora 4

É dever do locatário levar ao conhecimento do locador a ocorrência de danos,

defeitos ou turbações de terceiros relacionados com o imóvel locado, fazendo surgir,

para o locador a obrigação de realizar os reparos necessários, pois o locador é obrigado

a entregar ao locatário o imóvel alugado em estado de servir ao uso a que se destina e a

manter, durante a locação, a forma e o destino do imóvel. Necessitando o imóvel de

reparos urgentes, cuja realização incumba ao locador, o locatário é obrigado a consenti-

los. Se os reparos durarem mais de dez dias, o locatário terá direito a abatimento do

aluguel, proporcional ao período excedente; se mais de trinta dias, poderá rescindir o

contrato.

Qual é o prazo que assegura ao comprador de imóvel o direito de reclamar

possíveis defeitos aparentes, de difícil constatação ou ocultos na entrega, ou que

venham a surgir, com relação à solidez e segurança do imóvel?

Nos termos do inciso II, do art. 26 do Código de Defesa do Consumidor, o

direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em 90

(noventa) dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produto duráveis. O prazo

de decadência de cinco anos para reclamar da solidez e segurança do imóvel está

tipificado no art. 1.245 do Código Civil e no art. 618 do Novo Código Civil.

Em relação ao pagamento do fundo de reserva pelo locatário é justo pleitear a

devolução junto ao locador?

A devolução será justa ao locatário na parte de utilização do fundo de reserva

correspondente às despesas extraordinárias, que é obrigação do locador. Conforme a Lei

do Inquilinato, o locador constitui o Fundo de Reserva, e o locatário apenas repõe o que

foi utilizado relativo somente às despesas ordinárias e desde que comprovadas a

previsão orçamentária e o rateio mensal.

O contrato de locação pode ser reajustado de forma cumulativa?

Sim. Os alugueres deverão ser reajustados de acordo com o que dispuser o

contrato, ou aditivos a ele, observados os critérios de reajustes previstos na legislação

específica.

Pode-se repassar para o locatário o custo que o banco cobra pelo boleto bancário?

Page 105: Livro E Agora 4

Sim, desde que prevista, em cláusula contratual, a transferência desse encargo. O

pagamento do aluguel por boleto bancário é de interesse do locatário em termos de se

ganhar tempo, dinheiro, possibilitando o adiamento no pagamento do aluguel quando

este vier a cair em sábados, domingos, feriados etc.

Poderá ser cobrada, na mesma ação, a mora e a multa contratual?

Sim, desde que a via eleita seja o processo de conhecimento, já que a

possibilidade de cobrança da multa compensatória, prevista em contrato escrito de

locação, pela via executiva, é matéria não pacífica na jurisprudência. No entanto, sendo

a multa uma obrigação que depende de condição, devendo o credor fazer prova do

inadimplemento do devedor, em razão da ausência de prestação devida, a via executiva

se mostra inadequada. A multa contratual inclui os locativos e acessórios da locação

funcionando como uma sanção em caso de descumprimento contratual.

Pode o comprador de um imóvel assinar a escritura como comprador e como

representante (via procuração) do vendedor?

Nos termos previstos na legislação vigente, não podem ser comprados pelos

mandatários os bens de cuja administração ou alienação aqueles estejam encarregados.

O mandatário não pode comprar, ainda que pelo valor de mercado, bens de cuja

alienação se encarregou. Se o mandatário pretende adquirir o imóvel, deve renunciar ao

mandato e receber a escritura diretamente do mandante. Em transações imobiliárias

envolvendo a existência de mandato, todas as cautelas devem ser tomadas.

Sendo necessário ingressar com ação de consignação em pagamento, o valor a ser

depositado deverá ser acrescido de honorários advocatícios?

Trata-se esse caso de uma ação em que o locatário é o autor e o depósito será

somente dos valores dos locativos. Em período de inflação, o locatário deverá corrigir

os valores. Quanto aos juros, se a recusa foi realmente injusta, o locatário não precisará

acrescer aos valores, pois não estará em mora. Se não for oferecida à contestação, o réu

então locador arcará com custas e honorários advocatícios. No caso de contestação ou

apresentação de reconvenção com a alegação de o locatário precisar complementar o

depósito inicial, este será penalizado em 10%, acrescidos ao montante devido, o autor

reconvindo será responsável pelas custas e honorários advocatícios sobre o valor dos

depósitos efetuados pelo réu-reconvinte.

Quais os cuidados no momento de adquirir um bem imóvel?

Ao adquirir um bem imóvel em construção ou concluído, ou ainda, um terreno, é

preciso o máximo de atenção com a regularidade jurídica do bem que se pretende

adquirir.

Page 106: Livro E Agora 4

O documento que em nosso país realmente comprova a propriedade de um

imóvel é a certidão atualizada da matrícula (ou transcrição, na lei anterior), lavrada no

cartório de registro de imóveis da região onde está localizado o bem.

A matrícula do cartório de registro de imóveis é um documento completo e de

análise clara, que tem literalmente toda a ―vida‖ de um imóvel. Há somente uma

matrícula para cada imóvel no país. Com essa certidão do registro de imóveis, deverá

ser verificado, principalmente, quem são os proprietários e seu estado civil (se são

casados), as metragens e a área de terreno, assegurando-se da existência de algum tipo

de ônus sobre o imóvel, como por exemplo, uma hipoteca.

Deverá ser verificado se as metragens e áreas estão de acordo com os dados

constantes de IPTU da prefeitura.

Contudo, para a nossa legislação, as dimensões do imóvel que valem são as que

constam no Cartório de Registro de Imóveis. É de bom alvitre pedir esta certidão por

um período de vinte anos (Certidão Vintenária), pois assim tem-se todo o histórico do

imóvel a ser adquirido.

A escritura do imóvel, por si só, não concretiza a transação, pois quem o

comprou anteriormente somente será dono após o devido registro no cartório de imóveis

competente.

Ao ter lavrada a escritura, de um apartamento, casa ou terreno, deverá ser

realizado o Registro no Cartório de Imóveis, pois legalmente o dono continua sendo

aquele que consta no Registro.

Devem ser providenciadas certidões quanto à distribuição da justiça, tanto no

âmbito estadual quanto federal, dos atuais e antigos proprietários, para verificação do

trâmite de alguma ação judicial que possa ter implicação direta ou indireta no imóvel.

É recomendável e, em alguns casos, obrigatória a verificação, por meio de

certidões, de possíveis dívidas com a União, Estados e Municípios e Previdência Social.

Ao adquirir uma casa, observe se ela tem a sua construção averbada, ou seja, se

ela existe realmente ―de direito‖. Para tanto, basta verificar na matrícula do imóvel se

consta a sua construção e a respectiva área construída. Não valerá somente a inscrição

da prefeitura, pois, em nosso país, ainda é comum construir-se sem recolher as

contribuições devidas à previdência social, ou mesmo, sem a aprovação dos órgãos

municipais, dentre outras irregularidades. A não observância desse aspecto pode trazer

sérios transtornos ao tentar regularizar o imóvel posteriormente, inclusive com o

pagamento ao INSS.

Na compra de apartamentos, solicite ao condomínio a comprovação, por escrito,

de que o imóvel não possui débitos.

Nas aquisições em geral, verificar, quando for o caso, as quitações com as

concessionárias de energia, água e telefone, bem como, os pagamentos devidos aos

órgãos públicos.

Page 107: Livro E Agora 4

Cite-se que, quando da lavratura da escritura, é obrigação do Tabelião verificar

parte da documentação e mencioná-la na escritura. Porém, esteja atento, pois algumas

certidões podem constar como positivas, tendo o interessado em adquirir o bem, ciência

de que a ―dívida‖ existe e, mesmo sabedor, concordou em adquirir o bem, assumindo o

risco do negócio.

Observar atentamente os compromissos de compra e venda (contratos

preliminares) que são assinados. Indagar e esclarecer antes todas as dúvidas. Pedir para

explicitar melhor o que não estiver muito claro, solicitando para que seja redigido de

uma forma mais precisa; não deixe de esclarecer algo que possa gerar interpretações

dúbias, evitando, dessa forma, futuras análises por parte da justiça. Os contratos

preliminares devem ter a assinatura de duas testemunhas maiores de 18 anos, sem

vínculo familiar com as partes. Devem as partes assinar todas as vias do contrato.

Quais os cuidados para adquirir imóveis em construção para entrega futura?

O mercado imobiliário oferece um leque de tentadoras opções de imóveis ainda

na planta, apresentando vantagens quanto a preço, condições de pagamento, dentre

outras.

Contudo, para adquiri-los, atente para a lei nº. 4591/64, que trata dos

condomínios e incorporações. Exija uma certidão do cartório de registro de imóveis que

comprove o registro da incorporação imobiliária.

Caso a empresa não tenha este registro, é preciso muita cautela no momento em

que optar por adquirir esse imóvel, pois há uma grande possibilidade de se encontrarem

irregularidades quanto ao descumprimento dessa lei ou de leis municipais de uso e

ocupação do solo, ou mesmo, dos códigos de obras e posturas.

Ficam arquivadas no Cartório de Imóveis, no Registro da Incorporação, dentre

outros documentos, as plantas aprovadas pela prefeitura, contendo detalhadamente todas

as áreas comuns e privativas, bem como o memorial descritivo de todos os materiais

que serão usados no prédio.

Existem diversas modalidades de contrato para esse tipo de aquisição; contudo é

fundamental acompanhar as assembleias regularmente feitas pelos compradores e

analisar o que foi prometido ou acordado na hora da venda.

Observar detalhadamente os cronogramas físico-financeiros que indicam o

andamento da obra, bem como, os reajustes das parcelas vincendas.

Quais os tipos de regimes básicos de construção de um empreendimento

imobiliário:

Construção a preço fechado

É o regime de construção em que o vendedor se compromete a entregar a

unidade comprada em um tempo determinado, a unidade comprada a um valor ajustado

com prestações geralmente corrigidas e com as datas de pagamento pré-fixadas, tudo

Page 108: Livro E Agora 4

nos termos exatos do contrato de promessa de compra e venda (ou compromisso de

compra e venda).

Administração ou a preço de custo

Modalidade em que todas as despesas da construção serão arcadas pelos

compradores das futuras unidades.

Primeiramente, ocorre a compra da fração ideal do terreno, que, em verdade, é

uma proporção do terreno correspondente à área que o futuro apartamento ocupará e,

ainda, parte das áreas comuns, ou seja, o pagamento, no primeiro momento, refere-se ao

terreno do empreendimento que vai ser construído.

Em uma fase posterior, será paga a edificação em si, tanto do apartamento

propriamente dito, quanto das áreas de uso comum existentes na obra, tudo

proporcionalmente dividido em função da dimensão do apartamento que está sendo

adquirido.

Nesse tipo de regime, o que se observa é não haver um preço determinado para

o bem que se está adquirindo, mas sim, um valor por estimativa, o qual deverá se alterar

ao longo da construção.

Tais alterações devem ser constantemente fiscalizadas pela comissão de

representantes. Atente, ainda, para o fato de que a incorporadora e/ou construtora serão

remuneradas pelo percentual ajustado em função dos valores pagos relativamente ao

empreendimento.

Observe, no caso de apartamentos, as características de sua vaga de garagem.

Este é um dos mais comuns tipos de problemas enfrentados por condôminos.

É essencial a escolha de uma empresa incorporadora/construtora com um bom

histórico de negócios na cidade ou região. Verifique outros empreendimentos que ela

tenha concluído, procurando manter contato com outros compradores.

Quais os cuidados ao adquirir um terreno, localizado em um loteamento?

Informe-se no cartório de imóveis e na prefeitura da cidade se o loteamento está

regular. Infelizmente, ainda é comum a ocorrência de loteamentos irregulares, o que

acarretará sérios problemas quando da lavratura da escritura e registro do terreno em

nome do adquirente.

Nesses casos, o adquirente não conseguirá regularizar nem mesmo a casa que

vier a construir nesses lotes. Ao acabar de pagar ou quitar o terreno, caso o tenha

comprado em parcelas, é indispensável lavrar a escritura e registrá-la no cartório de

imóveis competente.

Referências bibliográficas

Page 109: Livro E Agora 4

Lei nº. 12.112, de 09 de dezembro de 2009. Dispõe sobre as locações dos imóveis

urbanos e os procedimentos a ela pertinentes.

DIDIER, Fredie Jr. Curso de Direito Processual Civil. Editora Podivm. Salvador, 2008.

DINIZ, Maria Helena. Lei de Locações de Imóveis Urbanos Comentada. Saraiva, São

Paulo, 1992

FIUZA, César. Direito Civil Curso Completo. Del Rey Editora. Belo Horizonte, 2008

GOMES, Orlando. Introdução Ao Direito Civil. Forense, Rio de Janeiro, 1971.

GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. Saraiva, São Paulo, 1989.

KELSEN. Teoria Pura do Direito. Coimbra, 1962, v.1 e 2.

*Telma Curiel Marcon. Advogada. Graduada pela Universidade Católica Dom Bosco

(UCDB). Cursando MBA em Gestão Empresarial pela Universidade Católica Dom

Bosco em parceria com o Portal Educação. Especialista em Direito das Obrigações pela

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS. Membro integrante da Comissão

Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Mato Grosso do Sul, nos anos

de 2003, 2006 e 2009. Palestrante sobre o tema Direito do Consumidor, Crédito,

Cobrança e Direito do Trabalho. Membro da Banca do Concurso da Magistratura do

Trabalho do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região. Sócia fundadora do

escritório Resina & Marcon Advogados Associados - www.resinamarcon.com.br

[email protected]

DIREITO TRIBUTÁRIO

*Leandro Cara Artioli

Quando é devido o ICMS?

Page 110: Livro E Agora 4

O ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e sobre Serviços de

Transporte Interestadual e Intermunicipal, e Comunicação) é devido no momento da

realização do evento descrito na norma jurídica.

No caso de tributação sobre operação de circulação de mercadoria, nasce a

obrigação tributária no momento em que é realizada a transmissão jurídica e física do

bem. Isso pode ser na entrada ou saída do estabelecimento comercial, industrial ou

produtor, ou no momento da extração da nota fiscal, muito embora a saída do

estabelecimento não seja hipótese de incidência do tributo, pois corresponde apenas a

um aspecto temporal da operação.

Não incide o tributo antes da ocorrência da operação mercantil, bem como na

circulação de mercadoria que não corresponde a uma operação mercantil, ou também

quando o bem móvel sai do estabelecimento para posteriormente retornar, como no caso

do comodato.

De igual forma, os casos de furto da mercadoria ou perda, bem como qualquer

outro evento que não permita a transferência jurídica do bem, não configuram hipótese

para se exigir o tributo.

Em resumo, o ICMS sobre circulação de mercadoria é devido somente no caso

em que haja uma operação, envolvendo a transferência de um bem com valor mercantil,

transferindo sua titularidade a outra pessoa.

Minha mercadoria pode ser apreendida diante do não pagamento de ICMS?

A apreensão da mercadoria é inconstitucional, não podendo em hipótese alguma

haver a retenção pela ausência do pagamento do tributo. O Supremo Tribunal Federal,

diante de inúmeros julgamentos nesse sentido, viu-se na necessidade de editar a súmula

n. 323, pacificando o entendimento naquela corte nos seguintes termos: ―é inadmissível

a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de tributos‖.

O que costumeiramente o fisco faz ao apreender a mercadoria é ilegal, passível

de medida judicial.

Como funciona a tributação do ICMS na importação de mercadorias e bens?

No caso de importação de mercadorias e bens incide o ICMS porque a legislação

constitucional prevê a tributação ―ainda que as operações se iniciem no exterior‖.

Aqui há uma diferença de operações ocorridas dentro do território nacional, pois

nessas operações o ICMS é devido sempre ao Estado onde ela se iniciou. Quando a

operação se inicia no exterior, o tributo é devido na ―entrada‖ ao estabelecimento do

importador, isso por determinação constitucional.

Deve ser levado em consideração que o ICMS na importação não incide sobre o

ato de importar, mas tão somente quando a mercadoria é incorporada ao ciclo

econômico da pessoa jurídica importadora para fins de comércio.

A problemática sobre o tema ocorre quando é discutido o momento que nasce a

obrigação tributária nesse tipo de operação. As Fazendas Estaduais entendem que o

tributo é devido no momento do desembaraço aduaneiro.

Fontes doutrinárias e alguns entendimentos emanados do judiciário já se

posicionaram no sentido de que o ICMS somente é devido quando da entrada ao

estabelecimento destinatário.

Qual a diferença do ICMS “por conta e ordem” e “por conta própria, com pedido

prévio de encomendante”?

Page 111: Livro E Agora 4

A importação por conta e ordem é o modelo pelo qual inexiste contato entre o

exportador e a trading na fase de negociação. Nesse caso, a trading não é a importadora

do produto, pois apenas realiza a transmissão do produto, mas mesmo assim sua

condição é de estabelecimento destinatário, responsável pelo recolhimento do tributo.

Já na importação por encomenda, a trading figura como importadora, adquirindo

a mercadoria, e posteriormente o produto é transmitido para o estabelecimento final.

A tributação em ambas as modalidades ocorre de igual forma, ou seja, é exigido

o imposto no local onde está situada a trading, por ser classificada como

estabelecimento destinatário para fins legais.

É importante destacar que para o Acordo de Valoração Aduaneira – AVA (que

regulamenta o comércio internacional), a trading é sempre importadora, indiferente se a

operação deu-se ―por conta e ordem‖ ou ―encomenda‖.

É devido ICMS nas vendas com bonificação de mercadoria?

Empresas atuantes no comércio costumam conceder aos clientes bonificações

em mercadorias, acrescentando na venda unidades destas ou de outras (compre um, leve

dois/pague dez, leve onze).

A partir disso, dúvidas podem surgir sobre a tributação do ICMS nessa operação

mercantil, uma vez que, se levado em conta o valor de mercado da totalidade de

mercadorias, o tributo a ser recolhido pode ser maior que se considerado o valor pago na

operação.

Quando o tributo é criado, a lei deve descrever a hipótese do evento que será

tributado, quem o deve recolher, quem tem o direito de exigir, bem como a base de

cálculo e a alíquota a ser utilizada.

A base de cálculo, resumidamente, corresponde ao aspecto econômico da

hipótese que, se ocorrida, enseja a tributação, ou melhor, é o que será utilizado como

suporte para a operação matemática adotada pelo Fisco. Essa base de cálculo deve estar

em perfeita harmonia com o evento que está sendo tributado, pois caso contrário não

poderá ser legitimamente cobrado.

O ICMS sobre operações mercantis possui como base de cálculo o valor da

operação mercantil efetivada, e não o preço anunciado pelo vendedor ou constante em

tabelas e formulários, o que garante ao contribuinte se abster no pagamento do imposto

sobre o desconto para pagamento a vista ou qualquer outro tipo de desconto

incondicional.

Considerando isso, a base de cálculo do ICMS é indissociável das circunstâncias

estranhas àquela operação mercantil realizada, surgindo, aqui, a questão das

bonificações quando o cliente compra um item, mas leva um número superior, ou até

mesmo outro produto, como forma de se atrair o comprador.

Esse estímulo que o vendedor pretende caracterizar é elemento estranho à

operação mercantil, pois tributariamente o valor da operação mercantil é aquilo que está

sendo efetivamente praticado, independente da quantidade de itens que estão sendo

levados.

Quando o adquirente recebe uma bonificação (adição de outro item à compra),

sem que para isso pague o valor individual desse produto, ainda que a autoridade

tributária exija que conste na nota fiscal, o ICMS a ser recolhido é sobre o valor pago na

operação.

É óbvio que a mercadoria a título de bonificação possui valor de mercado, mas

nem por isso deve integrar a base de cálculo do ICMS, pois não acresce o preço

Page 112: Livro E Agora 4

principal da operação efetivada, isto é, o valor intrínseco das mercadorias dadas em

bonificação não compreende a base de cálculo do imposto. Isso porque a bonificação

em mercadorias corresponde a um desconto incondicional que está excluído do critério

quantitativo do imposto, em interpretação inversa o artigo 13, parágrafo primeiro, inciso

II, letra ―a‖ da Lei Complementar 87/96.

Ainda que a legislação estadual determine que na nota fiscal conste destacado o

produto dado em bonificação, caso o contribuinte não cumpra essa determinação, nem

por isso será penalizado posteriormente fazendo o valor da mercadoria integrar a base

de cálculo. Quer-se dizer, aqui, que o descumprimento de alguma obrigação acessória

do tributo não enseja a alteração do quanto a ser pago.

O contribuinte que tenha recolhido o ICMS sobre a bonificação em mercadoria

tem o direito de ser ressarcido pela quantia indevidamente paga. O pedido pode ser feito

administrativamente, por meio do ―pedido de restituição‖, ou judicialmente, pela ação

de repetição de indébito, o que ficaria dependendo da rapidez do Poder Judiciário e da

ordem de pagamento de precatórios.

Considerando a grande possibilidade de, administrativamente, o fisco não

reconhecer esse direito, uma medida interessante ao contribuinte seria realizar a

compensação do tributo na esfera contábil da empresa, com o lançamento de crédito em

contas gráficas.

Quando se fala que o ICMS é não cumulativo, do que se trata?

Deve ser compensado o que é devido em cada operação com aquilo que foi

cobrado nas operações anteriores, seja pelo mesmo Estado ou por outro, incluindo o DF,

não se acumulando esse imposto no desdobramento da operação até o produto chegar ao

consumidor final.

O ICMS pode ser cobrado em regime de pauta fiscal?

Não, pois a pauta fiscal é valor fixado previamente para a apuração da base de

cálculo do tributo. Considera-se, nesse caso, um valor já estabelecido na legislação

tributária como base de cálculo, e desconsidera-se o real valor de saída da mercadoria.

A base de cálculo do ICMS pode ser arbitrada pela Fazenda Pública?

Conforme autorizado pelo art. 148 do Código Tributário Nacional e o

entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça, a base de cálculo do tributo

pode ser arbitrada somente em casos específicos, após a realização do fato jurídico

tributário, quando o valor informado pelo contribuinte ou o preço dos bens, direitos e

serviços não mereçam credibilidade.

Para isso é necessário que a Fazenda Pública realize procedimento

administrativo fiscal, assegurando a ampla defesa ao contribuinte.

Trata-se de modalidade de lançamento, devidamente prescrita na legislação

tributária, que ao final pode resultar na veracidade dos documentos fiscais do

contribuinte e nos valores indicados como base de cálculo, mas também pode ocorrer o

arbitramento pela autoridade fiscal depois de constatados valores e/ou documentos

inidôneos.

Entende a jurisprudência que o mencionado artigo 148 do CTN tem como

objetivo evitar ou reduzir a fraude fiscal através do subfaturamento (negócio jurídico

Page 113: Livro E Agora 4

com valor simulado, a fim de evitar a tributação, ou ao menos reduzir o valor a ser

recolhido).

A diferença entre o arbitramento e a pauta fiscal é que, nesta, a base de cálculo

encontra-se previamente sem qualquer distinção ou participação do contribuinte através

do contraditório, além de que não leva em consideração nenhum critério, passando a ser

uma determinação discricionária. Já no arbitramento é resguardado o contraditório e

ampla defesa em processo administrativo fiscal, e tem como premissa somente os casos

de inidoneidade das informações e documentos do contribuinte.

A lista de serviços do ISSQN é taxativa ou apenas exemplificativa?

A lista de serviços é taxativa, mas pode ser utilizada uma interpretação mais

extensiva para tributar serviços que possuam outra nomenclatura e correspondam à

idêntica atividade descrita na mencionada lista.

Onde é devido o ISSQN, no local da prestação de serviço ou no endereço da sede

do prestador?

Nos termos do artigo 3º e 4º da Lei Complementar nº 116/03, bem como

entendimento do Superior Tribunal de Justiça, compete ao município do

estabelecimento prestador de serviços a cobrança do ISS, entendendo como tal a

localidade onde há uma unidade econômica ou profissional, isto é, onde a atividade é

desenvolvida.

Mas nem sempre a tributação se dá no local onde o serviço é realizado, pois o âmbito de

competência territorial municipal compreende a localidade onde estiver uma

organização necessária ao exercício da atividade empresarial ou profissional. Quando o

serviço era realizado sob a égide do Decreto-Lei n. 406/68, entendia-se como

competente para tributar o município onde o serviço era prestado.

Entretanto, com o advento da Lei Complementar n. 116/2003, a competência

passou a ser no local do estabelecimento prestador do serviço, observando o seguinte: a)

O ISS é devido no local do estabelecimento prestador (entendendo-se como tal o local

onde o contribuinte desenvolve a atividade objeto da tributação, de forma permanente

ou temporária, desde que configure unidade econômica ou profissional, independente

das denominações utilizadas, seja de sede, filial, agência, posto de atendimento,

sucursal, escritório de representação ou contato ou quaisquer outras que venham a ser

utilizadas); b) na falta de estabelecimento, no local do domicílio do prestador, com

algumas exceções específicas previstas na Lei Complementar 116.

Um serviço prestado de forma gratuita é capaz de ensejar a incidência do ISSQN?

Trata-se de tema peculiar e de cunho eminentemente interpretativo do sistema

jurídico atual. De fato, a formação de uma pessoa jurídica, ou melhor, um ―empresa‖,

permite concluir que possui uma finalidade lucrativa através das atividades a ela

inerentes (com algumas exceções). Da mesma forma, o profissional autônomo também

presta serviço com a finalidade de obtenção de lucro. Em sendo as atividades (das

empresas contribuintes do ISS ou profissionais autônomos também contribuintes)

pressupostos da obtenção de lucro, é possível concluir que a tributação do ISS somente

ocorrerá nas atividades com essa finalidade.

Quando uma empresa ou profissional autônomo presta determinado serviço de

forma gratuita, ainda assim pode ser tributado pelo ISS, através de estimativa ou

Page 114: Livro E Agora 4

arbitramento, isso porque o serviço tem sempre um valor, tem sempre um preço que

muitas vezes é incluído em outro tipo de contrato, visando burlar a legislação.

Qual a diferença entre “entradas” e “receitas” para fins de tributação do ISSQN?

As entradas são valores que não integram o patrimônio da pessoa jurídica,

embora transitem fisicamente pela contabilidade da prestadora de serviço, e não são

passíveis de exprimir elementos de capacidade contributiva, nos exatos termos exigidos

pela Constituição Federal, o que afasta a incidência do ISS.

Já as receitas representam um benefício que resulta do exercício de atividade

profissional, integrando o patrimônio da pessoa prestadora do serviço. As receitas, ao

contrário das entradas, correspondem ao benefício efetivamente resultante do exercício

da atividade profissional. Ao mesmo tempo em que integram o patrimônio, as receitas

exteriorizam a capacidade contributiva do prestador de serviço, e apenas estas integram

a base de cálculo do ISS por ser a real expressão do preço do serviço.

A “gorjeta” deve ser incluída na base de cálculo do ISSQN?

Não, pois a ―gorjeta‖ possui natureza salarial, tratando-se de valores repassados

aos empregados, e integra sua remuneração. Nesse caso, o prestador de serviço é apenas

depositário desse valor e, por isso, não pode ser incluído na base de cálculo do ISSQN.

Quando na prestação de serviço é utilizado produto objeto de operação de

circulação de mercadoria, incide ICMS ou ISSQN?

Depende de cada caso em concreto a ser devidamente analisado, mas o critério

utilizado pelo STJ e STF é no sentido de que, nas operações mistas, deve ser verificada

a atividade da empresa, com algumas possíveis exceções, pois, se estiver incluída na

lista do ISSQN, este será o tributo a ser recolhido, incluindo o valor das mercadorias

envolvidas, mas excluindo o ICMS que incidiu na operação.

Nas operações chamadas ―puras‖ de circulação de mercadoria e serviços

previstos no inciso II do Art. 155 da CF (transporte intermunicipal e interestadual, e de

comunicações), o tributo a ser recolhido é o ICMS. Nas prestações de serviços ―puras‖

constantes da lista da Lei Complementar 116/03, incide o ISSQN. Por fim, nas

operações mistas, envolvendo tanto a prestação de serviço quanto a operação de

circulação de mercadoria e os serviços do inciso II do art. 155 da CF, deve ser

observada qual a atividade da empresa, pois se estiver incluída na lista de serviços a que

se refere a Lei Complementar n. 116/03, incide o ISS, caso contrário, incide o ICMS.

O que são os tributos?

Conforme estabelece o artigo 3º do Código Tributário Nacional, ‗‘Tributo é toda

prestação compulsória, em moeda ou cujo valor nela possa exprimir, que não constitua

sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa

plenamente vinculada.

Quais são os crimes fiscais praticados pelos contribuintes ou responsáveis

tributários?

Page 115: Livro E Agora 4

Os crimes praticados por contribuinte são qualificados como ‗‘crimes de

colarinho branco‘‘, dentre os quais temos o crime da apropriação indébita

previdenciário, tipificado criminalmente, dentre outras, na conduta daquele que deixa de

repassar para a Previdência Social as contribuições recolhidas dos contribuintes, sendo

tipificada criminalmente também a sonegação de contribuição previdenciária.

Quais são os crimes fiscais praticados pelo funcionário público?

Considera-se funcionário público para fins penais, todo aquele que exerce cargo,

emprego ou função pública, de forma transitória ou permanente, com ou sem

remuneração. Dentre os crimes praticados pelo funcionário público, podemos citar o

excesso de exação (exigir tributo ou contribuição social que sabe ou devia saber

indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei

não autoriza); a corrupção passiva; a facilitação de contrabando ou do descaminho e a

prevaricação (retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo

contra disposição expressa de lei); a condescendência criminosa (deixar o funcionário

de responsabilizar subordinado ou denunciar colega que cometeu infração no exercício

do cargo); a advocacia administrativa (valer-se da condição de funcionário para

patrocinar, direta ou indiretamente, interesse de particular junto à Administração

Fazendária); a alteração de sistema de informações sem autorização da autoridade

competente ou a inserção neste de dados falsos; e a violação de sigilo profissional.

O que são os precatórios?

São os pagamentos devidos pela Fazenda Federal, Estadual e Municipal (e suas

autarquias e fundações públicas – pessoas jurídicas de direito público), em virtude de

sentença judicial transitada em julgado.

Os Precatórios podem ser usados para quitar débitos fiscais?

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que devem ser aceitos precatórios

adquiridos de terceiros para a quitação de débitos com o fisco, desde que o precatório

possua a mesma natureza, ou seja, o precatório a ser utilizado no pagamento de dívidas

tributárias ou na compensação deve ter natureza tributária.

Alguns juízes têm admitido a compensação ou penhora de precatórios de

natureza alimentar adquiridos de terceiros, mas trata-se de posicionamento novo, cuja

unanimidade pode ou não acontecer futuramente no judiciário.

O que é o Simples Nacional?

O Simples Nacional é um regime tributário diferenciado, simplificado e

favorecido, previsto na Lei Complementar nº 123, de 14.12.2006, aplicável às

Microempresas e às Empresas de Pequeno Porte, a partir de 01.07.2007.

O que se considera como Microempresa (ME) e Empresa de Pequeno Porte (EPP)?

Considera-se ME o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, que

aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 240.000,00.

Considera-se EPP, para efeito do Simples Nacional, o empresário, a pessoa jurídica, ou

a ela equiparada, que aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$

Page 116: Livro E Agora 4

240.000,00 e igual ou inferior a R$ 2.400.000,00, nos termos da Lei Complementar

123/06.

O Simples Nacional abrange o recolhimento unificado de quais tributos?

O Simples Nacional implica o recolhimento mensal, mediante documento único

de arrecadação, dos seguintes tributos:

Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ);

Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI);

Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL);

Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS);

Contribuição para o PIS/Pasep;

Contribuição para a Seguridade Social (cota patronal);

Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Sobre

Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação

(ICMS);

Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS).

A sociedade uniprofissional se enquadra no ISS fixo?

Primeiramente é importante trazer o conceito de sociedade uni e

pluriprofissionais.

Sociedades uniprofissionais: são aquelas que congregam profissionais

integrantes de uma mesma área, constituídas por sócios, pessoas físicas, todos

habilitados ao exercício da mesma atividade que a sociedade se propõe a prestar, e

sujeitos ao registro e fiscalização da mesma entidade de classe.

Sociedades pluriprofissionais: são aquelas que congregam profissionais

integrantes de profissões diversas, como exemplo: contador se associa a economista e

constituem uma empresa de assessoria; um engenheiro e um médico se associam e

constituem um laboratório; médicos de especialidades diversas se unem para montar

uma clínica.

O fato gerador do ISS é a prestação de serviços constantes da lista anexa à Lei

Complementar nº. 116/2003 por empresa ou profissional autônomo. A base de cálculo

do ISS é o preço do serviço (valor bruto).

Nos casos de profissionais autônomos, cujo valor do ISS corresponde ao serviço

prestado ─ como nos casos de médicos, dentistas, advogados, entre outros profissionais

─, diante da dificuldade de aferição, o tributo deverá ser calculado a partir de um único

valor pago periodicamente, nesse caso, chamado de ―ISS FIXO‖.

Portanto aquele profissional que presta serviço de caráter autônomo ou

congregado em sociedade, deve observar a forma de tributação do ISS sobre a prestação

de seus serviços, uma vez que poderá recolher o ISS de forma fixa anual, e não mensal,

com incidência do imposto sobre o rendimento bruto da sociedade.

Qual o imposto incidente sobre o software de prateleira, ICMS ou ISS?

Importante esclarecer que existem duas espécies de software, havendo a

necessidade de distinção entre elas para fins tributários.

Software de prateleira são aqueles softwares vendidos em larga escala nas lojas,

sem necessidade de produção específica, considerado pelo STJ como uma mercadoria;

já o Software por encomenda é aquele produzido especialmente para o cliente, por

encomenda do usuário, caso em que se caracterizaria mera prestação de serviço.

Page 117: Livro E Agora 4

Diante dessa classificação, em casos de compra e venda de software de

prateleira, há a circulação de mercadoria, fato gerador do ICMS, imposto exigido pelo

Estado; no entanto, quando a empresa presta o serviço de elaboração e criação de um

software específico, classificado como Software por encomenda, há a incidência de ISS,

tributo municipal incidente sobre prestação de serviço constante da lista da Lei

Complementar n. 116/03.

Leandro Cara Artioli. Advogado Associado do escritório Resina & Marcon Advogados

Associados, pós-graduado em Direito Empresarial pelo Complexo Jurídico Damásio de

Jesus; pós-graduando em Direito Tributário pela PUC/SP.

Referências:

CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário. Fundamentos Jurídidos Da

Incidência. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

CARVALHO, Paulo De Barros. Curso De Direito Tributário. 17. ed. São Paulo:

Saraiva, 2005.

CARRAZZA, Roque Antonio. ICMS. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2009.

Superior Tribunal de Justiça, disponível em: www.stj.jus.br.

Supremo Tribunal Federal, disponível em: www.stf.jus.br.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Caroline Mendes Dias*

SERVIDOR PÚBLICO

Qual a diferença entre funcionário, servidor e empregado público?

Page 118: Livro E Agora 4

Na verdade as duas primeiras nomenclaturas (funcionários ou servidores) têm a

mesma definição, não havendo diferença entre elas. Os servidores públicos são aqueles

que ocupam um cargo público, tendo sido aprovados em concurso público, ou por livre

nomeação, e, posteriormente, assumem o seu cargo, sendo contratados pelo regime

estatutário. Como exemplo, podemos citar qualquer funcionário da administração

pública direta, ou seja, pessoas que trabalham nos órgãos da União, como o INSS, ou

qualquer órgão das três esferas: Municipal, estadual ou federal.

Já os empregados públicos são os que também foram aprovados em concurso

público e, posteriormente, foram contratados, pelo regime da CLT. Como exemplo,

podemos citar qualquer funcionário da administração pública indireta, ou seja, pessoas

que trabalham em empresas públicas, como os Correios, a Petrobrás, a Cemig (Empresa

de Energia de Minas Gerais). Podem ser empresas públicas municipais, estaduais ou

federais.

Há também os ocupantes de função pública, modalidade em que estão

englobadas aqueles que não precisaram ser aprovados em concurso público, mas que

exercem funções públicas por indicação. Como exemplo, podemos citar os presidentes

de empresas públicas, os ministros, secretários e todas as funções de âmbito municipal,

estadual ou federal que sejam ocupadas por indicação.

Qual o regime de trabalho de cada tipo de trabalho público?

O regime de trabalho dos ocupantes de cargo ou função pública é aquele regido

pela lei 8112, e aqueles são denominados estatutários. Esses funcionários públicos não

têm carteira de trabalho assinada, são nomeados e não fazem jus ao FGTS.

Já o regime de trabalho dos empregados públicos é regido pela CLT

(Consolidação da Leis do Trabalho). Esses funcionários públicos têm carteira de

trabalho assinada e fazem jus ao FGTS.

Como funciona a remuneração do servidor público?

A Constituição Federal usa os termos vencimento e remuneração com o mesmo

sentido. No entanto a Lei ordinária nº 8.112/90 assim os distingue:

Vencimento - é retribuição pecuniária pelo efetivo exercício do cargo correspondente ao

padrão fixado em lei (art. 40 da Lei 8.112/90).

Remuneração - equivale ao vencimento mais as vantagens pecuniárias atribuídas em lei

(art. 41 da Lei 8.112/90).

Provento - é a retribuição pecuniária a que faz jus o aposentado.

Pensão - é o benefício pago aos dependentes do servidor falecido.

E como são as vantagens pecuniárias?

Vantagens pecuniárias são acréscimos de estipêndio do funcionário, concedidas

a título definitivo ou transitório, pela decorrência do tempo de serviço (ex facto

temporis), ou pelo desempenho de funções especiais (ex facto officii), ou em razão das

condições anormais em que se realiza o serviço ( propter laborem), ou, finalmente, em

razão de condições pessoais do servidor ( propter personam). As duas primeiras

espécies constituem os adicionais ( adicionais de vencimento e adicionais de função), as

duas últimas formam a categoria das gratificações de serviço e gratificações pessoais.

Quem são os servidores titulares de cargo efetivo?

Page 119: Livro E Agora 4

São aqueles nomeados por meio de aprovação em certame público de provas ou

de provas e títulos ou que foram efetivados por terem sido nomeados antes da exigência

constitucional do concurso público.

Como funciona de forma geral a estabilidade no serviço público?

A partir da aprovação em concurso público e a posse em cargo de provimento

efetivo, o servidor público adquire estabilidade depois de 3 anos. Durante este tempo ele

estará em estágio probatório. Depois de estável, só perderá o seu cargo em virtude

processo administrativo disciplinar em que ocorram todas as garantias constitucionais

de contraditório e ampla defesa ou sentença judicial transitada em julgado.

Existe ainda a "estabilidade excepcional", que é aquela prevista no art. 19 dos

ADCT da CF/88, concedida a servidores não-concursados, portanto não efetivos, que

estavam há mais de cinco anos no serviço público (Administração direta, autárquica e

fundacional). Vale dizer, esses servidores foram estabilizados, excepcionalmente, no

serviço público por força desse dispositivo, e não à luz do art. 41, que é o que dispõe

sobre a estabilidade "propriamente dita". A estabilidade excepcional não foi concedida

aos ocupantes de cargos, funções e empregos de confiança ou em comissão.

A estabilidade garante ao servidor ficar no cargo?

A estabilidade é uma ―garantia de permanência no serviço público‖, própria do

vínculo estatutário, não gerando direito adquirido ao cargo, mas à permanência no

Estado.

Depois de se tornar estável, o servidor pode perder o serviço?

Estabilidade equivale a uma garantia do servidor público ocupante de cargo

efetivo em virtude de concurso público (art. 41 da Constituição Federal de 1988). Diz

esse artigo que ―O servidor público estável só perderá o cargo: I - em virtude de

sentença judicial transitada em julgado; II - mediante processo administrativo em que

lhe seja assegurada ampla defesa; e, III - mediante procedimento de avaliação periódica

de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa‖.

Há de ser acrescida, ainda, a possibilidade de ser exonerado para redução de

despesas, na forma do art. 169 da CF/88.

O empregado público, regido pela CLT, tem estabilidade?

Há muita discussão a esse respeito, mas o entendimento majoritário dos

Tribunais atualmente é de que o empregado público não possui estabilidade, já que essa

seria incompatível com alguns direitos trabalhistas que possui, especialmente FGTS e

Seguro-desemprego.

Os empregados públicos (por serem regidos pela CLT) podem ser demitidos a

qualquer tempo. Alguns casos especiais exigem a abertura do processo administrativo

sendo garantida a ampla defesa ao empregado.

Sou funcionário público e, onde trabalho, existem centenas de empregados que se

aposentaram e continuam atuando na empresa. Isso é legal?

Page 120: Livro E Agora 4

Desde que esses aposentados estejam atuando em cargos em comissão,

declarados em lei de livre nomeação e exoneração, respeitando outras condições, não há

ilegalidades. Estas outras condições seriam basicamente o seguinte:

a) respeito ao teto do funcionalismo;

b) obediência ao percentual admissível de cargos de livre nomeação e exoneração com

relação aos de cargo efetivo;

c) impossibilidade de acúmulo de proventos com o salário decorrente do retorno à

atividade, salvo nos casos em que a Constituição autoriza a acumulação de cargos

(artigo 37, inciso XVI da Carta Magna).

O que são gratificações?

As gratificações são espécie de vantagem pecuniária e constituem acréscimos de

estipêndio, que, junto com o vencimento, formam a remuneração do servidor público.

Se dividem em: gratificação de serviço e gratificação pessoal.

Gratificação de serviço: é a retribuição paga por um serviço prestado pelo servidor

público, em condições anormais – propter laborem.

Gratificação pessoal: é o acréscimo devido em razão de situações individuais do

servidor. São exemplos o salário-esposa e o salário-família.

Como funciona a incorporação de adicionais ao vencimento do servidor público?

A regra é a não incorporação de gratificação ao vencimento do servidor. A

gratificação incorpora apenas por determinação legal. É a lei que determina se uma

gratificação vai se incorporar aos vencimentos após um determinado período. No

silêncio da lei, entende-se que a gratificação somente é devida enquanto perdurarem as

condições especiais de sua execução.

Desse modo, percebe-se que as gratificações são concedidas pela Administração

Pública a seus servidores em razão das condições excepcionais em que está sendo

prestado um serviço (as chamadas gratificações propter laborem) ou em face de

situações individuais do servidor (propter personam), diversamente dos adicionais, que

são atribuídos em face do tempo de serviço (ex facto officii). Daí porque a gratificação

é, por sua natureza, vantagem transitória e contingente.

A gratificação, por sua natureza, é transitória e contingente. Transitória porque

existe enquanto perduram as condições anormais em que se realiza o serviço (propter

laborem), e contingente porque, via de regra, não se incorpora aos vencimentos, porque

pagas episodicamente ou em razão de circunstâncias momentâneas.

Pode o funcionário público, agindo dentro de suas funções, cometer o crime de

desobediência?

Não. O crime de desobediência está previsto no capítulo dos crimes praticados

por particular contra a Administração Pública. Logo, a lei exige uma característica

específica do agente, ou seja, que este não seja considerado como funcionário público

para fins penais.

Por certo, o funcionário público, fora dos limites de sua função, poderá praticar

o delito em questão, visto que, no caso, estará atuando como qualquer particular.

Um candidato aprovado em concurso público tem direito à nomeação?

Page 121: Livro E Agora 4

Não. Em regra, a aprovação em concurso público gera mera expectativa de

direito, não garantindo ao aprovado a nomeação para o cargo ou emprego público.

Assim, a Administração Pública tem a prerrogativa de proceder à nomeação dos

candidatos aprovados de acordo com a oportunidade e necessidade que entender viável.

Mas e se o candidato for aprovado no concurso dentro do número de vagas

previsto no edital?

Nesse caso, os Tribunais de nosso País já têm garantido a nomeação de

aprovados em concurso público dentro do número de vagas. Esse é um avanço na

questão relativa à nomeação e posse de candidato aprovado em concurso público.

Em decisões recentes, têm sido garantido o direito líquido e certo do candidato

aprovado dentro do número de vagas previstas em edital, mesmo que o prazo de

vigência do certame tenha expirado e não tenha ocorrido contratação precária ou

temporária de terceiros durante o período de sua vigência.

Há outras possibilidades em que a nomeação do candidato aprovado seja um

direito e não só uma expectativa?

Sim. O direito à nomeação surge, deixando de ser mera expectativa, nos casos

em que o candidato aprovado é preterido. Ou seja, se um aprovado em 9º lugar é

preterido, sendo chamado o aprovado em 10º lugar, surge o direito à nomeação daquele

candidato preterido.

Além dessa hipótese, alguns entendimentos judiciais estão garantindo o direito à

nomeação aos candidatos aprovados, mesmo fora do número de vagas previsto no

edital, caso seja publicado o edital de um novo concurso, no qual conste a existência de

vagas para o cargo em que os aprovados do concurso anterior aguardam nomeação.

É possível a demissão imotivada de um empregado celetista concursado?

Conforme entendimento cristalizado na Orientação Jurisprudencial 247 da SDI-1

do Egrégio TST, despedir empregados de empresa pública e de sociedade de economia

mista, mesmo admitidos por concurso público, independe de ato motivado para sua

validade.

Em se tratando de um empregado da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos,

é possível a demissão imotivada?

