livro cartas do gervásio ao seu umbigo - pedro rosário, josé carlos nuñez e outros.pdf

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    COMPROMETER-SE COM O ESTUDARNA UNIVERSIDADE:

    CARTAS DO GERVSIO AO SEU UMBIGO

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    COMPROMETER-SE COM O ESTUDARNA UNIVERSIDADE:

    CARTAS DO GERVSIO AO SEU UMBIGO

    PEDRO ROSRIO JOS CARLOS NEZJLIO ANTNIO GONZLEZ-PIENDA

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    4 Cartas do Gervsio ao Seu Umbigo

    COMPROMETER-SE COM O ESTUDARNA UNIVERSIDADE:

    CARTAS DO GERVSIO AO SEU UMBIGO

    AUTORES

    PEDRO ROSRIO JOS CARLOS NEZJLIO ANTNIO GONZLEZ-PIENDA

    EDITOR

    EDIES ALMEDINA, SARua da Estrela, n. 63000-161 CoimbraTel.: 239 851 904Fax: 239 851 901www.almedina.net

    [email protected]

    EXECUO GRFICA

    G.C. __ GRFICA DE COIMBRA, LDA.Palheira Assafarge3001-453 Coimbra

    [email protected]

    Maro, 2006

    DEPSITO LEGAL

    ????????

    Os dados e as opinies inseridos na presente publicaoso da exclusiva responsabilidade do(s) seu(s) autor(es).

    Toda a reproduo desta obra, por fotocpia ou outro qualquer processo,sem prvia autorizao escrita do Editor,

    ilcita e passvel de procedimento judicial contra o infractor.

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    Bebi com o primeiro leite que a lua s pode desfrutar do meu sorrirse eu lhe erguer o olhar. Esta sabedoria suave era recorrentemente

    pontuada com um musculados chega quem se pe a caminho.

    Mais tarde, observei na tua vida embrulhada de eficcia silente,que para chegar preciso no desistir de caminhar;

    ouvi o teu persistente riso cristalino derrubar as entranhasdos problemas, mesmo em inferioridade numrica;

    escutei o higinico esconder o errar ecoar o asneirar;e rendi-me ao teu engenhoso dizer:

    a caminho dado h que lhe pr o dente.Vi, por vezes com o olhar a meia haste,

    que cada chegada o embrio de uma nova partida.Crescer saber dizer adeus, percebi.

    Chegar importante, mas caminhar tudo, revisitei.Obrigado por me guiares ao sorriso do luar.

    Janeiro, 2006

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    APRESENTAO

    Designao:Cartas do Gervsio ao Seu Umbigo

    Descrio:Este projecto est orientado para discutir com alunos do 1. ano daUniversidade questes sobre estratgias e processos de auto-regu-lao da aprendizagem, equipando-os para poderem enfrentar assuas tarefas de aprendizagem com maior qualidade e profundidade.A ferramenta Cartas do Gervsio ao seu Umbigo corresponde aum conjunto de cartas de um aluno do 1. ano, o Gervsio, dirigidas

    ao seu Umbigo. Nestes textos, o Gervsio discorre e reflecte sobrealgumas das suas experincias na Universidade, acentuando o papeldas estratgias e dos processos de auto-regulao na sua aprendi-zagem.

    Objectivos:Este projecto visa:i. Ensinar os processos de auto-regulao da aprendizagem. im-

    portante que os alunos conheam os processos envolvidos naaprendizagem, memorizao e resoluo de problemas. Este conhe-cimento declarativo e procedimental sobre os processos envolvi-dos no aprender facilitar o conhecimento condicional sobre

    como e onde aplicar as estratgias de auto-regulao aprendidas.ii. Trabalhar com os alunos um repertrio de estratgias de apren-

    dizagem que os ajudem nas suas aprendizagens na Universidadee na vida. O desenho do projecto est orientado para que osalunos reflictam sobre a sua aprendizagem enquanto treinam aaplicao destas estratgias de aprendizagem sua vida acad-mica.

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    Populao-alvo:Alunos do 1. ano da Universidade, mas tambm outros alunos,psiclogos, professores e pais que queiram alargar os seus conheci-mentos sobre as estratgias de auto-regulao da aprendizagem eas competncias de estudo no contexto universitrio.

    Racional desta ferramenta:A escolha do 1. ano como alvo deste projecto de promoo de

    competncias de estudo est ancorada na facilitao dos processosde adaptao Universidade. Sob o guarda-chuva do modelo socio-cognitivo da auto-regulao da aprendizagem, este projecto visaequipar os alunos com um repertrio de estratgias de aprendiza-gem que os auxilie a enfrentar as aprendizagens mais competente-mente. Promover a autonomia e os processos de auto-regulao daaprendizagem uma componente fundamental no processo deadaptao s exigncias da Universidade e de formao ao longoda vida.

    Metodologia:Cada carta est organizada em torno de um conjunto de estratgias

    de auto-regulao da aprendizagem (e. g.,estabelecimento deobjectivos; organizao do tempo; tomada de apontamentos; lidarcom a ansiedade face aos testes; estratgias de memorizao dainformao). O estilo narrativo confere a esta ferramenta um carc-ter dinmico permitindo uma adaptao ecolgica ao contexto espe-cfico de aprendizagem.Num estilo no prescritivo, humorstico e pouco ameaador, os lei-tores-autores tm oportunidade de aprender um leque alargado deestratgias de aprendizagem e de reflectir sobre situaes, ideias ereptos em contexto, atravs da voz de um aluno que vivenciou umaexperincia par da deles. Esta proximidade experiencial facilita adiscusso e a tomada de perspectiva dos alunos face aos contedosestratgicos apresentados no texto. O carcter plstico desta fer-ramenta permite que as cartas possam ser lidas como uma descrioromanceada da experincia de um aluno do 1. ano e discutidas numambiente familiar descomprometido; trabalhadas no contexto da cl-nica psicolgica, desenvolvendo apenas os tpicos julgados neces-srios; ou ainda analisadas sob o formato de programa de promoode competncias de estudo com um grupo de alunos interessados.

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    Formato:O projecto apresenta um formato de justaposio curricular, semum nmero de sesses previstas, nem um tempo determinado paracada sesso tendo como referncia o marco terico subjacente aoprojecto. As 13 cartas, ou apenas algumas destas, podem ser distri-budas pelo nmero de sesses que forem julgadas adequadas, ex-ploradas por um psiclogo na consulta individual, por um professorna sala de aula ou por um educador na sala de estar.

    Contedo:O propsito final deste projecto formar alunos auto-reguladoresdos seus processos de aprendizagem que assumam o controlo dasua aprendizagem. Neste sentido, no projecto so trabalhados quero racional subjacente ao projecto, quer um repertrio de estrat-gias de auto-regulao da aprendizagem disseminadas nas cartas.So igualmente proporcionadas oportunidades de praticar e aplicaressas estratgias a diferentes tarefas e contextos de aprendizagem,e de reflectir sobre o percurso pessoal de aprendizagem.

    Avaliao:A avaliao dos produtos desta interveno de promoo de com-petncias de auto-regulao da aprendizagem deve ser coerentecom os objectivos, a populao e o formato escolhidos. A equipade investigao que desenhou a ferramenta Cartas do Gervsio aoSeu Umbigo construiu questionrios e instrumentos de avaliaodos processos de auto-regulao e das abordagens dos alunos aprendizagem na Universidade que podem ser solicitados ao coor-denador do projecto atravs do endereo [email protected],apenas para fins de investigao.

    Agradecimentos

    Estas cartas foram carpinteiradas por mos amigas, que generosa-mente ofereceram o seu tempo e o seu pensar para aprimorar asmltiplas verses do texto. Imaginem o ponto de partida

    Apresentao

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    Num tempo sem tempo para nada, o Gervsio foi cuidadosamenteembalado por leitores zelosos, certeiros na crtica e elegantes noriscar e demasiado rpidos no louvar. Estes encontros adubaram omeu crescer, tambm isto o Gervsio nos ofereceu.

    Aos meus colegas Joaquim Filipe, Flvia, Pedro, Cu, Lusa, Elisa,Miguel, Carla, Teresa, Ana Margarida, aos infatigveis colabora-dores Rosa, Serafim, Carla, Ablio, Olmpia, Carina e Narcisa, aos

    alunos Ana, Liliana, ngela, Paulo e Ana Gabriel, e engenheirada lngua Conceio Oliveira que cuidou do virgular, a todos umolhar agradecido sem ponto final.

    Uma referncia especial s empresas que contriburam, no regimede mecenato cientfico, para que este projecto pudesse ser uma rea-lidade, nomeadamente a REN (Rede Elctrica Nacional), e a Rey-mon, Lda, a ambas o nosso profundo agradecimento.

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    NDICE

    Apresentao do projecto ..........................................................................

    Introduo ......................................................................................................

    O Projecto: Cartas do Gervsio ao Seu Umbigo ....................................

    Carta zeroSe lerem as cartas com ateno, podero entender os sinuosos con-tornos da minha experincia como caloiro na Universidade e teste-munhar comigo o acontecido. Boa viagem. .........................................

    Carta n 1Alis, o que exactamente adaptar-se bem Universidade? ..............

    Carta n 2Que objectivos tenho? O que que verdadeiramente guia o meu agir,no meu estudo, na Universidade, nos meus hobbies, no meu desporto,nas relaes com os outros, na minha preguia? .............................

    Carta n 3Como posso tirar melhores apontamentos? ..........................................

    Carta n 4Sabes como vencer a procrastinao, Gervsio?..................................

    Carta n 5Porque que esquecemos?.....................................................................

    Carta n 6Quem governa a tua aprendizagem? Sabes como se distinguem os alu-nos que obtm sucesso escolar? ............................................................

    Carta n 7Qual destas afirmaes est certa? .......................................................

    Carta n 8Como se resolvem problemas? ...............................................................

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    Carta n 9Conto contigo para o resolver, posso? ..................................................

    Carta n 10Como que consegues ter esta cadeira to organizada? Preparar oexame com tanta intensidade? ...............................................................

    Carta n 11() o estudo deve ser diferente em funo do tipo de exames?...........

    Carta n 12Afinal, o que isso da ansiedade face aos testes?................................

    Carta n 13Que tal vai o teu estudo, Gervsio? ......................................................

    Implementar o Projecto .............................................................................

    Introduo ......................................................................................................

    Aprendizagem auto-regulada: uma abordagem processual ..........................

    Gramticas da aprendizagem auto-regulada .................................................

    Estrutura e funcionamento dos processos auto-regulatrios: uma abordagem

    sociocognitiva .........................................................................................Ensinar estratgias de aprendizagem ............................................................

    Investigao sobre os processos de auto-regulao da aprendizagem.........

