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Isabel Lima LITERATURA NEGRA BRASILEIRA: Em traços e versos

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Isabel Lima

LITERATURA NEGRA BRASILEIRA:

Em traços e versos

OBJETIVO GERAL

Destacar a literatura negra como

forma de resistência e marca de

identidade;

sujeito do gueto

(autor : elimar pereira reis - mamá )

sujeito do gueto não pode ter preconceito

sujeito do gueto é com a humildade e respeito

no gueto eu mim criei e tenho muito orgulho

pode acreditar é o melhor lugar do mundo

eu vivo nesse gueto com a paz sem preconceito

e sempre procurei ser um rapaz direito

a realidade das cidade e dos bairros

não é tão bela principalmente dentro da favela

as minas se perdendo os manos se acabando

cada dia que passa é o perigo dominando

a treita tá formada pra quem fala mau desse gueto

pode acreditar eu sou preto do gueto

sujeito do gueto não pode ter preconceito

sujeito do gueto é com a humildade e respeito

com a humildade e respeito eu te peço a união

as palavras são mandadas do fundo do coração

pra que roubar então o negócio é estudar o respeito

na quebrada com certeza eu vou botar

sujeito do gueto não pode ter preconceito

sujeito do gueto é com a humildade e respeito

O que é

Literatura Negra?

A Literatura Negra é uma estética com preocupação central no cotidiano de sujeitos que até então tinham sua voz sufocada, neste caso, os(as) negros(as).

Indo de encontro a chamada ―literatura universal‖ que é muito excludente, pois em quase todas as vezes não traz como protagonista, herói(ína), pobres, negros(as), mulher(es), portadores de necessidades especiais e/ou geralmente atribui a estes(estas) papéis inferiorizados pela sociedade, violentos, ou bondosos demais (vítimas/algozes), mas sem a devida inteligência natural do ser humano, quando incentivado.

E como foi que surgiu a Literatura

Negra Brasileira?

Devido a lutas sociais favoráveis a libertação e integração efetiva do povo negro, tanto no cenário internacional, quanto nacional. Alguns exemplos:

Renascimento do Harlem, Negrismo Cubano, Negritude, Pan-africanismo, Quilombos, como o de Palmares, no Brasil, manifestações religiosas e culturais, como o candomblé, festa de rosário e a capoeira. Movimentos sociais, Frente Negra Brasileira; Teatro Experimental do Negro e os mais recentes, Movimento Negro Unificado, e na literatura, Cadernos Negros.

E os nomes?

Será que de poetas ―negros‖, ou neste caso, os

que tratam de modo central da vida de afro-

brasileiros(as) em suas obras, só temos Castro

Alves e Jorge de Lima?

E quem são os poetas dos Cadernos Negros?

E, além deles, têm outros?

Vamos ver...

Sabem quem é este da foto?

Dicas:

Filho de Luísa Mahin, negra ―arretada‖,

heroína na Revolução dos Malês;

Grande abolicionista negro, baiano, poeta, advogado ;

Nasceu liberto e, ainda jovem, foi vendido

como escravo pelo pai, por conta de dívidas e fugiu;

Alforriou mais de 500 negros escravizados;

Apesar de ter grande importância teórica e prática na

abolição da escravidão, não teve tanto sucesso quanto

Castro Alves, por que será?

Luís Gama (1830-1882): O “orfeu de carapinha” e primeiro poeta

negro do Brasil

Se negro sou, ou sou bode,

Pouco importa. O que isso pode?

Bodes há de toda casta,

Pois a espécie é muito vasta...

Bodes negros, bodes brancos,

Uns plebeus, e outros nobres,

Bodes ricos, bodes pobres,

Bodes sábios, importantes

E também alguns tratantes...

Na suprema eternidade,

Onde habita a Divindade,

Bodes há santificados,

Que por nós são adotados.

Entre o coro dos anjinhos

Também há muitos bodinhos.

(...)

Haja paz, haja alegria,

Folgue e brinque a bodaria;

Cesse pois a matinada,

Porque tudo é bodarrada!

(Quem sou eu?. In: BERND, Zilá. Poesia

negra brasileira.)

Negroamor: por um outro olhar sobre a

beleza negra

Meus amores são lindos,cor da noite.

Recamada de estrelas rutilantes;

Tão formosa creoula, ou Tétis negra

Tem por olhos dois astros cintilantes.

Em rubentes granadas embutidas

Tem por dentes as pérolas mimosas,

Gotas de orvalho que o inverno gela

Nas breves pétalas de carmínea

rosa.

Os braços torneados que alucinam,

Quando os move perluxa com langor.

A boca é roxo lírio abrindo a medo,

Dos lábios se distila o grato olor.

A cabeça envolvida em núbia trunfa,

Os seios são dois globos a saltar;

A voz traduz lascívia que arrebata,

— É coisa de sentir, não de contar.

(...)

Meus amores são lindos, cor da

noite,

Recamada de estrelas rutilantes;

Tão formosa creoula, ou Tétis

negra,

Tem por olhos dois astros

cintilantes...

Este é mais famoso, e você

sabia que...

Filho de escravizados, foi criado pelos senhores

de seus pais;

Nascido em Desterro, atual Florianópolis, foi jornalista e

militante abolicionista, estreando como poeta

aos 24 anos com a publicação de Tropos e Fantasias;

Apesar de grande inteligência e estudo, sempre ganhou

salário abaixo de seus colegas brancos?

Foi o precursor do simbolismo no Brasil; mas morreu

desconhecido e pobre em 1898;

Atualmente é conhecido e aplaudido, mas ainda

enfatizam a obsessão que tem pelo mundo branco, mas

esquecem a denúncia que faz em relação a discriminação.

