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CURSO DE HISTRIA
DIREITOGRECO-ROMANO
2014
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Curso de Histria Direito Greco-Romano
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A cpia de livros no autorizada crime.
Quando constru a montanha, pensei que um dia ela teria fim.
Acho que morri e a montanha cresceu alm de mim.
Fausto Wolff
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SUMRIO
1. HISTRIA E HISTRIA DO DIREITOAPNDICE
I PRINCIPAIS CARACTERSTICAS DOS PERODOSHISTRICOS: PARA UMA LINHAGEM HISTRICO-JURDICA DACIVILIZAO OCIDENTAL
2.AS SOCIEDADES ANTIGAS E O DIREITOGRCIA
3. O DIREITO GREGO NA ANTIGUIDADE3.1A POCA ARCAICA E A POCA CLSSICA3.1.1 poca Arcaica3.1.2 poca Clssica3.2O DIREITO GREGO3.3OS LEGISLADORES GREGOS3.4A FUNDAO DA CIDADE-ESTADO E O DIREITO PRIVADO GREGO3.5GRCIA RESENHA
APNDICE
I TABELA DE EVENTOS NO TEMPO PARA ATENAS
ROMA
4. O DIREITO ROMANO4.1HISTRIA DE ROMA E SUA FUNDAO4.2O DIREITO ROMANO4.3MAGISTRATURA E FONTES DO DIREITO4.4ELEMENTOS DE DIREITO PRIVADO ROMANO4.5ELEMENTOS DE DIREITO PENAL ROMANO
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4.6O DIREITO PROCESSUAL ROMANO4.7ROMA - RESENHAANEXOS
I LEI DAS XII TBUAS
II O IMPERADOR CARACALA ESTENDE A CIDADANIAROMANA
III EDITO DE MILO
IV CORPUS JURIS CIVILISDE JUSTINANO
APNDICE
I TABELA DE EVENTOS NO TEMPO PARA ROMA
REFERNCIAS
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1. HISTRIA E HISTRIA DO DIREITOPor que o ser humano faz perguntas? Perguntas surgem quando temos dvidas.
Dvidas denotam medo. Medo de perder algo, alguma coisa, algum. A finitude, a
morte, por exemplo, o pai de todos os medos. Uma verdadeira resposta sempre
bipolar e afirmativa: Sim ou No. Qualquer outra resposta que no seja afirmativa
talvez, no sei, pode ser que, ser?, vou ver ou vou pensar no so respostas, mas
artimanhas do intelecto para se proteger ou ganhar tempo. A perda alimenta nosso
intelecto e nosso esprito de forma no prazerosa. Da que o ser humano de forma
geral tende sempre a formular perguntas e procurar respostas. Assim funciona nosso
intelecto, assim funciona a cincia, assim procede a filosofia. J a religio apazigua
nossos temores e nossas dvidas. Ela oferece a f. Onde comea a f, ali acaba a
filosofia e a cincia. Ali acabam os medos, as dvidas e as perguntas. Sistemas
totalitrios tambm sabem trabalhar com o apaziguamento do sofrimento humano,
oferecendo no lugar do vazio existencial que criam - ou se aproveitando dele criado
em situaes especiais e extremas de vida social - algo inquestionvel, algo que se cr
pela f. Assim o corpo do povo ou o esprito do povo nazista ou a ditadura do
proletariado da forma stalinista.
Fazer perguntas, no entanto, no so suficientes para o homem aplacar sua
necessidade de saber, de conhecer. Porque, como se disse, a resposta pode ser
negativa. Por outro lado, a cada resposta negativa ou positiva, novos medos, novas
dvidas, novas perguntas e assim ad eternum. Para o homem comum a necessidade de
respostas menor porque ele faz poucas perguntas. Os sistemas sociais, econmicos e
a microfsica do poder das sociedades telemticas, informacionais e de controle
contemporneas, no incentivam a perguntar, porque tendem a solapar as dvidas na
medida em que oferecem, principalmente pelo acesso aos bens de consumo, e pelos
meios de propaganda e marketing mediticos, alternativas ao preenchimento
existencial do intelecto e do esprito humano. Na verdade estamos diante de um novo
contexto, mas da mesma verdade: s elites de sempre e ao poder das sociedades de
controle, o que interessa que os homens pensem pouco, tenham poucos medos, logo
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faam poucas perguntas. Nas sociedades contemporneas desenvolvidas
tecnologicamente no so apenas as igrejas que nos do a f, mas tambm o Estado, a
escola, a agremiao e mais uma fantstica rede de instituies sociais ondeaparentemente no deveriam ser produzidas verdades desse tipo messinico e sim
cientfico e filosfico laico.
Acontece que para a cincia e para a filosofia laica no pode ser colocada a f
no lugar da dvida e, portanto, a pergunta sempre voltar. A Histria como cincia faz
perguntas. A Histria como filosofia as faz de forma irrecusvel e infinita. Porque o
filosofo no pode deixar de perguntar, ou seja, de duvidar, de sofrer o medo da perda
que no quer perder. de seu sofrimento, da dvida e do medo que a Histria retiraseu objeto e seu motivo para existir.
Quando indagamos, no entanto, sobre a vida dos nossos antecessores, dos
fenmenos e acontecimentos pretritos, estamos nos indagando a ns mesmos.
Primeiro, porque somos o produto dessa Histria, desse algo que passou e no est
mais aqui para podermos participar. Depois, porque ao duvidar e perguntar Histria
o que fomos est a se perguntar a ns mesmos o que somos e o que fazemos, no
apenas o que fizemos. Por isso de forma espontnea a histria o cultivo da Filosofia
no sentido de resgatar o que aconteceu sem sabermos jamais o que realmente foi, o
que poderia realmente ser feito diante do universo das circunstncias que
influenciaram e poderiam ter alterado o curso da Histria. Isto porque, em ltima
instncia, quem produz a verdade histrica o prprio ser que a pesquisa, no sentido
que todas as coisas, os objetos histricos, s o so na medida em que ao a pesquisar
efetivamente a designamos. Assim, no sabemos nada do anterior, indagamos o
presente s apalpadelas e duvidamos da concretude do futuro.Ns mesmos no
sabemos de ns nem antes e nem depois. No sabemos realmente de ns e no
podemos responder s mais elementares questes sobre nossa existncia agora mesmo,
aqui e agora.
Ento por que fazer Histria? Por que fazer Filosofia? Precisamos continuar.
O show no pode parar. Sozinhos, ao sentir que estamos no cosmo, precisamos
decifrar a epopeia humana na Terra. Continuamos procura de algo que est muito
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mais no hoje do que no passado. Continuamos a temer a perda, continuamos com
medo, continuamos com dvidas e abandonamos a f nas perguntas atrozmente
negativas, porque, simplesmente, queremos saber o que nos espera e o que podemosfazer agora. Estamos diante da Histria quando estamos diante do espelho. A Histria
no temporal; ela o agora enigmtico. Esse o medo: do enigma presente, da
indeterminao do futuro. Conhecer a si mesmo, a ns mesmos enquanto coletividade
determinada, eis o que pretendemos da Histria. Em uma palavra, sermos ativos na
nossa sobrevivncia inaudita.
O dilema inicial que, portanto, est por trs de se escrever um livro de Histria
do Direito, o fato de ser objetivo - como os cnones da cincia histrica e,principalmente a jurdica, demandam -, de forma subjetiva. Chegamos objetivamente,
se assim se quiser pensar, ao possvel histrico-jurdico pela subjetividade do sujeito
histrico-social que produz os conceitos, os enunciados e os discursos histricos, e ele,
claro est, funciona de fato ora como um filtro, ora como uma lente de aumento, e
produz algo que est muito longe de ser a realidade, to somente a explicao possvel
historicamente determinada. Nesta montagem, bem vistas as coisas, no difcil
perceber o quanto a descrio dos acontecimentos e seus fenmenos podem ser
deturpados, escandalizados ou idolatrados em relao com os fatos em si. E por isso,
qualquer estudo e proposta de trabalho sobre o passado, principalmente o jurdico,
alicerce do poder estatal, exigiria um nvel de iseno e neutralidade efetivamente
impossveis de serem alcanados pelo engenho humano. Basta verificar o quanto o
prprio dinamismo dos acontecimentos atuais e as inexorveis descobertas de
vestgios antropolgicos mudam tenazmente nossas explicaes sobre o passado e
modifica nossa compreenso atual do que somos e vivemos. Se pensarmos que por
detrs das formulaes histricas se encontram impregnados interesses de classes e
elites com status a perder, ficar bvio que as verdades sobreo acontecido e vivido
vm at ns, no mais das vezes, pelo vis dos que detm poder.
Um livro de Histria, mesmo um livro de Histria do Direito Greco-Romano,
pode ser, grosso modo, escrito de duas formas: 1. Contar os acontecimentos de forma
cronolgica, quer dizer, ao longo de uma linha histrica onde os fatos se sucedem uns
aos outros e esto bem marcados no tempo histricoeste seria o mtodo genealgico
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ou simplesmente histrico; 2. Tambm se pode escrever sobre histria elegendo um
assunto, um acontecimento de vulto ou mesmo um fato mais simples, mas de
repercusses sociais econmicas ou polticas importantes.Neste segundo caso, o mtodo eletivo, mas os acontecimentos e os fatos,
ainda que datados, fazem sentido a partir das circunstncias que os envolveram, cuja
compreenso se d no entorno que pode datar momentos e periodizao bastante
distantes em qualquer sentido cronolgico, para trs ou para frente. Desta forma a
linha do tempo adquire sua importncia apenas e na medida em que empresta outro
colorido aos fatos, podendo-se verificar as causalidades muito alm do momento ftico
estudado tanto em relao ao passado como ao futuro. Na verdade a Histria,neste sentido, no vista como um simples sucedneo de acontecimentos intercalados,
ainda que o possa ser em determinado nvel, mas se expande por toda a existncia
humana, do antes ao depois e em todos os sentidos e direes . A Histria ento uma
totalidade presente. O homem em sua marcha sobre o planeta carrega sempre o seu
antecessor e ao mesmo tempo o que vir a ser.