    Promover competncias de auto-regulao da aprendizagem......................

    Projecto Cartas do Gervsio ao Seu Umbigo ...........................................

    Estrutura do Projecto .....................................................................................

    Proposta de actividades .............................................................................

    Palavras finais .............................................................................................

    Glossrio ......................................................................................................

    Referncias ..................................................................................................

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    INTRODUO

    A rvore maior e mais frondosa vive do que tem por debaixo.(Mencius, VIB.15)

    A Universidade tem sido confrontada com reptos exigentes, nomea-damente quanto qualidade dos processos de ensino e aprendizagemoferecidos. A constante evoluo tecnolgica e a rapidez da comunicaodos resultados da investigao cientfica expem diariamente a acade-mia precariedade de quaisquer respostas rgidas, oferecidas em manu-ais ou em aulas cristalizadas.

    Nestes ltimos anos, a literatura na rea dos processos e estratgiasde aprendizagem tem desenvolvido um vasto corpo de investigao rela-tivo natureza, origens e desenvolvimento dos processos activados pe-los alunos na sua aprendizagem. O paradigma instrutivo, centrado nasrespostas, est a ser substitudo, ainda que mais lentamente do que seriadesejvel, pelo questionamento, pela pesquisa e pela construo activade respostas. As teorias e os modelos sobre os processos de aprendiza-gem tm sugerido a urgncia de equipar os alunos com ferramentas quelhes permitam, a partir das questes formuladas no estudo pessoal, nasaulas, nos laboratrios, nas revises da literatura, nos trabalhos de pro-

    jecto, procurar respostas de uma forma autnoma e auto-regulada,mas no necessariamente solitria.

    O paradigma de colmatao de lacunas de contedos est a sersubstitudo pela dinmica de promoo de competncias. A reduo dacomponente lectiva e presencial, acentuando a necessidade de os alunosaumentarem a carga de trabalho autnomo, sugere uma mudana doprocesso de ensino-aprendizagem na Universidade, um maior envolvi-mento do aluno no aprender e um compromisso mais substantivo e res-ponsvel com a sua aprendizagem. Definitivamente, para fazer face s

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    questes so alguns exemplos de aspectos com implicaes evidentes naqualidade das aprendizagens que deveriam merecer uma ateno dedicadada academia.

    A tarefa fundamental dos professores conseguir que os alunos seenvolvam nas actividades de aprendizagem, alcanando os resultadospretendidos... Convm recordar que aquilo que os alunos realizam mais importante para a determinao daquilo que aprendido do queaquilo que o professor faz (Shuell, 1986, p. 429). Sem descartar a im-

    portncia dos factores de contexto j enunciados, e boleia desta ltimacitao, focaremos a nossa abordagem nas estratgias de aprendizagema partir da perspectiva do aluno (Biggs, 1987a; Entwistle, 1987a; Marton,1988; Rosrio et al., 2003a; Rosrio & Almeida, 2005), na presuno deque a forma como estes encaram a aprendizagem contribui para modelaras suas intenes efectivando a sua abordagem aprendizagem, umavez que os alunos so (...) agentes activos que podem [] deliberada-mente optimizar o seu desempenho e aprender com os seus erros (Ro-binson, 1983, p. 106).

    Acreditamos que os alunos realizam um contrato de estudo pessoalconsigo prprios, a partir da hierarquizao de objectivos que fixam.As prioridades escolares podem alterar-se medida que os alunos se

    conhecem melhor a si prprios, s suas tarefas escolares ou se (des)vin-culam ao ambiente social que os rodeia, modificando o perfil deste con-trato que, no entanto, pauta o processo de ensino-aprendizagem dos alu-nos de todos os nveis de ensino. Este contrato pessoal de trabalho e deestudo, como veremos, pode ser analisado em duas vertentes: will andskill (Pintrich & De Groot, 1990; Rosrio, 2004b; Rosrio & Almeida,2005; Rosrio et al., 2003b; 2004b; 2005a; b; Zimmerman, 2000a).Compreender a anatomia deste contrato e agilizar processualmente a suaeficcia so os objectivos centrais da nossa interveno.

    O Projecto Cartas do Gervsio ao Seu Umbigo

    A qualidade, tambm no Ensino Superior, um tema que tem sus-citado uma ateno poltica e educativa crescente nos ltimos anos.A exigncia de qualidade como contrapartida do financiamento, a preo-cupao com a massificao do sistema de ensino e a possvel relegaodo ensino para um segundo plano em favor da investigao so algumasdas preocupaes do discurso em volta da organizao do ensino-apren-

    Introduo

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    dizagem na Universidade. Centrando a discusso na anlise do processode ensino-aprendizagem, a literatura tem referido a promoo dos pro-cessos auto-regulatrios como um dos contributos centrais para incre-mentar a motivao e a aprendizagem acadmica (Pintrich & Schunk,2002; Rosrio, 2002a, 2004b; Rosrio et al., 2004a, b; Zimmerman &Martinez-Pons, 1990; Zimerman, 2000b). A auto-regulao refere-se apensamentos, sentimentos e aces que so planeadas e sistematicamenteadaptadas, quando necessrio, para incrementar a motivao e a aprendi-

    zagem (Schunk, 1994; Zimmerman, 2000a). Aplicado ao campo da edu-cao, este conceito compreende um vasto leque de processos e estratgias:o estabelecimento de objectivos; a ateno e concentrao na instruoutilizando estratgias de codificao, organizao e evocao da infor-mao aprendida; a construo de um ambiente de trabalho que favo-rea o rendimento escolar, utilizando recursos adequadamente; a gestodo tempo disponvel e a procura da ajuda necessria junto de colegas efamiliares, entre outros. O trabalho dos alunos deve estar investido decrenas positivas e ajustadas sobre as suas competncias, o valor daaprendizagem e os factores que a influenciam, antecipando os resultadosdas suas aces e experienciando satisfao na alocao da sua energiae esforo na aprendizagem (Schunk & Zimmerman, 1996, 1998). Neste

    sentido, a auto-regulao dos processos de aprendizagem envolve no saspectos qualitativos, referenciados ao figurino dos motivos e estratgiaspara aprender, mas tambm aspectos quantitativos relacionados com afrequncia da sua utilizao. O cerne do processo auto-regulatrio residena escolha e no controlo e, por este motivo, fundamental para poder-mos discutir o processo de ensino-aprendizagem, focaliz-lo na e desdea perspectiva do aluno.

    O projecto Cartas do Gervsio ao Seu Umbigo est orientadopara discutir com alunos universitrios do 1. ano, mas no exclusiva-mente, questes sobre estratgias de aprendizagem e metodologias deestudo que os auxiliem a enfrentar as suas tarefas de aprendizagem commaior profundidade e qualidade (Rosrio et al., 2005b). A escolha do 1.ano como alvo deste projecto de promoo de competncias de estudona Universidade est relacionada com a necessidade de promoo dosprocessos de adaptao experincia acadmica. Equipar os alunos comferramentas estratgicas que os ajudem a enfrentar as aprendizagensmais competentemente uma componente importante no processo deadaptao Universidade com um impacto reconhecido nos resultadosescolares. Escolhemos um formato epistolar para ensinar e muscular

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    estratgias e processos de auto-regulao da aprendizagem. Neste pro-jecto, o Gervsio, um aluno do 1. ano, escreve um conjunto de cartasao seu Umbigo onde relata as experincias e reflecte sobre o seu papel,mas tambm sobre as dificuldades e os desafios desta nova etapa da suavida (Rosrio et al., 2005b).

    Esta narrativa, pelo seu carcter aberto e intrusivo, permite colocarquestes de arranque a partir do olhar de um outro que est a vivenciaruma etapa de desenvolvimento pessoal muito prxima de tantos alunos.

    Esta proximidade experiencial, sugerindo que os leitores aprendam epensem num conjunto de questes relacionadas com a aprendizagem naUniversidade, alavanca o ponto de partida de um trabalho preventivocom inmeras possibilidades. A partir destas cartas pode ser desenvolvi-do um trabalho individual reflexivo ou, se orientado por um psiclogoou por um professor com um grupo de alunos, fomentada a discusso dequestes relacionadas com estratgias e processos de aprendizagem ououtras questes relativas adaptao ou ao trabalho e estudo na Univer-sidade.

    Cartas do Gervsio ao Seu Umbigo uma ferramenta que seafirma como uma alternativa aos manuais de estratgias de estudo con-vencionais, muito formatados e prescritivos. Cada carta, apesar de ter

    sido desenhada em torno de estratgias e contedos relacionados com oprocesso de auto-regulao da aprendizagem, est redigida sem pontofinal, o que impele os leitores a uma reflexo metacognitiva em tornodas questes em discusso, mas tambm necessidade e urgncia deapropriao daqueles conhecimentos s rotinas pessoais de estudo e deaprendizagem.

    Para facilitar este trabalho reflexivo de autor, na parte final do livroso apresentados sumrios temticos que facilitam a arrumao concep-tual dos contedos trabalhados em cada carta, e tambm algumas pro-postas de actividades a desenvolver nas sesses de trabalho que devemser consideradas apenas como tal. Acreditamos que compete ao alunosignificar as diferentes aprendizagens sugeridas nas cartas. Qualqueraprendizagem tambm esta tanto mais possvel quanto maior for oseu envolvimento empenhado. A natureza amigvel deste formato e oseu carcter desconvencional facilitam acreditamos o envolvimentodos sujeitos na componente estratgica da sua aprendizagem.

    Nas pginas seguintes apresentaremos um conjunto de 13 cartasque elaboram sobre as experincias pessoais de um aluno do 1. anorelacionadas com a sua vida de trabalho e de estudo na Universidade.

    Introduo

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    PROJECTO CARTAS DO GERVSIO AO SEU UMBIGO

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    Carta zero

    Se lerem as cartas com ateno, podero entender os sinuososcontornos da minha experincia como caloiro na Universidade

    e testemunhar comigo o acontecido.Boa viagem.

    Ol a todos,Gervsio. Portugus. Caloiro. Estudante? (Tenho a ligeira impresso

    de que este estilo telegrfico no me vai levar longe; mas, enfim, todostemos as nossas fragilidades) Bem, cheguei Universidade depois dealguns anos de intenso trabalho e de tortuosos exames que me levaram as

    derradeiras foras que, verdade, verdadinha, nunca foram muitas.Quando aterrei no campus, com uma guia de marcha festejada na

    famlia com honras de evento, senti-me to vontade quanto um polvocoxo numa garagem. Longe dos meus, imerso num mundo que meultrapassa, rfo de orelhas disponveis para as minhas interrogaes eum pouco desnorteado reconheo-o agora , decidi desaguar os meuspensamentos, alegrias e receios nestas silenciosas folhas de papel reci-clado.