Não. Conforme entendimento cristalizado na Orientação Jurisprudencial 247 da

SDI-1 do Egrégio TST , a validade do ato de despedida do empregado da Empresa

Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) está condicionada à motivação, por gozar a

empresa do mesmo tratamento destinado à Fazenda Pública em relação à imunidade

tributária e à execução por precatório, além das prerrogativas de foro, prazos e custas

processuais.

Nessa orientação jurisprudencial, o TST entendeu que os atos administrativos da

ECT deveriam se vincular aos princípios que regem a administração pública direta, em

especial o da motivação da despedida de seus empregados. Assim sendo, decidiu alterar

a OJ nº 247 da SDI-I, para excepcionar a ECT da possibilidade de demissão imotivada

de seus empregados.

Page 122: Livro E Agora 4

DÚVIDAS SOBRE LICITAÇÃO

O que é licitação?

É um procedimento formal, prévio e seletivo pelo qual a Administração buscará

a melhor e mais vantajosa oferta para a contratação de obras, serviços, inclusive de

publicidade, compras, alienações, concessões, permissões e locações (art. 2º, da Lei

8.666/93).

Licitação é obrigatória? Para quem? Quando?

Licitação é um procedimento administrativo obrigatório aos entes da

administração direta e indireta que pretendam alienar, adquirir ou locar bens, realizar

obras ou serviços, outorgar concessões, permissões de obra, serviço de uso exclusivo de

bem público, e deve permitir ampla participação de interessados na apresentação de

propostas, a fim de selecionar a que mais atende ao interesse público, em função das

condições pré-fixadas no edital de convocação (Celso Antônio Bandeira de Mello).

Qual a finalidade da licitação?

A licitação tem duas finalidades muito importantes, são elas: a) selecionar a

proposta mais vantajosa para a Administração Pública, de forma a resguardar o

princípio da indisponibilidade do interesse público; b) assegurar o princípio da isonomia

e impessoalidade, permitindo que todos os particulares participem da licitação e que não

haja favorecimentos.

Diante disso, qual o objetivo principal da licitação?

O objetivo da licitação não é obter o menor preço, e sim a proposta mais

vantajosa.

A quem compete legislar sobre licitação?

A competência para legislar sobre normas gerais da licitação é da União,

conforme disposto no art. 22,XXVII da CF/88, mas também cabe aos Estados e

Municípios de forma suplementar a lei federal, atendendo suas peculiaridades.

Qual a legislação que estabelece normas sobre a matéria?

A Lei geral que estabelece os princípios e regras sobre a atividade licitatória é a

8.666/1993, a qual revogou os Decretos-Lei nºs. 2.300/1986 e 2.360/1987, e também foi

alterada pelas Leis nºs. 8.883/1994 e 9.648/1998. Ainda, decretos estaduais e municipais

regulamentam as licitações locais seguindo a orientação da norma federal.

Quais as principais normas e princípios que orientam a licitação pública?

Os principais princípios que norteiam a licitação, em todas as suas modalidades,

são:

Page 123: Livro E Agora 4

a) Princípio da Isonomia/Igualdade: que impõe tratamento igual para todos os

participantes da licitação;

b) Princípios da Legalidade e da Vinculação ao edital: pelo qual a licitação encontra-se

vinculada às leis que a regem e ao instrumento convocatório/edital, estando a esfera de

seus atos circunscrita a tais normas legais;

c) Princípio da Publicidade: todo e qualquer interessado na licitação tem direito ao

amplo acesso às informações referentes ao certame;

d) Princípios da Impessoalidade e do Julgamento objetivo: os julgamentos e decisões

deverão ser tomados sem influências subjetivas;

e) Princípios da Moralidade e da Probidade Administrativa: o procedimento licitatório

exige de todos os seus participantes, licitantes e agentes administrativos, uma conduta

ética e moralmente aceita pela sociedade administrada;

f) Princípio da Economicidade: pelo qual os recursos públicos devem ser aplicados de

maneira vantajosa para o interesse público.

g) Princípio da Adjudicação compulsória: o vencedor do certame, cumpridas as

exigências da licitação, tem direito de que o objeto licitado lhe seja adjudicado;

h) Princípio do Sigilo das Propostas: derivado do princípio da isonomia, o sigilo sobre o

conteúdo das propostas é um direito dos licitantes.

Quais as modalidades licitatórias atualmente existentes?

Atualmente são 06 (seis) as modalidades de licitação:

a) Concorrência (artigo 22, § 1º, da Lei nº. 8.666/93);

b) Tomada de preços (artigo 22, § 2º, da Lei nº. 8.666/93);

c) Convite (artigo 22, § 3º, da Lei nº. 8.666/93);

d) Concurso (artigo 22, § 4º, da Lei nº. 8.666/93);

e) Leilão (artigo 22, § 5º, da Lei nº. 8.666/93);

f) Pregão (Lei nº. 10.520/02) presencial (regulamentado, no âmbito federal, pelo

Decreto nº. 3.555/00) ou eletrônico (regulamentado, no âmbito federal, pelo Decreto n°.

5.450/05).

Quais os tipos de licitação previstos em lei?

São 04 (artigos 45, IV, § 1º e 46, caput, da Lei nº. 8.666/93), os quais devem

sempre constar no edital:

- de menor preço: é a regra, em que o julgamento da proposta é tido considerando-se

apenas as vantagens econômicas por ela apresentadas;

- de melhor técnica: em que primeiramente são analisadas e classificadas as propostas

técnicas, de acordo com critérios determinados e fixados pelo instrumento convocatório,

considerando-se a capacitação e experiência do proponente e sua equipe técnica, e a

qualidade, metodologia, tecnologia e recursos materiais envolvidos na proposta; após,

serão analisados os preços conforme critérios de classificação (art. 46, § 1º, I e II, da Lei

8.666/93);

- de técnica e preço: é o tipo em que se fundem as duas formas anteriores, em que são

analisados conjuntamente os aspectos do preço e técnica exigida pelo edital (art. 46, § 2º

da Lei 8.666/93).

Como posso fazer para identificar o cabimento das modalidades e dos tipos de

licitação?

Page 124: Livro E Agora 4

As modalidades de licitação serão cabíveis de acordo com disposição legal, não

cabendo ao administrador a escolha do procedimento, e devem seguir ao seguinte:

a) Concorrência - cabível nos termos do artigo 23, I e II, e § 3º, da Lei 8.666/93;

b) Tomada de Preços - cabível nos termos do artigo 23, I e II da Lei 8.666/93;

c) Convite - cabível nos termos do artigo 23, I e II da Lei 8.666/93;

d) Concurso - cabível nos termos do § 4º, do artigo 22, da Lei 8.666/93;

e) Leilão - cabível nos termos do § 5º, do artigo 22, da Lei 8.666/93;

f) Pregão - Presencial: cabível nos termos do artigo 1º, da Lei 10.520/02 e artigo 1º, do

Decreto nº. 3.555/00; e Eletrônico: cabível nos termos dos artigos 1º e 2º do Decreto nº.

5.450/05.

Quanto ao tipo de licitação a ser aplicado em cada caso, a escolha se dará

utilizando o seguinte critério:

a) Menor preço: usado quando o preço for o fator determinante para a escolha da

proposta mais vantajosa.

b) Melhor técnica: usado quando os fatores de ordem técnica forem os determinantes

para a escolha da proposta mais vantajosa.

c) Técnica e preço: usado quando o conjunto formado entre preço e fatores de ordem

técnica for o determinante na escolha da proposta mais vantajosa;

d) Maior lance ou oferta: usado quando o maior valor ofertado for o determinante na

escolha da proposta mais vantajosa (independente de outros fatores).

Qual o significado do princípio da adjudicação compulsória ao licitante vencedor?

Com esse princípio, fica vedada à administração atribuir o objeto da licitação a

outrem que não o licitante vencedor. Assim, o licitante vencedor tem expectativa de

direito, mas não tem garantia a contratação, apenas podendo exigir que, caso a

Administração contrate, que seja com ele, ficando proibida a abertura de nova licitação

enquanto válida a adjudicação anterior. Isso, conforme artigo 50 da Lei 8.666/93.

Quais são os pressupostos da licitação?

Para que seja possível a realização da licitação, deve existir pluralidade de

objetos e de ofertantes e conveniência ao interesse público.

Em se tratando de entes da administração direta e indireta, há hipótese em que a

licitação se torna inexigível?

Sim, tal hipótese está disposta no art. 25 da lei de licitações L.8.666/93. A

inexigibilidade ocorrerá quando houver inviabilidade de competição, em casos como:

fornecedor ou produtor exclusivo, vedada a preferência de marca; contratação de

serviços técnicos profissionais especializados, de natureza singular; contratação de

artistas consagrados pela crítica ou pelo público.

Quais as principais características de cada uma das modalidades da licitação?

Concorrência, modalidade destinada obrigatoriamente para transações de maior

vulto (para serviços de engenharia, valores acima de R$ 1.500.000,00 e para compras e

demais serviços acima de R$ 650.000,00). Nesse caso, é necessário ampla publicidade e

podem concorrer quaisquer interessados que preencham as condições estabelecidas, sem

necessidade de prévio cadastro na Administração.

Page 125: Livro E Agora 4

Tomada de preço, destinada a transações de valor médio (para obras e serviços

de engenharia, valores até R$ 1.500.000,00 e para compras e demais serviços até R$

650.000,00) podem concorrer apenas os interessados que estejam previamente inscritos

em cadastro administrativo organizado em função de ramos de atividade.

Convite, destinada às contratações de valor mais baixo (para obras e serviços de

engenharia, até valores de R$ 150.000,00 e para compras e demais serviços, até R$

80.000,00), não requer publicidade.

Concurso, destinada à disputa entre quaisquer interessados para escolha de

trabalho técnico, científico ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou

remuneração aos vencedores.

Leilão, destinada à venda de bens móveis e imóveis,; dispensa a habilitação

prévia.

Pregão, destinada à aquisição de bens e serviços comuns, não há limite de valor.

Quando é possível a revogação ou a anulação da licitação,?

É possível a revogação da licitação desde que fundada em situação posterior que

a justifique, mediante motivação. A anulação é motivada pela ilegalidade no

procedimento licitatório, podendo ocorrer de ofício ou provocada, ambos os casos

respeitam o princípio do contraditório e ampla defesa.

O que é pregão?

É uma modalidade de licitação, que pode ser realizada presencial ou

eletronicamente, por meio da qual a Administração buscará a contratação de bens e

serviços comuns, selecionando a oferta mais vantajosa do licitante que a ela oferecer o

melhor lance. Suas principais características são a inversão de fases, na qual primeiro

ocorre a habilitação e, depois dela, o julgamento das propostas; sua utilização para

licitações de objetos simples que não necessitem de especificações técnicas complexas;

e a oralidade, em que, em uma segunda fase à abertura das propostas escritas, os

licitantes podem oralmente efetuar novas propostas.

Quando o pregão pode/deve ser utilizado e quando é vedado o emprego dessa

modalidade?

O pregão só poderá ser utilizado para aquisição de bens ou serviços comuns, de

fácil distinção, conforme determinados pelo parágrafo único do art. 1º, da Lei nº.

10.520/02: "Consideram-se bens e serviços comuns, para os fins e efeitos deste artigo,

aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade possam ser objetivamente definidos

pelo edital, por meio de especificações usuais no mercado".

Qual a diferença entre "pregão presencial" e "pregão eletrônico"?

Pregão presencial é aquele que ocorre mediante a realização de sessão pública

em que se encontram presentes o pregoeiro, os licitantes, a equipe de apoio e os demais

participantes do certame, e na qual são entregues os envelopes das propostas comerciais

e de toda a documentação pertinente, seguindo-se uma fase de lances verbais até ser

identificado o vencedor da licitação.

Pregão eletrônico é aquele que ocorre mediante utilização dos recursos de

tecnologia da informação (internet). Segue as regras básicas do pregão comum, sendo

Page 126: Livro E Agora 4

todas as comunicações (incluindo-se propostas e documentos/habilitação) realizadas

pela via eletrônica, dispensada a presença física dos licitantes.

Qual a estrutura básica de um processo administrativo licitatório?

O processo administrativo licitatório é formado de duas fases. Na primeira (interna), a

Administração realiza os atos necessários à realização do certame (abertura do processo

administrativo, escolha da comissão de licitação ou pregoeiro, delimitação do objeto, a

opção da modalidade, a elaboração do edital, e outros). Isso feito, após a publicação do

instrumento convocatório, inicia-se a segunda fase (externa), que também é formada,

basicamente, de outras duas: uma fase habilitatória, em que são analisados os

documentos de habilitação, e uma fase de julgamento e classificação das propostas,

quando é verificado se as propostas ofertadas atendem aos requisitos exigidos pelo

edital.

Quais os agentes administrativos envolvidos no processo licitatório?

Autoridade superior, pregoeiro, comissão de licitação, equipe de apoio, setor

jurídico, financeiro, eventual departamento técnico, setor requisitante, setor de

contratos, comissão de cadastramento etc. A variação da quantidade de agentes

envolvidos relaciona-se à hierarquia de cada órgão/entidade licitante.

Quais são as principais proibições em um processo de licitação?

Conforme determinado pelo artigo 3º, § 1º, I e II, da Lei 8.666/93, é vedado aos

agentes públicos (em sede de licitação):

I. admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, cláusulas ou condições

que comprometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter competitivo e estabeleçam

preferências ou distinções em razão da naturalidade, da sede ou domicílio dos licitantes

ou de qualquer outra circunstância impertinente ou irrelevante para o específico objeto

do contrato;

II. estabelecer tratamento diferenciado de natureza comercial, legal, trabalhista,

previdenciária ou qualquer outra, entre empresas brasileiras e estrangeiras, inclusive no

que se refere à moeda, modalidade e local de pagamentos, mesmo quando envolvidos

financiamentos de agências internacionais, ressalvando o disposto no parágrafo seguinte

e no art. 3º da Lei nº 8.248, de 23 de outubro de 1991.

O que é uma "comissão de licitação" e quem a integra?

É um conjunto de pessoas (a rigor, servidores públicos), responsáveis por

receber, examinar e julgar as propostas e os documentos referentes à licitação

instaurada. Essa comissão pode ser de duas espécies conforme sua atuação: permanente,

formada para acompanhar todas as licitações realizadas pela entidade no ano em curso;

e especial, formada para uma determinada licitação, que envolva maior complexidade

ou especificidade.

Qual o tempo de "mandato" (prazo de investidura) de uma comissão de licitação?

Page 127: Livro E Agora 4

O § 4º do art. 51 da Lei nº 8.666/93 estabelece: § 4° A investidura dos membros

das Comissões permanentes não excederá a 1 (um) ano, vedada a recondução da

totalidade de seus membros para a mesma comissão no período subsequente.

A recondução de todos os membros de uma comissão, passado um ano de sua

investidura, é proibida, porém não há impedimento à recondução parcial, ou seja,

finalizado o prazo de um ano, ao menos um membro da comissão deverá ser

substituído.

Quem pode ser pregoeiro?

Somente poderá exercer a função de pregoeiro o servidor ou o militar que reúna

qualificação profissional e perfil adequados, aferidos pela autoridade competente (Art.

10, §4º, do Decreto nº 5.450/05).

Ainda, "somente poderá atuar como pregoeiro o servidor que tenha realizado

capacitação específica para exercer a atribuição", ou seja, o pregoeiro deverá participar

de cursos e processos de aprendizado para aperfeiçoar-se no desempenho da função

(Artigo 7º, § único do Decreto nº. 3.555/00).

Qual o tempo de "mandato" (prazo de investidura) de um pregoeiro?

Uma vez designado um pregoeiro, este poderá desenvolver sua função por prazo

indeterminado, a critério da Autoridade competente (artigo 10, § 3º, do Decreto

5.450/05).

Quais devem ser as principais características do edital de licitação?

As principais características de um processo de licitação são especificadas

quanto ao conteúdo, à documentação, à habilitação dos licitantes e quanto ao

julgamento das propostas.

Assim, quanto ao conteúdo, inclui-se a necessidade de apresentar as condições

para os licitantes participarem do certame; indicar e descrever o objeto da licitação;

indicar os prazos e condições da contratação, tanto para execução como para a entrega

do objeto; trazer as garantias que poderão ser exigíveis para a execução do contrato;

apresentar as condições de pagamento e eventual reajuste de preços; trazer o prazo para

conclusão e entrega do objeto, que pode ser provisório ou definitivo; relacionar os

recursos que poderão ser cabíveis; apresentar informações sobre a licitação, como data,

horário, local, entre outros; e conter eventuais informações complementares sobre a

licitação.

Quanto à documentação, o edital deverá trazer a lista de documentos que serão

exigidos e os termos em que os licitantes apresentarão suas propostas.

Quanto à habilitação dos licitantes, as exigências sobre a capacidade jurídica e

capacidade técnica; exigências sobre a regularidade fiscal e regularidade trabalhista;

exigências sobre a idoneidade financeira; casos de inabilitação de licitantes.

Quanto ao julgamento das propostas, deve apresentar informações sobre o

exame e desclassificação das propostas e a classificação das propostas e os critérios de

julgamento quanto ao rendimento, qualidade, vantagens, condições de pagamento,

preço, prazos; homologação e adjudicação; além dos anexos previstos no artigo 40, § 2º,

da Lei 8.666/03; devendo também apresentar os modos e as possibilidades de eventual

anulação e revogação da licitação, os recursos administrativos e as sanções penais.

Page 128: Livro E Agora 4

Como deve se dar o julgamento da licitação?

Assim determina o artigo 45, da Lei 8.666/93: "O julgamento das propostas será

objetivo, devendo a comissão de licitação ou o responsável pelo convite realizá-lo em

conformidade com os tipos de licitação, os critérios previamente estabelecidos no ato

convocatório e de acordo com os fatores exclusivamente nele referidos, de maneira a

possibilitar sua aferição pelos licitantes e pelos órgãos de controle."

O que é "preço inexequível" e como o detectar e comprovar?

Preço inexequível (artigo 48, II, da Lei nº. 8.666/93) é aquele que se apresenta

muito inferior àqueles efetivamente praticados no mercado e tidos como aceitáveis, e

por isso deve ser analisado com especial cautela, para que a pretensão licitada não seja

frustrada trazendo prejuízos à Administração.

Para comprovar que o preço é inexequível, deve-se compará-lo com os valores

previamente orçados pela Administração e com aqueles praticados pelo mercado. Ao

licitante que se encontrar nessa situação, deverá ser-lhe concedido prazo para que

comprove, por meio de documentos, planilhas etc., a viabilidade do preço proposto.

Para obras e serviços de engenharia, o preço inexequível encontra-se delimitado

pelo artigo 48, § 1º, da Lei nº. 8.666/93, que fixou um padrão aritmético para facilitar

sua identificação.

A Administração pode/deve, no curso do procedimento, suprir falhas cometidas

pelos licitantes?

O critério de julgamento das propostas é de cunho objetivo. Sendo assim, falhas,

omissões ou lacunas identificadas nas propostas dos licitantes, sem excesso de

formalismos, devem ser consideradas como irregularidades, passíveis de

desclassificação caso afetem o exato entendimento sobre o objeto ofertado e as

condições exigidas na licitação, especialmente quando tais irregularidades representem

redução nos custos da proposta em detrimento das demais, desequilibrando as situações

entre os licitantes.

O que é uma "diligência" em licitação e quais os limites à atuação administrativa

nesse procedimento?

Conforme art. 43, § 3º, da Lei 8.666/93, diligência é o ato da Administração

destinado a esclarecer ou complementar a instrução do processo, em busca de

explicações e integrações que achar conveniente.

Realizar ou não diligências não é uma faculdade da Administração. Se os

documentos ou informações apresentados pelo participante trouxerem alguma

obscuridade ou levantarem dúvidas relevantes sobre seu conteúdo, será obrigatória a

verificação devidamente documentada e juntada ao processo licitatório.

O limite às diligências está caracterizado na determinação legal que proibiu a

inclusão de documentos que deveriam constar originalmente na proposta.

Em que consistem a "homologação" da licitação e a "adjudicação" do objeto?

Homologação é, sob os planos da legalidade e da conveniência, o

reconhecimento pela Administração da validade do procedimento licitatório como um

Page 129: Livro E Agora 4

todo, desde seu início (instrumento convocatório) até o seu término (vencimento do

certame), e da necessidade administrativa em relação ao objeto licitado.

Adjudicação é o ato formal da autoridade superior do órgão/entidade licitante

que atribui o objeto licitado ao vencedor do certame.

Ao término da licitação, a Administração está obrigada a contratar o vencedor?

Não. Em princípio, o vencedor do certame possui mera expectativa de direito ao

contrato, não estando a Administração obrigada a contratar. Decidindo pela contratação,

estará obrigada a firmar este contrato com o licitante vencedor.

Por quanto tempo os licitantes permanecem vinculados à Administração em razão

dos preços ofertados na licitação?

Salvo regra diversa estabelecida pelo instrumento convocatório, o prazo máximo

de vinculação das propostas e seus conteúdos é o de 60 (sessenta) dias a contar de seu

oferecimento. Esses termos são fixados pelo artigo 64, § 3º, da Lei 8.666/93:

―Decorridos 60 (sessenta) dias da data da entrega das propostas, sem convocação para a

contratação, ficam os licitantes liberados dos compromissos assumidos‖.

Qual o prazo de validade de uma proposta licitatória? É possível renovar o prazo

de validade da proposta?

Salvo regra diversa estabelecida pelo instrumento convocatório, o prazo máximo

de vinculação das propostas e seus conteúdos é o de 60 (sessenta) dias a contar de seu

oferecimento (artigo 64, § 3º, da Lei 8.666/93)

A entidade ou órgão licitante pode promover uma negociação com os

proponentes, para que estes (embora não estejam obrigados a tanto, sendo apenas uma

faculdade que lhes compete) possam prorrogar o prazo de validade de suas propostas.

A Administração pode contratar quem não apresentou o menor preço na licitação?

Pelo princípio da economicidade, como regra geral, desde que o licitante esteja

habilitado, não é possível. Há, porém, exceções a essa regra sustentadas pela licitação

de "melhor técnica" e de "melhor técnica e preço", casos em que a Administração,

embora buscando sempre o menor preço, poderá contratar aquele licitante cuja técnica

for considerada a melhor, tendo esta um "peso" maior na conclusão dessa decisão.

QUESTÕES FREQUENTES SOBRE CONTRATOS PÚBLICOS

Quais as características do contrato administrativo?

O contrato administrativo é um negócio jurídico sujeito a um regime de normas,

diferenciado dos contratos privados, uma vez que, em um dos polos, encontra-se a

Administração Pública e, consequentemente, o interesse público. Para defender o

alcance desse interesse, a Administração Pública detém, então, poderes especiais em

face do particular contratado, situação inexistente no âmbito dos contratos privados.

Page 130: Livro E Agora 4

Como exemplo desses poderes, chamados prerrogativas, cita-se a possibilidade

de alterar o contrato unilateralmente, de rescindi-lo unilateralmente e de aplicar sanções

administrativas em decorrência de inadimplemento do contratado. Por outro lado, o

contratado está resguardado no tocante aos aspectos financeiros do contrato, por meio

da possibilidade de revisões, repactuações e reajustes de preços, da impossibilidade de

alteração, pela Administração, unilateralmente, de cláusulas econômicas do contrato e,

ainda, do direito de suspender a execução ou pleitear a rescisão contratual após 90 dias

de atraso nos pagamentos devidos. Essas são, em linhas gerais, as principais

características do contrato administrativo regido pela Lei 8.666/93.

Quais os deveres e responsabilidades da Administração perante o contrato

administrativo em execução?

a) Realizar o pagamento do preço na forma e prazos contratados;

b) entregar o local, no caso de obras e serviços, em época e condições adequadas à

realização e execução do contrato por parte do contratado;

c) zelar pelo reequilíbrio econômico-financeiro do contrato.

d) acompanhar, gerenciar e fiscalizar a execução do contrato (poder-dever).

Quais os poderes da Administração em face do contratado e qual a posição do

contratado frente ao uso desses poderes?

Diferentemente dos contratos privados, o contrato administrativo é um negócio

jurídico sujeito a um regime de normas, uma vez que em um dos polos encontra-se a

Administração Pública e, consequentemente, o interesse público, para cuja defesa, a

Administração Pública é detentora de poderes especiais em face do particular

contratado, situação inexistente no âmbito dos contratos privados. De acordo com o art.

58 da Lei 8.666/93, a Administração possui as seguintes prerrogativas, ordenadas em

seus incisos: modificar unilateralmente os contratos administrativos, para melhor

adequação às finalidades de interesse público, rescindir os contratos unilateralmente,

nos casos especificados no inciso I do art. 79 da Lei, fiscalizar-lhes a execução, aplicar

sanções em razão de inexecução do contrato e, nos casos de serviços essenciais, ocupar

provisoriamente bens móveis, imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto do

contrato, quando necessário. O contratado encontra-se sujeito ao exercício desses

poderes, apenas podendo se opor diante de eventual extravasamento dos limites da

legalidade. Em contrapartida, o mesmo art. 58 estabelece, em seus §§ 1º e 2º, que as

cláusulas econômico-financeiras e monetárias não poderão ser alteradas sem prévia

concordância do contratado, devendo, também, ser revistas em caso de modificação

unilateral, visando à manutenção do equilíbrio contratual.

Quando o contrato administrativo termina?

O vínculo de obrigações existente entre as partes termina com a conclusão do

objeto, ou pelo término do prazo contratual, ou ainda por meio de rescisão ou de

anulação.

O contrato administrativo pode ser prorrogado? E alterado?

Sim, a prorrogação poderá ser feita mediante aditamento, desde que justificada e

previamente aprovada pela autoridade competente e desde que prevista em edital e no

Page 131: Livro E Agora 4

instrumento original (contrato), conforme hipóteses previstas no Art. 57, § 1º, da Lei

8.666/93. A alteração contratual também é permitida e encontra-se prevista no Art. 65,

da Lei 8.666/93.

Ouvi falar em garantia de execução ou garantia contratual. O que é tal garantia e

como funciona?

Essa garantia é uma exigência da Administração para assegurar o cumprimento

dos seus contratos, cobrindo futura indenização por eventuais danos. As modalidades de

garantia estão previstas no artigo 56, §1º, da Lei 8.666/93, e poderão ser exigidas, a

critério da autoridade competente, em cada caso e desde que previstas no instrumento

convocatório.

A liberação da garantia ao contratado ocorre quando este cumpre integralmente

o contrato entregando seu objeto de forma definitiva para a Administração.

Contratos decorrentes de licitação na modalidade pregão contêm alguma

peculiaridade em relação aos demais, decorrentes de outras modalidades

licitatórias?

Sim. A Lei 10.520/02 e os decretos que a regulamentam se destinam a regular o

procedimento licitatório chamado pregão, não contendo, a rigor, normas sobre

contratos. No entanto destaca-se que aos contratos administrativos decorrentes dessa

modalidade, em decorrência do que estabelece o art. 7º da Lei 10.520/02, aplica-se a

sanção de impedimento do direito de licitar e contratar, ao invés da suspensão do direito

de licitar e contratar com a Administração e da declaração de inidoneidade para licitar e

contratar com a Administração pública, previstas no art. 87 da Lei 8.666/93. Ainda, o

art. 20 do Decreto federal 3555/00 estabelece que a União publicará o extrato dos

contratos celebrados, no prazo de até vinte dias da data de sua assinatura, com indicação

da modalidade de licitação e de seu número de referência.

CONVÊNIOS ADMINISTRATIVOS

O que é um "convênio administrativo"?

É um acordo voluntário e de mútua cooperação, efetivado entre entidades

públicas, ou entre estas e organizações particulares, para a realização de algum objetivo

que lhes seja comum e que lhes traga benefícios.

Quais normas regulam o convênio administrativo?

Os convênios firmados pela Administração Pública regulam-se pelas disposições

do art. 116 e seguintes, da Lei 8.666/93. É possível que, no âmbito de cada esfera de

poder União, Estados, Municípios e Distrito Federal, sejam expedidas normas

complementares, principalmente quando se tratar de convênios de natureza financeira,

ou seja, quando há o repasse de recursos. A Instrução Normativa 01/97, da Secretaria do

Tesouro Nacional, regula os convênios em que haja repasse de recursos financeiros da

União.

Qual a diferença entre "convênio" e "contrato"?

Page 132: Livro E Agora 4

No contrato administrativo, existem duas partes, com interesses opostos e

diversos, uma visando obter o objeto ou serviço que lhe é necessário, e outra visando

obter lucro ou qualquer outra vantagem econômica.

No convênio, não existe vínculo contratual, não existem partes, e sim partícipes

com as mesmas pretensões e objetivos comuns, qualquer um pode retirar-se do

convênio sem ser penalizado, e, ao invés de existir remuneração e lucro, existe mútua

cooperação.

É preciso realizar licitação para firmar convênio?

Sim. Os princípios gerais da contratação pública (impessoalidade, igualdade dos

particulares perante a Administração, probidade administrativa etc.) jamais poderão ser

afastados. Porém o que justifica a ausência de licitação nos convênios é a finalidade e a

especificação do objeto. Então, havendo pluralidade de interessados em firmar convênio

com a Administração, capazes de cumprir com o objeto em grau de igualdade, será mais

conveniente à Administração realizar um processo similar à licitação para selecioná-los.

Quem pode firmar convênio?

Órgãos e entes estatais entre si, ou com entidades particulares.

Quem fiscaliza a execução do convênio?

O órgão ou entidade repassador dos recursos, os quais são fiscalizados pelos

Tribunais de Contas.

A quem a Administração deve prestar contas em caso de convênio de natureza

financeira, no qual haja repasse de recursos?

Os entes ou órgãos gestores dos recursos financeiros destinados a convênios

estão obrigados a periodicamente (em prestações de contas parciais, anuais e finais)

fornecer aos Tribunais de Contas, em conformidade com parâmetros e exigências

normativas estabelecidas por estes, documentos que demonstrem e comprovem a

aplicação e destinação dos gastos realizados com os recursos do Orçamento,

transferidos por meio de convênios.

É possível alterar ou prorrogar um convênio já firmado?

Serão possíveis alterações nos convênios desde que suficientemente adequadas e

justificadas, apresentadas em prazo mínimo, antes do término de sua vigência, que vier

a ser fixado pelo ordenador de despesa do concedente, levando-se em conta o tempo

necessário para análise e decisão (art. 15, caput, da Instrução Normativa STN nº. 01, da

Secretaria do Tesouro Nacional, de 15 de Janeiro de 1997), desde que mantidos, porém,

imutáveis o objeto do convênio e sua finalidade.

Quanto às prorrogações, estas seguem a mesma interpretação dada às alterações:

desde que demonstradas suficientemente as razões aptas a justificar a prorrogação

(respeitando o princípio da motivação), esta será possível (ex: ocorrência de caso

fortuito ou força maior que dificulte a realização do objeto dentro do prazo programado

para sua conclusão).

Page 133: Livro E Agora 4

TOMBAMENTO DE PATRIMÔNIO CULTURAL

O Estado pode intervir na propriedade do particular, de forma a retirar a

propriedade, restringindo-a, limitando o seu uso e usando e gozando de sua posse,

qual o fundamento para tal intervenção?

A intervenção do Estado na propriedade do particular pode ser fundamentada de

duas formas: pela supremacia do interesse público sobre o particular e, ainda, no caso de

intervenções com objetivo de punição, ou seja, a prática de uma ilegalidade por parte do

que sofreu a intervenção.

Quais são as modalidades de intervenção do Estado na propriedade?

São modalidades de intervenção do Estado na propriedade do particular, a

requisição administrativa, a servidão administrativa, a ocupação temporária, a limitação

administrativa, o tombamento, a desapropriação.

Quais as características de cada uma das modalidades?

A requisição administrativa se dá no caso de iminente perigo público, assegurando ao

proprietário indenização ulterior, se houver dano.

Servidão administrativa, modalidade que autoriza o Poder Público a usar a propriedade

imóvel particular para a execução de obras e serviços de interesse coletivo, só é possível

indenização em caso de prejuízo causado ao particular, e será paga previamente.

Ocupação temporária, modalidade em que o Poder Público usa, transitoriamente,

imóveis dos particulares como meio de apoio à execução de obras e serviços públicos,

só haverá direito à indenização posterior e em caso da ocorrência de prejuízo.

Limitação administrativa, é toda imposição geral, gratuita, unilateral e de ordem pública

condicionadora do exercício de direitos ou de atividades particulares às exigências do

bem-estar social (Hely Lopes Meirelles); não gera indenização ao particular.

Tombamento é a submissão de certo bem, público ou particular, a um regime especial

de uso, gozo, disposição ou destruição em razão de seu valor histórico, artístico,

arqueológico, científico ou cultural (Diógenes Gasparini); não há indenização e não

retira a propriedade e posse que serão mantidas com seu detentor.

Desapropriação, o Poder Público, fundado em necessidade pública, utilidade pública ou

interesse social, compulsoriamente despeja alguém de um bem certo, adquirindo-o para

si, em caráter originário, mediante indenização (art. 5o. XXIV, CF/88).

Qual o tipo de bem, objeto, que pode ser desapropriado pelo Poder Público?

Pode ser desapropriado qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial,

menos moeda corrente nacional (salvo moedas raras). Também é possível a

desapropriação do espaço aéreo e do subsolo, bem como as ações de qualquer

sociedade.

O que é patrimônio cultural?

Page 134: Livro E Agora 4

O artigo 216 da Constituição Federal define patrimônio cultural brasileiro como

sendo os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em

conjunto, portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes

grupos formadores da sociedade.

O que é tombamento?

É a preservação de bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e

afetivo para a população por meio de um ato administrativo realizado pelo Poder

Público, que determina que certos bens serão objeto de proteção especial.

Quem pode tombar o patrimônio histórico e artístico?

O tombamento pode ser feito nas três esferas de poder: federal, estadual e

municipal. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é o órgão da

União responsável pelo tombamento em nível federal. Nos estados, são os institutos do

patrimônio histórico e artístico que podem executar essa tarefa. As prefeituras que

possuem órgãos semelhantes também podem tombar um bem por meio de órgãos

municipais de mesma natureza, ou por meio de leis específicas, ou pela legislação

federal.

O que pode ser tombado?

Bens imóveis, áreas urbanas como centros históricos ou bairros; áreas naturais; e

também bens móveis, como coleções de arte ou objetos representativos de um

acontecimento histórico. Também é possível o registro do patrimônio imaterial, como o

samba de roda do Recôncavo Baiano e o frevo. Além do Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (Iphan), algumas prefeituras e estados também possuem

legislação própria sobre bens imateriais.

Tombar um móvel ou imóvel significa desapropriá-lo?

Não. O direito à propriedade permanece inalterado após o tombamento.

Um móvel ou imóvel tombado pode ser vendido?

Sim. Mas antes o imóvel deve ser oferecido para a União, para o estado e para os

municípios, nessa ordem. Caso nenhum deles queira adquiri-lo, a venda para outros é

autorizada.

É possível realizar reformas e/ou restauração no imóvel tombado?

Sim, desde que aprovado previamente pelo órgão que efetuou o tombamento.

Um imóvel tombado pode mudar de uso?

Depende. Para isso, é necessário que o novo uso não cause prejuízo ao bem e

haja uma harmonia entre a preservação das características do edifício e as adaptações ao

novo uso. É necessária ainda a aprovação do órgão responsável pelo tombamento. Há,

porém, exceções, casos em que a alteração do tipo de uso não é permitida.

Page 135: Livro E Agora 4

Quem é responsável pela conservação e restauração do móvel ou imóvel tombado?

É o proprietário, que pode se candidatar para receber verbas de leis de incentivo

à cultura ou a descontos de impostos prediais ou territoriais disponibilizados por

algumas prefeituras.

O tombamento é a única forma de preservação?

O tombamento é apenas uma ferramenta para se preservar um bem. Apesar de

ser considerada a mais confiável, há outras formas de preservação, que é de

responsabilidade da União, dos estados e dos municípios, conforme estabelece a

Constituição Federal. De acordo com o Iphan, o inventário é a primeira forma para o

reconhecimento da importância dos bens culturais e ambientais, por meio do registro de

suas características principais. Os Planos Diretores das cidades também estabelecem

formas de preservação do patrimônio, assim como a criação de leis específicas que

estabeleçam incentivos à preservação.

Quem pode pedir o tombamento?

Qualquer pessoa pode pedir aos órgãos responsáveis pela preservação a abertura

de estudo de tombamento de um bem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

http://www.agr.sc.gov.br/perguntas-frequentes/o-que-e-privatizacao-1

http://www.rits.org.br/legislacao_teste/lg_testes/lg_tmes_out99.cfm

http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/9/docs/duvidas_frequentes_tombamento_..pdf

http://www.rt.com.br/Informa/RT_Informa_49.pdf

http://www.mp.go.gov.br/portalweb/conteudo.jsp?page=9&conteudo=conteudo/a3dad2

dc1d6c236a475903fd0ced8619.html

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Conselho de Defesa do

Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat)

Caroline Mendes Dias - Advogada associada ao escritório Resina & Marcon Advogados Associados.

- Especialista em Direito Civil com ênfase em Registros Públicos e Direito do

Consumidor pela Faculdade Autônoma de Direito de São Paulo – FADISP e ESA/MS.

- Pós-graduanda em Direito Administrativo pela Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo - PUC/SP.

- Pós-graduanda em Direito Público pela Universidade Católica Dom Bosco – UCDB.

- Graduada pela Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do

Pantanal – Uniderp.

- Extensão em Direito Processual Civil pela Escola Superior da Advocacia de Mato

Grosso do Sul – ESA/MS.

- Membro da Comissão de Defesa do Patrimônio Público e Social da OAB/MS (2008-

2009).

- Professora das disciplinas de Direito Processual Civil, Constitucional e Administrativo

para concursos públicos.

Page 136: Livro E Agora 4

- Palestrante sobre temas das áreas de Direito do Consumidor, Administrativo, Autoral e

Marcário.

- Ministrante de cursos especiais e treinamentos em Direito Administrativo,

Constitucional e Consumidor.

- Articulista colaboradora periódica do Jornal ―A Crítica‖, Informativo Migalhas e

Revista BoniIuris.

- Autora de artigos jurídicos nas áreas de Direito Administrativo, Consumidor, Autoral

e Família.

Page 137: Livro E Agora 4

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

*BRUNO SANCHES RESINA FERNANDES

O que é Previdência Social?

É um seguro que garante a renda do contribuinte e de sua família, em casos de

doença, acidente, gravidez, prisão, morte e velhice. Além dessas garantias, oferece

vários benefícios que juntos garantem ao segurado, tanto no presente como no futuro,

tranquilidade e um rendimento. Para ter essa proteção, é necessário se inscrever e

contribuir todos os meses.

O que significa ter "qualidade de segurado" para o trabalhador?

Significa ter direito de receber os benefícios da Previdência Social, e para isso é

necessário estar em dia com as contribuições mensais.

Quais são os tipos de segurados segundo o INSS?

O Regime Geral da Previdência Social (RGPS) divide-se em dois grupos: segurado

obrigatório e facultativo.

O segurado obrigatório subdivide-se em cinco categorias: empregado, empregado

doméstico, trabalhador avulso, contribuinte individual e o segurado especial.

O segurado facultativo são todas as pessoas com mais de 16 anos (idade mínima) que

não têm renda própria, mas decidem contribuir para a Previdência Social.

Quem é considerado dependente para fins de obter benefícios no INSS?

Os dependentes de segurado da Previdência Social do Brasil são divididos em

três classes:

- classe I: O (A) cônjuge, o (a) companheiro(a) e os filhos menores de 21 anos, não

emancipados ou inválidos;

- classe II: os pais;

- classe III: Os irmãos menores de 21 anos, não emancipados ou inválidos; Os (as)

enteados (as) menores de 21 anos sob tutela legal do segurado, sem condições de

garantir seus sustento e educação.

Se deixar de contribuir mensalmente com a Previdência Social, deixo de ter a

qualidade de segurado?

Sim, com exceção dos seguintes casos:

a) até 12 meses após a cessação das contribuições, por deixar de exercer atividade

remunerada abrangida pela Previdência Social;

b) até 24 meses, caso comprove mais de 120 contribuições mensais ininterruptas;

c) esses casos podem ser dilatados por mais 12 meses, desde que o trabalhador esteja

inscrito como desempregado no órgão próprio do Ministério do Trabalho;

d) sem limite de prazo, para quem está em gozo de benefício;

Page 138: Livro E Agora 4

e) até 12 meses após o livramento quando tiver sido preso.

Qual a diferença entre trabalhador avulso e contribuinte individual?

Os trabalhadores avulsos prestam serviços para diversas empresas, mas, na

prática, são contratados por sindicatos e órgãos que gerenciam mão-de-obra. É o caso

dos trabalhadores portuários, como estivadores, carregadores, amarradores de

embarcações, pessoas que fazem a limpeza e a conservação dos barcos, vigias etc.

Os contribuintes individuais são as pessoas que trabalham por conta própria. São

os chamados "Autônomos". Também são contribuintes individuais os trabalhadores que

prestam serviços temporários às empresas, sem manter vínculo empregatício algum; os

síndicos remunerados, os motoristas de táxi, os vendedores ambulantes, as diaristas, os

pintores, os eletricistas e os associados de cooperativas de trabalho, entre outros.

SALÁRIOS

O que é salário-maternidade? Qual a carência para se ter direito a ele?

É um benefício devido à segurada, durante os 120 dias de afastamento do

emprego por causa do parto (podendo, dependendo do caso1, ser prorrogado para 180

dias). Não é exigido tempo mínimo de contribuição das trabalhadoras empregadas,

empregadas domésticas e trabalhadoras avulsas, desde que comprovem filiação nessa

condição na data do afastamento para fins de salário maternidade ou na data do parto.

A contribuinte facultativa e a individual têm de ter pelo menos dez contribuições

para receber o benefício. A segurada especial receberá o salário-maternidade se

comprovar, no mínimo, dez meses de trabalho rural.

Quem adotar uma criança tem direito ao salário-maternidade?

Sim. Se a criança tiver até um ano de idade, o salário-maternidade será de 120

dias; se tiver de um ano a quatro anos de idade, o salário-maternidade será de 60 dias; se

tiver de quatro anos a oito anos de idade, o salário-maternidade será de 30 dias.

Qual o valor do salário-maternidade?

O valor do salário-maternidade para as seguradas empregadas é o valor integral

para quem tem salário fixo; quem tem salário variável receberá o equivalente à média

salarial dos últimos seis meses.

Já o salário-maternidade da trabalhadora avulsa é o equivalente ao último mês de

trabalho, observado o teto do Ministro do Supremo Tribunal Federal.

Para a empregada doméstica, o salário-maternidade é equivalente ao último

salário de contribuição, observados os limites mínimo e máximo do salário de

contribuição para a Previdência Social. A trabalhadora rural tem direito a um salário

mínimo.

1Lei nº. 11.770 de 09 de setembro de 2008 que cria o programa empresa cidadã, que garante a

prorrogação da licença-maternidade à empregada de pessoa jurídica pública (federal, estadual e

municipal) ou privada (regime do lucro real), que for filiada ao programa.

Page 139: Livro E Agora 4

A contribuinte individual e a facultativa têm direito ao equivalente a 1/12 da

soma dos 12 últimos salários de contribuição apurados em um período de no máximo 15

meses, observado o limite máximo dos benefícios.

Quem realiza o pagamento do salário-maternidade?

A partir de setembro de 2003, o pagamento do salário-maternidade das gestantes

empregadas passou a ser feito diretamente pelas empresas, que serão ressarcidas pela

Previdência Social. Já as mães adotivas, contribuintes individuais, facultativas e

empregadas domésticas terão de pedir o benefício nas Agências da Previdência Social.

Se as empresas aderirem ao programa empresa cidadã, prorrogando a licença-

maternidade de 120 para 180 dias, o pagamento do salário dos 60 dias prorrogados é de

inteira responsabilidade da empresa, o INSS não reembolsa.

As empresas deverão conservar, durante 10 (dez) anos, os comprovantes dos

pagamentos e os atestados ou certidões correspondentes.

O que é salário-família? Qual a carência para se ter direito a ele?

Salário-família é o benefício devido ao segurado empregado (exceto o

doméstico) e ao trabalhador avulso com salário mensal de até R$ 862,11, para auxiliar

no sustento dos filhos de até 14 anos de idade ou inválidos de qualquer idade.

Não é exigido tempo mínimo de contribuição.

Qual o valor do salário família?

Nos termos da Portaria Interministerial nº. 568, de 31/12/2010, para quem tem

remuneração mensal até R$ 573,58 (quinhentos e setenta e três reais e cinquenta e oito

centavos), o salário-família é de R$ 29,41 (vinte e nove reais e quarenta e um centavos),

por filho de até 14 anos incompletos ou inválidos de qualquer idade. Para o trabalhador

que recebe de R$ 573,59 (quinhentos e setenta e três reais e cinquenta e nove centavos)

até R$ 862,11 (oitocentos e sessenta e dois reais e onze centavos), o valor do salário-

família por filho de até 14 anos de idade ou inválido de qualquer idade será de R$ R$

20,73 (vinte reais e setenta e três centavos).

Quando acaba o salário-família?

Quando o filho ou equiparado completar 14 anos de idade; em razão da morte do

filho ou equiparado; pela recuperação da capacidade do filho ou equiparado inválido ou

no caso de desemprego do segurado.

