literaturas africanas de língua portuguesa (1)

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Trabalho de conclusão de curso da disciplina Literatura Africanas de Língua Portuguesa

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  • Universidade do Estado de So Paulo

    Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas

    (Departamento de Letras Clssicas e Vernculas DLCV)

    Nossa voz e frica: uma gerao de poetas.

    Literaturas Africanas de Lngua Portuguesa II- FLCO484

    Prof Rejane Vecchia da Rocha e Silva

    Ana Beatriz Cursino de Arajo

    N USP 7195582

    So Paulo, 2011

  • Nossa voz e frica: uma gerao de poetas

    Abordar a literatura produzida em Moambique, durante os anos 40 e 50,

    necessariamente retomar alguns dos grandes nomes, como Nomia de Souza e Jos

    Craveirinha. Sobretudo colocar-se a tarefa de se debruar sobre as possibilidades da

    arte enquanto potencial revolucionrio, mobilizador e de tomada de conscincia e sua

    grande influncia social, uma vez que toda uma gerao de escritores da qual fazem

    parte os dois acima citados- teve papel crucial e de vanguarda na luta contra a

    explorao colonial, conseqentemente a opresso do povo negro e consolidao da

    Negritude.

    Estudar os escritores moambicanos significa perceber a atividade artstica e o

    artista em outra configurao social da que normalmente se tem, vincular a eles papis

    claros polticos e ideolgicos, capazes de contestar a idia de que a arte possa ser um

    objeto neutro. entender a simbiose entre as relaes sociais, polticas, jurdicas e

    culturais (superestrutura) com a base econmica dos modos de produo capitalista

    (infra-estrutura), que compem a sociedade.

    Atravs de dois poemas, Nossa Voz (Nomia de Souza) e frica (Jos

    Craveirinha), podemos traar tanto a importncia e configurao dessa gerao literria

    em Moambique, quanto levantar importantes caractersticas e impactos da colonizao

    Portuguesa. Por meio de referncias diretas a organizao e atuao poltica social,

    atravs do uso de elementos culturais, naturais, percebemos em suas lricas uma voz

    negra e um estado de esprito inquieto, que busca na histria do povo o combustvel

    para a to necessria emancipao:

    Para os africanos trata-se da procura de uma identidade por meio da reunio dos

    elementos dispersos de uma memria colectiva. Este ardor subjetivo tem, ele

    prprio,o seu funcionamento objectivo no acesso independncia de numerosos

    pases africanos.1

    Por fim, analisar os poemas dos dois escritores , tambm, uma ferramenta de

    contestao da hegemonia cultural que todos os perodos vivem, colocando em cheque

    noes cristalizadas em nossa sociedade, e da histria oficial. Benjamin, em seu

    ensaio Sobre o conceito de histria, define ser papel crucial de um marxista atentar-se

    1 KI-ZERBO, Joseph Histria da frica Negra I. Portugal: Publicaes Europa Amrica Ltda, 1972

    p.09

  • ao materialismo histrico e determina como sujeito histrico aquele que combate a

    opresso, e vive uma luta constante pela definio dos fatos a serem narrados e

    preservados, extraindo deles a motivao para perseverar em seus objetivos, fazendo

    uso da jetztzeit (tempo de agora) e da erfahrung (experincia):

    Articular historicamente o passado no significa conhec-lo como ele de fato foi.

    Significa apropriar-se de uma reminiscncia, tal como ela relampeja no momento de

    um perigo. Cabe ao materialismo histrico fixar uma imagem do passado, como ela

    se apresenta, no momento do perigo, ao sujeito histrico, sem que ele tenha

    conscincia disso. (...) O dom de despertar no passado as centelhas da esperana

    privilgio exclusivo do historiador convencido de que tambm os mortos no estaro

    em segurana se o inimigo vencer. E esse inimigo no tem cessado de vencer. 2

    Nomia de Souza escreve pela primeira vez em 1948 e sua lrica, marcada tanto

    por rememoraes da infncia, - no utilizadas como escapismo ou saudosismo, mas

    sim como maneira de buscar matria e elos com o mais natural e primrio de

    Moambique-, quanto por uma profunda emotividade,- fruto da conscincia de opresso

    que vive seu povo-, logo ganha prestgio no meio intelectual que surgia no pas. Em

    entrevista, Rui Knopli, define a escritora como: A Nomia foi para mim um

    deslumbramento..