    Nas pginas seguintes coligi algumas cartas que escrevi ao meuUmbigo, o ouvido mais atento da minha vida, mas tambm algumas dassuas bem intencionadas, apesar de algo cidas, respostas. Eu sei, eusei escrever-lhe talvez no tenha sido a deciso mais avisada da minhavida, mas como diz o meu av quando a placa no lhe prega das suas:em tempo de guerra no se assoam espingardas.

    Tudo isto pode parecer um pouco absurdo, mas no se precipitem;sustenham os impulsivos julgamentos e abram as orelhas da alma. O rastodo meu acidentado percurso no 1. ano da Universidade est escondidonas entrelinhas das cartas que fui escrevendo; desvend-lo espero queno seja um fardo, mas no estou completamente convencido.

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    Este pequeno volume no pretende ser um dirio, apenas compilaalgumas cartas avulsas, as que passaram no meu rigoroso crivo. Percebi, minha custa, que aprender no algo que acontece aos alunos, algoque acontece por mo dos alunos. No basta passear na Universidade decadernos em riste, sentar-se nas salas de aula, ouvir os professores elevantar as plpebras que insistem em fechar-se; diluindo, depois, todosestes incmodos num arrastado caf tomado com amigos.

    preciso conseguir colocar a bala onde o olho aponta, mas mais

    fcil dizer do que fazer. Muito mais!Estudar fundamental, mas dormir tambm, e divertir-se aindamais Agora mais a srio, aprendi no final desta primeira etapa domeu percurso acadmico que, para o resultado final, o que o aluno faz muito mais importante do que o papel desempenhado pelo professor epelas estruturas mveis e imveis da Universidade. Parece impossvelque eu prprio o diga, mas

    Se lerem as cartas com ateno, podero entender os sinuosos con-tornos da minha experincia como caloiro na Universidade e testemu-nhar comigo o acontecido. No fundo, no fundo, talvez estas reflexesno sejam assim to diferentes das de tantos outros que esto pela pri-meira vez na Universidade, possivelmente das vossas?

    Leiam e desculpem qualquer coisinha. No final, no digam que noforam avisados.

    Boa viagem.

    Um abrao amigo,

    G.

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    23Carta n. 1

    Carta n. 1

    Alis, o que exactamente adaptar-se bem Universidade?

    Ol Umbigo,Sim, sou eu o Gervsio. Pode parecer estranho, mas senti um im-

    pulso irreprimvel de te escrever. Sei que isto no abona muito a favorda minha sade mental, mas, em todo o caso, aqui vo umas linhinhas.A av bem me dizia que era perigoso tomar os remdios dela

    Como sabes, entrei na Universidade, mas ainda no aterrei de ca-bea, o que talvez no seja necessariamente um mau sinal. A verdade que a dimenso fsica do meu mundo mudou absurdamente; agora estou

    emparedado por enormes edifcios de ar srio e austero e sento-me emsalas de aula onde caberiam todos os alunos da minha antiga escola;bem, quase todos.

    Por aqui tudo tem tamanho XXL e difcil saber para e por ondeir. Biblioteca? Bar? Reprografia? Secretaria?, pergunto aos quatro ven-tos. H vrias, em stios distintos, com diferentes funes, exactamenteo que que queres?, respondem-me passos apressados sem abrandar oseu obstinado caminhar. Isso queria eu saber, sussurro entre dentes,isto porque nem os dentes conseguem disfarar a minha imponente ver-gonha O pasmo toma conta da minha cara sem pedir licena, provo-cando sorrisos amarelos que escondem um: Ah, s caloiro?! Humm,deixa l, nem sabes o que te espera, eh, eh, eh. Algumas gotas desaliva, escorrendo por entre aqueles dentes ansiosos e algo afilados, noauguravam um bom final, mas podia no ser nada...

    Algures, num desses guichets repletos de folhetos e sorrisos deorelha a orelha, ofereceram-me um flyercolorido e um guia do campusto complexo que preciso de outro para o descodificar. Mas talvez sejamais prudente guardar estas comprometedoras revelaes para mim pr-prio

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    24 Cartas do Gervsio ao Seu Umbigo

    Definitivamente, e para j, o mais curioso na Universidade so osimensos morcegos com pernas que no desaparecem, mesmo depois dosintensos belisces a que sujeito os meus braos j pisados. Choco portodo o lado com bandos de alunos pintalgados como guerreiros, guarda-dos por trajes severos que lhes berram tanto, tanto que as veias da gar-ganta ameaam rebentar a qualquer instante. Os caloiros, em magote ouem filinha indiana, cantam, num tom desafinadssimo, toadas de um duvi-doso recorte intelectual, tipo: Eu sou uma formiguinha rabiga, ol, ol.Ainda bem que estou aqui, se no estava l ol, ol.

    Num stio assim difcil conseguir destoar, no achas?

    A vida, neste pas acadmico, bastante estranha, mas, talvez porisso, muito diferente da minha anterior existncia. Estou mais s: osmeus pais, irmos, galinhas, caracis e at o cgado ficaram para trs;s o meu olhar saudoso reaviva as memrias, rasgando o imenso vazioque nos separa.

    Sei que tenho sempre os inacreditveis telemveis, que servempara imensas coisas, at para telefonar. Diz-me que telemvel tens e dir--te-ei que universitrio s, parece ser a palavra de ordem aqui no burgo.Imagina a minha figurinha com um tijolo que j tem quase cinco meses

    sou mesmo um trol!Nas primeiras sadas e encontros tenho avaliado cuidadosamente oscaloiros que me rodeiam e calculado as minhas possibilidades de seraceite no grupo e por quem. Conseguirei integrar-me bem? Conseguireifazer amigos? Poderei mostrar-me tal como sou? Sero todos melhoresalunos do que eu? Conseguirei chegar ao fim? Terei muito sucesso? Osoutros alunos tambm pensam nisto, ou sou o nico cliente destas ideiasclaustrofbicas?

    Estas perguntas assassinas deixam-me exausto e com o estmagomassajado por picantssimos molhos mexicanos. Gostava de acreditarque vai correr tudo bem nesta minha experincia universitria, mas noestou completamente convencido e a dvida semeia insegurana e algum

    nervosismo.Para alm das borgas, jantares, conversas e cafezadas tambm haulas, e parece que importante marcar presena. Pelo menos, convmlevar um caderno para que no digam que vamos de mos e crebro aabanar.

    Estar atento na aula depois de uma longa noitada difcil. Deve sermais ou menos to agradvel quanto a vida de um hipoptamo numabanheira. Mas a verdade que se no levo as coisas certinhas: aponta-

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    25Carta n. 1

    mentos das aulas em dia, relatrios, trabalhos de grupo a minha vidaescolar pode tornar-se insuportvel, tipo vida de peru em vsperas deNatal. Umbigo, se eu comear a fazer glu-glu, interna-me, ok?

    A propsito de comida, tenho muitas saudades do po caseiro e doservio completo l de casa. Aqui tenho de realizar todo o tipo de tare-fas domsticas, tambm o herico servio de limpeza da casa de banho,no sei se me entendes? Ainda bem que inventaram as molas-extra paraproteco completa das narinas, porque h bombas aromticas que podem

    fazer estragos severos nos meus frgeis neurnios. Pagar a gua, a luz,ir s compras, descobrir caminhos e atalhos no emaranhado da cidade,conhecer os horrios e os percursos dos transportes Fazer tudo istocom pouqussimo tempo e um oramento quase transparente obraMas, como diria a av: o que no mata, engorda.

    Vivo com dois colegas que j conhecia do Secundrio. Nos primei-ros tempos correu tudo bem, estvamos animados com a mudana e oentusiasmo escondeu os primeiros belisces, mas as contrariedades noesperaram muito para nos tocar porta: dificuldades com a conjugaodos horrios; toneladas de lixo acumulado nas minsculas varandas;incumprimento crnico de encargos; msica estridente a desoras; luzesacesas competindo com o sol radioso; contnuos assaltos ao depaupe-

    rado frigorfico Quase todos os dias h novidades, quase todos os diash trocas de palavras sem acar, e tudo isto finalizado com os sorrisosamarelos e o cumprimento enjoado dos vizinhos desgasta-me muito.No sei bem o que vai acontecer aqui em casa, mas alguma coisa, mui-tas alis, tm de mudar e rpido.

    Sinto cada vez mais a falta de tudo o que eu sempre dei por garantido,e ao qual nunca liguei demasiado. estranho ter de perder para valorizar.

    Embalado por esta ventania emocional, dei por mim a invejar osalunos com famlias residentes na cidade. Acho que sentia alguma penade mim enquanto estrelava ovos que, em conluio com o meu humor,insistiam em desmanchar-se. Conversando com colegas que vivem nacidade com os pais, relembrei que nem sempre o que parece ; quesempre que o sol nos lambe gera uma sombra. Resumindo e concluindo:todos os aspectos positivos tm o seu revs! Mas talvez seja melhorrepetir para ver se me conveno.

    Estes colegas no tm de preparar as interminveis refeies, deaspirar o irrequieto p que insiste em ficar, nem de gerir o ingovernveldia-a-dia da casa, mas tm outras fontes de problemas, e no necessaria-mente menores.

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    26 Cartas do Gervsio ao Seu Umbigo

    Aps uma apurada investigao no campus, as fontes de problemasque recolhem os scares entre os alunos com os pais na cidade so: terde cumprir horrios estritos, ser muito controlado nas sadas, menos di-nheiro para poder gerir vontade; mais vigilncia nos horrios de estudo,mais olha para o exemplo da tua irm, essa sim, mais, mais

    Ontem soube que a me de um colega meu do 2. ano vigia rigoro-samente o tempo e o horrio de estudo do filho decidindo tudo por ele,talvez at as bolas a que faz pontaria no bilhar. Gostava de ver a me

    dele espreitar por cima do pano para avaliar as distncias Coitado!Talvez seja verdade, como diz o poeta, que no h nada completa-mente errado: mesmo um relgio parado est certo duas vezes por dia,o problema que raramente desfrutamos estes dois momentos de acerto,habitualmente consumimo-nos nos demais.

    Neste meu novo percurso fui coleccionando algumas das questes-problema que afectam os universitrios com maior virulncia: sentir-sefeissimo(a) ou o modelo pelo qual a moda esperava ansiosamente; jul-gar-se menos ou muitssimo mais inteligente do que os demais; com-pletamente desajustado(a) socialmente ou uma verdadeira inteligncia

    social com pernas; ter uma bolsa recheada para responder s exignciasde um guarda-roupa sofisticado ou nem por isso; ser o trinca-espinhasdo universo, ou uma sria candidata ao concurso: uma orca de trajeacadmico; enamoradssimo(a) e por isso descentrado(a) de aulas, dosestudos e de tudo o resto, ou um baldas militante igualmente alienado;consumir-se vorazmente a si prprio e s suas magnficas ideias; jun-tar-se a amigos que incentivam os consumos desregrados de lcool oude outras drogas, abrindo as portas a uma espiral de problemas oportu-nistas s para citar alguns.