BENEFÍCIOS

Quem tem direito ao auxílio-doença?

Os segurados, empregado doméstico, trabalhador avulso, contribuinte individual,

especial e facultativo que ficarem incapacitados para suas atividades habituais por mais

de 15 dias.

Para ter direito ao benefício, o trabalhador tem de contribuir para a Previdência

Social por, no mínimo, 12 meses. Esse prazo não será exigido em caso de acidente de

qualquer natureza (por acidente de trabalho ou fora do trabalho).

Page 140: Livro E Agora 4

Caso o solicitante do auxílio-doença seja um contribuinte individual, quem paga o

auxílio?

É o próprio INSS quem paga todo o período da doença.

E nos casos dos trabalhadores com carteira assinada, quem paga o auxílio-doença?

Os primeiros 15 dias são pagos pelo empregador. A previdência paga a partir do

16º dia de afastamento do trabalho (data inicial do auxílio-doença).

Há possibilidade de o auxílio-doença ser suspenso?

Sim, se o trabalhador não realizar exame médico periódico e não participar do

programa de reabilitação profissional prescrito e custeado pela Previdência Social.

Quando cessa o auxílio-doença?

Apenas quando o segurado recuperar a capacidade para o trabalho. Ficando

alguma sequela decorrente de acidente de qualquer natureza ou causa, que reduza a

capacidade para o trabalho exercido habitualmente pelo segurado, o auxílio-doença é

transformado em auxílio-acidente.

O que é auxílio-acidente?

É o beneficio concedido pela Previdência Social aos segurados que recebiam

auxílio doença e ficaram com sequelas ou tiveram redução da capacidade laborativa

após um acidente.

Quem tem direito ao auxílio-acidente?

O trabalhador empregado, o trabalhador avulso e o segurador especial. O

empregado doméstico, o contribuinte individual e o facultativo não recebem o

benefício.

O auxílio-acidente mensal e vitalício corresponderá a 50% (cinquenta por cento)

do salário benefício do segurado.

Será devido o auxílio-acidente até a véspera do início de qualquer aposentadoria

ou até a data do óbito do segurado.

O que é necessário para ter direito ao benefício de auxílio-acidente?

Para a concessão do auxílio-acidente, não é exigido tempo mínimo de

contribuição, mas o trabalhador deve ter qualidade de segurado, e comprovar, por meio

de perícia do INSS, que realmente está impossibilitado de continuar desempenhando

suas atividades profissionais.

É considerado acidente apenas o ocorrido no local do trabalho?

Não, o acidente ocorre, na maioria das vezes, na empresa, quando o funcionário

está trabalhando, ou em horário de descanso. Mas ele também pode acontecer na rua,

desde que a serviço da empresa, ou no percurso entre o trabalho e a residência (acidente

de trajeto).

O que é o auxílio-reclusão? Qual a carência?

O benefício é concedido aos dependentes de segurado recolhido à prisão,

independentemente de condenação criminal.

Não há tempo mínimo de contribuição para que a família do segurado tenha

direito ao benefício, basta que o trabalhador preso tenha a qualidade de segurado.

Page 141: Livro E Agora 4

Quando cessa o auxílio-reclusão?

Com a morte do segurado e, nesse caso, o auxílio-reclusão será convertido em

pensão por morte; em caso de fuga, liberdade condicional, transferência para prisão

albergue ou extinção da pena; quando o dependente completar 21 anos ou for

emancipado; com o fim da invalidez ou morte do dependente.

O que é pensão por morte? Qual a carência?

É o benefício concedido aos dependentes do trabalhador em caso de morte. Não

há tempo mínimo de contribuição, mas é necessário que o óbito tenha ocorrido

enquanto o trabalhador tinha qualidade de segurado.

Qual é o valor da pensão?

É de 100% do valor da aposentadoria que o segurado recebia no dia da morte.

Quando cessa a pensão por morte?

O benefício deixa de ser pago quando o pensionista morre, quando se emancipa

ou completa 21 anos (no caso de filhos ou irmãos do segurado) ou quando acaba a

invalidez (no caso de pensionista inválido).

O que é Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social – BPC-LOAS?

O BPC-LOAS, é um benefício da assistência social, que permite o acesso de

idosos e pessoas com deficiência às condições mínimas de uma vida digna,

independente de ser segurado ou não.

Quem tem direito ao LOAS?

- Pessoa Idosa: deverá comprovar que possui 65 anos de idade ou mais, que não recebe

nenhum benefício previdenciário, ou de outro regime de previdência, e que a renda

mensal familiar per capita seja inferior a ¼ do salário mínimo vigente.

- Pessoa com Deficiência: deverá comprovar que a renda mensal do grupo familiar per

capita seja inferior a ¼ do salário mínimo, deverá também ser avaliado se a sua

deficiência a incapacita para a vida independente e para o trabalho, e esta avaliação é

realizada pelo serviço de perícia médica do INSS.

Quando o LOAS deixará de ser pago?

Quando houver superação das condições que deram origem à concessão do

benefício ou ocorrer o falecimento do beneficiário. O benefício assistencial é

intransferível e, portanto, não gera pensão aos dependentes.

APOSENTADORIA

Quem nunca contribuiu para o INSS pode se aposentar?

A princípio qualquer benefício previdenciário depende da contribuição de seus

segurados. Assim, quem nunca contribuiu para a previdência social não pode ser

considerado segurado, portanto, não tem direito a aposentar-se, exceto os segurados

especiais (ex. rurais).

Quem tem direito à aposentadoria por idade? Qual a carência?

Page 142: Livro E Agora 4

O segurado que completar 65 anos de idade, se homem, ou 60 anos de idade, se

mulher. Os trabalhadores rurais podem solicitar a aposentadoria por idade com cinco

anos a menos: os homens aos 60 anos, e aos 55 anos, as mulheres.

A carência para a concessão desse benefício é de 180 contribuições mensais.

Quando cessa a aposentadoria por idade?

A aposentadoria por idade cessa com a morte do segurado.

Quem tem direito à aposentadoria por invalidez? Qual a carência?

Tem esse direito aquele segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-

doença, for considerado incapaz para o trabalho e não tiver condições de ser reabilitado

para o exercício de atividade que lhe garanta o seu sustento.

A carência para a concessão da aposentadoria por invalidez é de 12

contribuições mensais, sendo, contudo, dispensada nos casos de acidente de qualquer

natureza ou causa, doença profissional ou do trabalho e de doença e afecções

especificadas em lista elaborada pelo Ministério da Saúde e da Previdência Social, a

cada três anos.

A aposentadoria por invalidez só é concedida após o auxílio-doença?

Não. Normalmente, a aposentadoria por invalidez decorre da transformação do

auxílio-doença. Entretanto, constatada a gravidade da situação do segurado, considerado

totalmente incapaz para o trabalho, pode ser concedida imediatamente a aposentadoria

por invalidez.

O aposentado por invalidez pode trabalhar?

O aposentado por invalidez que voltar ao trabalho, por sua própria conta, terá a

sua aposentadoria automaticamente cessada, a partir da data do retorno.

O aposentado por invalidez que se achar em condições de voltar ao trabalho deverá

solicitar a realização de nova avaliação médico-pericial.

O aposentado por invalidez, que precisa diariamente da ajuda de outra pessoa,

tem algum outro direito?

Sim. O valor da aposentadoria por invalidez, mesmo com valor máximo, será

acrescido de 25%, quando o segurado necessitar da assistência permanente de outra

pessoa, em razão de impossibilidade permanente para as atividades da vida diária.

Quando cessa a aposentadoria por invalidez?

A aposentadoria por invalidez pode cessar pela transformação desta em

aposentadoria por idade, pela recuperação da capacidade ou pela morte do assegurado.

Quem tem direito à aposentadoria integral por tempo de contribuição?

Para aposentar-se integralmente por tempo de contribuição, o segurado tem de

ter contribuído durante 35 anos, se homem, ou 30 anos, se mulher.

Esses limites serão reduzidos em cinco anos para os professores que

comprovarem, exclusivamente, tempo de efetivo exercício das funções de magistério,

ou seja, de atividade docente em sala de aula.

Quem tem direito à aposentadoria proporcional por tempo de contribuição?

Para requerer a aposentadoria proporcional por tempo de contribuição, o

trabalhador tem de combinar dois requisitos: tempo de contribuição e a idade mínima.

Page 143: Livro E Agora 4

Os homens podem requerer aposentadoria proporcional aos 53 anos de idade e

30 anos de contribuição (mais um adicional de 40% sobre o tempo que faltava em 16 de

dezembro de 1998 para completar 30 anos de contribuição, o chamado ―pedágio‖).

As mulheres têm direito à proporcional aos 48 anos de idade e 25 de

contribuição (mais um adicional de 40% sobre o tempo que faltava em 16 de dezembro

de 1998 para completar 25 anos de contribuição, o chamado ―pedágio‖).

Essa regra da idade, o tempo de contribuição e o tempo adicional – pedágio –

estão contidos no artigo 9º da Emenda Constitucional nº. 20 de 15 de dezembro de

1998.

Exemplo: Sr. Manoel, em 16 de dezembro de 1998, havia contribuído vinte anos com a

Previdência Social, faltando, por conseguinte, dez anos para completar os trinta anos de

recolhimentos exigidos na lei. Por conta da regra de transição (pedágio), o segurado

teria de contribuir, além dos dez anos faltantes, com mais quatro anos de pedágio. (10 x

40%= 4). O Sr. Manoel, então, deveria contribuir com os 10 anos que faltavam (20-30)

e, adicionalmente, com mais quatro anos de ―pedágio‖, totalizando quatorze anos

faltantes para sua aposentadoria.

Qual a carência exigida para o segurado aposentar por tempo de contribuição?

Os segurados inscritos a partir de 25 de julho de 1991 devem ter, pelo menos,

180 contribuições mensais. Os filiados antes dessa data têm de seguir a tabela

progressiva que encontra no site da previdência Social (www.previdenciasocial.gov.br).

Quem tem direito à aposentadoria especial? Qual a carência?

A aposentadoria especial será devida ao segurado empregado, trabalhador avulso

e contribuinte individual, este somente quanto cooperado filiado à cooperativa de

trabalho ou de produção, que tenha trabalhado durante 15, 20 ou 25 anos, conforme o

caso, sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.

A carência para a aposentadoria especial é de 180 contribuições mensais

Como é feita a comprovação da exposição permanente do segurado ao agente

nocivo?

Tal comprovação será feita mediante formulário denominado Perfil

Profissiográfico Previdenciário (PPP), emitido pela empresa ou preposto, com base em

Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho (LTCAT), expedido por médico

do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. Reúne, ainda, informações do

Programa de Prevenção de Risco Ambientais do trabalho (PPRA) e do Programa de

Controle Medido e Saúde Ocupacional (PCMSO).

Quando cessa a aposentadoria especial?

O aposentado especial que retornar ao exercício de atividade ou operações que o

sujeitem aos agentes nocivos, ou nele permanecer ou em outra empresa, qualquer que

seja a forma de prestação de serviço ou categoria de segurado, terá o benefício

suspenso.

O que é desaposentação?

A desaposentação nada mais é que uma renúncia que o segurado faz da sua

aposentadoria para se colocar em uma situação mais vantajosa economicamente. Dessa

forma, o titular do direito pode, portanto, a qualquer tempo, solicitar a substituição de

Page 144: Livro E Agora 4

um benefício por outro, mais vantajoso, desde que cumpridos os requisitos legais

exigidos para cada caso.

Que benefícios oferecidos pela previdência social não podem ser cumulados?

I- aposentadoria com auxílio-doença;

II- mais de uma aposentadoria;

III- aposentadoria com abono de permanência em serviço;

IV- salário-maternidade com auxílio-doença;

V- mais de um auxílio-acidente;

VI- mais de uma pensão deixada por cônjuge;

VII - mais de uma pensão deixada por companheiro ou companheira;

VIII - mais de uma pensão deixada por cônjuge e companheiro ou companheira; e

IX - auxílio-acidente com qualquer aposentadoria.

GLOSSÁRIO

Carência: É o período correspondente a um número mínimo de contribuições mensais

para que o segurado tenha direito ao benefício.

REFERÊNCIAS:

Previdência Social, disponível em: www.previdencia.gov.br.

Castro, Carlos Alberto Pereira de, Manual de Direito Previdenciário, 6º Ed., LTr, São

Paulo, 2005.

DECRETO Nº 3.048 - DE 06 DE MAIO DE 1999 - DOU DE 7/5/99 - e publicado em

12/05/1999.

Kertzman, Ivan, Direito Previdenciário, BF&A, 2006.

MARTINS, Sergio Pinto, Fundamentos de Direito da Seguridade Social, 6º Ed.,

Atlas S.A., São Paulo, 2007.

* Bruno Sanches Resina Fernandes. Graduado pela Universidade para o

Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP. Pós-Graduado em

Direito e Processo do Trabalho pela instituição Luiz Flávio Gomes. Cursando Técnico

de Segurança do Trabalho pelo SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem

Comercial). Advogado associado do Escritório Resina & Marcon Advogados

Associados – www.resinamarcon.com.br.

DIREITO AMBIENTAL

*Ana Paula da Costa Aoki

Que se entende por meio ambiente e como ele se divide?

Page 145: Livro E Agora 4

Meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem

física, química ou biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas

proposições (Art. 3°, da Lei 6938/81).

O meio ambiente se divide nas seguintes espécies. São elas:

1. meio ambiente natural: consistente nos elementos que já existiam sem a

influência do homem;

2. meio ambiente artificial: consistente nos elementos construídos pelo homem

na interação com a natureza;

3. meio ambiente cultural: consistente em elementos construídos pelo homem,

que detenham um valor agregado especial para a sociedade e o meio ambiente do

trabalho, onde os homens exercem suas atividades laborativas.

4. meio ambiente de trabalho: constituído pelo ambiente local, no qual as pessoas

desenvolvem as suas atividades laborais, remuneradas ou não, cujo equilíbrio está

baseado na salubridade do meio e na ausência de agentes que comprometam a

incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independentemente da condição que

ostentem.

O que é desenvolvimento sustentável?

É o direito do ser humano de se desenvolver e realizar as suas potencialidades ,

quer individualmente, quer socialmente, e o direito de assegurar às gerações futuras as

mesmas condições favoráveis, surgindo a reciprocidade entre direito e dever, já que o

desenvolver-se e usufruir de um planeta plenamente habitável não é apenas direito, é

dever precípuo das pessoas e da sociedade.

Como é a disposição legal para a produção de agrotóxicos?

De acordo com o artigo 3º da Lei 7.802/89, os agrotóxicos, seus componentes e

afins só poderão ser produzidos, exportados, importados, comercializados e utilizados,

se previamente registrados em órgão federal, de acordo com as diretrizes e exigências

dos órgãos federais responsáveis pelos setores da saúde, do meio ambiente e da

agricultura.

O parágrafo 6º do citado artigo 3º da Lei de Agrotóxicos ainda determina que:

§ 6º Fica proibido o registro de agrotóxicos, seus componentes e afins:

a) para os quais o Brasil não disponha de métodos para desativação de seus

componentes, de modo a impedir que os seus resíduos remanescentes provoquem riscos

ao meio ambiente e à saúde pública;

b) para os quais não haja antídoto ou tratamento eficaz no Brasil;

c) que revelem características teratogênicas, carcinogênicas ou mutagênicas, de acordo

com os resultados atualizados de experiências da comunidade científica;

d) que provoquem distúrbios hormonais, danos ao aparelho reprodutor, de acordo com

procedimentos e experiências atualizadas na comunidade científica;

e) que se revelem mais perigosos para o homem do que os testes de laboratório, com

animais, tenham podido demonstrar, segundo critérios técnicos e científicos atualizados;

f) cujas características causem danos ao Meio Ambiente.

O que se entende por Áreas de Preservação Permanente?

Page 146: Livro E Agora 4

As Áreas de Preservação Permanente estão definidas nos artigos 2º e 3º do

Código Florestal (Lei 4.771/65) e podem ser entendidas, em breves linhas, como sendo

as áreas de florestas e demais formas de vegetação natural que não podem ser

removidas, tendo em vista a sua localização e a sua função ecológica. Assim, a

vegetação localizada ao longo dos cursos de água, nas encostas, nas restingas, ao redor

de lagos e lagoas, ao longo das rodovias, entre outras, conforme discriminação

constante desses artigos, dada sua importância ambiental, é considerada de preservação

permanente.

As Áreas de Preservação Permanente podem ser assim definidas por força da Lei

(art. 2º) ou por ato do Poder Público (art. 3º) e ainda, poderão abranger áreas urbanas,

regiões metropolitanas e aglomerações urbanas.

Dessa forma, se uma área qualquer necessitar de proteção por enquadrar-se em

uma das oito alíneas do art. 3º, poderá o Poder Público determiná-la como área de

proteção permanente. Esse ato do Poder Público, segundo os administrativistas, não

pode ser considerado como desapropriação, mas mera limitação administrativa,

portanto, sem direito a indenização.

É possível intervenção ou supressão em áreas de preservação permanente - APP?

Sim, de acordo com a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente –

CONAMA, de n° 369 de 2006, que regula o Código Florestal(Lei 4.771/1965), ficou

estabelecido que, em casos de interesse social e utilidade pública, é possível a

intervenção ou supressão de vegetação em APPs.

De acordo com a Medida Provisória n° 2.166-67/01, o interesse social pode ser

compreendido: nas atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação

nativa; nas atividades de manejo agroflorestal sustentável praticadas na pequena

propriedade ou posse rural familiar que não descaracterizem a cobertura vegetal e não

prejudiquem a função ambiental da área; e nas demais obras, planos, atividades ou

projetos definidos em resolução do CONAMA. Por outro lado, estão compreendidas

como sendo de utilidade pública: as atividades de segurança nacional e proteção

sanitária; obras essenciais de infraestrutura destinadas aos serviços públicos de

transporte, saneamento e energia; e demais obras, planos, atividades ou projetos

previstos em resolução do CONAMA.

A Resolução 369/06 do CONAMA parece haver solucionado o tema que foi

alvo de inúmeras discussões desde o advento do primeiro Código Florestal, em 1934, de

forma a compatibilizar a ocupação e o uso econômico das APPs. No entanto há de se

recordar que a solução não é de tudo ideal, uma vez que as APPs são essenciais ao meio

ambiente equilibrado e têm a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a

paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora,

proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas, nos termos do artigo

1º, § 2º, inciso II do Código Florestal.

Qual a diferença entre área de reserva legal e área de preservação permanente?

Page 147: Livro E Agora 4

Reserva Legal nada mais é do que a área localizada na propriedade ou posse

rural determinando os percentuais de vegetação que devem ser conservados nessas

propriedades, sem que nesta se inclua a Área de Preservação Permanente.

Esses percentuais são de 80% na Amazônia, 35% no cerrado dentro dos estados

que compõem a Amazônia legal, e de 20% nos demais biomas.

Já as Áreas de Preservação Permanente (APP) constituem áreas protegidas,

devendo ser conservada a vegetação nativa preservando-se os recursos hídricos, a

paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora,

além de proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

O que se entende por servidão ambiental?

A servidão ambiental é um dos instrumentos da política nacional do meio

ambiente e consiste na renúncia voluntária do proprietário rural ao direito de uso,

exploração ou supressão dos recursos naturais existentes em sua propriedade. Trata-se

de inovação advinda com a Lei 11.284/06 que acrescentou à Lei da Política Nacional do

Meio Ambiente o artigo 9º- A.

Art. 9º-A. Mediante anuência do órgão ambiental competente, o proprietário

rural pode instituir servidão ambiental, pela qual voluntariamente renuncia, em caráter

permanente ou temporário, total ou parcialmente, a direito de uso, exploração ou

supressão de recursos naturais existentes na propriedade.

§ 1º A servidão ambiental não se aplica às áreas de preservação permanente e

de reserva legal.

§ 2º A limitação ao uso ou exploração da vegetação da área sob servidão

instituída em relação aos recursos florestais deve ser, no mínimo, a mesma estabelecida

para a reserva legal.

§ 3º A servidão ambiental deve ser averbada no registro de imóveis

competente.

§ 4º Na hipótese de compensação de reserva legal, a servidão deve ser

averbada na matrícula de todos os imóveis envolvidos.

No que consiste o princípio ambiental da prevenção?

O meio ambiente é bem de uso comum do povo, e cabe a todos zelar por sua

integridade, é o que dispõe o Art. 225 da Carta Magna. Assim sendo, o Princípio da

Prevenção pode ser entendido como uma imposição à coletividade e ao Poder Público

para que tomem medidas prévias no sentido de garantir um meio ambiente

ecologicamente equilibrado.

O fundamento legal do princípio está na própria Constituição, uma vez que esta

traz medidas de prevenção, como por exemplo: a instituição de unidades territoriais de

preservação e a necessidade de se exigir estudo prévio de impacto ambiental para

atividades que eventualmente causem degradação ao meio ambiente.

Quais são os tipos de licença ambiental?

As licenças ambientais resultam do procedimento exigido previamente à

instalação de atividades ou empreendimentos potencialmente poluidores, qual seja: o

Page 148: Livro E Agora 4

licenciamento ambiental. Sendo assim, as licenças ambientais existentes são: licença

prévia, licença de instalação e licença de operação.

A licença prévia destina-se à aprovação do projeto, envolvendo a localização e

viabilidade e tem prazo máximo de 05 anos. A licença de instalação é a ser obtida em

seguida, para que se possa dar continuidade ao empreendimento. Ela autoriza a

instalação deste e eventuais edificações, nos termos do projeto previamente aprovado,

tendo duração máxima de 06 anos.

Por fim, a licença de operação é a última a ser concedida, desde que as

condições estabelecidas nas licenças anteriores tenham sido cumpridas. Esta licença terá

prazo mínimo de 04 anos e máximo de 10 anos.

Uma licença ambiental poderá ser prorrogada?

Consoante a redação do art. 18, §4º da resolução do CONAMA 237/1997, a

renovação da Licença de Operação (LO) deverá ser requerida com antecedência mínima

de 120 (cento e vinte) dias da expiração do seu prazo de validade.

Portanto o empreendedor deverá requisitar a renovação da licença de operação

com certa antecedência. O órgão competente licenciador irá se pronunciar após a

solicitação, entretanto, a licença fica automaticamente prorrogada até que o órgão

ambiental se manifeste. Se o prazo estabelecido for descumprido, a licença perderá sua

validade automaticamente.

Como é analisada a responsabilidade pelos danos ao meio ambiente?

No campo do Direito Ambiental, considerando-se a importância dos bens

ambientais tutelados, de uso comum do povo e essenciais à sadia qualidade de vida,

adotou-se a teoria objetiva para se aferir responsabilidade do causador do dano

ambiental e lhe impor, assim, o dever de reparar os danos. Logo, não é necessário

demonstrar a culpa ou a intenção do agente para que haja o dever de reparar o dano

ambiental.

As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os

infratores a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de

reparar os danos causados.

Existem crimes ambientais?

Sim, existe, inclusive, uma Lei de Crimes Ambientais (9.605/98), estabelecendo

sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao Meio

Ambiente.

Assim como ocorre em todo o Direito Ambiental, a aplicação de sanções penais

não possui o escopo somente de punir o degradador, mas também, e principalmente, de

prevenir as condutas lesivas ao Meio Ambiente, tanto que a maioria das penas previstas

nessa Lei são penas alternativas, que substituem as privativas de liberdade.

Como as pessoas físicas respondem pelo cometimento de crime ambiental?

Às pessoas físicas aplicam-se as seguintes sanções penais:

Page 149: Livro E Agora 4

- privativas de liberdade;

- restritivas de direito;

- multa

Pessoa jurídica pode responder por crime ambiental?

Sim, na verdade, são as pessoas jurídicas as que mais causam degradação

ambiental, em razão do processo produtivo e da busca incessante pelo lucro. A ela são

aplicadas as seguintes sanções:

- restritivas de direitos;

- multa;

- prestação de serviços à comunidade;

São requisitos para a responsabilidade penal da pessoa jurídica conforme o

artigo 3º, da Lei 9.605/1998:

a) Infração cometida por decisão do representante legal ou contratual ou do órgão

colegiado da pessoa jurídica;

b) Infração praticada no interesse ou benefício da entidade.

Desse modo, se o ato praticado, mesmo através de pessoa jurídica, apenas visou

a satisfazer os interesses do dirigente, sem qualquer vantagem ou benefício para a

pessoa jurídica, esta deixa de ser o agente do tipo penal e passa a ser meio utilizado para

a realização da conduta criminosa. Ao contrário, quando a conduta visa à satisfação dos

interesses da sociedade, esta deixa de ser meio e passa a ser o agente causador do dano.

Importante deixar claro que a responsabilidade da pessoa jurídica não exclui a

responsabilidade das pessoas físicas, autoras, coautoras e partícipes do mesmo fato, já

que a empresa em si não pode cometer crimes.

Maus-tratos a animais domésticos, como gatos e cães, podem ser considerados

crime ambiental?

Sim, Os maus tratos aos animais domésticos também são considerados crime

ambiental.

A Lei 9.605/98, em seu artigo 32, prevê detenção de três meses a um ano, e

multa, para quem "praticar ato de abuso, maus tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,

domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos".

O que é o princípio do poluidor-pagador?

Segundo o princípio do poluidor-pagador, todo aquele que polui (causar dano

ambiental), deve pagar pela poluição que causou. Mas isso não significa dizer que, se a

poluição tem um preço, e o poluidor arca com esse preço, fica ele autorizado a continuar

poluindo. Ao contrário, visa evitar a ocorrência de danos ambientais pela internalização

dos custos externos.

Existe diferença entre o Princípio do Usuário-Pagador e Poluidor-Pagador?

A Lei nº 6.938/1981 determina que o usuário de recursos ambientais com fins

econômicos deva pagar pela sua utilização.

Page 150: Livro E Agora 4

Esse princípio tem por objetivo fazer com que os custos não sejam suportados

pelo Poder Público nem por terceiros, apenas pelo utilizador. Por outro lado, não

importa a imposição de taxas que tenham por efeito aumentar o preço do recurso a

ponto de ultrapassar seu custo real. Referido princípio não é uma punição, pois, mesmo

não existindo ilicitude, pode haver a necessidade de pagamento.

O Princípio do Usuário-Pagador contém o Princípio do Poluidor-Pagador,

obrigando o poluidor, pessoa física ou jurídica, a pagar pela poluição que pode ser

causada ou que já foi causada. Ressalta-se que o pagamento pelo poluidor não lhe

confere direito a poluir nem tampouco o isenta de ter examinada e aferida sua

responsabilidade residual para reparar o dano.

O poluidor que deve pagar é aquele que tem o poder de controle sobre as

condições que levam à ocorrência da poluição, podendo preveni-las. Assim não sendo, o

poluidor terá que arcar com o ônus dos danos de sua atividade. O que se quer é a

prevenção, a precaução, o cuidado prévio (e aqui, cabe ao potencial poluidor custeá-

los).

No entanto, ocorrida a degradação e a poluição, cabe ao poluidor pagar tal

reparação. Como o princípio enuncia, não se deve inferir que se paga para poluir.

Assim, o poluidor deve não só pagar, como também reparar o dano.

Quanto ao princípio do usuário-pagador, dada a escassez e a sensibilidade dos

recursos ambientais, é um direito do poder público cobrar do usuário do recurso, a

devida contrapartida financeira para custear direta ou indiretamente, o movimentar da

máquina administrativa pública visando à proteção em todos os níveis desses recursos

ambientais. Também é de se considerar que o acesso específico de alguns a tais recursos

(em detrimento da maioria), implica certo retorno de recursos para a coletividade que

não teve acesso a esse recurso ambiental.

Quais são as formas de reparação de dano ambiental?

A Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81) atribuiu ao poluidor do

Meio Ambiente e a terceiros, em razão de suas atividades, o dever de indenizar e de

reparar tais danos (art. 14, parágrafo 1º), independentemente da existência de culpa. A

Constituição Federal também estabelece que os infratores (pessoas físicas e jurídicas)

devem reparar os danos causados (art. 225, parágrafo 3º) no desempenho de atividades e

condutas lesivas ao Meio Ambiente.

Com base nessa lei, são estas duas as principais formas de reparação do dano

ambiental pelo degradador:

- indenização em dinheiro

- recuperação do Meio Ambiente degradado.

Qual a modalidade ideal de reparação?

É a própria reparação do dano ambiental. Esta é a primeira que deve ser tentada,

mesmo que seja a mais onerosa, a fim de se cessar a atividade lesiva e reverter a

degradação ambiental.

Em regra, a indenização em dinheiro só se aplica quando a recuperação do meio

ambiente degradado não for possível por diversas razões: condições físicas do local,

Page 151: Livro E Agora 4

grau de contaminação e degradação, extinção completa de espécies, destruição dos

habitats naturais, impossibilidade técnica etc.

Nesse sentido, transcreve-se o § 5º: ― É vedada, durante o prazo de vigência da

servidão ambiental, a alteração da destinação da área, nos casos de transmissão do

imóvel a qualquer título, de desmembramento ou de retificação dos limites da

propriedade‖.

Pode-se aplicar o princípio da insignificância no âmbito dos crimes ambientais?

Após anos de debates, os doutrinadores chegaram a uma conclusão, com relação

ao tema, e passaram a aplicar o princípio da insignificância aos crimes ambientais, sob o

argumento de que se faz necessária a sua adoção nos casos em que se trate de crimes

ambientais de menor potencial ofensivo, pois, nessas hipóteses, a punição não traria

qualquer benefício para o meio ambiente, nem mesmo para a sociedade.

Logo, a ação de dano ambiental deve passar por um critério de avaliação,

envolvendo sua gravidade e ofensividade com relação à necessidade de imposição de

uma pena que não trará nenhum benefício ao meio-ambiente e à sociedade.

Os crimes ambientais comportam o instituto despenalizador da transação penal?

O entendimento é tranquilo no sentido de reconhecer a aplicabilidade da

transação penal aos crimes ambientais considerados de menor potencial ofensivo.

Ressalte-se, entretanto, que é requisito necessário, para a transação, a prévia

composição dos danos ambientais, salvo nos casos de comprovada impossibilidade.

Este, o fundamento legal: art. 27 da Lei 9.605/98, que segue abaixo:

Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação

imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de

26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido a prévia

composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de

comprovada impossibilidade.

Qual a diferença entre arborização urbana e pública?

Arborização urbana refere-se à vegetação existente no perímetro urbano, ao

passo que arborização pública refere-se exclusivamente às árvores das vias públicas,

como calçadas e canteiros centrais, praças.

Eu plantei uma árvore em frente a minha casa, na calçada, posso cortá-la quando

quiser?

A legislação ambiental diz que, não havendo interesse da União ou do Estado,

especificamente na região onde está localizada a árvore (isolada), o morador deverá

recorrer à Prefeitura Municipal para obter o licenciamento que autorize a retirada da

árvore.

Posso cortar árvores no meu terreno?

Depende. Árvores nativas requerem sempre autorização prévia. Árvores exóticas

como eucalipto, cinamomo, alvena (uva-do-japão), cítus (laranjeira, limoeiro etc),

Page 152: Livro E Agora 4

pinus, entre outras, podem ser cortadas pelo proprietário, mas sempre com a autorização

do Departamento do Meio Ambiente.

O que é necessário para que se possa efetuar uma limpeza de cerca que está

coberta por arbustos e árvores de várias espécies?

É necessário que o interessado faça um requerimento ao Órgão Competente,

solicitando a Autorização para limpeza da cerca. Nessa autorização, deverá constar a

extensão e a largura do serviço a ser executado, caracterizando também o tipo de

vegetação ali existente e que será retirada. A autorização deverá permanecer no local

onde será executada a atividade, para que a fiscalização possa conferir se o

procedimento está sendo realizado conforme o autorizado.

Quando quero cortar uma árvore ou podá-la, o que fazer?

As árvores das cidades são consideradas bem de interesse comum dos

municípios, de acordo com a legislação municipal, portanto o morador não deve podá-la

ou cortá-la, sem antes entrar em contato com a Prefeitura Municipal.

O que é poda drástica?

É a remoção total da copa, permanecendo acima do tronco os ramos principais

com menos de 1,0 metro de comprimento nas árvores adultas. Isso significa remoção

total de um ou mais ramos principais, resultando no desequilíbrio irreversível da árvore.

Se eu fizer poda drástica, o que acontece?

Esse ato corresponde a crime ambiental, com detenção de 3 meses a um ano,

gera multa por exemplar ( Lei Federal Nº 9.605/98), além da responsabilização civil

pelos danos causados.

Posso plantar mudas de árvores de qualquer tamanho no passeio?

Não. As mudas deverão ter altura mínima de 1,00 metro e ser amarradas a

tutores. E quanto às espécies, deverá ser consultado o Departamento do Meio ambiente.

Sempre que for autorizado o corte de alguma árvore, eu terei que plantar outras?

Sim. A Reposição Florestal é obrigatória e está prevista em lei.

Quantas árvores devem ser plantadas por exemplar cortado?

A lei estabelece 15 mudas para cada árvore cortada, preferencialmente da mesma

espécie. Árvores ameaçadas sempre devem ser repostas com a mesma espécie. Essa

reposição não vale para árvores da arborização pública, o que fica a critério do

Departamento do Meio Ambiente.

Em que situações preciso contratar um responsável técnico?

A contratação de um RT (Responsável Técnico) é necessária em projetos de

corte seletivo (mais de duas árvores), descapoeiramento em propriedades com mais de

25 hectares, manejo de árvores imunes ao corte (transplante, podas) e projetos de

recuperação ambiental. Os RT também ficam responsáveis por apresentar os laudos de

reposição florestal, incluindo o replantio.

O que é o Termo de Ajustamento de Conduta Ambiental?

O Termo de Ajustamento de Condutas (TAC) é um instrumento administrativo

que visa realizar um acordo entre aquele que causou o dano ambiental e o órgão

fiscalizador. Como o próprio nome sugere, busca-se reajustar a conduta, adequá-la aos

ditames da lei.

Page 153: Livro E Agora 4

O Termo de Ajustamento de Conduta Ambiental possui natureza de transação, já

que o objeto transacionado não é o meio ambiente, mas sim a situação periférica, ou

seja, a conservação do meio ambiente.

BIBLIOGRAFIA

GARCIA, Wander. Elementos do Direito – Direito Ambiental. São Paulo: Premier

Máxima

Lei 4.771/65. http://www.greenpeace.com.br/codigoflorestal/release_lanc.php

MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros

Editores, 17 ed, 2009.

MUKAI, Toshio. Direito Ambiental Sistematizado. 5ª edição. Rio de Janeiro: Forense,

2005. p. 11.

SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 4ª edição. São Paulo:

Malheiros. P. 41.

*Ana Paula da Costa Aoki

Acadêmica do 10º semestre do curso de Direito da Universidade Católica Dom Bosco

(UCDB). Estagiária do escritório Resina & Marcon Advogados Associados. E-mail:

[email protected]

DIREITO MÉDICO

Telma Curiel Marcon

Na esfera do atendimento médico, no aspecto jurídico, existem princípios

norteadores?

Sim. Primeiramente, devemos elucidar que princípios são os pilares norteadores

das normas legais destinadas ao caso concreto. No caso das relações médicas, por se

tratar de uma relação contratual, mesmo que implicitamente, deve o médico atentar-se a

princípios tais como: o da transparência dos contratos, que consiste em destinar aos

pacientes a maior clareza de informações; o da boa-fé objetiva, referente à prática de

atitudes que melhor atendam a intenção real do paciente, ou seja, o êxito do tratamento;

o da dignidade humana, sendo um dos mais importantes em virtude de sua previsão

Page 154: Livro E Agora 4

legal, consiste na destinação de um tratamento digno a qualquer paciente, independente

de antecedentes, condição financeira, raça ou aspecto pessoal inerente a ele; e por fim o

princípio da possibilidade de inversão do ônus da prova, ou seja, caso haja uma

contenda judicial, deverá o médico provar que agiu da melhor forma possível, estando o

paciente desincumbido de provar negligência, imprudência ou imperícia daquele.

O médico poderá se recusar a trabalhar em instituição que não ofereça condições

adequadas?

Sim, segundo o artigo 23 do Código de Ética de Medicina, se o ambiente de

trabalho não fornece lugar apropriado para se trabalhar, ou oferece local que ponha em

risco a vida do paciente ou do médico, poderá o médico se recusar a trabalhar. Poderá

também, conforme determina o artigo 24, suspender suas atividades individuais ou

coletivas na instituição pública ou privada na qual trabalha, se esta não oferecer

condições mínimas para o exercício profissional ou não o remunerar condignamente,

ressalvadas as situações de urgência e emergência, devendo comunicar imediatamente

sua decisão ao Conselho Regional de Medicina.

O médico poderá recusar a prestação de atos médicos?

O médico que não se sentir bem ou tiver de realizar um ato contrário a seus

costumes ou consciência poderá se recusar a realizar os atos médicos mesmo previstos

em lei, passando assim suas responsabilidades a outro médico, conforme disciplinado

no artigo 61 do Código de Ética de Medicina.

O médico pode se recusar a atender paciente portador de doença infecto-

contagiosa?

Não. Porém, evidentemente, devem existir condições seguras para esse tipo de

atendimento conforme estabelece a Resolução CFM 1359/52, que normatiza o

atendimento a pacientes portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV).

O médico pode deixar de atender seu paciente ou renunciar o seu atendimento?

É vedado ao médico abandonar o paciente que está sob seus cuidados, conforme

prevê o artigo 61 do Código de Ética de Medicina. Porém há exceções a essa regra,

pois, caso ocorram fatos que prejudiquem o bom relacionamento com o paciente ou o

pleno desempenho profissional, o médico terá o direito de renunciar ao atendimento,

desde que comunique isso previamente ao paciente ou a seu responsável legal,

assegurando-se da continuidade dos cuidados e fornecendo todas as informações

necessárias ao médico que lhe suceder, ou por justa causa comunicada ao paciente ou

aos seus familiares.

Ressalte-se, contudo, que jamais o médico poderá abandonar o paciente por ser

este portador de moléstia crônica ou incurável, devendo continuar a assisti-lo ainda que

apenas para mitigar o sofrimento físico ou psíquico.

O médico pode afastar-se de suas funções, mesmo que temporariamente, por

motivos pessoais?

Page 155: Livro E Agora 4

Pode desde que deixe em seu lugar outro médico que se responsabilize pelos

cuidados de seus pacientes. O que o Código de Ética Médica, em seu artigo 36, veta é o

abandono de pacientes em estado grave, bem como nos demais casos (artigo 37) sem a

devida substituição por outro profissional da área. Há, porém, neste último artigo, a

isenção de responsabilidade nos casos de força maior.

É possível utilizar métodos de abreviar a vida do paciente? E se o paciente assim

autorizar?

O artigo 66 do Código de Ética de Medicina veda métodos que abrevie a vida

dos pacientes, mesmo mediante autorização por parte do paciente ou dos familiares.

Assim o médico é obrigado a prestar seu serviço e usar de todos os meios necessários

para o tratamento do paciente.

Em casos de pacientes nos quais é possível a utilização de vários métodos

contraceptivos ou conceptivos, a escolha caberá a quem?

Quando houver vários métodos, sempre caberá ao paciente livremente escolher

qual tratamento deverá tomar, devendo o médico sempre esclarecer sobre a indicação, a

segurança, a reversibilidade e o risco de cada método.

Nos casos de transplante, quais são os deveres do médico responsável?

No Código de Ética Médica, há um capítulo totalmente destinado a questões de

Doações e Transplantes de Órgãos e Tecidos, no qual determinam-se as condutas que o

médico deve abster-se de tomar, tais como: participar de diagnósticos da morte ou

interrupção dos meios artificiais de prolongamento da vida dos doadores; deixar de

explicar de forma compreensível os riscos da cirurgia de transplante, tanto ao doador

quanto ao receptor e seus familiares responsáveis; retirar órgãos de pacientes vivos

incapazes ou interditos, mesmo com a expressa autorização do responsável legal, e por

fim, em hipótese alguma, participar da comercialização de órgãos.

Com o avanço tecnológico, a todo o momento surgem novos remédios e

tratamentos para enfermidades denominadas incuráveis. Pode o médico utilizar-se

dessas inovações em pacientes terminais?

Somente é admitida a utilização de tratamentos clínicos ou cirúrgicos em

pacientes com doenças incuráveis ou terminais,quando, comprovado mediante estudos,

há razoável esperança de utilidade de tais tratamentos, desde que estes sejam

expressamente autorizados pelos pacientes ou seus representantes legais e não

acrescentem sofrimento adicional ao enfermo.

Quais as vedações ao médico perito?

O Código de Ética de Medicina veda alguns atos no que se refere ao médico que

fizer a função de médico perito, que são as seguintes: deixar de atuar com absoluta

isenção quando designado para servir como perito ou auditor; ultrapassar os limites das

suas atribuições e competência; assinar laudos periciais ou de verificação médico-legal

quando não o tenha realizado ou participado pessoalmente do exame; ser perito de

Page 156: Livro E Agora 4

paciente seu ou de pessoa de sua família ou de qualquer pessoa com a qual tenha

relações capazes de influir em seu trabalho; intervir, quando em função de auditor ou

perito, nos atos profissionais de outro médico; fazer qualquer apreciação em presença

do examinado, reservando suas observações para o relatório.

Quais as vedações à remuneração profissional do médico?

De acordo com o Código de Ética da categoria médica, é vedado ao profissional

receber remuneração pela prestação de serviços profissionais a preços vis ou extorsivos,

inclusive de convênio; de remunerar ou receber comissão ou vantagens por paciente

encaminhado ou recebido, ou por serviços não efetivamente prestados, como permitir a

inclusão de nomes de profissionais que não participaram do ato médico, para efeito de

cobrança de honorários.

Também é proibido firmar qualquer contrato de assistência médica que

subordine os honorários ao resultado do tratamento ou à cura do paciente; explorar o

trabalho médico como proprietário, sócio ou dirigente de empresas ou instituições

prestadoras de serviços médicos, bem como auferir lucro sobre o trabalho de outro

médico, isoladamente ou em equipe; agenciar, aliciar ou desviar, por qualquer meio,

para clínica particular ou instituições de qualquer natureza, paciente que tenha atendido

em virtude de sua função em instituições públicas; utilizar-se de instituições públicas

para execução de procedimentos médicos em pacientes de sua clínica privada, como

forma de obter vantagens pessoais.

O médico que presta serviços em entidades públicas pode cobrar honorários em

casos de procedimentos especiais?

Não. É vedada a cobrança de honorários de paciente assistido em instituição que

se destina à prestação de serviços públicos; ou o recebimento de remuneração de

paciente como complemento de salário ou de honorários.

O médico poderá deixar de informar ao seu paciente o diagnóstico ou prognóstico

e os riscos e objetivos de um tratamento?

Não. É obrigação do médico informar ao seu paciente a repercussão que tomará

o tratamento indicado, como também não poderá omitir informação sobre sua situação,

após o início do tratamento. Só será aceita a omissão quando a comunicação direta ao

paciente possa provocar-lhe dano, devendo, nesse caso, a comunicação deve ser feita ao

seu responsável legal.

Assim, o profissional de medicina está obrigado a prestar todas as informações

sobre o diagnóstico, tratamento proposto e o prognóstico ao paciente para a decisão

deste.

O médico poderá deixar de elaborar ou negar a apresentação do prontuário ao

paciente?

Não. Deixar de elaborar prontuário constitui infração ao Código de Ética

Médica. O médico não poderá negar ao paciente acesso ao seu prontuário médico, ficha

clínica ou similar, bem como deixar de dar explicações necessárias à sua compreensão.

Page 157: Livro E Agora 4

Só é permitida tal negativa em casos em que o procedimento possa representar riscos

para o paciente ou para terceiros.

Deve-se realçar que o prontuário médico é um instrumento precioso para o

ensino, pesquisa, elaboração de censos e propostas de assistência à saúde pública, bem

como para avaliação da qualidade da assistência médica prestada, além de ser também

uma valiosa peça de defesa legal. Inúmeras vezes, a ausência de prontuários ou seu

preenchimento incompleto e parcial colocam o profissional em situação precária de

defesa perante os tribunais.

O prontuário médico pertence ao profissional ou ao paciente? Como deverão ser

tratadas as informações nele contidas? O que deve ser feito quando o paciente, seu

responsável ou mesmo uma autoridade policial ou judicial requisitam as cópias dos

prontuários?

O prontuário médico pertence ao paciente e fica sob a guarda do médico ou da

instituição hospitalar. As cópias devem ser fornecidas sempre que requisitadas pelos

pacientes e seus responsáveis.

Também poderão ter acesso ao prontuário o médico assistente, desde que

autorizado pelo paciente e/ou responsável. Deverão ser resguardadas todas as

informações nele contidas por força do sigilo médico que alcança, além do médico,

todos os seus auxiliares e pessoas afins que, por dever de ofício, tenham acesso às

informações confidenciais constantes do prontuário. Somente ao paciente é facultado o

poder de lançar mão dessas informações sigilosas e liberar a sua divulgação.

A Resolução CFM 999/80 determina que se deve atender à requisição de

autoridade policial ou judicial, sem perigo de violar o segredo médico. Entretanto

quando a autoridade policial ou judicial requisita ao médico ou hospital a cópia do

prontuário para investigar se o paciente cometeu ou não determinado crime, passa a não

mais existir a obrigação do médico em atender a tal requisição, pois estaria violando o

segredo médico.