Tomemos como exemplo a Revoluo Francesa de 1789. Ao estud-la
podemos comear por entender a poca, os conflitos entre burguesia e o latifndio
encastelado no regime da monarquia absoluta, localiz-la como produto das
contradies entre a potencialidade industrial, os avanos tecnolgicos e a emergente
sociedade de mercado, sendo entravado pelo sistema nobilirquico conservador
sustentado pelo papado, e verificar que a revoluo plebeia e cidad se convertem
rapidamente em um obstculo quelas mesmas foras produtivas e de capital burgus;
ento a revoluo solapada transformando-se no sistema capitalista de produo, um
sistema liberal burgus, em grande parte devido ao fato que as massas dificilmente
possuem um projeto social mais abrangente a oferecer sociedade em substituio ao
antigo regime. O mesmo se repetiu alguns anos depois com a Comuna de Paris em
1848.
Uma anlise assim, que passe por esses pontos, por mais acurada e bem
elaborada ainda deixaria muito a desejar do ponto de vista de sua totalidade presente.
Liberdade, igualdade e fraternidade, smbolos democrticos que embasaram
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definitivamente as constituies dos Estados-nacionais, ainda podem ser sustentadas?
Na verdade, elas so o limite e a circunstncia da qual a revoluo liberal capitalista
burguesa no pode se emancipar da Revoluo Francesa ainda hoje. A velha revoluoque anunciou a modernidade ainda o empecilho ao totalitarismo estatal e ao racismo
das polticas pblicas, por exemplo, quanto ao significado e abrangncia social e
poltica da Reserva do Possvel perpetrada pelos governos democrticos. Dentro de
seu iderio liberal a burguesia no pode se libertar desse iderio, o que leva o sistema
capitalista a uma contradio e a crises permanentes: de um lado a extorso e a
acumulao de poucos e de outro as exigncias constitucionais; o imperativo para o
capital de segurana, bem como a paz entre os Estados-nacionais, enfrentando a defesauniversal dos direitos humanos. Ainda somos modernos: vivemos da democracia da
Revoluo Francesa!
Em certo sentido pode-se dizer que tudo que no estiver acessvel s massas
suscita revolues: uma revoluo pode ser poltica, no estrito sentido comum de
revolucionar formas socioeconmicas, com ou sem armas, pode ser calma e
dissimulada: como a economia informal a suscitar os camels, ou a fomentar o roubo e
furto desviado para a economia informal ou mesmo para a formalidade do mercado,
como o caso de roubo de remdios que vo parar no mercado clandestino das prprias
farmcias, ou o roubo de mercadorias em caminhes que invariavelmente vo para as
prateleiras de supermercados menores e de periferia. Claro que existe outro tipo de
crime, que comea com o favor, prevaricao e termina em grandes redes de
corrupo, no mais das vezes tendo por trs grandes entidades, enquanto os
pequenos so os que aparecem rpida e repetidamente na mdia e nos boletins de
ocorrncia policial. O sentimento, portanto, o modus vivendis de nossas sociedades
industriais desde a modernidade, a hipervalorizao do consumo, e em nome dela se
perpetua os mais variveis delitos em consonncia com a nsia de mais capital para
mais consumir, na velha/nova frmula de Karl Marx, dinheiro por mercadorias para
gerar mais dinheiro (D-M-D). A Revoluo Francesa est a se repetir entre ns
continuamente, pois pouco mudou da sua essncia banida pelo capital e burguesia.
Uma Histria sem preocupaes de periodizao pode ser criada em
consonncia com circunstncias e contextos que atravessam os perodos e as datas
definidas, em todas as direes, sobreponde-se em painis ou camadas que se
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complementam, se desdobram e se ligam por fios muito precisos e insinuosos, destarte
a tentativa dos discursos oficiais projetarem e congelarem os acontecimentos
preferidos, preterindo os demais e suas interconexes causais, do passado mais remotoat o presente a projetar o futuro. A Histria como totalidade, transversa e
multidirecional o mtodo de genealogia mais profcuo no estudo do Direito em sua
formao histrica. Isto pode ser observado em cada momento da evoluo humana.
De forma oficial a Histria contada pelos fortes, pelos vencedores, pelos poderosos
e deixa de lado a fortaleza, a nobreza e a dignidade dos que sofreram e sofrem os
desmandos do entendimento interesseiro da condio e existncia humana.
HEGEL havia dito que a Histria se repete ao que MARX acrescentou que a
primeira vez por desgraa a segunda como farsa. Ele falava da ascenso de Napoleo
II, o sobrinho de Napoleo Bonaparte na Frana. No mbito jurdico h de se perceber
que uma constncia e permanncia de certas instituies e institutos se repetem no
ordenamento jurdico desde as mais longnquas civilizaes at nossos dias. Ainda
hoje doutrinas jurdicas e leis perpetradas nos cdigos contemporneos expem de
forma mais ou menos explcita os ordlios mais desumanos, os princpios de olho
por olho/ dente por dente da Lei de Talio, a jurisprudncia to moderna que consta
dos ordenamentos do soberano egpcio ao vizir, o inqurito e o tribunal consolidados
pelo Santo Ofcio ou Inquisio medieval; ao mesmo tempo a tentativa de reforma
agrria dos irmos Graco em Roma ou a igualdade dos cidados oferecida
legislativamente por Slon e seus sucessores em Atenas. Talvez at devssemos
lembrar que a letra de cmbio foi inveno babilnica, que a centralizao do poder
excepcionalmente no soberano foi inveno de Dracon (sculo VII a.C.) repetindo
Aquenaton (sculo XIII a.C.) - , resgatada como estratgia poltica nacionalista por
MAQUIAVEL; que a priso por dvida existe ao longo de toda histria do velho
continente. Como na China as lutas intestinas entre os senhores feudais e o rei, que
sculos adentro impediram a unificao do imprio ou a Tianxia (tudo que est sob o
cu), s concretizado em 221 a.C. pelo soberano do reino de Qin (O Filho do Cu),
derrotando seus adversrios, cujo imprio perdurou at 1911, o que nada deixa a dever
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histria feudal do Ocidente. Que a proibio do casamento entre classes que tantos
sacrifcios exigiram dos jovens amantes em todo o Renascimento at praticamente o
final do sculo XIX, como em muitos casos ainda hoje, tem fantstica semelhanacom o impedimento do casamento entre castas na ndia milenar o que nesse pas
apenas foi permitido por lei em 1949, prtica igualmente pouco assistida ainda nos
dias atuais. O mais impressionante que estas grandes civilizaes do Ocidente e do
Oriente praticamente quase nenhum contato (talvez alguns desbravadores como Marco
Polo) mantiveram e absolutamente nenhum no plano do Direito durante milnios.
Ademais preciso ficar atento permanente contradio, oposio dialtica
entre o modo de vida dos grandes grupos sociais. Marx disse que a Histria feita pelaluta de classes. Por toda a histria humana, seus ardores e arroubos revolucionrios,
vemos a luta incessante pela sobrevivncia, mas no uma sobrevivncia qualquer, uma
sobrevivncia que apresente o mnimo de condies de vida digna e que limite os
excessos das elites e dos poderosos.
Por exemplo, o declogo de Moiss uma constituio que unifica o povo
hebreu em uma identidade supraclasses, assim como a revoluo plebeia em Roma
culminou com a Lei das XII Tbuas favorecendo fortemente mais de 2/3 da populao
em detrimento do poder de origem do patriciado. Todas as grandes civilizaes do
Ocidente e do Oriente, do Egito Mesopotmia, nas ilhas Gregas e em Roma, bem
como na China e na ndia, sada da primitiva organizao social a classe sacerdotal, os
gurus religiosos, sempre se opuseram como classe ao poder do rei, do soberano. Por
todos os lados, em todas as civilizaes, aquelas que se dirigiram mesmo sem o
perceberem para a dinmica do Estado, a figura da religio e os detentores de
sabedoria supranatural, os sacerdotes, de forma transcendental e mstica, sempre
preponderaram em suas sociedades, se colocando como poder de fato, como os
brmanes na ndia, os Grandes Sacerdotes de Tebas a partir da XXI disnatia no Egito,
os sados da classe awelum na Mesopotmia, os orculos nas ilhas gregas e nos
primrdios da civilizao romana, e to distante como isso, os sacerdotes-soberanos
(halac ainic) e mais tarde a autoridade vel exclusivamente sacerdotal, nas
civilizaes pr-colombianas como no caso dos Incas e dos Maias, organizados em
Cidades-estados semelhante aos Gregos do velho continente.
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Mesmo em uma civilizao altamente desenvolvida tcnica e politicamente
como a China imperial do sculo IV a.C., na formao do Estado centralizado nos
moldes dos Estados-nacionais atuais se fez necessrio o desenvolvimento de umordenamento jurdico positivado a partir de um sistema tico-filosfico, capaz de
fornecer normas de comportamento que servissem de base para apelao jurdica, de
direito, em sua funo social, como o caso do expoente legalista (fagia), Shang
Yang, que serviu perfeitamente ao imprio unificado em 246 a.C. por Ying Zheng.