    Depois de alguns momentos de desconforto, mas tambm de outrosde enorme gozo, pude ver que, de uma maneira ou de outra, todosestamos a viver uma mudana. No h adaptmetros de validade univer-

    sal e no possvel prever quem se pode adaptar melhor. Talvez a adap-tao seja um processo contnuo e interminvel. Alis, o que exacta-mente adaptar-se bem Universidade?

    A vida por aqui no to fcil quanto pensava. No basta vestiruma farpela acadmica e afivelar um ar grave para que tudo corra bemno mundo universitrio. Mas, como diz o outro, l se vai andando coma cabea entre as orelhas

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    27Carta n. 1

    Estou cansado. Fazer brao-de-ferro tentando evitar desesperada-mente que as plpebras se fechem durante um longo dia de aulas difcil, o que que pensas? E, talvez o pior, depois sobram-me apenasquatro ou cinco horas at ao repousante jantar. Como que se podeviver com to pouco tempo para gastar? Tenho razes de sobra para mequeixar, no te parece?

    Nas aulas, a fauna e a flora docente variopinta, podemosencontr-los frenticos, tipo manual de aerbia ambulante, debitando in-

    formao a um ritmo que nem um corredor dos 100 metros acompanha-ria; ou, pelo contrrio, lentos e arrastados como um astronauta coxo,ameaando adormecer na prpria aula

    Mas, verdade seja dita, tambm h professores cujas aulas nosagarram pelos colarinhos desde os primeiros momentos, derrotandoqualquer distraco por KO. Fazem-nos pensar e trabalhar muito. Temosde pesquisar, de apresentar trabalhos e discutir os dos colegas, preparan-do-nos com antecedncia. Ele ler captulos e artigos muitos delesem ingls, fazer experincias, relatrios, portflios Uma autnticatrabalheera.

    Isto s para te citar alguns exemplos da complexa variedade doscomportamentos docentes Mas todos sugerem centenas de artigos, li-

    vros e textos de apoio, tantos que difcil saber por onde comear aestudar. O que me vale que as decises difceis no devem ser precipi-tadas

    Conjugar tudo o que tenho para fazer um grande desafio. Perco-me por entre o dever, o meu caprichoso querer e as importantssimas einadiveis urgncias do dia-a-dia, tipo conseguir reservar um bom lugarna cantina. Ontem comecei a elaborar um horrio pessoal incluindo asaulas e todas as outras actividades da minha vida, mas perdi rapidamen-te a vontade e no terminei. Acho que no vale a pena, no concordas,Umbigo?

    Quando, finalmente, decido estudar, a minha famlica ateno fogesem resistncia levada por qualquer rudo, pensamento ou chamamento.Como que estaro a sobreviver os dois pandas no jardim zoolgico deSentinela-a-Velha? O bambu estar dentro do prazo? A gua ter clorosuficiente? Com tantos distractores quem que consegue estar concen-trado e estudar?

    Estar constantemente a lutar com tudo o que me distrai uma tare-fa que consome as minhas poucas foras, obrigando-me a prolongadosdescansos

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    28 Cartas do Gervsio ao Seu Umbigo

    Um destes dias, ouvi numa das mesas do bar no que eu sejacoscuvilheiro, mas difcil ignorar uma conversa que ouvida na Bir-mnia, no achas? Bem, sem mais rodaps, assisti a uma autnticapalestra sobre a necessidade de estabelecermos horrios para governar-mos a vida. At me engasguei com a espessura daqueles pensamentos,mas tero razo? A verdade que no me imagino a realizar um horriopara a minha vida tipo carreira n. 37 para o Vale-dos-AlinhadinhosMas enfim, o caminho pode ser por a, a necessidade de planificao,

    no o Vale-dos-Alinhadinhos, percebes?

    Um abrao procura de norte,

    G.

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    29Carta n. 2

    Carta n. 2

    Que objectivos tenho? O que que verdadeiramente guia o meuagir, no meu estudo, na Universidade, nos meus hobbies, no meudesporto, nas relaes com os outros, na minha preguia?

    Ol Umbigo,Sou eu outra vez, o Gervsio. Desculpa ter demorado tanto a voltar

    ao teclado, mas o ritmo que encharca tudo aqui no burgo universitrio estonteante. Passadas as primeiras semanas de euforia e fandango voltada praxe e da recepo ao caloiro, j tudo segue o seu curso normal:aulas, aulas, aulas.

    Ontem, na cantina, estvamos numa amena cavaqueira quando che-

    gou uma amiga do Andr, aquele do meu curso. Vinha acompanhada deuma tribo de colegas e, como aqui na Universidade onde cabem doiscabem quinze, l nos ajeitmos na pequena mesa o melhor que conse-guimos. A conversa foi to animada que o Andr comeu pelo menosmais trs peas de fruta e cinco iogurtes do que a sua conta, mas nin-gum parece ter dado pela falta, tal era o entusiasmo.

    Vinham de uma aula onde a professora, que por acaso a directorade curso, lhes contou uma pequena estria para ilustrar a importncia deestabelecer objectivos no estudo pessoal. A ideia desenvolvida parecesimples: conhecer com profundidade o que e como se estabelece umobjectivo com o intuito de melhorar a realizao escolar. Mas, comosempre, as coisas mais simples so as mais difceis de definir. Estoufarto de saber o que um objectivo, mas defini-lo, naquela mesa super-povoada de neurnios vidos e truculentos, foi dificlimo. Senti-mecomo se estivesse em fato-de-banho no Evereste.

    A Soraya Liliana aquela de olhos irrequietos e cintilantes, mascom um nome fatal, enfim, no se pode ter tudo , para salvar a conversade um apago repentino, contou-nos com detalhe a tal estria. Se nome falha a memria, o texto era mais ou menos assim:

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    O escuro tomou conta da terra. No longnquo cu uma fatia delua sorria com gosto, mas a intensa gua que molhava o cho e osfortes barulhos que se seguiam aos riscos brilhantes, rasgando violenta-mente o escuro, amedrontavam at o respirar. Uma tartaruga com umadura carapaa, escondendo pernas pequenas e desajeitadas, passeavadistrada por entre a generosa erva. O animal avanava lentamente emdireco a casa onde era esperada ansiosamente pela famlia, mascomo protegia a cabea temendo as luzes que rasgavam bruscamente o

    cu, o seu rumo era desalinhado e sem tino. Transida de medo, caiudesamparada numa armadilha para apanhar animais distrados. Resva-lou sem sofrer danos, mas a gua dormindo no fundo e a acentuadainclinao do buraco prenderam-na ali.

    Depois delguns esforos mal sucedidos, a desajeitada tartarugaconcluiu que, sem ajuda, no conseguiria cumprir o seu objectivo. Deci-diu esperar com pacincia, precisava de poupar foras.

    Perto desta armadilha, um enorme e poderoso tigre rastejava acoberto da erva alta, escondendo-se dos brilhantes raios que desciamdo cu e assustavam as suas manchas. Sem prestar ateno ao caminho,uma das suas patas perdeu o cho e, quando o tigre conseguiu levantara cabea, verificou que estava preso num enorme buraco. A tartaruga

    assistiu queda desamparada do perigoso predador e, rapidamente, come-ou a trabalhar num plano que servisse o seu objectivo. Manteve-se emsilncio aguentando as longas queixas do poderoso animal, mas o seucorao pulava irrequieto. Quando detectou um rasto de receio no res-pirar do enorme animal, disse-lhe com voz forte:

    Quem pensas que s para incomodares o meu descanso, entran-do na minha cova sem pedir licena?

    O poderoso tigre assustou-se. Pensava-se sozinho e, por isso, res-pondeu agressivamente.

    Para que saibas, no ca nesta cova imunda. Entrei porque quis a voz era irregular, denunciando o seu nervoso. Mas espera quevais j engolir essa arrogncia.

    Acto contnuo, o enorme felino varreu a carcaa com uma patadatal que a colocou fora da cova. Mal se recomps do vo, a tartarugalibertou a sua cabea e, com um sorriso maroto nos lbios, retomou asua viagem.

    A trupe que tomou de assalto a nossa mesa estava to entusiasmadacom a moral da estria que prolongou a aula na cantina. Lembro-me de

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    da ponta da mesa com ironia. Deve ser verdade. Todos me conhecempor Bela Adormecida, mas acho injusto. Depois de algumas piadinhasfceis, responderam-me que estar mais atento nas aulas no era umobjectivo porque no preenchia os requisitos CRAva. Crava?!, perguntei.Claro! Responderam em unssono com a segurana de um relgiosuo. Pelos vistos os objectivos devem respeitar esta regra, sendo: Con-cretos, Realistas e AVAliveis.

    Neste caso, para estar mais atento nas aulas fundamental assis-

    tir s aulas e participar activamente. Registar apenas o mais importante,no tudo o que o professor diz, ajuda a seguir o rumo da aula, e maistarde a organizar o estudo pessoal.

    Os objectivos devem ser desafiadores, mas concretizveis. Se qui-seres ser menos tmida nas relaes sociais, talvez uma candidatura presidncia do Cascalheira Sport Clube no seja o melhor caminho,disse um deles dirigindo-se Narcisa, que respondeu pintando a cara devermelho-vivo. Faz sentido, talvez fosse melhor a tal Narcisa comearpela vice-presidncia, no te parece Umbigo?

    Para ser mais eficaz no estudo, sugeriu a professora daquelesgnios educativos com pernas, em primeiro lugar importante estar

    atento nas aulas. Ainda bem que me avisaram; acho que nunca o alcan-aria sozinho Mas pensando melhor, talvez o tenham dito porque istoacaba por ser difcil, para no dizer quase impossvel...

    Nas aulas, como sabes, distraio-me habitualmente com pensamen-tos que me levam para longe s 9.30 da manh j estou inundado demelancolia e s consigo pensar no meu peixinho s riscas. Como estara passar o dia no aqurio? Ter crescido algum centmetro nesta ltimahora? Estar enjoado?

    Tambm me esforo por adivinhar detalhadamente a ementa dacantina. Que vegetais ter a sopa? E qual ser o acompanhamento doprato principal?