Para fins jurídicos, como é considerado o segredo médico?

A observância do sigilo médico constitui-se numa das mais tradicionais

características da profissão. Por ser um segredo profissional, pertence ao paciente sendo

o médico o seu depositário e guardador, somente podendo revelá-lo em situações muito

especiais como: dever legal, justa causa ou autorização expressa do paciente. Revelar o

segredo sem a justa causa ou dever legal, causando dano ao paciente, além de antiético é

crime, capitulado no artigo 154 do Código Penal Brasileiro.

Pode o médico deixar de prestar depoimento como testemunha sob a

fundamentação de segredo médico?

Sim, o artigo 102 do Código de Ética profissional determina ser expressamente

proibido revelar qualquer fato que tenha tido conhecimento no desempenho de suas

funções, devendo, nesse caso, comparecer perante a autoridade e declarar seu

impedimento. Há, contudo, três exceções do dever de segredo médico: quando houver

justa causa, dever legal ou expressa autorização do paciente.

Page 158: Livro E Agora 4

Em quais casos está o médico autorizado a quebrar o segredo profissional quando

realizado exame em trabalhador, revelando-o ao empregador ou ao sindicato?

Determina o artigo 105 do Código de Ética ser proibido revelar resultado dos

exames realizados no trabalhador, mesmo quando solicitado pelos dirigentes de

empresas ou instituições. Contudo, se julgar que o resultado obtido poderá pôr em risco

a vida do trabalhador ou da sociedade, o médico poderá revelá-los.

Pode o médico, a pedido da seguradora, violar o segredo profissional revelando

informações além daquelas já mencionadas no atestado de óbito do segurado?

A princípio não. Deverá o médico zelar pelo sigilo profissional, abstendo-se de

revelar informações além daquelas já mencionadas no atestado de óbito, porém se

houver expressa autorização do responsável legal ou de seu sucessor, poderá o

profissional apresentar informações adicionais.

É permitida a anotação da CID nas guias de consulta?

A Resolução CFM nº 1.819/2007 veda ao médico o preenchimento, nas guias de

consulta e solicitação de exames das operadoras de planos de saúde, dos campos

referentes à Classificação Internacional de Doenças (CID) e a tempo de doença

concomitantemente com qualquer outro tipo de identificação do paciente ou qualquer

outra informação sobre diagnóstico, haja vista que o sigilo na relação médico-paciente é

um direito inalienável do paciente, cabendo ao médico a sua proteção e guarda.

Excetuam-se dessa proibição os casos previstos em lei ou aqueles em que haja

transmissão eletrônica de informações, segundo as resoluções emanadas do Conselho

Federal de Medicina.

Porém deve-se considerar que tal regra sofreu alteração recente, pois a Agência

Nacional de Saúde Suplementar (ANS) estabeleceu a partir de 1º/06/07 um novo padrão

para as guias de atendimento médico, denominado Padrão TISS. A ANS, ao tornar

opcional a anotação da CID nas guias de papel, possibilitou que algumas operadoras

exijam que médicos quebrem esse direito do paciente.

Assim, os médicos e, de modo especial, os médicos diretores técnicos ou

prepostos das operadoras de saúde devem alertar-se sobre seu dever de acatar a

Resolução CFM nº 1.819/07, que proíbe a colocação da CID e/ou diagnóstico em guias

de papel e solicitação de exames.

Qual a conduta para paciente ou familiar que recusa tratamento ou internação?

Em tais situações, caso haja insucesso do médico na tentativa de alcançar seus

objetivos, este deverá anotar os fatos no prontuário e, no caso de maior ou de evidente

risco, fazer ocorrência policial.

O que é possível fazer perante a recusa de paciente Testemunha de Jeová em

aceitar transfusão sanguínea?

Page 159: Livro E Agora 4

A função primária do médico é a preservação da saúde e da vida do paciente,

independentemente de credo, raça ou ideologia, conforme determina o Código de Ética

Médica.

Por isso, nos casos em que o paciente ou familiares recusem a utilização de

derivados sanguíneos, especialmente no caso de menores, por preconceitos, deve ser

realizada uma análise da necessidade da transfusão para que o médico indique qualquer

tratamento que inclua o sangue e seus derivados, comunicando-se imediatamente com a

autoridade policial, judiciária ou Promotoria de Justiça, relatando o ocorrido e, se

necessário, solicitando autorização judicial para realização do procedimento.

O que o médico deve fazer quando notar que não terá condições de atender a um

número excessivo de pacientes?

Toda vez que o médico perceber que existe um número de pacientes que

excedam a sua capacidade de atendimento, ou que o local de trabalho não lhe oferece as

mínimas condições para tal, deverá solicitar a presença de uma autoridade policial,

relatando os fatos. Deverá também encaminhar por escrito, um relato ao Conselho

Regional de Medicina e à direção do hospital ou do posto de saúde, solicitando que se

tomem providências o mais rápido possível. O art.14 do Código de Ética Médica, por

sua vez, estabelece que o médico deve empenhar-se para melhorar as condições de

saúde e os padrões dos serviços, assumindo sua parcela de responsabilidade.

Um médico pode deixar o responsável assinar o termo de responsabilidade para

retirar o paciente do hospital?

Não havendo indicação de transferência, o médico deve negar a remoção do

paciente, fazendo constar no prontuário. Caso haja resistência por parte do paciente,

familiares ou responsáveis, relatar o ocorrido no prontuário, não se esquecendo de fazer

o mesmo em relação à chefia imediata, comunicando-se ainda com a autoridade policial,

especialmente no caso de menores e de suspeita de risco.

O importante é que a alta só deverá ocorrer quando o paciente estiver em

condições clínicas para recebê-la. Sempre que o paciente evadir-se do hospital, a

conduta correta é a de acionar imediatamente a autoridade policial, lavrando-se

ocorrência. Caso contrário o médico e o hospital não ficarão resguardados em casos de

alta por indisciplina.

O termo de responsabilidade exime o médico de ser processado?

Não, porém pode ajudar em sua defesa. O termo de responsabilidade é um

documento em que o médico faz constar o estado clínico, o tratamento necessário, as

possíveis complicações e a necessidade da participação efetiva do paciente e familiares

para sucesso dos procedimentos. Deve ser bem elaborado e se possível, assinado por

duas testemunhas, já que nele o médico pode comprovar que todos estavam cientes dos

riscos. Esse termo não isenta, mas demonstra a responsabilidade dos envolvidos. Tal

documento é muito útil na hipótese de processo judicial, pois, muitas vezes, as

reclamações dos pacientes e familiares não procedem quando defrontadas com o termo

de responsabilidade. A questão primordial a ser destacada é que todo fato que possa

Page 160: Livro E Agora 4

gerar dúvida e acarretar um processo judicial deve ser aprovado, e, na maioria das

vezes, sem o termo de responsabilidade, a prova de tal aprovação ficaria prejudicada.

O que deve ser feito para evitar acusação de assédio sexual no consultório?

O profissional médico deve procurar realizar o exame clínico sempre com a

presença de um atendente ou acompanhante. Não se esquecer de que, naqueles casos

cujo exame é delicado, podendo causar constrangimento ou ofensa ao pudor do

paciente, o profissional deve informar qual ato será realizado.

O médico de plantão pode se negar a atender ocorrência de outra especialidade?

Não. O médico de plantão não pode recusar o atendimento a qualquer paciente.

Após constatação de que o paciente necessita de cuidado especializado, impossível no

local do atendimento, deve ser feito encaminhamento objetivo por escrito a um hospital

com mais condições, dando detalhes aos familiares e/ou responsáveis.

No caso de recusar atendimento alegando não dominar tal especialidade, o

plantonista estaria sendo omisso, porque a legislação pátria considera o médico capaz

de trabalhar em qualquer área de medicina, não existindo assim fundamento para a

recusa em prestar atendimento ao paciente.

Qual a natureza jurídica da relação médico-paciente?

A doutrina na sua maioria e as decisões emanadas dos tribunais, estabelecem que

essa relação é firmada por um contrato, passando a ser caracterizada como uma

responsabilidade contratual, dependente tanto do médico, como do paciente.

A exemplo disso, na prática, ao ser marcada uma consulta por um paciente,

sendo, pessoalmente ou por telefone, já nasce previamente a relação contratual,

obrigando ambas as partes. O contrato, estabelecido a partir da relação médico-paciente,

é caracterizado como: intuito personae, bilateral, oneroso ou gratuito, comutativo,

aleatório e de caráter civil, evidenciando-se como contrato principal e, quando

constituído, passa a ter contratos acessórios.

Fica demonstrado que o referido contrato é atípico, o que não é estranho ao

nosso ordenamento civil, cujo texto no Novo Código Civil, em seu artigo 425,

determina que as partes, ao estipularem contratos atípicos, não podem deixar de

observar as normas gerais contidas instrumento. Prova-se então a sua validade e

legalidade, para uma possível busca da tutela jurisdicional.

Nessa ordem, cabe ressaltar, ainda, a abordagem que adota o Código de Defesa

do Consumidor, instituído pela Lei 8.078 de 11/09/1990, no que pertine ao aspecto

meramente contratual da relação médico-paciente, como relação de consumo, em cujo

dispositivo supra mencionado, verifica-se que, diante da prestação de serviço, existe um

contrato e, caso seja quebrado pelo prestador do serviço mediante verificação de culpa,

cabe a responsabilização do profissional.

A obrigação do profissional médico, estabelecida na relação médico-paciente, é

uma obrigação de meio ou resultado?

Page 161: Livro E Agora 4

A relação médico-paciente, determinada em sua maioria por um contrato, além

dos direitos das partes contratantes, gera obrigações, sendo estas classificadas como

obrigação de meio ou obrigação de resultado.

Na obrigação de meio, reportando-se à relação médico-paciente, o profissional

contratado deve utilizar-se de todos os meios necessários para melhor conduzir o

tratamento do paciente, ou seja, o médico cumprir toda conduta técnica exigida pelas

regras da profissão, não assumindo o dever de curar. Já na obrigação de resultado, o

profissional assume um compromisso com seu paciente de alcançar um resultado certo e

preciso, assumindo assim toda a responsabilidade pelo resultado obtido.

Em termos práticos, a doutrina divide com certa relevância essas duas

classificações. Na verdade, estas dependem da atuação do médico, ante o

convencionado com o paciente, assim como sua conduta perante o tratamento clínico ou

cirúrgico.

Quando a obrigação do médico será uma obrigação de meio?

A princípio, diante do contrato de prestação de serviços aos seus pacientes, os

médicos assumem a obrigação de meio, com o intuito de seguir os ditames da profissão,

com zelo, cautela, ética e outros, tendo como objetivo o melhor tratamento possível ao

paciente, porém sem a certeza de conseguir alcançar um resultado certo.

Quando a obrigação do médico será uma obrigação de resultado?

Existem ocasiões em que o médico, por sua prática profissional, passa a ter uma

obrigação diferenciada, sendo uma obrigação de resultado, como é caso do cirurgião

plástico, que pelo fato de sua área de atuação ser direcionada à estética, o objetivo é a

garantia do resultado ao paciente.

Logo, ao tratar de cirurgia plástica embelezadora, por sua natureza estética, em

que os pacientes não estão enfermos, pretendendo apenas corrigir ou melhorar alguma

característica do corpo, exige-se o resultado com êxito. Porém, ao se tratar de cirurgia

plástica corretiva, a doutrina tem entendido que a obrigação passa a ser de meio e não

de resultado.

Quais são os pressupostos necessários para atribuição de responsabilidade civil ao

médico?

A responsabilidade civil tem como pressuposto o ato médico, praticado com

violação a um dever, imposto pela lei, pelo costume ou pelo contrato, imputável a título

de culpa, causador de um dano injusto, patrimonial ou extrapatrimonial.

Quais são as possíveis causas que podem determinar o dever do médico de

reparação de danos?

Dentre as causas que determinam o dever de reparação dos danos por parte do

profissional médico, podem-se destacar as principais, em relação às quais já existe certa

pacificação jurisdicional, assim vejamos: quando o médico deixar de guardar o sigilo

médico previsto no artigo 102 do Código de Ética (1.246/88); quando abusar de seu

poder, submetendo o paciente a exigências, vexames ou tratamentos incompatíveis com

Page 162: Livro E Agora 4

a sua situação; quando abandonar um paciente sob seus cuidados, salvo caso de

renúncia ao atendimento por motivos justificáveis, assegurada a continuidade o

tratamento, conforme prevê o artigo 61 do Código de Ética; quando, em caso de

impedimento eventual, deixar de garantir sua substituição por outro profissional

habilitado e recusar o atendimento de pacientes que o procurem, em caso de urgência,

quando não haja outro profissional em condição de fazê-lo.

Há possibilidade de responsabilização médica em casos de Iatrogenia?

Primeiramente, vejamos o significado do termo Iatrogenia, ou seja, é um estado

anormal ou condição causada ao paciente pelo médico, acarretando séria ansiedade ou

neurose em decorrência de atos ou palavras do profissional. Nesse caso, já existem

julgados no sentido de condenação de profissionais médicos à reparação dos danos

causados ao paciente em virtude do uso de termos que acarretem notável prejuízo

psíquico ao paciente, devendo, portanto, o médico possuir cautela em seus diagnósticos

e condutas profissionais.

Quais são as possíveis causas excludentes de responsabilidade civil do médico?

Assim como nos demais âmbitos do direito, no que se refere à exclusão de

responsabilidade civil do médico, podemos citar: a culpa exclusiva da vítima, como é o

caso de um paciente que não atende as prescrições fixadas pelo médico; culpa

concorrente da vítima, caso em que há agravamento de cicatrização, principalmente em

cirurgia plástica, quando o paciente não informa o médico sobre possuir doença

dermatológica, o que acarreta dificuldade de cicatrização, caso em que não há isenção

da responsabilidade, mas tão somente suavização de sua culpa, posto que o médico

tinha o dever de se informar sobre o estado geral do paciente; culpa de terceiro, quando

o causador do dano é um terceiro; caso fortuito, dano originado por acontecimentos

naturais; força maior, tratando-se de casos previsíveis, mas inevitáveis visto que mais

forte do que a vontade humana, e por fim o risco inerente da profissão.

Por que o Diretor Clínico tem responsabilidade sobre os atos do médico, se a

conduta é individual?

Segundo o artigo 17 do Código de Ética Médica, o médico investido em função

de direção tem o dever de assegurar as condições mínimas para o desempenho ético-

profissional da medicina. Na conduta especificada, a responsabilidade é do próprio

médico que atende ao paciente, conforme esclarece o art. 21, Código de Ética Médica.

O excesso de trabalho com desgaste de profissional é fator atenuante no caso de

acusação de erro médico sob o ponto de vista jurídico? Somente o profissional - ou

também a instituição que acata este trabalho excessivo - pode ser

responsabilizado?

Não. O médico que não tiver condições físicas para o trabalho não deve fazê-lo

sob pena de ser imprudente. Caso a instituição o obrigue ou seja conivente com essa

prática, ambos podem ser responsabilizados.

Poderá o médico ser responsabilizado por insucessos decorrentes de atos de

terceiros ou em razões circunstanciais alheias ao seu poder?

Page 163: Livro E Agora 4

Sim. O médico é responsável por seus atos, bem como pelos demais atos dos

quais tenha participado ou indicado conduta, no entanto, há a possibilidade de isenção

da responsabilidade quando há comprovação cabal de que o insucesso ocorreu em razão

de conduta equivocada de terceiros ou por motivos de força maior.

O médico residente poderá ser responsabilizado no caso de ocorrência de erro

médico?

O Decreto n. 80.281/77, que regulamentou a Residência Médica e criou a

Comissão Nacional de Residência Médica – CNRM, estabelece, em seu art. 1° que a

residência em medicina constitui modalidade do ensino de pós-graduação destinada a

médicos sob a forma de curso de especialização, caracterizada por treinamento em

serviço em regime de dedicação exclusiva, funcionando em Instituições de saúde,

universitárias ou não, sob a orientação de profissionais médicos de elevada qualificação

ética e profissional.

Assim, o médico residente não é, pois, mero aspirante ao exercício da Medicina.

Já é médico, com direito ao pleno exercício do ato médico. Também, o preceptor do

médico residente deve ser médico, nos termos do Decreto 80.281/77.

Portanto pode-se estabelecer que, sendo ambos – o residente e seu preceptor -

médicos com direito ao pleno exercício profissional, a eles aplicam-se, também, todas

as disposições de ordem civil, penal e ética às quais estão submetidos todos os

profissionais da Medicina.

Como consequência, tem-se que, sendo imputado ao médico residente a prática

de um erro médico, responderá ele por tal ato como qualquer outro profissional da

Medicina, na medida em que houver concorrido com culpa ou dolo para seu surgimento.

O médico preceptor responderá pelo ato médico efetuado pelo médico residente

sob sua orientação?

No que pertine à responsabilidade do mestre ou preceptor pelo erro do médico

residente, podem-se vislumbrar duas distintas hipóteses:

1ª hipótese: O erro médico é decorrência de ato omissivo ou comissivo no qual

concorrem o médico residente e seu preceptor. A hipótese ora aventada considera a

possibilidade de o erro médico decorrer de serviços médicos prestados conjuntamente

pelo médico residente e seu preceptor. Nessa hipótese, a responsabilidade civil pelos

danos decorrentes da má prática profissional será compartilhada entre o médico

residente e seu preceptor, na medida em que houverem concorrido com culpa ou dolo

para o seu surgimento. Aplicar-se-á ao caso, ainda, a regra da solidariedade dos

fornecedores na reparação dos danos causados aos consumidores. Tal regra está

consignada no código de defesa do consumidor, norma protetiva, que inclui a relação

médico-paciente nas relações de consumo por ela disciplinadas. Já no que respeita às

responsabilidades éticas e penais, tanto o médico residente quanto o seu preceptor

poderão sofrer sanções na medida em que suas condutas puderem ser tipificadas com

transgressões a preceitos ético-disciplinares e/ou criminais.

2.ª hipótese: O erro médico ocorre por ato omissivo ou comissivo só do médico

residente, dentro do processo ensino-aprendizagem. Lembrando que, ordinariamente, o

processo ensino-aprendizagem do médico residente se faz acompanhado da prestação de

Page 164: Livro E Agora 4

serviços médicos a terceiros, a hipótese considera a possibilidade de que tal prestação de

serviços tenha sido levada a efeito só pelo médico residente, sem a supervisão do seu

preceptor. Nesse caso, o médico preceptor responderá pelo ato do seu discípulo na

medida da sua culpa "in vigilando", isto é, no seu dever de vigiar o residente nas

condutas médicas que este tomar. Assim, o profissional médico que assume a

responsabilidade da preceptoria de um médico residente obriga-se por orientá-lo no seu

proceder médico. Daí decorre, indubitavelmente, também o dever de vigiar, fiscalizar,

controlar sua conduta.

Atualmente, quais são as legislações relevantes para a responsabilidade civil do

médico?

A questão da responsabilidade civil do médico é encontrada tanto em legislação

de caráter geral como em legislações específicas da área da medicina. Dentre a

legislação geral, pode-se citar: a Constituição Federal Brasileira de 1988, o Código

Civil de 2002 e o Código de Defesa do Consumidor. Com relação às normas específicas

da categoria médica que versam sobre o assunto, são destacáveis: o Código de Ética

Médica (Resolução CFM 1.246/88), a Declaração de Lisboa Sobre os Direitos do

Paciente, a Declaração de Marvela sobre Responsabilidade Médica, a Resolução CFM

1451/95, que trata dos casos de urgência e emergência, a Resolução CREMESP 81/97,

que versa sobre a realização de cirurgia plástica, e a Resolução CFM 1363/93, que

disciplina a atividade do médico Anestesiologista.

Pode a Cooperativa Médica ser responsabilizada por atos praticados por seus

cooperados?

Essa responsabilização dependerá de como essa cooperativa foi constituída de

forma limitada, ou seja, quando o cooperado responde na proporção do valor de suas

cotas, ou de forma ilimitada, quando o cooperado responde solidariamente e

ilimitadamente pelas obrigações sociais. Deve-se ressaltar que atualmente a

jurisprudência tem se dividido no sentido de atribuir uma responsabilidade solidária

pelos atos médicos de seus cooperados, com a afirmativa de que a publicidade gerada

pelo nome e conceito do plano de saúde traz a responsabilidade da cooperativa ou

atribui uma responsabilidade subsidiária, na qual a cooperativa somente responderia

caso o médico não o pudesse fazer.

Quais são os direitos assegurados ao paciente?

Dentre os direitos assegurados ao paciente na relação com o médico, pode-se

citar os seguintes:

- Recorrer ao judiciário pleiteando reparação de danos que lhe tenham sido

culposamente infligidos por obra do médico.

- Obter todas as informações sobre seu caso clínico, em letra legível, bem como cópias

de sua documentação médica, tais como: prontuários, exames laboratoriais, raios-X,

anotações de enfermagem, laudos diversos, avaliações psicológicas etc.

- Direito de gravar ou filmar os atos médicos que sobre o paciente recaiam.

- Direito de solicitar que todos os profissionais se reúnam para discutir a sua

enfermidade.

Quais são os deveres do paciente?

Page 165: Livro E Agora 4

Com relação aos deveres do paciente frente ao profissional médico, pode-se

citar:

- O paciente tem o dever de remunerar o médico.

- O paciente tem o dever de seguir os conselhos do profissional e realizar rigorosamente

as prescrições médicas. Caso não haja observância às recomendações médicas, o

médico não poderá ser responsabilizado pelo não atendimento do tratamento, podendo

nesse caso o médico se abster de continuar a lhe prestar assistência.

- ao paciente incumbe fornecer ao médico todos os dados úteis para a formação do

histórico clínico do enfermo, sempre que o profissional o interrogar para averiguar a

etiologia da moléstia.

Como é regulada a propaganda médica? O que deverá conter no anúncio

publicitário?

A Resolução CFM nº 1.701/2003 estabelece os critérios norteadores da

propaganda em Medicina, conceituando os anúncios, a divulgação de assuntos médicos,

o sensacionalismo, a autopromoção e as proibições referentes à matéria.

Os anúncios médicos deverão conter, obrigatoriamente, os seguintes dados:

nome do profissional; especialidade e/ou área de atuação quando devidamente

registrada no Conselho Regional de Medicina; e número da inscrição no Conselho

Regional de Medicina. As demais indicações dos anúncios deverão se limitar ao

preceituado na legislação em vigor.

Nos anúncios de clínicas, hospitais, casas de saúde, entidades de prestação de

assistência médica e outras instituições de saúde, deverá constar, sempre, o nome do

diretor técnico e sua correspondente inscrição no Conselho Regional em cuja jurisdição

se localize o estabelecimento de saúde.

Quais as vedações à propaganda realizada por profissionais médicos?

De acordo com a Resolução CFM nº 1.701/2003, é vedado ao médico: anunciar

que trata de sistemas orgânicos, órgãos ou doenças específicas, por induzir a confusão

com divulgação de especialidade; anunciar aparelhagem de forma a lhe atribuir

capacidade privilegiada; participar de anúncios de empresas ou produtos ligados à

Medicina; permitir que seu nome seja incluído em propaganda enganosa de qualquer

natureza; permitir que seu nome circule em qualquer mídia, inclusive na Internet, em

matérias desprovidas de rigor científico; fazer propaganda de método ou técnica não

aceitos pela comunidade científica; expor a figura de paciente seu como forma de

divulgar técnica, método ou resultado de tratamento, ainda que com a autorização

expressa deste, ressalvado o disposto no artigo 10 desta resolução; anunciar a utilização

de técnicas exclusivas; oferecer seus serviços através de consórcio ou similares;

garantir, prometer ou insinuar bons resultados do tratamento.

Sempre que em dúvida, o médico deverá consultar a Comissão de Divulgação de

Assuntos Médicos (CODAME) dos Conselhos Regionais de Medicina, visando

enquadrar o anúncio dentro dos dispositivos legais e éticos.

Page 166: Livro E Agora 4

*Telma Curiel Marcon. Advogada. Graduada pela Universidade Católica Dom Bosco

(UCDB). Cursando MBA em Gestão Empresarial pela Universidade Católica Dom

Bosco em parceria com o Portal Educação. Especialista em Direito das Obrigações pela

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS. Membro integrante da Comissão

Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Mato Grosso do Sul, nos anos

de 2003, 2006 e 2009. Palestrante sobre o tema Direito do Consumidor, Crédito,

Cobrança e Direito do Trabalho. Membro da Banca do Concurso da Magistratura do

Trabalho do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região. Sócia fundadora do

escritório Resina & Marcon Advogados Associados - www.resinamarcon.com.br

[email protected]

REFERÊNCIAS

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Código

de Ética Médica, 1988. São Paulo- SP: CREMESP, 1998.

FRANÇA, Genival Veloso de. Comentários ao código de ética médica. 4. ed. Rio de

Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

______. Responsabilidade civil do médico. Disponível em:

http://www.pbnet.com.br/openline/gvfranca/artigo_21.htm. Acesso em 20 jun. 2007.

GUIMARÃES, Benemar. Atividades médicas: implicações legais perante a lei. São

Paulo: BG Cultural, 2000.

KFAURI NETO, Miguel. Responsabilidade Civil do Médico. 2 ed. Revista dos

Tribunais, 2003.

PORTAL MÉDICO. Disponível em: http://www.portalmedico.org.br/. Acesso em 20

jun. 2007.

ROSAS, Cristião Fernando. Ética Médica. Disponível em:

http://www.ipas.org.br/arquivos/cristiao/etica.doc. Acesso em 20 mai. 2007.

SOUZA, Neri Tadeu Câmara. Responsabilidade civil e penal do médico. Campinas-

SP. Editora LZN, 2003.

DIREITO DO TRABALHO I

*Marlon Sanches Resina Fernandes

INSTRUÇÕES BÁSICAS SOBRE CONTRATAÇÃO, DEMISSÃO E VERBAS

DEVIDAS DIANTE DE UMA RELAÇÃO DE EMPREGO

Para a admissão de um funcionário são exigidos quais documentos?

Em regra, os documentos necessários são: Carteira de Identidade, Carteira

Profissional, CPF, fotografia, Título de Eleitor, Certificado de Reservista (se homem),

Certidão de Casamento (se casado), certidão de nascimento dos filhos menores de 14

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anos, Certificado de Vacinação dos filhos, comprovante de cadastramento do PIS e

exame médico admissional.

O contrato de experiência tem limite de vigência?

O período máximo para o contrato de experiência é de 90 dias, salvo se, em

convenção ou acordo coletivo de trabalho, for estabelecida cláusula com prazo inferior.

Posso manter um funcionário por um período de experiência sem registro na

Carteira de Trabalho?

Não. Existe uma falsa ideia de que o período de experiência ocorre antes do

registro em Carteira de Trabalho, mas isso não é verdade. Desde o primeiro dia de

prestação de serviço, o trabalhador deve estar registrado.

A que o trabalhador tem direito durante uma relação de emprego?

Além do salário mensal, que nunca pode ser inferior ao salário mínimo (salvo

em caso de trabalho em tempo parcial), e deve ser pago até o 5º dia útil do mês

subsequente ao mês vencido, o funcionário tem direito, após 12 meses de trabalho, às

férias, que devem ser gozadas nos 12 meses subsequentes ao período aquisitivo, sob

pena de pagamento em dobro. As férias sempre são pagas com 1/3 (um terço) de

acréscimo. O empregador deve também recolher o Fundo de Garantia por Tempo de

Serviço (FGTS) na conta vinculada do empregado, à razão de 8% (oito por cento) de

sua remuneração mensal. Receberá ainda o 13o salário, pago em duas parcelas, nos

meses de novembro e dezembro de cada ano, no valor proporcional aos meses de

trabalho durante o ano.

Se o empregado realizar horas extras, perceberá acréscimo de, pelo menos, 50%

do valor da hora normal. O empregado que trabalha em horário noturno (assim

considerado das 22h00 às 5h00 para trabalhador urbano) tem direito ao adicional de

pelo menos 20%.

O que são verbas rescisórias?

São os valores devidos ao empregado quando da rescisão de seu contrato de

trabalho e variam de acordo com o tempo de serviço e iniciativa da ruptura contratual.

Quando dispensado, quais as verbas rescisórias a que o trabalhador tem direito?

Basicamente:

a)- aviso prévio, cumprido ou indenizado(esclarecimentos no próximo tópico);

b)- 13º salário, pago em proporcionalidade, ou seja: 1/12 avos multiplicado pelo

número de meses trabalhados, considerando para efeito de contagem em mês

incompleto, aquele em que tenha havido no mínimo 15 dias de trabalho;

c)- férias vencidas: são aquelas não usufruídas depois de completado um ano de serviço

e devidamente pagas na rescisão;

d)- férias proporcionais: ao término do período aquisitivo de férias, inicia-se a contagem

para a aquisição de um novo período e, em caso de demissão, estas serão pagas na

proporção de 1/12 avos por mês trabalhado, considerando-se a fração de 15 dias ou

mais, como mês cheio;

Page 168: Livro E Agora 4

e)- 1/3 sobre férias: é uma parcela adicional calculada sobre as férias vencidas e

proporcionais;

f)- saldo de salário: é referente ao número de dias trabalhados no mês incompleto em

que se efetue a rescisão contratual.

g)- FGTS referente ao mês anterior: é o valor relativo aos depósitos de FGTS gerados

no mês anterior ao término do pacto laboral.

h)- FGTS referente à rescisão contratual: é a parcela gerada sobre os pagamentos

efetuados na rescisão contratual.

i)- FGTS – multa de 40% - incide sobre a soma total de depósitos do FGTS, bem como

sobre os valores gerados em rescisão contratual.

j)- fornecimento de guias de Seguro Desemprego (aos funcionários que contarem com

mais de 6 meses de tempo de serviço e demitidos sem justa causa ou por rescisão

indireta).

O aviso prévio sempre será devido, independente da forma e modalidade de

rescisão contratual?

O aviso prévio é inerente ao contrato de trabalho e deve ser concedido pelo

empregador quando deste partir a iniciativa do rompimento do contrato de trabalho. Da

mesma forma, a comunicação à empresa deve ser observada pelo empregado, quando

for dele a intenção de rescisão contratual. A empresa que não conceder o aviso prévio

ao funcionário quando dispensá-lo, fica obrigada a indenizar o trabalhador no valor

equivalente a um mês de salário. Ocorrendo situação inversa, ou seja, quando for do

empregado a iniciativa de rompimento contratual e este não cumprir o aviso prévio de

30 dias, facultará à empresa o desconto equivalente a um salário mensal de suas verbas

rescisórias.

O aviso prévio, quando cumprido, deve proporcionar ao trabalhador a redução

de duas horas diárias de trabalho durante o seu cumprimento, ou a critério dele, lhe é

facultado faltar sete dias corridos na última semana de aviso prévio, sempre sem

prejuízo do salário.

Qual o prazo estabelecido para pagamento das verbas rescisórias?

Os prazos para pagamento das verbas rescisórias estão previstos no art. 477 da

Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que estabelece os seguintes prazos para

pagamento dos saldos rescisórios:

a)- se o aviso prévio for indenizado (ou seja, se o trabalhador for dispensado do

cumprimento do aviso prévio), o prazo de pagamento do saldo rescisório é de dez dias,

a contar da data da comunicação de dispensa.

b)- se o aviso prévio for trabalhado, o pagamento do saldo rescisório se dará no

primeiro dia útil após o término do cumprimento do aviso prévio.

Caso a empresa descumpra esses prazos, o trabalhador fará jus a um salário a

mais, a título de "indenização por atraso"; conforme art. 477, § 8º, da CLT.

QUESTÕES SOBRE ACIDENTE DE TRABALHO, DOENÇA DE TRABALHO,

SAÚDE DO TRABALHADOR, SUAS PECULIARIDADES E DISCUSSÕES

O que é acidente do trabalho?

Page 169: Livro E Agora 4

Acidente do trabalho é aquele que ocorre durante o exercício do trabalho a

serviço da empresa, e provoca lesão corporal ou perturbação funcional que cause morte,

ou perda, ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho (art. 2o

da Lei n° 6.367/1.967).

Somente o incidente ocorrido no ambiente de trabalho pode ser considerado como

acidente de trabalho?

Não. Além dos acidentes ocorridos no interior da empresa, no canteiro de obras

ou em local sob sua responsabilidade, é também considerado acidente do trabalho o

ocorrido com o trabalhador durante o trajeto de sua residência para o trabalho, assim

como no caminho de volta, e também, o infortúnio que o trabalhador tenha sofrido em

viagem a serviço da empresa.

São, ainda, equiparadas ao acidente de trabalho, as doenças adquiridas em razão

da atividade profissional do empregado, seja pelo tipo de trabalho (ex. problemas de

coluna), seja pelo ambiente de trabalho (ex. dermatose, provocada por contato ou

exposição a componentes do cimento).

Qual a atitude a ser tomada pelo empregador em caso de acidente do trabalho?

Constatando a ocorrência de acidente do trabalho, deve o empregador preencher

a comunicação de acidente de trabalho (CAT) e encaminhá-la ao órgão competente do

INSS.

Quais são os direitos do empregado acometido por acidente de trabalho?

Há direito ao afastamento do emprego para restabelecimento total ou parcial,

dependendo da situação, e garantia de emprego de um ano após o retorno ao trabalho.

Caso esteja impossibilitado de exercer a função que mantinha antes do acidente, o

funcionário deverá ser readaptado em função compatível com suas atuais condições.

É do empregador a responsabilidade pelos salários durante o período de

afastamento para recuperação?

À exceção dos primeiros quinze dias contados da data do fato, o empregado

acidentado, quando afastado, passa a receber salário do INSS.

Somente se o funcionário apresentar atestado com mais de 15 dias que a empresa

deve encaminhá-lo ao INSS?

Não necessariamente. Se a soma dos atestados médicos entregues tiverem o

mesmo tipo de enfermidade e somarem 15 dias dentro de 60 dias, a empresa deve

encaminhá-lo ao INSS, mesmo em caso de afastamentos intermitentes e inferiores a 15

dias.

Qualquer tipo de atestado médico deve ser aceito pela empresa.

A princípio, os atestados médicos devem ser aceitos. A recusa deriva de

situações excepcionais, como por exemplo: suspeita de fraude ou adulteração;

Page 170: Livro E Agora 4

existência de médico particular ou mediante convênio mantido pela empresa, ocasião

em que pode se exigir que os atestados médicos sejam por eles emitidos.

Atestado para acompanhamento de familiar ao médico gera abono da falta?

A Lei não elenca o acompanhamento familiar como falta que deve ser abonada.

Porém, muitas Convenções Coletivas de Trabalho trazem essa previsão, geralmente

limitando o número de ausências.

É possível cobrar do empregador algum tipo de indenização pela ocorrência de

acidente de trabalho?

A responsabilidade do empregador em indenizar o empregado acometido por

acidente (ou doença) do trabalho depende das peculiaridades que envolvem o acidente.

Se presentes os três elementos necessários: culpa ou dolo do empregador, dano

experimentado pelo empregado e relação de causa e efeito entre eles, haverá obrigação

do empregador em reparar eventuais prejuízos suportados pelo empregado.

Quais os tipos de indenização possíveis?

Dependendo dos efeitos obtidos com o acidente, pode ser pleiteada indenização

por danos materiais (em virtude de perda ou diminuição da capacidade de trabalho), por

danos morais (desde que o acidentado tenha sofrido prejuízos psicológicos, traumas

emocionais etc) e estéticos (na hipótese de ocorrer alguma deformidade física aparente e

relevante).

Em caso de morte causada por acidente de trabalho, a família da vítima possui

direito de pedir alguma indenização? É possível. Se a vítima deixou filhos menores, estes possuem direito de receber

pensão mensal até que completem a maioridade civil (hoje, 18 anos) ou,

excepcionalmente, se estiver cursando faculdade, curso profissionalizante ou afim, a

pensão pode ser estendida até o seu término, mas limitada aos 25 anos de idade.

E a viúva, tem direito à indenização?

Se a viúva dependia economicamente da vítima à época do acidente, ela terá

direito à pensão. Pode ser requerida também uma indenização por danos morais pela

perda do ente.

Qual o valor a ser recebido a título de pensão e até quando ela é paga (no caso da

viúva)?

Geralmente tem sido concedido a título de pensão, o equivalente a 2/3 (dois

terços) do salário recebido pelo empregado falecido por ocasião do acidente de trabalho,

valor a ser dividido entre os filhos menores e a esposa, e a ela, a pensão é paga até a

data em que a vítima completaria 70 anos.

Em caso de perda parcial de capacidade para o trabalho, como é fixada a

indenização?

Page 171: Livro E Agora 4

Necessariamente, em caso de ocorrência de acidente de trabalho, o acidentado é

submetido à perícia médica para a constatação de eventual perda de capacidade

laborativa. De acordo com o percentual fixado na perícia, o juiz determina o percentual

do salário que deve ser pago mensalmente ao trabalhador a fim de suprir a redução

experimentada.

Qual o prazo para se entrar na justiça para requerer indenização por acidente de

trabalho?

Tendo-se estabelecido que é da Justiça do Trabalho a competência para o

processamento das ações decorrentes de acidente de trabalho, o prazo para requerer, em

juízo, eventual indenização, é de até dois anos contados da demissão do funcionário,

respeitado o prazo máximo de cinco anos desde a ocorrência do acidente.

O que significa “PPRA” e qual o seu objetivo?

PPRA é a sigla de Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. Tem como

objetivo estabelecer uma metodologia de ação que garanta a preservação da saúde e

integridade dos trabalhadores frente aos riscos dos ambientes de trabalho.

O que são riscos ambientais?

Os riscos ambientais são os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos

ambientes de trabalho os quais, em função de sua natureza, concentração ou intensidade

e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde dos trabalhadores.

Citam-se como exemplos:

a)- agentes físicos: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas,

radiações ionizantes e radiações não ionizantes;

b)- agentes químicos: poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases, vapores, absorvidos por

via respiratória, através da pele ou por ingestão;

c)- agentes biológicos: bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre

outros.

O que é adicional de periculosidade?

O adicional de periculosidade, como o próprio nome sugere, é um pagamento

extra que o trabalhador recebe por trabalhar em contato ou exposto a agentes

considerados perigosos.

O que caracteriza a periculosidade?

De acordo com a legislação brasileira, considera-se trabalho sujeito a pagamento

de adicional de periculosidade todo aquele realizado em contato ou exposição a agentes

inflamáveis, explosivos (art. 193 da CLT), ou à eletricidade(Lei n° 7.369/1.985).

Todo o trabalho desenvolvido em contato com agentes agressores deve ser

remunerado com o adicional de periculosidade?

Somente o trabalho exercido com exposição ou contato com os referidos agentes

pode ser objeto de pagamento de adicional de periculosidade. Porém nem todo o

Page 172: Livro E Agora 4

trabalho realizado nessas condições é remunerado com o adicional. Somente perícia

técnica, realizada considerando as características de cada função específica, é que

definirá a necessidade de pagamento da periculosidade.

Qual o adicional devido pelo trabalho em condições perigosas?

O trabalhador que fizer jus ao adicional de periculosidade, diante do contato ou

exposição a explosivos e/ou inflamáveis, tem acréscimo de 30% (trinta por cento)

calculados sobre o salário básico que receber, ou seja, não são computadas

gratificações, prêmios, horas extras ou qualquer outro adicional. Aos trabalhadores que

se exponham aos riscos da eletricidade ou trabalhem em contato com ela, ao contrário, o

adicional de 30% é calculado sobre a totalidade do rendimento que lhe cabe. Isso

significa que, ao salário básico, é somada eventual quantia recebida a título de

gratificação, horas extras, prêmios, adicional noturno, e outros, e, sobre o total obtido,

aplica-se o adicional de 30%.

Uma pessoa que trabalha somente parte do dia em contato com agentes perigosos,

ou exposta a eles, recebe o adicional de periculosidade parcialmente?

Apesar de não parecer sensato, mesmo que trabalhe apenas parte do dia em

contato com agentes perigosos ou exposto a eles, o trabalhador vai receber o adicional

de forma integral, a não ser que o contato se dê por tempo extremamente reduzido e de

forma eventual quando, então, o adicional não lhe é devido.

Há possibilidade de o empregado e o empregador “negociarem” o pagamento de

adicional de periculosidade apenas parcialmente?

Essa possibilidade existe apenas quando realizada por acordo coletivo de

trabalho, que é um ajuste formalizado entre a empresa e o sindicato representante da

classe de trabalhadores, quando, então, de acordo com o caso concreto, pode ser

estipulado pagamento parcial, conforme o tempo médio de exposição ao risco.

O que é adicional de insalubridade?

É o pagamento de um acréscimo ao salário do trabalhador que se sujeita a

trabalhar em locais considerados insalubres.

Exemplo: um ambiente de trabalho pode ser considerado insalubre, quando suas

características impliquem risco à saúde do trabalhador, tais como local abafado e pouco

arejado ou com iluminação deficiente, fatores que causam prejuízo à saúde do

empregado.

Que agentes, por exemplo, podem causar insalubridade no local de trabalho?

Dentre os agentes agressores mais comuns, estão o ruído e a poeira, dos quais o

primeiro pode ser encontrado em serralherias, e o segundo, em fábricas de móveis, por

exemplo.

A presença de agentes insalubres sempre enseja o pagamento de adicional de

insalubridade?

Page 173: Livro E Agora 4

O Ministério do Trabalho, por meio da Norma Regulamentadora nº. 15 (NR-15),

relacionou os agentes nocivos à saúde, bem como os limites de tolerância de cada um no

que se refere à saúde humana. Somente os agentes descritos na NR-15 poderão dar

causa ao pagamento de adicional de insalubridade, ainda assim, se encontrados no

ambiente de trabalho, em níveis superiores aos toleráveis.

Como é determinado o pagamento de adicional de insalubridade?

Da mesma forma que ocorre com o adicional de periculosidade, o adicional de

insalubridade, em se tratando de ação judicial, somente é determinado pela realização de

perícia técnica.

Qual a diferença básica entre adicional de periculosidade e adicional de

insalubridade?

Ambos são pagos visando a compensar o empregado pelo exercício do trabalho

em condições adversas, seja por exposição a perigo, seja por agente nocivo à saúde. A

grande diferença pode ser estabelecida pelo fato de que o adicional de periculosidade

objetiva uma compensação por expor a vida, e a insalubridade, por expor a saúde do

trabalhador.

Podem empresa e trabalhador firmar acordo para o não pagamento de adicional

de periculosidade ou insalubridade?

Por se tratar de matéria que diz respeito à saúde do trabalhador, ainda que haja

concordância das partes, não é permitido afastar o pagamento de adicionais de

insalubridade ou periculosidade a trabalhador que esteja exercendo sua atividade em tais

condições.

Como fica a situação de um trabalhador que exerça sua atividade exposto à

insalubridade e periculosidade?

De acordo com o § 2o do art. 193 da CLT, deve o trabalhador optar por um dos

adicionais, cabendo a ele a escolha do que lhe for mais favorável.

Qualquer trabalhador pode exercer trabalho insalubre ou perigoso?

A possibilidade de realização de trabalho em atividades insalubres ou perigosas

só é permitida aos maiores de 18 anos.

O que é trabalho noturno? Trabalho noturno gera direito a receber adicional de

insalubridade?

Trabalho noturno é aquele prestado das 22h00 de um dia às 5h00 do dia seguinte

para o trabalho urbano (CLT, art. 73, § 2o). Para o trabalho rural, é aquele prestado das

20h00 de um dia às 4h00 do dia seguinte, na pecuária; entre 21h00 de um dia às 5h00

do dia seguinte, na agricultura (Lei 5.889/1.973, art. 7o e Decreto 73.626/1.974, art. 11,

parágrafo único). O adicional de insalubridade não é inerente ao trabalho noturno. O

trabalhador somente tem direito ao adicional de insalubridade se esta for caracterizada

no seu ambiente de trabalho, quer exerça trabalho noturno ou não.

Page 174: Livro E Agora 4

O que são EPIs?

Os equipamentos de proteção individual (EPIs) são ―objetos‖ para uso de

trabalhadores sujeitos à execução de atividades insalubres ou em locais insalubres e

objetivam anular ou reduzir, a níveis toleráveis, a ação dos agentes que causam

insalubridade.

O que acontece se determinada empresa não fornecer EPIs?

A empresa pode ser denunciada ao Ministério do Trabalho ou à Delegacia

Regional do Trabalho e vir a sofrer aplicação de multa. A empresa deve fornecer

gratuitamente os EPIs aos empregados.

O que acontece se o trabalhador se recusar a usar EPIs?

O papel do profissional de segurança é o de orientar o trabalhador e, se possível,

evitar puni-lo. O trabalhador deve ser orientado a usar EPIs; se for intransigente deve

ser advertido. Caso ele se recuse continuamente a usar EPIs, pode ser demitido por justa

causa. Cabe lembrar também que o EPI deve estar em boas condições de uso, possuir o

certificado de aprovação do Ministério do Trabalho e ser adequado à situação a que se

destina.

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE TRABALHO DO MENOR DE IDADE

Jovens de 14 anos podem trabalhar no Brasil?

Não. Até 1988, a idade mínima para o ingresso no mercado de trabalho era de 14 anos,

mas ela foi alterada para 16 anos. Crianças com 14 anos podem, apenas, ingressar em

programas de aprendizes; as menores de 14 anos, nem isso.