Temos ainda a similitude entre todas as grandes civilizaes de outrora em
terem construdo seus imprios a partir das ameaas externas, consequentemente do
desenvolvimento de tecnologia blica e ideologia apropriada, como se repetiu nahistria europeia com as Cruzadas, reao ao mesmo anseio da dispora mulumana
diferente da hebraica -, e como ainda nos dias atuais a luta por domnio territorial est
to presente (Palestina, Oriente Mdio, e ainda uma poro de territrios longnquos
de possesso das grandes potncias mundiais). Desde tempos imemoriais o Estado luta
por unio territorial, a partir da qual ocorre a unificao das famlias e ftrias
ancestrais para a constituio de soberano nico, ou seja, de uma nova ordem, que
para ser eficaz no controle social, imediatamente elabora todo um aparato jurdico-
repressivo. A origem de todo o Direito, quando observado pelo filsofo histrico a
luta pelo territrio e pela centralizao do poder, independente das prprias
necessidades de sobrevivncia. Na China e no Egito antigo as vrias provncias em
conflito no tinham necessidades materiais significativas para ter a motivao de
unificao. Exemplificativo da motivao do agressor externo so as muralhas da
China; como se ergueu o muro de Berlim, o muro para conteno da emigrao dos
cucarachos para os E.U.A. e o muro levantado recentemente por Israel no territrio
Palestino: o mesmo discurso medieval santificado pelo papado, e ainda dos imprios
de nossos dias.
HANNA ARENDT falou da perda de democracia devido miserabilidade de
condies de vida das massas. ALEXIS DE TOCQUEVILLE, de certa forma, antes
dos arautos de nosso tempo, predisse cientificamente o fim da Histria e anteviu a
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formao de grandes Estados-nacionais autoritrios e violentos, como a Alemanha
nazista, a Unio Sovitica stalinista, a China maosta e o Imperialismo americano.
Quando as massas no tm nada a perder, ou quando tm muito a perder, estodispostas a tudo, a aguentarem tudo, a abrirem mo da civilidade e tica e resgatam
rapidamente os mais selvagens instintos de sobrevivncia e os medos ou xenofobias de
nossos ancestrais das cavernas. Como se v o caos da Histria se confirmou em ambos
os casos, pelo pauperismo das massas (Stalinismo; Nazismo) e pela sua opulncia
(E.U.A.). Em nenhum dos casos, no entanto, podemos ver os fatos histricos como
progresso, nem do ponto de vista tcnico nem ideolgico. Paolo Rossi prope em
seu Naufrgio sem Espectador que o progresso significa apenas que ao invs decaminhar com os olhos voltados para a Perdida Verdade que temos s nossas costas,
escolhe-se caminhar para frente, na escurido de uma inextricvel floresta, dentro da
qual podemos esperar conseguir acender, uma de cada vez, algumas pequenas luzes.
s apalpadelas o homem julga poder descortinar seu destino baseado em seu sacrifcio
anterior. A Histria, contudo pronuncia-se entre ns mais por analogia e metforas,
repeties dissimuladas cujo azar deJASPERS nos ilude em relao ao novo de
acordo com as formas tecnolgicas apresentadas em cada momento do
desenvolvimento das foras produtivas de uma determinada sociedade.
Outro ponto importante para o estudo da Histria do Direito a oposio
filosfica entre origem e inveno, o que ope frontalmente Nietzsche e Kant:
para KANT a tica, por exemplo, tem origem no esprito humano, mais do que isso, a
tica ontolgica do esprito humano. Ora, assim, a tica aparece de forma metafsica,
misticamente, como entidade anterior existncia produtiva humana. A viso de
NIETZSCHE ao usar o termo inveno, quer dizer, criar algo, e se ope, tambm,
ao que pensa SCHOPENAUER ao afirmar que a religio instintiva ao humano. Na
verdade, essas concepes que colocam conhecimentos a priori sobre o realizvel
humano e sua luta pela sobrevivncia subtraem do homem o seu papel ativo na
construo determinada de sua prpria histria. A Histria a histria dos homens em
seu processo concreto pela produo de sua sobrevivncia. Desta forma o Direito no
uma instituio social, to remota como a religio e a luta pela soberania, acima
dessa vida, dessa prxis, mas parte de um todo onde economia, poltica, religio e
direito so interdependentes e movimentam-se reciprocamente ora em oposies
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ferrenhas ora em ajustes menos radicais. Essas lutas intestinas so lutas pela
supremacia do saber, do conhecimento, do poder, espalhadas por todas as instncias
sociais, portanto melhor concebidas como uma luta de vilanias do que comooriginrias ou intuitivas. O historiador no deve temer as mesquinharias, pois foi de
mesquinharia em mesquinharia, de pequena em pequena coisa, que finalmente as
grandes coisas se formaram, diz MICHEL FOUCAULT em A Verdade e as Formas
Jurdicas. E por trs dessas pequenas coisas se esconde as verdades da histria
jurdicas mais despercebidas, preteridas e inconfessveis. Eis ao que devemos estar
atentos.
Talvez possamos dar um exemplo bem nosso, desse magnetismo vilo quemove e esconde ao mesmo tempo a verdade histrica: a assim chamada revoluo
constitucionalista capitaneada por So Paulo contra o governo de Getlio Vargas,
esconde o fato de que at ento o governo federal era dividido, eleio aps eleio,
entre dois estados, So Paulo e Minas Gerais, o que os historiadores apelidaram da
poltica do Caf com Leite, e que imperava desde final do sculo XIX. O candidato da
situao, representante das oligarquias, Jlio Prestes, havia se elegido para a
presidncia em 1930, derrotandoGetlio Vargas (presidente) e Joo Pessoa (vice)
candidatos da Aliana Liberal. Mas antes da posse de Jlio Prestes, Joo Pessoa foi
assassinado, o que precipitou os acontecimentos e levou Revoluo de 1930, com a
deposio do presidente Washington Lus. Uma junta militar, em 3 de novembro de
1930, transferiu o poder a Getlio Vargas.
No primeiro momento, o governo de Vargas procurou resolver os problemas
econmicos e sociais gerados pela iminente revoluo burguesa em um Brasil ainda
agrrio e latifundirio, intervindo nos estados opositores, como So Paulo, onde o
poder do latifndio cafeeiro j se antagonizava com os polos industriais nas cidades. A
revoluo de 1932 dita constitucionalista!? , no fundo, uma reao a esta
mudana proposta no modo de produo capitalista, um embate entre faces da
oligarquia e as novas faces de classe burguesa, e tem menos a ver com o fechamento
do congresso nacional, estadual e municipal e a suspenso da Constituio de 1891,
pelo governo Vargas, ainda que, logicamente, esse ato seja condenvel do ponto de
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vista das instituies democrticas. Em 1933 instaurou-se a Assembleia Constituinte
que elaborou a nova Constituio. A Constituio promulgada no governo ditatorial
de Getlio Vargas, em 1934, apresentou ao pas uma srie de avanos modernos queat ento no existiam, como o voto secreto, o voto feminino, benefcios trabalhistas
como descanso semanal obrigatrio renumerado, assistncia e licena maternidade,
jornada de trabalho limitada a 8 horas dirias, salrio mnimo, fim da pena de priso
perptua, proibio de priso por dvidas e ensino religioso facultativo (mais no
sentido da laicizao da educao, pois era compulsrio!), e outras medidas de igual
calibre.
Como explicar tais iniciativas de um ditador, fascista, que era contra SoPaulo? Claro que esses avanos esto compreendidos por um fenmeno maior, a
necessidade de industrializao do pas e a correlata modernizao das relaes entre
capital e trabalho fabril, tanto no plano do mundo do trabalho como no poltico, e
social de forma geral, pois sabido que o desenvolvimentismo capitalista trs em seu
bojo, revelia mesmo da classe burguesa menos liberal, tal largueza de compromissos
sociais, como afirmamos acima, derivados do iderio da Revoluo de 1789 (veja-se,
por exemplo, O Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels). Tanto assim
que nem mesmo Getlio Vargas ficou muito satisfeito com a Constituio de 1934, at
que se instaura o Estado Novo e outorga-se uma nova Constituio em 1937, inspirada
na Constituio Polaca.
Assim, a pesquisa histrica e o dinamismo das instituies jurdicas no podem
ser apenas contemplados, no passado e no presente, para nos nutrir de conhecimento,
todo ele permeado pelas formaes do poder subjacente vida social, nem servem
tampouco para enaltecer os feitos magnficos e do esplendor das obras de nossos
antecessores. Entre o que podemos perceber na distncia que separa a porta da frente
da sala, da porta dos fundos da rea de servio ou cozinha, o fundamental que a
pesquisa histrica e a Histria do Direito nos deem o sentido maior de
responsabilidade tica na formao da conscincia poltica e jurdica de uma poca, a
nossa poca.
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APNDICE
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I QUADRO
CARACTERSTICAS DOS PERODOS HISTRICOS
PARA UMA LINHAGEM HISTRICO-JURDICA DA CIVILIZAO OCIDENTAL
O Direito nas SociedadesPrimevasSociedades Sem
Estado
Regulao Extrajurdica e Justia Restaurativa
Famlia, Comunidade, Feiticeiro e Conselho de Ancies
Incesto e Avunculato
Endogamia e Poligamia
Comunitarismo e o papel do Esbanjador
Equilbrio do Poder: Feiticeiro, Xam e Guerreiros
O Direito nas SociedadesAntigas: Egito
(sc. 40 a. C.)
O Fara e os Sacerdotes: A Luta pelo Poder
Produo Coletiva nas Terras Pblicas
Incesto e Endogamia
Lei do Talio (Analogia) e Ordlios
Avatares de Jurisprudncia: o Vizir, a Oralidade e a Sentena
O Direito nas SociedadesAntigas: Mesopotmia
(sc. 18 a. C.)