    Atravs de seu poema Nossa Voz, dedicado a Jos Craveirinha, podemos

    extrair elementos significantes sobre o ncleo de intelectuais em Moambique e o papel

    que cumpriam, em mbito de disputa intelectual e, simultaneamente, na consolidao de

    um sentimento de moambicanidade e participao popular.

    Nos primeiros versos Nossa voz ergueu-se consciente e brbara/ sobre o

    branco egosmo dos homens (vv. 1-2), j explicita o movimento da Negritude, que

    surgia em mbito cultural, e do Panafricanismo, que buscava pensar as condies

    histricas da frica. Evidncia, tambm, que no se trata de um sujeito nico,

    individual; no sua voz, mas nossa voz, um grito unssono presente em nomes como

    Craveirinha, Antero, Joo Silva, Rui Guerra, Saul Sende, Duarte Galvo, Joo Mendes,

    Fonseca Amaral, que utilizando da erfahrung, conseguem atuar no jetztzeit. Como

    define Adorno em sua palestra sobre lrica e sociedade:

    2 BENJAMIN, Walter Sobre o conceito de histria in: Obras escolhidas magia e tcnica, arte e poltica.

    So Paulo: Brasiliense, 1994. pp.222 - 232

  • Pois o teor [Gehalt] de um poema no a mera expresso de emoes e experincias

    individuais. Pelo contrrio, estas s se tornam artsticas quando, justamente em

    virtude da especificao que adquirem ao ganhar forma esttica, conquistam sua

    participao no universal. (...) Essa universalidade do teor lrico, contudo,

    essencialmente social. S entende aquilo que o poema diz quem escuta, em sua

    solido, a voz da humanidade. (pp. 66, 67)3

    Esses crculos intelectuais surgem como resposta ao processo assimilacionista

    que se instaurava na frica, representando um projeto poltico-ideolgico do Estado

    Metropolitano (Portugal), que se materializa com a implantao de uma poltica

    educacional, incentivo a literatura de portugueses em solo moambicano, misses

    catlicas e protestantes firmadas em 1940, no Concordato e o Acordo Missionrio

    entre o Estado Portugus e o Vaticano-, com intuito de apagar e ignorar as mltiplas

    produes culturais anteriores, bem como conquistar parte da populao para as

    ideologias colonizadoras.

    Devido a essas polticas surge uma tenso de fora histrica, com possibilidade

    de emergncia de uma intelectualidade local mostrando um olhar adverso ao da

    metrpole e presente na literatura oficial, marcado por plos opostos que disputavam

    conceitos centrais para a poltica colonizadora. Tal qual a demonstrao de que

    Moambique, mesmo antes do domnio Portugus, configurava-se enquanto uma nao,

    crtica ao imperialismo lingstico e a poltica de sobrepor lngua portuguesa s

    lnguas nativas locais.

    Nos versos Nossa voz gemendo, sacudindo sacas imundas,/ nossa voz gorda de

    misria, nossa voz arrastando grilhetas/nossa voz nostlgica de mpis/ nossa voz frica

    (vv. 22 -26) percebemos a demarcao clara de duas vozes, representando distintos

    projetos polticos ideolgicos, a nossa voz africana, que se constri em

    contraposio a voz europia. A reiterao constante de Nossa voz, que aparece 29

    vezes nos 38 versos do poema, enfatiza tambm a noo de coletividade e unidade de

    ao. Sendo a primeira constituda atravs da opresso sofrida pelos negros, marcada

    pelo trabalho forado, misria, e que se rebela atravs de elementos culturais e materiais

    anteriores colonizao que so retrato e identidade do povo moambicano.