A partir dos 16 anos o trabalho está legalizado?

Nem todo tipo de trabalho. A Constituição Brasileira determina que menores de

18 anos não podem trabalhar em horário noturno (das 22h00 às 05h00), nem em uma

série de trabalhos considerados perigosos, ou em ambientes insalubres, como o corte de

cana, por exemplo, ou o lixão. Atualmente, o menor de 18 anos não pode trabalhar

sequer como empregado doméstico.

Se um menor de 16 anos "ajudar" na arrumação da casa, isso pode ser

considerado trabalho infantil?

Se a "arrumação" for feita pelas crianças da própria casa, como parte de tarefas

educativas, ajudando a mãe na hora de arrumar o quarto, tirar a mesa ou fazer a cama,

não. Mas se a criança estiver exercendo a atividade para terceiros em troca de um

pagamento, mesmo que seja um prato de comida, ou uma doação de roupas, sim,

especialmente se esse trabalho for sistemático e prejudicar a frequência escolar.

Se a criança estiver na escola, ela pode trabalhar meio expediente?

Page 175: Livro E Agora 4

Não. A lei brasileira é bastante clara: até os 16 anos de idade, nenhuma criança

pode trabalhar, salvo como aprendiz.

QUESTÕES VARIADAS

A transferência de funcionário para filial da empresa em outra localidade é

permitida?

A transferência será lícita se no contrato de trabalho do funcionário constar

previsão expressa da possibilidade de transferência. Sendo a transferência definitiva,

nenhum direito é gerado, a não ser o custeio da mudança por parte da empresa.

No caso de transferência temporária, deve ser pago um adicional de 25%

destinado a cobrir os gastos extraordinários do trabalhador com a situação transitória.

É possível solicitar exame de gravidez à funcionária? Em que momento?

A exigência de exame de gravidez quando da admissão é proibido, por constituir

meio discriminatório e atentatório à dignidade do trabalhador. O que é recomendável,

no entanto, é incluir, dentre os exames demissionais, o de gravidez. Isso porque, muitas

vezes, nem a trabalhadora tem conhecimento de que está grávida quando do

desligamento da empresa e, consistindo a estabilidade gestacional em um direito do

nascituro (bebê que acaba de ser gerado), o procedimento passa a ser aceito.

Em que consiste o dano moral na seara da Justiça do Trabalho? Existe alguma lei

ou valor fixo que deva ser aplicado em caso de indenização por dano moral?

O dano moral consiste em prejuízos de ordem psicológica, traumas emocionais

ocasionados em virtude de atitude ilícita por parte do empregador. Não existe nenhuma

legislação ou regra que possa definir qual o valor a ser atribuído à indenização por

danos morais, seja decorrente de acidente de trabalho, seja por qualquer outro motivo. O

valor é definido de acordo com as características de cada caso, considerando-se a

gravidade do fato, o prejuízo sofrido pelo ofendido, a repercussão que a ofensa lhe

causou no meio social onde vive, a capacidade econômica do ofensor, dentre outras.

A demissão por justa causa é motivo para uma ação de reparação de danos

morais?

Os Tribunais têm entendido que a dispensa por justa causa, ainda que revertida

em Juízo, por si só não gera prejuízo de ordem moral ao empregado.

Posso monitorar o computador do meu funcionário durante o expediente de

trabalho?

O empregador pode exigir que o funcionário utilize os instrumentos de trabalho

estritamente para a execução do serviço. Desde que o colaborador seja previamente

cientificado, a empresa pode impor regras para utilização do computador, acesso a sites,

conteúdos e e-mail, inclusive realizando o monitoramento.

Posso instalar câmeras de vigilância no interior da empresa?

Page 176: Livro E Agora 4

Desde que não sejam instaladas em locais que firam a privacidade do

trabalhador, como vestiários e banheiros, as câmeras de segurança instaladas são lícitas.

O funcionário tem o direito de divulgar a terceiros, informações de uso restrito do

empregador?

As empresas podem utilizar de um documento chamado Termo de

Confidencialidade para exigir do trabalhador o sigilo de informações restritas e

estratégicas da empresa. Infringindo o dever de sigilo, o trabalhador por ser até

demitido por justa causa, além de responder pelos prejuízos causados, se for o caso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 31ª ed.

Atualizada por Eduardo Carrion – São Paulo: Saraiva, 2006.

DELGADO, Maurício Godinho, Introdução ao direito do Trabalho. São Paulo: LTR

1995.

MAGANO, Octávio Bueno, Do Poder Diretivo na Empresa. São Paulo: Saraiva,

1982.

MALLET, Estevão, O Novo Contrato de Trabalho por Prazo Determinado, in

Revista LTr . São Paulo, 1998.

MARANHÃO, Délio. Direito do Trabalho. 14ª Ed., Rio de Janeiro: Fundação Getúlio

Vargas, 1987.

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO – 24ª REGIÃO – Guia do Trabalhador,

Secretaria da Corregedoria Regional, 2004.

* Marlon Sanches Resina Fernandes

Advogado, coordenador jurídico da área trabalhista do escritório RESINA & MARCON

ADVOGADOS ASSOCIADOS; graduado pela Faculdade de Direito da Alta Paulista-

FADAP na cidade de Tupã-SP em 1998; curso de extensão em Direito Civil e

Processual Civil pela UNAES em 2004/2005; MBA em gestão empresarial pela

UCDB, em conclusão; Pós-Graduação em Direito e Processo do Trabalho pela Escola

da Magistratura do Trabalho (EMATRA/MS), em andamento; autor de artigos

publicados em Jornais e Revistas sobre Direito do Trabalho; Palestrante na área de

Direito do Trabalho; professor de Direito Processual do Trabalho da Anhanguera-

Uniderp de 2006 a 2009; professor de Direito Processual Civil da Anhanguera-Uniderp

entre 2008 e 2009;

DIREITO DO TRABALHO II

*Arianne Gonçalves Mendonça

EMPREGADO DOMÉSTICO

Quem o legislador considera empregado doméstico, para fins trabalhistas?

Page 177: Livro E Agora 4

Empregado doméstico é qualquer pessoa física que presta serviços contínuos a

um ou mais empregadores, em suas residências, de forma não eventual, contínua,

subordinada, individual e mediante remuneração, sem fins lucrativos.

Qual a Lei que regulamenta as relações de trabalho do empregado doméstico?

A lei que regulamenta as relações de trabalho no âmbito domiciliar é a n.º

5.859/79, denominada Lei dos Domésticos. A Constituição Federal de 1988 ampliou os

direitos do empregado doméstico, salientando que, além dos direitos especificamente

previstos naquela lei, serão assegurados ao empregado doméstico os seguintes direitos:

salário mínimo; irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo

coletivo; décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da

aposentadoria; repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; gozo de

férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal;

licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte

dias; licença-paternidade, nos termos fixados em lei; aviso prévio proporcional ao

tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei, e aposentadoria.

Quem poderá contratar empregados domésticos?

Somente pessoa física, uma vez que o trabalho deverá ser executado no âmbito

da residência do empregador.

A que está obrigado o empregador doméstico durante o afastamento da

empregada gestante, por licença maternidade?

A Previdência Social efetua os pagamentos à gestante, durante seu afastamento.

Assim, o empregador não estará obrigado ao pagamento de salários, devendo somente

recolher mensalmente, o encargo de 12% sobre o salário de contribuição da empregada

doméstica.

Quando terá o empregado doméstico direito a férias?

O empregado adquire direito a férias após 12 meses de trabalho.

É verdade que a empregada doméstica, de acordo com uma convenção da

Organização Internacional do Trabalho, passará a ter todos os direitos iguais aos

demais empregados, inclusive hora extra?

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) efetuou uma convenção

internacional para garantir direitos às trabalhadoras domésticas, no intuito de melhorar

as condições de trabalho destas, que a nível mundial, sofreram por largo período de

tempo, uma diferenciação em relação às demais categorias de trabalho. Uma boa parte

dos direitos propostos por aquele tratado internacional já existe na legislação brasileira,

dos quais podemos citar: salário mínimo, previdência social, férias, aviso prévio, acesso

à Justiça do Trabalho, proibição de discriminação e de trabalho forçado e infantil, entre

outros. Uma situação que deveras não existe e que chama a atenção é no tocante à

fixação da jornada de trabalho. Saliente-se que referida convenção não tem

aplicabilidade imediata em nosso país. Primeiro ela deve ser aprovada pelo Congresso e

regulamentada, para que, então, passe a ser aplicada no Brasil.

Page 178: Livro E Agora 4

QUESTÕES VARIADAS

Posso deixar de contratar um candidato em virtude de este possuir inscrição

negativa nos cadastros protetivos de crédito?

Assim como a exigência de exame de gravidez quando da admissão, deixar de

admitir um funcionário única e exclusivamente em virtude de este possuir inscrição em

cadastros protetivos de crédito também constitui ato considerado como discriminatório

e atentatório à dignidade do trabalhador, portanto, proibido pelo ordenamento jurídico.

O trabalhador pode pleitear indenização por danos morais na Justiça do

Trabalho?

A Emenda Constitucional n.°45/2004, que modificou o artigo 114 da

Constituição Federal, ampliou a competência da Justiça do Trabalho prevendo, entre

outras coisas, que as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes

da relação de trabalho serão de competência dessa justiça especializada. Sendo assim,

caso o trabalhador venha a sofrer algum tipo de dano moral em virtude da relação de

trabalho, poderá sim pleiteá-lo em conjunto com as eventuais verbas trabalhistas que lhe

sejam devidas.

Existe algum outro tipo de indenização que pode ser pleiteada em face do

empregador?

O empregado, além das verbas trabalhistas, indenização por danos materiais e

morais, pode ainda pleitear quaisquer outros tipos de danos, tais como o dano estético.

O dano estético consiste em ofensa àquilo que chamamos de imagem-retrato da pessoa,

ou seja, é a modificação física permanente do aspecto externo do corpo humano do

trabalhador. Antes o dano estético era incluído na própria seara do dano moral, mas

atualmente se tem entendido que o dano moral não se confunde com o dano estético,

ensejando indenizações diversas.

Assédio moral significa a mesma coisa que dano moral?

O que se vê, atualmente, são pedidos de indenização por dano moral e assédio

moral como se ambos fossem a mesma coisa, todavia, ao contrário da confusão efetuada

em torno do assunto, há de se explicar que o assédio moral possui determinadas

peculiaridades. Entende-se como assédio moral aquele atentado à dignidade da pessoa,

exercido de forma reiterada, potencialmente lesiva e não desejada, dirigida contra um ou

mais trabalhadores, no local de trabalho ou em consequência dele. Em outras palavras: o

assédio moral consiste em ataques reiterados e sistemáticos de caráter degradante, que

atentem contra a integridade moral de uma pessoa (atentado à dignidade) com aptidão

de provocar danos de natureza psíquica, física, patrimonial ou de prejudicar de forma

grave o emprego da vítima. Cabe ao empregado o ônus de comprovar os fatos que

alegar, inclusive com eventuais atestados médicos que demonstram o dano psicológico

sofrido.

O que significa dumping social?

Page 179: Livro E Agora 4

O dumping (influência norte-americana) é a prática de concorrência desleal de

caráter internacional que pode causar prejuízos a um concorrente do mesmo mercado ou

retardar o estabelecimento de um novo concorrente nesse mercado. Dessa ideia surgiu o

chamado dumping social, uma criação dos doutrinadores, que aludem que este ocorre

quando há exploração da mão-de-obra. Os empregadores por intermédio dos baixos

custos de produção, com base na mão-de-obra barata, fixam preços mais baixos

aumentando a competitividade à custa de um problema social. Há recentes condenações

na Justiça do Trabalho para empresas que lucram indevidamente sobre a exploração de

seus empregados e prestadores de serviço, ante a inobservância da legislação trabalhista.

Salienta-se que a condenação de indenização por dumping social não se confunde com

outras indenizações, tais como dano material, moral e estético, eventualmente devidas

ao empregado.

Existe alguma influência da Lei Maria da Penha na Justiça do Trabalho?

A lei n.º11.340, de 07 (sete) de agosto de 2006, denominada de Lei Maria da

Penha, criou mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher,

no intuito de prevenir, punir e erradicar a violência. O artigo 9º de referida lei assegura

assistência à mulher que estiver em situação de violência doméstica e familiar, e prevê

que o juiz poderá determinar o afastamento do local de trabalho, por até seis meses, para

preservar sua integridade física e psicológica, mantendo o vínculo trabalhista daquela.

O afastamento do trabalho garantido pela Lei Maria da Penha trata-se de caso de

suspensão ou interrupção do contrato de trabalho? Há aplicabilidade imediata

daquela lei aos contratos de trabalho?

Ao assegurar o afastamento do trabalho e manutenção do vínculo trabalhista, a

lei foi expressa no sentido de determinar se, no caso em tela, estaríamos diante de

suspensão ou interrupção do contrato de trabalho. Explica-se. A suspensão do contrato

de trabalho é a sustação das obrigações contratuais, em que se preserva sua vigência,

todavia, as cláusulas contratuais não se aplicam, o que significa dizer, principalmente,

que não há prestação de serviço nem pagamento de salário. Já na interrupção do

contrato de trabalho, ocorre a sustação da principal obrigação, ou seja, a prestação do

serviço, todavia, com pagamento de salário. As causas de suspensão e interrupção estão

expressamente previstas na Consolidação das leis trabalhistas. Sendo assim, a Lei Maria

da Penha, ao deixar de determinar se a manutenção do vínculo trabalhista ali prevista

seria causa de suspensão ou interrupção do contrato de trabalho, criou a seguinte

indagação: quem será responsável pelo pagamento do salário da mulher enquanto esta

estiver afastada de seu trabalho pelo motivo ali previsto?

Criaram-se os seguintes posicionamentos:

Causa de suspensão do contrato de trabalho, em que o Instituto Nacional de

Seguridade Social (INSS) deve se responsabilizar pelo pagamento de um benefício à

mulher (saliente-se que na lei de seguridade social não há previsão a qualquer benefício

nesse sentido), enquanto durar a suspensão.

Causa de interrupção do contrato de trabalho, em que o empregador deve

continuar efetuando o pagamento dos salários devidos a mulher, enquanto durar a

interrupção.

E ainda, há quem sugira que seja efetuada, nesse caso, uma analogia ao

benefício do auxílio-doença concedido pelo INSS, ou seja, nos primeiros quinze dias de

afastamento estar-se-ia diante de uma causa de interrupção, devendo o empregador

Page 180: Livro E Agora 4

efetuar o pagamento do salário devido nesse período. Após o décimo sexto dia de

afastamento, começaria a suspensão do contrato de trabalho, quando então o

responsável pelo pagamento de benefício à mulher seria o INSS. Isso porque se

estabelece um paralelo entre a violência sofrida pela mulher e as moléstias que ensejam

a concessão do auxílio doença, ampliando assim sua incidência.

Veja-se, portanto, que foi criada mais uma garantia de emprego específico para

as mulheres em situação de violência doméstica, todavia, há necessidade de

regulamentação da Lei Maria da Penha, no sentido de determinar como será efetuado o

afastamento previsto naquela lei, bem como quem será o responsável pelo pagamento

do salário durante o período de afastamento, não havendo como aplicá-la de imediato.

O que significa litigância de má-fé? Há possibilidade de sua aplicação na Justiça do

Trabalho?

A litigância de má-fé ocorre quando uma das partes (autor-empregado ou

reclamado-empregador) altera a veracidade dos fatos e procede de modo temerário no

processo. Ao pretender que as partes atuem com lealdade no decorrer do processo, caso

se pretenda impedir que o autor (reclamante) não obtenha vantagem ilícita em face do

empregador, também se deve impedir que este obtenha essa mesma vantagem (ilícita)

ao negar/alterar fatos que deveras aconteceram durante a relação de trabalho.

Por certo que a vantagem obtida pelo empregador reside justamente no fato de

não ter de efetuar o pagamento das verbas que seriam devidas ao reclamante. Os

Tribunais Regionais do Trabalho, bem como o próprio Tribunal Superior do Trabalho,

vêm reconhecendo a possibilidade de aplicação da multa prevista pelo Código de

Processo Civil, nesta especializada, quando restar comprovado nos autos que a empresa

reclamada, em sua defesa, altera a veracidade dos fatos, agindo de forma maldosa, no

intuito de prejudicar a parte contrária.

Há possibilidade de inclusão do nome da empresa reclamada nos órgãos de

proteção ao crédito em virtude de débito trabalhista?

Assim como se tem visto nos demais ramos do direito, também no âmbito da

Justiça do Trabalho se denota a busca pela efetiva prestação jurisdicional. É nesse

intuito que os Tribunais Regionais do Trabalho têm firmado acordo com cartórios de

protestos e/ou SERASA, para que sejam repassadas ao banco de dados desses órgãos,

informações das dívidas objeto de execuções de títulos judiciais trabalhistas decorrentes

de decisões transitadas em julgado. Simplificadamente falando: empregador com débito

trabalhista, decorrente de sentença da qual não caiba mais recurso, poderá ter o nome da

empresa ―negativado‖. Há discussão acerca da possibilidade de tal atitude estar sendo

efetivada por intermédio de acordos, todavia, não há como se negar a possibilidade de

protesto de sentenças judiciais por meio das disposições da Lei 9.492/97, em casos ali

especificadamente previstos. Todavia deve-se salientar que protesto é um ato formal,

solene e facultativo. Se ato facultativo, cabe à parte interessada solicitar a sua realização

e não ao juiz determinar de ofício, sob pena de ofensa ao princípio da imparcialidade.

Gestante tem direito a estabilidade no trabalho? Por quanto tempo?

A estabilidade provisória no emprego para as empregadas gestantes, desde a

confirmação da gravidez até cinco meses após o parto, está garantida pelo art. 10 do Ato

Page 181: Livro E Agora 4

das Disposições Constitucionais Transitórias. Se for despedida estando grávida, a

trabalhadora tem direito a ser reintegrada ao serviço ou mesmo ganhar uma indenização

compensatória ao período estabilitário. Atualmente, o Tribunal Superior do Trabalho

entende, conforme enunciado da Súmula nº 244, que o desconhecimento do estado

gravídico pelo empregador não afasta o direito ao pagamento da indenização decorrente

da estabilidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 31ª ed.

Atualizada por Eduardo Carrion – São Paulo: Saraiva, 2006.

DELGADO, Maurício Godinho, Introdução ao direito do Trabalho. São Paulo: LTR

1995.

MARANHÃO, Délio. Direito do Trabalho. 14ª Ed., Rio de Janeiro: Fundação Getúlio

Vargas, 1987.

MENDONÇA, Arianne Gonçalves. Da efetividade da prestação jurisdicional e o

protesto das sentenças judiciais. Disponível em

Http://www.resinamarcon.com.br/artigos/index.htm?&id=233. Fevereiro/2011.

_______, Influência da Lei Maria da Penha na relação de trabalho e seguridade

social. Disponível em <

http://www.resinamarcon.com.br/artigos/index.htm?&pagina=2&pagina=3&pagina=1&

pagina=2&pagina=3&id=176> Janeiro/2010.

_______, Possibilidade de condenação por litigância de má-fé na justiça do

trabalho. Novembro/2010.

SILVA, Homero Batista Mateus da. Responsabilidade patrimonial no processo do

trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier,2008.

* Arianne Gonçalves Mendonça. [email protected].

Advogada associada ao Resina & Marcon Advogados Associados.

Especialista em Direito e Processo do Trabalho pelo Instituto de Ensino Luis

Flávio Gomes em parceria com a Universidade Anhanguera Uniderp.

Cursando MBA em Gestão Empresarial pela Universidade Católica Dom Bosco

em parceria com o Portal Educação Ltda.

Graduada em Direito pela Universidade Católica Dom Bosco.

Extensão em Processo do Trabalho pela Associação dos Advogados de São

Paulo.

Extensão em Direito Processual Civil pela Escola Superior da Advocacia do

Estado de Mato Grosso do Sul.

Extensão em Direito do Consumidor pela Associação dos Advogados de São

Paulo.

Palestrante sobre temas da área de Direito do Consumidor e Direito do Trabalho.

Ministrante de cursos especiais e treinamentos nas áreas de Direito do

Consumidor e Direito do Trabalho.

Articulista colaboradora periódica do jornal A crítica e Informativo Migalhas.

Autora de artigos jurídicos nas áreas de Direito do Consumidor e Direito do

Trabalho.

Page 182: Livro E Agora 4

DIREITO DO CONSUMIDOR

Arianne Gonçalves Mendonça*

Caroline Mendes Dias**

QUESTÕES INICIAIS

Como se identifica uma relação de consumo?

As relações de consumo têm sua origem ligada às transações de natureza

comercial, havendo primeiramente, a necessidade de se identificar as partes, quais sejam

o consumidor e o fornecedor e uma relação jurídica entre elas. A importância de se

identificar uma relação de consumo dentro de um negócio jurídico está no fato de poder

se estabelecer com precisão a competência para a incidência do Código de Defesa do

Consumidor como corpo legal para dirimir os conflitos, pois, se configurada tal relação,

o consumidor e o fornecedor poderão experimentar todas as vantagens relativas à sua

aplicação.

Quem é considerado consumidor?

É toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produtos ou serviços como

destinatário final, sendo este entendido como aquela pessoa, física ou jurídica, que

adquire ou se utiliza de produtos ou serviços em benefício próprio, ou seja, é aquele que

busca a satisfação de suas necessidades por meio de um produto ou serviço, sem ter o

interesse de repassar esse serviço ou produto a terceiros. Vale ainda dizer que a

coletividade, mesmo que de pessoas indetermináveis, também é considerada como

consumidores desde que haja intervindo nas relações de consumo. Tal conceito

encontra-se expresso no artigo 2º e parágrafo único da Lei Nº. 8.078 de 11/09/1990,

sendo ainda complementado pelos artigos 17 e 29 que aumentam esse rol, para aquelas

pessoas vítimas do evento danoso do fato do produto e pessoas ameaçadas ou expostas

às práticas comerciais nela previstas.

Quem é considerado fornecedor?

O conceito de fornecedor encontra-se expresso no artigo 3º do Código de Defesa

do Consumidor (Lei Nº. 8.078 de 11/09/1990), e refere-se a toda pessoa física ou

jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como aos entes

despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação,

construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de

produtos ou prestação de serviços. Há, ainda, no referido código, a conceituação de

produto como qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial e a conceituação

de serviço como qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante

remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,

Page 183: Livro E Agora 4

salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. Assim, podemos concluir que,

para denominarmos uma pessoa como fornecedora, faz-se necessário que esta detenha a

prática habitual de uma profissão ou comércio (atividade), como também forneça o

serviço mediante remuneração.

O código de defesa do consumidor visa tão somente a proteger os direitos do

consumidor?

Não, na realidade sua função é colocar a parte frágil da relação, isto é, o

consumidor, em igualdade com o fornecedor, por entender ser este, supostamente, o

mais forte da relação; contudo é sabido que, em alguns casos, tal posição não condiz

com a realidade. Assim tal documento não é unilateral e busca atender as exigências de

ambas as partes como podemos constatar no artigo 26 do já mencionado documento, o

qual estipula um prazo para a apresentação de reclamações de vícios existentes,

evitando assim que o fornecedor fique eternamente à mercê das reclamações do

consumidor.

Quais são os instrumentos que o consumidor possui para ver seus direitos

garantidos?

Conforme disposição do próprio Código de Defesa do Consumidor em seu artigo

5º, o Poder Público contará com os seguintes instrumentos para auxiliar os

consumidores: I – manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o

consumidor carente; II – instituição de promotorias de justiça de defesa do consumidor,

no âmbito do Ministério Público; III – criação de delegacias de polícia especializadas no

atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo; IV – criação de

juizados especiais de pequenas causas e varas especializadas para solução de litígios de

consumo; e V – concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações

de Defesa do Consumidor.

O Código de Defesa do Consumidor prevê, em seu texto, alguns direitos básicos ao

consumidor. Quais são eles?

Os referidos direitos encontram-se inseridos no artigo 6º do Código de Defesa do

Consumidor, sendo eles: I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos

provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos

ou nocivos; II – a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e

serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; III – a

informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação

correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre

os riscos que se apresentem; IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva,

métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas

abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; V – a modificação das

cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em

razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; VI – a efetiva

prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;

VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos, com vistas à prevenção ou

reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada

a proteção jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; VIII – a facilitação da

defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no

Page 184: Livro E Agora 4

processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele

hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência; e, por fim, X – a adequada

e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

No inciso VIII do artigo 6º, há referência sobre a inversão do ônus da prova a

favor do consumidor quando for verossímil a alegação ou quando for ele

hipossuficiente. O que o referido dispositivo quer dizer?

Ônus da Prova é a obrigação de provar o alegado e, com base no artigo 333 do

Código de Processo Civil, tal ônus seria do autor, quando o fato é constitutivo do seu

direito, ou do réu, quando há a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo

do direito do autor; contudo, em seu parágrafo único, o supracitado artigo prevê que

haverá a inversão do ônus da prova, ou seja, incumbir-se-á a outra parte de provar o

alegado, se for excessivamente difícil para parte incumbida o exercício do direito. No

caso do consumidor, entre suas garantias há duas possibilidades de inversão do ônus da

prova, sendo a primeira no caso de verossimilhança do alegado, isto é, o fato é

acreditável ou razoável, e a segunda possibilidade é no caso da hipossuficiência do

consumidor em conseguir provar o alegado.

Concedida a inversão do ônus da prova nas lides de consumo, a quem cabe o ônus

de antecipação de despesas determinadas de ofício pelo juiz ou requeridas por

ambas as partes nos casos de atos probatórios requeridos pelo consumidor?

Primeiramente, cabe ressaltar a diferença existente entre a hipossuficiência e a

insuficiência financeira. No primeiro caso, o consumidor é tido como o lado frágil da

relação jurídica em virtude da ausência do conhecimento técnico sobre o produto ou o

serviço. A insuficiência financeira nem sempre está presente na pessoa do consumidor,

que, em alguns casos, é até mesmo mais rico que o fornecedor, e nos casos em que não

o é, pode fazer uso da assistência judiciária prevista na Lei nº. 1060/50. Assim, cabe ao

consumidor arcar com os ônus financeiros de atos probatórios por ele requeridos,

devendo arcar ainda, se for o autor da demanda, com as despesas prévias de atos

ordenados de ofício pelo juiz ou pelo Ministério Público (art. 19, §2o CPC) ou com as

despesas de perícia requerida por si ou por ambos os litigantes (art. 33 CPC).

É sabido que, em algumas atividades, existem os contratos de adesão. Relativo a

estes, qual é a medida de proteção tomada pelo código de defesa do consumidor?

São entendidos como Contrato de Adesão aqueles nos quais o consumidor, ao

contratar um serviço, atua como mero expectador das cláusulas, não podendo

convencionar sobre elas, ou seja, as disposições são elaboradas unilateralmente pelo

fornecedor. Assim, buscando proteger os consumidores de cláusulas abusivas, o Código

de Defesa do Consumidor, em respeito à fragilidade de uma das partes frente à outra

que elaborou o contrato, em seu artigo 54, dispôs sobre algumas regras que devem ser

obedecidas na elaboração do referido documento, quais sejam: redação clara e com

caracteres ostensivos e legíveis, facilitando assim a sua compreensão pelo consumidor;

as cláusulas que implicarem limitação do direito do consumidor deverão ser redigidas

com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão; e ainda, a simples inserção

de cláusula no formulário não desconfigura a natureza de adesão do contrato. Assim, o

consumidor, ao deparar-se com uma cláusula que desrespeite as regras estabelecidas

Page 185: Livro E Agora 4

pelo Código do Consumidor, poderá procurar auxílio jurídico, e comprovando-se abuso

dessa cláusula, ela poderá ser reformulada ou até mesmo anulada.

O que é uma cláusula abusiva? Qual é a consequência de sua existência em um

contrato? Em quais tipos de contratos elas podem ser encontradas?

São consideradas cláusulas abusivas todas aquelas que são notoriamente

desfavoráveis ao consumidor, prejudicando assim o equilíbrio almejado nas relações

jurídicas. Presente em um contrato de fornecimento de produtos ou serviços, essa

cláusula será considerada nula, conforme preceitua o ―caput‖ do artigo 51 do Código de

Defesa do Consumidor, estando ainda esta, expressamente descrita no inciso IV do

supracitado artigo. Contudo vale dizer que a nulidade da cláusula não abrangerá o

contrato todo, e será considerada nula tão somente a cláusula abusiva, e não a totalidade

desse contrato, cabendo aqui a exceção nos casos da ausência desta acarretar danos mais

gravosos a uma das partes. Elas podem ser encontradas tanto nos contratos paritários,

quanto nos de adesão, sendo mais comum neste último.

Existindo em um contrato de adesão cláusula que eleja foro competente diverso do

domicilio do réu, caso seja este o consumidor, esta será considerada abusiva?

Sim, pois dado o caráter de proteção à parte hipossuficiente, a eleição de foro

diverso ao do consumidor acarreta danos a este. Assim, deverá o juiz determinar de

oficio a nulidade da presente cláusula e declinar como foro competente o do domicílio

do réu, sob pena de estar infringindo disposto constitucional, exposto no artigo 5º,

inciso LIII, que prevê que ninguém será julgado senão pela autoridade competente, e

nesse caso, a competência será do juiz do domicílio do réu.

Quais são as sanções administrativas que podem ser aplicadas no caso de infrações

das normas de defesa do consumidor?

O Código de Defesa do Consumidor, no art. 56, estabelece que as infrações das

normas de direito do consumidor ficam sujeitas, sem que haja prejuízo das sanções de

natureza civil e penal, às seguintes sanções: multa; apreensão, inutilização, proibição de

fabricação ou cassação do registro do produto no órgão competente; suspensão de

fornecimento de produtos ou serviço; suspensão temporária da atividade; revogação de

concessão ou permissão de uso; cassação de licença do estabelecimento ou de atividade;

interdição, total ou parcial, de estabelecimento, de obra ou de atividade; intervenção

administrativa; imposição de contrapropaganda.

O que se leva em consideração quando da aplicação da pena de multa?

Para a aplicação da pena de multa leva-se em conta a gravidade da infração, a vantagem

auferida e a condição econômica do fornecedor. Essa multa é aplicada mediante

procedimento administrativo, sendo os valores revertidos ao Fundo de que trata a Lei n.º

7.347/85, cabíveis à União ou os Fundos estaduais ou municipais de proteção ao

consumidor.

Quando é que se aplicam as sanções de apreensão, inutilização, proibição de

fabricação, suspensão do fornecimento, cassação do registro e revogação da

concessão ou permissão de uso de produtos e serviços?

Page 186: Livro E Agora 4

As referidas penas são aplicadas por procedimento administrativo, quando forem

constatados vícios de quantidade ou qualidade por inadequação ou insegurança do

produto ou serviço. Vale ressaltar que deve ser assegurada a ampla defesa.

Como se aplicam as penas de cassação de alvará de licença, interdição, suspensão

temporária da atividade e intervenção administrativa?

A pena de cassação da concessão é aplicada quando uma concessionária de

serviço público viola obrigação legal ou contratual, enquanto a de intervenção

administrativa é aplicada quando as circunstâncias de fato desaconselharem a cassação

de licença, interdição ou suspensão da atividade. Todas elas são aplicadas mediante

procedimento administrativo, sendo assegurada a ampla defesa, quando o fornecedor

reincidir na prática das infrações de maior gravidade previstas no CDC e na legislação

de consumo.

E quando se aplica a imposição de contrapropaganda?

Esse tipo de sanção administrativa é aplicado quando o fornecedor incorrer na

prática de publicidade enganosa ou abusiva, nos termos do art. 36, do Código de Defesa

do Consumidor. Essa imposição de contrapropaganda é de responsabilidade do infrator,

ou seja, o fornecedor que veiculou a publicidade. Para isso, deve ser divulgada pelo

responsável da mesma forma, frequência e dimensão, de preferência, no mesmo veículo

de comunicação, local, espaço e horário no qual se passou a publicidade enganosa ou

abusiva, a fim de que se desfaça o malefício provocado por ela.

O que são crimes contra as relações de consumo?

Os crimes contra as relações de consumo estão previstos nos artigos 61 a 80 do

Código de Defesa do Consumidor e também na Lei n.º 8.137/90. Esta última trata dos

crimes contra a ordem tributária e econômica. O sujeito ativo dos crimes contra as

relações de consumo é o fornecedor de produto ou de serviço, e o sujeito passivo tanto

pode ser a coletividade como o consumidor. Da leitura dos referidos artigos, colhe-se

que o objeto material desses crimes são os produtos ou os serviços.

Limitação para a compra de produtos constitui dano ao consumidor?

Geralmente os supermercados, ao realizarem promoções, limitam a compra

pelos consumidores de determinados produtos. Mas essa limitação de compra de

produto não caracteriza dano moral.

Existem casos em que o fornecedor, por não conseguir receber do consumidor o

serviço prestado, recorre a um advogado, que realizará a cobrança, acrescida de

juros de mora e honorários advocatícios. De quem é o ônus do pagamento desses

honorários advocatícios, do consumidor ou do fornecedor?

Tendo em vista que o consumidor não celebrou nenhum contrato com o

escritório de advocacia, resta transparente que a obrigação do pagamento de tal encargo

é do fornecedor, que, ao recorrer aos préstimos do advogado, deixa de aceitar receber a

parcela vencida, a qual deve então ser paga diretamente ao advogado contratado. Tal

Page 187: Livro E Agora 4

posicionamento encontra fundamento no artigo 22 do Estatuto da Advocacia (Lei

8.906/94), o qual elenca três possibilidades de cobrança de honorários advocatícios:

quando há convenção entre as partes, arbitramento judicial ou sucumbência.

Como podemos perceber, nenhuma dessas hipóteses legitima a cobrança dos

honorários da parte que não o contratou, o que configura o abuso da cobrança. E, caso

haja, no contrato celebrado com o consumidor, cláusula que prevê tal cobrança sob a

alegação da utilização do artigo 22 do Estatuto, no que se refere à convenção das partes,

tal cláusula será absolutamente nula, posto que, conforme preceitua o art. 51, XII do

Código de Defesa do Consumidor, é nula a cláusula contratual que obrigue o

consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito

lhe seja conferido contra o fornecedor. Assim, inconcebível a imputação de tal ônus,

posto que o consumidor estaria agindo contra seus próprios interesses.

Disparo de alarme antifurto pode constranger o comprador e motivar

indenização?

Em se tratando de erro de funcionário, que não retirou a etiqueta eletrônica de

produto adquirido, o comprador flagrado pelo alarme antifurto poderá de ser ressarcido

por danos morais. Esse é um caso de falha na prestação de serviço ao consumidor.

Os estabelecimentos comerciais devem demonstrar cuidados que, mesmo na

busca legal pela proteção de seu patrimônio, não podem expor os frequentadores a

situações vexatórias. Importante ainda esclarecer que, tanto no Código Civil quanto no

Código de Defesa do Consumidor, a responsabilidade do empregador em relação a fato

dos seus empregados é objetiva, não admitindo a necessidade de prova de culpa.

VÍCIOS E DEFEITOS EM PRODUTOS E SERVIÇOS

Caso um produto comprado venha apresentar algum vício, o que fazer?

Com base no artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor, no primeiro

momento, o consumidor, ao constatar os vícios de qualidade ou quantidade do produto o

que o torne impróprio ou inadequado ao consumo a que se destinam ou que lhe diminua

o valor, deverá reclamá-lo ao fornecedor, ao qual será concedido o prazo de 30 (trinta)

dias para sanar o defeito, contados a partir da reclamação, podendo o consumidor exigir

a substituição das partes viciadas.

Decorridos os 30 (trinta) dias, se não corrigido o defeito, o consumidor poderá,

alternativamente e à sua escolha, exigir a substituição do produto por outro da mesma

espécie ou requerer a restituição do valor pago, monetariamente atualizado. Há, ainda, a

possibilidade de disparidade nas indicações constantes do recipiente, na embalagem, na

rotulagem ou mensagem publicitária. Nesse caso, poderá o consumidor, decorridos os

30 (trinta) dias, requerer o abatimento proporcional do preço. Contudo há que se

observar o prazo decadencial previsto no artigo 26 do Código de Defesa do

Consumidor.

Qual é o prazo decadencial para apresentar reclamações a respeito dos produtos

ou serviços consumidos?

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Conforme artigo 26 do Código de Processo Civil, o prazo para apresentação de

reclamações pelos vícios aparentes ou de fácil constatação é de 30 (trinta) dias, quando

se tratar de produtos não duráveis, e entende-se por produtos não duráveis aquele que

acaba logo após o seu uso, tais como os alimentos. Já no caso dos produtos duráveis, o

prazo para apresentação de reclamação será de 90 (noventa) dias, entendendo como

duráveis aqueles que não desaparecem após o seu uso, como é o caso de um carro. O

início da contagem desses prazos será o da data efetiva da entrega do produto ou o do

término da execução do serviço. Passados os prazos descritos, o direito de reclamar

caduca (§1º do referido artigo).

Se for constatado que o defeito é de fabricação, de quem será a responsabilidade de

reparar o dano?

Constatado defeito de fabricação, a responsabilidade do fornecedor é transferida

para o fabricante do produto, conforme preceitua o artigo 12 do Código de Defesa do

Consumidor, que prevê: O fabricante, o produtor, nacional ou estrangeiro, e o

importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos

danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação,

construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou condicionamento de

seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua

utilização e riscos.

Assim, nos casos em que o defeito é de "fabricação", a responsabilidade do fornecedor

passa a ser subsidiária. Há, contudo, a possibilidade de o fornecedor ser solidariamente

responsável, como é o caso previsto no artigo 13, inciso I, do Código de Defesa do

Consumidor, quando o fabricante não pode ser claramente identificado.

Cabe ação de regresso do fornecedor ao fabricante, caso aquele seja obrigado a

reparar o dano?

Sim, conforme previsão do artigo 13, parágrafo único do Código de Defesa do

Consumidor, aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito

de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação do evento

danoso. Portanto, da mesma forma como se aconselha ao consumidor apresentar por

escrito suas reclamação, aconselha-se ao fornecedor trazer em documento toda e

qualquer reclamação efetivada pelo consumidor e discriminar os defeitos constatados,

datas, serviços realizados e, principalmente, comunicar imediata e expressamente ao

fabricante os defeitos com suspeitas de serem de concepção ou de fabricação do

produto, com o objetivo de se garantir direitos em eventuais defesas futuras.

O que se considera como vício oculto e quando se inicia o seu prazo decadencial

para apresentação de reclamação contra ele?

Vício oculto é aquele revelado somente após o uso contínuo do produto ou do

serviço prestado, sendo que tal defeito torna a coisa objeto do contrato imprópria ao uso

a que se destina ou diminuída em seu valor. O prazo decadencial para apresentação de

reclamação do defeito inicia-se no momento em que ele ficar evidenciado, conforme

previsto no artigo 28, §3º do Código de Defesa do Consumidor.

Há a possibilidade de impedimento da decadência para apresentação de

reclamação de vícios?

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De acordo com o artigo 26, §2º do Código de Defesa do Consumidor, ficará

impedida a decadência quando houver a reclamação comprovadamente formulada pelo

consumidor perante o fornecedor até a resposta negativa correspondente, que deve ser

transmitida de forma inequívoca, desde a instauração de inquérito civil até o seu

encerramento.

Existe alguma causa excludente da responsabilidade do fornecedor por vícios do

produto?

Para que haja a necessidade de reparação e indenização pelo vício do produto,

faz-se necessária a presença do nexo causal, isto é, a relação entre a causa e o efeito,

senão não há obrigação de indenizar.

Há expressas no Código de Defesa do Consumidor, no artigo 12, §3º, algumas

excludentes de responsabilidade, quais sejam: quando não foi o fornecedor que colocou

o produto no mercado; quando, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito

inexiste; e por fim, quando há culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros.

Há ainda, outras excludentes que não se encontram elencadas no Código de

Defesa do Consumidor, mas que são abordadas por alguns juristas, como é o caso da

imposição do controle administrativo imperativo, no qual o fornecedor, em respeito a

normas instituídas pelos Órgãos Públicos as quais visavam à melhoria do produto, muda

seu processo de produção; contudo, ao contrário do que se esperava, alguns produtos

apresentam defeitos. Nesse caso, há quem entenda que o fornecedor estaria inserido na

excludente prevista no artigo 12, §3º, inciso III.

Outra excludente decorre do risco de desenvolvimento, devido aos grandes

avanços tecnológicos, posto que alguns defeitos somente poderão ser observados com

algum tempo do produto no mercado; porém o Brasil ainda não admite essa excludente

em seu âmbito jurídico.

Por fim temos a exclusão de responsabilidade por caso fortuito ou força maior,

aspecto em que a doutrina encontra-se dividida, pois, embora presente nos demais

ramos do Direito, esta excludente não se encontra expressamente descrita no Código de

Defesa do Consumidor. Daí haver forte divergência sobre sua aplicação ou não no

âmbito do consumidor.

Caso queira realizar o cancelamento da compra realizada por contrato não

cumprido, o que consumidor deve fazer?

Esse pedido de cancelamento deverá ser feito por escrito, contendo descrição da

compra com o número da nota fiscal ou do pedido; data e características do produto;

descrição do problema ocorrido; as tentativas fracassadas de solução do problema; a

intenção de cancelar o pedido de compra devido ao fornecedor não ter cumprido sua

obrigação; e o pedido de devolução de qualquer valor pago, o qual deve ser atualizado.

Essa carta poderá ser entregue pessoalmente ou remetida pelo correio, via AR, ao

fornecedor.

O que é o certificado de garantia e como funciona? Há possibilidade de perda do

direito de garantia?

Além da chamada garantia legal, que corresponde aos prazos que o Código de

Defesa do Consumidor prevê para reclamação de vícios em produtos ou serviços (30

Page 190: Livro E Agora 4

dias ou 90 dias), alguns produtos possuem também a garantia contratual, que é aquela

fornecida pelo fabricante ou pelo fornecedor, contra os defeitos de fabricação.

Essa garantia é dada em um certificado que acompanha o produto ou o serviço,

já que deve ser obrigatoriamente escrita. Para que o consumidor tenha direito a ela é

preciso guardar o certificado e a nota fiscal do produto. Se necessária a realização de

assistência técnica, os referidos documentos deverão ser apresentados.

Quais são as possibilidades da perda da garantia dada na compra de um produto?

O consumidor poderá perder a garantia concedida se fizer uso inadequado do

produto; quando estranhos fizerem reparos; se forem feitas alterações que modifiquem

as características básicas do produto sem a autorização do fornecedor e quando houver

um plano de revisão periódica e o consumidor não o cumprir.

O que é um “recall”?

Quando o fornecedor identifica um potencial problema em seus produtos, ele

deve, por imposição do Código de Defesa do Consumidor, chamar publicamente todos

os proprietários que adquiriram aqueles bens para a substituição ou conserto da peça,

sem ônus - ato conhecido como recall.

Para saber quais os produtos que foram submetidos a recall nos últimos tempos,

pode ser acessado o site do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor

(www.mj.gov.br/recall).

Apesar de as empresas imporem um prazo para a convocação do consumidor,

entende-se que o problema deve ser sanado independente do tempo. Mesmo se o bem

for usado, o atual proprietário também pode verificar no site do DPDC se há algum

recall para aquele modelo.

Os acessórios de um veículo também são cobertos pela garantia do bem?

Um carro pode ser equipado com rádio, ar-condicionado, vidros elétricos, travas,

alarmes, entre outros acessórios. Eles podem vir de fábrica ou ser colocados com o

passar do tempo. Em qualquer caso é necessário exigir a nota fiscal com a

discriminação dos itens incluídos. Além de comprovar a aquisição do acessório ou a

realização do serviço, ela indicará o verdadeiro responsável por um reparo, se

necessário.

E se o produto for importado?

O importador é tão responsável pelo produto quanto qualquer fabricante

nacional. Ele deve prestar assistência técnica e garantir a oferta de componentes ou

peças de reposição, assim como fornecer informações claras, e em língua portuguesa,

sobre o produto.

É importante saber que tanto para produtos importados como nacionais, é

possível perder a garantia. Em certas situações, o conserto pode não ser coberto por

aquela, mesmo que o prazo não tenha terminado, tais como:

Reparo mediante peças e estabelecimentos não recomendadas - Muitas vezes, por

economia, o proprietário procura um estabelecimento não-autorizado para realizar um

serviço ou coloca peças não-originais para reparar um defeito. A consequência de

ambas as medidas é a mesma: perda da garantia.

Page 191: Livro E Agora 4

Modificação de peças – alterações de características do produto, por vontade do

consumidor, é um fato que a maioria dos fabricantes aproveita para excluir o serviço da

garantia.

O consumidor que, ao abrir uma lata de tomate, sofre profundo corte numa das

mãos, pode recorrer ao Poder Judiciário para ser indenizado ?

A saúde e a segurança do consumidor estão entre os principais ―direitos básicos‖

assegurados pelo Código de Defesa do Consumidor. Qualquer produto que possa causar

perigo tem de ser precedido de informações claras.