    Porque que ests a abanar a cabea, Umbigo?! preciso cuidar

    da sade. Claro que tambm me perco com a formosssima Ktia Vanessa.Estremeo sempre de amores quando imagino os lindos dentinhos ama-relados cobertos com trs fiadas de arames coloridos Sei que devocombater ferozmente os distractores internos e externos, que, como meexplicaram aqueles doutos colegas, tudo aquilo que desvia a minhamoribunda ateno das tarefas escolares, mas eu sou definitivamente umhomem de paz, o que que posso fazer?

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    33Carta n. 2

    Achas que centre os meus objectivos neste combate? Talvez sejaimportante, sobretudo se verdade que os objectivos dirigem os meusesforos na direco da tarefa, afastando estrategicamente o que atrasaesta marcha. Os objectivos tm um enorme poder motor no comporta-mento, por isso to importante que sejam concretos, realistas e avali-veis. Umbigo, devo estar to perturbado que j oio as tuas palavraschocalhar na minha atormentada cabea.

    Toda esta conversa fez-me pensar nos meus objectivos. Nunca ti-

    nha pensado neles assim, nunca os tinha posto a nu. Que objectivostenho? O que que verdadeiramente guia o meu agir, no meu estudo, naUniversidade, nos meus hobbies, no meu desporto, nas relaes com osoutros, na minha preguia? E se os meus objectivos falassem, o que que me diriam?

    Concentrar-me nas aulas difcil, tudo seria muito mais fcil se ostemas das aulas fossem mais cativantes; se os professores recorressem aDVDs interactivos, desenhos animados mexicanos, at telenovelasvietnamitas a sim! Tambm ajudaria se eu no tivesse de responder amilhares de mensagens naquelas duas horas; se ao menos no intervalo

    das aulas a reitoria oferecesse caf ou bijecas e couratos; se eu no mesentasse perto de quem ainda mais distrado do que eu; se, se, sePorque que nem sempre estudamos como devemos? O que

    que se esconde atrs de um no querer? Porque que s estudamosna poca dos exames? Porque que um fracasso nem sempre nosimobiliza? Porque que umas vezes cerramos os dentes e estudamoscomo uns desalmados, e noutras enjoamos s com a ideia? Estas per-guntas choveram sem pedir licena encharcando a conversa de emoes,opinies, teorias e exemplos. No chegmos a concluso alguma, nemessa era a ideia; mas, no sei bem como, surgiu na mesa que o que nosmove verdadeiramente a agir, no tanto o que vemos, o resultado doque fazemos, mas a expectativa; aquilo que acreditamos que pode vir a

    acontecer. Cunharam esta ideia de expectativas de auto-eficcia e avan-aram um exemplo: quando metemos na cabea que no somos capa-zes de fazer o que quer que seja, mesmo que todos considerem quepodemos conseguir, o fracasso est perto. A ideia era engraada e foidefendida com garra: se um corredor em ligeira desvantagem numaprova acreditar que pode virar o resultado, esfora-se at ao final, mass nesse caso. Ainda estava a ruminar o exemplo, quando, com um

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    mau gosto imperdovel, algum aplicou o exemplo ao estudo: sim, verdade. Se o aluno acreditar que tem hipteses de tirar uma boa nota,estuda, se no no vale a pena terminar o argumento, porque, comosabes, sou ntimo com este final

    Umbigo, imagina o meu estado de desespero, at resumi num qua-dro os passos da planificao de um objectivo, tal como eles os discri-minaram.

    Felizmente, por aqui nem tudo gira em torno do estudar, os placardsna Universidade esto repletos de apelativos convites para cooperarcomo voluntrio nas associaes mais diversas: Inscreve-te na Liga dosAmigos da Lagartixa da Serra do Periquito; Vem e protege a Socie-dade dos Msicos Sem-ouvido; Gelo sim, neve no! Luta pelo verda-deiro Maro

    Carregados de livros e fotocpias, muitos alunos correm atontadosno campus, mais parecendo formigas beira de um esgotamento nervoso,e muitos passam ao lado das magnficas oportunidades culturais e sociaisespalhadas em panfletos nas mesas do bar ou espreitando nas vitrinasdos corredores. Eu, claro, no sou um desses

    Dizem-me que h tempo para assistir s aulas, estudar, ser volunt-

    rio, fazer desporto, conviver e ter boas notas, humm! Ainda no desco-bri bem como, mas deve ser possvel, pelo menos eu quero acreditarque sim

    Preto no branco, os objectivos guiam e empurram os nossos com-portamentos, mas no chega, preciso que a vontade ajude, que a von-tade queira. Ser que possvel dar corda ao relgio da vontade? Ajudaprecisa-se!

    O que fazer? Como?

    Definir o objectivo. Seguir o acrnimo CRAva (Concreto, Realista, Avalivel).

    Estabelecer um plano. Como vou alcanar este objectivo?Identificar recursos, passos e tarefas intermdias para o alcanar.

    Monitorizar o Estou a seguir o previsto?cumprimento do plano. O que fao conduz-me ou desvia-me do objectivo?

    A partir das respostas, retirar consequncias.

    Avaliar. Alcancei o objectivo? Sim/No. Porque

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    35Carta n. 2

    Bem, a verdade verdadinha que a tirania do se, se eu fosse,se eu tivesse, se acontecesse, persegue a minha vida, minando omeu agir.

    Eu sei que tenho um longo caminho a percorrer, ainda bem queainda estou no 1. ano.

    Um abrao CRAva ( assim, no ?),

    G.

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    Carta n. 3

    Como posso tirar melhores apontamentos?

    Ol Umbigo,H uns dias, neste interminvel semestre de integrao dos caloi-

    ros, fomos convidados a participar numas sesses de promoo de com-petncias de estudo organizadas pelos finalistas de Psicologia. Sim, honraseja feita, nem todas as actividades organizadas para os caloiros mimamos hbitos e costumes dos Neandertais. Algumas so bem piores.

    Bem, mas voltemos vaca fria. Um amigo meu no queria apare-cer sozinho nessas sesses e empurrou-me com argumentos pintalgadosde bom senso paternalista. Entrei contrariado no ambiente escurecido doanfiteatro, mas dei de caras com a lindrrima Ktia Vanessa, e aqueleirresistvel sorriso metlico silenciou imediatamente quaisquer dvidas ereticncias Compreendes, no?!

    A sala estava cheia de alunos dos mais variados cursos: Direito,Filosofia, Geografia, Engenharias das mais diversas, Medicina, Psicolo-gia, Matemtica Como que sei? Conheo alguns, outros tirei pelapinta ou pelas cores das camisolas com dizeres apatetados. No esperavaencontrar tanta gente, pelos vistos nem todos os alunos esto convenci-dos, como eu, de que sabem tudo sobre como estudar. Talvez reco-nhecer que no se sabe tudo e estar disponvel para ser ajudado seja um

    bom comeo. Ser? Espero que sim!Bem, mas voltemos Terra. Quatro finalistas de Psicologia com

    um aspecto frgil e pontilhado de borbulhas enfrentavam a plateia comum sorriso acolhedor, mas algo tmido. Vestiam um ar de quem noconseguiria guiar uma manada de formigas na direco de uma tabletede chocolate, quanto mais uma sesso de trabalho num anfiteatro a abar-rotar, mas enfim; j que estava ali, esperei para ver as pipocas estalar.

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    37Carta n. 3

    Sem perder tempo, depois dos cumprimentos e das apresentaesiniciais, apresentaram o seguinte caso:

    Numa livraria centenria do centro da cidade que se recusava acatalogar os seus livros recorrendo a um sistema informtico, um clientepreparava-se para abandonar a loja quando foi barrado pelo livreiro:

    Desculpe, o senhor leva um livro de poesia aqui da loja e esque-ceu-se de o pagar.

    No, peo desculpa, mas o senhor est enganado respondeu

    com segurana o cliente. Este livro meu, j o trazia quando entreinesta loja e posso, inclusive, dizer-lhe que o comprei por um preo infe-rior ao livro que tem aqui na loja.

    Se no se importa de me acompanhar ali estante da poesia, eumostro-lhe o lugar onde estava esse livro. Sabe, aqui nesta loja, s te-nho um exemplar de cada ttulo, e conheo-os todos como a palma dasminhas mos retorquiu-lhe o livreiro com voz calma enquanto condu-zia o cliente para uma estante.

    Repito que est enganado respondeu o cliente com uma vozalgo trmula.

    Posso ver o livro que tem na mo? o livreiro recebeu o livro eabriu a capa. Est a ver estes pedacinhos de borracha? Eu escrevo

    sempre aqui o preo. O senhor apagou-o. Francamente Todas as livrarias colocam o preo a ripostou

    o cliente. Talvez. Tem consigo o recibo que possa comprovar a compra?

    disparou o livreiro de culos em riste. Comprei o livro h um ms e, como compreende, j no me lem-

    bro onde guardei o recibo. O que lhe posso dizer que entrei nesta lojacom o livro. No me viu entrar na livraria? perguntou o cliente com aconfiana de quem conhecia a resposta.

    No, confesso que estava a atender o meu cliente e amigo Sr.Soares respondeu com voz baixa o livreiro enquanto apontava nadireco do mesmo.

    Ento, peo desculpa, mas vou andando para no perder maistempo concluiu em triunfo o cliente.

    Nessa altura, o Sr. Soares, que tinha assistido a tudo em silncio,tapou a sada ao cliente e disse-lhe:

    O senhor no se vai embora, o livro pertence a esta loja e eufiquei a sab-lo por si. O melhor devolv-lo de livre vontade ou tere-mos de chamar a polcia.

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    38 Cartas do Gervsio ao Seu Umbigo

    Acto contnuo gerou-se um enorme burburinho no anfiteatro. Asfinalistas tentaram controlar as diferentes alternativas disparadas aqui eali sem grande ordem nem concertao. Depois de alguns momentos deagitao fervilhante, as alunas de Psicologia assumiram rapidamente ocontrolo da situao e, sem ligarem importncia ao caso-problema quetinham apresentado, projectaram um slide sobre a importncia da tomadade apontamentos no sucesso escolar. Pelos vistos, a investigao nestarea sugere que os alunos que tiram mais e melhores apontamentos obtm

    melhores notas que os outros. Outros, onde eu me incluo, claro!Explicaram-nos que tomar apontamentos nos empurra a assistir saulas com mais ateno fazendo um esforo para compreender o fiocondutor da exposio, e tambm contribui para armazenar a informa-o para os testes e provas de avaliao. Se elas o dizem

    Tomar apontamentos uma tomada de deciso, concluram entu-siasmadas, o que no sinnimo de escrever indiscriminadamente todaa informao apresentada nas aulas ou num texto. fundamental decidiro que mais relevante, seleccionar e, por fim, confirmar. Todo este dis-curso pedaggico me parecia sensato e mais ou menos consensual, oproblema era consegui-lo dia aps dia, digo, aula aps aula. E a julgar

    pelo ar espantado da plateia, eu no era o nico reticente.Curiosamente, as finalistas pareciam ter-se esquecido do caso doroubo do livro apresentado no incio da sesso. No anfiteatro, ningumlevantou a questo, talvez com receio de parecer pouco inteligente aosolhos daquela multido, mas, pela quantidade de testas franzidas, sus-peito que havia mais alguns com a pulga atrs da orelha.