Poder do Soberano no Cdigo de Hamurabi
Escrita Cuneiforme e Direito: Formalizao, Classificao, Publicidade e Poder doSoberano
Direito Privado e Direito Pblico
Lei do Talio (Analogia) e Ordlios
Penas Pecunirias (Multa) e Penas de Morte
O Direito na Grcia ArcaicaAtenas
(At sc. VII a. C.)
Surgimento da Cidade-estado
Mitologia, Deuses e Orculos
Da Propriedade Privada Comunidade
Dracon, o legislador: Lei do Talio (Analogia), Crimes Involuntrios, Intencionais
e Legtima Defesa
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A cpia de livros no autorizada crime.
O Direito na Grcia ClssicaAtenas
(Aps sc. VII a. C.)
Escrita Fontica, Moeda, Comrcio e Desenvolvimento Tcnico
Antropocentrismo, Filosofia e surgimento dos Tribunais
Desenvolvimento Direito Processual
Tribunais: O Arepago e o Heliastes
Slon, o reformador: Dvidas, Testamento, Direito Familiar
Clstenes, Aristides, Pricles: o aprofundamento da Democracia e do Direito
Resoluo de Conflitos: Conciliao, Mediao e Arbitragem (inclusiveHomicdios)
Pena Pecuniria
Desproporcionalidade Penal: Pena de Morte, Ordlios, Banimento, Ostracismo
O Direito RomanoRealeza
(At sc. VI a.C.)
Direito Quiritrio: famlia, costumes e religio
Paterfamilias
Conselho dos chefes familiares e Guerreiros Etruscos
Desproporcionalidade Penal: Pena de Morte, Tortura, Ordlios, Banimento,
Expropriao
O Direito Romano
Repblica
(At sc. I a.C.)
Natureza, Filosofia e Direito
Popularizao do Direito
Luta dos Plebeus contra os Patrcios
Lei das XII Tbuas
Advogados, Pretores e Cnsules plebeus
Magistrados
Papel dos Pretores (Jurisprudncia) e Jurisconsultos (Doutrina)
Assembleias e a Promulgao das Leis
A Ditadura do Senado
Desproporcionalidade Penal: Pena de Morte, Tortura, Ordlios, Banimento, Gals, Ostracismo
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O Direito RomanoImprio
(do Ocidente at sc. VI/ doOriente at sc. XV)
Imperador Augusto e o Conselho da Coroa
Constituies Imperiais
Imperador Constantinoa aliana originria com o Cristianismo
A diviso do Imprio
Cdex de JustinianoCorpus Juris Civilis
Desenvolvimento do Direito Civil e Penal
Conciliao, Mediao e Arbitragem no Processo Civil
O Direito Medieval
(do sc. IV ao sc. XIII)
Papel dos Telogos e Glosadores Cristos
Direito Divino: Teologia, Patrstica, Paixo e Pecado
Julgamento Final no Alm e o Pastoreio
Tribunal do Santo Ofcio: processo inquisitorial e punio
Indulgncias e Tributos
Desproporcionalidade Penal: Pena de Morte, Tortura, Priso Perptua, Ordlios,Banimento, Gals, Ostracismo, Priso Civil (atentado moral e dvidas),
Expropriao
O Direito do Renascimento
(do sc. XIII ao sc. XVIII)
Magna Carta Inglesa: surgimento da noo de direitos humanos
Surgimento da Corte e o Common Lawna Inglaterra
Direito Natural da Condio Humana e Cidadania
Luta contra o Episcopado
Teoria do Contrato Social: Pacto e Sociedade Civil
Soberania Absolutista e Despotismo Jurdico
Surgimento dos Contratos e os Tribunais Laicos
Conflitos Contratuais e Civis sob Jurisdio do Estado
Surgimento da Principiologia do Direito Moderno
Surgimento dos Estados-Nao
Revoluo Francesa: Declarao dos Direitos dos Homens (1 Gerao)
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O Direito Moderno
(do sc. XIX at metade dosc. XX)
O Indivduo como Portador de SoberaniaSoberania Popular
Democracias Representativas e Mistas
Revoluo Industrial: a sociedade de classes com base na propriedade privada
Direito Positivo: as Leis como emanao do Fenmeno Social
Positivismo Jurdico: Ordenamento Jurdico como imposio da Ordem Estatal
Direito Natural e Direitos Humanos Positivados
Especializao do Direito
O Estado como Soberano: Planejamento e Polticas Pblicas
Homem e Cidado como Objeto Estatal e do Direito
Princpios do Direito: Razoabilidade, Proporcionalidade, Devido Processo Legal,Taxatividade da Lei, Duplo Grau Jurisdio, Isonomia, Juiz Natural,Individualizao da Pena
Pena Privativa de Liberdade e Pena Restritiva de Direitos, Multa
Proporcionalidade Penal: Piso Legal, Atenuantes e Agravantes, Qualificadoras,Excluso de Ilicitude e Excluso de Punibilidade
Estado do Bem-estar Social (2 gerao)
Tentativas e Teorias de Humanizao do Direito: o Indivduo como portador deDireitos
Criao da Organizao das Naes UnidasO.N.U.
Declarao Universal dos Direitos Humanos da O.N.U.(3 gerao)
Supremacia das Constituies
Tribunais por competncia e especializao
Fortalecimento da Mediao e Conciliao e Arbitragem
Aceitao de direitos Personalssimos ou Difusos - movimentos civis
Direitos das Minorias
Legislao Especial e Minorias: Apenados, Das Crianas e Adolescentes, Dos
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Direito na Ps-Modernidade(segunda metade do sc. XXa nossos dias)
Idosos e Incapazes, Minorias Raciais e tnicas, Do Consumidor, Da Mulher
Controle Externo do Judicirio
Tribunal Internacional Penal: crimes contra a humanidade
Organizaes Supranacionais: do TrabalhoOMT; da SadeOMS; da Cultura eEducaoUNESCO; do Comrcio - OMC
Organizaes No Governamentais de Interesse Pblico- ONGS
Neoliberalismo e Desobedincia Civilressurgimento dos movimentos sociais
Cmaras e Organismos de Regulao e Derriso de Conflitos Comerciais
nacionais e internacionaisTratados Bilaterais e Multilaterais de Comrcio, Tecnologia e Cincia
Tratados Bilaterais e Multilaterais de Cidadania, Emigrao, Refugiados e Penais
Desenvolvimento do Direito do Trabalho
Penas Alternativas e Abolicionismo Penal
Extino de priso Civil
Teorias Penais Excessivas: Tolerncia Zero e Direito Penal do Inimigo
Direito Ambiental: Meio-Ambiente, Ecologia e Sustentabilidade
Poder Familiar (fim de o ptrio poder) e Autonomia da Famlia
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2.AS SOCIEDADES ANTIGAS E O DIREITO
A caracterstica mais comum na formao das primeiras sociedades de Estado,
aqui denominadas de Sociedade Antigas, a concentrao do poder no soberano. Isto
significa que a autoridade do rei suficiente para organizar e controlar a vida social,
ou seja, a sua imposio prevalece como fora jurdica. Ele ordena, julga, oferece o
veredito. Seu poder tem origem na tradio e na hereditariedade desde os primeiros
grupos familiares sedentrios. O sedentarismo favorece o patriarcado e este, por sua
vez, se desenvolve de forma hereditria, vitalcia, gerao aps gerao. FUSTEL deCOULANGES em seu A Cidade Antiga, explica que pequenos grupos nmades
passaram a preferir estabelecer-se em determinados territrios mais frteis e que ao
fazerem isso deram origem s unidades familiares. Vrias famlias relacionaram-se e o
matrimnio interfamiliar provavelmente levou formao de um conjunto maior, a
ftria. Ftrias embora disputassem territrios entre si, uniam-se em casos excepcionais
diante de calamidades naturais, mas principalmente para defenderem o territrio do
invasor externo. Estava dado o pontap inicial para o surgimento das Cidades-estados
da Antiguidade.
A centralidade de poder em um rei, soberano absoluto, , em termos, uma
vitria do poder laico, do guerreiro e seus descendentes, sobre o poder religioso, o
misticismo e a feitiaria do xam e sacerdote. As cincias sociais ainda se perguntam
sobre o verdadeiro processo que permitiu, nas comunidades primrias tribais, que um
guerreiro adquirisse predominncia duradoura e poder sobre os chefes religiosos,
quando a Antropologia e Etnografia puderam constatar a averso centralizao do
poder e compreender as estratgias ritualsticas e culturais que esses povos engendram
para evitar a formao do poder soberano. Na oposio entre o mstico e o laico
residia a impossibilidade da acumulao de riqueza e concentrao de poder patriarcal,
mesmo entre as tribos sedentrias. Neste sentido, a primeira revoluo antropocntrica
supremacia do guerreiro-soberano - foi possvel na medida em que a comunidade
primeva aceitou a hipervalorizao do altrusta, o esbanjador, talvez por algum ato
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heroico do qual dependesse a prpria sobrevivncia da comunidade como um todo
(GUERRA FILHO). No desproposital observar que na base do poder absoluto do
soberano nas antigas civilizaes esteja um misto de bravura e herosmo associado aoaltrusmo, como comum encontrar nas lendas sobre a formao dos povos.