Os tribunais já têm decidido em inúmeros processos (inclusive em casos cujo

dano resultou de abertura de latas) que a responsabilidade civil do fabricante aflora

cristalina em casos dessa espécie. Recentemente, o Superior Tribunal de Justiça, com

sede em Brasília, julgou um caso contra fabricante de massa de tomate e assim decidiu:

―O fabricante de massa de tomate que coloca no mercado produto acondicionado em

latas cuja abertura requer certos cuidados, sob pena de risco à saúde do consumidor, e

sem prestar a devida informação, deve indenizar os danos materiais e morais daí

resultantes‖.

Comprei um celular na loja faz menos de 30 dias e não gostei dele posso devolvê-

lo?

Por lei, inexiste previsão de que possa ocorrer arrependimento quando efetuado

a compra junto ao estabelecimento comercial. O que o Código de Defesa do

Consumidor garante é o arrependimento, no período de 7 dias, conforme artigo 49, em

casos de compra fora do local comercial.

Além disso, somente, por lei, você poderia trocar o bem se este tivesse algum

defeito de fabricação, caso em que seria dado um prazo de 30 dias para o fornecedor

resolver o defeito, e, se não resolvido ou excedido esse prazo, você poderia exigir o

abatimento proporcional no valor do bem, a troca do produto ou a devolução do

dinheiro.

Por costume, as lojas aceitam o direito de troca (arrependimento) fora da regra

prevista no CDC ou por ter recebido de presente o produto ou por não ter este agradado.

Na prática, o que se têm visto são essas hipóteses, em que os fornecedores estão criando

uma convenção costumeira de aceitar a troca do produto, mesmo sem defeito, em um

prazo não superior a 30 dias da efetiva compra.

Comprei um computador e fiz o pagamento com 12 cheques. Depois da

compensação de seis deles, o equipamento quebrou. Eu tinha garantia de um ano,

fui até a loja, mas eles não estavam mais no mesmo lugar. Aí paguei pelo conserto e

sustei os seis cheques restantes. É correto isso?

A sustação dos cheques se deu no intuito de fazer com que a loja procure o

consumidor para resolver o problema do produto. O reembolso do gasto que teve seria a

condição para que se desbloqueasse dos cheques.

Essa, porém, não é a saída mais correta para essa situação, já que pode gerar

ainda mais transtornos, sujeitando o consumidor a cobrança dos cheques, já que esses

são títulos independentes.

Nesse caso, o consumidor deve procurar o fabricante ou importador (cujos dados

constam em geral na nota fiscal ou no termo de garantia) para exigir seus direitos. Pela

Page 192: Livro E Agora 4

responsabilidade solidária que existe em cadeias de relação de consumo, o fabricante

poderia ressarci-lo. Outra opção, ainda, seria tentar localizar a loja que vendeu o

produto por meio de consulta à Junta Comercial, com o CNPJ da empresa em mãos.

Portanto o consumidor deve se cercar de medidas de prevenção para evitar que seu

nome seja negativado. Geralmente é sugerido que seja feito o depósito em juízo do

valor que será discutido judicialmente.

DIREITOS DOS FORNECEDORES NAS RELAÇÕES DE CONSUMO

Por que as leis que tratam das relações de consumo buscam dar proteção especial

aos direitos do consumidor?

Em razão do aumento da oferta e demanda de produtos e serviços, notadamente

tivemos uma ampliação exorbitante das relações negociais. Começamos, então, a

observar a necessidade da criação de institutos que fossem capazes de dirimirem

conflitos advindos dos atos negociais ocorridos entre consumidores e fornecedores.

Principiou-se, então, o surgimento de pequenas organizações direcionadas para a

solução de conflitos nas relações de consumo. A partir desse momento, buscou-se

resguardar os interesses das pessoas mais vulneráveis na transação comercial e, ao

mesmo tempo, defender os direitos da parte inversa na relação negocial, que é

denominado de empresário (reclamado).

Há regras no CDC que também resguardam os direitos dos fornecedores?

Numa relação consumerista, não devemos apenas examinar a defesa do consumidor.

Temos de ter cuidado, também, com o resguardo dos direitos do fornecedor, os quais

podem ser sistematizados nas entrelinhas das leis de consumo.

A Lei n.º 8.078, de 11.09.90 vem resguardar os direitos dos consumidores, mas nela

podemos vislumbrar os direitos dos fornecedores, buscando garantir uma relação de

consumo equilibrada e harmoniosa entre este e seus consumidores.

A relação consumerista é regulada pelo Código de Proteção e Defesa do

Consumidor, que, apesar de ganhar essa notável denominação, não almeja somente a

proteção do consumidor. De forma implícita, socorre, também, os interesses dos

fornecedores. De modo abrangente, tem por fim proteger a relação de consumo em si,

resguardando o equilíbrio entre as partes envolvidas e a harmonia de seus direitos e

deveres.

Quais os fatores que podem contribuir para obtenção da harmonia?

A harmonização nasce fundamentada na boa-fé e no equilíbrio. Boa-fé pode ser

entendida como a necessidade de que as partes envolvidas ocupem posições de lealdade,

decência e respeito recíprocos. Essas condições são fundamentais para a consecução de

um bom negócio jurídico, tanto para o consumidor quanto para o fornecedor. As

relações de consumo são instruídas pelo princípio da boa-fé, motivo por que toda

cláusula que quebrantar esse princípio é julgada como abusiva.

Já o equilíbrio é mais ligado à vulnerabilidade do consumidor, esta sendo

presumida. A experiência mostra que, em vários casos, ocorre a má-fé por parte dos

consumidores, que acham por bem desconsiderar tais obrigações iníquas ou que tragam

desvantagens exageradas.

Page 193: Livro E Agora 4

Dessa forma, o fornecedor fica obrigado a proporcionar as mesmas condições à

maioria dos consumidores, com exceção daqueles que carecem de proteção especial, a

exemplo dos idosos, gestantes, deficientes físicos e crianças.

O atendimento às regras do CDC pode representar diferencial competitivo para as

empresas?

O fornecedor, quando trata seus clientes com seriedade e honestidade, ganha,

prontamente, espaços no mercado, aumentando sua fama e credibilidade. Essa foi a

intenção do legislador quando tratou do tema, visto no Art. 4°, inciso III, do CDC, já

mencionado.

Aparentemente o fornecedor sempre está em desvantagem perante os órgãos de

defesa das relações de consumo, como se sempre fosse considerado culpado. Isso

realmente acontece?

Não deve existir tal pré-julgamento do fornecedor perante os processos

administrativos ou judiciais que tratam de direitos do consumidor. Os órgãos

competentes, para aplicarem a lei de consumo ao caso concreto, deverão

prioritariamente perceber os princípios do contraditório e da ampla defesa, do devido

processo legal, da legalidade ou da reserva legal, entre outros.

O fornecedor possui, como previsto na Constituição Federal, o direito ao

contraditório e ampla defesa, que é o direito de se defender e convencer o julgador sobre

suas razões.

Os serviços gratuitos também são protegidos pelas regras do CDC?

O Art. 3° do CDC traz as definições de fornecedor, serviço e produto.

Observamos que, quando um serviço é fornecido gratuitamente, este não comporta

proteção do CDC; portanto, caso o fornecedor preste serviço gratuito, este não se

enquadra no conceito de ―serviço‖ do CDC e não tem as mesmas garantias.

É importante frisarmos que o CDC estabelece como serviço aquela atividade

fornecida mediante ―remuneração‖.

E quanto aos produtos gratuitos?

Os produtos adquiridos gratuitamente, conhecidos como ―amostras grátis‖, são

abrangidos nas garantias do CDC. Excetua-se, ainda, da ―gratuidade‖ prevista no CDC,

a ―remuneração indireta‖, em que se destaca, por exemplo, passagem aérea ―grátis‖

oriunda de um programa de fidelidade.

A chamada ―amostra grátis‖ deve ter todas as características exigidas e está

sujeita às regras relativas aos vícios, defeitos, prazos de garantia etc.

Existe possibilidade de revisão de um contrato efetuado entre consumidor e

fornecedor? Quem pode solicitar essa revisão?

Page 194: Livro E Agora 4

A revisão dos contratos celebrados é permitida pelo Código de Defesa do

Consumidor, quando estes apresentarem notória desproporcionalidade. Essa

possibilidade existe tanto para os consumidores quanto para os fornecedores. É o que

preconiza o inciso V, do Art. 6° do CDC, que assim refere entre os direitos básicos do

consumidor: ―a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações

desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem

excessivamente onerosas‖. Essa possibilidade de revisão tem, também, fundamento nos

outros princípios instituídos no CDC, tais como a boa-fé e equilíbrio, entre outros.

O que significa a inversão do ônus da prova? Em se tratando de relação de

consumo sempre haverá essa inversão?

A inversão do ônus da prova é admissível, conforme o Art. 6°, inciso VIII do

CDC, visando resguardar os direitos do consumidor em juízo, somente em esfera

judicial. Em regra, caberá ao autor proporcionar ao juiz o conhecimento dos fatos

necessários à definição e atuação do direito de que se afirma titular. O juiz poderá,

todavia, com base no artigo acima mencionado, ou seja, ao verificar a verossimilhança

da alegação do autor, bem como sua condição de hipossuficiência em relação ao

fornecedor, determinar ou não a inversão do ônus da prova, que deverá ser

fundamentada, conforme exigência constitucional (Art. 93, IX, CR/88).

Cumpre esclarecer que a verossimilhança constitui juízo de probabilidade

extraída de material probatório de feitio indiciário, do qual se consegue formar a opinião

de ser provavelmente verdadeira a versão do consumidor. Diz o CDC que esse juízo de

verossimilhança haverá de ser feito segundo as regras ordinárias da experiência‘ (art. 6°,

VIII). Já a hipossuficiência é sinonímia de ‗necessidade‘, a saber: ‗Considera-se

necessitado, para os fins legais, todo aquele cuja situação econômica não lhe permita

pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo do sustento

próprio ou da família. Mas hipossuficiência, para fins da possibilidade de inversão do

ônus da prova, tem sentido de desconhecimento técnico e informativo do produto ou

serviço, de suas propriedades, de seu funcionamento vital e/ou intrínseco, dos modos

especiais de controle, dos aspectos que podem ter gerado o acidente de consumo e o

dano, das características do vício etc.

O comerciante sempre terá que responder por danos causados pelo produto ou

serviço defeituoso?

Não. O comerciante terá responsabilidade em casos de vícios do produto, pois

nessa ocasião terá a mesma obrigação do fabricante ou importador, ou seja, resolver o

problema apresentado no produto.

Já quando estiver em discussão um defeito do produto, que causou danos ou

ameaça de lesão ao consumidor, o comerciante não responderá de imediato perante o

consumidor, cabendo tal responsabilidade, em regra, ao fabricante, construtor, produtor

ou importador.

Segundo prevê o CDC, o comerciante será responsável pelos danos que os

defeitos dos produtos causem apenas nos seguintes casos: I - o fabricante, o construtor,

o produtor ou o importador não puderem ser identificados; II - o produto for fornecido

sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; III - não

conservar adequadamente os produtos perecíveis.

Page 195: Livro E Agora 4

O comerciante, quando demandado, judicial ou administrativamente, poderá

requerer que primeiramente sejam reclamados o fabricante, o construtor ou o

importador.

Há um exemplo para simplificar?

Sim. Podemos pensar em dois consumidores que vão a uma concessionária

receber seu veículo zero quilômetro no mesmo instante. Ambos recebem seu carro com

o mesmo problema de fabricação: o sistema de freios não funcionará quando brecado.

Vamos aos fatos concretos:

O primeiro consumidor conduz o veículo e, quando aciona o breque, não

consegue pará-lo. Mas, aos poucos, reduzindo as marchas, consegue encostar o carro na

guia e, assim, estacioná-lo.

O outro, ao atingir a esquina em certa velocidade, depara com o sinal vermelho.

Pisa no breque e este não funciona. Acaba numa colisão, com danos no seu e em outro

veículo.

No primeiro caso, diz a lei (art. 18) que a escolha do responsável por consertar o

veículo (vício) é do consumidor. Como a norma estipula o gênero – fornecedor –, o

consumidor pode tanto acionar a concessionária quanto a montadora.

Na segunda hipótese, não. Como se trata de acidente de consumo e defeito (art.

12), o consumidor lesado é obrigado a pleitear o ressarcimento dos danos junto à

montadora, na qualidade de fabricante.

No caso acima, fica claro o defeito de fabricação do veículo, só que os fatos

ocorridos é que vão caracterizar a modalidade de indenização e o indivíduo a ser

demandado, como na segunda hipótese, o comerciante (proprietário da concessionária)

não responde pelo fato do produto e, sim, o montador (fabricante).

O fornecedor é obrigado a trocar o produto vendido, se o consumidor alegar que

outro mais moderno foi recentemente lançado no mercado?

Não. O produto não será considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor

qualidade ter sido colocado no mercado. Assim é o que determina o parágrafo segundo

no Art. 12 do CDC.

Nos demais casos, o fornecedor sempre será obrigado a indenizar o consumidor?

Não. Em alguns casos, o fornecedor tem o direito de não indenizar. Trata-se de

mais um direito do fornecedor contido no parágrafo terceiro do artigo 12, já

mencionado. O fornecedor tem a prerrogativa de não indenizar no caso de fato de

produto ou serviço quando provar que não colocou o produto no mercado; que, embora

haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; ou que o problema ocorreu por

culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

O Fornecedor tem direito de regresso, para cobrar do responsável os prejuízos que

teve ao reparar um dano de um consumidor?

Sim, numa demanda, o fornecedor poderá responder objetivamente por eventuais

danos causados por fato do produto ou serviço. Quando constatado que o dano é de

Page 196: Livro E Agora 4

responsabilidade de outro indivíduo, aquele terá o direito de regresso, processado em

ação própria, contra este.

Desta forma é o entendimento ventilado pelo parágrafo único do Art. 13, do

CDC: ―Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de

regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento

danoso‖.

O fornecedor tem que trocar o produto viciado imediatamente?

Não. O Código de Defesa do Consumidor determina o prazo para saneamento do

vício, que é de no máximo 30 (trinta) dias. Este é o prazo legal constituído ao

fornecedor para que traga uma solução ao problema apresentado em produto ou serviço

que tenha ofertado. O CDC nos demonstra as soluções cabíveis ao caso concreto na

hipótese do vício não ser sanado no prazo estipulado acima, cabendo ao consumidor a

escolha, entre as opções: I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em

perfeitas condições de uso; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente

atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do

preço.

É importante salientarmos que o fornecedor só tem o dever de dar as alternativas

acima se o vício não for sanado em 30 dias. Ou melhor, o fornecedor, desde o

recebimento do produto com vício, tem 30 dias para saná-lo sem qualquer ônus. Casuais

ônus aparecerão somente após os 30 dias, se o serviço de saneamento tiver sido

realizado com êxito.

Isso se dá pela lógica jurídica, pois a garantia de um produto nunca será vitalícia,

por mais que sejam duráveis elas perecem.

É Direito do fornecedor realizar o Recall, ou seria uma opção do consumidor?

O recall é uma prerrogativa que tem o fabricante de determinado produto ou o

prestador de serviço de chamar de volta aqueles consumidores que adquiriram seus bens

que, por infelicidade, apresentaram algum tipo de defeito, sendo passível de causarem

danos. Evita assim a ocorrência de um acidente de consumo.

Se o fornecedor verificar que, após a colocação de produto ou serviço no

mercado, este apresenta nocividade ou periculosidade que não faz parte de sua essência

ou destinação normal, deverá, com base no princípio da segurança, prestar de imediato

todas as informações necessárias e adequadas a respeito do problema verificado.

Em casos em que o consumidor pode optar pela troca do produto viciado, o

fornecedor é obrigado a aceitar a troca por produto de maior valor, ou deverá ser

feito o pagamento da diferença do valor proporcional?

O consumidor tem o direito de requerer a substituição do produto viciado por

outro da mesma espécie, marca e modelo. Haverá casos em que o consumidor optará

por bens de mesmo valor ou de valor mais elevado. Neste último caso, quando o

consumidor escolhe um produto de valor mais elevado, deverá pagar a diferença ao

fornecedor.

Não seria justo determinar ao fornecedor a substituição de um bem (espécie) de

uma marca-modelo por outro de maior renome e valor, quando inalteradas as condições

de preço no mercado. Caso contrário, o consumidor estaria se enriquecendo

ilicitamente.

Page 197: Livro E Agora 4

Quem é o responsável pela reparação de algum dano proveniente do uso de

produtos in natura?

Compreendemos, por produto in natura, o produto agrícola ou pastoril, colocado

no mercado de consumo sem sofrer qualquer processo de industrialização, muito

embora possa ter sua apresentação alterada em função de embalagem ou

acondicionamento. Nesse caso, cabe a responsabilidade ao fornecedor imediato, que, na

maior parte das vezes, é o comerciante (pequeno, médio e grande) e, raras vezes, o

produtor rural. Este é o mais difícil de ser identificado ou detectado.

Nos casos de fornecedores de produto ‗in natura‘, o comerciante só será

responsável pelos vícios se não identificado claramente o produtor. O comerciante

(fornecedor imediato) tem essa prerrogativa como direito, resguardado na lei

consumerista.

A regra ressalva a responsabilidade do produtor rural, quando ele puder ser

identificado, mas essa regra só prevalece quando o fornecedor imediato demonstrar que

o produtor é que deu causa ao perecimento do produto.

REGRAS GERAIS SOBRE RELAÇÃO DE CONSUMO

O que é venda em domicílio e quais os seus riscos? Há possibilidade de

arrependimento? Qual é o prazo concedido para a devolução?

São aquelas vendas realizadas fora do estabelecimento comercial, quando os

vendedores vão a residências para oferecer todo tipo de produto. Os riscos dessa compra

são diversos, como a qualidade inferior do produto, preços mais altos, ausência de

certificado de garantia. Quanto à possibilidade de arrependimento, o Código de Defesa

do Consumidor prevê, em seu artigo 49, que o consumidor terá, para se arrepender e

desistir do negócio, o prazo de 07 (sete) dias contados a partir da assinatura do contrato

ou da entrega do produto.

O que é propaganda enganosa ou abusiva? Tais propagandas são consideradas

crime?

Considera-se propaganda enganosa qualquer modalidade de informação ou

comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou por qualquer outro

modo, mesmo por omissão, e capaz de induzir a erro o consumidor a respeito da

natureza, características, qualidade, quantidade, preço e de quaisquer outros dados sobre

o produto ou serviços colocados à disposição do consumidor. É considerada abusiva a

publicidade discriminatória de qualquer natureza, que incite a violência, explore o medo

ou a superstição, sendo capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma

prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança, ou que viole normas legais ou

regulamentares de controle da publicidade. Tais propagandas são consideradas crime

conforme artigos 67 e 68 do Código de Defesa do Consumidor, podendo o infrator ser

punido com pena de detenção de 03 (três) meses a 02 (dois) anos e multa.

O contrato de fidelização exigido pela empresa de telefonia móvel encontra-se em

harmonia com o código de defesa do consumidor?

Page 198: Livro E Agora 4

O contrato estará harmonioso, desde que apresente cláusula que possibilite a

suspensão das mensalidades no caso do aparelho apresentar algum defeito que

impossibilite seu conserto imediato. Contudo é sabido que tais contratos não possuem

essa previsão. Assim, em caso de vícios, o consumidor, tendo assinado contrato de

fidelização, poderá ajuizar ação para: a) a resolução do contrato; b) a alteração do seu

modo de execução, devendo este ser suspenso no período em que estava impossibilitado

de utilizar os serviços; ou c) um abatimento no preço. Os artigos do Código de Defesa

do Consumidor que permitem o ajuizamento da ação nesses casos são: 6º, inciso V e 51,

§1º, inciso III.

Em contrato celebrado com empresas de telefonia móvel, cláusula que prevê o

pagamento de multa para cancelamento de assinatura nos casos de roubo do

aparelho pode ser considerada abusiva?

Sim, Nas hipóteses de roubo do aparelho celular do usuário, configuram-se

situações sobre as quais não se lhe pode atribuir culpa pelo desligamento antecipado do

plano. Se a cláusula não dispensa do pagamento da multa sequer nessas situações,

coloca o consumidor em posição de desvantagem exagerada e configura-se abusiva,

sendo inserida no rol das cláusulas abusivas previstas no artigo 51 do Código de Defesa

do Consumidor; portanto, nula de pleno direito.

Quais as penas aplicadas aos fornecedores que não obedecerem às regras do

Código de Defesa do Consumidor?

Essas penas são chamadas sanções administrativas e estão elencadas no artigo

56, inciso I a XII. São elas: multa; apreensão do produto; inutilização do produto;

cassação do registro do produto no órgão competente; proibição de fabricação do

produto; suspensão de fornecimento de produto e serviços; suspensão temporária da

atividade; revogação de concessão ou permissão de uso; cassação de licença do

estabelecimento ou atividade; interdição total ou parcial, de estabelecimento, de obra ou

atividade; intervenção administrativa e imposição de contrapropaganda.

Quem será responsável pela fiscalização das relações de consumo e aplicação

dessas penas?

Serão responsáveis por essa fiscalização os órgãos que fazem parte do Sistema

Nacional de Defesa do Consumidor, instituído pelo Decreto 2.181/97, fazendo parte

dele: os PROCON e similares nos estados e municípios; a vigilância sanitária e

agropecuária; o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade –

INMETRO, e os Institutos de Pesos e Medidas – IPEM; os juizados Especiais, além da

Justiça Comum; as Promotorias de Justiça, órgãos do Ministério Público; as Delegacias

de Polícia especializadas; as entidades civis de Defesa do Consumidor; a Embratur e a

Superintendência de Seguros Privados - Susep.

Havendo em um contrato, de relação de consumo, cláusula que permita

interpretação dúbia, qual será a providência tomada?

A cláusula será analisada de forma mais benéfica ao consumidor, tendo em vista

a necessidade da busca do equilíbrio nas relações de consumo e a obrigação prevista no

Page 199: Livro E Agora 4

Código de Defesa do Consumidor de que as regras contratuais devem estar claras,

garantindo a ampla informação ao consumidor.

Quais são as informações obrigatórias nos rótulos de produtos? O que fazer

quando houver divergência entre a descrição e o conteúdo?

Entende-se por rótulo o impresso que se cola nas embalagens dos produtos para

indicar as informações importantes: quantidade; composição; aditivos; nome e endereço

do fabricante; carimbos e registros dos serviços de inspeção tais como vigilância

sanitária ou Ministério da Saúde; data de fabricação e validade, indicação de substâncias

prejudiciais à saúde e de peso. Havendo divergência ou ausência de algumas dessas

informações, e ocorrendo algum prejuízo grave ao consumidor, o fornecedor estará

inserido no rol das infrações penais previstas no Código de Defesa do Consumidor em

seu artigo 66, podendo até mesmo ser preso.

Se prejudicar um consumidor no desempenho de suas funções, um profissional

liberal poderá ser responsabilizado com base no código de defesa do consumidor?

Os profissionais liberais, pessoas com formação superior e atuantes em área de

formação específica, somente poderão ser responsabilizados por algum dano causado se

culpa dele for comprovada, conforme disposto no artigo 14º, §4º do Código de Defesa

do Consumidor. É considerada falha ou erro profissional: a negligência (quando deixa

de fazer o que deve); a imprudência (quando faz o que não devia ser feito) e a imperícia

(quando não toma os devidos cuidados). Caso o consumidor se sinta lesado em seu

direito, deverá procurar os Conselhos de Classe que fiscalizam as atividades de cada

profissional liberal, como por exemplo, em caso de erro médico, o conselho responsável

é o Conselho Regional de Medicina. Se sentir-se lesado e julgar necessário, o

consumidor poderá apresentar reclamação ao PROCON ou ainda recorrer a um

advogado para defender seus direitos na Justiça.

O que é arbitragem? Ela é aplicada na defesa do consumidor?

Arbitragem é o meio jurídico para solução de conflitos, em que duas ou mais

pessoas recorrem a uma terceira para a solução da pendência por meio de laudo arbitral.

Poderá ser constituída por convenção de compromisso ou em virtude de previsão em

tratado, ou seja, por juiz de fato e de direito, escolhido livremente pelas partes capazes

de contratar, e mediante compromisso por escrito, com o fim de solver pendências

judiciais ou extrajudiciais sobre direitos disponíveis e transacionáveis. Ela pode ser

utilizada na defesa do consumidor, contudo não pode ser obrigatória mediante cláusula

contratual, sob pena de a cláusula ser considerada abusiva.

Quanto tempo o consumidor tem para pedir perdas e danos?

Com base no disposto no artigo 27 do Código de Defesa do Consumidor, prescreve em

05 (cinco) anos a pretensão à reparação por danos causados por fato do produto ou

serviços apresentarem defeitos, iniciando a contagem deste prazo a partir da data do

conhecimento do dano.

O fornecedor é obrigado a aceitar a devolução de um produto aberto, riscado,

usado etc?

Page 200: Livro E Agora 4

Não, pois o Código de Defesa do Consumidor prevê a defesa da parte

hipossuficiente, contudo sempre deverá prevalecer o bom senso. O fornecedor somente

é obrigado a reparar danos que comprovadamente foram decorrentes de sua culpa.

A consulta aos sistemas de proteção ao crédito poderá ser realizada na presença do

cliente? Qual é a maneira mais adequada de informá-lo sobre a presença da

inscrição nos referidos sistemas?

A consulta poderá ser realizada na presença do cliente, contudo deverá ser

observado se não há a presença de terceiros. Assim, a melhor maneira de comunicar-lhe

algum registro positivado, será pessoalmente, da forma mais educada possível, tendo

em vista que o Código de Defesa do Consumidor preza pelo bom senso entre as partes.

Quais são as informações importantes para o preenchimento de cadastro de

clientes?

Em se tratando de pessoa física, é importante colher os seguintes dados: nome

completo; estado civil; nacionalidade; RG; CPF; endereço residencial e comercial;

telefones para contato; referências pessoais; comerciais e bancárias; declaração de

renda; data de nascimento e dados do companheiro.

Caso o cliente seja pessoa jurídica, as informações importantes são: razão social;

CNPJ; inscrição estadual; endereço; telefone; contrato social; alterações do contrato;

referências pessoais, bancárias e comerciais; dados completos dos sócios e a verificação

das pessoas com poderes de assinatura pela empresa. É muito importante que, tanto no

caso de pessoa física, como de jurídicas, todas as informações estejam acompanhadas de

documentos comprobatórios.

Qual é a utilidade de um bom cadastro de clientes?

Por meio desse cadastro, o fornecedor poderá oferecer novos produtos aos seus

clientes; realizar cobranças conforme a lei determina; facilitar o recebimento do valor

referente ao preço e consequentemente fluxo no caixa da empresa.

Quais são os cuidados necessários para o recebimento de cheque?

Para maior segurança do fornecedor, deve-se instruir os funcionários quanto aos

cuidados ao receber um cheque: pedir ao cliente o cartão do banco para verificar a

assinatura e cédula de identidade para conferência da pessoa emissora do cheque;

verificar se a assinatura do cheque é semelhante à do cartão do banco e da cédula de

identidade; só aceitar cheques personalizados; conferir o preenchimento da folha de

cheque atentando-se para data de emissão correta, valor descrito e por extenso; não

aceitar cheques com rasuras ou valores maiores que o consumo; consultar o SERASA

antes de liberar a mercadoria. É necessário lembrar que todas essas atitudes deverão ser

tomadas da forma mais cordial possível, agindo dentro do bom senso e da boa

educação, para que o consumidor não se sinta intimidado.

A empresa é responsável pelos pertences do cliente entregues ao guarda volume?

Page 201: Livro E Agora 4

Se a empresa oferece o serviço de guarda-volumes, a jurisprudência tem

entendido que a empresa será responsabilizada em caso de extravio.

Um cinema, esteja ou não situado em Shoppings, pode exigir exclusividade dos

seus produtos, exigindo que os frequentadores comprem exclusivamente nas suas

dependências ?

A ―liberdade de escolha‖ é um dos elementos fundamentais para que o

consumidor esteja inserido no mercado de consumo. Os comerciantes e os fornecedores

de modo geral não podem impingir quaisquer práticas abusivas ou coercitivas, mesmo

porque o consumidor ―não deve ser obrigado a nada‖. Todas as relações de consumo

devem ser transparentes, sem ofensa ou prejuízo ao princípio constitucional da

liberdade. No caso dos cinemas, observamos constantemente que os seus proprietários

(principalmente daqueles situados em Shoppings) tentam impor (a preços absurdos) a

exclusividade dos produtos preferidos pelos consumidores, a exemplo da pipoca e do

refrigerante. A tentativa de empresa exibidora de filmes de impor, com exclusividade, o

consumo de produtos vendidos por ela em suas dependências, fere a liberdade de

escolha do consumidor, podendo lhe causar danos de difícil reparação. Além do art. 6.º,

II, do CDC, o assunto é tutelado também no art. 5.º, XXXII, da Constituição Federal.

É permitida a “venda casada”, seja quando o fornecedor oferece empréstimos, seja

quando vende produtos ou serviços ?

A ―venda casada‖, fonte de grandes prejuízos para o consumidor, é proibida de

forma veemente pelo art. 39, I, do CDC. A venda casada aparece quando um fornecedor

condiciona a venda de um produto ou serviço à aquisição de outro. Esses abusos

aparecem normalmente no oferecimento de empréstimo em dinheiro, quando,

geralmente, quem oferece o empréstimo, não coloca no anúncio publicitário que, para

conseguir o benefício, o consumidor terá de se associar a alguma entidade ou contratar

seguro de vida. A prática fere o direito de livre escolha do consumidor. A publicidade,

através da qual se oferece produtos ou serviços, na ótica do CDC, constitui-se num

―pré-contrato‖, vinculando o proponente aos seus termos e obrigando-o a prestar as

informações necessárias e suficientes.

TURISMO, AGÊNCIAS, AVIAÇÃO E HOTELARIA

Existe legislação específica prevendo quais são os direitos dos consumidores e

obrigações dos transportadores em caso de atrasos, cancelamentos de voos e

preterição de passageiros?

Não existe lei que defina exatamente quais serão os direitos dos consumidores e

deveres dos transportadores nos casos acima citados. O que se tem, são condições gerais

determinadas pelo Código de Defesa do Consumidor, além de previsões específicas

editadas pela Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC, que detém o poder de

regulamentar essas situações de acordo com o Código Brasileiro de Aeronáutica e

demais legislações atinentes ao assunto.

Quais são os deveres do transportador quando verificar que o voo irá atrasar em

relação ao horário originalmente programado?

Page 202: Livro E Agora 4

O Transportador deverá manter o consumidor informado sobre o atraso, o

motivo e a previsão do horário de partida e, quando solicitado pelo passageiro, a

informação deverá ser repassada por escrito. Deverá, inclusive, disponibilizar nas zonas

de despacho de passageiros (check-in) e nas áreas de embarque, informativos claros e

acessíveis com os seguintes dizeres: “Passageiro, em caso de atraso ou cancelamento

de vôo e de preterição de embarque, solicite à companhia aérea informativo sobre seus

direitos, em especial no tocante às alternativas de reacomodação, reembolso e

assistência material‖, e ainda, disponibilizar informativos impressos sobre os direitos

dos passageiros nos casos de alteração no serviço contratado.

Em caso de atraso na partida do voo por tempo muito longo, não sendo possível

adotar medidas de pronta reacomodação em voo próprio, quais as alternativas que

cabem ao consumidor e ao transportador?

Para atrasos na partida superior a 4 (quatro) horas, o transportador deverá

oferecer as seguintes alternativas ao consumidor:

I - a reacomodação: a) em voo próprio que ofereça serviço equivalente para o mesmo

destino, na primeira oportunidade; b) em voo próprio a ser realizado em outra data e

horário de conveniência do passageiro;

II - o reembolso do valor integral pago pelo bilhete de passagem não utilizado, incluídas

as tarifas.

III - reacomodação em voo de terceiro que ofereça serviço equivalente para o mesmo

destino.

Em caso de atraso no aeroporto de escala ou de conexão por mais de 4 (quatro)

horas, não sendo possível adotar medidas de pronta reacomodação em voo

próprio, o transportador deverá oferecer as seguintes alternativas ao passageiro:

I - a reacomodação:

a) em voo próprio ou de terceiro, que ofereça serviço equivalente para o mesmo destino,

na primeira oportunidade;

b) em voo próprio, a ser realizado em data e horário de conveniência do passageiro;

II - o reembolso:

a) integral, assegurado o retorno ao aeroporto de origem;

b) do trecho não utilizado, se o deslocamento já realizado aproveitar ao passageiro;

III - a conclusão do serviço por outra modalidade de transporte.

E se o consumidor estiver em voo com conexão, e houver atraso que prejudique o

embarque no voo subsequente, o que fazer?

Nos voos com conexão, assim especificados no bilhete de passagem, o

transportador que realizar o transporte até o aeroporto de conexão e que, por atraso do

voo, der causa à perda do embarque no voo subsequente, deverá providenciar a

reacomodação do passageiro, seguindo as alternativas ditas na questão anterior.

Quais as obrigações do transportador diante de cancelamento prévio de voos?

O transportador deverá informar o passageiro, imediatamente, sobre o

cancelamento do voo ou interrupção do serviço e seu motivo pelos meios de

Page 203: Livro E Agora 4

comunicação disponíveis, com no mínimo, 72 (setenta e duas) horas de antecedência do

horário previsto de partida. Quando solicitada pelo passageiro, a informação deverá ser

prestada por escrito.

Quais alternativas que o consumidor possui em decorrência desses casos de

cancelamento de voo e interrupção do serviço?

Nesses casos, as alternativas que devem ser apresentadas ao consumidor também são:

I - a reacomodação: a) em voo próprio ou de terceiro que ofereça serviço equivalente

para o mesmo destino, na primeira oportunidade; b) em voo próprio a ser realizado em

data e horário de conveniência do passageiro;

II - o reembolso: a) integral, assegurado o retorno ao aeroporto de origem em caso de

interrupção; b) do trecho não utilizado, se o deslocamento já realizado aproveitar ao

passageiro;

III - a conclusão do serviço por outra modalidade de transporte, em caso de interrupção.

O que significa preterição de passageiro?

Deixar de transportar passageiro com bilhete marcado ou reserva confirmada

configura preterição de embarque, que também deverá ser informada por escrito caso

seja solicitada pelo passageiro.

Entre passageiros que estão com passagens marcadas para o mesmo voo, será

considerado preterido o que fizer o check-in por último, independente da ordem de

compra ou reserva da passagem.

Sempre que ocorrerem circunstâncias que gerem a preterição de embarque, o

transportador deverá procurar por passageiros que se voluntariem para embarcar em

outro voo mediante o oferecimento de compensações que serão objeto de negociação

entre o passageiro e o transportador. Aceita a compensação o transportador poderá

solicitar ao passageiro a assinatura de termo específico reconhecendo a aceitação de

compensações.

Caso essa possibilidade não exista ou não seja aceita pelo consumidor, ele

poderá optar por alternativas existentes na legislação, e ainda, caso a preterição lhe

cause danos materiais e/ou morais, haverá o direito de pleitear reparação (indenização).

Quais as opções à disposição do consumidor nesses casos de preterição de

passageiros?

Em caso de preterição de embarque, o transportador deverá oferecer as seguintes

alternativas ao passageiro:

I - a reacomodação: a) em voo próprio ou de terceiro que ofereça serviço equivalente

para o mesmo destino, na primeira oportunidade; b) em voo a ser realizado em data e

horário de conveniência do passageiro;

II - o reembolso: a) integral, assegurado o retorno ao aeroporto de origem em caso de

interrupção; b) do trecho não utilizado, se o deslocamento já realizado aproveitar ao

passageiro;

III - a realização do serviço por outra modalidade de transporte.

O dever de reacomodação não se sobrepõe aos contratos de transporte já

firmados, sujeitando-se à disponibilidade de assentos, ou seja, os passageiros preteridos

não desacomodarão os demais passageiros, devendo ser encontrada uma saída viável

para que a solução do problema não cause prejuízos a outros passageiros.

Page 204: Livro E Agora 4

Quando ocorrer atraso, cancelamento ou preterição, o passageiro tem direito a

algum auxílio imediato?

Nessas hipóteses, o transportador deverá assegurar ao passageiro que

comparecer para embarque assistência material que consiste em satisfazer as

necessidades imediatas do passageiro, gratuitamente e de modo compatível com a

estimativa do tempo de espera, contados a partir do horário de partida originalmente

previsto, nos seguintes termos:

I - superior a 1 (uma) hora: facilidades de comunicação, tais como ligação telefônica,

acesso a internet ou outros;

II - superior a 2 (duas) horas: alimentação adequada;

III - superior a 4 (quatro) horas: acomodação em local adequado, traslado e, quando

necessário, serviço de hospedagem.

Há hipóteses em que essa assistência material pode ser dispensada?

O transportador poderá deixar de oferecer serviço de hospedagem para o

passageiro que residir na localidade do aeroporto de origem. Cessará também o dever de

assistência caso o passageiro opte pela reacomodação em voo próprio a ser realizado em

data e horário de conveniência do passageiro ou pelo reembolso do valor integral pago

pelo bilhete de passagem não utilizado, incluídas as tarifas.

Quando é possível o reembolso?

Em caso de voo atrasado por mais de 4 horas, cancelamento ou preterição

(quando o embarque não é realizado por motivo de segurança operacional, troca de

aeronave ou overbooking), a empresa aérea deverá reembolsar o passageiro de acordo

com a forma de pagamento utilizada na compra da passagem. Se o consumidor comprou

sua passagem à vista, por exemplo, a devolução do valor tem de ser imediata, em

dinheiro ou crédito em conta bancária. Caso tenha sido financiada no cartão de crédito e

tem parcelas a vencer, o reembolso obedecerá às regras da administradora do cartão. A

empresa aérea ainda pode oferecer créditos em programas de milhagem, ao invés do

valor do ticket, caso o consumidor tenha interesse.

Nos casos em que o passageiro optar pelo reembolso, quanto tempo tem o

transportador para efetuá-lo?

Como já dito, o transportador deve assegurar as medidas necessárias para a

efetivação do reembolso tão logo lhe seja solicitado, incluídas as tarifas aeroportuárias e

observados os meios de pagamento. O reembolso dos valores já quitados e recebidos

pelo transportador deverá ser imediato, mediante restituição em espécie ou crédito em

conta bancária, em nome do adquirente do bilhete de passagem. Havendo concordância

entre as partes, o reembolso poderá ser efetuado por meio de créditos junto ao

transportador.

E se o atraso ocorrer em razão de condições climáticas?

Segundo informações do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor),

deverá ser devolvido ao passageiro o valor integral da passagem. Caso tenha sido pago à

Page 205: Livro E Agora 4

vista, o ressarcimento deve ser imediato. Se parcelado no crédito, vai de acordo com a

administradora do cartão. Cabe lembrar que as taxas cobradas pelos aeroportos também

fazem parte desse valor.

Em alguns casos, o consumidor pode deixar em aberto e optar por outra data,

não esquecendo que a validade da passagem é de 1 ano. No caso de a empresa cancelar

vários voos por motivos operacionais e o consumidor precisar viajar com urgência, pode

tentar negociar o endosso imediato do bilhete para embarcar por outra companhia. Caso

não consiga resolver o problema diretamente com a empresa, o passageiro pode

procurar os Juizados Especiais Cíveis (JECs) disponíveis em alguns aeroportos do país.

Além disso, é importante registrar queixa na ANAC. O telefone da agência é 0800 725

4445.

O passageiro pode efetuar a cobrança de outros prejuízos que sofrer em razão de

atraso, cancelamento e preterição?

O regulamento da ANAC se resume a determinar a forma como os

transportadores deverão atender os seus passageiros, todavia, outros direitos e garantias,

tais como o dever de reparar eventuais prejuízos suportados, também são garantidos,

principalmente pelas regras do Código de Defesa do Consumidor.

Assim, caso sofra danos materiais e/ou morais em decorrência de tais eventos, o

passageiro poderá requerer reparação disso, devendo, para tanto, se resguardar com toda

a documentação possível para fundamentar o seu pedido, tais como gastos com hotel,

alimentação, táxi, entre outros. Também devem ser comprovados danos diversos, como

perda de compromissos, transtornos de ordem moral, entre outros.

Se o problema ocorrer em razão de condições climáticas, não haverá a obrigação

de reparação.

O que deve ser feito em caso de extravio de bagagem pelo transportador?

Caso ocorra extravio ou avaria em sua bagagem, o passageiro deverá procurar a

empresa aérea ainda na sala de desembarque e preencher o Registro de Irregularidade de

Bagagem – RIB.

É necessária a apresentação do ticket da bagagem, pois ele é a prova do contrato

de transporte de bagagem. No caso de avaria à bagagem, o passageiro deverá procurar

de imediato a empresa aérea para relatar o fato, pois o recebimento da bagagem sem

protesto faz presumir o seu bom estado.

Se a empresa aérea se recusar a preencher o Relatório de Irregularidade de

Bagagem – RIB, o passageiro deverá reclamar oficialmente junto à ANAC.

Quando uma bagagem é considerada extraviada? Por quanto tempo ela

permanece nessa condição?

A bagagem será considerada extraviada caso não seja entregue no seu ponto de

destino. A bagagem poderá permanecer na condição de extraviada por um período

máximo de 30 dias. Após esse período, a empresa deverá proceder à devida indenização

ao passageiro.

Quando a bagagem extraviada for encontrada pela companhia aérea, ela deverá

restituí-la ao usuário no local de origem ou de destino do passageiro, de acordo com o

endereço fornecido.

Page 206: Livro E Agora 4

Mesmo recebendo posteriormente a bagagem extraviada, antes ou depois do prazo

de 30 dias do extravio, o consumidor pode ser indenizado pela empresa aérea?

Mesmo que a bagagem seja encontrada antes ou após o prazo de 30 (trinta) dias

do extravio, o consumidor terá direito a indenização pelos transtornos e sofrimentos que

tiver suportado.

A esse respeito, vale como exemplo o caso de um estudante brasileiro, que teve

sua bagagem extraviada e apenas restituída a seus familiares, no Brasil, e alegou ter

suportado danos morais, pois viajou para fazer intercâmbio por seis meses, ficando sem

praticamente metade de sua bagagem durante todo o período. Além disso, afirmou ter

passado por transtornos e angústias até que sua mala fosse localizada. Na Justiça a

empresa negou a existência de dano a ser indenizado, dizendo que a estudante viajava

com outra mala com peso muito superior ao que continha a bagagem extraviada e que

esta continha apenas bens supérfluos. Assim, concluiu que a estudante sofreu, no

máximo, leve aborrecimento, o que não gera indenização.

Segundo o Código de defesa do Consumidor, é incontroverso que,

desaparecendo qualquer bagagem de passageiro, mesmo que ele possua outras, ou que a

bagagem extraviada seja posteriormente localizada, ainda que no prazo de 30 dias, há

dano e merece ser indenizado.

Eu posso cancelar o meu pacote de viagens em virtude de interesse pessoal?

O consumidor que almeja viajar geralmente tem o intuito de usufruir seu

merecido descanso, inclusive planejado com muita antecedência, quitando seu pacote,

para, ao sair de casa, levar na bagagem a tranquilidade de não ter mais nada a pagar.

Todavia, o consumidor pode se deparar com situações pessoais que o impeçam, tais

como doenças de familiares, morte, compromisso inesperado e inadiável de trabalho.

Nesses casos, o consumidor poderá cancelar sua viagem, todavia, deverá efetuar o

pagamento de multa pelo cancelamento.

Existe algum prazo de antecedência para se fazer o pedido de cancelamento?

O consumidor deve observar a previsão do contrato. Em tese, seu pedido de

cancelamento poderá ser efetuado até momentos antes da viagem, mas atente-se que os

valores das multas determinadas no contrato assinado entre as partes geralmente levam

em conta dois fatores: a data próxima da viagem e o prazo de cancelamento dela.

Quando a viagem pode ser cancelada pela agência?

Apenas por problemas climáticos, guerras ou outros transtornos que ponham em

risco a segurança do passageiro, é permitido o cancelamento do pacote turístico. Nesse

caso, o consumidor pode optar entre receber seu dinheiro de volta ou transferir a data ou

o destino da viagem. Se não for possível chegar a um acordo com a agência, o

consumidor deverá ajuizar ação judicial para reaver o seu dinheiro.

O que devo fazer se eu comprar um pacote turístico e a empresa não cumprir com

o anunciado?

Pode ocorrer de o consumidor, ao longo da viagem, descobrir que foi vítima de

uma propaganda enganosa, verificando, por exemplo que o hotel é de qualidade inferior

Page 207: Livro E Agora 4

ao prometido ou a programação foi alterada, entre outras coisas. No entanto, as agências

devem cumprir integralmente as ofertas ou as divulgações realizadas, assim como o

contrato de prestação de serviço. Nesses casos, o ideal seria tentar resolver o problema

durante a viagem com o guia responsável. Não sendo isso possível, o consumidor deve

formalizar uma reclamação por escrito à empresa, exigindo a reparação pelos danos ou

prejuízos causados.

A agência de turismo tem responsabilidade por eventuais problemas que o

consumidor enfrentar durante a viagem?

Sim. A agência de turismo também é responsável por responder ao consumidor

por problemas que envolvam o pacote contratado, seja ele decorrente de falha no

serviço de transporte aéreo ou terrestre, hotelaria, passeios ou outros serviços

pertencentes ao contrato do pacote de viagem.