    Alheias aos meus elevados pensamentos, as frenticas psiclogascontinuaram a sua apresentao: os apontamentos da aula tambm aju-dam na organizao do estudo, sobretudo se completados com notas suple-mentares tomadas de livros ou manuais. Claro! Mas para isso precisotempo e vontade. Assim tambm eu, apeteceu-me gritar.

    Entendidos assim, os apontamentos tirados na aula so um auxiliar

    na reviso das matrias trabalhadas na aula, concluram.Sem pr-aviso, o caso do livro roubado voltou ao palco e as psic-

    logas perguntaram, sem destinatrio concreto, quem tinha tomado apon-tamentos do caso apresentado. Poucos braos apontaram o tecto, aindapor cima quase todos de aspecto frgil e repletos de pulseiras. No con-segui ver bem, mas estou certo de que o sorrisinho metlico que empur-ra o meu viver estava entre eles.

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    39Carta n. 3

    Questionados sobre a resoluo do problema da livraria, alguns alu-nos avanaram respostas zangadas, muitas argumentando que era impos-svel concluir algo de substantivo a partir daqueles dados escanzelados. engraado que nos rebelemos contra os problemas, chegando a insult--los, quando desconhecemos as respostas. Eu no protestei, mas nem seibem como que me contive

    Se a apresentao deste pequeno caso fosse o contedo de um textoacadmico ou de uma aula terica, poucos tnhamos tomado notas e, por

    isso, poucos poderamos estud-lo em casa analisando os dados com calma,distanciamento e profundidade. Por exemplo, procurando outras informa-es e recorrendo, se necessrio, ajuda de colegas ou familiares. Fina-listas dixit,varrendo-nos com um olhar de metralhadora zangada.

    Ok, ok, as finalistas marcaram um golo limpo. Explicitaram o argu-mento e no nos depenaram em pblico: Psiclogas 1, Assistncia 0.Felizmente, no cederam tentao fcil de nos massacrar com comen-trios paternalistas do tipo: Vem?; Quem vos avisa bom amigo .;Depois no digam que no foram avisados. Acho que no teria aguen-tado. Em vez disso, projectaram um slide com uma questo sugestiva:Como posso tirar melhores apontamentos?

    Isso queria eu saber, disse algum em voz alta despertando o riso

    nos demais. Flanqueando bem a turba, as finalistas organizaram a res-posta depenando os trs momentos da tomada de apontamentos: antes,durante e, por fim, depois da aula, da leitura de um livro ou do visiona-mento de um documentrio.

    A leitura antecipada dos textos e captulos recomendados favorecea ateno na aula e a compreenso dos contedos. Esta dieta acadmicafacilita a identificao das ideias principais e dos nexos entre as diferen-tes matrias ou teorias. Deve ser verdade, atendendo ao estado famlicodos meus apontamentos nem ouso duvidar.

    Se algum seguisse este menu risca mereceria um prmio cho-rudo, mas duvido que algum o ganhasse.

    Com o turbo ligado, as quatro listaram alguns aspectos relativos tomada de apontamentos: rever as notas tiradas na aula anterior, e com-plet-las com dados e informaes extra de outros livros ou da Net, uma estratgia fundamental para perceber o que no se entende. Se ocaderno de apontamentos competir com um queijo suo no nmero devazios de informao, talvez esta tarefa seja um tanto ou quanto dif-cil... Estas piadinhas ajudavam a amenizar o pesado ambiente, maspouco porque a matria densa.

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    40 Cartas do Gervsio ao Seu Umbigo

    Ter um caderno ou folhas especficas para cada cadeira facilita atomada de apontamentos e finta a confuso. Tambm se deve numerar edatar as folhas dos apontamentos. Parecem coisas bvias, mas

    Durante a aula convm estar atento mensagem do professor, sobre-tudo aos sinais que calibram a importncia da informao: as repeties,os esquemas escritos no quadro, as modulaes de voz, ou as refern-cias explcitas, tipo: Os trs passos so; As cinco caractersti-cas, habitualmente so pistas para a polpa dos contedos, recordei.

    As finalistas, defendendo aquilo a que chamaram o valor instru-tivo do erro, animaram-nos a colocar questes nas aulas sempre quefssemos assaltados por dvidas. Curiosamente, apesar de todos pro-fessores e alunos apregoarem a importncia do questionar, nas aulasnunca surgem muitas perguntas.

    Entendemos tudo o que discutido ou teremos receio de nos expore de parecermos pouco capazes aos olhares hipercrticos dos demais?,perguntaram-nos na sesso. Gostava de conseguir responder, mas paraisso tenho de comear a passar mais algum tempo nas aulas, hups!

    Se possvel, importante identificarmos a priorizao das ideias esubideias na argumentao do professor ou do autor dos textos consultados.Se as conseguirmos sinalizar, melhor. Segundo as psiclogas, parece

    que no estudo pessoal deveramos dedicar algum do nosso esforo a estatarefa. Para ilustrarem a ideia, apresentaram um slide sobre boas prti-cas na leitura:

    Estratgias que promovem a compreenso.Os leitores proficientes

    1. Priorizam. Definem intenes e objectivos claros que guiam a sua leitura. Nas suasleituras, identificam as ideias principais distinguindo-as dos detalhes. Para tal podemrecorrer a estratgias de aprendizagem tais como os mapas de ideias ou o subli-nhado com a finalidade de os ajudar a representar a ordem de importncia dainformao.

    2. Sumariam. Aps a leitura de um captulo ou artigo, fazem um sumrio das ideias

    principais e da organizao dos contedos, sintetizando o sentido global daquelainformao. Estes sumrios devem estabelecer pontes com o conhecimento e aexperincia anteriores.

    3. Questionam. Um envolvimento activo com a leitura atravs da elaborao de per-guntas e da procura de respostas evita que os olhos escorreguem pelas palavras semcompreender o significado.

    4. Projectam implicaes. Procuram ir para alm da informao dada, elaborandosobre o material apresentado quais as implicaes desta tcnica ou destas

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    41Carta n. 3

    A cruzada daquelas finalistas com pilhas no abrandava de entu-siasmo. Faziam perguntas e estimulavam-nos a apresentar a nossa opi-nio, mas no estavam a ser bem sucedidas.

    Se estou desatento e perco alguma informao deveria tentar com-plet-la mais tarde com algum colega? Esta infantilidade foi lanadapara o ar, por certo, num momento de desespero criativo das finalistas.Acontece a todos! No entanto, apesar disso, interiormente fui amadure-cendo uma posio. A resposta no , obviamente, sim ou no, masporque no. Se o sim to bvio porque que no o fao, porque que estou desatento? Porque que no completo os apontamentos?

    Para estudar importante ter tempo, mas tambm conseguir domara fora de vontade rebelde. Eu quero, a minha vontade no tem fora.

    Como sabes tenho dificuldade em controlar a desenfreada imaginaoque me assalta sempre que me sento para estudar; em parar os intermi-nveis e sonolentos rabiscos que infestam as folhas soltas a que chamocaderno; em desligar o intenso fluxo de mensagens escritas no telem-vel; em evitar as pardas conversas com os residentes nos cafs voltada Universidade; em afastar o irresistvel sono que toma conta das pl-pebras, sobretudo durante as aulas... E melhor pararmos por aqui, por-que a lista dos meus distractores de estimao inesgotvel.

    O ataque psi era cerrado e o discurso ignorava por completo osdireitos dos Belos Adormecidos. Estive para protestar, mas a minhacobarde ma-de-ado no me acompanhou.

    Por ltimo, as irrequietas finalistas desenvolveram o tpico da to-

    mada de apontamentos depois das aulas. Insistiram, sobretudo, na ideiade que os apontamentos, depois de corrigidos os hiatos e as frases semsentido, devem ser completos com novos dados que ampliem o seu sig-nificado. Parece que o estudo pessoal deve ser orientado por dois tiposde questes: as de espelho e as de sumarizao. As primeiras so ques-tes cuja resposta directa est escrita nos apontamentos. Apresentaramestes dois exemplos a partir do caso discutido.

    ideias? um exemplo das perguntas que podem auxiliar nesta tarefa , e posicio-nam-se face aos contedos lidos: relevante face aos seus objectivos? Concordam?Aspectos fortes e frgeis daquela argumentao

    5. Monitorizam o nvel de compreenso. importante certificar o nvel de com-preenso do material; por exemplo, atravs de mapas de ideias, de sumrios ou deparfrase.

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    Por sua vez, as perguntas de sumarizao reflectem o tema ou a

    ideia principal daquele tpico:

    Texto dos Apontamentos

    () Numa livraria centenria do centro dacidade que se recusava a registar e a catalogaros seus livros recorrendo a um sistema infor-mtico

    Questo em Espelho

    Como est organizado o sistema de registoe catalogao dos livros nesta livraria?

    Texto dos Apontamentos

    () No, peo desculpa, mas o senhor que estenganado respondeu o cliente. Este livro meu, j otrazia quando entrei nesta loja e posso dizer-lhe que ocomprei por um preo inferior ao seu. ()

    Deve estar enganado respondeu o cliente com umavoz trmula. ()

    Todas as livrarias colocam o preo a [na contracapa] ripostou o cliente. ()

    Comprei-o [o livro] h um ms, sei l onde pra orecibo. O que lhe posso dizer que entrei nesta loja com o

    livro. No me viu entrar na livraria? perguntou o clientecom a confiana de quem sabia a resposta. () Peo desculpa, mas vou andando concluiu triunfanteo cliente.

    Questo de Sumarizao

    Que argumentos utilizou ocliente para se defender daacusao de que era alvo?

    Que dizes desta primorosa arrumao de ideias que faria inveja aqualquer arrumador de carros?

    Estas questes podem ajudar-nos a detectar lacunas nos aponta-mentos e a no dormir na forma enquanto estudamos. No meu casoconcreto no sei se ser possvel, alis nem sei muito bem se quero,mas enfim.

    No final, as estagirias de Psicologia deram-nos um hand-outsobrea tomada de apontamentos. Deixo-te aqui um exemplar para me poderesdizer de tua justia.

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    43Carta n. 3

    Por favor, no digas que eu no fao nada disto, isso eu j sei. Sur-preende-me.

    Obrigado, a gerncia agradece.

    Um abrao rabiscado,

    G.