Isto, contudo, no significa que o poder religioso dos sacerdotes se esvasse
completamente e que nenhuma influncia tivesse nas sociedades antigas. A capacidade
de o soberano assumir centralidade poltica, administrativa e jurdica, no acabou com
a religio e tampouco com seus intrpretes e signatrios. Por todas as civilizaes
antigas se observa uma casta religiosa assumir funes vitais e possuir status e
privilgios muito acima da populao, rivalizando, em muitos casos com o rei. Assim no Egito cerca de 50 sculos atrs, na Babilnia cerca de 20 sculos, entre os
Hebreus, na ndia, na Grcia e em Roma. Ainda hoje notrio o poder da religio, das
igrejas e de seus prepostos, mesmo nos Estados modernos constitucionalmente laicos,
como no caso do Brasil; em muitos casos verifica-se o recrudescimento dos Estados
fundamentalistas religiosos no Oriente.Pode-se dizer, portanto, que a rivalidade entre
poder do clrigo e do soberano laico permanece das comunidades tribais primevas s
sociedades e civilizaes antigas, mas no com os mesmos objetivos: naquelas a
rivalidade impedia o surgimento de um poder nico, do Estado, enquanto nestas a
luta pelo poder de governar de forma soberana.
O motivo pelo qual a classe e as castas sacerdotais descendentes dos antigos
xams, feiticeiros e orculos, mantiveram seu prestigio e seu poder nos reinados de
soberania, est igualmente explicado em A Cidade Antiga. As famlias originrias
das posteriores civilizaes antigas, antes de se unirem, cultuavam entidades msticas,
deuses diferentes, como forma de se diferenciarem uma das outras; tal fato estava
presente nos primeiros momentos de casamento exgenointegrao entre famlias e
tribos - e na formao das ftrias ancestrais. Os deuses que cultuavam eram a sua
identidade. No de estranhar que posteriormente tantos deuses e tantas divindades
pags conferissem aos sacerdotes uma distino toda especial que, como se v,
persiste at hoje na forma de seitas e igrejas as mais diversificadas.
Por outro lado, a formao das Cidades-estado antigas, tanto helnicas como
itlicas, na medida em que tm origem em uma estrutura familiar patriarcal, com suas
tradies religiosas e culto aos deuses, onde o pai tinha todo o poder, continha um
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problema primordial: como passar esse poder desptico tradicionalssimo do ptrio
poder para uma estrutura poltica-administrativa que governasse a todos. As tentativas
mais bem elaboradas a solucionar esta contradio, vez que a cidade deriva da famliae no o contrrio, s poderia ser construdo a partir do poder familiar e das tradies
religiosas. Assim encontramos tentativas neste sentido na Repblicade PLATO e
na Polticade ARISTTELES. Tambm em Roma esta dificuldade se fez presente
desde a passagem da realeza para a Repblica, visto que por sculos o costume era a
fonte do Direito (DE CICCO), e a legislao deveria seguir esses costumes e cultos.
Com a codificao, tanto na Grcia como em Roma, o Direito procurar
contornar este dilema, talvez menos pelo interesse em proteger os dependentes doptrio poder e do patriarcado secular, mas mais em esvazi-lo, condio para transferi-
lo de forma eficaz para um soberano nico: o basileus, que fora o chefe de vrios
chefes, agora o rei. Exemplo disso nos diz PLUTARCO foi Slon, o grande
reformador ateniense, que proibiu a venda dos filhos pelo pai (cf.LEO:Matrimnio,
Amor e Sexo, pg. 118). Da mesma forma, s na Lei das XII Tbuas em Roma que se
estabeleceu o limite a trs vezes a tentativa de venda do filho pelo pai (Tbua IV, 3).
No que o poder do pai seja extinto, mas agora ele est sujeito ao poder do governante
e s (suas) leis.
Nas Sociedades Antigas ocidentais, trs grandes caractersticas fizeram o
Direito desenvolver-se: 1. O aparecimento da escrita; 2. O desenvolvimento da
Filosofia; 3. A disputa pelo poder entre a casta sacerdotal e os reis.
O aparecimento da escrita, to antiga como os Sumrios, por volta de 4000 a.C.
(cuneiforme), possibilitou que a oralidade se ganhasse a forma positivada,
ultrapassando, assim, o estreito caminho e a exclusividade de julgar e punir do
soberano ou das castas sacerdotais; sabemos que o Direito oral fator preponderante
para a consumao do poder arbitrrio e dos interesses polticos ou vingativos das
elites.
A Filosofia, atravs dos pensadores pr-socrticos e socrticos, tanto em Grcia
como em Roma, deram contribuies fundamentais para que o intelecto humano se
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dirigisse ao conhecimento laico, antropocntrico, e nesta medida, possibilitasse a
reflexo em matria jurdica. Quase todos os pensadores socrticos nas grandes
civilizaes do passado pensaram de alguma forma noes de justia, tica, governo,igualdade, liberdade, paz e felicidade.
Por fim, de forma essencial, a disputa pelo poder entre a casta sacerdotal e os
reis, incentivou confeco de uma forma de ditar regras, definir a moralidade e
distribuir as punies, que passasse s populaes incultas e temerrias a ideia de
justia e paz, ainda que nas sociedades antigas, estas noes de justia e paz,
estivessem, mormente, ligadas ao poder truculento e vingativo de uns e de outros.
Existem excepcionais exemplos que demonstram a fabricaodo soberanoabsoluto, em aliana com a casta sacerdotal ou enfrentando-a explicitamente. Em
muitos casos prevaleceu o poder dos sacerdotes, em outros casos, a rebelio dos
soberanos.
Por exemplo, as civilizaes pr-colombianas das Amricas, como os Maias
(com antecedentes desde 4000 a.C.; apogeu de 1000 a.C 950), apresentavam
inicialmente um soberano sacerdote, portanto onde a religio prevalecia sobre o poder
do guerreiro e do homem comum. Interessante que posteriormente aparece a casta de
sacerdotes em paraleloao poder do rei, normalmente visto como deus, ou designado
superiormente por aqueles em nome dos deuses. Ao que tudo indica, levando em
considerao o poder dos sacerdotes maias e o terror que impunham populao,
neste segundo caso o rei era um deles e/ou era escolhido por eles em nome dos deuses,
mas aparecia como o rei.
Outro exemplo significativo o governo de Aquenatonna verdade Amenfis
IV que na XVIII disnatia egpcia acabou com o politesmo e elegeu Aton, o disco
solar, como nico deus e a si mesmo como um deus da magnitude de Aton. Este
episdio histrico adorna de forma soberba a luta permanente entre o soberano
absoluto e o poder sacerdotal religioso. Neste momento triunfa o poder laico, do
guerreiro, ainda que revestido de deus. Logo em seguida, seu filho Tutancmon, que
subiu ao trono com 7 anosmorreu com 17 anosrestaurou a velha cultura de cultuar
vrios deuses e, desta forma, restaurou igualmente o poder e os benefcios dos
sacerdotes egpcios que estavam exilados em Tebas.
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O que as civilizaes antigas nos mostram uma permanente luta pela
supremacia do poder entre religio e o rei. A luta dos reis para centralizarem em si o
poder de governar, isto , administrar, controlar e julgar a sociedade, um marco desuma importncia para o Direito, uma vez que esta centralizao autoritria o
embrio futuro do laicismo governamental e do ordenamento jurdico laico. A luta
pela jurisdio do Estado comeava ali quando Aquenaton se intitulava soberano
absoluto e nico deus a ser adorado como tal. Mais do que isso, possvel orientarmo-
nos pela seguinte tese: o surgimento jurdico de leis, doutrina e jurisprudncia so
mecanismos de consolidao do poder do soberano (laico) em relao ao direito
sacerdotal, templrio e divino de todas as religies j provadas pelo homem, e atransferncia mais ou menos bem sucedida do ptrio poder para o Estado.
Existe uma passagem bblica sobre a histria dos Hebreus importante neste
contexto. Se Aquenaton mostrou seu poder e sua soberania em relao aos sacerdotes
introduzindo o monotesmo na cultura egpcia, o rei Salomo fez o contrrio, por volta
do sculo X a.C. Contrariado pelo Sindrio, o conselho fundamentalista que zelava
pela obedincia tradio judaica e aos mandamentos estabelecidos por Moiss, que o
havia proibido de casar com a Rainha de Sab, soberana do que hoje a Etipia e
Yemen, e que estava grvida de um filho seu, passou a experimentar e mesmo
incentivar o desenvolvimento de vrias seitas religiosas chegando a participar de
cultos politestas e pagos, contrariando as leis de Moiss e a adorao de um deus
nico. Aqui tambm os patriarcas judaicos devem ter percebido o quanto isto
ameaava o seu poder enquanto grupo privilegiado havia sculos, pois no estavam
to ameaados pelas seitas permitidas por Salomo, mas de fato pelo poder
inquestionvel deste rei em desafi-los. Segundo as tradies, Menelik 1, filho do rei
Salomo com a rainha de Sab, introduziu o Judasmo na Etipia por volta do sculo
10 a.C.
O famoso e sempre atual caso do dipo Rei,pea teatral de SFOCLES, que
se passa em Tebas, cidade grega, no sculo V a.C., outro exemplo dessa tentativa de
interpretar a separao entre poder eclesistico e poder temporal. A estria de dipo
significativa para o Direito por diversos motivos, mas o principal a luta entre o
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cumprimento da Lei e o cumprimento do dever Moral meio ao poder do soberano na
antiguidade. A pea foi escrita sob o reinado de Pricles, rei de Atenas, e sob o
domnio ainda das leis promulgadas por Slon, em uma sociedade que, apesar de seurespeito aos deuses, havia desenvolvido a Filosofia, as Cincias Naturais e efetuada
uma verdadeira revoluo antropocntrica, talvez a mais importante da antiguidade.
Como soberano dipo monta um processo para descobrir quais os motivos das
desgraas que assolam a cidade de Tebas, conforme predito pelo orculo. Ao longo
das investigaes descobre que matara seu pai em duelo, sem o saber, casara-se com
sua me, Jocasta, e com ela tivera 2 filhos e 3 filhas, na verdade filhos irmos. Como
se v o pecado de incesto e o casamento endgamo j aqui discutido comointolervel o que, com alguma propriedade, reforou a repulsa que temos hoje sobre
tais relacionamentos.