Consumidor que sofreu constrangimentos durante a hospedagem, pode ser

indenizado por hotel?

Sim. Para análise dessa dúvida, vale o exemplo de um casal que alegou

frustração de não ter tido uma noite de núpcias conforme sonhado e idealizado, tendo

ajuizado ação de indenização por danos morais e materiais contra um hotel.

Analisando o caso, a Justiça condenou o hotel a indenizar, por danos morais.

Segundo o processo, o consumidor fez a reserva de um quarto num hotel que ficaria à

sua disposição pelo período de três dias para passar a noite de núpcias. Porém, após o

casamento, ao chegar ao hotel, o casal foi informado por funcionários que a suíte

reservada, por um erro de funcionário, foi disponibilizada a outra pessoa. O casal foi

acomodado em outro quarto, com a condição de deixá-lo às 8 horas da manhã.

O hotel, em sua defesa, contestou o pedido e alegou que não houve danos

materiais, já que o valor pago antecipadamente foi restituído. O dano moral, segundo o

hotel, não pode existir porque o prejudicado demorou mais de um ano para ajuizar a

ação e, por fim, que tudo não passou de um erro de um funcionário.

Na sentença houve o entendimento de ser irrelevante o tempo gasto para o

ajuizamento da ação, e o que importa é o dano sofrido pelo consumidor, que passou "um

constrangimento ímpar na frente de sua esposa". Foi ressaltada a negligência do hotel ao

prestar o serviço oferecido, e o dano moral foi fixado.

INSTITUIÇÕES DE ENSINO

Instituições de ensino podem efetuar inscrição no nome do aluno inadimplente em

órgãos de proteção ao crédito? E negar a renovação da matrícula?

As instituições de ensino podem, sim, protestar os inadimplentes e inscrevê-los

nos órgãos de proteção ao crédito, desde que haja previsão contratual e comunicação

prévia. No caso de celebração de contratos de prestação de serviços educacionais,

deverão ser respeitadas as regras do Código de Defesa do Consumidor.

Atualmente há o entendimento majoritário de que a renovação da matrícula do

aluno pode ser condicionada à inexistência de débitos anteriores.

Page 208: Livro E Agora 4

Pela existência de inadimplência o aluno pode ser impedido de frequentar as

aulas? E a retenção de documentos, pode ocorrer?

Não. A faculdade pode proibir a continuidade dos estudos de alunos

inadimplentes ao fim de semestres (se o curso for semestral) ou de cada ano (se for

anual). Porém, não pode proibir o estudante de assistir às aulas no meio desse período

devido à inadimplência.Se o estudante for proibido de entrar na instituição por

inadimplência, pode recorrer ao Procon ou ao Poder Judiciário.

A instituição também não pode reter documentos relativos ao aluno

(declarações, certificados, transferência, histórico escolar) como forma de obrigar o

aluno a quitar seu débito.

A instituição pode proibir a entrada do aluno sem documento de identificação

(carteirinha) ou sem uniforme?

Sim. Se faz parte do regimento da escola, a instituição pode proibir a entrada dos

estudantes que esquecem o documento ou que estejam sem o uniforme. Se isso está

previsto no regulamento, o estudante tem de acatar. É preciso consultar as normas de

cada instituição, que podem variar.

As faculdades podem recusar inscrições de candidatos que tenham atingido a

pontuação exigida no vestibular, por eles terem o nome sujo (SPC ou na Serasa)?

Não. O Procon entende que isso é uma prática abusiva. A faculdade é uma

instituição que não oferece um crédito. O que a universidade faz é prestar um serviço.

Se acontecer isso, o estudante pode ir ao Judiciário e pedir uma liminar para ingressar

no curso. Além do que, o candidato pagou a inscrição do vestibular e, nesse ato, não foi

orientado sobre a matrícula.

Se alguém está matriculado em um curso e resolve desistir, pode receber de volta a

taxa de matrícula?

Se as aulas já tiverem começado, a instituição de ensino não terá qualquer

obrigação de devolver a taxa, pois o serviço já está à disposição do aluno, que só não

usufruirá dele por motivos alheios à Escola. Contudo, se a desistência ocorrer antes do

início das aulas, a instituição de ensino tem obrigação de devolver a taxa, pois ainda não

prestou o serviço. Entretanto, como a Escola teve despesas por ocasião da matrícula,

poderá reter um percentual para cobrir despesas administrativas comprovadas. E qual

seria esse percentual? A lei não tem previsão, embora o Poder Judiciário aceite

retenções abaixo de 20%. Acima disso, pode ser considerada retenção abusiva.

PLANOS DE SAÚDE

Quais são os meus direitos, enquanto consumidor, na contratação de um plano de

saúde?

Os direitos básicos do consumidor de planos de saúde, de forma geral, são

aqueles previstos na legislação geral de defesa das relações de consumo. De maneira

específica, o conjunto de direitos de contratante de plano de saúde varia de acordo com

Page 209: Livro E Agora 4

as características do contrato, por isso é bom analisar com cautela o contrato a ser

assinado, para se certificar das coberturas, carências, entre outras peculiaridades.

Quais os cuidados que devem ser tomados pelo consumidor ao adquirir um plano

de saúde?

Normalmente os planos de saúde são realizados por contrato de adesão no qual

as cláusulas são redigidas de forma a dificultar a compreensão por parte do consumidor,

ou então este não tem acesso ao contrato para analisá-lo previamente. Essa conduta

afronta o disposto no artigo 46 do Código de Defesa do Consumidor e não surte

obrigação sobre o consumidor, podendo até mesmo acarretar nulidade. Assim, ao

procurar um plano de Saúde, deve o consumidor buscar aquele que lhe demonstra suas

condições, da forma mais clara possível, para que, no caso de necessidade, não sofra

decepções.

Uma operadora de plano de saúde me ofereceu um “cartão desconto”. Esse tipo de

contrato funciona como um plano de saúde?

Não. O cartão desconto não é plano de saúde. Os sistemas de descontos são

vendidos por empresas que não garantem os serviços nem o pagamento das despesas,

concedendo apenas descontos nos valores cobrados para procedimentos médico-

hospitalares.

Contratei um plano de saúde e agora recebi encaminhamento médico para

tratamento de fisioterapia, não previsto na cobertura contratual de meu plano. E

agora?

Para planos contratados antes de 1999, pode haver exclusão dos procedimentos

de fisioterapia, ou ainda, sua limitação a poucas sessões. Porém, nos planos de saúde

contratados a partir de 1999, a cobertura para fisioterapia é obrigatória quando indicada

pelo médico.

Em caso de impossibilidade de autorização do plano de saúde, quando não é

possível se ter certeza sobre a cobertura do procedimento médico-hospitalar a ser

realizado, é correta a exigência de cheque-caução?

Não. Os hospitais não podem exigir depósito antecipado. Quem tem plano de

saúde não pode ser obrigado a deixar cheque-caução para ser internado ou realizar outro

procedimento médico. O que pode ocorrer, porém, é a cobrança para atendimento

particular se o paciente preferir ser atendido naquele momento, em se tratando de

procedimentos eletivos.

Tratamentos que incluem sessões de quimioterapia, radioterapia e hemodiálise são

cobertos por planos que não possuem tal previsão no contrato?

Sim. Independente de previsão contratual, os procedimentos de quimioterapia e

radioterapia têm cobertura obrigatória. Em relação aos planos contratados a partir de

1999, o paciente pode realizar quantas sessões forem recomendadas pelo médico. Os

pacientes renais também têm garantidas suas sessões de hemodiálise. Nos planos

Page 210: Livro E Agora 4

contratados a partir de 1999, hemodiálise e transplantes de rim têm cobertura

obrigatória.

Caso o contratante ou beneficiário de um plano de saúde necessite internação,

como fica a questão da estadia do acompanhante?

A estadia de acompanhante varia de acordo com a cobertura prevista no contrato

do plano de saúde. Caso não haja previsão para tanto, a estadia do acompanhante será

custeada pelo próprio beneficiário, pois, em regra, não é indispensável tal

acompanhamento, podendo o paciente permanecer sozinho no hospital. Há exceção,

porém, em casos em que o paciente seja menor de 18 anos ou idoso, maior de 60 anos,

pois, nesses casos, a estadia do acompanhante deve ser paga pelo plano de saúde.

Na contratação de um plano de saúde, é possível a exclusão da cobertura para

algum tipo de doença? E se o problema de saúde for pré-existente?

Não. Nenhuma doença pode ser excluída da cobertura de planos de saúde. Nos

planos contratados a partir de 1999, a cobertura é obrigatória, inclusive em doenças

como câncer, aids e transtornos psiquiátricos. Também as doenças existentes antes da

contratação do plano de saúde têm tratamento garantido. Nos planos de saúde

contratados a partir de 1999, apenas alguns procedimentos mais complexos ficam

temporariamente restritos, de acordo com a carência prevista para o plano.

Recebi da operadora que me vendeu o plano um boleto referente à taxa de

renovação de contrato. Isso é legal?

Não. A legislação brasileira determina que esses contratos são de vigência

mínima de um ano e que sua renovação é automática, sem qualquer ônus para o

consumidor.

O que é e como funciona a portabilidade nos planos de saúde?

Portabilidade de plano de saúde significa mudança de plano levando consigo as

carências já cumpridas. Esse é o princípio da portabilidade de carências dos planos de

saúde, regulamentada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) por meio da

Resolução Normativa nº 186, de janeiro de 2009, com validade a partir de 15 de abril de

2009.

Os beneficiários de planos individuais de assistência médica com ou sem

cobertura em odontologia e de planos exclusivamente odontológicos contratados a partir

de janeiro de 1999, ou adaptados à Lei nº 9.656/98, estão aptos a exercer a portabilidade

de carências.

Para auxiliar o beneficiário que deseja a portabilidade de carências e facilitar o

acesso a informações aos que pretendem contratar um plano de saúde, a Agência

Nacional de Saúde Suplementar (ANS) desenvolveu o Guia ANS de Planos de Saúde.

Trata-se de um sistema eletrônico que permite o cruzamento de dados para consulta e

comparação de mais de 5 mil planos de saúde comercializados por aproximadamente

900 operadoras em atuação no mercado brasileiro.

O projeto de mobilidade com portabilidade de carências faz parte do Programa

de Aceleração do Crescimento do Governo Federal – PAC da Saúde (Mais Saúde) e é

considerado pela ANS como importante instrumento de estímulo à concorrência no

Page 211: Livro E Agora 4

mercado de saúde suplementar, permitindo que os consumidores tenham mais liberdade

de escolha.

Empresa prestadora de serviços de saúde pode negar tratamento de emergência?

Nos casos de emergência o plano de saúde não pode exigir cumprimento de

carência ou impor limitações. O atendimento deve ser amplo e irrestrito, até que cesse o

risco de morte do usuário. Esse posicionamento tem por base o art. 5.º, da Constituição

Federal e o art. 6.º, do Código de Defesa do Consumidor.

Recentemente, a 17ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais

condenou uma operadora a pagar todas as despesas de internação em CTI de uma

usuária do plano de saúde, que foi internada depois da tentativa de suicídio. E o

Hospital também foi condenado a pagar indenização de R$ 5 mil por danos morais, por

cobrar o tratamento da paciente. A Unimed se recusou a cobrir o tratamento sob a

alegação de que faltavam 42 dias para cumprir a carência de 6 meses estabelecida no

contrato para internação em CTI. O hospital, consequentemente, se negou a continuar

com o tratamento, mesmo após o coordenador do CTI ter atestado a gravidade do caso.

Os desembargadores do TJ mineiro entenderam que uma cláusula que exige

certo lapso de tempo para o atendimento de urgência impõe ao consumidor exigência

abusiva e o coloca em evidente desvantagem na relação contratual. A Unimed mineira

foi condenada a arcar com todas as despesas da internação. Com relação ao pagamento

da indenização por parte da prestadora de saúde, os desembargadores salientaram que a

simples recusa de cobertura de tratamento médico-hospitalar não enseja reparação.

Quem tem direito à portabilidade de planos de saúde?

A regra da portabilidade é válida para beneficiários de planos contratados a

partir de janeiro de 1999 ou adaptados à Lei nº. 9.656/98, desde que respeitadas as

seguintes condições: a) estar em dia com a mensalidade; b) estar há pelo menos 2 anos

na operadora de origem, ou 3 anos, caso tenha cumprido a cobertura parcial temporária,

ou nos casos de doenças e lesões pré-existentes e, a partir da segunda portabilidade, o

prazo de permanência passa a ser de 2 anos para todos os beneficiários; c) solicitar a

portabilidade no período entre o mês de aniversário do contrato e o mês seguinte; d) não

considerar como plano de destino os planos que estejam cancelados ou com

comercialização suspensa.

É importante registrar também que a portabilidade de carências não poderá ser

oferecida por operadoras em processo de alienação compulsória de sua carteira, ou em

processo de oferta pública do cadastro de beneficiários, ou em liquidação extrajudicial.

Para verificar se o contrato se enquadra nas possibilidades de portabilidade, o

consumidor poderá realizar consulta no Guia ANS de Planos de Saúde.

Como devo proceder para fazer a portabilidade de meu plano de saúde?

Para exercer o direito à portabilidade de carências, é preciso observar os

seguintes procedimentos:

1) verificar se você tem direito à portabilidade de carências;

2) consultar o Guia ANS de Planos de Saúde para identificar planos compatíveis com o

seu para fins de portabilidade de carências;

3) entrar em contato com a operadora escolhida portando o relatório de planos em tipo

compatível e pedir a proposta de adesão;

Page 212: Livro E Agora 4

4) apresentar, no momento da assinatura da proposta de adesão, cópia dos comprovantes

de pagamento dos três últimos boletos vencidos e de documento que comprove a

permanência por pelo menos 2 anos no plano de origem;

5) aguardar a resposta da operadora do plano de destino, que deverá ser dada em até 20

dias após a assinatura da proposta de adesão. Se a operadora do plano de destino não

responder no prazo acima, considera-se que ela aceitou a proposta com portabilidade de

carências. Nesse caso, recomenda-se que você faça novo contato para confirmar o aceite

com a operadora e solicitar a carteirinha do plano;

Além desses procedimentos, é importante saber que:

1) o contrato do plano de destino entra em vigor 10 dias após o aceite da operadora,

mesmo no caso em que o aceite é dado pela falta de contato da operadora;

2) após tais procedimentos, a operadora do plano de destino entrará em contato com a

operadora do plano de origem e com o beneficiário para informar a data de início de

vigência do contrato;

3) ao final do processo, recomenda-se que o consumidor entre em contato com a

operadora do plano de origem para informar que exerceu a portabilidade de carências,

apontando a data de início da vigência do contrato, que será a mesma da rescisão do

contrato do plano de origem.

4) Caso a proposta de adesão não seja aceita, devem ser restituídos os valores

porventura pagos.

Quais os critérios que definirão planos equivalentes?

Serão usados cinco critérios: abrangência geográfica (nacional, estadual ou

municipal), segmentação assistencial (ambulatorial, hospitalar, com odontologia, sem

odontologia), tipo de acomodação, faixa de preços e fator moderador.

DÚVIDAS SOBRE COBRANÇAS DE DÍVIDAS

É permitido ao fornecedor sem justo motivo ligar, no local de trabalho do

consumidor, para cobrar uma dívida vencida?

Não, o fornecedor que, sem justo motivo, interferir no trabalho ou lazer do

consumidor para cobrar dívida estará inserido na infração penal prevista no artigo 71 do

Código de Defesa do Consumidor, o que acarretará a pena de detenção de 03 (três)

meses a 01 (um) ano de detenção e multa. Também está inserida, nessa infração, a

cobrança realizada mediante ameaça, coação, constrangimento físico ou moral,

afirmações falsas, incorretas ou enganosas ou qualquer outro procedimento que exponha

o consumidor ao ridículo.

O que fazer se meu nome for colocado num cadastro de inadimplentes (SPC,

SERASA) sem qualquer aviso?

A lei estabelece a necessidade de uma comunicação prévia por escrito (carta,

telegrama ou fax), justamente para dar ao consumidor a oportunidade de saldar seu

débito ou se defender, prevenindo maiores danos. Se tal providência não for tomada

pelos interessados, o consumidor deve apresentar uma reclamação por escrito ao

fornecedor que agiu assim (loja, banco ou assemelhado). Depois do pagamento, exija a

retirada do seu nome do cadastro de inadimplentes, tendo o fornecedor o prazo de cinco

Page 213: Livro E Agora 4

dias para assim proceder. A Justiça tem sido implacável com os fornecedores, que,

desrespeitando os direitos dos consumidores, remetem seus nomes aleatoriamente para

SPC e SERASA, sem oportunidade de defesa. Muitas empresas e bancos têm sido

condenados a pagar altas somas por danos patrimoniais e morais causados ao

consumidor.

SISTEMA DE CONSÓRCIOS

Tive conhecimento pelos meios de comunicação, sobre novas regras para o sistema

de consórcios. Que regras são essas? Por que foram criadas?

O Banco Central divulgou, em 04 de fevereiro de 2009, as circulares nº 3432 e

nº 3433, que regulamentam a nova Lei de Consórcios – Lei nº 11.795/2008, aprovada

em outubro do ano passado, com vigência a partir de 06 de fevereiro de 2009,

disciplinando novas regras para o setor de consórcios.

O surgimento da Lei nº 11.795/2008 e das circulares emitidas pelo Banco

Central ocorreu no intuito de garantir mais segurança ao interessado nessa modalidade

de crédito, haja vista que anteriormente o sistema de consórcio era mal disciplinado, em

razão de não haver legislação específica sobre o tema, que se embasava em lei antiga e

geral, longe de atender às necessidades do sistema.

Qual a visão de consórcio segundo essa nova legislação?

A nova legislação classifica o sistema de consórcio como instrumento de

progresso social, que se destina a propiciar o acesso ao consumo de bens e serviços,

com suma importância para a economia do país. Define consórcio como a reunião de

pessoas físicas ou jurídicas em grupo, com prazo de duração e número de cotas

previamente determinados, promovida por uma administradora de consórcio, com o

objetivo de facilitar aos integrantes, em igualdade de condições, a aquisição de bens ou

serviços por meio de autofinanciamento.

Quais são as modalidades de consórcio que foram criadas pela nova regra de

consórcios?

A partir dessas normas, foram disciplinadas novas modalidades de consórcios,

passando a incluir a possibilidade de grupos para aquisição de serviços, além do acesso

a bens, o que já é costumeiro. Assim, além dos grupos para aquisição de bens móveis e

imóveis, também estão autorizados os grupos para aquisição de qualquer tipo de

serviço, como pacotes turísticos, educação, tratamentos dentários, cirurgias plásticas,

entre outros. Por exemplo, uma carta de crédito para cirurgia plástica, no valor de R$ 8

mil, poderia ser paga em dois anos, com parcela em torno de R$ 380,00, considerando-

se a inclusão da taxa de administração e seguro. Ao ser contemplado, o consorciado

poderia inclusive escolher o médico de sua preferência.

Antes o crédito do consórcio só poderia ser utilizado para o fim previsto no

contrato. Pela nova legislação, há outras possibilidades?

Page 214: Livro E Agora 4

Sim. Uma possibilidade nova é a de utilização da carta de crédito do consórcio

para quitação de financiamento. A partir da nova legislação, quem tem financiamento

bancário poderá quitar o débito por meio do consórcio. Para isso, é preciso obter a carta

de crédito do consórcio, por sorteio ou lance. O bem financiado tem de estar no nome

do consorciado, e o financiamento e o consórcio têm de ser do mesmo tipo de bem. Por

exemplo: para quitar um imóvel, o consórcio tem que ser de imóvel. A grande vantagem

é trocar os juros bancários pela taxa de administração do consórcio, bem menor.

Há ainda a possibilidade de trabalhadores usarem o saldo de FGTS para lances

ou complementos da carta de crédito.

Já enfrentei problemas com consórcios antigos em relação à restituição dos valores

pagos, no momento da desistência. Essa questão foi solucionada pela nova

legislação? Como fica a restituição dos valores para consorciados que queiram

desistir do plano, ou ainda, que fiquem inadimplentes?

Entre as mudanças trazidas pelas novas regras de consórcio, a mais emblemática

diz respeito exatamente à restituição dos valores a consorciados que deixarem o grupo.

Anteriormente, tal prazo era de 15 anos. Com a nova lei, a restituição deve ser imediata.

Como fica a questão da administradora de consórcio que causar danos aos

consumidores?

Também houve mudanças quanto às punições à administradora que causar danos ao

consumidor, a qual estará sujeita a sanções impostas pelo Banco Central, que incluem a

suspensão da operação e até a cassação da autorização de funcionamento.

Ainda vale registrar a importante vitória do consumidor quanto ao veto presidencial ao

artigo 5º da Lei 11.795/2008, em cujo texto aprovado pelo Congresso Nacional previa-

se a restrição da responsabilidade objetiva das administradoras de consórcios e

estabelecia-se que o consorciado eventualmente prejudicado e que sofresse algum dano,

deveria prová-lo, previsão essa que contraria o sistema de defesa do consumidor.

Tenho um consórcio anterior a 2009. As novas regras abrangem meu contrato?

Não. Todas essas novas regras valem para grupos novos de consórcio,

contratados posteriormente à vigência da lei. Os grupos antigos terão de fazer

assembleia para se adaptar à nova lei. Caso não o façam, seguirão as regras antigas.

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

A pessoa física que abre conta bancária ou contrata com instituição financeira, é

considerado consumidor?

De acordo com o CDC, artigos 2.º e 3.º, as instituições bancárias estão elencadas

no rol das pessoas de direito consideradas como fornecedoras, para fim de aplicação do

CDC às relações entre aquelas e os consumidores, chamados de correntistas. Tratando-

se de contrato firmado entre a instituição financeira e pessoa física, é de se concluir que

esta agiu visando o atendimento de uma necessidade própria, atuando, portanto, como

destinatário final. Assim, contratos envolvendo bancos e empresas de crédito

(financiamento) estão submetidos às regras do Código de Defesa do Consumidor.

Page 215: Livro E Agora 4

As relações contratuais bancárias são tuteladas pelo código de defesa do

consumidor?

Sim, com base na leitura dos artigos 3º, §2º e 52 do Código de Defesa do

Consumidor, as relações contratuais bancárias possuem todos os requisitos que

compõem a relação de consumo, quais sejam: o consumidor (cliente do banco), o

fornecedor (instituição bancária) e o produto (créditos e serviços financeiros).

Como deve agir um consumidor ao constatar que, em seu contrato bancário, há

cláusulas abusivas?

A realidade tem mostrado que a grande maioria das relações entre consumidor e

instituições financeiras é celebrada por contrato de adesão, o que permite ao banco

exercer sobre o consumidor um forte poder. Contudo, tendo em vista que essas relações

são tuteladas pelo Código de Defesa do Consumidor, o que seria prejudicial ao

consumidor torna-se benéfico se posto em prática, pois o código condena cláusulas

abusivas tornando-as nulas de pleno direito. Porém, dada a ausência de conhecimentos

técnicos a respeito dos trâmites financeiros pelo consumidor e pelo próprio magistrado,

ao ajuizar ação para anulação ou retificação das cláusulas, pontos importantes acabam

por ser ignorados.

Assim, a atitude correta a ser tomada pelo consumidor é o questionamento

antecipado das cláusulas com o banco, buscando moldá-las aos dispositivos do Código

de Defesa do Consumidor e, caso já tenha celebrado contrato e se sinta lesado, deverá o

consumidor questionar em juízo todos os abusos presentes.

No caso de o consumidor utilizar para pagamento de obrigação cheque de terceiro,

se devolvido este por insuficiência de fundos, é possível se exigir a obrigação do

consumidor?

O cheque emitido por terceiro, dado para pagamento de dívida, devolvido pelo

banco por insuficiência de fundos não extingue a obrigação, permanecendo em aberto o

débito originário. Persiste, dessa forma, a responsabilidade do emitente do cheque e do

consumidor.

O que fazer se chegar à casa do consumidor um cartão de crédito que não foi

solicitado?

Caso o consumidor receba algum cartão de crédito que não foi solicitado, o que

é prática comum atualmente, e não deseje com ele permanecer, deverá inutilizá-lo e

comunicar à administradora ou ao banco, pedindo seu imediato cancelamento.

Por interpretação do Código de Defesa do Consumidor, esse cartão é

considerado ―amostra grátis‖ e o consumidor não tem sobre ele qualquer obrigação. Se

alguma taxa for paga sem a utilização do cartão, a cobrança é indevida e é possível

exigir a restituição desse valor em dobro, sem prejuízo de possíveis danos materiais ou

morais que poderão ser avaliados pelo Juiz.

Um contrato extinto ou renegociado pelo instrumento de confissão de dívidas pode

ser objeto de revisão?

Page 216: Livro E Agora 4

Como têm entendido os Tribunais, contrato extinto pelo pagamento ou

renegociado pelo instrumento de confissão de dívidas não é objeto de revisão, uma vez

que se trata de ato jurídico perfeito. Além disso, no instrumento de confissão de dívida,

estão afastadas as possibilidades de capitalização de juros e a inscrição do nome do

contratante em órgão de proteção de crédito, salvo em casos de existência de saldo

devedor.

Sofre constrangimento ilegal cliente barrado em porta giratória de Banco?

Um cliente barrado na porta giratória de agência bancária pode receber

reparação por dano moral. Se for correntista do próprio banco, o fato se agrava ainda

mais. A simples precaução de controle na entrada de clientes e estranhos não configura

qualquer ilícito. Porém resta configurado o dano moral quando ocorrido o

constrangimento ilegal na presença do público que aguardava na fila do

estabelecimento, bem como das demais pessoas que se encontravam dentro da agência

bancária. As agências bancárias, muitas vezes, extrapolam na hora de exercerem esse

controle. Vigilantes e gerentes agem, às vezes, de forma excessiva no seu dever de zelar

pela segurança da agência, ao impedir que o consumidor ingresse no banco mesmo

depois de ter esvaziado a pasta que carrega, aberto a camisa para mostrar que não porta

arma de fogo, apresentar documento de identificação e se desfazer de chaves e celular.

Constantemente são ouvidas piadas e achaques contra o ―investigado‖. Isso, na opinião

de juristas e julgadores, constitui constrangimento e, portanto, dano moral.

ATENDIMENTOS NOS SAC’S

O que posso entender como SAC – Serviço de Atendimento ao Consumidor?

Pode-se entender os SACs como os serviços regulados de atendimento

telefônico das prestadoras de serviços que tenham como finalidade resolver as

demandas dos consumidores sobre informação, dúvida, reclamação, suspensão ou

cancelamento de contratos e de serviços. Não são considerados SACs os atendimentos

feitos para a oferta e contratação de produtos e serviços realizados pelo telefone.

Algumas vezes, recebo tratamento insatisfatório ao ligar para alguns Serviços de

Atendimento ao Consumidor. Há alguma legislação própria que trate dos padrões

desse atendimento oferecido pelos call centers?

Sim. No dia 1º de agosto de 2008 foi publicado o Decreto nº 6.523,

estabelecendo normas gerais relacionadas aos SAC‘s – Serviços de Atendimento ao

Consumidor, regulando determinados padrões mínimos que deverão ser assegurados aos

consumidores e impondo significativas mudanças na forma de atendimento que vinha

sendo prestado pelos chamados ―call centers‖.

Essa nova norma define padrões mínimos para os ―call centers‖, relacionados ao

acesso ao serviço, à qualidade do atendimento, ao acompanhamento de demandas, aos

procedimentos para resolução de demandas e ao cancelamento dos serviços.

Quais são as regras de atendimento dos SAC’s no que diz respeito ao acesso ao

serviço? O serviço é gratuito? Posso falar direto com um atendente ou tenho que

passar por toda a programação eletrônica antes?

Page 217: Livro E Agora 4

Quanto à acessibilidade do serviço, as principais regras são a gratuidade das

ligações para o SAC e a disponibilidade para o atendimento durante as vinte e quatro

horas do dia e em todos os dias da semana. Deve ser assegurado ao consumidor, já no

primeiro menu eletrônico, o contato com o atendente de reclamação e de cancelamento

de serviços. Essa possibilidade de atendimento pessoal deve estar disponível em todas

as subdivisões do menu eletrônico que é normalmente utilizado pelo SAC. Além disso,

o consumidor não poderá ter sua ligação finalizada antes da conclusão efetiva do

serviço, e o acesso inicial ao atendimento pessoal não pode ser condicionado ao

fornecimento de seus dados pessoais.

Há um limite de tempo para que eu espere para ser atendido no SAC? Que limite

seria esse?

Há sim limite de tempo para atendimento do consumidor no SAC. O tempo

máximo é de 60 segundos para a transferência das ligações para o setor competente.

Essa regra não vale para os casos de reclamação e cancelamento dos serviços, em que a

ligação não pode ser transferida, e todos os atendentes devem deter atribuições para

realizar tais operações. No caso de serviços financeiros – bancos e cartões de crédito –,

o tempo máximo para que o consumidor seja atendido é de 45 segundos. Esse tempo

poderá subir para um minuto e meio em três casos: às segundas-feiras, antes e depois de

feriados e no quinto dia útil do mês.

Como deve ser a solução aos problemas que busco resolver no SAC de uma

empresa?

As informações solicitadas pelo consumidor devem ser prestadas de imediato e

suas reclamações devem ser resolvidas no prazo máximo de 5 dias a contar do registro.

A resolução da demanda deve ser informada ao consumidor, que poderá solicitar a

comprovação por correspondência ou por meio eletrônico.

Se eu ligo no SAC para reclamar de serviços que estão sendo cobrados e não foram

solicitados por mim, ou ainda, para questionar cobrança indevida em faturas, qual

deve ser o procedimento da empresa?

No caso de reclamações de consumidores por serviços não solicitados ou

cobrança indevida, estes devem ser suspensos imediatamente pelo fornecedor, que

poderá, posteriormente, manter a cobrança se indicar o instrumento por meio do qual o

serviço foi contratado, comprovando o valor cobrado.

No tocante aos cancelamentos, os pedidos devem ser recebidos e processados de

imediato, e seus efeitos surgirão a partir do momento da solicitação por parte do

consumidor, ainda que sua efetivação técnica dependa de prazo e, mesmo que o

consumidor esteja inadimplente, deve ser encaminhado ao consumidor o comprovante

correspondente.

Caso eu procure atendimento via SAC e verifique que a empresa não está

cumprindo as normas previstas, o que devo fazer? Existe alguma sanção prevista

para a empresa que descumprir as regras?

Page 218: Livro E Agora 4

O descumprimento das novas regras acarretará penalidades previstas no artigo

56 do Código de Defesa do Consumidor, que prevê multas de R$ 200 a R$ 3 milhões.

Em caso de não cumprimento da norma, o cidadão deverá fazer denúncias ao Procon,

devendo, para tanto, anotar o protocolo do atendimento, tendo, também, o direito de

pedir o histórico de sua reclamação.

A regulamentação do atendimento prestado via SAC abrange quais tipos de

serviços e empresas?

A regulamentação abrange tanto setores da iniciativa privada, como atividades

econômicas que são reguladas pelo governo e acabam representando a maior quantidade

de queixas dos consumidores. Assim, entre as empresas que devem ter seu atendimento

de SAC de acordo com as normas legais, estão incluídas as de telefonia, abastecimento

de água, energia elétrica, transportes, administradoras de cartões de crédito, companhias

aéreas, transportes terrestres, planos de saúde, entre outras.

SERVIÇOS ESSENCIAIS – ENERGIA ELÉTRICA, ÁGUA E ESGOTO,

TELEFONIA

A empresa que fornece energia elétrica pode interromper o serviço da minha casa

se eu atrasar o pagamento?

Sim. A legislação que trata especificamente desse assunto (Lei de Concessões e

Resolução 456/00 da ANEEL) confere o direito de a concessionária de energia elétrica

interromper o serviço em caso de inadimplência.

Deve-se registrar, porém, que há algumas decisões judiciais em sentido

contrário, por entender que os serviços essenciais devem ser prestados de forma

ininterrupta, devendo a concessionária valer-se de outros mecanismos para cobrança do

débito.

De qualquer modo, é obrigatória a prévia comunicação formal ao consumidor,

com quinze dias de antecedência à suspensão.

O que fazer quando o fornecimento é interrompido, sem comunicação, mesmo com

pagamento em dia?

O consumidor deverá entrar em contato com a concessionária solicitando a

regularização do serviço no prazo máximo de quatro horas, sem qualquer ônus. Nesse

caso, o consumidor terá direito a um crédito, a título de indenização, consistente no

dobro do valor estabelecido para o serviço de religação de urgência ou 20% do valor

líquido da primeira fatura emitida após a religação (o que for maior entre os dois), a ser

creditado na primeira fatura após a religação, sem prejuízo de pedido de ressarcimento

de eventuais danos causados pela suspensão indevida do serviço.

Quais os cuidados que devem ser tomados quando se escolhe pagar a conta de

serviços essenciais em débito automático?

O consumidor pode escolher pagar suas contas pelo sistema de débito

automático, se esse serviço estiver disponível pela empresa. Entretanto é importante

frisar que o usuário do serviço deve receber a conta em sua casa normalmente (com

Page 219: Livro E Agora 4

prazo mínimo de cinco dias úteis antes do vencimento), para que seja conferida pelo

consumidor, que deverá entrar em contato com a concessionária em caso de dúvidas ou

divergências nos valores cobrados.

Como devo proceder se, em minha fatura de energia, houver cobranças que não

reconheço?

O consumidor deverá entrar em contato com a concessionária requisitando

análise do consumo mensal. Caso sejam reconhecidos valores indevidos, a

concessionária deverá, conforme artigo 88 da Resolução 456 da ANEEL, devolver o

que foi pago a mais, na fatura seguinte ou nas próximas faturas, de acordo com a opção

do consumidor.

Em caso de instalação do medidor de energia elétrica, quem paga pelos custos é o

consumidor ou a concessionária? Qual o procedimento para o serviço de ligação?

O medidor e demais equipamentos de medição deverão ser fornecidos pela

própria empresa, que, de acordo com a ANEEL, deve arcar com os gastos, inclusive os

referentes à instalação. O serviço de ligação deverá ser efetuado em dois dias úteis,

exceto em caso de inexistir rede de distribuição ou de a rede precisar de reformas,

segundo o artigo 26 da Resolução 456 da ANEEL. Quando for realizado o pedido de

ligação, a concessionária deverá comunicar ao consumidor as opções disponíveis para

faturamento ou mudança de grupo tarifário.

Estou em dúvida se o medidor de energia elétrica está funcionando corretamente.

Não sei quem é o responsável pela conservação desse medidor. O que devo fazer?

Nesses casos, deve-se sempre entrar em contato com a empresa. O medidor é de

propriedade da concessionária estando sob a guarda do consumidor, que é responsável

por qualquer dano causado.

Nos casos em que a empresa detecta qualquer irregularidade que possa provocar

registros de consumo incorretos, ela deverá proceder aos reparos necessários no

medidor e recalcular os consumos dos últimos meses.

É direito do consumidor solicitar à empresa a aferição de seu relógio ou a troca

deste. Cabe lembrar que tal serviço será cobrado quando não houver irregularidades no

aparelho, portanto, ao solicitar o serviço, o consumidor deve consultar o valor a ser

cobrado.

O que pode acontecer caso não seja possível a leitura do consumo no medidor, em

razão de não estar este acessível no lado externo do imóvel e não ter ninguém em

casa para conduzir o leiturista até o medidor?

Toda vez que o leiturista não conseguir realizar a leitura, por motivos que o

impeçam como cão solto, portão fechado, imóvel vago, casa fechada, medidor

inacessível, entre outros, a cobrança será feita pela média dos últimos três meses. Isso

pode acarretar um acúmulo de consumo, bem como corte de energia por impedimento

de acesso, devendo o consumidor ser notificado com, no mínimo, três dias de

antecedência.

É de responsabilidade do consumidor facilitar o acesso ao relógio para leitura,

pois, havendo diferença no consumo, esse valor lhe será cobrado, onerando seu

Page 220: Livro E Agora 4

orçamento familiar. Vale lembrar que, na conta, consta a data prevista para próxima

leitura, o que possibilita ao consumidor programar-se para realização desta.

Recebi uma conta de energia elétrica sem valor, mesmo tendo consumo de energia

no imóvel. Isso pode ocorrer ou há algo errado?

Se houve consumo de energia elétrica no imóvel e a conta veio ―zerada‖, pode

haver algum erro no medidor, devendo o consumidor entrar em contato com a agência

informando o ocorrido, solicitando verificação e regularização. No entanto, a emissão

de conta sem o valor do consumo poderá ocorrer quando o total apurado para

pagamento for inferior a R$ 12,00. Nesse caso, a empresa envia extrato para simples

conferência e acumula o valor para ser cobrado na próxima conta.

Posso pedir o desligamento da energia elétrica, enquanto o imóvel é reformado?

Sim. No caso de reforma, o proprietário pode solicitar à empresa o corte no

fornecimento, evitando assim, o risco de "furto de energia", o pagamento de conta, entre

outros. Para o serviço de religação, poderá ser cobrada uma taxa.

No caso da fiação, até onde vai a responsabilidade da concessionária de energia

elétrica?

A empresa responsabiliza-se por todo o sistema elétrico até o chamado "ponto de

entrega", que fica no poste particular do consumidor. Desse ponto para dentro, a

responsabilidade pelo sistema, bem como a guarda e conservação do medidor, é do

consumidor.

Em caso de suspensão do fornecimento por parte da concessionária sem que haja

débitos, posso fazer a religação?

Não. Se o corte foi indevido, ou seja, se não existem contas em aberto,

compareça à agência de atendimento indicada em sua conta ou ligue e informe-se sobre

o ocorrido, solicitando a imediata regularização. Nunca religue a energia, pois, além de

perigoso, a empresa poderá proceder à cobrança de valor a título de "autorreligação",

que consiste na cobrança do dobro da taxa de religação de urgência, a ser lançada na

primeira fatura emitida após a constatação do fato. Havendo reincidência, a

concessionária poderá efetuar, de imediato, o corte de energia e a consequente retirada

do medidor.

Algumas decisões judiciais têm determinado que os serviços essenciais não

podem ser objeto de desligamento/corte, devendo ser mantidos, e a cobrança de

eventuais débitos, realizada nos termos previstos em lei.

Ao adquirir um imóvel, que cuidados devem ser tomados com relação à energia

elétrica?

É importante verificar com profissional habilitado, as condições da fiação

elétrica do imóvel e a adequação às necessidades. Após, deve-se verificar com a

empresa a existência de débito pendente (isso deverá ser feito, também, com relação a

água, telefone, IPTU etc.). Além disso, pode-se solicitar que a empresa vistorie o

imóvel, verificando a possibilidade de existência de irregularidade na ligação ou no

Page 221: Livro E Agora 4

funcionamento do medidor. A mudança do nome do consumidor constante da conta de

energia elétrica deve ser providenciada pelo novo proprietário.

O que acontece quando a conta de serviços de água e esgoto apresenta um valor

bem maior, embora a diferença de consumo seja pouca?

A cobrança de água obedece a faixas de consumo. Cada faixa possui determinado valor

ao m³ de água consumida. Quanto maior o consumo, maiores serão as incidências nas

faixas cujos valores são mais elevados.

Em um terreno que possui várias casas, é necessária a instalação de hidrômetro

para cada imóvel?

Não é obrigatória a instalação de hidrômetros diferentes para cada residência,

devendo apenas ser repassada à concessionária a informação sobre a existência de várias

unidades. Porém, se houver interesse em colocar um hidrômetro para cada casa, o

consumidor deverá solicitar tal serviço na agência de atendimento da concessionária,

onde solicitará, mediante protocolo, vistoria para estudo de tal instalação.

Se a concessionária verificar a possibilidade de atendimento do pedido, deverá o

consumidor exigir orçamento prévio, por escrito, discriminando o valor da mão-de-obra,

dos materiais e equipamentos a serem utilizados, as condições de pagamento, as datas

de início e término do serviço, enfim, todas as condições necessárias à sua execução.

Somente após aprovação, também por escrito, do orçamento por parte do consumidor, é

que a empresa poderá iniciar a execução do serviço.

A data de vencimento da conta de consumo de serviços essenciais pode ser

escolhida ou alterada?

Sim, segundo a Lei 9.791/99, as empresas concessionárias de serviços públicos

estão obrigadas a fornecer ao consumidor ou ao usuário, dentro do mês de vencimento,

o mínimo de seis datas opcionais de vencimento da conta. Assim, o interessado deve

dirigir-se à concessionária e verificar as datas disponibilizadas solicitando a alteração da

data de vencimento.

Em tempo: sempre que solicitar um serviço ou formular uma reclamação,

solicite um número de protocolo e informe-se sobre o prazo de resposta ou

regularização do serviço.

Quais as orientações gerais que o consumidor dos serviços de água e esgoto deve

observar?

Toda vez que o consumidor dirigir-se às agências de atendimento da

concessionária a fim de relatar alguma ocorrência - como alta no consumo, problemas

no medidor, não emissão de contas, emissão de contas sem registro de consumo,

cobrança indevida de esgotos, entre outras -, deverá levar as últimas contas pagas e

formular sua reclamação. Deverá exigir a entrega de protocolo do registro de

ocorrência.

Altas de consumo, muitas vezes, decorrem de vazamentos na rede de água. A

conservação das instalações internas do imóvel é de responsabilidade do consumidor.

Portanto, ao observar alta anormal de consumo, deve-se verificar previamente as

Page 222: Livro E Agora 4

condições do sistema hidráulico do imóvel (vazamentos de torneira, encanamentos, vaso

sanitário, entre outros).

Existem tarifas especiais para consumidores de baixo poder aquisitivo. O

interessado pode obter maiores informações na agência de atendimento da empresa

constante da conta.

Qual a diferença do telefone celular pós-pago e do pré-pago?

No serviço de telefonia celular pós-pago, o consumidor assume valor mensal de

assinatura, ligações efetuadas, feitas e recebidas em "roaming", acesso à caixa postal,

bem como outros serviços escolhidos, e, no momento da contratação, poderá ser

cobrada taxa de habilitação.

Para utilizar o sistema pré-pago, o consumidor credita um determinado valor do

qual serão debitados os serviços e as ligações efetuadas. A principal diferença entre os

sistemas é o preço. Na telefonia pré-paga, a ligação é mais onerosa do que no pós-pago,

entretanto, não existe a cobrança da taxa de assinatura.

O que é roaming?

Roaming é uma opção de serviço que permite receber e fazer ligações em

regiões fora de cobertura da operadora contratada, utilizando-se da operadora local. De

uma maneira simplificada, as ligações, fora do local convencional, poderão ser

recebidas ou efetuadas através de um sistema diferenciado, que se utiliza de operadoras

intermediárias para o envio e recebimento dessas ligações.

Por esse serviço são cobradas tarifas diferenciadas, denominadas DSL –

deslocamento e AD - valor adicional de deslocamento, fora o valor da ligação

convencional, VC1, VC2 ou VC3, o que ocasiona o lançamento em duplicidade na

conta telefônica, uma vez pelas tarifas, outra pelo serviço, ocorrendo em meses e contas

diferentes. O lançamento da tarifa normalmente aparece na conta seguinte, o do serviço

pode demorar, em média de 60 a 120 dias.

Dependendo da região, a ligação efetuada ou recebida no sistema "roaming"

aparece na conta telefônica com o nome de outra cidade, não a de origem da ligação,

mais outra de mesmo prefixo telefônico, face à necessidade técnica da busca de sinais

de antenas disponíveis. O serviço é cobrado até mesmo se as mensagens recebidas são

registradas na caixa postal, acessadas ou não.

Quando o pré-pago funciona em "roaming", não existe diferenciação do preço da

ligação ou cobrança de tarifas, e as operadoras devem informar ao consumidor a área de

cobertura e as áreas onde opera através de "roaming".

O que eu faço quando tiver dúvidas sobre a cobrança da conta de telefonia

celular?

Sempre que houver dúvidas sobre a conta de consumo de telefonia celular, o

consumidor deve se comunicar com a operadora e solicitar conta detalhada, que deverá

ser entregue em até 48 horas. No caso de telefone celular pós-pago, poderá ser

solicitado o detalhamento relativo a um período de até 90 dias. Sendo celular pré-pago,

o pedido poderá ser feito mensalmente. Em ambos os casos, o detalhamento da conta

deverá ser realizado gratuitamente.

Com a conta detalhada, ou não, sempre que identificar e não reconhecer

ligações, é direito do consumidor que esse valor seja subtraído do total da conta até a

Page 223: Livro E Agora 4

verificação, a qual deverá ser solicitada à operadora, por escrito, pelo titular, e realizada

através de um processo de rastreamento das ligações.

Caso a operadora entenda a cobrança como devida, o valor será lançado na

fatura subsequente. Portanto, no momento da solicitação, o consumidor deverá informar

que deseja receber o resultado do rastreamento, e, havendo discordância, o pagamento

da fatura poderá ser realizado com ressalvas e questionado judicialmente ou por um

órgão de defesa do consumidor.

Se eu tiver créditos em meu celular pré-pago ele poderá ser bloqueado?

Não. Mesmo com previsão contratual, a perda dos créditos existentes e o

bloqueio do celular que não foi recarregado no prazo determinado são considerados

prática abusiva, proibida e prevista no artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor,

uma vez que obriga o usuário a utilizar o serviço, sem que dele necessite, para evitar o

bloqueio dos valores excedentes.