    Dicas para Tomar Apontamentos

    Antes da aula:1. Rev os apontamentos que tiraste na aula anterior.2. Prepara-te, realizando os exerccios e as leituras sugeridas.2. Rene o material necessrio: folhas, canetas, livros3. Chega antes do incio da aula de modo a poderes escolher um lugar de onde possas

    ver bem o quadro e ouvir o professor sem dificuldade.

    Durante a aula:

    1. Est atento, tentando identificar as ideias principais. Procura algum indicador inflexo de voz, explicitao, no verbal que te sugira a importncia da infor-mao.

    2. Protege a ateno dos teus distractores de estimao: toques de telemvel, SMS,conversas laterais, sonhar acordado,

    3. Usa abreviaturas e no tentes escrever tudo o que o professor diz: selecciona.4. Assinala a mudana de assunto com um grafismo prprio.5. Numera e data os apontamentos referentes a cada aula.

    Depois da aula:1. Completa os apontamentos com novas informaes e exemplos logo que possas para

    no te esqueceres do mais importante.2. Esclarece, com o professor ou com os colegas, alguma ideia que esteja incompleta

    ou que no faa sentido.

    3. Elabora questes medida que estudas a matria.4. Transforma e organiza a informao recorrendo a estratgias de aprendizagem: re-

    sumo, sublinhado, esquemas, snteses, mapas de ideias5. Responde a questes, s tuas, mas tambm a outras, por exemplo de exames de anos

    anteriores.

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    Carta n. 4

    Sabes como vencer a procrastinao, Gervsio?

    Ol Umbigo,Escrevo-te porque no sei bem o que fazer. A verdade que estou

    aflito, tanto, que decidi voltar a escrever-te, imagina Tenho de apre-sentar um relatrio de 5 pginas na segunda-feira e, como sabes, j sme restam 3 dias. Suspeito que no vou conseguir e as consequnciassero trgicas.

    As indicaes da professora foram mnimas. Para dificultar aindamais a minha vida, o tema sugerido vago e vastssimo. Nem sei poronde comear. Sim, sim. Eu sei, que devia ter pensado antes, mas pormuito que no acredites, eu tentei; simplesmente acho que no sou feitopara escrever relatrios.

    Carssimo, tenho-me abstido de interromper os teus dislates mo-lhados, os teus queixumes tpicos de avestruz de cabea enterrada e atas tuas piadinhas insossas, mas no me posso conter mais

    Umbigo???!!! Claro, quem querias que te respondesse, o teu rim? Bem, se tu o dizes Eu percebo a tua estranheza e o teu desconforto, mas enquanto

    continuares a choramingar, no vamos a lado algum. Como sabes as ver-

    dades que menos gostamos de ouvir so as que mais falta nos fazem,por isso, desculpa, mas no te vou poupar. Estou preocupado contigo e,como quem no alimenta o co, alimenta o ladro, aqui vai a primeiraregra de qualquer estudante, sobretudo de um universitrio: precisas deassumir com verticalidade a responsabilidade pelo teu comportamentoacadmico.

    Isso tem traduo em portugus?

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    45Carta n. 4

    Engraadinho Claro que podes no ter sempre os melhoresprofessores, nem as melhores condies para estudar. Este curso podeno ter sido a tua primeira escolha, a vida pode no ser muito fcil, masse continuares a responsabilizar os docentes pelos teus insucessos, oscondutores dos autocarros pelos teus sucessivos atrasos, o meridiano deGreenwich pelos problemas recorrentes do teu despertador, a insuficientedieta em batata-doce pela tua desateno crnica vamos passar sem-pre ao lado dos problemas.

    Bem, no sei bem qual o mal, mas enfim, se tu o dizes Atribuir sempre as causas de tudo o que no te corre bem aalgum ou a alguma coisa pode fazer bem ao teu ego palaciano, masatrasa a resoluo dos problemas. Tiveste m nota na frequncia porqueno nasci para aprender Chins; porque o professor de Chins ador-mece nas prprias aulas; porque ningum consegue ler aqueles livrosde texto, nem os prprios chineses; porque os livros chineses estoescritos em Chins e so Chins; porque

    Talvez, pelo menos uma vez, o que te acontece seja consequnciado teu comportamento, da tua desorganizao, do teu baixo empe-nho? Talvez algo possa mudar se assumires a responsabilidade peloteu agir No te parece?

    O que que queres que faa?! Nem sempre me apetece estudar. Nem sempre te apetece estudar, Gervsio?! Bem-vindo ao mundo

    dos mortais. A questo que estudar como tudo o resto na vida; nemsempre queremos fazer aquilo que devemos. O desafio est na capaci-dade de mobilizarmos a vontade no sentido do dever. Seria absurdo queum condutor de um autocarro a abarrotar o abandonasse no meio deuma avenida para comprar uns queijos na mercearia do Sr. Jos, no teparece?!

    Sim, sim, j entendi a mensagem, mas agora estou mais preo-cupado em acabar este trabalho. Sobre tudo o resto tenho tempo parapensar depois.

    Esse o problema. Vives sempre a tentar remendar as imensastrapalhadas da tua vida sem parar para reflectir sobre o teu agir. Enquantono for amanh, desconheceremos os benefcios do presente. Quemdera que este velho adgio popular te fizesse algum sentido, que desper-tasse alguns dos teus neurnios entorpecidos. O que te acontece hoje foiescrito ontem. Entendes? Se perderes mais esta oportunidade de tentarperceber porque que o caos insiste em ocupar tanto espao na tua vida,perdes o foco.

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    46 Cartas do Gervsio ao Seu Umbigo

    O que posso fazer? O vazio de um dia perdido nunca ser preenchido, por isso

    importante reflectires bem sobre o aproveitamento do tempo. Dizem osentendidos que a gesto do tempo um dos factores mais importantesno sucesso escolar dos alunos universitrios.

    O qu, tipo fazer horrios? Organizao, isso o que necessrio. Mas ser organizado no

    necessariamente sinnimo de pendurar um horrio no frigorfico ou de

    espalhar post-it de cores e tamanhos diversos por todo o lado, at natorradeira. Um dia vale por trs para quem faz as coisas a tempo. Umbigo, o que que tens hoje, engoliste algum livro de ditados

    populares? E no tiveste nenhuma indigesto? Desculpa. Um destes dias l na Universidade ouvi falar da impor-

    tncia da gesto de tempo, das listas CAF (listas de Coisas a Fazer) e danecessidade de priorizar as actividades para aumentar a eficcia e dimi-nuir o desperdcio de tempo, mas no lhes dei grande ateno

    Sim, Gervsio, essa mais uma das estratgias de gesto dotempo. fundamental sabermos o que temos de fazer para podermosorganizar e priorizar as nossas actividades. Para simplificar, digo-te que

    as tarefas mais complexas devem ser divididas nas suas componentes;qualquer bife pode ser comido inteiro, mas parti-lo em pequenos peda-os facilita a mastigao, sobretudo se a carne conseguir entortar a faca.

    Ok, ok, deixa-te de sermes, e agora, o que que fao com estetrabalho?

    Antes de atacares a tarefa deves estabelecer um plano, e dividiresse objectivo geral e distante em objectivos mais prximos. Estabelecer otema, datas para atingir cada etapa, recolher informao, procurar a ajudade colegas, de professores, realizar o primeiro rascunho e prever tempopara rever e corrigir. Para realizares todas estas tarefas necessrio orga-nizar o local de estudo, arrumar a imensa pilha de papis que ameaasoterrar-te, tentar controlar um pouco os distractores de estimao

    Hum?! Recorda que os distractores podem ser internos, tais como a pre-

    ocupao exagerada, a imaginao desenfreada, o sonhar acordado, oaborrecimento ou externos, tais como os barulhos intensos, a desarru-mao, a desordem do material de estudo, o frio

    Sim, sim, somos ntimos; mas para os controlar o que que devofazer?

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    47Carta n. 4

    Em primeiro lugar, Gervsio, podes estabelecer objectivos quesejam concretos e realistas, mas desafiadores. Objectivos que dirijam osteus esforos para a tarefa. Depois deves gerir o tempo de modo a con-seguires realizar a tarefa sem pressas nem atabalhoamentos. Organiza-o o apelido do sucesso.

    Eu tento estudar, o problema que adio sucessivamente essa boainteno. As sadas at tarde com os amigos, as conversas interminveisna Net, as voltas em casa sem destino s vezes tento estudar, mas os

    olhos resvalam sem fixar as palavras A vontade j no muita e, comfrequncia, deixo o trabalho para depois Procrastinao! Tambm no preciso insultar, Umbigo. Gervsio, Gervsio! Procrastinar significa o adiamento sucessivo

    das tarefas. Podemos evitar as tarefas porque suspeitamos que podemosfalhar, porque somos perfeccionistas e nunca estamos satisfeitos com oque fazemos, por falta de hbitos de trabalho, por desorganizao, por-que, porque, porque

    Umbigo, Umbigo, nem pareces tu. H que dar tempo ao tempo.A propsito de ditados, relembro-te o velho adgio que repetes at nusea: Calma! Com o tempo, a erva torna-se leite ou ainda aquele

    outro Roma e Pavia no se fizeram num dia. O que que pensas destemeu contra-ataque cirrgico?

    Vou ignorar a provocao. Sabes como vencer a procrastinao,Gervsio?

    No, mas suspeito que me vais dizer Estabelecendo metas de curto prazo, monitorizando a realizao

    das tarefas intermdias, escolhendo as alturas mais favorveis do diapara trabalhar, dando-te alguma pequena recompensa, modificando algu-mas condies do local de estudo para o tornar mais agradvel ou maissbrio... Enfim, trabalhando em pequenas etapas de cada vez e domandoa fora de vontade. Por exemplo, bvio que no devias estudar deitadona cama, o nvel de concentrao que alcanas demasiado profundo.No sei se me entendes?