    3 ADORNO, Theodor W. Palestra sobre lrica e sociedade in: Notas de Literatura I. So Paulo: 34, 2003.

    pp.65-89

  • Os escritores moambicanos surgem, ento, enquanto uma elite local pequena

    dentro dessa estrutura implantada pela Metrpole como maneira de contestar e

    conclamar o povo rebelio e luta contra o domnio colonial, utilizando de recursos

    anteriores ao da colnia. Podemos perceber isso nos versos nossa voz trespassou a

    atmosfera conformista da cidade/ e revolucionou-a. (vv. 9-10) e nossa voz ardente

    como o sol das malangas/ nossa voz atabaque chamando/ nossa voz lana de

    Maguiguana. (vv.5-7).

    Mesmo parte de uma elite intelectual do pas os escritores no assumem a

    posio acadmica de mera anlise da realidade local. Inserem-se como intelectuais

    orgnicos, ativistas polticos que percebem e entendem a necessidade de todo o povo

    unido lutar pelo fim da escravido, do colonialismo, como podemos perceber nos

    versos: Nossa voz cansada da masturbao dos batuques de guerra/ nossa voz negra

    gritando, gritando, gritando!/Nossa voz que descobriu at ao fundo,/l onde coaxam as

    rs,/a amargura imensa, inexprimvel, enorme como o mundo,/ da simples palavra

    ESCRAVIDO. (vv.27 -32)

    Essa produo literria, contudo, no chega a toda populao de Moambique.

    Primeiramente por ser escrita em lngua portuguesa, e uma pequena parcela da

    populao dominar a escrita e leitura do idioma metropolitano, depois pelo cenrio

    social ser mltiplo no pas:

    A consulta ainda que breve, da maneira como se distribui a populao letrada

    moambicana, mostra-nos estar ela concentrada nas zonas costeiras: Loureno

    Marques, Beira, Quelimane, Porto Amlia e Moambique; as povoaes do interior

    a considerar sero: Macequece, Vila Joo Pery (colocadas na zona de influncia do

    caminho-de-ferro da Beira), Tete e Nampula. A situao da populao nativa, no

    campo da instruo, elucidativa. Veja-se que no censo de 1950 apenas 56.270

    indivduos sabiam ler e escrever portugus, enquanto 164.580 apenas falavam o

    portugus e 1.493 somente sabiam ler. A rea de penetrao da poesia escrita, fica,

    naturalmente, circunscrita (...)4

    Ainda assim cumpre um papel importante na tomada de conscincia, seja por circular

    em peridicos, como revistas e jornais, ou por apresentar uma literatura anti-

    hegemnica. A dificuldade do acesso amplo e pleno de toda populao literatura e

    4 Poetas de Moambique (Prefcio ) in: Estudos sobre literaturas das naes africanas de lngua

    portuguesa. Lisboa: A regra do jogo, 1980. p. 482.( pp. 479-502)

  • cultura, contudo, coloca-se como uma questo at os dias atuais, no s na frica, mas,

    tambm, no Brasil.

    Nomia de Souza expoente e referncia de uma gerao de poetas que

    souberam explicitar que a arte no mera alegoria da realidade e sim voz de denncia

    social, inserida no sistema social e contribuinte deste. Nelson Sate, em seu prefcio ao

    livro Sangue Negro chama a escritora como me:

    No s porque ela , como diz a lenda a me dos poetas moambicanos, mas porque

    entre ns h muito que o afecto e a amizade perderam fronteiras e fundaram

    verdadeiros laos de famlia. (p.24)

    Se Nomia considerada a me do movimento literrio em Moambique,

    podemos considerar Craveirinha como o pai dos poetas. Contemporneo a escritora

    realiza uma poesia de beleza e tcnica lrica capaz de expressar, tambm, o sentimento

    popular contra a opresso portuguesa. Atravs do seu poema frica podemos captar

    situaes marcantes e elementos decisivos do processo de colonizao de Portugal;

    matria da gerao literria que fazem parte, mas, sobretudo, as contrariedades

    presentes nos argumentos colonizadores.