A primeira coisa que chama a ateno que dipo, do alto de seu poder,
poderia ter abortado o processo e evitado que se descobrisse toda a fatalidade que
acometera sua famlia. Mas ele persegue a verdade at as ltimas consequncias,
considerando provas materiais, como os depoimentos dos participantes da trama e
testemunhas oculares, assegurando a continuidade do processo formal, com isso a
reforar mais a sua soberania e a sua sabedoria como governante, do que a fazer o que
seria normal poca, evitar ser exposto e sacrificado. Esta insistncia de dipo refora
a sua luta contra o poder dos sacerdotes e mesmo do orculo que o instigou a procurar
a verdade em seu palcio, na medida em que demonstra com isso que o soberano era
ele, para o bem e para o mal.
Depois, sabendo o ocorrido e vendo o suicdio de sua me esposa, sua me e
me de seus filhos, dipo fura os olhos e pede o desterro de sua terra, refugiando-se
com duas filhas em Colono. dipo no tenta nenhum golpe para permanecer no poder,
ou qualquer artimanha jurdica ou poltica to comum em nossos dias! - para se
manter como rei, mas se autopune. O peso de sua conscincia superior ao seu poder
como rei, mas ao mesmo tempo, a resgatar inquestionavelmente a moral como fator
importante justia, reclama para sua fatalidade e sua autopunio o mesmo poder
como soberano de produzir a justia sem interferncia divina. O orculo no disse para
ele furar os olhos e se desterrar, mas ele o faz apesar de tudo, pela nobreza que encerra
em sua fatalidade, e assim, d continuidade ao soberano laicizado por sua nobreza de
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carter ou honra: a escolha dele, do soberano, do rei. Os soberanos que lutam contra
o poder sacerdotal s tm, para conquistar seus concidados, a prova de sua bravura e
sua honra em proteger o territrio e suas gentes, frmula mais tarde consagrada nostipos de governo e seus princpios por MONTESQUIEU (1689-1755).
Outro fato no menos interessante so as escaramuas e as lutas internas
constantes no Imprio Romano. Roma foi primeiro uma Monarquia, depois uma
Repblica e finalmente um Imprio. Enquanto Monarquia e mesmo Repblica
prevaleceu o politesmo, o paganismo, o culto aos deuses do olimpo disfarados com
novos nomes (Zeus Jpiter, Dionsio Baco, Palas Minerva, Afrodite Vnus). A
herana do culto aos deuses a mesma das demais civilizaes antigas, a origem estna identificao das famlias gentlicas com seus deuses particulares, forma de
identidade e diferenciao. Mesmo durante a Repblica, j sob o domnio da Lei das
XII Tbuas (450 a.C.), por reivindicao e luta dos plebeus contra os patrcios, dando
prerrogativas aos plebeus s usufrudas pela aristocracia, o politesmo e paganismo
mais libertino prevaleceram, no apenas pela tradio e costumes dos povos que se
instalaram na pennsula itlica, mas devido prpria cultura e filosofia apregoada
ento, o Estoicismo. Alis, importante que se perceba que os plebeus romanos, a
partir de certa altura, j so em grande parte de origem germnica, portanto, as
reivindicaes plebeias em Roma so na verdade conquistas desses povos no
originrios vindos do Leste, cuja cultura de um Direito menos material, influenciar a
futura consolidao de leis promovida posteriormente pelo imperador Justiniano,
principalmente a parte doDigesto(a nossa atual Jurisprudncia).
Os estoicos entre outras caractersticas apregoavam a integrao do homem
com a natureza e o aproveitamento de todos os conhecimentos e filosofias para que o
homem alcanasse a felicidade e a justia. Figuras como Ccero e mais tarde Sneca,
so expoentes polticos com vida ativa importantssima no senado e no imprio
romano, hbeis oradores e ilustrados filsofos que incentivam, pela sua filosofia
estoica, esse paganismo, esse politesmo, essa integrao e o gozo dos sentidos
provocados pela integrao com a natureza. No se deve tirar da escola estoica, no
entanto, de que tais prticas msticas devam ser levadas a cabo sem tica, muito pelo
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contrrio, a tica deve permear de forma permanente as escolhas e as prticas dos
homens para que os excessos sejam evitados.
Messalina pag, publicamente libertina, esposa do imperador Claudio (41-54d.C.) sucessor de Calgula -, ela representa o poder do soberano intercalado e
submisso s tradies pags e sacerdotais. Agripina, protegida de Claudio, ao querer
todo o poder para seu filho, Domcio, o futuro imperador Nero (54-68 d.C.), usa a
filosofia de Sneca, preceptor do futuro Nero, afastando assim, de alguma forma, o
poder religioso da corte. Para tanto, logo que Messalina morre, Agripina manda matar
o verdadeiro herdeiro do trono, o filho legtimo de Claudio, d todos os poderes a
Sneca, que acaba conspirando com Nero a matar a me, e governa por quase dezanos como amigo principal do imperador. Finalmente, temendo ser tambm morto por
seu conselheiro principal, Nero ordena que se mate, e segundo a histria relata, manda
queimar Roma.
Este tipo de movimento repetitivo no seio do Imprio Romano se far sentir em
um Direito mais laico, afirmando o poder do soberano: Augusto na verdade Caio
Otvioescolhera 20 senadores (27 a.C.) que exerciam um poder moderador com o
Senado (senatus consultos) e legislavam atravs de editos (o Poder Moderador
conhecido na histria do Brasil, quando, aps a independncia, D. Pedro I criou este
Poder para si ao outorgar a Primeira Constituio do Brasil em 1824); o trabalho de
compilao e consolidao do CorpusJuris Civilis de Justiniano; e mesmo quando
Constantino aceita o Cristianismo como religio permitida no Imprio, um pouco
antes, em 312. Ao queimar Roma, Nero no estava louco, mas tentando aterrorizar o
Imprio, mostrando definitivamente quem detm o poder, nem o senado nem os
filsofos, nem nenhuma seita existente ento - como judeus, cristos, msticos
orientais, adoradores dos deuses egpcios. Ao mesmo tempo tentava comear de novo
uma soberania imperial, que afinal, ainda sobreviveu a ele por muitos sculos.
Existe uma tendncia a ver como uma das causas da derrocada do Imprio
Romano a libertinagem sexual, que, sem dvida, em alguns casos, chegou
promiscuidade, como no caso do imperador Calgula (37-41 d.C.). Mas no plano
jurdico e poltico interessante perceber como a luta palaciana pela supremacia do
imperador sobre o senado, constitudo quase exclusivamente por aristocratas patrcios,
abriu caminho para uma legislao unificada bastante laicizada, efetuando-se vrias
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Constituies at Justiniano, diminuindo assim o poder da casta religiosa e da
aristocrata, e que, a declarao da religio crist como oficial e nica no Imprio,
longe de ser a vitria da religio sobre o soberano, , na verdade, uma estratgia destepara permanecer como tal e com totais poderes. Constantino haveria dito, na
promulgao do cristianismo como religio oficial do Imprio: Faamos a revoluo
ns, antes que o povo a faa.
Diante desta necessidade de demonstrar poder, e estabelecer a paz pela fora,
estas trs caractersticas juntas, a escrita, a Filosofia e a luta pelo poder, possibilitaram
ao mundo jurdico noes que se eternizam por toda a Histria do Direito, j presentesno Cdigo de Hamurabi (sculo 18 a.C.), a saber: a) a Formalizao da lei; b) a
Publicao da lei; c) a Classificao/ Estruturao dos Cdigos; d) a Ampliao da
eficcia da lei; e) a Segurana jurdica; f) a Democratizao do Direito; g) a
Laicizao das penas; h) a Jurisdio/ Competncia do soberano/ Estado.
a) Formalizao: Direito escrito, positivado, objetivo em contraste como Direito oral que pode ser usado de forma subjetiva;
b) Publicao: Direito dado ao conhecimento e acesso da populao,dando-lhe o carter de transparncia e lisura;
c) Classificao/ Estruturao: Direito organizado com base em FatoSocial, na realidade ftica da vida dos homens, de forma a atender s particularidades
desses fatos; Cdigo com subdivises;
d) Ampliao: Direito que por sua formalizao e publicao, se tornauniversal e se estende a todos sob jurisdio daquele poder soberano;
e) Segurana Jurdica: Direito que pelos elementos anteriores possibilitaque os cidados tenham seus direitos garantidos e os deveres da cidadania sejam
isonmicos entre todos os indivduos;
f) Democratizao: o Estado soberano diz-se Democrtico deDireito na medida em que todos os cidados esto acobertados pela Lei, a ela podem
recorrer em p de igualdade para garantir a tutela estatal de seus direitos e questionar a
obrigatoriedade de cumprimento de obrigaes, no estando ningum obrigado a fazer
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ou deixar de fazer seno em virtude da lei. Por toda a Histria, a luta de classes - dos
mais beneficiados pela Lei (escravos contra os seus senhores por toda a Antiguidade;
plutocratas contra aristocratas em Atenas; plebeus contra os patrcios em Roma) emoposio aos menos favorecidos por ela -, sempre imprimiu novos limites e ampliou as
conquistas consagradas nos domnios da Lei;
g) Laicizao: de forma genrica, a democratizao do Direito estintrinsecamente ligada ao afastar da religiosidade e do divino na sua formalizao, da
que se pode afirmar que tal formalizao refere-se mais consagrao do poder do
soberano, e raramente consagrao do poder eclesistico; s durante o Imprio
Bizantino (Imprio Romano do Orientede 476 a 1453) e Idade Mdia a igreja cristimpregnou o mundo jurdico explicitamente de sua doutrinao;
h) Jurisdio/ Competncia: o Direito se liga autoridade de um Podersoberano, seja ele religioso, do rei, da aristocracia, do povo: desta unio nasce a noo
de Jurisdio, ou seja, o poder de uma fora superior de fazer as Leis e fazer com que
as mesmas sejam cumpridas e respeitadas. Em termos modernos, a Jurisdio do
Estado est dividida em rgos menores por exemplo, Fruns (com suas Varas) e
Tribunais (com suas Sees), no caso brasileiro que abrangem determinada
territorialidade, o que se d o nome de Competncia; a competncia do Juiz est, pois,
limitada a uma Jurisdio estatal em determinado territrio.