Cruz e Souza (1861-1898):

“Da obsessão pela cor branca ...

Ó Formas alvas, brancas, Formas claras

De luares, de neves, de neblinas!

Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...

Incensos dos turíbulos das aras

Formas do Amor, constelarmante puras,

De Virgens e de Santas vaporosas...

Brilhos errantes, mádidas frescuras

E dolências de lírios e de rosas ...

Indefiníveis músicas supremas,

Harmonias da Cor e do Perfume...

Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,

Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...

(Antífona. Quase todos livros didáticos de literatura)

...à crítica ao racismo.”

(...) Se caminhares para a direita baterás e esbarrarás ansioso,

aflito, numa parede horrendamente incomensurável de Egoísmos e

Preconceitos! Se caminhares para a esquerda, outra parede, de

Ciências e Críticas, mais alta do que a primeira, te mergulhará

profundamente no espanto! Se caminhares para a frente, ainda nova

parede, feita de Despeitos e Impotências, tremenda, de granito,

broncamente se elevará ao alto! Se caminhares, enfim, para trás,

ah! ainda, numa derradeira parede, fechando tudo, fechando tudo –

horrível – parede de Imbecilidade e Ignorância, te deixará num frio

espasmo de terror absoluto...

(Emparedado. In: BERND, Zilá. Poesia negra brasileira.)

Precisamos conhecer mais deste

fantástico poeta

Nasceu em Recife, filho de mãe quituteira e pai sapateiro;

Foi um grande poeta, pesquisador das nossas

tradições populares, teatrólogo, pintor;

Fundou o Teatro Popular Brasileiro e, junto a Abdias do

Nascimento, o Teatro Experimental do Negro;

Recebeu elogios de personalidades como Drummond:

―Há nesses versos uma força natural e uma voz individual

rica e ardente que se confunde com a voz coletiva".

Sua vida se mistura com sua arte, de modo que sua casa

sempre era palco de eventos artísticos e auxiliava as

pessoas nas letras, pintura, dramatização.

Eu canto aos Palmares

Sem inveja de Virgílio

de Homero

e de Camões

porque o meu canto

é o grito de uma raça

em plena luta pela

liberdade

Há batidas fortes

de bombos e

atabaques

em pleno sol

Há gemidos nas

palmeiras

soprados pelos ventos

Há gritos nas selvas

invadidas pelos

fugitivos

Eu canto aos Palmares

odiando opressores

de todos os povos

de todas as raças

de mão fechada

contra todas as tiranias

fecham minha boca

Mas deixam abertos

os meus olhos

Maltratam meu corpo

Minha consciência se

purifica

Eu fujo das mãos

Do maldito senhor!

(...)

Solano Trindade (1908-1974): Poeta do povo, cujo poema

é simples e grande, como a sua vida

Trem sujo da Leopoldina

correndo correndo

parece dizer

tem gente com fome

tem gente com fome

tem gente com fome

Piiiiii

Estação de Caxias

de novo a dizer

de novo a correr

tem gente com fome

tem gente com fome

tem gente com fome

Vigário Geral

Lucas

Cordovil

Brás de Pina

Penha Circular

Estação da Penha

Olaria

Ramos

Bom Sucesso

Carlos Chagas

Triagem Mauá

Trem sujo da Leopoldina

correndo correndo

parece dizer

tem gente com fome

tem gente com fome

tem gente com fome

Tantas caras tristes

querendo chegar

em algum destino

em algum lugar

Trem sujo da Leopoldina

correndo correndo

parece dizer

tem gente com fome

tem gente com fome

tem gente com fome

Só nas estações

quando vai parando

lentamente começa a

dizer

se tem gente com fome

dá de comer

se tem gente com fome

dá de comer

se tem gente com fome

dá de comer

Mas o freio de ar

todo autoritário

manda o trem calar

Psiuuuuuuuuuuu[

Sobre os autores:

Oliveira Silveira nasceu em 1941, em Touro Passo/RS.

É professor e militante do Movimento Negro.

Sugeriu e atuou na evocação do dia 20 de novembro,

data lançada nacionalmente pelo Grupo Palmares,

de Porto Alegre, em 1971.

Publicou Germinou, 1962; Poemas regionais, 1968; Banzo,

Saudade negra, 1970; Décima do negro peão, 1974; Praça da

palavra, 1976; Pêlo escuro, 1977; e Roteiro dos Tantãs, 1981.

Morreu em 2009.

Jorge de Lima (1895-1953), alagoano, poeta, fenotipicamente

branco, romancista e médico. Suas poesias mais importantes

dizem respeito a temática negra e a religiosidade católica. São elas: Essa negra Fulô, Invenção de Orfeu e Cantigas.

Como e/ou onde eu encontro textos

da literatura negra?

Apesar dos avanços devido também a Lei 10639/2003, provenientes destas lutas, ainda sentimos dificuldade em achar estes materiais em bibliotecas, livrarias. Temos um site da editora dos Cadernos Negros,obra literária que publica anualmente poemas e contos afro-brasileiros.

www.quilombhoje.com.br

A editora Quilombhoje é uma cooperativa dos próprios escritores e eles vendem suas obras em seminários, eventos e em algumas livrarias maiores como a LDM e Saraiva, por exemplo. Infelizmente o livro literário que achamos (por vezes com dificuldade) é apenas o cobrado pelo vestibular: ―Cadernos Negros: os melhores poemas‖.

Sugestões de vídeos

Sugestões de livros

Obrigada!

Vamos trocar ideias:

[email protected]

Visitem os sites e blogs:

www.africaeafricanidades.com/

www.oraliturafro.blogspot.com/

www.quilombhoje.com.br/

http://ricardoriso.blogspot.com/