    O poema inicia-se com o seguinte verso: Em meus lbios grossos fermenta/ a

    farinha do sarcasmo que coloniza minha Me frica (vv.1-2), atravs de uma

    imagtica forte, uma primeira pessoa verbal marcada pelo uso dos tempos verbais e

    pronomes pessoais, Craveirinha, coloca em cheque os argumentos utilizados para

    justificar a ao europia em solo africano.

    A ocupao e explorao do continente eram justificadas pelos colonizadores

    como processos civilizatrios, necessrios para levar a cincia, tecnologia, e tirar um

    povo da ignorncia. Essa ao, contudo, como o prprio poeta elucida, era uma farsa;

    as populaes africanas eram dizimas, o continente transformava-se em terra frtil para

    extrao de matria prima e mo-de-obra, o que levava aos altos ndices de pobreza,

    pauperizao e explorao do povo, bem como a exausto dos recursos naturais.

    Essa imagem maniquesta era largamente propagada; de um mundo civilizado e

    outro entregue a barbrie, o que justificava a ao portuguesa. Craveirinha na poesia

    contesta essa dicotomia atravs de uma imagem empregada pelos prprios

    colonizadores: um filme de heris de carabina a vencer traioeiros/selvagens armados

  • de penas e flechas/e o sculo das suas balas e dos seus gases lacrimogneos (vv.28-

    31).

    Nos versos seguintes e meus ouvidos no levam ao corao seco/misturada com

    o sal dos pensamentos/a sintaxe anglo-latina de novas palavras (vv. 3-5) demarca a

    imposio lingstica da lngua portuguesa revelia das lnguas locais, maternas.

    Atravs de uma metonmia o ouvido levar ao corao- demonstra a revolta em aceitar e

    incorporar a sintaxe anglo-latina. A imposio de uma lngua em um povo

    conquistado o passo ltimo para enterrar suas tradies e culturas particulares, a marca

    do trunfo do dominador, uma vez que a lngua a matriz de um povo, e abarca em seus

    vocbulos e construes sintticas uma histria.

    A segunda estrofe um panorama das ferramentas utilizadas pelos portugueses

    em sua dita misso civilizatria, movida, hipoteticamente, por altrusmo: Amam-me

    como a nica verdade dos seus evangelhos/a mstica das suas missangas e da sua

    plvora/ a lgica das suas rajadas de metralhadora/e enchem-me de sons que no

    sinto/das canes das terras/que no conheo. (vv.6-11).

    Trs datas so relevantes dentro dessa dinmica de assimilao que Portugal

    implementa: 1920, data do Estatuto do Indigenato, que legaliza a descriminao na

    colonizao portuguesa, que organizava e potencializava os desgnios colnias como a

    ocupao de terras. 1930, com o Ato Colonial, que centralizava a administrao colonial

    em Lisboa, transformava os territrios ultramar como parte da Nao Portuguesa e

    separava colnia e metrpole. E o Concordato e Acordo Missionrio entre o Estado

    Portugus e o Vaticano, firmado em 1940 que organizava as misses catlicas e

    protestantes em solo africano.

    O eu-lrico demarca, simultaneamente, nos versos 12 20 E do-me/a nica

    permitida grandeza de seus heris/a glria dos seus monumentos de pedra/a seduo dos

    seus pornogrficos Rols-Royce/e a ddiva quotidiana das suas casas de passe/ ajoelham-

    me aos ps dos seus deuses de cabelos lisos/e na minha boca diluem o abstracto/sabor

    da carne de hstias em milionsimas/circunferncias hipteses catlicas de po., a

    realidade da Evangelizao em Moambique.

    Tratava-se de mais um recurso da coroa portuguesa para garantir sua dominao

    no local; no mbito de apagar a histria do povo ensinando que apenas os heris

  • eram os europeus-, o fetiche da mercadoria, assinalada pelo carro Rols-Royce que se

    tornou naquelas dcadas um marco mundial e demonstrava uma tecnologia e modos-de-

    produo mais desenvolvidos do que os africanos e a prpria religio com suas igrejas

    casas de passe-, o culto diferente da realidade local deuses de cabelos lisos e a

    hstia-.