A oralidade e o misticismo pago foram a origem do Direito em todas as
Sociedades Antigas, herana das velhas famlias e cls gentlicos, do ptrio poder, e,
mais longe ainda, das imberbes sociedades tribais. Por outro lado, a Antropologia e a
Histria do Direito revelam a permanente tenso entre poder eclesistico e poder
temporal, entre religio e Estado, entre casta sacerdotal e soberano laico, embate esse
que tende a uma autocomposio dos mais poderosos em detrimento das populaes.
Tanto a Religio como o Direito pode emprestar ao poder de uns e outros os
instrumentos necessrios ao seu domnio.
Quando o poder eclesistico, divino e mstico prevalece, o Estado do tipo
fundamentalista religioso, pouco democrtico. Na medida em que o soberano
prevalece, ou o Estado uma ditadura ou a supremacia do Direito empresta-lhe uma
terceira fora na pacificao e convivncia socialchamamos de Estado Democrtico
de Direito. Nos Estados onde o imprio da Lei se estabelece democraticamente, existe
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separao constitucional entre o Estado e a Religio. Portanto, a Histria e a
sobrevivncia Poltica dos homens uma luta permanente entre foras que preferem o
imprio da Lei e as que optam pelo arbtrio absolutista do governante, seja elereligioso ou laico.
O que as Grandes Civilizaes da Grcia e de Roma nos legaram foi a primazia
da Lei e do Direito como um conhecimento prtico, portanto, deliberativo, sob
responsabilidade tica dos homens (ZINGANO), capaz de canalizar foras que,
destarte as vinganas, os dios, as alianas esprias, os assassinatos pelo poder, as
conquistas homicidas, propiciaram ao Ocidente, e ao Mundo, desenvolver sistemas de
pacificao jurdica acima dos egosmos e atrocidades dos homens. Se os soberanos,se os religiosos, se os poderosos, se, eventualmente, os povos no aproveitam de
forma condizente esta herana, no por deficincia do Direito Antigo, mas por
ignorncia ou descaso, ou, pior, m-f. De fato, a Histria s se modifica quando os
homens esto dispostos a enfrentarem os novos problemas que surgiro: primeiro, do
fim dos hbitos e tradies anteriores, das velhas formas de viver e governar, depois,
dos inconvenientes desestabilizantes de uma nova ordem de coisas e relaes
(KHUN). Os homens so a sua Histria!
Quando a escrita deu Filosofia o carter de permanncia e universalizao do
conhecimento, o entendimento humano, ansioso por se perpetuar com dignidade e
sabedoria, comeou a buscar formas de regulao que, a um tempo, desestimulassem o
egosmo e a violncia, e criassem formas de soluo e reparao para os danos
causados. Se no incio as Civilizaes mais antigas usaram da violncia explcita nos
seus Cdigos, deve-se mais luta pela hegemonia e cristalizao do poder do que ao
carter etnognico propriamente dito de vingana e truculncia humana. Por isso,
assim que os homens se dedicaram a pensar nas suas formas polticas de organizao e
convivncia social, j estava dada a possibilidade e o interesse da composio em
moldes de conhecimento, razo, mais do que punio simplesmente dita.
Ainda que as teorias do Gene Egosta (DAWKINS) tenham sua importncia na
compreenso antropolgica da vida humana, o fato que a Histria pode provar em
inmeras situaes, como no caso da Grcia e de Roma, que a tentativa mais
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importante do engenho humano foi a procura da estabilidade, da paz e da
preponderncia da Lei, e no da punio, da vingana, do genocdio. As Sociedades
Primrias, as sociedades indgenas e as que desenvolveram alguma organizao tribal,ainda hoje, demonstram que a violncia est dada na medida em que certas
estratgias de sobrevivncia prprias do grupo estabelecem o modo como os grupos
humanos sobrevivem coletivamente. Existem muitos tipos de violncia; se no
tivermos cincia e bom-senso acabaremos por desconhecer e desconsiderar a
potencialidade de harmonia e convivncia sob o intelecto aplicado ao mundo
Jurdico, com pena de inviabilizarmos o esforo dos homens em chamarem para si a
responsabilidade de seus atos, de suas escolhas, de suas deliberaes, de seu poder.No se trata aqui, portanto, de discutir a violncia gentica dos homens, mas de
valorizar as estratgias de controle da mesma, no por via mstica, mas
fundamentalmente pela via da legalidade e do Direito.
Por um lado, os gregos nos deram a Filosofia, as artes da Poesia, do Teatro, da
Retrica, da Poltica, e desde muito cedo, tudo isso para equilibrar o poder das
famlias aristocratas seculares e das classes proprietrias, latifundirias, industriais e
financistas, com a soberania popular, a igualde de gnero e mesmo uma convivncia
mais tica com os estrangeiros e escravos. Roma, por outro lado, apesar de todos os
conflitos pelo poder, assassinatos, libertinagem, vinganas, s expandiu seu territrio,
criou um Imprio, e nos legou uma estrutura Jurdica que chama a ateno pela sua
tentativa, dentro deste mar de sangue, de regular o mundo dos homens e de procurar
incansavelmente a vida social com racionalidade e justia. Desconsiderar isto seria
esquecer e desdenhar do papel grandioso dos juristas romanos. A Jurisprudncia, a
Doutrina, a Hermenutica, a Didtica Jurdica, a possibilidade de Constituies
Nacionais, e a permanente Atualizao das leis, so exemplos magistrais da herana
que no podemos esquecer.
O Direito ptrio herda de Roma, da Cristandade e dos Povos Germnicos seu
carter romanstico, herana que pouco aponta para um desenvolvimento
harmonioso e contemplativo do Direito enquanto fato histrico-poltico; contudo,
apesar das grandes tribulaes e tergiversao, o trabalho filosfico, doutrinrio e
hermenutico dos juristas da Antiguidade Greco-Romana nos legou um Ordenamento
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Jurdico singular capaz de elevar os povos organizao poltica e jurdica dos
Estados modernos novilatinos.
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GRCIA
Leis so como teias de aranha: boas para capturar mosquitos, mas os insetosmaiores rompem sua trama e escapam.
Slon
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3. O DIREITO GREGO NA ANTIGUIDADE
O Estado que hoje se chama Grcia, reconhecido em 1830, aps a reconquista
frente aos Turcos-Otomanos em 1821, no existia como tal, portanto, at a Idade
Moderna. A partir da formao gentlica, de famlias nmadas que se fixaram na
pennsula da antiga Macednia, entre o que hoje a Itlia e a Turquia, no
Mediterrneo Oriental, construram vilas com alguma organizao poltica, e nas ilhas
em volta, como o caso de Creta que instituiu o primeiro modelo estatal ocidental, por
volta de 1900 a.C. (DURANDO). A partir de 1100 a.C. praticamente toda a pennsula
e as ilhas em volta no Mediterrneo, do Mar Egeu at a Itlia, estavam povoadas e
estruturadas em Cidades-estados, com governos autnomos e suas prprias leis, que
contudo podiam ser percebidas como ramificaes de uma mesma formao
originria, talvez com exceo de Atenas.
Podem-se constatar alguns momentos importantes na histria dos povos gregos
na Antiguidade:
Guerra do Peloponeso: entre 431 a.C. a 404 a.C. , onde Esparta, Corinto, Tebase Siracusa, entram em conflito armado entre si. Atenas, a maior e mais importante
frota naval da poca, fez uma expedio malograda em Siracusa, 415 a 413 a.C.,
contra os espartanos ajudados pelos persas. Esta derrota de Atenas, aliada morte de
Pricles (governou Atenas de 449 a.C. a 429 a.C.) e guerra contra Esparta, que se
iniciara em 431 a.C., levou a grandes modificaes na mentalidade dos atenienses, que
logo se espalhou pelas outras cidades-estados, a revoluo antropocntrica, elevando a
razo e a Filosofia ao status poltico desses povos. O episdio da condenao deScrates em 399 a.C. est ligado a este momento de derrota de Atenas em suas
pretenses de Imprio e, consequentemente, ao nascimento da Filosofia como base
daquilo que deveria orientar a vida humana decente.
Em 338 a.C., Felipe II da Macednia conquista Atenas em seu programaexpansionista.
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Entre 336 a.C. e 323 a.C, sob o comando de Alexandre (o Grande), filho deFelipe II, macednios e gregos assimilados empreendem uma jornada de conquistas
por todo o mediterrneo, Europa, frica, sia e os confins da ndia. Alexandre foidiscpulo de Aristteles; dele aprendeu a os mritos de agir segundo a razo, a tica e
o conhecimento dos antigos, segundo a ideia que os deuses s ajudam os homens que
so dignos.
Perodo Helenstico: aps a morte de Alexandre houve uma diviso entre osgenerais de Alexandre, e algumas polis que tentavam reconquistar a sua autonomia
aproveitaram para iniciar um processo de revoltas e independncia.