Se o meu celular for clonado, a operadora pode exigir a compra de outro aparelho

com troca de número?

Não. A clonagem do telefone celular demonstra a vulnerabilidade do serviço, e

seus riscos não podem ser transferidos aos consumidores, devendo a empresa assumir a

responsabilidade pelas consequências desse fato, bem como, os prejuízos sofridos pelos

consumidores.

Se a troca do número for inevitável, a empresa deverá assumir os gastos com o

novo aparelho, os eventuais prejuízos demonstrados pelos consumidores com a troca

compulsória do número ou com ligações que eles não realizaram, entre outras despesas.

A conta de telefone está vindo muito cara por causa de ligações para celular e

ligações interurbanas. Para diminuir e controlar o valor da conta, posso bloquear

a linha ou o aparelho telefônico para esse tipo de ligações?

Sim. Se o consumidor não desejar determinado serviço ou acesso, poderá

verificar com a operadora local a possibilidade de bloqueio. Além do bloqueio pela

empresa prestadora do serviço, há a possibilidade de compra de aparelhos bloqueadores

que evitam essas ligações. Para adquiri-los, o consumidor deve orientar-se com a

operadora e atentar para a compra de equipamentos homologados pela ANATEL e que

ofereçam assistência aos clientes.

Em caso de atraso no pagamento da conta de telefone, poderá ocorrer a suspensão

do serviço?

O consumidor terá restrição no serviço, segundo as normas da ANATEL.

A operadora poderá suspender parcialmente o serviço e bloquear a realização

das chamadas, após transcorridos trinta dias de inadimplência, contados a partir do

vencimento da primeira fatura não quitada.

Após sessenta dias de inadimplência, ocorre a suspensão total do serviço,

ficando a linha inabilitada a fazer ou receber chamadas, e não poderá ser cobrada do

consumidor a assinatura durante todo o período da suspensão.

Page 224: Livro E Agora 4

Transcorridos os noventa dias de inadimplência, a linha poderá ser retirada

definitivamente. Todas as restrições ou suspensões dos serviços devem ser notificadas

ao consumidor previamente, e os débitos poderão ser cobrados judicialmente.

Nos casos de suspensão parcial ou total, o consumidor poderá, em qualquer

momento, efetuar o pagamento do débito, devendo a operadora restabelecer o serviço

em até 24 horas sem qualquer ônus para o consumidor.

ESTACIONAMENTO

Caso eu deixe meu carro em um estacionamento e ele seja batido ou riscado, quem

pagará o prejuízo? O estacionamento tem responsabilidade?

Sim. O estacionamento é responsável pelos veículos nele deixados,

principalmente em casos em que possua serviço de manobristas. Assim, o

estacionamento será o responsável direto por eventuais prejuízos causados ao veículo.

O estacionamento é responsável por furtos de objetos que existam dentro do

veículo deixado no local? Qual a validade das placas colocadas no local

informando que o estacionamento não se responsabiliza por objetos deixados

dentro do veículo?

Independente da existência de referida placa, que não tem nenhuma validade, o

estabelecimento é responsável pelo veículo, pelos seus acessórios e objetos em seu

interior. Assim, se o usuário tiver algum objeto subtraído, deverá ser ressarcido. Para

evitar esse tipo de problema, o consumidor pode optar por deixar os objetos com o

responsável pelo estabelecimento, como o gerente, por exemplo.

Se meu veículo for furtado dentro do estacionamento de um shopping center ou

supermercado, o que deve ser feito?

Qualquer empresa que ofereça estacionamento fechado para a guarda dos

veículos de seus clientes, como ocorre em supermercados e shopping centers, será

responsável pelos carros, mesmo que ele seja gratuito. Os tribunais assim entendem

porque o estacionamento gratuito é um atrativo ao consumidor, o que acaba revertendo

em lucro para o estabelecimento, que deve responder de forma objetiva pelos prejuízos

que forem causados aos consumidores.

BARES, RESTAURANTES E CASAS NOTURNAS

As casas noturnas, bares, restaurantes e afins podem efetuar a cobrança de

couvert artístico e entrada?

A cobrança do couvert artístico será permitida somente quando houver música

ao vivo ou atividade artística no local, todavia o estabelecimento poderá efetuar

somente uma cobrança, ou seja, poderá cobrar a entrada ou o pagamento de couvert

artístico. Musica ambiente, portanto, fica de fora, não podendo nesse caso ser efetuada a

cobrança do couvert.

Page 225: Livro E Agora 4

Referidos estabelecimentos podem efetuar a cobrança de multa pela perda de

cartão de consumação?

É comum a prática por tais estabelecimentos de entregar ao cliente uma

comanda para anotação do que for consumido, a qual deverá ser apresentada ao caixa

para pagamento, sendo assim liberada a saída do cliente. Em caso de perda da comanda

é cobrada uma multa, mas, segundo orientação do CDC, tal prática é abusiva. A

responsabilidade pela cobrança não deve ser transferida ao consumidor, que não tem

obrigação de registrar e controlar o que consumiu. Portanto a responsabilidade pela

cobrança é exclusiva do fornecedor, de maneira que este não poderá expor o

consumidor a qualquer tipo de constrangimento sob pena de sofrer a aplicação de

sanções administrativas cabíveis bem como eventual ação interposta pelo próprio

consumidor.

É permitida a cobrança de consumação mínima?

De acordo com o CDC, não é permitida a imposição de limites de consumo ao

cliente; desta feita, a cobrança de consumação mínima é ilegal, consistente em venda

casada (Artigo39 CDC), refletindo assim uma prática abusiva refutada.

As casas noturnas são responsáveis por furtos ocorridos dentro de seu

estabelecimento?

A responsabilidade por furto ocorrido dentro do estabelecimento ainda é matéria

não pacificada no judiciário. Já se obtiveram decisões em que o estabelecimento foi

condenado a indenizar o cliente por furto ocorrido dentro do estabelecimento, todavia,

em casos em que este oferecia serviço de guarda de objetos. Há ainda outras decisões

que admitem que, se o consumidor for atraído pela oferta de segurança, o fornecedor

poderá ser obrigado a reparar os prejuízos por furto ocorrido nas dependências deste.

Sugere-se, portanto, após a análise do caso, ingressar em juízo pretendendo a

responsabilização do estabelecimento comercial pelo furto dos objetos.

É obrigatório o pagamento da comissão de 10% (dez por cento) aos garçons?

O pagamento de gorjeta será obrigatório somente nos casos em que os

estabelecimentos possuírem acordos coletivos com o sindicato da classe, o que não

ocorre na maioria das vezes. Se o consumidor exigir, a empresa deverá apresentar

comprovante de que deveras possui o acordo coletivo necessário e ainda de que a

referida comissão é repassada ao garçom. Cumpre ainda salientar que não pode ser

efetuada cobrança superior a 10% (dez por cento).

TELEMARKETING

Qual o significado da palavra telemarketing?

Forma de marketing direto, que utiliza o telefone como recurso sistemático e

interativo de comunicação, para as atividades de atendimento, promoção, pós-venda,

obtenção de informações sobre o mercado. Existe o telemarketing ativo, em que a

empresa telefona para o cliente, bem como o telemarketing receptivo, em que o

Page 226: Livro E Agora 4

consumidor telefona para a empresa. No tocante ao telemarketing ativo, o que mais

ocorre são ligações para oferecimento de produtos não solicitados pelo consumidor.

Posso evitar o recebimento de ligações de telemarketing?

Muitos consumidores são importunados com as inconvenientes e insistentes

ligações de telemarketing, que, na maioria das vezes, ocorrem em horários

inapropriados. O consumidor tem o direito de não ser importunado com tais ligações.

Tal direito, muito embora já respaldado pelo CDC, foi ratificado pela lei estadual nº.

3.641, de 2009. Referida lei prevê a criação de um cadastro para bloqueio do

recebimento das ligações de telemarketing. Dessa maneira, o consumidor poderá

impedir o recebimento de ligações de estabelecimentos que utilizam o serviço de

telemarketing.

Qual a competência do Procon/MS determinada pela lei 3.641, de 4 de fevereiro de

2009?

Referida lei determina que ao Procon/MS compete implantar, gerenciar e

divulgar aos interessados o cadastro, bem como criar mecanismos necessários à sua

implementação. O Procon/MS disponibilizará, em seu site oficial e por meio de linha

telefônica específica, a lista de usuários cadastrados.

Qual o procedimento que deverá ser adotado pelo consumidor bem como os

documentos necessários para efetuar o cadastro?

O consumidor que tiver interesse em bloquear o recebimento de ligações de

telemarketing deverá efetuar o cadastro previsto pela lei estadual, por intermédio do site

do Procon/MS ou linha telefônica disponibilizada para tal fim, devendo fornecer as

seguintes informações: nome; número do RG; CPF; endereço; CEP; telefone a ser

cadastrado; e-mail.

Existe prazo para cadastramento ou desligamento do cadastro?

Não. A qualquer momento, o consumidor poderá efetuar o seu cadastramento ou

desligamento.

Existe prazo para os estabelecimentos que utilizam do serviço de telemarketing

absterem-se de efetuar as ligações para os usuários cadastrados?

Sim. O usuário cadastrado não poderá receber ligações de telemarketing a partir

de 30 (trinta) dias a contar de seu cadastramento. Caso isso ocorra, o usuário deverá

registrar no Procon a ocorrência do fato, bastando para isso informar o dia, o horário, o

nome do atendente e o da empresa prestadora de serviço, a fim de que sejam tomadas as

providências cabíveis.

Existe penalidade para os estabelecimentos que descumprirem a determinação de

bloqueio de ligações para os usuários cadastrados?

Sim. A legislação estadual de Mato Grosso do Sul prevê uma multa no valor de

R$10.000,00 (Dez mil reais), por ligação efetuada de forma indevida.

Page 227: Livro E Agora 4

A previsão de multa em importe fixo é legal?

Esse importe de R$10.000,00 (dez mil reais), por ligação efetuada de forma

indevida, fere os princípios da igualdade e proporcionalidade. Veja-se que, da forma

como fixado pela legislação estadual de Mato Grosso do Sul, uma grande empresa tende

a receber multa no mesmo valor que o de uma microempresa. E ainda, não há previsão

de aumento gradativo de multa em caso de reincidência, como acertadamente previsto

pela legislação estadual do estado de São Paulo.

O usuário poderá cadastrar quantas linhas telefônicas?

O usuário poderá cadastrar somente linhas telefônicas que estiverem em seu

nome, respeitando ainda o limite máximo de três números.

A limitação de quantidade de linhas telefônicas a serem cadastradas pelos usuários

é legal?

Nesse tocante, entende-se que pecou a legislação estadual de Mato Grosso do

Sul. Não há fundamento legal para se limitar a quantidade de linhas telefônicas a serem

bloqueadas por um único usuário, até mesmo porque é permitido a um usuário registrar

em seu nome quantas linhas telefônicas desejar, entre fixo e celular. Nos Estados

Unidos, existe uma lei que prevê o bloqueio ao recebimento de ligação de empresas de

telemarketing, em que se limita a cada consumidor efetuar o cadastro de até três linhas

telefônicas, uma vez que, naquele país, o consumidor pode comprar apenas três linhas.

O projeto de lei aprovado pela Assembleia legislativa de São Paulo previa a mesma

limitação efetuada pelo estado de Mato Grosso do Sul, mas o artigo foi corretamente

vetado pelo Governador José Serra.

PORTABILIDADE DE TELEFONIA FIXA E MÓVEL

O que significa portabilidade numérica?

Trata-se de um dispositivo que permite ao usuário de telefonia fixa e móvel

trocar de operadora mantendo o número da linha. A portabilidade numérica foi

aprovada pelo Conselho Diretor da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), no

dia 7 (sete) de março de 2007, por meio da Resolução n.º460. A Anatel determinou que

a oferta da portabilidade iniciasse em setembro de 2008, todavia foi previsto um prazo

de sete meses de transição, findando esse prazo, portanto, em março de 2009, ocasião

em que a portabilidade se estendeu nacionalmente.

Quais as vantagens oferecidas pela portabilidade numérica?

Inúmeras pessoas já tiveram seus problemas de relacionamento com a operadora

de telefonia por elas escolhidas e sabem o estresse que é para resolvê-los. Mesmo após a

instituição de novas regras para atendimento ao consumidor, inclusive por intermédio

dos chamados ―call centers‖, ainda há necessidade de implementar as melhorias

impostas. A portabilidade numérica é mais uma ―arma‖ do consumidor, que poderá

trocar de operadora de telefonia sem a necessidade de efetuar a troca do seu número de

Page 228: Livro E Agora 4

telefone, fixo ou móvel. Muitas pessoas ficavam presas a uma empresa de telefonia por

conta do número de telefone, antigo e de conhecimento geral na maioria das vezes, seja

na área pessoal, seja na profissional, o que dificultava a troca da empresa de telefonia, já

que a mudança também importava a troca do número. Sendo assim, a portabilidade

numérica é mais uma conquista do consumidor, que ganha mais respeito e mais oferta

face aos abusos efetuados por determinadas operadoras.

Existe alguma desvantagem para o consumidor com a implantação da

portabilidade numérica?

Vislumbra-se uma desvantagem, qual seja a de o consumidor não mais saber

para qual operadora está ligando, já que anteriormente era possível identificar a

operadora por seus números iniciais, o que não mais ocorrerá por conta da portabilidade

numérica. Diga-se desvantagem já que existem planos e pacotes especiais para ligações

entre números e operadoras. O regulamento da Anatel acerca da portabilidade não prevê

nenhuma obrigação das operadoras nesse tocante, cabendo tão somente ao consumidor

se informar para qual operadora está ligando. Acredita-se, sem dúvida, que a vantagem

oferecida ao consumidor supera desvantagens como esta aqui especificada.

Como pedir a portabilidade numérica?

O consumidor precisa apenas entrar em contato com a operadora de telefonia

para a qual deseja migrar, informar seus dados pessoais, número de telefone e o nome

da prestadora atual. A solicitação será registrada e a negociação entre as operadoras de

telefonia envolvidas é de única e exclusiva responsabilidade destas. Poderá ser cobrada

uma taxa de transferência pela nova operadora, mas esta tem a opção de isentar o

consumidor do pagamento. A interrupção do serviço durante a transição de operadoras

não pode ultrapassar a duas horas.

TV POR ASSINATURA

O que é TV por assinatura?

TV por assinatura é o serviço de telecomunicação que, através de vários meios,

dentre os quais a TV a cabo, via satélite, oferece a espectadores programas

selecionados, só passíveis de recepção mediante o pagamento de uma taxa de adesão e

assinatura mensal. A Anatel, Agência Nacional de Telecomunicações, responsável pelos

regulamentos pertinentes à referida área, aprovou, por intermédio da resolução n.488 de

3 de dezembro de 2007, o Regulamento de Proteção e Defesa dos Direitos dos

Assinantes dos Serviços de Televisão por Assinatura, estabelecendo normas básicas de

proteção e defesa a referidos assinantes.

O que vem a ser ponto principal, ponto extra e ponto de extensão?

Ponto principal é o primeiro ponto de acesso à programação contratada com a

prestadora de serviço, instalado no endereço do Assinante; ponto extra é o ponto

adicional ao ponto principal, de acesso à programação contratada, ativado no mesmo

endereço do ponto principal do assinante; ponto de extensão é um ponto adicional ao

ponto principal, de acesso à programação contratada, ativado no mesmo endereço do

Page 229: Livro E Agora 4

ponto principal do Assinante, e que reproduz, integral e simultaneamente, sem qualquer

alteração, o canal sintonizado no ponto principal ou no ponto extra.

Quais as inovações trazidas pelo Regulamento de Proteção e Defesa dos Direitos

dos Assinantes dos Serviços de Televisão por Assinatura aprovado pela Anatel, no

que pertine ao ponto extra solicitado pelo consumidor?

Há de se dizer, inicialmente, que referido regulamento vem ratificar os direitos

garantidos pelo Código de Defesa do Consumidor, proibindo, mais especificamente em

seu artigo 29, que as prestadoras de serviços cobrem de seus assinantes a mensalidade

do ponto extra, o que deveras acontecia. Isso porque entende-se a cobrança relativa à

mensalidade do ponto extra como abusiva. Se o ponto adicional recebe o mesmo pacote

de programação contratado pelo principal, na verdade não há serviço adicional, o que

significa que o consumidor estaria pagando duas vezes. Todavia, salienta-se que, a

Associação Brasileira das Empresas de TV por Assinatura (ABTA) foi à Justiça

obtendo liminar para retomar a cobrança anteriormente efetuada até que se estabeleça

qual o alcance do artigo 30 do mesmo regulamento, em que se prevê que as prestadoras

de serviços poderão efetuar a cobrança somente da instalação e manutenção do

equipamento.

Qual é o prazo máximo para atendimento das reclamações efetuadas pelos

assinantes?

A prestadora deve solucionar as reclamações, respondendo adequadamente aos

pedidos de informações ou contestação de débitos recebidos dos assinantes, no prazo

máximo de 5 (cinco) dias úteis a contar do seu recebimento. Caso o consumidor envie

reclamações ou pedidos de informações por correspondência, o prazo máximo para

atendimento será de 10 (dez) dias úteis.

A prestadora pode oferecer serviços e pacotes sujeitos à fidelização?

A prestadora até poderá oferecer serviços e pacotes sujeitos à cláusula de

fidelização, todavia deve sempre haver ao assinante a opção de contratar os serviços

sem cláusulas de fidelização.

BOLETO BANCÁRIO

É permitida a cobrança de taxa por emissão de boleto bancário?

A cobrança de taxa por emissão do boleto bancário nunca foi permitida pelo

Código de Defesa do Consumidor. Muitas empresas incluíam ao preço do produto ou

serviço adquirido, um valor extra para bancar os custos de impressão do documento.

Todavia referida prática é considerada abusiva e fere o Código Civil e o Código de

Defesa do Consumidor. O Código Civil estabelece que a única obrigação do devedor é

quitar a dívida contraída, sendo assim, os custos gerados pela forma de cobrança devem

ser arcados pelo credor.

A legislação prevê alguma penalização para os fornecedores/credores que

efetuarem a cobrança da taxa por emissão de boleto bancário?

Page 230: Livro E Agora 4

Além das penalidades previstas pelo Código de Defesa do Consumidor, a

legislação estadual de Mato Grosso do Sul, por intermédio da lei n.º3.523 de 3 de junho

de 2008, passou a impor ao infrator multa de mil reais, por boleto ou carnê cobrado,

visando assim coibir ainda mais a prática da cobrança indevida de referidas taxas.

A multa será revertida em favor do consumidor cobrado indevidamente?

Não. O produto das multas aplicadas ao fornecedor infrator será destinado ao

aperfeiçoamento das atividades institucionais de proteção e defesa do consumidor do

Estado de Mato Grosso do Sul. O consumidor poderá, mediante reclamação efetuada no

Procon/MS ou mesmo por intermédio de ação judicial, requerer a restituição do que lhe

fora cobrado a título de taxa por emissão de boleto bancário. Lembrando que o Procon é

órgão administrativo que, muito embora possa imputar ao fornecedor multa

administrativa em caso de descumprimento dos preceitos legais, não tem o condão de

obrigar que este atenda o solicitado pelo consumidor, o que será alcançado somente por

intermédio de ajuizamento da ação cabível.

POSTOS DE ATENDIMENTO DE PROCON EM SHOPPING CENTERS

Os “Shopping centers”, empreendimentos comerciais e supermercados são

obrigados a possuir posto fixo de atendimento do Procon?

A lei estadual nº. 3.640, de 4 de fevereiro de 2009, estabelece que os ―shopping

centers‖, empreendimentos comerciais com mais de 65 (sessenta e cinco) lojas, bem

como os supermercados de grande porte, assim definidos aqueles localizados no Estado

de Mato Grosso do Sul e com mais de 10.000 metros quadrados de área construída,

deverão disponibilizar, gratuitamente, espaço para a implantação de um posto fixo de

atendimento do Procon, devendo referido espaço conter condições adequadas para o

atendimento ao público.

Quais serão os conflitos e questionamentos atendidos pelos Procons instalados em

referidos estabelecimentos?

Os postos de atendimento ao consumidor instalados em tais estabelecimentos

atenderão apenas os conflitos e questionamentos oriundos de relações de consumo

ocorridas naquele local, condição que deverá ser comprovada pelo consumidor com a

apresentação de nota fiscal ou documento semelhante que comprove a compra ou

contratação de um serviço.

A legislação prevê alguma penalização ao estabelecimento que não fornecer o

espaço para instalação do posto de atendimento do Procon?

Não sendo disponibilizado o espaço necessário à instalação do posto de

atendimento do PROCON, o infrator ficará sujeito à pena de multa, que será fixada à

razão de 500 (quinhentos) UFERMS por mês ou fração de mês de atraso. Salienta-se

que todas as despesas necessárias à disponibilização do espaço correrão por conta dos

próprios estabelecimentos compreendidos pela legislação.

Page 231: Livro E Agora 4

Qual o prazo para atendimento da imposição legal, qual seja, disponibilização do

espaço para instalação do posto de atendimento do Procon?

Os estabelecimentos compreendidos pela legislação em epígrafe terão um prazo

para disponibilizarem o local destinado ao posto de atendimento ao Procon. Tal prazo,

assim como demais regulamentações necessárias ao atendimento da lei sob trato,

deverão ser definidos pelo poder executivo.

DANO MORAL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO

O que vem a ser dano moral?

Antes de responder à pergunta principal, faz-se necessário esclarecer que

pessoas possuem direitos e deveres, que devem ser resguardados. Quando, por

intermédio de um ato ilícito, uma pessoa causar um dano a outrem ficará obrigada a

repará-lo. O dano causado poderá ser de natureza patrimonial (material) ou

extrapatrimonial (moral). O dano moral é, portanto, uma lesão ocasionada aos interesses

não patrimoniais de pessoa física ou jurídica, afetos aos direitos de personalidade.

É possível indenização por dano moral nas relações de consumo?

O dano moral, além de encontrar respaldo no artigo 186 e 927 do Código Civil,

também é expressamente previsto pelo artigo 6, Inciso VI, do Código de Defesa do

Consumidor. Assim é perfeitamente cabível a ocorrência de ato ilícito causador de dano

moral também nas relações de consumo, como, por exemplo, um dos casos mais

corriqueiros, quando um fornecedor inscreve o nome do consumidor indevidamente nos

cadastros de proteção ao crédito.

No caso acima citado, qual seja o de inscrição indevida nos cadastros de

inadimplentes, há necessidade de o consumidor comprovar o prejuízo que lhe foi

ocasionado?

O artigo 927 do Código Civil aduz que todo aquele que, por ato ilícito, causar

dano a outrem fica obrigado a repará-lo. Dessa forma, extrai-se que, para que haja

indenização, é preciso o ato ilícito causador do dano, o nexo de causalidade entre o ato e

o dano, bem como a comprovação do dano. Todavia a necessidade de comprovação do

dano em casos de inscrição indevida é questionável. Boa parte da jurisprudência já

entende que o dano moral ocasionado nesses casos é o chamado dano moral puro, ou

seja, aquele que não precisa de comprovação efetiva de prejuízo. O simples fato de

inscrever o consumidor indevidamente nos cadastros de proteção ao crédito, por si só, já

gera o dano moral.

Como é feita a aferição da indenização?

Há de se dizer que a indenização por dano moral não tem como finalidade

precípua compensar a vítima pelo prejuízo sofrido, mas sim, antes de tudo, punir o

ofensor, não podendo ultrapassar proporções que afetem sua subsistência, mas deve

servir como exemplo para que tal ato ilícito não seja mais cometido. A legislação não

Page 232: Livro E Agora 4

prevê critérios específicos para a aferição do quantum indenizatório. Sendo assim,

alguns critérios foram criados pela doutrina e jurisprudência, dentre os quais se pode

citar: evitar indenização simbólica e enriquecimento sem justa causa da vítima; não

impor tarifação; levar em conta gravidade, extensão e natureza da lesão; repercussão

pública gerada pelo fato e suas circunstâncias fáticas; peculiaridades do caso e o caráter

antissocial da conduta lesiva; benefícios obtidos pelo lesante e sua situação econômica;

averiguação do prejuízo sofrido pelo lesado, considerando os efeitos psicológicos

causados pelo dano, a intenção de seu sofrimento, seus princípios religiosos, sua

posição social e política, sua condição profissional e seu grau de educação e cultura;

basear-se em prova firme e convincente do dano; procurar a harmonização das

reparações em casos semelhantes.

ACIDENTE DE CONSUMO

O que é acidente de consumo?

O Código de Defesa do Consumidor prevê a responsabilidade do fabricante,

produtor, construtor, nacional ou estrangeiro, e do importador, quando,

independentemente da existência de culpa, defeitos decorrentes de projeto, fabricação,

construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de

seus produtos, e ainda informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e

riscos, ocasionaram um evento danoso ao consumidor. Esse evento é chamado de

acidente de consumo. Assim também o prestador de serviços responde pela reparação

dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação de serviços,

bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos,

independentemente da existência de culpa. No primeiro caso, acidente de consumo

ocasionado por defeito no produto, pode-se citar exemplo de um carro com defeito de

fabricação que, em virtude de tal defeito, ocasiona acidente de trânsito. Já no caso de

prestação de serviços, um caso de acidente de consumo bem em voga é o de queda de

avião.

Em caso de acidentes de consumo pelo fato do produto, há responsabilidade do

comerciante?

O comerciante será responsabilizado em virtude de acidente de consumo somente

quando o fabricante, construtor, produtor ou importador não puderem ser identificados,

ou o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor,

construtor ou importador, e ainda, quando não conservar adequadamente os produtos

perecíveis. Tais casos são previstos expressamente pelo Código de Defesa do

Consumidor. A doutrina majoritária e a maioria dos tribunais estaduais entendem que a

responsabilidade do comerciante é subsidiária; outra parte da doutrina entende que se

trata de responsabilidade solidária.

Há necessidade de comprovação de culpa para que haja responsabilização em

casos de acidente de consumo pelo fato do produto ou serviço?

O Código de Defesa do Consumidor é claro ao dizer que a responsabilidade pelo

fato do produto ou serviço é independente de comprovação de culpa, ou seja, é

desnecessária a averiguação de negligência, imperícia ou imprudência, sendo suficiente

Page 233: Livro E Agora 4

o consumidor demonstrar o defeito do produto ou do serviço, o dano ocorrido (acidente

de consumo) e a relação de causalidade entre ambos; portanto, trata-se de

responsabilidade objetiva.

No tocante à responsabilidade objetiva adotada pelo CDC, o que o fornecedor pode

levantar em sua defesa?

O fornecedor poderá alegar em sua defesa que não colocou o produto no

mercado, ou que, embora o produto tenha entrado no mercado de consumo, o defeito

inexiste ou que o dano foi causado por culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

CADASTRO POSITIVO DE CRÉDITO

O consumidor pode ser prejudicado com o uso do cadastro positivo por lojistas e

financeiras?

Um dos maiores problemas enfrentados pelo consumidor é a utilização do seu

―cadastro negativo‖. Mas, agora, empresas e similares deram para utilizar o chamado

―cadastro positivo‖ do cliente, isto é, aquele que demonstra quantas vezes o consumidor

comprou. Os lojistas e as financeiras são proibidos de usar dados de cadastros para

negar a concessão de crédito a quem tem o nome limpo. Várias decisões judiciais têm

reiterado esse entendimento.

Recentemente, uma juíza da 2ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro concedeu

liminar à Promotoria de Defesa do Consumidor do Ministério Público. A juíza proibiu o

Clube de Diretores Lojistas (CDL) de utilizar os chamados cadastros positivos — que

mostram quantas vezes o consumidor fez compra a crédito — e repassar os dados

pessoais para fornecedores, sob pena de pagamento de multa de R$ 10 mil por

ocorrência. O uso do cadastro positivo por lojistas e financeiras vem provocando tanta

discussão que o titular da Secretaria de Direito Econômico (SDE), Daniel Krepel

Goldberg, acaba de enviar um projeto de lei, que está hoje na Casa Civil, para

regulamentar a questão.

O Ministério Público tem aberto processos administrativos a partir do

depoimento de consumidores que tentaram crédito em lojas e tiveram seu pedido

negado porque já haviam feito outros financiamentos.

Page 234: Livro E Agora 4

GLOSSÁRIO

Ação de Regresso – é o meio utilizado para ressarcimento de uma despesa obtida por

ato originário de terceiro;

Alienação - ato que transfere a propriedade de uma coisa para outra pessoa, seja por

venda, por troca, seja por doação.

Anuência - aprovação, autorização, consentimento na prática de um ato, sem qualquer

oposição. Assim, pode haver exigência legal ou contratual que estipule o número

mínimo de pessoas para compor uma reunião ou assembleia, ou ainda, o número

mínimo de votos necessários para deliberar certas matérias. A mesma exigência ocorre

com a representatividade no capital social. Portanto, há matérias que, para serem

aprovadas, exigem quórum de maioria dos sócios ou maioria representativa do capital

social.

Ativo - é o haver, é o que se tem, ou se possui, indicando todo acervo de bens de

quaisquer espécies, o qual forma o conjunto patrimonial da pessoa física ou jurídica;

toda espécie de valor com que a pessoa pode contar para satisfazer suas obrigações ou

seus compromissos.

Ato ilícito: aquele praticado sem direito e que causa dano a outrem. (Clóvis Bevilaqua)

Autônomo - pessoa física que, sem sócio, trabalha com autonomia e total

independência na condução de seus negócios. Tanto pode ser o profissional que atua

sem estabelecimento organizado, como aquele que exerce profissão (terceirizados) em

suas atividades.

Autotutela – quando o indivíduo defende com seus próprios meios os direitos que

entende possuir;

Caput – é o texto principal de um artigo;

Carência: é o período ininterrupto, contado a partir da data de início da vigência do

contrato do plano de saúde, durante o qual, o contratante paga as mensalidades, mas

ainda não tem acesso a determinadas coberturas previstas no contrato, conforme

previsto no inciso V do art. 12 da Lei n.º 9.656/98. Os prazos máximos de carência

estabelecidos na Lei nº 9.656/98 são: urgência e emergência - 24h; parto a termo - 300

dias (quando o parto acontece antes, é tratado como procedimento de urgência),

demais casos (consultas, exames, internações, cirurgias) - 180 dias, doenças e lesões

preexistentes - 2 anos.

Cessão - Todo ato pelo qual a pessoa cede ou transfere a outrem direitos ou bens que

lhe pertencem.

Cláusula Arbitral – Cláusula colocada em contrato pelas partes, através de escolha

mútua, para em caso de litígio, ser submetida à decisão de junta arbitral, pela qual uma

terceira pessoa intervém, pondo fim a um litígio entre duas partes. Tal decisão terá

caráter obrigatório, tendo os mesmos efeitos de uma decisão judicial.

Cobertura Parcial Temporária: é o período de até 24 meses, estabelecido em

contrato, durante o qual o beneficiário não terá cobertura àquelas doenças e lesões

preexistentes declaradas. Nesse período, pode haver exclusão de eventos cirúrgicos,

internações em leitos de alta tecnologia e procedimentos de alta complexidade

relacionados diretamente às patologias relatadas pelo beneficiário.

Couvert artístico: gratificação dada em decorrência da apresentação ao vivo de um

profissional.

Dano material: Aquele que atinge diretamente o patrimônio da pessoa física ou

jurídica.

Decadência – perda de um direito, pelo fato de seu titular não exercê-lo dentro do prazo

legal;

Page 235: Livro E Agora 4

Direitos de personalidade: aqueles inerentes à pessoa e à sua dignidade (Vida, honra,

imagem, nome e intimidade).

Entes Despersonalizados – são entes que, apesar de não terem personalidade jurídica,

podem ser titulares de direitos e obrigações na forma da lei;

Fidelização: Processo ou técnica que visa a manter a clientela cativa a determinada

empresa mediante recursos de relações públicas, promoção etc.

Furto: Crime previsto pelo artigo 155 do Código Penal que consiste na substração de

coisa alheia móvel para si ou para outrem. Difere do roubo por ser praticado sem

emprego de violência contra a pessoa ou grave ameaça.

Hipossuficiência - é a ausência de recursos financeiros e também técnicos para

comprovar seu direito;

Jurisprudência – fonte do direito que consiste em aplicar em casos semelhantes,

orientações uniformes dos tribunais;

Jurisprudência: Conjunto de soluções dadas às questões de direito pelos juízes e

tribunais superiores.

Música ambiente: Ao reverso da apresentação ao vivo, a música ambiente é aquela

disponibilizada por intermédio de som mecânico.

Nexo de causalidade: é o vínculo existente entre a conduta do agente e o resultado por

ela produzido.

Outorga - consentimento, autorização.

Personalidade Jurídica – é a unidade de pessoas ou de patrimônios visando ao

atingimento de determinados objetivos;

Plano de destino: é o plano privado de assistência à saúde a ser contratado pelo

beneficiário por ocasião da portabilidade de carências.

Plano de origem: é o plano privado de assistência à saúde contratado pelo beneficiário

no período imediatamente anterior à portabilidade de carências.

Portabilidade de carências: é a contratação de um plano privado de assistência à

saúde, com registro de produto na ANS na mesma ou em outra operadora,

concomitantemente à rescisão do contrato referente a um plano privado de assistência à

saúde. Este, contratado após 1º de janeiro de 1999 ou adaptado à Lei de nº. 9.656, de

1998, em tipo compatível, observado o prazo de permanência, na qual o beneficiário

está dispensado do cumprimento de novos períodos de carência ou cobertura parcial

temporária.

Prazo de permanência: é o período ininterrupto em que o beneficiário deve manter o

contrato de plano de origem em vigor para se tornar elegível para portabilidade de

carências com base na regra de portabilidade de carências prevista no art. 3º.

Presunção – Presumido - Do latim praesumptione, juízo, concepção anterior a qualquer

experiência, ideia inata.

Relação Jurídica – quando uma relação de duas ou mais pessoas encontra-se inserida

em uma norma instituída pelo legislador; sócios à sociedade, para que esta tenha vida.

Tipo compatível: é o tipo que permite ao beneficiário o exercício da portabilidade para

outro tipo por preencher os requisitos de abrangência geográfica, segmentação

assistencial, tipo de contratação e faixa de preço.

Tipo: é a classificação de um plano privado de assistência à saúde com base na

abrangência geográfica e segmentação assistencial.

Título de Crédito – papel que formaliza um direito, possibilitando sua tradução em

dinheiro;

Transações – negócio, operação ou pacto celebrado entre as pessoas;

UFERMS: Unidade Fiscal Estadual de Referência de Mato Grosso do Sul.

Page 236: Livro E Agora 4

Venda casada: ocorre quando o fornecimento de um produto ou serviço é condicionado

à compra de outro produto ou serviço. A lei proíbe expressamente essa conduta,

definida inclusive como crime contra a ordem econômica e contra as relações de

consumo.

Verossimilhança – qualidade de verossímil, sendo este entendido como semelhança à

verdade, que não repugna a verdade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

<http:www.anatel.com.br>

<http:www.aurelio.ig.com.br>

<http:www.procon.ms.gov.br>

<http:www.procon.sp.gov.br>

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Código Civil e legislação em vigor. Theotônio Negrão, José Roberto Ferreira Gouvêa.

26 ed.atualizada até 16 de janeiro de 2007. São Paulo: Saraiva, 2007.

Código de Defesa do Consumidor disponível em <http:WWW.presidencia.gov.br>

Garcia, Leonardo de Medeiros. Direito do Consumidor, Código Comentado e

Jurisprudência. 3 ed. Niterói, RJ: Impetus, 2007.

Lei estadual n.º3.523, de 3 de junho de 2008, disponível em <http:www.al.ms.gov.br>

Lei estadual n.º3.523, de 3 de junho de 2008, disponível em <http:www.al.ms.gov.br>

Lei estadual n.º3.640, de 4 de fevereiro de 2009, disponível em

<http:www.al.ms.gov.br>

Resolução n.º488 de 3 de dezembro de 2007, disponível em <http:www.anatel.com.br>

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doutrina e da jurisprudência . Jus Navigandi, Teresina, a. 7, n. 60, nov. 2002.

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CAVALCANTI, Andrew Patrício. A aplicação do princípio da vulnerabilidade do

consumidor x o aspecto da invariabilidade do conteúdo dos contratos de adesão .

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DIAS, Rafael Querino. Causas de exclusão da responsabilidade pelo fato do produto

. Jus Navigandi, Teresina, a. 7, n. 62, fev. 2003. Disponível em:

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FILIPPETTO, Maria Elizabeth Carvalho Pádua. Os direitos do consumidor e do

fornecedor com relação a produtos defeituosos. Jus

Navigandi,.Teresina,.a.4,n.43,jul.2000...Disponível..em:<http://www1.jus.com.br/doutri

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LACERDA, Rafaella Munhoz da Rocha. Efetividade da tutela do consumidor na

relação contratual bancária . Jus Navigandi, Teresina, a. 9, n.615, 15 mar 2005.

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Page 237: Livro E Agora 4

LAGES, Leandro Cardoso Publicidade enganosa é crime. Jus Navigandi, Teresina,

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http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=702>.

LAGES, Leandro Cardoso . Como se defender dos Planos de Saúde . Jus Navigandi,

Teresina, a. 1, n. 5, jan. 1997. Disponível em:

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MARTINS, Plínio Lacerda. Conserto de produtos: perda da posse/propriedade do

produto pelo abandono. Prática comercial abusiva. Jus Navigandi, Teresina, a. 8, n.

347, 19 jun. 2004. Disponível em:

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MARTINS, Plínio Lacerda . O conceito de consumidor no direito comparado . Jus

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MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, Código de Defesa do Consumidor – Ed. Ver. e atual. –

Brasília,: Cartilha do Consumidor, MJ – SDE – DPDC, 1988.

PINTO, Paulo Muricy Machado. A cláusula de fidelização nos contratos de

prestação de serviços de telefonia móvel e o princípio da onerosidade excessiva .

Jus Navigandi, Teresina, a. 9, n. 502, 21 nov. 2004. Disponível em:

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RIBEIRO, Alex Sandro. A abusividade da cobrança da "consumação mínima" . Jus

Navigandi, Teresina, a. 7, n. 60, nov. 2002. Disponível em:

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RIEDI, Maria Eloiza Balaban. As despesas processuais e a inversão do ônus da

prova pelo CDC . Jus Navigandi, Teresina, a. 7, n. 66, jun. 2003. Disponível em:

<http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=4115>.

Arianne Gonçalves Mendonça

- Advogada associada ao escritório Resina & Marcon Advogados Associados.

- Especialista em Direito e Processo do Trabalho pelo Instituto de Ensino Luis Flávio

Gomes em parceria com a Universidade Anhanguera Uniderp.

- Cursando MBA em Gestão Empresarial pela Universidade Católica Dom Bosco em

parceria com o Portal Educação Ltda.

- Graduada em Direito pela Universidade Católica Dom Bosco.

- Extensão em Processo do Trabalho pela Associação dos Advogados de São Paulo.

- Extensão em Direito Processual Civil pela Escola Superior da Advocacia do Estado de

Mato Grosso do Sul.

- Extensão em Direito do Consumidor pela Associação dos Advogados de São Paulo.

- Palestrante sobre temas da área de Direito do Consumidor e Direito do Trabalho.

- Ministrante de cursos especiais e treinamentos nas áreas de Direito do Consumidor e

Direito do Trabalho.

Page 238: Livro E Agora 4

- Articulista colaboradora periódica do jornal ―A crítica‖ e Informativo Migalhas.

- Autora de artigos jurídicos nas áreas de Direito do Consumidor, Direito do Trabalho e

Direito Empresarial.

Caroline Mendes Dias - Advogada associada ao escritório Resina & Marcon Advogados Associados.

- Especialista em Direito Civil com ênfase em Registros Públicos e Direito do

Consumidor pela Faculdade Autônoma de Direito de São Paulo – FADISP e ESA/MS.

- Pós-graduanda em Direito Administrativo pela Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo - PUC/SP.

- Pós-graduanda em Direito Público pela Universidade Católica Dom Bosco – UCDB.

- Graduada pela Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do

Pantanal – Uniderp.

- Extensão em Direito Processual Civil pela Escola Superior da Advocacia de Mato

Grosso do Sul – ESA/MS.

- Membro da Comissão de Defesa do Patrimônio Público e Social da OAB/MS (2008-

2009).

- Professora das disciplinas de Direito Processual Civil, Constitucional e Administrativo

para concursos públicos.

- Palestrante sobre temas das áreas de Direito do Consumidor, Administrativo, Autoral e

Marcário.

- Ministrante de cursos especiais e treinamentos em Direito Administrativo,

Constitucional e Consumidor.

- Articulista colaboradora periódica do Jornal ―A Crítica‖, Informativo Migalhas e

Revista BoniIuris.

- Autora de artigos jurídicos nas áreas de Direito Administrativo, Consumidor, Autoral

e Família.

Locais que facilitam acesso à Justiça e solução de seus problemas

1 - JUIZADOS ESPECIAIS ESTADUAIS

- Para causas cíveis e criminais que não ultrapassem 40 salários mínimos, sendo que

para causas de até 20 salários mínimos não necessita de advogado, basta comparecer no

Page 239: Livro E Agora 4

Juizado e eles registrarão seu problema, que será enviado para o Juiz. Abaixo estão

informações sobre os Juizados Especiais de Campo Grande/MS.

a) Juizado Especial Central

- Rua Antônio de Oliveira Lima, 28 - (67) 3313-5061

- Atendimento: de segunda a sexta-feira, das 08h00 às 22h00.

b) Juizado das Moreninhas

- Rua Barreiras, 718 –Moreninha II - (67) 3317-1619

- Atendimento: de segunda a sexta-feira, das 08h00 às 22h00.

c) Juizado da UCDB

- Av. Tamandaré, 6000 –Seminário II - 3312-3641

- Atendimento: de segunda a sexta-feira, das 08h00 às 22h00.

d) Juizado Especial Itinerante

- Rua Antônio Corrêa, 85 – Monte Líbano - (67) 3314-5503

- Atendimento: de segunda a sexta-feira, das 07h00 às 18h00.

e) Juizado Especial para questões de trânsito

- Rua Antônio Corrêa, 85 – Monte Líbano - (67) 3314-5504 - (67) 3314-5534

- Atendimento: diariamente, inclusive sábados, domingos e feriados, das 08h00 às

22h00.

* Atenção: em caso de acidentes de trânsito sem vítimas, ligar 159 ou 0800-6471333.

2 - JUIZADO ESPECIAL FEDERAL

- Trata de ações judiciais de pequeno valor, de competência da Justiça Federal, tais

como as ações contra o INSS, a União, entre outros.

- Rua 14 de Julho, 356 – Vila Glória - (67) 3382-2564

- Atendimento: de segunda a sexta-feira, das 08h00 às 16h00.

3 – PROCON

- Para registro de reclamações de consumidores e tentativa de acordo com a empresa.

- Rua 13 de junho, 930 – Centro - (67) 3313-5095

- Atendimento: de segunda a sexta-feira, das 08h00 às 18h00.

4 - DEFENSORIAS PÚBLICAS

- Nas Defensorias Públicas, os cidadãos encontram serviços públicos de advogados para

orientação e representação em processos judiciais.

a) Defensoria Pública Estadual

- Os profissionais cuidam de ações de natureza comum, como as cíveis, de família,

crime, entre outras.

Page 240: Livro E Agora 4

- Rua da Paz – Centro - (67) 3317-4300. Atendimento: de segunda a quinta-feira, das

07h30m às 16h30m.

b) Defensoria Pública Federal

- Os profissionais atuam em causas de natureza federal.

- Rua Dom Aquino, 2350 – Centro - (67) 3324-1305

- Atendimento: de segunda a sexta-feira – horário comercial.

5 - NÚCLEOS DE PRÁTICA JURÍDICA

- As Universidades locais disponibilizam o serviço de assistência jurídica à

comunidade, de forma gratuita, sendo as pessoas de baixa renda atendidas por

advogados e acadêmicos do curso de Direito, tanto para consultas, como para

acompanhamentos de ações judiciais em diversas áreas. Abaixo estão as informações

sobre esses Núcleos.

a) Núcleo da UCDB

- Avenida Tamandaré, 6000 – Seminário - (67) 3312-3643 - - Atendimento; das 07h00

às 17h00.

b) Núcleo da UNIDERP

- Rua Ceará, 333 – (67) 3348-8065 - - Atendimento: de segunda a sexta-feira, das 07h30

às 11h30m e das 13h00 às 17h00.

c) Núcleo da UNAES

- Rua Teotônio Rosa Pires, 201 – Vila Rosa Pires - 3321-8685 - Atendimento: de

segunda a sexta-feira, das 07h30m às 11h30m e das 13h30 às 17h00.

6 – INSS

- Rua 26 de Agosto, 347 – Centro

Ligação gratuita para 135

7 – FÓRUM TRABALHISTA

Julga ações trabalhistas. Para propor uma ação trabalhista o reclamante não precisa de

advogado, basta ir ao Fórum e procurar o ―setor de atermação‖, onde será registrada a

reclamação e fornecidas as demais informações.

- Rua João Pedro de Souza, 1025, 3º andar, Vila Glória. - (67) 3316-1905