    Para ser sincero, no muito bem Nem sei porque fao estas perguntas Tambm importante

    que no te esqueas que uma s fenda pode afogar o barco, por issocuida cada pormenor pois todos so importantes. A intimidade coma tarefa um dos principais factores de motivao para a realizao.As grandes amizades no se fazem primeira vista, mas depois de

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    muito conhecer-se. O julgamento impulsivo tipo acho que no gosto,ou o seu contrrio, so superficiais. Quantos livros interessantssimosteriam ficado por ler se os leitores no resistissem aridez das primeiraspginas? Conheo mais, gosto mais, invisto mais, domino mais, gostocada vez mais

    Resumindo, penso que relativamente a este trabalho concreto im-portante definir o tema o mais exactamente possvel; mas tambm o seupropsito final: um resumo?, uma crtica?, um relatrio? A extenso

    pretendida: diferente escrever um trabalho de 3 ou de 20 pginas; epor ltimo, as indicaes especficas: tipo de letra, espaamento, datasde entrega, local

    como te digo, Gervsio, neste relatrio deves fazer o mesmo queno teu estudo pessoal. Para cada tarefa h sempre um antes, um durantee um depois, que o mesmo que dizer: planificar, executar e avaliar.Qual o tema, onde e quando recolher as informaes relevantes, quais asideias-chave a incluir Planificar o que vais fazer, como o vais fazer,qual o timing, de que recursos dispes

    Bem, neste momento estou um pouco nas lonas, mas Enfim, adiante Depois h que enfrentar a tarefa, combater os

    distractores, centrar-te no trabalho, recolher e organizar a informao nabiblioteca, tomar notas, e escrever o primeiro rascunho. Por fim, rever otrabalho. Corrigir os erros ortogrficos, agilizar as ligaes entre asideias, verificar a presena de todas as ideias-chave planeadas

    Apesar de algo enjoativo, parece fcil, o pior que Gervsio, tens de acreditar que s capaz. No ests sozinho. Afi-

    nal, no todos os dias que encontras o apoio de um Umbigo assim Claro, como que no tinha pensado nisso H! H! H! Ainda

    bem que me avisaste, j me sinto muito melhor. Bem, tenho mas deaumentar a minha dose de medicamentos e rapidamente.

    Apesar de tudo, um abrao sem ressentimentos,

    G.

    P. S. Retive dois conselhos que me fizeram especial sentido. O pri-meiro: Escreve, mesmo que o primeiro resultado seja um desastre.O importante comear, s depois burilar. Pelos vistos os textos nuncasaem bem primeira, e mais fcil trabalhar e melhorar um texto con-creto. Faz sentido.

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    49Carta n. 4

    O segundo: No abandones um texto num ponto final. No dia se-guinte, quando voltares a pegar no trabalho, vais ser assediado pelasndrome da folha em branco, ficando paralisado sem saber como conti-nuar. Interrompe o trabalho sem terminar a ideia. No reincio, o comple-tamento da ideia ser o aquecimento do trabalho de escrita seguinte.Deve ser verdade, mas tenho de experimentar.

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    Carta n. 5

    Porque que esquecemos?

    Ol Gervsio,Depois de ler as tuas cartas no podia deixar de te responder. Quem

    escreve ao seu Umbigo no deve estranhar que o mesmo lhe responda,no te parece?

    Lendo com ateno as tuas primeiras cartas, detectei uma nuvemacinzentada ensombrando o texto: acentuas demasiado as dificuldadesdo percurso. Afinal, depois de tantos esforos, conseguiste o que deseja-vas: entrar na Universidade. No exactamente na tua primeira escolha,

    mas isso so contas de outro rosrio.Conseguiste integrar-te rapidamente e j tens um pequeno grupo

    com quem discutes ideias com mais de uma linha. Foste desafiado paraentrar no grupo de teatro da Universidade e a asa j arrasta para os ladosde uma tal Ktia Vanessa. Bem, se a coisa vingar, espero que a dita estejadisponvel para fazer uma plstica no nome.

    Como vs, causas bastantes para festejar. Mas, talvez o aspectomais importante seja que ests a reflectir sobre o teu aprender tentandomelhorar, e isso um bom sinal.

    verdade que tens algumas lacunas por completar; por exemplo,ls, quase exclusivamente, propaganda de hipermercado de reconheci-dssimo recorte intelectual. Como resultado, a tua conversa circular epouco desembaraada; tropeas irremediavelmente em cada trisslaboque encontras no caminho.

    Quanto mais leres, melhor leitor te tornas, e um melhor leitor ex-pressa-se e escreve com mais desembarao, aprendendo mais e melhor.Mas no basta apenas diz-lo, preciso viv-lo.

    No Secundrio, as tuas fragilidades no se notavam tanto, mas agoraa exigncia subiu as escadas. Este novo campeonato acadmico para

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    corredores de fundo, exige mais esforo, mais fora de vontade, maistrabalho contnuo Competncias slidas, como se diz hoje em dia.Agora sente-se claramente a falta de tudo o que antes no fizeste: Paraqu fazer mais exerccios se esta nota j me chega; Para qu estudarse esta matria no sai no teste; Para qu completar apontamentos emcasa; Para qu estar atento nas aulas, se j passei; Para qu tantoesforo pessoal se posso copiar o trabalho e isso basta Estes e outrospara qus minaram o teu empenho, reduzindo-o sua expresso mnima,

    lembras-te?A funcionalidade do aprender, ou a instrumentalidade como os te-ricos referem, importante. A aplicabilidade do que aprendes ajuda adesemperrar a fora de vontade para estudar, mas a tirania do para qupode ser perigosa: se os resultados obtidos, se as notas j te chegam,para qu fazer mais e melhor? Se bem te conheo, a resposta ser, inva-riavelmente, um rotundo: no vale a pena! A confirmar-se este cenrio,no prevejo tempos de bonana escolar. Gervsio, uma fatia gorda doque fazemos na vida no responde apenas aos apelos do para qu, mastambm aos do porqu.

    Sinto-me um tcnico de restauro. Desculpa, mas o que sinto face impreparao, a tua e a de alguns caloiros, para as tarefas que vos espe-

    ram na Universidade. Os alunos sabem o que querem, mas nem sempreo que precisam de fazer para o alcanar. Academicamente falando, conhe-ces os teus pontos fortes? As tuas lacunas? Porqu e como colmat-las?Pensas no que melhor para ti prprio, antecipando consequncias?

    Porqu estudar?No h respostas de aplicao universal, mas eu, que sou o teu dedi-

    cado Umbigo, posso sugerir-te que conhecer os temas com profundidadenos torna mais capazes e mais aptos para trabalhar, e o nosso trabalhocompetente contribui para melhorar a vida dos demais. Estudar, emborano parea, tambm intervir socialmente; talvez no hoje ou amanh,mas seguramente em breve. Precisas de culos para contrariar essa mio-pia acadmica que tolhe o teu estudar?

    Gervsio, aprender no guardar na memria um conjunto de dadosannimos para serem reproduzidos acriticamente num exame, lamento anotcia. Talvez por isso seja melhor elucidar-te sobre o funcionamentoda memria. A memria um sistema de armazenamento de informaoque pode ser utilizada a qualquer momento. Imagina uma superbiblioteca

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    52 Cartas do Gervsio ao Seu Umbigo

    com milhares de livros. Qualquer novo residente com folhas tem de sercatalogado segundo uma determinada lgica para poder ser requisitadosem dificuldades e sem perdas de tempo.

    A porta de entrada de qualquer informao na casa da memria Sim, os cinco sentidos, claro. A este primeiro passo chamamosmemria sensorial. Escrevi-te esta carta e tu quiseste ler, prestaste aten-o. A informao bateu tua porta e atendeste. Ests a seguir-me?

    Se estivesses distrado a pensar na morte da bezerra, no abrias a

    porta dos teus sentidos e, em consequncia, nunca poderias arquivar aminha mensagem. A informao na memria sensorial tem uma espe-rana de vida muito curta, s est disponvel por brevssimos momentos.Se no a captares imediatamente, nunca chegars a compreend-la.

    Bem, depois de passar a barreira da memria sensorial, a informa-o chega ao hall de entrada da casa. Nesta etapa, temos de decidir se adeixamos entrar na sala de estar, onde s vo os amigos, ou se no valea pena e a informao convidada a sair.

    Esta segunda etapa chama-se memria de curto prazo e est limitadapela durao e pela capacidade. Aqui, a informao tem mais ou menosuns vinte segundos para conseguir convencer-te de que vale a pena con-

    vid-la a passar do hall para a sala de estar, a parte mais importante dacasa. Para que as informaes importantes no se percam devem ser arti-culadas com outras que j tens armazenadas, os conhecimentos que jpossuis, mas tambm agrupadas para reduzir o espao que ocupam. Porexemplo, os 9 dgitos de um nmero de telefone, o mximo de unidadesde informao (72) que a memria de curto prazo pode comportar,podem ser reduzidos se os agruparmos de trs em trs, por exemplo,218 543 876 ou 967 843 212, libertando 6 unidades. Sempre que organi-zamos a informao em unidades mais compactas, a memria de curtoprazo fica disponvel para trabalhar novas informaes. Esta estratgiade aglutinao pode ser treinada, como qualquer msculo, para aumen-tar a eficcia da memria.

    A repetio consecutiva de um nome, nmero de telefone, moradaou definio uma das formas de mantermos a informao na memriade curto prazo at a podermos registar numa folha ou realizarmos atarefa. Por exemplo, quando pedes uma informao sobre a localizaode uma determinada rua, para no te esqueceres, vais repetindo: 2 direita, frente, 1 rotunda direita, esquerda depois do semforo. Estaestratgia til, mas a informao perde-se se formos interrompidos, se

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    deixarmos de a repetir ou logo que terminarmos a tarefa. Para ser arma-zenada de forma mais definitiva, a informao deve ser enviada para amemria de longo prazo. Como?

    Talvez ajude se eu te disser que a memria de longo prazo comoum enorme armrio. Se no arrumares bem as tuas coisas, quando quise-res encontrar rapidamente algo, como que fazes? Deixa estar, no digas.

    Continuemos, como que a informao transita da memria decurto prazo para a memria de longo prazo?

    A memria de longo prazo est organizada como um mapa gigante.Como em qualquer mapa, ligando as cidades possvel organizar rotase desenhar percursos. Se o mapa estiver desactualizado, no saberemosexactamente quais os melhores percursos. Quando armazenamos umanova informao, escolhemos a que brao do mapa a vamos colar e ainformao beneficia dessa rede de ligaes ou significados.

    No fundo, no teu estudo pessoal tens de associar cada nova infor-mao a outra ideia que te faa sentido usando esquemas, mapas deideias ou resumos organizados , para que, quando a quiseres recupe-rar, possas faz-lo sem problema. Para isto preciso tempo e reflexo.Se estudares todos os dias tentando compreender as ideias e as suas

    ligaes, a memria tem a vida facilitada. No tem sentido estudar todaa matria fazendo uma directa, muitas vezes custa de litros de caf oude outras drogas estimulantes, e esperar que os algoritmos trabalhadosou as ligaes entre os contedos fiquem fortes e bem organizadas. Nofuncionamos como as jibias que comem um porco inteiro de seguida,gastando os dias seguintes a digeri-lo. Quer dizer pelo menos algunssomos diferentes!

    H estratgias de organizao da informao como os mapas deideias, onde os contedos esto ligados num esquema, ou os acrnimosem que a primeira letra de cada elemento a fixar forma uma pal