Em 146 a.C, com a conquista de Corinto e Cartago, a civilizao Helnica seincorpora definitivamente ao Imprio Romano. Essa assimilao da cultura grega
impregna de forma importante o Imprio Romano, portanto, emprestando ao Ocidente
e a todas as futuras Naes seu brilhantismo filosfico, jurdico, poltico, bem como
fantstico desenvolvimento nas demais cincias.
3.1A POCA ARCAICA E A POCA CLSSICAA Histria Grega divide-se em duas pocas Arcaica e Clssica - bastante
distintas conforme o desenvolvimento desse povo se aproxima mais da Filosofia e
conforme a vida mais se concentra em torno da polis. Com a morte de Pricles em 429
a.C., encerra-se uma poca, a Arcaica, e comea outra, a Clssica. As formas polticas
e jurdicas democrticas em vigor desde Clstenes (565 a.C. a 492 a.C.) pareciam
esgotadas, e as populaes se perguntavam onde a democracia as havia levado e qual
as vantagens de continuarem a cultiv-la.
neste momento que as pretenses expansionistas, as guerras de conquistas eas hegemonias territoriais aparecem aos gregos como contraditrias com o regime
democrtico, e, neste sentido, a Filosofia (Scrates (469 a.C. - 399 a.C.) foi condenado
morte pelos atenienses meio a esta crise) ir contribuir definitivamente para a
reflexo e proposio de conceitos e modelos, que serviro para sempre como base da
vida Jurdico-poltica do mundo Ocidental. A cultura Helnica jamais se perdeu, sendo
estendida com Alexandre por todas as civilizaes e continentes onde se tornou
vitorioso, e assimilada definitivamente por Roma a partir de 146 a.C.
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3.1.1 poca Arcaica
Na poca arcaica, do sculo VIII a.C. ao sculo V a.C., predominou a religio,
os mitos, os deuses e os orculos. Todos os problemas humanos eram consequncia daintervenincia direta dos deuses, e os infortnios dos homens s podiam ser
contornados com a participao dessas divindades. Assim nos contam as narrativas de
Hesodo (Teogonia) e Homero (Odisseia). Alis, uma das caractersticas desse
perodo, quando da formao das ftrias e, posteriormente, das cidades-estados, a
abundncia de deuses, visto que cada famlia se identificava com deuses diversos
como forma de criar sua identidade comunal.
Foi na poca arcaica que os gregos promoveram a maior parte da colonizaodo Mediterrneo. Devido, possivelmente, ao excesso de populao de algumas
cidades, ou por dificuldades na produo de vveres, motivadas por secas e chuvas em
demasia, os gregos eram compelidos a fundarem colnias ( residncia
distante). Nessa emigrao eles se espalharam levando a toda a regio o poder poltico
tradicional da aristocracia, proveniente das famlias tradicionais, as que fundavam as
cidades-estados. O poder religioso concentrava-se nos templos erigidos aos deuses e
nos orculos, onde cerimnias eram efetuadas pelos sacerdotes para escutarem os
desejos e orientaes dos deuses (orculo de Delfos era o mais conhecido).
Na poca arcaica no se pode falar propriamente de um Direito, seja porque a
orientao da vida est completamente impregnada de mitologia, servindo esta de base
para a soluo de conflitos, seja porque ainda no existe qualquer cdigo escrito a se
impor ao cotidiano dos indivduos. Apesar dos gregos no serem dos povos mais
agressivos e vingativos, talvez com exceo de Esparta, obviamente que as questes
pessoais mais srias eram resolvidas pela espada e a vingana era certa, a menos que
as famlias envolvidas se autocompusessem. Este tipo de autocomposio, que podia
levar ao desterro e pagamento de multa, envolvia muitas vezes protetores especiais, ou
por via dos deuses ou semideuses, que assim se fundiam e aproximavam mais os
indivduos em torno da defesa coletiva da polis.
Nem sempre se pode confundir o Direito de Atenas com o Direto Grego de
forma geral, o que, obviamente pode esconder a contribuio de outros personagens.
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Cada cidade tinha absoluta autonomia e certo que se desenvolve sistemas jurdico-
polticos prprios. Mas, de forma genrica, todos contriburam para o
desenvolvimento do primeiro modelo jurdico-poltico Ocidental.O principal legislador grego da poca arcaica foi Licurgo, que viveu em
Esparta entre 1000 a.C. e 850 a.C. Bom de oratria, suas leis eram tansmitidas
oralmente e consistiam em mximas e sentenas. Essas mximas morais e aforismos
visavam sobretudo perpetuar o poder poltico da aristocracia espartana, ainda que ali
defende-se a democracia e a liberdade, a comear pelo relacionamento familiar.
Por outro lado, considervel que por esta poca tenha surgido o Arepago,
um dos mais importantes e duradouros tribunais atenienses. Em Atenas, no sculo VIIa.C., uma assembleia de nobres aristocratas fundaram o Arepago, os arcontes, que
como magistrados aposentados julgavam os casos mais importantes para a cidade.
Mais tarde este tribunal vai perder seus poderes originrios como parte da reforma
democrtica e popular ateniense, e as questes do Judicirio so direcionadas
preferencialmente para o Heliastes (sc. VI a.C.), tribunal que comportava at 6000
pessoas.
Portanto, na poca arcaica dos gregos, o Direito ainda substancialmente oral,
sem importncia significativa as provas materiais e o testemunho, inexistindo cdigo
material que sustente o devido processo legal. Soberanos e aristocratas, sacerdotes e
deuses se misturam nos mitos e nos destinos humanos. Por isso mesmo, as tradies e
costumes so na poca emblemticos na soluo de conflitos solucionados com base
nesses princpios pelas famlias envolvidas, por autocomposio, recorrendo-se ao
Arepago nos casos mais danosos e de maior repercusso social.
O Arepago era o mais antigo tribunal de Atenas, fundado pelos aristocratas
das famlias originrias, possuia amplos poderes como uma corte de justia e tambm
como conselho poltico, diferente das cortes modernas (Supremo Tribunal Federal-
STF), que so as guardis das Constituies, mas no tm poder poltico. Com as
reformas jurdicas a partir do sculo IV a.C. perde seu poder poltico e passou a julgar
os casos de homicdios premeditados, os voluntrios, de incndio e de envenenamento,
considerados os delitos mais reprovveis.
3.1.2 poca Clssica
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A partir do sculo V a.C. uma revoluo cultural, econmica, filosfica,
jurdica e poltica abala as cidades gregas, principalmente naquelas onde os filsofos e
os legisladores mais se notificaram, com destaque para a cidade de Atenas.A Filosofia d um salto gigantesco com os pensadores pr-socrticos, a partir
do sculo VII a.C., como Tales de Mileto, Anaximandro (ambos de Mileto), Herclito
(cidade de gfeso), Pitgoras (cidade de Samos), Filolau (cidade de Crton),
Xenfanes (cidade de Colofon), Parmnides (cidade de Elia), Demcrito (cidade de
Abdera) entre outros. Como se pode ver, as origens dos questionamentos mais
importantes no partiram de Atenas, mas foi nesta cidade que as artes, o direito e a
poltica mais se desenvolveram nos dois sculos seguintes (do VII ao V a.C.) econtinuou em ascenso at perto de nossa Era.
Quando a moeda apareceu no Mediterrneo, por volta do sculo VII a.C., os
gregos, timos comerciantes e navegadores, logo a adotaram. Isto proporcionou a
acumulao de riquezas e dinheiro, e assim o surgimento de uma nova classe que at
ento mantinha-se na sombra. Com o aparecimento dos plutocratas a aristocracia
comea a perder muito do seu secular poder, principalmente o poder econmico, ainda
que por muito tempo mantive-se o poder poltico. S a partir do sculo V a.C. que os
legisladores e os soberanos vo aos poucos codificando o direito e ampliando a
participao poltica dos plutocratas e demais cidados.
Em Atenas, basicamente existiam, por esta poca, trs classes sociais: a) Os
cidados plenosaristocratas (em sua grande maioria aristocratas ou descendentes dos
mesmos), que tm poder poltico e descendem dos fundadores da cidade e os filsofos;
b) Os semi cidados plutocratas (comerciantes, fabricantes, financistas), que tm
poder econmico, mas no poltico, no podendo livremente participar da confeco
de leis e dos julgamentos; tambm as mulheres tinham um papel importante na
sociedade e economia ateniense, embora no pudessem participar da gora; c) Os no
cidados escravos e estrangeiros, estes ltimos independente da condio
econmica. Mas como uma sociedade de classes permite mobilidade dos indivduos
(diferente das sociedades de castas como na ndia), no de estranhar que algumas
vezes, ainda que no frequentemente, houvesse ascenso, por motivos econmicos ou
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notria sabedoria, de plutocratas, o que vai se acentuar medida que estes vo sendo
protegidos pelas reformas jurdicas dos legisladores.
Posteriormente, a escrita surge como nova tecnologia, permitindo a codificaode leis e sua divulgao atravs de inscries nos muros das cidades. A codificao
um golpe duro no poder da aristocracia, pois, enquanto a oralidade favorece os
costumes e as tradies dos aristocratas e sacerdotes, a escrita permite legislar em
termos de direito substantivo (leis) e direito processual (processo), outorgando
direitos e obrigaes a todas as classes. Retirar o poder das mos da aristocracia com
leis escritas foi o papel dos legisladores. Coube-lhes compilar a tradio e os
costumes, modific-los e apresentar uma estrutura legal em forma de leis codificadas.Apesar de ter sido o bero da democracia, da filosofia, do teatro e da escrita
alfabtica fontica, a civilizao grega apresentava, de forma geral duas caractersitcas
peculiares: 1. Os gregos recusavam a profissionalizao do Direito, do magistrado e do
advogado que no podiam receber pagamento privado; 2. Os gregos preferiram falar a
escrever por muitos sculos tendo desenvolvido formidavelmente