    A quarta estrofe do poema frica aborda diretamente a questo do povo

    moambicano apropriado como mo-de-obra e os processos que se davam para sua

    consumao. Nos versos adjacentes percebemos a presena da hipocrisia e ironia

    colonial que a voz lrica explicita e denuncia: a vergonha de uma certido de pai

    incgnito/uma educao sesso de e meio litro/de vinho tinto com

    graduao de lcool de branco/exacta s para negro/ um gramafono de magaza.

    (vv.23-27). O eu-lrico demonstra que a poltica educacional do Estado Metropolitano

    era a de dominao e contrastava com a realidade do negro, visto como objeto

    mquina para desempenhar funes como os magaza que eram trabalhadores das minas

    de diamante.

    A maior estrofe do poema, com 38 versos, o momento de maior tenso e

    contrariedades do poema, quando o eu-lrico contesta toda a noo de civilizao

    defendida pelos europeus, lanando luz em todas as contradies que a Europa

    apresentava. Com referncias diretas a violncia, guerra e morte: E aprendo que os

    homens que inventaram/a confortvel cadeira eltrica (vv.36-37), sobre os ninhos

    mornos de Hiroshima e Nagasaki (vv.44), entrelaadas a referncias culturais e

    ideolgicas que ainda assim permitiam que todas as barbaridades ocorressem: lem

    Plato,Marx, Gandhi, Einstein e Jean-Paul Sartre/e sabem que Garcia Lorca no morreu

    mas foi assassinado. (vv.46-47).

    Na segunda parte da mesma estrofe recorre ao elo com a natureza, cortado pelo

    homem branco, que incapaz de relacionar-se harmonicamente com a natureza: e j

    no entendem o gorjeio romntico das aves de casta (vv.59) descrevendo o racismo e

    escravido presentes na ao portuguesa: extinguiu-se a eloqente epidrmica beleza

    de todas/as cores das flores do universo (vv.57-58) e E no colo macio das ondas no

    adivinham os vermelhos sulcos das quilhas negreiras e no sentem/como eu sinto o

    prenncio mgico sob os transatlnticos/da clera das catanas de ossos nos batuques do

    mar. (vv.63-66).

  • Os dois ltimos versos retratam sua filiao poltico-ideolgica com o povo que

    faz parte e partilha dele a mesma dor, atravs do eu-lrico em primeira pessoa que se

    transforma na voz do sofrimento moambicano, e, simultaneamente, matria para o

    levante popular: perdo-lhes a sua bela civilizao custa do sangue/ouro, marfim,

    amns/e bceps do meu povo. (vv.71-73).

    Os versos que marcam o vigor, virilidade e fora do povo africano encerram o

    poema com um estado de nimo de potencialidade de ao do moambicano rubi do

    nosso mais belo canto xi-ronga (vv.77), da necessria carcia dos meus dedos

    selvagens (vv.79). Sobretudo demarcam a africanidade, o negro enquanto ser vivente,

    construtor de sua histria e cultura, lutando e perseverando para preservar sua

    identidade mesmo com todo o processo de opresso e dominao: a tcita harmoniza

    das azagaias no cio das raas/belas como altivos falos de ouro/erectos no ventre nervoso

    da noite africana (vv.81-82).

    Nomia de Souza e Jos Craveirinha para alm de produzirem uma obra esttica

    indiscutvel, portanto, tambm demarcam a arte em outro nvel, se propem a ser voz de

    denncia e luta, conclamando a todos seus irmos para a mesma funo. Inspirados pelo

    Neo-realismo produzem uma das literaturas mais marcantes e especficas de um povo,

    embebecidos pela ideologia marxista, entendendo a si mesmos como explorados, mas

    dotados de um inesgotvel potencial de revolta e conquista. Fazem da arte aquilo que

    Maiakvski defendia: A arte no o espelho para refletir o mundo, mas um martelo

    para forj-lo.

  • Bibliografia

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    Paulo: 34, 2003. pp.65 -89

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